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Era insuportável me forçar a algo que não gostava, mas as contas estavam
atrasadas e as dívidas só cresciam. Não nasci em berço de ouro, infelizmente.
Naquele dia o ar estava diferente, juro de pé junto que sentia como se algo
mágico fosse acontecer naquele bendito dia.
No momento em que ele passou pela porta do bar, seu perfume veio até mim,
um cheiro amadeirado e forte. Um homem elegante, alto, vestindo um terno
extremante caro para meu padrão de vida. Tinha certeza e ainda tenho que
seu par de sapato paga todas as minhas dívidas.
Enxerguei nele escuridão, mas por razões não óbvias quis me aproximar dele
um pouco mais. Fiz questão de servi-lo quando se sentou no banco do bar
para pedir uma coisa qualquer.
Seus olhos azuis me apavoraram por um tempo, deveria ter saído correndo se
fosse mais esperta, mas não era…
Fui burra por achar que teria o controle da situação, uma situação que sequer
existiu.
Ele não sorriu para mim, não apertou minha mão e muito menos foi
simpático. Seu olhar me dizia para correr para o mais longe possível, mas sua
presença, seu perfume, sua barba e seu cabelo ruivo me atraíam…
Que teimosia minha achar que o ganharia após uma noite qualquer.
Ele é bruto e sem falar absolutamente nada conquistou meu coração, o que
me mostrou o quanto meu coração é vagabundo. Não descobri seu nome,
apenas me recordo com precisão da sua voz e das suas mãos pelo meu corpo,
me causando prazer.
Ele é um predador nato, devora suas presas com precisão, sem dor ou
lamentações e não há arrependimentos em suas decisões.
Sua entrada escorregadia me diz a quão excitada está. A forma como ela
aperta meu pau faz com que me sinta maravilhado por lhe causar prazer.
Voluntariamente seu quadril vai de encontro ao meu fazendo com que
entremos em uma sincronia quase perfeita.
Jogo meu peso sobre seu corpo fazendo com que ela perca a força nas pernas
e saia da posição em que se encontrava, caindo de bruços na cama com as
pernas abertas comigo ainda dentro dela.
Não há sentimentos nos meus atos é apenas o instinto primitivo de foder uma
boceta.
Muito menos, me sinto um cafajeste por meus atos. Não prometi flores ou
algo do tipo, fui curto, grosso e claro quando disse que não passaria de uma
noite…
Ela agarra os lençóis para tentar conter o prazer, aumento o ritmo fazendo
com que ela grite por mais e mais e o suor escorre pelo meu rosto. Adrenalina
corre pelas minhas veias fazendo com que libere o animal que está preso
dentro de mim. Sento-me em cima dela a fodendo com mais força e precisão.
Acerto seu ponto G fazendo com que ela goze, mas ainda não estou satisfeito
e muito menos, me encontro perto de gozar.
Não gozei…
Não me desestressei…
Não me cansei…
Não sei…
Após tomar um banho gelado e fazer minha higiene matinal vou preparar um
café extraforte sem açúcar. Não gosto de cafeína, mas ela passou a fazer parte
da minha vida como muitas outras coisas que não suporto.
Tomo o café com calma sabendo que não me atrasarei para chegar à empresa
e como minha torrada sabendo que não aprovo seu gosto.
Absolutamente nada!
— Marco, dono do coração que elas tanto querem fisgar — diz sorrindo. —
A morena de ontem, hein? Minha nossa que gostosa, meu amigo! Eu me
casaria com ela no seu lugar.
Esse sorriso maldito não sai do seu rosto e não sei o que o responder.
Nunca havia pensando nisso, estou bem só!
Gosto de ficar sozinho e de problemas já basta os meus que não são poucos.
— Uma hora vai encontrar sua cara metade, meu amigo — limito-me a dizer.
Pedro sempre sonhou com alguém para amar, alguém para poder dividir uma
mera xícara de café quente pela manhã. Já eu não tenho esse tipo de sonho.
Na verdade, não sonho com quase nada.
— Meu amigo você também há de encontrar alguém que te ame do jeito que
é! — diz se levantando, dando tapinhas nas minhas costas. — Sabe Marco,
você deveria se permitir a sentir.
Antes que eu possa responder qualquer coisa o maldito sai pela porta, me
deixando frustrado com as suas palavras.
Recuso-me a ficar pensando no que ele diz e opto por trabalhar, o que é bem
melhor para mim. Gosto de trabalhar e quando estou concentrado nesses
papéis infinitos os monstros da minha cabeça se calam por um tempo.
Horas se passam…
Quando saio da empresa para comer algo a chuva ainda insiste em cair de
uma forma descomunal, o ar úmido enche meus pulmões, pego um guarda-
chuva preto grande e saio rumo ao restaurante de comida simples sem
“mimimi” algum, que gosto muito. Tem uma comida caseira de dar água na
boca e o melhor é que posso comer em paz, sem ninguém para me perturbar.
Faço o caminho silenciosamente até ver uma cena que me intriga de todas as
formas possíveis. Chego a tombar minha cabeça para o lado em busca de
compreensão, mas como espero não encontro.
O que essa criatura pequena pensa que está fazendo com esse enorme
cachorro?
Sorrio ao perceber que por alguma razão a mulher de porte pequeno não
consegue perceber a batalha que está perdendo. Ela tenta a todo custo puxar o
cachorro para algum lugar, mas o bicho empacou no chão molhado
demonstrando em grande estilo que não pretende sair de onde está por nada
nesse mundo. Qualquer pessoa em outra situação teria deixando o pulguento
de lado e seguido com sua vida medíocre, mas a estranha mulher quer a todo
custo ajudar o cachorro que não quer se ajudado.
Para minha total surpresa, a jovem mulher joga seu guarda-chuva para o alto
se sentando ao lado do cachorro na poça d`água. Ela parece não se importar
em ter que ficar debaixo da chuva com um mero cachorro de rua e o abraça
como se sua vida dependesse disso. Posso até jurar que ela está chorando,
uma cena lamentável demais até para alguém como eu assistir.
Viva ao amor!
Sou naturalmente uma pessoa que acha cenas como essas toscas demais para
meu agrado. Não tenho absolutamente nada contra as pessoas que se amam
profundamente. Na verdade, até admiro aqueles que encontram seus amores
verdadeiros.
Desvio meu olhar da cena trágica para poder seguir até o restaurante caseiro.
Tudo nesse lugar é simples e se eu tivesse um lar, com certeza iria gostar de
que fosse como esse lugar…
Aconchegante.
Só cometi um único erro naquele dia, mas ao olhar com cuidado as fotos que
o detetive trouxe, vejo que foi o erro mais perfeito da minha vida.
Encontrei vocês!
