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XII Jornada de Estudos Irlandeses 2023

SUBMISSÃO

Temática - Estudos Irlandeses : Literatura, História e Cultura ( Música)

Título - O Disco Conceitual “ Harbour of Tears” da Banda Britânica Camel

Nome - Alexandre Miguel Carneiro Professor da SMED

Este álbum da banda britânica de rock progressivo Camel “ Harbour of Tears”, que é um
álbum conceitual conta a saga dos imigrantes irlandeses que partiram para a América na
virada do século XIX para o século XX, em decorrência entre outras causas a chamada “
Grande fome”, em busca de melhores condições de vida. O título do álbum se refere a um
porto localizado na costa leste da Irlanda, Cobh Harbour ( Porto), de onde partiam os navios
com os imigrantes.

Observações
1. A grande fome na Irlanda

A Grande Fome na Irlanda


Assim como aqui no Brasil nós temos o Carnaval, o feriado de Tiradentes e o 7 de
Setembro, os outros países também têm datas marcantes. Participar de algumas
delas pode fazer você se sentir ainda mais próximo do lugar que está visitando.

Quando se fala em Irlanda, muitas coisas vêm à cabeça, grandes canecos de


cerveja, um povo alegre e os tradicionais Leprechauns. Porém, a história do país é
muito mais fascinante, com eventos que marcaram profundamente sua população,
como é o caso da a Grande Fome ou Great Famine (em inglês).
A Grande Fome na Irlanda é uma tragédia da história do país que deixou fortes
marcas no povo irlandes. Ela ocorreu entre 1845 e 1849 e matou cerca de 25% da
população do país. O evento deixou fortes marcas na população e ganhou um
memorial em Docklands: o Famine Memorial.

A Grande Fome na Irlanda – The Great Famine Memorial


Se você for à Irlanda essa é uma das coisas que você não pode deixar de ver. Não
tem como não se emocionar olhando o conjunto de estátuas criado por Rowan
Gillespie. Gillespie é um escultor irlandês que usa a técnica da cera perdida para
retratar as emoções humanas

As esculturas passam a impressão de estar caminhando em direção ao porto de


Dublin. Assim como um milhão e meio milhão de pessoas que, anos atrás, tentaram
fugir da Grande Fome. A obra de arte cumpre bem o seu papel de passar a emoção
que sobrou de um dos eventos mais devastadores da história irlandesa.

Tudo aconteceu, por causa de uma praga que atacou as plantações de batata, que
eram a principal fonte de sustento das famílias irlandesas. A fome destruiu tudo, o
povo sofria e uma onda de crimes acabou enchendo a cadeia de Kilmainham Gaol.
Atualmente ela pode ser visitada.
A Grande Fome na Irlanda – Prisão Kilmainham Gao em Dublin

National Famine Commemoration

Para refletir e manter vivas na lembrança as marcas dessa catástrofe a Irlanda


promove uma celebração anual chamada National Famine Commemoration. O
evento honra todos os que faleceram e os que perderam entes queridos durante
esse período devastador. Ele também relembra a força e coragem de todos aqueles
que conseguiram resgatar a Irlanda da fome.

A National Famine Commemoration acontece todo ano em uma parte diferente


do país. A sua programação é muito rica, cheia de exposições, musicais,
performances artísticas, palestras e caminhadas pela cidade com guias. Uma das
partes mais importantes do evento é o “minuto de silêncio”, que acontece em todo
país em honra a todos os que morreram.

Apesar de a Europa inteira ter sido atingida, um terço de toda a população da


Irlanda dependia unicamente de batatas para sobreviver, e o problema foi
exacerbado por vários fatores ligados à situação política, social e econômica que
ainda são matéria de debate na comunidade acadêmica
A fome foi um choque social na história da Irlandaos efeitos alteraram para
sempre o plano demográfico, político e cultural irlandês. Entrou para a memória
popular,sendo desde então um dos pontos mais lembrados pelos movimentos
nacionalistas irlandeses. A história da Irlanda geralmente é dividida entre os
períodos "pré-fome" e "pós-fome". A grande fome é também recordada como a
maior catástrofe demográfica a atingir a Europa entre a Guerra dos Trinta Anos e
a Primeira Guerra Mundial, com um excesso de mais de um milhão de mortes na
Irlanda em relação ao expectável se não tivesse existido

2. O CD conceitual Harbour of tears

Mais um disco do Camel muito bom e que tem a sua qualidade alavancada através
de um conceito forte e emocionante que casa muito bem com a musicalidade da
banda. Pra entender um pouco melhor a história, voltemos para a Irlanda do período
mais ou menos de 1845 – 1850, época nebulosa do país conhecida também como
“A Grande Fome”. O disco tem como fio condutor esse pequeno pedaço da história
mundial. A história de uma família irlandesa que está sendo separada
dolorosamente pela partida dos mais jovens para Estados Unidos e Canadá em
busca de uma vida melhor. O nome do álbum é uma alusão ao porto de águas
profundas localizado na cidade de Cóbh e que servia de local de partida dos navios
que levavam essas pessoas, protagonizando uma cena bastante triste e com isso
sendo chamado de Harbour of Tears (nome do disco) e que traduzindo é Porto das
Lágrimas. As letras são escritas principalmente pela esposa de Latimer, Susan
Hoover. Não tenho exatamente isso confirmado, mas a ideia de Latimer para o disco
parece que foi baseada na história de seus antepassados que foram imigrantes
irlandeses dessa época.

