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MATERIAIS E

PROCESSO DE
PRODUTO

PROFESSORA
Esp. Regiane Mendes
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


MENDES, Regiane.
Materiais e Processo de Produto. Regiane Mendes.
Maringá - PR.:Unicesumar, 2018.
212 p.
“Graduação em Design - EaD”.
1. Materiais. 2. Processos . 3. Produto . 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1156-2
CDD - 22ª Ed. 658.5
CIP - NBR 12899 - AACR/2

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Executiva de Ensino Janes Fidélis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho,
Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção
de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Head de
Produção de Conteúdos Celso L. Filho, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo R. Garcia, Gerência
de Projetos Especiais Daniel F. Hey, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de
Almeida Toledo, Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard, Coordenador(a) de
Conteúdo Larissa Camargo, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da
Silva, Designer Educacional Lilian Vespa, Revisão Textual Ludiane Aparecida de Souza, Ilustração
Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10
com princípios éticos e profissionalismo, não maiores grupos educacionais do Brasil.
somente para oferecer uma educação de qualidade, A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão soluções inteligentes para as necessidades de todos.
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- Para continuar relevante, a instituição de educação
nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
e espiritual. coragem e compromisso com a qualidade. Por
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. do conhecimento, formando profissionais cidadãos
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais que contribuam para o desenvolvimento de uma
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos sociedade justa e solidária.
pelo MEC como uma instituição de excelência, com Vamos juntos!
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Janes Fidélis Tomelin


Diretoria Executiva de Ensino

Kátia Solange Coelho


Diretoria Operacional de Ensino

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
apresentação do material

MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO


Regiane Francieli Mendes

Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)!


Para os profissionais de design de produto, escolher e/ou estudar questões sobre
materiais e processos, provavelmente, não é uma das questões favoritas no desen-
volvimento de um novo produto, e nem a mais fácil. Uma vez que não há muita
literatura brasileira que aborde esses temas de maneira acessível aos conhecimentos
de um design, a realidade é que a maioria dos conteúdos de tais temas é bastante
voltada às áreas específicas da engenharia de materiais e processos.
Assim, neste livro, iremos conhecer, analisar e estudar sobre esses dois temas
tão importantes para o design de produto, que são os materiais e processos de
fabricação possíveis para a produção de um produto. Como atualmente há uma
infinidade de materiais e processos que podem ser utilizados para tal finalidade, os
temas serão desenvolvidos de forma simples, com o objetivo de proporcionar um
conhecimento inicial, um ponto de partida, para que, posteriormente, os designers
possam ter uma base para procurar informações mais específicas e detalhadas de
materiais e processos que necessitem para o desenvolvimento de seus produtos.
Conhecer e entender quais as possibilidades de materiais, processos e suas pro-
priedades é essencial para o desenvolvimento de produtos que tenham, além de
um ótimo design, características importantes para seu sucesso no mercado. Isso
significa ter vantagens competitivas frente a produtos concorrentes, uma vez que
a fabricação com muitos materiais de alto custo, e com a utilização de processos
lentos e/ou complexos, pode comprometer a venda do produto aos consumidores.
É também importante considerar aspectos como o comprometimento da saúde do
planeta, conformidades exigidas por órgãos reguladores de produtos nos diferentes
países, vida útil e durabilidade desses produtos.
Agora, vamos construir juntos um conhecimento teórico que irá auxiliar muito
na prática, de maneira simplificada à realidade do design de produto. Você está
preparado(a)? Então vamos lá!
Na Unidade I, intitulada “Processos de Fabricação de Produtos”, vamos conhecer
um pouco das principais categorias em que os processos de fabricação existentes se
dividem, que são: conformação mecânica I e II; conformação metalúrgica; processos
de união e melhoria; e também ver quais os processos que se enquadram em cada
uma dessas categorias, suas propriedades, ferramentas e maquinários necessários
para que sejam realizados, independentemente de qual o material trabalhado.
Na Unidade II, “Materiais Metálicos”, vamos conhecer os metais mais utilizados na
fabricação de produtos, os metais ferrosos e não ferrosos, os principais processos
pelos quais esses materiais passam para se transformar em produtos e os aspectos
gerais existentes na realidade da utilização de metais como matéria-prima, ques-
tões ambientais, cadeia de fornecimento, economia e outros pontos que impactam
diretamente na fabricação com tal material.
Na Unidade III, denominada “Materiais Cerâmicos”, serão apresentadas informa-
ções sobre materiais de cerâmica e vidro, que também fazem parte dessa categoria
de material. Vamos conhecer as propriedades deles e quais os processos mais
utilizados para a transformação de tais materiais em produtos finais, abordando
aspectos que influenciam positiva ou negativamente na utilização dessa categoria
de materiais.
Na Unidade IV, “Materiais Polímeros”, vamos conhecer esses materiais, bastante
usados nas indústrias de transformação, como são classificados (termoplás-
ticos, termofixos, elastômeros), as características e propriedades que fazem
com que haja essa classificação distinta, aspectos gerais do material e quais
os processos mais comumente utilizados na fabricação de produtos que têm
polímeros como base.
Por último, mas não menos importante, na Unidade V, vamos estudar dois
tipos de materiais diferentes e que, em comparação aos demais já estudados,
têm menor utilização na fabricação de produtos, que são os “Materiais na-
turais, compósitos e avançados”. Assim como nas demais unidades, também
serão abordados os processos e os aspectos gerais relacionados aos materiais
da unidade, encerrando, portanto, o conteúdo de materiais e processos pro-
postos por este livro.
Caro(a) aluno(a), este livro tem como objetivo fornecer conhecimento teórico
sobre os principais materiais e processos utilizados na fabricação de produtos e
os aspectos que influenciam suas utilizações. A intenção é contribuir para que a
escolha do material e processo seja facilitada, aumentando o limite do potencial
criativo dos profissionais da área, que terão uma visão maior dos benefícios estéticos,
de lucratividade, durabilidade, fabricação e distribuição de um possível produto.
Desejo a você um ótimo e proveitoso estudo!
autora

Professora Esp. Regiane Francieli Mendes


Possui graduação em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual
de Maringá e especialização em Gestão da Produção pela mesma instituição.
Tem experiência na área de Engenharia de Produção, com ênfase em Melhoria
Contínua, adquirida em atuação em empresa da área de Alimentação Pet. Tra-
balhou por dois anos no Programa ALI (Agentes Locais de Inovação) do SEBRAE
(Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) do Paraná, acompanhando
agroindústrias da região noroeste do Paraná, diagnosticando questões sobre
gestão empresarial, produção, tecnologia e inovação. Atualmente, é Direto-
ra/Consultora na empresa SETTIMOS Consultoria e consultora especializada
SEBRAE, desenvolvendo trabalhos na área de Qualidade, Regulamentação e
Normatização Técnica, Métodos e Técnicas de Produção.

Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://lattes.cnpq.


br/4614791110432557>.
sum ário

UNIDADE I UNIDADE IV
PROCESSOS DE FABRICAÇÃO MATERIAIS POLÍMEROS
14 Processos de Conformação Mecânica I 140 Polímeros
20 Processos de Conformação Mecânica II 146 Polímeros Termoplásticos
24 Processos de Conformação Metalúrgica 152 Polímeros Termofixos
30 Processos de União 158 Polímeros Elastômeros
36 Processos de Melhoria e Acabamento 162 Processos em Polímeros
44 Considerações finais 166 Considerações finais
49 Referências 170 Referências
50 Gabarito 171 Gabarito

UNIDADE II UNIDADE V
MATERIAIS METÁLICOS MATERIAIS NATURAIS, COMPÓSITOS E AVANÇADOS
56 Metais 176 Madeira
62 Metais Ferrosos 182 Classificação das Madeiras
70 Metais não Ferrosos 188 Processos em Madeira
78 Tratamentos em Metais 194 Compósitos
84 Aspectos Gerais dos Metais 200 Novos Materiais
89 Considerações finais 203 Considerações finais
95 Referências 208 Referências
97 Gabarito 210 Gabarito

UNIDADE III 211 Conclusão Geral


MATERIAIS CERÂMICOS
102 Cerâmicas
108 Cerâmicas Avançadas
112 Processos em Cerâmicas
118 Vidros
124 Processos em Vidros
128 Considerações finais
133 Referências
135 Gabarito
PROCESSOS DE FABRICAÇÃO

Professora Esp. Regiane Mendes

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Processos de Conformação Mecânica I
• Processos de Conformação Mecânica II
• Processos de Conformação Metalúrgica
• Processos de União
• Processos de Melhoria e Acabamento

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os processos classificados como Processos de
Conformação Mecânica, suas características, ferramentas e
maquinários.
• Conhecer os processos classificados como Processos
de Conformação Metalúrgica, suas características,
ferramentas e maquinários.
• Conhecer os processos classificados como Processos de
União, suas características, ferramentas e maquinários.
• Conhecer os processos classificados como Processos de
Melhoria e Acabamento, suas características, ferramentas
e maquinários.
unidade

I
INTRODUÇÃO

U
m produto final é o resultado de uma série de fatores, sendo
que os mais relevantes são o design, o material utilizado e os
processos de fabricação pelos quais o produto passou. Dessa
forma, é essencial que o profissional do design tenha conheci-
mento e compreensão de quais processos existem e que podem contribuir
de maneira adequada para o desenvolvimento do produto em questão.
No decorrer da história, para suprir as necessidades do homem, mui-
tas técnicas de fabricação foram surgindo e sendo aperfeiçoadas ao longo
do tempo. Desse modo, saímos da utilização de apenas materiais natu-
rais e processos manuais para atualmente obter uma grande variedade de
processos que transformam inúmeros materiais, os quais são usados para
produzir desde produtos minúsculos, como uma esfera de aço de 0,25
mm, até produtos grandiosos e sofisticados, como jatos supersônicos.
Os processos de fabricação transformaram e transformam o mun-
do continuamente e estão sendo estudados e melhorados a todo o tem-
po. Por isso, é necessário, pelo menos, conhecer a maioria que está dis-
ponível, quais suas utilidades, técnicas e resultados que proporcionam
ao material, ou seja, suas características principais e relevantes, para
poder escolher qual ou quais são os processos mais adequados para a
fabricação de produtos.
Assim, nesta unidade, iremos conhecer de maneira geral os principais
processos de fabricação, como: os processos de conformação mecânica
e metalúrgica, processos de união e, também, processos de melhoria e
acabamento. Já nas demais unidades, falaremos dos grupos de materiais e
dos principais processos utilizados para transformação deles. Isto é, nesta
unidade, teremos uma visão geral dos principais processos e, posterior-
mente, veremos os mesmos processos, porém empregados na transfor-
mação dos diferentes materiais.
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Impressão digital Corte a laser Modelagem 3D Recursos Técnicos

Preparação do Modelo Processamento de Projetos Engenheiro de Hardware Ferramentas de Design

Laboratório Produxtion Possibilidades criativas Oficina Layers

Processos de
Conformação Mecânica I

Caro(a) aluno(a), atualmente existem diversos pro- Segundo Lima (2006), independentemente do
cessos de fabricação de um componente ou produto, material que será transformado, os processos de
sendo que cada um possui sua importância e finalidade fabricação podem ser divididos em quatro grupos.
para a fabricação do produto. A sequência de utilização Tais processos combinados proporcionam a trans-
dos processos varia muito de um produto para outro e, formação dos materiais em uma infinidade de op-
portanto, proporciona diferentes resultados finais. ções. Esses quatro grupos iremos subdividir em

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DESIGN

apenas três, sendo eles: processos de conformação; Nos processos por solidificação são aplicadas
melhoria e acabamento; e união. Os processos do temperaturas superiores às temperaturas de fusão
quarto grupo podem ser encontrados nos três cita- do material (Temperatura de trabalho > Tempera-
dos anteriormente. tura de fusão do material), assim, o resultado do
Caro(a) aluno(a), vamos iniciar nossa discussão processo é atingido pela transformação de líquido
com os processos de conformação, que são consi- para sólido. No caso do processo por sinterização,
derados um dos processos mais antigos da história as temperaturas de processamento são inferiores ao
do homem. Eles são caracterizados por serem pro- ponto de fusão do material (Temperatura de traba-
cessos pelos quais a matéria-prima, seja em estado lho < Temperatura de fusão do metal), também de-
líquido, plástico ou sólido, com ou sem a presença nominada metalurgia do pó (ROCHA, 2012).
de calor, é submetida a algum esforço ou ação que Por sua vez, o grupo dos processos mecânicos
altere sua geometria inicial. caracteriza-se por modificar a forma inicial do ma-
O emprego do calor, que pode deixar o processo terial com a aplicação de tensões externas sobre ele.
quente, morno ou frio, depende muito das caracte- Eles também se subdividem em dois: processos de
rísticas do material que será utilizado e qual é o ob- conformação plástica e de usinagem.
jetivo com a peça resultante do processo. Em relação Nos processos de deformação plástica, as tensões
às características das matérias-primas, no decorrer são aplicadas sobre o material, porém, a tensão é in-
deste livro, iremos conhecer as particularidades e ferior ao limite de resistência à ruptura do material.
propriedades mais importantes dos principais gru- Essa característica é chamada de “resistência à tração”,
pos de materiais usados para a fabricação de produ- e cada material possui a sua. Já nos processos de de-
tos (MIRANDA, 2015). formação usinagem, as tensões aplicadas são sempre
Os processos de conformação são divididos em superiores ao limite mencionado. Dessa forma, o re-
dois grupos: processos mecânicos e processos meta- sultado obtido desses processos acontece por meio da
lúrgicos. Os processos metalúrgicos têm a caracte- retirada de material.
rística de transformar a forma do material por meio Para entendermos melhor, na figura a seguir há
de altas temperaturas e, por sua vez, também se sub- uma organização dos processos de conformação
dividem em dois: os processos de conformação por com todas as suas subclasses e os processos que fa-
solidificação e por sinterização. zem parte de cada uma das classes.

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MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Laminação
A laminação, atualmente, é um dos processos mais
utilizados, pois apresenta alta produtividade e um
bom controle dimensional do produto acabado. Os
produtos feitos pelos processos podem ser placas,
chapas, barras de diferentes seções, trilhos, per-
fis diversos, anéis e tubos, que são empregados em
diversas áreas, como a construção civil, transporte,
metalmecânica e outros.
A laminação, basicamente, consiste em um con-
junto de processos em que o material passa por uma
abertura entre cilindros, que apesar de terem a mes-
ma velocidade, estão em sentidos opostos e podem ser
conduzidos a frio ou a quente. A peça, então, sofre uma
deformação plástica ao passar entre os cilindros, resul-
tando na diminuição da seção transversal, aumento da
largura e do comprimento (MIRANDA, 2015).
As máquinas usadas no processo são denomina-
das laminadores. São compostas, principalmente, por
cilindros, mancais e carcaça (gaiola) – utilizadas para
fixar as partes –, e um motor que fornecerá potência
Figura 1 – Classificação geral dos processos de conformação.
aos cilindros e controle da velocidade de rotação.
Fonte: Rocha (2012).
Os laminadores podem ser classificados de acordo
Caro(a) aluno(a), após entender quais as princi- com o arranjo dos cilindros. Os três tipos principais
pais características dos processos de conformação são: duo, que possui dois cilindros; trio, que possui
e suas classificações, vamos aprender um pouco so- três cilindros; e quádruo, que, consequentemente,
bre os principais processos utilizados pelas indús- possui quatro cilindros em seu arranjo. O laminador
trias de manufatura. duo pode ser não reversível, em que a peça é somente
laminada em um sentido, retornando por cima ou pelo
PROCESSOS POR DEFORMAÇÃO PLÁSTICA lado se for necessário submetê-la novamente à pren-
sagem, e, também, pode ser reversível, em que a peça
Vamos iniciar nosso aprendizado com os processos pode ser laminada nos dois sentidos na ida e na volta.
por deformação plástica, que são processos de con- Há também os laminadores Sendzimir e o Univer-
formação mecânica caracterizados pela aplicação de sal. O Sendzimir é utilizado no processo a frio para cha-
tensões externas sobre materiais com auxílio de má- pas finas, pois possui cilindros de pequeno diâmetro,
quinas e equipamentos, a fim de modificarem suas enquanto o universal é composto por uma combinação
formas iniciais para formas desejadas. de cilindros verticais e horizontais, capaz de produzir

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DESIGN

perfis estruturais de abas paralelas com ótimo desem- que ele assuma o contorno da ferramenta confor-
penho e qualidade (PACHECO; BESKOW, 2012). Na madora, denominada matriz. O processo de forja-
figura a seguir, temos a representação visual dos princi- mento na peça de material pode ser feito por meio
pais tipos de laminadores utilizados nos processos. de martelamento ou aplicação gradativa de pressão.
Normalmente, é efetuado a quente, embora certos
a) b)
metais possam ser forjados a frio também.
Os componentes e produtos desenvolvidos por
forjamento possuem alta resistência mecânica, po-
dem possuir diferentes tamanhos, formas e serem de
c) d) materiais variados. Os produtos típicos do processo
são: discos de turbina, rodas, esferas, ferramentas
manuais, componentes estruturais para máquinas e
equipamentos de transporte. Logo, a indústria auto-
mobilística mundial é a maior consumidora de pro-
dutos forjados; cerca de 60% da tonelada de produ-
e) f) Cilindos Verticais tos produzidos no mundo (MIRANDA, 2015).
O processo de forjamento pode ser dividido em
forjamento livre (matriz aberta) e forjamento em
matriz (matriz fechada). No forjamento livre, duas
matrizes, podendo ser planas ou com formato sim-
Cilindros Horizontais
ples, aplicam compressão direta no material, que
Figura 2 – Tipos de laminadores: (a) laminador duo não reversível; escoa perpendicularmente à direção da força apli-
(b) laminador duo reversível; (c) laminador trio; (d) laminador quá- cada. Este processo, geralmente, é utilizado para a
druo; (e) laminador Sendzimir; e (f) laminador universal.
Fonte: Pacheco; Beskow (2012). obtenção de peças de grande e com pequeno volume
de produção. No forjamento em matriz fechada, o
Forjamento material utilizado adota a forma esculpida na junção
O forjamento é um dos processos de conformação das duas matrizes e não acontece o livre espalhamen-
mais antigos da história, data aproximadamente 5000 to do material. Costuma ser usado para a fabricação
a.C, e é a técnica utilizada pelos antigos “ferreiros”. de peças pequenas com tolerâncias dimensionais es-
Todavia, com o acontecimento da Revolução Indus- treitas e em grande volume de produção para justifi-
trial e todos os processos de avanços da tecnologia car o custo elevado (ROCHA, 2012).
até os dias atuais, as técnicas evoluíram muito. Hoje, é Em relação aos equipamentos utilizados no
comum o uso de programas computacionais comple- processo, há duas classes principais: os martelos e
xos no auxílio do processo que proporciona redução as prensas, sendo que a deformação no material é
de desperdícios de materiais e de tempo de operação. provocada por impactos de martelos ou por for-
O processo é caracterizado pela conformação ça de compressão em baixa velocidade no caso das
por esforços que prensam o material, fazendo com prensas. No forjamento a martelo, o procedimento

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MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

é aquecer uma barra do material até próximo à sua demos citar os filamentos de lâmpadas, armação de
temperatura crítica e, com repetidas pancadas, ir óculos, pistões pequenos, termopares, material para
conformando-a contra uma bigorna. As pancadas parafusos e tantos outros (MIRANDA, 2015).
são realizadas por máquinas “Martelo Pneumático”.
No entanto, o processo também pode ser feito ma- Extrusão
nualmente, como o trabalho de ferreiros que confor- Extrusão é um processo que consiste em reduzir ou
mam metais (LESKO, 2004). modificar a seção transversal de um corpo metálico
(tarugo ou lingote), que geralmente apresenta forma
Trefilação cilíndrica, por meio da aplicação de altas tensões de
A trefilação, como os demais processos de confor- compressão de um pistão, acionado pneumática ou
mação, também é muito antigo, pois já era utiliza- hidraulicamente. Dessa forma, o material metálico
do por povos da antiguidade, como os egípcios e os é forçado a escoar através da abertura existente no
chineses, para a obtenção de fios de metais preciosos meio da ferramenta utilizada na operação.
para a fabricação de joias. Com o passar do tempo, A extrusão é classificada como um processo de
foram se aperfeiçoando as técnicas desse processo compressão indireta, uma vez que são as paredes in-
bastante utilizado hoje em dia. ternas da ferramenta que provocam – por causa da
De forma bem simples, podemos caracterizar o reação – a pressão do pistão e a ação de compressão
processo pela redução da seção transversal de um sobre o corpo metálico. Na figura a seguir, temos a
fio – que pode ser uma barra ou tubo – ao conduzir representação do processo de extrusão. Na imagem,
a peça por meio de uma ferramenta conhecida como podemos observar que há um pistão que exerce for-
fieira (que tem um formato externo cilíndrico com ça de compressão no corpo metálico em tempera-
um furo), com diâmetro decrescente, no centro por tura elevada e que tem sua forma modificada após
onde passa a barra ou o tubo. Dessa forma, ao pas- passar pela ferramenta que dá o molde ao produto
sar pelo equipamento a seção da barra ou do tubo extrusado (ROCHA, 2012).
é reduzida, tornando-se peças menores. Assim, o
RECIPIENTE DA EXTRUSÃO
processo não produz tubos, mas transforma-os, me-
FERRAMENTA
lhorando sua precisão dimensional, acabamento e,
principalmente, aumentando a resistência mecânica
(PACHECO; BESKOW, 2012).
TARUGO
A trefilação é um processo que tem como obje- PISTÃO
tivo a obtenção de barra, tubo, arame ou fios com
diâmetros menores; logo, os produtos trefilados têm
várias aplicações. As barras com diâmetro inferior a BARRA
EXTRUDADA
5 mm são denominadas arames ou fios. São arames
quando empregados para fins da construção me-
cânica e são fios no caso de aplicação em produtos Figura 3 – Processo de Extrusão.
elétricos. Como exemplo de produtos trefilados, po- Fonte: Miranda (2015, p. 75).

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DESIGN

Considerando o movimento do material extrusa- A primeira operação é o corte, que consiste no des-
do, o processo pode ser classificado em dois tipos: prendimento de uma parte da chapa, por meio da
direto e inverso. A extrusão direta ocorre da forma ação do punção de corte, que é aplicado por uma
que mencionamos nos parágrafos anteriores, ou prensa exercendo pressão sobre a chapa. Esta, por
seja, o material é forçado pelo pistão a passar pela sua vez, está apoiada em uma matriz. No momento
ferramenta que se encontra do lado oposto do re- em que o punção penetra na matriz, a força de com-
cipiente. No processo de extrusão inverso, o pistão preensão se transforma em força de cisalhamento e
fica fixo e é o recipiente com o material que vai de ocorre o desprendimento de parte da chapa, que terá
encontro a ele. a forma geométrica presente na matriz.
Além da classificação devido ao movimento do A segunda operação do processo de estampagem
material no processo de extrusão, há também o pro- é o dobramento, que é a realização de dobras em
cesso de extrusão por impacto, em que o material é uma chapa, formando mais de um plano, separados
colocado em uma cavidade e, posteriormente, gol- por ângulos. Para tal operação, são utilizadas ferra-
peado por um pistão. O material, então, é extrusado mentas conhecidas como estampos de dobramento.
para cima, entre as paredes da matriz e o pistão. Uma característica que necessariamente deve ser le-
vada em conta no dobramento é o raio de curvatu-
Estampagem ra utilizado para a peça e a elasticidade do material,
O processo de estampagem compreende um con- porque, após a, deformação provocada pelo dobra-
junto de operações em que as chapas planas são mento, a peça tende a voltar à sua forma primitiva.
transformadas em produtos com uma nova forma Assim, ao se construir os estampos de dobramento,
geométrica, podendo ser plana ou curva. Os equipa- que como vimos é a ferramenta utilizada na opera-
mentos necessários para o processo são compostos ção, deve-se fixar um ângulo de dobramento mais
por uma prensa de estampagem e de dois disposi- acentuado para que, quando a pressão de conforma-
tivos: a punção e a matriz. Esta contém o formato ção for cessada, a peça fique com o ângulo desejado
da peça que será conformada no processo. Apesar (ROCHA, 2012).
de geralmente ser realizado a frio, também pode ser A última operação do processo de estampagem
a quente; isso dependerá da espessura e do tipo do é a estampagem profunda. Tem como princípio
metal que constitui a chapa e também do design da básico obter, a partir de um disco metálico plano,
peça a ser fabricada (CHIAVERINI, 1986). peças ocas, como a forma de um copo. O fundo da
Basicamente, o processo de estampagem com- peça pode ser de diferentes formas. A estampagem
preende as seguintes operações sequenciais: profunda produz mais comumente: cápsulas, carro-
• Corte; cerias e para-lamas de carros, recipientes de alumí-
• Dobramento; nio para transporte de leite, cartuchos em latão para
• Estampagem profunda; munições, latas de refrigerante e outros produtos.

19
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Processos de
Conformação Mecânica II
Caro(a) aluno(a), neste segundo tópico continuare- de material da peça processada, e não apenas a confor-
mos a conhecer os processos de conformação mecâ- mação dela, como acontece na deformação plástica.
nica, mas agora iniciaremos os mais importantes pro-
cessos de conformação por deformação usinagem. Torneamento
Torneamento é uma operação de usinagem que se
PROCESSOS POR DEFORMAÇÃO USINAGEM baseia na rotação uniforme de uma peça cilíndrica
em torno de um eixo fixo. Ao mesmo tempo, uma
No tópico anterior, conhecemos os principais pro- ferramenta de corte retira material da peça (cavaco),
cessos de conformação mecânicos por deformação a fim de deixá-la bem definida em relação à sua for-
plástica. Neste tópico, iremos conhecer processos de ma e dimensões. O torneamento, então, acontece de-
conformação por deformação usinagem, que são ca- vido à retirada progressiva de material da peça pro-
racterizados pela aplicação de tensões nos materiais, cessada. O corte na peça é feito por uma ferramenta
superiores ao limite de resistência à ruptura deles. de gume cortante que, necessariamente, precisa ter
Dessa forma, o resultado de tais processos é a retirada dureza maior do que a da peça a ser trabalhada.

20
DESIGN

No processo de torneamento, podem acontecer Modificando o formato, a posição da ferramenta de


três movimentos distintos que são os responsáveis corte e, também, o tipo de movimento, podem-se
por proporcionar os diferentes resultados em rela- obter diferentes resultados na peça por meio do pro-
ção ao torneamento de uma peça. São eles: cesso de torneamento, apenas utilizando acessórios
adequados e próprios para a ferramenta de corte,
Quadro 1 – Movimento de torneamento uma vez que é ela que define o tipo de corte a ser
feito na peça (SILVA, 2010).
Principal movimento da operação,
Movimento de realizado pela peça que será traba-
corte lhada de maneira rotativa, permi- Aplainamento
tindo seu corte. Aplainamento é um processo realizado com o obje-
Responsável por movimentar tivo de obter superfícies planas em posição horizon-
Movimento de a ferramenta de corte sobre a tal, vertical ou inclinada de uma peça. A operação é
avanço superfície da peça que se encontra
em movimento de corte.
realizada com a utilização de ferramentas que pos-
suem apenas uma aresta cortante, a qual, em movi-
Movimento que permite obter
Movimento de profundidade de corte, de maneira mento linear, consegue retirar todo o sobrematerial,
perfuração que empurra a ferramenta de cor- conseguindo, consequentemente, uma peça com as-
te em direção ao interior da peça.
pecto plano.
Fonte: adaptado de Silva (2010). O processo de aplainamento é realizado por má-
quinas denominadas plainas, que podem ser de dois
Na figura a seguir, podemos observar a ilustração tipos: plaina limadora e a plaina de mesa.
esquemática dos três diferentes movimentos que po- Na plaina limitadora, a máquina apresenta mo-
dem acontecer no processo de torneamento. vimento retilíneo alternativo, do tipo “vaivém”, de
forma que movimenta a ferramenta sobre toda a
superfície da peça, retirando o sobrematerial, dei-
1
xando-a plana. Assim, o ciclo completo da operação
na máquina divide-se na parte de avanço da ferra-
menta, onde é realizado o corte, e na parte que a fer-
ramenta de corte recua para a posição inicial, sem
2
cortar a peça (SILVA, 2014, on-line)1.
3 A plaina de mesa, além de realizar todas as ativi-
dades desenvolvidas pela plaina limitadora, também
faz os processos de fresamento e retificação. A única
Figura 4 – Representação esquemática dos movimentos do processo de
torneamento: (1) Movimento de Corte; (2) Movimento de Avanço; (3) diferença, fora a já citada, é que a peça faz o movi-
Movimento de Perfuração.
mento retilíneo alternativo, e não há ferramenta de
Fonte: Monteiro (1999, p. 7).
aplainar, como acontece na limitadora.

21
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

a) b) c) d)
pequena quantidade de material em cada revolução
do eixo onde a fresa é fixada.
Devido aos movimentos do processo de fresagem,
1)
é possível usinar qualquer peça e superfícies de todos
os tipos e formatos. Um dos movimentos é o de rota-
Figura 5 – Ferramentas para desbaste: a) ferramenta reta para desbastar à ção da ferramenta, a fresa; outro movimento é o da
esquerda; b) ferramenta reta para desbastar à direita; c) ferramenta curva
para desbastar à esquerda; d) ferramenta curva para desbastar à direita.
mesa da máquina, onde é fixada a peça a ser trabalha-
Fonte: Feng (on-line, 2014, p. 5)1. da e ambas podem ser movimentadas em mais de uma
direção ao mesmo tempo. Além de trabalhar peças de
várias superfícies, o processo também tem a vantagem
de ser o mais rápido entre os processos de usinagem,
em virtude de sua ferramenta multicortante.
A máquina que realiza essa operação é chamada
de fresadora, e existem três tipos: fresadora vertical,
Figura 6 – Ferramentas para acabamento: a) ferramenta para acaba- fresadora horizontal e fresadora universal. A classi-
mento agudo; b) ferramenta de acabamento larga; c) ferramenta reta;
d) ferramenta curvada para trás.
ficação das máquinas se deve à posição do seu eixo-
Fonte: Silva (on-line, 2014, p. 5)1. -árvore em relação à mesa de trabalho onde é fixada
a peça a ser usinada (JÚNIOR; SOUZA, 2013).
Fresadora horizontal: o eixo-árvore é paralelo à
mesa da máquina. A máquina possui uma base que
sustenta todos os componentes: uma coluna onde
está localizada a árvore; o suporte que tem movi-
mento vertical; fixado a ele, tem o carro que se move
Figura 7 – Ferramentas de aplainar: a) ferramenta para ranhuras; b) horizontalmente; e, ainda, há a mesa que é fixa no
ferramenta para facear; c) ferramenta de ponta curvada; d) ferramenta
arredondada.
carro, que também tem movimento horizontal e a
Fonte: Silva (on-line, 2014, p. 5)1. 90º em relação ao movimento do carro. Essa confi-
guração permite que a peça possa ser usinada de três
A ferramenta de aplainar é essencial ao sucesso do movimentos: movimento vertical, devido ao suporte;
processo; a forma do gume da ferramenta é esco- e dois horizontais, perpendiculares entre si, devido
lhida de acordo com o trabalho de aplainamento a ao carro e à mesa.
executar (MONTEIRO, 1999). Fresadora vertical: o eixo-árvore é perpendicular
à mesa da máquina. A máquina possui uma base onde
Fresagem está ligado o suporte que se movimenta verticalmente;
Consiste no processo de usinagem em que o mate- em cima do suporte, há o carro que tem movimentos
rial é removido de uma peça por meio de uma fer- horizontais; sobre o carro, está a mesa, onde as peças
ramenta giratória, denominada “fresa”, que possui são usinadas; fazendo integração com a base, há um
múltiplos gumes cortantes. Cada gume remove uma montante onde se encontra o cabeçote com o porta-

22
DESIGN

-ferramenta (fresa), que tem movimento vertical carac- Retificadora plana: possui uma mesa onde é fi-
terístico da máquina. xada a peça que será usinada. Desloca-se da direi-
Fresadora universal: esta máquina dispõe de ta para a esquerda e vice-versa, em um movimento
dois eixos-árvore, então há a possibilidade de mo- longitudinal retilíneo, fazendo com que a peça ul-
vimentos de ambos os sentidos: no eixo horizontal, trapasse o contato com o rebolo. Este se encontra
que se situa no corpo da máquina; e no eixo vertical, ligado à coluna da máquina, dotado de movimento
que se encontra no cabeçote. Permite a disposição de rotação e que pode ser para cima e para baixo,
das ferramentas dessas duas formas e ainda possui aproximando-se ou distanciando-se da peça.
um eixo inclinado, satisfazendo, assim, todas as con- Retificadora cilíndrica universal: há possibili-
dições de fresamento, executando formas e perfis di- dade de realizar retificações em várias formas. As-
versos (CHIAVERINI, 1986). sim como a retificadora plana, é constituída por
uma mesa que desliza longitudinalmente, porém,
Retificação possui um cabeçote giratório onde a peça fica fixada.
Caro(a) aluno(a), vamos dar prosseguimento aos pro- Retificadora center less: a peça está localizada
cessos de conformação por usinagem, que, como já entre os rebolos. Ela fica sustentada por uma guia
sabemos, são processos com aplicação de tensões nos de aço duro que a rotaciona e produz movimento de
materiais, superiores ao limite de resistência à ruptura avanço. É retificada pela ação de rebolo de maior di-
deles. Dessa forma, as operações conformam uma peça, âmetro, que gira em alta velocidade comprimindo-a
retirando material dela. Agora, conheceremos a retifi- e, consequentemente, conformando-a.
cação, que é um processo de usinagem por abrasão. Caro(a) aluno(a), como podemos perceber na
Usinagem por abrasão se trata de um conjun- descrição de cada tipo de máquina, o rebolo é a prin-
to de operações de corte, em que a quantidade de cipal ferramenta de corte do processo. Por serem mais
material retirado da peça é diminuída. No proces- baratos, geralmente, os rebolos são constituídos de
so, uma ferramenta chamada rebolo, constituída de grãos abrasivos aglomerantes de óxido de alumínio.
material abrasivo, é contatada com a peça em alta Contudo, para materiais mais duros, o rebolo é feito
velocidade. O objetivo é obter exatidão dimensio- de carbeto de silício e outros. Dependendo do proces-
nal e geométrica da peça trabalhada; com isso, uma so que são empregados, podem ser encontrados em
alta qualidade superficial é alcançada. Em geral, o diversos formatos. Quando a aresta dos grãos abrasi-
processo ocorre após o torneamento e fresamento. vos incide sobre a peça, há um desgaste muito peque-
Consequentemente, a qualidade do acabamento da no do material, arrancando minúsculos cavacos.
superfície vai ser melhorada, pois irá retirar rugosi- Com essa abordagem sobre a retificação, en-
dades e irregularidades dela (TEIXEIRA, 1999). cerramos os processos de conformação mecânica.
Para a realização do processo, são utilizadas máqui- Vimos os mais utilizados pela indústria de manu-
nas denominadas retificadoras. Elas são classificadas fatura e desenvolvimento de produtos. No entanto,
em três tipos: a plana, a cilíndrica universal e a cilíndri- há outros que não foram abordados e cabe ao pro-
ca sem centros (center less). A última é uma máquina fissional buscar um conhecimento mais aprofun-
automatizada que trabalha com produção em série. dado sobre o tema.

23
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Processos de
Conformação Metalúrgica
Caro(a) aluno(a), nos tópicos anteriores desta de altas temperaturas e se subdividem em dois: os
unidade vimos os principais processos de confor- processos de conformação por solidificação e por
mação mecânica. Agora, vamos conhecer os pro- sinterização. Por sua vez, os processos de solidifi-
cessos de conformação metalúrgica, que confor- cação se subdividem em dois principais: a fundi-
mam o material trabalhado por meio da aplicação ção e a soldagem.

24
DESIGN

FUNDIÇÃO DE PRECISÃO

Neste método de fundição, o modelo é obtido a Fundição por centrifugação


partir do revestimento de um molde de cera por Por este método, há o vazamento do material líquido
cerâmica refratária, que endurece à temperatu- em um molde em movimento rotativo; consequente-
ra ambiente, criando uma casca de cerâmica. Os mente, a força centrífuga arremessa o material para as
moldes de cera são derretidos, deixando apenas paredes do molde, onde ele é solidificado. Um exemplo
a casca dura de cerâmica que contém a forma da de peça produzida por meio desse método são os tubos
peça que será produzida. Após esse processo, um de ferro fundido para linhas de suprimento de água.
novo material é vazado dentro desse molde de
cerâmica, que por sua vez é quebrado para re- Fundição de precisão
tirada da peça que foi fundida, depois de estar Neste método de fundição, o modelo é obtido a par-
seca (MIRANDA, 2015). tir do revestimento de um molde de cera por cerâ-
Por meio do processo de fundição, obtêm-se mica refratária que endurece à temperatura ambien-
peças praticamente definidas e até lingotes – peças te, criando, assim, uma casca de cerâmica enquanto
que, posteriormente, passarão por outros proces- os moldes de cera são derretidos, deixando apenas a
sos de conformação mecânica até atingirem a for- casca dura de cerâmica que contém a forma da peça
ma definitiva. A fundição é capaz de produzir pe- que será produzida. Após o processo, o molde é inu-
ças complexas, maciças ou ocas, de maneira bem tilizado, já que o material é vazado dentro de cerâ-
competitiva, se comparada com os demais proces- mica que, após seco, é quebrado para retirar a peça
sos, pois é possível produzir economicamente e em que foi fundida (MIRANDA, 2015).
série usando técnicas adequadas de fundição.
Há uma variedade grande de processos de Fundição por gravidade
fundição. A seleção do melhor método para fa- Processo que consiste no preenchimento do molde
bricar a peça desejada depende de características com o metal líquido apenas com a força da gravi-
e fatores limitadores, como o material a ser traba- dade, sem ajuda de diferentes formas, como no caso
lhado, custos, quantidade a ser produzida, espes- da fundição por precisão ou centrifugação. Este
sura da peça, tolerância dimensional, caracterís- método é considerado um dos mais simples, po-
tica do design, confecção do molde, entre outros rém alguns cuidados devem ser tomados para não
(LESKO, 2004). comprometer a qualidade das peças, causando por

25
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

exemplo: arrastamento de ar, preenchimento ex- • Vazamento do molde: etapa em que acontece
cessivo e turbulento da peça. Por intermédio desse o preenchimento do molde pelo material que
processo, são feitos muitos produtos automotivos, está liquefeito; pode ou não contar com di-
versas forças, como gravidade, centrifugação,
como: coletores, bombas hidráulicas, cabeçotes de
pressão e outros aspectos.
motos e demais componentes.
• Limpeza e rebarbação: após a solidificação
do material, há a retirada da peça do molde
Fundição sob pressão e a limpeza de rebarbas que podem perma-
Nesse método, o material líquido é injetado sob necer na peça.
alta pressão em um molde metálico. A pressão deve • Controle de qualidade: como em qualquer
ser mantida alta até que o material se solidifique e processo de fabricação, há necessidade de
seja retirado do molde. Devido à pressão e à velo- averiguar as condições das peças produzi-
cidade com que acontece o enchimento do molde, das: se há peças defeituosas; se atende a pa-
drões de dimensão e inspeção metalúrgica,
o método produz peças bastante complexas, com
com análises químicas de microestrutura e
paredes finas, excelentes detalhes superficiais e to-
ensaios mecânicos.
lerância dimensional estreita. O processo só é viá-
vel com a produção de grandes lotes, uma vez que SOLDAGEM
o ferramental tem custo elevado e o molde pode
ser empregado para produção de milhares de peças A soldagem, assim como a fundição, é um processo
(ASHBY; JOHNSON, 2011). de conformação metalúrgica de solidificação. Tem
Segundo Chiaverini (1986), independentemente como produto a junção de peças metálicas, expondo
de qual dos métodos de fundição seja usado, devem ambas em contato íntimo e a altas temperaturas, de
ser consideradas as seguintes etapas: modo a levá-las a um estado de fusão ou de plastici-
• Projeto do modelo: ao projetar, deve con- dade. A solda é o resultado da operação de soldagem
siderar os fenômenos que ocorrem na soli- e é caracterizada por sua resistência que, após o res-
dificação do material dentro do molde para friamento do metal, torna-se totalmente coesa no
evitar defeitos.
material que foi soldado.
• Confecção do modelo: confecção da peça que
A soldagem é considerada um processo de jun-
servirá de macho de impressão da cavidade
receptora de material liquefeito, ou forma de ção e, comparada aos demais processos, apresenta
fundição, ou molde de fundição. algumas importantes vantagens devido à sua efici-
• Confecção do molde: confecção do recipiente ência, simplicidade e economia, uma vez que, para
que contém a forma da peça a ser fundida e no realizar a junção das partes, há uma utilização míni-
interior da qual será vazado o metal líquido. ma de material. Dessa forma, o processo é largamen-
• Fusão do material (principalmente metais): te usado em componentes de estruturas metálicas e
etapa em que acontece o processo de fundir de equipamentos de diversas finalidades. Seu campo
o material, em especial os metais, ferrosos e de aplicação se concentra, principalmente, nas cons-
não ferrosos. Nesta etapa, são utilizados prin-
truções civis, navais, ferrovias, usinas hidrelétricas,
cipalmente fornos de altíssima temperatura.
componentes nucleares e em outras diversas áreas,

26
DESIGN

além de ter grande aplicação também em serviços de Soldagem MAG/MIG


manutenção e reparos (MIRANDA, 2015). Processo que realiza a união dos metais pelo aque-
Os processos de soldagem são muitos e podem cimento com um arco elétrico estabelecido entre
ser classificados em dois grupos de acordo com a um eletrodo metálico contínuo – e consumível – e a
fonte de energia empregada para aquecer os mate- peça. A sigla MIG vem de “metal inert gas”, ou seja, o
riais e da condição do metal nas superfícies de con- processo para soldar um arco elétrico em atmosfera
tato. Assim, há os processos de soldagem por fusão e de gás inerte; enquanto a sigla MAG vem de “metal
os processos de soldagem por pressão. Os processos active gas”, em que o processo acontece da mesma
de soldagem por fusão possuem a característica de forma, porém com a utilização de gás ativo. É um
soldar os materiais com a aplicação de calor prove- processo menos portátil e mais caro, porém é con-
niente de uma fonte concentrada, levando à fusão siderado um dos mais versáteis por soldar a maioria
e à junção deles. Já nos processos de soldagem por dos metais e ligas.
pressão, o calor é empregado nos materiais apenas
até o estado plástico. Nesse estado, são forçados um Soldagem TIG
contra o outro pela aplicação de pressão externa, É o processo que acontece a gás inerte de tungstê-
realizando a união basicamente sob pressão (CHIA- nio, e a denominação do processo de TIG vem de
VERINI, 1986). “tungsten inert gas”. O processo é bastante similar
à soldagem MAG/MIG, só que no TIG o eletrodo
Processos de soldagem por fusão é feito apenas por tungstênio, que tem a tempe-
Como já vimos, os processos de soldagem por fusão ratura de fusão extremamente alta. Assim, como
acontecem por aplicação de alta temperatura nos ele não funde, acaba não sendo consumido pelo
materiais até que eles cheguem em ponto de fusão. processo. Basicamente, todos os metais podem
Agora, caro(a) aluno(a), iremos conhecer três pro- ser soldados por esse processo, que é caracteriza-
cessos de soldagem por fusão. No entanto, existem do como limpo, de qualidade e bastante preciso,
muitos outros, mas que não serão abordados neste todavia com valor mais elevado e pouco portátil
livro, apenas citados. (ASHBY; JOHNSON, 2011).

Soldagem por chama Processos de soldagem por pressão


Processo realizado com a utilização de uma chama Como já vimos, os processos de soldagem por fusão
proveniente da queima de misturas de gases. A esco- acontecem por aplicação de calor até os materiais
lha da mistura dos gases depende muito dos mate- ficarem em estado plástico e, nesse estado, são for-
riais a serem soldados e da qualidade necessária do çados um contra o outro pela aplicação de pressão
cordão de solda. Com o desenvolvimento de outros externa. Nesse momento, caro(a) aluno(a), iremos
métodos mais sofisticados, a soldagem por chama conhecer três processos de soldagem por pressão.
é mais utilizada para reparos e, também, em locais No entanto, existem muitos outros, mas que não se-
que não têm energia elétrica (D’ÁVILA et al., 2011). rão abordados neste livro, apenas citados.

27
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

METALURGIA DO PÓ

Processo de soldagem com ultrassom Para finalizar os processos de conformação, vere-


O processo solda dois materiais pela aplicação lo- mos agora o processo de sinterização, no qual são
calizada de ultrassom, enquanto as peças são man- empregadas temperaturas de processamento infe-
tidas sob pressão. Pode ser utilizado tanto para riores ao ponto de fusão do metal (Temperatura de
metais quanto para polímeros, produzindo soldas trabalho < Temperatura de fusão do metal), diferen-
fortes, confiáveis e rápidas. Pode produzir até 1000 temente do que acontece nos processos de solidifi-
soldas por hora. cação (fundição e soldagem), em que são aplicadas
temperaturas superiores às temperaturas de fusão
Processo de soldagem por forjamento do metal (Temperatura de trabalho > Temperatura
Este processo acontece no estado sólido, em que os de fusão do metal).
materiais são aquecidos até a temperatura de solda e, O processo de sinterização também é conhecido
em seguida, são aplicados golpes sobre eles. Assim, como metalurgia do pó, pois é uma técnica de me-
a solda não possui enchimentos ou materiais para talurgia que transforma pós de metais por meio da
a junção das partes. Depois do desenvolvimento de compactação mediante a aplicação de calor perto do
processos mais elaborados com utilização de gás e ponto de fusão do metal e pressão, como podemos
eletricidade, tal método é pouco utilizado. observar na figura a seguir.

Processo de soldagem por alta frequência ou


resistência

O processo é realizado por meio de passagem cor-


rente de alta frequência no material, que causa o
aparecimento de correntes induzidas na região onde
será realizada a solda das duas peças. Uma vez que
o efeito Joule facilita a deformação localizada das
peças, mais a aplicação da pressão, há a formação
da peça soldada. Alguns autores consideram como
sendo um processo de soldagem por resistência. O
processo é rápido, confiável e não necessita de tra-
tamento pós-soldagem. É bastante usado na fabrica-
ção de tubos e perfis de aço de parede com espessura Figura 8 – Esquema da operação de compactação de pós metálicos.
pequena (D’ÁVILA et al., 2011). Fonte: Chiaverini (1986, p. 142).

28
DESIGN

Segundo Chiaverini (1986), as etapas do processo Apesar das inúmeras vantagens, o processo também
são as seguintes: apresenta algumas limitações:
• Misturas de pós; • Capacidade limitada das prensas de com-
• Compressão da mistura do pó: esta etapa é pressão do processo;
desenvolvida com o emprego de matrizes • Necessidade de fabricação de grandes lotes
para desenvolver a operação de compactação de uma mesma peça;
dos pós de metal; • Limitação na dimensão das peças, uma vez
• Aquecimento do compactado da mistura do que a produção de peças grandes exige pren-
pó: com a finalidade de produzir uma ligação sas maiores, o que pode comprometer técnica
entre as partículas de pó, é empregada a uma e economicamente o processo.
temperatura que confere resistência mecâni-
ca ao compactado.
REFLITA
A metalurgia em pó é considerada uma técnica re-
lativamente recente; sua consolidação se deu após a O design excitante, visionário e inovador foi
2ª Guerra Mundial e seu uso cresceu muito e rapi- sempre produto de novos materiais e tec-
damente até os dias atuais por ser considerado um nologias.

processo econômico, rápido e que permite a pro- (Wemer Aisslinger)


dução de peças idênticas ou muito próximas das
dimensões e formas definitivas em grande escala. A
técnica é amplamente utilizada em vários campos e
setores industriais. Caro(a) aluno(a), com a metalurgia do pó, finali-
Segundo Ashby e Johnson (2011), sobre as zamos os processos de conformação mecânica e
vantagens desse processo, podemos destacar os se- metalurgia. Como podemos observar, são vários
guintes itens: os processos que podem ser empregados para o de-
• Controle rigoroso do material trabalhado; senvolvimento de diversos componentes e produtos.
• Eliminação ou redução ao mínimo de impu- No decorrer das próximas unidades, vamos voltar a
rezas em comparação aos processos conven- rever alguns desses processos, mas, desta vez, esta-
cionais de metalurgia; rão aplicados à conformação de materiais específi-
• Processo com atmosfera controlada ou a vácuo; cos, como metais, polímeros, cerâmicas e outros.
• Eliminação ou redução de perdas do material;
• Eliminação da geração de sucata do processo;
• Rapidez e economia do processo.

