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A educação como prática histórico-

social
Fernanda Cinque
Autor

Ruth Cássia Schreiner


Autor

Introdução
Prezado(a) aluno(a), iniciamos nosse material com o intuito de melhor
compreendermos o processo pelo qual caminhou a educação no Brasil e os
porquês de considerá-la enquanto meio histórico-social.

É nesse pensamento que iremos refletir sobre as metodologias voltadas ao campo


educacional, o período em que se efetivaram e suas principais características, além
de todo o processo histórico que o país vivenciou em cada um desses métodos,
práticas e ensino, e, além disso, como tais práticas influenciaram o ambiente
escolar e a sociedade como um todo.

Após essa análise histórico-metodológica da educação nacional, será o momento


de direcionarmos nossa atenção para a contemporaneidade, o que ela significa, o
que representa e em que termos exerce influência na sociedade e na escola, ou
seja, no processo de ensino e aprendizagem efetivamente. Nessa mesma
perspectiva é que iremos abarcar as tendências pedagógicas vigentes na
contemporaneidade, assim como o professor e a formação docente.

A conclusão dessa discussão ora proposta dar-se-á em nosso último tópico de


estudos aqui proposto, que contempla a função social exercida pela escola em
seus meios e, sobretudo, no processo educativo.

O que trataremos aqui são algumas das principais informações relacionadas a


esse conteúdo, e que possibilita a você uma organização e sistematização das
ideias aqui representadas, mas lembre-se: esse é só o começo de um longa
caminhada de conhecimento. Sendo assim, continue a dedicar-se aos estudos
relacionados a essa temática! 
Objetivos de Aprendizagem
Refletir sobre as metodologias voltadas ao campo educacional.

Analisar a função social exercida pela escola em seus meios e, sobretudo,


no processo educativo.
Considerações histórico-
metodológicas da educação
no Brasil
Conforme estudado na unidade anterior, a educação no país teve, ao longo de sua
história, momentos de menor e maior evidência. Partiu da educação jesuítica,
passou por uma voltada para as elites e por isso muito restrita em relação à
quantidade de indivíduos que não tinham acesso a ela. Desde então, muito foi
modificado até que chegássemos ao processo de escolarização tal e qual temos
nos dias atuais.

Sob tais considerações, temos que até o fim do século XIX, bem como o início do
século XX, a escola estava direcionada às classes dominantes e à classe média.
Nesse período, a parcela mais desfavorecida era tolhida do direito de frequentar as
instituições de ensino. Mas foi também entre o final do século XIX e início do século
XX que a população menos favorecida, representada pela classe trabalhadora,
bem como os empregadores, passaram a requerer o direito à educação.

Embora desde o início do século XX já houvesse certa abertura, derivada das


reivindicações para o acesso à escola, era evidente o fato de que quanto mais
vagas existiam tanto mais decrescia a qualidade do ensino. A preocupação com a
educação de qualidade para todos passou a se fazer valer no final do século XX,
com a instituição de 1988, que garantia,  entre outros fatores, o direito de todos à
educação.

Mas foi somente quando se instaurou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional que ficou assegurado legalmente que:

“Art. 2º -  A educação, dever da família e do Estado, inspirada


nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho” (LDB 9394/96).

No que tange ao aspecto metodológico, veremos que a educação nacional passou


por diversas formas de proceder com o processo de ensino e aprendizagem, a
saber: processo tradicional, escolanovista, tecnicista, construtivista, sócio-libertador,
histórico-cultural e multicultural.
Processo tradicional

O ensino, que tinha como pressuposto o processo tradicional, perdurou por longo
tempo na educação do país e também no mundo, visto que muitas de suas
características no processo de ensino foram percebidas desde a idade média,
período em que a educação ocorria de maneira restrita à parcela da população
mais favorecida. O ensino humanista era, por vezes, embasado em atividades de
fixação e memorização, além de possuir o enfoque nas boas maneiras e em ofícios,
como a música e a pintura, de modo que pudesse preparar e instruir o preceptor
para a vida adulta.

No século XIX, sob influência da industrialização e dos movimentos sociais, o ensino


passa a considerar novos aspectos. Johan Freidrich Herbart (1776 - 1841) é um dos
grandes nomes da educação nesse período, que está caracterizado por entender
que:

[...] a educação tradicional é considerada a forma hegemônica


na qual se configurou a educação burguesa [...] Com relação
ao projeto de formação humana, que é foco dessa abordagem,
a necessidade histórica da formação de mão de obra para
indústria, então em pleno desenvolvimento no século XIX, foi o
fator mais importante no projeto educativo da escola pública
contemporânea (MELO, 2012, p. 225).

Tais considerações evidenciam o fato de que a educação, sob a ótica tradicional de


ensino, visava, nesse momento, à educação para a moralidade, e que, ao
contemplar um processo de democratização e adaptação às novas demandas,
buscou a formação para a virtude e também para profissionalização para as
indústrias. Assim, o ensino não estava mais tão restrito à elite e a educação
oferecida tinha fins estabelecidos.

No Brasil, desde o período em que a educação estava a cargo dos jesuítas, já se


observava um processo mais rigoroso e permeado por regras e memorização de
saberes, direcionada aos brancos e índios, com exceção das mulheres.  A educação
passou, posteriormente, a estar direcionada para a elite, de modo que os mais
pobres não tinham acesso à educação. Mesmo após a saída dos jesuítas e com a
reforma pombalina, o ensino permaneceu rígido e inflexível.

No final do século XIX, com influência do positivismo, passou-se a pensar na


educação como meio de qualificar a população, mas somente no início do século
XX é que essa ideia difundiu-se e foi aceita a necessidade de alfabetizar a todos.
Essa concepção de ensino, segundo Muzukami (1986, p. 8), vê o adulto “[...] como
um homem acabado, “pronto” e o aluno um “adulto em miniatura”, que precisa ser
atualizado”. Por esse fato, tal concepção de ensino é mais mecanizada e considera
modelos pré-estabelecidos para desenvolver-se, tendo o professor como centro
desse processo.

