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FACULDADE DE DIREITO HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES Vol. | Tomo |1 Ligdes dos Profs. RUI DE ALBUQUERQUE © MARTIM DE ALBUQUERQUE com a eolaboracdo dos assistentes J ARTUR A DUARTE NOGUEIRA JOSE ADELINO. MALTEZ e MARIO LEITE SANTOS, LisBoOA 1983 FACULDADE. DE DIRETTO DE LISBOA HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES VOLUME T TOMO IL Ligdes dos Profs. Rui de Albuquerque ¢ Martin de Albuquerque con a colabora~ gSo dos Assistentes J. Artur A. Duarte Nogueira, José Ade~ lino Maltez e¢ Mario Leite Santos. 1983 — LISROA RISTORLA DO DIREITO poRTUCURS 3 GRUPOS SOCIAIS. 1, Infrodugks. A rediegrafia da sociedade modie- val no que respeita & populagtia apresenta-se. extre mamente complaxe, sendo desvirtuantes todas as ten tativas esquemétioas processadds de acordo, com ork, térios mais ou menos unitérios. & cldssica « att: magto de que a sociedade medieval se encontra di- vidida om trée grupos fundenentais, clexo, nobre- za @ povo, ov seja os que rezam, oa qze luton og que trabslham, Béta afizmacio representa un gliché batido. que ven da préprie Tdade Média oe que encontra éco, v.g-, nae Orderagdes Afonsinas (liv. 1, #..635 pr), a0 tratatem da cavalario: quis, per qué se mantevesve o Murdo, ca ben aeey pombe que rogsm pelo poyoo_chantm opadoree,.¢ 208 que Lagran a terra, per que os home¥e han de 1} ver, e se nanteen, gom ditos manteedored, 9 09 que ham de defender som chanados defensozes". A tripex "Defensores gon hiss 2-7 trea estades, ue DEOS theXo clere, nobreze, povo 3@ corresponde- a ung 72 partigto por fangBes na scoiedade @ mesa & ume, consideragto dos extractos sociais. de acordo com a ropresentatividade em cortes (por isso, sob una yis%o polf{tica), nfo se adequa, todavia, a ume classifioagto feite segundo oritérics de orden e- conémica, de ordem juridica ¢ até segundo um cri- tério de ordem polftica em termos abaclutos. To pento de viata econémico bastard dizer que dentro de cada un dos trés extractes referidos existe um leque amplanente diversificado de situates ,de tel waneire que cortos mentros do clero, por exemplo, se acban nivelades bs camadas populacionais deste Angulo mais desfavorecidas e que a nobreza em mud, tos aepectos n&@o é, de forma alguma, detentora de posigto priveligiada em relagHo a parte do chamado terceiro estado. Um sé exemplo como prova, Na pra gndtica de 1540 09 cidadtos com dcterminados réai. tos estavam nivelados con os ricos-homens e em al guns agpectos en situag%o mais favordvel que eles. "Qs cidadtios com 5000 1b, ov meis de rendimento sé se podiam igualar, em privilégio, aos ricos homens - lembra Oliveira Marques ~ © meemo quanto a estes tinhen a vantagem de poder vestir os panos de qual quer teoldo, até 3 lb. (60 soldos), enquanto para os ricos-bomens o prego mAximo por cévado era fi~ xado em 50 soldos, Apenas n&o exam autorizados @ fazer mais de dois pares @e panos (em linguagem mo HISTORIA DO DIREITO PORTUCURS 5. derna, dois fatos completos) por ano, enquanty os rices-honens podiam fazer tréa. Usa fnica cl4usay la os oolocava abaixo dos cavaleiros: a de nto po derem usar penas veiras nos forros, Nas em tudo o wais lhee estavam em vantage". ‘Exactamente por isso, porque do yonto de viste econénico e jurigice os contornos se eskatem com frequéneia ce, por vezes, ce ohegan a inyerter,con frequéncia também os textos medjevais ap classifi. caken as pessoas em,fungto da ordenag%o rpal aa sociedade,das matérias a rewulanentar, da vide quotidian 6 das situagBes conoretas se nto repor tam a nomenclatura tripartida.- clexp, pobreza & povo =, maa utilizam terminologias diversas amplamente heterogénees até dentro de un meen texto (haja om vista a referida pregudtica ae 1340.em que se langa mio de otfegorizs conpletamen te dispares para referir grupos sociais definidcs segundo oritérios de interesse, riqueza e activi~ aade). SHo escassos os documentos suscaptivets de nos fomneceren dados sobre a estratifici%o social me dieval no nosso pafe, Ainda aesim, 9 que chegou até nés contradia oertas ideias feitas neste domf nio. Bo caso de um documento da Gltima parte do século XIV que possibilita apreender a estratifi- eag%o social ® Arruda dos Vinhos, Por al se vé que os nobres 90 excontravan quanto aos haveres, isto é, quanto & posig%o econdémica, perto de indi viduos de outros grupos sociais, Muito préximo também do grupo econémico-social dos nobres esta va a gavyalaria vil& (proprietdrios, funcicnarios © meeteirais) e entre a gente grada da vila enfi- leiravam, pela rigueza, os "intelectuais" (como 2 tabelites ¢ o meirinho). 0 cavaleixo vildo re- presenta, conc categoria, a indefinig&o de barred, ras entre 2 nobreza oo povo. # de outre enfoque nostre qué as classes tradicionais eram classes abertas, em permanente mutag%o e osmose. Alguns factos poden servir ainda aqui pera oxemplificer a capilaridade social. X nategoria de cavaleiros vilfoa e, por isso, sento & pura nobresa ao meros ac cerne do seu estatuto jurfdico,foram os almow creves admitidos ¢ da mesma situag%o disfrutavem, por direito consuctudinério, os mercedores que tra, f4cassem com os portos do Levante e de Flandres. G coméreio foi mesmo, naturalmente, como activi- dade econémica bésica para as comunidades e como HISTORIA DC RIREITO PORTUGUES ——__—1 modo de aquisigdo de riqueza individual, uma das vias de superag%o"des fronteiras entre o povo e & nobreza, Nao estranha, assim, que o municipio de Santarém reconhocesse o foro de cavaleiro a tody o mercador da localidade que actuasse em Frenga ou noutro pafs de "elém nar", ambém de uma perspectiva ao iniole politica a tripartis&e clero, nobreza e povo se nto epre- senta como incoAdicionalmente valida. S%o numezo- s08 08 casds em ave o estatutd juriiico se mescla, num entrelagar continuo de factos que fogem & ren gra e constituem, fois, outras tantas excepgtes, Mesmo do prisma politico a distribuigto peles trés classes proverbial e tradicionalmente considersdze se nto apresenta indiscut{vel. Para o demonstrar bastard referir a tendéncia de autonomizag%o e eobreposigte de um quarto grupo o dos intelectu- ais, ou para usar expressilo da época, o dos letra: doe, Tratz-se de un segment da sociedade essen~ fal no tocante & apropriag&c do aparelho polf- tino e cuja actividade se processa nos tribuneis, junto dos principes, nos elauetros universitéri-~ os s.. Em ouna,um pouco por toda a partes Cassandre poude afirmar que na Idade sé- dia houve trés poderes: o Papado, a Igreja e & Universidede com og seus DoutoresE Jacques Le Goff chama a ateng%o para a existéncia na Idade- Méaia de ume "franco-magonaria universitérianque pretende “dirigir 2 Cristandade", "Sla proolama com Jean de Meung, ‘com Boéoio de Décda que o in- telectual § mais que um principe, maiz que um rei. Roger Bacon coneciente de que oiéncia deve ser trabalho Golectivo e sonhando com uma tmensa equi, pa de sdbice, queria tamoém que os universitérios dirigiesem os destinosdo mundo, junto des chefos temporais". Dentro deste sector populacional, assumem,a~ 1iés, a maior import@neia os juristas em geral ¢ en particular os juristas do dixeito comum.Sur- gem estes com designag&o varia, nem sempre coin- cidente-doutores, Jegistas, letrados ... ~ @ si- tuam-se, em diversop aspectos, a um nivel inter~ nédio entre o clero e @ nobreza. De facto, por ur ledo, participam com aquele-(ou parte daquele)aa cultura e em alguns casos (v.g. 0 dos piofessores universitérios) s&o considerados, ex} 4 Cone pertencendo ao cleroy por outro lado, vio assumin do em seu favor (embora se no possam considerar HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES 3 nobres) o estatuto erpeaffice dos nobres quer no que respeita & hierarquis social ( 0 doutor quo en ainava vinte anos era comparado -aos condes, segun= do o testemunko do préprio Bartolo no Comentério & Prinedra Parte do Cédieo ~ In Primam Cod. Justi- niani Fartem Commentaria, 1,1,1,11), quer no tocan te a isenges. Numa lei de D. Jo%o I, por exemplo, esousava-se © inibia-se da tutela e suratele os fi delgos de Iinhagem, 08 cavaleiros de espera doura- da e cs doutores em Leis, Decretais 9 Fisica (cfr. Qiks, liv. 4, t, 88, 10), A equiparagto do estat: to dos doutores ao dos nobres é, alias, no reinado de D, Jodo I j4 tho vinceda que este monarca detex minando 4 imposic4o de varios impostos e servigue sobre todos os membros da comunidade tem o cuidade de declarar 2 incluso dos fidelgos @ doutores:"os Lidelgos que de sempre forom en ello privjlligia~ dos, ¢ of doxtores". Dusta situag%o hibrida ou de charneira advém aos juristas posicionamento muito particular no contexte social que poderé ser um dos vectores de compreenstic do papel poliédrico por eles desempe~ nhado entre as forgas polfticas do pais, Aliados do ref enquanto 25 suas doutrinas au- eo xildan 9 aumento do poder @ a centralizagto admi nistrative, com o terceixo estado favoreceram, por-isso, o so¥erano na luta contra o clero o & osbreza, sendo‘nels os aliados