Dirijo com calma até meu destino…
É frustrante sentir essa adrenalina correndo pelas minhas veias e a ansiedade
me consumir.
Passei dois dias me corroendo por dentro em busca da melhor solução para os
meus problemas. Estou com raiva de mim mesmo por ser tão inconsequente,
sempre tomei cuidado em onde e de que forma enfiaria meu pau, mas aquele
dia não tinha sido bom. Ainda me lembro da forma como sai daquele
hospital, estava destruído por receber tanta bondade de Dante, um amigo tão
próximo como um irmão.
É evidente que vou perder essa batalha em que me encontro, sei que cairei de
joelhos e de forma alguma irei me levantar…
Amor?
Sim, amor a algo que ainda nem vi, mas já amo mais do que tudo nessa
vida…
Um filho!
Meu filho!
Irei ser um herói para ele e se não puder irei ensiná-lo a ser um. Quero que
ele tome caminhos melhores que os meus e se for preciso até rezo a Deus por
isso. Não sou um homem de ter fé ou religião, ao contrário, não acredito em
nada!
Que frustração!
A estrada parece nunca acabar e o destino parece nunca chegar.
Soco o volante com raiva, já que o relógio hoje não está nada a favor da
minha pessoa…
Pergunto-me se serei um pai como o Dante, se irei possuir sua bondade e sua
capacidade de amar incondicionalmente ou se irei fazer os olhos do meu filho
brilhar ao olhar para mim…
Finalmente!
Espero dois minutos antes que a porta se abra e me mostre uma mulher
mediana, com cabelo preto encaracolado bagunçado um pouco abaixo do
ombro, sua pele meia amarelada quase chega a ser parda e seus olhos verdes
estão bem abertos em surpresa ao me ver. Ela engole em seco umas dez vezes
antes de me olhar como se eu fosse um fantasma.
— Você?
— Eu!
— Não saio daqui sem meu filho — falo a empurrando para o lado para que
possa entrar no medíocre apartamento. — Cadê meu filho?
Busco por ele no pequeno espaço, mas não o encontro. Só pode estar no lugar
onde imagino ser o banheiro…
Quando vou em direção da porta para poder abri-la uma figura pequena, meio
suja e com os olhos cheios d`água sai debaixo do que me parece ser uma
cama. Ele me olha antes de olhar para a mãe que está ao meu lado e dou dois
passos na sua direção, antes de cair de joelhos perante o ser mais lindo de
todo esse Universo.
Meu filho!
Ele me olha com curiosidade, estendo minha mão, ele a pega e o puxo para
um abraço apertado.
Não sei se um dia terei redenção, mas só de tocá-lo e mantê-lo nos meus
braços já faz com que eu me sinta mais leve…
Mais humano…
Mais vivo!
— Oi filho!
— James esse é seu pai, diga oi para ele! — Melanie me dá uma forcinha.
Foram as palavras que faltaram para que ele se grudasse no meu pescoço com
mais força me chamando de “papai”.
Eu sou o filha da puta mais sortudo desse mundo por ter um filho tão
maravilhoso!
Estamos a mais tempo do que gostaria nessa discussão sobre se ela irá ou não
morar comigo.
A mulher é teimosa que nem uma porta e paciência não é muito o meu forte.
— Você não pode chegar aqui exigindo que moremos com você! — diz
apontando o dedo na minha cara.
Só não o quebro por causa do meu filho que se encontra dormindo no local.
— Nem sei seu nome e não sei quem é… Vai que é um assassino!
Errada ela não está, mas não vim contar história sobre lobos maus. Jogo-a
contra a parede colando meu corpo ao seu, seria até uma cena sexy se não
fosse tão trágica. Prendo seus braços na parede, separo suas pernas com meu
joelho esquerdo nos dando assim um encaixe melhor e a faço olhar nos meus
olhos.
— Está bem, mas saiba que não serei sua cadela sexual.
Ela me olha espantada e pisco para ela antes de soltá-la do meu aperto.
A viagem segue em total silêncio, se ela não quer falar, muito menos eu. O
dia de hoje já foi falado demais. Na verdade, James falou, percebi que ele fala
com dificuldade algumas palavras e que Melanie o corrige. Percebi também a
dificuldade que ele possui em andar, ele pisa torto, mas o que mais me
preocupa é sua respiração pesada, ele puxa com bastante dificuldade o ar dos
pulmões e constantemente tosse.
Amanhã após uma consulta médica completa, irei levá-los para as compras.
Chamarei a Val para poder ajudar Melanie a decorar seu quarto e o do nosso
filho. Nunca na vida me vi tendo que decorar um quarto para um filho, mas
aqui estou já imaginando os tons que posso usar em um quarto azul. Talvez
peça ajuda a Dante ou talvez faça tudo junto com a Melanie.
Estou ferrado!
Ódio!
Ódio!
Ódio!
Sim!
Péssima mãe!
Se ele tivesse uma boa mãe jamais faria o que está fazendo comigo!
JAMAIS!
Juro por Deus que só não mato o Marco por causa do amor que sinto pelo
meu filho.
Não!
Respiro fundo tentado acalmar meus pensamentos loucos demais até para
mim que sou pura loucura.
Pensando bem…
Já fui mais louca, mas desde o dia em que descobri que estava grávida e que
era responsável por uma vida, mudei por completo e tento ser uma pessoa
melhor…
Em quase toda minha vida passei por necessidades, inclusive fome e frio.
Ainda tenho lembranças da minha mãe chorando e implorando por comida
para os vizinhos que também nada tinham. Lembro-me de vê-la deixar de
comer para que meus irmãos e eu pudéssemos comer algo. Nessa época a
vida era uma merda, mas éramos felizes. Não tínhamos muito, mas o pouco
que tínhamos era mais do que o suficiente para sermos felizes.
A vida ficou ruim quando minha mãe morreu e sem escolha tive que ficar em
lares adotivos. Meus irmãos e eu fomos separados uns do outros e até hoje
não sei onde eles se estão, mas rezo a Deus que estejam tendo uma vida
melhor do que a minha.
Passei por tantas coisas e desejo o melhor para o meu filho. Por essa razão
estou aqui na casa do Marco, vendo-o observar nosso filho brincar com um
carinho que foi mais caro do que o salário que recebia mensalmente na
lanchonete em que trabalhava até vir mora nesse apartamento luxuoso.
Estou morando aqui há pouco tempo, mas ouso dizer que isso é um exagero
para uma pessoa que mora sozinha. Marco parece estar mais do que
acostumado com tudo isso, mas eu não estou nem um pouco acostumada.
Vim da miséria e do nada estou em um palácio com um rei lindo e gostoso.
Um rei que mexe e muito com a minha libido.