Em termos gerais, é um ensino caracterizado por se preocupar


mais com a variedade e quantidade de
noções/conceitos/informações que com a formação do
pensamento reflexivo. Ao cuidar e enfatizar a correção, a beleza,
o formalismo, acaba reduzindo o valor dos dados sensíveis ou
intuitivos, o que pode ter como consequência a redução do
ensino a um processo de impressão, a uma pura receptividade
(MIZUKAMI, 1986, p.14).

As características do ensino tradicional mantiveram-se rígidas e enciclopédicas,


além de punitivas, tendo no professor a figura do detentor do saber e no aluno um
mero receptor. Segundo Freire (2013), a educação era “bancária”, pois, ao passo que
o professor depositava o conhecimento, o aluno deveria recebê-lo e arquivá-lo, ou
seja, a partir da explicação pelo método expositivo do professor, o aluno deveria
repetir e memorizar sem questionar. Nas avaliações os alunos deveriam apresentar
o que memorizaram, e essa era a forma do professor analisar se o aluno aprendeu
ou não o conteúdo.

Processo Escolanovista

Em contraposição ao ensino tradicional, o processo escolanovista ocorreu no final


do século XIX e início do século XX, em vários países. A Escola Nova surgiu não
somente como forma de se contrapor ao processo tradicional como também para
adaptar a educação às novas demandas sociais.

Um de seus expoentes foi John Dewey, além de Henrich Pestalozzi, Lourenço Filho,
Anisio Teixeira, Adolphe Ferrière, entre outros.

Atenção!
Para conhecer um pouco mais sobre os educadores brasileiros
precursores do movimento escolanovista no país, assista ao filme
“GRANDES EDUCADORES - Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de
Azevedo”.

Fonte: elaborado pelo autor.

Segundo Gadotti (1999, p. 142), “[...] a teoria da Escola Nova propunha que a
educação fosse instigadora da mudança social e, ao mesmo tempo, se
transformasse porque a sociedade estava em mudança”.

Tendo início no Brasil por volta de 1930, um dos seus marcos deu-se no ano de 1932
com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que tinha como representante
Fernando Azevedo. Esse manifesto possibilitou reunir educadores de vária
ideologias e pensamentos. O intuito geral dos pioneiros estava em reivindicar para
que a educação pudesse ser universal e laica.

O movimento escolanovista propiciou um novo olhar para a organização do


currículo e as práticas pedagógicas no âmbito escolar, contrapondo-se às práticas
de ensino tradicionais. De acordo com Saviani (2008, p. 179), “[...] a criança, e não o
professor, é o centro do processo educativo, devendo, pois, o ensino ter como móvel
principal a atividade e os interesses das crianças, vistas como sujeitos de sua
própria aprendizagem”.

Dessa forma, o professor terá por função facilitar o conhecimento, assim,


problematiza esse conhecimento sobre a experiência e interesse do aluno, ou seja,
parte das necessidades individuais. Por isso, embora seja particular de cada
participante, o ensino dos conteúdos é dinâmico e muda conforme as mudanças
da sociedade. A avaliação é algo mais subjetivo e a autoavaliação é parte desse
processo de aprendizado. Para Veiga (2008, p. 50):

A característica mais marcante do escolanovismo é a


valorização da criança, vista como ser dotado de poderes
individuais, cuja liberdade, iniciativa, autonomia e interesses
devem ser respeitados. O professor passou a ser um auxiliar do
desenvolvimento livre e espontâneo da criança; é ele um
facilitador da aprendizagem.

Esse processo considera assim a qualidade sob a quantidade e acaba por não
abranger grande parcela populacional. Sob tal perspectiva, a escola nova, segundo
Saviani (2008, p.9), acabou:
[...] provocando um afrouxamento da disciplina e
despreocupação com a transmissão dos conhecimentos,
acabou a absorção do escolanovismo pelos professores, por
rebaixar o nível de ensino destinado às camadas populares, as
quais muito frequentemente têm na escola o único meio de
acesso ao conhecimento elaborado. Em contrapartida, a Escola
Nova aprimorou a qualidade de ensino destinado às elites.

Observa-se, nesse momento, a sobreposição dos métodos em relação aos


conteúdos propriamente ditos, levando ao centro do processo de ensino e
aprendizagem. Daí a importância da interação. Embora inovasse a ação educativa,
por preconizar certas características, a melhoria na educação independe da
quantidade de pessoas que a usufruíram e por isso estava mais associada à
parcela mais abastada da população.

Processo Tecnicista

Com marcos iniciais que datam da segunda metade do século XX, o processo
tecnicista vigorou durante o período militar nacional e buscava atender à crescente
demanda por profissionais qualificados no período de crescimento da
industrialização nacional.

Conforme apontamentos de Veiga (2008), essa forma de ensino dava-se com o


conteúdo fragmentado sem relação direta com o contexto. O foco era o
desenvolvimento de disciplina, de forma racional e mecânica e sem possibilitar ao
estudante a construção crítica e reflexiva do conhecimento.

A principal característica da educação tecnicista é a


implantação de uma lógica empresarial no seio da escola,
desde a gestão até os currículos, a didática e a avaliação. [...] O
núcleo do perfil humano desejado estava na produtividade. Era
o objetivo da educação formar um quadro competente de
trabalhadores que pudessem alavancar, por meio do aumento
da produtividade, a economia do país (MELO, 2012, p. 233).

Nesse processo tanto professor quanto aluno assumem um papel secundário,


apenas executando as funções previamente estabelecidas. Ao professor, visto
como técnico/especialista, fica a responsabilidade do planejamento, coordenação
e controle do processo, normalmente feito pelo desenvolvimento de formulários.

