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Copyright© Erica Queiros
Todos os direitos reservados
Diagramação/Auérica macie‫׀‬

Betagem/@rayinsbook
Capa/Vic_designer_
 
É proibida a reprodução total ao parcial desta obra de qualquer forma
ou quaisquer meios eletrônicos, mecânicos e processo xerográfico, sem a
permissão da autora (Lei9.610/98)
 
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, lugares, e acontecimentos
descritos na obra são produto da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes acontecimentos reais é mera coincidências.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oi, se você gosta de ler ouvindo uma boa musiquinha, eu
preparei uma lista de reprodução especial para você, cada uma foi
escolhida a dedo para uma cena importante do livro, então espero
que goste.
 
Ela está disponível no Spotify como Deixe-me entrar.
 
 
 
 
 
 

Dedicatória
Nota da Autora

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9.
Capítulo 10
Capítulo 11.

Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21

Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Epílogo
Agradecimentos
 
 
 
 
 
 
Camile é uma mulher forte, determinada e batalhadora, que nunca
acreditou no amor verdadeiro, marcada por traumas de seu passado e pelo
desaparecimento do irmão mais velho, vê seu mundo virar de cabeça para
baixo quando Alex um mafioso frio e impiedoso, quebrado e moldado pelas
mãos pesadas de sua organização entra em sua vida.
Unidos por um acordo que ambos se veem obrigados a aceitar, abraçam
seus destinos dispostos a desempenhar seus papéis, nesse teatro que a vida
lhes impôs.
No entanto, o inesperado acontece e eles acabam enxergando um no outro
mais do que gostariam.
Descobrem um no outro mais do que precisavam.
Encontram um no outro o que não procuravam.
Seus mundos começam a ter outro significado e talvez as barreiras que
levantaram não seja o suficiente para mantê-los afastados.
 
Dedicatória
 
 
Dedico este livro a todas as Camiles e Pietros
da vida real.
Que em algum momento possam encontrar um
Alex, em forma de amigos, namorado, marido ou
psicólogo não importa qual a forma que seu anjo
tenha, mas que neles vocês descubram que o amor é
capaz de curar feridas.
Nota da Autora
 

Esse é um romance hot que tem como plano de fundo a máfia italiana, mas se você espera
encontrar romantização de abuso e relacionamento toxico, este livro Não correspondera suas
expectativas.
O livro é focado no casal e em superação de alguns traumas.

A história a seguir pode conter gatinhos emocionais e temáticas delicadas como uso de
álcool, drogas, abuso físico e verbal, violência, tortura, linguagem impropria e conteúdo
sexual.
A autora não compactua e nem apoia as ações ilegais e
comportamento de alguns dos personagens retratados nesta obra.
Não leia se não se sentir confortável .
 
Capítulo 1
Camile. 5 anos de idade.
 
CAPÍTULO COM GATILHOS EMOCIONAIS
Mal conseguia enxergar através da lagoa de lágrimas que se
represava meus olhos. As imagens desfocadas pelo choro que não paravam
de correr descontrolado, mas não precisava enxergar para saber o que
acontecia.
Ainda podia sentir seus toques, seu cheiro e aquele terror que
dominava meu corpo.
Ele não era bruto ou violento, ao contrário, seu toque era suave e
delicado. Sua voz melosa era como um consolo tentando reparar o que
estava prestes a fazer. Ainda assim, por algum motivo o pavor predominava
meus sentidos. Soluços escapavam de meu peito enquanto eu tentava afastar
suas mãos de meu corpo.
— Ei! Não, chore criança — ele cantarolou como se estivesse tudo
bem, mas não estava — não vou te machucar. Vou cuidar bem de você —
fez uma promessa vaga que estava tão longe da verdade quanto eu creditar.
Suas mãos entravam por baixo do tecido fino de meu vestido e
tocava minha intimidade por cima da calcinha, me causando arrepios
tenebrosos. Ainda que não tivesse a compreensão necessária para entender
o que se passava, meus sentidos gritavam que algo estava errado.
Minha mente estava confusa e eu não sabia explicar como
exatamente havíamos chegado naquela situação. Tentava inutilmente buscar
resposta no olhar de meu irmão, mas aquilo só me dava mais certeza de que
nada daquilo era certo, e que não, eu não ficaria nada bem.

Pietro, meu irmão mais velho, se encontrava sentado no chão


vermelho de piso queimado, com as costas apoiada na geladeira azul, que
era no mesmo tom da nossa mesa, onde eu me encontrava. Ele abraçava as
próprias pernas escondendo seu rosto entre elas, deixando somente os olhos
à vista, mas podia vê-lo travar seus grandes olhos verdes de vez em quando.
Como se tentasse apagar aquela cena ou como se tentasse acordar de um
pesadelo, seu corpo tremia tanto ou até mais que o meu. Apesar de tudo, ele
não chorava, apenas observava atônito, paralisado pelo medo.
Meu irmão era cinco anos mais velho e sempre cuidou de mim,
enquanto nossa mãe e nosso papai trabalhavam duro para levar à mesa o
sustento para dentro de casa.
Minha mãe costumava nos deixar com minha vó. Ela tomava conta
de nós, no entanto, ela já era de uma idade avançada e andava muito doente.
Então, nos últimos dias ficávamos em casa sozinhos, já que era férias
escolar.
Carlos era nosso vizinho mais próximo. Tinha por volta de uns 35
anos, um homem negro, grade e forte, de olhos negros e cabelos escuros.
Morávamos em um bairro tranquilo na pequena cidadezinha de
Delfinópolis, em Minas Gerais. Nossa casa era simples, em um terreno
extenso, com um grande quintal, onde passávamos a maior parte do tempo
brincando ou brigando, não saberia dizer o que fazíamos mais.
A vida simples que levávamos não era um problema, não para nós
dois pelo menos, tudo era maravilhoso. Não precisávamos ser ricos ou
termos luxo para que fôssemos felizes. Tínhamos tudo que precisávamos
bem ali.
Carlos era gentil. Sempre que nos visitava levava pequenos mimos,
pirulitos, balas, chocolates. Costumava me chamar de estrelinha.

Um dia, enquanto mamãe estava ocupada com seus afazeres, ele apareceu.
A casa ficava aos fundos do grande terreno. Eu sempre brincava
distraída com panelinhas e xícaras embaixo de um grande pé de abacate,
aproveitando a sombra que ele proporcionava próximo ao portão velho de
madeira, com a tinta branca já desgastada, a alguns metros de distância de
nossa casa.

— Tomando chá da tarde? — Carlos perguntou.


Havia um sorriso malicioso em seus lábios, que eu não sabia
decifrar.
— Sim! Quer uma xícara? — Perguntei levando a mão sobre os
olhos, tentando protegê-los da luz do sol para enxergar direito.
— Adoraria! — Respondeu com entusiasmo.
Fingi encher uma pequena xícara rosa com flores desenhadas e
entreguei a ele, que pegando se sentou no chão, enquanto permaneci de pé,
vendo-o fingir que tomava o líquido imaginário. Nunca fui chegada a
bonecas, mas amava representar.

— Mas você vai ficar em pé? — Perguntou, me fitando com um


brilho estranho no olhar.
— Sente-se aqui, assim poderá tomar seu chá mais confortável. —
Ofereceu indicando seu próprio colo.
Fechei um dos olhos fazendo uma careta, um pouco desconfortável
com o convite, mas ele sempre era tão amável conosco, que não vi maldade
naquele ato, por isso, fiz exatamente o que ele havia indicado.
Olhei ao redor tentando buscar algum motivo para não fazer aquilo,
tentando talvez encontrar uma desculpa qualquer, mas não consegui
encontrar. Então sentei-me em uma de suas pernas meio de lado,
desconfortável, tentando não colocar meu peso todo sobre ela.
Suas mãos entraram entre minhas pernas por baixo do vestido lilás
florido de tecido leve, fingindo me ajeitar um seu colo, porém, a manteve
ali em uma caricia desconfortável. Começou a passar um de seus dedos em
minha intimidade.
— Camile! — Escutei Pietro chamar próximo a nós. Seu tom de voz
era tão alto e ríspido que dei um pulo assustada.
— Entre, agora mesmo! — Ordenou tão frio que eu gelei, tentando
entender o que havia feito de tão errado para que estivesse tão furioso. Até
pensei em questioná-lo, porém não iria desobedecer, não com ele tão
irritado.
Como irmãos, brigávamos o tempo todo por brinquedos, por
ciúmes, implicâncias tolas do dia a dia, afinal, éramos irmãos e não éramos
diferentes de qualquer outro casal de irmão que convivem. Não tínhamos
nada em comum. Na verdade, éramos o oposto um do outro.
Pietro era mais parecido com nosso pai, alto, magro, branco, cabelos
e olhos claros, lindo e que chamava atenção por onde quer que fosse.
Entretanto era sério, quase não gostava de brincar e isso gerava a maior
parte de nossas brigas. Mesmo para uma criança de dez anos, mostrava uma
frieza assustadora até para certos adultos, mas não para mim. Já eu era a
cópia de minha mãe, uma morena de cabelos cacheados e olhos escuros.
Um pouco acima do peso para os meus cinco anos, com bochechas
rechonchudas, mas uma criança muito doce e meiga.
Lembrava-me de quando havia quebrado uma perna, ele sequer
chorou. Eu o admirava e amava, confiava nele em tudo. Pietro sempre foi
meu protetor. Estava sempre ao meu lado.
Porém, ali parecia assustado. Não, talvez não. Apesar da minha
idade, podia enxergar o ódio em seus olhos direcionados a Carlos. Podia ver
que a qualquer momento ele pularia em cima do homem, mas o que ele
poderia fazer? Se tentasse algo, eu acreditava que poderia ser ainda pior.
Provavelmente, acabaria se machucando.
Voltei minha atenção para Carlos, que agora usava os dedos
tentando abrir espaço em minha intimidade, o que me fez tentar me
desvencilhar de seu toque. Entretanto, ele usou sua força para me prender
no lugar.
— Por... favor... — Pedi entre lagrimas e soluços — Eu... não quero
— comecei a tossir, engasgada com o choro descontrolado.

— Shiii... Relaxa! Tudo vai acabar logo — ele dizia, — Você não
quer que seu irmão se machuque, não é mesmo? — Era a primeira vez que
ele usava ameaça para me conter.
Aquilo me apavorou. Prendi a respiração por um instante. Meus
olhos foram para meu irmão e voltaram ao homem à minha frente, me
perguntando se realmente ele falava sério, então, voltei a chorar
copiosamente.
Não posso deixar que ele machuque meu irmão, tenho que suportar
— pensava.
Foi um grande alívio quando senti que ele se afastou. Entretanto
meu alívio não durou. Ele me puxou para a beirada da mesa, rosando algo
quente em minha entrada. Meu coração batia acelerado, minha boca estava
seca e sentia dificuldade em engolir.
Olhei novamente para Pietro vendo-o de pé. Com olhos arregalados,
punhos serrados e dentes trincados, suas veias dilatavam sobre o pescoço e
sua respiração era ofegante.
— Pare! — Bradou Pietro, — Desgraçado, pode matá-la se fizer
isso —me assustei com suas palavras.
Eu iria morrer? Por quê? O que ele pretendia fazer
comigo? Comecei a me debater sem parar, mas não tinha força nenhuma
contra aquele homem. Ele parou e me olhou, parecendo pensar no que
Pietro havia acabado de dizer.
— Bom, talvez você tenha razão — disse por fim. — Então, que tal
você tomar o lugar dela? — Indagou para meu irmão, com um sorriso
diabólico no rosto.
Pietro estava chocado, indignado com sua proposta. Parecia não
acreditar no que acabava de ouvir.
— Você quem sabe? Você ou ela! — Disse dando de ombros, como
se não tivesse dito nada demais.
— Eu...eu vou... — Pietro respondeu quase num sussurro, de cabeça
baixa e eu pude ver uma lágrima cair de seus olhos e molhar o chão bem
próximo aos seus pés.
Meu irmão tinha o temperamento forte. Nunca o tinha visto aceitar
nada do que realmente não quisesse fazer, foram poucas as vezes que o vi se
render a algo. Foi por isso que desconheci meu irmão naquele momento, era
como se tivesse perdido sua essência, partido um pedaço de sua alma ao
pronunciar aquelas pequenas palavras.
Eu vou...
De certa forma uma parte de mim também se foi, mesmo não
entendendo, mesmo tão nova, ela se foi. Foi arrancada ao ver meu irmão
chorar, arrancada ao vê-lo se submeter, partida de uma maneira que jamais
poderia ser curada novamente.
Carlos me colocou sentada na mesa, ajeitando meu vestido no lugar,
com uma tranquilidade inigualável.
— Fique aqui estrelinha, não saia daí e tudo ficará bem.
Foi o que ele disse, se direcionando a um dos quartos da casa,
enquanto Pietro continuava calado de cabeça baixa.
— O que v- vai f- fazer? —  Gaguejei, em um fio de voz.
— Eu e Pietro vamos brincar um pouco, mas seu irmão é egoísta e
não quer que você participe, — Ele disse com um sorriso irônico, que me
fez sentir um nó em minha garganta.
— Está tudo bem Mille — Pietro disse antes de segui-lo, — Vai
ficar tudo bem. — Se forçou a me dar um sorriso.
Mas não, não ficaria tudo bem. Aliás, estava longe de algo estar
realmente bem.
Meu coração disparava angustiado, e eu quis implorar para que
Pietro não fosse. Seja lá o que ele tivesse aceitado, queria gritar para que
não fosse, para que não entrasse naquele quarto. Mas apenas fiquei ali
chorando, como a garotinha assustada que era.
Eles foram em direção ao quarto onde eu e meu irmão dormíamos.
Entraram e Carlos fechou a porta atrás de si, deixando uma pequena fenda
entre aberta.
Me sentia aflita, agoniada de esperar. Não ouvia nada além de
pequenos ruídos indecifráveis. Olhava para a porta e tentava imaginar o que
se passava.
Desci da mesa com cuidado para não fazer barulho ou me machucar
no processo. Caminhei até próximo a porta, pela brecha podia ver Pietro.
E o que vi jamais esqueceria. Seu rosto era totalmente inexpressivo,
ainda assim eu podia enxergá-lo. Seus olhos tristes, a tristeza e a dor que ele
tentava a todo custo disfarçar, seu olhar inerte, perdido em meio ao
sofrimento. E eu soube, soube que aquilo nunca mais sairia de sua mente.

Quando Carlos abriu a porta, eu levei um susto e ele sorriu


satisfeito, passou por mim e disse:
— Brincaremos outro dia, estrelinha. — Parecia uma Promessa.
Uma que eu não gostaria que se cumprisse.
Esperei que meu irmão saísse, esperei que me chamasse, mas nada
aconteceu, então, com cuidado entrei no quarto. Pietro estava sentado no
chão com uma expressão vazia, com seu olhar perdido em algum ponto do
cômodo, sem reação, sem emoção. Não havia nada...
— Pi?! — Chamei, mas não obtive resposta.
— Pi?! Está tudo bem? — Perguntei receosa e uma lágrima correu
por seu rosto.

Meu coração se apertou tão forte que me senti sufocada. Um soluço


assustado escapou de mim e, quando me baixei para abraçá-lo, vi meu
irmão recuar, como se repudiasse meu toque. Então perdi mais um pedaço
de mim.
Ainda assim me sentei ao seu lado e, com cuidado, levei minha mão
a sua, segurando em um único dedo seu. Fiquei ali segurando por alguns
minutos, olhando meu irmão olhar para o nada, até que seu olhar encontrou
o meu e ele pegou em minha mão apertado forte, como se tivesse medo de
que eu fosse escapar a qualquer momento.
Não saberia dizer por quanto tempo ficamos ali, um do lado do
outro, sem dizer uma única palavra se quer, apenas de mãos dadas.
Tempos depois eu o ajudei ir ao banheiro, tirar suas roupas e tomar
um banho.  Notei vestígio de sangue, mas não fiz nenhuma pergunta, não
comentei nada, apenas peguei e coloquei no tanque cheio de água para
limpar.
Quando nossos pais chegaram, estávamos mais calados que o
normal. Apenas dissemos que estávamos cansados e fomos para cama mais
cedo, mas ninguém dormiu aquela noite.
Capítulo 2
2 semanas depois...
Não tocamos no assunto nos dias que se seguiram, com exceção, do
dia seguinte em que meu irmão havia me feito prometer jamais tocar no
assunto novamente, seria o nosso segredo ele disse.
As noites se tornaram mais longas, Pietro não dormia mais direto e
eu podia escutá-lo sussurrando coisas sem sentido, se debatendo com
pesadelos, rangendo os dentes, para no fim acordar assustado, suando com
o corpo tremendo no escuro do quarto.
Apesar dos dias se passarem, nada melhorava seus terrores noturnos,
então passei a ir me deitar com ele nas madrugadas. Passei a velar seu sono
até não suportar mais o cansaço, até as pálpebras pesarem tanto que não
podia mais manter os olhos abertos.
Acordava assustada com seu corpo tremendo, enquanto o suor
brotava de sua testa. Acariciava seus cabelos e sussurrava em seu ouvido
que estava tudo bem, que tudo ficaria bem, até vê-lo se acalmar, para então
voltar a dormir.
Quando o dia amanhecia, Pietro não estava mais. Naquela
madrugada não tinha sido diferente, assim que pegou no sono, começou
seus tormentos e me espremi ao seu lado, em sua pequena cama de solteiro.
Dormíamos no mesmo quarto, não era um quarto muito grande, mas
também não era tão pequeno. Nossas camas ficavam a uma certa distância
uma da outra e se eu fosse sincera, jamais me levantaria no meio da noite
no escuro sozinha, mas eu fazia por ele.
— Shiii, está tudo bem Pi, — Sussurrei espalhando o suor de sua
testa com as mãos. — Pode dormir maninho...

Me agarrei a ele pelo resto da noite e chorei. Pietro não falava sobre
o assunto, não chorava ou me contava o que tinha acontecido e eu também
não perguntava.
Por medo talvez, por respeito, por saber que no fundo aquela dor era
dele e que ele nunca compartilharia mais do que já fazia.
— Camile! — Escutei mamãe chamar. Eu estava tão sonolenta, que
escutava longe sua voz. Mal tinha dormido aquela noite e o sol já clareava o
quarto quando finalmente consegui pegar no sono.
— Camile! — Chamou novamente. — Por que está deitada,
novamente na cama do seu irmão? — Indagou.
Abri meus olhos com dificuldade, me recordando que mais uma vez
Pietro havia tido pesadelos e que eu tinha ido me deitar com ele para ver se
conseguia acalmá-lo.
Mamãe, parada na beirada da cama, esperava minha resposta. Passei
a mão no rosto tentando espalhar o sono, mas ele parecia se recusar a ir
embora.
— Acordei de madrugada e fiquei com medo, então o Pi me deixou
deitar com ele. — Menti para que ela não desconfiasse de nada.
— E para agradecer você mijou na cama dele? — Ironizou puxando
os lençóis molhados, com um sorriso no rosto.
Eu tinha cinco anos, mas já tinha quase três ou quatro que deixará
de mijar na cama. E não me lembrava de se quer ter tido vontade de ir ao
banheiro naquela madrugada.
— Ai, mamãe me desculpa! — Pedi me levantando, indo para o
banheiro, — Estava com muito medo de levantar de madrugada e o mano
estava dormindo, devo ter pegado no sono novamente. — Justifiquei.
— Minha querida, por mim não tem problema, já seu irmão deve
estar uma fera. — Falou apertando meu nariz com o indicador, em um gesto
de carinho.
Entrei no banheiro verificando se realmente tinha feito xixi nas
calças, mas eu sabia bem a resposta daquela pergunta.
Retirei minhas roupas e fui para o chuveiro, molhei mais um pouco
da minha calça, para mamãe não notar que minha roupa ainda continuava
seca.
Quando saí do banheiro, levei minha roupa para o tanque
observando que a roupa do meu irmão já estava ali. Procurei por ele pelo
quintal, mas não vi qualquer vestígio seu.
Desde o dia do ocorrido, ele era o primeiro a se levantar,
desaparecia pela manhã inteira e só voltava próximo ao horário de nossa
mãe ir trabalhar.
Naquele dia, para minha surpresa quando entrei na cozinha para
tomar meu café, Pietro já estava sentado à mesa.

Me sentei na sua frente e ele parecia constrangido. Levantou o olhar


para mim.
— Me desculpe... — começou corando. Não deixei que terminasse.
— Eu que deveria me desculpar por ter feito xixi em você essa
manhã, Pi. — Falei dando risada, para disfarçar. Ele me olhou surpreso, no
entanto, logo compreendeu.
— Está certo mana. Da próxima vez pode me chamar que te levo ao
banheiro, está bem? — Disse dando mais credibilidade a nossa pequena
encenação.
Eu não sabia se aquilo era o certo, esconder aquele segredo de nossa
mãe não me parecia correto, mas seu olhar de alívio também me trazia
conforto e era por essa razão que continuava fingindo que nada tinha
acontecido. Acreditava que se eu fingisse, traria algum conforto a ele, então
era o que eu precisava fazer.
— Esqueçam isso — mamãe pediu, colocando pães e café à mesa.
— Já limpei toda a bagunça e coloquei o colchão para secar. Hoje à noite
estará novo em folha. Mas minha princesa, não precisa ter medo de
levantar-se para ir ao banheiro ou de dormir em sua cama.  — Afirmou.

— Está bem, mamãe — falei pegando um pão para comer. — É que


à noite a casa parece mal-assombrada — justifiquei sem ênfase.
— As únicas assombrações nesta casa são as baratas e lagartixas. —
Declarou, rindo de seu próprio comentário.
— Pois é! E não é uma ótima razão para ter medo? — Mamãe
balançou a cabeça rindo ainda mais.
Mamãe era assim, sempre leve e sorridente. Eu tinha puxado a ela
com olhos e cabelo encaracolados na cor de café e pele morena, em um tom
marrom claro.
— Meus amores, vou trabalhar daqui a pouco. Hoje vocês não vão
para casa da vovó, pois ela mais uma vez não está bem. Mas pedi para
Carlos dar uma olhada em vocês de vez em quando, então, se precisarem de
alguma coisa é só falar com ele.
Meu irmão ficou tenso, tão tenso que achei que tinha virado uma
estátua, mas então, levantou-se e saiu.
— O que deu nele hoje? — Mamãe perguntou.
— Deve estar bravo comigo por ter feito xixi em sua cama —
respondi, mas estava preocupada com Pietro.
Eu e Pietro éramos assim, brigávamos o tempo todo e por tudo, mas
quando precisávamos, faríamos tudo um pelo outro.
Já passava da hora de mamãe ir trabalhar e Pietro não havia voltado,
mamãe já estava preocupada.
— Vou matar Pietro, ele sabe que tenho que ir trabalhar. — Dizia,
porém, notava-se sua preocupação. — Sabe que tem que estar aqui com
você, aposto que está com os amigos na serralheria — meu irmão ia muito
na serralheria, com seus amigos Marcos e Renê para brincar ou conversar,
seja lá o que faziam juntos.
Mais algo me dizia que ele não estava com os amigos.
— Camile! Você está queimando alguma coisa? — Mamãe
perguntou minutos depois. Veio até mim para verificar. — Que cheiro é
esse? — Perguntou, depois de ver que não queimava nada.
— Acho que está vindo lá de fora — falei também curiosa para
saber.
Saímos para fora procurando de onde vinha o cheiro. Havia muita
fumaça, no entanto não vinha de nossa casa. A fumaça vinha da casa ao
lado, da casa de Carlos, que agora subia labaredas de fogo.
— Meu Deus! — Mamãe gritou. — Precisamos chamar a polícia e
os bombeiros — ela parecia aterrorizada. — Fique aqui querida! — Pediu.
— Não saia daqui, nem por um segundo. Mamãe vai na Lilian pegar o
telefone emprestado, é bem rapidinho. — Explicou, saindo.
Lilian era nossa outra vizinha. Uma enfermeira muito amorosa, que
sempre estava nos ajudando.
Saiu correndo em direção ao portão para ir pedir que ligasse para os
bombeiros, visto que não tínhamos telefone.
Pietro entrou pelo portão em seguida, sua expressão era sombria.
Não pareceu se importar com o fogo que subia cada vez mais.
— A casa de Carlos está pegando fogo — informei, como se ele já
não tivesse visto.
— Já vai tarde — murmurou tão baixo que pensei ter escutado
coisas, mas sua expressão dizia que não.
Mamãe não demorou, como havia prometido. Avisou que ficaria em
casa naquele dia. Tinha aproveitado e ligado para sua patroa e explicado o
que estava acontecendo.
Mamãe, Dona Lurdes, como alguns costumava chamá-la, era uma
mulher trabalhadora, dava duro em uma lanchonete de hotel na cidade.
Quando tinha folga, trabalhava de diarista para ajudar ainda mais.
Pedro, meu pai, também não ficava atrás, sempre fazendo uma coisa
aqui e outra ali, tudo que aparecia ele ia fazer. Era um homem distante da
família, quase nunca ficava conosco e quando ficava nunca se aproximava
muito. Na época, ele estava fazendo mais um trabalho fora. Pietro se
parecia com ele em muitos pontos. Era fechado e deixava poucos se
aproximarem de verdade.
O fogo foi apagado e não demorou para a polícia aparecer. Não
fizeram perguntas para mim ou para Pietro, afinal éramos crianças. Só
falaram com mamãe.
— Então?  Você viu se o Sr. Carlos tinha alguma visita ou se alguém
entrou na casa? — Ouvi o policial perguntando.

— Não, Carlos é casado, mas sua mulher está viajando pelo que sei,
por quê? Ele está bem? Não, me diga que... – ela não terminou de perguntar.
A resposta estava estampada na cara do jovem rapaz que vestia uma farda
preta.
— Pelo que tudo indica, sim! Os indícios indicam que o incêndio foi
criminoso. E que Carlos estava dentro da casa, mas não consegui sair ou foi
impedido. Ainda não temos todas as informações ao certo. — Informou o
policial em voz baixa, olhando em nossa direção para certificar de que não
prestávamos atenção a conversa. Ao ouvir aquilo, olhei para meu irmão que
parecia não se importar com nada.
Havia nele uma expressão vazia, seus olhos eram duas pedras
inabaláveis, não se via nenhuma expressão ou qualquer vestígio de
sentimento.
Naquele momento eu soube, ninguém precisava me dizer o que ele
havia feito.
Capítulo 3
Camile. 25 anos dias atuais …
 
Fazia dois anos que papai havia morrido. Minha mãe e eu vínhamos
tocando a pousada, Happiness[1]. Que papai havia comprado.
Quando meu irmão desapareceu há treze anos, sem deixar rastros,
eu simplesmente me afundei em uma solidão sem fim, tentando
incansavelmente entender o que o tinha levado a ir embora sem deixar
pistas, sem falar comigo, sem deixar sequer uma carta. Nossa mãe chorou
por dias a fio, implorando a Deus qualquer pista que lhe permitisse saber
onde seu filho poderia estar.
Papai se afundou ainda mais no trabalho, passando cada vez menos
tempo dentro de casa, enquanto eu fiquei e me esforcei lutando por mim,
por ela e por todos.
O ensino médio não foi fácil. Mas ainda assim me esforçava ao
máximo para ter as melhores notas. Quando me surgiu a oportunidade de
fazer o curso de enfermagem antes mesmo de terminar o ensino médio, foi
um alívio.
Passava a maior parte do meu tempo na escola, no curso ou
estudando, o que me dava pouco tempo para ficar pensando nos motivos
pelo qual Pietro havia ido embora.
Talvez ele apenas tivesse se cansado de nós, ou talvez fosse difícil
demais para ele olhar para mim e se lembrar de tudo que foi obrigado a
passar para me defender. Ainda assim, sua falta me doía como uma navalha
afiada.
Nossas tardes em cima do telhado conversando sobre como sua
professora de português era feia e chata, ou como eu gostava de comer o
salgadinho fedido da cantina enquanto ele reclamava que eu ficaria com
cheiro de chulé. Sim, eram nesses raros e bobos momentos que eu sentia
sua falta.

Meu pai comprou o sítio e fez a pequena pousada anos depois,


finalmente havia decidido se dedicar à família. A pousada era simples, mas
aconchegante, onde oferecíamos hospedagem e alimentação, tudo fresco e
do campo.
Quando ele decidiu comprar a pousada, não morávamos mais juntos.
Eu havia caído na besteira de me casar muito cedo, logo depois de terminar
o ensino médio. Então morava com André em um apartamento não muito
longe, mas não durou muito. André, meu ex-marido, se envolveu e acabou
me traindo com uma das enfermeiras que trabalhava com a gente no
hospital.
Quando terminei o curso de enfermagem, por força de vontade ou
simplesmente por querer minha independência, consegui emprego em um
hospital. Então, logo assim que pude iniciei a minha tão sonhada faculdade
de Medicina.
Tinha pouco mais de dezenove anos quando André se envolveu com
outra enfermeira do setor, engravidando a garota.
Continuei a morar no apartamento até a morte de meu pai e André,
nunca mais vi André.
— Bom dia, Renan — cumprimentei, passando por ele no curral.
O dia mal tinha amanhecido, o sol ainda era discreto no horizonte e
a grama ainda estava molhada do orvalho da noite.
Morava no fundo do sítio, longe da pousada, então todas as manhãs
passava por Renan, que era nosso ajudante.
— Bom dia, Camile — respondeu retirando o chapéu, em um
comprimento cordial.
— Daqui a pouco, volto para te ajudar — informei passando pela
pequena trilha que daria direito a pousada.
Após a morte de meu pai, larguei tudo e fui ajudar minha mãe. Claro
que ela insistiu em dizer que não precisava e que certamente daria conta de
tudo sozinha, mas nem mesmo eu daria conta de tudo aquilo, que dirá uma
senhora que já estava com uma certa idade. Eu nunca poderia abandoná-la.
Então tranquei a faculdade de Medicina que fazia. Larguei o
emprego de enfermeira, que tinha no hospital da cidade, e vim morar no
sítio para ajudá-la.
— Pode levar para mim? — Renan pediu me estendendo um balde
de leite fresco.

— Claro! — Falei pegando o balde cheio de leite e indo em direção


a cozinha.
— Oi Pqueri! — Cumprimentei, ao entrar na cozinha da pousada, —
Renan pediu para que eu lhe entregasse isso.
— Ai,  maravilha menina, daqui a pouco começa o café da manhã
dos hóspedes.
Priscila era nossa cozinheira. Uma ótima por sinal.
Ela era uma senhora negra, baixinha, de uns 45 anos, um tanto
gorduchinha e uma das melhores pessoas que eu tive o prazer de conhecer.
Ela já estava com a gente há quase dez anos.
— Bom dia menina Camile — ela disse da maneira meiga que
costumava me chamar, pegando o balde de minhas mãos e me dando um
beijo.
— Bom dia Pri. Hum…O cheiro está maravilhoso, o que vai ser
hoje? —Sondei, já abrindo as tampas das panelas e sentindo o cheiro
maravilhoso que vinha delas.
— Estou fazendo o seu preferido — ela respondeu indicando com os
olhos para uma pilha de abóboras já descascadas.

— ESCONDIDINHO DE CARNE SECA COM ABÓBORA! —


falamos juntas em uníssono, disparando na gargalhada em seguida.
— Como estão as coisas, menina? — Sondou com voz preocupada,
sabia do que ela estava falando.
Já fazia um bom tempo que as coisas não andavam muito bem na
pousada. “Talvez por isso papai queria tanto fazer novos negócios” —
pensei.
Papai havia saído para viajar. Tentava fechar negócio com um novo
fornecedor de vinho na intenção de trazer mais clientes e qualidade a
pousada, entretanto, sofreu um acidente no trajeto.
— Estamos indo Pri, não estamos nadando em dinheiro, mas
acredito que dará para pagar as contas.

— Aí, menina, espero que as coisas melhorem. Esta pousada é tudo


para você e sua mãe. — Disse com um certo pesar.
— Não se preocupe, se depender da sua comida maravilhosa, isso
vai lotar — afirmei, roubando um fiapo de carne já refogada que estava em
uma das panelas, correndo em seguida, pois Priscila me lançou um olhar de
repreensão, em uma encenação de que estava brava.
Entrei no meu escritório. Eu quase não ficava por ali, pois ajudava
em tudo, desde a limpeza até tirar leite das vacas e alimentação dos animais
no sítio. Que a propósito, era o que eu realmente gostava de fazer. Como
quase tudo oferecido na pousada vinha do sítio, tínhamos tarefas como
aquelas o dia inteiro.
Meu escritório era apertado, uma mesa pequena, duas cadeiras e um
sofá de dois lugares perto de uma janela que dava uma boa visão para a
pousada.  Em cima da mesa haviam vários boletos e papéis de cobrança.
Tinha ciência de que se as coisas continuassem como estavam, não poderia
manter as portas abertas por muito tempo. Ainda assim, eu não podia
desistir, não ainda, não sem lutar.
Abri a gaveta para guardar tudo e vi os pequenos envelopes,
coloridos escritos à mão, com uma caligrafia bonita e caprichada.
Há uns 5 anos comecei a receber pequenos bilhetes, simples, sem
remetente ou assinatura, mas no fundo eu sabia, sentia a cada bilhete
entregue de forma inusitada, que era dele.
Às vezes levava meses de diferença entre um bilhete e outro. O
último tinha pelo menos 6 meses que eu havia encontrado junto com minha
correspondência.
“Queria poder olhar em seus olhos mais uma vez, mas você está
melhor sem mim, minha pequena caracol”
Somente uma pessoa me chamou daquela maneira em toda minha
vida.
Pietro havia me dado aquele apelido, quando ainda era pequena.
“— Ei caracolzinha, cadê você? —  Ele perguntou enquanto me
escondia dentro do armário. — Não precisa ficar com medo ela já foi
embora — ele disse se referindo a mariposa que havia entrado dentro de
casa” — me lembrei.
Pelo menos sabia que ele estava bem, seja lá onde estivesse. Sentia
muito sua falta.
Levei a mão ao peito buscando pelo pingente em forma de uma
concha de caracol, que em uma das vezes veio com um dos bilhetes. Eu não
sabia quem trazia ou de onde vinham, eles simplesmente apareciam em meu
escritório, em minha caixa de correio, dentro de meus livros e até embaixo
da porta.
O telefone começou a tocar e eu guardei tudo precisando voltar ao
trabalho.
— Pousada Happiness, bom dia! Posso ajudar? — atendi.
— Srta. Camile?
— Sim!
— Sou David, representante do Credbank. Gostaria de lembrá-la
que sua dívida com nossa instituição chega a 50 mil reais, caso as parcelas
do último acordo que fez conosco não sejam devidamente quitadas, teremos
que pedir a reintegração de posse — ele me informou, me fazendo levar a
mão a cabeça sentindo uma leve dor.
— Sim, estou ciente da minha situação! — Informei constrangida,
— E te garanto que assim que possível faremos a quitação das parcelas em
atraso.
— Isso foi o que me garantiu da última vez que entrei em contato
com a senhorita infelizmente não podemos continuar esperando que cumpra
com seus compromissos — fala sem se alterar.

— Sr. David, entendo sua posição e peço desculpas pelo transtorno.


Estamos passando por algumas dificuldades, eu sei disso, mas prometo que
assim que possível irei quitar as parcelas — falei quase em um tom de
súplica.
— Srta. Camile, ouça meu conselho, há investidores na cidade
interessados em comprar sua pousada.
— A pousada não está à venda! — Afirmei, já perdendo minha
paciência, pois não era a primeira vez em que ele insistia para que eu
vendesse a pousada.
— Além de se livrar da dívida, ainda poderia pegar uma quantia
significativa para iniciar outro negócio — ele aconselhou e eu quase revirei
os olhos, mas me forcei a me manter calma.
— Obrigado por seus conselhos, Sr. David, mas como eu disse
antes, não tenho interesse em vender minha pousada — respondi respirando
fundo.
— Bom, ainda assim, vou pedir para o representante entrar em
contato com a senhorita.

— Eu agradeço sua ajuda, mas não será necessário — falei o


interrompendo e desligando o telefone em sua cara.
Assim que bati o telefone, ele voltou a tocar e eu quase arranquei
meus ouvidos de tanta raiva que estava. 
— Qual a parte que que não tenho interesse em vender a pousada
você não entendeu?! — Eu quase gritei.
— Ainda bem que não tenho interesse em comprar — ouvi a voz
calma e serena de minha mãe do outro lado da linha.
— Aaahh, desculpa mamãe — me desculpei, voltando a me acalmar.

— David? — Ela deduziu.


— Sim, ligou para falar das parcelas e insistir na venda.
Não queria deixar minha mãe preocupada, mas ela já sabia que
David rodeava a pousada feito abutre, esperando nossa queda.
— Camile, minha princesa… talvez…
— Não mamãe, nós daremos um jeito, tenho certeza disso —
afirmei.

— Confio em você minha filha. Só acho que está se esforçando mais


do que realmente isso vale.
Mamãe estava passando uns dias em São Paulo, na casa da tia
Miriam, irmã de papai. Elas se davam muito bem e mamãe andava muito
abatida ultimamente, preocupada demais com as dívidas, se desgastando
cada dia mais com problemas.
— Era o que eles iriam querer — falei triste ao me lembrar de meu
pai e meu irmão.
— Só não quero que se sacrifique por isso minha filha, você já se
deu demais por todos — ela disse triste.

Depois que Pietro desapareceu, mamãe entrou em uma depressão,


passava seus dias trancada chorando, então tive que assumir toda a
responsabilidade da casa, enquanto meu pai trabalhava sem parar.
— Eu estou bem mãe, juro que tudo ficará bem! — Afirmei antes de
me despedir, desligar e ficar ali por um tempo pensando.
— Toc, Toc — escutei Renan dizer, me trazendo de volta ao
presente.
Ele era um moreno alto de 1,80 mais ou menos, tinha seus 22 anos,
cabelo lisos e olhos negros, com um corpo de tirar o fôlego de qualquer
mulher. Gostava de usar roupas de boiadeiro, jeans apertados com cinto de
fivela de peão, o que trazia um certo charme, mas que não me chamava
atenção.
— Desculpa! A porta estava aberta. — Disse, entrando com as mãos
no bolso de trás.

— Tudo bem! Eu já estava saindo. — Respondi com um sorriso


amarelo. — Já estava indo te ajudar.
— Não se preocupe, eu consigo terminar tudo — afirmou. — Só
vim avisar que vou pegar a caminhonete para ir à cidade comprar ração e
outras coisas que estão faltando e ver se você não quer ir junto, quem sabe
tomar um sorvete? — indagou.
Renan sempre mostrou um certo interesse, porém nunca foi direto,
talvez por saber que não era recíproco.
— Oh, não! Eu estou atolada de coisas para fazer — disfarcei. O
que não era mentira, pois realmente tinha muitos afazeres e não estava com
cabeça para passeios.
— Ok! — Disse sem graça. — Então… Até mais tarde. —
Despediu-se saindo.

Fiquei ali no escritório por mais alguns minutos, mas respirei fundo,
não podia deixar aquilo estragar meu dia, tinha muitas coisas a resolver se
queria mesmo levantar nossos negócios.
Coloquei minha bota de borracha, minhas roupas desgastadas para
as tarefas diárias e saí em direção ao sítio para cuidar das coisas, mas antes
passei na recepção para dar um oi para Jeniffer.
Jeniffer, nossa recepcionista e a mais nova da equipe, era como uma
irmã adotiva que eu havia arrumado.
Quando conheci a menina, passava por poucas e boas com a mãe, o
pai a havia abandonado e a mãe uma mulher que se achava a própria virgem
Maria e que descontava suas frustrações na pobre garota. Então, cansada de
tudo aquilo, ela decidiu fugir de casa sem nem ter completado a maioridade.
Quando poucos meses depois ela completou 18 anos, arrumei um
trabalho para ela na pousada e um lugar para que ficasse. Jeniffer era tímida
e tinha problemas com confiança. Então, a ajudei para que não precisasse
voltar para aquela vida miserável que levava.

— Oi gatinha — era como eu a chamava — algum hóspede novo?


Alguém ligou fazendo reserva? — Indaguei beijando suas bochechas
brancas como neve.
— Na verdade, sim! Ligaram reservando dois quartos para semana
que vem, dois quartos, os nossos melhores — informou empolgada.
— Quantos dias? — Perguntei pegando o livro de reservas.
— Não deixaram data de saída, só de entrada — falou enquanto eu
confirmava suas informações, vendo poucas reservas para aquela semana.
Voltei a colocar o livro no lugar, pensativa.
Nossa pousada nunca foi lotada, mas sempre tinha uma quantidade
significativa de reservas. Entretanto a cada dia a quantidade de hóspedes ia
diminuindo cada vez mais.

— Você viu o Renan por aí...? — Ela perguntou um tanto sem graça,
me tirando de meus devaneios.
Ela não precisava me dizer que tinha uma queda pelo cowboy,
entretanto, ele parecia não a enxergar. Renan não era do tipo muito sociável,
acho que ele era do tipo que preferia animais a pessoas. Devia confessar
que às vezes eu também.
E Jeniffer era muito jovem, tinha dezenove anos, loira de olhos
claros, baixinha e usava óculos. A garota era linda, mas tímida demais e
Renan era bronco demais para se importar.
— Sim! Ele foi a cidade, precisa de alguma coisa? — Perguntei já
sabendo a resposta, pois sabia que ela só estava interessada em saber onde o
vaqueiro estava. Nós o chamávamos assim pelas costas, pela forma que se
vestia e achávamos graça, mas eu esperava que ele nunca descobrisse.
— Não! Eu... não o vi hoje, achei que não iria vir — disse ficando
vermelha como um pimentão.
— Jenni, gatinha, se quer alguma coisa tem que ir buscar — insinuei
— não ficar esperando vir até você.
Se Jeniffer queria mesmo aquele cowboy, teria que aprender a laçá-
lo da maneira certa, e não seria ficando envergonhada que ela iria
conseguir, então eu tentava incentivá-la a perder um pouco de seu pudor.
Mas a garota parecia que queria se enfiar na terra de tão
envergonhada que ficou, o que me fez rir.
Assim que saí no estacionamento, dei de cara com Tabita chegando
cheia de pastas e papéis, ela era meu braço direito. Cuidava de tudo junto
comigo, desde alimentação dos hóspedes a organizações de eventos, que
eram raros ultimamente, mas ainda existiam.
— Olá! — Cumprimentei, me mostrando mais animada do que
realmente estava. — Nossa, está maravilhosa — elogiei vendo minha amiga
toda arrumada e ela deu uma voltinha, me mostrando que realmente tinha
caprichado.
Tabita usava uma saia lápis que ia até abaixo dos joelhos e um salto
anabela preto com pedras decorando, uma camisa social branca com rendas
no decote, linda como sempre andava. Ela era uma mulher deslumbrante,
com seus 25 anos assim como eu, 1,65 de altura e cabelos negros longos e
lisos que iam até sua cintura fina e bem desenhada. Sua pele era clara e
olhos eram de um tom mel, seios pequenos e uma bunda de dar inveja que
deixava qualquer homem de quatro. No entanto, ela só tinha olhos para um
homem. Romeu. Seu noivo.

— Ah! Obrigada, vou sair para jantar com Romeu hoje — informou
com um sorriso de orelha a orelha.
— Já marcaram a data do casamento? — Perguntei, mas me
arrependi imediatamente ao ver minha amiga perder seu brilho.
Romeu havia pedido a mão de Tabita em casamento já fazia quase
um ano, entretanto, nunca marcava a data do casamento. Sempre arrumando
desculpas e desconversando quando era questionado.
— Não! Eu não sei por que ele hesita tanto amiga, sempre que toco
no assunto ele desconversa — comentou chateada.
— Ei amiga, relaxa! Ele já te pediu em noivado, então é óbvio que
ele quer se casar — tentei acalmá-la. — Talvez só esteja se acostumando
com a ideia — afirmei, mas nem mesmo eu acreditava naquilo.

— É, pode ser! — Considerou desanimada.


— Mas me fale, e você? — Perguntou, mudando de assunto. —
Quando vai procurar alguém?
Tabita sabia que depois da minha separação com André, não havia
me envolvido com mais ninguém.
— Você precisa sair, se divertir um pouco. Não precisa casar com o
cara — disse me empurrando com o ombro. — Mas, tem que arrumar
alguém — afirmou.
Ela nem imaginava meus reais motivos de não ficar com ninguém. E
não era uma coisa que eu estava disposta a compartilhar.
Eu não me incomodava em ser sozinha, na verdade eu vivia muito
bem só. Não acreditava nessa história de amor verdadeiro ou príncipe
encantado. Isso era conto de fadas, romances que só existiam nos livros que
eu gostava de ler antes de dormir.
Não foi por descobrir que André me traia da pior forma possível. A
menina com que me traiu trabalhava no mesmo setor que nós no hospital e
me mandou um vídeo dos dois, me dizendo logo depois que estava grávida
dele. Claro que eu deveria ter surtado, mas na verdade não senti nada, aliás,
se fosse sincera, fiquei aliviada, nosso casamento já havia começado pelas
vias erradas e ia de mal a pior.
— Não! Não! E não! — Repeti as palavras para dar ênfase no que
eu queria. — Não quero rolo com ninguém, nem agora nem nunca, para
mim já deu.
— Mille, você não pode deixar aquele homem destruir seus sonhos
de ser feliz — afirmou.
—Tabita, minha linda. André não estragou meus sonhos. Não se
pode estragar o que nunca existiu — declarei. O que não era mentira. — E
para sua informação, eu sou muito feliz e não preciso de homem nenhum
para isso!
Eu gostava de André. Ele era uma pessoa legal e estava sempre ao
meu lado. Nós éramos grandes amigos e acredito que foi isso que me fez
tomar a iniciativa de aceitar seu pedido de casamento, mas eu nunca o amei,
não de verdade. Se existia algum culpado nessa história toda, essa pessoa
era eu mesma.
— Não fale assim amiga. Você ainda irá encontrar seu príncipe.
Fiz um barulho estranho com os lábios, debochando de suas
palavras, e acrescentei.
— Estou correndo de príncipes. Do jeito que sou azarada, com meu
beijo ele certamente vai viraria sapo — ironizei. Soltei uma risada e saí para
ir fazer minhas tarefas.
 
Capítulo 4
 
Há três meses, nosso Capo havia morrido em uma emboscada. Uma
merda de uma emboscada que eu poderia ter evitado, se não tivesse sido tão
estupido.
Ele não era só chefe de nossa organização. Para mim e para meus
irmãos, Pietro foi muito mais que um Capo, ele foi um irmão.
Apesar de já nos conhecermos há alguns anos, fazia pouco mais de
um ano que ele tinha assumido a liderança. Pietro havia começado de baixo
na organização, encontrado por Kleber por acaso quando tinha dezessete
anos. Começou com tarefas simples, sem muito envolvimento e foi aos
poucos conquistando seu lugar, até que Kleber achou conveniente que ele
participasse da iniciação para que se tornasse membro definitivo da máfia
italiana, mesmo já sendo velho demais para isso.
Participar da iniciação não era uma tarefa fácil, todos os membros
eram obrigados a participar. Garotos de doze anos, o mais tardar treze, eram
enviados para um tipo de treinamento rigoroso e intensivo, mas apesar de
tudo éramos treinados para aquilo desde que nascemos. Já Pietro, mal
sabíamos de onde tinha vindo.
Kleber, o Capo, passou a admirar Pietro por sua dedicação a
organização. O considerava tanto, que deixou a liderança para Pietro. Já era
excepcional ele ter virado membro, já que não tinha nenhuma ramificação
de descendentes dentro da máfia, mas ter se tornando Capo, isso era quase
um insulto para os membros mais antigos e conversadores, o que gerou
revolta em muitos dentro da organização, causando divisão entre os nossos.
Agora Pietro estava morto e havia feito o que jamais imaginei, me deixando
em seu lugar.
Pietro e eu éramos inseparáveis, assim como Victor e Sebastian,
meus irmãos de sangue. Não existia nada que eu não fizesse por eles e sei
que fariam o mesmo por mim. Assim como Pietro fez…
Mas, cazzo!  O que ele me pediu em troca do trono da LA RETE[2],
era de foder! Pietro sempre foi reservado. Nunca entrou em detalhes de sua
origem, nem disse de onde veio, muito menos falava sobre seu passado,
simplesmente disse um dia que provaria seu valor se Kleber lhe desse a
oportunidade.  Claro que todos sabiam que era brasileiro, no entanto nada
além disso, mas eu também nunca perguntei.

Antes de morrer, fez um vídeo para os membros do conselho,


deixando instruções claras, que caso alguma coisa lhe acontecesse eu
deveria assumir a liderança. O que me deixou surpreso e feliz ao mesmo
tempo. Entretanto, com a condição que eu deveria me casar com sua irmã
mais nova, Camile, a fim de mantê-la protegida de seus inimigos e manter
sua mãe a salvo.
Eu não era ingênuo. Casamentos arranjados aconteciam o tempo
todo dentro da máfia. Meus pais mesmo haviam se casado por uma aliança.
No entanto, uma coisa era dois membros de máfias diferentes se casarem
em uma aliança, outra totalmente diferente era aquela garota que não tinha
nada a ver com nosso mundo. Como eu iria convencer a menina a se casar
comigo?
— Maledizione!!! —  Bradei furioso, ouvindo mais uma vez a porra
da gravação junto aos meus irmãos em meu escritório. — O que Pietro
estava pensando quando me pôs nessa merda? — Reclamei empurrando o
notebook e passando a mão nos cabelos para arrumar os fios que se
soltavam.
— Pensando em salvar a irmãzinha e colocar você no comando —
Sebastian disse com um sorrisinho de merda na cara.
— Vai se foder, Sebastian! Não estou para suas gracinhas! —
Avisei, puto da vida, vendo-o levantar as mãos para cima em sinal de
rendição, mas sem perder o sorriso de merda da cara.
Às vezes eu odiava o bom humor do meu irmão.
— PORRA! Me casar com a irmã dele? Eu nem sabia que ele tinha
uma. Porque só não me pediu para cuidar dela, seria uma tarefa bem mais
simples. Cazzo! — Praguejei furioso, indo pegar um copo para beber no
intuito de me acalmar pela milésima vez desde o dia que vi o vídeo, há três
meses.
— Porque era a única forma de mantê-la segura — Victor afirmou e
eu o olhei por minha visão periférica vendo-o se aconchegar no sofá ao lado
de Sebastian. — De que outra maneira, ele obrigaria você, ou no caso nós, a
cumprir nossa palavra? Não que não cumpriríamos, porém, não poderíamos
estar 24 horas com a garota, garantindo sua proteção, dado que estamos há
sei lá quando quilômetros de distância — ele gesticulou. — Você não faria
o mesmo? — Perguntou, abotoando seu blazer.
Victor tinha voltado a pouco tempo do Brasil. Eu havia dado ordens
a ele para investigar a garota, pedi que buscasse entre os amigos e
funcionários qualquer tipo de anormalidade, algo que indicasse se ela tinha
conhecimento que Pietro fosse da máfia, ou talvez qualquer um que o
próprio Pietro pudesse ter colocado para vigiá-la. Mas Victor não encontrou
nada, totalmente limpa.
Pelo relatório que ele havia me mandado antes mesmo de voltar, a
garota era simples, trabalhadora, dedicada à mãe e aos amigos e a única
coisa que fazia de errado, era acumular uma dívida que crescia a cada dia
com o banco local.
— Sem falar que os rumores de que a garota tenha informações
sobre os infiltrados na organização está se espalhando cada vez mais. E vão
aparecer muitos que acreditam nisso para ir atrás dela — Sebastian afirmou.
— Nem sabemos se isso é verdade! — Justifiquei. — Afinal, Pietro
não tinha contato há anos com essa garota, nem sei se a considerava tanto
assim. Porque se ele gostava tanto dela, por que a deixou? Por que nunca
falou dela? — Questionei abrindo os braços.
— Sendo verdade ou mentira, quando eles colocarem as mãos na
garota, não vai restar muito dela. Você sabe bem como eles trabalham.

Sim, nisso ele tinha razão, sabia do que nossa organização era capaz.
Tinha visto em primeira mão as atrocidades que muitos eram capazes de
fazer, por uma posição melhor dentro da Máfia ou apenas por simples
diversão.
Senti um desconforto ao imaginar o que seria da garota nas mãos
erradas e virei minha bebida em um único gole, sentindo o líquido descer
com uma leve queimação.
— Você não faria o mesmo por Melissa? — Victor questionou, se
referindo a nossa irmã mais nova, tocando em uma ferida que ainda
sangrava.
Há alguns anos, nossa irmã mais nova havia sofrido um acidente de
carro, que a levou a óbito. O carro era de Victor e havia sido sabotado na
intenção de matar ele, mas naquele dia Melissa insistiu em dirigir e Victor
se consumia pela culpa desde então.
Senti uma pontada de dor em meu peito e travei meus dentes
lembrando que apesar dos esforços, quem havia feito aquilo ainda estava
ileso.
Todos na sala ficaram em silêncio, sentindo a tristeza e a dor da
perda de nossa pequena Melissa. Ela tinha dezessete anos e era a luz que
iluminava nossa casa. Minha mãe, depois da tragédia, voltou para sua terra
natal junto de seus familiares.
— Olhe pelo lado positivo, a menina é uma gata! — Sebastian disse,
tentando aliviar a tensão olhando para foto que estava na tela do laptop.
Pietro havia deixado informações exclusivamente para mim em um
pen drive e junto tinha uma foto da garota, com uns vinte e cinco anos,
morena clara, cabelos e olhos negros, com cachos volumosos que se
emoldurava em seu rosto lindo, uma boca na cor natural rosada. Na foto ela
sorria olhando para câmera em uma self. Devia concordar com Sebastian, a
menina era linda, com certeza.
— Que seja! Já estou fodido mesmo — declarei, passando as mãos
no cabelo. — Amanhã vou pegar o voo para o Brasil.
Havia reservado dois quartos na pousada da garota, na esperança de
resolver tudo o quanto antes e voltar com ela para a Itália.
Pegamos um voo comercial, logo pela manhã. Cristian me
acompanhava. Decidi que seria melhor que fossemos somente nós dois,
para não chamar muita atenção. Cristian era meu chefe de segurança,
confiava nele tanto quanto em meus irmãos, já estávamos juntos há muitos
anos. E juntos já havíamos enfrentado muitos inimigos.
Ele havia perdido sua mulher há muitos anos, depois de se distanciar
dela na tentativa de protegê-la. A garota sofreu horrores, pelo
distanciamento e frieza que ele direcionou a ela, na tentativa de deixá-la
fora do radar de alguns de seus inimigos, só para no final ser dilacerado
encontrando-a em um beco jogada aos cães, como um lixo humano.
Ainda podia me lembrar do dia em que a encontramos, no quanto
aquilo o devastou.
Eu e meus irmão, incluindo Pietro, ajudamos a encontrar e punir
cada um dos responsáveis, mas desde então, Cristian se afundou em vícios
de bebidas e mulheres tentando preencher um buraco que eu sabia que
nunca se fecharia.
O aeroporto ficava em uma cidade vizinha, então alugamos um
carro para irmos até a pequena pousada. Era mais longe do que eu esperava
e quando chegamos já passava das cinco da tarde, então fui direto para
recepção fazer o check-in.
Apesar de Victor ter investigado todos, eu mesmo teria que resolver
aquela situação. Era algo que eu não delegaria a ninguém, então pedi para
ele ficar com Sebastian cuidando das coisas até eu voltar.
Tentei ganhar tempo com o conselho na intenção de adiar, ou quem
sabe, até anular as exigências de Pietro. Mas claro que foi em vão, eles não
me nomeariam Capo, enquanto não me casasse como Pietro havia pedido.

Então eu estava com cargo provisório e eles tinham me dado um


prazo de quatro meses para resolver. Já haviam se passado três. Eu tinha
trinta dias para contar a verdade a garota e convencê-la a se casar comigo.
— Boa tarde! Posso ajudar? — Perguntou, a garota da recepção.
Uma loirinha bonita de olhos claros e óculos.
— Boa tarde! Fiz reserva para dois quartos — informei, entregando
nossos documentos falsos que havia mandado fazer especialmente para a
ocasião.
— Ah, sim! Sr. Nicolas, seu quarto e de seu amigo já estão prontos
— avisou se levantando e pegando duas chaves. — Vou pedir para que
Tabita leve vocês até os quartos — ela informou e eu assenti com um aceno.
— Tabita! —  Chamou por uma mulher branca com cabelos longos
e lisos preto e olhos cor de mel, que usava uma calça social, botas pretas e
uma camiseta com uma jaqueta por cima. Seus lábios tinha um batom
vermelho intenso e seus olhos estavam marcados por um delineado perfeito.
“Do jeitinho que eu gosto” — pensei, mas logo me forcei a me concentrar
em minha missão.
— Pode mostrar ao Sr. Nicolas e seu amigo os quartos? — A
loirinha pediu, lhe entregando as chaves.
— Claro, Jeniffer — respondeu simpática.
— Tabita! —  Se apresentou estendendo sua mão para mim em um
comprimento, que retribuí.
— Nicolas e esse é meu amigo Braean — apresentei com os nomes
falsos das identidades.
— Hum, estrangeiros — comentou, notando nosso sotaque. —
Sejam bem-vindos! Espero que nossa pousada lhes traga o conforto
necessário para que você e seu amigo possam desfrutar da melhor
experiência em nossa cidade — ela falava caminhando em nossa frente.
Observei que em momento nenhum focou em mim ou em Cristian, como se
não tivesse nenhum interesse.

— Aqui estamos! — Disse abrindo uma das portas e entregando a


outra chave a Cristian. — O quarto de vocês são um ao lado do outro e são
ligados por uma porta, mas podem manter trancada se assim preferirem.
Aqui está o cronograma da pousada — nos entregou um portfólio com
horário das refeições e passeios. — Espero que gostem da hospedagem.
Qualquer coisa pode se dirigir à recepção ou ligar no número que tem logo
aqui atrás — falou mostrando no papel que eu segurava. — Ou Pedir a
Jeniffer, a loira da recepção, estaremos à disposição! — Dispôs,
profissionalmente.
— Ok, muito obrigado! — Agradeci.
— Posso ajudá-los em algo mais? —  Perguntou simpática, mas um
tanto robotizada.
— Não! Eu agradeço — respondi e ela assentiu com a cabeça e saiu.
— Porra! Que gostosa. — Cristian comentou vendo a morena se
afastar rebolando.

—  A garota se quer olhou para nós — afirmei, revirando os olhos


para seu comentário. — Sem falar que tinha uma aliança de noivado. Não
percebeu?
— É uma pena, podíamos nos divertir — gracejou.
Cristian, assim como Sebastian, era um mulherengo, saía pegando
geral. Bastava olhar para ele que se desse mole, pegava.
Não que eu fosse santo, longe disso. Também gostava de mulheres,
quanto mais melhor. Porém, gostava de selecionar as que eu ficava. Não
saía com qualquer uma.
Entrei em meu quarto dando as costas para Cristian, que por sua vez
foi para seu quarto.
O lugar era simples, nada muito luxuoso, porém agradável. No
centro do quarto havia uma cama grande king com lençóis branco bem
arrumados e perfumados. O quarto tinha um tom pastel com uma pequena
cômoda para guardar minhas roupas, um frigobar e uma pequena mesa com
cadeiras. A pequena varanda dava uma linda visão para um campo verde,
com árvores e uma lareira.
Não sei para quê. O país fazia um calor infernal, talvez houvesse
época do ano que esfriasse, apesar de eu duvidar que chegasse a tanto.
Eu já tinha ido ao Brasil algumas vezes. Na verdade, realizamos
bastantes negócios no país. Por isso sabia bem o idioma e pelo fato de que
estudávamos diversas línguas desde pequenos, mas nossos negócios eram
mais para o lado do Rio De Janeiro e nas divisas do Paraguai.
Joguei minha mala em cima da cama e me sentei tirando meus
sapatos, cansado da viagem.
— Amanhã eu procuro a fulaninha — falei comigo mesmo, indo
tomar um banho para descansar.
Não sabia o que poderia me aguardar no dia seguinte. Como
contaria para ela e para a mãe que Pietro estava morto e que ela teria que se
casar comigo.
Porra! Nem mesmo eu conseguia acreditar naquela merda que dirá a
garota!
 
Capítulo 5
 
Bati na porta de Cristian logo de manhã, ele demorou a responder, o
que me deixou irritado.
Não era conhecido por minha paciência, e pessoas sem
compromisso aumentavam meu mal humor.
Cristian abriu a porta todo bagunçado, sem camisa, com os cabelos
desgrenhados e pelo cheiro ainda estava meio embriagado.
Porra! Deveria ter trazido alguém mais responsável. — Pensei.
— Chefe! — Exclamou, arregalando os olhos ao perceber minha
fúria. O vi engolindo em seco e eu fechei os olhos para não estrangular
Cristian ali mesmo.
Olhei de relance para dentro do quarto tentando manter minha frieza
e vi que ele estava na companhia de duas mulheres, uma loira e uma ruiva
que sorriram para mim, na esperança que eu fosse participar da brincadeira.
— Mande-as, embora! — Ordenei. — E vá se arrumar! Isso não é
férias, cazzo! — Gritei fazendo as duas se assustarem e cerrei os punhos
tentando me controlar para não socar a cara de Cristian.
— Sim, Chefe! Desculpe. — Ele se apressou em dizer.
Entrou pedindo para as meninas saírem, e as duas foram logo
apanhando suas roupas pelo quarto às pressas, mas não se deram ao
trabalho se vestirem.  Deveriam estar hospedadas na pousada também, pois
saíram enroladas nós lençóis, passando por mim na ponta dos pés.

— Te encontro em vinte minutos, na recepção — avisei virando as


costas e saindo.
Eu estava furioso com a irresponsabilidade de Cristian, sabia que já
havíamos sondado o terreno e não achamos nada suspeito, porém, se deixar
distrair daquela maneira era inaceitável e eu teria uma boa conversa com ele
depois.
Pontualmente, Cristian estava na recepção assim como lhe ordenara,
havia tomado banho e já vestia o terno que era de praxe na máfia.
— Vamos acabar logo com essa merda, para irmos embora, de
preferência ainda hoje — disse mal-humorado, indo na direção da
recepcionista loira.
Claro que não esperava que a menina fosse aceitar, assim
facilmente, largar tudo e ir embora comigo, mas talvez pudesse convencê-la
de outra maneira. Na noite anterior estive pensando no assunto e havia
decidido que iria contar para ela somente sobre a morte do irmão. 

De qualquer maneira, ela teria que ir à Itália resolver os trâmites da


herança que havia deixado para ela, então, lá eu revelaria tudo, assim ficaria
bem mais fácil convencê-la.
Eu sabia que outro não daria opção a Camile. Mas eu jamais seria
capaz de obrigá-la. Nem mesmo pelo trono. Daria outra maneira se
necessário. Não iria forçar uma garota a abandonar toda sua vida para viver
comigo à força.
— Olá! Tudo bem? Eu preciso falar com a Srta. Camile, você pode
nos dizer onde a encontro? — Perguntei à recepcionista. A garota que eu
achava jovem demais para o cargo que exercia, levantou as sobrancelhas
num sinal de curiosidade.
— Camile a essa hora, está cuidando do sítio — informou. — Se
quiser, pode falar com ela no horário do almoço. Posso agendar um horário,
às treze horas, pode ser? — Ela perguntou.
— Desculpe, mas seria possível falar com ela agora? — Perguntei
olhando para o relógio.
— Lamento, esse é o único horário que ela estará no escritório, ou
se preferir, pode falar agora com a Tabita — avisou.
A menina me avaliou dos pés à cabeça, coisa que não havia feito no
dia anterior. Fiquei curioso para saber o motivo.
— Não! O assunto é somente com Camile — afirmei. — Se puder
nos mostrar a direção, podemos ir até ela — pedi, ansioso para acabar logo
com aquilo. A menina deu um leve sorriso, eu diria até debochado, mas
também de diversão.
— Camile está no curral, cuidado das vacas — ela avisou.
— Não tem problema! — Afirmei.

