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COMENTÁRIOS AO PROJETO DE LEI DO PSPN, APROVADO EM CARÁTER


CONCLUSIVO, PELO SENADO FEDERAL, EM 2 DE JULHO DE 2008

A presente análise dispensa a avaliação política sobre o PSPN, aprovado pelo


Congresso, e se concentra, tão somente, nos comentários adstritos aos comandos dos oito
artigos que compõem o Projeto de Lei.
Importante destacar que o PL carece de sanção presidencial e por isso nossa
interpretação parte do princípio de que a Lei não conterá vetos, e que sua vigência ocorrerá à
data de publicação.
Chamamos a atenção dos Sindicatos, em suas negociações com os executivos locais,
para as interpretações sobre o valor e a jornada do piso. O valor de R$ 950,00 (a preços de
janeiro de 2008) para jornada de, no máximo, 40 horas semanais serve de referência nacional
para que nenhum vencimento inicial da carreira de professor, com habilitação em nível médio
na modalidade Normal, seja fixado abaixo desses patamares.
Outro ponto relevante refere-se à definição dos vencimentos iniciais para os
profissionais com formação em nível superior e pós-graduação. Estes deverão negociar os
valores nos planos de carreira, acima do patamar definido para a formação de nível médio,
seguindo a tradição dos atuais planos.
Não resta dúvida de que o desafio de implantação do piso será tão árduo quanto foi
seu processo de regulamentação no Congresso. Em contrapartida, o protagonismo dos
Sindicatos será essencial para manter a luta pela valorização dos trabalhadores da educação
em patamares superiores ao piso nacional, tendo a proposta da CNTE como um dos
referenciais. Isto, conseqüentemente, exigirá uma atuação incisiva dos movimentos sociais na
aprovação dos projetos de lei que visam implementar as diretrizes nacionais de carreira e a
gestão democrática, além do que reconhece os funcionários de escola na LDB.

ARTIGO 1º
Esta lei regulamenta o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério
público da educação básica a que se refere a alínea “e”, do inciso III, do art. 60 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias.

Referência legal:
Art. 60, III, “e” do ADCT: “prazo para fixar, em lei específica, piso salarial profissional
nacional para os profissionais do magistério público da educação básica; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 53, de 2006).”

COMENTÁRIO: o presente piso salarial é parte inerente da Lei 11.494/07 (Fundeb), a qual
estabelece em seu art. 41 que “o poder público deverá fixar, em lei específica, até 31 de
agosto de 2007, piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério
público da educação básica”. O citado artigo, mesmo não tendo seu prazo respeitado,
objetivou complementar o disposto no art. 60 do ADCT.
Assim como o Fundeb, o presente piso, que não se confunde com o previsto no art.
206, VIII da CF, tem prazo de vigência até dezembro de 2020. Já o piso que compreende os
demais profissionais da educação (não apenas o magistério), quando regulamentado terá
prazo de vigência permanente.
Não obstante os conceitos de piso e de profissionais do magistério estarem dispostos
no art. 2º desta Lei, cabe ressaltar, desde já, que o piso possui abrangência nacional (seu
objetivo é propiciar maior isonomia profissional no país) e sua incidência se dá sobre os
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profissionais habilitados em nível médio na modalidade Normal atuantes nas redes públicas
de educação básica da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Os
profissionais com formações de nível superior ou pós-graduação terão os vencimentos
iniciais de carreira definidos nos respectivos planos de carreira. A proposta da CNTE, a ser
defendida no projeto de lei de diretrizes nacionais de carreira, estabelece uma diferença entre
as formações (média/superior/pós) de no mínimo 50% (cinqüenta por cento).

ARTIGO 2º (CAPUT)
O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação
básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinqüenta reais) mensais, para a formação em nível
médio, na modalidade normal, prevista no art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

Referência legal:
Art. 62 da LDB: “A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na
educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível
médio, na modalidade Normal. (Regulamento: Decreto nº 3.276, de 6 de dezembro de 1999).

