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1ª Edição | 2020

Copyright © 2020 Thamy Bastida


MARCO HAYLOCK

CAPA | GR Book Covers

REVISÃO | Leticia Tagliatelli

DIAGRAMAÇÃO | GR Book Covers

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as
regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos
reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,


através de quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o consentimento
escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. 2018.
1. Prólogo
2. Capítulo 1
3. Capítulo 2
4.
5. Capítulo 3
6.
7. Capítulo 4
8.
9. Capítulo 5
10.
11. Capítulo 6
12.
13. Capítulo 7
14.
15. Capítulo 8
16.
17. Capítulo 9
18.
19. Capítulo 10
20.
21. Capítulo 11
22.
23. Capítulo 12
24.
25. Capítulo 13
26.
27. Capítulo 14
28.
29. Capítulo 15
30.
31. Capítulo 16
32.
33. Capítulo 17
34.
35. Capítulo 18
36.
37. Capítulo 19
38.
39. Capítulo 20
40.
41. Capítulo 21
42.
43. Capítulo 22
44.
45. Capítulo 23
46.
47. Capítulo 24
48.
49. Capítulo 25
50. Capítulo 26
51.
52. Capítulo 27
53.
54. Capítulo 28
55.
56. Capítulo 29
57.
58. Capítulo 30
59.
60. Capítulo 31
61.
62. Capítulo 32
63.
64. Capítulo 33
65.
66. Capítulo 34
67.
68. Capítulo 35
69.
70. Capítulo 36
71.
72. Capítulo 37
73.
74. Capítulo 38
75.
76. Capítulo 39
77.
78. Capítulo 40
79.
80. Capítulo 41
81.
82. Capítulo 42
83.
84. Capítulo 43
85.
86. Capítulo 44
87.
88. Capítulo 45
89.
90. Capítulo 46
91.
92. Capítulo 47
93.
94. Capítulo 48
95. Capítulo 49
96.
97. Capítulo 50
98.
99.
100.
101.
102.
103.
104.
105.
106.
107.
108.
109.
110.
111.
112.
113.
114. Capítulo 51
115.
116. Capítulo 52
117.
118. Epílogo
119.
120. Agradecimentos
121. Outras obras da autora
Era só mais um dia de trabalho naquele maldito bar, eu não gostava de
trabalhar lá, odiava ser assediada por homens bêbados e não suportava ter que
dar sorrisos forçados para parecer que tudo estava bem.

Era insuportável me forçar a algo que não gostava, mas as contas estavam
atrasadas e as dívidas só cresciam. Não nasci em berço de ouro, infelizmente.

Naquele dia o ar estava diferente, juro de pé junto que sentia como se algo
mágico fosse acontecer naquele bendito dia.

Bem no finalzinho da tarde a magia aconteceu…

No momento em que ele passou pela porta do bar, seu perfume veio até mim,
um cheiro amadeirado e forte. Um homem elegante, alto, vestindo um terno
extremante caro para meu padrão de vida. Tinha certeza e ainda tenho que
seu par de sapato paga todas as minhas dívidas.

Enxerguei nele escuridão, mas por razões não óbvias quis me aproximar dele
um pouco mais. Fiz questão de servi-lo quando se sentou no banco do bar
para pedir uma coisa qualquer.

Seus olhos azuis me apavoraram por um tempo, deveria ter saído correndo se
fosse mais esperta, mas não era…

Não me intimidei por ele…


Eu o queria naquela noite e ele me queria apenas por uma noite. Seria uma
troca de prazer justa, onde ambos teríamos prazer e nada mais do que isso.
Dois adultos dividindo o corpo um do outro em uma noite quente de prazer.

Fui burra por achar que teria o controle da situação, uma situação que sequer
existiu.

Ele não sorriu para mim, não apertou minha mão e muito menos foi
simpático. Seu olhar me dizia para correr para o mais longe possível, mas sua
presença, seu perfume, sua barba e seu cabelo ruivo me atraíam…

Como se ele tivesse um imã que me atraísse a todo instante.

Que teimosia minha achar que o ganharia após uma noite qualquer.

Ele me deu prazer…

Um violento prazer que marcou minha alma.

Ele é bruto e sem falar absolutamente nada conquistou meu coração, o que
me mostrou o quanto meu coração é vagabundo. Não descobri seu nome,
apenas me recordo com precisão da sua voz e das suas mãos pelo meu corpo,
me causando prazer.

Ele é um predador nato, devora suas presas com precisão, sem dor ou
lamentações e não há arrependimentos em suas decisões.

Percebi que ficamos obcecados um pelo outro…

Somos dois loucos atrás do prazer…


Meto com força dentro da sua boceta, enquanto ela geme
escandalosamente palavras aleatórias. Aumento a intensidade das estocadas
fazendo a cama ranger e a cabeceira bater levemente na parede. Puxo seu
cabelo longo com força fazendo com que suas costas nuas e suadas venham
de encontro ao meu peito nu. Largo seu cabelo, deslizando minha mão sobre
suas costas até chegar no seu pescoço e aperto-o de leve tendo cuidado para
não a machucar. Minha outra mão aperta seus mamilos duros com força e a
safada parece adorar minha brutalidade.

Sua entrada escorregadia me diz a quão excitada está. A forma como ela
aperta meu pau faz com que me sinta maravilhado por lhe causar prazer.
Voluntariamente seu quadril vai de encontro ao meu fazendo com que
entremos em uma sincronia quase perfeita.

Queremos apenas o prazer um do outro.

Jogo meu peso sobre seu corpo fazendo com que ela perca a força nas pernas
e saia da posição em que se encontrava, caindo de bruços na cama com as
pernas abertas comigo ainda dentro dela.

Não há sentimentos nos meus atos é apenas o instinto primitivo de foder uma
boceta.

Não estou agindo com emoção, apenas com razão…

Muito menos, me sinto um cafajeste por meus atos. Não prometi flores ou
algo do tipo, fui curto, grosso e claro quando disse que não passaria de uma
noite…

Nada mais do que uma noite.

Ela agarra os lençóis para tentar conter o prazer, aumento o ritmo fazendo
com que ela grite por mais e mais e o suor escorre pelo meu rosto. Adrenalina
corre pelas minhas veias fazendo com que libere o animal que está preso
dentro de mim. Sento-me em cima dela a fodendo com mais força e precisão.
Acerto seu ponto G fazendo com que ela goze, mas ainda não estou satisfeito
e muito menos, me encontro perto de gozar.

Fico nessa posição por um tempo até a mulher desconhecida desmaiar de


exaustão.

Confesso que foi bem decepcionante para mim…

Não gozei…

Não me desestressei…

Não me cansei…

Não acalmei o mostro que mora dentro de mim!

Foi só mais uma noite perdida com uma garota qualquer…

Visto-me, saio do quarto do hotel e passo na recepção deixando tudo pago.

Volto para casa frustrado após mais uma noite fracassada.

Mais uma vez acordo antes do despertador tocar…


Essa maldita insônia vem me acompanhando há muito tempo, não só ela
como os intermináveis pesadelos. Durmo poucas horas e tem noites que nem
durmo, meu corpo fica exausto, minha mente implora descanso, mas parece
que tem um martelo martelando minha cabeça a noite toda.

Levanto-me já arrumando a cama. Não gosto de desordem ou de bagunça,


odeio falatórios aleatórios e gosto do silêncio, mas se engana se pensa que
vivo em total silêncio. Minha consciência grita a cada momento como se
vozes estivessem pedindo por clemência ou ajuda. É um porre bem tomado
ter que viver de súplicas mal ouvidas.

Suspiro ao encarar meu reflexo no espelho.

Quando foi que me perdi dentro do que não sou?

Não sei…

Apenas sei que não tem mais volta.

Peguei um caminho sem volta há muito tempo…

Escolhas erradas vêm sendo feitas diariamente no meu cotidiano e é quase


insuportável viver assim. Às vezes posso jurar que estou perdendo a cabeça e
mergulhando de vez na escuridão.

Após tomar um banho gelado e fazer minha higiene matinal vou preparar um
café extraforte sem açúcar. Não gosto de cafeína, mas ela passou a fazer parte
da minha vida como muitas outras coisas que não suporto.

Tomo o café com calma sabendo que não me atrasarei para chegar à empresa
e como minha torrada sabendo que não aprovo seu gosto.

Que ironia é a minha vida!

Posso ter tudo, mas não tenho nada…

Absolutamente nada!

Saio do apartamento dirigindo um carro qualquer, de uma coleção qualquer e


valor exuberante. Dirijo sem pressa, admirando a vista que me cerca. Hoje
está chovendo exageradamente e vejo pessoas correndo rumo aos seus
destinos, são apenas mais uns que sofrem na mão de Deus assim como eu.

Chego ao meu destino, admiro o prédio de trinta andares de pura beleza e


sorrio ao saber que faço parte disso…

Algo mais ou menos bom na minha vida!

Já na minha sala, olho com admiração o negão sorridente sentado


tranquilamente na minha cadeira olhando para mim. Pedro definitivamente é
um ser estranho, não para de sorrir um só instante o que é frustrante para
caralho.

— Marco, dono do coração que elas tanto querem fisgar — diz sorrindo. —
A morena de ontem, hein? Minha nossa que gostosa, meu amigo! Eu me
casaria com ela no seu lugar.

— Então pode se casar — falo fechando a porta. — Dispenso qualquer tipo


de relacionamento.

— Meu amigo não fuja assim de um compromisso, estamos ficando velho,


Marco — fala sorrindo ainda mais. — Quero alguém para amar, igual Dante
ama Anny, ou a Val e o Carlos… Quero esse tipo de amor, um amor que faça
com que renuncie a mim mesmo todos os dias. É pedir demais algo assim?

Esse sorriso maldito não sai do seu rosto e não sei o que o responder.
Nunca havia pensando nisso, estou bem só!

Gosto de ficar sozinho e de problemas já basta os meus que não são poucos.

— Uma hora vai encontrar sua cara metade, meu amigo — limito-me a dizer.

Pedro sempre sonhou com alguém para amar, alguém para poder dividir uma
mera xícara de café quente pela manhã. Já eu não tenho esse tipo de sonho.
Na verdade, não sonho com quase nada.

— Meu amigo você também há de encontrar alguém que te ame do jeito que
é! — diz se levantando, dando tapinhas nas minhas costas. — Sabe Marco,
você deveria se permitir a sentir.

Antes que eu possa responder qualquer coisa o maldito sai pela porta, me
deixando frustrado com as suas palavras.

Recuso-me a ficar pensando no que ele diz e opto por trabalhar, o que é bem
melhor para mim. Gosto de trabalhar e quando estou concentrado nesses
papéis infinitos os monstros da minha cabeça se calam por um tempo.

Horas se passam…

Quando saio da empresa para comer algo a chuva ainda insiste em cair de
uma forma descomunal, o ar úmido enche meus pulmões, pego um guarda-
chuva preto grande e saio rumo ao restaurante de comida simples sem
“mimimi” algum, que gosto muito. Tem uma comida caseira de dar água na
boca e o melhor é que posso comer em paz, sem ninguém para me perturbar.

Faço o caminho silenciosamente até ver uma cena que me intriga de todas as
formas possíveis. Chego a tombar minha cabeça para o lado em busca de
compreensão, mas como espero não encontro.
O que essa criatura pequena pensa que está fazendo com esse enorme
cachorro?

É uma situação engraçada se não fosse lamentável!

Sorrio ao perceber que por alguma razão a mulher de porte pequeno não
consegue perceber a batalha que está perdendo. Ela tenta a todo custo puxar o
cachorro para algum lugar, mas o bicho empacou no chão molhado
demonstrando em grande estilo que não pretende sair de onde está por nada
nesse mundo. Qualquer pessoa em outra situação teria deixando o pulguento
de lado e seguido com sua vida medíocre, mas a estranha mulher quer a todo
custo ajudar o cachorro que não quer se ajudado.

Para minha total surpresa, a jovem mulher joga seu guarda-chuva para o alto
se sentando ao lado do cachorro na poça d`água. Ela parece não se importar
em ter que ficar debaixo da chuva com um mero cachorro de rua e o abraça
como se sua vida dependesse disso. Posso até jurar que ela está chorando,
uma cena lamentável demais até para alguém como eu assistir.

Um homem vem na sua direção a tirando da chuva junto ao cachorro e a beija


com paixão.

Viva ao amor!

Sou naturalmente uma pessoa que acha cenas como essas toscas demais para
meu agrado. Não tenho absolutamente nada contra as pessoas que se amam
profundamente. Na verdade, até admiro aqueles que encontram seus amores
verdadeiros.

Um amor que admiro ou até mesmo invejo é o amor do Dante e da Anny. É


frustrante ver um amor como o deles, eles são perfeitamente perfeitos juntos
e minha mente até embola com tanta perfeição em uma só frase.

Desvio meu olhar da cena trágica para poder seguir até o restaurante caseiro.

O percurso foi feito em poucos minutos e chego com pingos de chuva na


minha roupa. Como era de se esperar o restaurante se encontra vazio, quer
dizer, quase vazio…
— Marco, como sempre pontual!

— Detetive, achou quem procuro? — pergunto impaciente.

— Sim, a encontrei! — diz e me entrega um envelope branco.

Pego o envelope e o abro com cuidado me sentando na mesa de madeira


simples.

Tudo nesse lugar é simples e se eu tivesse um lar, com certeza iria gostar de
que fosse como esse lugar…

Aconchegante.

Dentro do envelope está a foto da mulher que vem me deixando louco de


curiosidade, ela recebeu o pior de mim e ainda aguentou tudo gritando de
prazer…

Só cometi um único erro naquele dia, mas ao olhar com cuidado as fotos que
o detetive trouxe, vejo que foi o erro mais perfeito da minha vida.

Melanie não adianta mais se esconder…

Encontrei vocês!
Dirijo com calma até meu destino…
É frustrante sentir essa adrenalina correndo pelas minhas veias e a ansiedade
me consumir.

É doentia a necessidade que sinto em trazê-los para perto de mim!

Passei dois dias me corroendo por dentro em busca da melhor solução para os
meus problemas. Estou com raiva de mim mesmo por ser tão inconsequente,
sempre tomei cuidado em onde e de que forma enfiaria meu pau, mas aquele
dia não tinha sido bom. Ainda me lembro da forma como sai daquele
hospital, estava destruído por receber tanta bondade de Dante, um amigo tão
próximo como um irmão.

É evidente que vou perder essa batalha em que me encontro, sei que cairei de
joelhos e de forma alguma irei me levantar…

Sinceramente, nem sei se vou querer me levantar.

Irei ficar no chão por…

Amor?

Sim, amor a algo que ainda nem vi, mas já amo mais do que tudo nessa
vida…

Um filho!
Meu filho!

Nunca nessa minha vida miserável pensei em ter um filho!

James Ryan Lewis Haylock.

Um nome bem composto e extenso…

Parece até um inglês, o que é bem irônico.

Ele ainda não tem meu sobrenome, mas irá ter!

De preferência o mais rápido possível…

A cada quilometro que me aproximo do meu destino, sinto o impacto da


realidade me atingindo com força. É irreversível o que aconteceu e duvido
muito que reverteria o acontecido. Nunca na minha miserável vida desejei ter
filhos, mas ao ver a foto do menino ruivo cheio de cachinhos e de sardas na
cara, algo dentro de mim mudou…

Um sentimento nasceu em mim sem ao menos lhe tocar!

A psicologia irá dizer que é algo quase impossível de se acontecer sem o


toque, mas meu coração já o ama incondicionalmente. Já sinto a necessidade
de protegê-lo do mundo e principalmente de mim mesmo.

Não quero que as minhas sombras tirem sua luz…

Irei ser um herói para ele e se não puder irei ensiná-lo a ser um. Quero que
ele tome caminhos melhores que os meus e se for preciso até rezo a Deus por
isso. Não sou um homem de ter fé ou religião, ao contrário, não acredito em
nada!

Minto, acredito em algo sim…

Acredito na maldade e na bondade humana, mas nada mais do que isso.

Que frustração!
A estrada parece nunca acabar e o destino parece nunca chegar.

Soco o volante com raiva, já que o relógio hoje não está nada a favor da
minha pessoa…

Apenas hoje ele podia colaborar comigo.

Pergunto-me se serei um pai como o Dante, se irei possuir sua bondade e sua
capacidade de amar incondicionalmente ou se irei fazer os olhos do meu filho
brilhar ao olhar para mim…

Será que farei grandes feitos?

Por fim chego ao grande destino…

Finalmente!

Estaciono meu carro em frente ao prédio caindo aos pedaços em um subúrbio


extremamente pobre e violento de Boston. Atrás do meu carro para o carro
dos seguranças que trouxe comigo por precaução.

Saio do carro sabendo em que porta bater e um dos meus seguranças me


acompanha ficando ao meu lado. Recebo olhares curiosos dos moradores que
se encontravam fora de suas casas, mas os ignoro.

Entro no prédio rumo ao terceiro andar, pulando de dois em dois degraus de


uma só vez. Faço um sinal para meu segurança se afastar e bato na porta com
força. Ouço a madeira ranger e acredito que se batesse com mais força ela se
quebraria.

— JÁ VAI! — Ela grita.

Espero dois minutos antes que a porta se abra e me mostre uma mulher
mediana, com cabelo preto encaracolado bagunçado um pouco abaixo do
ombro, sua pele meia amarelada quase chega a ser parda e seus olhos verdes
estão bem abertos em surpresa ao me ver. Ela engole em seco umas dez vezes
antes de me olhar como se eu fosse um fantasma.

— Você?
— Eu!

— O que faz aqui?

— Sério? Ainda me pergunta o que faço aqui, Melanie?

— Por favor, só vá embora.

— Não saio daqui sem meu filho — falo a empurrando para o lado para que
possa entrar no medíocre apartamento. — Cadê meu filho?

Busco por ele no pequeno espaço, mas não o encontro. Só pode estar no lugar
onde imagino ser o banheiro…

A única porta fechada ali.

Quando vou em direção da porta para poder abri-la uma figura pequena, meio
suja e com os olhos cheios d`água sai debaixo do que me parece ser uma
cama. Ele me olha antes de olhar para a mãe que está ao meu lado e dou dois
passos na sua direção, antes de cair de joelhos perante o ser mais lindo de
todo esse Universo.

Meu filho!

Ele me olha com curiosidade, estendo minha mão, ele a pega e o puxo para
um abraço apertado.

Porra, valeu à pena tudo que fiz nessa merda de vida!

Tudo valeu a pena para chegar até esse abraço…

Não sei se um dia terei redenção, mas só de tocá-lo e mantê-lo nos meus
braços já faz com que eu me sinta mais leve…

Mais humano…

Mais vivo!

— Oi filho!
— James esse é seu pai, diga oi para ele! — Melanie me dá uma forcinha.

— Papai? Tu é papai meu?

— Sim filho, sou seu pai!

Foram as palavras que faltaram para que ele se grudasse no meu pescoço com
mais força me chamando de “papai”.

Eu sou o filha da puta mais sortudo desse mundo por ter um filho tão
maravilhoso!

Melanie parece ter dificuldade para entender o que digo…

Estamos a mais tempo do que gostaria nessa discussão sobre se ela irá ou não
morar comigo.

A mulher é teimosa que nem uma porta e paciência não é muito o meu forte.

— Você não pode chegar aqui exigindo que moremos com você! — diz
apontando o dedo na minha cara.

Só não o quebro por causa do meu filho que se encontra dormindo no local.

— Nem sei seu nome e não sei quem é… Vai que é um assassino!

Errada ela não está, mas não vim contar história sobre lobos maus. Jogo-a
contra a parede colando meu corpo ao seu, seria até uma cena sexy se não
fosse tão trágica. Prendo seus braços na parede, separo suas pernas com meu
joelho esquerdo nos dando assim um encaixe melhor e a faço olhar nos meus
olhos.

— Não se preocupe, não irei te foder duro contra a parede — digo


sussurrando no seu ouvido. — Hoje quero apenas levar você e nosso filho
para nossa casa. Por isso seja uma boa menina e arrume o necessário para que
possamos levar. Não me obrigue ter que ser bruto com você, pequena
Melanie. Estou doido para fazer uma loucura e não me faça fazer com você!

— Está bem, mas saiba que não serei sua cadela sexual.

— Melanie… Melanie, não gosto de cadelas… Eu gosto de putas! Gosto de


mulheres que são bem putas na cama… Gosto de mulheres que me aguentam
até depois dos seus limites terem sidos ultrapassados… Gosto de foder duro e
com força, sem pena ou dó… Faço minhas parceiras gozarem antes e depois
de mim — falo ainda mais baixo no seu ouvido. — Deixo as cadelas para os
cachorros de rua.

Ela me olha espantada e pisco para ela antes de soltá-la do meu aperto.

James está dormindo o que é bom!

Melanie separa algumas peças de roupas e as jogam dentro de uma mochila


gasta. Vejo-a pegar documentos e vou até meu pequeno o pegando no colo
com medo de deixá-lo cair. Coloco sua cabecinha no meu ombro e saio do
apartamento atrás da Melanie que anda rápido como se temesse algo.

Quando estamos do lado de fora do prédio, a observo olhar para os lados


assustada. Meu segurança nos seguia atento, assim como eu, pois já havia
escurecido. Havia ainda mais gente nos encarando, o que me irritava bastante
e andei apressadamente até meu caro. Abro a porta traseira acomodando o
pequeno na cadeirinha, Melanie se senta na outra ponta ao lado do nosso
filho, fecho a porta e sigo em direção a porta do motorista.

Quando dou partida no carro vejo Melanie suspirar em alivio. Não


conversamos muito, mas sei o quão difícil vai ser nossa próxima conversa.
Talvez eu vá precisar de uma boa doce de whisky para acalmar os ânimos.

A viagem segue em total silêncio, se ela não quer falar, muito menos eu. O
dia de hoje já foi falado demais. Na verdade, James falou, percebi que ele fala
com dificuldade algumas palavras e que Melanie o corrige. Percebi também a
dificuldade que ele possui em andar, ele pisa torto, mas o que mais me
preocupa é sua respiração pesada, ele puxa com bastante dificuldade o ar dos
pulmões e constantemente tosse.

Amanhã após uma consulta médica completa, irei levá-los para as compras.
Chamarei a Val para poder ajudar Melanie a decorar seu quarto e o do nosso
filho. Nunca na vida me vi tendo que decorar um quarto para um filho, mas
aqui estou já imaginando os tons que posso usar em um quarto azul. Talvez
peça ajuda a Dante ou talvez faça tudo junto com a Melanie.

Estou ferrado!
Ódio!
Ódio!

Ódio!

Ai que raiva desse miserável!

Se um dia ele despertou amor em mim, hoje ele desperta ódio!

Marco Haylock não passa de um bastardo filho de uma péssima mãe…

Sim!

Péssima mãe!

Se ele tivesse uma boa mãe jamais faria o que está fazendo comigo!

JAMAIS!

Ele comprou meu filho!

Ele roubou meu bebê!

Ele roubou a melhor parte de mim!

James só quer saber do pai…


É papai para cá, papai para lá!

E da mamãe nem se lembra…

Juro por Deus que só não mato o Marco por causa do amor que sinto pelo
meu filho.

Só posso ter enlouquecido de vez, só posso!

Nunca na minha vida serei capaz de matar alguém…

Já cometi vários erros na minha vida, mas matar?

Não!

Sou incapaz de matar alguém.

É um porre querer matar alguém e não poder…

Respiro fundo tentado acalmar meus pensamentos loucos demais até para
mim que sou pura loucura.

Pensando bem…

Já fui mais louca, mas desde o dia em que descobri que estava grávida e que
era responsável por uma vida, mudei por completo e tento ser uma pessoa
melhor…

Uma pessoa melhor pelo meu filho e por mim.

Em quase toda minha vida passei por necessidades, inclusive fome e frio.
Ainda tenho lembranças da minha mãe chorando e implorando por comida
para os vizinhos que também nada tinham. Lembro-me de vê-la deixar de
comer para que meus irmãos e eu pudéssemos comer algo. Nessa época a
vida era uma merda, mas éramos felizes. Não tínhamos muito, mas o pouco
que tínhamos era mais do que o suficiente para sermos felizes.

A vida ficou ruim quando minha mãe morreu e sem escolha tive que ficar em
lares adotivos. Meus irmãos e eu fomos separados uns do outros e até hoje
não sei onde eles se estão, mas rezo a Deus que estejam tendo uma vida
melhor do que a minha.

Passei por tantas coisas e desejo o melhor para o meu filho. Por essa razão
estou aqui na casa do Marco, vendo-o observar nosso filho brincar com um
carinho que foi mais caro do que o salário que recebia mensalmente na
lanchonete em que trabalhava até vir mora nesse apartamento luxuoso.

Um apartamento extremamente luxuoso!

Estou morando aqui há pouco tempo, mas ouso dizer que isso é um exagero
para uma pessoa que mora sozinha. Marco parece estar mais do que
acostumado com tudo isso, mas eu não estou nem um pouco acostumada.
Vim da miséria e do nada estou em um palácio com um rei lindo e gostoso.
Um rei que mexe e muito com a minha libido.

Ele pode ser o que for, mas o filho de uma boa puta é lindo para caralho!

Ele podia ser pelo menos feio, mas não…

Ai que raiva dessa barba ruiva, desses olhos azuis celestes, dessas sardas e
desse cabelo ruivo volumoso.

Ai Virgem Maria!

Esses braços dele é um pecado capital!

E esse volume que marca em qualquer calça que use?

Porra, estou tarada no pai do meu filho!

A gargalhada de James ecoa pelo banheiro na hora do seu banho. Ele ama
tomar banho e essa banheira enorme o deixa ainda mais feliz, faz com que ele
se sinta dentro de uma piscina infantil. Marco está dando banho nele e estou
parada observando a cena encostada no batente da porta do banheiro que fica
dentro do quarto do Marco. Quarto este que me assusta com a escuridão que
há nele.

Na verdade, essa casa meio que me assusta por mais linda que seja. Suas
paredes são todas em tons pretos, brancos e cinzas. O cômodo mais claro da
casa é o do bebê James, seu quarto é azul com branco. Há outras cores
também, mas o azul se destaca. Ouso dizer que até parece o céu, já meu
quarto é todo branco e bege.

Sorrio com a cena que vejo e saio do cômodo rumo ao meu quarto. Hoje é o
dia do Marco colocar James para dormir.

Passeio pelo corredor cinza até chegar ao meu quarto, entro no cômodo, que
ainda não me acostumei a dormir e vou para o banheiro tomar um banho
digno de uma princesa da Disney. Tomo um banho demorado, bem relaxado.
Já que terei que ficar aqui irei usufruir disso muito bem, aliás, vou também
usufruir do seu dinheiro. Ele já abriu uma conta poupança para o James e
outra para mim. O valor que está depositado não sei qual é, apenas sei que
vou usar muito bem o cartão de crédito prateado que me foi dado.

Saio do banheiro enrolada em uma toalha que mal cobre meu corpo, fecho
meus olhos e cantarolo uma música qualquer, enquanto mexo meu corpo,
mas quando abro meus olhos levo um baita susto ao ver o Diabo em forma
ruiva sentado na minha cama, me olhando com seus olhos azuis mais frios
que a Antártida.

— DEUS DO CÉU, QUER ME MATAR HOMEM? — grito com a mão no


peito. — Não sabe bater na porta, não?

— Só pretendo te matar se for de prazer, cara Melanie — fala em um tom


baixo que deixa minha boceta piscando mais do que o normal. — Quero falar
sobre o nosso filho.

Suspiro aliviada por saber que enfim depois de dez dias ele resolveu
conversar comigo.
— Até que fim resolveu ser uma pessoa civilizada e veio conversar comigo.

— Melanie, apenas vim lhe avisar que vamos nos casar em breve.

Minha primeira reação é fechar a cara, mas não dura muito e logo caio na
gargalhada.

O homem é louco, só pode!

— Não estou brincando Melanie, o assunto é sério.

Suspira e passa as mãos na cabeça de uma forma que bagunça seus fios
ruivos alinhados.

— Darei a você três meses para se adaptar a mim e a ideia do casamento…


Nesses três meses pode fazer o que quiser da sua vida, mas saiba que na hora
do sim será para sempre. Por favor, não escancare por aí os homens que irá
transar… Seja discreta, assim como serei! — diz e sai da mesma forma que
entrou.

Esse homem só pode ser um Demônio, só pode!

Saio correndo atrás dele como louca e só paro quando quase o derrubo da
escada. Pensando bem eu também acabaria caindo junto com ele.

Essas costas largas e…

Foca Melanie, foca!

— Se pensa que vou me casar com você está muito enganado — falo séria.
— Amo meu filho mais do que tudo, mas me prender a você de outra forma
já é demais para minha sanidade mental. Não sou uma criança e muito menos
uma vagabunda. Podemos viver em paz sem ter que usar uma aliança no
dedo.

— Poder, podemos… Claro que podemos, mas para e pensa em tudo a nossa
volta — diz ainda de costas para mim. — Não sou um príncipe Melanie e
muito menos quero te salvar de algo… Quero apenas que saiba que vou te
assegurar de todas as formas, farei com que você fique dependente de mim…
Farei com que seu corpo clame pelo meu mais do que já clama… Farei você
implorar por mim todos os dias. — Ele se vira ficando cara a cara comigo e
se abaixa para falar no meu ouvido. — Lembre-se do que disse sobre como
gosto de uma mulher bem puta na cama.

O ar me falta.

— Farei de você a mais puta de todas, mas será exclusivamente minha.

— Você também será meu?

— Preservo a fidelidade Melanie.

— Pelo menos isso.

— Creio que isso foi um sim.

Merda!

Dei fogo ao Diabo e me ferrei legal!

Marco desce a escada calmamente como se nada tivesse acontecido, respiro


frustrada e só não grito por causa do meu filho que está dormindo lindamente
em um berço cama perfeito e confortável. Em um lugar seguro, onde sei que
posso dormir tranquilamente, pois nada vai acontecer com ele. Onde
morávamos era impossível fechar os olhos sem sentir medo de dormir.

Quando descobri que estava grávida segurei as coisas lá no bar por um


tempo, mas me despediram por estar grávida de James. Logo depois arrumei
emprego na lanchonete da dona Ciera, o nome da dona era estranho,
entretanto seu coração era imenso. Ela me ajudou e muito…

Foi uma das poucas pessoas que me ajudou nessa dramática vida.

É sofri muito, mas chega!

Está na hora de mudar o jogo!

Volto ao meu quarto, decidida…


Amanhã irei fazer Marco Haylock engolir cada palavra que ele me disse e irei
mostrar a quão puta posso ser…
Acordo decidida a seduzir Marco Haylock…
Hoje ele vai me conhecer de verdade!

Levanto-me, tomo um banho rápido, faço minha higiene matinal e corro para
ver meu bebê que já está acordado nos braços do pai.

Filho de uma péssima mãe!

Ele chegou primeiro!

Marco está usando um terno feito sob medida preto, com uma camisa social
branca, certamente já está arrumado para o trabalho.

Credo, que delícia esse homem!

Vou até meu filho que já bate palma para mim.

Que coisa mais linda desse mundo!

— Amor de mamãe, coisinha mais linda da minha vida! — Pego-o em meus


braços, beijando todo seu rostinho fofinho.

— Bom dia, Melanie. Estou indo trabalhar na empresa, se algo acontecer


basta me ligar ou se quiser pode ir até lá — fala me encarando sério. — Ele já
está devidamente limpo e alimentado. Bem, estou indo… Tchau filho, até
mais tarde! — Beija a testa do nosso filho e vai embora logo em seguida
deixando o cheiro do seu perfume amadeirado para trás.

Desço com James em busca de comida.

Estou faminta!

Desço os degraus devagar com medo de cair.

Ufa!

Chego sã e salva no último degrau dessa escada assassina. Pode não parecer,
mas sou desastrada e sempre rolo em escadas, seja elas onde for.

Só Deus sabe os micos que já passei nessa minha vidinha!

Chego à cozinha e quase choro de felicidade ao ver a bancada recheada de


guloseimas. Marco não se importa em ter que gastar dinheiro com comida.

Abençoado seja, amém!

Coloco James na sua cadeirinha e voo no bolo de banana que há ali. Pego
uma xícara e ponho uma boa dose de café com leite, simplesmente amo leite.
Antes não tinha condições de comprar e agora tenho até de sobra. Não me
contenho só com a fatia de bolo e parto para os pães francês quentinhos.

Oh que delícia!

Pego, corto e coloco fatias de presunto e queijo.

Que maravilha, vida de rico é outro nível, é bom demais!

Se um dia fui pobre, nem lembro.

— Filho, você vai ter o melhor desse mundo, viu? Tudo que mamãe não teve,
você terá! Por isso, aproveite bem tudo que seu pai tem a lhe oferecer. —
Aperto suas bochechas e volto a comer.
Uma hora depois já estou vestida para matar.

Estou usando um vestido azul marinho, com um decote médio em V e alças


de ombro caído. Ele desce apertado até a cintura e segue soltinho até os pés,
deixando minhas pernas na imaginação e para completar o look um salto dez
branco fechado.

Coloco relógio, brincos de argolas pequenas e um cordão. Um batom vinho,


completa a maquiagem leve, prendo meu cabelo em um rabo de cavalo e para
finalizar o visual lacrador óculos de sol. Olho-me no espelho e mando um
beijo gostando do resultado obtido.

Hoje o sol está no alto do céu azul e é um dia perfeito para seduzir!

Quase enfarto ao chegar diante da empresa do todo poderoso Dante Boltoni!

Porra, Marco tem ações nessa maravilha de empresa?

Essa empresa é um sonho!

Real, meu filho vai trabalhar aqui…

Com certeza ele vai!

O motorista, que Marco contratou para me levar onde quiser, abre a porta
para que possa sair com James. Assim que saio do carro, ele corre para abrir
o carrinho de bebê que custa um rim meu. Coloco James no carrinho,
prendendo-o da forma correta. Uma vez me esqueci de prendê-lo, ele
simplesmente caiu e chorei horrores…

Sorte minha que ele não se machucou.

Entro no prédio me sentindo chique e sigo até a recepção a passos lentos. A


moça logo me dá aquele sorriso padrão forçado que chega a doer na alma de
quem o recebe.

— Bom dia, meu nome é Melanie…

— …Haylock, certo? — pergunta interrompendo minha fala.

Não acredito que Marco colocou meu nome aqui assim…

Desgraçado!

— Sim… Melanie Lewis Haylock — falo forçando um sorriso e ela me


entrega um crachá e um cartão.

Um segurança gostosão, alto, moreno e forte me guia até o elevador privado.


Ele me explica que só tenho que passar o cartão e digitar o vigésimo nono
andar. Sorte minha que não tenho medo de elevador, agora James só por
misericórdia, ele falta morrer de tanto rir. James ama elevadores e me
pergunto do que essa criança não gosta.

Quando as portas do elevador se abrem saio já com a boca aberta.

Que lindo!

Uau, que andar lindo!

É tudo iluminado mesmo tendo tons escuros, sei nem o que detalhar primeiro,
mas o que chama minha atenção é um homem maravilhoso…

Um homem que com certeza é uma das sete maravilhas do céu. O homem
está encostado na parede me encarando com seus olhos negros que me
arrepiam toda e acompanho seu olhar descer para James que está concentrado
em morder seu urso de pelúcia.
— Dante você não acredita no que soube… Oh MEU DEUS! — Olho para a
mulher que se aproxima do lindo homem.

Porra, que linda!

Seu sorriso é perfeito e alcança os olhos, fazendo com que haja brilho
neles…

Perai!

Ela disse Dante?

Ele é o DANTE BOLTONI?

Não acredito nisso!

— Você deve ser a Melanie e ele o pequeno James Ryan. — fala a mulher
diva.

— Somos sim — falo sorrindo.

Viu mãe, sou educada!

— Oh deixe me apresentar, sou Anny Boltoni e esse é Dante Boltoni…


Somos amigos do Marco — explica vindo me abraçar e me dá um beijo em
cada lado do meu rosto. — Ele é a cara do Marco! É tão lindo! Olha Dante,
esses olhos azuis e essas sardas? Ai que fofura! Posso pegá-lo?

— Claro.

Anny tira James do carrinho com uma maestria que ainda não possuo. Seu
marido, o todo poderoso, me cumprimento do mesmo modo com abraços e
beijinhos no rosto e James sorri todo sapeca para eles.

Meu bebê possui muito pouco contato com as outras pessoas, então quando
vê alguém fica todo sassaricando. Sorrio ao ver a felicidade do meu filho ao
tentar conversar com Anny e Dante. Eles parecem ter bastante convivência
com criança.
Será que eles têm filhos?

Antes que eu pergunte, James solta um grito agudo.

— PAPAI! — James grita todo exasperado no colo de Anny. — Papai…

Viro-me de encontro ao embuste do Marco e observo seus olhos ganharem


brilho ao ver James. Ele anda a passos rápidos para pegar James no seu colo
bem no estilo “homem das cavernas” e meu bebê começa a gritar de
felicidade nos braços do pai.

Filho traíra!

— O que veio fazer aqui pequeno? — pergunta o embuste ignorando minha


maravilhosa presença.

— Ver papai! — diz meu pequeno exibindo seus pequenos dentes brancos.

— Acho que se esqueceu de nos dizer de que tem um filho, né Marco? —


pergunta Anny jogando na minha cara seu lindo sorriso.

— Bem, é tudo muito novo — falo por Marco. — Eu meio que só contei para
ele há pouco tempo sobre James.

Todos me olham espantados, dou um sorriso sem graça e continuo encarando


James que brinca com a gravata do pai.

Há tantas coisas a serem ditas que nem ao menos sei se poderei falar todas,
Marco é obscuro e não sei por natureza ou escolha. Às vezes temo sua
escuridão e que ela também venha fazer parte de mim. Sei que há caminhos
que não podemos desviar, por isso todas as noites peço a Deus direção, não
só para mim, mas para Marco também. Sei que não sou luz para sua vida, sou
apenas aquela que colocou no mundo a luz para sua vida, por isso, por mais
que implique com Marco no fundo sei o quanto ele necessita de James na sua
vida. Ele precisa de um motivo para viver e James é esse motivo.

— Melanie e eu tivemos alguns descasos da vida, mas hoje estamos juntos.

Minha boca quase abre de tão chocada que fiquei com suas palavras.
Haylock, você pode ser um ator de Hollywood!

— Oh! Entendo perfeitamente… Dante e eu já passamos por isso! — Anny


diz com um olhar compreensivo.

Marcos explica mais ou menos o que aconteceu e que James já tem um ano e
nove meses. Anny ficou surpresa ao saber que meu bebê é esperto demais
para sua pouca idade e descobri que ela e Dante tem trigêmeos.

Quase enfartei, só de pensar nisso!

Um só está mais do que bom para mim!

Deus me livre ter três de uma só vez!

Só de pensar em três saindo da minha “periquita” faz com que me arrepie


toda.

Santa Virgem, quero isso não!

Sinto que meu plano de sedução foi para o espaço…

Não sei se choro ou se rio da situação!

É tão frustrante estar sob seu olhar…

Um olhar que incomoda a alma!

Às vezes seu olhar é quente como um vulcão, mas tem vezes que é mais frio
que as geleiras da Antártida.

Quando decido encarar seus olhos, tomo um susto com seu olhar em mim.

É algo novo…

Há algo que até hoje nunca vi em seus olhos. Por alguma razão temo
profundamente a consequência que esse olhar trará futuramente.

O que você esconde atrás desse olhar, Marco Haylock?


— NÃO PARE… CORRA! — Ele grita comigo.
O problema é que não aguento mais correr, não aguento mais!

— NÃO PODEMOS PARAR… CORRA!

Corremos até chegar perto de um porto, ele seguirá seu caminho, já eu


continuarei parado aqui em busca de um lar, de uma casa e de alguém para
me amar…

É tão ruim ser sozinho, bem, eu era sozinho até conhecê-los…

Eles se tornaram minha família e os considero como irmãos. A tia Li me


adotou como um filho e cuida de mim como se tivesse nascido dela.

Eu a amo tanto!

Porém hoje nos dividiremos e voltarei a ficar sozinho…

Continuarei sendo um nômade…

— Acho que está na hora de dizer adeus. — Ele me diz sorrindo com doçura.

Odeio seus sorrisos doces…

Ele é bom demais para esse planeta!


— Lembre-se de sempre ser gentil, ruivinho, o mundo vai ser cruel com você,
mas não seja cruel com ele e não se deixe abater… Não deixe que seus
demônios o destruam por inteiro… Te amo pequeno… Vença os monstros. —
Ele beija minha testa e se vai.

— Não!

Vejo seu corpo coberto por sangue, tem sangue em todos os lugares…

Abraço seu corpo ensanguentado e peço a Deus que me ajude, por favor.

Acordo mais uma vez assustado após um longo e costumeiro pesadelo, é


sempre a mesma coisa, sempre a mesma recordação…

Mais uma vez o sentimento de culpa me consome.

Foi tudo minha culpa!

Sempre é minha culpa!

Meu corpo está coberto de suor mesmo com o ar-condicionado ligado em


uma temperatura bem alta, sinto-me em chamas e ainda consigo sentir o
cheiro de sangue no meu nariz. Parece que todo meu corpo ainda fede com o
cheiro de sangue fresco. Coloco a mão no meu peito tentando acalmar minha
respiração, meus batimentos cardíacos estão bem elevados e necessito de um
banho bem gelado.

Levanto-me da cama indo em busca de um banho gelado para que possa me


acalmar um pouco. Entro no banheiro tirando minha cueca boxer azul, me
jogando no chuveiro em busca da tão necessária água gelada. Quando sinto-a
cair em meu corpo solto um gemido de alívio. Fico minutos ou horas debaixo
da ducha gelada e esse ato de certa forma acalma uma parte minha.
Vou para o andar debaixo sem ao menos me enxugar, desço os degraus da
escada rumo a cozinha sem pressa para voltar para a cama, pois sei que não
conseguirei dormir mais. São poucas as noites que consigo dormir seis horas
seguidas, sei que há tratamentos que possam me ajudar, mas não me vejo
fazendo nenhum deles e muito menos me vejo tendo que tomar remédios. Já
tentei uma vez, mas não tive o resultado desejado.

Posso afirmar que os efeitos colaterais são bem ruins…

Paro na entrada da cozinha ao ver uma bunda mediana em uma calcinha que
deveria ser um pecado capital e me encosto no batente da porta vendo
Melanie mexer sua bunda para lá e para cá enquanto come algo. Ela está meia
que jogada no balcão da cozinha e sua camisola subiu deixando sua deliciosa
bunda de fora devido sua inclinação no balcão. Se meu corpo estava quente
devido ao pesadelo agora se encontra em chamas por causa de uma bunda
gostosa e atrevida que não para de se mexer.

Na verdade, essa mulher me dá nos nervos…

Ela fala o tempo todo, não cala a boca nem sequer por um segundo e deixa
pela casa um cheiro floral de limpeza. Eu jurava que era algum produto de
limpeza, mas quebrei a cara ao vê-la preparar perfumes caseiros e depois
espalhá-los pela casa em pequenos fracos com dois “pauzinhos” dentro.
Suspiro ao me dar conta no que estou pensando e afasto o mais rápido
possível pensamentos amorosos da minha mente. Melanie e eu vamos ficar
juntos com um único propósito:

James!

Continuo observando a cena quando ela se vira com os olhos fechados


remexendo seu corpo magro. Melanie não é aquela magra doente, ela tem
uma magreza natural proporcional ao seu corpo. Suas pernas são torneadas na
medida ideal para o seu biotipo e sua bunda até que é bem avantajada. Seus
seios são medianos e sua barriga é lisa, o que é bem estranho devido à grande
quantidade de comida que come todos os dias. Melanie come muito, muito
mesmo.

— Credo, que delícia! Quero! Ah, meu Deus! — fala aleatoriamente olhando
para o meu pau.

— Dá para falar mais baixo? — pergunto enquanto ela tapa os olhos com a
mão.

— Você está nu com esse bambu apontado para mim! Jesus do céu, que
pecado! — fala abrindo seus dedos para logo em seguida fechar.

Ela é louca demais para mim!

Já possuo loucuras demais para a conta!

Passo as mãos no cabelo em um ato nervoso os bagunçando mais ainda e sigo


até a geladeira pegando a jarra de suco de caju que a louca preparou para o
jantar. Pego um copo que estava sobre a pia e despejo um pouco do liquido,
eu poderia estar despejando outra coisa dentro de…

Porra Marco, se concentra!

— Mãezinha que está no alto céu, a senhora viu que nem o seduzi hoje de
manhã e olha que acordei decidida a seduzir esse ser ruivo gostoso. Melanie
foca na oração para sua mãezinha!

Fico olhando-a falar sozinha e suas mãos estão fechadas como se ela
realmente estivesse fazendo uma prece.

— Mãezinha, tenho certeza de que a senhora está vendo esse homem todo
indecente aqui ao meu lado. Ele poderia estar usando uma simples cueca em
respeito à minha pureza, mas não, está como veio ao mundo. Esse sem-
vergonha impuro está tentando me levar para as trevas, mas serei forte e
resistirei a essa maestria de pau… Esse pau não é santo!

Quase me engasgo com o suco após ouvir suas palavras.

Não sei a levo até meu quarto e a fodo com força ou se a jogo contra esse
balcão investindo forte em seu lindo traseiro…

Posso até ouvir seus gemidos escandalosos ecoando pelos cômodos da casa.
— Santa Virgem! Você ainda está aqui? — fala tentando olhar para os meus
olhos.

— Não, estou te comendo com força, não vê?

— Nossa que grosso! — Ela arregala os olhos ao se dar conta do que falou.

Deixo o copo na pia e me aproximo até nossos narizes quase se encostarem.


Sua respiração fica agitada e inconscientemente umedece seus lábios os
mordendo de leve. Eu poderia puxá-la para mim agora e beijar sua boca com
força e desejo. Todos meus instintos pedem para que eu a beije, mas…

— Você sabe o quanto sou grosso, Melanie. Agora me diga o que foi fazer na
empresa… Sei que não foi apenas levar James para me ver.

— O que mais eu iria fazer lá, Marco? — pergunta nervosa. — James queria
te ver e eu o levei… Não vi mal algum em levá-lo para ver o pai.

Encaro seus olhos sabendo que ela não irá me contar a verdade.

Cansado dessa conversa de meia noite passo por ela subindo para o meu
quarto. Meu quarto é melhor do que a companhia daquela anja em forma de
diaba. Deito-me na cama e fico encarando o teto escuro.

Muitas pessoas temem a escuridão, mas ouso dizer que gosto dela. Quando
estou em um ambiente escuro posso ser eu mesmo, sem correntes ou sorrisos
fingidos. Há anos percebi que passamos mais tempo tentando ser o que
esperam que sejamos do que buscando o que realmente desejamos ser. Somos
espelhos refletindo o desejo do próximo e não os nossos. Meus olhos não
refletem nada, mas minhas atitudes é outra história.
Acordo suada após sonhar com o pênis do Marco.
Deus me livre, mas quem me dera!

Ai que ódio!

Era para o seduzir e não o contrário!

Fui seduzida por aquela aberração!

Quando o vi nu na cozinha essa madrugada levei um baita susto. Até mesmo


rezei umas dez vezes para me livrar daquela tentação que no fim nem me
pegou de jeito.

Ai que ódio!

Só de imaginar aquele pau grande, grosso e com aquela cabeça meia


avermelhada como uma maçã suculenta para se comer entrando dentro de
mim, me faz soltar um gemido involuntário.

Merda, mil vezes merda!

Chuto os lençóis da cama para cima com raiva e como uma criança birrenta,
bato o pé na cama umas três vezes antes de me levantar pisando duro no
pobre chão com raiva.

Entro no banheiro e corro para o vaso, pois preciso fazer xixi. Seco-me, tiro a
roupa para poder tomar banho, ligo o chuveiro no morno e me permito tomar
um banho calmo e relaxado, já que ainda está muito cedo para o James
acordar. Quando a água morna se choca com minha pele sinto de imediato
meus músculos relaxarem, com delicadeza introduzo um dedo dentro da
minha vagina e faço movimentos de vai e vem. Ainda não satisfeita, coloco
mais um dedo indo mais rápido e bruto. Encosto minha testa na parede de
cerâmica branca e com minha outra mão livre aperto meu mamilo direito com
força. A dor que sinto faz com que minhas paredes se apertem contra meus
dedos, o que me faz gemer baixinho de prazer. Fecho meus olhos me
lembrando do pênis de Marco pronto para a guerra e essa recordação deixa
meu corpo ainda mais excitado. Sinto uma necessidade de ir mais rápido e
com mais força, acabo jogando minha cabeça para trás quando enfim consigo
gozar e para minha alegria não grito o nome do Marco.

Após concluir minha higiene matinal, visto um macacão longo bege e penteio
meu cabelo o deixando solto. Abro a porta do quarto para sair e levo um baita
susto ao ver Marco em frente à minha porta com James no colo. Assim que
me vê meu filho se joga nos meus braços e o pego no susto. Por pouco James
não cai no chão como uma jaca manteiga podre.

— Bom dia, Melanie — diz Marco fingindo ser educado.

— Oi bebê da mamãe — falo com meu filho, ignorando a presença


desnecessária de Marco. — Você está acordando muito cedo, hein bebê?

James solta uma gargalhada alta que aquece meu coração.

Acabei de ganhar meu dia!

Desço a escada cagando de medo de cair e meu nervosismo aumenta pelo


simples fato de Marco estar bem atrás de mim. James agarra meu cabelo, mas
antes que puxe com força Marco solta meus fios da sua linda mãozinha que
às vezes é do mal.

Quando chego ao último degrau falto saltitar de alegria, juro que quase me
virei para mostrar a língua para escada assassina que sempre me faz cair, só
por ser desastrada por natureza.
Quando entro na cozinha levo um susto por ver tudo pronto em cima do
balcão. Hoje tem bolo de cenoura com calda de chocolate e posso jurar que
em meus olhos surgiram duas estrelinhas brilhando.

Amo bolo de cenoura com chocolate!

Coloco James na sua cadeira e o prendo para que ele não caia. Antes que eu
pense em pegar seu mingau de fruta, Marco coloca-o na bancada em frente
dele fazendo com que meu baby dê gritos de alegria.

James adora esse mingau de fruta!

Coloco a colherzinha nas suas mãos e o vejo se acabar. Às vezes ele erra a
boca fazendo com que o mingau vá parar nas suas lindas bochechas.

— Melanie, irei procurar uma creche de meio período para o James.

Ao escutar isso, quase engasgo com meu café com leite.

— Como assim? Não há necessidade disso, cuidarei do meu filho — falo já


brava.

— Você não conseguirá conciliar o trabalho e cuidar do James por um


período inteiro — fala tomando sua segunda xícara de café. — Você irá
trabalhar na empresa na parte da manhã até às duas da tarde. Irá fazer aquilo
que cursou em um curso básico.

Olho para ele e não falo nada.

Tenho apenas um curso básico em RH e o fiz na esperança de um dia ter um


emprego melhor, mas nem tudo saiu como planejei.

Bola para frente, pois não se pode parar em qualquer obstáculo.

— Okay. Posso ao menos saber com quem irei trabalhar? — pergunto dando
um sorriso.

— Comigo, com quem mais seria?


— Com você? — pergunto chocada.

— Sim minha cara Melanie, comigo — fala lavando sua xícara. — Por favor,
peço que hoje fique em casa com James e quando voltar iremos sair um
pouco para passear.

Olho para ele de boca aberta.

Marco dá um beijo em James, sai para trabalhar e eu suspiro cansada por


perder mais uma batalha.

Marco chega às 17:00 horas em ponto, James que estava brincando com seus
carrinhos no tapete da sala de estar, sai correndo ou tenta correr na direção do
pai que o levanta rodopiando no ar. O sorriso que Marco dá a James é tão
perfeito que até sinto uma pitada de inveja por nunca receber um sorriso
sincero assim.

Levanto-me indo até a cozinha em busca de algo para beliscar.

— Melanie, iremos ao parque com Dante e Anny. Lá tem vários brinquedos


para crianças de um a três anos — fala me olhando sério.

Eu não recebo nem um sorriso…

Nem sorrisinho sequer!

Uma hora e meia depois estou pronta para ir ao parque.


Estou animada para caralho!

Amo parques!

Já até imagino os brinquedos que irei brincar.

Optei por calça jeans, blusa branca simples, uma jaqueta amarrada na cintura
e tênis.

Desço a escada correndo e por sorte não caio, o que me faz virar dando
língua para a pobre escada.

Hoje mais uma vez venci esses degraus assassinos.

— Então, podemos ir?

Solto um grito ao ver Marco e James me encarando.

Puta merda!

O ar me falta ao olhá-los, eles são tão parecidos, lindos e perfeitos. Marco e


James usam roupas parecidas, uma camisa polo azul, com calça jeans preta,
tênis branco e boné vermelho.

Estão idênticos!

— Mamãe para “oxe” — James fala me estendendo um boné vermelho e


pego-o das suas mãos colocando imediatamente na cabeça. — Linda mamãe!

— Obrigada, meu amor. — Beijo seu rostinho.

Todos prontos seguimos a caminho do parque.

Sei que vai ser o máximo!


Quando chegamos ao parque saio do carro eufórica. Marco tira James da
cadeirinha e logo em seguida entrelaça nossas mãos para entrarmos no
parque. Paramos na entrada e Marco mostra aos seguranças nossos tíquetes.

Ai meu Deus, temos passe livre para todos os brinquedos.

Todos nos olham, acho que pelo fato de estarmos vestidos quase da mesma
forma e as mulheres estão babando no Marco.

Bando de putas do inferno!

A culpa é desse infeliz, que é bonito!

Era para Marco ser feio, mas não, o bendito nasceu ruivo, gostoso e com
lindos olhos azuis celestiais, mesmo que ele seja um ser do inferno.

Aperto suas mãos com força e para minha surpresa ele retribui o aperto.

— Dante disse que está no carrinho bate-bate — Marco fala e meus olhos
brilham.

AMO CARRINHO BATE-BATE!


Achei que James iria surtar com todos esses brinquedos, mas me
surpreendi. Melanie simplesmente incorporou uma criança de cinco anos e
não sabe em qual brinquedo vai primeiro. Ela roda para lá e para cá, igual
uma barata tonta.

É foda!

Não sei se seguro a mão do meu filho nos brinquedos ou a dela e devo dizer
que o grito agudo que ela deu ao ir em uma mini montanha russa para
crianças, fez com que meu tímpano doesse.

James está emburrado querendo dormir, mas a mãe parece que tomou cinco
garrafas de energético. Melanie pula e até mesmo dança com as crianças.

— Sua mulher parece gostar muito de parques — comenta Pedro, enquanto


come algodão-doce cor-de-rosa. — Na verdade, ela, Anny e Dante estão se
divertindo bastante.

Olho para ele e não falo nada, já que não há o que falar.

Estou parecendo o tiozão chato que não curte nada.

James dormiu em meus braços, inclusive sinto a baba dele escorrendo na


minha camisa e sua cabeça em meus ombros está meio torta por falta de
conforto.

Nunca na minha vida pensei que estaria em um momento familiar como esse.

Toda a luz que há nesse momento, incomoda minha escuridão. Jamais pensei,
ou melhor, há anos não cogito a ideia de me adaptar a luz. É até hilário haver
fontes de luz na sua vida quando você é somente trevas.

Talvez parecesse obscuro, mas me adaptei as trevas e me encontrei na


escuridão. É como mergulhar em um mundo, onde você não é estranho. No
escuro posso ser eu mesmo e não me envergonho de quem sou, mas me
pergunto em quem estou me tornando.

— Papai, “quelo” a mamãe.


Ouço a voz sonolenta de James no meu ouvido.

Viro a cabeça para encará-lo e seus olhos entreabertos me olham meio


desfocados. Ele é minha cópia fiel por fora, mas por dentro é puro como
Melanie. Agrada-me e muito que sua personalidade seja como a dela.

— Vamos chamar a mamãe para ir embora, está bem? — pergunto e ele


concorda com a cabeça voltando a deitá-la no meu ombro.

— Acho que vai ser difícil tirar a Melzinha dos brinquedos — fala Pedro.

— “Melzinha” é um cabo de vassoura atolado no seu cu, filha da puta! —


falo indo atrás da MELANIE.

Que porra está acontecendo comigo?

Melanie vem correndo até mim antes que chegue até ela, não preciso dizer
nada para ela saber que chegou a hora de partir e nos despedimos do pessoal
rapidamente. Melanie anda saltitante segurando minha mão como uma
menininha no seu primeiro encontro com o “Boy magia”.

Fazemos o caminho para casa em silêncio, quer dizer, uma música toca
baixinho no rádio. O silêncio entre nós não é algo constrangedor, ao
contrário, é até gostoso.

— O dia de hoje foi bom… Não, foi perfeito! Obrigada, Marco pela noite
mais que perfeita! — fala segurando minha mão.

Acho que ela não sabe que eu sou o único a ter o que agradecer…
Uma vez ouvi a seguinte frase em uma música brasileira, “agora estou
solteira e ninguém vai me segurar”. Uma linda frase que combina
perfeitamente com a noite de hoje. Resolvi seguir a sugestão do Marco e irei
transar com um desconhecido. Afinal tenho três meses para curtir minha
maravilhosa liberdade, já que serei obrigada a me casar.

James irá ficar na casa da Valentina, que está dando uma pequena festa de
pijama. Eu até iria para ficar com James, mas a louca da mulher me expulsou
dizendo que não sou criança. Não reclamei, entretanto, meu coração doeu por
ter que passar a primeira noite longe do meu bebê.

Após chegar em casa e encontrar Marco bebendo whisky como se fosse a


melhor coisa a se fazer, optei por fazer algo útil como sair, transar, beber e
transar de novo. Quero esfolar a minha “periquita”.

Irei dar gostoso até o dia raiar.

É hoje que solto meu lado devassa!

Termino de passar o batom vermelho satisfeita com o resultado. Optei por um


vestido justo preto que possui um decote bem considerável em V, as costas
ficam nuas, ele vai até metade da minha coxa e nos pés um scarpin rose. Jogo
meu cabelo solto para trás, pego minha bolsa rosa e saio do quarto. Não
avisei Marco que iria sair, aliás, por que o avisaria?

Sou maior de idade e vacinada.


Chamo um táxi rumo a uma das baladas que sempre quis ir, mas nunca pude.
Meia hora depois estou em frente à casa noturna “Monster”. Pago o taxista e
sigo rumo à entrada da casa.

A fila estava grandinha para minha tristeza, mas nem me importei. Afinal já
enfrentei filas piores como a da padaria.

Uma hora depois estava mexendo minha bunda para lá e para cá no ritmo da
Beyoncé.

Ela é uma diva e tanto!

Amo essa mulher de paixão, sério!

Jogo meu cabelo para trás para me livrar um pouco do calor, até porque o
local está abarrotado de gente.

Quando a música acaba vou em direção ao bar beber uma dose de tequila
com rum. O barman negro sexy, com o braço fechado por tatuagens chama
minha atenção. O homem é gostoso…

Muito gostoso!

Juro por Deus, que não vim com o intuito de transar com um negão de tirar o
chapéu.

— Boa noite, o que deseja tomar essa noite? — pergunta o barman sorrindo
para mim.

Que dentes perfeitos!

Nossa Senhora, quase que respondi seu leite!

Segura essa sua mente impura, Melanie.

— Quero uma dose de tequila com rum — respondo sorrindo.

— Que tal experimentar o “Rose Sexy Magic”?

Nunca ouvi falar, mas já fiquei interessada.

— Uma dose então de “Rose Sexy Magic”.

Ouçam bem o que vou falar crianças…

Nunca, jamais em suas vidas tomem bebidas estranhas oferecidas por um


barman sexy.

Juro por Deus, que parece que fui incorporada por algo maligno.

Jogos meus braços para o alto ao som de uma música qualquer e mexo meu
rabo como uma profissional na arte da dança. Parece até que uma corrente
elétrica está passando pelo meu corpo, me deixando mais eufórica a cada
minuto que se passa.

Abro meus olhos e vejo um rapaz até que bonitinho me olhando, vai ser ele
minha presa. Ando a passos firmes até ele, seu sorriso não é lá grande coisa,
mas serve para algo. Passo por ele pegando na sua mão para que possamos ir
para um lugar mais tranquilo na boate.

Jogo-o contra a parede, já devorando sua boca nada saborosa. Ele pega minha
cintura, mas não há pegada.

Puta merda, que carinha mais frio!

Merda!
Antes que minha mão possa ir até suas partes intimas para sentir se o pau
pelo menos é digno de algo, sou puxada para trás com brutalidade.

Minha nossa, me deixou molhadinha!

O carinha sem pegada leva um soco e já cai no chão desmaiado.

— O QUE VOCÊ FEZ? — grito para a criatura ruiva parada diante de mim.

Marco não fala nada, apenas me joga sobre seus ombros como um saco de
cimento.

Estou há alguns minutos sentada no sofá vendo Marco Haylock andar para lá
e para cá, me olhando de cima a baixo.

Aff, já sei que sou linda, amor!

— Não sei que o que fazer com você, Melanie — fala sério.

— Meu bem, eu apenas fui fazer o que você disse.

Ele dá um sorriso e caminha na minha direção, já eu me encolho assustada


com sua atitude.

Marco para bem na minha frente, me puxa para os seus braços e estendo
minhas mãos no seu peito forte.

Porra, esse homem é gostoso demais!

Seus olhos azuis estão com uma tonalidade que desconheço, há algo sombrio
neles…

Algo que ao invés de me amedrontar, me deixa ainda mais excitada.


Ele leva sua mão até minha nuca, sobe um pouco e puxa meu cabelo com
força deixando meu pescoço livre para seus lábios que o explora com
precisão.

Nossa senhora, que puxão mais delicioso!

Com pressa, puxo seus lábios de encontro aos meus.

O choque dos nossos lábios, faz com que minha boceta se contraia e Marco
devora meus lábios com vontade.

Maria Santinha, é um pecado e tanto, mas nem me importo em pecar.

Suas mãos descem da minha coluna até minha bunda apertando-a com força,
fazendo com que um gemido saia da minha boca. Arranho seu pescoço sem
me importar com nada e passo minhas mãos pelos fios do seu cabelo. A
maciez que há nos fios me surpreende, são mais bem tratados que os meus.

Estou sentado no seu colo e nem sei dizer quando isso aconteceu de tão
envolvida que estou. Seus lábios em momento algum saem dos meus, é como
se o ar não nos faltasse. Ele sobe a escada rapidamente comigo em seu colo e
quando menos espero sou jogada na sua cama negra.

Fico de costas, apoiada nos meus braços e levanto um pouco meu tronco para
poder observá-lo melhor. Ele tira o paletó com calma, me olhando nos olhos
e em momento algum desvia seu olhar.

Amo um strip-tease!

Na hora que ele vai tirar a camisa social, solto um suspiro de felicidade e
esfrego minhas pernas em busca de algum alívio. Quando ele desabotoa o
primeiro botão quase voo nele. Marco tem o peitoral liso, com uma tatuagem
no seu peito direito que vai até seu braço o fechando.

É uma obra de arte!

Sempre que a vejo fico de queixo caindo por tamanha beleza.

— Não me olhe assim, baby — fala já tirando a calça.


Quase pulo da cama ao ver seu pau duro apontado para cima.

Não acredito que ele está sem cueca!

— Melanie, vem mamar um pouco no meu pau!

Seu pedido foi mais do que bem aceito e atendido.

Salto da cama indo na sua direção e caio de joelhos sem pensar duas vezes.

O cheiro másculo que seu pênis exala é maravilhoso!

Marco não tem cabelo no saco, o que me deixa muito feliz.

Pego seu comprimento e aperto de leve.

Ele é grosso e firme…

Com cuidado lambo a cabecinha dando pequenas chupadas, sinto quando sua
mão puxa meu cabelo fazendo com que eu vá de encontro ao seu pau duro.

— Anda logo com isso, Melanie.

Atendo seu pedido e enfio sua tora na minha boca até onde consigo. O que
não consigo levar na boca, aperto com a mão e chupo seu pau como se fosse
um picolé de morango.

— Adoro a forma como meu pau entra e sai dessa sua boquinha, Mel. — O
tom da sua voz me deixa ainda mais excitada. — Agora deixe-a bem
abertinha para que eu possa fodê-la como desejo.
A boca quente de Melanie, me deixa ainda mais excitado. Meu pau entra e
sai dela com maestria. A forma como sua boca me recebe me deixa mais do
que anestesiado pelo prazer. Sei que não irei gozar agora, mas desejo fazê-la
gritar meu nome até perder a voz.

Saio da sua boca, puxo-a para mim e beijo sua boca com necessidade. Depois
desço beijando seu pescoço alvo, deixo ali alguns chupões para que possam
ver que ela me pertence. Sei que lhe dei três meses, mas não consigo ver
outro tocando-a da mesma forma que a toco. Hoje serei duro e talvez amanhã
de manhã eu seja carinhoso, mas agora irei lhe foder com força. Quero que
ela me sinta rápido e duro.

Quero que ela sinta que é minha…

Só minha!

Jogo-a de volta na cama, caindo sobre ela. Mordo seu peito direito enquanto
enfio dois dedos na sua boceta molhada e escorregadia. Suas paredes se
contraem nos meus dedos fazendo com que eu sinta uma necessidade
devastadora de me enterrar dentro dela e assim faço…

— OH MARCO, MEU DEUS!

Seus gritos de prazer faz com que sinta uma necessidade de fazê-la gritar
mais e mais por mim. Meto com força sem parar dentro dela. Ela está tão
escorregadia que meu pau entra e sai como grande facilidade. Nossos corpos
se movem em uma sincronia perfeita.

Melanie entrelaça suas pernas nas minhas e joga os braços para trás da
cabeça. Seu rosto contraído de prazer é umas das coisas mais lindas que vi
nesse terrível mundo e a forma como ela geme meu nome, faz com que me
sinta exaltado.

— Baby, sinto que vai gozar no meu pau… Goze para mim Mel… Goze…
— Basta dizer isso para que suas paredes internas apertem meu pau de uma
forma tão intensa que quase gozo junto.

Melanie levanta seu peito e joga o cabelo para trás ao se contrair de prazer.
Com maestria coloco-a de quatro, voltando a meter de volta na sua boceta
apertada. Dou um tapa em cada lado da sua bunda, colo meu peito nas suas
costas nuas e dou um beijo na sua nuca. Brinco com seu clitóris fazendo-a
ficar ainda mais excitada. Aperto com força seu mamilo esquerdo e ela
parece gostar porque solta um alto gemido.

Nossa pele suada parece combinar uma com a outra.

Melanie vira a cabeça para trás em busca dos meus lábios e necessitado do
gosto da sua boca a beijo. Quando toco mais uma vez seu ponto G ela alcança
seu clímax seguido pelo meu.

Pela primeira vez há tempos me satisfaço de verdade em uma noite de sexo…

Posso até ter gozado, mas ainda sinto uma necessidade de tomar Melanie de
novo para mim.

Afinal a noite é só uma criança!


Alguns dias depois…

Acordo sentindo um arzinho quente na minha “piriquita”.


Puta merda!

O arzinho até que é bom, ainda mais quando vem seguido por uma lambida e
mordida.

Santa Virgem!

Estou sendo chupada!

Nunca na minha vida acordei sendo chupada por alguém!

Estou realizando meu sonho de puta.

Abro meus olhos e vejo uma cabeleira ruiva entre minhas pernas.

— OH! — grito ao senti-lo me sugar com força.

Marco parece faminto, uma hora ele morde, outra lambe e outra chupa. Sua
mão direita sobe para o meu peito esquerdo o apertando com força.

Sinto-me em combustão e parece que até meus fios adormecidos acordaram


para a vida. Cada vez que sua barba roça na minha pele sensível sinto uma
vontade arrebatadora de gritar.
— Assim, Marco! — Gemo seu nome com força.

Marco introduz um dedo dentro de mim, minha entrada escorregadia o recebe


com alegria, minhas paredes o apertam em busca de mais e ele coloca mais
dois dedos me levando a loucura. Sinto seu polegar apertando meu clitóris
fazendo com que eu contorça meu corpo de prazer.

Antes que eu possa raciocinar e tomar qualquer atitude James chora. Chora
alto fazendo com que nós dois tomemos um susto.

O clima sexy acabou!

Marco veste uma cueca e sai correndo porta a fora. Já eu sou mais lenta e fico
na cama uns minutos antes de me levantar. Já passei dessa fase de desespero.
Hoje sei que para certo tipo de choro tenho que seguir meu tempo, pois é
pura manha da criança.

Saio da cama e vou em busca de uma camisa de Marco para vestir. Abro a
porta do seu closet e…

Minha mãe Santinha, que exagero é esse?

O homem tem outro quarto dentro do seu!

Ando pelo closet olhando as mil coisas que há ali, por fim acho uma cueca e
um camisão para vestir. Olho-me no enorme espelho e observo minha cara
frustrada. Meu sonho de ter uma boa chupada matinal seguida por uma
excelente gozada foi jogada por ribanceira abaixo.

Meu filho NUNCA acorda cedo, mas hoje ele ACORDOU!

Quando James nasceu era somente eu e eu, na verdade, também havia a dona
Ciara que me ajudou muito desde a gestação. Ela nunca me deu as costas,
mas hoje vejo que eu lhe dei quando vim morar com Marco, nem sequer lhe
avisei para onde estava indo ou se voltava. Tenho quase certeza que ela
imagina que não voltarei tão cedo, ou melhor, que nunca mais voltarei. Ela
sabe que eu vivia ali sob ameaça constante e que meu filho e eu estávamos
por um fio. Tinha noites que eu sequer dormia com medo de algo acontecer.
Sorrio ao entrar no quarto de James e ver Marco com ele no colo ninando-o
para que volte a dormir. Observar essa cena faz com que eu me pergunte se
por acaso tivesse o procurado antes ou se ele tivesse me encontrado antes as
coisas seriam completamente diferentes.

Com certeza, seriam bem diferente…

Se pudesse voltar no tempo não permitiria que meu filho presenciasse tudo
que presenciou.

Saio silenciosamente do quarto de James rumo ao meu. Essas lembranças não


me fizeram bem, lembrar do que tive que fazer me causa repulsa. Causa-me
dor e por mais que saiba que fiz o necessário para sobreviver ainda sim é
deplorável e terminantemente doloroso.

Recusei-me a sair do carro quando deixamos James na creche. Meu filhote


ficou todo animado quando viu aquele monte de criança, só faltou abrir a
porta do carro e sair correndo para falar com todos. Uma lágrima solitária
escorre dos meus olhos no momento em que o carro entra em movimento
rumo ao meu “emprego”.

Não sirvo para ser secretária do Marco, sério, eu não sirvo…

Sempre que o vejo penso em sexo e imagino sua boca na minha boceta ou
passando pelo meu corpo.

Ai meu deus do céu!

Estou me sentindo uma devassa, credo, aí que delícia!

Até já me imagino o assediando durante uma reunião importante. Que minha


Mãezinha que está no céu, tire esses desejos impuros de mim, amém!
Fecho meus olhos ao me lembrar da minha quase gozada pela manhã, mas
James optou por acabar com minha gozada alegria. Tudo bem, ter filho é ter
dias de luta e dias sem poder ter um clímax após uma chupada. Depois do
choro, o clima sensual foi jogado por ribanceira abaixo, eu fui para o meu
quarto dormir e ele sei lá o que foi fazer.

Depois da noite em que transamos passamos dias sem nos falar, Marco se
fechou no seu mundo e passei a ignorá-lo, mas não sei explicar o que
aconteceu na madrugada passada quando nos encontramos casualmente no
corredor e ele me levou para o seu quarto.

Posso dizer que estou de boa o ignorando novamente depois dele me ignorar
sem motivo no café da manhã.

— Vai ficar aí ou vai sair? — pergunta Marco sendo 100% simpático e olho
em volta percebendo que já chegamos na empresa.

Nossa passou tão rápido!

Saio do carro ajeitando minha saia lápis que vai até a altura do joelho. Hoje
estou bem formal, quis parecer séria pelo menos no meu primeiro dia.

Sigo-o rumo ao elevador privado e agora só falta vinte e oito andares para o
trabalho duro começar.

Eu sou capaz!

Duas horas depois

Eu não sou capaz de lidar com isso.

Ninguém me disse que Marco era um advogado e tanto, o cara simplesmente


faz mágica nos tribunais. A quantidade de casos ganho é impressionante,
assim como a quantidade de e-mail e cartas que ele recebe de pessoas que são
gratas ao que ele fez.

Isso é maravilhoso!

O telefone toca e atendo desesperada.

Vai que é algo importante, né?

— Melanie, por favor, venha na minha sala — pede Marco com um tom de
voz calmo.

— Está bem! — Levanto-me da mesa quase derrubando tudo que vejo pela
frente.

Aí que merda!

Antes de abrir a porta respiro fundo, estou nervosa e nem sei o motivo.

Abro a porta de madeira grossa e pesada com cuidado, primeiro coloco a


cabeça para dentro observando o terreno, vejo que está tudo okay então entro
como se nada tivesse acontecido.

— Chamou? — pergunto para logo depois me dar conta de quão idiota foi
essa pergunta.

Sério Melanie?

Puta merda!

— Daqui a pouco vou ter uma reunião privada e não quero ser interrompido
por nada e nem ninguém. A reunião durará das onze e meia até mais ou
menos uma e meia.

— Tudo bem.

— Ótimo! O nome dela é Tânia Santani… É tudo que tem que saber, pode se
retirar.
Saio da sua sala, sem nem ao menos dizer uma só palavra.

Não há o que dizer…

Aqui, na empresa, sou apenas uma funcionária e nada além disso.

Volto para minha mesa e começo a trabalhar. Foco toda minha concentração
para os papéis que preciso ler, editar, enviar e modelar. Há ligações a serem
feitas e reuniões a serem marcadas. É tanta mais tanta coisa que sinto que até
posso vir a ter dor de cabeça.

Um tempo depois um salto bate no chão, me fazendo levar um baita susto.

Puta merda!

Quase escancaro minha boca ao ver a mulata linda parada na minha frente.
Seu cabelo crespo em um estilo black faz com que eu me sinta inferior a
beleza dela de certa forma.

— Bom dia, sou Tânia Santani, tenho uma reunião agendada com o senhor
Haylock.

Ela podia ser mal-educada, mas não é…

Aí que ódio dessa mulher!

Nem sei quem é, mas já odeio.

— Bom dia, pode entrar o senhor Haylock está te esperando — digo


educadamente.

Ela acena com a cabeça e entra sem bater na porta como se fosse a dona do
pedaço.

Opto por ir almoçar mais cedo já que adiantei meu trabalho quase todo.
Levanto-me pegando minha bolsa e saio rumo ao elevador.

Já no térreo não faço a mínima ideia de onde posso ir almoçar, só sei que não
quero comer no refeitório da empresa. Bem, pelo menos não por agora, até
porque ainda não conheço ninguém.

— Perdida? — pergunta alguém parecendo que está se divertindo.

Quando me viro para olhar o dono da voz, dou de cara com Pedro, o amigo
de Marco. Talvez ele saiba, mas se não sabe não serei eu a dizer que ele é um
homem bonito. Desde o dia em que o conheci sempre o vejo sorrindo, Pedro
possui uma pele negra um tanto quanto invejável, corte de cabelo militar e é
alto, mas ainda assim é mais baixo que Dante e um pouco mais alto que
Marco. Ele me olha com uma certa curiosidade.

— Terra chamando Melanie!

— Oh meu Deus, estou meia que perdida sim. Não sei onde almoçar e Marco
se encontra em uma reunião — falo dando um sorriso sem graça.

— Sorte sua que estou indo almoçar em um restaurante aqui pertinho e não
tenho companhia para almoçar. Vamos, hoje você é uma garota sortuda por
ter a honra de comer uma deliciosa comida ao lado desse negão aqui!

Solto uma gargalhada com suas palavras, ele é engraçado.

