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NO COMEÇO
LONDRES • NOVA YORK
E assim começou uma nova vida para Helen Darcy, agora Helen Lang.
Dividia o tempo entre a casa da South Audley Street, em Mayfair, e a casa
de campo, Compton Place, perto do mar, em Norfolk. Havia apenas um
senão na sua felicidade. Estava difícil conceber. Quando seu filho Peter
nasceu, pareceu-lhe um milagre, pois já tinha trinta e três anos.
Peter se tornou outra grande alegria de sua vida, e ela teve com a
educação dele o mesmo cuidado que o pai tivera com a sua. O marido
concordou que Peter começasse por frequentar um colégio americano, mas
depois disso teria que concluir os estudos na Inglaterra. Primeiro Eton e
depois a Real Academia Militar de Sandhurst. Era a tradição da família, o
que satisfazia enormemente Peter, pois seu único desejo era ser militar,
como todos os Langs antes dele.
Depois de Sandhurst, veio a Guarda Escocesa, o antigo regimento do
pai, e alguns anos depois uma transferência para o SAS, o Special Air
Service, pois herdara as capacidades linguísticas da mãe. Prestou serviço na
Bósnia, na Guerra do Golfo e na Irlanda do Norte, onde seu jeito para
dialetos o tornou indispensável para agir clandestinamente na luta contra o
IRA.
O medo era real, o fardo imenso, mas Helen o carregava como mulher e
mãe de militar, até que num terrível domingo de março de 1996 seu marido
recebeu uma ligação na South Audley Street e depois, pousando lentamente
o fone, virou-se para ela, subitamente pálido.
— Morreu — disse simplesmente. — Peter morreu. — E caiu numa
cadeira, começando a chorar convulsivamente, enquanto ela segurava a mão
dele e olhava inexpressivamente para o ar.
Se existia alguém que compreendesse o sofrimento de Helen Lang
naquele dia chuvoso no cemitério da Igreja de St. Mary and All the Saints,
perto de Compton Place, esse alguém era seu motorista, Hedley Jackson,
que permaneceu atrás dela e de sir Roger, impecável no uniforme cinza,
segurando um amplo guarda-chuva sobre ambos.
Tinha um metro e noventa e cinco e era originário do Harlem. Com
dezoito anos, ingressara nos Marines e fora para o Vietnã, terminando o
conflito com três condecorações: uma Silver Star e dois Purple Hearts. Em
seguida, foi destacado para a segurança da Embaixada Americana em
Londres e conheceu uma garota de Brixton que era governanta dos Langs
na South Audley Street. Casaram-se, Hedley deixou o serviço e foi
contratado como motorista dos Langs, morando ambos no espaçoso
apartamento do porão. Tiveram um filho. Posteriormente, uma tragédia:
numa batida em cadeia de vários veículos na North Circular Road, a mulher
e o filho de Jackson tiveram morte imediata.
Lady Helen segurou a mão dele no crematório, e quando ele
desapareceu da South Audley Street, ela o caçou de bar em bar por toda
Brixton até que o encontrou encharcado em álcool e com ideias suicidas.
Levou-o então para Compton Place e, lenta e pacientemente, acarinhou-o,
até ele recuperar a sanidade.
Dizer que ele lhe era dedicado era eufemismo. Seu coração sangrava
por ela, especialmente porque as palavras de Sir Roger, “Peter morreu”,
escondiam uma verdade terrível. A bomba que o IRA plantou no veículo que
matou o filho dos Langs era de tal potência que não restou um pedaço
sequer do corpo, e eles só puderam chorar seu nome gravado no jazigo de
família.
“Descanse em paz”, pensou Lady Helen fitando a inscrição com o nome
de Peter. Supostamente, ele morrera pela paz. A Paz na Irlanda do Norte, e
aqueles canalha o destruíram. Sem deixar vestígio dele. É como se ele
nunca tivesse existido, pensava, incapaz de chorar. Não podia ser justo. Não
existe justiça, nenhuma justiça.
— Eu sou a ressurreição e a vida, disse o Senhor — entoou o padre.
Helen sacudiu a cabeça. “Não, eu já não acredito, pelo menos enquanto
o mal na Terra continuar impune.” Virou-se e abandonou o funeral, levando
o marido.
Hedley os seguiu com o chapéu aberto acima deles.
O pai de Helen, que não pôde ir ao enterro porque estava doente,
morreu pouco depois, deixando-a multimilionária. Os diretores que
controlavam os muitos ramos da empresa eram de confiança, encabeçados
por seu primo, portanto, tudo em família. Helen se dedicou exclusivamente
ao marido, mas ele estava destroçado e morreu um ano depois do filho.
Quanto a Helen, ocupou-se com a beneficência, passando muito tempo
em Compton Place, o que constituiu sua salvação. A pouco mais de um
quilômetro da costa, essa área de Norfolk ainda era uma das mais rurais da
Inglaterra, semeada de veredas estreitas e tortuosas e pequenas aldeias.
Desde a primeira vez que Roger a levara lá ficara encantada com as
marinhas e dunas de areia e pelos grandes areais úmidos que ficavam a
descoberto na maré baixa. Adorava caminhar ou andar de bicicleta ao longo
dos diques que atravessavam os grandes caniçais. Sentia sempre uma
energia renovada quando respirava a maresia.