naturais doe con- colhoss em contrapartids, definen os direitos d2 nobreza f40e ao monarca, indo, alids, cruzar-se con as grandes linhagens ou suceder-lhes na deten g%o dos senhorics (o caso de Joo das Regras, por exomplo, 6 a este respeito ben ilustrativo) e «0 eles (os letrados) que se apresentm como promotores 0 fautores das reformas foreleiras que pOeu terno As Mberdades tradicdonaic, no antige diveito péblice dos munio{pios. A tudo isto acres, ce 6 izpacto das doutzinas dos juristas na forme, gh da consciéncie nacional. Merece a pena fixer a linha de desenvolvinen to e agcengtio dos letrados sob a éptice da neck nica e 4infcica do poder politico. ‘Wo reinado de D. Dinis - recorre-se & ligto de Costa Lobo em Q Rei ~ observa-se jé na com te grande nimero de letrados, que s%o chama~ dos a conselho sobre os negécios do Estedo, Revogando en 1283 as doaqdes, que fizera nos primeires quatro anos do seu reinado, D.Dinte HISTORIA D0 DIRETTO PORTUGUES Bet autoriza a rescisto como assenzo dos bartes, ¢ outros do seu conselho, @ 4¢ muitos letra~ dos ("Rarones ‘Barones nostroe, et _alios de consilio nostro, et quenplures slice sepientes hic et alibi super nemisaies duximus consulendos") /seo/s A partioipacie destes nos conselhos da coroa fora-sempre em ineremento nes reinados seguintes. Na resposta aos artigos nas cortes de Santarém de 1340 declera Afonso IV que “houve sobre te seu conselho oom doutores, com lettrados, @ com outros” /,../ Crescente era também a sua considerag&o na opinitlc po- puler, Quando,em 1385, os procuradores de Lisboa en tregaram a D, Jo&o I um memorial de lembran- gas pera o tom governo do reino, indicava Ihe que nomeasse para o seu conselho certos individuos apontados por nome, escolhidos,co no eles se expressavan, dos quatro estados do reino = prelados, fidalgos, letrasos @ cida- adios", Nos capitulos gerais oferecidos nas cortes de Coimbra de 1385, os povos do reino dizen textuel~ mente aD. Joo Ts "Pri ranente vos sam mister 22 booe consilheiros, gue aiden converies ao8_quace Aédes cargo de tudo o que ouverdes de fazer em vosso Conselho, ¢ que seja em guisa_ que sentam shies ecordam por prol_e honra dos Reynos, ca ag~ sige coustuna de fazer pelos Reyes de Inglaterra, @ por este som louvadoe em todelas partes do Mun= de, 2 porque ao tempo dora vos he mister pera om este conselho serem por varte de cade hun dos Zs~ tedos dog Rover Acs Royce por causas aguisades, quo_se pedem dizer, ¢ o Estado he partido am es~ tac partes, Proladow, Tidelgos, Letwsdus evade. Bkos ..." D, Jo%o iludiu wa é -rimento ou indeferinen+ to directo de tal pedidc, enguanto consubstuncia. dor de use regra, mas do seu conselho fizeram par te varios letrados. Ea partir do reinado deste principe passan o ser frequent naa lois mendes no sentido de que foram feitas ou estabelecivaa com o parecer ou gob informagao dos letrades.Al~ gomas dessas leie passeren As Ordenagbes Afonsi- nas © af se podem ver. A importncia deste quarto gatado, levou mesmo em certos pafsoe vono a Frar~ ga, & contraposigto de uma nobreze togada % nobre~ za de sangue ou pobreza de espada, ISTORTA DO DIREITO FORTUGURS 3 Pelo exposto, conclui-se que a populagio me- @ievel tom de ser ensarada através do miltip yas © em parte, sobreponiveis classificagtes; como: se tem de admitix que 2 idela de ela se distribuir por trés grupos sociais fortemente hiererquizados e que se nfo interpenetrevam, repr ta um modo de ver absolutamente superficial « extremanente simplificado, mesmo erréneo. Falar em clero,no— breza e poro teré sus vantagen num modelo inte- lective de largos contornos,mas sé pode fazer sen tido tendo sempre 6 inelteravelnente presente que se esté face a grandes arrumac3es, raranente de yalizas claras e que em concrete se versficavam a cada paseo situag%es de mobilidade e fendmenos de excepgtio, Th. GLERO 2. Agpectos gerais, Bra o clero integrado por to— dos aqueles que se dedicavem especificamente ao oulte divino, 0s membros do clero nilo tinhan, pois, forgosamente as chamadas ordens e.cras, Bastava a prima _tonsura para caracterizar alguém clerica~ mente, & esta seguiam-se as ordens menores € as vaso, 2 7.1L My ordens sacras , da qual apenas a filttma (a de presb{tero) ee conecta com o celibato como obri- gagHo normal e negesséria, Para além disso, e embora apenas para certos efeitos espectficos, eram coneiderados cumo per- tencendo 20 clero outras categorias de’ pessoas, como og membros das ordene militares e tereeiras, 08 professores universitSrios, certos dependentes de instituigtes religiosas (os ministerdais) .., frata-se, pois, de um grupo amplo, onde’ impor, ta, para 14 de tudo due J4-se-disse, dietinguir tipelogicamente, A separag%o de yaérios tipos é,a~ 114s, dmprescind{vel, & compreens%oexacta da tity lariaade real do poder do clero, que, consoante 2 sintese de Fortunate de Almeida, se reduzia a trés causas internes - " a £6 religiosa des povos, as riquezas de que dispunha a olasse eclesidstica © a sua Llustrag%o relativamente superior" - 9 uma_externa - a'" autoridade ¢ prest{gio do papa", @ca, no que respeita & riqueza e ilustragio aupee rior era-detié apenas por parte da.massa cleri- cal, podendo, a este respeitc, separar~se o alto 0 baixo elero. No primeiro enfileiram oa nagna- tes eclesidsticos (como arcebispos, bispos e os HISTORIA DO DIRETTO, PORTUGHES 45 membros dos cabidos, os ebades das grandes casas nonésticas ¢ conventuais, os sestres, concndado— res ¢ cavaleiros dae ordens militares -...). Quan to ac baixo clero, compunha-o @ multidiio indife- rencidda dos religionos, desde os pérocoe curds até soa membros de certes ordens de menor poder econéuico, embora de grande prestigio a impacto social, Tal o caso dos mendicantes, © critério de diferenciagto entre as duas oa tegorias, é algum tanto flufdo e base mais de um elenento, mas na esséncds estto em jo go 0 peso econdmice @ @ odrrelativa importincia social ¢ cultural. Wao menos relevante que a destringa do clero aeabade de zeferir se apresente uma outre - om een lero secular @ clero regtlar. 0 lero como a designagto estd indicando, vivia no sécu- lo, no mundo, entre os demais fieis. 0 clero ra~ lar, como também deduz ga expressto, vivia em comunidate, dirigide por ume regre (xequla). Ao clero secular pertencian os bispos, como 08 menbros dos cap{tulos ou cabidos des rospectives cular, catedrais, e todo o clero paroquiel, Do clero xe~ gular faziem parte os menbros das oriens (mon’ds~ 16 ticas, militares e mendicantes). 3. Privilégios do clera. 0 clero, do prisma ins titucional, costuma ainda ser definido pelos pri vilggios que wsufrufe, Trata-se de uma delinite- g%o externa, nfo intrinseca, que, todavia, inpor ta considerar. De facto, o tage comun a todo eg te grupo social é muitas vezes enoarado pelo 4n~ gulo dos respectivos privilégios, Além do aireite ae tepresentagtic ou assento em cortes enumeran- 20 08 soguintes: privilégto do foro, isenctto do servigo militar, isengto tributéria e direito de a) 0 privilégio de foro (privilegiun fori) resultava, como j& oportunamente se referiu, de se ter estabelecido come direito que os membros do clero s¢ podiam ser julgedos pelos tribunais eclesidsticos, aos quais cabia tam vém a coupeténesa para conhecer de certas ma térias tidas por @frectamente ligadas & fé (heresda, magia, eto), bem como As queatdes relatives aos bens clericais ¢ eclesidsticos, Este privilégio cue os nossos monercas ( D, Sencho I, D. Afonso em 1211, D. Afonso III, D. DL HISTORIA DO REITO PORTUGUES. 1 niz...) por vezes reconhecerem, embora em termos diferentes, e que na pratica frequentemente contra~ tiavam por actos e leis, foi energicamente defendi- do pelo clero, Alvaro Pais no Speculum Regum (7, p. 759) e, sobretudo, no Collyrium Fidei (I, p. 77) patenteia bem a tenso entre o rei e o clero por este motive. No Coliyrium entre ob erros da £8 sponta o Bispo de Silves o que “sustenta que os reis sdo or jufzes dos clérigos", os quais “foram isentos da jurisdigfo temporal por Deus e pelo papa, em suas constituigdes...", Do lado dos monarcas, nesta matéria, encontravar-se populagées, como resulta de méltiplos documentos. Nas cortes de Elves de 1361, por exemplo, os procuradores tomam oa par~ tido das justigas concelhias e do rei que prendiam os clérigos meifeitores. No Livro de leis e posturas sucedem-se estatui- qbes visando cercear ou contrariar o privilégio eclesiastico do foro (cfr., v.g. ps 57, 206, 282, 372), algumas delas bew elucidativas: "aqui. Se comegan os artigos ¢ a ordinhacor em como os. clerigos deuem a Responder e a demandar perdéante El_Rey ou perdante os Juyzes Leygos"; "Como og clerigos cordens meores deuem responder perdante ie y2os leyaos". b) As pessoas como os hens eclesidsticos, de acerdo com 0 direito canénico, schavan-se isentas de impostos conaoante j4 se referiu (1), excepto para fins ligados & religizo, como era o caso da guerra contra os infieis. 