Segui Pedro rua a fora, depois de uns dez minutos caminhando chegamos a
um restaurante simples. Sentamo-nos em uma mesa afastada e ele pede
comida para nós dois. O que não me importa, quero que ele me surpreenda na
escolha do cardápio.

— Marco, Dante e eu sempre almoçamos aqui, quando temos tempo é claro


— fala me encarando. — A comida do refeitório é maravilhosa, mas
gostamos de silêncio e privacidade. Sempre que chegamos no refeitório todos
param para olhar e é chato, sabe?

— Imagino, mas tente entender… Vocês chamam a atenção — falo sorrindo.

— Talvez, só talvez chamemos a atenção, mas não sempre. — Ele diz


sorrindo.

Meu Deus, esse homem não se cansa de sorrir, não?


Pedro deixa o clima mais leve.

Sabe aquelas pessoas que possuem o dom de nos fazer sorrir?

Então, Pedro tem esse lindo dom.

Ele me faz sorrir a todo instante.

— Você sorri do que digo, mas seu coração não sorri junto. Algo lhe
incomoda e me pergunto o que. Oh, por favor, não se sinta incomodada com
minha percepção… Apenas sou bom em observar as pessoas.

— Bem estou preocupada com o meu filho, hoje é o primeiro dia de aula dele
— falo, pois não é bem uma mentira.

— Compreendo… Quer continuar a mentir para mim, Melzinha? — pergunta


fazendo com que me engasgue com a água. — Cuidado, querida — diz me
estendendo um guardanapo. — Melzinha, confie mais no seu taco… Marco é
um enigma a ser desvendado. Ele não gosta que as pessoas o conheça, sabe,
ele gosta de parecer ser uma má pessoa, não que ele seja 100% uma pessoa
boa, mas ele é bom.

— Eu sei — falo baixo.

— Não você não sabe… Melanie, Marco não gosta de ser desvendado. Sabe
como o conheci? — pergunta e nego com a cabeça. — Fui acusado de roubo
na faculdade por ser negro, alguém tinha que ser culpado e o único negro da
classe foi essa pessoa. Marco foi o primeiro a dizer que não tinha sido eu,
seguido por Dante. Ambos não pararam até provar minha inocência. Não sou
formado em direito Melanie, sou formado em ciências tecnológicas. Sou um
mestre em computação, mas era péssimo em defesa pessoal. Resumindo
minha história… Eles me defenderam e assim nos tornamos melhores
amigos. Marco tem um instinto de proteção, mas também tende a afastar as
pessoas dele. Ele é uma boa pessoa? É! Mas ele não sabe que é. Marco se
enxerga nas trevas e peço para não o julgar… Não julgue o passado dele.
Todos erraram… Todos cometeram crimes, seja lá qual for.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa meu telefone toca, o nome do
Marco aparece na tela e atendo na mesma hora.

— Melanie, onde você está?

— Almoçando com o Pedro.

— No restaurante caseiro?

— Sim, nele mesmo.

— Ótimo! Estou indo até você, me espera!

Passa um tempo e ele não chega…

Pedro e eu estranhamos.

Quando o telefone de Pedro toca sinto uma dor no meu peito e uma sensação
ruim.

Não sei dizer…

Pedro se levanta da mesa para atender e quando volta sei que algo aconteceu.

— Melanie, peço que vá para casa com o motorista que está vindo lhe buscar.
James já se encontra na casa de Dante — fala com calma. — Respira funda,
isso Mel respira. Vá para casa pegue os documentos de Marco e me encontre
no Hospital Central.

— O que aconteceu?

— Um atentado… Marco se encontra a caminho do hospital.

Bastam essas palavras para que eu caia no chão.


— Dante, creio eu que a escuridão de Marco chegou.

Apago logo após ouvir isso.

Escuridão?

O que isso significa?


Não recomendo a ninguém tomar um tiro…
A maldita prata ao entrar em sua carne, dói como o inferno!

É quase suportável se não fosse tão ardido.

Fui pego de surpresa, mas não cometerei mais esse erro. Estava distraído com
o fato de Melanie estar com Pedro sozinha em um restaurante almoçando.
Não desconfio do meu amigo, mas não gosto de ver os dois perto um do
outro, não é ciúme ou qualquer merda é apenas precaução. Assim que sai
para fora do prédio fui baleado como se esperassem por mim, o infeliz que
fez isso irá pagar caro sendo através da lei ou não…

Faz mais ou menos umas duas horas que acordei, depois da cirurgia de
remoção da bala. Não houve nenhum dano no meu ombro direito e terei
apenas que ficar de repouso por precaução. Não gosto de hospital e odeio
qualquer coisa que me limite a um único ambiente. Essas paredes brancas me
dão nos nervos e ouso até dizer que é há luz demais para mim.

Carlos, um amigo e médico, atendeu meu pedido de não querer ver ninguém,
mas já ouvi o grito histérico de Melanie, inclusive meus tímpanos até doeram
com seu agudo desnecessário. Nem Dante permiti que entrasse para me ver.
Estou tomando esse tempo aqui para pensar no que fazer da minha vida.

Quais caminhos tenho que trilhar?


Faço-me essa pergunta há tanto tempo, que só agora me dei conta do quanto
essa pergunta é realmente importante.

Nunca me importei em ser um perdido e de não ter motivos para viver o


amanhã ou de morrer, mas hoje após levar um maldito tiro a primeira coisa
que pensei foi em James e Melanie. Na verdade, pensei neles a todo instante.
Nunca lutei para me manter vivo e muito menos pensei em viver por alguém.

Porra!

Meu filho e sua mãe louca se tornaram minha família. Tornaram-se uma parte
desse meu mundo sombrio e são a luz que me faz querer respirar e lutar.

Está foda!

Puta merda!

Estou me tornando sentimental, mas porra só de pensar em deixá-los meu


coração parece que vai se destroçar. Eu nem sabia que tinha um coração até
senti-lo bater por James e agora involuntariamente ele parece querer bater
pela doida da Melanie.

Melanie podia ser uma pessoa má, ela poderia me odiar ou até mesmo me
destruir, mas ela apenas ajuda James a me reconstruir. Cada pedaço meu que
foi deixado para trás eles estão trazendo de volta. Cada essência que havia
esquecido no espaço está querendo voltar e sinceramente isso me apavora
para caralho.

Temo o que nunca pude ser…

Nunca pude ser alguém bom, mas agora parece que a vida está me tirando da
minha maravilhosa zona de conforto. Ultimamente venho me sentindo um
inócuo[1], coisa que há anos não sentia.

Tento achar uma posição melhor para poder me sentar sem a ajuda de
ninguém, mas qualquer movimento que faço faz com que meu ombro doa.

É uma merda isso!


Estou no momento limitado a essa maldita cama de hospital e quando pegar o
infeliz, ele vai pagar por isso…

Ah, se vai!

Ele vai pagar muito caro.

Porra!

Só de pensar que podem ser as mesmas pessoas que andam ameaçando


Dante, Pedro e eu faz com que a raiva ferva meu sangue.

Merda, Anny foi um alvo o que significa que Melanie e James também serão,
preciso colocá-los em um lugar seguro.

Está na hora de parar de brincar de gato e rato!

Já era para termos resolvido isso de uma vez por todas.

Cadê o infeliz do Pedro nessas horas?

O filha de uma boa mãe é o chefe de segurança e deveria estar nos


protegendo.

Respira Marco…

Só respira!

— NINGUÉM VAI ME SEGURAR E SE ALGUÉM OUSAR ME


IMPEDIR, IREI PARTIR AO MEIO.

Antes que eu possa raciocinar, Melanie abre a porta do quarto fazendo com
que a pobrezinha bata com tudo na parede, o que causa um estrondo e tanto.

— MARCO! — grita ao me ver.

A desnaturada corre e se joga em mim fazendo com que meu ombro direito
doa muito.
Puta merda, que mulher mais sem noção!

Melanie me abraça com força ao mesmo tempo em que chora.

— Te odeio Marco! — exclama do nada batendo no meu peito com força. —


Se ousar, ou melhor, pensar em deixar J.R. órfão eu vou te ressuscitar para
logo depois matá-lo da forma correta — fala já de pé apontando o dedo na
minha cara, enquanto bate o pé no chão.

Barraqueira, é isso que ela é!

A mulher está chorando, mas ainda assim me olha com carinho, raiva e
tristeza.

Que louca, por Deus que louca!

— Dá para você se acalmar um pouco? — pergunto até que calmo. — Foi


apenas um acidente, não há motivo para todo esse escândalo.

— Está me chamando de escandalosa? — pergunta já brava. — Eu desmaiei,


me preocupei, chorei, surtei e chorei por você, fiz tudo isso para me chamar
de escandalosa? Que ingratidão! — fala emburrada. — Quando metia forte
dentro de mim não se importou com os meus escândalos, né?

— Isso está ficando interessante!

Ouço Valentina falar.

— Melanie… — Começo a tentar falar, mas sou interrompido.

— Melanie é seu pau que jamais entrará no meu cu — fala apontando o dedo
para o meu pau. — A partir de hoje essa coisa grande, grossa e gostosa vai
ficar longe da minha caverna do prazer. Não vai nem sequer chegar a ver a
escuridão que há nela.

Suspiro frustrado com o rumo que a conversa está tomando.

Não gosto de público e hoje estamos com plateia.


— Chega! Quero que todos saiam e me deixem a sós com Melanie — peço e
todos saem. — Tranca a porta Melanie, anda vá lá e tranque-a.

Ela faz o que peço, mas vai batendo o pé igual uma criança birrenta. Tranca a
porta e volta andando duro até a cama parando alguns centímetros afastada.

— Para de ser uma criança e venha aqui… Chega mais perto, quero vê-la de
perto. — Agora me sinto o Lobo Mau que tenta seduzir a Chapeuzinho
Vermelho.

Com medo ela se aproxima e com meu braço esquerdo a puxo fazendo com
que nossas bocas se choquem e busco seus lábios com ferocidade. Nossas
línguas entram em perfeita sincronia em questão de segundos e mesmo que
meu ombro doa ainda mais nem ligo, só me importo em beijá-la com força e
com um desejo latente de mais uma vez fazê-la minha. Seguro firme sua nuca
para que ela não se afaste de mim e chupo sua língua como se fosse um
picolé.

A maciez dos seus lábios, faz com que me sinta beijando um algodão-doce.
Puxo seus lábios inferiores com delicadeza para cessar o beijo, pois
precisamos de ar.

— Você é um idiota!

— Sou muitas coisas, mas idiota não Melanie.

— Por que me beijou?

— Apenas fiz o que desejei fazer.

— Você é tão grosso!

— Você sabe o quanto.

— Não é hora de piadas sexuais, aliás, nem é do seu feitio fazer piadas.

Errada ela não está, mas quero me distrair um pouco e gosto de vê-la ficando
bravinha.
— Estou bem… Logo estarei cem por cento de novo — falo sério. — Como
está James?

— Está com Anny, nem sei como ele foi parar lá, mas sou grata por ela ficar
com ele. Não consegui pensar em nada… Apenas queria vir o mais rápido
possível até você.

— Vá para casa ficar com ele… Nosso filho precisa ficar com a mãe.

Ela me olha séria.

— Amanhã de manhã ou de tardezinha devo estar em casa. Fique tranquila já


passei por coisas piores… Isso é só um arranhão.

— Você não vai parar, né?

— Sabemos que não

Ela não responde nada e sai porta a fora.

Fecho meus olhos cansado, estou saturado disso tudo.

É uma merda tudo isso!

— Você deveria mantê-la por perto — Dante fala.

Ele deve ter chegado de fininho com seus passos leves ou meu cansaço não
me permitiu sentir sua entrada.

— Não, eu não deveria.

— Tão sábio para algumas coisas, mas tão tolo para outras… Sabe Marco,
um barco não é remado por um único remo, apenas um par faz com que o
barco ande. Não é só uma pessoa que mantém um casal de pé são os dois
como um par. Um mais um é igual a dois e dois é um número par, você
entende? É difícil ter que lidar com novos sentimentos, é cruel ter tanto e
saber que a qualquer momento pode perder tudo… Tudo que você nem sabia
que era de extrema importância para você — fala me olhando.
Maldito seja Dante Boltoni!

Esse bom coração dele é um merda às vezes…

O infeliz parece ter sempre razão.

— Não trave essa luta dentro de você, ela só irá te destruir mais rápido.
Aceite logo que perdeu… Está tudo bem amar alguém. Meu amigo, você tem
um filho e um filho é a coisa mais precisa desse mundo todo, eles são nossos
espelhos. O que os ensinamos será refletido lá na frente de uma boa ou de
uma má forma, mas o futuro é incerto. — Ele sorri. — Uma vez eu te disse
que o maior vilão da sua história era você… Você é um vilão, porque não
consegue se enxergar da forma como te vimos. Você está tão habituado com
a escuridão que se recusa a todo instante crer que há luz em você. Sei que
teme seu passado, mas pare um pouco de se condenar. Marco a vida é bela
demais para perdemos tempo com coisas banais.

— Acho que você não entende, Dante — falo baixo. — Não nasci em berço
de ouro como você, conheço sua história de perto meu amigo, mas saiba que
jamais desfrutei dos mesmos valores que você durante minha infância. Sou
um nômade. Sou implícito para muitos e até mesmo para mim. Não desejo
ser luz, mas desejo ser alguém melhor. Ultimamente venho ponderando o mal
e o bem dentro de uma forma desastrosa. — Suspiro. — Sabíamos que
aconteceria o que aconteceu hoje e até que demorou. Minha família agora
será um alvo e por isso lhe peço para que leve James e Melanie para a ilha.
Vou entrar de uma só vez no jogo deles e não sairei até ter a cabeça de cada
um deles nas nossas mãos. Uma coisa você tem razão agora tenho dois
motivos para lutar…
Eu odeio o Marco!
Ele é tão insensível!

Só estava preocupada com ele e o que ele faz?

Vai lá e me dá um banho de água fria de todas as formas. Quando ele me


beijou achei que iria realizar meu fetiche de transar em um hospital, mas ele
foi lá e me expulsou de uma só vez.

Infeliz do inferno!

Agora eu estou declarando guerra!

Nada de sexo, ele terá que implorar minha atenção!

Tomara que morra com dor no ombro!

Espero que leve outro tiro só que dessa vez no pênis!

NAAAÃO, mentira no pênis, não!

Ele é meu brinquedo favorito, mais favorito que a montanha russa.

Saio dos meus pensamentos doidos com a parada do motorista e abro a boca
espantada com o tamanho da casa de Dante e Anny.
Gente do céu, que loucura é essa casa!

Muito perfeita!

Casa dos sonhos!

Abro a porta antes do motorista e ando apressada até a entrada da casa, pois
sinto necessidade em abraçar James.

Antes que eu chegue a maravilhosa porta de carvalho branco de quase três


metros, ela se abre revelando Anny segurando James que chora. Ela aponta o
dedo para mim mostrando ao James que a mamãe chegou. Na mesma hora,
ele estende os bracinhos na minha direção, gritando entre lágrimas e corro até
eles o mais rápido que posso.

— Mamãe, está aqui meu amor — digo apertando-o em meus braços e


beijando sua cabeça repetidas vezes. — Para de chorar bebê, mamãe não vai
a lugar nenhum.

— Ele estava calmo, mas do nada começou a chorar chamando por você e
por Marco — fala Anny com sinceridade.

— Tudo bem, hoje foi um dia mais do que agitado para todos nós. — Suspiro
cansada. — Obrigada por ficar com ele.

— Não há de que. — Ela sorri docemente para mim. — Somos uma família e
sei que faria o mesmo por mim… Se quiser dormir aqui não há problema
algum, sei o quão ruim é ficar sozinha.

— Agradeço sua hospitalidade, mas o que desejo é minha casa e minha cama.

— Compreendo perfeitamente… Bem, você tem meu número. Qualquer


coisa basta me ligar, não importa a hora — fala me dando um abraço de lado.
— Agora vá para casa descansar.

Despeço-me dela indo para o carro com James no meu colo.

Nem me importei em pegar seus pertences, outro dia pego, pois hoje só quero
dormir um pouco.
A viagem para casa foi rápida e tranquila. Não houve trânsito e James ficou o
tempo inteiro agarrado a mim. Também não quero soltá-lo, pois meu filho é
tudo que tenho e que preciso.

Nem eu acredito em mim mesma, hein?

Como pode isso?

Estou há tão pouco tempo perto de Marco, sinto uma necessidade enorme de
tê-lo para mim e de ficar com ele para todo o sempre. Se isso é amor eu não
sei, só sei que não me imagino vivendo mais sem ele, entretanto, para tudo
nessa vida há um novo recomeço.

Perdi muitas coisas e por tais motivos aprendi a valorizar até a poeira que há
debaixo do sofá. São pequenas coisas que nos faz crescer, assim como
pequenas vírgulas que fazemos uma história sem ponto final.

Chego em casa exausta…

Literalmente exausta!

Faço para James um mingau reforçado e para mim um lanche. Dou banho
nele e o coloco para dormir no quarto de Marco. Faço uma barreira com
travesseiros para ele não cair e vou tomar banho.

Quando a água quente cai sobre a minha pele me permito chorar…

Choro pelos motivos que nunca imaginei um dia chorar…

Choro por Marco, por ver o quão perdido ele está dentro de si e por saber que
esse atentado de hoje não foi por acaso…

Choro por medo de que ele sofra outro atentado…


Choro pelo pai do meu filho e principalmente choro pelo homem obscuro que
posso estar começando a amar.

Encosto minha cabeça no azulejo do banheiro soluçando alto. Dói tanto por
motivos que desconheço.

Oh, Deus dá uma ajudinha, por favor, me dá aquela ajudinha…

Sabe eu quase nunca peço nada…

Ajuda Marco a achar a luz, não deixe que ele faça qualquer loucura e
principalmente me ajude a ser mais forte.

Escorrego para o chão encolhida e a água quente cai nas minhas costas com
força. Estou tão cansada que poderia até dormir aqui, mas algo me lembra
que a cama de Marco é mais macia e quentinha.

Termino meu banho com as minhas súplicas e me arrasto até a cama de


Marco. Entro, fecho a porta e me deito atrás de James o abraçando com força.
Apenas quero esquecer o dia de hoje.

Acordo sentindo alguém acariciar meu cabelo de uma forma delicada.


Quando abro meus olhos para ver quem é dou de cara com Marco. Levanto-
me da cama em um pulo e pisco os olhos umas dez vezes para ter certeza de
que ele está aqui na minha frente.

— Bom dia, Mel — diz com seu tom de voz habitual que faz com que uma
corrente elétrica passe pelo meu corpo e chegue na minha boceta.

— Bom dia… Cadê James? — pergunto fingindo não ver seu ombro
engessado.

— Está no quarto dele dormindo — diz olhando nos meus olhos.


— Chegou há muito tempo?

— Umas duas horas. Não quis lhe acordar, afinal você precisava descansar
um pouco.

Há olheiras enormes nos seus olhos como se ele não tivesse dormido nada na
noite anterior e estendo minha mão com cautela na direção do seu rosto.
Quando a palma da minha mão se choca contra sua pele quente sorrio e
acaricio sua barba que já está crescida. Levanto meu olhar e levo um susto ao
perceber a forma como ele me olha.

Seus olhos azuis expressam algo que seus lábios jamais dirão…

Marco fecha os olhos e deita a cabeça na palma da minha mão. Ele parece tão
carente e tão necessitado do meu afago.

— Você precisa descansar — falo fazendo com que ele abra os olhos. —
Deite-se um pouco, vou preparar o café da manhã.

— Não vou conseguir dormir, eu te ajudo no preparo do café da manhã. Não


quero que você ponha fogo na cozinha logo pela manhã.

— Só para te avisar, cozinho muito bem.

Ele não fala nada, apenas sai andando como se fosse o dono do mundo.

Imbecil, convencido!

Aí que ódio dele!

Desço a escada correndo e escorrego no último degrau.

— AÍ QUE MERDA! — grito ao sentir minha bunda se colidir com o chão.

— Se gritar mais alto, J.R. irá acordar.

Levanto-me do chão sem sua ajuda.

Eu sabia que essa escada iria me derrubar, só não imaginava que seria hoje.
Assassina do inferno!

— Essa escada não gosta de mim — falo com um bico do tamanho do


mundo.

— Ela não fez nada, você que é desastrada naturalmente — diz bem próximo
de mim.

Quando foi que ele se aproximou tanto?

Antes que eu pense seus lábios estão nos meus e sinto uma certa urgência
neles. Abro minha boca dando passagem para que sua língua invada minha
boca. Suas mãos na minha cintura me puxam para mais perto dele, fazendo
com que sinta sua protuberância crescer e em resposta puxo seu cabelo com
força fazendo com que nossos lábios fiquem ainda mais grudados.

Esfrego-me nele na cara dura, apalpo seu pau sem vergonha nenhuma. Ponho
minha mão dentro da sua calça e ele está sem cueca.

Safado!

Seu pau se encontra rígido e pronto para me invadir.

Marco beija meu rosto, desce para meu pescoço, deixando pequenas
mordidas e parando quando alcança a alça da minha camisola preta. Ele
afasta a alça com a boca, tanto de um lado como do outro e me mexo um
pouco fazendo com que ela caia de vez no chão. Não estou usando sutiã o
que facilita muito o trabalho de Marco e ele cai de boca no meu mamilo
direito o chupando com força. Gemo ao sentir dois dos seus dedos me
invadindo sem aviso, mesmo usando somente a mão ele me destrói.

— Deite-se no sofá Mel… Preciso entrar em você.

Corro para o sofá já abrindo minhas pernas para ele.

Com uma única mão ele desabotoa a calça fazendo com que ela caia no chão.
Ele a chuta para longe com certa urgência, fazendo com que eu solte uma
gargalhada nervosa ao ver seu pau duro e maravilhoso apontado para cima.
Dá até água na boca!

— Outra hora você mama nele Mel, agora deixe-me me enterrar em você —
diz com a voz rouca de tesão.

Ele caminha até mim, se posiciona entre minhas pernas e me invade de uma
só vez.

Marco fica parado, não se mexe apenas me olha de uma forma que me deixa
ainda mais necessitada. Puxo-o para um beijo e tenho quase certeza de que
machuquei seu ombro.

Quando ele dá a primeira estocada, me sinto no céu.

Horas depois no hospital…

— Senhor Haylock entendo que são jovens e cheios de hormônios, mas peço
que não faça malabarismo com sua esposa — fala o médico sério ao ter que
refazer os pontos no ombro do Marco. — Creio que ficar uns dias de molho
não vá fazer seu pênis cair ou algo do tipo. Então, por favor, para não abrir
esses pontos novamente evitem fazer algo violento… Está dispensado.

Estou rindo mais com respeito dessa situação toda.

Após me fazer gozar três vezes e ele gozar duas, Marco passou a sentir muita
dor no ombro e por insistência minha viemos ao médico. Adivinha só ele
estourou os pontos e posso até ter culpa, mas jamais admitirei que sou
culpada.

— Nada de sexo, Melanie — fala mal-humorado.

— Quer dizer, você meu bem… Eu posso, já que estou bem e a noite é só
uma criança — digo como se não fosse nada.
— Cuidado Melanie, tenho limites e não vá querer ultrapassá-los — diz bem
próximo a mim. — Deixe outro homem te tocar que mato o sujeito e te dou
uma boa surra.

Sorrio ao perceber que ele sente ciúme de mim.


É assustador estar aqui!
Não gosto deles me olhando como se quisessem algo de mim, aliás, o que
podem querer de uma criança?

Tenho apenas nove anos, maduro demais para minha idade, mas jovem
demais para ser adulto…

É complicado.

Finjo que não vejo o menino da minha idade usar drogas, muitos aqui usam,
mas eu não. Recuso-me a usar essas merdas. Aprendi algo nesses poucos
anos de vida e uma delas foi que não use nada que vá te prender. Não tenha
vícios, pois, você será dependente deles e não eles de você.

Faz dias que estou nesse navio, não sei quando irei ver a terra, mas não dava
mais para ficar onde estava. Mamãe disse que os EUA será um lugar melhor
e que lá irei encontrar uma casa, um lar, uma família. O que ela não sabe é
que não desejo ter uma família, quando se possui uma família há
preocupações além das suas próprias. Já tive uma e olha só os perdi de uma
única vez.

Prefiro ser sozinho…

Ser sozinho é melhor.


— Olá — diz uma voz suave.

Olho para cima e vejo uma menina negra me olhando.

— Meu nome é Tânia. — Ela me olha com expectativa de que eu vá falar


algo, suspiro frustrado e lá se vai meu perene momento de paz.

— Olá, meu nome é Marco!

Mais uma vez essas malditas lembranças…

Suspiro frustrado por ter perdido mais uma noite de somo, mais uma entre
tantas outras. O quarto ainda está bem escuro e não faço ideia de que horas
são, mas deve ser de madrugada. Tento vira meu pescoço para ver as horas
no que relógio digital que há em cima do criado-mudo, mas não consigo há
algo que me impede ou melhor, uma mulher de um lado e uma criança do
outro, Melanie e J.R. estão grudados em mim. A doida da mulher não
compreende que não estou no meu melhor estado, ela não entende que não
gosto de dividir minha cama ainda mais com alguém que constantemente
gruda em mim.

Meu ombro ainda está ferrado, na verdade, ele está muito ferrado. Estou
proibido de quase tudo e principalmente do meu essencial SEXO. Estou sem
sexo, sem nenhum tipo de sexo, isso conta o oral. Fui proibido de praticar
sexo bruto, mas Melanie entendeu como greve.

A mulher teimosa declarou greve e estou frustrado, quase chegando a um


estado de loucura.

Tento me levantar, mas falho ao sentir os bracinhos de James me segurando.

Porra!
Ele tem que aprender a dormir na própria cama. Na verdade, não sei o que ele
e a louca da mãe fazem aqui na minha cama. Acreditem quando digo que não
faço à mínima ideia de quando fiz o convite da festa do pijama no quarto do
MARCO.

— Dá para você ficar quieto, quero dormir. Não sei se sabe, mas amanhã
trabalho cedo — resmunga Melanie com uma voz de sono que
inconscientemente me dá um tesão.

Devo estar louco!

— Se estivesse dormindo no próprio quarto não estaria reclamando agora.

— Deixa de ser chato, Marco! Pelo amor de Deus, seu filho queria dormir
com você e eu vim junto para ter certeza absoluta de que ele dormiria bem —
fala agarrando meu pescoço.

Desisto, simplesmente desisto!

Melanie está indo para empresa e eu não. Odeio ter que ficar em casa, mas
parece que ninguém entende isso. Estão me tratando como uma criança
birrenta.

Odeio birras!

Nunca fiz e jamais farei!

Opto por fica quieto esperando dar a hora deles se levantarem.

— Papai “abou” “senho”, “quelo mais” — fala James com os olhos cheio de
lágrimas.

Primeiro erro do dia: Ter deixado J.R. assistir esse maldito desenho.
Segundo erro do dia: Não ter gravado a maldita programação.

Terceiro erro do dia: Não ter nenhum plano B.

James não está indo para a creche por escolha minha, depois do atentado
fiquei recluso e opressivo. Não sei o que pode acontecer com meu filho ou
com a louca da mãe dele. Já coloquei na cola da Mel vários seguranças da
minha inteira confiança e deixei um recado para cada um deles que se
ousarem olhar para ela de forma errada os castrarei. Bastou dizer isso para
eles não dirigir uma palavra sequer para ela fora do código de segurança.
Obviamente que ela chegou em casa gritando feito louca que eu era um
completo canalha e que se ela quisesse daria sim para meus seguranças.
Apenas me calei, na hora certa ela sentirá o peso de cada maldita palavra dita.

— Pai “senho” — diz chorando.

Aí está à parte ruim de ser pai de primeira viagem…

Eu nunca gostei de crianças, na verdade, não as suportavas, elas me lembram


de um passado que tento a todo custo esquecer.

— Vamos ao parque? — pergunto trazendo sua atenção para mim. — Lá há


escorregadores, gangorras e balanços.

— “Nhanço” pai?

— Isso filho balanço — falo sorrindo.

Meia hora depois

Não sei me adaptar a um parque com várias crianças, James corre para lá e
para cá com os amiguinhos dele. Amigos, os quais ele fez em menos de uma
hora. Literalmente ele tem o gênio da Melanie.
— Seu filho se parece muito com você — diz uma mulher loira com os olhos
verdes que aparenta estar grávida de alguns meses. — Oh, desculpe-me. Meu
nome é Irina Johnson, sou mãe daquele menino que está brincando com o seu
filho — diz sorrindo ao acariciar sua enorme barriga.

— Sou Marco Haylock… Pai do pequeno ruivo ali.

— Marco Haylock? — pergunta espantada já me deixando em estado de


alerta. — Oh, meu Deus!

— Qual é o problema com o meu nome? — pergunto já sério.

— Por favor, não precisa me assustar… Meu Deus, ele vai ficar tão feliz em
saber que te encontrei — fala mais para si própria. — Ele sempre tenta se
aproximar, mas nunca consegue… Ele até mesmo já foi em uma audiência,
mas ficou com vergonha de lhe chamar para conversar. Tem noção que desde
o momento em que pisamos em Boston ele fala de você — diz me olhando
com lágrimas nos olhos. — Até meu filho sabe de certa forma quem é você.

As palavras dessa mulher me assustam muito e encaro seus olhos


lacrimejados em busca de alguma mentira, mas só encontro palavras sinceras
nelas.

Quando foi que me tornei tão importante para alguém?

Quem é ele?

De onde eles vieram?

São ameaças?

— Por favor, me deixe ligar para ele para que possamos conversar, pode ser
aqui mesmo. — Aceno a cabeça em concordância.

Quando a mulher se levanta para fazer sua ligação faço um sinal para meus
seguranças ficarem ainda mais atentos, afinal não estamos em tempos de paz.

Olho em minha volta em busca de algo fora do normal, mas aí vem o


problema não sei o que é normal em um parque rodeado de crianças de tudo
que é idade. Há pais para todo o lugar, crianças chorando, gritando, fazendo
birra ou dando altas gargalhadas como meu filho.

A mulher, que se chama Irina, some por um tempo.

Como pode uma mãe sair e deixar seu filho no parque?

Será que ela não percebe que sou um completo desconhecido?

Passa-se um tempo, não muito para ser mais exato, até que ouço uma voz que
reconheceria em qualquer lugar do mundo. Confesso que uma parte de mim
ficou feliz, mas a outra nem tanto. Se ele está aqui não significa que meu
passado está batendo na porta. Na verdade, não está batendo, está entrando
como uma furação.

— Marco Haylock.

— Dominique Johnson — falo me colocando de pé para cumprimentá-lo


melhor.

— Meu amigo, é tão bom lhe ver em vida — fala, me dando um abraço
apertado e retribuo sem querer. — Faz alguns meses que cheguei à cidade e
logo depois ouvi falar de você. Fui atrás de você em audiências, mas não
sabia como me aproximar ou como lhe abordar.

Compreendo perfeitamente o que ele quer dizer, mas ainda não o considero
um amigo próximo. São poucos os que considero próximos e pessoas ligadas
ao meu passado quase considero um inimigo.

— Poderia ter me abordado.

— Não é tão simples, você sabe disso… Todos nós fomos separados uns dos
outros há tempos. Cada um seguiu seu próprio destino e você cresceu e se
tornou um homem exemplar.

O que há de exemplar em mim?

Encaro o homem à minha frente, Dominique não é um cara alto e muito


menos forte, ele é mediano com o cabelo negro curto. Ele gosta de sorrir e
particularmente não é muito inteligente. Lembro-me de sempre ter que ajudá-
lo. Ele sempre quis ver a parte colorida do mundo, me recordo vê-lo sempre
fugindo da escuridão que habitava em nossas vidas. Dominique nunca gostou
de ficar só, ele sempre vinha até mim ou até mesmo até Tânia para conversar
e contar dos seus sonhos de um dia viver em lugar melhor. Somos bem
oposto um do outro de várias formas. Eu sempre me habituei à escuridão,
nunca fingi não enxergar o mundo em que vivia. Sempre soube que sairia
manchado, confesso que na época pouco me importava o tamanho da
mancha, mas hoje ao olhar para James me questiono, o quão detonante essa
mancha pode ser. Hoje temo as consequências que trouxe para minha própria
vida.

Talvez se eu tivesse sido mais tranquilo e paciente não teria o que temer hoje.
Não teria que temer pelo meu filho, por minha “mulher” e por meus amigos
próximos. Hoje vejo que o ditado é mais do que real, “aqui se faz, aqui se
paga”.

— Tornei-me o que achei melhor para mim mesmo.

— Oh, por favor, sabemos que de todos, apenas Tânia e você foram os únicos
a quebrarem a corrente do destino que nos foi implantado. Não me arrependo
dos caminhos que tomei e me orgulho do homem me que tornei todos os dias,
mas ainda há aquele medo de perder tudo, sabe? — Dá um sorriso triste. —
Perdi muitas coisas nesses anos, mas ganhei tanto. Tenho um filho e outro a
caminho… Não me orgulho de muitas coisas que fiz, mas me orgulho da
família que estou construindo… Olha só seu filho é sua cópia fiel. Um dia ele
terá tanto orgulho de você quanto eu tenho.

— Não há motivos para se orgulhar — digo seco.

— Espero que um dia você se enxergue da forma como eu te enxergo. Espero


que um dia você se veja da forma que teu filho irá te ver. Agora você recebeu
a mensagem?

— Sim, recebi.

— Sabe que eles não vão parar até nos destruir, não sabe?

— Deixe-os vir — falo sério.

— Não é mais só eu ou você, Marco.

— Não. Eles não tocaram na minha família, pois os destruirei antes disso. —
Antes que ele possa falar algo meu telefone toca, olho o visor e vejo o nome.

Tinha que ser!

— RUIVO SEXY? — grita à doida.

— Aconteceu algo Melanie?

— Sim.

— O que houve? — pergunto aflito.

— Então, estava lendo alguns papéis na sua sala, mas aí percebi que nunca
transei com você na sua mesa — fala me deixando confuso com o assunto. ꟷ
Acabou de se tornar meu fetiche… Quero transar com você nessa sala, em
cima dessa mesa de madeira grossa. Li tantos livros sobre CEOs, mas nunca
pensei que realizaria esse meu sonho literário.

— Melanie…

— Nada de Melanie, assim que seu braço melhorar iremos batizar essa sala
com o nosso gozo. Agora me deixa trabalhar e dê um beijo em James por
mim.

A maluca desliga me deixando ainda mais aflito.

— Sua esposa? — pergunta Dominique curioso.


— Sim.

— Elas nos enlouquecem às vezes — fala e concordo com a cabeça. —


Marco, o que irá fazer sobre eles estarem vindo?

— Irei me preparar da forma certa e adequada.

— Peço que também dê proteção para minha família, não tenho as mesmas
condições que você — pede com a voz apertada.

Se eu que tenho todos os recursos estou temeroso, imagina ele?

— Você e sua família terão minha proteção — falo recebendo em seguida


mais um abraço.

Dominique gosta de abraçar e isso não mudou com o tempo.

Olho para James que sorri para uma flor qualquer e tendo certeza de que farei
o impossível para que nada aconteça com ele.
Semanas depois

Para tudo há um início e um final, seja ele bom ou ruim.


Não há forma clara ou expressões possíveis para demonstrar o que estou
sentindo agora. Juro pelo meu filho que vou matar, destruir, deformar,
estrangular e enforcar aquela mulher. Vou matar Melanie da pior maneira
possível e irei fazê-la implorar por perdão. Eu avisei que estamos em estado
total de alerta e essas semanas que se passaram foram bem difíceis e tensas,
pois sofremos algumas ameaças e atentados. Entrei em estado máximo de
tensão e minha sorte é que Dante e Pedro vêm me dando um apoio e tanto,
mas a doida e pirada da Melanie não entende que estamos sob ameaça e que
se ainda estamos aqui em Boston é pelo simples fato de que Dante não me
deixou escondê-la na ilha.

Comprei uma ilha há alguns anos no intuito de fugir do mundo às vezes e fiz
de lá uma fortaleza, onde só Dante e Pedro sabem como chegar. Lá pode ser
considerado um paraíso, já que é cercada pelo lindo Oceano Pacífico, sem
falar nas mais belas cachoeiras que há lá.

Não fui o único a comprar uma ilha, na verdade, só segui o exemplo do


Dante, mas optei por algo menor e mais simples e pela primeira vez não quis
algo em cores neutras, optei por deixar a casa em tons claros. Ouso até
mesmo dizer que fiz de lá meu fugaz[2] momento de paz.

Paz?
Que ironia Haylock, acho que agora você vê que sempre desejou um
momento de paz. É hilário saber que indiretamente sempre fui meio que
obsessivo pela luz, talvez seja pelo simples fato de sempre ter vivido na
escuridão e nas sombras da noite, mas não compreendo o porquê de não
conseguir me adaptar a luz. Talvez tenha nascido para viver nas trevas.

Acho que nasci nas trevas e por isso me sinto incapaz de ver a luz, tenho
tendências a sempre evitar a luz que há ao meu redor, ou talvez apenas tema o
desconhecido.

Temer o desconhecido?

Que pergunta mais sem sentido, Haylock.

Há medos dentro de mim…

Medos, os quais, me recuso a pronunciar em voz alta, talvez, só talvez eu


esteja sendo covarde, mas aprendi que deve se dar um passo de cada vez. Um
dia quem sabe eu os pronuncie em voz alta…

Por agora, estou bem calado sem ter o que dizer.

— Marco, Deus sabe que não tenho culpa de nada — fala Melanie fazendo
com que eu perca a linha de raciocínio que estava seguindo. — Você sabe
que seria incapaz de fazer algo assim, sou um amor de pessoa.

Pergunto-me o que ela é incapaz de fazer, às vezes acho que até o Capeta
perde para ela.

Melanie é terrível!

Acho que terrível e a palavra mais carinhosa para lhe descrever nesse
momento. Em um mundo onde unicórnios voam, certamente ela seria a peste
negra do lugar.

— Melanie, eu pedi e repeti várias vezes a mesma coisa — falo com uma
calma que até me surpreende. — Não lhe custava nada me dar ouvidos, aliás,
ainda arrastou o pobre segurança com você. Esqueceu das consequências para
ambos? — falo sério em um tom de voz baixo e calmo.
— Parou para pensar que talvez o segurança tenha me sequestrado? —
pergunta com uma tremenda cara de pau que nunca vi igual.

— Já parou para pensar que essa sua atitude infantil pode fazer um
trabalhador, pai de família perder seu emprego? — pergunto já sem calma.

— Não exatamente — fala baixo.

Faço um sinal para o segurança sair, vou até a porta e passo a chave.

— Para toda escolha, há uma consequência — falo baixo.

— Okay Marco, já compreendi que errei e me desculpe — fala com um olhar


tristonho.

— Compreendeu mesmo? Você veio sem minha permissão, colocou em risco


o emprego de alguém e ainda ousa me pedir desculpa, achando que tudo vai
ficar bem?

— Eu só o queria trazer aqui — fala acuada.

— Deixa me ver se entendi — falo pensativo. — Você me trouxe para tentar


me seduzir e para que eu a foda com força contra essa mesa? — Dou um
sorriso ao ver que ela ficou surpresa por descobrir seu plano.

Era mais do que obvio o que ela estava planejando.

O que me deixou puto da vida foi o simples fato dela achar que eu não
perceberia de cara. Para me deixar mais furioso usou o pobre segurança para
tentar me fazer ciúme.

Se ela quer ser fodida contra a mesa da minha sala na empresa, era só me
chamar para acompanhá-la que eu não recusaria de forma alguma, aliás, viria
até correndo na sua direção.

Melanie teve a terrível ideia de vir para a empresa em pleno sábado e, bem,
aqui estamos nós…
Preparados para ter uma boa sessão de transa descabida?

Melanie, talvez ainda não tenha percebido, mas eu gosto de algo bem sujo e
sem controle algum. Eu gosto de brutalidade e adoro ouvir seus gritos de
prazer pedindo cada vez mais e mais.

Ando a passos largos até Melanie e puxo-a para mim beijando sua boquinha
que nunca para quieta. Seu gosto de cereja me enlouquece e o gemido que ela
solta quando chupo sua língua me deixa extasiado para lhe dar mais prazer.

Tiro seu vestido com brutalidade e ela quase rasga minha camisa em um ato
desesperado de tirá-la de mim. Beijo seu pescoço deixando pequenas
mordidas, por alguma razão tenho pressa de possuí-la de uma só vez.

Sinto necessidade de tê-la para mim…

Uma necessidade que nunca senti em toda minha vida, é como se o toque
dela me queimasse e me desse um grande alívio ao mesmo tempo. Nunca na
minha existência senti tanta ansiedade em ter uma mulher só para mim, mas
com ela me desarmo por um inteiro…

Por ela sinto tudo aquilo que jurei nunca sentir.

É um sentimento tão louco, tão intenso que até mesmo me perco dentro de
mim. Não há palavras que irá conseguir expressar o que sinto cada vez que
suas mãos macias passam por minha pele, pois não há sensação melhor do
que essa e talvez ter alguém ao meu lado seja bom.

Faço Melanie se curvar perante a grande mesa de madeira maciça, abro suas
pernas, dou um tapa na sua bunda arrancando um grito de surpresa e
massageio a área com cuidado.

Já me encontro nu e com cuidado vou entrando dentro dela, arrancando um


gemido prazeroso de nós dois. Sua quentura me deixa extasiado e suas
paredes me apertam conforme vou indo mais fundo. Agora que estou dentro
dela não tenho mais pressa, quero ir devagar. Quero amá-la pela última vez
antes de nos despedir.
Adoro o corpo da Melanie…

Amo cada pedaço seu!

Em alguns momentos sou bruto e em outros sou delicado. Hoje não consegui
ser sujo, pois uma gentileza devastadora surgiu dentro de mim. Eu quis ser o
que nunca fui com uma mulher…

Eu fui carinhoso durante o ato sexual.

— Lembre-se que tudo que faço é para o bem da nossa família — sussurro no
seu ouvido, enquanto ela goza pela terceira vez.

— Você destrói tudo que toca Marco! — fala entre lágrimas. — COMO
OUSA ESTRAGAR A SURPRESA QUE ESTAVA PREPARANDO, COM
ESSA NOTÍCIA? — grita jogando um vaso na minha direção.

— Melanie, essa uma atitude necessária para o bem…

— CALA A PORRA DA SUA BOCA! — grita me cortando. — Você não


sabe como é ter que ficar sozinha e com medo. Você não sabe como é amar
alguém e depois perder tudo… Você me amou ontem Marco, você foi tão
carinhoso, mas hoje vejo que foi só uma forma de se despedir — fala
apontando o dedo na minha cara. — Estou te odiando agora, eu lutei contra
todos os meus instintos de sobrevivência para não me manter ao seu lado.
Lutei contra mim mesma para não lhe acusar a todo instante — fala a última
parte mais para si mesma. — Deixei você entrar e eu nunca deixo ninguém
entrar… Sabe, eu nunca deixei que ninguém chegasse até meu coração, pois
sabia que alguém iria me foder… Eu me desarmei para que você pudesse
diminuir sua munição. Entendo que não estamos há tanto tempo juntos, mas
pensei que fossemos uma família e vejo que me enganei. Não se preocupe,
meu filho e eu iremos sair da sua vida… Não quero atrapalhar ninguém. —
Ando na sua direção, puxo-a para mim antes que ela possa falar qualquer
coisa e aplico o calmante.

Não tinha intenção de fazer isso, mas não tenho mais escolha…

James já deve estar dormindo.

Vejo Melanie desfalecer em meus braços, talvez quando ela acordar irá me
odiar ainda mais, mas tudo bem. Isso tudo é necessário para o bem deles.

Pedro chega dez minutos depois que liguei, ele me ajuda a levá-los até o
jatinho particular que já está à espera. Dante nos acompanha em um dos
carros que nos segue.

Meia horas depois fico vendo o jatinho desaparecer no ar. Por mais que me
doa deixá-los ir sem mim e que cada parte do meu ser grite para eles ficarem,
sinto que tenho que afastá-los de mim por um tempo.

Recuso-me a perdê-los.

Provavelmente Mel esteja certa, eu não sei amar, mas gostaria que ela
entendesse que tudo que estou fazendo é pela nossa família. Ouvir Mel falar
que me odeia me doeu tanto que por um instante meu coração falhou algumas
batidas.

Não era meu desejo que tudo isso acontecesse, mas o que poderia fazer?

Estou com as mãos atadas!

Como contar do meu passado para ela?

Como lhe mostrar tamanha escuridão que há dentro de mim?


Se ela visse as barbaridades que cometi e a quão obscura é minha alma, se
apavoraria de uma forma que nem mesmo me deixaria chegar perto de James.

James!

Meu menino é só um bebê esperto demais para sua pouca idade. Espero de
todo o meu coração que ele não me odeie.

Espero que eles entendam que tudo que faço é para mantê-los seguros.

— Eles estarão seguros — fala Dominique ao meu lado.

— Sim, estarão.

Saio de perto dele indo até meu carro e dirijo rumo a única coisa que pode me
acalmar no momento, o Museu de Belas Artes de Boston.

Ando pelo grande museu evitando olhar as pessoas e caminho em busca de


algo específico.

Sorrio ao olhar para obra A Lagoa de lírios d'agua de Claude Monet. Não é
uma das suas melhores obras, mas me acalma olhar para essa pintura.

— Imaginei que te acharia aqui — fala Anny ao meu lado.

— Bem, achou — falo sem esconder meu sarcasmo.

— Sabe Marco, eu melhor do que ninguém sei dos sacrifícios que fazemos
por quem amamos. Você sabe o quanto minha história de vida é ferrada…
Sabe o quanto aprendi com os meus erros, mas Marco não se culpe tanto.
Você está fazendo o que acha correto, não sei a profundidade desse
problema. Dante não me fala nada, apenas me disse que era um assunto que
só você poderia resolver, mas não acho que está preparado para me contar —
diz com a mesma doçura de sempre. ꟷ Há um tempo estive aqui em busca de
soluções, me lembro de cada palavra que me disse naquele dia. Elas foram
para o meu crescimento, mas hoje vim lhe dizer algo muito importante. —
Ela se vira para mim e completa. — Talvez você vá sentir uma culpa
devastadora que irá te ferir cada vez mais, ou ainda sinta medo a cada
instante. Talvez pareça que não vá passar, mas saiba que vai. Irá doer todos
os dias, acredite vai doer como um Inferno, mas cada vez que saudade apertar
lembre-se que tudo que está fazendo é pela sua mulher e filho. Hoje ela pode
te odiar, mas amanhã você poderá reconquistá-la. Apenas faça o necessário
para tê-los de volta. Ah, Marco a maré pode estar contra, mas saiba que uma
hora a tempestade irá se acalmar… Dê tempo ao tempo.

Não há nada que possa dizer nesse momento, apenas continuo observando a
imagem que serenamente me traz calma.

Quando saio do museu já sei para onde ir e o que fazer.

Está na hora dos jogos começarem!

Que sobreviva o mais forte…


Um mês depois…

Suspiro cansado após dar mais um soco no saco de areia na minha frente,
estou esgotando meu físico para ver se ao menos consigo dormir um pouco.
Sinto-me cansado, mas simplesmente não consigo dormir.

Um soco…

Dois socos…

Três socos.

— Acho que já deu por hoje, não acha? — questiona Pedro surgindo das
profundezas do inferno. — Sabe, seria mais fácil se aceitasse ajuda — fala
em um tom calmo. — Você está ficando doente Marco… Você não vive, está
obcecado por algo que talvez nem exista de verdade. Sei que teme seu
passado, mas meu amigo, por favor, não se perca entre essas grandes ondas.
Você não está vivendo Marco, está apenas respirando.

Não falo nada, já que não há o que dizer.

Retiro as luvas da minha mão e caminho rumo ao banheiro que há aqui na


academia. Retiro minhas poucas roupas, entro em uma cabine que há ali e
deixo a ducha quente cair sobre mim. Encosto minha testa na parede fria e me
permito sentir dor pela primeira vez…
Há uma dor gritante no meu peito…

Uma dor acompanhada por um medo mortal de perder Melanie e James. Eu


nunca me importei em perder minha vida, mas só dessa vez estou com medo
da morte. Ainda não ensinei James a andar de bicicleta, a surfar e não dei
umas boas palmadas na bunda gostosa da Melanie, enquanto a fodo com
força por trás.

Porra!

Ainda não os levei no parque da Universal ou assistimos um filme de


animação no cinema. Não fizemos tantas coisas juntos…

Agora entendo quando Dante diz que temos que viver o hoje como se fosse o
último dia e que não devemos deixar para depois o que se pode fazer hoje.

Porra, estou mais sentimental do que tudo!

Nunca na minha existência me senti assim…

Sinto que posso perder tudo em questão de segundos.

Eu nunca tive muito e nunca sonhei em ter mais do que o necessário para
viver. Nunca me vi com grandes carros e casas, assim como nunca me vi com
o status de milionário. Muito menos nunca pensei que um dia seria chamado
de pai.

Porra, conquistei tudo isso em um ato de sobrevivência!

Porém, afirmo com toda convicção que de todas as minhas conquistas ser pai
é a melhor delas.

Eu só queria sobreviver ao mundo obscuro e cruel que vivia e sair das grades
que me limitavam…

Eu só queria a liberdade!

Buscava não ter uma coleira presa no meu pescoço como se fosse um cão,
nasci em uma cela onde meu carcereiro era tão cruel quanto o Diabo. O
diretor do presidio não tinha alma e sentia apenas ódio. Cresci tendo que
correr para poder viver e não me foi permitido chorar ou sorrir. Quando
enfim consegui fugir, corri contra o vento mesmo que estivesse pisando em
águas escuras de esgoto. Lembro-me de sorrir pela primeira vez, enquanto
saltitava por sair das grades.

Porra, eu era apenas uma criança!

Uma mera criança que desde sempre foi tratado como adulto…

O que eu sabia da vida naquela época?

Eu nada sabia, mas já era sábio o suficiente para idade que tinha.

Lembro-me que conheci a mulher que verdadeiramente chamei de mãe


enquanto roubava uma maçã para poder comer. Ela me ajudou a roubar e
ainda dividiu comigo seus outros furtos. Éramos meros moradores de rua…

Naquela época, naquele lugar pessoas como “nós” eram tratados como bicho
ou até mesmo pior que um. Ela me levou para uma tenda, onde vivia com
mais três crianças como eu. Entre eles havia um adolescente que não parava
um instante de sorrir, o que chegava a ser irônico. Recordo-me de uma vez
ele dizer que sorria por estar vivo e ainda posso ouvir sua voz martelando na
minha cabeça…

“Sabe ruivinho, pode parecer que nada temos, mas somos sortudos por ter
uns aos outros. Somos uma família…

Eu por vocês e vocês por mim”.

O infeliz cumpriu sua palavra, foi ele por nós, quer dizer, foi ele por mim…

Eu nunca saberei como agradecer por ele ter me dado a vida.

Aquele dia foi a primeira vez que chorei por perder alguém…

Aquele dia pela primeira vez questionei o que queria para o futuro. Então por
ele, um amigo que se tornou mais que um irmão, resolvi lutar pela verdadeira
liberdade, mas fracassei na primeira tentativa e nas seguintes.
Sobrevivi a miséria e quando achei que teria uma vida melhor fui puxado
para a escuridão absoluta. Foram eles que me tornaram uma pessoa
monstruosa e me levaram para outro tipo de cela. Nessa minha prisão, os
gritos de horror não eram apenas o meu, mas sim o de outras pessoas. Tem
noites que fecho meus olhos e me vejo mais uma vez naquela maldita sala
preta vendo o sangue inocente ser derramado. Ainda vejo seus olhos me
pedindo ajuda e eu nada podia fazer. Na minha iniciação, o véu foi rompido e
um grito de medo o inocente deu. Um inocente foi para sempre manchado e
para todo sempre terei que conviver com o peso da minha escolha.

Sinto-me um Demônio…

Sinto-me culpado!

Tem dias que nem sei como conseguirei andar, já que em meus ombros há
um peso grande, mas não maior do que o da minha consciência e desse peso
não há fuga.

Eu me lembro das vezes em que tentei fugir…

Porra!

Eu lembro de correr mais do que minhas pernas podiam suportar e se fechar


meus olhos ainda consigo sentir meus pulmões buscando por ar. Lembro do
segundo falso gosto da liberdade, mas também me lembro de cair de cara no
chão ao sentir algo me acertar em cheio. Até hoje se passar a mão posso
sentir uma das várias cicatrizes que tenho. O primeiro tiro tomado nunca se
esquece, arde como um inferno e sobe um cheiro de carne queimada. Quando
a ficha cai você percebe que é a sua carne que foi queimada e marcada, mas
essa foi apenas mais uma entre a antecessora e sucessora.

Não sei como Melanie não percebeu o quanto a pele das costas é grossa, bem,
não só ela como outras partes. Ela só passa a mão em mim quando estamos
fodendo iguais dois loucos e é visível que minhas tatuagens são mais grossas
que o normal. O irônico é que ainda sinto cada uma delas e quando me olho
no espelho posso vê-las por mais que estejam cobertas por tintas e rabiscos
bem desenhados.
Odeio ter que me olhar no espelho…

Odeio ter que encarar quem sou!

É insuportável não ser o que dizem que você é…

É como ter uma falsa identidade.

Odeio meu reflexo!

Meus olhos transmitem o que quero que vejam e aprendi a dar sorrisos sem
ao menos sorrir com a vida, mas quando me encaro no espelho vejo tudo que
tento a todo instante esconder. Vejo tantas coisas, como as trevas que
habitam em mim, meus crimes, a dor que finjo nunca sentir, a pessoa cruel
que fui e o quanto sou quebrado.

Minha alma é tão escura quanto a água do esgoto, onde corria quando criança
e se Deus existe, me pergunto como Ele permitiu que uma criança sofresse
tudo que sofri, mesmo que saiba que há uma grande parcela de culpa sobre
mim, já que foi um caminho que escolhi percorrer. Eu já estava fodido e não
vi motivos para não me foder mais. O que não sabia naquela época é que eu
iria me cobrir com sangue inocente, mas como sabemos eu não posso e nem
podia voltar ao início.

"Não chore, se chorar só irá sofrer mais…

Crianças sujas não são dignas do céu."

Ah, me lembrei dessa maldita frase que martelou por anos na minha cabeça
durante a fase em que eu deveria ser apenas uma criança…

E o que é ser criança?

Acho que ser criança é o que James é hoje. Meu filho vai ter uma infância
normal, uma infância onde o amarei da melhor forma possível, mas primeiro
irei aprender a amar. Tenho muito que aprender ainda, mas dessa vez irei
aprender coisas boas.
Alemanha

— Você tem certeza de que quer fazer isso? — pergunta Dante. — Sabe dos
riscos que vai correr e a chance de sair vivo é mínima. Você tem um filho e
uma esposa para cuidar. Sabe que podemos fazer isso de uma outra forma. Há
muito em jogo Marco, não é mais só sobre seu passado, agora também é
sobre seu presente e futuro. Há uma vida que depende da sua e
consequentemente outra. Você não é mais sozinho meu amigo, sei que me
considera um irmão, mas agora você tem o que mais desprezou na vida…
Você tem uma família e isso é mais do que tudo. Quero que saiba que te
apoiarei no que for preciso. Nossa equipe estará lá com Dominique e você.
Há também a força especial da CIA ao seu lado… Vamos agir conforme a lei.
Não há motivos para agirmos fora dela.

Não digo nada, absolutamente nada.

Estamos na Alemanha há três horas, o plano é chegar ao bar e recolher


informações para dar a polícia e acabar de vez com o “Ciclo”. Só que, há
muito em jogo e não é tão simples quanto parece. É bem complexo o que
vamos fazer, sei que já fui inocentado, mas temo pela primeira vez o que sou
capaz de fazer. Não sou inocente e jamais serei, entretanto, percebo que sou
apenas um pião no jogo entre reis e rainhas. Não é mais só sobre crimes é
também sobre vidas. Passo as mãos no meu cabelo bagunçando e penso…

Melanie, James é igual a FAMÍLIA.

Porra!

Eu tenho uma família!

Isso é fodido demais, porque sinto que não estarei com eles nos próximos
anos.
Sei que se eu sair vivo de lá será por pura misericórdia de Deus.

Olho Dominique antes de entrar no bar onde encontraremos velhos


conhecidos. Dom parece estar nervoso, já eu estou calmo até demais. Evitei
por anos estar nesse lugar, mas vejo que não há mais como fugir do passado.
Quero resolver logo isso para voltar para minha mulher e filho.

Porra!

Até já chamo a maluquinha de minha, isso mostra o quão ferrado já estou. A


diaba que grita pela Virgem Santinha me laçou como se laça um cavalo
selvagem.

Porra, eu sou selvagem para caralho!

Sinto falta de meter duro dentro dela e do que pensei que jamais sentiria.

— Acho que está na hora de ficarmos cara a cara com o passado — fala
Dominique antes de puxar a porta para entrar no nosso inferno particular.

— Estou todos os dias cara a cara com ele, hoje só irei ver rostos mais feios
do que o meu — falo calmamente. — Abre logo essa porra, antes que eles
abram por nós.

Quando Dom abre sinto o cheiro de maconha e outras coisas.

Realmente algumas coisas não mudam…

Dominique entra cauteloso, já eu entro como se fosse dono dessa porra.

Sou herdeiro do Rei.

Cadê você papai?


Olho em volta e vejo que todos me encaram surpresos, mas há um certo
grupo que parece saber perfeitamente que eu viria.

— Quanto tempo, irmão. Vejo que voltou para casa — diz Aiden.

Voltar para casa?

Não irmão, vim foder essa casa.

— Vim apenas fazer uma breve visita. — Ele sorri, como se soubesse o
motivo de estar aqui.

Talvez só talvez ele saiba, mas não será tão burro a ponto de falar. Ele gosta
de viver nesse mundo implacavelmente sujo, mas eu sempre quis fugir.
Estava bem até eles surgirem das cinzas ameaçando todos que são
importantes para mim. Posso ser uma pessoa cruel, mas tenho afeto pelos
meus.

— É claro que só veio fazer uma visita, imaginei que tivesse vindo para ficar.
— Dá uma falsa gargalhada. — Sei que jamais largaria o castelo de areia que
construiu em Boston.

Castelo de areia?

Interessante…

Mal sabe que construí meu castelo em rochas firme e seguras, o que ele não
sabe é que jamais ousaria jogar para o alto algo que conquistei com tanta
dificuldade e não falo de dinheiro ou poder. Falo de uma pequena
estabilidade mental que construí com muito esforço e força de vontade.

— Se meu castelo está construído em areia, ou sei lá o quê, não é da sua


conta. Pega essa loira do seu lado e vai fingir que sabe foder uma mulher de
verdade — falo alto e sério. — Agora, em vez de querer pegar essa arma e
apontar para mim, pois sabemos que antes de você apertar o gatilho eu te
mato, seja um bom menino e vá curtir sua noite de merda.

Ele respira forte, nada diz e sai com o rabo entre as pernas.
Começo a seguir a estrada da perdição e todos abrem caminho para que eu
possa passar, eles me respeitam por saber quem sou e que sou capaz de matá-
los em um piscar de olhos.

Quando chego ao meu destino, penso em abrir a porta, mas ela se abre e lá
está a pessoa que mais odeio no mundo.

— E o filho pródigo volta a casa — fala com seu típico sorriso. — Seja bem-
vindo de volta filho!
Acho que a minha volta já era esperada pelo meu "pai", se é que ele é um
pai, pois está mais para um Demônio.

— Dominique, vejo que também veio — fala sorrindo. — É tão bom ver
meus filhos de volta… Só falta Tânia.

Tânia está segura e bem longe daqui…

Ela até queria ter vindo, mas sua gravidez não permitiu, o que é até bom.

— Bem, ela não sabia que retornaríamos hoje. Vim conversar com o senhor
sobre as ameaças desnecessárias que venho recebendo, aliás, gostaria de dizer
que não precisa me dar um tiro em forma de convite para lhe fazer uma visita,
sei perfeitamente quando vou e quando volto — falo ironicamente, porque sei
que isso o deixa irritado.

Ele não gosta que debochem da sua cara.

— Acho que está perdendo o respeito, filho — fala com os dentes cerrados.
— Acho que esqueceu todos meus ensinamentos para me dar o respeito.

— Não há nada esquecido, meu pai. O que eu poderia esquecer? — pergunto


com as sobrancelhas erguidas. — Sabemos perfeitamente que não me foi
ensinado nenhum tipo de educação, então, por favor, eu que lhe peço que seja
mais educado e simpático.
Esse é o plano, deixá-lo irritado o suficiente para que fale um pouco sobre as
monstruosidades que já fez. Meu tom de voz mais alto que o seu com certeza
o deixou nervoso, minha ironia e deboche devem estar deixando-o louco para
me corrigir da mesma forma que fazia quando era apenas um moleque, mas
olha só a criança cresceu.

— Devo te dar uma surra para lhe lembrar ou te torturar até que não haja
mais sangue na sua cabeça. Moleque insolente! — braveja alto. — Esqueceu
quem sou? Posso ser seu pior pesadelo filho e da mesma maneira que já
matei os que vieram antes de você, posso te matar agora — diz de uma forma
assustadora, mas para mim são só palavras. — Posso até mesmo fazer você
morrer de overdose. — Ele sorri sabendo que esse é meu ponto fraco.

Sempre odiei qualquer tipo de droga, nunca quis usar e muito menos
experimentar. Por anos ele tentou me fazer usar, mas me recusei adquirir
qualquer vício. Sempre que recusava me batia, me torturava fisicamente e até
psicologicamente. Ele tentou me ferrar de todas as formas, bem ele
conseguiu, mas ainda estou são.

— Faça o que achar melhor, nunca me importei muito com viver e morrer,
sabemos que para mim sempre foi tanto faz, me mate papai se assim for seu
desejo. — Olhei em seus olhos negros e sorri.

— Por agora quero você vivo. Quero que transporte uma mercadoria para os
EUA.

— Viva ou morta?

— Viva.

Filho da puta!

Ele quer fazer tráfico de crianças.

Merda!

— Está bem, qual porto? — pergunto sério.

ꟷ O do Norte.
ꟷ As crianças estão saudáveis? Não queremos problemas com o comprador.

— Extremamente saudáveis, testamos quase todas — fala sorrindo


abertamente.

Estuprador do inferno!

Meu coração dói só de saber a quantidade de crianças que foram violentadas


por esse infeliz.

Porra!

Já fiz muitas coisas na minha vida, mas nunca toquei em ninguém dessa
forma. Só de pensar que uma dessas crianças pode ser James, faz com que a
raiva cresça de uma forma descomunal dentro do meu peito. Aperto o botão
no meu bolso dando o sinal para entrarem, não dá mais para continuar essa
conversa.

Agora é GAME OVER!

— Melhor assim.

Ele sorri para mim de uma forma até que estranho.

— Dominique vá pegar uma bebida para mim — falo e Dominique sai já


sabendo que está na hora.

— Sabe filho, podemos levar nosso culto até Boston, você domina lá e eu
continuo aqui. Será ótimo, não acha?

— Não vejo problemas com isso, teríamos mais dinheiro e poder.

— Eu sempre me senti curioso sobre seus pensamentos, você sempre foi


fechado e nunca gostou de ficar próximo a ninguém. — O famoso jogo
mental começa agora. — Vem cá filho, você ainda não abraçou seu pai.

Sei que é uma armadilha, mas não há nada a fazer agora.


Abraço-o sabendo que ele pode me esfaquear pelas costas, mas tudo bem.

Ele me dá um abraço apertado e devolvo o abraço sabendo que é o último.


Algo me diz que ele está se despedindo também. Mantenho-me calmo
sabendo que não importa o que aconteça, será quase impossível sair daqui
vivo.

— Um pai sempre sabe o que leva um filho a voltar para casa — diz baixo.
— Você se tornou o melhor, mas também se tornou o pior dos filhos. Nunca
seguiu obedientemente as regras impostas a você. Sempre questionou através
desses olhos azuis o porquê de fazer certas coisas. — Ele suspira me soltando
dos seus braços e automaticamente meu corpo entra em alerta. — Você nunca
confiou em ninguém a sua volta Marco, inclusive me pergunto se realmente
se chama Marco Haylock. Não há registros seus até os nove anos, o que é
bem estranho, mas bem, não sou um exemplo de cartórios. — Ele coloca a
mão no queixo pensativo.

Não há o que dizer, errado ele não está, mas também não está certo.

Como diz o todo poderoso Dante Boltoni, a vida é uma estrada de duas vias e
cabe a nós escolher qual caminho seguir. Por muito tempo peguei a estrada
errada e agora vejo o quão difícil é ter que voltar para o caminho certo. Tem
que voltar ao início para poder recomeçar, só que eu não sabia que seria tão
assustador.

Temo não conseguir ser o suficiente para meu filho e para Melanie…

Quando resolvi ir para uma universidade, pensei que seria uma forma de
redenção e por isso optei por Direito, de certa forma me redimi com as
pessoas, mas tudo tomou uma reviravolta quando vi que podia ir além…

Quando percebi que podia realmente salvar pessoas, cada pessoa que defendi,
ajudei e estendi a mão fez com que eu me sentisse mais humano. Dante e
Pedro sempre se mantiveram ao meu lado até mesmo quando contei toda
verdade a eles. Na época pensei que eles me enxergariam como um monstro,
mas foi o contrário, eles viram em mim humanidade. Recordo-me de ambos
me abraçarem forte e dizer que estariam comigo para o que der e vier. Até
hoje eles estão ao meu lado e eu ao deles.
Agora olhando para esse homem na minha frente vejo o quão errado ele está.
Isso daqui nunca foi uma família…

Eles nunca foram minha família!

A “Ciclo” é só um caminho errado e criminoso que acha que pode usar


crianças a seu favor. Eu fui uma dessas crianças iludidas que só queria
possuir uma vida melhor.

Acreditem, quando se vive na miséria e não se tem absolutamente nada,


inconsequentemente alguém te estende a mão e você acaba pegando sem
pensar nas consequências futuras. Lembro-me de só querer poder
sobreviver…

O que uma criança mais madura que muitos adultos não sabia, era que
sobreviver nem sempre é viver…

Por isso hoje vou acabar com esse maldito “Ciclo” do inferno. Não quero
mais que nenhuma criança dê o grito que dei, que ninguém um dia tenha que
carregar o fardo que carrego e que viva na escuridão em que passei a viver.
Uma escuridão que há em minha alma. Esse lado obscuro acaba trazendo
uma solidão que faz com que você perca a vontade de viver. É como a velha
rachadura que há na parede, não basta só jogar uma tinta por cima para
cobrir, pois ela ainda vai estar lá e consequentemente irá reaparecer.

— Bem, sou quem sou — falo já cortando o assunto.

— Claro que é — diz olhando nos meus olhos, o que é uma grande burrice já
que meus olhos transmitem o que quero.

Não sou uma pessoa fácil de se ler.

— Bem, acho que não irá ficar muito tempo. — Assim que diz isso um
estrondo acontece lá fora.

Ótimo!

Agora a festa começa.


Antes que ele pegue a arma, pego a minha, dou dois tiros na sua perna, um na
sua mão e outro no seu ombro. Aproximo-me dele que me olha espantado,
pego sua arma e espero alguém chegar, mas quando a porta se abre é Aiden
que já aponta a arma para mim dando dois disparos. Antes que eu possa
revidar ele cai no chão.

— MARCOOO.

Ouço Dante gritar, mas tudo escurece…


Quinze dias depois…

É só mais um dia…
Mais um maldito dia em que eu corria para não chegar atrasada ao bar.
Mesmo sendo mais um dia típico de correria para chegar cedo ao bar, havia
acordado com a sensação de que algo diferente aconteceria. Meu coração
estava apertado, mas ao mesmo tempo eufórico.

Eu sabia que algo novo aconteceria nesse dia.

Chego ao bar pontualmente, mas meus “bofes” quase saíram para fora de
tanto que corri. Transporte público é muitas vezes é uma merda, ainda mais
quando se mora na região pobre e perigosa da cidade.

Hoje pegarei dois turnos, preciso de dinheiro extra para tentar pagar o mais
rápido possível os “caras” com quem tive que fazer uma pequena dividida.
Eu precisava pagar minha cirurgia e não tinha dinheiro suficiente para isso,
então em vez de perder minha vida para uma doença optei por me endividar
com pessoas erradas. O que eu não pensei na hora, foi que também colocaria
minha vida em risco ao fazer tal acordo.

Obviamente a opção de me prostituir veio em cheio para mim, convites eram


jogados toda hora na minha direção, mas me mantive firme aos meus
princípios. Não há nada de errado em uma mulher optar pela prostituição,
ao meu lindo ponto de vista. A realidade que muitas vivem é lamentável e
não há ninguém para lhes ajudar. Mulheres de áreas pobres, como a que
vivo, muitas vezes sofrem abusos desde novas e são espancadas diariamente
por seus maridos. O irônico é que não há ninguém para ajudar, não há lei,
polícia ou governo. Por favor, não se iludam pelo que veem nos filmes, a
realidade do povo patriota que brada em seus peitos ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA, muitas vezes não tem o que comer por vários motivos e o governo
nem sequer vem dar um “oi”.

No meu bairro tem um senhor bem de idade que sempre trabalhou e juntou
suas economias, mas teve a infelicidade de ficar doente e perdeu todas elas
para se tratar e agora ele simplesmente vive nas ruas pedindo esmola.
Quando posso ajudo, mas tem dias que nem sei o que terei para comer.

Suspiro cansada após jogar mais um número de telefone fora. Há clientes tão
chatos e insistentes que só Deus para me ajudar.

Quando me viro para ir até a outra extensão do bar, ouço a porta abrir e um
vento forte vem até mim, me fazendo sentir um frio na barriga. Quando me
viro para atender o cliente quase infarto com sua beleza. Ele é ruivo, alto e
usa um conjunto de peças que provavelmente é mais caro que meus rins no
mercado negro. Ele não sorri para mim, não dá boa tarde e muito menos
demonstra ter um pouco de simpatia. Há um ar sombrio nele e seus olhos
azuis possuem um mistério que até me arrepia.

Ele não precisou dizer uma única palavra para que eu soubesse que ele era o
caçador e eu a presa. Eu sabia que não importava o horário que sairia do
trabalho, ele estaria a minha espera.

Bem, eu me enganei…

Quem saiu mais cedo fui eu!

Não aguentei o tesão e inventei uma desculpa para ser fodida logo. Essa foi
a primeira vez que sai com um cliente, mas algo me dizia que seria a última.

Como esperava, ele me levou em um hotel caro e luxuoso, não tomei


champanhe, mas tomei outra coisa. Eu não era virgem, mas me senti como
uma. Ele não foi carinhoso, entretanto me levou do céu ao inferno de uma só
vez e ao amanhecer ele já não estava mais lá. Só havia ao meu lado, no
criado-mudo, um comprimido do dia seguinte e um bilhete dizendo:

“Tome.”

Assim fiz, tomei e sai dali decidida a esquecê-lo.

Maldita lembrança!

Maldito dia!

Maldito sexo prazeroso!

Maldito seja Marco Haylock!

— Mamãe, cadê papai? — pergunta James mais uma vez.

Estamos nessa linda ilha há mais de um mês e não recebi nenhuma notícia de
Marco.

Não recebi nenhuma carta, absolutamente nada!

O marido de Irina sempre manda uma carta para ela, mas o pai de James nem
sequer se lembra da nossa existência.

— Logo filho, papai está lutando contra o mal — falo mais uma vez para
deixar sua mente em paz.

Eu não ligaria de ter vindo…

Eu realmente não me importaria, mas a forma como fui induzida a vir me


feriu muito. Marco poderia te me contado a verdade desde o início, mas não,
optou por mentir. Dopou-me e me mandou para cá sem mais nem menos.
Eu sabia que estávamos em perigo, não sou tola e muito menos sou doida.
Bastava se sentar, conversar comigo e ser sincero. Marco não sabe ser
sincero, ele nunca foi sincero comigo e me deu a mão de verdade.

Marco é o que sempre dizia ser, obscuro e não há sentimentos bons dentro
dele. Ele é egoísta, só pensa nele e todo sentimento bom que construí foi
jogado fora.

Busco ser sensata e compreensível como a Irina, esposa do tal de Dominique


Johnson, me pede para ser, mas é difícil. Estou no escuro e ela não, afinal o
marido dela lhe envia cartas perguntando sobre ela e os filhos, já Marco nem
sequer ousou perguntar pelo filho.

Marco é um completo filho de uma puta!

Aí que ódio!

Ódio!

Eu só o queria aqui conosco em segurança…

Eu sei que talvez esteja fazendo birra por estar magoada ou talvez só esteja
morrendo de inveja de Irina por estar recebendo notícias e eu não. Odeio me
sentir assim…

Odeio me sentir frágil e sentir esse sentimento de prepotência. Sempre me fiz


de forte, bem, era a única saída que havia…

Era ser forte ou ser forte, mas nessas últimas semanas que estou aqui isolada
do mundo, venho me sentindo frágil, medrosa, sufocada e apavorada. Estou
sentindo uma mistura de sentimentos involuntários que só pioram devido à
gravidez.

Que ironia!

Mais uma vez grávida e mais uma vez sozinha…

Lágrimas escorrem dos meus olhos só de pensar em que tudo pode acabar
caso Marco não consiga resolver esse problema, ou se ele não sobreviver…
Aí meu Deus!

Meu coração dói só de pensar nessa probabilidade.

Não me vejo mais criando meus filhos sozinha, antes era somente James e eu,
mas agora há mais um ser de luz em nossas vidas.

Eu vi todos os dias o quão bom pai Marco é, ninguém me contou, eu mesma


vi todos os malditos dias o quão carinhoso e amoroso ele é com James. Seu
melhor e verdadeiro sorriso sempre foram dedicados a James.

Ele assim como eu, viu James como uma esperança e um ponto de luz no
meio de tanta escuridão. Apegamo-nos a essa luz, pois somos covardes
demais para tentar encontrá-la dentro de nós mesmo.

Dois fodidos juntos!

Acaricio minha barriga em busca de alívio, ela já está meia que grandinha e
pelas minhas contas já estou com quase três meses.

Quando descobri a gravidez fiquei apavorada, eu não sabia como Marco


reagiria a mais um filho. Fiquei apavorada por vários motivos, compreendi
desde o primeiro momento que não era um bom momento para se ter um
filho, mas o que eu poderia fazer?

Não havia absolutamente nada a ser feito…

O bebê estava ali, não abortei James e olha que na minha primeira gestação
não havia o que comer muitas vezes. Eu tinha dívidas para pagar, além do
aluguel. Se comesse não pagaria o aluguel e se comprasse remédio, não
pagaria a quem devia. Olhando para trás nem sei como sobrevivi a tudo isso.
Sou grata a Deus por James ter nascido saudável e peço todos os dias para
que esse bebê que está por vir também nasça saudável.

Pergunto-me se ele já abriu a caixinha e viu os testes de gravidez e se viu


como reagiu. Eu iria contar de uma forma tão fofa, mas ele estragou tudo…

Aí que merda!
Meus olhos não param de lacrimejar e esse meu coração realmente é
vagabundo, pois não para de doer por causa desse cretino de uma figa.

— Não “chola” mamãe, não “chola” “pa” não deixa o “imãozinho” “tiste” —
James fala me abraçando.

Ele é tão carinhoso!

— Oh, meu bebê ruivo mais lindo… Desculpa mamãe por isso — falo entre
soluços, pois suas palavras me fizeram chorar ainda mais. — Vai pegar uma
flor para mamãe?

— Se pegar “foles” mamãe fica feliz? — Aceno com a cabeça e ele vai
correndo em busca das flores.

Sem força de vontade me levanto da cama e vou atrás dele. Seco meu rosto
molhado pelas cruéis lágrimas que não param de cair.

Bando de descontroladas!

Quando estou perto da porta que dá para sala que me levaria até o jardim que
há ali, levo um susto ao ouvir uma voz grossa e firme.

