Você está na página 1de 236
Idealizado, produzido e editado por Created, produced and edited by Alinir Chediak C H | C O BUARQUE 55 misicas contendo melodia, letra e harmonia (acordes cifrados) para violao ¢ guitarra. ll 55 songs containing melody, lyrics and harmony {numbered chords) for acoustic and electric guitar. lM Todos os acordes cifrados esto representados graficamente para violdo ¢ guitarra. W@ All numbered chords are represented graphically for acoustic and eletrie guitar. Volume 4 : 3* edicao HMIAR 3¢ edition ms sk rat ig 2 7 herent aeRO cane ame moe 0 reven a. anata songbook 2 ico hen Volume 1 Volume 2 Caio Buanyuer 0 mesie da cangio Chico Buergue: the master Chico Buanque: o mesire da cangho / Chico Buarque: the master ef rong Abnir Chediak Sonal efsoay Alimie Chediak G erague Chico! Allan Cries Sérgio Cabrel Ganisinea tempe! The arta nd time” José Miguel Gulnerme Wien MUSICAS SONGS MUSICAS SONGS ‘Abad ce Reem are a ‘Aealanta para less | 0 pis ent : gS ‘foro da cara FL Arman soe rake oO Segara land sri FE} Rhos danentos ‘o ‘Alsincase » TL) ASpeemues dee ws o 4 ne Nowe Nem meter Bb ‘Rrwivs du cidade BG Re Seng | ‘Reonrace vento 2) evant 5 Saminnas merinay "| : a ‘pena ce woe? B sseeatemento 5 ot hes Bas uiteines ao | ‘Ae pensel TD Aielowsse setavewite a Banat hives 1D Barswe mt o Benvinga » DB Bisse. Ie n fam consclie SG Bomtenpa o Cale a boon, Bértara Cx 5 Cinatando me tor Do Gale: a SG Cwasevia 5 a 5 Q a Baesusjanets BL Cebe de video o Esicgoe usraik Ej} Com ui sus aba. : a Fares Gh Deseret a ‘Genie sepeiim 5 Due 5 Gears hoict Eeleada Ssrapleta a Hise: Daswe : Qo Pohheim. 5 ro, St. Giro Mommies 12> S Fonatera ou Tessie inpurses a Jipassou B_ raceraa voow s Leve demana o oped? SI bea SONU a amber) : Bi Mevretize > ne ia Mere in oe Napercees| Benines, eu vi Moxe-coetiaus > * Nap ex t= peead a0 sil do equades” | Neve amor Kio sonha ie Oeee misico Ove duierra © mewamor 8 fotesal 1B also Fiice ‘Once Eeue voot ess Paleyra de ml Outs noite Pasi ato : Overt Parciiee Bunsiedy (22S Pedscoce nurs i Palas rebels Pedio pect ree Quando 6 carnaval enegar . Reales Remaace « Rattsto em wranso © pein FRosa-dos-venics Rioa? Stois ‘Samba e amar Samba ce O25 Sem agar Sem fanasia| ‘Seve que Cristina voli? Sermienomal Senha somos 550 Sop medio Sango de soil Female samba “Treneses ‘Tod sentiment > : 2 d0o0o0bSb0abi Sbboobbobbat: @ obbbbnooonsbesbsb00noobSb Une cangio desnaierada ens mens ‘Valsiana Va passin. ‘ ence ea vide qucin ia si Valse ranean na vee . Viver 08 anor Discografia Discearepay Diccoprafin Discograpiy a a < Songbook 0 Chie Beary2 Volume 3 ‘Chico Byerque: o morte da congco {Chico Burges the master ‘of tong, Ales Cheick Chico Buarque’ ctador ¢ wvelador Ge Senidoe I Chico Buarges ‘reator snd rovdaior of necninge Alia Bawerra de Meneses MUSICAS SONGS ‘Ai se 208 me pega ago ‘Reaanh, nlaguem sabe mos barat ‘ade Amster Nias Ne feies : Ratti Basten L Bau 3 Berger Bre da Crud ads vet? Enos ‘kode evmerais uta : Sonatina 2 eas 2d iain Deas anor Ela conan Eneane longa | Homenagem a6 ridiandro ‘um francesa Ei de Cpa Lao watseeesr Mano a ma Memenate Mewar amiga Morera ds Angola Nio ful de Man Newo taleco : Sole dos mascarias Ros boro 2 Oval Onevwal | Prone Mangivira Pois € * Primeis i niaio ‘Guava amet Roane Samba ga Vici Secu fone ou pate Sobre os tacts Stburvenseoragto ino aur Tenpoe aiisia ‘lea bs exis de mica ‘Toscandven nos Urnchovisho Umase otras Vat ievand Yale base Wed nip ove © soda oanAnnAAADAAAnoN on bnoohwononoooesbbebabbabsbiis Discogralia Discos raphy Volume 4 Shee Buster o mes canglo J Chico Buarqu: the master of song. Alin Chediak 6 TEntrevisia — Fl, Chico Be aequs | feterwiow — Talk foe Chico Buangue MusICAS SONGS A HistSr9 oe Lily Baun 32 AAruier de essa por 39 ‘rst as por 36 ‘Rta do malar 8 ‘A s02 do dono €. dono da vo a arcque fi § 43 Bastdores ae Beatriz : u Sa oi Nou no ode So 31 ve, eas : 3 Coot ae =o a Chore bandidg 22 “s ‘Com agen, som aleeo DUI gs ‘Construgeo se 7 Conene a 31 ‘Baus he pagae 77 ie 6 dangerina 85 Esa eoga heezerte as: Fado topical n 82 2 n 95 atures ameres 98 Geese humic» Rae Goa’ aya See ole ¢ Mana i Levaicados de oie 212 Inacheit sce vests ls Mada (05 pro tar Marini: ‘Meret dos sihos digue ‘Meare Bets Irnéos m ‘Muller. voo der qeania ie amo.” 132 Mueres de Atenas 128 Nacarsin 135 Niesnor 139, Seassraemo dos pesueros burgueses 182 Oto 151 tha Maza 1 Obtoe cas clos » ose Gate serd—Avsrara A Rorda pete A hor dete 138 Oveno Paratodos Phew ‘Qusin oS iu, quem we ve > Samba de grande amor Soneto : Sonna de um comaval <2.7 ‘Tante saudade “ans palaveae| ‘Tawagent, (Umm palaves Yar ascii Vagabinds Yooe vot me segue, Voce. wae ote de anvegiio Discografia Diseagrephy Senghook 5 Chico Buarqse LB es [1 Capa e dlagramacdo Tower and Graphic Layout: Brum Liberate Chris Magalies Compesigte Gréfiea das Pideyte de etrastries Ji César Pereira de Fatma Pereira dos Santos ‘Oiiciva Partituray/Music eype-serter: isnies sages ssi SAN s8a5s26 908 WOscopyrishs des =< C)Roioda CapalCumer ——TTrameriggode Composite Grafica Conporgier musics Photo: partituras fins Letra Graphic Gimnets album cwin inden. Frederico Mendes Fron Composition of bores: dsr fin cada ras. Fred Mic / Ricardo Gily Lateta Dobbin Music conyrishsare found cs Coordenagto de tha and of cock song Fredacaa/?reduction Diagramme das (1 Assistentes de Produste Coordinaen: maacaenmete tee _Uiate Sogo [1attor RespomsvelChiep Ane Dias Somabook Prodi sian: Eaieor onda Ramos Aan Poste 2 Verstoremstin Lemos Amir Chediak versio ~ projet Gr Crate uardes ‘ \Direitos de Kgs para 0 _Projete GrilicoGrephie ‘Mba Chedih? Chive Gani pomaauole Progect: Revise de ‘Enarque /Cristovaa Bastor / pratt mar ‘bie Chedta TesteuProefreading: fun Guest/Reanio Gly Tamar Fluor = & Borgo do Nena Gonates Rael ane Benanal 213 CEP 21380- 530 Ria de Janeiro, RI Tet: (219997 2934 Home page: baniarcom.br Exmatts tartaror'@cl.com. br Bonghonk 7 Chico Baangee Chico Buarque: o mestre da cangéo nha admiragto por Chico Buar que vem desde os anos 60, quan- do ouvi suas primeiras misicas no radio. Lembro-me de ter ficado emocionado ouvindo cangbes co- smo Tem mais samba. Sonho de wr camaval, Olé, old. Pedra pearei ro. A Rita, Quens te vin, quem te v6 A banda. Essas isicas me marcaram muito, senti uma identificagzo mediata, havia um estilo bem definide de cornpos. Ta- do era muito bem-acebace, mosica e letra se encaixan- do, isto €, © som da palavra em integrago absolute com amibsica, uma caracteristiea marcante na obra de Chi- co Buarque. Por ser um compositor essencialmemte can- cionista, talvez a melhor maneira de ouvi-lo seja em forma de cangdo: miisica e letra sempre juntas. Além de ser um mestre em unis esses dois elementos fun- damentais na mtisiea popular, Chico ¢ também primo- Toso em harmonizar suas cangdes. hobitidade que ele foi desenvolvendo com o passar dos anos. Nessa época cu comegava a dar as tinhas primei- 12s aulas de violioe havia criado uma espécie de song- book particular para poder ensinar aos alunos. Chico Buarque era © compositor que tinha ¢ maior mimero de masicas, o que j4 demonstrava a minha enorme ad- miragio por ele Sempre compre’ texios os seus discos. Aliés, € de se observar que muitos deles langados nos anos 60 ¢ 70 tinkam cinco ou seis mmisicas executadas nas rddios, tor- nando-o um dos compositores com 0 maior nimero de sucaisos mestés GlLimos trints amos. E todos esses su- cess0s aconteceram prinefpalmente em fungao da quae Tidade de suas miisicas, que van ao encontro do posto popular. Chico é um dos compositores mais queridos e respeitados em todas as classes socials. uma conquista que se deve ndo sé ao seu talento e carisima, mas, taut ‘bem, 20s seus atos como cidadio, Na série Songbook. este € 0 que contém 0 maior niienero die miisicas, Sho 222 cangSes divididlas em que tro volumes. todas escritas exclusivamente para este trabalho € revisadas por Chico Buarque ou por seus parceiros. fazendo com que este Songbook seja 0 mais fiel possive! ao que Chico gostaria Sérgio Cabral, escritor e jornatista: Adélia Bezer- Tu de Menezes, professora de Teoria Literéria ds USP € da Unicamp ¢ autora do Livro Desenho magico, Poe- € Sia e politica em Chico Buarawe: José Miguel Wise nik, professor de Literatura Brasileira da USP. com- positor ¢ misico: € seu filho, Guilherme Wisoik, af= quiteto ¢ miisico. colaboruram na elaborago dos 188 tos deste Songbook Os oito CBs do Songhook Chie Buargne lat. gados pela Lumiar Discos contusam com x