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Capítulo 5

[Creta*]
*Ilha do mediterrânico

“Creta era pobre em recursos minerais e não tinha uma localização tão privilegiada para
o trafego marítimo que ia e vinha da Ásia Menor, Síria e Egito.” (p.33)
“A impressão geral é que a Creta neolítica viveu em grande isolamento” (p.34)
“Estamos longe de compreender claramente a evolução da Idade da Pedra para a do
Bronze” (p.34)
“Creta, assim como a Grécia, não tinha nessa época uma cultura uniforme ou
monolítica” (p.35)
“Portanto, embora Creta tenha saído do seu longo isolamento para entrar no complexo
da Idade do Bronze egéia, recebendo influências da Grécia e da Macedônia, das
Cíclades, da Ásia menor principalmente, da Síria e até mesmo do Egito (provavelmente
de maneira indireta), sua história, segundo nos informa os estudos de seus
remanescentes materiais, não é uma história de imitação mecânica, nem de imigrações
extensas, mas a história de uma sociedade que absorveu elementos novos num
desenvolvimento próprio, interno e coerente” (p.36)
‘No transcurso do Minoano Antigo, surgiu, embrionariamente, o único estilo cretense
de arquitetura, com sua estrutura aglutinativa, semelhante a uma célula, que nos séculos
posteriores culminaria no palácio de Cnosso. “(p.36)
“Talvez a mais notável manifestação da originalidade cretense ocorresse no campo da
escrita. (...) Primeiro surgiu um tipo de escrita pictográfica modificada, que Evans,
numa analogia com a escrita egípcia, rotulou de “hieroglífica”. Então, nos primeiros
séculos do Minoano Médio, apareceu uma escrita mais sofisticada, que Evans
denominou de “Linear A”, na qual a maioria dos sinais representava sílabas. (...) Com o
tempo, a Linear A foi substituída em Cnosso pela Linear B.” (p.38)
“As próprias tabulas em argila sobreviveram por acidente. Não eram cozidas antes de
serem usadas e, logo perdiam a utilidade, eram descartadas; foram os incêndios que se
seguiram à destruição dos palácios que preservaram as tábulas porventura em uso no
momento – todas elas datam aquele ano” (p.40)
“ Os textos, em si, são curtos e bastantes limitados, consistindo em um tipo ou outro de
lista, em registros enigmáticos de relação de propriedades, distribuição de ração e coisas
semelhantes. “ (p.40)
“Tudo que podemos dizer, portanto, é que a língua da escrita Linear A pertencia ao
povo que criou a idade áurea minoana, e que a escrita foi inventada originalmente para
essa língua, sendo transferida depois para o grego, a qual não se adequava muito bem.”
(p.41)
“De fato, pode-se argumentar que as necessidades de uma administração centralizada
constituíram um estímulo bem maior para o desenvolvimento da escrita, tanto entre os
sumérios (cuneiforme) como em Creta, do que as necessidades intelectuais ou
espirituais.” (p.41)
“Deduz-se que a sociedade era governada pelo palácio central, que administrava cada
detalhe da economia interna, distribuindo pessoas e bens, desde matérias-primas a
produtos acabados, sem uso de dinheiro ou de um mecanismo de mercado.” (p.42)
“Assim, parece que o palácio de Cnosso detinha um certo monopólio das ovelhas e da lã
nessa região da ilha” (p.42)
“A lã poderia então ajudar a responder um antigo enigma: como os cretenses pagavam
(ou de que maneira obtinham) o cobre, o ouro, o marfim e outras coisas que
importavam?”