Para terminar com aquilo, eu iria até a lua de fosse preciso. Se a


garota soubesse o que já tinha visto, saberia que não seria meia dúzia de
vacas que iria me impedir de cumprir meu propósito.
— Vocês vão ao curral desse jeito? — Sondou, em um tom
divertido, olhando para nossas roupas.
— Sim! Qual o problema com nossas roupas? — Indaguei. Ela deu
de ombros, ignorando minha pergunta.
— Como preferir! — Ela disse dando de ombros, — Só seguir por
ali —informou apontando uma pequena trilha.
— Você não acha que seria melhor ter marcado um horário? —
Cristian questionou.
— Quanto mais rápido falarmos com ela, mais cedo podemos voltar
á Itália — afirmei levando a mão aos olhos para proteger do sol que lá
começava a ficar quente.
A brisa da manhã ainda estava fresca, o cheiro de terra molhada
dominava o lugar, trazendo uma tranquilidade diferente de tudo que eu já
havia sentido. Pássaros voavam e cantavam a poucos metros de distância, e
eu começava entender os motivos por ela lutar tanto por aquele lugar.
Caminhamos pela pequena trilha, por volta de uns dez minutos, antes de
avistarmos um barracão de madeira coberto por telhas de amianto, cercado
por cercas baixas de madeiras cruas e velhas, deixando visível quem
trabalhava lá dentro.

De longe, podia-se ouvir os berros dos pequenos bezerros


reclamando de fome pela demora e, de vez enquanto, um mugido de uma ou
duas vacas que respondia ao seu filhote.
Dentro, duas pessoas trabalhavam dedicadas, um rapaz alto, moreno
de cabelo liso, e uma moça que estava de costas, sentada em um banquinho.
Sabia que era Camile, mesmo de costas a garota era inconfundível.
Ela vestia calça jeans e uma galocha branca, que estava suja, e usava
os cabelos preso em uma transa comprida. Tirava leite de uma vaca com
eficiência, sua agilidade e maestria com o trabalho era surpreendente. A
maneira que mesmo sendo pequena dava conta de tudo sem reclamar me
deixou impressionado.
— Bom dia! — Antecipou o rapaz que estava junto a ela, fazendo-a
notar nossa presença. Camile virou o rosto sem parar o que fazia, para nos
observar. Analisou a mim e a Cristian e visivelmente não se agradou com
nossa presença.
— Bom dia! — Respondi um tanto seco. — Estou procurando a
Srta. Camile — Embora já soubesse que ela estava ali.
Eles se entreolharam, como em uma conversa silenciosa, uma
cumplicidade que estranhei.
“Cazzo! O que era aquilo? — Pensei— Será que eram namorados?”
Talvez se fosse, o conselho cancelaria aquela palhaçada. — Analisei
esperançoso — Não! Com certeza não. Victor havia investigado tudo, ele
me diria se ela tivesse um namorado, ou um marido, já que muitos tinham o
costume apenas de morar juntos e não oficializar no papel.
Achei que não iriam responder quando ela se levantou limpando as
mãos em uma pequena toalhinha.
— Pois então encontraram — respondeu fria. — No que posso
ajudá-los? — Perguntou pegando o balde de leite que já estava cheio e
despejando em um outro galão grande.
Victor havia me dito que a garota era esforçada e trabalhadora, que
trabalhava arduamente no sítio e na pousada fazendo diversos serviços, mas
nunca havia imaginado que fosse aquele tipo de serviço. Esperava vê-la
arrumando um quarto ou até limpando um chão, mas não dentro de um
curral tirando leite e lidando com o gado como se fosse a coisa mais natural
do mundo.
— É um assunto delicado… — falei tentando encontrar as palavras
certas. — Gostaríamos de tratar em particular, se possível — respondi
olhando para o homem ao seu lado, que fez uma careta de desgosto.
Estar ali diante da irmã de Pietro me trazia uma sensação estranha,
eu nunca a tinha visto e, se fosse analisar, ela era bem diferente fisicamente
do meu amigo, que ao contrário dela tinha cabelos loiros e olhos claros.
Ainda assim, era como estar diante de uma parte de Pietro, uma que eu não
conhecia e que nunca tinha imaginado existir.
— Não sei que tipo de assunto eu possa ter para tratar com dois
engomadinhos — disse desconfiada, sem parar o que fazia.
Ela desamarrou o laço que prendia o bezerro a uma vaca, soltando
os dois, dando um tapa de leve no traseiro do animal, incentivando-a sair.
Então se virou para mim e Cristian, parando bem a nossa frente do outro
lado da cerca, apoiando o pé na madeira e nos encarando.
Porra! A mulher era muito mais bonita que na foto. Camile tinha um
olhar penetrante, desafiador e de poucos amigos, o sol batia em seu rosto,
iluminando-o ainda mais. Apesar das roupas velhas e desgastadas, que
acreditava ser própria para o trabalho — e que pelo visto fazia muito bem
— não escondia em nada sua beleza. Cachos de seus cabelos se
desvencilhavam de sua trança, caindo em seus olhos. Os seios fartos.
Impediam a camisa que usava de fechar todos os botões. Porém, ela usava
uma preta básica por baixo, não deixando nada a mostra. Sua camisa presa
por dentro de sua calça jeans mostrava bem suas curvas e a calça justa
desenhava suas pernas grossas e torneadas, uma típica falsa magra.
Camile ainda me encarava desafiadora. Senti um arrepio percorrer
meu corpo e por um minuto quis pressioná-la na parede e ver sua ousadia se
dissipar nos com beijos.
— O que vocês são, empresários? — Quis saber levantando uma
sobrancelha nos medindo de cima a baixo. — Querem comprar minha
pousada? — perguntou em um tom arrogante.
Então era por isso que estava tão irritada? Ela acreditava que
estávamos ali para comprar sua tão precisa pousada?
— Não está à venda! — Afirmou no final.
— Não somos empresários. Como eu disse, é um assunto delicado,
que precisa ser abordado em particular. — Rebati, também já perdendo
minha paciência.
A maledetta não me dava a oportunidade de me explicar, e eu não
poderia abrir o jogo com ela ali na frente de um desconhecido. Ela pareceu
notar minha falta de paciência e pareceu achar engraçado, pois levantou
uma das sobrancelhas em sinal de desafio, o que também me fez achar
graça, porque ela não fazia ideia de quem éramos, e jamais conseguiria me
intimidar, mas era muito interessante vê-la tentar.
Ela se afastou da cerca de madeira que nos separava, voltando ao
trabalho que havia parado, sem nos dar muita importância.
— Como podem ver eu estou ocupada, então, se querem conversar
comigo, sobre a pousada ou qualquer outro assunto, vá a recepção da
pousada e marque um horário com Jeniffer — falou com fingida educação,
puxando uma vaca no mesmo local em que a outra havia saído.
Pensei em discutir. Quem maldição, aquela garota pensava que
era?

Mas para aumentar meu ódio, a vaca pisou em um monte de estrume


fazendo voar em meus sapatos e calça. Mas o que realmente me tirou do
sério foi o sorriso de deboche em seus lábios, sem disfarçar em nada sua
satisfação com a situação.
Bufando de ódio, me virei e saí para não matar um ali mesmo,
sacudindo o pé para tentar limpar um pouco do estrago. E lá se ia um par de
sapatos italianos para a lata do lixo.
Eu poderia muito bem obrigá-la á me escutar, forçá-la a ir embora
comigo ali agora mesmo e ter colocado aquele homem para correr, porém
isso só a deixaria irritada e eu teria muitas perguntas para responder, coisa
que eu não queria no momento.
Então, me dignei a voltar para pousada.
— Figlio Di Puttana — xinguei em meu idioma, quando adentrei em
meu quarto seguido por Cristian.
— Temos que admitir, a mulher é osso duro de roer! — Cristian
parecia se divertir com a situação e eu o olhei furioso. — Não está mais
aqui quem falou — ele disse vendo meu mal humor. — O que pretende
fazer agora? — Questionou pegando um pacote de salgadinho e abrindo
para comer.
— Vá a recepção e marque a porra de um horário — ordenei,
tomando o pacote de sua mão.
Cristian saiu de imediato, voltando minutos depois.
— Á uma da tarde Camile estará no escritório. A recepcionista
garantiu que ela atende todos os hóspedes nesse período — avisou.
— Ok! — Respondi respirando fundo, tentando me acalmar.
— Será que podemos tomar café agora? Estou faminto — Cristian
disse, voltando a pegar o pacote de salgadinho.
Fomos tomar café da manhã, visto que não podíamos fazer mais
nada por enquanto. O café era muito melhor do que eu esperava. Tudo ali
era fresco pelo que uma funcionária informou, tudo vinha do próprio sítio, o
que me fez lembrar de Camile tirando leite. Havia queijo e pães variados,
bolos, doces e o tradicional pão de queijo mineiro, extremamente saboroso
e de ótima qualidade.
Quando terminamos de tomar café procurei saber por onde a Srta.
Encrenqueira estava e a descobri cuidando de uma horta ao lado da
pousada, sentada no chão e com as mãos na terra, ela plantava mudas que
tirava de pequenos saquinhos pretos. O sol já estava quente, gotinhas de
suor escorriam pelas laterais de seu rosto, que ela secava de vez em quando
com as costas da mão.
Eu a observava de longe, admirando o esforço que fazia para manter
aquele lugar.
— Mille! — Ouvi a loira da recepção chamar.

— Jeniffer? O que faz aqui? — Perguntou se levantando e indo abrir


o portão de tela para a colega, que levava um copo grande.
— Vim te trazer um suco de laranja — disse a menina.
— Aaaahh! O que seria de mim sem você? — Ela disse abraçando a
amiga, tentando não sujá-la de terra.
— Ela parece gostar daqui — Cristian falou enquanto comia algo.
Olhei mais uma vez as duas amigas e então voltei minha atenção a
ele.
— Você não cansa de comer não? — Perguntei, vendo-o com um
punhado de pão de queijo nas mãos.
— O que eu posso fazer se são deliciosos?

Quando voltei ao meu quarto, liguei para meus irmãos.


— E aí cara, já marcou o dia do casório. — Provocou Sebastian.
— Vai a merda! — Xinguei. — A mulher é uma peste, não quis nem
falar comigo hoje mais cedo, duvido que aceite qualquer acordo. — Contei.
— Há-Há-Há — Sebastian disparou a gargalhar.
— Dá para tirar esse merda da linha? — Perguntei a Victor.
— E o que pretende fazer agora? —  Victor quis saber, sem dar
muita atenção ao que eu disse sobre Sebastian.
De nós três, Victor era o mais centrado, sempre se mostrando sério e
imparcial.
— Vou tentar falar com ela novamente mais tarde, quando vier ao
escritório — informei. — Hoje de manhã, quando fui falar com ela havia
um homem, eles estavam próximos. Acha que é possível ter alguma coisa
entre eles? — Sondei com uma pontada de esperança.
— Impossível! — Victor se apressou em responder. — Eu teria
notado. Ela não tem ninguém além da mãe e os amigos e ainda que tivesse,
você conhece as leis da organização, para se tornar Capo tem que ser eleito
pelo antigo chefe, ou derrotá-lo de forma limpa e justa em uma luta corpo a
corpo. Ainda assim, para conseguir a disputa você precisa de motivos para
querer seu posto. Pietro o nomeou, porém, com condições — denotou. —
Você tem que se casar com Camile, se ela já estiver casada, ou teria que se
separar para ser sua mulher ou ficar viúva. Caso contrário, você perderá o
direito ao trono, dando oportunidade para que outro realize a tarefa —
explicou.
—  Porra! Eu não ligaria para essa merda toda, se eu não soubesse
que ela é irmã de Pietro.
Sabia que se não cumprisse o que Pietro pediu, o conselho não só
me tiraria o direito como daria a oportunidade de outro membro cumprir. E
isso eu não poderia permitir.
— Alex, eu sei que você acha que deve isso a ele — ele disse dando
uma pausa — mas você sabe que poderia só protegê-la…
Ele tinha razão, eu devia a Pietro. Se não fosse por mim, ele ainda
estaria vivo e Camile estaria salva, mas o idiota tinha que ir me resgatar.
Porra! Aquilo me doía na alma.
— Se eu não fizer, outro poderia se casar com ela, ficando com o
dinheiro e com a liderança, tirando de mim qualquer oportunidade de
defendê-la por ele — falei ouvindo Victor bufar ao telefone.
— Isso com certeza iria acontecer!  — Constatou.
— A garota vai me odiar quando descobrir que seu irmão morreu
por minha causa. — Afirmei.
— Provavelmente. Alex, tenha paciência, ela não é do nosso meio,
vai ser difícil para ela aceitar tudo isso — Victor me aconselhou.
— Eu sei, fratello![3] — Falei antes de desligar. — Obrigado!
Desliguei a chamada na pequena varanda vendo como o lugar era
bonito. Camile ajudava o mesmo rapaz que a acompanhava mais cedo a
descarregar pacotes, que eu acreditava ser ração, com luvas grossas e agora
com um boné para proteger a cabeça do sol quente.
— Preparado para enfrentar a fera? — Cristian perguntou ao meu
lado, olhando na mesma direção em que eu olhava.
— Você não tem seu quarto? — Perguntei mudando de assunto,
notando que ele não saia do meu.
— Ok, já entendi, vou deixá-lo sozinho — Cristian disse se virando
para sair.
— Ah! E Cristian! — O chamei. — Nada de mulheres, estamos em
uma missão, espero que isso não se repita — falei friamente para que ele
entendesse que não estava mais brincando. — Esse será meu primeiro e
último aviso — ameacei.
Cristian era meu amigo há muitos anos, já tínhamos trabalhado em
muitas missões juntos, servido a Kleber e a Pietro, mas agora era diferente,
era seu Capo e precisava que ele entendesse isso o quanto antes.

— Sim, chefe — Cristian respondeu, entendendo o recado e


acenando em concordância antes de sair.
Sabia que seria uma missão difícil para mim. Era um desafio lidar
com os soldados e o conselho, dar ordens e liderar era algo que eu nunca
havia feito e me perguntava se Pietro havia feito a escolha certa.
Achava que talvez Victor fosse um líder muito melhor que eu, ele
tinha a calma e a frieza necessária para a aquilo e era um ótimo estrategista,
o que me deixava com a dúvida do porquê Pietro não havia o nomeado ao
invés de mim.
 
Capítulo 6
 
Havia acabado de chegar dos afazeres do sítio, ainda estava suja e
suada, precisando tomar um banho e comer alguma coisa para prosseguir
com minhas tarefas, que não eram poucas.
— Mille! — Jeniffer chamou quando passei pela recepção. — Tem
um hóspede que quer falar com você.
Imediatamente imaginei ser algum hóspede interessado em fazer
algum evento, uma festa de empresa talvez ou até mesmo casamentos ou
aniversários.

Entrei no banheiro do vestiário e tomei um banho fresco, relaxante,


mas rápido.
Troquei a calça e a camiseta surrada por um vestido leve e fresco e
me arrumei da melhor forma possível. Soltei minha juba, dando leves
batidas com creme para não estragar os cachos e fui em direção ao
escritório onde o suposto cliente aguardava, torcendo para ser algo que
ajudasse a levantar a pousada.
Assim que entrei no escritório constatei desanimada que eu não
podia estar mais errada, na verdade eram os dois engomadinhos
estrangeiros que tinham me procurado no curral naquela manhã, pelo
sotaque acreditava serem italianos.
Os dois estavam sentados quando entrei na sala e se levantaram
assim que notaram minha presença em ato cortês.
— Ok! Vamos ao que interessa então... — fui dizendo e me
sentando do outro lado da mesa, arrumando algumas coisas que estavam
fora do lugar, me sentindo um pouco desconfortável.

Sabia que David era insistente, mas mandar os investidores para me


provocar mesmo depois de eu ter deixado bem claro de que não venderia a
pousada já estava me soando como desaforo.
Assim que eu deixasse claro para aqueles dois de que não tinha
nenhum interesse em vender minha pousada e me desculpar por terem
perdido o tempo deles, iria ligar para aquele anão de jardim e lhe dizer
poucas e boas.
— Boa tarde para você também — ironizou o mais alto, me
deixando um pouco sem graça.
Parei um minuto para observá-lo melhor e o homem era um pedaço
de mal caminho, alto, branco, tinha uma barba por fazer, o que deixava o
filho da mãe mais sexy. Olhos em um azul cor do mar, cabelos fartos
castanhos claros quase um loiro em um corte baixo até a orelha, deixando
mexas caindo sobre sua testa.
— Me desculpe, boa tarde, no que posso ajudar Sr....? — Forcei
para que se apresentassem, coisa que eu não tinha dado a oportunidade de
fazerem mais cedo.
— Nicolas, esse é meu amigo Braean! — Apresentou.
— Bom, como já sabem sou a Camile. E então ...? — Frisei
deixando claro que queria que fossem diretos e rápidos.
— Bom! Senhorita Camile, não tem um jeito fácil de abordar este
assunto — começou procurando as palavras certas para usar.
— Sente-se, por favor. — O interrompi, pedindo por educação
apontando o sofá onde estavam sentados quando tinha chegado.
— Obrigado! — Ele agradeceu.
— O ideal é que comece pelo início — incentivei a continuar o que
havia começado. 
— Acredito que você conheça um rapaz, chamado Pietro — Nicolas
afirmou, fazendo meu coração falhar algumas batidas.
“Não podia ser! Será? Depois de tantos anos... Será que finalmente
eu teria notícias do meu irmão? Seria o mesmo Pietro? “— As perguntas
fervilhavam em minha cabeça sem sair de minha boca e eu nem havia
notado que não tinha respondido a Nicolas.
— P-Pi-Pietro — Gaguejei. Então pigarrei para destravar as
palavras, que entalavam minha garganta.
Meu coração batia esperançoso, nunca ninguém tinha procurado por
Pietro, nunca tinham me perguntado dele, treze anos e nunca mais havia
ouvido falar de meu irmão. Até aquele momento.

— Eu tinha ou tenho um irmão chamado Pietro, não sei direito, há


muitos anos não tenho notícias, vocês o conhecem? Sabem onde ele está?
—Consegui perguntar por fim.
— Sim! Nós o conhecemos e sabemos onde ele está! — Notei
quando seu tom de voz baixou algumas notas, me deixando confusa e
preocupada.
— Meu irmão está bem? O que vocês são dele? E se vocês o
conhecem, por que ele mesmo não veio me procurar? — Disparei a fazer
perguntas, me levantando inquieta demais para conseguir ficar sentada.
— Eu odeio ser o portador dessa notícia Camile... — ele hesitou,
dando uma pequena pausa. Fazendo meu coração espremer no processo.
E eu soube, eu soube quando seu último bilhete demorou mais que o
normal para aparecer, eu soube quando em meu peito a saudade parecia
algo insuportável, que nunca teria fim, e soube ali naquele momento que
Nicolas hesitou pensando, calculando a melhor maneira de me dizer sem
me machucar, não sabendo que no fundo eu já sangrava á anos.
— Seu irmão e eu fomos grandes amigos — acrescentou notando
que eu já sabia o que iria dizer. — Quase que irmãos, mas há três meses
faleceu, cumprindo um trabalho!
— Fa-faleceu? Que trabalho? O-onde? Co-como? — Gaguejei.
Meus olhos pulavam de um para o outro esperando que me respondessem.
Nicolas olhou para Braean antes de continuar:
— Na Itália, em um acidente — ele respondeu. Não me passou
despercebido que ele deixou de lado a pergunta que eu havia feito sobre o
trabalho. Não sabia dizer se de propósito, entretanto, eu também não
perguntei, pois estava abalada demais com a notícia.
—  Oh meu Deus... Pietro …— comecei a falar em uma voz tão
baixa que eu mal me ouvia.
Eu não conseguia acreditar no que ouvia, tentava desesperadamente
buscar qualquer motivo para tudo aquilo ser um engano.
Não depois de tudo, não sem eu conseguir lhe dizer o que sentia, o
quanto eu o amava e o quanto sentia por tudo que tinha passado por mim,
não sem antes lhe pedir perdão, eu só não conseguia aceitar aquilo.
— Espere, pode não ser o mesmo Pietro! Não é mesmo? Pode ser só
um engano — argumentei, me agarrando ao último fio de esperança.
Ele pegou uma foto, onde meu irmão aparecia em um terno preto
muito elegante. Ele parecia bem mais velho que a última vez que eu o tinha
visto. Ainda assim, o reconheceria a km de distância.
— Pietro Adams Ribeiro — Nicolas pronunciou, me dando um tiro
no peito.
Peguei a foto que ele me estendia, com as mãos trêmulas, passando
os dedos sobre o papel como em uma última carícia, me sentando
lentamente com as pernas bambas.
Eu não chorava, apesar de sentir que meu peito se rasgava. Meus
olhos ardiam enquanto eu não desviava da imagem em minhas mãos, mas
ainda assim eu não chorava, queria gritar e me encolher no chão, mas
simplesmente não conseguia.
— Camile, sei que você está muito abalada, mas preciso que se
concentre — ouvi sua voz distante, como um sussurro, tentando chamar
minha atenção. —  Você precisa ir para Itália para que possamos resolver
algumas pendências. — Ele disse, então olhei para os dois que estavam em
pé me observando com ar de preocupado.

— Eu, eu não posso! Tenho a pousada para gerenciar, não posso sair
agora, mamãe não... — parei de falar quando lembrei de mamãe. — Minha
mãe! Ela precisa saber, preciso ligar para ela — disse pegando meu celular
de forma desengonçada e o deixei cair, mas não me dei ao trabalho de pegá-
lo.
— É melhor não falar com sua mãe ainda — Nicolas afirmou e eu
estranhei. — Você não pode contar esse tipo de coisa por telefone e seria
melhor resolver algumas  coisas que seu irmão deixou para você primeiro,
são coisas que somente você poderá resolver — explicou, mas que ainda
não fazia sentido para mim.
Levantei-me em choque, com a foto nas mãos e quase não
conseguia firmar meu corpo, tive que segurar na mesa para me apoiar e
Nicolas logo estava ao meu lado, me ajudando a voltar a me sentar, seu
toque era firme e cauteloso.
— Se acalme, por favor — pediu ainda apoiando a mão em minhas
costas enquanto segurava meu braço, tão próximo que nossas faces quase se
encontravam.
Braean voltou com um copo de água, um que eu nem tinha visto que
havia sido pedido. Aliás, não vi nem em que momento ele havia saído.
Peguei o copo tremendo e tomei um grande gole tentando me
acalmar, estava muito abalada, descobri que eu estava certa todos esses
anos. Meu irmão estava vivo e bem, feliz com amigos e trabalhando, aquilo
era reconfortante e doloroso ao mesmo tempo, ele estava bem, mas nunca
me procurou, tirando os bilhetes que eu nem sabia como ele os entregava.
Ele nunca tinha ligado, perguntado como eu estava, como nós estávamos,
nem quando papai morreu, ele nunca apareceu. Será que tinha tanta raiva
assim de mim, será que eu era uma dor tão grande assim para ele?
Três meses atrás ele estava bem, poderia a qualquer momento ter
aparecido, e agora ele estava morto. Aquilo me causava uma dor que jamais
imaginei. Sentia vontade de rasgar minha pele, me arranhar até passar
aquela dor que sentia por dentro.
Tinha tantas coisas para dizer a ele, tanta coisa que gostaria de
compartilhar e agora nunca mais poderia vê-lo novamente.
Eu tinha tantas perguntas. Eu tinha sobrinhos? Cunhada? O que ele
fazia na Itália? Por que foi embora? No fundo eu sabia a resposta da última
pergunta, mas tinha esperança de que alguma outra coisa poderia ter o
distanciado.
— Sei que você tem muitas perguntas Camile — Nicolas falou
chamando minha atenção. — Prometo a você que irei responder, assim que
eu puder ou souber, mas não pode ser aqui, precisamos ir para a Itália. — E
eu me perguntei se havia feito aquelas perguntas em voz alta.
— Preciso de alguns dias — pedi por fim. — Vou arrumar tudo aqui
e ver com Tabita se ela consegue segurar as pontas, pelo menos por alguns
dias para mim — avisei. — Quantos dias você acha que consigo resolver
tudo por lá? — Perguntei me levantando e Nicolas ficou apreensivo, mas
relaxou notando que eu estava bem.
— Uma semana talvez! — Respondeu.
— Vou ver com Gael, se ele pode me acompanhar — falei pegando
meu celular do chão para mandar mensagem para meu tio. Nicolas levantou
uma sobrancelha em questionamento.
— Gael é meu tio. Irmão de meu pai. Um segundo pai para mim —
respondi a uma pergunta que ele não havia feito. — Afinal, não posso ir
para outro país com dois estranhos, só porque dizem que conheceram meu
irmão, que aliás não vejo a treze anos.
E colocando daquela maneira, parecia loucura eu largar tudo para ir
com dois homens que havia acabado de conhecer e que não sabia nada
sobre eles, era mais um motivo pelo qual eu não deveria em hipótese
nenhuma ir sozinha.
— Vocês podem ser assassinos, maníacos ou coisa pior —
acrescentei com um aceno apontando de um para o outro.

— Talvez sejamos algumas coisas dessas. — Braean, que até o


momento havia se mantido calado, com um sorriso divertido e frio que me
causou um certo arrepio e fiquei na dúvida se ele estava brincando ou não.
Com um agradecimento eu dispensei os dois e garanti que resolveria
tudo o mais rápido possível para que pudesse ir o quanto antes.
No fim da tarde conversei com Tabita e Jeniffer. Pedi para Tabita se
conseguiria segurar as pontas para mim por alguns dias, claro que minha
amiga aceitou, na verdade ficou muito feliz quando disse que viajaria para a
Itália.
— Garota! Achei que você nunca iria tirar umas férias. — 
Comentou.
Quando falei que precisava resolver algumas coisas na Itália, não
quis contar toda a verdade, nem mesmo eu sabia direito no que meu irmão
estava envolvido.

— Não são férias Tabita. Eu só tenho umas coisas para resolver com
esses rapazes que vieram aqui na pousada e volto o mais rápido possível —
afirmei, sentindo uma pontada de tristeza ao me lembra de Pietro.
— Vai vender a pousada? — Jeniffer perguntou notando minha
tristeza.
— Não, nem pensar! — Me apressei a dizer, segurando em seus
ombros e lhe abraçando.
— Camile, você está bem? — Tabita indagou. — Desde que esses
homens apareceram, sinto que você anda abatida, aliás, o que eles queriam
com você? — Ela perguntou pegando uma peça de roupa minha que
separava para pôr na mala em outro dia, — Eles são lindos, mas me dão
calafrios — tremeu o corpo de uma forma engraçada.
—  Imagina, eu só ando muito preocupada com a pousada, é só isso,
não tem nada a ver — menti e ela me olhou desconfiada, mas apesar de não
ter acreditado, não perguntou nada.

—Tudo bem, mas já que vai para Itália, tenta aproveitar a viagem,
você pode sim fazer disso umas férias. Fique o tempo que for preciso —
declarou — deixa que eu cuido de tudo, e se aparecer qualquer imprevisto
eu mesmo ligo para você — disse vindo me dar um abraço.
— Mandei mensagem hoje para tio Gael e amanhã vou na casa dele
pedir que me acompanhe até a Itália. Quero ver se consigo sair na quarta ou
quinta — avisei, sem comentar que não confiava nos homens, mas claro
que ela percebeu. Tabita assim como Jeniffer, me conheciam muito bem.
Sabiam quando me sentia desconfortável.
— Você realmente tem que ir com esses homens para Itália? —
Jeniffer perguntou fazendo uma careta. — Eles são estranhos — afirmou.
— Quem se hospeda em uma pousada e usa terno num calor desses? —
Comentou me fazendo rir.
— Mas são uns gatos. — Tabita acrescentou.
— Sim, minha gatinha — respondi à pergunta de Jeniffer, lhe dando
um abraço carinhoso. — Eu preciso ir com eles, mas vou estar com Gael,
então não se preocupe, quando eu voltar prometo te explicar tudo.

— E contar como é tudo por lá. Promete que se tiver oportunidade


vai pegar um gringo lindo desses? — Tabita perguntou.
— Não! — Respondi a Tabita — Mas prometo voltar o mais rápido
possível! — Garanti a Jeniffer.
— Vou sentir muito sua falta, Mille. — Ela falou com voz chorosa.
Jeniffer era muito sentimental, uma menina doce que eu aprendi a
amar como uma irmãzinha.

No dia seguinte, assim que terminei meus compromissos peguei a


caminhonete S10 branca que usávamos para trabalhar na pousada e no sítio
e saí. Não tínhamos dinheiro para ter carro de passeio, então, usávamos o de
trabalho para tudo.
Gael também morava em um lindo sítio na outra extremidade da
cidade. Havia acabado de entrar na rua de terra que pegava para ir até lá,
quando notei dois carros atrás de mim. Um deles acelerou me ultrapassando
virando bem na minha frente e me fechado, me obrigando a frear
bruscamente.
Vi quando Nicolas abriu a porta do motorista e saiu de dentro do
carro com duas armas uma em cada mão, ele andava rápido em minha
direção, enquanto o tal de Braean se mantinha atrás do carro, mas também
apontava uma arma para mim, fazendo meu coração disparar. Pensei em dar
ré, mas pelo retrovisor podia ver outro carro atravessado na estrada com
mais 3 elementos que eu não conhecia e que também estavam armados.
Meu coração batia tão forte que achei que sairia pela boca, sentia ele
em minha garganta tentando escapar a qualquer momento.
“Eles me matarão, com certeza me matarão” — meus pensamentos
gritavam em minha cabeça.

Minhas mãos suavam e eu travei vendo Nicolas se aproximar.


— Droga! Vou morrer — falei para mim mesma dentro do carro,
buscando com os olhos qualquer coisa que eu pudesse usar para me
defender, mas não tinha nada além do meu celular que estava em meu bolso
e minha carteira.
Dei um pulo quando, assustada, ouvi tiros sendo disparados na parte
de trás do carro e baixei a cabeça o máximo que pude, encostando no
volante e tapando os ouvidos. Quis gritar, porém estava paralisada e a voz
simplesmente não saía, iniciei uma prece silenciosa enquanto via Nicolas
vir em minha direção disparando, mas não em mim como eu havia
deduzido, mas sim no carro que estava atrás de mim e que atirava de volta.
Formando uma chuva de bala para todo lado.
— DESÇA AGORA! — Ordenou, abrindo minha porta e me
puxando pelo braço.
Ele atirava em quem estivesse atrás e eu mantinha minhas mãos
levantadas, como se ele tivesse anunciado um assalto.

— Por favor... — implorei ainda sem querer sair do carro.


— Vamos! Temos que ir agora! — Exclamou. — Não tenho tempo
de explicar — disse enquanto me puxava e continuava atirando no outro
carro. Ele abriu a porta de trás, praticamente me jogando para dentro, e
Braean já havia assumido o volante enquanto ele entrou pelo lado do
passageiro.
— Você está bem chefe? — Ouvi Braean perguntar a Nicolas.
— Sim! Foi só um arranhão. — Só então notei o sangue em seu
braço que ele pressionava, tentando estancar o sangue que escorria.
Não consegui comentar nada, estava totalmente em choque, com
medo, não sabia o que eles fariam comigo e nem o que queriam.

Pouco tempo depois ouvi uma explosão que me fez pular no banco
assustada, e quando olhei para trás pude ver as chamas e a fumaça de algo
que havia explodido.
— Cazzo! Come hanno fatto a trovarla così in fretta?[4]  — Nicolas
disse em italiano no telefone e eu não consegui compreender. — No!
Andiamoci subito. Non può più stare qui. Preparate tutto, fagli sapere che
arriveremo tra poche ore.[5]
— Você está bem? — Perguntou me olhando pelo retrovisor.
Eu não sabia o que responder, estava assustada, olhei para o trinco
da porta, me perguntando que tipo de estrago faria se eu pulasse com o
carro em movimento.
— Eu-eu não sei, estou? — Perguntei em um fio de voz, sem saber
se eles eram meus heróis ou os vilões.
— Não se preocupe, não estamos aqui para te machucar — Nicolas
falou me avaliando.
—  Impressionante! — Comentou Braean. — Sem gritos? Ou
choro? — Perguntou parecendo orgulhoso, mas nem imaginava o pavor que
eu estava por dentro, um desespero tão grande que cogitava me jogar do
veículo a qualquer momento.
— Se eu chorar, gritar e implorar vocês vão me deixar ir? —
Perguntei, mas já sabia a resposta.
A verdade era que, por alguma razão, acreditava quando eles me
diziam que não iam me machucar. Estava sim com medo, acabava de
presenciar um tiroteio e pior, eu estava no meio dele, mas alguma coisa
naqueles dois me passava uma certa confiança e esse foi o único motivo
pelo qual não tentei a loucura de abrir a porta e pular.
— Não! — Foi Nicolas que respondeu. — Não sei se você
percebeu, mas acabamos de salvar sua vida — ele falou de péssimo humor.

Não fazia ideia o porquê. Não tinha pedido a ele que me ajudasse,
muito menos que levasse um tiro por mim, aliás, se eu fosse pensar bem, até
eles chegarem, eu nem sabia que estava em perigo.
— Até hoje de manhã, não tinha ninguém tentando tirá-la de mim.
— Acusei levantando um pouco meu tom de voz, mas me arrependi ao ver
sua careta. Não sabia dizer se pela dor ou por minhas palavras. —  Touche
— zombou Braean, se divertindo com a situação. Olhei para ele incrédula,
acabaram de tentar me matar e ele achava aquilo engraçado? Eu só podia
estar ficando maluca — pensei.
E por que estariam atrás de mim? Por que eles foram ao meu
socorro? Eu nem os conhecia! Talvez estivessem atrás deles e não de mim,
aliás, quem eram eles?
— Cazzo! — Praguejou Nicolas, segurando o ferimento que ainda
sangrava, me tirando dos meus devaneios.
— Precisamos parar e ver isso — sugeri, apontando para o corte que
sangrava.
— Isso? Não é nada, foi só um arranhão — retrucou rude. — Vou
ficar bem! — Respondeu com uma rispidez desnecessária, não sei se
tentando dar de machão ou se verdadeiramente com raiva de mim.
Arrogante! Grosso e mal-educado era isso que ele era e talvez
merecesse mesmo sangrar até morrer — pensei comigo mesma.
— Pode ser só um arranhão, que vai sangrar até você ficar sem
forças e desmaiar por falta de sangue. Porque é cabeça dura e não estancou
— comentei despreocupada. — Aí seu amigo aqui — apontei para Braean
— vai ter que te carregar no colo. Porque apesar de eu estar acostumada a
pegar peso, 90 quilos acho que não seja possível para mim — falei
calmamente, dando de ombros e me escorando no encosto do carro.
— HÁ-HÁ-HÁ-HÁ — Braean gargalhou alto me deixando
surpresa, diante minhas palavras. — Vou achar um lugar seguro para gente
parar — declarou ainda rindo.
Dez minutos depois, paramos em um celeiro abandonado. Braean
entrou com o carro, escondendo da vista de quem passava, e então
descemos para que eu pudesse olhar melhor o ferimento.
— Braean, pega para mim, o kit de primeiros socorros. — Pedi.
Ele trouxe uma caixinha branca com soro, gases, faixas e alguns
remédios.
Fui até Nicolas, que estava encostado no carro. Pedindo licença
rasguei a manga de sua camisa social facilitando meu acesso ao ferimento.
A bala não havia entrado, só passado de raspão fazendo um corte limpo. Só
precisaria limpar e enfaixar.
Ao tocar em seu braço, uma corrente elétrica tomou meu corpo, me
fazendo arfar. Levantei meus olhos e encontrei os dele me encarando, então
engoli em seco e continuei.
Nicolas era um homem lindo e estar tão próxima a ele fazia meu
corpo se aquecer.

“Caralho o que está acontecendo comigo? Eu não sou assim, acho


que a falta de sexo estava finalmente fazendo efeito” — pensei.
Voltei minha atenção ao ferimento, para não ficar constrangida.
Limpei a ferida com soro fisiológico e passei uma pomada
antibacteriana, enquanto Nicolas me observava me deixando totalmente
sem graça. Notei quando ele retraiu um pouco o braço sentindo dor, mas
não reclamou.
— Obrigada! — Agradeci levantando o olhar, notando o quão mal-
agradecida eu tinha sido. — Por ter ido me salvar.
— Prego. — Respondeu em italiano.
— Não falo sua língua — falei voltando o olhar para o ferimento.
— Não tem de que, Camile — voltou a responder em português.
Eu enfaixei seu braço, já que não seria possível suturar ali, mas ele
ficaria bem, no máximo ficaria com uma cicatriz para exibir para as
mulheres.
— Pronto, terminei! — Avisei afastando o mais rápido possível. —
Como não dá para suturar provavelmente vai ficar uma cicatriz — avisei.
— Você parece entender do assunto — observou, apertando por
cima da atadura e analisando o curativo.
— Já fui enfermeira e fazia faculdade de medicina, então entendo o
mínimo — respondi, não querendo me aprofundar no assunto.
— Vamos embora! — Avisou, pegando outra camisa limpa no porta-
malas e tirando com cuidado a suja ficando sem camisa por um breve
instante
“Porra! Um homem daquele ficar sem camisa deveria ser crime” —
pensei.

Reparei que ele tinha algumas tatuagens e outras cicatrizes


espalhadas pelo corpo, mas desviei o olhar disfarçando quando ele olhou
para mim.
—  Embora? Para onde? Não posso ir embora assim! — Indaguei já
começando a me desesperar.
—  Precisamos ir para Itália, aqui não é seguro! — Declarou
friamente, sem me dar muitas explicações.
Quem aquele cara pensava que era? O exterminador do futuro
“venha comigo, aqui não é seguro” — pensei lembrando da voz Arnold
Schwarzenegger.
— Vocês podem me dizer o que está acontecendo? — Pedi. —
Quem eram aqueles caras? Aliás, quem são vocês? — Indaguei irritada.

Eles se entreolharam, mas não responderam. Eu poderia tentar


correr, no entanto não iria muito longe, visto que eles estavam em dois,
armados e de carro, analisei. Então no momento eu não tinha outra opção a
não ser seguí-los seja lá para onde estivessem indo.
— Eu não posso ir assim. — Protestei. — Nem roupa eu peguei, não
falei com ninguém, meus amigos, minha mãe, vão surtar, eles vão chamar a
polícia. — Tentei argumentar em vão.
— Vamos resolver tudo de lá! E vou mandar alguém buscar suas
coisas. Você não pode voltar para pousada, se voltar eles podem aparecer e
matar todos, inclusive você. — Ele revelou, entrando no carro com Braean.
Meus olhos começavam a arder por causa do choro que me sufocava.
Pensei em meus amigos, Jeniffer, Tabita, Priscila e até Renan, todos
podiam estar em perigo, pensar que eles poderiam se machucar por minha
causa me dilacerava.
Não! Ninguém mais se machucaria por mim, nunca mais! — Pensei
— Eles vão ficar bem, ninguém vai se arriscar a ir lá se você não
aparecer! — Afirmou Nicolas percebendo meu conflito interno. Então abri
a porta do carro e entrei calada, engolindo minha dor, tentando encarar da
melhor forma possível tudo aquilo.
 
Capítulo 7
 

As mãos suaves, mas firmes, de Camile tocando meu braço com


cautela enquanto limpava o ferimento espalharam sobre meu corpo uma
sensação de calor. Enquanto ela se mantinha de cabeça baixa analisando
concentrada o corte, o cheiro do seu cabelo invadia minhas narinas.
Eu a observava atentamente enquanto trabalhava e, então, ela
levantou seu olhar me encarando, tão próxima com seu olhar cauteloso, e
então baixou a cabeça novamente.
Quando terminou, fez questão de se afastar rapidamente como se
ficar perto de mim fosse um sacrifício.
Depois de verificar o curativo e trocar de roupa, avisei que
precisávamos ir embora. Camile me pareceu abalada com a notícia, e apesar
das desculpas, não fez objeções quando avisei que se voltasse colocaria
seus amigos em perigo.
Ela fez o resto do trajeto totalmente em silêncio, pensativa, com um
olhar distante, perdido no nada. Não chorou, gritou ou ameaçou como eu
imaginei que faria, apenas entrou no banco de trás calada. Não sei no que
tanto pensava, mas eu podia enxergar a dor através seus olhos tristes, o
sofrimento que ela lutava tanto para disfarçar.
Eu tinha que admitir sua força, jamais imaginei que para defender
seus amigos fosse se sacrificar daquela maneira, ainda mais se entregando a
dois completos estranhos que tinha acabado de conhecer, correndo o risco
de nunca mais voltar, o que provavelmente aconteceria.
E PORRA! O que foi aquilo enquanto fazia meu curativo. Parecia
que ainda podia sentir seu toque suave em minha pele, como brasa quente
queimando de um jeito tão bom, tive que focar para não ficar duro e parecer
um maldito tarado perto da garota.

Como eu podia pensar algo assim naquela situação? A menina


estava sofrendo uma dor que eu podia imaginar já que também havia
perdido minha irmã.
Me lembrei de seu olhar avaliador enquanto trocava de camisa,
curiosa pelas cicatrizes e tatuagens pelo meu corpo, mas Camile logo tratou
de disfarçar constrangida.
Olhei pelo retrovisor, observando cada traço de seu rosto. Seus
olhos castanhos, o movimento de sua garganta que parecia tentar engolir o
choro, sua testa levemente franzida pela preocupação. Ela ainda vestia a
mesma roupa de trabalho surrada, mas ainda assim tinha uma beleza rústica.
Depois de algumas horas de viagem, chegamos na pequena pista de
pouso, onde eu tinha dado ordem para o piloto nos esperar com o jatinho
pronto.
Algumas horas mais cedo, quando recebi a ligação de meu irmão
dizendo que alguns dos podres havia descoberto a localização da garota, fui
obrigado a agir. Camile tinha acabado de sair para ir até a casa do tal tio,
então nós a seguimos mais por precaução, porém, não demorou para que
outro carro também aparecesse.
Eu já tinha planejado sua ida para a Itália, ela embarcaria com o tio,
o que a deixaria confiante. Mas quando chegássemos no aeroporto, com a
ajuda de um funcionário, Gael não poderia desembarcar no país e seria
obrigado a voltar para o Brasil. Já na Itália, seria mais fácil convencê-la a
ficar e depois contar toda a verdade, mas tudo tinha ido por água abaixo
quando começaram a persegui-la.
Nós saímos da cidade, pegando a pequena estrada de chão e sabia
que ali seria a oportunidade deles de atacá-la, então, fui obrigado a fazê-la
parar. Precisava tirá-la de lá.
Seu silêncio começava a me preocupar, sentia que Camile pudesse
quebrar a qualquer momento.
Cristian olhou pelo retrovisor do carro e depois para mim,
compartilhando do mesmo pensamento, e fez sinal para que eu dissesse
alguma coisa, mas eu simplesmente não sabia o que dizer. Não tinha nada
que eu falasse a ela que a fosse confortar, ao contrário, acreditava que tudo
que tinha a dizer só pioraria seu estado de espírito.
— Não vamos em um voo comum? — Camile perguntou quebrando
o silêncio perturbador que estava dentro do carro desviando o olhar da
estrada.
— Não, é muito perigoso. Vamos em um voo particular — respondi
em um tom ameno.
Ela pareceu surpresa, mas voltou a olhar o horizonte escuro da noite
que já havia caído.
— Alexei! — Cumprimentou Rômulo, o piloto que nos levaria para
a Itália.

— Alexei? — Ela perguntou incrédula.


Cazzo! Com toda aquela confusão havia me esquecido que
usávamos nomes falsos, e eu poderia encontrar uma desculpa esfarrapada
de que era meu nome do meio, mas achei que chegava a hora de começar a
parar com as mentiras.
Travada no lugar com os olhos trêmulos, talvez por medo ou
incredulidade ela ficou paralisada.
— Desculpe, por isso... — pedi, suavizando meu tom de voz,
tentando parecer o menos rude possível.
Dei alguns passos em sua direção, olhando fundo em seus olhos e
lhe tocando o ombro, sentindo-a trêmula. Baixei um pouco a cabeça
buscando seu olhar, me certificando de que ela estava ali mentalmente me
escutando e tentando passar um pouco de confiança em minhas palavras.

— Não podíamos usar nossos nomes verdadeiros ou nos


encontrariam. — Justifiquei. — Alexei Sartori! — Me apresentei tocando
meu próprio peito — E esse é o Cristian — apontei para meu amigo — e
aquele é Rômulo, segurança e piloto que nos levará para a Itália.
— Prazer! — Cristian brincou fazendo um aceno, mas que não
surtiu efeito nela. Agora ela parecia estar estagnada.
— Escuta! Sei que está com medo e que tudo isso parece assustador.
Deve estar com raiva por termos mentido para você, mas tudo isso foi
necessário e foi para sua proteção. — Afirmei. — Então por mais que
pareça assustador, peço que entre no avião, lá dentro eu prometo que
explicarei tudo! — Pedi com delicadeza, tentando amenizar a situação.
— Se eu me recusar, por acaso me deixariam ir embora?! —
Perguntou levantando as mãos, mostrando a área deserta ao redor.
O lugar era completamente deserto, mal iluminado e a última vila
que havíamos passado tinha ficado a quilômetros atrás.

— Touché novamente. — Ironizou Cristian, dando risada.


Cristian se divertia com a ousadia de Camile e se aproveitava de
nossa amizade e da liberdade que dava a ele, mas eu tinha que confessar
que mesmo ele sendo meu amigo há anos, eu queria muito matá-lo.
— Se continuar fazendo graça, vou estampar um sorriso permanente
em sua cara com minha adaga! — Ralhei irritado, ele levantou as mãos em
sinal de rendição.
— Está legal! Se sou obrigada a ir, então vamos logo! — A garota
declarou, saindo na frente de todos, batendo o pé, seguindo em direção a
aeronave e subindo as escadas.
Camile já estava acomodada em uma das poltronas, fingindo olhar
algo pela janela com ares de quem dizia que não queria papo.
Porra! Quando ela descobrisse que teria que se casar comigo e pior,
que o irmão tinha morrido por minha causa, com certeza me odiaria.
Sentei-me a sua frente com Cristian ao meu lado, que comia um
pacote de salgadinho, Dei uma boa olhada para ele enquanto distraído fazia
um barulho irritante enquanto comia sem parar Camile também olhou para
ele, provavelmente também irritada com aquele barulho. 
— O que? Estou com fome — se justificou quando notou eu e
Camille olhando. Ela revirou os olhos e voltou a admirar a escuridão pela
janela. 
Não saímos de imediato, pois havia mandado dois dos meus homens
irem até a pousada, buscar algumas coisas de Camile; não muitas pois não
queria que ninguém notasse a falta dos objetivos, só o suficiente para que
ela tivesse como tomar um banho e se trocar. Quando pousássemos,
compraríamos tudo o que precisasse, e assim que, Clien e Rock entraram
com uma pequena mala decolamos.
— Estou esperando... — Camile quebrou o silêncio da aeronave,
exigindo uma resposta. — Você disse que se eu entrasse no maldito avião
me explicaria tudo, então estou esperando... — falou mal-humorada.
Garota petulante, eu prevejo sérios problemas com essa insolente —
pensei e respirei fundo buscando a paciência que obviamente eu não tinha.
Camile me encarava com os olhos queimando de raiva. Apesar de
não fazer nenhum esforço físico, sua respiração era pesada, e em sua testa
havia um vinco deixando evidente seu ódio.
Seria até engraçado se a situação não fosse séria, e só por isso não ri
do seu jeito irritado. Destravei o cinto de segurança que havia colocado
antes de decolarmos e me arrastei para a ponta da poltrona para me
aproximar um pouco mais dela.
— Pietro era um grande amigo, mas ele não era somente isso —
iniciei. — Ele era chefe da nossa organização, Capo da máfia LA RETE —
revelei vendo-a arregalar os olhos com surpresa, porém não me
interrompeu, então prossegui. — Quando ele morreu me deixou como seu
sucessor, visto que não tinha filhos ou esposa, mas tinha a mim e meus
irmãos como se fosse irmãos dele... — Dei uma pausa, tentando encontrar
as palavras. — Dentro da nossa organização, tem os que chamamos de
podres, homens desleais, corruptos e cruéis, que querem a todo custo tomar
o poder, para que possam fazer o que bem entenderem.
Camile escutava atentamente, sem qualquer reação, talvez buscando
entender tudo.
— Não somos pessoas boas Camile, longe disso. Porém temos
alguns princípios, não matamos inocentes, não mexemos com mulheres,
crianças, tráfico de órgão ou nada do tipo. Se deixarmos que eles tomem o
poder eles irão fazer isso e muito mais — expliquei.
— Esses podres, eram eles lá na estrada? — Ela perguntou.
— Sim…
— E… e por que eles estão atrás de mim? Por que agora? Onde eu
entro em tudo isso! — Questionou.
— Eles acreditam que Pietro deixou com você provas que podem
nos levar a eles dentro da organização. Por esta razão, em seu último
pedido, Pietro nos pediu para que a mantivéssemos em segurança.

— Eu não via meu irmão há treze anos — justificou, com voz


chorosa, quase sussurrando. — Não sei nada dele, nem tenho informações
alguma.
— Talvez Camile, mas eles não pensam assim. E é por isso que,
você não pode voltar para casa, Pietro sabia que você seria a primeira em
que eles iam atrás…
— Minha mãe! — Lembrou preocupada.
— Ela está segura, mandamos seguranças para ficar de guarda onde
ela está, assim como para seus amigos. Eles ficarão bem, desde que você
não esteja com eles — assegurei.
Aquilo pareceu atingi-la como um soco no estômago, notei quando
ela engoliu em seco, quando lutou contra as lágrimas buscando respirar
fundo para não desabar.
— Eles estão atrás de você, por isso nesse momento, todos acham
que você morreu naquele incidente na estrada — revelei.
— O que?! Como assim?! — Questionou se levantando. — Vocês
forjaram minha morte! — Ela começou gritar dentro da aeronave como se a
mesma estivesse pegando fogo. — Como pode fazer isso sem se quer me
consultar antes? Como minha mãe vai ficar... — disse levando a mão a
têmpora, massageando como se estivesse com uma grande dor de cabeça.
Camile havia perdido toda sua paciência, me olhava furiosa.
—Você…— ela pronunciou olhando para mim como se quisesse me
matar.

E Cristian se preparou para intervir caso fosse preciso, mas fiz um


sinal de que não seria necessário.
—Tivemos que fazer isso — afirmei friamente. — O que você acha
que aconteceria com seus amigos caso insistissem em te procurar? É isso
que você quer, que eles saiam machucados?  — Perguntei já perdendo a
paciência também. — Esses caras não estão de brincadeira Camile, eles a
querem “morta”, entendeu? — Falei já perdendo minha paciência. — Não
são que nem os caipiras que você está acostumada a lidar — levantei um
pouco mais meu tom de voz. — Isso é a “Máfia”, eles não mandam recado
— falei me levantando e me aproximando mais dela, que deu um passo para
trás caindo sentada na poltrona. Então coloquei um braço de cada lado,
ficando cara a cara com ela. — Eles não brincam em serviço e vão fazer de
tudo para pegar você — afirmei me levantando.
Sabia que para ela tudo aquilo era uma bagunça, mas o que ela
queria que eu fizesse?
Camile me fuzilava com o olhar, suas mãos apertavam forte os
braços das poltronas e eu não duvidaria se ela tentasse avançar em mim a
qualquer momento.

— Tem mais... — falei friamente controlando meu tom de voz,


decidindo soltar a bomba de uma vez por todas.
Eu não era conhecido por minha paciência, mas Camile estava
testando todos os meus limites.
— Seu irmão pediu para que eu a mantivesse em segurança e me
assegurasse de que você receberia uma boa quantia que ele deixou a sua
disposição e me tornaria Capo, entretanto, para isso nós ... — Dei uma
pausa limpando a garganta. — Devemos nos casar — revelei rápido como
se tirasse um curativo.
— Há-Há-Há — ela desatou a rir, feito uma descontrolada. —
Sério... quase caí nessa — Continuou a rir batendo palmas enquanto todos a
olhavam acreditando que havia enlouquecido de vez.
— Muito engraçado, porque... eu… eu — Ela gaguejava de tanto rir.
— Estava acreditando em tudo até agora, nessa história de máfia e coisa e
tal... — ela disse se levantando e me deixando preocupado com sua reação.
Esperava que ela iria surtar, gritar, espernearia, jurava até que ela
choraria rios, mas rir não estava na lista das reações esperadas.
— Onde está? — Perguntou. — É trollagem, né? De quem? Quem
está querendo me enganar? — Ela continuava a dizer e procurar, sabe se
Deus o que, pela aeronave.
— Camile! Isso não é nenhuma pegadinha — disse sério, quando
percebi que ela não estava acreditando.
— É, claro que é — afirmou, olhando para os demais na aeronave,
que parecia surpresos com a reação da garota. — Foi a Tabita, né? Fala a
verdade, vocês são atores? As balas eram de festim? Mas... Espere, você se
feriu de verdade... — ela constatou sozinha, paralisando ao lembrar de ter
feito o curativo em meu braço.
— Isso... não pode ser… não é uma pegadinha? — Deduziu, falando
consigo mesma. — Vocês são realmente da máfia? — Acho que não foi
uma pergunta, mas assenti mesmo assim. — Meu irmão está morto e eu vou
ter que.... — Ela não completou, se sentando na poltrona mais próxima.
— É por causa do dinheiro? — Perguntou, interrompendo a si
própria. — Porque se for, eu não ligo — afirmou. — Você pode ficar com
tudo, eu passo tudo para você — disse buscando qualquer fio de esperança
em mim, e eu quase senti pena dela.
— Camile, não tem nada a ver com seu dinheiro — declarei, com
uma a voz mais suave possível para tentar acalmá-la, pois achava que a
garota estava prestes a pular sem paraquedas da aeronave — nós, não
precisamos do seu dinheiro, temos o bastante. O que seu irmão deixou é seu
e ninguém irá pôr as mãos — isso era uma promessa.
— Então, eu não entendo... é só por causa do cargo de Capo? — Ela
perguntou.
— Não, não é só por causa do “cargo”. Seu irmão deixou essa
condição por uma razão, sabia que você estaria segura comigo. Pietro
morreu defendendo a família, pois ele era assim. Se não fosse isso nunca
teriam chegado perto dele, assim como se você estiver comigo ninguém irá
chegar perto de você — fui até ela fitando seu olhar triste, carregado por
uma beleza incomum. — E não é só por isso. Se deixarmos os podres tomar
o poder, você pode imaginar quanta coisa ruim vai acontecer? Quantas
pessoas inocentes vão se machucar? — Senti ela estremecer e sabia que
havia achado o ponto.
Camile era boa demais para pensar que poderia salvar inocentes e
não faria só para não se casar comigo. Talvez fosse egoísmo da minha parte
usar aquilo a meu favor, mas eu não me importava em ser egoísta, não
quando tinha tanta coisa em jogo, não quando seu próprio bem estava em
jogo.
Ela não respondeu, levantou-se desviando de mim e voltou a se
sentar onde estava, não fez mais nenhuma pergunta, nenhum comentário,
nada.
Ela era uma verdadeira incógnita, já tinha percebido aquela
particularidade de se fechar em seu mundo, onde ninguém sabia que se
passava em sua cabeça, imersa em seus próprios pensamentos.

Pedi para Cristian pegar o pen drive onde o irmão havia gravado um
vídeo para ela e coloquei o mesmo em um notebook.
— Seu irmão deixou isso para você — entreguei a ela com um fone
de ouvido para lhe dar privacidade.
Eu já havia visto o conteúdo do vídeo, vi quando ela apertou o play
e logo as lágrimas que não havia caído até o momento banhavam seu rosto,
seguidas de pequenos soluços abafados por sua mão que ia a boca, junto
com um pequeno sorriso triste, talvez por pelo menos por vídeo poder ver o
irmão novamente.
Ver aquela cena me mergulhou em um sentimento profundo de
culpa, algo inusitado para mim. Mas ver sua dor, o carinho que olhava para
a tela, seu peito que sacudia com o choro, me fez sentir uma pontada em
meu peito. Eu mal a conhecia e nunca fui do tipo sentimental, porém, saber
que eu havia causado aquela tristeza, me fez me odiar um pouco mais, se é
que isso era possível.
Ela havia passado um inferno nas últimas horas e tudo por minha
causa e eu mal sabia lidar com ela. Eu sabia que seria só a ponta do iceberg,
muitas coisas ainda viriam, mas no que dependesse de mim, ninguém
machucaria Camile.
Eu cumpriria o último desejo do meu amigo, cuidaria dela e a
protegeria nem que fosse a última coisa que eu fizesse.
 

 
 
Capítulo 8
 

Ouvir todas aquelas coisas que Alexei me disse, foi demais para
mim. Minha cabeça estava a milhão, muitos pensamentos e perguntas que
eu não conseguia expressar no momento, então eu apenas precisava de
tempo para digerir.
Alexei veio até mim com um notebook e um fone. Na tela, a figura
de alguém que mesmo muito mais velho eu conhecia bem. Peguei o
notebook colocando na mesinha da aeronave, coloquei o fone e apertei o
play.
— Olá! Minha pequena caracol – ele começou a dizer no vídeo, me
fazendo dar um sorriso pela forma carinhosa que ele sempre me chamava,
sem impedir as lágrimas que agora rompiam todas as barreiras — se você
está vendo esse vídeo significa que eu não pude cumprir a promessa que me
fiz, de acabar com os problemas da organização e ir até você. — Quero que
você saiba que eu nunca estive longe realmente, e que fiquei triste por você
ter deixado a faculdade para ir cuidar da pousada — falou mostrando que
mesmo de longe estava sempre me observando — mas fico feliz de ver que
você não mudou nada. Sempre ajudando e protegendo todos a sua volta. —
Por isso minha querida preciso que me perdoe por te envolver em tudo isso,
nunca quis você no meio disso tudo. Me perdoe pôr tê-la deixado, sem
nunca ter dado se quer uma explicação, mas espero que um dia você
entenda minhas razões. — Quero que saiba que você pode confiar em
Alexei. Sei que ele irá cuidar muito bem de você. Ele é uma pessoa muito
boa Camile, então não deixe esse lado frio dele te afastar. —Sei que posso
confiar nele, e só confie nele e nos irmãos em ninguém mais. Sei que ele
fará de tudo para protegê-la, minha querida. — Saiba que te amo para
sempre maninha... e que a verdade sempre vai estar junto a ti em seu
coração...
Ele terminou o vídeo me jogando um beijo. Beijei as pontas dos
dedos toquei a tela, como dando um último beijo em meu menino.
Eu nem podia acreditar que tudo aquilo estava mesmo acontecendo
comigo, minhas lágrimas caiam enquanto pequenos soluços sacudiam meu
corpo. Alex se sentou em minha frente e eu tirei o fone, fechei o notebook
secando as lágrimas, tentando demostrar uma força que no momento eu
estava longe de obter.

— Você está bem? Quer alguma coisa? — perguntou, soando


verdadeiramente preocupado.
— Não! Mas vou ficar — fui sincera, deixando de lado a segunda
pergunta. Pelo menos achava que ficaria.
— Descanse um pouco. Já estamos chegando — avisou.
Ele ficou ali me olhando por um tempo, me observando, me
avaliando. Cheguei a pensar que não diria nada, mas então disse:
— Posso te fazer uma pergunta? — Indagou, depois de um tempo.
Eu assenti com a cabeça.

— Você tem ...


— Namorado? — Terminei a pergunta, deduzindo que a pergunta
era pelo fato de achar que eu não aceitaria me casar, caso tivesse alguém. —
Não. — Respondi com firmeza.
— Por quê? Diz como se fosse um absurdo? — Perguntou pela
maneira que respondi. — Você é uma mulher bonita. Não deve faltar
pretendentes —afirmou.
Fiquei feliz com seu elogio, mas sem graça também, o que
estranhei, pois sempre recebi elogios e gracinhas, mas isso nunca me afetou
de forma alguma.
— Realmente não é pelo fato de ser feia, Sr. Alexei, mas pelo fato
de eu não ter interesse — admiti, pois realmente não sentia.

Ele se aproximou, me fazendo estremecer, como se testasse o que eu


acabei de dizer. Chegou próximo ao meu rosto, com um sorrisinho
orgulhoso.
— Talvez eu possa mudar seus interesses — sussurrou, me fazendo
umedecer os lábios e engolir em seco.
Respirei fundo na intenção de recuperar meu autocontrole, contudo,
só piorou minha situação quando seu aroma me embriagou. Me afastei e
olhei seu sorriso convencido.
— Eu duvido muito Sr. Alex — afirmei, tentando parecer confiante,
no entanto, por dentro estava pegando fogo.
— E pode me chamar de Alex, é assim que os amigos íntimos me
chamam — falou sem perder a pose arrogante.

— Quem disse que somos "íntimos" ou "amigos” SR. ALEXEI? —


ele me deu um meio sorriso presunçoso e terminou.
— Talvez sejamos bem mais que isso, "Cachinhos".
Pensei em retrucar, exigir que me chamasse pelo nome, mas já
estava cansada demais para iniciar mais um debate.
Eu não sabia que horas eram, só sei que me sentia exausta. Não
havia comido nada depois de ter saído da pousada.
Cristian insistiu que eu tomasse pelo menos um copo de suco. Já
estava amanhecendo quando fui vencida pelo cansaço e a escuridão me
tomou.
Acordei com muita sede. Notei que não estava mais na aeronave.
Me encontrava em um quarto grande. O sol entrava pelas frestas das
grandes cortinas.
O quarto era muito bonito e luxuoso. Me sentei na cama tentando
entender como fui da aeronave para aquele quarto, sem se quer acordar. Me
levantei notando que estava só de calcinha e uma camiseta que era óbvio
que não era minha.
— Aí meu Deus! — Disse em voz alta, já passando mil e uma coisas
em minha cabeça.
— Que bom! A bela adormecida acordou — disse uma voz grossa e
sexy que eu conhecia, não precisava olhar para saber que era Alex. Me
assustando e me fazendo puxar os lençóis para me cobrir.
— Cadê minhas roupas? E o que eu estou fazendo aqui, seminua no
seu quarto? Você, eu, nós? — Não consegui elaborar a perguntar, as
palavras não saíam de tão constrangida que eu estava.
— É claro que não! Já te disse que não sou nenhum estuprador. Não
transo com mulheres em estado de sono profundo — explicou chegando
muito próximo e colocando a boca próximo no meu ouvido. — Gosto de
ver elas gritarem por meu nome, enquanto gozam no meu pau. — Aquelas
palavras fizeram uma cachoeira na minha calcinha, me fazendo sentir uma
pulsação que foi da barriga até meu centro, acreditei que iria gozar ali
mesmo — E este não é meu quarto, é o seu. — Completou. — Suas roupas
estão na lavanderia — disse se afastando.
— Você que... — não terminei, pois, ele respondeu antes.