partici pagao de mais de LOO artistas da MPD. interpreran- do as 119 cangées escalhicias parg este projeto. tor- nando-o assim o maior sonzbook realizado na mt siea popular bras ‘Agradego 2 todos aqueles que colaboraram diveta ou indiretamerte para 2 realizagio deste trabalno Almir Chediak Chico Burge ¢ Alnte hes Songbook © Chco Buon Chico Buarque. the master of song “ve greatly admined Chico Buarque since the 40's, wl Dheard his very first songs on tite radio. remember fecling quite moved upon hearing songs such as Tem mais sem- ba, Sonho de um carnaval, Ol8, old, Pedro pedreiro, A Rita, Quem te viu, quem te v8 tind A banda. They left their mari in me, The identification was immediate. there was a very de- fiuite way of composing. Evervthing was very well ‘nished, music and words fitted perfectly into one nother which is to say. the sound of the words was completely integrated with the music, a remarkable characteristic in Chice Buargue. Since he is essen tially a songwriter, perhaps she best way of listening Jo him is precisely in the form of song: words and With Altair Cheviak, 1998 music, always together. Besides being @ muster at Joining these two crucial elements of popular mu- sie, Chico also excels in harmonizing his songs, abt lity he's developed throughout the years. Twas beginning 10 give guitar lessons ar che tt me and had created a sort of private songbook for my students. Chico Buargue was the composer with the greatest namiber of songs, which uiready sho- wed my great deference toward hin ve always bought all of fas records. In fact, ma- ny of the ones released in the 60's and 70°: had Jfive or six of their songs aired on the radio. ma- ‘ing hin. e of the composers with ihe greatest num. ber of hits in tite past thirty xears, These songs we re big mainly due to their quality. they satisfy the public's taste. Chico is one of the dearest and most respected compasers th ail social classes, a suc- cess thar can be attributed not only to- his talent and charisma but also to his actions as a citizen In ihe Songbook series, hls one contains the grea- test number of songs, There ere 222 of them divided among four volumes, all of tem transcribed exclusi- vvely for this project and revised by Chico Buarque or py hits partners, making this songhaak as close as pos- sible 10 Chico's wish Writer and journalist Séreio Cabral: Adélia Be- serra de Menezes, professir of Literary Theory at USP (University of Sdo Paulo} and Unicump {Ue niversity of Campinas) and author of the book De senho magico. Poesia ¢ politica em Chico Buarque. Magical design. Paerry and Politics in Chico Buar quel: José Miguel Wisnik, professor of Brazilian Literature at USP. composer and musician: and his son, Guitherme Wisnik, architect and musician, par- ticipated in the elaboration of the texts included in this songbook. The eight CDs of the Songbook Chico Buarque released by Lumiar Discos had the participation of over 100 Bracilian artists, performing the 119 songs included in this profect-which makes it the biggest Songbook ever produced in Brazilian po- pular neusic. T thank alt of hose who participated directly or indirectly tn this project. Almir Chediak 7 Ayesha: Songbook 1 Chics Busrwue Fala, Chico Buarque Se fosse feira ume investigagio para identificar os brasiletros que mais produtiram na crea cultural, des- de a década de 1960, 0 nome de Chico Buaryue de Holanda, cenamente. seria um deies. O vohume de obras deste Songhook ~ ¢ maior entre todos os Songbooks = ndo deixaa menor divide. Séo centenas de muisi- vres, atior teatral e sua presensa nox patcos da Bro sil. Se a obra musical de Chica impressiona peta quan- Hdade, inpressione muito mais pela qualidade, Um criador lo seu nivel também tem muito a di ser, racdo pela qual apresentamos a muior das en- cus, sein contar o saz atividede come escrttor de li Almir Chediak: Para come- gar, gostarta gure voee faiasve dos seus primesros comaios com a mai- sica. Como é que fot isso? ‘Chico Buarque: A lembran- a mais remota éa dos meus pais Cantarolando muisices como Ut- ino desejo. na case de Sho Pau- Jo, na rua Haddock Lobo, onde morei dos irés 405 gito anos de ivade. Em 1952, a familia foi to- da para Roma, mas me lembro tambérs que. antes da Viagem; eu ouvia rédio. Chediak: Que radio? A Na- cional? Chico: Possiveimente. O ré- dio era de minha babé, ou me- Ihor, da babs dos sete Lilhos dos meus pais € que depois virou co- zinkeira, Acho que era a Nacio- nal mesmo. porgue em dos pro- gramas que a gente ouvia era aguele do primo pobre ¢ do pri- mo rico, o Balanga mas ndo cat. ‘Mas havia muita misica, princi- palmente os sambas ¢ es marchi- has de carnaval, gue eu adora- va. Me tembro da Linda Batis- ta, do Blecaute, da Marlene, da Emilinha, da Ziida do Zé, do Jor~ ge Veiga, todos cles cantando mii- sicas de carnaval Depois. na quaresma, mudava 4 programacdo ¢ entrava a nis a de meio de ano, como era cha- mada, Era samba-cango, bolero. mas eu gostava mnennos disso Chediak: Voed nto owvia disco? Chico: Antes ds viagem po- ra Roma, minha ima Micha go- nbou uma vitrola, ainda daguelas de dar corda, Nao era elézrica nao. Mas acho que a Miticha s6 tina tum disco, disco de um lado 36. porque 0 dia inteiro tocava uma misica chamads Bickarada. Quan- do a gente voltou para Sao Pau- Jo, dois anos depois, eparecev 16 em case um novo mével. que ne verdade era um toca-discos da marca Telefunken. Nequele apa- relho onvi Silvio Caldas, Araul- fo Alves, Dorivat Caymmi, Ara- i de Almeida, Mario Reis em due- to com Francisco Alves. Elizeth Cardoso, Les Paul, Ink Spots. 0 italiano Roberto Murolo ¢ outros Minha mide adorava Edith Piaf, Th nha também um compacto duplo com o Jacques Brel cantando Ne me quittes pas Chediak: o primeira con ta10 com 0 violde, como foi? Chico: Foi bem mais tarde © primeiro violfo que surgiu l4 em casa era da Miticha, gue ti- nha um citime danado do instru. mento. Ninguém podia chegar perto, Depois. minha irma Ana Maria aparece com outzo vio- Tao menor, esquisito, que nao rrevistas jd publicadas em Songbooks. Buarque tem muito a a Chico Produzia son: neuhum ¢ nao d Yaa menor vontade de tocar. Tix nnhe um tampa grend, a ponte cha mava 0 viokio de “eatupiri”. Quer dizer, violdo Id em casa era coi- sade mulher. Midcha comegou a seunir @ gente, minhas irmas © eu, distribufa as vozes ¢ for mava um coral para ela acompa: nhar no violfo. Meus ireiaos cantava: Chediak: £ quando foi que voes acabou peganda no violao? Chico: A partir da bossa no- va. Quando sai Chega de senda de foi um chogue tremendo, me Jembro perfeitamente. Ficava ho- ras, a tarde inteira ouvindo aqui- Jo, ouvindo, ouvinde, ouvinde. Conhecia 0 vila de Joao Gilber to desde o disco da Elizeth Car oso, Cancdo do amor demats, um disco que freqlientou muito a Te Jefanken dos meus pais. Joao to- cava violao em dugs faixas, Ou- ira vere Chega de saudade Mas a gravagio de Joao Gilberto era Siferente. Chediak: Foi Jodo Gilberto quem deronou tudo. Chico: Detonoa tudo! Ev e um amigo meu ficévainos ali com o violdo, tentando decifrar a batida ¢ as harmonias do Joao. Quando saiu ¢ primeiro LP do Joao Gilberto, a gente repetia nao Songbook i chee snore sei quantas vezes a introdugao de Aos pés da cruz, com aquele acor- de parado. Chediak: Tambim passei por isso, Chico. Chieo: Nao havia welovisio nna minha casa. A cara do Joao Gil- berto eu 6 fi conhecer pela ca- pa do primeiro LP, mais a foro da contracapa, cle sencalo numa pe- Gra, De vez em quande chegava alguém dizendo: “Vi aquele ea: ra esquisito que voe® gosta na te- levisao.” As vezes um outro fa- lava: “Acho que ele é bicha” E um outs, “Claro que € bicha!” Pois bem, o Joao para mim ficou sendo bicha durante um bom tem- po. E assim mesmo eu queria can- lar e tocar violac daquele jeito Eu tina quatorze anos, ¢ emia. era essa a idade em que os garo- Ton Wavchs tos comegavam a procurar mu- Ther, a se preocupar com sexo. Eu também. Mas a vontade de imi- tar Joie Gilberto, para mim, cra maior qué 0 pavor de passar por bicha. Ja vi o Caetano, 0 Gil. 0 Edu, todo mundo falando onde es- tava quando ouviu Chega de saudade pela primeira vez. Acho que a minha geragio entendeu 0 ‘Joao methor do que a geracio de~ le proprio. Aquela geracio conhe- eeu o Jodocinho dos quartetos vo- ais, quando ele ainda cancava ‘com vibratos ¢ astava se prepa- sande para ser 0 Joao Gilberto. A gente, quando o conhecen, ele ja estava pronto, Era ima aparigo, Chediak: Jodo Gilberto revo. lucionow. Aqueta batida no viola. Chico: Fu implicava com mi- aha irma porque ela tocava violdo ° Songbook 9 Chk Busase “bossa velha” Nto gostava mais Chica: Comletra Eas letras Chediak: Fle fregiieniava a aquilo, eu 86 queria saber de bos- ainda eram piores. Das que me sua casa? anova. Durante alguns anos, fui lembro, a pior se chamava Anji Chico: a casa dos meus pais, tum seguidor fanitico da bossano- rho de papel. Erauma tentative de quando era casado com a Mischa, va. Rencguei ido aguilo que ha- ser aguela miisiea Prasente de No Mu in pravado Pedro via escutado ances. Engragade € raf, que © Joo cantava com in- pedreiro, meu primeiro disco. | ave, poutco antes disso, gastava fludncia de colégio de padre. ‘Antes disso, nao tinha quem me ' muito de Elvis Presley, Lice Ri Chediak: Woe? rinke: 0 que, ensinasse. Nas reunides de bossa chards, The Platters, esse coisa to- 17, 18 anos? nova, uo Rio, aquela coisa de to- da. Gostva também de Ella Fitz- Chico: Por ai, Me iembro de tet do mundo ficar sentada no chao, gerald, sabia de cor squeles seas, cantado essas coisas num show- cantando baixinho, tinka uns su- adorava Julie London cantando Cry zinho do colégio. 