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PRESIDÊNCIA DA REPUBLICA

ARQUIVO NACIONAL

Coordenação de Documentos Escritos


Documentos do Executivo e do Legislativo

BR.AN.RIO.TT.0.MCP.AVU.30

UD 17
233 folhas/ 407 páginas
(ft PU) R i n ^ Q . f V P fti/u v o
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA- i.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA GABINETE DO MINISTRO W
DATA

- 2 M A I 1 9 7 3 A
r . m x
5 4 4 1 4 DOCUMENTO SIGILOSO
[SERVIÇO L)K COMUNICAÇÕES
SERViÇO PÚBLICO FEDERAL

DISTRIBUIÇÃO

SEC/AD1V2.5.73

MEK/136 de Z . 5 . 7 3 - 3 M B

Departamento de Imprensa Nacional —


© j/

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
G A B I N E T S D O MINISTRO

Brasília , r>'c , cU JYcUXVb


A rtTâ
I »
MEMORANDO N? L

F-i
MINISTÉRIO DA JUSTK
DO: Chefe do Gabinete D. A. . . . ,

v
AO: Chefe do Serviço de Comunicações
-2M4M973 ^ '
SERVIÇO DE COMUNICAR «'

i
Senhor Chefe'
i ? Solicito suas providências no sentido de
ser protocolado o presente memorando, a fim de constituir pro-
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cesso de caráter sigiloso, originado Samua/mm* OPf.WftO'

yUL tUCL SXjL ÚL— JYM2UL 12.

úJíljCxrJ^,

Chefe do Gabinete
<â>

A N E X O - 1-

P r i m e i r o número dé OPINIÃO
m m

i r i A A O i

Antônio Callado, J.H. Ribeiro, L.E. dc Andrade: Vietnã


Otto M. Carreaux g Carlos Drummond de Andrade

JUSTK5A
ETE DO MiNíS Tí~l

m â j 2 l • 05 ' I l
6 a 13 nowmbro 1972 Cr» 2,50
DOCUMENTO SIGILOSO
* ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ com a edição semanal brasileira de yy i f í f í f ^ ^ y gif

¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ y ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥ ¥

ELEIÇÕES Eaiojtongs
AMERICAINS E ouvindo o homem
CORRUPÇÃO da CIA
Pesquisa:
Wilfred Burchett, jornalista australiano,

HERMETO TOCA
escreveu vários livros sobre o Vietnã,

a vida sexual
entrevistou Mao, Ho Chi Minh, Chu En Lai,

VIOLÃO E PORCO
Pham Van Dong, Nguyen Huu Tho, Henry Kissinger.
De Paris, para OPINIÃO, explica:

na França
ALLENDE SE
PORQUE Jorge Luis
ESCONDE ATRÁS NIXON ADIOU Borges: obra
DOS FUZIS A PAZ (Pag 14)
e caráter
iJGr-tàrr »
2 O BRASIL

Quando alguns eleitores valem m&is que outroft


Alagoas vale mais cionalista, dominada pelos coronéis. mover qualquer tipo de reforma agra- elegeria 1» senadores em vez dos seis preciso mudar a legislação também
cm sao Paulo
li São Pai graças Mais forte nas grandes metrópoles ria são argumentos que reforçam a que conseguiu levar ao Senado. para impedir que em 1990 o Brasil
eleitoral brasileira que, es- do que nas pequenas cidades, o MDB afirmação do professor. Supreendente é que só agora o tenha quase setecentos deputados fe-
é a mesma desde a re- tem razões para criticar o atual crité- Se para a eleição de deputados MDB come ca a se preocupar com a derais. Calculado o crescimento do
de 1930. Essa constatação es- rio de proporcionalidade. Thales Ra- existe uma desigualdade tão significa- legislação eleitoral de 1970. "Deve- número de eleitores, em dezoito
Desigualdades Eleito- malho, deputado federal, secretario - tiva — em 1970, Alagoas elegeu depu- mos voltar o critério anterior'* — in- teremos uma Câmara coi
do professor de socio- geral do MDB diz que a Emenda tados com 41 mil votos enauanto siste Thales Ramalho embora reco- sem as menores possibilidades de de-
kca de pesquisa da Univer- Constitucional estabelece a represen- eram exigidos no mínimo 115.600 nheça que a reformulação eleitoral de senvolver seus trabalhos**.
de Brasília, Gláucio Dillon tação eip função do número de privi- votos para um representante de São 70 ajudou a impedir a predominância
3S MIOS, que ficou famoso legiados — os eleitores — e não, como Paulo - os cálculos devem ser multi- do Centro - Sul na Camara dos depu- Preocupados com a defesa de bv
surgida depois da di- seria correto, em razão da população plicados quando se analisa o critério tados. Alguns líderes da ARENA ma- teroase&regionalistas ou simplesmente
de alguns trechos de seu tra- total - incluindo os analfabetos não de eleições de senadores. A represen- criticando os aspectos formais, os
eleitores. nifestam desejo idêntico. Marco An-
As Funções do Legislativo**, tação e numericamente idêntica (três tonio Maciel, deputado de Pernambu- dois partidos nem mesmo tocam no
conclusões de Dillon Essa é uma razão formaL Existe senadores) para todos os Estados, co, diz que» não se trata apenas de verdadeiro problema apontado nos
e senadores já co- outra que pode justificar a critica de independente do número de eleitores fazer justiça aos Estados mais popu- estudos do professor Dillon Soares: o
a talar discretamente de uma Thales Ramalho: em 1970, o MDB re- e da população. Em 70 foram neces- excesso de representantes dos inte-
cebeu 30,5% dos votos válidos nas sários dois milhões e meio de habitan- losos onde há maior número de elei-
eleitoral para limitar tores. "A principal razão é que a resses agrários tradicionalistas e a
de deputados e modificar o eleições de novembro mas elegeu ape- tes para eleger um senador no Brasil sub-representação de camadas cada
desenvolvido, mas somente um milhão maioria dos países democráticos ado-
de representação. nas 28,1% dos deputados federais. tam a proporcionalidade em relação a vez maiores da população que se des-
o número de deputa- Diz o estudo de Dillon Soares que, se no resto do pais. Num sistema eleito- locam para os grandes centros com o
ral rigorosamente proporcional, ba- população e não ao número de eleito-
antenores toma- a representação dos partidos fosse ri- res * — diz. desejo de se integrar no desenvolvi-
a população do Estado, gorosamente proporcional à votação seado na votação partidaria, o MDB mento industrial do país. (J.CM.)
obtida a nível nacional, o MDB teria Thales Ramalho vai mais além: "É
eatetanto, calcula a repre-
ean função do número de conseguido eleger 95 deputados, oito
e estabelece um mínimo de a mais do obtido.
nos Estados com me-
eleitore*. Outro crité- Uma opinião muito frequente en-

FACULDADES
ú Constituição - os Esta-. tre os membros do MDB e da ARE-
• i s de seis milhões de elei- NA é que o atual critério eleitoral é
dãeãto a eleger apenas um justo por que permite aos Estados
i cada grupo de quinhentos menos desenvohados, onde a popula-
— faz com que, na práti- ção pobre e analfabeta é mais nume-

OBJETIVO
um paradoxo singu- rosa, obter um maior número de re-
cleitores existirem presentantes; o que seria impossível
proporcionalmente me- se o critério fosse único para todos os
de poderá eleger, Estados.
i Estado eleitoralmente Dillon Soares discorda do argu-
ã o os mfis desenvolvi- mento. Para ele, os únicos grupos cla-
número de alfabeti- ramente privilegiados pela desigualda-
e uma força de de estabelecida pelo sistema são os
consciente e organiza- proprietários agrícolas e as elites ru- Aprovadas pelo C.F.E. (parecer n.° 263/72) e autorizadas pelo decreto n.° 70.324.
conchii que o siste- rais. A rejeição de projetos que afeta-
aumenta artificiai- riam os interesses desses grupos e de-
a ção política tradi- zenas de tentativas frustradas de pro-. COMUNICAMOS A
A B E R T U R A DAS
I N S C R I Ç Õ E S PARA.
O Congresso se defende O VESTIBULAR
DOS CURSOS DE
Júlio C: Montenegro prestígio do Congresso.** Evidente-
mente o deputado se referia aos nú- PSICOLOGIA
— A análise da atuação do meros dos professores.
brasileiro, feita por dois Num aparte que tomou boa parte CLINICA E
da Universidade de Brasf- do discurso, basicamente para con- EXPERIMENTAL,
de provocar rios de tinta cordar com o orador, o arenista per-
declarações à imprensa nambucano Magalhães Melo atribuiu COMUNICAÇÃO, CONVITE
CONVITE
que ainda nao ha- as críticas ao Legislativo ao "desco-
fido o trabalho na íntegra, co- nhecimento do magnífico trabalho LETRAS E As Faculdades Objetive
Objetivo
a ser discutida nas sessões da que ali se desenvolve**. Como exem- PEDAGOGIA convidam os candidato:
candidatos
plo, citou o caso de duas sociólogas
O Deputado Nina Ribeiro (Are- que o foram entrevistar para uma pes- para conhecer seus
na-GB), - rodo de quem quando quisa e ficaram bem impressionadas VESTIBULAR laboratórios e instalações
poderia ter ganho um con- quando o encontraram estudando para os cursos de onde poderão visualizar
de robustez infantil - ocupou a profundamente um projeto "sobre a
por mais de uma hora para padronização de vasilhames para COMUNICAÇÃO, os mais modernos
mm pronunciamento que pretendia transportar gás liquefeito de pefcroleo LETRAS e PEDAGOGIA: equipamentos de ensino
ser uh refutação do estudo socioló- em todo o país**. E as moças ficaram provas de Português, no país — TV, Rádio,
e acabou se transformando num ainda mais surpreendidas, conta ele,
elogio ao Congresso. guando explicou que aquele projeto Inglês ou Francês, Redação, Publicidade,
Citando personagens famosos, ja havia merecido o acurado estudo História e Geografia. Laboratório de
desde Ruy Barbosa ate Hitler, situa- de três Comissões Técnicas. Para tor- CURSO DE Análise de Aprendizagem,
ções históricas da antiguidade clássica nar conhecido o esforço dos congres-
e da Inglaterra Imperial, parlamentos sistas, sugeriu a criação de uma verba PSICOLOGIA: Laboratório de Fisiologia,
do nosso, como as Cortes "para pagar dois dias de hotel a estu- provas de Português, Laboratório de
e brasileiras do Século dantes que ficariam, em tempo inte- Psicologia Experimental,
gral, observando os trabalhos do Con- Inglês ou Francês,
o discurso ficou entre a defesa Laboratório de Línguas, etc.
da instituição parlamentar, o elogio gresso**. História e Geografia e
do Executivo e uma espécie de pres- Conhecimentos Gerais de
tação de contas dos trabalhos parla- Quanto à pesquisa propriamente Ciências e Matemática.
mentares. O fecho da oração foi a lei- dita, foi taxativo: 'Essa pesquisa, que INFORMAÇÕES E
tora de seis páginas datilografadas, eu não conheço, se não chegou a uma INSCRIÇÕES:
onde estavam listados 31 projetos opinião sobre o Congresso, não é das 9 às 21 horas,
tei apreciados pela presente
tura. Todos eles referentes a "impor-
uma boa pesquisa**. GUIAS D E E S T U D O Av. Paulista, 900, 3.° andar.
Mais modesto, ou mais realista,
tantes matérias, ainda que de origem aue seu colega de Pernambuco, o à disposição dos candidatos,
executiva'*, explicou o deputado. depputa do Lysaneas Maciel (MDB-GB) com o programa e
Entretanto uma pesquisa numé- considerou justas as conclusões do roteiro das matérias 200 vagas para cada curso. Períodos:
rica de tal envergadura ficou diminuí- trabalho universitário. "O que nós te-
da por uma afirmação do próprio dis- mos que fazer, disse, é engolir em se- exigidas no vestibular. tarde — noite
cirno: "Nao há de ser uma critica ba- co, bater a mão no peito e reconhecer
no microscópico critério farisai- que não temos a£ prerrogativas nor-
co dos números que há de abalar o mais do Legislativo.

opinião EDITOR
Raimundo Rodrigues Pereira
SECRETARIO DE REDAÇÃO
Antonio Carlos Ferreira
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ARTE
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(assistente)
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Lima
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tins (Paris), Paulo Francis (Nova York), trial, Rua Em mo Goeldi, 575, Lapa, São
DIRETOR
Fernando Gasparian
Roberto Garcia (Washington), Vanna
Brocca (Milão)
Paulo; Impressão: Editora Mory, Rua do
Resende, 65, GB.
NEW STATESMAN
As mortes da sublegenda Emendando
José Carlos Bardawill
a lei básica do País
Glauco de Carvalho
Não vai ser por falta de sugestões sua adaptação ao Código Civil, de-
Em política, como em medicina, que o Congresso deixará de melhorar pois".
. os remédios envelhecem rapidamente. o atual projeto do governo para o no- Para o jurista mineiro, o antepro-
É o que parece estar acontecendo vo Código Civil, "a lei básica do siste- jeto pode provocar instabilidade na
com as sublegendas, expediente jurí- ma jurídico de uma nação, cuja im- vida social, "quando permite a anula-
düco-eleitoral imaginado em 1965 pe- portância só pode ser equiparada à da ção do matrimonio a quem se encon-
lo governo Castelo Branco para aco- Constituição Política*', como dizem trava em estado de inconsciência ou
modar nos dois únicos partidos for- os juristas. grave,perturbação mental no momen-
ças políticas tradicionalmente adver- Caio Mario da Silva Pereira, pro- to t^celebraçao, dando oportunida-
sárias. Nos primeiros tempos, só eram fessor Titular de Direito Civil da Uni- de à alegação do estado transitório de
mal vistas pelo MDB, pois, à sua som- versidade Federal do Rio de Janeiro e embriaguês ou de ingestão de estupe-
bra, a Arena crescia a cada eleição, ex-consultòr geral da República, vai facientes**.
acomodando oriundos de todos os enviar para o Congresso um docu- O anteprojeto, por exemplo, é
antigos partidos no seio comum de mento de 200 páginas contendo críti- anticonstitucional no art 1422,
um governo que todos desejam servir.
Agora, porém, até os arenistas têm
seus motivos para criticar as sublegen-
cas ao projeto do Código.
Mineiro, morando na praia de Ipa-
nema, o professor Caio Níario, um ho-
n ido deixa a critério do juiz a
<
ísapropriação,
j por utilidade pública
ou mteresse social, de ^propriedade
das: às vésperas das eleições munici- privada, "se o juiz entender que a
pais, aumentam dia a dia as dissen- mem que acompanha a mudança dos area usurpada e extensa, e que a
ções dentro do partido do Governo e costumes, acha o projeto "tímido e, ocupação tem mais de cinco anos por
a sublegenda, longe de acomodá-las, em alguns casos, verdadeiramente um numero considerável de pessoas**.
parecem exercer efeito justamente insensível quanto a soluções dadas O prof. Caio Mario vê no ante-
contrário. aos problemas atuais". p r o j e t o o u t r o s defeitos graves.
Embora reconheça a competência Estou sinceramente convencido de
profissional da comissão de juristas que, se a comissão do Ministério da
Metralhadora que preparou o anteprojeto do Códi- Justiça não tiver a humildade necessá-
go - Miguel Reale, coordenador, e ria de acolher as emendas, sugestões e
Há duas semanas, por exemplo, -••V a l i ' . , reitor da Universidade críticas, o projeto não refletirá nossos
em Barro, povoado de Parnamirim, de São Paulo; Agostinho Alvim e José padrões de cultura jurídica**. E cita a
em Pernambuco, as sublegendas fo- Carlos Moreira Alves, também profes- imperfeição do artigo 417, que põe
ram responsáveis pela morte de cinco sores em São Paulo; Torquato de Cas- em risco a segurança e a estabilidade
políticos das chamadas "Arenas 1 e tro, em Pernambuco, e Clóvis Couto da vida dos negócios: "Quando sub-
z": irremediavelmente adversários, os e Silva, no Rio Grande do Sul o mete a liberdade negocial ao que de-
Magalhães e Cabrais, mal acomodados prof. Caio Mario faz sérias restrições nomina a função social do contrato,
no pouco exigente partido governista a^ diversos artigos, apontando êrros está tomando como base de sua eficá-
m mas desejando, ambos, o poder muni- técnicos, contradições e conservado- cia um conceito fluido e impreciso. E
cipal, acabaram decidindo sua ques- rismo. dessa maneira permite ao contratante
tão a tiros de metralhadora. Os Maga- infiel e malicioso uma alegação para
lhães parecem atirar melhor e, assim, Um erro grave já foi cometido fugir às obrigações e concede ao juiz
terminaram mortos quatro Cabrais e bem antes, ao se submeter ao Con- menos avisado motivação constante
um vaqueiro da família. E as críticas gresso, para votação (desde a semana de negar validade aos ajustes livre-
às sublegendas cresceram, apoiadas passada), o Código de Processo Civil mente pactuados, em razão de seu
no fato. Agora, já se fala que elas não primeiro que o Código Civil "Sem puro subjetivismo ou do arbítrio in-
durarão muito, não devendo passar querer arvorar-me em profeta de más controlado*'.
novas - diz o prof. Caio Mario - an-
das próximas eleições municipais.
As críticas, na verdade, vem desde
a implantação do sistema das suble-
gendas. Na própria direção putidária
Os velhos senhores tevejo, com pesar, que o novo Código
de Processo terá vida efêmera como
unidade orgânica, porque vai ter que
Tratando de matéria de nítido
conteúdo técnico, o Congresso, se
acatar sugestões, poderá dar a essa lei
da Arena, as teses contrárias às suble- sofrer modificações indispensáveis à um caráter social e político.
gendas já encontram seguidores. O se- do movimento fundado pelo "líder"
nador Tarso Dutra, conceituado are- Durval Guimarães Plínio Salgado. Ao diretor do colégio
nista gaúcho, exemplifica o mal das
sublegendas com a situação do seu
Estado: "Lá, o MDB deixou de lançar
Jary Cardoso
encorajou especialmente convencer e
estimular a juventude. A todos cha-
mou-os para irem a Conselheiro La-
A Mas além do número de documen-
tos existentes sobre o assunto é possí-
vel se saber quais são êsses documen-
candidatos em pelo menos 50 muni-
cípios, para apoiar uma das sublegen- Apenas 17 pessoas atenderam aos
apelos do vigário local, aos convites
faiete, cidade vizinha, onde farão a
próxima conferencia. De Lafaiete
irão a outra cidade, e a mais outra, e
de Aquarius tos e até trechos dos mesmos. Para
isso, e para executar os serviços admi-
das da Arena, criando com isso uma
divisão insolúvel dentro do partido
do Governo."
insistentes da emissora de rádio, aos
avisos dos boletins distribuidos entre
a população. O imenso salão de festas
assim sucessivamente até doutrinar
Minas Gerais. Depois, descer a serra
Senado nistrativos que já estão sendo implan-
tados, o sistema é operado das 6 às
24 horas por 36 técnicos em. 3 tur-
da Mantiqueira e invadir São Paulo e
O veterano Nelson Carneiro, lider do Qube Itabiritense, preparado para o Rio de janeiro.
do MDB é irônico nesse debate: receber mais de mil espectadores, nes- Lembram de Aquarius, uma can- "Todos os técnicos são do SER-
"Quero prestar uma homenagem de ta manhã de domingo 30 de outubro, ção hippie americana, que anunciava PRO, que desenvolve o programa em
saudade e de respeito às novas víti- está vazio quando o integralista Car- A "Cruzada" integralista pode uma época de liberdade e felicidade convênio com o senado *, informa o
mas da sublegenda, aqueles cinco d- los Porfírio, 60 anos, advogado apo- realmente "invadir** o País? Recente- para os homens, a Era de Aquarius? estudante de economia e técnico de
à dadaos que pereceram no município sentado, dá início à Cruzada de Re- mente, Jary Cardoso, de OPINIÃO, Também americano por suas origens computação Luis Cesar Pinto de Al-
de Parnamirim, em Pernambuco* - novação Nacional, movimento de visitou uma das sedes da Uniio Ope- e, segundo alguns, o início de uma meida, 30 anos, carioca. "O pessoal
disse, provocando imediatamente os propagação do integralismo, (alguns rária e Camponesa do Brasil, UOCB, nova era para o Congresso, é o pro- que faz a montagem é da IBM - con-
apartes apressados dos vice-líderes dizem, fascismo) brasileiro. orgão dirigido pelos militantes inte- grama Aquarius atualmente em im- tinua. Do Senado, é só o pessoal da
arenistas em reunião recente na Câ- gralistas. Jary encontrou o mesmo di- plantação no Senado Federal através limpesa".
Mas a pequena platéia não desani- ma de decadência e as mesmas frases
mara. Oficialmente, a Arena tem de ma o orador que combate a dissolu- de um computador da International Este sistema catalogou, até agora,
defender, ainda, as sublegendas, mes- de esperança de um futuro brilhante Business Machines - IBM. 68.107 normas jurídicas. Ê pratica-
ção dos costumes e defende a reafir- para o integralismo no País. Seu rela-
mo que alguns dos seus principais mação da família. "Aqui se encon- No futuro, os interessados em le- mente toda a legislação existente no
líderes não estejam mais tão conven- to: país, de 1946 para cá, que já está à
tram homens do melhor quilate mo- gislação poderão fazer suas consultas
cidos da sua utilidade. ral, social e cultural," diz no seu dis- Numa casa simples, no município de onde estiverem, através de um sis- disposição para consultas através de
curso de três laudas. Entre os especta- de São Gonçalo (Estado do Rio), pró- tema parecido com o atual DDD de 18 terminais instalados (nem todos
Tem de sobreviver dores estão o diretor do colégio, uma xima ao sindicato rural da região, fica telefone, utilizando um dos 300 ter- ainda) na Câmara e no Senado. Mas
líder de donas de casa, um fazendeiro a sede da UOCB fluminense, que, se- minais que estarão ligados ao compu- isso e pouco para um sistema "com
Já a oposição têm criticado as su- representando o poderoso sindicato gundo seus dirigentes, é apenas uma tador do Senado. A espectativa é que, capacidade global para arquivamento,
blegendas sempre. O deputado Tan- rural do município e ujn representan- de uma centena de sedes iguais insta- do Oiapoque ao Chui, seja possível em linha, de 600 milhões de bites"
credo Neves, veterano vice-presidente te do vigário. ladas no resto do País, especialmente utilizar os milhares, ou milhões, de (2)
do partido oposicionista, chega a co- Porfírio insinua que os ouvintes em Minas. informações que o IBM/370 - mode- Pergunto a um simpático senhor,
loca-las no mesmo nível do AI-5. O devem seguir o exemplo do passado. A sede de São Gonçalo tem 311 lo 155 armazenará em seus discos do serviço de imprensa do Senado,
presidente Ulisses Guimarães interes- Em 1935, época em que o diretor do associados contribuindo todo mês magnéticos: leis, decretos, portarias, como saber o custo do PRODASEN.
sa-se tanto pelo assunto que, nos ra- colégio aliciava estudantes para "a com um a cinco cruzeiros cada. A resoluções, atos, etc, etc. "Ê caríssimo", diz êle. "É melhor
ros encontros mantidos com elemen- causa", o integralismo de Itabirito foi maior parte dos associados são lavra- As consultas já podem ser feitas, não colocar isso não. Muita gente não
tos do Governo, pergunta invariavel- um dos mais fortes do País. Chegou a dores, além de operários, vendedores, mas só no prédio do PRODASEN - entende que é preciso gastar para mo-
mente sôbre a possível extinção das ter uma milícia própria com mais de fiscais de ônibus, zeladores, serventes, Processamento Eletronico do Senado dernizar"
sublegendas. Nadir Rossetti, vice-lider 100 membros, que faziam ginástica pedreiros, carpinteiros e funcionários - cujo projeto arquitetônico "conse- No meio dessa çente que não
gaúcho, explica assim porque o MDB diária e exercícios de tiro, lembrando públicos. gue aliar a simplicidade com a funcio- compreende se podena colocar o Se-
detesta as sublegendas: "Elas são o as forças para-militares que ajudaram O presidente da UOCB fluminen- nalidade, um estilo que caracteriza os nador José Samey. Êle era contra o
único meio que o Governo encontra Hitler a alcançar o poder. se, o integralista e funcionário do Mi- edifícios da Praça dos Três Poderes". PRODASEN. Mas o ex-governador,
para manter um falso bi-partidarismo. Porfírio foi a Itabirito reorganizar nistério da Saúde, Arcy Estrella, de Assim reza o press-release (1) distri- que gastou bastante dinheiro j>ara a
As divisões da Arena são conhecidas o movimento. Encontrou os mesmos 56 anos, que já fez parte das milícias buído aos jornalistas que querem in- modernização do Maranhão, nao {As-
de todos. Mesmo assim, com as suble- amigos, mais velhos porém ainda agi- integralistas na época de Getúlio, diz formações sôbre o assunto. Realmen- sava em economia e sim na inocuida-
gendas, a Arena soma votos e acaba tados. Mestres sem discípulos, eles que a grande maioria dos associados te, o edifício de cimento armado é de de uma melhoria apenas adminis-
ganhando a eleição. O que é puro ar- pareciam condutores de carroças sem nem sabe o que é integralismo ou simples e funcional, por fora. trativa no Congresso. O necessário era
tificialismo. PoiSj na verdade, as sub- passageiros. Os jovens preferiram Cruzada de Renovação NacionaL "A As consultas, segundo um técnico, devolver ao Congresso a importância
legendas, hoje, ja são partidos distin- aproveitar a manhã de domingo e par- nossa pregação é exclusivamente edu- são "feitas de uma maneira elegante, que êle cada vez perde mais e as atri-
tos. E aqui êles aparecem como se ticipar de uma gincana que vai durar cacional utilizando linguagem escrita", não buições que encolhem dia a dia,
fossem de um partido único, forman- o dia inteiro. Por enquanto, a UOCB tem tanto destoam do ambiente. Sarney perdeu.
do uma maioria inexistente ideologi- poder de influência quanto qualquer Ele dá uma demonstração. Baten- Tudo indica que, para desfrutar
camente. Todo mundo sabe, por A conferência de Carlos Porfírio
começou às 11 horas e se encerrou entidade de assistência sociaL Mas os do em teclas idênticas às de uma má- todas as modernas possibilidades ofe-
exèmplo, que no Rio Grande do Sul, integralistas estão entusiasmados com quina de datilografia elétrica, vai es- recidas por "Aquarius", o Congresso
na minha zona, a Arena 1 é o PDC; a uma hora depois. Durante o tempo
que falou, a platéia o ouviu com a a "crescente expansão da UOCB, gra- crevendo no video de uma "televisão primeiro precisa vencer uma odisséia,
Arena 2 o PSD, a Arena 3 o PRP e ças ao apoio que tem recebido**. De portátil", o nome dêle, o código e me comecada bem antas do ano 2001.
assim por diante". atenção. Entusiasmados com o pálido
brilho dessas velhas idéias recauchuta- que é esse apoio? "Os dirigentes da avisa que vai fazer uma pergunta so- (1) Moda ascende'nte do jornalista já
das, outros oradores falaram para di- UOCB - responde Jader Medeiros, bre futebol Seguindo direitinho as receber pronto do interessado o arti-
De qualquer modo, como quem zer que a Cruzada integralista e o úni- presidente nacional da União - são instruções que o computador vai lhe go que pretendia escrever sôbre o
vai aprendendo a conviver com a co movimento de restauração dos va- integralistas e, por coincidência, o go- dando em inglês, também através das próprio interessado.
doença, o MDB terá em novembro lores morais. verno federal e a maioria dos estadu- letrinhas verdes no video, êle obtém a (2) Ê a unidade de "arquivamento**
muitas sublegendas, espalhadas pelo Terminada a conferencia, Carlos ais estão nas mãos de pessoas que de- resposta: na Biblioteca do Congresso de memória do computador. Êle ape-
País. Uma contradição? Na verdade, Porfírio convidou seus companheiros fendem, indiretamente, a ideologia existe somente um livro sôbre fu- nas arquiva os dados que recebe e não
o MDB tem de sobreviver. para a grande tarefa de propagação do integralismo**. tebol pensa. Felizmente, para êle? fJ.CM.)
4 A ECONOMIA