“Um outro enigma é o fato de os palácios cretenses serem abertos, complexos “civis”
sem fortificações, em vez de cidadelas propriamente ditas. O contraste com fortalezas
do continentes, tais como Micenas e Tirinta, surpreende qualquer visitante.” (p.44)
“Armamentos, arnases e carros de guerra estão registrados das tábulas em Linear B de
Cnosso, mas não são notavelmente raros em monumentos figurativos de qualquer
natureza e tamanho. São raros inclusive nas sepulturas – só é lícito falar em sepulturas
de guerreiros depois da ocupação da ilha por povos de língua grega vindos do
continente” (p.45)
“(...) Os governantes cretenses não fizeram nada semelhante, nem nos palácios, nem nos
túmulos. Não há nada de majestoso ou central na sala do trono de Cnosso, seja em
relação ao tamanho ou à decoração das paredes. O trono nem sequer distingue-se pela
realeza. Não existe uma única imagem que retrate um evento histórico ou releve uma
atividade administrativa ou judicial, ou qualquer outra manifestação do poder político
em ação.” (p.45)
“Nas cerimônias, enfatizava-se uma epifania, a aparição temporária de uma divindade
em reposta a uma oração, a um sacrifício ou – o que é mais característica e
legitimamente cretense – uma dança ritualística.” (p.46)
“Então, tempos depois, homens vindo do continente grego assumiram, não se sabe
como, o poder em Cnosso e, por meio dele, também o controle de grande parte da Creta
central. A prova definitiva disso é o fato de o idioma das tábulas em Linear B de Cnosso
ser grego.” (p.46)
“No Minoano Tardio II, Cnosso atingiu o ápice de seu poder. (...) Trata-se, portanto, de
uma era relativamente curta, que terminou em catástrofe. Um terremoto talvez tenha
sido uma das causas, mas não explica tudo, pois dessa vez, ao contrário de ocasiões
anteriores, não houve recuperação. A vida em Creta prosseguiu, mas a era do poder e
dos palácios encerra-se definitivamente.” (p.47)

Capítulo 6
[Micênica]

“Numa data que recai no grande período dos palácios, ou seja, quase no final do
Minoano Médio III, por volta de 1600 a.C., ocorreu algo no continente grego que
alterou radicalmente o rumo dos acontecimentos nessa região e, de modo geral, da
história do Egeu. O que aconteceu exatamente continua um mistério, assunto de
especulações infindáveis e controvérsias, mas as consequências visíveis são
suficientemente claras. De súbito, Micenas tornou-se um centro de riqueza e poder, uma
civilização guerreira inigualável na região.” (p.51)
*Micênica era apenas um centro, entretanto, foi o rótulo atribuído (posterior a
antiguidade) a todos os demais centros no continente e nas ilhas.
“O prelúdio extraordinário dessa civilização só é plenamente atestado em Micenas.
Equivale a não mais que dois círculos tumulares” (p.52)
*Círculo tumular B - Data principal: 1600 a.C (Encontrado em: 1876) com cerca de
24 (cistas, túmulos comuns e profundos poços)
*Círculo tumular A – Talvez 1700 a.C (Encontrado em: 1951) com cerca de 6 (apenas
poços)
“(...) primeira, os círculos foram marcados deliberadamente e projetados para serem
importantes; segundo, os objetos funerários eram numerosos, luxuosos e, em parte,
bélicos; terceira, a ideia de deixar lembranças do poder e da autoridade foi concentrada
totalmente nesses túmulos” (p.52)
“Distinguem-se as sepulturas, colocando-se sobre elas lajes de pedra verticais, muitas
delas gravadas com decorações figurativas ou animais, ou cenas militares ou de caça
(mas nunca com um nome ou um retrato, ou alguma ligação imediata com uma
personalidade qualquer, o que está estritamente de acordo com o tradicional anonimato
do poder na Idade do Bronze).” (p.52)
“Após 1300 a.C., no grande projeto de construção da cidadela, o Círculo A foi
abrangido por um muro circular de 900 metros, continuando a ser um terreno
“santificado”, demarcado por um primoroso anel duplo de lajes de calcário.” (p.52,54)