COMENTÁRIO: este artigo fixa o valor mensal e define a formação sobre a qual aplicar-se-
á o piso salarial nacional. Os trabalhadores que não atenderem à formação e à habilitação
mínimas exigidas para atuarem no magistério básico serão considerados leigos (não adentram
à carreira) e não farão jus ao piso ou ao vencimento inicial da carreira. A remuneração dos
leigos (caso houver no sistema ou rede) também não contará com recursos suplementares da
União.

ARTIGO 2º (§ 1º)
O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das carreiras do magistério
público da educação básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais.

COMENTÁRIO: o dispositivo complementa o conceito de piso salarial no que tange à


jornada de trabalho. Três pilares da carreira profissional encontram-se contemplados nesse
conceito: salário, formação e jornada. Contudo, ainda restará um quarto ponto para completar
os elementos intrínsecos à valorização dos profissionais da educação, qual seja, as condições
apropriadas de trabalho, que devem ser pauta constante das lutas sindicais nos estados e
municípios.
Quanto ao valor do piso, este serve de referência mínima para os vencimentos iniciais
de carreira em todo território nacional. Abaixo desse valor, nenhum prefeito ou governador
poderá fixar os vencimentos de carreira do magistério da educação básica pública.
Importante, aqui, é entender as definições de vencimento e carreira. O vencimento é a base
da remuneração sobre a qual não incide qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio,
verba de representação ou outra espécie remuneratória. É o salário sobre o qual se dará,
minimamente, a aposentadoria. Transcorridos os prazos definidos no artigo 3º da Lei do piso,
a remuneração, que contempla verbas acessórias ao vencimento, só poderá configurar no

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início da carreira desde que seja garantido o vencimento inicial, no mínimo, igual ao piso
nacional.
Em relação à carreira, a lei diz que o piso refere-se ao vencimento inicial mínimo de
qualquer uma das carreiras do magistério da educação básica (atividades de docência ou
suporte pedagógico). Como dissemos, os valores podem e devem ser maiores nos entes
públicos que tiverem condições de remunerar melhor a categoria (além do Fundeb, há que se
considerar os demais impostos vinculados para definição dos salários e dos investimentos em
manutenção e desenvolvimento do ensino). Do ponto de vista contratual, a legislação admite
dois regimes empregatícios para os servidores públicos: estatutário e celetista. A Constituição
Federal também possibilita a contratação por tempo determinado para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público (sem concurso público). À luz desses preceitos e
do artigo 22 da Lei 11.494/07, especialmente seu inciso III, que engloba os trabalhadores
temporários no conceito de profissionais do magistério aptos a serem remunerados em âmbito
do Fundeb, devemos concluir que o piso salarial profissional nacional aplica-se aos
profissionais efetivados no magistério, porém os efeitos sobre a carreira se limitam aos
profissionais estatutários e celetistas (admitidos por concurso público de provas e/ou títulos,
conforme preceitua o art. 206, V, da CF). Assim, os trabalhadores temporários perceberão o
piso, mas não ascenderão na carreira, estando seus vencimentos limitados ao valor inicial ou
às gratificações estabelecidas no contrato temporário, que pode prever instrumentos paritários
com a carreira do magistério (conforme ocorre atualmente em diversas legislações próprias
dos entes federados). E é importante que se garantam tais condições aos temporários
(enquanto o quadro de servidores efetivos não estiver completo) a fim de evitar uma maior
precarização do trabalho docente e a conseqüente queda na qualidade do ensino.
Conforme nos referimos na introdução, a segunda parte deste parágrafo precisa ser
bem interpretada para garantir os princípios da valorização profissional. O ponto-chave está
na expressão “no máximo” utilizada para definir a jornada de trabalho. Dada a
heterogeneidade das jornadas, em todo país, o legislador optou por estabelecer um teto
máximo a ser praticado pelos sistemas/redes de ensino, podendo os mesmos optar por aquela
que atenda melhor aos interesses de valorização dos educadores e de promoção da qualidade
do ensino. Portanto, o piso salarial nacional (ou o vencimento inicial de carreira) não deve ser
aplicado, necessariamente, a uma jornada de 40 horas semanais, estando as demais jornadas
condicionadas à proporcionalidade desta. Pelo contrário, cada sistema elegerá, no seu plano
de carreira, a jornada padrão a que o piso (ou vencimento inicial) se aplicará (podendo ser
20h, 24h, 30h etc) para que, a partir desta, se estabeleça o percentual sobre as demais
jornadas que porventura o ente público e os trabalhadores, de comum acordo, acharem por
bem estabelecer em decorrência de suas realidades.