O transplante de fábricas ração das firmas estrangeiras que já Finalmente, um dado essencial: os atuais exportadores" (JB, 23/9/72). ,mente consciente dos riscos e das
operam no país, principalmente em- empresários estrangeiros percebem Em Sao Paulo, o Sindicato Nacio- vantagens que oferecerá" (O ES-
Marcos Gomes presas automobilísticas. Estas, apesar que a própria política econômica bra- nal da Indústria de Peças para Auto- TADO DE S.PAULO, 14/10/72).
dos sucessivos apelos do governo para sileira, nitidamente voltada para o ex- móveis e Similares permaneceu reu- Enquanto isso, surgiam os primei-
que colaborassem na política de ex- terior, vai obrigar o país a continuar nido durante duas horas para discutir ros pedidos de informações no Conse-
O sospense começou em maio, pansão rumo ao mercado externo, vi- mantendo as vantagens e garantias da- os possíveis efeitos do decreto 1.236. lho de Desenvolvimento IndustriaL
quando o governo, através do decre- nham relutando em fazê-lo - o que das ao capital externo. Seu presidente, Luiz Rodovil Rossi, Só no setor automobilístico, a Ci-
to-lei 1.219, estabeleceu o BEFIEX - seria até certo ponto previsível, já Todos esses atrativos do Brasil são perguntou na reunião: "Eu gostaria troen, a Toyota, a Alfa-Romeo e a
Benefícios Fiscais e Programas Espe- que, nesses mercados, iriam competir reforçados, ainda, pela situação polí- de saber: o que quer dizer essa pala- Fiat manifestaram seu interesse pelo
ciais de Exportação. O decreto entre, com suas próprias matrizes. tica mundiaL Não são poucas as em- vra "essencialmente**? . . . Supoe-se transplante. A essas somaram-se a
outras vantagens, concede isenção de presas internacionais que querem sair que "essencialmente" queira dizer pe- Ford-Philco, a AllifrChalmers, a Bur-
impostos para a importação de má- O it que o Brasil tem da Argentina, onde a situação políti-v lo menos dois terços" (VEJA, roughs, a Sperry-Rand e a Texas Ins-
quinas, equipamentos, peças, produ- ca evolui de forma aparentemente in- 27/9/72). trument Co., todas norte-americanas.
tos intermediários e matérias-primas, Antes mesmo de regulamentado o controlável Um outro exemplo para As dúvidas dos empresários brasi-
desde que os produtos se destinem a decreto 1.236, surgiram propostas mostrar a influência da conjuntura Num ambiente de certa aflição leiros persistiriam, entretanto, en-
programas de exportações. Na expo- concretas de transferências de fábri- mundial sobre as decisões brasileiras: um setor mostrava-se particularmente quanto o governo não divulgasse a re-
motivos assinada por dois cas para o BrasiL Algumas dessas pro- desde que os Estados Unidos e o Ja- ínsivo: os fabricantes nacionais gulamentação dos decretos. Tudo in-
afirmava-se que as medidas postas eram determinadas tanto em pão reconheceram que Formosa é máquinas e equipamentos. O de- dicava que ele não tinha pressa. Apa-
que estavam sendo implantadas visa- runção dos atrativos que o Brasil ofe- * uma província da China Popular, em- xxeto 1.236 abria uma brecha na lei rentemente, procurava avaliar primei-
vam "aproveitar a capacidade isolada rece ao investidor estrangeiro como presas norte-americanas e japonesas, da similaridade - critério que protege ro o impacto que a medida vinha cau-
dos grandes grupos econômicos que em decorrência da evolução econômi- ante o progressivo isolamento polí- a incipiente indústria nacional de sando interna e externamente. O no-
detêm importantes participações no ca e política da situação mundiaL tico da ilha de Chiang Kai-Chek, es- equipamentos. Por essa legislação, so- ticiário dos jornais ofereceu ao gover-
mercado externo via empresas asso- tão planejando remover suas indús- mente podem ser importados os equi- no raros elogios cautelosos, um de-
ciadas". Portanto, um recurso imagi- Em primeiro lugar, o Brasil ofere- trias para outros locais (entre alguns pamentos cujas especificações não bate preocupado e raras criticas con-
nado pelo Governo para aumentar as ce mão-de-obra farta e barata: "Nem setores industriais, se diz que a idéia são atendidas pela indústria nacionaL tundentes. Mesmo fora do campo da
exportações brasileiras baseando-se Hong-Kong compete com o Brasil sob do decreto permitindo^ o transplante E o governo acabara de permitir que economia, o decreto foi comentado
nas filiais ou subsidiárias estrangeiras esse aspecto", dizia no Ministério da de fábricas surgiu após a visita de fabricas inteiras, com todos os seus apaixonadamente. O escritor católico
localizadas no País. Indústria e Comércio um diretor da uma missão brasileira a Formosa). equipamentos, novos ou usados, com Tristão de Ataíde, foi agressivo em
Texas Instrument C a , interessada em ou sem similar nacional, fossem trans- sua coluna do JORNAL DO BRASIL:
Em artigo publicado no JORNAL aproveitar os incentivos concedidos
DO BRASIL, o prof. Edmar Bacha, plantadas para o BrasiL Na exposição "Essas fábricas, disse ele, procuram
pelo governo. No terreno trabalhista, de motivos que acompanhou o de- aqui apenas o trabalho barato, sem
da Universidade de Brasília, analisou a situação também é considerada fa- Os dois temores
as causas que determinaram a adoção creto 1.236, os Ministros da Fazenda no entanto trazer as máquinas acom-
vorável pelos empresários estrangei- e do Planejamento alegaram que a ex- panhadas do respectivo know-how es-
do decreto 1.219, explicando que "o ros, graças ao controle severo do mo- Se os empresários brasileiros já pa-
auge econômico do fim da década ceção se impunha, pois "a transfe- pecializado**. E concluía: "Sem direi-
vimento sindical. Esse panorama con- reciam assustados com o decreto rência de conjuntos industriais não to de greve, sem sindicatos proteto-
passada (isto é, de 1968 a 1970), es- trasta com os crescentes problemas 1.219, o temor aumentou com a au-
tava tendendo a estrangular-se pelo enfrentados pelas grandes empresas pode ficar sujeita à exclusão de deter- res, acossada pela fome, multiplicada
torização dos transplantes. Os empre- minadas máquinas, pela descon-
Esgotamento da capacidade para im- na Europa e nos Estados Unidos, on- sários passaram a discutir especial- lo mais alto índice de natalidade,
portar". Mais claramente: a manu-
tenção das atuais taxas de cresci-
de têm aumentado não somente as
reivindicações trabalhistas, como
mente o significado de uma expressão
contida no decreto 1.236, segundo a
tinuidade que seria ocasionada ao
processo de produção" S bituada a uma vida nômade e de
exigências mínimas de conforto, a
mento do PIB, de acordo com a polí-
tica atual, dependem da capacidade
de o país dispor, anualmente, de um
núipero suficiente de divisas para fa-
também os movimentos de solidarie-
dade sindical em âmbito multina-
cional.
r il as firmas que viessem para o Bra-
deveriam produzir "essencialmen-
te" para o mercado externa Isso
Na tentativa de acalmar as dúvidas
dos empresários, o eng.° José Luiz de
massa da nossa pobre mão-de-obr?^
exerce assim um papel de imã irresis^J*
tível a todo esse aço europeu, austra-
zer face às importações, sempre cres- Um segundo dado, ainda não sufi- equivalia a dizer que essas firmas tam- Almeida Bello, Secretário-Geral do liano e norte-americano, obsecado pe-
centes de maquinas, equipamentos, cientemente avaliado, corresponde ao bém poderiam passar a vender parte Conselho de Desenvolvimento Indus- lo lucro fácil e acossado pela compe-
de sua produção no BrasiL Ganhavam trial (do Ministério da Indústria e Co- implacável do mercado univer-
matérias-primas, produtos químicos,
tecnologia, etc.
problema da poluição. Nos países in-
dustrializados, é intensa a pressão da
opinião pública em favor de uma le-
condições de concorrência muito
mais favoráveis, em relação às empre-
mércio), declarou que "o decreto-lei
1.236 é simples e sua regulamentação
T A controvérsia não alterou os pla-
Mas não é o Brasil o país que pos- gislação antipoluidora e de preserva- sas que já funcionam no país há anos. foi cercada de todos os cuidados. É nos do governo, que insistia na neces^
sui o maior volume de divisas em to- ção do ambiente. Conscientes de que O diretor da Federação das Indústrias mais um item nas exceções da simila- sidade premente de garantir o cresci-
da a América Latina? E para que ser- as restrições nesta área surgirão em do Rio Grande do Sul, Alberto De- ridade". Afirmou que tudo fora pre- mento das exportaçoes brasileiras. O
vem essas divisas, senão para adquirir- escala crescente nos próximos anos, fini, falou disso ao Ministro Reis Ve- visto pelo governo, inclusive a possi- próprio Ministro Delfim Neto se en-
as importações de que o país neces- loso: "Preocupa-nos que essas fábri- bilidade de aventureiros aqui se insta- carregou de salientar .a importância
sita? O prof. Edmar Bacha acha que as empresas internacionais estão pro- cas, mais tarde, venham a produzir
curando operar em outros países, on- larem por períodos de um ou dois dessa expansão quando declarou no
as reservas brasileiras realmente cres- também para o mercado interno, ou anos, para explorar também o merca- encerramento do IX Congresso Na-
ceram - mas em decorrência do aflu- de a preocupação com a poluição ain- concorram, com vantagem, com os do interno: O governo está plena- cional de Bancos: "A única restrição
xo de capitais estrangeiros de carac- da nao existe. que poderia, no futuro, dificultar o
terísticas especiais, isto é, que não processo de crescimento do Brasil se-
podem ser transformados em impor- ria uma diminuição do ritmo das ex-
tações, pois devem estar disponíveis portações. Para continuar crescendo a
para repatriamento praticamente a taxas altas, o País tem que ampliar
vista (empréstimos a curto prazo).
Portanto, o aumento dessas divisas
não significa necessariamente maior
capacidade para importar. O governo
Hong—konguização Chico de Oliveira
suas vendas ao exterior em torno de
14% ao ano, e isso constitui um dos
pilares da política econômica em an-
precisava buscar outras fórmulas para Qual é a fundamentação econômi-
(Ían
íntes porém de regulamentar os
garantir as importações e cobrir os não-duráveis e bens intermediários, de que a exportação é o melhor mo-
ca do decreto 1236, aue permite o mas que repercutiram pobremente so- do de crescer. Quem assim procede dois decretos, o governo surpreendeu
compromissos da divida externa sob transplante de fábricas? Todas as de- mais uma vez os empresários, anun-
o risco de diminuir a taxa de cresci- bre a indústria de fabricação de bens esquece que há uma profunda dife-
mento do PIB. clarações oficiais confirmam: a de de capital: máquinas e equipamentos rença entre exportar rádios transis- ciando um programa de apoio à in-
impulsionar-se a exportação de pro- de toda a ordem para a própria indús- tores - caso de Hong-Kong e Formo- dústria nacitional de equipamentos --j J ^
O decreto 1.219 começava a dar dutos manufaturados, elevar portanto tria. E o resultado dessa política é sa - e exportar equipamentos de pro- exatamente a que qu se sentia mais dire-'^^
mmÊfm
uma resposta para esse problema, nossa capacidade de pagamentos no que a indústria nacional de equipa- dução, tecnologia, processos indus- tamente prejudicada pelos dois decre-
criando condições particularmente exterior e permitir a importação de mentos foi a que menos cresceu du- triais - o caso do Japão. Exportar tos. E ao lançar oficialmente o novo
atraentes para as grandes empresas es- certos befts que não produzimos, rante a última década. Agora nova- rádios transistores não torna nenhu- programa em São Paulo, o Ministro
trangeiras expandirem suas atividades necessários para a continuidade de al- mente o seu crescimento ficará preju- ma economia auto-sustentável, por- da Fazenda declarou que seu objetivo
no país, visando ao mercado externo. tas taxas de crescimento do PIB. dicado, uma vez que as fábricas tra- que isso significa maior dependencia era o de permitir ao Brasil reduzir o
Assim, o objetivo é aumentar as ex- Alega-se também que se estará en- rão todos os equipamentos de fora, tecnológica, enquanto exportar bens nível de importações de equipamen-
portações para o país receber mais di- curtando os prazos de produção dos ao invés de er\comendá-los ao setor de capital é outra história bastante di- tos, que deverão atingir este ano cer-
visas e o PIB continuar crescendo - equipamentos que seriam necessários industrial que os produz internamen- ferente Nem Hong-Kong, nem For- ca de 1,5 bilhões de dólares. E sobre
ainda que esse crescimento fique cada para a efetivação dessa estratégia de te mosa produzem a tecnologia dos bens a contradição que muitos viam entre
vez mais dependente das empresas in- importação: se os equipamentos fos- Serão favoráveis as repercussões que exportam, o que significa dizer essa medida e os decretos 1.219 e
ternacionais. sem encomendados a indústria nacio- da estratégia implícita no decreto que os processos, técnicas, equipa- 1.236, o próprio Ministro observou:
nal ou às indústrias estrangeiras, o 1236 sobre a renda, sobre o emprego mentos necessários para a produção "É certo que este programa se insere
E a empresa nacional? prazo de entrada em funcionamento e sobre a distribuição da renda na dos bens que exportam são continua- e se combina com os Decretos 1.219
das novas fábricas se dilataria e isso economia brasileira? Poderia um mente importados. Assim, no mo- e 1.236, que têm causado tanta
Publicado o decreto 1.219, faltava poderia prejudicar certas metas de conjunto de repercussões favoráveis mento em que essa importação cessar preocupação em alguns setores. Co-
sua regulamentação. Para os empresá- importação e exportação. sobre esses aspectos compensar o ou no momento em que outras dire- mo tenho dito com freqüência, seria
rios brasileiros, a grande dúvida era Essa estratégia de encurtamento é efeito negativo já assinalado? A res- trizes forem tomadas pelas grandes absurdo pretender que o governo
saber qual seria o papel que caberia à discutível em termos de crescimento posta poderia ser satisfatória, mas de- empresas internacionais, a produção fizesse alguma coisa contra a indús-
empresa exportadora nacional no no- a longo prazo. O mais grave de seus ve-se examiná-la melhor. Primeiro, as de rádios transistores de Hong-Kong e tria nacional**.
vo esquema, já que ele baseava-se na efeitos é o de desestimular a própria empresas que transplantarem suas fá- de Formosa pode estagnar e até retro-
expansão das firmas estrangeiras. produção nacional de equipamentos; bricas para o Brasil, o farão movidas ceder. Final esperado
No entanto, em vez da regulamen- em outras palavras, deixa de haver pelos fortes subsídios ao capital, que A política do decreto 1236 é as-
taçao do decreto 1.219, em fins de uma certa proporcionalidade entre o elevarão sua taxa de lucro e pelos bai- Avaliadas as reações internas e, de