“Tanto os materiais empregados quanto nas habilidades e estilos artísticos, encontram-
se reminiscências e empréstimos feitos às civilizações estrangeiras. Fundamentalmente,
porém, o todo é original em esmero e estilo, uma criação nova dos governantes de
Micenas e seus artesãos” (p.55)
“Quem quer que tenham sido os homens e as mulheres sepultados nesses túmulos
especialmente preparados, estavam no topo da estrutura de poder da comunidade, que
era diferente de qualquer outra que a Grécia já conhecera.” (p.55)
“O carro de guerra foi importado – ou melhor, a ideia, não os veículos em si” (p.55)
“Os túmulos e seus conteúdos revelam um crescimento contínuo das habilidades
técnicas e artísticas e da concentração de poder (...)” (p.55)
“Fora de Micenas, porém (e, com o tempo, em Micenas também), o símbolo visível era
um tipo diferente de câmara funerária, o magnifico tholos – túmulo-colmeia. Tratava-se
de câmaras circulares cavadas em encostas de colina, cujo acesso se fazia por rampa
especial (dromos), sendo cobertas por uma estrutura de pedra, semelhante a um domo,
construída cuidadosamente, em círculos decrescentes, e terminando com um capitel de
pedra sobre a elevação natural da colina.” (p.55)
“Não sabemos, contudo, de que lugar da Grécia eles vieram” (p.58)
“Tampouco sabemos quando e em que parte do continente a escrita surgiu pela
primeira vez, na forma de Linear B.” (p.58)
“ (...) No entanto, nem mesmo hoje temos certeza se a tomada de Cnosso por indivíduos
de língua grega foi seguida por uma submissão real a um poder do continente” (p.58)
“E, de modo geral, esse é o quadro de toda a Grécia. Sabemos que a população crescera
de maneira considerável e agrupara-se em vilarejos, geralmente situados nas encostas
que projetavam acima dos campos agrícolas.” (p.59)
“(...) agora assemelhavam-se mais as cidades-fortalezas medievais do que os complexos
cretenses, abertos e aglutinativos” (p.59, 60)
“Essa ênfase na fortificação e na belicosidade não pode ter sido uma mera questão de
gosto. Algo na situação exigiu isso, da mesma maneira que, presumivelmente não foi
necessária – em Creta.” (p.60)
“Entretanto, as tábulas (Linear B) não apresentam indícios sobre o fator belicosidade,
para o qual devemos tentar extrair implicações a partir da distribuição e do destino das
próprias fortalezas” (p.60)
“Em vários lugares, como, por exemplo, Micenas, Tirinta, Tebas, há sinais de grande
destruição e incêndio nesse período” (p.60,61)
“O quadro resultante dessa análise das tábulas e da arqueologia mostra uma divisão da
Grécia micênica em vários pequenos estados burocráticos, uma aristocracia guerreira,
um artesanato de alto nível, um intenso comércio exterior de produtos necessários
(metais) e artigos de luxo, na melhor das hipóteses, uma condição permanente de
neutralidade armada nas relações de um com o outro talvez, ocasionalmente, com
estados submissos. Nada indica uma supremacia por parte de Micenas.” (p.61)

Capítulo 9
[Esparta]

“Característica notável de Esparta era a relação peculiar entre polis e território – a pólis
de Esparta consistia, ao menos, idealmente, numa única classe de “iguais” ou “pares
(homoioi) que residiam no centro e dominavam uma população relativamente vasta.”
(p.129)
“O maior ponto fraco era o acesso difícil ao mar, o que, estritamente falando, também se
aplica à própria Esparta – o porto utilizável mais próximo era Giteion, 43 km ao sul.
Usado para navios mercantes e como uma pequena base naval.” (p.119)
“Os espartanos propriamente ditos não constituíam um grupo muito numeroso. O maior
contingente militar que eles arregimentaram em suas próprias fileiras foi contra os
persas em Platéia, em 479 a.C. – 5 mil hoplitas. A seu lado e servindo em seu exército
naquela ocasião encontravam-se 5 mil periecos, homens do restante da Lacônia (e talvez
alguns da Messênia) que viviam livremente em suas pequenas comunidades. (...)