— Olá Melanie! — Dante Boltoni está sentado no sofá com toda sua beleza.
— Como está?

Pergunto-me o que esse homem está fazendo aqui.

— Dante. — Limito-me a dizer.

Ele se levanta e vai em direção a porta dos fundos.

— Venha comigo, por favor, Irina irá cuidar de James para que possamos
conversar um pouco — fala isso, sai andando e o sigo a passos lentos.

Dante me leva até a praia, hoje o dia está nublado e a maré está alta e forte.
Vejo altas ondas se formando e o mar parece revoltado. Ele para de andar
alguns passos onde a onda se quebra.
— Sei que não está bem… Eu no seu lugar não estaria — fala alto. — Não
vim lhe pedir compreensão… Sei que tem motivos para sentir raiva, ódio,
além da dor do abandono. Acredite já passei por tudo isso em um contexto
diferente — diz olhando paras as ondas. — É sufocante esse sentimento de
impotência… É horrível se sentir sozinho, mas saiba que não está. Não posso
lhe contar muito, mas saiba que estamos todos com você e por vocês. Marco
não pode estar aqui, mas me pediu para lhe entregar essa carta. — Ele me
estende uma carta, mas não me entrega. — Melanie, observe essas ondas e
veja como o mar está agitado. Ele está revolto, mas se reparar o céu está
triste. O céu hoje representa o Marco e o mar representa o lado interior dele.
Ouso dizer que a vida foi mais do que cruel com ele, mas afirmo que Marco
foi mais cruel consigo mesmo. Ele não pede por abraços, porque não sabe
abraçar. Não pede carinho pelo simples fato de não saber receber e não
demonstra amar, porque nunca soube como é amar. Ele era uma casca oca,
sem vida ou sem razão para viver até você e James aparecerem na vida dele.
Peço apenas que seja um pouco mais compreensiva, ele ainda está na fase de
aprendizado. — Ele se vira para mim e sorri.

Porra, esse homem é lindo de todas as formas!

Seu sorriso me trouxe uma calma.

— Esperei anos para poder amar de verdade e você terá que esperar só mais
um pouco. Essa criança que espera será a razão para muitas coisas boas. Não
chore Melanie, a vida vai lhe sorrir com intensidade no tempo certo. Há dias
nublados, dias de chuva e dias de sol, cabe a nós saber viver um dia de cada
vez. Nos tempos nublados sinta a brisa fria, nos dias de chuva dance na chuva
e nos dias de sol sorria. Nada nessa vida é certo, quer dizer, a única certeza é
a morte, então cabe a nós viver sem medo do amanhã. Busque a paz em si
mesma Melanie e não se perca entre as correntezas. Não há ondas grandes o
suficiente para fazer com que você desista do que quer. Não pare de lutar,
mas saiba que está tudo bem se perder, basta se levantar e começar de novo.
A vida é um ciclo de erros e acertos, de cair e levantar, perder e ganhar…
Apenas viva. — Ele me abraça, me entrega a carta, dá um beijo na minha
testa e se vai.

Abro a carta com as mãos trêmulas, ele escreveu a punho e sua caligrafia até
que é bonita.
Merda, não acredito que estou elogiando esse ser!

“Louca presta atenção, pois só vou escrever uma vez…

James e você são tudo para mim !

Não sei quando Dante vai lhe entregar essa carta, mas saiba que vocês são a
luz da minha vida. Cometi muitos erros no decorrer da minha vida, mas
James e você são os meus maiores acertos.

Não sou um príncipe encantado, na verdade, estou mais para lobo mau…

Tudo que tenho está no seu nome e no de James.

Mel nunca pare de sorrir, lute sempre pelo que achar certo e não deixe a
escuridão tomar conta de você.

Você é o lado doce da vida e eu me senti honrando em poder tomar uma


dose, devo confessar que foi uma dose letal e viciante. Não me vejo mais sem
vocês. James é tudo que nunca sonhei em um filho e ele me faz querer ser
uma pessoa melhor todos os dias. Não o deixe se tornar uma pessoa
revoltada e não importa o que aconteça apenas siga em frente sem olhar
para trás. Perdoe-me por cometer tantos erros com você.

Vou encerrar essa carta por aqui, mas saiba que você é a luz.”

Merda, estou chorando mais ainda!

Ele foi tão fofo nessa carta.

Quando vou ler mais uma vez, vejo que tem algo escrito em letras menores
na parte externa da carta.

PS: SE VOCÊ LEU ESSA CARTA, É PORQUE ALGO


ACONTECEU… DESCULPE-ME POR FALHAR E NÃO PODER
ESTAR COM VOCÊS.

Marco Haylock
Caio de joelhos na areia e grito entre soluços.
Não quero chorar mais, porém é difícil me manter firme ao vê-lo nesse
estado. Sempre gostei de manter pensamentos positivos, até mesmo quando
fiquei doente mantive fé de que tudo ficaria bem, mas dessa vez me sinto um
caco, é como se eu estivesse oca por dentro e um sentimento de medo me
assombra a todo instante. Dessa vez não estou conseguindo ser forte o
suficiente e a todo momento quero desmoronar. Todos estão me dando
suporte, mas dói demais ver quem se ama assim e eu nem queria o amar…

Puta merda, aqui estou amando um completo insensível!

Se ele soubesse a quão louca me deixa…

Se ele soubesse o poder do seu olhar…

Ah, se ele soubesse…

Com certeza ele me olharia mais vezes com aquele olhar obscuro que me
deixa excitada.

Quando ele acordar vou matá-lo…

Real!

Eu vou matá-lo, pois isso não se faz com uma mulher grávida. E pior, há uma
pequena chance dele não sobreviver a próxima cirurgia.

Marco, seu idiota!


Faz uma semana que cheguei à Alemanha junto com Dante, depois de chorar
por horas na praia voltei para casa e lá estava ele me esperando para poder
me acompanhar até aqui. No caminho ele me contou por cima o que havia
acontecido e me preparou para o que iriamos encontrar aqui.

Faz vinte dias que ele está no melhor hospital da Alemanha, tendo o melhor
atendimento, mas ele não reage e só piora com o tempo.

Esse idiota!

Oportunista de uma figa!

Ele deve achar que tenho resistência cardíaca, mas qualquer dia desses eu
juro que irei infartar.

Como ele ousa fazer isso com o meu coração?

Não posso nem entrar na UTI para lhe ver…

Posso vê-lo apenas através do vidro.

James acha que estamos aqui a passeio, ele fica passeando para lá e para cá
com Valentina e seus filhos. Todos estão aqui Dante, Anny, Pedro, Carlos e a
Val. Os amigos deles mais próximos que irmãos estão aqui por ele e por
mim.

Anny na noite passada dormiu na cama comigo, ela chegou a me abraçou


enquanto eu chorava.

Dói tanto, mas tanto…

Eu tenho me mantido firme, por mim, por James e pelo pequeno bebê que
ainda nem nasceu. Estou me alimentando somente porque Dante me obriga e
por isso eu não o acho mais bonzinho.

Fecho meus olhos pedindo a Deus força e um milagre para Marco. Sei que
ele não é uma pessoa de fé, mas eu sou por nós dois. Tento conter as
lágrimas, mas é inevitável…
Elas rolam da mesma forma que os pingos de chuva caem do céu. Solto um
soluço já não conseguindo mais contê-lo, minhas mãos tremem e estou
sufocada pela dor.

Ela é tão real…

Nem quando perdi minha mãe me senti assim, eu sabia que ela iria morrer.
Eu pude me despedir, agora Marco na última vez que nos vimos eu briguei,
gritei e falei palavras que machucaram a nós dois. Eu só queria poder voltar
no tempo e lhe abraçar mais uma vez.

Oh, meu Deus!

Por que sinto que o estou o perdendo?

Alguém me ajuda, está doendo tanto!

Sinto minhas pernas falharem e quando vou cair alguém me segura. Abraço o
desconhecido com uma força assustadora.

— Está tudo bem, chore. — A voz doce de Dante ecoa nos meus ouvidos. —
Eu sei o quão doloroso é ver quem se ama nesse estado, mas saiba que esse
cara é mais forte do que pensamos. Ele vai sair dessa! Eu acredito e tenho fé
nisso. Vamos ter fé Melanie… As ondas podem parecer ser maiores que
você, mas você pode passar por ela de várias maneiras, não há nada nesse
mundo que possa nos impedir de acreditar.

Dante é tão altruísta.

— Acredite em si mesma, na sua força e tenha fé… Não há por que perdemos
a fé… São só dias ruins… É preciso a tempestade para que haja sol!

Abraço Dante sem dizer nada e apenas choro, enquanto ele me consola.

Esse homem diante de mim tem o dom de fazer nos fazer sentir melhor. Ouso
até dizer que ele ensaie por horas o que vai dizer, mas sei que ele possui essa
luz tão envolvente. Sempre que olho para ele vejo além da sua beleza
exuberante com um excesso de bondade contagiante. Já ouvi falar dos seus
grandes feitos, mas nunca parei realmente para analisar. Hoje em dia
convivendo com ele vejo que ele é tudo e muito mais do que dizem sobre ele.

— Você deveria ir para casa e ficar um pouco com James — fala ainda
abraçado a mim. — Melanie não há mais só James, há um bebê dentro do seu
vente que precisa da sua estabilidade tanto física quanto mental. Marquei para
você uma consulta de pré-natal para amanhã de manhã e por agora você irá
descansar o dia todo. Qualquer mudança no caso dele eu te ligo. E, por favor,
não discuta comigo, pois faço isso para o seu bem.

Chego ao hotel me sentindo perdido após ouvir as palavras de Dante. Por


mais que me sinta sem força para fazer qualquer coisa, eu ainda tenho dois
filhos que dependem de mim. Entro no quarto e vejo James dormindo com
Anny ao seu lado. Acho que Val está com os trigêmeos.

Ainda não me vejo tendo trigêmeos, se com um já enlouqueço imagina com


três?

Deus me livre dessa benção.

— Você chegou — Anny fala vindo até mim, me abraçando.

Ultimamente venho recebendo bastante abraços.

Assim que seus braços me rodeiam eu choro igual uma criança.

— Vai dar tudo certo, Mel.

Sinto que ela está chorando comigo, pois lágrimas quentes molham meu
pescoço.

— Merda! Era para estar te consolando, mas eu não sou muito boa nisso.
Quem é bom nisso é o Dante. Desculpe-me… É que dói tanto… Marco é uma
pessoa muito importante para mim, o considero meu irmão, além de um
ótimo conselheiro — diz sorrindo entre lágrimas o que acaba tirando de mim
um riso frouxo. — Ele foi meu advogado de defesa.

— Seu Advogado? — pergunto confusa. — Você foi presa? Cometeu algum


crime?

— Oh sim, mas não da forma que está pensando — fala rapidamente. ꟷ Eu


fui internada em uma clínica psiquiátrica assim que completei dezoito anos.
Em uma fase difícil da minha vida tentei cometer suicídio e bem acabei
internada no meu pior pesadelo, até hoje ainda sinto as consequências. Fiquei
internada por dez anos até Dante ir me salvar, ele me tirou de lá e me levou
para nossa casa em Boston, mas muitas coisas aconteceram e bem eu fui
intimada a ter que voltar para o Rio de Janeiro para uma audiência onde seria
decidido se eu voltaria a ser internada ou não. Marco foi meu advogado de
defesa nesse processo e me defendeu tão bem. Foi uma audiência ganha,
naquele dia ganhei minha liberdade, mas também perdi muitas coisas — Ela
me olha e sorri. — Somos capazes de suportar mais do que imaginamos
Melanie… Somos capazes de suportar qualquer tempestade, basta saber a
hora de atravessá-la e de esperar o vento forte soprar.

Não sei o que dizer…

Ela é forte, muito forte!

Eu não suportaria passar por tudo isso, mal estou conseguindo passar por essa
tempestade, imagina passar por tudo o que ela viveu. É preciso ter muita
coragem para viver e nesse exato momento só tenho coragem para dormir ao
lado do meu pequeno.

— Não sei o que lhe dizer — falo sem graça.

— Não precisa me dizer nada, está tudo bem. Hoje estou mais do que
bem… Há dias ainda em que quero só me deitar e chorar, mas há dias que
nem
me lembro o que me aconteceu. — Ela fala sorrindo. — São dias de luta e
dias de
glória, Melanie. Não há dias sempre perfeitos, mas basta saber que dias
melhores virão.
Ela é tão evoluída que até me contagia, há tanta complacência[3] nela e no
Dante que até me faz ter mais esperança nas pessoas.

— Agora vou atrás dos meus filhotes, descanse. — Ela dá um beijo no meu
rosto, se vai e eu me arrasto até o banheiro para tomar um banho quente.

Vinte minutos depois estou vestida com uma cueca e um blusão preto do
Marco. Com uma toalha enrolada na cabeça me deito ao lado de James e o
puxo para mim o abraçando com força. Ele é tão parecido com o pai que até
me dá nos nervos, mas hoje me traz consolo essa semelhança. James é tão
pequeno, mas já é tão altruísta. Sinto as vezes que o mundo não será digno de
toda a sua bondade, mas ao mesmo tempo sinto que ele não se deixará abater
por nada. Ele é naturalmente teimoso como eu.

Adormeço com esses pensamentos…

— Mamãe quando o papai vai chegar?

Não sei lhe responder e só de ouvir essa pergunta já quero chorar.

Estamos no hospital para a minha consulta de pré-natal.

— “Quelia” ele aqui para também ver o bebê.

— Papai está em uma missão muito importante, mas logo estará aqui conosco
— falo forçando um sorriso.
— Papai é um herói — fala sorrindo.

— Sim, ele é. — …, mas não deveria ser…

Foi tentar salvar o mundo e parou em um hospital entre a vida e a morte,


tendo que me deixar sozinha para criar dois filhos.

Hoje é o primeiro dia que não chorei desde que cheguei na Alemanha. Se
chorar na frente do James, ele também irá chorar e não quero que meu filhe
chore, quero sempre que ele sorria. Ele não precisa saber que o pai está entre
a vida e a morte.

Quando ele for mais velho lhe contarei o que aconteceu nesses tempos
difíceis, mas por agora ele só precisar saber que o pai é um herói.

Sorrio para enfermeira que vem me chamar para a consulta, me levanto com
James e sinto um forte aperto em meu peito. Não acredito que mais uma vez
farei isso sozinha, chega a ser irônico.

Que porra!

Não era para ser assim…

Não era para estar aqui só com o James…

Não era para as coisas serem desse jeito!

Sinto algo vibrar na minha bolsa, a abro, pego meu celular e na tela brilha o
nome de Dante. Meu coração se acelera na mesma hora e surgem várias
teorias na minha cabeça sobre o que pode ser essa ligação. Pode tanto ser
uma boa notícia como uma má.

— Dante aconteceu algo? — pergunto em um fio de voz.

— Há uma ótima notícia Mel — diz me deixando mais aliviada. — Sabe que
ontem Marco passou por uma cirurgia para conter o sangramento interno em
sua região torácica, bem a cirurgia foi um sucesso. — Completa fazendo com
que eu quase solte um grito de felicidade. — De ontem para hoje o inchaço
na sua cabeça diminuiu bastante. Há mais chances dele acordar Mel.
Sorrio com a boa notícia e encerro a ligação já com uma decisão tomada.

Só irei ouvir o coração do bebê quando Marco acordar, o quero ao meu lado.
Três semanas depois

— Quando você abrir esses seus olhos azuis, eu vou te matar —


falo com Marco desacordado.

Ele saiu da sala de vidro e já pode receber visita.

Estou usando uma roupa especial, máscara e sem falar nas luvas. Por mais
chato que seja usar tudo isso, vale a pena cada incomodo para poder estar
mais perto dele.

— Sério Marco… Eu quero te estrangular por me fazer passar por tudo isso.
Não sei se sabe, mas tenho apenas vinte e dois anos. Sou nova demais para
quase sofrer um ataque cárdico. É frustrante falar e você nem sequer me
responder — digo já ficando emburrada. — Hoje mais uma vez James
perguntou por você, meu coração dói cada vez que sou obrigada a ter que
mentir para ele, mas é por um bom motivo, né? Aí que raiva! Você não me
responde… Sinto falta de receber seu olhar de desaprovação por cada coisa
sem sentido que eu falar… Sinto falta de dormir colada a você e no meio da
madrugada ouvir suas reclamações… Sinto falta até do seu mal humor
matutino — digo já com lágrimas nos olhos.

Malditos hormônios da gravidez!

Esse é o lado ruim de ficar grávida, seu emocional fica uma merda!
— Juro que até sinto falta das suas broncas pela minha bagunça.

— Você ouviria minha voz se parasse de falar por um minuto.

Calma aí…

Ele falou?

Pisco meus olhos duas vezes e os abro bem.

Ele está me olhando…

Seus olhos estão abertos…

Seus lindos olhos azuis estão abertos!

Sinto uma lágrima escorrer pelos meus olhos.

Maldito!

— Não chore, por favor… Não chore, Melanie. — Ele me pede em um tom
de
voz baixa e rouco. — Você continua falante, hein?

Não sei o que o responder.

Meu corpo paralisa e apenas fico olhando seu rosto cheio de sardas. Sua
barba está aparada e curta.

Como não percebi isso antes?

Ele não acordou hoje!

Pelo seu estado atual, ele já acordou há um tempo.

Fui a última, a saber?

É ignóbil[4] isso.
Não quero me vitimizar nem nada, mas acho que merecia ter sido avisada
desde o primeiro momento em que ele abriu os olhos.

Posso não ser sua mulher, mas sou a mãe dos seus filhos.

Enquanto chorava, gritava e pedia a Deus por sua vida, ele estava aqui bem e
saudável.

Estou magoada!

— Para de criar várias teorias nessa sua cabecinha — diz fazendo com que eu
pule de susto. — Só os médicos sabem que acordei, pedi silêncio da parte
deles para uma melhor recuperação — diz se sentando na cama. — Acordei
há duas semanas, mas preferi deixar isso em segredo. Não gosto que me
vejam vulnerável — fala me olhando. — Você foi a primeira pessoa que quis
ver e James não pode entrar ainda, só quando eu for definitivamente para um
quarto. Não estou cem por cento bem, mas já devo estar bem o suficiente
para lhe dar uma boa surra. — A palavra surra sai em um tom mais rouco.

Porra!

Ele está falando de sexo?

Eu quero muito, muito mesmo.

— Assim que sair daqui iremos ter uma conversa muito séria.

— Marco? — chamo nervosa.

— Melanie — diz meu nome devagar. — Tira essa maldita roupa, quero ver
seu rosto sem essa máscara.

Respiro fundo atendendo seu pedido.

Meu vestido longo marca bem minha barriga já saliente e assim que tiro a
roupa especial vejo seus olhos me observando.

Ele está me avaliando.


— Vejo que engordou um pouco, creio que deve ter sido pelo estresse, me
desculpe — fala suave.

Ele está tão carinhoso que até estranho.

— Bem é normal engordar nessa fase — digo nervosa.

— Nessa fase? — pergunta.

— Sabe, na fase em que se está grávida — digo rindo de nervoso.

— Quem está grávida? A Anny de novo?

— Eu estou — digo em um único fôlego.

Marco me encara e desce seu olhar para minha barriga. Fecha os olhos, os
abre de novo, leva as mãos no rosto e opto por não falar nada. Esse momento
é dele. Vou deixá-lo absorver a informação.

Às vezes nem acredito que estou grávida.

— No dia que te mandei para a ilha, você…? — pergunta ainda com as mãos
no rosto.

— Eu descobri a gravidez alguns dias antes, naquele dia James e eu iríamos


lhe fazer uma surpresa. — falo me recordando daquele terrível dia. — Eu não
sabia como lhe contar e achei fofo fazer James lhe entregar uma caixinha
dizendo: “Vem mais um aí papai, segura de que agora seremos dois". James
estava tão eufórico quanto eu, mas bem nada ocorreu da forma que imaginei.
Nem tudo que planejamos acontece — digo triste. — Hoje eu sei que o que
fez foi para me proteger, mas doeu. Doeu muito Marco. Você poderia ter me
contado tudo que estava acontecendo a nossa volta — digo olhando em seus
olhos. — Entenderia perfeitamente a situação em que nos encontrávamos, iria
de boa vontade para a ilha. Jamais teimaria sobre isso, seria a segurança dos
meus filhos e a minha… Não sou tão tola quanto pensa — falo baixo. —
Bastava ter se sentando ao meu lado e me contado toda a verdade, não era
para estarmos dentro de um hospital tendo essa conversa. — Suspiro
tomando mais fôlego para continuar. — Você não vive mais sozinho, Marco.
Há em sua vida agora um filho e outro a caminho e consequentemente eles
também são meus filhos. Bastava apenas ser sincero comigo e não ter me
apunhalado pelas costas.

Marco passa as mãos pelo cabelo que agora está curto.

Sinto que ele trava uma guerra interna e vejo em seus olhos que há um
alvoroço dentro de si. Ele respira fundo algumas vezes antes de se virar para
mim com um olhar suplicante que faz com que cada parte do meu corpo entre
em tensão. Nunca vi esse olhar antes em seu rosto…

Um olhar que corta minha alma.

Consigo ter um vislumbre da guerra interna em que ele trava e é doloroso


presenciar isso. Se para mim é doloroso só de ver uma pequena parte,
imagina para ele que convive com ela completa todos os dias.

Quão grande será o tamanho do sofrimento de Marco Haylock?

Suas palavras me doem tanto quanto a dor física que estou sentindo. Levei
dois tiros, um no peito e outro no estômago. Perdi bastante sangue, passei por
três cirurgias, sendo que uma delas foi na região craniana, com a queda
depois do tiro bati a cabeça muito forte, bem parece que a sorte não estava ao
meu lado.

Hoje se estou vivo após mais de um mês é porque há ótimos médicos nesse
hospital e também porque Dante me salvou ao ter atirado em Aiden. Fiquei
mais tempo desacordado do que imaginei, mas por alguma razão acordei após
um longo sonho infinito. Optei por não avisar ninguém, queria me recuperar
primeiro um pouco antes de olhar nos olhos de cada um que é importante
para mim. Melanie foi a primeira pessoa que quis ver. Eu realmente senti
falta da sua voz nesses dias que ficamos separados.

Confesso que ela quase me fez enfartar ao anunciar que está grávida mais
uma vez e dessa vez irei participar da sua gestação, coisa que não pude fazer
com James, mas foi por pura estupidez minha. Perdi algo importante por ser
orgulhoso demais…

Ainda sou, porém sei que tenho que ser uma pessoa melhor.

Segundo filho?

Não sei nem o que dizer.

Nunca me vi sendo pai de um, muito menos de dois.

Desde o momento em que James entrou na minha vida algo em mim se


transformou. Ele é uma das coisas melhores que fiz em toda essa minha
maldita vida. Já cometi muitos erros, mas James e esse bebê que está por vir
são os meus melhores acertos…

Eles são o melhor de mim!

Darei meu melhor a eles e a mãe louca que eles têm.

Sempre pensei que seria sozinho. Nunca pensei que teria pessoas tão
importantes ao meu lado, mas hoje vejo que realmente pensei tão pouco da
vida. Fiz pouco caso da pessoa em quem poderia me tornar. Acho que estou
superado minhas estimativas.

Porra!

Acabei de descobrir que serei pai novamente.

Nunca na minha miserável vida me vi pensando em ter um filho e agora aqui


estou doido para acariciar a barriga de Melanie…
Sinto-me tímido?

Na verdade, estou bem assustado…

Quero poder fazer carinho nessa barriga já saliente, mas estou com medo.

Quer dizer, assustado…

Esse novo na minha vida me assusta…

Assusta muito!

Minhas mãos coçam para poder ir até ela, mas meu sistema nervoso parece
ter travado.

Reaja Marco, apenas reaja!

— Ainda não fiz meu pré-natal — diz Melanie me tirando da guerra interna
que estou travando. — Quis aguardar você… Na gravidez de James fiz tudo
sozinha, mas nessa gravidez me recusei — fala já quase chorando.

Porra!

Não saberei lidar com Melanie chorona.

— Fiquei horas te vendo todo entubado através de um vidro que me parecia


ser mais frio do que a Antártida. Você não sabe o quanto me doeu ver você
ali e nem ao menos saber o motivo que te levou a tal consequência. Marco, eu
senti tanto, mas tanto medo… James me perguntou todos os malditos dias por
você — fala com lágrimas já rolando pelo seu lindo rosto.

Sinto-me um miserável por vê-la assim…

Não imaginei que iria lhe ferir tanto, eu não sabia que levaria dois tiros, quer
dizer, sabia que havia uma grande chance de não voltar vivo, mas por incrível
que pareça estou vivo e disposto a corrigir alguns erros.

Não sou um príncipe encantado nem nada, muito menos sou um bom garoto,
deixo Dante ser o bom menino.
Gosto de ser quem sou e de não agradar a todos…

Gosto de saber que sou tudo que já mais pensaram em ser…

Gosto de ser exclusivo e único.

Porra, meu ego hoje está no céu!

Talvez ele esteja tão elevado pelo simples fato da morena ao meu lado estar
escancaradamente olhando para o meu pau. Ela me olha com desejo e
carinho, algo que é novo para mim.

Sinto-me no momento em que tudo é “novo”…

Novo filho, novos sentimentos…

Tudo novo.

— Melanie, por favor, não chore — peço e mais uma vez uso o “por favor”,
isso é algo que quase nunca uso, mas por ela venho usado mais de uma vez.
— Estou bem melhor, logo estaremos em casa e você poderá se sentar em
mim tão forte que nenhum guindaste poderá te tirar — falo deixando-a
espantada.

Ótimo!

Agora vou ficar de pau duro só de imaginá-la se sentando em mim.

— Poderei brincar de caubói de montaria? — pergunta parecendo uma garota


travessa. — Vai me deixar brincar de chupa-chupa com calda de morango
quente?

Olho para ela, seus olhos estão estreitos e há um sorriso bem travesso em
seus lábios.

Melanie está uma mistura de safada com angelical, até mesmo parece essas
crianças que ganharão um presente surpresa e tentam adivinhar o que é.

Pergunto-me quando foi que perdemos o foco do assunto, do nada entramos


em questões sexuais e ela foi das lágrimas a excitação.

— Você poderá, Melanie, mas nada de calda quente — falo sério.

— Ela ficaria tão gostosa no seu pau — diz emburrada.

— Ele já é delicioso sem nada em cima, basta sua boca com meu gosto
natural — falo sério. — Nada de calda quente no meu pau.

Por alguma razão seus olhos se enchem mais uma vez de lágrimas e eu não
sei o que fazer. Realmente não sei lidar com Melanie grávida, assim que
estiver melhor e sair desse hospital vou em busca de um manual de gravidez.
Na verdade, necessito de um para ontem.

— Melanie, por favor, entenda que não há por que colocar algo quente no
meu pau — falo deixando que ela me abrace. Dói um pouco seu abraço
apertado, mas ao mesmo tempo é reconfortante.

— Você é chato! Dormiu por um mês, acorda e ainda vem me dizendo que
não posso fazer o que quero… Você é tão injusto! — fala fazendo um bico
que juro que vou morder.

— Quando estiver melhor iremos nos casar.

— Quem disse que vou me casar com você? — pergunta me deixando


espantado.
Sorrio ao me lembrar da cara espantada do Marco após dizer que não iria
me casar com ele. Marco só não disse mais nada porque a enfermeira veio me
tirar do quarto, pois o horário de visita havia terminado. Agora ele vai pagar
por tudo que vem me fazendo passar.

Irei-me autovalorizar…

Mereço me amar mais…

Mereço o melhor e ele irá me oferecer isso por bem ou por mal.

Viva la vida!

Há um momento na vida que nos cansamos de tentar e tentar, às vezes faz


bem chutar o pau da barraca e eu simplesmente quero chutar tudo.

Assim que chego do lado de fora do hospital vejo Pedro encostado em um


carro que provavelmente é mais caro do que meu pulmão no mercado negro
de órgãos. Corro rapidamente na sua direção, ele me abraça apertado assim
que me aproximo e o aperto com força contra mim.

Preciso desse abraço…

Preciso de alguém para me amparar…

Só preciso de alguém que não me deixe cair nesse exato momento.


Saber que Marco acordou me pegou desprevenida, desejei tanto isso, mas ao
saber que ele acordou há um tempo me deixou bastante triste e chateada.
Vejo que não sei nada sobre o Marco, absolutamente nada sobre quem é
Marco Haylock. Ele me deixa no escuro a todo momento, desde que entrei na
sua vida e na sua casa. Ele poderia ao menos se abrir um pouco comigo, mas
não faz.

Sinto-me muitas vezes uma estranha que ele deixa fazer uma visita cotidiana
na sua cama.

Odeio me sentir assim…

Odeio me sentir triste e magoada!

Sinto-me insignificante por querer algo que talvez nunca venha a ser
realmente meu.

Quero o Marco por inteiro…

Quero desvendar sua escuridão, seus medos, suas fraquezas e suas


cicatrizes…

Desejo o conhecer de verdade, mas sinto que ainda há um grande abismo


entre nós dois.

Antes que eu perceba há lágrimas escorrendo pelos meus olhos, molhando a


camisa de Pedro que me abraça sem dizer uma só palavra. É como se ele
soubesse que eu só precisava de um abraço…

Apenas um abraço.

Eu queria que esses braços fossem do Marco, eu queria isso, mas querer nem
sempre é poder e poder nem sempre é querer.

Marco é tão egoísta…

Tão cruel!

Como ele pode achar que estar doente é ficar vulnerável?


Eu só queria ter lhe dito que gostaria de ter cuidado dele, mas seu egoísmo,
seu ego e sua prepotência não o deixam perceber isso. Marco precisa
entender que há pessoas para ficar ao seu lado, ele precisa entender que não é
mais sozinho. Precisa compreender que há batalhas que se deve lutar a dois,
mas infelizmente ele se acha bom o bastante para lutar sozinho…

Que tolo ele é, mas o que fazer?

Quando era criança, em um dos dias que estávamos com fome, minha mãe
disse: "Melanie há pessoas com a mesa cheia, mas os corações vazios. Há
pessoas como nós com a mesa vazia, mas com o coração cheio de esperança.
Às vezes filha dividir suas guerras com alguém irá te fazer bem. Eu sou
egoísta demais por preferir manter vocês ao meu lado, quando não tenho nada
a oferecer além do meu amor." O que ela não sabia era que o pouco que ela
me dava já era o bastante. Marco tem que aprender que se no momento ele só
pode me oferecer cacos, eu pegarei esses cacos e os transformarei em um
lindo vaso. Ele deveria saber que é mais fácil quando falamos.

— Melzinha, o que houve? — pergunta Pedro após um momento de silêncio.


— Seu amigo que acordou do sono de beleza há semanas e só agora veio dar
as caras — falo com a voz embargada.

Há soluços saindo aleatoriamente da minha garganta.

Odeio chorar!

— Ele é um malfeitor do inferno! Achei durante dias, semanas que jamais


veria aqueles olhos azuis novamente… Eu pensei que criaria nossos filhos
sozinha, aí do nada enquanto falava ele abre os olhos me mandando
praticamente calar a boca — digo com raiva. — Ele disse que não gosta que
as pessoas o vejam vulnerável. Porra! Eu o vi entre a vida e a morte e nem sei
o que o levou a tal estado deplorável, eu não sei de nada e nem por isso fico o
questionando todo momento sobre tal ato. Eu sou compreensível, amiga,
carinhosa e uma boa amante e o infeliz mais ruivo desse mundo, com as
sardas mais sexy, com barba de lenhador gostoso, com aquelas tatuagens que
dão um ar sexy e com aquele cabelo volumoso que na hora H eu gosto de
puxar, nem sequer vai me deixar colocar calda quente no seu pau. Que raiva
desse safado de uma figa! — digo já chorando de novo.
Aí que raiva, eu só choro!

— Mel, calma, respira… — Pedro começa, mas já o corto.

— Estou respirando, não está vendo? Estou calma até demais — falo
apontando o dedo na sua cara enquanto fungo. — Ele ainda disse que vamos
ter que nos casar… Casar? Quem ele pensa que é para ficar em coma por um
tempo e do nada achar que serei sua Lady?

— O que está havendo aqui? — pergunta Dante que surgiu das cinzas. —
Você está bem, Melanie?

— Por que todos me perguntam se estou bem? — pergunto já quase gritando.


— Estou ótima, não vê?

— O Marco acordou há um tempo e já irritou a pobre Melzinha. E não vai


deixá-la colocar calda.

— Isso é o pior — digo fungando mais uma vez.

Que inferno!

A meleca não quer ficar quieta!

— Eu quero chupar com calda quente de morango, mas ele não quer. Disse
nada de calda quente e ainda usou aquela voz rouca que tanto amo. Eu
deveria odiá-lo, mas não consigo… Só não consigo.

— Todas as mulheres grávidas ficam assim?

Ouço Pedro perguntar mais baixo para Dante.

— Não sei informar, a gravidez dos trigêmeos foi bem calma — Dante fala
me observando. — Melanie, que tal tomarmos um chocolate quente com
biscoitos recheados? — pergunta fazendo com que meus olhos brilhem.

Comida!

— Vamos! — exclamo já quase saltitando na sua direção. — Dante você é a


melhor pessoa!

Pedro me olha como se eu fosse louca, mas nem ligo. Enxugo minhas
lágrimas e pego a mão de Dante que me guia rumo ao paraíso chamado
biscoito recheado e chocolate quente. O pau de Marco com chocolate deve
ser bem gostoso…

Mãezinha do céu, estou bem pecadora.

Só penso em pecados…

Perdoe-me!

Ainda irei voltar para a luz…

Amém!

Atravessamos a rua rumo aos biscoitos, Dante segura minha mão como se eu
fosse uma criancinha e nem ligo por ele estar a segurando. Sinto-me super
feliz por ter minha mão na sua, aliás, Anny é uma baita sortuda.

Esse homem é um Deus!

Ele é lindo de rosto e aparenta ter um corpo e tanto. Tem braços fortes, uma
perna bem torneada, sem falar nos lábios e principalmente há um volume e
tanto no meio das suas pernas. O cara tem um ótimo caráter, é uma pessoa
extremamente benevolente, sem falar que tem um sorriso e tanto…

Anny sortuda!

Mesmo Dante sendo tudo isso, eu ainda prefiro meu ruivo cheio de sardas
sexy.

A escuridão que há em Marco é uma das coisas que mais me atrai nele, na
verdade, essa foi a primeira coisa a me atrair nele. Claro que o cabelo ruivo
também me chamou bastante a atenção, assim como seus olhos azuis que
mesmo sendo claros parecem sempre transmitir o céu noturno sem estrelas.

— Melzinha, você está bem? — pergunta Pedro assim que nos sentamos nas
cadeiras almofadadas da lanchonete, que para mim mais parecia um
restaurante de tão chique que o troço é.

— Por que não estaria? — pergunto de mal humor.

— Melanie, você disse que Marco acordou? — pergunta Dante calmamente.

— Exatamente, esse desgraçado das sombras renasceu das cinzas há


semanas, mas não somos dignos dele — falo fazendo bico.

— Compreendo — fala Dante pensativo.

Ele não deveria compreender porra nenhuma, mas o cara é tão


condescendente que até dá raiva às vezes. O cara tem asas, mas não voa.
Sinto que eu deveria parar de elogiar esse homem, mas é tão difícil que até dá
raiva.

Pedro me olha como se eu fosse um ser de outro mundo, entendo que ele
esteja assustado com o meu surto, mas eu só estou chateada com tudo isso.

— Melanie, lembra o que eu disse lá na ilha? — Dante pergunta e aceno que


sim com a cabeça. — Sei que dói bastante não saber, eu particularmente
odeio que não me informem as coisas que são importantes para mim, mas
Marco ainda está aprendendo a lidar com esse mundo onde há mais pessoas
na sua vida. Ele não gosta que o vejam fraquejando, pode parecer tolice para
mim e para você essa atitude deplorável, entretanto saiba que ele nunca teve
ninguém além de nós… Alguém além de você que fizesse tanto por ele
mesmo sem saber. Garanto-te que ele deve estar tão perdido quanto você —
Dante fala me deixando espantada. — Olha para mim, estou acostumado a
cuidar dos outros, acredite ainda não fraquejei para que tenham que cuidar de
mim… Na verdade, só fraquejei uma vez no passado quando tentei em um
momento me matar, mas dei a volta por cima e hoje estou aqui.

— Mentira, quando a Anny ficou em coma você também enlouqueceu um


pouco — diz Pedro.

— Anny já ficou em coma? — pergunto espantada.


— Sim, ela foi atropelada. Passou um tempo em coma, mas graças a Deus se
recuperou rapidamente — fala com um leve sorriso. — No tempo em que ela
ficou no hospital inconsciente eu tentei ser forte, mas chega uma hora que
cansa e eu havia me cansado, então me permiti sentir dor. Foram tempos
obscuros, mas como disse após a tempestade sempre vem a calmaria — diz
sereno. — Então Melanie está tudo bem você sentir raiva, não se cobre
tanto… Apenas tenha em mente que Marco infelizmente abraçou a solidão
cedo demais e ainda não consegue soltá-la. Ele é como uma criança
perdida… Na verdade, ele é exatamente isso um garotinho perdido. Há dentro
dele uma criança que nunca foi encontrada, a escuridão o fez se perder do
caminho. Ele nasceu em um mundo obscuro e cabe a você e a nós fazê-lo ver
que pode ir além da escuridão.

— Cabe a ele também entender que pode ir além — falo comendo meus
biscoitos.

— Acho que você não entendeu Melanie — Dante fala me olhando sério. —
A nossa mente é um labirinto que muitas vezes nos perdemos. No caso do
Marco ele se perdeu dentro de si há muito tempo e há mais nas entrelinhas do
que eu ou você possamos ver… É uma questão de empatia. A dor, o trauma e
o medo são os piores que tem. Marco foi diagnosticado com depressão, mas
nunca se tratou. Já tentei convencê-lo de todas as formas a ir a um psicólogo,
mas não é tão fácil quanto parece ser e não posso simplesmente o obrigar a ir.
Não estou aqui para lhe falar sobre tais coisas, não é um assunto meu e sim
de vocês.

Não digo nada, não sei o que dizer. Apenas estou tentando absorver tudo que
está acontecendo da melhor forma para que não venha prejudicar o bebê em
meu ventre.

Três dias depois


— Mamãe vamos ver o papai hoje! — diz James todo feliz. — Hoje!

Marco foi para o quarto ontem e hoje exigiu ver James e a mim, mas eu não
irei. James vai com Dante.

— Amor da vida todinha da mamãe, você vai com o tio Dante ver o papai.
Mamãe vai ficar aqui com neném descansando — falo beijando seu rosto.

— Tá mamãe — diz sorrindo.

Ele é um amor de pessoa.

Ouço batidas na porta e vou abrir, Dante e Pedro estão devidamente vestidos
e parados na minha frente.

— Viemos buscar o James, já que a senhorita não vai — diz Pedro sorrindo.
— Meu amigo até que merece esse castigo.

Sim, ele merece!

Minutos depois me vejo sozinha no quarto de hotel e sem nada para fazer
resolvo sair um pouco. Vi que tem há poucos minutos daqui um parque.
Desço de elevador tranquilamente, passo pela recepção e vou caminhando até
o parque. Chego lá e admiro o cenário lindo na minha frente.

Porra!

Estou me sentindo em um filme.

— Aqui é tão lindo! — exclamo para mim mesma.

— Aqui é realmente lindo.


Viro-me para ver o dono da voz desconhecida atrás de mim.

Puta que pariu, que homem lindo!

Devo estar com sorte ou um baita azar.

— Oh, me desculpe não queria te tirar do seu momento de paz.

— Não, tudo bem… Não me assustou — digo simpática. — É que é minha


primeira vez na Alemanha e não conheço nada aqui além do hospital e do
hotel que estou hospedada.

— Aqui em Garmisch-Partenkirchen há vários lugares lindos como esse —


fala rodando devagar com as mãos abertas, o que me faz rir. — Esse palácio
foi construído em 1869, aqui é lindo!

— Palácio? — pergunto agora alto. — Aqui é um palácio?

— Sim, isso daqui é um palácio sócio-histórico usado também como museu.


Gosto de vir aqui na primavera… O Palácio Linderhof, fica perfeito na
primavera… Venha aqui na primavera… Agora no inverno ele fica assim
branquinho. Gosto de cores, já há muito preto e branco na minha vida — diz
perdido em seu pensamento.

— Aqui é lindo! Espero vir na primavera para poder dizer se concordo ou


não com você — falo sorrindo.

Sigo andando rumo ao lago lindo que tem aqui, mas escorrego na neve e
quando vou cair o desconhecido me segura. Parece até uma cena
cinematográfica produzida pela Disney, ele me segura, nossos olhos se
encontram e seus olhos são negros. Se ele me puxar mais um pouco nos
beijamos.

— Que cena mais linda, atrapalho o casal?

Essa voz…

Impossível!
— Marco, não é o que você está pensando — digo nervosa saindo dos braços
do desconhecido.

— Sei o que meus olhos veem — diz e em sua voz não há emoção. — James
está no carro te esperando — fala em um tom neutro.

— Não era para você estar no hospital? — pergunto me aproximando dele.

— Estou onde deveria estar — diz me olhando nos meus olhos com
decepção, vira as costas e sai andando.

Sinto que estou fodida!


— MARCO! — grito enquanto tento correr atrás dele
desesperada, mas uma mão me impede. — SOLTE-ME! — grito com o
desconhecido.

— Ei, acalme-se não corra na neve, você pode cair.

— Olha só acho bom você me soltar, se não vou lhe dar uma voadora — falo
já brava.

Hoje o dia era para ser bom…

Um dia legal, mas nada saiu como o imaginava.

Vim para esse lugar lindo em busca de poder me distrair e pensar, jamais
imaginei que iria acontecer tudo isso…

Uma merda de mal entendido!

— Okay, vá atrás dele — diz com um certo tom de raiva. — Só tome cuidado
para não ser destruída pela escuridão dele.

Livro-me da mão que me segura sem dar muita importância as suas palavras
e vou correndo atrás de Marco.

Homem tolo!

Saiu do hospital, veio atrás de mim nessa friagem e ainda trouxe meu filho
com ele. Assim que eu o alcançar irei matá-lo.

É sério, vou matá-lo!

Mentira não vou, me recuso a ficar sem seu pau divino!

Vejo-o encostado debaixo de uma árvore me encarando, ele está com uma
cara de mau que Nossa Senhora!

Meu Deus do céu, isso é hora de pensar em sexo?

Não…

Não é, mas a mente é impura e a carne fraca.

Paro de correr porque me cansei, sou sedentária demais para ficar apostando
corrida.

Aproximo-me com medo da sua reação e talvez até mesmo da sua rejeição.
Seus olhos estão vazios e não há sequer um vestígio de emoção lá. Quando
estou bem perto paro.

— Não há por que ter medo de mim. Vim até aqui atrás de você já que não
foi até o hospital. Imaginei que estaria aqui então vim até você, só não
imaginava que lhe encontraria nos braços de outro homem.

— Eu ia cair e ele me segurou, nada mais do que isso — digo exasperada.

Sinto uma necessidade desconhecida de lhe explicar o que aconteceu.

— Pelo que sei tenho um acordo em que diz que posso transar com quem eu
quiser, lembra? — pergunto o desafiando.

Ele me dá um sorriso que deixa minha boceta em alerta…

Um sorriso que me incendeia…

Um sorriso que ele só deve dirigir a mim, apenas a mim!


Em um movimento rápido estou em seus braços sendo encurralada contra a
árvore fria. Ele está com seu rosto centímetros do meu e seus olhos azuis
possuem um brilho que emite um perigo que me excita.

Preciso transar com esse homem!

— Você deveria saber que não sou um homem muito paciente e que muito
menos sou uma boa pessoa — diz cheirando meu pescoço. — Adoro seu
perfume, mas odeio alguém que não seja eu lhe tocando… Não gostei de ver
as mãos daquele homem em você… Paciência é um dom que eu não possuo
— diz mordicando a pontinha da minha orelha. — Eu poderia agora lhe foder
forte contra essa árvore — diz baixo.

Nossa Senhora, eu quero isso…

Eu preciso disso!

— Seria uma cena e tanto para o seu amiguinho ali atrás que está nos
observando… Seria uma grande atração… Faríamos melhor do que esses
vídeos de sites pornográficos — diz apalpando minha bunda com uma mão e
com a outra aperta meu seio direito. — Você está excitada… Você me quer
agora dentro de você — diz apertando mais forte, me arrancando um gemido.
— Você me quer duro e forte… Você deseja que eu lhe coma rápido e sem
preliminares, não é? — pergunta beijando minha têmpora.

— Sim… Ah, Marco…

— Perdeu a voz Melzinha? Humm, vejo que perdeu — diz, parando sua
mágica.

— Por que parou? — pergunto sentindo falta do seu toque em mim.

Ultimamente venho reparando que tenho sentido uma grande carência, uma
carência que não senti na gravidez de James e sinceramente isso está me
assustando muito. Assusta-me saber que meu corpo, minha mente e meu
coração desejam alguém instável que a qualquer momento pode jogar tudo
que conquistamos para o alto. Eu deveria ser mais inteligente e por uma linha
que separa nossa vida maternal, da pessoal…
Deveríamos ser apenas pai e mãe, mas andamos inconscientemente para uma
relação amorosa.

É claro, que eu sabia que seria fraca o suficiente para conseguir conciliar as
duas coisas…

Sempre fui apressada para algumas coisas.

— Parei porque aqui não é lugar e nem hora para tais coisas… Há um homem
atrás de mim te comendo com os olhos e há nosso filho no carro a nossa
espera — fala se afastando mais uma vez de mim.

Ele parece gostar de se distanciar da minha pessoa.

— Preciso descansar, não recebi exatamente alta do hospital.

— Você não recebeu alta? — pergunto chocada.

Ele é doido!

— Você deveria estar se recuperando e não zanzando por aí… Você tem dois
filhos para criar — exclamo brava.

Ele vai me enlouquecer!

— Já fiquei em estado pior do que esse, sem nenhum médico para me ajudar
— diz sombriamente causando uma sensação ruim em mim. — Vamos
Melanie, preciso descansar e você também… Amanhã mesmo voltaremos
para Boston. Não gosto dessa cidade.

Não ouso dizer nada, o clima excitante já foi perdido mesmo.

Quando realmente olho para frente vejo que o desconhecido ainda está lá me
encarando ou melhor nos encarando. Marco segura minha mão e me puxa
para longe dos olhos do desconhecido.

Assim que passamos da entrada do Palácio, a qual achei que era um parque
vejo vários carros parados. Marco me arrasta até um que está com meio vidro
aberto e assim que ele abre a porta traseira ouço o grito de James.
— MAMÃE! — grita quase se jogando em mim, mas o cinto de segurança
que há na cadeirinha não permite.

— Meu amor, mamãe te ama! — digo me sentando ao seu lado e beijando


seu rostinho cheio de sardas que tanto amo. — Mamãe morreu de saudade de
você!

— Sentiu tanta saudade que até estava nos braços de um outro homem.

Ouço Marco sussurrar, mas nem ligo.

— Papai casa? — pergunta meu bebê ao pai que se sentou do outro lado.

— Amanhã filho… Amanhã embarcaremos para casa — fala olhando para a


rua. — A Alemanha já deu o que tinha que dar.

Sim, aqui já deu tudo o que tinha que dar…

Olho para o rosto de Marco, enquanto ele olha sem piscar para o monitor a
nossa frente. Era para estarmos em um voo para Boston, mas após uma longa
conversa misteriosa com Dante, Marco disse que teríamos que ficar mais um
pouco. Pelo que entendi há coisas pendentes com o governo alemão, vou
confessar que fiquei curiosa, mas não perguntei. Se ele não quer falar não
serei eu a perguntar. Agora estou agindo assim, se me disser bem e se não
disser tanto faz. Não queria saber mesmo.

O olhar que ele me lançou ontem não sai da minha cabeça e só de lembrar me
assusta, mas hoje não há em seu rosto traços do homem de ontem. Há hoje
um pai que parece ser de primeira viagem.

Ele já fez várias perguntas a pobre doutora que responde tudo pacificamente e
o melhor não olhou para Marco igual uma cadela no cio. Ela está sendo bem
profissional.
Melhor doutora!

Já a adoro!

— Doutora, o bebê está bem? — pergunta Marco a médica pela terceira vez.

— Sim papai, o bebê está mais do que bem, seu coraçãozinho está batendo da
forma adequada, o peso da mamãe está normal e o feto está no tamanho certo
— fala calmamente a doutora que tem uma paciência de Jó. — Porém, como
bem sabemos toda gravidez requer alguns cuidados… Melanie não deve
passar por muito estresse.

Amo de paixão essa doutora, ela é maravilhosa!

Agora o ruivo sexy já sabe que não deve me fazer passar por muito
estresse…

Sou um amor de pessoa!

— Compreendo doutora — fala sério.

Ele sério é tão sexy!

— Infelizmente, tem havido alguns estresses em nossas vidas, passei por um


acidente recentemente ao qual tenho certeza de que ela passou por uma
quantidade exagerada de estresse, aliás, a senhora poderia me informar se é
normal mulheres grávidas ficarem… como posso dizer… — fala pensando na
palavra certa e presto bastante atenção no que ele vai dizer. — Sofrer
alteração nos nervos?

Que Deus o proteja!

Ele me chamou de louca?

Louca?

Não acredito nisso!

Vou matar esse imbecil de uma figa!


Ele deve estar achando que sou louca, mas ele não sabe a quão louca posso
ser.

Respiro fundo para não perder a cabeça por causa desse ser ruivo gostoso que
está bem ao meu lado.

— É normal haver uma alteração hormonal durante a gestação, por isso você
papai tem que ser bem compreensivo — responde docemente a doutora.

— Obrigada doutora por esclarecer certas coisas, agora, por favor, diga a ele
que também tem que atender os desejos de grávida — falo docemente.

Meu único desejo no momento é uma calda de morango quente em cima de


um pênis com pelos pubianos ruivos.

— O que ela deseja é impossível doutora — Marco fala rapidamente.

— Não é não.

— O que a mamãe deseja? — pergunta a doutora curiosa.

— Calda de morango quente — falo radiante, só em imaginar.

— Isso a senhora pode — diz a doutora contente.

— Não doutora, ela não pode — fala Marco sério.

Esse homem não vai sorrir?

— Por que ele não pode? — pergunta a doutora fazendo uma careta
engraçada.

Já disse que ela é a melhor doutora?

— Ele não quer, porque diz que não devo colocar calda quente no seu pau
para poder chupar — falo na frente de Marco. — Nem vai queimar!

— Bem, sobre isso… O pênis é uma região sensível, mamãe — fala a


doutora sem graça.
— Obrigada pela compreensão! — fala Marco dando um sorriso na direção
da minha odiada médica temporária aqui da Alemanha.

Alemanha e seus charmes…

Já não vejo a hora de ir embora.

Saio do consultório médico com a Melanie soltando fogo pelo nariz. Nem
ousei dizer nada, já que a mulher é uma louca completa. Ela deixou a médica
toda sem graça com seus desejos estranhos.

Sim, desejos muito estranhos.

Ainda não achei um manual de gravidez que proporcionasse o que acho


correto.

Venho tentado ser compreensivo, carinhoso e paciente, mas tudo tem um


limite e sinto que vou estourar. Primeiro ela me diz que não vamos nos casar,
segundo fica de papo com aquele filha da puta lá no palácio, só não soquei o
infeliz pelo fato dos meus pontos estarem doendo até demais. Quando soube
que a doida não ia ao hospital fiquei puto da vida, mas melhorei ao ver meu
filho. Eu nunca soube o que era saudade até percebe o quão cruel foi não ter
meu bebê em meus braços. Ouvir seu grito fino e agudo de felicidade ao me
ver me deixou extasiado, contente e feliz.

Melanie anda na minha frente pelos corredores pisando forte como uma típica
criança birrenta. Vou atrás mais devagar, pois não há por que correr. Então
do nada alguém a segura puxando para um abraço…
Se não soquei o filha da puta antes, faço isso agora. Ando a passos rápidos
até o filha da puta, tiro Melanie dos seus braços e dou um soco na sua cara o
jogando no chão.

— Isso, seu filha de uma puta é para você aprender a ficar longe da mulher
dos outros.

— Marco você vai matá-lo, para!

Alguém me tira de cima dele com muito custo, me debato e quando olho para
minha mão vejo a quantidade de sangue que há nela.

— Meu Deus, Marco…

Ouço Melanie dizer chorando.

— Deus não amor, Lúcifer… — digo antes de sair andando sem rumo.

— MARCO A MELANIE…

Ouço Dante gritar.

Quando me viro, Melanie está de joelhos no chão com a mão na barriga


chorando e há sangue na sua roupa…

O que eu fiz?

— ELA ESTÁ PERDENDO SANGUE! — alguém grita.

Eu não posso ter matado meu bebê.


Às vezes na vida você precisa aprender a lidar com os pesos que há em
seus ombros, mas há certos pesos que pesam tanto a consciência que faz a
morte parecer um doce alívio para a alma. Sempre achei que meu maior fardo
estaria no meu passado, mas hoje vejo que meus maiores fardos são as
escolhas que tomo. Às vezes você acerta e outras você erra…

Hoje cometi um grande erro, mais uma vez errei, mas quem sabe um dia eu
acerte.

Uma vez alguém me disse que é preciso errar para acertar, o que é a mais
pura verdade, mas nem sempre há acertos na segunda tentativa…

Seguro suas mãos, enquanto ela dorme calmamente e mentalmente agradeço


a Deus por nada ter acontecido. Meu filho e ela estão bem, mas eu não estou.
Perdi o controle por algo tão banal e Melanie poderia ter perdido nosso filho
por causa de um mero descontrole meu.

Beijo seus dedos com carinho, curvo minha cabeça na cama e fico nessa
posição parecendo frágil.

Quando imaginei que ficaria assim por causa de alguém?

Nunca gostei de parecer fraco, mas hoje por ela e por nosso filho estou quase
chorando. Sinto-me em estado de choque e ainda vejo sangue nas minhas
mãos mesmo que eu já as tenha limpado.
Parece que não vai sair…

Foi esse sangue que fez com que Melanie também sangrasse. Por minha
causa ela se feriu…

Por minha causa meu filho quase morreu.

Do que adiantou tê-la mandado para longe de mim se eu mesmo a machuco


quando está próxima?

Não adiantou nada!

É incontestável que tudo isso esteja acontecendo em tão pouco tempo, sinto
que estou no olho de um furacão e no momento não vejo saída. Sinto que
tudo a minha volta está sendo destruído e eu sou o tornado que tudo destrói.

Ah Marco, quando foi que se tornou tão inconsequente?

Acho que a pergunta…

Quando não fui?

Beijo pela última vez sua mão antes de me levantar, ela irá passar a noite aqui
em observação. Olho para o seu rosto sereno e calmo e sinto uma dor
sufocante no meu peito. As batalhas que havia na minha mente agora também
se encontram no meu peito. Não me feriu tanto levar dois tiros, mas me fere
de verdade vê-la ferida por minha causa.

Dói na minha alma!

Saio do quarto de cabeça baixa, não quero falar com ninguém, mas assim que
levanto minha cabeça vejo Dante parado bem na minha frente. Ele está
encostado na parede com os braços cruzados e parece nunca descansar. Seu
cabelo que sempre está bem alinhados, hoje está bagunçado. Ele me olha,
suspira e sai andando.

É uma porra isso!

Sei que devo o seguir para que possamos conversar.


Às vezes acho que Dante é um psicólogo, o cara é o mestre dos mestres na
benevolência. Nunca na minha vida pensei que teria um amigo como ele e às
vezes só é chato ter que ouvir tudo que ele tem a dizer.

Sigo-o até o elevador, entro com ele, mas não presto atenção no que ele digita
no painel. O silêncio prevalece e gosto de admirar a escuridão da noite, assim
como o silêncio gritante da madrugada fria. Gosto de sentir o frio. Sou o
oposto da maioria das pessoas, mas nunca gostei de ser igual a todo mundo.
Aprendi a gostar de coisas que muitas pessoas não gostam e a valorizar o
silêncio mútuo, já passei muitas noites ouvindo gritos apavorantes que nem
sempre eram os meus, quer dizer, às vezes eram os meus e o de alguém que
estava bem diante de mim, mas com o tempo aprendi a não gritar e me
acostumar com a dor. Acho que até mesmo passei a achar que ela fazia parte
de mim. Às vezes quando fecho meus olhos ainda me vejo sendo um
moleque que achava que a vida não passava daquilo que estava diante dos
seus olhos. Demorei um tempo para ver que havia mais do que meus olhos
podiam enxergar. Nem sempre pode enxergar, as vezes é preciso entender o
que há nas entrelinhas e perder a visão para poder entender como é o mundo
no escuro.

O elevador para, Dante sai, sigo-o e reparo que estamos no terraço do prédio.
Aqui não tem nada, mas dá para ver a cidade e suas luzes brilhantes com a
neve caindo sobre elas. A única coisa ruim da neve é que ela é branca e
branco se mancha rápido demais.

— Como você está? — pergunta Dante olhando em meus olhos.

— Bem — digo querendo ser convincente para poder sair desse assunto o
mais rápido possível.

— Não tente mentir para mim… Não hoje, por favor — fala me dando um
sorriso que não alcança os olhos. — Hoje foi um dia agitado, ouso dizer que
até normal para os dias que estamos vivendo. Gostaria de lhe dizer que está
tudo bem, mas não está. Você tem sangue quente quando se trata da Melanie,
isso é um sentimento que você ainda precisa entender, é algo novo para você
e isso lhe assusta… Não precisa negar, vejo isso em seus olhos — fala
calmamente. — Talvez eu teria a mesma atitude que você, sou possessivo
com Anny, sabe meu amigo, minha sorte é que minha mulher consegue ser
mais louca do que eu no termo possessivamente. Acredite, ainda não consigo
ir à praia sem que Anny surte e queira matar qualquer mulher a minha volta,
mas bem isso faz parte de estar em um relacionamento — fala quase me
fazendo rir.

Anny realmente surta quando se trata do Dante, a mulher é ciumenta em


excesso.

— Amar alguém é assim, é querer proteger alguém o tempo todo e não se


sentir bem quando surge uma ameaça. Você se sentiu ameaçado por alguém
que está perto da Melanie, isso é bom ao meu ponto de vista e mostra meu
amigo que você está se contradizendo sobre tudo que disse no passado…
Faça do que aconteceu hoje um aprendizado ou uma grande descoberta. Você
gosta dela, você a ama e isso vai lhe enlouquecer. E eu, seu amigo e irmão
vou assistir toda essa revolução que está ocorrendo dentro de você de
camarote, você está pagando sua língua. Se precisar de ajuda estarei sempre à
disposição…. É eu por você e você por mim.

Dante é um enigma para muitos, sua bondade é algo assustador até mesmo
para mim que estou com ele há muito tempo. Dante não mede esforços para
ajudar alguém, até hoje nunca o vi negar ajuda a um necessitado, ele é justo.

— Obrigado.

— Você meu amigo defendeu a causa mais importante da minha vida! — diz
com as mãos apoiada no meu ombro, me olhando nos olhos com intensidade.
— Você mostrou o quão bom é quando não julgou e nem condenou Anny,
você se mostrou ser uma pessoa benéfica quando entrou naquele tribunal, fez
o impossível e venceu a causa… Agora é a vez de defender sua própria causa
Marco, sempre há uma nova audiência, há habeas corpus, ainda não é o fim
— diz com lágrimas nos olhos.

Aquela audiência mudou a vida de muitas pessoas, Dante teve sua vida
transformada após audiência. Todos sentiram o peso do martelo do juiz, mas
mesmo diante de tanto sofrimento a justiça foi feita e as perdas só fizeram
com que tivéssemos certeza de que nada na vida nada é para sempre.

— Defenda sua causa meu amigo, se não defender eu farei isso com honra!
— Não sou advogado, mas também entro nessa. — Pedro diz parando ao meu
lado. — É inacreditável que vocês me excluam dessa conversa melosa, aliás,
também quero calda de morango só que não no seu pau…

— Puta que pariu! Ela falou isso para vocês? — pergunto já sabendo a
resposta.

— Ela não tem filtro e fala tudo que vem na cabeça, ainda mais quando está
com raiva. Ela ainda não falou o tamanho do seu pau — Pedro diz
gargalhando. — Porra meu amigo, você está ferrado com a Melzinha… A
mulher é pirada e disso não há dúvidas.

— Melzinha é o cabo de vassoura atolado no seu rabo.

— Calminha amigo, sabe que para mim ela é uma irmã assim como Anny. —
Pedro fala ainda rindo, ele não para de rir por um instante. — Aliás, Anny já
fez com que o prédio todo da empresa soubesse o tamanho do pau do Dante,
agora a Alemanha toda sabe o desejo do Melzinha, bem ambos estão ferrados
e no dia em que essa mulherada toda se juntar vai todo mundo tomar nos seus
orifícios anais. Nesse momento agradeço por ser solteiro.

Filho de uma boa mãe, não posso xingar a tia!

Dante fica pensativo assim como eu, já sabemos que estamos ferrados só não
gostamos de pensar muito nisso, ninguém me disse que ter uma mulher que
se recusa a casar com você seria tão cansativo e preocupante. Ainda mais
porque a minha é louca e não sabe o que fala…

Sinto que ainda terei muita dor de cabeça.

— Eu disse que a vida de casado não era um mar de rosas, ainda mais porque
rosas possuem espinhos. — Carlos fala surgindo do nada, assim como Pedro.
— Nessa reunião no terraço de um hospital só falta Edward.

— Ele ainda está no Brasil? — pergunta Pedro a Dante.

— Não sei se um dia aquele infeliz vai sair do Brasil, ele não admite, mas
está apaixonado pela Lucy. Porém não é assunto para agora, cada um de nós
possuímos um fantasma. Todos concordam silenciosamente, Edward é um
cara na dele, não acredita no amor. Na verdade, o cara convive tanto com a
criminalidade e com o psicológico das pessoas que é até compreensivo. O
fato dele ter certo receio, eu não posso dizer nada.

— Marco, as mulheres estão com James — Carlos fala. — Valentina me


disse que ele dormiu há pouco tempo. Agora vamos lá… Val e eu tivemos
gêmeos, Dante e Anny trigêmeos e você terá quantos?

Olho para ele espantado, eu não havia pensado nisso, mas a médica disse que
há apenas um bebê na barriga da Melanie, se por acaso houver mais irei
surtar. Todos os exames mostram apenas um e um está de bom tamanho.

— Apenas um meu amigo. — falo rapidamente. — Apenas um.

— Eu também achava que era um e olha só, vieram três! — Dante fala
sorrindo. — Tudo é possível, as primeiras ultrassons também mostraram
somente um e depois aumentou mais dois.

Olho para ele e nego com a cabeça.

Se um já me assusta, imagina dois?

Não pude acompanhar a gravidez do James o que pesa muito minha


consciência, mas a desse bebê quero estar presente em tudo. Já basta eu quase
tê-lo matado.

— Imagina vir quatro meninas iguais a Melzinha! — Pedro fala e quase


enlouqueço com essa ideia.

Puta merda!

Se for menina irei pagar por todos os meus crimes.

Não posso ter uma filha, só posso ter meninos. Não saberei lidar com uma
menina….

Eu não saberei lidar com isso e já até a imagino na adolescência seguindo os


mesmos passos da mãe.
Meu Deus!

Minha filha será uma tarada!

Vou até procurar conventos de confiança, ela será freira!

Amém!

Será devota a Deus, só a Deus.

Nada de vestidos curtos como o da mãe….

Nada de micro shorts…

Blusinha mostrando a barriga e biquínis.

Só irá usar vestidos de freiras longos e bem comportados. Burcas nunca


foram tão bem vistas pelos meus olhos…

Isso já amo burcas!

— Marco não surta. — Dante fala. — Só não surta, essa não é hora… Deixa
isso para o futuro… Confie em mim meu amigo, não vale a pena pensar
nessas coisas agora.

Olho para ele e para Carlos que concorda.

— É mais fácil vocês se concentrarem no agora. — Pedro fala.

Quando vou responder, meu telefone vibra no bolso.

— Marco Haylock — digo atendendo o telefone.

— Senhor Haylock, sua esposa acordou e deseja falar com o senhor.

— Já estou indo.

Não sei por que, mas sinto medo do que está por vir…
Temo a possível rejeição da Melanie.
Olho para a porta azul clara ansiosa para poder vê-lo…
Quero saber como ele está, pois tenho medo dele não aguentar o pequeno
incidente que houve.

Estou com medo de perder Marco…

Meu bebê eu sei que está bem, aliás, o pequenino dentro de mim está ótimo
pelo que a médica me disse, então minha única preocupação tem nome, idade
avançada, que eu ainda não sei qual é, barba e cabelo ruivo. Isso sem falar no
tronco que tem entre as pernas.

Nunca imaginei que gostaria tanto de me sentar em cima de um tronco e


balançar…

É tão bom ser eu!

Como diz Mariana Albuquerque, personagem de um livro da Autora Jussara


Leal, “É muito bom ser vida louca" e afirmo que é bom mesmo, muito bom!

Olho para a porta já impaciente, sei que a enfermeira já solicitou a presença


do meu nem marido e nem namorado, apenas pai dos meus filhos e meu
homem. Sinto uma urgência para vê-lo, pois meu coração está angustiado.
Marco possui demônios demais para ter que lidar com mais alguns. Na
verdade, só estou tendo noção disso tudo após ver seus olhos no momento em
que olhou para suas mãos e viu sangue nelas. Por alguma razão vi em seus
olhos uma tristeza tão grande que dilacerou minha alma. Eu ainda não sei,
mas venho tendo um vislumbre do quão triste e ferida é a alma do Marco. Eu
já havia percebido que ele possui dificuldades para dormir e quase sempre
tem pesadelos cruéis, ele não sabe, mas as vezes durante seu sono ele fala e
muitas vezes ele apenas sussurra:

“Para, isso dói!"

Logo depois escorrem lágrimas pelos seus olhos.

Marco quase sempre passa as noites em claro, ele é alguém que precisa ser
cuidado, só não sabe deixar com que cuidem dele e eu quero cuidar dele
mesmo que isso seja doloroso para mim.

Às vezes o amor dói…

Amar o Marco dói muito e sei que vai doer ainda mais. Quanto mais
profundo o conheço, mais fundo irei me ferir com suas feridas, mas como
minha falecida mãe dizia: “Deus não nos dá fardos que não possamos
carregar”.

Eu posso suportar!

Eu sei que posso!

Só tenho que ter paciência e calma, apesar de que sei que não sou lá muito
paciente e nem muito calma, mas tentarei ser ao máximo.

Dante me disse lá na ilha que é preciso dançar na chuva, bem, eu irei sambar
na tempestade e depois irei agradecer o sol por ser tão lindo. Preciso criar um
respaldo dentro de mim mesma para que nos dias insuportáveis consiga
suportar a dor, a raiva e a mágoa. Preciso crescer mentalmente por mim
principalmente, mas também pelos meus filhos e pelo pai gostoso que eles
têm.

Cruzo minhas pernas na cama macia, porém desconfortável com lençóis


brancos.

Hospital, sendo hospital!


Esse homem está vindo de onde?

Da nova Zelândia, só pode!

Fecho meus olhos impaciente e mentalizo que serei paciente somente quando
ele passar pela porta azul, mas não tão azul quanto os seus olhos.

Eu amo seus olhos azuis celestiais!

Acho que azul será minha cor favorita a partir de agora.

Ouço um barulho na porta, termino minha contagem até dez, abro meus olhos
e o vejo parado na porta olhando para mim. Sua testa está franzida, seus
olhos estão caídos e parece que há pelo menos mil pesos nas suas costas. Ele
não olha diretamente em meus olhos, mas procuro seu olhar e há algo que
nunca vi em seus olhos até hoje.

É intrigante vê-lo assim, chega a ser doloroso.

— Como você está? — pergunta ainda da porta, só que agora ela está
fechada.

— Estou ótima! — exclamo quase pulando da cama. — Não vejo a hora de


sair daqui… Quando vamos para casa? Não gosto mais da Alemanha — digo
emburrada.

— Você ficará aqui até amanhã de manhã. A médica quer saber se ficará
realmente bem para que possamos voltar para casa — explica
monotonamente. — É uma viagem longa e um pouco cansativa… Pode ser
estressante para você.

— Compreendo — digo ficando de joelhos na cama. — Garanto que para


mim será uma viagem maravilhosa e que irei dormir o tempo todo. Não pude
descansar muito na gravidez do James, mas nessa pretendo hibernar.

Ele me olha como se eu fosse louca, talvez eu seja, mas não gosto de receber
esse olhar. Sou apenas diferente das demais pessoas, pois sou única.
Amo ser única!

— Faremos o impossível para que ela seja bem tranquila e que você possa
descansar bastante — fala mais para si mesmo do que para mim.

— Oh meu ruivo, “bora” bater um papo — falo apontando o dedo na sua


direção. — Agora vêm cá, quero falar com você… Chega mais perto que não
mordo, quer dizer, hoje não irei morder, já amanhã quem sabe! — falo séria.

Ele se aproxima a passos lentos e quando está bem perto da cama me jogo em
seus braços o abraçando com força. Adoro seu perfume que até hoje não sei a
marca.

— Melanie…

— Xiu! Deixa-me ficar assim, por favor, deixa só eu ficar onde me sinto mais
segura.

Não sei quando comecei a chorar, só me dou conta desse ato quando fungo,
ele rodeia seus braços em mim me trazendo mais segurança. Definitivamente
seu aperto forte me traz consolo.

— Perdoe-me por tudo que aconteceu, perdi o controle.

Afasto-me para olhar em seus olhos.

Ah, esse azul escarlate!

Vejo que há mais a ser dito, porém as palavras parecem não querer sair. Acho
que até seria demais, pois ele é uma pessoa silenciosa até demais,
observadora e calma na maioria das vezes. Amar Marco muitas vezes é amar
um iceberg, mas tudo bem, se a mulher do Titanic sobreviveu, eu irei
sobreviver.

— Foi um mal-entendido… Agora como você está? — pergunto beijando seu


rosto.

— Estou bem, até mais do que deveria — responde apertando minha cintura.
Nossos lábios se encontram de forma incerta, mas logo nos acertamos e abro
minha boca dando passagem para sua língua. O beijo começa lento, quase
doce, mas logo se torna necessitado e intenso. Puxo seu cabelo com força na
tentativa de ficarmos mais próximos. Sua boca tem um gosto tão familiar…

Ah, como senti falta desse gosto!

Mordo seu lábio inferior em uma desesperada tentativa de provocar uma


maior reação nele, mas nada consigo. Quando me preparo para me sentar em
seu colo, ele me afasta…

Nem selinho de despedida ganhei.

— Não Melanie, você precisa descansar — fala com sua voz rouca.

Esse tom rouco significa tanta coisa…

Puta merda, ele vai me deixar na vontade!

— Marco, eu preciso de você! — choramingo tentando beijar mais uma vez


seus lábios.

— Não, você precisa dormir e descansar para que amanhã de manhã


possamos voltar para nossa casa.

Com raiva me deito na cama e me cubro até a cabeça.

Odeio o Marco!

Odeio!

Faz uma hora que estamos no ar dentro de um jatinho particular.


Jatinho particular é coisa de outro mundo!

Amo jatinho…

Amo de coração!

Estamos voltando para casa finalmente!

Nunca havia andado de avião, mas agora vivo andando de jatinho. Não ser
namorada, noiva e muito menos esposa, mas ser mulher do ruivo gostoso me
faz ter benefícios.

Sou rica!

Sou muito rica, ando até de jatinho particular!

Marco é um cara muito rico…

Rico até demais!

Porém ele não sabe usar todo esse dinheiro e poder.

Juro que assim que pisar em Boston e hibernar por horas, irei sair e gastar o
máximo que puder.

Quero ficar linda…

Muito linda!

Irei comprar calcinhas sexy, roupa sexy, tudo sexy. Na verdade, vou ser a
“sexyologia” em pessoa, aliás, nem sei se essa palavra existe, mas quer saber
se não existia, passará a existir agora.

Sou muito maravilhosa!

Agora maravilhosa, linda e rica…

Rica não, MILIONÁRIA!


Eu não sabia ao certo todo o poder e “money” que Marco tinha até Anny e
Valentina me contar uma hora antes de cada uma de nós entrarmos em nossos
próprios jatinhos. Nem acredito nisso, poderíamos vir todos juntos, mas não.

Cada família foi no seu próprio jatinho.

O maior jatinho é o do Dante, mas também o “cara” é o dono do Planeta.


Dante Boltoni é muito rico.

Bilionário, isso sim!

Hoje depois de conversar com as meninas fiquei meia aérea, mas no


momento em que vi Dante, Pedro, Marco e Carlos vindo juntos quase
enfartei. Olhei para eles e vi diamante, ouro e muito poder iminente.

Coisa de outro mundo!

— Melzinha, você está bem? — pergunta Pedro me tirando do mundo


fantasioso.

— Estou sim — digo sorrindo.

— Você parecia estar em outra dimensão — fala rindo.

Esse homem ama rir.

— Pedrinho, por que você não foi no seu próprio jato?

— Primeiramente de “inho” eu não tenho nada, agora respondendo sua


pergunta pelo simples fato de que não quero gastar gasolina. Marco é mais
rico do que eu — explica me fazendo rir.

— Você é mão de vaca, isso sim — Marco enfim fala. Ele está sentado na
poltrona no outro lado do corredor, James está ao seu lado dormindo e Pedro
está a minha frente.

— Apenas não vejo necessidade de gastar dinheiro com coisas banais —


Pedro responde sorrindo ainda mais.
— Você gosta de sorrir, né Pedrão? — pergunto arrancando uma gargalhada
dele.

— Agora sim você acertou — diz fazendo um toque comigo. — A vida já


possui tristezas demais, já há lagrimas demais por aí… Gosto de sorrir, pois
já chorei muito quando criança por ser negro — ele fala rindo e sinto
necessidade de chorar, racismo é uma coisa tão desnecessária para o mundo.
— Oh, Melzinha não chora, está tudo bem. Todos nós passamos por algo que
faz com que sejamos mais fortes.

— O mundo é tão cruel. — falo com lágrimas nos olhos.

— As pessoas são cruéis, Melanie, então foque só nas coisas boas — Pedro
fala.

Sorrio para ele e fecho meus olhos.

Quero dormir, ainda tem algumas horas para chegarmos em casa.

— Melanie, vá para cama dormir — Marco fala.

— Tem cama aqui?

— Sim, tem no fim do corredor. — Ele fala se colocando de pé e pegando


James no colo.

Sigo-o até que ele abre uma porta e entra em um quarto não muito grande,
mas bem confortável. Há uma cama de casal, uma cômoda e uma porta, que
acredito ser o banheiro.

Deito-me na cama ao lado de James e puxo meu filhote para perto de mim. É
muito bom dormir agarradinha com ele.
Acordo não sei quantas horas depois toda descabelada e ainda sonolenta vou
atrás de Marco. Quando vou sair do quarto ouço algo que gela todo o meu
corpo.

— Eu o matei, Pedro e não me arrependo…

Tampo minha boca para conter o gripo.

Marco é um assassino?
Meu corpo parece ter travado, não sou capaz de acreditar no que acabei
de ouvir…

É impossível acreditar!

Marco não pode ter matado aquele desconhecido por me tocar, ele não pode!

Mãe Santinha, ajuda seu não genro aqui, mas pai dos seus netos. Faça com
que seja só asneira que esteja saindo da sua boca ou só modo de falar.

Quando enfim consigo mover alguns músculos do meu corpo, corro de volta
para a cama. Em casa irei ter essa conversa com o senhor ruivo gostoso. Puxo
James para perto de mim e tento voltar a dormir, sem sucesso.

Rolo para lá e para cá…

Tempos depois opto por me levantar para não acordar James e saio para o
corredor como se não tivesse ouvido nada minutos antes. Pedro ao me ver
abre seu típico sorriso que mostra seus dentes perfeitos.

