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« Controle de pragas em museus: visdo geral’ + Vinod DANIEL £ COLIN PEARSON As pragas de insetos podem ser um enorme problema para museus, arqui- vos e bibliotecas. Mesmo com tratamentos reiterados contra infestagdes de insetos, o problema com eles ressurge quando nao ha um ambiente apropriado e seguro para armazenagem e exposi¢ao do acervo. Assim, é importante que a equipe do museu conceba um Plano Integrado de Controle de Pragas, para impedir o ressurgimento de problemas com insetos. A principio, pode tratar-se de algumas providéncias simples e praticas a serem posteriormente aperfeigoadas. Este artigo fornece uma vistio geral dos métodos preventivos para minimizar os problemas com jnsetos, bem como algumas alternativas nao téxicas ou de baixa toxicidade para tratar os acervos, na eventualidade da ocorréncia de problemas. Este artigo foi ori Cultural Property, 1998, Teerd. Anais. iginalmente publicado em International Conference on Biodeterioration of ert, 1998. Digitalizado com CamScanner CONTROLE INTEGRADO DE PRAGAS' Evitar os problemas com insetos ¢ sempre melhor do que lidar com eles depois que surgem. A abordagem pautada no Controle Integrado de Pragas (cip) constitui a melhor alternativa. O programa de CIP n&o depende exclusivamente de pesticidas para impedir ou controlar os problemas com insetos, mas implica a imple- mentagao de diversas providéncias, que incluem: — a) Controle fisico: alterago do ambiente por meios fisicos, para toma- lo hostil ou inacessivel as pragas. E 0 caso, por exemplo, das telas contra insetos e da calafetagem das portas. ~ b) Controle cultural: manipulagao do meio ambiente das pragas para tornd- lo menos favoravel. Pode incluir 0 controle da Umidade Relativa (UR) e da temperatura, boas normas de higiene e limpeza etc. ~ ©) Controle quimico: escolha apropriada e aplicagado menos prejudicial de pesticidas. — 4d) Monitoramento e avaliagao do programa. A abordagem nao quimica do controle de pragas deve ser enfatizada, uma vez que, em nossos dias, é possivel eliminar a maioria das pragas e prevenir a rein- festago sem o uso de substancias quimicas toxicas. 1 Nem todos 0s insetos mencionados pelo autor silo encontrados no Brasil. O importante para © trabalho de conservagiio ¢ coletar © identificar os insetos para determinar a methor ¢ mais segura forma de combaté-los. (N. dos 0.) 210 Constevaco: CONCEITOS E PRATICAS Digitalizado com CamScanner Strang (1992a) adota uma abordagem estruturada do controle d primeito, faz-se uma avaliagao das trés fontes de problemas: (1) constugde: 2) pose moveis © equipamentos; € (3) normas e pessoal. Ha necessidade de cominicats ¢ cooperagdo entre todos os membros das equipes dos museus: 0 controle de pragas é do interesse de todos. Dependendo do tamanho do museu, convém criar uma comissio de controle de pragas, para determinar as prioridades e custos desse controle, uma vez, avaliados os problemas. Em seguida, Strang (1992a) recomenda uma resposta em cinco etapas, que deve definir as medidas a serem tomadas para preservar os acervos culturais de qualquer prejuizo: climinagao, bloqueio, identificagao, resposta ce recuperagdo, a serem mais detidamente examinados adiante. ELIMINAGCAO, Eliminar os focos de atragao: ExterNos INTERNOS © Lixo; * Lixo; © Projeto de iluminagao; * Alimentos; * Habitat, plantas, flores; © Flores naturais; * Sistema de escoamento; * Armadilhas e iscas; © Ninhos de aves, * Moldes; mamiferos e insetos; * Saneamento; ¢ Perimetro sanitario. CONTROLE DE PRAGAS EM MUSEUS: VISAO GERAL = Vinop Dante & Coun Pearson 211 Digitalizado com CamScanner BLOQUEIO * Exclusao de insetos do museu pelo uso de barreiras fisicas, * Quarentena do material que chega ao museu; * Eliminagado de pragas pelo uso de recipientes de atmazenagen lacrados; " * Exposigées fechadas; * Uso de materiais resistentes a pragas; © Instalagao de barreiras 4 base de pesticidas; e * Fechamento de espagos que possam ser fonte de pragas e uso de pesticidas residuais. IDENTIFICACAO * Monitoramento constante e manutengao de registros; * Inspegao metédica de prédios, salas e entradas; * Inspegao de sinais de pragas; * Uso de armadilhas contra pragas: - armadilhas mecAnicas; - armadilhas pegajosas; - armadilhas de feromé6nio; - armadilhas luminosas (ricas em raios UV); & * Identificagdo das pragas. 