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NOTA PRÉVIA

Pretendemos com esta coleção – Biblioteca do Eletricista e Eletrónico – suprir uma lacuna
existente no mercado editorial de livros técnico práticos na Área de Eletrotecnia e Eletrónica,
destinados a profissionais, estudantes e amantes desta área tecnológica.
A coleção será constituída por cerca de vinte volumes, de formato médio, a publicar
regularmente, desejavelmente um novo volume de seis em seis meses, tratando temas tão
diferenciados como: Corrente Contínua, Magnetismo e Eletromagnetismo, Corrente Alternada
Monofásica e Trifásica, Instalações Elétricas (RTIEBT), Transformadores, Semicondutores,
Optoeletrónica, Transístores Bipolares (BJT), Transístores Unipolares (Fets e Mosfets),
Amplificadores com Transístores, Amplificadores Operacionais, Osciladores, Fontes de
Alimentação, Máquinas Elétricas de Corrente Alternada, Máquinas Elétricas de Corrente
Contínua, Eletrónica de Potência, Sistemas Digitais, Automatismos Industriais, Sistemas de
Proteção Elétrica, Energias Renováveis, Domótica, Microcontroladores e Robótica.
Para abordar alguns dos temas, serão convidadas algumas individualidades com maior
experiência nessas áreas.
O presente volume – Instalações Elétricas 1 (de acordo com as RTIEBT) aborda os
seguintes capítulos:
• Capítulo 1 – Materiais Elétricos, Classificação dos Locais, Códigos IP e IK
• Capítulo 2 – Condutores, Cabos, Tubos, Canalizações Elétricas
• Capítulo 3 – Aparelhagem Elétrica
Todos os temas tratados estão em rigorosa conformidade com as novas Regras Técnicas de
Instalações Elétricas de Baixa Tensão (RTIEBT), as quais vieram substituir os velhinhos
Regulamento de Segurança de Instalações de Utilização de Energia Elétrica – RSIUEE – e
Regulamento de Segurança de Instalações Coletivas de Edifícios e Entradas – RSICEE.
Estas novas Regras Técnicas estão em conformidade com a Regulamentação europeia no
setor. Com esta nova regulamentação, pretendeu-se, afinal, facilitar a integração dos
produtos nacionais no mercado europeu, bem como em sentido contrário.
Houve a preocupação, em todo o texto, de utilizar uma linguagem o mais simples possível,
sem descurar o rigor técnico, de forma a ser compreendida pelos diferentes tipos de
leitores, com mais ou menos formação académica. São apresentados exemplos práticos,
com a realização de cálculos simples, sempre que se entendeu pertinente.
O próximo volume – Instalações Elétricas 2 (de acordo com as RTIEBT) – concluirá este
tema «Instalações Elétricas», abordando os temas:
• Capítulo 4 – Higiene e Segurança no Trabalho
• Capítulo 5 – Compatibilidade Eletromagnética e Interferências Eletromagnéticas
• Capítulo 6 – Instalações elétricas de utilização (I.U.)
• Capítulo 7 – Instalações coletivas e entradas
• Capítulo 8 – Domótica
• Capítulo 9 – Utilização Racional de Energia, Potências, Transporte e Distribuição
No sítio www.josematias.pt ou na página do Facebook www.facebook.com/jvcmatias poderá
o leitor encontrar conteúdos que poderão interessar-lhe!
Boas leituras!
Do autor
CAPÍTULO 1 – Materiais Elétricos, Classi cação
dos Locais, Códigos IP e IK
A melhor forma de prever o futuro é criá-lo – Peter Drucker
Tópicos principais deste capítulo:
• Materiais elétricos
• Classificação dos locais – fatores de influência externa
• Códigos IP e IK
1. Introdução
Este volume – Instalações Elétricas 1 – foi elaborado tendo sempre
presente o estipulado nas novas Regras Técnicas de Instalações Elétricas
de Baixa Tensão (RTIEBT) que foram publicadas em 2006, tendo
substituído os «velhinhos» Regulamento de Segurança de Instalações de
Utilização de Energia Elétrica (RSIUEE) e Regulamento de Segurança de
Instalações Coletivas de Edifícios e Entradas (RSICEE) de 1974.
Apesar da alteração normativa verificada, há, evidentemente, muitos
conceitos e muitas regras técnicas que não sofreram alterações; outras
sofreram apenas alterações de pormenor ou mesmo só de designação
técnica.
As novas Regras Técnicas são extensas e estão em conformidade com as
Regras Técnicas praticadas na Comunidade Europeia, abordando todos os
campos que eram tratados nos RSIUEE e RSICEE, acrescentando novos
capítulos, clarificando outros, mais adaptadas ao desenvolvimento
tecnológico e social, entretanto verificado.
As Regras Técnicas dão particular atenção aos capítulos de proteção e
segurança de pessoas, animais e equipamentos, definindo com mais
precisão o que proteger, como proteger e de que proteger!
2. De nições e conceitos
Antes de tratarmos as Instalações Elétricas propriamente ditas, vamos
definir alguns conceitos gerais utilizados no livro e definidos nas RTIEBT.
Assim, define-se:
• Instalação elétrica – De acordo com as RTIEBT, é um conjunto de
equipamentos elétricos associados, com vista a uma dada aplicação e
possuindo caraterísticas coordenadas. Convém lembrar que este conceito
engloba tanto as instalações elétricas de utilização (I.U.) como as
instalações de produção, transporte e distribuição. Daí este conceito ser
tão amplo.
• Instalação elétrica de utilização – Instalação elétrica que permite ao
utilizador ligar diretamente recetores para transformar a energia elétrica
noutras formas de energia.
• Rede de distribuição – Instalação elétrica de baixa tensão destinada à
transmissão da energia elétrica, a partir de um posto de transformação
(P.T.) ou de uma central geradora, constituída por canalizações principais
e ramais.
• Valores nominais – Valores pelos quais uma instalação elétrica é
designada. Temos como exemplos: tensão nominal, corrente nominal e
potência nominal. O conceito «nominal» só se aplica às instalações
elétricas.
• Valor estipulado – Valor de uma grandeza fixado, em regra, pelo
fabricante para um dado funcionamento especificado de um componente,
de um dispositivo ou de um equipamento elétrico. Temos como exemplos:
tensão estipulada, corrente estipulada, potência estipulada, etc.
O conceito de «valor estipulado» veio substituir o conceito de «valor
nominal» quando aplicado aos equipamentos elétricos. Agora diz-se, por
exemplo, que «este disjuntor tem uma corrente estipulada de 10 A» e não
«este disjuntor tem uma corrente nominal de 10A».
• Baixa tensão – Gama de valores de tensão elétrica não superiores a
1000 V, em corrente alternada, e não superiores a 1500 V, em corrente
contínua. Os valores nominais da tensão elétrica nas redes de
distribuição e respetivas instalações elétricas coletivas e de utilização são,
em Portugal, de 230 V / 400 V (50 Hz).
• Média tensão – Gama de valores de tensão entre 1 kV e 45 kV.
• Alta tensão – Gama de valores de tensão entre 45 kV e 110 kV.
• Muito alta tensão – Gama de valores de tensão superiores a 110 kV.
• Tensão reduzida – Gama de valores de tensão inferiores a 50 V.
• Influências externas – O conceito de «influência externa» (sobre os
equipamentos elétricos e canalizações elétricas) veio substituir a
classificação dos locais quanto ao ambiente, o qual era muito restritivo,
deixando, muitas vezes, ao critério do projetista a classificação do local e,
portanto, a escolha do equipamento mais adequado. A nova classificação
baseada nas «influências externas» alargou bastante o número de
classificações, tornando-a mais precisa e, por isso, mais fiável.
• Massa – Parte condutora de um equipamento elétrico suscetível de
ser tocada, em regra, isolada das partes ativas, mas podendo ficar em
tensão, em caso de defeito. A massa, geralmente, faz parte do invólucro
do equipamento.
• Condutores ativos – São considerados condutores ativos os condutores
de fase (L1, L2, L3) e o condutor neutro (N).
• Condutores de proteção (PE) – Condutor destinado a interligar as
massas e a sua ligação à terra. Não é, portanto, considerado condutor
ativo.
• Condutor PEN (PE + N) – Condutor ligado à terra e que tem,
simultaneamente a função de condutor de proteção (PE) e de condutor
neutro (N). Embora tenha também a função de condutor neutro N, não é
considerado condutor ativo. Este condutor não é utilizado no sistema de
proteção TT, mais utilizado em Portugal, mas apenas no sistema TN,
utilizado em algumas instalações específicas, como por exemplo as
instalações informáticas.
• Esquema de ligação à terra TT – O esquema TT tem um ponto da
alimentação (geralmente no posto de transformação respetivo) ligado
diretamente à terra, sendo as massas da instalação elétrica ligadas a
elétrodos de terra eletricamente distintos do elétrodo de terra da
alimentação (posto de transformação). Na figura representa-se o esquema
TT.

• Esquema de ligação à terra TN – O esquema TN tem um ponto


ligado diretamente à terra, sendo as massas da instalação ligadas a esse
ponto por meio de condutores de proteção. Na figura representa-se um
dos esquemas TN, o esquema TN-C-S, onde as funções de condutor
neutro e condutor de proteção estão combinadas num só condutor
(condutor PEN).
• Esquema de ligação à terra IT – No esquema IT, todas as partes
ativas estão isoladas da terra ou um ponto destas está ligado à terra por
meio de uma impedância, sendo as massas da instalação elétrica ligadas
à terra.
3. Classi cação geral dos materiais
Os materiais elétricos são classificados da seguinte forma:
• Condutores (bons condutores, resistentes e supercondutores)
• Semicondutores
• Isoladores
• Magnéticos

Os materiais condutores são os que apresentam melhor condutividade


elétrica ou, se quisermos, os que possuem menor resistividade elétrica. Os
metais são os melhores condutores elétricos, pois possuem elevado número
de eletrões livres que facilmente se movimentam, constituindo a corrente
elétrica, logo que se lhes aplica uma pequena diferença de potencial
elétrico.
A resistividade elétrica dos condutores situa-se geralmente entre 10-4 a 102
Ω · mm2/m. São exemplos de bons condutores: o cobre, o alumínio, a
prata, o ouro, o mercúrio, as ligas de cobre e as de alumínio.
Dentro da categoria dos materiais condutores temos ainda os materiais
resistentes e os materiais supracondutores ou supercondutores.
Os materiais resistentes são aqueles que, sendo condutores, são os que
apresentam maior resistividade elétrica, intencionalmente, com o objetivo
de provocar a dissipação de energia calorífica; estes materiais têm
aplicações no fabrico de resistências de aquecimento, de resistências de
regulação da intensidade de corrente, etc.
Os materiais supercondutores são materiais considerados condutores
perfeitos, isto é, sem resistividade elétrica, portanto, conduzem a corrente
elétrica sem dissipação de energia calorífica – o transporte da energia é
feito com um rendimento de 100%.
No entanto, os supercondutores só o são quando submetidos a
temperaturas negativas bastante baixas. A supercondutividade foi
descoberta em 1911 pelo cientista holandês Heike Kamerlingh Onnes
quando aplicava ao mercúrio temperaturas bastante baixas e verificou que
se tornava supercondutor à temperatura de –269 °C.
Depois disso, foram sucessivamente fabricados outros materiais
supercondutores, a temperaturas cada vez mais negativas, como são os
casos de óxidos de cobre com combinação de vários elementos (estrôncio,
bário, cálcio, etc.), materiais cerâmicos diversos, etc., funcionando como
supercondutores a temperaturas da ordem de –40 °C.
Os materiais isoladores são aqueles que têm uma condutividade elétrica
muito baixa, isto é, apresentam uma resistividade elétrica elevada, não
deixando passar a corrente elétrica, praticamente. Não há, contudo,
isoladores perfeitos, havendo sempre alguma corrente de fuga.
São considerados isoladores os materiais que apresentam uma resistividade
elétrica entre 1014 e 1026 Ω · mm2/m. São considerados isoladores: o
policloreto de vinilo, o polietileno, a borracha, o vidro, o papel, a
mica, etc.
Os materiais semicondutores são aqueles que apresentam uma resistividade
elétrica intermédia entre os condutores e os isoladores, situada entre 104 e
1010 Ω · mm2/m. São exemplos de semicondutores o silício, o germânio e o
selénio.
Os materiais magnéticos são materiais que são caraterizados por se
deixarem atravessar facilmente pelas linhas de força do campo magnético,
magnetizando-se. Diz-se destes materiais que têm uma elevada
permeabilidade magnética. É o caso do ferro, do aço, do níquel e do
cobalto.
4. Propriedades e grandezas gerais dos materiais
As propriedades e grandezas dos materiais dividem-se em: elétricas,
mecânicas e químicas. Sem estarmos preocupados em dividi-las em
compartimentos estanques, vamos apresentar algumas das propriedades e
grandezas gerais dos materiais que consideramos mais importantes.
1. Condutibilidade elétrica – Propriedade que os materiais têm de
conduzirem a corrente elétrica com maior ou menor facilidade. O
material com melhor condutibilidade é a prata.
2. Rigidez dielétrica – É a tensão máxima, por unidade de
comprimento, que se pode aplicar aos materiais isolantes sem romper as
suas caraterísticas isolantes (expressa-se em kV/cm). O material com
melhor rigidez dielétrica é a mica (ver Quadro 2 – página 22).
3. Condutibilidade térmica – É a propriedade que os materiais têm de
conduzirem com maior ou menor facilidade o calor. Normalmente os bons
condutores elétricos também são bons condutores térmicos, o que pode
ser uma vantagem ou uma desvantagem. Como bons condutores térmicos
temos: prata, cobre.
4. Maleabilidade – É a propriedade que os materiais têm de se
deixarem reduzir a chapas. Exemplos: ouro, prata.
5. Ductilidade – É a propriedade de se deixarem reduzir a fios, à fieira.
Exemplos: ouro, prata, cobre, ferro.
6. Tenacidade – É a propriedade de resistirem à tensão de rotura, por
tração ou compressão. A tensão de rotura é expressa em kg/mm².
Exemplos de materiais tenazes: bronze silicioso, cobre duro.
7. Maquinabilidade – É a propriedade de os materiais se deixarem
trabalhar por qualquer processo tecnológico, através de máquinas-
ferramentas. Exemplo: ferro.
8. Dureza – Propriedade de os materiais riscarem ou se deixarem riscar
por outros. Exemplos de materiais duros: diamante, quartzo.
9. Densidade – É a relação entre o peso da unidade de volume de um
dado material e o peso de igual volume de água destilada a 4,1 °C, à
pressão normal. Materiais condutores mais pesados são: mercúrio, prata.
10. Permeabilidade magnética – É a propriedade de os materiais
conduzirem com maior ou menor facilidade as linhas de força do campo
magnético. Exemplos: ferro-silício, aço, ferro-fundido, etc.
11. Elasticidade – Propriedade de retomarem a forma primitiva, depois
de deformados por ação de um esforço momentâneo.
12. Dilatabilidade – Propriedade de aumentarem em comprimento,
superfície ou volume, por ação do calor.
13. Resiliência – Propriedade de resistirem à rotura, por pancadas
«secas».
14. Resistência à fadiga – É um valor limite do esforço sobre um
material, resultante de repetição de manobras. Cada manobra vai,
progressivamente, provocando o «envelhecimento» do material, perdendo
progressivamente as suas propriedades.
15. Fusibilidade – Propriedade de os materiais passarem do estado
sólido ao líquido, por ação do calor. Tem interesse conhecer o ponto de
fusão de cada material para sabermos quais as temperaturas máximas
admissíveis na instalação onde o material está integrado.
16. Resistência à corrosão – Propriedade que os materiais têm de
manterem as suas propriedades químicas, por ação de agentes exteriores
(atmosféricos, químicos, etc.). Esta propriedade tem particular importância
nos materiais expostos e enterrados (linhas, cabos ao ar livre ou
enterrados, contactos elétricos, etc.).
17. Resistividade elétrica – É a resistência elétrica de um material
com 1 m de comprimento e 1 mm2 de secção (Ω · mm2/m).
Como se sabe, os materiais combinam-se (uns mais, outros menos) com o
oxigénio do ar, originando óxidos. Estes óxidos, em grande parte dos
casos, acabam por destruir os materiais. A este fenómeno dá-se o nome
de corrosão. Quanto à oxidação, podemos dividir os materiais em dois
grupos: o grupo do cobre, prata, alumínio e zinco, que praticamente não
se oxidam; o grupo do ferro e aços, onde é importante o fenómeno da
corrosão.
A oxidação no cobre e no alumínio é geralmente apenas responsável
pela deficiência dos contactos elétricos. A oxidação no ferro e no aço é
responsável pela destruição completa da estrutura respetiva. Há, pois,
necessidade de evitar este fenómeno. Consegue-se atenuá-lo, pelos
seguintes processos:
• pintando as superfícies
• cromando ou niquelando as superfícies
• utilizando ligas inalteráveis: bronze, cromo-níquel
• utilizando metais inalteráveis: ouro, platina, tungsténio, níquel
Nos Quadros 1 e 2 (páginas 17 e 22) podemos observar algumas das
propriedades descritas, aplicadas a diversos materiais condutores e
isoladores.
5. Principais materiais condutores
Os principais materiais elétricos utilizados para o fabrico de
condutores são o cobre, o alumínio e a prata. Além destes materiais
existem ainda ligas (condutoras e resistentes) com variadíssimas aplicações,
como por exemplo: o bronze, o latão e o almelec (ligas condutoras); o
constantan, o mailhechort, a manganina, o ferro-níquel e o cromo-níquel
(ligas resistentes).
A escolha de cada material para uma dada função é um compromisso
entre o preço e qualidade na tarefa a desempenhar. Na qualidade da
tarefa a desempenhar entram diversos fatores, como sejam: as propriedades
do material, a função que vai desempenhar, as condições do meio
ambiente, a diversidade de situações a que vai estar submetido. O Quadro
1 resume, para cada um dos principais materiais, as principais
propriedades e as aplicações mais usuais.
São usados fundamentalmente dois tipos de cobre: o cobre duro e o cobre
macio. O cobre duro é utilizado nos casos em que se exige elevada
dureza e elevada resistência mecânica, como é o caso das linhas aéreas
de energia, os cabos telefónicos, os coletores dos motores elétricos, etc. O
cobre macio é utilizado nas restantes aplicações, não sujeitas a esforços
mecânicos elevados, como sejam: enrolamentos, barramentos, cabos
elétricos, instalações elétricas, etc.
O alumínio é o segundo condutor utilizado, a seguir ao cobre,
caraterizado por ser mais leve e mais barato do que este. Estas duas
caraterísticas têm sido fundamentais para a sua escolha em determinadas
situações, nomeadamente em: linhas aéreas, condensadores, blindagem
elétrica de alguns cabos, em aeronaves, nos rotores de motores
assíncronos, equipamento portátil e equipamento móvel (dada a sua
leveza), etc.
A prata é bastante utilizada, sob a forma pura ou em liga, no fabrico de
contactos elétricos em dispositivos que devem apresentar uma boa
fiabilidade, em virtude de praticamente não oxidar. As ligas podem incluir
níquel, cobalto, paládio, bromo e tungsténio.
O ouro é um material que não se oxida e apresenta uma elevada
resistência mecânica, sendo também utilizado em contactos elétricos em
equipamentos de elevada fiabilidade e precisão.
Por análise dos materiais indicados no Quadro 1, podemos tirar, entre
outras, as seguintes conclusões:
1. O condutor mais leve é o alumínio.
2. A prata é o melhor condutor.
3. O material condutor (liga) com maior resistência à rotura é o
bronzesilicioso.
4. O material condutor com ponto de fusão mais elevado é o cobre.
5. O condutor com menor coeficiente de temperatura é o mercúrio,
seguido do latão.
6. As ligas resistentes têm todas uma resistividade elétrica elevada, como
é óbvio.
7. A liga resistente que maior ponto de fusão apresenta é o ferro-níquel
(daí a sua utilização em aquecimento)
8. A manganina tem um coeficiente de temperatura praticamente nulo
9. O carvão tem um coeficiente de temperatura negativo
Embora, no Quadro 1, não estejam indicadas todas as propriedades de
cada material, no entanto podemos compreender, em muitos casos, as
razões por que cada um deles tem as aplicações indicadas na tabela.
Algumas das propriedades que aqui faltam foram já referidas
anteriormente, como corrosão, fator importante na escolha do material para
a função e local a instalar; a maleabilidade e a ductilidade, que
determinam quais são os materiais que podem ser transformados em
chapas ou reduzidos a fios, etc.
Duas das mais importantes grandezas elétricas são a resistência elétrica R
e a resistividade elétrica ρ (lê-se «ró»). A resistência elétrica R de um
condutor ou de um recetor térmico varia diretamente com o comprimento
do condutor e com a sua resistividade elétrica e varia inversamente com a
sua secção, sendo calculada pela expressão matemática:
em que: ρ – resistividade elétrica (ohm · milímetros quadrados / metro –
Ω · mm2/m)
l – comprimento do condutor (m – metros)
S – secção do condutor (mm2 – milímetros quadrados)
A resistência elétrica dos condutores varia ainda com a
temperatura, de acordo com a seguinte expressão matemática:

em que: α – coeficiente de temperatura do condutor (°C–1)


t1 – temperatura inicial (°C)
t2 – temperatura final (°C)
R1 – resistência inicial (à temperatura t1)
R2 – resistência final (à temperatura t2)
Os valores da resistividade elétrica e do coeficiente de temperatura, para
cada condutor, são indicados em tabelas, para a temperatura de 20 °C. No
Quadro 1, apresentamos estas grandezas para alguns materiais condutores.
Problema – Suponha que um condutor de cobre, com uma secção de 1,5
mm2, tem um comprimento de 25 metros. Calcule:
a) A resistência elétrica do condutor a 20 °C
b) A resistência elétrica do condutor a 40 °C

Houve, portanto, um aumento de 8% no valor da resistência elétrica do


condutor, com o aumento da temperatura no condutor, o que não é de
desprezar.
A resistência elétrica R de um recetor térmico (torradeira, irradiador,
calorífero, ferro de engomar, etc.), ligado a uma fonte de alimentação, por
exemplo a rede elétrica de baixa tensão, pode ser calculada em função da
tensão nominal da rede U e da intensidade de corrente I absorvida, pela
expressão da Lei de Ohm.