Ele pode ser o que for, mas o filho de uma boa puta é lindo para caralho!
Ai que raiva dessa barba ruiva, desses olhos azuis celestes, dessas sardas e
desse cabelo ruivo volumoso.
Ai Virgem Maria!
A gargalhada de James ecoa pelo banheiro na hora do seu banho. Ele ama
tomar banho e essa banheira enorme o deixa ainda mais feliz, faz com que ele
se sinta dentro de uma piscina infantil. Marco está dando banho nele e estou
parada observando a cena encostada no batente da porta do banheiro que fica
dentro do quarto do Marco. Quarto este que me assusta com a escuridão que
há nele.
Na verdade, essa casa meio que me assusta por mais linda que seja. Suas
paredes são todas em tons pretos, brancos e cinzas. O cômodo mais claro da
casa é o do bebê James, seu quarto é azul com branco. Há outras cores
também, mas o azul se destaca. Ouso dizer que até parece o céu, já meu
quarto é todo branco e bege.
Sorrio com a cena que vejo e saio do cômodo rumo ao meu quarto. Hoje é o
dia do Marco colocar James para dormir.
Passeio pelo corredor cinza até chegar ao meu quarto, entro no cômodo, que
ainda não me acostumei a dormir e vou para o banheiro tomar um banho
digno de uma princesa da Disney. Tomo um banho demorado, bem relaxado.
Já que terei que ficar aqui irei usufruir disso muito bem, aliás, vou também
usufruir do seu dinheiro. Ele já abriu uma conta poupança para o James e
outra para mim. O valor que está depositado não sei qual é, apenas sei que
vou usar muito bem o cartão de crédito prateado que me foi dado.
Saio do banheiro enrolada em uma toalha que mal cobre meu corpo, fecho
meus olhos e cantarolo uma música qualquer, enquanto mexo meu corpo,
mas quando abro meus olhos levo um baita susto ao ver o Diabo em forma
ruiva sentado na minha cama, me olhando com seus olhos azuis mais frios
que a Antártida.
Suspiro aliviada por saber que enfim depois de dez dias ele resolveu
conversar comigo.
— Até que fim resolveu ser uma pessoa civilizada e veio conversar comigo.
— Melanie, apenas vim lhe avisar que vamos nos casar em breve.
Minha primeira reação é fechar a cara, mas não dura muito e logo caio na
gargalhada.
Suspira e passa as mãos na cabeça de uma forma que bagunça seus fios
ruivos alinhados.
Saio correndo atrás dele como louca e só paro quando quase o derrubo da
escada. Pensando bem eu também acabaria caindo junto com ele.
— Se pensa que vou me casar com você está muito enganado — falo séria.
— Amo meu filho mais do que tudo, mas me prender a você de outra forma
já é demais para minha sanidade mental. Não sou uma criança e muito menos
uma vagabunda. Podemos viver em paz sem ter que usar uma aliança no
dedo.
— Poder, podemos… Claro que podemos, mas para e pensa em tudo a nossa
volta — diz ainda de costas para mim. — Não sou um príncipe Melanie e
muito menos quero te salvar de algo… Quero apenas que saiba que vou te
assegurar de todas as formas, farei com que você fique dependente de mim…
Farei com que seu corpo clame pelo meu mais do que já clama… Farei você
implorar por mim todos os dias. — Ele se vira ficando cara a cara comigo e
se abaixa para falar no meu ouvido. — Lembre-se do que disse sobre como
gosto de uma mulher bem puta na cama.
O ar me falta.
Merda!
Foi uma das poucas pessoas que me ajudou nessa dramática vida.
Levanto-me, tomo um banho rápido, faço minha higiene matinal e corro para
ver meu bebê que já está acordado nos braços do pai.
Marco está usando um terno feito sob medida preto, com uma camisa social
branca, certamente já está arrumado para o trabalho.
Estou faminta!
Ufa!
Chego sã e salva no último degrau dessa escada assassina. Pode não parecer,
mas sou desastrada e sempre rolo em escadas, seja elas onde for.
Coloco James na sua cadeirinha e voo no bolo de banana que há ali. Pego
uma xícara e ponho uma boa dose de café com leite, simplesmente amo leite.
Antes não tinha condições de comprar e agora tenho até de sobra. Não me
contenho só com a fatia de bolo e parto para os pães francês quentinhos.
Oh que delícia!
— Filho, você vai ter o melhor desse mundo, viu? Tudo que mamãe não teve,
você terá! Por isso, aproveite bem tudo que seu pai tem a lhe oferecer. —
Aperto suas bochechas e volto a comer.
Uma hora depois já estou vestida para matar.
Hoje o sol está no alto do céu azul e é um dia perfeito para seduzir!
O motorista, que Marco contratou para me levar onde quiser, abre a porta
para que possa sair com James. Assim que saio do carro, ele corre para abrir
o carrinho de bebê que custa um rim meu. Coloco James no carrinho,
prendendo-o da forma correta. Uma vez me esqueci de prendê-lo, ele
simplesmente caiu e chorei horrores…
Desgraçado!
Que lindo!
É tudo iluminado mesmo tendo tons escuros, sei nem o que detalhar primeiro,
mas o que chama minha atenção é um homem maravilhoso…
Um homem que com certeza é uma das sete maravilhas do céu. O homem
está encostado na parede me encarando com seus olhos negros que me
arrepiam toda e acompanho seu olhar descer para James que está concentrado
em morder seu urso de pelúcia.
— Dante você não acredita no que soube… Oh MEU DEUS! — Olho para a
mulher que se aproxima do lindo homem.
Seu sorriso é perfeito e alcança os olhos, fazendo com que haja brilho
neles…
Perai!
— Você deve ser a Melanie e ele o pequeno James Ryan. — fala a mulher
diva.
— Claro.
Anny tira James do carrinho com uma maestria que ainda não possuo. Seu
marido, o todo poderoso, me cumprimento do mesmo modo com abraços e
beijinhos no rosto e James sorri todo sapeca para eles.
Meu bebê possui muito pouco contato com as outras pessoas, então quando
vê alguém fica todo sassaricando. Sorrio ao ver a felicidade do meu filho ao
tentar conversar com Anny e Dante. Eles parecem ter bastante convivência
com criança.
Será que eles têm filhos?
Filho traíra!
— Ver papai! — diz meu pequeno exibindo seus pequenos dentes brancos.
— Bem, é tudo muito novo — falo por Marco. — Eu meio que só contei para
ele há pouco tempo sobre James.
