Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Copyright© Erica Queiros
Todos os direitos reservados
Diagramação/Auérica macie׀
Betagem/@rayinsbook
Capa/Vic_designer_
É proibida a reprodução total ao parcial desta obra de qualquer forma
ou quaisquer meios eletrônicos, mecânicos e processo xerográfico, sem a
permissão da autora (Lei9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, lugares, e acontecimentos
descritos na obra são produto da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes acontecimentos reais é mera coincidências.
Oi, se você gosta de ler ouvindo uma boa musiquinha, eu
preparei uma lista de reprodução especial para você, cada uma foi
escolhida a dedo para uma cena importante do livro, então espero
que goste.
Ela está disponível no Spotify como Deixe-me entrar.
Dedicatória
Nota da Autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9.
Capítulo 10
Capítulo 11.
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Epílogo
Agradecimentos
Camile é uma mulher forte, determinada e batalhadora, que nunca
acreditou no amor verdadeiro, marcada por traumas de seu passado e pelo
desaparecimento do irmão mais velho, vê seu mundo virar de cabeça para
baixo quando Alex um mafioso frio e impiedoso, quebrado e moldado pelas
mãos pesadas de sua organização entra em sua vida.
Unidos por um acordo que ambos se veem obrigados a aceitar, abraçam
seus destinos dispostos a desempenhar seus papéis, nesse teatro que a vida
lhes impôs.
No entanto, o inesperado acontece e eles acabam enxergando um no outro
mais do que gostariam.
Descobrem um no outro mais do que precisavam.
Encontram um no outro o que não procuravam.
Seus mundos começam a ter outro significado e talvez as barreiras que
levantaram não seja o suficiente para mantê-los afastados.
Dedicatória
Dedico este livro a todas as Camiles e Pietros
da vida real.
Que em algum momento possam encontrar um
Alex, em forma de amigos, namorado, marido ou
psicólogo não importa qual a forma que seu anjo
tenha, mas que neles vocês descubram que o amor é
capaz de curar feridas.
Nota da Autora
Esse é um romance hot que tem como plano de fundo a máfia italiana, mas se você espera
encontrar romantização de abuso e relacionamento toxico, este livro Não correspondera suas
expectativas.
O livro é focado no casal e em superação de alguns traumas.
A história a seguir pode conter gatinhos emocionais e temáticas delicadas como uso de
álcool, drogas, abuso físico e verbal, violência, tortura, linguagem impropria e conteúdo
sexual.
A autora não compactua e nem apoia as ações ilegais e
comportamento de alguns dos personagens retratados nesta obra.
Não leia se não se sentir confortável .
Capítulo 1
Camile. 5 anos de idade.
CAPÍTULO COM GATILHOS EMOCIONAIS
Mal conseguia enxergar através da lagoa de lágrimas que se
represava meus olhos. As imagens desfocadas pelo choro que não paravam
de correr descontrolado, mas não precisava enxergar para saber o que
acontecia.
Ainda podia sentir seus toques, seu cheiro e aquele terror que
dominava meu corpo.
Ele não era bruto ou violento, ao contrário, seu toque era suave e
delicado. Sua voz melosa era como um consolo tentando reparar o que
estava prestes a fazer. Ainda assim, por algum motivo o pavor predominava
meus sentidos. Soluços escapavam de meu peito enquanto eu tentava afastar
suas mãos de meu corpo.
— Ei! Não, chore criança — ele cantarolou como se estivesse tudo
bem, mas não estava — não vou te machucar. Vou cuidar bem de você —
fez uma promessa vaga que estava tão longe da verdade quanto eu creditar.
Suas mãos entravam por baixo do tecido fino de meu vestido e
tocava minha intimidade por cima da calcinha, me causando arrepios
tenebrosos. Ainda que não tivesse a compreensão necessária para entender
o que se passava, meus sentidos gritavam que algo estava errado.
Minha mente estava confusa e eu não sabia explicar como
exatamente havíamos chegado naquela situação. Tentava inutilmente buscar
resposta no olhar de meu irmão, mas aquilo só me dava mais certeza de que
nada daquilo era certo, e que não, eu não ficaria nada bem.
Um dia, enquanto mamãe estava ocupada com seus afazeres, ele apareceu.
A casa ficava aos fundos do grande terreno. Eu sempre brincava
distraída com panelinhas e xícaras embaixo de um grande pé de abacate,
aproveitando a sombra que ele proporcionava próximo ao portão velho de
madeira, com a tinta branca já desgastada, a alguns metros de distância de
nossa casa.
— Shiii... Relaxa! Tudo vai acabar logo — ele dizia, — Você não
quer que seu irmão se machuque, não é mesmo? — Era a primeira vez que
ele usava ameaça para me conter.
Aquilo me apavorou. Prendi a respiração por um instante. Meus
olhos foram para meu irmão e voltaram ao homem à minha frente, me
perguntando se realmente ele falava sério, então, voltei a chorar
copiosamente.
Não posso deixar que ele machuque meu irmão, tenho que suportar
— pensava.
Foi um grande alívio quando senti que ele se afastou. Entretanto
meu alívio não durou. Ele me puxou para a beirada da mesa, rosando algo
quente em minha entrada. Meu coração batia acelerado, minha boca estava
seca e sentia dificuldade em engolir.
Olhei novamente para Pietro vendo-o de pé. Com olhos arregalados,
punhos serrados e dentes trincados, suas veias dilatavam sobre o pescoço e
sua respiração era ofegante.
— Pare! — Bradou Pietro, — Desgraçado, pode matá-la se fizer
isso —me assustei com suas palavras.
Eu iria morrer? Por quê? O que ele pretendia fazer
comigo? Comecei a me debater sem parar, mas não tinha força nenhuma
contra aquele homem. Ele parou e me olhou, parecendo pensar no que
Pietro havia acabado de dizer.
— Bom, talvez você tenha razão — disse por fim. — Então, que tal
você tomar o lugar dela? — Indagou para meu irmão, com um sorriso
diabólico no rosto.
Pietro estava chocado, indignado com sua proposta. Parecia não
acreditar no que acabava de ouvir.
— Você quem sabe? Você ou ela! — Disse dando de ombros, como
se não tivesse dito nada demais.
— Eu...eu vou... — Pietro respondeu quase num sussurro, de cabeça
baixa e eu pude ver uma lágrima cair de seus olhos e molhar o chão bem
próximo aos seus pés.
Meu irmão tinha o temperamento forte. Nunca o tinha visto aceitar
nada do que realmente não quisesse fazer, foram poucas as vezes que o vi se
render a algo. Foi por isso que desconheci meu irmão naquele momento, era
como se tivesse perdido sua essência, partido um pedaço de sua alma ao
pronunciar aquelas pequenas palavras.
Eu vou...
De certa forma uma parte de mim também se foi, mesmo não
entendendo, mesmo tão nova, ela se foi. Foi arrancada ao ver meu irmão
chorar, arrancada ao vê-lo se submeter, partida de uma maneira que jamais
poderia ser curada novamente.
Carlos me colocou sentada na mesa, ajeitando meu vestido no lugar,
com uma tranquilidade inigualável.
— Fique aqui estrelinha, não saia daí e tudo ficará bem.
Foi o que ele disse, se direcionando a um dos quartos da casa,
enquanto Pietro continuava calado de cabeça baixa.
— O que v- vai f- fazer? — Gaguejei, em um fio de voz.
— Eu e Pietro vamos brincar um pouco, mas seu irmão é egoísta e
não quer que você participe, — Ele disse com um sorriso irônico, que me
fez sentir um nó em minha garganta.
— Está tudo bem Mille — Pietro disse antes de segui-lo, — Vai
ficar tudo bem. — Se forçou a me dar um sorriso.
Mas não, não ficaria tudo bem. Aliás, estava longe de algo estar
realmente bem.
Meu coração disparava angustiado, e eu quis implorar para que
Pietro não fosse. Seja lá o que ele tivesse aceitado, queria gritar para que
não fosse, para que não entrasse naquele quarto. Mas apenas fiquei ali
chorando, como a garotinha assustada que era.
Eles foram em direção ao quarto onde eu e meu irmão dormíamos.
Entraram e Carlos fechou a porta atrás de si, deixando uma pequena fenda
entre aberta.
Me sentia aflita, agoniada de esperar. Não ouvia nada além de
pequenos ruídos indecifráveis. Olhava para a porta e tentava imaginar o que
se passava.
Desci da mesa com cuidado para não fazer barulho ou me machucar
no processo. Caminhei até próximo a porta, pela brecha podia ver Pietro.
E o que vi jamais esqueceria. Seu rosto era totalmente inexpressivo,
ainda assim eu podia enxergá-lo. Seus olhos tristes, a tristeza e a dor que ele
tentava a todo custo disfarçar, seu olhar inerte, perdido em meio ao
sofrimento. E eu soube, soube que aquilo nunca mais sairia de sua mente.
Me agarrei a ele pelo resto da noite e chorei. Pietro não falava sobre
o assunto, não chorava ou me contava o que tinha acontecido e eu também
não perguntava.
Por medo talvez, por respeito, por saber que no fundo aquela dor era
dele e que ele nunca compartilharia mais do que já fazia.
— Camile! — Escutei mamãe chamar. Eu estava tão sonolenta, que
escutava longe sua voz. Mal tinha dormido aquela noite e o sol já clareava o
quarto quando finalmente consegui pegar no sono.
— Camile! — Chamou novamente. — Por que está deitada,
novamente na cama do seu irmão? — Indagou.
Abri meus olhos com dificuldade, me recordando que mais uma vez
Pietro havia tido pesadelos e que eu tinha ido me deitar com ele para ver se
conseguia acalmá-lo.
Mamãe, parada na beirada da cama, esperava minha resposta. Passei
a mão no rosto tentando espalhar o sono, mas ele parecia se recusar a ir
embora.
— Acordei de madrugada e fiquei com medo, então o Pi me deixou
deitar com ele. — Menti para que ela não desconfiasse de nada.
— E para agradecer você mijou na cama dele? — Ironizou puxando
os lençóis molhados, com um sorriso no rosto.
Eu tinha cinco anos, mas já tinha quase três ou quatro que deixará
de mijar na cama. E não me lembrava de se quer ter tido vontade de ir ao
banheiro naquela madrugada.
— Ai, mamãe me desculpa! — Pedi me levantando, indo para o
banheiro, — Estava com muito medo de levantar de madrugada e o mano
estava dormindo, devo ter pegado no sono novamente. — Justifiquei.
— Minha querida, por mim não tem problema, já seu irmão deve
estar uma fera. — Falou apertando meu nariz com o indicador, em um gesto
de carinho.
Entrei no banheiro verificando se realmente tinha feito xixi nas
calças, mas eu sabia bem a resposta daquela pergunta.
Retirei minhas roupas e fui para o chuveiro, molhei mais um pouco
da minha calça, para mamãe não notar que minha roupa ainda continuava
seca.
Quando saí do banheiro, levei minha roupa para o tanque
observando que a roupa do meu irmão já estava ali. Procurei por ele pelo
quintal, mas não vi qualquer vestígio seu.
Desde o dia do ocorrido, ele era o primeiro a se levantar,
desaparecia pela manhã inteira e só voltava próximo ao horário de nossa
mãe ir trabalhar.
Naquele dia, para minha surpresa quando entrei na cozinha para
tomar meu café, Pietro já estava sentado à mesa.
— Não, Carlos é casado, mas sua mulher está viajando pelo que sei,
por quê? Ele está bem? Não, me diga que... – ela não terminou de perguntar.
A resposta estava estampada na cara do jovem rapaz que vestia uma farda
preta.
— Pelo que tudo indica, sim! Os indícios indicam que o incêndio foi
criminoso. E que Carlos estava dentro da casa, mas não consegui sair ou foi
impedido. Ainda não temos todas as informações ao certo. — Informou o
policial em voz baixa, olhando em nossa direção para certificar de que não
prestávamos atenção a conversa. Ao ouvir aquilo, olhei para meu irmão que
parecia não se importar com nada.
Havia nele uma expressão vazia, seus olhos eram duas pedras
inabaláveis, não se via nenhuma expressão ou qualquer vestígio de
sentimento.
Naquele momento eu soube, ninguém precisava me dizer o que ele
havia feito.
Capítulo 3
Camile. 25 anos dias atuais …
Fazia dois anos que papai havia morrido. Minha mãe e eu vínhamos
tocando a pousada, Happiness[1]. Que papai havia comprado.
Quando meu irmão desapareceu há treze anos, sem deixar rastros,
eu simplesmente me afundei em uma solidão sem fim, tentando
incansavelmente entender o que o tinha levado a ir embora sem deixar
pistas, sem falar comigo, sem deixar sequer uma carta. Nossa mãe chorou
por dias a fio, implorando a Deus qualquer pista que lhe permitisse saber
onde seu filho poderia estar.
Papai se afundou ainda mais no trabalho, passando cada vez menos
tempo dentro de casa, enquanto eu fiquei e me esforcei lutando por mim,
por ela e por todos.
O ensino médio não foi fácil. Mas ainda assim me esforçava ao
máximo para ter as melhores notas. Quando me surgiu a oportunidade de
fazer o curso de enfermagem antes mesmo de terminar o ensino médio, foi
um alívio.