212 CONsERVAGAO: CONCEITOS & PRATICAS Digitalizado com CamScanner RESPOSTA * Coordenagao dos esforgos por meio da CIP; * Identificagao e redugao das fontes de atragao de pragas; e * Métodos de erradicagao: - armadilhas; controle atmosférico (baixo teor de O, pelo uso de absorventes de N, ou CO,); controle térmico (refrigeracéo, aquecimento); - reguladores de crescimento de insetos; - controle bioldgico; - fumigatdrios ou pesticidas (como ultimo recurso). RECUPERACAO * Limpeza do prédio, mobilidrio e equipamentos; * Limpeza dos objetos; / * Execugdo da conservacao e restauragao necessarias; € * Avaliagao dos métodos usados: - determinagao da eficacia; - registro de custos e perdas; - aumento das medidas de prevengao; - educagao. 213 CONTROLE DE PRAGAS EM MUSEUS: VISAO GERAL # ‘Vinop Daniet & COLIN PEARSON Digitalizado com CamScanner _Aprimeira linha de defesa contra as infestagdes por insetos deve concentrar- se no prédio, nas vitrinas de exposigio ou nos recipientes de armazenamento, Todos os objetos levados a um museu devem ser cuidadosamente inspecionados, para deter- minar se ha presenga de insetos ou outras pragas. Isso pode ser simples nos objetos de metal, vidro ou ceramica, mas é dificil nos objetos orgdnicos complexos, nos espécimens de hist6ria natural ¢ nos casos em que se utiliza material de embalagem. Se possivel, esses objetos devem permanecer em quarentena (convém criar, para esse fim, um aposento a prova de insetos), de modo a determinar se ha algum sinal de atividade de insetos. Por uma questo de seguranga, é melhor trata-los partindo do pressuposto de que elescor it pragas,) usando um dos procedimentos recomendados que indicamos acima. Se essas praticas nao forem implementadas, qualquer forma de controle de pragas no plano do edificio sera perda de tempo — contribuird para manter no prédio as pragas trazidas de fora. CONTROLE DE INSETOS Ha uma vasta gama de insetos que podem ser problematicos para os acervos, como besouros, mariposas, cupins, baratas e tracas. Alguns voam, outros rastejam, e eles tém ciclos de vida diferentes e espécies e tamanhos diferentes. Isso dificulta a utilizagao de uma abordagem padronizada em qualquer sistema preventivo. Para sobreviver, os insetos precisam de alimento, Agua e abrigo, e os museus podem proporcionar tudo isso. Pode-se complementar o controle mediante uma inspegao criteriosa das partes externas ¢ internas das construgSes existentes e pelo uso de ar- madilhas, para determinar que insetos existem no local. Em seguida, como veremos em segdes posteriores, estudando as diferentes espécies de insetos, seus ciclos de vida 214 —— CONSERVACAO: CONCEITOS E PRATICAS seus habitos, € possivel propor varias abordagens gerais e especificas para impedi a edir que eles penetrem nos prédios. iP As imediagées do prédio Nao plante arvores ou arbustos perto dos prédios e utilize espécies de plantas que nao produzam flores. Retire a hera e qualquer outro tipo de trepadeira das paredes externas. O uso de cascalho ou asfalto nas imediagées do prédio elimina a necessidade de regar o terreno, mantendo a umidade afastada do prédio, além de nio atrair insetos e roedores. Obviamente, todo e qualquer detrito dos jardins deve ficar bem longe do prédio e ser retirado ou posto no lixo o mais depressa possivel. E frequente os prédios serem iluminados para fins estéticos ou de segu- problema. Nao prenda lampadas no prédio, pois ranga, mas isso pode constituir um qualquer fonte de luz atrai insetos. Nas proximidades do prédio, as lampadas devem ser de