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O discurso da inovagao: um estudo de caso na Universidade Tecnolégica Federal do Paranda, campus Francisco Beltrao (UTFPR-FB), Brasil Mateus Mota Loiola Coutinho Carina Merkle Lingnau Universidade Tecnolégica Federal do Parana DOK: https:/doi.org/10.31492/2184-2043.RILP2023.4/pp.57-68 Resumo Michel Foucault foi um importante filésofo do século XX. Muitos de seus pensamentos ainda sdo importantes para se pensar a sociedade, conforme o conceito de dispositive tomado por esta pesquisa. Este trabalho tem como objetivo analisar a relacao do dispositive foucaultiano com as metodologias ativas utilizadas na UTFPR-FB (Universidade Tecnolégica do Parand, Campus Francisco Beltrdo). Adotamos os conceitos de discurso, dispositivo e metodologias ativas com base em exemplos de sala de aula da universidade. Para a metodologia da pesquisa utilizamos revisio bibliogrifica e documental acompanhada de discussio tedrica, Como mostra a andlise, concluimos que a UTFPR-FB utiliza recursos que criam dispositivos, que associam a universidade a.uma metodologia de ensino inovadora e com foco nas metodologias ativas mais recursos tecno- ligicos. Este é um vinculo questionavel, pois no cotidiano desta universidade as metodologias se apresentam como ferramentas que auxiliam, mas nao substituem, os métodos convencionais de ensino. Além disso, verificamos que os investimentos federais vém diminuindo consideravel- ‘mente e como resultado muitos equipamentos ¢ estruturas nao conseguem oferecer as condigdes minimas para o desenvolvimento e aplicago de novas metodologias inseridas em ambiente tecnolégico atualizado. Palavras-chave: Discurso institucional, metodologias ativas, Universidade Tecnolégica, Dis- positivo, Abstract Michel Foucault was an important twentieth century philosopher. Many of his thoughts are still important to think about the society, as the concept of device taken for this research. This paper aims to analyze the relationship between the foucaultian device with the active methodolo- gies used at UTFPR-FB (Technological University of Parana, Francisco Beltrio Campus). We adopt the concepts of discourse, device and active methodologies based on classroom examples of the university. For the methodology of the research we use bibliographic and documentary review along with theoretical discussion, As the analysis shows, we conclude that UTFPR-FB uses resources that create devices, which associate the university to an innovative teaching me- thodology and focus on the active methodologies plus technological resources. This is a questio- nable link since in the daily life of this university methodologies are present as tools that aid, but do not replace, conventional teaching methods. In addition, we found that federal investments have been decreasing considerably and as a result many equipment and structures are not able to offer the minimum conditions for the development and application of new methodologies inser- ted in an updated technological environment. Keywords:Institutional discourse, active methodologies, Technological University, Device 58 | RILP - Revista Internacional em Lingua Portuguesa - n.° 44 - 2023 Introdugio Michel Foucault foi um filésofo e teérico social francés do século XX. Professor do Collége de France, desenvolveu reflexes importantes para o mundo académico, como as ideias de discurso e dispositivo de poder. O objetivo deste trabalho € relacionar © dispositive foucaultiano com o uso de exemplos de metodologias ativas na Universidade Tecnoldgica Federal do Parana, campus Francisco Beltrao (UTEPR-FB) a partir de seus enunciados institucionais, referenciais tedricos ¢ experiéncias vivenciadas pelos alunos da instituicao. Discurso para Michel Foucault Em sua obra Arqueologia do Saber, Michel Foucault expde uma série de estudos desenvolvidos sob 0 método da arqueologia do conhecimento filoséfico, entre eles a nogdo de discurso, em que Foucault afirma que o discurso é uma realidade de construgao cultural e nao a propria realidade (Foucault, 2014). Segundo Foucault, 0 discurso & produtor de conhecimento, que regula por meio de priticas discursivas o que é possivel ou nao dizer (Colunas Tortas, 2014). Foucault (2014, p.144) afirma que «a pritica discursiva é um conjunto de regras andnimas, historicas, sempre determinadas no tempo e no espago, que definem, em um dado momento e para um determinado espago social, econémico, geogré fico ou