Passava a maior parte do meu tempo na escola, no curso ou
estudando, o que me dava pouco tempo para ficar pensando nos motivos
pelo qual Pietro havia ido embora.
Talvez ele apenas tivesse se cansado de nós, ou talvez fosse difícil
demais para ele olhar para mim e se lembrar de tudo que foi obrigado a
passar para me defender. Ainda assim, sua falta me doía como uma navalha
afiada.
Nossas tardes em cima do telhado conversando sobre como sua
professora de português era feia e chata, ou como eu gostava de comer o
salgadinho fedido da cantina enquanto ele reclamava que eu ficaria com
cheiro de chulé. Sim, eram nesses raros e bobos momentos que eu sentia
sua falta.
Fiquei ali no escritório por mais alguns minutos, mas respirei fundo,
não podia deixar aquilo estragar meu dia, tinha muitas coisas a resolver se
queria mesmo levantar nossos negócios.
Coloquei minha bota de borracha, minhas roupas desgastadas para
as tarefas diárias e saí em direção ao sítio para cuidar das coisas, mas antes
passei na recepção para dar um oi para Jeniffer.
Jeniffer, nossa recepcionista e a mais nova da equipe, era como uma
irmã adotiva que eu havia arrumado.
Quando conheci a menina, passava por poucas e boas com a mãe, o
pai a havia abandonado e a mãe uma mulher que se achava a própria virgem
Maria e que descontava suas frustrações na pobre garota. Então, cansada de
tudo aquilo, ela decidiu fugir de casa sem nem ter completado a maioridade.
Quando poucos meses depois ela completou 18 anos, arrumei um
trabalho para ela na pousada e um lugar para que ficasse. Jeniffer era tímida
e tinha problemas com confiança. Então, a ajudei para que não precisasse
voltar para aquela vida miserável que levava.
— Você viu o Renan por aí...? — Ela perguntou um tanto sem graça,
me tirando de meus devaneios.
Ela não precisava me dizer que tinha uma queda pelo cowboy,
entretanto, ele parecia não a enxergar. Renan não era do tipo muito sociável,
acho que ele era do tipo que preferia animais a pessoas. Devia confessar
que às vezes eu também.
E Jeniffer era muito jovem, tinha dezenove anos, loira de olhos
claros, baixinha e usava óculos. A garota era linda, mas tímida demais e
Renan era bronco demais para se importar.
— Sim! Ele foi a cidade, precisa de alguma coisa? — Perguntei já
sabendo a resposta, pois sabia que ela só estava interessada em saber onde o
vaqueiro estava. Nós o chamávamos assim pelas costas, pela forma que se
vestia e achávamos graça, mas eu esperava que ele nunca descobrisse.
— Não! Eu... não o vi hoje, achei que não iria vir — disse ficando
vermelha como um pimentão.
— Jenni, gatinha, se quer alguma coisa tem que ir buscar — insinuei
— não ficar esperando vir até você.
Se Jeniffer queria mesmo aquele cowboy, teria que aprender a laçá-
lo da maneira certa, e não seria ficando envergonhada que ela iria
conseguir, então eu tentava incentivá-la a perder um pouco de seu pudor.
Mas a garota parecia que queria se enfiar na terra de tão
envergonhada que ficou, o que me fez rir.
Assim que saí no estacionamento, dei de cara com Tabita chegando
cheia de pastas e papéis, ela era meu braço direito. Cuidava de tudo junto
comigo, desde alimentação dos hóspedes a organizações de eventos, que
eram raros ultimamente, mas ainda existiam.
— Olá! — Cumprimentei, me mostrando mais animada do que
realmente estava. — Nossa, está maravilhosa — elogiei vendo minha amiga
toda arrumada e ela deu uma voltinha, me mostrando que realmente tinha
caprichado.
Tabita usava uma saia lápis que ia até abaixo dos joelhos e um salto
anabela preto com pedras decorando, uma camisa social branca com rendas
no decote, linda como sempre andava. Ela era uma mulher deslumbrante,
com seus 25 anos assim como eu, 1,65 de altura e cabelos negros longos e
lisos que iam até sua cintura fina e bem desenhada. Sua pele era clara e
olhos eram de um tom mel, seios pequenos e uma bunda de dar inveja que
deixava qualquer homem de quatro. No entanto, ela só tinha olhos para um
homem. Romeu. Seu noivo.
— Ah! Obrigada, vou sair para jantar com Romeu hoje — informou
com um sorriso de orelha a orelha.
— Já marcaram a data do casamento? — Perguntei, mas me
arrependi imediatamente ao ver minha amiga perder seu brilho.
Romeu havia pedido a mão de Tabita em casamento já fazia quase
um ano, entretanto, nunca marcava a data do casamento. Sempre arrumando
desculpas e desconversando quando era questionado.
— Não! Eu não sei por que ele hesita tanto amiga, sempre que toco
no assunto ele desconversa — comentou chateada.
— Ei amiga, relaxa! Ele já te pediu em noivado, então é óbvio que
ele quer se casar — tentei acalmá-la. — Talvez só esteja se acostumando
com a ideia — afirmei, mas nem mesmo eu acreditava naquilo.
Sim, nisso ele tinha razão, sabia do que nossa organização era capaz.
Tinha visto em primeira mão as atrocidades que muitos eram capazes de
fazer, por uma posição melhor dentro da Máfia ou apenas por simples
diversão.
Senti um desconforto ao imaginar o que seria da garota nas mãos
erradas e virei minha bebida em um único gole, sentindo o líquido descer
com uma leve queimação.
— Você não faria o mesmo por Melissa? — Victor questionou, se
referindo a nossa irmã mais nova, tocando em uma ferida que ainda
sangrava.
Há alguns anos, nossa irmã mais nova havia sofrido um acidente de
carro, que a levou a óbito. O carro era de Victor e havia sido sabotado na
intenção de matar ele, mas naquele dia Melissa insistiu em dirigir e Victor
se consumia pela culpa desde então.
Senti uma pontada de dor em meu peito e travei meus dentes
lembrando que apesar dos esforços, quem havia feito aquilo ainda estava
ileso.
Todos na sala ficaram em silêncio, sentindo a tristeza e a dor da
perda de nossa pequena Melissa. Ela tinha dezessete anos e era a luz que
iluminava nossa casa. Minha mãe, depois da tragédia, voltou para sua terra
natal junto de seus familiares.
— Olhe pelo lado positivo, a menina é uma gata! — Sebastian disse,
tentando aliviar a tensão olhando para foto que estava na tela do laptop.
Pietro havia deixado informações exclusivamente para mim em um
pen drive e junto tinha uma foto da garota, com uns vinte e cinco anos,
morena clara, cabelos e olhos negros, com cachos volumosos que se
emoldurava em seu rosto lindo, uma boca na cor natural rosada. Na foto ela
sorria olhando para câmera em uma self. Devia concordar com Sebastian, a
menina era linda, com certeza.
— Que seja! Já estou fodido mesmo — declarei, passando as mãos
no cabelo. — Amanhã vou pegar o voo para o Brasil.
Havia reservado dois quartos na pousada da garota, na esperança de
resolver tudo o quanto antes e voltar com ela para a Itália.
Pegamos um voo comercial, logo pela manhã. Cristian me
acompanhava. Decidi que seria melhor que fossemos somente nós dois,
para não chamar muita atenção. Cristian era meu chefe de segurança,
confiava nele tanto quanto em meus irmãos, já estávamos juntos há muitos
anos. E juntos já havíamos enfrentado muitos inimigos.
Ele havia perdido sua mulher há muitos anos, depois de se distanciar
dela na tentativa de protegê-la. A garota sofreu horrores, pelo
distanciamento e frieza que ele direcionou a ela, na tentativa de deixá-la
fora do radar de alguns de seus inimigos, só para no final ser dilacerado
encontrando-a em um beco jogada aos cães, como um lixo humano.
Ainda podia me lembrar do dia em que a encontramos, no quanto
aquilo o devastou.
Eu e meus irmão, incluindo Pietro, ajudamos a encontrar e punir
cada um dos responsáveis, mas desde então, Cristian se afundou em vícios
de bebidas e mulheres tentando preencher um buraco que eu sabia que
nunca se fecharia.
O aeroporto ficava em uma cidade vizinha, então alugamos um
carro para irmos até a pequena pousada. Era mais longe do que eu esperava
e quando chegamos já passava das cinco da tarde, então fui direto para
recepção fazer o check-in.
Apesar de Victor ter investigado todos, eu mesmo teria que resolver
aquela situação. Era algo que eu não delegaria a ninguém, então pedi para
ele ficar com Sebastian cuidando das coisas até eu voltar.
Tentei ganhar tempo com o conselho na intenção de adiar, ou quem
sabe, até anular as exigências de Pietro. Mas claro que foi em vão, eles não
me nomeariam Capo, enquanto não me casasse como Pietro havia pedido.
— Eu, eu não posso! Tenho a pousada para gerenciar, não posso sair
agora, mamãe não... — parei de falar quando lembrei de mamãe. — Minha
mãe! Ela precisa saber, preciso ligar para ela — disse pegando meu celular
de forma desengonçada e o deixei cair, mas não me dei ao trabalho de pegá-
lo.
— É melhor não falar com sua mãe ainda — Nicolas afirmou e eu
estranhei. — Você não pode contar esse tipo de coisa por telefone e seria
melhor resolver algumas coisas que seu irmão deixou para você primeiro,
são coisas que somente você poderá resolver — explicou, mas que ainda
não fazia sentido para mim.
Levantei-me em choque, com a foto nas mãos e quase não
conseguia firmar meu corpo, tive que segurar na mesa para me apoiar e
Nicolas logo estava ao meu lado, me ajudando a voltar a me sentar, seu
toque era firme e cauteloso.
— Se acalme, por favor — pediu ainda apoiando a mão em minhas
costas enquanto segurava meu braço, tão próximo que nossas faces quase se
encontravam.
Braean voltou com um copo de água, um que eu nem tinha visto que
havia sido pedido. Aliás, não vi nem em que momento ele havia saído.
Peguei o copo tremendo e tomei um grande gole tentando me
acalmar, estava muito abalada, descobri que eu estava certa todos esses
anos. Meu irmão estava vivo e bem, feliz com amigos e trabalhando, aquilo
era reconfortante e doloroso ao mesmo tempo, ele estava bem, mas nunca
me procurou, tirando os bilhetes que eu nem sabia como ele os entregava.
Ele nunca tinha ligado, perguntado como eu estava, como nós estávamos,
nem quando papai morreu, ele nunca apareceu. Será que tinha tanta raiva
assim de mim, será que eu era uma dor tão grande assim para ele?
Três meses atrás ele estava bem, poderia a qualquer momento ter
aparecido, e agora ele estava morto. Aquilo me causava uma dor que jamais
imaginei. Sentia vontade de rasgar minha pele, me arranhar até passar
aquela dor que sentia por dentro.
Tinha tantas coisas para dizer a ele, tanta coisa que gostaria de
compartilhar e agora nunca mais poderia vê-lo novamente.
Eu tinha tantas perguntas. Eu tinha sobrinhos? Cunhada? O que ele
fazia na Itália? Por que foi embora? No fundo eu sabia a resposta da última
pergunta, mas tinha esperança de que alguma outra coisa poderia ter o
distanciado.
— Sei que você tem muitas perguntas Camile — Nicolas falou
chamando minha atenção. — Prometo a você que irei responder, assim que
eu puder ou souber, mas não pode ser aqui, precisamos ir para a Itália. — E
eu me perguntei se havia feito aquelas perguntas em voz alta.
— Preciso de alguns dias — pedi por fim. — Vou arrumar tudo aqui
e ver com Tabita se ela consegue segurar as pontas, pelo menos por alguns
dias para mim — avisei. — Quantos dias você acha que consigo resolver
tudo por lá? — Perguntei me levantando e Nicolas ficou apreensivo, mas
relaxou notando que eu estava bem.
— Uma semana talvez! — Respondeu.
— Vou ver com Gael, se ele pode me acompanhar — falei pegando
meu celular do chão para mandar mensagem para meu tio. Nicolas levantou
uma sobrancelha em questionamento.
— Gael é meu tio. Irmão de meu pai. Um segundo pai para mim —
respondi a uma pergunta que ele não havia feito. — Afinal, não posso ir
para outro país com dois estranhos, só porque dizem que conheceram meu
irmão, que aliás não vejo a treze anos.
E colocando daquela maneira, parecia loucura eu largar tudo para ir
com dois homens que havia acabado de conhecer e que não sabia nada
sobre eles, era mais um motivo pelo qual eu não deveria em hipótese
nenhuma ir sozinha.
— Vocês podem ser assassinos, maníacos ou coisa pior —
acrescentei com um aceno apontando de um para o outro.
— Não são férias Tabita. Eu só tenho umas coisas para resolver com
esses rapazes que vieram aqui na pousada e volto o mais rápido possível —
afirmei, sentindo uma pontada de tristeza ao me lembra de Pietro.
— Vai vender a pousada? — Jeniffer perguntou notando minha
tristeza.
— Não, nem pensar! — Me apressei a dizer, segurando em seus
ombros e lhe abraçando.
— Camile, você está bem? — Tabita indagou. — Desde que esses
homens apareceram, sinto que você anda abatida, aliás, o que eles queriam
com você? — Ela perguntou pegando uma peça de roupa minha que
separava para pôr na mala em outro dia, — Eles são lindos, mas me dão
calafrios — tremeu o corpo de uma forma engraçada.