ARTIGO 2º (§ 2º)
Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-se aqueles que
desempenham as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é,
direção ou administração, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação
educacionais, exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas
diversas etapas e modalidades, com a formação mínima determinada pela legislação federal
de diretrizes e bases da educação nacional.

COMENTÁRIO: a presente definição de profissionais do magistério ampara-se no artigo


22, II, da Lei 11.494/07. Diga-se de passagem, a Lei do piso será a segunda a definir no
arcabouço legislativo nacional este conceito, o que poderá ajudar sobremaneira a revisão da

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jurisprudência do Supremo Tribunal Federal condizente à “função de magistério” –


atualmente entende-se como trabalho docente exercido em regência de classe – e,
conseqüentemente, a manter a constitucionalidade da lei 11.301/06, que visa estender a
aposentadoria especial do magistério aos diretores escolares e coordenadores pedagógicos.
Pelo comando desse artigo, o piso é uniforme para os profissionais que atendam à
formação mínima do artigo 62 da Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB) e que estejam atuando em qualquer etapa ou modalidade da educação
básica (professor com formação Normal de nível médio da educação infantil perceberá o
mesmo, em início de carreira, que o professor de mesma formação atuante na EJA
fundamental, por exemplo).
Também com base no artigo 9º, § 3º da Lei 11.494/07, o piso é extensivo aos
profissionais do magistério da educação básica da rede pública de ensino cedidos às
instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas
com o poder público.
A lei, no entanto, não inclui na abrangência do piso os profissionais habilitados à luz
do artigo 62 da LDB que estejam desviados de suas funções originais no ambiente escolar
(ex: profissionais cedidos às secretarias de educação ou a outros órgãos mesmo que
relacionados à estrutura administrativa educacional). Esta determinação encontra amparo no
artigo 71 da LDB.

ARTIGO 2º (§ 3º)
Os vencimentos iniciais referentes às demais jornadas de trabalho serão, no mínimo,
proporcionais ao valor mencionado no caput deste artigo.

COMENTÁRIO: este item retoma e complementa o disposto no parágrafo 1º deste mesmo


artigo, no que se refere à proporcionalidade da jornada de trabalho. Ou seja: definida a
jornada compatível ao vencimento inicial da carreira (a ser estipulada no plano de carreira),
todas as demais jornadas, caso houver, deverão ser, no mínimo, proporcionais à jornada
básica (a proporção nunca será inferior ao valor do piso, e, nos locais em que os vencimentos
iniciais de carreira forem superiores a este, deverá, necessariamente, sobrevalorizá-lo).

Ex: 1. Vencimento inicial de R$ 1.050,00 para jornada de 30 horas semanais.


Jornada de 20h = R$ 700,00 (fórmula de cálculo: (R$ 1.050,00 / 30h)*20h)
Jornada de 25h = R$ 875,00
Jornada de 40h = R$ 1.400,00

Ex: 2. Piso de R$ 950,00 para 30 horas:


20h = R$ 633,33; 25h = R$ 791,66; 40h = R$ 1.266,66

ARTIGO 2º (§ 4º)
Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite máximo de 2/3 (dois terços) da
carga horária para o desempenho das atividades de interação com os educandos.

COMENTÁRIO: o parágrafo consagra a hora-atividade como parte inerente da jornada e


diz que o trabalho de interação com os estudantes pode ser menor que 2/3 (dois terços) e a
hora-atividade maior que 1/3 (um terço), possibilitando, assim, seguir com a reivindicação

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histórica de hora-atividade de 50% (cinqüenta por cento) defendida pela CNTE para obtenção
de um desempenho profissional com qualidade.

Ex: Jornada de 40h (máximo de 27h de regência e mínimo de 13h de trabalho extra-classe)

Jornada de 30h (máximo de 20h de regência e mínimo de 10h de trabalho extra-classe)

ARTIGO 2º (§ 5º)
As disposições relativas ao piso salarial de que trata esta lei serão aplicadas a todas as
aposentadorias e pensões dos profissionais do magistério público da educação básica
alcançadas pelo art. 7º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, e pela
Emenda Constitucional nº 47, de 5 de julho de 2005.

