Você está na página 1de 25

CURSO AVANÇADO EM DIREITO DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ANGOLANA

Formador
Osvaldo Calupeteca
Luanda/2020
SUMÁRIO
1. A Organização Administrativa Angolana: breves notas sobre os sistemas de organização administrativa
1.1. Desconcentração Administrativa
1.2. Descentralização
1.3. Intengração e Devolução de poderes
2. A Administração Indirecta do Estado
2.1. Formas de Administração Indirecta
2.1.1. Os Institutos públicos: conceito, natureza e regime jurídico
2.1.2As Empresas Públicas: o SEP, conceito, motivos de criação, missão, regime jurídico
3. A Administração Autonoma:
3.1. Conceito;
3.2. Entidades: Autarquias Locais, Associações Públicas, Instituições do Poder Tradicional
4. Entidades Administrativas Independentes

5. Referências Bibliográficas
1. A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ANGOLANA: BREVES NOTAS SOBRE
OS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA.
DESCONCETRAÇÃO

1.1.
Diz-se desconcentrado o sistema em que as competências dentro de uma
desconcentração
determinada pessoa colectiva pública encontram-se repartidas em vários níveis
Administrativa
de decisão.
1. A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ANGOLANA: BREVES NOTAS SOBRE
OS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA.
DESCONCETRAÇÃO

A desconcentração enquanto repartição de poderes entre órgãos superiores e subalternos, ocorre dentro da mesma pessoa
colectiva pública. Em Angola, temos com maior enfâse o sistema desconcentrado que tem como pano de fundo a organização
vertical dos serviços.

Todo modelo e sistema administrativa tende para a eficiência e eficácia no funcionamento da Administração Pública. Hoje,
tendo em conta as novas exigências e a demanda na satisfação das necessidades colectivas, o sistema apenas desconcentrado
encontra-se ultrapassado, fazendo com que se pense em sistemas alternativos, mais eficientes, surgindo daí a descentralização
administrativa.
1. A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ANGOLANA: BREVES NOTAS SOBRE
OS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA.
DESCENTRALIZAÇÃO

1.2. DESCENTRALIZAÇÃO

A descentralização pode ser definida em várias perspectivas, nomeadamente:

No plano jurídico: o sistema em que a função administrativa esteja confiada, não apenas ao Estado, mas também a outras
pessoas colectivas públicas, autónomas em relação ao Estado. Basta que existam outras pessoas distintas do Estado.

No plano político-administrativo: quando os órgãos das pessoas colectivas públicas autónomas sejam livremente eleitas pelas
respectivas populações ou pelos seus associados, quando a lei os considere independentes na órbita das suas atribuições e competências e
quando estiverem sujeitos a formas atenuadas de tutela administrativa.
Quanto as formas podemos ter:
▪ Descentralização territorial
▪ Descentralização associativa
1. A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ANGOLANA: BREVES NOTAS SOBRE
OS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA.
DESCENTRALIZAÇÃO

A descentralização remete-nos para a existência de pessoas colectivas autónomas, garantindo liberdade local e das
corporações, servindo de base para um sistema de administração pluralista. O grande debate de hoje já não é
sobre a descentralização, porque quase todos os países aceitam, o debate é sobre o nível de descentralização.
Actualmente, em Angola temos apenas
descentralização associativa. A principal e a
mais desejada forma descentralização, a
autárquica, está por se concretizar. Vale dar
nota que a analise da Administração Pública em
Formas de qualquer perspectiva, incluindo a perspectiva
descentralização da globalização, deve ser feita em dois planos:
(i) num plano jurídico e (ii) num plano prático.
Art. 213.º da Até aqui, percebe-se claramente que o Angola
CRA está alinhada do ponto de vista jurídico, mas
encontra-se desalinhada do ponto de vista
prático.
1. A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ANGOLANA: BREVES NOTAS SOBRE
OS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA.
DESCENTRALIZAÇÃO

LIMITES DA DESCENTRALIZAÇÃO

A descentralização assume como primeiro limite a lei e a tutela administrativa. Esta tutela assume duas espécies:

➢ Quanto ao fim: a tutela pode ser de legalidade ou de mérito, consoante se destine a controlar a conformidade das decisões da
entidade tutelada com as leis em vigor, ou controlar a conveniência e a oportunidade dessas decisões.

➢ Quanto ao conteúdo: a tutela integrativa (a priori ou a posteriori); inspectiva, sancionatória, revogatória, substitutiva.

➢ Natureza jurídica: poder de controlo.