Problema – Dois caloríferos são ligados à rede elétrica de 230 V.


a) Calcule a resistência elétrica de um dos caloríferos, sabendo que ele
absorveu 3 A.
b) Calcule a intensidade de corrente absorvida pelo segundo, sabendo que
a sua resistência elétrica é de 550Ω.
c) Calcule a intensidade total absorvida pelos dois caloríferos.

Problema – Calcule as potências dos dois recetores térmicos seguintes:


a) Um dos recetores absorve 2,5 A quando é ligado a 230V
b) O outro recetor tem uma resistência elétrica de 100Ω e absorve 2,3 A
c) Calcule a potência total absorvida pelos dois recetores

Outras propriedades dos condutores são, por exemplo, as seguintes: o ouro


e a prata são os metais mais dúcteis e maleáveis, o que lhes permite serem
reduzidos facilmente a fios e chapas – são no entanto caros; o alumínio
em contacto com o ar cobre-se de uma camada de óxido, chamado
alumina, que o protege contra a corrosão; o cobre também fica revestido
por um óxido, chamado azebre, que o protege contra a ação dos agentes
atmosféricos.
Como nota final, queríamos referir que as ligas resistentes devem, de uma
forma geral, ser caraterizadas por terem: grande resistividade elétrica,
temperatura de funcionamento elevada, coeficiente de temperatura baixo e
elevada resistência mecânica.
Antes de acabar este tema, queremos voltar a abordar os
«supracondutores» ou «supercondutores». São materiais que, como o cobre,
o alumínio, o cádmio, etc., quando submetidos a temperaturas bastante
negativas (até –252 °C) têm uma resistividade bastante menor que a
normal nos condutores (o cobre que tem a 20 °C uma resistividade de 10-8
Ω · m, passará a ter a –252 °C uma resistividade de 10-25 Ω · m).
Muito recentemente, têm sido descobertos novos materiais (por exemplo,
cerâmicos) que se revelaram supercondutores a temperaturas cada vez mais
próximas da temperatura ambiente. As últimas informações já apontam
para: –40 °C.
As vantagens destes materiais no futuro serão por demais evidentes. Com
efeito, não há praticamente dissipação por efeito de Joule numa linha de
alimentação nestas condições. Isto é, a potência fornecida pelo gerador é
praticamente igual à consumida pelo recetor.
Exigem obviamente fontes frias para o arrefecimento dos condutores; aliás,
será este praticamente o único consumo nas linhas de distribuição da
energia que utilizem estes materiais. Obviamente que haverá outros
problemas de caráter técnico quanto à instalação e manutenção das
referidas fontes frias.
6. Principais materiais isoladores
Os isoladores existem nos circuitos elétricos sob diversas formas e têm
finalidades variadas: proteger pessoas, evitar curtos-circuitos nas
instalações, evitar fugas de corrente, etc.
Podem ser subdivididos em sólidos (ex: vidro, mica), líquidos (ex: óleo
mineral, verniz) e gasosos (ex: ar, azoto).
Os materiais sólidos e líquidos utilizados para o fabrico de isoladores são
de três proveniências: isolantes minerais, isolantes orgânicos e isolantes
plásticos.
De entre os isolantes minerais temos como principais: a mica, a
porcelana, o vidro, o quartzo, os óleos, o amianto, o fibrocimento, o
mármore e o breu. De entre os isolantes orgânicos temos: a borracha e
seus derivados (neoprene, buna e a ebonite), o verniz, o chartterton, o
algodão, o cartão e o papel.
De entre os isolantes plásticos (ou plastómeros) temos: o polietileno, o
policloreto de vinilo e a baquelite.
Todos sabemos que os materiais isolantes, como quaisquer materiais,
envelhecem com a utilização. Os fatores principais que contribuem para o
seu envelhecimento são: a temperatura, o campo elétrico que os solicita,
os esforços mecânicos a que estão sujeitos, a humidade, agentes
atmosféricos, agentes químicos, etc. A temperatura é, no entanto, o
principal inimigo destes materiais.
Os materiais inorgânicos (mica, vidro, amianto, etc.) têm uma
estabilidade térmica muito elevada, daí a sua grande utilização em
elevado número de aplicações. No entanto, são de aplicação pouco
versátil. Por exemplo, não é possível obter mica líquida para fazer
impregnações isolantes. Deste modo, houve necessidade de recorrer a
substitutos orgânicos para esses e outros casos.
As principais propriedades dos isolantes são: a resistividade elétrica,
a rigidez dielétrica, a estabilidade térmica e a temperatura máxima de
utilização, o fator de perdas e a versatilidade. A rigidez dielétrica de um
isolante é medida pela sua maior ou menor tensão de disrupção (tensão
de perfuração do dielétrico ou isolante). Dada a grande variedade de
isolantes existentes, obviamente que muitas outras propriedades existirão,
embora de menor importância, para além das apresentadas.
Para cada aplicação será escolhido o material que melhores condições
reúna, de acordo com as exigências da função. No Quadro 2,
apresentamos os principais materiais isolantes, com algumas das suas
propriedades e aplicações. Por análise do quadro, podemos tirar, entre
outras, as seguintes conclusões:
1. A mica é considerada o material com maior tensão de disrupção.
2. O quartzo é o material com maior resistividade elétrica.
3. A mica é o material que melhor estabilidade térmica apresenta.
4. O vidro tem elevada resistência mecânica.
5. O papel seco é bom isolante, barato, mas higroscópico (é atacado pela
humidade).
6. O polietileno e o policloreto de vinilo são bastante resistentes à ação
solar e aos agentes químicos.
7. O policloreto de vinilo não é inflamável.
8. A porcelana tem a desvantagem de ser porosa (deixa-se infiltrar pela
humidade).
9. Os materiais orgânicos e os plásticos têm, em relação aos minerais, a
grande vantagem de serem mais flexíveis no seu tratamento e na
utilização.
10. Os isolantes gasosos, como o ar, são baratos.
Outras propriedades gerais dos isolantes: há isolantes que são fortemente
atacados pela humidade, como o papel, o amianto, a porcelana; o quartzo
é utilizado em situações em que há bruscas variações de temperatura
(exemplo: lâmpadas); os isolantes plásticos, além das propriedades
isolantes que todos lhes reconhecem, têm uma outra que é a sua extrema
leveza e versatilidade na aquisição de diferentes formas; a baquelite
apresenta-se sob diversas formas, sendo a baquelite C aquela que melhores
propriedades reúne e é, por isso, mais utilizada.
7. Classi cação dos locais – fatores de in uência
externa
Ao projetar-se uma instalação elétrica, é necessário analisar primeiro as
caraterísticas do local onde ela vai ser colocada. Com efeito, os locais são
diferentes uns dos outros, quanto às condições ambientais e, portanto,
com riscos elétricos diferenciados. Não é indiferente efetuar uma
instalação elétrica num local de elevadas temperaturas ou de baixas
temperaturas; ou montar uma instalação elétrica num local seco ou num
local húmido ou molhado, etc.
O antigo RSIUEE classificava os locais em SRE (Sem Riscos Especiais),
HUM (Húmidos), MOL (Molhados), ATP (Sujeitos a Altas Temperaturas),
etc. As novas Regras Técnicas, baseadas em normas comunitárias,
permitem estabelecer uma classificação dos locais, em função das
influências externas, mais abrangente, com maior diversidade de
fatores externos, permitindo assim maior precisão na classificação e,
portanto, na escolha dos equipamentos mais adequados a cada situação.
No Quadro 3 representam-se as codificações das influências externas, por
categorias de influência.

No Quadro 4 apresenta-se a mesma codificação das influências externas,


mas mais desenvolvida, com a indicação de todas as categorias (A, B, C)
e as naturezas das influências externas.
Quanto às classes (ou graus) de influência, dada a diversidade de
tabelas definidas nas RTIEBT, vamos apresentar aqui apenas algumas
delas, as mais utilizadas. Conforme já se percebeu, as categorias gerais
são:
A – Ambiente
B – Utilização
C – Construção de edifícios
Cada categoria divide-se em várias naturezas de influência. Assim, a
categoria A (ambiente) divide-se em 17 naturezas de influência (de A
a S), em que a natureza de influência A é a temperatura ambiente, a
natureza de influência B são as condições climáticas, C é a altitude, D a
presença de água… e S é a natureza de influência vento.
A categoria B (utilização) divide-se em 5 naturezas de influência (de A
a E), em que a natureza de influência A é a competência das pessoas, B
é a resistência elétrica do corpo humano… e E é a natureza dos produtos
tratados ou armazenados. A categoria C (Construção de edifícios)
divide-se em duas naturezas de influência (A e B), em que A é a
natureza dos materiais de construção e B é a estrutura do edifício.
Para cada local, estabelece-se um código ou mais do que um código com
duas letras e um algarismo, de acordo com as classificações indicadas no
Quadro 4. A 1.ª letra do código representa a categorial geral: A –
ambiente, B – Utilização, C – Construção de edifícios. A 2.ª letra do
código representa a natureza da influência (A a S, para a categoria A; A
a E, para a categoria B; A ou B, para a categoria C). O algarismo
representa a classe de influência, dentro de cada natureza de influência.
Os Quadros 5, 6 e 7 representam as classes de influência de três das
mais importantes naturezas de influência da categoria A, que são: A –
temperatura ambiente, D – presença de água e E – presença de corpos
sólidos estranhos.
Assim, por exemplo, o código AD3 corresponderá a um local que possui
as seguintes caraterísticas:
1.ª letra A – classificação quanto ao ambiente (Quadro 3)
1.ª letra D – classificação quanto à presença de água (Quadro 4)
Algarismo 3 – local com possibilidade de queda de água, sob a forma de
chuva (Quadro6)
O código AA4, por exemplo, corresponderá a um local temperado, em
que a temperatura se situa entre –5 °C e +40 °C. Confirme, consultando
os Quadros respetivos!
Quanto à categoria B (Utilização), nos Quadros 8, 9 e 10 representamos as
naturezas de influência A, B e C, com a descrição das classes (ou graus)
respetivas.
Assim, um local BA2 é um local onde permanecem crianças ou são
habitualmente frequentados por crianças, de pouca idade, como creches,
jardins de infância, etc. Um local BC3 é um local em que as pessoas têm
contacto frequente com elementos condutores elétricos ou permanecem
sobre superfícies condutoras.
Quanto à categoria C (Construção de edifícios), tem a ver com a
constituição do próprio edifício, nomeadamente com os materiais de
construção utilizados, bem como com a estrutura do edifício,
particularmente quanto à questão da propagação de incêndios.
Nos Quadros 11 e 12 apresentamos as naturezas e classes correspondentes
a esta categoria.
Portanto, cada local pode ter associado três códigos: um iniciado com a
letra A (ambiente), outro iniciado com a letra B (utilização) e outro com a
letra C (construção de edifícios). O mesmo local pode, portanto, ser
classificado nas três categorias indicadas. No Quadro 4 apresentam-se
também as situações normais (mais vulgares), para cada um dos
códigos. Os fabricantes de equipamento elétrico e de canalizações
elétricas produzem o material adequado a cada uma destas classificações,
de forma a poderem ser utilizados em cada um dos locais classificados.
8. Código IP
A construção dos invólucros dos equipamentos elétricos obedece a
duas das influências externas mais importantes, que são:
• Proteção contra a presença de corpos sólidos estranhos (AE);
• Proteção contra a presença de água (AD).
Estas duas proteções são identificadas através de um código IP (Índice
de Proteção), com 2 algarismos, em que o primeiro indica a classe
correspondente à «proteção contra a penetração de corpos sólidos» e o
segundo algarismo indica a classe correspondente à «proteção contra a
penetração de água».
No Quadro 13, apresentamos os graus IP de proteção dos invólucros dos
equipamentos.

Assim, um equipamento com o código IP51 está convenientemente


protegido para locais com poeiras abundantes e contra a entrada de gotas
de água.
No Quadro 14 apresentamos os graus IP de proteção mínima dos
invólucros dos equipamentos utilizados em locais devidamente
classificados quanto à presença de corpos sólidos e quanto à presença de
água. De acordo com o Quadro 14, num local AE6, por exemplo, deve
utilizar-se equipamentos com códigos IP5X ou IP6X, em que o X refere-se
à classificação quanto à presença de água, podendo ter valores entre 0 e
8. Num local AD4, por exemplo, deve utilizar-se um equipamento com
um índice mínimo IPX4, em que X representa, agora, o grau de
proteção contra a penetração de corpos sólidos.
9. Código IK
O código IK indica a proteção contra impactos mecânicos que o
invólucro de um equipamento possui. O código IK é constituído por um
número com dois algarismos a seguir às letras IK. Os códigos IK variam
entre IK00 e IK10, com o significado indicado no Quadro 15. O Quadro
15A faz a correspondência entre os locais sujeitos a ações mecânicas AG1
(ações mecânicas fracas), AG2 (ações mecânicas médias) e AG3 (ações
mecânicas fortes) com os códigos IK que os invólucros devem possuir,
que são, respetivamente, IK02, IK07 e IK08 a IK10.
No Quadro 16 apresentamos os códigos IP e IK dos invólucros dos
equipamentos a utilizar nos locais classificados quanto às influências
externas (classificação nova) e a correspondência com a classificação
antiga (classificação dos locais).
CAPÍTULO 2 – Condutores, Cabos, Tubos,
Canalizações Elétricas
A confiança não se impõe, ganha-se – Louis J. Lebret
Tópicos principais deste capítulo:
• Condutores
• Cabos
• Tubos
• Canalizações
1. Condutores e cabos
1.1 De nições
Vejamos primeiramente algumas definições, de acordo com as RTIEBT.
Alma condutora de um condutor isolado ou de um cabo é o «elemento
destinado à condução da corrente elétrica, podendo ser constituído por
um conjunto de fios devidamente reunidos, ou por perfis adequados». A
alma condutora pode ser unifilar (um só fio), multifilar (vários fios),
setorial e multissetorial.
Condutor nu é o condutor que não possuiqualquer isolamento elétrico
contínuo.
Condutor isolado é o conjunto constituído pela alma condutora, pelo
invólucro isolante e pelos eventuais ecrãs (blindagens).

Cabo isolado ou, simplesmente, cabo é o conjunto constituído por:


a) um ou mais condutores isolados;
b) o seu eventual revestimento individual;
c) o ou os eventuais revestimentos de proteção;
d) eventualmente, um ou mais condutores não isolados.
O condutor nu é constituído apenas pela alma condutora. O condutor
isolado tem um isolamento elétrico em torno da alma condutora, como
proteção elétrica e mecânica. O cabo distingue-se do condutor porque,
além do isolamento elétrico, tem ainda, pelo menos, uma bainha (que é
uma segunda proteção) que envolve o isolamento elétrico.
Mas vejamos melhor a caraterização de um cabo.
1.2 Caraterização geral de um cabo
Conforme as exigências dos locais e das condições de funcionamento,
assim a necessidade de instalar cabos mais ou menos bem protegidos. Os
principais fatores condicionantes da escolha de um cabo para uma
instalação elétrica são:
1. Potência, tensão estipulada e intensidade máxima admissível.
2. Temperatura ambiente do local onde vai ser instalado.
3. Localização do cabo (à vista, enterrado, subaquático, etc.).
4. Efeitos corrosivos e mecânicos do local considerado.
5. Existência ou não de outros cabos no local ou proximidade
(particularmente de telecomunicações) ou de outras canalizações (água,
gás, esgotos, etc.).
Como é fácil de concluir, estes fatores vão exigir maior ou menor
proteção nos cabos, bem como substâncias protetoras diferenciadas,
conforme veremos mais à frente.
Vejamos então os principais revestimentos protetores elétricos,
mecânicos e químicos dos cabos.
Isolamento – camada de material isolante que, envolvendo a alma
condutora, assegura o seu isolamento elétrico.
Bainha interior – revestimento tubular contínuo e uniforme, geralmente
em material plástico, com o objetivo de proteger o interior contra
roedores, térmitas e gentes químicos exteriores.
Blindagem (ou ecrã) – revestimento condutor ou semicondutor que
envolve a bainha interior, com o fim de assegurar determinadas
caraterísticas elétricas, como: equalização de potenciais elétricos, redução
dos campos eletrostáticos, redução das correntes de fuga, evitar
interferências de campos eletromagnéticos com outros cabos de energia
ou de telecomunicações.
Armadura – revestimento metálico que tem como principal finalidade
proteger o cabo contra ações mecânicas exteriores, para além de funções
de natureza elétrica que possam desempenhar.
Bainha exterior – é uma segunda bainha que permite um reforço de
proteção e simultaneamente permite uma manipulação mais fácil do cabo,
sem contacto do operador ou do eletricista com a armadura de aço.
De referir que cada condutor ou cabo terá apenas um, alguns ou a
totalidade destes revestimentos. O condutor mais simples (condutor
isolado) será aquele que possui apenas o isolamento. Seguidamente, e em
grau crescente de complexidade, teremos um cabo com isolamento e
bainha exterior, podendo ter ou não blindagem entre os dois
revestimentos. Depois, o cabo pode ter ainda armadura para os locais
onde está sujeito a esforços mecânicos mais intensos, como nos cabos
subterrâneos.
No quadro 17 indicam-se os materiais mais utilizados no isolamento,
bainha, blindagem e armadura.

1.3 Identi cação dos condutores


Como se sabe, as instalações elétricas de corrente alternada podem ser
monofásicas ou trifásicas.
Para permitir maior eficiência na colocação ou na reparação de uma
instalação elétrica, houve necessidade de arranjar um processo de
identificar facilmente cada condutor. A instalação monofásica é
constituída por uma fase, o condutor neutro e o condutor de proteção; a
instalação trifásica é constituída por três fases distintas, o condutor
neutro e o condutor de proteção.
A identificação de cada condutor é feita pela cor do isolamento do
condutor ou por meio de pintura ou enfitamento, quando são condutores
nus. As cores de identificação dos condutores são as seguintes:
a) Condutores das fases (L1, L2, L3) – preto, castanho e cinzento. Se
existir só uma fase, tanto pode ser em preto como em castanho ou em
cinzento.
b) Condutor neutro – azul claro.
c) Condutor de proteção – verde/amarelo.
1.4 Secções normalizadas das almas condutoras
Os materiais mais utilizados na constituição das almas condutoras são,
como é sabido, o cobre e o alumínio. O cobre utilizado é o cobre macio
recozido que deve apresentar as seguintes caraterísticas:
1. Resistividade elétrica ρ = 0,0172 W · mm2/m (a 20 °C).
2. Apresentar-se limpo, sem oxidação, isento de produtos e defeitos
nocivos à sua finalidade.
O cobre, quando isolado a borracha, deve ser estanhado para evitar a
corrosão provocada pela borracha vulcanizada, devido à ação do enxofre
nela existente.
O alumínio utilizado como alma condutora deve apresentar as seguintes
caraterísticas:
1. Resistividade ρ = 0,0282 Ω · mm2/m (a 20 °C).
2. Elevado grau de pureza.
3. Apresentar-se limpo e isento de defeitos nocivos à sua finalidade.
As secções normalizadas das almas condutoras são as indicadas no
Quadro 18, expressas em milímetros quadrados.

As almas dos condutores rígidos não têm obrigatoriamente um só fio.