r > o governo adotou nova resolu-


o decreto 1.236, pelo qual se
permite o transplante de fábricas in-
crescimento econômico global e o
crescimentç do setor industrial que
produz bens de capital Essa estagna-
ção relativa do setor que produz equi-
xos salários vigentes no Brasil, pois é
o resultado desses dois fatores que as
tomarão competitivas no mercado
externo. Ê essa uma fórmula, na ver-
sim uma faca de dois gumes, [X>is ex-
põe o país, mais que antes, às deci-
sões das grandes empresas interna-
cionais. Quando éramos basicamente
produtores de café, a viabilidade de
certa forma, acalmados alguns âni-
mos, no dia 31 de outubro os decre-
tos 1.219 e 1.236 foram finalmente
regulamentados - após mais ou me-
teiras de outros países para o Brasil, pamentos é altamente negativa do dade, ideal para reforçar a concen- nossa exportação dependia sobretudo nos 6 meses de suspense desde a pu-
desde que sua produção se destine ponto de vista de tornar a economia tração da renda. A longo prazo, por- do comportamento dos consumidores blicação do primeiro.
"essencialmente para a exportação. nacional auto-sustentável tanto, essa estratégia ampliará as dis- e da nossa capacidade interna de pro- As novidades foram poucas. Os
Mudanças de rumo? Não. Essa Qual é a experiência nacional em tâncias entre o crescimento do PIB e duzir café; neste caso, a estabilidade benefícios só serão concedidos se a
medida complementava e reforçava a relação a esse problema? Basta ver o o crescimento do setor que produz desse tijx) de exportação era previsí- produção do conjunto industrial se
primeira, dentro da política do gover- que significou a montagem - na dé- bens de capital Concentrará a renda vel, pois nem o gosto dos consumi- destinar essencialmente à exportação.
no de aumentar as exportações ba- cada dos cinquenta - das indústrias e reforçará o mesmo modelo de cresci- dores muda tão repentinamente, nem As fábricas a serem transplantadas dej
se ando-se nas firmas estrangeiras. O que constituíram o Plano de Metas mento econômico, concentrador, ex- nossa capacidade de produção era vem estar em pleno funcionamento lá
decreto 1.219, procura incentivar as do governo KubitsCheK, a automo- cludente, mais dependente da impor- muito flutuante. No caso do modelo fora. Elas poderão colocar parte de
empresas estrangeiras já localizadas bilística, a de construção naval,'a pró- tação de equipamentos e mais depen- de Hong-Kong, a decisão vode esca- sua produção no mercado interno e.
no país - sobretudo a indústria auto- pria siderurgia, a química. Sob a pro- dente da exportação dos bens manu- par inteiramente de nossas mão* e do para tanto, o governo estabelecera
mobilística - a produzir para o mer- teção da Instrução 113 - de que o faturados para que o decreto 1236 gosto dos consumidores, para concen- uma cota anual em função da inexis-
cado externo. O decreto 1.236, per- decreto 1236 não é senão uma sim- tornou-se necessário. trar-se em um punhado de grandes tência ou insuficiência de produto si-
mitia que fábricas inteiras, que fun- ples cópia - entraram no País unida- empresas internacionais, cujas deci- milar nacionaL
cionassem em outros países, deslocas- A estratégia do decreto 1236 leva sões são movidas essencialmente pela
des inteiras de fabricação, que reper- a uma "hong-konguização" da econo- Na verdade, a regulamentação faz
sem para cá, desde que também pro- cutiram favoravelmente sobre a pro- taxa de lucro que lhes é proporciona- poucas exigências e deixa uma ampla
duzissem essencialmente para o exte- mia brasileira. Nem se venha com o da.
dução de bens de consumo duráveis e exemplo do Japão, com o argumento faixa de liberdade ao governo, para
rior. Em alguns círculos, afirmava-se que ele possa decidir em função de
mesmo que o novo decreto fora ela- cada caso concreto.
borado em função da falta de colabo-
Duas imagens do milagre abordem o problema de modo dife- 700 mil trabalhadores: de acordo vigorosos proponentes da idéia de
The Economist e The Financial Times publicaram rente, começam por concordar que com os dados acima, houve 1,0 mi- que, por causa da deterioração dos
houve redução real na renda dos me- lhão de trabalhadores acrescidos ao termos de troça, as nações em desen-
dois suplementos especiais sobre o Brasil nos favorecidos. grupo com renda superior a Cr$ volvimento deveriam todas investir
e sua política econômica. Divergentes em suas Para o Financial Times, essa redu- 466,00, mas houve também um de- seu dinheiro em usinas siderúrgicas.
ção pode ser vista comparando o salá- créscimo de 1,7 milhão de trabalha- ( . . . ) Em segundo lugar "o sr. Delfim
conclusões, as análises permitem uma rio médio na indústria, que aumentou dores no grupo entre Cr$ 210,00 e Neto recusa abertamente a idéia que
avaliação mais equilibrada dos rumos do país 14 p o r cento entre 1965 e 1969, e o Cr$ 466,00. A diferença, isto é, 700 o Brasil deveria abandonar a corrida
salario médio geral - "o melhor indi- mil trabalhadores, foi forçosamente tecnológica para promover indústrias
cador para a renda dos trabalhadores empurrada para o grupo inferior, de trabalho-intensivas mais apropriadas**
Gerson Toller Gomes menos pagos** — que caiu 7 por cento renda abaixo de Cr$ 210,00. a seus problemas sociais. Isso porque
no mesmo período. Até aí porém não há discordância o problema é persuadir as compa-
"Como o sr. McNamara sentiu-se significativa. Esta começa nos comen- nhias estrangeiras a investir, sem for-
Um dos campos de batalha entre do IPEA, da assessoria econômica do çá-las a percorrer um labirinto de exi-
os governos da Revolução e seus opo- ministro da Fazenda, ou do Banco obrigado a dizer na III UNCTAD, os tários: o Financial Times conclui sim-
dados sobre a distribuição de renda plesmente que "na luta contra a infla- gências burocráticas**. Mas talvez,
sitores tem sido a "imagem do Brasil Mundial. acrescenta o Economist "tenha che-
no exterior". Constantemente, a opi- Assim, o suplemento do Eco- no Brasil mostram uma deterioração ção os pobres tiveram que pagar o pa-
comparativa da situação dos grupos to, enquanto aqueles com renda rela- gado a hora em que o govêrno possa
nüo pública internacional - desde os nomist é bem a visão de um liberal pensar sobre incentivos para a criação
investidores até os intelectuais - tem- anglo-saxônico a respeito de um país mais pobres. O fato é que a renda real tivamente mais alta tornaram-se mui-
per capita da metade mais baixa dos to maisricos**.O Economist, por sua de empregos**. Além dessa ressalva fi-
-se visto entre discursos otimistas do em desenvolvimento: seria melhor nal, que, indiretamente, parece indi-
ministro Delfim Neto e conferências que o governo fosse democrático e ci- recebedores de renda não aumentou vez, procura justificar o resultado
mais de 0,75 por cento ao ano entre afirmando que "as estatísticas não car que os caminhos talvez pudessem
sombrias de D. Helder Câmara, entre vil, que não tivesse gente passando fo- ser outros, não deixa de ser interes-
notícias de inaugurações de agências me, que os índios não fossem mortos 1960 e 1970, passando de 253 para são satisfatórias**; que dez anos é um
272 dólares anuais. Em contraste, o 1 período muito longo; que parte do sante n o t a r que a análise do
bancárias e demonstrações hostis dos pelos donos de terras, que não exis- Economist dá destaque a um aspecto
estudantes da Maison au Brésil. tissem favelas, inflação, maus tratos a por cento de renda mais alta teve um declínio da renda deve ser atribuído
aumento de 11,2 ao ano, passando de ao "caos econômico*' do govêrno que nenhum partidario da política
O tom da disputa náo deixa muita presos políticos e empresas familia- 8.350 para 17.700 dólares anuais en- Goulart e ao "vigoroso programa de econômica do Ministro da Fazenda
escolha ao observador estrangeiro. res. Mas essas lamentáveis ocorrências tre 1960 t 1970. Ao mesmo tempo, estabilização** do ministro Roberto faria questão de ressaltar, no Brasil: a
Ou acredita no ministro e no ban- são herança do passado, que só um classe média também foi razoavel- Campos e que, enfim, "se as estatísti- essencialidade do capital estrangeiro
queiro, e fica convencido de que tudo sistema administrativo moderno e mente favorecida.** cas não revelam o melhor, elas tam- nessa política.
vai bem, ou acredita no bispo e no tecnocrático como o nosso, aliado à bém não revelam o pior**, pois desde
estudante, e fica convencido de que livre empresa operando em bases ra- "O (jue é pior - acrescenta o jor- 1968 os salários reais começaram a O enfoque do Financial Times pa-
tudo vai maL cionais - e com o auxílio indispensá- nal britânico - é que dentro dos 50 ra a questão i4máquinas ou mão-de-
Dentro dos limites marcados por vel do capital e tecnologia importa- -obra** é mais amplo e mais severo:
essas posições extremadas, os meios dos - pode vir a solucionar. "Todo o impulso do govêrno é pa-
de informação estrangeiros, por sua ra desenvolver ainda mais os setores
vez, não oferecem maiores luzes à sua O retrato amargo do país (e da economia) que já são
clientela. Ou, na verdade, não ofere- mais avançados, e para encorajar a in-
cem opção nenhuma, na medida em* tegração do setor urbano-industrial
O suplemento do Financial Times, do Brasil no sistema econômico inter-
que os temas preferidos continuam a jornal diário, foi publicado na edição
ser o arrojo de Brasília, os mistérios nacional, cujos padrões de tecnologia
de 10 de outubro. São oito páginas e produtividade são estabelecidos nos
da# floresta amazônica, os maus tratos onde a publicidade ocupa o mesmo
a presos políticos, café e Pelé. Tudo países industrializados do Hemisfério
espaço que no Economist: cerca de Norte. Pouca atenção é dada aparen-
fornece uma imagem coerente e fácil, 60 por cento. Os anunciantes tam-
que sobretudo nao faz pensar muito. temente aos problemas do desempre-
bém pouco diferem: bancos nacionais go e do subemprego, sobre os quais o
Dessa massa de desinformados que e estrangeiros, empresas públicas bra- governo brasileiro, significativamente,
é a "opinião pública internacional'* sileiras e firmas europâas e norte- não publica dados reveladores. A vas-
uma pequena fatia - os leitores de -americanas. Há diversos autores e, ta força de trabalho rural, e aqui esta-
The Economist e The Financial Ti- com exceção de Emanuel de Kadt, do mos falando de cerca de 13 milhões
mes - teve agora uma boa oportuni- Instituto para Estudo do Desenvolvi- de camponêses mais seus pendentes, é
dade para olhar o Brasil mais de per- mento, todos pertencem à redação do esquecida na elaboração dessa politi-
to. As duas publicações, ambas ingle- jornal. ca. Se alguém argumenta que a migra-
sas, ambas respeitáveis, com grande Também aqui os títulos são signi- ção para as cidades será capaz de re-
circulação no meio acadêmico e dos ficativos, embora numa outra linha: solver tudo isso, e preciso lembrar
negócios na Grã-Bretanha e nos Esta- "As Desigualdades da Renda**(título que "setor de serviços * urbano já está
dos Unidos, editaram recentemente de uma entrevista com o ministro lotado, contendo, literalmente, se-
dois suplementos especiais sobre o Delfim Neto); "O "Milagre** Econô- gundo as estatísticas de emprego, mi-
Brasil. mico Não-Distribuído**: "Destruindo lhões de pessoas no limite da inani-
Tanto num quanto noutro, o as- a Bacia Amazônica** ; " 0 Crescimento ção.** e acrescenta:
sunto central é a política econômica Explosivo das Populações Urbanas**.
do Governo e seus resultados. Sem amenidades. Menos ambicioso e "Nem o tipo de crescimento in-
Na apresentação dos dados e pro- descritivo (e chato) do que o Eco- dustrial planejado dá muita esperança
blemas, houve, desta vez, coincidên- nomist, o Financial Times procura a essas pessoas. Aparentemente não
cia entre as informações. Mas, quan- analisar alguns pontos fundamentais está sendo feito nenhum esforço para
do se passa da mera enunciação para da política econômica do governo, estimular as indústrias que usam mé-
a análise crítica, a posição das duas para chegar a conclusões bem mais todos de produção trabalho-inten-
publicações diverge radicalmente. Pa- amargas: sivas**.
ra uma, o quadro é brilhante. Para "A saída para o Brasil é diferente A ênfase à tecnologia é uma ne-
outra, as cores são negras. (da pretendida pela política atual): cessidade para a conquista dos merca-
existe alguma razão para acreditar dos mundiais, segundo os partidários
O retrato amável que o tipo atual de crescimento leva- da política economica brasileira. Não
ra, em futuro previsível, a um conjun- é esse o ponto de vista do Financial
O suplemento do Economist, revis- to de mudanças econômicas e sociais Times: "Só do melhor para o Brasil**,
ta semanal, saiu como encarte ao nú- aue possa realmente ser chamado é com certeza uma tolice. Enquanto
mero publicado na primeira semana desenvolvimento? Essas mudanças alguns ramos industriais realmente
de setembro. Tem 78 páçinas, das tão anunciadas irão acontecer, mes- precisam usar a mais recente tecnolo-
quais 46 de anúncio e matéria publi- mo "eventualmente** ? gia disponível, se pretendem com-
citária, não faltando policromia e Essa preocupação - com a viabili- petir com sucesso no mercado inter-
anúncios de duas páginas. dade do modelo brasileiro - e mais a The Economist: o debate sôbre a concentração nacional, muito bem feitos com
O título do suplemento é "The dependência do capital estrangeiro de renda se baseia em estatísticas que tecnologias "intermediárias** também
Moving Frontier" C'A Nova Frontei- são dois pontos em aue o jornal con- podem ser vendidos no exterior**.
ra**)« e a primeira capa mostra uma centra sua análise. Sem ocultar que
'nao são satisfatórias". De qualquer forma, "nao
Qualquer leitor inglês ou america-
família de nordestinos - ou coisa que "uma alta taxa de crescimento econô- hâ razão para dividir o bolo em fatias no que combinar essas afirmações
o valha - andando por uma avenida mico, aumento nas exportações e a menores, a menos que exista um bolo maior". com as feitas pelo Economist sôbce o
de Brasília. Êsse título e alguns ou- habilidade de atrair dinheiro do mun- mesmo assunto, terá sem dúvida mui-
tros servem para revelar o espírito do todo fizeram do Brasil a inveja dos ta matéria de reflexão sôbre as
com que o autor — o jornalista aus- seus vizinhos**, o Financial Times res- opções do desenvolvimento. Terá
traliano Robert Moss - se dedicou à salva os problemas que esses atrativos por cento mais pobres da população, subir, aumentando 3,4 por cento ao também um quadro geral das opções
sua tarefa: "A Lei do Mercado**; podem trazer. Segundo ele, a grande a renda de muitos milhões de pessoas ano. já adotadas em nosso País.
"Crescer é Concentrar"; "Convivendo quantidade de hot money (dinheiro diminuiu enquanto os salários dos
com a Inflação**; "Vendendo Para o especulativo) emprestado a curto pra- t r a b a l h a d o r e s especializados o Capital x trabalho Natalidade, velho tema
Mundo"; "Made in Brasil**; "Incenti- zo pelos grupos internacionais pode aumentavam**.
vos Para a Indústria**, assim como "O criar problemas de pagamento, e a Para o Economist, a redução se A mesma divergência é mantida
Reino de Oxalá** e "Os Novos única maneira de obter empréstimos A diferença de análise, persiste na
verifica graças à ampliação do merca- discussão do tema tecnologia e em- quando se discute a "explosão urba-
Rockefellers**. mais longos será conceder vantagens do de trabalho, com a absorção de na** e a política habitacional do go-
suplementares aos investidores estran- prego. Sob o título "A Resposta**, o
Nada de muito agressivo, portanto, maior número de trabalhadores pelo Economist relembra inicialmente que vêrno. Novamente o Financial Times
para a posição oficial brasileira. O geiros. grupo de menor renda (até Cr$ mostra-se mais crítico em sua aprecia-
a política do ministro Delfim Neto
tom é, de modo geral, otimista e con- Estendendo sua análise aos pro- 210,00), que passou de 10,6 para tem sido alvo de críticas, nesse cam- ção e mais descrente das soluções ofi-
fiante "no maior ativo (do Brasil) que gramas socio-econômicos do governo 17,8 milhões de trabalhadores, em po, sob o argumento de aue a baixa ciais:
é também a razão pela qual muitos Medici, tais como política habitacio- números absolutos, e de 55 para 60 renda dos menos favorecidos e o alto "Cerca de um milhão de pessoas
outros países em desenvolvimento nal, desenvolvimento urbano, política por cento da população ativa, entre nível de desemprego resultam da ên- deixam anualmente as zonas rurais
acharão difícil seguir o mesmo cami- educacional, colonização da Amazô- 1960 e 1970. Ainda na mesma linha fase dada à indústria em relação à assoladas pela miséria e emigram para
nho: seus imensos recursos naturais**. nia, o Financial Times considera otimista, lembra o semanário que o agricultura, assim como da incapaci- as áreas urbanas à procura de traba-
A descrição dêsses recursos e da ma- enfim ser impossível chegar a solu- grupo com renda superior a CrS dade do Govêrno em estabelecer a lho, cuidado médico, educação, e êste
neira pela qual o sistema os tem utili- ções estruturais por êsses caminhos. 466,00 também aumentou rapida- criação de empregos como uma das imã ilusório, progresso... Grandes
zado, - e à mão de obra, à tecnologia Abstem-se, no entanto, de indicar mente ao longo do período, de 2,4 prioridades de aprovação de novos in- programas governamentais foram esta-
e ao capital - não fogem muito dos qualquer solução optativa. para 3,4 milhões de trabalhadores, e vestimentos. Assumindo a defesa do belecidos para tentar deter os déficits
relatórios do governo e do setor pri- de 13 para 22 por cento da popula- ministro, o Economist afirma: crescentes nos serviços urbanos bási-
vado. Da mesma forma, as críticas à Renda, o problema "Em primeiro lugar, embora seja cos. ( . . . ) O programa do Banco Na-
má distribuição da renda, às limita- ção ativa. Concorda, finalmente, que
houve uma redução para o grupo verdade que se tenha colocado muito cional de Habitação é impressionante
ções do mercado interno, aos contra- A diferença de objetivos entre as empenho na indústria em detrimento em números, mas mesmo as 800 mil
tos que só beneficiam às empresas es- compreendido entre Cr$ 210,00 e
duas publicações começa a definir-se Cr$ 466,00, que passou de 6,2 para da produtividade agrícola, seria um unidades construídas entre 1965 e
trangeiras, à situação do Nordeste, ao quando tratam do comportamento êrro atribuir a culpa a Delfim Neto. 1970 absorveram apenas um décimo
crescimento desordenado das cidades, 4,5 milhões de trabalhadores, redu-
dos salários na última década. zindo-se de 32 para 18 por cento da Algumas das pessoas que o estiveram do crescimento da população urbana
e a todos os erros de percurso da po- atacando com mais violência nos últi- no período. ( . . . ) A política do Ban-
lítica, são as mesmas tjue se encon- Tanto o Economist quanto o Fi- população ativa. Pode-se supor, em-
tram em qualquer análise esclarecida nancial Times usaram dados do re- bora o Economist não o aig^ que mos mêses - e especialmente o dr.
censeamento de 1970 e, embora houve uma piora real para no mínimo Celso Furtado — já foram os mais continua na página 6