A casa, apesar do estilo Tudor, era essencialmente georgiana, com
algumas adições posteriores. Helen tinha uma empregada, Mrs. Smedley, e
uma mulher da aldeia ajudava na limpeza. Era uma existência calma e
organizada que permitiu a Lady Helen voltar à vida. Ia à igreja todos os
domingos de manhã, e Hedley se sentava no banco do fundo, envergando
sempre seu impecável uniforme. Às vezes, à noite, Lady Helen ia ao pub da
aldeia tomar um ou dois drinques, e Hedley a acompanhava.
Assim, apesar de ter perdido o sabor, sua vida podia ter sido pior, até
que um dia Lady Helen recebeu um telefonema inesperado.
— Helen, é você? — A voz era fraca, mas de certa forma familiar.
— Sim. Quem fala?
— Tony Emsworth.
Ela se lembrava bem do nome: tinha sido oficial subordinado do marido
e mais tarde se tornara subsecretário de Estado no Foreign Office. Já não o
via há algum tempo. Devia ter agora uns setenta anos. Não estivera no
funeral de Peter nem no do marido. Na hora, Helen considerara o fato
estranho.
— Ora, Tony — cumprimentou. — Onde você está?
— Em casa. Agora vivo numa aldeola chamada Stukeley, em Kent. Fica
a pouco mais de quarenta quilômetros de Londres. O que ocorre, Helen, é
que temos que conversar. É uma questão de vida ou morte. — Foi
acometido por um ataque de tosse. — Mais precisamente, da minha morte.
Câncer de pulmão. Não me resta muito tempo de vida.
— Lamento muito, Tony.
Ele tentou gracejar.
— Eu também. — Havia agora um tom de urgência em sua voz. —
Helen, precisa vir aqui. Tenho que me livrar de um fardo, de uma coisa que
deve ouvir. — Voltou a tossir.
Ela esperou que passasse e depois replicou: — Está bem, Tony, não se
preocupe. Vou para Londres esta tarde, passo lá a noite e vou ver você
amanhã de manhã o mais cedo possível. Combinado?
— Ótimo. Fico esperando. — Desligou o telefone.
Helen atendera a ligação na biblioteca. Ficou ali parada, testa franzida,
depois abriu uma cigarreira de prata, tirou um cigarro e acendeu. Tony
Emsworth. A voz fraca, a tosse... tinha ficado impressionada. Recordava-se
dele como um galante capitão da Guarda. Pensar nele reduzido àquilo que
acabara de escutar não era agradável.
Mas havia outra razão secreta para ela estar agitada, uma coisa que nem
Hedley sabia. Dores ocasionais no braço e no peito a obrigaram a sossegar.
Consultara recentemente um dos melhores médicos da Harley Street, que a
mandara fazer exames na London Clinic. Problemas cardíacos, claro.
Angina de peito.
— Não há necessidade de se preocupar — dissera o médico. — Basta
tomar os comprimidos e não se esforçar demais. Nada de caçar raposa nem
coisas do tipo.
— E nem mais um destes — disse baixinho enquanto apagava o cigarro
com um sorriso forçado, recordando-se de que andava há meses fazendo
essa recomendação a si mesma.
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1 UVF: Força de Voluntários do Ulster; LVF: Força de Voluntários
Ao ver o táxi virando para as docas, Dillon estacionara numa rua lateral
e se aproximou o máximo possível a pé. Depois, voltou correndo ao Land
Rover e sentou-se ao volante.
— Foi transferido. Ford Transit branca — disse ele a Hannah, e
instantes depois seguiam o veículo no meio do trânsito de fim de tarde.
A chuva não parava e com a noite caindo ficou óbvio que estavam
saindo da cidade. Chegaram a uma obra de estrada com luzes temporárias e
o trânsito passou de duas faixas para uma.
— Maldição! — exclamou Hannah.
— Abra a caixa, garota. Sem problema.
Hannah, que tinha a valise no colo, abriu a tampa e começou a trabalhar.
O mapa era claro. Na frente deles, a Ford Transit tinha desaparecido, mas
isso não importava: foi detectada imediatamente no visor. O tempo ia
passando e continuavam indo para norte.
— Aonde diabos estamos indo? — perguntou Hannah.
— Bem, a costa de Antrim é perto. Que tal Spanish Head?
— Mas isso é uma loucura. Você disse que agora é patrimônio do
National Trust.
— E é, mas esses lugares só abrem ao público a partir da Páscoa. Fique
atenta ao visor e logo veremos.
A Ford Transit seguia por uma estrada costeira. A chuva tinha parado e
no céu tempestuoso erguia-se uma meia-lua. Viraram finalmente para uma
estrada lateral, detendo-se num portão. Uma placa dizia: SPANISH HEAD •
PATRIMÔNIO NACIONAL.
Havia uma casinha com luz numa janela. Bell tocou a buzina, abriu-se
uma porta e apareceu um velho, que hesitou, mas Bell gritou: — Abra o
maldito portão, Harker, e nos deixe entrar.
O velhote abriu remexeu num painel, o portão abriu e Bell entrou de
carro.
Pelo vidro traseiro da van, Johnson viu um castelo sobre rochedos
íngremes, com torres e ameias, um conjunto espetacular. Só quando se
aproximaram é que ele reparou que era apenas uma grande casa de campo
construída ao estilo gótico do século XIX. A Transit parou, Bell desceu e
abriu as portas traseiras.
Johnson seguiu Daley para o exterior e viu que estava num pátio.