29
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Processos
de União
Caro(a) aluno(a), após conhecermos os principais Apesar de parecerem simples, alguns dos pro-
processos de conformação nos tópicos anteriores, cessos de união podem ser bastante complexos
neste, vamos estudar alguns dos principais proces- e requerem muita análise para identificar qual
sos de união existentes, essenciais para o desenvol- a melhor e mais adequada opção para cada caso
vimento final de um novo produto. de união. Muitos aspectos devem ser levados em
Como o próprio nome já diz, os processos de consideração, como: geometria e propriedades das
união têm o objetivo de juntar duas ou mais partes peças que vão ser unidas, qual o desempenho exi-
de materiais para a obtenção de conjuntos, compo- gido da união para a vida útil do conjunto, quais
nentes ou até do produto final. Considerando todas as configurações de montagem e desmontagem,
as etapas do desenvolvimento de um produto, os pro- requisitos de segurança, entre outros aspectos
cessos de união fazem parte da etapa de montagem e (LIMA, 2006).
contribuem para o aumento do custo desse produto.

30
DESIGN

Os processos de união podem ser específicos em O material fundido e utilizado para a união de
relação ao material que se esteja trabalhando, pois materiais na brasagem é chamado de “solda forte”,
há muitos processos que só conseguem unir compo- e sua escolha é baseada no ponto de fusão, resis-
nentes constituídos do mesmo material, por exem- tência à corrosão, custo e propriedades de resis-
plo, madeira com madeira, metal com metal. Contu- tência mecânica. A solda forte pode ser aplicada
do, para sorte e facilidade da humanidade, há outros na forma de arame, folha ou pó; misturada com
processos que conseguem unir materiais diferentes, fundente na região de união; e é aquecida, até seu
como o metal com vidro e cerâmicas com polímeros. ponto de fusão, geralmente, por maçaricos, mas
Todos os processos de união existentes podem também pode ser aquecida em fornos e, posterior-
ser classificados em três grandes grupos que se di- mente, resfriada ao ar.
ferenciam pelas suas naturezas distintas, sendo elas
de natureza térmica, adesiva ou mecânica (ASHBY; Soldadura
JOHNSON, 2011). A soldadura consiste em um processo igual à da
brasagem, porém em temperaturas mais baixas,
PROCESSOS DE UNIÃO TÉRMICOS devido a essa característica. Unidas por soldadura,
são menos fortes do que as unidas por brasagem.
Ao falarmos de processos de união de natureza tér- A soldadura é bastante utilizada para montagem
mica, estamos falando dos diversos processos de de equipamentos e competentes eletrônicos para
soldagem, sendo que os principais estão no tópico fazer conexões elétricas, criar placas de circuitos
anterior desta unidade. Todavia, além dos proces- impressos, peças de precisão em joalheria e outros
sos mais comuns da soldagem, também há os pro- (ASHBY; JOHNSON, 2011).
cessos de brasagem e a soldadura, que se diferen-
ciam um pouco dos processos de soldagem vistos PROCESSOS DE UNIÃO MECÂNICOS
até o momento.
A união ou junção mecânica é largamente utili-
Brasagem zada nas etapas de montagem de produtos e con-
O processo de brasagem é empregado quando os tribua significativamente para elevar os custos de
componentes que precisam ser unidos não supor- um produto. Além disso, mais de 50% do tempo
tam as temperaturas exigidas para a soldagem con- utilizado para fabricação de um produto é gasto
vencional. A brasagem consiste na união de dois na etapa de montagem e funcionamento das jun-
metais de naturezas diferentes pela fusão de um ções mecânicas. Dessa forma, a padronização é re-
terceiro metal (com baixa temperatura de fusão), comendada para que não se perca mais tempo e se
que se liquefaz primeiro e escorre, preenchendo eleve mais o custo com a utilização de diferentes
todo o espaço entre ambos os materiais, e ali se junções. As junções mecânicas são classificadas
solidifica, resultando na união de ambos os metais em três diferentes grupos, como podemos ver na
(CHIAVERINI, 1986). figura a seguir.

31
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

FIXADORES MECÂNICOS RÁPIDOS Uniões roscadas


As uniões roscadas são as mais versáteis e utilizadas
Com rosca Casos especiais Sem rosca das uniões mecânicas. Elas apresentam diversas van-
Ilhoses tagens, como:
Parafusos Rebites
aço/mola
• Não necessitam do emprego de calor;
Engates
Travas
rápidos
Pinos • Unem materiais diversos;
Ilhoses
Plástico Anéis de
• Unem materiais com diferentes espessuras;
Porcas
aço/mol
moldado pressão • O material pode ser desmontado.
Metal
Taxas Arruelas
conformado
Dessa forma, a união permite liberdade de design,
Insertos Pregos devido à possível substituição de componentes e à
Figura 9 – Classificação dos processos de união mecânica.
montagem de grande precisão. Por causa do mate-
Fonte: LESKO (2004, p. 103). rial que constitui as uniões roscadas, elas toleram
altas temperaturas e ambientes de corrosão. São ba-
Caro(a) aluno(a), depois de conhecer as classifica- ratas, assim como os equipamentos necessários para
ções de união mecânica, vamos vê-las, cada uma de- a aplicação. No entanto, são difíceis de automatizar,
las separadamente, para identificar suas caracterís- o que torna outros métodos de união mais atraentes.
ticas e como são utilizadas no desenvolvimento de Caro(a) aluno(a), no quadro a seguir está a classifi-
componentes e produtos. cação dos acessórios deste processo.

Quadro 2 – Classificação dos acessórios para processo de uniões roscadas.

Parafusos Porcas Pinos Insertos


Para madeira De segurança Macho Pino rosqueado
Para metal Giro livre Macho duplo Insertos rosqueados
Para porcas Rosca única Prisioneiro Auto-atarraxante
Para máquinas
Fonte: LESKO (2004, p. 102).

Analisando o quadro anterior, vemos que há uma Uniões de encaixe


diversidade de uniões roscadas, cada uma com suas As junções sem roscas, chamadas de encaixe, são
características e onde podem ser utilizadas. Cabe praticamente invisíveis, pois, em geral, são man-
ao profissional do design, então, identificar qual a tidas pela fricção do sistema de fixação. Assim
melhor opção para a união de componentes de um como as rosqueadas não envolvem calor e unem
determinado produto a ser desenvolvido. materiais diversos de maneira rápida e barata,

32
DESIGN

também podem ser desmontadas, se projetadas flexibilidade de design e variedade estética. Nor-
para isso. malmente, são utilizadas para unir pequenas e
As uniões de encaixe podem realizar a junção médias peças de polímeros e carcaças de metal e
de diversas formas, materiais, cortes, cores e tex- chapas. No quadro a seguir, podemos ver os com-
turas diferentes. Ao mesmo tempo, possui rota- ponentes utilizados nas uniões de encaixe ou não
ção em uma ou mais direções, permitindo grande rosqueadas.

Quadro 3 – Classificação dos acessórios para processo de uniões de encaixe.


Rebites Pinos Anéis de retenção Arruelas
Cego De ajuste Estampados Chata
Tubular De fixação Formados por fio Cônica
Clovis Em espiral Helicoidal
Contrapino Dentada de travamento
Em espiral Pressão
Tubo em rasgo
Fonte: LESKO (2004, p. 103).

Rebites e grampos e barato, mesmo com lotes de produção pequenos,


Os rebites são utilizados na confecção de aeronaves sendo que podem ser automatizados.
devido à sua resistência, durabilidade e confiabilidade.
O processo da utilização de rebites é chamado de rebi- PROCESSOS DE UNIÃO ADESIVOS
tagem. O processo é feito com a inserção de um pino,
que possui uma cabeça, num orifício que atravessa as A necessidade de unir peças faz parte e é bastante
chapas ou peças a unir. A extremidade oposta à cabeça frequente no campo de aplicações técnicas. Podem
é cravada a marteladas com um martelo de conforma- ser encontradas na indústria automotiva, eletro-
ção, de modo que se forme outra cabeça que impede o eletrônica, entre outras. Nem sempre processos de
rebite de sair do orifício e mantenha as peças unidas. união térmicos ou mecânicos se enquadram nas ca-
Os grampos, por sua vez, são bastante conheci- racterísticas da junção e, por isso, é preciso optar por
dos por unir papéis, prender couro ou tecidos em fazer a união dos materiais com adesivos ou colas.
estruturas de móveis, mas também são usados para Desde a antiguidade, os adesivos são usados pelo
unir chapas metálicas. O processo conta com o uso homem. No início, eram utilizadas colas como pas-
de furadeiras, que forçam o grampo a atravessar o tas de amido, gelatinas animais e outros compostos
material até bater em uma bigorna ranhurada, que naturais. No século XX, surgiram os adesivos sintéti-
curva as pernas do grampo e o prende para dentro, cos, devido aos avanços da indústria química de po-
unindo os materiais. É um processo bastante rápido límeros. Nos dias atuais, são aplicados amplamente

33
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

em todos os setores industriais. Além da função de Os adesivos são classificados em naturais, inor-
unir, também são utilizados para realizar vedação, gânicos e sintéticos e orgânicos. Caro(a) aluno(a),
podem ser rígidos ou flexíveis, desempenhando uma como podemos observar na figura a seguir, para
união com rigidez ou flexibilidade nos produtos, o cada uma das três classes há diversas opções.
que auxilia muito no design do produto final.

Figura 10 – Classificação dos tipos de adesivos.


Fonte: LESKO (2004, p. 99).

Das três classes de adesivos, atualmente, a classe mais As juntas formadas pelo uso dos adesivos devem ser
utilizada são os adesivos sintéticos orgânicos. Eles pos- projetadas para aguentar forças de cisalhamento,
suem grande representatividade nos setores de manu- compressão e tração, e não devem ser submetidas a
fatura e costumam ser usados para a união de mate- forças de deslocamento (ASHBY; JOHNSON, 2011).
riais de pouca espessura, formando juntas invisíveis. Segundo Lesko (2004), a utilização de adesivos
De modo geral, a escolha de um adesivo para o para a união de materiais possui muitas vantagens,
processo de união deve considerar algumas exigên- tais como:
cias e fatores externos, como: • Não interferem nas características estéticas
• Temperatura de trabalho; do produto;
• Resistência química; • Homogeneidade;
• Umidade do meio; • União de materiais com diferentes expansões
• Resistência a fluidos; térmicas;
• Tenacidade; • Oferecem proteção contra processo de corrosão;
• Suportar força de cisalhamento e tração. • Vedação contra líquidos e gases;

34
DESIGN

• Promovem amortecimento mecânico; • Proteger a superfície de alteração ou conta-


• União de peças finas e frágeis que não tolera- minação durante o período entre a prepara-
riam forças externas. ção da superfície e a aplicação do adesivo;
• Penetrar nos microporos e rugosidades do
Assim como todo processo existente, seja de união, material para nivelar a superfície que recebe-
conformação ou melhoria, além de vantagens, tam- rá o adesivo;
bém há algumas desvantagens, como: • Dissolver pequenas quantidades de contami-
• Exigem limpeza e preparação de superfícies nações orgânicas que estejam presentes na
antes de sua aplicação; superfície e prejudiquem a ação do adesivo.
• Possuem prazo de validade limitado;
• Necessitam passar por processos de qualida- SAIBA MAIS
de, controle e testes complexos;
• Alguns necessitam de processos de cura,
A empresa Whirlpool Latin America, que
como a utilização de forno;
atua no segmento de eletrodomésticos, com
• Possuem formulações diversas e variadas. as marcas Brastemp, Consul e KitchenAid,
desenvolveu uma tecnologia que substitui
Uma desvantagem do uso de adesivos é a necessida- a soldagem convencional, por meio de um
de de preparação da superfície onde o adesivo será adesivo, na produção dos seus equipamentos,
aplicado. A preparação da superfície é o primeiro economizando energia, custos de produção
e matéria-prima. Segundo a companhia, por
cuidado para obter uma junta adesiva de qualidade exemplo, 30% do processo de fabricação de
com características controladas. Deve ser realiza- um ar-condicionado estão ligados à soldagem,
da para conseguir melhor resistência da união e, técnica que consome mais gás e energia elétri-
ca. Com a adesão da tecnologia, a companhia
para isso, é preciso remover contaminantes da su- espera obter uma economia energética de
perfície, tais como graxa, óleo e poeira, com álcool 25% por item fabricado.
isopropílico ou detergente neutro. O tratamento Fonte: Mariano (2016, on-line)2.
empregado difere em relação às características do
adesivo e do material das partes a serem unidas e
do grau de complexidade exigido pela junta. Pode
ser uma simples limpeza e higienização, feita em Caro(a) aluno(a), os processos e componentes de
minutos, até tratamento um químico com duração união são extremamente importantes para o desenvol-
de várias horas, com diversas etapas (MARIANO, vimento de produtos. Uma vez que há muitos produ-
2016, on-line). tos que são desenvolvidos com diferentes materiais ou
Após o tratamento da superfície, dependendo da formas e necessitam que haja junção delas para o de-
junção a ser estabelecida, pode haver a etapa de apli- senvolvimento completo desse produto. Assim como
cação de prime. O prime é empregado para prepa- os processos de conformação, cabe ao profissional de
rar, melhorar o contato e a aderência com o adesivo. design conhecer quais as opções de processos de união
Ele possui três funções principais: e analisar qual a melhor opção para utilização.

35
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Processos de
Melhoria e Acabamento

Caro(a) aluno(a), agora iremos conhecer os proces- Quase todos os componentes de um produto rece-
sos de melhoria, também chamados de acabamento, bem algum tipo de acabamento de superfície. Na maio-
que têm o objetivo de aprimorar os aspectos visuais ria dos casos, os processos de melhoria e acabamento
finais de componentes ou produtos finais. Alguns são associados com as etapas finais da fabricação dos
deles, além de promoverem essa melhoria na estéti- produtos, mas isso não acontece em todos. Em algumas
ca do produto, também servem como uma proteção situações, podemos encontrar tais processos em etapas
do material de base em relação a aspectos externos e de montagem, como acontece com componentes de
podem melhorar a qualidade térmica, de atrito, des- móveis e de produtos metalúrgicos, que passam por
gaste e corrosão, ajudando a deixar as propriedades processos de melhoria antes da sua finalização, mais
gerais do produto inalteradas (LIMA, 2006). precisamente na fase de montagem dos componentes.

36
DESIGN

Além do aspecto visual e de promoverem, em rindo diretamente a impressão. Nos processos


alguns casos, a proteção dos produtos, os processos indiretos, há primeiro a transferência da imagem
de melhoria e acabamento são muito importantes para um intermediário que, por sua vez, transfere
do ponto de vista econômico, uma vez que aumen- a impressão ao material de destino final (ASHBY;
tam a vida útil dos materiais e, também, permitem JOHNSON, 2011).
que tais produtos sejam utilizados em condições
ambientais mais rigorosas, como o processo de Serigrafia
verniz em madeiras, que auxilia na proteção contra A serigrafia é classificada como um processo de im-
a umidade, permitindo que produtos de tal mate- pressão direta, também conhecida como silk-screen.
rial possam ser utilizados em ambientes com maior O processo é realizado em uma tela preparada (ma-
umidade, sem causar danos, como estufamen- triz), que pode ser de seda ou náilon, colocada sobre
to no material e, consequentemente, no produto uma moldura de alumínio ou madeira, onde vaza a
(ASHBY; JOHNSON, 2011). tinta através da passagem de um rodo, que força a
A escolha de um processo de melhoria depen- tinta a atravessar a tela e chegar à superfície do ma-
de diretamente do material no qual será aplicado e, terial a ser impresso.
também, de qual será o uso de tal material. Assim, A matriz é preparada com uma emulsão quí-
caro(a) aluno(a), no decorrer deste tópico vamos co- mica fotossensível e posicionada sobre um fotolito
nhecer os processos de melhoria classificados e aca- em uma mesa de luz. Nesta técnica, os pontos que
bamento mais usados no tratamento de materiais, apresentam cores escuras indicam locais que vão fi-
quais as funções que exercem e em quais materiais car vazados na tela e, consequentemente, vazará a
podem ser aplicados. tinta para o material, enquanto os pontos claros são
impermeabilizados pelo endurecimento da emulsão
PROCESSOS DE IMPRESSÃO exposta à luz.
O processo é econômico para pequenos lotes e
Os processos de impressão têm o objetivo de trans- impressão de apenas uma cor. No entanto, se a im-
ferir para um material um determinado conteúdo, pressão tiver cores adicionais o custo será maior,
que podem ser imagens, siglas, palavras e outros. pois vão ser aplicadas separadamente, utilizando
Ao escolher qual dos processos de impressão será uma matriz por cor. A impressão por serigrafia
usado, é importante considerar qual a qualidade que pode imprimir em variados materiais como me-
a impressão deve ter para que a estética e o layout tais, cerâmicas, papel, vidros e plásticos (GUIA
do produto sejam valorizados. Os processos de im- DO GRÁFICO, [2018], on-line)3.
pressão são classificados de acordo como ocorre a
transferência dos elementos gráficos para o material. Tampografia
Dessa forma, podem ser processos de impressão di- A tampografia é classificada como um processo
retos ou indiretos. de impressão indireta, pois inicialmente a imagem
Nos processos diretos, a matriz entra em con- é gravada em uma placa de aço, cobre ou náilon.
tato com o material que será impresso, transfe- Posteriormente, a tinta será transferida para uma

37
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

almofada de silicone denominada tampão. A ima- da água comprime a imagem sobre a superfície do
gem, que será transferida, é gravada em um clichê material, fazendo a impressão.
em baixo-relevo, que recebe tinta na região da im- O processo é muito versátil, forma curvas e a
pressão. Em seguida, o tampão comprime o clichê imagem pode ser multicolorida. Após a impressão,
e a tinta é transferida para o material. Na Figura 11, a imagem necessita secar e receber acabamento, tor-
podemos observar uma imagem da máquina utili- nando o processo lento, porém, o custo de capital
zada no processo. e ferramental é baixo. A impressão é utilizada em
O processo pode ser impresso em diversos tama- produtos automotivos, esportivos, de computação,
nhos, tipos de peças e materiais, inclusive em mate- eletrodomésticos, móveis e outros.
riais com formas irregulares. A qualidade dos deta-
lhes é excelente, o custo de capital e ferramentas são Hot stamping
baixos. O processo é rápido e o produto impresso O processo, em português, é chamado de estampa-
pode ser manuseado imediatamente após o proces- gem a quente, e é exatamente isso que acontece. Uma
so, sem perigo de borrões e perda da qualidade da matriz de metal aquecida é comprimida sobre uma
impressão (ASHBY; JOHNSON, 2011). folha de suporte colorida e, também, sobre a super-
fície do material que está recebendo a impressão.
Assim, a estampa é criada quando a matriz entra em
contato com a folha e transfere a película colorida
para a superfície do material.
O processo pode ser aplicado em madeiras, polí-
meros, couro, papel e outros. O custo do ferramental
é baixo, assim como o da maioria das películas e fo-
lhas (ASHBY; JOHNSON, 2011).

GALVANIZAÇÃO

A galvanização é um processo que trata a superfície


Figura 11 – Imagem da máquina de tampografia. de materiais metálicos com o revestimento como,
o zinco, principalmente. Todavia, podem ser em-
Impressão de transferência por água pregados cromo, níquel, estanho, magnésio, ouro,
A impressão de transferência por água é classifi- cobre, prata e outros. Com a aplicação da camada
cada como um processo de impressão indireto. protetora desses elementos, o processo altera as pro-
A imagem é impressa em uma película fina que é priedades da superfície metálica, aumentando sua
colocada dentro de um tanque com água e se dis- resistência à corrosão, além de conferir uma melhor
solve, deixando a imagem flutuando na água. En- aparência, aumentando o valor agregado (MAKO-
tão, o produto é imerso no tanque, onde a pressão VSKI; MIYOSHI, 2013).

38
DESIGN

Eletrogalvanização Anodização
O processo de eletrogalvanização é realizado com O processo de anodização acontece pela imersão da
a imersão da peça a ser galvanizada (catodo) e da peça (anodo) em um eletrólito; em geral uma solu-
fonte do material metalizado (anodo) em um ele- ção de ácido sulfúrico diluído em 15%, junto com
trólito aquoso. Nele, uma corrente elétrica contínua um catodo inerte, e, pela diferença de potencial, é
impulsiona os íons de metal do material metaliza- formado um revestimento de óxido sobre a peça.
do para a peça, formando, assim, um revestimento A anodização pode ser aplicada a alumínios, mag-
fino de metal. nésio, titânio, zinco e outros. A formação da película
Para revestir materiais como polímeros, que não pode ser espessa e dura, de maneira a resistir à abrasão
possuem boa condução elétrica, é necessário fazer e corrosão. Como o óxido é poroso, ele permite a ab-
um revestimento, primeiro nas peças com um ma- sorção de corantes, assim é possível colorir. Após a co-
terial condutor de eletricidade para, posteriormen- loração, a peça recebe um tratamento de selagem, que
te, realizar a eletrogalvanização. O processo possui consiste no fechamento dos poros e auxilia na proteção
equipamentos caros, porém o ferramental é de baixo contra corrosão (OLGA COLOR, [2018], on-line)4.
custo. Assim, a aplicação do processo em peças pe-
quenas em grandes lotes o torna um processo muito POLIMENTO
competitivo no mercado.
Processos de polimento são todos aqueles realizados
Galvanização autocatalítica com o objetivo de conferir brilho a uma superfície.
A galvanização autocatalítica, de maneira prática, Toda peça natural ou manufaturada pode receber
é uma eletrogalvanização sem o uso de eletricida- brilho. Além de dar brilho, o polimento também é
de. O processo acontece pela diferença de potencial usado para eliminar rebarbas e pequenas imperfei-
elétrico entre a solução e a peça trabalhada, de for- ções das superfícies de peças.
ma que os íons presentes na solução, onde a peça é
imersa, direcionam-se, e depositam-se sobre a su- Polimento mecânico
perfície da peça. O processo de polimento mecânico acontece por
O processo geralmente usado com a eletrogal- meio da esfregação de abrasivos finos, contidos em
vanização não atingirá o resultado desejado, como ceras, óleo ou em outro fluido, contra a superfície
em revestimento de superfícies complexas. O pro- por um disco ou correia giratórias.
cesso é amplamente aplicado em metais e políme- Praticamente, todo metal e cerâmica podem ser
ros devido ao custo dos reagentes químicos, que polidos mecanicamente, o que pode dificultar a ope-
são em média 50% mais caros do que a eletrogal- ração é o formato da peça a ser polida. O custo de
vanização. Além disso, também são mais lentos, equipamento e ferramental do processo são baixos.
uma vez que a taxa de deposição dos íons no ma- No entanto, o processo é bastante lento, fazendo com
terial, sem eletricidade, é mais vagarosa (ASHBY; que a taxa de produção seja pequena, o que não acon-
JOHNSON, 2011). tece com polimentos automatizados, (LESKO, 2004).

39
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Polimento químico a peça contra corrosão e, de maneira corretiva, en-


O polimento químico é realizado a partir da disso- cobrindo alguma imperfeição de cor na superfície.
lução química controlada em um banho de ácido, Além desses dois aspectos importantes, uma tercei-
com aditivos que dissolvem as saliências da peça ra característica essencial para os designers é a es-
que está sendo polida, conferindo, assim, uma su- tética, que pode ser melhorada com revestimentos
perfície com brilho. O processo é recomendado por tintas e vernizes, aplicando diferentes cores ao
para peças que tenham orifícios e áreas em baixo- produto final.
-relevo, geralmente, alumínio, cobre e aços inoxi-
dáveis. O processo é controlado pela composição Pintura/Tintas
química do banho, temperatura e tempo de imer- As tintas são empregadas para recobrir superfícies
são da peça. Apresenta-se como uma boa opção de componentes e peças pela pintura. A pintura, en-
por ter equipamentos e ferramental com baixos tão, por meio do recobrimento de superfície, pro-
custos, sem precisar de estruturas complexas, nem porciona às peças proteção contra ações externas
mesmo uma fonte de energia. do ambiente, dá acabamento à peça, auxiliando na
decoração, facilita a higiene e ainda melhora a dis-
Eletropolimento tribuição de luz.
O processo de eletropolimento é, basicamente, o
processo de eletrogalvanização ao contrário. Neste Há vários métodos de pinturas diferentes, que se
processo, a peça é ligada ao lado positivo de uma diferenciam na forma que cobrem as superfícies
fonte de corrente contínua, enquanto o catodo é com as tintas. A escolha do método mais adequa-
ligado no lado negativo, sendo que ambos estão do deve considerar o formato, material da peça e
imersos em uma solução condutora. Então, duran- qual será sua utilidade no mercado (OLIVEIRA,
te o processo, uma camada de óxido e sais se for- 2012). Para Ashby e Johnson, (2011), entre os mé-
ma em volta da peça, polindo-a. Pode ser utilizado todos de pinturas, podemos destacar os seguintes:
para polimento de praticamente todos os metais • Pintura à base de água: pinturas realizadas
e até para peças pequenas de até 20 mm² de área, com tintas que têm a base de água. A tinta
como rebites, parafusos, componentes elétricos e seca à medida que a água da fórmula vai eva-
porando. Ao mesmo tempo, acontece a fusão
outros (LESKO, 2004).
das partículas de resina da tinta que formam
uma camada contínua sobre a superfície.
REVESTIMENTOS • Pintura à base de solvente: as pinturas com
tintas à base de solventes se comportam de
Como o próprio nome já diz, os processos de reves- forma parecida com as de base de água, mas,
timento têm como objetivo revestir o produto ou nesse caso, além da evaporação da água,
componente, funcionando como um mecanismo tem-se a evaporação do solvente, que pro-
de manutenção preventiva e corretiva. Dessa for- move a fusão das partículas de resina, for-
mando uma camada de revestimento colori-
ma, pode agir de maneira preventiva, protegendo
do sobre a superfície.

40
DESIGN

• Pintura a pó: pigmentos e resinas são moídos Quadro 4 – Aplicação de tintas em relação à sua
até o momento de virarem pó e são asper- composição.
gidos por meio de um bocal negativamente
carregado sobre a peça a ser revestida. A ade- Tipos de tintas Aplicações
rência acontece devido às partículas estarem
pinturas de batentes, portas,
carregadas negativamente e a superfície das Alquídicas janelas e paredes internas de
peças se encontrarem eletricamente aterrada, ambientes de baixa umidade
ou seja, pela diferença de carga entre o pó e a pinturas em alvenaria, concre-
peça. Posteriormente ao revestimento com a to, massa corrida, argamassa,
Vinílicas
tinta em pó, a peça é aquecida para fundir a madeira, compensados e
camada de tinta. aglomerados
• Eletropintura: processo parecido com os pro- pinturas de paredes, indicadas
cessos de galvanização, uma vez que a peça Acrílicas tanto para a pintura interna
na forma de catodo é imersa em uma solução quanto externa
aquosa de pigmento emulsificado, na qual as pinturas em áreas marítimas e
partículas de pigmento são carregadas até a Borracha industriais, demarcação de tráfe-
clorada go, piscinas ou locais que exijam
superfície da peça, formando uma película,
resistência à água
atraídas pela campo elétrico formado ao re-
dor dela. pinturas em equipamento
Poliuretânica como tratores, caminhões,
aviões e outros
Tanto nas pinturas à base de água e quanto de sol- pinturas em fogões, refrigera-
ventes, a tinta pode ser aplicada de diferentes for- Epoxídica dores, aquecedores, tanques e
tantos outros
mas, usando diferentes ferramentas que auxiliam
no processo. As mais comuns são pincéis, pistolas pinturas na indústria moveleira e
Poliéster
a da construção civil
de sprays, por imersão e outros. Atualmente, são
pinturas em madeiras e me-
inúmeras as opções em tintas; este é um ramo da tais, usadas para repintura de
Nitrocelulose
indústria muito desenvolvido e sempre produz automóveis e acabamento para
novas opções com diferentes propriedades e van- produtos industriais
tagens frente aos demais. Maleicas e
pinturas e madeiras
fenólicas
Segundo Teixeira (1999), as tintas podem ser
classificadas em relação a suas composições químicas: Fonte: Teixeira (1999, p. 298).

41
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Pintura/Vernizes
Os vernizes são soluções compostas por resinas na-
turais ou sintéticas, contêm óleo secante e solventes,
com o objetivo de proteger, principalmente, madeira
e concreto armado, pela formação de uma película
transparente. Podem ser brilhantes ou foscos e sua
classificação, segundo a resina, são as seguintes:

Quadro 5 – Aplicação de verniz em relação à sua


composição e resina.

Tipos de verniz Aplicação


interiores, já que em locais exter-
Alquídicos
nos amarelam e perdem o brilho
em madeira, com secagem rápida
Copal e alto brilho. São mais resistentes
do que os alquídicos.
concretos aparentes, cerâmicas e
madeira. Não amarelam nem per-
Acrílicos
dem o brilho, têm secagem rápida
e transparência total.
madeiras em exteriores, como de-
Óleos-uretâni-
cks de piscinas, portas e portões.
cos
São mais resistentes.
Fonte: Pinhal (2009, on-line)5.

Após conhecer os processos de acabamento e me-


lhoria, finalizamos nossa primeira unidade. Nela,
conhecemos os principais processos empregados
para o desenvolvimento de um produto, desde os
processos de conformação que, geralmente, são os
primeiros processos na linha de produção de um
produto até sua finalização com os processos de aca-
bamento. Como citado no decorrer do texto, esses
processos não são os únicos. Há outros, de confor-
mação, união e acabamento, mas, como não é pos-
sível falar de todos neste livro, abordamos os mais
representativos e utilizados.

42
DESIGN

43
considerações finais

C
aro(a) aluno(a), nesta unidade conhecemos e estudamos os principais
e mais utilizados processos de fabricação, os quais dividimos em qua-
tro grupos: processos de conformação mecânica, processos de con-
formação metalúrgica, processos de união e processos de melhoria e
acabamento. Assim, conseguimos entender as principais características desses
processos e as particularidades que conferem aos componentes e produtos que
processam e, portanto, influenciam no resultado final.
A predominância dos processos de fabricação ficam por conta dos processos
de conformação, que são classificados em mecânicos ou metalúrgicos. Esses pro-
cessos concedem uma variedade de aspectos a peças e componentes para identifi-
car qual a melhor opção em determinado caso. Além de conhecer suas principais
características, é essencial observar quais são seus custos, se fabricam em peque-
nos lotes, entre outros aspectos importantes, por exemplo, quais os impactos que
representam em relação a questões ambientais, se há produção de resíduos ou o
consumo de elementos naturais não renováveis.
Nos processos de união, vimos a infinidade de opções em acessórios que
existem e podem servir para realizar a união de componentes para a montagem
de um produto final, mas que, apesar de muitas opções, é necessário analisar a
geometria e propriedades das peças a serem unidas, qual o desempenho exigido
da união para a vida útil do conjunto, quais as configurações de montagem, de
desmontagem e requisitos de segurança.
Por fim, conhecemos os principais processos de revestimento e descobrimos
que eles podem ir além de apenas revestir com finalidade estética. Eles também
possuem outras funções, como proteção do material de base em relação a aspec-
tos externos, melhorar a qualidade térmica, de atrito, desgaste, corrosão, ajudan-
do a deixar as propriedades gerais do produto inalteradas. Bons estudos!

44
atividades de estudo

1. Qual das opções a seguir não pode ser classificada como um processo de
conformação mecânica?
a) Forjamento.
b) Lingotamento.
c) Extrusão.
d) Fresagem.
e) Torneamento.

2. Em relação aos processos de conformação metalúrgica, é correto afirmar que:


I - São processos caracterizados por transformarem a forma de um ma-
terial por meio do emprego de altas temperaturas.
II - Os processos de conformação metalúrgicos são divididos em dois gru-
pos, que são os processos de conformação por deformação plástica e
os processos de conformação por deformação usinagem.
III - A fundição é um processo de conformação metalúrgica que consiste
no processo de obtenção de objetos, vazando material líquido ou vis-
coso em um molde com a forma a ser fundida.
IV - A sinterização é uma das duas classes em que os processos de confor-
mação metalúrgica são divididos. Também é conhecida como metalur-
gia do pó, pois transforma pós de metais por meio da sua compacta-
ção mediante a aplicação de calor e pressão.

Assinale a alternativa correta:


a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

45
atividades de estudo

3. Assinale as afirmações a seguir, sobre processos de melhoria e acabamen-


to, em Verdadeiro (V) ou Falso (F):
( ) Os processos de melhoria e acabamento, além de promoverem melhoria
estética nos produtos, também podem servir como uma proteção do material
de base em relação a aspectos externos.
( ) Os processos de revestimento como, por exemplo, pinturas com tintas ou
vernizes, não são considerados processos de melhoria, uma vez que apenas
atribuem ao produto características estéticas e nenhuma funcionalidade a mais.
( ) Os processos de melhoria e acabamento são muito importantes do ponto de
vista econômico, uma vez que aumentam a vida útil dos materiais, porque auxi-
liam na preservação dos aspectos do material em relação às condições externas.

Assinale a alternativa correta:


a) V; V; F.
b) F; F; V.
c) V; F; V.
d) F; F; F.
e) V; V; V

4. Qual das afirmações a seguir está incorreta?


a) Forjamento é um processo caracterizado pela conformação por esfor-
ços que prensam o material trabalhado, fazendo com que ele assuma o
contorno da ferramenta conformadora, denominada matriz.
b) Aplainamento é o processo realizado com o objetivo de obter super-
fícies planas em posição horizontal, vertical ou inclinada de uma peça.
c) Estampagem é o processo que possui um conjunto de operações por
intermédio das quais chapas planas são transformadas em produtos
com uma nova forma geométrica, plana ou curva.
d) Extrusão é o processo que promove a redução da seção transversal
de um fio ao conduzir a peça por meio de uma ferramenta conhecida
como fieira.
e) Torneamento é o processo que se baseia na rotação uniforme de uma
peça cilíndrica em torno de um eixo fixo, enquanto, ao mesmo tempo,
uma ferramenta de corte, perifericamente, retira material da peça.

5. Explique e comente qual a principal diferença entre os processos de con-


formação por deformação plástica e por deformação usinagem.

46
LEITURA
COMPLEMENTAR

Podemos, com certeza, afirmar que qualquer máquina ou equipamento, independen-


temente dos processos que desenvolve, está sujeito a um processo de deterioração
(desgaste) em função do tempo de trabalho. Para evitar o desgaste, é necessário a
execução de alguns procedimentos ou trabalhos para diminuir e/ou retardá-lo, os quais
estão ligados diretamente à manutenção industrial.
A manutenção iniciou baseada na simples reparação do dano por intermédio da ação
manual do homem, em que ele só intervinha para remediar a avaria, isto é, só havia
ação após a quebra e não existia preocupação com as causas desse dano. Esse tipo de
manutenção chama-se “manutenção corretiva”, e podemos dizer que tal procedimento
é incorreto. Apesar disso, devido à falta de pessoal técnico qualificado, a manutenção
corretiva ainda é muito empregada.
Em função do crescimento das indústrias, do surgimento de novos processos de fa-
bricação, de novas máquinas, novas tecnologias, novos instrumentos e também do
aumento da concorrência, a manutenção também teve de evoluir. Passou não só a re-
mediar os danos, mas também a planejar e se antecipar. Com o auxílio do histórico de
cada equipamento, do processo, de estudos estatísticos e de confiabilidade, os dados e
danos foram avaliados e, assim, foi possível prever as periodicidades adequadas para a
substituição de peças e componentes de máquinas.
Essa prevenção (troca antes da quebra) foi chamada de “manutenção preventiva”. As
máquinas estão cada vez mais sofisticadas (com mais automatismo, mais tecnologia
etc.) e, portanto, mais caras, o que aumenta, cada vez mais, a exigência de retorno
do investimento realizado pelas empresas e a qualidade do processo que executam.
Assim, devem apresentar índices de confiabilidade e disponibilidade elevados, acompa-
nhados de custos de produção aceitáveis, pois os custos de falha de produção são cada
vez mais elevados, devido à enorme concorrência comercial.
Após o exposto, podemos conceituar “manutenção mecânica” como as ações efetuadas
no sentido de corrigir falhas, manter as máquinas em perfeito estado e prevenir a que-
bra delas, trocando peças e componentes antes mesmo de quebrarem ou falharem e
interrompem processos.

Fonte: adaptada de Peixoto e Aita (2012, p. 55).

47
material complementar

Indicação para Ler

Fundamentos de Design de Produto


Richard Morris
Editora: Bookman
Sinopse: O livro apresenta um panorama conciso dos principais processos que
envolvem o design de produto. Oferece dicas valiosas sobre todas as etapas da
criação de um produto, apresentando do briefing às soluções, da produção ao
marketing. Pode ser tratado como um guia para referência teórica e inspiração,
pois vem com muitos exemplos de trabalhos de talentosos designers de todo o
mundo, abordando aspectos do design, da geração de ideias às soluções, da pro-
dução ao mercado. Com estudo de caso sobre profissionais da área com suas
criações, contextualiza o momento atual vivido pelo design de produto.

48
referências

ASHBY, Michael; JOHNSON, Kara. Materiais e De- MAKOVSKI, Evelyn; MIYOSHI, Mariana A. Gal-
sign: Arte e Ciência da Seleção de Materiais no De- vanização: técnicas, custos, utilidade. Curitiba:
sign de Produto. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. UFPR, 2013. p. 1.
346 p. v. 1. MIRANDA, Hélio Cordeiro. Tecnologia Mecânica:
CHIAVERINI, Vicente. Tecnologia Mecânica. 2. ed. processos de fabricação. Fortaleza: UFC, 2015. p. 175.
São Paulo: Makron Books, 1986. 315 p. v. 2. MONTEIRO, Jeronimo. Mêcanica: Processos de Fa-
D’ÁVILA, Alexandre; SERGIO, Antônio; FRANCO, bricação. Vitória: SENAI, 1999. 48 p.
Priscila; SARTI, Caio; PINTO, Sâmara; LOPES, Se- OLIVEIRA, Antônio Roberto de. Corrosão e trata-
bastião. Tecnologia de Soldagem. Rio de Janeiro: mento de superfície. Belém: IFPA, 2012. p. 104.
EUZO, 2011. p. 26. PACHECO, Joyson Luiz; BESKOW, Arthur Bortolin.
JÚNIOR, José Hamilton Chaves Gorgulho; SOU- Processos de Conformação. Porto Alegre: UFRGS,
ZA, Marcos Aurélio de. Tecnologia de Fabrica- 2012. p. 95.
ção: Operação de Fresamento. Itajubá: UNIFEI, PEIXOTO, Nirvan Hofstadler; AITA, José Carlos
2013. 70 p. Lorentz. Tecnologias e Processos Industriais I. San-
LESKO, Jim. Design Industrial: Materiais e Proces- ta Maria: UFSM, 2012. p. 58.
sos de Fabricação. 1. ed. São Paulo: Edgard Blücher, ROCHA, Otávio Fernandes Lima da. Conformação
2004. 277 p. v. 1. mecânica. Belém: IFPA, 2012. p. 68.
LIMA, Marcos Antonio Magalhaes. Introdução aos SILVA, Glamidir Pinto. Práticas de Unisagem: Tor-
Materiais e Processos para Designers. 1. ed. Rio de neamento. Pelótas: IFSul, 2010. p. 27.
Janeiro: Ciência Moderna, 2006. v. 1. TEIXEIRA, Joselena Almeida. Design & Materiais.
1. ed. Curitiba: Cefet, 1999. 324 p. v. 1.

Referências on-line:

1 Em: <http://www.politecnica.pucrs.br/~isaac/PRATICA_OFICINA_arquivos/
P2/AULA%207/aula_7.pdf>. Acesso em: 7 maio 2018.
2 Em: <http://slideplayer.com.br/slide/8834390/>. Acesso em: 07 maio 2018.
3 Em: <https://www.guiadografico.com.br/artigos/como-escolher-por-um-pro-
cesso-de-impressao/>. Acesso em: 7 maio 2018.
4 Em: <http://olgacolor.com/processos/acabamento-anodizacao/>. Acesso em: 7
maio 2018.
5 Em: <http://www.colegiodearquitetos.com.br/dicionario/2009/02/o-que-e-
-verniz/>. Acesso em: 7 maio 2018.

49
gabarito

1. B.
2. D.
3. C.
4. D.
5. A principal diferença entre os processos de conformação por deforma-
ção plástica e por deformação usinagem é que, no caso dos processos
de deformação plástica, os equipamentos e máquinas envolvidos aplicam
tensões sobre o material, inferiores ao limite de resistência à ruptura do
material; dessa forma, apenas modificam a geometria da peça, sem reti-
rar material dela. Já os processos de deformação por usinagem aplicam
tensões superiores ao limite de resistência à ruptura do material; assim,
tais processos modificam a peça exatamente pela retirada de material
que é denominado “cavaco”.

50
UNIDADE
II
MATERIAIS METÁLICOS

Professora Esp. Regiane Mendes

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Metais
• Metais ferrosos
• Metais não ferrosos
• Tratamentos em metais
• Aspectos gerais dos metais

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer a definição dos metais, quais suas principais
características e propriedades.
• Aprender sobre os materiais metálicos ferrosos, suas
características e aplicações.
• Aprender sobre os materiais metálicos não ferrosos, suas
características e aplicações.
• Identificar quais os tratamentos utilizados na fabricação de
produtos com materiais metálicos.
• Avaliar quais são os aspectos que devem ser considerados
em relação aos materiais metálicos e os processos
utilizados para sua transformação em produtos.
unidade

II
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), bem-vindo à segunda unidade do nosso livro!


Os materiais desempenham papel fundamental no processo de
concepção de um produto, pois são os responsáveis por concretizarem
todo o seu conceito e projeto. Assim, o produto não é apenas resul-
tado do design, mas também de todo o conjunto de características e
propriedades inerentes do material do qual é feito. O material, por sua
vez, define muitos aspectos deste produto, como funções, ergonomia,
estética, durabilidade, custos e outros.
No decorrer da história da humanidade, é evidente sua relação
com os materiais. Podemos até dizer que os materiais foram e ainda
são a base e guia no processo de evolução da sociedade. No início dos
tempos, usando madeiras, pedras e ossos, e, com o passar dos sécu-
los, juntamente com o desenvolvimento das tecnologias, ciências e en-
genharia, os materiais foram sendo aperfeiçoados e hoje existe uma
enorme variedade, classificada por sua composição, características e
propriedades.
No decorrer das próximas unidades, iremos ver as principais clas-
ses de materiais e suas características em geral. Nesta unidade, em par-
ticular, caro(a) aluno(a), iremos iniciar nosso estudo pelos materiais
metálicos, elementos extraídos de minérios naturais, encontrados de
forma abundante no planeta. Hoje, são largamente utilizados no de-
senvolvimento de produtos de diversos setores da indústria, sendo o
grupo mais importante entre os materiais de construção, devido às
propriedades que possuem.
Assim, teremos um visão geral sobre os materiais metálicos, quais
suas classificações (metais ferrosos, metais não ferrosos), suas ligas, pro-
priedades mecânicas, físicas, químicas e outras que lhes permitem tama-
nha usabilidade e aplicação no desenvolvimento de produtos diversos,
por quais tratamentos podem ser melhorados e, também, quais são os
aspectos em relação a economia, reciclagem, gestão ambiental e outros.
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Colagem metálica
Mar de elétrons deslocados

Condutividade Condutividade
Íons elétrica térmica
positivos

Maleabilidade Ductilidade

Estruturas de cristal
Rosto cúbico centrado (fcc) Centrado cúbico (bcc) Hexagonal close packed (hcp)

Textura brilhante

Metais
Caro(a) aluno(a), a relação do homem com o metal tória, o metal fez parte e teve grande importância
é muito antiga; o início se deu por volta de 4.000 para a vida e o desenvolvimento da sociedade, tan-
a.C. Naquela época, devido à presença abundante e to que existiu um período denominado “Idade de
à facilidade de extração e transformação, os metais Ferro” e ainda hoje é o material mais utilizado no
mais usados eram o ouro e o cobre. Por toda a his- mundo inteiro.

56
DESIGN

Devido à sua relevância na sociedade, sempre classificados por suas propriedades, por que sua vez,
houve a busca por melhorar o ferro, gerando, assim, podem ser classificadas, principalmente, em físicas
a evolução de métodos e técnicas, resultando no e químicas. Esses são os aspectos atribuídos para a
desenvolvimento das ligas de metais, que são uma transformação e, consequente, facilidade ou não da
combinação de pelo menos um metal puro com ou- utilização dos materiais no desenvolvimento de pro-
tro elemento. O aço é um exemplo de liga de metal, dutos e processamentos.
pois é constituído pela combinação de ferro com Nos próximos parágrafos, iremos conhecer
percentual de carbono. Atualmente, é um dos metais quais as principais propriedades de um material e
mais aplicados nos diversos setores de transforma- fazer uma breve explicação sobre as mais relevantes.
ção (LIMA, 2006). Caro(a) aluno(a), neste momento vamos dar
Caro(a) aluno(a), você deve estar se perguntan- ênfase ao metal, mas é importante entender o que
do o que é esse importante material, chamado metal. significa cada propriedade, pois mais à frente iremos
Metal é “uma substância química elementar opaca, falar delas, mas aplicadas em diferentes materiais, e é
lustrosa, boa condutora de calor e da eletricidade e essencial para um bom entendimento geral.
boa refletora da luz, quando convenientemente po-
lida” (AMERICAN SOCIETY FOR METALS, apud PROPRIEDADES FÍSICAS
TEIXEIRA, 1999, p. 96). Tecnologicamente, tam-
bém possui alto grau de ductilidade e plasticidade. As propriedades físicas são aspectos inerentes a um
Os metais estão presentes na natureza em estado li- determinado material e, geralmente, não são fáceis
vre ou são compostos e são extraídos de minerais, de alterar. Têm a característica de poderem ser me-
substâncias naturais formadas dentro de diferentes didas ou observadas, sem que a composição quími-
tipos de rochas (hematite, limonita, magnetita ou si- ca ou integridade da substância respectiva seja afe-
derita), encontram-se em todas as partes do planeta: tada. Tais propriedades podem ser classificadas em
núcleo, manto e crosta terrestres (TEIXEIRA, 1999). mecânicas, térmicas e elétricas. Essas três classes
Os metais e suas ligas podem ser classificados de são as mais relevantes para o estudo dos materiais
diversas formas. Contudo, neste livro, iremos dividi- (LESKO, 2004).
-los em metais ferrosos e metais não ferrosos, que é
a forma mais comum de classificação. Os metais fer- Propriedades mecânicas
rosos são aqueles que contêm uma percentagem ele- As propriedades ditas mecânicas são uma classifica-
vada de ferro em sua composição química, havendo ção dentro das propriedades físicas. Elas se referem
a predominância deste elemento. Já os não ferrosos, à forma como os materiais reagem, qual sua resis-
como o próprio nome sugere, são os materiais me- tência frente aos esforços externos de natureza me-
tálicos em que não há a presença de ferro ou tenha cânica. No caso dos metais, as propriedades variam
em pequena quantidade de composição química do consideravelmente dependendo do tipo do metal, se
material (LIMA, 2006). é ferroso, não ferroso ou liga (materiais com pro-
Os materiais metálicos e outros que estudare- priedades metálicas que contêm dois ou mais ele-
mos nas próximas unidades, de maneira geral, são mentos químicos, sendo que pelo menos um deles

57
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

é um metal), e das condições que estão sendo trata- Resistência mecânica


dos, por exemplo, com aplicação de temperaturas e Esta propriedade caracteriza a capacidade com que
fabricação (TEIXEIRA, 1999). o material suporta a aplicação de diversos esforços
externos sem se romper. Os metais apresentam boa
Elasticidade resistência mecânica, ou seja, é necessário o empre-
A elasticidade pode ser definida como a capacida- go de uma quantidade considerável de força para
de que um material tem de retornar a sua forma e provocar a ruptura do material. Na figura a seguir,
dimensões originais, após cessar a aplicação de um podemos observar quais são as forças que podem
esforço externo que o deformava. Essa característi- atuar sobre o metal, assim como em outros mate-
ca é chamada de comportamento elástico, já que a riais, e promover sua ruptura (BORGES, 2009).
deformação do material acontece só no momento
F F F F
que recebe o esforço e, assim, não é permanente
Tração Compressão
(BORGES, 2009).
F
Todo os materiais têm o que chamamos de limi- F
te de elasticidade, ou seja, é a tensão acima da qual F
o material não retorna às suas dimensões originais. Torção

Os metais apresentam alta capacidade de voltar ao F Flexão


Cisalhamento
normal após serem deformados por forças externas,
dessa forma, possuem um considerável limite de Figura 1 – Representação gráfica das forças que podem provocar ruptura
dos materiais, forças de tração, compressão, cisalhamento, flexão e torção.
elasticidade (LESKO, 2004). Fonte: Borges (2009, p. 3).