À medida que a secção vai aumentando, os condutores deixam de ser
unifilares e passam a multifilares, de forma a poder manusear-se o cabo
mais facilmente. Quanto aos condutores flexíveis e extraflexíveis, o
número de fios por secção é obviamente maior que nos rígidos, conforme
é de esperar.
A maior ou menor flexibilidade é obtida dividindo a alma condutora por
maior ou menor número de fios de pequena secção. O número de fios
para cada um dos casos e cada secção é definido por normas adequadas,
para condutores de cobre e de alumínio.
De acordo com as RTIEBT, nas instalações de utilização de energia
elétrica, os condutores devem ter secções não inferiores às seguintes:
1. Em circuitos para tomadas, força-motriz ou climatização: 2,5 mm2.
2. Em circuitos para iluminação: 1,5 mm2.
Está também regulamentado que a fase, o neutro e o condutor de
proteção tenham igual secção até 16 mm2, inclusive. A partir daí a
secção da fase ou fases é maior que as do neutro e condutor de proteção,
sendo os seus valores indicados no Quadro 19.

No Quadro 20, apresentam-se as intensidades máximas admissíveis Iz


para cada um dos dois condutores, isolados a PVC, dentro de tubos em
canalização embebida. No estudo das canalizações elétricas, este assunto
das intensidades admissíveis será mais desenvolvido.

1.5 Nomenclatura dos condutores e cabos


Os condutores e cabos que se fabricam atualmente em Portugal obedecem
fundamentalmente a duas normas portuguesas (NP) que são a NP – 2361
e a NP – 665. A norma NP – 2361 (1984) é a norma que segue o
Documento de Harmonização HD – 361 do CENELEC (Comité
Europeu de Normalização Elétrica), contemplando os condutores isolados
e cabos referidos nas normas NP – 2356 e NP – 2357. Isto é, todos os
condutores e cabos fabricados segundo a norma NP – 2361 estão de
acordo com as normas definidas para todos os países da Comunidade
Europeia.
No Quadro 21 apresentam-se os símbolos que são utilizados para definir
a designação CENELEC de um condutor ou cabo de baixa tensão.
Repare-se que o Quadro 21 prevê já a equivalência de alguns condutores
e cabos de âmbito nacional, utilizando-se, para o efeito: a letra A – Tipo
nacional reconhecido; o conjunto de letras PT – N – Tipo nacional
não reconhecido.
No Quadro 21 apresenta-se um exemplo da construção da designação
simbólica de um cabo, tendo-se obtido: H 05 VV – F3G2,5. Vejamos qual
o significado desta designação.
Consultando o Quadro 21, conclui-se que este é um cabo harmonizado
(letra H) de tensão 300/500 V (número 05), com isolamento de policloreto
de vinilo (letra V), com bainha de policloreto de vinilo (letra V,
novamente), com condutores flexíveis da classe 5 (– F), constituído por 3
condutores de cobre de 2,5 mm2 de secção, sendo um deles o condutor de
proteção (letra G).
Se este cabo fosse de fabrico nacional, em vez de H utilizar-se-ia a letra
A; se fosse do tipo nacional não reconhecido (pelo Documento HD – 361),
utilizar-se-ia PT – N.
A norma NP – 665 é a norma que regulamenta a construção dos
condutores e cabos (de baixa tensão e de média tensão), em Portugal, que
não estão harmonizados, isto é, não estão de acordo com o documento de
harmonização CENELEC HD – 361. A norma NP – 665 é aquela que já
era utilizada em Portugal antes de aparecer o Documento de
Harmonização acima indicado.
No Quadro 22 apresentamos os símbolos que são utilizados para definir a
designação simbólica dos condutores e cabos de média tensão e de
baixa tensão não harmonizados. Neste Quadro, apresentamos também
um exemplo de construção da designação simbólica de um cabo, de
acordo com a norma NP – 665, que é mais antiga, de onde resultou a
seguinte designação simbólica: VV (frt) 5G6 0,6/1 KV.
Por consulta do Quadro 22, concluímos que se trata de um cabo com
condutores de cobre isolados a PVC, com bainha de 120 mm2 de secção,
em alumínio multifilar (letra L), isolado a polietileno reticulado (letra X),
dotado de um ecrã (ou blindagem) individual (HI), constituído por
condutores concêntricos de fios de cobre (letra O) e bainha externa de
PVC. A tensão estipulada é de 8,7/15(17,5) kV.
No Quadro 23 apresentamos as equivalências entre designações novas e
antigas de alguns dos cabos que foram entretanto harmonizados. Com
efeito, a designação antiga ainda aparece em alguma documentação e,
também, em cabos ainda instalados e, por isso, é sempre útil conhecer
esta correspondência entre designações.

Vejamos alguns dos cabos de energia que se fabricam em Portugal.


a) Cabos de energia harmonizados: H05V-U, H07V-U, H07V-R, PT-N05VV-
U, PT-N05VVH2-U, H05V-K, H05VV-F, etc.
b) Cabos de energia não harmonizados B.T. 0,6/1kV: VV, XV, VAV, XAV,
LVV, LVAV, LXS, XS, etc.
c) Cabos de energia não harmonizados M.T e A. T.: XHIV, LXHIV,
XHIOV, LXHI.
No Quadro 24 apresentamos alguns dos cabos fabricados em Portugal,
harmonizados e não harmonizados, sua constituição e aplicações.
2. Tubos
Segundo as RTIEBT, define-se tubo como uma conduta de secção
circular. A conduta é o invólucro fechado de secção reta, circular ou
não, destinado à instalação ou à substituição de condutores isolados e
cabos, por enfiamento das instalações elétricas. Os tubos a empregar nas
instalações elétricas devem ser de material isolante ou metálico, desde que
possuam caraterísticas elétricas e mecânicas adequadas ao local e função
a desempenhar.
Os tubos são utilizados em instalações à vista ou em instalações ocultas.
Na figura 8 representa-se um troço de tubo instalado à vista, fixo por
braçadeiras, com dois condutores no seu interior. Relativamente aos tubos,
devem verificar-se os seguintes preceitos gerais:
1. Designa-se diâmetro nominal de um tubo como o valor do seu
diâmetro interior, expresso em milímetros.
2. Os tubos devem ter diâmetros tais que permitam o fácil enfiamento e
desenfiamento dos condutores isolados ou cabos.
3. A superfície interior dos tubos não deverá apresentar arestas vivas,
asperezas ou fissuras.
4. Em nenhum caso serão permitidas ligações de condutores dentro dos
tubos.
5. Os tubos podem ser estabelecidos embebidos (no interior das paredes),
em roços previamente abertos, ou à vista, fixados por meio de braçadeiras.
6. O número de condutores permitido por tubo, com um dado diâmetro,
para instalações à vista ou embebidas, é função da secção dos condutores
e consta de quadros ou tabelas perfeitamente regulamentados.
7. O raio de curvatura dos tubos deve ser tal que permita o fácil
enfiamento e desenfiamento dos condutores. Segundo as RTIEBT, o raio
de curvatura mínimo dos tubos rígidos deve ser maior ou igual a seis
vezes o diâmetro exterior do tubo, para instalações à vista ou embebidas;
o raio de curvatura mínimo dos tubos flexíveis deve ser maior ou igual
a três vezes o diâmetro exterior do tubo.
8. Nas instalações à vista, os tubos devem ser fixados às superfícies de
apoio por braçadeiras apropriadas. As distâncias entre braçadeiras também
estão regulamentadas.

Tal como para os condutores isolados e cabos, também nos tubos houve
necessidade de os referenciar através de uma designação simbólica que os
distinga, atendendo às suas diferentes caraterísticas.
A norma NP–1070 (de 1975) era a norma original de regulamentação da
designação simbólica dos tubos que foi substituída pela norma NP–1070
de 1984, e esta pela norma EN50086. No Quadro 25, apresentamos a
designação dos tubos em materiais isolantes, metálicos e mistos, com a
indicação dos tubos com a designação mais antiga e mais recente.

Os tubos mais utilizados são os tubos IRL3321 (antigo VD, em PVC,


rígido) e ICTA3422 (em polipropileno, anelado, flexível, antichama, com
baixa emissão de fumos e gases tóxicos; este tubo veio substituir os tubos
VRE e ERE).
De acordo com as RTIEBT, o tubo deve permitir o fácil enfiamento e
desenfiamento dos condutores a instalar.
O Quadro 26 indica-nos os diâmetros mínimos dos tubos IRL3321 (VD) e
ICTA3422 (VRE/ERE), para instalações à vista e embebida, em função das
secções e número de condutores H07V-R e H07V-U.

Por consulta do Quadro 26, concluímos facilmente que:


Para três condutores de 1,5 mm2, em tubo rígido IRL3321, basta o
diâmetro de 16 mm. Se a secção fosse 2,5 mm2, continuava a bastar o
diâmetro de 16 mm.
1. Para três condutores de 1,5 mm2, em tubo anelado ICTA3422, basta o
diâmetro de 16 mm. Se a secção fosse 2,5 mm2, já seria necessário o
diâmetro mínimo de 20 mm.
2. Para cabos instalados dentro de tubos, a regra é a de que a soma das
secções dos cabos instalados não deve ultrapassar 33% da secção interior
do tubo.
3. Canalizações elétricas
Uma instalação elétrica é constituída pela canalização elétrica e
respetivos equipamentos de proteção, comando e corte. A canalização
elétrica será o «caminho» percorrido pela corrente elétrica até chegar ao
recetor que se pretende alimentar. As RTIEBT definem canalização
elétrica como o «conjunto constituído por um ou mais condutores
elétricos e pelos elementos que garantem a sua fixação e, em regra, a sua
proteção mecânica».
3.1 Critérios de escolha de uma canalização elétrica
Quando se escolhe a canalização adequada para una dada instalação
elétrica, deve atender-se a um conjunto de parâmetros, nomeadamente:
• A natureza do local;
• A natureza das paredes e dos outros elementos da construção que
suportam as canalizações;
• A acessibilidade das canalizações a pessoas e aos animais;
• A tensão nominal da instalação;
• As influências externas existentes, nesse local;
• A função da instalação e tipos de recetores a alimentar;
• Finalmente, razões de ordem estética, no caso de igualdade entre duas
ou mais opções.
3.2 Tipos de canalizações elétricas
As canalizações elétricas podem classificar-se, entre outras, em:
canalizações fixas e amovíveis, ocultas e à vista. As canalizações
ocultas podem ser instaladas: em ocos da construção, em caleiras,
enterradas, embebidas e imersas. Os condutores utilizados podem ser nus,
isolados e cabos unipolares ou multipolares, monofásicos ou trifásicos.
Em resumo, podemos ter os seguintes tipos de canalizações:
1. Condutores nus sobre isoladores
2. Condutores isolados:
a. em condutas circulares (tubos)
b. em calhas
c. em condutas não circulares
d. sobre isoladores
3. Cabos monocondutores ou multicondutores:
a. sem fixação (para cabos multicondutores)
b. com fixação direta
c. em condutas circulares (tubos)
d. em calha
e. em condutas não circulares
f. em caminhos de cabos, escadas e consolas
g. autossuportados
4. Outras canalizações: caminhos de cabos, caleiras, travessias, ductos,
galerias, enterradas, subaquáticas, pisos técnicos e tetos falsos.

O Quadro 27 permite selecionar o tipo de condutor ou cabo, em função


do modo de instalação.
De entre os diferentes tipos de canalizações fixas, as mais vulgarmente
utilizadas são: a canalização à vista, constituída por condutores isolados
protegidos por tubos, e a canalização embebida, constituída por
condutores isolados protegidos por tubos. Nas zonas fabris utilizam-se
muito as canalizações à vista, bem como as canalizações pré-fabricadas,
por serem mais fáceis de instalar e de efetuar a manutenção.
No Quadro 28, apresentamos a maioria dos modos de instalação das
canalizações elétricas, com a respetiva descrição, bem como a indicação
do Método de Referência correspondente a cada canalização indicada,
retiradas das RTIEBT. O Método de Referência é um conceito que foi
escolhido para podermos determinar, canalização a canalização, qual a
intensidade máxima admissível pelos condutores dessa canalização,
evitando ter de fazer cálculos para cada situação.
Os métodos de referência são 7 (A, B, C, D, E, F, G, mais as versões A2 e
B2), apesar de o número de canalizações ser muito mais elevado, pois
cada método de referência aplica-se a mais do que uma canalização. No
ponto seguinte, vamos explicar este assunto – Métodos de Referência – e
apresentar os Quadros com as intensidades máximas admissíveis.
De acordo com as RTIEBT, definem-se:
Caleira – Espaço para alojamento de canalizações, localizado no
pavimento ou no solo, aberto, ventilado ou fechado, com dimensões que
não permitam a circulação de pessoas, mas no qual as canalizações
instaladas sejam acessíveis em todo o seu percurso durante e após a
instalação.
Caminho de cabos – Suporte constituído por uma base contínua,
dotada de abas e sem tampa. Um caminho de cabos pode ser, ou não,
perfurado.
Conduta (termo geral). Tubo (conduta de secção circular) –
Invólucro fechado, de secção reta circular ou não, destinado à instalação
ou à substituição de condutores isolados ou de cabos por enfiamento nas
instalações elétricas.
Travessia – Elemento que envolve uma canalização e lhe confere uma
proteção complementar na passagem de canalizações através de elementos
de construção (paredes, tetos, divisórias, pavimentos, etc.).
Ducto – Espaço fechado para alojamento de canalizações, não situado no
pavimento ou no solo, com dimensões que não permitam a circulação de
pessoas, mas no qual as canalizações instaladas sejam acessíveis em todo
o seu percurso. Um ducto, que pode estar, ou não, incorporado na
construção do edifício, pode ser horizontal, vertical ou inclinado.
Galeria – Compartimento ou corredor, contendo suportes ou espaços
fechados apropriados para canalizações e suas ligações e cujas dimensões
permitem a livre circulação de pessoas em todo o seu percurso.
Calha (coberta) – Invólucro fechado por tampa, que garante uma
proteção mecânica aos condutores isolados ou aos cabos, os quais são
instalados ou retirados por processo que não inclua o enfiamento, e que
permite a adaptação de equipamentos elétricos.
Nota: Uma calha pode ter, ou não, separadores e designa-se, conforme as
suas dimensões e instalação, por rodapé, por prumo ou por arquitrave.
3.3 Intensidades máximas admissíveis pelas
canalizações – Métodos de Referência
As correntes máximas admissíveis nas canalizações dependem da secção e
natureza do condutor ou cabo utilizados, mas também do modo de
instalação da canalização. Com efeito, a temperatura na canalização varia
com diferentes fatores ambientais e locais, influenciando assim o valor
máximo de Iz, para cada uma delas. Como se compreende, quanto maior
for a temperatura, menor será a intensidade máxima admissível; quanto
menor for a temperatura, maior será a intensidade máxima admissível.
Para evitar, o mais possível a realização de cálculos, utilizando fatores
correspondentes a cada canalização, os valores de Iz vêm já tabelados,
para cada canalização, em função dos métodos de referência indicados
nos Quadros do ponto anterior.
Nos Quadros 29 a 37, apresentamos as intensidades máximas
admissíveis para cada canalização escolhida.

Nota: O condutor de proteção não é considerado um condutor carregado, portanto não é


contabilizado no número de condutores carregados. O neutro é considerado um condutor
carregado, exceto nas instalações trifásicas com neutro, situação em que o neutro deixa de ser
considerado um condutor carregado, não sendo então contabilizado no número de condutores
carregados.
Em muitas situações, é necessário ainda aplicar fatores de correção ao
valor obtido pelos Quadros 29 a 37. As correções são devidas aos
seguintes parâmetros:
• Fatores de correção em função da temperatura ambiente;
• Fatores de correção em função da temperatura do solo;
• Fatores de correção para agrupamentos de diversos circuitos ou de
vários cabos multicondutores, instalados ao ar, lado a lado, em camadas
simples;
• Fatores de correção para agrupamentos de cabos enterrados em esteira
horizontal, distanciados de, pelo menos, 0,20 metros;
• Fatores de correção para agrupamentos de condutas com condutores,
instalados ao ar, enterrados ou embebidos no betão, em função da sua
disposição (horizontal e vertical);
• Fatores de correção para agrupamentos de diversos circuitos de cabos
multicondutores, instalados ao ar, lado a lado, em camadas simples, para
o Método de Referência E;
• Fatores de correção para agrupamentos de diversos circuitos de cabos
monocondutores, instalados ao ar, lado a lado, em camadas simples, para
o Método de Referência F;
• Fatores de correção aplicáveis a cabos enterrados em função da
resistividade térmica do solo.
Aqui, vamos apresentar apenas os três primeiros Quadros de correções:
38, 39 e 40. Os restantes podem ser consultados nos Anexos da Parte 5
das RTIEBT.
Como se obtém então o valor da intensidade máxima admissível
de uma dada canalização?
Primeiro, vamos selecionar a nossa canalização, consultando o modo de
instalação no Quadro 28. A essa canalização corresponderá um dado
Método de Referência, o qual registamos. De seguida, vamos aos Quadros
29 a 37 e, selecionando o Método de Referência que registámos, o tipo
de condutor utilizado, seu isolamento e número de condutores
carregados, escolhemos a tabela de valores correta.
Nessa tabela, só temos de escolher a secção do condutor, tensão
estipulada, condutores de cobre ou alumínio e o método de referência
que memorizámos. A intensidade Iz estará no cruzamento da secção com o
método de referência registado.
Obtido este valor, se houver lugar a algum fator de correção, devem ser
consultados os Quadros 38 a 40, ou outros, consultando as RTIEBT.
Exemplo de aplicação – Uma instalação elétrica trifásica com neutro é
constituída por:
• 4 condutores de cobre, de secção igual a 16 mm2, isolados a PVC, em
condutas circulares (tubos), embebidas nos elementos da construção;
• Temperatura da alma condutora de 70 °C;
• Temperatura ambiente de 40 °C.
a) Indique o número de condutores carregados.
b) Indique o método de referência a utilizar.
c) Indique o valor da intensidade máxima admissível, sem fatores de
correção.
d) Indique o valor da intensidade máxima admissível, final, aplicando os
fatores de correção adequados.
Resolução:
a) O número de condutores carregados é 3, pois nas instalações trifásicas
o condutor neutro não é contabilizado como condutor carregado.
b) Por consulta do Quadro 28, verificamos que a nossa canalização tem o
modo de instalação n.º de referência 1 e corresponde ao Método de
Referência A.
c) Consultando o Quadro 31 (3 condutores carregados, em cobre, qcondutor
= 70 °C, qambiente = 30 °C), para o Método de Referência A, para a secção
S = 16 mm2, obtemos uma intensidade admissível de 56 A, por
condutor.
d) Consultando o Quadro 38, para qambiente = 40 °C e condutores em PVC,
obtemos o fator de correção de 0,87, pelo que a intensidade máxima
admissível será finalmente de:
Iz = 56 × 0,87 = 48,7 A
3.4 Seleção de canalizações
A escolha de uma dada canalização para uma instalação elétrica depende
de vários fatores, nomeadamente: do tipo de condutores e cabos que vão
ser utilizados, das condições locais e influências externas, da natureza da
atividade a desenvolver no local.
O Quadro 41 apresenta um resumo que permite fazer a seleção da
canalização em função das influências externas.

O Quadro 42 permite fazer uma seleção de canalizações em função da


natureza das principais atividades.
O Quadro 43 permite selecionar as canalizações em função do tipo de
condutores utilizados.

O Quadro 44 permite verificar quais as aplicabilidades e não


aplicabilidades entre as canalizações e a situação em que vão ser
utilizadas.
3.5 Regras gerais na execução das canalizações
elétricas
Vejamos algumas regras gerais, respigadas das RTIEBT, a utilizar
durante a execução das canalizações elétricas:
• Nas canalizações à vista, só devem ser utilizados materiais não
propagadores de chamas.
• Nas canalizações embebidas, os condutores devem ser instalados nos
tubos só após os roços estarem tapados, a não ser que o índice de
proteção mecânica dos tubos seja maior do que IK07, caso em que podem
ser colocados antes ou depois dos roços serem tapados.
• Nos «ocos de construção», as canalizações devem ser constituídas por
cabos mono ou multicondutores ou por condutores isolados protegidos por
condutas e poder colocar-se e retirar-se sem ter que alterar a construção;
as canalizações não devem ser propagadoras de chamas.
• Nas canalizações enterradas devem ser utilizados cabos com armadura
em aço do tipo VAV, LVAV ou sem armadura, mas com bainha de
espessura adequada do tipo VV, LVV, com uma proteção mecânica
independente, a uma profundidade mínima de 60 cm e com sinalização
por dispositivos não degradáveis a uma distância mínima de 10 cm do
cabo.
• Todos os condutores de um dado circuito, devem ficar na mesma
canalização.
• Na mesma canalização, devem existir, em regra, apenas os condutores
de um só circuito de energia. Pode, no entanto, ser instalado mais do
que um circuito desde que:
a) todos os condutores sejam isolados para a tensão nominal mais elevada
desses circuitos;
b) todos os circuitos tenham, a montante, o mesmo dispositivo de
comando e proteção;
c) os condutores de fase tenham a mesma secção; caso contrário, a
diferença de secção não deverá ultrapassar mais de três valores
normalizados sucessivos;
d) cada circuito esteja protegido separadamente contra sobreintensidades.
• A proteção contra as influências externas deve ser garantida de forma
contínua ao longo de toda a canalização.
• Nas canalizações embebidas, os condutores que sejam propagadores de
chamas (reconhecíveis pela coloração alaranjada) devem ficar
completamente envolvidos em materiais incombustíveis. As condutas em
polietileno são exemplo de condutas propagadoras de chamas.
A – Canalização à vista, constituída por condutores isolados
protegidos por tubos
A canalização à vista é uma canalização visível, sem necessidade de
retirar qualquer parte da construção sobre que está estabelecida. Embora
os critérios de escolha da canalização, para cada situação, sejam
analisados mais adiante, podemos desde já adiantar que esta canalização
é comummente utilizada em zonas fabris, por ser de mais fácil colocação
e de mais rápida reparação de qualquer defeito ou avaria que possam
aparecer. Além disso, permite mais rapidamente fazer ampliações na
instalação, de modo a servir novas máquinas ou novos postos de trabalho.
A fixação de tubos, às paredes, nesta canalização é feita por meio de
braçadeiras, conforme a figura 10.