9 Colég' San- _jeitos que tocavam violao meio de mea river, gostava de Frank Si- ta Cruz. ‘costes, para voce ne roubar os naira, das orquesiragSes de Nel- Chediak: Zocava ¢ cantava? _acotdes mais preciosos. Depois co- son Riddle. ouvio diseos de jazz Chico: Tocevae centava. Aliis, hee’ Toquinho, que havia estuda- na casa de um emigo, Miles Da- eu disse que nfo tocava outras mil-_ de com Paulinho Nogueira e me vis, Osear Petezson, Mingus, John sieas, mag isso era bem no come- deixava alhar um pouquinho. Fui Coltrane, mas a bossa nove apa-cinho. Na verdade, forgando um —aprendendo alguma coisa. rece como uma coisa iguaimen- pouguinho a meméria, me Lembo Chediak: Vamos as suas pri- te moderna e era miisicu brasilei- deter cantado naqueles show2inhos raciras muisicas. Quais foram? Fa, quer dizer, era uma imiisica que Primavera Samba em prelidic.Em Chico; Me lembrode uma que estava ao meu alcance dizin “leva ...200 resto dessailue —f ning edink: Fol af que voce 6 & qpereceu © Nelsinho — S%."#que ev apresentl nam pro- Chico: Eu nunca ganheium vio. Motta e firou © violée America, ao vivo. Eu estava cane , Ifo, Nao me iembro... Acho que da minha méo tando no maior enlevo, pensando tne apropriel do voleo da Miceoe. aque era 0 Joao Gilberto, quando Chediak: £ voce seiembra des So Paulo, um sujeio que soubes- um galato na platéla gritou: “Ju- prneires dordes que ez? Nomen se toca bossa nova noma festa fa-_€@ Chaves!” Figuel ofendido, pore Caso. foto maximo. Erauma mie Zia otiaice sucesso. Odiabo€ gue que 0 Juca Chaves cantands nfo Sica te Dolores Duran, Mas #v0- euvpassava ag minhas fésias no Riv. era uma imitagao, era uma paré cé o enirevistade, Como foi sso Melembro.de uma vez,em Pot's- éit Ja oto Gilbert luca Caves com voc®? polis, eu via tantes pessoas tocan- cantando Presidente bassa-nova, ‘Chico: Taivez porincapscidade doe me dei conta de quanto eu nao para mim, cantava “contra” Jou) de reproduzis os acordes do Joo Gd- sabia de violaio. Outra vez, napra- Gilberto. Se bem que, pensando: beno,comecel ainvenrarosmeus, jade Ipmema cm freme 00 Coun agors, num pensarvento mais se Tentava fazer uma musica pareci- try, comecei a tocar © aparece 0 vero, nés, adoradores de Jowo Gil- da coma que ouviao Joo tocar, mas Nelsinho Motta trot oviole da berto, imitande Joao Gilberto, como safa tudo diferente, set (que- minha mao antes da milsica acabar: quem sabe atrapelhamos a vida de- misica, pedagos de harmonia. Chediak: Yocé tinha um ami- cas havia também uma marchinha | ee ee ee acrinnaceisheace Siar tne’s Shine unset rnocenes Tiahos Lyra, do Sérgio Ruearde, que aprendeu junto comigo maseramais um! dia de sol, gravada por uma eu ia eolando uns nos outros, as- aplicade que ev. Dando um pulo — cantora paulista muito boa, Mari- sim eram as minhas mésicas. no tempo, me lemhro de fazer um ene Costa. E Tera mais samba, que Chediak: Jc compunha com acorde e Joao Gilberto me dizer: eu compus para um musical chee Jena’ “Nao faz assinn, Faz esse aqui” made Balange ele Orfeu, ¢ era can: 10 Chico Bauryue ¢ Nelson Mora cada pelo Taiguara, Depois, fiz 5 hho de um carnaval, que concor- cou no festival da TV Excelsior. ern 1965, cantada por Geraluo Van- te, com atranjo do Erlon Chaves. Foi aquele festival que Edu e V nicius venceram com Arrastio. cuntada por Elis Regina. Mas, bem antes disso, também me lembro de ter participado de uma novela do Roberto Freire na televisiio, Er uma novela com Eva Vilma ¢ John “songbook 3 cui Banco Ato Tae Herbert, Eu era o garoto que apa- yecia numa fesia para tocar bos- sa nova, Cantei uma daquelas bo: sas novas que fazia na época, cha~ mada Teresa tristeza, Chediak: No seu primeira di 9. vacé gravou Sonho de urn car- naval ¢ Pedro pedreiro, Chica: [380 mesmo. Quando fiz Pedro pedreiro. tive a sensa- dy de que pela primeira vez e5- tava compondo urna musica real mente minha, que ja ndo era mais, imitagao de bossa nova. Daf em diamte, as coisas comecaram a acontecer. Chediak: Sono de um ear- naval € uma muisica original, Chico. Chico: Mas eu achava Pedro pedreiro mais original, De qual- quer maneira, foi essa miisica que me levou a ser convidado a gravar um compacio simples pela RGE, ‘uma pequena gravadora paulista, E havin um zadinlista de Si0 Paulo, Valter Silva, o Picapau, que apadi- ahou a gente. A gente era o Toqui- ho, o Taiguara, uma cantora cha- mada Ivete, outra chamada Maria LLicia, eu e uns outros, Comegames cantar na primeira rairte dos shows de bossa nova. Eramos nés, os amma- dores Uc So Paulo. Na segunda par- te vinha © pessoal do Rio. Chediak: 0 disco fez sucesso? Chico: Fez algum, prncipal- mente em San Paulo, Dat, fui con- tratado pela TV Record e passet a cantar num esquema profissio- nal. Nessa época tui convidado pa~ ra cantar num programa de telev sdo no Rio, num programa, ali gue cu no tinha a menor idéia do que se tratava. Peguet um Onibus © vim para o Rio. Cantei Pedra pe- dreiro © o apresentador elogion a musica, Depois. ums tia minha fe- low: “Filhote, morri de medo que cle quebrasse 0 seu disco.” Era o Figvio Cavaleanti, que quebrava os discos com as mtisicas de que ntio gostava. Eu nao sabia disso, gois do via televisio. Na minha casa nfo se via televisto Chediak: Efe quebrou o primmei- 0 disco do Martinho da Vila. Um més depois, convidou 0 Martinho para 0 programa ¢ disse que cle 274.0 maion Com que idade voce passou a ver ielevisdo? i ke Chico: Quem tinha televisie li em casa era a baba, Ela passou do rédio para a televisiio na época dos festivais, Entao, a televisae da ca- se ficeva na cozinh: Chediak: Quer dicerque, gucn- do a televisiin chegou é suc casa, vord jd era o Chico Buargue? Chico: Estava comegando a ser © Chico Buaryue. Na Record, ha- via uma parada de sucessos cha- mada Astros de disco que dorava ores. Comegeva ao meio-dia com 0s dliimos colocados, os dis- cos colorados em quacragésimo ugar. Eu entrava assim: “Em vi- ¢gésimo primeiro lugar, Pedro ne- dreiro.” Avs poucos fui aparecen- do nos outros programas, sempre para canter Pedro pedreira. 14 no agientava mais Chediak: Depois, veio Morte € vida severina, Chico: £ verdade, Isso foi em 1965. No ano seguinic. a pega ven- ceu o Festival de Nancy. Chediak: Err 1966 acontecew mutta coisa Chico: Logo ne iicio do ano, Naa Lelio sei com trés misicas minhas no disco deia, Aquilo foi muito importante para mim. Ser gravado por Nara Lego era uma marca de qualidade. Ela era mui- to conhecida ¢ muito prezada p Jo repert6rio, por gravar misicas de autores novos, como Edu Lo- bo, Sidney Miller ¢ cu, ou com- positores gute estavam esquecidos, comio Cartols, Nelson Cavaquinho € Zé Kati. Naqueie disco havia ts msicas minhas: Olé old, Pedro pe~ dreiro ¢ Madatena fot pro mar Chediak: Eu tinhe 16, 17 anos quando comecei a dar aula de viow [ao € pegava as priineiras musicas para tirarz harmonia. Olé, old me deu um trabalho danado, Ha ne- Ja uma seqigncia harménica dife- 1a Bongbeak OC Bumne rete de tudo, urna coisa muito ori- ginal, Como foi que essa musica saiv? Foi uma coisa intuitiva? ‘Chico: $6 podia ser, porque eu io tinha conhecimento teérico nenhum. Chediak: Em 1966 vocd estou. rou com A banda. Chieo: Foi a miisica do festi- val da Record. Tirou o primeiro lu- gar empatada com Disparada. de ‘Téo de Barros e Vandré. Ainds an- tes do festival fui convidade