0 certo, porén, é que em Portugal teve lugar 4 trioutagko da classe e- clesidstica ¢ dos bens eclesidsticos 20 longo de toda a Idade-Média,através de certas contribuigtes; muitas vezes,com 6 seu consentinento. Noutros ca sos, porém, com protestos, Conhecosse a este mr peito uma enérgica carta de protesto do Bispo dc Silves, D. Alvaro Pais @ Afonso IV. Senelhantemonte, excepto contra os nouros,os mambros do clero estavam isentos do service mili tar, o que lhos foi expressamente reconhecldo por D. Sancho I em 1210. De qtalquer forna, no faltaram ocasites em que os monareas passaram por cima da isengtio e- clesidstica. D. Dinis, por exemplo, fez a postu- ra seguinte elRey que nom paguen os clerigos mays pera aque~ "Para refazimento dos wurcs manda (Q) efs, supra. EEUCUES ag ig consas que son defendimonts da terra ¢ do senhorio, deve Seer constrenindos por elRey pera esto e pera hos RARE CS pez citey pera esto ¢ pera hos (siz) outmes causas que son honestes pera o ecmun & profeytores ¢ divijsaas assy, ase: sic ome per _fezimento de pontes Carreyras Ressyos, ¢ ou- tras cousas semelhanija a estas que son theudos de pagar de dereyto come os ieygos, mays nom de~ Bistes. B os bMevos nom devem sobresto a negar Jagsiea" ( LLB, p. 129-130), c) © dire:to de asilo constitufa outro impor, ol eguar como hos outros ¢ deven tante privilégio, Bm geral (excepgtes feitas aos perseguidos por determinados delitos), os crini~ noscs que se refugiavam nos lugares sacros enqua to al permeneceseem ficavam livres das justigas seculeres. Este direito, wuito antigo, fo1 afir- mado em varios cone{lios peninsulares, encontran dense tembém expresso cu estabelecido em alguns diplomas ~ desde ferais até leis o textos ee cor tes (nomeadamente, do tempo de D, Dinis e de Dy So%o I). Un des mais curiosos textos relativos 20 dieite de asile encontra-se no fim de Livro fo inis ¢ Tustury Wole, s¢ enumeram os " casou 20 ai_que as lex dos empadores (sic) poem em que es egteias nom devem de valer aos que se _acolhen ha fila por mado de ser presos" e¢ "os casos que on as _degretaes em que a egreis nom valha _haos Awe se_iangan en ella". Depois de enumerar une @ outros casos ~ salteadores de estrada que ma- tam e@ roubam, os que de noite destroem vinhas Grvores, of que matam ou ferem na Tgreja ou cemité- ties, desrespeitam os lugares sacros, cometem acé tos nefandes, etentam com os direitos do rei, Gesrespeitan os senhores. — dispie~se: "Eros uy gtandes fazen os homeens ag degadas ¢ 08 que diz en ley ante desta porque han de fugit haas Egreias Som medo_ge pea. F por esta manda_o dereyto das leys antigas que os saguem ende sen _comea nenhiia 28 como os tredores conhocudos e aos que _natam gutrem a torte e os que fazem adulteryos eos que forgan as virgens. E os que han de de dar conto 298 epersdores e aos Peys de seus tributes qual nom_seria razon convinavel que tases malfeytores sonme estes emparasse 2 egreia que he cara (sic) se deus ljure deus a justica puardar mays _compri- danente que outro loger porque seria contra o gue Sisse nosso senhor Jesu christo, que disse que a RISTORTA DQ DIRETTO PORTUGUES 21 SAREE TA DO DIRETNO PORTUGUBS 88 cana era shanada case de oragom ¢ nom geuya gor fecta coua de ladrooes" ( LLP, 484), direits de asilo ato constitui, pois, um privilégio ilimitado, mas antes conhece rogulamen tagHo estricte, que tenderé cada vez nais A gua eSrcunscriglo, Com an Qzdenactes Afonsinag (1,2, %. 8), isso serd bem vielvel. O problema tedrico que mais tarde se discutird 6 0 de saber se tal imunidade da Igreja deriva da compsténete ecle~ sidstica ou se constituia concess%a dos prineipes, Entre os privilégios que defdnen, cono se din Se, 0 estatuto institucional do clezo, outros se podem referir, sendo de nencionar o concernente & execugdo dos testanentos, Entendia o clero, desde 9 séoulo XII, que a sua jurisdic’ avocava todas as causas testamentdrias. "Nesta matézia cresce= ram os abusot a tal ponto - diz Fortunate de Llae! da ~, que Horéric III, por pula de 29 de Maxgo Ae 1222, mangou proceder contra o bispo e o clero 43. @iocese e provincia ecleetdstica de Lisboa, por obrigaren os testadores, sob pena ae denegag’c dos sacramentos, a deixarem 4s Igrejas a terga ow ume serta parte dos sous bens. Por uma constituigto de 1271 mandou o bispo de Lisboa D. Mateus consi~ 22 derar felecide abintostade aquele que fizesse tes tamento sem ester presente o paroco ou seu repre- sentante, sucedendo nesse caso a Igreja na terga parte da heranga", D, Dinis, alide, atalharia,i~ gualmente este mal,dispondo "De _quaes cousas dos testamentos Heo conhecimento del Rey". Lé~se nu Livro de Leis e Posturas (p. 130): "Item toqusas aiujdas que doverem sorytas nos testamentos son da _Juridicon’ dal Rey de guissa que se contendé nager sobreles en qual maneyra quer elRey o ceue wuer ou o sgou Juiz leygo". 4. Incapacidade, inibictes e restricSes. Como re= verso dos. privilégios, isengdea @ iuunidades de quo 0 clero gozava, hd que referir agora ae inca idades, inibigSes ou restrictes especiais de que se encontrava ferido ou atingido. 86 a conju AGAG dos dois lodos da medalha dos direitos yes nite fixar o status juridiowde uma pessoa ou de Um grupo de pessoas. Do prisma negativo temos que levar em linha de conte quanto eo clero e incapa~ gidade matrimonial, e incapaciaade sucesséria, a inoapacidade de squisicto de bens, a incapacidate profigstonal, . HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES 23 A jnoapacidade matrimonial atingla os membros do clero que lograssem ordens presbitcriais, Des= ta incapacidade decorria « ilegitimidade dog res- poctives filhos, Quanto & incapacidade sucesséria, desdobra-se ela om dofa planos ~ incapseidade para herdar 2 incapacidade para tesvar ( a esta mae proprianca te cabenio a designag’o de incapaciiade testamen- t4nia). Enguanto o primeira tipo de incapacidade tinha, sobretudo, em vista obstar ao enfraqueci- nente territorial das ordens religiosas, 0 segunds vieava, precisamente, o efeito inverso, Negava-so ou restringia-se a faculdade do clérigo sen fam{~ lia fazer testemento para que os bens passassem & Tarega. Também com o objective de. impedix o engrande- cimento da Igreja se mltiplicaram 1s leis proi- bindo ao clero e As ordens ¢ instituigtes eclesi~ ais a compre de bens de raiz, Francieco Manuel Tri goso de Aragdo ("Memoria em que se oretende mos- trar que até o tempo d'£lRei D, Dinis n&o existiu let alguna em Portugal que probibisse geraimente As Igrejas © Mosteiros a aquisigto de bens de raic" na Hist. ¢ Mem. de Acad, Real das Ciencias}, ee Regou a existéncie antes do reinado do Lavrgdor ae uma lei gerul de desamortizacto, A verdade,ro rén, & que os diplomas proibindo ou restringindo 2 aquisip%o pela Igreja e pelos clérigos de bens de raiz se multiplicavam, fm 1211 sstaveleceu-se lei pela quel as ors dens religioses em prino{pio nfo podiam comprar bens, empora os clérigos os comprassem quanao qui. sessem ( LLP, pp. 13-14); em 1267, D. Dinis proi- be a venda de bens a religiosos mesmo por inter- posta pessoa ( LLP, p. 205); em 1286, a pedido dos concelhos, defende a compra de herdades pelas ordens, prelados e clérigos por ser om gixher- damento grande dos de che terra" ( LLP, 162);en 1291 proibe, satisfazendo uma queixa dos Ricos honeens e¢ filhoe dalgo, que as ordens religioons herdem dos seus professos ou préfessas ( LLP, 72), Estas e outras leis fdcaram conhecidas por leis da anortizee%o e foram ampliadas ainda naa cortes de Lisboa de 1371 por D. Fernando. Ae Qr- denagBes Afonsinas ( liv, 2, +414), alide, confir nem a vigineda inalterada da lei de D, Dinis de 1286: "Nog Livros da nossa chancellaria foi acha- AOS _Bivros do nosee chancellaria foi acha- 42 hile Hordenacom; per que antiguanente fot defe- HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES 25 go dos Clerigos, ¢ Hordées, que non comprassen lus beds de raiz em noagos Reynos ...