Ele é com toda certeza um negro muito bonito!

Porém por mais lindo que ele seja, ainda prefiro meu ruivo que quase nunca
sorri e é carinhoso, mas em sua defesa é ótimo de cama e me faz gozar mais
de uma vez.

Foco Melanie!
Foco!

Se você não focar irá cair de cara no chão pagando o mico do dia.

— Melzinha acordou toda descabeladinha — Pedro fala e mostro o dedo do


meio para ele. — Que coisa feia, hein bebê Melanie que gosta de chupar
calda de moranguinho nada geladinha!

— Oh, meu Deus! — digo caindo na gargalhada.

— Não ponha Deus no meio Melzinha do moranguinho quente, se você botar


caldinha quente, o pauzinho derrete…

— “inho” só o seu. O ruivo tem tudo em maiúsculo.

— Oh Melzinha, deixa eu te mostrar o que tenho de “inho” por dentro da


cueca, a jiboia é tão grande que até te come…

Antes que eu possa revidar vejo um punho socar a boca do Pedro.

Acho que alguém se irritou…

— Porra… era só uma brincadeira — Pedro fala limpando a sangue que sai
da boca.

— Brincadeiras tem limite — Marco fala sério. — E você senhora Melanie,


não deveria dar trela a certas brincadeiras. O Pedro a trata com respeito, mas
outro poderia ter levado para o lado maldoso.

Não gosto de dizer isso, mas ele tem razão…

Vivemos infelizmente em um mundo completamente machista. Onde se uma


mulher entra no ônibus, teme por ter que ficar em pé por medo de um homem
passar atrás dela “sarrando” e se tem lugar para se sentar sempre tende a se
sentar no lado de uma outra mulher, pois isso lhe passará mais segurança.

Ser mulher é ter medo de ser mulher!

Quando somos assaltadas agradecemos ao bandido por somente nos furtar,


levantamos a mão para o céu e dizemos: “Graças a Deus, ele só me roubou e
não fez nada a mais”. O medo do estupro é tão grande que sentimos medo em
usar uma roupa mais curtas ou até mesmo roupas que são consideradas
provocativas, não há nada demais usar uma roupa mais curta, nem sempre
nos vestimos para agradar um homem, na maioria das vezes é por nós
mesmas. No meu ponto de vista, isso é tão errado.

Mulher não deveria temer ser mulher.

Somos dignas de igualdade!

— Eu sei Marco! — falo me sentando no seu colo. — Agora sobre o


morango…

— Não! — diz já cortando o assunto e Pedro se levanta para lavar a boca.

Tadinho!

— Você poderia te pegado mais leve com o Pedro — falo brincando com
seus dedos.

— Dei um soco de leve — fala calmamente.

— Se você diz… — falo cortando o assunto, já que sei que não vai dar em
nada. — Marco qual de vocês é o mais rico?

— Dante.

— Isso eu sei… Estou falando entre você, Pedro e Carlos.

— Não sei ao certo dizer. Carlos é médico e veio de uma família rica no
México, Pedro e eu viemos da pobreza e não comparamos conta bancária.

— Agora entendo o sotaque diferente do Carlos, sempre que alguém fala de


México lembro de quartéis mafiosos. — falo rindo. — Só falta Carlos deixar
crescer o bigode mafioso.

— Essa sua imaginação às vezes me assusta — diz dando um longo suspiro.


— James está dormindo muito.
— Ele brincou muito, deixe-o descansar — digo mexendo no seu cabelo.

Ele não diz nada, mas sinto suas fortes mãos passearem por dentro da minha
blusa e acariciarem minha barriga já redondinha. Estou grávida de três meses
e há quase cinco meses Marco entrou de vez na minha vida. Sei que é pouco
tempo, mas são tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que as vezes
sinto uma vontade louca de parar e analisar tudo que está acontecendo a
minha volta. Sinto que estou perdida no meio desse tornado. Estou em
desvantagem, no escuro e ainda assim me mantenho aqui. Se fosse há um ano
apertaria o botão do dane-se para tudo e seguiria minha vida sem Marco, mas
a Melanie de hoje está mais madura e menos confiante de si mesma. Está
tudo bem, sei que estou crescendo e crescer significa cair e levantar e se me
perder uma hora irei me achar. Por enquanto me permito estar perdida.

Ficamos em silêncio, não há muito o que dizer, na verdade, não queremos


falar, mas sabemos que há muito a ser discutido. Por alguma razão sinto que
estamos evitando qualquer tipo de discussão.

— Você está bem?

— Sim, estou mais do que bem!

— Tem certeza?

— Não, eu não tenho, mas sei que tudo entrará nos trilhos no seu devido
tempo — falo me virando para olhar em seus olhos azuis. — Eu tenho só
vinte e dois anos, daqui há alguns meses irei fazer vinte e três e já tenho dois
filhos praticamente, desde muito nova tive que crescer muito rápido — dou
um sorriso triste. — Quando minha mãe morreu de câncer, meus irmãos e eu
fomos separados e cada um foi para um canto. Eu me senti sozinha, mas não
podia fraquejar. Quando sai do orfanato tive que me virar e logo depois
descobri que estava doente, foi aí que chorei, mas lutei para sobreviver e até
mesmo me endividei — falo quase chorando. — Já comentei com você que
devo para agiotas?

— Você o que Melanie? — pergunta me olhando sério.

— Eu não tive escolha, estava muito doente, não tinha um plano de saúde e
não queria morrer…

— Tudo bem não chore, assim que chegarmos a Boston irei pagar esses
caras. Você deveria ter me dito isso desde o começo, mas isso não vem mais
em questão — fala beijando minha testa.

Estou amando o Marco fofo!

— Você também irá fazer um exame completo. Quero saber como está sua
saúde.

— Estou bem, não vê? — pergunto emburrada.

— Não adiante fazer bico Melanie, não faça birra isso é coisa de criança.

— Sou tão criança que até mesmo sento e rebolo no seu pau — digo o
encarando.

Ele aproxima seu rosto do meu e fico ansiosa, quero muito que ele me beije
de verdade, pois sinto falta da sua pegada monstra. Ele desvia e sussurra no
meu ouvido bem baixinho. Sua voz rouca no pé do meu ouvido me deixa
excitada.

— Sim, você senta e rebola como a boa menina que é, ainda goza pedindo
mais e mais, mas agora, nesse momento você está sendo uma menina birrenta
e não uma puta na cama, aliás, seja puta apenas na cama — fala mordendo a
pontinha da minha orelha. — Ele se afasta, me dá um selinho rápido e
encosta sua cabeça na poltrona fechando os olhos.

Desgraçado!

Não há coisa melhor do que estar em casa, nunca pensei que sentiria tanta
falta desse apartamento preta e cinza, minhas plantas estão quase mortas, mas
nada que uma dose da água não resolva. Ando pela casa observando o
trabalho que terei em limpar tudo.

Santa Mãezinha!

Que organização desnecessária!

Na casa só há pó para tirar, fora isso tudo está em seu devido lugar. Marco é
organizado até demais, o que é uma chatice do inferno.

Sou bagunceira!

Volto para sala e paro ao observar a cena mais linda desse mundo, Marco
rodando James no ar e sorrindo abertamente para ele. Ambos olham um para
o outro sorrindo e não há como não se emocionar.

Os dois juntos é lindo de se ver!

Uma lágrima escorre dos meus olhos ao presenciar essa cena, uma
desvantagem de estar grávida é que por tudo choro, sou chorona por natureza
e grávida as coisas só pioram.

Essa é minha última gravidez!

Não vou engravidar mais!

Uma vez quando menina sonhei em ter uma grande família, lembro de
imaginar viver em uma casa boa e que nos feriados iria reunir todos na sala
de jantar para comer, lembro até mesmo de sorrir com o pensamentos da
minha sogra e da minha mãe discutindo por causa da forma como se deve
preparar o frango, ou de como o molho deve ser feito. Lembro de consegui
imaginar minhas cunhadas em seus perfeitos vestidos rindo assim como eu da
discussão das duas. Juro que podia ouvir o riso das crianças correndo em
volta da mesa ou de um vaso de planta que sempre cai no chão como um
ritual.

Nada aconteceu como imaginei, mas o destino não está sendo tão cruel
quanto pensei que seria. Ele até está pegando leve comigo, me deu um filho
maravilhoso e outro que irá nascer logo e de quebra um pai gostoso. Marco o
que tem de gostoso, tem de mal-humorado e de chato, mas o desgraçado já
conquistou meu coração só não sabe disso ainda.

Enxugo minhas lágrimas e corro na direção deles para também poder brincar
um pouco, estamos tempo demais contendo os sorrisos.

Só por hoje estamos esquecendo o dia de amanhã e sendo feliz…


— Você não sente medo? — July me pergunta.
— Não mais — respondo vendo as ondas se formarem no oceano.

— Eu tenho, mas está tudo bem… Vamos recomeçar, aqui em Boston venta
muito, mas eu gosto, faz com que meu cabelo dance no ar me dando a
sensação de que posso voar… — diz enxugando as lágrimas. — Não
podemos ir em um médico, mas, por favor, siga em frente. Não há câmeras
aqui, então jamais saberão quem você esteve aqui comigo. — fala segurando
minha mão. — Sei que não vou sobreviver, mas você vai ruivo… Você tem
que sobreviver. Há mais nesse mundo do que dor. Quando amanhecer não
estarei mais aqui, a vida foi um pouco cruel comigo, mas tudo bem. Na
verdade, ela foi uma vadia conosco, mas você tem a chance de deixar tudo
isso para trás. Você é uma pessoa que carrega fardos demais ruivo, só pare
de se culpar por tudo… Só pare. — Ela se levanta e caminha até a ponta.

Ela irá saltar e eu apenas a olho.

Hoje será nossa última despedida, a ferida nas minhas costas ardem, mas já
suportei dor pior.

— July?

— Sim?

— Voe, vá o mais alto que puder… Obrigado, irei sim recomeçar.


Uma lágrima escorre dos seus olhos, ela sorri em meio à dor, abre seus
braços, fecha os olhos e se joga. Ela se libertou desse cruel mundo.

Levanto-me e caminho para longe dali, está na hora de buscar a liberdade…

A minha liberdade!

Acordo assustado após mais uma lembrança que tento a todo custo esquecer.
Respiro fundo, mais uma madrugada que passarei acordado. Levanto-me da
cama com cuidado para não acordar Melanie e James que dormem colados
um no outro.

Uma cena linda de se ver!

Eu literalmente perdi minha cama e minha privacidade, mas não há do que


exatamente reclamar. Há noites que acordo com Melanie me chutando e há
outras que acordo com James querendo pular da cama, mas nenhuma dessas
noites envolvem sexo.

Frustrante!

Sinto que ela está me deixando de castigo.

Voltamos para Boston há duas semanas e há duas semanas venho sendo


ignorado, só que se tem algo que minha adorável Melanie não sabe é que sou
bom em ficar na minha. Estou respeitando o espaço dela por mais que ela
não respeite bem o meu.

Desço a escada para a cozinha e o Toby me segue.

Bem agora temos cachorros, isso mesmo no plural.

Cheguei em casa e havia um casal de cachorro no meu tapete egípcio de


quinze mil dólares, mas tudo bem eles fazem James feliz. Paro na escada
quando vejo que o filhote chora, subo de volta o pego no colo e volto a
descer a escada. Ele é pequeno e fofo, nunca pensei em ter um cachorro fofo
e peludo, mas o bichano é pequeno e vai continuar pequeno. Não reclamo,
ele é educado, mas sua irmã nem tanto. Eles são de raças diferentes, ela é
uma Samoieda[5] e ele um Lulu da Pomerânia[6].

Quando chego a cozinha, coloco-o no chão, pego sua tigela, coloco leite e o
desesperado bebe com gula. Pego um copo e bebo água.

Não gosto de me recordar do meu passado, já tive recordação demais


durante minha estadia na Alemanha, uma estadia bem desagradável por
sinal. Por falar em Alemanha ainda não descobri o nome do filho da puta
que abraçou Melanie e só de pensar nele sinto um ódio mortal.

Que vontade louca de matar o infeliz!

Como Dante sempre diz, vamos respirar para não morrer sufocado.

Bebo dois copos de água e sigo até a pequena varanda que tem nos fundos
da cozinha. O inverno está dando ar da sua graça, mas logo irá acabar, já
que estamos no fim e no início da primavera.

Que haja flores…

Deito-me na rede apreciando o vento frio e o cachorro me segue, mas


choraminga com o vento frio. Pego-o, colocando em cima da minha barriga
e faço carinho em seus pelos macios.

— Ah, você está aqui! — Melanie diz surgindo do nada.

— Onde mais estaria?

— Já que você Toby, meu bebê está aqui e não está falando com nenhuma
vira-lata por aí, posso voltar ao meu sono da beleza — fala e sai correndo.

Doida!

Ela é doida!
Olho bem para o rapaz a minha frente, sinto que ele é inocente, mas nada
está a seu favor. Ser culpado por homicídio pela família da namorada não
ajuda muito, ele foi o último a vê-la em vida e para piorar a situação do
coitado foi ele que a encontrou morta ou melhor ele não conseguiu impedir a
morte dela. Tudo aponta que foi ele que empurrou a vítima…

Complicado.

— Diga-me por que devo acreditar que não foi você a matá-la? — pergunto
olhando em seus olhos.

— Não há motivos para acreditar em mim, mas deveria acreditar nela. Eu


tentei a todo custo segurar sua mão, mas ela quis voar. O que eu podia
fazer? Ela estava cansada de viver, vivia triste e já tentou mais de uma vez.
Para seus pais isso era burrice ou como eles diziam: “Ela só está querendo
chamar atenção”, mas eu disse várias vezes que ela estava com depressão.
Eles não quiseram enxergar que estavam perdendo sua filha e o que estava
bem diante dos seus olhos. Eu a amei, mas não foi o suficiente… Eu a amo.

— Você irá passar por um psicólogo e por um psiquiatra. As câmeras do


local dizem o quanto você é inocente.

— Então, por que me fez tal pergunta?

— Você se sente culpado por tudo que aconteceu, só que a culpa não é sua.
Ela fez sua escolha e os pais dela tomaram conta da situação. Você acha que
não fez o suficiente, mas fez. Você foi forte, mas nem sempre aguentamos
tudo sozinho — falo olhando em seus olhos. — Não deixe que te culpem pelo
ocorrido, eles são os únicos culpados.

— Você não entende — fala chorando.

— Sim, eu entendo mais do que você possa entender. Você tem pesadelos
todas as noites, acorda assustado na maioria delas, muitas vezes não
consegue respirar e o chão parece que vai sumir. Você sente medo quase o
tempo todo, mas algo dentro de você está em paz consigo mesmo. Essa parte
é a que mais te assusta e está tudo bem… Você não é obrigado a estar bem o
tempo todo, ninguém é. Viva um dia de cada vez…

— Você acredita na minha inocência?

— Eu acredito, mas e você acredita na sua? — pergunto fazendo com que ele
arregale os olhos. Nunca pensei que na minha vida iria agir como Dante,
mas para tudo há uma primeira vez. — Eu sei que é inocente, mas preciso
que você também acredite. Irei defendê-lo, sua causa já é ganha.

— Já perdeu algum julgamento?

Não entendo o motivo das pessoas me fazerem essa maldita pergunta, mas
até agora só respondi a duas pessoas essa pergunta, ele será a terceira.

— Apenas o meu próprio.

Não espero sua resposta e saio da sala. Caminho até o elevador, preciso ir
falar com Dante, ele é um ótimo conselheiro. Antes que peça o elevador, meu
celular toca e o nome da Tânia aparece na tela.

— Tânia.

— Marco, quanto tempo.

— Não muito.

— Dominique me disse que tudo ocorreu bem, mas sei que foi ferido. Só não
liguei antes pelo fato de não saber qual era o momento certo. Obrigada…
Muito obrigada, Marco você trouxe paz para nossa vida. Saber que aquele
homem está morto e que o “Ciclo” chegou ao fim faz com que eu tenha
menos medo.

Ela está chorando.

— Estar grávida é uma merda! Sei eu jamais teria a coragem que você teve e
nem o Dom, ele só foi com você por falta de escolha… Você não foi até lá
por você, foi por aqueles que ama. Vejo que está se tornando tudo que disse
que jamais seria e isso é bom… Isso é ótimo, Marco.

— Não precisa me agradecer. Estou seguindo em frente…

Ela não fala nada e eu desligo.

A partir de agora iremos enfim poder seguir cada um seu caminho, sem
medo do passado sombrio. Suspiro pesado, estou cansado e não dormi bem,
sinto que a qualquer momento irei surtar.

Chamo o elevador e resolvo ir para casa, estou cansado…

Muito cansado…

Preciso ir para casa.

Chego em casa, subo direto para o banheiro, tiro minha roupa com pressa,
estou me sentindo sufocado, assim que me vejo nu corro para debaixo
d’água. A água morna bate na minha pele fazendo com que eu me sinta
ainda mais sufocado. Coloco a mão no meu peito, sinto que vou enfartar,
pois meus batimentos cárdicos estão fora do normal.

Uma curta reprise passa pela minha cabeça e todas as cenas são de Melanie
chorando por minha causa. O sentimento de culpa está tomando meu
coração e o peso de tudo que ocorreu na Alemanha parece estar caindo
agora. Eu sabia que uma hora isso iria acontecer…

Apoio minha cabeça na parede fria, sinto que meu corpo está tremendo e me
permito a perder o controle. Sinto alguém me abraça por trás, seus braços
envoltos em mim faz com que eu me sinta ainda mais culpado.

Quando menos espero suas mãos tapam meus olhos.

— Melanie? — chamo fraco. Minha voz está falha e sinto que não
conseguirei falar mais nada.

— Xiu… Fica quietinho. Deixa que hoje eu vou cuidar de você.


— Você não deveria… Não sou um bom homem…

— Você é Marco, eu acredito nisso, agora só falta você acreditar mais em si


mesmo.

— Achei que me odiasse.

— Hoje vou cuidar de você e amanhã voltaremos ao normal — fala beijando


minhas costas.

Então me permito chorar…

Pela primeira vez em muito tempo choro…

Eu choro por amar alguém que talvez não seja digno.

Acho que terei que partir por um tempo…


Acordo assustada, passo a mão na cama a procura de Marco e a encontro
vazia. Seu lado está frio, o que me diz que ele se levantou há muito tempo.
Em um salto me levanto da cama e vou correndo até o quarto de James, mas
ele também está vazio. Desço a escada saltitando os degraus e por um milagre
divino não caio.

Amém!

Entro na cozinha feito uma bala e não os vejo, antes que eu surte vejo um
papel pregado na geladeira.

“Não se preocupe, acordei mais cedo e levei James à creche

De lá vou para empresa, não precisa ir trabalhar hoje se não quiser

Tome café, descanse…

Bom dia, Marco.”

Subo os degraus de volta para o quarto, me deito na cama recordando de


como a noite de ontem foi dolorosa. Nunca vi Marco tão fragilizado e ferido.
Eu não vi suas lágrimas, mas sei que ele chorou. Uma parte de mim se
quebrou ontem ao vê-lo daquela forma e eu só queria absorver a dor dele para
mim. Ninguém me disse que quando se ama se fere com as feridas do amado.
Eu não sei o que o levou a tal situação, mas sinto que tudo que vem
acontecendo o levou a tal estresse. Uma hora nos cansamos de suportar.
Marco tem pesos demais sobre seus ombros.

É tão complicado querer ajudar e não saber como.

Ontem à noite após horas debaixo do chuveiro, ele se deitou de roupão na


cama e se encolheu debaixo das cobertas. Apenas apaguei as luzes e fui
cuidar de James. Eu me senti em uma encruzilhada, queria cuidar de James,
mas desejava de todo coração ficar o tempo todo ao lado de Marco. Cuidei
dos meus filhos e depois voltei para Marco. Ele não disse nada, apenas me
abraçou e assim adormecemos. Se ele teve algum pesadelo eu não vi e nem
ouvi. Senti-me tão cansada que acabei pegando no sono pesado.

Desde que voltamos da Alemanha, passei a dar um gelo nele e ele me


ignorou, então fiz o mesmo. Ele falava e eu não respondia, ele perguntava e
eu ignorava, atitude de uma criança eu sei, mas estava e ainda estou magoada
com a forma que ele conduziu os últimos acontecimentos. Fui ignorada em
tudo que me envolvia até o pescoço, tentei ao máximo possível ser
compreensível, mas não é tão fácil. Uma parte de mim está magoada e essa
parte gritou por vingança, então desde então venho tentando me vingar, mas
sinto que sou a única a se ferrar nessa história toda. O filho de uma puta
continua imparcial como se nada estivesse acontecendo e não vejo nem sua
sobrancelha perfeita subir em sinal de qualquer coisa.

É revoltante essa vida, muito revoltante!

Dizem que depois da tempestade vem a calmaria.

Então cadê minha calmaria?

Ela está fugindo de mim, danadinha!

Canso de ficar na cama…

Como hoje não irei trabalhar, vou fazer algo útil na minha vida como gastar o
dinheiro do Marco. Já que o inverno está chegando ao fim e realmente é o
fim, irei comprar roupas de verão.

Com muito custo me levanto da cama para tomar um banho rápido.


Uma hora e meia depois me vejo diante do shopping que nunca na minha
vida pensei que entraria, mas como o destino é uma caixinha de surpresa aqui
estou eu, linda, maravilhosa e gravidinha para torrar dinheiro.

Gente do céu!

Que louca estou virando, nem me reconheço mais…

Já fui mais normal!

Sãos os hormônios da gravidez, é isso!

Estou grávida e isso é ainda mais louco.

Passo pelas portas automáticas me sentindo chique, meu Deus do céu, preciso
me acalmar senão vou achar que entrei aqui para roubar.

Ando pelo shopping em busca de algo que me agrada, mas nada me agrada.
Paro diante de uma loja de bebê, entro nela com urgência como se meus pés
tivessem vida própria, mas paro ao perceber que Marco nunca fez isso antes e
seria injusto comprar algo para o bebê pela primeira vez sem ele. Ainda não
sabemos o sexo, mas ainda assim ele deveria estar aqui e quer saber de uma
coisa ele vai estar.

Pego meu celular e disco seu número. No segundo toque ele atende.

— Melanie, aconteceu algo?

— Não, não aconteceu nada — falo já saindo da loja. — Apenas preciso que
venha até onde estou.

— Chego aí em poucos minutos — diz encerrando a ligação.


Saio da loja e vou comprar um sorvete bem grande, porque eu mereço!

Há uma fila um pouco grande, mas nem ligo acho que filas são normais.
Ainda não achei fila pior do que a da padaria pela manhã, essa é só por
misericórdia. Você está com fome, sono e ainda tem que enfrentar uma fila
chata com pessoas dizendo: “Quero assim”, “Seu padeiro, você assou o pão
demais”.

Gente do céu é tão triste essas filas!

O bom é que sempre tinha alguém que também sofria com você.

Alguns minutos se passam…

Chega a minha maravilhosa vez e a moça toda simpática me atende muito


bem.

Nota dez para ela!

Um sorvete triplo com calda de caramelo é a melhor coisa do mundo todinho!

Não há coisa melhor!

A não ser o pau do Marco com calda de morango em cima…

Só de pensar me dá água na boca.

— Uma hora dessas da manhã, ainda não tomou café e já está tomando
sorvete?

Meu sorvete quase caí no chão com o susto que levo ao ouvir a voz de
Marco.
— Pauzudo do céu, não faz uma coisa dessas comigo! Estou grávida de um
segundo filho seu — falo segurando firme meu sorvete.

— Melanie, nem são direito dez da manhã, você precisa se cuidar. Isso não é
saudável!

— Claro que é saudável, tem morango que é fruta no sorvete e caramelo que
um dia foi cana-de-açúcar! Quer algo mais saudável que isso?

Marco respira fundo antes de me responder, ele está irritado e sei que não é
exatamente comigo.

— O que houve para me chamar aqui? — Aponto o dedo para a loja de bebê
diante de nós.

— Você não pode comprar a primeira roupa comigo para James, mas para
esse bebê pretendo fazer tudo junto com você — digo levando uma colher
cheia de sorvete a boca e Marco fica parado olhando para a loja fofa.

Sinto que ele está se perdendo mais uma vez dentro de si.

Cadê Dante nessas horas?

— Vamos entrar, quero comprar logo! — digo empolgada pegando sua mão e
seguindo para a loja mais fofa da minha vida todinha e mais cara também!

Entramos de mãos entrelaçadas como os típicos casais de filme.

Nossa isso é o máximo!

Todos olham para nós.

Não sei se é pela figura ruiva linda e gostosa ao meu lado ou se é por sei lá o
que, só sei que chega a ser constrangedor.

— Olá, posso ajudar em algo? — pergunta uma vendedora simpática.

— No momento estamos apenas olhando as coisas a sós — fala Marco.


— Claro, compreendo — diz toda sem graça e sai andando de fininho.

Quase senti pena da pobre coitada, mas ela não parava de olhar para Marco
com cara de piranha.

Andamos pela loja em busca de algo perfeito, mas nem sempre encontramos
o que buscamos. Marco olhava tudo com o maior cuidado e até mesmo pegou
algumas coisas para James, já eu nem sei o que escolher. Até que vejo um
macaquinho branco com bordas douradas, uma coroa no meio e um capuz
pequenino.

A coisa mais linda que já vi até agora!

Acaricio minha barriga e sorrio para a peça fofa e linda diante dos meus
olhos.

ꟷ Acho que encontramos o que viemos buscar — Marco diz me abraçando


por trás, colocando suas mãos por cima da minha. — Acho que por agora é só
isso… Ainda não sabemos o sexo.

— Não sei se quero saber o sexo agora — falo encostando minha cabeça em
seu ombro.

— Podemos saber mais para frente, mas tenho certeza de que será mais um
menino — fala convicto.

— Pode também ser uma menina, amaria ter uma menina ruiva correndo pela
casa — falo já imaginando a cabeleira ruiva que terei que cuidar no futuro.

— Sem meninas Melanie, já estou pagando por todos os meus pecados com
você, não aguento sofrer por mais uma cópia sua.

— Sério isso? Ainda nem fiz nada demais! Pelo que sei sou solteira para
fazer o que eu quiser.

— Então, okay você é solteira. Vamos pegar a roupa do bebê. — Ele me solta
e vai pegar o macaquinho.

Nossa que estranho, ele não discutiu e nem falou nada…


Muito estranho isso.

Acho melhor vigiar…

Estou deitada no sofá vendo, A origem do guardião, com James e os


cachorros estão deitados no tapete quietos. Amo esse filme mais que James
que é uma criança, mas fazer o que?

Tenho a alma jovem.

Acho tão triste a história do Jack Foster.

Tadinho!

Morro de rir com o coelho da Páscoa, gente que coelho mais doido é esse?

— Mamãe, a lua vai querer eu igual ao Jack? — James pergunta.

— Claro que não bebê, a tia lua sabe que você pertence a mamãe — digo
beijando sua cabeça.

— E o irmãozinho?

— Também não!

— Mas mamãe, nem sempre o que queremos é o que a lua quer — diz me
olhando.

— James quem te ensinou isso?

— Na escola.

— Vamos ver o filme bebê — digo fugindo do assunto estranho.


Quando estou prestes a pôr um segundo filme, sinto um cheiro de perfume
amadeirado, me levanto um pouco mais a cabeça e vejo Marco todo
arrumado para o crime.

Onde esse homem pensa que vai todo gostoso assim?

— Filhão, hoje papai não vai te pôr para dormir, mas a mamãe vai ficar com
você, tudo bem? — pergunta beijando James que sorri para ele fazendo que
sim com a cabeça. — E você pequenino se comporte, viu? — fala acariciando
minha barriga.

— Vai aonde? — pergunta já o seguindo até a porta.

— Sair.

— Isso estou vendo, mas para onde?

— Para algum lugar, Melanie. Não lhe devo satisfação sou solteiro! — diz e
sai me deixando parada feita uma estátua.

Quando consigo voltar ao normal, corro até o telefone, pego e disco para
Valentina.

— Oi Melzinha, tudo bem?

— Oi Val, não está nada bem… Você por acaso sabe onde Marco costuma ir?

— Oh, meu Deus Melzinha. — diz dando gargalhadas. — Hoje os rapazes


saíram para beber ou sei lá o que.

— Como assim?

— Tiramos os dias das meninas e eles dos meninos — diz calmamente.

— Val, você não está entendendo… Marco saiu vestido pronto para o crime e
ainda falou que ia curtir a noite solteiro.

— Ele disse isso?


— Disse.

— Calma, vou ligar para Anny para saber se Dante disse algo — diz
encerrando a ligação.

Cinco minutos depois, ela retorna à ligação.

— Melzinha, presta atenção entramos em estado de alerta! Vou mandar uma


babá para sua casa e para a de Anny.

— Como assim mulher? — pergunto já exasperada.

— Esses filhas da puta, que minha sogra me perdoe, estão em uma boate do
inferno. Se arruma aí que daqui a pouquinho uma babá de confiança chega aí.
Vamos ferrá-los nessa porra! — fala puta da vida.

Encerro a ligação e vou me arrumar…

Essa noite ele irá chorar de raiva ou não me chamo Melanie Lewis!
Estou arrumada devidamente para seduzir qualquer pessoa, hoje irei
fazer com que ele pague pelos seus pecados!

A babá chegou há poucos minutos, uma senhora muito simpática e educada,


um amor de pessoa. James já está dormindo graças a Deus, então ela só terá
que velar o sono dele e cuidar dos pets.

Coloco o salto quinze de veludo preto e…

Estou pronta!

Desço a escada me sentindo um perigo em pessoa.

Caminho para a porta sabendo que hoje volto ferrada ou fodida…

Bem, quem sabe eu não vá gostar da última opção?

O elevador desce mais rápido do que o normal, quando as portas se abrem


vejo Anny e Valentina tão arrumadas quanto eu. Ambas parecem estar com
raiva, acho que hoje só Pedro sairá ileso do ódio feminino.

— Estou pronta — digo chegando perto delas e abraçando cada uma. —


Achei que não viria Anny.

— Até parece que irei deixar Dante em um clube onde há várias piranhas
dançando seminuas, tentando seduzir aquele homem e seu pênis de 28
centímetros. — fala bufando. — Dante Boltoni irá sentir a quão raivosa eu
posso ser, ele ainda foi com aquela camisa que apertada que deixa visíveis
todos os seus músculos.

— 28? — pergunto espantada.

— Acredite Melzinha isso já deu uma discussão dos infernos, mas o homem
é pauzudo, fazer o que? Ela que aguente! Agora vamos à luta! — Valentina
diz.

— Vamos! — Anny e eu respondemos juntas.

Saímos rumo ao carro lindo, perfeito e vermelho da Valentina.

Essa mulher gosta de chamar atenção, por isso a amo!

Valentina toca o foda-se para quase tudo, ela não liga para o que pensam dela
e não se importa se vai quebrar as regras ou não.

Ela é autentica e pronto!

Sento-me no banco de trás, Val entra no lado de motorista e Anny no carona.


Mal coloco o cinto e a doida sai acelerando por aí, sei lá, mas essa adrenalina
me deixa eufórica.

— Valentina, tenho três filhos para cuidar, então, por favor, vá mais devagar!
— Anny diz.

— Relaxa que hoje eu não bato em nada, só na cara de pau do Carlos! — fala
buzinando para um carro prata sair da frente. — O único boteco que ele vai a
partir de hoje é aquele que tem lá em casa comigo vigiando.

Não digo nada, apenas caio na gargalhada junto com a Anny.

Mãe Santinha que está no céu, estou indo atrás do meu homem que não é
namorado e nem noivo.

Isso não é lá uma coisa bem normal…

— Dante vai pagar caro por isso!


— Marco vai ter que realizar meu sonho… Quero calda de morango!

— ISSO MENINAS, VAMOS DEIXAR BEM CLARO PARA ESSES


RAPAZES QUE SOMOS NÓS QUE MANDAMOS NESSA BAGAÇA
CHAMADA CASAMENTO! — Valentina grita e em resposta Anny e eu
gritamos junto com ela, o que é bem louco.

Nunca em minha vida pensei que teria amigas assim, mas olha eu aqui com
duas mulheres magníficas que estão dispostas junto comigo a resgatar os
maridos dela e o meu não mais marido da noitada de uma figa. Marco ainda
disse que é solteiro, vou mostrar para ele o que é ser solteiro. Solteiro vai ser
minha mão na cara dele.

Aí que odeio do Marco!

Aí que ódio!

Olho para a janela e vejo o mundo passar bem rápido diante dos meus olhos,
talvez seja pelo simples fato da Valentina estar dirigindo feito doida. Meus
pensamentos estão longe, estou há meses com o Marco e não construímos
nada exatamente sólido. Transamos, temos um filho, outro está para nascer,
mas nunca fizemos nada juntos de verdade. O sexo é ótimo, mas pensando
bem agimos como casais sem sermos nada exatamente. Não andamos de
mãos dadas, não sorrimos um para o outro, não dançamos juntos nem nada…

Sei lá, só sinto que estamos andando em caminhos opostos.

Eu sei que para ele tudo isso é novo, mas para mim também é.

Estou assustada com tudo a nossa volta, mas sei que se falar tudo que sinto,
ele irá se afastar ainda mais de mim. Sinceramente tenho medo de não o
alcançar, sua crise de choro foi um sinal de que algo dentro dele está
mudando e essa mudança está sendo demais para ele. Tenho medo dele não
suportar tudo, mas temo tanto não aguentar.

Meu Deus!

Sinto todos os dias medo de que a escuridão o consuma de uma forma que o
perca para si mesmo.

— Ei, Melanie? — Anny me chama.

— Oi?

— Não pense muito, não hoje! Curta sua raiva da mesma forma que estou
curtindo a minha. Agora somos um trio, nunca pensei que teria amigas assim
maravilhosas!

— Oh porra, eu estou dirigindo! Vamos deixar para chorar amanhã quando


estivermos comemorando a noite de hoje em grande estilo. — Valentina diz
estacionando o carro em frente à boate em que os miseráveis estão. — Okay
meninas, vamos fazer com que eles percebam nossa presença, ninguém vai
sair correndo atrás do marido… Eles vão sentir de longe o cheiro dos nossos
perfumes.

Concordamos e saímos do carro em grande estilo.

Meu Deus, estou até me sentindo no filme da Marvel, onde os heróis chegam
dizendo: “Corram bandidos, os mocinhos chegaram!”. Nossa Senhora, eu
quero ser Tony Stark se não for para ser ele, nem quero. A Valentina está
mais para a Viúva Negra e a Anny o Capitão América, somos o trio perfeito
para estraçalhar a cara dos nossos homens.

Chegamos à entrada, Val mostra algo ao segurança e entramos sem ser


barradas ou sem enfrentar a fila imensa que existe. O som alto do lado de
dentro chega rápido aos meus tímpanos, se fosse alguns meses atrás eu iria
amar, mas hoje estou grávida e com raiva de tudo e de todos, especialmente
de um ruivo que está sentado no bar da boate bebendo algo enquanto
conversa com uma mulher loira sem graça que parece não saber o que é usar
uma roupa.

Já a odeio de coração!

— Meninas, vamos ao segundo andar — Val diz puxando minha mão e a da


Anny com força.
Subo a escada com cuidado para não rasgar o vestido justo com um pequeno
corte na perna lateral direita. Chegamos na área vip, nos sentamos em uma
mesa perto das janelas de vidro que bloqueiam a entrada do som exagerado lá
de baixo. Daqui conseguimos ver os quatro mosqueteiros tomando suas
bebidas e sendo assediados por essas vadias de uma figa.

— Olha só para essas mulheres olhando os braços do Dante… A vadia


passou a mão nos seus bíceps? — Anny pergunta já ficando em pé, mas
Valentina a segura.

— Seja discreta Anny. Na hora certa agiremos — Val diz bebendo sua
tequila. — Agora vamos beber, menos você Melanie… Beba água ou suco.

Não digo nada, apenas não tiro meus olhos do bar.

Do nada Pedro olha para cima e faz um aceno levantando o copo na nossa
direção. Sorrio, levanto o meu copo e as meninas fazem o mesmo.

Na mesma hora os três viram as cabeças em nossa direção arregalando os


olhos…

Agora chorem safados!

Uma hora antes das meninas chegarem

Simplesmente estou tentando entender o que está acontecendo nesse exato


momento, Dante olha para Carlos preocupado e Pedro bebe sem pudor seu
whisky. Era para ser uma reunião no mesmo bar de sempre, mas por alguma
razão desconhecida paramos nessa boate que está tirando a sanidade de
Dante. Carlos ainda está tranquilo e eu estou de boa, sou solteiro e posso
gozar da minha solteirice.

— Anny vai me matar — Dante diz bebendo seu licor.

— Valentina vai comer meu fígado — Carlos diz contorcendo o pescoço em


um ato nervoso.

— Estou apenas tentando curtir minha noite. Então calem a porra da boca e
bebam.

— Obrigado por concordar comigo amigo — Pedro diz.

— Marco, sabe se é menino ou menina? — Dante pergunta.

— Ainda não. Hoje compramos umas coisas para o bebê. Na verdade,


comprei mais para o James. Até que lojas de bebês são legais.

— Seja bem-vindo ao mundo dos pais! — fala Carlos dando tapinhas nas
minhas costas. — Vai ter dias em que você vai achar mais legal ficar horas
escolhendo roupinhas do que fazendo qualquer outra coisa por si mesmo.

— Há dias que não sei o que prefiro fazer, brincar com as crianças ou transar
com a Anny, mas no final as crianças sempre vencem. Amo isso! Foi à vida
que escolhi ter — Dante diz sorrindo.

Não comento mais nada, apenas fico na minha.

Quarenta minutos depois

Olho para Pedro que está se afogando em bebida.


Normal, não é, mas fazer o quê?

Ele não quer falar e na hora certa irá nos contar certamente.

Uma hora de cada vez…

O relógio não se adianta, então não há por que se adiantar…

Às vezes corremos demais para alcançar a linha de chegada, quando na


verdade deveríamos ter calma para obter conhecimento ao decorrer do
caminho.

— Eu beijei um homem — Pedro diz do nada fazendo com que todos nós
pare o que estamos fazendo e olhamos para ele. — Não foi estranho, só
diferente.

— Okay — Dante diz.

— Nada fora do normal — fala Carlos.

— A vida é sua e se quiser beijar pessoas do mesmo sexo beije, se quiser


transar transe, só não tenha medo dessa sociedade hipócrita do caralho —
falo bebendo meu líquido amargo. — Somos como irmãos, vocês por mim e
eu por vocês… Somos uma família.

— Porra isso me surpreendeu, Marco deu uma de Dante, minha gente os


tempos mudam — Carlos diz fazendo com que todos caíam na gargalhada.

Cada um fica na sua rindo das coisas estranhas que acontece nessa boate
estranha do inferno. Sei que se Melanie me ver aqui estarei ferrado, a mulher
é doida demais até para ela mesma.

Ficamos batendo papo até que sinto que o clima ficou estranho até demais.
Mantenho-me atento, esse friozinho na minha nuca não é um bom sinal.

Vejo Pedro levantar o copo para alguém e quando me viro um pouco para ver
quem é, eu quase infarto. Com o cabelo solto, usando um batom vinho
marcante, ela ainda sorri para mim. Levanta-se exibindo suas curvas
maravilhosas em um vestido justo até demais para o meu gosto e com um
pequeno decote na frente que deixa seus seios mais volumosos devido à
gravidez um pouco a mostra, porra, esses seios não deveriam estar expostos
assim para outros desejarem o que desejo.

— Marco, você está bem? Cara, você está expelindo uma áurea negra aqui,
calma Marco — Pedro diz.

— Ela queria provocar o Diabo? Parabéns conseguiu me provocar!


Sinto seu olhar na minha pele tão quente quanto o inferno, bebo minha
Água Tônica de uma só vez, amarga que só.

Ele não veio até mim e eu não vou até ele…

Jogo meu cabelo para trás com delicadeza deixando claro para ele que minhas
costas estão nuas e sorrio docemente para o garçom que veio trazer outra
bebida para mim. Não posso beber nada alcoólico, mas não significa que não
posso me divertir um pouco. Estou grávida e não morta, aliás, me sinto bem
quente e sensual, coisa que raramente sinto por mim mesma.

Marco possui o dom de me deixar sempre sensual aos seus olhos e faz com
que na hora do sexo eu sinta uma paixão fora do normal. Quando ele está em
cima de mim metendo fundo e forte, me sinto a mais vadia das mulheres.
Suas mãos em meu corpo fazem com que eu me sinta querida, amada e
desejada. Ele faz tudo isso sem ao menos usar uma única palavra, pois suas
ações falam tudo.

Mãe Santinha do céu!

Agora estou ficando excitada, só em me lembrar de nós dois juntos, pelados e


transando.

Raiva desse homem, por me fazer passar por tudo isso em plena gravidez,
onde meus hormônios estão à flor da pele.
Deveria ser crime fazer isso comigo!

— Meninas, precisamos de um plano B! Ficar aqui parada bebendo, linda e


maravilhosa não é uma boa opção de vingança.

— Vamos dançar, faz um tempo que não danço entre amigas — Anny diz já
ficando em pé com sua tequila na mão. Ouso dizer que a junção de mulher e
tequila, coisa boa não sai.

— Vamos lá meninas! Quero testar minhas habilidades de dança estando


gravidinha! — digo ficando em pé com meu copo na mão.

Descemos a escada, prontas para destruir qualquer um. Anny vai até uma
janela mostra seu cartão e logo depois volta sorrindo travessa. Algo bom
disso não vai sair, sinto dizer que a tequila já está fazendo efeito. Pobre
Dante, vai perder a esposa para a doce tequila. Valentina bebe Martine, mas
com cuidado, algo me diz que ela quer ficar bem sóbria essa noite. Já eu não
tenho opção é sóbria ou sóbria. O negócio é não engravidar para poder encher
a cara sempre que der!

Seguimos para o meio da pista de dança em trenzinho, paramos bem no


centro e começamos seguir o ritmo da música eletrônica que amanhã fará
com que eu acorde com uma linda e maravilhosa dor de cabeça, mas não
estou nem aí.

Hoje quero curtir a juventude dessa noite.

Puta merda, estou falando igual uma senhorinha!

As meninas parecem estar mais acostumadas com isso do que eu, por isso me
concentro em seguir os movimentos delas até que a música para e uma batida
envolvente começa.

Isso é funk brasileiro?

Não sei falar português muito bem, na verdade, falo quase nada, mas pela
cara das meninas elas amaram e começaram a rebolar até o chão. Val faz
questão de empinar sua bunda para o ar, Anny está mais contida e eu perdida.
Fecho meus olhos sentindo a batida me envolver, jogo meu cabelo para trás e
rebolo sensualmente até o chão.

Abro meus olhos e sorrio para as meninas quando percebo que estamos na
mesma sincronia. Volto a fechar meus olhos para sentir melhor a música até
que sinto uma mão na minha cintura, me puxando de um modo bruto e
grosso.

Marco!

— Não deveria estar dançando assim baby — diz beijando meu pescoço,
fazendo com que uma corrente elétrica passe pelo meu corpo.

— Sou solteira querido.

— Disso eu sei, mas só até essa noite! — diz se mexendo no mesmo ritmo
que o meu.

Ele cola mais seu corpo ao meu fazendo com que eu sinta seu pau roçando
minha bunda.

— O que quer dizer com isso? — pergunto curiosa tentando virar minha
cabeça sem sucesso.

— Apenas o que você ouviu — responde friamente.

Marco nesse modo é tão excitante!

Eu não deveria gostar da sua frieza, mas quando ele está frio desse modo
sensual fico extremamente louca.

Marco guia meu corpo no ritmo da música que nesse momento parece ser
mais sensual com ele atrás de mim colando nossos corpos. Nunca pensei que
um dia Marco e eu ficaríamos assim coladinhos em uma boate, aliás, para
mim esse ser grosso e sexy nem sabia dançar.

— Havia muitos homens admirando você dançar e só não fiz algo porque
Dante e Pedro me seguraram — diz me virando para ele, olho em seus olhos
e eles possuem um brilho que não vejo um tempinho. — Não sou uma pessoa
boa, Melanie, mas hoje você quase fez com que eu me tornasse a pior pessoa.

— Seja a pior pessoa comigo! — falo lambendo meus lábios.

— Porra! Vamos sair daqui!

Ela não está me deixando concentrar na estrada, inclusive prevejo um


acidente. Respiro fundo tentando fingir que suas mãos não estão
massageando minhas bolas e meu pau que se encontra duro a ponto de me
enlouquecer. Ela desce e sobe a mão para me provocar. Para piorar a situação
passa o dedo indicador no meu pré-gozo e leva na boca chupando como se
fosse um picolé.

— Não vejo a hora de chupar seu pau assim — fala voltando a fazer mágica
com a sua mão.

Suspiro aliviado ao ver o hotel em que passaremos a noite.

Hoje farei com que ela grite bastante e por isso não é uma boa ideia ir para
casa. Vejo o carro de Dante fazendo o mesmo percurso do meu e Carlos não
ficou para trás, só falta todos pedir a mesma suíte.

Estaciono o carro e rapidamente arrumo minhas calças para sair do carro de


forma nenhuma perderei a suíte máster. Saímos do carro a passos largos e
minhas mãos na cintura de Melanie estão firmes. Por alguma razão tenho
medo dela desistir e voltar a me ignorar.

O que essa mulher está fazendo comigo?


— Boa noite, desejo a suíte máster principal para essa noite — digo já
puxando o cartão.

— Boa noite senhor, a suíte está disponível — diz a recepcionista sorrindo.


— Identidade, por favor!

Fazemos todos os procedimentos até que ela me dá o cartão dourado. Olho


para o lado e vejo meus amigos me olhando com cara de raiva. Levanto o
cartão e dou um sorriso que diz: “Cheguei primeiro seus idiotas”.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Melanie pergunta.

— O mesmo que você… Viemos transar em um hotel luxuoso do caralho! —


Valentina diz sorrindo. — É sério que viemos todos transar no mesmo hotel?

— Parece até uma suruba. Só que não divido o que é meu! — diz Melanie.

— Nem eu! — Anny diz grudando em Dante que sorri para esposa
docemente.

— Isso está estranho — falo puxando Melanie para mim. — Está na hora de
cada um caçar seu devido quarto para transar. Boa noite!

Saio arrastando a doida que acena para os outros como se tivesse se


despedindo para ir a uma longa viagem. Assim que entramos no elevador, ela
me ataca. Mulheres grávidas não deviam fazer essas coisas e ela
simplesmente pula em mim como se fosse um canguru. Seus lábios contra os
meus é algo que senti muita falta nesses últimos dias. Aperto sua bunda com
força fazendo com que nossos corpos se choquem ainda mais. Quando a porta
da suíte se abre, Melanie me larga e solta um gritinho fino.

— Minha nossa, serei fodida nesse lugar incrível! — diz com as mãos na
boca. — Não sei nem por onde devemos começar!

Antes que ela diga mais alguma coisa, puxo-a para mim rápido e devoro sua
boca com a minha. Seus lábios macios parecem propícios para serem
mordidos, mas me contenho, pois prefiro chupar sua língua. Desço o zíper do
seu vestido com certa pressa e quando enfim consigo Melanie o chuta para
longe.

— Melanie, você estava o tempo todo sem calcinha? — pergunto ao perceber


o quão ferrado realmente estava, só não percebi isso antes.

— Apenas estava deixando o caminho livre para você — diz indo se deitar na
cama. — Já amo essa cama.

Melanie se deita com as pernas abertas e a visão que tenho faz com que
minha boca salive de desejo. Sua boceta pequena e rosada está encharcada e
de onde estou consigo vislumbrar isso. Ando lentamente até ela me despindo
e quando estou só de cueca paro diante dela. Deito-me sobre ela apoiando
meu peso em meus braços, beijo seus lábios mais uma vez só que com mais
calma para que assim eu possa saborear melhor sua boca quente e doce.
Desço minhas mãos pela sua barriga até chegar na sua boceta encharcada,
onde introduzo um dedo fazendo com que um gemido em forma de suspiro
saia dos seus lábios. Faço um vai e vem devagar antes de introduzir o
segundo. Meu pau duro me lembra que é ele que deveria estar dentro dela,
mas hoje irei fazer as preliminares na minha mulher…

Hoje vamos devagar!

O corpo da Melanie aceita sempre bem os meus toques, o que faz com que eu
sinta cada vez mais prazer em lhe tocar. Há uma conexão sem igual em nós
dois, algo que nunca pensei em construir com alguém, mas essa doida diante
de mim faz com que eu queira estar dentro dela a todo instante.

Beijo seus lábios, depois vou beijando suas bochechas, seu pescoço, onde
deixo um chupão proposital, paro no seu seio esquerdo e o abocanho,
sugando com força. Em resposta Melanie se contorce debaixo de mim.

— Ah, Marco!

Havia me esquecido que seus seios estão mais sensíveis devido à gravidez.

Decido dar atenção ao seio esquerdo, introduzo um terceiro dedo na sua


entrada quente e escorregadia fazendo com que um grito fino saia da sua
boca. Ela aperta meu cabelo e o puxa, mas nem ligo. Quando sinto que já dei
atenção suficiente aos seus seios, desço beijando sua barriga com delicadeza
e paro onde mais queria, na sua boceta. Retiro meus dedos e os chupo.

— Não vejo a hora de sentir seu gosto na minha boca saindo diretamente da
fonte. — Minha voz rouca pela tensão sexual faz com que sua bocetinha se
contraia.

Adorável!

— Você é tão doce quanto um maldito mel.

Abaixo-me ficando na altura da sua boceta, a assopro antes de beijar seu


clitóris e dou uma pequena chupada, mas Melanie empurra minha cabeça
para sua entrada encharcada. Faço sua vontade e chupo com vontade sua
entrada adocicada. Pego seus tornozelos e faço com que ela os levante de
uma forma com que ela fique mais aberta para mim.

Chupo sua entrada com força, beijo, lambo, fazendo com que seus gemidos
fiquem ainda mais altos. Quando ela goza na minha boca sei que está na hora
de entra dentro dela.

Levanto-me, me encaixando no meio das suas pernas e conduzo meu pau até
o paraíso adocicado e quente como o inferno. Entro dentro dela em uma só
estocada, fazendo com que nós dois solte um gemido profundo. Ela me aperta
de todas as formas e sinto que estou sendo esmagado por suas paredes. Entro
e saio dela com rapidez, cada estocada é uma nova emoção que nasce em
mim. Sinto que hoje estamos criando um novo laço. Quando ela goza mais
uma vez nessa noite a viro fazendo com que ela fique de quatro, deixando sua
bunda gostosa exposta para mim. Dou um tapa forte só para ouvir seu grito
agudo.

— Mais forte Marco, mais forte!

— Seu pedido é uma ordem, Melanie!

Vou ainda mais forte e rápido e nossos corpos se chocam um contra o outro
de uma forma perfeita. Ela parece ser feita para mim. Puxo seu cabelo com
uma certa força fazendo com que suas costas grudem no meu peito. Nosso
suor faz com que nossas peles fiquem pegajosas. Beijo seu pescoço em busca
dos seus lábios, gozo dentro dela e continuo metendo só que mais devagar.

Há uma corrente elétrica passando pelo nosso corpo e não consigo sair de
dentro dela. Sinto que posso ficar aqui para sempre…

Sua quentura me aquece!

— Marco, por favor, me diga que amanhã você estará aqui comigo.

Beijo suas costas e afasto seu cabelo.

— Amanhã você acordará comigo entrando em você!

— Promessa é dívida! — fala com a voz rouca.

— Você sentirá minha promessa!

Ainda não a fiz pagar por me provocar!

Ela ainda pagará caro!


Horas antes ainda na boate

Estar no meio de casais com emoções à flor da pele não é uma boa ideia…
Na verdade, é uma boa ideia sim!

Olho para as garotas dançando sensualmente para provocar seus maridos e


quase caio na gargalhada. Carlos está apreciando sua esposa com um olhar
aprovador, mas algo me diz que ele apenas está esperando a hora certa para
agir. Já Dante, meu bom amigo está me surpreendendo com sua falta de
controle. Ele bebeu sua bebida como se fosse água, foi até a doce Anny e a
tirou de lá como um homem das cavernas, juro que esperava mais do meu
amigo. Marco está a ponto de estourar, mas assumiu um autocontrole
impressionante, palmas para ele, já eu terminei a noite dos caras sendo o
único cara do grupo enchendo a cara.

Suspiro ao ver todos indo embora.

Optei por vir para a bote para ver se distraia minha mente um pouco, eu não
podia levá-los para o clube, seria um homem morto e disso tenho certeza.
Também estou evitando o clube por motivos não óbvios para mim. Eu não
deveria ter aceitado o beijo daquele cara, entretanto aconteceu e gostei. Era
para ter sido só mais uma noite, onde fodia uma garota por trás enquanto
outro cara a fodia pela frente, o típico sanduíche sexual, meti meu pau fundo
no cuzinho da mulher, a qual sequer perguntei o nome. Quer dizer ninguém
perguntou o nome de ninguém, pois quando entramos no clube perdemos
nossa identidade e rosto, a única coisa que importa lá é o prazer. Eu metia
forte dentro dela, não havia limites, já o cara a minha frente também parecia
não querer parar e moça pedia por mais. Quando gozei embriagado pelo
prazer não tive noção da boca do homem na minha. Foi um beijo luxuoso e
sinceramente gostei, mas não é algo que desejo repetir.

Quando estamos sexualmente envolvidos em algo tudo se torna possível, eu


sempre soube que há diversas consequências, por esse motivo optei por
procurar algo que me daria prazer e segurança e o clube me trouxe isso e
muito mais. Não sou um dominador nem nada do tipo, há vários tipos de
clubes para se frequentar em busca de sexo, poder e controle. Há pessoas
tolas que leem livros sobre dominadores e acreditam que só existe esse
mundo, mas o mundo sexual é tão diverso que me recuso a não descobrir e
praticar um pouco de tudo.

Sou curioso de nascença, minha madrinha dizia: “Não bastava ser preto e
pobre eu ainda era alguém que buscava só o que os brancos podiam ter”.
Guardei suas palavras no meu coração e fiz disso a motivação para mostrar
que poderia ir além do subúrbio e bem…

Fui.

Estar onde estou hoje facilitou muito as minhas curiosidades e prazeres


carnais e minha madrinha morreu antes de me ver se tornar glorioso.

Sorrio ao ver uma mulher ajustando seu decote que já era imenso, se ela
soubesse que não precisa disso tudo para seduzir um homem jamais estaria
tão preocupada em usar um vestido que deixa seus seios pulando para fora.
Não precisa ser vulgar para se ter um homem para si, mas não serei eu a dizer
isso para essa desconhecida.

Bebo mais uma amarga dose de whisky, não é minha bebida favorita, mas
hoje estou amargo. O garçom me olha com pena e sinceramente nem entendo
o motivo, mas fazer o que.

Olho a minha volta em busca de diversão, mas me surpreendo ao ver em um


canto uma mulata que parecia temer esse lugar. Ela está encolhida na sua
cadeira observando tudo através dos seus olhos, que não consegui distinguir a
cor. Ela não combina com esse lugar, mas por alguma razão desconhecida
parece estar disposta a ficar. Suspiro cansado. Ela atrai atenção de pessoas
erradas, alvo fácil demais para pessoas como eu.

Levanto-me e caminho até ela. Atravesso uma pequena multidão de pessoas


até chegar ao meu não alvo dessa noite.

— Boa noite! — digo alto o suficiente para que ela me ouça. Ela levanta a
cabeça me olhando em choque.

Oh baby, não me olhe assim com esses olhos caramelos grandes.

— Boa noite — diz abaixando a cabeça.

Maldito instinto!

Quero-a para mim!

— Levante a cabeça, querida — falo me sentando ao seu lado.

— O que você quer? — pergunta evitando olhar em meus olhos.

Eu quero tantas coisas…

Quero me afundar até o talo em você boneca, mas não posso e nem devo. Há
uma inocência que emana dela e sinceramente não quero levar a menina para
o mau caminho.

— Não quero nada. — Minto na cara dura sorrindo. — Apenas a vi aqui


sozinha e vim conversar… Meus amigos me largaram na mão.

— Os meus também — diz toda tímida.

Maldita inocência que grita por mim!

— Que péssimos amigos temos — digo piscando para ela. — Eu vou indo,
tchau.

— Qual o seu nome? — pergunta segurando minha mão, mas ao perceber o


ato solta rapidamente. — Desculpa.

— Oh tudo bem, não precisa se desculpar. — digo sorrindo. — Chamo-me


Pedro e você?

— Jady — responde baixinho. — Chamo-me Jady.

— Um belo nome para uma linda menina.

— Já sou uma mulher adulta! — fala um pouco mais forte.

Oh boneca, você ainda não é uma mulher, mas se quiser te faço minha
mulher!

Que porra de pensamentos são esses?

Estou ferrado nessa vida!

— Tudo bem jovem mulher. Deixa-me ir que a noite é longa e eu sou apenas
uma criança. — Deixo-a me olhando confusa e saio andando para longe.

Paro na saída para pagar minha conta da noite que no fim foi até divertida,
mas eu realmente esperava mais dos meus amigos. Quer dizer, esperava porra
nenhuma. Se eu tivesse uma esposa ou namorada e a visse dançando daquela
forma em uma boate cheia de homens doidos para foder eu também
enlouqueceria, mas como sou solteiro e desimpedido apenas dou gargalhada
da cara deles.

Eles que se ferram para lá!

Ao chegar à calçada, espero o motorista trazer meu carro. Hoje não estou a
fim de dirigir. Assim que o Jaguar para diante de mim, abro a porta traseira e
entro. Coloco o cinto de segurança e o motorista dirige. Quando estou quase
em casa passo a mão no bolso em busca do meu telefone e merda percebo
que esqueci.

— Volte para a boate, me esqueci de algo. — peço ao motorista.

Ele faz o retorno com certa velocidade que se não tivesse de cinto certamente
voaria.

Entro na boate furando fila e assim que chego ao bar o barman levanta meu
celular e sorri para mim. Tiro umas notas do bolso e dou na sua mão, o cara
merece.

Quando chego à calçada fico parado olhando uma cena que não deveria me
enfurecer tanto. A menina inocente de olhos caramelos está chorando
enquanto um babaca grita com ela e há algumas meninas em volta deles que
riem da cara dela. Acho que achei os amigos dela e percebo que são grandes
merdas. Reparo que há uma desigualdade entre eles e a Jady. A roupa da
menina inocente não é apropriada para esse ambiente, não há uma roupa
certa, mas a dela está bem surrada e folgada em seu pequeno corpo mulato.
Oh, menina o que você está fazendo com essa gente?

Observo mais um pouco a discussão onde apenas o rapaz grita. Até que ele
lhe dá um empurrão e ela cai no chão.

Esse foi o limite!

Corro atravessando a rua em uma velocidade espantosa, chego perto do


sujeito já dando um soco na sua cara e gritos femininos ecoam no meu
ouvido.

— Seu filha da puta miserável, não foi educado a nunca bater em uma
mulher? — pergunto ao desgraçado que está com a mão no nariz
provavelmente quebrado.

— QUEM É VOCÊ? — grita o merdinha se colocando em pé com a ajuda de


uma das patricinhas. — Sabe quem sou seu neguinho sujo?

— Você eu não faço ideia de quem seja, já eu sou Pedro Liard — digo
sorrindo debochado. — Pode me processar por agressão se quiser, mas irá
sentir o peso de um processo racista enfiado bem no seu cu. — Viro as costas
para ele estendendo a mão para a menina inocente que a pega, me abraçando
logo em seguida. — Vamos tirar você daqui.

— Desculpa, desculpa… — pede sem parar.


Oh boneca, não fode assim, por favor.

— Vamos embora — digo levando-a até meu carro que já se encontrava com
a porta aberta para nós dois.

Faço-a entrar primeiro, entro em seguida e ela se encolhe toda no banco.

— Aqueles são seus amigos? — pergunto estalando o pescoço para aliviar a


tensão.

— Eu só não queria ser chamada de pateta mais uma vez — diz enxugando as
lágrimas.

— Pateta?

— Sim… Eu os conheço desde criança já que minha mãe trabalha na casa de


um deles. Minha mãe sempre tentou me envolver no mundo deles, sabe?
Sempre me senti deslocada, ainda mais agora. — diz baixo.

Benza Deus que ouço bem.

— Hoje minha mãe me obrigou a aceitar sair com o Loran, ele já havia dado
em cima de mim diversas vezes, mas sei que era só de zoeira. Sou preta e ele
branco. Jamais daríamos certo, mas bem, hoje saí e deu nisso… Eles bêbados
caçoando de mim mais uma vez.

— Deveria parar de ouvir sua mãe. A questão não é ser negra e sim não se
aceitar. Eles a desprezam por ser pobre e negra. Apenas levante a cabeça por
você e para você. Não permita que te diminuam. Nossa raça é linda, nossa cor
é perfeita! Amo ser chocolate original!

Arranco dela um sorriso o que é bom, mas estou com raiva e com vontade de
socar aquele moleque até ele cagar todas as suas merdas para fora.

— Você é tão bom! — diz vindo até mim para me abraçar.

Ela se senta em meu colo e me abraça, não há problema nisso, o problema se


encontra na sua bunda que está bem em cima do meu pau. Essa garota está
acabando comigo sem ao menos estarmos gozando uns nos outros.
— Ah, tem algo duro me cutucando é seu telefone? — pergunta apertando o
que está duro.

Oh, porra!

Fodida inocência do caralho!


No hotel

Olho para minha esposa que está de joelhos na cama olhando para mim e
sorrindo. Não é um sorriso comum, na verdade, é um sorriso que ninguém
além de mim vê.

É um sorriso safado!

Confesso que esse sorriso costuma me deixar louco.

Anny está me chamando sem ao menos dizer uma palavra, apenas atentando,
mas por enquanto quero admirar sua beleza e por isso me sento na poltrona
que há em frente a cama. Anny e eu somos considerados o casal fofo do
grupo, porém não acho isso, apenas temos mais filtros perto dos outros. Sou
culto e a calma faz parte da minha natureza. Anny começa a tirar seu vestido
ainda de joelhos em cima da cama. Esse vestido está me deixando excitado
ao extremo e ela sabe que não irei me mover daqui tão cedo.

Sou uma pessoa controladora.

Ver o fio que ela usa de calcinha me faz rir, ela me olha com raiva e
automaticamente tapa seus seios que agora estão nus.

Juro que não estou rindo dela, estou rindo da situação em que nos
encontramos. Estamos em um hotel após sair de uma boate. Nunca pensei
que tiraria minha esposa da pista de dança como um gorila
Sou ciumento sim, mas não a esse ponto.

Acho que o casamento faz com que façamos coisas que desconhecemos em
nós mesmos. Descobrimo-nos mais quando somos testados, pois casamento é
uma prova de fogo e sinto que estou sendo queimado

— Não se cubra para mim — falo buscando seus olhos que agora estão
baixos. — Levante a cabeça. Não há por que ficar tímida. Apenas estou
sorrindo da situação em que nos encontramos.

— É um pouco fora do normal mesmo — diz sorrindo timidamente.

Esse sorriso não me engana mais.

Anny é tímida sem ser tímida, sei que é confuso, mas depois que ela gritou o
tamanho do meu pau para o mundo ouvir, percebi que ela quando quer é o
Diabo em forma de pessoa. Minha esposa é ciumenta ao extremo, acreditem
há dias em que me vejo sendo obrigado a quase usar uma burca para sair de
casa, mas isso não está em pauta agora.

— Diga-me doce esposa, você gostou de jogar essa sua bunda que me
pertence para outros homens verem? — pergunto sério.

— Estava dançando com as minhas amigas Dante, se havia homens olhando


não posso fazer nada, absolutamente nada — fala descobrindo os seios que
tanto amo ao apontar o dedo para mim.

Linda, mas ainda sim me irritou.

— Você estava lá com seus amigos cercados de mulheres! Olha seus braços
de fora!

Agora a culpa é minha que sai para beber na noite de garotos?

Complicado essa situação eu sei, mas o que posso dizer é que sou inocente
nesse jogo de azar que Pedro nos meteu por ter beijando um homem.

Ela olha para mim como se esperasse ir até ela, mas dessa vez não irei mover
um só músculo. Por alguma razão estou bem em só a observar assim.
Maquiada, com o cabelo solto e nua para mim, pois ela já tirou a maldita
calcinha fio dental.

— Toque-se para mim — peço com a voz rouca.

Ela faz o que peço, se apoia nos joelhos abertos e coloca um dedo dentro da
sua abertura quente que tanto amo.

Consigo imaginar e se fechar meus olhos poderei até sentir seu calor no meu
pau, mas me mantenho a observando se dando prazer.

— Temos uma casa perfeita, um quarto com uma cama mil vezes melhor que
essa e ainda temos nossas paredes que possui isolamento acústico, mas em
vez de ir para casa quase disputamos uma suíte máster em um hotel com
nossos amigos. Tudo isso para que eu tenha o prazer de ver minha esposa
safada e doida para que eu entre no meio das pernas dela. Sabe Anny, eu não
me importo de passar horas dentro de você. Aí é minha moradia particular —
digo olhando bem sua entrada que está pingando. — Enfie mais dois dedos,
entre e saia devagar, não há por que ter pressa.

— Dante, eu quero você! — choraminga rouca.

— Eu sei, mas antes vai gozar para mim se tocando!

Ela enfia mais dois dedos, sai e entra da sua cavidade calorosa devagar.

Sinto sua agonia, pois sinto o mesmo.

— Agora vá mais rápido.

Assim ela faz até que goza, ela me olha como se pedisse por algo que
provavelmente não darei. Fico em pé e tiro minhas roupas sendo observado
por ela. Quando abaixo minha cueca seus lábios se abrem.

Oh baby!

Sento-me de volta na poltrona começando a acariciar meu pau que está


completamente melado de pré-gozo. Meus movimentos são lentos e calmos e
seus olhos não saem da minha mão.
— Dante eu quero…

— Não estou te impedindo de nada querida.

Ela se levanta e corre até mim ficando de joelhos. Antes que eu pudesse dizer
algo sua boca quente e suculenta chupa meu pau como se fosse um mero
picolé de uva. Jogo minha cabeça para trás embriagado pelo prazer que ela
me traz.

Quando estou preste a gozar, levanto sua cabeça e bato com as mãos nos
meus joelhos. Ela entende o sinal e se senta no meu pau. Quando sinto sua
quentura escorregadiça me aquecer, gemo alto de prazer. Seus gemidos são
mais altos e ela sobe e desce com pressa.

Deixo que ela faça o que quiser comigo essa noite.

Não se case!

Deveria ter ouvido o conselho do meu irmão, mas sempre quis ter uma
família para chamar de minha. Quando estava quase desistindo do amor,
conheci a louca da Valentina na lanchonete em que ela trabalhava e ouso a
dizer que comi o pão que o Diabo amassou para conquistá-la. O pior foi
quando ela descobriu que eu era rico, “Já não bastava ser mexicano tinha que
ser rico também?”, essas foram as palavras que ela usou. No final, conquistei
a fera, mas não foi nada fácil convencê-la a se manter ao meu lado. Ela é
teimosa e durona e tenta a todo custo ser forte por si mesma. No início do
nosso namoro foi uma luta só para que eu pagasse qualquer coisa para ela,
mas hoje anos depois estamos bem.
Há dias que ela surta e quase me faz surtar junto, mas dou conta
perfeitamente do recado.

Observo a fera pulando na cama como uma criança. Definitivamente nosso


casamento não é um casamento comum.

Acreditam que quando as crianças nasceram chorávamos junto com elas no


início?

Tivemos gêmeos de cara e mesmo sendo médico surtei…

Literalmente surtei, mas graças a Deus soubemos lidar com a situação.

— Gostou da boate Chico? — pergunta do nada.

— Amei mais ainda a morena que rebolou até o chão — falo tirando o blazer.

— Carlos eu nunca senti ciúme antes, mas presta atenção no que vou dizer…
Nada de ir para boates sem mim, okay? Você é médico, mexicano e tem uma
barba bem radical. Sem falar nesse cabelo que Nossa Senhora. Eu amo puxá-
lo quando me chupa, mas nada de sair para certos lugares sem mim. Você
envelhece e fica ainda mais gostoso.

Ela disse que nunca sentiu ciúme?

Caio na gargalhada.

Eu sou o tipo de cara que não liga para suas saídas com as garotas. Fico em
casa com os as crianças para ela sair de boa com as meninas, mas quando eu
saio ela liga a cada dez minutos sem falar do rastreador que colocou no meu
cordão que ela me deu de presente. Ela inclusive já ameaçou uma enfermeira
que trabalhava comigo, a pobre mulher era casada com uma ruiva cheia de
tatuagens e ela ainda diz que só hoje sentiu ciúme?

Finjo que acredito porque é mais fácil!

— Vou te dar uma surra bem dada Valentina.

— Surra de piroca? — pergunta descaradamente.


Sorrio e viro as costas para ela.

Ando até o bar que há ali e pego uma garrafinha de água para beber. Olho
para o lado e vejo o aparelho de som. Vou até ele e coloco uma música
sensual.

— Dance para mim da mesma forma que dançou naquela boate.

E assim ela faz, sei que Valentina gosta de dançar.

A cada rebolada é uma peça sua que vai embora, ela anda até o centro do
quarto e começa a mexer sua cintura de um jeito que me deixa louco de tesão.
Tiro minhas roupas de uma só vez e meu pau aponta duro para cima.

Necessito dela!

Quando vou na sua direção ela corre até o canto de uma parede, tolice, mas
sei o que ela quer e darei forte, rápido e bruto.

— Não precisa fingir uma fuga, Val — digo a segurando por trás.

Seguro sua cintura magra, com outra mão e acaricio seu clitóris.

— Diga-me com ou sem preliminares?

— Entra logo dentro de mim Chico! — fala já jogando a cabeça no meu


ombro. — Você já me fez gozar nos seus dedos no caminho para cá, estou
mais do que molhada.

Assim que ela termina de falar a empino para mim já entrando dentro dela
com força. Não gostamos de lenga-lenga, por isso vou o mais rápido que
posso. Suas mãos estendidas na parede em busca de apoio faz com que sinta
vontade de fazer com que ela nem sinta mais força para isso. Puxo seu cabelo
o prendendo em minha mão.

— CARLOS! — grita quando toco seu clitóris. — Mais rápido.

— Seu pedido é uma ordem!


Quando gozamos pela segunda vez fomos para a banheira e terminamos na
cama com algo lento e doce…

A noite é apenas uma criança!


Não deveria ser tão estranho dormir com sua não namorada, noiva ou
esposa, mas para mim é estranho. Vejamos bem, Melanie se mexe ao extremo
e ainda gosta de me fazer de travesseiro, não me importo ser seu travesseiro,
mas sinceramente o problema está no fato de que suas mãos me apertam com
força e temo me mexer e acordá-la. Mulheres grávidas precisam dormir bem
e graça a forte libido da Melanie, dormir vem sendo algo que raramente
fazemos, por isso venho tentado convencer a louca que dorme profundamente
só ir no período da tarde para a empresa, mas a louca diz que não. Depois da
segunda discussão parei de insistir, é cansativo demais e cada um sabe seu
limite. Deixei claro que na hora que ela quiser parar ela pode.

Melanie me solta, rola para o outro lado da cama e a sorte é que James não
dorme mais conosco na cama, aliás, o seu aniversário de dois anos é daqui a
poucos meses e as meninas estão ajudando Melanie a preparar as coisas para
a festa dele. Depois do dia na boate, que terminou com três casais transando
no mesmo hotel, elas ficaram ainda mais próximas e essa proximidade trouxe
um pouco de conforto ao meu coração. Melanie precisa de amigas, precisa de
laços femininos e Anny e Valentina são as pessoas perfeitas para isso.

Ouço através da babá eletrônica um barulho vindo do quarto do James e me


levanto pegando o aparelho para que Melanie não acorde. Saio do quarto em
silêncio a passos rápidos e entro no quarto de James já acendendo a luz.
James está em pé em cima da sua cama-berço olhando para seu urso panda no
chão.

Esse maldito urso panda que James não larga nem a pau!
Quando ele olha na minha direção me dá um sorriso e esse sorriso aquece
meu coração de uma forma inigualável. Às vezes sinto que serei incapaz de
respirar se algo acontecer com ele. James é a melhor coisa que já fiz nesse
mundo e só de pensar em perdê-lo sinto um medo tão pavoroso que quase faz
com que eu chore. Ninguém me avisou que ser pai é viver com medo do
futuro e o futuro nunca foi tão incerto quanto está sendo agora.

Caminho até James sorrindo de volta, meus mais sinceros sorrisos são para
ele e futuramente para o novo bebê que está vindo.

Um novo filho, inacreditável!

Ultimamente venho sido bombardeado por coisas boas e novas que jamais
saberei como agradecer.

— Papai? Caiu — fala apontando para o chão onde está seu urso panda.

— Papai viu — digo pegando o urso e lhe devolvendo.

Suas pequenas mãos pegam o panda e o abraça com força.

— O que faz acordado essa hora pequeno? — pergunto o pegando em meus


braços.

Ele sorri segurando o urso com uma mão enquanto a outra está se apoiando
no meu ombro.

— Não tenho sono — responde soltando uma gargalhada que tanto adoro. —
Fome papai — diz olhando para a barriga que está coberta por um macacão
de dormir do Homem Aranha.

— Então vamos comer pequeno ruivo — digo me virando para sair em busca
de comida.

Na porta estão as pequenas feras da casa que me seguem quando saio do


quarto apagando as luzes. — No corredor as luzes do detector de calor
acendem automaticamente quando alguém passa, coloquei isso por causa de
James e Melanie que andam tropeçando nas coisas e se por acaso ela acordar
de noite não ficará no escuro. Antes de descer a escada abro o portão que
coloquei para James não rolar a escada, é mais seguro e eficiente. Para minha
surpresa os pets não me seguiram e desço os degraus com James brincando
com meu cabelo.

Coloco o mini ruivinho em cima do balcão e olho em volta à procura do que


posso preparar rápido para ele. Opto por uma vitamina de banana com
mamão, mas o liquidificador pode acordar Melanie com o barulho exagerado
e acabo decidindo fazer um mingau de maizena.

Demorou alguns minutos, mas consegui fazer perfeitamente.

Deixei esfriar um pouco antes de dar para James.

— Olha o avião… — digo para James que ri e abre a boca para receber o
mingau morno na sua boca.

— Quer mais? — pergunto quando termina de comer a pequena tigela de


sobremesa.

— Fome ainda papai! — diz soltando uma pequena gargalhada ao acariciar


sua barriga.

Pego mais um pouco e dou para ele que come tudo. Acho que isso é sinal de
que ele é saudável.

Meia hora depois James está dormindo profundamente em sua cama-berço


abraçado ao seu maldito urso panda. Saio do quarto com cuidado para que ele
não acorde e assim que me viro dou de cara com Melanie sorrindo.

— Vocês são tão fofos juntos! — exclama me abraçando. — Podia ter me


acordado para me juntar a vocês.

Aperto Melanie em meus braços sentindo que algo ruim vai acontecer.

— Casa comigo? — peço beijando o topo da sua cabeça. — Não há por que
fugirmos disso — falo levantando sua cabeça para que me olhe. — Já
estamos até esperando nosso segundo filho!

Ela me dá um sorriso que desconheço.


— Você não entende — diz tentando se afastar dos meus braços. — Há mais
do que só isso, Marco — fala me olhando nos olhos. — Estou bem com o que
temos.

— Então não há por que hesitarmos em oficializar nossa situação perante a


um juiz. — digo firme e sério.

Ela olha em meus olhos séria.

— Não posso me casar com alguém que desconheço — fala dando um sorriso
triste. — Não tenha pressa para se abrir comigo, mas, por favor, não demore
tanto — pede voltando a me abraçar.

Aperto-a ainda com mais força em meus braços, ela teme ao desconhecido
que habita em mim. Essa fodida escuridão que há dentro de mim está sendo o
ponto crucial para tudo isso.