k
Duas imagens do milagre
continuação da página 5 Essa solução final do problema ur- tuação e suas consequências foram estabelecer formalmente condições çado no que um magnata da constru-
bano é algo que não se encontra em ilustradas recentemente - essa a reve- para a participação brasileira na mine- ção chama um dos espaços vazios do
co é financiar a aquisição de casas, e nenhuma parte do suplemento do Fi- lação - pela disputa^ sôbre a explora- ração". mundo" ; "como Brasília, que é uma
não construir para alugar. Assim, esti- nancial Times, embora não falte nas ção de um dos depósitos de bauxita O Economist, por sua vez,^ re- idéia igualmente controversa, (a Tran-
pulando (para seus mutuários) uma recomendações que os países desen- mais ricos do mundo. A Alcan do conhece que "a abertura do governo samazônica e a colonização da região)
renda mínima igual ao salário míni- volvidos costumam fazer aos países Canadá interrompeu seu trabalho nas aos investimentos estrangeiros na mi- representam uma mudança psicológi-
mo vigente, exclui um terço da popu- em desenvolvimento. minas do Pará. A companhia controla neração" tem recebido algumas críti- ca, uma volta na direção do Oeste".
lação de seus benefícios". reservas da ordem de 130 milhões de cas. Menciona também o caso da Para o Financial Times, que trata
J á o Economist começa afirman- Minérios, controle estrangeiro toneladas de bauxita, e as operações Alcan, e faz a seguinte recomendação o assunto sob o título "Destruindo a
do que "visto de cima, a selva de con- A história da participação do capi- foram ostensivamente suspensas na - para o futuro: Bacia Amazônica", a preocupação é
creto dos arranha-céus de São Paulo e tal estrangeiro ^ na mineração nao espera da melhora dos preços mun- "Embora o capital e know-how muito mais de caráter ecológico.
de seus viadutos sinuosos é algo de apresenta divergências tão grandes, na diais do metal. Mas é quase certo que estrangeiros sejam certamente indis- "Qualquer visitante à Bacia Ama-
inteiramente inesperado e certamente análise feita por uma e outra publica- outra razão tenha sido o pedido feito pensáveis à exploração dos enormes zônica pode ver indicações claras do
único na América Latina: uma visão ção. A diferença é de grau, não de no princípio do ano pelo govêrno depósitos minerais da Amazônia, o futuro da região: margens em erosão
da Revolução Industrial brasileira". conteúdo, - e há, em ambas, a revela- brasileiro para uma participação de govêrno poderia ter a sabedoria de depois da derrubada das árvores, to-
Em seguida fala das favelas, dos mar- lo de fatos pouco conhecidos no 20 a 40 por cento no negócio. A pretender melhores condições quan- ras de madeira de lei transportadas
ginais, dos subempregados, do esfor-
ço do BNH para resolver o problema,
S rasiL
O Financial Times, sinteticamen-
Alcan recusou. O govêrno deu-lhe do da negociação de novos contra-
tos."
em barcos, pilhas de peles de animais
nas pequenas cidades, e culturas
e acaba apontando a única solução três mêses para reconsiderar, mas pas-
te, resume seu ponto de vista afir- sado êsse prazo nem a companhia Ocupação ou ecologia abandonadas onde o chão é agora du-
definitiva ao problema da explosão mando que o Brasil perdeu o controle ro como rocha".
urbana: "deter uma taxa de natalida- nem as autoridades tomaram qual-
da situação, enquanto o Economist, quer atitude". É na discussão do desenvolvimen- O argumento central é que a ex-
de de 2,8 por cento, que apresenta a mesmo mais moderado, não pode dei- to da Amazônia que os dois periódi- ploração descontrolada e a coloniza-
perspectiva alarmante de uma popula- xar de fazer recomendações do tipo Mais adiante, diz o jornal que "o cos radicalizam sua divergência. Usan- ção irão agir sôbre o solo de maneira
ção de 200 milhões no final „da déca- "aumentar a participação do capital ministro das Minas e Energia, sr. Dias do o título "O Império Interno", o prejudicial, removendo a fina camada
da. Rubens Costa foi um dos poucos brasileiro nas empresas internacionais Leite, continua a dar as boas vindas Economist não dispensa nenhuma das de humus e alterando o equilíbrio
homens na administração com cora- que operam na Amazônia". ao capital internacional." Embora as frases entusiásticas: "O Projeto da ecológico da região. "Os geógrafos es-
gem bastante para defender vigorosa- companhias mistas possam ajudar a Transamazônica é o exemplo mais es- timam que a devastação da floresta e
mente uma campanha de controle da Para o Financial Times, "um terço
dos recursos minerais do Brasil está pacificar os nacionalistas, disse o mi- petacular da marcha constante para o sua transformação num deserto levará
natalidade. ( . . . ) nistro, não creio que seja necessário interior" ;"é um gesto magnífico lan- entre 30 e 100 anos."
agora em mãos estrangeiras. Esta si-

Segundo Delfim, qualquer período. Agora estamos ten-


tando alongar o prazo dos emprésti-
mos. Nos últimos 12 mêses passamos
de um limite de 6 mêses para um de 6
distorção superável anos. Paralelamente, as exportações
subiram de 1 milhão para 3 milhões
600 mü dólares entre 1968 e 1972, e
Sob o título "As Desigualdades da distribuição da renda. Estamos ten- êste ano aumentamos bastante nossas
Renda", o suplemento do Financial tando usar as forças do mercado e to- reservas.
Times publicou uma entrevista com o dos os nossos investimentos da me- FT - Mas qual a percentagem da J
ministro Delfim Neto, realizada em lhor maneira possível, sem aumentar receita de exportação que esta sendo
Londres no começo de outubro: o nível de desigualdade. absorvida pelo serviço e amortização
FT - Durante sua administração FT -.Desde 1964 o govêrno brasi- da dívida?
como ministro da Fazenda, o Brasil leiro impôs enormes limitações aos
tem revelado alguns dados impressio- sindicatos. O Sr. também não concor- DN - Eu diria cêrca de 21 ou 22
nantes quanto ao crescimento do daria que isso teve dois efeitos negati- por cento.
PNB. Entretanto o sr. McNamara, vos sôbre a economia brasileira: per- FT - Se a sua posição em reservas
presidente do Banco Mundial, criti- mitiu aos industriais se habituarem a é tão favorável, por que o Sr. não pa-
cou a política do seu govêrno durante mão-de-obra artificialmente barata e ga as antigas obrigações aos acioná-
a conferência da UNCTAD realizada reduziu o poder aquisitivo da massa rios das companhias de serviços públi-
em Santiago no princípio desse ano, de consumidores? cos inglêses nacionalizadas?
afirmando que apenas cerca de 40 DN — Nunca tivemos sindicatos DN - Essa é uma reivindicação
por cento dos brasileiros tiraram van- fortes no passado. Ou bem os sindica- justa. Creio que devemos descobrir a
tagem dêsse crescimento. Como o sr. tos eram criados pelo govêrno ou ma- quanto monta exatamente o débito.
responde a críticas dêsse tipo? nipulados por êle. Em segundo lugar, FT - São só cêrca de 5 milhões
DN - O sr. McNamara criticou é minha opinião - e penso que se libras.
não só o Brasil como também o Méxi- pode tomar como um fato - que os
co, e o México é amplamente consi- salários reais estão subindo 3 a 4 por DN - Oh, eu acho que são no má-
derado como um exemplo notável de cento ao ano desde 1967. É difícil ximo 500 mil libras. E essa é uma
desenvolvimento. O sr. McNamara pretender maiores aumentos do salá- diferença considerável. Nós sugerimos
disse que tínhamos má distribuição rio real porque a produtividade não ao governo britânico um encontro
da renda. E isso é um fato. Nós temos está subindo mais do gue isso. Em com as companhias em novembro,
tido má distribuição da renda durante 1964 dobramos o sal ano mínimo, não com o comitê de reclamações,
os últimos quatro séculos. Mas o que mas percebemos que se aumentásse- mas com os verdadeiros representan-
interessa é que estamos melhorando mos demais êsse salário levaríamos à tes dos acionistas. Nesse encontro
essa distribuição. Os dados do sr. maior utilização de técnicas capital- procuraremos encontrar uma solução
McNamara não contradizem o fato intensivas na indústria e à redução do satisfatória. O ponto importante é en-
que a distribuição atual da renda no número de oportunidades de traba- trar em acordo sobre um método de
Brasil pouco difere da que existia na lho. Mesmo se os trabalhadores pu- cálculo do nível de indenização. Seria
Inglaterra na década de 1930 ou nos dessem exigir salários reais mais altos, muito fácil pagar a dívida, mas como
Estados Unidos na década de 1940 é claro que a longo prazo não é possí- posso pagar se a questão ainda está
ou, suspeito, da distribuição da renda vel permitir aumentos maiores de 4 em juízo?
na França e Alemanha de hoje. por cento. É óbvio que nos últimos 6
anos os salários reais não poderiam FT - Passando à política interna-
FT - Em julho o Sr. disse que se ter subido mais que 4 ou 5 por cento cional, parece-me que a depressão
levaria 10 anos para conseguir qual- ao ano sem aumentar as pressões in- que pesa atualmente sôbre a ALALC
quer redistribuição significativa da flacionárias. Acho que os trabalhado- e o Grupo Andino estão deixando o
renda no BrasiL res compreendem essa posição. Só The Financial Times: os males causados pela Brasil isolado. O Sr. estaria de acor-
DN - Eu acho que é impossível um govêrno tolo tentaria explorar a má distribuição de renda podem vir a do?
falar de um número exato de anos. força de trabalho.
Crescimento é por definição diferen- ser irremediáveis: "O bolo chegará a ser DN^ - Nosso Govêrno deu todo o
ciação. Numa tribo de índios na Aus- FT - Como é que o sr. vai chegar dividido mais equitativamente, ou se tornou seu apôio à ALALC, mas agora eu a-
trália, ou no Brasil^ a riqueza é dividi- a redistribuir a renda se não concede cho que chegamos a um ponto onde é
da igualmente. O índice de desigual- aumentos salariais superiores aos au- indigesto para a maioria? " preciso reformular o acordo. Não po-
dade não é um bom índice de bem- mentos de produtividade? demos continuar discutindo reduções
estar. Quando se transferem pessoas tarifárias item por item. Penso que as
da agricultura para a indústria aumen- DN - Nós estamos tentando agir te. Nessa região pode haver um ano da a renda não conseguiremos mais políticas de financiamento dos países
ta-se a desigualdade, mas aumenta-se sôbre as raízes das causas da desigual- de sêca a cada dez anos, mas se au- de 500 dólares per capita. Êste mês, a industrializados são as principais cau-
também os níveis de renda. O que a- dade. A principal causa de desigualda- mentar o nível de renda, aumentará a força de trabalho começará a benefi- sadoras da estagnação da ALALC.
conteceu no Brasil foi que as pessoas de no Brasil e a baixa produtividade capacidade dos habitantes para sobre- ciar-se pela primeira vez do Programa Nós podemos oferecer bens de capital
ascenderam do setor primário, para do setor rural. É a diferença que exis- viver a êsses períodos de sêca. Em de Integração Social. Tal programa a nossos parceiros da ALALC com
os setores industrial e terciário. Então te entre o Nordeste e o Sul, e se o- São Paulo e no Rio Grande do Sul atingirá 6 milhões de trabalhadores, créditos de cinco anos, mas aí vem a
o número de mulheres empregadas Iharmos para o Brasil agora, veremos também há um ano de sêca em dez, proporcionando-lhes renda suplemen- Inglaterra e oferece créditos de 10 ou
subiu, e as mulheres são geralmente o govêrno empenhado em mudar êsse mas as pessoas não se preocupam tan- tar. 12 anos.
menos pagas que os homens. Houve estado de coisas. to porque têm um padrão de vida FT - O sr. está contente com a
grande expansao da educação, e isso mais elevado_e podem recorrer a suas FT - O Sr. disse que o Brasil está
FT - Alegro-me que o Sr. tenha menos interessado em receber em- ampliação da Comunidade Econômi-
também aumenta a desigualdade. As mencionado o Nordeste. Afinal, essa economias. Êsse é o tipo de situação ca Européia?
pessoas instruídas são maisjjrocura- que estamos tentando criar no Nor- préstimos a curto prazo e está que-
região contem um têrço da população rendo que o dinheiro entre para per- DN - No fim uma CEE ampliada
das do que as analfabetas. Esses três do Brasil. O número de empregos ali deste. Aplicamos vultosos recursos na
fatores são provavelmente responsá- industrialização do Nordeste, mas co- manecer pelo menos 6 anos no Brasil. irá incrementar o comércio mundial.
criado pelas novas indústrias não tem Isso deixou as pessoas pensando sô-
veis por cêrca de 40 por cento do au- sido muito grande, e o Sr. mesmo dis- mo as indústrias dessa região tendem FT - O Sr. acredita que o Brasil
mento da desigualdade da renda no a usar matérias-primas importadas do bre a dívida externa do Brasil, e eu deverá tornar-se um líder do mundo
se que era difícil prover irrigação em pergunto se o Sr. pode dizer qual a
Brasil. Mas o que o recenseamento de bases econômicas para as grandes zo- Sul, o dinheiro acha o caminho de em desenvolvimento ou vê, antes, seu
1970 mostra, quando comparado ao volta para o Sul. O que estamos ten- proporção da receita de exportação país participando de organismos do
nas atingidas pelas secas. Como é que empregada no serviço (juros) e na a-
de 1960, e isso é muito importante, é isso deixa o Nordeste? tando fazer é criar condições para mundo desenvolvido?
que a desigualdade da renda entre as que o Nordeste produza suas próprias mortização dessa dívida?
diversas regiões do Brasil está dimi- DN - A irrigação só é uma respos- matérias-primas e alimentos e trans- DN - Não creio que estejamos
nuindo. O que mostra que a política ta para áreas muito pequenas do Nor- DN - Deixe-me explicar nossa es- buscando nenhum tipo de liderança.
deste, talvez em torno do rio São forme-as localmente, conservando as- tratégia um instante. E claro que o Mas acho que podemos trabalhar jun-
está dando certo, embora sem produ- sim o dinheiro na região. O programa
zir mudança dramática na distribui- Francisco e algumas outras zonas. do presidente Medici no Proterra é o Brasil tem um problema de capital, to com os países em desenvolvimen-
ção da renda. A desigualdade da ren- Mas estamos pesquisando e empre- mais ambicioso do gênero. Concede- de falta de recursos. Não temos difi- to, num esforço comum para lembrar
da é reconhecida como problema pe- gando novos tipos de sementes de so- mos 1 bilhão 200 milhões de cruzei- culdade quanto a mão-de-obra e ma- ao mundo industrializado que não há
lo Govêrno; o presidente Medici tem ja, algodão, sorgo, arroz e feijão, que ros para a pequena agricultura do téria-prima, mas necessitamos de ca- somente interesse político, como
perfeita noção disso, e não aprovará terão um efeito tremendo na produti- Nordeste. Afinal o Brasil c um país pital para continuar crescendo a 9 ou também um interêsse econômico
qualquer medida que vá contra a re- vidade do Nordeste. Estamos a cami- pobre, e mesmo se redistribuirmos: to- 10 por cento ao ano. Inicialmente, muito importante, em facilitar nosso
nho da Revolução Verde no Nordes- permitimos que o capital entrasse por desenvolvimento.