Referência legal:
Art. 7º da Emenda Constitucional nº 41/03: “Observado o disposto no art. 37, XI, da
Constituição Federal, os proventos de aposentadoria dos servidores públicos titulares de
cargo efetivo e as pensões dos seus dependentes pagos pela União, Estados, Distrito Federal
e Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, em fruição na data de publicação desta
Emenda, bem como os proventos de aposentadoria dos servidores e as pensões dos
dependentes abrangidos pelo art. 3º desta Emenda, serão revistos na mesma proporção e na
mesma data, sempre que se modificar a remuneração dos servidores em atividade, sendo
também estendidos aos aposentados e pensionistas quaisquer benefícios ou vantagens
posteriormente concedidos aos servidores em atividade, inclusive quando decorrentes da
transformação ou reclassificação do cargo ou função em que se deu a aposentadoria ou que
serviu de referência para a concessão da pensão, na forma da lei.”

COMENTÁRIO: a paridade e a integralidade de vencimentos entre ativos e aposentados da


carreira do magistério encontram-se reforçados neste parágrafo. Contudo, cabe esclarecer que
esta prerrogativa atinge, somente, os aposentados e pensionistas estatutários e devidamente
reconhecidos nos planos de carreira. As aposentadorias e pensões do pessoal celetista, regido
pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), não são alcançadas pelo artigo 7º da EC
41/03, tampouco pela EC 47/05, estando estas condicionadas à legislação própria do Instituto
Nacional de Seguridade Social (INSS), que possui teto específico para pagamento dos
benefícios sociais.
Já os aposentados e pensionistas alcançados pela referida legislação previdenciária, e
que porventura estejam percebendo remunerações abaixo do piso (ou do vencimento inicial
de carreira), a estes será garantido o vencimento mínimo estipulado para a carreira.

ARTIGO 3º (CAPUT)
O valor de que trata o art. 2º desta Lei passará a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2008, e
sua integralização, como vencimento inicial das Carreiras dos profissionais da educação
básica pública, pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios será feita de forma
progressiva e proporcional, observado o seguinte:
I – a partir de 1º janeiro de 2008, acréscimo de 1/3 (um terço) da diferença entre o valor
referido no art. 2º desta Lei, atualizado na forma do art. 5º desta Lei, e o vencimento inicial
da Carreira vigente;

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II – a partir de 1º janeiro de 2009, acréscimo de 2/3 (dois terços) da diferença entre o valor
referido no art. 2º desta Lei, atualizado na forma do art. 5º desta Lei, e o vencimento inicial
da Carreira vigente;
III – a integralização do valor de que trata o art. 2º desta Lei, atualizado na forma do art. 5º
desta Lei, dar-se-á a partir de 1º de janeiro de 2010, com o acréscimo da diferença
remanescente.

COMENTÁRIO: a lei faculta às esferas administrativas (União, Estados, Distrito Federal e


Municípios) integralizar o piso ou o valor do vencimento inicial de carreira de forma
progressiva e proporcional. Em adotando esta forma, o prazo para integralização será de no
máximo dois anos, sendo 1/3 (um terço) em 2008, 2/3 (dois terços) em janeiro de 2009, de
forma que em janeiro de 2010 o piso seja totalizado.
A integralização corresponde à diferença entre o atual vencimento em início de
carreira e o piso nacional (ou o novo vencimento inicial a ser determinado no presente ou no
novo plano de carreira). As parcelas 1/3 e 2/3 aplicar-se-ão proporcionalmente, a cada ano,
sobre a referida diferença, corrigida a inflação pelo valor per capita do Fundeb para os anos
iniciais do ensino fundamental urbano (art. 5º desta Lei).
Conforme disposto no caput, o valor do piso (e dos vencimentos iniciais de carreira)
são válidos a partir de janeiro de 2008. Portanto, a lei deverá conter efeito retroativo à
referida data de vigência.