— Não consigo falar disso abertamente. — Confesso com a voz abafada pelo
seu cabelo.

— Você pode ir a um psicólogo — diz baixo. — Anny disse que ajudou e a


ajuda muito.

Já tentei ir uma vez, mas não me senti à vontade e minha escuridão nunca foi
um grande problema até agora.

— Irei em busca de um.

— Obrigada — sussurra beijando minha bochecha e em resposta beijo seus


lábios carinhosamente. — Não me agradeça — digo a levando para nosso
quarto. — Vamos nos deitar, você precisa dormir.

— Podemos fazer algo a mais em vez de dormir — sugere quando entramos


no quarto.

— O que tem em mente, senhorita Lewis? — pergunto já sabendo a resposta.

— Você deitado enquanto cavalgo lentamente em cima de você até gozar —


diz já tirando a camisola de seda verde que não passa de um curto vestidinho
sem-vergonha.

— Quem disse que deixarei você ficar por cima? — pergunto me sentando na
beirada da cama. — Talvez queira que a senhorita faça algo antes. — falo
rouco já apertando o volume no meio das minhas pernas.

— Posso fazer esse favorzinho para o senhor Haylock hoje — fala andando
na minha direção e se ajoelhando. Abaixa minha calça já puxando a cueca,
me deixando nu, já que estou sem camisa. — Olha ele está pronto para ser
chupado. — Ela mal terminou a frase e começa a chupar meu pau até as bolas
e um gemido rouco sai do fundo da minha garganta.

Essa boquinha dela é minha perdição!

Melanie se concentra na base dando beijinhos e outras vezes circulando a


língua na fenda. Abro minha boca e fecho, meus batimentos cardíacos estão
ficando alterados de modo que quase me assusta. O calor da sua boquinha
atrevida no meu pau me aquece de uma forma descomunal.

— Melanie — digo seu nome com a voz rouca pelo prazer que ela está me
proporcionando.

Ela levanta os olhos para me olhar antes de introduzir todo meu pau na sua
boca.

Porra!

A parte que não cabe mais na boca, ela masturba com precisão.

Não aguentando mais fico em pé segurando seu cabelo.

— Deixa essa boquinha aberta para que eu possa fodê-la.

Melanie segue meu comando e começo então a fodê-la com rapidez.

Ela se toca enquanto como sua boca, uma cena que me deixa ainda mais
excitado.

— Coloca mais dois dedos, sabemos que aguenta — digo diminuindo o ritmo
para não a machucar. — Vá mais rápido Melanie, imagine meu pau entrando
nessa boceta apertada. Sinta meu pau na sua boca… Goze Melanie.

Quando digo isso nós dois gozamos, a ajudo a ficar em pé e beijo sua boca
que contém meu gosto amargo.

Deito-me no meio da cama.

— Mostre-me a quão boa você é em montaria.

Ela sorri para e vem calmamente na minha direção.

A madrugada será longa e prazerosamente deliciosa…

Olho para o horizonte tentando entender o que está acontecendo comigo. Vir
até aqui traz recordações libertadoras, mas ao mesmo tempo dolorosas. July
se libertou quando se jogou e preciso me libertar para poder ser tudo que
minha família precisa. Eu poderia estar em qualquer lugar para pensar, mas
estou aqui. Boston se tornou meu lar, mas não sei se posso ser o lar que
Melanie tanto busca. Estou perdido e não há como negar.

Sinto alguém se aproximando e Anny surge ao meu lado. Não achei que ela
viria quando a chamei aqui, mas preciso da sua ajuda para algo importante.

— Nossa, aqui venta — diz abraçando seu corpo. — Fiquei surpresa com sua
ligação até mesmo pensei que nosso encontro seria no Museu de Artes. —
Ela sorri para mim antes de olhar para frente. — A vista aqui é ótima.

Respiro fundo antes de abrir a boca para falar algo.

— Aqui foi o ponto inicial para recomeçar em Boston — falo olhando para
frente. Sinto seu olhar em meu rosto, mas não diz nada. — Marquei uma
consulta no psicólogo, a Melanie acha que preciso então eu vou.
— Você quer ir?

— Minha família precisa de mim bem — falo agora olhando para ela.

— Sim eles precisam, mas por experiência própria digo para não ir sem
querer lutar por você — fala séria. Seus olhos castanho-claros transmitem
mais do que ela deseja, ela ainda possui uma parte da escuridão que tanto a
atormenta. — Não é tão fácil quanto dizem que é. Dói falar sobre o que lhe
apavora, mas é libertador saber que não doerá mais da mesma proporção. É
um processo lento e demorado. Um psicólogo confunde sua cabeça, mas aos
poucos você vai se ajeitando. Não tenha medo — diz sorrindo docemente.

— Temo mais do que meu passado. Não sou bom em falar sobre mim
mesmo, mas farei o possível para me abrir — digo voltando a olhar para o
horizonte. — Já me encantei pela sua escuridão, Anny. Dante sabe, não foi
paixão. Foi apenas minha escuridão que se identificou com a sua e nada mais.

— Eu não sabia e nunca percebi, acho que temos muito coisas em comum. —
fala sorrindo.

— Não muitas, mas o necessário para sabermos lidar com a dor.

— Você disse que perdeu seu próprio julgamento.

— Eu perco todos os malditos dias, Anny, mas saberei lidar com isso.

Quando estou me virando para ir embora, Anny segura meu braço.

— Marco, é normal ter medo do amor, mas só tome cuidado para não perder
tempo demais tentando entender como ele funciona. O tempo é curto quando
se trata do amor. — Ela fala sorrindo. — Digo por mim mesma, passei dez
anos presa sendo machucada, mas hoje estou aqui assim como você, não
conheço sua história toda, mas vejo em seus olhos o quanto ela é dolorosa.
Vencemos muitas coisas, Marco. Agora você tem que vencer o que há aqui
dentro. — Ela toca o meu peito e abraço Anny.

— Obrigado — sussurro no seu ouvido. — Você é uma ótima amiga!

— Somos uma família! — fala e seguimos cada um para o seu destino.


Uma hora depois estou no escritório lendo algumas questões sobre um novo
caso. Ser advogado tem suas vantagens e desvantagens, mas adoro a sensação
de alívio que sinto cada vez que levo justiça a um inocente. Quem diria que
eu, o homem que nasceu na escuridão está hoje salvando pessoas desse
mundo escuro, mas ainda sim vivendo com ela dentro do peito….

Um pouco confuso, eu sei.

— Marco! — A porta se abre e Melanie raivosa passa por ela. — Que


história é essa de se encontrar com uma mulher, hein? — diz apontando o
dedo para mim. — Eu achei que depois das nossas noites e depois de ontem
você seria fiel a mim, mas não a tola aqui aquece sua cama de noite e outra
durante a tarde — fala já chorando.

Cadê a porra do manual de gravidez?

— Do que você está falando? — pergunto calmamente.

— Você está me traído… Eu vi a foto. — fala chorando ainda mais.

— Desde o momento em que você e James entraram na minha vida não


dormi e nem olhei para nenhuma outra mulher — digo firme me levantando.
— A única mulher que encontrei hoje foi Anny para conversar.

— Anny? — pergunta secando as lágrimas, pega o telefone e olha o que


imagina ser a tal foto. — É a Anny mesmo e se é a Anny tudo bem — diz,
vem correndo na minha direção e pula no meu colo beijando meus lábios com
força.

Porra ela esquece que está grávida!

— Melanie não faz isso você está grávida — digo a segurando. — Você
precisa prestar mais atenção no que faz.

— Você não reclamou ontem quando estava montada em você — diz fazendo
seus típicos biquinhos. — Marco quero algo, você me dá?

— Desde que não seja calda de morango quente — falo beijando seu
pescoço.

— Não é nada disso não — fala mansamente. — Eu vi algumas coisas na


internet e quero praticar, achei legal.

Olho para ela sério.

Essa história não está bem formulada, Melanie curiosa é a pior coisa do
mundo e sinto que terei problemas com isso.

— Diga-me o que é — peço calmamente.

Melanie sai do meu colo me olhando nos olhos.

— Eu quero tentar algo novo no sexo — diz com uma cara que desconheço.

— O que?

— Quero participar de uma suruba!

Olho para ela espantado e coloco a mão no peito. Acalmo a minha respiração
e por fim falo.

— Não brinca com essas coisas.

— Não estou brincando com nada, eu quero — fala firme.

— Então vá… Creio que há ótimos clubes para isso… Vá Melanie! — digo
sério apontando para a porta. — Mas se for esqueça do nosso relacionamento.

— O que temos Marco? Fazemos sexo e temos ciúme um do outro…

— Tem razão.
Não sei como chegamos a essa discussão, mas algo me diz que estamos
cansados.

— Você disse que seria paciente — falo olhando em seus olhos.

— Eu sou e por isso falei da suruba, mas saiba que não sou monge — falando
isso ela sai.

Fecho meus olhos e meu coração dói como se houvesse levado uma facada.

Eu antes nem sabia que havia um coração e agora sinto que ele está
sangrando…
Fico olhando para a mensagem anônima no meu telefone.
Não ousei descobrir quem possivelmente pode ser, mas acabei acusando
Marco e impulsivamente acabei falando o que não deveria. Mal sabia o que
era suruba e acabei falando que queria fazer só para ver a cara de ciúme do
ruivo gostoso, mas acabou que vieram à tona outros fatores do nosso não
relacionamento.

Isso já está ficando difícil demais…

Sinto que em vez de facilitar estou dificultando as coisas, tenho tanto medo
de tudo desmoronar que acabo criando barreiras em volta de mim mesma. Eu
o amo, mas temo o que ele é.

Sinto que não conheço Marco Haylock de verdade e para ser sincera temo
conhecer sua verdadeira face. Há uma escuridão gritante dentro dele e Marco
possui marcas que provavelmente jamais compreenderei. É sufocante estar no
escuro, por isso temo levar o que temos mais adiante. Sinto que a qualquer
momento irá desmoronar o chão entre nossos pés…

Sempre sou impulsiva quando se trata de nós dois, porém quando se trata
dele fico louca, algo dentro de mim desperta com raiva. Eu sou ciumenta e
sinceramente ele também é.

Nosso raciocínio vai por água abaixo quando alguém se aproxima, pois
somos intensos demais.
Fecho a porta do quarto do James assim que ele dorme agarrado ao seu urso
panda. As luzes do corredor acendem conforme ando e acho isso o máximo,
sinto que estou andando na passarela e que cada passo meu é uma luz que se
abre diante de mim. Já sonhei em ser modelo, mas nem sempre o que se
sonha se realiza e hoje estou feliz da forma que estou.

Desço a escada com cuidado para não cair e rezo…

“Mãe Santinha, me proteja para que eu nunca tropece e caia grávida. Mamãe
proteja o seu neto ou neta que ainda habita em meu ventre.”

Quando piso no último degrau quase pulo de alegria…

Não caí!

Amém!

Isso é ótimo!

Olho para o relógio frustrada por Marco ainda não ter chegado e nem ligado
para avisar sobre algo.

Será que ele voltará para casa hoje?

Algo me diz que nossa conversa de hoje mais cedo no seu escritório o
chateou bastante, vi em seus olhos um lampejo de algo profundo. Ele possui
o dom de mascarar suas emoções o que me chateia bastante. Marco não é
alguém fácil de ler ou de ajudar. Há uma camada sobre ele que funciona
como um escudo para que ninguém o conheça e sinceramente é isso que me
deixa apavorada. Suas barreiras são impenetráveis e às vezes sinto que não
aguentarei por muito tempo. Amar é algo difícil e não sabia que era uma luta
diária em que muitas vezes tenho certeza de que irei perder, mas sou teimosa
e me manterei até o final ou até onde suportar a destruição.

Tomando coragem pego o telefone, disco seu número e cai direto na maldita
caixa postal do inferno, tento mais três vezes e dá a mesma coisa.

Meu coração acelera os batimentos.


Será que ele me deixou?

Ele não faria isso…

Que ideia tola Melanie, ele jamais faria isso.

Mas e se algo aconteceu?

Eu não suportaria vê-lo com mais alguns furos no seu corpo. Agora que ele
está se recuperando por completo de tudo.

Inferno!

Entre ligar para Dante ou Pedro opto por ligar para o ser sorridente e ele
atende no segundo toque com sua típica alegria contagiante.

— Melzinha que ama uma calda de morango, o que aconteceu para que eu
tenha a honra da sua ligação?

É incrível que mesmo que não o veja sei que está sorrindo.

— Oi Pedro, Marco está com você? — pergunto ouvindo logo em seguida


sua gargalhada. — Tentei ligar para ele só que cai direto na caixa postal, ele
está com você?

— Marco sua mulher quer falar com você, que coisa feia deixar uma mulher
grávida em casa sozinha — diz rindo. — Vou passar o telefone para esse
ruivo feioso Melzinha.

Passa-se alguns segundos ou minutos até que ouço sua voz rouca e grave.

— Melanie aconteceu algo?

Não sei o que dizer, sua voz está fria demais o que significa que ele está bem
chateado. Engulo a seco antes de responder sua pergunta.

— Está tudo bem, apenas estranhei você ainda não ter chegado em casa,
James até mesmo já dormiu e você nem ao menos me avisou se chegaria cedo
ou tarde — falo com a voz sufocada, ouço seu suspiro e uma cadeira sendo
arrastada.

Passa um tempo até que ele fale algo.

— Você queria que eu fizesse o que, Melanie? — pergunta, mas quando não
respondo continua. — Você veio hoje até mim me acusando, depois me
beijando e falando algo que me chateou. Eu não compartilho nada que é meu
Melanie e ao meu ver você é minha, mesmo que não nos titulamos com
algum nome especifico que essa maldita sociedade cria por status, sabemos
que pertencemos um ao outro, mas se você não enxerga assim não há muito
que eu possa fazer — diz calmamente fazendo com que meu coração erre
algumas batidas. — Essa não é uma conversa para se ter por telefone, meu
telefone descarregou e peço desculpas por não lhe avisar que chegaria tarde.
Não precisa me esperar acordada, provavelmente irei demorar mais um pouco
aqui na empresa. Uma das filiais teve problemas e algumas pessoas inocentes
foram prejudicadas. Dante, Pedro e eu não sairemos daqui até termos uma
solução que beneficiará a todos. Vá descansar!

Fico em silêncio pensando no que devo dizer, mas não encontro as palavras
certas.

— Eu jamais participaria de uma suruba — digo já chorando.

Malditos hormônios da gravidez!

— Melanie isso não é um assunto para ser discutido por agora.

— Só me ouça, por favor, assim poderei dormir melhor. Eu nunca faria uma
suruba com ou sem você. Era apenas para ser uma brincadeira que acabou
mal, mas eu nunca faria algo assim.

— Acalme-se eu jamais permitiria que fizesse algo assim. Agora beba um


copo d’água e vá dormir, assim que der estarei em casa.

— Quando chegar vai me abraçar mesmo se eu estiver dormindo? —


pergunto tentando conter os soluços.

— Sim Melanie, irei lhe abraçar.


— Promete?

— Você tem a minha promessa — diz com sua voz séria e grave que tanto
amo. — Agora descanse. — Após dizer isso, encerra a ligação.

Fico mais um tempo sentada no sofá chorando como uma criancinha que
perdeu sua boneca favorita.

Subo para o nosso quarto lentamente, chamo de nosso, mas minhas coisas
ainda estão no quarto que ele me deu quando trouxe James e eu para cá. Eu
que invadi sua cama para que pudesse ficar colada com ele a noite.

Merda!

Paro na porta do quarto, onde deveria estar dormindo sem saber ao certo o
que fazer. Não sei se vou para o “nosso” quarto ou se fico aqui no que
deveria ser o meu, hoje pela primeira vez desde que passei a ocupar sua cama
como se fosse minha tenho essa maldita dúvida.

Por hábito e por necessidade acabo indo para o quarto onde me refugio em
seus braços todas as noites.

Deito-me sobre seus lençóis escuros abraçando seu travesseiro que ainda
possui seu maldito cheiro másculo e adormeço com medo do amanhã…

Chego em casa quase as três da manhã, meu corpo não está cansado e
muito menos minha mente, mas sinto necessidade de me deitar na minha
cama só para abraçar Melanie como prometi.
Subo a escada sem pressa e já no corredor ando até a porta do quarto de
James. Abro-a com cuidado para não fazer barulho, ele dorme tranquilamente
abraçado ao seu urso panda e saio com cuidado para não fazer barulho. Ando
até o banheiro social para tomar um banho, me dispo com calma, paro em
frente ao espelho e vejo as cicatrizes das últimas balas que tomei. Não sei
ainda o que irei tatuar nesses lugares, mas tenho que pensar em algo. Quando
entro debaixo da água morna suspiro, lavo meu cabelo e me ensaboo com
calma.

Minutos depois termino meu banho nada longo e me seco vestindo uma
cueca vermelha boxer que estava na gaveta do armário que há aqui no
banheiro, sempre deixo umas guardada para situações como essa.

Entro no quarto sentindo o ar-condicionado ligado no máximo e não reclamo,


pois gosto de sentir o quarto frio. Deitada entre os lençóis negros está
Melanie abraçada com meu travesseiro, enquanto seu cabelo escuro está
espalhado no travesseiro. Suspiro e ando até a cama. Deito-me atrás dela a
puxando para mim com delicadeza para que ela não acorde e beijo seu
pescoço com carinho. Se ela soubesse o que faz comigo jamais me colocaria
a prova a todo instante. Há sentimentos dentro de mim que não reconheço,
mas que estou em busca de melhor conhecimento. É um processo lento e
doloroso e não sei como ficarei no final dessa descoberta só sei que a quero,
assim como nossos filhos. Não estou disposto a perdê-la e muito menos a
eles. Já lutei por coisas banais e agora lutarei por algo que realmente quero.
Eu quero o que nunca quis antes…

Quero um lar e uma família para chamar de meu…

Quero ver James brincando com seus irmãos e ouvir gritarias no carro ao
irem para a escola…

Quero coisas que jamais quis!

Hoje entendo o motivo de Dante lutar tanto pela família e para nos manter
por perto, nessa vida somos todos passageiros, mas as marcas que deixamos
para trás é o que faz com que sejamos eternos.

Quero deixar boas marcas para que possam ter boas lembranças de mim…
— Marco? — Melanie pergunta sonolenta.

— Sim, durma. Estou aqui — sussurro no seu ouvido.

— Você veio para casa — fala se virando e deitando a cabeça no meu peito.
— Você após o banho é muito cheiroso.

Não digo nada, apenas acaricio seu cabelo até sentir que ela pegou no sono.
Acabo me sentindo sonolento também e por fim adormeço…

— Papai “banha” não? — James perguntar enquanto puxa de leve meu


cabelo. — “Corda” papai, James “binca”.

Abro meus olhos dando de cara com a minha mini cópia sorrindo para mim e
seus dentinhos de leite branquinhos parecem perfeitos ao meu ponto de vista.
Ele parece ter mais sardas do que eu, entretanto não é como se eu pudesse
contar.

— Bom dia para você também campeão — digo sorrindo para ele. — Deixa
papai se levantar e fazer minha higiene matinal para que possamos iniciar o
dia — falo o tirando de cima de mim com cuidado, o deixando na cama já
sabendo que ele ficará ali até eu voltar.

Ele é obediente.

Entro no banheiro e observo minha aparência descomunal, preciso cortar o


cabelo e fazer a barba, além de ganhar horas a mais no dia. Faço tudo que
tenho que fazer no banheiro e saio minutos depois. Vou para o closet em
busca de algo decente para vestir e minutos depois estou pronto para ficar em
casa o dia inteiro.

James ainda está sentado na cama brincando com os próprios dedos.


— Vamos garotão, está na hora do papai tomar café.

Ele sorri para mim estendendo os bracinhos, pego-o no colo e saímos do


quarto.

Já no andar de baixo paro na porta da cozinha vendo a louca da Melanie


tentar fazer algo na panela, mas aparentemente está apanhando.

Panela: 01 X Melanie: 0.

Fico um tempo parado olhando-a vestida em uma camisola curta que marca
bem sua barriga já grandinha. Ela para e aponta a colher de pau para a pobre
panela que está na sua frente.

— SUA ASSASSINA! — grita com a panela. — Para de me queimar, só


quero bacons fritos e ovos mexidos.

— Você que está matando o bacon dessa forma — digo fazendo com que ela
solte um grito fino, seguida por James e meus tímpanos doem.

— Mãe Santinha do céu, não me assusta assim homem! — diz colocando as


mãos no peito. — Bom dia — diz em voz baixa, desviando seus olhos dos
meus e coloco James na sua cadeira o prendendo para que não caia.

Vou até ela, viro os bacons, em seguida quebro os ovos em outra frigideira e
os mexo do jeito que ela quer.

Quando os bacons estão bons os coloco em um prato junto com os ovos e


levo até ela que se sentou em uma cadeira da bancada. Ela me olha, mas
sempre desvia o olhar. Uma situação bem frustrante, mas não fui eu que a
criei.

— Aqui — digo colocando o prato diante dela.

Dou mamão com aveia e vitamina de banana ao James enquanto tomo uma
xícara de café e como uma torrada. O silêncio só não é gritante por causa de
James que faz uns barulhos estranhos enquanto come.

— Tenho uma consulta hoje à tarde — fala olhando para tudo, menos para
mim.

— Eu sei e até mesmo avisei a Dante que hoje à tarde não estaria na empresa,
ele foi compreensivo. Sei que ele precisa de mim na empresa, mas nosso filho
ou filha são mais importantes — falo olhando para o seu rosto que parece
ficar mais alegre após minhas palavras.

— Não irá na parte da manhã? — pergunta olhando finalmente para mim.

— Irei ligar para Pedro para saber como andam as coisas, qualquer coisa vou
dar uma passada lá ou trabalharei daqui mesmo.

— Está bem — diz vindo tomar meu lugar ao lado de James que está
concentrado chupando um pedaço de mamão.

Pego minha xícara de café e caminho até o escritório que tenho em casa. Não
me importo em buscar meu celular, por isso ligo do telefone fixo do
escritório.

No segundo toque ele atende.

— Porra de inocência! — resmunga.

— Inocência? — questiono me sentando.

— Deixa para lá Marco. É só uma fodida inocência do caralho tirando minha


solene paz de espírito — diz com a voz pesada.

Algo não está bem para ele.

— Agora me diga o motivo da ligação.

— Precisa de mim na empresa? — pergunto diretamente.

— Dante já resolveu tudo… Ele chegou às seis da manhã, sei disso porque
nem fui para casa, dormi por aqui mesmo. Como estava dizendo Dante
chegou igual um trator chamou a Val e a mandou junto com os engenheiros
acharem o erro na estrutura da filial para que possamos jogar a velha para
baixo e levantar uma nova. Pediu para que eu limpe o sistema de segurança e
coloque mais segurança ao redor de cada filial inclusive aqui da sede — diz
com voz cansada.

Pedro vai ter que trabalhar duro.

— Bom qualquer coisa basta me ligar — falo encerrando a ligação.

Olho mais alguns papéis antes de voltar para a cozinha para terminar o café
em família.

Passo a manhã inteira brincando com James, enquanto Melanie faz não sei o
que pela casa. Ficar com James traz paz ao meu coração.

Quando chega perto do horário da consulta saímos de casa. Conduzo o carro


com total atenção, Melanie está inquieta no banco de carona e James está
concentrado no seu quadro branco usado por crianças para brincarem de
desenhar e tal, algo cem por cento seguro.

— Será que hoje estará com as pernas abertas? — Melanie pergunta.

— Tenho esperança que sim. Quero saber se precisarei andar armado ou não
— falo sério.

— Pelo amor de Deus Marco! — diz a doida batendo no meu braço.

Apenas sorrio e continuo dirigindo.

Minutos depois estou me sentido o centro das atenções, com James no colo e
Melanie ao meu lado, todas as mulheres estão olhando na minha direção
como se fosse um ser único, mesmo tendo poucos homens aqui. Agora
entendo o que Dante passou nas consultas de Anny.

— Melanie. — Alguém chama e Melanie e eu nos colocamos em pé. — A


doutora aguarda vocês!

Seguimos a recepcionista até uma sala.

Melanie já se encontra deitada com a médica passando um gel na sua barriga


e seguro James no colo focado no que a médica diz:

— O que a última médica disse a você, Melanie? — pergunta a doutora séria


olhando para a Melanie.

— Apenas me disse que eu deveria me cuidar mais — Melanie diz olhando


para mim assustada.

— Há algo de errado doutora? — pergunto preocupado.

— Vamos fazer a ultrassom para termos certeza de algo.

Ela liga o aparelho, começa a passar pela barriga de Melanie e olho para a
tela apreensivo.

— Como imaginei… Precisamos conversar — fala olhando para mim e para


Melanie séria. — Esse é um caso muito raro…

— Por que não ouvi o coração do meu bebê? — Melanie pergunta já


chorando.

— Calma Melanie… — a doutora pede.

Acho que pela primeira vez irei me ajoelhar e orar…

Olho para o monitor sentindo…

Medo!
Olho para o monitor e mais uma vez para médica que me olha com uma
cara espantada…

Algo definitivamente não está certo.

Sua expressão facial pode até mesmo estar mais tranquila do que a segundos
atrás, mas ainda vejo uma veia de preocupação em seu rosto. Ela olha para
Marco e mais uma vez para o monitor, passa o aparelho na minha barriga e
para, volta a passar e por fim tira em completo silêncio.

Sei que ela me pediu calma, mas como ter calma nessa hora?

Sinto que tem algo de errado com o meu bebê, lágrimas escorrem pelos meus
olhos e Mãe Santinha me ajuda, fiz tantos possíveis planos para meu bebê se
fosse menina, mas olhando agora para esse maldito monitor não sei de mais
nada.

Sinto as mãos de Marco no meu ombro e James graças a Deus está entretido
no tapete brincando, ainda bem que ele não está sentido o clima pesado. Colo
minhas mãos nas de Marco e ele entrelaça nossos dedos. Sinto-me mais
segura assim.

— Doutora, acho que nos deve uma explicação — Marco fala.

— Isso é algo que raramente vejo e preciso da total compreensão de vocês.


Creio eu que última médica em que Melanie esteve não constatou isso, o que
é um erro gravíssimo. Vocês possuem uma vida sexual bem ativa?

— Sim possuímos, mas o que isso tem a ver? — pergunto tentando controlar
a voz de choro.

— Machucamos o bebê durante o ato sexual? Doutora ou a senhora é direta e


nos diz o que há de errado ou procuramos alguém capacitado para isso —
Marcos diz se alterando.

— Bem há dois bebês! — fala fazendo com que eu sinta um alívio, mas ao
mesmo tempo desespero.

Minha Mãe Santinha, que está no céu!

Dois bebês?

Dois?

Não posso acreditar nisso, eu não acredito!

Não saberei lidar com dois bebês, sem falar que o parto será ainda mais
doloroso.

Sairão dois bebês da minha perereca!

O arrombo vai ser ainda maior, assim como a dor.

Não sei lidar com isso não!

Não sei se choro de alívio ou de desespero.

O mais importante é que meu bebê está bem dentro de mim.

— Gêmeos? — Marco pergunta respirando fundo.

— Não, eles não são gêmeos — a doutora diz séria fazendo com que eu nem
pisque. — A senhorita Melanie sofreu uma superfetação, algumas mulheres
mesmo depois da gravidez continuam ovulando, algumas acabam nem
engravidando novamente, mas no seu caso você ficou. Há dois sacos
gestacionais como podem ver aqui — fala apontando para o monitor,
enquanto passa o aparelho na minha barriga. Há uma diferença notória entre
eles, possivelmente mais de um mês de diferença o que não é exatamente
algo bom. Você possivelmente ovulou até o segundo mês da gestação e o
espermatozoide vencedor passou por todas as barreiras e fecundou, bem, isso
como disse é algo raro e será uma gravidez considerada de gêmeos, mas
teremos que fazer um parto prematuro para a segurança dos dois bebês.
Faremos um acompanhamento de duas em duas semanas. Há dois meses de
diferença entre um e outro algo preocupante, mas não há motivo para entrar
em desespero.

— Compreendo tudo que disse, mas quando ela completar noves meses
faremos um cesariana? — Marco pergunta enxugando minhas teimosas
lágrimas.

— Possivelmente antes dos nove. Não quero arriscar que a bolsa estoure e
que possivelmente isso leve os fetos há algum tipo de risco notório maior.
Querem ouvir os corações dos bebês?

— Sim! ꟷ Marco e eu falamos juntos.

— James vem cá ouvir o coração dos seus irmãozinhos! — Marco chama


James que vem correndo para os seus braços.

Sorrio para meu pequeno filho já mais velho que me olha mostrando seus
dentinhos de leite branquinhos. Em breve ele irá completar dois aninhos e
logo terei mais dois bebês em meus braços.

Santa Mãezinha que a senhora, me ajude!

Quando menos esperamos ouvimos o som que faz com que meus olhos se
encham ainda mais de lágrimas, olho para o monitor agora enxergando os
dois bebês um menor do que o outro.

Como não vimos isso antes?

Vou considerá-los gêmeos não idênticos.


Eles com certeza serão os últimos!

Já amo meus pequenos mais do que a minha vida!

— Olha só temos uma menininha aqui! — a doutora diz fazendo com que eu
solte uma gargalhada e olhe para Marco que tem em seu rosto uma expressão
que desconheço e seus olhos brilham olhando para a tela do monitor.

O que será que se passa na sua cabeça?

— MEU DEUS, REALIZAREI MEU SONHO DE TER UM MUNDO COR-


DE-ROSA! — grito feliz da vida. — DUAS MENINAS, DUAS MENINAS!

— Não mamãe, é um casal! — fala a médica sorrindo. — Esse aparelho de


ultrassom 3D nos dá uma resolução maior e bem temos aqui uma menina e
aqui um menino — fala apontando para tela. — A menina é mais velha!

— Acho que irei com Dante procurar escolas para formação de freiras —
Marco fala e olho para ele de cara feia.

— Nossa filha vai dançar até o chão onde quiser! — falo olhando em seus
olhos.

— Minha filha vai servir à Deus, Melanie! — Marco fala sério.

Ele nesse modo me deixa doida.

— Se a médica e o James não tivessem aqui, eu provavelmente me jogaria


em cima dele para uma rapidinha — falo alto sem perceber.

— Melanie, modos!

— Acho que entendo o motivo dessa gravidez dupla — a médica diz em um


tom meio malicioso.

— Dois irmãos papai? — James pergunta a Marco.

— Sim você terá dois irmãozinhos para cuidar, mas uma é menina e nela
você terá que ter uma atenção dobrada! — reviro os olhos com essa conversa
desnecessária.

— Já disse que nossa filha será e fará o que ela quiser e você James não vai
impedir sua irmã — falo e ele olha para mim soltando uma gargalhada
gostosa.

— “Teger” irmã! — fala batendo palmas e Marco sorri em concordância.

Meu Deus do céu, esses dois não deixaram a minha pobre menina respirar!

Agora entendo perfeitamente tudo que Dante sentiu quando soube que
teria uma menina, já até mesmo consigo imaginar as armas que poderei usar
para proteger minha menina. Há inclusive diversas escolas católicas para
meninas, apenas menina. Vou ligar para Dante e Carlos para que assim
possamos conversar sobre essas prováveis escolas.

Respiro fundo olhando Melanie comprar tudo rosa, vermelho e lilás. Acho
que ela está esquecendo que são dois bebês. Ao menos terei mais um menino
para me ajudar a proteger minha menina.

Quando a médica disse que havia dois bebês imaginei gêmeos, mas jamais
pensei nessa probabilidade de superfetação. Nunca imaginei que algo assim
poderia acontecer, mas parando para pensar não me é estranho e pelas minhas
contas aconteceu durante o nosso sexo de comemoração depois que sai do
hospital.

Olho para James que está mordendo uns dos seus muitos brinquedos, esse
menino se faz de sonso na maioria das vezes, mas James sabe que algo
estranho está acontecendo e prefere ficar na sua o que não é algo ruim, sinto
que no futuro terei um bocado de trabalho com essa mini cópia minha.

Meu telefone não para de vibrar um só segundo e para piorar sinto que as
pobres vendedoras surtaram com Melanie que não para. Ela quer tudo mais
ou mesmo tempo não quer nada, ela já pegou várias peças e colocou de volta
no lugar. Cansado disso tudo caminho até algumas prateleiras e pego
conjuntos que acho bonitos e fofos. Coloco no carrinho e volto para pegar
James. Coloco-o sentado no carrinho e saio andando pelos corredores.

Uma hora depois pago tudo que escolhi para ambos os bebês e também o que
escolhi para James, apesar de saber que ele possui roupas e brinquedos em
excesso. Saio da loja a espera de Melanie que ainda está perdida lá dentro. Eu
até ficaria ao seu lado, mas a mulher simplesmente me expulsou do seu lado.
Não há muito que eu possa fazer a não ser esperar.

Um tempo depois a louca vem na minha direção com algumas sacolas


sorrindo feliz da vida. Esse sorriso aquece meu coração de uma forma
incomum para mim e sorrio de volta para ela.

— Comprei tantas coisas cor-de-rosa que minha Santa Mãezinha que está no
céu, estou com uma fome do tamanho do mundo. Agora sei que como por
dois! — fala quase saltitando, me entrega as sacolas e pega James no colo. —
Meu ruivinho número um, você ganhará dois irmãozinhos de uma só vez, foi
premiado por ser o mais velho. — James olha para ela com uma carinha
engraçada, mas sorri para a mãe que sai andando com ele para algum lugar
que tenha comida. — Anda Marco estou com fome e você irá pagar por tudo!

Sorrio, pego as sacolas e vou atrás da louca que está aquecendo meu coração.

Nunca pensei que alguma mulher chegaria até a veia que faz com que meu
coração bata. Melanie está no meu sistema e não me vejo mais longe dela.
Sinto medo de perdê-la, mas algo me diz que se não tomar cuidado e resolver
as questões do meu passado mais rápido teremos sérios problemas no futuro.

O gatilho para perder a Melanie será o meu passado…

Será a escuridão que tento a todo instante esquecer, mas ela habita em mim.

Amanhã terei minha primeira consulta com a psicóloga, marquei um horário


para logo cedo.

Algumas horas depois estamos em casa.

Não sei o que faço com Melanie, James e os pulguentos que bagunçam tudo.

Eles simplesmente bagunçaram todas as minhas coisas!

Isso é ter uma família…

Eles são minha família!

Amanhã isso estará organizado e se não ficar, tudo bem. Posso conviver com
essa bagunça diária e a partir de agora só irá piorar com os bebês que virão.
Ser pai e possuir uma família é ser feliz até com as coisas intrigantes da vida.

Quando a casa está silenciosa e todos estão em suas devidas camas vou para
o quarto dormir. Antes vou ver se James está bem, daqui uns meses serão
mais dois para verificar e o sentimento de proteção cresce ainda mais dentro
de mim. Saio do seu quarto assim que vejo que está tudo bem com ele.

Quando abro a porta do meu quarto me surpreendo ao ver Melanie sentada na


cama, seus olhos encontram os meus e um sorriso triste surge em seus lábios
bem desenhados e beijáveis para caralho.
— Qual o motivo desse sorriso triste? — pergunto indo até ela.

— Você está feliz com essa gravidez? — pergunta cabisbaixa.

— Estou surpreso e feliz. É tudo muito novo para mim, então mais uma vez
lhe peço paciência. Sou novo nesse mundo, onde sou pai e chefe de família.
Apenas segure minha mão e não solte, por favor.

Ainda não consigo dizer tudo que penso ou quero, mas estou caminhando
para isso.

— Você vai conseguir, nós vamos conseguir! — diz me abraçando apertado.


Agora há um formato de uma bola entre nós. — Sinto medo de perder um dos
dois.

— Ambos nascerão em perfeito estado — digo beijando sua testa e dormimos


abraçados.

Amanhã tenho certeza de que serei zoado pelos caras até minha morte.

Estou fodido de todas as formas e pagarei por todo os meus pecados de uma
só vez!

Minha filha será freira!

Olho para a psicóloga diante de mim e em seus lábios há um sorriso gentil,


mas já vi sorrisos assim virarem dentes de tubarão.

— O que o fez vir até aqui senhor Haylock? — pergunta em um tom de voz
calma que não ajuda em nada.

— Tenho problemas… Não problemas normais — falo olhando em seus


olhos.
— Entendo, pode me dizer quando eles surgiram?

— Para chegamos nessa parte, preciso te dizer o motivo pelo qual sou um
nômade estrangeiro.

— Conte-me então essa história senhor Haylock.

— Tudo começou quando ainda era uma criança que possuía alguns vestígios
de fé…

Acho que está na hora de contar a história do menino que nunca pode
chorar…

Um passo a dar nunca me foi tão cruel…


— Não nasci em berço de ouro ou em uma caixa de papelão, nasci no
chão e lá fiquei esgoelando até adormecer… Não tenho boas memórias da
minha infância e para ser sincero sempre fui tratado como um adulto — falo
para a psicóloga que me encara. — Sou como um nômade ou melhor era
como um, vagava por aí sem ter onde realmente ficar — digo tentando não
misturar as lembranças, mas está difícil… Está difícil demais! Ninguém me
disse que era tão difícil pôr para fora aquilo que mais dói. — Como estava
dizendo nasci no chão e lá fiquei, não sei como sobrevivi até saber me
alimentar sozinho e cuidar de mim mesmo. Aprendi a falar e andar com
menos de um ano, acho que meu psicológico sentiu a necessidade de
sobreviver a tudo aquilo o quanto antes. Eu me lembro dos castigos por
chorar a noite com fome, eu devia ter na época uns três anos ou menos, não
me recordo direito. Lembro-me de ter meu braço esquerdo quebrado por
pedir um copo d’água… Eu me lembro disso perfeitamente, me lembro da
dor e de como prometi a mim mesmo que jamais iria pedir algo assim, jamais
pediria água ou comida e assim fiz. Ficava dias sem comer algo até que eles
lembrassem que havia ali uma criatura ruiva que precisava de banho, água e
comida… — Sorrio balançando a cabeça para me livrar das memórias. — Por
agora gostaria de ir embora, volto daqui dois dias para que possamos
continuar — falo ficando em pé.

— Não vou obrigar o senhor a ficar, mas se caso quiser volte antes, basta
ligar — fala docemente. — Podemos começar a trabalhar com base na sua
infância.

— Claro — digo seguindo até a porta.


Não me sinto pronto para falar tudo que vivi, mas acredito que dei um grande
passo hoje e esse passo foi pela minha família que parece estar crescendo
mais a cada instante que respiro.

Minutos depois após a conclusão da consulta me vejo diante da porta do meu


escritório na empresa e fico feliz por não ter sido coagido por nenhum dos
meus amigos durante o caminho. Quando abro a porta e entro levo um susto
ao ver os três ali em pé no centro da sala, me encarando com os braços
cruzados. Suspiro já cansado por saber que serei zoado até o fim do mundo
por Carlos e Dante, dou graças por Pedro ter possuir filhos ainda.

— Então meu amigo, vamos lhe dar duas opções. Primeira, você fala por bem
ou segunda você fala por mal, lembrando que em ambas as opções você vai
ter que falar — diz Carlos com um sorrisinho de lado.

Olho para meus amigos tentando não sorrir ou mostrar minha felicidade e
todos me olham espantados esperando que eu surte ou os mande para merda.

— Em minha defesa se por acaso você for bater em alguém lute com o Dante
ou com Pedro — fala Carlos recebendo um olhar de interrogação dos outros.
— Olhem para mim sou médico e de luta não entendo nada. Olha os
músculos do Dante, foquem nesses braços de lutador de MMA. Sou um
frango e olha o Pedro…

— O que tem eu?

— Você é chefe de segurança geral, luta capoeira e boxer e ainda faz crossfit.
Você é negão meu amigo — fala criando sua defesa que está até boa para um
médico. — Eu só sei usar um bisturi — diz tirando totalmente o dele da reta.

— Ouso dizer e confirmo que o Dante sabe lutar bem mais que eu — Pedro
fala caminhando para longe dos dois. — Esse combate tem que ser de igual
para igual… Briga de gigante… Dante X Marco, a sofrência dos pais.

Dante olha para ele erguendo a sobrancelha escura perfeita.

— Não aceitamos sua defesa Pedro, aliás, foi uma péssima defesa…
Esperava mais de você. — Dante olha para mim e me dá um sorriso como se
soubesse de tudo.

Maldito seja Dante Boltoni por saber ler mentes!

— Parabéns meu amigo! Ter uma filha é saber que pagará por todos os seus
pecados — diz calmamente. — Acredite quando digo que enquanto for
criança, você estará seguro dos lobos maus. Um dia você é lobo e no outro
sua filha é a presa. É a ordem natural da vida.

Arregalo meus olhos para ele que sorri.

Eu nunca pensei que um dia chegaria a ouvir isso de um amigo em forma de


consolo é uma realidade que tento a todo instante não viver.

Quem diria que estaria prestes a discutir sobre criação e fraldas com eles.
Passo as mãos pelo cabelo tentando compreender melhor o que há a minha
volta e olho para eles que esperam uma reação minha.

— Vocês sabem que fui treinado para matar, sou um ótimo lutador e não
perco, meus reflexos são rápidos e sou perspicaz. Qualquer um que se
aproximar da minha menina terá seu corpo boiando no rio Charles.

— AHHH, SABIA! — gritam abraçando uns ao outro, antes de virem


correndo na minha direção me dando um abraço triplo.

Se fosse tempos atrás, eu os afastaria de mim, mas hoje sorrio ao sentir o


calor desse abraço. Eles sempre estiveram comigo e só hoje percebo de
verdade o quanto eles são importantes para mim.

Eles sempre foram minha família!

— Temos quadrigêmeos a caminho meu povo, quatro menininhas! — fala


Pedro com seu típico sorriso Colgate.

— Uma menina e um menino, mas não são exatamente gêmeos. Foi uma
superfetação.

— Isso é raro! O segundo feto fecundado deve receber uma atenção maior e
com certeza será um cesariana — fala Carlos sério. — Parabéns meu
amigo… Filhos são as melhores partes de nós.

— A doutora explicou tudo isso — falo me indo sentar. — Estamos tentando


não ter pensamento negativos. Melanie já chorou muito, ela queria parto
normal, mas compreende que teremos que fazer o melhor para os bebês.
Acho que vou fazer vasectomia, três filhos é o meu máximo.

Todos sorriem com as minhas palavras e sinceramente estou realmente


pensando nisso. Não tem motivos para ter mais filhos, a família já está grande
o suficiente. Três filhos e dois cachorros são mais do que pensei obter um
dia.

Respiro fundo e falo:

— Fui a psicóloga hoje — falo atraindo mais uma vez a atenção deles para
mim.

— Como foi? — pergunta Dante.

— Foi estranho, mas sei que é algo necessário para mim e para todos a minha
volta — falo calmamente.

— Compreendo… Faça o que for melhor para você. Pense primeiro em você
e se você não fizer por si próprio não poderá fazer por alguém. Eu posso te
estender a mão, mas a escolha é sua se vai pegá-la e se levantar. Posso te
mostrar o caminho, mas a escolha é sua se o segue ou não.

Dante tem o dom com as palavras, às vezes acho que será bem melhor
dialogar com ele do que com um psicólogo, mas me lembro que ele já possui
problemas demais para lidar com os meus.

— Eu sei. Estou dando um passo de cada vez… A jornada é longa, mas tenho
certeza de que ela valerá à pena

— Pensamentos positivos, meu povo lindo — fala Pedro sorrindo. — Aliás,


estamos aqui nessa terra de passagem, por isso devemos aproveitar cada
ensinamento e cada erro. Devemos viver, aprender e se o caminho escolhido
não for o certo pegamos outros. Enquanto houver vida, há esperança até
mesmo para esquecer uma maldita inocência com íris caramelo.

— Meu amigo, eu entendi até uma parte, o restante me perdi. Tem algo a nos
dizer? — Carlos pergunta olhando para ele que faz cara de paisagem.

— É verdade Pedro, você está muito estranho. — Dante fala pensativo. —


Aconteceu algo?

— Não está acontecendo nada, só tem um consolo para ser enfiado no meu
cu, mas relaxem estou bem. Só preciso analisar o sistema e melhorar o que
está dando defeito — fala pensativo.

— Quando estiver pronto para conversar sobre o que estiver acontecendo


basta vir até nós e falar — diz Carlos dando dois tapinhas nas suas costas. —
Agora me diga meu caro ruivo Haylock como está a Melzinha com a chegada
de uma menina? — pergunta tentando me provocar.

Desgraçado!

Hoje ninguém tira minha paz.

— Rosa… Ela está vendo tudo rosa e lilás. Ela vai ter o seu tão sonhado
mundo rosa.

Todos caem na gargalhada e os acompanho, mas temo estar rindo de


desespero.

Amo usar o cartão máster dourado que Marco me deu!


Com essa coisinha quadrada e dourada compro de tudo, mas minha atual
função é comprar tudo que puder na cor rosa. Mal vejo a hora de dar um
mundo rosa para…

O meu Deus, não sei o nome da minha filha ainda!

Escolhi o do James, vou deixar que Marco escolha o nome da nossa menina e
eu cuido do menino.

Mãe Santinha do céu, até um tempo atrás era somete James e eu contra o
mundo e agora sinto que não estamos mais só. Marco é como um tsunami que
devastou tudo que construí, mas me deu algo que jamais pensei que teria um
dia. Deu-me algo que perdi há muito tempo…

O sentimento de ter uma família completa!

Ainda não somos perfeitos, mas ninguém é perfeito!

Saio da penúltima loja saltitando pelo conjuntinho azul e rosa que comprei
para os baby’s. Devido a minha fome resolvo dar uma pausa nas compras e ir
atrás de comida.

Grávida de dois, come por três!

Vou atrás de um hambúrguer artesanal já que amo mais que tudo. A carne é
suculenta e o hambúrguer é gigantesco. Acho uma lanchonete que vende e
entro correndo, jogo as sacolas em uma mesa desocupada e vou até o caixa
fazer meu pedido. Escolhi o maior da casa e pedi um suco de laranja natural
de acompanhamento para ser ao menos um pouco saudável.

Sento-me na mesa e mando uma mensagem para Marco sobre as coisas que
comprei e em resposta ele pede para que não compre nada muito rosa.

Coitadinho, mal sabe que essa batalha é perdida!

Quando tiro os olhos da tela do meu telefone levo um susto com quem vejo
diante de mim sorrindo.

Mãe Santinha me proteja e proteja esse ser da ira do Marco.


— Menina do parque, nem nos despedimos da última vez lá na Alemanha,
pelo que vejo está perfeitamente bem — fala sorrindo.

Prevejo sangue sendo derramado mais uma vez…


Olho para o homem parado na minha frente, assustada com o que essa
aproximação pode-nos causar. Não quero ver um Marco ciumento e
agressivo, apesar que ele ciumento é extremamente sexy, agora agressivo me
assusta um pouco. Esse ser diante de mim não sabe se manter longe e parece
gostar de provocar as pessoas.

— Você está bem? — pergunta se aproximando mais. — Quer um copo


d`água? Você está pálida.

É claro que estou pálida, ele vem da Alemanha, surge bem diante de mim e
ainda vem com esses sorrisinhos safados para o meu lado. Ele pode até ser
bonito, mas ainda prefiro mil vezes meu ruivo sexy com cara de mau. Só de
pensar na cara de mau dele fico até excitada.

Mãe Santinha, cadê Marco agora para darmos uma rapidinha?

— Estou bem — digo rapidamente.

— Que bom, vejo que o bebê ainda está dentro de você! — fala sorrindo, mas
um sorriso que não chega até os olhos.

— Sim, ele está bem guardado aqui dentro — falo acariciando minha barriga.

— Fico feliz em saber disso morena, vejo o quanto ama esse bebê. Já sonhei
em ser pai, mas infelizmente o destino não foi muito bom comigo.
Vejo um lampejo de tristeza em seus olhos.

— Um dia você será um ótimo pai — digo tentando sorrir.

— Não tenho certeza disso, mas após ver alguém tão cruel e imbatível sendo
um pai carinhoso e amoroso estou revendo meus conceitos — fala pensativo.
— Às vezes até as maiores armas humanas são capazes de amar alguém, eu
pensei que jamais viveria para presenciar isso, mas vejo que estou enganado.
Até mesmo as coisas mais obscuras recebem uma pitada de luz capaz de
mudar toda a escuridão que há em si — fala olhando na minha direção. —
Talvez eu só precise tomar uma dosagem dessa luz tão radiante que fez com
que um homem mau se tornasse bom!

Suas palavras me pegam de surpresa.

Algo que ele disse fez com que eu tivesse vontade de sair correndo para mais
longe possível, seu olhar me causou arrepios e não foi um arrepio bom.

— Temos que encontrar nossos próprios caminhos…

— É claro que temos. Meu nome é Brendon Ross… Acho que não nos
apresentamos antes.

— Acho que não…

Tento a todo instante achar uma saída dessa situação desnecessária em que
estou, Brendon que agora descobri o nome, sentou-se na mesa onde estou e
ainda está sorrindo para mim de uma forma estranha. Algumas pessoas
deveriam saber se manterem longe ou saber dos limites, mas esse ser diante
de mim parece não saber de nada disso.

Mãe Santinha do céu, envie seus anjos para levar essa criatura para longe de
mim.

Quando meu lanche chega já havia até perdido fome, mas ao ver a delícia
diante de mim ela até voltou. Tento me concentrar no meu lanche e o
Brendon Ross pediu um parecido com o meu.

Quem passa por nós deve estar pensando que somos um casal, mas pelo amor
da minha Mãe Santinha não somos e ele não faz meu tipo.

Gosto de ruivos, não Melanie, ruivos não!

Nada de plural, tem que ser no singular, pois você só gosta de um ruivo que
se chama Marco Haylock e cuja paciência vai para o espaço ao ver a cena em
que você se encontra.

— Seu marido te faz feliz? — pergunta Brendon fazendo com que eu quase
me engasgue com meu lanche.

— Sim, ele me faz a mulher mais feliz desse mundo!

Na verdade, nem sempre, há dias em que ele faz com que eu fique triste, mas
nos outros sinto que ele é tudo que preciso.

— Vocês dois formam um casal engraçado, eu particularmente não vejo um


anel em seu dedo, não queriam afirmar compromisso?

Ele está sendo intrometido demais.

— Anel é só uma coisa material e simbólica, não precisamos disso. Já temos


vínculos bem mais profundos e fortes, sinceramente pertencemos um ao outro
e isso é mais do que o bastante, somos reais e não fictícios. Eu o amo e adoro
de paixão o que temos. Cada casal é feliz com sua mania e forma, somos
felizes! — falo sorrindo.

Ele me olha e sorri, mais uma vez um sorriso que não chega aos olhos. Um
sorriso frio e poderia até mesmo dizer que maldoso.

— Você ainda não me disse seu nome — fala tomando seu refrigerante.

— Melanie Haylock — falo firme, fazendo com que algo passe pelos seus
olhos.

— É um prazer finalmente saber seu nome moça do parque que era na


verdade é um lindo Palácio, mas não era tão lindo quanto a morena sentada a
minha frente — fala sorrindo.
Olhando para ele me recordo de que quando estávamos na Alemanha no
Palácio, que não me lembro o nome, ter dito algo sobre Marco.

"Só tome cuido para não ser destruída pela escuridão dele."

— Você conhece meu marido, não é? — pergunto na lata.

— Pode se dizer que sim… Eu o conheci em algum trem dessa vida, ambos
somos nômades de vagão em vagão e de trem em trem — fala me pegando de
surpresa. — Eu ainda continuo vagando, mas ele pelo que vejo não mais.

— Quem é você? — pergunto assustada.

Pessoas do passado do Marco são pessoas pelo que entendi cruéis, tirando o
Dominique é claro que é bem gentil.

— Eu sou Brendon Ross e não quero lhe fazer mal, na verdade, nem ousaria é
um crime mais do que capital destruir um ser de luz como você — fala
calmamente. — E você…

— E ela o que? — pergunta Marco fazendo com que eu salte da cadeira e


Brendon sorria abertamente.

— E ela é um ser de luz que é boa demais para você — fala olhando para
Marco que está com os braços cruzados olhando calmamente para Brendon.

— Eu sei que ela é mais do que eu mereço, mas ainda assim é a mim que ela
escolheu. Então peço que, por favor, me faça a gentileza de ficar longe da
minha esposa.

— Se eu não fizer, vai fazer o que senhor Haylock? — pergunta ficando em


pé. — Aliás, esse é seu nome?

Vejo algo passar pelos olhos de Marco, mas logo depois vejo apenas o vazio
e o frio. Algo que me causa até medo. Não há raiva ou ódio, há apenas uma
frieza incomum para mim.

— Vai me acertar mais uma vez com seus punhos?


— Nein, es wäre Zeitverschwendung. Wenn Sie wissen, wer ich bin, sollten
Sie wissen, dass ich der Schlimmste von allen bin. Es braucht viel Mut, mich
von Angesicht zu Angesicht zu finden, drei Sekunden, um mir aus dem Weg
zu gehen. Wenn Sie mir etwas zu sagen haben, sagen Sie mir, ich glaube, es
ist besser, ein noch privateres Gespräch zu führen[7] — fala Marco, mas não
entendo nada.

— U hamma qilgan ishlarini bilib, sizni tark etadi[8]… — fala Brendon em


um idioma diferente ao do Marco.

— Ίσως, αλλά είναι ένας κίνδυνος που πρέπει να αναλάβω [9]— Marco fala,
Brendon sorri e vai embora.

Sinto que preciso aprender a falar esses idiomas diferentes para entender o
que falaram.

Assim que Brendon sai, suspiro aliviada e olho para Marco que me olha
atentamente. Ele caminha lentamente até a mesa, pega as minhas compras e
joga algumas notas em cima da mesa.

Marco não precisa dizer nada, sei que devo segui-lo para casa. Ele digita algo
rápido no seu telefone, seus passos estão rápidos, mas dá para acompanhar.

Estou nervosa, sinto que fiz merda.

Eu poderia ter pedido para Brendon sair ou até mesmo ter me levantando e
saído, mas agora é tarde demais para pensar nisso.

— Desculpa.

Ele para, olha para mim e suspira.

— Está tudo bem — diz calmo.

Confesso que essa calmaria está me dando nos nervos.

Quando estamos na garagem do shopping, ele abre a porta do seu Jaguar I-


Pace preto. Aprendi os nomes dos carros, pois acho bem chique.
Mal termino de afivelar o cinto de segurança e o carro já entra em
movimento. Marco sai da garagem em uma velocidade que quase me assusta,
mas quando chegamos na rua principal ele reduz. Olho para o retrovisor e
vejo que tem um carro nos seguindo.

— São os seguranças. Normalmente não ando com eles, mas quando se trata
de vocês não quero arriscar absolutamente nada.

— Vieram com você?

— Não, estão na sua sombra desde o segundo em que pisou no saguão do


prédio — fala me pegando de surpresa.

— Eu não percebi a presença deles — falo confusa.

— Eles são treinados exatamente para isso, para que você não os perceba e
não se sinta incomodada — fala olhando atentamente para estrada.

— Você conhece o Brendon?

— O Nome dele é Brendon? — pergunta enquanto ultrapassa um carro.

— Sim, Brendon Ross. Ele me disse seu nome hoje.

Ele não diz nada, apenas dirige até nossa casa.

O elevador nunca foi tão assustadoramente silencioso. Seus olhos não vieram
em nenhum momento de encontro aos meus no espelho. Ele parece estar tão
distante…

Ainda bem que James está na casa da Anny, ele está apaixonado pela Bruna,
mas a menina é cem por cento apaixonada pelo pai.

Quando entramos em casa, ele anda até o sofá e coloca as compras lá com
cuidado. Vai até o mini bar que há ali e pega algo para beber. Tudo isso em
silêncio. Ele normalmente não é falante, mas esse silêncio está agonizante.

— Marco está tudo bem? — pergunto tentando segurar o choro.


— Por que não estaria?

— Marco, por favor, me deixe explicar! — peço exasperada.

— Apenas me deixa sozinho Melanie, por favor — pede saindo.

O que eu fiz?

Não me dou muito tempo para raciocinar sobre o certo e o errado e corro
atrás dele, antes que ele abra a porta do seu escritório o abraço por trás
sentindo minha barriga entre nós, mas desejo que seja só ela e nada mais.

— Não houve nada lá, eu não o conheço acredite em mim! — falo


exasperada.

— Eu acredito Melanie, mas ainda assim estou chateado e com raiva. — fala
e sinto seu peito subindo e descendo. — Eu não gosto de ver outros homens
em volta de você e para ser sincero não sei lidar muito bem com isso, então
apenas me deixe sozinho.

— Não, eu não vou! — falo firme, descendo minha mão pelo seu peito em
direção aos países baixos. Chegando lá desabotoo sua calça para ter melhor
acesso ao seu pau.

— Melanie. — Seu tom é de aviso. — Não vamos por esse caminho, estou
com raiva.

— Nada melhor do que se aliviar na cama em cima de mim, de lado ou eu


por cima mostrando o quão bem sei montar… — falo e aperto seu pau que já
está duro.

Esse homem nunca me decepciona!

Antes que eu possa ter alguma reação, ele se vira me encostando na parede
com uma brutalidade excitante, cheira meu pescoço dando pequenas
mordidas e suas mãos passeiam pelo meu corpo com calma.

— Eu vou ser duro, mas não serei rápido. Quero lhe mostrar a quão puta você
pode ser para mim — sussurra no meu ouvido, enquanto enfia dois dedos
dentro de mim. — Hoje lhe mostrarei meus desejos mais obscuros… Está
pronta para isso, Melanie?

Oh, meu Deus!


Levo Melanie no colo até nosso quarto, não acendo as luzes quando
entramos, deito-a na cama e caminho até o closet. Vou até uma das gavetas e
pego duas gravatas pretas largas. Estou morrendo de raiva, mas não pretendo
machucar Melanie, lhe darei um pouco da minha escuridão só que de uma
forma gostosa.

Ela está de joelhos na cama…

Uma bela visão!

O quarto está meio escuro, mas não me impede de enxergá-la perfeitamente.


Sua cabeça está baixa em uma falsa pose submissa, Melanie pode ser tudo
menos submissa, ela é quente e gosta tanto de mandar quanto ser mandada e
por isso hoje lhe darei o oposto do que ela está acostumada. Farei Melanie
implorar por mais ao mesmo tempo em que desejará que eu pare…

Farei com que seu corpo entre em chamas.

Quero-a suada e molhada para mim…

Quero fazer com que ela saiba o quão sujo posso ser…

O quão perverso sou na cama.

Farei com que ela me conheça de uma forma que até hoje não conheceu…

Melanie possui uma beleza maravilhosa, seu cabelo negro emoldurando sua
pele creme é uma combinação perfeita que muitas vezes me enlouquece não
só no sentindo sexual, mas também em outros que sinceramente ainda não sei
nomear. Assim como a forma como ela vai dizendo palavras sem ao menos
saber o sentido ou de qual forma chegará ao ouvinte.

Ah, essa boca carnuda que adoro beijar, morder e amo mais ainda quando
está em volta do meu pau!

Se ela ao menos soubesse como me deixa…

Chego mais perto da cama e coloco ambas as gravatas em cima da cama,


começo lentamente a tirar meu blazer, camisa social, sapato, meias e calças,
as quais retiro junto com a boxer branca.

Meu pau está completamente ereto para ela, ele só vem ficando assim para
essa louca que muitas vezes tem ideais malucas como colocar calda quente
em cima do pobre coitado, é até irônico que esteja pensando assim.

Quem diria que um dia estaria diante de alguém que está aos poucos
derrubando todas as paredes que construí em volta de mim. Ela está me
desarmando sem ao menos perceber, ela faz com que eu a deseje e ao mesmo
tempo a queira longe, mas é batalha perdida. O certo seria mantê-la longe de
mim, mas sou errado demais para tentar ao menos fazer algo certo como isso.

— Dispa-se — digo e na mesma hora com uma velocidade fora do normal ela
fica nua. Adoro seu corpo de uma forma que ela não é capaz de imaginar e se
fosse se exaltaria mais. — Muito bom… — digo engatinhando até a
cabeceira da cama. Ajeito-me na cama ereto e coloco minhas mãos para trás.
— Pegue as gravatas que estão na beira da cama, me prenda na cabeceira da
cama e vende meus olhos — digo calmamente. — Deixarei você fazer o que
quiser comigo, Melanie, mas nada de colocar algo quente no meu pau.

— O que eu quiser? — pergunta com uma voz sapeca.

— O que quiser.

— Até te chicotear?
— O que quiser — repito.

— Achei que você iria me mostrar sua fantasia mais suja! — fala me
olhando.

Como ela não percebe?

— Apenas faça o que quiser comigo Melanie.

— Não posso — fala baixo.

— Por que não pode? — pergunto confuso.

— Eu quero você no comando, não eu — fala emburrada.

Sento-me na cama em busca de maior compreensão da situação.

— Você me quer no controle, entendo isso. Então Melanie, venha até aqui e
chupa meu pau.

Não precisei falar duas vezes…

Segundos depois senti seu hálito quente em cima do meu pau, ela lambe a
fenda antes de colocá-lo na boca aos poucos. Ela me olha nos olhos sem
nunca desviar, quanto mais ele vai entrando na sua boca mais excitado eu
fico, mas me mantenho parado. A parte que ela não consegue levar na boca,
massageia com as mãos. Quase fecho meus olhos com as maravilhas que ela
faz com essa boca gostosa demais.

Gemo de prazer, mas me recuso gozar na sua boca.

— Pare. Gozarei apenas na sua boceta.

— Mas eu quero cada gota — fala fazendo bico, enquanto segura meu pau.

— Sua boceta irá engolir cada gota. Monte em mim Mel, cavalgue no meu
pau…

Ela sobe em cima de mim e estende a palma da sua mão no meu peito,
enquanto com a outra segura meu pau para que ela possa se encaixar nela
com perfeição. Gememos juntos quando seu calor me aperta em cada maldito
e delicioso centímetro.

— Você está me devorando, Melanie — falo com a voz embargada de prazer.

— Eu quero cada maldita gota da sua porra como me prometeu — fala já


completamente sentada sobre ele. — Amo ter você dentro de mim, me sinto
tão completa… Você é meu Marco — fala subindo e descendo.

Oh, porra!

Isso é tão fodidamente gostoso.

— Apenas seu! — afirmo ganhando um lindo sorriso seguido por um gemido


que me deixou ainda mais duro.

Mexo minha pelve para cima para lhe ajudar, não iria me mover, mas é
impossível ficar parado. Seguro seu quadril a ajudando a descer e subir mais
rápido.

— Aperte seus seios e massageie seus clitóris — falo segurado sua bunda.

Ela me olha confusa, mas faz exatamente o que eu disse.

Seus seios devido à gravidez estão maiores e mais sensível o que aumenta sua
sensibilidade. Quero que ela se descubra e sinta coisas novas. São poucas as
mulheres que se tocam durante o ato sexual, o que para mim é um
desperdício de prazer.

Melanie massageia seu botão com delicadeza, mas logo vai o apertando com
mais precisão. Seus gemidos vão ficando mais altos e suas paredes mais
escorregadias, ela está ficando cada vez mais excitada. Começo a investir
mais rápido e duro segurando firme seu quadril.

— Você gosta assim, né? Sei que adora me sentir dentro de você… Já se
tornou minha puta, Melanie?

— Sim Marco, sua e só sua — fala fazendo movimentos rápidos no seu


clitóris.

Sua boca entreaberta, sua pele suada, seu cabelo bagunçado e seus seios
pulando conforme invisto contra ela…

É delicioso ver a forma como ela belisca o bico do seu seio em busca de mais
prazer.

Quando ela está preste a gozar, mudo nossas posições deixando-a de quatro
na cama.

— Marco…

— Agora lhe farei gozar bem gostoso — sussurro mordendo a pontinha da


sua orelha.

Entro dentro dela de uma só vez, dou um tapa na sua bunda gotosa e começo
a meter fundo dentro dela. Pego seu cabelo macio fazendo um rabo de cabalo
com minhas mãos, puxando-o para trás para que ela se encoste no meu peito.
Com a minha mão livre massageio seu clitóris.

— Toque seus seios — ordeno enquanto chupo seu pescoço.

Minhas investidas ficam ainda mais rápidas e duras, nosso suor se mistura,
nossa pele pegajosa cola uma na outra e busco seus lábios os beijando com
precisão e força.

Quando ela goza, seu grito fino me deixa ainda mais excitado. Não demora
muito e me derramo por completo dentro dela, fazendo com que ela engula
cada maldita gota da minha porra.

Quando nos recuperamos, me deito ao lado dela só que dessa vez irei ser
mais lento e mais cuidadoso, a manterei em meus braços e olharei a todo
instante em seus olhos.

Faremos amor…

Ela ainda não sabe, mas se tornou meus desejos mais obscuros e sinto que
sou incapaz de feri-la.
Mãe Santinha do céu!

Estou completamente dolorida, mas de uma forma tão gostosa. Marco me


deixou esgotada e nem sequer consegui buscar James na casa da Anny,
Marco que foi.

O homem parece uma máquina!

Eu mal havia tido um orgasmo e ele já veio me dando outro e mais outro…

A cama está toda molhada do meu “xixi”, quer dizer dos meus maravilhosos
orgasmos.

Sinto-me mais leve e feliz.

Com muita preguiça me levanto da cama e caminho até o banheiro para um


banho rápido e quentinho. Meu banho foi mais demorado do que o esperado,
mas como resistir a uma água morna caindo em minha pele?

Levo um susto aos ver os malditos chupões no meu pescoço, na hora foi
maravilhoso, mas agora estão péssimos. Terei que usar muita base para
esconder isso.

No closet, pego algo leve para vestir e desço a escada com cuidado para não
cair.

Deus me livre cair grávida.


Não quero nem pensar em perder meus bebês.

Encontro os pets me esperando no final da escada, Marco quando desceu


deve ter os trazido aqui para baixo. Eles me seguem até a cozinha, onde
começo a preparar um lanche.

Estou faminta!

Sexo cansa muitas vezes, mais do que uma academia.

O dia de hoje foi repleto de fortes emoções, ao mesmo tempo em que achei
que iria perder Marco, descobri que temos uma conexão mais forte do que eu
poderia sonhar. Eu o amo mais do que eu mesmo gostaria, mas sinto muitas
vezes que meu amor não é correspondido.

Ele é tão complicado, tão na sua que muitas vezes nem gritando serei capaz
de alcançar seus sentimentos. Sem falar que ainda não esqueci o que o
Brendon me disse na Alemanha sobre o Marco, ele parecia ser alguém que
conhece perfeitamente o passado que o ruivo tanto esconde de mim. Sei que
devo esperá-lo me contar, mas é frustrante não saber de absolutamente nada.
Estou no escuro mais do que nunca.

O interfone toca fazendo com que eu tome um susto e corro para atendê-lo.

— Sim?

— Senhora Haylock chegou algo para o senhor Haylock — fala o porteiro.

— Estou indo buscar — digo e coloco o interfone no gancho.

Corro para o elevador e quase infarto com a demora.

O porteiro sorri para mim ao me entregar uma caixa bonita na cor vermelha
com um pequeno laço branco em cima. Volto para casa doida para abrir, mas
não é algo meu.

De volta para a cobertura coloco o presente de Marco em cima da mesa da


sala de estar.
Que vontade louca de abrir e saber o que tem dentro.

Um tempo depois Marco chega com um James super agitado que corre para
meus braços.

— Mamãe saudade — fala quando me abraça.

— Mamãe também morreu de saudade — digo beijando seu rostinho


perfeito.

— Meus irmãozinhos também?

— Eles também sentiram sua falta, meu pequeno ruivinho.

Ele gargalha, me solta e sai correndo atrás dos cachorros.

Olho para Marco que me olha sério.

— Como você está?

— Doloridamente bem — respondo arrancando dele um sorriso de lado. —


Chegou um presente para você — digo apontando para a mesa.

Ele ergue uma sobrancelha e caminha até a caixa a abrindo com cautela. Seus
olhos se arregalam por um instante antes de respirar fundo.

— Algum problema? — pergunto me aproximando dele.

— Vamos fazer uma viagem — fala me estendendo o papel que havia dentro
da caixa.

Ando rapidinho até ele, pego o maldito papel e puta merda…

Fodida estou!
Olho bem para o papel e depois olho para Marco.
Ruivo filha de uma péssima puta!

Respiro fundo e leio mais uma vez o maldito bilhete.

“Caro senhor Haylock, gostaria de mais uma vez vir lhe convidar para nossa
festa anual, o ser mais sexy que conheço já deve saber o endereço.

PS: estou com saudade de ser devorada por você e ansiosa pela sua foda
sensacional!

Beijos C. B.”

Olho para Marco que está fazendo cara de paisagem…

Cara de paisagem para mim!

— Você vai viajar? Você vai nessa festa Marco Haylock?

— Claro que não, Melanie. Apenas brinquei com a situação.

— Desde quando você brinca, hein? — questiono puta da vida.

Só me faltava essa, uma festa cheia de vagabundas para ele ir!

— Acho bom você ficar bem pianinho em casa.


— Sim, senhora!

— De onde a conhece?

— Do passado Melanie, do passado quando era sozinho…

Agora ele é acompanhado!

Dias depois

Que raiva!

Eu juro que hoje vou matar alguém!

Por que Marco tem que ser tão lindo?

Será que elas não veem que ele é casado?

Porra!

Ele não é nem casado, porque eu ainda não aceitei me casar com ele. Porém
temos algo sério um com outro e isso é que importa. Literalmente é isso que
importa, mas vejo que preciso de uma maldita aliança de ouro bem grossa
para essas galinhas sem galo pararem de dar em cima do meu ruivo gostoso
de olhos azuis celestiais.

Que merda!

Faz uma hora que estamos no supermercado fazendo compras e faz


exatamente uma hora que estou à beira da loucura. Marco está chamando
demais a atenção das mulheres empurrando o carinho com James em cima
dando longas gargalhadas.
Filho traíra!

Mentira, meu filho não é traíra não!

Ele é uma criança extremamente doce e amigável.

Ele é lindo!

Meu bebê é perfeito!

Agora voltando as galinhas no cio, quero matar cada uma que ousa dar
sorrisos sensuais para meu não marido AINDA.

Agora quem quer a droga de uma aliança sou eu!

Vou me casar com um vestido branco estilo princesa da Disney, em um


castelo e não quero nem saber. Marco vai ter que arrumar um castelo para
que eu possa realizar meu sonho e terei minha despedida de solteira em
VEGAS em grande estilo. Se ele reclamar vou para o Rio de Janeiro, Terra da
Anny, entro em um baile funk e danço a noite toda o que eles chamam de
“proibidão”. Já estou extremamente proibida, dançando “proibidão” então,
serei vida louca!

Agora não sei se me caso antes ou depois dos bebês nascerem, estou em
dúvida…

Uma dúvida cruel!

Ainda tenho alguns meses pela frente e vejo que preciso do casamento para
ontem. Bem, Anny se casou grávida e pelo que vi foi um casamento
maravilhoso e ela estava linda. Quem sabe o vestido de princesa esconda um
pouco da minha barriguinha de grávida.

Acho que será uma ótima ideia!

Vou informa Marco que quero me casar em algumas semanas, isso mesmo,
mas primeiro temos que sair desse inferno de mercado lotado de galinhas
putas.
Ando a passos rápidos até ele e James que está agarrando seu braço. Marco
me olha e não diz nada, continua pegando os alimentos calmamente, já James
me olha e sorri, mas logo volta sua atenção para o cacho de uvas verdes que
está na sua mão. Depois de longas prateleiras e de dois carrinhos cheios
voltamos para casa. Não ouso pegar uma sacola para pôr no carro, o homem
da casa é ele e ainda estou gravidíssima

Sento-me no banco de carona aguardando Marco entrar para que possamos ir


para casa, onde o trabalho será dobrado para guardar tudo isso. Suspiro
frustrada. Às vezes é tão chato ser dona de casa, Mãe Santinha é tão
complicado, mas não quero reclamar de nada. Desde nova sonhei em ter um
marido, filhos e uma casa para chamar de lar. Hoje tenho tudo isso e não é
algo fácil, mas o que é fácil nessa vida?

Todos temos que lutar por algo e eu estou lutando por essa família imperfeita
que estou construindo, aliás, Marco e eu jamais seremos perfeitos e isso é o
que faz de nós humanos. Marco ainda não enxerga isso, mas sei que logo ele
irá enxergar as coisas de uma forma melhor.

Quando ele dá partida para sair do supermercado sorrio feliz da vida, ele me
olha, ergue uma sobrancelha ruiva perfeita e sorri balançando a cabeça. Ele
ainda não gosta de falar muito é algo dele ser mais na sua, já me habituei ao
seu silêncio e até mesmo o aprecio. Esse é um dos maiores charmes dele.
Marco não precisa falar muito para ser compreendido, mas há coisas que
gostaria que ele me contasse para que eu pudesse lhe ajudar. Como Dante
sempre diz, temos que ter calma e sinceramente não sou uma pessoa muito
calma, mas se quero o melhor para a construção da nossa família preciso ser
longânime[10].

— Quero falar com você sobre algo importante — falo quando ele faz uma
curva.

— Sobre? — pergunta concentrado na estrada.

Marco é tão elegante dirigindo um carro…

Sério, focado e minha nossa tão lindo com essa barba ruiva e esse cabelo
mais bem tratado do que o meu.
— Falarei em casa quando estivemos a sós.

— Tudo bem — fala sem nenhuma alteração na voz, se fosse eu já estaria


gritando.

Até hoje não sei quais são suas fantasias mais sujas, naquele dia ele só me
entregou o controle, no final acabou o pegando de volta e me dando
orgasmos múltiplos, os quais valeram super a pena. Até hoje não tocamos
mais no nome do Brendon, não é algo que eu ache que seja necessário, mas
esse homem me deixou curiosa para tentar desvendar quem é ele e o que ele
sabe sobre Marco. Sei que na hora certa Marco vai se sentar comigo e irá
conversar sobre tudo isso. Seria muita imprudência minha cobrá-lo agora, ele
está indo duas vezes na semana em uma psicóloga e aparentemente está
ocorrendo tudo bem. Quando fiquei doente passei por um no hospital e
sinceramente ele foi ótimo, estou até cogitando a ideia de também ir em um.
Vejo que tenho que lidar melhor com muitas coisas e sozinha tenho medo de
não conseguir, mas irei conversar antes com Marco e depois irei em busca de
um para mim.

— Dante nos convidou para um churrasco na casa dele domingo — fala


Marco.

— Anny me disse que será um churrasco brasileiro, pois é o mais gostoso.


Nunca comi comida brasileira.

— Você irá amar — fala entrando na garagem do nosso prédio. — O


churrasco literalmente é mais saboroso.

— Agora estou ansiosa para comer — falo acariciando minha barriga já bem
grandinha.

Marco apenas sorri e sai do carro.

— Leva o James que levo as compras — fala indo para o porta-malas.

Os seguranças andam rápido até Marco o ajudando a pegar todas as sacolas


de compras, pego meu ruivinho no colo e disparo para o elevador privado.
Outra vantagem de morar na cobertura é que se tem um elevador privado só
para você.

Assim que entro, Marco entra junto e os seguranças enormes também. O


ambiente obviamente ficou pequeno, mas não irei reclamar.

Uma hora depois está tudo no seu devido lugar nos armários e James está
sentado no tapete cercado pelos pets assistindo Baby Looney Tunes, ele dá
cada gargalhada alta que faz com que meu coração se aqueça. É tão bom vê-
lo assim feliz da vida, James antes pisava torto e graças as botinhas que a
pediatra passou, ele melhorou quase cem por cento. Por recomendação dela,
ele ainda usa às vezes, mas não o tempo todo.

Olho para Marco que está encostado no balcão da cozinha me encarando.

— Sua barriga cresceu bastante. O que quer comer?

