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~ UNIFERSIORDE FACULDADE DE CIENCIAS JURIDICAS E POLITICAS Licenciatura em Ciéncias Politicas e Administracao do Territério ‘Apontamentos do Direito do Ambiente (Integragao Econémica) | Docente: Mestre Anténio Joo | CAPITULO I- ABORDAGEM JURIDICA DO AMBIENTE 4. Introdugao ‘Nos finais do século XX, as preocupagSes em torno da qualidade do ambiente ¢ da necessidade de proteger os componentes ambientais so preocupacées sentidas de forma cada vez mais intensa por toda a populacdo, senda este sem divida, um fea mais vitat para os cidadaos, quer de ponto de vista individual, quer do panto de vista colectiva. E que se nao fosse suficionte para a tomada de conscigncia destes problemas a mera verificag’o da poluigo do ar que respiramos, da agua que bebemos ou das praias e bosques onde descansamos, diariamente somos informados sobre desastres ecolégicos que ocorrem nos quatro cantos do mundo. As noticias © as discussdes sobre a deterioragao crescente do ambiente em que vivemos e sobre a necessidade de o preservar, sob pena de a nossa propria existéncia ser posta em causa, esto agora «na ordem do dia», sendo também um dos objecios fundamentais do discurse polltico. As pré-compreensées do Direito do Ambiente As pré-compreensdes do Direito do Ambiente tem a ver com o relevo que pode ter opgao entre uma perspectiva essencialmente antropocénirica «em que a defesa do ambiente é feita com o objective principal ou mesmo Unico — de defender a vida humana» ou ecocénfrica «em que 0 ambiente jé & tufelado em si mesmo, rocurando-se a defesa e pramacdo da natureza como um valor novo». 4.4.4. 0 Conceito do Ambiente ‘As duas grandes alternativas do ambiente — so 0 conceito amplo ¢ estrito de ambiente. © conceito amplo tem a ver com os componentes ambientais naturais «0 ar, a luz, a aqua. O solo vivo € 0 subsolo, a flora @ a fauna» © os componenies ambientais humanos «a palsagem, 0 pairiménio natural construide e a poluigao». © conceito esfrito de ambiente —tem a ver os componentes ambientais humanos «a paisagem, o patriménio natural e consiruido e a poluicdo». 4.1.2.0 Ambiente come nove bem Juridico Logo nas considerages iniciais fera fieado efaro 2 crescenfe preocupagio que as sociedades contempordineas tém vindo a experimentar relativamente a uma série de problemas trazidos a0 homem sobretudo pelo rapidissimo desenvolvimento tecnoiégico; problemas dentre os quais sobressai o do ambiente, com a cada vez mais generalizada conviegio das pessoas sobre a necessidade de o preservar © promover. ‘A generalizacao dessa convicgéo ~ operada a nivel néo apenas nacional, mas internacional, dada @ inevitével propensfo para a «mundializacéo» dos problemas ambientais - esti na base da emergéncia recente do ambiente ‘como bem digno de protec¢ao ou tutela juridica, o mesmo 6 dizer, na base da sua transmutacdo de mero interesse socialmente relevante em auténtico bem Juridico. E imperioso realgar a implicacdo ou referéncia sistémico-social da nogdo de bem juridice, isto 6, 0 facto de através desta nogao se pretender abranger valores ou interesses que se apresentam em estreita conexéo com os interesses gerals da sacledade, tomados enquanto tais e no enquanto valores de cunho estritamente individual: 0 bem juridico, ainda que possua (como é 0 caso) dimensdes individuals, deve sempre ser visto como bem Juridico da colectividade. E esta «socializag&o» do conceito que para nés tem mais interesse, j4 que o ambiente (apesar de também sar um direito fundamental pertencente a todos a cada um de nds) 6, sem davida, um inferesse colective, com uma dimensiio social que nunca poder ser esquecida. Se seguirmos a concepgdo de certos autores que proclamam a distingdo entre bens juridicos em que esté em causa a protec¢do da pessoa individual e aqueles que se fundam na protecoSo de valores supra-individuais (como tal, }, 0 ambiente deverd ficar situado nesfa titima categoria. A aufonomia do bem juridico ambiente, que é tutelada em si e por si mesmo. A fei protege ¢ regula o ambiente quer entendido na sua globalidade, quer na medida em que os seus diversos componentes — ou, se se preferir, 0s varios hens ambientais consideradas em sentido estrito — sfc também objecto da tutela do Direlto. Assim se mosira a transcendéncia do ambiente relativamente aos interesses individuals a ele ligados, o que se articula com a conclusdo de que a sua dimensao oolectiva ou