— Imagina, eu só ando muito preocupada com a pousada, é só isso,
não tem nada a ver — menti e ela me olhou desconfiada, mas apesar de não
ter acreditado, não perguntou nada.
—Tudo bem, mas já que vai para Itália, tenta aproveitar a viagem,
você pode sim fazer disso umas férias. Fique o tempo que for preciso —
declarou — deixa que eu cuido de tudo, e se aparecer qualquer imprevisto
eu mesmo ligo para você — disse vindo me dar um abraço.
— Mandei mensagem hoje para tio Gael e amanhã vou na casa dele
pedir que me acompanhe até a Itália. Quero ver se consigo sair na quarta ou
quinta — avisei, sem comentar que não confiava nos homens, mas claro
que ela percebeu. Tabita assim como Jeniffer, me conheciam muito bem.
Sabiam quando me sentia desconfortável.
— Você realmente tem que ir com esses homens para Itália? —
Jeniffer perguntou fazendo uma careta. — Eles são estranhos — afirmou.
— Quem se hospeda em uma pousada e usa terno num calor desses? —
Comentou me fazendo rir.
— Mas são uns gatos. — Tabita acrescentou.
— Sim, minha gatinha — respondi à pergunta de Jeniffer, lhe dando
um abraço carinhoso. — Eu preciso ir com eles, mas vou estar com Gael,
então não se preocupe, quando eu voltar prometo te explicar tudo.
Pouco tempo depois ouvi uma explosão que me fez pular no banco
assustada, e quando olhei para trás pude ver as chamas e a fumaça de algo
que havia explodido.
— Cazzo! Come hanno fatto a trovarla così in fretta?[4] — Nicolas
disse em italiano no telefone e eu não consegui compreender. — No!
Andiamoci subito. Non può più stare qui. Preparate tutto, fagli sapere che
arriveremo tra poche ore.[5]
— Você está bem? — Perguntou me olhando pelo retrovisor.
Eu não sabia o que responder, estava assustada, olhei para o trinco
da porta, me perguntando que tipo de estrago faria se eu pulasse com o
carro em movimento.
— Eu-eu não sei, estou? — Perguntei em um fio de voz, sem saber
se eles eram meus heróis ou os vilões.
— Não se preocupe, não estamos aqui para te machucar — Nicolas
falou me avaliando.
— Impressionante! — Comentou Braean. — Sem gritos? Ou
choro? — Perguntou parecendo orgulhoso, mas nem imaginava o pavor que
eu estava por dentro, um desespero tão grande que cogitava me jogar do
veículo a qualquer momento.
— Se eu chorar, gritar e implorar vocês vão me deixar ir? —
Perguntei, mas já sabia a resposta.
A verdade era que, por alguma razão, acreditava quando eles me
diziam que não iam me machucar. Estava sim com medo, acabava de
presenciar um tiroteio e pior, eu estava no meio dele, mas alguma coisa
naqueles dois me passava uma certa confiança e esse foi o único motivo
pelo qual não tentei a loucura de abrir a porta e pular.
— Não! — Foi Nicolas que respondeu. — Não sei se você
percebeu, mas acabamos de salvar sua vida — ele falou de péssimo humor.
Não fazia ideia o porquê. Não tinha pedido a ele que me ajudasse,
muito menos que levasse um tiro por mim, aliás, se eu fosse pensar bem, até
eles chegarem, eu nem sabia que estava em perigo.
— Até hoje de manhã, não tinha ninguém tentando tirá-la de mim.
— Acusei levantando um pouco meu tom de voz, mas me arrependi ao ver
sua careta. Não sabia dizer se pela dor ou por minhas palavras. — Touche
— zombou Braean, se divertindo com a situação. Olhei para ele incrédula,
acabaram de tentar me matar e ele achava aquilo engraçado? Eu só podia
estar ficando maluca — pensei.
E por que estariam atrás de mim? Por que eles foram ao meu
socorro? Eu nem os conhecia! Talvez estivessem atrás deles e não de mim,
aliás, quem eram eles?
— Cazzo! — Praguejou Nicolas, segurando o ferimento que ainda
sangrava, me tirando dos meus devaneios.
— Precisamos parar e ver isso — sugeri, apontando para o corte que
sangrava.
— Isso? Não é nada, foi só um arranhão — retrucou rude. — Vou
ficar bem! — Respondeu com uma rispidez desnecessária, não sei se
tentando dar de machão ou se verdadeiramente com raiva de mim.
Arrogante! Grosso e mal-educado era isso que ele era e talvez
merecesse mesmo sangrar até morrer — pensei comigo mesma.
— Pode ser só um arranhão, que vai sangrar até você ficar sem
forças e desmaiar por falta de sangue. Porque é cabeça dura e não estancou
— comentei despreocupada. — Aí seu amigo aqui — apontei para Braean
— vai ter que te carregar no colo. Porque apesar de eu estar acostumada a
pegar peso, 90 quilos acho que não seja possível para mim — falei
calmamente, dando de ombros e me escorando no encosto do carro.
— HÁ-HÁ-HÁ-HÁ — Braean gargalhou alto me deixando
surpresa, diante minhas palavras. — Vou achar um lugar seguro para gente
parar — declarou ainda rindo.
Dez minutos depois, paramos em um celeiro abandonado. Braean
entrou com o carro, escondendo da vista de quem passava, e então
descemos para que eu pudesse olhar melhor o ferimento.
— Braean, pega para mim, o kit de primeiros socorros. — Pedi.
Ele trouxe uma caixinha branca com soro, gases, faixas e alguns
remédios.
Fui até Nicolas, que estava encostado no carro. Pedindo licença
rasguei a manga de sua camisa social facilitando meu acesso ao ferimento.
A bala não havia entrado, só passado de raspão fazendo um corte limpo. Só
precisaria limpar e enfaixar.
Ao tocar em seu braço, uma corrente elétrica tomou meu corpo, me
fazendo arfar. Levantei meus olhos e encontrei os dele me encarando, então
engoli em seco e continuei.
Nicolas era um homem lindo e estar tão próxima a ele fazia meu
corpo se aquecer.
Pedi para Cristian pegar o pen drive onde o irmão havia gravado um
vídeo para ela e coloquei o mesmo em um notebook.
— Seu irmão deixou isso para você — entreguei a ela com um fone
de ouvido para lhe dar privacidade.
Eu já havia visto o conteúdo do vídeo, vi quando ela apertou o play
e logo as lágrimas que não havia caído até o momento banhavam seu rosto,
seguidas de pequenos soluços abafados por sua mão que ia a boca, junto
com um pequeno sorriso triste, talvez por pelo menos por vídeo poder ver o
irmão novamente.
Ver aquela cena me mergulhou em um sentimento profundo de
culpa, algo inusitado para mim. Mas ver sua dor, o carinho que olhava para
a tela, seu peito que sacudia com o choro, me fez sentir uma pontada em
meu peito. Eu mal a conhecia e nunca fui do tipo sentimental, porém, saber
que eu havia causado aquela tristeza, me fez me odiar um pouco mais, se é
que isso era possível.
Ela havia passado um inferno nas últimas horas e tudo por minha
causa e eu mal sabia lidar com ela. Eu sabia que seria só a ponta do iceberg,
muitas coisas ainda viriam, mas no que dependesse de mim, ninguém
machucaria Camile.
Eu cumpriria o último desejo do meu amigo, cuidaria dela e a
protegeria nem que fosse a última coisa que eu fizesse.
Capítulo 8
Ouvir todas aquelas coisas que Alexei me disse, foi demais para
mim. Minha cabeça estava a milhão, muitos pensamentos e perguntas que
eu não conseguia expressar no momento, então eu apenas precisava de
tempo para digerir.
Alexei veio até mim com um notebook e um fone. Na tela, a figura
de alguém que mesmo muito mais velho eu conhecia bem. Peguei o
notebook colocando na mesinha da aeronave, coloquei o fone e apertei o
play.
— Olá! Minha pequena caracol – ele começou a dizer no vídeo, me
fazendo dar um sorriso pela forma carinhosa que ele sempre me chamava,
sem impedir as lágrimas que agora rompiam todas as barreiras — se você
está vendo esse vídeo significa que eu não pude cumprir a promessa que me
fiz, de acabar com os problemas da organização e ir até você. — Quero que
você saiba que eu nunca estive longe realmente, e que fiquei triste por você
ter deixado a faculdade para ir cuidar da pousada — falou mostrando que
mesmo de longe estava sempre me observando — mas fico feliz de ver que
você não mudou nada. Sempre ajudando e protegendo todos a sua volta. —
Por isso minha querida preciso que me perdoe por te envolver em tudo isso,
nunca quis você no meio disso tudo. Me perdoe pôr tê-la deixado, sem
nunca ter dado se quer uma explicação, mas espero que um dia você
entenda minhas razões. — Quero que saiba que você pode confiar em
Alexei. Sei que ele irá cuidar muito bem de você. Ele é uma pessoa muito
boa Camile, então não deixe esse lado frio dele te afastar. —Sei que posso
confiar nele, e só confie nele e nos irmãos em ninguém mais. Sei que ele
fará de tudo para protegê-la, minha querida. — Saiba que te amo para
sempre maninha... e que a verdade sempre vai estar junto a ti em seu
coração...
Ele terminou o vídeo me jogando um beijo. Beijei as pontas dos
dedos toquei a tela, como dando um último beijo em meu menino.
Eu nem podia acreditar que tudo aquilo estava mesmo acontecendo
comigo, minhas lágrimas caiam enquanto pequenos soluços sacudiam meu
corpo. Alex se sentou em minha frente e eu tirei o fone, fechei o notebook
secando as lágrimas, tentando demostrar uma força que no momento eu
estava longe de obter.
— Sim, vou pedir para te trazerem alguma coisa para comer, está á
quase 24 horas sem comer nada — avisou, indo em direção da porta. Ia
dizer que não precisava, pois não estava com fome, mas não adiantaria.
Tranquei a porta assim que ele saiu e fui até a mala, e a coloquei em
cima da cama procurando algo para vestir. Optei por uns um short jeans e
uma regata simples.
Entrei no banheiro e deslumbrei com tamanho luxo. Minha pousada
sempre teve bons aposentos, mas aquilo era puro luxo. Com uma bela
banheira de hidromassagem e um grande chuveiro moderno, sais de banho e
tudo mais. Tomei um banho de chuveiro simples com o intuito de não
demorar, lavei meus cabelos, porém não tinha nada do que estava
acostumada a usar, então só sequei com a tolha e prendi em um coque
frouxo com pequenas mechas soltas.
Ouvi baterem na porta e fui abrir, era uma menina jovem, tinha uns
dezenove no máximo vinte anos. Era loira, o que me fez lembrar Jeniffer,
apesar dos olhos serem mais escuros e ela não usar óculos como minha
amiga.
— Desculpe incomodar Srta. Camile, mas o Sr. Alex pediu para
trazer um lanche — ela disse entrando, carregando bandeja grande, com
quantidade de comida suficiente para um pequeno grupo.
Eu havia passado o dia todo pensando no que faria e era a hora de falar
sobre minha decisão.
— Seja o que Deus quiser! — Falei comigo mesma antes de sair do
quarto.
Capítulo 9.
— Não é para mim, é para Camile. Não faço ideia do que ela gosta,
então vou colocar um pouco de cada coisa — falei indo até a geladeira e
buscando um pedaço de queijo e iogurte.
Camile tinha apagado o resto da viagem e já passava um pouco da
hora do almoço, eu já estava começando a ficar preocupado quando ela
finalmente acordou.
— Você acha que ela irá aceitar? — Sebastian perguntou mais sério,
deixando as brincadeiras de lado.
— Ela não lhe disse nada depois que contou sobre o casamento?
Era natural para mim e meus irmãos lidar com o medo, o espanto
das pessoas, ás vezes chegava ser até engraçado, os olhos arregalados
quando revelávamos ser da Lá Rete, o medo de nos encarar como se
fossemos algum tipo de Deuses da morte. Mas Camile parecia não ligar ou
não entender aquilo.
— Não, você não entende. Cristian tem razão, Camile é como uma
fera selvagem — comentei parando o que fazia. — Mesmo com tudo isso,
ela em momento algum baixou a cabeça, nenhuma vez, não se acovardou
ou chorou por medo, por tristeza sim, mas não por medo.
— É... talvez.
— E é por isso que você está montando uma bandeja para a pequena
fera selvagem, irritante e petulante? — Sebastian voltou com suas
costumeiras piadas.
— Ela está sem comer nada desde que saímos da pousada, e pelo
que sei, ainda precisamos dela viva para que eu me case com ela —
respondi pegando a bandeja e indo em direção às escadas.
Tomei um copo de whisky sem gelo e voltei para meu quarto, tomei
um banho rápido e me joguei na cama a fim de descansar algumas horas.
— Não, deixe ela descansar, se não sair até a hora do jantar veremos
— informei.
— Sim, chora como uma menininha — outro disse rindo, mas não
sorri de volta.
Saiba que ainda era muito novo como Capo da organização e ainda
tinha que conquistar meu respeito dentro da Máfia, nem todos haviam
aceitado muito bem minha posição e muitos achavam que eu não tinha
potencial para comandar, a maioria acreditava que eu e meus irmãos éramos
fracos demais.