— Não, foi Milena uma de nossas empregadas. Depois que você


tomou o calmante que Cristian lhe deu na aeronave, apagou. Não sabíamos
que era tão fraca para medicamentos. — Justificou. — Então quando
chegamos, te trouxe aqui para cima e pedi para Milena tirar suas roupas, ela
iria vestir um pijama seu, mas não encontrou nenhum em sua mala, então
emprestei uma camiseta minha. — Esclareceu.
— É porque eu não tenho! Não sou acostumada a usar — admiti,
mais relaxada, agora que sabia que ele não havia me tocado. — Você me
trouxe para cima, com seu braço machucado? Poderia ter se ferido ainda
mais.
— Estou bem e você não é tão pesada — Fiquei constrangida com
seu comentário. — Mas obrigado, pela preocupação.
— Se este é meu quarto, o que você estava fazendo aqui?
— Vim trazer suas coisas, para que quando acordasse pudesse tomar
banho e se trocar — disse apontando para minha mala.
— Bom, obrigada! — Agradeci.
— Não agradeça ainda cachinhos — falou com voz sexy e
provocativa, enquanto esticava uma mecha cacheada de meus cabelos, para
depois soltar, que aliás deveria estar uma bagunça, visto que acabara de
acordar.
— Se me der licença, quero tomar um banho. Mais tarde nos vemos
para conversar, pode ser?

— Sim, vou pedir para te trazerem alguma coisa para comer, está á
quase 24 horas sem comer nada — avisou, indo em direção da porta. Ia
dizer que não precisava, pois não estava com fome, mas não adiantaria.
Tranquei a porta assim que ele saiu e fui até a mala, e a coloquei em
cima da cama procurando algo para vestir. Optei por uns um short jeans e
uma regata simples.
Entrei no banheiro e deslumbrei com tamanho luxo. Minha pousada
sempre teve bons aposentos, mas aquilo era puro luxo. Com uma bela
banheira de hidromassagem e um grande chuveiro moderno, sais de banho e
tudo mais. Tomei um banho de chuveiro simples com o intuito de não
demorar, lavei meus cabelos, porém não tinha nada do que estava
acostumada a usar, então só sequei com a tolha e prendi em um coque
frouxo com pequenas mechas soltas.
Ouvi baterem na porta e fui abrir, era uma menina jovem, tinha uns
dezenove no máximo vinte anos. Era loira, o que me fez lembrar Jeniffer,
apesar dos olhos serem mais escuros e ela não usar óculos como minha
amiga.
— Desculpe incomodar Srta. Camile, mas o Sr. Alex pediu para
trazer um lanche — ela disse entrando, carregando bandeja grande, com
quantidade de comida suficiente para um pequeno grupo.

— Deixar-me ajudá-la — ofereci, indo até ela para pegar a bandeja.


— Não, Srta.  Não é necessário eu faço isso — disse colocando a
bandeja em cima de uma pequena mesa próxima a varanda do quarto.
— Camile — corrigi. — Nada de Sra. ou Srta. tudo bem?
— Sou Milena. — Se apresentou, dando um aceno informando que
havia entendido.
— Prazer, Milena — sorri. — Então foi você que tirou minhas
roupas?

— Ah, sim! Achei que ficaria mais confortável e o Sr. Alex


emprestou uma camiseta dele, como não achei nenhum pijama ou robe na
mala — informou parecendo um pouco nervosa.
— Agradeço por isso. Olha, quando me trouxer alguma coisa para
comer, traga só um pequeno lanche — pedi vendo a quantidade exorbitante
de alimento. — Não precisa subir com tudo isso, pois não vou comer nem
um terço do que trouxe.
— Na verdade, não foi eu que preparei a bandeja Srtª Camile, que
dizer Camile — se corrigiu assim que olhei para ela fazendo careta em
forma de reprovação. — Foi o Sr. Alexei que fez e trouxe até a porta, eu só
entrei com a bandeja — explicou. — Precisa de mais alguma coisa? —
Neguei. — Se precisar de qualquer coisa, estarei lá embaixo — avisou, de
saída.
— Obrigada — agradeci.
Fiquei pensando no que ela havia me dito.  Alexei tinha feito aquela
bandeja para mim? O que ele queria com aquilo? Tentei não pensar, mas
meu coração traidor se aqueceu com o gesto.

Comi um pouco de uva, queijo e bolo que eu amava, e tomei um


copo de suco, percebendo que estava com mais fome do que acreditava.
Depois que comi, arrumei minhas coisas no closet que era gigantesco,
comparado a quantidade de roupa que eu tinha ali ao meu dispor.
Começava a escurecer quando decidi descer para falar com Alex.

Eu havia passado o dia todo pensando no que faria e era a hora de falar
sobre minha decisão.
— Seja o que Deus quiser! — Falei comigo mesma antes de sair do
quarto.
 
Capítulo 9.
 

— E então? Como ela está? — Victor perguntou assim que desci do


quarto de Camile, onde tinha ido levar sua bagagem.

Eu também estava cansado das últimas horas, não tinha dormido a


noite inteira e o dia provavelmente não seria diferente.

— Difícil dizer, se ela não tentar se jogar da janela nas próximas 24


horas, está bem — falei em um tom de brincadeira, indo em direção a
cozinha.

— Ela é como Cristian descreveu? — Sebastian perguntou


empolgado, encostando-se no balcão com as pernas cruzadas enquanto
usava sua lâmina para limpar as unhas. 

— Cristian fala demais! — Respondi separando alguns alimentos e


colocando sobre bancada.

— Mas ela é ou não uma gata selvagem? — Sebastian insistiu e eu o


ignorei sem muita paciência.
— Você precisava ver como ela ficou quando Alex contou que tinha
forjado a morte dela — Cristian falou ao entrar pegando uma fatia de bolo.
— Eu jurava que ela iria unhar toda a cara dele — disse apontando para
mim, mas parou quando notou que eu não estava para brincadeiras.

— Você não deveria estar fazendo outra coisa? — Repreendi duro o


suficiente para ele entender.

— Eu estava com fome — justificou mordendo a fatia sem nenhuma


delicadeza.

— E quando você não está? — Victor perguntou.

— Okay, já entendi, só vou pegar isso e um pouco disso — disse


colocando em um prato pão recheado e bolo e saiu nos deixando a sós.

— Me diz por que mesmo a gente alimenta esse dragão? — Victor


perguntou depois que ele saiu.

— Porque infelizmente ele é nosso amigo — Sebastian respondeu.

— Daria menos prejuízo alimentar um leão — Victor respondeu e


nós rimos juntos.

Eu tinha que concordar, Cristian comia o tempo todo, de tudo e em


qualquer lugar. Se tinha alguma coisa que ele gostava mais do que mulheres
era de comer, sem dúvida, e eu me perguntava para onde ia tanta comida.

Voltei a montar a bandeja, colocando um pouco de tudo, lavando e


picando algumas frutas para acrescentar a bandeja.

— Vai comer tudo isso? — Victor se surpreendeu, apontando para a


quantidade de comida que eu estava colocando na bandeja.

— Não é para mim, é para Camile.  Não faço ideia do que ela gosta,
então vou colocar um pouco de cada coisa — falei indo até a geladeira e
buscando um pedaço de queijo e iogurte.
Camile tinha apagado o resto da viagem e já passava um pouco da
hora do almoço, eu já estava começando a ficar preocupado quando ela
finalmente acordou.

— Você acha que ela irá aceitar? — Sebastian perguntou mais sério,
deixando as brincadeiras de lado.

— Eu não sei — respondi dando uma pausa e respirando fundo.

— Ela não lhe disse nada depois que contou sobre o casamento?

Sacudi a cabeça em negação me lembrando de como ela havia se


fechado depois de tudo.

Camile tinha conseguido me impressionar com seu jeito peculiar de


ser, seu olhar obstinado, que me encarava sem medo, pudores ou
constrangimento, mesmo depois de saber minha origem. Vi sua surpresa
quando revelei que éramos da máfia, o que fazíamos, mas não medo. Ela
não baixou a cabeça, como a maioria, não desviou o olhar e eu poderia
dizer que era até imprudente de sua parte, mas a verdade é que me sentia
bem com aquilo.

Era natural para mim e meus irmãos lidar com o medo, o espanto
das pessoas, ás vezes chegava ser até engraçado, os olhos arregalados
quando revelávamos ser da Lá Rete, o medo de nos encarar como se
fossemos algum tipo de Deuses da morte. Mas Camile parecia não ligar ou
não entender aquilo.

No entanto, quando acordou foi diferente, era como se acordasse no


meio de um pesadelo. Sua pele pálida, suas pupilas dilatadas, seu corpo
trêmulo, como se tivesse visto um fantasma.

— Alex?! Algum problema? — Victor perguntou.

— Eu não sei, ela só me pareceu diferente agora pouco.

— Diferente, como? — Perguntou estranhando.


— Assustada... — Respondi confuso.

— E não era para estar, depois de tudo?

— Não, você não entende. Cristian tem razão, Camile é como uma
fera selvagem — comentei parando o que fazia. — Mesmo com tudo isso,
ela em momento algum baixou a cabeça, nenhuma vez, não se acovardou
ou chorou por medo, por tristeza sim, mas não por medo.

Victor olhou para Sebastian, que me escutava atentamente.

— E depois que acordou? — Sebastian perguntou.

— Eu tinha acabado de entrar para deixar sua mala e quando ela


acordou e me viu… — falei me lembrando. — Por um minuto ela me
pareceu... apavorada.

— Por um minuto? — Sebastian perguntou.

— Sim, depois voltou a ser a mesma garota irritante e petulante da


aeronave — falei voltando a montar a bandeja.

— Talvez finalmente tenha caído em si — Victor deduziu.

— É... talvez.

Mas eu realmente não acreditava naquilo.

— E é por isso que você está montando uma bandeja para a pequena
fera selvagem, irritante e petulante? — Sebastian voltou com suas
costumeiras piadas.

— Ela está sem comer nada desde que saímos da pousada, e pelo
que sei, ainda precisamos dela viva para que eu me case com ela —
respondi pegando a bandeja e indo em direção às escadas.

Depois de ajudar Milena a levar a bandeja para o quarto de Camile


eu voltei para junto de meus irmãos.
— E o que vai fazer agora? — Victor perguntou quando desci as
escadas.

— Vocês dois eu não sei, eu vou descansar um pouco pois não


dormi a noite inteira.

— E Miller? — perguntou do homem que havia sido capturado no


Brasil pouco tempo depois que Camille foi emboscada.

— De ordem aos homens para levá-lo para o calabouço, vou lidar


com ele depois — avisei.

Tomei um copo de whisky sem gelo e voltei para meu quarto, tomei
um banho rápido e me joguei na cama a fim de descansar algumas horas.

— Ela saiu do quarto? — Perguntei a Milena enquanto terminava de


arrumar a camisa para sair.

—  Não Sr. — respondeu. — Quer que eu leve alguma coisa para


ela? — Perguntou.

— Não, deixe ela descansar, se não sair até a hora do jantar veremos
— informei.

Milena fez um sinal de concordância e se retirou, eu terminei de me


arrumar e segui para o calabouço onde Miller estava preso.

— Ele já acordou? — Perguntei aos meus homens quando cheguei


no calabouço.

— Sim, chora como uma menininha — outro disse rindo, mas não
sorri de volta.

Miller tinha sido um dos homens que emboscaram Camile. Depois


consegui tirá-la de lá, ordenei que os encontrassem. Infelizmente o outro
morreu, ficando só aquele covarde.
Desci as escadas que dava para um subterrâneo onde realizamos
torturas, interrogatórios e execuções.

Miller estava sentado em uma cadeira com as mãos e pés amarrados,


Sebastian foi até ele e tirou seu capuz.

— Bom dia! — Sebastian cantarolou em seu ouvido de uma forma


sombria.

Sebastian tinha um senso de humor macabro para realizar suas


torturas, que chegava ser assustador. Ele adorava fazer piadas enquanto
realizava seus interrogatórios e não era atoa que o chamavam de
açougueiro, porque desossar e fatiar era sua especialidade e eu tinha pena
de quem caia em sua mão.

— Chega ser destino te encontrar aqui — Sebastian continuou.

Miller já estava bem machucado, Cristian já havia ordenado as


sessões de espancamento antes mesmo de chegarmos á Itália.

— Alex... Alex, por favor! Me perdoe, eu... eu

— Shiiii, shiiii — falei levando o dedo aos lábios pedindo friamente


que fizesse silêncio. — Não quer que Sebastian comece por sua língua
quer? — Perguntei puxando uma cadeira e me sentando para admirar o
show.

Saiba que ainda era muito novo como Capo da organização e ainda
tinha que conquistar meu respeito dentro da Máfia, nem todos haviam
aceitado muito bem minha posição e muitos achavam que eu não tinha
potencial para comandar, a maioria acreditava que eu e meus irmãos éramos
fracos demais.

Apesar dos horrores que passamos na iniciação, dos treinamentos


duros que nosso pai nos dava desde muito cedo, nossa mãe havia nos criado
com princípios e nos tornava fracos aos olhos dos outros.
Meu pai era de uma família típica da máfia italiana, era um homem
duro, inflexível, mas que amava minha mãe.

Nossa mãe era de uma das casas da Espanha, havia se casado em


uma aliança, sabia seu lugar dentro da máfia e nunca tentou contradizer a
palavra de meu pai, e em troca ele nunca a desrespeitou.

Juntos, os dois nos ensinou, os dois lados da vida. Ele nos moldou
para nos tornar homens que precisávamos ser, frios, rígidos e corajosos, ela
nos ensinou nossos princípios, amar e respeitar quem realmente merecia.

“Se você é capaz de trair quem confia, em fechar os olhos e dormir


ao seu lado, então você não é digno de confiança de ninguém e merece ser
traído”

Era o que ela sempre nos dizia, a frase já conhecida por todos, mas
pouco respeitada.

— Então me diga Miller, quem mandou você ir ao Brasil?

— Alex, eu juro que não sei, recebemos o serviço como um


pagamento extra, eu não sabia que era a irmã de Pietro, eu juro — ele falou
acelerado.

Fiz um sinal para Sebastian, que atravessou uma agulha fina no


músculo da sua perna fazendo-o gritar.

— Tá, vamos tentar mais uma vez, mas dessa vez responda somente
o que eu perguntar, ok? — Ele assentiu chorando.

— Quem contratou os serviços?

— Eu juro que eu não sei… Eles se escondem, pode ser qualquer


um… Eu não sei — repetiu desesperado.

— Como encontrou a menina? — Perguntei calmo e frio, vendo o


sangue escorrer por sua perna me trazendo uma enorme satisfação.

— Estava no dossiê — disse, respirando com dificuldade.


— Qual era a ordem? — Sebastian perguntou.

Miller não era difícil de lidar, contava tudo que sabia com muita
facilidade, o problema era que o idiota não sabia nada, era um rato sem
lealdade a ninguém.

Me levantei devagar depois de ver Sebastian brincar com ele por


algumas horas, fazendo perguntas repetidas vezes sem obter muitas
respostas satisfatórias.

— O mantenha assim por alguns dias, depois solte-o. — Ordenei


retirando o anel de seu dedo depois de ter apagado de tanto apanhar.

— Mas chefe… — um de meus homens começou a falar, mas


desistiu quando o olhei friamente — Sim, chefe.

— Desse jeito vão achar que você realmente é fraco — Sebastian


disse limpando as mãos sujas de sangue, apontando para o soldado que
tinha acabado de sair.

— Espero que sim! — Respondi admirando o anel grosso com um


corte redondo e símbolos místicos de Deuses nórdicos que provavelmente
Miller devia ter roubado de alguma vítima sua.

— O que pretende? — Sebastian perguntou quando estávamos


sozinhos.

Olhei para Sebastian e sorri sem responder sua pergunta, saindo em


seguida.

— Não vai me contar o que pretende? — Perguntou mais alto antes


de eu subir as escadas.

— Você irá descobrir em breve.

— Como ficou a situação da mãe dela? — Victor quis saber.


— Deixei uma equipe responsável pela segurança da pousada, eles
estarão seguros por enquanto — informei.

— Acha que ela vai continuar por lá?

— Eu duvido, não tem mais nada que a prenda aquele lugar, ela
perdeu o marido, Pietro e agora… — parei ao imaginar o que a mãe de
Camile estava passando.

— Será difícil a garota aceitar sabendo que terá que abandoná-la —


Sebastian disse.

—Teremos um grande problema se ela não aceitar — Victor me


lembrou.

— Eu não posso obrigá-la — justifiquei.

— Mas irá permitir que outro faça? — Quis saber.

— E o que você me sugere?

— Que se case com ela!

— É o que estou tentando fazer se não percebeu, mas não vou


obrigar ela a se casar comigo! — Respondi irritado.

— Não estou pedindo que você a force a nada Alex! — Disse se


referindo ao ato sexual. — Mas se permitir que ela saia daqui — ele deu
uma pausa e respirou fundo, diminuindo seu tom de voz — se perder a
posição de Capo, o conselho nomeará outro, e seja quem for terá que se
casar com ela e acredite, ele não será tão benevolente como você! — Disse
me lembrando tudo o que eu já sabia.

— Eu sei. PORRA! Pensa que não sei de tudo isso? Pensa que não é
o que passa pela minha cabeça desde a primeira vez que vi a merda do
vídeo. Eu não queria isso, não pedi por isso, mesmo assim estou tentando!
— Falei estourando, perdendo totalmente minha paciência.
— Quer que eu a amarre? a prenda em um quarto e a obrigue a se
casar comigo? É esta sua sugestão? Então vou dizer pela última vez, eu não
vou! Irei deixar claro para ela — falei apontando para as escadas — tudo
que está em jogo, mas não vou forçar ninguém a se casar comigo! — Falei
colocando um ponto final naquela conversa.

Respirei fundo passando as mãos no cabelo tentando me acalmar.

— Me desculpe! — Victor disse — Eu… Eu só pensei…

— Sei o que pensou, eu também pensei várias vezes a mesma coisa,


que seria melhor para ela que fosse eu a fazer do que outro, que a forçaria a
coisas muito piores, mas essa decisão não cabe a nós, isso só cabe a ela
mesma — falei baixando o tom de voz.

— Já falou com ela? — Victor perguntou depois de um tempo.

— Não! Ela não saiu mais do quarto desde que chegou.

— Se certificou se está viva? — Sebastian perguntou em seu


costumeiro tom de brincadeira.

— Nessa eu devo concordar com ele, Alex. Ela está muito quieta,
você não acha? — Questionou.

Para mim aquilo não era novidade, Camile havia se fechado todas as
vezes em que acreditei que surtaria, simplesmente se recolhia em seu
mundo mantendo todos do lado de fora, o que era bem curioso.

— Vamos dar tempo a ela — falei entrando mansão, usando a porta


lateral da cozinha. — Se ela não sair até a hora do jantar, eu irei até ela.
 
Capítulo 10
 

Desci uma escada larga com luminárias nas paredes, iluminando os


degraus. Lá embaixo era uma sala enorme com um grande sofá no centro e
uma enorme televisão na parede, poltronas dava um charme ao lugar. Do
outro lado via-se uma porta estilo balcão de vidro, com detalhes em madeira
de correr e que dava para um enorme jardim, e do lado da escada também
tinha outra porta grande de madeira com janelas combinando.
Terminei de descer, notando que embaixo dela pegando uma parte
da sala havia um jardim de inverno, com pedras brancas e uma fonte.
Estava admirada com o bom gosto.
— Uau, está é a fera? — Escutei uma voz vindo da porta próximo a
mim, chamando minha atenção.
Na porta que dava para cozinha estava Alex, com outros dois que
acreditava ser seus irmãos, havia uma boa semelhança, um deles não me
pareceu estranho, mas acho que era só impressão.

— Fera? — Indaguei, não entendendo a comparação.


— Não ligue para o que Sebastian diz, 50% do que sai desse ser, é
merda... — falou o mais baixo, que eu achei conhecer.
— Os outros 50% é prazer gatinha. — Cortou Sebastian o que o
outro iria dizer.
— Camile, esses são Victor e Sebastian meus irmãos — Apresentou
Alex apontando para cada um enquanto falava. — Está é Camile, irmã de
Pietro.

— Prazer gatinha! — Sebastian falou pegando minha mão e


depositando um beijo. — Caso não queira se casar com meu irmão, saiba
que estou a sua disposição para se casar, usar e abusar — disse piscando
para mim, me fazendo fazer uma careta.
Não que ele fosse feio, longe disso. O homem era um pedaço de mal
caminho, com pele clara e um cavanhaque negro da cor de seus cabelos e
um físico de tirar o fôlego, olhos quase da mesma cor dos do irmão. Mas
homens assim, tão cheios de ego que mal cabem em si mesmo,
definitivamente não era meu tipo. Andam transbordando arrogância e
prepotência, que mal conseguem se equilibrar.
Reparei que Victor era tão bonito quanto os irmãos, um pouco mais
baixo, não muito coisa, tinha os braços mais largos que os dois, talvez por
malhar mais, cabelo um pouco mais cumprido que de Alex e um pouco
mais claro também. Mas ao contrário de Sebastian, Victor, era bem mais
sério. Poderia se dizer que eram os três mosqueteiros da beleza.
— Sebastian! — Advertiu Alex em um tom ferino.
— Será que podemos conversar agora? — Perguntei.
— Vamos para o escritório — convidou, indo para um corredor
onde havia duas portas ao lado do jardim de inverno. Entramos em uma das
portas de madeira que dava ao escritório a outra acreditava dar em algum
tipo de porão, não saberia dizer ao certo.
Entramos no escritório que era do tamanho dos meus quartos na
pousada, o que me fez perguntar pensar — para que um escritório tão
grande? — Havia uma mesa com três cadeiras, logo atrás tinha um grande
sofá e ao lado um bar com muitas garrafas de bebidas, em uma das paredes
uma estante grande com muitos livros. O que me chamou muito atenção,
pois eu amava ler. Entrei e fui direto a estante, porém sem mexer, atraída
como mariposa pela luz.
— Você gosta de ler? — Ouvi Victor perguntar.
— Sim, amo. — Respondi sem me virar para ele. — Mas
geralmente uso Kindle, então, quase não tenho livros físicos — falei me
virando. Notei que me olhavam como se eu fosse um ET.
— O que é isso Kindle? — Sebastian foi o primeiro a perguntar.
— Bom, é tipo de tablet para leitura, ele só baixa livros. —
Expliquei da forma mais simples possível.
Percebi que nenhum deles parecia ser chegado à leitura.
  Então de quem seria aqueles livros? Da mãe talvez, uma
namorada ou amante ou talvez um deles fosse casado, não, acho que não,
não vi nenhuma aliança, em nenhum dos três — pensei.
— Sente-se — pediu Alex mostrando um lugar no sofá.

— Obrigada! Mas prefiro ficar em pé — agradeci.


Estava nervosa, estalava meus dedos na tentativa inútil de relaxar.

Alex me olhava, seu olhar penetrante não ajudava em nada, minha situação
e a presença de seus irmãos menos ainda.
— E então o que você decidiu? — Alex perguntou.

— É-é que... — gaguejei. — Achei que poderíamos conversar em particular


— consegui completar olhando sem graça para seus irmãos.
— Não se preocupe, meus irmãos estão a par de absolutamente tudo.
Não há nada que você me diga que eu não direi a eles depois. — Declarou.
— Tudo bem então! — Disse tomando coragem, afinal eu não era
nenhuma mocinha envergonhada, tinha meus pudores, mas se ele queria que
eu falasse na frente dos irmãos, falaria.
— Acho que posso sim, aceitar esse acordo, porém tenho algumas
condições, e sem elas, viva ou morta eu não vou ficar aqui. Fui clara? —
Minha voz era irredutível.
Ele pareceu não gostar do meu tom. Diria um pouco arrogante até,
para quem estava na minha situação, mas eu precisava me impor.
— Então diga, quais as suas condições, Camile? — Perguntou
trincando os dentes.
— Primeiro nosso casamento será mera formalidade, apenas um
acordo. Não haverá consumação, você nunca vai me tocar, assim como eu
não irei tocá-lo — falei gesticulando nervosa. — Você pode ficar com quem
quiser, desde que seja discreto. — Informei, vendo seus olhos crisparem,
não sei se de raiva ou incredulidade.
— Segundo — continuei — não dividiremos quarto em hipótese
alguma. Nenhum dos dois tem permissão para entrar nos aposentos um do
outro sem bater ou ser convidado.
Ele parecia cada vez mais incomodado com minhas palavras, suas
narinas se dilataram e sua respiração ficou pesada.
— Terceiro, quando tudo isso acabar você me dará o divórcio e eu
voltarei para minha vida, tentando reparar os danos causados por esse
inconveniente.
Ele estava vermelho, sua mandíbula travada e seus punhos serrados,
eu não sei o que eu disse mais com certeza o irritou e muito.
Sebastian sorria enquanto Victor lançava um olhar de advertência
como se pedisse para manter a calma.
— Saiam! — Ordenou aos seus irmãos, me fazendo estremecer. —
Saiam, os dois agora! — Eles não esperaram mais.
— Boa sorte, ferinha! — zombou Sebastian antes de fechar a porta e
me direcionar uma piscadela.
Antes mesmo que eu pudesse reagir ao episódio, Alex estava tão
próximo de mim, que sentia seu hálito quente em meu rosto.
— Você acha que vai se casar comigo e sair por aí com outros
homens? — Exclamou bufando, parecia furioso. — Sou um inconveniente
para você, Camile?
— N-não foi isso que eu d-disse. — Gaguejei.
— Ah não! E o que foi que você disse? — Pergunta mais alto me
deixando com medo da sua reação.
Controlei meu medo e me endireitei encarando-o nos olhos,
tentando recuperar o resto de dignidade que me restava.
— Disse que “você” poderia sair com quem quisesse, se o seu medo
é de que pareça corno na frente dos outros — a palavra corno pareceu
atingi-lo — pode ficar tranquilo não sou esse tipo de mulher. — Agora,
quanto a você eu já não sei, mas não estou nem aí! só não irei aceitar ser
humilhada por traições mesmo que não tenhamos nada, não vou ser ingênua
acreditando que você seria fiel em um relacionamento desse tipo. —Não
precisa ficar com ciúmes não, eu não irei ferir seu ego, até porque ele é
grande demais para ser atingido facilmente. — Finalizei, levantando uma
das sobrancelhas em desafio.
Ele encurtou ainda mais a distância entre nós, me fazendo morder os
lábios. Sua aproximação estava me esquentando por dentro, colou a boca
em meu ouvido, pegando de leve em minha nuca, me fazendo estremecer
com seu toque.
— Nunca irei tocá-la sem sua permissão cachinhos — disse com
uma voz tão sexy que minhas pernas viraram geleia. — Mas sei que você
vai implorar para me ter dentro de você. — Suas palavras me fizeram piscar
de desejo.

Prendi a respiração para me manter no controle, pois seu cheiro


másculo estava me afetando. Me afastei, encarando com incredulidade por
sua arrogância e prepotência.
— Não sou mulher de implorar por macho nenhum. — Afirmei
furiosa.
  Quem ele pensava que era? Don Juan?

Qual era o problema dos homens dessa casa? — Pensei.


Ele pareceu não se abalar com minhas palavras, ao contrário, sorriu
malicioso e continuou.
— Quanto a o quarto, não será problema. Já sobre o divórcio… se
decidir casar comigo e entrar para máfia nunca mais vai poder sair — suas
palavras me atingiram como flechas — posso prometer fazer o possível
para mudar as regras, porém não posso garantir nada. — Admitiu. — Mas
caso isso não aconteça, te prometo, deixarei você ter uma vida mais normal
possível. Poderá ir para longe de mim e de tudo isso.
— M-mas e minha mãe, meus amigos? — Questionei, pois ainda
que conseguisse uma vida comum longe dele, ainda estaria casada e ainda
seria membro da máfia.
— Você estará morta para eles. — Declarou, tirando meu chão. —
Sua mãe está vendendo a pousada nesse exato momento. Irá morar perto
das suas tias e é melhor que seja assim. Como seu irmão fez, você também
terá que fazer. — Declarou.
Eu sabia que estava selando meu destino, contudo, era o certo a se
fazer, para meu bem e dos que eu amava.

Milena havia me chamado para o jantar, mas já tinha quase vinte


minutos que eu esperava por Alex sentada à mesa de jantar.

— Aff, que demora. — Resmunguei baixinho.


— Desculpe, não tenho o hábito de deixar mulheres esperando. —
Ele disse me surpreendendo, chegando por trás de mim.

— Ah… não… eu... não quis ofendê-lo. — Falei morta de vergonha.

Alex deu um sorriso cafajeste notando meu embaraço com as


palavras. Ele usava uma roupa casual, deixando seus braços tatuados a
mostra, seu cabelo estava molhado de um pós-banho e seu cheiro… Como
ele consegue ser tão sexy.

— Você não me ofende Camile, sua presença é uma satisfação. —


Ele disse se abaixando, diminuindo a distância de nossos rostos.

Era impressionante como conseguia me afetar com sua aproximação


e parecia estar ciente daquilo, pois sempre que está perto faz questão de se
aproximar ainda mais, como ali naquele momento. Eu mal conseguia
respirar sem delirar com seu cheiro, meu peito descia e subia ofegante,
abalado com o efeito que Alex causava em mim.

Ele levantou sua mão com tranquilidade, me fazendo prender a


respiração e se aproximando de meu decote, me fazendo fechar os olhos
esperando por seu toque, que não veio. E quando abri os olhos Alex apenas
puxou um fio solto de minha roupa, exibindo diante de mim e soprou, se
levantando e ocupando seu lugar, me deixando mais envergonhada.

Precisava me manter longe daquele homem, que me fazia eu perder


os sentidos sem nem mesmo precisar me tocar. Alex era um perigo para
mim, que eu devia evitar a qualquer custo.

Do outro lado da mesa podia sentir o olhar de Alex me queimar


enquanto levava o garfo aos lábios devagar. Comi minha comida o mais
rápido possível.

— Obrigada, estava delicioso! —  Elogiei depois de terminar de


jantar me apressando para voltar para meu quarto.

— Não vai esperar a sobremesa? — Ele perguntou com o rastro de


um sorriso nos lábios.
— É... Não, estou satisfeita, se me der licença. — Pedi me retirando,
mas dei meia volta quando me recordei que precisava de algumas coisas
pessoais.

— Preciso ir ao supermercado.

— Faça uma lista que pedirei que providenciem para você. —  Ele
disse cortando um pedaço de carne.

— Eu mesma posso comprar minhas coisas — falei franzindo a


testa.

Alex deu uma pausa, repousou seus talheres e tomou um gole de seu
vinho, umedecendo os lábios antes de responder:

— Não, não pode, não pode sair da mansão em hipótese alguma. — 


Disse calmamente, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Sou prisioneira nesse lugar? — Perguntei, começando a me


irritar.

Ele pareceu respirar fundo buscando paciência.

— Sente-se, Camile! — Pediu, mas não obedeci. — Você não é uma


prisioneira, mas é um alvo fácil, principalmente aqui na Itália. — Justificou.

— Então deveria ter me deixado no Brasil!

Alex me encarou friamente, e por um segundo senti um calafrio


percorrer meu corpo.

— Preciso de objetos pessoais, roupas, de um celular. — Listei


ainda em pé, sem me deixar afetar por seu olhar sombrio.

— Posso providenciar tudo que precisar, mas não pode ter um


celular, ninguém de sua família deve saber que está viva, e enquanto
permanecer na mansão estará segura.
— Não irei ficar presa aqui! — Falei batendo a mão com força sobre
a mesa.

Alex se levantou furioso e eu recuei, trombando com a parede atrás


de mim. Sua mão foi ao meu pescoço e por um instante pensei que me
enforcaria.

— Não me provoque Camile! — Alex disse bufando como um


animal selvagem em cima de uma presa, e um frio dominou meu estômago.

— Não serei sua prisioneira Alex! — Falei virando o rosto e


fechado os olhos, sentindo sua aproximação.

Ele usava uma colônia deliciosa, amadeirada, e eu abri lentamente


meus olhos, vendo-o admirar meu pescoço como um prato suculento.

— Eu não disse que era “cachinhos” — Ele falou passando seu


polegar sobre a linha do meu maxilar e depois descendo por meu pescoço.

Seu toque era suave e quente, sua mão se afrouxou em meu pescoço
e seu dedo desceu pelo vale de meus seios e eu quase podia sentir em minha
pele o toque de seu nariz, sentindo meu cheiro me fazendo engolir em seco.
Eu respirava com dificuldade, não por medo, mas pelo desejo que seu toque
me causava.

Ele me encarou por alguns segundos, mas depois simplesmente se


afastou.

— É livre para andar pelos limites da propriedade, temos uma


piscina, um jardim, um campo, academia. — Falou calmamente retornando
ao seu lugar.

— Não irei ficar mofando nesse lugar! — Falei irritada, me virando


de costas e saí batendo o pé enfurecida e fui direto para meu quarto. Era
incrível como ele conseguia me tirar do sério em poucos minutos de
conversa.
Naquela noite não consegui dormir, tudo parecia me incomodar,
sentia falta da minha cama, do meu travesseiro, até as cobertas me pareciam
frias demais. Apesar do luxo, do conforto, nada ali era meu, e eu não
conseguia relaxar para dormir.

No dia seguinte, Milena me levou um café da manhã simples como


eu havia pedido.

— Alex está em casa? — Perguntei.

— Não, Sr. Alex saiu muito cedo. — Ela informou.

Aproveitei a oportunidade e coloquei uma roupa razoavelmente


confortável e saí para caminhar pela propriedade, já que era a única coisa
que podia fazer.

— Desculpa Srta. Camile, mas Alex me deu ordens para não me


afastar da Sra. — Cristian, o rapaz que tinha ido ao Brasil com Alex disse
assim que saí para fora.

— Cristian, né? — Perguntei.

— Sim!

— Espero que saiba correr de terno. — Falei sem esperar pela


resposta.

Pouco tempo depois, Cristian me alcançou de carro, mantendo a


distância, e eu só ignorei. Corri por uns 40 minutos e depois voltei a
mansão.

— Você deve ser Camile! — Uma mulher linda e alta disse assim
que entrei na mansão. — Eu sou a Sienna, prima dos meninos. — Se
apresentou.

— Ah, sim, prazer. Desculpe não te dar um abraço, mas como pode
ver estou toda suada — Falei me aproximando.
— Alex pediu para eu ver o que precisava, mas então eu tive uma
ideia melhor. — Falou me puxando pela mão. — Vamos às compras juntas!
— Disse toda animada.

— Alex disse que não posso sair da mansão. — Falei desanimada.

— E quem disse em sair da mansão? Estamos no século 21, hoje em


dia compramos tudo pela internet.

Depois de eu tomar um banho, Sienna e eu passamos horas


conversando, escolhendo roupas, e produtos de beleza e higiene pessoal.

— E como você está com tudo isso? — Ela perguntou.

Olhei para ela, que me parecia genuinamente preocupada.

— Tirando o fato que estou presa, sem minha família e sem meu
Kindle, e que em breve me casarei com um homem que quer me colocar em
uma redoma de vidro, estou bem. 

— Tenha um pouco de paciência com ele, ele só está muito


preocupado com você. — Ela justificou.

— É, eu sei... Eu só não estou acostumada com as pessoas se


preocupando tanto comigo.

— Também podemos escolher as coisas do casamento, posso ligar


para alguns decoradores para vir apresentar tudo para você aqui mesmo. —
Sienna falou mudando de assunto e eu agradeci. 

Sienna parecia ser uma pessoa maravilhosa, tinha sido uma ótima
companhia, mas foi inevitável pensar que queria minhas amigas comigo
naquele momento. Brigar pelo sabor do bolo e ter que ouvir Tabita
reclamando da cor do vestido de madrinha e como não a favorecia,
independente da cor que eu escolhesse.

Eu nunca tinha cogitado me casar de vestido de noiva, nem esperava


me casar outra vez, se é que o primeiro podia se considerar um casamento,
já que eu e André apenas fomos morar juntos.

— Não sou boa com essas coisas, talvez fosse melhor você escolher.
— Falei.

— Camile… É seu casamento, vai se sentir melhor se escolher as


coisas que gosta — ela insistiu e eu sorri triste.

— Hoje estou muito cansada, podemos ver isso outro dia? — Pedi.

— Tudo bem, vou deixar você descansar por hoje, mas não pense
que não vou voltar. — Disse me abraçando.

— Não espero que faça. — Falei com sinceridade.

Sienna foi embora, me deixando sozinha na sala. Alex não tinha


voltado para o almoço e eu agradeci, pois tentava evitá-lo.

Olhei para o corredor que dava para o escritório e depois voltei a


olhar em volta verificando se não havia ninguém por perto. Caminhei de
fininho morrendo de medo de ser pega e dei graças a Deus quando abri a
porta do escritório e estava destrancada, fui diretamente a estante de livro.

— Ele não vai perceber se eu pegar só um, ou será que vai? — Falei
comigo mesma.

Furtivamente escolhi um livro e voltei ao meu quarto, como uma


criança travessa que havia feito uma grande arte.  
 
Capítulo 11.

 
— Quero que fique responsável pelo carregamento que vem do Sul
— falei para Sebastian enquanto supervisionava nossos homens
descarregarem os containers.
— Suspeita de alguma coisa? — Ele perguntou.
— Não, só não confio em ninguém ainda. — Avisei.
— Tivemos problemas para repassar as drogas. — Assis disse
enquanto fazia sinal para os outros continuarem.
— Que tipo de problemas? — Questionei.
— Os clientes estão inseguros, primeiro Kleber, depois Pietro e
agora você, a Lá Rete está perdendo a credibilidade, alguns acreditam que
não podemos mais defendê-los como antes, outros aproveitaram para
procurar outros fornecedores.
— Outros fornecedores? Não existem outros, não em nosso
território caralho! — Falei furioso.
— É desse tipo de problema que estou falando. — Ele respondeu.
— Quero saber quem está se atrevendo invadir nosso território e
quero saber para ontem, eles querem saber se a Lá Rete ainda tem a mesma
credibilidade? Então vamos mandar um recado.

— E o que devemos fazer chefe?


— Nada! Apenas diga que estamos dispostos a negociar a
distribuição deles em nosso território.
Assis me encarou incrédulo e sorriu achando que eu estava
brincando.
— Não está falando sério, está? — Perguntou.
E eu olhei para Sebastian que entendeu meu ponto.

— Sim, ele está — disse dando um tapinha em seu ombro, fazendo


ele perder o brilho sem entender onde eu queria chegar.
Cheguei em casa já tarde, estava cansado e fui direto para o
escritório precisando beber alguma coisa, enchi meu copo e de meus irmãos
e me sentei no sofá.
— Vai mesmo fazer o que penso? — Sebastian perguntou.
— Fazer o que? — Victor perguntou.
— Estão tentando invadir nosso território, roubando nossos clientes
e distribuindo em nossa área. — Sebastian respondeu se sentando em cima
da mesa.

— Puta merda! E o que pretende fazer?


— Vou convidá-los para um jantar, formal e civilizado. — Respondi
bebericando minha vodka.
— Acha que isso vai mandar um recado aos outros? — Victor
perguntou, entendendo exatamente meu plano.
— Não, porque não vou dar tempo para isso. Quero a localização de
seus principais depósitos, quero a cabeça de seus distribuidores e quero isso
tudo para servir como sobremesa para eles. — Ordenei.
— Eu fico com as cabeças — Sebastian disse sorrindo, animado por
um pouco de ação, enquanto Victor balançava a cabeça em negativa para
ele.

Olhei para a estante de livros da minha irmã sentindo falta de


alguma coisa, tudo parecia exatamente como estava, mas em um canto
faltava um livro eu notei. Me levantei estranhando, porque nunca ninguém
mexia ali, até mesmo as empregadas evitavam entrar em meu escritório.
— Vocês pegaram algum livro aqui? — Perguntei passando os
dedos pelo lugar vago.
— Que? Livro? Claro que não — Sebastian respondeu sem muita
importância.
— Nem vim para a mansão hoje — Victor respondeu e eu sorri,
sabendo bem quem era a responsável pelo pequeno furto.

No dia seguinte quando acordei, Camile já estava arrumada na sala e


assim que desci as escadas ela se levantou do sofá onde estava sentada.

Ela usava uma roupa discreta, simples como sempre, mas elegante,
botas pretas que provavelmente havia comprado no dia anterior junto com
Sienna, minha prima, e um poncho que por incrível que pareça lhe caia
muito bem, já que fazia um pouco mais de frio aquele dia, e uma bolsa
pequena de mão.
— Preciso que me leve ao cemitério, onde Pietro foi enterrado. —
Pediu assim que fui abrir minha boca para questionar onde pretendia ir,
fazendo fechá-la novamente.
Não podia negar aquilo a ela, não depois de tudo.
— Não precisa ir comigo — falou quando eu não respondi. — Não
vou me demorar, peça para qualquer um me levar só me deixe…

— Tudo bem Camile, eu mesmo a levarei. — Eu a interrompi.


Tinha milhões de compromissos para resolver, as boates, o cassino,
os fornecedores, os conselheiros me cobrando relatórios, ainda assim me
comprometi em levá-la.
— Me dê alguns minutos, está bem? Já, já saímos. — Avisei e fui
para o escritório.
Peguei o telefone e liguei para Victor.
— Victor?

— Fale Alex!
— Preciso que vá às boates e ao cassino para mim, quero que
negocie com os novos clientes para mim…
— Alex, estou no território dos “Neri”. — Ele me interrompeu.
Cazzo, havia me esquecido e Sebastian devia estar atrás dos
distribuidores que estavam trabalhando em nosso território.
— Ok, quando terminar me avise! — Ordenei, já fazendo uma
chamada para Sebastian — Sebastian!
— Alex?!
— Já está com os distribuidores?
— Não, nem tomei café ainda — respondeu.
— Ótimo, mudança de planos, vá para os bordéis e para o Cássio me
representar, e feche negócio com os novos clientes.
— Mas…
— Cristian dá conta de meia dúzia de traficantes.
Sebastian se mostrou desapontado, pois detestava fazer o trabalho
burocrático.

— Vou pedir para Cristian deixar alguns para você. — Falei antes de
desligar.
— Não adianta tentar me agradar. — Falou bravo do outro lado da
linha.
— Podemos ir! — Falei encontrando Camile ainda na sala.
Camile como sempre se manteve em silêncio o percurso inteiro e eu
começava acreditar que ela tinha sérios problemas comigo, já que todos
conseguiam falar com ela menos eu.
— Está confortável em seu quarto? — Perguntei procurando puxar
um assunto que nos tirasse daquele silencio constrangedor.
— Sim, é muito bonito. — Foi tudo o que respondeu.
—Sienna disse que compraram roupas juntas ontem. — Tentei
novamente.
— Sim, muito obrigada! — Agradeceu e voltou a ficar em silêncio.
— Ela é muito legal — Falou depois de um tempo grande e eu nem soube
mais de que estava falando. — Sua prima. — Ela lembrou.
— Sim, é uma pessoa maravilhosa! — Ela afastou uma mecha que
batia em seu rosto por causa do vento que vinha de fora e eu pude ver seu
olhar triste e me perguntei se algum dia veria aquele mesmo sorriso que ela
distribuía na pousada, se o brilho em seus olhos um dia seria capaz de
retornar a lhe dar vida.
Camile me olhou e por um momento tive o impulso de lhe acariciar
o rosto, mas me contive.
 O que estava acontecendo comigo? por que sua tristeza me
incomodava tanto?
Chegamos ao cemitério e ordenei aos homens que dessem uma
busca pelas proximidades e dei ordem que ninguém devia se aproximar.
Depois de confirmado que estava tudo seguro permiti que Camile descesse
e fosse até o túmulo do irmão.
— Prometo ser rápida!
— Fique o tempo que precisar — falei antes de sair, deixando-a à
vontade.
Primeiro ela se ajoelhou e chorou pelo que pareceu horas, depois se
sentou no chão e de repente começou a sorrir triste conversando sobre
alguma coisa que eu não soube dizer o que era. Mais algumas horas se
passaram e no fim ela deixou um rosa que havia comprado na entrada em
seu túmulo.
— Obrigada, mano. — Ouvi ela dizer ainda abaixada alisando o
mármore.
— Pronta? — Perguntei e ela assentiu se levantando.
— Alex! — Ela chamou quando a deixei na mansão e ia saindo para
me encontrar com Victor e Sebastian — Obrigada! — Agradeceu.

Fiz um sinal para ela e saí.

— Onde você estava? — Sebastian perguntou assim que estacionei


o carro em frente ao cassino.
— Fui levar Camile ao túmulo do irmão. — Informei sério e aquilo
pareceu bastar como satisfação.
— Consegui fechar o acordo com o novo cliente, mas vamos ter que
garantir uma quantia grande para eles. — Avisou enquanto caminhávamos
pelo estacionamento.
— Para um cliente novo? — Questionei, pois geralmente
começávamos com quantias pequenas e depois íamos aumentando.
— Era isso ou eles pegavam com outro.

— E os galpões dos Neri? — Questionei a Victor.


— Tudo certo para hoje à noite. — Ele respondeu me
acompanhando para dentro do cassino.
Entramos no cassino onde era feito nossa lavagem de dinheiro e a
maioria da reunião com o conselho.
— Acha mesmo que eles vão aparecer? — Sebastian perguntou.
— O jantar é só para tornar as coisas mais divertidas, caso não
apareçam, exploda seus depósitos e certifiquem de que recebam a cabeça de
seus distribuidores. — Ordenei.

Entrei na sala onde o grupo de anciãos me aguardavam.

Estava no escritório com Sienna, que desde que Camile havia


chegado, passou a frequentar mais a mansão.
Camile recusava um casamento grande e alegava não querer se casar
com vestido de noiva. Tentei argumentar com ela dizendo que
provavelmente seria o único casamento que ela teria. Mas ela dizia que não
se importava, pois não era de verdade.
Aquilo não deveria, entretanto me incomodava, me incomodava pra
caralho.
Tínhamos marcado a data para o final de semana, em uma cerimônia
simples em casa mesmo. Tudo seria montado no quintal para no máximo 80
pessoas.
Mas, Camile se mantinha a maior parte do tempo em seu quarto,
saindo somente para fazer as refeições e correr nos limites da propriedade.
— Eu não entendo! — Admiti, para Sienna. — Já faz duas semanas
que ela decidiu que aceitaria, e fica na naquele maldito quarto, não saí nem
para organizar as coisas do casamento. Achei que pelo menos a organização
a animaria. — Declarei, frustrado.
Sienna estava organizando todos os preparativos para o casamento,
uma vez que Camile não fazia questão.

— Alex querido, tenta entender o lado dela, está cercada de pessoas


que não conhece, casando-se com um homem que não conhece, por mais
lindo que seja. — Disse batendo em meu peito com um sorriso. — Em uma
família de mafiosos que até duas semanas acreditava ser coisa de filme,
palavras dela. — Argumentou.
Dei a volta na mesa e me sentei na cadeira ouvindo minha prima
terminar.
—  Ela não terá nenhum amigo por perto neste momento, mãe,
família, ninguém!  De onde você quer que a garota tire ânimo? — Sienna
justificou. — Sem falar que você tirou dela o celular e o Kindle, que aliás
ela vive reclamando. Não pode sair para lugar nenhum, porque tem um
monte de gente querendo pôr as mãos na garota. — Expôs Sienna, vindo
para perto de mim e passando as mãos em minha barba por fazer, virando
meu rosto para encará-la.
Sienna era como uma irmã mais nova para mim eu tinha imenso
carinho por ela, assim como ela por mim.
— Se coloque no lugar dela! — Falou com imensa ternura.

— Porra! Colocando dessa maneira me sinto um merda agora. —


Brinquei.
— Se eu fosse ela, estaria histérica neste momento. Estaria gritando
e chorando, e se fosse outra mulher talvez simplesmente se aproveitaria da
situação. Casando-se com um homem lindo e rico, para foder e gastar seu
dinheiro. — Falou se jogando no sofá apontando para mim.
— Camile não é assim. — Comentei. — Ela nem tocou no dinheiro
que o irmão deixou para ela.
— Não, ela não é. — Concordou. — Vejo quando vou falar com ela.
A garota só queria estar perto das pessoas que ama. É difícil para ela saber
que eles estão sofrendo por uma perda que não existiu, é muito doloroso.
Sabe que ela só aceitou tudo isso por eles né? — Lembrou.
Camile tinha deixado claro que a única razão de aceitar o acordo,
era para proteger os seus e impedir que crianças e mulheres inocentes se
ferissem.
— Eu sei! Mas não sei o que fazer, não sei lidar com mulheres. —
Admiti. — E quando se trata de Camile é pior ainda, não faço ideia do que
fazer para animá-la.
— Só de um tempo para ela — pediu. — Mas acho que ajudaria se a
levasse para sair um pouco. Faz duas semanas que ela não vê ninguém além
dos que tem aqui nesta casa. Leve ela em um restaurante, no cinema, sabe-
se lá, mas a leve a algum lugar. — Disse se levantando para sair. 
— Vocês irão se casar daqui quatro dias. Tenta conhecê-la um
pouco, tenta se aproximar dela.
Eu era a última pessoa que Camile queria próxima a ela, apesar de
passar a maior parte do tempo no quarto ela falava com todos, Sebastian,
Cristian, Milena, mas eu era uma exceção. 

— Não sei Sienna, não sou homem de levar mulher para sair. —
Justifiquei.
Não tinha o hábito de sair com mulheres, todos os relacionamentos
que tinha eram somente casuais, meus encontros nunca incluíam, refeição
ou passeios, apenas sexo e nada mais.
— Talvez possa pedir ao Cristian para levá-la ao shopping? —
Sugeri.
— Claro! — Exclamou animada — Peça para Sebastian a levar, ele
pode levá-la para se divertir um pouco — sugeriu. — Ele é engraçado e
brincalhão, vai saber distraí-la e eles parecem se dar bem.
Meu estômago revirou com o pensamento. Sabia que Sebastian era
meu irmão, mas só de pensar em Camile com ele enquanto ele tentava
flertar com ela a todo momento, me deixa com os nervos à flor da pele.

Sebastian era um tremendo mulherengo e vivia fazendo suas


gracinhas com Camile, admirando as curvas da minha mulher.
  “minha mulher”
Quase ri com o pensando. Camile não queria nem chegar perto de
mim, mas imaginar qualquer homem tocando nela, fazia meu sangue ferver.
— Nem fodendo! — Exclamei. — Sebastian é um mulherengo e só
vai irritar Camile. — Tentei disfarçar minha irritação, que nem mesmo eu
entendia.
— Tá certo! Tá certo! Não está mais aqui quem falou. — Ela disse
se afastando, notando minha irritação.
— Bom seja como for, vê se faz alguma coisa, Agora se me der
licença, vou ir comprar algumas roupas para ela. — Disse saindo em passos
largos.
Porra! O que eu faria? para onde levaria ela? — Pensei
Sentado em minha cadeira no escritório. Vi um dos convites que
normalmente recusaria, para festa naquela mesma noite, mas talvez fosse
bom eu ir e levá-la.
Peguei meu celular confirmando minha presença e de Camile,
mandei mensagem para Sienna pedindo que ela comprasse alguns vestidos
de festa e saí do escritório pois precisava resolver algumas coisas antes.
 
Fui me encontrar com meus irmãos, eles me esperavam no cais, em
um dos nossos galpões com Miller, o homem que eu havia ordenado que
libertassem depois de tentar matar Camile no Brasil.
Depois de alguns dias de tortura ele gritava por clemência e
misericórdia, então dissemos a ele que se cooperasse conosco, deixaríamos
que vivesse. Claro que tudo não passava de um plano, não éramos tão
misericordiosos assim.

Sabíamos que assim que ele tivesse oportunidade iria nos trair.
Aliás, contávamos com aquilo, queria que ele nos levasse ao mandante do
ataque a Camile.
Não demorou muito para o desgraçado esquecer o que havia
prometido e nos dar as costas, e era exatamente por isso que agora
estávamos com os dois no nosso galpão.
Os dois estavam amarrados por corrente, somente de cueca, com
hematomas e cortes que ainda sangravam. Meus irmãos já tinham se
divertido com os dois, mas por ordens minha, não mataram nenhum dos
dois.
— Ora! Ora. Olha quem nós temos de volta. — Zombei chegando
perto de Miller.
— Alex, por favor! Eu juro, não ia trair vocês, só estava fingindo
para buscar informações. — Mentiu.
Eu havia mandado fazer uma réplica idêntica ao seu anel, com um
localizador e escuta enquanto estava apagado.
Ele havia passado alguns dias distante, com medo de ser pego,
lambendo as próprias feridas, porém no dia anterior recebeu uma ligação de
Venner, o verme que agora está ali junto com ele.
Na ligação Venner dizia que precisava conversar com ele e ofereceu
uma grande quantia em dinheiro para lhe passar outros serviços, claro que
nem imaginava que ele tinha sido capturado ou já teria apagado o infeliz a
muito tempo, então não deixamos que ninguém soubesse.
— Por isso ia aceitar ir atrás da amiga de Camile? — Questionei,
pois, esse era o plano deles.
Venner havia pedido para Miller voltar ao Brasil e ir atrás de
Jeniffer, já que Tabita tinha ido embora sem deixar rastros.

A garota tinha desaparecido depois do enterro feito pela família e


amigos de Camile, entretanto Jeniffer permaneceu na pousada com os
novos administradores, que estavam sob meu comando.
— Não, eu juro eu iria contar para vocês! — Disse tentando se
manter em pé.
O que era uma grande mentira, ele já tinha planejado tudo, inclusive
já havia feito reserva próximo onde a menina morava para facilitar seu
acesso a garota.
Em uma mesinha havia vários aparelhos de tortura e nela peguei
uma agulha grande a mesma que tínhamos usado da última vez, vendo-o se
agitar.
— Sabe, eu vou colocar uma música para você, então fiquei quieto e
escute. — Ordenei com uma calma doentia.
Dei sinal a Victor, para que rodasse a gravação onde ele falava de
Jeniffer.
— Pode deixar chefe, vou buscar a loirinha, eu posso brincar com
ela? — Perguntou a Venner vibrante, esperando por um presente.
— Faça o que você quiser, só traga a garota viva, sei que a vadia de
Alexei vai querer provas da garota para se entregar.
— Ah, eu vou adorar abrir os buraquinhos dessa loirinha, ela deve
ser toda apertada…
Victor parou a gravação antes mesmo de terminar, caminhou ao meu
encontro devagar, pegando a agulha da minha mão, em um pedido
silencioso de permissão para foder com aquele miserável, assenti e
entreguei a agulha a ele.
Victor tirou a cueca de Miller enfiando em sua boca, que agora
tentava gritar em desespero.
— Você é um covarde! Muitos outros aguentaram muito mais
tortura sem chiar e você já está gritando? — Declarou Victor enfiando a
agulha no canal peniano de Miller. — Também vou abrir todos os seus
buracos, e vou adorar cada segundo — Victor falou. Miller gritou mais logo
depois apagou com a dor.
— Porra! Mais já? — Victor parecia realmente frustrado.
Eu não sabia o que estava acontecendo com Victor, ele sempre foi o
mais controlado de nós três, no entanto nos últimos meses parecia
impaciente.
Sebastian e eu éramos mais sádicos. Sebastian era brincalhão,
entretanto quando se descontrolava fazia um estrago, até eu tinha medo de
quando ele surtava, parecia possuído. Mas de uns dias para cá Victor
mostrava uma certa perturbação.
— Seus filhos da puta, vocês acham que sou só eu? Tem muitos
pelas suas costas. — Gritou Venner.
Venner era um dos nossos líderes do sul, sabia que como ele havia
muitos que não concordavam com as novas regras. Essa merda já vinha há
anos, desde que Kleber havia assumido no lugar de seu pai que era um
merda.
Kleber nunca concordou com esse tipo de sujeira, então quando
assumiu, mudou muitas regras, proibindo o tráfico de pessoas, prostituição
de menores, e qualquer coisa que envolvesse inocentes. Ele confiava e
acreditava em Pietro, por isso o deixou como Capo, pois desde que Pietro
chegou o considerava como um filho, e agora Pietro me deixará em seu
lugar e eu não iria decepcioná-los.
— Não, é claro que não, porém você vai me dar o nome de cada um
deles, ou então eu vou fazer sua morte levar meses! — Concluí. — Pegando
minha adaga e enfiando em uma de suas pernas, girando dentro do
ferimento.
— Filho da PUTA! — Rugiu. — HÁ-HÁ-HÁ — riu — você pode
me torturar por anos, eu não posso dizer o que eu não sei — debochou
cuspindo o sangue que acumulava em sua boca pelos socos que havia
levado.
— O que é um azar para você, não é mesmo? — Garantiu Sebastian
indo em sua direção, o que fez Venner se debater em desespero.
Todos conheciam a mestria de Sebastian em tortura e todos temiam
ser pego por ele.
 
Capítulo 12
 
Já haviam se passado duas semanas desde que vim para Itália.
Estava na mansão de Alex em Florença. Uma grande propriedade com
muito espaço em volta deixando-a isolada de tudo e de todos.
Todos os dias saía as seis da manhã para correr, o que no momento
era a única coisa que me dava a sensação de liberdade, mesmo tendo
Cristian e Lian, que sempre me acompanhavam de uma certa distância.
Passava a maior parte do tempo em meu quarto, Alex não me
permitia ter um celular, mesmo eu jurando que não ligaria para ninguém,
ele alegava ser muito arriscado, alguém poderia me rastrear facilmente com
um. Disse que assim que as coisas melhorassem eu poderia ter outro.
Também destruirá meu Kindle achando ser um tablet, o que me deixou
furiosa.

Nos casaríamos em quatro dias e eu me sentia totalmente vazia por


dentro, não pelo casamento, mas por não poder ter minha família e amigos
por perto. Saber que estavam sofrendo, me deixava ainda pior.
Não me importava em estar casando-me com Alex, ele não era de
todo ruim, era até gentil para um mafioso, ou talvez eu que esperava um
ogro. Pois imaginava, depois de tudo que havia me revelado, que me
trancaria em um quarto frio e escuro e me arrastaria para o altar.
Bom, talvez eu estivesse lendo livros demais, mas o fato é que
acreditava que podíamos levar um relacionamento amigável, tendo que era
necessário para manter todos bem. Não acreditava que Alex também estiva
feliz com tudo aquilo.
Jamais sonhei com o casamento perfeito, menos ainda com amor
verdadeiro, no entanto esperava ao menos minha família e amigos ao meu
lado.

Olhei meu reflexo no grande espelho do banheiro e uma lagrima


solitária escorregou pelo canto dos meus olhos. Há anos, havia controlado
minha impulsividade de me automutilar, entretanto agora estava ali, vendo
as marcas em minha barriga que já havia cicatrizado, junto com a mais
recente feita no dia anterior que ainda estava avermelhada, era quase
incontrolável a ânsia de repetir o ato.
Lembranças de Pietro retornavam a minha mente, nossa infância, o
que vivemos o que passamos e com elas as sensações, o arrepio da pele, a
agonia a ânsia. Fechei os olhos, mordi com força os lábios tentando afastar
tudo aquilo.
 Talvez eu merecesse passar por tudo isso, afinal meu irmão passou,
se distanciou dos amigos, da família, de tudo que gostava e para que? Só
para não ter que sentir a dor e o sofrimento que lembrava todas as vezes
que olhava para mim!  Era para ter sido eu! Eu deveria ter passado por
tudo aquilo, não ele, nunca ele.
As lembranças me fizeram remeter a dor de ver meu irmão sofrer
todos aqueles anos vinha à tona, me fazendo querer realizar um novo corte.
Minhas mãos tremiam com a lâmina entre meus dedos e eu tentava lutar
contra aquele desejo incontrolável de me ferir. Tentando aliviar aquela dor.
— Camile! — Escutei Sienna chamar.
Sienna era uma pessoa maravilhosa, uma mulher linda, branca de
cabelos fartos e lisos em um castanho claro puxando para o loiro, alta,
talvez uns 1,80 e corpo escultural, que provavelmente mexia com a
imaginação da maioria dos homens.
Ela há dias vinha me fazendo companhia e me ajudando a enfrentar
tudo, sempre sorridente, simpática e alegre.
— Entre! Estou tomando banho. — Menti, mas realmente havia
acabado de sair do chuveiro.

Arrumei o curativo, coloquei uma roupa e saí do banheiro.


Quando entrei no quarto tinha dois vestidos sobre cama, um preto de
alças finas com decote drapeado e um vermelho brilhoso ombro a ombro,
com babado e uma fenda.
— O que é isso? — Indaguei fazendo careta.
— Alex disse que vocês têm um evento para ir hoje à noite. —
Explicou, superanimada como se tivesse ganhado um doce. — Vermelho ou
preto? — Perguntou segurando as duas peças na frente do corpo.
— Vermelho! — Afirmei. — O preto tem alças muito final para
sustentar meus... — não completei, ela sabia que me referia aos meus seios
grandes — Sem falar que iria ficar escândalo demais em mim. —
Expliquei.

— Mas a intensão não é essa? — Ela falou retirando o preto de seu


cabide e analisando sobre meu corpo. — Iria ficar um escândalo —
Completou sorrindo.
— Exatamente! Um escândalo, a última coisa que desejo é um
escândalo.
Ela fez uma careta, mas se deu por vencida. 
— Tomei a liberdade de comprar mais algumas coisas para você —
informou apontando para várias sacolas que estava em um canto. — Iria vir
mais cedo, mas Alex me pediu para ir comprar um vestido para você ir ao
evento e acabei me empolgando.
— O que tanto você comprou?
— Vamos abrir e ver! — Sugeriu.

Ela tirou sandálias, roupas, bolsas, acessórios e maquiagens.


— Sienna, não precisava! — Tentei argumentar.
— Uma mulher não pode ficar sem coisas essenciais e como você
veio só com o básico, acho que nada mais justo que repaginar o closet... Já
falei com meu primo e quando vocês voltarem de lua de mel, vamos sair
para fazer compras. — Meu estômago deu cambalhota com a menção da lua
de mel.
Alex havia dito que ficaríamos uma semana fora para lua de mel,
visto que poucos sabiam que nosso casamento era de fachada e
precisávamos manter a farsa.
— Aliás, eu também comprei algumas coisas para você levar na lua
de mel. — Disse dando um sorrisinho travesso.

Pegou duas sacolas que ainda não havíamos mexido.


— Alex comentou comigo onde vocês vão passar a lua de mel, eu
tenho certeza de que irá amar. É perto da praia e a casa tem uma piscina
maravilhosa. — Afirmou empolgada. — Por isso comprei esses biquínis
para você. — Declarou, quase me fazendo ter uma sincope quando ela
terminou de dizer, tirando vários biquínis de dentro da sacola.
— B-biquínis? — Gaguejei.
— É! biquínis, por quê? Algum problema? — Perguntou notando
minha palidez.
— Não! É que eu não uso biquíni. Sabe me sinto desconfortável,
prefiro maiô — Esclareci.
Eu nunca havia usado biquíni, por causa das marcas em minha
barriga, então sempre usava maiôs ou shorts com regata.
— Biquíni nunca dão boa sustentação aos meus seios. — Disse
tentando disfarçar, o que não era mentira.
— Besteira! — Declarou. — Que homem não ia querer ver esses
melões em um biquíni? — Brincou. — E você não precisa ficar com
vergonha, porque só vai estar você e Alex dentro da casa, os seguranças vão
ficar para o lado de fora.

