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DA AUTORA 1. Lares o monegraiae A Comvagt de Brat «0 Meco Inter de 1983, Lisbon, 190 ‘ie ce ese ren pic na Dia Comntra,Cla 198 én Ea ‘Acti Unido ee response det Eundessnemtras por il do Dito Comat, Lisa, Tose ira Un Eset ae Comite Burpee, Lito, 2001 ‘Aorer pr pls dln compare Uni Earp Edam, ‘tnd an Bx do Dita. Swatrasdrewobioy, sos, 200%, ‘Comentawo Comin Programs coeds © mn o en erie «prin, Liha, 2003 1 Prine artis setting ane et a i a a a et ns eee sea on cc etc ee oma cee fr ert pe iat cn aa na occ ea a pe” = pa en Sha Su date iret Ge rattncin dos obahadres cammairin e medes de eceppzo — endo to ie ene One Bp Ro Pa ese Dae sa an ttc nt pi sg a a ti i a 1 ts tpt no le “ eet oun gm omen ‘Cag nop os de bert ds Eider — lea de wm rete pared, IHL, Colestness de estuds« de textos ‘anv de Dirt de Unig «das Commidades Buepeies, Clb, v1, 2000; i ec rin ctl et Es hth co Pk Do Are, 1, Partipgio em obra cetas estes ratio depres er ere cope XV Cg DE mst cerns tne 8 de PD as ar Men Pra Ea Me ten ey "ee eens (0 Couto de Europa A Comeno Eerie ds Eirter do Home ~ vie nova ep (Pra mI it GrsmzagiesImeracons, ios, 1999. A Coming Porugecate' UrstsExropeia iteticor de uma conbieplo neces, Jomadas “se: ipso de Derecho Conatintionl, Mtn 1% es denis de eoopron ene ess anaes lr buna els iain comatces “Fapres Urbte To Trade Rane, in Yk Congres FIDE, Vela, 208 coi ua pica dairies Canes ~ presipa€ Ue in ‘Contain Prag pipe See ee pts so pln conc na tee Cnstnetomnate Snir, Bewr 200 ‘iran Comanttado abha. Tiare Wiican Bear do Instat de Dino do Tra, eine, 201 4 cant irae de a Epi = ms «rd lo Eos m ome “Units Earp et rane nein a ei comentario Bupa ie anomie Le Resin! e Untowe Earpe ‘nik Erp so Die Evepe ou Diets do Heo ~ tea aese do rngl lcrpe, n Eie ‘ion menage a Proftsor Armano Manges Guede, en 2008 0 ent si ati Unt ni) scrimmage rete ret seal i Eade om howe agen Proto argues os Seaton Cle, 205. Maria Luisa Duarte Professors da Faculdade de Dieto da Universe de Lisboa ESTUDOS DE DIREITO DA UNIAO E DAS COMUNIDADES EUROPEIAS Coimbra Editora 2006 392 Estudos de Direto da Unido e das Comunidades Europeiat ccontraria o sistema de competéncias projectado pelos Tratados, construidlo pela prética institucional ¢ conficmado. no essencial, pelo Tratado que estabelece uma Constituigéio para a Europa. ‘Tomar a sério os limites jurdico-procedimentais de exercicio das competéncias pela Unitio Euro- peia nfo € retérica formalista. © respeito pelo Direito, que o Tratado ‘confia ao Tribunal de Justiga (v. artigo 220.° CE), incluindo o principio da legalidade da competéncia, € mesmo o Gnico caminho seguro de realiza- io duradoura dos objectivas da integrago europeia, consentidos e impul- sionados pela vontade soberana dos Estados-membros. pia. Para 0 Autor, os prineipios da competéncia de atribuiglo e do método da enu- rmerasio dos poderes so vetustos crtérios juridicos. obsticulos que urge remover. Em vez deles, propae uma concepeaa baseada ta eticulaglo directa entre objectivos e pro- ‘cedimentas de decisio adequados ’ sua ofectiva relizago (in “La ripartizione di com- pelenze tra Unione europea e Stati membri", in Quadern’ Costituzionall, 2000. n° 3, p. 535. segs). CONSTITUICAO EUROPEIA (*) Designa 0 tratado que estabelece wma Constimigao para a Europa, assinado solenemente em Roma pelos representantes dos 25 Es dos-membros da Unido Europeia, em 29 de Outubro de 2004. I—ORIGEM E ENTRADA EM VIGOR A ideia de uma Constituicio Buropeia é, ao mesmo tempo, antiga € recente no proceso de construgio europeia. Desde a década de 60, certa doutrina procura identificar nos tratados institutivos das Comuni- dades Europeias uma natureza constitucional._A jurisprudéncia do Tri- bunal de Justiga das Comunidades Europeias (TICE) representa uma valiosa aportagio a esta tese. Os tratados institutivos so caracterizados como “constituigdo interna da Comunidade” (v. Parecer 1/76, de 26.04.77, Ree. 1977, p. 741, n.