Juntos, os dois nos ensinou, os dois lados da vida. Ele nos moldou
para nos tornar homens que precisávamos ser, frios, rígidos e corajosos, ela
nos ensinou nossos princípios, amar e respeitar quem realmente merecia.
Era o que ela sempre nos dizia, a frase já conhecida por todos, mas
pouco respeitada.
— Tá, vamos tentar mais uma vez, mas dessa vez responda somente
o que eu perguntar, ok? — Ele assentiu chorando.
Miller não era difícil de lidar, contava tudo que sabia com muita
facilidade, o problema era que o idiota não sabia nada, era um rato sem
lealdade a ninguém.
— Eu duvido, não tem mais nada que a prenda aquele lugar, ela
perdeu o marido, Pietro e agora… — parei ao imaginar o que a mãe de
Camile estava passando.
— Eu sei. PORRA! Pensa que não sei de tudo isso? Pensa que não é
o que passa pela minha cabeça desde a primeira vez que vi a merda do
vídeo. Eu não queria isso, não pedi por isso, mesmo assim estou tentando!
— Falei estourando, perdendo totalmente minha paciência.
— Quer que eu a amarre? a prenda em um quarto e a obrigue a se
casar comigo? É esta sua sugestão? Então vou dizer pela última vez, eu não
vou! Irei deixar claro para ela — falei apontando para as escadas — tudo
que está em jogo, mas não vou forçar ninguém a se casar comigo! — Falei
colocando um ponto final naquela conversa.
— Nessa eu devo concordar com ele, Alex. Ela está muito quieta,
você não acha? — Questionou.
Para mim aquilo não era novidade, Camile havia se fechado todas as
vezes em que acreditei que surtaria, simplesmente se recolhia em seu
mundo mantendo todos do lado de fora, o que era bem curioso.
Alex me olhava, seu olhar penetrante não ajudava em nada, minha situação
e a presença de seus irmãos menos ainda.
— E então o que você decidiu? — Alex perguntou.
— Preciso ir ao supermercado.
— Faça uma lista que pedirei que providenciem para você. — Ele
disse cortando um pedaço de carne.
Alex deu uma pausa, repousou seus talheres e tomou um gole de seu
vinho, umedecendo os lábios antes de responder:
Seu toque era suave e quente, sua mão se afrouxou em meu pescoço
e seu dedo desceu pelo vale de meus seios e eu quase podia sentir em minha
pele o toque de seu nariz, sentindo meu cheiro me fazendo engolir em seco.
Eu respirava com dificuldade, não por medo, mas pelo desejo que seu toque
me causava.
— Sim!
— Você deve ser Camile! — Uma mulher linda e alta disse assim
que entrei na mansão. — Eu sou a Sienna, prima dos meninos. — Se
apresentou.
— Ah, sim, prazer. Desculpe não te dar um abraço, mas como pode
ver estou toda suada — Falei me aproximando.
— Alex pediu para eu ver o que precisava, mas então eu tive uma
ideia melhor. — Falou me puxando pela mão. — Vamos às compras juntas!
— Disse toda animada.
— Tirando o fato que estou presa, sem minha família e sem meu
Kindle, e que em breve me casarei com um homem que quer me colocar em
uma redoma de vidro, estou bem.
Sienna parecia ser uma pessoa maravilhosa, tinha sido uma ótima
companhia, mas foi inevitável pensar que queria minhas amigas comigo
naquele momento. Brigar pelo sabor do bolo e ter que ouvir Tabita
reclamando da cor do vestido de madrinha e como não a favorecia,
independente da cor que eu escolhesse.
— Não sou boa com essas coisas, talvez fosse melhor você escolher.
— Falei.
— Hoje estou muito cansada, podemos ver isso outro dia? — Pedi.
— Tudo bem, vou deixar você descansar por hoje, mas não pense
que não vou voltar. — Disse me abraçando.
— Ele não vai perceber se eu pegar só um, ou será que vai? — Falei
comigo mesma.
— Quero que fique responsável pelo carregamento que vem do Sul
— falei para Sebastian enquanto supervisionava nossos homens
descarregarem os containers.
— Suspeita de alguma coisa? — Ele perguntou.
— Não, só não confio em ninguém ainda. — Avisei.
— Tivemos problemas para repassar as drogas. — Assis disse
enquanto fazia sinal para os outros continuarem.
— Que tipo de problemas? — Questionei.
— Os clientes estão inseguros, primeiro Kleber, depois Pietro e
agora você, a Lá Rete está perdendo a credibilidade, alguns acreditam que
não podemos mais defendê-los como antes, outros aproveitaram para
procurar outros fornecedores.
— Outros fornecedores? Não existem outros, não em nosso
território caralho! — Falei furioso.
— É desse tipo de problema que estou falando. — Ele respondeu.
— Quero saber quem está se atrevendo invadir nosso território e
quero saber para ontem, eles querem saber se a Lá Rete ainda tem a mesma
credibilidade? Então vamos mandar um recado.
Ela usava uma roupa discreta, simples como sempre, mas elegante,
botas pretas que provavelmente havia comprado no dia anterior junto com
Sienna, minha prima, e um poncho que por incrível que pareça lhe caia
muito bem, já que fazia um pouco mais de frio aquele dia, e uma bolsa
pequena de mão.
— Preciso que me leve ao cemitério, onde Pietro foi enterrado. —
Pediu assim que fui abrir minha boca para questionar onde pretendia ir,
fazendo fechá-la novamente.
Não podia negar aquilo a ela, não depois de tudo.
— Não precisa ir comigo — falou quando eu não respondi. — Não
vou me demorar, peça para qualquer um me levar só me deixe…
— Fale Alex!
— Preciso que vá às boates e ao cassino para mim, quero que
negocie com os novos clientes para mim…
— Alex, estou no território dos “Neri”. — Ele me interrompeu.
Cazzo, havia me esquecido e Sebastian devia estar atrás dos
distribuidores que estavam trabalhando em nosso território.
— Ok, quando terminar me avise! — Ordenei, já fazendo uma
chamada para Sebastian — Sebastian!
— Alex?!
— Já está com os distribuidores?
— Não, nem tomei café ainda — respondeu.
— Ótimo, mudança de planos, vá para os bordéis e para o Cássio me
representar, e feche negócio com os novos clientes.
— Mas…
— Cristian dá conta de meia dúzia de traficantes.
Sebastian se mostrou desapontado, pois detestava fazer o trabalho
burocrático.
— Vou pedir para Cristian deixar alguns para você. — Falei antes de
desligar.
— Não adianta tentar me agradar. — Falou bravo do outro lado da
linha.
— Podemos ir! — Falei encontrando Camile ainda na sala.
Camile como sempre se manteve em silêncio o percurso inteiro e eu
começava acreditar que ela tinha sérios problemas comigo, já que todos
conseguiam falar com ela menos eu.
— Está confortável em seu quarto? — Perguntei procurando puxar
um assunto que nos tirasse daquele silencio constrangedor.
— Sim, é muito bonito. — Foi tudo o que respondeu.
—Sienna disse que compraram roupas juntas ontem. — Tentei
novamente.
— Sim, muito obrigada! — Agradeceu e voltou a ficar em silêncio.
— Ela é muito legal — Falou depois de um tempo grande e eu nem soube
mais de que estava falando. — Sua prima. — Ela lembrou.
— Sim, é uma pessoa maravilhosa! — Ela afastou uma mecha que
batia em seu rosto por causa do vento que vinha de fora e eu pude ver seu
olhar triste e me perguntei se algum dia veria aquele mesmo sorriso que ela
distribuía na pousada, se o brilho em seus olhos um dia seria capaz de
retornar a lhe dar vida.
Camile me olhou e por um momento tive o impulso de lhe acariciar
o rosto, mas me contive.
O que estava acontecendo comigo? por que sua tristeza me
incomodava tanto?
Chegamos ao cemitério e ordenei aos homens que dessem uma
busca pelas proximidades e dei ordem que ninguém devia se aproximar.
Depois de confirmado que estava tudo seguro permiti que Camile descesse
e fosse até o túmulo do irmão.
— Prometo ser rápida!
— Fique o tempo que precisar — falei antes de sair, deixando-a à
vontade.
Primeiro ela se ajoelhou e chorou pelo que pareceu horas, depois se
sentou no chão e de repente começou a sorrir triste conversando sobre
alguma coisa que eu não soube dizer o que era. Mais algumas horas se
passaram e no fim ela deixou um rosa que havia comprado na entrada em
seu túmulo.
— Obrigada, mano. — Ouvi ela dizer ainda abaixada alisando o
mármore.
— Pronta? — Perguntei e ela assentiu se levantando.
— Alex! — Ela chamou quando a deixei na mansão e ia saindo para
me encontrar com Victor e Sebastian — Obrigada! — Agradeceu.
— Não sei Sienna, não sou homem de levar mulher para sair. —
Justifiquei.
Não tinha o hábito de sair com mulheres, todos os relacionamentos
que tinha eram somente casuais, meus encontros nunca incluíam, refeição
ou passeios, apenas sexo e nada mais.
— Talvez possa pedir ao Cristian para levá-la ao shopping? —
Sugeri.
— Claro! — Exclamou animada — Peça para Sebastian a levar, ele
pode levá-la para se divertir um pouco — sugeriu. — Ele é engraçado e
brincalhão, vai saber distraí-la e eles parecem se dar bem.
Meu estômago revirou com o pensamento. Sabia que Sebastian era
meu irmão, mas só de pensar em Camile com ele enquanto ele tentava
flertar com ela a todo momento, me deixa com os nervos à flor da pele.
Sabíamos que assim que ele tivesse oportunidade iria nos trair.
Aliás, contávamos com aquilo, queria que ele nos levasse ao mandante do
ataque a Camile.
Não demorou muito para o desgraçado esquecer o que havia
prometido e nos dar as costas, e era exatamente por isso que agora
estávamos com os dois no nosso galpão.
Os dois estavam amarrados por corrente, somente de cueca, com
hematomas e cortes que ainda sangravam. Meus irmãos já tinham se
divertido com os dois, mas por ordens minha, não mataram nenhum dos
dois.
— Ora! Ora. Olha quem nós temos de volta. — Zombei chegando
perto de Miller.
— Alex, por favor! Eu juro, não ia trair vocês, só estava fingindo
para buscar informações. — Mentiu.
Eu havia mandado fazer uma réplica idêntica ao seu anel, com um
localizador e escuta enquanto estava apagado.
Ele havia passado alguns dias distante, com medo de ser pego,
lambendo as próprias feridas, porém no dia anterior recebeu uma ligação de
Venner, o verme que agora está ali junto com ele.
Na ligação Venner dizia que precisava conversar com ele e ofereceu
uma grande quantia em dinheiro para lhe passar outros serviços, claro que
nem imaginava que ele tinha sido capturado ou já teria apagado o infeliz a
muito tempo, então não deixamos que ninguém soubesse.
— Por isso ia aceitar ir atrás da amiga de Camile? — Questionei,
pois, esse era o plano deles.
Venner havia pedido para Miller voltar ao Brasil e ir atrás de
Jeniffer, já que Tabita tinha ido embora sem deixar rastros.
— Tenho certeza de que sim. — Murmurei, mas acho que ela não
ouviu, pois já tinha saído.
Peguei as roupas e comecei a guardar tudo no closet, deixando
somente o vestido vermelho, uma sandália preta com salto agulha prateado
e uma bolsa clutch, para usar no evento.
Peguei uma das sacolas que Sienna havia trazido, que não tinha sido
mexida em nada, abri para verificar o que tinha dentro e quase caí para traz.
Lindas lingerie em vários modelos e cores diferentes, sintas ligas e
espartilhos, robes e camisolas sexy, olhei tudo dando risada da ousadia de
Sienna, entretanto guardei tudo de volta tirando somente alguns conjuntos
de calcinha e sutiã para meu dia a dia e fui me arrumar.
Ver meu irmão babando em cima de Camile fez meu sangue ferver
de tal maneira que não consegui controlar meus instintos, queria ter furado
os olhos de Sebastian assim como Victor sugeriu.
Camile estava magnífica, usava um vestido vermelho um pouco
abaixo dos joelhos, que se moldava em seu corpo, deixando sua cintura fina
e suas coxas grossas bem desenhadas, despertando o desejo que qualquer
homem a sua volta. Seus cabelos cacheados e compridos estavam ainda
mais volumosos formando grandes cachos jogados para o lado, somando
ainda mais a beleza de seu rosto.
Quando a puxei para mim, sentindo seu corpo colar ao meu, seu
aroma delicioso, quase me faz perder meu autocontrole.
Mas o que estava me deixando mais puto era saber que ela não
queria nada comigo, eu só não entendia o porquê já que ela parecia tão
afetada quanto eu.
Porra! Será que era apaixonada por outro? Por isso não queria se
envolver? Ela já havia morado junto com um bostinha há muitos anos,
talvez ainda gostasse do cara! — deduzi — Por isso andava tão triste, por
isso dizia não ter interesse em namorar.
Então não foi difícil deduzir quem havia pegado o livro em meu
escritório e não tinha como eu não perceber. Por vezes me sentava no sofá
do escritório bebendo e olhando aquela estante, me lembrando da minha
pequena luz.