%a_qual "Ley vista pez ngs, mandazos que se cumpra come gn_ella he contheudo, porque o sentimos por sez~ Yigo.de DEOS, © nosso, ¢ bem dos noss0s Reynos; g_aimia sonos sertanente informados que assy fot aeny ada, ¢ usada no tempo dow ue ante nds foron". No. mons importante sto aa inibigtes de exer cfelo de profisetes oonsideradas incompativeis ou opostas ao munus eapiritual dos olSrigos ~ co~ méreio, advocacia, uedicina, ete. No Livro das Leis e Posturas, por exenplo, depara-se uma reso. lugto régia pela qual se tolhe aoe olérigos advo ga @ seren procuradores: "Sstabeleceo ElRey 8 por era todo sempre que Glarigo nephtiu sal, nom Religiczo nom vogue, new procure gutrem em euas Audiengias, nem todos seus Senho- zios, ¢ manda aas Justices dos ditos lugares, que 9g nom receban_em nenhtis feitog como quer que j& por-el fone man/dado a'ante”. ( LLP, 259). Nou- tro passo do mesmo Livro. (p. 275), estatui-se, i- gualnente, que os clérigos de ordens sacras, ou maiores, néo. devem ter of{oion seculares: "Porque Fase. 3a? IT 26 vs Offigios Sagraace, Procuradures dos Conge- woven aigtiug, gue son Oroonedos @1Ondens im~ (oReS, somo quer, yu¢ ge srazem como leigos guan “ofyne uijsae erros tovesn-se 6 seu Peivileris | guas Ovigens, 2 por cota Resom aow se pode det- azar Justion nem Direito, Poren defende sLzet nom natan noe ditos Officing nenhfin, que seJa menses d'Ordecns Sagoag, rt ml Efueren, que seJ2 Ordenad: das ditas Ordeensyman- que soja logo tizado desse Officio, que tiver, sulve, se 9 tivar por mandado @! BIREY especiel,ou gents sosengis, ou ee fer en alygiina guiea cada bus Aaguellne obras por que jexdease o Pel- $2da bflua daguellas obras por que yerdesse o Pri. Jeg: Estas leis vém ao encontro de uma reacg4o ve sifieada dentro da prépria Igreja medieval contra . a tendéncia dos olérigos para pestergaren a sua fung%o em proveito de outras actividades mais In cratives; para abandonaren incluedvamente o estude da Teologia em troca do de ciéncies de maior ren dinento como 2 medicina e, sobretude, 0 éizelto. Sucessivos ooncilics do séc. XII - como recor da Philippe Deihaye que estudou semelhante tendén cia - haviam j4 tomado medidas procurando impedir HUSTORIA pO DIREITO PORTUGTES L 08 eclesiasticos de exerceren fungtas Judioiais, de edvogaren ¢ de sairen dos conventog para irem estudar © direito, Noneadamente, no concflic de Reims de 113, sod a presidénota de Inocénoie IE esoutaran~; Se auras condenacBes sobre este ponto, As restrigdes que a legislagho nedieval Co Deoreto de Gractane, as Partidas, o Fuero 2 a2) faziam impender n&o 34 sobre os simples clérigos, rtes o drésts oss que 89 pole falar om morte oivi), Com frequincia, temase encarado h. te © papel do clezo segunda apricrtom veues do carge tdeolégica, regalias, ues sobre os religiosos eram tio fo, istoricanen 08, muitas &@ que © conjunto de inunidades ¢ deengtes institucionais fa cilita a fundanentag#o, ben como 2 riquena quer Ge Tereje quer de miltos dos seus meabros, Quan- to este ponto lenbra-se justamente a necessida, de em que oa monarcas se viram de obstar Ro prow eresoo dessa riqueza, de que, ali: haviam sido en Parte feufores, com es deixas © dotagtes pide que praticdram, 5+ "Qe Abusos do Clore". Dentro do contexte de uma, histéria-veredioto, lembran~se também og abu 28. soe do clero, de que as lutas conetentes & até stlo dromatioas com a realeza e as outras cl ¢ s{mbolo ou expoente, Como se recorda o campor~ tamento nic edificante, mundanal o mexcentil de numerosog clérigos, de que na prépria Idade-Médla jé aleumas grandes vozes 8° fizeram eco, a come— car pelo nosso Santo Anténio. Denunctave este 08 prelados da época que faziam grande rufao com & ei de Justiniano e n&o com a lel de Cristo (Sez nfo de Dominica IX post Pentecosten, I, 9)s ole yidando a ligho dos Profetas, dos Evangelhos,de ge Feulo, das regras dc S. Bento ¢ de Santo A- gostinno (Sernifo de Dominica IX in Quadragesinn, Ty 4). Hoje n&o se fazem feiras, no se celobram rouniSes seculares ou eclesidsticas em que se nBo encontrem monges ¢ religiosos ~ diz o Sante no mesmo Seruio =. Compran ¢ voltan a vender, edifi cam e dostroem, e mudam o quadrado ea redonto, Em causas judiosais, provocem partidos, litigam @iante doe juizes, contratam decretistas & legis- tas, convocam testemunhas, prontos a jurar com 2. Jas a faver de aesunto transitério frfvolo" ("non colebrantur curiae saeculares vel ecolesiasticag, in guibus non invenias monachos et religiosos B= HISTORIA DO DIRETTO PORTUCUSS 29 munt_et_revenduat, aedificant et destruunt, mutant quedrate zotundis. In causis partes convocant,co- ram Judioibus litigant, deozetistes et Legistes condveunt, testes inducunt ‘ctm ipsis parati iurare pro_re traneitoria, frivola et vana"). Os chamados “abusos” do clero tam de ser, ocn tudo apreciados em termos de una maior couploxida de intexpretetiva. Bm primeiro lugar, hd que olhar os problem historicamente & luz do seu tempo ¢ nto de acordo com as “nosses" conoepetes, con as soncepgBes ac— tuais. Os privilégios, imunidades e prerrogativas do clero que foram tantas vezes manipulados para busos @ extremos, como pretext para violéncias e extorstes doo monarcas, reprosentam, om grande parte, sinples mais valias sociais om harmenia com o papel desempénkado pela Iprej © os seus membros numa om que a £$ a a orenga deseupenhavam papel fundamental no viver quotidiano. Exactamente, por fago, se nos dopara a contrapartida, ou seje,cez tas proibigdes de acordo con 2 finalidade da clas. se eclesiistica dentro da comunidade ou para evi- tar que a3 suas regalias, desvirtuatas ¢ distroc; Gas, pudessen influenciar negativamente @ normald dade social, Porque teleclogicamente a sua raztlo de ser estA ou deve ostar no oulto divino e na oragto aos eclesiasticos se vedaram, como se viu, certas actividades consideradas contrérias a0 respective statue, a comegar pelas lucrativas, Acresee que olhar o clero como uma classe uni tariamente privileginde do prisma econémico é es quecer que existiu, para usar férmula do Profes- soc Joaé Matoso, uma espécie de proletariado ecle- sidstico - "o clere rural, dependente dos patro~ nos das igrejas e do bispo, quase sempre reduzide As magras proporgdes das rendas eclesidsticas que aqueles lhe deixavem . 6, Inporténcia econémica e cultural. Além disso, © alto clero, pele riqueza e preparag#o de muitos dos seus mesbros, exerceu neste perfodo papel fun. damental quer no desenvolvimento econémico quer no progreaso cultural do pais, Acerca do primeiro aspecto a obra do mosteiro de Aloobaga no eproved tamento e ordenagdo territorial do centre do pais, serve de exemplo paradigudtico; quanto ao scgundo, as escolas optecopais e catedralfctas, bem cumo HISTORIA NO DIREITO PORTUCURS 31 as claustrais s%o documento irrefraghvel. De ‘al- gupas existem not{cias importantes, Assim aconte-- ee com sa secolas ¢pisoopais de Braga e Coimbra 0 com a escola catedral de Lisboa, que foram objecto de estudo pelo Prof, Francisco de Gama Caeiro, A prépria Universidade dove om grande parte no clero a eva fundagiio. A pas de Deus, a humanizagiio do trabalho pelo deacanso dominical, o papel das ordens militares na Reconguista do territéric, constituem outros tantoa aspectes da acco positiva do clere a opor aos seus aspectos negativos. Um jufzo. sobre esta classe social é tanto mais poliégrico « delicado quanto se nfo trate de uma classe, apeesr de todas as caracteristicas distin tives, completamente delimiteds. Na verdade, o sg peraglo do clero das outras ordens nfo se configu= ma como estanque, havendo, principalmente, que ter presente o facto om relag%o & nobreza, Em sede de artioulago das duas, ordens consideradas hé que determinar de que modo e em que momentos ‘consti- tuem segmentos sociais diferenciados; uesno em oposicho, j& que exiete, indiscutivelmente, uma plataforma comum, constitufda por lagos familiares, a unidade de interesses e de estruture mental entre a certas zonas do clero e certas camadas de nobrez. TI, NOBREZA 1. Aspectos gerais. Meis diffe] quo o estudo do lero como claese se apresents o estudo da nobre- 20 na época de que nos vimos ecupando, visto que a todos os problemas genericanente apontatos, se ven aqui somar uma caréncia de estudos de base e de conjunto, tom sido © nobreza definida, muitas vozes, co mo a classe dizigente da sociedede medioval. No grape populecicnal designado pelo terno nobreza inseren-se, nfo obstante, pessoas cuje posicions nento na comunidade e na vida sociel de Idado-Mé- ia 6 muito diversa ¢ a muitas das quais certe- mente nfo quadra uma tal definig&o genérica, que deve, portante, ser olhada com alguma reserva. Também nfo pode ser acolhida sem restrighes 4 afirmagto, igualmente coerente, de que a nobro~ za constituia o degrau superior da escala hierér- quiea medieval. Admitir semelhante asserg#o em termos globais equivale a admitiz que o menor dos HISTORIA DO DIREITO PORTUCURS 33 nobres se encontra aituado acima, por exemplo,do prineiro dos membros do c! Braga, que se arrogava @ qualidade io primar das Espanhas. & preferivel, pois, definir esta olas~ pela sua func#o especifica, Os nobres, que solaboran con o rei na reconguista e’governo aa territério, s%o caracterizadoe sociaimente ZO =o arcebispo de pela “sua fungho militar e politica, com exolusto ae qualquer actividade lucretive” (Paulo Meréa). For quanto se diese, se v8 que alnda aqui ha veré que proceder a distin,m as ou. graus. 