sédio, pois sua baixa emissdo de raios UV as torna pouco atraentes para OS insetos. Longe do prédio, utilize Jampadas de vapor de merctirio, as quais, por sua alta emiss%io de UV, atrairo os insetos para longe. Assim como os detritos do jardim, 0 lixo do museu deve ser armazenado longe do prédio em recipientes a prova de insetos ¢ pragas, e também deve ser jogado fora o mais rapido possivel. A planta do edificio a consideragiio cuidadosa da planta do edificio, no que Na fase de projeto, lo a fazer o controle iferentes fungdes, permite construi-lo de mod: diz respeito a suas d é possivel manter as reas que atraem insetos longe dos de insetos. Por exemplo, CONTROLE DE PRAGAS EM MUSEUS: VISAO GERAL « Vinop Danie € COUN Pearson 215 Digitalizado com CamScanner acervos, seja na armazenagem, em exposigéo ou com os curadores/conservadores, ‘As Areas que atraem insetos sio as cozinhas, os restaurantes e/ou lanchonetes, as oficinas (particularmente de carpintaria) e os banheiros ¢ lavabos (fontes de Agua), Se possivel, todas as instalagdes de preparo ¢ servigo de alimentacao devem ficar num prédio separado ou, pelo menos, restritas a uma area de um tnico prédio, com acesso direto pela parte externa. E importante dispor de um aposento de quarentena onde as colegdes sejam mantidas ao chegarem aos museus ou fiquem guardadas apds tratamento contra in- festagdes de insetos. Ele deve ser adjacente ao setor de carga € descarga. Fazer desse setor uma 4rea 4 prova de insetos é um desafio. Obviamente, as suas portas devem ficar fechadas durante 0 m4ximo de tempo possivel, e uma pressio positiva dentro desse setor, forgando a saida do ar, pode ser de alguma serventia. As tiras ou laminas de calafetagao nas bases das portas também podem ser uteis. Outra possibilidade ¢ aplicar um inseticida residual nas entradas, como Acido bérico e pé de silica (Hillyer e Blyth, 1992, p. 67), mas isso é questiondvel, pois eles so rapidamente inutilizados pela circulagao local de pedestres ou veiculos. As portas de entrada sao a outra grande via de acesso para os insetos, razdo pela qual devem ficar fechadas o maior tempo possivel. Apesar de mais caras, as portas giratérias ou as portas duplas sao titeis nesse aspecto. Elas também evitam a perda do ar condicionado (seja qual for 0 método de refrigeragao) do interior do edificio, assim como a entrada de calor/umidade/ar seco vindos da area externa. Material de construgao Quando o material de construgao dos prédios é a prova de insetos — como tijolos, pedras, concreto ou ago —, a probabilidade de que eles sejam invadidos pot 216 —— CONSERVAGAO: CONCEITOS E PRATICAS Digitalizado com CamScanner insetos fica drasticamente reduzida, se comparada & das est ‘truturas de madeii exemplo. madeira, por O problema de todos os prédios é é onde sao fornecidos servicos como a oe een a etc. Essas aberturas proporcionam um acesso ideal a neon . iat . : ‘ Para Os insetos, que tiram proveito de tipos diferentes de esconderijos, desde frestas miniisculas até grandes espacos. As desvantagens desses locais sao varias: eles Proporcionam esconderijos capazes de per- mitir 0 desenvolvimento de grandes populagdes de insetos sem que ninguém perceba, tornam dificil sua localizagao e fornecem uma Pprotecao que dificulta a erradicagao dos insetos, seja por que método for. As portas, quando nfo est&o em uso, devem ser mantidas fechadas 0 tempo todo, instalando-se também placas de calafetacdo nelas, nao s6 para protegé-las do vento e do frio, mas também para manter os insetos do lado de fora. Quando fechadas, as janelas devem ter um encaixe perfeito; quando abertas, devem ser protegidas por telas contra insetos. As telas contra moscas sao faceis de se obter. Pela bibliografia disponivel, as dimensées minimas dos orificios para impedir a entrada de diferentes espécies de insetos so as seguintes (Busvine, 1980, p. 40; Strang, 1992a, p. 11): 2,3 mm... moscas domésticas, moscas-varejeiras 1,15 mm... mosquitos 