— Por aqui, Mr. McGuire — disse-lhe Daley.
Bell abriu uma porta de carvalho maciço e o levou para dentro. Havia
um enorme saguão de entrada com chão de pedra, lareira e tapeçarias na
parede.
Daley subiu uma escadaria ampla, e Johnson o seguiu, com Bell atrás.
Percorreram um longo corredor com quadros de ambos os lados, até que por
fim Daley abriu uma grande porta de mogno. Entraram numa biblioteca.
Havia mais quadros, toras ardendo numa grande lareira e janelas abertas de
par em par. Um homem olhava para fora com um copo de vinho na mão.
Era alto, ombros largos, de camiseta preta e jeans. Quando se virou, o rosto
era atraente, embora a expressão fosse sombria, pensativa e cruel.
— Mr. McGuire? Jack Barry.
— Muito prazer. — Johnson tentou soar fraco e perturbado. — Eu
estava um pouco preocupado.
— Ora, deixe de encenação, Mr. Johnson. Sei muito bem quem é. Blake
Johnson, vigilante pessoal do presidente Jake Cazalet. Diretor do Porão,
não é assim que chamam? Vamos, tome um copo de Sancerre. — Retirou
uma garrafa de um balde de gelo, encheu um copo e o estendeu. — Aqui
está. Sei de fonte segura que o verdadeiro McGuire está nas mãos do
brigadeiro Charles Ferguson e de Sean Dillon. E que o meu outro
negociante em Londres, Tim Pat Ryan, está morto e enterrado. Com que
então, conhece meu velho amigo Sean Dillon, hein?
— Amigo?
— Um pequeno exagero. Bom, vamos aos fatos. Tenho fontes
excelentes, mas há coisas que ainda pode me contar, incluindo detalhes das
operações daquele velho safado do Charles Ferguson.
— E que tal o rabinho lavado com água-de-colônia? — respondeu
Johnson, desafiador.
— Achei que talvez tivesse essa atitude — assentiu Barry, fazendo um
sinal para Daley. — Talvez o Soak Hole seja o mais indicado para este caso.
Experimente durante uma hora e logo veremos.
Enquanto Daley e Bell levavam Johnson pelo terreno até os penhascos,
os relâmpagos iluminavam as vagas lá embaixo. Entraram num atalho, com
Bell na frente de lanterna na mão. Então, parou.
— Chegamos.
Houve uma erupção de espuma branca com um rugido sinistro. Daley
empurrou Johnson para a frente.
— Entre logo. Há um ressalto três metros abaixo. Ficará bem lá. Como
está uma noite fria, pode ficar vestido.
Johnson hesitou, depois começou a descer. Havia uma espécie de
degraus, depois uma plataforma. A espuma salpicou, e ele prendeu a
respiração. Santo Deus, estava frio.
— Vigie-o, eu já volto — disse Daley a Bell.
Regressou ao castelo.
Sean Bell estava abrigado sob uma árvore num dos lados do caminho,
com a lanterna junto aos pés. Estava nitidamente aborrecido, encharcado
pela chuva torrencial. Escutava o som cavernoso e ribombante, como um
dinossauro em sofrimento, quando a água irrompia para cima no Soak Hole.
O americano não duraria muito numa noite daquelas.
Depois, ouviu um ligeiro clique quando o silenciador da Walther de
Dillon tocou sua orelha direita.
— O mais fácil, Mr. Bell, seria arrebentar seus miolos, portanto é
melhor se comportar bem.
— Quem diabos é você? — gaguejou Bell enquanto Dillon o revistava e
lhe tirava o .38.
— O nome é Dillon.
— Oh, meu Deus!
— Esta noite você só terá más notícias. Suspeito que você tenha um
amigo meu americano aqui perto. — A Walther bateu com força na orelha
de Bell, e o homem gritou de dor.
— Ele está no Soak Hole. A entrada é no fim da trilha.
— E por que ele está lá?
— Barry já sabia que ele não era quem dizia ser. Estávamos esperando.
— Ah, é? Bom, mostre o caminho.
Bell pegou a lanterna e avançou pelo caminho, recuando quando o Soak
Hole lançou um jato de espuma branca para a noite.
— Vigie-o — disse Sean a Hannah, e caminhou até a beira dos degraus
que desciam. — Ainda está aí, Blake? É Sean.
Blake Johnson, pendurado numa argola de ferro enferrujada, mais
enregelado do que nunca na vida, gritou: — Por que demorou tanto?
— Suba — respondeu Dillon.
Pouco depois Johnson aparecia, subindo devagar.
— Isso foi duro, Dillon, não estou muito bem.
— O que aconteceu?
— Barry sabia de tudo. Meu nome, o Porão. Disse que tinha um
informante interno, mas queria outras coisas que eu pudesse contar sobre
você e Ferguson.
— Vamos até o castelo fazer esse favor a ele.
— É para já — disse Johnson. — Só uma coisa. — Virou-se para Bell,
que permanecera no alto da escada. — Esta é para você, seu canalha. —
Socou-o violentamente, e o homem caiu para trás de cabeça com um grito.
Instantes depois, o Soak Hole foi alagado.
— Já podemos ir? — perguntou Dillon.
— Com todo gosto. — Johnson guiou-os até o pátio e parou diante da
porta maciça.
— Volte para o portão, enfie-se em casa e bico calado. Se fizer isso, não
te mato. Estamos combinados? — perguntou Dillon a Harker.