* 12), “carta constitucional basica” (Ac. de 23.04.1986, Proc. 294/83, Os Verdes. Col. 1986, p. 1339, n° 23), “carta constitucional de uma comunidade de direito” (v. Parecer L/91, de 14.12.91, Col. 1991, p. 6079, n.° 21). Por seu lado, 0 Parlamento Europeu, a partir de 1979, na sequéncia da primeira eleigéo por sufté- gio directo e universal, passa a invocar o papel de assembleia consti- tuinte, Duas iniciativas politicas ficam associadas a esta aspiragao: em 1984, adopla 0 projecto de Tratado da Unido Europeia (Projecto Spinel dez anos volvidos, aprova um novo projecto de Constituigo Buropei que tem a virtude de, no contexto da recém-criada Unio Europe (9) Publicado no livre Anmalia Verbo 2005-2006, 394 Estudos de Divito da Unido ¢ das Comunidades Europelas ar as bases de um alaigado debate politico e doutrinério em torno da ideia de uma Constituigo para a Europa. ‘A vontade politica dos Estados-membros de prover a Unio Euro- peia com uma Constituiggo apenas se manifestaria, de forma conse~ ‘quente, em 2000, por altura da aprovagio do Tratado de Nice. A Decla- ragiio n° 23, respeitante ao futuro da Unido, previa a convocacio em 2004 de uma conferéncia intergovernamental que deveria abordar as seguin- tes questées: 1) estabelecimento de uma delimitagdo mais precisa das competéncias entre a Unido Europeia ¢ os Estados-membros; 2) estatuto da Carta de Direitos Fundamentais da Unido Europeia (doravante, 2 Carta); 3) simplificagio dos tratados, a fim de os tomar mais claros € acessiveis; 4) papel dos parlamentos nacionais na arquitectura europeia, 0 Consetho Europeu de Laeken (Dezembro de 2001) decidiu convocar a Convengaio sobre o Futuro da Europa, incumbida de formular pro- postas sobre as questées fundamentais relativas a uma Unido Europeia renovada ¢ alargada. A propésito do objectivo de simplificagio dos tratados comunitérios, fazia-se referéncia a possibilidade de “a prazo, a Unido aprovar wm texto constitucional”. ‘A Convengio — designagdo pela qual ficara conhecido © grupo de trabalho, criado em 1999, que preparou o projecto de Carta — jun- tou representantes dos governos dos Estados-membros (15), dos parla- mentos nacionais (30), do Parlamento Europeu (16) e da Comissio (2). Conselho Europeu de Lacken escolheu para presidente da conven- io Valéry Giscard d’Estaing e para vice-presidentes Giuliano Amato e Jean-Lue Dehaene. Apesar de a designacio evocar experiéncias histé- ricas de assembleias dotadas de poder constituinte (x. g. a Convengiio de Filadélfia que aprovou a Constituicto dos EUA em 1787), esta Con- vengio nao foi, nem no plano politico nem no plano jurfdico, uma assembleia constituinte, 0s trabalhos da Convengio decorreram entre 3 de Margo de 2002 ¢ Julho de 2003. Durante a primeira fase, os trabalhos, sob a forma de audig&o, desenvolveram-se no plendrio. A segunda fase, no segundo semestre de 2002, correspondeu ao trabalho em grupo e cfreulos de dis- ccussio, A derradeira fase, voltou a decarter em plendrio, a0 qual foi sub- metido um primeiro anteprojecto preparado pelo Praesidium. Q projecto de tra leco-wne-Constituigie-para.a Europa socia adaptadp OF consenso, nas reunides de 13 de Junho ¢ 10 de Julho de 2003. Consiticto Europeia fl vopeilEELEEER CPE es A fase seguinte recuperou o processo de revistio previsto no artigo 48,° do Tratado da Unizo ae © projecto aprovado pela formada Unicamente por representantes dos governos dex 5 ENE” dos=inembros, sujeito a varias alicragées, de natureza ‘oaare ae. va Seg Guus a.assinatura do tatado pelos mis altos represen. ntes: io! i Out {antes dos Esados-membrs, eunidos. moma. em, Sobre a entrada em vigor do traiado que estabelece uma Constituigio Para a Europa (doravante, 0 Tratado), © procedimento aplicdvel € o pre- visto no artigo 48.