Há tantas coisas a serem ditas que nem ao menos sei se poderei falar todas,
Marco é obscuro e não sei por natureza ou escolha. Às vezes temo sua
escuridão e que ela também venha fazer parte de mim. Sei que há caminhos
que não podemos desviar, por isso todas as noites peço a Deus direção, não
só para mim, mas para Marco também. Sei que não sou luz para sua vida, sou
apenas aquela que colocou no mundo a luz para sua vida, por isso, por mais
que implique com Marco no fundo sei o quanto ele necessita de James na sua
vida. Ele precisa de um motivo para viver e James é esse motivo.
Minha boca quase abre de tão chocada que fiquei com suas palavras.
Haylock, você pode ser um ator de Hollywood!
Marcos explica mais ou menos o que aconteceu e que James já tem um ano e
nove meses. Anny ficou surpresa ao saber que meu bebê é esperto demais
para sua pouca idade e descobri que ela e Dante tem trigêmeos.
Às vezes seu olhar é quente como um vulcão, mas tem vezes que é mais frio
que as geleiras da Antártida.
Quando decido encarar seus olhos, tomo um susto com seu olhar em mim.
É algo novo…
Há algo que até hoje nunca vi em seus olhos. Por alguma razão temo
profundamente a consequência que esse olhar trará futuramente.
Eu a amo tanto!
— Acho que está na hora de dizer adeus. — Ele me diz sorrindo com doçura.
— Não!
Vejo seu corpo coberto por sangue, tem sangue em todos os lugares…
Abraço seu corpo ensanguentado e peço a Deus que me ajude, por favor.
Paro na entrada da cozinha ao ver uma bunda mediana em uma calcinha que
deveria ser um pecado capital e me encosto no batente da porta vendo
Melanie mexer sua bunda para lá e para cá enquanto come algo. Ela está meia
que jogada no balcão da cozinha e sua camisola subiu deixando sua deliciosa
bunda de fora devido sua inclinação no balcão. Se meu corpo estava quente
devido ao pesadelo agora se encontra em chamas por causa de uma bunda
gostosa e atrevida que não para de se mexer.
Ela fala o tempo todo, não cala a boca nem sequer por um segundo e deixa
pela casa um cheiro floral de limpeza. Eu jurava que era algum produto de
limpeza, mas quebrei a cara ao vê-la preparar perfumes caseiros e depois
espalhá-los pela casa em pequenos fracos com dois “pauzinhos” dentro.
Suspiro ao me dar conta no que estou pensando e afasto o mais rápido
possível pensamentos amorosos da minha mente. Melanie e eu vamos ficar
juntos com um único propósito:
James!
— Credo, que delícia! Quero! Ah, meu Deus! — fala aleatoriamente olhando
para o meu pau.
— Dá para falar mais baixo? — pergunto enquanto ela tapa os olhos com a
mão.
— Você está nu com esse bambu apontado para mim! Jesus do céu, que
pecado! — fala abrindo seus dedos para logo em seguida fechar.
— Mãezinha que está no alto céu, a senhora viu que nem o seduzi hoje de
manhã e olha que acordei decidida a seduzir esse ser ruivo gostoso. Melanie
foca na oração para sua mãezinha!
Fico olhando-a falar sozinha e suas mãos estão fechadas como se ela
realmente estivesse fazendo uma prece.
— Mãezinha, tenho certeza de que a senhora está vendo esse homem todo
indecente aqui ao meu lado. Ele poderia estar usando uma simples cueca em
respeito à minha pureza, mas não, está como veio ao mundo. Esse sem-
vergonha impuro está tentando me levar para as trevas, mas serei forte e
resistirei a essa maestria de pau… Esse pau não é santo!
Não sei a levo até meu quarto e a fodo com força ou se a jogo contra esse
balcão investindo forte em seu lindo traseiro…
Posso até ouvir seus gemidos escandalosos ecoando pelos cômodos da casa.
— Santa Virgem! Você ainda está aqui? — fala tentando olhar para os meus
olhos.
— Nossa que grosso! — Ela arregala os olhos ao se dar conta do que falou.
— Você sabe o quanto sou grosso, Melanie. Agora me diga o que foi fazer na
empresa… Sei que não foi apenas levar James para me ver.
— O que mais eu iria fazer lá, Marco? — pergunta nervosa. — James queria
te ver e eu o levei… Não vi mal algum em levá-lo para ver o pai.
Encaro seus olhos sabendo que ela não irá me contar a verdade.
Cansado dessa conversa de meia noite passo por ela subindo para o meu
quarto. Meu quarto é melhor do que a companhia daquela anja em forma de
diaba. Deito-me na cama e fico encarando o teto escuro.
Muitas pessoas temem a escuridão, mas ouso dizer que gosto dela. Quando
estou em um ambiente escuro posso ser eu mesmo, sem correntes ou sorrisos
fingidos. Há anos percebi que passamos mais tempo tentando ser o que
esperam que sejamos do que buscando o que realmente desejamos ser. Somos
espelhos refletindo o desejo do próximo e não os nossos. Meus olhos não
refletem nada, mas minhas atitudes é outra história.
Acordo suada após sonhar com o pênis do Marco.
Deus me livre, mas quem me dera!
Ai que ódio!
Ai que ódio!
Chuto os lençóis da cama para cima com raiva e como uma criança birrenta,
bato o pé na cama umas três vezes antes de me levantar pisando duro no
pobre chão com raiva.
Entro no banheiro e corro para o vaso, pois preciso fazer xixi. Seco-me, tiro a
roupa para poder tomar banho, ligo o chuveiro no morno e me permito tomar
um banho calmo e relaxado, já que ainda está muito cedo para o James
acordar. Quando a água morna se choca com minha pele sinto de imediato
meus músculos relaxarem, com delicadeza introduzo um dedo dentro da
minha vagina e faço movimentos de vai e vem. Ainda não satisfeita, coloco
mais um dedo indo mais rápido e bruto. Encosto minha testa na parede de
cerâmica branca e com minha outra mão livre aperto meu mamilo direito com
força. A dor que sinto faz com que minhas paredes se apertem contra meus
dedos, o que me faz gemer baixinho de prazer. Fecho meus olhos me
lembrando do pênis de Marco pronto para a guerra e essa recordação deixa
meu corpo ainda mais excitado. Sinto uma necessidade de ir mais rápido e
com mais força, acabo jogando minha cabeça para trás quando enfim consigo
gozar e para minha alegria não grito o nome do Marco.
Após concluir minha higiene matinal, visto um macacão longo bege e penteio
meu cabelo o deixando solto. Abro a porta do quarto para sair e levo um baita
susto ao ver Marco em frente à minha porta com James no colo. Assim que
me vê meu filho se joga nos meus braços e o pego no susto. Por pouco James
não cai no chão como uma jaca manteiga podre.
Quando chego ao último degrau falto saltitar de alegria, juro que quase me
virei para mostrar a língua para escada assassina que sempre me faz cair, só
por ser desastrada por natureza.