pe- lo Hogo Carvana para participar de um show com Odete Lara = MPB.4, na boate Arpége, 20 Le- me. E resolvi morar no Rio, Nas- i no Rio. as tui cedo para Sao Paulo. Mev apelido em Sio Pau to era Carioca, Antes de ser Chi- co Buarque, eu era o Carivea, Howvio rivelidade entre nés,mas era uma tivaidade soud Chediak: Quando foi gue vo- eé decidiu estudar misica? Chico: A partir do men convi- io com Tom Jobim, em 1967, Tom foi comigo & Lapa, na loja de um alemo, ¢ me indicou um piano pa- ra comprar. Era um piano de ar- mério. Comecei a tomar aulas com Wilma Graga. Chediak: Eu me lembro disso. Ela dizia que vocé pegava tude com muita rapide. Chico: Duzante um ano estu- dei com ele € aprendi tudo o que sei de tcoria, Clero que aprendi também na prétice, liduncio com meus parceiros e com meus mi- sicos. Uma vez, fiz uma letra pro Toquisho, Lua cheia, E musiquet Joto Cabral. Mas, nozmalmente, fazia letva e mfisica, Achava que no precaseva de parceiros. Come- cei a fazer letra para 0 Tom, de pois pare o Francis Hime, para 0 Edu Lobo. isco tudo me aerescen- ton muito come miisico, Tom ti- mha a faculdade de ser um mes- tre sem nunca parecer didético, To- cava a tua musica, enfiava um acorde dele ¢ falava assim: “Vo- 6.6 um creque, hem!" Se bem que me lembro muito do Tom também ame dizer pra eu preservar de cer- te forma 2 minha “ignoraacia”, ow seja, 0 que eu sinha de es- pontanco. a minha intuigfo mu- sical. Mas havia aguelas coisas que eu devia corrigir. Chediak: Vace falou pouco da festival de 1966, Chico: Eu jS cantava A benda para 0s amigos, mas as muisicas de festival tinham que permane cer inéditas. Nesse tempo eu cruzava muito com Gilberto Gil. ‘que trabalbava na Gessy Lever, em Sao Paulo. A gente se encontra- vva sempre num bar da Galeria Me- wépole, chamado Sandchurra. Lembro dele cantendo miisica que estave guardada para o mes- mo festival, Exa o samba Ensaio eral, que terminava assim: “vai veneer, vai vencer. vai vencer...” Era muito bonito, mas eu jé achava que quem irié vencer era eu, Havia rivalidade entre nés, mas era urna rivalidade saudavel, por. ‘que escancarada. Chediak: Quando ganhou o primeira cache, vocé imaginou que dava infcio & sua carreira profis sional? Chico: O primeiro caché era um dinheirinho tom para um estudan- te de arquitetura (na época. eu es- ‘tudava arquitetura). Bem, bebi o ca- che com 0s meus amigos. 14 0 meu primeiro salério. na TV Record, era de 500 cruzeiros, ou 500 mil eru- zeiros, ou cruzeiros novos, enfirm. Songbook © Cri Bose Cena da paca Mone e vida soverina, década de 50 estou bem lembrado que eram 00 alguma coisa porque eram apli ccados nas prestagSes de um carro. um fusquinha usade chamado Clévis. Foram 10 ou 12 prestagoes. Era receber o ordenado e pagar as prestagdes. Continuave estudando arquitetura porque nao tinha a ve- Jeidade de me tornar urn profissio- wal da mtisica. Achava que aque- le dinheiro que recebia servia apenas para comprar um carrinho, tum violao, pra pagar a cerveja, pra me divert. Achava que musica se. fia uma atividade passageira. i Chediak: Mesmo depois de Pe- i dro pedreiro © A banda? | Chico: Mesmo depois, duvida- : va que aquilo fosse uma profissdo. Chediak: Mas com A banda ve- cf ficou superconhecido. Chie Buaraue € N Chica: Foi a maior sesso ‘capa de revista etc. tal, meu salirio aumemtou ¢ passei a fazer shows com muita freqiiéncia ‘Comecei a viajar muito com 6 vio- Ido e o empressrio. Geralmente ia cantar em clubes, pelo Brasil inteiro, © clube parava ¢ danea. eu cantava meia hora com 0 vio: Hao ¢ a danca voltaya depois. Ga- hava um dinheirinho. mas niko era grande coisa. Nos anos 60, nin guem ficava rico com musica, Cantor, gals de novela, jogador Ge futebol, nada disso dav mui- to dinhetro, Chediak: F 0 diveito autorai? Chico: Cust: s reveber. Ganha- va na vendagem de discos, nos shows. na televisho, 0 que me per- mitiu comprar um pequeno apar- tamento no Leblon, além de um fusquinha nov. Mas na Spocai no existia © ECAD[Bscritorio Cen- tral de Arrecadiagio @ Distrib gio], Seo ECAD é um desacero, sem ele era muito pior. Existiam va- rias sociedades arrecadudoras de dircito auioral, umas panclinhas que relutavam em aceitar um s6- ei9 nove. porque seria mais um dividir ¢ bolo. Quase um ano de- pois de 4 banda ¢ que fui adie ido na UBC [Uniao Brasileira de Compositores). Chediak: Quando fot gre vo~ ef decidixs deixar a arquiterura? Chica: No terceiso ano da fa~ culdade, Na verdade. ex nunca acreditei muito que seria arquite- co. Tinha ura vega idéia de ser jor- nalista, porque gostave de escre- ver. Antes ce entrar para a arqui tetura. também pensei em ir pa- rao Iamaraty. Achava ous Lé as pessous bebiom ¢ fazisin mutsicas © porsias. Chediak: Par cause do Vnicias tale: 1 ae z ed Songhook ri Busnve ‘Chico: Por cause do Joo Ca- bral também, Mas eu gostava mui- to de arquitctura. como gosto até hoje. Além do mais, havia na épo- cn todo aquele entusiasme por Bra- sttia, por Oscar Niemeyer Chediak: Tom Jobim rambem estudou arquitetura e abandonou a facuidacle, Falar nisso, como foi seu encontro com ele? ‘Chien: Quem me levou & ca- sa dele far 0 Aloysio de Olivei- ra, dono da gravadora Elenco. Alias, 0 sonho de todos nds era ser artista da Elenco. O Aloysio tuna acabaco de produzis 0 dis- co do Quazteto em Cy, onde clas camtavam Pedro pedreir. Alov- sio era um sujeito muito xenero. So, muito atento a6 que fieuel esperandc respostc que velo num felegroma: "Very exquisite” dora que. poi incrivel que pare- 2. gostava de miisica, Foi parcei- £0 do Tom em vaxias cances. Fois bom, o Alaysio gostou das minhas miisicas ¢ me levou ao Tom Jo- im. Isso foi antes de 4 banda. Cantei Pedro pedreire para 0 “Tom, na casa dele Ga rua Nasci mento Silva. A partir de 1967, vi- ramos pareeiros. A primeira mii- sica que ele me deu para letvar ja nha ume gravagao instrameatal, num disco americano, e se chama ya Zingara. E ficou se chamando Retvato ent branco preto. Chediak: Como é que 0 Tora re- cebia as suas letras? Chico: Ele era muito engraga- oe muito erftico também. Quan- do o Quantetc em Cy ia gravar Re- rato em branco ¢ preto, deeidi de ‘éhima hora alterar um verso, Em ver. do “tenho © peito tie marca- Go”, sugeri que alas caniassern “0 ho o peito carregado”. Expliquei 20 Tem que 0 “tao” era uma mu- leta para completar as silabas da cangio. Ele disse, fingindo con- cordar: “Vecé 6 um erague.” De- pois teletanou pedindo para dei- xar como estava: “Esse “tenho 0 peito carregado” vai parccer que © sujeito estd com tosse.” De: vex eu cedi. mas em outras aca sides tive de finear o pt Ele me atigava, eu me defendia. mas era impossivel brigar com o Tom, Me Jembro que ura hora a implicar com 0 “branco © pre- ”: “E retrato em prete-2-branco, Ie comerint to" E gue 4 gente diz, Chico.” Entao s- efi que no lugar de “soneto™. que Fimava com “preto”, entrasse um “yamaniea”: "vou colecionar mais unt tanianee,..", A gente traball ‘Va pouco. mas dava muita risada. Chediak: Imogina for uma das primeiras metodias que ele erion, Como foi fazer wna leva para cla Chico: Fo) engragado porgue Tom dizia que nao era uma mi- sia pere ter letra, Falei: “Vou to- par o desafio.” Eu precisava da mii- sica porque nds estivamos fazen- do a tritha de um filme do Miguel Faria, Para viver wm grande amor, ¢ aquela melodia entrarie perfeitamente, Fiz # letra, nota por ota, mas custou z sair. Quando ficou pronta, o Tom jé tisha via- jado para os Estados Unidas. Man- dei a letra para ele € fiquei espe- rando a resposta. qute veio num te- legrama; “Very exquisite.” Em in. gles. exquisite € bom. Alias, em Todas as I{nguas “exquisite” € uma coisa muito boa, refinada, rara Mas esquisito no Brasil ficou sen- do esquisito mesmo. © Tom ¢ eu trocdvamos diciondrios e brincd- | Sangbeok = Chico Bourque Chico Buarque, Tom Jabier ¢ Vinicine de Moraes vamos muito com e3sas woisas de climvlogia, Enfim, ele wchou a le- tra muito bos, retinada. rara, mas meio esquisita, Chediak: 0 que foi que hou- ve com Wave? Chico: Eu ime lembro bem de quando ele me mostron a musi- cane iano, na casa dele da rua Codajas. Logo de cars eu fiz 0 pri meiro verso: "vou te cantar”. De pois levei a fica para casi. mas o resto da letra emperrou. O tem- po passava 2 Tom ia perdendo a paciéncia: “O Chico? Vood nao sai do “vou te contar’?” Um més de- pois, cle precisava gravar a mu siea. ai me deu uma prensa: "A- final, Chico. 