Plasticidade Dureza
Propriedade que representa a capacidade que um A dureza de um material é entendida como resistên-
material tem de alterar, mudar sua forma e dimen- cia à penetração da superfície de um material duro.
sões, sob a ação de forças externas exercidas sobre Esta propriedade pode ser medida em Brinell, Vi-
ele, e conservá-la após a retirada de força, sem que ckers e Rockwell, que são os diferentes tipos de mé-
haja rupção ou apresentação de fissuras no material. todos utilizados para aferir qual a dureza de um ma-
Também pode ser chamada de deformidade, que terial. Tais métodos forçam um penetrador contra a
é a mudança dimensional resultante da força apli- superfície de um material, em condições controla-
cada sobre o material. Para a maioria dos materiais das de taxa de aplicação e carga, e posteriormente é
metálicos, o regime elástico persiste até deforma- feita a medida da profundidade que é relacionada a
ções de aproximadamente 0,005. Após este limite, o um número índice de dureza.
material é deformado de forma permanente, acon- Quanto mais macio o material, mais profunda
tecendo a deformação plástica, que são os resulta- a medida e, consequentemente, menor a dureza do
dos obtidos pelos processos de conformação por material. Dessa forma, temos que os metais possuem
deformação plástica, que vimos na unidade anterior considerável dureza, a qual é, em geral, proporcional
(MORA, 2010). ao limite de resistência do material (MORA, 2010).

58
DESIGN

Ductilidade Dilatação térmica


No item anterior, vimos que a dureza é a resistência Ao fornecer temperatura para um material, o grau
de penetração de um material. Dessa forma, temos de agitação e vibração de seus átomos são aumen-
que a ductibilidade é o inverso da dureza, ou seja, é a tados, fazendo com que a distância média entre eles
capacidade que um material tem de aceitar a defor- também seja. Consequentemente, o resultado é a ex-
mação plástica. Assim, quando a dureza é elevada, pansão térmica das estruturas moleculares, isto é, as
a ductibilidade é pequena. Quanto mais duro for o dimensões do material são alteradas.
material, menos dúctil ele será. A maioria dos materiais expande ou contrai com
Todos os metais têm um determinado nível de o aquecimento, resultando em uma mudança de
ductilidade; o ouro e a prata, por exemplo, são me- comprimento. Essa é uma propriedade bastante re-
tais mais dúcteis do que o aço. No entanto, o limite de levante, pois, em algumas aplicações, é fundamental
ductilidade pode ser reduzido e, também, aumentado, haver um alto grau de estabilidade dimensional em
dependendo da composição dos metais e de como eles relação a variações de temperaturas, ou seja, deve ter
são criados, como as ligas de metais, que conhecere- aplicado materiais que possuem baixa dilatação tér-
mos mais adiante nesta unidade (TEIXEIRA, 1999). mica (TEIXEIRA, 1999).
O estado que o material se encontra também
Propriedades térmicas tem muita relevância em relação à dilatação térmi-
Pode-se dizer que as propriedades térmicas de um ca. Os gases são os que mais dilatam, seguidos dos
material representam sua reação ou resposta quan- líquidos e depois sólidos. Como exemplo, podemos
do recebe calor de fontes externas. Para entender citar o mercúrio, metal em estado líquido usado na
melhor os conceitos presentes nas propriedades fabricação de termômetros, exatamente devido à sua
térmicas, é necessário saber quais as definições e a dilatação térmica.
diferença entre calor e temperatura. A temperatura
é o grau de atividade térmica, força responsável por Ponto de fusão (fusibilidade)
transferir calor. Já o calor é uma energia térmica; en- De maneira simples, o ponto de fusão de um mate-
tão, dizemos que o calor é energia em movimento, e rial é a temperatura na qual o material muda do seu
não uma substância. estado sólido para líquido. Molecularmente, o ponto
Assim, quando calor é absorvido por um sólido, de fusão é o ponto de transição em relação ao aco-
sua temperatura aumenta e sua energia interna tam- modamento dos átomos da estrutura do material.
bém, então essa energia é transportada para todas A fusão em materiais de substâncias puras ocor-
as regiões e o material pode fundir-se, dependen- re sempre na mesma temperatura, que se mantém
do de quanto calor está sendo absorvido. Logo, as constante durante todo o processo de fusão. Já em
condições térmicas externas de um material podem materiais que são resultados de misturas de elemen-
afetá-lo e alterá los de várias formas. Tais alterações tos, a temperatura não se mantém constante no de-
podem ser utilizadas para obter determinadas ca- correr do processo. É o que acontece com as ligas de
racterísticas. É o que acontece, por exemplo, no caso metais, que se tratam de combinação de elementos
da “têmpera de aços” em metais (MORA, 2010). metálicos (LESKO, 2004).

59
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Condutividade térmica Alguns aspectos podem interferir na condutivi-


Propriedade que representa a habilidade que um dade elétrica dos metais. Segundo Corrosão (2008,
material tem em conduzir e transferir calor, ou on-line)1, são eles:
seja, capacidade do material em transferir calor das • Presença de impurezas no material, que cau-
regiões que estão em alta temperatura para regiões sa centros de espalhamentos e os elétrons não
que se encontram com baixa temperatura. fluem com tanta facilidade;
Assim, os materiais que possuem alta conduti- • Deformação plástica, pois há modificação
da estrutura molecular do material, cau-
vidade térmica conduzem energia térmica de forma
sando espalhamento dele e atrapalhando o
rápida e eficiente, a exemplo dos metais. Essa carac- fluxo de elétrons;
terística se deve muito ao arranjo molecular dos me- • Aumento da temperatura, que causa aumento
tais, mas não entraremos nesse mérito por ser muito das vibrações que acabam reduzindo a facili-
específico e longo (MORA, 2010). dade do percurso e mobilidade dos elétrons
no material.
Propriedades elétricas
As propriedades elétricas de um material podem ser Resistividade
definidas por serem as respostas à aplicação de cam- Propriedade térmica, que é o inverso da condutivi-
po elétrico externo sobre ele. Tais propriedades de- dade, ou seja, resistividade, como o próprio nome
pendem das várias características dos materiais, mas sugere, é a característica que um material tem de se
principalmente das ligações químicas e dos tipos de opor ao fluxo de elétrons, corrente elétrica. Assim,
estrutura e microestrutura molecular. no caso dos materiais, quanto mais baixa for a resis-
tividade, mais facilmente o material permite a pas-
Condutividade elétrica sagem da corrente elétrica. Consequentemente, um
A condutividade elétrica é a propriedade que iden- material que tem baixa resistividade tem alta condu-
tifica se o material possui facilidade em conduzir tividade. É o que acontece com a grande maioria dos
cargas elétricas de uma posição para outra. Os ma- metais (TEODORO, on-line)2.
teriais sólidos podem ser classificados em conduto-
res, semicondutores e isolantes. Os condutores têm PROPRIEDADES QUÍMICAS DOS METAIS
alta condutividade elétrica e os isolantes possuem
baixa condutividade. Os metais são considerados As propriedades químicas de um material, assim
bons condutores elétricos, pois conseguem facil- como as físicas, são inerentes a eles e dificilmente são
mente transportar elétrons de um ponto de maior alteradas. Referem-se à capacidade de uma substân-
potencial elétrico para um de menor potencial, cia (material) poder se transformar em outra subs-
sendo que esse fluxo de elétrons é o que chamamos tância, ou seja, refere-se a reações e transformações
de corrente elétrica. químicas. No caso dos metais, tais propriedades es-
tão relacionadas à resistência que eles apresentam ao
“ataque” pelo meio externo onde estão inseridos.

60
DESIGN

Oxidação Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste pri-


A oxidação é a reação química que acontece quando meiro tópico da unidade sobre materiais metálicos
um metal reage diretamente com o oxigênio do ar e conhecemos quais suas principais propriedades.
com o qual fica em contato direto. Essa reação pode Esse conhecimento é muito relevante para o desig-
ser intensificada com a presença de umidade e tem- ners de produtos, uma vez que, sabendo quais os
peratura, pois, nesse caso, o movimento dos elétrons comportamentos dos metais em diversas situações,
é acelerado, aumentando a reatividade do material conseguimos analisar se o produto a ser desenvol-
com o oxigênio. vido deve ser confeccionado com base em materiais
Como os metais possuem alto índice de oxi- metálicos ou não. Conhecer as propriedades dos
dação, alguns procedimentos são desenvolvidos materiais é essencial para a criação e desenvolvi-
para retardar esse processo, como a aplicação de mento de um produto que tenha vida útil prolonga-
pintas e processos de revestimento no material, da e segurança de uso.
que diminuem o contato do metal com o ar. O
desenvolvimento das ligas também foi motivado
por essa propriedade, pois ligas com outros ele-
mentos não metais reduzem essa característica do
metal (TEIXEIRA, 1999).

Corrosão
Corrosão é o processo pelo qual partes de um ma-
terial são removidas devido a reações químicas, em
que substâncias químicas presentes no ambiente
atacam o material e retiram pequenas partes deles,
possibilitando a que outras reações aconteçam. Um
exemplo é a formação de ferrugem que acaba des-
truindo aos poucos o material e, consequentemente,
o produto. A oxidação que acabamos de ver no item
anterior é uma reação que causa a corrosão.
A maior parte dos metais sofre com a corro-
são, porém chumbo e alumínio são dois metais que
resistem bem a esse ataque e, por isso, são muito
usados em produtos de ambientes externos com
umidade e calor.

61
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

METAIS
FERROSOS

Caro(a) aluno(a), como já vimos anteriormente, os materiais metálicos são os


mais utilizados no mundo, principalmente nos setores de construção civil, in-
dústria automobilística, naval, aérea e outros, devido a suas propriedades serem
favoráveis a tais utilizações. Os metais e suas ligas podem ser divididos em duas
grandes classes: materiais metálicos ferrosos e materiais metálicos não ferrosos.
Neste tópico, falaremos da classe dos metais ferrosos e suas ligas, que con-
têm elevado percentual de ferro em sua composição química, sendo ele o prin-
cipal constituinte. Agora, iremos abordar os principais metais ferrosos, que são
os ferros fundidos e os aços (ZOLIN, 2010).

62
DESIGN

Ligas metálicas

Ferrosas Não-ferrosas

Aços Ferros fundidos

Baixa liga Ferro Ferro dúctil Ferro Ferro


cinzento (ferro nodular) branco Maleável

Alta liga

Baixo teor de Médio teor de Alto teor de


carbono carbono carbono

Comum Alta Comum Tratável Comum Aço- Inoxidável


resistência termicamente ferramenta
baixa liga

Figura 2 – Esquematização da classificação dos materiais metálicos.


Fonte: Lopes (2004, p. 64).

Os metais ferrosos são largamente empregados de- presentes em toda a crosta terrestre e são denomina-
vido a propriedades e características como: boa re- das minérios, ou seja, o ferro é encontrado na forma
sistência mecânica, tenacidade e ductilidade, asso- de minério de ferro. Como é encontrado associado a
ciadas a um baixo custo de produção. No entanto, outros elementos, é necessário aplicar um processo
também apresentam algumas limitações quando de extração do ferro (PAULI; ULIANA, 1996).
comparados aos metais não ferrosos, como baixa O processo de extração de ferro mais utilizado
condutividade elétrica e suscetibilidade à corrosão. é chamado de alto-forno, que também é o nome do
O ferro, principal metal, não é encontrado puro equipamento pelo qual o processo é executado. As
na natureza, sempre está associado a outros elemen- etapas de extração do ferro por processo de alto-for-
tos formadores das rochas. Estas, por sua vez, estão no estão listadas no quadro a seguir:

63
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Quadro 1 – Etapas de extração do ferro por processo de alto-forno

1. Minerais de ferro extraídos do solo não fragmentados em pequenos pedaços, lavados e transportados para
uma indústria siderúrgica.
2. Ao chegar na indústria, os pedaços de minérios são depositados no alto-forno, em camadas sucessivas,
intercaladas com combustíveis e substâncias químicas chamadas de fundente, as quais se combinam com
impurezas e as separam do ferro.
3. Após o minério estar dentro do alto-forno, ar é injetado nele para ajudar na queima do combustível que atin-
ge elevadas temperaturas, derretendo todo o minério.
4. O ferro derretido se deposita no fundo do alto-forno e, nesse primeiro momento, é chamado de ferro-gusa ou de pri-
meira fusão. As impurezas, por serem mais leves, ficam flutuando sobre o ferro derretido e são denominadas escória.
5. O ferro-gusa e a escória são retirados do alto-forno, através de duas aberturas especiais, localizadas em altu-
ras diferentes, em cada abertura sai um dos compostos. O ferro-gusa, ao ser retirado do forno, é despejado
em panelas chamadas cadinhos.
6. Após ser transportado pelos cadinhos, o ferro-gusa é despejado em formas denominadas de lingoteiras, onde
é resfriado e, consequentemente, solidificado, retirado das formas é chamado de lingotes.
7. Os lingotes de ferro-gusa são utilizados apenas na confecção de peças que não passarão por processos de usinagem.
8. Para fabricação de ferro para outros fins, o ferro-gusa é levado para a aciaria, em estado líquido para o pro-
cesso de refino, onde as impurezas e adições do processo serão queimados. O refino do aço se faz em fornos
a oxigênio ou elétricos.
Fonte: adaptado de Lopes ( 2004).

Caro(a) aluno(a), a figura a seguir ilustra como se dá o processo de extração de


ferro por meio da utilização do alto-forno.

Esteira Coletor de
poeira

Precipitador
de lodo
Alto-forno
Excesso
de gás

Ar quente
Ar frio

Ferro gusa liquefeito Escória Queimador de gás Duto da chaminé

Figura 3 – Esquematização do processo de extração de ferro por meio da utilização do alto-forno.


Fonte: Zolin (2010, p. 19).

64
DESIGN

FERRO FUNDIDO

Observando a Figura 2, vemos que um dos metais O ferro fundido cinzento tem esse nome, pois, ao
ferrosos é o ferro fundido, que pode ser classificado ser quebrado, apresenta uma cor cinza escuro. A
em quatro diferentes tipos: ferro cinzento, branco, cor é característica da combinação entre carbo-
dúctil e maleável. O ferro fundido é uma liga do ele- no e ferro em forma de lamelas grafita. Esse fer-
mento ferro com carbono, sendo que essa liga pode ro fundido apresenta facilidade em ser fundido,
conter de 2 a 4,5% de carbono. trabalhado com ferramentas de corte e, também,
A obtenção de ferro fundido acontece quando em ser moldado em diversas formas e peças, pois
se diminui a porcentagem de carbono do ferro-gu- a grafita se comporta como pequenas trincas na
sa – ou ferro de primeira fusão –; assim, o ferro estrutura do material, fazendo com que cavacos
fundido também é chamado de ferro de segunda se desprendam com facilidade. Assim, apresen-
fusão. A diminuição de carbono acontece em for- tam reduzida resistência mecânica e ductilidade
nos apropriados e, com a diminuição do carbono (PAULI; ULIANA, 1996).
por essa segunda fusão, juntam-se outros elemen- As lamelas de grafita das quais o material é
tos, como silício, manganês, fósforo e enxofre em composto, além de permitirem as características
sua composição, em proporções adequadas, me- que vimos no parágrafo anterior, também lhe tra-
lhorando as propriedades do ferro fundido. O zem outros benefícios, como elevada capacidade de
carbono, independentemente da associação com amortecimento, absorvendo vibrações e, ainda, re-
outros elementos, estará presente com uma pro- sistência contra corrosão, inclusive em água salgada.
porção superior a 2% do volume total do ferro fun- Isso acontece devido à grafita fazer uma espécie de
dido (PAULI; ULIANA, 1996). barreira contra a liberação de produtos de corrosão
Caro(a) aluno(a), agora vamos conhecer melhor (LOPES, 2004).
os diferentes tipos de ferros fundidos, suas caracte- Em virtude de todas essas propriedades, o ferro
rísticas e aplicações em produtos de diversos setores fundido cinzento é utilizado para inúmeros fins. Por
da indústria. absorver muito bem as vibrações, é utilizado para
produtos ou componentes de corpos de máquinas,
Ferro fundido cinzento como bloco de pistões, bloco de motores, cilindros,
Segundo Borges (2009), a composição dos ferros tambores de freio base de máquinas pesadas, cabeço-
fundidos cinzentos está compreendida entre os se- tes e vários outros (LIMA, 2006).
guintes teores:

Carbono (C) – 2,50% a 4,00%


Silício (Si) – 1,20% a 3,00%
Manganês (Mn) – 0,30% a 1,00%
Fósforo (P) – 0,10% a 1,00%
Enxofre (S) – 0,05% a 0,255

65
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Ferro fundido branco Ferro fundido dúctil


Segundo Lima (2006), a composição dos ferros Segundo Lima (2006), a composição do ferro fundido
fundidos brancos está compreendida entre os se- dúctil está compreendida entre os seguintes teores:
guintes teores:
Carbono (C) – 3,00% a 3,40%
Carbono (C) – 1,80% a 3,60% Silício (Si) – 1,80% a 2,80%
Silício (Si) – 0,50% a 1,90% Manganês (Mn) – 0,1 % a 10%
Manganês (Mn) – 0 % a 0,25% Fósforo (P) – 0,06% a 0,20%
Fósforo (P) – 0,06% a 0,20% Enxofre (S) – 0,06% a 0,20%
Enxofre (S) – 0,06% a 0,20%

O ferro fundido dúctil também é conhecido como fer-


Assim como o ferro fundido cinzento tem o nome ro fundido nodular e é obtido por meio da fundição
devido à coloração que apresenta quando é fratu- do ferro fundido cinzento com adição de pequenas
rado, o mesmo acontece com o branco. Uma vez quantidades de magnésio e césio. Devido ao aumento
que esse ferro fundido é fraturado, vai apresentar de manganês na composição deste ferro, sua rigidez e
coloração branca brilhante. Isso ocorre porque resistência ao choque são aumentadas se comparado
o carbono se apresenta quase inteiramente com- ao ferro fundido cinzento (LESKO, 2004).
binado com o ferro. Esse ferro fundido é muito Esse ferro tem boas propriedades mecânicas e ex-
duro, difícil se ser usinado e deve ser trabalha- celentes propriedades de fundição e usinagem. Apre-
do com ferramentas de corte especiais (PAULI; senta, também, boa resistência ao desgaste e à fadiga,
ULIANA, 1996). além de alta elasticidade. Todavia, ao se comparar com
Por ser muito duro, o ferro fundido branco o ferro fundido cinzento, apresenta menor absorção de
é usado apenas em peças que exijam muita re- vibrações e condutibilidade térmica (LOPES, 2004).
sistência ao desgaste e abrasão, como aplicações Devido a suas propriedades favoráveis, cada vez
em equipamentos de construção civil, agrícola e, mais vem sendo utilizado no desenvolvimento de
também, é bastante utilizado em equipamentos de peças. Atualmente, está presente em válvulas e dis-
mistura de argila e fabricação de tijolos, como pul- positivos para equipamento de vapor e da indústria
verizadores, trituradores, cilindros de laminação química, cilindros de secagem de fábricas de papel,
bocais, sapatas de freio ferroviário e outras peças componentes de máquinas sujeito a cargas de cho-
que necessitem ter resistência ao desgaste e dure- que e fadiga, virabrequins, engrenagens e rolamen-
za muito altas sem precisar ser, ao mesmo tempo, tos de máquinas para suportar elevadas cargas, entre
dúctil (LESKO, 2004). outros (BORGES, 2009).

66
DESIGN

Ferro fundido maleável tou a correção das impurezas do ferro e a adição de


Segundo Lima (2006), a composição do ferro fundido outras propriedades desejáveis a eles, uma vez que
maleável está compreendida entre os seguintes teores: o aço é uma liga constituída de ferro com pequenas
quantidades de carbono, manganês, silício e demais
Carbono (C) – 2,2% a 2,9%
elementos. O aço é obtido a partir do processo de
Silício (Si) – 0,9% a 1,9% conversão do ferro-gusa, que vem do alto-forno (re-
Manganês (Mn) – 0,15 % a 1,2% presentação esquemática na Figura 3). O processo
Fósforo (P) – 0,02% a 0,20% abaixa o teor de carbono presente no ferro, que é
Enxofre (S) – 0,02% a 0,20% aproximadamente 4,5%, em teores de no máximo
2,11% (BORGES, 2009).
É muito difícil estabelecer uma classificação
O ferro fundido maleável é o ferro fundido bran- precisa e completa para todos os tipos de aços. No
co transformado por meio de tratamento térmico, Brasil, a ABNT (Associação Brasileira de Normas
que resulta em um ferro mais maleável e maquiná- Técnicas) classificou os aços de acordo com a por-
vel. Esse ferro apresenta propriedades semelhantes centagem de carbono. Os dois primeiros algarismos
às do aço de construção e, por isso, é bastante uti- indicam o tipo de aço: comum ao carbono (número
lizado na engenharia. 10), aço liga (os demais) e os dois últimos designam
Por também apresentar elevada tenacidade, a média do teor de carbono presente no aço.
boas propriedades de fundição e excelente usina-
bilidade, é bastante aplicado em superfícies que Tabela 1 – Principais designações dos aços segundo
suportam grandes cargas em automóveis, trans- a ABNT.
portes ferroviários, maquinário agrícola e de cons-
trução (LOPES, 2004). Designação Porcentagem de carbono
Aço 1006 0,08% C

AÇOS 1010 0,08% a 0,13% C


1020 0,18% a 0,23% C
Além dos ferros fundidos, há outro metal ferroso 1030 0,28% a 0,34% C
muito importante, o aço, sendo o mais utilizado no 1040 0,37% a 0,44% C
mundo. Segundo Castro (2017, on-line)3, estima-se 1050 0,48% a 0,55% C
que a quantidade de aço produzida no mundo todo, 1060 0,55% a 0,65% C
anualmente, é maior do que o dobro do que é produ- Fonte: Pauli e Uliana (1996, p. 10).
zido com todos os demais metais e mais os plásticos.
A utilização do aço teve início na Revolução In- Por exemplo, o aço 1020: os algarismos 10 signifi-
dustrial, pois foi nesse período que os fornos foram cam que é um aço-carbono e os algarismos 20 que a
inventados. A invenção e o uso dos fornos possibili- porcentagem média de carbono é 0,20%.

67
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Callister apud Lopes (2004) subdivide os aços Suas aplicações são para fabricação de chapas,
como de baixa e de alta liga. Os de baixa liga são sub- tubos, tarugos, rodas e os trilhos de trens, engre-
divididos de acordo com a concentração de carbono nagens, virabrequins, produtos de construção civil,
em: aços de baixo teor de carbono, aços de médio naval, caldeiras e outros componentes estruturais
teor de carbono e aços de elevado teor de carbono. que possuam alta resistência e que necessitem de
O aço de alta liga é o aço inoxidável. elevada resistência mecânica à abrasão e tenacidade
(LIMA, 2006).
Aços de baixa liga
São aços que apresentam teores de carbono, silício, Aços de alto teor de carbono
manganês, fósforo e enxofre, e que são componentes Como o próprio nome sugere, são ligas que apre-
normalmente encontrados nos aços comuns. Tam- sentam alto teor de carbono, aproximadamente
bém apresentam teores de outros elementos, que são entre 0,60% e 1,40%. Por causa disso, são os mais
denominados elementos de liga, adicionados com duros e mais resistentes a desgastes, e consequen-
intuito específico de melhorar propriedades e carac- temente, também são os aços de baixa liga menos
terísticas do aço (TEIXEIRA, 1999). dúcteis. Assim, possuem baixíssima conformabi-
lidade e soldabilidade, porém, possui ótimo com-
Aços de baixo teor de carbono portamento em altas temperaturas.
Dos aços de baixa liga, é o mais produzido e o mais Em geral, são utilizados em uma condição endu-
barato. Em geral, apresenta teor de carbono inferior a recida e revenida, ótimos como ferramentas de corte
0,25% e não aceita tratamentos térmicos. Assim, sua re- e matrizes para modelação e a conformação de ma-
sistência mecânica é aumentada por meio de trabalho teriais, assim como para fabricação de facas, lâminas
a frio. Apesar de serem ligas relativamente moles e fra- de corte e de serras para metais (ZOLIN, 2010).
cas, possuem excelente ductilidade e tenacidade, além
de serem usináveis e soldáveis. Devido a essas caracte- Aços de alta liga
rísticas, são amplamente utilizadas em componentes de São aços que apresentam teores de carbono, silí-
carcaça de automóveis, formas estruturais e chapas usa- cio, manganês, fósforo e enxofre, e que são com-
das em edificações, pontes e tubulações (LOPES, 2004). ponentes normalmente encontrados nos aços co-
muns. Também apresentam grandes quantidades
Aços de médio teor de carbono de elementos de liga.
Ligas que apresentam concentração de, aproximada-
mente, 0,25% a 0,60% de carbono, e que permitem Aços inoxidáveis
tratamentos térmicos para melhorar as suas proprie- Os aços inoxidáveis apresentam uma concentração
dades mecânicas. Eles são mais resistentes do que de, no mínimo, 11% de cromo. Devido à sua com-
os aços com baixo teor de carbono, porém, perdem posição, são altamente resistentes à corrosão (oxida-
ductilidade e tenacidade em relação a ele. Também ção superficial) em diversos ambientes e dúcteis nas
apresentam boa conformabilidade, soldabilidade e mais baixas temperaturas.
média temperabilidade.

68
DESIGN

A maioria dos aços inoxidáveis é difícil de cur-


var, cortar e trefilar, fazendo com que esses proces-
sos sejam executados em baixa velocidade, porém,
os aços inoxidáveis podem ser soldados e abrasados
facilmente. No caso da solda, é necessário avaliar
o metal de enchimento para garantir composição
equivalente e manter a resistência à corrosão, tão ca-
racterística deste aço.
Os aços inoxidáveis são muito utilizados em
equipamentos de processar alimentos, como pias,
fogões, utensílios de cozinha, louças, detalhes ar-
quitetônicos, instrumentos cirúrgicos, equipamen-
tos de processos químicos e outros tantos (ASHBY;
JOHNSON, 2011).
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste tópi-
co. Nele, conhecemos a classe de materiais tão uti-
lizada pelas indústrias de manufatura, que são os
metais ferrosos, subdivididos em ferros fundidos e
aços. Aqui, conseguimos pincelar brevemente sobre
alguns, uma vez que há uma infinidade de ligas de
metais ferrosos, cada uma apresentando composi-
ção e propriedades específicas. Diante dessa reali-
dade, mais uma vez, fica evidente que o(a) designer
que deseja desenvolver algum produto com tais ma-
teriais ainda precisará estudar muito para escolher
aquele que apresenta as propriedades e característi-
cas necessárias aos produtos.

69
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Metais
não Ferrosos

Caro(a) aluno(a), após conhecer um pouco dos siderúrgica e também nos setores de construção ci-
metais ferrosos, que são metais com grande quan- vil, naval, ferroviária e outros, vamos ver neste tó-
tidade do elemento ferro em sua composição, e, pico os metais não ferrosos.
portanto, com grande importância para a indústria

70
DESIGN

Como o próprio nome indica, é o grupo de me- elétrica comparativamente baixa e suscetibilida-
tais que não apresenta ou possui em quantidades de – exceto nos aços inoxidáveis – à corrosão em
mínimas o elemento ferro em sua composição. São alguns ambientes. Assim, surgem os não ferrosos,
muitos os metais não ferrosos, mas somente a mi- como uma alternativa para muitas aplicações, apre-
noria é utilizada em processos de manufatura para sentando-se vantajosos ou necessários para encon-
desenvolvimento de bens de consumo e produtos trar propriedades mais apropriadas para usos espe-
industrializados. Eles apresentam grande variedade cíficos (ZOLIN, 2010).
de ponto de fusão, além de propriedades mecânicas Segundo Lesko (2004), de maneira geral, todos
e físicas que influenciam em suas performances. Ou- os métodos e processos utilizados para cortar, formar
tra característica, é que, em relação aos metais ferro- e ligar os metais ferrosos também são usados para
sos, têm um preço mais elevado, uma vez que é pre- processar os metais não ferrosos. Contudo, os não
ciso usar muita tecnologia de produção de pesquisa ferrosos apresentam a esses métodos e processos res-
para seu desenvolvimento (LESKO, 2004). postas mais severas, e as propriedades mecânicas das
O desenvolvimento dos metais não ferrosos formas maleáveis e fundidas de uma mesma liga po-
foi impulsionado após a Segunda Guerra Mundial, dem variar consideravelmente. No grupo dos metais
que trouxe à tona a importância da indústria meta- não ferrosos estão inseridos elementos como o alu-
lúrgica dos não ferrosos para o desenvolvimento de mínio, cobre, magnésio, chumbo, bronze e diversos
produtos que não eram possíveis por meio dos me- outros metais, que podem ser classificados como bai-
tais ferrosos, já que esses apresentavam limitações xo, médio e alto ponto de fusão, preciosos e refratá-
como densidade relativamente alta, condutividade rios, conforme podemos observar na figura a seguir.

METAIS NÃO-FERROSOS

Metais com alto ponto de fusão


Alta performance - Alto custo

Metais
Berílio Cromo Níquel Titânio
refratátios

Metais com médio/alto ponto de fusão


Custo médio/alto

Metais
Chumbo Estanho
preciosos
Metais com baixo ponto de fusão
Custo moderado - Produtos simples

Alumínio Cobre Magnésio Zinco

Figura 4 – Classificação dos metais não ferrosos de acordo com o ponto de fusão.
Fonte: LESKO (2004, p. 23).

71
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Caro(a) aluno(a), como há muitos metais não ferro- De acordo com as propriedades desejadas, o alumí-
sos, vamos abordar nos próximos tópicos de classifi- nio pode ser fundido com elementos básicos como
cação apenas os mais representativos, haja vista que manganês, magnésio, silício e outros, formando suas
é inviável citar todos os metais ferrosos e suas ligas, ligas. A maioria deles está disponível comercialmen-
com respectivas propriedades e características. te, e o alumínio pode ser conformado (laminado,
forjado e trefilado, de modo a ser utilizado na for-
METAIS NÃO FERROSOS DE BAIXO PONTO ma de chapas, folhas, fios e tubos), ligado, acabado
DE FUSÃO E DE CUSTO MODERADO e cortado facilmente, permitindo o uso em produtos
de diversos tamanhos e formatos.
Como o próprio nome da classificação sugere, são
elementos metálicos que apresentam baixo ponto de SAIBA MAIS

fusão, entre os quais podemos citar, principalmente,


o alumínio, o cobre e o magnésio. A reciclagem do alumínio é muito vantajosa,
pois são gastos apenas 5% da energia ne-
cessária para produzir o metal, porém, latas
Alumínio e suas ligas
recicladas apresentam um certo problema,
O alumínio, identificado pelo símbolo químico “Al”, é pois são feitas de duas ligas de alumínio dife-
o terceiro metal mais abundante na crosta terrestre, de- rentes, com composições químicas diferentes.
Uma liga é utilizada para o desenvolvimento
pois do aço e do silício. É relativamente novo, pois foi
do corpo da lata e outra para as tampas, uma
descoberto em 1825, sendo que sua utilização na produ- possui muita elasticidade e a outra é mais
ção industrial teve início no ano de 1886. Apesar de ser dura. Quando, nos processos de reciclagem,
a lata é refundida, não há a formação de
abundante na crosta terrestre, nunca é encontrado puro, nenhuma das duas ligas. Logo, a reciclagem
sempre na forma de minério (bauxita). Para extraí-lo, é deve acontecer separando as duas. Assim, as
preciso muita energia e também o desenvolvimento de latas são trituradas e em seguidas aquecidas
para remover o verniz que as protege. Com o
diversos estágios de reações químicas. No entanto, sua aquecimento, a liga que tem ponto de solidi-
reciclagem gasta aproximadamente 5% da energia uti- ficação menor começa a fundir, enquanto a
lizada para sua extração. Por isso, sua reciclagem é um outra ainda se encontra na forma de grandes
pedaços que são separados por tela. A liga
processo tão bem-sucedido e o alumínio é considerado fundida, escoa, pois está líquida. Dessa forma,
o metal mais reciclável (ASKELAND; PHULÉ, 2008). depois de separadas, ambas as ligas podem
Segundo Teixeira (1999), as principais proprie- ser fundidas, solidificadas e laminadas para
fabricação de novas latas.
dades do metal são:
• Ponto de fusão de 660 ºC; Fonte: adaptado de Askeland e Phulé (2008).

• Alta condutividade térmica e elétrica;


• Puro apresenta excelente resistência à corro-
são e ductibilidade;
• Baixa resistência mecânica e fadiga;
• Não magnético;
• Não tóxico.

72
DESIGN

O alumínio ocupa o segundo lugar em importância, Bronze


entre os metais, na economia mundial. Os produtos Bronze é o nome da liga constituída com a ligação
e componentes produzidos por alumínio e suas ligas de estanho e cobre, em que o estanho é o principal
são diversos. Estima-se que, aproximadamente, 25% elemento da liga. Apresenta elevado nível de resis-
do alumínio consumido mundialmente seja utiliza- tência à corrosão, de dureza e das propriedades re-
do no setor de transportes; outros 25% no setor de lacionadas com a resistência mecânica. À medida
alimentos, aplicados em embalagens e latas de be- que o estanho é adicionado, essas propriedades são
bidas; 15% no setor de construção cívil; outros 15% intensificadas sem que ocorra queda na ductilidade.
em componente elétricos; e os últimos 20% em di- Devido a suas propriedades e características,
versas aplicações (ASKELAND; PHULÉ, 2008). é muito usado na fabricação de estátuas, sinos,
peças ornamentais, troféus, moedas, panelas, ara-
Cobre mes, molas, tubos e, principalmente, para líquidos
Considerado o mais antigo dos metais usados pelo corrosivos, aparelhos de comunicação, condutores
homem, é um dos poucos metais encontrados pu- elétricos e outros.
ros na natureza; logo, é de fácil extração. É o único As propriedades do bronze podem ser melhora-
metal, além do ouro, que possui coloração caracte- das se forem adicionados outros elementos específi-
rística amarelo-avermelhada, o que permite ser usa- cos como o chumbo, melhorando propriedades lubri-
do em produtos decorativos, e é representado pelo ficantes e de usinabilidade, ou o zinco, que age como
símbolo químico “Cu”. desoxidante em peças fundidas, melhorando, conse-
Segundo Ashby e Johnson (2011), as principais quentemente, a resistência mecânica (ZOLIN, 2010).
propriedades do cobre são:
• Ponto de fusão 1.082ºC; Latão
• Após a prata, exibe a melhor condutividade Latão é o nome da liga constituída com a ligação de
térmica e elétrica; zinco e cobre, em que o zinco é o elemento predomi-
• Excelente resistência à tração, ruptura e de- nante. Há vários tipos de latão, uma vez que a pro-
formabilidade; porção de zinco pode variar de 5 a 50% na liga.
• Alta ductibilidade; Segundo Lima (2006), as principais característi-
• Boa resistência à corrosão e ao desgaste; cas do latão são:
• Formação de importantes ligas (bronze e latão). • Alta flexibilidade, resistência à corrosão e dureza;
• Baixa densidade e ponto de fusão;
A designação cobre é usada apenas quando a por- • Baixa condutividade térmica e elétrica;
centagem de cobre é maior do que 99,3%, o restan- • Baixa resistência à compreensão a altas tem-
te é caracterizado como as importantes ligas que peraturas.
apresentam facilidade em fundir, laminar, repuxar,
transformar em placas, fios e outras formas. Tam- À medida que a proporção de zinco é aumentada
bém são fáceis de reciclar. Em alguns países, a fração na liga, tais características são intensificadas. Dessa
de reciclagem chega a 90%. forma, o latão é bastante utilizado em peças e instru-

73
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

mentos musicais, utensílios domésticos, cartuchos, • Baixa ductilidade, tenacidade e resistência


pinos, parafusos, rebites, bijuterias, peças e objetos mecânica;
para decoração entre outros. • Baixa elasticidade.

Magnésio O magnésio pode passar por vários processos de


O magnésio é o metal representado pelo símbolo conformação, assim suas peças podem ser usinadas
químico “Mg”, também é o metal mais importante e fundidas com cuidado, pois combina facilmente
para o design de produtos, por ser o de maior leveza com o oxigênio e queima. Dessa forma, os cavacos
estrutural disponível, representando apenas 1/5 da retirados da usinagem podem incendiar.
densidade do ferro. As ligas de magnésio, de maneira geral, também
Segundo Lesko (2004), as principais característi- apresentam baixa densidade, boa tensão mecânica,
cas do magnésio são: absorvem bem a energia elástica e possuem resistên-
• Ponto de fusão de 650ºC; cia moderada. Dependendo da liga, essas caracterís-
• Alta capacidade de amortecimento; ticas mudam um pouco. As propriedades das ligas
• Boa resistência à corrosão e fadiga; podem ser visualizadas no quadro a seguir.

Quadro 2 – Características das ligas de magnésio.

Elemento adicionado Influência Aplicações


Boa resistência mecânica por Indústria aeronáutica e auto-
Alumínio e zinco
conformação a frio mobilística
Ductilidade e boa resistência Rodas, caixas de manivela,
Zinco e zircônio
mecânica por encruamento tanques de combustível
Alta resistência a impactos alta
Alumínio e manganês Pistões e outras peças
ductilidade
Alumínio, zinco e manganês Alta resistência à tração Motores a jato

Fonte: Instituto Federal de Santa Catarina ([2018] o n-line)4.

Assim, com o magnésio e suas ligas são fabricadas pe- impressão, componentes de máquinas de alta velo-
ças de embreagem, trava de coluna de direção, suporte cidade e componentes para a indústria aeroespacial
de pedal de freio, ferramentas manuais, máquinas de (Instituto Federal de Santa Catarina, [2018], on-line)4.

74
DESIGN

METAIS NÃO FERROSOS DE BAIXO/ALTO


PONTO DE FUSÃO E DE CUSTO MÉDIO/ALTO

Nesta classe de metais não ferrosos, conheceremos me- Metais preciosos


tais que têm pontos de fusão de baixo a alto, porém, em Os metais preciosos são o ouro, a prata e suas li-
relação a seu custo, são classificados de médio a alto. gas e os metais tipo platina (paládio, ródio, ru-
tênio, irídio e o ósmio). Como o próprio nome
Chumbo indica, são metais preciosos e caros, muito usados
Metal representado pelo símbolo químico “Pb”. O na produção de jóias, aplicações industriais e alta
chumbo vem sendo usado há muito tempo pelo ho- tecnologia que necessitem de máxima resistência
mem. Na Idade Média, era empregado, devido a seu à corrosão.
baixo ponto de fusão, no estado líquido, para ser jo-
gado sobre invasores em guerras e, devido à sua den- Prata
sidade, era usado na fabricação de bolas de canhão. Metal nobre que possui cor branca e brilho intenso,
Por ser um metal tóxico, pode causar envenenamen- apresenta propriedades de alta condutividade tér-
to por acumulação nos tecidos do corpo humano, mica e elétrica, elevada ductilidade e maleabilida-
doença chamada de saturnismo, por isso requer cui- de, alto ponto de fusão e boa resistência química.
dado para ser manipulado (TEIXEIRA, 1999). Devido a suas propriedades e características, é bas-
Segundo Lesko (2004), as principais proprieda- tante utilizado em produtos hospitalares e dentá-
des do chumbo são: rios, joias, moedas, aparelhos eletrônicos, espelhos
• Ponto de fusão de 327,5 ºC; e refletores (LIMA, 2006).
• Baixa condutividade térmica e elétrica;
• Baixa resistência mecânica e muito maleável; Ouro
• Alta resistência à corrosão; Metal nobre que possui cor amarela e brilho in-
• Bom absorvedor de radiações de ondas cur- tenso, em seu estado natural se apresenta mui-
tas, como o som. to mole. É bastante utilizado na forma de ligas,
principalmente com o cobre, prata e níquel, para
Em virtude de suas características, é amplamente uti- adquirir estabilidade estrutural. Como proprie-
lizado em aplicações químicas e baterias, além de re- dades, apresenta reduzida resistência mecânica,
vestimentos de indústrias e comércios, por absorver elevada maleabilidade, densidade, condutividade
som de maneira eficiente. Ainda é empregado em re- elétrica e resistência à corrosão. Assim, é bastan-
vestimentos de cabos elétricos, proteção de tubulações te usado na indústria eletroeletrônica e química,
e cabos subterrâneos condutores de eletricidade, como próteses dentárias, jóias, moedas, medalhas e sol-
corantes e pigmentos de tintas e componentes de es- das (LIMA, 2006).
malte cerâmicos e na fabricação de vidro cristal.

75
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Platina Cromo
A platina é o terceiro dos metais considerados no- Metal com cor branca levemente azulada, bastante
bres. Como propriedades apresenta boa maleabili- conhecido entre os designers industriais como metal
dade, ductilidade e excelente resistência à corrosão. decorativo de recobrimento e acabamento.
A platina é bastante utilizada em equipamentos de Segundo Lima (2006), o cromo apresenta as se-
laboratório e odontológicos, nos contatos elétricos, guintes propriedades:
eletrodos e nas termorresistências, na fabricação de • Ponto de fusão de 1890 ºC;
joias e em alguns compostos que são utilizados em • Elevada dureza;
tratamentos de quimioterapia. • Maleabilidade;
• Boa condutividade térmica e elétrica;
Estanho • Extremamente quebradiço;
Segundo Teixeira (1999), o estanho possui as se-
guintes propriedades: Devido a suas propriedades, geralmente, é uti-
• Ponto de fusão em torno de 232°C; lizado no desenvolvimento de ligas, com ferros
• Boa maleabilidade e ductibilidade; para desenvolvimento de aços, com níquel para
• Quebradiço a 200°C; desenvolvimento de resistência elétrica, com co-
• Baixa resistência mecânica; balto para decoração de peças em plástico e, ain-
• Elevada resistência à corrosão. da, em formas de sais para utilização na indústria
têxtil e de cerâmicas.
Assim, de acordo com suas propriedades, o estanho
é amplamente utilizado no revestimento de utensí- Níquel
lios de alimentação, dispositivos de segurança con- O níquel, assim como os demais metais não ferrosos
tra incêndio, alarmes e extintores, revestimento de já vistos, é muito utilizado no desenvolvimento de
clipes, grampos, alfinetes e até na formulação de cre- ligas com outros metais, conferindo e intensificando
me dental, em combinação com o flúor. as propriedades detes, principalmente em relação ao
aumento de resistência à corrosão, resistência em al-
METAIS NÃO FERROSOS DE ALTO PON- tas temperaturas, propriedades magnéticas e expan-
TO DE FUSÃO, ALTA PERFORMANCE E são térmica.
ALTO CUSTO Segundo Ashby e Johnson (2011), as proprieda-
des do níquel são as seguintes:
Chegamos à última classe de metais não ferrosos, • Ponto de fusão 1.455°C;
que são classificados com alto ponto de fusão e, tam- • Boa condutividade térmica e elétrica;
bém, apresentam alta performance de custo para fa- • Resistência a altas temperaturas;
bricação e utilização em produtos. • Elevada resistência à corrosão;
• Maleável.

76
DESIGN

Como já citado, sua maior utilização está no desen- Devido ao ponto de fusão elevado, são muito
volvimento de ligas, que são amplamente utilizadas utilizados em serviços em alta temperatura, como
em câmaras de combustível em turbinas, motores filamento de lâmpadas, geradores de energia nuclear
de jatos e foguetes, equipamentos de processamento e bocal de saída de gases dos foguetes. Além de alto
de alimentos, resistências de aquecimento e no pro- ponto de fusão, os metais refratários também pos-
cesso de eletrogalvanização, que auxilia na proteção suem baixa resistência mecânica, de fácil oxidação e
contra corrosão. se fragilizam rapidamente. Assim, quando trabalha-
dos a quente, por fundição, soldagem e metalurgia
Titânio em pó, requerem algumas precauções especiais. Da
mesma forma que os demais metais não ferrosos,
Segundo Zolin (2010), titânio é um metal que apre- os metais refratários podem ter suas propriedades
senta as seguintes propriedades: melhoradas com o desenvolvimento de ligas (ASKE-
• Ponto de fusão 1.668°C; LAND; PHULÉ, 2008).
• Elevada resistência à corrosão;
• Alta resistência mecânica;
• Baixa toxidade;
• Leveza;
• Boa maleabilidade.

Sua resistência à corrosão faz com que seja o único


metal realmente imune à ação corrosiva da água do
mar, assim, é muito usado em componentes maríti-
mos e aplicações na indústria naval, além de equi-
pamentos aeroespaciais e implantes biomédicos.
Por manter satisfatória resistência mecânica e boa
resistência à oxidação, é utilizado em equipamen-
tos bélicos, como mísseis, resistindo também a bai-
xas temperaturas, sendo utilizado na fabricação de
recipientes e equipamento de processamento quí-
mico a temperaturas abaixo de zero.

Metais refratários
Os metais refratários são o grupo de metais que
possuem temperaturas de fusão extremamente al-
tas, são eles: o tungstênio, tântalo, molibdênio e o
colômbio. Seus pontos de fusão variam de 2.468°C
até 3.410°C.

77
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Tratamento
em Metais

Caro(a) aluno(a), após conhecer os metais ferrosos, Voltando aos principais processos de fabricação,
não ferrosos e suas principais ligas, neste tópico ire- temos que processos de conformação mecânica po-
mos conhecer o tratamento e processos que fazem dem ser empregados nos metais com aplicação de
parte da fabricação dos metais, como materiais temperatura: trabalho a quente, quando a deforma-
para desenvolvimento de produtos e componentes. ção é obtida em temperaturas superiores a de recris-
Na primeira unidade deste livro, conhecemos os talização; ou, também, podem ser submetidos a tra-
mais importantes processos, que são os de confor- balho a frio, quando ocorre de maneira contrária ao
mação, união, melhoria e acabamento. Agora, neste quente. Os metais de conformação a quente permi-
tópico, iremos conhecer processos que auxiliam na tem grandes deformações, que ainda podem ser fei-
obtenção de metais com características mais defi- tas repetidas vezes, já que o metal permanece macio
nidas e desejadas para sua utilização em determi- e dúctil. No entanto, a utilização de processos com
nadas áreas, uma vez que, em muitos casos, apenas trabalho a quente podem causar maior oxidação su-
o processo de produção não origina materiais com perficial dos metais, causando perda de material e
tais características, necessitando, portanto, de tra- deixando-os com um acabamento superficial de má
tamentos posteriores. qualidade (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).