linguistico, as condigdes para o exercicio da fungio enunciativa, Em outras palavras, as priticas discursivas tém diferentes interesses depen- dendo dos grupos sociais, classes econémicas ¢ do momento histérico, por exemplo, a pritica discursiva que envolve as metodologias ativas & de interesse para 0 momento histérico atual para 0 meio académico, tornando-se normal- mente irrelevante para aqueles externos a este cenario. Além de produzir conhecimento, as priticas discursivas com poder categori- 1m 0 sujeito, moldando quem ele é e 0 que 6 © poder das priticas discursivas aliadas ao poder, quando tomamos como exem- plo hoje grandes geradores de opinides como a midia, que produzem linhas de argumentagao que geralmente se tornam verdadeiras, enquanto outras formas de paz de fazer. Podemos examinar Dispositivos para Michel Foucault conceito de dispositivo desenvolvido por Foucault aparece na passagem da arqueologia do saber para a genealogia do conhecimento (Gregolin, 2016). Esse conceito de dispositivo foi criado tendo em vista a necessidade de explicar alguns fenémenos que nao cabiam apenas nas praticas discursivas, ou seja, esse conceito discurso da inovagdo: um estudo de caso na Universidade Tecnol: a Federal do Parand, | 59 campus Francisco Beltrio (UTFPR-FB), Brasil permite analisar nfo s6 0 que € dito e escrito, mas também as ages. O conceito de dispositivo é definido por ele como ‘um conjunto decididamente heterogéneo que inclui discursos, instituigdes, organizagdes arquitetOnicas, decisses regulatorias, leis, medidas administrativas, afirmagies cientifiens, proposigdes filoséticas, ‘morais, filantrépicas. Em suma, 0 dito e 0 nio dito sfo os elementos do dispositive. O dispositive & a rede que pode ser tevida entre esses elementos (Foucault, 2008, p. 244), Por mais clara que pareca a definic&o de dispositivos, ha uma certa complexi- dade em seu conceito que, quando escavado, é melhor compreendido como um todo a partir da divisdo em quatro dimensdes descrita por Deleuze (Gregolin, 2016.). Sao eles: curvas de visibilidade, curvas de enunciabilidade, linhas de forga, linhas de subjetividade. As curvas de visibilidade trabalham com momentos hist6ricos em que deter~ minados discursos so proeminentes, enquanto outros sao invisiveis para a socie- dade, ou seja, hd momentos em que essas curvas ganham exposigdo excessiva, outras vezes perdem a visibilidade. No caso especifico deste trabalho, essas cur vas podem ser evidenciadas pela instituigdo em suas praticas discursivas ¢ nio discursivas. Tomamos o canal do youtube da UTFPR como exemplo em uma plataforma de video, o video de apresentagio da instituigdo mostra diversos re~ cursos tecnolégicos, além de um discurso que reforca a ideia de uma universidade altamente tecnologica que segue modelos de referéncia de outros paises. As curvas de enunciabilidade funcionam na mesma linha que as curvas de visibilidade, como um jogo do dito ¢ do nao dito, mas, nesta dimensio, a forma como 0 discurso se torna visivel ¢ através do enunciado. Segundo Gregolin, as linhas de forga “sio como flechas que nunca param de penetrar nas coisas e nas palavras. E como se tudo o que se mostra ¢ tudo 0 que se diz fosse permanentemente atravessado por estes jogos de poderes” (Gregolin, 2016). Ou seja, existem forgas que regulam o visivel e 0 invisivel, o dito e 0 nao dito, trazendo como exemplo a tematica abordada neste trabalho, o individuo dentro da instituigdo pode oferecer alguma resistencia as metodologias ativas, e as tec nologias, mas em determinado momento ele vé a necessidade de us4-los porque linhas de forga o pressionam, produzindo subjetividades. Segundo Gregolin (2016), as linhas de subjetividade sao “como efeito de todos esses jogos, de tudo que é dito, mostrado e escondido”. Tormando as identidades da disciplina volateis e sempre em curso, pode-se lem- brar do docente que trabalha com metodologias tradicionais em uma instituigao de ensino superior tradicional, e em determinado momento sente necessidade de inse- 60 | RILP - Revista Internacional em Lingua Portuguesa - n.