° UE: entraré em vigor “qpds ratificagdo por todos os Estados-membros, de acordo com as respectivas normas constitucio- nais”. Para a eventualidade de o proceso de ratificagio ficar bloqueado em alguns Estados-membros — em resultado, por exemplo, da realiza- gio de referendos, como jé aconteceu com o ‘Tratado de Maastricht @inamarca) ¢ com 0 Tratado de Nice (Irlanda) —, os Estados-membros adoptaram uma declaragio, anexa A acta final, que admite o cenério seguinte: “se, decorrido um prazo de dois anos a contar da data de assinanura do Tratade que estabelece uma Constiwigao para a Europa, quatro quintos dos Estados-membros o tiveram ratificado e wn ou mai Estados-membros tiverem deparado com dificuldades em proceder a essa ratificagao, 0 Consetho Europeu analisard a questo". A expres silo “analisard a quest@o” \evanta as maiores dividas quanto ao alcance da iniervengio do Conselho Europeu, mas em caso algum se poderé admitir a entrada em vigor deste Trataclo numa situagio hipotética de rati- ficagio pela maioria dos Estados-membros da Unido Europeia. Uma eventual crise criada pela recusa de um ou mais Estados-membros 56 oderd ser vencida pela via da renegociagao do Tratado ou pela decisio de definitivamente o abandonar na Prateleira da Histéria. Il — NATUREZA Tratado ou Constituigao? A questo € clara, mas a resposta é con- trovertida, carregando consigo todos os elementos de inceiteza conce| tual que caracteriza a discusstio em torno da questio paralela, relativa & natureza juridica da Unio Europeia, 396 snus de Direlto da Unido ¢ da A anélise do problema obriga a uma definigio prévia da nogéo operativa de Constituigio. Se partirmos da agepeio, material, de, Cons. tituigdo, como estatuto juridico do poder politico, podemos faler de COnstituigdo Europeia. Com este sentido, qualquer organizagao inter- nacional ou associagio de Estados pode topar tna natureza constitucional no respectivo tratado institutivo. No caso particular e atfpico da Unitio Europeia, a sua futura Constituigdo responde plenamente as exigéncias coevas de contetida da Constituicao material, nomeadamente no que respeita A tutela dos direitos fundamentais, as vacias formas de limita éo juridica do poder politico (v. g. definigfo das competéncias da Unio; existéncia de vias judiciais de controlo da legalidade de actua- do do decisor europeu), & previsio de um quadro institucional cujos Grgdos prosseguem fungdes bem definidas e 20 objectivo de garantir a regulagiio basica da economia. ‘Ao invés, se lidarmos com a nogdo formal de Cons J serd diferente. A Constituigio formal convoca trés critérios funda- mentais: 1) 0 critério genético; 2) 0 critério ontolégico; 3) 0 critéria suptaordenacional. Na origem do texto do Tratado esteve — como aconteceu com 6s tratados fundacionais das Comunidades Europeias e da Unido Euro- peia — a vontade soberana dos Fstados-membros, reunidos no seio da Conferén srgovemamental. Nao se manifestou a este propésito um poder constituinte europeu, proprio € auténomo. Admitindo que cxistiria um poder constituinte curopeu, quem seria 0 seu titular? Nio existe um povo europeu, mas um conjunto de povos europeus repre- sentados pelos respectivos Estados. Em fungio do processo de revi so, do qual faz parte integrante a exigéncia da ratificagao por parte de todos 0s Estados-membros, a Constituigio Europeia nao diminuiu a relevancia do principio contratualista, como, fundamento. das. limitagbes de soberania comsentidas pelos Estados-membros, titulares em exercicio do’poder constituinte. Os Estados-membros aceitam partilhar dieas fun- damentais da respectiva soberania (auto-limitagio), outorgando A Unio uum texto de base constitucional, © procedimento é triangular pela rela- ‘glo que estabelece (Estados-membros / Unio Buropeia / povos europeus) © oferece uma renovada férmutla de “carta constitucional”. 