78
DESIGN

Os processos de conformação de trabalho a frio de conformação dos metais e também aumentam


também apresentam algumas características espe- e melhoram sua resistência e demais características
cíficas em relação aos metais, por exemplo, aumen- (CENTRO DE INFORMAÇÃO METAL MECÂ-
tam a resistência do metal, devido à diminuição na NICA - CIMM, [2018], on-line)5. Na sequência do
ductilidade, já que o metal encrua (falaremos mais tópico, iremos conhecer um pouco dos principais
à frente sobre esse processo). Todavia, apresentam tratamentos térmicos utilizados nos metais.
melhor qualidade de acabamento, melhores e mais
variadas propriedades mecânicas e, também, con- Recozimento
trole dimensional mais preciso das peças metálicas Vamos iniciar nosso conhecimento sobre os proces-
conformadas. Dessa forma, para escolher o processo sos de tratamento térmico dos metais com os proces-
de conformação que será empregado em peças me- sos de recozimento, um dos mais utilizados. O reco-
tálicas e, também, escolher se serão feitas a quente zimento é um tratamento térmico em que o material
ou a frio, é necessário conhecer como o material se metálico é exposto a uma temperatura elevada por
comporta nas diversas situações e, assim, analisar se um período de tempo prolongado e, posteriormente,
tais processos são indicados para o desenvolvimento é resfriado de maneira lenta. Tal tratamento é utili-
do produto que se deseja. zado quando se deseja aliviar tensões de materiais,
No caso dos produtos desenvolvidos por proces- reduzir dureza, aumentar tenacidade e ductilidade
sos estes de conformação a trabalho a quente ou a ou, ainda, produzir uma microestrutura específica.
frio, não possuem características ou propriedades Os processos de recozimento, qualquer um de-
bem definidas ou desejáveis, como alta resistência. les, são desenvolvidos pela sequência de três etapas:
Devem passar por outros processos ou tratamentos primeiro, é o aquecimento até a temperatura dese-
que irão melhorá-los. Nesse contexto, iremos conhe- jada; segundo, é a manutenção da temperatura por
cer os principais tratamentos térmicos e os tratamen- determinado tempo; e a terceira é o resfriamento,
tos superficiais, amplamente utilizados nos metais. que normalmente chega até a temperatura ambien-
te. Vários tratamentos de recozimento são possíveis
TRATAMENTOS TÉRMICOS e são classificadas de acordo com as mudanças que
induzem no metal. Alguns deles são o recozimen-
A maioria dos metais passam por processos deno- to intermediário, normalização, pleno, supercrítico
minados processos de tratamento térmico, que são (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
empregados com o objetivo de alterar as proprieda-
des físicas e mecânicas, sem alterar sua forma. Tais Recozimento intermediário
processos são utilizados, principalmente, para au- Esse processo é utilizado quando é necessário anu-
mentar a resistência, melhorar usinabilidade, con- lar efeitos do trabalho a frio, ou seja, reduzir du-
formabilidade de um material ou, também, para reza e aumentar ductilidade de um metal que foi
restaurar a ductilidade de um peça que posterior- encruado por um processo a frio, empregado an-
mente foi tratada a frio. Dessa forma, os tratamentos teriormente. O processo é comumente usado du-
térmicos são processos que auxiliam os processos rante procedimentos de fabricação que exigem alta

79
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

deformação plástica. Assim, o recozimento do ma- Tal processo acontece com o aquecimento do
terial permite a continuidade da deformação, sem aço a uma temperatura superior a sua temperatura
que o material sofra uma fratura no decorrer da crítica, por um determinado tempo, até que acon-
execução, recuperando-o. teça a homogeneização das estruturas internas do
material. Após o aquecimento, há a etapa de resfria-
Recozimento de normalização mento, que acontece de maneira lenta, e em geral,
O processo de recozimento é aplicado com a inten- dentro do forno. Desta forma, seja, após o aqueci-
ção de normalizar, ou seja, deixar o material em um mento, o forno é desligado e, então, forno e material
estado normal, sem a presença de tensões internas, resfriam juntos à mesma taxa, até atingirem a tem-
distribuindo os carbonos da estrutura interna no peratura ambiente.
metal. É usado principalmente em materiais e estru- O processo requer tempo considerável, mas
turas não homogêneas que passaram anteriormente obtém excelentes resultados, como uma microes-
por processos de têmpera, conformação, como a la- trutura interna uniforme, diminuição da dureza do
minação e fundição. material, remoção de tensões provocadas por trata-
A normalização ocorre quando um metal é aque- mentos mecânicos anteriores, melhoria na usinabi-
cido até pelo menos 50ºC acima da sua temperatura lidade do aço e alteração em propriedade mecânica,
crítica, por determinado tempo, quando acontece como a resistência e a ductilidade.
a reorganização e a distribuição de tamanhos mais
uniformes das estruturas internas do material. Pos- Recozimento subcrítico
teriormente, há o resfriamento da peça, que aconte- O recozimento subcrítico é amplamente empregado
ce com a refrigeração do ar. em aços com médio e alto carbono, pois são mate-
Os resultados esperados do tratamento são o riais que apresentam dureza para serem convenien-
aumento de tenacidades do metal, refino da granu- temente usinados ou passar por processos de con-
lação do material, principalmente em peças de aço formação plástica. O processo consiste em aquecer
fundido, uniformização da estrutura do material, o material, principalmente aços, à temperatura abai-
após processos de laminação, e forjamento e redu- xo da temperatura crítica, com permanência por um
ção da tendência ao empenamento no tratamento de certo tempo, seguido de um resfriamento, que pode
têmpera (LIMA, 2006). ser no forno, assim como acontece no recozimento
pleno ou à temperatura ambiente.
Recozimento pleno Os resultados do recozimento subcrítico são,
O recozimento pleno é um dos processos de trata- principalmente, o alívio nas tensões originadas
mento térmico mais utilizado, empregado com fre- durante a solidificação, soldagem, usinagem pesa-
quência em aços com baixo e médio carbono, que da e operações de transformação mecânica a frio.
passaram por processo de usinagem ou que sofrerão No entanto, o processo também promove uma
extensa deformação plástica durante um processo melhor ductilidade e menor dureza, tornando os
de conformação. metais mais facilmente usinados ou deformados
(SILVA, [2018], on-line)6.

80
DESIGN

Têmpera obtendo uma nova estrutura interna do material.


Caro(a) aluno(a), o segundo tipo de tratamento Para chegar à dureza necessária para cada aço, ele
térmico que iremos conhecer é a têmpera, que tem poderá ser temperado mais de um vez, em faixas de
como objetivo obter ligas de metais, principalmente temperaturas diversas e, geralmente, após o proces-
os aços endurecidos, para a produção de produtos so de têmpera, os aços podem passar pelo proces-
fortes. O processo é desenvolvido com a execução de sos de revenimento (MECÂNICA INDUSTRIAL,
algumas etapas, cada uma responsável por mudan- [2018], on-line)7.
ças consideráveis que contribuirão para o resultado
final. Por isso, muitos cuidados devem ser tomados, Endurecimento por precipitação
pois, se ocorrerem algumas questões fora do proces- O endurecimento, ou endurecimento por precipita-
so previsto, é possível tornar o metal frágil. ção, é um tratamento térmico constituído por duas
A primeira etapa da têmpera é denominada aus- etapas, por dois tratamentos térmicos diferentes. O
tenitização, em que o aço é aquecido à temperatu- primeiro é o de solubilização, no qual o material é
ra superior a 648ºC, criando um solução sólida de aquecido a altas temperaturas e seus átomos são dis-
carbono e ferro. Depois da austenitização, o metal solvidos e formam uma solução sólida monofásica;
recebe outro tipo de tratamento que proporciona posteriormente, são resfriados rapidamente até a
mudança da estrutura do metal, fazendo com que temperatura ambiente. Já no segundo processo, co-
ele endureça com uma estrutura interna cristalina. nhecido como tratamento térmico de precipitação,
Após a austenitização e a formação da estrutu- o material é aquecido até temperaturas intermedi-
ra interna, o aço é temperado novamente, dessa vez árias em que as taxas de difusão são apreciáveis e
dentro de duas faixas de temperatura diferentes, uma proporcionam o aparecimento de partículas disper-
faixa de 148ºC a 260ºC, e uma segunda faixa de 371ºC sas e suspensas na estrutura. As propriedades me-
a 648ºC. Assim, o metal é mantido na temperatura cânicas do material são influenciadas pela natureza
de têmpera, para que o carbono do aço se quebre um das partículas dessas fases de transição. Tais preci-
pouco e se espalhe por toda a estrutura cristalina do pitados impedem deslocamentos na nova estrutura
metal, reforçando-o ainda mais. Contudo, também cristalina do metal, deixando-o com maior dureza,
pode causar a redução da ductilidade e da tenacida- resistência e ductilidade. Contudo, isso depende do
de, além de tensões internas que podem ocasionar tempo de tratamento térmico e do tamanho das par-
deformação, empenamento e fissuração no material. tículas que são formadas.
Durante o desenvolvimento do processo, o Os metais e suas ligas, que passam pelo processos
aquecimento deve ser lento no início. A temperatu- de endurecimento, são aplicados em componentes ou
ra é obtida dentro de fornos, os quais podem ser por produtos em que força e desempenho a altas tempera-
chama ou por indução elétrica. Após atingir a tem- turas são necessários. São utilizados em peças de mo-
peratura, sua manutenção deve acontecer de acordo tor e na construção de mísseis e foguete. já as ligas en-
com a forma da peça trabalhada, porém, o tempo durecidas de alumínio com outros metais, tais como
nessa fase deve ser constantemente controlado. Em zinco, níquel e cobre, são empregadas na construção
seguida, são submetidos a um resfriamento rápido, de aeronaves (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).

81
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Revenimento Para prevenir, eliminar ou tratar os efeitos de


O revenimento é um processo que sempre está associa- tais processos de deterioração dos metais, foram de-
do com o processo de têmpera, uma vez que acontece senvolvidos tratamentos superficiais, que têm como
logo após o metal ser temperado. O revenimento con- principal objetivo proteger a superfície dos metais,
siste em aplicar ao aço recém-temperado temperaturas aumentar sua resistência ao desgaste e, também, con-
inferiores da temperatura crítica, o que corresponde a ferir aspectos decorativos (CHIAVERINI, 1986). Na
em torno de 720ºC. Posteriormente, o material é res- sequência, iremos conhecer um pouco das principais
friado lentamente e com isso acontece a modificação técnicas utilizadas para revestimentos metálicos.
da estrutura que foi formada no processo de têmpera.
A modificação estrutural observada após o revenimen- Cladização
to melhora a ductilidade reduz a resistência à tração e A cladização consiste em um processo bem simples,
a dureza do metal. Ao mesmo tempo, consegue aliviar que é posicionar um metal ou liga, geralmente no
ou até eliminar tensões internas ao material. Para al- formato de lâminas ou chapas, entre camadas de um
guns aços, dependendo dos valores de temperatura uti- segundo metal com maior resistência à corrosão. O
lizados no processo de revenimento, é promovida uma metal mais utilizado para essa proteção é o alumínio.
modificação estrutural tão intensa que até a usinabili- O resultado nessa técnica são metais com resistência
dade do material é melhorada (CHIAVERINI, 1986). mecânica do metal ou liga protegido, com a resistên-
Segundo Chiaverini (1986, p. 240), os objetivos cia à corrosão do alumínio (CHIAVERINI, 1986).
gerais, considerando todos os tratamentos térmicos
citados anteriormente, são: Imersão a quente
• Aumento ou diminuição da dureza dos metais; A imersão a quente é a técnica que consiste em mer-
• Remoção ou alívio de tensões internas; gulhar o metal a ser protegido em um banho de me-
• Modificação de propriedades magnéticas e tal protetor fundido. A espessura da camada é muito
elétricas; importante e depende da temperatura do banho lí-
• Aumento da resistência mecânica; quido e do tempo que a peça ficou imersa. A técni-
• Melhora considerável da ductilidade, usina- ca é muito utilizada para revestimento de ferros ou
bilidade, propriedades de corte; aços pelo zinco e estanho.
• Melhora na resistência a desgaste, corrosão e No caso da utilização do zinco, temos o processo
ao calor.
denominado galvanização. O processo já foi aborda-
do, de forma mais aprofundada, no tópico 4 da Uni-
TRATAMENTOS SUPERFICIAIS dade 1, mas, para relembrar, o processo consiste em
revestir metais com zinco. Porém, outros metais não
Os metais são materiais que são muito suscetíveis a ferrosos também podem ser empregados, como o
deterioração em suas superfícies, por processos de cromo, níquel, magnésio, cobre e outros. A camada
corrosão, oxidação, abrasão e outros. Por isso, é um protetora formada altera as propriedades da superfí-
assunto que requer muita atenção e investimento cie metálica, aumentando sua resistência à corrosão
para a maioria das indústrias de metal mecânica. (MAKOVSKI; MIYOSHI, 2013).

82
DESIGN

Eletrodeposição A metalização é empregada para proteger metais


A eletrodeposição é um dos tratamentos superfi- de corrosão, abrasão, oxidação e outros processos
ciais mais usados, devido à qualidade do resulta- de desgaste ou, ainda, reparar peças desgastadas ou
do final, que apresenta camadas finas, uniformes usinadas de forma incorreta. Além de quase todos
e ausente de poros. Os metais mais utilizados para os metais e suas respectivas ligas serem utilizados
o tratamento são o zinco, cobre, níquel, cromo e como material protetor, outros materiais não me-
estanho. tálicos como papel, vidro, madeira e outros tam-
O tratamento utiliza a eletrólise, que consiste bém podem ser metalizados e utilizados na técnica
em transformar energia elétrica em energia quí- (CHIAVERINI, 1986).
mica, fazendo passar a corrente elétrica por algum
material líquido (fundido) ou em solução aquo- Difusão
sa, ou seja, o material a ser revestido é imerso em Tratamento em que peças a serem protegidas são
uma solução aquosa com sais do metal protetor e colocadas no interior de recipientes rotativos, junta-
se comporta como um catodo. É imerso outro me- mente com uma mistura de fundente com pó de me-
tal que pode ser o mesmo dos sais e se comporta tais protetores. Tal conjunto, presente no recipiente,
como um anodo. Assim, o metal catodo, por dife- é aquecido a altas temperaturas, que provocam a di-
rença de carga, atrairá os átomos do metal prote- fusão do metal protetor nas peças a serem revestidas
tor, que vão se depositar sobre ele, formando uma e protegidas. Os revestimentos mais comuns da téc-
camada protetora. nica são de alumínio, zinco e silício, sendo denomi-
A eficiência do processo pode ser influencia- nados, respectivamente, de calorização, sherardiza-
da por vários aspectos, como a temperatura do ção e siliconização. Porém, nenhuma das variações
processo, composição química da solução aquosa do tratamento é muito usada pela indústria.
em que o metal a ser revestido é imerso e outros Além dos tratamentos e processos citados nesta
(MELO, 2009). unidade, há diversos outros utilizados, tanto para tra-
tamento térmico quanto superficiais, alguns já citados
Metalização na Unidade I, no tópico de processos de melhoria e
O processo da metalização acontece com o aque- acabamento. De forma geral, todos têm o objetivo de
cimento de um metal até próximo ou no ponto de melhorar e auxiliar os processos de fabricação, sendo
fundição. Após o aquecimento, o metal é forçado a empregados inicialmente nos componentes e peças.
passar através de outra fonte de calor que está a alta Apesar de serem usados de maneira complementar, são
temperatura. Esse processo desintegrará o metal em extremamente utilizados e importantes para segurança,
partículas que vão ser arremessadas contra a super- vida útil e estética dos produtos. Assim, cabe aos profis-
fície do metal que será protegido, formando uma ca- sionais de designer conhecê-los e empregá-los quando
mada protetora nele. necessário no desenvolvimento de novos produtos.

83
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Aspectos Gerais
dos Metais

84
DESIGN

Caro(a) aluno(a), chegamos ao último tópico sobre ração qual será a vida útil desse produto. Sabendo
os materiais metálicos e agora iremos discutir so- que a matéria-prima é finita, é interessante que o
bre os aspectos e considerações gerais desta classe produto dure muito tempo, minimizando a neces-
de material tão empregada no desenvolvimento de sidade de extraí-lo da natureza para o desenvolvi-
produtos. São utilizados na maioria dos setores in- mento de um novo produto.
dustriais, se não na matéria-prima, com certeza, está Além de serem matérias-primas consideradas
presente no maquinário, ferramentas, acessórios e não renováveis, os metais, pelo menos a maioria de-
outros componentes que, de certa forma, participam les, não são encontrados puros na natureza, necessi-
do processo produtivo. tam passar por processos de mineração, purificação
Atualmente, para se escolher o material mais e refino para chegarem à forma adequada para o
indicado para o desenvolvimento de um produto, desenvolvimento de produtos. Os processos de mi-
além de analisar as questões intrínsecas do mate- neração, purificação e refino são desenvolvidos em
rial, como suas propriedades físicas e química e se altas temperaturas e, por isso, demandam quantida-
elas auxiliarão na conformação do material para de de energia altíssimas. O consumo de energia é tão
o melhor resultado final, deve-se analisar outros alto que aproximadamente metade de toda a ener-
aspectos que são tão importantes quanto as pro- gia consumida nos Estados Unidos, por indústrias
priedades do material. de fabricação, é gasta por indústrias que produzem
Os principais aspectos que devem ser levados e fabricam materiais que servirão de matéria-prima
em consideração são econômicos, em que a análi- (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
se do custo do desenvolvimento do produto é es- Além da questão da matéria-prima não renová-
sencial; ambientais, analisando o ciclo de vida do vel e dos gastos energéticos excessivos para a pro-
produto, considerando se os materiais empregados dução dos materiais metálicos para utilização final,
são biodegradáveis ou não, se podem gerar danos e a questão ambiental da sua utilização é um grande
transtornos quando for descartado; e, também, as- problema mundial, principalmente quando se fala
pectos sociais, considerando-se desde a extração até dos metais pesados, que têm alto grau de contami-
a reciclagem do produto, e, consequentemente, se nação e representam grande perigo ao meio ambien-
seu material pode gerar danos a uma sociedade. te e à saúde dos animais e seres humanos. Os metais,
Como vimos, os metais são materiais extraídos talvez, sejam os agentes tóxicos mais conhecidos
da natureza por meio de diversos minérios. Dessa pelo homem e sua crescente utilização vem compro-
forma, são considerados materiais não renováveis, vando e agravando questões ambientes.
ou seja, são materiais que a natureza leva muito No quadro a seguir, veremos quais os principais
tempo para renovar. Assim, ao desenvolver um metais pesados usados pela indústria e que se encon-
produto com metal, é necessário levar em conside- tram em vários produtos, suas fontes e riscos à saúde.

85
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Quadro 3 – Fontes dos metais e os principais riscos à saúde.

Metais De onde vêm Efeitos


Produção de artefatos de alumínio; serralhe-
Anemia por deficiência de ferro; intoxicação
Alumínio ria; soldagem de medicamentos (antiácidos) e
crônica.
tratamento convencional de água.
Arsênio Metalurgia, manufatura de vidros e fundição. Câncer (seios paranasais).
Cádmio Soldas, manufatura de vidros e fundição. Câncer de pulmões e próstata; lesão nos rins.
Fabricação e reciclagem de baterias de autos; in- Saturnismo (cólicas abdominais, tremores,
Chumbo
dústria de tintas; pintura em cerâmica; soldagem. fraqueza muscular, lesão renal e cerebral).
Preparo de ferramentas de corte e furadoras. Fibrose pulmonar (endurecimento do pul-
Cobalto
mão), que pode levar à morte.
Indústrias de corantes, esmaltes, tintas, ligas
Cromo Asma (bronquite); câncer.
com aço e níquel; cromagem de metais.
Veneno para baratas; rodenticidas (tipo de Náuseas; gastrite; odor de alho; fezes e
Fósforo ama-
inseticida usado na lavoura); fogos de artifício. vômitos fosforescentes; dor muscular; torpor,
relo
choque; coma e até morte.
Moldes industriais; certas indústrias de cloro-so-
Mercúrio Intoxicação do sistema nervoso central.
da; garimpo de ouro; lâmpadas fluorescentes.
Baterias; aramados; fundição e niquelagem de
Níquel Câncer de pulmão e seios paranasais.
metais; refinarias.
Vapores (de cobre, cádmio, ferro, manganês, Febre dos fumos metálicos (febre, tosse,
Fumos metá-
níquel e zinco) da soldagem industrial ou da cansaço e dores musculares) – parecido com
licos
galvanização de metais. pneumonia.

Fonte: adaptado de Recicloteca ([2018], on-line)8.

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Devido a essas questões ambientais, estão sen-
Tratamento, Recuperação e Disposição de Resíduos do aprimorados procedimentos para melhorar
Especiais (ABETRE), anualmente no Brasil são gera- o ciclo de vida dos produtos em relação ao meio
dos 2,9 toneladas de resíduos industriais perigosos. ambiente. Essa nova etapa constitui o processo de
Apenas 600 mil toneladas desses resíduos recebem desenvolvimento de projeto de produto e é deno-
tratamento adequado, sendo que os 78% restantes minada de análise/avaliação do ciclo de vida. Com
são depositados indevidamente em lixões, sem tra- esse procedimento, pode-se analisar o ciclo de vida
tamento adequado, causando a poluição e contami- do produto a ser desenvolvido, considerando o uso
nação do solo e água com metais pesados como zin- de materiais recicláveis, que reduz a necessidade de
co, cádmio, mercúrio e chumbo, que, como vimos, extração de matéria-prima, conservando recursos
podem provocar doenças graves (KAWAI; URIAS; naturais, uma vez que, por exemplo, a reciclagem
LEONEL; ALMADO, [2018], ON-LINE)9. do alumínio requer apenas 5% da energia necessá-

86
DESIGN

ria para produzir o metal. Dessa forma, o futuro do de ligas diferentes na desmontagem e trituração no
design de produtos é o desenvolvimento de produ- processo de reciclagem faz com que haja problemas.
tos melhores, mais baratos e sustentáveis (ASKE- Como vimos anteriormente, os tratamentos de su-
LAND; PHULÉ, 2008). perfície são bastante empregados nos metais e é im-
Na figura a seguir, temos a representação grá- portante se atentar aos revestimentos dos produtos,
fica das etapas consideradas para o desenvolvi- pois eles também atuam como contaminantes e po-
mento da avaliação do ciclo de vida de um pro- dem impedir a reciclagem dos produtos onde foram
duto. Pela esquematização, é possível analisar os utilizados.
aspectos que abordamos. Apesar da reciclagem dos metais não ferrosos
ser mais visada, devido ao maior valor econômi-
ENTRADAS SAÍDAS
co, hoje, as sucatas de ferros e aços também são
Produção dos materiais
Produtos
muito procuradas, principalmente por empresas
utilizáveis siderúrgicas e de fundições. Na figura a seguir,
Energia
tem-se a representação da porcentagem de metais
Efluentes
aquosos reciclados no Brasil.
Fabricação do produto

Recuperado
Emissões para
a atmosfera 86% 80%
75%
50%
Uso do produto Resíduos
sólidos
14% 20%
Recuperado

Matérias- 25%
50%
prima
Não

Outros
Chumbo Cobre Alumínio Aço
impactos
Descarte do produto

Figura 6 – Relação da quantidade produzida e recuperada dos metais,


chumbo, cobre, alumínio e aço no Brasil.
Figura 5 – Representação esquemática de um inventário de entradas/ Fonte: Paraná (2005, p. 7).
saídas para avaliação do ciclo de vida de um produto.
Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 748).

Além da preocupação com o ciclo de vida útil de um


A reciclagem dos metais é muito viável, devido a vá- produto e dos impactos ambientais que ele pode cau-
rios benefícios. No entanto, há algumas questões que sar no meio ambiente e na sociedade, outro fator im-
requerem um pouco mais de atenção. A reciclagem portantíssimo a ser levado em consideração no de-
de todas as ligas de todos os metais não é possível; senvolvimento de um novo produto são os aspectos
também existe a questão de que a qualidade das ligas econômicos. Uma vez que a força motriz de uma em-
diminuem após cada ciclo de reciclagem, ou seja, as presa é comandada por fatores econômicos, um de-
ligas recicladas vão perdendo a qualidade. Assim, a signer sempre deve projetar um produto e ofertá-lo
melhor maneira é desenvolver produtos que permi- para venda a um preço atrativo ao consumidor e que
tam a desmontagem dos componentes que são cons- dê lucro para a empresa. Caso contrário, o produto
tituídos de diferentes ligas, uma vez que a mistura não irá vender e a empresa não conseguirá se manter.

87
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

O terceiro fator que influencia muito o custo


REFLITA
são as técnicas de fabricação, pois são as operações
primárias e secundárias que vão fabricar os compo-
O segredo de um designer de produto é ser nentes e/ou o produto desejado. As operações pri-
capaz de identificar problemas, pontos a me-
márias são os processos de conformação que vimos
lhorar, lacunas no mercado, estar insatisfeito
com as coisas e ter uma mente questionadora, na Unidade I deste livro, enquanto as operações
que raramente descansa. secundárias são aquelas aplicadas para produzir
a peça acabada, como processos de acabamento e
melhoria, que, dependendo das operações, podem
Assim, o(a) designer deve prestar muita atenção aos gerar mais ou menos custos, já que diferentes téc-
três principais fatores que influenciam no custo de nicas requerem quantidade e tipos de maquinários
um produto, que são: projeto de componente, mate- diferentes, ferramentas, mão de obra especializada,
rial empregado e técnicas de fabricação utilizadas. O diferentes taxas de produção e outros (CALLISTER;
projeto de componente especifica forma, dimensões RETHWISCH, 2013).
e configurações que influenciam a utilização do pro- Caro(a) aluno(a), analisando aspectos que in-
duto. Muitas vezes, um produto possui diferentes fluenciam na utilização dos metais como maté-
componentes e é necessário ter o controle de todos ria-prima e fatores gerais do desenvolvimento de
para ter noção do custo que irão representar. produtos, finalizamos nossa Unidade II do livro. É
O material empregado tem total ligação com o evidente que, além de escolher os metais analisando
projeto de componentes, uma vez que, dependendo suas propriedades em relação à utilização do produ-
do componente, alguns materiais não são adequa- to que será desenvolvido, é necessário se preocupar
dos. Dessa forma, analisando esse fator, o impor- com a vida útil desse produto e, quando ele virar su-
tante é selecionar o melhor material que atenda às cata, qual será seu destino. Dessa forma, valoriza-se
exigências do produto, com os custos mais acessíveis metais que são menos agressivos ao meio ambiente e
possíveis. Saber qual o público-alvo para o produto que têm taxa de reciclagem alta, auxiliando, portan-
é essencial, pois classes com maior poder aquisitivo to, na formação do seu custo.
podem consumir produtos constituídos de metais
preciosos, enquanto para consumidores com poder
aquisitivo menor, deverá ser empregado outro mate-
rial para desenvolver o produto.

88
considerações finais

C
aro(a) aluno(a), no decorrer da Unidade II conhecemos um pouco do
universo dos materiais metálicos, que são os mais utilizados para desen-
volvimento de produtos em diversas áreas da manufatura. Inicialmente,
abordamos sobre as mais importantes propriedades dos materiais, mas
especificando a realidade dos metais. Por ser uma classe grande de materiais, há
muita variedade de um para outro, principalmente quando se trata de metais
ferrosos e não ferrosos.
A maioria dos materiais metálicos não são encontrados puros na natureza e
requerem um processo de extração bastante característico, uma vez que a maioria
é encontrada na forma de minério e é a partir de tal processo que acontecerá a
diferenciação das classes em metais ferrosos e metais não ferrosos.
Os metais ferrosos, como o próprio nome já indica, são metais que possuem
uma maior quantidade de ferro em sua composição e, por sua vez, são subdivi-
didos em ferros fundidos e aços, possuindo propriedades bem particulares. São
bastante usados em produtos como equipamentos, ferramentas, acessórios nos
setores de construção civil, naval, aérea e outros.
Os metais não ferrosos são aqueles que possuem quantidades muito pe-
quenas de ferro em sua constituição. Eles apresentam grande variedade de
propriedades mecânicas e físicas, que influenciam em suas performances e são
mais caros, se comparados com os ferrosos. Também são utilizados em diversas
áreas. Não foi possível abordar todos os metais não ferrosos, apenas os mais
relevantes economicamente.
Além dos processos de fabricação que vimos na Unidade I, conhecemos ou-
tros processos que são aplicados particularmente nos metais, de forma a auxiliar
o processos de conformação e melhora de algumas propriedades do produto fi-
nal. Para finalizar, conhecemos aspectos gerais desses materiais tão utilizados.

89
atividades de estudo

1. Qual das alternativas a seguir não pode ser classificada como propriedade
física dos materiais metálicos?
a) Plasticidade.
b) Ductilidade.
c) Dureza.
d) Corrosão.
e) Elasticidade.

2. Em relação aos metais não ferrosos, é correto afirmar que:


I - Os metais ferrosos contêm elevado percentual de ferro em sua com-
posição química, sendo ele o principal constituinte. Os principais me-
tais ferrosos são os ferros fundidos e os aços.
II - O ferro, principal metal, é encontrado puro na natureza. Devido a essa
facilidade de obtenção, os metais ferrosos são o material mais utilizado
no mundo, principalmente nos setores de construção civil, indústria
automobilística, naval e aérea.
III - Além dos ferros fundidos, outro metal ferroso são os aços, e eles, por
sua vez, podem ser classificados em aço de baixa liga e de alta liga,
sendo que os aços de baixa liga são aços que, além de conter teores
de carbono, silício, manganês, fósforo e enxofre em sua composição,
também contêm teores pequenos de outros elementos, denominados
elementos-liga. Já os aços de alta liga são aços que apresentam grande
quantidade de elementos-liga.
IV - O ferros fundidos são classificados em quatro diferentes tipos: ferro
fundido branco, cinzento, maleável e dúctil, sendo que cada classifica-
ção se diferencia, principalmente, pela quantidade de carbono em sua
composição.

Assinale a alternativa correta:


a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

90
atividades de estudo

3. Assinale as afirmações a seguir, sobre metais não ferrosos e suas ligas, em


Verdadeiro (V) ou Falso (F):
( ) Os metais não ferrosos são o grupo de metais que não possuem, ou pos-
suem em quantidades mínimas, o elemento ferro em sua composição.
( ) Os metais não ferrosos podem ser conformados e trabalhados pelos mes-
mos métodos e processos utilizados para os metais ferrosos, porém os me-
tais não ferrosos apresentam respostas mais severas.
( ) O alumínio e suas ligas são amplamente utilizados no desenvolvimento de
componentes e produtos. Suas duas ligas mais expressivas são o bronze (liga
constituída com a ligação de estanho e alumínio) e o latão (liga constituída
com a ligação de zinco e alumínio).

Assinale a alternativa correta:


a) V; V; F.
b) F; F; V.
c) V; F; V.
d) F; F; F.
e) V; V; V.

4. Cite os principais tipos de tratamento empregados nos metais e, de forma


geral, comente quais os resultados obtidos por meio de tais tratamentos.
5. Qual das alternativas a seguir possui os três fatores que afetam o custo
de um produto?
a) Sustentabilidade, técnica de fabricação, material.
b) Projeto do componente, materiais, logística.
c) Projeto do componente, materiais, técnica de fabricação.
d) Tecnologia, materiais, métodos de produção.
e) Técnicas de produção, material, distribuição.

91
LEITURA
COMPLEMENTAR

Em primeiro de janeiro de 2002, o euro tornou-se a única moeda legal em doze países
europeus. Desde aquela data, várias outras nações também integraram a União Mo-
netária Europeia e adotaram o euro como sua moeda oficial. As moedas de euro são
cunhadas em oito valores diferentes: 1 e 2 euros, assim como 50, 20, 10, 5, 2 e 1 centa-
vos de euro. Cada moeda apresenta um desenho comum em uma das faces, enquanto
o desejo da outra é um dentre vários escolhidos pelos países da União Monetária.
Ao decidir quais ligas metálicas seriam empregadas para as moedas, várias questões
foram consideradas, a maioria delas relacionada às propriedades dos materiais.

• A habilidade de distinguir a moeda de um valor em relação aquela de outro va-


lor. Isso pode ser realizado com moedas de diferentes tamanhos, diferentes co-
res formas. Em relação à cor, devem ser escolhidas ligas que mantenham suas
cores específicas, ou seja, não devem perder seu brilho com facilidade quando
expostas ao ar e a outros ambientes.
• A segurança é uma questão importante – devem ser produzidas moedas de difí-
cil falsificação. A maioria das máquinas de vendas utiliza condutividade elétrica
para identificar as moedas para prevenir uso de moedas falsas. Isso significa
que cada moeda deve ter sua própria “assinatura eletrônica”, que depende da
composição da liga.
• A ligas escolhidas devem ser fáceis de cunhar, isto é, devem ser suficientemente
macias e dúcteis para permitir que os relevos de desenho sejam estampados
nas superfícies das moedas.
• Além disso, as ligas devem ser resistentes ao desgaste, (ou seja, duras e resis-
tentes) para serem usadas por longos períodos e para que os relevos estampa-
dos na superfície sejam retidos. Obviamente, ocorre encruamento durante a
operação de cunhagem, o que melhora a dureza.

92
LEITURA
COMPLEMENTAR

• São exigidos altos níveis de resistência à corrosão em ambientes comuns para


as ligas selecionadas, para assegurar perdas mínimas do material ao longo da
vida útil das moedas.
• É altamente desejável empregar ligas de um metal de base que retenha seu
valor intrínseco.
• A reciclabilidade da liga é ainda outra exigência para a(s) liga(s) utilizada(s).
• A(s) liga(s), a partir da(s) qual(is) as moedas são feitas, também deve(m) contri-
buir para a saúde humana, ou seja, deve(m) ter características antimicrobianas,
de modo que microrganismos indesejáveis não cresçam em suas superfícies.
O cobre foi selecionado como o metal básico para todas as moedas de euro, uma vez
que ele e suas ligas satisfazem esses critérios. Várias ligas e combinações de ligas de
cobre diferentes são empregadas nas oito moedas diferentes.
• Moeda de 2 euros: é denominada bimetálica, ela pois consiste em um anel ex-
terior e um disco interno. Para o anel externo, uma liga 75Cu-25Ni é usada, com
uma coloração prateada. O disco interno é composto por uma estrutura de três
camadas – níquel de alta pureza que é revestido em ambos os lados com um
latão com níquel (75Cu-20Zn-5Ni); essa liga coloração dourada.
• Moeda de 1 euro: também é bimetálica, mas as ligas usadas para o anel exterior
e o disco interno são invertidas em relação à moeda de 2 euros.
• Moedas de 50, 20 e 10 centavos de euro: são feitas das ligas de “Ouro Nórdico”
– 89Cu-5Al-5Zn-1Sn.
• Moedas de 5, 2 e 1 centavos de euro: aços revestidos com cobre são emprega-
dos nessas moedas.

Fonte: adaptado de Callister; Rethwisch (2013, p. 354).

93
material complementar

Indicação para Ler

História,teoria e prática do design de produtos


Bernhard E. Bürdek
Editora: Edgard Blücher
Sinopse: Obra básica do design de produtos, é indispensável para estudan-
tes, designers profissionais e interessados em geral. Ela define a história e a
orientação atual do design e transmite as bases principais da teoria e da me-
todologia do design.
Descreve o significado crescente do design nos principais países da Europa, das
Américas e da Ásia, por meio de diversos exemplos da prática e do desenvolvi-
mento do design corporativo e estratégico atual, passando pelo design de interfa-
ce/interação até o design humano.

94
referências

ASHBY, Michael; JOHNSON, Kara. Materiais e Design: Arte e Ciência da


Seleção de Materiais no Design de Produto. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011. 346 p. v. 1.
ASKELAND, Donald R.; PHULÉ, Pradeep P. Ciência e Engenharia dos Mate-
riais. 1. ed. Rio de Janeiro: Cengage Learning, 2008. 594 p. v. 1.
BORGES, Maria Cristina Carrupt Ferreira. Tecnologia mecânica I. São Paulo:
ETEC. 2009. p. 40.
CALLISTER, William D.; RETHWISCH, David G. Ciência e engenharia de ma-
teriais: Uma introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013. 816 p. v. 1.
CHIAVERINI, Vicente. Tecnologia Mecânica. 2. ed. São Paulo: Makron Books,
1986. 315 p. v. 2.
LESKO, Jim. Design Industrial: Materiais e Processos de Fabricação. 1. ed. São
Paulo: Edgard Blücher, 2004. 277 p. v. 1.
LIMA, Marcos Antonio Magalhaes. Introdução aos Materiais e Processos para
Designers. 1. ed. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006. 237 p. v. 1.
LOPES, Jorge Teófilo de Barros. Materiais de Construção Mecânica: Materiais
ferrosos. Belém: UFPA, 2004. 52 p.
MAKOVSKI, Evelyn; MIYOSHI, Mariana A. Galvanização: técnicas, custos, uti-
lidade. Curitiba: UFPR, 2013. p. 1.
MELO, Régis Lopes. Eletrodeposição, caracterização e estudos de corrosão de
camadas de Ni-Mo-P. Fortaleza: UFC, 2009, 83 p.
MORA, Nora Díaz. Apostila de materiais elétricos. Foz do Iguaçu: UNIO-
ESTE, 2010.
PARANÁ. Secretaria do Meio Ambiente e Recursos hídricos. Desperdício Zero.
Curitiba: SEMA/PR, 2005. v.1.
PAULI, Evandro Armini de; ULIANA, Fernando Saulo. Mecânica: Materiais me-
tálicos e não-metálicos. Vitória: SENAI, 1996. 64 p.
TEIXEIRA, Joselena Almeida. Design & Materiais. 1. ed. Curitiba: Cefet, 1999.
324 p. v. 1.
ZOLIN, Ivan. Materiais de construção: mecânica. Santa Maria: UFSM, 2010. 76 p.

95
referências

Referências on-line:

1 Em: <http://corro4v072.blogspot.com.br/2008/03/propriedades-eltricas-con-
duo-eltrica.html>. Acesso em: 9 maio 2018.
2 Em: <http://professor.ufabc.edu.br/~jeverson.teodoro/archives/
ESTO006/2017-1/Aula_MSP10_Propriedades_El%C3%A9tricas_Materiais.
pdf>. Acesso em: 12 de jul. 2017.
3 Em: <http://moemacastro.weebly.com/uploads/5/7/9/8/57985191/maco-
-i_aula-04_materiais_met%C3%A1licos_-_weebly.pdf>. Acesso em: 10 maio
2018.
4 Em: <https://wiki.ifsc.edu.br/mediawiki/images/6/6d/Aula_15.pdf>. Acesso
em: 10 maio 2018.
5 Em: <https://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/6442-objetivos-do-
-tratamento-termico-dos-acos#.WXyk6IjyvIU>. Acesso em: 10 maio 2018.
6 Em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABOX0AA/5-recozimento-nor-
malizacao>. Acesso em: 10 maio 2018.
7 Em: <https://www.mecanicaindustrial.com.br/46-como-funciona-a-tempera-
-dos-metais/>. Acesso em: 10 maio 2018.
8 Em: < http://www.recicloteca.org.br/material-reciclavel/metal/>. Acesso em:
11 maio 2018.
9 Em: <http://www.fernandosantiago.com.br/met90.htm>. Acesso em: 11 maio
2018.

96
gabarito

1. D.
2. D.
3. A.
4. Os dois principais tratamentos empregados nos metais, sejam eles me-
tais ferrosos ou não ferrosos, são os térmicos e o de superfícies. Os tra-
tamentos térmicos, de forma geral, consistem na aplicação de altas tem-
peraturas nos metais por determinado tempo que, posteriormente, são
resfriados até temperatura ambiente. O resultado de tais processos são
mudanças estruturais no metal, que os confere, principalmente, maior
resistência ao desgaste, corrosão e, ao calor, melhora sua ductilidade, usi-
nabilidade, propriedades de corte e outros aspectos. Já os tratamentos
superficiais consistem em prevenir, eliminar ou tratar os efeitos que os
processos de corrosão, oxidação, abrasão e outros causam sobre os me-
tais, por meio da aplicação de uma camada de material resistente a esses
processos de deterioração na superfície das peças.
5. C.

97
MATERIAIS CERÂMICOS

Professora Esp. Regiane Mendes

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Cerâmicas
• Cerâmicas avançadas
• Processos em cerâmicas
• Vidros
• Processos em vidros

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer e aprender as variedades, características e propriedades
das cerâmicas utilizadas como material no desenvolvimento de
produtos.
• Conhecer e aprender as variedades, características e propriedades
das cerâmicas avançadas e sua utilização como material.
• Identificar e aprender quais os principais processos utilizados na
fabricação de produtos com materiais cerâmicos.
• Aprender sobre os aspectos, características e diferentes
propriedades dos vidros.
• Identificar e aprender quais os principais processos utilizados na
fabricação de produtos com vidros.
unidade

III
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) à terceira unidade do nosso livro!


Na unidade anterior, conhecemos os materiais metálicos, suas carac-
terísticas, propriedades, processos de fabricação e suas aplicações. Ago-
ra, iremos conhecer os materiais cerâmicos, considerados diferentes dos
metais, já que, por exemplo, não podem ser fabricados utilizando técni-
cas convencionais de conformação de metais.
Os materiais cerâmicos, também chamados de cerâmicas, têm pro-
priedades e características bem específicas que influenciam suas aplica-
ções e processamento. Desde os tempos mais remotos da humanidade,
esses materiais são utilizados de várias formas e, por meio da descoberta
de peças cerâmicas em sítios arqueológicos, é que fomos descobrindo
culturas e comportamentos dos homens mais primitivos, que as utiliza-
vam para desenvolvimento de utensílios.
Desde a era primitiva até os tempos atuais, as cerâmicas são larga-
mente usadas. O homem foi desenvolvendo-a no decorrer do tempo com
as novas tecnologias, e, consequentemente, o material foi deixando de ser
artesanal e passou para o estágio de industrialização, servindo de maté-
ria-prima para muitos produtos. Esse aspecto torna esta unidade tão im-
portante para o conhecimento dos(as) profissionais de design de produto.
Assim, no decorrer desta unidade, iremos conhecer os materiais
cerâmicos, quais suas propriedades, características, constituição,
como são classificados, quais os processamentos para obtenção das
cerâmicas e, ainda, quais os processos utilizados para a fabricação de
produtos.
Entre as classificações das cerâmicas, vamos abordar de maneira mais
aprofundada as cerâmicas avançadas e os vidros, suas características e
processos de fabricação, uma vez que, dentro das cerâmicas, há grupos
de grande relevância em utilização para fabricação de componentes e
produtos.
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Cerâmicas
Os materiais cerâmicos são considerados os mais du- dução e fabricação em estágio de industrialização –
ráveis entre todos os materiais existentes; objetos fa- fabricando produtos empregados em componentes
bricados com cerâmicas sobrevivem desde 5.000 a.C. mecânicos e até na medicina com as biocerâmicas
Em geral, as peças encontradas em sítios ar- (ASHBY; JOHNSON, 2011).
queológicos são feitas de cerâmica e, por meio de- As cerâmicas são materiais inorgânicos não
las, arqueólogos desvendam hábitos dos homens metálicos, resultantes do aquecimento, a altas tem-
de épocas muito antigas. Assim, as cerâmicas são peraturas (1400°C a 1800°C), da mistura de maté-
consideradas materiais do passado, mas também do rias-primas naturais, como a argila; ou também de
futuro, uma vez que seu uso deixou de ser apenas matérias-primas sintéticas, como a alumina, o que
artesanal – para fabricação de utensílios –, para pro- foi possível com o desenvolvimento de novas tec-

102
DESIGN

nologias e a obtenção das cerâmicas avançadas, que ambiente externo, resistindo até à água do mar. A re-
veremos logo à frente. sistência à tração das cerâmicas é baixa, e a resistên-
A argila, principal componente das cerâmicas cia de compressão é muito mais elevada, cinco a dez
tradicionais, é um material natural constituído de vezes maior do que a de tração. Tais materiais ainda
minerais que possuem propriedade de formarem – apresentam baixa tenacidade, densidade, conduti-
quando misturados com água – uma pasta suscetível vidade elétrica, térmica e baixa dilatação térmica,
de ser moldada, secar e endurecer sob a ação do ca- sendo que as impurezas no material podem reduzir
lor. O baixo custo de algumas cerâmicas tradicionais ainda mais (ASHBY; JOHNSON, 2011).
se deve exatamente à abundância de sua matéria- Os materiais cerâmicos são diversos, nume-
-prima, que se encontra na crosta terrestre, formada rosos e heterogêneos. Assim, para conhecê-los
pela desintegração de rochas (TEIXEIRA, 1999). melhor, é necessário dividi-los em subsetores ou
De modo geral, a grande maioria das cerâmicas segmentos, em função de diversos fatores como
tradicionais apresentam as mesmas características, matérias-primas, propriedades e/ou áreas de uti-
como a resistência a elevadas temperaturas (pois lização. Diferentes referências os subdividem e os
possuem alto ponto de fusão) e alta dureza (resis- classificam de diversas formas. No nosso livro, ire-
tência à abrasão). Apesar disso, são materiais bas- mos seguir a classificação com base em sua aplica-
tante frágeis. Apresentam alta resistência a ataques ção. Assim, observamos a seguir a representação
químicos, por sua inércia química, não oxidando esquemática da classificação dos materiais cerâmi-
nem sofrendo degradação, devido ao contato com o cos com base em sua aplicação.

Materiais cerâmicos

Vidros Produtos à base de argila Refratários Abrasivos Cimentos Cerâmicas


avançadas

Vidros Vidros- Produtos Louças Argilas Sílica Básicos Especiais


cerâmicas estruturais à brancas refratárias
base de argila

Figura 1 – Classificação dos materiais cerâmicos com base em sua aplicação.


Fonte: Callister; Rethwisch (2013, p. 428).

103
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Observando a figura anterior e analisando as clas- responde às cerâmicas brancas, conhecidas também
ses das cerâmicas no sentido da esquerda para a di- como louças brancas, sendo que a coloração branca
reita, temos o vidro como a primeira classe. Abor- da cerâmica se deve à elevada temperatura do co-
daremos suas características e processos em outro zimento; são representadas pelas porcelanas, louças
tópico. A última classe dos materiais cerâmicos são sanitárias, louças para mesa e louças vitrificadas. Já
as cerâmicas avançadas, classificação que também a segunda classe são os produtos estruturais à base
será abordada em um tópico exclusivo, devido à de argila ou também as cerâmicas vermelhas, usadas
sua relevância na realidade da utilização desses para a fabricação de tijolos de construção, azulejos,
materiais. Dessa forma, iniciaremos nosso estudo telhas e tubos (como nas tubulações de esgoto), ou
das classes das cerâmicas abordando os produtos à seja, são empregados em produtos em que a integri-
base de argila. dade estrutural é bastante importante (LIMA, 2006).

PRODUTOS À BASE DE ARGILA REFRATÁRIOS

O próprio nome da classe é bastante esclarecedor, A classe das cerâmicas refratárias também é ampla-
nela, estão as cerâmicas que têm como base da sua mente utilizada. Os produtos dessa classe possuem a
composição a argila. Como já citado no começo da capacidade de resistir a elevadas temperaturas, sem
unidade, tais cerâmicas são chamadas cerâmicas serem corroídos, reagirem com o ambiente onde
tradicionais. Além do preço competitivo, outra ra- operam ou ainda sem se fundirem ou se decompo-
zão pela sua popularidade é a facilidade com que rem, ou seja, são materiais que se comportam de
tais cerâmicas à base de argila são conformadas, forma inerte em ambientes severos, proporcionando
uma vez que, misturadas na quantidade correta de isolamento térmico. Por isso, são usados em partes
argila e água, formam uma massa plástica muito importantes de equipamentos de produção e refino
suscetível à modelagem. Após totalmente molda- de aço, manuseio de metais e vidros, além de fornos
das na forma desejada do produto, a peça é enca- e equipamento de tratamento térmico que operem
minhada para secagem, em que toda a umidade é em altas temperaturas.
removida da peça, posteriormente, ela é cozida em A composição das cerâmicas refratárias influen-
fornos com alta temperatura, tendo sua resistência ciam diretamente seu desempenho e, de acordo com
mecânica melhorada. a composição, há várias classificações, como as cerâ-
A maioria das peças cerâmicas à base de argila se micas refratárias de sílica, básicas, de argila e espe-
subdividem em duas classes. A primeira classe cor- ciais, como mostra o quadro a seguir.

104
DESIGN

Quadro 1 – Classificação das cerâmicas refratárias.

Classificações Principal componente Principais caracterísitcas Onde são aplicados


Sílica Capacidade em suportar São usados em tetos de fornos
cargas em elevadas tem- de fabricação de aço e vidros, que
Refratários de sílica
peraturas atingem temperaturas por volta
dos 1650ºC
Magnésio, também São mais caros que os
pode conter cálcio, refratários de sílica, po- São usados em fornos de soleira
Refratários básicos
cromo e ferro rém, são mais usados em aberta e na fabricação de aços
processos siderúrgicos
Argila refratária de alta Se houver maior quan- São usados na produção de tijolos
pureza, que é mistura tidade de alumina na que, por sua vez, são empregados
de sílica e alumina composição, aumentará a na construção de fornos para
temperatura máxima de isolar termicamente elemen-
Refratários de argila
serviço tos estruturais de temperaturas
elevadas, ou seja, são usados para
confinar atmosferas quentes de
outras estruturas
Óxidos com pureza Muitos desses elementos Para exemplificar o uso, temos
elevada, alumina, sílica, podem ser fabricados o carbeto de silício utilizado em
zircônia, magnésio, com pouca porosidade. elementos de aquecimento por
carbeto de silício, car- Por serem diferenciados, resistência elétrica e em compo-
bono, grafita e outros específicos e especiais, nentes internos de fornos.
Refratários especiais
também são materiais Já o carbono e a grafita são muito
caros refratários, porém tem limitações
de aplicação, uma vez que são sus-
cetíveis à oxidação a temperaturas
próximas a 800ºC

Fonte: Askeland e Phulé (2008); Callister e RethWisch (2013).