JOO^CtStítnQ O&JfcüJB L
Nem sardinha, nem batata
Oficialmente, o preço da carne çougues, e incumbiu-se, aos super- xados talvez pela alta da carne, os nomia de escala têm também o seu cruzeiro — e, apesar do lucro, ainda
não subiu neste final de ano: conti- mercados, de "venderem carne "mais preços do frango, no varejo, saltaram preço. estará vendendo mais barato que o
nua a ser de 5,80 cruzeiros o quilo, barata" ao consumidor. Onde a sabe- de 5,00 para 6,50 cruzeiros; da sardi- pequeno varejista, e mantendo a ima-
para os tipos de primeira. Mas qual- doria desse esquema? Reservou-se, nha, de 0,80 a 2,00 cruzeiros; dos o- Um caso de escala gem de "bom samaritano" para o
quer dona de casa sabe que não con- para os açougues, o papel de "vilão" vos, de 1,80 para 2,80/3,00 cruzeiros; consumidor.
segue comprar, nos açougues, patinho da história - imerecidamente, por- da carne seca, de 8,00 para 12,00 cru- Enquanto o produtor continua a Nunca se procurou apurar se os
ou chã de dentro a menos de 8,00 que, como os açougueiros têm denun- zeiros. Em outras areas, porém, os au- viver na corda bamba, o problema do supermercados vendem tão barato
cruzeiros o quilo - um aumento de ciado repetidamente, simplesmente mentos também pipocaram: o toma- abastecimento continua a ser focali- quanto poderiam, ante essas vanta-
quase 40 por cento. E, o que é pior, não conseguem comprar a carne, jun- te, de 1,00/1,20 cruzeiro, foi a 2,50 zado, principalmente, como uma gens - o que não é surpreendente,
do ponto de vista do consumidor: os to aos frigoríficos e intermediários, a cruzeiros, a batata, até ela, alimento questão de modernizar o elo final da como pode parecer ao consumidor
açougues praticamente nivelaram os preços que lhes permitam respeitar o tradicionalmente popular, não deixou corrente e comercialização, isto é, o desavisado. Também os supermerca-
preços das carnes de segunda com as tabelamento oficial — e a punição de or menos, e saiu dos míseros varejo - através, no caso, dos super- dos». para sua expansão, precisam rea-
de primeira, vendendo, por exemplo, alguns frigoríficos parece confirmar a ,80/1,00 cruzeiro para atingir os mercados. tivar grandes lucros - ou, em outras
o rejeitado músculo ao preço de la- procedência das suas reclamações. 1,80/2,20 cruzeiros, enquanto a ce- páíavras, não haveria coerência em
garto, isto é, também a 8,00 cruzei- Em contrapartida, atribuiu-se, aos su- bola - um caso típico - ia dos 0,65 Por que os supermercados? Nos
cálculos do Ministério da Fazenda, desejar-se uma exceção à regra básica
ros, contra 3,50/4,00 cruzeiros ante- permercados, a possibilidade de figu- até 3,50/4,00 cruzeiros. da atual filosofia econômica: concen-
riores, e o humilde peito a 7,00 cru- rarem como os mocinhos" da histó- eles detêm de 60 a 70 por cento do
comércio dos gêneros de primeira ne- trar a renda para que as empresas te-
zeiros. Tampouco a carne moída ou ria. Reforçou-se, em resumo, a im- A situação exigia mágicas novas, nham condiçoes de investir.
os miúdos escaparam à tendência, in- pressão de que a solução para o abasj sem admissão das evidências. Elas vie- cessidade dos grandes centros urba-
do o mais popular deles, o fígado, aos tecimento, no Brasil, somente poderá ram, sempre habilmente. Quase em si- nos. Operando em grande escala, eles,
mesmos 8,00 cruzeiros, contra 5,00 surgir com a comercialização em vo- lêncio, o Govêrno suspende a expor- teoricamente, reúnem condições para Falseta
cruzeiros anteriores. Assim, se as car- lumes maciços, como ocorre com os tação de batata (também o tomate vender a preços mais baratos. Que
nes de primeira subiram em 40 por supermercados. tem sido vendido ao exterior), e fez condições são essas? A principal - o As sugestões governamentais para
cento, os demais tipos dispararam en- uma pausa, para balanço - segundo que é geralmente desconhecido pelo barateamento dos preços nos super-
tre 60 a mais de 100 por cento. alegou - nas vendas externas de car- grande público —, é que os supermer- mercados fugiu a essa realidade. Um
Assim, o primeiro tempo do jogo cados, principalmente na compra de
das aparências foi ganho tranquila- ne gaúcha. Ao mesmo tempo, ostensi- representante da SUNAB viu encare-
Essa alta, cujos detalhes parecem vamente, transferiu o papel de "vi- produtos industrializados, recebem cimento de custos na distribuição de
ter sido ignorados pelos índices da mente graças à aliança com os super- grandes descontos dos fornecedores,
mercados. No segundo tempo, po- lão" aos supermercados: em uma reu- brindes ("ganhe um balde na compra
Fundação Getúlio Vargas, serviu para nião com os donos de 35 deles, as as vezes de até 30 por cento. O que de cinco quilos de arroz"). Porta-vo-
demonstrar, ainda uma vez, a habili- rém, o inimigo não veio sozinho, co- isso significa, na pratica? Um peque-
mo no episódio da carne. Houve uma autoridades do abastecimento os zes do Ministério da Fazenda conde-
dade com que o Ministério da Fazen- "convidaram" a reduzir o preço de no comerciante pôde comprar um pe- naram os gastos altíssimos com a pro-
da se livra de situações embaraçosas. disparada de preços para vários pro- daço de sabão a 1,00 cruzeiro, da
dutos. Ante a luta mais árdua, os su- cinco produtos: arroz, feijão, ovos, paganda na televisão, onde um segun-
Repetiu-se a tática de anos anteriores: batata e cebola. Gessy Lever, e, como promoção, ven- do de anúncio pode custar até 100
foram lançadas no mercado determi- permercados viram-se subitamente dê-lo ao preço de custo, sem qualquer
convertidos à posição de inimigos - e cruzeiros.
nadas quantidades de carne congela- Entre as medidas sugeridas com lucro. Um supermercado que receba Assim colocada, a posição gover-
da, para venda aos preços de tabela. seu enquadramento na política eco- um desconto de 30 por cento, isto é,
nômica atual, em lugar de elogios, foi esse fim surgiram algumas que indi- »lamentai contra a promoção "desen-
Tudo muito bem planejado: fez-se, cam, quando nada, que as autorida- consiga comprar esse sabão a 0,70 freada"^ parece merecer aplausos.
como se faz ainda, vistas grossas ao transformado em objeto de críticas. cruzeiro, pode revendê-lo com um lu-
des do abastecimento subitamente Uma análise mais aprofundada mos-
desrespeito ao tabelamento pelos a- A partir de fins de setembro, pu- descobriram que as vantagens da eco- cro de 30 por cento, isto é, a 0,90 tra, porém, que as autoridades estão,
em seu "apelo", pedindo o impossí-
vel—e negando alguns dos conceitos
que têm vendido a opinião pública.
Como? Geralmente, aiirma-se
O sorriso amarelo Aloysio Biondi
que a concorrência leva à redução nos
preços - sem apontar que os gastos
promocionais podem resultar em cus-
Quantas mentiras são ditas diaria- politica econômica que è exatamente elevadas (fechando o mercado japo- cisava exportar, não apenas para de- tos mais altos para TODAS as empre-
mente sobre o chamado "Milagre Ja- a oposta á adotada pelo Japão, para nês às empresas americanas), e as res- senvolver-se - mas para não morrer sas concorrentes - no caso, os super-
ponês'\ seja por desinformação ou desenvolver-se O Japão não abriu os trições ao capital estrangeiro (idem). de fome. Ele sempre dependeria da mercados. Mas o fenômeno é válido
conveniência? Tantas quantas se cos- braços a ninguém, para reerguer-se no importação de alimentos - e, para também para as fabricas de automó-
tuma dizer sobre qualquer outro fe- pós-guerra; os países em desenvolvi- pagá-los, precisaria exportar forçosa- veis ou de queijos - e não se pensaria
nômeno economico? Não. A empu- mento estão-se entregando nos braços O saudável egoísmo mente produtos industrializados. em intervir na briga publicitaria des-
Ihação em torno do Japão, foi desde do Japão. Que os aceita, sorridente. Mas, carente de matérias-primas, tam- ses setores. É tácito, em uma econo-
o inicio, auxiliada por muitos fatores. Numa visão rápida, foram estas as bém para a obtenção desses produtos mia de mercado, que os concorrentes
Havia, por parte da opinião pública Em cena a política características do desenvolvimento ja- ele precisaria realizar importações. têm o direito de lutar pela conauista
mundial, e sobretudo do mundo Oci- ponês: Um círculo vicioso infernal, um país do consumidor, alargando seus domí-
dental, o respeito pela perseverança • Capital estrangeiro: todos os se- inviável - que só se tomou viável gra- nios, e esmagando os empresários me-
"Podemos instalar, no Japão, uma tores importantes totalmente fecha- nos poderosos.
de um povo em luta milenar contra o fábrica para produzir "geta' (paredes ças a uma política econômica que le-
solo ingrato, os tufões e maremotos. divisórias de madeira japonesa) ou a- dos (durante anos a Ford e a Chrysler vou em conta os interesses nacionais. Há ainda um último aspecto que
Havia a solidariedade para com um brir um supermercado, desde que elas tentaram se associarem - com um Sua situação era totalmente diferente retrata com maior precisão a essência
povo que, com o pais já destroçado, tenham uma área inferior a 500 me- grande fabricante japonês). O setor de países em desenvolvimento com do problema. Qualquer técnico de
conheceu ainda os horrores de Hiro- tros quadrados". O desabafo, do pre- parcialmente aberto ao capital estran- terriforio amplo e dotado de recursos marketing formado por correspon-
shima e Nagasaki Tudo, auxiliado pe- sidente da Câmara Americana de Co- geiro se resume praticamente à área naturais, menos dependentes, portan- dência sabe que "quem entra em um
lo fato de os japoneses terem a sorte mércio do Japão à revista Time, em de serviços - supermercados, lavan- to, do exterior. supermercado, não compra apenas
de não serem altos, louros, saxónicos maio de 1971, serve para arrebentar derias, boates, como apontava ironi- um ou dois produtos de que realmen-
e espalhafatosos. De exibirem uma com o primeiro dos paralelos que camente um empresário norte-ameri- No Japão, o povo foi solicitado a te necessitava". Tudo em um super-
humildade, uma timidez e um sorriso se tenta estabelecer entre o chamado cano. apertar o cinto para que o país pudes- mercado é disposto de forma a levar
permanentes. "Milagre Japonês" e outros milagres, • Balanço de pagamentos: sem a se exportar porque era essa a forma o consumidor a comprar o supérfluo:
tros milagres. participação significativa do capital de obter divisas até mesmo para ma- usam-se até expedientes como colo-
/ Mas, virtudes do povo japonês à estrangeiro, o Japão livrou-se da san- tar a fome do próprio povo. Adotar- car artigos que atraiam as crianças à
parte, a mística precisa ter fim, e dar O Japão não aceitou capital es- gria das remessas de lucros, dividen- se o modelo japonês de exportação, altura de suas mãos (depois que o fi-
lugar à análise lúcida. Porque o Ja- trangeiro em sua economia, ao iniciar dos, royalties, gastos com assistência em circunstâncias totalmente diferen- lho pega um produto, a mãe dificil-
pão, após haver inundado os merca- a reconstrução do pós-guerra. Ê en- técnica (mesmo nos setores em que tes, pode significar exatamente pedir mente deixara de comprá-lo), ou, ain-
dos mundiais com seus produtos, pe- graçado que, no Brasil, onde se fala estrangeiros operam, aliás, é proibida a um povo potencialmente rico que da, de colocar os artigos de limpeza,
netra agora violentamente na econo- tanto no "modelo japonês", esse da- a remessa de lucros). continue a passar fome desnecessaria- de uso obrigatório e permanente, exa-
mia de outros países: calcula-se que, do nunca venha á tona. mente. tamente nos fundos do supermercado
nos próximos doze anos, o Japão in- • Tecnologia.- um dos grandes se-
As principais características do gredos do sucesso japonês está no seu
vestirá cerca de 100 bilhões de dóla- processo japonês de desenvolvimento - para obrigar a dona de casa a atra-
res no exterior, mais que os Estados desenvolvimento tecnológico. Que só vessar todas as alas de prateleiras co-
podem ser confrontadas com as dire- existiu, segundo os próprios japone-
Unidos aplicaram entre 1900 e 1967. trizes que outros países têm adotado Complementares loridas, sofrendo uma tentação a cada
ses, porque, com o predomínio de passo, até comprar a lata de aspargos
Os empresários japoneses, como para crescer nos últimos anos. Na a- empresas nacionais no país, houve in-
os que visitam o Brasil, são afáveis e nálise, é preciso levar em conta o pa- de que não precisava, ou a massa
teresse em pesquisar. A presença de Depois de trancar seu mercado, pronta para bolo três vezes mais cara
sorridentes - mas sua cortesia apenas norama político em cada uma das é- empresas estrangeiras leva, quase sem- depois de acumular uma tecnologia
encobre a agressiva preocupação com pocas: è importante, ou importantís- que a farinha de trigo.
pre, à dependência de pesquisas no incrivelmente rica, o que o Japão está
o papel que seu país desempenhará simo, notar que o "Milagre Japonês" exterior. Além da redução de gastos oferecendo aos países em que inves-
no mundo em futuro próximo. Se- foi, acima de tudo, um fenômeno po- no pagamento de royalties e patentes, te? A possibilidade de idêntica evolu- Reprimenda Injusta
gundo um membro do gabinete do litico. Com a presença de um regime o desenvolvimento de tecnologia lo- ção? Não. O Japão, ainda dentro dos
presidente Nixon, em declaração à re- socialista na China, os EUA, para cal, própria, é um triunfo para a con- seus legítimos interesses, está procu- O funcionamento de um super-
vista Time em maio de 1971, "Os ja- neutralizarem sua influência na Ásia, quista dos mercados externos. rando assegurar matéria-prima, miné- mercado, em resumo, é a síntese do
poneses ainda estão travando a Guer- procuraram fazer do Japão um pais rios, madeira, para sua indústria. Ou próprio funcionamento de uma socie-
ra, só que, agora, em lugar da guerra altamente desenvolvido. Após terem • Comércio externo: barreiras dade de consumo, onde o consumi-
contra as importações, e, também, a alimento para sua população, como é
de canhões, é uma guerra econômica. desmantelado a indústria japonesa o caso da criação de gado, na Amazô- dor é bombardeado com apelos (co-
Sua intenção é tentar dominar o Pací- nos primeiros anos de ocupação, e te- prática de "dumping" nas exporta- mo a distribuição de brindes inúteis)
ções. nia. Em lugar de continuar compran-
fico, e, depois, talvez, o mundo". Es- rem forçado a dissolução dos grandes do e pagando por esses materiais, o para a compra de produtos de que
sa visão apocalítica do crescimento grupos monopolísticos que domina- Japão, sabiamente, está fazendo suas não necessita e nem desejava no mo-
do poderio japonês pode ser exagera- vam a economia japonesa, os EUA re- O modelo exportador empresas se associarem a empresas mento.
da - mas o fenômeno está, certamen- cuaram em toda a linha. Exatamente desses países, ou simplesmente a se Numa sociedade em que a concen-
te, determinando crescentes altera- como aconteceu com a Alemanha instalarem neles, para explorarem es- tração de renda é reconhecida como
ções no panorama das relações inter- (por temor à ascensão da União So- cia Nada mais falso do que a insistên-
com que se procura atribuir às ex- sas atividades rudimentares. Vão, sa- etapa necessária dentro do processo
nacionais, para as quais os analistas viética) os norte-americanos não só fi- portações todo o sucesso do modelo biamente, assegurar matérias-primas e de desenvolvimento — caso do Brasil
começam a despertar. nanciaram o reequipamento da indús- japonês. Houve circunstâncias espe- alimentos para seu país - e, de que- — o estímulo ao consumo supérfluo é
tria japonesa, como admitiram que os cialíssimas no caso japonês, como as bra, vão lucrar com essas atividades, ainda mais fundamental Se as classes
No caso do Brasil, pode-se pergun- grandes grupos voltassem à cena (an podendo, talvez, até, no futuro, re- de renda mais baixa não podem, "por
tar até que ponto interessa, ao país, teriormente, eles eram considerados vistas acima (há outras, óbvio), que
hoje já não existem. Basta lembrar o meter os juros, lucros e dividendos, enquanto", consumir o suficiente pa-
colocar-se entre as nações que terão como os maiores interessados no ex- furor
importantes setores de sua economia protecionista dos EUA contra numa prática cuja existência impedi- ra proporcionar os lucros de que as
pansionismo japonês, e culpados da as exportações ram em seu pais. empresas necessitam para investir, é
dominados pelo capital japonês ou a- participação do Japão na II Guerra alguns países emdedesenvolvimento,
manufaturados de
preciso empurrar mercadorias à clas-
té que ponto interessa estimular a a- Mundial). E, ao longo dos anos, os ano passado, para entender que no os Afirma-se que há complementarie- ses que tem essa capacidade.
gressiva penetração do capital japo- Estados Unidos continuaram a dis- tempos são outros.
nês, como no momento. pensar ao Japão um tratamento privi- dade entre as economias brasileira e Dentro da atual política econômi-
Os sorrisos da missão que visita o legiado, fechando os olhos a pecados Mas não é isso que importa. O que japonesa, e por isso a atual aproxima- ca, os supermercados vêm cumprindo
Brasil podem ser apenas a caracterís- que nunca toleraram, nem de leve, importa, é que o "modelo japonês" çao é excelente para ambos. A com- exatamente a missão confiada a qual-
tica milenar de uma raça. Mas podem, em outros países. Entre eles: a inun- resultou e correspondia às caracterís- plementariedade ê, realmente perfei- quer outra .empresa, de qualquer ou-
também, refletir uma ponta de ironia. dação dos mercados mundiais com ticas da economia do Japão. O Japão ta: um pais com elevado padrão tec- tro setor: vènder a quem pode com-
Os japoneses podem estar achando produtos vendidos a preços de dump- é um arquipélago, com terras insufi- nológico e um pais que volta à condi- prar. O puxão de orelhas foi injusto:
muito engraçado que o Brasil, como ing (roubando clientes às empresas cientes sequer para produzir alimen- ção de fornecedor de matérias-primas mas não vai doer-lhes profundamen-
muitos outros países em desenvolvi- americanas), as tarifas de importação tação de seu povo, e pobre de maté- e produtos agrícolas, exploradas por te, pois restará sempre a compensa-
mento, esteja se entregando a uma rias-primas ou minérios. O Japão pre- oapitais internacionais. ção de ter auxiliado um aliado. Em
situação embaraçosa.
Objetividade e ilusionismo
A ciência econômica exerce indis- riáveis podem ser tratados simulta- o consumidor fosse "soberano", co- do o consumo supérfluo das minorias
Celso Furtado

Em um país como o Brasil basta


farçável sedução nos espíritos graças neamente na forma de um sistema de mo somar as preferências de um mi- privilegiadas (modificando a distribui- concentrar a renda (aumentar o con-
à aparente exatidão dos conceitos e equações diferenciais parciais), essa lionário com as de um pobre que pas- ção do bem estar) do que aumentan- sumo supérfluo em termos relativos)
categorias que utiliza. O economista, ideia leva a modificar em sua própria sa fome? do o investimento. Para o economis- elevar a taxa de crescimento do
geralmente, trata de fenômenos que natureza o fenômeno econômico. Se ta, existe algo de comum a todo ato IB. Isto porque, dado o baixo nível
têm uma expressão quantitativa e a oferta começa a aumentar, os com- As decisões equivocadas de investimento: a subtração de re- médio de renda, somente uma mino-
e, aparentemente, podem ser isola- pradores podem antecipar aumentos cursos ao consumo, ou a transferên- ria tem acesso aos bens duráveis de
s de seu contexto, isto é, podem maiores, baixando os preços muito cia do ato de consumo de hoje para o consumo e são as indústrias de bens
As hipóteses çlobais, que empres- futuro. duráveis as que mais se beneficiam de
ser analisados. Ora, a análise, ao iden- mais do que seria de prever inicial- tam um sentido a vida social, sao o
tificar relações estáveis entre fenôme^ mente. Asam, a própria estrutura do Sobre este ponto estamos todos economias de escala. Assim, dada
ponto de partida de todo economista uma certa taxa de investimento, se a
nos, abre o caminho à verificação e à sistema pode modificar-se, como de- que define categorias de análise ma- de acordo, diria o professor de econo-
previsão que são as características corrência da ação de um fator. É que mia. Ora, essa afirmação se baseia nu- procura de automóveis cresce mais
croeconômica. E essas hipóteses glo- que a de tecidos (supondo-se que os
fundamentais do conhecimento cien- toda decisão econômica é parte de bais são formuladas a partir da obser- ma falácia gritante: a idéia de que o
tífico em sua mais prestigiosa linha- um conjunto de decisões com impor- consumo é uma massa homogenea. gastos iniciais nos dois tipos de bens
vação do comportamento dos agentes sejam idênticos) a taxa de cresci-
gem. Particularmente no mundo an- tantes projeções no tempo. Essas de- aue controlam os centros principais Quando me privo de uma segunda
glo-saxônico, entende-se como sendo cisões encontram sua coerência últi- mento será maior. Como o rápido
de poder. Não interessa no caso garrafa de vinho, subtraio cincoenta crescimento do número de carros sig-
ciência (science) o uso do método ma num projeto aue introduz um cular sobre os fundamentos do cruzeiros ao consumo, os quais po-
cientifico, e este último é concebido sentido unificador da ação do agente. nifica engarrafamento nas ruas (a in-
se aqueles que o exercem derivam sua dem ser utilizados para investimento; fraestrutura nunca poderá manter o
no sentido estrito da aplicação da a- Isolar uma decisão do conjunto do- autoridade do consenso das maiorias quando um trabalhador manual é o-
nálise matemática e, mais recente- tado de sentido, que é o projeto do mesmo ritmo de expansão), maior
ou da simples repressão; se4 o consen- ido a reduzir a sua ração de pão consumo de gasolina e maior desgaste
mente, da mecânica estatística. Com- agente, considerá-la fora do tempo e so das maiorias resulta da manipula- estar comprimindo o nível de
preende-se, portanto, que homens de em seguida adicioná-la a decisões per- dos carros por quilômetro andado, os
ção da informação ou da interaçao de calorias que absorve, abaixo do que custos do PIB também aumentarão
valor, como Hicks e Samuelson se ha- tencentes a outros projetos, sem defi- torças sociais que se controlam mu- necessita para cobrir o desgaste do
jam tanto empenhado em traduzir tu- nir o grau de heterogeneidade dos por este lado. Ora, como o PIB cresce
tuamente. No caso, apenas interessa dia de trabalho, o que a longo prazo com o seu custo, a taxa de crescimen-
do que sabemos da realidade econô- mesmos, é algo fundamentalmente assinalar que os que mandam falam
mica em linguagem de análise mate- distinto do que em ciência natural se pode reduzir o número total de dias to será ainda mais alta. Podemos ir
em nome da coletividade. Quaisquer que trabalhará em sua vida. O econo- mais longe: se a renda continua a con-
mática. Não tanto por pedantismo, considera como legítima aplicação do que sejam as motivações do que legis-
como a alguns pode parecer, mas por- método analítico. mista mede o valor do pão economi- centrar-se, haverá mercado crescente
la sobre impostos, do que decide on- zado, digamos 2,5 cruzeiros, e dirá: a para modelos novos de carros, incor-
que estão convencidos de que o pro- de localizar uma estrada e do que ar-
gresso da economia se faz no sentido poupança extraída de 20 trabalhado- porando novas sofisticações. Os mo-
Quem detém o poder bitra entre a construção de um hospi- res, equivale à segunda garrafa de vi- delos novos podem sér vendidos por
de uma aplicação crescente do méto-
do científico, e este tem o seu para- tal e a de um quartel, as decisões to- nho de que se privou o Sr. Furtado. preços relativamente altos, dando ori-
digma na ciência física. Quando se pensa sobre esse pro- madas sobre esses assuntos condicio- Se o consumo não é uma massa gem ao que o economista chama de
blema metodológico compreende-se nam a vida coletiva. É certo que o homogênea, tampouco poderá sê-lo a renda do produtor. Uma vez difundi-
Ocorre, entretanto, que os concei- sem dificuldade que em economia o estudioso poderá considerar muitas poupança, que se define como "re- do o seu uso, o produto perde o seu
tos econômicos não são objetivos, no conhecimento científico, isto é, a dessas decisões equivocadas, isto é, cursos subtraídos ao consumo presen- encanto, se vulgariza, encontrando o
sentido em que são os conceitos usa- ibilidade de verificar o que se sa- incapazes de produzir os resultados te'*. E se a poupança não é homogê- seu nível de preço normal. Essa renda
dos em ciências naturais. Para que o e de utilizar o conhecimento para esperados pelos agentes que as toma- nea, como poderá sê-lo a inversão? do produtor também contribui para
preço do feijão fosse algo objetivo de- prever, (e portanto para agir com ram; ou inadequadas, vale dizer, em Como medir com a mesma régua a acelerar o crescimento do PIB. Em
veria ser, como se ensina nos livros de maior eficácia), não e e não poderá desacordo com os autênticos interes- inversão financiada com a redução-do síntese: quanto mais se concentra a
texto, a resultante da interação de ser alcançado dentro do quadro me- ses sociais. Em um e outro casos, o pão dos trabalhadores e a outra finan- renda, mais privilégios se criam,
duas forças, a procura e a oferta, do- todológico em que vem atuando a estudioso estará comparando meios maior é o consumo supérfluo, maior
chamada economia positiva. ciada com a minha privação de uma
tadas de existencia objetiva. Seria o com fins, o que põe a claro o fato de segunda garrafa de vinho? será a taxa de crescimento do PIB.
caso, por exemplo, se a oferta do fei- Essa conclusão se impõe de forma que ele e consciente da existência de Desta forma, a contabilidade nacional
jão dependesse apenas da precipita- ainda mais clara com respeito à cha- um conjunto coerente de valores, sem O Deus PIB pode se transformar num labirinto de
ção pluviométrica e, a procura, das mada análise macroeconômica, a qual o que não lhe seria possível entender espelhos, no qual um hábil ilusionista
necessidades fisiológicas de um grupo pretende explicar o comportamento (emprestar sentido) a vida sociaL Que pode obter os efeitos mais deslum-
definido de pessoas. Mas a verdade é Passemos à outra vaca sagrada dos brantes.
de um sistema econômico nacional o estudioso prefira os seus próprios economistas: o Produto Interno Bru-
que a oferta de feijão está condicio- Neste caso, as definições dos concei- valores aos dos agentes que contro-
nada por uma série de fatores sociais, to (PIB). Esse conceito ambíguo, a-
tos e categorias básicas da análise es- lam o poder, não altera o fundo da málgama de um número consideravel
que vao desde a manipulação do cré- tão diretamente influenciadas pela vi- questão: é observando o comporta- Não se trata, evidentemente, de
dito para financiar estoques até o uso de definições mais ou menos arbitrá- negar todo valor a esses conceitos,
são inicial que tem o economista do mento dos que controlam os centros rias, transformou-se em algo tão real
de pressões para importar ou expor- projeto implícito na vida social. Esta de decisão que ele parte para captar o nem de abandoná-los se não podemos
tar o produto, sem falar no controle para o homem da rua como o foi o substituí-los por outros melhores.
se apresenta como um processoy ou sentido do conjunto do processo so- mistério da Santíssima Trindade para
dos meios de transporte, no grau de seja, como um conjunto de fenôme- ciaL Trata-se de conhecer-lhes a exata sig-
monopólio dos mercados, etc. Da os camponeses da Idade Média na Eu- nificação. A objetividade em ciências
nos mais ou menos ordenados que ad- ropa. sociais vai sendo obtida na medida
mesma maneira, a demanda resulta da quirem sentido (são inteligíveis glo-
interação de uma série de forcas so- balmente) quando observados em Avaliar o custo social Ora, ainda mais ambíguo é o ou- em que se explicitam os fins e se
ciais, que vão da distribuição da ren- função do tempo. Essa percepção glo- tro conceito de taxa de crescimento identificam nos meios (nos métodos e
da até a possibilidade que tenham as bal do processo social é principalmen- Coloquemos esse problema num do PIB. instrumentos de trabalho) o que nes-
pessoas de sobreviver produzindo pa- te obtida observando os agentes que mais concreto. Os economistas Por que se ignora na medição do tes é decorrência necessária dos refe-
ra a própria subsistência. controlam os principais centros de correntemente de inversão ou PIB o custo que significa para a cole- ridos fins.
decisão, ou seja, que exercem poder. investimentos como de algo que não tividade a destruição das reservas mi- Como esse esforço no sentido de
A existência de um Estado facilita a c o m p o r t a maiores amoiguidades. nerais (não reprodutíveis) e dos solos explicitação de fins e de identificação
A falsa realidade identificação das estruturas centrais e florestas (dificilmente reprodutí- do condicionamento dos métodos de
de poder. Da mesma forma a concen- veis)? Por que ignorar a poluição das trabalho pelos valores implícitos na
Quando aplica o método analítico tração do poder econômico (grandes sempre águas e a destruição total dos peixes escolha dos problemas é responsabili-
a esse fenômeno (o preço do feijão), empresas) e da manipulação da infor- será essencial". É essa uma afirmação nos rios em que as usinas despejam os dade direta do cientista social, pode-
o economista diz: constantes todos os mação (grandes cadeias de jornais e totalmente equivocada. Investimento seus resíduos? Se o aumento da taxa se afirmar que o avanço das ciências
demais fatores, se aumenta a oferta estações de rádio) facilita a identifica- é o processo pelo qual se aumenta a de crescimento do PIB é acompanha- sociais também depende do papel que
do feijão, o preço deste tende a dimi- capacidade produtiva mediante certo do de baixa do salário real e esse salá- na sociedade se atribuem e exercem
nuir. Ora, o aumento da oferta tam-
bém modifica outros fatores, como o
grau de endividamento para estoca-
r~ » de estruturas colaterais do poder.
em torno das decisões emanadas
custo sociaL Suponhamos que o obje-
tivo seja produzir mais bem estar so-
cial e que na definição de bem estar
rio está no nível de subsistência fisio-
lógica, é de admitir que estará haven-
do um desgaste humano. As estatísti-
cas de mortalidade infantil e expecta-
os que estudam os problemas sociais.
O progresso dessas ciências não é in-
dependente do avanço do homem em
gem, a pressão para exportar, etc. A dos centros principais de poder que social se concorde em dar a mais alta sua capacidade de autocrítica e auto-
idéia de que tudo o mais permanece se ordena o amplo processo da vida prioridade à melhoria da dieta infan- tiva^ de vida podem ou não traduzir o afirmação. Não é de surpreender p
constante, que é essencial para o uso social. Nem o mais ingênuo jovem e- til, a fim de obter melhores condições fenômeno, pois sendo médias nacio- tanto que essas ciências se degradem
do aparelho analítico matemático conomista doutrinado em Chicago a- eugênicas para o conjunto da popula- nais e sociais anulam os sofrimentos quando declina o^ exercício da auto-
(graças a esse recurso metodológico, credita hoje no mito da "soberania*1 ção. Esse objetivo pode ser muito de uns com as maiores satisfações de crítica e a consciência de responsabi-
múltiplas relações entre pares de va- do consumidor como princípio orde- mais rapidamente alcançado reduzin- outros. lidade sociaL
nador da vida econômica. Mesmo que