Ex: vencimento inicial em 2007: R$ 400,00. Projeção para o vencimento inicial em janeiro de
2008: R$ 950,00 ou R$ 1.050,00 (nível médio)

Aplicação de 1/3 (um terço) proporcional em 2008:


1. R$ 950,00 – R$ 400,00 = 550,00 ou R$ 1.050 – R$ 400,00 = R$ 650,00
2. 1/3 * R$ 550,00 = R$ 183,33 ou 1/3 * R$ 650,00 = R$ 216,66
3. R$ 400,00 + R$ 183,31 = R$ 583,33 ou R$ 400,00 + R$ 216,66 = R$ 616,66

Aplicação de 2/3 (dois terços) proporcionais em 2009 (reajustados pelo valor per capita do
Fundeb para os anos iniciais do ensino fundamental urbano):
1. R$ 950,00 – R$ 400,00 = R$ 550,00 ou R$ 1.050 – R$ 400,00 = R$ 650,00
2. 2/3 * R$ 550,00 = R$ 366,66 ou 2/3 * R$ 650,00 = R$ 433,33
3. R$ 400,00 + R$ 366,66 = R$ 766,66 ou R$ 400,00 + 433,33 = R$ 833,33

Integralização em janeiro de 2010, reajustado pelo valor per capita do Fundeb para os anos
iniciais do ensino fundamental urbano:
1. R$ 950,00 – R$ 400,00 = R$ 550,00 ou R$ 1.050 – R$ 400,00 = R$ 650,00
2. 1 * R$ 550,00 = R$ 550,00 ou 1 * 650,00 = R$ 650,00
3. R$ 400,00 + R$ 550,00 = R$ 950,00 ou R$ 400,00 + 650,00 = R$ 1.050,00

ARTIGO 3º (§ 1º)
A integralização de que trata o caput deste artigo poderá ser antecipada a qualquer tempo
pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

COMENTÁRIO: o parágrafo dispõe sobre a possibilidade de antecipação integral do piso


nacional ou do vencimento inicial, este último a ser definido no plano de carreira.

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ARTIGO 3º (§ 2º)
Até 31 de dezembro de 2009, admitir-se-á que o piso salarial profissional nacional
compreenda vantagens pecuniárias, pagas a qualquer título, nos casos em que a aplicação do
disposto neste artigo resulte em valor inferior ao de que trata o art. 2º desta Lei, sendo
resguardadas as vantagens daqueles que percebam valores acima do referido nesta Lei.

COMENTÁRIO: tanto no caso da integralização progressiva como na antecipação total do


piso nacional ou do novo vencimento inicial de carreira, os entes públicos poderão, nos dois
primeiros anos (2008 e 2009), efetuar o pagamento das parcelas complementares que
compreendem a diferença entre o atual vencimento e o novo valor a ser pago, a partir de
2008, de forma remuneratória (a título de gratificações, abonos etc). Porém, em janeiro de
2010, tanto o piso quanto o vencimento inicial deverão ser integralizados na forma de
vencimento, resguardadas as vantagens pessoais que porventura a carreira reconheça, como
adicional de periculosidade, de difícil acesso etc.

Ex. 1: integralização progressiva e proporcional de R$ 950,00:


1. R$ 950,00 – R$ 400,00 = 550,00
2. (2008): 1/3 * R$ 550,00 = R$ 183,33
3. (2009): 2/3 * R$ 550,00 = R$ 366,66
As duas parcelas pecuniárias (1/3 e 2/3) podem ser pagas, nesses dois anos, em forma de
remuneração.

Ex. 2: integralização total de R$ 1.050,00 em 2008:


1. R$ 1.050 – R$ 400,00 = R$ 650,00
2. 1 * 650,00 = R$ 650,00
3. R$ 400,00 + 650,00 = R$ 1.050,00
Nos anos de 2008 e 2009, o poder público pode pagar a diferença de R$ 650,00 em forma de
remuneração. A partir de janeiro de 2010, esta deverá ser integralizada como vencimento,
resguardadas as possíveis vantagens pessoais.

ARTIGO 4º (CAPUT)
A União deverá complementar, na forma e no limite do disposto no inciso VI do caput do art.
60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e em regulamento, a integralização
de que trata o art. 3º desta Lei, nos casos em que o ente federativo, a partir da consideração
dos recursos constitucionalmente vinculados à educação, não tenha disponibilidade
orçamentária para cumprir o valor fixado.