O velhote se afastou apressadamente.
— Vamos lá acabar com isso — disse Johnson, e abriu a porta.
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1 A filha do presidente, de Jack Higgins, a aventura nº 6 do agente Sam
LONDRES
O local estava escuro e lúgubre sob a forte chuva quando ele chegou
uma hora depois. Eram dois hangares antigos, com as portas abertas. Um
deles abrigava um Cessna 310, o outro, um Navajo Chieftain. Barry
estacionou e desceu. Usava boné de tweed, jaqueta marrom e jeans e levava
uma bolsa de viagem na mão.
Saía fumaça da chaminé de uma casinhola com telhado de zinco. A
porta se abriu e surgiu Docherty. Tinha cinquenta anos, cabelo fino, pele
curtida. Vestia macacão de voo da RAF.
— Abrigue-se aqui da chuva. — Lá dentro estava quente devido ao
aquecedor antiquado. — Então, ainda não te pegaram, Jack?
— Está para chegar esse dia. Ouça, não pode ser depois de meia-noite.
Consegue?
— Sabe que eu consigo tudo. Nunca te faltei, certo? São cinco mil.
— O dinheiro não é problema — respondeu-lhe Barry.
— Ótimo. Existe um lugar com este em Kent, a uma hora de Londres. O
nome é Roundhay, em plena área rural. Conheço bem. Já telefonei ao
agricultor que é proprietário, e se lhe der uma nota grande ele arruma um
carro para você usar em Londres. Registro falso, placa falsa, o pacote
completo.
— Outro crápula — comentou Barry.
— E não somos todos? Menos você, Jack. Um galante combatente da
liberdade pela glória da causa.
— Um dia desses te dou um chute, Docherty.
— Não, não dá porque não sabe pilotar. Agora, vamos nessa.
Lady Helen Lang saiu para uma corrida matinal no Hyde Park. Depois,
sentou-se num banco perto da Serpentine para descansar. Não estava
cansada demais e se sentia muito bem. A perspectiva da noite no Dorchester
lembrava estranhamente uma partida para a guerra. Estava determinada em
seu plano de ação, sem dúvida. Era lógico que Cohan seguisse o mesmo
caminho dos outros sócios do clube, e ela teria daquele modo exercido
justiça bem merecida. Serviria de algum consolo na próxima vez que fosse
deixar flores junto ao nome do filho no jazigo da família.
Ouviu que a chamavam e viu Hedley se aproximando.
— Achei melhor passar por aqui e ver como estava.
— Muito simpático de sua parte. — Ela se levantou de repente e o ar
faltou. Agarrou o peito e voltou a se sentar, procurando atabalhoadamente
no bolso o frasco de comprimidos, que deixou cair.
Hedley pegou-o e se sentou ao lado dela.
— Dói?
— Não, não, foi só uma tontura momentânea — mentiu ela. Hedley lhe
deu dois comprimidos e ela engoliu. — Já estou melhor.
— Isso não é bom, Lady Helen.
Ela bateu carinhosamente no joelho dele.
— Uma boa xícara de chá e fico como nova, Hedley. Agora, leve-me até
aquele café ali do outro lado.
Levantaram-se e ela deu-lhe o braço.
Lady Helen foi dar um passeio e parou junto aos pinheiros. Fitando o
mar turbulento, tirou o celular e ligou para Barry.
— Alô, é você? — perguntou ela.
— O que quer?
— Nada de especial. Deu vontade de ligar.
Barry se sentia surpreendentemente calmo.
— Onde está?
— Ah, progresso. É a primeira vez que pergunta. Vou atormentá-lo. Na
costa leste da Inglaterra.
— Yorkshire, Norfolk?
— Aí já é demais. — Desligou.
Barry foi até o armário e preparou um uísque. Sua mão tremia. Ela não
ia deixá-lo em paz, isso era óbvio, portanto telefonou para a Conexão.
— Não contei tudo sobre Cohan.
— Então é melhor que o faça agora — respondeu Thornton.
Quando Barry terminou, ordenou: — Conte de novo o que essa mulher
disse sobre o filho.
— Disse que eu chacinei o filho dela há três anos no Ulster e que
executei os quatro amigos dele, incluindo uma mulher.
— Isso não lembra nada?
— Pelo amor de Deus, ando nesta guerra há anos. Quer saber quantas
pessoas já matei?
— Okay, okay. Deixe comigo. Vou indagar.
O Grey Fox era um dos vários pubs nas proximidades do Palácio de St.
James. Eram 2h20, e a maior parte dos clientes da hora de almoço já tinha
saído, e o lugar estava praticamente vazio. Ferguson e Hannah se sentaram
num reservado ao fundo.
— Gin tônica, inspetora-chefe?
— Água mineral, brigadeiro.
— Que pena! Vou tomar um grande.
A garçonete trouxe as bebidas, e quase imediatamente irrompeu Simon
Carter. Tinha a capa molhada e sacudiu o guarda-chuva, obviamente na pior
das disposições.
— Então, que diabo é isso, Ferguson? A inspetora-chefe aqui me
ameaçou.
— Só quando me disse que estava ocupado demais —, respondeu
Hannah.
Carter tirou a capa, pediu um uísque com água mineral e se sentou.
— Essa de me ameaçar com queixinhas ao primeiro-ministro não é
legal, Ferguson.