ABRASIVOS

A terceira classe dos materiais cerâmicos é a das ce- Os materiais cerâmicos mais utilizados como
râmicas abrasivas. São materiais usados para desgas- abrasivos são o carbeto de silício, carbeto de tun-
tar, polir ou cortar outros materiais com menor du- gstênio, areia de sílica e óxido de alumínio. Os dia-
reza, por meio de processos de moagem, polimento, mantes (naturais ou sintéticos) possuem a maior
lapidação e/ou jateamento. Dessa forma, sua princi- dureza e são usados como abrasivo, porém, seu alto
pal característica é a dureza, resistência ao desgaste custo inviabiliza muitas das utilizações.
e alto grau de tenacidade para que as partículas não Todos esses materiais cerâmicos abrasivos po-
rompam com facilidade. dem ser usados de diferentes formas, a mais conhe-

105
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

cida são as lixas de cerâmicas. Elas são formadas pela Os cimentos inorgânicos são produzidos em
deposição de partículas de materiais abrasivos sobre quantidades enormes e estão presentes, principal-
um substrato. As partículas são misturadas com um mente, no setor da construção civil. Também podem
“gel”, formando uma suspensão coloidal. Posterior- ser usados como fase de união em processos para
mente, a suspensão passa pelo processo de secagem aglutinar quimicamente agregados particulados,
e tratamentos térmicos, de forma que a suspensão como a areia e o cascalho, formando uma estrutura
converte-se em um gel sólido e úmido. O gel é pos- coesa. Nas duas formas de uso, o processo acontece
teriormente seco, formando uma cerâmica extrema- sem o fornecimento de calor, acontecendo apenas
mente dura. Em geral, metais, madeiras, plásticos e em temperatura ambiente.
outros materiais são lixados e polidos utilizando essa Dentre todos os cimentos, o mais utilizado é o
forma de abrasivo (QUIRINO, [2018], on-line)1. cimento hidráulico ou cimento portland, o qual é
Uma outra maneira de utilizar os abrasivos é por produzido por meio da moagem de mistura de ar-
meio da sua colagem em discos de esmerilhamen- gila com cal e outros minerais em quantidades ade-
to revestidos. Nesse caso, as partículas de abrasivos quadas. Após moído, a mistura é despejada em um
são coladas em um disco com a aplicação de uma forno rotativo que eleva a temperatura até, aproxi-
cerâmica vítrea ou de uma resina orgânica, e os dis- madamente, 1400ºC. Nessa etapa, produz mudanças
cos são utilizados para o processo de lixamento ou químicas no material que, posteriormente, é reti-
corte de outro material. Também podem ser utiliza- rado do forno e moído novamente, formando uma
dos como grãos soltos, em que a estrutura do disco mistura de pó muito fino, que é misturado com um
deve ter porosidade para permitir um escoamento quantidade de gesso, ajudando a retardar o processo
contínuo de corrente de ar ou algum líquido refri- de pega. Além do tempo de pega, outra característi-
gerante dentro dos poros por onde as partículas re- ca do material é a sua resistência (CALLISTER; RE-
fratárias passam, evitando o aquecimento excessivo THWISCH, 2013).
(CALLISTER; RETHWISCH, 2013). Com o conhecimento das principais proprie-
dades e características dos materiais cerâmicos e
CIMENTOS suas classificações de acordo com a forma de uso,
fica claro que as cerâmicas tradicionais são usadas
São materiais cerâmicos inorgânicos e podem ser clas- para fabricação de tijolos, telhas, azulejos e diver-
sificados em cimento, gesso de paris e cal. Ao serem sas louças domésticas (como de mesa e peças para
misturados com água, formam uma pasta que, pos- banheiro). Posteriormente, iremos conhecer as
teriormente, entra no processo de pega e endurece. chamadas cerâmicas avançadas que têm um cam-
Constitui, assim, estruturas sólidas e rígidas com qual- po de utilização bem diferente das cerâmicas vis-
quer forma, além de serem moldadas com facilidade. tas até o momento.

106
DESIGN

107
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Cerâmicas
Avançadas
Caro(a) aluno(a), no tópico anterior conhecemos • Óxidos: cerâmicas constituídas de óxidos são
um pouco das cerâmicas tradicionais, usadas há mi- desenvolvidas como material refratário, que
pode ser empregado de diversas formas; um
lhares de anos pelo homem. Com o passar do tem-
exemplo são em velas de ignição de automóveis.
po, os materiais cerâmicos foram sendo estudados e,
• Carbetos: constitui um material cerâmico
com o auxílio de novas tecnologias, foram sendo so-
muito resistente à oxidação e duro. Usado,
fisticados. Atualmente, estão em constante evolução. principalmente, como reforço em materiais
As cerâmicas avançadas são materiais especialmente compósitos com outros tipos de cerâmicas e
desenvolvidos para aplicações finais de alto desem- também com metais.
penho, ou seja, são desenvolvidas para usos muito • Nitretos: geralmente, é utilizado em compo-
específicos e tecnológicos, de modo a otimizar um nentes de motores diversos, uma vez que, se
conjunto particular de propriedades requeridas. analisado comparativamente com demais ce-
râmicas, é a que apresenta melhor conjunto
De forma geral, as cerâmicas avançadas são pro-
de propriedades.
dutos sofisticados desenvolvidos com matérias-pri-
mas sintéticas de altíssima pureza e por meio de pro- Além desses três principais elementos químicos
cessos rigorosamente controlados. Tais materiais são sintetizados, as cerâmicas avançadas também pos-
constituídos basicamente de três elementos químicos: suem em sua composição aditivos como ligantes,

108
DESIGN

plastificantes, solventes e agentes de sinterização, grandes tamanhos. Além disso, um segundo mo-
que auxiliam nos processos de obtenção do mate- tivo foi o reconhecimento de que é necessário ter
rial (PAREDES, [2018] on-line)2. diferentes critérios – daqueles já utilizados – para
Como essas cerâmicas exigem alto nível de de- materiais dúcteis, pois as cerâmicas são materiais
sempenho, as matérias-primas utilizadas na sua duros e frágeis. Por causa disso, foi criada, nos Es-
fabricação são sintetizadas por métodos químicos tados Unidos, a Associação Americana de Cerâ-
muito rigorosos e, quando são utilizadas matérias- micas Avançadas, onde fabricantes desenvolvem e
-primas naturais, inicialmente, passam por um pro- trabalham com novos procedimentos de testes que
cesso de purificação. Por usar em matérias-primas sejam mais adequados para cerâmicas avançadas
tão específicas e ter em o desenvolvimento de pro- (ART DENTAL LAB, [2018] on-line).
cessos que assegurem a alta qualidade das cerâmi- Desde então, muitas pesquisas e materiais foram
cas, elas têm alto custo no mercado. desenvolvidos e, atualmente, as cerâmicas avançadas
Desde a década de 1940, estudiosos e pesqui- são usadas em diversas áreas de alto desempenho.
sadores de importantes países trabalham em seus Caro(a) aluno(a), vejamos a seguir algumas das áre-
laboratórios para desenvolver novos materiais que as onde são aplicadas:
apresentem maior resistência mecânica ao desgaste 1. Setor da bioquímica: as cerâmicas interagem
e à corrosão química em condições de altas tem- com os tecidos vivos, sendo aplicadas como
peraturas e ambientes corrosivos, além de terem implantes de próteses dentárias e substituição
de ossos, fazendo papel estrutural, uma vez
melhores propriedades elétricas ou magnéticas
que pode resistir a elevadas cargas de com-
(ALVES, 2013). pressão com um baixo desgaste superficial.
Porém, a febre pelas cerâmicas avançadas acon-
Na bioquímica, são usadas, especificamente,
teceu no ano de 1983, quando foi publicado um ar- as cerâmicas, vidros bioativos e os vidro-ce-
tigo em que elas foram citadas como uma das dez râmicas bioativas para cirurgia reconstrutiva
maiores invenções tecnológicas da época, em uma e ligação óssea; cerâmica de alumina de alta
lista feita por cem presidentes das maiores empresas densidade, alumina monocristalina e zircô-
do Japão. A partir desse artigo, a atenção dos pes- nia para implantes odontológicos e ortopédi-
cos (UDESC, [2018] on-line)3.
quisadores em nível mundial foi despertada para o
2. Setor eletroeletrônico: usadas na indústria
desenvolvimento de novos materiais cerâmicos que
eletrônica, chamadas de eletrocerâmicas,
apresentam propriedades como alto ponto de fusão, uma vez que consistem em microestruturas
alta resistência ao desgaste, propriedades magnéti- de cerâmicas. São utilizadas em capacitores,
cas, inércia química e diferentes propriedades elétri- sensores, sonares, sensores semicondutores,
cas (ZANOTTO, [2018] on-line). supercondutores de alta temperatura, iso-
Um dos principais motivos que levaram ao ladores, drivers, magnéticos e outros, tendo
grande investimento e, consequente ao desenvolvi- amplo espectro de aplicações, como compu-
tadores, equipamentos de telecomunicações,
mento desses materiais foi a compreensão de novos
sensores e atuadores de alta tecnologia (MA-
níveis da ciência da fabricação, com alto grau de re- CÉA, [2018] on-line)4.
produtibilidade com requisitos para tolerância de

109
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

3. Setor mecânico: aplicadas no desenvolvi- As fibras ópticas são desenvolvidas com sílica,
mento de ferramentas de corte. Uma vez que que deve estar com extremo grau de pureza.
possuem excelentes resistência ao desgaste, Contaminantes, mesmo em quantidades mí-
conseguem cortar a altas velocidades, geran- nimas, ou outros defeitos, podem acabar ab-
do produtividade quando aplicadas correta- sorvendo ou espalhando o feixe de luz, atrapa-
mente, já que há várias classes de cerâmicas lhando o transporte de dados feito através da
avançadas que podem ser utilizadas para cor- passagem do feixe de luz pela fibra. Atualmen-
tes. Na maioria das vezes, tais ferramentas são te, há processos avançados que são executados
aplicadas em operações de torneamento com para produzir fibras que atendam perfeitamen-
alta velocidade, mas também em operações de te às restrições para as diferentes aplicações
canais e fresamento ( SANDVIK, on-line)5. (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
Além de ferramentas de corte, outra aplica-
5. Setor nuclear: devido à estabilidade contra
ção recente das cerâmicas mecânicas são em
a corrosão e à capacidade de suportar cisão
rolamentos, que consistem em peças mecâni-
de uma grande parte dos átomos de urânio,
cas utilizadas para possibilitar movimento en-
sem deterioração do material, as cerâmicas
tre duas ou mais partes de uma máquina ou
utilizadas nesse setor podem ser usadas para
equipamento. Anteriormente, tais peças eram
fabricação de reatores e, também, no desen-
feitas de aços, mas com as vantagens que a ce-
volvimento de partes críticas de foguetes e
râmica proporciona foram sendo substituídos.
mísseis, em que precisam resistir a tempe-
Comparativamente, em relação ao aço, as cerâ- raturas extremas, como o cone do nariz e da
micas apresentam menor peso e, consequente- garganta de foguetes.
mente, maior velocidade, mais rigidez, sofren-
do menos deformações em uso, produzindo, Devido a todas suas características e propriedades já
assim, menos ruídos e vibrações, maior tempo comentadas, as cerâmicas avançadas são utilizadas
de vida útil, maior resistência à corrosão – po- de diferentes maneiras. Os processos de fabricação
dendo ser empregadas em ambientes corrosi-
para desenvolvimento de produtos com cerâmicas
vos e de alta temperatura –, além de serem iso-
avançadas são praticamente os mesmos desenvolvi-
lantes elétricos, imunes a descargas elétricas.
dos na fabricação de produtos das cerâmicas tradi-
Algumas aplicações dos rolamentos de ce-
râmicas são em patins com rodas em linhas, cionais; poucos aspectos são diferentes, isso porque
motores elétricos, bicicletas, instrumentos as cerâmicas avançadas possuem uma massa homo-
médicos (como brocas dentárias e serras ci- gênea e de alta densidade em relação às tradicionais
rúrgicas) e equipamentos modernos das áre- (PAREDES, [2018] on-line)2.
as química, têxtil e de processamento de ali- De maneira geral, o processamento das cerâ-
mentos (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
micas é feito pela compactação de pós ou partí-
4. Setor óptico: neste setor, as cerâmicas são culas e aquecimento a temperaturas adequadas,
aplicadas, principalmente, para o desenvol- assim como as cerâmicas tradicionais. Caro(a)
vimento de fibras ópticas, componente crí- aluno(a), no próximo tópico iremos abordar e de-
tico na atualidade, pois estão relacionadas talhar as etapas do processamento para fabricação
diretamente a sistemas de comunicações óp-
de cerâmicas em geral e veremos dentro da base
ticos e modernos.
de fabricação onde se encontram ou em qual etapa

110
DESIGN

há diferenciação entre as cerâmicas tradicionais e Acabamento superficial: assim como os demais


as avançadas. materiais já estudados até o momento, as cerâmi-
Apenas para uma introdução do que veremos cas também possuem processos de acabamento. As
a seguir, as cerâmicas avançadas são desenvolvidas peças de cerâmicas podem ser tanto usinadas em
passando pelas seguintes etapas: compactação verde quanto sinterizadas. Quando as
Obtenção e preparação dos pós: a maioria dos peças são sinterizadas para acabamento, são apli-
pós utilizados no desenvolvimento das cerâmicas cados métodos abrasivos, de usinagem por laser,
avançadas é obtida sinteticamente por meio de pro- química e eletroerosão. Contudo, quando a peça é
cessos químicos. Quando naturais, são purificadas corpo verde, ferramentas especiais devem ser usa-
antes de iniciar as demais etapas. As partículas de- das devido à sua fragilidade.
vem apresentar tamanhos controlados, uma vez que Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste tó-
o tamanho da partícula obtida é responsável pela pico no qual conhecemos as cerâmicas avançadas.
energia de sinterização do pó (processo posterior) e, Conhecemos seu desenvolvimento, suas proprie-
quanto menor as partículas, menor também o tem- dades e o processo de obtenção e aplicações, o que
po e a temperatura necessários para aglutiná-las no nos mostra sua relevância na atualidade. Adiante,
processo de sinterização (TEIXEIRA, 1999). iremos conhecer em detalhes quais os processos de
Operação de conformação (corpo verde): após desenvolvimento e fabricação desses materiais, que
a obtenção das partículas das matérias-primas, é têm direta influência, posteriormente, na qualidade
realizada a mistura de todas aquelas presentes na e confiabilidade nos produtos.
composição do material que será desenvolvido. Pos-
teriormente, há a dispersão, moagem, homogeneiza- SAIBA MAIS
ção, secagem e granulação, etapas que serão aborda-
das detalhadamente mais adiante. Após tais etapas, Enquanto as cerâmicas tradicionais são usu-
é realizada a conformação do pó, processo bastante almente desenvolvidas em laboratórios de
análogo ao que vimos na Unidade I, realizado na pesquisa e desenvolvimento industriais, uma
grande variedade de cerâmicas avançadas
metalurgia em pó dos metais. Nesta etapa de con- resultaram de trabalho fundamental feito
formação, há um molde que dá formato e dimensões em laboratórios de universidades e governa-
primárias ao conjunto de partículas, que se encontra mentais. Esses desenvolvimentos ocorreram
mundialmente, com o Japão na liderança por
na forma de pó, inicialmente misturado, formando várias instâncias.
um compacto verde, que irá ao forno para sinterizar Um relatório do Centro de Análise de Informa-
(ALVES, 2013). ção em Cerâmica do Departamento de Defesa
Americano previu que o mercado americano
Sinterização: processo no qual as partículas para compósitos de matriz cerâmica (Cerâ-
presentes na mistura se compactam e se unem pelo micas Avançadas) cresceu a uma taxa anual
efeito de aquecimento, possibilitando difusão dos de quase 15% e atingiu os U$ 500 milhões a
partir do ano 2000.
átomos de cada partícula, formando uma rede cris-
talina, responsável pelo desenvolvimento da micro- Fonte: Art Dental Lab (2018).

estrutura final do material desenvolvido.

111
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Processos
em Cerâmicas
Caro(a) aluno(a), após conhecermos as cerâmicas diferença no processo de fabricação é o vidro e, por
tradicionais e avançadas, neste tópico iremos estu- isso, reservamos um tópico para falarmos sobre
dar quais as etapas típicas de processamento do ma- este assunto. Os processos de fabricação das cerâ-
terial e, também, as principais técnicas de conforma- micas diferem de acordo com o tipo de peça ou ma-
ção para fabricação de produtos. terial desejado, mas, de forma geral, os processos
Os principais processos de fabricação usados compreendem as etapas de preparação da matéria-
nos diversos segmentos cerâmicos assemelham-se -prima e da massa, formação das peças, tratamento
parcial ou totalmente. O setor que apresenta maior térmico e acabamento.

112
DESIGN

PREPARAÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA

Como vimos anteriormente, a matéria-prima Há diferentes tipos de massas que são feitas de
das cerâmicas tradicionais é a argila, material ex- acordo com a técnica a ser empregada para dar for-
traído da terra. Inicialmente, passa por um pro- ma às peças. As massas podem ser classificadas em:
cesso de mineração; posteriormente, máquinas • Suspensão ou barbotina: massa para obtenção
moem e quebram suas partículas, tornando-as de peças em moldes de gesso ou resinas porosas;
pequenas, finas, homogêneas; e, algumas vezes, • Massas secas ou semissecas: têm forma granu-
também passam por um processo de purificação. lada, usadas para obter peças por prensagem;
No caso das cerâmicas avançadas, suas matérias- • Massas plásticas: usadas para desenvolvi-
-primas são sintéticas e obtidas por meio de re- mento de peças por processo de extrusão,
ações químicas, assim, já são fornecidas prontas que pode seguir ou não para o torneamento
ou prensagem.
e puras, só necessitando, às vezes, de ajustes de
granulometria, ou seja, ajustes no tamanho das
partículas (ABCERAM, [2018], on-line)6. MÉTODOS DE CONFORMAÇÃO

PREPARAÇÃO DA MASSA Além da quantidade de água da massa, fatores


econômicos, da geometria e das característi-
Umas das principais etapas do processo de fa- cas do produto, são questões consideradas para
bricação dos materiais cerâmicos é a preparação a escolha do método. Vejamos a seguir quais os
da massa, uma vez que as cerâmicas geralmente métodos de fabricação usados para o desenvolvi-
possuem composição de duas ou mais matérias- mentos dos produtos.
-primas, além de aditivos e água. É nessa etapa
que é feita a dosagem das matérias-primas e dos Extrusão
aditivos, já que devem seguir com precisão a for- No processo de extrusão, a massa é colocada e
mulação estabelecida, pois cada proporção de compactada dentro de uma máquina extrusora,
matéria-prima ou aditivo influencia diretamente que possui um pistão e força a massa a passar por
nas propriedades e características do material e, um bocal de forma e dimensões predeterminadas,
consequentemente, do produtos que serão produ- ou seja, é o bocal da extrusora que determina a
zidos (TEIXEIRA, 1999). forma do produto.

113
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

O processo pode formar bolhas de ar na massa sa específica e com formatos complexos. Ambas as
que podem provocar defeitos na peça na etapa de prensagens produzem a chamada “cerâmica verde”,
cozimento. Assim, as extrusoras são providas de dis- peças que possuem a forma desejada e resistência
positivos a vácuo, tornando as massas mais resisten- mecânica suficiente para serem manuseadas e que,
tes e plásticas, uma vez que a desaeração deixa as posteriormente, podem passar pelo processo de
partículas mais coesas no material. O produtos fa- sinterização ou não.
bricados por esse processo são os tijolos, telhas, blo- A sinterização é o processo que a cerâmica
cos, tubos e outros que apresentem formato regular verde passa a altas temperaturas e com atmosfera
(TEIXEIRA, 1999). controlada, tendo como objetivo aumentar a mas-
sa específica da peça, diminuindo a porosidade e
Fundição ou colagem melhorando sua integridade mecânica. Voltando
Processo usado para composições à base de argila e/ à prensagem, também há a prensagem a quente,
ou pós-cerâmicos com a consistência de uma pasta usada quando a peça ainda não apresenta boas
aquosa, tal suspensão é conhecida como barbotina. propriedades mecânicas após o processo de sinte-
No processo, a barbotina é colocada em um molde rização; logo, ela é conformada com compressão e
poroso de gesso de Paris e a água da suspensão vai altas temperaturas.
sendo absorvida pelo molde, formando uma massa A massa granulada com baixo teor de umida-
espessa nas paredes do molde. Conforme a peça, que de, variando de 5% a 15%, é a mais empregada no
está dentro do molde, seca e se contrai, os dois se processo. No entanto, ela também é indicada para
separam e, então, a peça é removida. pós-cerâmicos, prensagem de pós, processo análo-
O resultado da fundição é a “cerâmica verde”, go cerâmico à metalurgia do pó, vista na Unidade
q,ue posteriormente, é seca e sinterizada em al- I, usada para fabricação de produtos argilosos ou
tas temperaturas. O processo é muito utilizado na não, incluindo cerâmicas eletrônicas e magnéticas
confecção de cerâmicas artísticas, estatuetas, uten- (ASKELAND; PHULÉ, 2008).
sílios sanitários e peças especiais para laboratórios
(CALLITER; RETHWISCH, 2013). Torneamento
O torneamento costuma acontecer após o proces-
Prensagem e prensagem de pós so de extrusão e pode ocorrer por meio de tornos
A prensagem modela a peça em um molde com as industriais ou manuais, no caso de cerâmicas arte-
dimensões desejadas, podendo ser uma prensagem sanais. Quando indústrias têm uma produção de
uniaxial, na qual a tensão de compressão é aplicada média para alta escala, são realizados com a adição
em uma única direção, recomendada para a pro- da massa plástica, isenta de ar, sobre um molde de
dução em grande quantidade de peças pequenas e gesso que está acoplado a uma base. Posteriormente,
simples. Para a produção de peças grandes, é reco- a massa é submetida a uma compressão de uma for-
mendada a prensagem isostática a frio, em que as ma aquecida. A massa e o molde são acoplados a um
peças são imersas em óleo e a pressão de compac- torno e submetidos a um desbaste, retirará o excesso
tação é aplicada, obtendo peças com elevada mas- de material e melhorará a estética da peça. Após essa

114
DESIGN

etapa, peça e molde são levados a um forno contínuo Cozimento


onde vão se separar. Os produtos feitos por meio do Processo que acontece após a secagem da peça,
torneamento são pratos, xícaras, travessas e louças em que ela é cozida a uma temperatura entre
de mesa em geral (LIMA, 2006). 900ºC e 1400ºC, dependendo muito da composi-
ção do material e das propriedades desejadas para
TRATAMENTOS TÉRMICOS a peça acabada.
O processo de cozimento provoca a vitrificação
Além dos processos de fabricação e conformação nas peças e consiste na formação gradual de um vi-
das cerâmicas, também são utilizados proces- dro líquido no interior do material, que preencherá
sos de tratamentos térmicos, que possuem como parte do volume dos poros dele. O grau de vitrifica-
objetivo principal melhorar as propriedades dos ção depende do tempo e temperatura de cozimen-
produtos cerâmicos. A seguir, os dois tratamentos to e da composição do material. Assim, o grau de
térmicos empregados. vitrificação influenciará as propriedades do produ-
to de cerâmica acabado. A resistência, durabilidade
Secagem e massa específica são melhoradas pelo cozimento
A secagem é considerada a principal etapa da con- (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
formação de cerâmicas e deve ser realizada da ma-
neira mais rápida possível para evitar gastos excessi- PROCESSOS DE ACABAMENTO
vos com energia. Entretanto, não pode ser tão rápida
a ponto de danificar o material, causando rachadu- Após os processos de conformação e tratamento tér-
ras, devido à variação brusca de volume. mico, há outros processos e métodos utilizados para
Assim, para um processo eficiente de secagem, melhorar a forma e as tolerâncias finais das peças e
é necessário conhecimento da distribuição do líqui- remover defeitos de superfícies que podem ter ocor-
do no interior do produto. Primeiro, deve haver a rido, melhorando o aspecto estético. Vejamos alguns
evaporação da água superficial. Para isso acontecer, desses processos.
ocorrerá um processo no interior da peça, que irá
formar uma corrente contínua de água do interior Rebarba
para a superfície da peça. Ao chegar à superfície, a Para retirar as rebarbas da peça, é necessário reali-
água será evaporada de maneira adequada, evitando zar alguns processos, que variam de acordo com o
problemas estruturais do material e consequente- processo de conformação pelo qual a peça é feita.
mente, da peça que está sendo seca. Com a evapo- Por exemplo, para peças que serão torneadas, uma
ração da água interna, o espaço entre as partículas esponja úmida é passada para o alisamento da su-
diminui, fazendo com que a peça se contraia e que perfície. No caso de peças que são feitas por fundi-
tenha sua massa específica e resistência aumentadas ção, elas devem ter sua estrutura aparada e cortada,
(TEIXEIRA, 1999). removendo, assim, material sobressalente.

115
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

União de cerâmicas Pintura por esmaltação


A união de peças cerâmicas é realizada pelo uso de bar- Uma mistura, parecida com uma tinta, é preparada
botina como adesivo. É importante salientar que am- com óxidos metálicos e fundentes em pó. Poste-
bas as partes a serem unidas devem possuir o mesmo riormente, ambos são misturados com um veículo
teor de umidade. Esse método é usado para a junção oleoso e aplicado à peça, geralmente já vitrificada.
de asas às xícaras, que, após terem as partes unidas, são A peça, após ser decorada com a mistura chamada
revestidas com massa fluida para obter uniformidade de esmalte, é cozida e, no processo de aquecimento,
da superfície da xícara (TEIXEIRA, 1999). o fundente se funde, envolvendo os pigmentos óxi-
dos, que consome o óleo e fixa a cor na peça, que se
PROCESSO DE DECORAÇÃO torna decorada.

Como muitas cerâmicas são usadas como peça de Serigrafia


decoração e utensílios domésticos, é necessário que Este processo já foi visto no tópico 5, da Unidade
passem por processos que intensifiquem e incre- I. Resumidamente, trata-se de um processo que é
mentem a estética da peça, proporcionando mais be- realizado em uma tela de náilon, preparada (ma-
leza a elas. Vejamos a seguir quais os processos mais triz) coberta por um filme, exceto nas áreas onde se
utilizados para decorar as peças cerâmicas. deseja o desenho. A tela é posicionada a uma cer-
ta distância da peça a ser decorada e, em seguida,
Vitrificação um rolo de borracha comprime a tela contra a peça
Muitos produtos recebem uma camada contínua cerâmica, pressionando a tinta através de orifícios
e fina de vidro sobre a superfície. Posteriormente, dessa tela, passando, então, o desenho desejado para
vão para a queima, em que, devido às altas tem- a peça (TEIXEIRA, 1999).
peraturas, a peça fica com um aspecto vítreo, con- Há outros processos que podem ser emprega-
tribuindo para questões estéticas e higiênicas dos dos, mas é impossível citar todos aqui. Após co-
produtos, além de melhorar algumas propriedades nhecer sobre as cerâmicas, sua composição, clas-
mecânicas e elétricas. sificação e processos de conformação, acabamento
O vidrado oferece grande quantidade de cores e decoração, iremos conhecer as mesmas questões
e texturas para decoração, mas também há o vidra- com relações aos vidros, materiais considerados
do opaco, chamado de esmalte cerâmico, e que não cerâmicas, mas que, devido a suas características
oferece coloração diferente da superfície da peça. únicas, serão abordados separadamente.
(ABCERAM, [2018], on-line)6.

116
DESIGN

117
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Vidros
Segundo a história, o vidro foi descoberto pelos lizado, desde em produtos muito simples e baratos,
egípcios e, posteriormente, foi aperfeiçoado pelo como as garrafas, até em componentes de alta tec-
povo romano. Sendo assim, é considerado um dos nologia, como as fibras ópticas. Além, também, de
materiais mais antigos feitos pelo homem. Desde ser trabalhado com apelo artístico na produção de
sua descoberta até os dias atuais, o vidro é um ma- vidros manuais, decorativos e utilitários (ASHBY;
terial muito utilizado em diversos setores. Com o JOHNSON, 2011).
passar dos anos e o desenvolvimento das tecnolo- O vidro é um material inorgânico, fisicamente
gias, passou a ser aperfeiçoado com características homogêneo, obtido por resfriamento de uma mas-
e propriedades que atendessem a novas demandas sa em fusão, que endurece com o aumento contínuo
específicas. Hoje, é um material universalmente uti- da sua viscosidade até atingir a condição de rigidez,

118
DESIGN

mas, não sofre cristalização. De acordo com a Asso- para uso em embalagens, pois apresenta alto nível
ciação Técnica Brasileira de Indústrias Automáticas de reciclagem (se 1kg de vidro for descartado, 1kg de
de Vidro (ABIVIDRO [2018], on-line)7, a maioria vidro será reaproveitado), não agredindo a natureza
dos vidros industriais utilizados para desenvolvi- e, também, protege o consumidor, já que não con-
mento de produtos e componentes são constituídos tamina o produto e o deixa visível ao consumidor
pelos seguintes elementos: (AKERMAN, 2000).
• Areia (óxidos e carbonatos de silício, cálcio e Considerando a resistência mecânica dos vidros,
sódio) - 72% temos que é um material frágil, ou seja, tem baixa re-
• Calcário - 11% sistência ao impacto. Todavia, ao mesmo tempo, não
• Barrilha - 14% é um material fraco, pois possui grande resistência à
• Alumina - 2% ruptura e, dessa maneira, pode ser utilizado em pi-
• Corantes - 1% sos, por ser duro e rígido. Em relação à resistência ao
choque térmico, e apesar de estar classificado den-
Além dos citados, também podem ser adicionados tro dos materiais cerâmicos, o vidro não apresenta a
outros elementos na composição do material, na for- mesma resistência a elevadas temperaturas e a cho-
ma de óxidos, com o objetivo de obter propriedades ques térmicos (BARROS, 2010).
diferenciadas e especiais, além daquelas já presentes, O vidro é um mau condutor de calor, ou seja,
como expansão controlada, dureza, resistência à ra- sua estrutura oferece resistência à passagem do ca-
diação e outras (LIMA, 2006). lor. Isso explica a baixa resistência ao choque térmi-
Entre as propriedades dos vidros, duas são evi- co. Por exemplo, ao adicionar um líquido dentro de
denciadas: a primeira é a transparência, na maioria um copo de vidro, ao entrar em contato com a água,
dos casos, pois também há vidros translúcidos e o vidro vai aquecer e se dilatar, mas, por oferecer
opacos. Já a segunda é a durabilidade do material. resistência à passagem do calor, a superfície exter-
São conhecidos vidros milenares que até hoje não na não se aquece na mesma velocidade e permane-
apresentaram sinais de deterioração, o que evidencia ce fria sem se dilatar, gerando tensões de tração no
sua resistência química, tornando o vidro um dos material. Consequentemente, se o valor das tensões
principais materiais utilizados como recipientes de forem acima do limite que o vidro pode suportar, ele
reagentes químicos e produtos farmacêuticos. Tam- irá se quebrar (AKERMAN, 2000).
bém são usados em vidrarias de laboratórios e tubu- Segundo Lesko (2004), os vidros são classifica-
lações de indústrias químicas (GIACOMINI, 2005). dos em três tipos: vidros comuns, vidros resistentes
Além de sua durabilidade química, característi- a choques térmicos e vidros de sílicas. Também há
cas como pureza, impermeabilidade e versatilidade, três parâmetros quanto à sensibilidade à luz, arqui-
tornam o vidro um dos materiais mais adequados tetônicos e especiais, como vemos na figura a seguir.

119
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

VIDRO

Resistente a Vidro de Sensível Arquitetônico


Comum
choque térmico sílica à luz e especial

Sílica Fotos-
Sodocálcico Borossilicato
fundida sensível

Chumbo- Alumino-
90% sílica Fotocromático
álcali silicato

Fotocrômico

Figura 2 – Representação da classificação dos tipos de vidros.


Fonte: Lesko (2004, p. 249).

Caro(a) aluno(a), a partir de agora, iremos conhecer da produção total de vidros. Esse tipo possui preço
os principais vidros, suas composições básicas, ca- acessível, porém, não apresenta alta resistência em
racterísticas e aplicação em componentes e produtos. altas temperaturas, mudanças bruscas de tempera-
turas e produtos químicos.
VIDROS COMUNS A composição da maioria desses vidros está den-
tro da seguinte faixa:
São aqueles que possuem as características básicas • Óxido de cálcio: 8% - 12%
de um vidro, sem apresentar uma composição, pro- • Óxido alcalino (principalmente óxido de só-
cessos e tratamentos diferenciados ou específicos. dio): 12% - 17%
Dessa forma, são acessíveis e, consequentemente, • Alumina: 0,6% a 2,5% (geralmente é incluí-
bastante utilizados. da para incrementar a durabilidade quími-
ca ao vidro)

Vidro sodo-cálcico Os vidros sodo-cálcicos são usados para fabricar a


São os vidros mais antigos e largamente utilizados maior parte das garrafas, janelas, recipientes, copos,
na fabricação de produtos, responsáveis por 90% bulbos e tubos de lâmpadas (AKERMAN, 2000).

120
DESIGN

VIDROS RESISTENTES A CHOQUES TÉR- VIDROS DE SÍLICA


MICOS
São considerados os vidros mais importantes de um
Como o próprio nome sugere, vidros dessa classifi- único componente, a sílica, que auxilia na proprie-
cação apresentam maior resistência a choque térmi- dade de não deterioração por radiação que provoca
cos, além disso, também possuem ponto de fusão a escurecimento em alguns vidros. Também são de di-
temperaturas relativamente altas. fícil processamento e possuem custo elevado.

Vidro borossilicatos Sílica fundida


Esses vidros possuem a sílica como principal com- Esses vidros apresentam um único componente
ponente, mas também há entre 13% a 28% de óxido importante, a sílica. Caracterizam-se por supor-
bórico, que atua no material diminuindo a expansão tar altas temperaturas de fusão e trabalho, em
térmica dele. Apresentam boa resistência mecânica, torno de 900 ºC, por longos períodos de proces-
elétrica e a altas temperaturas, sendo largamente samento. Possuem um coeficiente de expansão
usados para fabricação de isolantes elétricos e uten- térmico baixo e, consequentemente, alta resis-
sílios domésticos resistentes a choques térmicos. Por tência a choques térmicos (é o vidro que possui a
apresentarem pequena quantidade de óxidos modi- maior resistência a choque térmico do que todos
ficadores, também são muito resistentes ao ataque os outros) e, também, alta resistência química.
químico e, assim, empregados em vários equipa- Devido a seu alto ponto de fusão, é difícil produ-
mentos de laboratório (LIMA, 2006). zi-lo como um vidro derretido primário, tornan-
do-o mais caro. Esses vidros, em geral, são uti-
Vidro alumino-silicato lizados em laboratórios e equipamentos de alta
Os vidros alumino-silicato apresentam maior cus- tecnologia (GIACOMINI, 2005).
to e complexidade de processamento se compara-
dos com os vidros borossilicatos. No entanto, quan- VIDROS SENSÍVEIS À LUZ
do se adiciona o óxido de alumínio ou alumina na
composição de um vidro silicato alcalino, aumenta Família de vidros que têm características de colora-
a viscosidade em altas temperaturas, consequente- ção alteradas quando expostas a fontes de energia,
mente, aumentando sua coesão estrutural. Dessa principalmente energia ultravioleta.
forma, os vidros alumino-silicatos comerciais po-
dem ser aquecidos a temperaturas superiores sem Vidro fotocrômico
sofrerem deformação. Esses vidros têm sua principal aplicação no desen-
São usados em produtos de alta performance, como volvimento de óculos de sol, já que tais vidros escu-
termômetros de altas temperaturas, janelas de veículos recem quando recebem luz solar ou raios ultravio-
espaciais, resistores em circuitos elétricos, tubos de letas. Após a exposição do vidro ao sol ou raios, ele
combustão, fibras de reforço, vidros com alta resistên- consegue retornar à sua claridade.
cia química e vitrocerâmicos (AKERMAN, 2000).

121
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Vidro fotossensível COR DO VIDRO


São vidros que, ao serem aquecidos por alguma fon-
te externa de calor ou expostos à energia ultraviole- Vidro com cores são muito usados para produtos de
ta, mudam de claro para um estado opaco. decoração e projetos arquitetônicos. A relação da
cor no vidro é bastante simples. São substâncias pre-
Vidro fotocromático sentes na composição que atribuem determinadas
Diferentemente dos demais vidros sensíveis à luz, cores ao material. Assim, se um vidro desenvolvido
ele mantém permanentemente sua coloração. São for fundido sem a presença de nenhum colorante,
vidros utilizados para armazenamento de informa- ele será incolor.
ções, aplicados em produtos de decoração ou trans- As substâncias que atribuem cores aos vidros,
parentes (LESKO, 2004). em geral, estão na forma de óxidos ou sob a forma
de silicatos. Na figura a seguir, podemos observar o
VITROCERÂMICA efeito de diversos colorantes nos vidros. Quando há
necessidade de cores intermediárias, o processo é
Possuem uma estrutura molecular diferente dos de- utilizar mais do que um colorante para se aproximar
mais vidros, pois passaram por processamento a al- da cor desejada.
tas temperaturas e foram resfriados de maneira que
Amarelo
aditivos presentes em sua composição provocaram Cromo
Níquel
a nucleação de pequenos cristais em sua estrutura.
Selênio
Devido à sua microestrutura diferenciada em
relação aos demais vidros, o vitrocerâmica apresen- Ferro
Manganês
ta melhor tenacidade, baixo coeficiente de dilatação Verde Vermelho
térmica, boa resistência mecânica e de oxidação
em altas temperaturas. Assim, sua maior aplicação
acontece em utensílios de cozinha, superfícies de fo- Cobalto
Cobre
gões e aplicações de alto desempenho resistentes ao Azul

calor (ASHBY; JOHNSON, 2011). Figura 3 – Efeito de diferentes elementos na coloração de vidros.
Fonte: Akerman (2000, p. 33).

122
DESIGN

123
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Processos
em Vidros
Os vidros são materiais conformados a temperatu- terial. Dessa forma, as bolhas devem ser absorvidas
ras elevadas e se tornam uma massa fluida e muito no material fundido ou eliminadas com o ajuste
viscosa com o resfriamento. O processo, então, é apropriado da viscosidade. Desta maneira, con-
iniciado com a fusão das matérias-primas em for- sequentemente, o produto ficará isento de poros
nos. É de extrema importância que os vidros pro- (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
duzidos sejam homogêneos e livres de poros. Para Caro(a) aluno(a), para a fabricação de produtos
que isso ocorra, é necessário que haja uma fusão e de vidros, são empregados cinco métodos de confor-
mistura completa das matérias-primas. Os poros, mações diferentes. A seguir, conheceremos cada um
por sua vez, são resultados de bolhas de ar no ma- deles, separadamente.

124
DESIGN

O processo se inicia com a conformação por


REFLITA
prensagem de um molde, um “esboço”, que corres-
ponde à pré-forma do produto desejado. Posterior-
Design é a alma fundamental de uma criação mente, a peça é formada. Então, o molde inicial é
humana, que acaba se expressando em cama-
inserido em um molde de acabamento e é forçado a
das externas sucessivas do produto ou serviço.
se conformar aos contornos dele pela pressão criada
por uma injeção de ar. Caro(a) aluno(a), na figura a
seguir podemos observar as etapas do sopro.
PRENSAGEM
Tarugo
Após a fusão do vidro, ele é inserido em um ma- Operação de
Molde do prensagem
quinário denominado “alimentador de gotas”, o qual parison
dosará em pequenas gotas de vidro com volume e
formato uniformes. As gotas vão cair sobre um mol-
de que está com temperatura controlada e revestido
de lubrificante. Posteriormente, é iniciada a com-
pressão do vidro pela ação de um segundo molde,
que é empurrado contra o vidro em estado plástico
por um pistão. Após ocorrer a compressão do vidro
pelo molde, a peça será resfriada e o pistão irá re-
Ar comprimido
trair, e, então, a peça é retirada do molde.
Parison Molde de
O processo conforma formas abertas, relati- suspenso acabamento
vamente simples, com boa precisão dimensional.
Porém, não é recomendado para produtos que pos-
suem paredes muito finas ou em formas fechadas,
sendo recomendado para a fabricação de peças com
paredes relativamentes grossas, tais como pratos,
baixelas, bandejas e copos simples (LIMA, 2006).

SOPRO Figura 4 – Técnica de prensagem e sopro para a produção de uma gar-


rafa de vidro.
Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 439).
Apesar de alguns processos de sopro serem feitos
de forma manual, especialmente quando se trata de
produtos de arte e decoração, atualmente o proces- O processo de sopro é indicado para a fabricação
so é totalmente automatizado, em que a máquina de de recipientes de paredes finas, como garrafas, fras-
sopragem de vidro é capaz de produzir, por exem- cos e produtos de grande volume, como lâmpadas
plo, mais de 1.000 lâmpadas por minuto. (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).

125
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

LAMINAGEM

A laminagem ou laminação é o processo que pro- madas pelo estiramento do vidro fundido através de
duz chapas de vidros, que são fabricados por uma furos na base de tal câmara. A viscosidade do vidro
máquina, em que o vidro fundido é estirado através é crítica nesse processo, então deve ser controlada
de dois rolos laminadores (lisos ou gravados). Após pela temperatura e orifícios por onde saem as fibras
ser estirado, o vidro se solidifica e, então, pode ser (LESKO, 2004).
cortado no tamanho desejado.
Os vidros fabricados a partir da laminação po- TRATAMENTO TÉRMICO DE VIDROS
dem ser aplicados como matéria-prima de produ-
tos decorativos, móveis, para-brisas, entre outros. Assim como nos metais, estudados na Unidade II, as
Podem também ser cortados em diversos forma- cerâmicas, principalmente os vidros, também pas-
dos e, ainda, conformados para obter curvaturas sam por processos térmicos com o objetivo de me-
(LESKO, 2004). lhorar suas propriedades e características finais. Ca-
ro(a) aluno(a), iremos conhecer os dois principais
ESTIRAMENTO E O MÉTODO DE FLUTU- tratamentos térmicos aplicados nos vidros.
AÇÃO (FLOAT)
Recozimento
O estiramento é um processo de conformação O recozimento é um tratamento térmico no qual pe-
para produzir longas peças de vidro, como tubos, ças de cerâmicas e, principalmente, os vidros, pas-
chapas, barras e fibras, que possuem seção trans- sam na etapa final de fabricação para aliviar tensões
versal constante. geradas em processos anteriores.
Na década de 1950, uma empresa inglesa de- O método consiste em aquecer as peças de vi-
senvolveu e patenteou o método float, que consiste dro a uma temperatura até o ponto de recozimen-
em derramar vidro fundido em um recipiente de to. Após permanecer por um determinado tempo
estanho fundido com atmosfera controlada. Ao nesta temperatura, as peças são resfriadas lenta-
cair no recipiente de estanho, o vidro flutua en- mente até a temperatura ambiente (CALLISTER;
quanto passa por roletes, seguindo em direção à RETHWISCH, 2013).
galeria de recozimento, onde recebe naturalmente
um polimento a quente à medida que vai se solidi- Têmpera do vidro
ficando. O vidro produzido por esse método possui Nesse tratamento, o vidro é aquecido até uma tem-
alta qualidade e brilho, não precisando passar por peratura próxima do seu amolecimento e, em se-
etapa de polimento. guida, é resfriado até a temperatura ambiente, em
Para a fabricação de fibras de vidros, é utilizado meio a um jato de ar. Devido às diferenças nas ta-
um processo de estiramento bastante sofisticado, em xas de resfriamento das regiões de superfície e in-
que o vidro fundido é colocado em uma câmara de terna do vidro, há surgimento de tensões residu-
aquecimento de platina. Assim, as fibras são confor- ais, tornando o material mais rígido. No final do

126
DESIGN

resfriamento do vidro, até a temperatura ambiente,


ele terá tensões de compressão em sua superfície e
tensões de tração nas regiões internas, tornando-os
mais resistentes do que os demais vidros, poden-
do suportar tensões de tração aplicada e impactos
mais intensos do que os outros.
Além desse método denominado têmpera térmi-
ca, também há outro meio em que o vidro é tempe-
rado, chamado têmpera química. O método consiste
em um processo longo que utiliza banho de produtos
químicos fundidos, havendo troca de átomos entre
o banho e o vidro, que resultam em tensões de com-
pressão residual na superfície, da mesma forma que
o processo térmico. Por possuir tais características,
vidros temperados são aplicados em janelas de carro
e de casas, prateleiras de refrigeradores, fornos, mo-
biliários e tantas outras formas em que a segurança é
importante (ASKELAND; PHULÉ, 2008).
Caro(a) aluno(a), após conhecer os materiais ce-
râmicos, sua classificação, composição e processos
de fabricação, fica evidente o tamanho da relevância
que tais materiais têm para o desenvolvimento de
produtos nos dias atuais. Isso demonstra a impor-
tância de conhecer mais a fundo o universo desse
material, a fim de aproveitá-lo ao máximo em desig-
ns de novos produtos.

127
considerações finais

Caro(a) aluno(a), no decorrer desta unidade conhecemos um pouco do universo


e da realidade dos materiais cerâmicos. Atualmente, são utilizados em várias áre-
as para desenvolvimento de componentes e produtos. Inicialmente, conhecemos
o que são esses materiais, sua origem, composição e características.
Além de conhecermos, de maneira geral, as cerâmicas, no início da unidade,
falamos mais especificamente das que chamamos de cerâmicas tradicionais, que,
com certeza, estão presentes na casa de todos nós, em louças de mesa, sanitárias
e decorativas. Elas nos remetem a pensar no processo artesanal com a argila, tão
simbólico e que ainda está presente na nossa cultura e realidade como sociedade.
No segundo tópico, conhecemos as incríveis cerâmicas avançadas, que sur-
preendem pelas suas aplicações tão específicas e tecnológicas, importantíssimas
para várias áreas e até para a medicina, uma vez que são tão avançadas que têm
seu uso em processos de implante de ossos, odontológicos e outros.
As cerâmicas, sejam as tradicionais ou avançadas, possuem processos de fa-
bricação bastante semelhantes. No entanto, ambas se diferem após a obtenção das
matérias-primas, uma vez que as tradicionais têm matérias-primas mais simples
e acessíveis, enquanto as avançadas necessitam de matérias-primas puras e sinte-
tizadas quimicamente. Contudo, as duas passam por processos de conformação e
tratamentos térmicos para o desenvolvimento de produtos finais.
Nos últimos dois tópicos, estudamos os vidros, materiais considerados cerâ-
micas, mas com características bastante particulares, que tornam a composição,
as propriedades e os processos de fabricação um tanto exclusivos, e fazem deles
materiais importantíssimos para várias aplicações, desde simples e comuns copos
até componentes de mísseis.

128
atividades de estudo

1. Qual das alternativas a seguir não pode ser classificada como propriedade dos
materiais cerâmicos?
a) Resistência a altas temperaturas.
b) Resistência à corrosão.
c) Dureza.
d) Baixa resistência à tração.
e) Elasticidade.

2. Em relação aos materiais cerâmicos, é correto afirmar que:


I - As cerâmicas são materiais orgânicos não metálicos, resultantes do aque-
cimento a altas temperaturas, da mistura de matérias-primas naturais,
como a argila, ou também de matérias-primas sintéticas, como a alumina.
II - Os materiais cerâmicos podem ser classificados de acordo com sua apli-
cação em cerâmicas avançadas, refratários, cimentos, produtos à base de
argila, vidros e abrasivos.
III - A cerâmicas avançadas são materiais especialmente desenvolvidos para
aplicações finais de alto desempenho e para utilizações muito específicas
e tecnológicas de modo a otimizar um conjunto particular de proprieda-
des requeridas.
IV - As cerâmicas refratárias são materiais usados para desgastar, polir ou cor-
tar outros materiais com menor dureza, por meio de processos de moa-
gem, polimento, lapidação e/ou jateamento.
V - Os cimentos são materiais cerâmicos produzidos em pequenas quantida-
des, utilizados principalmente no setor da construção civil. Além de formar
estruturas sólidas, também podem ser usados como fase de união em
processos e, por isso, têm alto valor agregado.