0,85 mm... mosquitos-palhas ou maruins 0,7-1,7 mm. besouros (dependendo da espécie) Esses insetos podem ser controlados pelas dimensdes comuns das telas de calibre 10-20, com aberturas de 2,27-0,853 mm, respectivamente. Mesmo assim, no 17 COnTROLE DE PRAGAS EM MUSEUS: VISKO GERAL + ViNoD DANIEL ECOLIN PEARSON 2 Digitalizado com CamScanner entanto, pode haver insetos, como algumas espécies de cupim e outros que perfuram a madeira, que sao menores e sabidamente atravessam as telas reticuladas Usuais (Watson, 1992), As telas devem ser um componente importante das janelas, especialmente nas dreas de escritérios, onde ficam abertas para permitir a circulagao do ar pela ventilacao natural. Também se devem instalar telas em todos os respiradouros e talos por onde os insetos possam ter acesso ao prédio. Essas telas manterdo afastadas todas as pragas, mas talvez precisem ser feitas de material mais resistente, ou cobertas por uma tela de metal de malha larga, para impedir a entrada de Ppragas vertebradas (ver adiante). Todas as juntas do prédio e os espagos em torno de canos e condutos devem ser cuidadosamente vedados com um composto flexivel para calafetagem. Isso nao apenas impedira a entrada de insetos, mas também eliminard os espacos de reproducao e, além disso, reduzira a entrada de ar externo, com suas variacées de temperatura e umidade relativa. Idealmente, o prédio deve ter a maxima vedacio possivel. As calhas e caleiras devem ser externas ao prédio. Nesse aspecto, o projeto de construgao é importante, pois é preciso evitar problemas potenciais que possam ser criados pelo escoamento da Agua, como calhas Tetangulares, por exemplo. E sabido que tais calhas tendem a transbordar e, com o tempo, a rachar, criando problemas de infiltragao que, além de favorecerem o bolor, também sio propicios aos insetos. A manutengao regular ¢ a limpeza adequada, como sempre, stio de importancia fun- damental. Também é importante eliminar os ninhos de Passaros, que podem servir de abrigo para insetos. Outros insetos, como as vespas, embora nao constituam em Si 218 — Constrvacio: CONCEITOS E PRATICAS Digitalizado com CamScanner esmos um problema para os acervo: vazios, so m P mi s, fazem ninhos que, quando vazios, t . ' ambél font i i uma le possivel de insetos, dai a conveniéncia de elimind-los, As vespas também podem ser um incémodo para os visitantes, Manutengao e saneamento . A maioria dos insetos precisa apenas de pequenas quantidades de gua e alimento para sobreviver, raz&o pela qual a poeira e a umidade invariavelmente encontradas nas construgdes, como em depésitos, em torno do encanamento ete., podem ser suficientes para alimenté-los depois de penetrarem no edificio. Por isso, é essencial que essas fontes de nutrig&o sejam reduzidas ao minimo. Tal como na estrutura do prédio, todas as fendas e rachaduras das instalagdes internas, ao redor de respiradouros, condutos, encanamentos etc., devem ser lacradas. E preciso impedir a condensagao em canos ou tanques de dgua fria com o uso de isolantes. A inspe- ao regular e os principios adequados de higiene e limpeza, eliminando a poeira, certificando-se de que os vazamentos sejam rapidamente consertados etc., ajudam a controlar os problemas possiveis. E evidente que os alimentos devem ser mantidos longe das areas de traba- tho, armazenagem e exposi¢ao. Durante a construgdo, a boa condugao e supervisdo da rios podem eliminar os restos de comida e impedir fonte de alimentagao de insetos. er por um certo obra, além da orientagdo, os oper: a acumulago de lixo, contribuindo para eliminar essa nova pode sofrer acomodagGes © se mov' Uma construgao or obra, Por isso, a inspegto regular do prédio periodo de tempo, depois de encerrada a a monitorar qualquer movimentagiio, providenciando-se 0 reparo € importante par Je eventuais rachaduras que possam ter surgido. necessdrio, como a vedagio de CONTROLE DE PRAGAS EM MUSEUS: VISAO GERAL # Vinop Daniet ¢ Coun Pearson 