Os livros estavam ali há anos e ninguém nunca se interessou por
eles, no dia seguinte a sua chegada, já sumira um? Mas para minha
surpresa, no outro dia ela tinha devolvido exatamente no mesmo lugar e
pegado outro, então deixei que ela pensasse que eu não havia percebido.
Ela parecia uma criança, toda animada com seu brinquedo novo,
com aquele sorriso que nos últimos dias era uma verdadeira raridade.
— Se eu soubesse que isso iria te fazer sorrir, teria comprado um
estoque — declarei.
Ela pareceu constrangida, com meu comentário, mas não respondeu
nada.
Tremia de raiva de mim mesma, não dele, nem dela, mas de mim
por ter me colocado naquela situação, primeiro aceitando aquele casamento
de fachada para início de conversa, e depois me deixando afetar dessa
maneira, como uma adolescente.
— Não deveria ficar sozinha assim. — Ouvi Victor me dizer,
colocando seu blazer em meus ombros, me tirando das minhas loucuras.
Deve ter pensado que eu tremia de frio, quando na verdade tremia
era de raiva.
Seria cômico se não fosse trágico.
— Já estou acostumada.
— Não está gostando da festa? — Perguntou se colocando ao meu
lado.
Victor tinha sempre uma aparência tranquila, diria até serena, se não
fosse pelo olhar frio e seu rosto esculpido em granito, que dizia que aquela
tranquilidade era só uma fachada, uma que todos eles dominavam muito
bem por sinal.
— Bom, não é muito meu estilo. — Admiti — Essa coisa toda de
gente rica como vocês, nada contra — fui rápida em me justificar, tentando
não parecer rude, ele riu da minha tentativa.
— Isso tudo é muito novo para mim, se é que me entende.
O que era aquilo? Será que tinha ficado com ciúmes de Rebeca?
Aquilo devo confessar me animou, afinal, a garota parecia uma pedra de
gelo quando se tratava mim.
Ela era sempre sorrisos com meu irmão Sebastian, brincando e
conversando, mas quando eu chegava perto ela se fechava.
— Rebeca é só uma velha amiga — senti necessidade de dizer. Ela
deu de ombros.
— Não precisa me dar satisfação Alex — falou num tom de voz
irritado. — Só seja mais discreto.
Aquilo foi um soco no meu estômago.
Porra ela não estava nem aí? Achei que sentia pelo menos um
pouco de ciúmes.
Mas porque isso me incomodava tanto? Eu deveria estar
agradecido? Afinal eu era sempre o primeiro a sair depois de uma transa,
não querendo que nenhuma mulher se apegasse a mim, ri de mim mesmo
com esses pensamentos patéticos.
— É, talvez eu volte — declarei, sem ter realmente intenção de
voltar, não estava no clima de nada.
Entramos na mansão e ela subiu para o quarto, enquanto fui para o
escritório.
Fiquei bebendo e lembrando de cada palavra que havia saído de sua
boca, tentando imaginar o que aconteceu que quebrou aquela garota.
A dor que vi em seus olhos, a tristeza em seu semblante, que gritava
que algo muito grave havia acontecido para deixá-la assim.
Não sei por quanto tempo fiquei pensando nisso.
Ele moía seu centro ao meu, sentia sua carne dura e excitada assim
quanto eu, se esfregava em mim, enquanto me dizia palavras que me fazia
querer jogá-lo no chão e cavalgar em cima dele.
Suas mãos apertavam minha bunda, enquanto sua boca varria meu
colo, pescoço e orelha.
Eu segurava seus cabelos enquanto gemia, tirava sua camisa para ter
mais acesso ao seu corpo, que era delicioso, todo sarado com lindos
gominhos, e tatuagens por toda a extensão de seu peito, mas que não parei
para prestar atenção pois queria saboreá-lo. Nós nos beijávamos com
sofrequidão e Alex levou suas mãos até minha camiseta, na intenção de tirá-
la, me fazendo dar um salto para trás segurando-a no lugar.
— Não! — Exclamei exasperada. — Eu-eu não posso. — Gaguejei
balançando a cabeça me afastando. — Desculpa — pedi virando. — Eu só...
não posso — finalizei fazendo sinais com as mãos.
Saí correndo, tropeçando nos degraus da escada, achando que iria
cair no processo, fugindo desgovernadamente.
— Camile! — O escutei chamar atrás de mim, todavia não me virei
para saber se tentava me alcançar, não iria ficar para ver.
Subi correndo o mais rápido que pude e tranquei a porta atrás de
mim, sentando-me no chão me escorando nela, esperando que ele não me
seguisse.
Que merda tinha acabado de acontecer? Como eu fui deixar chegar
tão longe?
Em três dias estaríamos casados. Se levasse para este lado teria que
explicar coisas que não gostaria, não queria se quer tocar no assunto ou
lembrar.
Dessa vez eu não faria nenhum laço que teria que quebrar depois, não
precisaria me afastar de Alexei, porque não deixaria ele se aproximar.
Me levantei e fui para o chuveiro, deixei que a água quente levasse
embora todo aquele turbilhão de sensações e sentimentos. Eu havia tomado
uma decisão e voltar atrás não era uma opção.
Alex não era uma opção.
Capítulo 17
Há três dias não via Camile, não sentia seu cheiro, não desfrutava de
sua companhia. Ela não descia para tomar café e pelo que eu soube, só saia
do quarto no almoço, pois sabia que eu não estava em casa.
Era óbvio que ela estava me evitando, fugia de mim igual o diabo
foge da cruz. Mas por quê? O que eu havia feito? Aquilo me perturbava há
dias.
Quis ir ao quarto dela confrontá-la, no entanto acabei por desistir,
tinha muitos problemas para resolver e Camile não fugiria.
Naquela noite fiquei lá parado na beira da escada, tentei alcançá-la,
mas ela saiu tão de pressa, me pegando totalmente de surpresa que não
consegui.
Eu precisava conversar com ela, entender o que a tinha assustado,
saber se estava bem.
Mais cedo ou mais tarde ela teria de conversar comigo. Afinal, nós
iríamos nos casar em poucas horas, então ela não teria escapatória.
— Falou com Camile hoje? — Perguntou Sebastian me trazendo de
volta.
— Não! — Bufei frustrado.
— Eu não gosto de esconder nada de você, sabe disso. — Afirmou.
— Você é meu Capo e lhe devo respeito e por isso, vou contar que ontem
fiz um favor a Camile.
Cores e promessas
How do be brave
To fall
De me apaixonar?
All of my doubt
Thousand years
Mil anos
Thousand more
Mil anos
I will be brave
Eu serei valente
Take away
Leve embora
Every breath,
Cada respiração,
Thousand years
Mil anos
Thousand more
Mil anos
Sebastian tinha toda razão, ela estava deslumbrante, em um vestido
branco de tule bordado leve, com mangas tipo sino e um decote bordado em
v fundo, que se desenhava nos seios fartos. Usava uma coroa de flores
brancas e um buquê de rosas.
Deslizava por entre as pétalas de flores com os pés descalços,
enquanto segurava o pequeno buquê em frente ao ventre delicadamente
vindo em minha direção. Eu não enxergava mais ninguém a minha volta,
somente ela. Acreditei por um momento que ela poderia criar asas e voar a
qualquer momento.
A perfeição do momento era divina, não tinha outra explicação e eu
me perguntei se merecia tanto.
Capítulo 18
Dizer que tudo estava lindo era eufemismo. Não poderia ter nem se
quer sonhado com tamanha beleza.
Tudo estaria perfeito se não fosse o fato de que minha família e
amigos não estavam ao meu lado.
Alex usava um smoking de cor areia e flores gipsófila no bolso,
deixando-o ainda mais bonito, se é que isso era mesmo possível.
O sol começava a se pôr, deixando uma linda coloração laranja, que
se misturava com o azul do céu. Tudo era tão lindo e emocionante, tinha
tudo para ser perfeito, tudo para ser um conto de fadas, mas somente eu
sabia o quanto aquilo me doía por dentro.
Apertei um pouco mais o buque entre as mãos lembrando que Pietro
deveria estar ao meu lado, e senti mais uma pontada ao ver Sienna e Grazi
vendo ao seu lado a imagem de Tabita e Jeniffer, que deveriam estar ali
comigo, mas foi quando me lembrei de minha mãe que tive que olhar para
cima tentando conter as lagrimas e não borrar a maquiagem perfeita que
minha amiga havia conseguido.
Eu mal tinha terminado o percurso quando Alex veio ao meu
encontro, tocou minha mão com suavidade, olhou no fundo dos meus olhos
e sorriu, me transmitindo o mínimo de paz e tranquilidade que podia
adquirir naquele momento. Levou minha mão aos lábios depositando um
beijo casto, entrelaçou nossos braços e suavemente me direcionou ao altar,
como se soubesse que talvez não conseguiria chegar sem desabar,
ignorando totalmente as tradições e o que havia sido ensaiado.
— Oi, quanto tempo — brinquei em tom baixo, para que somente
ele ouvisse, pois fazia três dias que não nos víamos.
— Covarde — acusou, no mesmo tom com um sorriso. — Aliás,
você está linda.
— Você já era da família antes, por ser irmã de Pietro, mas agora é
oficial, e nós fazemos de tudo pela família. — Declarou levantando sua taça
de champanhe, com uma sinceridade que me comoveu.
— Está linda — Victor elogiou, sério como sempre.
Victor era sempre frio, indecifrável, até mais que Alex. Achava no
começo até que não gostava de mim, mas percebi que esse era seu jeito,
parecia ter sempre algo que o afligia.
— Obrigada meninos, agradeço de verdade o carinho de vocês —
fui sincera.
Logo Sienna e Grazi também estavam ao meu lado e eu agradecia
por isso, caso contrário estaria em um mar de desconhecidos, Alex também
não se afastou, mas trocamos poucas palavras no decorrer da festa.
Ele estava furioso, o que por um momento me fez temer, ele era um
mafioso, eu mal o conhecia, não tinha a mínima ideia do que ele era capaz
de fazer e mesmo assim havia acabado de gritar e afrontá-lo. Se quisesse
poderia me matar ali mesmo, deixando meu corpo para os animais
selvagens.
Eu e essa minha boca grande — pensei.
Porém que diferença iria fazer? Todos já acharam que eu estava
morta mesmo, só iria oficializar o óbito.
Talvez fosse até melhor, daria fim a toda aquela agonia.
Capítulo 19
— Cazzo!
Aquela mulher seria minha ruína com certeza, Camile tinha o dom
de me tirar do sério na mesma proporção que me fazia desejá-la.
A maneira com que me desafiava, o desaforo transbordando de seus
poros, seus lábios avermelhados e como os mordia quando estava nervosa e
como eu queria fodê-la e ouvi-la gritar e castigá-la por toda a raiva que me
fazia passar, mas tinha feito uma promessa de que cuidaria dela.
Eu não sabia se eu estava mais puto, por ela ter a audácia de me
desafiar daquela maneira, ou pelo fato dela estar certa. Com certeza não
levantaria a mão para ela, nem em um milhão de anos. Só de pensar em
qualquer um a machucando... Era simplesmente inadmissível, não gostava
nem de imaginar tal coisa.
Trancá-la? Jamais, eu jamais faria algo que pudesse feri-la de
qualquer forma e não era só pelo fato dela ser irmã de meu melhor amigo,
ou pelo fato de minha mão ter nos criado sabendo respeitar as mulheres
mesmo dentro da máfia, mas Camile já sofria demais com tudo aquilo e
com certeza ela não merecia aquilo.
Então chegava à conclusão de que eu estava fodido, muito fodido.
Minha vontade era de matar alguém, PORRA! Que raiva, com
certeza morreria bem mais cedo com Camile ao meu lado, eu não tinha
nenhuma dúvida daquilo.
Por aquela eu não esperava, mas afinal era justo. Eu não podia falar
sobre meus negócios com ela, então tinha o direito de ter seus próprios
segredos.
— Sabe que pode contar comigo né? — Perguntei e a vi assentindo
levemente com a cabeça. — Então só não fuja mais — pedi tocando-lhe
levemente as mãos.
Ao chegarmos na pista de pouso pegamos o avião, descendo
algumas horas depois em outra pista, não muito longe de onde iríamos. Um
carro com motorista já nos aguardava.
Durante o percurso falamos sobre banalidades, de gostos e
preferência. Ela me disse que não gostava muito de praia, o que me fez me
questionar se realmente havia feito a escolha certa para o local de lua de
mel, já que era por aquela razão que eu havia escolhido.
Deveria ter perguntado, mas acreditava que ela iria gostar, pois o
lugar era lindo.
Ele não esperaria de mim coisas que eu nunca seria capaz de dar,
não precisaria falar nada do meu passado, afinal seria só sexo! Ele não era o
tipo de cara que se apaixonaria e sofreria por traumas dos outros, já tinha os
seus próprios, enxergava isso nele, conhecia uma pessoa com traumas assim
como eu, isto com certeza não o atingiria — tentava me convencer — e de
qualquer forma eu não esperava expor minhas angústias. Esse lado eu
guardaria só para mim.
Se ele aceitasse os termos, talvez as coisas desse certo.
Respirei fundo e voltei para baixo, onde eu o havia deixado.
Capítulo 21
— PORRA! O que eu havia feito? Havia prometido não ultrapassar
seus limites, no entanto escutar Camile gemendo, gozando e chamando por
meu nome, me fez perder todo o meu autocontrole. Andava de um lado para
o outro como um animal enjaulado, queria arrombar aquela porta, entrar lá
e foder com ela insanamente.