A distância entre braçadeiras, bem como o raio de curvatura dos tubos,


estão regulamentados, conforme já referimos anteriormente.
A dobragem dos tubos rígidos de plástico é normalmente feita por
aquecimento lento, com a ajuda de uma mola própria colocada
interiormente e rodando o tubo de forma a não quebrar (ver figura 11).
O enfiamento dos condutores no tubo é feito habitualmente com a ajuda
de uma guia de aço, para puxar os condutores (ver figura 12). Utiliza-se
também frequentemente pó de talco para melhor deslizarem.
As derivações elétricas, para diferentes tomadas, pontos de luz,
interruptores, etc., são efetuadas através de caixas de derivação salientes,
colocadas nas paredes. A junção entre os tubos e as caixas de derivação é
feita com diversos acessórios de forma que a ligação fique bem feita:
batentes, uniões, boquilhas, etc.
A escolha do diâmetro do tubo é função do número de condutores e
respetivas secções, em cada troço da instalação. O Quadro 26 permite
fazer essa escolha, para canalizações à vista e para canalizações
embebidas, com tubos rígidos ou flexíveis.
De notar que numa instalação elétrica o número de condutores em cada
troço da canalização pode ser muito variável. Vejamos alguns exemplos
mais vulgares! Visto que o condutor de proteção é agora obrigatório nos
circuitos elétricos, verifica-se que:
1. Uma tomada necessita de três condutores (fase, neutro, proteção).
2. Uma lâmpada simples necessita de três condutores.
3. Um recetor trifásico necessita de pelo menos quatro condutores.
4. Um comutador de lustre exige quatro condutores, a partir da caixa de
derivação; para as lâmpadas vão também quatro condutores.
5. Um comutador de escada também exige quatro condutores.
B – Canalização embebida, constituída por condutores isolados
protegidos por tubos
Uma canalização embebida é um caso particular de uma canalização
oculta, em paredes, tetos ou pavimentos, sendo normalmente protegida
por tubos.
A canalização oculta é a canalização que não é visível ou que não é
acessível sem remoção de qualquer elemento da construção em que se
encontra ou, ainda, sem remoção de si própria.
Nas canalizações embebidas protegidas por tubos, os tubos são instalados
em roços, de tal forma que não se deteriorem ou amolguem, e só depois
são atacados com massa de cimento. Os tubos são ligados por uniões,
curvas e caixas de derivação de forma adequada, em condições de
garantirem a continuidade da proteção, não havendo em caso algum a
possibilidade de entrar argamassa na canalização.
Os condutores só devem ser enfiados nos tubos depois de os roços
estarem tapados e de a argamassa de cobertura ter feito presa, isto é, ter
fixado o tubo.
Em virtude de esta canalização ficar oculta, convém que ela seja feita em
trajetos horizontais e verticais, perfeitamente definidos, de forma a
conhecer-se a sua localização e, entre outras finalidades, evitar a sua
danificação por perfuração posterior da parede com pregos, cavilhas,
máquinas de furar, etc.
Tal como na canalização à vista, a escolha do diâmetro do tubo é feita
em função do número de condutores e suas secções, de acordo com o
Quadro 26.
Na figura representamos, em perspetiva, uma caixa com vários acessórios
de ligação.

C – Canalizações pré-fabricadas
A canalização pré-fabricada é uma canalização cujo invólucro, metálico
ou de material isolante, e os condutores formam um conjunto montado
em fábrica.
Com efeito, este tipo de canalização, contrariamente aos restantes, vem já
na sua globalidade preparado de fábrica. A sua instalação, à vista, torna-
se por isso muito fácil e rápida, permitindo também a sua colocação em
locais que permitem uma maior eficiência da instalação elétrica, ao
mesmo tempo que todo o material pode ser recuperado em caso de
modificação na instalação.
Existem diversos tipos de canalização pré-fabricada, consoante o
fabricante. Umas com mais qualidades que outras, certamente, mas de
uma forma geral permitem sempre uma grande mobilidade nos recetores
a elas ligados sem ter de se recorrer à destruição parcial da canalização
existente, em caso de modificação na mesma.
O material é obviamente mais caro, mas poupa-se, por outro lado, em
mão de obra e rapidez, o que se traduz em custos menores. Outro
possível óbice desta canalização residirá no plano estético. As figuras
seguintes representam alguns dos tipos de pré-fabricados.
CAPÍTULO 3 – Aparelhagem Elétrica
Metade do que você é deve-se ao que você pensa de si mesmo – Anónimo
Tópicos principais deste capítulo:
• Aparelhagem de ligação
• Aparelhagem de comando e seccionamento
• Aparelhagem de proteção (sobrecargas, curtos-circuitos, choques
elétricos, sobretensões e subtensões)
1. Aparelhagem Elétrica
1.1 Classi cação da aparelhagem
A aparelhagem elétrica que faz parte integrante de uma instalação
elétrica divide-se em várias categorias: aparelhagem de corte (interruptores,
seccionadores, disjuntores, fusíveis, etc.), aparelhagem de comando
(interruptores, inversores, comutadores, contactores, etc.), aparelhagem de
proteção (fusíveis, disjuntores, relés, etc.), aparelhagem de ligação (caixas
de derivação, caixas de coluna, fichas, tomadas, etc.), aparelhagem de
medida e contagem (amperímetros, voltímetros, contadores de energia,
etc.) e aparelhagem de regulação (potenciómetros, condensadores variáveis,
etc.), aparelhagem de utilização, etc.
Os aparelhos de utilização são elementos exteriores à própria instalação e
que a esta vão ser ligados através dos seus pontos de utilização. Como
exemplos de aparelhos de utilização, temos: motores, lâmpadas,
frigoríficos, ferros de engomar, aspiradores, máquinas de lavar, etc.
A figura 18 representa um diagrama de blocos da classificação da
aparelhagem elétrica.

Na figura 19 seguinte representamos, em esquema unifilar, o Quadro


Elétrico de uma Instalação de Utilização (I.U.), alimentando diferentes tipos
de recetores, com circuitos diferenciados.
Como sabemos, cada um destes aparelhos vai estar sujeito a condições de
funcionamento diferentes devido, não só ao papel diferente que vão
desempenhar, como também ao tipo de local e condições ambientais.
Assim, podemos ter aparelhagem para interior e para exterior; a
aparelhagem exterior pode estar ao ar livre ou enterrada; podem ainda
estar ou não em locais sujeitos a riscos de explosão, de incêndio, húmidos,
molhados, poeirentos, de ambiente corrosivo, etc.
Todos estes fatores devem ser tidos em conta aquando da elaboração e
execução do projeto a realizar.
Na verdade, uma instalação elétrica será tão mais completa, eficiente e
fiável quanto mais funções puder desempenhar e simultaneamente mais
elevado for o grau e o número de caraterísticas de proteção dos elementos
constituintes. Se assim for, garantir-se-á maior comodidade na sua
utilização e também maior duração da mesma.
Para garantir maior eficiência e segurança na instalação, a sua
construção deve obedecer a alguns requisitos, nomeadamente:
1. Conceções (formas) simples;
2. Funcionamento seguro;
3. Adequados índices IP e IK, de acordo com as influências externas;
4. Boa fiabilidade (garantia de que o material está em boas condições).
Além destes requisitos gerais, outras caraterísticas específicas devem ser
ainda exigidas, aparelho a aparelho. O preço da aparelhagem varia
normalmente inversamente com a qualidade, isto é, melhor qualidade,
normalmente (mas nem sempre, felizmente) paga-se mais caro. Com efeito,
aparelhagem mais cuidada, com maior garantia, exige sempre maior
dispêndio de mão de obra e também material de qualidade superior.
Com o objetivo de garantir a máxima qualidade da aparelhagem fabricada,
tornou-se obrigatório a partir de 1 de janeiro de 1997, a aposição da marca
CE em todo o equipamento colocado no mercado nacional e dos restantes
países de Comunidade Europeia.
1.2 Caraterísticas da aparelhagem. Índices de proteção
Durante o seu funcionamento, a aparelhagem está submetida às mais
diversas provas, consoante a função que desempenha, o tipo de instalação,
caraterísticas da instalação, influências externas do local, etc.
Obviamente que serão estes os fatores a condicionar a qualidade da
aparelhagem a fabricar.
Por forma a podermos adaptar à nossa instalação o material mais
adequado, o fabricante indica normalmente algumas das seguintes
grandezas e caraterísticas elétricas da aparelhagem:
1. Intensidade estipulada;
2. Tensão estipulada;
3. Índices de proteção IP e IK;
4. Natureza da corrente;
5. Poder de corte;
6. Número de polos (unipolar, bipolar, tripolar, etc.), etc.
As grandezas estipuladas (tensão estipulada, intensidade estipulada,
potência estipulada, etc.) são os valores que serviram de base ao
dimensionamento e fabrico dos aparelhos e que estes suportam
permanentemente sem deterioração ou atuação (no caso dos órgãos de
proteção). Obviamente que se pretende que estas grandezas sejam inferiores
aos valores nominais da rede a que vão ser ligados.
O poder de corte de um aparelho é a máxima intensidade que esse
aparelho é capaz de interromper, sem a destruição dos seus elementos
constituintes.
Outro dos dados técnicos normalmente fornecido pelos fabricantes diz
respeito ao número de polos (contactos) dos seus aparelhos. Um aparelho
bipolar tem dois polos, isto é, permite a ligação (e interrupção) de dois
condutores distintos, por exemplo: fase e neutro; duas fases diferentes;
condutor positivo e condutor negativo, etc.
Conforme foi já referido, todo o equipamento elétrico está sujeito às
condições locais da instalação elétrica, isto é, às influências externas do
local. Os códigos IP e IK dos invólucros de cada equipamento (ler pontos
8 e 9) devem, por isso, estar de acordo com as classificações obtidas para
cada local, quanto às influências externas. Nos Quadros 13 e 15, estão
representados os índices IP e IK correspondentes às influências externas
respetivas.
1.3 Aparelhos de ligação
Aparelho de ligação é o aparelho destinado a garantir a continuidade
entre dois ou mais sistemas condutores (condutores, elementos condutores,
equipamentos elétricos, aparelhagem, etc.). Qualquer ponto de ligação num
circuito elétrico é, por isso, um potencial ponto fraco da instalação, em
virtude de a mesma poder desfazer-se acidentalmente, para além de que
há sempre perdas por efeito de Joule e quedas de tensão (mínimas) nos
pontos de ligação.
Como aparelhos mais comuns de ligação temos:
• Fichas e tomadas;
• Blocos de junção;
• Terminais de ligação;
• Pentes de ligação;
• Barramentos;
• Caixas de junção;
• Placas de terminais;
• Caixas de derivação e de coluna;
• Coroas de bornes;
• Ligadores de aperto automático ou ligadores rápidos;
• Ligadores de torção, etc.
A diversa aparelhagem de ligação, como aliás toda a aparelhagem, pode
ser destinada a utilizar no interior ou no exterior, à vista ou embebida.
Todos os dispositivos de ligação devem cumprir a norma NP EN 60 998 e
satisfazer as condições gerais indicadas no Quadro 45. O aperto mecânico
dos condutores pode ser feito por parafuso, por porca, por anilha, por
mola de pressão ou por aperto automático (rápido).

Todas as instalações elétricas de utilização ou coletivas, em baixa tensão,


devem ter o condutor de proteção em todos os seus circuitos. Por essa
razão, as fichas e as tomadas devem ter o terminal respetivo para ligar ao
condutor de proteção.
As fichas são, por isso, constituídas por três ou quatro contactos
elétricos, sendo um o de terra, e seu invólucro isolante, e destinam-se
normalmente a ligar uma canalização amovível a uma fixa, ou duas
amovíveis entre si. As fichas, monofásicas ou trifásicas, são fabricadas
segundo normas específicas, para diversas intensidades e tensões
estipuladas, sendo as mais vulgares: 6 A, 10 A, 16 A/230 V.
Na figura estão representados diferentes tipos de fichas, conforme as suas
funções e locais a instalar.

As tomadas, por seu lado, são constituídas por dois, três ou quatro
alvéolos, mais o contacto de terra, com o seu invólucro isolante, e
destinam-se também a ligar canalizações fixas a amovíveis ou
canalizações amovíveis entre si. As tomadas devem ser «tomadas com
obturador», até 16 A; a partir de 16 A, podem utilizar-se tomadas com
tampa. Estas tomadas têm os alvéolos protegidos, só abrindo quando são
introduzidos, simultaneamente, os dois contactos da ficha.

Tal como as fichas, as tomadas destinam-se a circuitos monofásicos ou


trifásicos com o contacto de terra respetivo. As tomadas podem ser
normais, estanques, blindadas e antideflagrantes. São também fabricadas
para diversas intensidades nominais, em monofásico ou trifásico.
As tomadas e as fichas devem ter os seus contactos com dimensões e
disposições tais que, em regra, apenas seja possível ligar entre si tomadas
e fichas com o mesmo número de contactos e as mesmas intensidades e
tensões estipuladas. A secção dos terminais das fichas é proporcional à sua
corrente estipulada. No Quadro 46, apresentam-se as condições gerais de
instalação e uso de tomadas e fichas.

As caixas de derivação e de coluna permitem fazer a derivação de


circuitos. As caixas de derivação são utilizadas nas instalações de
utilização; as caixas de coluna são utilizadas nas instalações coletivas dos
edifícios. Conforme a função e local ambiental, assim será o tipo de caixa
a utilizar. Existem caixas com invólucro em plástico e caixas metálicas,
com diferentes funções mecânicas.
As ligações propriamente ditas são feitas dentro das caixas com a ajuda de
alguns acessórios de ligação, de entre os quais destacamos as «coroas de
bornes» e as junções.
Na figura 22 estão representados alguns modelos de caixas, bem como os
acessórios descritos. A coroa de bornes revela-se mais segura do que os
restantes ligadores.
Nas caixas de derivação, em cada terminal não devem ser apertados mais
do que quatro condutores de secção ≤ 4 mm2 ou mais do que dois
condutores se a secção for superior a 4 mm2. Os condutores, dentro das
caixas, devem ter pontas não inferiores a 10 cm, para se poderem arrumar
adequadamente e permitir eventuais cortes futuros.
1.4 Aparelhos de comando e de seccionamento
Os aparelhos de comando têm como função principal modificar o estado
de funcionamento de um circuito elétrico ou de uma instalação elétrica.
São aparelhos em que a ação de comando pode ser feita elétrica ou
mecanicamente, manual ou automaticamente. São exemplos de aparelhos
de comando: o interruptor, o comutador, o telerruptor, o automático de
escada e o contactor.
Como aparelhos de seccionamento, temos o seccionador. O
seccionador é um aparelho mecânico de conexão que, na posição de
aberto, permite efetuar a manutenção, a verificação, a localização dos
defeitos e as reparações dos circuitos e da instalação elétrica.
O seccionador é um aparelho sem poder de corte, isto é, não pode
desligar um circuito elétrico ou uma instalação elétrica em carga. Este
aparelho só funciona, por isso, em vazio, isto é, depois de desligadas as
cargas ao circuito ou depois de interrompida a sua alimentação por um
disjuntor.
Contrariamente ao disjuntor e ao interruptor, este aparelho, por não ter
poder de corte, não pode cortar em carga. Os seccionadores são muito
utilizados em redes de distribuição em média e alta tensão, para isolar
troços de canalizações, cabos, linhas e redes a serem reparados ou
vistoriados; deste modo, garante-se que esses troços não ficam sob tensão
quando se trabalha no troço que está sob observação. Em baixa tensão,
são utilizados por exemplo em automatismos industriais, associados a
fusíveis, constituindo os seccionadores-fusíveis.
Os aparelhos de comando e de seccionamento (bem como os de proteção)
podem ter vários polos (contactos elétricos), isto é, podem ser: unipolares,
bipolares, tripolares e tetrapolares.
A posição de desligado dos aparelhos de comando e de seccionamento
(bem como os de proteção), deve ser tal que nunca possam ligar,
acidentalmente, por ação da força de gravidade.
Note-se que a generalidade destes aparelhos, quando desligados, tem o seu
manípulo voltado para baixo; na posição de ligado tem o manípulo para
cima.
O objetivo é sempre o de evitar que o circuito ligue acidentalmente
quando pode constituir perigo para o utilizador ou para a instalação
respetiva.
Interruptor é um aparelho mecânico de conexão capaz de estabelecer, de
suportar e de interromper correntes nas condições normais do circuito,
incluindo, eventualmente, as condições especificadas de sobrecarga em
serviço. Este aparelho é ainda capaz de suportar, num tempo especificado,
correntes nas condições anormais especificadas para o circuito, tais como
as resultantes de um curto-circuito.
Um interruptor pode ser capaz de estabelecer (ligar) correntes de curto-
circuito, mas não de as interromper (cortar); portanto, diz-se que não tem
poder de corte. O interruptor é, portanto, um aparelho de corte em
carga, enquanto o seccionador é um aparelho de corte em vazio.
Existe uma grande variedade de interruptores: de facas, de manípulo,
rotativo, basculante, eletrónico, temporizado, comando à distância,
etc. Vejamos os principais interruptores utilizados em circuitos de baixa
tensão.
1. Interruptor de facas – Pouco usado atualmente. O comando é feito
por ação sobre um manípulo, o qual atua diretamente nas facas que
fazem ou desfazem os contactos elétricos, com a ajuda de umas segundas
facas auxiliares que permitem um corte brusco por ação de molas. É
utilizado particularmente quando as cargas são muito indutivas, efetuando
um corte muito rápido, protegendo a instalação.
2. Interruptor de manípulo – Os contactos são feitos e desfeitos, por
ação sobre um manípulo com duas posições: ligado e desligado (ou O e
I), conforme a figura. Os contactos são normalmente pequenas pastilhas de
cobre, prata, latão, etc. Fabricam-se interruptores unipolares e multipolares,
cortando um só condutor ou vários condutores. São muito utilizados nos
Quadros Elétricos e nas bancadas de trabalho.

3. Interruptor rotativo – A ação sobre os contactos é feita por


comutador rotativo.
4. Interruptor basculante – São os mais vulgarmente utilizados nas
instalações de utilização domésticas. O comutador, ao bascular entre duas
posições, permite fechar ou abrir o circuito.
Além destes tipos referidos, muitos outros há, como por exemplo:
interruptores de pressão, interruptores tipo tic-tac, interruptores tipo
«pera», interruptores de passagem, interruptores de fim de curso,
microinterruptores, etc. Na figura 24, apresentamos alguns destes tipos.
Os comutadores são aparelhos que permitem modificar sucessivamente as
ligações de um ou vários circuitos; permitem ligar sucessivamente um ou
vários conjuntos de lâmpadas ou outros recetores; permitem ligar
sucessivamente diversos setores de uma instalação ou vários motores.
De entre os comutadores mais vulgarizados temos os comutadores: de
escada, de quarto ou vaivém, de lustre e o comutador estrela-triângulo.
O comutador de escada permite ligar uma ou várias lâmpadas num
local e apagá-las noutro. Pode ser simples ou duplo, conforme acende uma
lâmpada (ou um conjunto de lâmpadas) ou acende duas lâmpadas (ou
dois conjuntos de lâmpadas) e as apaga noutro local.