Quanto a esses aspectos, eram subordinados a Esparta, obrigados a aceitar a política
espartana e, quando convocados, combater no exército espartano sob a autoridade de
esparta. (...) eram, ao mesmo tempo cidadãos de suas próprias comunidades, dóricos no
dialeto que falavam, (...)” (p.120)
“A origem do sistema hilota em sido tema de especulações infindáveis e pouco
convincentes desde a Antiguidade. (...) Ao longo da maior patê da Antiguidade, quando
se escravizavam uma cidade ou região, o costuma era vender os habitantes e dispersá-
los. Na Lacônia, porém, os espartanos adotaram uma perigosa alternativa de manter
toda a população submissa em sua própria cidade, nos limites de seu território nativo, e
posteriormente (talvez no século VIII) fizeram o mesmo quando conquistaram a
Messênia.” (p.120)
“Por serem privados de liberdade individual, os hilotas eram escravos, mas diferiam de
liberdade em muitos aspectos dos verdadeiros escravos, que eram servos, propriedade
pessoal de seus senhores. Como vassalos do estado espartanos, os hilotas eram
designados a indivíduos, sem liberdade de ir ou vir ou de manter sua própria vida, mas
detendo certos direitos, que geralmente eram respeitados. Sua obrigação básica era
lavrar a terra e cuidar dos pastos dos espartanos a quem serviam, além de ceder metade
do que produziam.” (p.120, 121)
Questão de Taras*
“Grande Retra, preservada por Plutarco (Vida de Licurgo V.I) Numa linguagem
subvertida dentro de um contexto confuso. Seja qual for a interpretação esse texto
breve, que distribui o poder de tomar decisões entre os reis, o conselho dos anciões e a
assembleia de todos os pares, assinala a primeira vez, na história da Grécia, em que a
assembleia popular adquiriu poderes formais, embora limitados. (A Retra não fez
referência aos éforos, que já existiam em Esparta e que mais tarde, em meados do
século VI, tornaram-se o poder executivo mais importante do governo espartano.)”
(p.123)
“Suas vidas, em princípio, eram totalmente moldadas pelo estado e totalmente
dedicadas a ele. Mesmo o poder de decidir se um bebê do sexo masculino deveria ou
não sobreviver foi tirado dos pais e delegados a funcionários públicos. Esse expediente
como tantos outros, servia para minimizar, tanto simbolicamente quanto na prática, os
vínculos de parentesco, reduzindo assim uma das maiores fontes de lealdades
conflitantes. Aos sete anos um garoto era entregue ao estado para receber sua educação,
centrada no valor físico, nas habilidades militares e nas virtudes de obediência.” (p.124)
“Os esparciatas era vedado inclusive o uso de moeda cunhada, e aos estrangeiros
negava-se qualquer acesso à economia, salvo pela mediação dos periecos ou do estado
(...)” (p.124)
“Também a partir da infância os esparciatas eram encorajados a competir entre si: não
em termos intelectuais ou com fim de obter vantagens econômicas, mas sim em
resistência e valor físicos.” (p.125)
“No topo da estrutura governamental estavam os dois reis hereditários, uma instituição
anômala que não é fácil de definir (e a coexistência de duas casas reais desafia qualquer
explicação). Comandavam os exércitos no campo, mas, na cidade, não só careciam do
poder de autoridade real como ainda estavam sujeitos a supervisão dos éforos. (...) Eram
membros ex officio da gerousia, um conselho de trinta anciãos – homens acima dos
sessenta anos, com cargos eletivos vitalício. (...) nem tinham quaisquer prerrogativas,
em suas deliberações, além das de qualquer outro membro. Tampouco presidiam
sessões da assembleia, a qual, embora aparentemente não pudesse iniciar ações ou
mesmo retificar proposições, detinha o voto final em questões políticas básicas. Havia
ainda cinco éforos, eleitos dentre todos os cidadãos e com direito a somente um ano de
mandato, durante o qual tinham amplos poderes de jurisdição criminal e administração
geral.” (p.125)
*Equilíbrio perigoso de poder (com duas casas reais)