— Pizza portuguesa, de quatro queijos e catupiry e frango — digo indo até


ele e o abraçando. Seus braços me rodeiam em um gesto acolhedor e beija o
topo da minha cabeça. — E quero beber guaraná Antártica.

— Tudo bem… Hoje teremos o dia do lixo.

— Também quero sorvete de limão com calda de morango.

— Com tanto que a calda seja no sorvete e não no meu pau — fala me
fazendo rir. — Não vejo graça Melanie.

— E se for calda fria de morango, pode?

— Aí com toda certeza pode — fala me fazendo rir.

Respiro fundo antes de tomar coragem para poder falar.


— Quero me casar daqui no máximo quatro semanas — digo fazendo com
que seu corpo entre em estado de alerta.

— Você tem certeza disso?

— Claro que tenho!

— Melanie, ouça bem o que irei te dizer — diz segurando meu rosto em suas
mãos, fazendo com que encare seus olhos. — Não sou um homem bom,
tenho mais escuridão do que você possa imaginar… Em minhas mãos há
sangue, nas minhas costas há marcas que provavelmente só de você pensar ou
imaginar não dormirá por noites.

— Não tente me assustar Marco, não vê que o amo…

Ele me corta.

— Assustar não, mas sim mostrar as opções que tem. Eu quero esse
casamento, mas Melanie você precisa saber quem sou de verdade.

Coloco minhas mãos em seu peito sentindo seus batimentos cardíacos.

— Estou com você… Não importa o que houve no seu passado, eu te amo.

— Você demonstra isso em cada loucura que faz, a cada instante do dia em
que fica ao meu lado ou quando me beija. Quando me toca você é uma das
maiores razões, mas sou tão fodido Melanie. Oh minha maluquinha, se você
soubesse o quanto sou quebrado você iria querer fugir de mim para o mais
longe possível, mas como um bom caçador eu lhe acharia até nas profundezas
do inferno — fala dando um sorriso triste. — Você é minha Melanie e o
casamento no civil e na igreja, ou onde você queira só será para afirmar o que
eu e você já sabemos.

— Eu vou juntar cada caco e te ajudar a se reconstruir — falo sorrindo


ignorando as lágrimas estúpidas que insistem em cair.

— Você é linda — fala me dando um selinho rápido.

— Seus olhos são tão azuis quanto o céu — digo tirando dele um sorriso e
uma negação logo em seguida.

A noite foi leve e recheada de pizza, tanto que comi até passar mal, eu
literalmente passei mal.

Que raiva!

Quando já estava deitada com a cabeça encostada no peito de Marco após


uma maravilhosa sessão de sexo lento e gostoso, me peguei pensando no
quão difícil deve ser não ter pai nem mãe. Eu ao menos vivi o máximo de
tempo que Deus permitiu ao lado da minha mãe, mas Marco…

— Foi ruim crescer em um orfanato?

— Não sei dizer, não crescei em um.

— Você não é órfão?

— Nasci de um ventre passageiro, Melanie — fala me deixando ainda mais


confusa.

— Você nasceu onde?

— Sou um nômade ou melhor eu era — diz fazendo com que me levante e se


sente na cama. — Melanie?

— Eu não sei de onde você é, não sei ao menos o motivo pelo qual você
sempre tem pesadelos a noite — falo tentando alinhar meus pensamentos.

— Sou um estrangeiro aqui nessa Terra, assim como fui na Alemanha. Não
sou alemão como você costuma pensar. Pelo que em recordo nasci na
Inglaterra em uma cidade bem pequena e escondida e desde que me lembro
sempre tive que lutar para sobreviver — diz calmamente. — Meus pesadelos
são sempre sobre minha iniciação no “Ciclo”.

— Qual foi sua iniciação?

— Estuprar ou ser estuprado… — fala amargamente.


Oh, meu Deus!
A expressão de Melanie denuncia o quanto ela está apavorada. Eu
gostaria de lhe dizer que nada disso é verdade, mas seria uma amarga mentira
continuar escondendo isso dela. A todo instante foi isso que tentei ao máximo
evitar um olhar de pena ou um olhar triste que me dói na alma. Às vezes sinto
que Melanie possui uma inocência fora do comum para pessoas como nós,
pessoas que possuem um ferrado histórico de vida. As lágrimas que escorrem
dos seus lindos olhos são como facadas no meu peito.

Porra!

Não acho que lhe contei as coisas das melhores formas.

— Melanie, está tudo bem não precisa chorar…

— Você era tão novo… Como podem ter lhe obrigado a fazer isso com
alguém? — pergunta tentando evitar o soluço.

— Eu jamais faria qualquer inocente sentir essa dor, Melanie.

— OH, MEU DEUS… OH, MEU DEUS… MARCO VOCÊ… OH, MEU
DEUS! — grita entre lágrimas e soluços. — Você… Você… Meu Deus,
como a vida pode ser tão cruel?

Puxo-a para os meus braços, a apertando forte contra meu peito. Não sei o
que dizer para amenizar sua dor e seu choro faz com que sinta vontade de
chorar como nunca antes na minha vida senti. Seus soluços rasgam minha
alma e eu não sei o que fiz para merecer alguém que me ama tanto assim,
mas sinto que não sou digno. Ela se agarra a mim como se precisasse ter
certeza de que estou bem.

Se ela ao menos soubesse o quanto me dói…

O quanto me fere vê-la assim, ainda mais por minha causa.

— Quando foi a primeira vez? — pergunta soluçando.

— Não importa meu bem, já passou…

— Importa e quero saber.

— Quando tinha cinco anos foi que entendi o que acontecia realmente…

— Como podem, como ousam ser tão cruéis? Você era apenas uma criança…
— fala passando as mãos no meu rosto. — Deus!

Apenas a puxo mais uma vez para meus braços tentando amparar sua dor que
ativa as que pensei nunca sentir antes. Sempre achei que elas doessem apenas
em mim, mas vejo hoje o quanto estava errado. A dor da Melanie é como um
punhal cravado em meu peito, e não sei mais o que fazer para diminuir a dor
que ela está sentindo. A dor dela desencadeia as minhas que estavam
escondidas bem lá no fundo, eu as escondi e as evitei, pois precisava
sobreviver. Eu tinha que sobreviver a tudo que passei e não poderia me dar ao
luxo de sentir e chorar. Eu nunca pude chorar, em Terra de lobos ou você se
torna um ou é devorado e eu me recusei a ser comido, então me tornei um
predador e predadores não podem ser fracos.

Eu lutei e lutei, mas minha maior luta sempre foi contra as minhas malditas
memórias. Cada vez que sangrei, que engoli todas as minhas merdas, que
senti inveja de alguém por ter algo que eu jamais poderia ter, que desejei a
morte por cada maldito segundo em que ignorei a escuridão que invadia
minha alma, cada maldito dia em que passei frio, cada maldito inverno que
sobrevivi só me mostrava que a morte não me queria. Tudo veio na cabeça
como um flash back de um filme amargamente ruim, então quando menos
percebo também estou chorando. Choro com ela em uma intensidade bem
menor, mas choro. Ela desencadeou cada maldita dor que guardei. Eu nunca
pensei que alguém choraria por mim…

Melanie é única!

Ela é a minha luz!

Não sou uma pessoa benevolente e muito menos condescendente com as


dores dos outros. Na verdade, mal tenho atos complacentes, mas essa noite ao
sentir as lágrimas da Melanie molharem meu peito percebo que tenho muito
que aprender. A forma como ela clama por Deus é a mesma forma que clamei
pela morte, mas hoje sou grato por não ter sido atendido. Às vezes é preciso
cair para que depois possa recomeçar. Eu nunca fui uma boa pessoa e muito
menos desejei tanto ser. Sou o que sou, segui alguns caminhos ruins e depois
segui alguns caminhos bons e estou tentando me manter no caminho certo.

Eu já matei, quase já fui morto diversas vezes, mas nenhuma dessas vezes me
doeram tanto quanto os soluços de Melanie.

Ela não deveria chorar por mim…

Ela não deveria me amar…

Eu não deveria permitir que ela sentisse toda essa dor por mim!

Sou um bastardo filha da puta, incapaz de mandá-la para longe. Só me resta


ficar ao lado dela assim como ela está ao meu.

Alguns dias depois desse acontecimento, Melanie não tocou no assunto e


nem eu, apenas decidimos que o casamento seria em poucas semanas. Ela
está agindo como se tudo estivesse normal, mas sinto que não está, basta
olhar em seus olhos para ver isso. Sei que ela precisa de um tempo para se
recuperar de tudo que descobriu.
Por ela ser uma pessoa solidária e bondosa acaba se compadecendo demais
com as dores dos outros.

Melanie é minha luz!

Olho através das grandes janelas de vidro a paisagem lá fora, Boston é uma
linda cidade.

— O que houve? — pergunta Dante.

— Melanie descobriu algo que aconteceu comigo no passado. Ela sentiu a


minha dor e chorou com isso.

— Como se sente em relação a isso?

Quando digo que Dante Boltoni nasceu para ser psicólogo ninguém acredita.

— Mal, me senti como se estivesse sendo quebrado em vários pedaços —


falo me virando para ele e seus olhos escuros estão atentos a minha expressão
facial. — Doeu aqui — falo batendo no meu peito. — Eu nunca chorei
quando criança pelo que me faziam, eu nunca implorei complacência de
ninguém, você sabe que apenas sigo em frente. Eu nunca precisei olhar para
trás e os demônios que em mim habitam já são uma lembrança diária de
quem fui e das coisas que fiz — digo mostrando o quão fragilizado estou. Eu
nunca fiquei assim e ele sabe bem disso. — Dói muito porra, esse caralho de
passado está doendo mais do que deveria. Eu sinto que a qualquer momento
vou jogar tudo para o alto e correr em busca de uma benéfica ancora de paz
— falo passando as mãos no meu cabelo. — Eu não sei o que fazer… Estou
perdido… Não sei se a consolo toda vez que ela olha para mim e seus olhos
ficam tristes… Eu só me sinto… — As palavras me faltam.

— Perdido — fala Dante completando o que jamais admitiria em voz alta. —


Está tudo bem se ver sem direção… Você se encontra em um fugaz momento
de inquietação. — Ele sorri calmamente. — É uma lastima se sentir assim,
mas você guardou a sete chaves tudo que poderia te fazer mais fraco a seu
ponto de vista… Você evita sentir porque tem medo de se ferir, mas Marco
somos todos soldados e não há soldado nessa Terra que voltou invicto. A
vida é como o mar, às vezes está calmo e às vezes está agitado te dando
grandes rasteiras. Temos que aguentar, você se compadeceu com a dor da
Melanie, mas ainda não olhou para a sua própria. Você sabe que quando fizer
isso irá desmoronar e é isso que teme… Você está com medo da queda.

Filha da puta bastardo, Dante não deveria saber falar!

— Eu não posso cair, Dante — falo bagunçando ainda mais meu cabelo. —
Se eu cair, com quase toda certeza não irei me levantar. Sei que o declínio
será demais para mim.

— Não tem como ter certeza, mas você consegue sobreviver em pedaços? —
pergunta ignorando o olhar mortal que lhe dou. — É preciso se quebrar para
se reconstruir, se permita realmente sentir. Desencadeie de vez esses malditos
sentimentos.

— Não posso — digo me escorando na minha mesa. Olho para ele e balanço
a cabeça. — Eu não consigo.

— Meu amigo, se permita ir até a arrebentação, deixe que as ondas te guiem,


o rio nunca para… Ele é contínuo como a vida… Olhe para dentro de você.

— Já olhei e só enxerguei escuridão — falo socando a mesa.

— Então não olhou direito — fala fazendo com que eu lhe dê um olhar
confuso. — Eu vejo cada maldita lágrima silenciosa que escorre do seu rosto,
eu vejo bondade em você, vejo carinho, vejo compaixão nos seus olhos
quando olha para alguém injustiçado e vejo sua alegria a cada vez que olha
para James e Melanie. Seus olhos transbordam amor sem ao menos perceber
isso. A forma como você defendeu Anny naquele tribunal foi causa ganha,
você diz que se formou em direito por que buscava rendição, mas não são os
tribunais ou a forma como defende um inocente que lhe dará a rendição que
tanto busca — fala chegando mais perto de mim. — Olhe para as pessoas a
sua volta Marco, olha para a família que estamos construindo. Porra, você
tocou piano no meu casamento! Meu amigo, você é como um irmão. Não me
olhe assim, tente se enxergar como eu lhe enxergo ou como cada pessoa que
você defendeu lhe vê. Todos cometemos erros, uns maiores e outros menores,
mas não vivemos se ficarmos mastigando o erro. É preciso engolir e esperar a
digestão. A vida é uma estrada de duas vias, cabe a nós escolher qual
caminho vamos seguir. Você já pegou o errado e agora está no certo, mas
Marco se permita ser o garotinho que ainda habita dentro de você. Esse
garotinho precisar sair para que você possa seguir em frente…

Eu quero fugir, eu preciso fugir!


Chego em casa destruído após minha conversa com Dante, onde só ouvi
dolorosas verdades. Eu poderia evitar vir para casa, mas seria estranho e
desleal com minha família não voltar…

Eu preciso deles e eles de mim.

Meu Deus, quem diria que um dia estaria tão vulnerável assim!

Sinto como se houvesse vários cortes na minha pele, mas não há nada,
absolutamente nada e sinceramente seria menos doloroso do que a dor que
sinto nesse momento. O corte de uma katana[11] doeria menos do que a
realidade que habita em mim.

Paro na porta e suspiro antes de entrar.

Quando cruzo a porta vejo a cena que aquece meu coração, Melanie está com
a barriga exposta, enquanto James faz carinho e dá altas gargalhadas. Os pets
que um dia irei me livrar estão sentados em volta dos dois, olhando a situação
e abanando o rabo para lá e para cá.

Porra!

Eu nunca na minha vida pensei que um chegaria em casa, não, antes deles
estarem na minha vida eu nunca sequer tive uma casa…

Um lar para voltar.


Hoje o fodido aqui tem mais do que o garotinho, que tentou a todo custo
matar dentro de si, poderia sonhar.

Olhando para James vejo o quanto ele se parece com esse garotinho, só que a
diferença é que meu filho James, jamais irá chorar de fome ou suplicar pela
morte, ele terá o melhor desse mundo e não porque sou rico, mas sim por que
ele terá todo o amor desse mundo.

Ele é a parte que mais aquece meu coração.

Ele é a primeira e verdadeira luz da minha maldita e cansada vida.

Quando eu estava pensando em desistir, ele surgiu e de pacote veio a mãe


maluca e agora mais dois bebês. Como diria um falecido amigo, " A vida é
uma coisa louca, hoje você está sozinho, mas lá para frente você terá o
suficiente para aquecer seu coração e se manterem ao seu lado." Ele estava
certo e hoje eu tenho mais do que poderia imaginar. Hoje vejo que cada
maldito caminho errado que tomei e que me levaram até aqui…

Até eles.

Porém isso não significa que não terei que cair.

— PAPAI, BEBÊ MEXE! — grita James para mim.

Olho para ele e sorrio indo na direção deles.

Melanie me olha de forma estranha, ouso dizer que até estranha demais para
mim. É como se ela soubesse que há algo de errado comigo, mas duvido
muito que irá questionar isso agora.

Agacho-me diante deles, coloco minha mão na barriga redonda de Melanie e


porra sinto meus filhos mexerem.

— Dói? — pergunto encarando seus olhos negros.

— Não exatamente, eu gosto deles mexendo, assim tenho certeza de que eles
estão bem — fala colocando sua mão sobre a minha. — Mas uma hora irá
doer, eu sei que vai… James foi a prova viva disso.
— O que tem eu? — pergunta minha mini cópia.

— Você achava que a mamãe era uma bola de futebol e ficava chutando a
todo instante — fala apertando seu nariz cheio de sardas. — Você não parava
um segundo seu pequeno atacante.

Ele apenas riu e voltou sua atenção para o desenho animado que passava na
TV.

— Está tudo bem? — Melanie pergunta com cautela, eu poderia dizer que
está tudo péssimo, mas isso a faria chorar mais e me corta a alma vê-la
chorando por minha causa.

— Está sim — digo beijando sua boca apetitosa.

Um beijo rápido foi o suficiente para que eu imagine as posições em que


poderei fodê-la mais tarde.

— Já viu que biquíni vai usar domingo? — pergunto acariciando sua barriga
e beijando seu pescoço.

Porra é melhor me controlar, meu filho com menos de dois anos está aqui!

— Sim, escolhi um hoje quando sai com James. Passei em uma lojinha e
comprei um biquíni básico — fala beijando minha boca.

— Melanie, o James — sussurro ganhando dela uma carranca.

— Eu sei, só queria mais uns beijos, nada de mais — fala aumentando ainda
mais o bico.

Oh, que vontade de morder e chupar com força!

— Já basta você não me deixar usar a calda de morango quente, ainda


reclama que te beijo!

Puta que me pariu!

Preciso do caralho do manual de instrução sobre gravidez, ou pressinto que


vou enlouquecer antes dos 37 anos. Acho que o Dante disse que tem um livro
ótimo que ajuda muito, irei buscar esses mandamentos hoje mesmo. Melanie
já não bate bem por natureza, imagina agora grávida de dois. Estou vendo a
hora em que terei que tomar chá de camomila para não perder a pouca
paciência que tenho.

— Que tal jantarmos fora hoje, hein? — pergunto mudando de assunto.

— Estou cansada e até mesmo já fiz uma torta de frango com arroz branco
para o jantar — fala passando a mão pelo meu peito. — Quero aproveitar
melhor a noite em casa se é que me entende — fala dando um sorriso
tentador.

— Entendo perfeitamente — respondo calmamente. — Agora irei tomar um


banho e descer para te ajudar no que falta — falo dando um beijo em seus
lábios e me levanto para subir a escada.

O saco de pulgas peludo me segue, mas para quando Melanie o chama de


volta. Esse ser pequeno e peludo adora me seguir e roer minhas coisas.

Porra coisinha pequena mais endemoniada do caralho!

Diante do espelho do banheiro encaro meu reflexo com precisão, é algo que
não venho fazendo há muito tempo. Não gosto do que enxergo com meus
próprios olhos, mas hoje mais de trinta anos depois consigo vê-lo. Consigo
enxergar o quão escuro estou e me sinto muito fodido por estar assim, mas
não é algo que eu possa realmente tirar de mim. Há certas coisas dentro de
nós que já faz parte da nossa essência.

Olhos azuis, cabelo ruivo e sardas, essa é minha aparência por fora. É isso
que veem cada vez que me olham, mas quando eu me vejo consigo enxergar
as feridas, os cortes e a máscara…

A máscara que há de se quebrar logo.

Aparentemente eu possuo uma boa aparência, que é admirada por muitas


mulheres, mas não é algo que realmente importe para mim. No jogo da
sedução eu nunca fiz questão de seduzir e no jogo do prazer sempre fui
vencedor na estratégia da dor e o melhor de todos na arte de esconder a
verdade.

Na verdade, quem sou?

Essa é a verdadeira questão do assunto?

Quem é você Marco Haylock?

Se por acaso fechar os olhos me verei como realmente sou?

Será que meus filhos se espelharão em mim?

Que tipo de reflexo irei refletir para eles?

Terão orgulho de mim?

Irão me amar mesmo sabendo que há sangue em minhas mãos?

Sobreviverei a rejeição deles?

Oh, porra!

Essas dúvidas estão me matando…

Estão me sufocando de uma forma nada peculiar.

— Melanie está tudo bem… — digo tentando reduzir a quantidade de


lágrimas e soluços que saem da sua boca.

— Está nada bem, está tudo péssimo — fala entre soluços. — Eu achei que ia
ficar bom, segui ao pé da letra a receita, mas ficou ruim.

— Minha maluquinha ficou bom.


— Ficou nada e não sou maluca… Você me acha maluca… É por isso que
não quer que eu ponha calda de chocolate no seu pau? — pergunta me
encarando ainda chorando.

— Não era morango?

— A porra da calda é minha e eu ponho onde quiser e o sabor que eu quiser


— fala enxugando as lágrimas fungando. — Você acha que sou doida, é isso?
— Coloca a mão na cintura e bate os pés no chão em uma típica reação de
quem quer arrumar confusão.

— Melanie olha para mim, por favor — peço tentando ser o mais calmo
possível. — Você precisa ficar calma por causa dos bebês.

— Pronto, agora sofro de ataques de nervo… Eu pareço nervosa? — diz com


as narinas abertas em sinal de raiva, seu rosto está vermelho e para piorar está
fazendo uma carranca que até acharia fofo em outras circunstâncias.

— Apenas se mantenha calma, a torta está boa para mim e veja bem o James
comeu tudo e ainda repetiu — falo tentando não perder a cabeça com minha
ainda não esposa e nem noiva grávida.

— Se eu digo que está ruim é porque está, eu não gostei e pronto. Ficou
salgada e na próxima faço melhor, mas hoje saiu errado? — fala se virando
batendo o pé feito um mamute no chão. — E Marco, ainda não me esqueci da
porra daquele convite que recebeu.

— Nem eu futura senhora Haylock — falo me encostando no balcão da


cozinha.

Esse maldito convite está dando o que falar.

— Eu nem sabia que você curtia esses tipos de festas.

— Como você mesma disse eu curtia.

— Se quiser voltar a participar pode ir, nem ligo mesmo — fala jogando o
cabelo para trás. — Agora se você sair pela porta da frente para ir vagabundar
eu saio também para ir embora, não sou obrigada a ficar com quem quer ter
uma vida de solteiro.

Eu ultimamente não estou bem, há um turbilhão de emoções, os quais sempre


evitei sentir vagando sobre mim, me dando duros choques de realidade, estou
à beira de sair correndo para algum lugar, mas por eles estou aqui tentando ao
máximo ser forte.

Porém hoje, porra, a Melanie resolveu testar meu limite.

Passo a mão no meu cabelo úmido em busca de paciência.

— Melanie, eu vou falar algo, então me escuta bem — digo me aproximando


dela.

Ao chegar perto dele a viro para mim e com cuidado vou empurrando-a até a
parede e pressiono meu corpo contra o dela sentindo sua barriga me tocar.
Pego seu cabelo, embolo nas minhas mãos, puxo para trás dando um acesso
melhor a sua garganta e beijo com cuidado. Com minha outra mão levo por
debaixo do seu vestido, sentindo sua calcinha ficar úmida. Ela é sensível e
com a gravidez ficou mais ainda. Brinco com seus lábios e toco de leve sua
cavidade como se fosse introduzir um dedo. Sei que ela quer, mas agora não
terá.

— Você é minha e eu sou fielmente seu — falo baixo no seu ouvido


sentindo-a ficar arrepiada. — Meses atrás eu te disse que preservo a
fidelidade e no dia em que falei que era minha me tornei apenas seu, então
entenda que da mesma forma que te faço minha puta, me torno o que você
quiser. Meu pau só entra na sua boceta e em outros lugares seu. Somos um
casal mesmo sem um título específico nos nomeando. Você consegue
entender que entrou no meu sistema mais rápido do que um viciado se vicia
em heroína? — Introduzo um dedo dentro dela devagar. — Não vou a porra
de festa nenhuma, agora suba para o quarto, se despeça de James que eu o
colocarei na cama, enquanto você fica nua para mim.

— Marco… — Geme quando enfio o segundo dedo, mas só bombeio duas


vezes e os retiro, levando até minha boca para sentir seu gosto.
— Doce como sempre.

— Marco…

— Faça o que eu disse Baby — sussurro no seu ouvido.

Tiro-a do meu aperto, vendo-a correndo para se despedir do nosso filho.

Hoje ela terá a maldita calda de morango recheada com minha porra em sua
boca…
Não sei o que fazer, simplesmente não sei!
Giro igual barata tonta no nosso quarto sem saber ao certo se tiro a roupa, se
fico de joelhos no modo submissa ou se…

Não sei estou perdidinha.

Eu quero tantas coisas ao mesmo tempo que nem ao menos sei o que fazer ou
desejar. Meu sexo grita por prazer, minha perseguida necessita de atenção e
eu preciso com uma urgência absurda do pau do Marco na minha boca…

Estou tão safada, até mesmo me sinto uma devassa.

Mãe Santinha perdoa sua filha aqui.

Opto por ficar nua e com meu cabelo solto. Minha barriga está bem
grandinha e daqui a pouco só verei minha bichinha através do espelho.

Aí meu Deus, minha perseguidinha vai ficar parecendo um sapo inchado, mas
tudo bem é por um bom motivo e sei que bonita não vai estar.

— Será que Marco vai sentir tesão mesmo parecendo um sapo inchado?

— Tanto vou que até mesmo irei lamber, chupar, morder e meter bem
gostoso nela futura senhora Haylock.

Quase caio de cara no seu pau com sua fala.


O homem surgiu de onde?

— Não me olhe assim, baby — fala se aproximando. — James está dormindo


então poderemos começar a realizar seu desejo da Melanie.

Meu nome saiu de forma lenta em sua boca e posso até mesmo jurar que o vi
e lambendo os lábios ao pronunciar cada letra do meu nome. Ele é tão sexy,
tão gostoso e tão maravilhosamente meu.

— Melanie, está me ouvindo?

Olho para ele, sorrio e grito de felicidade.

Mãe Santinha está no alto do céu!

Nas mãos de Marco tem uma calda e pelo cheiro é de morango.

Meu Deus, já até sinto o gosto da calda de morango misturado com seu gosto
natural e no final seu gozo como creme!

E tudo isso para mim!

Sou tão sortuda!

— Estou sim!

— Bom.

Marco anda até a cama, coloca a calda em cima dela e começa a se despir
devagar. Esse homem é meu pecado capital e me torno tão puta quando estou
com ele. Ele faz com que meu corpo arda de desejo. Adoro o fato dele
sempre me olhar nos olhos quando estamos no nosso momento íntimo, eu
sempre gozo primeiro, mas hoje…

Ah, hoje será ele a gozar primeiro!

Quando ele fica nu quase infarto de tanta alegria.

Meu Deus do céu!


Adoro seu corpo, mas ver sua suculenta ereção por minha causa quase faz
com que eu goze.

— Já falei que amo seu pau?

— Você ama?

— Sim, eu o amo. Ele é grande, grosso e perfeito para minha boca. Na


verdade, maior perfeição nunca nem vi! — comento olhando sem piscar para
seu monumento. — Ele é tão lindo, essa cabeça avermelhada é perfeita,
parece uma maçã e eu adoro morder uma maçã!

— Então está esperando o que para vir até ele? — pergunta massageando seu
pau.

Meus olhos seguem seus movimentos que vão para baixo e para cima.

Caminho rápido até ele e beijo sua boca rapidamente antes de cair de joelhos
diante dele. Minha boca necessita de ter seu pau…

Ter seu gosto…

Ter a calda de morango tão deliciosa.

— Chupa Mel…

Atendo seu pedido sem ao menos questionar sua vontade. Começo lambendo
a fenda e aos poucos vou aprofundando. Beijo sua cabeça suculenta e o tomo
todo para mim. Chupo com força como se dependesse disso. Paro e lambo
todo seu pau olhando para os seus olhos, que estão vidrados no meu. Sua
expressão de prazer faz com que minha vagina se contraia em busca de
atenção. Quando volto a colocar todo seu comprimento na boca, ele fecha e
abre os olhos rapidamente.

— Adoro sua boca no meu pau, Melanie.

Eu não respondo, apenas continuo o meu trabalho, então do nada sinto algo
morno cair em meu rosto e logo em seguida o gosto do morango vem até
mim.
Minha nossa!

Quero até chorar de alegria por isso!

Ele joga uma boa quantidade no seu pau e eu vou chupando e chupando e seu
gemido rouco faz com que eu fique ainda mais úmida. Preciso do seu pau
dentro de mim, mas também preciso dele na minha boca com essa calda
deliciosa de morango.

— Só entrarei em você quando meu gozo estiver misturado com essa calda na
sua boca. Você vai engolir Melanie?

Balanço a cabeça e continuo meu adorável trabalho.

Marco em momento nenhum forçou seu pênis contra minha boca, ele me
deixou no controle. Deixou-me chupá-lo sem sua interferência.

Quando seus gemidos ficam mais alto sei que está perto de gozar e então
sinto o maravilhoso gosto agridoce de morango misturado ao seu gozo.

Uma combinação perfeita!

Limpo o canto da minha boca passando a língua.

— Delicioso!

Marco me puxa e me beija com uma ferocidade que quase me deixa


totalmente sem ar.

Amo seus lábios nos meus!

Ele aperta minha bunda com força e em um só instante estou com minhas
pernas em volta do seu quadril, meu peito nu contra o seu, puxando seu
cabelo enlouquecida.

Quando menos espero ele está me deitando na cama macia, se afasta e


quando penso que terei seu pau dentro da minha boceta, ele me surpreende
com sua língua quente, me fazendo arfar e erguer minhas costas da cama.
— Oh!

Marco lambe e beija meus lábios, brinca com a língua em cima do meu
clitóris e introduz dois dedos dentro da minha vagina fazendo com que grite
de prazer. Sinto-me ficando ainda mais úmida e mais necessitada dele, então
gozo.

— Agora sim posso entrar em você… — Dá um sorriso safado de lado que


desperta em mim desejos ocultos e grito quando ele me penetra.

Cada estocada, cada vez que ele me beija, a forma como ele beija meu
pescoço, suas mãos passando pelo meu corpo, a forma como ele fala coisas
safadas no meu ouvido, só mostra que…

Ele se encaixa perfeitamente em mim!

Eu não dormi a noite passada…

Não foi por causa de um pesadelo e sim por causa de uma mulher, a qual
ainda não possui meu sobrenome, mas já é minha.

Com toda certeza do mundo Melanie, é minha!

Ao contrário da dorminhoca que está deitada na cama com James, eu não


consigo mais dormir. Levanto-me e vou preparar o café da manhã. Olho mais
uma vez para os dois e sorrio, James acorda cedo, por isso o trouxe para o
nosso quarto.
Esse menino é tão sapeca, tão filho da Melanie na personalidade, mas tão
meu filho na aparência!

Desço a escada sabendo que terei que preparar um café da manhã bem
saudável, Melanie está grávida de dois, mas não come devidamente coisas
saudáveis. Tenho que manter uma dieta balanceada para ela. O que é bem
difícil já que a mulher só quer comer doces, biscoitos, bolos e macarrão
instantâneo. Nada o que ela quer comer pode se considerar bom para sua
saúde, essa está sendo minha maior luta diária com ela.

Uma hora depois está tudo devidamente pronto.

Ouço James me chamando no alto da escada, ele não desce por causa do
cercado que fizemos, senão o menino já teria rolado a escada.

Quando ele me vê começa a bater palminha e dar gritinhos.

Que menino mais lindo!

Meu filho é adorável!

— Vamos tomar café ruivinho?

— Fome papai.

— Então vamos comer pequenino.

— Não sou “piquinino” papai, sou grande.

— Você é enorme!

Fico olhando meu pequeno comer e um alívio toma conta do meu coração.
Eu nessa idade era sozinho, solitário e não tinha absolutamente nada para
comer. Eu não era amado, mas graças a Deus James é!

Ele é um pedaço do céu que veio até mim.

Eu o amo tanto que se pudesse o protegeria do mundo, mas sei que não será
possível, ele terá que entrar nessa selva e lutar. Ajudárei-lo no que for
preciso, mas certas questões da vida serão apenas ele e ele e só caberá a mim
estar ao seu lado.

Sorrio ao perceber que terei que ensinar o máximo a ele, inclusive os


caminhos certos, apesar de ter pegado curvas erradas, mas espero que ele
pegue as certas.

— Você vai ser um bom menino, né J.R? — pergunto e ele somente sorri.

Estou há uma hora tentando achar uma aliança decente para dar a Melanie,
mas a tarefa está se tornando impossível e apenas estou perdido. A joalheria
do shopping é bem grande e tem diversas alianças, mas nenhuma parece ser
boa o suficiente.

— Achou alguma? — Dante pergunta.

Para minha alegria não demonstrada, ele concordou em vir comigo escolher
as alianças. Ele por já ser casado e bem romântico é a pessoa ideal para isso
sem falar que é meu irmão mesmo não tendo meu sangue.

— Achei que seria fácil, mas nenhuma me agrada. Nem ao menos sei o que
fazer quando as comprar. A mulher simplesmente está decidindo tudo.

— Anny fez praticamente o mesmo comigo, mulher sendo mulher meu


amigo, apenas aceite que dói menos. É mais prático mandar fazer uma com
seu gosto.
— Porra, agora que me diz isso seu infeliz do inferno.

— Infeliz não, felizardo você quer dizer — diz saindo comigo da loja, mas
um tumulto chama nossa atenção.

— O que está havendo?

— Policiais e pessoas curiosas, não é algo bom — Dante fala seguindo até o
centro de tudo. — Puta que pariu!

— Caralho! — Passo as mãos no cabelo. — Dante?

— Vamos aguardá-lo ir para a delegacia — fala Dante sério.

Agora sim FODEU GERAL!

Justiça clama em meu sangue!

Não vamos deixar isso passar batido, Pedro não merece ser tratado assim,
ninguém merece[12].
Falar português é difícil demais!
Anny e Valentina estão me ensinando a falar português há um tempo, mas
agora que estou estudando a gramática me sinto analfabeta. A língua
brasileira é algo louco, confuso e extremante difícil. Você escreve de um jeito
e fala de outro, uma língua de louco, mas tão gostosa e tão linda.

Tão única!

Estou morta de vontade de conhecer o Brasil, principalmente o Rio de


Janeiro, a Terra Natal da Anny e do Dante. Anny me disse que o Rio é
perigoso, mas não tira a beleza que há nele. Ela falou que é uma cidade
maravilhosa com um povo louco, mas carinhoso e que recebem as pessoas de
braços abertos. Eu só me vejo de biquíni fio dental na praia, desfilando,
exibindo minha barriguinha saliente e meu peito grande por causa do leite.

Eu vou ficar tão sexy!

Olho para Val e para Anny que estão dançando músicas brasileiras. Levanto-
me e vou dançar com elas. Ainda estou aprendendo e sei perfeitamente que
estou desconjuntada, mas nem ligo danço como louca.

As crianças estão vendo um filme na sala de cinema da casa de Valentina,


minha sorte é que James é super calmo, carinhoso e ama filmes.

Quando a música acaba sorrimos iguais doidas uma para outra.


— Meninas o Pedro, está bem? — pergunto quando consigo respirar
normalmente.

— Pelo que Dante disse, está puto mais bem — fala Anny. — Os meninos
estão com ele essa manhã para conversar.

— Se fosse eu enfiaria um cabo de vassoura no cu daquele filho da puta! —


fala Val puta da vida.

Até agora estou chocada com o que houve com o Pedro. Anny e Val também
estão, mas sabemos que não há muito que fazer, pois agora é com a lei.

Sei que Dante e Marco não deixaram isso passar em branco.

— Meninas fugindo do assunto Pedro, vamos conversar sobre nossa possível


fuga dos boy’s — Anny fala e já fico empolgada. — Temos que fazer tudo
bem certinho para que possamos nos libertar.

— Vamos sair e curtir a noite longe dos rapazes, só nós meninas! — fala Val.

— Vegas é o meu sonho todinho de puta — falo até já imaginando a loucuras


que farei em Vegas. — Meninas meu sonho é viver uma noite em Vegas e sei
que não posso beber, mas quero curtir essa vida louca…

“Crazy girls night!” [13]

Vai ser a nossa noite em Vegas!

— Vai ser em Vegas então! — fala Anny batendo as mãos. — Vamos


enlouquecer baby.

Começamos a planejar a nossa noite perfeita que vai ser maravilhosa!

Algo inédito!

Mãe Santinha que está no céu, sua filha vai enlouquecer ou enlouquecer
Vegas.

Amém!
Olho para as meninas tentando compreender o que eu fiz para ser digna de
tudo isso, pois elas me tratam como irmã. Acho que agora sei como é ter
irmãs para discutir assuntos como casamento.

— Mel, qual é o seu sonho de casamento, por favor, nos conte até nos
mínimos detalhes — pede Anny.

— Eu sempre quis me casar na igreja e depois ter um festão daqueles. Ter um


vestido lindo e rodado estilo princesa, mas meu sonho real mesmo é me casar
em uma igreja como já disse e ter a festa em um campo aberto onde eu possa
sentir o vento balançando meu cabelo e meu vestido — falo com os olhos
fechados imaginando o momento. — Porém, como bem sabem Marco não é
religioso e não acho que seria do feitio dele isso.

— Melanie não é “isso”… É o seu casamento meu amor… É o seu sonho


então realize — Val fala. — Você tem um noivo sexy, gostoso e milionário,
use isso a seu favor Melzinha. Vamos caçar uma igreja para você agorinha
mesmo — fala pegando um notebook. — Quer que seja aqui em Boston
mesmo?

— Claro! Amo essa cidade, Boston é minha casa. A igreja Trinity Church
Massachusetts é um sonho. Eu com toda certeza do mundo amaria me casar
lá.

— Então será essa, vou ver se consigo agendar um casamento para daqui três
semanas, Anny liga no buffet, ainda temos que achar alguém para fazer um
vestido de noiva em poucas semanas com ajustes para uma mulher grávida.
— Val fala rapidamente. — Precisamos de um padre ou sei lá o que para
fazer a cerimônia e um lugar aberto com campo para a festa.

— Acho que essa parte vai ser bem complicada Val. Não há sítios perto da
igreja, mas podemos fazer lá em casa. Há uma linda área verde na parte
detrás que podemos usar e fazer as decorações — fala Anny.

— Anny isso é perfeito! — falo quase chorando.

— Sim, é maravilhoso! — concorda Val. — Agora só basta informar tudo


isso ao Marco e gastar seu belo dinheiro.
Marco não é exatamente fã de igreja, mas talvez ele vá.

Meu Deus, agora é real!

Mãe Santinha acho que realmente irei me casar com o homem que amo, com
o homem que diz não ter um coração, com o homem que vive nas trevas, mas
ao mesmo tempo habita na luz só que não percebeu isso ainda.

— MELANIE? — Anny grita.

— Oi?

— Avise Marco ainda hoje, está bem?

— Pode deixar de hoje não passa, ele saberá que terei seu sobrenome e que
jamais se livrará de mim.

— Acredite em mim quando digo que ele já sabe disso Melzinha — fala Val
e caímos na gargalhada.

Olho James dormindo em seu quarto e saio fechando a porta para não o
acordar. Marco me avisou que hoje chegará mais tarde e que não é para
esperá-lo acordada, mas desde o segundo em que ouvi sua voz senti que
havia algo de errado. Até mesmo cheguei a achar que era algo com o Pedro,
mas não era. Questiono-me sobre o que está acontecendo realmente com
Marco, depois das suas confissões sobre seu passado não tocamos mais no
assunto. Na verdade, eu não consigo mais tocar no assunto, pois é doloroso
demais.

Eu choro toda vez que esse assunto martela na minha cabeça, por isso sempre
expulso essas lembranças da nossa dolorosa conversa para longe, mas dias
como esse em que estou sozinha me pego lembrando e consequentemente
acabo chorando.
Às vezes questiono Deus sobre o motivo dele permitir que alguém passe por
tudo isso, mas então me lembro que não nos é dado um fardo que não
possamos suportar. Marco está suportando seus fardos de um modo que
talvez para todos seja errado, mas me pergunto qual é o jeito certo de seguir
algum caminho.

Sem saber com quem conversar sobre isso e já cansada de chorar ligo para
Dante.

— Melanie? — Ele atende no segundo toque.

— Oi Dante, ainda está em reunião? — pergunto, mas na verdade quero


perguntar se Marco está com você?

— Sim, Marco e Pedro seguiram para a próxima reunião sem mim.

— Você está muito ocupado?

— Você quer conversar, Melanie?

— Sim, mas se tiver muito ocupado tudo bem.

— Chego em poucos minutos aí — fala e desliga.

Tenho quase certeza de que Dante Boltoni é um anjo, o homem é sempre


compreensível até mesmo mais do que uma psicóloga.

O S.O.S. de todos é o Dante, mas me pergunto quem é o S.O.S. dele.

Minutos depois vejo Dante Boltoni diante de mim com toda sua glória e
beleza, Mãe Santinha do céu, me perdoe, mas esse homem é um pecado de
tão lindo que é. Se eu não gostasse de um certo ruivo e se esse ser diante de
mim fosse solteiro eu me jogaria e sentaria bem gostoso nele, me perdoe Mãe
Santinha por ser tão impura assim.

Amém!

— Melanie?
— Oi Dante você veio — digo indo até ele o abraçando.

— Claro que vim — fala me apertando com delicadeza e esse ato faz com
que eu caia mais uma vez em lágrimas. — Chore o que precisar não tenho
pressa — diz com sua voz grave e rouca.

Sigo seu conselho e choro ainda mais, choro sem me controlar porque sinto
que preciso disso, preciso poder chorar sem pesar e sem medo. Chorei muito
na noite em que Marco me contou um pouco do seu passado que agora
assombra meus sonhos os transformando em pesadelo, mas tentei me
controlar quando senti suas lágrimas. Ele me consolava, mas era ele que eu
precisava de consolo. Esse simples ato dele colocar minha dor acima da sua,
só me mostrou o quanto ele, Marco Haylock, é gentil e apenas ele não
percebe sua gentileza.

Afasto-me de Dante e sorrio para ele entre lágrimas.

— Acho que vou beber um copo d`água — falo com a voz embargada.

Ele me segue até a cozinha sem dizer nada. Bebo três copos d’água e me
sinto mais calma para poder falar alguma coisa.

— Você sabe sobre o passado do Marco?

— Sei.

— Sabe tudo?

— Sei mais do que possa imaginar, Melanie — fala com a voz calma. —
Pergunte-me o que quer saber e se eu puder lhe responderei.

— Você sabe que ele foi estuprado quando criança? — pergunto já quase
chorando de novo.

— Sim eu sei… E assim como você demorei um tempo para assimilar tudo
isso — diz olhando em meus olhos. — Há certas coisas que por mais que
queiramos entender, compreender ou até mesmo achar uma solução, não há
muito o que fazer sobre o ocorrido. O passado é um préstimo[14] e nos
ensina muitas coisas, mas também é como um peso nas nossas costas e cabe a
nós saber como usar isso a favor. A vida é recheada de fugazes momentos de
alegria e tristeza, às vezes um momento é pior que os outros e às vezes
queremos pegar a dor de quem amamos para nós, curar suas feridas e fazer
com que eles esqueçam tudo de ruim que viveram, mas nem sempre
podemos. O passado de Marco é algo doloroso para ele e para todos que o
amam, mas não há muito que possamos fazer sobre isso. Melanie, você quer
curar a dor de Marco, mas certas dores precisam ser sentidas e ele está
começando a senti-las agora, apenas seja forte por ele, não agora, mas no
momento certo você vai compreender o que digo. — Ele abre um breve
sorriso. — Não acho que tenha ajudado muito, não é?

— Deixou-me um pouco mais confusa, mas acho que essa é sua forma de
dizer que as coisas vão se ajeitar aos poucos, creio eu — falo sorrindo um
pouco. — Tenho medo de não suportar tudo isso Dante, sei que apenas
descobri um pouco do seu passado, mas esse pouco foi o suficiente para que
eu caísse de dor. Não sei se irei suportar saber mais sobre o seu passado.
Ninguém me disse que doeria tanto, mas dói tanto amá-lo.

— Desde quando o amor não dói? Sabe Melanie, Anny e eu nos conhecemos
desde criança e eu sempre fui apaixonado por ela. Desde criança eu queria
protegê-la do mundo, mas fui tolo demais e não percebi suas feridas. Eu a
amava e esse amor me cegou para certas questões, eu também era novo e
sabia pouco da vida. — Ele faz uma pausa. — Anny e eu ficamos dez anos
separados, não por escolha, mas sim devido a maldade do ser humano. Eu me
tornei um grande empresário nesses anos que ficamos longe, cresci,
amadureci, me tornei metade do homem que sou hoje, mas algo faltava na
minha vida. Constantemente era feliz, mas sempre faltava algo na minha vida
e por mais que eu soubesse o que era, estava ferido demais para pensar em
voltar com quem mais tinha me ferido. Então um dia ela me ligou pedindo
ajuda e eu voltei para ela — diz sorrindo. — Foi à melhor coisa que fiz então
me tornei esse homem que sou hoje.

— Você é uma das melhores pessoas que conheço Dante. Você é uma pessoa
com um coração enorme. Está sempre disposto a lutar por seus amigos e por
desconhecidos. Você é incrível!

Ele sorri, mas nada diz.


— Obrigada por vir até aqui me explicar certas coisas.

— Sempre que precisar é só me chamar — fala sorrindo. — Não pressione o


Marco, na hora certa ele irá conversar com você.

— Pode deixar, não sou um exemplo de paciência, mas posso ser.

— É como eu sempre digo para a cunhada da Anny, algumas pessoas nos


cortam, mas vale a pena cada corte. Certas batalhas não são boas para nós
mesmos.

— Seu cunhado é difícil? — pergunto curiosa.

— Eduardo é uma pessoa que foi brutalmente maltratado pela vida, ele
perdeu muita coisa e hoje tem medo de perder tudo de novo e por isso tende a
afastar quem o ama.

— Acho que convivo com alguém assim.

— Vocês duas possuem algo em comum, mas acho que sejam os namorados.

Olho para ele confusa e ele sorri.

— Dante, como Pedro está?

— Melhor do que imagina, mas deixa-o desvendar seus próprios sentimentos.

— Como assim?

— Ele está sentindo algumas coisas que ele só poderá descobrir as origens
sozinho.

— Acho que entendi.

— Melanie tenho que ir.

— Tudo bem, obrigada.

— Família é para isso — diz e vai embora me deixando sozinha com meus
próprios pensamentos.

Passam-se das duas da manhã e nada do Marco chegar…

Já liguei umas dez vezes e nada dele atender.

Meu coração está em um estado que acho que morrerei antes de completar
meus vinte e anos.

Quando resolvo ligar para o pobre do Dante a porta do quarto se abre e um


Marco todo bagunçado aparece. Na mesma hora, me levanto e corro até ele,
mas paro quando sinto cheiro feminino vindo dele. Ele me olha nos olhos e
suspira cansado.

— Melanie?

Perfume feminino…

Roupa bagunçada…

Meu Deus!

Não, não pode ser!

— Melanie?

Ele me traiu!
Chegar em casa às duas da manhã após um dia corrido e difícil de
trabalho é algo extremamente prazeroso. Eu só queria chegar, ver meu filho e
depois de um banho me deitar ao lado da minha não esposa ainda e dormir
um pouco.

O dia foi complicado com muitos problemas para poucas soluções. Às vezes
sinto que não importa o quanto faça, nada vai ser bom o suficiente para
atender as pessoas que dependem de mim e do meu profissionalismo. Fiquei
duas horas em uma audiência em que juiz filho da puta deu a pena menor do
que o desgraçado que espancava a esposa merecia. Obviamente que irei
recorrer, mas o problema não é esse. Depois do veredicto a mulher
amedrontada acabou fugindo, o que fez com que a caçássemos por todo
lugar. No final, a encontrei tentando tirar a própria vida, foi uma luta e tanto
para tirá-la do beiral da cobertura do prédio. Ela lutou e por mais que eu
pudesse tê-la rendido rapidamente não o fiz com medo de machucar a
pequena mulher que já se encontrava bastante ferida. Bem, a levei para casa
onde enfrentei outra briga com ela que agora está em um hospital sendo
medicada e com um dos pulsos cortados. Nesse tempo meu celular
descarregou e eu me sobrecarreguei. Como havia dito, foi um dia bem
corrido e para piorar encontro Melanie me olhando com esse olhar acusador.

— Melanie, por favor, não me venha achado que a trai.

— Há um cheiro de perfume feminino em você e em suas roupas — fala


quase chorando com um tom de voz acusatório que me fere.
— Minha cliente de hoje tentou se matar, então, tive que lutar para que ela
não se matasse duas vezes… E o pior de tudo é que isso foi no mesmo dia. O
cheiro do seu perfume está em mim, já minha roupa está assim, porque lutei
contra ela mais de uma vez e com essa situação não dá para ficar impecável.
Sem contar que meu celular descarregou. Vaguei de um lugar para o outro
preocupado em salvar alguém, por isso peço desculpa pelo meu atraso.

Ela me olha sem dizer nada e então se afasta de mim, indo até a cama e se
sentando na beirada. Seus olhos escuros me encaram com certo pesar, sinto
que ela está travando uma briga com si mesma. Sei que estou errado por não
ter entrando em contato antes, mas me pergunto como ela pode achar que eu
a trairia?

Que merda Haylock!

Não é como se eu demonstrasse todo o meu amor e carinho por ela. Eu não
vivo dizendo eu te amo com certa precisão, eu nem ao menos demonstro o
que sinto.

Merda de passado fodido, que só fode ainda mais nessa minha vida!

Respiro fundo antes fazer algo coerente.

— Melanie, irei tomar um banho e quando acabar podemos conversar melhor


se quiser.

— A cliente está bem?

— Sim, ela está bem, mas ficará melhor depois de algumas consultas com
psicólogo. Ela era constantemente agredida pelo ex-marido que agora está
preso, inclusive ela até mesmo chegou a perder um filho durante uma das
sessões de espancamento, foi nesse momento que tomou coragem e pediu
ajuda.

— Foi preciso perder um filho para acordar? — pergunta com a cara de


indignação.

— Algumas pessoas estão tão presas em algo que muitas vezes não consegue
se despedir daquilo que vive e não possui forças o suficiente para abandonar
aquilo que a faz mal. Ela vivia em um relacionamento abusivo, onde achava
certo o que ele fazia… Para ela tudo que acontecia era sua culpa.

— Não entendo pessoas assim.

— Um dia você irá entender — falo indo tomar um banho.

Ela não diz mais nada sobre o assunto, apenas fica parada.

Quando sinto a água quente batendo na minha pele, solto um suspiro, meu
corpo está tenso e um banho de banheira com a hidromassagem cairia bem,
mas estou cansado e com pressa para dormir.

Quando saio do banheiro Melanie já está deitada embaixo das cobertas, não
digo nada apenas vou até o closet, pego uma cueca para vestir antes de apagar
as luzes e me juntar a ela. Puxo seu corpo para o meu dando alguns beijos no
seu pescoço. Se eu não tivesse tão cansado me atolaria nela do jeito que
estamos aqui, só levantaria suas penas, me encaixaria e meteria lentamente
apreciando sua boceta apertada e molhada exclusivamente minha, mas estou
cansado e Melanie já está dormindo.

Olho para ele e me mantenho sério.

Esse homem ainda não me disse seu nome, mas me prometeu água, comida e
uma vida melhor, é muito mais do que alguém me ofereceu até agora.

— Qual o seu nome criança e qual a sua idade?

— Pode me chamar de ruivo.

— Então ruivo, deixe-me explicar como funciona.


— Não precisa, sei que é matar ou viver. Sei lutar e atirar… Posso ser o
melhor.

— E você será ruivo.

Não digo nada apenas o sigo para longe dali, longe de onde eu feri tantas
pessoas. Às vezes é preciso lutar para viver ou viver para lutar, ainda não sei
onde me encaixo…

Apenas sei que tenho que achar logo meu lugar.

Nas ruas as coisas estão ficando complicadas e eu perdi meu único amigo.
Ele morreu por mim, me dando sua carta de liberdade e sempre serei grato,
mas jamais me perdoarei pelo sacrifício que ele fez por mim.

Olho para o galpão e vejo várias pessoas da mesma faixa etária que eu, mas
não há nenhum ruivo o que é bem estranho. Pelo que entendi estou na
Alemanha e ficarei aqui por muito tempo. O clima aqui é frio eu me sinto
vivo no inverno e morto no verão. Talvez aqui eu seja o que sempre me
chamaram, talvez aqui eu seja um lixo como todos os outros.

— Ele já foi iniciado?

Um homem loiro pergunta.

— Ainda não… O chefe quer assisti-lo na gaiola antes — responde o homem


que está comigo.

Eles sempre querem que eu lute…

Eu não gosto de lutar, mas não há escolha.

Tenho que viver…

Ou então morrer!

Eles falam alemão, o que para mim não é ruim já que aprendi a falar três
idiomas ainda quando pequeno para minha sobrevivência. Algumas pessoas
aprendem quando são crianças, mas eu, nunca fui uma criança.
Horas depois estou em uma jaula com várias pessoas me encarando. É um
vale-tudo, lutar até a morte.

Talvez morrer seja a melhor opção.

Meu oponente tem o dobro do meu tamanho, mas já lutei com maiores.

Uma hora depois estou em pé e meu oponente no chão. Eu venci com duas
costelas quebradas, mas sobrevivi.

Saio da jaula e vou até o banheiro me limpar, preciso de um banho.

Passaram-se dois dias desde que cheguei aqui…

Durmo sozinho, nunca tive uma cama só minha ou colchão macio, mas
estranho tudo isso. Estou acostumado com o concreto e as noites frias, tudo
isso é muito, mas não sou tolo por não saber que isso custará caro.

Quando minhas costelas melhoraram me deram duas tabelas escritas e


disseram para que eu escolhesse a forma que seria a minha iniciação, olhei
as opções e percebi que já tinha feito minha escolha.

Os gritos ecoaram no meu ouvido, gritos desesperados, pedindo por


clemência, mas aqui não há homens clementes. Engoli meu grito e sufoquei
minha dor. Eu não vim por escolha própria e tenho certeza que muitos aqui
também não. Desde que nasci vivo para lutar, mas me pergunto como é lutar
para viver.

Só quero que a dor acabe…


— Marco?

Ouço alguém me chamar.

— Meu amor, acorde.

Melanie?

— Marco?

Abro meus olhos dando de cara com uma Melanie com os olhos aflitos por
minha causa. Sento-me na cama passando as mãos pelo meu rosto, percebo
que chorei e meu corpo está suado.

— Estou bem — digo com a minha voz baixa e fraca. — Não chore — peço
puxando-a para meu peito nu, beijando sua testa.

— Você dizia que doía e não sabia o que fazer — fala chorando.

— Está tudo bem, foi só um pesadelo.

— Um pesadelo ou uma lembrança?

Eu poderia mentir para ela ou até mesmo dizer algo que vá acalmar seu
coração, mas sabe quando você está cansado de mentir para alguém ou até
mesmo para si mesmo?

Então, hoje estou cansado.

— Uma lembrança meio distorcida. Estava aqui em um momento e em outro


estava distante, foram lembranças mistas, confusas, mas ainda sim dolorosas.
Não sei ao certo dizer.
Ela não diz nada, apenas me abraça com mais força.

Olho para o relógio e vejo que já são sete horas da manhã, dormi mais do que
imaginei. Não tenho o costume de acordar depois das seis da manhã, meu
máximo é seis e dois, nunca depois disso, mas aparentemente apaguei por
algumas horas. Essas lembranças distorcidas do meu passado estão me
assombrando de uma forma que sinceramente, estou perdendo a verdade que
habita dentro de mim, a verdade escondida por trás de toda essa camada de
escuridão. Talvez Dante esteja certo, canalizei dentro de mim toda essa dor e
a tranquei com vários cadeados, mas Melanie está sem perceber
desencadeando todos esses sentimentos que nunca pensei que possuísse.
Estou sendo atropelado por minhas próprias emoções e sentimento.

— Melanie, me perdoe por lhe fazer chorar… Por lhe ferir… Só me perdoe.

— Por favor, não me peça perdão se não sabe o que significa perdoar — fala
fazendo com que meu coração erre algumas batidas.

— Melanie?

— Você se culpa o tempo todo e constantemente está pedindo perdão por


seus erros, mas Marco só pare de pedir desculpas ou perdão. Se perdoe e
quando saber o significado do perdão venha me pedir.

O significado de perdoar?

Eu acho que sei…


— Então já vi a igreja que iremos nos casar, Anny acabou de me mandar uma
mensagem de que Dante já achou uma data e um padre.

Igreja?

— Meu vestido será de princesa e nossa festa será na casa de Anny e Dante,
no jardim deles — fala enquanto olha James brincar com os cachorros. —
Temos que achar um par para Pedro… Ver os doces, recheios de bolo… São
tantas coisas.

Um padre?

— Marco você está me ouvindo?

— Estou e pelo que entendi iremos nos casar em poucos dias.

— Em poucas semanas, mocinho.

— Acho que damos conta de tudo.

— Está tudo bem para você se for em uma igreja?

— Sim, não me importo.

Ela sorri e me abraça.

Desde de manhã, onde tivemos uma pequena conversa sobre perdão estamos
agindo como se nada estivesse acontecendo. Um pouco confuso para todos
nós, mas não sabemos exatamente o que dizer e eu particularmente não sei o
que dizer ou fazer.

Sinto-me perdido dentro de mim mesmo.

— Agende com o buffet para que possamos escolher a decoração da festa e


da igreja, temos que escolher os doces, o prato principal e o recheio do bolo.

— Sim, vou ver se agendo para amanhã. — Sua empolgação me deixa alegre.

Por mim, teria um casamento simples como o do Dante, mas se esse é o


sonho da Melanie também se torna o meu sonho. Eu nunca havia sonhado
com um casamento ou uma família, mas aparentemente o destino é sacana e
nos faz viver sonhos nunca sonhados…

Não que eu esteja reclamando.

Meu telefone toca e atendo sem olhar o número.

— Marco? — Uma voz familiar pergunta.

— Tia Li?

— Oi meu filho, faz um tempo que não ouço sua voz — fala com sua voz
doce.

Na verdade, sua voz é sempre doce.

— Acho que não nos falamos com certa frequência — falo olhando para
Melanie que me olha com seus olhos arregalados.

— Gostaria que viesse me visitar meu filho.

— Será uma honra lhe ver mais uma vez, mãe.

Melanie arregala os olhos surpresa pela minha fala, mas ninguém está mais
surpresos do que eu.

Pergunto-me se estou preparado para olhar nos olhos da pessoa que mais feri.

Eu matei seu filho e ainda assim ela me chama de filho.

Eu não entendo esses sentimentos…


Eu nunca tive uma mãe, mas tinha a tia Li que era como uma mãe para
mim. Fiquei pouco tempo ao seu lado, mas foi o suficiente para que eu
sentisse seu amor maternal. Agora anos depois, ouvir sua voz é como um
choque para mim. Na verdade, fico até mesmo desconfiado disso, mas tenho
que manter calma e cautela. Ouvi tudo que ela tinha a dizer e estou surpreso
por ela querer conversar pessoalmente. Melanie ouviu a conversa o tempo
todo em silêncio e acabei por alguma razão prometendo que iria até ela o
mais rápido possível, mas ao mesmo tempo em que quero ir temo não poder
ir. Uma situação bem complicada, mas para mim é também uma situação bem
compreensível e difícil.

Por minha causa, ela perdeu um filho legítimo…

Por minha causa, ela possui um buraco no peito…

Por causa do seu filho, hoje estou vivo.

Lembro-me dele todos os dias da minha vida…

A cada segundo, me recordo dele dizendo que não deveria combater a


maldade com maldade, mas se ele estivesse vivo com toda certeza estaria
decepcionado comigo. Espero que de onde ele estiver não sinta raiva ou
mágoa de mim, eu fiz meu melhor e por mais que tenha sido o pior…

Foi o melhor que consegui fazer.


Essa ligação trouxe à tona a lembrança de um moleque ruivo, que já se
achava adulto ao correr pela primeira vez pelas ruas cheias de poças de
lamas, mas se sentia livre e até mesmo feliz por estar longe da jaula que o
colocaram.

Porra!

Eu tento a todo instante fingir que essas lembranças não existem, mas está
difícil me manter bem distante delas. A cada segundo elas estão mais visíveis
em minha fodida mente.

— Marco?

Ultimamente ela vem chamando meu nome com cautela e até mesmo com
medo. No fundo talvez eu até gostasse que ela sentisse medo de mim, mas
agora não. Agora quero que ela chame meu nome com carinho ou com
tesão…

Principalmente com tesão.

— Tia Li foi o mais perto que tive de uma figura materna, seu filho me deu o
que tenho hoje… Não só no sentido material. Você irá entender melhor
quando lhe mostrar, mas para isso precisaremos fazer uma viagem para o
lugar onde nasci.

— Podemos viajar quando você quiser — fala me abraçando.

— Não vamos agora e nem amanhã… Primeiro vamos resolver o assunto do


nosso casamento senhorita Lewis, mas antes gostaria de conversar com você
sobre seus irmãos, tudo bem? — falo tirando toda atenção de mim.

Podem me chamar de covarde ou do que for, mas não me sinto preparado


para ter essa conversa agora. Por isso estou fugindo como um covarde que
foge da guerra.

— Meus irmãos? O que tem meus irmãos?

— Eu os encontrei… Joshua e Josué.


— Onde? Como?

— Eu contratei alguém para encontrá-los para você. Eles são seus irmãos e
achei que poderia gostar deles na sua vida.

— Onde eles estão?

— Melanie, você sabia que o Josué poderia ter ficado com você e seu irmão
quando sua mãe veio a falecer?

— Ele não tinha condição de cuidar de mim ou do Joshua.

Por alguma razão eu não sei como lhe dizer que seu irmão tinha sim, mas foi
covarde o suficiente para seguir com a própria vida e ligar um foda-se para
seus outros irmãos. Não cabe a mim contar isso para ela agora, é visível a
felicidade no seu rosto.

— Compreendo.

— Tem como eu ir até eles? Eu adoraria ir até eles.

— Podemos sim — falo com cautela.

— Ótimo, quero ir até eles amanhã — fala feliz.

— Melanie, um deles está em Nova York e o outro está em Chicago, ambos


estão em caminhos distintos e diferentes um do outro. — Eu gostaria de tê-
los no nosso casamento.

— Posso tentar contatá-los e pedir que venham até nós.

— Ou podemos pegar seu jatinho e ir até eles.

É claro que ela escolheria essa opção…

Uma opção que nunca foi cogitada, mas ela a enxergou no fim do túnel.

— Depois de encontrá-los, podemos ir até sua tia mãe e resolver seu passado.
— Sua voz emana uma alegria que corta meu coração.
O irmão da Melanie mais velho não é uma pessoa que eu vá gostar ou que eu
aprecie e seu outro irmão tomou caminhos difíceis na vida. Terei que se forte
por ela quando perceber que o que tanto fantasia sobre os seus irmãos não é
bem a realidade atual ou passada.

Toquei no assunto dos seus irmãos para tirar o foco de mim, mas acabei
dando um tiro no meu próprio pé. Esses irmãos dela farão com que ela sofra,
mas não quero criar várias teorias na minha cabeça sobre isso. Infelizmente
terei que pagar para ver, aliás, sinto que estou ficando louco igual à Melanie
que zarpa de um assunto para o outro em segundos.

A qualquer momento essa mulher vai me deixar louco e Deus me livre ficar
ainda mais louco do que estou.

— Você sabe que não sei nem ao menos o modelo da aliança e meus amigos
me casarei em poucas semanas.

— Compreendi tudo isso, mas o que não estou entendendo é o motivo de toda
essa conversa. Eu nunca me casei e muito menos entendo de aliança — fala
Pedro.

— Meu caro Pedro, esse assunto é de gente grande, então me faça o favor de
ficar quietinho aí — diz Carlos ganhando um soco no ombro. — Converse
com o joalheiro e com seu designer de joias e mande fazer a que achar
melhor.

— Eu já disse isso a ele, mas esses olhos azuis e cabelo ruivo não está
prestando atenção no que digo. — Continua Dante.

Não sei me casar…

Isso com certeza é um fato inevitável!


— Okay. Já entendi, mas antes quero que me ajudem a planejar uma surpresa
para a Melanie… Uma forma certa de pedi-la em casamento. Acho que ela
merece algo mais digno do que ofereci até agora — falo tentado ser o mais
pacífico possível.

— Que orgulho, olha só Dante uma das crianças cresceram — fala Carlos
com a mão no peito. — Agora só resta um.

— Podem me tirar dessa. Sou bem grandinho — fala Pedro.

— O crescimento é lento… Crianças, deixam o papai Dante falar algo muito


importantes para vocês, por isso ouçam bem… Não é valido lutar contra algo
que com toda certeza do mundo irão perder, há certas coisas que acreditem é
melhor se render de uma só vez, se permitir e aceitar as consequências… Não
olhe para o lado ou para trás foquem no que está diante de vocês… A vida é
curta demais para ficar buscando fora o que está bem diante de vocês. O amor
da nossa vida raramente bate na porta duas vezes e por isso nossa obrigação é
abrir a porta na primeira batida. Não liguem para as regras simplesmente as
quebrem… Não liguem para a idade, aliás, idade são números apenas
números… Não liguem para o que aconteceu antes de vocês chegarem ou o
quão doloroso o passado pode ser… Na vida são poucas as chances de
sermos felizes, por isso meu caros abracem com toda força o que está diante
de vocês, senão perderam para outro.

Dante é um bastardo filho da puta!

Ele olha para mim e para o Pedro sorrindo e continua.

— Vocês me perguntam como é ser casado com três filhos eu lhes digo é
maravilhoso. Eu me vi assim… Eu sempre sonhei em ter tudo que tenho hoje,
foi fácil? Não, foi tão difícil que teve horas que pensei diversas vezes que não
iria aguentar ou suportar o peso da tribulação, mas acreditem quando se luta
por alguém você tira força de onde nem sequer imaginaria ter. Apenas vivam
cada dia como se fosse o último, mas antes recomendo que tenham calma e
vão dando uma passo de cada vez.

Respiro fundo entendendo perfeitamente o que ele quer dizer. Comecei dando
passos muito lento, mas agora está na hora de correr…
Eu preciso correr senão deixarei com que meu passado fodido destrua tudo
que construí com Melanie. Preciso desenterrar meu passado e fazer um
funeral de despedida para fazer com que ele se torne cinzas, nada além de
cinzas que poderei jogar no ar ou no mar.

Eu preciso fazer isso e o quanto antes melhor…

Eu não posso mais viver para lutar…

Eu tenho que lutar para sobreviver por quem mais amo nessa minha vida
meus filhos e Melanie…

Não, eu tenho que lutar e viver por eles!

Meus irmãos estão vivos e irei encontrá-los!

Meu Deus, estou tão chocada com isso e ao mesmo tempo tão feliz!

Minha nossa Mãe Santinha do céu!

Está tendo tantas novidades na minha vida que estou até louca. Não acredito
até agora que Marco tem uma mãe ou quase uma…

Estou tão chocada e surpresa, que nem ao menos soube o que lhe dizer. Ouvi-
lo chamar alguém de mãe com tanta dificuldade só me fez pensar a quão
sortuda eu fui na vida. Eu não tive muito e perdi muita coisa, mas ao menos
eu não era sozinha. Eu tinha alguém…
Tinha minha mãe e meus irmãos por um tempo, é claro que depois fiquei
sozinha, mas tinha boas recordações para me fortalecer. Agora Marco, meu
Marco tinha e tem apenas dor para lembra do seu passado. Um passado que
nem ao menos conheço direito e o que sei que me dói profundamente na
alma.

Às vezes quando olho para James, imagino Marco na idade dele passando por
tudo isso de uma só vez. Por eles serem tão idênticos posso imaginar
perfeitamente Marco quando criança sofrendo.

Merda!

É melhor afastar esses pensamentos de mim.

— Mamãe, James pode ser igual ao papai quando crescer? — pergunta James
me tirando dos meus pensamentos.

— Você pode ser o que quiser filho, contanto que seja uma pessoa boa —
falo sorrindo para ele.

— Quero ser bom igual papai.

— Você será!

Se Marco ao menos visse a forma como nós o enxergamos, não diria o que
diz de si mesmo a todo instante.

Sorrio para James e caminho rumo a escada.

— Filho fica aqui que irei lá em cima e já volto. Só vou pegar aquele livro
para a gente ler — digo já subindo a escada.

Quando estou no terceiro degrau sinto uma forte dor no pé da barriga, paro e
dou um passo para trás, mas perco equilíbrio e caio.

— Mamãe?
Coloco minha cabeça para baixo e pela primeira vez questiono o fato de
nunca ter aprendido a fazer uma única prece a Deus. Não sou religioso e
muito menos sou uma pessoa que possui fé, mas agora acreditem estou tão
desesperado a ponto de rezar, orar e pedir a Deus que cuide da Melanie e dos
nossos filhos.

Mantenho meus olhos fechados, mas por alguma razão não consigo fazer
uma prece sequer e começo a rir de nervoso.

Sou tão fodido que nem ao menos sei pedir proteção a Deus pela minha
esposa e por meus filhos.

Meu coração está angustiado e amedrontado.

Desde que cheguei ao hospital não recebi nenhum comunicado de que as


coisas estão bem ou ruins, só sei que minha esposa veio para cá às pressas.
James está ao meu lado sentado, mexendo suas perninhas para cá e para lá.
Ele não chora e não diz uma única palavra. Está calmo e parece confiante de
que tudo vai ficar bem. Preciso dessa confiança, calma e fé que ele tem.

Por alguns instantes sinto que meus olhos se enchem d’água e abaixo ainda
mais minha cabeça.

Que merda, hein Haylock!

Chorando na frente do seu filho!


Nunca na minha vida me vi em uma situação como essa…

Então sinto braços pequenos me envolvendo.

— James está aqui papai, não chore, prometo que vou cuidar de você! — fala
de um jeito tão doce e inocente que por alguns segundos sinto que lágrimas
rolam pelo meu rosto. — James vai cuidar de todos! Sou forte papai!

— Filho! — É só o que consigo dizer a ele.

— Papai, ora comigo pela mamãe e pelos meus irmãos — fala James fazendo
com que olhe para ele, enquanto seco minhas lágrimas

— Filho, papai não sabe orar — respondo sem graça.

— Papai junta sua mão assim, fecha os olhos e eleve seus pensamentos a
Deus. Basta pedir com sinceridade e com seu coração entregue — diz
juntando as suas mãozinhas. — Fecha os olhos.

Faço o que ele pede.

— Papai do céu, peço que cuide da mamãe e dos meus irmãozinhos. Não
deixe que nada aconteça com eles. Isso é tudo que te peço e agradeço.
Amém!

Quando ele finaliza sua prece me mantenho quieto sabendo que estamos
sendo observados e até mesmo já imagino por quem, mas ainda não me sinto
preparado para levantar minha cabeça e encará-los.

Não estou preparado para lidar com meus amigos…

Estou bem de cabeça baixa.

— Mamãe diz que não precisa falar muito, ela diz que Deus já conhece
nossos corações — fala James.

Olho para meu filho quase incrédulo.

Esse menino tem dois anos e está me dando uma coça…


Meu filho de apenas dois anos está me dando uma surra de benevolência e eu
com meus 36 anos jamais pensei que teria que lidar com isso dessa forma.

Nunca é tarde para aprender.

A meu ver estou realmente aprendendo agora.

— Senhor Haylock? — Alguém me chama e na mesma hora levanto a


cabeça.

— Sim?

— Sou a doutora Smith, sou a obstetra que pegou o caso da sua esposa —
fala sorrindo.

— Como minha esposa está e meus filhos? — pergunto ficando em pé.

— Estão ótimos! — fala sorrindo abertamente. — Sua esposa teve uma queda
de pressão o que é normal na gravidez. Sofreu uma queda, mas nada grave há
apenas um roxo na sua bunda. O que devemos nos preocupar é com o fato de
ser uma gravidez de superfetação. Os fetos possuem idades diferentes o que
significa formações diferentes. O menino ainda está bem menor do que a
menina. Seus batimentos cardíacos estão mais devagar que o normal, mas
fora isso estão bem. Manterei sua esposa aqui para monitoramento até
amanhã. Assim que ela for para o quarto uma enfermeira irá vir lhe buscar —
diz e vai embora da mesma forma que veio sem dar muitas explicações.

Não gostei dessa médica!

— Mamãe e seus irmãozinhos estão bem — digo ao James enquanto o pego


no colo. — Daqui a pouco iremos até eles — digo beijando seu rosto.

— Tudo bem papai!

Sorrio para ele e me viro olhando para meus amigos que estão encostados na
parede.

— Isso já está virando uma reunião frequente. Sempre estamos nos reunindo
em hospitais… Até o cabeça de abóbora mirim está aqui. Dante, traz seus
machos e você Carlos traga os seus. Isso aqui está virando nosso ponto de
encontro fundamental — Pedro diz e recebe uma gargalhada do James.

— Meu cabelo não é de abóbora — fala meu filho rindo. — Sou ruivinho!

— Seu cabelo é de cor de abóbora sim e ainda tem esses olhos azuis. Sabia
que você é raro criança? — pergunta Pedro.

— Raro? — pergunta James.

— Sim, pessoas com o cabelo ruivo natural não é algo muito comum no
mundo.

— Papai somos raros! — exclama batendo as mãozinhas.

— Sim meu amor, nós somos — digo sorrindo levemente.

— Puxamos a vovó? — pergunta inocentemente.

Olho para ele sem saber o que dizer. Eu nem ao menos sei de quem puxei
meu cabelo ruivo ou meus olhos azuis. Eu, na verdade, nada sei e também
não tenho curiosidade em saber. Não me importa saber de quem puxei meus
traços, o que me importa é que não me tornei como aqueles que me deram
esses traços. Não sou muito melhor, mas sou melhor do que eles.

Disso eu tenho certeza.

— Seu pai e você são dessa linhagem única — fala Pedro na minha frente.

— Então Henry também vai ser ruivo? — pergunta James.

— Henry? — pergunto confuso.

— É papai, meu irmãozinho que está na barriga da mamãe… Henry — fala


sorrindo.

— É bem capaz que ele nasça ruivo, mas não é certo. Teremos que esperá-lo
nascer… E sua irmãzinha não quer que nasça ruiva?
— Papai só homens ruivos com olhos azuis… Menina não — responde com
um bico enorme.

Ao escutar isso todos caímos na gargalhada.

— Vamos ver quando eles nascerem — respondo beijando seu rosto.

— Papai, xixi.

Melanie e eu ensinamos a ele que durante o dia se ele quiser ir ao banheiro


basta pedir que o levamos. Bem, ele aprendeu direitinho e sempre que quer ir
avisa a alguém.

Meu filho é meu orgulho!

— Vem com o tio Carlos J.R., bora para o banheiro. — Carlos vem até mim e
pega James que vai de boa vontade.

— Marcão, pode chorar. É sério meu amigo, não há problemas nas lágrimas.
Nem sempre é preciso que a aguinha salgada saia dos seus olhos. Às vezes
choramos pela alma — fala Pedro.

Dante e eu olhamos para ele.

— Oh meu povo, eu não sou Dante não — diz fazendo uma expressão até
que engraçada.

— Nasça mais dez vezes que será eu — fala Dante. — Sei como é difícil ver
sua esposa e filhos assim, mas os bebês estão bem. Logo Melanie estará bem,
vamos ter fé.

Olho para ele e não digo nada.

Não sou um homem de fé, mas estou passando a ter um pouco mais de fé.
— Marco, quero chupar seu pau com sorvete de açaí em cima — fala
Melanie. — Sorvete de açaí não… Quero chantili e calda de milho. Mãe
Santinha do céu! Estou até com água na boca. Marco tira a roupa e vem aqui
para que eu possa chupar seu pau bem gostoso — fala frustrada. — Venha até
mim, pois não posso ir até você… Esses troços são um saco, não vejo o
motivo de terem que monitorar meus batimentos cardíacos.

Olho para ela e tento compreendê-la.

Pensei que ela estaria amuada com o que aconteceu, mas essa mulher está
ativa e doida para me enlouquecer. Estou nesse exato momento com a porra
do meu pau duro feito rocha, doido para entrar na boceta apertada da Melanie
e ela estar falando sobre querer chupar meu pau não ajuda em nada.

Essa mulher simplesmente não tem limites, ela não tem!

Nem ao menos respeita o hospital.

— Melanie estamos em um hospital.

— Dane-se o hospital! Eu quero o meu não namorado e nem noivo e muito


menos marido ainda dentro de mim, ou melhor, na minha boca. Eu preciso te
chupar como se chupa um picolé de uva — diz brava. — Você colocou dois
bebês dentro de mim, era para ser um, mas o seu esperma vencedor lutou,
nadou e nadou na minha vagina e pá. Tenho dois bebês dentro de mim por
sua causa — fala apontando o dedo na minha cara.