° 44 - 2023 rir metodologias ativas e recursos tecnolégicos quando trabalha em uma Universi- dade Teenol6gica por conta do dispositive criado pelas metodologias ativas. Metodologias ativas As metodologias que hoje atuam esto muito presentes no ensino superior nas mais diversas areas, de forma a auxiliar 0 desenvolvimento do pensamento criti- co, a visio e a tomada de decisdes dos futuros profissionais, segundo Borges e Alencar “a utilizagao destas metodologias pode favorecer a autonomia do aluno, despertando a curiosidade, estimulando a tomada de decisao individual e coleti- va, decorrente das atividades essenciais da pratica social e nos contextos estudan- tis” (Borges ¢ Alencar, 2014, p.120). Embora as metodologias ativas auxiliem na formagao dos alunos, ainda en- contramos diferentes interpretagdes sobre sua abrangéncia ¢ significado. Segun- do Moran (2018), dentro do ensino existem diversos entendimentos a respeito das atividades descritas como metodologias ativas, para alguns elas sio vistas sim- plesmente como diferentes abordagens para envolver e estimular a participagdo do aluno como aulas invertidas, ¢ projetos. Outra parte dos professores vé as metodologias ativas como atividades de maior complexidade, investimento e que envolvem uma maior integragao entre as diferentes areas do conhecimento, como exemplo o autor cita “salas de aula adaptadas, integrando projetos, como o STEAM que articulam Ciéncias, Mate- matica, Engenharia, Artes ¢ Tecnologias” (Moran, 2018, p.1). Politica e educagao tecnolégica E importante contextualizar historica e politicamente a insergdo da educagao tecnoldgica no ensino superior brasileiro, especificamente, na UTFPR. Leite (2010) ao organizar a obra UTFPR, uma historia de 100 anos, j4 no titulo conse- gue mostrar a relagdo do ensino téenico desta instituigdo com a histéria brasileira em um percurso cronoldgico que data de 1909, momento da assinatura do Decre- to Federal n° 7566/09 que criou as escolas de aprendizes artifices em todos os estados do Brasil, Estas escolas nasceram com o propésito de estimular mao-de- -obra para as fabricas. No decorrer de sua historia, a escola de aprendizes artifices de Curitiba, no estado do Parana, passou a ser chamada de Liceu Industrial Para- naense, Escola Técnica de Curitiba, Escola Técnica Federal do Parana, Centro Federal de Educagio Tecnolégica do Parana (Cefet-PR) e finalmente chegou ao status de Universidade Tecnolégica Federal do Parana, no ano de 2005. Este processo levou um século para se consolidar, um século de evolugao e acompanhamento junto ao discurso do momento ¢ a criagdo da necessidade da discurso da inovagdo: um estudo de caso na Universidade Tecnol: a Federal do Parand, | 6 campus Francisco Beltrio (UTFPR-FB), Brasil ocasiio. Nesse sentido, quando extraimos este caso particular da UTFPR apro- veitamos para situar como as politicas de expansdo das instituigdes de ensino técnico e superior marcaram o espago do interior dos estados brasileiros nas décadas de 90 ¢ anos 2000 (Brasil, 2008, 2012). Nesse periodo houve um aumento consideravel no numero de instituigdes dedicadas ao ensino técnico e superior, 0 que levou o Estado a nao investir com 0 mesmo recurso nos Ultimos anos de gestio politica, ‘A Folha de S. Paulo (2021/02/12, p.4) mostra a partir do depoimento do dire- tor da Secretaria de Modalidades Especializadas de Educagaio (Semesp) que “se empresas esto investindo em transformagao digital, as universidades preci- sam entender com urgéncia quais so essas mudangas tecnolégicas para formar seus alunos em sintonia com essas demandas”. Porém esta urgéncia tao atual nao acompanhou o crescimento da implantagao destas instituigdes de ensino no pais. Como uma amostra do que representou a época de expansio da edu: ca e superior proporcionada pela gestdo da época, Gouveia (2016, p.3) verifica que 6s investimentos na Rede Federal saltaram de dois bilhes em 2003 para nove bilhies em uma década depois. Foi principalmente a partir do segundo mandato de Lula da Silva (2007-2010) que, em articu- Jago com o projeto desenvolvimentista exposto em seu Plano Plurianual (2004-2007), que se identifi- cca 0 deslocamento de unidades das escolas téenicas federais para o interior Desta forma, a realidade destas instituigdes em relago ao uso de equipamen- tos e tecnologia de ponta esto em desacordo com as necessidades sugeridas pelo diretor da Semesp, uma vez que o investimento atual para que as instituigdes fe- derais possam adquirir seus equipamentos ¢ manterem suas instituigdes funcio- nando diminuiu consideravelmente, como aponta o site de noticias G1 (2020/08/23) “a quantia em 2010 era de RS 2,78 bilhdes — e caiu para bem menos da metade em 2019 (RS 760 milhdes). Os valores foram corrigidos pela inflagao”. Dessa forma, como afirma o diretor da Fapesp (Folha de S. Paulo, 2021/06/22): precisamos transformar