O funcionamento da comutação de quarto é semelhante ao da


comutação de escada.
O comutador de lustre permite acender e apagar no mesmo local várias
lâmpadas ou conjuntos de lâmpadas, uma a uma ou por setores.
O comutador estrela-triângulo permite o arranque de motores, em duas
etapas, para reduzir as correntes de arranque.
Existem outros aparelhos de comando automático, como o contactor, o
telerruptor, o automático de escada, etc., que têm, relativamente ao
interruptor, as seguintes vantagens:
1. permitem o estabelecimento de circuitos, com funcionamento automático
em condições pré-determinadas;
2. permitem fazer simultaneamente comandos locais e à distância;
3. permitem fazer o comando de vários locais;
4. permitem fazer o comando de grandes potências, com consumo
reduzido e utilizando tensões baixas nos órgãos de comando.
O comando pode ser efetuado por 3 tipos diferentes de tecnologias: a
eletromecânica, a pneumática e a eletrónica. Vamos referir apenas a
eletrónica e um pouco a pneumática. De entre os aparelhos de comando
mais vulgares temos: o contactor, o telerruptor e o automático de
escada.
Os diversos aparelhos de comando têm como elementos comuns:
• O órgão motor – normalmente um eletroíman, do tipo núcleo móvel ou
armadura móvel, que aciona os contactos principais do circuito;
• Os contactos principais – que estabelecem a ligação e o corte dos
circuitos; são normalmente em cobre ou prata.
Nestes aparelhos, bem como nos aparelhos de proteção, põe-se com grande
acuidade o problema da extinção do arco elétrico, já que as correntes do
circuito a interromper podem atingir dezenas ou centenas de amperes.
Normalmente, nos aparelhos de comando com pequenos calibres, a
extinção do arco elétrico é feita naturalmente por alongamento do arco no
ar. Em aparelhos de maior calibre, e particularmente em contactores,
utiliza-se a técnica do sopro magnético, que permite um corte mais rápido
e eficiente.
O contactor é um aparelho mecânico de comando automático, concebido
para executar um elevado número de manobras, muito utilizado em
automatismos industriais, constituído essencialmente por:
• órgão motor;
• contactos principais ou de potência;
• contactos auxiliares ou de comando.
Além destes componentes, tem ainda outros: bobina de sopro magnético,
câmaras de extinção, molas de retenção, etc. O órgão motor pode ser um
eletroíman (contactor eletromecânico) ou um elemento acionado a ar
comprimido (pneumático). Além destes temos ainda dispositivos de
comando eletrónico. Aqui vamos estudar apenas o comando
eletromecânico.
O eletroíman destes contactores, alimentado normalmente em baixa tensão
ou em tensão reduzida, pode ser alimentado quer em corrente contínua
quer em corrente alternada. De entre os contactores eletromecânicos, temos
como principais: o contactor de rotação e o contactor de translação.
Na figura está representado um contactor de rotação, em corte, com os
diversos elementos constituintes.
Os telerruptores são aparelhos biestáveis, isto é, têm dois estados que
devem ser modificados por novas ordens dadas. São utilizados para ligar
ou desligar lâmpadas, máquinas elétricas ou outros recetores, normalmente
localizados em posições pouco acessíveis (exemplo: eletrobombas).
Funcionam como interruptores à distância, consumindo pouca energia,
pois são instalados em circuitos auxiliares do circuito principal.
Logo que a bobina 1 é alimentada, a armadura móvel 2 aciona a lingueta
3 que faz bascular a «came» 5 que permite a inversão do contacto 6. No
impulso seguinte será o dente seguinte da «came» que fará inverter
novamente o contacto 6, voltando à posição inicial.
Em cima, representa-se esquematicamente o comando de duas lâmpadas
através de telerruptor, por dois botões de pressão, colocados a uma certa
distância dos recetores.
Carregando em S1 ou S2, o telerruptor K fecha o contacto K1 acendendo
as lâmpadas. Voltando a carregar em S1 ou S2, o telerruptor K faz abrir
agora o contacto K1 , apagando as lâmpadas.
O automático de escada é usado para comando de iluminação de
escadas dos prédios, permitindo que as lâmpadas fiquem acesas durante
um período predeterminado, ao fim do qual se apagam.
Conforme é sugerido na figura 28, este aparelho tem um interruptor de
mercúrio com terminais A, B e C e dois interruptores vulgares F e G.
Estando F fechado, ao premir um dos botões de pressão (S), a corrente
circula na bobina, dado que no interruptor de mercúrio os contactos B e C
estão ligados pelo mercúrio. Entretanto, o núcleo é repelido pela bobina e
sobe, fazendo bascular o interruptor para a esquerda. Assim fica
estabelecida a ligação entre os terminais A e B pelo que as lâmpadas se
acendem.
Quando se larga o botão, o interruptor de mercúrio tende a voltar à
posição inicial, demorando um certo tempo, isto é, as lâmpadas L apenas
se mantêm acesas durante esse período de tempo.
Esta temporização é feita pelo êmbolo que se desloca no cilindro D. Neste,
existe uma abertura E que, quanto maior for, mais rapidamente se escoa o
ar impelido pelo êmbolo em movimento ascendente. Podemos deste modo
regular o tempo durante o qual as lâmpadas devem estar acesas, por
regulação da abertura. O interruptor F é um interruptor geral para
desligar o circuito durante o dia, em caso de necessidade ou para poupar
energia. O interruptor G serve para manter a luz acesa permanentemente,
quando necessário.
1.5 Aparelhos de proteção
1.5.1 Tipos de defeitos ou anomalias
Os aparelhos de proteção têm como função proteger todos os elementos
constituintes de um circuito elétrico ou de uma instalação elétrica contra
os diferentes tipos de defeitos, avarias ou anomalias que podem ocorrer.
Os principais tipos de defeitos e anomalias que podem ocorrer num
circuito são:
1. Sobrecargas
2. Curtos-circuitos
3. Correntes de fuga
4. Sobretensões
5. Faltas de tensão
6. Subtensões
À luz das RTIEBT, todas as ocorrências indicadas acima são considerados
defeitos, à exceção da sobrecarga, que é uma ocorrência anómala do
circuito. Ao conjunto das sobrecargas e curtos-circuitos é usual chamar-se
de sobreintensidades, visto em ambos os casos ultrapassarem as
correntes estipuladas (valores nominais) dos aparelhos.
As RTIEBT definem sobreintensidade como uma corrente de valor superior
ao da corrente estipulada dos aparelhos de proteção instalados. Qualquer
das ocorrências referidas (sobrecargas e curtos-circuitos) correspondem a
regimes anormais de funcionamento; como tal, há que evitá-los ou reduzir
os seus efeitos.
As RTIEBT definem sobrecarga como uma sobreintensidade que ocorre
num circuito, na ausência de um defeito elétrico. Ocorre uma
sobrecarga num motor quando, por exemplo, se exerce sobre o veio do
motor um esforço superior ao nominal, o que obriga o motor a «pedir» à
rede um excesso de corrente. Ocorre uma sobrecarga numa canalização
elétrica quando estão ligados a essa canalização simultaneamente diversos
recetores cuja intensidade total pedida excede o valor da intensidade
máxima admissível pela canalização.
Um curto-circuito é uma sobreintensidade resultante de um defeito de
impedância desprezável entre condutores ativos que apresentam, em
serviço normal, uma diferença de potencial. Um curto-circuito ocorre
quando há, por defeito, uma ligação direta entre fase e o neutro, entre
duas fases ou entre o positivo e o negativo, o que implica uma subida
exagerada da intensidade de corrente no circuito.
As correntes de fuga são correntes que saem dos condutores ativos (fases
e neutro), percorrendo os invólucros condutores dos equipamentos, sendo
conduzidas para a terra pelos condutores de proteção. Estas correntes
originam tensões de contacto Uc entre o invólucro dos equipamentos e a
terra, bem como tensões de passo Up entre o elétrodo de terra e os
pontos à sua volta à distância de um passo humano. Qualquer destas
duas tensões pode ser perigosa para quem ficar sujeito a elas, desde que
os valores respetivos ultrapassem determinados valores limite.
As sobretensões (excesso de tensão) podem ser de origem externa
(descargas atmosféricas nas linhas) ou de origem interna (falsas manobras,
deficiências de isolamento com linhas de tensão mais elevada, etc.). As
sobretensões são geralmente bruscas e podem danificar a aparelhagem
elétrica, particularmente a de informática e de eletrónica.
Quanto às subtensões (abaixamento da tensão), acontecem por diversos
motivos: por excesso de carga ligada, provocando quedas de tensão nas
linhas e cabos; por desequilíbrios acentuados na rede trifásica; por rotura
de uma das fases; por contactos à terra de uma fase.
A subtensão, embora não seja frequentemente perigosa, pode em certos
casos sê-lo. Por exemplo, no caso de um motor, se a tensão baixa, a
corrente tem tendência a subir de modo a manter o valor da potência que
a carga está a exigir ao motor (recorde que P = U I cos ϕ; se U desce,
então I vai subir, para manter constante a potência P que lhe está a ser
exigida, podendo o motor aquecer exageradamente.
Cada um dos defeitos ou anomalias referidos tem consequências diferentes
consoante o tipo de instalação e a sua finalidade. De notar, por exemplo,
que a falta de energia nas nossas casas não tem a mesma gravidade que
terá num hospital.
A proteção de canalizações contra sobrecargas ou curtos-circuitos só
deve ser feita nos condutores de fase. A proteção de motores contra
sobrecargas ou curtos-circuitos pode, ou não, cortar o neutro.
1.5.2 Proteção contra sobreintensidades
1.5.2.1 Aparelhos de proteção contra sobreintensidades
São dois os aparelhos de proteção contra sobreintensidades: o fusível (ou
corta-circuitos fusível) e o disjuntor magnetotérmico.
A – Fusíveis
Um corta-circuitos fusível é constituído por um fio condutor, dentro
de um invólucro. O fio condutor (normalmente de prata, cobre, chumbo,
estanho, cádmio, alumínio, zinco, níquel e ligas destes materiais) é
calibrado de forma a poder suportar, sem fundir, a intensidade para a
qual está calibrado e que tem o nome de intensidade estipulada In;
logo que a intensidade ultrapasse razoavelmente esse valor, ele deve
fundir tanto mais depressa quanto maior for o valor da intensidade. Os
materiais utilizados devem ter temperaturas de fusão entre 60 a 200 °C. A
figura 29 sugere um corta-circuitos fusível.
Cada fusível é caraterizado também pelo seu poder de corte. Poder de
corte de um fusível é o valor da corrente que o dispositivo de proteção é
capaz de cortar, a uma dada tensão especificada e em condições prescritas
de emprego e de funcionamento.

A figura 30 sugere, por seu lado, a relação intensidade – tempo de fusão


I(t) traduzida numa curva (média) a que se chama «curva caraterística»
do fusível. O fusível não funde para a sua intensidade estipulada In, mas
apenas para I > In. O fusível funde em B mais depressa do que em A,
visto que t0 < t1. Na verdade, o fusível não tem apenas uma curva, mas
duas curvas que delimitam a sua zona de funcionamento.
O ponto de funcionamento do fusível situar-se-á no interior, entre as
duas curvas. Quanto à rapidez de atuação, existem fundamentalmente
dois tipos de fusíveis: o fusível de ação lenta – tipo gG – e o fusível
de ação rápida – tipo aM. O fusível gG é utilizado geralmente na
proteção contra sobrecargas, embora também possa proteger o circuito
contra curtos-circuitos. O fusível aM é utilizado apenas na proteção
contra curtos-circuitos.
Como se sabe, os aparelhos de proteção devem proteger recetores e
canalizações porque estes têm uma temperatura máxima admissível a
partir da qual fica em risco a sua integridade. Isto é, recetores e
canalizações suportam excessos de corrente durante tempos tanto mais
curtos quanto mais elevados forem esses excessos.
Define-se corrente estipulada In de um fusível como o valor da corrente
para o qual o fusível não atua.
Para os fusíveis gG, definem-se ainda:
• Corrente convencional de funcionamento I2 como o valor de
corrente para o qual o fusível deve atuar durante o tempo convencional.
• Corrente convencional de não funcionamento Inf como o valor de
corrente para o qual o fusível deve atuar antes de expirar o tempo
convencional.
As correntes convencionais e os tempos convencionais são estabelecidos
pela norma EN 60269-2 e são aqui reproduzidos nos Quadros 47 e 48.
Qual o significado destes valores?
Por exemplo, um fusível com In = 10 A deverá suportar, sem fundir, uma
corrente de 15 A (1,5 × In) durante o tempo convencional que é 1 hora
(para fusíveis até 63 A) e, se for percorrido por uma corrente de 19 A
(1,9 × In), deverá fundir antes de expirar o tempo convencional de 1 hora.
Do Quadro 47, substituindo In pelos valores normalizados dos fusíveis,
obtemos o Quadro 49, já com os valores explicitados de In, Inf e I2.

Para os fusíveis aM, não são definidas correntes convencionais nem


tempos convencionais, visto que não protegem contra sobrecargas. O menor
valor que um fusível aM deve cortar é de 4 × In. Os valores usuais das
correntes estipuladas destes fusíveis são: 10 A, 16 A, 20 A, 25 A, 32 A, 40
A, 63 A, 80 A, 100 A, 125 A, etc.
Na figura 31 representamos aquilo a que se chama – «curva de fadiga
térmica» de uma canalização, juntamente com a «curva caraterística» de
um fusível.

O que se pretende é que o órgão de proteção atue bastante antes de a


canalização atingir qualquer ponto da sua curva de fadiga térmica. Por
exemplo, se A fosse o «ponto de funcionamento» do circuito, obviamente
que nem a canalização atingiria o seu ponto de fadiga térmica, nem o
fusível iria atuar. Só como nota final, repare-se que a fadiga térmica vai
depender do valor da temperatura atingida, e esta vai depender não só
do valor da intensidade como do tempo de exposição. Recorde-se que a
quantidade de calor libertada, responsável pelo aumento de
temperatura, é dada por Q = 0,24 RI2 t.
Quanto à constituição, existem diversos tipos de fusíveis: tipo rolo ou
rolha, tipo cartucho e tipo cilíndrico. Antigamente, utilizava-se muito o
fusível tipo Gardy, que ainda pode ser encontrado em instalações
elétricas mais antigas.
O fusível de rolo (cilíndrico) contém no seu interior o fio fusível que
faz contacto na parte superior com a tampa e na parte inferior com um
contacto metálico. A figura sugere os três elementos que irão formar um
só bloco. A tampa vai enroscar na peça (suporte) inferior, ficando o
fusível no interior do conjunto. Os condutores são ligados exteriormente,
por intermédio de parafusos de aperto.

Os fusíveis do tipo cartucho são constituídos por fios fusíveis, ligados


em paralelo, dentro de uma câmara constituída por um material isolante,
na qual se encontra areia de quartzo com o objetivo de favorecer a
extinção do arco elétrico, no caso de curto-circuito. Estes fusíveis têm
normalmente um elevado poder de corte.

O fusível tipo cilíndrico é muito usado em tensões reduzidas, mas


também baixa tensão e média tensão.
Em circuitos trifásicos ou monofásicos coloca-se um fusível por fase,
excluindo o condutor neutro.

B – Disjuntores magnetotérmicos
Disjuntor é, de acordo com as RTIEBT, o aparelho mecânico de conexão
capaz de estabelecer, de suportar e de interromper correntes nas condições
normais do circuito. Este aparelho é ainda capaz de estabelecer, de
suportar num tempo especificado e de interromper correntes em condições
anormais especificadas para o circuito, tais como as correntes de curto-
circuito.
Nota: Um disjuntor é, em regra, previsto para funcionar pouco
frequentemente, embora certos tipos de disjuntores sejam capazes de
manobras frequentes.
Na prática, um disjuntor não é mais do que um dispositivo constituído
por um detetor – o relé, por um órgão de disparo – o disparador, que
atua no interruptor e dotado ainda de meios convenientes para extinção
do arco elétrico. Assim, o relé deteta o defeito e dá ordem de atuação ao
disparador que atua diretamente no interruptor do circuito. Na
generalidade dos disjuntores de baixa tensão, o relé e o disparador
fundem-se num só. Nesse caso o relé-disparador atua diretamente sobre o
interruptor.
Do exposto, pode concluir-se que os relés tanto podem funcionar
integrados em disjuntores, como independentemente deles com as funções
mais variadas. Em qualquer dos casos, a função dele é sempre a de
«detetar» e dar ordens. São, por isso, dois aparelhos que podem ser
distintos.
Existem fundamentalmente dois tipos de disjuntores: o disjuntor
magnetotérmico e o disjuntor diferencial. O cérebro de qualquer deles
é sempre um relé. Assim, no disjuntor magnetotérmico, o cérebro é a
combinação de um relé eletromagnético e de um relé térmico. No caso do
disjuntor diferencial, o cérebro é um relé diferencial. O disjuntor
diferencial será estudado mais adiante.

Dada a sua importância, vamos analisar aqui o funcionamento do relé


térmico e o do relé eletromagnético, que fazem parte da constituição do
disjuntor magnetotérmico.
O relé térmico é constituído por duas lâminas metálicas diferentes,
portanto, de diferentes coeficientes de dilatação linear, soldadas
rigidamente, conforme se exemplifica na figura.
Quando a corrente, que percorre o enrolamento que a envolve, ultrapassa
o valor nominal (ou valor de regulação), a temperatura será suficiente
para encurvar a lâmina bimetálica, abrindo assim o circuito onde está
inserido em série.
O relé eletromagnético é constituído por um núcleo magnético com
uma armadura B que bascula em torno de um eixo (e) e fecha um ou
mais contactos (c) quando a força magnética, devida à excitação do
núcleo pela bobina A, é suficientemente intensa para vencer a ação
antagonista da mola m.
A partir do princípio de funcionamento destes dois relés, podemos
facilmente concluir qual o fim a que se destina cada um deles. Assim, o
relé térmico, devido à sua atuação em função do aquecimento na lâmina
bimetálica, tem uma atuação lenta, sendo tanto mais lenta quanto menor
for o excesso de corrente. Daí que seja utilizado na proteção de
canalizações e recetores, contra sobrecargas.
O relé eletromagnético, atuando por excitação do núcleo
ferromagnético provocada por um determinado valor de intensidade, será
praticamente instantâneo logo que esse valor seja ultrapassado. Daí que
seja utilizado na proteção de canalizações e recetores, contra curtos-
circuitos.
Existe uma grande variedade de relés que permitem que se efetue
previamente uma temporização, isto é, uma regulação do tempo de atraso
no funcionamento – são os relés temporizados. Nesse caso, o relé só
atua nas condições predeterminadas, ao fim do tempo de regulação.
Quanto ao relé diferencial, referi-lo-emos mais à frente, integrado no
disjuntor diferencial.
Ainda quanto ao disjuntor magnetotérmico, existem dois tipos
principais: disjuntor tipo industrial e disjuntor tipo doméstico.
O disjuntor tipo industrial obedece à norma CEI 60947 e tem
caraterísticas próprias para ser utilizado em zonas fabris, com influências
externas muito diversificadas, com as suas exigências próprias, onde
funcionam máquinas elétricas diversificadas, com arranques, acelerações,
paragens, etc. As suas caraterísticas principais são:
• Corrente estipulada In – sem limites de valor e com possibilidade de
regulação em muitos disjuntores.
• Tensão estipulada Un ≤ 1 000 V.
• Poder de corte – depende do valor da corrente estipulada
• Curva caraterística – definida pelo fabricante.
O disjuntor do tipo doméstico obedece à norma CEI 60898. As suas
caraterísticas principais são:
• Corrente estipulada In – limitada a 125 A e sem possibilidade de
regulação.
• Tensão estipulada Un ≤ 400 V.
• Poder de corte – depende do valor da corrente estipulada.
Os valores normalizados do poder de corte são: 1,5 kA, 3; 4,5; 6; 10; 15; 20;
25; 50 kA; etc.
A norma CEI 60898 especifica os limites de intensidade para os quais os
disjuntores residenciais devem disparar, em caso de curto-circuito, os
quais são:
• Curva B: 3 × In a 5 × In
• Curva C: 5 × In a 10 × In
• Curva D: 10 × In a 14 × In
Para disjuntores industriais, a norma IEC 947 define os seguintes
limites dos disjuntores:
• Curva B: 3,2 × In a 4,8 × In
• Curva C: 7 × In a 10 × In
• Curva D: 10 × In a 14 × In
Na figura 38 representam-se as curvas caraterísticas típicas de
disjuntores magnetotérmicos, com proteção contra sobrecargas e contra
curtos-circuitos. A proteção contra sobrecargas é feita pela curva de tempo
inverso (do térmico) que é comum às três curvas (B, C, D); a proteção
contra curtos-circuitos é feita quando a corrente atinge um valor situado
nos limites indicados acima. Evidentemente que cada disjuntor tem só
uma das curvas (B, C ou indicadas na figura, contra curtos-circuitos. As
curvas B, C e D têm as seguintes aplicações:
• Curva B – é utilizada na proteção das cargas mais favoráveis, como
cargas resistivas, aquecimento, etc.
• Curva C – é utilizada principalmente na proteção de tomadas de
corrente e iluminação fluorescente
• Curva D – é utilizada na proteção de cargas bastante indutivas, com
correntes de arranque elevadas (motores elétricos potentes, por exemplo),
transformadores, etc.
Tal como o fusível gG, também o disjuntor magnetotérmico é
caraterizado pelas grandezas In , Inf e I2, com as seguintes definições:
• Corrente estipulada In de um disjuntor é o valor da corrente para o
qual o disjuntor não atua.
• Corrente convencional de funcionamento I2 é o valor de corrente
para o qual o disjuntor deve atuar durante o tempo convencional.
• Corrente convencional de não funcionamento Inf é o valor de
corrente para o qual o disjuntor deve atuar antes de expirar o tempo
convencional.
Os valores de In , Inf e I2, bem como os tempos convencionais, são
indicados nos Quadros 50 e 51.
No Quadro 52, comparam-se as caraterísticas dos dois tipos de disjuntores
de baixa tensão – doméstico e industrial.