Quando ouvi ela descer, tentei me acalmar, tomei um banho gelado
tentando esfriar a cabeça e aplacar aquele desejo. Tentei esquecer o som de
sua voz enquanto sussurrava meu nome, mas parecia que nada adiantava.
Desci, fui até ela, ensandecido, acochando-a por trás e puxando pelos
cabelos como um homem das cavernas. Ao contrário do que imaginei, ela
pareceu se derreter em meus braços, que a apertavam sem delicadeza, mas
sem ter a intenção de machucá-la, seu corpo tremia e era possível sentir o
calor emanando dele através das roupas.
Achei que ela corresponderia, pelo desejo que sentia emanar dela,
nossos corpos colados pegando fogo. Eu sentia seu corpo tremer de desejo e
sua respiração entrecortada, ela estava ofegante, tudo indicava que estava
louca por aquilo.
Contudo, mais uma vez havia saído correndo me deixando de pau
duro, querendo quebrar tudo.
— Cazzo! — Explodi.
Enchi um copo de uísque para tentar me acalmar e levei aos lábios,
mas antes que pudesse tomar o primeiro gole, a vi descer pausadamente as
escadas, degrau por degrau, como se pensasse no que diria.
Agora quem precisava de uma bebida era eu, enchi novamente meu
copo e virei em uma golada só.
— Se aceitar meus termos, podemos deixar as coisas rolarem,
aproveitar o que temos de bom um no outro, não vou correr ou fugir, pois
não sou mais capaz — admitiu. — Não tenho mais forçar para lutar contra
esse desejo — admitiu.
Fui até ela, enchi minhas mãos em seus cabelos, beijando sua boca
com fome, pois era assim que eu me sentia, faminto por ela, como um leão
selvagem. Seria do jeito que ela quisesse, seja lá o que a atormentava, a
tinha quebrado e feito ela ser daquela maneira, arisca, arredia, temerosa em
um mundo sombrio e solitário. Não tinha o direito de julgá-la, éramos
igualmente quebrados. Então talvez no fim, pudéssemos juntar nossos
cacos, ou o que havia restado deles.
Ela retribuía o beijo com ardor e sofreguidão, coloquei minhas mãos
na sua bunda e a levantei em meu colo.
Camile desceu e se afastou, achei que iria fugir novamente, mas foi
até o fogão, desligou o fogo que eu nem tinha notado que ainda estava
ligado.
Voltou para meus braços, pulando em meu colo, passando as pernas
em minha cintura.
— O único fogo que quero que pegue hoje é o nosso — afirmou,
voltando a me devorar.
Caralho! Aquela mulher sabia como me incendiar — pensei.
Subi as escadas com ela pendurada em meu pescoço, rindo divertida
com meu sofrimento pelo desejo.
Capítulo 22
Já fazia quase seis anos desde que tinha me envolvido com alguém,
mas achava que tinha valido a pena a espera. Os toques, e as sensações
eram únicas, eu nunca havia me sentido daquela maneira antes, nem em
minha primeira vez.
Alex estava me levando a um novo patamar, um que eu desconhecia,
mas que estava adorando.
— Sente-se em minha cara, gostosa — pediu, puxando meu quadril.
Eu não me fiz de rogada, passei minhas pernas por sobre sua cabeça
ficando em uma boa posição onde eu poderia chupá-lo e ele a mim.
— Gostosa pra caralho! — Alex disse estapeando minha bunda de
leve, me fazendo gemer com a sensação gostosa de ardência que me
atingiu.
Capítulo 23
Eu tinha ligado para Victor e combinado todos os detalhes, ele já
havia ido ao local, três dias antes e instalado câmeras escondidas em alguns
pontos, para que pudéssemos ter total visão.
Esperávamos pegar um dos podres que tivesse informações da tal
sombra, mas se conseguíssemos salvar o container com as mulheres e
crianças já estávamos no lucro, não que fossemos bons. Nós não nos
envolvíamos nesse tipo de negócio, no entanto não estávamos fazendo isso
por pura bondade, não íamos nos arriscar tanto se não tivesse uma jogada.
Se conseguíssemos pegar algum dos podres que nos desse
informação, ótimo! Contudo, se eles perdessem a mercadoria, teriam que
fazer negócio com outro fornecedor e aí que entrava a jogada, já estávamos
preparados para entrar com um novo fornecedor, que supostamente
trabalhava com menores e virgens, claro que tudo armação, era uma ótima
armação planejada estrategicamente por Victor. Não entregaríamos nada,
isso nos levaria ao comprador, e consequentemente a outros podres.
Subi para ver Camile que já estava dormindo, tão serena e linda
como uma fada encantadora.
— Dorme bem minha linda, volto assim que puder — falei, sabendo
que não me escutava.
Cobri seu corpo que estava descoberto e chamei Cristian para irmos.
Quando chegamos em Florença, fomos direto para uma de nossas
boates de fachada, tínhamos muitas espalhadas por toda a Itália. Meus
irmãos e alguns dos nossos homens de confiança já nos esperava.
— A mercadoria chega em algumas horas, eles vão esperar, não vão
querer perder tempo — avisou Victor.
— Nós também já estamos preparados — anunciou Cristian.
— As câmeras foram colocadas nos lugares próximos, onde irão
descarregar as garotas. Precisamos fazer tudo o mais silencioso possível,
para nenhuma delas se ferir — Sebastian alertou.
— Podemos usar seus próprios caminhões para fazer o transporte
das meninas, até este local — Heitor explicou mostrando o lugar no
notebook. — Já deixei acertado para que alguns polícias as encontrem.
Ainda que eles rastreiem os caminhões, a polícia estará lá para recepcioná-
los.
— Assim vão pensar que foi uma operação policial, e não um
contra-ataque — declarou Enrico.
— Ótimo! Quantos irão? — Perguntei.
— Estaremos em quinze, acreditamos que eles serão cinco, mais os
dois que vão fazer a entrega, somamos uns sete, no máximo dez. — Vamos
entrar em cinco, tentar silenciar um de cada vez, se ouvirem algum alarme
os outros entram em ação — os orientei — não podemos correr o risco de
eles serem avisados e matarem as garotas. — Entraremos, Sebastian, Victor,
Cristian, rock e eu os outros vão esperar, caso precisemos de cobertura.
Entre os outros estavam Heitor, pai de Sienna e meu tio, e Enrico,
meu primo marido de Grazi.
Também tinha Felippo, Motta e Assis entre outros todos homens de
minha confiança.
Não sabia o motivo, mas falar de Camile com qualquer outra pessoa
me deixava desconfortável.
— Bom, fizemos sexo oral, mas é complicado — expliquei.
— Porra cara! Não estou te entendendo, se vocês chegaram ao ponto
de fazer sexo oral, por que diabos não transaram? — Perguntou confuso. —
A menina é uma gata, não sei como vocês passaram tanto tempo juntos e
não tinham feito isso antes — disse caçoando de mim.
Mas logo parou quando entendeu que eu estava sério.
— Não é esse o ponto, Victor.
— Então qual é o ponto? — Perguntou confuso.
— Alguém a feriu e quero que descubra quem foi o filho da puta —
ordenei duro e frio.
— Que? Como assim Alex? — perguntou incrédulo.
— Hoje pude ver marcas de cortes em sua barriga, algumas muito
recentes.
Logo nossos homens estavam todos lá, por causa dos tiros.
— Vamos levar logo as garotas daqui elas estão assustadas, a
maioria não fala nossa língua — disse Victor com uma careta de dor.
— Você foi atingido? Onde? Por que não falou, porra? —
Questionei.
Ele segurava a barriga.
— Foi só de raspão, vou ficar bem. — Lembrei do que Camile tinha
me dito no dia que fui atingido de raspão no braço.
— Vamos levar isso para alguém ver. — Não era um pedido. —
Peguem esses dois e levem para o calabouço — ordenei — quatro de vocês
levem os caminhões, e certifiquem de que realmente será a polícia que vai
pegar as garotas.
Ajudei Victor a ir para o carro, levei ele em umas das clínicas que
estava na nossa folha de pagamento.
O médico atendeu Victor, examinou e pediu alguns exames, para
certificar de que estava tudo bem.
O ferimento não foi sério, não atingiu nenhum órgão vital, ele foi
suturado e liberado, então partimos para ver nossos novos hospedes.
Capítulo 24
Já era dia quando chegamos no calabouço, era assim que
chamávamos o porão onde torturávamos os prisioneiros.
Victor teve que ficar um tempo na clínica, acabamos perdendo
bastante tempo.
Os dois homens que havíamos capturados no cais, já nos aguardava,
aos cuidados de Sebastian que eu acreditava ter cuidado muito bem deles,
afinal não queríamos que morressem, não ainda.
Precisávamos de informações e precisávamos rápido. Os podres
estavam a cada dia aumentando mais e não demoraria a organizarem uma
retaliação para tomarem o poder, claro que para isso eu teria que morrer.
— Quem são? — Perguntei a Sebastian.
— O cara surpresa de dentro do caminhão é fornecedor, disse que
veio junto com a carga, como havíamos previsto — respondeu. — Já o
outro é um subordinado de Escobar, veio a mandado dele receber a
mercadoria, ordenei para alguns dos nossos para ir buscá-lo — informou.
— Vou rasgar aquele filho da puta!
— PORRA! Essa merda só fica pior, quantos por aí são podres bem
embaixo do nosso nariz e não sabemos? — Indaguei furioso ao saber que
um dos homens que era não somente da organização, mas também da minha
área, estava envolvido em toda aquela merda.
Escobar era um dos meus, não diria de confiança, mas sendo
sincero, eu não esperava, não ali tão perto!
Não! Isso não! Se ele sabia de alguma coisa, com certeza teve seus
motivos para ainda não ter me contado, tiraria isso a limpo, mas não ali.
— Você vai me dizer agora do que está falando! — Sebastian
exigiu, indo a mesa de ferramentas e pegando um alicate,
— Não precisa dos seus dentes para falar, então vamos tirar alguns e
deixar sua boca mais leve para soltar o que precisamos.
— Ahaaaa — Escobar grunhiu enquanto Sebastian arrancava seus
dentes.
— Por que não perguntam para ele? — Disse com a boca cheia de
sangue, quando Sebastian o largou. — Ele sabe do que estou falando, sabe o
motivo de termos sabotado seu carro, no dia em que sua irmãzinha morreu
— provocou, sorrindo jogando a cabeça para trás.
Aquela informação me levou ao inferno, ele tinha participado da
sabotagem onde levou minha irmã a morte!
Meu sangue fervia, o ódio e fúria exalavam de meus poros,
gladiando em meu peito, fazendo todo meu corpo sacudir em convulsões.
Seja o que fosse, eu não acreditava que Victor seria um traidor. Isso
era impossível, confiava minha vida ao meu irmão.
— Que porra foi essa? — Questionou Sebastian ao meu lado, tão
confuso quanto eu.
— Não faço ideia, mas vou descobrir! — Respondi frustrado.
— Você acha que Victor ...? — Indagou a mesma pergunta que
soava em minha cabeça.
— Não — neguei com veracidade. — Victor nunca nos trairia —
afirmei.
— Você tem razão, Victor não seria capaz. — Ele também parecia
certo disso.
Depois do dia infernal que eu havia tido, eu só queria voltar para
Sicília onde Camile estava me esperando e sentir seu cheiro.
Cheguei na mansão já era muito tarde, Camile já dormia e parecia
um anjo. Seus cabelos cacheados jogados pelo travesseiro, sua pele banhada
pela luz da lua que entrava pela porta da varanda de seu quarto, iluminando
sua pele morena, que parecia tão aveludada e macia.
Me abaixei na beirada da cama para sentir melhor seu cheiro,
apreciando sua essência, aspirando fundo, sentindo seu aroma delicioso,
que passará ser meu calmante natural, me fazendo esquecer todas as merdas
que eu tinha para lidar e me concentrar somente ali, naquele momento.
Acariciei de leve seu rosto perfeito com os nós dos dedos, fazendo
um carinho suave.
— Está atrasado! — Escutei sua voz sonolenta dizer calmante. —
Perdeu um ótimo escondido de carne seca — falou, parecendo chateada.
Capítulo 25
Cheguei à dedução que não, ele parecia bem, podia ser de Victor, já
que ele disse que o irmão tinha sofrido um acidente.
Ele foi em direção ao banheiro e eu fiquei ali pensando o que
poderia estar afligido Alex, já que alegava que o irmão estava bem. Fiquei
imersa em meus pensamentos, que não me dei conta quando ele se deitou
ao meu lado. Entrou embaixo da coberta e se agarrou a mim, pressionando
seu corpo ao meu.
— Estava com saudades do seu cheiro — admitiu, enfiando o nariz
em meus cabelos.
— Também senti muito sua falta hoje.
Era estranho admitir aquilo, mas era a verdade, o dia longe de Alex
tinha sido sem graça, entediante, e eu me convencia que era somente pelo
fato de não ter nenhuma companhia decente.
Ele suspirou, parecendo frustrado, talvez chateado com alguma
coisa.
— Quer conversar? — Perguntei virando e olhando em seus olhos
que parecia cansados.
— Não, só quero ficar aqui — respondeu. — Pode ser? —
Perguntou como se eu tivesse alguma intenção de tirá-lo de minha cama.