a perspectiva da economia do pais. As prineipais perdas de recursos dentro do ‘governo federal atingiram ciéncia, tecnologia e educagio, Ora, sem ciéneia ¢ tecnologia nfo ha futuro para o pais, Os governantes dever adotar novas politicas de apoio para garantir o futuro, Nao adianta ficar o tempo todo preocupado com as manobras econémicas, primeiro precisamos criar 0 dinheiro, ¢ ‘© que cria o dinheiro & a cigneia ¢ a tecnologia, é a compel efio nessa area, Nessa diregdo, a aplicago de novas metodologias aliada As instituigdes de ensino tecnolégicos, como é 0 caso da UTFPR, sera bem mais possivel 4 medida em que investimentos e politicas de atualizagao tecnologicas de equipamento e de pessoal sejam implementadas também com politicas que viabilizem esta situago. 62 | RILP - Revista Internacional em Lingua Portuguesa - n.° 44 - 2023 Metodologia Este trabalho foi de natureza qualitativa, com base na pesquisa bibliogrifica, documental e discursiva (Foucault, 2008, 2014). Para o corpus, separamos exem- plos da rotina da UTFPR em que metodologias ativas sio empregadas como auxiliares no processo de ensino-aprendizagem das atividades académicas. Discussio Para analisar as relagdes entre dispositivos e metodologias ativas, devemos também compreender 0 discurso promovido pela instituigo a que nos dirigi- mos. A UTEPR é a pioneira nessa modalidade de ensino no Brasil, com foco em cursos de graduagao, pds-graduagao ¢ extensfo, com a missao de desenvolver a educagao tecnolégica por meio do ensino, pesquisa ¢ extensio (Portal UTFPR, 2017). Promovendo esse discurso, a universidade cria um dispositive que propde uma imagem de universidade com uma metodologia de ensino totalmente dife- renciada, em que se aprende predominantemente por meio de metodologias ati- vas vinculadas 8 teenologias inovadoras, quando na verdade a tecnologia se apre- senta como auxiliar de conhecimento adquirido com as convencionais praticas discursivas Quanto ao uso de software, mostrado na figura a seguir, inserido desde o inicio da vida académica dos alunos da UTFPR, é um software que auxilia na visualiza- g4o e compreensio de situagdes-problema em relagZo aos assuntos abordados teoricamente. Podemos analisar esse dispositivo a partir da curva de visibilidade descrita por Deleuze segundo Gregolin (2016). As curvas de visibilidade explicam que ao carregar um “T teenolégico” no nome, como a sigla UTFPR, e promover inces- santemente o discurso e a imagem, por meio das diversas midias digitais, de uma universidade voltada para a tecnologia, a instituic¢ao cria uma visibilidade exces- siva, em que a ideia enfatiza o trabalho com metodologias ativas ligadas a tecno- logia, aliado ao discurso veiculado pela propria instituigao, 0 que faz do termo UTFPR um dispositivo. No canal do youtube da UTFPR ha um video institucional bilingue (inglés- -portugués) que mostra a historia da UTEPR. O trecho da Figura 3 mostra o momento em que o Centro Federal de Educagio Teenolégica do Parana estava lotado de computadores implicando em um espago educacional bastante tecno- l6gico que colabora para construir uma ideia de tecnologia em torno da histéria da UTEPR. O discurso da inovagdo: um estudo de caso na Universidade Tecnologica Federal do Parand, | 63 Ampus Francisco Beltro (UTFPR-FB), Brasil Figura 1: Simulagao de variagao de temperatura por agitagao de moléculas, =o> ai @ —— ® Fonte: https://phet,colorado,edu/pt_BRsimulations/category/phys A Figura 2 divulga 0 envolvimento da UTFPR em eventos utilizando cartazes digitais e relacionando a um importante evento local associado a tecnologia. Figura 2: Canal Youtube UTFPR Fonte: https://www.youtube,com/watch?v=- olethjebedt=212s Figura 3: Canal do Youtube UTFPR — Histéria da UTFPR Fonte: https://www.youtube.com/ watch?v=OJYvsL WA SPE &list=PLzjMM lwX fkL Sb3pSLNATMRsc4s87S0N6B. 64 | RILP - Revista Internacional em Lingua Portuguesa - n.