0 eritério ‘ontolégico remete para uma Constituigio que fundamenta, regula a-existéncidl jutidica de, um,poder.paliticn autGnomo © auto-refe- q Constimigao Europeia 97 rencial, A evolugdo registada no processo de construgio europeia néio alingiu — ainda — este patamat. A Unio Buropeia é a criatura, mol- dada e accionada pelos eriadores, os Estados-membros. Porque € assim, a Uniti nfo te ase territorial, propria; to-pouco pode definir cri- Giles @ atribuigdo da cidadania europeia que, enquanto tal. no existe — & cidadio da Unido a pessoa que tenha a nacionalidade de um Estado-memibro (v. artigo 17.° CE); finalmente, © poder politico exercido 10 Europeia tesul sg estadual origina etEncias (poder politico delegado). O artigo C1, n.° 1, expli- cita; 2 propésito do estabelecimento da Unio, que 0s “Estados-membros (he) atribuem competéncias para atingirem os seus objectivos conus”. elo critétio supraordenacional, a Constituigio formal, beneficia de ‘uma forga juridica especifica.que envolve, por um lado, « primazia da ndfifia constitucional em, situaciio de litigio com normas infraconstitu: Glonais (8. coat ui da constitucionalidade) e, por outro lado, FFaTantia do prIexso. de FEvisto (v. g. maioria agravada de aprovagio das Tels de revisio). Por este eritério, a Constituigtio Buropeia assume — mas, apenas, em parte — os tragas, distintivos. de, um_texto-constitu- ional feserativo. Por um lado, o artigo 1-6." consagra o principio do pri- mado do direito da Unio, incluindo a Constitui¢ao, sobre 0 direito dos Estados-membros. Veremos, contudo, que 0 principio do primado niio prossupée a relagao interormativa de natureza hierarquica, tipica do padrio federal (v. infra TV). Por outro lado. o artigo III-443.° estabelece lum processo de revisio que confere rigidez ao texto da Constituicéo. Em certa medida, a Constituigsio Buropeia é uma fico, impulsio- nada para disfargar uma realidade politica que no alinha 0 passo com 6 voluntarismo da agenda federalista para a Europa. Acreditamos, con- tudo, que a Constituigao Europeia possa ajudar a ctiar uma dinémica de confianga ¢ de solidatiedade entre os Estados-memibros, 0 que, na ver dade, depende mais das: politicas do que do modelo juridico de base constitucional ou internacional. Tratado ou constiuigio? Do ponto de vista juridico-formal, a Cons; titaigio Europela é um tratado i regociado e aprovado pelos Estzioe que integiani'a Unido BuropeIa, na sua qualidade de sujeitos DAROTREEMECGTAL” DE urna perspeciva material, « Constitigao uro- peia é um instrumento constitucional — no sentido banal de texto fun- dacional de secorte organizatério € no sentido préprio e significative 398 Estudos de Direito da Unido e das Comunidades Eurepeias de estatuto juridico do poder politico que, baseado em prinefpios e valo- res pattilhados pelos Estados-membros, alicerga a existéncia e regula 0 funcionamento da Unido de Direito. 