0 que 6 que voce ¥ me contar?” Disse a ele que es ava meio enrolado, ¢ cle: "E To deixa gue eu mesino conto.” E fez a letra Vairias autras mauisieas dele co mo Nuvens douradas, Rancho has auvens — passaram por mim @ as letras nfo saieam. Chediak: Depois, vocd pas- sow fazer letra teinbém para 0 Francis Hime. Chico: Foi nos anes 70, tenho varias pareerias com 0 Fraacis. Tom alg feou um pouguinho Chediak: Ances visse vor} fae para a Meath Bere Foca Chico: Fui aqui estava tudo mnuito dificil, Fui {ivaado, asabei gravando um disco com arranjos do Ennio Morricone, com verses Ge Sergio Bardoti para o icaliano. 0 disco tinha unas coisas boas, mas nio fee sucesso aenium. De- pois cu que fiz as verses em por- cugués para as musicas de Bardor- tie do Luis Bucatus, no discs Os saitimbancos. que 9 Antonio Pe~ Gro aviaprou para o watro, Chediak: Ea censura, Chico Chico: Quando voltei ao Br sil, estava iosticuida 3 censura pr via, ou Seja, antes de serem gra vades, as letras eram eneaminha- as pare exame ma Polivia Fede~ ral. Naqueie tempo, alidis, 0 pre- senga da census era tn forte que as letras jé cram censuradas an- tes mesmo de serem escritas, A ‘censura ia se incorporardo m8 gen- te. Mas as vezes cobia. am recur- so em Brasilis, De alguma forma, gravadoras e censura tinham. 15 seuss eniendimentos, Daf, 0 advo- ‘gado da gravadora voava para Bra- silig, telefonava de la e dizia que se fosse trocada tal palavra, a mu- sica estaria liberada, Isso aconie- cen comigo diversas vezes. Esta- va em casa. almogando, ¢ 0 ad- vogado me ligava de Brasilia pax ra pergiintar: “Dé para tivar a pa~ lavra titiea?", e eu tinha de res- ponder na lata. de boca cheia: "T8 legal, bota coisica”, “Tira 0 bra- sileiro?", "Bota bataqueiro” & as- sim por diante. Quando se grava- va um disco partir de um show. como aguele que fiz. com Caeta- no na Bahia, a gravadora bo- tava uns aplausos falsos para abafar as palavras proibides. De+ pois comecaram a fazer a censu- ra prévie dos shows. O artista che- ‘gava numa cidade € fazia wo show A tarde, um show exclusive para dois ov tes censores com cune- 1a ¢ bloguinho na mao ‘Chediak: E ¢ Vinicias. Chico? Como voce vis « Vinicius? Chico: Eu também quis ser 0 Vinicius, que conhecia desde crianga, porque ele era arnigo do men pai. Queriz ser o Vinicius com mulheres bonitas, tomande aquele uisque, tocando violao, fe- zendo poesia. Nao queria mais nada. Quando veio a boss no- va, aumenton meu fescinio por cle, depois veio uma amizade muito grande. Chediak: F voce acabou par- ceiro dete. Como foi que voces fi zerant Valsinha? Songbook 51 aco Hanus Chico: Nés estivanios an Ar gentina, onde Vinicius fazia mn tos shows com 0 Toquinho. Ma- ria Bethdnia se revezou comigo nesse show, ¢m Mar del Plata, Af ‘© Vinicius me dav essa musica pa re escrever a Jewa. Claro que ele nfo preeisava de mimi para escre- ver letra neniiuma, Ter um parcel ro, para Vinicius. era um pouco como ter um compadre. Fazer par- ceria era wins forma de selar uma amizade. Fotos parceiros também em Oiha Maria, Gente humilde, Desatento ¢ Samba de Orly. Chediak: Quando comecou sua parceria com Edu Lobo? Chico: Jé nos anos 80, Bscre- vi para ele a letra de Moto-con sinuo ¢ depois fizemos O grar- de circe mistico, com roteire do idéias que surgem como se beivasse um sonio Naum Alves de Souza, baseade no poema de Jorge de Lima, por encomenda de Teatro Guaiba, de Cunttiba, Na verdade, @ parceria com Edu vinha sendo adiada des de 70-¢ poucos, quende ele fez 0% arranjos do diseo Chico canca Ca labar, Depois de O grande cir- co mistica vieram Q eorsdrio do rel e ootro balé chamado A dan- ¢4 de meia-tua. Fidu foi 0 parcel To com quem fiz 0 maior néme- ro de mésicas, Preze muito a nos- sa parcena Chediak: Qual o proceso ‘que voc’ adora para compar 6 sta obra? Chico: Quando recebo a mi- sica do parceizo, procure fazer 4 letra sem altersr uma nota sequer. Mas quando @ misica é minha, vou mudando, Muitas vezes, a mi- sica jd nasce anunciando as pa- avras, Pelo som, aparecem pals- vyras que vio puxando o resto da etre ¢ interferem na mésiea. Quando sou en que fago, a mu- sica € sempre mledvel. Chediak: Ja aconreceu de “baixar o santo”, ot seja, @ mii- sica ficar meio pranta imediata mente” Chico: Neo, mas ha idéias que surgeim como se baixasse um san- to, Pode ser uma palavra, uum ver- 80, um esbogo de melodia, Depois ‘essa idéia € desenvolvida. A me- Jodia se completa e a harmonia vai sendo hurilada durante dias. A letra s6 fica pronta na hora da Rravacio. Chediak: Voee jd compés dormindo? Eu me lembro que ura dia acorde’ com wna miisica que havia criade enguanio dormia. Chico: Meses atras compus ums musica inteira dormindo, 96 que a misica que ev compus nko era minha, Sonhei gue estava num taxi ¢ 0 rédio anunciou: “E ago- ra vamos ouvir Samba da biblic- teca, com Sérgio Ricardo.” Acor- dei com a misics completa na me- mériz. mas fui esquecendy aos poucos. Na letra, o Sérgio fale- vu da quantidade de livros que gente Lé na vida, e tinha um vet- so assim: “tem Tivro muito bom tem livro muite pau”. Telefone) para o Sérgio, que cu nao via hé um tempio e disse: “Voce tf ve- Iho pra caramba, pinguém mais diz que uma coisa ¢ mito pau” Acho que © Sérgio Ricardo nfo entendeu 0 meu sonko. Chediak: Escrever um livro ou compor. o que € mais dificil? Chico: Bssas coisas nie sto faiceis nem dificeis. pécie de vicio que o sujeito tem ow ado tem. Difictl € largar. a Songbook 2 Chic. Bane Talk fo me, Chico Buarque Fan investigation were made to identify those Tara- _ailians who haye produced the most eulisire since the 60°s. Chico Buarque de Hollanda’s name would cer- tainly be ameng them. The volume of works inclu- ded in this Songbook — the largesi of all Songbooks = leaves no doubt, He’s written bundreds of songs. and his presence on stages all aver Brazil. If his nm- sical production is impressive due to its volume, it is even more impressive in terms of quality. A creator of his calibre also has a lot te say. which is the reason we are presenting one of the longest interviews ever published in a Songbook. Chico ‘not to mention his Atmair Chediak: First of all T°0 like you te talk about your first ‘contacts with: music. How did they take place? Chico Buarque: The most remote memory Ihave is of my pa renis humamning songs such as timo desejo at our house in Séo Paulo, on rua Haddock Lobe, where I lived from ages three to ight. In 7952, the whole family went to Rome bu: j aise remem ber that | used so fisten to she ra dio before we moved Chediak: To which station? Naciona!? Chico: Probably. it was my nanny's radio, or rather the nanny who looked after my pax rents’ seven children and who la. ter on became the cook. Yes, 1 think ir was Nacionai because ane of the programs we ksiened to the most was the one with the poor cousin and the rick cousin, Ba- langa mas nie cai, Bur there was a tor of rausie, particuiarty sami bas and Carnival marchinkas, that Tloved. J remember Linda Batis- ta, Blecaute, Marlene, Enili- nha, Zilda do Zé Jorge Veiga, all Of them singing Carnival song Then, ajrer Lent, they'd change the programming and middle-of- theeyear music, as they used to eat it. would come on. They were sam 16 tivities as novelist, playwright has-cancées, boleras, but I liked these less Chediak: Didn't you records? Chico: Before the rip to Ro- me. my sister Miiicha got @ re cord player, ane of thase you hud 10 wind. [1 didn't run on electri- city. But d think Muicha ont had one record, with a single side, be cause al! she listened 10 was this one song calied Bicharada. When we went back t0 Sao Peulo, rwo years later, a new piece of fur niture showed up at our house. hi was actually a Telefunien re- cord player, | listened 19 Silvio Caldas, Atauifo Alves. Dorivat Cayrami, Araci de Aimeida, Ma- ria Reis in a duet with Francis- 0 Alves, Elizeth Cardoso, Les Paul, Ink Spots, the Italian Ro- berto Murolo and others on that machine. My mother loved Edith Piaf. She also had a four-track record with Jacques Brel singing Ne me guities pas. Chediak: And what about yous first contact with the guitar. how did that happen? Chie: Thar was much dates. The first guitar 10 appear ia the house was Milicha’s, who was ve~ ry fealous of the instrument. No one could come near ti. Later on, my other sister Ana Maria came cen to Buarque does indeed, Lup with this tite wetrd guitar thar didn't make any sound and that no one wanied to play. It had a burgurds:case and we used to call & "campiri” [0 type of cream cheese}. In other words. at our house guirars were