8, Categorias ou graus da nobreza. Eneina-se, tra @ictonalnente, que as categories principeis: de nobres eran duas: a dos ricos-honens e a doe in- fancSes, A primeirs seria formada pelos’ governa- dores de terfitérios (comites, potastates) e pe- ' los membros da ouria régia ou aa comitiva régia; | 1» Segundo categori, i constituida a segunda pelos nobres inferiores. A seperagtio que teoricamente se apresenta ola rae simples, om bom rigor dos factos apresenta~ ~se de dificil estabelecimento. Contribuem, para tanto, vérias circunstancias, Por um ledo, surgem por vezec, infengdes & frente de territérios. Por outro, a partir do séc. XII concorrem & ciria r§ gia tambén infangdes. Acresou que a energénoia da. nacionalidade portuguesa se segue a uma mutagto de estrutura social inportante. Efectivamente,e~ xiste um corte entre as Linhagens nobres dos séos. XIT © seguintes e as linhagens dos grandes magna- tes portucalenses do séo. X ¢ anteriores. Como observa o Prof, José Matoso, "no fim do século X, © sovretudo no prine{pio do seguinte, comegam & aparecer outras familias de infangdes que, no. tendo nunca desempenhado cargos ralacianos, nem obtido titulos nobilidrquicos, aumentam pouco & pouso of seus bens, e van & impor-se mia sccdedade portucalense do século XI", 0 medievaliste oitade observa ainda que nestas noves fanimlias embora quase sempre aparentades com um conde (somes) nen todea os membros ostentan senelhante titulo. Por outro lado, "nd membros das fam{lias condais que parecem ocupar posigtio secundéria ne escala social", Finaluents, “oa nobillérios felan também de casamento /.../ 4¢ f4lhas de condes com snfan~ odes. A mutag%o que se vem referindo @ explicada HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES 35 pelo Prof, Matoso nos seguintes termost "0 grupo doe magnates do século X extingue-se progressiva mente durante o século XI, were? das adveraidades da guerra, das partilhas hereditariaa, 4a oposi- g%o dos rela de Lledo @ de rivalidate dos infene gbes. Ao nesmo tempo, algunas familias de infan~ des, aproveitando a crise dos ance de 980-1037, obtendo depois cargos de administragdo terri to- rial, conseguen aumentar o seu poder material alcangar ua posigo social de destaque, # un grupo dindmico, aberto &9 influgncias religiosas e owlturaie estrangeires, e detentor de mosteiros de pujante vida, como Santo Tirso, Pago do Sousa, Cete, Pendorada, Pombeiro ¢ Pedraso. Esté om ple- na ascenstic quando D. Teresa tenta apoiar-se nou- tro grupe social. As consequénoias desta tentati- va 6&0 0 agrupamento dos principais infanges pe ra a expulgéx do nosso territério e eleger un novo chefe, D. Afonso Henriques, A mutago dingy tida do séoulo Xi, corresponde uma mutegtio social, f a nova nobreza assim oriada que incarna o senti- nento de autononia formado de elementos muito va- riedos, ¢ que, en 1128-1140, se encontra madure para oonstituir a minoria dirigente de uma nova [EE nag#o que poude, desde esse momento, escolher 0 seu proprio destino". Se a constituig%o da nacionalidade portugue— sa coincide, coneequentemente com @ passagen Je certos infangtes a um estédio superior da nobre~ za, a primeira referénoda aos ric seu turno, aparece apenas em textos do séc. XII. Mais preoisamente, nog forais de Santarém, Lisboa @ Coimbra, em que cou tal designac&o se alude aos governadores ou teneutes dos territérios. Para maior complexidade terminolégica, nfo falta quem entenda que 2 qualificagtio de infanctes era a adequada aoe nobree de Linhagem ou fidalgos (£ilhos dtalgo), t.e., a nobres hereditérios (v, g. Marcello Caetano), enquanto outros sustentam que a daixa nobreza era constitufde nos sécs.XI- XIV pelos infanges, pelos caveleiroe e pelos gadefzos, sendo os infangtes que mais tarde nos aécs. XIV-XV seriam conheoidos por fidatgos (Oli veira Marques); ou que na "hierarquia nobiliéria a palavra fidalgo, em sentido estrito, designa o estado inferior da nobreza - tal & o parecer de Alfonse Geroia Valdecasas,para quem os fidalgos se situam abaixo dos ricos homens e dos infangtes; HYSTORIA DO BIRETTO PORTUCURS 31 ou ainda que os "Fidalgos constituen na hierer- quis social, a canads maie elevada de Nobreza, que se @scenéis por um conjunto de oirounstancias nem sempre faceis de explicar, porque nto era sd a antiguidade por troncos familiar nem op favo res dos Reie, nom mesmo o exerc{cio dos cargos palatinos que confericm a Fidalguia" (Bugénio An drea da Cunhe » Freitas). Obviamente, e pare além dos erros manifestos de algunas das opinites expentides ( houve por ¢ xemplo cavaleiros nflo nobres e escudeiros do 1i-~ nhagem, como oscudeiros plebeus ...), o tema cs~ +4 a requerer entre nés um estuso completo. Im- pSe-se, nomeadamente, proceder ao levantamento histérico da hierargquia nobilidria. Até 14, 2 a- afantar teses sobre o sentido genérico das pala- ‘ras, sem atender As flutuagtes de significadc conscante as fontes, & evolugo @ & cronologia da classe em causa, parece preferivel anotar a oxis ténota de uma nomenclatura de acepgio indetermina da ea valorar em cada caso conereto. Assim procedeu 34, alias, um grende historia. dor portugués, Alberto de Sanpaio a quem, por isso meszo, nfo escapou uma altorag#o easencial na ¢s Fase, 4 -2.II 38 HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES trutura da nobresa portuguesa, Observou ele que antes de, Dinis o termo normal para designar 4 clasee de que nos ocupamos é o de “gavaleizo" (miles),enquanto depofa vem a prevalecer a desi- gnagto de "£iiho dtalgo", até af praticamente u- tilizada. "Nas leis de Afonso II, somente em du- as se emprega 2 palavra fidalgo ~ escrove Alberto de Sampaio Affonso III nfo se 18 a miudo, ¢ nas Inquirictes em muito poucas passagens, indicio seguro de nto 3 nos documentos contemporfincos a! ter ainda ent&o 2 Jinhagem importancia decisiva ¢ estaren por organizer 26 genealogias ou ual os bogadas; o termo usual para e classe 6 em portu- uea Cavalleiro ¢ em latim 'miles', entretanto que no reinado de D. Diniz 'filho dtalgo' & 0 conmus ¢ official, © emprego dos dois, significan doo primeivo a profiss&o, o segundo a ascenden- cia, caracteriza duas époces diferentes; n'aquel la as familias nobilitadas preponderan pelo car- @°, nesta pelo nascimento. © sto na verdade épocas diversas: com Afonso ITI terminam ae guerras para a aquisig#o do solo nacional; posterforuente, 08 filhos dos chefes ilustres do pasaado cobren-se com a gloria de seus pees". RISTORTA DO DIRETTO PORTUGUES 39, A necessidade de distinguir perfodos e fontes leva tanbém a condenar todo ¢ qualquer enfoque em que se pretenda relativizar valorativamente a nobreza © & fidalguia como realidades unitérias © globais, Enfoques, alias, contraditérios entre si (bastando lembrar que enquanto Cunha Freites 2 Oliveira Marques vem na nobreza uma classe a- berta e na fidelguio um extrecto estético, Braan camp Freire sobrevaloriza esta relativanente aque la e Nuno Deupias d'Alcochete defende um ponto de vista intermidio). 9. Feotos aquisitivos da nobreza, Entre os factos aquisitivos Ja acbreza yodem enumerar-se a ccupa 40 de altos cargos, a posse de certos bens, 0 sanguo, @ atribuig&o régia do estatuto correlati vo. cima de todos estes factos, porén, é 2 guer re, 0 exercfolo das armas que confere a qualidade, Por isso, 0 acesso & nobreza, como selienta com azto Marcello Castano, fazia-se etravés de cava daria, Miles ou gavaleiro 6 palavra que ocorre em duas acepyBest genericamente significa o que combate a cavalo, mas em sentido estrito quer di- zer apenas o que ingressou na ordea da cavalaria por ter sido armado cavaleiro. 10. 0 estatuto. 0 estatute da nobroze traduzia~ vse muna série de privilégios e de vinoulos, de direitos e deveres, que podiam variar edhsoante 08 casos e a Suportancia do nobre, mas sendo cong tantes alguns, Dos privilégics, frisa Paulo Meréc, 0 mais caracteristico é @ completa isengto tribu téria, Semelhante afirmagto, porém, 6 excessiva, Tanbém a nobreza teve de suportar nY%o raro o pe- so tributdrio e nilo oscapou &e leis fiscais de in dole geral que comegavam a aurgir com D. Joto I. © caso das sivas comprova-o plenamente. A isengao tributéria da nobroza que deve ser olhada, pois, como meramente tendencial, constituia @ contrapar tida de ela ter de suportar o peso das armas 6 a nanuteng%o dos cavalos e homens de guerra, Isso explica que langados pelo mesmo D, Jo%o I os fun damentos de uma estruture militar os nobres pas= sem a ser atingidos pela carga tributéria geral. tutro importante privilégio traduzia-se no foro ~ os nobres exam julgadoe por um tribunal de nobres, Inversanente, sobre o nobre recafam obriga— HISPORTA DO TIREITO PORTUCUBS 4l eBee especifiona: deveres espeoiais de fideliaa de ¢ vassalagem, um cédigo de honra e inibigtes dectrrentes da. sua fungtc. .A 44a comerciar, Wes cortes vai © nobre nffo po, le Lisboa de 1571 ogra I" OB novos de que os nobres apareciam a con oorrer com os. mercadores nag feiras oe pedew=lhes ja isso proibido 6 nag Ordenagdes Afonsinas a incapaoidace mercantil dos cavaleiroe § claramen te afirmado: “ainda dizemos, que non pode seer Cavalleiro homem, que per sua pesso3 andasge fa~ zendo merchandise" (liv. 1, +. 63, $16). Da aes ma forma, aos nobres (infaneBes e cavaleiros de linhagem) 6 yroibido possuirem propriedades em eertos conselhos, @ menos que se qujeitem ao es- tatuto e aos encargos dos vizinhoe (em alguns ca. sos isso nem mesno ihes é consentido - a proibi- g&% enoontra-se formulada em termos absolutos). Ainda aon nobres (como aos clérigos) & vedado o exerofoio da advooaoia, Nas cortes le Santarém de 1351. 