O intuito para esse momento é reordenar a educação de modo que seja mais
objetiva e operacional e atenda ao foco principal de levar o aluno a aprender a
fazer e não necessariamente compreender de maneira reflexiva.
Segundo Libâneo (2006, p. 23), “[…] o essencial não é o conteúdo da realidade, mas
as técnicas (forma) de descoberta e aplicação. A tecnologia […] é o meio eficaz de
obter a maximização da produção e garantir um ótimo funcionamento da
sociedade”. Nesse processo, cabe ao professor possibilitar o maior número de
respostas possível, bem como que o aluno sinta-se estimulado em aprendê-las.
Berhrens (2009, p. 50) afirma:

A transferência da aprendizagem depende do treino; é


indispensável a retenção, a fim de que o aluno possa responder
às situações novas de forma semelhante às respostas dadas
em situações anteriores. A ênfase na repetição leva o professor
a propor cópia, exercícios mecânicos e premiações pela
retenção do conhecimento.

Para isso conta-se com propostas como o estudo dirigido, a utilização da


tecnologia em múltiplos recursos audiovisuais e computadores, testes, entre outros.
Valoriza-se o acerto por meio de um ensino prático e objetivo, fundamentado em
um sólido planejamento. Por isso o fato de o planejamento ser essencial, por parte
do professor/especialista, e a avaliação ser direcionada a partir na análise do
estímulo, resposta e reforço.

Processo sócio-libertador

Presente no cenário nacional da segunda metade do século XX, esse processo


compreende as mudanças, adaptações, desafios e multiplicidade que a sociedade
vivencia e as relações que homem estabelece nesse meio.

O precursor dessa ideia é Paulo Freire, que, nesse processo de mudanças


constantes e relações entre os indivíduos que compõem a sociedade, compreende
que a educação se dá com o outro, “[...] na superação da contradição educador-
educando, de tal maneira que se façam ambos, simultaneamente, educadores e
educandos” (FREIRE, 1978, p. 67).

Freire busca com sua proposta alfabetizar e, para além disso, o fim do
analfabetismo, por isso propôs um processo educativo que tivesse como princípios
norteadores aspectos essenciais à efetivação da aprendizagem, como diálogo,
respeito, autonomia, liberdade e autoridade democrática (FREIRE, 2002).

A pedagogia libertadora incumbia-se do ensino formal e não-formal, uma vez que


os professores passaram a adotá-la. Esse processo “[...] questiona concretamente a
realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens,
visando uma transformação – daí ser uma educação crítica”, conforme nos sugere
Libâneo (2006, p. 33).
Nessa proposta tanto professor quanto alunos são sujeitos atuantes na construção
e sistematização do conhecimento. Ao professor cabe coordenar e dirigir o grupo
de forma que todos os envolvidos sintam-se agentes participativos, com vistas a
atingir uma educação que emancipe e torne críticos os participantes.

A abordagem dos conteúdos está centrada, então, no que é comum aos envolvidos,
e é da realidade de cada um que se parte com o processo de ensino e
aprendizagem. Nesse pensar, o objetivo central desse processo está em possibilitar
a alfabetização com autonomia, assim como nos conteúdos que, além dessa
autonomia, contemplarão aspectos relacionados à cultura e ao cotidiano dos
envolvidos. Por isso o planejamento elaborado pela equipe pedagógica considerará
as necessidades e interesses dos alunos.

A metodologia proposta tem por princípios a democracia, o diálogo e a construção


conjunta do conhecimento. A avaliação, por sua vez, verificará a aprendizagem de
cada indivíduo e o reflexo desse trabalho no contexto social.

Processo construtivista

Esse processo teve início no final do século XX, a partir da necessidade percebida de
se reestruturar o processo educativo para formar indivíduos que interajam e sejam
ativos na própria formação.

O precursor desse processo foi Jean Piaget. Seu objetivo principal constituía-se em
“[...] criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas e não simplesmente
repetir o que outras gerações fizeram […]” (PIAGET, 1970, p. 56). Por isso a
importância do indivíduo interagir com o meio como forma de adaptação e
socialização, visto que o construtivismo compreende para além do
desenvolvimento intelectual, mas também social do indivíduo, e por isso o
considera enquanto seus aspectos biológico, psicológico e social.

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1985, p. 26), “[...] um sujeito que procura
ativamente compreender o mundo que o rodeia e trata de resolver as
interrogações que este mundo provoca não é um sujeito que espera que alguém
que possui um conhecimento o transmita a ele”. Com efeito, a inteligência será
desenvolvida pela constante interação com o meio e o conhecimento advém da
percepção, observação, manipulação e experimentação.

Essa aprendizagem acontece, segundo contribuições de Lakomy (2014, p. 35):


[...] na escola ou em outra instituição social, em que os
conteúdos da aprendizagem são produtos sociais e culturais. O
professor é um agente mediador entre o aluno e a sociedade, e
o aluno, por sua vez, é um sujeito ativo na construção do seu
conhecimento por meio da sua interação com o mundo físico e
social que o rodeia.

 Nesse pensar, o aprendizado efetiva-se a partir do momento em que o aluno


consegue não somente compreender o conteúdo, mas formular representações
pessoais a partir da relação sujeito-objeto.

O professor é tido como o facilitador desse aprendizado ao planejar, organizar e


estruturar estratégias pedagógicas que abarquem tais premissas. Isso significa
que, ao iniciar um novo conteúdo, é essencial adequar os conhecimentos prévios
aos novos conteúdos e à interação social e cultural, proveniente de experiências e
observações, para formular o novo saber.

Problematizar e levar o aluno à autonomia frente a situações-problema de modo a


incentivar a criatividade e a descoberta, por meio de desafios. Assim, o aluno irá
construir o conhecimento com o auxílio do professor, que, por sua vez, avaliará esse
aluno com vistas a inferir sua aprendizagem, seus conhecimentos prévios e oferecer
suporte para a compreensão de novos conteúdos.

Saiba mais!
Para melhor compreender os aspectos envoltos na proposta
construtivista, a orientação é para que se realize a leitura dos dois
textos a seguir:

O primeiro, intitulado “Construtivismo na prática”, disponível em:

Clique Aqui

O segundo, intitulado “O construtivismo e Jean Piaget”, disponível em:


Clique Aqui

Após a leitura dos dois textos sugeridos, reflita sobre as principais


características dessa proposta, suas principais considerações e a sua
representatividade no período em que vigorou na educação nacional.