1.5.2.2 Proteção contra sobrecargas


A proteção contra sobrecargas de uma instalação elétrica (seja com
fusível ou com disjuntor magnetotérmico) estará assegurada se se
verificarem as seguintes condições:
A corrente estipulada do dispositivo de proteção (In) deve ser maior ou
igual à corrente de serviço da canalização respetiva (IB) e menor ou igual
à corrente máxima admissível na canalização (Iz):
IB ≤ In ≤ Iz
A corrente convencional de funcionamento do dispositivo de proteção (I2)
deve ser menor ou igual que 1,45 vezes a corrente máxima admissível (Iz):
I2 ≤ 1,45 × Iz
Na figura representa-se uma reta de carga com as relações entre as
correntes indicadas acima, com valores crescentes da esquerda para a
direita.

Exemplo de aplicação – Pretende-se dimensionar a corrente estipulada


de um disjuntor magnetotérmico, para proteger, contra sobrecargas, uma
canalização elétrica constituída por condutores H07V-U, com secções de
2,5 mm2, em tubo, que vai alimentar uma máquina de lavar. A máquina
de lavar tem uma corrente de serviço de 14,2 A.
Resolução:
1.ª condição: IB ≤ In ≤ Iz
1. Determinação de Iz: S = 2,5 mm2 ⇒ Iz = 19,5 A (por consulta do
Quadro 29 – Pág.55).
2. Escolha da corrente estipulada do disjuntor: A corrente estipulada deve
ser escolhida entre os valores normalizados – 6 A, 10 A, 16 A, 20 A, 25 A,
32 A, etc. e ser maior ou igual que IB = 14,2 A. Logo, a corrente
estipulada será de 16 A.
3. Verificação da 1.ª condição: IB ≤ In ≤ Iz ⇔ 14,2 A ≤ 16 A ≤ 19,5 A.
Confirma.
2.ª condição: I2 ≤ 1,45 × Iz
1. Determinação de I2: A corrente convencional de funcionamento do
disjuntor de 16A é I2 = 23 A, consultando o Quadro 51.
2. Verificação da 2.ª condição: I2 ≤ 1,45 × Iz ⇔ 23 A ≤ 1,45 × 18,5 A ⇔
23 A ≤ 28 A. Confirma.
Visto que são verificadas as duas condições regulamentares, então a
corrente estipulada de 16 A escolhida serve perfeitamente.
1.5.2.3 Proteção contra curtos-circuitos
A proteção contra curtos-circuitos das instalações é assegurada desde
que as caraterísticas dos aparelhos de proteção satisfaçam simultaneamente
as duas condições seguintes:
1. Regra do poder de corte – O poder de corte Pdc do aparelho de
proteção não deve ser inferior à corrente de curto-circuito máxima Icc,máx
presumida no ponto de localização:
Icc,máx ≤ Pdc
A corrente de curto-circuito Icc,máx presumida no local é calculada, em
função das caraterísticas da canalização, ou é fornecida pelo distribuidor
de energia.
2. Regra do tempo de corte – O tempo de corte t resultante de um
curto-circuito em qualquer ponto do circuito não deverá ser superior ao
tempo correspondente à elevação da temperatura do condutor ao seu valor
máximo admissível. Para curtos-circuitos de duração inferior ou igual a 5
s (cinco segundos) e > 0,1s, o tempo de atuação do aparelho é obtido
pela expressão:
em que: t – tempo de corte máximo do aparelho de proteção (s)
S – secção dos condutores da canalização (mm2)
Icc,mín – corrente de curto-circuito (mínima) no extremo, mais a jusante, da
canalização (A)
A constante K tem os seguintes valores:
115 – para os condutores de cobre isolados a policloreto de vinilo;
134 – para os condutores de cobre isolados a borracha para uso geral ou a
borracha butílica;
143 – para os condutores de cobre isolados a polietileno reticulado ou a
etileno-propileno;
76 – para os condutores de alumínio isolados a policloreto de vinilo; 89 –
para os condutores de alumínio isolados a borracha butílica;
94 – para os condutores de alumínio isolados a polietileno reticulado ou a
etileno-propileno.
Conforme vimos já em ponto anterior, a proteção contra curtos-circuitos
pode ser feita por fusível ou por disjuntor. Na figura 40 representa-se a
curva caraterística de um fusível e a curva de fadiga térmica da
canalização a proteger. Para Icc2 > Icc1, verifica-se que o tempo de fusão do
fusível (t2f) é inferior ao tempo t2c que a canalização pode suportar Icc2,
pelo que a canalização fica então protegida
Na figura 41 representa-se a curva caraterística de um disjuntor e a
curva de fadiga térmica da canalização a proteger. Para Icc > Ia, verifica-
se que o tempo de atuação do disjuntor (t1) é inferior ao tempo t2 que a
canalização pode suportar Ia, pelo que a canalização fica então protegida.

Exemplo de aplicação – Verifique se o disjuntor utilizado na proteção


contra sobrecargas da máquina de lavar do problema anterior também
protege a canalização contra curtos-circuitos, sabendo que a resistência
elétrica a montante do QE, a 20 °C, é de 0,04 Ω e o comprimento da
canalização que alimenta a máquina de lavar é de 12 m.
Resolução:
a) Cálculo do poder de corte do disjuntor
O cálculo da corrente de curto-circuito máxima exige que a resistência
elétrica de todas as canalizações seja feita à temperatura de 82,5 °C, pelo
que obtemos:

Os disjuntores a utilizar neste Quadro Elétrico devem ter, por isso, um


poder de corte superior a 4,6 kA, pelo que escolheríamos um disjuntor
com poder de corte normalizado de 6 kA. De acordo com as RTIEBT, este
disjuntor pode ter um poder de corte inferior desde que o aparelho de
proteção a montante proteja a canalização contra o excesso de corrente
diferencial.
b) Cálculo de Icc,mín e do tempo de corte
A corrente de curto-circuito mínima de uma canalização é a que se
verifica na extremidade mais a jusante dessa canalização, portanto, junto
ao recetor (neste caso, a máquina de lavar). É, por isso, necessário calcular
a impedância da canalização:

Quando se dá um curto-circuito, a corrente sobe muito, pelo que a


temperatura dos condutores também, fazendo aumentar a resistência
elétrica dos condutores. Por essa razão, é necessário calcular a nova
resistência elétrica dos condutores quando se dá o curto-circuito.
No cálculo de Icc,mín, considera-se a temperatura de 145 °C como valor a
utilizar nos condutores isolados a PVC; esta temperatura corresponde a
multiplicar a resistência elétrica, a 20 °C, por um fator de 1,5. Vejamos
porquê.
Zcanaliz,145 °C = Zcanaliz,,20 °C × [1 + α · (t2 – t1)] = 0,1728 × [1 + 0,004 × (145 –
20)] = 0,1728 × 1,5 = 0,2592 W
A impedância a montante do QE também deve ser corrigida para a
temperatura de 145 °C, obtendo-se:
Zm,145 °C = Zm,,20 °C × 1,5 = 0,04 × 1,5 = 0,06 W

Conclui-se que a canalização fica protegida contra curtos-circuitos, pois


temos: 0,1s < t < 5s.
Em qualquer dos casos, não era necessário verificar a regra do tempo de
corte, visto que o disjuntor já protegia o circuito contra sobrecargas e,
além disso, tínhamos escolhido um disjuntor com poder de corte superior
à corrente de curto-circuito máxima Icc,Max no ponto onde está instalado
(Quadro de Entrada).
A proteção simultânea contra sobrecargas e curtos-circuitos pode ser
feita de duas formas:
1. Utilizando apenas um disjuntor magnetotérmico.
2. Utilizando um combinado de fusível + disjuntor.
Em locais residenciais, comerciais, locais recebendo público, gabinetes,
escritórios, etc., utiliza-se geralmente o disjuntor magnetotérmico. Nas
zonas fabris onde há geralmente máquinas elétricas, utiliza-se geralmente
o combinado fusível (aM) + disjuntor industrial.
1.5.2.4 Seletividade e coordenação entre proteções contra
sobreintensidades
Quando, no mesmo Quadro Elétrico, existem aparelhos de proteção ligados
em cascata (série), como na situação em que existe um Quadro Elétrico
Geral e dois ou mais Quadros Parciais, conforme se representa na figura
42, é necessário garantir que há seletividade entre esses aparelhos
de proteção.
Diz-se que existe seletividade entre dois aparelhos de proteção quando,
no caso de uma sobreintensidade, atua apenas o aparelho de proteção
(fusível ou disjuntor) situado imediatamente a montante (para o lado da
alimentação) do ponto do circuito que originou a sobreintensidade. Por
exemplo, se se verificar um defeito no ponto A, deve atuar o disjuntor (ou
fusível, se fosse o caso) D3 e nunca D1. Se o defeito fosse em B, deveria
atuar apenas D4. Se o defeito fosse em C, deveria atuar D1, evidentemente

Se, no caso do defeito em A, atuassem D3 e D1, então diríamos que não


tinha havido seletividade.
Qual será então a principal vantagem da existência de seletividade?
Conforme se compreende facilmente, a existência de seletividade garante
que, no caso de defeito ou de sobrecarga, só fica fora de serviço
(desligada) a parte da instalação elétrica necessária e suficiente, ficando
operacional o restante da instalação, garantindo assim melhor Qualidade
de Serviço.
A seletividade entre aparelhos de proteção só pode ser garantida a 100%
por comparação entre as curvas caraterísticas dos aparelhos em causa,
sejam aparelhos de proteção contra sobrecargas ou contra curtos-circuitos.
Na prática, para garantir seletividade entre aparelhos de proteção do
mesmo tipo (dois fusíveis gG ou dois disjuntores magnetotérmicos),
geralmente é suficiente que o aparelho situado mais a montante, entre os
dois, tenha corrente estipulada pelo menos 1,6 vezes maior do que o
aparelho situado a jusante (para o lado da carga):
In1 ≥ 1,6 × In2
Quando é que existe coordenação?
Para além da seletividade, entre aparelhos do mesmo tipo, é necessário
garantir que existe coordenação entre o aparelho de proteção contra
sobrecargas e o aparelho de proteção contra curtos-circuitos, isto é, entre
aparelhos de tipo diferente. Existe coordenação entre estes dois aparelhos
se, no caso de uma sobrecarga, atua apenas o aparelho de proteção contra
sobrecargas e, no caso de curto-circuito elevado, atua apenas o aparelho
de proteção contra curtos-circuitos, tal como se representa na figura 43.
Quando, numa instalação, se utiliza fusível e disjuntor, o fusível deve
ser montado a montante relativamente ao disjuntor, de forma que o
fusível proteja também o disjuntor contra os efeitos de curtos-circuitos
muito violentos, superiores ao seu poder de corte. Com efeito, o poder de
corte dos disjuntores (valores mais usuais de 6 kA a 25 kA) é bastante
menor do que o dos fusíveis (Pdc ≥ 100 kA).
1.5.3 Proteção das pessoas contra choques elétricos
1.5.3.1 Contactos elétricos
Nas instalações elétricas devem ser previstas medidas de proteção com o
objetivo de proteger o utilizador relativamente aos perigos dos contactos
elétricos diretos e indiretos com os condutores ativos respetivos. No que
diz respeito à segurança das pessoas, devem, portanto, ser previstas
medidas de proteção contra:
• contactos diretos – contactos de pessoas e animais com as partes ativas
das instalações elétricas.
• contactos indiretos – contactos das pessoas e animais com massas que
fiquem acidentalmente em tensão em consequência de um defeito de
isolamento.
Existem, por isso, à luz das RTIEBT, medidas de proteção contra os
contactos diretos e medidas de proteção contra os contactos indiretos com
os condutores ativos. Vejamos então cada um dos conjuntos de medidas.
1.5.3.2 Medidas de proteção contra contactos diretos
As regras de segurança mais usuais, neste caso, consistem em evitar a
ocorrência de um contacto elétrico com os condutores e as partes ativas, a
que correspondem as seguintes medidas passivas:
a) Proteção por meio de barreiras ou de invólucros
b) Proteção por meio da colocação de obstáculos (ex: colocando portas
nos quadros elétricos).
c) Proteção por colocação fora de alcance (afastamento), isto é,
utilizando distâncias de segurança entre condutores diferentes e restante
aparelhagem (ex: nos Quadros elétricos, os barramentos estão
suficientemente afastados uns dos outros).
d) Proteção por uso de tensão reduzida de segurança – TRS (utilização
de tensões consideradas não perigosas: tensão não superior a 50 V, em c.a.,
ou não superior a 120 V, em c.c.).
1.5.3.3 Medidas de proteção contra contactos indiretos
Este é o tipo de contacto mais frequente e pode também ser o mais
perigoso pelo inesperado da situação.
Os contactos indiretos ocorrem quando há defeitos nas instalações ou nos
recetores, de tal forma que as massas (invólucros) ficam acidentalmente
sob tensão, podendo o utilizador apanhar um «choque elétrico» ao tocar
nas referidas massas.
Existem diferentes medidas (passivas ou ativas) que podem ser tomadas
para evitar os riscos de contactos indiretos. Vamos referir aqui apenas
algumas das mais importantes:
a) Proteção por corte automático da alimentação (aparelhos diferenciais);
b) Proteção por utilização de ligações equipotenciais;
c) Proteção por separação elétrica;
d) Proteção por utilização de equipamentos de classe II de isolamento ou
isolamento equivalente.
A proteção por separação elétrica consiste em os recetores serem
alimentados por um transformador de separação (conhecido por
transformador de isolamento) que isola o circuito secundário (que alimenta
o recetor) do circuito primário (alimentado pela rede). No caso de um
defeito de isolamento no recetor, não há qualquer perigo em tocar na
massa, visto que não existe circuito de defeito, isto é, o circuito não se
fecha pelo corpo humano, não havendo corrente pelo corpo do utilizador.
Os materiais de classe II de isolamento são materiais que possuem um
isolamento suplementar, para além do usualmente utilizado (classe pela
generalidade dos condutores.

As ligações equipotenciais consistem em ligar, através de condutores,


as diferentes massas que possam eventualmente ficar sob tensão e que
possam ser tocadas simultaneamente pelo utilizador; desta forma, as
massas interligadas ficam todas ao mesmo potencial elétrico, protegendo o
utilizador. Evidentemente que esta ligação só é feita quando as massas
estão suficientemente próximas e não podem ser afastadas de forma a não
as tocarmos simultaneamente.
A ligação, entre si, dos condutores de proteção dos diferentes recetores
elétricos de uma instalação de utilização, bem como a ligação destes ao
condutor de terra, são também ligações equipotenciais. Esta ligação
equipotencial deve ser feitas entre as massas nas casas de banho.
A proteção por corte automático da alimentação, por aparelho
diferencial, utilizada na generalidade das instalações elétricas, domésticas
ou não, está intimamente ligada à proteção por ligação equipotencial das
massas aos condutores de proteção e destes ao condutor de terra. O
aparelho diferencial só faz sentido se associado a um adequado sistema de
ligações à terra.
Conforme estudámos no início deste livro, existem fundamentalmente três
sistemas de ligação à terra: o sistema TT, o sistema TN e o sistema TI.
Aqui, vamos estudar apenas o sistema TT que é o mais utilizado em
Portugal.
No sistema TT, as massas dos recetores são ligadas aos condutores de
proteção respetivos e estes, por sua vez, são ligados ao condutor de terra
que liga à terra (designada de terra de proteção). Por outro lado, no
Posto de Transformação da zona, o neutro do secundário do
transformador é também ligado à terra (designada de terra de serviço).
No Quadro Elétrico da Instalação de Utilização respetiva é colocado um
dispositivo de corte automático (disjuntor diferencial ou interruptor
diferencial) para proteção do utilizador, sempre que há defeitos na
instalação, com correntes de fuga.
Deste modo, se houver um defeito qualquer num recetor que produza uma
corrente diferencial-residual Id, forma-se um circuito que se fecha pela
terra, passando pelo aparelho diferencial. O diferencial disparará ou não,
consoante o valor de Id e o valor da corrente diferencial-residual
estipulada (ou sensibilidade) IΔn do diferencial.
De acordo com as RTIEBT, as instalações elétricas deverão possuir
proteções contra contactos indiretos de forma a atuarem sempre que haja
correntes de defeito que originem as seguintes tensões de contacto Uc
máximas:
a) 25 V – Se a instalação ou circuito estiver colocada em locais de risco
elevado, como casas de banho, piscinas, locais frequentados por crianças e
locais com acesso ao público que exigem aparelhos diferenciais de alta
sensibilidade.
b) 50 V – Se a instalação ou circuito estiver colocada em todos os outros
locais, em que o risco é normal, exigindo aparelhos diferenciais de média
ou baixa sensibilidade.
Nestes dois casos, admitindo que o utilizador tem a pele húmida (ver
Quadro 54) e, portanto, com a resistência elétrica média do corpo
humano Rh = 2000 Ω (para Uc = 50V) e Rh = 2500 Ω (para Uc = 25 V),
teremos então as seguintes intensidades Ih a percorrerem o corpo humano:

Segundo as RTIEBT, o aparelho de proteção deve atuar tanto mais


rapidamente quanto maior for a tensão de contacto e com tempos de
atuação não superiores a 5s se Uc ≤ 50V.
O Quadro 53 apresenta os tempos de atuação do diferencial, em função
das tensões de contacto que forem originadas pela corrente de defeito.

Se houver um defeito, provocando uma corrente de fuga ou de defeito Id


> IΔn (sensibilidade do diferencial), então o diferencial dispara, cortando a
alimentação ao recetor.
Existem disjuntores e interruptores diferenciais com diferentes
sensibilidades:
• Baixa sensibilidade – IΔn = 1 A
• Média sensibilidade – IΔn = 100 mA, 300 mA e 500 mA
• Alta sensibilidade – IΔn = 6 mA, 12 mA e 30 mA
Os disjuntores de alta sensibilidade são os que melhor protegem o
utilizador contra os riscos dos contactos indiretos, mas também têm o
inconveniente de poderem disparar frequentemente quando há defeitos
passageiros ou quando há certos recetores que provocam correntes de fuga
frequentemente (caso dos equipamentos informáticos). Os disjuntores de
baixa sensibilidade são os que menos protegem o utilizador, mas também
não disparam com tanta frequência como os de muito alta sensibilidade.
1.5.3.4 Efeitos das correntes elétricas no corpo humano
Os efeitos provocados pela passagem da corrente elétrica pelo corpo
humano podem ser diversificados. Como se sabe, o corpo humano não é
homogéneo, e cada um de nós apresenta uma estrutura anatómica
diferente do outro. A pele é o tecido humano que apresenta maior
resistência elétrica, variando o seu valor de pessoa para pessoa. Mas a
mesma pele se estiver húmida já tem uma resistência elétrica muito menor
e se estiver molhada ainda será menor.
Por outro lado, os pontos de entrada e de saída da corrente, pelo corpo
humano, também são importantes, pois a resistência elétrica do corpo Rh
pode variar bastante com o trajeto da corrente. No Quadro apresentamos
alguns valores médios de Rh, de acordo com a publicação «Proteccion
contre les chocs electriques – Septembre 1977».
Não havendo valores fixos para Rh, podemos dizer que Rh pode variar
entre 500 Ω e 50000 Ω, nos casos limites, mais desfavoráveis e favoráveis,
respetivamente.
Sendo assim, admitindo que há um defeito num recetor que provoca
uma tensão de contacto Uc = 50 V, por exemplo, obtemos as seguintes
intensidades de corrente extremas percorrendo o corpo humano num
contacto indireto:

Isto é, para um mesmo defeito (mesmo Id e mesma Uc), a corrente que


percorre o corpo humano pode variar entre 1 mA (sem perigo) a 100 mA
(que pode ser mortal).
Suponha agora que houve um contacto direto com a tensão de uma
tomada de 230 V. A intensidade que iria percorrer o corpo humano,
admitindo os mesmos valores de Rh seriam:

Concluímos portanto que uma dada tensão pode ter efeitos muito
negativos numa pessoa e nulos noutra e que o contacto direto é,
obviamente, mais perigoso do que o contacto indireto. Mas vejamos então
quais os principais efeitos da passagem da corrente elétrica pelo corpo
humano, bem como os valores das intensidades de corrente que provocam
cada um dos efeitos e quais os limiares de corrente e de tensão perigosos
para o homem.
Os efeitos possíveis da corrente elétrica no homem, por ordem
crescente de perigosidade, são os seguintes:
1. Contração muscular, fraca ou média.
2. Sensação de tetanização (contração muscular forte).
3. Perda de conhecimento.
4. Paralisia do cérebro.
5. Paralisia dos diferentes órgãos.
6. Decomposição do sangue.
7. Aumento da temperatura do corpo.
8. Queimaduras nos pontos de contacto.
9. Contração muscular dolorosa e fibrilação ventricular.
10. Perda da capacidade mental e da sensibilidade.
11. Incapacidade total.
12. Morte.
Os efeitos de 1 a 7 não provocam a morte, enquanto os seguintes podem
provocar a morte se a vítima não for prontamente socorrida.
Ao longo dos anos, têm sido estudados os efeitos fisiológicos da corrente
elétrica em milhares de acidentados e também em experiências feitas com
diferentes animais, o que permitiu obter valores médios das correntes que
apresentam os efeitos indicados no Quadro 55. Os valores apresentados
não são, portanto, valores universais, podendo variar com fatores diversos.