Quando entro na cozinha levo um susto por ver tudo pronto em cima do
balcão. Hoje tem bolo de cenoura com calda de chocolate e posso jurar que
em meus olhos surgiram duas estrelinhas brilhando.
Coloco James na sua cadeira e o prendo para que ele não caia. Antes que eu
pense em pegar seu mingau de fruta, Marco coloca-o na bancada em frente
dele fazendo com que meu baby dê gritos de alegria.
Coloco a colherzinha nas suas mãos e o vejo se acabar. Às vezes ele erra a
boca fazendo com que o mingau vá parar nas suas lindas bochechas.
— Okay. Posso ao menos saber com quem irei trabalhar? — pergunto dando
um sorriso.
— Sim minha cara Melanie, comigo — fala lavando sua xícara. — Por favor,
peço que hoje fique em casa com James e quando voltar iremos sair um
pouco para passear.
Marco chega às 17:00 horas em ponto, James que estava brincando com seus
carrinhos no tapete da sala de estar, sai correndo ou tenta correr na direção do
pai que o levanta rodopiando no ar. O sorriso que Marco dá a James é tão
perfeito que até sinto uma pitada de inveja por nunca receber um sorriso
sincero assim.
Amo parques!
Optei por calça jeans, blusa branca simples, uma jaqueta amarrada na cintura
e tênis.
Desço a escada correndo e por sorte não caio, o que me faz virar dando
língua para a pobre escada.
Puta merda!
Estão idênticos!
Todos nos olham, acho que pelo fato de estarmos vestidos quase da mesma
forma e as mulheres estão babando no Marco.
Era para Marco ser feio, mas não, o bendito nasceu ruivo, gostoso e com
lindos olhos azuis celestiais, mesmo que ele seja um ser do inferno.
Aperto suas mãos com força e para minha surpresa ele retribui o aperto.
— Dante disse que está no carrinho bate-bate — Marco fala e meus olhos
brilham.
É foda!
Não sei se seguro a mão do meu filho nos brinquedos ou a dela e devo dizer
que o grito agudo que ela deu ao ir em uma mini montanha russa para
crianças, fez com que meu tímpano doesse.
James está emburrado querendo dormir, mas a mãe parece que tomou cinco
garrafas de energético. Melanie pula e até mesmo dança com as crianças.
Olho para ele e não falo nada, já que não há o que falar.
Nunca na minha vida pensei que estaria em um momento familiar como esse.
Toda a luz que há nesse momento, incomoda minha escuridão. Jamais pensei,
ou melhor, há anos não cogito a ideia de me adaptar a luz. É até hilário haver
fontes de luz na sua vida quando você é somente trevas.
— Acho que vai ser difícil tirar a Melzinha dos brinquedos — fala Pedro.
Melanie vem correndo até mim antes que chegue até ela, não preciso dizer
nada para ela saber que chegou a hora de partir e nos despedimos do pessoal
rapidamente. Melanie anda saltitante segurando minha mão como uma
menininha no seu primeiro encontro com o “Boy magia”.
Fazemos o caminho para casa em silêncio, quer dizer, uma música toca
baixinho no rádio. O silêncio entre nós não é algo constrangedor, ao
contrário, é até gostoso.
— O dia de hoje foi bom… Não, foi perfeito! Obrigada, Marco pela noite
mais que perfeita! — fala segurando minha mão.
Acho que ela não sabe que eu sou o único a ter o que agradecer…
Uma vez ouvi a seguinte frase em uma música brasileira, “agora estou
solteira e ninguém vai me segurar”. Uma linda frase que combina
perfeitamente com a noite de hoje. Resolvi seguir a sugestão do Marco e irei
transar com um desconhecido. Afinal tenho três meses para curtir minha
maravilhosa liberdade, já que serei obrigada a me casar.
James irá ficar na casa da Valentina, que está dando uma pequena festa de
pijama. Eu até iria para ficar com James, mas a louca da mulher me expulsou
dizendo que não sou criança. Não reclamei, entretanto, meu coração doeu por
ter que passar a primeira noite longe do meu bebê.
A fila estava grandinha para minha tristeza, mas nem me importei. Afinal já
enfrentei filas piores como a da padaria.
Uma hora depois estava mexendo minha bunda para lá e para cá no ritmo da
Beyoncé.
Jogo meu cabelo para trás para me livrar um pouco do calor, até porque o
local está abarrotado de gente.
Quando a música acaba vou em direção ao bar beber uma dose de tequila
com rum. O barman negro sexy, com o braço fechado por tatuagens chama
minha atenção. O homem é gostoso…
Muito gostoso!
Juro por Deus, que não vim com o intuito de transar com um negão de tirar o
chapéu.
— Boa noite, o que deseja tomar essa noite? — pergunta o barman sorrindo
para mim.
Juro por Deus, que parece que fui incorporada por algo maligno.
Jogos meus braços para o alto ao som de uma música qualquer e mexo meu
rabo como uma profissional na arte da dança. Parece até que uma corrente
elétrica está passando pelo meu corpo, me deixando mais eufórica a cada
minuto que se passa.
Abro meus olhos e vejo um rapaz até que bonitinho me olhando, vai ser ele
minha presa. Ando a passos firmes até ele, seu sorriso não é lá grande coisa,
mas serve para algo. Passo por ele pegando na sua mão para que possamos ir
para um lugar mais tranquilo na boate.
Jogo-o contra a parede, já devorando sua boca nada saborosa. Ele pega minha
cintura, mas não há pegada.
Merda!
Antes que minha mão possa ir até suas partes intimas para sentir se o pau
pelo menos é digno de algo, sou puxada para trás com brutalidade.
— O QUE VOCÊ FEZ? — grito para a criatura ruiva parada diante de mim.
Marco não fala nada, apenas me joga sobre seus ombros como um saco de
cimento.
Estou há alguns minutos sentada no sofá vendo Marco Haylock andar para lá
e para cá, me olhando de cima a baixo.
— Não sei que o que fazer com você, Melanie — fala sério.
Marco para bem na minha frente, me puxa para os seus braços e estendo
minhas mãos no seu peito forte.
Seus olhos azuis estão com uma tonalidade que desconheço, há algo sombrio
neles…
O choque dos nossos lábios, faz com que minha boceta se contraia e Marco
devora meus lábios com vontade.
Suas mãos descem da minha coluna até minha bunda apertando-a com força,
fazendo com que um gemido saia da minha boca. Arranho seu pescoço sem
me importar com nada e passo minhas mãos pelos fios do seu cabelo. A
maciez que há nos fios me surpreende, são mais bem tratados que os meus.