Fonte: elaborado pelo autor

Processo histórico-cultural / histórico-crítico

Originado por Lev Semenovich Vygotsky, o processo histórico-cultural compreende


basicamente a tríade aprender, desaprender e reaprender. Isso significa que a
educação nessa perspectiva busca a transformação social e a sistematização de
saberes científicos, em decorrência do trabalho proposto a partir dos saberes
prévios que cada aluno traz consigo.

Para que essa transformação social efetive-se, é necessário que o professor


considere os saberes que o aluno já possui sobre determinado conteúdo, ou seja, o
conhecimento atual, a zona de desenvolvimento imediato, caracterizada por aquilo
que o aluno pode vir a saber com a mediação do professor e o saber atual,
novamente. No entanto, esse saber atual refere-se ao desenvolvido após o
processo de ensino e aprendizagem.

Dessa forma, “[...] ao trabalhar o tema com o aluno, o professor explicou, comunicou
conhecimentos, fez perguntas, corrigiu, levou a própria criança a explicar”
(VYGOTSKY, 2001, p. 341), sistematizando os saberes novos e desenvolvendo ainda
mais os saberes já adquiridos.

Essa proposta ocorre na atualidade de maneira articulada e presente no ensino, a


partir de estudos desenvolvidos, com a denominação de Pedagogia Histórico-
crítica, proposta por Dermeval Saviani, que vigora desde o final do século XX. Para
Saviani (2011), essa proposta visa a formação crítica e não produtivista e histórica
em detrimento das necessidades percebidas ao considerar esse processo por um
fazer histórico e crítico para a formação dos alunos.

Em seu planejamento, segundo Gasparin (2005), essa proposta histórico-crítica


compreende algumas etapas para se chegar ao aprendizado sistematizado, que
são: a prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e prática
social final.

Atenção!
As características propostas, ou a tarefa essencial, nesse processo
pedagógico e educativo, podem ser evidenciadas no excerto a seguir,
da obra Pedagogia histórico-crítica de Dermeval Saviani.

Em suma, é possível afirmar que a tarefa a que se propõe a pedagogia


histórico-crítica em relação à educação escolar implica:

a) Identificação das formas mais desenvolvidas em que se expressa o


saber objetivo produzido historicamente, reconhecendo as condições
de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações,
bem como as tendências atuais de transformação.

b) Conversão do saber objetivo em saber escolar, de modo que se


torne assimilável pelos alunos no espaço e tempo escolares.

c) Provimento dos meios necessários para que os alunos não apenas


assimilem o saber objetivo enquanto resultado, mas apreendam o
processo de sua produção, bem como as tendências de sua
transformação (SAVIANI, 2011, p. 8-9).

Nessa proposta, o professor é tido como mediador do conhecimento, de acordo


com Gasparin (2007, p.121):

A mediação realiza-se de fora pra dentro quando o professor,


atuando como agente cultural externo, possibilita aos
educandos o contato com a realidade científica. Ele atua como
mediador, resumindo, valorizando, interpretando a informação
a transmitir.
Ao mediar, o professor proporciona ao aluno uma ponte de ligação entre o saber
prévio que o aluno possui e o saber científico, e ainda leva esse aluno à reflexão, de
tal modo que possa se pensar na prática de tais conteúdos. Isso significa
considerar o professor como aquele que irá facilitar, mediar o conhecimento a ser
desenvolvido pelo aluno.

Para que essa proposta se efetive, cabe ao professor, segundo Gasparin (2007),
considerar aquilo que o aluno já traz consigo de saberes, ou seja, seus
conhecimentos prévios sobre determinados temas e conteúdos. Para isso, o
professor precisa conhecer qual a realidade desses alunos, para tê-la como ponto
de partida de seu trabalho e um meio para a sistematização dos novos saberes por
parte dos alunos.

Processo Multicultural

O que se denomina por processos multicultural voltado à educação está


diretamente relacionado à questão cultural, bem como o seu significado e
representatividade para o fazer escolar propriamente constituído e atual.

Por constituir-se de concepções relacionadas à vivência dos indivíduos,


caracteriza-se pelo fato de não ser uma teoria metodológica no ensino e
aprendizagem, mas por compreender aspectos relacionados a um conteúdo
amplo, do qual se compreendem as culturas. Com efeito, vale considerar que:

“[…] não há educação que não esteja imersa nos processos


culturais do contexto em que se situa. Neste sentido, não é
possível conceber uma experiência pedagógica
“desculturalizada”, isto é, desvinculada totalmente das questões
culturais da sociedade” (CANDAU, 2012, p. 13).

 O pensar, voltado ao multiculturalismo do qual a sociedade e os espaços escolares


são formados, tem por base considerar as características, vivências, experiências,
princípios e costumes de cada pessoa que os compõe e isso é muito importante no
processo educacional, ao passo que essa troca de saberes certamente enriquecerá
as aulas e o conhecimento do grupo.

Pretende-se, com tal abordagem, não homogeneizar, mas considerar a


multiplicidade cultural envolvida no processo de escolarização e, para além disso,
utilizá-la em favor do desenvolvimento social e dos saberes dos envolvidos. Dessa
forma o conteúdo cultural terá por princípio o estudos dos conceitos e das relações
da cultura e sua pluralidade.

De acordo com Feldmann (2009, p. 35):


Teóricos do campo educacional passaram a alertar para a
importância da incorporação do multiculturalismo nos
currículos, no planejamento político-pedagógico das escolas e
no tratamento teórico de questões relacionadas à formação de
professores, introduzindo como parte dessa formação o
problema das identidades culturais e etnias e a importância de
sua valorização na composição das diferentes formações
sociais, no nosso caso, a brasileira.