1. A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ANGOLANA: BREVES NOTAS SOBRE OS SISTEMAS DE
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA. INTEGRAÇÃO E DEVOLUÇÃO DE PODERES

1.3. INTEGRAÇÃO E DEVOLUÇÃO DE PODERES

➢ Integração: sistema em que todos os interesses públicos a prosseguir pelo Estado ou por outras pessoas colectivas públicas de
população e território, são postas por lei a cargo das próprias pessoas a que pertencem.

➢ Devolução: sistema em que alguns interesses públicos do Estado ou de outras pessoas colectivas públicas de população e território,
são postas, por lei, a cargo de pessoas colectivas públicas (PCP) distintas dessas e de fins singulares. Nota: devolução aqui não
significa retorno, mas sim transferência.

➢ Os poderes são exercidos em nome próprio, mas no interesse da pessoa colectiva e sob orientação dessa.

➢ O Estado ou outra PCP de população e território intervem na actividade da PCP que foi criada ao abrigo da devolução de poderes,
por meio da figura da Superintedência.

➢ Superintendência: poder conferido ao Estado ou a outra PCP de fins múltiplos, de definir objectivos e guiar a actuação das PCP de
fins singulares colocadas por lei na sua dependência.
2. A ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL INDIRECTA

 Já sabemos que o Estado prossegue uma grande multiplicidade de fins e, também já sabemos que esses fins ou

atribuições têm tido tendência a torna-se cada vez mais complexos.

Administração
Indirecta conjunto de entidades públicas que desenvolvem com personalidade jurídica própria e
autonomia administrativa e financeira, uma actividade administrativa destinada à realização de fins do Estado, sob a
superintendência
A ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL INDIRECTA

RAZÃO DE SER A Administração Indirecta existe em resultado do constante alargamento e da crescente


complexificação das funções do Estado no desempenho da actividade administrativa.
FA ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL INDIRECTA

Institutos Públicos

1.1. Formas de Administração Indirecta

Empresas Públicas
2. A ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL INDIRECTA: OS INSTITUTOS
PÚBLICOS

2.2. Conceito São pessoas colectivas públicas de tipo institucional, dotadas de personalidade jurídica
própria e de uma estrutura interna hierarquizada, que são criados pelo Estado ou pelas Autarquias locais para
prosseguirem interesses que em princípio caberia prosseguir directamente à entidade que os criou.

São serviços que integravam a estrutura hierarquizada da entidade que os criou, mas que foram transformados em
pessoas colectivas públicas por razões de eficiência de gestão. Ex: DNI, AGT.
A ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL INDIRECTA: OS INSTITUTOS
PÚBLICOS

Regime jurídico

Dectreto Legislativo Presidencial n.º 2/20 de 19 de Fevereiro – Estabelece as Regras de Criação,


Organização, Funcionamento,Avaliação e Extinção dos Institutos Públicos.

Dectreto Legislativo Presidencial n.º 3/20 de 09 de Março –Altera os artigos 36.º, 43.º e o 56.º do Dectreto
Legislativo Presidencial n.º 2/20 de 19 de Fevereiro
2. A ADMINISTRAÇÃO ESTATUAL INDIRECTA: AS EMPRESAS
PÚBLICAS

2.3. As Empresas públicas fazem parte das políticas de intervenção do Estado na economia.

Conceito artigos 3.º, 4.º, 5.º. Empresas públicas de interesse estratégico

Espécies de empresas públicas quanto ao objecto

Outras empresas públicas


A ADMINISTRAÇÃO ESTATUAL INDIRECTA: AS EMPRESAS PÚBLICAS

As Empresas Públicas de interesse estratégico integram sectores de actividade que constituem reserva absoluta ou relativa
do Estado.Todavia, para considerar uma empresa como sendo do sector estratégico, existem os seguintes critérios:

➢ As que sejam titulares de infra-estruturas de domínio exclusivo do Estado;

➢ As que sejam declaradas de grande importância para o cumprimento dos objectivos fundamentais no
plano de desenvolvimento do país;

➢ As que prestem serviços ou produzam bens de utilidade pública.

Com efeito, as empresas públicas não estratégicas também prestam serviços públicos e são de interesse económico geral,
visando deste modo, assegurar a distribuição ao domicílio de água, gás, electricidade, exploração de comunicação e
transportes colectivos.
A ADMINISTRAÇÃO ESTATUAL INDIRECTA: AS EMPRESAS PÚBLICAS
MOTIVOS DE CRIAÇÃO DAS EMPRESAS PÚBLICAS

No momento de criação de uma determinada empresa pública, o Estado pode ter como base um dos seguintes
fundamentos:

➢ Domínio de posições chaves na economia: o Estado pode sentir a necessidade de assumir posições chaves na
economia, isto é, posições estrategicamente fundamentais.