Assinale a alternativa correta:


a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

3. Assinale as afirmações a seguir, sobre metais não ferrosos e suas ligas em


verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) Os processos de fabricação das cerâmicas diferem de acordo com o tipo de
peça ou material desejado, mas, de forma geral, os processos compreendem as
etapas de preparação da matéria-prima e da massa, formação das peças, trata-
mento térmico e acabamento.

129
atividades de estudo

( ) As cerâmicas avançadas são produtos sofisticados desenvolvidos com ma-


térias-primas sintéticas de altíssima pureza e por meio de processos rigoro-
samente controlados.
( ) O processo de torneamento geralmente é o primeiro processo a con-
formar um peça cerâmica, não necessitando de processos antecessores e
pode acontecer por meio de tornos industriais ou manuais no caso de ce-
râmicas artesanais.

Assinale a alternativa correta:


a) V; V; F.
b) F; F; V.
c) V; F; V.
d) F; F; F.
e) V; V; V.

4. Qual das alternativas a seguir não pode ser classificada como proprie-
dade dos vidros?
a) Transparência.
b) Alta durabilidade.
c) Alta resistência mecânica.
d) Alta resistência à ruptura.
e) Baixa resistência a choque térmico.

5. Assinale as afirmações a seguir, sobre os vidros e seus processos, em ver-


dadeiro (V) ou falso (F):
( ) Os vidros podem ser organizados de acordo com alguns tipos básicos:
vidros comuns, vidros resistentes a choques térmicos, vidros de sílicas, vidros
sensíveis à luz e arquitetônicos e especiais.
( ) Os vidros precisam ser fabricados de maneira que resultem em vidros,
principalmente homogêneos e livres de poro.
( ) Processos de tratamentos térmicos em vidros são de grande importância
para melhorar suas propriedades, principalmente a resistência mecânica e de
choques térmicos.

Assinale a alternativa correta:


a) V; V; F.
b) F; F; V.
c) V; F; V.
d) F; F; F.
e) V; V; V.

130
LEITURA
COMPLEMENTAR

Alguns poucos materiais cerâmicos, assim como alguns polímeros, exibem um fenômeno
não usual, denominado Piezeletricidade. Na Piezeletricidade ou, literalmente, na eletricida-
de pela pressão, a polarização é induzida e um campo elétrico é estabelecido através de
uma amostra pela aplicação de forças externas. O efeito inverso ao piezelétrico também é
exibido por esse grupo de materiais, ou seja, uma deformação mecânica resulta da impo-
sição de um campo elétrico.
Os materiais piezelétricos podem ser usados como transdutores entre as energias elétri-
cas e mecânica. Uma das primeiras aplicações da cerâmica piezelétrica foi em sonares,
nos quais objetos sob a água (por exemplo, submarinos) são detectados e suas posições
são determinadas usando um sistema emissor e receptor ultrassônico. Um sinal elétrico
causa a oscilação de um cristal piezelétrico, que produz vibrações mecânicas de alta fre-
quência transmitidas através da água. Ao encontrar um objeto, esses sinais são refletidos
de volta à origem e outro material piezelétrico recebe essa energia vibracional refletida
que é, então, convertida novamente em um sinal elétrico. A distância entre a fonte ultras-
sônica e o corpo refletor é determinada a partir do tempo decorrido entre os eventos de
envio e retorno do sinal.
Mais recentemente, a utilização de dispositivos piezelétricos cresceu drasticamente em
consequência de aumentos na automatização e na atração dos consumidores por apa-
relhos modernos e sofisticados. São encontradas aplicações que empregam dispositivos
piezelétricos nos setores automotivos, de computadores, comercial e de consumo e de
medicina. Algumas dessas aplicações são as seguintes: setor automotivo – balanceamentos
de direção, alarmes de cinto de segurança, indicadores de desgaste nos pneus, portas de
entradas que não utilizam chaves e sensores de airbag; computadores – microactuadores
para discos rígidos e transformadores de notebook; setor comercial e de consumo – cabe-
çotes de impressão do tipo jato de tinta, medidores de deformação, soldadores ultrassôni-
cos e detectores de fumaça; setor de medicina – bombas de insulina, terapia ultrassônica e
dispositivos ultrassônicos para a remoção de cataratas.

Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 436).

131
material complementar

Indicação para Acessar

Os site da ABCERAM traz publicações de notícias, materiais, cursos e eventos,


disseminando conhecimento por meio de publicações e pesquisas, promovendo
desenvolvimento e inovação tecnológica na área das cerâmicas.

Disponível em: <http://abceram.org.br>.

132
referências

AKERMAN, Mauro. Natureza, Estrutura e Propriedades do Vidro. Empresa


Saint-Gobain – Vidros Brasil. CETEV – Centro Técnico de Elaboração do Vidro,
nov., 2000.
ALVES, Lucas Máximo. Materiais cerâmicos: uma abordagem moderna. Ponta
Grossa: UEPG, 2013. p. 218.
ASKELAND, Donald R.; PHULÉ, Pradeep P. Ciência e Engenharia dos Mate-
riais. 1. ed. Rio de Janeiro: Cengage Learning, 2008. 594 p. v. 1.
ART DENTAL LAB. Secagem, Queima e Acabamento de Produtos Cerâmicos.
[2018]. Disponível em <http://www.artdentallab.com.br/pdf/produtos_cerami-
cos-parte02.pdf>. Acesso em: 16 maio. 2018.
ASHBY, Michael; JOHNSON, Kara. Materiais e Design: Arte e Ciência da Sele-
ção de Materiais no Design de Produto. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 346
p. v. 1.
BARROS, Carolina. Apostila de vidros: materiais de construção e edificações.
Pelotas: IFSul, 2010. p. 20.
CALLISTER, William D.; RETHWISCH, David G. Ciência e engenharia de ma-
teriais: Uma introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013. 816 p. v. 1.
GIACOMINI, Eliana. Material: o vidro. 2005. 27 f. Capítulo de dissertação (X
Mestrado em Construções de Edifícios - Tecnologias de Fachadas) Secção de
Construções Civis, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto,
2005. Disponível em: <http://paginas.fe.up.pt/~vpfreita/mce04008_O_vidro.
pdf> Acesso em: 17 maio. 2018.
LESKO, Jim. Design Industrial: Materiais e Processos de Fabricação. 1. ed. São
Paulo: Edgard Blücher, 2004. 277 p. v. 1.
LIMA, Marcos Antonio Magalhaes. Introdução aos Materiais e Processos para
Designers. 1. ed. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006. 237 p. v. 1.
TEIXEIRA, Joselena Almeida. Design & Materiais. 1. ed. Curitiba: Cefet, 1999.
324 p. v. 1.
ZANOTTO, Edgar D. Cerâmica técnica avançada aplicada à indústria termo-
mecânica. [2018]. LaMaV - Laboratório de Materiais Vítreos. Universidade Fe-
deral de São Carol. São Carlos: UFSCAR. p. 19. Disponível em: <http://www.
lamav.ufscar.br/artpdf/cta86.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2018.

133
referências

Referências on-line:

1 Em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfaFQAL/materiais-cerami-
cos>. Acesso em: 16 maio 2018.
2 Em: <http://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/TM314/Nova%20pasta/Mate-
riais%20Cer%C3%A2micos%20LABATS.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2017.
3 Em: <http://www.joinville.udesc.br/portal/professores/daniela/materiais/
Aula_11___materiais_ceramicos.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2017.
4 Em: <http://www.macea.com.br/noticias/as-ceramicas-eletronicas>. Acesso
em: 16 maio. 2018.
5 Em: <https://www.sandvik.coromant.com/pt-pt/knowledge/materials/cutting_
tool_materials/ceramics>. Acesso em: 16 maio 2018.
6 Em: <http://abceram.org.br/processo-de-fabricacao/>. Acesso em: 16 maio
2018.
7 Em: <https://www.abividro.org.br/>. Acesso em: 17 maio 2018.

134
gabarito

1. E
2. B
3. A
4. C
5. E

135
MATERIAIS POLÍMEROS

Professora Esp. Regiane Mendes

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Conhecer as diferenças entre os tipos de mobiliários
• Reconhecer as características do mobiliário
• Conhecer as classificações do mobiliário
• Mostrar a relação do mobiliário com projetos de interiores

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer de maneira geral, os materiais polímeros, sua
composição, diferentes classificações e propriedades.
• Conhecer e identificar os polímeros termoplásticos, suas
características e como são utilizados no desenvolvimento de
produtos.
• Conhecer e identificar os polímeros termofixos, suas características
e como são utilizados no desenvolvimento de produtos.
• Conhecer e identificar os polímeros elastômeros, suas
características e como são utilizados no desenvolvimento de
produtos.
• Identificar quais os principais processos utilizados para o
desenvolvimento de produtos a partir de materiais polímeros.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), estamos nos aproximando do final do nosso livro de


materiais e processos de produtos. Nesta unidade, iremos conhecer mais
um material de grande importância, os polímeros.
Os materiais polímeros são popularmente conhecidos como plásticos
e borrachas. Eles estão presentes em quase todos as áreas da indústria de
manufatura, desde embalagens de alimentos e equipamentos da medi-
cina até pneus e estruturas de automóveis, navios e aeronaves, ou seja,
são encontrados em quase todos os lugares da sociedade e, por isso, são
materias que fez, faz e fará parte do progresso humano.
Há um infinidade de polímeros. A maioria é desenvolvida por meio
de reações químicas, em laboratórios químicos e industriais, que conhe-
ceremos no decorrer dos tópicos. Devido à sua quantidade numerosa,
eles podem ser classificados de diversas formas, mas a forma mais utili-
zada é considerando seu comportamento em relação ao calor e elastici-
dade. Assim, temos os polímeros termoplásticos que são polímeros que
amolecem quando aquecidos, voltam ao estado sólido e podem voltar a
amolecer se, novamente, receberem calor, e os termofixos, que permane-
cem duros após a primeira moldagem.
Além de termoplásticos e fixos, temos também os elastômeros, de-
nominados popularmente como borrachas e que têm como propriedade
que o caracterizam a grande elasticidade. Uma vez que suas dimensões
podem variar muito quando submetidos a tensões mecânicas e após ces-
sar a tensão responsável pela deformação, voltam às dimensões iniciais,
podendo ter origem natural ou sintética.
Caro(a) aluno(a), além dos diferentes tipos de polímeros existentes,
no último tópico, para fechar a unidade, conheceremos os principais
processos utilizados para transformá-los nos variados e inúmeros pro-
dutos que conhecemos e utilizamos no nosso dia a dia.
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Polímeros

Caro(a) aluno(a), nesta unidade iremos conhecer os Assim, a ciência e indústria tiveram grande evo-
famosos polímeros, classe importantíssima de mate- lução após a Segunda Guerra Mundial. Isso possi-
riais que faz parte do cotidiano de nossas vidas. Os bilitou a obtenção de polímeros sintéticos a baixo
polímeros que estão presentes na natureza são deri- custo, sendo que suas propriedades podem ser mol-
vados de plantas e animais, são conhecidos desde a dadas em relação às necessidades de uso, o que tor-
antiguidade, pelo uso de materiais como borracha, na seu valor muito superior aos polímeros naturais.
algodão, lã, couros e outros. No entanto, modernas Dessa forma, várias aplicações e produtos que anti-
ferramentas e o desenvolvimento da ciência torna- gamente eram produzidos com madeira, metal, vi-
ram possível a obtenção de inúmeros polímeros, os dro, cerâmica ou outros materiais, hoje são substitu-
sintéticos, uma vez que são sintetizados de pequenas ídos por diversos tipos de polímeros (CALLISTER;
moléculas orgânicas. RETHWISCH, 2013).

140
DESIGN

Analisando etimologicamente o termo “polí- Quimicamente, os polímeros são compostos por


mero”, temos que seu significado é “muitas partes”. macromoléculas que, por sua vez, são moléculas or-
De fato, é isso que acontece nos polímeros, pois gânicas gigantescas, com massa molecular elevada,
são materiais constituídos por muitas partes e/ constituídas de unidades estruturais que se repetem,
ou unidades ligadas quimicamente entre si, de tal os monômeros. Assim, a repetição de um monôme-
modo a formarem um sólido. Para o entendimen- ro, por exemplo, de etileno, resulta no polímero po-
to dessa classe de materiais, vamos ter que relem- lietileno, formado pela junção de centenas de milha-
brar nossos conhecimentos de química orgânica, res de moléculas monoméricas. Na figura a seguir,
pois as reações e ligações químicas são as respon- temos a representação gráfica de um polietileno,
sáveis pela síntese, comportamento e proprieda- polímero formado por monômeros de etileno, por
des desses materiais. meio de reações de polimerização.

Polimerização

Etileno Polietileno

Figura 1 – Processo de polimerização do etileno.


Fonte: adaptada da autora.

A polimerização é a reação que irá promover o agru- dades repetidas diferentes. Há diversas variações e
pamento dos monômeros para a formação dos polí- condições que podem estar presentes nas reações de
meros. Estes podem ser classificados em homopolí- polimerização e na estrutura química dos políme-
meros, em que todas as unidades repetidas ao longo ros. No entanto, não iremos aprofundar o conheci-
da cadeia são do mesmo tipo; ou copolímeros, em mento em tais aspectos por se tratarem de assuntos
que as cadeias são compostas por duas ou mais uni- puramente químicos (SMITH, 1998).

141
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

CLASSIFICAÇÃO DOS POLÍMEROS

Considerando sua origem, os polímeros podem ser Polímeros semissintéticos


classificados como: naturais, semissintéticos e sinté- Os polímeros semissintéticos são resultantes dos
ticos, como podemos observar na figura a seguir. polímeros naturais que foram modificados e, assim,
apresentam propriedades diferentes dos originais.
Alguns deles são:
Polímeros
• Borracha vulcanizada: obtida da adição de
átomos de enxofre para interligar as cadeias
de borracha natural, aumentando sua resis-
Semissintéticos
Naturais
(ou artificiais)
Sintéticos tência, sem perder a elasticidade.
• Nitrocelulose: obtida a partir das fibras do
algodão misturado com ácido nítrico e áci-
Elastómeros Termoplásticos Termoendurecíveis do sulfúrico.
• Ebonite: resina dura e brilhante que resulta
Figura 2 – Classificação dos polímeros em relação à sua origem. da junção de borracha natural com excesso
Fonte: adaptada de Lima ([2018]). de enxofre (SLIDESHARE, 2013, on-line)1.

Polímeros naturais Polímeros sintéticos


Os polímeros naturais são obtidos diretamente da Os polímeros sintéticos são materiais produzidos
natureza, seja por meio dos organismos vegetais, por ação do homem por meio de processos de
animais e, até mesmo, dos seres humanos. A celulo- transformação, principalmente, reações químicas.
se extraída da madeira e do algodão, o látex extraído Em geral, são derivados de petróleo e/ou carvão
das árvores Hevea brasilienses (seringueira), carboi- mineral. São produzidos para atender aplicações
dratos, proteínas e lipídios são considerados políme- específicas, assim, possuem tamanho e composição
ros naturais. A quantidade de polímeros naturais ex- manipulados, a fim de criar propriedades para qua-
cede consideravelmente a produção dos polímeros se todas as funções.
sintéticos e, atualmente, retomam sua importância Eles podem ser classificados em elastômeros,
econômica, devido à mudança de atitude das pesso- termoplásticos e termoendurecíveis. Atualmente,
as, que se preocupam cada dia mais com a conscien- a grande maioria dos polímeros utilizados pertence
tização ecológica. O descarte de embalagens, por a uma dessas três classes (PASSATORE, 2013). Ca-
exemplo, de polímeros sintéticos é responsável por ro(a) aluno(a), devido à relevância, iremos estudar
grande poluição ambiental, já que não são produtos cada uma delas separadamente nos próximos tópi-
biodegradáveis (SILVA; SILVA, 2003). cos da unidade.

142
DESIGN

PROPRIEDADES DOS POLÍMEROS

Os polímeros são materiais que fascinam os profis- Propriedades térmicas


sionais de design, uma vez que eles são facilmente Além de possuírem baixa condutividade elétrica, os
transformados, adquirindo variadas formas, cores e polímeros também têm baixa condutividade térmi-
texturas. Contudo, também apresentam restrições, ca. Isso acontece devido à falta de elétrons livres em
principalmente, em relação a esforços mecânicos e a sua composição. Comparada aos metais, a conduti-
altas temperaturas. Assim como nas ligas metálicas, os vidade térmica dos polímeros é cerca de mil vezes
polímeros também podem ser combinados entre si ou menos, por isso são indicados para aplicações que
com outros materiais denominados aditivos, que têm necessitam de isolamento térmico.
o objetivo de conferir-lhes propriedades específicas, Em virtude de sua baixa condutividade térmica,
quer durante a transformação, quer enquanto produ- seu processamento é dificultado, pois, para se obter
tos acabados, contribuindo para que esses materiais um bom resultado, é necessário introduzir lentamen-
tenham melhores desempenhos em suas aplicações. te o calor nos processos, sendo que, ao final do pro-
cessamento, também é de difícil remoção. Tal cuida-
Propriedades mecânicas do com o calor e altas temperaturas é essencial, uma
De uma forma geral, as propriedades mecânicas dos vez que todos os polímeros podem ser destruídos
plásticos dependem da temperatura e algumas das por um aquecimento intenso. Essa destruição depen-
principais características são: de de cada polímero, da temperatura e da duração de
Resistência ao impacto: os polímeros sofrem uma exposição ao calor (BARROS, 2011, on-line)2.
diminuição gradual em temperaturas mais elevadas, Alguns polímeros queimam com relativa facili-
uma vez que eles começam a amolecer. Tal proprieda- dade, enquanto outros resistem a temperaturas da
de, associada à transparência, permite substituição do ordem dos 300 ºC. De maneira geral, são conside-
vidro por polímeros em várias aplicações. rados inflamáveis, o que pode ser minimizado com
Resistência ao rasgamento e dureza: apresen- a adição de aditivos denominados retardadores de
tam significativa resistência ao rasgamento, princi- chama, que conseguem aumentar o tempo que leva
palmente aqueles polímeros empregados em filmes para iniciar o seu processo de combustão de um po-
finos de embalagens. Já em relação à dureza, os polí- límeros ou tornam a propagação da chama mais len-
meros são mais macios do que os metais e cerâmicas. ta depois que já se iniciou a combustão do material
Flexibilidade: possuem alta flexibilidade, que é (KANTOVISCKI, 2011).
bastante variável e de acordo com o tipo de polímero.
Baixas temperaturas de processamento: conse- Propriedades elétricas
quência da baixa temperatura de fusão, sendo que De modo geral, os polímeros são péssimos condu-
a maioria das peças requer aquecimento entre tem- tores de energia elétrica. Consequentemente, são
peraturas ambientes e 250ºC. Somente alguns plás- excelente “isoladores” elétricos, ou seja, apresentam
ticos especiais requerem temperaturas até 400ºC alta resistência elétrica, que depende da temperatura
(CALLISTER; RETHWISCH, 2013). e diminui com o aumento dela. A resistência elétrica

143
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

do material se deve à falta de elétrons livres em sua Assim, os polímeros apresentam boa resistência
composição, que são os responsáveis pela condução à corrosão por oxigênio e outros produtos químicos
da eletricidade. consideravelmente maior se comparada à dos me-
Com o auxílio de aditivos que contêm cargas tais. No entanto, isso não significa que os polímeros
condutoras, como alguns pós metálicos que são adi- são totalmente invulneráveis à corrosão. De maneira
cionados ao material, é possível torná-los fracamen- geral, soluções de sais inorgânicos, alcalinas e pouco
te condutores. Dessa forma, evita-se o acúmulo de ácidas não afetam significativamente os polímeros.
eletricidade eletrostática superficial, que pode cau- Já os solventes orgânicos, que são soluções com es-
sar acumulação de poeiras e descargas de electrici- truturas semelhantes às dos polímeros, ataca-os de
dade estática, perigoso em certas aplicações. forma intensa, principalmente quando estão na pre-
Devido às suas propriedades elétricas, os polí- sença de calor (LIMA, [2018]).
meros são amplamente utilizados em revestimentos Antioxidantes são aditivos que podem ser adicio-
de fios elétricos, equipamentos de proteção e demais nados ao material para aumentar uma resistência quí-
aplicações que necessitem de isolamento elétrico mica, pois podem inibir a formação de radicais livres,
(PASSATORE, 2013). reações de propagação ou, ainda, diminuir a velocida-
de das reações de oxidação, que são causadas nos po-
Propriedades químicas límeros por fatores como ambientes com atmosferas
A degradação química dos polímeros acontece de agressivas de umidade e calor, radiação ultravioleta,
uma forma diferente daquela encontrada nos me- infravermelho e radiações de alta energia (raios-X,
tais. Nestes, a degradação acontece devido à natu- radiação gama etc.) (KANTOVISCKI, 2011, on-line)2
reza eletroquímica, envolvendo corrente elétrica no Agora que já conhecemos os polímeros de ma-
material. Já nos polímeros, a degradação é causada neira geral, nos próximos tópicos vamos conhecê-
por inchamento, dissolução e, principalmente, por -los mais detalhadamente. A cada uma das diferentes
causa da quebra de ligações químicas, por causa de classificações dos polímeros, voltaremos a estudar
reações de oxidação, hidrólise ou outras no material. suas características e propriedades que se alteram.

144
DESIGN

145
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Polímeros Termoplásticos
Caro(a) aluno(a), como vimos no primeiro capítulo, to térmico e fusibilidade, sendo os termoplásticos,
os polímeros são classificados em naturais, semissin- que iremos conhecer um pouco mais a fundo neste
téticos e sintéticos. Por sua vez, os polímeros sintéti- tópico, e os termofixos, classificação que iremos de-
cos são classificados de acordo com o comportamen- talhar no próximo tópico desta unidade.

146
DESIGN

A princípio, os termoplásticos são polímeros TERMOPLÁSTICOS COMMODITY


sólidos, mas, com a aplicação de calor, vão amole-
cendo progressivamente até se tornarem líquidos e
endurecem ao serem resfriados. Esses materiais per- Poliolefinas
Vinis Estirenos
mitem-se amolecer e fluidificar quantas vezes forem PO

necessárias, desde que não haja alteração na estru-


tura molecular do material. Devido a esse aspecto, Figura 4 – Classificação dos Termoplásticos Commodity.
Fonte: adaptada Lesko (2004).
são considerados materiais recicláveis e, consequen-
temente, mais limpos (TEIXEIRA, 1999).
Segundo Lesko (2004), os polímeros termoplás- Poliolefinas
ticos podem ser classificados com base no custo Foram descobertos em 1954, pelo químico italiano
para a indústria transformadora, em dois grandes Giulio Natta, rendendo-lhe um prêmio Nobel de
grupos, conforme a figura a seguir: química. São polímeros que têm como monômero
uma olefina simples. De maneira geral, apresentam
TERMOPLÁSTICOS COMMODITY
excelente resistência química são extremamente
inertes e exibem decrescente força a altas temperatu-
ras. A partir de agora, iremos conhecer as principais
Plásticos de engenharia
Commodity
(elevado custo e baixo poliolefinas utilizadas.
(baixo custo e elevado
consumo, mais especializados
consumo)
e dispendiosos )
Polietileno (PE)
Em virtude de sua grande versatilidade, o polieti-
Figura 3 – Classificação dos polímeros termoplásticos.
Fonte: adaptada de Lesko (2004). leno é o plástico mais vendido no mundo. Pode ser
quase transparente ou translúcido, rígido ou flexí-
TERMOPLÁSTICOS COMMODITY vel, natural ou pigmentado. É facilmente processa-
do, não tóxico, não higroscópico e de preço bas-
Os termoplásticos classificados como commodity tam- tante reduzido. Possui tenacidade a temperaturas
bém podem ser encontrados em outras literaturass baixas e ambientes, boa resistência mecânica à cor-
como comerciais ou de uso geral. São os polímeros rosão e flexibilidade numa vasta gama de tempe-
mais consumidos no mundo, sendo bastante utiliza- ratura entre outras propriedades. Dependendo do
dos nas indústrias e apresentando preços acessíveis, se método de polimerização, o polietileno pode apre-
comparados aos de engenharia. Por sua vez, é comum sentar duas formas distintas: o polietileno de alta
classificar os termoplásticos commodity em três grupos: densidade (PEAD) ou de baixa densidade (PEBD)
poliolefinas, plásticos estireno e plásticos de vinis. (SMITH, 1998).

147
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Quadro 1 – Características dos polietilenos

Características Onde são encontrados


Rígidos; Bombonas, utensílios domésticos, brin-
Polietilenos de alta
Resistentes à tração; quedos, materiais hospitalares, tubos
densidade (PEAD)
Moderada resistência ao impacto para distribuição de água e gás.
Boa flexibilidade e dureza;
Elevada resistência química;
Potes para condicionamento de alimen-
Polietilenos de baixa Boas propriedades elétricas;
tos, filmes, embalagens, brinquedos,
densidade (PEBD) Facilmente processável;
isolamento de fios elétricos e outros.
Atóxico;
Inerte

Fonte: Lima (2006).


não conseguiremos estudar todos eles.
Polipropileno (PP)
É mais duro e resistente ao calor se comparado ao Vinis
polietileno, também apresenta alta resistência quí- A grande maioria dos vinis têm origem no petróleo
mica e mecânica, boa dureza superficial e elevada e são obtidos por uma infinidade de processos de
estabilidade de forma. É bastante utilizado em in- polimerização; ao final, contém 57% de cloro e 43%
dústrias de eletrodomésticos, automobilística em de eteno. São polímeros bastante versáteis nas apli-
acabamentos de carros, embalagens de bateria, cal- cações, uma vez que muitas combinações podem ser
çados, brinquedos, frascos de cosméticos e remé- feitas com uma resina base.
dios, além de produtos descartáveis, como embala-
gens, sacolas e outros (TEIXEIRA, 1999). Cloreto de polivinila (PVC)
O PVC é um dos polímeros mais versáteis e com
Etileno-Vinil-Acetato (EVA) maior importância comercial. Possuem elevada
São resistentes ao impacto, insolúveis à temperatura resistência química e alta capacidade para se mis-
ambiente e mais macios e flexíveis se comparados turar a aditivos, permitindo, assim, a produção de
aos dois primeiros polímeros. Também são aplica- um grande número de compostos com uma ampla
dos em tubos de equipamentos médicos, caixas de gama de propriedades físicas e químicas. Também
leite, para-choques e em placas estendidas para di- possuem resistência mecânica relativamente elevada
versos segmentos, como calçados, brinquedos e ou- e boas propriedades elétricas, alta resistência a sol-
tros (LESKO, 2004). ventes e a chamas, devido a seu alto teor de cloro
Caro(a) aluno(a), há muitos outros polímeros (SMITH, 1998).
termoplásticos commodity, sendo classificados em: O PVC com sua versatilidade tem muitas aplica-
etileno-vinil-álcool (EVOH), polibutadieno (PB) e ções. As que mais se destacam são isoladores elétricos,
polimetilpenteno (PMP). No entanto, infelizmente, tubos e perfilados, galão de água mineral, tubulação

148
DESIGN

de água, esgoto e fluídos corrosivos, revestimentos an- Suas aplicações mais expressivas são em peças
ticorrosivos, embalagens de produto de limpeza, óleos que necessitam apresentar resistência a desgaste su-
de cozinha e em compostos flexíveis, como os usados perficial e a riscos. São muito usados na produção
nas calças plásticas para bebês e imitação de camurça. de frascos domésticos, visores, tampas de aparelhos
Na classe dos polímeros vinílicos, ainda tem o de som, televisores e demais eletrodomésticos (TEI-
poliacetato de vinila (PVA), que tem aplicação na XEIRA, 1999).
fabricação de colas e tintas; O policloreto de vinili-
deno (PVDC) é usado na fabricação de filmes para TERMOPLÁSTICO DE ENGENHARIA
embalar alimentos, que, apesar de específico, tem
grande importância comercial (LIMA, 2006). Os termoplásticos de engenharia, conhecidos
como estruturais, são plásticos de elevado custo e
Estirenos baixo consumo; são mais especializados e dispen-
São polímeros que competem com resinas de alto diosos, e possuem um conjunto de propriedades
custo e de maneira geral apresentam elevada resis- que os tornam úteis para aplicações na engenharia.
tência térmica e dureza, são de fácil processamento Dentro dessa classificação, há algumas famílias, as
e apresentam boa corabilidade. poliamidas (Nylons), os policarbonatos, os poliés-
teres (PET), acetais, polissulfona, polieterimida e
Poliestireno expandido (EPS) os sulfuretos de polifenileno. Caro(a) aluno(a), va-
São materiais que apresentam 100% de reciclagem. mos estudar um pouco mais acerca dessa família
Além de terem resistência química, mecânica e umi- (SMITH, 1998).
dade, são facilmente formatados e manipulados,
e são bons isolantes térmicos. Devido às suas pro- Poliamidas
priedades, são bastante aplicados em produtos que As poliamidas são conhecidas pelo nome comercial
necessitem de isolamento térmico, como recipientes da primeira poliamida lançada no mercado pela
para bebidas, painéis de refrigeração e embalagens Nylon, que é amplamente utilizada em fibras têxteis.
para alimentos (LIMA, 2006). De maneira geral, são polímeros com boa capacida-
de de suportar cargas a temperaturas elevadas, boa
Acrilonitrila estireno (SAN) tenacidade, boa resistência mecânica e química, po-
São considerados plásticos de elevado desempenho rém, absorvem água, causando variação dimensio-
da família dos estirenos, com alta dureza, tenacida- nal com o aumento da umidade.
de, resistência à degradação por agentes atmosfé- As aplicações das poliamidas são inúmeras, ti-
ricos e ao desgaste superficial. São atóxicos, porém picamente utilizadas em engrenagens, chumacei-
possuem baixa resistência a impacto e degradação ras, peças antiatrito não lubrificadas, componen-
química, principalmente por ácidos.

149
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

tes mecânicos e elétricos usados a temperaturas Polibutileno tereftalato (PBT)


elevadas. Na indústria automobilística, são usadas Polímero termoplástico apresenta elevada resistên-
no desenvolvimento de velocímetros, limpa-pára- cia a atrito, abrasão, intempéries, alta rigidez e dure-
-brisa. As poliamidas reforçadas com fibra de vidro za, além de possuir elevada temperatura de serviço
são usadas em ventiladores motores, trovões e re- em contínuo (até 150 °C). Com tais características,
servatório de óleo, além de componentes elétricos, suas principais aplicações são em componentes elé-
embalagens e outros. tricos e eletrônicos, como interruptores, disjuntores,
As diversas poliamidas são diferenciadas por sensores, componentes de sistemas de ignição e de
números, por exemplo, poliamida 6, poliamida 6.10, sistemas elétricos (MORASSI, 2013).
poliamida 6.12, poliamidas 10, poliamidas 12 e ou- Caro(a) aluno(a), como podemos observar
tras (SMITH, 1998). há uma infinidade de polímeros termoplásticos,
tanto na classificação commodity quanto nos polí-
Poliésteres meros de engenharia. Infelizmente, não é possível
Nessa classificação, existem dois poliésteres com abordar todos eles, mas fica evidente que há mui-
maior interesse comercial: o politereftalato de eti- tas opções para o desenvolvimento de produtos
leno (PET) e o politereftalato de butileno (PBT). O que necessitam de materiais com as características
PET, o mais conhecido, foi inicialmente concebido semelhantes às dos termoplásticos, que são apli-
como material para fibras têxteis devido à sua pro- cados nos mais diversos segmentos de indústria,
priedade de alta resistência ao mergulhamento e à desde embalagens para alimentos até componen-
absorção de umidade. Em seguida, entrou no campo tes de motores automotivos.
do filme biorientado e, mais tarde, no das garrafas
para bebidas, onde atualmente é utilizado em lar-
ga escala. Também é utilizado em embalagens para
produtos alimentícios, farmacêuticos, cosméticos,
filme para radiografia e outros LIMA, ([2018]).

150
DESIGN

151
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Polímeros Termofixos
Caro(a) aluno(a), no tópico anterior descobrimos que Os polímeros termofixos, também denomina-
os polímeros podem ser classificados de acordo com dos termorrígidos ou termoendurecíveis, ao serem
sua fusibilidade, ou seja, pelo comportamento que expostos a um aumento elevado de temperatura e
apresentam se expostos ao calor, sendo: os termoplásti- pressão, amolecem e fluem, adquirindo, assim, a for-
cos – classe que vimos com mais detalhes no tópico 2 – ma do molde onde são processados. Posteriormente,
e agora conheceremos a segunda classe, os termofixos. solidificam-se, permanecendo com a forma proces-

152
DESIGN

sada. Se acaso forem submetidos novamente a tra- substancialmente superior em aplicações que de-
tamento térmico, não sofrerão nenhuma alteração, mandam resistência a raios UV, intempéries, ao ca-
tornando-se materiais insolúveis, infusíveis e não lor, produtos químicos, a impactos, e também pos-
recicláveis (JUNIOR, 2006). suem maior estabilidade dimensional e rigidez. De
O comportamento dos polímeros termofi- maneira geral, os termofixos são mais utilizados em
xos se deve às suas ligações internas irreversíveis, aplicações de engenharia, pois, além das elevadas
diferentes daquelas presentes nos polímeros ter- resistências já comentadas, apresentam baixo peso,
moplásticos, que, como já vimos, podem ser mol- boas propriedades de isolamento elétrico e térmi-
dados e remoldados. A termofixos, só podem ser co, sendo, consequentemente, materiais um pouco
moldados uma única vez, pois, se forem submeti- mais caros no mercado e também mais agressivos
dos ao calor uma segunda vez, serão degradados ao meio ambiente, uma vez que são materiais não
e carbonizados antes de recuperar a maleabilidade reciclados (LIMA, 2006).
que possibilita a moldagem do material. Além dis- Alguns termofixos podem ser utilizados na for-
so, as ligações internas dos polímeros termofixos ma de mistura para moldagem. Eles são constituídos
atribuem a eles características bem diferentes às por mais dois componentes, uma resina com aditi-
dos termoplásticos, como maior dureza e relativa vos endurecedores e plastificantes, mais materiais de
fragilidade, ou seja, são mais quebradiços (TEI- enchimento ou reforço. Os grupos funcionais dos
XEIRA, 1999). polímeros termofixos mais comuns são apresenta-
Ainda comparando os polímeros termofixos dos na figura a seguir. São aminas, fenólicos, poliés-
aos termoplásticos, estes apresentam desempenho teres, epóxis, uretanos, silicones e outros.

TERMOFIXOS

Poliuretano
Aminas Poliéster Fenólicos Alquidos Epóxi Alílicos
PU

Melalina- Dialil-
Éster
formaldeído isoftalato
Também podem ser encontrados como termoplásticos vinílico
MF DIAP

Uréia- Dialil-
formaldeído ftalato
UF DAP
Baixo Médio Alto
custo custo custo
Alildiglicol-
carbonato
CR-39

Figura 5 – Classificação dos polímeros termofixos.


Fonte: Lesko (2004).

153
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Caro(a) aluno(a), a partir de agora iremos conhecer Geralmente, os fenólicos são utilizados e reforça-
com um pouco mais de detalhes os principais ter- dos com enchimento, que pode ser de algodão, vidro,
mofixos utilizados como materiais para desenvolvi- serradura de madeira, mica e outros. Eles desempe-
mento de componentes e produtos. nham três diferentes papéis: extensores, funcionais e
de reforço, sendo que o aspecto funcional melhora a
FENÓLICOS (PF) rigidez, resistência ao impacto e limita o encolhimen-
to do material. Assim, na maioria das vezes, são usa-
Os polímeros fenólicos, popularmente conhecidos dos como material composto, com a utilização dos
como baquelite, são os plásticos sintéticos mais an- diferentes enchimentos (ASHBY; JOHNSON, 2011).
tigos, comercializados pela primeira vez em 1909.
Este material provocou uma revolução no design de EPÓXI (EP)
produto, pois era rígido, fácil de moldar, razoavel-
mente forte e podia ser colorido e, assim, substituiu Os epoxídicos são polímeros que apresentam resis-
o desenvolvimento de produtos que antes eram fei- tência a choque, à abrasão, elétrica, térmica e quími-
tos à mão com madeira, metais e outros materiais. A ca, boa estabilidade dimensional, são duros, rígidos
produção naquela época foi tamanha que o volume e relativamente quebradiços, e também são bons iso-
de produção de fenólicos ultrapassou a de PE, PS e lantes térmicos e elétricos. Eles possuem uma mobili-
PVC juntos (ASHBY; JOHNSON, 2011). dade molecular excepcional, permitindo que a resina
Atualmente, os polímeros fenólicos ainda são epoxídica líquida molhe e se espalhe rapidamente nas
muito utilizados, uma vez que são de baixo custo e superfícies, o que auxilia na sua utilização em mate-
considerados de alta performance, por possuírem riais reforçados e em adesivos (TEIXEIRA, 1999).
elevada rigidez, estabilidade dimensional, excelente Atualmente, esses materiais são mais conhecidos
resistência ao risco, resistência térmica e química, como adesivos, pois agem como ligantes extrema-
não são infláveis, são fáceis de moldar e, também, mente fortes, conseguindo unir, por exemplo, metais
apresentam boas propriedades mecânicas e de isola- com metais. Além de adesivos, são utilizados numa
mento elétrico (SMITH, 1998). grande variedade de revestimentos de proteção e de-
O uso dos fenólicos é bastante amplo e são em- corativos, devido a suas propriedades de resistência
pregados como materiais para o desenvolvimento de química e mecânica. São largamente empregados
manipulos, puxadores, placas exteriores de peque- nas indústrias elétricas e eletrônicas por causa da
nos eletrodomésticos, quadro de distribuição elé- boa resistência elétrica, pequena retração no pro-
trica, cabos de faca, pesos de papel, bolas de bilhar, cessamento, boa adesão e da capacidade de manter
telefones, cabos e alças de panelas, tomadas, inter- todas essas propriedades em ambientes diversos,
ruptores domésticos e artigos elétricos. Os fenólicos como em alta umidade (SMITH, 1998).
também são utilizados como materiais de colagem, Devido às suas propriedades e características, os
ou seja, como colas e adesivos, agindo como ligantes polímeros epoxídicos têm uso em eletrodomésticos,
de areia de fundição (vistos na Unidade I) e na fun- carros, tintas industriais, revestimento decorativo
dição de carapaças (LIMA, 2006). (como de pisos), encapsuladores de semicondutores,

154
DESIGN

placas de circuito interno, componentes elétricos e Poliuretanos rígidos


eletrônicos e, também, em peças da indústria aero-
espacial (LESKO, 2004). Possuem elevada rigidez, como o próprio nome já
diz. São resistentes à abrasão, bons isolantes térmi-
REFLITA cos, de propriedades acústicas e mecânicas superio-
res às de algumas madeiras, apresentam estabilidade
Eu faço design para pessoas reais. Penso em mesmo quando em ambientes adversos, resistentes à
nossos clientes o tempo todo. Não existe mé- maioria dos solventes e têm estabilidade dimensio-
rito em criar roupas e acessórios que não nal em ampla faixa de temperatura (40ºC - 180ºC)
são práticos.
(LIMA, 2006).
Independentemente do estado, os poliuretanos
podem ser usados em acolchoados e assentos, solas
POLIURETANOS (PUR) de sapato, pneus, rodas, mangueiras de combustí-
veis, adesivos, revestimento de tecidos inflamáveis,
Os polímeros poliuretanos, dependendo dos seus revestimentos resistentes à lavagem a seco, móveis,
procedimentos de preparo, podem ser termofixos, isolantes térmicos com equipamentos a frio e outras
ou também termoplásticos, sendo que sua principal tantas aplicações (ASHBY; JOHNSON, 2011).
forma final de aplicação são como espumas flexíveis,
semiflexíveis ou rígidas, mas também se apresentam SILICONES
na forma de elastômeros (veremos, com mais deta-
lhes, no próximo tópico), plásticos, tintas e revesti- São polímeros mistos de material orgânico e inor-
mentos (LIMA, 2006). gânico, possuem alto desempenho e, consequente-
As propriedades gerais do material possuem ex- mente, alto custo. São os polímeros mais quimica-
traordinária flexão e resistência a cortes, e são até 20 mente estáveis, não absorvem água, possuem boas
vezes mais resistentes à abrasão do que os metais. propriedades elétricas, alta resistência ao calor e a
Caro(a) aluno(a), vamos ver como se comportam as agentes oxidantes (MORASSI, 2013).
diferentes formas de poliuretanos. Os silicones são empregados na medicina como
material básico em alguns tipos de próteses huma-
Poliuretanos flexíveis nas por apresentarem excelente biocompatibilida-
de. Também são usados em equipamentos cirúrgi-
São na forma de espumas com alto nível de qualida- cos ou de processamento de alimentos e vedações,
de superficial, baixa densidade, alta elasticidade, re- utilizados como impermeabilizantes e lubrifican-
sistentes à abrasão, isolantes térmicos, resistência à tes, uma vez que podem ser produzidos fluidos
maioria dos solventes e revestimentos como tintas e adesivos, revestimentos, elastômeros e resinas de
vernizes, também são contra bactérias. Por isso, são moldagem (ASHBY; JOHNSON, 2011).
utilizados no desenvolvimento de colchões, sofás,
cadeiras residenciais e de escritórios e filtros de ar.

155
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

POLIÉSTER INSATURADO (PPPM)

Os poliésteres insaturados possuem baixa visco-


sidade. São suscetíveis a serem misturados com
grandes quantidades com materiais de enchimen-
to e de reforço, como a fibra de vidro, que pode
atender até 80% em peso, adquirindo excelentes
resistências mecânicas, estabilidade dimensional,
boa resistência a intempéries, ao impacto e quími-
ca (SMITH, 1998).
São tipicamente usados no desenvolvimento
de componentes empregados na construção naval,
como cascos de embarcações, construção automo-
bilística, coberturas, materiais esportivos, placas
de sinalização, nos antigos “orelhões” (os telefones
públicos), caixas de correio, piscinas e componentes
para casa de banho (TEIXEIRA, 1999).
Além dos polímeros termofixos que vimos nos
itens anteriores, há mais opções que podem ser per-
feitamente utilizadas para o desenvolvimento de
componentes e produtos, ou seja, podem ser usados
como matéria-prima para o trabalho dos designers.
Fica bastante evidente que, de maneira geral, os ter-
mofixos têm boa resistência mecânica e ao calor,
exatamente pela sua principal característica que co-
mentamos no início do tópico: as ligações e o arran-
jo químico das suas moléculas que os compõem e os
fazem tão diferentes dos termoplásticos.

156
DESIGN

157
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Polímeros Elastômeros
Os elastômeros são polímeros com uma caracterís- Assim como nas classes dos termofixos e dos
tica bem específica. Suas dimensões podem variar termoplásticos, a principal propriedade do material
muito quando submetidos a tensões mecânicas. tem explicação a partir da sua estrutura molecular.
Após cessar a tensão responsável pela deformação, o No caso dos elastômeros, as cadeias moleculares
material volta às dimensões iniciais – ou quase. Tal possuem ligações cruzadas que são altamente torci-
característica se deve ao fato de o material apresen- das, dobradas e espiraladas. Assim, quando há apli-
tar elasticidade e flexibilidade em longa faixa, com cação de tensão sobre o material, acontece o desen-
uma grande deformação elástica, aproximadamente, rolamento e o alinhamento parcial da estrutura, que
300 a 700% (TEIXEIRA, 1999). posteriormente volta à forma original.

158
DESIGN

Provavelmente, o comportamento elastômero da como seringueira, que é um líquido leitoso, uma


que alguns polímeros possuem foi observado pela suspensão de partículas de borracha muito peque-
primeira vez na borracha natural. Todavia, o passar nas. Após extraído e recolhido da árvore, o látex é
do tempo e o avanço na síntese de polímeros trou- levado a centros de processamento onde é diluído
xeram o desenvolvimento de vários elastômeros sin- até ficar com um teor de 15% e coagulado com áci-
téticos, que possuem ampla variedade de proprieda- do fórmico. O material resultado do coagulamento
des. Alguns elastômeros, como veremos adiante, são do látex é comprimido em rolos para a remoção da
de natureza termoplástica, enquanto outros possuem água; e o material seco produz uma folha, que é seca
natureza termofixa. Consequentemente, além das por ar quente (SMITH, 1998).
propriedades características de elasticidade, também Para melhorar as propriedades da borracha na-
apresentam semelhanças das respectivas classes de tural, é desenvolvido um processo denominado vul-
polímeros (CALLITER; RETHWISCH, 2013). canização, que consiste na adição de enxofre e aditi-
Como há vários materiais elastômeros, e cada vos catalisadores sob a borracha aquecida. Durante
um apresenta propriedades e características particu- o processo, os átomos de enxofre ligam-se à estru-
lares, vamos conhecer, com um pouco mais de deta- tura da borracha, formando ligações cruzadas, que
lhes, alguns desses materiais que são muito impor- aumentam a resistência e a dureza da borracha. Por
tantes para o desenvolvimento de produtos. exemplo, borrachas que não passaram por processo
de vulcanização, no frio tornam-se duras e quebra-
BORRACHA NATURAL diças, enquanto no calor ficam moles, pegajosas e
com baixa resistência à abrasão; já as que passaram,
Caro(a) aluno(a), como foi citado anteriormente, tem seus módulos de elasticidade, resistência à tra-
este foi o primeiro elastômero observado. Hoje, é ção e à degradação aumentados (CALLISTER; RE-
uma importante matéria-prima, empregada em THWISCH, 2013).
mais de 40 mil produtos com as mais diversas apli- As borrachas naturais têm usos diversos, como
cações. É considerada, juntamente com o aço e o já citados, em indústrias de ponta, como a bélica e
petróleo, um dos materiais que sustentam o pro- médica, e também na fabricação de produtos mais
gresso da humanidade, uma vez que é o principal usuais, como pneus, vedantes, isolantes, proteção
material utilizado na indústria de transporte, bélica de molas e rolamentos, suportes e absorventes de
e hospitalar. energia, artigos domésticos, pavimentos, tubos e
A borracha natural é produzida a partir do látex mangueiras, calçados e, seus componentes e outros
da árvore Hevea brasiliensis, popularmente conheci- (LESKO, 2004).

159
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

BORRACHA SINTÉTICA

Na década de 80, cerca de 70% da produção mun- A borracha de estireno-butadieno apresen-


dial total de materiais de borracha era sintética ta-se comercialmente com baixo custo, com
(criadas em laboratórios), desenvolvida para su- propriedades bem semelhantes às da borracha
prir a demanda cada vez mais acelerada da in- natural, com boa resistência à tração e flexão,
dústria mundial. Hoje, são sintetizadas por rea- resistência regular à abrasão, bom desempenho
ções de polimerização. Dependendo do tipo de geral quando protegidas do tempo e intempéries.
monômero que se usa para produzir o polímero, Apesar de serem bem semelhantes, comparada à
consegue-se borrachas com diferentes proprie- borracha natural ela tem menos resistência, por
dades. Assim como as naturais, as sintéticas são isso, geralmente, tem aditivos de reforços adicio-
compostas por pigmento negro, carbono e outros nados em sua composição.
aditivos, como agentes corantes, plasticizadores e O uso dessa borracha é muito diversificado.
amaciantes para alterar ou melhorar seu desem- Pode ser encontrada em componente de portas e
penho (ESCÓCIO et al., 2013). tampas de automóveis, solado de calçados, pneus,
Atualmente, existem inúmeras borrachas sin- componentes empregados com equipamento que
téticas, sendo que cada uma foi desenvolvida para não trabalhem em exposição ao sol e a intempéries,
determinadas aplicações e, por isso, tem proprie- também é empregada na composição de outros polí-
dades e características particulares. Há algumas meros, como os aditivos, para aumentar e melhorar
que possuem maior representatividade em vo- o nível de elasticidade deles (LIMA, 2006).
lume de venda e aplicações, que são as policlo-
ropreno ou neoprene, acrilonitrila ou borracha Policloropreno ou neoprene – CR
nitrílica, estireno-butadieno e polibutadieno, Faz parte da família de borrachas que se asseme-
matérias-primas cada dia mais importantes para lham muito com a borracha natural. Em geral, é
substituição do látex natural na fabricação de utilizada para substituí-la quando ela não é ade-
componentes e produtos. quada. Possuem excelente resistência à tração, ras-
gos, flexão, abrasão, intemperismo, chama e imper-
Borracha de estireno-butadieno – SBR meabilização de gases. Apesar de muitas vantagens,
Este material representa metade de toda borracha também apresenta reduzida flexibilidade a baixas
usada nos Estados Unidos, ultrapassando as demais temperaturas e um custo mais elevado, o que acaba
em volume de utilização. Ela está presente na fabri- influenciado na utilização, dependendo do produto
cação de pneus de carros (LESKO, 2004). a ser desenvolvido.