girls” stuff. Miricha started gerting us toge- then me sisters and 1, aiid she'd divide the diferent voices and ma- ke up a choir to accompany her while she played the guitar. My brothers dicin't sing. Chediak: And when did you finally pick up the guitar? Chico: After the bossa neva. tr was @ huge shock when Che- ade saudade was reieased: I re= member thar perfectiy well. !'d Spend hours. the whole afternooh. listening 10 it over and over and wer again. I knew Jodo Gilber- to's guitar from Blizeth Cardoso’ aibum, Cangae do amor demais, that spent o lot of time on my pa- rents" Telefunken. Joie played his guitar on no tracks, Outta vez and Chega de saudades. But Jodo Gilberto s recording was different. Chediak: Joao Gilberto blew eversthing up Chico: Yes, he blew eversthing up indeed? & friend and me used to sit there with the guitar, trying 10 figure out Jodo's beat and his harmonies, When Joao Joan Gilberto and Mischa. the 60'S Githerta’s LP came our, we'd re- peat the mtroduction to Ads pes da cruz, with thar static chor, over and over again. Chediak: I went through dat too. Chico, Chico: We didn't have a TV at the house. I only saw Jodo Git- herto's face on the cover of his first LP. plus the picture on the buck, of him sitting on a rock, Eve~ ry uace in a while someone would reil me: “i save that weird uy vou like on TV." Sometimes, someone else would say: “T think he’s queer” Then, someone else would add: “OF eaurse he's queer!” Well, in my book, Joao went on heing queer for quite s0= ‘Songbook {I Chien Buane one rime, And still E wanted to sing and to play the guitar just Hike fui Dosis fourteen amd, in those days shige us the uige boys starzed sui ting te pick women up, worrying bout sex, Twas no differen, Bit ny desire to imitate Joe Gilbe 1p wats, for me, greater than 1 drevd of seeming queer. Ive seen Caetano, Gii, Edis, everson re sax where thes were wine the fesrd Chega de saudade for re Firsecime, Tahink my generation intderstevd Josie better thon brs enon Theit generation knew she Jodysinko from barbersinip quar wets, when hy stitl sang vith vie braves anu sas getting ready ie mura into Toda Giiberto, As for ns when we discovered hum, he was reads, He was om apparition Chediak: Joao Gilhero created -trevolution. Tht beat on the ganar. Chico: i sed f0 pick on ray si rer for plasing “bossa vetha” fold hows? guitar I didn't like thar suff anymore: all F cared about was bossa nove. (ras ¢ fanatic rollower of bussa nove for a few yours Trepected! evervthing Md lis: rened 10 hetare. The fuany thing iv thet, right before thai, f real- Jv hiked Eiviy Presfey, Lutle Ri thard, The Platters, things tke that. also liked Ella Pircgeratd: Tknew thase sears by heart, Fade- red Judie Loncion singing Cry me river. J hiked Frank Sinatra, Nel 19 son Riddle’ orchestrations, I lise tened to jazz records at a friend's faouse, Miles Davis, Oscar Peter- son, Mingus, John Coltrane, but bossa nova emerged like same- thing equalty ax modern, and it was Bracilian music, which is to Say, music wivhtn my reach. Chediak: Was that when so- meone gave you you fist guitar? Chico: No one ever gave me 4a guitar I don't remember. | thirk f ripped Muicha's guitar off. Chediak: And do you re- member the first chords you ma- de up’? In my case, they were the grenies: thing. It was this song by Dolores Duran. Bui you're the one. being interviewed, How did it hap- pen with you? Chico: I probably started ma- king up my own chords because Twas incapable of reproducing Jodo Gilberte's. 1 ied to make music simiiar to the one 1 heard Joao piax, but evervihing soun- ded difjerenr and}. uninsentional- Ih started co become a composer. Chediak: By playing parts of songs, parts of harmonies. Chico Parts. Badhy copied chords from songs by Tom. Car= linhos Lyra. Sérgio Ricardo, that stack 10 one another that’s what my songs sere like Chediak: Dic you slready compose with lyrics? Chico: Thai's right, with Ivrics. And the ixrics were even warse than the music, Of the anes I re~ member, the worst one wax cal ded Anjinho de papel. it artemp~ ted at being Presente de Natal, rhar Jodo used to sing. plus the Ca- tholic school influence. Chediak: How old were you... 17, 182 Chico: Something like that. 1 remember singing all of these Bemgrook ches Beare things at a school perfarmance ar the Santa Cruz school. Chediak: Did you sing and play? Chico: ! sang and played. As a matter of fact. 1 mentioned L didn't play other songs, but that was only in the very beginning. Aciualls, if T force mix memory a little, I remember having sung Primavera and Samba em prebi- dio at those little shows, In Sdo Paulo, any guy whe could play bossa nova was the life af te party. The thing was thai T used to spend my vacations ir Rio. 1 remember one time, in Petropo- lis, 7 saw so many people play thas I realized 4 didn’t know a thing about guitar Another time, atthe beach in Ipanema, right in No one ever gave me a guitor...| think | ripped Midcha’s guiter off front of the Country Club. 1 star- ted piaying and Nelsinho Motta came over and took the guitar away froni me before 1 was do ne: “Hold on, there’s a guy who knows how 10 play..." Thai hap. pened around 1961. Chediak: You had a friend who could play really well. did n't you’ Chico: Yes, thar was Olivier, who learned at the same time t did bui who was more dilfgent. Later on, 1 remember playing a chord and having Jods Gilberto ell me: “No, noi like that. Play this one.” Chediak: Did he come over to your house w 1ot? Chico: To my parents” house, when he was married to Micha. Bur by this point, 1°¢ already re- corded Pedro pedreino, wy first nee cord. Before that, I didn't have anyone fo teach me. In those bos- sa nova get-togethers, in Rio, tha- ‘se deals with evervone sitting on the floor. singing really low, the re were these guys whe practical: Jy piayed with their backs 10 vou, So you couldn't steal their more precious chords. Then I met To quinha, who had sivdied with Pau- linho Nogueira and who let me took a littie closer. So 1 started learning something Chediak: Let's talk about your first songs. What were they? Chico: J remember one that used (0 say “leva entdo o resie dessa ilusdo..." [take what's left of this illusion] which Tsang ar this live program, at Radio Amé- rica. 1 was completely enrapiu- red with my singing. shinking 1 was Joae Gilberto himself. when so- me Smart-ass in the audience yel- fed: “duce Chaves!” I was real- ly offended, because Juca Chaves didn't do Jodo Gilberto covers: he was a parody of Joda Gilber- to. For me, Juca Chaves singing Presidente bossa no “a gainsr” Jogo Gilberto. ds an afterthough:, thinking in & very severe way, we, the adorers of Joao Giiberto, by imitating him. probably caused him more grief than Juca Chaves did. Bur among my very firsi songs, there was al- so.a marchinha I used to play at the siudent shows in Sao Paulo, Marcha para sim dia de sob. recor ded by Maricene Costa, a very good singer from Sao Paulo. And Tem mais samba, thar / wro- te for a musical called Balango de Oxfeu and thas was sung by Tai- guara, Then, I did Sonho de um carnaval that competed én the TV Excelsior festival tr 1963, perfor- ‘med by Geratdo Vandré and are suunged by Erion Chaves. The wuss ‘he festivel Badu and Vinicins won “vith Arrastic, performed by Elis Regina, But way heyore that, fale so remember partivirating in a scatp written by Roberto Freire for TY The soap had Ever Vilma and Jolin Herbertin tt. 180s the guy who showed up at a party to plas hosse aava, P rang ome of those bossa novas Pd written at the ti- ‘ie, called Teresa tristeza. Chediak: For your first record you seconded Sonho de win ear. | naval and Pedro pedreire. Chico: That's right. When | werete Pedro pedreito. F had the Songbook 1 Cice Burwie feeling L was writing something ‘that was really mine for the first time, something that was no Jouger an imitation of iussie no~ va. From then on, things started zo happen. Chediak: Sonito de um carna- val is a very original song, Chica. Chico: Bur J though: Pedro pe dreizo was more original. Anyhow: I got asked to make a record be~ cause of that song. & single for RGE, & smeil Sao Paulo labet. And there was a radio broadcaster in Sio Pauly, Vdlter Sibva, mickna- med Picopau, whe took us under his wing, We were Taguinho, Taiguara a singer culled Ivete. mane another one called Maria Litcia, some orhers and myself. We sang, te first purr of these bossa no~ va