18-ser: “Item dizem que os cavaletros 2 98 clerigos’é os homeena - dordem wan nos Goncelhos. perante o0_juizes leygos jas vilas @_ fas torras e Yogam e procuram por aqueles que bis dan Algo /.../ B este /..:/ he ‘contra deret~ to © contra boons costumes da _nosa terra o dane e_stmgolie soso poboo", Ao que o ref contesta: "haste Artigoo dig Bl Rey que 1a pandou < outro sij manda ¢ defende agora que cavaleiro num cle- rigo nem Religtoso nem outro poderoso nom wag aos Concelhos nem geia hij pera vogaar nen procurar por nenhtla pesoa_saluo por sij ou por seus home~ gns_ou por agueles por que de dersite podem fe~ gene Tudo isto evidencia, ¢ de novo se sublinhs, que née oe deve falar a reapeito da nobreza, como 2 respeito do olevo, em classes privilegiades,mas gue estes extzactos da populag%o (como os domais) gozen de um estatuto jurfdico cifrado em privilé gio o restrigtes, direitos e deveres, A ideie de priviléeto nd que substituir a ideta de estatuto. Bm alguns casos o privilégio e a restrig%o fundem-se, Assim, o nobre é escuso e impedido si multansanente de certos cargos ou aituacdes. No livre 4, titulo 88, nf 10 das Ordonagtes Afonsi- fag existe uma lei de D. Jodo I om que se dispte: "Ser& escusado de ser Tetor, ou Curador em todo aso aquelle, que for Fidalgo de Linhagem. ou Gavaileiro d'Espora dourada, ou Doutor em Leix, Higtests 60 DIREITG PORTUGUES Quem Degretaaes, ou on Fisica; e ainda gue cada uum dos _sobreditos queire seer Tetor, ou Cura~ sor, now deve seer a ello recebido". IIE. & populackonvils, 11. Consideragtes gerais.Ba sentido explo @ popu- LagHo-vilf pode sar entendida come 0 extracto re- sidual on relagio ac clero e nobreza, abrangendo es restantes individuos integrantes ao povo. Cer= to porém que apenas de forma genérica poderé aasim ser enfocada., Na realidade, no exterior da nobreza @ olero reco?tavam—se grupos com estatutos quase tho afastedoa entre si como da propria nobroza. 0 terceizo estadc, & pois uma abstracgto que dificil mente tem cabimento na época que analisanon. Peruanecondo todavia, por facdligade ae abor dagem nesta nog#o ampla, poder-su-ia exemplifica— tivamenta hierarquizar algutdos grupos seus in- tegrantes, Teriamos assim homens 2ivres ou ingé~ nuoa, (cavaleizos~viltos e petes), habitantes de ehetris, honens dopendentes ou seni-livres servos. a N Destes porém, nem todos tem igual interesse para a sociedade portuguesa. # o caso dos habitan tes de behetria que face & menor: difustc destas terras senhoriais no territérto nacional n&o pa- vecen justificar referénoia detalhada, fla acquéneda apresenteda, @ sugerir o escalg nanento hicrarquigante da sociedade, havia faote ree a seperar os seus membros, Un dos principais sento o principal, eva e liberdede pessoal de ane gozavan, visto @ personalidade nto conatitulr ent#o verdadedranente j& caracterfatica distints va como on perfodos anteriores. Efectivamente, apenae no grupo inferior se reunian ainda carac~ oravos, Tal cirounstén teristicas dos antigos cia parece porén excepeional, pois & considera~ Wo relative so grupo, intesrado normalmente por prisionetros da Reconquista, era neceasariamente dnfluenciada pela ligag%o so grupo polf{tico e religiose com que o poder a¢ encontrava em ger va aberta. 12, Homens-livres ou ingénuos.Além do olero ¢ dos nobrea pelas suas particularidades reforidos en separado, constituiam os homens livres, os yil&os HISTORIA DO DIREITO PORTUGURS 45 gu populac%o vil, Ao falarmos de viltos (ville~. nus de yilla ou herdade) devemos afastar de ime~ diato a falsa ideda comum de que se est& perante um segnento yopulacional completamente diferencia do da nobreza, Ainda aqui os contornos ou linites so vagos a imprecisos. A nobreza visigética afun dou-se ao meeno tempo que & respectiva sccledade | @ nos tenpos imediatos foi o valor, nlo o sangue © trage @istintivo, consoante observava Alberto de Sampaio, "Nos primeiros tempos os feitos dis~ tinguem os homens e nfo o nascimentos de nomes de engrandecidos ¢ dos hunildes sto os mesmos ~ en geral germinicos, porque deroie do advento dos sue vos @ visigodcs,: os hispenos denominaram-se con now Atelles, como d'antes com os dos romanos, Nos documentos do alta Idade-media @ xonenclatura pessoal 6 conmum para todos, @ em ragra tam uni- forma, gue nos diplomas pelas signaturas . nto se differengam os cavalleiros dos herdadores; es— te facto repete-se mais notavelnents nas Inguini- gBes, onde por entre os patrimonios d'uso-geral, comegam a despontar os apelidos atuaes designando ora nobres ora populares, A uniformidade de nomen clatura, desde o o século IX até ac XIII, prove de gobra 2 proventencia conmup das dus classes.Una raga dominante,de sangue Aiverso des hebitantes, § inadmiseivel sem denominago pessoal privatival Dois factes contribuem ainda, elém a comuni dade de origen, pare aproximar ac dues classes sobretude nas franjas marginals, © primelzo residia na circunst&ncie de os vi des abastados, o@ proprietérics ou herdadore vivendo ds terra, poderem ficar isentos de alguns tributos, equiparados mesmo para certos efeitce noe nobres; 0 segundo consistia na obrigag%o ou no direito que assistie a alguns de manterem um cavale de guerra com o equipamento necesséric, © que of levava prestar sezvigo militar em cond gos préximas de nobreza. 13. Gabegorias, Estatute. No conjunto da popula~ Ho ingénua, identificam-se variados grupos,coe- sos em torno de direitos © deveres préprios acs seus neabros. Desde logo os gavaleiros-viltios ¢ os petes, em conjunto constituindo o grosso da PQ pulagto livre, j4 nossa eonheoida do estudo rela. tivo acs munic{pios. A cavelariawvil& representava o extracte so- HISTORIA DO <1 cial meds préximo da nobreza, situaio na charned ra do elements popular'com a élite je nascinento, A qualidade vinha~lhe, em princ{pio, da riquezo pessufaa ~ valia, gottia,- om terraa e outros ens om especial de rafz, acdma de sontentes con suetudinerdanente f4xedce ou mats tarde expres~ samente deterninados pelo poder} nfo faltem toda via indicios de alguma hereditaridade no seu seio, como sucode no foral de Leirdayne alus%o acs mi~ ites per natuzam, o que sendo excercionel flo deixa de se-revestir de enorme interosse. Grupo privilegiade por natureza, entrevé~se @ superioridade do seu estatuto através de pre= ceitos da véria ordem. Desde logo, reinaltan as isengdes tributaries permanentes e geraie, como 6 0 caso da jugada, e eventuais, relatives a pedidos © aposentadoria; (Si caualeiro comparare hereditaten de pedone tornet {ilam in cavaleria. Et si pedore comparaverit hereditaten de caualei~ ro det ingatem - Foral de Seia de 1136); depois através da frequente concessto do foro de infan~ go com a inerente subtracc#o a penas infantes, como era proprio da nobreza; por fim ainda, atra- vés de diversos outros privilégios que tan desde ae © uaior valor probatério do seu testemunho até certas impenhorabilidades. Extetion tenbém contrapartidae, 4 principal era a obrigago de manter e iz & gubrra com cava lo armado a preceito. Tratava-se do £ apelido ligados & guerra defensiva e ofensiva -, que conjugada com a andduve e a guinta, consis— fiom nas principais oneregSee a que se sujeit any mas também desde cede o fossade se xecondu= ado ou ain a um tributo subetitutivo, a fogeadetza, pago em momento certo do ano, Se a riqueza cra o elemento determinante da cavalariaevil&, desde tempos recuadcos so nota tay bén a tendéncda para desligar o estatute do for tuito desaparocimente das condig&des econéuicas, pesscalizando-o em torno de sgregado familiar € estendendo os seus efeitos vitaliciaments Beto menos durante um certo niimero de anos pos-eriores % vicissitude econdmica ( Et homo que honoratue Buerit et devenit in, senectute jeat semper ho~ nogatus ~ Foral de Seie 1136) Ese alguen caus Jeiro morrer a molher dele sela onrrede asi come en dias de seu marido ~ Forel de Soure 1121) gauslario ei perdiderit suum oat nt i um HISTORIA NO DIRETTO_PORTUCURS 49, lum _troa_aznos cum fore da caballarie - Forel ae Azurare,1102), Algumas vezes mesmo faz-se impen~ der gone o senhor da torra ® obrigagtlo de ré= por o cavalo dv cavaleiro-vilto, danic-se desse forma claro indicio da fangHo prosseguida,qual instrunento de trabalho utilizado no interesse ac comunidede. Ao lade ace cavaleizos-vilaes, élite militar contraposta acs pedes,- 08 restantes hebitantes Livres trabaliadores do terra -, tal coudcles o- prigados militarmente mas jé nfo isentos de tri utes ombora por vezes gozando dc foro de osva~ Jeizo, encontran-se os honons: ong ee contornos nais aifuece , verdadeiramente @ aristocracia de vaiz local, porque apoiada om oritérioe origina~ dos na prépria cominidade e que sé dentro dels tinhan signif:cade. Autores hd gw noles tendex a ver os yizinhos, herdadores ou os cavaleiros-vildos, distinguindo os planos em que cada una destas designagdes tem predominante cabimento, polftico-judicial, econé- mico e sécio-nilitar. Todavia, os homens-bons en- quanto tais,parecem ser mais que o conjunto — ou quelguer daquelas categories, configurando pom ra Fasc. § ~ T.IT Be zee nem sempre perfeitamente conhecidas mas pos sivelmente relacionadas com 4 ucettac&%o ¢ prest{ gio local de que gocavam, o grupo superior que independentemente da origem era chamado © coupar as