160
DESIGN

Devido às suas propriedades, tal borracha é bas- Esses materiais são facilmente processados e
tante empregada em mangueiras diversas, principal- extremamente versáteis; só varia a formulação.
mente de combustíveis para automóveis e aeronaves, Também são facilmente combináveis e, muitas ve-
correias em geral, fios, cabos, proteções de rolamen- zes, são misturados em outros polímeros compa-
to, adesivos e produtos que requeiram contato com tíveis, a fim de melhorar alguma propriedade dele
água do mar (LESKO, 2004). (SMITH, 1998).
Caro(a) aluno(a), há vários outros elastômeros,
Acrilonitrila ou borracha nitrílica – NBR além dos que foram estudados neste tópico. Os ci-
São borrachas que possuem excelente resistência tados são os que predominam no mercado das bor-
química, em geral é boa e notável na presença de rachas sintéticas em volume de venda e uso. Outros
óleos e gasolina, conservam boa flexibilidade em elastômeros borrachas sintéticas são: borrachas bu-
baixas temperaturas (-30ºC), bem como em eleva- tílicas, isopreno, elastômeros acrilatos, de polissul-
das. Apresentam excelente resistência à abrasão, feto, de uretano, propileno etc. Cabe ao profissional
regular resistência ao rasgo, à flexão, à deformação do design buscar mais informações para analisar se
permanente e ao intemperismo, além de ser um tais materiais são adequados para o uso em produtos
ótimo isolante elétrico. São utilizadas em poços de que estão trabalhando para desenvolver.
petróleo, mangueiras de combustíveis, acoplamen-
tos flexíveis, cilindros de impressão, bombas de dia-
fragmas, guarnições, dutos, gaxetas, anéis, juntas e
outros (ASHBY; JOHNSON, 2011).

Elastômeros termoplásticos de poliuretano


(TPUE)
São materiais característicos devido à sua tenacidade
e resistência à abrasão, possuem ótima flexibilidade
e rigidez numa vasta gama de temperatura – espe-
cialmente nas baixas –, têm estabilidade hidráulica,
resistência a combustíveis, óleos e a fungos. As peças
feitas com TPUE podem ser correias transportado-
ras de processos industriais, mangueiras hidráulicas
e tubos para combustíveis, para-choque de automó-
veis, caixas, painéis, juntas e vedações.

161
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Processos em Polímeros
Caro(a) aluno(a), chegamos ao último tópico da a frio, porém, os processos mais empregados, devido
unidade. Agora, vamos conhecer os conceitos bási- à viabilidade, são aqueles que usam calor, sendo os a
cos dos principais processos utilizados para trans- frio apenas como último recurso. Os principais pro-
formação de materiais polímeros em componentes cessos empregados nos polímeros são moldagens
e produtos. Com métodos e ferramentas adequadas, por compressão, transferência, termoformação, in-
os polímeros podem ser transformados a quente ou jeção, extrusão, sopro e fundição.

162
DESIGN

EXTRUSÃO FUNDIÇÃO

A extrusão é um processo que consegue transformar A fundição de materiais não metálicos, muitas ve-
muitos materiais. É um dos métodos mais impor- zes, é considerada um processo inviável, já que tais
tantes para processamento de polímeros termoplás- materiais, inclusive os polímeros, não possuem uma
ticos, abrangendo todos os polímeros dessa classe e temperatura definida para passar do estado líqui-
também a maioria dos elastômeros, com dois princí- do para o estado sólido, como é o caso dos metais.
pios básicos: o de produzir continuamente produtos Apesar dessa propriedade que dificulta o processo,
de formas simples e regulares e, também, de mistu- a maioria dos materiais polímeros, assim como os
rar, de maneira eficiente, aditivos com os polímeros metais, também pode ser conformada pelo processo
(ASKELAND; PHULÉ, 2008). de fundição (TEIXEIRA, 1999).
O processo de extrusão se inicia quando o Na realidade dos materiais polímeros, o pro-
material, na forma granulada, é colocado em um cesso de fundição acontece iniciando pela fundição
bocal de alimentação da máquina extrusora, de- do material plástico com alta temperatura, ou seja,
nominado tremonha. Lá, o material é derretido inicialmente o polímero é derretido. Depois que se
em um cilindro preaquecido. Posteriormente, ele encontra em estado líquido, é misturado com subs-
é transportado por uma rosca giratória, sem fim tâncias que causam endurecimento (catalisadores
que pressiona continuamente a massa plástica, ou agentes de cura) e invertido no interior de um
empurrando-a para frente, até chegar no cabeçote molde, que possui as dimensões desejadas para o
da matriz do equipamento. A matriz do equipa- produto. Posteriormente, o material é deixado para
mento possui o perfil, que é a ferramenta que dá o solidificar, copiando a forma do molde. O processo é
formato do produto que está sendo produzido, ou considerado de baixo custo, porém, também de bai-
seja, após passar pela matriz, o produto assume xa produtividade, conseguindo obter como resulta-
sua forma, depois o produto é resfriado por ja- do formas simples, como blocos de material e eixos,
tos de ar ou um sistema de arrefecimento a água. até peças mais complexas, como engrenagens.
(TEIXEIRA, 1999) Tanto polímeros termoplásticos (nylon e acrí-
A extrusão é um processo de produção contí- lico) quanto termofixos (poliuretanos, poliéster)
nua, especialmente adaptada para produzir pro- podem ser fundidos. No caso dos termoplásticos,
dutos de segmentos contínuos com seção trans- devido à sua estrutura e ao comportamento das liga-
versal de geometria constante, como tubos, barras, ções químicas e moléculas, a solidificação acontece
placas, mangueiras, fitas, lâminas, filmes, perfila- mediante o resfriamento a partir do estado líquido
dos maciços e ocos em geral. Quando se fala em fundido. No caso dos termofixos, o endurecimento
extrusão de elastômeros, temos que os principais do material é consequência do processo de polime-
produtos produzidos com tal material são vedan- rização. Em geral, a fundição é utilizada para produ-
tes para portas e janelas e canaletas de proteção ção de brindes, pequenos adornos, amostras e ou-
(LESKO, 2004). tros (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).

163
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

INJEÇÃO

A injeção é o processo mais utilizado para confor- é fechado, prendendo as extremidades do cilindro
mar materiais plásticos e também o mais rápido. É de polímero e, posteriormente, injeta-se ar compri-
mais apropriado para processamento em termoplás- mido dentro, forçando o plástico contra as paredes
ticos, apesar de termofixos e elastômeros também do molde. Após o resfriamento da peça, o molde se
poderem ser injetados. abre e permite a remoção dela. O processo permite
O processo se inicia quando o material granula- a produção de peças ocas, como embalagens de pro-
do é alimentado na máquina injetora por intermé- dutos de limpeza, reservatórios, caixas de descarga,
dio de uma tremonha. O material é amolecido em garrafas, brinquedos e outros (SMITH, 1998).
um cilindro de injeção préaquecido; posteriormente
um pistão pressiona essa massa fluida através de um TERMOFORMAGEM
canal estreito, e é forçada a escoar em canais do ci-
lindro, penetrando e atingindo a cavidade do molde A termoformagem é um processo que conforma
resfriado. O molde permanece fechado por um de- chapas de polímeros termoplásticos com o auxílio
terminado tempo até o material adquirir a sua for- de calor e pressão. O método foi desenvolvido de-
ma; em seguida, o molde é aberto, ejetando a peça vido à dificuldade que se encontrava para a fabri-
(SMITH, 1998). cação de peças de área grande e espessura relativa-
As peças produzidas por injeção possuem bom mente pequenas.
acabamento superficial, desde formatos simples até O processo é realizado a vácuo, em que é sugada
complexos. Alguns exemplos de peças injetadas são: uma chapa aquecida sobre ou para dentro do molde.
baldes, seringas, tampas de canetas, botões, para- Chapas e placas são submetidas ao calor até chega-
-choques, tampas e inúmeros outros. As desvanta- rem à sua elasticidade. Posteriormente, acontece o
gens que podemos apontar em relação ao processo é estiramento da chapa aquecida quando submetida
o custo de aquisição inicial do equipamento e o fato ao contorno do molde. Esse molde pode conter ori-
de que o processo precisa ser rigorosamente contro- fícios pelos quais o vácuo é aplicado ou a pressão.
lado para obter produtos de alta qualidade e sem re- Depois de moldado, o produto é resfriado e retirado
barbas (TEIXEIRA, 1999). do equipamento com a forma desejada.
A termoformagem se aplica a peças grandes,
SOPRO como placas de sinalização de trânsito, placas de
aviso, revestimentos de refrigeradores, boxes de ba-
Esse processo de fabricação de peças de polímeros é nheiros e painéis internos de aeronaves. A indústria
bastante semelhante ao de fabricação de garrafas de de embalagens vêm demandando muitos produtos
vidro. Ele consiste em posicionar um cilindro ou um por meio dessa técnica, como copos plásticos de
tubo de plástico aquecido, denominado de pré-for- água e café, embalagens de bolos e bandejas de io-
ma, entre mandíbulas de um molde. O molde, então, gurte (LESKO, 2004).

164
DESIGN

COMPRESSÃO

Processo bastante utilizado para conformação de Caro(a) aluno(a), além dos sete processos de
polímeros termofixos. Inicialmente, o polímero fabricação de peças com materiais polímeros, há
é aquecido e depois é introduzido em um mol- vários outros que diferem em relação ao empre-
de que também se encontra em alta temperatura. go de calor, pressão, tempo, custos, etapas de pro-
Posteriormente, a parte superior do molde des- cessamento e outros aspectos, de maneira que só
ce e comprime o material. A pressão, juntamente conseguimos abordar os mais comuns e usuais na
com o calor, amolece ainda mais o material, que manufatura de produtos plásticos. Com a aborda-
é forçado a preencher as cavidades presentes nos gem dos processos, após conhecer os tipos de po-
moldes. Esse material, por se tratar de um termo- límeros existentes, finalizamos mais uma unidade,
fixo, endurece no molde e é ejetado dele, adqui- na esperança de deixar um conhecimento mínimo
rindo sua forma. necessário para iniciar a análise desses materiais
O processo tem baixo custo, fluxo de produ- como possíveis matérias-prima para o design de
ção relativamente curto, a produção de peças de um produto.
dimensões grandes é exequível, com possibilidade
de moldes mais compactos devido à sua simplici-
SAIBA MAIS
dade. Como desvantagens, há a formação e pre-
sença de rebarbas nas peças, baixa tolerância de
dimensão e dificuldade em produzir peças com- O tratamento dos plásticos pós-consumo é,
plexas (SMITH, 1998). atualmente, um problema ambiental de enor-
me importância. O processo de reciclagem
mecânica de plásticos não é simples, pois,
TRANSFERÊNCIA para que se possa reciclar plásticos, é neces-
sário que eles sejam separados por tipo de
plásticos. Assim, o processo de triagem é um
O processo de transferência é muito semelhante ao dos maiores obstáculos para a reciclagem.
de compressão, diferindo apenas na forma que a ma- Para facilitar o processo de triagem, al-
téria-prima é adicionada nas cavidades do molde. gumas indústrias brasileiras imprimem o
código da resina plástica na embalagem
No de transferência, o material não é adicionado di- para ajudar na identificação. A identifica-
retamente ao molde, mas sem uma câmara externa ção é feita a partir de um triângulo com
aos moldes. Conforme o material fundido é injetado o número dentro e cada número significa
um tipo de resina: 1- PET, 2- PEAD, 3- PVC,
no interior da câmara do molde, a pressão é distri- 4- PEBD, 5- PP, 6- PS e 7- OUTROS (plásticos
buída uniformemente sobre todas as superfícies. A especiais usados principalmente para fazer
vantagem em relação à compressão é que a transfe- eletrodomésticos, como liquidificadores e
corpo de computadores).
rência conforma peças menores com formatos mais
complexos, sem produzir rebarbas e tem um rendi- Fonte: Machado (2013, on-line)3.

mento em volume de produção maior.

165
considerações finais

C
aro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade e também va-
mos nos aproximando do final do livro. Aqui, conhecemos os mate-
riais polímeros, suas características e propriedades tão específicas que o
tornam um material tão versátil, com inúmeras opções para inúmeras
aplicações. Vimos que o material, nas últimas décadas, passou e vem passando
por um grande avanço tecnológico e químico, o que resulta na sua ampla utiliza-
ção para as mais diversas áreas.
A predominância dos materiais polímeros está nos materiais classificados
como termoplásticos, que são a princípio sólidos, mas com a aplicação de calor
vão amolecendo progressivamente até se tornarem líquidos e endurecem ao
serem resfriados. Dessa forma, esses materiais permitem-se amolecer e fluidi-
ficar várias vezes.
Com um comportamento bem diferente dos termoplásticos, conhecemos
também os termofixos, materiais que, expostos a altas temperaturas, amolecem e
fluem, mas posteriormente se solidificam e não se fundem uma segunda vez. De-
vido a essa característica, são usados em produtos que necessitem de resistência a
intempéries ao calor, produtos químicos, a impactos e a outros.
Além da classificação relacionada ao comportamento em relação ao calor,
também descobrimos que há a classe dos elastômeros, materiais que possuem
uma alta deformação elástica e que têm como origem um material natural, a bor-
racha. Esta, por sua vez, também serviu de base para o desenvolvimento de mui-
tos elastômeros sintéticos.
Por fim, aprendemos que extrusão e fundição não são processos apenas
de metais, mas também de polímeros, além de outros que conseguem con-
formar o material de forma adequada para as diferentes e diversas aplicações
necessárias. Hoje, o polímero é um material muito utilizado, presente em uma
infinidade de produtos que usamos em nosso cotidiano. Com certeza, devem
ter vários produtos desenvolvidos com eles à sua volta neste momento. De
fato, são materiais fascinantes!

166
atividades de estudo

1. Em relação aos polímeros, e correto afirmar 3. Assinale as afirmações a seguir, sobre os elas-
que: tômeros em verdadeiro (V) ou falso (F):
I - Os polímeros estão presentes em quase ( ) Os elastômeros possuem natureza termoplás-
todos as áreas da indústria de manufa- tica e também natureza termofixa. Assim, além
tura, desde embalagens de alimentos e das propriedades características de elasticidade,
equipamentos da medicina até pneus e também apresentam semelhanças das respecti-
estruturas de automóveis, navios e até ae- vas classes de polímeros.
ronaves.
( ) Apesar de ser o primeiro elastômero des-
II - Levando em consideração a origem dos coberto pelo homem e ter sido amplamente
materiais polímeros, eles podem ser clas- utilizada, hoje a borracha natural já não possui
sificados como naturais, sintéticos e tec- muitas aplicações e utilização na manufatura
nológicos. de produtos.
III - A borracha natural, classificada como um ( ) Os elastômeros sintéticos que representam
elastômero, é empregada em mais de 40 maior volume de venda são o policloropreno ou
mil produtos, com as mais diversas aplica- neoprene, acrilonitrila ou borracha nitrílica, esti-
ções, e é considerada, juntamente com o reno-butadieno e polibutadieno.
aço e com o petróleo, um dos materiais que
sustentam o progresso da humanidade. Assinale a alternativa correta:
a) V; V; F.
IV - Os polímeros podem ser conformados
com alguns processos como fundição, ex- b) F; F; V.
trusão, moldagem e outros, que também
c) V; F; V.
fazem parte da realidade do processa-
mento dos metais. d) F; F; F.
e) V; V; V
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas. 4. Cite e comente sobre as principais diferenças
b) Apenas II e III estão corretas. presentes nos polímeros termoplásticos e nos
polímeros termofixos.
c) Apenas I está correta.
5. Qual das opções a seguir não é um processo
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
utilizado para a conformação dos polímeros?
e) Nenhuma das alternativas está correta. a) Fundição.
2. Quais dos polímeros a seguir não pertence à b) Aplainamento.
classe dos termoplásticos? c) Extrusão.
a) Etileno-Vinil-Acetato (EVA).
d) Compressão.
b) Polietileno (PE).
e) Termoformagem.
c) Propileno (PP).
d) Epóxi (EP).
e) Cloreto de Polivinila (PVC).

167
LEITURA
COMPLEMENTAR

Até aproximadamente 1912, virtualmente, todas as bolas Estados Unidos da América no início do século XX. Pouco
de bilhar eram feitas de marfim, obtido exclusivamen- após sua chegada, iniciou pesquisas para a criação de
te das presas de elefantes. Para que uma bola rolasse uma goma-laca sintética para substituir o material na-
com perfeição, ela precisava ser confeccionada a partir tural, que era relativamente caro para ser fabricado. A
de marfim de alta qualidade, proveniente do centro de goma-laca era (e ainda é) usada como um laquê, um pre-
presas isentas de defeitos – algo em torno de 1 presa em servativo para a madeira e como um isolante elétrico na
cada 50 apresentava a consistência de massa específica então emergente indústria elétrica.
necessária. Naquela época, o marfim estava se tornan- Seus esforços eventualmente levaram à descoberta de
do escasso e caro, conforme mais e mais elefantes eram que um substituto adequado poderia ser sintetizado
mortos (e as bolas de bilhar tornavam-se populares). pela reação entre o fenol e o formaldeído sob condições
Além disso, havia uma série de preocupações em rela- controladas de calor e pressão. O produto dessa reação
ção a reduções nas populações de elefantes, devido aos era um líquido que na sequência era endurecido para
caçadores de marfim, e alguns países impuseram restri- formar um sólido transparente de cor âmbar. Baekeland
ções severas à importação de marfim e de produtos à chamou seu novo material de “baquelite”. Logo após a
base dele. sua descoberta, a baquelite foi identificada como o ma-
Consequentemente, foram buscados substitutos para o terial sintético ideal para a fabricação de bolas de bilhar.
marfim nas bolas de bilhar. Por exemplo, uma das pri- O fenol-formaldeído é um polímero termofixo com inú-
meiras alternativas foi uma mistura prensada com polpa meras propriedades desejáveis; para um polímero, ele é
de madeira e pó de osso; esse material se mostrou bas- muito resistente ao calor e também muito duro, é menos
tante insatisfatório. A substituição mais adequada (que frágil do que muitos materiais cerâmicos, é muito está-
ainda está sendo usada para as bolas de bilhar nos dias vel e não reage com a maioria das soluções e solventes
de hoje) é um dos primeiros polímeros sintéticos – o fe- comuns, não lasca, esmaece ou descora com facilidade.
nol-formaldeído, chamado também de fenólico. Além disso, ele é um material relativamente barato, e
A invenção desse material é um dos eventos importan- os fenólicos modernos podem ser produzidos com uma
tes e interessantes nos anais dos polímeros sintéticos. grande variedade de cores. As características elásticas
O descobridor do processo para a síntese do fenol-for- desse polímero são muito semelhantes àquelas do mar-
maldeído foi Leo Baekeland. Com um jovem e muito bri- fim e, quando bolas de bilhar fenólicas colidem, ela emi-
lhante Ph.D. em química, ele emigrou da Bélgica para os tem o mesmo ruído de choque que as bolas de marfim.

Fonte: adaptada de Calliste e Rethwisch (2013, p. 511).

168
material complementar

Indicação para Ler

Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais


Bernd Löbach
Editora: Edgard Blücher
Sinopse: Löbach, ao elaborar o texto, se preocupou em produzir um trabalho bá-
sico, principalmente, para a formação de designers industriais. O texto é didático,
mas o seu conteúdo extrapola essa característica. Quem se interessar pelo design
industrial, sejam estudantes ou profissionais, tem neste livro a melhor formulação
conceitual sobre o assunto. É um livro sistemático, especialmente na abordagem
dos aspectos estéticos e subjetivos do design, sempre os mais difíceis de tratar
na metodologia do design. Essa abordagem atingiu o objetivo ao colocar o design
industrial como uma disciplina do design ambiental, além de discorrer sobre suas
dimensões sociais, psíquicas, históricas, econômicas e estéticas.

169
referências

ASKELAND, Donald R.; PHULÉ, Pradeep P. Ciência e engenharia dos mate-


riais. Rio de Janeiro: Cengage Learning, 2008. 594 p. v. 1.
ASHBY, Michael; JOHNSON, Kara. Materiais e Design: Arte e Ciência da
Seleção de Materiais no Design de Produto. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011. 346 p. v. 1.
BARROS, Carolina. Apostila de polímeros: materiais de construção. Pelotas: IF-
Sul, 2011. p. 16.
CALLISTER, William D.; RETHWISCH, David G. Ciência e engenharia de ma-
teriais: uma introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013. 816 p. v. 1.
ESCÓCIO, Viviane; CUNHA, Leandro; SOUZA, Ricardo. Novas tecnologias de
borracha. In: 7ª SEMANA DE POLÍMEROS, 2013. Disponível em: <http://www.
ima.ufrj.br/wp-content/uploads/2013/11/30-15.30-Novas-Tecnologias-de-Bor-
racha.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018.
JUNIOR, Sebastião Vicente Canevaloro. Ciência dos polímeros: um texto básico
para tecnólogos e engenheiros. 2. ed. São Paulo: Artliber, 2006. p. 282.
LESKO, Jim. Design industrial: materiais e processos de fabricação. São Paulo:
Edgard Blücher, 2004. 277 p. v. 1.
LIMA, Cristina. Polímeros e Materiais Polimétricos. Manual para o Professor.
Educa [2018]. Disponível em: <http://educa.fc.up.pt/ficheiros/noticias/69/docu-
mentos/108/Manual%20Pol%A1meros%20e%20Materiais%20polimericos%20
NV.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018.
LIMA, Marcos Antonio Magalhães. Introdução aos materiais e processos para
designers. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006. 237 p. v. 1.
MORASSI, Odair José. Polímeros termoplásticos, termofixos e elastômeros. São
Paulo: CRQ-IV, 2013. 158 p.
PASSATORE, Claudio R. Química dos polímeros. São Paulo: Etec Tiquatira,
2013. 84 p.
SILVA. André Luis Bonfim Bathista; SILVA, Emerson Oliveira. Conhecendo ma-
teriais polímeros. Cuiabá: UFMT, 2003. 84 p.
SMITH, Willian F. Princípios de ciência e engenharia de materiais. 3. ed. Lisboa:
McGraw-Hill, 1998. 892 p.
TEIXEIRA, Joselena Almeida. Design & materiais. Curitiba: Cefet, 1999.
324 p. v. 1.

170
referências

Referências on-line:

1 Em: <https://pt.slideshare.net/pmcabrita/plasticos-26378107>. Acesso em: 18


maio 2018.
2 Em: <http://www.damec.ct.utfpr.edu.br/automotiva/downloadsAutomot/
d5matPolimMod1.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018.
3 Em: <http://www.portalresiduossolidos.com/reciclagem-de-plasticos-polime-
ros/>. Acesso em: 18 maio 2018.

gabarito

1. D.
2. D.
3. C.
4. Os termoplásticos são polímeros em princípio sólidos, que, com a apli-
cação de calor, vão amolecendo progressivamente até se tornarem lí-
quidos e endurecem ao serem resfriados. Dessa forma, esses materiais
permitem-se amolecer e fluidificar quantas vezes forem necessárias. Os
termofixos, por sua vez, quando expostos a um aumento elevado de tem-
peratura e pressão, amolecem e fluem e se solidificam, permanecendo
com a forma processada, mas, se acaso forem submetidos novamente a
tratamento térmico, não se fundirão.
5. B.

171
MATERIAIS NATURAIS,
COMPÓSITOS E AVANÇADOS

Professora Esp. Regiane Mendes

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Madeira
• Classificação das madeiras
• Processos em madeira
• Compósitos
• Materiais avançados

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer quais os materiais naturais, aprofundando-se
acerca das variedades e características das madeiras.
• Conhecer quais os diferentes tipos de madeiras utilizados
para desenvolvimento de produtos.
• Identificar quais os principais processos utilizados para o
desenvolvimento de produtos a partir das madeiras.
• Conhecer quais são os materiais compósitos, suas
características e propriedades.
• Conhecer a realidade atual do desenvolvimento de novos
materiais, quais as tendências, objetivos, utilização e
propriedade deles.
unidade

V
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), bem vindo(a) à quinta e última unidade do nosso livro


de materiais e processos de produtos!
No decorrer do livro, conhecemos os principais processos de trans-
formação dos materiais e os mais expressivos grupos de materiais utili-
zados no desenvolvimento de produtos, que são: metais, cerâmicas e os
polímeros. Apesar de serem os maiores grupos, não são os únicos. Sendo
assim, nesta última unidade iremos conhecer outros tipos de materiais
que também podem ser usados em componentes e produtos.
Os materiais naturais têm muita relevância no desenvolvimento de
produtos, são inúmeros e podem ser de origem animal (como o couro,
a seda e a lã), de origem vegetal (como já vimos, a borracha do grupo
dos polímeros), ou de origem mineral (como o ouro, visto na Unidade
II). Nesta unidade, fazendo uma abordagem geral dos materiais naturais,
focaremos principalmente na realidade das madeiras e sua grande utili-
zação em produtos de decoração, construção e outros. Vamos conhecer,
também, os principais processos que tais materiais passam para serem
transformados nos produtos desejados, considerando suas característi-
cas e propriedades.
Os materiais compósitos, assim como os chamados novos materiais,
vêm ganhando cada vez mais importância no cenário, uma vez que são
desenvolvidos com objetivos de obter características e propriedades es-
pecíficas que os materiais já existentes não possuem, como maior capa-
cidade de reciclagem, resistência mecânica, flexibilidade e durabilidade,
além de atender a padrões de performance e design. Os compósitos e
novos materiais são resultados de combinações como alta tecnologia, ci-
ência e engenharia de materiais, que juntas caminham para conseguir
desenvolver tais materiais que em um futuro poderão até substituir os
que são utilizados hoje.
Caro(a) aluno(a), desejo a você um ótimo e proveitoso estudo!
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Madeira
Como o próprio nome já diz, os materiais naturais origem mineral são os inorgânicos, como pedras,
são todos aqueles que o homem consegue extrair da mármores, granitos e metais, como o ouro, que, ape-
natureza, seja de forma artesanal ou industrial, não sar de estar classificado na família dos metais, devi-
alterando significativamente sua constituição básica. do a suas propriedades e características, também é
Os materiais naturais têm três diferentes origens, a um material natural com origem mineral.
vegetal, a animal e a mineral. Materiais de origem Por último, temos os naturais que têm origem
animal podem ser a lã, a seda, o couro, a pérola e vegetal. Um dos exemplos desses materiais nós já
outros materiais provenientes de animais. Já os de vimos na unidade dos materiais polímeros, que é a

176
DESIGN

Alburno
borracha natural, extraída de um vegetal. Há tam-
bém as fibras de algodão, linho, sisal e as madeiras Casca
– o foco deste tópico. É comum utilizá-las no desen-
volvimento de produtos seja para decoração, cons- Medula
truções ou outras áreas (LIMA, 2006).
Os materiais naturais, em especial a madeira, vêm
sendo utilizados pelo homem desde o início da sua Cerne
história e existência. Com o desenvolvimento das
ciências e engenharias, tais materiais vêm tentando
ser substituídos por opções sintéticas com melhores
propriedades e características. A madeira, especifi-
camente, tem sido usada para fazer produtos, como
móveis e esculturas, desde antes de 2.500 a.C. pelos
egípcios, e, no ápice dos impérios romano e grego, fo-
ram desenvolvidas grandes construções com madei-
ras, como estruturas, barcos, armas, carruagens. Além
Figura 1 - Estrutura do tronco.
disso, foi instituído o ofício de fabricação de móveis, Fonte: Lima (2006).
utilizada até hoje (ASHBY; JOHNSON, 2011).
O uso da maciça da madeira está relacionado A casca funciona como uma camada que protege e
estritamente ao conhecimento das suas proprieda- isola os tecidos da árvore contra adversidades exter-
des tecnológicas, pois estas influenciam diretamen- nas, principalmente, fungos e bactérias, além de ser
te na qualidade do material. Então, é necessário contra agentes atmosféricos. Industrialmente falan-
conhecer toda a caracterização tecnológica de uma do, normalmente, a casca da madeira não é aprovei-
determinada madeira, para assim poder escolher tada. Após a casca, encontra-se o alburno, a parte
de forma acertada seu destino final, ou seja, se as responsável pelo transporte de seiva da árvore. Em
características do tipo da madeira são favoráveis muito casos, essa região apresenta coloração com
para o uso na construção civil, no desenvolvimento tons mais claros do tronco. O alburno, juntamen-
de móveis, decorações, fins energéticos ou outros te com o cerne, que é a parte mais desenvolvida e
(GALLIO et al., 2016). mais importante sob o ponto de vista de material,
A madeira, como já sabemos, tem origem vege- responsável pela sustentação do tronco, constituei o
tal, pois provém dos troncos de determinadas árvo- chamado lenho, a parte mais aproveitada comercial-
res. Caro(a) aluno(a), vamos analisar a composição mente (LIMA, 2006).
dos troncos para, no decorrer do tópico, entender as Caro(a) aluno(a), além de conhecer acerca da es-
propriedades tecnológicas das diferentes madeiras trutura da madeira, é importante saber os diferentes
que conheceremos. Na figura a seguir, temos o de- planos de corte para identificar o material. De acor-
senho da estrutura de um tronco, que é constituído do com a figura a seguir, há três diferentes planos:
por casca, alburno, cerne e medula. transversal, radial e tangencial.

177
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

A textura das madeiras é classificada em fina, mé-


Transversal dia ou grossa, o que é determinante pelas dimensões,
distribuição e porcentagem dos elementos estrutu-
rais que constituem o lenho. Como exemplo, pode-
Radial
mos citar o pau-marfim, que apresenta uma textura
fina, uma vez que os elementos possuem dimensões
Tangencial muito pequenas e se encontram dispersos no lenho
dela; já o carvalho apresenta textura grossa, pois pos-
sui poros grandes e visíveis a olho nu e raios largos.
A grã é outra característica importante, pois
permite observar a disposição das fibras ao longo do
eixo do tronco da árvore. Para Teixeira (1999), exis-
Figura 2 – Tipos de planos e cortes de madeira.
Fonte: Lima (2006). tem três disposições:
• Grã direta ou normal: apresenta a vanta-
O plano transversal é perpendicular às fibras; assim, gem de aumento de resistência mecânica,
é possível observar a natureza do alburno e do cer- de fácil processamento, não provoca defor-
mações indesejáveis por ressecamento. Es-
ne. O plano radial é perpendicular ao transversal e,
teticamente, exibe superfície regular, sem
consequentemente, ao eixo longitudinal do tronco, figuras ornamentais;
permitindo observar a disposição das fibras do tron- • Grã ondulada: apresenta boa resistência
co. Por último, há o plano tangencial que se encon- mecânica. Esteticamente, apresenta dese-
tra perpendicular em relação aos planos transversal nhos ornamentais;
e radial (LIMA, 2006). • Grã reversa: apresenta baixo desempenho
Há várias características que podem determinar mecânico, ocorre deformação e empena-
a escolha da madeira, por exemplo, cor, cheiro, bri- mento na secagem, é de difícil trabalhabili-
lho, desenho, grã e a textura. A cor da madeira é uma dade, porém produz desenhos atraentes.
característica que pode variar muito, pois vai desde Segundo Smith (1998), as árvores de que provêm a
colorações mais tradicionais, como tons de marrons, madeira são classificadas em dois grandes grupos, as
até ao preto, vermelho e amarelo – estes últimos são de lenho macio (gimnospérmicas) e de lenho rijo
resultados da constituição das paredes das células da (angiospérmicas). Botanicamente falando, as árvo-
madeira. Exposição ao sol, ataque por microrganis- res que apresentam suas sementes de maneira expos-
mos, envelhecimento e outras questões podem levar ta, têm um lenho macio e mantêm suas folhas - são
à alteração da coloração das madeiras. Além de ser persistentes e sempre estão verdes. Já as árvores que
um aspecto visual e estético, a coloração pode ser in- apresentam suas sementes cobertas têm lenho rijo e
dicativo de resistência. O brilho é uma característica trocam as folhas anualmente, uma vez que essas são
que pode ser realçada por meio de processos como caducas. Como exemplo de árvores de lenho macio,
polimento e acabamentos superficiais, mas, em ge- podemos citar o pinheiro e o cedro; em contraparti-
ral, o plano radial é mais reluzente. da, o carvalho e a cerejeira são de lenho rijo.

178
DESIGN

PROPRIEDADES DA MADEIRAS

Além das características que influenciam o uso lenhoso por unidade de volume. Essa propriedade,
das madeiras, devemos analisar suas propriedades, além de variar para cada tipo de madeira, também
assim será possível compreender como e em qual pode apresentar diferenças na mesma árvore, em
área usar cada tipo de madeira. A forma correta de que peças retiradas de diferentes alturas do tronco
utilizar a madeira está diretamente relacionada a apresentam massas específicas distintas.
suas propriedades. Em virtude de a madeira ser um Essa propriedade geralmente está relaciona-
material orgânico, há uma grande heterogeneidade da à resistência e rigidez da peça analisada, pois
nos diferentes tipos e funções dos elementos anatô- quanto maior o valor da massa específica, maior
micos constituintes do lenho, os quais afetam dire- a resistência da madeira. A massa específica pode
tamente as propriedades tecnológicas da madeira. variar de acordo com a espécie da madeira, loca-
A massa específica e a retratibilidade da madeira lização de onde foi retirada, cerne, alburno, lenho
são propriedades físicas que se destacam, enquan- e, principalmente, com o teor de umidade. A balsa
to as propriedades mecânicas analisam resistência, (0,13 g/cm³) possui o menor peso específico, en-
compressão, tração, flexão, dureza e cisalhamento quanto a guaiaco (1,40 g/cm³) tem o maior peso
(NASSUR, 2010). (GALLIO et al., 2016).

Retratilidade Resistência mecânica


A retratibilidade é uma propriedade que está rela- Caro(a) aluno(a), como já vimos, as madeiras po-
cionada à perda de volume provocada pela perda dem ter lenho macio ou rijo. Em relação à resistên-
de umidade da madeira. Esta propriedade é variável cia à compressão da madeira, tem-se que a esta, na
conforme o sentido das fibras e pode explicar algu- direção paralela ao grã, é, aproximadamente, dez ve-
mas alterações na madeira, como: empenos, torções zes superior à resistência à compressão no sentido
e rachaduras no umedecimento ou secagem da peça. perpendicular ao grã. Isso porque na direção longi-
Por esse motivo, devem ser usadas madeiras com tudinal a resistência é devida a fortes ligações mo-
fracos teores de umidade, que foram submetidas leculares das microfibras de celulose. No entanto, a
previamente ao processo de secagem. Além disso, resistência da madeira na direção perpendicular ao
pode-se minimizar tais efeitos da retratilidade pela grã é muito menor, pois as ligações de hidrogênio
impermeabilização da peça, assim como sua pintura presentes na região são mais fracas, já que ligam la-
ou envernizamento. teralmente as moléculas de celulose (SMITH, 1998).

Massa específica Durabilidade


Como o próprio nome sugere, é uma propriedade A durabilidade é uma propriedade que represen-
específica de cada tipo de madeira. A propriedade ta a resistência da madeira em relação a ataques
física apresenta variação de peso em madeiras de di- de organismos destruidores externos, como fun-
mensões iguais, ou seja, é a quantidade de material gos, bactérias, insetos e outros. Tal propriedade

179
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

tem relação com os outros aspectos, uma vez que, na condutividade da madeira. Nesse sentido, a con-
quanto mais denso, menos umidade no ambiente dução do calor paralelo às fibras é mais efetivo do
onde essa madeira se encontra; e quanto maior que na direção transversal a elas.
a presença de substâncias naturais tóxicas no le-
nho, menos atacada essa árvore será e mais dura- Condutividade elétrica
bilidade terá. No caso das madeiras que perma- Da mesma forma que apresentam baixa condutivi-
necem em locais quentes e secos, ou aquelas que dade térmica, as madeiras também possuem baixa
estão totalmente imersas na água, possuem du- condutividade elétrica, tanto que a madeira seca se
ração indefinida, já que não têm problemas com comporta como um isolante, mas, à medida que ga-
ataques externos. nha umidade, sua condutividade elétrica aumenta.
Além do grau de umidade, a espécie, a massa espe-
Condutividade térmica cífica e a direção fazem com que o valor da condu-
A madeira é um péssimo condutor de calor, isso de- tividade elétrica altere de uma madeira para outra
vido à sua constituição molecular, uma vez que sua (TEIXEIRA, 1999).
composição é de numerosas e pequenas massas de Analisando o conjunto de informações até o mo-
ar entre fibras e celulose, o que não favorece a passa- mento, principalmente em relação às propriedades,
gem de uma corrente elétrica. A umidade, essência e podemos elencar algumas vantagens e desvantagens
a direção em que o calor é transmitido influenciam da utilização das madeiras.

Quadro 1 – Vantagens e desvantagens de utilizar a madeira

Vantagens Desvantagens
Elevada resistência mecânica (tração e compressão); Higroscopicidade (absorve e devolve umidade);
Material natural e renovável através de refloresta- Alteração dimensional (contração e expansão volumétrica
mento; devido à umidade);
Baixo custo; Combustibilidade;
Facilidade no preparo industrial; Deterioração (por agentes biodeteriorantes);
Heterogeneidade na estrutura (ocorre em função da
Baixa condutibilidade térmica; variação de idade do lenho dentro de um mesmo tronco,
a estrutura é bastante complexa;
Isolante térmico e dielétrico; Difícil controle de classificação;
Limitação dimensional (tamanho de madeiras são padro-
Grande diversidade de tipos;
nizados);
Fonte: Teixeira (1999).

180
DESIGN

181
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Classificação
das Madeiras
Para que a madeira seja usada como material para Todavia, antes dos processos industriais es-
fabricação de produtos, é necessário que ocorram pecíficos ocorrerem, é necessário retirar todos
vários processos, iniciados a partir da derrubada os galhos presentes no tronco. Posteriormente,
da árvore. Em seguida, é feita a extração do tron- inicia-se a etapa denominada toragem, na qual o
co ou lenho. A etapa dos processos industriais va- tronco – chamado de tora – é cortado em peças
ria muito, pois irá depender de qual será a finali- de determinadas dimensões, facilitando, assim,
dade da madeira. Caro(a) aluno(a), como vamos o transporte. Ainda nesta etapa, pode ocorrer o
ver a seguir, a madeira poderá ser utilizada como descasque da tora, ou seja, toda a casca externa da
maciça, aglomerado, reconstituída, compensada tora será retirada. Após o corte, geralmente as pe-
entre outras. ças vão para serrarias, onde podem sofrer proces-

182
DESIGN

sos de torneamento, faqueamento, descascamen- nha uma peça com boa processabilidade e resistên-
to e desdobro, o que vai depender da finalidade de cia mecânica. A secagem, geralmente, é realizada por
cada madeira. processos artificiais, como ventilação simples, câmara
Para exemplificar, tomando por base a sequência quente e outros, que dependem do tipo de madeira. A
de processos para obtenção de madeira maciça, após secagem deve acontecer até o momento em que a peça
o corte em toras, é feito o desdobro, que tem o obje- perca umidade e chegue a um ponto de equilíbrio.
tivo de serrar a tora em inúmeros cortes no sentido Após a secagem das peças, devido à sua dura-
longitudinal, podendo formar couçoeiras, pranchas bilidade, é necessário aplicar na madeira produtos
e pranchões na forma bruta. Na figura a seguir, po- contra fungos, bactérias e insetos, para que esses não
demos observar os tipos de desdobramentos realiza- ataquem e deterioram a madeira, comprometendo
dos nas toras de madeira. sua estética e qualidade. Dessa forma, o processo
auxilia na preservação da peça (LIMA 2006). Além
dos processos de tratamento iniciais da madeira, há
também os processos industriais, que a transformam
em produtos diversos, como madeira reconstituída,
aglomerada, compensada e outros.

MADEIRA MACIÇA

Como o próprio nome sugere, são madeiras obtidas


diretamente do corte das árvores e dos processos
iniciais. Essas madeiras não têm adição de fibras
sintéticas ou aglomerados. Por não passarem por
processos industriais, são madeiras mais resistentes
Figura 3 - Exemplo de desdobramento em tora de madeira.
Fonte: Lima (2006). e, geralmente, bem mais pesadas do que as madeiras
transformadas.
Após o desdobramento, ilustrado na figura anterior, São muito utilizadas para a fabricação de mó-
é necessário passar as peças brutas por um proces- veis que servem como apoio para objetos grandes e
so denominado aparelhamento, que tem o objetivo pesados. São bastante resistentes a riscos, arranhões
de cortar tais peças em seções ou bitolas comerciais, e, se forem bem conservadas, podem durar mais de
que, dependendo das dimensões, são classificadas 100 anos sem sofrer deformações por umidade ou
em pranchas, pranchões, viga, tábua, sarrafo e ripa. radiação solar. Sua coloração também varia muito,
Além do desdobro e do aparelhamento, a secagem dependendo diretamente da árvore de onde foi obti-
é outro processo importantíssimo para que se obte- da (LOJAS KD, [2018], on-line)1.

183
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

MADEIRAS TRANSFORMADAS

Há três tipos de madeiras maciças: Essas madeiras são derivadas das madeiras maci-
ças, que passaram por processos industriais com o
Madeira nativa: a exploração das madeiras nativas objetivo de alterar a estrutura fibrosa para corrigir
é a principal causa do desmatamento de florestas. algumas características negativas, além de auxiliar
O seu uso deve ser evitado a qualquer custo, pois a suprir a demanda de madeira para desenvolvi-
toda madeira nativa foi retirada de forma ilegal e mento de produtos, uma vez que apenas madei-
incorreta, causando sérios danos ao meio ambien- ras maciças não supririam tal demanda. Conhe-
te. Entretanto, ainda hoje, infelizmente, há empre- cer acerca das madeiras transformadas é essencial
sas e pessoas que valorizam esse tipo de material, para o(a) profissional de design; principalmente,
por serem madeiras raras e consideradas nobres aqueles que atendem design de mobiliários, já que
pelo seu crescimento lento, tonalidade e caracterís- cada material possui resistência e outras caracte-
ticas específicas. rísticas que devem ser consideradas no projeto de
desenvolvimento de um produto/móvel. O uso
Madeira demolição: são madeiras retiradas de pro- das madeiras transformadas apresenta algumas
cessos de demolição de imóveis antigos que podem vantagens, como:
ser aproveitadas e empregadas para outros fins. Ge- • Isotropia no comportamento físico e mecânico;
ralmente, são tábuas de madeiras nativas nobres e • Homogeneidade de composição;
bastante resistentes, ainda com pintura antiga. Após • Melhoria de propriedades físicas e/ou me-
serem retiradas dos imóveis, passam por processos cânicas;
de aplainamento, lixamento para remoção de tintas • Variação de dimensões;
e imperfeições, para posteriormente serem utiliza- • Aproveitamento total do material lenhoso da
das em novos projetos, como em móveis e decoração árvore utilizada;
de ambientes. • Estabilidade dimensional.
Agora, caro(a) aluno(a), vamos conhecer os princi-
Madeira de reflorestamento: são madeiras obtidas pais tipos de madeiras transformadas utilizadas para
a partir de árvores de florestas plantadas artificial- fabricação de produtos (TEIXEIRA, 1999).
mente. Elas têm crescimento acelerado e seu corte
acontece de forma planejada. São plantadas para Madeira compensada
substituir o uso de madeiras nativas. Atualmente, A madeira compensada foi desenvolvida e paten-
existe um selo que comprova a origem da madeira teada por Wiltikowiski em 1886 e, posteriormente,
de reflorestamento, e reconhecer e identificar que é começou a ser explorada mundialmente. É consti-
um produto ecologicamente correto é uma questão tuída por lâminas finas coladas umas às outras e
importantíssima a ser analisada quando se for ad- dispostas alternadamente, formando um ângulo de
quirir um produto produzido com madeira maciça. 90ºC entre suas fibras. O número de lâminas que
compõem tal madeira sempre é ímpar, assim a peça

184
DESIGN

pronta irá apresentar duas superfícies principais ou, em alguns casos, é utilizada apenas a ligni-
constituídas com lâminas de madeiras iguais, com na, que é a resina original da própria madeira. A
o mesmo sentido de fibras. aglutinação das partículas, o processo de pressão
Existem diferentes maneiras de fabricação de e o vapor fazem com que se origine uma placa
madeiras compensadas, mas a mais utilizada e indi- rígida e densa. Entretanto, a variação da pressão
cada é o método de impregnar as lâminas de madei- em diferentes processos resulta em placas de den-
ra com cola, montando as lâminas sobrepostas per- sidades distintas; assim, placas mais leves (soft
pendicularmente. Posteriormente, deve-se submeter board) são usadas para isolamento térmico e tra-
o compensado à prensagem e, para finalizar, lixar as tamento acústico, enquanto placas mais pesadas
superfícies, a fim de dar um bom acabamento à peça (hard board), por serem mais resistentes, são em-
(LIMA, 2006). pregadas principalmente como elementos estru-
Como vantagens podemos citar: turais (TEIXEIRA, 1999).
• Eliminação de contração, assim não apare- No Brasil, as indústrias de painéis de madeira
cendo fendas e empenamentos na madeira; aglomeradas, para garantir homogeneidade de pro-
• Resistência uniforme em toda peça, princi- cessamento, utilizam apenas uma espécie de madei-
palmente flexão; ra, o eucalipto, por isso possuem cor castanho-escu-
• Chapas de tamanhos variados, o que não ro, sem brilho, apresentando a face superior lisa e a
acontece com a madeira maciça;
inferior corrugada. Os materiais encontrados para
• Melhor aproveitamento da madeira, pois cer-
compra são: Duratex, Celotex, Eucatex e Masonite
ca de 90% do desdobro de uma tora são apro-
(processo Mason de autoclave) (ZENID, 2009).
veitados na formação de compensados;
Como vantagens das madeiras reconstituídas,
• Chapas finas de compensados são maleáveis
e podem ser encurvadas. podemos citar:
• Homogeneidade, durabilidade e resistência
As madeiras compensadas são extensamente utiliza- mecânica;
das na indústria de móveis, principalmente residen- • Pode ser cortada, furada, curvada, dobrada
ciais, escritórios e de informática, além da constru- e colada;
ção civil, tanto para uso interno quanto externo. O • A superfície lisa e plana recebe pintura e re-
vestimentos muito bem;
preço varia muito, pois depende da espécie de ma-
• Apresenta bons resultados com processos au-
deira utilizada, da cola empregada para unir as lâmi-
tomáticos ou manuais;
nas, da qualidade das faces e do número de lâminas
• Qualidade e propriedades iguais em todas as
que o compõem (ZENID, 2009).
direções da placa.

Madeira reconstituída Apesar de tantas vantagens, tais materiais não po-


A madeira reconstituída é um material desenvol- dem ficar expostos à água; isso só é possível se a
vido a partir da aglomeração de fibras e/ou partí- madeira possuir revestimento com resinas espe-
culas com vapor e alta pressão. Como ligante das ciais que aumentem sua tolerância em relação à
partículas é utilizada resina sintética termofixa exposição a água.