O objetivo, ao abarcar o conteúdo cultura no contexto escolar, é o de promover a


compreensão das diversas culturas, das desigualdades e das relações culturais
com a própria sociedade contemporânea. A metodologia dependerá de como esse
conteúdo será desenvolvido nos currículos escolares, e a avaliação por sua vez, visa
ao aprendizado teórico e prático, e por isso desenvolver-se-á de maneira
qualitativa.
Contemporaneidade
Relacionada aos tempos mais recentes, a contemporaneidade possui
representatividade evidente em aspectos como o advento tecnológico e a
globalização. Caracterizada pelo atual e, consequentemente, pela informação, pelo
conhecimento e a rapidez com que circulam em todo o mundo.

Para além dos processos tecnológicos e informacionais, a sociedade atual é global


e, por isso, a troca de saberes e de cultura a torna multicultural, isso significa que as
várias culturas existentes podem se inter-relacionar e promover outras novas
culturas. De acordo com Bauman (2012, p. 90):

Herdada ou adquirida, a cultura é parte separável do ser


humano, é uma propriedade de tipo muito peculiar, sem dúvida
alguma: ela partilha com a personalidade a qualidade singular
de ser ao mesmo tempo a “essência” definidora e a
“característica essencial” descritiva da criatura humana.

Sob essa ótica, ao passo que a cultura é essência e identidade, é também múltipla
e representante não somente do indivíduo mas da sociedade, ao ordenar essa vida
social. Assim “[...] a cultura é o posto de abastecimento do sistema social [...] no
curso dos esforços de manutenção de padrões” (BAUMAN, 2012, p. 25).

Para melhor compreender o termo, Laraia (2009) nos apresenta as várias


dimensões do termo cultura desde o que inicialmente podemos inferir como sendo
cultura, a se destacar nesse conceito geral como conhecimento adquirido e
desenvolvido, visto que a cultura é resultante de leis, princípios, crenças e costumes,
enfim, é reflexo da capacidade de se criar e desenvolver hábitos em meio a um
grupo social de indivíduos.

Daí o fato da sua diversidade, ao se caracterizar essencialmente como padrão de


comportamento, que visa à adaptação dos grupos de indivíduos, e essa
organização social reflete a cultura por delimitar a própria forma como se estrutura
e organiza esse grupo em detrimento às crenças e costumes, conforme apresenta
Laraia (2009).

Vale considerar o aspecto adaptável que possui, sobretudo na sociedade atual que
caminha com mudanças constantes. Assim, segundo Bauman (2012, p. 28), “[...] o
trabalho da cultura não consiste tanto em sua autoperpetuação quanto em
garantir as condições para futuras experimentações e mudanças”.
Com a globalização, tem-se o maior acesso às informações e às culturas existentes
no mundo e isso possibilita essa mutabilidade adaptativa, que intenciona melhorias
constantes para cada realidade vivenciada.

Nessa premissa, o contemporâneo também pode ser mencionado como a era do


conhecimento, visto que se observa ocorrer a valorização da informação que
culmina no desenvolvimento da sociedade. Por isso, é de grande valia considerar
que “[...] o pensamento contemporâneo continua vinculando educação às grandes
interrogações da formação humana, com estudos que pensam o ser humano
contemporâneo e a sua educação” (COELHO E COSTA, 2009, p. 16).

Por se fazer muito presente na sociedade atual, o conhecimento é essencial à


contemporaneidade. De acordo com Libâneo (2010, p. 26), “[...] é evidente que as
transformações contemporâneas contribuíram para consolidar o entendimento da
educação como fenômeno plurifacetado, ocorrendo em muitos lugares,
institucionalizado ou não, sob várias modalidades”.

Tanto o saber propriamente, as informações, bem como a tecnologia, propiciaram


à sociedade contemporânea o título de sociedade do conhecimento, na qual
comunicação e dinamicidade se encontram para promover a construção, o
desenvolvimento e o acesso a esse conhecimento, que é tão importante para as
próprias mudanças sociais.

Uma das características da sociedade contemporânea é o


papel central do conhecimento nos processos de produção, ao
ponto do qualificativo mais frequente hoje empregado ser o de
sociedade do conhecimento. Estamos assistindo à emergência
de um novo paradigma econômico e produtivo no qual o fator
mais importante deixa de ser a disponibilidade de capital,
trabalho, matérias-primas ou energia, passando a ser o uso
intensivo de conhecimento e informação (BERNHEIM, 2008, p. 7).

É nessa premissa que se pode analisar a sociedade contemporânea, do


conhecimento e seus reflexos nos processos educativos, com a ascensão da
informação e da demanda por formar os indivíduos para essa sociedade dinâmica
e múltipla. Assim como com as novas tecnologias educacionais, houve a
necessidade de adaptação das escolas para esse novo contexto social,
caracterizado pelas mudanças constantes e, sobretudo, pela necessidade
eminente de indivíduos qualificados.

Na escola, então, houve mudanças metodológicas que repensaram o papel do


professor e dos alunos no processo formativo, atendendo as novas tendências,
conforme veremos nos próximos textos.
Tendências pedagógicas
contemporâneas e a
formação docente
No contexto de mudanças e adaptações constantes ao qual pertence a sociedade
atual, em que o conhecimento possui grande representatividade, é necessário que
se pense e busque meios de levar a escolarização, o processo de ensino e
aprendizagem e a própria formação docente a adaptar-se aquilo que a sociedade
precisa.

Atender essas novas demandas tem se mostrado desafiador no âmbito


educacional, visto que, para que essas mudanças sejam efetivas, tanto o professor
em sua prática como os próprios alunos precisam adaptar-se. Dessa forma, cabe
ao ensino abarcar cada vez mais temas de maneira interdisciplinar e que envolvam
e atraiam o aluno para que ele se sinta agente de sua formação e, para além disso,
participe desse processo de maneira crítica e reflexiva perante os conteúdos
estudados e situações reais vivenciadas em seu cotidiano.

A sociedade contemporânea está representada nessas mudanças e dinamicidade.


Conforme argumentos de Behrens (1999, p.386):

O final do século 20 caracteriza-se pelo advento da sociedade


do conhecimento, da revolução da informação e da exigência
da produção do conhecimento. Esse processo de mudança
afeta profundamente os profissionais de todas as áreas do
conhecimento e, por consequência, exige o repensar dos seus
papéis e suas funções na sociedade.