219 Digitalizado com CamScanner Mobiliério e estruturas no interior do prédio Uma coisa ¢ impedir que os insetos penetrem no prédio através da estrutura da construgao, mas o que fazer quando cles jé entraram, quer por uma fresta que tenha passado despercebida, quer trazidos por um objeto que nao foi adequadamente inspe- cionado ou tratado, quer ainda por uma porta aberta, ou por pessoas ou suprimentos que cheguem ao prédio? Quando existem insetos no edificio, 6 preciso impedir que eles se movimentem com liberdade e eliminar qualquer fonte de nutrigao. No interior do prédio, os recipientes de armazenamento e as vitrinas de exposig&io devem ser projetados com gaxetas, para que fiquem firmemente lacrados. E preciso ter cuidado com a escolha do material das gaxetas, para ter certeza de que ndo sejam liberadas substancias quimicas prejudiciais ao acervo (Raphael, 1991, p. 78; Tétreault e Williams, 1992, p. 13). Como ja foi mencionado, a vedagdo de rachaduras e frestas das estruturas internas eliminard os locais de reprodugado e esconderijo dos insetos. Vedar as portas internas, apesar de parecer um tanto inusitado, também € itil nesse aspecto. E particularmente importante ter uma boa vedagao entre as dreas publicas, como os saldes de exposigdo, as areas de vendas, os setores de alimentagao etc. e os depdsitos do acervo. As boas normas de limpeza, especialmente com 0 uso do aspirador (que exige filtros de alta eficiéncia), sto fundamentais (Hillyer e Blyth, 1992, p. 67). Tirar 0 po sem aspird-lo s6 faz deslocar de uma area para outra a poeira que pode servit ue nutriente aos insctos. O contetdo do saco do aspirador deve ainda ser examinado, para verificar se algum inseto foi recolhido. Esses sacos devem ser imediatamente descartados do lado de fora do prédio, Colocé-los numa lata de lixo interna nao basta, pois qualquer inseto recolhido poderd fugir. 220 —— Constrvacdo: CONcEITOs & PRATICAS Digitalizado com CamScanner CONTROLE DE INSETOS ESPECIFICOS Eis alguns exemplos de procedimentos a serem implementados para o controle de determinadas espécies de insetos que sio um problema potencial para os acervos. Baratas As baratas parecem ser encontradas na maioria dos lugares. A primeira abordagem consiste em determinar a subespécie, 0 que pode ser feito recolhendo-se e examinando-se qualquer inseto encontrado (morto ou vivo), ou usando armadilhas para sua captura (Burkholder e Phillips, 1988, p. 109). Algumas dessas armadilhas podem ser usadas para controlar os insetos e também para monitorar sua quantidade (Strang, 1992a, p. 13). Se os insetos recolhidos forem baratas alemis ou de listra marrom, nao esta- rio vindo da 4rea externa. Entretanto, estas ultimas voam e podem vir do lado de fora, sobretudo no veriio. Se forem baratas americanas, australianas, marrom-acinzentadas ou marrons e grandes, é provavel que estejam entrando e saindo do prédio, ao passo que as baratas orientais frequentemente se deslocam do pordo ou das tubulagées de escoamento para os andares superiores, e vice-versa (Bell, 1988, p. 88). A dgua é um alimento essencial para as baratas. Sem ela, as recém-nascidas morrem em menos de trés dias. As adultas podem resistir até 20-30 dias, mas nao conseguem reproduzir-se sem dgua, de modo que a eliminagio da agua éuma medida eficiente de controle. As baratas sfo tigmotaticas, isto 6, gostam de manter 0 corpo em contato com as superficie, razao pela qual dao preferéncia As frestas e rachaduras nas quais CONTROLE DE PRAGAS EM MUSEUS: VISAO GERAL » VINOD Daniet € Coun Pearson 221 Digitalizado com CamScanner ambos os lados de seu corpo encostem nas superficies. A barata alema também gosta de calor e umidade, por isso dé preferéncia aos espagos em torno de canos de gua quente, especialmente se houver algum vazamento. Todas as baratas gostam de sobras de comida e material celulésico, como jornais e papelao velhos. O papelao corrugado também pode ser um habitat ideal. Para controlar