Marcha lenta para o transporte de massa


A falta de recursos pode ser, às gas faveladas (e, frequentemente de ônibus, 1,1 para os taxis e 1,7 passa- sistema de transporte de massa, as grandes usuários. Por essa mesma ca-
vezes, uma desculpa para encobrir a seu marido). geiros para os carros. principais cidades brasileiras estão a- racterística, aliás, a construção de
falta de simpatia para com os proble- Desde o ano passado, o problema Longe de ser apenas um problema m caça das de paralisação. vias expressas pouco significado tem,
mas de extensas faixas da população. dos moradores da Cidade de Deus es- que interessa apenas às faixas da po- Na semana que passou, o Governo na solução dos problemas de trans-
Quando os favelados da zona Sul, do tá resolvido — ao menos, sob o aspec- pulação de renda mais baixa, a im- lançou quatro projetos impactos, porte de massa. Ela é apenas a persis-
Rio, foram transferidos para a Cidade to de funcionamento de uma linha di- plantação de um sistema de transpor- dentre eles um de vias expressas, a ser tência da ênfase dada ao sistema ro-
de Deus, dando início, praticamente, reta. te de massa vai ganhando característi- implantado com recursos resultantes doviário, no âmbito urbano como no
ao programa de erradicação das fave- Mas o quadro geral do transporte cas de necessidade de ordem econô- da elevação da taxa rodoviária, de 2 nacional, em prejuizo de outros
las cariocas, a renda dessas famílias de massa nos grandes centros brasilei- mica. Como foi reconhecido no Semi- para 3 pOr cento sobre o valor dos meios de transporte, realmente de
foi fortemente abalada porque a ros continua inalterado. Ainda no nário Sobre Desenvolvimento Urbano veículos licenciados anualmente. Dá- massa. O projeto-impacto, no caso,
maioria das mulheres, que ajudavam Rio, a massa populacional que habita recentemente promovido no Rio pelo se a entender que a medida se enqua- recebera as boas vindas dos técnicos
seus maridos trabalhando como em- os subúrbios gasta duas horas e meia BNH, o crescimento explosivo dos dra em "uma política tributária qué, se ele fôr complementado por outros
pregadas domésticas, teve que aban- a três horas do seu dia — e de suas grandes centros urbanos brasileiros, e por taxar mais acentuadamente o uso projetos-impactos que acelerem os
donar seus serviços. Antes, quando energias - para chegar ao trabalho (e a concentração das frotas de veículos conspícuo^ do transporte individual - trabalhos de construção de metrôs,
faveladas, bastava-lhes descer o morro outro tanto na volta). nessas áreas, estão se aproximando do é a experiência de cada dia, a torrente de modernização dos trens de subúr-
e em poucos minutos estavam em ca- O plano secundário a que está re- caos. Já no presente, no centro de de veículos de passeio, que se incorpo- bios e do sistema ferroviário do Brasil
sa de suas patroas, sobrando-lhes tem- legado o transporte de massa, no Bra- São Paulo e Rio, em certas horas os ra ao fluxo urbano, com um único — que caminham, quase todos, a pas-
po para cuidar da própria casa - e sil, retrata-se nestes dados oficiais: na veículos desenvolvem velocidades e- ocupante - terá sem dúvida efeito sos de cágado.
dos filhos. Depois, na Cidade de Grande São Paulo, enquanto os trens quivalentes às do carro de boi, ou disciplinador de proteção e estímulo De qualquer forma, já que os re-
Deus, além dos gastos com passagens, transportam em média 400 mil passa- mesmo, da marcha normal de um ho- ao transporte em massa. E, não basta- cursos para as vias expressas foram as-
o trajeto de seus vinte quilômetros geiros por dia entre os municípios da mem. As sucessivas ampliações de a- ra isso, se teria feito justiça social ao segurados, ficara faltando ver, se des-
exigia ainda uma viagem de suas duas area industrial da Grande São Paulo, venidas, e do sistema viário como um tributar os mais aquinhoados a favor ta vez, não se repete o problema da
horas, em ônibus lotados e com uma nada menos de 4,0 milhões de pes- todo, inclusive a construção de viadu- dos menos dotados e dos que dão ao falta de simpatia para com aqueles
- "baldeação** no meio do caminho. soas viajam por ônibus, em número tos e elevados, não representam ne- veículo um uso público.** Insinua-se que não são proprietários de carros.
Por que? Porque durante cerca de de 8.000. No Rio, as ruas são utiliza- nhuma solução a longo prazo para o uma redistribuição de renda que não Na maioria das capitais brasileiras, as
cinco anos não se cuidou da instala- das em 9 por cento pelos ônibus, em problema; resultam as vezes, na lin- existe, já que os proprietários de veí- vias expressas são construídas para
ção de uma linha de ônibus direta en- 35 por cento pelos taxis, e em 56 por guagem dos técnicos, em transferir-se culos nada mais farão que — final- proporcionarem altas velocidades às
*re a Cidade de Deus e os bairros da cento pelos carros particulares, com um ponto de congestionamento de mente - pagar pela implantação de correntes de trafego de automóveis -
zona Sul, local de trabalho das anti- uma media de 30 passageiros para os um local para outro. Por falta de um um sistema viário de que eles são os os ônibus são proibidos de usá-las.
0 MUNDO

EUA : eleições e "mar de lama"


As eleições desta semana nos Esta- Cinco dias antes da doação da
dos Unidos foram disputadas num cli- Gulf, uma subsidiária desse grupo te-
ma de corrupção sem precedentes na xano que se dedica à industrialização
história recente desse país. Até cola- de zinco e chumbo, tinha sido notifi-
boradores íntimos do presidente Ni- cada pela Administração de Prol
xon foram atingidos por uma espécie do Meio Ambiente de que iria recel
de "mar de lama", que nasce ae in- maiores restrições dentro do esquema
vestigações oficiais sobre suborno e- dí controle da poluição. Após a con-
leitoral, espionagem, falsas acusações tribuição, a agência governamental re-
e outros golpes. Nesta página, um re- solveu retirar as restrições. E também
sumo da campanha corrupta" e um desistiu de levar adiante um processo
artigo de Ward Just, do New States- contra a mesma companhia por polui-
man, que explica como o presidente ção de reservas de água.
da República dos Estados Unidos
consegue ainda manter-se como o
grande estadista das viagens à China e 3. Caso do trigo russo.
a União Soviética.
Outro episódio muito comentado
nos EUA é o chamado "caso do trigo
russo". Em agosto deste ano foi fii-
A história negra da corrupcão da ue a União Soviética ia ad-
campanha de Nixon para as eleições 40Ò milhões de sacas de trigo
quirir 4U
desta semana pode ser escrita em cin- dos Estados Unidos, a US$1,65 a sa-
co episódios: ca. Mas já no mês anterior os grandes
negociantes de trigo haviam compra-
1 - Caso Watergate. do, discretamente, todo o trigo que
puderam encontrar, a US$1,32 a sa-
É um dos mais estranhos casos na ca. Houve então a denúncia de que
história da espionagem política. No alguém, de dentro do governo, lhes
dia 17 de junho deste ano, a polícia havia passado a informação sobre a
prendeu cinco pessoas no interior da futura compra russa, o que for depois
sede do Comitê Nacional do Partido confirmado por um funcionário do
Democrata, no hotel Watergate, em Departamento de Agricultura. Os
Washington. As investigações prova- grandes negociantes lucraram, só em
ram sua vinculação com o Partido Re- subsídios governamentais, 120 mi-
publicano e mesmo com a Casa Bran- lhões de dólares:
ca e sua intenção de sabotar e espio-
nar a campanha democrata.
4. Caso da ITT.
O episódio de Watergate é consi-
derado pela imprensa americana co- A lei americana chamada anti-
mo um dos maiores casos de espiona-
gem e sabotagem eleitoral já registra- truste proíbe a expansão exagerada
dos na história política americana. Os de um conglomerado na medida em
cinco indivíduos pilhados em flagran- fortalecer a confiança pública na inte- que tal expansão representa um obs-
de Nixon, homem que cuida de as- 2. Caso da Gulf Chemical. ' táculo à livre concorrência. Enqua-
te na sede do Partido Democrata esta- suntos como a compra da mansão do gridade do processo eleitoral".
vam munidos de luvas de borracha, Foi um número excessivo de tele- drada nessa lei, a ITT foi proibida,
presidente em San Clemente, Califór- Os investigadores do caso Water- por ordem de um tribunal federal, de
equipamento eletrônico de escuta e nia. Segretti recebia um salário de 16 fonemas entre Howard Hunt - que gate descobriram que milionários te-
aparelhos fotográficos^ Logo foi des- parece ter sido o chefe da operação xanos dissidentes do Partido Demo- manter como sua subsidiária a Hart-
mil dólares por ano com despesas pa- ford Fire Insurance Company. Em
coberto que dois deles haviam traba- gas. De setembro de 1971 até março Watergate - e Segretti que colocou crata doaram 100 mil dólares ao Co-
lhado como assistentes na Casa Bran- os investigadores na pista certa. Em mitê para a Reeleição. Essa quantia, maio de 1971, o gigantesco conglo-
de 1972, Kalmbach pagou a Segretti merado da ITT decidiu contribuir
ca. O dinheiro que financiou a opera- mais de 35 mil dólares, inclusive um seguida, eles descobriram que Segretti certamente para preservar o anonima-
ção Watergate saiu, comprovadamen- tinha ido a Miami para se encontrar to dos doadores e facilitar sua utiliza- com 400 mil dólares para as despesas
pagamento de 25 mil em dinheiro. O da convenção republicana, em San
te, do Comitê para a Reeleição do dinheiro veio de um fundo do Comitê com Hunt, um dos assessores da Casa ção foi parar na conta bancária da
Presidente Nixon. Mais tarde, jorna- Branca presos em Watergate. O en- Gulf Resources & Chemical Corpora- Diego. Logo depois, o Departamento
listas de Time descobriram uma cone- para a Reeleição que estava guardado de Justiça, por meio de um acordo
no cofre de Maurice Stans, o princi- contro ocorreu na época em que se tion. A Gulf transferiu o dinheiro pa-
xão direta entre a Casa Branca e Do- planejava o esquema da operação. Lo- ra uma subsidiária mexicana que, por extra-judicial, permitia que a ITT
nald Segretti, o advogado que entre- pal elemento da campanha de fundos mantivesse a Hartford. O Procurador
de Nixon. go em seguida, The Washington Post, sua vez, passou-a para o seu advoga-
gou o dinheiro para essa operação de um dos mais influentes diários ameri- do, Ogarrio Daguerre. Este remeteu Geral Assistente, Mc Laren, que esta-
sabotagem contra a candidatura de- 0 antigo secretário de Comércio va encarregado do caso, foi subita-
Maurice Stans é muito hábil em ar- canos, revelava que, de acôrdo com de volta o dinheiro para Houston: 11
mocrata. investigações federais e testemunhos mil dólares em dinheiro e quatro or- mente nomeado por Nixon para um
rancar dinheiro dos executivos cujos juramentados, H.R.Haldeman, chefe tribunal
Os arquivos do Departamento da lucros receberam influência benéfica dens de pagamento provavelmente
Justiça atestam que Segretti, que está de gabinete da Casa Branca, era um proporcionais ao restante da quantia.
da sua política à frente do Departa- dos cinco auxiliares de Nixon que po- Na capital do Texas, tudo foi posto 5. Caso do leite.
registrado no Partido Democrata e o- mento do Comércio, e que poderiam
ficialmente é advogado do Departa- diam autorizar pagamentos retirados numa mala juntamente com mais 600
vir a lucrar novamente se Stans vol- de um fundo secreto da campanha. mil dólares coletados pela Gulf para o
mento do Tesouro, foi contratado em tasse ao gabinete de um Nixon reelei- A 13 de março do ano passado, o
setembro de 1971 por Dwight Cha- Esse fundo, que chegou a totalizar comitê de Nixon, e enviado em avião
to. Stans manobrou cínica e freneti- 700 mil dólares também foi descober- particular para Washington. Roy Win- secretário da Agricultura dos EUA
pin, importante auxiliar de Nixon, e camente para agarrar 10 milhões de anunciou que o governo não aumen-
por Gordon Strachan, oficial de gabi- to durante a Investigação do caso Wa- chester, o portador, entregou os 700
dólares em donativos antes que uma tergate. Haldeman; que é considerado mil dólares ao Comitê para a Reelei- taria os preços do leite. Então, três
nete da Casa Branca. Chapin e ho- nova lei tornasse obrigatória a identi- cooperativas leiteiras doaram 322,5
mem de confiança de Nixon e age co- o homem mais proximo do presiden- ção, onde ficaram guardados no cofre
ficação dos doadores. Isso a despeito te Nixon, faz parte de sua equipe des- de Maurice Stans. As ordens bancá- mil dólares em contribuições para a
mo elemento de ligação entre o presi- de um piedoso pronunciamento de campanha republicana. Dois dias de-
dente e sua gigantesca equipe. Quem de 1956. Outro elemento autorizado rias foram encontradas mais tarde na
Nixon, no qual dizia que a revelação a sacar desse fundo era o Procurador conta de Bernard Baker, um dos ho- pois, o secretário da Agricultura a-
>u os serviços de Segretti foi Her- do doador seria "uma garantia contra nunciava que o preço do leite ia ser
írt Kalmbach, procurador pessoal Geral da República, John MitchelL mens presos na operação Watergate.
os abusos da campanha e serviria para aumentado.