Porra! Uma semana só eu e o Alex dentro de uma casa, como vou


conseguir resistir toda essa provação?
Apesar de já fazer seis anos que não me envolvia com ninguém, eu
não era nenhuma assexuada. Seria uma verdadeira tortura.
— Bom, vou deixar você se arrumar, pois daqui a pouco o Alex
chega. Aliás, vocês saem às 20:00, então capricha. — Disse piscando e
indo, em à direção a porta.
— Obrigada!  — Agradeci.
— De nada querida. Queria poder fazer mais para te fazer se sentir
em casa. — Declarou com sinceridade. — Espero que com o tempo nos
considere de verdade sua família. — Falou com certa emoção na voz.

— Tenho certeza de que sim. — Murmurei, mas acho que ela não
ouviu, pois já tinha saído.
Peguei as roupas e comecei a guardar tudo no closet, deixando
somente o vestido vermelho, uma sandália preta com salto agulha prateado
e uma bolsa clutch, para usar no evento.
Peguei uma das sacolas que Sienna havia trazido, que não tinha sido
mexida em nada, abri para verificar o que tinha dentro e quase caí para traz.
Lindas lingerie em vários modelos e cores diferentes, sintas ligas e
espartilhos, robes e camisolas sexy, olhei tudo dando risada da ousadia de
Sienna, entretanto guardei tudo de volta tirando somente alguns conjuntos
de calcinha e sutiã para meu dia a dia e fui me arrumar.

Dei uma última olhada no espelho, passava um pouco das vinte


horas quando desci para me encontrar com Alex, que já me esperava na sala
todo arrumado sentado junto aos irmãos em uma conversa animada.
Ele usava um terno slim preto, camisa social branca, gravata azul
turquesa e um colete com pequena borda clara. Seus cabelos estavam bem
penteados, mas com mechas rebeldes lhe caia sobre a testa deixava-o ainda
mais irresistível. Sebastian e Victor também estavam bem arrumados,
Sebastian não usava terno, mas não estava menos elegante, em um estilo
esporte fino que era sua cara, e Victor por sua vez usava um terno slim prata
com gola xale, que combinava perfeitamente com seus olhos.

Os três estavam igualmente, atraentes.


Se beleza fosse crime esses três, pegariam prisão perpetua. —
Pensei comigo mesma.
— Já vi que muitos sairão sem os olhos desse evento. — Brincou
Victor chamando a atenção dos irmãos para mim.
— Cazzo! — Praguejou Alex surpreso, se levantando.
Os três se apressaram em vir em minha direção.

— FIU-FIU — assoviou Sebastian. — Está maravilhosa cunhada.


— Elogiou, vindo ao meu encontro, pegando em minha mão e me fazendo
dar uma volta no mesmo lugar.
— Tem certeza de que não quer se casar comigo? — Sussurrou não
tão baixo em meu ouvido. — Sou mais novo e tenho muito mais disposição
que meu irmão. — Brincou.
Alex lhe lançou um olhar frio, o que pareceu ser o suficiente para
que Sebastian se afastasse, mas ainda continuou a segurar uma de minhas
mãos. 
Alex era o mais velho dos três com trinta e três anos e logo atrás
vinha Victor com seus quase trinta, seguido por Sebastian com vinte e dois.
— Obrigada! Mas ainda não estou preparada para ser mãe. —
Zombei, visto que eu era só três anos mais velha que ele.
Mas isso fez Victor soltar uma gargalhada, coisa que raramente se
via.
— Poxa cunhada, assim você mágoa meu coraçãozinho. — Falou
colocando a mão no peito com falso ressentimento.
— Já chega! Vamos indo, já estamos atrasados. — Alex
praticamente rosnou irritado.
 Não sei com o que? Eu nem demorei tanto assim, só demorei um
pouco, pois estava definindo meus cachos.
— Qual é o seu problema? — Indaguei, já preocupada em como
seria a noite se tomasse aquele rumo.

 Estávamos todos brincando, um momento leve que há dias não


tinha, e do nada ele agia como um animal. Eu sinceramente não conseguia
entendê-lo, o que ele queria?
Ele veio até mim, passou a mão em minha cintura puxando-me para
si, colando seu corpo no meu, me fazendo sentir seu calor. Seu perfume foi
como uma droga em minhas narinas, me deixando embriagada, cortando
minha respiração com o choque de seu ato tão repentino, beirou meu
pescoço puxando fundo o ar, como se também estivesse apreciando meu
aroma, e murmurou em meu ouvido, com uma voz rouca e sexy que só ele
era capaz.
— Cachinhos, melhor você se comportar ou pego você no ombro e a
levo para o seu quarto, onde ninguém mais possa colocar os olhos na beleza
do seu corpo que é só meu.
Devia ter me sentido ofendida com sua reação de homem das
cavernas, com sua brutalidade de simplesmente tomar meu corpo para si,
mas não conseguia pronunciar uma só palavra, mal conseguia ordenar meus
pensamentos, me sentia descoordenada. Suas palavras cruas me excitaram,
me fazendo travar as pernas na tentativa de aplacar o formigamento que
surgiu.
— Agora, vamos embora antes que eu acabe cometendo um
fratricídio. — Declarou, olhando para Sebastian, que ouviu, mas deu de
ombros.
Fiquei ali imóvel por alguns segundos tentando entender o que havia
acabado de acontecer.

Como aquele homem conseguiu dominar meus sentidos tão


facilmente? Ainda sentia minhas pernas bambas e me obriguei a seguir em
frente quando vi que Alex ainda me aguardava com a porta a aberta. Saímos
em direção ao carro e sua mão repousou suave sobre minhas costas quando
abriu a porta do carro e esse simples toque fez mais uma vez meus meu
corpo reagir.
Enquanto Alex dava a volta para entrar pelo outro lado respirei
profundamente, pedindo a Deus forças para enfrentar a noite que viria. 
 
Capítulo 13
 

Ver meu irmão babando em cima de Camile fez meu sangue ferver
de tal maneira que não consegui controlar meus instintos, queria ter furado
os olhos de Sebastian assim como Victor sugeriu.
Camile estava magnífica, usava um vestido vermelho um pouco
abaixo dos joelhos, que se moldava em seu corpo, deixando sua cintura fina
e suas coxas grossas bem desenhadas, despertando o desejo que qualquer
homem a sua volta. Seus cabelos cacheados e compridos estavam ainda
mais volumosos formando grandes cachos jogados para o lado, somando
ainda mais a beleza de seu rosto.
Quando a puxei para mim, sentindo seu corpo colar ao meu, seu
aroma delicioso, quase me faz perder meu autocontrole.
Mas o que estava me deixando mais puto era saber que ela não
queria nada comigo, eu só não entendia o porquê já que ela parecia tão
afetada quanto eu.
Porra! Será que era apaixonada por outro? Por isso não queria se
envolver? Ela já havia morado junto com um bostinha há muitos anos,
talvez ainda gostasse do cara! — deduzi — Por isso andava tão triste, por
isso dizia não ter interesse em namorar.

Essas constatações me afetaram muito mais do que eu gostaria.


Senti uma pontada de inveja do infeliz, ciúmes talvez? Eu nunca fui de ter
ciúmes de nenhuma mulher, mas Camile tinha o poder de despertar meus
sentidos mais primitivos.
Me doía saber que ela não me queria, me doía muito mais saber que
ela nunca poderia ficar com quem ela amasse de verdade. Mas o que isso
significava?
Estávamos juntos no carro, já que Victor e Sebastian haviam ido em
seus próprios veículos.
Ela estava em total silêncio, mexendo em alguma coisa imaginária
em sua pequena bolsa, perdida em seus pensamentos, imersa em seus
devaneios.
— Tenho uma coisa para você. — falei quebrando o silencio.

Camile olhou para mim curiosa então abri o compartimento do


console e peguei o embrulho.
— Para mim? — Parecia surpresa.
— Bom, não é bem um presente, já que quebrei o seu, então... — fiz
sinal para que abrisse.
Ela abriu o embrulho, descobrindo um Kindle novinho.
Quando os rapazes foram buscar suas coisas, não se atentaram no
que estava escrito e apenas acharam que o tal Kindle fosse um tablet. Então
destruíram seu aparelho.

Eu e meus irmão nunca fomos muito de ler, aliás tínhamos pouco


tempo para isso, então não era uma coisa que estávamos habituados, acabei
tendo que pedir ajuda a uma das vendedoras.
— Uouuu! Meu Deus! É lindo — exclamou eufórica. — Ele é...
— Foi só um bônus por ter quebrado o seu — expliquei.
— Obrigada! — Agradeceu, sorrindo e ligando o tal aparelho.
— Você não precisa mais ficar pegando livro escondido em meu
escritório, agora pode ler quando quiser.

— Você sabia? — Perguntou parecendo envergonhada.


— Percebi no primeiro que pegou — declarei.
— Desculpa... Eu ia falar com você, mas é que você quase não para
em c...
— Está tudo bem, Camile — a interrompi. — Não tem problema, só
achei que, com seu aparelho você iria se sentir mais à vontade — esclareci
com sinceridade.
No dia que Camile descobriu os livros de minha irmã no meu
escritório, vi o brilho em seus olhos, já tinha visto aquele mesmo brilho
milhões de vezes nos olhos de Melissa, o brilho de uma pessoa apaixonada
por livros.

Então não foi difícil deduzir quem havia pegado o livro em meu
escritório e não tinha como eu não perceber. Por vezes me sentava no sofá
do escritório bebendo e olhando aquela estante, me lembrando da minha
pequena luz.
Os livros estavam ali há anos e ninguém nunca se interessou por
eles, no dia seguinte a sua chegada, já sumira um? Mas para minha
surpresa, no outro dia ela tinha devolvido exatamente no mesmo lugar e
pegado outro, então deixei que ela pensasse que eu não havia percebido.
Ela parecia uma criança, toda animada com seu brinquedo novo,
com aquele sorriso que nos últimos dias era uma verdadeira raridade.
— Se eu soubesse que isso iria te fazer sorrir, teria comprado um
estoque — declarei.
Ela pareceu constrangida, com meu comentário, mas não respondeu
nada.

— Tenho mais uma coisinha para você — puxei a pequena caixa de


veludo de dentro do bolso. — Sei que as coisas não são como você gostaria,
no entanto, quero pelo menos te dar um anel de noivado.
Abri a pequena caixa que continha um anel delicado, com pequenas
pedras de brilhantes que formava duas linhas se cruzando. Onde elas se
encontravam, uma pedra um pouco maior se destacava, mas ainda assim era
simples e delicado.
Quando vi o anel na joalheria, lembrei de Camile. Havia outros
muito mais caros, com pedras grandes e extravagantes, entretanto achei que
aquela combinava perfeitamente com sua beleza simples e encantadora.
— É linda! — Exclamou, tocando com as pontas dos dedos a
pequena joia, sua voz parecia afetada e seus olhos brilhavam admirando o
anel. 
— É simples, então se você quiser algo mais... — ia dizer maior ou
com mais diamante, porém ela me cortou.

— É perfeita. Se tivesse que escolher, certamente seria uma


exatamente assim. — Declarou.
— Posso? — Pedi permissão para colocar em seu dedo. Ela assentiu
com a cabeça.
Retirei a aliança e peguei em sua mão com delicadeza. A tensão que
já havia dentro do carro aumentou trezentas vezes mais, nossos olhos se
encontraram enquanto eu ainda segurava suas mãos entre as minhas, levei
sua mão em meus lábios depositando um beijo suave em seus dedos. Tive
que juntar todo o meu autocontrole para não a puxar para meus braços e
consumir sua boca.
Ela também parecia estar afetada, mordia o lábio inferior com os
dentes, deixando-os mais vermelhos e inchados, me fazendo imaginar ela
em cima de uma cama se retorcendo de prazer.
 Porra! Tinha que imaginar aquilo? Estava muito fodido.
Meu pau criou vida própria, ficando duro como ferro, com tal
pensamento e gostaria muito que ela soubesse como acabava de me deixar.
Ela puxou a mão delicadamente, como se tivesse levado um choque,
e alisou a aliança com a outra mão.
— Obrigada, foi muito gentil da sua parte. Você não precisava se
incomodar com isso — alegou me olhando bem fundo nos olhos, como se
procurasse algo.
Talvez se perguntando se estava tão afetado quanto ela, que parecia
tentar controlar a respiração.
 Como não estaria? A tensão sexual entre nós era tão grande que
pesava dentro do carro, por sorte havíamos chegado no local do evento.
Ajudei ela a sair do carro conduzindo-a pela cintura, guiando até o
elevador. A festa seria no último andar de um hotel no centro de Florença.
Quando entramos no salão, todos os malditos homens olharam para
Camile. Claro que por ela estar acompanhada por mim, mas principalmente
por ser uma mulher que chamava atenção por onde passava.
A apresentei a alguns conhecidos, pessoas que eu não dava a
mínima importância, andamos um pouco pelo salão, jogamos conversar fora
com alguns convidados. Ela conversava com uma mulher de um dos meus
aliados, que também falava fluentemente português, algo sobre o Brasil e
suas culturas, enquanto eu discutia alguns assuntos com alguns dos nossos e
bebia no bar.
— Alex, quanto tempo querido — ouvi a voz de Rebeca por traz de
mim, senti suas mãos passar em meus ombros.
— Rebeca que surpresa agradável — falei amigável.
— Agradável é te encontrar aqui nessa festa chata — revirou os
olhos com desgosto. — Achei que não participava desse tipo de evento?
Rebeca era uma mulher linda, magra, alta, loira. Já havíamos tido
um certo envolvimento, nada muito sério, somente sexo sem compromisso.
Ela era sobrinha de um de nossos aliados, sempre procurando uma aventura
nova, se envolvendo com um e com outro, arrumando confusão por onde
passava. Eu não me importava com isso, desde que não me envolvesse em
seus conflitos.
Sempre acabávamos nos encontrando em nossos clubes e muitas das
vezes algumas amigas participavam de nossas festinhas particulares, mas já
fazia um tempo que não tínhamos nada e no momento eu não estava nada
interessado.
— O que você acha de nós fugirmos deste lugar? — Sugeriu
chegando bem perto do meu ouvido.
Olhei ao redor procurando por Camile, que já não estava mais no
mesmo lugar, vi quando passou por uma das portas que dava para varanda.
— Me desculpa gata, mas estou acompanhado. Se me der licença —
pedi, já me retirando.
Na parte de fora havia pergolados com bancos e algumas pessoas
estavam por ali conversando amenidades, um grupo fumava e alguns casais
aproveitavam o clima fresco e a privacidade para namorar.
Camile estava de costas, escorada no guarda corpo de vidro, o vento
batia em seus cabelos jogando-os para trás. Ela parecia se encolher com o
frio, e eu parei um momento para lhe observar.
Ela encarava a cidade abaixo, dispersa a sua volta, chegava parecer
uma pintura de tão bela que estava. Notei que tremia e já ia tirar meu paletó,
quando vi Victor chegar já com o dele em mãos, colocando nos ombros de
Camile, fazendo-a se virar para ver quem era.
 
Capítulo 14
 
Estava tudo indo muito bem. Alex havia sido gentil e cortes todo o
trajeto até a festa, e ainda tinha me dado uma aliança de noivado, no entanto
comigo nada nunca era perfeito.
Bastou vinte minutos afastado de mim que já apareceu outra para se
pendurar em seus pescoços.
Eu não ia negar para mim mesma e dizer que aquilo não era ciúmes,
porque era claro que era, não era nenhuma iludida. Minha vontade era de
entrar lá e quebrar a cara daquela fulaninha.
Mas a quem eu estava querendo enganar. Tinha pedido por aquilo,
afinal, eu mesma havia dito a ele que poderia ficar com quem ele quisesse,
mesmo que tenha pedido para ser discreto, coisa que os dois não foram nem
um pouco.

No entanto, o que eu esperava dele?


Fidelidade?
A quem?
A louca que não quer nada com ele, mas que está surtando de
ciúmes? Eu realmente devo estar ficando maluca — pensei.
O que estava se passando comigo? Por que estava agindo daquela
maneira? Nem mesma eu consegui entender.

Tremia de raiva de mim mesma, não dele, nem dela, mas de mim
por ter me colocado naquela situação, primeiro aceitando aquele casamento
de fachada para início de conversa, e depois me deixando afetar dessa
maneira, como uma adolescente.
— Não deveria ficar sozinha assim. — Ouvi Victor me dizer,
colocando seu blazer em meus ombros, me tirando das minhas loucuras.
Deve ter pensado que eu tremia de frio, quando na verdade tremia
era de raiva.
 Seria cômico se não fosse trágico.
— Já estou acostumada.
— Não está gostando da festa? — Perguntou se colocando ao meu
lado.
Victor tinha sempre uma aparência tranquila, diria até serena, se não
fosse pelo olhar frio e seu rosto esculpido em granito, que dizia que aquela
tranquilidade era só uma fachada, uma que todos eles dominavam muito
bem por sinal.
— Bom, não é muito meu estilo. — Admiti — Essa coisa toda de
gente rica como vocês, nada contra — fui rápida em me justificar, tentando
não parecer rude, ele riu da minha tentativa.
— Isso tudo é muito novo para mim, se é que me entende.

— Então me conta, qual seu estilo? — Perguntou, sorrindo.


Me escorei novamente no parapeito olhando tudo ao redor, respirei
algumas vezes, me recordando de meus amigos e família.
— Há duas semanas eu fazia o dia da pizza com o pessoal da
pousada, assistíamos filme, falávamos besteira, churrasco, cachorro-quente
e piscina — lembrei com tristeza. — Hoje eu estou em uma festa onde as
madames falam de ilhas particulares, spas e resort — revelei com uma
careta e ele esboçou um leve sorriso.
— E por que você não diz isso a Alex? — Quis saber.
— Bom, eu não quero que ele mude nada por mim, não é como se
isso fosse de verdade entende? Mas preciso estar com ele nesses eventos —
expliquei. Acreditava que por ter aceitado o acordo, tinha que manter as
aparências, acompanhando Alex em eventos e festas daquele tipo, mesmo
que fossem entediantes e que eu não entendesse um terço do que a maioria
das pessoas diziam.
— Ainda que não seja de verdade, você está aqui, não é?
— Sim, mas o que tem isso? — Tentava entender aonde ele queria
chegar.
— Você não gosta desse lugar, ainda assim veio sem reclamar, por
ele, só porque acredita que deve. Ou estou errado?
— Sim, é meu papel como esposa. Eu acho... — declarei.
— Tudo pode ser uma fachada, mas ainda assim os dois vão ter que
viver na vida um do outro. — Disse se virando para mim.
— É, acho que sim.
— Vocês já vieram e você fez seu papel, se não quer ficar mais
chame-o para ir embora, tenho certeza de que Alex não gostaria que fizesse
o que não quer Camile. Vocês estão juntos nessas, não faça disso algo que
não é— esclareceu.

Finalmente consegui compreender o que Victor tentava me dizer,


realmente não o culpava por tudo aquilo, na verdade nunca havia parado
para pensar se havia um culpado.
— Não quero atrapalhar o lance dele, talvez seja melhor eu pedir
para o motorista me levar.
— Se quiser eu posso te...
— Achei você! Está entediada? Quer ir embora? — Alex o
interrompeu.
— Ah... Não precisa ir embora por minha causa, posso ir com o
motorista, com Victor ou Sebastian se um deles se disponibilizar em me
levar — tentei usar minha máscara de indiferença.
— Só por cima do meu cadáver — murmurou entre os dentes,
rosnando para o irmão, que assim como eu pareceu não entender nada.
— Nós viemos juntos e vamos embora juntos — afirmou. Sorri
satisfeita com sua declaração, mas meu sorriso morreu em seguida com o
que disse depois.
— O que as pessoas vão pensar vendo você indo embora sozinha ou
pior com outro — declarou, esbofeteando minha cara sem nem encostar um
dedo em mim.

O resto de paciência que tinha joguei fora, e talvez se não


estivéssemos em uma festa cheia de gente ao redor, eu teria avançado em
cima dele, de tanta raiva que fiquei.
— Você tem razão, vamos embora — rosnei.
Não esperei que respondesse ou me certifiquei se me seguia, saí
andando em sua frente, em direção ao elevador e quase parei surpresa,
quando a fulaninha que se pendurou em seu pescoço segurou a porta do
elevador para que nós entrássemos.
Estava a ponto de explodir, fúria saltava de meus poros, eu seria
capaz de matar alguém naquele exato momento.
Entramos no elevador e a tensão era do tamanho de um elefante,
achei até que o elevador não suportaria. Para minha surpresa, a fulaninha
parou em um dos andares.
— Tchau Alex! Até próxima — disse toda simpática.
  Ela teve a audácia? — Pensei.
Então ela era hóspede ali? Dei uma olhada para Alex e outra para
ela, que parecia se divertir com a situação.
Era inacreditável que ele tenha me levado ali, sabendo que nos
encontraríamos com uma de suas amantes, me senti horrível. Seria assim
minha vida de agora em diante? Um casamento de fachada, me encontrando
em festas com as amantes de meu futuro marido? Fingindo estar tudo bem?
Bom, se fosse teria que suportar, pelo menos por enquanto.
As portas voltaram a se fechar, deixando-me com Alex e o elefante
no elevador. Chegamos na entrada onde o motorista já nos aguardava, e eu
não esperei que abrisse a porta para mim, entrei como um furacão
desgovernado, tentando conter a raiva e o constrangimento, ou certamente
explodiria.
Já fazia um tempo que estávamos em silêncio, pois a última coisa
que eu queria era falar com ele.
— Você quer parar para comer alguma coisa? — Ele perguntou,
quebrando o silêncio.
— Não, obrigada — respondi com sinceridade, tentando deixar
aqueles sentimentos de lado, precisava ser racional.
Ele havia deixado claro nossa relação e havia aceitado todos meus
termos para que aquilo desse certo, então sabia que estava sendo irracional
com minhas atitudes, talvez com o tempo colocasse alguns limites.
  Ela até parecia ser legal — pensei por fim.
— Camile, sei que não sirvo para você e que nosso casamento não
era o que você sonhava, mas gostaria que soubesse, que se for para te ver
feliz, farei o possível para que quando tudo acabar você possa ficar livre e
escolher pessoa ideal para você — Alex disse, se ajeitando no banco para
me olhar nos olhos.
Olhei em seus olhos e sorri, um sorriso que estava muito distante da
felicidade, um sorriso de ironia que tudo aquilo era.
Ele se achava inadequado? Pensava que eu não o achava bom o
suficiente, acreditava que eu me via melhor que ele? Olha, não podia ser
mais cômico.
Olhei dentro de seus olhos, um mafioso que provavelmente tinha
uma extensa lista de mortes, que com certeza já deveria ter cometido quase
todos os crimes e ainda assim limpava as ruas desses vermes podres, que
acabavam com a vida e sonhos de mulheres e crianças, como fizeram um
dia com meu querido irmão e eu.
Que estava ali preocupado comigo, em estar me casando obrigada e
sem amor. 
Há se ele soubesse... Se soubesse que para mim, ele era um como
um herói, um anjo negro, mas quem ligava? Quem não tinha dentro de si a
escuridão, então que acendesse a primeira lâmpada.

Por um momento pensei em não responder, mas seria muita


hipocrisia da minha parte deixá-lo continuar pensando daquela maneira, se
corroendo achando que eu estava infeliz por me casar com ele.
Sendo que na verdade eu estava satisfeita por ser ele.
Não sabia como seria e nem tinhas esperança de que houvesse algo
entre nós, mas se tinha alguém que eu confiava que faria aquilo dar certo,
esse alguém era Alex.
Talvez por isso Pietro o havia escolhido, meu irmão sabia a pessoa
que existia por traz daquela máscara de frieza e arrogância. Eu tinha total
ciência de que Alex poderia ter me arrastado do Brasil, ter me forçado a um
casamento.
 
Capítulo 15
 
Eu sabia que era podre por dentro. Entendia os motivos dela, por
não querer se envolver comigo.
Mas escutar ela falando para Victor que esse não era seu mundo, que
nosso casamento era só uma fachada, fez meu estômago retorcer.
Não podia fazer nada para deixar as coisas melhores, ainda assim
prometi que quando tudo acabasse lutaria para deixá-la livre para seguir
com sua vida, nem que para isso eu tivesse que protegê-la a distância para
sempre.
— Você acredita que eu o veja como um monstro? Só por você ser
um mafioso? — Perguntou com incredulidade e um sorriso triste — todos
somos monstros Alexei! — Afirmou me surpreendendo com suas palavras.
— As pessoas mentem, se escondem por trás de máscaras de sorrisos e
rostos bonitos, dinheiro, status e aparência — seu olhar triste e vazio fitava
o nada, como se recordasse de algo doloroso. — Desde o marido que trai a
mulher ao assassino que mata. Ladrões, estupradores, pedófilos, adúlteros.
Poderia passar a noite citando crimes e pecados Alex — seu olhar capturou
o meu, sua mandíbula travada, seus olhos como um rio represado. — O
mundo é podre de todas as formas possíveis, nele não existe inocentes. Não
totalmente pelo menos. — falou desviando o olhar — se for para escolher
um lado então quero ficar ao lado de quem extermina essa escoria. — Tinha
aço em sua voz, um rancor, asco, que eu não sabia de onde vinha. — Se te
alivia, nunca acreditei em amor verdadeiro, não espero pelo príncipe
encantado. Esses que lemos em livros e assistimos em filmes, isso tudo é
ilusão Alex...
Escutar aquelas palavras foi uma das piores torturas que já passei.
Ver a dor em seu o olhar, a tristeza que pesava em seus ombros.

A garota era quebrada com certeza.


Mas, por quê? Quem havia feito tanto mal que a fez perder a
esperança, que a tinha feito perder a fé na humanidade, o que teria
acontecido com minha cachinhos?
— Não se engane Alex — disse com um sorriso triste. — Eu não
sou vítima de nada! — Disse como se lesse meus pensamentos. — Assim
como você, tenho meus próprios monstros interno e minhas máscaras de
sorrisos.
Eu nunca tinha ouvido palavras tão carregadas, nem mesmo dentro
da organização. Nascíamos testemunhando mortes e torturas, mas nada
havia preparado para encarar a dor que via ali, uma desilusão tão grande,
que eu só queria embalá-la em meus braços e mandar para longe daquela
escuridão que pairava sobre minha garota. Queria protegê-la e tirar dela
todos os medos e aflições.
— O que te deixou assim minha cachinhos? — Perguntei,
acariciando seu rosto triste.
— Não se sinta mal por achar que eu estou triste por me casar com
você, ou por não encontrar o amor verdadeiro, porque isso não existe —
declarou. — Só não esperava ter que me distanciar de todos e ser
prisioneira em um lugar desconhecido. — Suas palavras me apunhalavam.
— Você não é prisioneira. — Argumentei, tentando disfarçar minha
voz de desgosto.
— Não! Sério mesmo? Então posso ir aonde eu quiser? Posso ter
um celular de volta? — Ironizou, gesticulando.
— Isso é temporário Camile, é para sua própria proteção — tentei
me justificar vendo-a revirar os olhos, tentando convencer mais a mim do
que a ela.

— Então era melhor eu estar presa, pelo menos na cadeira teria


direito a visitas — falou voltando a olhar o caminho do lado de fora da
janela.
— Olha! Prometo que depois que voltarmos da lua de mel você vai
poder ir em qualquer lugar em Florença, com os seguranças é claro. —
Prometi.
Camile deu um sorriso fraco, que não iluminava seus olhos. Pareceu
um pouco mais animada, entretanto, ainda era notável sua tristeza.
— Precisamos mesmo ir para essa lua de mel? — Perguntou,
fazendo uma leve careta, como uma criança faria para não fazer o dever de
casa, o que quase me fez rir.

— Se não formos, o conselho irá desconfiar, e isso me causará


problemas — expliquei. — Mas, garanto que irá se divertir. — Prometi,
tocando suas mãos, o que a fez me encarar por alguns segundos.
Ela ficou em silêncio pelo restante do percurso e eu me perguntava o
que estava fazendo. Se mal conseguia manter uma conversa em poucos
minutos de trajeto, que dirá dias isolados em uma casa.
— Se quiser voltar para festa, não se preocupe comigo ficarei bem
na mansão — disse assim que chegamos.
— Não, Claro que não. Por que eu voltaria sem você?
— Sua amiga parecia ansiosa, pela próxima — disse se referindo as
últimas palavras de Rebeca no elevador.

O que era aquilo? Será que tinha ficado com ciúmes de Rebeca?
Aquilo devo confessar me animou, afinal, a garota parecia uma pedra de
gelo quando se tratava mim.
Ela era sempre sorrisos com meu irmão Sebastian, brincando e
conversando, mas quando eu chegava perto ela se fechava.
— Rebeca é só uma velha amiga — senti necessidade de dizer. Ela
deu de ombros.
— Não precisa me dar satisfação Alex — falou num tom de voz
irritado. — Só seja mais discreto.
Aquilo foi um soco no meu estômago.
 Porra ela não estava nem aí? Achei que sentia pelo menos um
pouco de ciúmes.
Mas porque isso me incomodava tanto? Eu deveria estar
agradecido? Afinal eu era sempre o primeiro a sair depois de uma transa,
não querendo que nenhuma mulher se apegasse a mim, ri de mim mesmo
com esses pensamentos patéticos.
— É, talvez eu volte — declarei, sem ter realmente intenção de
voltar, não estava no clima de nada.
Entramos na mansão e ela subiu para o quarto, enquanto fui para o
escritório.
Fiquei bebendo e lembrando de cada palavra que havia saído de sua
boca, tentando imaginar o que aconteceu que quebrou aquela garota.
A dor que vi em seus olhos, a tristeza em seu semblante, que gritava
que algo muito grave havia acontecido para deixá-la assim.
Não sei por quanto tempo fiquei pensando nisso.

— Problemas no paraíso? — Ouvi Victor dizer ao entrar no


escritório.
Eu estava jogado no sofá pensando, e me surpreendi com sua
chegada, não esperava mais ninguém naquela noite.
— Porra! Que susto, caralho! — Xinguei. — Cara estou muito
ferrado — admiti.
— Estou vendo! — zombou, vendo meu estado deplorável. — O
que aconteceu?
Narrei o ocorrido para ele, desde o momento em que escutei a
conversa dos dois, até a conversa que tinha tido com ela no carro, deixando
de fora o gelo que ela me deu.
— Acreditava que a garota não queria se envolver com um mafioso
sem coração como eu, entende? Ou pior que fosse apaixonada por alguém,
e por isso se resguardava — revelei. — Victor! A sombra que vi no olhar
daquela garota, a tristeza cravada em seu rosto, a escuridão pairando em sua
volta. Era sufocante até para mim — admiti. — Nós já vimos muita merda,
mas seja o que for que aconteceu com aquela garota, não foi bonito. —
Declarei.
— Você não perguntou?
— Não, ela não quis dizer, também não quis pressioná-la. Ouvir ela
dizer aquelas coisas, sem nenhuma fé na humanidade... Nunca senti tanto
pesar antes. — Admiti.
— Puta merda Alex ... — murmurou passando a mão nos cabelos.
— Será que foi por causa da traição do ex-marido?
Quando Victor fez a investigação na vida de Camile, descobriu que
ela havia sido casada, mas que o cara tinha a traído, então ela o botou para
fora.
— Duvido, parecia algo muito mais profundo. Eu enxergava o
tormento em seus olhos Victor.
— Eu investiguei toda a vida da garota Alex, não encontrei nenhum
vestígio de que ela tenha passado por algum trauma — Victor afirmou.

— Mas seja o que for, nós vamos descobrir!


— O que conseguiu tirar de Miller? — Mudei o rumo da conversa.
— Ele parece realmente não saber o nome dos outros envolvidos,
revelou que usam codinomes para realizar os negócios, assim todos ficam
em segurança. Fazem tudo nas sombras, inclusive esse é o codinome do que
se denomina o líder, eles o chamam de Ombra. [6]
— Que merda! Então não temos nada? — Indaguei.
— Bem, não é bem assim. Ele nos disse que semana que vem está
previsto um carregamento, um container com no mínimo 50 pessoas entre
mulheres e crianças — explicou me mostrando imagens na tela do
notebook. — Vão chegar aqui, e apesar de não ser um carregamento muito
grande pela quantidade, pode ser que algum cabeça apareça e mesmo se não
aparecer, não podemos deixar essas pessoas lá.
— Com certeza!  Porra, semana que vem eu estarei em lua de mel.
— Me lembrei.
— Não se preocupe, cuidaremos de tudo. Te garanto.
— Não, acho que consigo vir para ajudar vocês e depois voltar,
tenho certeza de que Camile não irá se importaria — me referia a sua
indiferença, mas ele não percebeu.
Eu e Victor ficamos um bom tempo planejando e acertando alguns
pontos.
Depois que Victor saiu, estava cansado, pretendia subir para meu
quarto, no entanto, percebi uma certa movimentação na cozinha o que me
fez ir verificar. Apesar da casa estar com a luzes apagadas, entrava uma
certa claridade da lua pelas portas de vidro. Não restavam dúvidas de quem
estava ali, seu cheiro delicioso era inconfundível.
Ela estava sentada na banqueta da ilha enquanto comia um pedaço
grande de bolo que pelo cheiro era de chocolate.
Fiquei ali observando, em silêncio, vendo a claridade do brilho da
lua banhar sua pele. Não achava que já pode-se ter visto algo mais lindo do
que aquela cena.
Ela usava uma camiseta larga, que caia em um dos ombros
deixando-o exposto, por baixo não sabia dizer se usava calcinha, short curto
ou se estava sem nada. Esse mero pensamento me deixou tão duro que
sentia latejar.
Comecei me aproximar dela, que pareceu não se dar conta da minha
presença. O cheiro que vinha de seus cabelos era uma mistura de maçã
verde e hortelã, talvez algum creme ou shampoo que usava, me fez inebriar.
Senti meu corpo reagir ao seu aroma, fazendo minha boca salivar de desejo.
Ela comia cada pedaço de bolo como se fosse a melhor coisa que já
havia provado na vida, tirava pequenos pedaços levando a boca de forma
sensual e dava gemidos de satisfação: hummm.
Porra! Aquilo não poderia ser mais sexy, nunca imaginei ficar tão
duro vendo uma mulher comendo um pedaço de bolo.
O mundo já podia parar de girar, porque certamente era o fim dos
tempos.
Queria jogá-la na bancada e devorar seu corpo com a boca, degustar
cada pedaço de sua pele e escutar ela dar aqueles gemidos para mim,
enquanto me deliciava com seu sabor
Ela ficou tensa repentinamente, notando minha presença, que tinha
me aproximado dela sem me dar conta. Levava o garfo a boca com um
pedaço de bolo.  cof cof cof tossiu engasgada.
— Cacete! Que susto Alex. — Exclamou, tentando recuperar o
fôlego. Por um minuto cheguei a pensar que ia sufocar, mas então
conseguiu estabilizar a respiração, ou parte dela pelo menos.
— Desculpe, não queria te assustar — me desculpei.
— O que faz aqui?
— Parecia tão gostoso que decidi vir provar — fiquei inquieto ao
pensar nas palavras com duplo sentido. Fui até a gaveta, pegando um garfo
para tirar um pedaço do bolo que ela comia.
— Uou! Esse aqui é só meu — protestou colocando as duas mãos
acima do bolo como se para protegê-lo de mim.
Olhei para sua boca pensando que talvez fosse muito mais gostoso
se eu provasse aquela calda direto de seus lábios.
Observei ela morder o lábio inferior como sempre fazia quando
estava nervosa, o que só aumentava meu desejo de possuí-la. Seus lábios
vermelhos pela irritação provocada pela tortura, era um convite que estava
tentado a aceitar.
Como se lesse meus pensamentos, empurrou o prato em minha
direção, cedendo para que eu pudesse tirar um pedaço.
— Como foi a festinha? — Ela perguntou notando que eu já não
usava mais o blazer e havia tirado a gravata, me encontrava um tanto
bagunçado.
Então ela realmente pensava que eu havia voltado para me
encontrar com Rebeca? Quando na verdade tinha passado o tempo todo no
escritório, com ela na cabeça, como uma maldita praga.
Essa mulher só podia estar querendo meu fim. Uma hora era fria
como gelo, me jogando para as beiradas como num jogo de hóquei, e na
outra estava ali se mostrando com ciúmes e pronta para matar, assim como
mais cedo no elevador do evento.
Se eu conseguisse me manter com alguma sanidade mental depois
que isso tudo terminasse, juro que nunca mais inventaria de casar, nem
mesmo sob tortura.
Onde eu estava com a cabeça quando decidi aceitar essa situação. Se
Pietro estivesse vivo agora eu mesmo o mataria por me colocar nessa
merda.
Cheguei mais perto, aspirando profundamente seu aroma, que eu
passei a amar e necessitar como um maldito viciado desde o dia em que
havia chegado, vendo sua pele se arrepiar com a minha aproximação e seu
corpo enrijecer, me deixando satisfeito.
— A única festinha que eu adoraria fazer agora, minha cachinhos,
seria com esse seu corpo se contorcendo de prazer em minha cama —
declarei próximo ao seu ouvido.
 
Capítulo 16
 

Ao chegarmos do evento, fui direto para cama tentar dormir um


pouco, porém não consegui pregar os olhos nem por um segundo se quer.
Então fui tentar ler um pouco para ver se o sono aparecia, já que dormir era
impossível. Ouvi quando o carro de Alex saiu, provavelmente voltando para
terminar a festinha com sua amiguinha Rebeca.
Já era de madrugada quando meu estomago começou a reclamar de
fome, decidi descer e procurar alguma coisa para comer.
Sem acender as luzes, caminhei em direção a cozinha tentando não
tropeçar em nada, a claridade que vinha de fora ajudava bastante. Não
queria que nenhum segurança viesse verificar quem estava ali furtando a
geladeira em plena madrugada.
Procurei pelo armário o pão para fazer um sanduiche, mas mudei
completamente de ideia assim que abri a geladeira e me deparei com um
lindo bolo de chocolates com prestígio, meu favorito.
Tenho que agradecer a Milena depois, por essa maravilha — pensei
tirando um pedaço grande do bolo, que parecia muito apetitoso.

Sentei-me em uma das banquetas da ilha e comecei saborear cada


pedaço que colocava na boca. Era simplesmente uma das melhores coisas
que já havia provado em minha vida, o bolo estava molhado e suculento e o
prestígio parecia até um delicioso suflê de coco.
Senti sua presença ao meu lado, tão próximo, sabia que era ele. Seu
cheiro e a maneira que meu corpo reagia a sua presença não deixava
dúvida, só ele me fazia sentir daquela maneira. Travei e tentei respirar
fundo para não pensar que eu estava seminua e toda desgrenhada, mas o
bolo entalou me fazendo engasgar.
Porque não bastava pagar mico, tinha que ser logo um King
Kong —pensei. Já não sabia onde enfiar minha cara por ser pega
desgrenhada de madrugada comendo bolo escondida, ainda tinha que me
engasgar.
Porque toda desgraça para pobre é pouca.
— Cacete! Que susto Alex — disse tentando recuperar o ar.

— Desculpe, não queria te assustar.


— O que faz aqui? — Perguntei, porque achei que ele não estava em
casa.
— Parecia tão gostoso que decidi vir provar — tentei não pensar em
suas palavras provocativas, com duplo sentido. Olhou para o pedaço de
bolo em meu prato e saiu para buscar um garfo para ele.
— Uou, esse pedaço é só meu — Brinquei protegendo meu pedaço
com as mãos, mas logo desisti da minha ideia de ser egoísta vendo a forma
que olhava minha boca e me dizia que estava tendo ideias bem erradas.
— Como foi a festinha? — Mudei de assunto, não resistindo a
curiosidade.

Ele, apesar de ainda lindo, estava agora com os cabelos bagunçados,


sem seu blazer ou gravata, sua camisa tinha alguns botões abertos,
mostrando o início de seu peito e de uma tatuagem que não soube decifrar.
Eu já tinha visto ele sem camisa, no entanto foi rápido, mal consegui
reparar. Já havia percebido que ele tinha algumas pelo corpo.
Em sua mão direita tinha uma que pegava a mão toda, um triângulo
envolto a arames farpados com um grande olho no centro, já no antebraço
esquerdo tinha uma árvore grande com folhas secas e raízes grossas. Ficava
curiosa para ver quantas mais ele teria pelo corpo.
Ele se aproximou tanto de mim, que por um momento achei que iria
me beijar, então respirou fundo o ar de meu pescoço como se apreciasse
meu aroma, isso me fez arrepiar dos pés à cabeça.
— A única festinha que eu adoraria fazer agora, minha cachinhos,
seria com esse seu corpo se contorcendo de prazer em minha cama.
Porra! Se eu tinha algum resquício de resistência ele acabava de
ser eliminado com aquelas palavras. Minha calcinha certamente estava
encharcada. Suas palavras foram ao meu centro, fazendo vibrar.
— Alex... — tentei recuperar meu autocontrole, contudo já havia
perdido qualquer vestígio dele.
— Esse seu cheiro... — disse em pequenas pausas, enfiando uma
mão em meus cabelos e aspirando meu pescoço, o que me fez morder forte
os lábios para não gemer com o prazer que aquilo me proporcionou.
— Não faça isto... — pediu fitando minha boca. — Toda vez que
morde seus lábios dessa maneira deixando-os vermelhos e inchados eu
tenho vontade de devorá-los — confessou, passando o polegar em cima dos
meus lábios em uma carícia suave.
— Alexei... — murmurei, num fio de voz suplicando, só não sabia
dizer se para pedir que parasse ou para que não parasse.
— Eu preciso... — pediu — me deixe provar dessa boca.
E antes que eu conseguisse dizer qualquer palavra, ele colou seus
lábios no meu, primeiro suave e com delicadeza, porém foi aprofundando,
aumentando a urgência, abrindo espaço com sua língua, me fazendo sentir
seu delicioso sabor.
Meu corpo estava em chamas, parecia gelatina em seus braços,
arrastou o beijo dando continuação a uma exploração pelo pescoço,
beijando e mordendo.
— Tão saborosa... Muito melhor do que poderia imaginar —
afirmou sobre minha pele, descendo para meu colo, beijando meu ombro
que estava exposto.
Suas mãos alcançaram meus seios fazendo leves carícias,
contornando as auréolas com o polegar por cima do tecido da roupa. Minha
intimidade já pulsava com o desejo ardente que incentiva todo meu corpo,
desejando que ele fosse muito além.
— Grunn... — ronronava baixinho como uma gata no cio.
Ele puxou um pouco mais minha camiseta expondo meus seios, e se
afastou para olhar.

— Como eu quis fazer isso desde o primeiro dia que a vi —


confessou abocanhando um dos mamilos com força, enquanto acariciava o
outro. Eu sentia que podia gozar só com aquelas carícias, estava tão
molhada que sentia a lubrificação escorrendo de dentro para fora.
— Alex, nós não... — tentava dizer, mas sem nenhuma convicção, já
estava sem forças nas pernas. Puxava de leve seus cabelos na intenção de
aplacar um pouco as sensações.
— Shiiiii — pediu que eu fizesse silencio, colocando o indicador em
meus lábios. — Deixe-me ajudá-la aplacar esse desejo, querida.
Assenti, dando a ele permissão para seguir a diante.
Ele desceu suas mãos até minha bunda apertado e alisando, passou
sua mão por dentro do cós da calcinha deslizando para frente, me tocando
por dentro. Dei graças a Deus por minha depilação estar em dia, mas fiquei
com vergonha pois não estava usando nada muito sexy, usava uma calcinha
caleçon de renda vinho e uma camiseta velha e larga.
— Cazzo! — Xingou, acredito ser um palavrão, ao passar os dedos
entre meus lábios internos sentindo minha lubrificação e espalhando por
toda extensão da minha intimidade — tão molhada — completou. — Abra
as pernas para mim delícia — pediu em meu ouvido, introduzindo um dedo,
que deslizou em uma deliciosa sensação.
Gemia baixo sentindo seu dedo me torturar. Logo colocou um
segundo, me preencheu com seus dedos grandes e grossos enquanto fazia
movimentos circulares com o polegar em meu clitóris. Sentia que estava
perto de explodir, meu desejo se acumulava em meu abdômen.
Aquele homem conseguia me tirar o controle, ele tomava as rédeas
do meu desejo, me levando ao ápice do meu próprio prazer com uma
facilidade assustadora.
— Alex eu vou... — murmurei embriagada pelo tesão.
Não aguentaria por muito mais tempo, não quando Alex parecia
conhecer cada ponto sensível de meu corpo. Seus dedos acariciando minha
carne, formando um som baixo e úmido enquanto sua respiração forte e
afetada fazia cócegas em meu ouvido e sua boca acariciava meu pescoço.

— Goze em meus dedos delícia. — Ordenou. — Quero vê-la gozar.


Seu pedido me atingiu, me fazendo sentir correntes elétricas por
todo meu corpo, sentindo todos os músculos tencionarem para em seguida
relaxarem. Gozei arqueando meu corpo para trás, mordendo os lábios para
não gritar, tentando controlar meus gemidos, com medo de que todos os
seguranças nos ouvissem.
Ainda sentia as correntes elétricas, quando ele voltou a devorar
minha boca.
— Tão linda... e saborosa — elogiou levando os dedos aos lábios,
sugando todo o resíduo do meu prazer — Uma combinação difícil de
resistir.
Alex me pegou pela bunda, me colocando sobre o balcão, beijando e
acariciando, suas mãos explorando cada parte de meu corpo, me fazendo
sentir a mulher mais desejada e sexy da face da terra com tantas carícias e
elogios. Sabia que ele deveria ser assim com todas, mas não queria pensar
naquilo, não ali. Deixaria para lidar com os arrependimentos depois, e sabia
que iria me arrepender, com certeza iria. Toda via queria aproveitar aquilo,
aquela sensação, aquela luxúria.

Ele moía seu centro ao meu, sentia sua carne dura e excitada assim
quanto eu, se esfregava em mim, enquanto me dizia palavras que me fazia
querer jogá-lo no chão e cavalgar em cima dele.
Suas mãos apertavam minha bunda, enquanto sua boca varria meu
colo, pescoço e orelha.
Eu segurava seus cabelos enquanto gemia, tirava sua camisa para ter
mais acesso ao seu corpo, que era delicioso, todo sarado com lindos
gominhos, e tatuagens por toda a extensão de seu peito, mas que não parei
para prestar atenção pois queria saboreá-lo. Nós nos beijávamos com
sofrequidão e Alex levou suas mãos até minha camiseta, na intenção de tirá-
la, me fazendo dar um salto para trás segurando-a no lugar.
— Não! — Exclamei exasperada. — Eu-eu não posso. — Gaguejei
balançando a cabeça me afastando. — Desculpa — pedi virando. — Eu só...
não posso — finalizei fazendo sinais com as mãos.
Saí correndo, tropeçando nos degraus da escada, achando que iria
cair no processo, fugindo desgovernadamente.
— Camile! — O escutei chamar atrás de mim, todavia não me virei
para saber se tentava me alcançar, não iria ficar para ver.
Subi correndo o mais rápido que pude e tranquei a porta atrás de
mim, sentando-me no chão me escorando nela, esperando que ele não me
seguisse.
Que merda tinha acabado de acontecer? Como eu fui deixar chegar
tão longe?
Em três dias estaríamos casados. Se levasse para este lado teria que
explicar coisas que não gostaria, não queria se quer tocar no assunto ou
lembrar.

Droga! Eu não podia fazer aquilo.


Ele podia ser o que fosse, mas eu não podia negar que era gentil e
amável, e por alguma razão se preocupava, caso contrário não estaria se
casando comigo.
Aquele era um filme que já havia visto antes e que eu não queria
que se repetisse.
Era assim que as coisas eram comigo. Nada nunca mudava. Não
queria ninguém entrando, se envolvendo, não queria compartilhar meu
sofrimento, minhas angústias. Já bastava meu irmão.
Não! Nunca mais eu iria deixar ninguém se aproximar novamente.
Ainda me lembrava da última vez que havia deixado alguém chegar
tão perto.

Eu havia acabado de começar a trabalhar no hospital, pois tinha


feito o curso de enfermagem ainda cursando o ensino médio. Lá conheci
André, ele era um cara legal, gentil e em pouco tempo nos tornamos
grandes amigos, o melhor que eu já havia tido depois de muito tempo. Me
sentia muito bem ao seu lado, achei que aquilo era o suficiente para sermos
felizes, na verdade fomos por um tempo. Não seria hipócrita. Ele era
atencioso, amável, compreensivo, mas a verdade é que eu nunca tinha o
amado e nem acreditava que um dia fosse amar.
Nós nos dávamos muito bem, então mesmo desconfortável achei
que fosse o momento para me abrir, contei depois de muita insistência de
sua parte a razão pela qual me automutilava, e por algumas vezes ter
surtado na hora do sexo.
Sempre procurava por sexo duro, sem muita afetividade. A
suavidade dos toques e das caricias me remetia ao passado, me levando a
surtar e chorar como uma garotinha confusa e traumatizada de cinco anos
de idade.
Quando revelei a André toda a verdade ele se calou por algum
tempo, preocupado. Seu olhar de pena aumentava, minha compulsão me
levando cada dia a mais um corte. Queria me ajudar a qualquer custo, no
entanto, o que vi nos dias que se passaram foi tristeza e amargura.
André se sentia impotente, sem saber o que fazer para me ajudar,
achando que tinha a obrigação de consertar o que eu sabia que não havia
conserto. A tristeza e a dor em seus olhos todas as vezes que via minhas
marcas, sua confusão na hora do sexo, seu medo de me levar a ter
lembranças ruins, me fazendo me distanciar cada dia mais.
Vê-lo daquela maneira, de certa forma, me quebrou ainda mais.
Por mais que eu não o amasse, ele era importante para mim, era um
grande amigo, então fui me afastando dia após dia, quebrando os laços que
tínhamos feito, achando que ele iria perceber e acabaria me deixando.
Mas as coisas não aconteceram assim. Na verdade ele se envolveu
com outra enfermeira no hospital e ela acabou engravidando, e como ele se
recusava a se separar de mim, acredito que pelo fato de se sentir mal em me
deixar depois de saber da verdade, ela foi obrigada a agir daquela maneira.
Eu não julgava, nenhum dos dois. As circunstâncias levaram os dois
a cometerem seus deslizes ou traições, como assim desejavam chamar,
contudo quem nunca havia errado? Quem era eu para julgar alguém?

Não passaria por isso novamente.


Não! Dessa vez não seria assim...
Alex era legal e se preocupava, não iria feri-lo como fiz com André.

Dessa vez eu não faria nenhum laço que teria que quebrar depois, não
precisaria me afastar de Alexei, porque não deixaria ele se aproximar.
Me levantei e fui para o chuveiro, deixei que a água quente levasse
embora todo aquele turbilhão de sensações e sentimentos. Eu havia tomado
uma decisão e voltar atrás não era uma opção.
Alex não era uma opção.
 
 
Capítulo 17
 
Há três dias não via Camile, não sentia seu cheiro, não desfrutava de
sua companhia. Ela não descia para tomar café e pelo que eu soube, só saia
do quarto no almoço, pois sabia que eu não estava em casa.
Era óbvio que ela estava me evitando, fugia de mim igual o diabo
foge da cruz.  Mas por quê? O que eu havia feito? Aquilo me perturbava há
dias.
Quis ir ao quarto dela confrontá-la, no entanto acabei por desistir,
tinha muitos problemas para resolver e Camile não fugiria.
Naquela noite fiquei lá parado na beira da escada, tentei alcançá-la,
mas ela saiu tão de pressa, me pegando totalmente de surpresa que não
consegui.
Eu precisava conversar com ela, entender o que a tinha assustado,
saber se estava bem.
Mais cedo ou mais tarde ela teria de conversar comigo. Afinal, nós
iríamos nos casar em poucas horas, então ela não teria escapatória.
— Falou com Camile hoje? — Perguntou Sebastian me trazendo de
volta.
— Não! — Bufei frustrado.
— Eu não gosto de esconder nada de você, sabe disso. — Afirmou.
— Você é meu Capo e lhe devo respeito e por isso, vou contar que ontem
fiz um favor a Camile.

— O que você fez? — Perguntei já impaciente.


— Camile estava muito triste ontem. — Declarou. — Quis saber o
motivo, ela disse que só queria poder ver e saber da sua família e amigos —
explicou, avaliando minha reação, que não era das melhores, entretanto
esperei que terminasse. — Pediu. Na verdade, quase implorou, que eu a
deixasse usar minhas redes sociais. Prometeu que só iria ver, que não falaria
com ninguém, disse que eu poderia vigiá-la enquanto usava. — Revelou. —
Só queria saber que todos estavam bem, poder ver fotos e vídeos deles —
defendeu.
— Você a deixou usar suas redes sociais? — Perguntei quase sem
acreditar.
Sebastian não era de demonstrar afeição, o que me fez questionar: 
Será que ele estaria gostando de Camile? — Pensei. — Não, isso
não podia ser. Ou será que poderia?
— Deixei, não vi nada demais, fiquei com dó da garota —
justificou, dando de ombros.
— Sente alguma coisa por ela? — Perguntei com real interesse, em
um misto de ciúmes e curiosidade.
— Tá louco?! Ela é sua noiva, e daqui a algumas horas será sua
mulher, de onde você tirou essa merda? — Exclamou, pasmo com a
pergunta. —  Cara, ela só estava triste, querendo ver a família, é minha
cunhada, além de ser irmã de Pietro eu realmente gosto dela, mas não do
jeito que está pensando. A garota está passando por uma fase fodida, se
deixar ela mexer dez minutos nas minhas redes sociais, vai trazer um pouco
de alegria, como pude ver ontem, então que assim seja! — Declarou.
Eu havia dado a ela através de Sienna um celular, porém tinha
mandado bloquear todas as redes sociais, e só mandava mensagem para
número da Itália, Sienna disse que ela nem abriu.
— Obrigado! — Agradeci, vendo que ele se importava com minha
garota.
— Ela está com Sienna? — Perguntou, e eu assenti.
Sienna estava com ela desde muito cedo terminando alguns
preparativos do casamento, que Camile fez questão que fosse o mais
simples possível.
Tentei persuadi-la por muitas vezes, a pelo menos usar um vestido
de noiva, pois toda mulher sonhava em se casar com um, mas ela se recusou
dizendo que estava se casando exatamente como sempre sonhara, e que sua
única tristeza era não poder ter seus amigos e familiares por perto.
Sienna e Camile tinham se aproximado muito nos últimos dias, e
agora também contava com a companhia de Grazi cunhada de minha prima,
que agora vinha de vez enquando ver Camile e trazia sua menina Isy, de três
anos.
Isy entraria com flores, e Grazi e Sienna seriam suas damas de
honra, enquanto Victor me entregaria as alianças.

Havia perguntado a ela se queria que um dos meus irmãos a levasse.


Ela não quis ser acompanhada até ao altar, alegava que essa honra era só de
seu irmão, e como ele não estava mais entre nós, ninguém tomaria seu
lugar.
— Já está tudo pronto? — Quis saber Victor entrando no escritório
onde Sebastian e eu estávamos.
— Acredito que sim, não entendo dessas coisas de casamento.
— Camile está ciente da tradição? — Victor soou preocupado.
Na máfia LA RETE havia uma tradição de casamento, cortávamos
uma pequena mecha de cabelo um do outro e furávamos o dedo no espinho
de uma rosa colocando em uma taça de metal, e era colocado fogo. Quando
ficava só as cinzas a taça era cheia com vinho, eu daria a taça em sua boca
para que bebesse e ela na minha, assim era pela carne, pelo sangue e pelo
fogo.
— Sim — respondi. — Não foi uma das suas melhores reações, mas
aceitou — lembrei da cara de nojo que ela fez quando lhe contei sobre a
tradição, dias depois dela ter aceitado se casar. Victor e Sebastian riram.
— Eu tenho que admitir, a menina tem fibra. Passar por um
atentado, forjar a própria morte e se casar com mafioso desconhecido sem
dar um chilique, olha é surpreendente — disse parecendo orgulhoso.

— Realmente quando vi você chegando com ela nos braços, achei


que quando acordasse surtaria — debochou Sebastian.

Horas depois já estava no altar esperando por ela, os convidados já


estavam em seus lugares enquanto Sebastian e Victor aguardavam ao meu
lado.
— Cara! Eu acabei de vê-la — Sebastian comentou. — E se você
quiser fugir tomo seu lugar na boa. — Gracejou Sebastian sorrindo.
Ele sempre tentava me provocar, e nós sempre acabamos ralhando,
mas eu não iria deixar isso acontecer hoje.
— Vai sonhando. — Rebati.
Eu estava nervoso, não pelo casamento em si, mas porque aquela
situação estava me corroendo por dentro. Queria ficar a sós com ela para
tirar tudo a limpo, o que não seria possível na festa. Esse era o momento
dela e eu não faria nada que pudesse estragar.
Um altar improvisado foi colocado no jardim, um pergolado
enfeitado com tecido, nas cores branca e rosa, com muitas flores no mesmo
tom nas bases.
Da porta de vidro da sala até o altar havia um tapete de flores
brancas em cima da grama verdade. Nos lados, cadeiras enfeitadas com
flores brancas e rosas claras, tudo estava lindo. Sienna havia decorado tudo
como era o desejo de Camile.
Eram pouquíssimos convidados, alguns da organização que
precisava acompanhar e confirmar o casamento, amigos e familiares meus,
já que do lado de Camile ninguém poderia ir.
Ficava triste por Camile, mas esperava que as coisas melhorassem
para ela, que ela pudesse se encontrar em nossa família. Todos passaram a
amá-la e respeitá-la, eu esperava que um dia ela pudesse sentir o mesmo.
— Ela não quis mesmo fazer nada maior? — Victor indagou,
olhando em volta vendo a pouca quantidade de pessoas, neguei com a
cabeça.
— Mas me garantiu que tudo está como desejava — expliquei.
— Achei que toda mulher queria festa de princesa — comentou
Sebastian.
— Acho que nunca vou entender as mulheres, Camile então, ficaria
louco tentando — brinquei.
Os músicos deram início a marcha nupcial com música lenta que
parecia mais uma tortura.
Sienna e Grazi entraram com vestido longo de tule com decote em v,
no mesmo tom de rosa da decoração.
Logo a música foi trocada, anunciando a entrada da pequena Isy
com uma pequena sexta de flores nas mãos, jogando vagorosamente pétalas
pelo tapete. A pequena usava um lindo vestidinho cor de rosa bem claro
com uma mexa de cachos loiros presos em uma tiara de flores enquanto o
restante caía solto.
Quando a pequena chegou no altar, correu para os braços da mãe.
— Tio Alex, tia Camile já está vindo — Isy falou, me deixando na
expectativa.

A música (A Thousand Years) iniciou chamando a atenção de todos


para a entrada, onde ela surgiu como uma deusa, iluminada pelo brilho do
sol.
A letra da música parecia falar diretamente conosco, ela não tirava
os olhos de mim, assim como eu não conseguia desviar meu olhar dela.
Heart beats fast

Coração bate rápido

Colors and promises

Cores e promessas

How do be brave

Como ser forte?

How can I love when I’m afraid

Como eu posso amar quando eu tenho medo

To fall

De me apaixonar?

But watching you stand alone

Mas vendo você em pé sozinho

All of my doubt

Todas as minhas dúvidas

Suddenly goes away somehow

De repente somem de alguma forma

One step closer

Um passo mais perto

I have died everyday

Eu tenho morrido todos os dias

Waiting for you

Esperando por você

Darling, don’t be afraid

Amor, não tenha medo

I have loved you for a

Eu tenho te amado por

Thousand years

Mil anos

I’ll love you for a

E eu te amarei por mais

Thousand more

Mil anos

Time stands still

O tempo permanece o mesmo

Beauty in all she is

Beleza é tudo o que ela é

I will be brave

Eu serei valente

I will not let anything

Eu não deixarei que nada

Take away

Leve embora

What’s standing in front of me

O que está de pé na minha frente

Every breath,

Cada respiração,

Every hour has come to this

Cada hora se resumi a isso...

One step closer

Um passo mais perto

I have died everyday

Eu tenho morrido todos os dias

Waiting for you

Esperando por você

Darling, don’t be afraid

Amor, não tenha medo

I have loved you for a

Eu tenho te amado por

Thousand years

Mil anos

I’ll love you for a

E te amarei por mais

Thousand more

Mil anos
Sebastian tinha toda razão, ela estava deslumbrante, em um vestido
branco de tule bordado leve, com mangas tipo sino e um decote bordado em
v fundo, que se desenhava nos seios fartos. Usava uma coroa de flores
brancas e um buquê de rosas.
Deslizava por entre as pétalas de flores com os pés descalços,
enquanto segurava o pequeno buquê em frente ao ventre delicadamente
vindo em minha direção. Eu não enxergava mais ninguém a minha volta,
somente ela. Acreditei por um momento que ela poderia criar asas e voar a
qualquer momento.
A perfeição do momento era divina, não tinha outra explicação e eu
me perguntei se merecia tanto.
 
Capítulo 18
 
Dizer que tudo estava lindo era eufemismo. Não poderia ter nem se
quer sonhado com tamanha beleza.
Tudo estaria perfeito se não fosse o fato de que minha família e
amigos não estavam ao meu lado.
Alex usava um smoking de cor areia e flores gipsófila no bolso,
deixando-o ainda mais bonito, se é que isso era mesmo possível.
O sol começava a se pôr, deixando uma linda coloração laranja, que
se misturava com o azul do céu. Tudo era tão lindo e emocionante, tinha
tudo para ser perfeito, tudo para ser um conto de fadas, mas somente eu
sabia o quanto aquilo me doía por dentro.
Apertei um pouco mais o buque entre as mãos lembrando que Pietro
deveria estar ao meu lado, e senti mais uma pontada ao ver Sienna e Grazi
vendo ao seu lado a imagem de Tabita e Jeniffer, que deveriam estar ali
comigo, mas foi quando me lembrei de minha mãe que tive que olhar para
cima tentando conter as lagrimas e não borrar a maquiagem perfeita que
minha amiga havia conseguido.
Eu mal tinha terminado o percurso quando Alex veio ao meu
encontro, tocou minha mão com suavidade, olhou no fundo dos meus olhos
e sorriu, me transmitindo o mínimo de paz e tranquilidade que podia
adquirir naquele momento. Levou minha mão aos lábios depositando um
beijo casto, entrelaçou nossos braços e suavemente me direcionou ao altar,
como se soubesse que talvez não conseguiria chegar sem desabar,
ignorando totalmente as tradições e o que havia sido ensaiado.
— Oi, quanto tempo — brinquei em tom baixo, para que somente
ele ouvisse, pois fazia três dias que não nos víamos.
— Covarde — acusou, no mesmo tom com um sorriso. — Aliás,
você está linda.

— Obrigada! — Agradeci. — Você também não está nada mal.


O Padre, já de idade realizou a cerimônia, distribuiu algumas
palavras e logo depois, seguimos o programado, cumprindo a tal tradição,
que a meu ver era bem nojenta.
Alex colocou a taça em minha boca repetindo as palavras:
— Que sejamos um só, pela carne, pelo sangue e pelo fogo aqui e
além da vida — eu tomei um pequeno gole imitando o mesmo gesto com
Alex.
E em seguida fomos declarados marido e mulher, Alex me deu um
suave beijo em meus lábios sem muito afeto, já que tinha membros
importante da máfia ali. Soube que eles não demonstravam afeto em
público. Não que eu esperasse algo diferente.