fungtes de relevo a nivel municipal. © passo mais taportante, na oaninhada para o reconhecinento da importaneia do brago popular deusse pelos meados do séc. XIII, quando og muni e{pios vém a ter representag%o na maie alta as- sombleia do Reino - as cortes ~. A representagio far-se~4 ento por municipios, e escusado sera dizer que ser%o os homens-bons a exercé-la, rece vendo dos vizinhos gor processes pouco conhecidos ainda a representatividade que lhes ageistia, 1g. Seuinlivres. Libertos, juntoree ¢ maledos. im posigte inferior caracterizada J4 por vinoulos henilhantes, situavam-se os semi-livres, designs g%o de vasto alcance incluindo numerosas catego- rias, juniores, solagos, solarengos, malados, }i. bertos, ete.,fzequentemente de diffeil distingtio pela fluidez dos contornos. Excoptuando os Gltimos, a representar a as= sens%o manumitide de antigos servos a oategorii HISTORIA NO PIREITO PORTUGUES 52 supetiores, os restantes englobavanese — ne época que nos interessa -, num vasto conjunto em austen to progressivo pela eacens%o natural do colonato servil a formas menos rigidas de dependénoie, Mud ‘tos no entanto,provinham de colonos origdnarianen te livres que tinhan vieto Linitada a mobilidade en virtude das relagBes particulares impostas pe, Ja actividade serfccle em que se ocupsvan,nYo f21 tando mesmo quem neles veja os antizos colonos 14 wees Go Baixo Império depois sucessivenente .ads— eriptos & gleba. Uma das principais categorias deste campesi~ nato depentents eram os junfores, de diffctl dew fini jo, tendendo a ooupar a posigto inferior no context dos somi-—livres dadas as Limiteges que sobre eles poiiam impender, Sem sa poder conside rar mitéria assente, parece defensdvel a origen Livre de taie habitantes (Garoia-Gallo, Moxé,), depois sucessivamente enredados nas limitagdes de correntes da sua actividade om terra de outrem. Mais clara é a disting#o entre ae suis principais duas sub-categorias: os "de herdade" podian a- bandonar a terra gue cultivavam seo desejassem, arrostando embora com perda dos bens conseguidos Ligados por através dela; os outros, "de_cabeca” vinoules pesscais ao senhor nto gozavam daquela movilidede, aproximendo-se assim mais da plena servidto. também semi-livres eram 08 malados ¢ os lin bertos . Agueles parecian Gepender do senhor es- pencialmente por lagos de natureza pessoal, neles surginac wais nitida - no entender de alguns -, sua origem Livre voluntariamente limiteda @ troce de protecgdo, Nestes 2 evolug%o fora a in versa, de condigXo inferior a umz mais favorével, © alcance da manumiss%o via-se porém, frequente- nente cerecado pela introduge de condigtos e cor yeias sob @ forma da servigos, de durage certa cu dependentesda vida do manumissor ou de outrér outras vezes ora acompanhada de doagBes em terras ow bens sujettas modalmente, sob pena de rever- so. Bm qualguer caso o alcance da liberalidade diminuia substancialmente. 4 juizo de Senchez~ Albornoz alids, @ import&ncia dos semi-livres nio ge teria revelado nunca significative. 14. A_servid%o da gleba. 0s ccupavam, por HISTORIA DO DIREITC PORTUGUES 53 fin, o escal&o inferior da hierarquia social, na origem ligados & antiga escraviddo t&o bem conhe— nida de toda a antiguidade, Na Reconquista é certa a existéncia de serv: a%o possoai,pelo menos on contextos predominant mente donésticos,a perfigurar de forma meis di- recta a linha evolutive desde perioios anteriores. A servidto caracteristics do perfode nfo era po- rém esta, nae sim a resultante da introdugfo do elemento terra entre o servo @ o senhor, For is= so se falar’ normalmente servidao da gleba e nao de servidao pessoal. Servos da gleba eran aquelea a quem o senhor Anstalou no eeu dominio efectando-os 4 uma parce 2a que doravante cultivarism, de. tal modo que qualquer negécio juridico envelvendo a terra se— bre eles inlixectamente se repercutiria,visto en volver tanbén necessarianente a treasferéncia de senhor. Na verdade, o servo da gleba ofa era un esorg, vo a0 modo antigo, pole era capaz de certos dired tos familiares, reais e obrigacionais. No entan— to nfo podia abandonar 8 terra que trabalhava, a ela se Ligando 3 sua condigto, 34 Esta situag%o, nitidamente superior & equiva lente romana adquiria-se por diversas formas. 0 dite~ riedade, eram as principais; dela se safa pela delito, a insolyéncia e em especial a liberalidade do senhor. Muitas vezes porém, a ag censdo A condighs de Liberto ficava Uimitada pe= le aposictio ¢e cléusulas restritivas no asto de nanumisstio, que tranamitindo-se 0 colocava e 3 seus descendentes en aituagto hibrida. Testa forma, o grupo representava o infimo escaldo da sociedade cristt ror vezes intimanen te confundido com escravatura plena,que cultiven dco também 2 terra alheia se via na prética confron tada com situagtes semelhantea. Dessa identidade formal que nfo na origen, pois o colonate depen~ dente parecia ser em parte ortginartamente livre, resultou @ unite entre menbros de um grupo social e do outro com 6 consequente ingresso "de jure” na situago inferior, Apesar diseo os dois gru- pos nfo se diluiram, sendo vis{vel alguzas vezes & disting&o no mesmo domfnio fundiario, entre par celas oultivadas por originaridmente livres ow por servos, com diféretes prestacties ~ sernaa - conforme o caso. Mas, como Herculano sslientava, HISTORIA DO DIRBITO PORTUGURS 55 também a gvolugdo da sociedade medieval,mormente & medida que a municipalizag%e progrediu, foi fag tor de Libertag%o das classes servas, quer de for wa radical através da fuga para os grémios munici pais auténomos, quer mais lentamente passando pe Je semirliterdade, substituinio na hierarquia so, ial os antigos dependentes sucessivamente inge- nuizados. 16, O "pove miudo", mesteres e organizagto cor porativa. Sob diversa nomenclatura - Guildas no Norte ,jurendes ou maitrises, em Franga, artes ou meestranze em Itdlia ,,. ~ surgiram na Buropa og dleval associagBes destinadas & protecgto dos in teresses profissionails dos reapectivos membros, fal fendmeno localizdvel s partir do séoulo XI @ cuja. genealogia se procura nas remaniscéneias dos gollegia romancs, nos usce comunitérios. dos ger- mance, nos “regimentos estabelecidos (...) por senhores seculares e religicsos para os servos ar tificesa", nas propries circunstfnoies de pluralig mo jurfdioo e politico da época - nto faltando, no tocante a Portugal quem as filie nas irmand des © confrarias assistenciais e religiosas - foi, alids, pracedido no norte do nosso continen te por up associativismo baseado nos usos germ nicos ¢ 4 fim religioso - 2 salvaco das alnes dos sécios - que J& no eéc. VII levara & consti- tuigde de Guilazs. Nas Guildes profissionais, embora n&o estives sem ausentes preocupagies e actividades religio- ena, altruistas @ de assisténcia, o fite princi- pal foi de natureza econdmica, Podem elas divi- a@irese em dois tipo: as de comerciantes ¢ as de art{tices, as primeiras agregavan nas diferentes cidades os respectivos meroadores, levando-us & cutongs de privilégios e forgandc-as ao respéito das Alfezentes prerrogativas profissionats. De- las nageeu, por impulso aa necessidade de garan- tir o tréfico, mentendo abertas e seguras 2s vias comerclais, terrestres e maritimas, a polltica de Ziges entre virias cidades independentes, oujo exemplo mais ealiente é representado pela biga Hansedtica, que dominou, dtrante séculos, nesuo militarmente, o Mar do Norte e o Baltico e cud releg&es mezeantis com Portugal se podem datar da centiria de dusentos. As Guildag de art{fices n&o alcangaran a meg HISTORIA po DIRE2TO FoRTUCUBS ——————i1 ma projecgto internacional nem foram permesdas pelo mesno ecp{rito capitalista e oligdrquico. 