Estou sentado no seu colo e nem sei dizer quando isso aconteceu de tão
envolvida que estou. Seus lábios em momento algum saem dos meus, é como
se o ar não nos faltasse. Ele sobe a escada rapidamente comigo em seu colo e
quando menos espero sou jogada na sua cama negra.
Fico de costas, apoiada nos meus braços e levanto um pouco meu tronco para
poder observá-lo melhor. Ele tira o paletó com calma, me olhando nos olhos
e em momento algum desvia seu olhar.
Amo um strip-tease!
Na hora que ele vai tirar a camisa social, solto um suspiro de felicidade e
esfrego minhas pernas em busca de algum alívio. Quando ele desabotoa o
primeiro botão quase voo nele. Marco tem o peitoral liso, com uma tatuagem
no seu peito direito que vai até seu braço o fechando.
Salto da cama indo na sua direção e caio de joelhos sem pensar duas vezes.
Com cuidado lambo a cabecinha dando pequenas chupadas, sinto quando sua
mão puxa meu cabelo fazendo com que eu vá de encontro ao seu pau duro.
Atendo seu pedido e enfio sua tora na minha boca até onde consigo. O que
não consigo levar na boca, aperto com a mão e chupo seu pau como se fosse
um picolé de morango.
— Adoro a forma como meu pau entra e sai dessa sua boquinha, Mel. — O
tom da sua voz me deixa ainda mais excitada. — Agora deixe-a bem
abertinha para que eu possa fodê-la como desejo.
A boca quente de Melanie, me deixa ainda mais excitado. Meu pau entra e
sai dela com maestria. A forma como sua boca me recebe me deixa mais do
que anestesiado pelo prazer. Sei que não irei gozar agora, mas desejo fazê-la
gritar meu nome até perder a voz.
Saio da sua boca, puxo-a para mim e beijo sua boca com necessidade. Depois
desço beijando seu pescoço alvo, deixo ali alguns chupões para que possam
ver que ela me pertence. Sei que lhe dei três meses, mas não consigo ver
outro tocando-a da mesma forma que a toco. Hoje serei duro e talvez amanhã
de manhã eu seja carinhoso, mas agora irei lhe foder com força. Quero que
ela me sinta rápido e duro.
Só minha!
Jogo-a de volta na cama, caindo sobre ela. Mordo seu peito direito enquanto
enfio dois dedos na sua boceta molhada e escorregadia. Suas paredes se
contraem nos meus dedos fazendo com que eu sinta uma necessidade
devastadora de me enterrar dentro dela e assim faço…
Seus gritos de prazer faz com que sinta uma necessidade de fazê-la gritar
mais e mais por mim. Meto com força sem parar dentro dela. Ela está tão
escorregadia que meu pau entra e sai como grande facilidade. Nossos corpos
se movem em uma sincronia perfeita.
Melanie entrelaça suas pernas nas minhas e joga os braços para trás da
cabeça. Seu rosto contraído de prazer é umas das coisas mais lindas que vi
nesse terrível mundo e a forma como ela geme meu nome, faz com que me
sinta exaltado.
— Baby, sinto que vai gozar no meu pau… Goze para mim Mel… Goze…
— Basta dizer isso para que suas paredes internas apertem meu pau de uma
forma tão intensa que quase gozo junto.
Melanie levanta seu peito e joga o cabelo para trás ao se contrair de prazer.
Com maestria coloco-a de quatro, voltando a meter de volta na sua boceta
apertada. Dou um tapa em cada lado da sua bunda, colo meu peito nas suas
costas nuas e dou um beijo na sua nuca. Brinco com seu clitóris fazendo-a
ficar ainda mais excitada. Aperto com força seu mamilo esquerdo e ela
parece gostar porque solta um alto gemido.
Melanie vira a cabeça para trás em busca dos meus lábios e necessitado do
gosto da sua boca a beijo. Quando toco mais uma vez seu ponto G ela alcança
seu clímax seguido pelo meu.
Posso até ter gozado, mas ainda sinto uma necessidade de tomar Melanie de
novo para mim.
O arzinho até que é bom, ainda mais quando vem seguido por uma lambida e
mordida.
Santa Virgem!
Abro meus olhos e vejo uma cabeleira ruiva entre minhas pernas.
Marco parece faminto, uma hora ele morde, outra lambe e outra chupa. Sua
mão direita sobe para o meu peito esquerdo o apertando com força.
Antes que eu possa raciocinar e tomar qualquer atitude James chora. Chora
alto fazendo com que nós dois tomemos um susto.
Marco veste uma cueca e sai correndo porta a fora. Já eu sou mais lenta e fico
na cama uns minutos antes de me levantar. Já passei dessa fase de desespero.
Hoje sei que para certo tipo de choro tenho que seguir meu tempo, pois é
pura manha da criança.
Saio da cama e vou em busca de uma camisa de Marco para vestir. Abro a
porta do seu closet e…
Ando pelo closet olhando as mil coisas que há ali, por fim acho uma cueca e
um camisão para vestir. Olho-me no enorme espelho e observo minha cara
frustrada. Meu sonho de ter uma boa chupada matinal seguida por uma
excelente gozada foi jogada por ribanceira abaixo.
Quando James nasceu era somente eu e eu, na verdade, também havia a dona
Ciara que me ajudou muito desde a gestação. Ela nunca me deu as costas,
mas hoje vejo que eu lhe dei quando vim morar com Marco, nem sequer lhe
avisei para onde estava indo ou se voltava. Tenho quase certeza que ela
imagina que não voltarei tão cedo, ou melhor, que nunca mais voltarei. Ela
sabe que eu vivia ali sob ameaça constante e que meu filho e eu estávamos
por um fio. Tinha noites que eu sequer dormia com medo de algo acontecer.
Sorrio ao entrar no quarto de James e ver Marco com ele no colo ninando-o
para que volte a dormir. Observar essa cena faz com que eu me pergunte se
por acaso tivesse o procurado antes ou se ele tivesse me encontrado antes as
coisas seriam completamente diferentes.
Se pudesse voltar no tempo não permitiria que meu filho presenciasse tudo
que presenciou.
Sempre que o vejo penso em sexo e imagino sua boca na minha boceta ou
passando pelo meu corpo.
Depois da noite em que transamos passamos dias sem nos falar, Marco se
fechou no seu mundo e passei a ignorá-lo, mas não sei explicar o que
aconteceu na madrugada passada quando nos encontramos casualmente no
corredor e ele me levou para o seu quarto.
Posso dizer que estou de boa o ignorando novamente depois dele me ignorar
sem motivo no café da manhã.
— Vai ficar aí ou vai sair? — pergunta Marco sendo 100% simpático e olho
em volta percebendo que já chegamos na empresa.