“Heródoto, mostra-se quase obcecado por histórias a respeito da suscetibilidade de reis
espartanos á corrupção.” (p.125)
“Segundo Aristóteles (Política 1270 b7-15), geralmente acontecia “desse cargo ser
obtido por homens bastante pobres, cuja falta de recursos levava-os a se venderem”: No
entanto, seu poder era tamanho que até mesmo os reis “viam-se compelidos a cortejá-
los”.” (p.126)
“Além disso, os pares não eram iguais em riqueza. Alguns dispunham de meios até
mesmo para inserirem equipes nas competições olímpicas de biga.” (p.126)
“Autores antigos reconhecem a chave para a política externa espartana foi a presença
dos hilotas. Para mantê-los sob controle. Esparta tinha não apenas preservar a paz no
Peloponeso – pois um estado inimigo poderia instiga-los, se não propositalmente, ao
menos pelo fato de absorver grande parte das energias e do efetivo militares espartanos
(...)” (p.127)
“A política espartana nem sempre foi defensiva e não expansionista, mas a derrota
frente e a Tégea e incapacidade de conquistar Argos parecem finalmente ter dado início
a nova política, em meados do século VI. Guerras e conquistas foram substituídas por
alianças defensivas e pactos de não-agressão, embora naturalmente se tenha empregado
força, quando necessário, para impor alianças e também para preservá-las de defecções”
(p.127)
“Esparta nunca se mobilizou contra as tiranias de Corinto ou Mégara, por exemplo,
embora tenha interferido de modo decisivo para provocar a expulsão de Hípias de
Atenas em 510.” (p.127)
Capítulo 10
[Atenas]
“Em termos geográficos, a região da Ática, com cerca de 1600 km², é tipicamente
grega, menos fértil do que as melhores, tais como Messênia, mas com várias planícies
boas e extensas.” (p.129)
“Atenas era a maior cidade-estado grega em território, depois de Esparta e, ao contrário
desta, acabou se tornando um estado unificado, sem vassalos internos, periecos ou
hilotas. Da mesma forma, todos os homens livres da Ática eram atenienses, quer
vivessem na cidade principal, quer em Maratona, Elêusis ou qualquer outro lugar da
zona rural. As acentuadas desigualdades de classes não se baseavam em distinções
regionais ou étnicas, ocorrendo diversos demos ou distritos do estado;” (p.129)
“(...) é necessário principalmente diferenciá-lo da situação da Beócia, mais típica, com
suas dozes cidades-Estados independentes e frequentemente envolvidas em disputas. Os
próprios atenienses tinham consciência que constituíam uma exceção a esse respeito e,
de modo característico, atribuíam a unificação da Ática – ou, na definição deles,
svnokismos – a uma única figura heroica, o rei Teseu, que já conhecemos. Que se trata
de uma explicação mítica (provavelmente do século VI) (...), com um desenvolvimento
político nas Idades do Bronze e das Trevas e finalmente domínio aristocrático, que
acompanhou as formas já descritas para outros estados gregos, afora a normalidade de
tamanho, para qual não dispomos de uma explicação melhor que a mítica.” (p.130)
Atenas era autossuficiente, com produção contínua de cerâmica acima da média*
“Atenas também não participou do movimento de colonização. (...) Com o tempo,
porém, Atenas não pôde escapar à stasis universal da Grécia arcaica, com as mesmas
consequências, os mesmos agrupamentos sociais conflitantes, a mesma necessidade de
um tirano. O monopólio econômico e político das famílias eupátridas. Viu-se ameaçado,
do interior do círculo fechado quanto pelas classes inferiores” (p.131)
*Em 630, Cílon tenta estabelecer a Tirania com apoio de da cidade de Mégara
“(...) os atenienses não tiveram outra alternativa senão admitir, uma geração depois, a
reivindicação popular para que Sólon assumisse o papel de tirano.” (p.131)
“(...) a figura obscura de Drácon. Supõe-se que ela codificado a lei 621 – “um código
escrito com sangue, não com tinta” nas palavras de uma hostil tradição posterior
(Plutarco, Sólon XVII 2), uma tradição notavelmente destituída de dados concretos.”