0 seu médulo tipico aprasenta~se como o de um cor~ Po aascciativo, inspirado pelo espirito erist%o, dotafo de disciplina prépria e cuja finalidade méis ou menos dyminante era a defesa doe respect you intercsees profissionais junto dos poderes piblicos. Para si reivindicaram essas. gulldes a regulamentagis ao exercicio aa actividades acs artifices, a fiscalizag%o de qualidade o tabela— mento dos produtos, o juigamente das infracetes econémices 2 2 proteco%o dos associados na pobre za 6 na dcenga.. Por case extremo e anémalo se ten gulgado ¢ ocorrido em Plorengs, oidade na qual o exerofoie de direitos poif{ticos chegou a estar de pendente da inserigitc corporativa v na qual o proprio drg%o supremo da repiiblica fod constitul, do nos fins do séc, XIII pelos representantes dos officios. Por andmalo se tem igualacnte considera do 0 exemple de outras cidades italianas - Pisa, Bolonha, Génova, Mil%o © Siona ~ que deran assen, to nos seus conselhos pol{ticos aos representan~ tes das corporagBes profiseionaie, admitindo-as @ decidir da guerra e da paz. & por andmala, ain da, se tem chamado a manuteng&o pelos offcios me eAnicos de algumas cidades livres da Flandres de corpos milicianos - manuteng%o conseguide etravés da posse dos governos respectivo: Bm confronto nfo j4 com estes exemplos exter nos mas mesmo com o quadro tipico ouropeu, pode ter-se 0 nosso associativismo profissional como tardio e débil, Tem isso sido tradicionalmente explicado pela situac%o militer do pale. As guer ras de congusita do territério, com o inerente refluxo da sorte das armas ¢ a mobilizago de grandes contigentes humanos, impediram o 4 volvimento de uma suficiente actividade ertificd, nal. Acabadas elas, 4 ess8nct, predominante agré. ria da economia, @s aventuras militares de 0D. Fernando @ @ crise dindstioa n&o terfo consenti- do, no espago de tempo relativamente breve medea 40 até ao infoto de expansto, o florescimento das organizagtes profissionai A este respeito impor ‘ta mesmo salientar que o peoiilio da época foi tan én escasso se comparadc com o das centirias ac gaintes A historiografia tradicional se aceita como duvidosa a exist@noia de uma organizagio corpora, HISTORIA DO_DIREITO PORTUGUES 59 tive dos offcios para os séculos XII ¢ XIII, jul, gana, todavia, inquestiondvel com anterioridade @ 1385, Nesee ano o Mestre de Aviz teria criado- ou organizad? em Lisboa a chamada Case dos Vinte © Quatro do Povo, elemento da cépula de uma orga: nigag%o profiestonel, agremiendo os 12 mesteres a cidade, de cada um dos queis teria deie re- presentantes. Matéria de divida paca os respecti vos sequazes consiste em admitir n¥o se contaren na época sento.12 profisste c nimero buscam-na cles por duae vias, Apenas +¢ A explicag%o para viem representagdo na casa dos 24 os oficios de maior relevo econémico ou de maior nimero de ar= t{fices, sogundo uns; segundo outros, assim cono & pelevra of{cio carresponderam, @ partir do séc. XV, 0 sentido de profissto e o de agremiagto cor~ porative de varies profissSes, ansin se deveria entender o termo meeter n%o #6 enquanto profissiio especifica mas tembém enquanto agremiag&o de di- verses oficice maie ou menos afins. Foi a zeferida tese contraditada palo Prof. Marcello Caetano, Para este mestre da nossa Facul, dade quanto se teria verificado om 1383 seria a Iintrodugio dos mesteirais no governo da cidade. so Feita na sequéncia do clina de revolug%o decor- rente da crise dindstica legalizouca o Mestre de viz em carta de 1 de Abril do ano seguinte. Nes se dipiona se estabeleceu, entre outras conces ses, que as autoridades municipaie nto poderian eprover posturas, aumentos de impostos, contrair encargos, eleger juizes, vereadores, proourador ou nomear Cunciondrios ser que dois homens-bons de cade mester foasem chamados @ voter ,deliberan ac-se por maioria. Mio se trateva, péis, do esta delecinente ou censagrag#o de um organisuo corpo, vativo, nas sim de conceder representagto politi ca, de cardcter institucionalizado, na organics aaministrativesa an grupo social - "pove comun!” ow'povo miudo" - até af desprovido de qualquer paticipagtc na deolsto de assuntcs que Ihe toca~ yam directamente. Tal era o caso do tabelamento dca pregos dos artéfactos por ele prodwzides, de competéneia da cimara, ordinariamente nas néos de um patriciade populer-urbanc, Antertormente & cutorga joanina, os mesteirais apenas faciam tir a sua voz pelo apoio ou oposigio que davam, enquanto assistentes, 2s propostas feitas na as- Sembicia municipal, influenciando, por forma mais BISTOals, Lo DIRBITO PORTUGUES 6h ou menos tunultudria e demagégioa, as respectivas deliberagd Nega, também, o Prof. Marcello Caetano qual- quer corresrondéneia entre o néimero de reprasen~ tahtes ao “povo miudo"no governo da cidade e os off{cios nels existente carecendo ie prova que eles fossem doze. A "grganizaco oorporativa nto é anterior & intervengfo dos mesterss nA vida mu- nicipal; - esereve Marcello Caetano = pelo contré~ io, tudo leva a orer que fo! da participecto dos yinte e quatro no governo da cidade que nasceu de- poig_a organizacto corporetiva”. Activos sobretudo nos fineis do séc. XY os yinte ¢ quatro dos mesteirais apenas se haveriaz convertide num organismo dotado de dericminagto prépria no séc. XVI. 0 costume de se reuniren ex casa ou sala prépria levou a que se estendesse o nome desta & instituigdo,correspondente, Quanto ao nimere 24 nada teriaYnaver con offolos pre- existentes: "sendo necessézio fixar um Linite 20 némero de representantes nas reuni§es municipais colheusse esse nimero como se poderia ter _esco~ Tnido qualquer outro", esureveu Narcello Castano, depois de sugerir a posaivel influéneia de colé- Fasc, 6-T, II &, gios andlogos em outras cidades da Eurvpa, nomea danente em Londr 08 om algunas da Antalucia e Cas tela e até em Pranga, Tudo o que se poderia ssi nalar de organizagtes profissionais com anteriors dade a 1364 seria s éxieténcia de confrerias de indole religiosa, com o fito de conetituirem hos pitais destinagos & vecolha de invélides membros de mester, peregrinos e viandantes. Durante o séc. XV @ para 14 dae citaias reformas joaninaa, have rla unfeanente a referir una decis%o tomada en 1391 por D. Jo%o I, sob solicitag%o da Camara de Lisboa, determinando que cada mester Fosse “apar tado" em ruas préprias, . Que pensar do debate? Haverd a distinguir v4 rios pontos. - Farece-nos na raz%o Marcello Caetano quando: nega havérem o& acontecimentos de 1338-1384 con- substancfalizado & fundago de um organismo pro- fissional, A nosso ver quanto ccorreu foi a ins- tituotonalizac&a polftico-administrativa de um grupo: soolal, identificado pela sua actividade ¢ condmica ~ motivo de referiznoa agara esta uatéria No se segue porém, daiza legitimidade da teso de haver a organizag&o corporativa resultado da HISTORTA MO MIRETTO PORVUGUES participagdo politica dos mesteres na cémare de Lisboa - © subsequente © paralelamante em outras terras. Se nenhun documento demonstra um acto fun @acional expresso, muitos indicios convencem de exist@ncia de uma organizagdo de mesteres, forma- ds mais ou menos expontaneanente, de carfeter ir- regular o partioularista, com intensidade e mand festagdes varias, apresentando relevo poiftico modesto, enbora, mas apercebivel nus ou noutzo trago, De resto, se nos faltam Sambém provas de una auto-regulamentag%o normative por parte de sie tais ontes n&o nos devemos inpressionar er damente, 0 espirite de offeic necessariamente hg veria de ser disciplinador, s%o se podendo redu- gir a onden juridica @ wna vis%o formalmente noz native. Pera mais, 2 interpenetragfo de interes~ ses que existia como consequéncia de estrites re Yacdes de visinnanga, de propriedades comuns,co- mung obras de beneficiéncia ¢ assist@ncia, preo~ cupagdes econdmicas conjuntas e conjuntas eupira, geo politicas necessariamente o fortalecem. Telvzez J no séc. XII, decerto no séc. XITI, encontremos sonfrarias de base profissional, des tinadas a0 socorre mituo dos irmios e& realize— 8h gHo de obras de assisténcia postuladas pelo espi rito religioso da época e insusceptiveis de serem cometidas nos woldes individuais adoptadoa polos mais abastados, A ZooumentagHo dos sées, XIIT © XIV mostra- hos 2 repetida fundacto de hospitais - sendo cu rioso notar a aus@neia de iniciativa quanto a ga farias e nereeariae-peles confrarias de base pro fiseional, assim como nos deixa surpreender a e- xisténeia no seu patriménio de bens de raiz.Do- tades de Sre’%cs préprios, ae contendas possoais eram resolvides por arbitragem dos adcios. Desde cedo que vemos também figurarem banded 728 dos orages protectores dos of{eios na procis so do Corpus Christi, 6 inowlua iguelmente a e= xistncia de uma oxganizag%o profissional o fend eno dos arrusmentos, Documenta-o j& em 1167, gundo parece, referéncia a uma rua da "zapateira" om Guimarties, Nos infoios da tentiria seguinte encontrames no mesmo burgo ruas com nomenclatura de actividades. Santarém atesta-nos igual fenémeno com as travessas dos Surradores e daa Frigideiras, os becos dae Atafonas ¢ dos Aguineiros. 0 meno vemos no Porto, Ainda hoje exietem mas con deno~ wIsvOkla DO _PIREITY PORTUCURS 65 minagdos medievais como a da Perraria, de Cordes, ria, das Tendas, aa Caldeiraria ¢ 4e Capatania, © livro do bispado de Evora, de 1308, refere, en tre outres, as dos Nercadores ¢ da Capataria.Bu LiBboa vanes encontrar, nomeadamente com & sus ruc dos Moedeiroz j4 conetrufda no reinado de BD, Fer nando. A possibilidade dada ep 1391 3 Camara de Lisboa de “orgenaz que moren todoe oe meetcirais cada une juntos ¢ 2pertadse sobre ei" nfo impli- cava, pois, una inovagdo quanto ao sistema ontéo consagrado. Nicleo de organizagto profissional revela-nos um documento do 1385. Isenta nele o Mestre aoe emeudos!' de fvora das taxas Ga olmotagaria, com— preondendo om tal referéncia "Kestelrais ¢ outzos nos lavores.e obras", v.g. o8 “bxaceiros © servi gaack ", Elezento de valor indiciéric superior aos anteriores temo-lc. porén, na circunstancia de encontrernos, em Lisboa westeireis presentes quando das reuniSes dae assanbleias conceihias. Assim sucedeu em 1285, 1298, 1326, 1332, 1354, 1356. Também no Porto ocorveu o mesnoy ilustran= do-o @ documentagfo por referéncia, j4 a 1368. Nesse ano estiveram presentes na assembleia con~

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