as baratas, portanto, é necessrio implementar as medidas discutidas anteriormente, ou seja, vedar todas as rachaduras € juntas, eliminar as fontes de Agua, reduzir, se possivel, a umidade relativa e os niveis de temperatura do prédio (0 que é dificil nos trépicos) e eliminar toda e qualquer fonte de alimento, como restos de comida e papel inutilizado. Obviamente, os acervos compostos de obras produzidas em papel e de livros nfo podem ser eliminados, mas, por isso mesmo, devem ser guardados em salas ou armérios bem vedados. Convém substituir as pegas de armazenagem de madeira, inclusive prateleiras, por material (com revestimento) de aco, pois as baratas preferem as superficies de madeira. Em geral, quanto mais baixas a temperatura e a umidade relativa, menor € 0 nivel de atividade dos insetos. Tragas-dos-livros As tracas-dos-livros preferem lugares escuros, timidos e quentes, ¢ a melhor defesa contra elas é a boa ventilagdo, bem como a redugo da umidade relativa do ar. Esta tiltima depende da eliminagao das fontes de umidade (frequentemente indicadas Pela presenga de tragas) ou do uso de desumidificadores em areas localizadas. Também nesse 0, a vedagao de frestas e rachaduras elimina o habitat necessério 4 reproduc4o ¢, se combinad: la com boas praticas de higiene e limpez*, consegue controlar o problema. 222 — Conseevacho: CONCEITOS E PRATICAS Os materiais 4 base de celuloge sito "0 OS Preferido, ay ner S das tra . deve deixar papel velho no interior do prédio, A reciclagem 4 6S, Por isso nao s¢ . . “ M de pay . wm problema, uma vez que hoje em dia sao comuns, nas 7 i" Pel pode constituir . . PERI Ss, stitui recolhimento de papel a ser reciclado, Os acervos tae IGSes, as latas para - Ss em pay ; mentos de papel (por exemplo, material de esc Papel ou os supri- titério, de con: as ° Servacio ete, quardados em salas ou arméarios bem lacrados ) devem ser O aumento do nivel de iluminaso mantém afastadas as tragas-dos-livtos, Entretanto, esse nivel tem de ser baixo, Para que n&o se causem danos fotoquimicos aos acetvos, especialmente quando estes sao de natureza organica (Thomson, 1986. p. 244). Cupins Os cupins podem constituir um problema gravissimo, que afeta no somente Oacervo mas também a propria estrutura do prédio. Existem dois grupos fundamentais de cupins: os subterraneos, que cons- tfoem os cupinzeiros no solo ou em material a base de celulose, como a madeira snraizada no solo, ¢ os cupins da madeira, que vivem exclusivamente nela. Estes sio “omumente chamados de cupins da madeira seca ou da madeira tmida ¢ atacam o P spins subterrineos prefe- ™aterial celulésico dos acervos dos museus, eniquanto os cupins subtert sita — embora tenham sido “Mn 4 estrutura do prédio, quando a construgito é de madeira — orbs m: net se, como mdveis, livros & Sneontrados na maioria dos materiais & base de celulose, come ‘ oe > cupins foram bem res : lendéncias ¢ estratégias recentes para 0 controle de cupins Por Sen-Sarma (1995), 223 Ln PEARSON 5 Daniel € Col CONTROLE DE PRAGAS EM MUSEUS: VISAO GERAL * Vinoo italizado com CamScanner © Servigo Nacional de Parques dos Estados Unidos (National Park Service, 1984) recomenda que, para criar um programa preventivo contra os cupins subterra- neos, ¢ preciso: + remover do canteiro de obras toda a madeira ¢ material celulésico que estejam enterrados; * usar madeira tratada sob pressao nas aplicagdes em que ela tenha de entrar em contato direto com o solo; * controlar os vazamentos de agua e providenciar uma drenagem eficiente; + providenciar para que haja boa ventilagdo e espacos suficientes, embaixo das estruturas, para que se possa ter acesso, andando de gatinhas, aos encanamentos, fiago elétrica etc.; * providenciar para que haja pelo menos 45 cm de vaio livre entre 0 soloe os componentes de madeira da parte mais inferior da construgao. Quanto aos cupins da madeira seca ou da madeira umida, é preciso: * cobrir as aberturas com tela de trama 20; * pintar