1 — CONTEUDO texto do Tratado € longo (448 artigos), completado ainda por 36 protocolos, 2 anexos € 50 declaragées. Ao inconveniente resultante da ‘extenso do articulado acresce a estrutura que s¢ revela inadequada para aurredar repetigdes ¢ incongruéncias. Em suma, o objectivo tragado em Nice no que respeita a “sistematizagéo dos trataclos, a fim de os tornar ‘mais claros e mais compreensivas” ficou prejudicado. Com 448 artigos, © texto do Tratado seria sempre excessivo como articulado constitucio- nal e ainda mais se tivermos em conta que o resultado final ultrapassa a dimensio do texto do Tratado da Unio Europeia (53 artigos), somado 20 texto do Tratado da Comunidade Buropeia (314 artigos) e a0 texto da Carta (54 artigos). Tratado esté dividido em quatro partes: — a Parte I cumpre uma fungio introdutéria, definindo prinefpios € critérios basicos relativos a existéncia, estrutura institucional funcionamento da Unio. Na Parte T encontram-se referéncias a um rol muito diversificado de matérias: valores, objectivos, relagGes entre a Unido ¢ os Estados-membros, simbolos, direi- tos fundamentais e cidadania da Unido, competéncias, institui- ‘:6es e érefos, nomenclatura dos actos juridicos, cooperagio reforgada, vida democritica da Unido, finangas, qualidade de membro da Unido; — a Parte Il incorpora 0 texto da Carta de Direitos Fundamentais da Unido, proclamada em Nice; — a Parte IM, a mais longa e de cariz mais regulador, é dedicada as Politicas e Funcionamento da Unido; — a Parte IV integra as Disposicdes Gerais e Finais, Em termos sumaétios, passaremos a destacat as solugSes normativas ‘que, por forga da sua dimensio inovadora no quadro do adquirido juri- 399 Constzwigao Buropeia dico da Unio e/ou por forca da sua importincia na definigao do futuro quadro constitucional da Unio, melhor caracterizam a matriz axiolégica ¢ reguladora da Constituigao Europeia: O) Unifio Europeia é formalmente criada com base no prin- smpeténcia por attibuigdo (artigo T-1.) e dotada de per sonalidade juridica (artigo 1-7"); 2) consagra os valores da Unio comuns aos Estacos-membros c, entre estes, explicita 0 respeito pela dignidade da pessoa humana, liberdade, democracia, igualdade, Estado de Direito, tolerincia, scat (artigo 1-29); 3 nas relagdes com os Estados-membros, a Unio deve res- peitar a igualdade entre eles, bem como a respectiva identidade nacional, reflectida nas estruturas politicas © constitucionais fun- damentais (artigo 15.9; 4) sfo definidos os s{mbolos da Unido (artigo 1-8.) 5) ¢ reafirmada a existéncia do estatuto de cidadania da Uniti (artiggg I-10. e 11.99. a 106.°; ‘} delimitam-se as competéncias da Unido, com a indicagéo das Thatérias integradas emi Cada categoria, a exercer segundo. os prin cfpos de auibulsfo. subsiarsdade prepasinaldaeclostiis dade (artigos 11° a 18.°); 7) no que respeita ao quadro institucional, verifica-se uma opedo de continuidade, com as seguintes principais modificagées 4a) eleicio do presidente do Conselho Europeu por maioria qualificada, ‘com um mandato de dois anos ¢ meio (artigo 1-22.°); b) a criagio da figura do Ministro dos Negécios Estrangeiros, nomeado pelo Conselho Europeu, por maioria qualificada e mediante acordo do Presidente da Comissiio (artigo I-28.°); c) depois de 1 de Novem- bro de 2009, a Comisstio.seré.composta-por.um_ntimero.de mem- bros, incluindo 0 Presidente ¢ o Ministro dos Negécios Estran- geiros, correspondente, a 2/3 do niimero, de Estados-membros ¢._ ) de rotacio igualitéria entr iF itZT E26" A)'S Tribunal de Justica da Unido Euro- peia passard a funcionar em vérias instincias: o Tribunal de Jus- ‘iga, 0 Tribunal Geral ¢ os tribunais especializados; na composi- gio do Tribunal de Justiga e do Tribunal Geral esta garantido Estudos de Direto da Unido e das Comunidades Europeias © prinefpio de um juiz por cada Estado-membro (artigo 1-29.9; ¢) depois de 1 de Novembro de 2009, 0 apuramento da maioria qualificada no seio do Conselho Europeu ¢ do Conselho depende da verificagio cumulativa de trés critérios — percentual (55% dos membros do Conselho), nominal (um minimo-de 15 Estados) populacional (65% da populagao da Unido) (artigo 1-25.