— Deite-se aqui — indiquei meu peito e ele obedeceu sem
pestanejar, aconchegando a cabeça neles como se fossem o seu melhor
travesseiro.
— Que surpresa?
— Está esperando por você, tenho certeza de que você vai gostar —
afirmou.
Fiquei muito curiosa e animada, jamais teria imaginado.
Quando chegamos na mansão, que entrei na sala, uma cabeleira
loira e olhos azuis cor do céu se viraram para mim e correu em minha
direção, como um trem desgovernado, gritando e chorando ao mesmo
tempo.
Jeniffer se jogou em meus braços me derrubando no chão, me
sufocando com seu abraço. Não me importei, não podia acreditar que minha
amiga estava ali. Só queria abraçá-la e beijá-la, mesmo sem entender nada.
Parecia um sonho Jeniffer estar ali comigo, meu coração parecia que
iria explodir de tanta felicidade. Tentava me controlar, mas a emoção de
poder ver Jeniffer depois de tanto tempo era enorme, e minhas lágrimas se
despencaram de meus olhos.
— Surpresa! — Escutei Victor falar.
— Jeniffer! Minha gatinha — eu falava aos prantos, passando as
mãos em seu rosto, mal acreditando que ela estava realmente ali.
— Ai, meu Deus! Eu... não estava acreditando nele. Eles chegaram
e depois veio os outros e ele matou um dos homens. Achei que fosse
mentira e que eles queriam me levar, fiquei com tanto medo e aí os dias se
passaram... — ela falava coisas incoerentes desesperada.
— Jeniffer! Jeniffer! Se acalma querida, quem te levou? Não
acreditou em que? Está me deixando confusa — me levantei e ajudei ela a
se levantar também.
— Victor! Ele disse que você estava viva, que me levaria até você
—respondeu mais calma, olhando para os irmãos. — Não estava
acreditando, já fazia um mês que disseram que você tinha morrido na
explosão da camionete.
— Que explosão?! — Indaguei, olhando para os irmãos que até
agora só observavam a cena. Me lembrava de ouvir uma explosão, mas
nunca havia associado uma coisa a outra.
— Era sobre isso que eu e Victor conversávamos no telefone — me
lembrou da conversa que eu tinha ouvido — Não falei antes, porque você
iria ficar furiosa e iria querer vir embora no mesmo instante — revelou.
Eu não sabia como explicar quão patética eu estava me sentindo
naquele exato momento. Fiquei brava e com ciúmes, achando que se tratava
de outra mulher, enquanto eles falavam de mim mesma.
Ainda estava furiosa por ele não ter me contado sobre Jeniffer,
minha amiga tinha passado por tudo aquilo e eu curtindo minha lua de mel.
Agora tinha problemas muito maiores para resolver, era hora de
encarar a verdade que Victor tinha para nos revelar, e algo me dizia que as
coisas seriam piores do que eu podia imaginar.
—Vamos! — Chamei Victor e Sebastian para o escritório, assim
que as duas subiram para o quarto.
Entrei no escritório e fui direto ao bar, enchendo copos para nós três
com uma forte vodca, algo me dizia que íamos precisar, entreguei a cada
um o seu.
Victor bebeu o dele de uma vez e tomou a garrafa da minha mão
enchendo novamente o copo, repetindo a dose, e voltando a enchê-lo
novamente.
Aquilo era um sinal claro de que o que tinha para falar não seria
nada bonito.
Eu e Sebastian aguardávamos apreensivos que ele iniciasse.
— Quando eu estava acabando a iniciação — começou pesaroso —
Sebastian estava começando a dele, vocês se lembram? — Victor começou
perguntando e ambos assentimos.
Ele estava nervoso, se escorava na mesa do escritório observando o
líquido em seu copo de forma hipnótica.
— Não ficávamos juntos, eles nunca iriam permitir tal coisa,
ficávamos em alojamento separados — continuou bebendo sua vodka. —
Em uma madrugada fui convocado e levado a enfermeira. De início não
entendi o motivo já que não estava machucado... — ele disse se recordando
— Me levaram a uma das salas e foi então eu vi Sebastian... — Eu e Victor
olhávamos para Sebastian, esperando que ele se pronunciasse, mas não o
fez.
Sebastian parecia voltar em algum ponto no passado, o olhar vazio e
sem expressão, banhava seu rosto de dor, não dor física, algo mais
profundo, algo que somente ele sabia
— Sebastian estava quebrado — Victor murmurou, voltando nossa
atenção a ele — com aparelhos por todos os lados, os soldados que me
acompanharam até lá, me mostraram sua ficha.
Victor se virou de costas para nós, apoiando com os punhos na mesa
do escritório, baixou sua cabeça, como se carregasse o peso do mundo,
escondendo sua dor ao narrar os fatos.
— Duas costelas, braços e pernas quebradas, dedos das mãos
também. Ombro deslocado — ele narrava com os dentes trincados — entre
muitas contusões e cortes. Ele estava desacordo pelos medicamentos, eu
acho... ou em coma, não sei dizer.
Um deles me disse:
—Você sabia que seu irmão é uma bichinha? Talvez devamos dar a
ele o que ele gosta nesses anos em que ele estiver aqui, o que você acha?
— Aliás, se fizéssemos isso agora, amanhã aposto que ele nem irá
perceber. Disse outro enquanto ria — narrou o que os caras disseram.
— Por que não confiou na gente? Por que não nos procurou? Pediu
nossa ajuda? Juntos poderíamos ter feito algo — bradei ofendido, passando
as mãos por meus cabelos de forma impaciente, por meu irmão não ter
confiado em mim.
— Para que? Você também não passava de um garoto na época! —
Argumentou.
Isso era verdade, eu era mais velho, mas ainda assim era só um
menino, sem voz alguma na organização.
— E depois eu não ia envolver vocês dois nessa merda! Não ia
colocá-los na mesma situação que eu, vocês também seriam acusados de
traição se soubessem — declarou.
— Sabe o que fariam com Sebastian se eu desse com a língua nos
dentes? — Perguntou irritado.
— Se não que falar sobre o assunto tudo bem! Não vou mais insistir,
mas saiba que estarei aqui caso queira conversar, está bom. — Afirmei,
dando um forte abraço em minha amiga.
Depois do episódio no escritório, subi para ficar com Jeniffer, que
chorava copiosamente, conversei com Alex e combinamos que ela ficaria
ali conosco na mansão, e que no dia seguinte iríamos ao shopping, já que
assim como eu, minha amiga teve que sair fugida do Brasil, sem muitas
coisas.
Victor havia providenciado algumas roupas para ela, porém queria
levar Jeniffer para se distrair e tirar o que a estava perturbando da cabeça,
visto que Alex havia prometido que poderíamos ir para qualquer lugar
depois que voltasse da lua de mel.
— Amanhã nós vamos ao shopping — avisei. — Vou chamar
Sienna para ir com a gente, você vai gostar dela, vai se sentir muito melhor
e esquecer o idiota do Victor! — Declarei.
Ela me deu um sorriso fraco, tentando se animar.
Cristian
“ Chefe, Camile, Sienna e Jeniffer estão no shopping, estamos
fazendo sua segurança ”
. Mas que merda! Não acredito que elas tiveram coragem de ir
sozinhas, não, Cristian não as levaria se estivessem.
Alex
“ Quem está com elas ”
Ela parecia furiosa, por quê? Será que eu tinha atrapalhado alguma
coisa?
Tal pensamento me fez querer matá-lo ali mesmo.
— Está bem! — Falou furiosa, e se virou para o ex. — André, foi
um prazer revê-lo, — Disse se despedindo.
— O prazer foi meu — Ele respondeu indo em sua direção para
abraçá-la novamente.
— Nunca mais pegará nada em sua vida, se encostar em minha
mulher novamente — falei em seu ouvido, atravessando seu caminho e o
impedindo de se aproximara de Camile
Todos saíram em silêncio até o estacionamento.
— Você vem comigo — informei, direcionando ao meu carro, onde
o motorista já esperava.
— Eu vim com Sebastian e posso muito bem voltar com ele —
desafiou.
— Camile, entre logo no maldito carro! — Ordenei irritado. Ela
estava a ponto de protestar, quando Jeniffer segurou seu braço e disse:
— Pode ir Camile, nós ficaremos bem! — Informou.
— Sienna, pode ficar fazendo companhia a ela até que eu volte? —
Pediu.
— Pode deixar, não vou sair do lado dela — assegurou.
— Obrigada!
Deu um olhar meigo a amiga e entrou no carro quase que como um
furacão.
—Sério? Foi um prazer revê-lo? Esse não é seu ex? — Perguntei
furioso, assim que entramos no carro.
—Você não conhece André, não sabe nada sobre nossa história, ele
me traiu sim! — Ela gritava alterada. — Mas não é muito diferente do que
está acontecendo aqui — falou indicando nós dois — ou é Alex? —
Acusou.
Parecia uma pergunta, no entanto ela não queria uma resposta.
— Camile.... — Tentei dizer que não havia ficado com nenhuma
outra mulher, e que só ela me interessava.
— A única diferença é que com ele eu tinha liberdade, quando tudo
acabar eu farei de tudo para ir embora Alex, então você estará livre de mim
— declarou, cravando uma última adaga em meu coração que até agora
achava que estava morto.
— Pare o carro — ordenei ao motorista. — Leve a Srta. Camile até
a mansão.
Cristian avisou Lian que ele poderia voltar a mansão se quisesse, pois iria
me acompanhar andando.
Começamos a andar de volta a mansão sem muita pressa.
— Está realmente bem? — Perguntou novamente.
— Sim, só estou muito cansada! — Afirmei, mas ele pareceu não
acreditar.
— Por causa do que aconteceu no shopping?
— Como você ... — eu ia perguntar como ele sabia.
— Nunca subestime as fofocas dos empregados — Brincou.
— Bom, então você já sabe de toda a discussão?
— Acho que não tem quem não saiba, Alex nunca foi de agir dessa
maneira, então estão todos surpresos — esclareceu.
— Como assim? — Quis saber.
— Alex saiu no meio de uma reunião importante com alguns
membros do conselho para ir naquele shopping — informou me deixando
surpresa.
— Bom, ele não precisava, nós só tínhamos ido comprar algumas
roupas, não era como se eu estivesse sofrendo um atentado.
— Me tire uma dúvida, não precisa responder se não quiser —
esclareceu. — Você ainda ama esse tal de André?
Sua dedução infundada me fez rir, porque ele não poderia estar mais
enganado.
— Qual é a graça? — Perguntou intrigado.
— É isso que todos estão pensando? Que eu briguei com Alex
porque amo André? — Perguntei sem acreditar.
— Todos eu não sei, mas Alex com certeza sim.
Aquela dedução me deixou pasma.
Então ele achava que eu amava André? Bom, se eu amasse também
ele não deveria ligar, afinal ficava saindo com outras — pensei.
— Eu nunca amei André — admiti, deixando-o confuso. — André
foi um grande amigo — suspirei cansada — um que eu prezo até hoje, uma
pessoa importante na minha vida. Com ele eu me sentia bem, mas nunca foi
amor. Eu não o culpo pela traição — declarei.
— O que você faria se amasse uma pessoa, mas essa pessoa mesmo
estando ao seu lado estivesse a quilômetros de distância? E nunca deixasse
você se aproximar? — Perguntei.
Percebi que Cristian já havia vivido algo parecido, pois seu olhar se
entristeceu.
Será que ele amou alguém que o distanciou ou será que foi ao
contrário?
— Foi isso que aconteceu? — Quis saber.
— Sim! Ele sempre foi maravilhoso comigo, um amigo que eu
nunca tive igual, eu não o amava então fui me distanciando dele, queria que
ele notasse e me abandonasse. Então apareceu essa moça, e bom, você já
deve saber o restante — afirmei, omitindo o outro lado da história.
Já estávamos próximo a mansão, conseguíamos vê-la de longe.
— E por que você não explica isso para Alex? — Quis saber.
Ouvir ela defender André e dizer que iria embora quando tudo
terminasse, foi dilacerante e só confirmou minhas suspeitas. Camile iria
embora, me deixaria na primeira oportunidade e quando descobrisse que
Pietro havia sido morto por minha causa ela nunca mais voltaria eu nunca
mais a conquistaria novamente.
E aquilo doía, doía tanto que me fazia querer me embriagar
novamente só para anestesiar aquela dor maldita que tomava todo meu
peito.
Mas apesar de tudo, o que mais me machucava era saber que ela
ainda amava André, se eu tinha alguma dúvida sobre isso ela se foi naquele
dia.
Então eu a deixaria ir, se era o que ela queria então eu faria, por ela,
nem que eu tivesse que enfrentar todo conselho, não iria prender Camile em
uma vida de infelicidade ao meu lado.
Naquela manhã voltei para a mansão decidido a conversar com ela,
dizer que se ela estava livre para ir, ir para onde quisesse, com o tal do
André ou para qualquer outro lugar.
Jeniffer havia decidido que seguiria sua vida ali na Itália junto
comigo, então ela alugou um apartamento na cidade, e arrumou um trabalho
em um restaurante onde os donos eram brasileiros, como ela não falava
italiano ficava cuidando do financeiro.
Também fez a transferência da sua faculdade para um curso online,
pois seria complicado ela continuar o curso na Itália.