(p.131)
“O que Drácon provavelmente fez foi escrever em detalhes a lei concernente a
assassinatos. Parte dessa lei ainda vigorosa no final do século V a.C., e pouco sabemos
dela trata principalmente de maneiras para pôr fim à tradicional luta sangrenta entre
famílias. Isso pode ter sido o resultado de matança pós-ciloniana. Que Drácon tenha
codificado todas as leis, porém, certamente não passa de ficção. Esse foi o resultado de
Sólon na geração seguinte.” (p.131)
“Com Sólon temos, pela primeira vez um conjunto de documentação genuína, ainda que
pequeno. Ele próprio foi um escritor razoavelmente prolífico. Abordando temas éticos e
políticos. (...) Sólon expressou-se (..) em poemas que se conservaram por séculos. Ainda
dispomos de algumas citações extensas, o texto original de seu código de leis, inscrito
em tábulas de madeira, foi preservado por muitos anos, (...)” (p.131, 132)
“Sólon era um eupátrida que em 594 foi nomeado arconte, o mais alto cargo do estado,
com poderes plenipotenciários para acabar com a stasis por meio de uma reforma total
das leis e do sistema político. Tanto a escolha de Sólon quanto a forma em que ela se
due são significativas. Em vez de tomar o poder, Sólon foi indiciado para assumi-lo, (...)
A única esperança para um compromisso bem-sucedido estava nas mãos de um
aristocrata que se declarava a favor dos pobres. Sólon, assim nos informam seus
primeiros poemas, atribuíra o ônus da guerra civil à avidez e desumanidade dos ricos, E,
ao que parece, fez isso num pronunciamento público, na ágora.” (p.132)
*Caráter populista de Sólon, podemos cuidadosamente comparar com Getúlio
Vargas.
“Os pobres recompensaram-no pedindo-lhe que se tornasse tirano, Sólon recusou-se,
mas aceitou o arcontado especial, pondo-se por um complicado caminho entre as
exigências do campesinato e a linha dura da nobreza”
*Sólon vai revogar a servidão por dívidas, liberando inúmeros atenienses
escravizados, os que foram vendidos para o exterior, foram trazidos de volta, além
disso, promulgou uma lei que proibia para sempre a prática de hipotecar as
pessoas homens e mulheres. (Cf. 132, 133)
“No aspecto constitucional o equilíbrio necessário era mais complexo, pois nessa esfera
havia conflitos no seio das próprias classes superiores. A investida mais decisiva de
Sólon foi a criação de uma hierarquia formal de posição social, cujo único critério era a
riqueza. De acordo com esse critério, dividiu-se o corpo de cidadãos em quatro classes –
é essencial ressaltar que a riqueza era a avaliada não em termos de dinheiro, mas pela
produção agrícola. Os cargos mais altos , com duração de um ano, restringiam-se à
primeira classe, homens cujas terras produziam quinhentas medidas de seco ou líquidos.
Um desses cargos, o arcontado – ocupado então por Sólon – constituía a porta de
entrada para o Conselho do Areópago, o organismo tradicional de pares vitalícios com
um poder de supervisão geral e indeterminado sobre o estado (semelhante ao senado
romano). As classes seguintes eram elegíveis para os cargos menores e,
presumivelmente, para o novo conselho dos 400 criado por Sólon. A classe restante dos
thetes, dos que não produziam duzentas medidas anuais, limitava-se à assembleia.”