Saio do carro ajeitando minha saia lápis que vai até a altura do joelho. Hoje
estou bem formal, quis parecer séria pelo menos no meu primeiro dia.
Sigo-o rumo ao elevador privado e agora só falta vinte e oito andares para o
trabalho duro começar.
Eu sou capaz!
Isso é maravilhoso!
— Melanie, por favor, venha na minha sala — pede Marco com um tom de
voz calmo.
— Está bem! — Levanto-me da mesa quase derrubando tudo que vejo pela
frente.
Aí que merda!
Antes de abrir a porta respiro fundo, estou nervosa e nem sei o motivo.
— Chamou? — pergunto para logo depois me dar conta de quão idiota foi
essa pergunta.
Sério Melanie?
Puta merda!
— Daqui a pouco vou ter uma reunião privada e não quero ser interrompido
por nada e nem ninguém. A reunião durará das onze e meia até mais ou
menos uma e meia.
— Tudo bem.
— Ótimo! O nome dela é Tânia Santani… É tudo que tem que saber, pode se
retirar.
Saio da sua sala, sem nem ao menos dizer uma só palavra.
Volto para minha mesa e começo a trabalhar. Foco toda minha concentração
para os papéis que preciso ler, editar, enviar e modelar. Há ligações a serem
feitas e reuniões a serem marcadas. É tanta mais tanta coisa que sinto que até
posso vir a ter dor de cabeça.
Puta merda!
Quase escancaro minha boca ao ver a mulata linda parada na minha frente.
Seu cabelo crespo em um estilo black faz com que eu me sinta inferior a
beleza dela de certa forma.
— Bom dia, sou Tânia Santani, tenho uma reunião agendada com o senhor
Haylock.
Ela acena com a cabeça e entra sem bater na porta como se fosse a dona do
pedaço.
Opto por ir almoçar mais cedo já que adiantei meu trabalho quase todo.
Levanto-me pegando minha bolsa e saio rumo ao elevador.
Já no térreo não faço a mínima ideia de onde posso ir almoçar, só sei que não
quero comer no refeitório da empresa. Bem, pelo menos não por agora, até
porque ainda não conheço ninguém.
Quando me viro para olhar o dono da voz, dou de cara com Pedro, o amigo
de Marco. Talvez ele saiba, mas se não sabe não serei eu a dizer que ele é um
homem bonito. Desde o dia em que o conheci sempre o vejo sorrindo, Pedro
possui uma pele negra um tanto quanto invejável, corte de cabelo militar e é
alto, mas ainda assim é mais baixo que Dante e um pouco mais alto que
Marco. Ele me olha com uma certa curiosidade.
— Oh meu Deus, estou meia que perdida sim. Não sei onde almoçar e Marco
se encontra em uma reunião — falo dando um sorriso sem graça.
— Sorte sua que estou indo almoçar em um restaurante aqui pertinho e não
tenho companhia para almoçar. Vamos, hoje você é uma garota sortuda por
ter a honra de comer uma deliciosa comida ao lado desse negão aqui!
Segui Pedro rua a fora, depois de uns dez minutos caminhando chegamos a
um restaurante simples. Sentamo-nos em uma mesa afastada e ele pede
comida para nós dois. O que não me importa, quero que ele me surpreenda na
escolha do cardápio.
— Você sorri do que digo, mas seu coração não sorri junto. Algo lhe
incomoda e me pergunto o que. Oh, por favor, não se sinta incomodada com
minha percepção… Apenas sou bom em observar as pessoas.
— Bem estou preocupada com o meu filho, hoje é o primeiro dia de aula dele
— falo, pois não é bem uma mentira.
— Não você não sabe… Melanie, Marco não gosta de ser desvendado. Sabe
como o conheci? — pergunta e nego com a cabeça. — Fui acusado de roubo
na faculdade por ser negro, alguém tinha que ser culpado e o único negro da
classe foi essa pessoa. Marco foi o primeiro a dizer que não tinha sido eu,
seguido por Dante. Ambos não pararam até provar minha inocência. Não sou
formado em direito Melanie, sou formado em ciências tecnológicas. Sou um
mestre em computação, mas era péssimo em defesa pessoal. Resumindo
minha história… Eles me defenderam e assim nos tornamos melhores
amigos. Marco tem um instinto de proteção, mas também tende a afastar as
pessoas dele. Ele é uma boa pessoa? É! Mas ele não sabe que é. Marco se
enxerga nas trevas e peço para não o julgar… Não julgue o passado dele.
Todos erraram… Todos cometeram crimes, seja lá qual for.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa meu telefone toca, o nome do
Marco aparece na tela e atendo na mesma hora.
— No restaurante caseiro?
Pedro e eu estranhamos.
Quando o telefone de Pedro toca sinto uma dor no meu peito e uma sensação
ruim.
Pedro se levanta da mesa para atender e quando volta sei que algo aconteceu.
— Melanie, peço que vá para casa com o motorista que está vindo lhe buscar.
James já se encontra na casa de Dante — fala com calma. — Respira funda,
isso Mel respira. Vá para casa pegue os documentos de Marco e me encontre
no Hospital Central.
— O que aconteceu?
Escuridão?
Fui pego de surpresa, mas não cometerei mais esse erro. Estava distraído com
o fato de Melanie estar com Pedro sozinha em um restaurante almoçando.
Não desconfio do meu amigo, mas não gosto de ver os dois perto um do
outro, não é ciúme ou qualquer merda é apenas precaução. Assim que sai
para fora do prédio fui baleado como se esperassem por mim, o infeliz que
fez isso irá pagar caro sendo através da lei ou não…
Faz mais ou menos umas duas horas que acordei, depois da cirurgia de
remoção da bala. Não houve nenhum dano no meu ombro direito e terei
apenas que ficar de repouso por precaução. Não gosto de hospital e odeio
qualquer coisa que me limite a um único ambiente. Essas paredes brancas me
dão nos nervos e ouso até dizer que é há luz demais para mim.
Carlos, um amigo e médico, atendeu meu pedido de não querer ver ninguém,
mas já ouvi o grito histérico de Melanie, inclusive meus tímpanos até doeram
com seu agudo desnecessário. Nem Dante permiti que entrasse para me ver.
Estou tomando esse tempo aqui para pensar no que fazer da minha vida.
Porra!
Meu filho e sua mãe louca se tornaram minha família. Tornaram-se uma parte
desse meu mundo sombrio e são a luz que me faz querer respirar e lutar.
Está foda!
Puta merda!
Melanie podia ser uma pessoa má, ela poderia me odiar ou até mesmo me
destruir, mas ela apenas ajuda James a me reconstruir. Cada pedaço meu que
foi deixado para trás eles estão trazendo de volta. Cada essência que havia
esquecido no espaço está querendo voltar e sinceramente isso me apavora
para caralho.