Não diferente dos demais profissionais, ao professor o desafio compreende tanto a


sua capacitação como o seu papel perante a formação dos indivíduos, e o trabalho
docente precisa, assim, estar adaptado a essas necessidades. Promover um ensino
de qualidade requer capacitação por parte do professor, dinamicidade e
criatividade, para que possa estimular a participação dos alunos bem como a
construção sistematizada dos saberes decorrentes dos conteúdos que cada etapa
da escolarização contempla.

Nesse sentido, a busca por formar cidadãos críticos tornou-se a base para uma
educação de qualidade na sociedade atual.
Na realidade, acredita-se que a caracterização da prática
pedagógica está fortemente alicerçada nos paradigmas que a
própria sociedade vai construindo ao longo da história. A
educação, a economia e a sociedade, assim como o homem,
são produtos da ação histórica. Sendo assim, os paradigmas
propostos e construídos pelos próprios homens vêm
acompanhados de crenças, valores e posicionamentos éticos
em frente a uma comunidade determinada (BEHRENS, 1999, p.
385).

Ao compreender que a educação atual deve acompanhar os paradigmas


educacionais e suas mudanças, é bem verdade que a prática docente necessita de
atenção. Ao passo que novas adaptações são demandas no contexto educacional, 
assim também ocorre com a função do professor. Isso significa que o professor
deve manter-se atualizado em conhecimento, métodos e tendências de tal forma
que, em sua prática, tenha sempre estratégias inovadoras, que desafiem e
chamem a atenção do aluno ao conhecimento.

O fato de ser mediador do conhecimento leva o professor a buscar sempre novos


meios para um ensino e aprendizagem prazerosos e satisfatórios para os
envolvidos. Tais considerações evidenciam o que já é tendência na sociedade atual,
segundo Imbernón (2010), que é o fato de que o docente exercerá sua profissão em
um espaço social que se modifica, que possui muita tecnologia e tem no
conhecimento grandes progressos.

Para o autor, “[...] o contexto em que trabalha o magistério tornou-se complexo e


diversificado. Hoje, a profissão já não é a transmissão de um conhecimento
acadêmico ou a transformação do conhecimento comum do aluno em um
conhecimento acadêmico” (IMBERNÓN, 2010, p. 14). A função do professor extrapolou
o ensinar em si, e esse profissional passou a motivar, lutar contra o preconceito e as
desigualdades, participando ativamente da sociedade e levando os alunos a tal
ação.

Trabalhos como pesquisa, diálogos e seminários são exemplos de atividades que o


professor pode se valer para ultrapassar as barreiras da sala de aula e promover
um ensino significativo onde tanto ele quanto os alunos possam aprender a
aprender, considerando o coletivo e com respeito às diversidades. Assim, o ensino
tenderá à formação baseada na autonomia, ao possibilitar:

[...] condições de refletir, analisar e tomar consciência do que já


sabemos, dispormo-nos a mudar os conceitos e os
conhecimentos que possuímos, seja para processar novas
informações, seja para substituir conceitos cultivados no
passado e adquirir novos conhecimentos (MORAES, 2016, p. 144).

A interação proposta pelo professor precisa acarretar em um ensino dinâmico e


atrativo que leve o aluno a buscar aprender sempre mais. Isso se dará respeitando
os limites e potencialidades de cada aluno, seus saberes prévios e o
desenvolvimento desses para um saber científico sistematizado, sempre
relacionando a teoria com a prática, mais especificamente aquela vivenciada no
cotidiano do aluno.

Uma educação inovadora se apoia em um conjunto de


propostas com alguns grandes eixos que lhe servem de guia e
de base: o conhecimento integrador e inovador; o
desenvolvimento da autoestima e do autoconhecimento
(valorização de todos); a formação de alunos empreendedores
(criativos, com iniciativa) e a construção de alunos-cidadãos
(com valores individuais e sociais)  (MORAN; MASETTO; BEHRENS,
2015, p 12).

Tais práticas proporcionam aos seus participarem do processo de ensino e


aprendizagem tal como deve ocorrer, de maneira interativa, flexível, autônoma,
reflexiva e crítica, mas para isso, conforme aponta Romanowski (2012), faz-se
imprescindível a formação permanente e contínua do professor, atendendo a todas
as suas demandas relacionadas aos processos educacionais, suprindo suas
necessidades e dificuldades.

Mediante estudos de Imbernón (2010), a formação permanente do professor


intenciona a autoavaliação e reflexão de sua prática, de tal modo que possa
analisá-la revisando-a, para melhor organizar e fundamentar o que for necessário.

É nesse sentido e de acordo com Gasparin (2007, p. 121) que:

Para a realização de seu trabalho, o professor elabora


esquemas de ação que busquem desenvolver aquelas
habilidades e capacidades que ainda não estão desenvolvidas
nos educandos, mas encontram-se em fase de construção.
Conhecendo o cotidiano do aluno e o conteúdo escolar, o
professor age no sentido de que o educando, de início,
reproduza ativamente para si o conteúdo científico, recriando-
o, tornando-o seu e, portanto, novo para ele.

Para que tais considerações tornem-se ações efetivas, há a necessidade de um


trabalho planejado e organizado, que prime pela autonomia e criatividade tanto do
professor quanto dos alunos em explorarem as possibilidades que melhor
viabilizarão essa troca, desenvolvimento e sistematização de saberes de maneira
crítica e reflexiva.
Função social da escola e do
processo educativo
Sendo a escola um espaço que compreende a sociedade, analisaremos algumas
das principais evidências sobre a função que as escolas exercem sobre a
sociedade da qual fazem parte, seja com alunos que a compõe ou o meio.

Atenção!
Qual influência você acredita, caro(a) leitor(a), que a escola pode
exercer no âmbito social? Qual é o papel da escola frente a sociedade
contemporânea?