social 6, pura ¢ simplesmente, imedutivel. E este ponto que constitui a grande novidade dos desenvolvimentos legais © doutrinarios vindos & luz nas décadas mais recentes © que traduz a forca que importa dar ao tratamento juridico do ambiente, sem o reduzir necessariamente & tutela da vida, da satide do patriménio, por um tado, ou do | | | | | | | | | | cordenamento territorial, da beleza da paisagem ou do desenvolvimento econémice e tecnoldgico, por outro. Como consequéncia da consideragdo do ambiente - ¢ dos seus elementos ‘ou componentes ambientais (designadamente os componentes ambientais naturais com maior importancia: o solo, o ar @ a Agua) outrora passivels de ser utilizados por todos sem obediéncia a quaisquer regras ou limites, s80 agora bens juridicamente protegidos, os quails, por estarem cada vez mais ameagados nas sociedades dos nossos dias, sdo alvo de uma tutela juridica que visa tomar @ sua utiizacdo e 0 seu aproveitamento mais racionais e equiibrados. 1.1.3. Dano Ambiental Dano ambiental é 0 prejuizo trazido as pessoas, aos animais, as plantas e ‘aos outros recursos naturals (agua, ar, @ solo) © as coisas, que consiste numa ofensa do direito 20 ambiente. Ou seja ocorre sempre que uma dada acco humana viole as disposigies juridicas destinadas a proteger o direito subjectivo 20 ambiente dos individuos, acarretando consequéncias danosas para o ambiente. E alteracdo adversa das caracteristicas do ambiente ¢ inclui, entre outras, a poluigao, a desertificagdo a erosao ¢ 0 desflorestamento. a) As caracteristicas de dano ambiental As caracteristicas de dano ambiental sdo: 1- 0 ambiente € considerado apenas como bem public, como tal incluido no canceito de patriménio publico. Tratando-se de um dano referido a toda comunidade: 2 — 0 direito subjectivo a0 ambiente é claramente desvalorizado em beneficio do direito do Estado; 3 — configura-se © direito a0 ambiente como «diretto humano colectivor, donde resulta que esse bem juridico unitario est sujeito a um regime de propriedade colectiva, ficando os cidadaos singularmente considerado © mesmo as associaches ambisntalistas imnedidos de promover accées de defesa do ambiente. 4.1.4. A Poluigdo atmosférica o as suas consequéncias globais No que diz respelto 4 poluigdo atmosférica, refira-se que mais de 1.500 milhdes de pessoas respiram, hoje 0 ar poluido. Neste nimero integram-se, seguramente todos os viventes em cidades. E morrem i8 prematuramente, em Virtude do ar que respiram, cerca de 300.000 pessoas por ano. A emissdo de gases txico 6 0 maior factor de poluigaéo da atmosfera. Uma das principals fontes € a combustio do petroléleo © seus derivados, que produz gases € fumos que se misturam com os componentes naturals. 4.2. Aperda da biodiversidade A diversidade biolégica tem vindo a ser, tremendamente ameagada, pelo crescimento continuo da presséio humana, todas as espécies vegetais & animais da biosfera so ameagadas pelo homem. Nenhuma espécie pode sentirse segura perante as transformagées que ests esti a causar na atmosfera, nos oceanos e nos ecossistemas terrestres. 4.2.4. Amedicina de Ambiente A medicina do ambiente 6 a discipina que estuda os efeitos, os riscos produzidos, em geral por agentes oxteriores (ar, agua, alimentacdo, ruido, materiais), em suma, 0s efeitos do meio sobre a saiide do homem, numa abordagem multidiscipinar, cuja abrangéncia vai desde o plano natural, isfo é, fisico, quimico, bividgico, etéctrico, ao socioldgico. 1.2.2. As politicas ambientais As politicas ambientais procuram rever 0 actual modelo econémico para evitar que ele provoque um desastre ecolégico imeversivel. Elas expressam os instrumentos adequados para 0 efelto, que vao desde a investigagao cientifica de materias, substitulives do uso de recursos ndo reciclévels @ que ndo produzam residuos contaminantes do ambiente, novas formas de energia renovaveis e abaixo custo, descaberta de novos micro-organismos que se alimentem da propria poluicSo, & planificagao de infra-estruluras, promavendo 0 transporte colective © néo poluente, -diminuigéo dos gastos de energia no aquecimento, novos padrées de comportamento e novas normas condicionadoras, interditadoras ou sancionadoras, que formam 0 direito ambiental. Tudo crientada ela idea do prossequimento de um desenvolvimento econdmico sustentavel. 