shows. We, the amateurs from Sao Paulo, The folks fram Rio ca- me on inthe second half Chediak: Was the record a hit? Chico: Kind of. it was bigger in Sa Paulo, Then 1 was hired by TV Record und the context was more professional. During this period 1 bras dwited ro sing ona TY program 1 Rio, in fact Eknew nothing about ir, So I got on a bus and came to Rio. L sang Pedo pedreiro and the host complimented me on the song. Later on, an aunt of mine told me: Honex, Lalinost died. afraid he'd 2 breuk sor record” He, the host wos Fldvie Cavatcuitt, wile ttc the fut bit of breaking records of songs he didn's tke. {didn't know that sin- fe Libidn butch TU Neve wat ched TV at mis house (Chediak: He broke Martinho dia Vila's first album. Ome month later ne called Marinb back on the show snd said he was the area cest. How old were you when you started watching TV? Chico: Ar our house, the nan- ry onned the PV. She sent from ra di toTY iver then startet karin. pausie fstivats. Drovejore, the hoo fe TV stared fr tte htchen Chediak: {7 other words. by the ime TV rived ai your house you were already Chico Buarauc? Chico: wes heginning ta be Chico Buarque, At Record, thev ued ¢ his parce prowram called ‘Astros do diseo that weat on for hours. H started at noon with the last picks records an 40th ploce T came on like this: “Twenty-first ‘on the irs parade is. Pedro pede ro." Siowhs J started! woing om oti er programs, alweixs singing Pe- ro pedreira, # couldn? stand it ‘Chediak: Then came Morte « vida severina. Chico: That's right, That was in 1963, The following year, the Ploy won the Nancy Festal Chediak: A lot of things hap pened in 1966. Chico: Right in she hevinning of the year, Nara Lede chose th- ree of my songs jor her elbum That was really inportans for me. Boing reconded by Nara Led was 4 sign of quality. She was very well known and aighty esteemed Jor her repertoire, for recording songs by new composers, such ax Bdu Low 22 Seogbook 1 Cho Home Ino, Siclney Miter wnel myself. Or composers wi had been forget ea like Cartola, Nelson Cavagui aaho and Zé Kéri, There were the ree somes Pad woritien cin thes ale num: O18 ola, Pedro pedreita aie Mndalena foi pro mar. Chediak: I was 16. 17 when | started to give guitar lessons ancl 1 the first Songs to figure out the hurmony. O18, ote was Ly tough. There 1s a harmonic se~ ‘quence in it that’s different from everything. very original. How dic that song come about” Was it so= mething intuitive? Chico: There's no other expia ration since J didn't have any thee: rerical knowledge at the time. Chediak: In 1966 you were hit with A bande There was this rivalry beween us, bu it wos healthy rivalry Chica: 1 wrote it jar Record’s rausic festival. 1 care in first. tied with Disparata, written by Téo de Barros an Geraldo Vandre. Right hejore the festival I'd been invited by Hugo Carsano 10 do a shows with Odere Lave und MPB-4 ar the Arpége nightciub, in Leme, I deci ded wo live in Rio, Twas born ir Rio but went to Sao Paulo when fas very young. My nickname in Sao Paulo was Carioca, Refare being Chico Buargue. 1 wes Carioca. Chediak: When did you deci- de vo study music? Chico: After J mer Tom Jobun, in 1967. He went with me to La Pa. 10.4 store that belonged to a German. and suggested I buy this one piano. fr was an upright pia: no, Then I started taking classes with Wilma Graga. Chediak: I emember that. She used 10 Say you picked everything up very quickly. Chico: fsiudied with her for a year und learned everything 1 dnaw af theary. Of course Latse iearned from practice. in dealing with may pariners cai with my raw sivians, One time, Pyrat some reords for Toque. Lia ebeia. And I ser Jocio Cabral’s verses te music. But 1 normatly: wrote words and music. Trircught I did- wt need partners. I started wri- ting Isries for Tom, later on for Francis littne, for Ede Lobo, alt of this taught me a let es amu sician. Tom had the telent of be: ing a macs without ever seeming didacic. He'd play your masic and stick one of his own chords in the middle and say: “You're a star aren’s you!” Though | remember quite ell that Tora ased to tel me fo preserve “my ignorance”, in other words, my spontancity: my musical intuition. ut there were ceriain things Thad 10 correct ‘Chediak: You didn’t say much about the 1966 festival. Chico: 1 civead been singing A banda to friends, bur songs meant for festivals had to remain unre- leased, During this period. I used to ran into Gilberto Git all the té- mes he worked for Gessy Levers in Sac Paulo. We used 10 meet ai this har at Galena Merrépole, catled Sandchurra. t rementher hin sin- ging a song he wos saving for the same festival. I was the samba Ene sai geral. thar ended itke this: "vat vencer, vai vencen, vai vencer [it's gonma win, it's gonna win, i's gonna win...} It was good, but 1 elready thought Pwas gonna win. There was this rivabry berween us, but it was healthy rivatry since it was right in the open 2 fe fe o he ng a Nare Lean Chediak: Wien you got paid She your first gig. did you have any it was the beginning of a pro- Zonal earece” Chico: The first money f x0} wras a niee lathe sun for au er chisectuce eradena (1 studied ar. chitecture qt ihe times. Well, Irark the manvey wath my friends, Aly for my first salary. ar TV Re- ‘ard. than wars S00 crn SOU thousand Cruzcires. OF Oru Songbook = Chico Reargue eras seiras novos, whatever Tren inenaber well twats S00 something er another because the sum went tower my carr parinents, a VW bug called Clovis. There we= re 10 or PD insniitments. Pd get my pay and pay the car Tkepe sac. dying architecture bevause f dial not have the velleity of becoming 4 music professional. F ihought the money Dveas mac ly good so buy a Hite car a gui tar. o pay for beers, to have fun. U thought music wouid be a tem- porary activity. Chediak: Even atter Pedro pe- dreiro and A banda? Chico: Even then I had my doubts music was a profession. Chediak: But you became in- exedibly well known with 4 banda Chico: ftwas a huge hit. Pen- ded up on magazine covers and everstiing, my salary went up and T started making shows all the ti- me. then L began traveling a fat, with the guitar and the agent. For the masi pari. | sung in clubs all ever Bracil. The club would stop a dance, Vd sing for haifan hour and they'd start the dance again I made some money, bu not ruc No one got rick with music in the 60's. Singers, soap-opera hunks. soveer players, ome of these things paid very much Chediak: And what about copyright payments Chico: That ok awhile, Fax de money with record sales, shows, with TV and that altowed me to buy @ smal! apartment in Lebion, besides a new VW bug. But there was no ECAD (Centrat Office for Cottection and Distri- hhution - a copvright ageney] back then. If ECAD ts 6 mess, i much worse when we didn't ka- ve it, There were various copy- right collection societies. these cliquish little entities that were reluctant 10 accept new members because that would mean split ing the pie more was. Lyvas on- ly uecepied as UBC [Brazilian Union of Composers] ane year af- ser 8 banda. Chediak: When did you deci- de to abandon architecture? Chieo: In my third sear of school. Actually, I never really as believed I'd be an architect. ad this vague notion of wanting 10 be a journalist because 1 liked to write. Before | starred archi tecture, False thought about the diplomatic corps. J thought peo- ple there drunk and made nniste and poetry. Chediak: Maybe bocause of Vinicius, Chico: Becatse af Jodo Cabral too. Bui I reaily tiked architectu re, as I stili do, 0 this day, Be- sides, at that time, there was all that enthusiasm for Brasilia. for Oscar Niemeyer. Chediak: ‘Tom Jobim also studied architecture and dropped ovt. Speaking of which, how did you mest him Chico: Aiovsio de Oliveira, ow= ner of the Elenco record compa ray. 100k me to his hause. In fact we all dreamed of being Elenco artists. Aloysio had just finished | producing a Quarieio em Cy al- bum in which they sang Pedro pe- dreiro. Afovsio was a generous guy, very attentive to what kids were doing, He was a record com: pany owner wite liked music. be- eve st or not. He was Toma's pari= ner on a fot of songs. Weil, Aloy- sio liked my songs and took me to Tom Jobim. That was before A anda 1 sang Pedro pedreiro 10 Tom, ai his house on rua Nasci- menio Silva We became pariners after 1967. The first song he ga- ve me to put words to already had an instrumental recording