Referência legal:
Art. 60, VI, ADCT: “ até 10% (dez por cento) da complementação da União prevista no
inciso V do caput deste artigo poderá ser distribuída para os Fundos por meio de programas
direcionados para a melhoria da qualidade da educação, na forma da lei a que se refere o
inciso III do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).”

COMENTÁRIO: a Lei prevê um limite para a complementação da União, qual seja, 10% do
total da suplementação federal ao Fundeb. Contudo, o inciso VII do artigo 60 do ADCT, o
qual relaciona-se com o inciso VI, citado na Lei do piso, e com os demais, obviamente, diz
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que a complementação da União será de, no mínimo: R$ 2 bilhões no primeiro ano de


vigência do Fundeb (2007); R$ 3 bilhões no segundo ano (2008), R$ 4,5 bilhões no terceiro
ano (2009) e 10% do total do Fundo a partir de 2010.
Desta forma, caso os recursos previstos neste artigo não sejam suficientes para
complementar o piso nos estados, Distrito Federal e municípios, a lei deverá ser interpretada
de forma sistemática pelo Supremo Tribunal Federal, que procurará conciliar a natureza deste
dispositivo específico com os demais previstos na Constituição e nas legislações
infraconstitucionais (Piso e Fundeb). De sorte que mais recursos poderão ser alocados tanto
para o Fundeb (dada a expressão no mínimo adotada pela Lei) quanto para a complementação
do piso.
O presente artigo também determina que a integralização do piso ou dos vencimentos
iniciais de carreira, pelos entes federados, deva ocorrer à luz da totalidade dos recursos
vinculados à educação (art. 212, CF), e não apenas dos 60% previstos no Fundeb para
pagamento de salários ao magistério. Um regulamento a ser observado pela Comissão
Intergovernamental do Fundeb e pelo Ministério da Fazenda ditará as condições para que
cada ente federativo receba, caso comprove a necessidade, a referida complementação.
Já o inciso V do ADCT define os critérios para a complementação da União, dentre os
quais é vedada, em conformidade com artigo 5º, § 1º da Lei 11.494/07 e com o § 5º do artigo
212 da CF, a utilização do Salário Educação para sua composição. Isto, por conseguinte,
impede a disponibilidade do Salário Educação ou do novo arranjo tributário previsto na
reforma fiscal, em discussão no Congresso, na composição dos recursos destinados aos
salários dos profissionais da educação.

ARTIGO 4º (§ 1º)
O ente federativo deverá justificar sua necessidade e incapacidade, enviando ao Ministério da
Educação solicitação fundamentada, acompanhada de planilha de custos comprovando a
necessidade da complementação de que trata o caput deste artigo.

COMENTÁRIO: as esferas administrativas deverão comprovar a necessidade de


complementação da União para pagamento do piso, com base no regulamento a ser definido
pelo Executivo Federal.
Importante ressaltar que os vencimentos iniciais de carreira acima do piso nacional
não contarão com complementação da União, pois pressupõem que o ente federado possui
capacidade financeira de honrá-los mediante seus recursos vinculados (art. 212 CF).
Ponto central desse tópico, análogo a muitos questionamentos suscitados à época do
Fundef, refere-se à conjugação do piso salarial nacional com a Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF). Nossa interpretação sugere que à União caberá cobrir, através da
complementação ao Fundeb e ao piso, os eventuais excessos à LRF decorrentes do
pagamento do piso salarial do magistério. Esta cobertura, todavia, limitar-se-á ao valor do
piso nacional, propriamente, e não recairá sobre as demais faixas salariais definidas nos
planos de carreira. A aplicação do limite de 54% sobre a folha de pagamento dos servidores
públicos, prevista pela LRF, terá de ser acompanhada pari passu pelas categorias
profissionais, a fim de detectar possíveis extrapolações e suas correções. Possíveis
instrumentos corretivos poderão ser aplicados, tais como o cancelamento de isenções fiscais
às empresas, a maior eficiência na cobrança e na fiscalização dos tributos, a revisão dos
reajustes às categorias com maior poder de compra etc.

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ARTIGO 4º (§ 2º)
A União será responsável por cooperar tecnicamente junto com o ente federativo que não
conseguir assegurar o pagamento do piso, de forma a assessorá-lo no planejamento e
aperfeiçoamento da aplicação de seus recursos.