(p.133, 134)
“Rompendo o monopólio dos eupátridas, sem contudo retirar-lhes o poder e a influência
– visto que estes sem dúvidas ainda constituíam a maior parte dos grandes proprietários
de terra. As classes médias, inclusive os soldados hoplitas que possuíam terra suficiente,
recebiam pela primeira vez uma oportunidade de participar no governo, mesmo os
pobres, tantos urbanos quanto rurais, foram reconhecidos como parte ativa do demos
como um todo, apesar de manterem-se uma posição rigorosamente restrita.” (p.134)
“Finalmente, um homem ergueu-se acima de todos eles e conseguiu o que Sólon tentava
evitar. Pisítrato, um aristocrata influente cuja arvore genealógica, segundo ele,
remontava a Nestor, de Homero, e que constara renome numa guerra contra Mégara.
Fez sua primeira tentativa, de acordo com a tradição em 561. Foi expulso algum tempo
depois; voltou a tentar, expulso novamente, até que, em 545, finalmente obteve êxito.
Governou até morrer, em 527, e foi sucedido pelo filho Hipias, cuja tirania terminou
apenas em 510 mesmo assim graças a um exército invasor espartano” (p.135)
“(...) que Heródoto e outros autores sérios posteriores teriam concordado que Pisístrato
fora uma exceção, um “bom tirano” na medida em que a frase não contradissesse a si
mesma. (...) Concordavam também que um dos segredos do êxito de Pisístrato e deu seu
filho constituiu em que nenhum deles alterou a constituição de Sólon, providenciando
apenas para que o arconte eleito anualmente fosse sempre um membro da família ou um
partidário.” (p.135)
*Com fundos das minas de prata do monte Pangeu, consegue contratar uma força
mercenária.
“Seus opositores irreconciliáveis foram mortos ou exilados. Assim protegido, Pisístrato
tinha condição de permitir que a máquina...” (p.135)
“Quanto os espartanos exilaram hipias em 510, uma ala da aristocracia, liderada por
Iságoras, procurou regressar aos bons velhos tempos. Foram derrotados numa guerra
civil de dois anos, após a qual Clístenes reelaborou a constituição e assentou a base
estrutural da democracia ateniense. Nessa tarefa ele certamente recebeu grande ajuda de
um espírito “nacional” para o qual os tiranos haviam contribuído de forma concreta.
Construíram um grande templo para Atena na Acrópole (destruído pelos persas em 480
e posteriormente substituído pelo Partenon) e iniciaram um outro para Zeus Olímpico;
(...) e a competição anual do coros trágicos na Grande Dionísia; patrocinaram as artes
em geral e convidaram poetas e músicos do estrangeiro para a corte de Atenas.” (p.137)
“Isso teria sido mais difícil, quase impossível, se o setor urbano da economia não tivesse
crescido de maneira considerável, proporcionando uma saída para camponeses sem terra
e marginais. Entre outros.” (p.137)
“A grande atenção dada a edificações e festivais públicos constituiu um fator de
crescimento na economia da cidade. (...) A cunhagem ateniense é uma outra evidência:
embora não se saiba exatamente quando Atenas começou a cunhar a prata, a mudança
decisiva para as famosas “corujas”, a única moda grega genuinamente internacional,
ocorreu ou no reinado de Pisístratos ou no de seu filho.” (p.138)
“Os atenienses das gerações seguintes olharam para Sólon como um homem que os
colocara no caminho da democracia, ao passo que Pisístrato e Hípias foram interlúdio
incômodo e não muito respeitável. Todavia, juízos morais e considerações de intenção
ou previsão à parte, o papel histórico dos tiranos parece ter sido igualmente importante
no percursos dos atenienses” (p.138)

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