Quando a cerimônia terminou, Victor e Sebastian vieram me


cumprimentar.
Sebastian, a meu pedido, tinha deixado eu usar suas redes sociais no
dia anterior, para que eu pudesse ver meus amigos e familiares mesmo que
por fotos e publicação e eu era muito agradecida a ele.
— Parabéns cunhada! — Sebastian parabenizou. — Está linda,
deveria ter desistido e ficado comigo, agora é tarde — brincou, tentando me
deixar mais confortável.
Sebastian era o engraçadinho, fazia piada de tudo e eu aprendi
gostar dele assim, no entanto, via que dentro de si havia uma sombra. Não
sei se gostaria de conhecer esse seu lado sombrio.
— Obrigada! — Agradeci, não só pelo elogio, mas por ele ter sido
bom comigo quando não precisava.

— Você já era da família antes, por ser irmã de Pietro, mas agora é
oficial, e nós fazemos de tudo pela família. — Declarou levantando sua taça
de champanhe, com uma sinceridade que me comoveu.
— Está linda — Victor elogiou, sério como sempre.
Victor era sempre frio, indecifrável, até mais que Alex. Achava no
começo até que não gostava de mim, mas percebi que esse era seu jeito,
parecia ter sempre algo que o afligia.
— Obrigada meninos, agradeço de verdade o carinho de vocês —
fui sincera.
Logo Sienna e Grazi também estavam ao meu lado e eu agradecia
por isso, caso contrário estaria em um mar de desconhecidos, Alex também
não se afastou, mas trocamos poucas palavras no decorrer da festa.

Ficamos uma ou duas horas recebendo algumas parabenizações,


tiramos algumas fotos, falamos com algumas pessoas e conhecendo amigos
e familiares de Alex.
Conheci Heitor e Bella, pai e mãe de Sienna, e tios de Alex por
parte de pai, conheci dona Edith mãe dos meninos, que veio da Espanha
para o casamento.
Alex havia perdido o pai e sua mãe foi morar na Espanha perto de
sua família, desde a morte de sua irmã mais nova.
— Você escolheu muito bem meu filho, ela é linda — elogiou,
apertando de leve minhas mãos, mas olhando para o filho.
— Eu sei mamãe, tirei a sorte grande — não sabia dizer se ela
estava a par da farsa, mas se não sabia, não seria eu a acabar com os sonhos
dela.
— Eu que sou sortuda, olha esse pedaço de mal caminho —
brinquei.
— Venha minha querida, vamos dar uma volta e conversar um
pouco, quero conhecer um pouco minha nora — declarou me puxando.
Será que eu deveria me assustar?
Ela era uma mulher por volta dos cinquenta e poucos anos, tinha
pele clara e cabelos negros lisos até a cintura, olhos da mesma cor que de
Alex. A mulher era linda, não era atoa que os filhos fossem de tamanha
beleza.
— Nossa! achei tudo lindo, fugindo do tradicional, amei! —
Declarou, com um sorriso que parecia sincero, caminhando ao meu lado
pelo jardim. — Sabe, quando me casei com o pai do Alex — começou a
contar — eu não o amava, as regras da máfia naquela época eram bem
diferentes, muito mais duras e rígidas — lembrou — Acreditava que nunca
seria feliz. Nem todas as meninas da época tiveram a sorte que eu tive de
me casar com um homem bom. — Casei-me em uma aliança entre nossas
famílias — esclareceu, a dúvida que me surgiu — e com o tempo me
apaixonei por sua bondade, seu jeito de colocar minhas vontades em
consideração, coisa que na época era impossível pois nós mulheres nunca
tivemos voz na máfia, nem mesmo hoje — contou essa parte com tristeza
— mas dentro de casa ele fazia de tudo para me ver sorrir, me dava carinhos
e demonstrava todo seu amor que não podia em público, então fui
imensamente amada e feliz. — Confessou, rindo, talvez de boas
recordações. — Alex não é diferente. Sei que as circunstâncias levaram
vocês a ficarem juntos, contudo, quer um conselho de uma velha? se não
pode sair do rio deixe que a correnteza a leve — finalizou.
Fiquei curiosa com o que ela estava tentando me dizer.
Ela queria que eu tentasse ser feliz com Alex? Será que era
isso? Acreditava que sim.
Ela não sabia dos pesares que havia em minha vida, se soubesse
com certeza não iria me querer nem perto do seu filho.

— Camile! — Chamou Sienna. — Vamos! Alex já está te esperando


— informou, vindo me tirar das mãos de dona Edith.
— Foi um prazer conhecê-la, Camile — declarou me dando um
abraço. — Pense no que lhe disse — cochichou.
— Pensarei, obrigada — agradeci —  o prazer foi meu, adoraria te
ver novamente, que tal vir nos fazer uma visita? — Convidei.
— Depois da lua de mel, virei com certeza. Agora vai lá, que Alexei
a espera — incentivou.
Sienna me arrastou para fora, até o carro, me entregando minha
bolsa e uma sandália baixa, pois eu estava descalça até o momento, devido
a cerimônia de casamento, chocando muitos pela minha escolha
inapropriada para a ocasião.
Porém eu não estava nem aí, lembro de Sienna dizer:
— Não vou negar que acho sua escolha um tanto estranha, todavia
o casamento é seu, minha linda, então se quiser, se quer casar de calcinha e
sutiã. Que assim seja.
— Sua mala já está no carro, pedi para Alex pegar — informou. —
Coloquei umas coisinhas a mais lá, caso decida usar — gracejou dando uma
piscadela.
Ia dizer que não iria, mas decidi ficar quieta.
— Sienna! — chamei antes de entrar no carro. — Quero agradecer
por tudo, eu não sei o que seria de mim sem você aqui comigo — confessei
com a voz embargada.
— Com certeza estaria aos prantos, — Caçoou tentando dispersar a
melancolia que ameaçava nos fazer chorar.
— Provavelmente — admiti, abraçando-a com força. — Queria
poder, te levar junto na mala. — Brinquei.
— Está louca. Meu primo provavelmente me jogaria aos tubarões —
falou, dando uma gargalhada chamando a atenção de algumas pessoas.
— Vá e aproveite garota! O lugar é lindo, contudo, talvez você nem
preste atenção — insinuou, olhando para Alex, que conversava com
Sebastian.
Eu ia perguntar para ela qual era o lugar, mas desisti, pois, fosse
onde fosse eu não saberia mesmo, nunca tinha saído do Brasil até poucos
dias atrás.
Alex tinha falado que iríamos de carro até uma pista de pouso onde
pegaríamos um avião bimotor para a viagem não ser longa e não
precisarmos pegar voo comercial.
Estava lendo no Kindle enquanto não chegávamos à pista.
— Posso te fazer uma pergunta? — Perguntou, me tirando da
leitura.
— Depende de que tipo de pergunta. — Respondi com medo de ser
relacionada à noite que ficamos ou sobre meus traumas.
— Por que quis se casar descalça? — Questionou curioso.
— Amo estar com os pés no chão, na água, grama ou terra, a
sensação de liberdade é esplêndida, então sempre desejei que quando me
casasse, seria uma sensação que gostaria de ter — expliquei.
— Uauu — disse surpreso com minhas palavras. — Espero que
tenha funcionado, não quero que tenha a sensação de que é uma prisioneira
ao meu lado.
Não quis comentar sobre aquilo, pois era exatamente como me
sentia nos últimos dias, não por ele, não por sua família, mas pelas
circunstâncias, mas ele não precisava de mais aquele peso sobre ele.
Voltei a focar em minha leitura, deixando o silêncio reinar
novamente.
— Vai mesmo me ignorar a viagem inteira?
— Não, só até eu cair no sono — gracejei e ele pareceu se irritar
com minha brincadeira. — Desculpa, não estou te ignorando — pedi,
tentando reparar minha grosseria.
— Se não quer ficar comigo tudo bem Camile, já te disse não sou
homem de obrigar ninguém, mas vamos viver juntos, morar juntos, iremos
a eventos e você oficialmente é minha mulher agora. Não vou mentir,
vamos passar por alguns bocados, então, seria melhor se tivéssemos um
bom relacionamento, nem que seja só como amigos. Preciso confiar em
você e desejo que confie em mim — ele explodiu, mostrando seu
desconforto com a situação.
— Eu sei, é só que... — tentei explicar, mas parei de falar pois nem
sabia o que dizer.
Estava desconfortável, envergonhada e com medo, por mais que não
admitisse estava apavorada.
— É só que? Eu quero entender Camile, quero mesmo saber por que
está fugindo de mim?
Alex bateu as mãos sobre o volante levemente irritado, o que me fez
me assustar levemente, me fazendo encará-lo.
— Não estou fugindo! Você não é o problema aqui, será que você
ainda não entendeu isso? — Me excedi.
— Ah, não? Então me diz por que moramos na mesma casa e, no
entanto, faz três dias que eu não a via — disse se referindo ao fato de eu ter
dito que não estava fugindo dele.
— A casa é grande? — Falei com um certo sarcasmo, ele não
pareceu achar graça.
Ele apertou as mãos no volante, como se tentasse se controlar.
— Não me provoque Camile! — Alertou, usando um tom de
sobreaviso.

O que ele queria de mim afinal? Que eu estivesse soltando fogos


com tudo que estava acontecendo? Que eu estivesse feliz longe da minha
família e amigos, sem saber se estavam ou não bem.
—Ah, é sério! Por quê? — Gritei — O que vai fazer? — Continuei
afrontando, sem medir as consequências que aquilo poderia ter depois. —
Vai me trancar no quarto ou eu vou ficar sem sobremesa? — Explodi
cuspindo as palavras, irritada por ele ter usado um tom de ameaça.
Ele jogou o carro para o acostamento, parando de súbito, abriu a
porta e desceu sem dizer nada.
Largou sua porta aberta, se afastando alguns metros. A estrada
estava totalmente escura e deserta, iluminada apenas pelos faróis que ainda
permaneceram acesos.
Atrás de nós vinha um outro carro com alguns seguranças que
também pararam, Cristian desceu falando alguma coisa com Alex, que
balançou a cabeça negando, o que o fez voltar ao seu carro e Alex ao nosso.

Ele estava furioso, o que por um momento me fez temer, ele era um
mafioso, eu mal o conhecia, não tinha a mínima ideia do que ele era capaz
de fazer e mesmo assim havia acabado de gritar e afrontá-lo. Se quisesse
poderia me matar ali mesmo, deixando meu corpo para os animais
selvagens.
 Eu e essa minha boca grande — pensei.
Porém que diferença iria fazer? Todos já acharam que eu estava
morta mesmo, só iria oficializar o óbito.
 Talvez fosse até melhor, daria fim a toda aquela agonia.


 
Capítulo 19
 
— Cazzo!
Aquela mulher seria minha ruína com certeza, Camile tinha o dom
de me tirar do sério na mesma proporção que me fazia desejá-la.
A maneira com que me desafiava, o desaforo transbordando de seus
poros, seus lábios avermelhados e como os mordia quando estava nervosa e
como eu queria fodê-la e ouvi-la gritar e castigá-la por toda a raiva que me
fazia passar, mas tinha feito uma promessa de que cuidaria dela.
Eu não sabia se eu estava mais puto, por ela ter a audácia de me
desafiar daquela maneira, ou pelo fato dela estar certa. Com certeza não
levantaria a mão para ela, nem em um milhão de anos. Só de pensar em
qualquer um a machucando... Era simplesmente inadmissível, não gostava
nem de imaginar tal coisa.
Trancá-la? Jamais, eu jamais faria algo que pudesse feri-la de
qualquer forma e não era só pelo fato dela ser irmã de meu melhor amigo,
ou pelo fato de minha mão ter nos criado sabendo respeitar as mulheres
mesmo dentro da máfia, mas Camile já sofria demais com tudo aquilo e
com certeza ela não merecia aquilo.
Então chegava à conclusão de que eu estava fodido, muito fodido.
Minha vontade era de matar alguém, PORRA! Que raiva, com
certeza morreria bem mais cedo com Camile ao meu lado, eu não tinha
nenhuma dúvida daquilo.

Cristian veio verificar se estava tudo bem, e saber se precisava de


alguma coisa, neguei voltando para dentro do carro, tentando não perder o
controle.
Ela parecia com medo da minha reação, seus olhos dilatados e seu
corpo tenso me mostrava aquilo. Eu deveria ficar satisfeito em vê-la temer,
no entanto, a constatações me fez ter mais raiva ainda.
Camile era inconsequente, atrevida e desaforada, mas medo era um
sentimento que eu não desejava despertar nela.
— Camile, não farei nada com você. — Afirmei, tentando
tranquilizá-la. — Todavia, você aceitou isso, espero que colabore —
desabafei.
Ela me olhou com olhos cansados e suspirou profundamente, se
deixando afundar sobre o banco.

— Eu sei! — Admitiu. — Não estou voltando atrás da minha


palavra, só fiquei irritada por usar um tom de ameaça. Não estou
acostumada com tudo isso — explicou. — Acho que podemos ser amigos.
Ela deu um leve sorriso ao me olhar, e mais uma vez podia ver a
tristeza em seu interior, estava sempre ali, pairando sobre ela, entre, nós e
eu me perguntava se eu era o causador de tal angústia.
— Quero que sejamos mais que amigos Camile, preciso confiar em
você e espero que confie em mim...
Seriamos sempre casados, não importa o que acontecesse depois,
não importa se ela iria embora, se levaria uma vida distante, estaríamos
sempre ligados. 
— Você tem sua vida na máfia e não espero que me conte tudo,
assim como espero que você entenda que eu tenho meus próprios segredos
e não quero compartilhá-los, então sem perguntas, ok? — Ela perguntou,
me deixando ainda mais intrigado.
O que tanto Camile tentava esconder?

Por aquela eu não esperava, mas afinal era justo. Eu não podia falar
sobre meus negócios com ela, então tinha o direito de ter seus próprios
segredos.
— Sabe que pode contar comigo né? — Perguntei e a vi assentindo
levemente com a cabeça. — Então só não fuja mais — pedi tocando-lhe
levemente as mãos.
Ao chegarmos na pista de pouso pegamos o avião, descendo
algumas horas depois em outra pista, não muito longe de onde iríamos. Um
carro com motorista já nos aguardava.
Durante o percurso falamos sobre banalidades, de gostos e
preferência. Ela me disse que não gostava muito de praia, o que me fez me
questionar se realmente havia feito a escolha certa para o local de lua de
mel, já que era por aquela razão que eu havia escolhido.
Deveria ter perguntado, mas acreditava que ela iria gostar, pois o
lugar era lindo.

No entanto, se tratando de Camile tudo era diferente. Ela não se


parecia em nada com qualquer outra mulher que eu já tinha me envolvido
antes, não que eu saía com todas, mas já tinha saído com uma quantidade
significativa de mulheres.
Camile era incomum, com ela nunca era o que se esperava. Talvez
se alguém me ouvisse falar aquilo, poderia facilmente acreditar que era
apenas uma peça criada por minha cabeça, pelo simples fato de sermos
recém-casados. A visão de um homem apaixonado. E se não fosse o fato de
aquilo tudo ser uma farsa e de não estar apaixonado, até mesmo eu
acreditaria que estava delirando, mas não, Camile não se esforçava para ser
notada, não tinha a necessidade de sempre ser elogiada, ou assistida, como a
maioria. Ao contrário de muitas mulheres não tentava em nada parecer
frágil ou delicada, seu jeito de andar batendo os pés era prova daquilo, ela
era simplesmente ela mesma, sem rodeios ou floreios.
Sorri vendo-a puxar sem delicadeza o tecido do vestido fazendo um
emaranhado de tecido entre as pernas, colocando um de seus pés sobre o
banco.
— O que foi? — Questionou me vendo achar graça.

— Nada, está tudo perfeito — afirmei, apesar de desconfiada não


questionou.
Chegamos na mansão que era no alto de uma colina, em um dos
pontos mais altos de Sicília, A casa era menor do que a mansão em
Florença, mas na minha opinião, muito mais bonita, tinha uma vista para o
mar de tirar o fôlego e a noite o céu estrelado dava um show para ninguém
colocar defeito.
— Nossa! É linda — Camile disse varrendo os olhos em tudo, me
trazendo um certo alívio.
Correu até a porta que dava para a piscina com borda infinita,
admirando o céu e o mar abaixo.
— Uauuu, parece até aquelas mansões de filmes, vocês gostam
mesmo de ostentar né?
— Bem, na verdade a casa é da família, mas raramente eles vêm
para cá, então não somos os únicos a vir para cá passar férias — completei.
— Nem se eu juntasse o dinheiro da família toda eu conseguia
comprar uma casa dessas, nem perto disso — declarou.
— Agora você é rica! Seu irmão deixou muito dinheiro para você —
lembrei.
Quando ela chegou na Itália, logo mandei o advogado liberar todos
seus bens, tudo que o irmão havia deixado, entretanto Camile não fez muita
questão de saber a quantia, e não havia usado nada até o momento.
— Eu sei, ainda não me sinto assim, entende? Passei minha vida
trabalhando para ganhar, e agora... — não completou a frase, também não
precisava eu sabia do que ela falava.
Camile sempre foi autossuficiente, começou a trabalhar cedo,
cursou enfermagem ainda no ensino médio e quando terminou, já iniciou na
faculdade, e se não fosse pela morte do pai, teria se formado em Medicina.

— Aliás, eu queria conversar com você sobre esse assunto. — Ela


falou chegando um pouco mais perto, me fazendo sentir seu cheiro, que
agia como um gatilho para mim.
Ainda usava o vertido de festa e eu tentava não olhar em seu decote,
onde os seus seios pareciam me chamar, com um convite suculento e
apetitoso. Estremeci só de imaginar.
— Queria te pedir um favor, sei que mamãe ainda não fechou a
venda da pousada e que eu não posso comprar, pois se não saberiam que
estou viva. Então eu queria saber se você não poderia comprar em meu
nome — pediu.
A verdade é que eu já havia comprado a pousada há alguns dias,
sabia que aquele lugar tinha significado para Camile e não iria deixar
ninguéseusm tomar posse.
— Claro que sim querida, vou resolver tudo, pode deixar — ela
pulou em meus braços como uma criança, passando os braços em meu
pescoço,  seios em meu peito e beijando meu rosto. A garota parecia não se
dar conta do efeito que causava em mim.
— Obrigada! — Agradeceu, dando um sorriso que eu colocaria fogo
no mundo inteiro só para ver sempre em seu rosto.
— Camile... — Alertei afastando-a de leve, pois já estava duro só
com sua aproximação, imagina com ela ali pendurada em meu pescoço.
— Desculpe! — Pediu constrangida perdendo aos poucos aquele
lindo sorriso.
— Ei! Seu sorriso é tão lindo — falei passando os nós dos dedos em
seu rosto.
Ela corou e maneou a cabeça de lado, como se quisesse apreciar
mais daquele contato, porém, foi rápido e logo se afastou, se virando.
— Estou com fome! — Disse de repente, tentando mudar de
assunto.
— Podemos pedir alguma coisa — sugeri.
Ela fez uma careta de que não havia gostado da ideia.
E eu a admirei com aquele jeito único de quando não gostava de
algo, era transparente, não escondia ou disfarçava, e quando gostava era
como a pouco, parecia uma criança ganhando um presente.
— Não tem comida aqui? — Perguntou, indo até a cozinha, abrindo
a geladeira e os armários.

— Não pronta — expliquei. — Dispensei os empregados, os


caseiros só vêm amanhã de manhã para arrumar e deixar comida pronta.
— Não tem problema, vou subir tomar um banho rápido e volto para
fazer nosso jantar — afirmou já subindo a escada.
— Qual é meu quarto? — Perguntou virando nos calcanhares,
apontando para os quartos.
— Pode ficar com o último, é o melhor! — Afirmei.
— Obrigada! — Agradeceu e saiu.
Busquei as malas no carro, levando a dela para seu quarto, bati, mas
ela já estava no banho, então entrei.
— Camile! — Chamei — trouxe sua mala — avisei.
— Obrigada, deixa na porta por favor — pediu.
Seu vestido estava sobre a cama e tinha pequenas flores no chão,
que provavelmente havia caído de seus cabelos.
Fiquei por algum tempo imaginando-a embaixo do chuveiro se
ensaboando, passando a mão por seu corpo.
Dei alguns passos em direção a porta do banheiro que estava entre
aberta dando uma visão de Camile de costas dentro do box, sua pele morena
molhada. Eu engoli em seco ao deslizas meu olhar pela curvatura de sua
lombar sentindo meu pau reagir aquela visão estonteante.
PORRA! Saí o mais rápido possível de seu quarto, tentado me
controlar para não invadir o banheiro e acabar fazendo alguma besteira da
qual me arrependeria depois.
E resolvi fazer o mesmo, ir para o meu quarto arrumar minhas
coisas e tomar bom banho frio.
Ainda não havia entrado no chuveiro quando escutei ela descer. A
semana seria difícil e era só o primeiro dia, eu provavelmente morreria de
bolas roxas.

— O cheiro está ótimo. — Elogiei entrando na cozinha sentindo um


aroma maravilhoso de comida.
Ela estava na beira do fogão, descalça, com shorts e regata. Em uma
perna só, apoiando a planta do pé na parte interna da coxa, em posição de
árvore com uma das mãos na cintura, enquanto a outra mexia a comida.
Notei que deveria ser algum hábito.
Achei uma graça.
— O que está fazendo? — Sondei.
— Risoto de salmão, espero que goste. Não sei se podia, mas achei
um vinho, então decidi pôr para gelar.
— Sim! — Respondi — Se o gosto estiver tão bom quanto o cheiro,
com certeza vou adorar — falei deixando de lado o fato de não bebermos
vinho gelado, mas que deveria ser normal no país dela.

Ela pegou dois pratos, servindo os dois igualmente, e encheu as


taças. Fui ao seu auxílio, achei que se sentaria à mesa de jantar, mas ao
contrário do que imaginei, e para minha surpresa, se sentou na posição de
lótus no tapete da sala, colocando meu prato em cima da mesa de centro.
— Você não vem? — Perguntou quando me viu parado observando,
não respondi, só me sentei ao seu lado.
— Nossa, está delicioso — elogiei ao provar o risoto, pois realmente
estava. — Você cozinhava na pousada? — Perguntei.
— Não, eu fazia um pouco de tudo, mas tínhamos uma cozinheira.
A Priscila que é maravilhosa, aprendi muita coisa com ela — lembrou com
um tom de voz triste ao lembrar de sua amiga. — A vista aqui é de tirar o
fôlego — observou mudando de assunto.
Seu olhar pairava sobre a piscina, que refletia lindamente o brilho da
lua cheia no céu.

Que dali parecia ainda maior.


— Sim, amo esse lugar — vi decepção em seus olhos, mas passou
tão depressa que pensei ter imaginado.
Eu era muito bom em ler as pessoas, precisava ser, afinal éramos da
máfia, tínhamos que ler bem as pessoas que estavam em nossa volta. No
entanto Camile era imprevisível, parecia uma força da natureza, quando
você achava que ia tomar uma direção ela tomava outra totalmente
diferente, como naquele momento. Acreditei que não falaria nada a respeito
do que a incomodou, mas então ela soltou.
— Deve se divertir bastante com suas mulheres aqui né? —
Comentou, sem acusação em sua voz, o que me impressionou, já que era
óbvio que tal pensamento lhe incomodava.
— Minhas mulheres? Tenho um harém agora? — Brinquei, em um
tom de deboche, dando uma gargalhada. — Na verdade só trouxe uma
mulher aqui, até hoje — ela pareceu curiosa para saber quem era, então
completei. — Você.
Vi um leve sorriso despontar em seus lábios, mas não disse nada,
apenas pegou o prato das minhas mãos que já havia terminado e se levantou
dizendo:

— Eu lavo a louça! — Voltou para cozinha.


Tomamos mais um pouco de vinho e falamos um pouco sobre
nossas vidas. Contei para ela um pouco da minha infância, que até a idade
de iniciação foi bem tranquila.
Tive pais muitos bons. Papai era executor, primo do pai de Kleber,
casou-se com minha mãe em uma aliança com a máfia espanhola. Os dois
viviam muito bem, se não se amavam nunca deixaram transparecer para
nós.
Éramos em quatro irmãos eu, Victor, Sebastian e Melissa nessa
ordem. Perdemos nosso pai em uma emboscada há mais de dez anos, e
melissa em um acidente de carro que foi sabotado para Victor.
Ela me contou um pouco da sua infância com o irmão, mas não
disse muita coisa. Percebi que queria evitava aquele assunto, era algo que
parecia incomodá-la, então não aprofundei, o que só aumentava minha
curiosidade.
Não insistiria, havia prometido que não iria forçá-la a me contar
nada.
Falou um pouco da sua vida na pousada. Ela parecia gostar muito do
lugar, falou das expectativas de ser médica, anestesista é o que ela disse.
— Já está tarde, o dia foi gostoso, mas cansativo — comentou
dando um pequeno bocejo, pois já passava da meia noite.
— Vamos vou te levar para cama, minha cacheada.
— Espere, não...
— Relaxa, só vou te levar ao seu quarto e depois vou para o meu, a
menos que queira companhia? — Gracejei.
Segurei em sua mão puxando de leve, e subindo as escadas. Minha
vontade era de pegá-la no colo e levar até sua cama, nem que fosse só para
colocá-la para dormir.
Caralho! Desde quando eu tinha esse tipo de pensamento?
Eu estava mesmo ficando mole, nunca tinha sentido vontade de
passar a noite com nenhuma outra mulher antes, ainda mais só para dormir.
Talvez por ela me afastar, eu queria justamente o contrário. Com
certeza deveria ser aquele o motivo, sempre gostava do  era proibido. Eu
tinha que dar um jeito de ficar logo com ela, assim tudo aquilo passaria.

— Tem certeza de que não quer que a coloque na cama? —


Perguntei deixando-a na porta do quarto.
— Acho que consigo achar o caminho dela sozinha, obrigada —
Brincou ,fechando a porta na minha cara.
 
Capítulo 20
 
Levantei-me cedo naquela manhã, me impressionando por Cristian
já estar ali, já que não havia nos acompanhado no avião.
Saí para correr como de costume, Cristian havia dito que ali era bem
sossegado e realmente a praia estava deserta, muito diferente do que eu
estava acostumada no Brasil, o que me fez querer dar um mergulho, no
entanto deixei para outra hora.
Quando voltei para casa encontrei uma senhora baixinha de olhos
claros e muitos cabelos brancos.
— Chegou minha filha. — Exclamou, com carinho, como se me
conhecesse há anos e veio me abraçar. — Sou Regina, caseira da mansão —
apresentou-se me soltando aos poucos.
— Camile mulher do Alex — informei, ainda estranhando aquelas
palavras.
— Sente, já preparei seu café — informou.
— Vou tomar banho primeiro.
— Então vá querida, o menino Alex também já deve estar descendo.
Tomei banho rápido e desci em seguida.

— Sente- se aqui — indicou, puxando uma cadeira em uma mesa


com alimento para vinte pessoas tomar café. — Quer que eu prepare
alguma coisa?
— Não, dona Regina, aqui tem mais que suficiente.
Me servi de um croissant, uma xícara de café com leite, que eu não
ficava sem todas as manhãs.
— Bom dia! Já está de pé? — Ouvi a voz de Alex na escada.
— Bom dia! — Respondi. — Saí para correr e quando cheguei já
tinha esse banquete, então não resisti.

— Alex, filho! — Exclamou Regina indo dar um abraço em Alex,


que retribuiu, beijando o topo de sua cabeça.
Eu nunca tinha presenciado Alex demonstrar esse tipo de afeto, nem
mesmo com a mãe, mas talvez fosse pelo fato de ter nos encontrado
somente no casamento.
— Nonna! Que saudades — declarou doce.
— Seu mentiroso, se realmente sentisse saudades, ligava para sua
Nonna — brigou com falso aborrecimento. Ele sorriu, um sorriso travesso,
como de uma criança que apronta, que me deixou encantada.
— Me perdoe Nonna, eu prometo que ligarei — jurou, olhando seu
rosto com ternura.

Fiquei curiosa para saber qual era a relação dos dois.


Alex usava uma calça de moletom e estava descalço e sem camisa, o
que me fez acender.
Ao contrário da outra noite, agora podia ver bem seu corpo com
algumas cicatrizes e tatuagens, eu já havia visto a da mão e do antebraço,
mas também tinha uma no meio do peito. Um coração humano apunhalado
com um tipo de adaga e algumas escritas:
Non puoi uccidere che è già morto[7]
 
Não sabia o que estava escrito, mas fiquei curiosa. Havia cartas de
baralho espalhadas por suas costelas misturadas com uma rosa e um
relógio, outras espalhadas por todo seu tórax.
— Poderia ter me chamado, eu iria com você — ponderou,
sentando-se ao meu lado e se servindo de café puro.
— Se quiser podemos ir juntos amanhã! — Convidei.
— Vou deixar comida para vocês na geladeira e caso precisem de
alguma coisa, Alex sabe onde me achar — disse dona Regina.
— Na verdade eu estava pensando que talvez eu mesma pudesse
cozinhar, queria ver se achava uma feira por aqui para comprar algumas
coisas. Claro, se vocês não se importarem. — Disse olhando de Alex para
Regina.
— Claro, que não querida, se gosta de cozinhar fico muito grata, é
melhor do que vocês ficarem comendo comida requentada — explicou
fazendo careta.

— Bom, na verdade eu tinha outros planos para nós hoje — Alex


anúncio.
— Planos? Que tipo de planos? — Perguntei curiosa.
— É surpresa! — Explicou.
O que já me deixou surpresa foi ele ter uma surpresa e planos, achei
que nossa lua de mel era por mera aparência, não esperava que ele tivesse
preparado alguma coisa para fazermos juntos. Meu coração se aqueceu com
tal dedução, esse homem não parava de me surpreender.
Aquele homem tinha o poder de se infiltrar em mim de maneiras
que nunca achei possível.
—Tudo bem então, deixamos a feira para outro dia — declarei.
— Então, suba e troque de roupa, só coloque um biquíni por baixo
— pediu, me fazendo perder o sangue.

— Camile, algum problema? — Perguntou notando meu


nervosismo, que passou logo ao perceber que estava sendo tola, pois
poderia usar um maiô.
— Não, tudo bem! Vou subir e me trocar — informei.
Entrei no quarto e fui a mala procurar o maiô, achei dois maiôs entre
alguns biquínis que Sienna havia comprado para mim, depois que lhe disse
que não usava biquíni.
Um era um lindo verde, com decote cavado e uma tira na cintura, o
outro era lindo, porém com apenas um tira no meio em crochê o que não
adiantaria nada para mim.
Coloquei o verde me tranquilizando e anotando mentalmente que
depois teria que ir à cidade comprar mais maiôs.
Coloquei uma túnica, saída de praia com alguns bordados na lateral.
Quando eu desci Alex já me esperava com uma cesta de piquenique.
— Pronta? — Perguntou.
— Já nasci pronta, querido. — Brinquei.
Ele pegou em minha mão, em um ato gentil e delicado.

Sentia minhas resistências indo pedacinho por pedacinho ao chão.


Como eu iria resistir a esse homem por tanto tempo?
Nos despedimos de Regina e fomos para o carro.
— Pensei que fossemos a praia? — Questionei.
— Achei que não gostasse de praia? — Indagou fazendo me lembrar
que havia falado que não gostava muito de praia, e realmente não gostava.
Praias sempre estavam cheias de gente, de barulho, sem privacidade, um
lugar ao meu ponto de ver muito impessoal. Sempre gostei de lugares
tranquilos, mas ali era diferente, a paz o sossego, a vista, acreditava ser o
paraíso.
— Hoje quando fui caminhar, a praia estava vazia e tranquila, me
pareceu tão agradável. — Confessei.
— Bom, fico feliz que tenha gostado, entretanto, espero que goste
ainda mais de onde vamos!
Chegamos em um píer onde tinha uma lancha nos esperando, nunca
nem tinha visto uma de perto, quem dirá entrar. Alex me ajudou a subir e
avisou ao piloto que nos levaria.
Não demorou muito para chegarmos em uma ilha linda. A água era
cristalina e eu acreditei que ficaríamos por ali, entretanto, ele ancorou me
ajudando a descer.
— Vamos ter que caminhar um pouco — informou.
Começamos a andar por uma trilha e eu me preocupei, pois não
estava preparada para fazer trilha, mas logo chegamos uma gruta de águas
salgadas. O lugar era magnífico, com pedras e vegetação, era possível ver o
fundo através da água cristalina.
Havia uma brecha no fundo da gruta que provavelmente era por
onde a água do mar entrava, dando uma fresta de luz junto, iluminando o
lugar fazendo parecer um pedaço do céu.
— Uauu! Eu morri e fui para o céu? — Me admirei vendo a beleza
do lugar.
— Que bom que gostou, cachinhos — falou cortando a distância
nós.
— Alex... — falei seu nome em um tom de súplica, pois seria difícil
resistir a ele somando a beleza do lugar.
Passou os nós dos dedos em meu rosto fazendo uma leve carícia.
— Não se preocupe — me tranquilizou. — Já disse que não vou
fazer nada, irei sempre respeitar sua vontade.

— Eu agradeço por isso. Então, que tal agora darmos um mergulho?


Essa água está me chamando — chamei tirando a saída.
Ele também tirou suas roupas ficando somente de sunga, fazendo
meu corpo entrar em combustão espontânea pela visão tão maravilhosa de
seu corpo seminu, me fazendo criar inúmeras possibilidades de prazer com
aquele deus grego.
Eu mal conseguia tirar os olhos dele, aquele corpo delicioso,
naquele lugar lindo, minha boca salivava com vontade de provar cada
pedacinho seu.
E ele também parecia me comer com os olhos. Notei que começava
a ficar duro, então desviei meu olhar, porque seria demais para uma mera
mortal resistir a tamanha tentação.
Corri e pulei na água que estava um pouco gelada por não bater
muito sol, agradeci interiormente pois estava pegando fogo.

Ficamos algumas horas ali e depois voltamos para praia, comemos


algumas coisas que ele havia trazido na cesta e depois ficamos bebendo
sentados no banco do iate conversando.
— Por que parou de fazer faculdade? — Questionou.
— Depois que meu pai morreu, minha mãe precisava de alguém
para ajudá-la — respondi dando de ombros. — Eu não poderia conciliar
trabalho, faculdade e pousada, e sem o trabalho seria difícil manter a
faculdade, já que a pousada não ia tão bem — expliquei.
— Mas agora você pode! Com o dinheiro que seu irmão deixou —
informou. — Se não quiser usar o dele, eu mesmo posso pagar para você.
— Obrigada! — Agradeci. — Mas não posso aceitar seu dinheiro, já
basta todos os presentes e roupas que me deu, o que aceitei de bom grado
devido á minha situação. Mas agora não tenho mais a pousada e posso
voltar a trabalhar, e assim pagar minha faculdade.
— Você não precisa trabalhar — exclamou em um tom que não
soube decifrar.
— Não preciso ou não posso? Me explique direito — pedi sem
julgamentos, pois sabia que algumas máfias não permitiam que as mulheres
saíssem para trabalhar ou estudar.
— Bom, por enquanto realmente não pode, pois ainda corre muito
perigo, mas também não precisa. Somos casados agora, posso te dar tudo o
que precisar.
— Como já disse, obrigada, mas prefiro ganhar meu próprio
dinheiro. Sem falar que amo trabalhar e ser médica anestesista é um sonho
que pretendo realizar.
— Quando tudo isso passar, daremos um jeito — deu o assunto por
encerrado.
Mas sabia que aquilo estava longe de ser uma concordância, todavia
resolvi deixar o conflito para outra hora.
— Vamos voltar, quero pelo menos fazer o jantar — pedi.

Ele assentiu e voltamos para casa um pouco antes do pôr do sol,


então subi para tomar um banho e me deitar um pouco antes do jantar.
Deitada na cama comecei a me lembrar da tarde que havíamos
passado juntos, recordando do seu corpo molhado, banhado pela luz do sol,
somente de sunga, das inúmeras vezes que me tocava, como se fosse
impossível ficar longe.
Meu corpo se aquecia, trazendo à tona um tesão que eu não sabia
existir dentro de mim.
As lembranças do dia que me fez gozar em seus dedos, me levando
a um frenesi delicioso e incontrolável. Comecei a me tocar, imaginando
suas mãos mais uma vez em mim, projetando sua boca em meu corpo.
Meus dedos deslizavam para dentro, me sentindo mais lubrificada
que o normal, enquanto massageava um dos meus seios. Meu clitóris estava
dilatado e sensível, iniciei uma massagem em círculos nele, gemendo
fantasiando. Almejando ser as mãos de Alex em mim.
Queria poder gritar, mas me segurava, gemia baixo ou pelo menos
achava que sim, me deixando levar pelas sensações.

— Alex... — chamei seu nome, explodindo em um gozo fantástico.


Ofegante pelo orgasmo, levei alguns minutos para me recompor. Me
levantei tomei outro banho coloquei um vestido e desci para preparar o
jantar.
Já havia colocado água no fogo, pretendia fazer uma macarronada.
Estava na beira do fogão, quando Alex desceu. Seu olhar está cheio
de fúria ou seria desejo? Talvez os dois.
Chegou por trás de mim agarrando minha cintura, apertando sua
necessidade em minha bunda. Ele estava duro como ferro e se esfregava
sem pudor. Alex puxou meus cabelos com um pouco de brutalidade, porém
não o suficiente para machucar.

Sua reação me assustava e excitava ao mesmo tempo.


Colou sua boca eu meu ouvido me fazendo arfar, deixando meu
corpo mole. Me segurava firme pela cintura, não permitindo que eu caísse
ou me afastasse. Meu centro latejava e meu coração estava disparando.
— Você sabia que seu quarto é ao lado do meu, Camile? —
Perguntou, mas não esperou que eu respondesse. — E que se cair uma
agulha nele, posso escutar? Então, dá próxima vez que se tocar, gemendo e
chamando por meu nome daquele jeito, juro que arrombo aquela maldita
porta e te fodo como nunca ninguém antes foi capaz, entendeu minha
cachinhos? — Rosnou entre dentes.
Porra! Ele havia escutado tudo?
Queria enfiar minha cabeça na terra e não tirar nunca mais, no
entanto também queria foder com aquele homem e fazer ele cumprir cada
palavra que acabou de dizer. Ao invés disso em um impulso saí correndo
outra vez.

Cheguei no meu quarto com o coração parecendo tambor em dias de


carnaval. Precisava de um minuto para pensar, não podia mais resistir
àquele desejo, ele me consumia e me dominava cada vez mais, me tirando
qualquer resquício de resistência.
Queria tudo! Queria os beijos! Queria o sexo selvagem! Os
carinhos e tudo que ele tivesse a oferecer.
Mas ao mesmo tempo o medo me assolava, medo das perguntas,
medo da rejeição, medo de surtar como já havia feito antes, mas o maior
medo de todos, era dele querer concertar o que eu sabia que nunca teria
concerto.
Talvez se eu colocasse alguns limites? Manter ele pelas bordar não
fosse tão ruim, então quando tudo acabasse ninguém sairia ferido —
ponderei.
Alex não era como André, ele era da máfia, já tinha passado por
coisas inimagináveis, visto coisas muito piores que algumas cicatrizes, não
seria abalado assim tão fácil.

Ele não esperaria de mim coisas que eu nunca seria capaz de dar,
não precisaria falar nada do meu passado, afinal seria só sexo! Ele não era o
tipo de cara que se apaixonaria e sofreria por traumas dos outros, já tinha os
seus próprios, enxergava isso nele, conhecia uma pessoa com traumas assim
como eu, isto com certeza não o atingiria — tentava me convencer — e de
qualquer forma eu não esperava expor minhas angústias. Esse lado eu
guardaria só para mim.
Se ele aceitasse os termos, talvez as coisas desse certo.
Respirei fundo e voltei para baixo, onde eu o havia deixado.
 
Capítulo 21
 
 — PORRA! O que eu havia feito? Havia prometido não ultrapassar
seus limites, no entanto escutar Camile gemendo, gozando e chamando por
meu nome, me fez perder todo o meu autocontrole. Andava de um lado para
o outro como um animal enjaulado, queria arrombar aquela porta, entrar lá
e foder com ela insanamente.
Quando ouvi ela descer, tentei me acalmar, tomei um banho gelado
tentando esfriar a cabeça e aplacar aquele desejo. Tentei esquecer o som de
sua voz enquanto sussurrava meu nome, mas parecia que nada adiantava.
Desci, fui até ela, ensandecido, acochando-a por trás e puxando pelos
cabelos como um homem das cavernas. Ao contrário do que imaginei, ela
pareceu se derreter em meus braços, que a apertavam sem delicadeza, mas
sem ter a intenção de machucá-la, seu corpo tremia e era possível sentir o
calor emanando dele através das roupas.

Achei que ela corresponderia, pelo desejo que sentia emanar dela,
nossos corpos colados pegando fogo. Eu sentia seu corpo tremer de desejo e
sua respiração entrecortada, ela estava ofegante, tudo indicava que estava
louca por aquilo.
Contudo, mais uma vez havia saído correndo me deixando de pau
duro, querendo quebrar tudo.
— Cazzo! — Explodi.
Enchi um copo de uísque para tentar me acalmar e levei aos lábios,
mas antes que pudesse tomar o primeiro gole, a vi descer pausadamente as
escadas, degrau por degrau, como se pensasse no que diria.

Parei, analisando para ver o que faria.


Veio em minha direção, pegou o copo da minha mão e virou em um
só gole fazendo uma careta com a queimação que a bebida causou, como se
para tomar coragem.
— Desculpe por agora a pouco — pediu, levantando um dedo em
sinal de que não queria ser interrompida, quando ameacei falar. — Me
deixe falar, ou não vou conseguir — pediu exasperada — eu quero tudo o
que você quiser me dar, quero o sexo, os dias maravilhosos que estamos
tendo e tudo mais o que quiser, mas ... — deu uma pausa — para que isso
de certo preciso que você saiba que tem coisas que eu não posso dar— acho
que se referia a amor, por mim estava tudo bem, eu também era incapaz de
amar alguém. — Se seguirmos por este caminho — continuou — você
precisa prometer que não fará perguntas, não terá julgamentos ou
questionamentos, a qual eu não posso e não "QUERO" responder. Minha
vida não está aberta a debates.
Isso com certeza facilitaria muito as coisas para mim, assim não
teria que lidar com ela me questionando também.
— Não se preocupe, não irei fazer perguntas — disse como se lesse
meus pensamentos.

Agora quem precisava de uma bebida era eu, enchi novamente meu
copo e virei em uma golada só.
— Se aceitar meus termos, podemos deixar as coisas rolarem,
aproveitar o que temos de bom um no outro, não vou correr ou fugir, pois
não sou mais capaz — admitiu. — Não tenho mais forçar para lutar contra
esse desejo — admitiu.
Fui até ela, enchi minhas mãos em seus cabelos, beijando sua boca
com fome, pois era assim que eu me sentia, faminto por ela, como um leão
selvagem. Seria do jeito que ela quisesse, seja lá o que a atormentava, a
tinha quebrado e feito ela ser daquela maneira, arisca, arredia, temerosa em
um mundo sombrio e solitário. Não tinha o direito de julgá-la, éramos
igualmente quebrados. Então talvez no fim, pudéssemos juntar nossos
cacos, ou o que havia restado deles.
Ela retribuía o beijo com ardor e sofreguidão, coloquei minhas mãos
na sua bunda e a levantei em meu colo.
Camile desceu e se afastou, achei que iria fugir novamente, mas foi
até o fogão, desligou o fogo que eu nem tinha notado que ainda estava
ligado.
Voltou para meus braços, pulando em meu colo, passando as pernas
em minha cintura.
— O único fogo que quero que pegue hoje é o nosso — afirmou,
voltando a me devorar.
 Caralho! Aquela mulher sabia como me incendiar — pensei.
Subi as escadas com ela pendurada em meu pescoço, rindo divertida
com meu sofrimento pelo desejo.

A levei para o meu quarto, colocando-a sobre cama, parei para


observar ela ali deitada com um vestido curto de alça finas com um decote
em v. Suas pernas bronzeadas a mostra, sua respiração pesada de desejo,
mordendo os lábios enquanto esperava pacientemente que eu desfrutasse da
beleza do seu corpo.
Estava tentando me controlar, pois queria que aquele momento fosse
especial para ela, não por achar que ela fosse virgem, mas por ser sua
primeira vez comigo.
Voltei a beijá-la com mais delicadeza, venerando seu corpo,
oferecendo carícias suaves e delicadas. Baixei a alça de seu vestido dando
liberdade ao que era sem dúvida uma das sete maravilhas desse mundo.
Camile não usava sutiã, seus seios fartos estavam empinados com mamilos
entumecidos pelo desejo. Enchi minhas mãos com seus seios grandes e
macios, aproximando minha boca, e deslizei minha língua em volta dos
mamilos salientes e marrons, provocando, vendo seus pelos se arrepiarem
com a carícia, enquanto a escutava grunhir pequenos gemidos, então repeti
o gesto com o outro.
— Alex... — pronunciou meu nome em um choramingo, me
fazendo encará-la.
Depositei um pequeno beijo sobre seu mamilo, acolhi seu bico em
meus lábios abocanhando ganancioso, usando a língua para dar leves
golpes, lambidas, fazendo-a contorcer de prazer, levando as mãos em meus
cabelos ronronando em meu ouvido.
— Tão sensível — murmurei, vendo que ela já estava enlouquecida.
Buscava por todo meu autocontrole enquanto distribuía beijos
suaves em seu colo, subindo por seu pescoço. Camile me puxou para si me
consumindo, exigindo mais, buscando com intensidade por mim então não
pude mais me controlar atendendo ao seu pedido silencioso.
Devorei sua boca apertando seus seios, levando minha mão até sua
intimidade, afastando sua calcinha, passando o dedo por entre os lábios
sentindo sua umidade e espalhando sua lubrificação.
Camile estava encharcada, sua lubrificação fazia meus dedos
escorregarem com facilidade por sua vulva. Brinquei por alguns minutos
em sua entrada, para depois introduzir dois dedos dentro dela. Pensei ter a
machucado quando se arqueou e suspirou alto, mas logo rebolava em meu
dedo pedindo por mais.
— Isso Alex... — pedia, me levando a loucura.
Enquanto gemia e rebolava, aumentei o ritmo usando meu polegar
para massagear se clitóris, fazendo-a gemer ainda mais alto.
— Aahh... Alex... Eu vou... — Gritou.
— Isso querida goze, para mim, deixe-me senti-la gozar em meus
dedos — incentivei.

— Alex! — Soltou um gritinho antes de atingir seu ápice.


Senti suas paredes apertarem meus dedos, e seu corpo estremecer,
em uma convulsão de prazer dando início a um orgasmo.
Poder vê-la gozando e gritando meu nome, me dava um instinto
primitivo, querendo que ela fosse somente minha e de mais ninguém.
Esperei que se recuperasse do orgasmo que acabara de ter, tirei
meus dedos de dentro dela e levei a boca chupando, sentindo seu sabor. Era
a coisa mais deliciosa que eu já havia provado, o que me fez querer provar
direto da fonte, mas antes voltei a sua boca que, me recebeu com ânsia e
sem reservas.
Ela parecia não perder a fome, parecia querer cada vez mais de
mim.
Desci para seus seios que passei a admirar como obras de artes raras
e exclusivas ao meu dispor, duvidava que poderia existir coisas mais lindas
que aquelas, eu poderia passar o resto da vida ali saboreando aquelas
maravilhas. Chupava, lambia, beijava e dava leves mordidas. Camile não se
fazia de inibida, agora sentada colocava as mãos entre meus cabelos se
esfregando em minha cara sem pudor ou constrangimento.
Porra! Como eu estava amando tudo aquilo.
Desci tirando sua calcinha, deslizando por suas pernas, fazendo-a
voltar a deitar. Abri suas pernas expondo sua intimidade toda para mim.
E sem dúvida aquela era a visão do paraíso.
Era possível ver o brilho da umidade de sua intimidade, passei
minha língua de baixo para cima provando seu sabor, constatando que
estaria viciado em seu gosto para sempre. Ouvi ela dar um grito em
resposta, então repeti a dose mais duas vezes antes de abocanhar sua buceta
me rendendo ao prazer daquela carne macia e saborosa. Meu polegar
castigava seu clitóris estimulando o nervo já dilatado pelo desejo, fazendo a
cada minuto Camile aumentar seus gemidos.
Eu queria devorá-la, me afundar em sua carne e nunca mais sair.
Seus gemidos me incentivavam cada vez mais, meu nome em sua
boca era como um prêmio e seu rebolado exigindo mais e mais era a
gratificação mais prazerosa que já havia recebido.
Camile era um perigo na minha vida, e eu me jogaria de cabeça só
para tê-la sempre daquele jeito rendida ao prazer.
Eu a estimulava com meus dedos enquanto tinha minha língua
empenhada em seu clitóris, dando leves batidas, e não demorou para ela
explodiu em um novo orgasmo.
Porra! Eu não enjoaria disso nunca.


 
Capítulo 22
 

As últimas horas com Alex tinha superado todas as minhas


expectativas, o homem simplesmente me apresentava a definição de prazer.
Nunca havia experimentado com tanta intensidade o prazer do sexo oral.
No início foi carinhoso. Abusava da delicadeza e suavidade o que
não era ruim, no entanto me remetia a lembranças que eu queria longe de
minha mente, principalmente naquele momento.
Já havia acontecido de eu surtar com as lembranças em momentos
como aquele e essa era mais uma das razões pela qual me mantinha afastada
de relacionamentos, até mesmo os casuais.
Então, o puxei devorando sua boca exigindo mais dele, e é claro, ele
não decepcionou. Logo estava no mesmo ritmo, me consumindo com
intensidade e voracidade, forte e bruto.
Ainda tentava me recuperar do segundo orgasmo, ofegante, ainda
sentia as correntes elétricas passar por meu corpo em pequenos espasmos
musculares, me deixando totalmente relaxada sobre a cama.
Alex era um homem maravilhoso, uma verdadeira máquina do sexo,
que conseguia me arrebatar para um paraíso com tremenda facilidade.
— Está aí? — Perguntou deitando-se ao meu lado, me trazendo de
volta dos meus pensamentos.
— Com certeza — sorri indo beijá-lo.

Desci mordendo seu peitoral, com músculos firmes e definidos,


passando a língua por sua barriga sexy, beijando suas tatuagens e cicatrizes.
Alex me acompanhava com os olhos faminto de maneira sensual.
Ele me ajudou tirar sua calça de moletom ficando só de box, que
mal segurava seu volume. Dei uma leve apertada por cima da cueca, que fez
ele puxar o ar para dentro, puxei um pouco sua cueca dando liberdade a um
membro grosso e um pouco maior do que eu imaginava, duro e cheio de
veias, lindo.
Da sua fenda saía um pré-gozo, senti minha boca salivar com
vontade de prová-lo. Segurei em sua base fazendo movimentos leves de vai
e vem olhando para ele de forma provocativa. Ele me fitava com a
mandíbula travada e olhos semicerrados, lambi os lábios querendo senti-lo
em minha boca, desejando provar do seu sabor.
Passei a língua na ponta sentindo seu sabor, saboreando, querendo
abocanhá-lo, mas minha vontade de provocar era maior, queria dar o troco
do que havia feito comigo, então repeti a dose.

— Camile... — rosnou, jogando a cabeça para trás.


— Você gostou de me provocar, Alex? Acho que agora é a minha
vez. O que você quer? — Perguntei provocativa fitando seu olhar, que
estava em chamas.
— Coloque-o na boca, delícia — pediu em um tom quase
desesperado, o que me fez rir.
No entanto, atendi seu pedido, passei a língua pela cabeça e depois
abocanhei, fazendo movimentos de vai e vem, bem devagar deixando
minha saliva lubrificar toda sua extensão, então ainda com ele na boca,
brincava com a língua ao seu redor, levava ele até o meu limite.
Alex colocava as mãos em meu cabelo, mas não forçava, apenas
gemia chamando por meu nome, me enchendo ainda mais tesão.
Aquela situação estava me deixando excitada outra vez. Ver o prazer
que eu podia proporcionar a ele, me enlouquecia, então comecei a brincar
com meu próprio clitóris, enquanto continuava a chupá-lo com força, me
sentindo cada vez melhor com a situação. Passava a língua por toda sua
extensão voltando ao topo e abocanhava novamente até senti-lo no fundo da
garganta.

Já fazia quase seis anos desde que tinha me envolvido com alguém,
mas achava que tinha valido a pena a espera. Os toques, e as sensações
eram únicas, eu nunca havia me sentido daquela maneira antes, nem em
minha primeira vez.
Alex estava me levando a um novo patamar, um que eu desconhecia,
mas que estava adorando.
— Sente-se em minha cara, gostosa — pediu, puxando meu quadril.
Eu não me fiz de rogada, passei minhas pernas por sobre sua cabeça
ficando em uma boa posição onde eu poderia chupá-lo e ele a mim.
— Gostosa pra caralho! — Alex disse estapeando minha bunda de
leve, me fazendo gemer com a sensação gostosa de ardência que me
atingiu.

— Gosta disso? — Perguntou voltando a golpear.


Concordei sentindo-o apertar minhas nádegas, para depois voltar a
bater, um golpe de cada lado.
Deveria me sentir constrangida, mas parecia que nada do que aquele
homem fazia ou dizia me proporcionava nada mais além de prazer.
O sugava com afinco, enquanto sentia sua língua castigar meu
clitóris usando seus dedos para me penetrar, enquanto rebolava e gemia em
sua cara, descaradamente como nunca havia feito antes. Senti ficar mais
duro e enrijecer o corpo enquanto acelerava sua respiração.
— Se não quiser que eu goze em sua boca, deve parar agora —
avisou.
Ao contrário do que imaginei, aquilo aumentou ainda mais meu
tesão, foi direto em meu centro, me fazendo rebolar ainda mais e aumentar
o ritmo da minha chupada. Sugava seu pau pedindo por seu gozo, queria
sentir seu gosto, queria vê-lo se deleitar, queria tudo dele sem ressalvas.

Quando senti que estava chegando abocanhei sentindo gozar no


fundo de minha garganta, o que me fez acompanhá-lo em mais um orgasmo
intenso.
Tremia e gemia já sem forças, saí de cima dele, dando espaço para
que ele respirasse, me jogando de lado sem condições de ir mais longe.
Alex se ajeitou na cama e beijou minha boca com delicadeza.
— Isso foi maravilhoso — elogiou, ofegante.
— Eu que o diga, três orgasmo em um dia, deve ser meu record —
brinquei.
— Então vamos proporcionar o quarto para ter certeza de que
ninguém mais baterá — disse subindo meu vestido, que até agora não havia
sido retirado.
Senti o medo percorrer meu corpo, e cheguei a cogitar correr mais
uma vez, no entanto eu havia prometido que não fugiria mais.
Me levantei para ajudá-lo a retirar ficando totalmente nua e exposta,
sentindo a sensação de medo e vulnerabilidade crescer dentro de mim.
Ele desceu o olhar sobre meus seios até minha barriga, travando
quando viu minhas marcas, seu punho se fechou com ódio e seu maxilar se
travou, suas narinas se dilataram e sua respiração mudou, seu rosto se
transformou um retrato frio e duro. Ele veio em minha direção me fazendo
recuar, não por medo, mas por vergonha.
Alex respirou profundamente tentando se controlar, sua voz soou
como um trovão.
— Camile, quem fez isso com você?!
Meu corpo se estremeceu e era como um pesadelo se realizando, seu
olhar sobre meu corpo, sua raiva, tudo que eu temia, estava bem ali.

Ele pensaria que alguém havia me ferido e quando descobrisse que


eu mesma era a causadora, sentiria pena, tentaria me concertar e tudo se
repetiria.
— Juro que vou matar o desgraçado que ousou tocar em você! —
Bradou furioso.
—Você prometeu, lembra? Sem perguntas! — Lembrei, em tom de
acusação, agora pegando meu vestido e tentando me cobrir,
desesperadamente.
Alex pareceu não compreender e nem deveria, não tinha sido aquilo
o combinado. Ele levou as mãos aos cabelos, passou sobre o rosto e
finalmente suavizou sua expressão.
Levou a mão em meu rosto em uma carícia suave e meiga, tentando
me acalmar, e pude vê-lo travando um conflito interno, não era da sua
natureza, sabia que ele não esqueceria aquele assunto, e eu com certeza me
arrependeria.
— Ei, está tudo bem! — Disse me puxando para seu peito, — Não
farei mais perguntas, tá legal. Se não quer falar sobre isso agora, não tem
problema — mas eu sabia que ele jamais deixaria aquele assunto, não
enquanto não descobrisse toda a verdade, não enquanto não tivesse certeza
de quem quer que tivesse me ferido pagasse muito caro.
Mal ele sabia...
— Que tal tomarmos um banho e descermos para comer alguma
coisa — sugeri, já que o clima havia sido quebrado.
— Se é o que você quer, para mim está perfeito — concordou,
tentando não me pressionar. Agradeci em silêncio.
Tomamos um banho e descemos, eu fiz a macarronada, que
comemos conversando e brincando um com o outro, parecendo um casal de
verdade.
O que me assustava um pouco, mas eu tinha prometido tentar. 
— Está tudo bem? — Quis saber, parecendo realmente preocupado.
— Sim, claro — menti.
— Não queria te chatear — confessou.
— Você não me chateou, já estou acostumada — falei me
lembrando de André e Solange, uma colega de quarto da faculdade que
também tinha visto sem querer minhas marcas. Ela tinha ficado muito
preocupada e tentei de todas as formas fazê-la tirar da cabeça o que viu,
mas quanto mais eu mandava esquecer, mais ela insistia no assunto, foi
quando fui morar no apartamento.
— Amanhã terei que passar o dia fora, tenho que ir para Florença
para resolver alguns assuntos com Sebastian e Victor — informou,
mudando de assunto, notando meu desconforto com o tema.
— Eu não posso ir junto? — Perguntei, porque não queria ficar
sozinha.
— Eu não vou demorar, sairei de madrugada e a noite estarei de
volta, poderemos curtir o resto da semana juntos.
— Vai passar o dia inteiro fora? O que vou fazer aqui sozinha?
— Pode ir à cidade, comprar as coisas que quer! Você disse que
queria ir à feira, vou pedir para Lian a leve porque Cristian vai comigo —
avisou.
— Tudo bem então, talvez eu encontre algo interessante para fazer
na cidade ou fique na piscina aproveitando o sol.
— Mas seja cautelosa, não se distancie dos seguranças e fique com
o celular — pediu, preocupado.
Eu estava realmente cansada então, fui me deitar, enquanto ele foi
fazer uma ligação para os irmãos, para resolver últimos detalhes de sei lá o
que.
Tirei minha roupa ficando só de regata e calcinha, que era como eu
sempre dormia, deitei-me e não demorou para a escuridão me tomar.
Não sei se sonhava, tive a impressão de ouvir a voz de Alex perto de
mim e depois sentir um quentinho confortável, o que me fez apagar de vez.
Quando acordei no dia seguinte Alex não estava mais em casa, o
que para ser sincera me deu um certo desconforto.
Tomei meu café enquanto conversava com Regina, ela contou que
cuidou de Alex e os irmãos quando eles eram pequenos e que todos a
consideravam como avó, por isso a chamavam de nonna.
Também falou um pouco da irmã de Alex de como era bonita e que
havia morrido em um acidente de carro. Lamentei por Alex e os irmãos,
sabia o quanto era difícil perder um irmão, o que me fez me lembrar do
meu.
Fiquei emocionada, em saber que ela conhecia meu irmão. Contou
que ele era amoroso e protetor com os irmãos Sartori, que os quatro
andavam sempre juntos como verdadeiro irmãos. O que gerou muita inveja
dentro da organização, pois os irmãos Sartori não eram nada de Pietro,
assim como Pietro não era de Kleber, isso causou divisão dentro da
organização, que eram os que chamavam de podres e ninguém sabia ao
certo quem eram.

— Quando o menino Pietro foi colocado como Capo muitos não


aceitaram, por ele não ser italiano apesar de ser descendente — era verdade
meus avós por parte de pai eram italianos.
— Eles diziam que Pietro não merecia por não ter nascido na máfia,
mas o Capo Kleber já havia planejado tudo, por isso iniciou Pietro como
todos os garotos que nasciam dentro da família. Kleber tinha praticamente
adotado seu irmão, passou para ele todos os ensinamentos, preparando
Pietro para quando fosse a hora dele assumir, e se não fosse ... — Regina
parou de falar, como se lembrasse de algo, mas que não queria falar.
— E se não fosse o que Regina?
— Ele ter morrido menina! — Respondeu, mas sabia que tinha mais
alguma coisa.
— Como ele morreu Regina? Você sabe?
— Infelizmente não sei menina, só sei que foi trabalhando.
“Ou seja assassinado” — pensei.
Regina parecia me esconder alguma coisa. O que seria? O que teria
acontecido de verdade com meu irmão?
Passei o resto do dia na cidade e a noite fui preparar o escondidinho
de carne seca com abóbora. Queria que Alex experimentasse, porém ele não
veio para jantar, então fui dormir.


 
Capítulo 23
 
Eu tinha ligado para Victor e combinado todos os detalhes, ele já
havia ido ao local, três dias antes e instalado câmeras escondidas em alguns
pontos, para que pudéssemos ter total visão.
Esperávamos pegar um dos podres que tivesse informações da tal
sombra, mas se conseguíssemos salvar o container com as mulheres e
crianças já estávamos no lucro, não que fossemos bons. Nós não nos
envolvíamos nesse tipo de negócio, no entanto não estávamos fazendo isso
por pura bondade, não íamos nos arriscar tanto se não tivesse uma jogada.
Se conseguíssemos pegar algum dos podres que nos desse
informação, ótimo! Contudo, se eles perdessem a mercadoria, teriam que
fazer negócio com outro fornecedor e aí que entrava a jogada, já estávamos
preparados para entrar com um novo fornecedor, que supostamente
trabalhava com menores e virgens, claro que tudo armação, era uma ótima
armação planejada estrategicamente por Victor. Não entregaríamos nada,
isso nos levaria ao comprador, e consequentemente a outros podres.
Subi para ver Camile que já estava dormindo, tão serena e linda
como uma fada encantadora.
— Dorme bem minha linda, volto assim que puder — falei, sabendo
que não me escutava.

Cobri seu corpo que estava descoberto e chamei Cristian para irmos.
Quando chegamos em Florença, fomos direto para uma de nossas
boates de fachada, tínhamos muitas espalhadas por toda a Itália. Meus
irmãos e alguns dos nossos homens de confiança já nos esperava.
— A mercadoria chega em algumas horas, eles vão esperar, não vão
querer perder tempo — avisou Victor.
— Nós também já estamos preparados — anunciou Cristian.
— As câmeras foram colocadas nos lugares próximos, onde irão
descarregar as garotas. Precisamos fazer tudo o mais silencioso possível,
para nenhuma delas se ferir — Sebastian alertou.
— Podemos usar seus próprios caminhões para fazer o transporte
das meninas, até este local — Heitor explicou mostrando o lugar no
notebook. — Já deixei acertado para que alguns polícias as encontrem.
Ainda que eles rastreiem os caminhões, a polícia estará lá para recepcioná-
los.
— Assim vão pensar que foi uma operação policial, e não um
contra-ataque — declarou Enrico.
— Ótimo! Quantos irão? — Perguntei.
— Estaremos em quinze, acreditamos que eles serão cinco, mais os
dois que vão fazer a entrega, somamos uns sete, no máximo dez. — Vamos
entrar em cinco, tentar silenciar um de cada vez, se ouvirem algum alarme
os outros entram em ação — os orientei — não podemos correr o risco de
eles serem avisados e matarem as garotas. — Entraremos, Sebastian, Victor,
Cristian, rock e eu os outros vão esperar, caso precisemos de cobertura.
Entre os outros estavam Heitor, pai de Sienna e meu tio, e Enrico,
meu primo marido de Grazi.
Também tinha Felippo, Motta e Assis entre outros todos homens de
minha confiança.