COMENTÁRIO: o parágrafo mantém coerência com os demais preceitos de nossa


legislação quanto ao apoio e assessoramento técnico da União para com os demais entes
federados, respeitados os limites do pacto federativo.
Nada impede, por exemplo, que a União firme convênios no regulamento que regerá
sua complementação ao Fundeb e ao piso, com base em recursos extras, visando maior
equilíbrio às contas educacionais dos entes por meio da equalização do número de servidores
por rede de ensino, de alunos por sala de aula, de escolas por número de habitantes etc, como
temos visto no Plano de Desenvolvimento da Educação. Tais mecanismos encontram
respaldo no princípio da eficiência da gestão e dos recursos públicos.
Os estudos da CNTE sobre o PSPN apontaram que a grande dificuldade de estados e
municípios em garantir um melhor piso salarial e, conseqüentemente, uma carreira mais
valorizada aos profissionais da educação, decorre de políticas locais que inflam as despesas
educacionais de múltiplas formas, uma delas com o pagamento de pessoal de outros setores
na folha da educação. Se o piso salarial não atacar estas questões, em breve seus propósitos
se mostrarão inócuos frente aos objetivos de valorização profissional e melhoria da qualidade
do ensino.

ARTIGO 5º
O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será
atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009.

Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será calculada utilizando-se o
mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos
iniciais do ensino fundamental urbano, definido nacionalmente, nos termos da Lei nº 11.494,
de 20 de junho de 2007.

Referência legal:
Art. 13 da Lei 11.494/07: “No exercício de suas atribuições, compete à Comissão
Intergovernamental de Financiamento para a Educação Básica de Qualidade:
I - especificar anualmente as ponderações aplicáveis entre diferentes etapas, modalidades e
tipos de estabelecimento de ensino da educação básica, observado o disposto no art. 10
desta Lei, levando em consideração a correspondência ao custo real da respectiva etapa e
modalidade e tipo de estabelecimento de educação básica, segundo estudos de custo
realizados e publicados pelo Inep.”

COMENTÁRIO: a Lei equiparou o percentual de reajuste do piso ao do valor anual mínimo


por aluno referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano, estipulado no Fundeb.
Mesmo tendo o reajuste per capita do Fundeb ficado acima de todos os índices
inflacionários, em 2008 (cerca de 20%), nada garante que esta tendência continuará,
especialmente por dois motivos: i) o reajuste tornou-se ato discricionário do Executivo
Federal, que deverá ser orientado pela Comissão Intergovernamental do Fundeb. Esta forma
difere da prevista no Fundef - resultante da razão entre a previsão de receita do Fundo e o
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número de estudantes matriculados - e abre espaço à inúmeras considerações impeditivas à


concessão de maiores aumentos do valor per capita, a exemplo da previsão de impacto no
piso salarial; e ii) a Comissão Intergovernamental não possui composição paritária, tornando
os trabalhadores reféns de suas decisões. Esta segunda situação poderá ser contornada com a
aplicação do artigo 38 da Lei 11.494/07:
Art. 38. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão assegurar
no financiamento da educação básica, previsto no art. 212 da Constituição Federal, a
melhoria da qualidade do ensino, de forma a garantir padrão mínimo de qualidade
definido nacionalmente.
Parágrafo único. É assegurada a participação popular e da comunidade educacional
no processo de definição do padrão nacional de qualidade referido no caput deste
artigo.

De forma similar, os Sindicatos integrantes dos Conselhos de Acompanhamento e


Controle Social do Fundeb deverão influir nas políticas locais, utilizando o Conselho como
canal institucional para as negociações salariais e de demais pautas referentes à carreira dos
profissionais da educação.
Outra particularidade deste artigo refere-se à possibilidade de os trabalhadores em
educação discutirem, juntamente com as diretrizes nacionais de carreira, a estipulação de
data-base nacional da categoria no mês de janeiro, não obstante as dificuldades impostas pelo
calendário escolar, que determina a mobilização da categoria. Em função de o reajuste do
piso se dar neste período, o mais conveniente seria adaptar os planos de carreira à data da
correção, buscando consolidar o caráter nacional da carreira dos profissionais da educação
básica.