— Meu caro Carter, você não gosta de mim, e se eu me desse ao
trabalho de pensar em você e tudo mais, possivelmente também não o
suportaria, mas estamos tratando de coisa séria, por isso é melhor ouvir a
inspetora-chefe.
Ela contou tudo, a morte de Tim Pat Ryan, o extermínio do Sons of
Erin, Jack Barry, o depoimento de Jean Wiley. Carter ficou completamente
atordoado.
— Nunca ouvi tanta besteira junta — disse debilmente.
Ferguson virou para Hannah.
— A que horas é nossa reunião com o primeiro-ministro?
Ela mentiu alegremente: — Às cinco, brigadeiro, embora ele não tenha
muito tempo. Vai ao Parlamento hoje no fim da tarde.
Ferguson começou a se levantar e Carter disse: — Não, espere um
momento.
— Para quê?
Foi Hannah Bernstein, a policial de sempre, quem disse: — Pode ajudar
em nossa investigação?
— Ah, não me venha com essa bobagem de procedimento policial. —
Ele pediu outro uísque e se virou para Ferguson. — Eu nunca disse uma
palavra sobre isso. Sempre vou negar.
— Naturalmente.
— E quero a palavra dela de que isso fica entre nós três. Se ela não
puder garantir, ela sai.
Ferguson olhou para Hannah, que assentiu. — Minha palavra,
brigadeiro.
— Ótimo, vamos ao que interessa — disse Ferguson.
Carter tomou seu uísque.
— Há uma coisa que nunca contamos, Ferguson, porque não
confiávamos em você, como há coisas que nunca nos contou.
Ferguson assentiu.
— Conhece os fatos — disse Hannah. — Sou uma agente policial,
treinada para procurar respostas, e minha interpretação é que alguém
eliminou todas as vítimas, e tem que haver uma razão para isso. Algo de
muito ruim aconteceu, e eu acho que você sabe o que foi, e acho que
sonegou dos registros.
Carter respirou fundo.
— Muito bem. Quando se iniciou o processo de paz, disseram-nos para
ser simpáticos com nossos primos americanos e passar todas as informações
úteis sobre a Irlanda. Depois, começamos a perceber que o material que
passávamos à Casa Branca acabava nas mãos do IRA. O ponto culminante
foi uma atrocidade chocante, que mais tarde descobrimos ter sido
perpetrada por Jack Barry e seu bando. Um grupo inteiro de agentes
clandestinos foi assassinado.
— Quem eram eles?
— Uma equipe de cinco, encabeçada pelo major Peter Lang. Havia mais
três homens e uma mulher.
— Sim, lembro da morte de Peter Lang — disse Ferguson
pensativamente. — Os pais dele eram muito amigos meus. Peter foi morto
com uma bomba de tal intensidade que não descobriram vestígio nenhum
do corpo.
— Não é a verdade. Viemos a saber mais tarde por um informante que
Peter Lang foi torturado, assassinado e depois jogado numa betoneira.
— Meu Deus! — exclamou Hannah.
— Também descobrimos, pelo mesmo informante, tudo sobre o Sons of
Erin, Jack Barry e a tal Conexão.
— E o que fizeram em relação a isso?
— O processo de paz estava numa fase delicada, não queríamos
desequilibrá-lo.
— Portanto, não contaram ao primeiro-ministro?
— Se o tivéssemos feito você teria sabido, Ferguson, assim como Blake
Johnson, o Porão, o presidente e sabe Deus quem mais. Decidimos que
havia uma maneira melhor de tratar do assunto.
— Deixe-me especular — disse Hannah. — A desinformação habitual
misturada ao tipo de informação irrelevante disponível em qualquer jornal.
— Uma coisa assim — respondeu Carter, pouco convincente.
— Bem, agora está explicado. — Ferguson se levantou. — Obrigado
pela ajuda.
— Eu não dei ajuda nenhuma — Carter pegou a capa e o guarda-chuva.
— Então, é tudo?
— Acho que sim.
Carter saiu.
— O que acha, brigadeiro? — perguntou Hannah.
— É simples. Acho que a mulher que matou Tim Pat Ryan, Brady,
Kelly, Cassidy e o menos que ilustre senador Cohan foi a minha velha e
querida amiga Lady Helen Lang.
13
Na mesma hora, Helen Lang chegava num Lincoln dirigido por Hedley.
Desceu, alisou a saia e se virou para ele, a carteira na mão.
— Estou bem?
— Como sempre.
— Vejo você depois. — Ela subiu a escada até a porta aberta e viu dois
agentes do Serviço Secreto.
— Convite, madame?
Ela abriu a carteira para pegar o convite e gelou quando a ponta dos
dedos tocou na pistola. Meu Deus, como tinha sido burra! Como podia ter
pensado que passaria a arma pela segurança? Ficou parada um tempo que
lhe pareceu uma eternidade, a mão dentro da carteira. Subitamente, Chad
Luther irrompeu da multidão.
— Não sejam tolos. Esta dama não precisa mostrar convite. Minha cara
amiga! — Beijou-a no rosto. — Está esplêndida. Coloquei-a na mesa
principal comigo e com o presidente.
— Você sempre foi um querido, Chad.
— É fácil com uma pessoa como você. Agora, vamos, quero apresentá-
la a alguém. — Luther empurrou-a gentilmente para dentro.