qualquer madeira que fique exposta ao tempo (verificar primeiro, caso se esteja pintando um prédio histérico); e * espargir um aerogel de silica nas dreas com potencial de infestagao. Embora existam alguns tipos de madeira naturalmente resistentes aos ataques dos cupins, seu uso nao é recomendado, por serem muito especificos para determinadas espécies (Hadlington e Gerozisis, 1985, p. 232). Também € preciso ter cuidado com o uso de protetores de metal e paredes das fundag6es como barreiras contra og cupins. JA houve muitos casos em que elas foram atravessadas — ¢ isso nem sempre se deve apenas a instalagaio precaria. Afirma- 224 © Constavacio: concertos & PRATICAS ane - ge que o valor Principal dos protetores ¢ due cles obrigam os cupi rrilha, facilitando sua identificagio durante as 8 SUPINS @ exporem sua Spegdes (Hadlington, 1992, bans 7 , p. 85), A¢0 inoxidavel para isolar 08 prédios do: i investigada, mas ainda serio necessarios alguns anos Para qu sua eficdcia a longo prazo (Hadlington, Appraisal Council, 1995). A aplicagao de telas finas de § cupins vem ie se conhega 1992, p. 92; Australian Building Systems As barreiras fisicas inertes que usam particulas de granito ou basalto tém obtido algum sucesso. Os cupins nao conseguem atravessar os grandes espacos vazios entre as particulas, quando as barreiras stio colocadas ao redor das fundagées das construgdes. Estas devem ser regularmente verificadas e submetidas 4 manutencio, pois os espagos vazios podem encher-se de areia trazida pelo vento, terra ou vegetacdo (Hadlington, 1992, p. 92; Sen-Sarma, 1995, p. 10). Um método quimico de controle de cupins considerado seguro em termos ambientais é a utilizacdio de iscas especificas. Os cupins comem as iscas e levam 0 material toxico para a colénia. Mas o que ha em comum na utilizagao de substancias quimicas t6xicas é que algumas das que se mostraram eficazes no passado, come © “Mirex”, depois revelaram ter propriedades cancerigenas (Sen-Sarma, 1995, p. 12). é i i ora um inibidor Desenvolveu-se recentemente um método de uso de iscas que incorp i al se te strado pro- (hexaflumuron) da sintese da quitina (a pele dos insetos), 0 qual se tem mostrado p' i ssulta em defeitos na nissor. O hexafiumuron interfere na formagaio da quitina, © que resv ene Essa tecnologia, Tenovacio da pele dos cupins (Su, 1994; Su et al 1995) BSS8 8 fesenvolvida pela Dow o momento, Sua eficdcia Elanco, nos Estados Como sistema “Sentricon”, vem sendo ¢ ay io pazo Unidos, mas também néio se conhece, até “ pearson 225 Cc net € COUN PEARSE CONTROLE DE PRAGAS EM MUSLUS! VISAO GERAL # Vinop Dan Digitalizado com CamScanner Besouros Ha uma vasta gama de besouros capazes de infestar os acervos dos museus — besouros dos couros, dos tapetes, da madeira, do tabaco, dos méveis e muitas de suas subespécies. O tipo de material preferido pelos besouros varia tanto em relago a espé- cie quanto & sua subespécie, mas convém lembrar que os besouros dos tapetes, por exemplo, alimentam-se de outros insetos mortos e de outras pragas dos museus. Os dermestideos (besouros dos couros e das peles) alimentam-se n&o apenas dos acer- vos de historia natural, mas também de restos de pdssaros ou roedores que possam entrar num prédio ou estar dentro de sua estrutura. Os besouros atacam o alburno da madeira-de-lei, que contém amido. Os ninhos de passaros e outros materiais que sirvam de abrigo para insetos devem ser retirados das estruturas externas antes da chegada do inverno, para evitar que os insetos penetrem nos prédios. Também nesse caso, é util recolher os insetos para determinar quais as espécies presentes. No verdo, é comum o exame dos peitoris das janelas, antes da limpeza, mostrar besouros dos tapetes tentando sair do prédio, uma vez que eles sao atraidos pela luz (Hillyer e Blyth, 1992, p. 65). Eis alguns modos de evitar a infestagdo por besouros da madeira (lictideos) (Hadlington e Gerozisis, 1985, p. 196; Hillyer e Blyth, 1992, p. 