Como o Grande Estadista atravessou a sujeira


Ward Just lando em termos morais mas em ter- E o mais estranho de tudo é que o grante em uma aventura que todas as tem em que o alívio econômioo está a
mos de dinheiro. Gastos apavorantes presidente permaneça intocado. Não autoridades tentaram pintar como dois passos. Aumento de impostos?
New Statesman em sistemas de armamentos, roubos e fácil, hoje, vê4o em Washington. um feito isolado e bizarro de uns Nem pensar. O vice-presidente decla-
escabrosos nas finanças, fazem hoje Quando aparece é para fazer um dis- poucos indivíduos desorientados". ra que os democratas estão desespera-
em dia do sistema americano um curso corajoso, baseado principal- dos.
Já faz algum tempo que o mau enorme prato cheio para quem conse- McGovern está sempre falando no
mente em assuntos internacionais. caso Watergate. Fala também sobre o E o governo, quando confrontan-
cheiro da corrupção não anima uma guir penetrar nele. Para se atacar Falar em Watergate ? Não, esse é o
campanha eleitoral nos Estados Uni- fundo da indústria de laticínios, fala do com os escândalos, não fica na de-
Nixon, bastaria apenas que alguém homem que visitou Moscou e fensiva. O presidente deixou que se
dos. Fatos como desvio de verbas e balançasse a árvore. No entanto, êle no caso da ITT e em outros mas, em
Pequim, que arrancou de Brezhnev e geral, tem encontrado uma fria recep- divulgasse que suas próprias investiga-
tráfico de influência parecem coisas está às vésperas da reeleição. companhia o acordo sobre limitação
quase estranhas, anacronismos irrele- tividade. Talvez porque, acim% de tu- ções sobre Watergate faziam de casos
Outro dia, McGovern descreveu a de armas estratégicas. do o que está acontecendo - assassi- de espionagem anteriores "coisas de
vantes se comparados a Grandes
Questões como guerra, paz, prosperi- administração Nixon como a mais A única instituição privada que natos, Vietnã - o público não esteja criança".
dade. Negociatas são coisas ao século corrupta da história americana e, em debate o caso Watergate é o muito desejoso de acreditar que a Não é fácü para McGovern fazer
XIX, temas para as novelas de volume bruto de dólares, pode ser a Washington Post, que o descreve em corrupção também seja um tema de essas denúncias. Parece que o público
Theodore Dreiser. Não houve ne- pura verdade. Ê claro que o valor do editorial como "pegajoso". O Post as- debate. Parece que é do conhecimen- está tão acostumado com os vigaristas
nhum escândalo financeiro sério na dólar já não é o mesmo. Essas coisas sim descreve o cara ter do que chama, to geral que este governo mantém a de Washington que nada mais e capaz
administração Kennedy, e Lyndon tem que ser reajustadas a cada esta- com propriedades, os crimes de porta aberta para os grandes negoj de chocá-lo. O caso Watergate é um
conseguiu controlar os boatos nos ca- ção. Nos velhos maus dias, mil dóla- Watergate: "em resumo... a campa- dantes mas parece que ninguém está dos mais espantosos da história polí-
sos exóticos de seu protegido no Se- res compravam um ingresso para o nha de Nixon estava executando uma ligando m u i t o . Foi assim com tica da América e, no entanto, nin-
nado, Bobby Baker. É preciso voltar "Clube do Presidente' de Lyndon operação de espionagem digna da Kennedy. Foi assim com Johnson. guém grita. A própria campanha elei-
a vinte anos atrás para se encontrar Johnson. Na ficha, isto significava um QA, financiada por contribuições Por que não com Nixon? O caso da toral não foi capaz de levantar e
uma acusação séria de corrupção (e coquetel, um aperto de mão e, se não "honestas" e sem se preocupar muito ITT, cujo desfecho foi a visita de uma
me falha a memória um "certificado comissão de investigação do Senado à atacar a questão. O governo, baseado
* esta foi o ataque de Eisenhower e do com disfarces... Os truques sujos nos sucessos de suas aventuras na po-
próprio Nixon a Harry Truman, em de proteção". A campanha de Nixon não estavam dirigidos apenas contra a infeliz Dita Beard (responsável invo-
já está tão abarrotada de dinheiro que luntária pela divulgação da negociata) lítica exterior, tem conseguido blo-
eles já estão deslocando parte dêle pa- sede do Partido Democrata, mas con- em seu leito de hospital, acabou re- quear a discussão de questões inter-
É incrível que seja assim pois, na ra eleições estaduais, de forma que tra vários setores da política demo- dundando em farsa. O fundo da in- nas. E, com uma ou duas exceções,
última década, o velo de ouro mais uma contribuição de mil d6lares já crata, como as atividades em prol da dústria de laticínios mostrou-se impe- esta é a administração mais medíocre
cobiçado tem sido o governo federal não impressiona mais ninguém. convenção do senador McGovern, e netrável As maiores maldições caem desde os tempos de Harding (Teapot
E, como sempre, são os ricos que se até mesmo a própria convenção de- sobre Watergate. Dome). McGovern, com as controvér-
beneficiam. As negociatas com reser- A sucessão de escândalos, come- mocrata. . . Armas, nomes em códi- sias que cercam sua própria candida-
vas de petróleo ocorridas no governo çando com a ITT e os US$ 300.000 go, centenas de milhares de dólares Enquanto isso, o governo se es- tura, não conseguirá persuadir os elei-
de Warren Harding, em 1924, conhe- da indústria de laticínios e terminan- em contribuições ilegais, um rombo conde e os substitutos do presidente tores. O mais fácil agora é deixar o
cidas como o caso de "Teapot do com a negociata do trigo russo e o de várias centenas de milhares em di- fazem a campanha: sua esposa e filhas barco correr.
Dome", são uma bagatela compara- nheiro, que se dizia estar sob os cui- proclamam seu desejo de morrer pela "Esse tal de McGovern" - dizia
caso Watergate, não tem precedentes dados do secretário da justiça dos
das com o desperdício diário (ou ho- na história da recente política ameri- sobrevivência de 17 milhões de sul- outro dia um eleitor a um repórter -
EUA; assaltantes apanhados em fla- vietnamitas; seus economistas insis-
rário) no Vietnã. E não estamos fa- "o homem vive se queixando."
10

Nem Nixon, nem McGovern Os EUA contra


Polly Toynbee
The Guardian
mutilados? Não é mais importante
terminar a guerra? * E a nossa respos-
ta é que, se não mudarmos o sistema
a longo prazo, não serão só as crian-
cados à Spock, e a atribuir-lhe a culpa
por tudo que lhes desgosta nessa gera-
ção.
Victor Marchetti
Spiro Agnew atacou o livro, di- bora passe a maior parte do tempo
ças vietnamitas, serão as do Oriente numa casa de campo em Maryland,
O Dr. Benjamim Spock estava no Próximo, e muitas outras também."
zendo que cria pirralhos mal-educa- Paulo Francis
dos" e isso abaixou as vendas tam- acompanhado da mulher e três filhos.
seu escritório, na sede de sua campa- Ele descreve McGovern como "em bém "Sinto-me sempre reconfortado Marchetti nega que pretenda con-
nha em Washington. Num canto, o jo- termos gerais um homem honrado e em saber que Spiro Agnew tem pro- Nova York - A Primeira Emenda da tar as operações da CIA entre
vem chefe de promoção da campanha bem intencionado, uma personalida- blemas com seus dois próprios filhos" Constituição dos EUA garante a ple- 1954-1969. Fica süendoso, à ia Mona
estava trocando as fraldas de sua filhi- de tipicamente liberal, que quer re- diz Spock, com uma piscada de olhos na liberdade de expressão e, o que é Lisa, quando alguém lhe pergunta so-
nha; em outro, um auxiliar também forma mas não está disposto a sair do maliciosa. mais importante, proibe que o Con- bre a enxurrada de golpes de Estado
jovem tentava ajustar um gravador ve- sistema que torna a reforma necessá- gresso passe leis impondo a censura "espontâneos** nesse período. O que
lho, todo colado com fita durex, para ria. Ele vacila e muda de posição fre- Sua consciência política, diz ele, prévia (previous restraint). Foi a Pri-
veio como uma revelação súbita, co- êle sabe não tem preço. Diz, franca-
gravar a entrevista que seria difundida quentemente na maioria das ques- meira Emenda que assegurou ao New mente, que a CIA suborna chefes de
pela Milwaukee Radio. tões. É o intelectual, sempre ve os mo São Paulo. Com uma clareza to- York Times a publicação dos do-
tal, toda a horrível verdade sobre a nações que posam de independentes,
A sede do "People's Party" (Parti- dois lados de cada situação, o que a cumentos do Pentágono, em junho- mas não dá nomes. Cada um que tire
do do Povo) é num sobrado, por cima gente chama em psiquiatria de 'perso- América foi revelada a ele. "Compre- julho de 1971, por decisão da Corte as conclusões que quiser dos süêndos
de uma lavanderia num bairro pobre nalidade ambivalente1. Ele conseguiu endi que a América tinha sempre sido Supsema, a intérprete final de aues- de Marchetti
de Washington. No hall, um cartaz. destruir o entusiasmo do povo que te- uma nação imperialista, e então com- tões constitucionais. Bem entendido,
ria feito quase tudo por ele." preendi que a derrota da política in- Em 1971, Marchetti publicou um
grande com a foto de Spock e o slo- a parte ofendida pode processar o jor- romance, The Rope-Dancer (Grosset
gan: "Mais comprometido com a pró- terna era uma consequência de nosso nal, autor, etc., post-facto. As leis
A diferença básica entre os dois é imperialismo. Trinta milhões de pes- & Dunlap, 361 pags., $6,95). Como
xima geração do que com a próxima que Spock e o Partido do Povo são americanas dão ampla margem de de- literatura é uma porcaria, mas forne-
eleição". Por baixo do cartaz, dois soas vivendo abaixo da 'linha de po- fesa aos ofendidos. Mas censura, não.
social-democratas. "Mas não se pode breza* no país mais rico do mundo — ce informações fascinantes sobre a
homens do serviço de segurança, en- começar por falar 'Ouçam todos, eu Em 1973, a Corte Suprema terá mecânica interna da CIA. Exemplo: à
tediados, com os cabelos ridicula- uma centena de indivíduos cada ano
sou um socialista e quero persuadi-los com renda superior a um milhão de de julgar o caso EUA x Victor Mar- parte conspiram contra os comunis-
mente curtos e ternos de corte estra- do valor do socialismo', porque pelo chetti A imprensa americana mal co- tas, os chefes de departamentos da
nho. Um deles se perguntava o que dólares e pagando quase nenhum im-
menos nove em cada dez americanos posto de renda. Todas essas coisas co- menta o assunto. Pouca gente sabe se- CIA conspiram uns oontra os outros.
tinha feito de errado para cair num tapam os ouvidos ao som da palavra quer quem é Marchetti. A Editora Todos suspeitam patologicamente
trabalho desses. O governo designou meçaram a me impressionar."
socialismo. Para eles, isso significa um Knopf ia publicar um livro dele. O que um deles seja agente soviético e
ao todo oito homens para proteger Governo que vai tirar tudo deles, Agora que os jovens não estão Governo impediu, em primeira e se- vivem numa guerra de futricas mú-
Spock em sua campanha. mesmo se você só tiver dez dólares no mais sendo mandados para o Vietnã, gunda instância. Agora, caberá à Cor- tuas. No gabinete do diretor há inva-
Com sua enorme estatura e imacu- bolso. tem havido poucas manifestações sig- te Suprema dar a última palavra. O riavelmente 4 pistoleiros que fuzilam
ladamente bem vestido, Dr. Spock, o "Sabe, quando eu falo para gente nificativas contra a guerra. Eu lhe divertido é que o livro ainda não foi quem quer que seja, sem fazer per-
mundialmente famoso médico de pobre e proponho um salário máximo perguntei onde estavam agora seus jo- escrito. Marchetti meramente subme- guntas, a pedidos do chefe. A CLA é,
crianças, parecia deslocado, sentado de 50 mil dólares por ano (Cr$ 300 vens aliados. "Não me convenço de teu uma sinopse a 5 editoras, conse- predominantemente, um dube de
numa cadeira desengonçada, rodeado mil), eles perguntam, com expressões que tenham perdido seu idealismo. Se guindo a promessa de um contrato da WASPS, abreviação, em inglês, de
de mamadeiras sujas, brinquedos de faciais de aflição, 'Mas quem traba- eu tivesse pensado isso, teria ficado Knopf. Bastou para que o Ministério brancos, protestantes e anglo-saxôni-
plástico e um colchão esquálido en- lharia por 50 mil dólares por ano? realmente deprimido. Eu pararia de da Justiça entrasse com uma ação cos, ou seja, os agentes são, na maio-
costado a uma das paredes. Isso açabaria com toda a iniciativa!* trabalhar, pegaria o meu W c o nas coercitiva. ria, membros de familias tradicionais,
Por alguma razão eles pensam que a Ilhas Virgens americanas (onde ele americanos de "400 anos". Marchet-
Todos sempre começam ^por per- Por que Marchetti mete tanto me-
guntar "então o que é que ha de erra- única fonte de iniciativa é dinheiro mora) e passaria para as Ilhas Virgens
do nos poderes constituídos? É sim- ti, descendentes de italianos, sentia-se i
ilimitado. Eles tem esse sonho de um britânicas. algo deslocado. Diz: "Eu era o token-
do com McGovern? Não parece ser ples: ele é uma bomba.relógio dentro
um ano próprio para se captar o voto dia se tornarem muito ricos e não Já no final, perguntei-lhe se o pla- wop", o "carcamano simbólico". A-
querem abrir mão desse sonho." da CIA, a Central Intelligenoe Agen- pesar disso, subiu a altos postos.
jovem, em detrimento dos democra- no do People's Party para a legaliza- cy, a mais conhedda agencia de es-
tas. "A gente difere de McGovern Há vários partidos socialistas no ção da maconha não seria um assunto pionagem dos EUA. Nenhum exagêro
principalmente porque ele se diz fir- país, mas o Partido do Povo tem a frívolo, que poderia prejudicar outros Marchetti explica que, ao entrar
na imagem dá "bomba relógio'*. Mar- na CIA, assinou um contrato compro-
me defensor do sistema de livre em- plataforma do controle pela comuni- pontos mais importantes da platafor- chetti, diplomado em Estudos Sovié-
presa. Nós achamos que o sistema de dade, e não da estatizaçao: os operá- ma. Ele deu um salto. "Nao, não, ticos, trabalhou, a princípio, na Inte metendo-se a não revelar segredos da
livre empresa não é livre e não tem rios controlando as fábricas, as comu- não! Para os jovens isso é absoluta- ligência militar. Depois, passou-se à agência e que é baseado no dito que o
tanta empresa assim. £ um monopó- nidades locais controlando as escolas, mente crucial, e é aí que a gente dife- National Security Agency, que se es- Governo tenta sustar a publicação do
lio. Menos de um por cento da indus- hospitais, até a polícia. re de McGovern. Não vamos receber pecializa na espionagem eletrônica livro pela Knopf. Mas Marchetti insis-
tria manufatureira destepaís produz br. Spock é o principal contri- o apoio de um bando de eleitores de em escala mundial Em 1954, ingres- te em que não vai descrever ações da
85% dos bens e leva 879b dos lucros. buinte da campanha e dos fundo do classe média de meia idade, mas isso sou na CIA, onde serviu nos seguintes CIA, limitando-se a uma crítica (sic)
Essa é a razão dos maiores problemas Partido. Já pagou 20 mil dólares (CrS não é importante. O que estamos fa- cargos: assessor especial do vice-dire- "estrutural".
existentes na América." 120 mil) do próprio bolso. Ele ri e zendo é mostrar que somos corajosos, tor, do chefe de planejamento, de Marchetti não é .de Esquerda. Em
Ele confessa que o partido está diz que tem que cnegue. Os livros que emancipados, principalmente para o programação e de orçamento. Em ou- The Rope-Dancer, o protagonista,
um pouco na defensiva quanto a escreveu estão à venda em quase to- benefício dos jovens. Marijuana! É tras palavras, inexiste ação da CIA en- Paul Franklin, em parte baseado no
McGovern. "Nós somos um pequeno dos os cantos do país, e vários artigos quando nós somos aplaudidos nas tre 1954 e 1969 (quando se demitiu) autor, apesar de desiludido com a
número de pessoas que tomou a res- revistas aumentam sua renda, universidades." E a heroína? "Isso é eme Marchetti desconheça. E êle está CIA, expressa o maior desprezo pelos
ponsabilidade de iniciar um movi-
mento político independente, e não
C suas atividades políticas nos últi-
mos anos custaram a ele - e seu edi-
muito mais pesado. Eu defenderia al-
gum plano na linha dos ingleses.'*
disposto a contar - algumas coisas. radicais de Esquerda, "os barbudos,
os cabeludos e nus fedorentos". Mar-
Primeiro, o óbvio: como se expli- chetti amava a CIA, que supunha um
se pode pedir que, a apenas dez meses tor - um bocado de dinheiro. As ven- Sua mulher, Jane, já tinha posto a ca que Marchetti continue vivo? Ele-
de sua fundação, o partido vá abrir das de "Baby and Child Care" (Os cabeça pela porta, mostrando o reló- bastião da defesa da democracia. Can-
mentar: ele tem documentos estoca- sou-se, porém, da retórica da Guerra
mão de seus objetivos para apoiar um Cuidados com o Bebê e a Criança), gio. Ele fez sinal para ela "Jane, isto é dos não se sabe onde, para serem re-
democrata. Os democratas estão ten- que uma vez já ultrapassaram as da mais importante! Fria e (sic) da "inépcia, da CIA". O-
velados à imprensa caso sofra algum to-o textualmente: Eles (a CIA) são
tando assumir o governo. Nós temos bíblia, baixaram vertiginosamente em Nessa altura, ele teve que sair. Ha- "acidente". O almirante Rufus Tay-
um objetivo a longo prazo." 1966 quando ele foi processado por via uma reunião qualquer para anga- capazes de dominar um país meia
lor teve um encontro secreto com confecção na América Latina, uma
Ele é acusado de colaborar na re- conspiração, por ajudar e instigar a riar fundos que o esperava. "Eles são Marchetti, num motel (que Marchetti
eleição de Nixon, ao desviar votos po-' oposição ao alistamento militar. As muito legais para mim. Dão pouco, ditadura africana ou asiática onde o
afirma estava cheio de microfones) e, diabo perdeu as botas (God-forsaken
tendais de McGovern. "O pessoal pessoas começaram inevitavelmente a muito pouco, e sussurram no meu ou- como ex-chefe do "renegado", pe-
vem nos dizer: 'Não é horrível que os acusar os "bebês de Spock", a gera- vido 'Nós gostamos de você mas não countnes), mas, quando se trata dos
diu-lhe que não destruísse a CIA. soviéticos e chineses, fracassam total-
vietnamitas estejam sendo mortos e ção de cabeludos, descontentes, edu- estamos realmente «Mn você." Marchetti é seguido dia e noite, em- mente. Todo mundo sabe disso lá
dentro, daí essa mania de segredi-
nhos. Não querem que o povo ameri-

"Teddy, Teddy, w e love you Teddy" cano, que pára as contas do desperdí-
cio que é a CLA, saiba a extensão do
nosso fracasso contra a URSS e Chi-
na .
bastião dos Democratas) todos os po- refere a seus dois irmãos faleddos.
Adam Raphael líticos democratas em busca de co- "Podemos fazer tudo o que temos de Marchetti diz que não está à altu-
The Guardian bertura, exceto os mais corajosos ou fazer - tudo o que John e Robert ra de Daniel Ellsberg, o homem dos
os mais seguros. Kennedy tentaram fazer." O mais jo- documentos do Pentágono. Nisso está
Em Vermont, uma multidão espe- Tomando um uísque na cabine do vem dos Kennedys deixa claro que es- sendo ingênuo ou se fazendo de ino-
rou no aeroporto, num frio cortante, Cessna 310 depois de quatorze horas tá deddido a completar o legado po- cente. Os documentos do Pentágono,
durante quase duas horas. Em Maine, seguidas de campanha, o Senador lítico inacabado de seus irmãos. afinal, nada revelaram de novo. Ape-
duas mil pessoas aplaudiram freneti- Kennedy criticou esse medo, como He tem o mesmo charme deles, a nas confirmaram oficialmente o que
camente. Em Massachusetts, uma fai- prematuro e irracional. "O fato do se- mesma simpatia, o mesmo magnetis- os críticos da guerra vinham dizendo.
xa dizia: "Ted para 1976". nador McGovern estar 44 pontos a- mo legendário. No palanque é um o- Já o que Marchetti tem a declarar,
Seguir o último dos Kennedys na baixo em Utah não faz muita diferen- rador formidável, sob todos os ângu- caso ganhe na Corte Suprema, terá re-
campanha durante uma semana era ça. Aqueles que pretendem deddir as los tão bom quanto eles - tão seguro percussão muito maior aue a crônica
sentir o cheiro inconfundível de uma eleições nesta altura não reconhecem de si que praticamente tem o público do envolvimento dos EUA na Indo-
campanha presidencial já em prepara- que nas áreas mais cruciais ele não nas maos. Se por um lado há alguns, china.
ção. As bandinhas de escola com suas está tão abaixo assim" que o conjiecem bem, que põem em A "bomba" Marchetti é a seguin-
balizas absurdamente vestidas de coe- Indicando Michigan, Illinois, Cali- dúvida até que ponto vai a sua habili- te: ele diz que provara que a CIA gas-
lhinhos tocavam "Os Irlandeses Estão fórnia e Pennsylvania como Estados dade, por outro, sua equipe é extre- ta somente 10% do orçamento na co-
Sorrindo" (em referência à ascendên- em que McGovern vem ganhando ter- mamente competente, ele assimila in- leta de informações (Inteligência),
cia irlandesa dos Kennedy); agentes reno rapidamente, o senador Kenne- formações com facilidade, tem exce- não cumprindo, portanto, as finalida-
dy disse acreditar que os Democratas The Guardian lente memória e o instinto político
do serviço secreto vestidos de maca- des para que foi criada pelo Congres-
cões sujos esquadrinhavam a multi- ainda tem uma razoável chance de ga- peculiar à sua família. Não esqueça- so, em 1947. 25% são consumidos em
nhar as eleições do 7 de novembro. desse fenômeno, numa recente tenta- mos que seu irmão John chegou a a-
dão, enquanto os times da imprensa e tiva de fazer humor: "Nós estávamos despesas administrativas e várias. Os
televisão se espalhavam em volta au- "Ainda é uma luta para alcançar o pontá-to como "o melhor político de restantes 65% financiam a subversão
topo, uma batalha, mas essa distancia andando na rua, em Pittsburg hoje de todos nós." E no entanto, apesar de
mentando a barulheira geraL manhã, e uma mulher cjuase me der- em países estrangeiros. E a última
.já foi coberta no passado - e pode todas essas qualificações, poucos sus- "rubrica de despesas" que motivou o
Teoricamente, e até certo ponto ser novamente." rubou para apertar a mão do Senador tentariam que o seu grau de compre-
na prática, o veterano senador por Kennedy", contou no c o m i d a "Ela processo EUA x Victor Marchetti.
ensão das situações, suas avaliações e Não interessa obviamente aos EUA e
Massachusetts estava lealmente levan- Uma expressão formal de confian- disse: 'Senador Kennedy, nós mal po- a profundidade do seu envolvimento
tando apoio p p a a chapa democrata ça era provavelmente o mínimo que demos esperar até 1976*. Foi então à CIA que os paises aliados e clientes
sejam comparáveis aos de seus dois conheçam a face oculta do interven-
de 1912. Mas às vezes era difícil lem- se poderia esperar de Kennedy. Pois, que ela me viu e acrescentou: 'Descul- irmãos.
brar quem era o líder nominal dessa à medida em que as eleições se apro- pe, senador McGovern, mas é isso que donismo americano no exterior. Mar-
chapa. ximam e as pesquisas continuam a estamos sentindo aqui em Pitts- chetti afirma que tem todos os do-
Contudo, ele é o último de seu clã cumentos relevantes para provar que
Não se tratava de engano ou omis- mostra: o presidente Nixon manten- burg*." e, tendo em vista que a lenda dos
do a liderança, cada vez mais os De- a CIA intervem em todas as nações na
são. Durante as quarenta e oito horas O trágico acontecimento gue re- Kennedy aparentemente^ continua e- órbita dos EUA.
de uma campanha desenfreada em mocratas começaram a pensar na sal- sultou na morte de uma secretaria, há xercendo a mesma influência sobre o
três Estados, faixas de "McGovern vação para 1976. Com seu hábito de- dois anos, não é mais praticamente público americano^ suas chances de Marchem estava tão ligado emo-
Presidente** eram raras ou inexisten- sarmante de chegar perto demais - e mendonado, mas viajando com Ted a algum dia chegar a Casa Branca po- cionalmente à CIA que voltou para
tes. Ficou claro que o medo de uma perigosamente — da verdade pura, o gente é constantemente lembrado das dem ser consideradas boas. No mo- casa chorando, no dia em que se de-
vitória avassaladora republicana bas- senador McGovern, em plena campa- tragédias que atingiram sua família. mento, pelo menos, ele parece ser o mitiu. Se ele conseguir publicar o li-
tou para atrair para New England (o nha, deu uma ilustração brilhante Em seus discursos ele, quase sempre se único trunfo dos democratas« «• - «; vro muita gente mais chorara, .
V» .Vi 1 *,«, .v,*.* w *
EDIÇÃO SEMANAL BRASILEIRA ii