Dillon e Blake Johnson chegaram pouco depois, atravessaram a
multidão e encontraram o presidente cercado.
— É impossível chegar até ele, pelo menos por ora — disse Dillon.
— Temos tempo — respondeu Johnson. — Tenho providências a tomar.
Fique atento aos nossos personagens principais. — E se afastou.
Dillon tirou uma taça de champanhe da bandeja de um garçom, depois
encaminhou-se para o terraço, onde havia poucas pessoas. Encostou-se à
balaustrada, e Lady Helen Lang apareceu.
Ela sorriu.
— Ah, é você, Mr. Dillon. E o que o traz por aqui?
Dillon aproveitou a oportunidade.
— Possivelmente, a mesma coisa que a trouxe, Lady Helen. Creio que
temos alguma coisa em comum. Uma Conexão na Casa Branca?
A expressão de Helen não se alterou.
— Que interessante — comentou simplesmente.
— Acabou — acrescentou Dillon. — Não sei o que pretendia fazer, mas
agora está tudo acabado...
— Que bobagem, meu amigo — sorriu ela antes de ele terminar a frase
—, nada está terminado sem eu decidir. — E se afastou.
Chad Luther conseguiu levar Jake Cazalet para longe da multidão que o
cercava.
— O presidente precisa respirar antes de jantar, senhoras e senhores. Por
favor.
— Obrigado, Chad — agradeceu Cazalet enquanto voltavam à sala de
estar da suíte.
— O banheiro é por ali, Sr. Presidente, e se quiser uma bebida, acho que
encontrará tudo aqui. — Luther abriu um painel na parede, que revelou um
bar espelhado.
— Chad, o anfitrião perfeito, como sempre.
— Agora, vou deixá-lo sozinho.
Luther saiu, e um dos agentes do Serviço Secreto, Clancy Smith, entrou
na sala e fez uma inspeção rápida.
— Clancy, você parece um cão de caça, nunca para de farejar — disse
Cazalet.
— É para isso que sou pago, Sr. Presidente. Estou lá fora. — Saiu para o
corredor e fechou a porta.
Cazalet tirou um maço de cigarros. Diabo, um homem tem direito a um
vício, pensou. Abriu as portas que davam para o terraço.
Uma meia-lua erguia-se sobre a baía, quase cercada por dois braços de
terra. Junto à água, uma casa de barcos e um cais de madeira onde estavam
atracados esplêndidos barcos a motor. Era realmente uma vista aprazível.
Ele respirou fundo, e uma voz agradável disse:
— Importa-se de me arranjar fogo?
Cazalet se virou e Helen Lang saiu de entre os arbustos.
— Sim, claro. — Ele desceu a escada e acendeu o isqueiro. Ela segurou
o pulso dele.
— Que extraordinário. Um velho cartucho Lee Enfield.
— Uma recordação do Vietnã, mas como sabe que é um Lee Enfield?
— O meu marido era coronel do exército inglês. Tinha um. Não se deve
lembrar de mim. Só nos vimos uma vez numa recepção em Boston. Sou
Lady Helen Lang.
Ele sorriu calorosamente.
— Mas claro. Meu pai e o seu fizeram negócios juntos em Boston nos
bons velhos tempos. Você se casou com um barão inglês, se bem me
recordo.
— Sir Roger Lang.
— Ele está aqui?
— Ah, não, morreu há dois anos e meio. Nosso filho único também
morreu em missão na Irlanda do Norte, e o meu marido era velho e frágil. O
choque foi demais para ele.
— Lamento muito. — O presidente pegou a mão dela, ela abriu a boca
para falar, mas ouviu que batiam na porta da suíte. — Desculpe — disse ele,
e subiu a escada.
Quando chegou à porta, olhou para trás, mas Helen desaparecera como
se nunca tivesse estado ali.
Dillon e Blake Johnson estavam num canto do salão apinhado quando o
celular de Johnson tocou. Era Alice Quarmby.
— Investiguei o passado de Thornton, chefe, como pediu. E descobri
coisas bem interessantes. Ouça.
Ela falou durante alguns minutos. A expressão de Johnson não revelou
alteração.
— Obrigado, Alice, você é um anjo — disse por fim.
— Alguma coisa importante? — perguntou Dillon.
— Pode acreditar. Thornton é realmente nosso homem e agora sei por
quê. Explico mais tarde. Agora, é melhor procurarmos o presidente.
— Parece não estar por aqui.
— Luther está ali. Ele deve saber onde está o presidente — disse
Johnson.
Mas quando atravessaram a sala, encontraram Luther conversando com
Henry Thornton. Riam os dois, cada um com a sua taça de champanhe.
— Ei, vocês dois não estão bebendo — disse Luther.
— O dever chama, Chad — murmurou Johnson. — Este é um colega de
Londres, Mr. Dillon. O presidente pediu para falar com ele.
— Ele está descansando.
O chefe de gabinete estendeu a mão.
— Mr. Dillon, tenho muito prazer em conhecê-lo pessoalmente. Sua
fama o precede.
— É bom saber.
— Sei onde é a suíte do presidente, levo-os lá — ofereceu-se Thornton,
pousando a taça. — Por aqui, senhores.
Avançou por entre a multidão e conduziu-os a um corredor afastado,
onde Clancy Smith se encontrava sentado numa cadeira ao lado da porta.
O chefe de gabinete bateu, abriu a porta e entrou. Cazalet estava no
terraço.