Reflita sobre esses questionamentos e faça suas conclusões após a


leitura desse texto.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Por estar relacionada diretamente com pessoas que compõem a sociedade,


podemos considerar a escola como um todo social no qual vários atores fazem
parte, sendo eles: professores, coordenadores, direção, alunos, pais, demais
funcionários e comunidade escolar. Para que sua função social se cumpra, é
importante que todos os envolvidos compreendam o papel da escola perante a
formação dos indivíduos e a representatividade dessa formação para além do
espaço escolar.

Vale ressaltar que, embora a escola possua papel de destaque nas transformações
sociais, ela não é o único fator capaz de promover melhorias, mas sim um dos
fatores promotores de grande representatividade ao desenvolvimento. A prática
que ocorre no âmbito escolar é, segundo Libâneo (2006, p. 54):
[...] compreendida como um processo, ao mesmo tempo,
individual e social, de desenvolvimento de indivíduos singulares
e de intervenção nas condições sociais [...] a ação pedagógica
escolar será, então, uma prática social que envolve uma inter-
relação adultos-aprendizes, observada a fase de
desenvolvimento psicológico e social destes últimos e que visa
a modificações profundas nos sujeitos envolvidos, a partir da
aprendizagem de saberes existentes na cultura, conduzida de
tal forma a preencher necessidades e exigências de
transformação da sociedade.

Com efeito, a escola tem por função social formar os indivíduos de tal modo que se
tornem críticos e reflexivos perante as situações vivenciadas. Sendo assim, a escola
estará proporcionando a sistematização dos saberes científicos que influenciará a
sociedade, atendendo às suas demandas por transformações, adaptações e
inovações constantes.

A escola é um espaço de formação e transformação social porque, em suas


práticas, tem por intenção favorecer o exercício da cidadania, por parte de seus
alunos. Para isso, precisa dispor em seus processos de situações problematizadoras
de saberes e desafiadoras aos alunos, e ainda condizentes com as realidades
vivenciadas e o cotidiano da turma para que possam externalizar esse aprendizado,
promovendo-o enquanto prática social.

A tarefa da escola é a de instrumentalizar esse indivíduo e


contribuir para a ampliação da vivência social do aluno, para a
compreensão do mundo que o rodeia. Postularam para a
escola pública a função socializadora do saber sistematizado,
considerando a realidade do aluno, não discriminando-o, mas,
ajudando-o a avançar em direção a uma compreensão de
mundo mais crítica (VEIGA, 2008, p.149).

Com base nas ideias da autora, o papel da escola é, assim, formar de maneira
crítica e livre de preconceitos os alunos, para que se tornem cidadão ativos no meio
que fazem parte. Nessa perspectiva e, segundo Demo (1993, p. 244), a função da
escola consiste em “[...] assumir a condição de lugar de formação de um tipo
essencial de competência frente à formação da cidadania e frente às mudanças
na sociedade e na economia”.

Outro fator importante a ser considerado como função social das práticas
escolares é que a escola, ao instruir e formar indivíduos, atende a uma demanda
crescente na sociedade do conhecimento, ou seja, formar pessoas que possam
atuar na sociedade de maneira inovadora, contribuindo com os meios produtivos
ao despender de seu trabalho.

Dessa forma, a escola também é um fator de desenvolvimento social no que tange


ao aspecto econômico, ao passo que o conhecimento e os métodos possibilitem
um indivíduo criativo e inovador, contribuindo para o processo produtivo existente
na sociedade. Ao ingressar no mercado de trabalho, o indivíduo perceberá que o
conhecimento é o potencial produtivo de uma empresa, sobretudo para a
sociedade contemporânea em que a informação e conhecimento são tão
demandados.

De acordo com Behrens (1999, p. 90-91):

[...] a escola precisa propiciar um ambiente em que os


professores e alunos sujeitos do processo possam gestar
projetos conjuntos que propiciem a produção de
conhecimento. Neste contexto a escola deve se apresentar
como um ambiente inovador, transformador e participativo, no
qual os alunos e os professores sejam reconhecidos como
sujeitos capazes de inovar e de produzir conhecimento.

Nesse pensar, a escola exerce sua função social desde o ambiente interno e suas
relações, como ocorre na promoção da interação e integração entre os próprios
alunos, e por meio de práticas pedagógicas condizentes com as necessidades
educacionais.

Diante de tal proposta, o professor, enquanto mediador do conhecimento, irá


planejar sua prática para que o aluno sinta-se estimulado a participar e construir
junto o conhecimento, para isso valem situações diversas como debates,
seminários, pesquisas, trabalhos e atividades diversas que considerem o saber
prévio do aluno e se busque o desenvolvimento do saber científico, relacionando
teoria e prática contextualizada com a realidade dos alunos nesse processo.

Por isso a formação, enquanto prática social, busca responder às necessidades


percebidas na sociedade e desenvolver um ensino cada vez mais dinâmico,
atualizado inovador e atrativo, de tal modo que os alunos se formem cidadão
críticos e reflexivos perante as situações com as quais se depararem no espaço
social.
Saiba mais!
Para compreendermos um pouco mais a escola enquanto um espaço
com função social evidente, leia o excerto a seguir, que apresenta a
escola:

Como espaço de convivência que favoreça o exercício da cidadania, a


escola possui formas de organização, normas e procedimentos que
não são meramente aspectos formais de sua estrutura, mas se
constituem nos mecanismos pelos quais podemos permitir e
incentivar ou, ao contrário, inibir e restringir as formas de participação
de todos os membros da comunidade escolar. Nesse sentido, uma
escola que pretende atingir, de forma gradativa e consistente,
crescentes índices de democratização de suas relações institucionais
não pode deixar de considerar, como parte integrante de seu projeto, o
compromisso de participação. Com relação ao alunado, a escola
como espaço de convivência social, se torna um centro de referência
pessoal que marca os sujeitos que por ali passam, pelo simples fato
de estar nessa e não em qualquer outra, fruto de traços que a
identificam, a tornam única:  as oportunidades de convívio, as
atividades das quais participam, as formas pelas quais “vivem” o
cotidiano escolar (BUENO, 2001, p. 6).