185
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

As madeiras reconstituídas são extensamente Como vantagens dos MDF, podemos citar:
utilizadas na indústria de móveis, predominan- • Estável, com elevada resistência e maqui-
temente para a fabricação de móveis modulares nabilidade;
residenciais ou de escritórios e divisórias, pois • Resistência à tração;
permitem a aplicação de revestimentos (lamina- • Resistência a arranque de parafusos, nas faces
dos de madeira). e nos cantos;
• Resistência à flexão;
Chapa de fibra: MDF – chapa de densidade média • Resistência estática e módulo de elasticidade;
Considerada madeira de reconstituição, é um ma- • Estabilidade dimensional.
terial derivado da madeira, produzido a partir das O MDF pode ser usado para a fabricação de vários
fibras de madeira maciça, que foram aglutinadas produtos, desde a indústria moveleira – sendo alter-
por uma resina sintética de ureia-formaldeído, que nativa de uso em relação à madeira maciça – para
se consolidam sob ação conjunta de temperatura e painéis de portas, tampos de mesa, frente de gavetas,
pressão, resultando numa chapa maciça homogênea móveis de estilo, cercaduras de espelhos, trabalho de
de alta qualidade. Possui distribuição uniforme de decoração, expositores, painéis de revestimentos e
fibra, permitindo boas características de usinabili- até no desenvolvimento de brinquedos, jogos, ins-
dade e de acabamento, tanto com equipamentos in- trumentos musicais, peças torneadas, corrimão, em-
dustriais como convencionais. balagens e tantos outros (LIMA, 2006).
O MDF é comercializado em três diferentes es-
pessuras: Madeira aglomerada de partículas
• Fina: de 1,8 a 6mm - usada para fundos de A madeira aglomerada é formada por fragmentos
gavetas, armários, bases para soalho e outros; de madeiras, como pó de serragem, cavacos de ma-
• Média: 7 a 35mm - usada para portas, laterais deiras e outros que são impregnados com cola (ma-
de armário e gaveta, divisórias, tampos e mó- terial ligante), resinas e substâncias que evitam seu
veis em geral;
apodrecimento e o ataque de parasitas. Inicialmente,
• Grossa: até 60mm - usada como elementos
o fragmento de madeira, por exemplo, os cavacos,
estruturais e arquitetônicos para edifícios,
são secos e, posteriormente, recebem uma substân-
peças torneadas e outros.
cia para aglutinação. Depois são dispostos em um

186
DESIGN

colchão para prensagem, que determinará o peso e a sentam baixa resistência à umidade e curta durabili-
espessura das placas que serão produzidas. dade. Assim, não são a melhor opção para produtos
A placas ou chapas de aglomeração são for- que têm o objetivo de serem duráveis. Também são
madas por três camadas, sendo que as duas ex- empregadas de maneira estrutural, uma vez que têm
ternas são densas, duras, compactas, lisas e for- a capacidade de absorção de som e retenção de calor
madas por partículas finas e possuem as mesmas (PERDOMO, [2017], on-line)2.
dimensões. A terceira, e camada do meio, é me-
nos densa que as demais, possui porosidade para
absorver tensões, não permitindo que o conjunto
seja afetado (TEIXEIRA, 1999).
As madeiras aglomeradas surgiram como uma
solução para o reaproveitamento de restos de ma-
deiras que se acumulavam em serrarias nos Esta-
dos Unidos. Em 1936, teve o primeiro registro de
patente de fabricação de chapas de madeira aglo-
merada; assim, essa madeira foi, e ainda é, um im-
portante material relacionado ao aproveitamento
econômico da madeira, redução do emprego de
madeiras nativas, além da modernização e produ-
tividade das indústrias moveleiras.
As chapas dessa madeira não possuem acaba-
mento, por isso podem receber qualquer tipo de
revestimento em uma ou ambas as faces, são bas-
tante empregadas na fabricação de móveis de baixa
qualidade montados com cavilhas e/ou cola, uma
vez que a utilização de pregos ou parafusos não é
recomendada, pois a chapa pode rachar com muita
facilidade. As chapas têm custo baixo, porém, apre-

187
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Processos em Madeira

188
DESIGN

Caro(a) aluno(a), após conhecermos as proprie- • Ações de raios ultravioleta: as madeiras ex-
dades e as classificações desse material natural tão postas ao tempo devem receber tratamento
amplamente utilizado para desenvolvimento de com substâncias penetrantes com aditivos
produtos, agora vamos estudar quais os processos que absorvem os raios UV.
de preparação e fabricação são empregados nas ma- Assim, fica claro que, para cada tipo de madeira,
deiras, sejam elas maciças ou transformadas, como dependendo de qual será a finalidade dada a ela,
vimos no tópico anterior. é necessário escolher os tratamentos mais apro-
priados, que agregaram valor à peça e ao produto
REVESTIMENTO E ACABAMENTO desenvolvido.
Inicialmente, antes de aplicar o tratamento
Entre os processos desenvolvidos nas madeiras, o principal, deve-se preparar a superfície da madei-
tratamento de revestimento e acabamento são bas- ra para receber o tratamento adequado, garantin-
tante significativos. Além do objetivo de decorar, do, assim, um bom resultado final. Inicialmente,
também servem para proteger o material e melhorar a madeira deve passar pela etapa de lixamento,
suas propriedades, como alteração da estrutura fi- sendo que as lixas devem ser usadas de forma
brosa, aperfeiçoar ou modificar superfícies, além de gradual, da mais grossa à mais fina, e no sentido
intensificar ou suavizar a cor da madeira, auxilian- longitudinal para evitar arranhões transversais às
do na durabilidade do material após aplicação em fibras da madeira.
produtos. Dessa forma, as madeiras podem receber Após lixar, é necessário analisar se não há
diferentes tipos de revestimento e acabamentos. manchas de óleo, graxa ou outros produtos quí-
Segundo Teixeira (1999), o tratamento que será micos, pois esses barram a penetração da subs-
desenvolvido na madeira depende de algumas ques- tância de tratamento pela madeira. Se houver
tões como: furos ou rachaduras, elas podem ser preenchidas
• Textura da madeira: texturas grosseiras por massa corrida acrílica, cimento de madeiras
necessitam ser tratadas inicialmente com e outros. Depois de resolver essas variações, pro-
selador, pois absorvem uma grande quan- cede-se a outro lixamento e remoção do pó que
tidade da substância de acabamento que
se formou e então aplica-se um selador com o
será aplicada;
objetivo de evitar que muitas substâncias pene-
• Tipo e quantidade de extrativos: a presen-
ça de óleos e resinas pode provocar bolhas trem na madeira.
e, consequentemente, amolecer a camada de Após a preparação da superfície, é hora de apli-
acabamento; car de fato o acabamento ou revestimento; são inú-
• Teor de umidade: tanto a retratilidade quan- meras as opções desde polimento com cera, enver-
to a higroscopicidade dos diferentes tipos de nizamento, laqueação, tingimento, clareamento e
madeira podem provocar o surgimento de outros. Vamos conhecer algumas opções das mais
tensões no filme de acabamento depositado utilizadas nas madeiras.
na madeira, causando até trincas, compro-
metendo a qualidade;

189
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Envernização as resinas, que aplicadas em um substrato formam


Envernização é o processo de cobrir alguma super- uma camada ou película transparente que protege
fícies com vernizes. Por sua vez, vernizes são solu- o material. Atualmente, há vários tipos de vernizes
ções naturais, como as gomas, ou sintéticas, como utilizados nas madeiras. Vejamos alguns:

Quadro 2 – Tipos de vernizes

Verniz poliéster Verniz goma-laca Verniz nitrocelulose


• Exige menos demãos que os • Indicado para reparação de
demais vernizes, pois possuem peças antigas ou para peças que • Formado pela mistura de celulo-
um alto teor de sólidos em sua precisam harmonizar com outras se, ácido nítrico e sulfúrico;
composição, assim conseguem já existentes; • É versátil, por isso, é muito usado
cobrir os poros da madeira mais • Superfície fica com acabamento em indústrias moveleiras;
facilmente; brilhoso e lisa; • Tem o acabamento incolor ou
• Forma uma película dura, clara e • É sensível a calor e líquido, sendo tingido;
transparente; facilmente danificado se for ex- • Aspecto brilhoso ou fosco;
• Tem ótima resistência química e posto ao calor ou líquido intenso. • Secagem rápida, boa aderência,
física; resistência e flexibilidade.
• Secagem rápida.
Fonte: Teixeira (1999).

Laqueação substrato. Hoje, existem muitos produtos para tingir


O processo é iniciado pelo lixamento da superfície e, e/ou acentuar coloração de madeira, podendo ser
posteriormente, é aplicada uma resina para deixar a translúcidos e permitir a visualização dos veios na-
madeira bem lisa, uma vez que, por se tratar de uma turais da madeira ou opacos, em que os pigmentos
pintura com brilho, a aplicação requer uma super- bloqueiam tal visualização.
fície sem imperfeições. Essa técnica é uma pintura
muito parecida com a de automóveis. A laca confere Polimento
sofisticação ao móvel, por isso, geralmente, os mó- Em geral, em móveis, o polimento é aplicado com
veis laqueados tem um preço um pouco mais caro cera, pois dá brilho e maciez à madeira. No entanto,
(ZAP, 2014 on-line)3. as impressões digitais podem aparecer facilmente,
além de ser pouco resistente ao calor. Assim, normal-
Tingimento mente, é aplicado em superfícies decorativas, que não
O tingimento consiste em aplicar um tingidor so- são muito manuseadas. A técnica consiste em aplicar
bre um substrato, que pode ser à base de água ou e espalhar com um pano a cera sobre a superfície da
solvente químico. Após a aplicação, a substância lí- madeira. Após a retirada do excesso, forma-se uma
quida evapora e o corante fixa-se na superfície do película esticada e polida (TEIXEIRA, 1999).

190
DESIGN

PROCESSOS DE FABRICAÇÃO

Os processos que conformam a madeira são os máquinas e tecnologias de fabricação, principal-


mesmos quando falamos em madeira maciça ou mente, no que tange à segurança dos operários,
transformadas. Também são bem específicos, uma com as instalações de travas/chaves de seguran-
vez que as madeiras possuem suas particularidades ça, a facilidade para preparação e funcionamento
e limitações, bem diferentes dos demais grupos de das máquinas.
materiais que abordamos até o momento. Podemos observar, na figura a seguir, como é
Nos últimos anos, o setor de marcenaria, área a sequência de operações que as madeiras passam
que manufatura produtos de madeira, fez grandes dentro de marcenarias para o desenvolvimento de
avanços em relação ao desenvolvimento de novas um produto.

Serra de fita

Matéria-prima Desempenadeira Desengrossadeira Tupia

Serra circular

Montagem Acabamento Lixadeira Respigadeira Furadeira

Figura 4 – Sequência de processos para madeira.


Fonte: Lima (2006, p. 109).

As empresas do setor adquirem as madeiras ma- irregulares – em trabalhos artísticos e sofisticados


ciças em formato de pranchas e/ou pranchões. As –, até cortes pesados. A capacidade de serrar cur-
operações iniciam-se com os cortes das madeiras, vas depende da largura da serra e o acabamento do
previamente estudados, para que se aproveite o má- corte depende do desenho dos dentes. A velocidade
ximo do material, sem causar muitos desperdícios. de corte é alta e a produção de serragem varia com o
Os cortes são realizados nas máquinas denominadas tipo da madeira, da serra e da sua afiação.
serras. Vamos conhecer um pouco mais de ambas Algumas serras são compostas com um ade-
(LIMA, 2006). reço chamado carro, que conduz o material até a
serra que se mantém estática. É bastante utiliza-
Serra fita da para peças grandes e pesadas. Devido a suas
A serra fita é usada para realizar qualquer corte em grandes dimensões e flexibilidade, possuem guias
madeira, especialmente aqueles em que é necessário para evitar flexões, sistemas de lubrificação e res-
cortar em linha curva ou reta, desde corte finos e friamento da lâmina.

191
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Serra circular passagem do material. Essas facas rotacionam em


A serra circular também é conhecida como serra de alta velocidade e desbastam as eventuais saliên-
mesa, pois trata-se de uma mesa montada sobre um cias que possam existir.
motor com um eixo conectado à serra circular, onde As desengrossadeiras, como o próprio nome
os dentes se dispõem ao longo de seu perímetro. O sugere, são máquinas que proporcionam a obten-
disco de serra se localiza em um fenda sobre a mesa, e ção de uma espessura desejada. Geralmente, ob-
a madeira a ser cortada é empurrada sobre a lâmina. têm-se espessuras menos grossas para as peças de
A altura da mesa pode ser ajustada, tornando madeira. A desengrossadeira é utilizada especial-
possível cortes de diferentes profundidades. Tam- mente quando a peça necessita de encaixes preci-
bém pode ser inclinada para chanfrar ou fazer corte sos com outras peças.
de 45º, possibilitando que as pontas de madeiras se-
jam unidas, formando um ângulo de 90º. Tupia
A serra circular é utilizada para realizar cortes São máquinas bastante usadas na fabricação de mó-
retos e angulares, para esquadrejamento de madei- veis, por todo o setor de marcenaria e móveis em
ras transformadas, como aglomerados e compensa- geral. Esta máquina permite a obtenção de desenhos
dos. Assim, é um dos maquinários mais necessários nos bordos de peças de madeiras, possibilitando
em uma indústria que trabalha com madeira, pois todos os serviços de rebaixos, molduras, rodapés,
é utilizada para cortar, esquadrejar, serrar, rebaixar, guarnições, tanto em materiais planos ou maciços.
abrir rachaduras e outros cortes. A máquina é do tipo fresadora, possui um eixo
Geralmente, são constituídas de aço com alta vertical, em uma de suas extremidades é instalada
resistência à fadiga e com elasticidade adequada uma fresa, que usina os perfis de madeira, conse-
para evitar trincas. Os dentes são muito resistentes guindo desenvolver um grande número de trabalho.
ao desgaste; alguns com revestidos ainda mais du- Os profissionais que trabalham com essa máquina
ros. Apesar de ser muito eficiente, a serra circular devem tomar cuidado, pois é considerada muito pe-
tem a limitação em relação à espessura do material rigosa, devido à alta velocidade de rotação do eixo
a ser cortado, devido ao diâmetro da serra ser até de e, também, a fresa girar acima da mesa horizontal.
40cm, pois o material não pode ter espessura maior
(TEIXEIRA, 1999). Furadeira, respigadeira e lixadeira
A furadeira é um instrumento muito comum, dis-
Desempenadeira e desengrossadeira ponível em várias formas e tamanhos. Tem como o
Após o corte, as peças precisam de pequenas principal objetivo furar a peça para que aconteça o
correções em relação a empenos e/ou dimensio- encaixe entre peças e se monte um móvel com pa-
namentos, que são ajustados com auxílio de de- rafusos, pregos, cavilhas e outras opções de união.
sempenadeiras e desengrossadeiras. A desempe- A respigadeira tem a função de produzir a re-
nadeira é usada para tornar plana a superfície da pinga e seu respectivo encaixe (negativo), formando
madeira. Para isso, o material passa por um rolo um sistema empregado para a fixação de elementos
composto por facas, dispostas transversalmente à nos mais variados produtos e peças.

192
DESIGN

A lixadeira é usada para um processo que deve


ser desenvolvido após os citados até o momento, que
é o de dar aprimoramento às superfícies, ou seja,
deixar a superfície mais regular, pronta para rece-
ber processos de acabamento. As máquinas de lixar
são várias: de fita, disco, horizontal, vertical e outras
(LIMA, 2006).
Caro(a) aluno(a), após executar todos os pro-
cessos, com os respectivos maquinários que co-
nhecemos neste tópico, é necessário prosseguir
com operações de acabamento e revestimento,
também já vistos. Posteriormente, montar o mó-
vel, uma vez que todas as partes se encontram
devidamente prontas, já que passaram por todas
as etapas e maquinários necessários. Como o(a)
designer de móveis está sempre desenvolvendo
novas e belas opções de produtos, a marcenaria
tem ganhado cada vez mais espaço na vida das
pessoas, por isso é importante conhecer as possi-
bilidades de materiais a serem utilizados.

193
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Compósitos

Caro(a) aluno(a), devido ao avanço acelerado da en- são constituídos atomicamente por agrupamentos
genharia e tecnologia, materiais diferenciados estão diferentes, como é o caso de algumas ligas metálicas.
sendo desenvolvidos. Como resultado, atualmente, Também, há os materiais multifásicos, como a ma-
temos uma nova classe de materiais, denominada deira, tijolos de argila reforçados e plásticos reforça-
compósitos, que será o tema deste tópico. Vamos co- dos com fibra de vidro.
nhecer o que são e como são aplicados. Segundo Smith (1998, p. 767), a definição de
Até o momento, não há uma definição específica materiais compósitos é a seguinte:
para o termo “compósitos”, mas sabemos que o ter-
mo deriva de “compostos”, ou seja, um material que Um material compósito é formado por uma
mistura ou combinação de dois ou mais micro
é constituído/composto por partes diferentes. Ana-
ou macro constituintes que diferem na forma e
lisando a composição de alguns dos materiais que na composição química e que, na sua essência,
vimos até o momento, temos que muitos materiais são insolúveis uns nos outros.

194
DESIGN

O interesse e a importância dessa nova classe de ma-


teriais para a engenharia deriva do fato de que, ao
combinar dois ou mais materiais, é possível obter
um material compósito com propriedades melhores
e superiores do que a propriedade particular de cada
Fase
um dos materiais componentes. dispersa
Assim, para o desenvolvimento dos compósitos,
profissionais da área combinam de modo engenhoso
metais, cerâmicas, polímeros e outros, para desenvolver
uma nova geração de materiais incríveis, criados para
melhorar combinações de características mecânicas às
condições ambientais que tais materiais serão emprega-
dos. Para contextualizar, podemos citar a construção de Fase
matriz
aeronaves de plástico reforçado com carbono, movidas
Figura 5 – Representação esquemática da composição de um material
a motores de cerâmicas que antigamente parecia algo compósito.
impossível e hoje é uma realidade (LESKO, 2004). Fonte: Callister e Rethwisch (2013).

A maioria dos materiais compósitos são compos-


tos por duas fases; uma delas é denominada matriz. Os compósitos são classificados em três divisões:
Essa fase confere estrutura ao material, sendo contí- os reforçados com partículas, reforçados por fibra
nua, e envolve a segunda, chamada fase dispersa. Na e os estruturais. Na Figura 6, temos um esquema
Figura 5, temos uma representação simples, para com- que demonstra essa classificação dos vários tipos
preender melhor a composição desses materiais. de compósitos.

Compósitos

Partículas Fibras Folhas

Reforçado com partículas Reforçado com fibras Estrutural

Partículas Reforçado por Contínuo Descontínuo Painéis em


Laminados
grandes dispersão (alinhado) (curto) sanduíche

Figura 6 – Esquema de classificação dos materiais compósitos.


Fonte: Callister; Rethwisch (2013).

195
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

COMPÓSITOS REFORÇADOS COM PARTÍ-


CULAS

Os compósitos reforçados com partículas são sub- Compósitos reforçados por dispersão
divididos em compósitos de partículas grandes e As partículas desses compósitos são muito menores
compósitos reforçados por dispersão. A diferença do que as partículas grandes. Nesse caso, a intera-
entre as duas subclassificações está no mecanismo ção partícula-matriz acontece em nível atômico ou
de reforço que cada um possui. Nas duas subclassi- molecular. Geralmente, esses materiais têm sua re-
ficações, as partículas devem estar distribuídas por sistência aumentada, uma vez que a matriz aguenta
igual ao longo de toda a fase matriz, para que um a maior parte da carga aplicada sobre o material e
reforço seja eficaz, sendo que as propriedades me- as partículas impedem ou, no mínimo, dificultam
cânicas do material são melhoradas com o aumento os movimentos discordantes que acontecem devi-
do teor de partículas. do à carga. Assim, a deformação plástica do mate-
rial, resistência à tração e dureza são melhorados
Compósitos com partículas grandes (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
A denominação partículas grandes vem do fato de
que a interação entre fase matriz e dispersa não é COMPÓSITOS REFORÇADOS COM FIBRA
tratada em nível atômico ou molecular, mas é con-
siderada a mecânica do contínuo, pois, na verdade, Nesses materiais, a fase dispersa se encontra na forma
o tamanho é considerável. Na maioria desses mate- de fibras e possuem mais importância tecnológica do
riais, a fase particulada é mais dura e rígida do que que os demais compósitos. São usados com o objetivo
a fase matriz. Assim, eles tendem a restringir o mo- de obter maior resistência ou alta rigidez em relação
vimento da fase matriz na vizinhança de cada partí- ao seu peso. As características mecânicas desses ma-
cula, além de absorverem uma parte da tensão que é teriais não dependem somente das propriedades das
aplicada na matriz. fibras, mas também de como a carga aplicada é distri-
Um dos exemplos de produtos pertencentes a buída pelo material. As fibras utilizadas influenciam
essa classificação é o concreto, um compósito de nas propriedades dos compósitos, principalmente na
partículas grandes, em que ambas as fases, matriz resistência e dureza, que são em função de:
e dispersa são materiais cerâmicos. O concreto • Comprimento da fibra.
é um compósito composto por um agregado de • Orientação e concentração das fibras quando são:
partículas ligadas umas às outras em um corpo • Alinhadas e contínuas;
sólido por algum tipo de meio de ligação, isto é, • Alinhadas e descontínuas;
um cimento. • Aleatórias e descontínuas.

196
DESIGN

Assim, fibras alinhadas e de maior comprimento elasticidade em tração aumentado consideravelmente.


proporcionam ao material melhor conjunto de pro- Os CMMs reforçados por partículas, tomando como
priedades. Em relação ao comprimento, é necessário exemplo a liga de alumínio com partículas de alumina
um certo comprimento crítico de fibra para que, de e carbeto de silício, têm o módulo de elasticidade em
fato, exista um efetivo aumento da resistência e um tração e de tração de rotura aumentados. Por isso, são
enrijecimento do material. utilizados no desenvolvimento de componentes de
Caro(a) aluno(a), dentro dessa classe, na qual motores e equipamentos desportivos (SMITH, 1998).
analisamos os compósitos que têm a fase dispersa na Segundo Lesko (2004), os compósitos de matriz
forma de fibra, temos que a matriz pode ser de três metálica apresentam muitas vantagens em relação
materiais distintos: a metálica, polímera ou cerâmi- aos metais monolíticos, que estudamos na Unidade
ca. Vamos conhecer um pouco de cada uma delas II. As vantagens são:
(CALLISTER; RETHWISCH, 2013). • Melhor resistência ao desgaste;
• Melhor resistência à fadiga;
Compósito com matriz metálica (CMM) • Maior resistência/densidade;
Esses materiais têm sido amplamente investigados • Maior rigidez/densidade;
nos últimos anos. Como resultado, tem-se o desen- • Menor expansão térmica;
volvimento de novos materiais, utilizados, principal-
mente, pela indústria aeroespacial e de motores de Apesar das vantagens em relação aos metais monolí-
automóveis, com elevada razão entre resistência/peso. ticos, também existem algumas desvantagens:
Os três principais tipos de reforços desses materiais • Alto custo;
são de fibras contínuas, descontínuas e partículas. • tecnologia recente, precisa ser mais difundida;
As fibras contínuas são as que promovem maior • processamento complexo.
aumento na rigidez do material e resistência mecâ-
nica. Um bom exemplo desse material é o Al-B, uma Tais desvantagens acabam dificultando o uso, sendo
liga de alumínio reforçado por fibras de boro. Para utilizados apenas para casos específicos.
termos uma noção, a adição de 51% em volume de
boro faz com que a tração do material aumente de Compósito com matriz polimérica (CMP)
310MPa para 1417MPa, enquanto a elasticidade vai Os compósitos com matriz polimérica com fibras de
de 69GPa para 231GPa. Uma aplicação é na estrutu- reforço são os mais usados nas mais variadas apli-
ra de peças de fuselagem espacial. cações, devido a suas propriedades à temperatura
Os reforços de fibras descontínuas e partículas ambiente, facilidade de fabricação e custo. Os três
têm sido muito utilizados, uma vez que aumentam a principais materiais possuem reforços com fibra de
resistência mecânica, melhoram a estabilidade dimen- vidro, carbono e aramida, mas também existe o em-
sional e aumentam a rigidez das ligas. Os CMMs re- prego de fibras de boro, carbeto de silício, óxido de
forçados por fibras descontínuas têm seu módulo de alumínio e outros, menos representativos.

197
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Polímeros/fibra de vidro: SAIBA MAIS


Os primeiros compósitos de polímeros foram desen-
volvidos após a 2º Guerra Mundial. É um material No conflito dos EUA com o Iraque, a indústria
com alta resistência e rigidez, porém, leve. Geral- aeronáutica surpreendeu o setor tecnológico
mente, as matrizes são de epóxi ou poliéster, sendo com o lançamento da aeronave F117, constru-
ída em compósitos de fibras de carbono com
reforçadas com fibras de vidro contínuas ou picadas. matrizes epóxi e bismaleimida, apresentando,
Os vidros usados são vários, dependendo do obje- ainda, a característica de baixa detecção por
tivo do uso do material, uma vez que há vidros que radares. A geometria desse avião, associada
ao uso de materiais compósitos e revestimen-
melhoram resistência à corrosão, outros proporcio- tos específicos, que favorecem a absorção
nam maior resistência mecânica, entre outros. Além da radiação eletromagnética na faixa de mi-
de terem custos variados, o que também influencia croondas, ainda hoje são marcos impressivos
de inovação das engenharias aeronáutica e
no uso deles nos compósitos. de materiais.
Esses compósitos podem ser usados em muitos
Fonte: Rezende e Botelho (2000)
casos, como em cascos de barcos, vasos de pressão,
equipamentos esportivos, acessórios de cozinha e
banheiro, assentos, painéis internos de carros e ou-
tros (ASHBY; JOHNSON, 2011). Compósito com matriz cerâmica (CMC)
Há grande investimento no desenvolvimento de
Polímeros/fibra de carbono: materiais compósitos com matriz cerâmica, uma
Possuem matriz de epóxi ou poliésteres e reforço vez que esses materiais apresentam propriedades
de fibras de carbono, que conferem ao material mecânicas, como tenacidade e resistência bem me-
resistência, rigidez muito alta e baixa densidade. lhores do que cerâmicas sem reforços. Assim como
Assim, são bem leves, mais do que os com fibras os CMM, também possuem as matrizes reforçadas
de vidro. Atualmente, são encontrados em muitos com fibras contínuas, descontínuas e partículas.
componentes e produtos, mas são aplicados prin- No caso dos CMCs reforçados com fibras con-
cipalmente em artigos esportivos e componen- tínuas, temos, principalmente, as de carboneto de
tes aeroespaciais, sendo utilizados cada vez mais silício e as de óxido de alumínio, aplicadas em vá-
para substituir o alumínio em estruturas de naves rios produtos, como em tubos de permutadores de
para reduzir peso. calor, sistemas de proteção térmica e outros mate-
Apesar de excelente performance, boa resistên- riais que necessitam de resistência a situações de
cia à fluidez, à fadiga, ter baixa dilatação térmica, erosão e corrosão.
baixo coeficiente de atrito e desgaste, amortecer vi- Os CMCs reforçados com fibras descontínuas e
brações e estabilidade ambiental, devido ao carbo, partículas têm um aumento significativo na tenaci-
tem o custo mais elevado e assim acaba tendo seu dade à fratura do que os materiais cerâmicos mono-
uso limitado (ASHBY; JOHNSON, 2011). líticos, que vimos na Unidade III. Tais materiais têm

198
DESIGN

outra vantagem interessante, que é a possibilidade Materiais revestidos


de poderem ser fabricados com processos usuais de A disposição também é em sanduíche, na qual o ma-
fabricação, como a prensagem isostática a quente, o terial tem um núcleo metálico e é revestido por ca-
que facilita a fabricação deles (SMITH, 1998). madas exteriores de outro metal ou outros metais.
Geralmente, as camadas externas são menos espessas
COMPÓSITOS ESTRUTURAIS e aderem por laminagem a quente no material do nú-
cleo. Esses materiais têm várias aplicações na indús-
Na engenharia dos materiais, é comum materiais tria; um exemplo é a moeda de 10 cêntimos e 25 cên-
compósitos serem constituídos por um material timos nos EUA, que possuem revestimento em liga
central, ensanduichado entre duas camadas exterio- de Cu-25%Ni, protegendo o núcleo da moeda que é
res mais finas. São os chamados compósitos estru- constituído de um cobre mais barato (SMITH, 1998).
turais. Caro(a) aluno(a), vamos conhecer um pouco
dos dois principais compósitos.

Estrutura em sanduíche de ninho de abelha


É um dos principais materiais de construção na in-
dústria aeronáutica e está presente na maioria dos
aviões. Grande parte desse material utiliza alumínios
ou polímeros fenólicos reforçados com fibra de vidro.
Nesse caso, os painéis de ninho de abelha em alumí-
nio são fabricados por colagem de chapas exteriores,
em ligas de alumínio, a uma placa central, também
em liga de alumínio. Assim, permite obter um painel
sanduíche, bastante rígido, resistente e leve.

199
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

Novos Materiais
Caro(a) aluno(a), atualmente vivemos no que po- Essa evolução tão nítida na área dos materiais
demos chamar de “revolução de novos materiais”. é resultado do processo de difusão de muitas ino-
São milhares as pesquisas para o desenvolvimento vações tecnológicas que, por sua vez, são frutos do
de novos materiais, sem considerar a quantidade de desenvolvimento da ciência e da tecnologia dos ma-
materiais já desenvolvidos e que hoje se encontram teriais presentes em laboratórios de universidades,
no nosso meio, constituindo os produtos que utili- governos e indústrias, ou seja, é o sucesso de uma
zamos no nosso dia a dia. parceria entre a produção industrial e pesquisas, que

200
DESIGN

possibilitaram o desenvolvimento de novos produ- materiais esportivos dá um valor tão alto ao desem-
tos e processos (MEDINA; NAVEIRO, 1998). penho, que adota facilmente quaisquer novos ma-
Além do desenvolvimento de muitos mate- teriais que possam oferecer novo ganho (ASHBY;
riais, outro aspecto que chama bastante atenção é JOHNSON, 2011).
o progressivo abandono do termo “multiuso”. An- A questão ambiental tem influenciado forte-
teriormente, o mesmo material era utilizado por mente a realidade do desenvolvimento de materiais.
inúmeros produtos. Hoje, o objetivo é desenvolver Além de custos, desempenhos e riscos, a questão
materiais que possam representar várias opções ambiental é hoje um ponto de grande importância.
para um mesmo produto. Assim, também há uma Nesse contexto, a seleção dos materiais e seu pro-
grande variedade de descobertas e redescobertas cesso de manufatura podem ter efeitos negativos,
de propriedades dos novos usos e da variedade de como: depredação de recursos naturais, poluição,
aplicações do novos materiais, para que se tenha refugos, consumo de energia em excesso e outros.
muitos materiais alternativos para substituir aque- Assim, além de melhores características, proprie-
les utilizados tradicionalmente. dades e desempenho, no geral é necessário também
Apesar do desenvolvimento acelerado de mate- desenvolver/encontrar materiais com boa recicla-
riais, não podemos dizer que o processo seja sim- bilidade, fáceis de desmontar e que o processo não
ples. Pelo contrário, inúmeras questões estão envol- gere subprodutos que agridam o meio ambiente.
vidas no desenvolvimento de um novo material. As Caro(a) aluno(a), se, antigamente a demanda
tecnologias e os materiais são apresentados aos pou- para o desenvolvimento de novos materiais vinha
cos ao público. Inicialmente, apresentam “demons- das indústrias militar, aeroespacial e automobilís-
trações” de produtos desenvolvidos com o material tica, hoje, o cenário é outro: as pesquisas de novos
ou tecnologia. Após o primeiro contato, o volume materiais são motivadas e impulsionadas fortemen-
de produção vai aumentando, diminuindo seu pre- te pelo desejo/necessidade em atender cada vez me-
ço no mercado até o momento que se torna familiar lhor o consumidor. Tal fato comprova e evidencia
(ARAÚJO; NAVEIRO, 1999). o trabalho dos profissionais de designer, especial-
Para a adoção de um novo material, é necessá- mente, os(as) designers industriais, que, ao analisar
rio que ele passe por análise de aceitação do risco, o cenário, conhecem as necessidades de aperfeiçoa-
valor do desempenho e o custo da falha. Para que mento de componentes e produtos que favoreçam o
possamos entender melhor, vamos falar do exemplo desempenho dele e, consequentemente, a satisfação
da indústria nuclear. Apesar de valorizar o desem- dos clientes (ARAÚJO; NAVEIRO, 1999).
penho de um material, sabe que o custo da falha é Muitos são os novos materiais desenvolvidos nos
tão grande, que é possível dizer que nenhum mate- últimos anos, como alguns materiais compósitos, ce-
rial novo será usado dentro de um reator nuclear, râmicas avançadas, polímeros biocompatíveis e tan-
ou seja, o custo da qualificação desse material é ex- tos outros. Agora, vamos conhecer alguns novos ma-
tremamente alto. Em contrapartida, a indústria de teriais específicos que foram criados recentemente:

201
MATERIAIS E PROCESSO DE PRODUTO

1. Espumas de metal: classe de material, que uma espécie de espuma densa que lembra o
ainda não foi totalmente caracterizada, mas isopor. Apresenta características como resis-
são leves, rígidas, possuem baixíssima den- tência ao fogo, vapor e à umidade. Funciona
sidade, boas características de absorção de como isolante térmico, acústico e é 100% bio-
energia e boas propriedades de transferência degradável (TAMANINI, 2013 on-line)4.
de calor. A maioria dos fornecedores desse 4. Plástico que resfria superfícies: esse ma-
produto o fabricam com alumínico, mas o terial consiste em um filme plástico fundi-
uso do cobre, titânio, níquel e aço inoxidável do com pequenas esferas de vidro e foi de-
já podem ser espumados. O processo aconte- senvolvido pelo cientista de materiais da
ce com injeção de ar no metal fundido, que Universidade do Colorado, Xiaobo Yin.
dá origem à espuma. O metal se solidifica em As esferas de vidro usadas têm aproximada-
torno das bolhas de ar, o que pode ser con- mente 8 micrômetros de diâmetro e conse-
trolado para produzir superfícies com diver- guem emitir grande parte da energia absor-
sas aparências. As vantagens é que podem ser vida do ambiente. Assim, juntando as esferas
usadas em estruturas, não são inflamáveis e de vidros e o plástico, conseguiram desen-
podem ser facilmente recicladas. volver um filme que absorve apenas 4% dos
2. Ligas memória de forma: grupo de metais fótons que vêm do sol (MEGACURIOSO,
que possui a capacidade de voltar a alguma 2017, on-line)4.
forma definida anteriormente quando são
aquecidos ou novamente resfriados. Isso Caro(a) aluno(a), como já foi dito no início do tó-
acontece, pois possuem uma estrutura cris- pico, há uma enorme variedade de novos materiais
talina de martensítica termoelástica, per- desenvolvidos e/ou que estão em fase de pesquisa.
mitindo que a liga seja deformada por um Assim, torna-se impossível citar todos. Dia após
mecanismo de torção abaixo da temperatura dia, chegam ao mercado novas opções de materiais.
de transformação, sendo que a deformação é
No entanto, cabe ao profissional de design ficar
revertida quando a estrutura volta à fase ori-
atento a empresas e laboratórios que desenvolvem
ginal. Além de tal característica, o material é
resistente à corrosão, é biocompatível, possui as pesquisas, pois sempre há novas opções que po-
elasticidade e transmissão de força; assim, dem agregar muito na fabricação de componentes
são promissores na área de aplicação biomé- e produtos.
dica (ASHBY; JOHNSON, 2011).
3. “Plástico” à base de fungos: a empresa Eco- REFLITA
vative, de Nova York, vem desenvolvendo
testes com um composto chamado “micé-
lio”, um filamento que serve de mecanismo Precisamos de um sistema no qual os fabri-
cantes de materiais possam difundir suas
de sustentação e absorção de nutrientes para
ideias diretamente àquelas pessoas que po-
os fungos. O micélio é desenvolvido de ma- dem aplicar a necessária imaginação para
neira muito rápida e forma uma rede densa utilizar suas propriedades.
que, posteriormente, é aquecida a altíssimas
temperaturas. Resultado desse processo é

202
considerações finais

C
aro(a) aluno(a), nesta última unidade do nosso livro, conhecemos e
estudamos o principal material natural utilizado atualmente, que é a
madeira, os materiais compósitos e os novos materiais. Assim, con-
seguimos conhecer um pouco dos outros materiais, que não estão
inseridos nos três principais grupos (metais, cerâmica e polímeros), e enten-
der as principais características que influenciam sua utilização no desenvol-
vimento de produtos.
O principal material da classe dos materiais naturais é a madeira; hoje comu-
mente utilizada em vários setores, principalmente para a fabricação de móveis e
outros. Sabemos que há um grande cuidado quando se trata de madeira, uma vez
que deve ser evitado o uso de madeiras nativas. No entanto, atualmente, além das
madeiras maciças, também há as madeiras transformadas.
As madeiras transformadas revolucionaram o setor de produtos de madeiras,
uma vez que ficaram muito mais acessíveis, com melhores propriedades e de fá-
cil processamento para desenvolvimento de produtos. Assim, a grande maioria
das marcenarias conformam as madeiras, utilizando praticamente os mesmos
maquinários, que conseguem transformar satisfatoriamente madeiras em bons
e duráveis produtos.
Os compósitos são uma importantíssima classe de materiais, além de se-
rem mais recentes e específicos do que os demais discutidos neste livro. São
materiais compostos de dois ou mais componentes diferentes, apresentam pro-
priedades melhores e superiores do que a propriedade particular de cada um
dos materiais componentes. Têm sua utilização cada vez mais ampliada e um
ótimo desempenho.
Por fim, abordamos um pouco sobre os novos materiais, que a cada dia apare-
cem como uma novidade no mercado, provenientes de pesquisas que têm como
objetivo encontrar materiais cada vez melhores para determinadas aplicações,
ou melhor, desenvolver materiais que possam representar várias opções para um
mesmo produto. É o futuro que vai chegando a cada novo material.

203
atividades de estudo

1. Qual das alternativa a seguir não pode ser classificada como uma madeira
transformada?
a) Madeira reconstituída.
b) Madeira compensada.
c) Madeira maciça.
d) Madeira aglomerada de partículas.
e) Madeira MDF.

2. Assinale as afirmações a seguir, sobre processos de melhoria e acabamento,


em verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) Os processos que conformam a madeira são os mesmos quando falamos em
madeira maciça ou madeiras transformadas.
( ) Os tratamentos de revestimento e acabamento são importantes, pois além de
decorar também protegem o material e melhoram suas propriedades.
( ) A utilização de madeiras nativas é aconselhada, uma vez que, posteriormente,
há possibilidade de reflorestamento.

Assinale a alternativa correta:


a) V; V; F.
b) F; F; V.
c) V; F; V.
d) F; F; F.
e) V; V; V

3. Explique qual a diferença estrutural entre os compósitos reforçados com par-


tículas e aqueles reforçados com fibra.

204
atividades de estudo

4. Em relação aos materiais compósitos, é correto afirmar que:


I - São classificados em compósitos reforçados com partículas, compósitos
reforçados por fibra e os compósitos estruturais.
II - O comprimento, orientação e concentração das fibras não influenciam nas
propriedades do material que compõem, apenas a natureza do material
que a fibra é constituída.
III - São compostos por duas fases: uma fase é denominada “matriz”, que é
contínua e envolve a segunda, denominada fase “dispersa.
IV - Nos compósitos reforçados por fibras, há três principais tipos de reforços:
fibras contínuas, descontínuas e partículas.

Assinale a alternativa correta:


a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

5. Qual das afirmações s seguir está incorreta?


a) A questão ambiental tem influenciado fortemente a realidade do desenvol-
vimento de novos materiais.
b) Atualmente, a demanda de desenvolvimento de novos produtos vem, ape-
nas, das indústrias automobilísticas, militar e aeroespacial.
c) Materiais compósitos, cerâmicas avançadas, polímeros biocompatíveis, es-
puma de metal são exemplos de novos materiais.
d) Para a adoção de um novo material, é necessário que ele passe por análise
de aceitação do risco, valor do desempenho e o custo da falha.
e) As tecnologias e os novos materiais são apresentados aos poucos ao públi-
co; inicialmente, apresentam “demonstrações” de produtos desenvolvidos
com o material para, posteriormente, lançarem a venda desse material.

205
LEITURA
COMPLEMENTAR

Os nanocompósitos – compósitos compostos por partículas com nano dimensões em al-


gum tipo de matriz – são um grupo promissor de novos materiais, que irão, sem dúvida,
tornar-se parte de algumas de nossas tecnologias modernas. De fato, um tipo de nanocom-
pósito está sendo usado atualmente em bolas de tênis de alto desempenho. Essas bolas
retêm a pressão original e quicam por duas vezes mais tempo do que as bolas convencio-
nais. A permeação do ar através da parede da bola é inibida por um fator de dois, devido
à presença de uma barreira de revestimento flexível e muito fina de nanocompósitos, que
cobre o núcleo interno. Devido às suas características excepcionais, as bolas tipo Double
Core (núcleo duplo) foram escolhidas recentemente como as bolas oficiais para alguns dos
principais torneios de tênis.
Esse revestimento de nanocompósito consiste em uma matriz de borracha butílica, no inte-
rior da qual existem finas plaquetas de vermiculita, um mineral natural à base de argila. As
plaquetas de vermiculita existem como finas lâminas monomoleculares. Além disso, as pla-
quetas de vermiculita são esfoliadas, ou seja, elas permanecem separadas uma das outras.
Adicionalmente, no interior da borracha butílica as placas de vermiculita estão alinhadas
de maneira tal que todos os seus eixos laterais de dispõem no mesmo plano e, ao longo de
toda essa barreira de revestimento, existem múltiplas camadas dessas plaquetas.
A presença das plaquetas de vermiculita é responsável pela habilidade de o revestimento
de nanocompósito reter mais efetivamente a pressão do ar no interior das bolas de tênis.
Essas plaquetas atuam como barreiras multicamadas contra a difusão das moléculas de
ar, reduzindo a taxa de difusão, ou seja, o comprimento do percurso de difusão das molé-
culas de ar é aumentado de maneira significativa, uma vez que as moléculas de ar devem
desviar-se dessas partículas enquanto se difundem pelo revestimento. Além disso, a adição
das partículas à borracha butílica não diminui sua flexibilidade.
Antecipa-se que esse tipo de revestimento também possa ser aplicado em outros tipos de
equipamentos esportivos como em bolas futebol, de futebol americano, pneus de bicicleta,
assim como em pneus de automóveis, que seriam mais leves e mais recicláveis.

Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013, p. 564).

206
material complementar

Indicação para Ler

Design e materiais
Joselena de Almeida Teixeira
Editora: CEFET-PR
Sinopse: A obra traz de forma muito abrangente e específica as características,
propriedades e aplicações dos diversos materiais existentes nos dias de hoje
agregando ainda a esses materiais a melhor forma de aplicação desses a um
projeto de design, para que, dessa forma, haja um melhor aproveitamento do
produto e um aumento da vida útil desse mesmo produto devido ao uso cor-
reto dos materiais.

207
referências

ASHBY, Michael; JOHNSON, Kara. Materiais e design: arte e ciência da seleção


de materiais no design de produto. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 346 p. v. 1.
ARAÚJO, Marcelo Ribeiro; NAVEIRO, Ricardo Manfredi. Desenvolvimento de
novos materiais e novos produtos na indústria automobilística. Rio de Janeiro:
UFRJ, 1999.
CALLISTER, William D.; RETHWISCH, David G. Ciência e engenharia de ma-
teriais: uma introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013. 816 p. v. 1.
GALLIO, Ezequiel; SANTINI, Elio José; GATTO, Darci Alberto; SOUZA, Joel
Telles; RAVASI, Roger; MENEZES, Walmir Marques; FLOSS, Paulo Alfonso;
BELTRAME, Rafael. Caracterização tecnológica da madeira de Eucalyptus ben-
thamii Maiden et Cambage. Sci. Agrar. Paraná. Marechal Cândido Rondon, v.
15, n. 3, p. 244-250, jul./set., 2016.
LESKO, Jim. Design industrial: materiais e processos de fabricação. São Paulo:
Edgard Blücher, 2004. 277 p. v. 1.
LIMA, Marcos Antonio Magalhães. Introdução aos materiais e processos para
designers. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006. 237 p. v. 1.
MEDINA, Heloisa V.; NAVEIRO, Ricardo Manfredi. Materiais avançados: novos
produtos e novos processos na indústria automobilística. Prod. [on-line]. Belo
Horizonte, v. 8, n. 1, p. 29-44, 1998.
NASSUR, O. A. C. Variabilidade das propriedades tecnológicas da madeira de
Toona ciliata M. Roem. com dezoito anos de idade. 2010. 84 f. Dissertação (Mes-
trado em Ciência e Tecnologia da Madeira) - Programa de Pós-Graduação em
Ciência e Tecnologia da Madeira, Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2010.
REZENDE, Mirabel C.; BOTELHO, Edson C. O uso de compósitos estruturais na
indústria aeroespacial. Polímeros: Ciência e Tecnologia, v. 10, n. 2, p. 4-10, 2000.
SMITH, Willian F. Princípios de ciência e engenharia de materiais. 3. ed. Lisboa:
McGraw-Hill, 1998. 892 p.
TEIXEIRA, Joselena Almeida. Design & materiais. Curitiba: Cefet, 1999. 324 p. v. 1.
ZENID, Geraldo José. Madeira: uso sustentável na construção civil. 2. ed. São
Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas: SVMA, 2009.

208
referências

Referências on-line:

1 Em: <https://www.lojaskd.com.br/blog/o-que-mdf-mdp-madeira-macica/>.
Acesso em: 18 maio 2018.
2 Em: < https://www.gparquiteturaeinteriores.com/single-post/2015/10/30/
Qual-a-diferen%C3%A7a-entre-MDF-MDP-aglomerado-compensado-
-e-OSB>. Acesso em: 12 out. 2017.
3 Em: <https://revista.zapimoveis.com.br/saiba-tudo-sobre-laqueacao-de-mo-
veis/>. Acesso em: 18 maio 2018.
4 Em: <https://www.megacurioso.com.br/novos-materiais/36829-supermate-
rial-feito-a-base-de-fungos-pode-substituir-o-plastico.htm>. Acesso em: 21
maio 2018.
5 Em: <https://www.megacurioso.com.br/novos-materiais/101959-novo-plas-
tico-e-capaz-de-resfriar-tudo-o-que-toca-em-ate-10-c.htm>. Acesso em: 21
maio 2018.

209
gabarito

1. C.
2. A.
3. Nos compósitos reforçados por fibras, a fase dispersa se en-
contra, literalmente, na forma de fibras que podem estar ali-
nhadas e contínuas, alinhadas e descontínua ou, ainda, aleató-
rias e descontínuas. Já os compósitos reforçados por partículas
têm a fase dispersa na forma de partículas, que são subdividi-
dos em compósitos de partículas grandes e compósitos refor-
çados por dispersão.
4. D.
5. B.

210
DESIGN

conclusão geral

A evolução dos materiais e processos de fabricação conteúdos desenvolvidos desses temas terem a ên-
está diretamente relacionada ao desenvolvimento da fase na engenharia, é preciso incentivar que os de-
humanidade, ou seja, à medida que o homem, com signers também produzam conteúdo sobre o tema,
seus estudos e ciência, evoluiu, nascia a necessidade com uma linguagem mais próxima das suas realida-
do desenvolvimento dos materiais existentes, de no- des, compartilhando conhecimento.
vos materiais e, também, dos métodos de fabricação. A evolução dos materiais e métodos é constante
Conhecer os materiais e os processos disponí- e está acontecendo neste exato momento em vários
veis é imprescindível para os profissionais de de- lugares do mundo. Cabe a nós acompanhar e torcer
sign, uma vez que as características e propriedades para que, à proporção que evoluímos, consigamos
desses materiais influenciam diretamente o com- encontrar alternativas que, além de serem excelen-
portamento do material e impacto no resultado tes para as características dos produtos, sejam boas
final do desenvolvimento de um produto. Conside- em questões ambientais, econômicas e sociais. Afi-
rar questões como a manutenção do material nos nal, não se deve consumir e desenvolver produtos
meios que será mantido, usado e conservado é de a qualquer custo; precisa-se ter consciência dos im-
igual importância. pactos que tais produtos podem causar na sociedade
Com o desenvolvimento tão rápido dos mate- e que sejam sempre positivos.
riais e processos de fabricação que acompanhamos Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim do nosso li-
nos dias atuais, é necessário que os designers se vro. Espero que o conhecimento passado seja bom e
preocupem e busquem se atualizar a todo momen- muito pertinente para a construção de conhecimen-
to, estudando novas aplicações e revendo conceitos to e carreira que esta desenvolvendo, e que lhes dê
construídos anteriormente. Apesar de a maioria dos base e auxilie em seus projetos futuros.

211

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