— Houve alguma coisa, Sr. Presidente? — perguntou Thornton.
— Não, só estava conversando com uma mulher muito incomum, mas
parece que a perdi. — Sorriu. — Ah, Mr. Dillon. — Apertou-lhe a mão
calorosamente. — É um prazer voltar a vê-lo.
— Desta vez não, Sr. Presidente, creio que preferiria matar o
mensageiro a ouvir o que Blake e eu temos para contar.
— É assim tão ruim? — Cazalet se encostou na balaustrada. — Então, é
melhor fumar um cigarro. — Tirou um Marlboro, e Dillon acendeu. —
Muito bem, senhores, vamos ouvir as más notícias.
Abaixo deles, escondida entre os arbustos, Helen Lang escutava.
— Já sabe a história do Sons of Erin, Sr. Presidente. Sempre achamos
que os assassinatos tinham sido cometidos por uma única pessoa. Também
achávamos que devia existir uma razão muito forte.
Cazalet assentiu.
— Uma vingança por algum ato terrível.
— Exato. Bem, agora sabemos quão terrível. — Johnson se virou para
Dillon. — Sean?
— Durante anos, informações do serviço secreto britânico foram
passadas pela Conexão da Casa Branca ao Sons of Erin e a Jack Barry.
Devido a essas informações, há três anos uma unidade clandestina britânica
foi assassinada por Jack Barry e companhia. O comandante era um certo
major Peter Lang. Foi torturado e enterrado sob cimento.
— Mas acabei de falar com uma Lady Helen Lang aqui fora — disse
Cazalet, espantado. — Ela disse que o filho foi morto na Irlanda.
— Exatamente. Ela é a mãe de Peter Lang — respondeu Dillon.
— E a pessoa responsável pela eliminação do Sons of Erin —
acrescentou Johnson.
O presidente parecia atordoado.
— Ora, isso é impossível — exclamou Thornton. — Uma senhora
idosa? Não posso acreditar nisso.
— Receio que não haja dúvida — disse Johnson.
— Mas se essa história é verdadeira, por que ainda não a prenderam?
— Também receio que não haja provas concludentes, Sr. Presidente. Por
motivos óbvios, seria melhor tratar do assunto sem alarde. E ainda há outra
coisa. No meio de toda a confusão, há a questão da Conexão... o traidor da
Casa Branca.
— Sim, mas ninguém sabe quem é — disse o chefe de gabinete.
— Ah, mas nós sabemos — interveio Dillon. — Vimos que sua
investigação não ia a parte alguma, Mr. Thornton, por isso Blake resolveu
fazer outra.
Johnson tirou um pequeno gravador do bolso.
— Pus o Synod controlando as ligações para ou da Casa Branca com
um sujeito chamado Jack Barry.
— E deu certo? — perguntou Cazalet.
— O computador encontrou várias ligações, Sr. Presidente, mas bastou
uma só. — Colocou o gravador na balaustrada e ligou. A voz saiu
claramente do aparelho.
Pouco depois de Helen Lang telefonar para Barry, Dillon falou com
Ferguson na Cavendish Square.
— Que confusão — disse o brigadeiro. — O chefe de gabinete... quem
diria!
— Agora não interessa mais — respondeu Dillon. — Ficou exposto
como um frango assado e não sinto pena. Foi responsável por muitas
mortes, e no caso de Peter Lang, por uma atrocidade de primeira.
— Onde está Lady Helen Lang?
— Johnson anda investigando. Depois informo. Com certeza já não está
mais aqui.
Despediram-se e Ferguson ligou para Hannah Bernstein.
— Sou eu — disse. — Desculpe, inspetora-chefe, mas vou ter que lhe
pedir para começar mais cedo.
— Com certeza, brigadeiro.
— Queria lhe contar uma coisa. O comissário da Scotland Yard
telefonou ontem à noite. Agora você é superintendente da Brigada Especial.
— Oh, meu Deus! — exclamou Hannah. — A rapaziada não vai gostar.
— Deixe de ser boba — disse Ferguson. — Pelo que sei, matou quatro
vezes no cumprimento do dever.
— Coisa de que não me orgulho.
— Para aliviar sua consciência, superintendente, todas essas pessoas
mereciam morrer. Você mesma levou um tiro, e estou muito orgulhoso por
trabalhar para mim. De qualquer forma, logo teremos mais notícias de
Dillon. Conto os detalhes quando chegar.
Blake Johnson entrou na sala de estar, onde Dillon conversava com o
presidente junto à lareira. Cazalet se virou.
— Novidades?
— Sobre Lady Helen Lang, Sr. Presidente? Sim. Ela veio para cá num
Gulfstream da própria empresa. Decolou de novo antes das dez. Destino,
Gatwick. — Johnson hesitou. — O que quer fazer, Sr. Presidente?
— Sobre Lady Helen? — Cazalet franziu a testa. — Se isso vazar, todo
o processo de paz desmorona. Sejamos práticos. A morte de Thornton pode
ser considerada um acidente infeliz. Um homem tentou me atacar, Thornton
o perseguiu e ambos morreram. As mortes de Brady, Kelly, Cassidy e Tim
Pat Ryan têm explicação. Quanto a Cohan — Cazalet encolheu os ombros
—, não vou derramar lágrimas por aquele safado. Bebeu demais e caiu do
terraço da suíte.