BUENO, J. G. S.  Função social da escola e organização do trabalho


pedagógico. In. Educar, Curitiba, n. 17, p. 101-110. 2001. Editora da UFPR.

Disponível em:

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Indicação de Leitura
Título: UMA DIDÁTICA PARA A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA
Autora: João Luiz Gasparin

Editora: Autores Associados

ISBN: 8574960543

Sinopse: Este livro é uma alternativa de ação docente-discente na qual o professor


não trabalha pelo aluno, mas com o aluno. A proposta de trabalho pedagógico
consiste no uso do método dialético prática-teoria-prática.

O autor divide a nova didática em cinco passos, e cada um deles tem como
objetivo envolver o educando na aprendizagem significativa dos conteúdos. Dessa
forma, os conteúdos e os procedimentos didáticos são estudados na interligação
que mantêm com a prática social dos alunos.

Atividade

No que se refere ao processo histórico metodológico


da educação no Brasil, observa-se, a partir de estudos
e análises, que a educação nacional teve momentos
diversos e embasados em práticas metodológicas
distintas, cada uma com suas características e
direcionamentos específicos, mas que tinham um
mesmo objetivo - promover a educação.

Sobre as práticas metodológicas que vigoraram no


país, analise as afirmativas e assinale a alternativa
correta: 

I – O processo tradicional, por ser o mais atual,


considera que o professor é o detentor do saber e o
aluno deve construir por si só o conhecimento. Nesse
processo não se leva em conta o saber prévio do
aluno.

II – O processo tecnicista, que vigorou na segunda


metade do século XX, mais especificamente no
período militar do país, tinha como intuito capacitar
para o mercado de trabalho, atendendo à demanda
de profissionais capacitados em um período de
industrialização nacional.

III – O processo sócio-libertador teve como precursor


Paulo Freire, que defendia a ideia de que tanto o
professor quanto os alunos são sujeitos atuantes na
construção e sistematização do conhecimento.

IV – No processo construtivista, cabe ao professor a


função de ser o facilitador do conhecimento, levando
em consideração os saberes prévios dos alunos de tal
modo que se problematize e leve o aluno à autonomia
frente a situações-problema e à construção do saber.

É correto o que se afirma em: 

A. I, apenas

B. I e III, apenas.

C. II e IV, apenas.

D. I, II e III, apenas.

E. II, III e IV, apenas.

Atividade

Embora sejam várias as metodologias utilizadas ao


longo da história da escolarização nacional, o que se
espera para o ensino atual é que atenda às
demandas da sociedade atual e promova um ensino
de qualidade.

Nesse sentido, analise as afirmativas que seguem e


considere V para as verdadeiras e F para as falsas:

( ) O processo histórico-crítico é a proposta esperada


para a escolarização na atualidade, visto que visa à
formação crítica e reflexiva do indivíduo.

( ) Considerar no ensino a cópia e memorização para


fixação dos conteúdos é a intenção da proposta
educativa atual.

( ) Contemplar nos conteúdos a cultura, suas


características e diversidade é irrelevante à prática
pedagógica em vigor, e por isso é um conteúdo
proibido de se trabalhar na escola.

( ) Considerar o conhecimento prévio do aluno e


promover um ensino significativo são aspectos
essenciais para se atender a proposta metodológica
atual e propiciar um ensino que integre e possibilite a
sistematização de saberes.

Assinale a alternativa correta:

A. V-V-V-V.

B. F-V-V-V.

C. F-F-V-V

D. V-F-V-V.
E.  V-V-V-F.

Atividade

Ao analisar as técnicas pedagógicas e a ação


docente, compreendemos que uma depende da outra
para que se tornem realidade de um ensino eficaz.

Sobre a função do docente nesse contexto, considere


as afirmativas a seguir, assinalando V para as
verdadeiras e F para as falsas: 

( ) A tendência pedagógica atual deve primar por um


ensino memorístico em que somente o professor fala e
o aluno grava, por isso não há necessidade de estar
adaptado às tecnologias da sociedade
contemporânea.

( ) O fato de ser mediador do conhecimento leva o


professor a buscar sempre novos meios para um
ensino e aprendizagem prazerosos e satisfatórios para
os envolvidos, levando os alunos a buscarem
conhecimento.

( ) São estratégias para essa educação a construção


do aprender a aprender, deixando o aluno explorar as
possibilidades de aprendizado. Isso ocorre ao passo
que o professor permite autonomia ao aluno e planeja
suas ações junto à turma, voltado para a formação
autônoma.

( ) O planejamento não faz diferença para o professor


no ensino atual. Suas práticas devem ser sempre
espontâneas e não planejadas, visando a organização
e revisão de suas ações.

Assinale a alternativa correta:

A. V-V-V-V.

B.  F-V-V-F.

C. F-F-V-V.

D. V-F-V-F.

E. F-V-F-F.
Síntese
Neste material, pudemos refletir um pouco mais sobre a educação como prática
histórico-social. Para que essa discussão fosse possível, partimos das
considerações  histórico-metodológicas da educação no Brasil, ou seja, quais os
principais processos de ensino utilizados ao longo da escolarização no Brasil e suas
principais características.

Partimos de uma breve consideração histórica que envolvia os aspetos


metodológicos da educação para chegarmos ao que se aplica hoje na prática
educativa. Por isso, analisamos os aspectos gerais da contemporaneidade, bem
como as tendências pedagógicas contemporâneas e a formação docente. Nesse
momento, pudemos compreender melhor como ocorrem as práticas pedagógicas
atuais e que elas atendem às demandas da sociedade, por isso apresentam as
características evidenciadas. Sobre a formação do professor vale lembrar a
necessidade da formação contínua e permanente para estar sempre adaptado às
novas tendências e demandas que surgirem e promover um ensino de qualidade.

Para finalizar, o último texto deste capítulo trouxe considerações importantes sobre
a função social da escola e do processo educativo, evidenciando o fato e que a
escola é um espaço social e que promove mudanças para além dela, ao formar
cidadãos críticos e reflexivos.

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