— Se não tem mais nada a dizer, vou esperar em boa companhia —


Sebastian disse saindo para procurar uma prostituta, levando alguns homens
com ele.
— Não vai também? — Perguntei a Victor, no entanto sabia que ele
não gostava de sair com prostitutas.
— Atrás de prostituta? Não pago por sexo! Nada contra —
justificou. — Só não preciso, não sou tão desesperado assim.
— Deveria ensinar isso ao nosso irmãozinho — brinquei apontando
para porta onde Sebastian havia acabado de sair.
Victor deu de ombros antes de responder:
— Ele já está bem grandinho.

— Não tem só prostitutas por aqui. — Era verdade, na boate sempre


aparecia muitas mulheres interessantes, eu mesmo já havia ficado com
muitas.
— Não! Prefiro ficar concentrado. — Afirmou.
De nós três, Victor sempre foi o mais sossegado, dificilmente corria
atrás de mulheres, mas sempre acabava encontrando companhia, mas o fato
dele se quer sair para o salão a fim de uma mulher me deixava curioso.
— Mas e você? Vai me dizer que agora porque é casado vai
sossegar? — zombou.
— Não! Você sabe que eu sempre fui mais de boa, e agora que estou
casado tenho que ser discreto. — Usei o que Camile exigiu para aceitar o
acordo de casamento como uma boa desculpa, mas a verdade era que eu
nem cogitava a ideia de ficar com outra mulher depois da noite em que
estivemos juntos.
A imagem de Camile sobre a minha cama, a lembrança de suas
marcar, algumas parecendo ainda muito recentes.
 Como poderia aquilo? Como ninguém havia notado aquele fato
antes?
Aquilo estava me corroendo por dentro, algumas marcas pareciam
recentes demais, eu não era médico e podia estar enganado. Não, com
certeza estava engado, não tinha a menor possibilidade de alguém estar
ferindo Camile bem ali embaixo do meu teto.
A noite que havíamos tido juntos, as sensações ainda pareciam estar
em minha pele, seu cheiro impregnado em mim, mesmo depois do banho,
era um lembrete contínuo de que eu precisava demais daquela mulher.
E eu me perguntava se ela se sentia da mesma forma, se ainda não
se importaria que saísse com outras mulheres?  por que aquilo me parecia
incomodar tanto?
Mas a lembrança de seu corpo estremecendo, o medo a
vulnerabilidade que vi em seus olhos, não me deixava em paz. Agora
entendia seus receios, temia desde o princípio minha reação.
Cazzo! Eu não conseguia tirar aquilo de minha cabeça.
— Algum problema? — Victor perguntou me tirando dos meus
pensamentos.
— Não! É só que as coisas estão diferentes — revelei sendo sincero,
mas sem querer aprofundar o assunto.
— Vocês transaram! — Ele afirmou, apontando o dedo em minha
direção tentando fazer uma brincadeira.
— Não! — Exclamei — Quer dizer sim e não.
— Sim, não, está difícil de entender — falou confuso. —
Transaram? Ou não transaram?

Não sabia o motivo, mas falar de Camile com qualquer outra pessoa
me deixava desconfortável.
— Bom, fizemos sexo oral, mas é complicado — expliquei.
— Porra cara! Não estou te entendendo, se vocês chegaram ao ponto
de fazer sexo oral, por que diabos não transaram? — Perguntou confuso. —
A menina é uma gata, não sei como vocês passaram tanto tempo juntos e
não tinham feito isso antes — disse caçoando de mim.
Mas logo parou quando entendeu que eu estava sério.
— Não é esse o ponto, Victor.
— Então qual é o ponto? — Perguntou confuso.
— Alguém a feriu e quero que descubra quem foi o filho da puta —
ordenei duro e frio.
— Que? Como assim Alex? — perguntou incrédulo.
— Hoje pude ver marcas de cortes em sua barriga, algumas muito
recentes.

— Alex, isso é muito estranho, passei dias observando Camile, ela


não tinha intimidade com mais ninguém além de suas amigas.
— Eu não sei, mas quero que descubra tudo sobre isso!
— E por que não pergunta a ela?
— Você não conhece Camile, ela é com todos extrovertida e
brincalhona, no entanto, se você chegar perto, se afasta, se fecha e te lança
para longe. Hoje quando pensei em questioná-la, ela simplesmente... —
parei, lembrando das vezes que tentei me aproximar e ela não permitiu.
Ele parou por um estante pensando no que eu disse, ficando mais
sério.

— No evento estávamos indo bem, dei a ela o anel de noivado,


então rolou um clima depois que você foi embora, mas então ela fugiu e me
evitou por três dias — admiti.
— Lembro-me do que me contou, no dia do evento. Achava que ela
tinha perdido a fé, que a garota era quebrada.
— Ela disse que tem a alma morta, assim como nós, mas agora
tenho certeza, alguém fez muito mal aquela garota e quero saber quem foi o
desgraçado!
— Cazzo! — Victor xingou. — Então a menina é mesmo quebrada?
O que será que aconteceu?
Contei a ele a forma que reagiu quando vi suas marcas, me deixando
de escanteio, ela não deixava ninguém entrar, conhecer seus traumas, mas
quem poderia julgá-la? Nós não éramos diferentes.
Sabia que todos nós tínhamos traumas, em especial Sebastian.
Nunca falávamos sobre o assunto, mas víamos as sombras que pairavam em
cada um de nós.

Saímos em quatro carros, nos aproximamos do local, Assis ficaria


de olho nas câmeras e nos passaria informações pelas escutas.
Eles já estavam descarregando as meninas, esperamos que
terminassem para agir, eles estavam em oito. Dois estavam na entrada e
mais um no lado oeste, outro no lado leste e quatro deles fazia o
descarregamento e guardavam o centro, mas todos armados até os dentes.

Eu e Victor iríamos pelo sul abatendo os dois da entrada enquanto,


Sebastian e Cristian abateria os do leste e oeste. Rock viria na reta guarda
para não sermos pegos de surpresa por trás, mesmo tendo as câmeras.
Victor e eu fomos na direção dos seguranças, com uma garrafa,
fingimos brigar pela bebida, usávamos casaco e boné para dificultar nosso
reconhecimento. Um dos seguranças veio até nós, para nos mandar afastar,
enquanto eu fingia estar embriagado e o segurança tentava me controlar,
Victor se aproximou do outro, quando ele estava próximo o suficiente
atacamos junto com nossas adagas, cortes limpos na garganta sem barulho.
Seguimos imediatamente para o centro, não podíamos demorar.
Assim que chegamos nos escondemos atrás de alguns containers,
vimos Cristian e Sebastian se movimentarem, demos sinais para seguir com
a plano e assim fizemos.
A especialidade de Sebastian era no confronto corpo a corpo, suas
armas favoritas era duas lâminas gemias Aian Nakkuru, uma arma
japonesa, parecida com um soco inglês, no entanto com uma linda lâmina
em toda sua extremidade, nos suportes dos anéis, havia uma caveira
deixando suas armas ainda mais assustadoras. Ele as tinha desde os treze
anos e levava elas sempre com ele.
Não que ele não usasse armas de fogo, porém cortar e estraçalhar
era seu talento, tanto que alguns o apelidaram de açougueiro.
Cristian seguiu por traz do caminhão onde eles colocavam as
garotas eram dois caminhões, Sebastian entrou embaixo do outro.
Cristian atacou pela lateral esquerda, enquanto Sebastian matava o
outro pela direita, chegando por trás e passando uma de suas lâminas na
garganta, quase o decepando sem fazer muito barulho.
Um dos seguranças deve ter percebido, pois surpreendeu Cristian,
que foi obrigado a atirar alertando o outro. Ele tentou correr atirando ao
perceber que estava cercado, mas não tinha a menor chance, mas
precisávamos do infeliz vivo.
De dentro do caminhão saiu um outro atirando, nos surpreendendo,
não havíamos contado com ele.
Sebastian atirou nas duas pernas do homem que tentava correr,
fazendo-o cair enquanto eu atirei no braço do soldado que tinha aparecido
de surpresa.
— PORRA! De onde esse Figlio di puttana saiu? — Bradei furioso.
— O desgraçado estava junto com a carga, por isso não foi visto
pelas câmeras, nem por nossos homens. — Cristian deduziu.

Logo nossos homens estavam todos lá, por causa dos tiros.
— Vamos levar logo as garotas daqui elas estão assustadas, a
maioria não fala nossa língua — disse Victor com uma careta de dor.
— Você foi atingido? Onde? Por que não falou, porra? —
Questionei.
Ele segurava a barriga.
— Foi só de raspão, vou ficar bem. — Lembrei do que Camile tinha
me dito no dia que fui atingido de raspão no braço.
— Vamos levar isso para alguém ver. — Não era um pedido. — 
Peguem esses dois e levem para o calabouço — ordenei — quatro de vocês
levem os caminhões, e certifiquem de que realmente será a polícia que vai
pegar as garotas.
Ajudei Victor a ir para o carro, levei ele em umas das clínicas que
estava na nossa folha de pagamento.
O médico atendeu Victor, examinou e pediu alguns exames, para
certificar de que estava tudo bem.
O ferimento não foi sério, não atingiu nenhum órgão vital, ele foi
suturado e liberado, então partimos para ver nossos novos hospedes.
 
Capítulo 24
 
Já era dia quando chegamos no calabouço, era assim que
chamávamos o porão onde torturávamos os prisioneiros.
Victor teve que ficar um tempo na clínica, acabamos perdendo
bastante tempo.
Os dois homens que havíamos capturados no cais, já nos aguardava,
aos cuidados de Sebastian que eu acreditava ter cuidado muito bem deles,
afinal não queríamos que morressem, não ainda.
Precisávamos de informações e precisávamos rápido. Os podres
estavam a cada dia aumentando mais e não demoraria a organizarem uma
retaliação para tomarem o poder, claro que para isso eu teria que morrer.
— Quem são? — Perguntei a Sebastian.
— O cara surpresa de dentro do caminhão é fornecedor, disse que
veio junto com a carga, como havíamos previsto — respondeu. — Já o
outro é um subordinado de Escobar, veio a mandado dele receber a
mercadoria, ordenei para alguns dos nossos para ir buscá-lo — informou.
— Vou rasgar aquele filho da puta!
— PORRA! Essa merda só fica pior, quantos por aí são podres bem
embaixo do nosso nariz e não sabemos? — Indaguei furioso ao saber que
um dos homens que era não somente da organização, mas também da minha
área, estava envolvido em toda aquela merda.
Escobar era um dos meus, não diria de confiança, mas sendo
sincero, eu não esperava, não ali tão perto!

— Com certeza tem muitos — afirmou Victor. — Mas vamos bolar


um plano para pegar todos — declarou.
— Conseguiu tirar alguma coisa deles? — Perguntei impaciente.
Queria que aquela merda acabasse logo para poder voltar para
Camile o quanto antes.
— Até agora só isso, o fornecedor disse que pode identificar alguns
por fotos, pois por nomes eles nunca usam verdadeiros, também duvido que
deem as caras, Escobar mesmo mandou seus subordinados para o trabalho
sujo.
— Vamos trazer Escobar, e eu espero que ele tenha boas
informações, ou vou garantir que ele vai preferir o inferno ao que tenho
planejado para ele — prometi.
— Os rapazes já estão chegando com ele — Sebastian informou.
— Enquanto isso vamos dar uma olhada nos prisioneiros — chamei,
indo até os dois que agora estavam descansando em uma das celas.
— Estão confortáveis? — Perguntei ironicamente, — Espero que
sim, esses são nossos melhores aposentos — debochei. — Não queremos
que se preocupem, vamos cuidar de vocês.
Apesar de estarem em celas, não estavam desconfortáveis e nem
algemados, foram tratados de seus ferimentos pelo doutor e medicados
como eu havia ordenado que fizessem.
— Por quê? — Perguntou curioso Patrik, subordinado de Escobar.
— Por que estamos cuidando de vocês? Porque não queremos que
morram — falei em um tom baixo e frio, entrando na cela. — Não é assim
que trabalhamos, vocês vão dar todas as informações que precisamos ou
vamos arrancar membro por membro de vocês vagarosamente, dia após dia,
pedaço por pedaço até não sobrar nada. — Falei passando uma lâmina de
leve por cima de seus dedos, o que fez ele estremecer de medo. — Então
esperamos curar, depois vamos para o outro, em seguida uma mão e assim
por diante — esclareci, passando minha adaga devagar agora por cima do
pulso.
— Vocês são doentes! — Murmurou Noam, o fornecedor.
— Somos, com certeza — dei um sorriso orgulhoso. — Com gente
igual a vocês, somos além de doentes — rosnei como um cachorro raivoso
próximo do seu ouvido. — Vender mulheres e crianças para passarem uma
vida toda de tortura e sofrimento? Garanto que o inferno de vocês será aqui
na terra — isso era uma promessa. — Mas, posso ser misericordioso e
deixar que sigam seu caminho para o inferno de forma rápida e indolor se...
contarem tudo que sabem, nos dar informação que valem a pena.
— Eu tenho uma informação, que pode ser de grande valia para
vocês. — O fornecedor praticamente cuspiu, com medo de ser torturado.
O homem parecia que iria se borrar a qualquer momento.
— Então diga logo! — Bradou Sebastian, pegando o homem pelo
colarinho. — Se valer a pena de verdade, talvez eu não te retalhe — falou
com um sorriso diabólico.
— Em Turim... Em Turim tem um bordel de fachada, onde eles
levam as virgens e até algumas crianças para serem leiloadas, para pessoas
importantes, não só do cartel, empresários, políticos, e até juízes. Se
vigiarem o local podem pegar um dos grandes, lá tem um homem que gosta
de mocinhas virgens, ele sempre paga muito por elas, há boatos que ele tem
influência na máfia LA RETE — declarou esperançoso.
Victor me olhou, eu entendia o que ele estava pensando, era uma
merda com certeza, teríamos que esperar dias, talvez semanas ou meses
vigiando o lugar pegando informações para poder invadir. Não poderíamos
invadir e acusar um dos nossos sem provas, para isso teríamos que fechar os
olhos para o que aquelas mulheres estariam passando.
Saí da cela trancando atrás de mim, deixando os dois sozinhos
novamente para poder conversar com os outros.
— Isso não será bonito Alex, lá deve ter crianças cara... — disse
Sebastian angustiado.

Sebastian era frio, eu até diria sádico, mas quando se tratava de


crianças, era seu ponto fraco, eu não sabia ao certo qual a razão ou o que
tinha acontecido com ele na iniciação, no entanto tinha minhas
desconfianças. Quando se tratava de crianças seu monstro interior rosnava
para sair, destruindo tudo e todos que se colocava a sua frente.
— Vamos averiguar, vou pedir para dois dos nossos ir até o local e
dar uma olhada, se isso for verdade, mandaremos gente disfarçada,
mostrando interesse em participar do leilão, ficaremos de olho. Se for
verdade Sebastian, invadiremos o lugar — prometi colocando a mão no
ombro do meu irmão caçula.
— Se invadirmos agora só iremos desfazer os negócios, não
conseguiremos nada dos podres e menos ainda dos organizadores dessa
merda — expôs Heitor.
E ele tinha toda razão, entretanto também sabia que se realmente
houvesse crianças naquele lugar eu não conseguiria controlar Sebastian.
Aquilo não era nada bom, um Capo que não podia controlar o
próprio irmão era motivo mais que suficiente para que colocassem minha
capacidade a prova, eu não podia arriscar.

— Sebastian — chamei para um lugar distante dos outros.


— Alex, eu sei o que está pensando — se adiantou. — Não vou
fazer merda cara eu juro — prometeu.
— Preciso de você controlado nesta missão — pedi, segurando sua
nuca e encostando nossas cabeças. — Sei que é uma merda, mas te prometo
que se tiver crianças lá dentro não vamos esperar para invadir — prometi.
— Porém, você precisa confiar em mim. Vamos averiguar tudo primeiro,
nosso objetivo principal é pegar um dos mandantes entendeu? — Perguntei
olhando dentro dos seus olhos.
Ele assentiu, mas via seu olhar angustiado, sua raiva desalinhando
sua respiração, seus olhos dilatados pelo ódio. Queria perguntar o que tinha
acontecido para ele ficar daquele jeito, mas sabia que ali era fora dos
limites, área proibida.
Meus homens trouxeram Escobar, e eu fiz questão de ir interrogá-lo
pessoalmente, pedi que trouxessem os dois prisioneiros para assistirem de
camarote o que os aguardava caso eles decidissem por omitir informações.

Victor e Sebastian também ficaram para ver, liberei todos os outros


para irem descansar já que tinham trabalhado a noite toda.
— Você é um dos nossos Escobar, sabe como trabalhamos não sabe?
— Indaguei, o rodeando.
— Vá se foder, seu merda! Acha que eu tenho medo das suas
ameaças? — Bradou.
Peguei uma navalha e passei por seu peito vendo o sangue escorrer,
e retirei uma tira de pele não muito grande. Escobar gritava e urrava
sentindo a pele desgrudar de sua carne.
— FILHO DA PUTA!! —  Gritou. — Se acha melhor que a gente?
Nenhum de vocês é melhor, são uns merdas. — Ele gritava.
— Nós vamos nos divertir bastante — sorri. — Quero tirar cada
pedacinho de pele do seu peito, e depois trataremos para que se cure da
melhor forma possível, enquanto faço o mesmo com suas costas. Depois
quero arrancar cada unhas de seus dedos — sussurrei enquanto deslizava a
lâmina pelos lugares que citava, mas sem ferir, só para dar ênfase ao que
dizia. — Então vamos nos divertir com seus dedinhos e quando acabar os
dedos, voltaremos do início novamente — narrei morosamente, vendo ele
entrar em desespero.
— Se você quer tanto assim informações devia pedir ao seu irmão
— gritou gargalhando, olhando para Victor que pareceu surpreso.
— DE QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FALANDO? — Vociferei,
perdendo minha paciência.
Soquei com força sua cara uma, duas, três vezes, fazendo o sangrar
e a cuspir sangue.
Victor estava estupefato, não falava nada, paralisando com os olhos
dilatados olhando pro nada, como se tivesse visto um fantasma.
— FALA DE QUE MERDA VOCÊ ESTÁ FALANDO? OU JURO
QUE VAI IMPLORAR PARA MORRER!!! — Sebastian bradou tão
furioso quanto eu.
— Victor! De que merda esse bosta está falando? — Indaguei, mas
Victor estava sem foco algum, parecia não estar ali, seu olhar distante, sem
brilho, sem qualquer tipo de reação.
Que caralho estava acontecendo? Que informações Victor poderiam
ter dos podres que eu não sabia? O que Victor teria escondido? Será que
meu próprio irmão estava me traindo?

Não! Isso não!  Se ele sabia de alguma coisa, com certeza teve seus
motivos para ainda não ter me contado, tiraria isso a limpo, mas não ali.
— Você vai me dizer agora do que está falando! — Sebastian
exigiu, indo a mesa de ferramentas e pegando um alicate,
— Não precisa dos seus dentes para falar, então vamos tirar alguns e
deixar sua boca mais leve para soltar o que precisamos.
— Ahaaaa — Escobar grunhiu enquanto Sebastian arrancava seus
dentes.
— Por que não perguntam para ele? — Disse com a boca cheia de
sangue, quando Sebastian o largou. — Ele sabe do que estou falando, sabe o
motivo de termos sabotado seu carro, no dia em que sua irmãzinha morreu
— provocou, sorrindo jogando a cabeça para trás.
Aquela informação me levou ao inferno, ele tinha participado da
sabotagem onde levou minha irmã a morte!
Meu sangue fervia, o ódio e fúria exalavam de meus poros,
gladiando em meu peito, fazendo todo meu corpo sacudir em convulsões.

Eu estava inerte e antes que eu pudesse reagir, Sebastian estava em


cima do homem, dilacerando e rasgando cada pedaço de sua carne como um
animal que existia nele, parecia um leão devorando uma presa com a
diferença que ele fazia isso com suas Aian Nakkuru.
— Que porra Sebastian!!! — Berrei, tentando tirá-lo de cima de
Escobar, que já estava morto.
Tinha sangue e carne para todo lado, Sebastian estava banhado de
sangue, que mal dava para ver seu rosto. Ele parecia não se importar, seus
olhos dilatados pela fúria, sua respiração entrecortada. Seu monstro havia
escapado de forma violenta, sem controle, sem limite.
— Nós precisávamos dele vivo, Cazzo! O cara tinha informações —
Bradei socando a parede.
— Que se dane! — Incitou.

Avancei em cima dele, prensando-o contra a parede com meu braço


em seu pescoço, fazendo perder o ar.
— Que se dane?! Eu sou a porra do seu Capo! E seu irmão mais
velho e exijo respeito, ou eu mesmo vou meter uma bala na sua cabeça,
você está me entendendo? — Ameacei, e ele assentiu com um aceno de
cabeça.
— Desculpa Alex...— pediu quando o soltei massageando o
pescoço. — Ele matou Melissa, porra! O que você queria que eu fizesse? —
Justificou.
— Tá, tudo bem! — Exclamei. — Se você não o tivesse matado,
com certeza eu teria! — Confessei, pois era a pura verdade.
Escutamos um barulho de celular, chamando nossa atenção para
Victor, que até o momento estava calado, ele leu alguma coisa.

— Cazzo! — Praguejou. — Alex eu vou explicar tudo, eu juro para


você — prometeu — no entanto agora preciso que confie em mim, eu tenho
de ir ... — falou ligando para alguém — não tenho tempo para explicar
agora, tenho que ir para ao Brasil, assim que eu voltar vou contar tudo —
prometeu, indo em direção a saída.
— Brasil? — Estranhei. — O que vai fazer?! O tem no Brasil? —
Perguntei, sem entender nada do que estava acontecendo.
— Falo com você por telefone, no caminho — disse saindo. — Vou
pegar o jatinho, pois não tenho tempo — avisou.
Saiu sem explicar porra nenhuma, o que me deixou mais furioso.
  Estaria ele escondendo alguma coisa? Mas, o que seria?

Seja o que fosse, eu não acreditava que Victor seria um traidor. Isso
era impossível, confiava minha vida ao meu irmão.
— Que porra foi essa? — Questionou Sebastian ao meu lado, tão
confuso quanto eu.
— Não faço ideia, mas vou descobrir! — Respondi frustrado.
— Você acha que Victor ...? — Indagou a mesma pergunta que
soava em minha cabeça.
— Não — neguei com veracidade. — Victor nunca nos trairia —
afirmei.

— Você tem razão, Victor não seria capaz. — Ele também parecia
certo disso.
Depois do dia infernal que eu havia tido, eu só queria voltar para
Sicília onde Camile estava me esperando e sentir seu cheiro.
Cheguei na mansão já era muito tarde, Camile já dormia e parecia
um anjo. Seus cabelos cacheados jogados pelo travesseiro, sua pele banhada
pela luz da lua que entrava pela porta da varanda de seu quarto, iluminando
sua pele morena, que parecia tão aveludada e macia.
Me abaixei na beirada da cama para sentir melhor seu cheiro,
apreciando sua essência, aspirando fundo, sentindo seu aroma delicioso,
que passará ser meu calmante natural, me fazendo esquecer todas as merdas
que eu tinha para lidar e me concentrar somente ali, naquele momento.

Acariciei de leve seu rosto perfeito com os nós dos dedos, fazendo
um carinho suave.
— Está atrasado! — Escutei sua voz sonolenta dizer calmante. —
Perdeu um ótimo escondido de carne seca — falou, parecendo chateada.
 
Capítulo 25

Notei a presença de Alex assim que ele entrou no quarto, se abaixou


ficando próximo ao meu rosto e aspirou meu cheiro. Alex sempre fazia isso
quando estávamos próximos, me deixando excitada com seu jeito de animal
selvagem.
— Está atrasado, perdeu um ótimo escondido de carne — mencionei
chateada.
— Tenho certeza de que sim — sussurrou. — Victor sofreu um
pequeno acidente então me atrasei, me desculpe — pediu.
— Ele está bem? — Perguntei preocupada pois ele parecia aflito
com alguma coisa.
— Sim, agora está.

— Deite-se aqui — indiquei o lugar vago ao meu lado.


Achei que ele não iria aceitar, pois se levantou.
— Vou tomar um banho antes — disse em seguida.
Foi quando notei que tinha um leve cheiro de ferro no ar.
Sangue? — Constatei, preocupada — Será que era dele?

Cheguei à dedução que não, ele parecia bem, podia ser de Victor, já
que ele disse que o irmão tinha sofrido um acidente.
Ele foi em direção ao banheiro e eu fiquei ali pensando o que
poderia estar afligido Alex, já que alegava que o irmão estava bem. Fiquei
imersa em meus pensamentos, que não me dei conta quando ele se deitou
ao meu lado. Entrou embaixo da coberta e se agarrou a mim, pressionando
seu corpo ao meu.
— Estava com saudades do seu cheiro — admitiu, enfiando o nariz
em meus cabelos.
— Também senti muito sua falta hoje.
Era estranho admitir aquilo, mas era a verdade, o dia longe de Alex
tinha sido sem graça, entediante, e eu me convencia que era somente pelo
fato de não ter nenhuma companhia decente.
Ele suspirou, parecendo frustrado, talvez chateado com alguma
coisa.
— Quer conversar? — Perguntei virando e olhando em seus olhos
que parecia cansados.
— Não, só quero ficar aqui — respondeu. — Pode ser? —
Perguntou como se eu tivesse alguma intenção de tirá-lo de minha cama.
— Deite-se aqui — indiquei meu peito e ele obedeceu sem
pestanejar, aconchegando a cabeça neles como se fossem o seu melhor
travesseiro.

— Posso me acostumar a isso — brincou, enquanto eu fazia uma


carícia em seus cabelos.
Aquilo tudo me fazia lembra de Pietro, meu irmão. Eu sempre me
deitava ao seu lado fazendo cafuné em sua cabeça, bagunçando seus
cabelos, até acalmar de seus pesadelos.
— Então aproveite, e durma.
Não precisei pedir novamente, não demorou ele dormir emitindo um
suave sonido e eu logo o acompanhei.
Acordei no dia seguinte com mãos passeando por meu corpo me
fazendo carícias, Alex com sua boca devorando meus seios, fazendo meu
corpo entrar em combustão.
— Estou vendo que tem gente que acordou animado — afirmei,
procurando sua boca.
— Só estou querendo tomar meu café da manhã — insinuou,
chupando e mordendo os bicos dos meus seios intercalando entre um e
outro.

Puxou minha camiseta, retirando por minha cabeça, me deixando


somente de calcinha.
— É uma visão que gostaria de ter todas as manhãs — louvou, me
olhando de cima a baixo.
O que me deixou constrangida pois, eu só tinha na cabeça que ele
estava vendo minhas marcas, tentei cobri-las envergonhada e ele não
permitiu.
Foi até minha barriga beijando e passando a língua em algumas
delas que eram mais profundas, e foi descendo sua boca até estar com a
cabeça entre minhas pernas. Tirou minha calcinha devorando minha buceta,
me fazendo gritar com o prazer desesperado que me atingia.
Ele chupava com força meu clitóris e penetrava seus dedos em mim,
me fazendo, gemer, morder os lábios e puxar os lençóis em desespero.
Eu buscava algo para me conter, puxava seus cabelos e ao mesmo
tempo me esfregava e rebolava em sua cara pedindo mais, e quando eu
estava perto de atingir a libertação de meu prazer, ele parou, me fazendo
rosnar de frustração.
— Calma delícia, quero ver você gozar no meu pau hoje —
declarou, levantando e pegando uma embalagem em sua carteira.
Colocou o preservativo e deitou-se sobre mim, pincelando pau em
minha entrada, forçando aos poucos, abrindo espaço gradualmente, me
fazendo sentir cada centímetros de seu membro me invadindo, me
completando até o fundo.
Ele era grosso, e eu sentia a pressão em minhas paredes, que
comprimia seu invasor com força, me fazendo arfar com a sensação,
degustando cada centímetro de seu membro.
— Porra! — Travou os dentes. — Sente como sua boceta me suga?
— Perguntou me deixando ainda mais excitada. — Veja como ela acomoda
perfeitamente meu pau — disse em meu ouvido, me fazendo comprimir e
soltando um longo gemido em seguida.

Alex começou a fazer movimentos de vai e vem em um ritmo lento


e delicioso e foi aumentando, me fazendo gemer e arranhar suas costas,
incapaz de me conter, suas estocadas iam fundo dentro de mim.
Alex me virou cravando seus dentes em minhas costas, antes de me
posicionar empinada para si, e sem aviso, abriu bem minhas nádegas e
abocanhou minha boceta por trás, para logo em seguida voltar a me
preencher.
Eu gritava incontrolável, pedindo, implorando para que não parasse.
Alex conseguia me fazer alcançar meus limites, de uma forma
deliciosamente boa. Estava muito próxima a um orgasmo, sentia a sensação
forte que se acumulava em meu abdômen, aumentando a cada estocada,
avisando que não demoraria a se explodir em rompantes de prazer.
Alex passou sua mão entre minhas pernas, para estimular meu
clitóris, sem cessar seus movimentos, enquanto se curvava sobre minhas
costas e beijava minha nuca.
Ele castigava meu nervo já sensível me fazendo explodir tremendo e
me retorcendo.
— Isso delícia goze em meu pau. — Exclamou ao me ver gozar
feito louca, aumentando seus movimentos, também se permitindo gozar
depois de mais algumas estocadas profundas e fortes.
— Vou querer ser acordada assim sempre — desejei ofegante.
— Vai ser um prazer. Quer tomar um banho? — Perguntou se
levantando e tirando o preservativo usado.
— Seria ótimo!
Fomos para o chuveiro, ele me ensaboou passando a bucha pelo
meu corpo lentamente, fazendo meu corpo pegar fogo novamente, olhei
para seu membro que já estava duro como pedra.
— Gosta do que vê? — Perguntou com um sorriso presunçoso.
— Talvez! — Respondi maliciosa. — Mas só olhar não me satisfaz
— flertei, massageando seu membro obscenamente.
Ele me virou de costas, arranhando meu pescoço e ombros com os
dentes, preenchendo suas mãos com meus seios e beliscando delicadamente
meus mamilos, fazendo meu centro pulsar.
Ele se posicionou por trás se preparando para me penetrar, hesitei,
pois não tomava nenhum tipo de contraceptivo.
— Não transo com ninguém sem preservativo, Camile — disse
tentando me tranquilizar.
— Não tomo nenhum método contraceptivo — esclareci
constrangida, ele me pareceu curioso, então antes que ele perguntasse eu
mesma respondi. — Eu não precisava, não tinha relações com ninguém
desde meu ex — expliquei, dando de ombros.
Suas narinas dilataram, e pareceu ser tomado de um anseio enorme,
então me penetrou com uma única estocada, que me fez retesar.
Deu uma pausa para eu me acostumar, iniciando um movimento
firme e forte logo depois, tive que me apoiar no azulejo do banheiro para
não cair.
Ele continuou com estocadas fortes, e com as mãos apertava meus
seios e massageava meu clitóris, o que me fez explodir em outro orgasmo
quase me fazendo cair. Se ele não me sustentasse teria ido ao chão.
Ele me acompanhou gozando em seguida, se derramando dentro de
mim.
— Você é deliciosa... — elogiou devorando minha boca. — Te
machuquei? — Perguntou pela ferocidade do sexo que havíamos acabado
de fazer.
— Não! Estava ótimo — disse tranquilizando-o.
— Não consegui resistir — confessou. — Depois compramos uma
pílula do dia seguinte, tudo bem?
— Sim! Também já queria passar no médico para pedir um
contraceptivo, mas não conheço nada por aqui — expliquei.
— Vou cuidar disso — afirmou, beijando minha boca. — Agora
vamos descer para tomar café, pois precisa repor as energias — parecia
mais uma ordem.
Ele se secou e saiu do banheiro, me deixando terminar de tomar
banho.
Quando saí, Alex não estava mais no quarto e suas roupas também
não.

Desci para tomar café, no entanto ele também não desceu.


  Aonde ele poderia ter ido?
Regina já havia preparado seu habitual banquete, pensei em esperar
por Alex para tomarmos café juntos, porém não sabia onde ele tinha ido e
se iria demorar, então tomei meu café e voltei para meu quarto.
Enquanto passava em frente ao quarto de Alex, ouvi ele falar com
alguém ao telefone.
— Que merda cara! Isso não é nada bom, ela vai surtar com isso! —
Dizia.

Ele escutou o que a pessoa dizia e voltou a responder:


— Não! Quando eu voltar converso com ela, não quero estragar
nossa semana, e quando eu chegar você vai me explicar essa porra, Victor!
 Então ele falava com Victor, mas ele ia contar o que? E para
quem? Sei que era uma mulher, pois falou que ia conversar “com ela”, será
que era a tal Rebeca?
Aquilo me irritou mais do que eu gostaria, não deveria, afinal, ele
não tinha me prometido fidelidade, apenas havíamos concordado em
desfrutar a companhia um do outro e dos prazeres que poderíamos
proporcionar, nada além disso. Sentimentos, fidelidade, envolvimento, não
estava no pacote, então por que aquilo me irritava tanto?

Parei de escutar e fui para o meu quarto, trancando a porta atrás de


mim.
Alex me procurou mais tarde me chamando para sair, no entanto
informei que não me sentia muito bem, o que não era uma total mentira já
que a conversa que eu havia ouvido estava revirando meu estômago.
Ouvi baterem na porta.
— Entre! — Pedi, já sabendo que era ele.
— Oi! Está tudo bem? — Perguntou ao entrar no meu quarto.
—Sim! — Respondi um tanto seca.
Estava deitada lendo, e não parei para dar atenção a ele.
— Posso? — Pediu, indicando um lugar na cama para se sentar.
— Claro! — Tentei disfarçar minha irritação, porém acho que foi
inútil.
— O que está te incomodando Camile? — Indagou.
— Não tem nada me incomodando — menti, me sentando na cama
na posição de lótus.
Ele sorriu, um sorriso verdadeiro, como quem achasse graça de
alguma coisa.
— Sabe tem uma coisa em você, que amei desde o primeiro dia em
que a vi naquele curral fedorento — lembrou, rindo — foi a forma
inusitada, que você tem de não disfarçar o que sente, nem mesmo quando
tenta — explicou sorrindo. — Então eu vou perguntar novamente, o que
está te incomodando? — Perguntou olhando em meus olhos, como quem
procura a resposta.
— Não é nada demais, tá legal!? — Não queria realmente, falar
sobre aquilo.

Ele segurou de leve em meu queixo, me fazendo fitá-lo, beijou de


leve meus lábios e acariciou meu rosto com os nós dos dedos como sempre
o via fazer, me deixando terna por dentro de uma maneira única.
— Permita-me entrar Camile, deixe me saber o que pensa, o que
sente!  — Pediu em uma voz doce. — Não posso ajudá-la se continuar me
afastando.
Aquelas palavras estremeceram meu coração, medo, receio,
apreensão tudo junto vinha com aquelas palavras.
— Alex, você prometeu — lembrei em uma súplica.
Ele respirou fundo, acho que buscando aceitação.

— Por favor, só me diz se fiz alguma coisa para te deixar assim? —


Pediu delicado.
— Eu-eu, estava vindo para o quarto, não tive a intenção de escutar
— me adiantei com medo de que pensasse que estava ouvindo atrás das
portas. — Mas escutei você conversando com Victor — contei a verdade.
Ele pareceu confuso.
— Você dizia que não queria estragar nossa semana e que depois
conversaria com ela — expliquei — disse que “ela não gostaria nada disso”
— frisei fazendo aspas com as mãos. — Sei que não tenho nada... — Ele
não permitiu que eu continuasse, pois começou a rir, na verdade a gargalhar,
me fazendo ficar envergonhada.
— Olha, realmente não posso te contar nada ainda. — Revelou. —
Mas vamos fazer assim! Quando eu for conversar “com ela” — falou
sorrindo e imitando meu gesto — prometo que você estará presente.
Aquilo me deixou confusa e curiosa ao mesmo tempo, mas
concordei.
— E que tal sairmos agora? — Convidou.
— Para onde?
— Eu não deveria pois é muito arriscado, mas tem um parque na
cidade e gostaria de levá-la.
Fiquei maravilhada, não imaginava que Alex gostava de parques de
diversão.
— Você gosta de parques? — Perguntei realmente curiosa.

— Bom, na verdade, nunca fui em um — confessou, me deixando


boquiaberta.
— Então o que estamos esperando? — Pulei puxando-o junto.
Decidi que não deixaria aquilo me incomodar, mesmo que se
tratasse de Rebeca.
— Ei, calma. O parque só abre mais tarde, então estava pensando,
que podíamos almoçar em um restaurante que tem aqui perto a beira da
praia e depois darmos um passeio, o que acha?
Concordei imediatamente, coloquei uma roupa leve e confortável,
um short curtinho e uma regata bem soltinha.
Almoçamos juntos e eu descobri que não gostava de lula, era
borrachenta e tinha um sabor estranho, e depois de comermos Alex nos
levou a uma sorveteria e eu mostrei a ele como eu podia levá-lo a falência
se continuasse a me levar a lugares que tinha doce.
— Vai mesmo comer tudo isso? — Perguntou vendo a quantidade
de sorvete que havia colocado em minha tigela.
— Com certeza!

— Como pode saber o sabor que está tomando, se você misturou um


monte?
— E que graça teria se tomasse um só, a diversão é descobrir qual
combina com qual. — Não se atreva! — Falei quando ele tentou pegar um
pouco do meu sorvete. — Já viu como eu fico quando tentam roubar minha
comida.
— Já sim, e se for se repetir o que aconteceu da última vez, acho
que me arriscaria a roubar todos os dias — disse me fazendo olhar para os
lados para ver se ninguém nos ouvia.
— Não teríamos tempo de chegar em casa — afirmei com um leve
sorriso.
Se ele queria jogar aquele joguinho de provocação, provaria a ele
que era um jogo que dois poderiam jogar.

Alex aumentou o sorriso, se aproximou ainda mais para ter certeza


de que mais ninguém ouviria, e disse:
— Para mim não seria um problema, te comeria aqui mesmo sobre
essa mesa.
— E talvez eu deixasse — disse soltando uma leve piscada para ele.
Ele se levantou veio por trás de mim, passou sua mão em meu
pescoço me fazendo levantar o rosto para encará-lo.
— Camile, não teste meus limites... — sussurrou, antes de me
devorar a boca.
— Se não sabe brincar Alex, não deveria descer para o play —
zombei, me apressando em me levantar, mas antes que eu pudesse me
afastar, ele me segurou pelo pulso, me puxando para si.
— Quando chegarmos em casa irei castigar tanto essa sua buceta
gulosa, que terá sorte se conseguir se sentar amanhã — ameaçou, me
deixando excitada.
A noite estava quente e o parque estava cheio e Alex estava muito
apreensivo, mesmo com quatro de seus homens à nossa volta.

— Ei, relaxa! Venha! Vamos no carrinho de bate-bate. — Chamei,


puxando-o pela mão.
Alex olhou para seus homens, que trataram de disfarçar, enquanto
era arrastado para a fila do brinquedo.
Aos poucos sua seriedade foi se dissipando e ele, apesar de ainda
atento a sua volta, parecia bem mais relaxado. Ele sorria abertamente,
deixando que a magia da noite nos dominasse de forma singular.
Qualquer problema ou preocupação foi esquecido por completo,
restando somente a alegria do momento.
Quando fomos embora, sugeri a Alex para que caminhássemos um
pouco pela cidade. De início recusou, mas o convenci, dizendo que
tínhamos segurança para cidade toda.

No trajeto, passamos por uma residência com um grande pé de


pêssego que se escorava no muro da residência.
— Ei, espere um pouco — falei tirando minhas sandálias. — Segure
para mim — pedi, entregando-lhe minhas sandálias.
— O que vai fazer? — Perguntou surpreso me vendo tentar subir no
muro.
— Pegar um pêssego, não está obvio?
— Vai subir em um muro, para roubar pêssegos dos outros?! —
Exclamou incrédulo.
— Ah, é sério?! Um mafioso, me julgando por roubar pêssegos? —
Zombei.
— Se queria tanto assim pediria para os seguranças pegarem —
justificou.
— E qual seria a graça disso? — Perguntei descendo, já com duas
frutas na mão.
— Quantos anos você tem? — Zombou de mim.
— Humm, acho que uns oito — respondi, fingindo estar pensando.
Voltamos para casa e ainda não era muito tarde, então me afundei no
sofá, exausta.
 
 
Capítulo 26
 
— Vinho? — Perguntei assim que entramos na mansão.
— Com certeza! Estou morta — ela disse tirando as sandálias e se
jogando no sofá.
Me sentei na ponta lhe estendendo uma taça e colocando seus pés
sobre meu colo. Tomei um longo trago de vinho e descansei a taça no chão,
pegando seus pés e começando a fazer uma boa massagem, fazendo pressão
entre os dedos e deslizando meu polegar sobre sua sola.
— Oooh, isso é… tão, mais tão gostoso — gemeu apreciando. — Se
você já não fosse um homem casado, com certeza me casaria com você, só
por essa massagem.
— Só pela massagem? — Questionei levando minha mão por sua
perna. — Então, talvez eu devesse lhe dar mais algumas razões.
— É, e quem sabe assim não conto a sua mulher — ela brincou e eu
a puxei pelo pé a fazendo dar um grito.
Passando o braço por suas pernas e segurando sua cintura a peguei
no colo, beijei sua boca com vontade, a pressionando contra mim.
Com ela ainda em meu colo subi as escadas devagar, a colocando
sobre minha cama.
— Agora vai me pagar por toda a provocação que me fez durante o
dia — avisei mordiscando a parte interna de suas coxas.
Me afastei por alguns minutos retirando minha própria roupa, sem
muita pressa, ficando apenas de cueca e voltando ficar em cima dela,
beijando sua boca, sugando de leve seus lábios.
Minhas mãos alcançaram a borda de seu short, puxando para baixo,
retirando por suas pernas, então passei minha boca em sua pele, sentindo
sua suavidade e maciez, em uma suave tortura. Camile apertava meus
braços, enquanto seu corpo se arrepiava com a sensação lenta e
dolorosamente prazerosa que aquilo lhe causava.
— Alex, não faça isso… — pediu.
Mas eu queria muito castigá-la por ter me afrontado, iria torturá-la
muito antes de lhe dar o que desejava.
— Shii, vou cuidar de você — falei.
Minha mão subiu pela lateral de seu corpo enquanto eu beijava sua
boca, passando por entre suas pernas tocando sua boceta.
Camile tremia como nunca havia visto antes, e de repente travou as
pernas tentando limitar minhas investidas.
— Não se feche para mim…
Parei de falar quando senti o peito de Camile dar um solavanco em
um soluço.
— Camile? — Chamei me assustando — Está chorando? — Me
preocupei, saindo de cima dela.
Camile se sentou na cama, abraçando os próprios joelhos tremendo.
Ela tinha os olhos banhados em lágrimas, e quando levei minha mão
ela se fechou ainda mais.
— Camile, sou eu… olhe!
 Droga! O que tinha acontecido ali?
O que maldição eu havia feito para deixá-la daquela maneira.
Havia acionado algum gatilho emocional, isso era claro! Mas aquilo
me dava uma vaga ideia do que lhe havia acontecido e só de cogitar tal
coisa, meu ódio se elevou de tal maneira que tinha vontade de destruir o
mundo.
—  Me desculpe… — sua voz soou como um lamento, me tirando
de minha bolha de raiva e desprezo.
Agora entendia por que ela tinha tanto desdém pela humanidade.
Eu precisava me afastar, tomar um ar, gritar e aliviar todo aquele
ódio que estava dentro de mim, mas Camile estava ali bem à minha frente,
com o corpo ainda trêmulo me fazendo sentir um idiota de não ter notado
seus sinais antes.
Queria abraçá-la, envolvê-la em meus braços, mas não sabia se era o
momento certo para aquilo, talvez não fosse o que ela precisava naquele
instante.
Eu senti meu peito doer, em uma mistura de raiva de quem podia ter
ferido e compaixão por vê-la daquela maneira.
— Ei, está tudo bem… — falei tentando me aproximar, e como ela
não recuou, eu a abracei forte.
— Eu… eu… — ela tentava falar, mas não conseguia.
— Camile o que está sentindo? Ei, fale comigo, te machuquei? —
Perguntei, puxando para se deitar. — Ei, me conte como era sua vida na
pousada — pedi, tentando levá-la para longe daquela lembrança que a
assustava — como conseguia tirar leite daquelas vacas?
Camile levou um tempo, mas respondeu com uma voz fraca.
— Meu pai me ensinou…
— E pelo jeito você aprendeu muito bem — falei afagando seus
cabelos. — Aposto que fez ela me sujar de propósito — lembrei.
— Achei que você era um dos homens interessados em comprar a
pousada.
— Notei que não gostou muito da minha presença — brinquei.
Camile não tentou se desculpar novamente, mas sabia que não havia
esquecido o que tinha acabado de acontecer. Não podíamos fingir, mas
aquele não era o momento para questionar, então ela simplesmente se
deixou ser acolhida, enquanto eu puxava uma conversa longe daquela
realidade.
E ali ficamos por longos minutos.
— Está com fome? — Perguntei depois de notar que havia parado
de tremer e estava mais calma.
— Uhum — foi um resmungo que deu, balançando a cabeça em
uma confirmação discreta.
— Só sei fazer sanduíche — avisei.
— Está ótimo!
Me levantei, e vesti minha calça para descer e preparar um lanche
para ela.
— Vai ficar bem? — perguntei antes de sair, e ela mais uma vez
apenas confirmou com um aceno na cabeça.
Desci para a cozinha separando frios e queijo na geladeira, espremi
algumas laranjas para fazer um suco e separei uvas, morango e algumas
amoras, para que comesse depois.
Subi minutos depois para o quarto e Camile não estava na cama.
— Camile! — Chamei pensando em estar no banheiro, mas também
não estava.
Deixei a bandeja sobre a cama e fui até seu quarto, mas também não
a vi, e estava prestes a sair quando notei a porta de seu banheiro fechada.
— Camile! — Cheguei batendo, ela não respondeu. — Camile —
Chamei novamente já sentindo um aperto em meu peito.
— Já saio — escutei ela dizer lá de dentro.
— O que está fazendo? Abra! — Pedi já levando a mão sobre a
maçaneta, constatando que estava trancada.
Após ver o estado que Camile ficou há poucos minutos atrás, tinha
medo de que fizesse alguma besteira, ela estava confusa, triste e com medo.
— Camile, abra está porta! — Ordenei agora com firmeza.
— Espere um pouco.
— Camile, vou pedir pela última vez, abra essa porta ou vou
arrombar! — Avisei, mas como ela não respondeu eu dei um impulso se me
lancei sobre a porta que cedeu com facilidade.
Camile estava parada na frente da pia, com olhar assustado, olhei
em volta não vendo nada demais, talvez eu estivesse exagerando, talvez
tudo aquilo fosse fruto da minha imaginação.
— É… desculpe, eu pensei que… — comecei a me desculpar por ter
invadido sua privacidade daquela maneira.
Mas ao olhar a mão de Camile, que estava fechada em punho,
sangue corria por seus dedos e começava a pingar.
— Sua mão? — Perguntei indo até ela e pegando sua mão. — Como
fez isso?
— Eu não sei, acho que devo ter me cortado em alguma quina na
hora que me assustei.
— Venha, vamos cuidar disso — falei puxando para o quarto e indo
buscar a caixa de primeiros socorros.
Limpei com cuidado o corte, enquanto ela ficava o tempo todo
olhando o que eu fazia sem esboçar qualquer reação, apenas me olhando.
— Está apertado? — perguntei ao enfaixar.
— Hã?
— Está doendo?
— Ah, não. Está ótimo, obrigada — falou movendo a mão.
— Venha, vamos comer — chamei, já que havia deixado a bandeja
em meu quarto.
— Obrigada, mas acho que vou descansar um pouco, pode ser?
— Tudo bem, deite-se, ficarei aqui!
— Aqui? — Ela perguntou me encarando.
— Sim, ficarei bem aqui, ao seu lado — disse me deitando em sua
cama e a puxando para meu peito. — Até que acorde e se sinta melhor para
comer.
Ficamos ali em silêncio por um longo tempo, eu sabia que Camile
não dormia de vez em quando sentia seu corpo tremer e ela chorar baixinho.
— Alex! — Ela chamou depois de um tempo.
— Diga, cara mia.
— Obrigada! — Ela agradeceu, levantando o olhar para mim e eu
fiquei sem entender, então ela completou — Por estar aqui.
— Quem te feriu assim, cachinhos? — Perguntei deslizando meu
polegar por sua bochecha e olhando seus olhos.
Camile segurou minha mão, parando minha carícia.
— Ninguém precisa me machucar, já faço isso muito bem sozinha.
— Camile… Você não…
— Me matar? Não! Não se preocupe com isso Alex, sou burra,
covarde e teimosa demais para desistir de mim mesma — ela disse e sorriu
no final.
— É isso faz sentido — brinquei.
— Alex! — Ela chamou — Obrigada!
— Pelo que exatamente?
— Por estar aqui — Ela repetiu, como se aquilo fosse realmente
importante.
— Sempre que sentir medo, estarei bem aqui. Nunca ninguém mais
irá te machucar.
Camile me olhou com olhos brilhantes como se visse um anjo
salvador e se agarrou a mim com força.
— Durma, minha cachinhos, cuidarei de você — prometi.
 
 
 
Era difícil controlar o impulso que me atingia após a crise que havia
acabado de ter na cama com Alex.
Eu havia tentado me manter presente, quando sua mão deslizou por
minha perna e o primeiro flash surgiu em minha mente, cantarolei em
minha mente:
Isso é só uma memória ruim.
Isso já passou.
Eu estou bem.
Mas quando sua boca se tornou suave e delicada sobre minha pele,
ficou difícil controlar meus pensamentos.
— Alex, não faça isso… — minha memória lembrava das cenas que
haviam acabado de acontecer.
— Shii, vou cuidar de você… — Aquilo me jogou para longe, em
um lugar profundo e distante, onde uma criança com medo e assustada,
chorava sozinha em meio a escuridão.
E ali agarrada a ele, perguntas não paravam de rodar em minha
mente, rápido e confuso como um tornado.
As mãos de Alex acariciavam meus cabelos e de sua boca não saia
um único ruído.
E eu me perguntava o que se passava em sua mente, a forma em que
me olhou, quando arrombou a porta do banheiro, como se esperasse
encontrar o pior ali dentro.
Meu coração se apertava, o medo de tudo se repetir.
“Vou estar bem aqui”
“Cuidarei de você”
Suas palavras soaram em minha mente como aquele bote salva vidas
que eu nunca tive.
Depois de Pietro, não sobrou nada.
Eu estava sempre tão ocupada cuidando da minha mãe, preocupada
com os estudos e com a casa, e depois veio a pousada e Jeniffer, que só ali
naquele momento percebi que já fazia muito tempo que não escutava
aquelas palavras.
O aconchego de seu colo me pareceu tão quente e terno, que quis
mais e mais me agarrar a Alex, mesmo sabendo que aquilo era um erro.
Me sentia tão quente e acolhida em seus braços e não consegui me
negar aquilo, não ali, não naquele momento.
O restante da semana passou voando, estar junto de Alex era
maravilhoso, aproveitando ao máximo um do outro.
Os dois respeitavam os limites impostos um pelo outro, sem
perguntas, sem sentimentos, sem cobrança e eu esperava que nenhum de
nós saíssemos mais quebrados do que já éramos.
Estávamos no carro a caminho de volta para a mansão.
— Tenho uma surpresa para você! — Declarou.

— Que surpresa?
— Está esperando por você, tenho certeza de que você vai gostar —
afirmou.
Fiquei muito curiosa e animada, jamais teria imaginado.
Quando chegamos na mansão, que entrei na sala, uma cabeleira
loira e olhos azuis cor do céu se viraram para mim e correu em minha
direção, como um trem desgovernado, gritando e chorando ao mesmo
tempo.
Jeniffer se jogou em meus braços me derrubando no chão, me
sufocando com seu abraço. Não me importei, não podia acreditar que minha
amiga estava ali. Só queria abraçá-la e beijá-la, mesmo sem entender nada.

Parecia um sonho Jeniffer estar ali comigo, meu coração parecia que
iria explodir de tanta felicidade. Tentava me controlar, mas a emoção de
poder ver Jeniffer depois de tanto tempo era enorme, e minhas lágrimas se
despencaram de meus olhos.
— Surpresa! — Escutei Victor falar.
— Jeniffer! Minha gatinha — eu falava aos prantos, passando as
mãos em seu rosto, mal acreditando que ela estava realmente ali.
—  Ai, meu Deus! Eu... não estava acreditando nele. Eles chegaram
e depois veio os outros e ele matou um dos homens. Achei que fosse
mentira e que eles queriam me levar, fiquei com tanto medo e aí os dias se
passaram... — ela falava coisas incoerentes desesperada.
— Jeniffer! Jeniffer! Se acalma querida, quem te levou? Não
acreditou em que? Está me deixando confusa — me levantei e ajudei ela a
se levantar também.

— Victor! Ele disse que você estava viva, que me levaria até você
—respondeu mais calma, olhando para os irmãos. — Não estava
acreditando, já fazia um mês que disseram que você tinha morrido na
explosão da camionete.
— Que explosão?! — Indaguei, olhando para os irmãos que até
agora só observavam a cena. Me lembrava de ouvir uma explosão, mas
nunca havia associado uma coisa a outra.
— Era sobre isso que eu e Victor conversávamos no telefone — me
lembrou da conversa que eu tinha ouvido — Não falei antes, porque você
iria ficar furiosa e iria querer vir embora no mesmo instante — revelou.
Eu não sabia como explicar quão patética eu estava me sentindo
naquele exato momento. Fiquei brava e com ciúmes, achando que se tratava
de outra mulher, enquanto eles falavam de mim mesma.
Ainda estava furiosa por ele não ter me contado sobre Jeniffer,
minha amiga tinha passado por tudo aquilo e eu curtindo minha lua de mel.

— Depois prometo te explicar tudo — Alex.


— Apareceram uns caras na faculdade e eles pareciam legais... —
Jeniffer relatou parecendo envergonhada. — Então tentaram me levar no
meu apartamento, Victor apareceu com outros dois e matou um dos caras.
Eu estava apavorada e em choque, então ele disse que eu precisava vir com
ele, mas eu estava morrendo de medo. Ele disse que você estava viva e
bem! Como eu poderia acreditar?
— Oh... meu amor me perdoe... — pedi com pesar. — Eu não podia
ficar lá! — Declarei. — Vocês estariam todos em perigo.
Jeniffer era sozinha, a ajudei anos antes, depois que fugiu da
ordinária da mãe, que maltratava, humilhava, e batia repetidas vezes em
nome da religião, ela só tinha a mim, era como uma irmã mais nova, eu a
amava.
Acreditei que estaria melhor sem mim.
Pelo jeito estava enganada.
— Vocês prometeram que meus amigos e família estariam seguros!
Me garantiram que eles não iriam atrás deles se eu forjasse minha morte! —
Acusei os três, que agora pareciam os três patetas.
Estava além de furiosa, serrava meus punhos com vontade de socá-
los. Claro que sabia que não sofreriam danos o suficiente, ainda assim
minha vontade não diminuía.
— Tecnicamente ela não foi ferida, cheguei a tempo! — Victor
disse, me deixando ainda mais furiosa.

— Como vou saber se o restante do pessoal está bem?


— Acalme-se Camile — Alex ordenou sério. — Todos estão bem,
eu garanto a você. Tabita desapareceu que nem mesmo nós sabemos onde
ela está, e sua mãe, conseguimos para ela uma vaga para cuidar de
residências dentro do exercício militar, mais segura que isso impossível —
garantiu Alex.
— Lembro de terem me garantido a mesma coisa um mês atrás —
afrontei.
— Eu sei! — Escutei Jeniffer murmurar acanhada diante da nossa
discussão.
— Sabe o que, gatinha? — Perguntei confusa.
— Aonde Tabita está.
— Sabe? Aonde? — Alex questionou.

— Aceitou um trabalho em um cruzeiro, está incomunicável acho


que até mês que vem — informou.
— Tudo bem! Vamos para o meu quarto e depois falamos sobre isso
— declarei subindo as escadas e arrastando Jeniffer comigo.
 
Capítulo 27
 
Victor havia me ligado me avisando que teve que ir correndo para o
Brasil. Alguns caras estavam se aproximando de Jeniffer, amiga de Camile,
e as razões pela qual ele havia ido pessoalmente resolver, eu ainda
desconhecia.
Não entendi o motivo dele não ter deixado que os seguranças
lidassem com a situação, o fato é que ele foi obrigado que a trazer a
menina.
Aparentemente Jeniffer era sozinha, e tinha Camile como uma irmã
mais velha, desde que saiu de casa, deixando sua mãe que era maluca,
fanática por religião.
Eu poderia ter contado a Camile assim que fiquei sabendo, mas quis
contar só quando chegássemos na mansão. Se eu falasse antes,
provavelmente iria querer largar tudo para voltar e ficar com a amiga, que
estava em ótimas mãos. Não tinha visto necessidade de estragar nossa lua
de mel, por conta de um mero detalhe, até aquele momento.
Ver a reação das duas ao se verem, me fez me sentir um puto
egoísta.
A menina parecia amar muito Camile, que se mostrava igualmente
afetada pela emoção de finalmente poder rever a amiga.
Me sentia um merda, eu deveria ter contado a Camile sobre Jeniffer,
no exato momento em que Victor me avisou a uma semana que estava
trazendo Jeniffer.

Depois tentaria me redimir e pediria desculpas a minha mulher que


provavelmente estava furiosa comigo, e eu não tirava suas razões.

 
Agora tinha problemas muito maiores para resolver, era hora de
encarar a verdade que Victor tinha para nos revelar, e algo me dizia que as
coisas seriam piores do que eu podia imaginar.
—Vamos! —  Chamei Victor e Sebastian para o escritório, assim
que as duas subiram para o quarto.
Entrei no escritório e fui direto ao bar, enchendo copos para nós três
com uma forte vodca, algo me dizia que íamos precisar, entreguei a cada
um o seu.
Victor bebeu o dele de uma vez e tomou a garrafa da minha mão
enchendo novamente o copo, repetindo a dose, e voltando a enchê-lo
novamente.

Aquilo era um sinal claro de que o que tinha para falar não seria
nada bonito.
Eu e Sebastian aguardávamos apreensivos que ele iniciasse.
— Quando eu estava acabando a iniciação — começou pesaroso —
Sebastian estava começando a dele, vocês se lembram? — Victor começou
perguntando e ambos assentimos.
Ele estava nervoso, se escorava na mesa do escritório observando o
líquido em seu copo de forma hipnótica.
— Não ficávamos juntos, eles nunca iriam permitir tal coisa,
ficávamos em alojamento separados — continuou bebendo sua vodka. —
Em uma madrugada fui convocado e levado a enfermeira. De início não
entendi o motivo já que não estava machucado... — ele disse se recordando
— Me levaram a uma das salas e foi então eu vi Sebastian... — Eu e Victor
olhávamos para Sebastian, esperando que ele se pronunciasse, mas não o
fez.
Sebastian parecia voltar em algum ponto no passado, o olhar vazio e
sem expressão, banhava seu rosto de dor, não dor física, algo mais
profundo, algo que somente ele sabia
— Sebastian estava quebrado — Victor murmurou, voltando nossa
atenção a ele — com aparelhos por todos os lados, os soldados que me
acompanharam até lá, me mostraram sua ficha.
Victor se virou de costas para nós, apoiando com os punhos na mesa
do escritório, baixou sua cabeça, como se carregasse o peso do mundo,
escondendo sua dor ao narrar os fatos.
— Duas costelas, braços e pernas quebradas, dedos das mãos
também. Ombro deslocado — ele narrava com os dentes trincados — entre
muitas contusões e cortes. Ele estava desacordo pelos medicamentos, eu
acho... ou em coma, não sei dizer.
Um deles me disse:
—Você sabia que seu irmão é uma bichinha? Talvez devamos dar a
ele o que ele gosta nesses anos em que ele estiver aqui, o que você acha?

— Aliás, se fizéssemos isso agora, amanhã aposto que ele nem irá
perceber. Disse outro enquanto ria — narrou o que os caras disseram.

Victor se virou, encarando Sebastian e eu também.


— O que?! — Sebastian indagou, com uma indiferença que eu sabia
que estava longe de existir. — Parem de olhar para mim! Não sou nenhum
boiola, nada contra quem é, vocês sabem muito disso — bradou irritado.
Isso era verdade, Sebastian comia qualquer mulher que passasse em
sua frente.
Mas, tudo aquilo estava afetando, muito mais do que ele queria
demonstrar e queria que ele se abrisse, no entanto sabia que não faria.
— Não vou falar sobre essa porra... — informou. — Todos
passamos por merdas na iniciação, uma mais fodida que a outra, ninguém
volta chorando as pitangas!
Sebastian tinha razão, a iniciação levava cerca de dois anos, todos
tinha obrigação de fazer, éramos mandados para um tipo de campo de
concentração, próprio da máfia, onde éramos treinados e preparados para o
pior que podíamos lidar. Ali eles nos transformavam em homens... ou seria
em monstros?
Os meninos eram iniciados de dez a doze anos de idade, o único que
foi com dezessete foi Pietro, porque entrou na máfia depois, e acredito que
ele tenha pagado um preço muito alto por isso.
— O mais velho deles, Simons — Victor voltou a falar. — Me
lembrou que eu estava indo embora, no entanto Sebastian ficaria, e que se
eu não quisesse que Sebastian virasse a mulherzinha dos seus homens, tudo
que eu devia fazer era recolher informações de Kleber e passar para eles.
— PORRA! Que merda Victor! — Sebastian bradou furioso.
Eu não estava acreditando naquela merda toda, queria que fosse
mentira, mas sabia que era a pura verdade.
— Eles queriam derrubar Kleber e disseram que ele não iria
desconfiar de um novato como eu. Nosso pai era próximo ao Capo e eu
sempre teria oportunidade para pegar informações.
— E eu fiz exatamente o que eles me pediram — continuou. —
Juntei informações de Kleber para eles. Kleber era muito mais esperto —
afirmou com um sorriso orgulhoso. — Antes deles conseguirem derrubar
ele, colocou Pietro no trono, ensinando e integrando Pietro em seu lugar. —
Nas últimas informações que juntei, acredito ter achado alguma coisa que
poderia levar a esse tal de sombra, porque eles decidiram que iam apagar as
pontas soltas e eu era uma delas, só que... — ele embargou com as palavras
chorando, eu nunca tinha visto Victor chorar. — Só que Melissa disse que
queria dirigir meu carro naquele dia ... — ele parecia não conseguir montar
as palavras, com a dor travando sua garganta. — Eu havia prometido levá-la
a um lugar afastado, para que pudesse correr, mas..., mas... ela
insistiu dizendo que não teria graça se ninguém a visse — ele socava os
punhos na mesa com força, em um sinal claro de dor e raiva — e eu não
queria vê-la triste... Então achei que não teria nada demais... — disse
voltando a chorar.
Melissa ainda era menor de idade, não podia dirigir pela cidade.
Naquele dia insistiu em pegar o carro de Victor, falando que não teria
problema já que o segurança estaria com ela, e se surgisse algum problema
ele seria capaz de resolver. Não contávamos que o carro havia sido sabotado
e que estávamos mandando nossa irmãzinha para uma sentença de morte.
Victor estava transtornado, a agonia e o desespero eram visíveis,
meu irmão havia guardado aquele maldito segredo por todos esses anos, e
agora eu entendia tudo! Victor sempre se culpou pela morte de Melissa,
agora eu entendia os seus motivos, entendi e sentia sua dor.
  Como eu não vi isso antes? Como não vi meu irmão se acabando
pela culpa da perda da nossa irmã mais nova? Por ter protegido Sebastian.
Que merda de irmão eu era?
— E onde estão essas informações? — Indaguei.
— Eu não sei, entreguei a Pietro depois de tudo, e só ele sabia onde
estava — confessou.
— Pietro?! — Perguntei confuso.
— Sim! Pietro descobriu que tinham tentado derrubar Kleber, eu
confiava em Pietro, então quando eles começaram a puxar as pontas soltas,
entreguei tudo a ele — afirmou.
— Que porra! Então são essas as informações que os podres acham
que Camile tem!
— Sim! Eles acreditam que Pietro entregou a ela.
— O que tem nessa merda afinal? — Foi Sebastian que perguntou.