° e Decla- Tago n° 5); 8) a nova nomenclatura de actos jurfdicos da Unio imptica uma ruptura com 0 passado, mas visa clarificar a tipologia de actos por referencia A distingao entre fungdo legislativa (leis & leis-quadro europeias) ¢ funcdo executiva (regulamentos europeus @ decisdes), com base no principio de hierarquia (artigos 1-33. 2 39,2) £9) pretende-se associar os parlamentos nacionais a0 provesso decisério da Unio, nomeadamente através do direito de apreciaga de propostas de actos legislativos & luz. dos prinefpios da subsidia- ©. da proporcionalidade (Protocolo n° 1); prevé-se 0 direito de qualquer Estado-membro abando- nar 2°Gnido, explicitando uma prerogative inerente a qualidade de, soberano (artigo 1-60."; ti }} dl clausula de soltdariedade ® fonte de um deve ‘fico de alixilio e de assisténcia que a ‘¢ 0s seus Estados deve piestar 2o Fstado-membro que for vilima de ataque terrorisia ou catistrofe natural ou de drigem humana (artigo -43.°); 12) a integragdo da Carta na Parte I confere-Ihe a forga juri- dica requerida para um catdlogo de direitos fundamentais no qua- dro da Unido de Direito; alguns dos direitos previstos jé estavam previstos no Tratado de Roma; outros resultam de tradi¢6es cons- titucionais e a maior parte teve como fonte a Convencdo Europeia dos Direitos do Homem (artigos 1I-61.° a 114°), & qual a Unido deverd aderir (artigo T-9.°, n.° 2 e Protocolo n° 32); 13) 0 Tratado revogaré os tratados institutivos anteriores © a Unio Europeia sucede & Unido Europeia institufda pelo Tratado de Maastricht ¢ & Comunidade Europeia (artigos IV-437.° e 438.% Protocolo n.° 33); mantém-se em vigor o Tratado institutivo da Comunidade Europeia da Energia Atmica, com as alteragdes impos- tas pelo novo Tratado (Protocolo n.° 36). Consttuigzo Europeia 40 IV — RELEVANCIA E MEIOS DE GARANTIA O artigo 1-62, sob a epfgrafe Direito da Unido, estabelece: “A Cons- tituigto € 0 direito adoptado pelas instituigdes da Uniéo, no exercicio das competéncias que the sdo atribuidas, primam sobre 0 direito dos Estados-membros". Pode-se questionar a necessidade daEmugala-do Fault tendo em conta que o principio da primazia do direito da in fio sobre o direito dos Estados-membros integra o adquirido juris- prudencial e a sua aplicagio era, em geral, garantida pelos Estados-mem- ‘bros e pela acco dos érgios comunitérios. Mesmo a posicio de reserva do Tribunal Constitucional alemao dera lugar & aceitagio do primado, sob Condigio de 0 difeito da Unilio respeit respeilar OS diteitos Fundamentals 6 © pam eid sie abo PO NAC de 17200 ‘caso Bananas). Em todo 0 caso, a explicitagio do primado no texto\do ‘Tratado niio confere a este principio uma natureza absaluta, nem faz dele um critério de prevaléncia hierérquica. Em primeiro lugar, o prine{pio, de ado_deve funcionar de modo subsididrio, s6.a ¢le recorrendo, 0 TBR conden as ventivas_ dos. conflitos.intemormati- Yos, miaxime, @ interpretacdo.conforme, Em segundd luger, o signi- ficado da exigéncia do primado requer um éxereicio de interpretagao sistemdtica, tendo especialmente em conta o artigo I-5.°, n.° 1, que obriga a Unio a respeitar a identidade nacional dos Estados-membros, € 0 artigo 1-9. relativo aos direitos fundamentais, cuja observancia se impde & Unido e aos respectivos Grgios de" decisio. Er lugar, o_direito da Uniaio prevalece.sobre_o. em situagao de conflito porque, por forga do prin competente pira regiilar a aa ee a tese da pips nem qualquer isp invalidade da norma, ‘ional, contidria a0 dizeito da Unigo. A qua- jesvalor que atinge a norma nacional conflituante integra o ambito de autonomia jurfdica de cada Estado-membro dependerd da respectiva Constituicio. A salvaguarda do primado ape- inaplicabilidade da norma nacional contra no cas Tn0 €a80 con- studos de Direlto da Unido ¢ das Comunidades Enropeias creto, A qual se associa a obrigagio de posterior revogagio, em con- formidade com o principio da lealdade (artigo 1-5.