67): + adotar normas de construgio apropriadas que impecam a utilizagio, nas estruturas, de madeira que contenha alburno nao tratado. Além disso, convém inspecionar toda a madeira da construgio antes de empregé-la € evitar as que tenham conservado a casca, pois esta pode abrigar insetos; 226 — CONStRVACAO: CONCEITOS E PRATICAS Digitalizado com CamScanner ¥C madeira da estrutura deve ser secada no forno e, quando usada em locais onde haja probabilidade de umidade, deve ser tratada sob pressio; + é preciso prevenir/corrigir as fontes de umidade, como encanamentos, calhas, caleiras etc. Neste iiltimo caso, convém certificar-se de que a Agua da chuva seja escoada para bem longe do prédio; e + convém providenciar boa ventilagao, especialmente nos espagos dos po- Toes © sotdos. Para evitar a infestag&o por besouros dos tapetes: + é preciso tomar o maximo de cuidado para nao levar espécimens infesta- dos para 0 museu; + os acervos devem ficar em recipientes a prova de insetos, tanto nos de- pésitos quanto nas exposi¢des; + a redugdo da umidade relativa do ar e da temperatura pode ajudar a redu- zir as infestagdes, mas € preciso tomar cuidado para nao provocar efeitos colaterais nos acervos; + a vedacao das frestas e rachaduras e 0 uso de telas so importantes para impedir a entrada de insetos; e + 0 besouro dos tapetes alimenta-se de néctar e pélen, por isso nao se deve permitir que haja flores no interior do prédio, nem elas devem ser plan- tadas em suas imediagées. O emprego de madeira resistente a insetos, como ja foi discutido na segao teferente aos cupins, nao ¢ uma proposta vidvel ou digna de confianga (Hadlington, 1992, p. 85). CONTROLE DE PRAGAS EM MUSEUS: VISKO GERAL + ViNoD DANIEL € COUN Pearson 227 Tragas ou mariposas As duas grandes pragas dos muscus so a traga das roupas (Tineola dis 2) ea traga tapeceira comum (Tinea pellionella). Também se aplicam a esses casos as abordagens recomendadas para 0 controle dos besouros. Outra abordagem consiste em eliminar os materiais propensos a serem atacados por esses insetos, como feltro ¢ retalhos de tecido. As tragas nio gostam de luz, mas gostam de ambientes secos — por isso 0 que € bom para elas € ruim para outras espécies de insetos, ou seja, temos a habitual situagdio em que é impossivel encontrar uma solugao comum para tudo. ARMADILHAS PARA CAPTURAR INSETOS Um dos instrumentos mais valiosos dos programas de CIP sao as inspegdes sistematicas e rigorosas. Por meio delas é possivel descobrir muitos problemas com insetos, antes que ocorram grandes estragos. As inspegdes, entretanto, podem tomar muito tempo, especialmente no caso de grandes acervos cujo material organico e até parte do material inorgdnico correm o risco de sofrer ataques de insetos. E nesse momento que as armadilhas para captura-los podem ser uteis. As armadilhas comuns sao iscas inespecificas que ajudam a identificar qualquer inseto presente no acervo. Apesar da presenca do alimento que serve de ised na maioria delas, 0 sucesso da captura deve-se, em grande parte, 4 sua localizagio € @ seu posicionamento nos locais onde os insetos sto comuns. As armadithas mais corriqueiras costumam ser feitas de um pedago de papelao que tem um ou ambos 0S lados pegajosos, mas existem intimeros outros tipos. 228 ConstkvacAo: CONCETOS € PRATICAS Digitalizado com CamScanner Os insetos capturados podem ser identificados mediante 0 uso de um dos jniameros livros de identiticagdo entomoldgica existentes no mercado, ou entrando-se eq contat com o departamento de entomologia dos muscus. Por meio da identificagao correta é possivel saber se 0 inseto representa ou no uma ameaga para 0 acervo, 0 tipo de material que tende a ser infestado e 0 que se deve procurar (isto , se adultos ou Jarvas)- ‘Atualmente, muitas armadilhas incorporam algum tipo de feroménio. Os feromGnios S40 mensageiros quimicos, semelhantes aos horménios de nosso corpo,

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