Minha amiga estava totalmente mudada, e eu ficava superfeliz por
ela, havia decidido esquecer Victor e seguir sua vida.
Mille
Mille
“Seria ótimo!!”
Não demorou e Jeniffer estava comigo, Sienna e Grazi, com sua
filhinha linda Isy, também vieram ficar com a gente. Passamos o dia juntas,
assistimos filmes e comendo muitas besteiras.
O que me fez distrair um pouco, mas ainda assim me pegava de vez
em quando pensando em Alex, no entanto forçava minha cabeça para
pensar em outras coisas.
No final da noite todas as meninas foram embora e eu voltei a ficar
sozinha naquela mansão gigantesca, agora nem com Cristian eu estava
falando.
Talvez ele tenha ficado bravo comigo? Afinal o coitado apanhou de
graça, por minha causa — pensei.
Tomei um banho e me deitei. Peguei meu Kindle e fui ler para
ocupar minha mente, talvez um bom livro me fizesse esquecer um pouco
toda aquela confusão.
Era tarde, estava tão concentrada, que nem percebi quando Alex
entrou.
— Não deveria estar dormindo? — Perguntou, me assustando.
— Meu Deus! Quer parar de ficar me assustando assim.
Mas, eu ainda estava machucada por ele ter saído com outras
mulheres, eu seria capaz de perdoar tal coisa?
— Por favor minha linda, diz que não vai embora, que não vai me
abandonar — pediu.
Aquelas palavras quase me fizeram chorar de emoção, minha deusa
interior dava cambalhotas, e batia palmas de felicidade.
— Eu não vou a lugar nenhum Alex... — falei apesar de feliz com
suas palavras, confusa. — Onde achava que eu iria? — Perguntei,
levantando meu corpo para poder encará-lo melhor, tentado entender.
— Você disse que quando tudo acabasse iria embora — esclareceu
— e tem aquele cara que parece...
— Porque você saiu com outras mulheres e aquilo me doeu Alex —
confessei — por mais que não goste de admitir me doeu muito, como
nunca. Eu sei que foi eu que te disse que você poderia ficar com quem você
quisesse, mas isso foi antes da gente ter alguma coisa — revelei. — E
André me traiu sim, todavia eu não o amava, nunca o amei. Então quando
aconteceu eu não senti nada, com você foi diferente, te ver chegar
cheirando perfume barato me destruiu Alex — revelei com a voz já
embargada pelo choro que ameaçava derramar.
Falei toda a verdade, sem me esconder mais, pois não poderia omitir
o que eu sentia por aquele homem, agora entendia o que ele dizia com me
deixe entrar. Ele queria a verdade e eu não esconderia mais, não importava
se ele sentia ou não o mesmo, eu não seria mais covarde com meus
sentimentos.
— Eu nunca fiquei com nenhuma outra mulher depois de me casar
com você Camile, eu juro — segurou meu rosto para olhar para ele. —
Nem se eu quisesse não conseguiria, meu corpo e meu coração só
pertencem a você.
Meu coração falhou algumas batidas pela declaração, e uma lágrima
de felicidade caiu, e Alex se apressou em capturá-la com uma carícia.
— Naquele dia, fiquei tão transtornado com a ideia de perder você,
com medo de que você poderia ir embora depois de tudo, que acabei sim,
ligando para Rebeca, só que não tirava você da cabeça, então acabei
largando-a lá. — Admitiu. — Me perdoe, fui idiota com você todo esse
tempo, me deixei levar pelo meu ciúme.
Ciúmes? Ele estava admitindo que sentia ciúmes de mim?
Eu não sabia se estava feliz ou brava em saber que realmente ele
esteve com Rebeca.
— Por que você achou que eu fosse embora? Quer dizer no dia do
shopping eu entendo, todavia naquele dia estávamos bem! — Perguntei
confusa.
— Estamos próximos de pegar os organizadores de toda essa sujeira
e você tinha me feito prometer que quando tudo acabasse eu ia fazer de
tudo para te deixar ir.
Beijos.
Se Pietro não tivesse matado aquele verme ele teria feito o mesmo
comigo, e depois venderia a gente feito gado.
Uma nova onda de náusea ameaçou vir novamente, no entanto não
tinha mais nada no estômago que pudesse colocar para fora.
Repulsa, nojo, asco, não tinha sinônimos o suficiente para descrever
o sentimento que me atingia ao descobrir tudo aquilo.
— Pietro entrou na organização, pensando ser Kleber o mandante —
ele continuou, me fazendo encará-lo de forma assassina. — Ele queria
derrubar Kleber, queria matar meu irmão por pensar que ele era o chefe de
Carlos.
Porra, era para ter sido eu, eu deveria ter morrido aquele dia, não
Pietro.
Eu sabia que tudo aquilo era coincidência demais, todavia eu não
podia deixar minha mulher lá.
— Ainda assim nós iremos. — Declarei.
— Temos que bolar um plano. Não podemos entrar assim as cegas.
— Sebastian argumento, parecendo já ter pensado em algo.
— Você tem um? — Perguntei.
— Eles querem você, isso está na cara, ou já teriam ligado para
pedir regate ou fazer a troca. Então, você vai dar as caras junto com Victor,
eu vou com dez homens pelos fundos e Cristian vai estar nesta torre —
mostrou em uma foto no notebook. — De lá ele terá visão de tudo, nos
passará toda a situação, nos dando cobertura com a sua M24.
Victor era nosso estrategista, mas Sebastian também era ótimo, além
de um ótimo executor.
— Vamos usar a estratégia deles contra eles — Victor finalizou.
No local, Cristian foi direto para torre, abatendo um dos seguranças
que fazia vigia e já esperava por nós, exatamente como havíamos previsto.
Paramos há uma certa distância, estudando o local. Sebastian pegou
dez homens e deram a volta. Nós nos comunicaríamos por escutas. Victor, e
eu com mais oito homens fomos pela frente, contudo eu acreditava que eles
tinham muito mais soldados escondidos.
— Estou vendo-a! — Escutei Cristian falar pelo ponto — ela está
amarrada em uma cadeira, mas parece bem. — Eles já notaram nossa
presença — informou — tem movimentação. Mais ou menos uns vinte
homens — Cristian contou.
Como eu suspeitava, e esses era só os que Cristian podia ver
— Eles estão posicionados. Só estão aguardando vocês entrarem
pela porta — alertou.
Paramos os carros na frente da fábrica e descemos, havia apenas um
homem nós aguardamos do lado de fora.
— O chefe está esperando vocês — disse um homem de uns vinte e
cinco anos.
— Quero saber onde está minha mulher?! — Exigi friamente,
tentando apresentar uma tranquilidade que não existia, pois minha vontade
era de arrancar as tripas daquele desgraçado com as minhas mãos.
Sabia que ele não responderia, aliás provavelmente nem tinha
autorização para falar.
— Isso você vai resolver com o chefe.
— Estão esperando vocês, assim que colorarem os pés para dentro
vão ser fuzilados — Cristian nos avisou.
— Minha deixa — escutamos Sebastian dizer animado, como uma
criança no playground.
Uma explosão pequena aconteceu e tiros soaram e antes que o cara
pudesse reagir Victor já tinha metido uma bala em sua cabeça.
Todos corremos, entramos e tudo estava uma zona, era tiro para todo
lado.
— Alguém está vendo ela?! — Gritei, entre a confusão de tiros,
temia que algo acontecesse a Camile, não iria me perdoar caso ela saísse
ferida.
— Está sendo levada pela saída lateral. Não tenho uma boa visão,
para agir — ouvi Sebastian.
Enquanto eu corria para tentar alcançá-la.
Capítulo 35
Dois tiros foram disparados e Alex caiu aos meus pés. Senti as
batidas do meu coração falharem, podia ouvir o som fraco de minhas
batidas, soando em meu ouvido em uma pressão ensurdecedora.
Sebastian e Victor apareceram em seguida. O irmão de Kleber fugiu
e Victor foi em sua perseguição, deixando Sebastian comigo e o irmão
sangrando.
Sebastian me desamarrou e tirou minha mordaça me libertando.
Eu olhava Alex deitado no chão sem nenhuma reação, meu coração
socava meu tórax e meu ouvido zumbia, não escutava nada ao meu redor
somente minha própria voz implorando e meu coração socando o peito.
— Alex... Alex... Não, não... Por favor... Acorde! — Eu tentava
dizer com as mãos tentando estancar o sangue que escorria.
— Eu sinto muito Camile... Isso foi tudo culpa minha! Não era para
ter sido Pietro a morrer aquele dia Camile, eles queriam a mim. Se não
tivesse ido... Se tivesse escutado, obedecido meu Capo — seu
arrependimento era palpável.
— Não teria adiantado de nada! — Declarei. — Nero contou tudo
Alex, disse que aquilo foi só uma armação para pegar Pietro e não você, e
se não fosse ali seria em outro lugar se não fosse você, seria eu ou Sebastian
ou qualquer outro.
— Nero que fez aquilo? Tudo para pegar Pietro? Em troca de quê?
— Também preciso te contar muitas coisas, coisas que eu gostaria
de nunca ter que me lembrar, que trazem muita dor, mas que preciso contar
para esclarecer certos pontos.
De onde eu estava pude ver Alex apertar a campainha da pequena e
simples casa e aguardar até que ela apareceu para lhe atender, meu peito se
apertou e meus olhos se encheram de lagrimas embaçando a imagem de
minha mãe.
Claro que tivemos que inventar uma desculpa por Camile ter ficado
tanto tempo sem se comunicar, então inventamos a história de que no dia do
suposto acidente com a caminhonete, Camile havia perdido a memória e
que por este motivo não pode entrar em contato antes, mas que agora estava
com sua memória restabelecida e queria se encontrar com todos. Um tanto
dramática, eu sei, mas foi a única maneira que encontramos para que
ninguém ficasse sabendo do que realmente aconteceu, exceto Jeniffer, que
acabara sendo envolvida.
Poder ver a felicidade de Camile ao reencontrar a mãe e seus
amigos, era algo que fazia tudo valer a pena.
Providenciei transporte para todos que agora estavam ali reunidos,
esperando a entrada da minha linda mulher.
Como na primeira vez, Camile optou por um vestido simples sem
calda. Seus cabelos dessa vez estavam presos em uma longa trança
enfeitada com flores silvestres, novamente minha pequena quis entrar
descalça sentindo a areia da praia em seus pés, e eu desta vez a acompanhei,
também ficando com os pés no chão.
Tudo era parecido com o que foi organizado em Florença, com
exceção de sua família que desta vez estavam todos ao seu lado.
— Não vai entrar? — Perguntei a Camile que estava deitada
tomando sol na espreguiçadeira, beirando a piscina do hotel.
— Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim Alex, mas
adoraria te mostrar algumas delas no quarto, o que acha?
— Adoraria! — Peguei-a no colo, ouvindo sua risada gostosa
contagiar meu corpo levando em direção ao nosso quarto de hotel.
Não me cansaria nunca de ver aquela mulher sorrir, Camile tinha o
sorriso mais lindo que eu já tinha visto na vida, e fazer ela sorrir era meu
objetivo de vida.
— Que tal tomar um banho, enquanto lhe preparo uma surpresinha?
— Uma surpresa é? Que tipo de surpresa?
— Não seria uma se eu lhe contasse, não é mesmo? Entre e só saia
quando eu chamar — pediu, me enfiando no banheiro, ainda com aquele
sorriso que me encantava.
Entrei no banheiro, ansioso para saber o que Camile estava
aprontando, tomei um longo banho e saí bem a tempo de escutá-la.
— Pode sair! — Escutei ela falar depois de alguns minutos.
Quando saí do banheiro, minha boca foi ao chão.
A endiabrada se sentava em uma das banquetas que tinha no quarto,
com uma camisa social minha entre aberta, com uma gravata com o nó
solto, seus cabelos soltos meio bagunçados, usava um óculo de forma
sensual e mordia a porra de uma caneta como se fosse meu pau em sua
deliciosa boca. Sua outra mão pousava entre as pernas nuas, empinando seu
traseiro na banqueta fazendo meu pau ganhar vida instantaneamente,
mostrando sua delicada calcinha de renda.
Se eu já vi cena mais sexy não conseguia me lembrar, pois a única
coisa que via era aquela mulher sensualizando, com aquela maldita caneta
na boca.
— Vai ficar só olhando? Será que vou ter que começar sozinha? —
insinuou passando a mão em sua intimidade, fazendo meu pau pulsar.
Corri até ela enlaçando sua cintura com um braço, enquanto com a
outra mão puxava seus cabelos deixando sua boca a minha disposição de
maneira desesperada.
5 anos depois...
Fim.
Agradecimentos
Queria agradecer a todos meus leitores lá no wattpad que sempre me
deram apoio, com muitos comentários positivos e me ajudaram alcançar
375 mil visualizações.
Um agradecimento especial os meus amigos e familiares que me
aguentam 24 horas falando de livros.
Espero sinceramente que tenham gostado da história e dizer que
muito em breve teremos o livrinho do Victor disponível aqui também.
Me sigam no Instagram para receber as novidades
@ ericaqueirosautora
[1]
felicidade.
[2]
A rede
[3]
Irmão
[4]
Porra! Como a acharam tão rápido?
não! Vamos para lá agora mesmo. Ela não pode mais ficar aqui.
[5]