%, n.° 2). Em Por- tugal, e mesmo antes da assinatura do Tratado, foi aproveitada a 62 revisio constitucional para aditar ao artigo 8.° da Constituigio Portuguesa um novo n.° 4 que consagra 0 primado “nos termos defi- nidos pelo direito da Unido, com respeito pelos principios funda- mentais do Estado de direito democratic”. Na verdade, uma tal obrigagio jé se poderia deduzir dos artigos 7.°, n.° 6, € 8. n.° 3, da nossa Constituigao. Tratado institui mecanismos em ordem a garantir o respeito da Constituigaio Europeia: a) De natureza jurisdicional — no sistema de vias de dircito acciondveis junto dos tribunais comunitérios, cumpre assina- lar a acco por ineumarimento em relagio a uma violagdo imputdvel aos Estados-membros (artigos TII-360.° — 362%; no caso de violagio imputiivel ao decisor da Unido, temos as vias de controlo da legalidade, com o recurso de anulagiio (artigo 111-365.°); 0 recurso por omissi (artigo I11-367-")-e & @ excepyio de Hesalidads (artigo I1I-378."). A fungo de inter pretar'e aplicar o direito da Unigo estd, igualmente, confiada aos tribunais nacionais. As fortes limitagtes A legiti dade processual_ dos particulares (© que se_mantém com o artigo I-365.°, n.° 4), com especial incidéncia no.recurso de anulagio, podem constit jo.da.tutela judicial efectiva ¢ da, garantia dos, direitos. fundamentajs pro- clamados na Parte IL_ if b)’ De natureéa politica — 0 Conselho pode, por maioria qualifi- cada, determinar que 0 comportamento de um Estado-membro constitui “violagdo grave e persisiente” dos valores enuincia- dos no artigo 1-2.°, podendo este Estado sofrer os efeitos da suspensio dos seus direitos, incluindo o direito de voto no Con- selho (artigo 1-59.°). controlo da legalidade da decisto decla- rativa ou da decisdo sancionatoria é feito pelo Tribunal de Jus- tiga, a pedido do Estado-membro destinatério, soas Timitado & observancia das regras processuais previstas no artigo 1-59.° (artigo 11-371"). Constimigao Ewropeia 403 BIBLIOGRAFIA, ‘A) Em lingua portuguesa AAW, A Constinigdo Europeia. 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A CONSTITUICAO EUROPEIA E OS DIREITOS DE SOBERANIA DOS ESTADOS-MEMBROS — ELEMENTOS DE UM APARENTE PARADOXO (*) ‘Sumrio: 1 — Estado soberano ¢ a Constituigio Europeia: urn novo contrato de unio, II — Os direitos de soberania dos Estados-membros. a) O respeito pela idsntidade nacional. 6) 0 reforgado prinefpio da competencia de atribuigio. ¢) A componente intergovernamental ou a estrutura invisivel dos pilares da Unio Europeia. d) Protecco dos dieitas fundamentals e prevalencie do dieita nacional. ¢) O direito fundamental de sufda da Unio Europeia. I—O ESTADO SOBERANO E A CONSTITUICAO EURO- PEIA: UM NOVO CONTRATO DE UNIAO 1. A morte do Estado soberano, insistente e repetidamente anun- cciada, servida em vers6es que oscilam entre a rejeigio curocéptica ¢ 0 voluntarismo federalista, nao passa, afinal, de um equivoco. O pro- Jecto de tratado que estabelece uma Constituigao para a Europa (!) con- finua a assentar sobre a I6gica contratualista e, por isso, nio pode dis- pensar os Bstados-membros enquanto titulares de uma vontade soberana e igual, O enfraquecimento dos Estados-membros nao serve um suposto fortalecimento da Unio Europea, porque a Uniio.ndo.navega,sem,os ) Publicado na Revista,O Dinero, ao 137. 2005, 1V-v. ()_Bunalizou-se 9 ‘expressio” *Coistigao Buropela™ Ge Também adoptamas neste escrito, mas sem nunca esquecer a origem © a natureza eonvencional do novo {exto fundacional dz Uniio Buropeia,

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