— Uma lista de lugares, fornecedores e clientes, negócios da


organização, um tipo de livro caixa. Pietro juntou as peças para chegar
nesse tal de sombra.
— E por que ele não foi atrás dele? — Sebastian perguntou.
— Pietro disse que desconfiava de quem fosse, porém nunca me
disse suas suspeitas, eu pedi para ele entregar para o conselho, mas Pietro se
recusou, pois se ele entregasse ...
— Teria que entregar você também — completei.
Aquela merda estava muito pior do que eu imaginava, não só as
informações realmente existiam como talvez estivessem realmente com
Camile! Eu precisava conversar com ela, no entanto agora tinha algo muito
mais preocupante.
— Victor, se isso chegar ao conselho, você será condenado por
traição — lembrei.
Eu nem precisava dizer que a sentença era a morte, ele balançou a
cabeça em negação.
— Eu não me importo, estou cansado de mentir, estou cansado de
me esconder, de fugir, olha o que tudo isso nos causou, Melissa, Pietro e
sabe se lá mais quem. Estou preparado para pagar pelos meus erros. Eles
apagaram todas as pontas soltas, Simons, Nero, todos os que sabiam e que
estavam envolvidos, foram todos mortos. Mesmo que não estivessem, não
tinha nada que eu poderia ter feito, a única coisa que existe são essas
provas, que é uma espada de dois gumes, se eles usarem para me entregar,
vão puxar o próprio tapete.
Victor se sentia culpado por tudo, e demonstrava aquilo em cada
palavra.
— Pietro guardou as informações, não só como uma moeda de
troca, mas também para atacá-los gradualmente, ir atingindo um a um dos
podres e assim acabar com todos sem precisar acionar o conselho. Pietro
escondeu e pagou com a vida por isso, não quero vocês envolvidos nisso, se
descobrirem, vocês teriam o mesmo destino que eu — Victor tentou
argumentar.
Pietro tinha sido inteligente, e eu agradecia por ter enfrentado tanto
para defender não só a mim, mas a meus irmãos.

— Por que não confiou na gente? Por que não nos procurou? Pediu
nossa ajuda? Juntos poderíamos ter feito algo — bradei ofendido, passando
as mãos por meus cabelos de forma impaciente, por meu irmão não ter
confiado em mim.
— Para que? Você também não passava de um garoto na época! —
Argumentou.
Isso era verdade, eu era mais velho, mas ainda assim era só um
menino, sem voz alguma na organização.
— E depois eu não ia envolver vocês dois nessa merda! Não ia
colocá-los na mesma situação que eu, vocês também seriam acusados de
traição se soubessem — declarou.
— Sabe o que fariam com Sebastian se eu desse com a língua nos
dentes? — Perguntou irritado.

— Que se dane Victor! Não pedi para me proteger, caralho! —


Gritou Sebastian furioso, se levantando do sofá onde estava sentado.
— Nós vamos dar um jeito nessa merda! — Prometi. — Isso não vai
sair daqui. Vocês estão escutando? E se chegar ao conselho, escutem bem o
que vou dizer agora, EU IRIEI LIDAR COM ISSO! — Ordenei frisando
bem as palavras. — Vocês não vão se meter, eu fui claro? — Como eles não
responderam, resolvi acrescentar. — Eu sou o chefe dessa organização e
isso é uma ordem, eu fui claro? — Perguntei novamente.
— Sim! — responderam em uníssono.
— Ótimo! Agora Sebastian vá averiguar o bordel em Turim, entre
em contato com os homens que mandamos para lá, quero um relatório
completo — ordenei desabotoando o blazer do terno e me sentando na
cadeira do escritório. Sebastian saiu nos deixando sozinhos. — Quero saber
direito o que aconteceu no Brasil! — Questionei Victor. — Estou tentando
entender... Porque diabos você teve que sair daqui da Itália, em um jatinho
particular, para salvar uma garota que tinha dois seguranças de olho nela?

— Se soubesse que Camile estivesse correndo perigo, você deixaria


que seguranças lidassem com a situação? — ele perguntou me deixando
surpreso.
— Está apaixonado pela garota? — Perguntei perplexo.
— Está por Camile? — Devolveu a pergunta.
— Camile é minha mulher! Mesmo eu não estando apaixonado por
ela, tenho o dever de protegê-la — respondi.
O que era uma grande mentira porque mesmo que não fosse casado
com ela iria até o inferno para defendê-la, só não admitiria nem para ele e
nem para ninguém, que Camile estava mais enraizada em mim que uma
árvore de raízes profundas.

— E se caso ela não fosse sua mulher? Deixaria? — Indagou mais


uma vez, me deixando sem resposta.
Ele sabia que nunca deixaria a segurança de Camile nas mãos de
seguranças, ela era importante demais para mim, mais do que eu queria
admitir, mais do que eu queria demonstrar.
O que me deixava curioso, era o que existia entre ele e a tal
Jeniffer? Será que estava rolando alguma coisa?
— Pare de colocar coisas que não existe na sua cabeça — ele disse
como se lesse meus pensamentos. — Não existe nada entre mim e a garota.
Mas você deu uma olhada nela?
A menina era delicada, para não dizer frágil, parecia um
cordeirinho, presa fácil para qualquer um, vulnerável nessa guerra.
— Ao contrário de Tabita e Priscila e todos os outros, Jeniffer só
tinha Camile, depois que trouxemos Camile, Jeniffer ficou sozinha e era
muito fácil se aproximar e fazer mal a ela, só fiquei com dó — explicou
dando de ombros.

— Com dó?! — Escutei uma voz na porta chamando nossa atenção.


Jeniffer e Camile estavam na porta, eu nem tinha ouvido elas
chegarem.
— Com dó de mim?! É isso que você sente?! — Indagou Jeniffer
com voz embargada. — Não preciso da sua pena — bradou com os olhos
cheios de lágrimas antes de virar as costas e sair chorando.
— Que porra! — Praguejou Victor.
— Nós íamos avisar que Jeniffer vai ficar aqui essa noite —
justificou Camile, parecendo extremamente irritada.

— Mas nem fodendo! — Bradou Victor.


Camile olhou para meu irmão com um olhar assassino, atravessou o
escritório com passadas largas, via sua fúria pulsar em seu corpo, dilatando
suas narinas e antes que eu tomasse qualquer atitude, ela se pós diante de
Victor ferina.
— Olha aqui seu mafiosinho de merda! — Gritou Camile apontando
o dedo na cara de Victor, o que fez ele se surpreender. — Se você acha que
só porque é assassino frio e calculista, pode sair por aí machucando o
coração das pessoas você está muito enganado. Aquela menina ali tem um
coração, uma alma, coisa que nenhum de nós aqui temos — ela dizia
encarando Victor. — Ela é pura e só vê o melhor nas pessoas, então se essa
garota sofrer por você, é sua responsabilidade. Então escuta o que vou lhe
dizer, fique longe da minha amiga, ela não merece sofrer por quem não a
ama. Posso não ser uma assassina, mas adoraria me tornar uma — silabou
tremendo de raiva.
Porra! Aquela mulher era louca! 
Victor estava prestes a explodir, estava preparado para interferir,
mas quando achei que ele iria afrontá-la ou responder à altura, ele
simplesmente deu um sorriso triste e respondeu:

— Vou me afastar, pode ficar tranquila! —  Simplesmente, saindo.


— Camile! — Repreendi.
— Não me venha com essa também Alex! — falou agora
direcionado sua raiva a mim. — Você viu os olhos dela? Por que escondeu
de mim o que estava acontecendo? — Perguntou irritada. — Minha amiga
não merece isso Alex, ela é pura e tem muito amor, não é como nós.
— Me desculpa minha cachinhos, fui muito egoísta, não queria
estragar o que estávamos tendo e ela estava bem, então achei que não teria
problema — Me desculpei, com sinceridade, pois realmente tinha sido
muito egoísta de ter escondido dela a verdade.
Camile ainda parecia irritada, mas notei que havia abrandado.

— Vem aqui, minha gatinha brava — chamei puxando-a para meus


braços devorando sua boca.
Eu entendia os motivos dela estar defendendo a amiga e porra! Eu
estava cheio de orgulho, a garota tinha acabado de desafiar um mafioso
perigoso, sabia que Victor nunca faria nada contra Camile, no entanto ela
nunca teria essa certeza, e ainda assim ameaçou ele e eu era capaz de
acreditar que ela arrancaria pelo menos um olho dele, para não ver a amiga
sofrer.
Aquela mulher estava me deixando viciado nela, nunca tinha ficado
tão dependente de nada em toda minha vida...
 
Capítulo 28
 
Ver minha Jeniffer sofrer daquela maneira me deixa furiosa com
Victor. Não sabia ao certo qual era a história dos dois, mas uma coisa era
certa, Jeniffer estava apaixonada por Victor e sairia destroçada se levasse
isso adiante.
— Gatinha! Me conta o que está acontecendo? — Insisti pela
milésima vez.
— Não tem nada acontecendo, eu juro. —  Garantiu, no entanto,
acho que nem ela acreditava naquilo.

— Se não que falar sobre o assunto tudo bem! Não vou mais insistir,
mas saiba que estarei aqui caso queira conversar, está bom. — Afirmei,
dando um forte abraço em minha amiga.
Depois do episódio no escritório, subi para ficar com Jeniffer, que
chorava copiosamente, conversei com Alex e combinamos que ela ficaria
ali conosco na mansão, e que no dia seguinte iríamos ao shopping, já que
assim como eu, minha amiga teve que sair fugida do Brasil, sem muitas
coisas.
Victor havia providenciado algumas roupas para ela, porém queria
levar Jeniffer para se distrair e tirar o que a estava perturbando da cabeça,
visto que Alex havia prometido que poderíamos ir para qualquer lugar
depois que voltasse da lua de mel.
— Amanhã nós vamos ao shopping — avisei. — Vou chamar
Sienna para ir com a gente, você vai gostar dela, vai se sentir muito melhor
e esquecer o idiota do Victor! — Declarei.
Ela me deu um sorriso fraco, tentando se animar.

— Hoje vamos fazer a noite da pizza! — Exclamei animada. —


Igual fazíamos no Brasil, vamos escolher um filme na Netflix e assistir
comendo. Senti tanto sua falta... — confessei sincera dando outro abraço.
— Eu também! — Declarou emotiva.
Depois de assistirmos e comermos pizza minha amiga já estava
exausta e pegou no sono em minha cama.
— Como ela está? — Ouvi a voz de Alex, escorado ao batente da
porta.
— Ela vai ficar bem! — Afirmei, levantando e cobrindo minha
amiga.
Contava com isso.
— Vem! Vamos deixá-la descansar — chamei, para fora do quarto
— amanhã é outro dia e ela estará melhor.
Era o que eu esperava. Ver minha amiga sofrer me doía e me fazia
querer matar Victor, mesmo sem entender o que se passava.
Antes que eu pudesse dar mais um passo, fui agarrada pela cintura e
arrebatada em um beijo avassalador.
Havíamos passado quase o dia todo longe um do outro, devido aos
acontecimentos, e depois de termos passado a lua de mel praticamente o
tempo todo juntos, sentimos falta.
— Eu estava morrendo de saudades — confessou ao me soltar.
— Então, acho que vamos ter que dar um jeito nisso — insinuei
com um sorrisinho malicioso, enquanto brincava com os botões de sua
camisa.
— Eu adoraria, mas infelizmente tenho que sair agora — lamentou.
— Vou ter que ir em uma das boates resolver alguns assuntos.

Fiz uma careta de desânimo, pois já estava imaginando uma noite


quente cheia de luxúria e regada a sexo selvagem.
— Que pena! — Fiz um biquinho de decepção. — Acho que vou ter
que me virar sozinha hoje — insinuei com malícia, olhando em seus olhos e
passando o indicador por seu peito.
Os olhos de Alex se acenderam em chamas, podia ver o fogo se
alastrando em seu olhar.
Não tive tempo de continuar a provocação.
— Mas nem fodendo! — Decretou me jogando em seu ombro, me
fazendo dar um gritinho baixo para não acordar Jenny, e me arrastando dali.

Em seu quarto, me lançou em sua cama me jogando sem delicadeza


no centro.
Alex me devorava com os olhos e meu corpo parecia queimar com
seu olhar abrasador, sentia seu desejo e eu não me encontrava de maneira
diferente.
Começou a tirar minha blusa se deliciando com meus seios
impaciente, me fazendo sentir sua fome, me deixando ainda mais
necessitada, apertava minhas coxas subindo e passando as mãos em minha
bunda, em desespero.
Desabotoou meu short, puxando junto a calcinha, me deixando
completamente nua e totalmente a sua mercê.
Ele entrou entre minhas pernas, me fazendo sentir seu hálito quente
soprar em minha intimidade em uma tortura muito bem-vinda.
Alex deslizava sua língua, sem pressa de baixo para cima, parando
em meu clitóris e dedicando atenção extra aquele nervoso latejante, que
estava me deixando louca.
Sua boca sugava delicadamente aquele pequeno ponto em um
castigo, moroso e sofredor.
— Estou viciado no seu sabor, tão deliciosamente única — afirmou.
Eu mal conseguia falar, estava necessitada demais, precisava dele
com urgência, queria que ele acabasse logo com a aquela agonia em meu
centro, que não me deixava me concentrar em mais nada além dele.
— Alex, por favor... — pedi em desespero.
— Achei que você não implorava por homens, Camile — provocou,
com um sorriso travesso, me fazendo lembrar do que eu havia dito quando
aceitei o acordo de casamento.
Não me importei, só queria ele dentro de mim, e se precisasse eu ia
implorar por isso.
— O que você quer Camile? — Perguntou — Diga e eu te darei —
desafiou, colocando um preservativo e voltando se deitar sobre mim.
— Preciso de você dentro de mim — soprei, em agonia, sem um
pingo de constrangimento, apenas a necessidade crua de ser preenchida por
ele.
Ele não esperou que eu repetisse, me invadiu em uma única vez, me
dando tudo que queria, fazendo gemer com a invasão deliciosamente bem-
vinda.
Me sentia totalmente preenchida, enquanto Alex se enterrava por
completo dentro de mim.
Alex se afastou saindo e me deixando com a sensação de vazio, só
para se afundar novamente.
Iniciou movimentos duros e fortes, indo até o fundo e tirando todo
meu autocontrole, me fazendo morder os lábios para não gritar.
Virei nossos corpos ficando por cima dele, me apoiando em seu
peito, para dar impulso nos meus movimentos.
— Isso gostosa! Cavalgue no meu pau — incentivava me dizendo
coisas depravadas que só aumentava ainda mais meu tesão, fazendo meu
centro vibrar com suas palavras.
Me ajudava a impulsionar com as mãos em minhas nádegas de
forma ágil e experiente.
Então me tirou de cima dele, me colocando de quatro dando um leve
tapa em minha bunda, abaixou passando a língua de baixo para cima em
minha intimidade, me pegando de surpresa o que me fez dar um gritinho
como reações.
Se posicionou novamente em minha entrada, voltando a penetrar
com movimentos fortes.
Aquilo me deixava insana, não demorou e eu estava tremendo em
um orgasmo intenso e delicioso.

Ele veio logo depois, aumentando seu ritmo, gozando e se jogando


na cama ao meu lado em seguida.
Eu adorava a forma que podia deixá-lo, me sentia bem com aquilo,
me sentia desejada, sexy e poderosa.
Ficamos na cama por alguns minutos recuperando a respiração até
que seu telefone tocou e ele foi atender.
— Já estou indo, só estava resolvendo uma coisinha aqui. Já estou
de saída — escutei ele responder, me fazendo rir.
—Tenho que ir estou atrasado — avisou, me beijando.
Depois de um banho rápido e de se trocar na velocidade da luz, Alex
veio e me deu um beijo.
— Durma aqui hoje — pediu. — Já que Jeniffer está no seu quarto,
eu volto mais tarde — avisou antes de sair.
Eu estava nas nuvens, era tudo novo para mim, essa sensação que eu
sentia quando estava com Alex, nunca tinha sentido com ninguém e era
maravilhoso.
Levantei tomei um banho e voltei a deitar em sua cama, sentindo
seu cheiro, que me fazia me sentir tão bem.

 
 

Já era de madrugada, quando Alex chegou, cheirava a bebida e um


cheiro doce de perfume vagabundo.
Perfume de mulher barata deduzi.
Eu não podia acreditar? Ele estava com outra? Ou seria com
outras? Me deixou aqui para sair com outra mulher? 
Aquilo não deveria me atingir, entretanto foi pior que uma facada,
nunca tinha sentido uma dor tão grande como aquela.
Alex não tentou me acordar, nem se aproximou, pegou uma roupa
em seu closet e saiu, me deixando sozinha naquele quarto vazio, que até
poucas horas atrás havíamos transado, mas que agora cheirava a dor e
traição.
Eu não conseguiria ficar ali, então me levantei e fui para meu
quarto.
Jeniffer ainda dormia, então me deitei ao seu lado, abraçando minha
amiga, sentindo as lágrimas brotar em meus olhos.
— Não! Eu não vou chorar por homem nenhum — disse a mim
mesma, tentando me recuperar.
“Amanhã é outro dia, e o que me atingiu hoje, amanhã não existirá
mais” — repetia como um mantra em minha cabeça.
Sempre que alguma coisa não dava certo, dizia a mim mesma:
“Amanhã é outro dia, um novo sol nascerá e com ele um novo recomeço”.
Eu acreditava nisso, aliás, era a única coisa que eu acreditava nesse
mundo.
Mas então por que eu não conseguia me sentir melhor?  Por que
aquilo ainda doía tanto?
Eram as perguntas que não saiam da minha cabeça.
Na manhã seguinte dei graças a Deus por não me deparar com Alex.
Jeniffer e eu tomamos café no quarto e depois ligamos para Sienna
convidando-a para irmos ao shopping, Sienna ficou animada e Jeniffer
parecia decidida a esquecer o que passou, e eu decidi fazer o mesmo.

Chamamos Sebastian para nos levar, pois Sienna insistiu que um


dos irmãos deveria ir com a gente ou Alex surtaria.
Não que eu me importasse com o que ele fosse fazer nessa altura do
campeonato, mas Sienna insistiu que ele não confiava nossa proteção aos
seguranças, não quando íamos para cidade pelo menos.
— Vamos Sebastian por favor — insistiu Sienna.
— Sienna, eu tenho mais o que fazer! — Declarou. — Pede para o
Victor ou o Alex! — Falou tomando sua bebida pacientemente o que
mostrava que era só uma desculpa.
Eu não iria com Alex depois da noite anterior, e Jeniffer não queria
ver Victor nem pintado de ouro, então só nos restava o Sartori mais novo.
Sebastian.
— Sienna! Assim é melhor, vamos só nós três, não precisamos de
babá, Cristian pode muito bem fazer nossa segurança — declarei sabendo
que Sebastian não iria deixar nós três sairmos sozinhas só com os
seguranças, ou Alex o esfolaria.

Ele pareceu me avaliar, para saber se eu teria coragem.


— Tá legal! Eu levo vocês, mas quando eu disser vamos embora,
não quero protestos.
Sienna cruzou os dedos dando um beijo em sinal de juramento.

Depois de rodarmos o shopping todo e comprar muito mais do que


realmente precisávamos, fomos a praça de alimentação comer alguma coisa.
Os seguranças nos seguiam de longe, dois na frente e dois atrás e
Sebastian ia paquerando todas as loiras, morenas e ruivas que passavam
descaradamente. Acho que ele não tinha um critério, analisei.
Esperávamos o lanche chegar, decidi ir ao banheiro.
— Meninas vou ao banheiro — avisei me levantando.
— Não demora que já está chegando — pediu Sienna.

Me levantei rápido e acabei trombando com um rapaz.


— Desculpa... — comecei a dizer, parei ao perceber quem era.
— Camile?! — Questionou confuso.
—  André?! O que faz por aqui?! — Perguntei totalmente surpresa.
Quando nos separamos, ele havia desaparecido, sabia que tinha
pedido demissão do hospital e que tinha ido embora, mas não fazia ideia
para onde.
E agora nos esbarrarmos do nada em outro país, quais eram as
chances?
— Moro aqui, faz quase cinco anos — informou. — Desde que,
você sabe... — falou constrangido, referindo a traição.
— Ah, claro! Meninas, esse é André meu ex-marido, essas são
Jeniffer e Sienna minhas am... — Eu aí dizer amiga, mas Sienna me cortou.
— Prima do marido dela! — Declarou em um tom intimidante, e eu
lhe lancei um olhar de advertência.

— Prazer! — André as cumprimentou pegando na mão de cada


uma.
— Nossa! É uma surpresa te encontrar aqui— declarou, me dando
um leve abraço.
— Camile, eu... sinto muito! Pela maneira que tudo acabou entre
nós. — Lamentou, envergonhado.
— Isso é passado! Não sou de guardar rancor — declarei sincera,
não achava que ele tinha sido o único culpado, eu só nunca revelei isso a
ele.
— Como você está? — Eu sabia que aquela pergunta vinha
carregada de uma profundidade que eu não queria comentar, afinal André
conhecia toda minha história, era uma dos únicos que realmente conhecia.

— Estou muito bem, obrigada! E você? E seu filho? — Perguntei


querendo mudar totalmente o rumo daquela conversa.
Não estava disposta a relembrar o passado, ainda mais ali com
Sienna e Jeniffer como espectadoras.
— CAMILE! — Ouvi a voz de Alex me chamar fria e dura, fazendo
meu estômago dar cambalhota.
 
Capítulo 29
 
Na noite anterior, havia deixado Camile em minha cama, queria ter
ficado com ela, aproveitando cada segundo ao seu lado.
Sebastian me ligou avisando que todos já me aguardavam na boate.
Meus homens tinham encontrado o bordel em Turim. Designei
alguns dos meus soldados que vigiasse o local.
O lugar era um estabelecimento luxuoso onde muitos homens de
elite iam para se divertir, tudo na maior discrição e sigilo.
Meus homens observaram o lugar, sempre bem frequentado por
advogados importantes, juízes, políticos entre muitos outros clientes da alta
sociedade, agora precisávamos bolar uma estratégia, planejar como
invadiríamos o lugar libertando as mulheres e as crianças que estavam
presas ali.
Dei um beijo em Camile, relutante em deixá-la, e sai.
Quando cheguei em uma de nossas boates no centro, fui direto para
o porão onde todos já me aguardavam.
Meus homens se esperavam pelo lugar mal iluminando e fechado.
Era ali que costumávamos levar alguns engraçadinhos da boate que queriam
causar confusão. Nada muito sério, no máximo uma boa surra dos
seguranças para os mais assanhados que achavam que podia ignorar o não
de alguma mulher.
A mesa no centro estava repleta de fotos do local, clientes, vítimas e
outras coisas.
— Ficamos de olho no local, como foi pedido — informou Heitor,
enquanto me dirigia mesa para verificar todas as informações juntadas até
ali.

— Assis e Motha se infiltraram como cliente interessados em


participar do leilão, que pelo que soubemos será em sessenta dias — Enrico
relatou, mostrando algumas fotos do local.
— Este é o responsável por todo o procedimento, desde o convite de
cada cliente até a execução do Leilão.
Sebastian se mantinha calado, encostado em um canto amolando
suas lâminas, em uma promessa silenciosa de destruir cada envolvido
naquela merda.
Assis era primo de Heitor, Motha era seu filho mais velho.
Colocamos os dois como interessados em participar do leilão.
Dei ordens explícitas de que se houvesse crianças eles deviam
arrematar, para depois procurarmos devolvê-las as suas respectivas famílias.
— Não será nada fácil entrar — Motha informou. — Quando fomos
falar com o organizador o mesmo informou tinha todo um procedimento
para sermos sócios.  Que para participarmos primeiro, teríamos que provar
nossas intenções.
Cazzo! Aquilo parecia uma merda. Minha vontade era ordenar que
invadissem tudo, resgatassem as meninas e crianças e o restante botasse
fogo, no entanto séria tampar o sol com a peneira, os que não fosse pego ali
iria para outro estabelecimento. Sem falar que nunca poderíamos pegar os
envolvidos com a Lá Rete, o que era nosso principal objetivo.
— Nós daremos um jeito — disse Assis. — Já estive pensando em
um plano.
— Já sabem qual dos nossos está envolvido?
Heitor pegou algumas fotos separadas e me entregou, alguns dos
nossos homens apareciam nelas, a maioria eu nem conhecia. A organização
era grande e era difícil conhecer todos os envolvidos.
— Todos esses é da famíglia ou tem vínculo — Heitor informou. —
Ainda não sabemos quem é só frequentador ou que é sócio e participa dos
Leilões.
— Bom, tratem de verificar isso — falei entregando as fotos de
volta.
A reunião se estendeu por mais algumas horas, estudamos o local,
os possíveis sócios, os responsáveis e até algumas das prostitutas que
trabalhavam no lugar que poderia vir ajudar de alguma forma no futuro.
Todos concordaram com o plano, alguns continuaram a falar sobre o
assunto, outros saíram para beber e procurar mulheres para passarem o
restante da noite.

Victor estava uma merda, se manteve calado a reunião toda, falando


somente quando lhe era solicitado, bebendo mais que o normal e com cara
de poucos amigos, quando todos saíram fui falar com ele.
— Está uma merda hoje, em cara! — Zombei, apontando seu estado
com a garrafa na mão.
— Por que você não cuida da porra da sua vida? — Falou irritado.
Quis socar sua cara e ordenar respeito, mas Victor sempre me
respeitou, nunca havia falado daquela maneira comigo, nunca desobedeceu
a uma ordem minha, nem quando eu não era o Capo, o que só me dizia que
algo muito errado estava acontecendo.
— Porra Victor, o que está acontecendo? É por causa da Jeniffer? —
Perguntei.
Depois do episódio no escritório mais cedo não tinha mais visto
Victor, havia tentado falar com ele, no entanto, ele não atendeu nenhuma de
minhas ligações e nem voltou a mansão.
Eu nunca tinha visto meu irmão naquele estado, Victor sempre foi
centrado, sério, responsável, nunca se deixou levar pelo calor do momento,
ou pela emoção, ao contrário de mim, que era impulsivo e de Sebastian, que
era explosivo.

Seu maxilar travou, e seus punhos fecharam e eu soube que tinha


colocado o dedo na ferida.
— Você está tão fodido quanto eu! — Declarou com um sorriso frio.
— Só não sabe ainda — disse de forma amarga. — O que você acha que
Camile vai fazer quando tudo isso acabar? Quando descobrir que você está
mentindo para ela todo esse tempo — falou se referindo a morte de Pietro.
Ainda não tinha contado para Camile até o momento, que tinha sido
por minha causa que Pietro havia morrido, aquilo era uma merda. Por dias
tentei não pensar nisso e agora Victor estava ali jogando na minha cara.
Sentia a dor da perda do meu amigo e me culpava todos os dias por
sua morte, e sabia que uma hora ou outra teria que falar a verdade para
Camile, mas só de imaginar que aquilo a afastaria de mim era pior que um
ferro quente sendo enfiado em meu coração.
— Prometeu a ela que faria de tudo para liberá-la, lembra? — Victor
continuou com a voz afetada pela bebida. — Então me diz, vai ser capaz de
prendê-la aqui? — Perguntou amargurado.
Porra! Meu estômago revirava com cada palavra destilada, como um
veneno poderoso capaz de me paralisar, e causar uma das piores dores que
já tinha vivenciado.
— Elas não fazem parte do nosso Mundo Alex — afirmou—
cravando mais fundo a adaga meu coração — você viu como ela defendeu a
amiga? Acho de verdade que me mataria por aquela menina! — Confessou
dando um sorriso orgulhoso, de ver como Camile tinha defendido Jeniffer.
— Ela pode se achar quebrada Alex, porém ela nunca será como nós, ela
tem um coração puro, assim como Jeniffer e nenhum de nós merecemos
coisas tão boas assim! — Declarou — não quando em nós só existe morte,
traições e torturas — cuspiu as palavras colocando a garrafa em cima da
mesa e saindo, me deixando em uma escuridão que eu nunca havia estado
antes, sentindo uma dor profunda, uma que nem quando fui baleado,
espancado e ferido havia sentido.
Ele tinha razão! Camile iria embora depois de tudo, e eu não seria
capaz de fazê-la ficar, não nesse mundo podre onde nós vivíamos. Ela
merecia muito mais, merecia amor, paz, merecia filhos e um marido
modelar, que não matasse e torturasse para viver, e isso eu nunca poderia
ser para ela.
Depois de ouvir as palavras de Victor, me perdi em minha dor, não
sabia dizer o quanto havia bebido, nem por quanto tempo.

Em minha cabeça só passava que ela me abandonaria no exato


momento em que descobrisse que eu havia sido o responsável pela morte de
seu irmão, eu iria perdê-la...
Abri meus olhos me deparando com Rebeca me beijando e se
esfregando em mim.
— Pare! — Consegui dizer.
— O que?! Você não está a fim?! Mas, foi você que me ligou? —
Afirmou.
Eu havia ligado? Nem me lembrava, estava anestesiado, estava tão
imerso em minha dor que não sabia o que estava fazendo.
Mas seja como fosse, não iria fazer isso, não com Camile em minha
cabeça, em meus poros e até em meu coração, se eu tivesse um coração.
— Desculpe! — Pedi — Não posso, tenho que ir — disse pegando
meu paletó e saindo deixando a garota lá sem entender nada.
Quando cheguei na mansão, Camile ainda estava em minha cama,
tão linda quanto o momento em que a deixei.
Notei que acordou com minha chegada, no entanto não esboçou
reação alguma, provavelmente percebeu meu estado.
Não abriu os olhos, eu também não me aproximei, não seria capaz
no estado em que eu estava. Precisava manter distância dela, eu a queria
como nunca quis nada nessa vida, mas não a merecia, nunca a mereceria.
Peguei algumas roupas e fui para o quarto de hóspede, não demorou,
ouvi ela sair do meu quarto e voltar para o dela, onde a amiga dormia.
— Que porra eu estou fazendo? — Falei comigo mesmo, socando a
parede do banheiro com ódio.
No dia seguinte saí cedo, não vi Camile e a amiga.
Ela havia me dito que ia a cidade comprar roupas para a amiga,
então estranhei quando ela não ligou me pedindo para que a acompanha-se.
Recebi uma mensagem de Cristian.

Cristian
“ Chefe, Camile, Sienna e Jeniffer estão no shopping, estamos
fazendo sua segurança ”
. Mas que merda! Não acredito que elas tiveram coragem de ir
sozinhas, não, Cristian não as levaria se estivessem.
Alex
“ Quem está com elas ”

Talvez Victor tivesse ido para ficar perto de Jeniffer.


Cristian
“Sebastian, elas pediram para que ele as trouxesse”
Não respondi mais nada, peguei minhas chaves e fui direto para o
shopping, por que diabos elas iam pedir logo para Sebastian?
Minha raiva piorou cem vezes mais, ao chegar no shopping e
encontrar Sebastian flertando com garotas, e um cara abraçado a Camile.
— Quem é o filho da puta abraçando minha mulher? — Indaguei
fazendo Sebastian dar um pulo.
— Um amigo, eu acho... — respondeu, assustado.
— Ah! Você acha? Sério isso, Sebastian? — Saí indo na direção
deles, depois quebraria a cara do meu irmão em um de nossos treinos.
— Camile! — Chamei, ela pareceu surpresa com minha presença.
— Alexei, o que faz aqui? — Indagou.
— Vamos embora! — Ordenei.

— Não podemos, estamos esperando um lanche — disse olhando


para as meninas. Elas já estavam em pé, vendo meu mal humor.
— Alex, esse é o André — Apresentou o cara que a tinha abraçado,
— André, esse é Alex, meu marido — me apresentou com um olhar de
desafio.
Eu não podia acreditar, o ex-marido? Como eles foram se encontrar
logo ali! Só podia ser um pesadelo, era só o que faltava para foder com meu
dia que já estava um merda.
— Prazer! — O tal André estendeu a mão em um comprimento, que
eu não fiz questão de responder.
— Precisamos ir — reforcei.

Ela parecia furiosa, por quê? Será que eu tinha atrapalhado alguma
coisa?
Tal pensamento me fez querer matá-lo ali mesmo.
— Está bem! — Falou furiosa, e se virou para o ex. — André, foi
um prazer revê-lo, — Disse se despedindo.
— O prazer foi meu — Ele respondeu indo em sua direção para
abraçá-la novamente.
— Nunca mais pegará nada em sua vida, se encostar em minha
mulher novamente — falei em seu ouvido, atravessando seu caminho e o
impedindo de se aproximara de Camile
Todos saíram em silêncio até o estacionamento.
— Você vem comigo — informei, direcionando ao meu carro, onde
o motorista já esperava.
— Eu vim com Sebastian e posso muito bem voltar com ele —
desafiou.
— Camile, entre logo no maldito carro! —  Ordenei irritado. Ela
estava a ponto de protestar, quando Jeniffer segurou seu braço e disse:
— Pode ir Camile, nós ficaremos bem! — Informou.
— Sienna, pode ficar fazendo companhia a ela até que eu volte? —
Pediu.
— Pode deixar, não vou sair do lado dela — assegurou.
— Obrigada!
Deu um olhar meigo a amiga e entrou no carro quase que como um
furacão.
—Sério? Foi um prazer revê-lo? Esse não é seu ex? — Perguntei
furioso, assim que entramos no carro.

— Sim! É meu ex-marido Alex, e daí? — Perguntou com desdém.


— O cara te traiu e engravidou outra mulher, e você diz que foi um
prazer revê-lo? — Não podia acreditar.
Eu estava além de furioso, eu não podia entender, será que ela ainda
sentia alguma coisa por aquele babaca? Era a única explicação.
— Pelo visto você andou investigando muito bem minha vida! —
Disse em tom de acusação. — Não pense que me conhece Alex! Que
conhece minha vida! Não sabe nada sobre mim — gritou furiosa — não
pense que porque transamos pode dizer e fazer o que quiser de mim.
— Não foi isso que eu quis dizer!

—Você não conhece André, não sabe nada sobre nossa história, ele
me traiu sim! — Ela gritava alterada. — Mas não é muito diferente do que
está acontecendo aqui — falou indicando nós dois — ou é Alex? —
Acusou.
Parecia uma pergunta, no entanto ela não queria uma resposta.
— Camile.... — Tentei dizer que não havia ficado com nenhuma
outra mulher, e que só ela me interessava.
— A única diferença é que com ele eu tinha liberdade, quando tudo
acabar eu farei de tudo para ir embora Alex, então você estará livre de mim
— declarou, cravando uma última adaga em meu coração que até agora
achava que estava morto.
— Pare o carro — ordenei ao motorista. — Leve a Srta. Camile até
a mansão.

— Mas Sr... — O motorista tentou dizer algo.


— Faça o que estou ordenando.
O motorista parou e eu desci, deixando Camile ir com ele e um
segurança, liguei para Victor e pedi que viesse me buscar.
 
Capítulo 30
 
Depois do episódio no shopping, evitei Alex a todo custo, não
queria ver ou falar com ele, meu coração doía como nunca e eu sentia sua
falta em todos os minutos do dia, mas era necessário.
Não deixaria, nem aceitaria que nem ele e nem ninguém machucasse
meu coração mais do que já era ferido.
Claro que era bem mais fácil falar do que fazer.
Sentia doer bem mais do que realmente queria demonstrar.
Já havia se passado duas semanas, me sentia fraca, cansada, minha
cabeça estava uma bagunça e nada parecia fazer sentido. Aquela confusão
de sentimentos, aquela fusão de tristeza, dor e depressão que me atingia
sempre que pensava em Alex, que era o tempo todo.

Por mais que eu tentasse, não conseguia compreender, como ele


poderia querer julgar André, depois de ter feito o mesmo? E agora era mil
vezes pior, pois eu tinha deixado Alex entrar, não sabia dizer quando, nem
como, mas ele estava ali, em meus poros, na minha cabeça e com certeza no
meu coração, um que eu achava que nunca seria possível amar, agora estava
destroçado.
Olhei mais uma vez minha imagem refletida no espelho, vendo a
sombra de uma mulher que eu era dias atrás.
Arrumei meu cabelo em um rabo de cavalo, coloquei meu moletom.
Saí para correr, com o fone no ouvido vendo Cristian e Lian me
seguir de longe dentro do carro preto que sempre me acompanhava.
Corria rápido, como se fosse possível fugir de meus tantos
demônios, que vinha me assombrando dia após dia.
Desde quando tinha aceitado vir para a Itália, que tinha aceitado me
casar com Alex, a vida me pareceu um pouco mais leve, um pouco mais
aceitável, e eu acreditei, inocentemente acreditei que talvez, só talvez eu
pudesse finalmente esquecer meu passado, seguir em frente, viver minha
vida.
Mas eu estava errada, redondamente errada.
E agora eu estava ali tentando fugir dos meus fantasmas, me
escondendo mais uma vez atrás das muitas máscaras que eu havia criado ao
decorrer dos anos, e como eu estava cansada daquilo, de tudo aquilo.
Não enxergava nada em minha frente, minha visão era anulada por
meus muitos pensamentos, em minha cabeça passava um filme comprido da
minha vida até ali.
Minha infância, Pietro, meus pais e agora Alex, os flashs de
memória vinham em minha mente e as lagrimas corriam livre, tentava com
muito afinco descontar todas minhas frustrações e medo naquela corrida
desenfreada, dando tudo de mim. Sentia meu peito queimar com o cansaço
e as pernas arderem, os músculos protestavam, mas não conseguia parar,
não queria parar, não até tudo sair da minha cabeça, não até ter minha
mente livre novamente.
Vi quando Cristian me ultrapassou, parando o carro mais a minha
frente e desceu, me fazendo parar, segurando os joelhos tentando recuperar
minha respiração pesada.
— Não pode passar daqui Camile, está no limite da propriedade —
Cristian avisou.
Eu nem havia percebido que tinha corrido tanto, Alex tinha deixado
ordens de que eu não poderia sair dos limites da propriedade, não sem a
segurança necessária.

— Sim, tudo bem! Eu já vou voltar — falei pausadamente,


recuperando meu fôlego.
— Está tudo bem? — Ele quis saber, vendo que eu havia chorado.
Cristian tinha se tornado meu segurança desde o dia em que cheguei
na mansão, sempre me acompanhava, aonde eu ia ele estava junto, eu tinha
aprendido a respeitá-lo, era um cara legal. Assim como todos parecia ter
seus fantasmas, mas foi gentil comigo desde o dia em que tinha o
conhecido.
— Sim! — Respondi sem muita convicção.
—Se você quiser posso te acompanhar na volta — se ofereceu e eu
concordei, aliviada em ter alguém para conversar na volta, na esperança de
que uma boa conversa me distraísse um pouco.

Não queria ficar sozinha, com tantos pensamentos me assombrando.

Cristian avisou Lian que ele poderia voltar a mansão se quisesse, pois iria
me acompanhar andando.
Começamos a andar de volta a mansão sem muita pressa.
— Está realmente bem? — Perguntou novamente.
— Sim, só estou muito cansada! — Afirmei, mas ele pareceu não
acreditar.
— Por causa do que aconteceu no shopping?
— Como você ... — eu ia perguntar como ele sabia.
— Nunca subestime as fofocas dos empregados — Brincou.
— Bom, então você já sabe de toda a discussão?
— Acho que não tem quem não saiba, Alex nunca foi de agir dessa
maneira, então estão todos surpresos — esclareceu.
— Como assim? — Quis saber.
— Alex saiu no meio de uma reunião importante com alguns
membros do conselho para ir naquele shopping — informou me deixando
surpresa.
— Bom, ele não precisava, nós só tínhamos ido comprar algumas
roupas, não era como se eu estivesse sofrendo um atentado.
— Me tire uma dúvida, não precisa responder se não quiser —
esclareceu. — Você ainda ama esse tal de André?
Sua dedução infundada me fez rir, porque ele não poderia estar mais
enganado.
— Qual é a graça? — Perguntou intrigado.
— É isso que todos estão pensando? Que eu briguei com Alex
porque amo André? — Perguntei sem acreditar.
— Todos eu não sei, mas Alex com certeza sim.
Aquela dedução me deixou pasma.
Então ele achava que eu amava André? Bom, se eu amasse também
ele não deveria ligar, afinal ficava saindo com outras — pensei.
— Eu nunca amei André — admiti, deixando-o confuso. — André
foi um grande amigo — suspirei cansada — um que eu prezo até hoje, uma
pessoa importante na minha vida. Com ele eu me sentia bem, mas nunca foi
amor.  Eu não o culpo pela traição — declarei.
— O que você faria se amasse uma pessoa, mas essa pessoa mesmo
estando ao seu lado estivesse a quilômetros de distância? E nunca deixasse
você se aproximar? — Perguntei.
Percebi que Cristian já havia vivido algo parecido, pois seu olhar se
entristeceu. 
 Será que ele amou alguém que o distanciou ou será que foi ao
contrário?
— Foi isso que aconteceu? — Quis saber.
— Sim! Ele sempre foi maravilhoso comigo, um amigo que eu
nunca tive igual, eu não o amava então fui me distanciando dele, queria que
ele notasse e me abandonasse.  Então apareceu essa moça, e bom, você já
deve saber o restante — afirmei, omitindo o outro lado da história.
Já estávamos próximo a mansão, conseguíamos vê-la de longe.
— E por que você não explica isso para Alex? — Quis saber.

— E por que eu deveria? Alex não se importa com nada disso, a


única coisa que ele não quer é ser exposto — afirmei. — Alex nunca
entenderá o que eu tive com André, uma pessoa que confiei, que esteve ao
meu lado, que apesar de eu não amar, não desistiu, uma pessoa que eu
poderia ser eu mesma, sem máscaras ou fingimento — eu comecei a dizer
me descontrolando, sentindo os soluços me atingir e as lágrimas correr pelo
meu rosto, os sentimentos vinham à tona como uma avalanche me
carregando — ele nunca vai entender... — murmurei, sentindo Cristian me
abraçar tentando me consolar.
— Ei, calma, está tudo bem!
— Desculpe — pedi ainda chorando, todas as lembranças me
invadindo sem parar, uma confusão misturada com a dor que parecia não ter
mais fim. — Eu estou tão cansada — declarei, chorando em seus braços.
Senti quando Cristian foi puxado com força me fazendo ser puxada
junto.
— Seu desgraçado! — Escutei Alex bradar já em cima de Cristian,
esmurrando e socando.
—  AI MEU DEUS! — Exclamei horrorizada com a cena de
violência.
— Alex, não é nada disso que você está pensando cara! — Cristian
tentava explicar.
— SEU IDIOTA! — Gritei empurrando-o de cima de Cristian
fazendo cair de lado. — IMBECIL, IGNORANTE! O QUE VOCÊ PENSA
QUE ESTÁ FAZENDO? — Indaguei furiosa e horrorizada com o rosto de
Cristian sangrando.
— Ele estava te abraçando bem em frente a mansão — justificou
furioso.
— PORQUE EU ESTAVA CHORANDO, SEU BOSAL! —
Exclamei, tentando levantar Cristian do chão. — É SÓ COM ISSO QUE
VOCÊ SE IMPORTA! SEU BABACA IGNORANTE.
— Está tudo bem Camile!  — Cristian disse limpando o sangue do
rosto.
— Não está nada bem, por minha causa você agora está todo
machucado — falei com uma voz branda.
— É sério estou bem! — Exclamou em uma voz mais dura.
Que porra de problema esses homens da Itália tinham?
— QUE SEJA SEUS IDIOTAS, POR MIM QUE SE MATEM! —
Gritei correndo em direção a mansão e entrando.
 
Capítulo 31
 

Duas semanas enlouquecendo com Camile na cabeça, não tinha um


maldito lugar que eu ia que não me lembrava aquela mulher.
Tinha passado dias bebendo, tentando em vão arrancar ela da minha
cabeça, nem toda a bebida do mundo era capaz de me fazer esquecer.
Pensei que talvez se eu ficasse com outra mulher essa maldita
obsessão por Camile passaria, mas só tive provas do quão ferrado eu estava,
pois todas as mulheres que eu olhava não me despertava nenhum interesse,
e a porra do meu pau parecia se recusar a aceitar qualquer outra que não
fosse ela.
Nenhuma outra tinha o cheiro que eu tanto precisava, o único capaz
de me acalmar, o seu sabor, sua delicadeza, não tinha sua simplicidade de
usar moletom e ficar descalça, ou de se sentar no chão da sala para comer
ou de subir muros para roubar frutas...
PORRA!! Aquela mulher tinha me enfeitiçado, de uma tal maneira
que a única coisa que eu respirava era Camile. Nada mais fazia sentido em
minha vida, além de estar com ela novamente, nada mais era tão importante
quanto ter ela novamente em meus braços.
Dormia pensando em Camile e acordava com ela em meus
pensamentos.
Não voltava mais para mansão desde o incidente do shopping, para
não me encontrar com ela, não conseguiria dormir com ela ali tão próxima a
mim sem eu poder tê-la, apesar que ficar dormindo no apartamento também
não me ajudou em nada para dormir.

Ouvir ela defender André e dizer que iria embora quando tudo
terminasse, foi dilacerante e só confirmou minhas suspeitas. Camile iria
embora, me deixaria na primeira oportunidade e quando descobrisse que
Pietro havia sido morto por minha causa ela nunca mais voltaria eu nunca
mais a conquistaria novamente.
E aquilo doía, doía tanto que me fazia querer me embriagar
novamente só para anestesiar aquela dor maldita que tomava todo meu
peito.
Mas apesar de tudo, o que mais me machucava era saber que ela
ainda amava André, se eu tinha alguma dúvida sobre isso ela se foi naquele
dia.
Então eu a deixaria ir, se era o que ela queria então eu faria, por ela,
nem que eu tivesse que enfrentar todo conselho, não iria prender Camile em
uma vida de infelicidade ao meu lado.
Naquela manhã voltei para a mansão decidido a conversar com ela,
dizer que se ela estava livre para ir, ir para onde quisesse, com o tal do
André ou para qualquer outro lugar.

Eu a continuaria protegendo, estaria sempre aqui por ela e para ela.


Cheguei na mansão era cedo. Camile não estava, tinha saído para
correr, como fazia de costume.
— Cadê Camile? — Perguntei ao ver Lian que deveria estar fazendo
a segurança dela.
— Está voltando com Cristian, eles já devem estar chegando —
avisou.
— E por que Cristian está vindo com ela? — Perguntei por que
geralmente eles a acompanham a distância de carro.

— Não sei chefe, ela foi até os limites da propriedade, então


Cristian disse que eu poderia voltar para mansão, que iria acompanhá-la —
explicou.
O bicho dos ciúmes ameaçou tomar conta de mim, não queria
acreditar. Mas, era Cristian confiava nele, sabia que ele nunca faria uma
coisa dessas, ele não era só meu amigo, era um dos meus melhores
soldados, tirando meus irmãos ele era a pessoa que eu mais confiava, então
peguei as chaves do meu carro e decidi ir embora, falaria com Camile outra
hora.
Saí da mansão, quando vi a poucos metros de distância Cristian e
Camile se abraçando, em uma intimidade que me deixou cego, furioso.
Qualquer certeza que eu tinha da lealdade do meu amigo
simplesmente se foi. Em um rompante de raiva, corri em direção a eles
puxei Cristian com tanta brutalidade que via Camile cambalear ao ser
puxada junto, mas estava tão cego que não me importei, desferi um soco em
Cristian fazendo-o cair no chão, subi em cima dele, esmurrei ele várias
vezes descontrolado.
— SEU IDIOTA! — Escutei Camile gritar e usando toda sua força
me empurrou me fazendo desequilibrar e cair de lado. — IMBECIL,
IGNORANTE! O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? — Ela
gritava desesperada ou irritada não sabia dizer ao certo.

— Que porra Camile, ele estava te abraçando bem em frente a


mansão — justifique, agora percebendo o quão idiota isso pareceu.
— PORQUE EU ESTAVA CHORANDO SEU BOSAL! — Ela
gritava tentando ajudar Cristian a se levantar, o que me deixou com mais
ciúmes ainda. — É SÓ COM ISSO QUE VOCÊ SE IMPORTA SEU
IDIOTA.
— Está tudo bem Camile!  — Cristian disse limpando o sangue do
rosto.
— Não está nada bem, por minha causa você agora está todo
machucado! — Ela disse com uma voz chorosa.

— É sério, estou bem! — Ele retrucou com ela, talvez percebendo


meu descontrole.
— QUE SEJA SEUS IDIOTAS, POR MIM QUE SE MATEM —
gritou agora perdendo a paciência com Cristian também.
Vi ela correr e entrar na mansão.
— QUE PORRA! — Gritei jogando minhas chaves longe.
Por que merda eu fiz aquilo? Agora teria que procurar — pensei
tarde demais.

— Alex... eu não... — ouvi Cristian começar a dizer.


— EU SEI PORRA!
Sabia que ele queria dizer que não tinha feito nada e que tudo não
passou de um mal-entendido, eu já tinha percebido tudo aquilo, no exato
momento em que olhei nos olhos vermelhos e inchados de Camile por ter
chorado.
— Eu sou um maldito idiota — bradei furioso comigo mesmo.
— Ela estava chorando e eu não sabia o que fazer — justificou.
— Eu vi vocês dois abraçados e fiquei cego de ciúmes — admiti.
— Relaxe, ela vai entender — ele disse me fazendo rir de desgosto.
— Ela tem razão de amar aquele babaca — comentei desgostoso.
— Não ama. — Ouvi Cristian dizer, e fiquei confuso.
— O que? — Não sabia se tinha entendido direito.
— Ela não o ama — disse confirmando o que eu tinha escutado —
Ela disse que nunca o amou.
— Ela te contou isso? — Perguntei confuso.
— Ela está chateada, muito chateada, apesar de nunca ter amado de
verdade o cara, parece que ele foi alguém importante para ela, um amigo
importante — corrigiu ao ver minha cara de desgosto com suas palavras —
e você ofendeu o cara, então ...
Eu não estava escutando mais nada, na verdade já tinha saído e ido
para dentro da mansão, precisava saber o que se passava na cabeça de
Camile, de uma vez por todas.
Precisava resolver aquela situação, ela tinha que saber como eu me
sentia, mas principalmente eu precisava saber como ela se sentia, o que ela
queria de fato.

E se ela me disse que quisesse ir, então eu a deixaria seguir em


frente.
Estava subindo as escadas disposto a confrontar Camile, mas me
celular tocou com Sebastian ligando.
— Estamos tendo problemas para infiltrar Assis e Motta —
Sebastian revelou.
Porra, logo agora! Eu não podia deixar meus homens esperando,
então teria que resolver isso outra hora.
— Me espera que eu já estou chegando, uns vinte minutos estou aí
— falei indo até a porta. — Talvez uns quarenta — corrigi lembrando que
teria que procurar a porra das minhas chaves.
Perdi o dia todo tentando resolver o problema dos rapazes, cheguei
tarde da noite e fui, direto ao quarto de Camile.
Ela estava acordada, via um pequeno brilho que passava por de
baixo da porta.
Abri a porta lentamente, ela estava concentrada em um livro em seu
Kindle, nem notou minha presença.
Fiquei ali observando ela por um momento, respirando seu aroma de
longe, só queria estar perto dela, tê-la comigo, eu não conseguiria mais
viver sem aquela mulher.
Isso era um fato! Eu poderia negar o quanto eu quisesse, a verdade é
que eu amava Camile, amava como nunca havia amado ninguém antes,
amava com cada célula de minha existência.
E eu nunca seria capaz de deixá-la ir, jamais conseguiria fazer isso.
 
Capítulo 32
 
Pela janela vi o momento em que Alex saiu com seu carro.
Meu Deus, o que foi aquilo afinal? Seria ciúmes de Cristian? Ou
seria só ego ferido?
Estava totalmente confusa, não sabia mais o que pensar, minha
cabeça doía com tanta informação e confusão.
Mandei mensagem para minha amiga Jeniffer, para saber se estava
livre para me fazer companhia.

Jeniffer havia decidido que seguiria sua vida ali na Itália junto
comigo, então ela alugou um apartamento na cidade, e arrumou um trabalho
em um restaurante onde os donos eram brasileiros, como ela não falava
italiano ficava cuidando do financeiro.
Também fez a transferência da sua faculdade para um curso online,
pois seria complicado ela continuar o curso na Itália.
Minha amiga estava totalmente mudada, e eu ficava superfeliz por
ela, havia decidido esquecer Victor e seguir sua vida.
 Mille

“ Trabalha hoje amiga? Queria te ver! Estou com saudades”


Jenny
“ Não, estou de folga, se quiser podemos passar o dia juntas, o que acha?

Mille

“Seria ótimo!!”
 
Não demorou e Jeniffer estava comigo, Sienna e Grazi, com sua
filhinha linda Isy, também vieram ficar com a gente. Passamos o dia juntas,
assistimos filmes e comendo muitas besteiras.
O que me fez distrair um pouco, mas ainda assim me pegava de vez
em quando pensando em Alex, no entanto forçava minha cabeça para
pensar em outras coisas.
No final da noite todas as meninas foram embora e eu voltei a ficar
sozinha naquela mansão gigantesca, agora nem com Cristian eu estava
falando.
Talvez ele tenha ficado bravo comigo? Afinal o coitado apanhou de
graça, por minha causa — pensei.
Tomei um banho e me deitei. Peguei meu Kindle e fui ler para
ocupar minha mente, talvez um bom livro me fizesse esquecer um pouco
toda aquela confusão.
Era tarde, estava tão concentrada, que nem percebi quando Alex
entrou.
— Não deveria estar dormindo? — Perguntou, me assustando.
— Meu Deus! Quer parar de ficar me assustando assim.

— Desculpa! — Pediu. — Só vim ver como você estava.


— Como se você se importasse — rebati.
Afinal, fora a confusão de mais cedo, já tinha se passado duas
semanas e ele se quer tinha dado as caras, não que eu tivesse procurado por
ele também.
— Não fale assim... — pediu com uma voz cansada.
Se aproximou, abaixou na beira da cama ficando cara a cara comigo
e acariciou meu rosto com os nós dos dedos, como sempre fazia, em uma
caricia delicada que eu amava.
Por que ele fazia isso comigo? Seria algum tipo de joguinho
doentio? Alguma brincadeira do tipo, vamos ver até onde ela aguenta?
— Me deixe entrar minha cachinhos, me deixe saber o que se passa
com você — pediu com a voz melancólica.
O que ele estava me pedindo? O que ele realmente queria? Queria
muito entender aquele homem que vinha abalando minhas estruturas,
minando minhas barreiras e destruindo todo meu autocontrole.
Ele parecia abatido, barba por fazer, olhos fundos, como se não
dormisse a dias, parecia ter perdido peso, coisa que eu não havia notado na
confusão de mais cedo.
Eu me sentei na cama e acendi o abajur, para ver melhor seu rosto e
então tive certeza de que ele não estava nada bem.
— Você está bem? Algum problema? — Perguntei realmente
preocupada.
Ele deu risada.
— Você que está presa aqui comigo, sem perspectiva de uma vida
normal, longe das pessoas que ama e ainda está preocupada se estou bem?
— Ele segurou uma de minhas mãos e levou aos lábios de forma gentil e
amorosa.

— Não é verdade — pelo menos não era toda a verdade — tenho a


Jeniffer e Sienna — queria dizer que tinha a ele e aos irmãos que aprendi a
gostar, mas não sabia como ele podia reagir a isso. — Quer deitar aqui
comigo? — Perguntei, querendo sentir ele ao meu lado, queria sentir seu
cheiro, seu calor, estava a duas semanas longe dele e não aguentava mais
resistir, não tinha mais forças para brigar contra tudo que eu sentia.
Alex tinha sido o único homem que tinha me feito sentir aquele tipo
de felicidade, então nem que fosse pela última vez, queria senti-lo, só mais
uma vez — jurei internamente.
Sentia falta do seu cheiro, do calor, do sabor da sua boca eu
precisava do conjunto completo, precisava de Alex.
Ele se levantou e achei que iria embora, mas foi até a porta trancou,
tirou sua roupa e entrou embaixo do cobertor e se aconchegou em mim de
forma confortável.
— Eu senti tanto sua falta minha cachinhos — disse aspirando o
cheiro dos meus cabelos. — Eu queria de verdade te deixar ir — declarou.
— Mas sou um puto egoísta e não posso mais viver sem você — admitiu
fazendo meu coração dar pulos de alegria.

Mas, eu ainda estava machucada por ele ter saído com outras
mulheres, eu seria capaz de perdoar tal coisa?
— Por favor minha linda, diz que não vai embora, que não vai me
abandonar — pediu.
Aquelas palavras quase me fizeram chorar de emoção, minha deusa
interior dava cambalhotas, e batia palmas de felicidade.
— Eu não vou a lugar nenhum Alex... — falei apesar de feliz com
suas palavras, confusa. — Onde achava que eu iria? — Perguntei,
levantando meu corpo para poder encará-lo melhor, tentado entender.
— Você disse que quando tudo acabasse iria embora — esclareceu
— e tem aquele cara que parece...
— Porque você saiu com outras mulheres e aquilo me doeu Alex —
confessei — por mais que não goste de admitir me doeu muito, como
nunca. Eu sei que foi eu que te disse que você poderia ficar com quem você
quisesse, mas isso foi antes da gente ter alguma coisa — revelei. — E
André me traiu sim, todavia eu não o amava, nunca o amei. Então quando
aconteceu eu não senti nada, com você foi diferente, te ver chegar
cheirando perfume barato me destruiu Alex — revelei com a voz já
embargada pelo choro que ameaçava derramar.
Falei toda a verdade, sem me esconder mais, pois não poderia omitir
o que eu sentia por aquele homem, agora entendia o que ele dizia com me
deixe entrar. Ele queria a verdade e eu não esconderia mais, não importava
se ele sentia ou não o mesmo, eu não seria mais covarde com meus
sentimentos.
— Eu nunca fiquei com nenhuma outra mulher depois de me casar
com você Camile, eu juro — segurou meu rosto para olhar para ele. —
Nem se eu quisesse não conseguiria, meu corpo e meu coração só
pertencem a você.
Meu coração falhou algumas batidas pela declaração, e uma lágrima
de felicidade caiu, e Alex se apressou em capturá-la com uma carícia.
— Naquele dia, fiquei tão transtornado com a ideia de perder você,
com medo de que você poderia ir embora depois de tudo, que acabei sim,
ligando para Rebeca, só que não tirava você da cabeça, então acabei
largando-a lá. — Admitiu. — Me perdoe, fui idiota com você todo esse
tempo, me deixei levar pelo meu ciúme.
 Ciúmes? Ele estava admitindo que sentia ciúmes de mim?
Eu não sabia se estava feliz ou brava em saber que realmente ele
esteve com Rebeca.
— Por que você achou que eu fosse embora? Quer dizer no dia do
shopping eu entendo, todavia naquele dia estávamos bem! — Perguntei
confusa.
— Estamos próximos de pegar os organizadores de toda essa sujeira
e você tinha me feito prometer que quando tudo acabasse eu ia fazer de
tudo para te deixar ir.

— Isso foi antes Alex, não conseguiria deixá-lo nem se eu quisesse


— revelei, abraçando Alex como se fosse minha taboa de salvação.
Eu estava me sentindo tão aliviada, que quando ele me beijou eu
parecia flutuar.
Seu beijo era suave cheio de emoções e promessa sem palavras,
fazendo me deliciar com seu sabor, suas carícias eram suaves e desejosas
era uma dança tão sensual, deliciosa e única que me levava em outra
dimensão, uma que eu ainda não conhecia.
Foi então eu percebi que pela primeira vez eu estava fazendo amor.
Sim, pela primeira vez seus toques suaves agora não me
incomodavam ou me levavam a lugares do passado, não me lembrava
minhas dores ou meus fantasmas.
Ali naquele momento eu só lembrava nós dois, nossos corpos se
entrelaçando, nossas almas se amando e nossos corações se declarando. As
carícias, o amor que tentávamos mostrar um ao outo, e o desejo que se
mostrava presente.
A noite tinha sido perfeita, fizemos amor várias vezes, tomamos
banho juntos e dormimos agarrados um no outro e nada e nem ninguém
mais no mundo importava mais que aquele momento.
Eu acordei já era bem tarde, o sol já estava alto. Alex não estava
mais na cama, havia deixado uma bandeja de café da manhã e um bilhete
que me fez borbulhar de alegria.
Você estava em um sono tão gostoso que não quis te acordar.

Deixei seu café da manhã para repor as energias.

Obrigada pela noite mais maravilhosa que já tive na vida.

Beijos.

Tinha como não amar esse homem?


 
Capítulo 33
 
Estava no consultório médico, já havia algumas semanas que não
andava muito bem. No início achei que fosse nervosismo pelos
desentendimentos com Alex, no entanto mesmo depois que me acertei com
ele continuei a passar mal cada dia mais.
Quase nada parava em meu estômago, andava fraca, cansada e
sempre sonolenta, deduzi que talvez fosse uma anemia, afinal só podia ser
isso.
Não poderia estar mais enganada.
Pedi para Sienna que marcasse uma consulta para que eu passasse
no médico, já que eu ainda não conhecia muita coisa na Itália.
Não poderia estar grávida, já que logo depois que voltarmos da lua
de mel comecei a tomar anticoncepcional, e minha menstruação não estava
atrasada.