ARTIGO 6º
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar ou adequar seus
Planos de Carreira e Remuneração do Magistério até 31 de dezembro de 2009, tendo em vista
o cumprimento do piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério
público da educação básica, conforme disposto no parágrafo único do art. 206 da
Constituição Federal.

Referência legal:
Parágrafo Único do art. 206, CF: “A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores
considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração
ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)”.

COMENTÁRIO: diferentemente do que ocorreu no Fundef, a EC 53/06 reconheceu na


Constituição a prerrogativa de Lei Federal dispor sobre o prazo para a elaboração ou
adequação dos planos de carreira dos entes federativos. Assim, a Lei do piso estipulou a data
de 31 de dezembro de 2009 para que todos os planos de carreira estejam em conformidade
com o piso salarial profissional nacional, seguindo as diretrizes traçadas no artigo 40 da Lei
11.494/07, lei esta que derivou o piso salarial do magistério:
Art. 40. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão implantar Planos de
Carreira e remuneração dos profissionais da educação básica, de modo a assegurar:
I - a remuneração condigna dos profissionais na educação básica da rede pública;
II - integração entre o trabalho individual e a proposta pedagógica da escola;
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III - a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.


Parágrafo único. Os Planos de Carreira deverão contemplar capacitação
profissional especialmente voltada à formação continuada com vistas na melhoria da
qualidade do ensino.
Para que o piso cumpra seu requisito de valorização profissional, faz-se necessário
seu impacto na carreira dos profissionais do magistério, de modo a gerar um vigoroso efeito
na organização dos sistemas e redes, bem como nas progressões verticais e horizontais das
respectivas tabelas de salários. Neste momento, os Sindicatos devem aplicar as concepções
de planos de carreira acumuladas ao longo de nossa trajetória de mobilização, e as quais a
CNTE defenderá junto ao projeto de lei que definirá as diretrizes nacionais de carreira dos
profissionais da educação.
A remissão desse artigo ao parágrafo único do art. 206 da CF, também tem o mérito
de ampliar a concepção dos planos de carreira, que não precisam ficar restritos aos
profissionais do magistério – a Carta Magna dispõe que os profissionais da educação serão
reconhecidos em Lei (na LDB), o que reforça a necessidade de aprovarmos com urgência o
PL 6.206/05, condizente aos funcionários de escola.
Além de definir a distância entre os níveis de formação dos profissionais, que em
última análise definirá os vencimentos iniciais para as formações de nível superior e pós-
graduação, os planos de carreira devem procurar incorporar as atuais gratificações
pecuniárias – exceto as pessoais – a fim de repercutir nas aposentadorias e pensões futuras e
atuais (art. 2º, § 5º desta Lei). Também os mecanismos de gestão democrática, de formação
continuada, de melhoria das condições de trabalho e saúde dos trabalhadores em educação
devem estar contemplados no plano.
Outro ponto essencial, diz respeito ao debate sobre a regulamentação da atual
legislação previdenciária, que prevê a criação de fundos de previdência para os servidores
públicos. No caso da educação, mister se faz desonerar as vinculações constitucionais, cada
vez mais pressionadas pelas despesas previdenciárias, que, em contrapartida, impossibilitam
reajustes salariais, em função da LRF, e investimentos em MDE.

ARTIGO 7º
Constitui ato de improbidade administrativa a inobservância dos dispositivos contidos nesta
Lei, sujeito às penalidades previstas pela Lei 8.429, de 2 de junho de 1992.

COMENTÁRIO: oportuno este artigo, pois condiciona os gestores à total observância da


Lei, sob pena de responderem judicial e penalmente por crime de improbidade
administrativa.

ARTIGO 8º
Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

COMENTÁRIO: embora a sanção se dê no mês de julho, seu efeito deve retroagir a janeiro
de 2008. Contudo, em função de os entes federados não terem previsto esta despesa em seus
orçamentos, a sanção presidencial poderá reverter a retroação e garantir apenas os
pagamentos subseqüentes. Neste caso, é preciso aguardar o ato presidencial que ocorrerá no
dia 16 de julho para saber com exatidão sobre os desdobramentos da Lei.

Brasília, 8 de julho de 2008


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