ELEIÇÕES NO CANADA >AZ NO V I E T N Ã

0 homem Quem faz


qie derrotou os mitres
Trudeau

n? 1 6 a 13 novembro 1972 5, rue des Italiens 75 PARIS 9e tel. 7 709 129


François-Marie Monnet Michel Tatu

Nas eleições realizadas na semana


Eleições americanas: Pode parecer incongruente, logo
passada no Canadá, o Partido Libe- agora que se aproxima m n a j M X tão
ral, do primeiro-ministro Pierre
Elliott Trudeau, perdeu sua vantagem
em relação ao Partido Conservador, o
qual ficou com uma cadeira a mais do
nem George nem Dick e s p e r a d a p e l o s m i l h õ e s de
indochineses, perguntar-se quem "ga-
nhou". Depois de tantos anos de
guerra bastaria constatar« que a
que o PL na Câmara dos Comuns. Es- afinal, ganhou. Talvez não srf "
te artigo dá um perfil do chefe do procurar saber quem fez o mma
Partido Conservador do Canadá, torço, isto é, qual o lado que fez
Robert Stanfíekl. A campanha das eleições presidenciais americanas desta instituto Louis-Harris, realizando uma enquete numa faixa concessões em relação as suas
st mana foi tão desanimada quanto a que se desenrolou re- representativa da população americana em idade de votar, ções anteriores. O estudo dos
Os lábios finos, encimando um centemente no Canadá. As negociações a respeito da paz no entre os dias 24 e 26 de outubro, deu a Nixon 60% dos mentos que vem sendo elaborados há
queixo voluntarioso, podem dar ao Vietnã neutralizaram os debates em torno deste assunto, sufrágios, contra 32% do adversário. um ano, notadamente as posições to-
rosto alongado e austero todas as ex- que, em outras circunstâncias, fora o núcleo da disputa en- Será possível, ainda, uma surpresa de última hora? A madas pelo G.R.P. e Hanoi de nm la-
pressões que se transmitiram por vá- tre o Presidente que sai, Richard Nixon, e o indicado pela ocorrer, seria maior até que a vitoria de Truman, em 1948. do, e pelos EUA do outro, não deixa
rias gerações de britânicos: o meio convenção democrática, Senador McGovern. A corrida en- Estas eleições de 7 de novembro não nos dirão tudo, porém, dúvidas: foi o lado comunista.
-sorriso altivo, o riso contrariado, os tre os dois rivais, segundo as últimas sondagens de opinião, sobre os Estados Unidos. O país enfrentará, antes do bicen- É verdade que não foi difícfl sua-
lábios apertados falsamente indecisos, apresenta uma constante vantagem para Nixon. A posição tenário da declaração de independência, em 1976 - ano de vizar as posições assumidas a 1- de
uma aparência de descontentamento oe McGovern melhorou ligeiramente no, decurso das últimas novas eleições presidenciais - decisões bem mais com- julho de 1971 pela Sra. Bmh, poste-
que nunca chegaria à irritação. semanas. Neste momento encontra-se de novo em baixa. O plexas. riormente "esclarecidas" em dois
Nascido a 11 de abril de 1914 em pontos. Eram as mais "duras" posá-
Truro, na Nova-Escócia, a mais rica veis. E se os sete pontos t i i t n u u sido
das províncias marítimas, a mais pró- aceitos por Nixon? O
xima da Inglaterra por seus costumes então o seguinte: enquanto os EUA
e por seu passado, Robert Stanfield, Alain Clément
começam a repatriar suas tropas, o
chefe do Partido Conservador do Ca- presidente Thieu pede demissão: sur-
nadá, concilia um enraizamento "pro- ge uma "nova administração" aue se
vincial" evidente em toda a sua pes- pronuncia pela paz, a independência
soa a uma consciência aguda de suas e a neutralidade. O G.R.P. mostra
responsabilidades de homem político Mal desponta o sol, N. Iorque re- previamente; da mesma forma não há chamam, ao acaso, carisma, aura, bri-
vela seus odores; e suas obsessões: qualquer discussão, no momento, lho? Como, se durante as "primá- que só a demissão de Thieu não bas-
de envergadura nacional ta: é preciso "desmantelar sua máqui-
desta vez tivemos de mofar duas ho- sobre a possibilidade de uma ascen- rias" ele demonstrou não ser intei-
ras diante do guiché de passaportes ção democrática em 1976. Então, por ramente desprovido deles? na opressora, por fim à política de
"Comervador-progressistá" para passar ao balcão das bagagens. que se abalar? * pacificação, etc. Nesse estágio, já ca-
Não se tratava de nenhuma formali- Parece que, no fundo, McGovern taríamos no fim do regime atual em
Seguindo a tradição de engaja- dade nova, mas simplesmente de De fato, o presidente que sai nada antes de perder a eleição, perdeu uma Saigon e sua substituição por um po-
mento político de sua família (o pai, maior vagar na realizaçao das antigas. tem de eletrizante. Ele o sabe e tira substância básica. Como pode ele es- der amigo, privado da ajuda america-
Frank Stanfield, depois de ser depu- Uma greve perfeita. Os avisos nos partido disso. Seus compatriotas, perar a vitória unindo apenas negros, na.
tado no Parlamento de Halifax, foi lembravam gentilmente que cada um também Ele tem mesmo alguma coi- insatisfeitos, a juventude e os inte- O G.R.P. tentaria então um gover-
vice-governador da Nova- Escócia), cuidasse de ài. "Patience, please! A sa de friamente impessoal que afasta lectuais? Esta gente sempre foi uma no de colizão, de "concórdia nacio-
Robert Stanfield liderou o Partido drugfree America comes first!" (pa- de si tanto a adulação quanto o res- minoria do eleitorado americano - nal, a fim de preparar eleições. Num
Conservador, em 1956, na tomada do ciência, por favor! Uma América livre sentimento, à parte os inesquecíveis uma minoria suspeita além disso, pro- clima de paz? Dificilmente, pois o
governo provincial da Nova-Escócia, de drogas antes de tudo!) É como se acidentes de vinte e tantos anos atrás. vocando facilmente união contrária cessar-fogo não teria sick> declarado.
há vinte e quatro anos ocupado pelo nos dissessem que ficando nos nossos Seus méritos como seus fracassos não dos elementos mais conservadores e Só se o govêrno de concórdia nacio-
Partido LiberaL Um de seus colabora- países, a América se sentiria melhor. afetam sua cota de amor. Procura-se prósperos da população! É surpreen- nal estivesse formado e as eleições
dores descreve-o nessa época como em vão uma "América de Nixon". dente que uma verdade estatística tão anunciadas. Por outro lado, as pres-
um "conservador-progressista", insis- Suas tiradas mais espetaculares, em flagrante não tenha entrado nos cál- sões militares, a saber, as ofensivas da
tindo no seu lado 'progressista". Algumas horas de conversa com
amigos nova-iorquinos dissipam esta Pequim, em Moscou, no Vietnã, pre- culos do candidato democrata. F.N.L. e das tropos norte-vietnamitas
Essa apelação ambígua, que é a do última idéia: os americanos, entre eles param a cama onde futuramente se Ao dirigir-se aos marginais, aos - que seriam as únicas forças organi-
Partido Conservador canadense atual, próprios, não se consideram grande deitarão os democratas. Daqui por deserdados da sorte, aos idealistas, zadas no país depois que a máquina
corresponde especialmente bem, tudo coisa. Todos tem suas lamúrias a exi- diante não há mais tabus para um McGovern não esperava, certamente, "de opressão" tivesse sido desmante-
i n d i c a , ao t e m p e r a m e n t o de bir: um foi assaltado três vezes se- presidente americano. se bastar com esta clientela. O objeti- lada - continuariam a pesar sobre es-
Stanfield, o homem da concessão e guidas, o outro coloca cinco ferrolhos vo da sua campanha era ampliar sua tas "negociações". Eis o que Hanóá
Enfim, se pode perguntar se chamava de não separação da solu-
da posição intermediária. Quando, em casa (a sabedoria consiste em dei- Nixon não contribuiu para descentra- audiência por contágio reivindi-
em 1967, o Partido Conservador quis xar que o nervosismo do arrombador catório, fazendo as camadas que se ção política da solução militar" e
lizar - ou, ao menos, para "secul> Kissinger batizaria de "imposição de
se desfazer de John Diefenbaker, o feche os três primeiros, deixados in- rizar" - a própria magistratura pre- consideravam remediadas, livres das
"velho chefe", sete candidatos se tencionalmente abertos). A conta dos intempéries econômicas tomarem um govêrno comunista no vietnã do
sidencial Nao há dúvida que ele rein- Sul
apresentaram, cada um apoiado por assaltos, dia e noite, já se perdeu. troduziu a postura presidencial — consciência de que eram tão vítimas
sua região. Stanfield foi eleito afinal, proscrita por Jonhson - na Casa do sistema injusto quanto os pobres e
porque parecia ser o mais apto a com- Neste como em outros casos não Hoje o cenário mudou. O acordo
há qualquer mistério: quatro de cada Branca. Ele mesmo é sempre, não ele- desclassificados "oficiais". Esta toma- em nove pontos revelado por Hanói
preender e respeitar as particula- gante, mas bem posto; esta concessão da de consciência aconteceu, mas pe-
ridades de cada província. E já pro- cinco delinqüentes nunca são agarra- comporta, na verdade as y-guintc.»
dos. A proporção é "estimulante"; a etiqueta consegue agradar ao grande lo avesso. Os explorados, insensíveis à mudanças:
vou, na Nova-Escócia, sua habilidade público, pois traduz uma preocupa- sua exploração, temeram por sua frá-
para os negócios públicos. Os cinco Com Nixon, a ajuda financeira às po-
lícias estatais não cessou de aumentar ção de "dignidade" pequeno-bur- gil posição. Seria preciso, realmente, (1) - O Calendário Inverteu-sa -
anos passados na oposição permiti- guesa. Ele não está lançando um esti- para consolidá-la, ingressar no túnel O cessar-fogo, em vez de vir no fim
ram-lhe demonstrar seu talento re- (658 milhões de dólares em 1969,
1 444 em 1971), sem que este refor- lo novo, contrário ao descolorido das obscuras reformas propostas por do processo de solução política, vtm
conciliador: conseguiu levar ao es- americano, mas fixando o passado. McGovern? A resposta está nas pes- na frente, simultaneamente ao início
quecimento as discórdias provocadas ço tenha feito baixar a delinqüência.
Paralelamente as agências parti- quisas de Opinião. De maio a setem- da retirada americana. E bem verdade
pela derrota de John Diefenbaker. As Ademais, Nixon não é o tipo de bro, a popularidade de Nixon entre que, no dia do cessar fogo, america-
eleições de 1972 mostraram que ele culares, encarregadas da proteção de personalidade capaz de prolongar sua os eleitores que ganham anualmente nos e vietnamitas já estão de acordo
sabia levar seu partido à vitória, ape- bens e pessoas, se multiplicaram (seus autoridade segura de chefe de Estado 10 mil dólares ou mais cresceu de 50 sobre o que os nove pontos chamam
sar do brilho e do charme de um efetivos: várias centenas de milhares com uma "liderança" calorosa e vi- para 70%. de "princípios para a realização dos
adversário como Pierre Elliott de guardas e detetives), sem maior re- brante. Neste sentido ele é talvez o direitos de autcKleterminação da po-
Trudeau. sultado que o de transformar as casas primeiro presidente americano pura- Que as pessoas prósperas votem pulação sul-vietnamita", com regras
dos ricos em verdadeiros campos for- mente "funcional". Continuará assim pelo statu quo e não por "mudanças muito precisas. Mas as forças não co-
tificados. Em cada aeroporto uma mesmo, nos "quatro anos mais" (four sociais" não surpreende ninguém. munistas gozarão também dentro des-
"Velho tartaruga" "porta eletrônica" detecta antes do more years) que seus partidarios re- Mas que os necessitados, filhos de ou-
embarque o objeto metálico no bolso se quadro, de uma liberdade de ação
clamam para ele. Não catalisará uma tros mais necessitados ainda (10 mil bem superior à reconhecida pelos sete
O estilo de Stanfield é todo de do viajante-pirata-do-ar em potencial "nova maioria", amálgama de fiéis do dólares para uma família típica de
discrição, o que não exclui a eficácia. Ninguém escapa à prova. A menor pontos de 1971. Acrescentemos que,
Grand Old Party, transfugas democrá- quatro membros representa um míni- mesmo distinguindo mais nitida-
Jurista diplomado pela Universidade bolsa deve ser aberta aos homens da ticos, jovens quadros, sulistas ofendi- mo vital), façam, tranqüilamente cau-
de Harvard, uma de suas primeiras segurança aérea, que aliás se desempe- mente que seus parceiros as questões
dos e nortistas insatisfeitos. Deixará o sa comum com os grandes interesses militares das questões políticas,
decisões, ao tornar-se chefe do par- nham da sua tarefa com um sorriso e poder sem testamento. (aos quais Nixon reservou milhões de
tido conservador do Canadá, foi ins- sem maior esforço. Nixon mostrava no programa anterior
E o senador McGovern? O que dólares em isenções fiscais) é um fe- estipulações bem mais rígidas, chegan-
crever-se num curso de francês inten- lhe aconteceu? Em setembro último, nômeno desconcertante. Está, aliás,
sivo. Mesmo que ele não domine per- Depois de quatro anos deste re- do a prever o sucessor de Thieu.
gime, compreende-se que a verbor- a edição mensal das grandes empre- na ordem das coisas que estes inte-
feitamente a língua que decidiu sas, Fortune, predizia que a "onda" resses, cujos administradores se divi- Finalmente o G.R.P. não se refe-
aprender aos cinquenta e três anos, ragia sobre o tema "Law and order"
tenha4 perdido o charme. A rua não é que o conduzira à candidatura não dem tradicionalmente entre democra- ria, nos sete pontos, a um controle
hoje, quando hesita ou tropeça nas deixaria mais que "marolas" atrás de tas e republicanos, tenham cortado as internacional das eleições, mas so-
palavras, já não se sabe se está tendo mais segura" sob um presidente re-
publicano como sob seus antecessores si, "alargaria o perímetro do debate verbas de McGovern. "Ê muito sim- mente a uma "garantia interna-
alguma dificuldade com o francês ou nacional, fazendo recuar talvez, assim, ples, confiou-nos um observador bem cional". Hoje esse ponto figura no
fingindo ignorância para escapar a democráticos, em período de calma-
ria social mais que na época das gran- os limites de uma eventual mudança situado para conhecer estes círculos. acordo Le Duc Tho-Kissinger mais ou
uma pergunta embaraçosa. social". A longo prazo, ^ue sabemos - Depois de oscilarem tanto tempo menos nos mesmos termos das pro-
des rebeliões dos anos sessenta. No
A campanha eleitoral de 1972 domínio da ordem pública, o progres- nós? De imediato, esta claro que, entre seus pendores "liberais" e seus postas americanas de janeiro. Por seu
permitiu-lhe revelar uma caracterís- so é imperceptível de um decenio pa- unanimemente, ele "decepcionou". instintos conservadores, estes genero- lado, Nixon desistiu de uma eleição
tica que a maioria dos canadenses ra o outro. Talvez se dê o mesmo em Continua enigmático o contraste en- sos doadores puderam enfim juntar presidencial As eleições designarão
desconhecia: o humor. Quando in- muitos outros, o que explicaria a tre o dinamismo das "primárias", a sua consciência com seu talão de che- um parlamento que formará um go-
terrrogado sobre sua falta de "caris- atonia da campanha eleitoral "Há os toque de tambor (embora Humprey ques". Este pífio desabafo é a última verno.
ma" comparado à personalidade mais que tem medo de McGovern e os que tivesse feito mais barulho que seu ri- palavra da situação? O desprezo por (2) Thieu fica no podar, o que é
atraente de Trudeau, aquele que os tem medo de Nixon", disse-nos uma val), a conquista da convenção, e, de- McGovern significa que a sociedade mais do que Nixon esperava, e haverá
jornalistas mais irreverentes chamam pessoa que não sabia a quem apoiar. pois, a queda, uma mistura de temeri- americana se enrijeceu na imobilida- um organismo tripartite encarregado
de " v e l h o tartaruga" respondeu: Se fosse assim, a disputa teria feito dade e timidez que marcaram sua de? Ou que suas categorias e seu vo- de organizar as eleições e de pressio-
"Acho que chegou o momento do barulho. Ora, ela não desperta nem campanha contra Nixon. O que lhe cabulário políticos já não são capazes
Canadá ter um chefe da> oposição debates nem paixões. O segundo terá faltado para inspirar confiança? de captar a variedade das aspirações e
carismático". mandato de Nixon lhe foi conferido Os ingredientes imponderáveis que se tendências nacionais?
continua na páç. 12
12

PAZ NO VIETNÃ continuação da pág. 11 esse respeito, exigindo a libertação Hanói: desejando fazer frente à parti- mento das negociações, do contrário
das "pessoas presas por razões políti- da de pingue-pongue sino-americana, corria-se o risco de ter que negociar
cas", a destruição dos campos de coiv os dirigentes soviéticos aproxima- com um presidente americano reelei-
centração, etc. O último acordo é ram-se mais dos seus aliados norte to por quatro anos, por conseguinte
nar tanto o G.R.P. quanto a adminis- criado depois do cessar fogo, e não à mais restritivo, já que fala da "entre- -vietnamitas, liberando-lhes armas mais inflexível Hanói julgou necessá-
tração de Saigon a se conformarem administração de Saigon, mesmo des- ga de todas as pessoas capturadas e mais pesadas e modernas do que rio tomar como testemunho a opi-
com os acordos concluídos. mantelada. detidas das diferentes partes*'. Seria aquelas entregues até então. O mate- nião mundial para impedir que Nixon
Outro ponto importante: o exér- preciso concluir que haverá somente rial chegava a Haiphong, os preparati- pudesse mais tarde lançar dúvidas so-
(3) As questões militares são cito do presidente Thieu não será uma troca dos diversos prisioneiros vos da grande ofensiva da primavera bre o acordo Le Duc Tho-Kissinger.
também regulamentadas, pelo menos completamente abandonado pelos pertencentes a um dos campos ofi- podiam começar. Era natural que as Dito isso o acordo está longe de
no papel, de maneira muito mais sa- americanos, já que poderá substituir cialmente filiados ao acordo - prisio- posições tomadas na negociação fos- ser uma capitulação do Norte e com-
tisfatória para os Estados Unidos e suas armas e munições "usadas ou es- neiros vietcongs e norte-vietnamitas sem "duras". Endureceram-se mais preende-se as reservas do presidente
seus aliados de Saigon.