Mesmo assim o médico pediu o exame, e agora eu esperava com o


coração na mão vendo-o abrir o resultado.
— Parabéns Sra. Camile, você está grávida de cinco semanas. —
Ele disse assim, de supetão, logo que abriu o resultado, com um sorriso
largo no rosto.
Eu fazia as contas na minha cabeça, não acreditando, já tinha quase
dois meses que tínhamos voltado da lua de mel, e minhas contas não batia.
— Impossível, eu tomo anticoncepcional e minha menstruação está
em dia — argumentei.
A única vez que tínhamos vacilado tinha sido na lua de mel e isso já
tinha umas oito semanas, e mesmo assim fomos muito cautelosos, Alex
providenciou poucas horas depois a pílula do dia seguinte, que fiz questão
de tomar de maneira correta, seguindo todas as orientações da bula.
Com exceção deste dia, sempre usamos camisinha e assim que eu
voltei iniciei o uso de contraceptivo.
— O anticoncepcional no primeiro mês não é eficaz, por esta razão
recomendamos o uso de preservativos no primeiro mês. Quanto a
menstruação é normal, acontece alguns casos de só interromper a
menstruação no terceiro mês de gestação — ele explicou.

Cacete! eu comecei tomar anticoncepcional e confiei que estava


segura e agora estava grávida, quão burra isso me fazia?
— Meu Deus! — Exclamei para mim mesma.
Saí do consultório meia desnorteada, sem entender muito bem o que
tinha acontecido, ainda confusa com a novidade que acabava de receber.
Eu seria mãe. "Mãe", experimentei a palavra mentalmente, e me
soou muito bem, a simples menção, fez meu coração se aquecer de maneira
estranha, mas de uma forma muito boa e eu sorri boba.
Cristian, junto com outro segurança, me esperavam para me levar
embora, todavia eu precisava ir ao banheiro jogar uma água no rosto e
respirar um pouco, antes de voltar para mansão.

Entrei no banheiro e coloquei o exame dentro da bolsa, molhei a


nuca estendendo pelo rosto, olhando meu reflexo no espelho, pensando em
como iria dar aquela notícia para Alex.
Não fazia ideia de como ele reagiria, nunca falamos sobre aquele
assunto.
E se ele não quisesse ser pai? E se me culpasse pela gravidez?  E se
ele me rejeitasse quando soubesse.
Bom não importava, eu diria a ele e se ele não quisesse, então ele
não era o homem que eu pensei que fosse e eu seguiria minha vida sem ele,
junto com aquele grãozinho de mostarda que incrivelmente eu já amava
mais que tudo.
Como aquilo era possível? Mas, eu entendia, aquele serzinho era
parte de mim, parte de Alex, fruto do amor mais intenso que já havia
vivido, era impossível não o amar.
— Fique quietinha! — Escutei um homem dizer, me trazendo a
realidade. — Sem gritar. Não queremos fazer um buraco em você sem
querer — o homem magro e moreno de cabelos quase raspado, apontava
uma arma para mim, fazendo meu coração acelerar quase saindo pela boca.

Eu estava tão preocupada em como revelaria para Alex sobre a


gravidez, que nem notei quando ele entrou.
Meu coração tamborilava no peito, medo e pavor tomavam conta de
mim, sentia minhas mãos suarem geladas e meu estômago se retorcia —
não posso vomitar agora, não posso vomitar agora — repetia em minha
cabeça.
— Vamos embora e sem fazer barulho, ou a única coisa que seu
maridinho vai encontrar de você será seus miolos espalhados pelo banheiro
— apavorava, assenti com as mãos para cima em sinal de rendição.
— Seu celular — exigiu.
Peguei o celular da bolsa e entreguei a ele tremendo assustada. Ele
quebrou o aparelho e jogou na privada.
— Agora vamos — disse me puxando pelo braço de forma rude,
colocando a arma em minha cintura disfarçando entre nós dois.
Saímos pela escada de emergência ao lado do banheiro, sem passar
pelos seguranças que esperava na recepção, alheios a tudo que acontecia.
Estava aflita, o que seria de mim agora? E do meu filho? A poucos
minutos eu nem sabia que estava grávida e agora tinha que dar um jeito de
defender a mim e ao meu bebê.
Eu precisava pensar, tinha que fazer alguma coisa para ajudar Alex
nos achar, achei engraçado incluir o bebê que Alex nem sabia que existia.
Chegamos no estacionamento e uma SUV preta nos esperava, antes
de chegarmos ao carro tropecei e cai no chão na parte de trás. As coisas da
minha bolsa se espalharam e eu tentei juntar, mas o cara não permitiu
segurou com brutalidade meu braço me fazendo levantar, deixando dolorido
onde ele apertava.
— Não temos tempo para isso, entre logo — disse me arrastando.

Me jogaram dentro do carro todo preto sem nenhuma delicadeza.


Em seu interior havia outro homem que me amordaçou, colocou um capuz
em minha cabeça e prenderam meus pulsos com braçadeira plástica.
Não saberia dizer quanto tempo andamos, estava tudo escuro e eu
não conseguia ver nada através do capuz. Eles mal falavam um com o
outro, somente uma única vez o celular de um deles tocou e eu mal
compreendia o italiano, no entanto deu para perceber que ele disse que
estava comigo e que já estávamos próximo.
O carro parou e eu fui guiada de maneira desajeitada, fui colocada
sentada em uma cadeira, senti quando amarram meus pés e saíram me
deixando sozinha, pois não escutava mais nenhum barulho.
Cheguei a achar que tinham me abandonado ali sozinha, largada a
própria sorte.
Meu corpo doía, meus braços machucavam, por causa da braçadeira
apertada e eu sentia vontade de usar o banheiro, não sabia quanto tempo
havia se passado e cada vez mais o pânico tomando conta de mim, tentava
forçar os braços, mas isso só servia para ferir ainda mais eles.
Escutei um barulho de passos e um ferro sendo arrastado.
Meu capuz foi retirado e demorei um pouco para me acostumar com
a claridade que ofuscava minha visão.
Em minha frente tinha um homem de uns 50 anos, branco, cabelos
um pouco grisalhos e uma barba aparada, sentado em uma cadeira virada.
Ele olhava para mim me avaliando, dos pés à cabeça, e eu sentia
fortes arrepios percorrer meu corpo.
— Camile, Camile! — chamou, quase cantando meu nome. — Você
sabe o que eu quero, então por que você não nos poupa nosso tempo?
— Eu não sei o que vocês querem, eu não tenho nada! Meu irmão
foi embora há treze anos, eu nunca mais tive notícias dele — contei.
Sabia muito bem o que eles procuravam, as informações que
achavam que eu tinha de Pietro. Mas mesmo que eu quisesse, não fazia
ideia de onde Pietro tinha escondido essas informações.
Eu estava morrendo de medo, mas não daria o gostinho deles me
verem chorar, tentava me manter forte, no entanto era uma missão quase
impossível.
Aos poucos vinha chegando vários homens armados, que iam se
espalhando pelo galpão, sujo com várias caixas amontoadas.
— tsc, tsc, tsc — fez barulho com a boca, mexendo com dedo
indicador em um sinal de negativa.
— Você é tão bonita! — elogiou vindo até a mim e passando as
mãos em meu rosto me fazendo sentir nojo do seu toque. — Você vai dar
um bom lucro, não tanto quanto tinha cinco anos, mas ainda dá tempo de
recuperar o prejuízo.
Aquelas palavras me deixaram apavorada, e confusa tentei forçar a
braçadeira fazendo meu braço sangrar no processo.
— Do que você está falando? — Indaguei quase sem voz.
Ele sorriu diabolicamente.
— Olha vou te contar uma história interessante... — disse
aproximando o rosto do meu — que até eu me surpreendi. Há 20 anos atrás
eu tinha um bom aliciador. Carlos era o nome dele — meu coração falhou
uma batida ao ouvir o nome do monstro que tinha destruído minha infância
e a de meu irmão — trazia do Brasil boas mulheres, jovens virgens e
crianças. Ele estava há anos em uma cidadezinha em Minas.
Meu estômago revirou e dessa vez não consegui segurar a onda de
vomito que me atingiu ao lembrar daquele verme, virei minha cabeça e
vomitei, tossindo enquanto ele ria do meu desespero.
— Você se lembra dele não é mesmo? — alisou meu rosto,
limpando com um lenço que retirou do bolso.
As lágrimas começaram a descer, por mais que eu tentasse segurar
elas rolavam livres, descontroladas e sem freio.
— Imagina minha surpresa quando eu tive a informação de que
Carlos havia morrido em um incêndio. Ele ia me trazer uma boa remessa na
época, já tinha mandado as fotos de todos — disse mostrando uma foto
minha e de Pietro pequeno.  — Faltavam somente duas crianças, uma
menina de cinco e um menino de dez. Tentei achar os responsáveis, mas
quando não consegui, deixei quieto — falou dando de ombros.
Ele voltou a se sentar na minha frente.
— Sete anos depois seu irmão me aparece, claro que não associei
uma coisa à outra de início, ele estava bem maior, diferente. Mas quando
Pietro começou a ganhar espaço tão rápido na organização, eu decidi
investigar a fundo, e confesso que não foi fácil, pois ele escondeu muito
bem os rastros dele. háháhá — ele deu risada com falso sarcasmo. —
Imagine minha surpresa quando descobri que seu irmão era vizinho de
Carlos, o mesmo garotinho que Carlos ia me trazer para mim.
Eu estava atordoada com o que ele estava me revelando, Carlos iria
nos vender, depois de abusar de nós dois, iria nos vender como escravos,
meus pensamentos rolavam como minhas lágrimas.

Se Pietro não tivesse matado aquele verme ele teria feito o mesmo
comigo, e depois venderia a gente feito gado.
Uma nova onda de náusea ameaçou vir novamente, no entanto não
tinha mais nada no estômago que pudesse colocar para fora.
Repulsa, nojo, asco, não tinha sinônimos o suficiente para descrever
o sentimento que me atingia ao descobrir tudo aquilo.
— Pietro entrou na organização, pensando ser Kleber o mandante —
ele continuou, me fazendo encará-lo de forma assassina. — Ele queria
derrubar Kleber, queria matar meu irmão por pensar que ele era o chefe de
Carlos.

MEU DEUS!!  Kleber era irmão desse monstro!


— Eu iria esperar Pietro matar Kleber, depois seria fácil derrubar
Pietro pelo conselho como traidor e ficar com o trono, era um ótimo plano.
— Revelou. — Mas então Victor entregou provas para Pietro, provas que
inocentava Kleber e jogavam as suspeitas de Pietro todas sobre mim.
Kleber sempre foi um fraco — disse de forma revoltada — nunca confiou
em mim. Sabe quanto dinheiro virgens e crianças trás para a organização?
Isso nos levaria ao topo, seriamos uma das máfias mais poderosas, mas
não... Ele preferiu colocar seu irmão, aquele pirralho no trono em vez de
mim! — Gritou apontando para si mesmo. — Só para isso não acontecer —
cuspiu com desdém, gritando desnorteado. — Pietro não era burro, sabia
que não podia entregar as provas ao conselho — sorriu, de forma
descontrolada como um lunático — porque senão, teria que entregar a
cabeça de Victor — falou me deixando confusa.
Por que a cabeça de Victor estaria a prêmio se tinha sido ele que
entregou as provas?
Mas, ele não explicou.
— Então fui obrigado a armar para Alex, sabia que não seria difícil
pegar Pietro — se levantou e se aproximou novamente de mim, tão perto
que conseguia sentir seu hálito. — Mas, para defender Alex ele daria a vida,
como o tolo que era — sorriu.
— E foi tão fácil... Foi só mandar informações falsas a Alex sobre a
morte da irmãzinha dele e ele caiu como um patinho, seu irmãozinho foi
correndo resgatar seu amiguinho, mesmo sabendo que era uma emboscada,
se arriscou e meu atirador o acertou assim que ele abaixou para ajudar seu
maridinho — narrava com alegria me fazendo me rasgar por dentro.
Pietro tinha morrido para defender Alex? Tinha caído em uma
armadilha por causa de Alex?  Tudo agora parecia fazer sentido, seu medo
de eu ir embora, o segredo todo em volta a morte do meu irmão, mas
principalmente a culpa que o levou a ir me procurar para me proteger.
Aquilo doía tanto, eu não o julgava, por anos a fio me culpei pelo
que aconteceu com Pietro, me julguei e me condenei dia após dia,
chorando, me machucando, me matando aos poucos.

Sua frieza em me contar os detalhes da morte de meu irmão,


massacrava minha alma, o ódio também crescia em mim, sentia-me tonta
com a fúria que me atingia, queria poder avançar nele e estraçalhá-lo com
minhas próprias mãos, ficaria feliz em sentir seu sangue escorrer por
minhas mãos, em vingança por tudo que ele havia feito a mim e ao meu
irmão.
— Agora não vai ser diferente, Alex virá atrás de você ou você pode
me dar as informações e vamos embora agora mesmo — afirmou.
Sabia que mesmo que eu desse as informações não sairiam bem
daquilo, preferia morrer a ser vendida, mas morrer também não era uma
opção, não mais. Tinha que sair dali. Na minha cabeça só passava meu bebê
e em Alex, eu tinha que arrumar um jeito de fugir.
— Eu não sei onde está, eu juro! Meu irmão foi embora e nunca
mais falou comigo novamente, só vim saber dele meses atrás — contei
tanto convencê-lo.
— Você é uma mulher forte, vai dar muito lucro para nós em nossos
bordéis — disse passando o dedo no meu decote.
— Eu prefiro morrer! — Grite cuspindo em seu rosto, que em troca
me deu uma bofetada tão forte que me fez cair de lado.
— Com certeza você vai preferir florzinha, porém vai me dar muito
mais lucro viva! — Meu rosto ardia pelo tapa e eu via que iria vomitar
novamente a qualquer momento.
— Chefe! Chegaram — um dos guardas informou, fazendo meu
corpo tremer de medo Alex estava ali... Ele não podia, era uma armadilha,
ele iria morrer...

Passava mil coisas em minha cabeça e eu não conseguia focar em


nenhuma delas.
Ele me pegou pelo braço me levantando, homens se posicionaram
uns à frente, outros escondidos, prontos para quando Alex entrasse pela
porta.
Seria um massacre e eu não poderia fazer nada para impedir.
Tentava gritar para avisar, minha garganta arranhava com tentativas
inúteis abafadas pela mordaça que haviam sido colocados em mim logo que
avisaram de sua chegada.
Eu não podia acreditar que tudo acabaria daquela maneira, meu
coração estava massacrado com a ideia, de ver Alex morrer bem na minha
frente.
 
Capítulo 34
 

Estávamos em uma reunião, Assis e Motta me passava o relatório


dos avanços no bordel em Turim. Eles haviam entrado no esquema dos
leilões e agora era só esperar o dia do leilão, para fazermos a próxima
jogada.
Finalmente estávamos a um passo de encontrar o tal Sombra ou pelo
menos quem tivesse informações sobre ele.
Meu telefone tocou, com uma ligação de Cristian.
— Chefe, temos um problema! — Pelo seu tão de voz era muito
mais que um problema.
Eu tinha pedido para ele acompanhar Camile em uma clínica
médica, para uma consulta de rotina. Por ser um lugar sossegado sem muito
movimento, achei que não seria necessário que a acompanhasse.

— Onde está Camile? — Perguntei impaciente.


— Nós estávamos na clínica... Ela foi usar o banheiro, mas começou
a demorar... Fui verificar e ela não estava. — Cristian demonstrava medo
em sua voz.
Meu sangue gelou nas veias, com a informação inesperada, tentei
manter a aparência mais inabalável possível, mas pela primeira vez por
dentro eu estava com medo.
— Porra! Como vocês deixaram isso acontecer? — Gritei
abandonando tudo e já pegando meu carro, Victor e Sebastian vinham logo
atrás.
Corria em alta velocidade e não parecia ser rápido o suficiente, não
o suficiente para voltar ao passado e ter mantido Camile em casa em
segurança.
Sebastian seguiu com sua moto, enquanto Victor foi junto comigo
no carro. Coloquei o celular no viva voz.
— Puxei as câmeras do lugar. Um cara a levou pelas escadas de
emergência chefe, que fica ao lado do banheiro — Cristian informou pelo
telefone.

— E como vocês não virão isso? Porra Cristian! — Apertava com


tanta força o volante que os nós dos dedos ficavam brancos — Para que eu
pago vocês? Se não conseguem levar minha mulher em uma simples
consulta médica? já estamos chegando — informei, estava tão nervoso que
seria capaz de matar Cristian.
Em cinco minutos eu estava na clínica. Socando a cara de Cristian.
— Alex! Se acalme — pediu Victor tentando me afastar — Vamos
encontrá-la cara. Você precisa focar agora Alex, Camile precisa de você
cara. Nós vamos achar ela, pode ter certeza disso — afirmou, me segurando
com força para que eu parasse de socar meu amigo olhando com seriedade
em meus olhos, o que me fez largar Cristian no chão.
— Para o seu bem eu espero que sim — avisei Cristian. — Se
fizerem alguma coisa com minha mulher, não sei do que sou capaz de fazer
— falei encarando Cristian que simplesmente aguentou tudo calado.
Porra! Como aqui foi acontecer? O erro era meu, eu relaxei, confiei
e agora Camile estava pagando o preço por meu deslize.

— Fala! O que sabemos — exigi.


— Pelas câmeras de segurança, eles foram para o estacionamento do
subsolo, mas as câmeras do andar foram danificadas.
— Porra! Porra! Como essa merda foi acontecer — bradei, passando
as mãos em meu cabelo puxando-os com as duas mãos em desespero, não
podia nem imaginar perder Camile. — Como vamos achá-la desse jeito? —
Perguntei a Victor, que tentava me acalmar.
— Vamos descer ver se encontramos alguma pista — Victor sugeriu.
O estacionamento era amplo e cheio de carros.
Observamos se havia alguém nas proximidades que poderia ter visto
algo. Precisávamos achar qualquer pista.

No chão, não muito longe da porta de emergência, havia algumas


coisas jogadas espalhadas. Me aproximei, abaixando perto da vaga e havia
algo escrito com batom.
DB-4687J minha mulher é um gênio — pensei.
— Ela anotou a placa! — Gritei chamando a atenção de Victor. —
Minha mulher é muito esperta. — Falei com orgulho e com um novo fio de
esperança.
— Alex! — Victor me chamou com um papel na mão, sério.
Eu não soube decifrar a emoção em seu rosto enquanto me estendia
o envelope.
— O que é isso? — Indaguei, ele fez sinal para que eu mesmo visse.
Abri o exame que tinha no nome de Camile Adams Sartori, pois
desde o casamento passou a usar meu sobrenome também. Meus olhos
vidrados no papel procurando pelos vários números que eu não entendia,
mas no final estava bem claro POSITIVO.
— Ela está grávida?! — Falei alarmado, meus olhos não
acreditavam no que via.
— É o que parece. — Victor disse com uma voz trêmula.
Agora fazia todo sentido, ela não andava bem. Disse que tinha sido
pelo nervosismo, não estava comendo direito e o que comia geralmente
vomitava, sentia-se fraca e sonolenta.
Como eu pude ser tão burro! Será que Camile já desconfiava?
Eu seria pai! Um pavor que eu nunca havia sentido me assombrou,
tão forte que tive que me apoiar, para não cair de joelhos. Já tinha passado
por tanta merda na vida e nunca tive medo de nada, no entanto ali correndo
o risco de perder minha mulher e meu filho. Preferia enfrentar cinquenta
homens armados, há ter que encarar aquele pesadelo.
— Nós temos que achá-los. — Declarei. — Quero que puxem cada
maldita câmera de trânsito, cada maldito radar, fale com todos os
funcionários, pacientes com qualquer um que possa ter visto ou ouvido
algo. Encontrem a porra desse carro. Puxe pelo satélite se for preciso.
Quero isso e quero agora — ordenei aos gritos para alguns homens que
estavam a nossa volta. — Ligue para Noam, quero ele nisso agora mesmo,
tire ele de onde estiver, busque-o no inferno se for preciso.
Noam era um rapaz jovem que era um ótimo hacker, um dos
melhores que podíamos ter. Ele não era da organização, mas era o melhor e
sempre que precisávamos fazia trabalhos para nós.
— Cristian o celular dela? — Victor perguntou.
— Quebrado e jogado na privada e mesmo que não fosse com
certeza usariam bloqueador de sinal.
— Eles acham que ela passou as informações a você, por qual outro
motivo eles iriam querer ela? Talvez eles peçam uma troca.
— Se eles fossem querer trocar já teriam ligado. Querem alguma
outra coisa..., mas o que? Falta alguma coisa nessa história.
— Procurem em todos nossos galpões, veja com todos nossos
aliados se tem qualquer pista, qualquer uma que seja, quero todo mundo
nisso. Preciso achar eles, ninguém dorme, come ou caga antes de eu ter
minha mulher aqui comigo — esbravejei vendo meus homens correm de
um lado para o outro obedecendo minhas ordens.

Havia acabado de descobrir que seria pai e já me sentia um. Faria o


possível e o impossível, não deixaria que nada acontecesse com Camile e
meu filho — isso era uma promessa, nem que eu tivesse que ir ao inferno e
enfrentar o próprio capeta eu iria cumprir.
Quarenta minutos depois, Noam juntamente com Cristian entraram
invadindo meu escritório, com um notebook em mãos.
— Pegamos! — Exclamou o jovem, mostrando a foto do carro que
tinha Camile. — Foram para o lado oeste das cidades, para o sepulcrário.
Sepulcrário era um cemitério de fábricas abandonada, na saída da
cidade.
— Provavelmente é uma emboscada. Alex — Sebastian alertou.
E ele tinha razão toda razão, aquilo era muito familiar.
Quando Pietro morreu, recebi informações de que os responsáveis
pela morte de Melissa estariam fazendo negócios em um ferro velho
abandonado, eu cego pelo ódio e pelo desejo de vingança cai em uma
armadilha. Fiquei horas preso, amarrado no centro de um galpão velho
quase caindo aos pedaços.
Pietro invadiu o local, horas depois, eliminou alguns dos homens
que me prendia, no entanto quando achávamos que tudo estava resolvido,
Pietro foi atingido bem na minha frente por um atirador, caindo aos meus
pés, enquanto tentava me desamarrar.

Porra, era para ter sido eu, eu deveria ter morrido aquele dia, não
Pietro.
Eu sabia que tudo aquilo era coincidência demais, todavia eu não
podia deixar minha mulher lá.
— Ainda assim nós iremos. — Declarei.
— Temos que bolar um plano. Não podemos entrar assim as cegas.
— Sebastian argumento, parecendo já ter pensado em algo.
— Você tem um? — Perguntei.
— Eles querem você, isso está na cara, ou já teriam ligado para
pedir regate ou fazer a troca. Então, você vai dar as caras junto com Victor,
eu vou com dez homens pelos fundos e Cristian vai estar nesta torre —
mostrou em uma foto no notebook. — De lá ele terá visão de tudo, nos
passará toda a situação, nos dando cobertura com a sua M24.
Victor era nosso estrategista, mas Sebastian também era ótimo, além
de um ótimo executor.
— Vamos usar a estratégia deles contra eles — Victor finalizou.

O plano era bom! Eu devia admitir, tinha que dar certo.


Falhar não era uma opção.
 

 
No local, Cristian foi direto para torre, abatendo um dos seguranças
que fazia vigia e já esperava por nós, exatamente como havíamos previsto.
Paramos há uma certa distância, estudando o local. Sebastian pegou
dez homens e deram a volta. Nós nos comunicaríamos por escutas. Victor, e
eu com mais oito homens fomos pela frente, contudo eu acreditava que eles
tinham muito mais soldados escondidos.
— Estou vendo-a! — Escutei Cristian falar pelo ponto — ela está
amarrada em uma cadeira, mas parece bem. — Eles já notaram nossa
presença — informou — tem movimentação. Mais ou menos uns vinte
homens — Cristian contou.
Como eu suspeitava, e esses era só os que Cristian podia ver
— Eles estão posicionados. Só estão aguardando vocês entrarem
pela porta — alertou.
Paramos os carros na frente da fábrica e descemos, havia apenas um
homem nós aguardamos do lado de fora.
— O chefe está esperando vocês — disse um homem de uns vinte e
cinco anos.
— Quero saber onde está minha mulher?! — Exigi friamente,
tentando apresentar uma tranquilidade que não existia, pois minha vontade
era de arrancar as tripas daquele desgraçado com as minhas mãos.
Sabia que ele não responderia, aliás provavelmente nem tinha
autorização para falar.
— Isso você vai resolver com o chefe.
— Estão esperando vocês, assim que colorarem os pés para dentro
vão ser fuzilados — Cristian nos avisou.
— Minha deixa — escutamos Sebastian dizer animado, como uma
criança no playground.
Uma explosão pequena aconteceu e tiros soaram e antes que o cara
pudesse reagir Victor já tinha metido uma bala em sua cabeça.

Todos corremos, entramos e tudo estava uma zona, era tiro para todo
lado.
— Alguém está vendo ela?! — Gritei, entre a confusão de tiros,
temia que algo acontecesse a Camile, não iria me perdoar caso ela saísse
ferida.
— Está sendo levada pela saída lateral. Não tenho uma boa visão,
para agir — ouvi Sebastian.
Enquanto eu corria para tentar alcançá-la.
 
Capítulo 35
 

O homem que desatou meus pés, voltou a me amordaçar me


rendendo no canto, enquanto eu via os homens se posicionarem para
emboscar Alex sem poder fazer nada.
Ouvi uma pequena explosão que chamou a atenção de todos e tiros
foram disparados, vi homens serem atingidos pelas costas, outros por cima,
alguns gritavam, outros corriam, homens eram mortos diante dos meus
olhos em um filme aterrorizante.
Assim que Alex e Victor invadiram, o irmão de Kleber me tirou dos
braços do homem que me segurava e me puxou me arrastando por uma
porta lateral, não tive tempo de ver Alex direito.
— Você vem comigo! — Falou me arrastando, me usando como
escudo enquanto andava de costas.
Ele apoiava o braço que segurava uma arma em meu ombro
enquanto o outro percorria meu pescoço.

Eu não pensava direito, estava confusa, com medo, assustada, mas


sabia que aquele verme não iria me deixar viva e ainda que deixasse, iria
me vender sabe se lá Deus para quem, talvez alguém até pior que ele,
alguém que iria me usar e ferir meu filho, e isso eu não iria permitir.
Foi com este pensamento que mordi seu braço, tão forte que senti o
gosto do sangue invadir minha boca.
Escutei ele gritar e sua arma disparar, fazendo um barulho muito
alto no pé do meu ouvido me deixando tonta.
— Sua puta! — Esbravejou, me jogando ao chão com tanta força
que cortei minha testa ao bater no chão.
Ele veio até mim e pegou em meus cabelos me arrastando com
violência, avistei a arma caída, não muito longe.
Ainda estava com as mãos amarradas, então usei minhas unhas para
arranhar suas mãos que puxava meus cabelos, não me renderia, morreria
lutando se fosse preciso. Minhas unhas cravadas em sua carne, fizeram com
que ele me soltasse, impulsionei meu corpo e peguei a arma atirando em
sua direção, era péssima de mira e estava zonza pela pancada.
Acreditei que tinha acertado ele, contudo quando dei por mim ele
tirou uma arma menor de um coldre de canela, mirou em minha direção, e
antes que ele atirasse, Alex entrou na frente.

Dois tiros foram disparados e Alex caiu aos meus pés. Senti as
batidas do meu coração falharem, podia ouvir o som fraco de minhas
batidas, soando em meu ouvido em uma pressão ensurdecedora.
Sebastian e Victor apareceram em seguida. O irmão de Kleber fugiu
e Victor foi em sua perseguição, deixando Sebastian comigo e o irmão
sangrando.
Sebastian me desamarrou e tirou minha mordaça me libertando.
Eu olhava Alex deitado no chão sem nenhuma reação, meu coração
socava meu tórax e meu ouvido zumbia, não escutava nada ao meu redor
somente minha própria voz implorando e meu coração socando o peito.
— Alex... Alex... Não, não... Por favor... Acorde! — Eu tentava
dizer com as mãos tentando estancar o sangue que escorria.

Havia muito sangue. Sebastian tentava me dizer algo, entretanto eu


não ouvia.
— Ele não pode morrer ... — minha voz falhava entre as lágrimas e
os soluços aflitos e desesperados.
— E ele não vai — ouvi finalmente a voz de Sebastian. — Ele é
forte Camile, você vai ver! Ele já passou por coisa pior, você precisa se
acalmar não pode ficar nervosa assim.
No entanto, a angústia, o medo de perdê-lo sem ter lhe dito que eu o
amava, sem ter lhe contado que seria pai, o medo de não o ter mais em
minha vida, não saberia mais viver sem Alex em minha vida.
— Você não pode me deixar aqui, está escutando? Não pode... —
gritava em minha dor, com Alex sangrando em meus braços.
Sentia meu coração dilacerado, a dor era grande demais, parecia que
eu ia morrer.
 Não era para ser ele! — Pensei.
Tudo estava acontecendo novamente.
 Por quê? Sempre as pessoas que eu amava, tinha que se machucar
para me proteger? Isso não era justo... Eles não mereciam isso, Pietro não
mereceu, Alex não merecia e todos iam e eu ficava em meio a dor.
— Alex, seu desgraçado... Por que você fez isso?! Você não pode
morrer e me deixar, está ouvindo — gritei, chorando em cima dele com as
mãos no ferimento.
—N-nem s-se você tivesse t-toda sorte do mundo, s-se livraria de
mim — murmurou gaguejando, com uma voz fraca pela dor.
Arregalei os olhos ouvindo sua voz, e eu não saberia descrever o
alívio que me atingiu, o abracei chorando, agora de felicidade e deu um
gemido de dor.
— Desculpa... — pedi me afastando, para que ele respirasse.
— Como você está se sentindo? — Sebastian perguntou. — Precisa
de um médico! — afirmou ajudando-o a se levantar. Eu também, apesar de
pouca força, tentei apoiar do outro lado.
— Ele fugiu! — Victor apareceu apressado dizendo. — Não
consegui ver direito quem era, mas os que sobreviveram com certeza iram
dizer.
— É irmão de Kleber! — Informei.
— Nero?! — Sebastian e Victor perguntaram juntos.
— Não sei o nome dele, pois ele não disse, no entanto falou que era
irmão de Kleber. —  Depois conto tudo a vocês, agora temos que levar Alex
ao hospital.
Sebastian correu o mais rápido possível para clínica, eles disseram
que não podia ir para o hospital, pois teríamos que dar muitas explicações.
Alex foi examinado e aparentemente as balas não atingiram nenhum
órgão vital, apesar da grande perda de sangue seu ombro e sua barriga
foram enfaixadas onde tinha sido atingido.
Teria que ficar uns dias de molho, mas ficaria tudo bem.
Foram feitos todos os procedimentos e fomos liberados para vê-lo.
Os irmãos me deixaram ir antes, dizendo que ele iria querer ficar as sós
comigo.
— Fiquei tão preocupada... achei que ia... — não consegui terminar,
só com a ideia de perdê-lo meu corpo estremecia.
— Não vou a lugar nenhum — afirmou, acariciando meu rosto. —
Eu estou bem aqui e vou ficar até o dia em que não me quiser mais em sua
vida.
— Eu te amo tanto... — me declarei — você não precisa dizer o
mesmo — expliquei. — Eu só precisava que você soubesse. Nunca me
apaixonei por ninguém, não de verdade, achei que isso nunca seria possível.
Até você entrar em minha vida, você pediu que eu o deixasse entrar Alex,
mas eu não posso... — afirmei. — Porque você já está aqui dentro há muito
tempo — declarei colocando sua mão em cima do meu coração que batia
acelerado.
Ele segurou meu rosto secando minhas lágrimas, que rolavam sem
controle e eu achava que nunca tinha chorado tanto em minha vida como
aquele dia.
— Não é por você ter dito Camile, é pelo que você representa para
mim... Você é minha alma todinha, uma que acreditava não existir, mas que
encontrei em você. — Alex olhava em meus olhos quase encostando nossas
testas.
— Você é meu coração, está impregnada em mim e em minha
mente, você é a única mulher que amei e que vou amar, eu não saberia viver
sem você, minha cachinhos — disse beijando meus lábios. — Você, e agora
nosso filho, são tudo em minha vida, vou fazer de tudo para proteger vocês
— prometeu me deixando emocionada.
— Você sabe?! Como?! — Perguntei assustada, porque eu ainda não
tinha revelado sobre a gravidez.
— Seu exame estava no estacionamento. — explicou.
— Eu não sabia como te diria, porque eu estava tomando
anticoncepcional, contudo o médico disse que no primeiro mês, não é cem
por cento confiável — desatei a falar nervosa — e que deveríamos ter usado
preservativo, eu achei... bem..., mas nunca usei muito essas coisas e... —
Falava rápido sem respirar.
— Eu sabia... — revelou.
— Sabia?! — Perguntei confusa.
— Sim! Sabia, não contava que iria acontecer, mas sabia.
— E por que não disse? Podíamos ter prevenido — argumentei.
— Não está feliz? — Perguntou, se ajeitando na cama.
Eu parei para pensar em sua pergunta, não poderia estar mais feliz,
estava casada com um o homem que eu amava, carregava um filho dele,
fruto do nosso amor, acho que não existia felicidade maior na face da terra
deduzi.
— Sim! — Sorri tocando minha barriga de leve — Estou muito
feliz! Só achei que talvez você ...
— Que eu não iria gostar da ideia? — Perguntou e eu assenti com a
cabeça.
— Não poderia amar mais você por me dar um presente tão
maravilhoso — declarou fazendo eu o amar ainda mais, se é que isso era
possível.
Então ele me puxou para seu colo me fazendo encostar em seu
ombro, do lado que estava bom e acariciou minha barriga em um gesto
cheio de significado.

Victor e Sebastian entraram no quarto falando bobagens, brincando


com o irmão.
Coisas de irmãos — pensei revirando os olhos.
— Coisas de irmãos! — Falei em voz alta, tento um estalo, eles me
olharam sem entender nada assustados com a minha reação.
— É isso! Eu sei onde estão as informações — falei me levantando.
— Eu tinha me esquecido, mas então Nero começou a falar coisas
me fazendo relembrar o passado e agora vocês aqui e eu me lembrei —
falava rápido mais uma vez sem parar para respirar.

— Quando meu irmão me deixou o vídeo, não era só uma


despedida, era uma pista, me chamar de pequena caracol igual fazia como
quando éramos pequenos. Sempre me chamava assim quando me escondia,
por estar com medo. Ele disse: A verdade está em seu coração. Achei que
se referia a nós, do que passamos, mas não! Na verdade, ele estava me
dizendo que está aqui — retirei o cordão com uma concha de caracol e
puxando ar pois estava sem fôlego.
— Aí?! — Sebastian disse incrédulo.
Retirei o cordão e usei um vaso de flores para quebrar a concha, e
como eu tinha previsto, havia um microchip.
— Caramba! — Estava todos de boca aberta. — Então estava com
você esse tempo todo? — Sebastian disse.
Eu assenti animada e cansada pela fala exasperada.
— Camile, preciso te contar uma coisa! — Alex falou, olhando para
seus irmãos, pedindo privacidade.
— Vou levar isso para Noam dar uma olhada — Sebastian indicou o
microchip, saindo e levando Victor com ele.

Eu sabia o que Alex queria me contar, sabia que ele se sentia


responsável pela morte do meu irmão, achava que eu iria odiá-lo por isso,
assim que Nero disse o que tinha acontecido muita coisa fez sentido, seu
medo de eu ir embora, sua resistência em se relacionar comigo, mas nada
daquilo era verdade.
— Eu sei o que vai me dizer, e não foi sua culpa — falei me
aproximando com calma e tocando em seu peito.
— No dia em que Pietro morreu, fui informado que uma das pessoas
responsáveis pela morte de Melissa estava fazendo negócios em um
desmanche de carros. Pietro tentou me avisar que poderia ser uma
armadilha, mas estava cego pelo ódio, pela ideia de vingança, que quando
percebi já havia sido capturado. Seu irmão era como um irmão para mim
também, ele jamais me deixaria nas mãos dos inimigos, então organizou um
resgate, invadiu o local onde eu estava e parecia que estava tudo bem... —
ele narrou.
Dava para ver a dor em seu olhar, não pelo ferimento mais pelas
memórias.
— Do nada ele foi atingido bem na minha frente — Alex não
chorava, ainda assim sua dor era visível.

— Eu sinto muito Camile... Isso foi tudo culpa minha! Não era para
ter sido Pietro a morrer aquele dia Camile, eles queriam a mim. Se não
tivesse ido... Se tivesse escutado, obedecido meu Capo — seu
arrependimento era palpável.
— Não teria adiantado de nada! — Declarei. — Nero contou tudo
Alex, disse que aquilo foi só uma armação para pegar Pietro e não você, e
se não fosse ali seria em outro lugar se não fosse você, seria eu ou Sebastian
ou qualquer outro.
— Nero que fez aquilo? Tudo para pegar Pietro? Em troca de quê?
— Também preciso te contar muitas coisas, coisas que eu gostaria
de nunca ter que me lembrar, que trazem muita dor, mas que preciso contar
para esclarecer certos pontos.

— Camile... — via que ele iria tentar me interromper, precisava


falar de uma vez por todas, ele precisava entender tudo, o que motivou Nero
a ir atrás de Pietro, precisava saber das minhas dores e dos meus fantasmas
e tudo que estava enraizado em mim.
— Quando eu tinha cinco anos, Pietro estava com dez. Tínhamos
um vizinho chamado Carlos. — A menção do nome me trouxe repulsa. —
Ele sempre foi gentil e nunca desconfiamos de nada. Um dia ele tentou
abusar de mim — os olhos de Alex eram pura fúria, e eu me segurava para
não desabar em sua frente com as memórias que ainda me feriam.
— Desgraçado! — Ele disse entre dentes. — Vou matar esse verme.
— Deixe-me terminar, por favor — pedi. Ele assentiu. — Meu
irmão para me defender, tomou meu lugar... — comecei a chorar, fazendo
com que minha voz falhasse, conforme as lembranças me atingia.
Cada flash de memória, fazia meu coração se espremer e eu
apertava a mão de Alex inconscientemente, tentando me manter forte até o
final.
— Pietro matou Carlos em um incêndio em sua casa, duas semanas
depois, pois se ele não fizesse Carlos tentaria novamente e da próxima vez
seria comigo. E isso Pietro nunca iria permitir — solucei ao lembrar do
carinho e do cuidado que meu irmão tinha comigo. — Sete anos depois
Pietro desapareceu e eu nunca havia entendido o motivo, até hoje. —
Sempre pensei que Pietro tinha ido embora por não conseguir olhar em meu
rosto, acreditava que se lembrava do pesadelo que havia passado toda vez
que olhava para mim. Eu não compreendia... As peças não se encaixam.
Pietro e eu nos amávamos muito, fazíamos tudo um pelo outro, ainda assim,
era a única explicação plausível para meu irmão ter nos deixado.
Passei a mão em minha barriga sentindo sobre a roupa algumas das
marcas, que infringi a mim mesma por todos aqueles anos de culpa.
— Com os anos que ele se foi, comecei a me automutilar, para
amenizar a culpa que sentia toda vez que me lembrava que meu irmão
abandonou tudo para não ter que enfrentar o pesadelo que viveu toda vez
que me olhava. A culpa me corroía de tal maneira que não conseguia seguir
em frente — cobri meu rosto com as mãos chorando.

— Camile... — ele me abraçou, eu soluçava em seu peito. — Meu


amor, não precisa me contar agora.
— Eu preciso... — funguei — tenho que contar — me afastei e
respirei fundo para continuar. — O que eu não sabia, é que Carlos era
aliciador de Nero — Alex pareceu surpreso — e que levaria eu e meu
irmão. Nos venderia, não sei como, nem quando, mas Pietro descobriu o
que Carlos pretendia, foi embora e entrou na organização pensando ser
Kleber o mandante — revelei — Ele pretendia acabar com Kleber, até o
momento em que Victor lhe entregou as provas, então tudo mudou, ele
descobriu que Nero era o responsável, só não foi até o conselho por causa
de Victor, que até o momento não entendi o porquê? — Falei em uma
pergunta que não obtive resposta. — Meu Irmão me amava Alex... — disse
aliviada por ter contado tudo.
— Claro que amava meu amor, assim como eu também te amo —
ele me abraçou e beijou meus cabelos e em seus braços me senti segura
novamente. — Deite-se aqui — indicou dando um espaço na maca da
clínica.
Deitada ao seu lado, sentindo seu cheiro, o calor do seu corpo, capaz
de acalentar meu coração aflito, logo cai no sono, exausta emocionalmente
e fisicamente.
Colocando tudo de lado, deixando tudo para trás e me entregando
para o único que era capaz de me fazer me sentir em paz.
 
Capítulo 36
 
Um mês depois...

 
De onde eu estava pude ver Alex apertar a campainha da pequena e
simples casa e aguardar até que ela apareceu para lhe atender, meu peito se
apertou e meus olhos se encheram de lagrimas embaçando a imagem de
minha mãe.

— Pois não? — Ela perguntou secando suas mãos gorduchas em um


pano de prato.
O cheiro de comida caseira entrava pela pequena brecha de janela
aberta.
— Lurdes? — Ele perguntou, e eu não sabia se conseguiria aguentar
até ele desse as primeiras explicações.
— Sim! — Ela respondeu franzindo a testa e logo, minha tia
apareceu logo atrás.
— Me chamo Alexei, Alexei Sartori e gostaria muito de conversar
com a senhora sobre sua filha Camile. — Ele disse enquanto com tristeza
no olhar ela se aproximou abrindo o portão de ferro.

Levei a mão a boca tentando conter o soluço que me chacoalhou e


Jeniffer me abraçou entendendo a emoção que eu sentia naquele momento.
— Você é da polícia? — Minha tia perguntou tentando ver o que
tinha dentro do veículo importado que estava parado em frente sua
residência
— Não, Sra.
— Mirian, tia de Camile — ela respondeu e eu sorri.
— Sem dúvida é um prazer conhecer vocês duas — Alex disse com
seu jeito todo galanteador.
— Do que se trata Sr. Alexei?

— Bem... — Ele disse tentando encontrar as palavras certas. — Eu


conheci Camile quando vim ao Brasil há algum tempo.
Minha mãe olhou para minha tia e eu pude ver uma lagrima brotar
de seu olhar e aquilo me cortou e eu tive que mais uma vez me segurar para
não sair do carro e gritar que eu estava bem ali na sua frente.
— Eu lamento Sr. Alexei, mas Camile morreu há alguns meses... —
ela lhe informou.
— É sobre isso que eu gostaria de conversar com a Sra. Mas é um
assunto desconfortável para conversar no portão será que podemos...
— Ah, sim, claro entre, por favor.

Alex pedindo licença entrou na casa e eu desci do carro junto com


Jeniffer que tinha me acompanhado para dar apoio naquele momento tão
delicado.
Eu e Jeniffer entramos sem fazer barulho e aguardei do lado de fora
escutando a conversa.
— Eu peço desculpas por aparecer assim, mas seria muito difícil
explicar por telefone — Alex continuou. — Talvez seja uma grande
surpresa para a senhora e Camile queria ter certeza de que estaria aqui caso
acontecesse alguma coisa?
— Camile? — Ela perguntou confusa.
— Sim, Camile, sua filha — ele disse.

E nesse momento Jeniffer entrou comigo logo atrás de si.


— Jenni... — Minha mãe começou a dizer quando minha amiga saiu
da minha frente, dando visão de minha entrada, deixando minha mãe
estagnada.
Suas mãos foram a boca abafando um grito de surpresa e ela
chorava sem parar.
— Mirian...
Minha tia estava igualmente espantada e parecia não conseguir sair
do lugar.
— Sim mãe, sou eu — Afirmei chorando. — Eu... eu... — eu não
consegui terminar sem que os soluços me impedissem de falar, sentia que
passaria mal de tanta emoção.
Alex e Jeniffer acompanhavam tudo em silencio e minha amiga
chorava de emoção.
Minha mãe correu em minha direção, mas parou a alguns
centímetros de distância e levou a mão até meu cabelo, como se testasse
que aquilo era realmente uma realidade.
— É você mesmo? Como isso é possível? — Ela perguntou, mas
antes que eu pudesse responder ela se chocou contra mim me apertando em
seus braços, chorando e soluçando. — Minha filha está viva — ela disse
olhando em volta como se procurasse uma explicação para aquele
fenômeno, e depois voltou a me abraçar me apertando cada vez mais como
se eu pudesse sumir a qualquer momento. — Viva! — Ela quase gritou, e
então se afastou para me olhar mais uma vez.

Eu balancei a cabeça em afirmação enquanto acariciava seu rosto.


Minha mãe levou um tempo até se acalmar e conseguirmos explicar
a ela o que tinha acontecido, ou pelo menos o que tínhamos combinado de
contar já que não podíamos revelar toda a verdade.
Minha mãe parecia não querer se afastar de nem por um estante,
segurava minha mão o tempo todo e me olhava como se eu fosse algum tipo
de miragem.
— Então você estava todo esse tempo na Itália? — Minha mãe
perguntou.
— Sim, depois do acidente eu fiquei hospitalizada — menti sentindo
uma pontada de culpa, mas o que mais eu poderia dizer?

— E você cuidou dela por todo esse tempo? — Minha mãe


perguntou a Alex.
— Sim, não sabia muita coisa sobre Camile, mas desde que a
encontrei ferida naquela pequena estrada soube que tinha o dever de
protegê-la — ele respondeu me olhando com carinho.
— E agora vocês estão juntos? Assim em tão pouco tempo? — Ela
questionou e Alex se sentiu desconfortável.
— Acredite, não foi assim tão simples convencê-la. — Falou com
um sorriso.
— E você trabalha com o que mesmo? — Minha mãe perguntou
fazendo meu estômago dar cambalhotas, enquanto encarava Alex como em
um interrogatório fazendo-o pigarrear desconfortável.
— Eu...eu... sou
— Empresário — respondi por ele rapidamente. — Alex tem um
cassino na Itália e casas de dança.
O que não era mentira, já que realmente ele tinha as boates e um
cassino na saída da cidade para lavagem de dinheiro, mas não deixava de
ser verdade.
— Cassino, é? — ela perguntou procurando uma confirmação. 
— Na verdade sou apenas sócio do cassino junto com meus irmãos
— ele disse e eu confirmei com um aceno rindo de nervoso.
— Mãe, tem mais uma coisa... — falei tentando encontrar as
palavras certas para contar-lhe que estava grávida.
— Mais??
— É que eu e Alex — falei esticando minha mão para pegar a mão
de Alex que estava sentado a pouco metros — nós estamos... — alisei
minha barriga que mal dava sinal.
— Gravida? Eu serei avó? — Ela disse também levando a mão em
minha barriga — Ah, isso explica muita coisa — minha mãe falou sorrindo,
mas ficou muito séria quando olhou novamente para Alex.
— Então o que pretende fazer agora? — Aquela era uma pergunta
direta para meu marido, com a única intenção de intimidá-lo o que me fez
rir auto. — Qual é a graça? — Ela perguntou com a mesma seriedade para
mim e Alex deu um leve sorriso sacudindo a cabeça em negativa, e eu podia
ler seus pensamentos.
“Tal mãe, tal filha”
— Por isso estamos aqui, Sra. Lurdes para levá-la para o nosso
casamento — ele respondeu a sua pergunta.
— Jura?! — Ela ficou surpresa.
— Sim, juro. E não somente a senhora como sua família e os amigos
de Camile.
Tia Mirian fez uma festa, e mamãe apesar de ainda desconfiada
parecia superanimada com a ideia de ser avó.
— Você parece muito feliz — minha mãe comentou enquanto eu a
ajudava arrumar as malas.
— Sim, eu o amo muito — falei sorrindo.
— Ele parece ser muito bom para você — ele comentou vendo Alex
conversar com Cristian pela janela de seu quarto.
— A Sra. não imagina o quanto — respondi e ela me olhou por
alguns segundos em silêncio.
— Me perdoe minha filha — ela falou de repente.
— Pelo que?

— Fui negligente com você, só enxerguei minha dor depois que


Pietro desapareceu, e não vi que você estava infeliz, hoje eu vejo isso.
— Mãe... — Tentei argumentar.
—  Hoje vejo isso.
— Não foi culpa sua.
— Eu sei, mas ainda assim eu era sua mãe deveria ter te protegido,
te apoiado. Você era só uma criança e eu te abandonei, eu deveria ter
cuidado de você não ao contrário.

— Eu te amo, minha filha.


— Eu também te amo, mãe — falei lhe dando um forte abraço,
emocionada demais para dizer qualquer outra coisa. 
 

Nunca imaginei ter que esperar Camile no altar novamente, no


entanto ali estava eu mais uma vez.
Na primeira vez que nos casamos, Camile estava triste, chateada por
seus parentes e amigos não estarem ao seu lado e foi por esta razão que
decidi que minha mulher merecia um casamento de verdade um do jeito
dela, com todos que ela amava ao seu lado.
Decidimos que faríamos na praia em Sicília, seria dois dias de festa
só para os familiares e amigos, do jeito simples que Camile tanto gostava.
Depois de descobrirmos quem era o responsável pelos traidores
infiltrados, a organização estava quase limpa, Nero ainda estava foragido,
no entanto era uma questão de tempo.
Então, tomei a decisão de que minha mulher não precisava viver
mais escondida de seus amigos e familiares, com isso entramos em contato
com todos.

Claro que tivemos que inventar uma desculpa por Camile ter ficado
tanto tempo sem se comunicar, então inventamos a história de que no dia do
suposto acidente com a caminhonete, Camile havia perdido a memória e
que por este motivo não pode entrar em contato antes, mas que agora estava
com sua memória restabelecida e queria se encontrar com todos. Um tanto
dramática, eu sei, mas foi a única maneira que encontramos para que
ninguém ficasse sabendo do que realmente aconteceu, exceto Jeniffer, que
acabara sendo envolvida.
Poder ver a felicidade de Camile ao reencontrar a mãe e seus
amigos, era algo que fazia tudo valer a pena.
Providenciei transporte para todos que agora estavam ali reunidos,
esperando a entrada da minha linda mulher.
Como na primeira vez, Camile optou por um vestido simples sem
calda. Seus cabelos dessa vez estavam presos em uma longa trança
enfeitada com flores silvestres, novamente minha pequena quis entrar
descalça sentindo a areia da praia em seus pés, e eu desta vez a acompanhei,
também ficando com os pés no chão.
Tudo era parecido com o que foi organizado em Florença, com
exceção de sua família que desta vez estavam todos ao seu lado.

O sorriso alegre de Camile, as lágrimas discretas de felicidade, tudo


indicava que eu havia feito a coisa certa.
— Nunca acreditei em amor verdadeiro — começou a dizer no
momentos de nossos votos, segurando minha mão e olhando nos meus
olhos— para mim não passava de contos de fada, no entanto o destino quis
me provar ao contrário, tentei fugir diversas vezes — falou me fazendo rir
lembrando de quando fugia me deixando quase  maluco — mas, você era
como minha arvore da vida- declarou, lembrando minha tatuagem, que
agora tinha seu nome em meio suas raízes e logos teria do meu filho ou
filha. — Ainda que por cima estivesse seca, suas raízes estavam cravadas
em mim, como nunca ninguém foi capaz antes, então Alex o que quero
dizer é que dessa arvore irei cuidar, ela crescerá, florescerá e dará frutos —
tocou seu ventre sorrindo — você é minha raiz e eu sou seu tronco, nossos
galhos estão crescendo e logo florescerá, e nosso amor atravessará eras e
durará uma eternidade- finalizou de forma emocionante.
Tive que segurar as lágrimas, para não parecer um molenga, na
frente de todos.
Limpei a garganta que embargava pela emoção e iniciei os meus.
— Camile, nunca foi fácil para mim falar sobre meus sentimentos,
acreditava ter um coração quebrado, então você apareceu com sua língua
afiada e seu desaforo — todos riram — mas, queria dizer que você é minha
força da natureza, minha luz na escuridão, quero sua simplicidade, andar
junto a ti com os pés no chão, quero sentar-me no tapete da sala para comer
e roubar frutas do pé, com você ao meu lado, quero tudo, quero você meu
amor. Case-se comigo mais mil vezes? Me dê a honra de compartilhar com
você mais mil anos, pois te amo agora e eternamente.
Quando finalizei, Camile chorava emocionada, aliás desde que
descobriu a gravidez nunca vi essa mulher chorar tanto.
— Obrigada, meu amor — Camile agradeceu em um sussurro
emocionada.
Após a cerimônia ficamos ali em Sicília até o dia seguinte afim de
aproveitar, conhecer um pouco melhor nossas famílias, então no dia
seguinte partimos para Dalmácia- croácia, também passaríamos pelo
Canadá e em Manihi na Polinésia, queria que Camile tivesses o prazer de
conhecer o mundo, como ela nunca pode ver antes.

 
— Não vai entrar? — Perguntei a Camile que estava deitada
tomando sol na espreguiçadeira, beirando a piscina do hotel.

Ela usava um maiô engana mamãe cruzado, branco, que realçava


seus seios perfeitos e sua cintura fina.
Camile estava gravida de três meses, mas ainda mal mostrava
barriga, apesar de comer desesperadamente nos últimos meses, o que eu
achava uma graça. Não ligaria que minha linda mulher ganhasse alguns
quilinhos, na verdade não via a hora de vê-la de barrigão.
Voltei a mergulhar e quando voltei tinhas dois rapazes tentando dar
em cima de Camile.
— Eres de aqui? Hablas espanhol? — Ouvi de longe o garoto
perguntar se ela falava espanhol.
—Si! un poco. — me surpreendi quando ela respondeu que sim.

— Quieres salir y tomar una copa? — O moleque que não tinha


mais de vinte e dois anos chamou Camile para um drink.
— Lo siento, estoy com mi esposo — Camile responde montando-
lhe a aliança.
Me enchi de orgulho em ouvir minha mulher dizer que estava
acompanhada do marido, mas era hora de eu interferir e mostrar a esses
meninos que Camile tinha dono.
— Deberia haber sido la primera pregunta que deberia hacer, para
no tener problemas com los maridos celosos — falei em tom ameaçador,
sentindo-me realmente furioso por estarem cobiçando minha mulher.
— Lo siento, no lo sabíamos — se desculpou e saiu, tão rápido que
mal consegui acompanhar.
— Então, você é um marido ciumento? — Indagou, fazendo graça
me abraçando e dando um selinho.
— E você fala espanhol? Por que nunca me disse antes?

— Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim Alex, mas
adoraria te mostrar algumas delas no quarto, o que acha?
— Adoraria! — Peguei-a no colo, ouvindo sua risada gostosa
contagiar meu corpo levando em direção ao nosso quarto de hotel.
Não me cansaria nunca de ver aquela mulher sorrir, Camile tinha o
sorriso mais lindo que eu já tinha visto na vida, e fazer ela sorrir era meu
objetivo de vida.
— Que tal tomar um banho, enquanto lhe preparo uma surpresinha?
— Uma surpresa é? Que tipo de surpresa?
— Não seria uma se eu lhe contasse, não é mesmo? Entre e só saia
quando eu chamar — pediu, me enfiando no banheiro, ainda com aquele
sorriso que me encantava.
Entrei no banheiro, ansioso para saber o que Camile estava
aprontando, tomei um longo banho e saí bem a tempo de escutá-la.
— Pode sair! — Escutei ela falar depois de alguns minutos.
Quando saí do banheiro, minha boca foi ao chão.
A endiabrada se sentava em uma das banquetas que tinha no quarto,
com uma camisa social minha entre aberta, com uma gravata com o nó
solto, seus cabelos soltos meio bagunçados, usava um óculo de forma
sensual e mordia a porra de uma caneta como se fosse meu pau em sua
deliciosa boca. Sua outra mão pousava entre as pernas nuas, empinando seu
traseiro na banqueta fazendo meu pau ganhar vida instantaneamente,
mostrando sua delicada calcinha de renda.
Se eu já vi cena mais sexy não conseguia me lembrar, pois a única
coisa que via era aquela mulher sensualizando, com aquela maldita caneta
na boca.
— Vai ficar só olhando? Será que vou ter que começar sozinha? —
insinuou passando a mão em sua intimidade, fazendo meu pau pulsar.
Corri até ela enlaçando sua cintura com um braço, enquanto com a
outra mão puxava seus cabelos deixando sua boca a minha disposição de
maneira desesperada.

— Vai me pagar por esta provocação, cachinhos — ameacei


prendendo minha mão em seus cabelos.
Devorei sua boca sem muita delicadeza e ela passou suas pernas em
volta da minha cintura aumentando a direção de nossos corpos e se
agarrando a mim.
— Estou contando com isso.
A levantei dá banqueta, jogando-a na cama, puxei suas pernas
deixando totalmente exposta para mim, afastei sua calcinha e passei meus
dedos por sua intimidade e senti sua lubrificação em meus dedos fazendo
deslizar, desci meu rosto entre suas pernas e abocanhei seu clitóris, fazendo-
a dar um gemido de satisfação, amava ver Camile gemer e gritar
implorando por mais, era uma satisfação que queria ter todos os dias, o
tempo todo.
— Alex... pare ou eu vou... — anunciou, me fazendo aumentar
ainda mais os ritmos de meus dedos destro dela e de minha língua em seu
clitóris, castigando querendo sentir ela se desmanchar em um orgasmo
causado por mim.

Camile prendeu suas pernas em meu pescoço se remexendo, se


esfregando e logo gozou dando gemidos abafados por seus dentes. Nunca
me cansaria de ver aquela cena.
— Vem meu amor preciso de você — pediu necessitada.
Não deixei que pedisse duas vezes, pois eu me encontrava ainda
mais necessitado por ela, com calma invadi sua fenda centímetro por
centímetro, até não sobrar mais nada de mim, iniciei movimentos profundos
no entanto leves, vendo Camile se retorcer com olhos cerrados. Ela mordia
os lábios inferiores, de uma maneira que deixava clara seu desespero,
elevando os quadris exigindo tudo de mim, me desejando mais fundo.
Aumentei meu ritmo dando o que precisava ouvindo a deliciosa,
harmonia sonora de seus gemidos.
Não demorou e Camile era arrebatada por outro orgasmo, na visão
mais linda que me podia ser proporcionada. Mordendo a parte superior do
dedo indicador para abafar seus tão inebriantes gritos de prazer.
Com mais algumas estocadas acompanhei minha linda esposa, me
derramando dentro dela.
— Acho que vou querer outra dose — falou poucos minutos depois,
antes mesmo de conseguirmos recuperar nosso fôlego, me fazendo levantar
a cabeça para observá-la.
— O que? São os hormônios da gravidez — justificou, me fazendo
dar risada alto, nos últimos dias Camile andava insaciável não somente por
comida, mas também por sexo.
— Então, não podemos deixar uma gravida com desejos — afirmei,
satisfeito pois não existia lugar melhor que eu gostaria de estar se não
dentro dela.
 
Epílogo

 
5 anos depois...

— Mamãe! — Pietro chamou entrando na cozinha segurando a


mãozinha pequena de Melissa, que chorava desconsolada.

Pietro, nome dado em homenagem ao meu irmão, estava com 4


anos. Meu lindo menino de cachinhos negros e olhos azuis, era a coisa mais
linda, uma combinação incomum que eu nunca tinha visto.
Enquanto melissa, nome dado em homenagem a irmã mais nova de
Alex, nosso pequeno anjo de luz, acabava de completar um aninho.
Seus cabelos castanhos claros, quase loiros caiam em cascatas pelos
ombros e seus olhos cheios de lágrimas, como uma represa natural, e um
biquinho lindo que me fazia querer mordê-la.
— O que foi meu amor? — Perguntei pegando-a no colo.
— Dói dói — Disse apontando para um minúsculo ralado no joelho.
— Ela caiu mamãe, eu a segurei, mas ainda assim ralou o joelho —
Pietro disse sério.
— Oh! Meu amor, vai passar! — Prometi, dando um beijinho em
seu raladinho, que nem sangue tinha.
Pietro olhava a cena, como irmão coruja que era. Meu pequeno
príncipe, como eu costumava chamá-lo, era zeloso e protetor de Melissa,
me deixando sempre emocionada com o carinho que tinha pela pequena.

Olhei ele parado esperando pela irmãzinha, notei que meu menino


tinha um ralado muito maior que o da irmã e que sangrava.
— Pietro! O que aconteceu com você filho? — Perguntei, curiosa e
preocupada, pois ele não comentou nada.
— Quando fui segurá-la, bati na escada — informou, dando de
ombros, como se fosse nada.
Sua semelhança ao tio, que faria de tudo pela irmãzinha, enchia meu
coração. Meu menino precioso, era a coisa mais linda e ver a maneira que
ele cuidava e protegia Melissa era maravilhoso.
Melissa já não chorava mais, então, fui até Pietro para cuidar de seu
machucado.
Limpei o ferimento com um pouco de soro e preparei um pequeno
curativo.
— O que aconteceu? — Alex perguntou ao chegar.
— Pietro ralou o joelho, para que Melissa não caísse dos degraus —
expliquei, Alex pareceu tão orgulhoso quanto eu.
— Que bom que você tem uma mãe médica — afirmou, bagunçado
os cabelos de Pietro, que sorriu com o gesto de carinho do pai.
— Na verdade anestesista, mas dou conta de um ralado.
Nos anos em que se passaram terminei minha faculdade em
medicina e tinha acabado de terminar a especialização.
— Prontinho meu amor — falei terminando de colocar o curativo.
— Agora vá lavar as mãos para o jantar e leve Melissa junto — pedi.
Pietro saiu andando devagar, esperando o tempo de sua irmã ao
andar.

Se houvesse cena mais linda no mundo eu desconhecia.


— Queria poder guardar os dois em uma caixinha. — Declarei.
Nos últimos anos, com Alex como Capo, ele havia mudado muita
coisa na organização, incluindo a iniciação que agora ficava por obrigação
de cada família iniciar seus próprios filhos. Dei graças a Deus por isso, não
suportaria ver Pietro passar pela iniciação, mas ainda assim sabia que muita
coisa meu bebê teria que enfrentar.
Não queria pensar nisso por hora, queria aproveitar essa família
maravilhosa que eu tinha a dadiva de ter.
— Esse garoto morreria por Melissa — Alex disse orgulhoso me
agarrando por trás.

— Puxou você e ao tio, que sorte a nossa não? — Afirmei.


— Que sorte a minha, você é a cola que juntou todos os pedaços do
meu coração, reconstruindo-o de uma maneira que só é capaz de amar você
e essas duas criaturinhas. Vocês são minha única razão de viver e eu farei
todo o impossível para protegê-los e fazer vocês felizes — afirmou em uma
promessa.
E aquela era uma promessa que eu sabia que ele nunca quebraria.

Fim.
 
Agradecimentos
 
Queria agradecer a todos meus leitores lá no wattpad que sempre me
deram apoio, com muitos comentários positivos e me ajudaram alcançar
375 mil visualizações.
Um agradecimento especial os meus amigos e familiares que me
aguentam 24 horas falando de livros.
Espero sinceramente que tenham gostado da história e dizer que
muito em breve teremos o livrinho do Victor disponível aqui também.
Me sigam no Instagram para receber as novidades
@ ericaqueirosautora
 
 

[1]
felicidade.
[2]
A rede
[3]
Irmão
[4]
Porra! Como a acharam tão rápido?
não! Vamos para lá agora mesmo. Ela não pode mais ficar aqui.
[5]

Prepare tudo avise que chegaremos em algumas horas.


[6]
Sombra
[7]
não se pode matar o que já está morto

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