— Não fiz esses filhos sozinho — falo me defendendo.

— Não, você não fez, mas foi esse seu pênis gostoso que entrou dentro de
mim e fez esses bebês. E, aliás, ninguém mandou ter um pau tão gostoso.

— Melanie, por favor, você acabou de sofrer um acidente, precisa descansar


— digo com uma paciência que nem sabia que possuía.

— Marco meu querido, estou bem, plena e doida para trepar feito coelha no
cio. Eu preciso gozar e só você senhor Haylock pode fazer isso. Sejamos
compreensíveis… Preciso do seu PAU!

Puta merda!

Essa mulher é louca e isso não se nega de forma alguma.

Olho para a porta, caminho até a sua cama, paro na frente dela e seus olhos
brilham de excitação. Ela sabe que deixarei que ela chupe meu pau.

— Não está preocupada com o James?

— Ele está com Carlos e a Val. Está em ótimas mãos — diz já com as mãos
sobre o botão da minha calça.

— Deixe a cama reta e se deite de lado.

Na mesma hora ela pega o controle remoto da cama e a abaixa até que fique
reta como mandei. Olho para a porta, para o aparelho que monitora os
batimentos da Melanie, entre outras coisas.

— Presta atenção, seus batimentos não podem se alterar muito. Você terá que
se manter calma a tranquila. Fui claro senhorita Lewis? — pergunto passando
meu dedão pelo seu rosto até chegar aos seus lábios. — Já falei que amo essa
sua boquinha no meu pau? — pergunto e na mesma hora ela engole em seco.
— Adoro saber que seu corpo fica sensível com meu toque… Sei que sua
boceta está molhadinha para mim sem ao menos lhe tocar… Você é minha
ponte de luz… Odeio saber que outros homens já lhe tocaram — falo abrindo
sua boca. — Chupa meu dedo Melanie. — Na mesma hora ela faz como se
fosse a coisa mais deliciosa da sua vida. — Sabe como fiquei ao saber que
você e os bebês poderiam não estar bem? Sabia que quase enfartei por sua
causa? Você me pagará pelo susto de hoje Melanie, mas por agora pare de
chupar meu dedo para que comece a chupar meu pau.

Ela não diz nada, apenas fica com a boca aberta esperando meu pau.
Desço o zíper da minha calça e tiro meu pau duro igual pedra para fora. Olho
para Melanie e ela nem ao menos pisca, pois está concentrada no meu pênis.
Passo minha mão pelo meu comprimento e me masturbo sabendo que isso a
deixa ainda mais molhada para mim…

Apenas para mim.

Inclino minha pelve para frente, fazendo com que meu pênis bata na sua cara,
com a minha mão o guio até sua boca suculenta e quando seu calor me recebe
gemo baixo de prazer.

Adoro sua boca em volta do meu pau!

— Chupa com mais força.

Não me sentindo saciado começo a foder sua boca com leveza para não lhe
machucar e fecho meus olhos me permitindo sentir o prazer que é foder sua
boca.

Desligo-me de tudo e me concentro no prazer.

— Oh meu Deus! — Alguém exclama.

Puta que pariu!

Nem gozei ainda…


— Oh meu Deus! — exclama a enfermeira tapando os olhos e se
virando de costa para nós.

Meu pau ainda está duro na boca da minha futura esposa que olha para a
enfermeira com a boca que imagino ser aberta. Do lado de fora ouço risos e
mais risos, além de uma voz masculina.

Com cuidado saio da boca da Melanie puto por não ter gozado e por ter que
passar por uma situação de puro constrangimento como essa.

Estou com raiva de mim mesmo por não ter pensado em trancar a porra da
porta.

Levanto minha cueca e calças e suspiro pesadamente.

Estou com raiva, tesão e muita frustração!

Olho para a culpada dessa situação toda.

Tudo é culpa dela!

Antes dela aparecer na minha vida havia caos, dor, tristeza e fúria, mas não
havia loucura. Eu não sei lidar com essa loucura e muito menos sei lidar com
essa minha nova fase, onde não me concentro no que estou fazendo e onde
estou. Eu nem ao menos percebi que alguém estava se aproximando, em
outros tempos nada disso teria acontecido, estaria completamente atento a
tudo que acontecia a minha volta, mas desde o dia em que ela chegou, melhor
dizendo desde o dia em que trouxe James e ela para minha vida só me perdi
do real e cai de cara no irreal. Confesso que estou perdido com todas essas
mudanças, mas afirmo que amo essa mudança em minha vida e olha que eu
amo muita pouca coisa.

Olho para Melanie que está me olhando e fazendo beicinho. Algo que para
mim é algo lindo. Na verdade, ela é linda e perfeitamente minha…

Somente minha!

— Não faça essa cara e muito menos me olhe assim, eu disse que aqui era um
hospital.

Inacreditável!

Isso com toda certeza do mundo é algo que eu nunca pensei que viveria em
toda a minha vida e bem aqui estou sentado de cabeça baixa ouvindo a
médica falar.

— Entendo que são casados e Melanie está com sua libido bem aguçada, mas
peço que entendam que ela precisa de descanso e que estamos em um
hospital. Senhor Haylock peço a compreensão do senhor. Aqui não é lugar de
pouca vergonha — fala olhando para mim.

Era só o que me faltava!

A Diaba me atenta e eu que levo bronca.

— Se houve qualquer excesso de adrenalina na dona Melanie teremos que


retirar o senhor do quarto.

— Doutora com licença — fala Melanie e já sei que vai sair merda da sua
boca. A doutora se vira para ela e ela completa. — Estou grávida e cheia de
desejos… A senhora já ficou grávida? — pergunta, mas nem ao menos deixa
a médica responder. — Estou grávida de uma superfetação e tudo culpa desse
ruivo gostoso. Pode não acreditar, mas acredite quando digo que se quero o
pau do meu marido eu terei e foda-se esse hospital. Estou de saco cheio
disso! Estou bem e louca para transar. Sexo é vida! Sexo é tudo! E eu amo
transar com aquele homem ruivo ali de olhos celestiais. A senhora que vai me
impedir? Porque se for irei me retirar daqui. Não preciso disso, não preciso
ficar aqui. Estou bem e meus filhos também. Agora me deixem em paz que
quero dormir… Essa sua cara de mulher mal comida está me dando nos
nervos — diz quase gritando com a médica que olha espantada.

— Melanie! — digo sério.

— Não começa Marco.

— Peça desculpa a médica, ela apenas está fazendo o seu trabalho e você tem
que respeitar.

— Tenho que respeitar porra nenhuma! Aposto que vários enfermeiros ficam
dando rapidinhas por aí, assim como os médicos e eu não posso? — pergunta
com raiva.

— Você pode e deve respeitar as pessoas Melanie — falo calmamente, mas


sério. — Não se diz isso a uma mulher e muito menos para sua médica. Cadê
a empatia pelo outros?

— Você me perguntando sobre empatia quando nem ao menos sabe o que é


isso? — pergunta com raiva e sinto uma leve dor no meu peito.

— Melanie! — Aviso.

— Não me venha com Melanie — esbraveja.

— Peço desculpa a vocês pelo ocorrido e pelas duras palavras da senhora


Lewis — digo a médica e enfermeira, elas não dizem nada e saem.

— Você pede desculpas por mim? — pergunta rindo.


Respiro fundo e me sento na poltrona.

Minha excitação até já foi para o espaço.

Fecho meus olhos compreendendo que ela está grávida e com os hormônios a
flor da pele.

— Não vai me responder? — pergunta ainda com raiva.

— Não há o que dizer… Cada um entende o que bem quer e fala o que quer.
— Limito-me a dizer.

— Então é isso? Você diz nada sobre sua vida e o que me contou ainda me
faz chorar só de lembrar.

— Eu apenas não quero lhe ferir com o meu passado.

Eu não sei como e quando chegamos a esse assunto, mas sei que não é a hora
adequada para falar sobre ele. Ela quer conversar porque está com raiva e
acha que pode sair falando o que bem entende, só que não é bem assim.

— Acaba me ferindo por não contar, você nem ao menos me disse como se
sente por ter vivido tudo que viveu e ter passado tudo que passou — fala me
olhando. — Eu posso lhe ajudar.

— Eu não sei como me sinto ao certo. Eu apenas estou sentindo o impacto de


tudo agora e nem ainda chegou…. — Tento dizer, mas as palavras saem
confusas. — Estou tentando é um passo de cada vez — digo repetindo as
famosas palavras de Dante Boltoni.

— Então me deixa dar esses passos com você.

— Eu não quero que se machuque com minhas feridas — digo inclinado meu
corpo, apoiando meus cotovelos nas minhas coxas, segurando minha cabeça
com minhas mãos. — Já basta que eu sangre.

— Eu te amo. — Sua voz de súplica corrói meu coração. — Eu te amo tanto


que sou incapaz de permitir que você vá embora. Por te amar, permito que
suas feridas me machuquem. Quero compartilhar suas dores, assim como as
minhas com você. Somos um casal! Eu te amo!

A quantidade de vezes que ela diz, “eu te amo” faz com que eu me sinta a
pior pessoa do mundo. Eu mal consigo dizer essas palavras com frequência e
ela fala a cada instante, a cada hora a e cada minuto. Vejo que não são da
boca para fora e sim de coração.

— Vamos trabalhar nisso daqui para frente — falo com a voz baixa.

— Vamos ser um casal imperfeito que se ama — diz sorrindo levemente. —


Agora posso chupar seu pau?

Puta que pariu!

Louca!

Graças a Deus que sai do hospital e agora posso chupar o pau do meu
futuro marido em paz!

Eu não pedi desculpa a médica e nem vou…

Maior empata foda do mundo!

Médica chata!

O pior é que ainda olhou para o meu marido com desejo.

Eu sei que ele é um ruivo maravilhoso e perfeito, com olhos azuis e sardas na
cara, mas ficar olhando para ele de cima a baixo, como se quisesse devorar
uma carne.

É demais para mim!

Para piorar por causa dela, Marco eu “brigamos”, quer dizer, não foi bem
uma briga, mas sim uma conversa que nunca tivemos e o que mais me
machucou foi o olhar triste e perdido que há agora nos seus olhos azuis
celestiais.

Eu sei que tocar no assunto do seu passado é algo completamente difícil e


doloroso para ele, mas preciso saber mais para poder compreender quem ele é
hoje. Eu amo quem ele é e de forma alguma o mudaria, mas preciso conhecer
suas feridas. Preciso vê-las para poder cuidar. Marco acha que sou fraca, mas
aguento mais do que ele imagina e até mesmo sei mais do que ele pensa.
Apenas não me permito sofrer por certas questões.

Na saída do hospital vejo a tropa me esperando, enquanto Marco empurra a


cadeira de rodas. Anny e Dante, Valentina e Carlos e Pedro estão a nossa
espera. Os amigos dele que se tornaram meus fazendo de nós uma família.

— Melzinha do coração do ruivo que um dia foi delas e agora pertence


somente a você, como vai meus pequeninos que estão bem quentinhos em seu
ventre? — pergunta Pedro.

— Ele é só meu! — falo e caio na gargalhada. — Eles vão bem, chutando.

— Só para te lembrar, eles tem que nascer ruivos. O Pedrão aqui até profetiza
que eles irão nascer ruivos de olhos verdes… Azul demais dá muito trabalho
— fala e todos caem na gargalhada.

— Pedro você é solteiro, né?

— Esquece Melanie, esse soldado já foi abatido — responde Carlos.

— Como assim? — perguntamos juntas, Anny, Val e eu.

— Fui nada — responde Pedro com um sorriso vacilante.


— Ele foi, mas ainda quer lutar contra isso — diz Dante com sua voz que as
vezes me dá arrepios e não é de tesão. — Algumas vezes precisamos de um
choque de realidade para compreendemos o que estamos perdendo. As
diferenças sempre irá existir e números não definem nada.

Quando ele termina de falar fico mais confusa do que antes.

— A Jady é um amor — fala Marco.

— Quem é Jady, Marco Haylock? — pergunto.

— A menina que abateu esse soldado de um metro e oitenta e sete


centímetros — responde Carlos.

— Temos que conhecê-la — diz Val saltitando. — Mais uma para o clube de
Vegas!

— Vegas? — pergunta os homens juntos.

— Deixa eu falar uma coisa Dona Valentina, deixa a Jadyzinha inocente, pelo
amor de Deus! A menina é da luz — diz Pedro exasperado e todos caímos na
gargalhada.

— Relaxa Pedrão com a gente é o mesmo de estar com anjos — fala Anny
sorrindo docemente.

— Lúcifer era um anjo — Pedro diz.

— Por acaso está me chamando de demoníaca? — pergunta Val com raiva.

— Eu? Em qual momento disse algo assim? Minha querida Valentina precisa
ir ao médico — fala Pedro tranquilamente e eles entram em uma discussão
que me mata de rir.

— Tchau para vocês — fala Marco encerrando a briga e me despeço deles


sorrindo.

As meninas e eu combinamos de nos falar por telefone e tentar chegar até


Jady o mais rápido possível, ela é mais uma para o time.
— Mais tarde irá me falar sobre Vegas? — pergunta Marco enquanto dirige
para nossa casa, eu me finjo de egípcia e fico na minha.

— Melanie? — chama com a voz um pouco mais grave.

— Sim.

— Irei pegar um caminho mais longo. Quero que me chupe enquanto dirijo
— fala e na mesma hora sinto que estou começando a ficar úmida para ele.
— No porta-luvas há uma cobertura de limão — diz com certa sensualidade.

— Marco! — Gemo sem perceber.

— Você irá chupar meu pau até eu gozar na sua boca Melanie e dessa vez
nem um tornado me impede de lhe comer no final — diz fazendo uma curva.
— Quero que sinta o gosto da minha porra, misturado com a maldita calda de
limão… Faça-me gozar meu amor — pede.

Olho para o seu volume mais do que visível e minha boca se enche de água.
Eu preciso sentir seu pau na minha boca.

— Você está duro. — Comento.

— Desde ontem à noite — fala apertando sua ereção com certa força que me
deixa ainda mais molhada. — Depois que eu gozar nessa boquinha, irei parar
o carro e te devorar — diz com uma rouquidão na voz. — Agora comece!

E como a boa menina que sou o obedeço.


— Estou em um processo, onde tudo é muito novo para mim — digo a
minha psicóloga. — Sabe doutora eu nunca fui um cara aventureiro que gosta
de fazer loucuras, mas de um tempo para cá estou embarcando em cada
doideira que me sinto perdido no barco.

— Quando começou essas suas atitudes diferenciadas e principalmente como


se sente com elas?

— Às vezes me sinto bem e outras confuso e perdido, mas sempre me sinto


feliz.

— É uma pergunta ou uma afirmação?

— Afirmação. Desde que Melanie entrou na minha vida junto com nossos
filhos me sinto completo e realizado… Acho que realizado é a palavra certa
da história. Eu era uma cara na minha, não tinha tanto a perder e para ser
mais sincero não temia nada nem mesmo a morte — digo pensativo.

— Você tem amigos, não é mesmo? — pergunta a doutora me deixando


confuso com sua mudança de assunto.

— Amigos não, eles são meus irmãos… São minha família — falo com
convicção.

— Se eles são tudo isso para você, nunca temeu perdê-los? — pergunta e
agora sim mato a charada.
O tempo todo ela estava no assunto e eu fiquei à deriva.

— Ou você apenas os vê assim sem importância?

Psicólogos são do Capeta!

— Sim, desde o dia em que nos tornamos uma família sem perceber temo
perdê-los — confesso mais para mim do que para ela. — Eles se tornaram o
melhor de mim, mesmo sem perceber. Eu não tinha nada para dar a eles, mas
mesmo assim continuaram ao meu lado. Mesmo quando disse o que era e
tudo que passei e fiz, eles não me julgaram. Porra doutora, eles me abraçaram
e me ajudaram com cada ferida que havia. A senhora tem noção que eu não
tinha nada de valor, que não tinha valor nenhum, mas esses desgraçados
seguraram minha mão e me ajudaram a saber viver sem ter que só sobreviver.
Eu recebi tudo que eu mais odiava deles e até mesmo quando tentei jogá-los
para longe se mantiveram firmes ao meu lado. Todos os dias… Sabe até
mesmo já tive uma falsa ilusão de sentimentos com a esposa do Dante, mas
ao invés de me afastar ele me puxou para perto até que caí na real. O que
sentia era compaixão pela sua dor que era parecida com a minha — falo com
o peito apertado. Eu nunca compreendi esses sentimentos, mas agora os
entendo um pouco mais.

— O que você viu que tinha em comum com ela? — questiona a doutora me
olhando por cima dos seus óculos de grau pretos e quadrados.

— Sua escuridão, sua dor, seu passado fodido, as coisas que fizeram com
ela… Suas cicatrizes — falo baixo. — Ela me lembrou de mim mesmo, só
que ela estava frágil e destruída.

— Você não ficou frágil e destruído?

Ela está chegando perto demais…

Não sei se conseguirei manter em pé as barreiras que construí em volta dessas


lembranças. Eu tinha que me proteger da dor e escondê-las foi a melhor
forma de não sentir. Eu tinha que ficar em pé e cair não era uma opção…

Não podia nem sequer haver essa perigosa opção.


— Não, eu não fiquei… Eu não podia.

— Por que não podia?

— Se caísse não me levantaria de novo. — Minha voz soa baixa, mas firme e
até mesmo sombria. — Doutora Jenny, de onde eu venho era viver ou morre.
Eu optei por sobreviver… Sobrevivia para lutar e de forma alguma me
permiti cair. Eu sabia o quão terrível era a queda.

— Marco já ouviu falar da história dos três imortais? — pergunta a doutora.

— Não.

— Deixa eu lhe contar brevemente essa história — fala com sua voz suave.
— Os três imortais nasceram quase juntos, mas de mães diferentes. Cada um
cresceu com suas crenças e batalhas, mas após cada um assistir a morte lhes
abraçando perceberam que eram mais forte do que ela… Eles não morreram.
Um dia os três se alinharam um ao lado do outro e continuamente e por
séculos ficaram testando a morte, mas um dia, não um dia qualquer foi a
morte que os testou e disse, “Vocês estão vivos até agora, mas se enganam.
Todos tem sua hora, até mesmo vocês.”

— Eles morreram? — pergunto não entendendo a história.

— Não, eles ficaram vivos são imortais — fala sorrindo.

— Qual a lógica do conto então?

— Eles foram morrendo aos poucos só que por dentro. Eles viram tudo e
todos que amavam morrer implorando a eles ajuda e querendo também a
eternidade. Todos têm sua hora e eles tiveram a deles, mas não quiseram.
Então a morte fez com ele eles sentissem cada dor e cada lágrima de quem
eles mais amavam. O que essa história reflete é que querendo ou não
sentimos sim cada dor. Apenas nos enganamos dizendo que não dói. Você
com toda certeza ou até mesmo não deve sentir algo dentro de você que ainda
o fere. Os três imortais só conseguiram a morte quando compreenderam que
também eram mortais. — Sua voz suave chegou até mim com um impacto e
tanto.
— Se eu me permiti sentir com toda certeza cairei de cara ao chão — falo
com a voz falha — Eu não posso cair doutora, eu só não posso.

— Por que não pode?

— Minha família precisa de mim em pé.

— Sua família, precisa de você completo, não? — pergunta me desarmando.

Eu não sei o que lhe responder.

Eu não esperava por essa pergunta…

Estou perdido!

— Nossa consulta chegou ao final, mas vá com essa pergunta e na próxima


consulta espero receber uma resposta — fala a doutora.

— Até a próxima — digo e saio o mais rápido possível do seu consultório.

Olho para o relógio mais uma vez antes de olhar para o menino diante de
mim que me encara tentando me assustar. Eu quero socar a cara de Dante por
me passar esse caso sabendo que odeio lidar com meninos rebeldes que
acham que estão sempre na razão. Samuel West, 18 anos já foi preso duas
vezes por pichar murros. Não usa droga, não fuma e nem bebe, apenas sai
desenhando nos murros alheios. O rapaz só gosta de desenhar, mas desenha
no lugar errado.

— Samuel, sou Marco Haylock. Em que posso ajudar?

— Achei que você saberia como me ajudar — rebate. — Minha irmã diz que
vocês ajudam pessoas como nós.
— Pessoas como vocês?

— É, galera como nós que veio do subúrbio.

— Ajudamos quem quer ser ajudado e o que você faz aqui?

— Minha coroa chora porque acha que estou perdido e estou aqui porque
prometi que seria um filho melhor. Eu trabalho, ou melhor, trabalhava em
uma loja de conveniência, mas aí os cana me prenderam por fazer minha arte
e tentar deixar meu bairro um lugar mais alegre e bonito para quem vive lá.

Olho para ele compreendendo seus pensamentos.

Ele não é uma pessoa ruim, apenas quer deixar o lugar onde vive melhor.

— Sem autorização é crime. Se pedir uma autorização poderá pintar seu


bairro todo.

— Eu não sabia disso não — fala coçando a cabeça. — Se conseguir posso


até mesmo pintar e melhorar o parquinho das crianças. Sabe como é, eles não
tem essas coisas que vocês ricaços possuem nos seus parques.

— Poderá sim. Conseguirei para você a autorização e lhe fornecerei o


material. Consegue dar aula para crianças?

— Ensinar minha arte aos pivetes?

— Sim.

— Claro que consigo doutor — fala sorrindo.

— Então vou construir no seu bairro uma oficina de arte e você será o
professor. Apenas para de pichar murros alheios sem autorização, okay?

— Okay e muito obrigado.

— Não há de quê.

Acreditar em pessoas como ele, é fazer desse mundo um lugar um pouco


melhor. Ao menos eu acredito fielmente nisso, ou melhor, estou tentando
acreditar.

Quando ele vai embora me levanto para ir para casa, estou sem saco para
trabalhar hoje.

No caminho para casa vejo uma moça vendendo algodão-doce, compro um


de cada cor e vou para casa sabendo que Melanie e James irão amar comer
esse troço que para mim não há graça alguma, mas não serei eu a dizer isso
para minha não ainda esposa.

Melanie e eu atropelamos tudo e todos para ser mais exato. Não nos damos
títulos, mas já pertencemos um ao outro. Ela é possessiva e eu sou o extremo.
Eu nunca tive uma namorada e nem ao menos sei como se namora. Não me
recordo de alguma vez ter a levado ao cinema uma garota para dar alguns
amasso no escuro. Acho que precisamos de um momento assim entre nós
dois, Melanie merece ter um pouco de normalidade na sua vida. Acho que
hoje é o dia perfeito para ir ao cinema. É isso irei levá-la ao cinema.

Antes de chegar em casa ligo para a babá que ficou com James na última vez
que precisamos sair, aviso que talvez não voltemos hoje e que lhe pagarei o
triplo. A senhora aceitou na hora minha oferta um pouco generosa.

Assim que desço do carro ando apressado até o elevador discando no painel o
código da cobertura. Quando as portas metálicas se abrem ouço os gritos do
meu filho e da minha não esposa. A passos largos chego até a sala de estar
onde ambos estão dançando uma música infantil de algum desenho animado.
Uma cena que aquece meu coração com fervura. Ambos estão jogando os
braços para cima e mexendo o corpo conforme a música. Eles olham uns para
o outro e cantam juntos desafinadamente, mas ainda assim é uma das
melodias mais lindas que já ouvi. Meu filho pula feliz, vez ou outra passa sua
mãozinha na barriga da mãe que já está bem grandinha e me encosto na
parede para apreciar melhor o show do dia.

Eu nunca pensei que iria viver algo assim. Não gosto de barulho ou bagunça,
mas adoro o barulho e a bagunça desenfreada que eles fazem na minha vida.
Não me vejo mais um segundo sequer sem eles.

Quem diria que um dia eu iria amar alguém tanto assim…

Eu os amo tanto, mais tanto que nem ao menos sei como pode caber tanto
amor em um só coração. Não sou de ficar falando o que sinto e muito menos
digo com frequência a frase “Eu te amo”, mas eu os amo mais do que tudo
nesse mundo. Hoje eu entendo o motivo pelo qual Dante nunca desiste. Ter
por quem lutar é motivo de sobrar para viver. Hoje eu vivo porque eles
existem em mim.

— Papai, vem dançar também — chama James fazendo sinal com a mão.

Nego com a cabeça e ele nem liga, continua sua dança doida com a mãe e sou
um mero telespectador que está adorando o show.

Quando eles se cansam e se jogam no sofá sigo até eles beijando o rosto
suado do James e beijando de leve a boca da minha não esposa, enquanto
faço carícias na sua barriga e ficamos os três quietos por um tempo.

— Filho, papai e mamãe irão sair hoje à noite e você vai ficar com a babá,
está bem?

— Tá bom papai — fala sorrindo.

Essas sardas o deixa tão fofo que dá até vontade de morder.

Melanie apenas me olha, mas não diz nada.

Subo para dar banho no James, enquanto Melanie vai tomar banho em
silêncio. O que é estranho.

Como era de se esperar saio ensopado do banho do James, o moleque adora


água e para melhorar ama fazer guerrinha. Coloco nele seu pijama de urso
panda que vem com a toquinha e tudo mais.
Ele fica uma graça nesse pijama!

Entro no meu quarto e coloco-o na cama para que possa adiantar meu banho
senão perco a sessão do filme. Melanie sai do closet já usando um vestido
rodado verde-claro com um decote que deixa a mostra seus seios volumosos.

Porra!

Ela vai chamar atenção!

Essa gravidez só está deixando-a mais linda e gostosa.

Que pena que não poderei matar o primeiro que olhar para ela e nem o
segundo…

Balanço a cabeça em negação e vou para meu banho.

— Posso saber para onde vai me levar? — pergunta Melanie, enquanto visto
uma camisa polo branca e uma jaqueta preta por cima. — Para que toda essa
produção? Quer se exibir para quem, hein senhor Haylock?

— Essa produção é para algo casual e é para você futura senhora Haylock
que estou me arrumando assim — digo enquanto penteio meu cabelo e ajeito
minha barba.

Olhos azuis, sardas na cara igual a James…

Será que no futuro ele continuará parecido comigo?

— Acho bom que seja para mim. Agora preciso usar salto?

— Vamos ao cinema, você decide — falo enfim saindo da frente do espelho e


me virando para ela.

— Cinema? — pergunta empolgada e faço que sim com a cabeça. — Vou de


sapatilha então. Não, melhor vou de rasteirinha para não apertar meu pé.

— Vá como quiser… Você é linda de qualquer forma — falo beijando seus


lábios de leve.
— Que galanteador — fala com seus lábios colados aos meus.

— Só para você senhora Lewis.

Ela sorri e sai dos meus braços.

Vou ao quarto de James e ele já está apagado na cama.

Saímos quase atrasados por causa da minha futura esposa que trocou de
sapatos umas dez vezes. Ela escolheu um filme romântico sobre sei lá o que,
e já chorou logo na primeira cena do filme. Puxo-a para o meu colo e assim
ficamos. Mais para frente em certa parte do filme ela começa a se remexer
inquieta no meu colo.

— O que foi? — pergunto baixo no seu ouvido.

— Quero que você enfie seu pau dentro de mim — fala quase gemendo.

— Melanie, há pessoas aqui… Estamos em um local público.

— Ninguém vai ver… Tiro minha calcinha e você enfia seu pau em mim, sei
ficar quieta. Já estou no seu colo mesmo.

Sua ideia louca me deixou cheio de tesão e meu pau está duro como sempre
fica para ela.

Essa mulher é minha loucura!

— Por favor, eu preciso de você dentro de mim. É meu desejo de grávida.

O que tenho a perder?

Já vou para o inferno mesmo, então não custa nada embarcar nessa loucura.
Olho bem para a moça diante de mim que me olha com esperança de que
eu goste do vestido que ela está me mostrando, mas Mãe Santinha do céu,
essa mulher não entendeu quando digo que quero um vestido estilo princesa
da Disney e de preferência igual ao da Cinderela. Respiro fundo e tento
controlar minha ansiedade maldita.

Tudo culpa de Marco Haylock!

Tudo culpa dele!

Maldito seja Marco Haylock e seu pênis gostoso para caralho que fica
extremamente gostoso com caldas de diversos sabores por cima!

Meu sonho!

Eu preciso desse homem essa noite com uma calda de pêssego em cima do
seu maravilhoso pau. Estou até com água na boca, quero tanto mais tanto
chupar seu pau agora com uma deliciosa calda por cima.

— Senhorita, gostou desse? — pergunta a vendedora mais uma vez.

Olho para ela, pisco umas duas vezes e balanço minha cabeça para voltar para
a realidade.

— Não, eu quero um estilo bem princesa é o meu sonho me casar assim —


falo sorrindo para ela. — Na verdade, você tem alguma estilista aqui? —
pergunto sabendo que não acharei o vestido do meu sonho tão fácil.

— Temos sim, mas é um pouco complicado falar com ela — diz sorrindo de
leve.

— Dinheiro é o que não me falta. Chame-a aqui agora, por favor — peço
sorrindo.

— Claro senhorita. Já volto — diz e sai a passos largos.

— Mel, você é má! — fala Valentina sentada em uma poltrona, lendo uma
revista de moda. — Porém isso aí garota, gasta o dinheiro do Marco — fala
piscando os olhos.

Anny apenas ri e volta a olhar para o seu celular, aposto que está falando com
o tesudo do Dante Boltoni, eu não nego de forma alguma que esse homem é
lindo. Eu amo o Marco e adoro meu não marido ainda, mas Dante é um ser
que duvido que há uma mulher não o ache lindo.

— Anny minha linda, para de trocar mensagens sensuais com o seu marido
dos sonhos — falo chamando sua atenção. — Cadê a novinha do Pedro? —
pergunto sentindo falta da Jady.

Eu conheci a Jady no dia do spa e amei passar o dia com ela. Menina fofa,
linda e maravilhosa sem contar que é muito simpática e educada, mas não
sabe se valorizar e acha que não é digna do Pedrão.

Menina burra!

Se fosse ela já teria subido em cima do Pedro e sentado bem gostoso, mas
não sou ela e estou muito feliz e realizada me sentando no meu ruivo gostoso.

— Está na faculdade. — responde Anny. — Ela tem prova, depois vai não sei
onde e infelizmente não poderá vir, mas disse que para a prova das madrinhas
ela virá. — fala Anny. — Eu disse para ela não se preocupar com o valor que
o Pedro falou que paga tudo para ela, mas senti que ela ficou sem graça.

— Eu a entendo perfeitamente — diz Val. — Sei como é isso e quando se


tem orgulho as coisas ficam ainda mais difíceis, mas na hora certa ela verá
que o Pedro faz tudo que faz por amor.

— A pergunta é, o Pedro sabe que faz isso por amor?

— No fundo ele sabe, mas prefere negar assim como o Marco — responde
Valentina me olhando. — O único aqui que assumiu rápido foi o meu latino e
o Dante, mas ninguém supera até agora o Dante. Sortuda é a Anny! — fala
Val cutucando Anny que só sabe sorrir.

— Dante é maravilhoso! — diz com os olhos brilhando. — Ele é perfeito e


isso não nego. — Suspira apaixonada. — Ele é um bom marido, ótimo pai e
um perfeito amante, ele é mais do que eu mereço, mas o amo tanto.

— Ele é tudo que você merece Anny — diz Val para ela. — Dante é tudo que
você merece é muito mais, então, por favor, pare de dizer isso porque se ele
ouvir você dizendo algo assim ficará triste.

— Somos sortuda por sermos amadas e ainda mais sortudas por amar — digo
sorrindo para elas. — Houve um tempo que achei que morreria sozinha,
quando tive câncer ainda nova eu achei que perderia tudo e que ficaria
sozinha, mas Deus teve misericórdia de mim. — falo quase chorando ao me
lembrar desses tempos difíceis. — Eu tive câncer no estômago, foi um
tratamento caro e difícil que fez com que eu fizesse dívida com agiotas para
conseguir pagar meu tratamento. Eu vi meu cabelo cair, vi minhas unhas
quebrarem por nada… Eu me vi sozinha sem nenhum familiar em um
hospital, mas não morri eu venci o câncer. Foi uma batalha difícil que por
muito tempo desejei morrer porque seria mais fácil, mas eu sei que Deus me
fez vencer tudo isso. Eu só vi o real sentido da vida quando senti James
mexer dentro de mim… Quando o segurei em meus braços, soube o
significado do amor…. Ali eu soube e entendi o que minha mãe me disse
uma vez antes de morrer pela mesma doença que tive. Ela dizia, “Melanie,
não há amor maior do que o de uma mãe. Eu morro por vocês, mas jamais
permitirei que morram por mim. Vocês são os pedacinhos desse mundo que
tanto amo. Você e seus irmãos são o meu motivo de viver.” Agora eu entendo
perfeitamente — falo fungando e elas me olham com compaixão nos olhos.
— Não foi fácil, passei cada perrengue com o James que misericórdia, mas
jamais pensei em me separar dele. Eu dormia com medo, pois onde morava,
acordava assustada com o que ouvia logo pela manhã na casa dos meus
vizinhos.

— Você é tão forte Mel — fala Anny enxugando as lágrimas, vindo me


abraçar.

— Somos mulheres fodas, é isso! — diz Val nos abraçando também. —


Somos fortes para caralho, agora parem de chorar porra!

Por fim nos afastamos rindo uma da outra e enxugando as lágrimas. Olho
para elas e sorrio abertamente.

— Com toda certeza vocês são minhas irmãs. — Rimos e nos abraços mais
uma vez.

Elas são mais do que pensei que teria na vida…

Elas são minhas irmãs de mãe diferente.

Eu a amo de uma forma que jamais pensei que amaria amigas um dia. Ao ser
puxada para o mundo do Marco pensei que ficaria sozinha, mas fui
surpreendida ao ganhar uma família tão incrível.

— Olá sou Rosalie, a estilista — fala uma mulher loira alta. — Como posso
ajudar a noiva da vez? — pergunta já me conquistando pelo seu penteado.

— Sou eu, consegue me fazer um vestido estilo Cinderela para daqui duas
semanas? — pergunto na lata para não perder muito tempo.

— Acho que consigo… Diga-me como deseja cada detalhe que te mostro o
que posso fazer — diz conquistando meu coração.

Olho para ela e sorrio cheia de esperança.

Falta pouco para o meu casamento dos sonhos.


— Melanie, seus irmãos irão chegar daqui dois dias — fala Marco fazendo
com que eu congele no lugar. — Melanie?

— Você pode antes preparar meu coração para falar uma coisa dessas? —
pergunto colocando a mão no peito.

Ele deve esquecer que estou grávida de dois filhos dele…

Dois!

É loucura demais ter dois pequenos seres dentro de você. Tem horas que não
sei o que dizer. Eles são um casal e me pergunto a cada instante como
nascerão, se irão parecer comigo ou com o Marco, se terão sardas ou cabelos
ruivos, mas desejo tanto que um deles se pareça comigo ao menos…

Puta merda, sinto que isso será extremamente difícil. Os genes desse ruivo
gostoso é forte demais e o James ama ser ruivo e vive falando que o
irmãozinho tem que nascer ruivo também.

— Desculpa — pede Marco se sentando no sofá e passando a mão pelo rosto.

Percebo que seus olhos azuis estão cansados.

— Está tudo bem? — pergunto me aproximado dele e segurando suas mãos.

— Preciso ir semana que vem para Inglaterra ver a tia Li e gostaria que você
e James fossem comigo. Não posso mais adiar isso… — fala suspirando
pesadamente.

Eu sei que ele evita o máximo possível falar sobre isso e é bem visível que
não quer ir visitar essa tal tia, mas não é algo que ele possa fugir por muito
tempo. Vejo o quão doloroso é para ele, meu ruivo gostoso é um sobrevivente
e tanto. O simples fato dele estar aqui comigo e com James já é mais do que
uma grande conquista. Marco é uma pessoa que possui um mistério
envolvente e excitante. Ele não é perfeito, mas me pergunto quem é. Ele não
sabe demonstrar carinho na maioria das vezes, ele não fala manso e é
péssimo em demonstrar que ama, mas em cada mínimo detalhe que ele
mostra é como se fosse um oceano inteiro caindo sobre mim. Ele não é só
bom na cama, ele é bom em várias outras coisas. Ele se julga muito, se
condena muito, se culpa muito, se fere muito ao se torturar por um passado
que deveria ficar no passado. Ele deveria ser ver da forma como eu o vejo.

Ele é incrível!

Ele é o maior de todos.

— Irei com você com toda certeza — falo sorrindo para ele que me olha sério
como sempre. — Nunca fui à Inglaterra e fico feliz em saber que é um inglês
e não um alemão ou russo, mas confesso que jurava que você era russo. —
digo e vejo-o dar um breve sorriso de lado. — James e eu amaremos
conhecer essa sua tia.

— Ela irá ter amar. Como estão os pequenos? — pergunta acariciando minha
barriga.

— Vão melhor do que eu — fala revirando os olhos. — Meus irmãos ficarão


aqui? — pergunto esperançosa.

— Claro. — responde seco.

— Você não gosta dos meus irmãos, né? — pergunto com medo da resposta.

— Não tenho nada contra eles, são seus irmãos. — fala cortando assunto.

— Então por qual motivo está tão sério ao falar deles? — questiono.

— Melanie, eu sou sério sobre quase tudo — diz calmo. — Há coisas sobre
eles que não gostei, mas quem sou eu para julgar alguém? — pergunta me
olhando nos olhos.

— Amor, eu só achei estranho a forma como fala deles. — falo beijando seus
lábios de leve.
— Melanie, um dos seus irmãos possui problemas com substâncias ilícitas —
fala me pegando de surpresa. — Apenas tome cuidado com isso, quando
estiverem aqui. Ofereça ajuda, mas não ofereça de forma alguma, dinheiro.
Se houver qualquer dívida eu pago, mas nada além disso.

— Entendo — falo surpresa com sua revelação. — Irei oferecer ajuda.

— Bom — diz me puxando para si. — Como foi com as meninas hoje?

— Primeiramente, graças a Deus você é rico — falo e ouço sua risada curta.

Amo o som da sua risada.

— Tive que contratar uma estilista, mas você tem dinheiro para isso — digo e
ele beija meu pescoço, enquanto me encosto no seu peito. — Chorei com as
meninas ao falar sobre o câncer. Sei que estou bem, mas as vezes tenho medo
de ter mais uma vez essa maldita doença. — digo sentindo meu peito ficar
apertado.

— Sabemos que está tudo bem com você — fala me abraçando por trás. —
Estou aqui, Melanie.

Quero chorar ao ouvir sua voz rouca tão delicada no meu ouvido.

— Vamos ficar bem.

— Vamos ficar bem. — falo me aconchegando em seus braços. — Eu te


amo.

— Eu te amo — fala colocando minha mão sobre seu peito. — Ele sempre
bateu sem razão… Sem motivo… Sem sentido… Sem vida. Desde o dia em
que você e o James entraram na minha vida, ele encontrou um motivo para
bater. Ele bate por vocês… Vocês são o motivo pelo qual dou o melhor de
mim. Não sou perfeito, mas nunca se esqueça que mesmo com toda essa
minha imperfeição, com todo esse passado fodido eu te amo, eu amo vocês
mais do que tudo e todos. Você e nossos filhos são a luz da minha fodida
vida. Se um dia tudo ficar escuro e eu perder o controle, por favor, me lembre
o motivo pelo qual eu ainda vivo e se caso te ferir me perdoe… Apenas não
me deixe e fique ao meu lado. Se precisar fugir corra apenas para ter
proteção, mas quando eu for até você me aceite de volta. Prometa-me que não
vai me deixar? — pergunta com a voz sufocada. — Prometa-me que se por
acaso eu cair, você me ajudará a me levantar? — pergunta e sinto gotas
quentes em meu ombro.

— Marco? — tento me virar, mas ele não deixa.

— Por favor, me prometa?

— Eu prometo que jamais te deixarei, eu amo inclusive sua escuridão. — falo


acariciando sua mão sobre a minha. — O que está havendo?

— Estou caindo Melanie. — fala com a voz sufocada. — Estou quebrando,


se é que algum dia estive em pé. Há sentimentos sufocantes no meu peito que
não entendo — fala com a voz bem baixa. — O novo é doloroso, dói. A cada
lembrança que recordo me fere de uma forma que não sei o que fazer. Hoje
tive uma crise na empresa. Dante e Pedro que me seguraram. Eu só surtei…
Quebrei tudo, eu não sei dizer o que exatamente tive, apenas fechei meus
olhos e me lembrei de algo e aqui… — fala apertando minha mão sobre seu
peito. — Doeu de uma forma que cheguei a gritar de dor… Eu não sei lidar
com isso. — Sua voz sufocante, sufocou meu coração.

— Estou contigo, sempre estarei aqui para você.

Ele beija meu cabelo, não diz nada e muito menos eu. Marco enfim está se
permitindo sentir e isso é assustador para ele.

Ele diz que precisa tomar um banho e ao subir leva James que estava
dormindo no outro sofá. Ele sobe com o pequenino no colo e a forma como
ele olha para James é lindo de se ver. Ele precisa desse tempo sozinho, então
darei a ele esse pequeno tempo.

Pego meu telefone e ligo para Dante que atende no primeiro toque.

— Oi Melanie como vocês está? — pergunta com sua grave voz.

— Estou bem, Dante, o que houve hoje na empresa.


— Ele está deixando vir à tona tudo que trancafiou dentro de si por anos.
Agora tudo virá em dobro… Ele precisa de nós.

— Estarei aqui — digo com firmeza.

— Apenas segure a mão dele e o abrace. Não precisa dizer nada, apenas o
abrace mais do que o normal.

— Farei isso.

Ele se despede e desligo.

Subo a escada devagar e encontro Marco saindo do quarto.

— Indo atrás de mim? — pergunto rindo, tentando ignorar seus olhos


vermelhos.

— Sim e não — fala baixo. — Vou dormir no quarto de hospedes.

— Não!

— Eu não posso perder o controle perto de você.

— Marco, volta para o nosso quarto e deixa eu te abraçar a noite toda. — falo
pegando suas mãos. — Eu te amo na alegria, na tristeza, nos momentos de
loucura e a qualquer hora.

— Se durante a noite, eu perder o controle saia, ok?

— Se perder o controle irei te abraçar ainda mais forte.

— Teimosa.

— Te amo — digo sorrindo.

— Te amo. — Ele pega minha mão e me puxa para o nosso quarto fechando
a porta atrás de si. Se deita na cama e me abraça com força.

Marco precisa que eu cuide dele, mas tem medo de que suas feridas me
machuque. Eu o amo mais do que tudo.

Durante a noite ele começou a chorar e a pedir que parem. Esses sussurros
dolorosos despertaram em mim uma fúria que se eu pudesse acabaria com
cada um que o feriu e vê-lo ferido me fere.

Acabo sorrindo ao me lembrar que só hoje ele disse que me ama duas vezes.

Ele é a escuridão mais linda desse mundo.

Já sei o que farei para deixá-lo mais calmo.

Chuparei seu pau até que ele goze.

É isso!
Aperto a mão do Marco fortemente, enquanto olho para o portão de
desembarque em busca de um dos meus irmãos. É hoje que os verei
novamente depois de tantos anos…

Estou nervosa, muito nervosa e Mãe Santinha do céu, me ajude nesse


momento. Rever meus irmãos é algo que sempre sonhei, mas ao perceber que
Marco está com um pé atrás com eles fez com que eu me perguntasse o que
há de errado.

Quando mais novos, éramos bastante unidos e espero ansiosamente que ainda
sejamos.

Eu quero me sentar com eles no Natal e comer peru…

Quero se sejamos uma família unida!

Mãe Santinha do céu será que eles vão me reconhecer?

Estou grávida, gorda e o pior mais velha…

Não sou mais a maninha assustada que ficou para trás.

Qual deles será que está usando drogas?

Questiono-me desde o segundo que descobri isso e se serei forte o suficiente


para lidar esse vício. Se ao menos ele aceitar ajuda tudo ficará melhor, mas se
recusar se tratar terei que abrir mão e Deus sabe o quanto isso vai ser ruim
para mim. Não posso me permitir ficar andando entre os becos em busca
dele. Sei que pode parecer egoísmo, mas tenho um filho pequeno e dois a
caminho e mesmo quando perdi tudo e todos não ousei me autodestruir.
Tenho consciência que estarei dando as costas a um irmão, mas tenho certeza
de que será a melhor escolha.

Olho para o meu não ainda marido e sorrio triste ao perceber que ele está
mal-humorado e não sei se é por meus irmãos ou pela falta de sono. Ele não
está dormindo direito e nem é por causa do sexo em excesso. Acreditem, não
é por causa disso. Por mais que estejamos pior do que coelhos no cio,
transando por horas seguidas e tendo múltiplos orgasmos, o que não reclamo
e ainda peço por mais e mais. Ele não descansa, não dorme e muito mal está
comendo. Ele está em casa o que é bom, mas sinto que está se trancando
dentro de si. Nem o James está conseguindo arrancar dele uma gargalhada
sincera.

Para meu alívio, ele ontem foi ao psicólogo, mas fora isso ele está na dele e
não fala muito. Não sei ao certo o que fazer além de abraçá-lo apertadamente
e mantê-lo junto a mim.

Nossas mãos juntas entrelaçadas me passam uma força fora do normal, se ao


menos ele soubesse o quão incrível é, jamais duvidaria do meu amor por ele.
Eu o amo de paixão, de coração e de alma. Ele me deu o que sempre quis e
pedi desesperadamente a Deus…

Um lar!

— Será que eles vão me reconhecer? — pergunto nervosa a Marco.

— Eles estão vindo com um dos seguranças, então com toda certeza chegarão
até nós dois — fala me olhando.

Já falei que amo esses olhos azuis celestiais?

— Você está bem? Precisa de algo? — pergunta e sinto uma pitada de


preocupação na sua voz.

— Estou bem e pesada — resmungo. — Quando eles nascerem fecharemos a


fábrica, já que estarei na mesa de cirurgia, irei fazer tudo.

— Não, eu irei fazer vasectomia — fala me surpreendendo. — Para a mulher


esses procedimentos operatórios para não ter mais filho mexem com muita
coisa em seus organismos e hormônios, por isso opto por fazer a vasectomia,
para mim é simples. — Explica com cautela e calma.

— Não está fazendo isso para poder me trair, não né? — pergunto com uma
pulga atrás da orelha.

— Não preciso fazer vasectomia para te trair — fala e arregalo meus olhos
para ele. — Não me olhe assim, nunca te trai e nem penso. Se não confia em
mim temos um grande problema aqui, Melanie — diz suspirando. — Eu não
suporto traição e você para de pensar ou falar algo desse tipo sobre mim. —
Sua voz é séria e cortante, mas também percebo que há dor nela.

— Estou só brincando amor — respondo nervosa.

— Não brinque sobre isso Melanie, por favor, não gosto desse tipo de
brincadeira — diz me olhando nos olhos. — Não brinque sobre meus
sentimentos por você.

— Desculpa — peço o abraçando. — Te amo.

— Apenas não insinue que desconfia de mim. Não lhe dou motivos para isso.
— fala beijando minha testa. — Joshua chegou. — Avisa me soltando dos
seus braços.

Viro-me com calma, vejo meu irmão e me surpreendo com o que vejo.

Ele está muito bem vestido, não que isso seja um problema e ao seu lado está
uma mulher que com toda certeza desse mundo não é uma pessoa simples.
Ambos olham para o lado com certa arrogância, Marco aperta minha mão e
sorri para mim de leve.

— Espere, eles virão até nós — fala me segurando onde estou.

— Está bem — respondo nervosa.


Meu irmão passa a mão no cabelo antes de vir andando até mim ao lado do
segurança que o conduz até onde estamos. Ele não sorri ao me ver, apenas
olha para o seu relógio. Sua esposa me olha de cima a baixo fazendo uma
varredura. Ainda bem que estou bem vestida, mas pela expressão no seu rosto
ela não gostou de me ver ou ao menos não gostou da minha escolha de roupa.

Abro um sorriso contido para eles e aceno, mas meu irmão apenas abre um
mero sorriso torto.

Esse é mesmo meu irmão?

Não vejo carinho ou simpatia em seu rosto.

Minha nossa, esse não é o encontro que sonhei para mim!

— Melanie, quanto tempo — fala assim que se aproxima de mim.

Não sei o que dizer.

Eu esperava abraços, beijos e lágrimas, mas não esperava por isso. Sua frieza
é notória, assim como o desinteresse e meu peito dói com isso.

— Faz alguns anos desde que nossa mãe morreu e fomos separados, mas não
acho que tenha se dado conta disso — digo sem pensar. — Minha nossa,
ainda bem que sobrevivemos e que mantivemos nossa promessa. Fico feliz
em lhe rever irmão — digo puta da vida e nem ligo para o que vão pensar.

— Melanie. — Marco coloca a mão nas minhas costas. — Acalme-se, não


fique nervosa.

— Não venha me pedir para ficar calma! — digo nervosa. — Ele não me vê
há anos e vem me dizendo isso… Como se eu fosse uma desconhecida. Ele é
um bastardo filho da puta arrogante de merda. — Esbravejo e aponto o dedo
para o meu irmão. — Você sabia que quase morri de câncer, a mesma doença
da mamãe, eu tinha dezoito anos, estava preste a completar dezenove — falo
e vejo sua testa ficar enrugada.

— Eu não sabia — fala me olhando.


— Claro que não sabia, nunca me procurou. Você fez a sua vida, eu fiz a
minha e fico feliz em saber que está bem — falo e olho para sua esposa. —
Desculpe se fiz você virem até aqui à toa — falo para esposa do meu irmão.

— Vamos parar de dar show, Melanie — fala Joshua e começo a rir.

Solto uma gargalhada atrás de outra.

Que idiota!

Que miserável!

Que infeliz!

Aí que raiva!

— Eu sonhei por tanto mais por tanto tempo. Sonhei tanto com esse
momento, onde nós três poderíamos ficar juntos de novo, mas olha só basta
olhar para você para ver que se quisesse poderia ter vindo até mim, mas não
veio. Porque não quis e está tudo bem. Foda-se esse caralho de família —
digo jogando o dane-se para tudo. — Eu sobrevivi ao orfanato, à rua, ao
medo, à doença e tudo isso sozinha e com fé. Eu sou forte para caralho e
não… Eu não precisei de você. Não precisei de você irmão, você prometeu a
mamãe que me protegeria, mas olha só eu me cuidei sozinha e agora eu tenho
esse cara aqui para cuidar de mim — falo apontando para o Marco que está
calado observado tudo. — Eu tenho um filho e estou grávida de mais dois. O
pau dele faz essas coisas, sabe? É um pau bom para caramba melhor que
picolé de uva — falo e vejo os olhos da minha cunhada se arregalar.

Merda, preciso da Valentina aqui para zoar comigo!

— E não, não estou dando um show, estou apenas citando os fatos.

— Puta que pariu, olá família! — fala Josué chegando perto de nós.

Ele está pálido e magro, mas também está bem vestido.

Só eu que me ferrei na vida?


— Ótimo. Estamos todos aqui — fala Joshua. — Podemos conversar em um
lugar mais reservado? — pergunta calmamente.

— Acompanhem-me — diz o segurança de Marco.

Todos o seguimos para fora do aeroporto, onde há dois carros nos esperando.
Um é para Marco e eu e outro para eles.

— Nossa irmã, se deu bem na vida — comenta Josué.

Não digo nada, apenas entro com a ajuda do Marco no banco traseiro e
aguardo-o se juntar a mim.

Para minha alegria e surpresa Marco nos levou para um hotel e não para
nossa casa. Fiquei mais aliviada e extremamente grata por ele ter se recusado
a trazer James junto. Meu filho não merece esses tios.

Graças a Deus Dante, Pedro e Carlos são ótimos tios e melhores não tem.

Minha cunhada, que não sei o nome, está sentada em um canto, enquanto
meus irmãos ficam encarando um ao outro e Marco está encostando em uma
parede olhando para cada um de nós. Pergunto-me quando ele deve dizer
algo, mas tenho quase certeza de que ele não vá dizer muita coisa.

Há uma falta de complacência[15] entre nós e isso é obvio. Eu quero meus


irmãos da infância, mas eles estão aqui por qualquer outra coisa menos por
mim, isso é claro.

Questiono-me o que fez com que eles viessem até aqui.

O que será que Marco prometeu a eles?

Meu Deus, que louco!


Quero dar na cara de cada um deles.

Josué é o mais velho e Joshua o do meio e eu a mais nova. Éramos um time e


tanto, mas hoje é cada um por si e a meu ver é melhor assim.

— Ok — falo atraindo a atenção deles. — Olha só, é obvio que não estão
aqui por mim, mas tudo bem. Digam o que os trouxeram aqui e resolvemos
tudo — falo sendo sensata.

— O brutamonte que me encontrou disse que minha irmã queria me ver —


fala Josué. — Ele disse que poderia me ajudar com algumas dívidas se eu
viesse até você

— Como sempre um viciado. Já torrou tudo, né? — diz Joshua.

— Você ficou com a maior parte — rebate Josué.

— Do que vocês estão falando? — pergunto confusa.

— Sua mãe deixou uma herança para vocês — fala Marco chamando minha
atenção para si. — Eles repartiram entre si e foram cada um para o seu lado.
Um investiu no estudo e se deu bem, podemos assim dizer, e o outro gastou
mais do que devia. Enfim eu os trouxe aqui na intenção de que eles
quisessem voltar a possuir um laço com você, mas vejo que não é algo
possível — fala Marco e suspira. — Agora a escolha é de vocês. Diante de
vocês está a irmã mais nova que vocês deveriam ter protegido… Vocês
possuem a chance de recomeçar agora com ela e antes de tudo aviso a vocês
que ela é louca de pedra, mas possui um dos maiores corações que conheci
em todo esse mundo. A escolha é de vocês se ficam ou se vão embora. Se
ficarem terão uma irmã incrível, agora se forem embora perderão uma irmã
incrível. Em ambas as decisões não terão nada a ver comigo — fala olhando
para eles.

— Não tenho motivos para ficar. Obrigado por pagar minhas dívidas e querer
me colocar em uma clínica de reabilitação, mas estou bem como estou — diz
Josué. — Melanie, fico feliz que está bem e feliz, mas estou bem sem vocês
na minha vida. — fala e engulo em seco.
Dói ouvir isso.

— Eu também não vou ficar. Acho que não tenho nada a fazer aqui. Desejo-
lhe toda a felicidade desse mundo… Na verdade, desejo a vocês dois — diz
Joshua.

Não digo nada e apenas os vejo irem embora.

Acho que é assim que um sonho se torna pesadelo.

Eu poderia ter evitado tudo isso, mas não o fiz.

Eu sabia que os irmãos dela não prestavam e que vieram até aqui atrás de
dinheiro ou de uma vida melhor, mas não facilitei e por isso eles foram
embora. Se fosse uma escolha minha eles jamais estariam aqui, mas por
Melanie os trouxe mesmo sabendo que eles poderiam feri-la. Foi uma decisão
difícil, mas precisa e por mais que eu esteja destruído por dentro, ainda sim
cuidarei dela.

Melanie queria rever os irmãos e lhe dei essa chance, eu sabia que eles não
iriam ficar, mas ainda assim deixei que eles se decidissem. Olho para a minha
garota que está parada olhando para a porta fechada e para minha surpresa ela
começa a rir do nada. Se eu não soubesse que ela é louca, estranharia essa sua
atitude.

— Diz que podemos rolar nessa cama e transar o resto do dia?

— Não, não podemos — digo me aproximando dela, a tomando em meus


braços. — Vamos para casa conversar e ficar um tempo com o nosso filho.
— ela fecha a cara, mas sorri. — Estou cansado e gostaria de ficar em casa.
Temos que resolver certas questões do nosso casamento… Sem falar que
gostaria de saber se quer continuar morando no apartamento ou se quer
comprar uma casa para que possamos morar. — Introduzo o assunto com
calma. — Vi que há uma casa estilo medieval à venda com um quintal
perfeito, onde as crianças e os cachorros poderão correr tranquilamente. Não
é tão grande quanto a de Dante e Anny, mas é agradável a meu ver. Podemos
ter uma piscina — falo beijando seu pescoço.

— Adorei a ideia de ter uma casa estilo medieval. Será bem a sua cara e amo
piscina — diz sorrindo para mim.

— Então temos que pegar James e ir lá dá uma conferida — falo sorrindo de


leve por ela ter aceitado bem a ideia.

James e Melanie adoraram a casa de dois andares. Ela amou saber que já há
uma piscina a sua espera. Fechei o contrato e coloquei a casa no nome dela.
Convocarei nossos engenheiros para vir aqui junto com a Valentina para
fazer as mudanças que Melanie quer. A única coisa que irei decorar será o
meu escritório. Isso eu com toda certeza não mudo, pois gosto de tons
escuros.

— Como você está? — pergunto a Melanie quando terminamos de colocar


James na cama.

— Puta da vida com eles, mas estou bem — diz me abraçando. — Estou bem
de verdade, sabe? Eu tenho vocês e deles manterei uma lembrança amável da
minha infância.

Aperto-a contra mim e beijo sua testa com carinho.


Estou com tanto, mas tanto medo de perdê-los que cada instante que passo
longe deles para mim é extremamente dolorido.

Eu os amo demais e porra!

Estou simplesmente me perdendo dentro de mim.

Minhas lembranças estão me destruindo aos poucos e eu não consigo dormir


mais. Temo pegar no sono e ferir Melanie em alguma crise. A doutora me
passou remédios para dormir, mas me recuso a confiar neles. Minha cabeça
fodida fica a todo instante trazendo à tona essas lembranças que antes nunca
me doeram tanto quanto agora. Tem horas que sinto que não conseguirei
respirar e há segundos em que quero ficar deitado no escuro chorando. Estou
uma confusão de sentimentos que me destrói a cada maldito segundo.
Ninguém me disse que seria tão difícil assim encarar as próprias recordações.
Eu estou tentando a todo instante ser forte, mas está cada hora e segundo
mais difícil não cair.

Como um viciado em heroína minhas mãos tremem, meu corpo sua, minha
voz falha e minha garganta está seca.

Eu preciso urgente de uma dose…

Preciso de uma dose de complacência para que eu possa sobreviver ao que


está por vir.

Eu estou caindo…

Dessa vez, eu escolho cair.

Só espero sobreviver e não ferir ninguém nesse processo.


Respiro fundo, antes de mais uma vez chocar meu corpo contra o da
Melanie. Seguro no seu quadril, enquanto entro e saio rápido de dentro dela.
Subo minha mão da sua barriga até seu seio direito e o aperto com leveza. Ela
geme e não sei se é pelo fato do meu pau estar atolado dentro dela ou se é
pela minha mão que está apertando o bico do seu seio. Ela está sensível a
qualquer toque em seus seios, quer dizer, não só nos seios.

Melanie está mais fogosa do que o normal e isso me agrada e muito.

Amo estar dentro dela!

Quando minha pelve se choca contra sua bunda durinha, sinto uma enorme
vontade de mordê-la e assim faço.

— MARCO! — grita e vira a cabeça para poder me encarar.

Ela está suada assim como eu e nossos corpos então na mesma sintonia que
tanto amo.

Meu corpo está em chamas e só ela consegue me causar isso.

Não é só sexo que fazemos é algo tão profundo quanto o amor.

— MAIS FORTE E MAIS BRUTO… METE BEM FUNDO MARCO! —


grita acabando com os meus pensamentos românticos.

Sorrio de lado e faço o que a minha mulher mesmo não sendo casados ainda
manda.

— Você gosta, né? — pergunto puxando-a para que fique grudada a mim.
Estamos de joelhos na cama, enquanto meto forte dentro dela. — Você quer
que eu coma essa bocetinha apertada e a encha mais uma vez com a minha
porra? — Mordo a pontinha da sua orelha. — Você gosta de acordar de
madrugada para te comer, sua safada. — Toco seus clitóris aumentando o
ritmo das estocadas. — Minha safada… Minha mulher…. Só minha! Diga
que ama meu pau dentro dessa gulosa boceta. — Ordeno apertando meu
polegar em seu clitóris.

Subo minha outra mão e aperto o bico do seu peito colocando mais pressão,
enquanto diminuo o ritmo das estocadas.

— Marco! — Geme puxando meu cabelo. — Não para… Oh, meu Deus!

— Fala! — ordeno mais uma vez.

— Sim, eu amo ter seu pau grande dentro da minha boceta… Agora pelo
amor de Deus, me faça gozar.

Aumento o ritmo assim como o atrito em seu clitóris.

— MARCO! — Berra gozando.

Continuo entrando e saindo dela até que gozo beijando seu ombro. Respiro
fundo antes de puxar sua cabeça para trás para que eu possa beijar seus lábios
carnudos. O beijo que era para ser simples se torna algo a mais e devoro seus
lábios com uma necessidade esmagadora de ter mais dela. Chupo sua língua e
mordo seu lábio inferior. Ainda estou dentro dela e gosto de estar aqui. A
forma como ela me recebe e me aperta me mostra que ela é meu lar.

— Diz que no banho poderei chupar seu pau — pede enquanto mordo seu
queixo. — Marco, eu amo seu pau e adoro chupá-lo — diz o que já sei, mas
não dou resposta ao seu pedido.

Desço meu beijo até seu pescoço, onde deixo um chupão.

— Marco?
Viro-a e a empurro para que ela se deite de costa na cama.

Beijo mais uma vez seus lábios e vou descendo o beijo para o seu peito, onde
caio de boca e sem pudor vou alternando entre um e outro. Melanie geme
meu nome com força e pressa. Era assim que eu a queria, apenas gemendo o
meu nome. Quando me canso dos seus seios, vou descendo o beijo pela sua
barriga grande e redonda com carinho. Paro onde vejo minha porra
escorrendo da sua pequena e rosada boceta.

Minha boceta!

Pego dois dedos e dou certa pressão no seu clitóris recebendo um gemido em
resposta. Repito o ato mais três vezes antes de começar a brincar com seus
lábios. Mordo de leve a banda direita antes de chupar a esquerda, enfio um
dedo dentro dela e depois mais um. Tiro e coloco, enquanto brinco em seu
clitóris com minha língua.

— Oh, Marco! — fala apertando minha cabeça.

Sorrio e não paro.

Cansado de brincar faço o que realmente vim fazer aqui embaixo. Abro a
boca e começo a chupar minha mulher. Ela se contorce na minha boca e
geme ainda mais meu nome fazendo com que meu pau fique ainda mais duro.
O gosto da Melanie misturando com minha porra é uma mistura gostosa que
estou adorando devorar, só paro quando ela goza na minha boca e sugo cada
gota que ela tem a me oferecer. Levanto-me lambendo os lábios tentando
aproveitar cada maldita gota que restou.

— Você me acordou querendo ser comida — falo para ela que está tentando
controlar sua respiração. — Eu te comi com vontade, te chupei com desejo,
mas agora irei te amar com paixão.

Ela só me olha quando entro mais uma vez dentro dela, dessa vez com calma
e leveza. Devido sua barriga não posso pôr muito meu peso sobre ela, mas
isso não me impede de beijar sua boca com carinho quando lentamente nos
amamos.
Ela e eu ultimamente temos usado o sexo como válvula de escape para o que
está ocorrendo em nossas vidas. Estou me vendo caindo aos poucos e ela está
perdida com isso…

Ela está com medo e não a julgo por isso, porque eu também estou, mas é
algo inevitável. A queda é necessária para haver um recomeço.

— Eu amo estar dentro de você — falo quando entro e saio dela devagar, sem
pressa. — Adoro ver seu rosto vermelho e sua respiração agitada e amo ainda
mais saber que sou eu que causo isso em você. — Passo a costa da minha
mão pela sua bochecha avermelhada. — Eu gosto de lhe causar prazer…
Aceito toda minha escuridão por te amar — falo e vejo lágrimas saindo dos
seus olhos.

— Eu te amo. — Suas palavras trazem uma agitação fora do comum em meu


peito.

Quem estou tentando enganar?

Sempre que ela diz isso me sinto aquecido, assim como sempre que James
diz que sou seu herói me sinto agraciado.

— Venha, me ame — pede.

— Sempre!

Não sou tão louco para deixar algum dia de amá-la.

Pessoas como eu raramente temos a chance de recomeçar e ela foi o ponto


inicial para meu recomeço.

Continuo a amando até o amanhecer…

E além dele.
Quem diria que um dia estaria aqui de volta?

Quem diria que um dia eu, o menino pobre estaria aqui de volta?

Só quem diria?

— Marco? — Melanie chama.

— Oi?

— Vamos ficar parados aqui no meio da rua? — pergunta olhando em volta.

— Não, vamos voltar para o carro para que possamos ir logo para casa da tia
Li — digo apertando James em meu colo que dorme tranquilamente.

Ela apenas me segue de volta para o carro, onde o motorista espera


pacientemente por nós.

Chegamos à Inglaterra agora e já desejo ir embora para o mais longe possível


disso tudo.

Não gosto do ar dessa cidade…

Não gosto de estar aqui, mas é preciso pela tia Li.

Ela foi à única figura materna que tive e eu a destruí quando fiz com que seu
filho fosse morto por minha causa. Por mais que ela diga que a culpa não é
minha, sempre me sentirei culpado por fazer com que ele morresse em meu
lugar. Ele me tratou como um irmão, um amigo e até mesmo chegou a ser
meu pai, mas ainda assim morreu sorrindo em meus braços. Era para eu ter
sido atingido e não ele. Por mais que eu não me perdoe pela sua morte ao
mesmo tempo o agradeço porque se não fosse por ele eu não teria a família
que tenho hoje.
Eu sou sortudo para caralho por ter tudo que tenho hoje e não falo da porra da
riqueza, mas sim daqueles que estão ao meu lado. A vida foi cruel até certo
ponto, mas depois veio me recheando de benevolência. Eu não sou digno de
nada disso, mas ainda sim recebi. Como diz Dante Boltoni, só me resta
agradecer.

Eu sou grato…

Sou muito grato!

— Será que ela gostará de mim? — pergunta Melanie.

— Ela vai te amar — digo apertando sua mão. — Ela irá adorar vocês.

— Acho que isso é bom e eu nem trouxe uma torta de maçã para ela — fala
me fazendo rir.

— Papai, onde estamos? — pergunta James com a voz sonolenta.

— Estamos no lugar, onde papai viveu anos atrás? — falo beijando seu
rostinho cheio de sardas.

— Na idade da pedra? — pergunta fazendo com que Melanie e eu soltemos


uma gargalhada.

— Não tanto assim, meu filho — digo passando a mão pela sua cabeleira
ruiva idêntica a minha. — Papai viveu aqui só por poucos anos.

Ele não diz nada, apenas fica brincando com seu bendito urso panda.

Foram poucos anos que definiram minha vida por muitos anos…

Foi aqui que eu nasci e foi aqui que me vi morrer pela primeira vez…

Essas ruas asfaltadas, esses rios limpos e essa população mais bem cuidada
não representam o que minha memória se recorda a cada maldito pesadelo.
Se eu fechar meus olhos, poderei facilmente me ver correndo descalço pela
rua cheia de lama e poças d’água causadas pela chuva ou pelo esgoto que não
tem para onde ir. Para muitos uma cena nojenta, mas na minha cabeça anos
atrás era o gosto da liberdade.

Eu havia conseguido fugir das grades e das correntes e estava feliz por poder
correr livremente. O que eu não sabia era que logo mais correria para outra
cela, só que ela seria na maioria do tempo concentrada dentro da minha
própria mente.

Quando o motorista para o carro diante de uma casa simples de dois andar da
tia Li, respiro fundo.

É agora ou nunca!

— Estou contigo — Melanie diz e aperta minha mão com certa força.

— Obrigado — sussurro para ela.

Saio do carro e seguro James com uma mão, para que a outra estenda a
Melanie.

O motorista pega nossas bagagens e nos segue pelo caminho do jardim que
leva até a porta. Eu tentei dar uma casa melhor e mais segura, mas a velha
teimosa não quis. Ela disse que essa cara era mais do que seu sonho e a tinta
azul escura nas paredes com contornos brancos, me diz que ela realmente
realizou seu sonho. Ela sempre dizia que um dia teria uma casa assim,
simples e aconchegante. Antes que eu possa bater na porta, ela é aberta e tia
Li surge com um vestido longo amarelo sorrindo. As rugas no seu rosto me
dizem o quanto o tempo passou e seu cabelo meio grisalho lhe dá algum
charme, mas o sorriso acolhedor e carinhoso ainda está ali, assim como seus
olhos que me transmitem carinho e amor dilaceram minha fodida alma.

— Meu filho!

Ela vem até mim e me abraça mesmo estando com James no colo.

Melanie solta minha mão para eu possa abraçá-la.

Quando envolvo meu braço em sua cintura, me recordo que quando menino
fazia a mesma coisa, meu peito se aperta e sinto vontade de chorar.
— James quer respirar — meu garoto fala fazendo com que tia Li se afaste e
olhe para ele atentamente.

Seus olhos se enchem de lágrimas e ela passa as mãos trêmulas pelo seu
rosto.

— Ele é idêntico a você, quando mais jovem — fala chorando. — Você é


lindo meu ruivinho. — Ela chama James da mesma forma que costumava me
chamar.

Essas palavras apertam ainda mais meu peito. Algo dentro de mim está se
rompendo e não sei por quanto tempo irei aguentar.

— Esse é James, meu filho mais velho e essa é minha esposa, Melanie e esses
em sua barriga são nossos filhos mais novos — digo e recebo um olhar
recheado de amor. — James, Melanie essa é a mulher que me chama de filho
mesmo não sendo digno disso.

— O que é ser digno hoje em dia? — pergunta tia Li. — Você merece todo o
amor desse mundo, minha criança.

— Eu sempre digo isso, mas esse ruivo safado não ouve — Melanie fala e
logo tapa a boca com a mão.

— Gostei de você minha querida, vamos entrar. — tia Li dá um abraço em


Melanie e entramos. — Aqui tudo é simples.

— Amo simplicidade — Melanie diz sorrindo. — Sua casa é linda.

— Obrigada Mel, posso te chamar assim? — pergunta tia Li.

— Todos me chamam de Mel, menos o Marco — fala e por alguns segundos


vejo tia Li arregalar os olhos.

Ela está surpresa por escutar meu nome.

Esse nome…

O meu nome.
— Então te chamarei de Mel. Pode colocar as malas no segundo andar, no
primeiro quarto à direita. — fala ao motorista que sobe a escada.

O tempo passa e tia Li interage com Melanie e James. Melanie fala sobre
nosso casamento e sobre nossa futura casa estilo medieval. Ouço-as
conversarem e raramente me coloco no assunto.

O jantar foi tranquilo e James dormiu rapidamente, assim como Melanie.


Porém eu não consigo e por isso me vejo sentado em um banco atrás da casa.
Olho para as estrelas tentando acalmar meu coração, ele está agitado e
bagunçado…

Está se quebrando assim como eu.

— Você ainda gosta de olhar as estrelas, meu ruivo.

Ouço tia Li dizer enquanto se senta ao meu lado.

— Como você está? — pergunta me abraçando de lado.

— Melhor do que deveria — digo ainda olhando para o céu.

— Você ainda tem essa terrível mania de achar que não merece nada. Você é
tão tolo minha criança, inteligente para tantas coisas, mas tão burro para
outras — fala me pegando de surpresa. — Você não entende que é digno de
tudo que tem e merece?

— Ele morreu por minha causa, os dois na verdade — digo e então uma
lágrima escorre dos meus olhos. — Eu não merecia o que eles fizeram por
mim, eu não mereço nada disso… Eu não deveria nem estar vivo — falo
olhando para ela. — Eu vi todos eles morrerem por mim, um por um. Pessoas
que me protegeram até mesmo de mim mesmo. Eles não mereciam morrer e
ainda assim morreram por mim. — Ponho a mão no meu peito. — Eu estou
tão perdido… Tão sem chão que não sei onde pisar… Eles são tudo para
mim. A vida me deu uma luz e eu estou me agarrando a ela com tudo que
tenho, mas confesso para a senhora que está difícil não ser consumido pela
escuridão… Eu só não quero ferir mais ninguém.

— Então por que ainda se fere tanto, minha criança? — pergunta segurando
meu rosto com as duas mãos. — Você está se destruindo por qual motivo?
Diga-me por que se tortura tanto assim?

— July morreu, ela viu a morte como uma liberdade e seu filho morreu por
mim.

— Eu perdi dois filhos, mas ainda tenho você… Nunca mais se desmereça
meu menino. — Ela me abraça. — Você precisa se libertar.

— Obrigado por me amar.

— Não agradeça uma mãe por amar um filho.

Beijo sua testa e saio rua a fora, preciso fazer isso.

Eu preciso iniciar a minha queda…

Está na hora de cair.

Caminho pela estrada, me permitindo sentir a dor que o garotinho dentro de


mim trancafiou.
Dói!

Sempre dói…

Não consigo me acostumar com essa dor, mesmo que ela esteja na minha
vida há anos.

Dói saber do que se foi deixado para trás…

Dói saber que nunca voltarei para casa…

Dói saber que nunca tive uma casa…

Entre tantas dores me acostumei a senti-la…

Como uma rachadura na parede, ela está ali há anos, mas você não se
importa porque se acostumou a tê-la ali. Sou como uma rachadura, não, sou
um verdadeiro caco.

Sou um caos!

Sou bagunçado por dentro, mas quase perfeito por fora.

Caio de joelhos diante dessa lembrança, coloco a mão no meu peito e deixo
vir tudo que deixei guardado dentro de mim.

Eu quero ter um lar, por que não tenho um?


Por que dói tanto?

Eu não gosto de ser sozinho…

Aqui é frio.

Não!

Mordo meus lábios para não gritar de dor.

Eu não fiz nada, mas estou sendo castigado…

Eu quero sair dessas jaulas.

Sou um animal?

Por que eles têm uma mãe e uma cama macia e eu não?

O que fiz para merecer isso?

— MENINO PORCO! EU VOU TE MATAR! EU TE ODEIO! — ela sempre


grita isso e depois me joga lá para ser devorado pelos bichos maus.

Eles me devoram e depois riem de mim.

Eu sangro até conseguir caminhar por conta própria.

Eu tenho medo, mas não adianta ter medo.

Eu sinto o frio…

O frio é meu amigo e ele me mostra que infelizmente estou vivo.

Será que Deus existe?

E se existe porque me deixa aqui?

Sorrio ao enfim me livrar das jaulas e corro feliz pela rua…

Estou livre!
— Sou Li — fala a moça me abraçando. — A partir de agora sou sua mãe —
fala me abraçando e me dando um beijo no rosto.

Ela me trata com carinho.

Acho que isso é amor de mãe.

Eu nunca tive uma mãe…

— Ei, ruivinho, eu sou seu irmão mais velho, prometo que te protegerei de
tudo e todos — fala bagunçando meu cabelo.

Corremos rápidos e então tudo fica vermelho.

— Eu te protegi como prometi — fala sorrindo.

Ele sempre sorri para mim.

— Eu te amo irmãozinho. Tome esse papel e siga um rumo.

Eu não choro…

Eu não posso chorar…

Era para eu estar morto.

— Você merece mais, ruivo — fala July. — Você merece mais do que esse
mundo em que vivemos te oferece — fala antes de cuspir sangue. — Voe, voe
como uma águia no céu. Eu irei voar só que para longe desse insensato
mundo.

— AHHH — grito com a mão em cima da cabeça.


Soluço sem forças para me levantar…

Respiro fundo, mas não consigo sequer respirar.

Meu Deus!

Por que dói tanto?

Eu não merecia passar por tudo que passei…

Eu era só uma criança, só uma criança!

Aí, ele me machucaram tanto mais tanto que só por milagre divino ainda
estou em pé…

Eu só não entendo o que fiz para merecer tudo isso…

Eu fui um nômade, um estrangeiro dentro de mim mesmo…

Um tsunami de dolorosas emoções passa por mim.

Com muito esforço, fico em pé e sigo até o caminho que há muito tempo
faço.