Pode dizer-se, no entanto, que a corrente elétrica, que percorre o corpo


humano, começa a tornar-se perigosa, mas não mortal, a partir de 25 a
30 mA. É comum dizer-se que não é a tensão que é perigosa, mas sim a
corrente que percorre o corpo, pois a mesma tensão pode ser aplicada a
diferentes pessoas com diferentes resistências elétricas Rh, com efeitos
diferentes, conforme vimos.
No entanto, verificou-se já em experiências diversas que a resistência
elétrica do corpo humano também varia com a tensão aplicada, pelo que
se conclui que não é só a corrente que é importante considerar.
Além da intensidade de corrente e da tensão, também é importante
considerar o tempo t durante o qual a corrente passa no corpo humano.
Na verdade, aquilo que é mais perigoso é a quantidade de eletricidade
Q que passa no corpo humano, isto é, o produto da intensidade de
corrente pelo tempo de exposição a essa mesma corrente: Q = I × t. Daí a
importância dada à atuação rápida dos aparelhos de proteção.
A tetanização é uma contração dos músculos provocada pela passagem
da corrente elétrica, de tal forma que o acidentado fica impossibilitado de
voltar a distendê-los. Esta contração pode dar-se em qualquer dos
músculos do corpo: mãos, pernas, músculos cardíacos, músculos
pulmonares, etc. Quando isso acontece, o acidentado deve ser socorrido,
conforme veremos mais adiante.
A fibrilação ventricular consiste no funcionamento descompassado do
coração, perdendo a capacidade de bombear o sangue e podendo originar
a morte se a fibrilação durar o tempo suficiente.
Conforme vimos, os efeitos fisiológicos da corrente elétrica são diversos.
Nenhum de nós gosta de apanhar um «choque elétrico» por mais pequeno
que seja (um simples formigueiro nas mãos, por exemplo), visto que não
estamos à espera e nunca sabemos, à partida, qual a consequência. A
intensidade que irá percorrer o corpo dependerá da tensão de contacto Uc
e da resistência do corpo Rh, e o valor desta dependerá de vários
fatores, nomeadamente: os pontos de contacto, o trajeto da corrente, o tipo
de corrente (c.c. ou c.a.), a frequência, o estado de saúde da pessoa, a
humidade do corpo, se está calçado ou não e tipo de calçado, o tipo de
contacto (mão fechada sobre o condutor ou contacto superficial), etc.
O ideal é mesmo tomar todas precauções para os evitar, observando todas
as regras de segurança e de boa prática elétrica, nunca facilitando.
1.5.3.5 Funcionamento do disjuntor e interruptor, diferenciais
Existem dois tipos de aparelhos diferenciais: o interruptor diferencial
(ID) e o disjuntor diferencial (DD ou DDR – disjuntor diferencial
residual). O interruptor diferencial tem apenas uma proteção diferencial,
contra as correntes de fuga, enquanto o disjuntor diferencial tem, para
além da proteção diferencial, uma proteção magnetotérmica, isto é, contra
sobrecargas e curtos-circuitos. Portanto o disjuntor é mais completo,
protegendo simultaneamente contra sobreintensidades e contra choques
elétricos, sendo o interruptor utilizado quando as outras proteções (contra
sobrecargas e curtos-circuitos) já estão previstas por outros órgãos de
proteção.
Fabricam-se aparelhos diferenciais para instalações monofásicas e para
instalações trifásicas.
O princípio de funcionamento do aparelho diferencial monofásico baseia-
se na comparação entre a corrente na fase e a corrente no neutro,
atuando quando a diferença entre elas excede um dado valor, indicando
que há defeito no circuito e que esse defeito pode ser perigoso. Com efeito,
nem todas as correntes de fuga são perigosas, pois podem originar tensões
de contacto inferiores aos valores limites de 25 V ou de 50 V, consoante o
tipo de local da canalização e, nessa situação, o diferencial não deverá
disparar.

A figura 50 representa o princípio de funcionamento de um aparelho


diferencial monofásico, bem como o respetivo disjuntor. Se o circuito
estiver em perfeitas condições, a corrente na fase, IF, é igual à corrente no
neutro IN. Como as bobinas são iguais, a excitação do núcleo será nula e
portanto nada acontece. Se houver uma fuga de corrente, por defeito, por
exemplo no ponto A, então teremos IF ≠ IN . Se IF – IN > Ir (intensidade
de regulação do diferencial), então a excitação do núcleo será diferente de
zero, pois ΦF ≠ FN, e nesse caso o fluxo na bobina de deteção excita-a,
provocando a ação do relé sobre o disparador que desliga o interruptor do
circuito.
Na figura 51 está representado o princípio de funcionamento do
aparelho diferencial trifásico. Neste caso, as três fases e o neutro
passam por dentro do núcleo ferromagnético. Se não houver qualquer
defeito, a soma vetorial das correntes nas fases e no neutro será zero, o
que quer dizer que o fluxo resultante também será zero. Deste modo, não
haverá qualquer ação sobre o disparador e sobre o interruptor.
Logo que haja uma fuga de corrente (Id), o sistema trifásico de correntes
fica desequilibrado, passa a haver um fluxo no núcleo que, aplicado à
bobina do disparador, faz desligar o interruptor, se Id > Ir (intensidade de
regulação). T é um botão de teste para verificar se o disjuntor está em
boas condições, atuando ao provocarmos uma corrente de defeito quando
pressionamos o botão.

Em conclusão, ao cortar a alimentação quando há correntes de fuga, o


aparelho diferencial protege o utilizador que manuseie recetores onde
ocorram correntes de fuga. Na figura 53 apresenta-se um fluxograma que
permite determinar qual o tipo de defeito que está na origem do disparo
de um aparelho de proteção do Quadro Elétrico.

1.5.3.6 Seletividade entre aparelhos diferenciais


Quando, num Quadro Elétrico, existem vários diferenciais (disjuntores ou
interruptores), ligados em cascata (em série), é necessário garantir a
seletividade entre eles. Tal como na proteção contra sobreintensidades,
também aqui, na proteção contra correntes diferenciais-residuais, a
seletividade é feita comparando as curvas de atuação dos respetivos
diferenciais.
Para que haja uma seletividade total, a curva de atuação ou a zona de
funcionamento do diferencial situado mais a montante deve estar acima
da curva de atuação ou da zona de funcionamento do diferencial situado
a jusante, tal como se representa na figura 54, entre os diferenciais A e B.

No entanto, na prática, pode ser garantida seletividade entre dois


diferenciais ligados em cascata, sem necessidade de comparar curvas,
desde que se verifique a seguinte relação:
IΔnB ≥ 3 × IΔnA
1.5.3.7 Sistema de terra de proteção
O sistema de terra das instalações elétricas é constituído basicamente
pelos seguintes componentes:
• Elétrodo de terra ou sistema de elétrodos de terra;
• Condutores de terra;
• Terminal principal de terra;
• Condutores de proteção;
• Ligações equipotenciais.
Na figura 55 representa-se um sistema de terra de proteção, com os
diferentes componentes.
A – Elétrodos de terra
Os elétrodos de terra são elementos condutores enterrados no solo de
forma tão profunda quanto possível. De acordo com as RTIEBT, os
elétrodos de terra devem ser colocados a uma profundidade mínima de
80 cm. Os elétrodos de terra podem ter dimensões, constituições e formas
geométricas diferentes, nomeadamente: quanto ao material – podem ser
em cobre, em aço galvanizado, em aço revestido a cobre; quanto à forma
– podem ser cabos nus, cabos isolados, chapas, varetas, tubos, perfilados,
etc.
No Quadro 56 apresentam-se alguns tipos de elétrodos e suas dimensões
mínimas.
Os elétrodos de terra podem ser colocados horizontal ou verticalmente e
podem ser: um elétrodo simples, vários elétrodos ligados em paralelo ou
uma malha de condutores ligados entre si e enterrados em todo o
perímetro das fundações do edifício respetivo.
B – Cálculo da resistência de terra
A resistência do elétrodo de terra Rt deve ser o mais reduzida
possível, de forma que a corrente de defeito se escoe o mais facilmente
possível para a terra. No Quadro 57, apresentamos a relação entre a
resistência de terra e a corrente diferencial-residual do diferencial a
utilizar, para tensões de contacto máximas de 25 V e de 50 V. De acordo
com as RTIEBT, os locais de maior risco (casas de banho, locais de acesso
ao público, creches, escolas, etc.) devem dispor de diferenciais de alta
sensibilidade (6 mA, 12 mA, 30 mA, e os restantes locais devem ter
diferenciais de baixa ou média sensibilidade (> 30 mA).
Sendo assim, após definido o diferencial a utilizar, será necessário
dimensionar o elétrodo ou o sistema de elétrodos com a resistência do
elétrodo de terra adequada, de acordo com o Quadro 57.

Para calcular a resistência máxima que deverá ter um elétrodo de terra,


de modo a garantir a segurança das pessoas, é necessário fixar os
seguintes parâmetros:
• Tensão limite admissível nas massas: Uc = 50 V
• Corrente de defeito à terra = sensibilidade do diferencial: Id = 500 mA
(fixado pelo distribuidor de energia)

Para que o diferencial de 500 mA cumpra a sua função, a resistência de


terra Rt deverá ser igual ou inferior a 100 Ω.
No Quadro 58 apresentamos outros valores de Rt, para diferentes
sensibilidades de diferenciais, para as tensões de contacto de 25 V e 50 V.
Recomenda-se, no entanto, proteção diferencial de alta sensibilidade
(até 30 mA) em locais de maior perigosidade, nomeadamente:
• Creches e escolas;
• Locais recebendo público;
• Laboratórios e salas técnicas de estabelecimentos escolares;
• Estaleiros;
• Stands de feiras;
• Parques de campismo;
• Marinas;
• Piscinas;
• Explorações agrícolas, etc.;
• Em geral, instalações onde a resistência de terra é elevada (solos
arenosos ou graníticos).
A resistência de terra Rt depende fundamentalmente de duas
componentes: as caraterísticas do elétrodo ou sistema de elétrodos e
as caraterísticas do terreno onde é instalado.
Quanto ao elétrodo ou sistema de elétrodos, Rt varia com as dimensões
do elétrodo (comprimento, secção), com o material constituinte (cobre, aço
galvanizado, aço revestido a cobre, etc.) e com as formas geométricas
utilizadas (cabos, fitas, varetas, tubos, etc.).
Quanto às caraterísticas do terreno, podendo ser de naturezas diferentes,
as suas resistividades elétricas também o serão.
No Quadro 59, retirado das RTIEBT, apresentamos alguns tipos de
terrenos e suas resistividades elétricas.
Os elétrodos de terra devem ser colocados nas zonas mais húmidas dos
terrenos, de forma a reduzir o valor da resistência de terra.
O cálculo da resistência do elétrodo de terra é diferente consoante o tipo
de elétrodo ou o sistema de elétrodos utilizado. Dada a diversidade de
soluções, vamos, por isso, apresentar aqui as fórmulas para o cálculo da
resistência de terra para apenas algumas das soluções utilizadas.
1. Elétrodo constituído por um condutor enterrado horizontalmente no
solo
A resistência do elétrodo de terra é, neste caso, calculada pela
expressão:
em que: R é a resistência do elétrodo de terra, expressa em ohms;
ρ é a resistividade do terreno, expressa em ohms × metros;
L é o comprimento da vala ocupada pelo condutor, expresso em metros.
Chama-se a atenção para o facto de a colocação do condutor num traçado
sinuoso na vala não melhorar, de forma sensível, a resistência do
elétrodo de terra.
2. Elétrodos constituídos por chapas finas enterradas
Na prática, utilizam-se chapas retangulares de 0,5 m × 1 m enterradas por
forma que o bordo superior fique a uma profundidade de cerca de 0,8 m.
A espessura dessas chapas não deve ser inferior a 2 mm, se de cobre, ou a
3 mm, se de aço galvanizado.
Para garantir um melhor contacto das duas faces com o solo, as chapas
maciças (não perfuradas) devem ser enterradas verticalmente.
A resistência de um elétrodo de terra constituído por uma chapa
enterrada verticalmente no solo pode ser calculada, aproximadamente, por
meio da expressão seguinte:

em que: R é a resistência do elétrodo de terra, expressa em ohms;


ρ é a resistividade do terreno, expressa em ohms × metros;
L é o perímetro da chapa, expresso em metros.
3. Elétrodos verticais (exceto chapas)
Com exceção dos elétrodos em chapa, os elétrodos verticais podem ser:
• varetas de cobre ou de aço com um diâmetro mínimo de 15 mm; no
caso de varetas em aço, estas devem ser cobertas com uma camada
protetora aderente de cobre (de espessura adequada) ou serem
galvanizadas.
• tubos de aço galvanizado com um diâmetro exterior não inferior a 25
mm;
• perfis de aço macio galvanizado com 60 mm de lado;
A resistência de um elétrodo de terra constituído por elementos
(varetas, tubos ou perfis) metálicos enterrados verticalmente no solo pode
ser calculada, aproximadamente, por meio da expressão seguinte:

em que: R é a resistência do elétrodo de terra, expressa em ohms;


ρ é a resistividade do terreno, expressa em ohms × metros;
L é o comprimento do elemento, expresso em metros.
É possível diminuir o valor da resistência do elétrodo de terra dispondo
diversos elementos verticais ligados em paralelo e afastados de uma
distância não inferior ao seu comprimento (no caso de 2 elementos) ou de
uma distância ainda maior (no caso de mais do que 2 elementos).
Outras formas de diminuir o valor da resistência do elétrodo consiste em
aumentar o comprimento L do elétrodo, aumentar a superfície das chapas
ou das fitas em contacto com o solo, aumentar a profundidade do
elétrodo, aumentar a condutibilidade elétrica do solo (ou diminuir a
resistividade elétrica), melhorando-o com terras mais condutoras.
Quando houver riscos de gelo ou de secagem do terreno, o comprimento
das varetas deve ser aumentado. No caso de varetas de grande
comprimento, como o solo é raramente homogéneo, será possível
atingirem-se camadas de terreno de resistividade elétrica baixa.
Conforme dissemos, em vez de um só elétrodo vertical, podemos utilizar
vários, ligados em paralelo, quando pretendemos reduzir o valor da
resistência de terra. Nesse caso, a resistência de terra Rt é calculada
como se fosse um paralelo de resistências:

em que N é o número de elétrodos ligados em paralelo.


Exemplo: Para três elétrodos verticais de 100 Ω cada, teríamos:

4. Elétrodos constituídos pelos pilares metálicos enterrados, do edifício


Os pilares metálicos interligados por estruturas metálicas e enterrados a
uma certa profundidade no solo podem ser utilizados como elétrodos de
terra. A resistência de um elétrodo de terra constituído por pilares
metálicos enterrados pode ser calculada, aproximadamente, por meio da
expressão seguinte:

em que: Rt é a resistência do elétrodo de terra, expressa em ohms;


ρ é a resistividade do terreno, expressa em ohms × metros;
L é o comprimento enterrado do pilar, expresso em metros;
d é o diâmetro do cilindro circunscrito do pilar, expresso em metros;
O conjunto de pilares interligados e repartidos pelo perímetro do edifício
apresenta uma resistência da mesma ordem de grandeza que a do anel
constituído por condutores nus estabelecidos no fundo das fundações. O
eventual envolvimento dos pilares com betão não impede a utilização
destes como elétrodos de terra nem modifica sensivelmente o valor da sua
resistência como elétrodo.
B – Condutores de terra
Os condutores de terra asseguram a continuidade entre os terminais
principais de terra e os elétrodos de terra. As secções mínimas dos
condutores de terra são indicadas no Quadro 60.

C – Terminal principal de terra ou barra principal de terra


É o ponto onde se efetua a ligação dos condutores de terra, dos
condutores de proteção, dos condutores das ligações equipotenciais e dos
condutores de ligação à terra.
D – Condutores de proteção (PE)
Os condutores de proteção destinam-se a ligar eletricamente alguns dos
seguintes elementos: massas, terminal principal de terra, elétrodo de terra,
etc. Ao condutor principal de proteção, são ligados os diferentes
condutores de proteção das massas, os condutores de terra e,
eventualmente, os condutores das ligações equipotenciais.
No Quadro 61, indicam-se as secções mínimas dos condutores de proteção,
considerando que são do mesmo tipo dos condutores ativos.

Nota: No esquema TT, a secção do condutor de proteção pode, na prática, ser limitada a 25 mm²,
se de cobre ou a 35 mm², se de alumínio, desde que os elétrodos de terra da alimentação (terra do
neutro ou terra de serviço) e das massas (terra de proteção da instalação) sejam distintos (caso em
que as correntes de defeito são de reduzido valor), pois, caso contrário, seriam aplicáveis as
condições do esquema TN.

1.5.3.8 Perigos da eletricidade


Um curto-circuito provoca a subida brusca da intensidade de corrente
num circuito, num curto intervalo de tempo, podendo fundir os próprios
condutores ou os contactos elétricos da aparelhagem onde se verificou. A
energia calorífica libertada é bastante elevada, em virtude de a corrente
também o ser, sendo calculada pela expressão: W = R I2 t (Joules), em que
R é a resistência elétrica, I a intensidade de corrente e t o tempo de
passagem da corrente. Os curtos-circuitos podem inclusivamente provocar
incêndios.
Os acidentes com a eletricidade podem ser provocados por:
• Corrente elétrica dos circuitos;
• Eletricidade estática;
• Eletricidade atmosférica.
Os acidentes provocados pela corrente elétrica são os mais vulgares e
correspondem aos contactos com condutores sob tensão (contactos diretos
unipolares e bipolares) e aos contactos com as massas metálicas que,
acidentalmente, ficaram sob tensão.
Os acidentes provocados pela eletricidade estática não são tão usuais
como os anteriores, mas também podem ocorrer em determinadas
situações.
A eletricidade estática forma-se sempre que há peças em movimento,
fazendo fricção com outras. Desta fricção entre peças resulta a libertação
de eletrões que podem acumular-se nos pontos de fricção que, ao serem
tocados por nós, provocam a sensação de «choque elétrico». Este choque
elétrico não é mais do que uma corrente elétrica dos eletrões que estavam
armazenados nas referidas massas.
Já todos nós apanhámos um destes choques elétricos quando tocámos na
porta do carro, depois de termos efetuado uma viagem que, com a fricção
do carro com o ar, acumulou no «chassis» eletricidade estática. Isto ocorre
mais com o tempo seco, pois com o tempo húmido as cargas são
conduzidas para a terra.
Uma máquina elétrica com transmissão por correias pode também
acumular eletricidade provocada pela fricção da correia com o tambor da
máquina.
De notar que as cargas tanto se acumulam nos corpos condutores como
nos isoladores, com a seguinte diferença: nos isoladores, as cargas
permanecem na zona de atrito; nos condutores, as cargas distribuem-se
por toda a periferia do condutor, dispersando-se.