➢ Modernização e eficiência da Administração: neste caso, a empresa pública já não aparece apenas como
instrumento de intervenção do estado na economia, mas também como factor e instrumento de reforma da
Administração Pública, para se conseguir obter maior rendimento do aparelho administrativo.

➢ Aplicação de uma sanção política: no caso das nacionalizações.


A ADMINISTRAÇÃO ESTATUAL INDIRECTA: AS EMPRESAS PÚBLICAS

➢ Necessidade de monopólio: pode-se entender que certas actividades económicas sejam desenvolvidas em regime

de monopólio e, para não estar nas mãos de privados, criam-se as respectivas empresas públicas. Ex: transportes
ferroviários.

➢ Outros motivos: o desejo de prestar bens ao público bens ou serviços em condições de preços especialmente
favoráveis, a suportar, em parte, pelo Estado.
A ADMINISTRAÇÃO ESTATUAL INDIRECTA: AS EMPRESAS PÚBLICAS

Missão das Empresas


Públicas

As Empresas Públicas não visam apenas a eficácia económica, mas também a conciliação dessa eficácia com a
prossecução de objectivos de carácter social.
3. ADMINISTRAÇÃO AUTONOMA

É aquela que prossegue interesses públicos próprios das pessoas colectivas que as constituem e por isso se orienta e
dirige a sí mesma, sem sujeição a hierarquia e a superintendência do executivo, mas apenas sob tutela deste.

Dirige a sí mesma (auto-administração): sifnifica que são os seus órgãos que definem por sí mesmo a orientação das
suas actividades, sem estarem sujeitos a ordens, instruções, nem orientações do Executivo.
3. ADMINISTRAÇÃO AUTONOMA

Integram a Administração Autonoma (n.º 2.º do artigo 213.º da CRA):


➢ As Autarquias Locais;
➢ As Instituições do Poder Tradicional;
➢ Outras Modalidades Específicas de Participação dos Cidadãos. Ex: Associações Públicas e as Comissões de
Moradores.

Regime Jurídico: CRA e demais legislação.


4. AS ENTIDADES ADMINISTRATIVAS INDEPENDENTES

Fundamento Constitucional: n.º 3.º do artigo 199.º da CRA.

Conceito: instituições criadas por lei para desempenharem funções púbicas determinadas, nomeadamente de fiscalização,

controlo e regulação, as quais, embora pertencentes a Administração Pública, em sentido orgânico, gozam por lei de

completa liberdade de investigação e decisão, sem sujeição aos poderes de superintendência e tutela do executivo. Daí o

seu nome:entidades administrativas e,independentes. São, em regra,chamadas de agências reguladoras.

Ex: Provedor de Justiça (192.º da CRA); CNE (107.º da CRA).

Razão de ser: porque existem entidades administrativas independentes?


4. AS ENTIDADES ADMINISTRATIVAS INDEPENDENTES

➢ No sector da justiça: a independência administrativa visa garantir o princípio da separação de poderes, e no caso

particular do Provedor,a possibilidade de ele fiscalizar, entre outros, os actos do Executivo.

➢ No sector da regulação económica: trata-se de permitir que a actividade de controlo se inspire apenas em
critérios de legalidade estrita ou de boa administração, entendida esta segundo regras de eficácia, de prudência ou
de respeito pelos consumidores, tais como sejam interpretadas por personalidades independentes do poder
político, económico e do poder sindical.
AS ENTIDADES ADMINISTRATIVAS INDEPENDENTES

Regime jurídico

 No sector da justiça, temos a Lei do Provedor de Justiça.


 No sector económico aplica-se, por agora, o regime dos Institutos Públicos.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 AMARAL, Diogo Freitas do; FEIJÓ, Carlos. Direito Administrativo Angolano. Almedina, 2016;
 AMARAL, Diogo Freitas Curso de Direito Administrativo Volumes I e II 4º edição Almedina 2015;
 ALMEIDA, Mário Aroso de. Teoria Geral do Direito Administrativo. 6.º edição, Almedina, 2020.

 Referências legislativas:
➢ Constituição da República de Angola;
➢ Dectreto Legislativo Presidencial n.º 2/20 de 19 de Fevereiro – Estabelece as Regras de Criação, Organização,
Funcionamento, Avaliação e Extinção dos Institutos Públicos;
➢ Dectreto Legislativo Presidencial n.º 3/20 de 09 de Março –Altera os artigos 36.º, 43.º e o 56.º do Dectreto Legislativo
Presidencial n.º 2/20 de 19 de Fevereiro;
➢ Lei 11/13, de 3 de Setembro – Lei de bases do Sector Empresarial Público.
FIM

Você também pode gostar