"Irish Air" dá início ao disco com uma música tradicional gaélica sendo cantada a
capela por Mae Mckenna. Uma voz levemente ofegante e agradável muito bem
moldada em uma melodia de rara beleza e que parece a trilha certa para quem olha
um horizonte sem fim. “Irish Air (Instrumental Reprise)” quebra o silêncio com a
introdução de violão e flauta em um arranjo cheio de graciosidade antes de a
guitarra repetir a linha vocal da faixa inicial. Já no começo do disco estamos diante
da sonoridade que é uma marca registrada da banda desde o seu debut.

“Harbour Of Tears” apresenta pela primeira vez os vocais de Latimer e que canta em
tom de quem se despede do “Porto das Lágrimas”. Acompanhado de um singelo e
bonito piano e violoncelo, possui também um backing vocal que devo confessar que
me soa um pouco intrusivo. A linha de guitarra começa com uma imitação de
gaivota e segue de forma encantadora, onde parece mostrar um instrumento que
derrama lágrimas. "Cóbh" mantem o clima perfeito criado na música anterior com
belíssimas texturas que produzem um ambiente orquestral que a liga à próxima
faixa.
“Send Home The Slates” representa uma carta escrita por um imigrante e enviada a
sua mãe contando que apesar das dificuldades apresentadas na viagem, seja pelo
mar ou por terra, o resultado vale a pena e ele nunca mandará cartas vazias, ou seja,
sem um bom e animador conteúdo. Um ritmo mecânico sugere certa monotonia ao
mesmo tempo em que constrói bem uma tensão enquanto o vocal meio
melodramático se desenrola sobre pinceladas orquestrais. Latimer então solta mão
na guitarra em mais um som brilhante e lembrando o abordado pelo grupo nos anos
80. “Under The Moon” apresenta uma guitarra belíssima de linhas simples e
entrelaçadas que faz com que ela não soe apenas como uma música, mas um
lamento, o clima de fundo criado pelo teclado é a cama perfeita para confortá-la.

“Watching The Bobbins” apresenta uma mudança de direção bastante


surpreendente no disco e a produção da bateria em relação ao efeito que o álbum
vinha trazendo até o momento, parece “estraga-lo” um pouco. Por outro lado, essa
mesma produção consegue transmitir bastante clareza na sonoridade e fazendo o
ouvinte perceber infinitos detalhes que a música apresenta. Boa instrumentação e
que se desenvolve muito bem, apresentando complexidade nas texturas e criando
um ambiente muito bom principalmente através da guitarra de Latimer sempre cheia
de sentimento. “Generations” mantem um clima ambiente em uma linha sinfônica
fornecendo um link intrigante para a faixa seguinte.

“Eyes of Ireland” traz novamente um clima celta ao disco. Um olhar nostálgico e


melancólico para trás. O violão acompanhado com sutis linhas de teclados ao fundo
dá ao ouvinte uma sensação que eleva o espírito, a guitarra então “chora” e a música
se edifica. “Running From Paradise” começa em um estilo extremamente sinfônico.
Tudo parece tão cuidadosamente elaborado, flauta, piano, sintetizadores, guitarra,
enfim, acho que essa música possui um dos mais belos arranjos entre toda a
carreira da banda.

“End of the Day” marca uma questão de transição necessária e significativa no


disco, nos preparando para o que vem a seguir. Vocal delicado, lindas notas de
violão e guitarra, flauta encharcada de sentimento, tudo isso junto a transforma em
uma peça belíssima. “Coming Of Age” possui arranjos praticamente todo orquestral.
A guitarra de Latimer serve como uma espécie de diretor dessa orquestra. Os
teclados definem uma parte da música a ajudando criar um clima mais obscuro.
Com o retorno das guitarras o som fica mais “aberto” novamente. Na parte mais
próxima do fim a sonoridade vai ficando mais complexa.

O disco chega ao fim com “The Hour Candle”. A faixa começa no mesmo ritmo que
a anterior, a guitarra rapidamente acrescenta um corpo ao som como quem “alerta”
sobre a chegada de uma obra prima. Certamente uma das músicas de mais
inspiração de Latimer em toda a sua carreira, uma espécie de aceno à “Ice”, mas pra
mim, feito de um degrau acima. Arranjos orquestrais de primeira grandeza sob um
trabalho de guitarra glorioso. Difícil definir em palavras uma música que nos causa
tantas sensações. Apesar de no disco estar marcando como uma faixa de cerca de
vinte e três minutos, apenas oito deles são musicais de fato, sendo o restante a
reprodução dos sons de ondas. Um disco com final ao som daquilo que mais pode
trazer paz a alguém.

Talvez não seja um disco que abrace o ouvinte logo de cara como alguns dos seus
trabalhos de outrora, porém, a magia da banda funciona bem e ela tende a crescer
conforme vai aumentando o número de audições. Uma coleção de músicas sutis,
suaves e até mesmo inofensivas, mas muito bem customizadas.

A Grande Fome na Irlanda – National Famine Commemoration em Dublin

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