1.2.3, O efeito de estufa © efeito de esfufa resuita da presenga de carbono na atmosfera, 0 qual garante que a terra no se transformara num planeta gelado, impréprio para existéncia de vida. Ele assegura uma das condigdes basicas para a existéncia de vida no planefa, a femperatura adequada para o efelto. A ferra é aquecida pelas radiacdes infravermelhas, emitidas pelo Sol, até uma temperatura de — 27 2c. essas radiagées chegam a superficie e so refiectidas para 0 espago. 1.2.4. Achuva acida A chuva acida 6 um dos efeitos da contaminagao secundaria da atmosfera e resulta da queima de carvdo, de combustiveis fésseis e de poluentes industrials que langam didxido de enxofte @ de nitrogénio na atmosfera. O didxido de enxofre © de dxido de azoto combinam-se com o hidrogénio, presente na atmosfera, sob a forma de vapor de agua. E 0 resultado séo, pois, as chuvas acidas. Ora, este fenémeno tem vindo a destruir largas extensées de floresta e de plantages e fem alferado as aguas de milhares de lagos ¢ rios, efiminando mesmo em cartas zonas, todas as formas de vida aquatica, 1.2.5. AEcologia A ecologia @ uma ciéncia pluritransdisciplinar, indo desde andlise das paisagens andlise da demografia humana, e em que néo faltam contributos vatiados, desde matematica aos da economia, na procura de uma sempre inacabada sintese de conhecimentos de vétias ciéncias, combinados em fungdio dos seus objectives, mas efectuando as devidas andlises transversais, Nas suas ofigens mais remotas, encontramos, desde logo, a desctigéo & ordenago da paisagern geografica, problematica das praticas agricalas e da pecuéria, a fisiologia, a etologia e a demografia, campos de intesse que se fundirao até ao tltimo tergo do século passado propiciando o nascimento da ecologia. A ecologia a cifncia que estuda as relagdes dos seres vivos como 0 ‘seu meio o ambiente. sendo este, portanto, o suporte fisico que toma nossivel avida. a) A dificuldade do Jurista tem em lidar com a Ecologia A dificuidade do Jurista tem em fidar com a Ecologia 6 tal que tem necessidade de inventar, referencialmente, um equilibrio eooldgico, que nunca existiu, Integrar a «processualidade @ glabalidade no corpo juridica», no direito, tem sido uma parto dificil e impardvel, que apesar de tudo, sotre ao longo do século xx, uma evolugdo registével, que comegande em posicdo antropocéntrica, passa para a tégica do natural em si, do local para o mundial, do concreto ¢ particular para abstracto geral. 1.3. Direite do Ambiente novo remo de Direlto ov Simples pratexte para revisdo dos ramos classicos Uma questo que neste momento se pode ainda por aos juristas ¢ a de saber se a «abordagem juridica do ambiente» constitui apenas uma refracgao dos ramos classicos do Direito neste novo campo ou se, pelo contrério, esse tratamento apresenta novidades significativas, até ao ponto de se poder falar 5 com propriedade num novo ramo do Direlto: © Direito do Ambiente. Isto sobretudo par vivermos ainda num momento em que @ disciplina juridica do ambiente, se bem que importante, caminha ainda na direcgao de uma maior maturidade. Ha aigumas ideias fundamentais j4 abordadas e que se relacionam com este problema: desde logo, 0 facto de ter eciodido no mundo do Direito um novo valor — valor ambiente — que se projecta num novo bem juridico colective e num novo direite subjectivo; depois, a circunstncia de a disciplina Juridica do ambiente, além de convocar uma série de ensinamentos das ciéncias naturais e sociais, colocar questées que exigem contributo de praticamente todos os ramos clissicos de Direito; finalmente, a nota de que da conjugagao de aigumas das matérias j4 abordadas (designadamente das relativas ao conceito de ambiente, ao dano ambiental e & responsabilidade pelo éano ambiental) com outras que iremos encarar resulla uma fortissima sugestdo no sentido de que os esquemas juridicos tradicionais se revelam frequentemente insuficiente para resolver muitas questbes juridicas ambientais, ‘Ao que deve acrescentar-se, num plano mais geral, mas que ajuda a compreender uma tutela autnoma do ambiente, 0 transito, também jé referido, de uma concepedo exclusivamente antropocéntrica do Direito para a afirmacao, cada vez mais extensa, de um principio bloc&ntrica ou ecocéntrico. Devem a este propésito referir-se as palavras de Freitas do Amaral, que reforga especificidades do Direito do Ambiente, quando assinaal que este ramo do Direito «pressupde toda nova filosofia que enforma a maneira de encarar o Direito», uma vez que é

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