° 44 - 2023 No twitter oficial da UTFPR ha a noticia de que o app mével da UTFPR dis- ponibiliza cartio digital, horarios de aulas, histérico escolar, matriz curricular e cardapio do restaurante universitirio. Figura 4: UTFPR Twitter— App y wren = oe 1 eto © canta Fonte: https:/twitterconvUTEPR_?ref_ste=twsre%SEgoogle’7Ctweamp’5Eserp’47Cower%SEauthor A Figura 5 exibe na pagina oficial da UTEPR no twitter a imagem dos pesqui- sadores da UTFPR que criam equipamentos de drones para ajudar no resgate de vitimas em desastres naturais. Figura 5: UTFPR Twitter 1 eto © canta Fonte: https:/twitter:com/UTFPR_?ref_sre-twsre%SEgoogle’47Ctweamp%SEserp’47Ctwar%SEauthor Este recorte é da pagina do Instagram da UTFPR, que é um trecho de pesquisa que mostra a relago entre a UTFPR e a tecnologia nos meios de comunicagdo que associam o dispositive tecnolégico & instituigo UTFPR.O detalhe fala sobre O discurso da inovagdo: um estudo de caso na Universidade Tecnol: ampus Francisco Beltr a Federal do Parand, | 65 (UTFPR-FB), Brasil © mostra © curso Industria 4.0 que acontece na UTFPR, campus Ponta Gros alunos da UTFPR Ponta Grossa interagindo com alunos da Universidade Com- piegne da Franga. Figura 6: UTFPR Instagram ~Indiistria 4.0 Fonte: https://www.instagram,com/p/BOEXud9hFnh/ Apés pontuar esses exemplos de enunciados produzidos na midia sobre a UTFPR, verificamos a tecnologia como dispositive foucaultiano que vincula 0 discurso da instituig&o a verdades (Foucault, 2014) da atualidade. Conclusdes A partir do estudo bibliografico e dos conhecimentos adquiridos, a instituigao UTEPR, propaga um discurso de inovagao e ensino tecnolégico, em que se cria um dispositivo sobre essa pritica discursiva, que vincula a universidade a uma politica pedagégica inovadora, rodeada de metodologias ativas e dispositivos ele- trénicos. ‘Ao criar essa expectativa, o aluno que ingressa na UTFPR se depara com uma realidade diferente, onde hé o auxilio de recursos teenolégicos aliados as praticas discursivas das aulas convencionais, mas ndo necessariamente esses recursos so predominantes nas salas de aula, Embora ndo substitua as préticas discursivas, a utilizago de metodologias ativas auxilia na formagao profissional em varios pon tos, auxiliando o aluno na visualizagao e na resolugo de um problema, além de desenvolver um olhar critico. Podemos tomar como exemplo de metodologias s combinadas com aulas convencionais, a utilizagdo de softwares e equipa- at mentos que simulam a teoria de forma pratica. Para exemplificar o uso dessas tecnologias, citamos um software utilizado nas aulas de Fisi que permite ao aluno uma visualizagio mais ampla de diversos 66 | RILP - Revista Internacional em Lingua Portuguesa - n.° 44 - 2023 fendmenos por meio de simulagées virtuais, proporcionando um maior entendi- mento da parte tedrica, e proporcionando uma comodidade de mostrar a “pritica” sem a necessidade de sair da sala de aula, além de um menor custo beneficio para a universidade, que por ser uma simulago virtual, nao traz. custos materiais para a instituigao. Além disso, enfatizamos a relagdo que a historia das politicas piblicas dire- cionadas as instituigdes de ensino desta natureza acarretam para a implementagao ou nao de metodologias ativas, uma vez. que para atualizagaio da implementagao de metodologias também so necessérios investimentos que surgem também a partir de injeg&o de recursos nas instituigdes de ensino, questao bastante dificil nas diltimas gestdes administrativas. Este trabalho ndo vem para apontar erros ou acertos, mas para convidar o lei- tor a questionar se de fato o discurso que se promove é consistente com 0 que é oferecido, tanto como instituigo como como individuo. Pois no caso do objeto de estudo em questo, observou-se que o discurso que se promove gera linhas de forgas que nos fazem inserir as metodologias anteriormente citadas, mas que mesmo com esse esforgo, reflexo do dispositivo, ainda niio temos no cotidiano da universidade a mesma realidade promovida nos discursos. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio do Governo do Parand e a bolsa concedida pela Fundag&o Araucéria (Fundagaio de Amparo Pesquisa do Estado do Parana, Brasil). Referéncias A. Peci; MM.FVieira; S.R. Clegg. (2006). “A construgdo do “Real” e priticas discursivas: 0 poder nos processos de institucionalizfagao)”. Rev. adm. contemp., Curitiba, v.10, 1.3, p. 51-71, set. Disponivel em: http:/www,cielo briscielo php?script=sci_arttext&pid=S1415-65552006000300004&ing=endenrm=iso, acessado em 16 abr 2020. Brasil. (2008). Lei n° 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educagao Profissional, Cientifica e Tecnolégica, cria os Institutos Federais de Educago, Ciéncia e Tecnolo- gia, © dé outras providéncias. Disponfvel em: httpy/Awww-planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2008/lei/111892,htm, acessado em 28 jun, 2021. Brasil. (2012). Lei n° 12,677, de 25 de junho de 2012. [Equipara o Colégio Pedro II aos Institu- tos Federais}. 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