on an American record and was called Zingara fr became Retrato em bbrance e preto Chediak: How did Tom take your lyrics? Chico: He was very funny and very critical 10. When Quartes 10 dm Cy was about io record Re- Bomghook L Chics are traro em drance € preto, J deci ded to change a verse at she last second. Instead of “tenho 0 pei- ta ta marcado" [my chesi has 50 many marks}, J suggested they sang “ienho 0 peito carregade” fray chest is-s0 fMed-up). T expla red to Tom that the “io” was the- re te complete the song's syila- bles. Pretending he agreed, he said’ “You're a star” Later on ke called asking me to leave ir ihe way twas: “This ‘my ches! is $0 filled-up" 1s going ta sound like the guy has @ cough." I gave in. in thas case, but J had to put my foo down on other occasions Hed provoke me and I'd defend my case, but fi was impossible to figha with Tem. f remember, at one point, he started picking on the he thought the words were very good, efined, rore,but a litle weird “white and black” of the sens: We say black and white pictu re, Chico.” Then 1 suggested that instead of “soneto” [sonnet}, that rhymed with “preto” {black}. A put “amano” {eiag}: “vou eo- lecionar mais ure tamanco.." [!'m going 10 collect one more clos}. We didi 't work an erejul los, but we laughed very hard. Chediak: Imagina was one of the first melodies he created, Vow was it, writing words for i? Chico: ie was funny becan se Tam used 10 say it wasn’t mu: sic meant 10 have lyrics, So T said. “I'll take the challenge.” I needed the song because we we re writing the soundtrack for a Jilin by Miguel Faria, Para viver tum grande amor. and thar meio- «dy would fit perfectly. Fwrore the words, nate hy note, but if took a long time ic come. When I was done, Tom had already teft to the United States. t sent him the ty ics and waited for a reaction that ‘came in a telegram: “Very exqui- site.” In English, exquisite is good. In fact, “exquisite” is good in every language; something ve- ry g00d. refined, rare. Bui cxqui- sito in Brazil became weird Tom and used 10 exchange dictioma: ries and play around with these etymological questions. Well, 10 make a long story short, he thought the words were very xood, refined, rare, but a litte weird. Chediak: And what happe ned with Wave? Chico: I remember when he played the music for me, on the Piano, ar his house on raa Coda- 4s. Z came up with she first ver~ se right away: "Vou te contar" let me tell you}. Then I t00k the iape home and got stuck. Time went by and Tom started losing hnis patience: “Hey Chico! Are ou going 10 stop at “Vou 1e contar'? One month later, he needed to re- cord the song and scolded me “So, Chica, what do you have to tell me?" J told him T was stuck and he suid: “Fine, then tet me tell it” And he wrote the words There were many other songs writ- ten by hint — like Nuvens dour des, Rancho nas mavens ~ thar ca- me by me and the Iyries just did- n't come. (Chediak: Then you also started writing lyrics for Francis Hime. Chico: That was in the 70's. Thave many partnerships with Francis. Tom even got a tittle Jealous. Chediak: You went to ltaly be- fore that 2a ‘ok ‘ Chico: Yes, shings were gesting very difficult around here. T stayed on und ended up recording «mn album arranged by Ennio Mor- icone, with ladian iyries by Ser- + gio Bardorti. The record had so- me good stuff bur it didn't make is, Later om. I was the one who wrote Iyries in Portuguese for Bardoni’s and Luis Bacatoy's songs for the aibum Os saltim- bunces, adapred for the stage by Amonio Fedro. Chediak: And what about the censorship. Chico” Chico: When I came back to Brazil, they had instituted prior censorship. In other words, lyries hhad to be examined by che Fede- ral Police before being recorded. Actually, in those days, censors- hip was $0 strong that iyrics we~ re Jorisidden heyore they were even as Tom Fobum and Chie Buaryve. the 70°s written, We started incorporating censorship. Bur someriraes, you could appeal in Brastlia. Some- how, record conianies and ceri- sors liad their agreements. Sa then the company lavsver would fls (0 Brasilia and ied vall from re- ve 10 suy that such ond suck word was replaced, the song would be released. This happened to me 1 anerous times. Fei be hone, eating lunch, aux the lawyer would call ime jrom Brasilia i asks "Can we take out the ward titiea [erap |” and I head iw answer without thir King. with may mouth tuil- “Oke. okay. put coisiew (listle thing 1” “What aiicast Braselenma?” “Put be tugueiro fdrammer)”” and so on. When we recorded @ show for a live album, like the one I did with Castano in Bahia, the record com pany would put these fake clups in order 10 muffle censored words. Then they started doing a prior censorship of the shows. The ar- tiss would get to a cits and per- form in the afternoon. an exclu ‘sive show for nwo OF three censors, with their pens and thebrBitle pads of paper. Chediak: And what about Vi- nicius. Chico? How did you see Vinicius Chieo: {cise wanted 10 be Vi nicius, whom Finew since was a kid because he was my dad's friend. i wanted 10 be Vinictus, with ppreiy swomnen. drinking that witis- es, playing the guitar: writing poe ry Fdidn’t want anything else in life. Then came bossa nova and 7 gor even more fescmated by him Oniy tater carne a deep friendship. Chediak: And then you be- ‘came his partner. How did the two of you write Valsinka? Chico: We were m Argentina, where Vinicius did a ior of shows Songbuek 3 Chive Bum: with Toquinho. Maria Bethania at ternated with me on thai shows, in Mar de! Plata. Then Vinicnes ga- ve me the song to write iyries to Of course he didn't need me 10 wri- te wons, Starting & partnership was, for Vinicius, a little Hike ma- king a new frien A partaership was a wary te Seal a friendship. We were also parmers in Olba Maria Gente humilde, Desalento and Samba de Orly Chediak, “When did you start writing with Edu Lobo Chico: fa rhe 80's. Fwrore the words for Moto-comtinua and then wwe did O grande cies mnistico, with a sertpr written by Naum Alves de Souza. based on @ pount by Jorge de Lima. com- missioned by Curtsiba's Tearne but there are dees that cccur io me as il | were. being possessed Guata. Actually, she parimershio with Edu Lobo kept being post- poned since the 70's, when he ar ‘ranged the record Chico canta Ca- labar. After © grande eirco mis tiso come O corsario do tei and another baller calied & danga da meig-lua. Edu was the partner! wrote the greatest muri of songs with, F hole owe partnership in ve ry hight esteem Chedink: What is the process you adopt to compose your works? Chico: Wher 7 gertire music from a partner. 1 ir) 1 write the Tyrics without changing a single note. But when the music is mi- ned change things. Many times, the musie ts already born announ- cing its words. Through the sound, words come up and pull the rest of the Iyries and that in- terferes in the music. When S'm the one who writes it, the music is always malieable. Chediak: Have you ever felt like you were being “possessed” as af by a spirit. which is to nay that the musie got ready almost im- mediately? Chico: or really, but there are ideas that occur t me as if A were being possessed by a spi- rit, Mavhe 1i's a word, a verse. the sketch of a melody. Then the idea ts developed The melody compleces itself and tie harmo: ny is polished for days. The words are only seads ait the time of the recerrding Chediak: Have you ever com- posed sleeping? I remember one time I woke up with a song Td ma- de up while] was sleeping. Chica: A fous manths age Tw te an entire song white Twas siee- ping, except that the song [670 te wasnt mine J dreant Pas in @cah and thar the radio annaur edd. “And row fee's hear Saccba da biblioteca, with Sérgio Ricar. do.” Fwoke up with the whole song in my memory. but J forgot it, lit He by little. In it, Sérgio talked about he amount of books we read ina liferime and there was a ver- se thai wens like this: “tem livre smaito bom, tens livre mutta paca” [there are good books, there are palling books}, So I valted up Sér- gio, whoin I hadn't seen in ages and said: “You re geiting really ‘ld, no one savs someting is pal- ling anymore.” J don't think Sér- gio Ricardo really got my dream, Chediak: Whar's harder. wri- tung a book or composing? Chico: These things ave net- ther easy nor hard. They are 6 iy pe of addicnion that a guy either has or doesn't. Hard to Rick 26

Você também pode gostar