Caminho mais uma vez na mesma direção…

Mais uma vez faço esse doloroso caminho…

Um caminho sem volta.

Se eu soubesse a consequência que teria ao passar por esse caminho, jamais o


teria feito, mas agora é tarde demais, é muito tarde para voltar atrás…

Queria poder mudar certas coisas, mas como não posso mudar aceitei viver
com as minhas escolhas.

O que é uma merda a mais ou a menos para carregar?

Suspiro cansado dessa merda toda.


Cansei, sério, eu me cansei de tudo…

Estou ficando tão exausto dessa brincadeira de gato e rato…

Só me cansei desse jogo doloroso.

Paro diante do meu maior arrependimento, do meu maior erro, mas diante da
minha mais pura e grata salvação.

— Eu não trouxe flores, na verdade eu odeio flores e você sabe muito bem
disso, elas murcham e perdem a cor, então não vejo graça em trazê-las aqui já
que logo perderão seu charme. Também não vim chorar o leite derramado,
porque, aliás, já chorei muito. Vim apenas ver como se encontra. Faz anos
que faço esse mesmo caminho, mas hoje será o último. — Suspiro buscando
forças para continuar. — Sabíamos que uma hora teríamos que dizer adeus e
hoje é o dia. Talvez eu não sobreviva ao amanhã, mas estou cansado de
mentir, de fingir e de ter que sorrir para todos. Cansei de me manter em pé
quando tudo que quero é cair em queda livre. A vida é um porre do inferno!
Talvez eu vá me sentar no colo do Capeta, mas para o bem ou para o mal, eu
desisto e confesso todos os meus pecados. Eu me cansei, me cansei de lutar
essa batalha infinita entre e verdade e a mentira. Cansei de tentar me
convencer o tempo todo de que estou falando a verdade… Apenas cansei. —
Ajoelho-me pegando um pouco de terra em minhas mãos, fico em pé e a jogo
no tumulo a minha frente.

Adeus Marco Haylock!


Ao dizer adeus ao meu passado, faço meu caminho de volta com menos
pesar, mas extremamente cansado da luta interna que sofri e ainda sofro.
Livrei-me só de uma parte, ainda falta todo o resto. A dor em meu peito é
tanta que até mesmo caminhar é sufocante e doloroso. Ninguém me disse que
se permitir sentir doeria tanto assim…

As lembranças…

As malditas recordações são como brasa quente ferindo minha alma e mil
chicotadas doeriam menos.

Agora entendo e aceito que não tive culpa de nada, mas que porra, eu era só
uma criança, apenas um menino inocente se é que algum dia fui inocente
nessa vida. Eu não tive culpa de nada e isso é o que mais me fere…

Saber que fui dado para escuridão sem ao menos antes saber o que era ou o
que é a luz. Muitos possuem o direito de lutar contra luz ou contra as trevas,
mas eu simplesmente fui dado de mão beijado para o lado obscuro da vida.

Que azar o meu!

Sinto minhas mãos tremerem, assim como minhas pernas. Eu não conseguirei
nesse momento voltar para Melanie e meus filhos. A gravidade me puxa e me
permito cair mais uma vez…

A queda é livre!
Olho a minha volta e percebo que estou em algum lugar bom, algum lugar
mágico. Percebo que há um lindo rio e árvores para todos os lados, as flores
são vivas que até mesmo me dá vontade de chorar a olhar para elas. O céu é
azul e o sol brilha com certa perfeição, parece até com o Paraíso, mas pessoas
como eu ruins jamais viriam para o Paraíso. Olho a minha volta e cada giro
que dou o lugar só se mostra mais perfeito ainda. É impossível que eu tenha
morrido e ter vindo para o céu…

Só é impossível!

Não sou digno de tal maravilha e benevolência.

Ando entre as árvores em busca de algo ou de alguém, até que ouço vozes
distantes. Corro até elas o mais rápido que posso, mas paro chocado com o
que vejo.

É inacreditável!

Caio de joelhos e então choro.

Eles olham para mim e sorriem abertamente.

Isso só pode ser o céu, mas o que fiz para merecer estar aqui?

— Olha só quem enfim está aqui conosco — fala July sorrindo para mim. —
Já aprendeu a voar, ruivinho?

— Alguns voos demoram um pouco mais para acontecer, July — fala a


pessoa que a razão pela qual hoje estou vivo. — Vi que seguiu meu plano,
Marco Haylock. — A forma como ele pronuncia meu, não, nosso nome é
algo surpreendente.

— Eu usei seu nome como me pediu. — Consigo dizer por fim.


— Você não tinha nome e eu não existiria mais, achei que Marco Haylock
combinaria com você e pelo que vejo ficou perfeito — diz sorrindo para
mim. — Oh, mas, por favor, pare de se culpar tanto e se maltratar tanto por
isso, foi uma escolha minha salvar sua vida e jamais me arrependi do que fiz.
Tenho orgulho de você, Marco Haylock, aliás, meu nome não é exatamente
esse e sim James Marcos Leonas Heylok — fala e arregalo os olhos surpreso.
— Eu sempre dizia que meu nome era mais complicado do que vocês
imaginavam. — Ele sorri e pisca. — Marco Haylock é seu nome, apenas seu,
você o merece. Havia dois documentos naquela bolsa um com o meu nome e
um com o seu, o meu morreu comigo e o seu está contigo até agora,
irmãozinho.

Levanto-me com dificuldades do chão e caminho até eles com certo pesar,
mas com alegria em saber que está tudo melhor do que ontem. Eu não sei que
lugar é esse, mas se for o Paraíso irei agradecer a quem for por me achar
digno dele, mas irei pedir para voltar ao inferno que é a terra por lá estar as
pessoas que amo.

— Acho que compreendi tudo — falo enquanto o abraço e depois faço o


mesmo com July. — Que lugar é esse?

— Aqui são os seus sonhos — fala July. — Esse lugar é o que chamamos de
ponto de partida, estamos a um passo do céu — explica. — Mas, ainda não é
sua hora. Você tem que voltar e ficar com os seus na Terra. A vida continua
para você, mas para nós dois aqui já acabou. Voe Marco Haylock, só voe…

Abro meus olhos e tento me levantar, mas algo me segura.

Quando viro minha cabeça para o lado vejo Melanie me segurando com os
olhos cheios de lágrimas, ela está chorando por minha causa e isso é mais do
que óbvio.
Eu não mereço suas lágrimas…

— Você acordou meu amor — fala chorando e me abraça. — Estava tão, mas
tão preocupada.

Apenas a aperto forte, mantendo-a em meu peito e inspiro seu cheiro que
tanto amo. Olho em minha volta e percebo que estou em um hospital. Não sei
como vim parar aqui, mas posso dizer que não foi de uma forma gratificante
para minha futura esposa.

— Não sei se sabe, mas estou grávida de dois filhos seus e para piorar sua
situação tem mais um que já anda e fala e chamou o tempo todo pelo pai que
adormeceu devido ao estresse causado por uma grande carga de emoção.
Você saiu no meio da noite sem me dizer nada e quando acordei não sabia
onde estava. Sua tia Li tinha ideia, mas não era certeza. Você acredita que
passei horas e mais horas chorando por sua causa até receber uma ligação de
uma criança dizendo que havia te encontrado? Eu fiquei chocada e muito
feliz, o menino de rua está nesse exato momento fazendo exames, mas Marco
você está me ouvindo? — pergunta enfim fazendo uma pausa.

— Sim, eu estou… Eu estou bem. — Tranquilizo-a. — Que menino é esse


que me encontrou? — pergunto não me lembrando de quase nada após sair
do túmulo.

— Ele disse que te encontrou caído, viu seu telefone e apertou um número na
tela que deu direto para mim. Ele não fala muito, apenas aceitou comida e
com muito custo os exames médicos. A tia Li disse que vai cuidar dele.

— Ele nem disse ainda o seu nome. Ele é lindo! — Seus olhos brilham ao
falar da criança desconhecida. — Onde você foi?

— Cair… Eu fui cair e ainda estou lidando com a queda — falo e ela me
abraça mais uma vez. — Veio em minha memória diversas lembranças da
minha infância, adolescência… Lembranças que eu fingia que não existia,
momentos que fingi que não eram nada. Eu os liberei e como um garotinho
eu chorei e chorei. E, então, eu fui me despedir de um velho amigo que me
causava tantos pesadelos. Ao que parece ele e eu não temos o mesmo nome
— digo e ela me olha meia que confusa.
— Não, vocês nunca tiveram — tia Li fala entrando no quarto. — Eu te disse
algumas vezes que você não havia roubado o nome dele e mesmo que fosse
não seria um roubo já que ele te deu — diz se aproximando. — Seus nomes
são parecidos, mas não os mesmos. Você era um nômade, um estrangeiro que
não tinha nome e muito menos idade, então ele te deu um… Ele te deu o seu
nome, mas não pode te explicar a situação.

Minha garganta fica seca.

— Você é Marco Haylock e ninguém pode te dizer ao contrário, e a meu ver


você meu filho, não é mais um estrangeiro — dizendo isso ela vem até mim e
deposita um beijo na minha testa. — De todos os meus filhos, você foi o
único que voltou vivo e completo para casa e isso deixa uma mãe mais do
que feliz.

Suas palavras me atingem em cheio.

— Você sofreu muito meu filho e talvez ainda tenha que lidar com certas
coisas dentro de você, mas não tenha dúvidas de que te amo. Ele era meu
filho biológico, mas você mesmo não tendo meu sangue é meu e ninguém
pode dizer o contrário nem mesmo você, Marco.

Eu gostaria de poder fugir desse momento tão perturbador para mim, suas
palavras carinhosas ao mesmo tempo em que me trazem conforto causam
desconforto por não saber ao certo o que lhe dizer.

Tia Li foi embora uma hora depois levando James com ela a pedido meu, não
queria meu filho naquele ambiente hospitalar que tanto odeio. Eu já estava de
alta, mas o menino que me “resgatou” não, para ser bem sincero eu ainda
nem havia o visto, mas nutria uma curiosidade fora do comum por ele.
Melanie ao meu lado segurava firme minha mão com medo de que eu fosse
embora e a cada momento eu poderia lhe dizer que jamais sairei do seu lado,
mas ela irá jogar na minha cara o simples fato de que já a deixei uma vez. E,
por mais que não seja verdade, quer dizer, foi algo planejado para proteger
nosso filho e ela. Eu não tinha a intenção de deixá-la, mas naquela época foi
preciso e hoje de forma alguma faria tal coisa sem conversar com ela
primeira primeiro e dizer o que está de errado. Alguém me disse que um
relacionamento só existe se for a dois e essa pessoa está completamente certa.

Melanie para diante da porta, onde o menino está e me olha com expectativa.

— Por favor, seja simpático e não o assuste — pede com os olhos brilhando.

É sério!

Acham que vou assustar a pobre criança?

— Pode deixar — falo e entro no quarto sem bater e para minha surpresa
Melanie fica, mas não questiono sua decisão.

Fecho a porta atrás de mim e vejo uma criança de aproximadamente sete


anos, cabelo e olhos escuros como a noite e pele pálida me olhando. Ele está
bem magro e pelo que ouvi falar já sei o porquê, mas o que me surpreende
nesse pirralho é o sorriso que ele abre para mim.

— Graças a Deus, o senhor está bem — fala sorrindo abertamente.

Esse sorriso me encanta e até mesmo aquece minha alma.

Crianças são seres de luz, eu não fui uma, mas esse menino diante de mim é.

— Obrigado. Qual é o seu nome, tem pais? — pergunto já sabendo a resposta


para uma das perguntas.

— Meu nome é Peter, senhor. Não tenho pai e nem mãe — fala ainda
sorrindo, mas desta vez com os olhos tristes.

— Meu nome é Marco Haylock, Peter. — Apresento-me me aproximando da


cama e me sentando na beirada dela. — Já foi à escola alguma vez, Peter?

— Não senhor, eu nunca fui, mas morro de vontade de ir… Nunca vi menino
de rua virar doutor — fala tristonho.

— Eu já vi — falo e ele me olha espantado.

— Quem?

Sua curiosidade é tão gritante que até me faz rir.

— Eu, Marco Haylock — falo e ele arregala os olhos. — Já ouviu falar de


Boston?

— O que é isso? É comida? — pergunta e sorrio.

— Não, é uma cidade onde venta bastante e o clima é bem agradável — falo
e Melanie enfim entra no quarto.

— Dessa cidade nunca ouvi falar não, vocês são de lá? — pergunta olhando
para nós dois.

— Já pensou em ser o irmão mais velho? — pergunto e essa criança me olha


espantada.

Olho para minha futura esposa que sorri abertamente para mim. Ela sabe o
que estou planejando, pela sua cara me dá total apoio e isso é tudo que
preciso.

Sabia que ao vir para Inglaterra viveria muitas coisas e teria que saber lidar
com outras. Eu imaginava que estar na minha Terra Natal despertaria o
menino enterrado dentro de mim e por mais que agora esteja aqui em pé
ainda me sinto no chão, mas por agora está tudo bem. Minha alma está ferida
e nenhuma ferida desse tamanho e proporção se fecha assim tão rápido. Estou
enterrando meu passado e dando um passo a caminho do meu pequeno céu
particular. Ainda não possuo asas para voar, mas por agora está tudo bem. Só
estou desencadeando o que trancafiei por muito tempo dentro de mim.

Ao que parece durante o tempo em que fiquei apagado, sonhei com algo e
não me lembro direito o que foi. Só sei que deixou uma sensação de paz
dentro de mim. Olho para esse menino diante de mim, compreendendo esses
novos sentimentos que ele desperta nesse meu ferido coração.
Ele fará parte da família.

Acho que tive um pequeno vislumbrar do céu e pelo que vi desejo um dia
habitar lá. Minha redenção começou quando Melanie e James entraram em
minha vida, mas agora vai muito além de uma mera redenção.

Para cada ponto final, há um recomeço e o meu começa agora.


Observo James interagir com Peter, é algo lindo e magnífico de se ver.
Ambos possuem uma ligação que foi construída em segundos, bastou um
olhar para o outro. Peter ainda não se deu conta de que irá morar conosco,
mas acho que essa será uma conversa que Marco terá com ele. Por falar no
meu ruivo gostoso, o qual precisa me explicar uma porrada de coisas que até
agora não entendi quase nada.

Essa é a verdade…

Estou perdida nesse mundo do Marco.

Só sei e entendo que Peter será nosso filho, mas que para isso ele precisa
resolver algumas burocracias, a quais, só sei assinar meu nome. Mais uma
vez sorrio ao ver a mini cópia Haylock brincar com Peter.

Eles são lindos juntos!

Logo serão quatro crianças atazanando minha vida…

Deus me livre de não poder viver esse sonho!

Cada garotinha sonha em viver um sonho encantado e eu estou vivendo o


meu da forma avessa ao da maioria.

Marco não é um príncipe e muito menos um sapo. Ele não é uma pessoa
graciosa ou muito gentil, ele é curto e grosso. Por falar em grosso seu pau é o
meu sonho todinho de princesa puta safada. Só de pensar em seu bendito
monumento entre as pernas fico até molhada.

Mãe Santinha do céu, que é isso, hein!

Voltando ao Marco não ser nada encantado, a não ser seu pau mágico que faz
mais feitiço do que a varinha mágica do Harry Potter. Nem mesmo Merlin
com toda sua glória e poder conseguiria fazer tanto estrago em mim como
esse homem ruivo, que tem olhos como o céu celestial, mas quando está com
tesão.

Minha Nossa Senhora, nem sei como descrever.

Só sei que me queimo todinha no seu olhar.

Ouço a gargalhada das crianças e me repreendo mentalmente por estar


pensando no pênis bem feito do Marco, ao invés de estar observando esses
anjinhos mandados pelo céu para minha adorável vida. Sorrio para eles, mas
não me meto no que seja que estejam conversando.

É um momento deles, apenas deles…

— Fico feliz em ver que estejam se dando bem — fala a tentação no pé do


meu ouvido, fazendo com que eu leve um susto. — Não quis lhe assustar —
fala me abraçando por trás.

Olho para ele de rabo de olho e respiro fundo.

Assustar-me é o que ele mais tem feito…

Marco deveria pensar um pouco mais antes de agir, ou melhor dizendo,


deveria ter um pouco mais de amor por mim.

Eu embarquei para cá de coração e peito aberto para tudo. Sabia o quanto


esse lugar seria difícil para ele, mas não imaginei que na calada da noite ele
iria sumir e me deixar sozinha a mercê dos meus pensamentos negativos. Eu
nunca rezei tanto por alguém quanto pedi por ele. Para minha completa
desgraça tia Li não sabia do paradeiro dele, mas me disse que era preciso que
ele se desconectasse do passado para viver o presente. Agarrei com todas as
minhas forças e fé essas suas palavras. Marco luta e talvez sempre tenha que
lutar contra uma parte sombria que há dentro dele, eu não a temo mais, mas
temo o que ela pode fazer com ele. Não é um jogo, onde ambos os lados
serão vitoriosos, mas sim uma guerra onde a bandeira da paz só será erguida
no dia da morte. É uma triste e verídica verdade a qual terei que conviver,
mas eu o amo e por amá-lo estou disposta a ser mais do que luz em sua vida.

— Na verdade, estava aqui pensando no quanto você foi abençoado em ter


esse pau maravilhoso — falo e sinto-o apertar um pouco mais forte minha
cintura. — Sabe, a cabecinha é tão rosada que até sinto vontade de morder
como se fosse uma maçã. — Ele morde meu pescoço fazendo com que
pequenas correntes elétricas cheguem até minha boceta.

— Se você o morder como se fosse uma maçã, ficará um bom tempo sem
brincar com ele, senhora Haylock — fala me pagando de surpresa, mas não
pelo fato de ter falado que ficarei sem minha principal fonte de diversão, mas
pelo que me chamou.

— Do que você me chamou? — pergunto virando meu pescoço para encará-


lo.

— Deveria ler o que assina, essa é a regra número um — fala sorrindo de um


jeito travesso. — Regra número dois, fique mais atenta… E regra número
três, somos casados senhora Haylock — fala e arregalo os olhos surpresa.

Eu não sei se o mato ou se o beijo, mas lá se vai o meu sonho de casamento


dos sonhos. Eu sempre quis ter um casamento digno de princesa, mas agora
vejo que não terei um tão, mas tão cedo.

— Não poderíamos adotar o Peter sem sermos casados, então nos casamos no
civil com duas testemunhas. Eu possuo dupla nacionalidade o que ajudou, e
claro, o dinheiro abriu grandes barreiras. Peter agora se chama: Peter Marco
Lewis Haylock, como você falou. Eu não vejo o porquê dele ter meu nome,
mas tudo bem.

Sinto uma lágrima escorrer dos meus olhos, me viro e o abraço.

— Amanhã ele vai embora conosco. Ele terá uma casa e três irmãos mais
novos. Estou fazendo uma loucura, mas essa é a mais bela e linda de todas. É
claro que me casar com você na igreja e sair desfilando pelas ruas históricas
de Boston em uma carruagem é sem sombra de dúvidas a maior de todas, mas
não me arrependerei nem por um segundo dessas terríveis loucuras — fala
enxugando minhas lágrimas.

Ele é lindo com essas sardas e essa barba ruiva que acho sexy para caralho.
Ele não é perfeito, mas é meu e eu o amo do jeitinho que é…

Imperfeito.

Abraço-o ainda mais apertado e em silêncio o agradeço por tudo. Ele não
sabe ou finge não saber, mas faz mais por mim do que eu mereça.

— Eu não sou louca! — digo fazendo bico.

— Em momento algum eu disse que você era — fala sorrindo. — Vamos


contar a novidade?

— Vamos! — respiro fundo e me viro para os dois pares de olhinhos que nos
olhavam atentamente.

Caminhamos até a beira da cama e deixo que Marco fale senão irei chorar o
tempo todo…

Já estou chorando…

Inferno!

— Peter, eu serei rápido e curto. — Começa Marco. — Eu não sou um herói


e na verdade, estou longe disso. Eu não sou bom em contar piadas, mas posso
tentar. Eu posso errar às vezes… Não sempre, mas quando errar peço que
seja compreensivo comigo. Eu sou mandão, mas sempre te protegerei assim
como protejo James e os gêmeos que estão a caminho. Não sou o melhor pai
do mundo, mas prometo tentar ser o melhor pai para vocês… Seja bem-vindo
a família, Peter Marco Lewis Haylock, eu já te amo.

Quando ele termina de falar eu solto um soluço.


Eu não poderia ter falado melhor.

Eu olho para as placas em negritos, em cores diversas, em várias letras e


formatos, chocada. Eu olho para eles e tento compreender o que fiz para
merecer passar tanta vergonha assim.

Mãe Santinha do céu tenha misericórdia de mim!

Marco segura James no colo e a mão do Peter também olha abismado, as


crianças parecem se divertir com a animação, mas eu com toda certeza estou
morta de vergonha. Tenho certeza absoluta de que Pedro e Valentina
armaram isso. Parece um circo no meio de um aeroporto. Peter vai achar que
somos estranhos e vai nos odiar. Vai querer voltar para Inglaterra.

— Peter, essa é nossa família! — diz James gargalhando.

— Eu gosto de ter uma família — responde meu mais novo filho. — Eles
parecem felizes. — Seus olhos brilham olhando para o circo que está diante
de nós.

— É porque você chegou — responde Marco fazendo o menino chorar ao


mesmo tempo em que sorri.

— Sinto-me amado mesmo sem conhecer nenhum deles — diz enxugando as


lágrimas.

Eu sorrio para eles, feliz pela recepção vergonhosa. Nas placas está escrito:
“Sejam bem-vindos de volta.” e “Peter seja mais do que bem-vindo.” entre
outras que realmente demonstram o quanto eles se importam com a gente. Eu
perdi meus irmãos de sangue, mas ganhei esses que nem ao menos sei como
descrever.

Valentina, Carlos e seus filhos estão vestidos de azul com a camisa escrita
“Peter te adoramos!”

Dante, Anny e os trigêmeos estão com uma camisa verde-clara que diz: “Seja
bem-vindo a família, Peter”

Pedro e Jady estão com uma camisa amarela que diz: “Somos loucos, mas te
amamos. Sejam bem-vindos.”

Sem falar nos cartazes coloridos.

Eles estão chamando atenção, mas eu duvido muito que se importem com
isso.

Quando as crianças dão um passo para frente, Marco põem James no chão,
solta a mão do Peter e então a mágica acontece. Eles correm um até o outro
se abraçando. Peter sorri e se apresenta sorridente.

— Esse é meu irmão mais velho.

Ouço James dizer.

Sorrio sentindo algumas lágrimas escapulirem dos meus olhos.

Fujonas do inferno!

— Na próxima vez vamos chegar sem avisar ninguém — sussurra Marco no


meu ouvido e arrepia até os cabelinhos do cu com esse timbre vocal. — Não
acredito que ficou excitada.

— Eu sempre fico para você — digo meia ofegante.

— Humm, bom saber disso senhora Haylock — fala e beija meu pescoço.

— Dá para vocês pararem de putaria aqui, por favor, há crianças por perto —
diz Pedro mostrando sua gengiva.

Esse cara não para de sorrir, não?

— Aí Melzinha só você mesmo para pôr uma coleira no pescoço desse ruivo
raivoso — diz sorrindo e me abraça. — Eu te disse que ele era mais do que
revelava e que um dia você veria. — sussurra no meu ouvido e choro. —
Obrigado Melanie por nunca te desistido dele. Você lutou pelo nosso irmão,
tem minha eterna gratidão. — Ele se afasta, beija minha testa e me dá um
sorriso gentil e amplo. Um sorriso sincero.

Não sei o que dizer por isso me mantenho quieta até ver as meninas vindo até
mim com sorrisos bobos.

— Só falta agora um casamento na igreja digno de uma princesa — Val fala.


— Amanhã será a prova do vestido, veremos o buquê, as cores e a lista de
convidados. Acho que será para poucos, mas mesmo assim precisamos
adiantar tudo isso. — Ela por fim respira. — Ele é lindo, parabéns! — Dá um
abraço apertado beijando meu rosto.

— Ele parece ser tão doce — diz Anny me abraçando com carinho. — Seja
bem-vinda de volta, ele é lindo! — Seu beijo suave no meu rosto me agrada.

Jady me olha tímida sem saber o que fazer.

Eu a compreendo, pois entrou agora para o time e ainda namora o Pedro o


que não ajuda muito ou talvez devesse ajudar.

— Olha só menina Jady, entre nós só há minha barriga de grávida, então, por
favor venha me dar um abraço gostoso — falo e ela anda até mim a passos
rápidos.

— Seja bem-vinda de volta, meus parabéns pelo casamento e pelo filho lindo.
— Ela beija meu rosto e timidamente acaricia minha barriga.

Menina Jady, que doce.

Carlos me cumprimenta com um abraço e beijos no rosto, mas foca sua


atenção no Marco.

Seguimos puxando as crianças para casa e para nossa surpresa surge um


chororô na hora de cada um entrar no próprio carro, eles não queriam se
separar. Anny conseguiu explicar que íamos todos para casa, só que em
carros diferentes e com muito custo conseguimos sair do aeroporto.

Peter não parava de falar da filha do Carlos, Danielle e Marco apenas ria,
aliás, são apenas crianças.

O caminho para casa foi rápido e ao mesmo tempo adorável.

Chegamos todos ao mesmo tempo, mas no elevador não cabia todo mundo e
outro chororô surgiu.

Olho para os brinquedos espalhados, para a comida na mesa, ouço as vozes e


me sinto realizada mesmo sem minha mãe estar aqui ao meu lado. Peter e
James estão brincando com as crianças, Marcos conversa com o pessoal e eu
o observo todo feliz. Caminho para a sacada, já está escurecendo e o sol está
se pondo o que deixa o céu meio alaranjado e lindo. O vento forte balança
meu cabelo e coloco minhas mãos em minha barriga.

— Ei, bebês, quando vocês chegarem nesse mundo terão uma família bem
louca, mas quase perfeita. Vocês serão amados, muito amados. Terão dois
irmãos mais velhos e um pai que saber atirar, então boa sorte para todos nós
— digo para eles e sinto um chute onde minha mão está. Eles estão aqui, bem
e vivos.

— O céu assim é perfeito.

Ouço a voz do Dante e levo um susto.

— Não queria assustá-la, me perdoe — pede calmamente parando ao meu


lado.

Esse homem ao menos podia ter a voz feia ou ser mal-educado.

— Como você está senhora Haylock? — pergunta sorrindo de leve.

Até o sorriso dele é bonito…

Definitivamente ainda não achei um defeito na aparência desse homem e nem


no caráter.
— Agora estou bem. — Confesso. — Eu tive medo, muito medo, mas então
tudo parece estar se ajeitar — digo voltando a olhar para o céu alaranjado.

— O céu possui vários tons assim como o mar, pode ser coincidência ou não.
O céu é azul, mas tem horas que fica assim alaranjado. Horas azul-escuro e
horas um azul tão claro que dizemos lá no Rio de Janeiro, “O dia hoje está
bom para uma praia”. O oceano tem vários tons de azul o que o torna tão
magnífico e tão atraente aos olhos de quem o deseja. A vida possui esses
diversos tons. Uma hora mais claro e outra mais escura, mas ambas consigo
enxergar a beleza.

Esse homem deveria ser poeta.

— Nem sempre compreendemos tudo, Melanie, mas nem tudo precisa ser
compreendido. Nem todo soldado que vai para guerra sabe ao certo o porquê,
mas mesmo assim vai lutar pelo que acredita ser certo. Porém como lutar por
algo sem saber?

Olho para ele.

— Por amor e por fé. Foi por essa razão que você venceu essa batalha que ao
menos sabia que era obrigado a enfrentar, Melanie. — Ele dá um beijo na
minha testa e volta para dentro.

Eles dizem que sou uma heroína, mas não sou nada disso.

Marco está se tornando o herói da própria história, só não sabe disso ainda…

— Melzinha, temos apenas três dias.

Levo um susto quando Valentina surge ao meu lado.

— Para me casar? — questiono confusa.

— Para nossa noite de meninas em Vegas! — Anuncia.

— Isso aí, você tendo se casado ou não terá sua despedida de solteira estilo
garotas loucas em Vegas! — fala Anny animada. — É isso menina, esse é o
nosso mais novo segredo.
Olho para elas sorrindo diabolicamente, agora farei com que Marco Haylock
enlouqueça de vez.
Observo meus filhos rirem do desenho animado que passa na televisão,
não faço mínima ideia do que seja, mas sei que eles gostaram muito e que
estão aprendendo a cantar todas as músicas do desenho. Desenhos musicais
pelo que entendi são educacionais e dessa vez coloquei para gravar, até
mesmo já escolhi após duas horas de pesquisa outros dois desenhos, os quais,
já baixei episódios para eles verem.

Dessa vez estou preparado!

Peter está dormindo no quarto de James, ambos dormem no chão em um


colchão que colocamos lá, enquanto a casa nova não fica pronta, aliás, sinto
que irei enlouquecer com casamento, lua de mel e obra.

Ninguém me disse que se casar seria tão trabalhoso. Sem contar que ainda
tem os gêmeos não gêmeos a caminho, mas dois quartos para preparar ou só
um por enquanto. Então é isso, eu tenho quatro filhos e tudo isso em menos
de dois anos, ou melhor, em menos de um ano e meio.

Quem diria em Haylock?

Olho mais uma vez as crianças e os sacos de pulga no chão.

Não disseram que ter cachorro é como ter filho?

Melanie deve ter esquecido disso quando trouxe esses dois para cá.
Volto minha atenção para o meu notebook para poder adiantar o máximo de
trabalho possível para compensar o tempo em que ficarei fora, além do que já
estou ficando. Ultimamente venho me ausentando mais do que o normal da
corporação e dos meus deveres, sei que é por uma causa particular e até
mesmo importante, mas ainda assim sinto que estou deixando algo
incompleto. Eu preciso pensar em me adiantar e saber dividir melhor meu
tempo. Agora sou pai de família, tenho que organizar meu tempo e minhas
convicções melhor. Eu preciso fazer isso não só por mim, mas por todos.

Uma risada atrai minha atenção. Peter rindo, me deixa contente, eu sei o quão
ruim é morar na rua, ao menos sei que ele não passou por nenhum abuso
sexual e nem físico.

Olho meu relógio, Melanie saiu bem cedo com as meninas para resolver
alguns assuntos que faltava do nosso não esperado e sonhado casamento. Eu
vou me casar em uma igreja, eu, Marco Haylock, me casarei em uma igreja é
quase inacreditável. Eu nem ao menos gosto de igrejas, mas irei me casar em
uma e por incrível que pareça estou feliz mesmo estando puto da vida com
essa grande festa. O sonho dela se tornou meu sonho…

A felicidade dela é a minha e só por isso não estou me importando de desfilar


pelas ruas históricas de Boston em uma carruagem com cavalos brancos.

Tia Li disse que viria, assim como Tânia e Dominique, eles são pessoas do
meu passado que não quero manter afastados e sim próximos, são amigos. O
que tinha que enterrar, eu enterrei e o que deveria desenterrar eu fiz por mais
dolorosa que tenha sido, valeu a pena suportar a dor. O garotinho dentro de
mim merecia ser ao menos uma vez criança outra vez…

— Papai posso comer biscoito? — pergunta Peter me chamando de pai pela


primeira vez.

Meu coração erra algumas batidas antes de acelerar freneticamente no meu


peito. Eu olho para ele surpreso e então sorrio feito bobo.

Ele me chamou pai!

— Pode sim, filho — digo ainda sorrindo feito um bobo.


Ele pega o biscoito sorrindo e divide com James. Ele não percebe ou se
percebeu não me importo, só espero que ele continue me chamando de pai
todos dias e todas as horas.

Eu nunca chamei ninguém de pai, mas eu amo ser chamado de pai. Sinto-me
orgulhoso de ser um.

Volto a olhar para os arquivos a minha frente, mas meu celular começa a
tocar e quando vejo o nome de Dante estranho.

— Dante.

— Marco, temos um problema muito sério. — Pelo seu tom de voz ele está
com raiva o que é raro.

— EU VOU MATAR A VALENTINA!

Ouço Carlos gritar.

— O que houve? — pergunto já sabendo que se Carlos e Dante estou putos


eu ficarei mais ainda.

— As nossas esposas sumiram, melhor dizendo deram um perdido nos


seguranças e embarcaram ou para Las Vegas ou para o Rio de Janeiro. —
Respiro fundo para não xingar a mãe dos meus filhos na frente deles. —
Pedro está tentando localizar a Jady pelo brinco que ele deu a ela, mas porra
Marco elas foram para uma despedida de solteira.

Tento me manter o mais calmo possível, mas está foda demais. Vou matar a
Melanie…

Lua de mel no Caribe?

Vai ser o caralho!

Como ela ousa ir para uma despedida de solteira quando já é casada?

— Vou chamar uma babá para ficar com as crianças e vou atrás da louca da
minha mulher. — Contenho minha voz. — Vegas, elas estão lá porque esse é
o sonho da minha esposa.

— Bom te vejo no jato — Dante fala e desliga.

Fecho o notebook, estalo o pescoço e mantenho a calma que Deus não me


deu.

— Crianças, papai vai ter que ir atrás da mamãe, mas vai vir uma tia super
legal para cuidar de vocês — digo sorrindo e fazendo uma voz fofa.

— Você vai me deixar papai? — pergunta Peter já com lágrimas nos olhos.

Porra Melanie!

Vou te dar uma surra que não conseguirá andar sem me sentir dentro de você.

— Não Peter, papai jamais abandonaria você ou eu. Ele nos ama. — James
diz pegando a mão do irmão. — Não é papai?

— Exatamente, James. Peter, eu preciso ir até a mamãe, mas vou voltar para
você eu prometo que não vou te abandonar — digo me ajoelhando na frente
deles. — Eu amo vocês, mas que a mim mesmo. — Sorrio e ele faz o mesmo.

Seus olhos negros são bem expressivo.

— Tá bom… Eu vou ficar esperando — fala e sorrio.

Agora vou buscar a safada da mãe deles…

Melanie te mostrarei o que é uma despedida de solteira.

Por alguma razão o mais tranquilo nisso tudo é o Pedro quem nem ao menos
está fazendo drama. Carlos já tomou umas três doses de whisky e Dante está
de olhos fechados em sua poltrona. Eu estou bebendo água, tentando ser
calmo para não enlouquecer de vez.

Melanie está grávida, preciso me lembrar disso, mas ela se lembra disso?

— Dessa vez Valentina extrapolou todos os meus limites, Carlos fala puto da
vida. Ela ir para Vegas para um clube onde há homens dançando nu. Porra!
Basta me mandar dançar que danço até melhor do que esses desgraçados.

Descobrimos onde elas estão o que não nos deixou nada contente, mas Carlos
e Dante são os mais putos. Pedro e eu estamos tentando absorver a situação
de uma forma diferente e eu não sei dançar.

— Carlos, relaxa meu amigo, é só uma despedida de solteira… A Melzinha


merece por se casar com o Marco. Anny nunca fez uma loucura dessas e a
Jady ainda tem dezenove anos, somos velhos. Eu sou mais velho que o
Dante, o Marco é mais velho do que eu e você mais velho que o Marco segue
o círculo. Deixe-as serem felizes uma vez. Todos nós fizemos loucuras antes
de conhecê-las, nem o Dante antes de Anny era santo.

Pedro deveria calar a boca.

Dante abre os olhos e olha para o meu amigo sério. É hoje que Pedro morre e
nem ao mesmo sabe o porquê da morte.

Ferrou-se legal, Pedro!

Se eu fosse ele correria, mas como não sou e ele não tem para onde correr sua
única opção é ficar aqui.

— Sabe Pedro o que gosto de fazer quando estou de mal humor? — pergunta
Dante calmamente.

— Transar com a Annyzinha?

Não sei se ele sugeriu ou se perguntou, mas para ambas as questões ele está
ferrado.

— Socar algum idiota como você — diz e volta a fechar os olhos. — Eu


quero paz… Minha esposa está em algum lugar onde homens dançam de
tanguinhas então, apenas cale a boca para que eu possa apreciar o silêncio.

É claro que todos nos calamos, no caso só o Pedro já que é o único que fala
igual uma matraca o tempo todo.

O tempo que pareceu estar disposto a judiar de todos nós, enfim se tornou
bom e legal e enfim chegamos. Desci a escada do jato por último e Dante foi
na frente já conversando com um dos seguranças que estava a nossa espera. É
claro que por mais puto que eu estivesse optei por me manter calmo e
tranquilo.

Entro no carro que na mesma hora sai disparado pelas ruas de Vegas.

Odeio essa cidade, mas minha esposa parecer amar.

— Elas estão aqui dentro — diz o segurança.

Descemos os quatro do carro em grande estilo e olho para o lugar sabendo


que irei querer matar um hoje.

— Vamos logo acabar com isso — Carlos fala tomando a frente de tudo.

Seguimos Carlos em passos mais curtos e lentos e entramos sem problema. O


ambiente escuro com uma luz ofuscante em tons vermelhos me diz que é aqui
que terei problema. Dou mais alguns passos dentro do lugar e ouço a gritaria
frenética das mulheres e o som de músicas sensuais. Subimos alguns degraus
até que paramos diante do que me parece ringue, onde há diversos homens
seminus dançando sensualmente para várias mulheres. Porém o que faz com
que eu quase surte é ver minha esposa sorrir ao ir até um desses filhos de uma
puta.

Se ela quer dançar no colo de alguém que seja no meu!


Eu sabia que isso iria dar merda!

Eu sabia que fugir dos seguranças e embarcar para Vegas daria uma baita de
uma dor de cabeça…

Porém quem disse que me importei com isso?

Eu me joguei na minha própria loucura junto com as meninas.

Vestimo-nos para arrasar, para detonar e para foder com a cabeça de qualquer
um que nos veja hoje.

Estou maravilhosa!

Estou grávida e sexy!

Anny está sorrindo feita louca após algumas doses de tequila, Jady sorri feito
boba e Val não para de gritar dizendo que esses homens são gostosos. Eu não
posso beber, então estou sóbria, mas já sou louca demais por natureza.
Observo o ringue onde homens gostosos fazem gestos que não sei se caio na
gargalhada ou se fico excitada, mas acabo rindo. Eles são lindos, mas ainda
prefiro o meu ruivo. O clima sexual no ar é visível, mas sinto que falta algo a
mais aqui. Tem homens fortes tatuados vestidos de gladiadores e de tudo o
que muitas mulheres sonham, mas o meu sonho sexy não está aqui…

Acho que me dei mal.

— Meu Deus! Estou vendo o pênis daquele ali! — exclama Jady olhando
para um dos dançarinos que estava mexendo seu pinto para lá e para cá,
levando a mulherada à loucura.

— Cruz credo, gente, aquilo é um pênis ou um uma salsicha murcha? —


pergunta Anny rindo toda alegre.
— Está mais para uma vareta das bem finas — diz Val e todas caímos na
gargalhada. — Achei que nessa porra teria um combate de verdade, mas está
difícil ver homem gostoso de verdade aqui. Nos ferramos!

Rimos de desespero e a situação só piora.

— Eu vou subir lá em cima e mostrar como faz um espetáculo — falo me


levantando.

— Isso aí, vai lá Melanie e mostra o que você é capaz de fazer, arrase! —
Apoia Jady bebendo uma bebida cor-de-rosa. — Acho que vou contigo!

— Então vamos! — falo me levantando do meu assento e indo até o ringue,


mas paro ao ver uma cabeleira ruiva e só digo uma coisa.

Fodeu!

Fodeu para caralho!

Pego a mão da Jady e puxo-a de volta o mais rápido possível.

— Eles estão aqui! — Basta dizer isso, a adrenalina bate e saímos a passos
largos para a saída dos fundos.

Anny não larga o copo e não para de rir. Jady está com os olhos tão
arregalados que até estou com medo deles saírem para fora e Val está com
raiva.

— Dante vai me matar! — Anny diz rindo.

— Eu vou matar o Carlos! — Val range os dentes ao falar o nome do marido.

Eu nem sei o que Marco vai fazer, só sei que precisamos sair daqui o mais
rápido possível.

Quando por fim conseguimos nos livrar da multidão de mulheres taradas


respiro mais aliviada. Pagamos a conta que é um absurdo e descemos a
escada que dá para a rua o mais rápido possível, mas Anny resolve se sentar
em um degrau rindo até do vento. Jady também se senta só que ela chora.
Essa é a pior despedida de solteira da vida!

— Caralho, que porra está acontecendo aqui? — pergunta Valentina puta da


vida. — Uma chora, outra ri do vento, mas que porra, hein? Estou em Vegas
com duas estranhas sentadas no degrau de um clube sexy sem fazer nenhuma
loucura. Vocês não servem para Vegas! — diz brava e do nada também se
senta no degrau e começa a chorar.

Olho para elas e caio na gargalhada assim como Anny.

Vegas está se tornando um pesadelo!

Meu sonho de princesa se tornou um lindo e maravilhoso pesadelo.

Mãe Santinha do céu ajuda sua filha aqui, por favor, vai.

— Isso está melhor do que circo — Pedro diz atrás de mim.

— Pedro? — Jady fala chorando feito uma criança.

— Oi minha pequena! — Pedro diz mais próximo.

— Eu vi o pênis de um homem e ele era feio, prefiro o seu — diz coçando os


olhos. — Você não me quer mais, né? Eu vi o pau de outro homem.

— Até quando você fala pau, você é fofa! Menina Jady, eu ainda te amo, mas
sobre os pênis que viu hoje conversaremos quando estiver sóbria — diz
pegando-a no colo e descendo a escada. — Meninas, boa sorte sou o único de
boa aqui.

— Carlos que… — Val começa, mas não termina.

— Eu o quê? — pergunta o mexicano. — Vamos, Valentina — diz sério.

Val se coloca em pé e o segue.

— Só vou porque não quero dar chilique aqui na rua — fala jogando o cabelo
para trás.
— Dante, meu pauzudo, nenhum homem lá tinha um pau do tamanho do seu.
— Anny diz e começa a rir mais ainda.

— Chega por hoje Anny Bella — Dante diz e pega sua mulher.

Ele está sério de uma forma que nunca vi antes.

Viro-me e os vejo indo embora, mas a pergunta que não quer calar é onde
está Marco Haylock?

Desço os degraus com calma sem pressa, sem nada.

Apenas sigo meu ritmo.

Essa cidade brilha a noite e isso a torna ainda mais bela.

— Uma despedida de solteira e tanto senhora Haylock.

Ouço a voz que tanto busco.

Inferno!

— É Vegas, baby! — Brinco.

— Sem mais Vegas. Hora de ir para casa, nos casaremos em três dias. Está
pronta para ser a senhora de branco? — pergunta colocando as mãos no
bolso, enquanto caminha até mim.

Já falei que amo sua barba ruiva?

— Nasci pronta! — Minto na maior cara dura.

Ele sorri para mim e esse sorriso é tão sincero que aquece minha alma.

Meu Deus, eu serei a mulher de branco!


Qualquer noiva no dia do casamento perde seu tempo em um spa ou sei
lá o que. Elas se atrasam por diversos motivos, mas eu não.

Eu fiz tudo que eu merecia fazer e meu atraso será porque simplesmente
escolhi fazer um desvio na estrada.

Eu precisava fazer algo que há muito tempo venho evitado, não por medo,
mas sim pelo fato de que não conseguiria dizer nada.

O motorista faz o que peço e com ajuda desço do carro. Mesmo em um


vestido estilo Cinderela branco, consigo me locomover até meu antigo local
favorito. Quando minha mãe descobriu o câncer, me trouxe até aqui e
plantamos uma rosa branca que significava que enquanto ela estivesse ali,
minha mãe estaria aqui comigo, mas depois que minha mãe morreu eu só vim
aqui uma vez e a segunda é agora.

— Tudo não está saindo como sonhei. Na verdade, nada está saindo como eu
havia planejado entre meus cinco e sete anos. Sabe eu mudei muito daquele
tempo para cá. Aquela menininha assustada e corajosa ainda existe dentro de
mim, mas não é mais como antes. As coisas não são tão fáceis, mas não
significa que estejam sendo impossíveis. Meu Deus! Estou aqui em um
vestido estilo princesa conversando com a senhora depois de tanto tempo.
Vim lhe dizer que sinto todos os dias sua falta… Sabe mãe, quando você
partiu todo o meu mundo também foi destruído. Eu perdi tudo e demorei
tanto, mas tanto tempo para me reerguer. Eu tive câncer, dívidas com agiotas,
tive o James e agora tenho tudo que é muito mais do que sonhei em ter um
dia. Eu vim hoje aqui, no cemitério, dizer que a senhora tinha razão quando
me disse que nada é como imaginamos e que só precisamos acreditar e fazer
acontecer — digo para a rosa que ainda há ali. — Obrigada por tudo, mamãe.
Hoje eu vou me casar com um homem imperfeito, mas que amo muito.
Temos dois filhos e mais dois a caminho. Ele não é um príncipe encantado,
mas é o meu amor. — Sorrio olhando para o céu. — Eu a queria nesse exato
momento ao meu lado, mas sei que aí de cima estará me guindo até o altar.
Amo-te, mãe. — Sorrio, engulo minhas lágrimas e faço meu caminho de
volta para o carro.

Não quero me atrasar muito para o meu próprio casamento, vai que o Marco
foge da igreja.

Mas quando me viro para voltar para o carro vejo o tal do Brendon Ross
sentado em uma pedra bem vestido me olhando sorridente, o motorista nos
encara sério, mas não faz nada.

Caminho até ele a passos rápidos.

— O que você quer? — pergunto irritada.

— Marco, viveu muitos anos na escuridão… Ele era o pior de todos nós…
Ele era invicto, mas tudo isso era por causa da sua raiva ou sei lá o que —
fala me olhando. — Ele era o preferido e foi o primeiro a demonstrar
interesse em algo além do que tínhamos… Foi o primeiro a criar asas, mas
nunca percebeu isso. Sabe, ele salvou muitos inocentes e sofreu por cada ato
de bondade que fez por alguém. Marco é a escuridão e nada vai mudar isso,
mas com você vejo um irmão do “Ciclo” habitar na luz. — Ele se põe em pé.
— Obrigado por fazer com que ele viva e não só respire. A July sempre
sonhou com isso, com que ele pudesse ser mais do que um pássaro preso em
uma gaiola. Você tem sorte em tê-lo para você e ele tem a graça de Deus por
tê-la em sua vida… Esse é o meu Adeus definitivo, Melanie — fala
caminhando para longe de mim. — Marco não sabe ainda mais foi ele que
salvou a minha vida… Foi ele que me salvou da iniciação… Ele terá minha
eterna gratidão… Ele um homem mau, mas possui uma bondade inigualável.

Observo ele partir, respiro fundo e caminho a passos largos até o carro.
Hoje descobri mais um motivo para amar meu ruivo sexy.

O motorista me aguarda pacientemente e entro no banco traseiro com cuidado


para não amassar o vestido e como irei colocar meu véu na igreja, então estou
mais tranquila.

Minhas mãos estão trêmulas.

É inacreditável que hoje irei entrar na igreja vestida de branco, mais


inacreditável ainda é que Marco estará no altar me esperando. Eu nunca
pensei que chegaríamos a esse nível ou a esse ponto. Sempre achei que ele
pularia do barco antes mesmos de chegarmos a algum lugar, mas ele me
surpreendeu…

Fomos surpreendidos ao lutar bravamente um pelo outro. Eu o vi sendo


baleado duas vezes, chorei diversas vezes e quis jogar tudo para o alto mais
de uma vez, mas por alguma razão sempre me mantive ao seu lado. Não por
mim, mas sim por ele. Por mais que ele nunca falasse eu sabia que ele
precisava de mim tanto quanto eu precisava dele. Ele só não sabia dizer, mas
aprendeu com o tempo a demonstrar o que significa mais do que mil
palavras.

Quando vejo a igreja sorrio nervosa, agora está começando a parecer ainda
mais real o meu sonho de criança. Val, Jady e Anny estão me aguardando na
calçada e elas sorriem ao ver o carro se aproximando.

Quando o motorista estaciona na calçada, Val abre a porta e me ajuda a sair.

— Você está perfeita! — Ela sorri tão amplamente para mim. — Tivemos
uma péssima despedida de solteira em Vegas, mas seu casamento será
perfeito.

Sorrio grata para todas elas, não conseguirei falar nada nesse exato momento.

O véu é colocado na minha cabeça.

Subo os degraus com a ajuda das meninas que já se colocam em suas


posições. James e Peter levaram as alianças, os trigêmeos estão na frente
jogando as flores para os padrinhos e os gêmeos da Val vão jogar as flores
para mim.

Os padrinhos entram e levo um susto ao perceber que Anny entra com Carlos
e Val.

Cadê o Dante?

— Segura no meu braço que te conduzirei até o altar — Dante diz ao meu
lado, ele está muito bem vestido e sorrindo. — Sorria para as câmeras,
caminhe devagar e tenha seu tempo… Estarei ao seu lado.

— Obrigada. — Consigo dizer engasgada pelas lágrimas que já querem cair a


todo custo.

Ouço a música e as portas se abrem, dou dois passos para frente e o vejo lá
no final me esperado.

Eu já disse que não gosto de igrejas e nem de padres, mas aqui estou eu
vestido digno como um príncipe como Melanie diz em um altar com uma
igreja decorada em prata e azul.

Eu jamais pensei que um dia estaria aqui, mas tive muitos pensamentos
errados no decorrer da minha vida.

Estou nervoso…

Ansioso…
Com medo.

Não paro de olhar para o relógio.

Ela está demorando demais para chegar!

Quinze minutos de atraso!

Odeio atrasos e ela sabe disso!

Irei lhe dar umas boas palmadas na bunda para aprender a me respeitar mais.
Essa mulher garota chegou na minha vida pior que um tornado, ela bagunçou
tudo ao mesmo tempo em que me reconstruía e fazia com que eu me tornasse
um homem melhor.

Era para ela ser só a mãe do meu filho, mas tudo foi além do que eu poderia
imaginar. Eu me perdi no meu próprio jogo e não me importo. Ao menos não
me importo mais…

Aceito ser esse bom perdedor.

— Você está bem, meu filho? — pergunta tia Li.

Olho para ela e sorrio de leve.

Ela é a figura materna que entrou comigo na igreja e é a pessoa perfeita para
estar aqui ao meu lado segurando minha mão e me acalmando.

— Estou bem.

— Noivas demoram. — Seu sorriso me diz que isso é realmente normal.

— Eu sei. Só não gosto disso.

O padre atrás de mim está calmo e tranquilo.

Aparentemente sou o único nervoso aqui, vai que ele desiste de se casar
comigo.
— Filho vai começar — diz tia Li.

Sorrio para ela e mudo minha postura diante de todos.

Olho ansioso para a porta dupla de madeiras que está fechada.

Os trigêmeos vêm na frente, seguidos por Pedro e Jady e Carlos, Val e Anny.
Dante vai entrar com Melanie e esse seu gesto deixa meu coração mais
tranquilo. Pedro sorri feito um idiota para mim, mas nem ligo para suas
provocações.

Hoje estou feliz!

Hoje é o meu dia!

Hoje é o nosso dia!

Hoje é meu casamento!

Quando os gêmeos entram sorrio um pouco mais e eu a vejo. Ela parece um


anjo, está linda e perfeita usando um vestido estilo princesa que tanto sonhou
um dia.

Meu coração erra algumas batidas…

Ela está perfeita!

Parece um anjo…

O meu anjo!

Não sou digno dela, mas agradeço a Deus por tê-la colocado em minha vida.

Seus passos lentos são como uma tortura para mim e ela sorri abertamente.
Nossos olhos estão conectados um no outro de uma forma maravilhosa e
perfeita. É como se só existisse nós dois no universo. Estendo minha mão
para ela quando se aproxima e a maciez da palma da sua mão na minha faz
com que meu corpo estremeça.
Esse momento é nosso!

— Vocês merecem tudo isso e muito mais — diz Dante antes de ir para o seu
lugar ao lado da Anny.

Gostaria de dizer a ele que não mereço nada disso, mas aceito de bom agrado.

O padre começa a falar, mas só consigo repetir o que ele diz. Estou perdido
olhando para a pessoa que mais amo na vida toda, minha mulher. Acordo
para a vida na hora do sim.

— Sim.

— Sim. — Melanie diz.

James e Peter entram com as alianças.

Abraço meus filhos, beijo o rostinho de cada um deles e Melanie faz o


mesmo.

Trocamos as alianças, mas sabemos que nossa maior aliança é nosso amor e
filhos.

— Pode beijar a noiva.

O padre não precisa repetir duas vezes.

Ouço uma salva de palmas.

Agora falta as carruagens para que esse sonho dela seja completamente
perfeito.

Saímos sob uma grandiosa chuva de arroz, em um dos meus braços está
James, com a outra mão estou segurando a mão da Melanie e na outra mão
dela está Peter.

Melanie solta um grito fino ao ver a carruagem melhor do que as dos filmes
da Disney a sua espera, melhor dizendo a nossa espera. Ajudo-a a subir
enquanto ao mesmo tempo ela acena para as pessoas que gritam feito loucas.
Sua felicidade me deixa ainda mais feliz.

Saímos da igreja para a casa do Dante, onde será a recepção do casamento


entre gritos e lágrimas de alegria.

— Eu sabia que esses dois seriam um casal perfeito desde o momento em que
os vi junto — Pedro diz no microfone. — Eu me lembro de um ou dois dias
antes da Melanie aparecer, ouvir essa cara dizer que não queria se casar e
construir uma família. Dizia que não servia para isso, mas olha só, nada é
como imaginamos ou queremos. Eu sempre o disse que o amor chega quando
menos esperamos — fala e todos riem.

Peter está no meu colo e James no da Melanie.

— Melzinha, você tem um vício em caldas que misericórdia! Você é o que eu


chamo de oposto de Marco Haylock, mas você é perfeita para ele, mesmo
sendo maluquinha. É isso família! Antes de qualquer coisa gostaria que a Mel
viesse aqui na frente, tenho algo para ele.

Melanie passa James para mim e caminha até onde está Pedro. Ela está
usando um vestido mais leve e seu cabelo já está solto.

Pedro está em cima de um pequeno palco com flores em volta que as meninas
criaram para caso houvesse apresentações ou algo do tipo. Melanie sobe os
degraus com ajuda do louco do Pedro que com toda certeza vai aprontar algo.
Só espero não ter que socar sua cara hoje.

— Melzinha quero ver você dançar!

O vai descendo, oh Melzinha.

Vai quicando, oh Melzinha.


Não para, oh Melzinha.

Esse é o Funk da Melzinha.

Quica Melzinha.

Vai Melzinha, Vai Melzinha…

Melanie dança conforme Pedro canta essa música ridícula.

Eu vou matar meu amigo!

Minha mulher está dançando funk e rindo abertamente enquanto se requebra.

Maldita seja Valentina, por tê-la ensinado dançar isso!

— E, é isso meu povo — fala o safado abraçando a Melanie que ri para ele e
todos aplaudem esse desgraçado.

Vejo Dante pegar o microfone e sorrir levemente para todos.

— Boa noite a todos. Não vou falar muito, só vim parabenizar os noivos. Eu
vi cada luta que eles enfrentaram juntos e estou mais do que feliz por saber
que venceram os maiores desafios das suas vidas. Agora só resta o dia a dia e
o futuro… A vida é incerta, mas sabemos que podemos com ela quando
estamos com quem amamos. Parabéns e felicidade aos dois!

O decorrer da festa é tranquilo, as crianças brincam e os adultos conversam


tranquilamente.

— Foi tudo como você sonhou? — pergunto a Melanie.

— Não, foi tudo muito além! — diz me fazendo sorrir. — Amo esse seu
sorriso sincero.

— Eu amo você — digo beijando seus lábios. — Fique aqui, tenho algo para
lhe mostrar.

Afasta-me dela e caminho até o piano branco que pedi a Dante para que
colocasse ali. Eu não faço isso tem um tempo, mas treinei um pouco
enquanto escrevia a letra.

— Gostaria do silêncio de todos, por favor — peço enquanto ajeito o


microfone.

Começo a tocar as notas com leveza, me perdendo dentro do que quero


passar.

Eu era só um menino, um menino…

Eu corria e corria, mas nada me salvava.

Como um vidro quebrado eu não tinha conserto,

crianças jogavam bola, meninos brincavam…

E eu, sangrava dia e noite.

Eu pedia por ajuda e ninguém me ajudava…

O vento forte passou,

Huuuu, huuu

Eu cresci e continuei quebrado ali no chão…

Um dia como um raio de sol você chegou, vocês chegaram!

Eu era sombra e escuridão…

Eu era caos, mas tudo foi sumindo conforme eu os amava…

Fiquei confuso, fiquei com medo assustado, mas não parei de amar…

Eu não sou um homem de fé, mas por vocês pedi a Deus perdão por
todos os meus crimes e erros.

Por vocês me tornei alguém melhor.


Estou no meio de uma encruzilhada, mas tenho fé que com o amor
vencerei tudo.

Por vocês ainda luto.

Nem todos os versos são sobre felicidade, mas o meu é sobre recomeço.

Por vocês eu renasci…

Toco a última nota, sentindo uma lágrima escorrer pelos meus olhos, respiro
fundo e volto a cantar a última nota mais uma vez…

Com vocês eu aprendi a viver,

Com vocês aprendi a ter asas…


Na vida nada é certo, somente a morte.
Você nunca tem certeza do amanhã e muito menos sabe o que acontecerá em
poucos segundos.

Tudo é tão incerto que muitas vezes chega a ser assustador.

Uma vez quando menino eu tomei coragem e corri para longe das grades que
me cercavam, mas o que não sabia era que aquela era só uma mera gaiola
fácil de quebrar.

Naquela época, eu não sabia voar e para ser sincero eu só queria correr livre
pelas ruas como sempre havia sonhado. Eu não me lembro direito, mas
gostava de me refugiar em meus sonhos. Recordo-me que neles eu não era
ferido, mas sim livre e feliz…

O quão bom era sonhar!

Eu me livrei de uma jaula e me prendi em outra só que dentro de mim.

Minha mente, minha escuridão, meus traumas, meu passado me aprisionaram


dentro de uma cadeia de horrores obscenos, onde apenas eu era julgado e
condenado diariamente por cada crime cometido. Meu maior crime foi o que
cometi contra a mim mesmo. E sim, eu assumo a minha culpa, mas defendo a
minha causa.
Por muitos anos me julguei por ser uma pessoa obscura, por ser cruel e ruim,
mas nunca fui nada exatamente disso que pensei ser…

Eu nasci na escuridão, mas sou mais do que um mero ser das trevas.

Hoje eu consigo olhar meu reflexo no espelho…

Consigo olhar minha aparência e aceito cada cicatriz que há em meu corpo.
Eu me aceito, me perdoo e me defendo de mim mesmo.

Aparentemente tudo fez com que eu chegasse até aqui…

Até onde estou hoje.

Até o nascimento dos gêmeos.

Peter e James tiveram que ficar do lado de fora com o pessoal, com a nossa
família.

Melanie segura minha mão o tempo todo. Ela queria parto normal, mas não
podemos fazer por causa do Henry que foi fecundado depois. Não queremos
arriscar nada.

Não vi James nascer e nem Peter, mas verei esses dois nascerem e me sinto
realizado por isso.

— Eles serão os últimos — Melanie diz. — Eu amo seu pau! Adoro me


sentar nele todos os dias, mas chega de filhos.

Ela sempre esquece de usar filtros.

— Já fiz a vasectomia — digo apertando sua mão. Não consigo ver o que eles
estão fazendo, mas sei que já estão a cortado. — Quatro é um número bom —
digo sorrindo.

— Será que eles serão ruivos?

— Não sei, só quero que nasçam com saúde.


— Estou com medo.

— Vai dar tudo certo.

— Eu não sei se darei conta de quatro filhos…

— Estarei ao seu lado o tempo todo — digo segurando sua mão com mais
força.

Quando menos espero ouço o primeiro choro.

— A menina nasceu! — a enfermeira diz.

Melanie começa a chorar.

O choro da minha filha tranquiliza meu coração…

Só falta ele.

Espero um pouco, então o segundo berro surge mais baixo que o primeiro,
mas ainda assim ele nasceu.

— O meninão, papais!

Melanie me olha e sorrimos um para o outro feito bobos.

A enfermeira traz a menina para nós e sua cabeleira preta na mesma hora
atraí minha atenção.

— Aqui mamãe. — A médica a coloca sobre o peito da Melanie.

— Ela é tão linda Marco! Tão morena! — diz chorando.

Coloco minha mão na cabecinha dela e sorrio.

— Ela é linda! — digo emocionado.

— Aqui papai, o menino.


Pego o pequeno embrulho em meus braços com cuidado. Ele é menor que a
irmã, mas seu cabelo ruivo com toda certeza puxou a mim.

— Ele é ruivo — digo e Melanie ri.

Eles são perfeitos, melhores do que eu pude imaginar.

— Henry e Luíza, sejam bem-vindos ao mundo! — digo emocionado.

— Luiza é um nome perfeito!

Sorrio para minha esposa sabendo que agora seremos uma família ainda mais
completa.

James e Peter vão adorar ter dois irmãos mais novos. Eles terão o que eu
nunca tive, eles terão mais do que merecem. Eles serão bons irmãos pois
ensinarei isso a eles, assim como aprendi a ter irmão de outra linhagem de
DNA, eles entenderam que somos mais do que traços e genética, somos
amor, vida e paz. Quero que um dia eles saibam do meu passado e com os
meus erros acertem…

Com minhas dores passam a ter empatia pelo próximo…

Com os meus acertos vençam nessa incurável vida.

Desejo que meus filhos aprendam desde novos a usar suas asas.

Puta que me pariu, agora é oficial tenho quatro filhos, sou o fodido mais
sortudo desse mundo. Eu não os mereço, mas mesmo assim o Carinha lá de
cima teve compaixão por mim e me enviou eles como uma forma de
recomeço.

Não sou um príncipe encantado ou a melhor pessoa do mundo, mas posso


dizer que lutarei para que eles sejam felizes. Darei o meu melhor a eles e
serei a cada bendito dia uma pessoa melhor por eles.

Demorei um tempo para entender o que significa ter asas e poder voar. Eu
achava que a morte era a verdadeira liberdade, mas percebi que estava
completamente enganado…
Quando me aceitei, me perdoei, me condenei e me defendi perante o meu
próprio tribunal compreendi o que era ter asas…

Eu demorei a entender, mas agora posso enfim dizer…

Eu posso voar!
Sete anos depois…

Observo o relógio de parede fazer tic e tac, me dizendo que os minutos e


segundos estão se passando e que com toda certeza não chegaremos a tempo,
mas o que posso fazer?

Não irei gritar, chamar e nem apressar essas duas mais uma vez.

Luiza e Melanie estão horas se arrumando para algo simples e pequeno, uma
mera apresentação na escola do James, a sorte delas é que a apresentação dele
é a última senão meu filho iria se apresentar sem a família presente.

Ao meu lado está Peter lendo um livro que pegou ontem na biblioteca da
escola, ele estava há dias dizendo que queria ler e por fim conseguiu pegá-lo
para ler. Na minha frente com uma cabeleira ruiva em tons mais escuros está
Henry brincando com um dos seus muitos bonecos de super-heróis, seu
favorito é o Homem de ferro. Eu passo horas brincando com ele, até mesmo
já sei o nome de todos os heróis da Marvel e DC, mas aí vem a guerra aqui
em casa.

James e Peter preferem a DC e os gêmeos nada idênticos preferem a Marvel,


isso sempre nos leva a uma longa e calorosa discussão sobre qual é mais
forte, mais rápido e mais sei lá o que. Melanie fica do lado dos mais novos, o
que me leva a ficar do lado dos mais velhos e no final fico com uma baita dor
de cabeça e um dos pequenos chorando por horas até que os mais velhos se
rendem dizendo que sei quem é melhor e pronto fim do rio de lágrimas.
— Papai, vamos sair daqui que horas? — pergunta Peter.

— Espero que ainda hoje, filho — digo e recebo uma gargalhada do Henry.

— Papai se não sairmos hoje o J.R vai ficar triste. — Lembra meu caçula
ruivo. — É chato ter que esperar — resmunga.

Sou obrigado a concordar com ele e assim como eu, ele não possui o dom da
paciência.

— MÃE, LUZ, VAMOS LOGO! — grita Peter.

— OLHA SÓ VOCÊ NÃO NASCEU DE SETE MESES, ENTÃO PODE


ESPERAR MAIS ALGUNS SEGUNDOS PARA ME VER LINDA E
MARAVILHOSA. — grita Melanie. — ALIÁS, SE ME APRESSAR MAIS
UMA VEZ IREI FICAR CONFUSA AQUI. — berra do segundo andar.

Peter balança sua cabeleira escura para os lados em sinal de negação, ele está
entrando na adolescência o que é bem estranho para acompanhar. Minha
sorte é que ele é tranquilo e na dele ao contrário do James que tem a energia
da mãe, o que sempre faz com que se meta em pequenas confusões no dia a
dia, mas fora isso, James é minha verdadeira cópia fiel, inclusive uma
pequena parte da personalidade, o que meio me assusta um pouco.

Henry ainda é só uma criança sonhadora que toda hora muda de opinião,
Luiza, minha pequena Luz de cabelo preto e olhos azuis sempre alegra minha
vida com seu jeito doce e carinhoso de ser. Ela é uma princesa, gosta de rosa,
ama ballet, adora tocar piano, que mesmo ensino e gosta de cantar. Todos
eles são bons filhos e sou grato a Deus por conseguir criá-los tão bem ao lado
da Melanie.

— Estamos prontas! — diz Melanie surgindo com Luz ao seu lado.

Ambas estão usando vestidos iguais rosa bebê com a manga caída que vai até
acima do joelho com um laço nas costas.

Lindas!

— Amém! — diz Peter e Henry juntos ganhando uma carranca da mãe e irmã
e eu só sorrio.

— Papai, estou linda? — pergunta minha menininha.

— Está mais do que linda, está perfeita!

Ela solta um gritinho, corre para os meus braços e a rodopio no ar beijando


seu rostinho fofo.

— Vamos! — diz Melanie pegando a mão de Henry.

Peter fica em pé e por costume também pega a mão da mãe.

— Vamos! — digo.

O auditório da escola estava lotado como imaginei, mas graças a Deus havia
lugares reservados para nós na segunda fileira. Dante também estava aqui, já
que os meninos estudam todos juntos. Val e Carlos também estão aqui,
mesmo os gêmeos sendo mais velhos. Cumprimento alguns conhecidos,
enquanto faço o caminho até nossos assentos. Melanie sorri para todos
abertamente como sempre e Peter está ao seu lado contido como sempre.
Henry está quase correndo feito louco e no meu colo Luiza se mexe inquieta,
mas não sou louco de soltar essas feras aqui e ficar horas correndo atrás
deles. Eu quero assistir toda apresentação do meu James.

— Podemos ir falar com ele antes? — pergunto a Melanie.

— Não, só depois da apresentação — responde tentando conter o ruivo em


seus braços. — Henry, meu filho, por favor, fique quietinho para ver seu
irmão lá em cima falando, ok? — pede a ele que olha para ela.

— Depois poderei brincar?


— Depois poderá até voar se quiser, mas agora fique quietinho sentado no
colo da mamãe — diz para ele sorrindo.

— Está bem, mamãe — diz se aquietando por fim.

Sentamo-nos e assistimos algumas apresentações até que chega a vez de


James. Por alguma razão meu coração se acelera ao ver minha cópia mirim
surgir em um palco sorrindo contidamente para o público diante de si. James
não tem vergonha de falar abertamente, ao contrário de Peter que prefere
ficar na sua. Ambos possuem uma personalidade oposta, mas são mais do que
unidos.

— Olá a todos — diz James no microfone. — Quando fui chamado para fazer
esse pequeno discurso fiquei intrigado sobre o que escrever, na verdade, eu
não tinha nem sequer uma linha para escrever. — Ele sorri de lado antes de
continuar. — Então meu professor disse para escrever sobre algo que admiro
e amo, falou que eu podia falar até sobre a Saga Crepúsculo e olha que eu
amo essa saga de coração, meu irmão mais velho e eu passamos horas e dias
assistindo o filme de vampiros que brilham no sol. — Ele ri e todos os
acompanha. — Um dia lá em casa conversando com meu irmão Peter e
observando os caçulas brincarem com seus bonecos da Marvel percebi algo
muito importante e é por isso que para ler esse discurso gostaria de chamar o
Peter aqui em cima — diz com um sorriso travesso e o irmão se levanta
caminhando até ele. — Eu começo e ele termina porque somos uma
irmandade — fala passando os braços sobre o ombro do irmão que é um
pouco mais alto. Eles olham para mim e sorriem juntos. — Todos tem seus
heróis, alguns gostam do Superman, outros do Batman, outros do Flash e
alguns do Homem de Ferro, até mesmo do Capitão América, mas nenhum
deles realmente existem no dia a dia — fala James. — Quando somos mais
novos e sentimos medo do bicho-papão a noite corremos para o braço dos
nossos pais… Eu corria para o braço do meu pai, ele me pegava no coloco e
me levava para dormir com ele ou descia comigo a escada e contava sob a luz
das estrelas histórias bonitas. Eu me recordo de cada uma delas.

Meu coração erra algumas batidas.

— Então meu herói é o meu pai… E daí se ele não é a prova de balas? Para
mim ele é o mais forte de todos e é o melhor. Orgulho-me de ser parecido
com ele e desejo ser um dia metade do grande homem que ele é. — Ele sorri,
enquanto eu estou quase chorando. — Ele diz não ser grande e não ser digno
de nada, mas pai você é o CARA. Meu mundo é mais azul, porque o senhor
existe nele.

Sorrio para meu filho perdido entre as emoções que transbordam de mim.

Peter pega o microfone com certa vergonha, mas ao olhar para mim sorri
abertamente.

— Eu sonhava todos os dias em ter uma família ou ter um pai, então em uma
noite vi todos os meus sonhos sendo realizado — fala com a voz baixa. —
Você me disse que não era a melhor pessoa, me disse que não era um super-
herói, mas que me amaria e me protegeria com sua vida. Acho que nunca
percebeu que são os verdadeiros heróis que fazem isso e você pai é um
herói… Meu herói… Nosso herói! Quando olho para o senhor vejo suas
sublimes asas de luz. Algumas asas são invisíveis aos olhos nus e é preciso
vê-las com a alma. Eu as vejo em você todos os dias, pai, há uma luz em você
que ninguém consegue apagar. Marco Haylock você é o maior herói de todos,
para mim e para nós… Sua família. Você é a melhor pessoa de todas, te
amamos! — diz olhando em meus olhos.

Uma lágrima escorre dos meus olhos. Melanie ao meu lado aperta minha mão
e os gêmeos me abraçam.

Demorou um pouco mais enfim entendi que eu sou mais do que escuridão, eu
também sou luz…
Antes de tudo quero agradecer a Deus por me dar esse dom, segundo
minha mãe que vem apoiando sempre as minhas loucuras e sonhos quase
impossíveis.

Obrigada mãe por me apoiar e me amar tanto.

Minha eterna gratidão vai aos meus leitores que a cada comentário e cobrança
me deixam ainda mais feliz e realizada para continuar escrevendo.

Escrever Marco foi um desafio extremamente grande na minha vida, mas


graças a Deus deu tudo certo.

Aprendi e chorei muito com esse livro e com esse personagem.

Obrigada a todos vocês!


Sinopse

Dante Boltoni é um homem muito bem resolvido com a vida, tem tudo que
deseja e almeja, quer dizer, quase tudo…

Falta algo na sua vida que ficou no passado…

Um pedaço do seu coração foi arrancado do seu peito de uma forma brutal
por quem ele mais amou!

Dante sabia que uma simples ligação mudaria tudo…

Uma única ligação traria à tona todo o sofrimento que ele sufocou dentro de
si.

Uma explosão de sentimentos surgirá!

Dúvidas e medos nascerão!

A ferida que estava fechada, se abrirá mais uma vez e continuará sangrando.

Dante sabe que precisa voltar para salvá-la de tudo e de todos, incluindo ela
mesma.

A linha tênue se encontra perto do seu rompimento.

As entrelinhas estão bagunçadas.

Dante conseguirá se manter em pé?

Será que ele sobreviverá ao tsunami que está por vir?

Será que ele conseguirá se manter a salvo dos próprios sentimentos?


Sinopse

Tudo começou em uma mera noite qualquer….

Pedro não tinha ido naquele lugar buscar confusão ou dar uma de super-
herói…

Ele estava ali parecendo mais um lobo mau em busca da Chapeuzinho


vermelho…

Como qualquer predador ele a percebeu e a quis para si…

Ela era uma presa fácil até demais!

Seus instintos o alertaram de que ela era extremamente inocente para alguém
como ele, mas havia um ímã que o atraía para ela.

Ele sabia que ela possuía uma inocência rara e que a corromperia, mas
mesmo assim ele a desejava…

A paixão não tem idade, mas tem cor…

Em Liad a busca pela igualdade e a luta contra o preconceito te emocionará!


Thamy Bastida é Carioca, nascida dia 01 de janeiro de 2000. Capricorniana,
mas bem adorável. Aprendendo a ser uma escritora melhor a cada dia,
sonhadora que buscar sempre alcança o que precisa

A paixão pela escrita veio desde nova ainda quando cursava o fundamental,
escrevia poemas e histórias curtas que só ficava no papel. Sua inspiração veio
ainda quando nova quando lia vários livros de temas distintos.

Em 2018 começou a escrever fanfic, mas não satisfeita ousou arriscar seu
primeiro livro na wattpad, Dante Boltoni a qual se baseou nas dores mais
profundas e nas esperanças mais vividas para escrever.

Thamy Bastida é uma jovem escritora, estudante de Psicologia que adora


fazer abordagens Psicológicas em seus livros.

Instagram: @Thamybastida

Wattpad: Thamy Bastida

E-mail: autorathamybastida15@gmail.com
1. Que não causa dano material, físico, orgânico; que não é nocivo,
prejudicial. ↑

2. Que desaparece rapidamente, que dura muito pouco; efêmero,


passageiro. ↑

3. Ação inspirada nessa disposição; gentileza, delicadeza. ↑

4. Que não é nobre, que inspira horror do ponto de vista moral, de caráter
vil, baixo. ↑

5. Samoiedo, ou samoieda, é uma raça de cães do tipo spitz oriunda do


norte da Rússia, na região da Sibéria. O nome da raça deriva das tribos
Samoyed, que usavam cães do tipo spitz de várias cores para pastorear
renas mais ao sul, e usavam cães brancos para caça e para tração de
trenós mais ao norte. ↑

6. Descendente dos cães de trenó, o cachorro lulu da Pomerânia é também


conhecido como spitz alemão anão ou spitz alemão miniatura, aliás, por
causa do seu tamanho e sua fofura, é um dos cachorros que mais
acumula apelidos no diminutivo. Ursinho e leãozinho são apenas alguns
dos termos mais usados para descrever essa raça. ↑

7. Não, seria uma perda de tempo. Se você sabe quem eu sou, deveria
saber que sou o pior de todos. É preciso muita coragem para me
encontrar cara a cara, três segundos para sair do meu caminho. Se você
tem algo a me dizer, diga para mim, acredito que é melhor termos uma
conversa ainda mais privada. ↑

8. Quando ela descobrir tudo o que fez, vai te deixar. ↑

9. Talvez, mas é um risco que tenho que correr. ↑

10. Que denota generosidade; magnânimo, altruísta. ↑

11. Tipo de espada japonesa. ↑

12. A Continuação do que aconteceu com Pedro se encontra no livro Liard a


paixão tem cor nos capítulos 2 e 3.

13. Noite das meninas loucas. ↑

14. Qualidade do que serve, presta, é útil; utilidade, serventia. ↑

15. Disposição habitual para corresponder aos desejos ou gostos de outrem


com a intenção de ser-lhe agradável. ↑
Diagramação digital por

GR BOOK COVERS
@grbookcovers
Table of Contents
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Epílogo
Agradecimentos
Outras obras da autora

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