— Quer dizer que nada aconteceu, Sr. Presidente? — perguntou
Johnson.
— Blake, todo esse caso cheira mal, não só para a Casa Branca, mas
também para Downing Street. Uma coisa assim...
— Afunda o navio — murmurou Johnson.
— E há ainda Jack Barry. — Dillon acendeu um cigarro. — O último
homem que resta em pé. Se ele fosse eliminado...
— Não haveria prova de que tudo isso tivesse realmente acontecido —
acrescentou Johnson.
Houve uma pausa antes de Cazalet responder.
— Isso ainda nos deixa com Lady Helen. Sabemos que matou pelo
menos seis homens.
— Compreendo — disse Dillon. — Quer dizer que ela deve pagar
porque expulsou deste vale de lágrimas um grupo de verdadeiros filhos da
mãe, responsáveis por muitas mortes, incluindo a do próprio filho dela?
— Ela quebrou mais leis do que é possível... — salientou Cazalet.
— Mas agora já está fora de nossa jurisdição — relembrou Johnson.
— Mesmo assim, em parte, continua sendo minha responsabilidade. —
Cazalet hesitou. — Bom, ligue para o brigadeiro Ferguson.
Pouco depois, Ferguson atendia a ligação do presidente.
— Então, nada aconteceu, Sr. Presidente... — disse Ferguson quando
Jake Cazalet o informou dos últimos acontecimentos. — Está bem, acho
que posso aceitar isso. Mas e Lady Helen?
— Espero que você consiga uma solução. Vou enviar Dillon e Blake o
mais rapidamente possível para Londres. Tenho aqui um avião que eles
podem usar.
No Gulfstream, Lady Helen Lang ouvia o relatório que o piloto lhe fazia
da meteorologia no Reino Unido.
— Então, não está grande coisa — comentou.
— Bem, podemos aterrissar em Gatwick, Lady Helen. Há muito
nevoeiro no país inteiro, mas conseguimos.
— E as East Midlands, o tempo está melhor lá?
Ele acenou confirmando.
— Está certamente melhor do que em Gatwick.
Era o que ela planejara desde o início, mas limitou-se a sorrir.
— Então, vamos para lá. De qualquer forma, vou para Norfolk, é até
mais perto.
O piloto partiu. Hedley disse: — Você tinha tudo planejado.
— Claro. — Ela pegou um cigarro. — Fogo, por favor.
Ele deu. Ela se recostou. — Só tenho um arrependimento. Não estou lhe
dando uma escolha.
— Não tive escolha desde o dia em que a conheci. — Ele sorriu. —
Deixe-me pegar uma xícara de chá.
Quinn se levantou.
— Vamos lá — ordenou, e todos o seguiram.
Lady Helen ergueu a Browning que Hedley e disparou repetidamente,
derrubando Quinn. Os outros homens recuaram.
— Bom, rapaziada, para o celeiro — disse Barry. — Eles não têm para
onde fugir.
— Jack, isso não está dando certo — respondeu Dolan. — Se
entrarmos, estouram nossos miolos.
Barry apontou-lhe a Beretta.
— Bom, ou entra ou eu mesmo estouro teus miolos. Vai, sobe aqueles
degraus.
Dolan, assustado, começou a subir, e Blake Johnson, entrando no pátio
naquele momento, pulverizou-o com a sua AK47, atirando-o de cabeça nas
pedras. Barry se aproximou de McGee.
— Não se preocupe, nós conseguimos.
Dillon surgiu do outro lado do pátio e disparou sua AK47.
— Você está aí, Jack?
— Então é você, Sean — respondeu Barry. — Chega sempre tarde
demais.
Johnson disparou na direção da voz de Barry, e o fogo foi retribuído.
Sentiu um ardor no braço esquerdo e caiu para trás. Dillon atirou três
rajadas, pegando McGee na cara.
Depois, tudo ficou em silêncio. Barry engatinhou até abrir a porta do
celeiro e entrar. Viu Lady Helen no alto da plataforma, tentando puxar
Hedley para trás.
— Estou aqui — gritou Barry.
Ela se virou, apontando a Browning sem hesitação.
A Beretta de Barry travou. Ele acionou desesperadamente a trava de
segurança e depois aconteceu uma coisa estranha. Helen Lang arfou,
cambaleou para trás e caiu de joelhos. Barry ejetou o carregador, enfiou
outro e apontou, mas nessa hora Dillon entrou de rompante pela porta do
celeiro.
— Não! — gritou ele, e atirou.
A bala arranhou o rosto de Barry, atirando-o para trás com um grito.
Barry se recuperou e atirou repetidamente, obrigando Dillon a se abrigar,
depois desapareceu pela porta dos fundos.
Dillon se levantou e, depois de recuperar o fôlego, subiu a escada.
Viu Lady Helen caída com o rosto acinzentado, Hedley a seu lado.
Dillon se ajoelhou junto a ela.
— O que foi?
— Meu coração, Mr. Dillon. Tenho vivido com tempo que já não me
pertence. Pegamos todos?
Dillon hesitou.
— Quero saber a verdade — exigiu ela.
— Ao que parece, pegamos o bando, mas Jack não.
— Que pena. — Ela fechou os olhos.
Pouco depois, Charles Ferguson e Hannah Bernstein entravam pelo
pátio num Land Rover da RAF.
HELEN LANG,
MUITO QUERIDA
FALECIDA EM 1999
Correção: João Alberto Martins