Em zonas fabris, onde há muitas máquinas em movimento de rotação, a


probabilidade de se formarem vários pontos com eletricidade estática é
elevada. Pode inclusivamente acontecer saltarem faíscas entre duas massas
próximas, em que uma delas (ou as duas) tenha acumulado eletricidade
estática, com facilidade.
Estas faíscas podem, por sua vez, provocar incêndios ou explosões se
existirem, próximo, matérias inflamáveis ou explosivas.
Uma das formas de minimizar estas situações consiste em ligar todas as
massas metálicas à terra ou ligá-las entre si, através de um condutor
comum, em ligação equipotencial (tal como vimos anteriormente), isto é,
ficam ao mesmo potencial elétrico, pelo que não originam corrente elétrica
entre si.
Os acidentes provocados pela eletricidade atmosférica podem ser
devastadores. Os raios são a causa de muitos acidentes nas situações mais
diversas. Como se produzem os relâmpagos e os raios ?
O ar, ao ser aquecido pelo calor solar, torna-se mais leve e sobe na
atmosfera, arrastando moléculas de água. Quando chove (massas de ar
frio), as gotas de água da chuva em movimento descendente chocam com
as moléculas de água em movimento ascendente (massas de ar quente),
perdendo eletrões que são levados para cima, carregando as nuvens com
cargas elétricas negativas.
Quando a carga elétrica da nuvem e, portanto, o seu potencial elétrico
atinge um valor considerável (pode atingir valores superiores a um milhão
de volts), os eletrões saltam para outras nuvens – originando o
relâmpago – ou dá-se uma descarga elétrica para a terra – originando o
raio.
A descarga para a terra pode fazer-se por um só ramo (geralmente é em
ziguezague) ou por vários ramos. O raio tende a percorrer o caminho de
menor resistência elétrica oferecido pelas sucessivas camadas de ar e pelo
solo. Geralmente cai em zonas altas, em objetos pontiagudos, em certas
árvores (não todas), em zonas com cursos de água, etc. Ao colocar um
para-raios (pontiagudo) num dado local, a sua função é a de atrair o raio
para si, conduzindo-o para a terra, evitando que danifique os prédios e
instalações à sua volta.
Vejamos agora algumas curiosidades sobre os efeitos da eletricidade!
1. A mesma intensidade não tem os mesmos efeitos em toda a gente. A
partir de cerca de 80 mA, a corrente pode matar; no entanto, intensidades
superiores a 5 A ou 6 A provocam queimaduras graves mas, geralmente,
não chegam a matar. É por essa razão que as eletrocussões em alta tensão,
em muitos casos, não chegam a matar. As cadeias norte-americanas, que
eletrocutavam, nas cadeiras elétricas, os condenados à morte com tensões
da ordem dos 30 000 V, tiveram de os substituir por valores da ordem
dos 400 V, em virtude de muitos condenados não chegarem a morrer.
2. Não há consenso sobre qual é mais perigosa, entre a corrente alternada
e a corrente contínua.
3. As frequências mais perigosas situam-se entre 30 Hz e 150 Hz. À
medida que a frequência vai aumentando, vai-se tornando cada vez
menos perigosa. A 10 kHz, a corrente não é perigosa para os valores que
a tornam perigosa a 50 Hz.
4. Mesmo quando o trajeto da corrente pelo corpo humano não passa pelo
coração, a pessoa pode morrer na mesma, visto que todo o corpo é
atingido (direta ou indiretamente).
5. Os acidentes são mais graves quando se agarra o condutor com a mão
fechada, em vez das pontas dos dedos.
6. A duração do contacto elétrico também é importante; quanto mais
tempo pior, obviamente. Com efeito, a pele vai deteriorando-se
progressivamente, diminuindo a sua resistência e agravando a situação,
pois aumenta a intensidade.
7. É sempre perigoso tocar numa só linha, em corrente alternada, em
virtude dos efeitos capacitivos existentes entre a linha e a terra.
8. É mais grave o efeito da tensão quando a pessoa é apanhada
desprevenida, em virtude da surpresa que causa. É como se a pessoa
sucumbisse de susto.
9. A resistência elétrica do corpo humano aumenta bastante (cerca de 10
×) quando a pessoa está a dormir, em que o sistema nervoso está pouco
ativo.
10. Os locais mais perigosos são sempre os WCs, as cozinhas e as caves,
isto é, onde haja água ou humidade.
11. As correntes de elevada frequência geralmente não são perigosas
porque, devido ao efeito pelicular, não passam pelo interior do corpo, mas
sim pela pele, onde são pouco perigosas.
Nota: O efeito pelicular consiste em as correntes de elevada frequência «fugirem» para a periferia
do condutor respetivo, não passando qualquer corrente pela zona central.
Vejamos alguns acidentes curiosos provocados por raios.
• Há uns anos, em Marvão, um raio entrou pelo telhado de uma casa
onde se encontravam três pessoas, percorreu todos os compartimentos,
revolveu as tijoleiras do rés do chão e saiu pela porta da rua que estava
aberta. Os três habitantes não sofreram rigorosamente nada. É caso para
dizer «e esta, hein!?».
• Há uns anos, no Rosmaninhal, um raio matou doze cabras.
• Em Salvaterra de Magos, um raio destruiu o telhado, as portas e janelas
desapareceram, e as duas pessoas que se encontravam em casa sofreram
apenas algumas queimaduras.
• Em Alpiarça, um trabalhador rural foi apanhado pela chuva durante o
trajeto para casa e resolveu abrigar-se debaixo de uma árvore. O raio
parecia que estava à espera que ele se abrigasse debaixo da árvore, pois
fulminou-o de seguida.
1.5.3.9 Noções de socorrismo
Em caso de acidente, é preferível tratar o sinistrado no local do acidente
do que perder tempo a transportá-lo para o hospital. A primeira coisa a
fazer é cortar a corrente, se a vítima estiver em contacto com os
condutores sob tensão.
Nunca se deve tocar ou agarrar um acidentado que esteja sob tensão. Se
não for possível desligar a tensão, deve retirar-se o condutor, utilizando
equipamentos isolados (luvas apropriadas, varas de manobras isoladoras,
etc.).
Depois de libertado o acidentado, e enquanto se aguarda a chegada do
médico, devem prestar-se os primeiros socorros, nomeadamente:
• retirar as roupas do tronco;
• transportar a vítima para um lugar arejado;
• praticar a respiração artificial, se estiver inanimado.
Um dos métodos mais utilizados de respiração artificial é a respiração
boca a boca, que passamos a expor.
Método de respiração artificial boca a boca
1.º Deitar a vítima de costas.
2.º Ajoelhar ao lado da vítima, levantar com uma das mãos a nuca da
vítima e com a outra mão inclinar-lhe a cabeça para trás e depois puxar
o queixo para cima. Esta posição é indispensável para garantir a
desobstrução das vias respiratórias e a livre passagem do ar.

3.º Inspirar fundo. Abrir a boca da vítima e tapar-lhe as narinas com os


dedos polegar e indicador. Aplicar a boca bem aberta sobre a boca da
vítima, de modo a evitar fugas de ar, e expirar, verificando se o tórax da
vítima aumenta de volume.
No caso de o tórax da vítima não aumentar de volume durante a
insuflação, verificar de novo a posição da cabeça e do queixo da vítima e
corrigi-la, se necessário.

4.º Afastar a boca e libertar as narinas da vítima, a fim de o ar sair dos


pulmões pela boca e pelo nariz.

1.5.4 Proteção contra sobretensões


Uma sobretensão é um aumento de tensão na instalação elétrica,
relativamente aos valores usuais (em BT, temos 230 V + 6%). As
sobretensões podem ter várias causas. Vamos dividir essas causas em dois
grupos: sobretensões de origem atmosférica (externas) e sobretensões de
origem interna.
As sobretensões de origem atmosférica são provocadas por descargas
elétricas associadas aos raios e podem ser de dois tipos: sobretensões que
resultam de raios que caem sobre as linhas aéreas e que se propagam até
às instalações elétricas; sobretensões que resultam de raios que são
atraídos diretamente para os edifícios e que criam, por indução
eletromagnética, sobretensões na instalação elétrica.
As sobretensões de origem interna têm várias causas, nomeadamente:
sobretensões de manobras de aparelhos de comando, de manobra e de
proteção de correntes elevadas, com cargas muito reativas; sobretensões
passageiras, por defeitos temporários na rede.
Em qualquer das situações, as sobretensões criadas podem atingir valores
bastante elevados, da ordem dos kV, e produzem correntes bastante
elevadas, que podem ser da ordem dos kA.
Desta forma, num edifício, tem de haver dois tipos de proteção
diferentes:
• Proteção do edifício contra as descargas diretas (sobre o edifício) de
origem atmosférica.
• Proteção da instalação elétrica contra as sobretensões de origem
atmosférica e de origem interna, provocadas por aparelhos de manobra ou
por defeitos na instalação ou na rede.
A proteção do edifício contra as descargas elétricas de origem
atmosférica é feita utilizando para-raios (captores) que conduzem a
descarga elétrica para a terra, por condutor ligado ao elétrodo de terra do
edifício. Esta descarga vai aumentar o potencial elétrico da terra no local,
provocando uma sobretensão na instalação elétrica (e muitas vezes em
instalações elétricas vizinhas, por indução eletromagnética).
A proteção das instalações elétricas contra sobretensões (de origem
atmosférica ou não) é feita utilizando descarregadores de sobretensão
(DST).
A colocação de para-raios ou de descarregadores de sobretensão não é
obrigatória para todos os edifícios. Com efeito, há condições mínimas
para se verificar a obrigatoriedade da instalação quer do para-raios quer
do descarregador de sobretensão. A decisão de instalar proteções contra
sobretensões é tomada após uma análise de risco efetuada, caso a caso.
Os principais fatores que intervêm na decisão são: altura do prédio,
localização do prédio, nível cerâunico (número de dias de trovoada, por
ano), função e utilização da instalação elétrica, tipo de rede de distribuição
(aérea ou subterrânea) e avaliação da relação preço/risco. Dessa análise
resulta uma de três decisões: proteção opcional (não obrigatória),
proteção aconselhada (recomendada) e proteção obrigatória. No 1.º
e 2.º casos, cabe ao projetista decidir se instala ou não as proteções; no 3.º
caso, tem de instalar a proteção respetiva.
O Quadro 62 apresenta um resumo das situações em que é obrigatório, ou
não, a instalação de proteções contra sobretensões. O código AQ (ver
Quadro 63) significa a influência externa do local quanto a descargas
atmosféricas (nível cerâunico), conforme se representa no Quadro 62. De
acordo com as RTIEBT, não são obrigatórias proteções contra sobretensões
se a rede de distribuição do edifício for subterrânea.
Se a rede de distribuição for aérea, a proteção poderá ser, ou não,
obrigatória, nas condições indicadas no Quadro 62. Se o edifício tiver
para-raios, é obrigatório colocar descarregador de sobretensão na instalação
elétrica.
Nota: As classes AQ1 e AQ2 dizem respeito a instalações sujeitas a sobretensões de origem
atmosférica propagadas pela rede de alimentação (descargas indiretas), dizendo a classe AQ2
respeito a instalações alimentadas por linhas aéreas.
A classe AQ3 diz respeito às partes da instalação situadas no exterior dos edifícios e sujeitas a
descargas diretas.
O nível cerâunico é o número de dias por ano em que se ouve trovejar, existindo, a nível
nacional, mapas do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG), que apresentam esses
valores sob a forma de curvas isocerâunicas.

A escolha do descarregador de sobretensão deve ter em conta o valor


da sobretensão previsível na instalação elétrica, de acordo com o nível
cerâunico do local, com o sistema de terra utilizado e com as
sensibilidades dos recetores ligados à instalação elétrica. Recordamos que
há recetores mais sensíveis do que outros às sobretensões elétricas,
nomeadamente os de informática e de telecomunicações.
As sobretensões de manobras atingem, em média, valores da ordem de 1
kV a 2,6 kV (valores estatísticos). As sobretensões temporárias atingem
valores médios da ordem de Un + 250 V e Un + 1200 V, em que Un é a
tensão nominal da rede.
Qual, então, a função do descarregador de sobretensão (DST)?
O DST é geralmente colocado no Quadro de Entrada, junto à origem da
instalação, ligado em paralelo com a instalação de utilização, com um
terminal ligado à terra, para onde descarrega a corrente, em caso de
sobretensão.
Este dispositivo é geralmente um varístor, isto é, um dispositivo de
resistência elétrica variável com a tensão elétrica que lhe é aplicada,
variando inversamente proporcional. Assim, se a tensão aplicada for baixa
(igual ou inferior à tensão nominal da rede, 230 V/400 V), o varístor
mantém uma resistência elétrica infinita, não deixando passar corrente
elétrica por si, continuando a instalação a funcionar normalmente.
Se a tensão aplicada for elevada, isto é, maior do que Un + 10%
(aumento de tensão permitido), a resistência elétrica do DST começa a
baixar, tanto mais quanto maior for a tensão aplicada. Quando estas
tensões são muito elevadas, o DST tem uma resistência elétrica quase
nula, provocando uma descarga elevada de corrente para a terra,
protegendo a instalação e os recetores a ela ligados.
Os DST são caraterizados pelo valor da sobretensão máxima que suportam
e pela corrente máxima que descarregam para a terra. Na figura 62,
representa-se um DST trifásico. Na figura 63, representa-se um Quadro
Elétrico com descarregador de sobretensão.
1.5.5 Proteção contra abaixamentos de tensão
A proteção contra abaixamento de tensão, ou de subtensão, é feita
quando a tensão baixa relativamente ao valor mínimo permitido: 230 V –
10% (tolerância permitida). As causas da subtensão ou da falta de
tensão são diversas, nomeadamente: avaria nas linhas e cabos de
distribuição; avarias nos Postos de Transformação ou nas Subestações
Elétricas; avarias nas Linhas de Transporte; defeitos na fase, ou fases, com
passagem de corrente para a terra; excesso de consumo, com queda de
tensão maior do que a permitida; arranque simultâneo de muitas máquinas
elétricas de potências elevadas, com queda de tensão superior ao
permitido.
A subtensão tem efeitos diferentes consoante o tipo de recetor ou de
instalação que estivermos a considerar. Assim, no caso de se tratar de um
recetor térmico usual, a subtensão provoca apenas uma redução da
intensidade absorvida e, portanto, uma redução da potência absorvida à
rede, sem consequências de maior. A subtensão no funcionamento de um
motor elétrico provoca geralmente uma subida da corrente absorvida
pelo motor, de forma a manter constante a potência que está ser exigida
pela carga acionada (recorde que I = P / (U cos ϕ).
Se se tratar de equipamentos de precisão ou equipamentos de
grande responsabilidade, como por exemplo os equipamentos
hospitalares que não podem estar sujeitos a grandes flutuações da tensão
da rede, aí as consequências podem ser graves. Nestes casos, é
importante que a tensão seja estabilizada, utilizando estabilizadores de
tensão ou utilizando UPS.
Portanto, a proteção contra subtensões é feita, ou não, consoante as
necessidades da instalação elétrica em questão.
Quando a falta de tensão e o seu restabelecimento possam pôr em perigo
as pessoas e os bens e uma parte da instalação ou um equipamento
puderem sofrer avarias em consequência de um abaixamento de tensão,
devem ser tomadas as precauções apropriadas.
Os dispositivos de proteção contra abaixamentos de tensão devem
ser selecionados entre os seguintes:
a) Relés sensíveis aos abaixamentos de tensão ou disparadores que
façam atuar um interruptor ou um disjuntor – São relés que atuam sobre
contactos elétricos que abrem o circuito quando a tensão é menor do que
um dado valor, fechando outro circuito, de socorro, por exemplo, se
necessário.
b) Contactores sem encravamento – São aparelhos de comando que
atuam automaticamente logo que a tensão baixe além de um determinado
valor de tensão, desligando a alimentação da rede e fechando um circuito
de emergência, se necessário.
c) UPS – É um Sistema de Alimentação Ininterrupta (Uninterruptable
Power Supplies) que protege a instalação elétrica contra variações de
tensão de alimentação (sobretensões, subtensões, picos de tensão, etc.),
mantendo constante a tensão de saída. No caso de falta de energia da
rede, é ligada automaticamente uma bateria que alimenta direta ou
indiretamente a instalação, através de um conversor, alimentado pela
bateria, funcionando como rede de emergência.
Os dispositivos de proteção contra abaixamentos de tensão podem ser
retardados se o funcionamento do aparelho por eles protegido permitir
uma interrupção ou um abaixamento de tensão de curta duração (por
exemplo: 2 s).
Se forem utilizados contactores, o retardamento à abertura e à religação
não deve impedir o corte instantâneo provocado pelos dispositivos de
comando e proteção.
Os contactores são fabricados de forma a ligarem logo que a tensão
ultrapasse cerca de 85% da tensão nominal da rede ou a desligarem logo
que a tensão baixe a menos de cerca de 80% da tensão nominal da rede.
Na figura 64 representa-se o comando de um motor elétrico trifásico,
utilizando contactores, com as proteções respetivas contra
sobreintensidades. O contactor tem, aqui, duas funções: a de comando
(ligação e corte) da alimentação do motor e a de proteção contra
abaixamento de tensão. Portanto, este motor fica protegido contra
sobrecargas, curtos-circuitos e subtensões.
De acordo com as RTIEBT, não é obrigatório prever dispositivos de
proteção contra os abaixamentos de tensão se as avarias causadas na
instalação ou nos equipamentos constituírem um risco aceitável e não
representarem perigo para as pessoas.
Nota: Esta regra aplica-se nomeadamente aos equipamentos com motores suscetíveis de arrancar
automaticamente após uma paragem resultante de um abaixamento de tensão a níveis inferiores a
um determinado valor.
São necessários dispositivos de proteção contra os abaixamentos de tensão
nas instalações para as quais estiverem previstos equipamentos de
segurança ou alimentações alternativas. Neste caso, e quando a tensão for
inferior ao limite de funcionamento correto dos equipamentos, estes
dispositivos devem garantir, se necessário, a entrada em serviço das fontes
de alimentação de segurança ou alternativas e a alimentação dos
equipamentos correspondentes.
De acordo com as RTIEBT, quando a religação de um dispositivo de
proteção for suscetível de criar uma situação de perigo, o rearme não
deve ser automático.
As caraterísticas dos dispositivos de proteção contra os abaixamentos de
tensão devem ser compatíveis com as regras indicadas nas normas
relativas à entrada em serviço e à utilização do equipamento.
ANEXOS
Bibliografia
Regras Técnicas de Instalações Elétricas de Baixa Tensão (RTIEBT) –
Direção Geral de Geologia e Energia
Regulamento de Segurança de Redes de Distribuição de Energia Elétrica de
Baixa Tensão (RSRDEEBT)
Regulamento de Segurança de Subestações e Postos de Transformação e de
Seccionamento (RSSPTS)
Regulamento Geral de Edificações Urbanas (RGEU) (2.ª edição) – Publisher
Team
Instalações Elétricas em Locais de Habitação – L. M. Vilela Pinto (Certiel)
Guia Técnico das Instalações Elétricas – José Lima Morais e José Marinho
Gomes Pereira (Certiel)
Instalações Elétricas de Baixa Tensão – Constantino Soares (Certiel)
Técnicas e Tecnologias em Instalações Elétricas – L. M. Vilela Pinto
(Certiel) Instalações Elétricas 1 e 2 – Plátano Editora
Tecnologia da Eletricidade – José V. C. Matias (Didáctica Editora)
Catálogos diversos de:
• Schneider Electric
• Legrand
• Merlin Guerin
• Hager
• Celcat
• Cunha Barros
• Cabelte
• Efapel
Outros livros do autor
Eletricidade e Eletrónica 10.º ano vol. 1 (Módulos 1 a 4) – José Matias
(Didáctica Editora)
Eletricidade e Eletrónica 10.º ano vol. 2 (Módulos 5 a 8) – José Matias
(Didáctica Editora)
Eletricidade e Eletrónica 11.º ano vol. 3 (Módulos 9 a 11) – José Matias
(Didáctica Editora)
Eletricidade e Eletrónica 11.º ano vol. 4 (Módulos 12 e 13) – José Matias
(Didáctica Editora)
Sistemas Analógicos e Digitais 10.º ano vol. 1 e 2 – José Matias (Didáctica
Editora)
Sistemas Analógicos e Digitais 12.º ano – José Matias (Didáctica Editora)
Práticas Laboratoriais de Eletrotecnia e Eletrónica 10.º ano – José Matias
(Didáctica Editora)
Práticas Laboratoriais de Eletrotecnia e Eletrónica 12.º ano – José Matias
(Didáctica Editora)
Aplicações Tecnológicas de Eletrotecnia e Eletrónica 10.º ano – José Matias
(Didáctica Editora)
Máquinas Elétricas de Corrente Contínua – José Matias (Didáctica Editora)
Máquinas Elétricas de Corrente Alternada – José Matias (Didáctica
Editora)
Máquinas Elétricas – Transformadores – José Rodrigues e José Matias
(Didáctica Editora)
Tecnologia da Eletricidade 10.º ano vol. 1 e 2 – José Matias (Didáctica
Editora)
Tecnologia da Eletricidade 11.º ano – José Matias (Didáctica Editora)
Automatismos Industriais – Comando e Regulação – José Matias e
Ludgero Leote (Didáctica Editora)
Sistemas de Proteção Elétrica – José Matias e Ludgero Leote (Didáctica
Editora)
Produção, Transporte e Distribuição de Energia – José Matias e Ludgero
Leote (Didáctica Editora)
Guia de Laboratório de Eletricidade – José Matias (Didáctica Editora)
Problemas e Itens I – José Matias (Didáctica Editora)
Problemas e Itens II – José Matias (Didáctica Editora)

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