Nunca pude ser alguém bom, mas agora parece que a vida está me tirando da
minha maravilhosa zona de conforto. Ultimamente venho me sentindo um
inócuo[1], coisa que há anos não sentia.
Tento achar uma posição melhor para poder me sentar sem a ajuda de
ninguém, mas qualquer movimento que faço faz com que meu ombro doa.
Ah, se vai!
Porra!
Merda, Anny foi um alvo o que significa que Melanie e James também serão,
preciso colocá-los em um lugar seguro.
Respira Marco…
Só respira!
Antes que eu possa raciocinar, Melanie abre a porta do quarto fazendo com
que a pobrezinha bata com tudo na parede, o que causa um estrondo e tanto.
A desnaturada corre e se joga em mim fazendo com que meu ombro direito
doa muito.
Puta merda, que mulher mais sem noção!
A mulher está chorando, mas ainda assim me olha com carinho, raiva e
tristeza.
— Melanie é seu pau que jamais entrará no meu cu — fala apontando o dedo
para o meu pau. — A partir de hoje essa coisa grande, grossa e gostosa vai
ficar longe da minha caverna do prazer. Não vai nem sequer chegar a ver a
escuridão que há nela.
Ela faz o que peço, mas vai batendo o pé igual uma criança birrenta. Tranca a
porta e volta andando duro até a cama parando alguns centímetros afastada.
— Para de ser uma criança e venha aqui… Chega mais perto, quero vê-la de
perto. — Agora me sinto o Lobo Mau que tenta seduzir a Chapeuzinho
Vermelho.
Com medo ela se aproxima e com meu braço esquerdo a puxo fazendo com
que nossas bocas se choquem e busco seus lábios com ferocidade. Nossas
línguas entram em perfeita sincronia em questão de segundos e mesmo que
meu ombro doa ainda mais nem ligo, só me importo em beijá-la com força e
com um desejo latente de mais uma vez fazê-la minha. Seguro firme sua nuca
para que ela não se afaste de mim e chupo sua língua como se fosse um
picolé.
A maciez dos seus lábios, faz com que me sinta beijando um algodão-doce.
Puxo seus lábios inferiores com delicadeza para cessar o beijo, pois
precisamos de ar.
— Você é um idiota!
— Não é hora de piadas sexuais, aliás, nem é do seu feitio fazer piadas.
Errada ela não está, mas quero me distrair um pouco e gosto de vê-la ficando
bravinha.
— Estou bem… Logo estarei cem por cento de novo — falo sério. — Como
está James?
— Está com Anny, nem sei como ele foi parar lá, mas sou grata por ela ficar
com ele. Não consegui pensar em nada… Apenas queria vir o mais rápido
possível até você.
— Vá para casa ficar com ele… Nosso filho precisa ficar com a mãe.
Ele deve ter chegado de fininho com seus passos leves ou meu cansaço não
me permitiu sentir sua entrada.
— Tão sábio para algumas coisas, mas tão tolo para outras… Sabe Marco,
um barco não é remado por um único remo, apenas um par faz com que o
barco ande. Não é só uma pessoa que mantém um casal de pé são os dois
como um par. Um mais um é igual a dois e dois é um número par, você
entende? É difícil ter que lidar com novos sentimentos, é cruel ter tanto e
saber que a qualquer momento pode perder tudo… Tudo que você nem sabia
que era de extrema importância para você — fala me olhando.
Maldito seja Dante Boltoni!
— Não trave essa luta dentro de você, ela só irá te destruir mais rápido.
Aceite logo que perdeu… Está tudo bem amar alguém. Meu amigo, você tem
um filho e um filho é a coisa mais precisa desse mundo todo, eles são nossos
espelhos. O que os ensinamos será refletido lá na frente de uma boa ou de
uma má forma, mas o futuro é incerto. — Ele sorri. — Uma vez eu te disse
que o maior vilão da sua história era você… Você é um vilão, porque não
consegue se enxergar da forma como te vimos. Você está tão habituado com
a escuridão que se recusa a todo instante crer que há luz em você. Sei que
teme seu passado, mas pare um pouco de se condenar. Marco a vida é bela
demais para perdemos tempo com coisas banais.
— Acho que você não entende, Dante — falo baixo. — Não nasci em berço
de ouro como você, conheço sua história de perto meu amigo, mas saiba que
jamais desfrutei dos mesmos valores que você durante minha infância. Sou
um nômade. Sou implícito para muitos e até mesmo para mim. Não desejo
ser luz, mas desejo ser alguém melhor. Ultimamente venho ponderando o mal
e o bem dentro de uma forma desastrosa. — Suspiro. — Sabíamos que
aconteceria o que aconteceu hoje e até que demorou. Minha família agora
será um alvo e por isso lhe peço para que leve James e Melanie para a ilha.
Vou entrar de uma só vez no jogo deles e não sairei até ter a cabeça de cada
um deles nas nossas mãos. Uma coisa você tem razão agora tenho dois
motivos para lutar…
Eu odeio o Marco!
Ele é tão insensível!
Infeliz do inferno!
Saio dos meus pensamentos doidos com a parada do motorista e abro a boca
espantada com o tamanho da casa de Dante e Anny.
Gente do céu, que loucura é essa casa!
Muito perfeita!
Abro a porta antes do motorista e ando apressada até a entrada da casa, pois
sinto necessidade em abraçar James.
— Ele estava calmo, mas do nada começou a chorar chamando por você e
por Marco — fala Anny com sinceridade.
— Tudo bem, hoje foi um dia mais do que agitado para todos nós. — Suspiro
cansada. — Obrigada por ficar com ele.
— Não há de que. — Ela sorri docemente para mim. — Somos uma família e
sei que faria o mesmo por mim… Se quiser dormir aqui não há problema
algum, sei o quão ruim é ficar sozinha.
— Agradeço sua hospitalidade, mas o que desejo é minha casa e minha cama.
Nem me importei em pegar seus pertences, outro dia pego, pois hoje só quero
dormir um pouco.
A viagem para casa foi rápida e tranquila. Não houve trânsito e James ficou o
tempo inteiro agarrado a mim. Também não quero soltá-lo, pois meu filho é
tudo que tenho e que preciso.
Estou há tão pouco tempo perto de Marco, sinto uma necessidade enorme de
tê-lo para mim e de ficar com ele para todo o sempre. Se isso é amor eu não
sei, só sei que não me imagino vivendo mais sem ele, entretanto, para tudo
nessa vida há um novo recomeço.
Perdi muitas coisas e por tais motivos aprendi a valorizar até a poeira que há
debaixo do sofá. São pequenas coisas que nos faz crescer, assim como
pequenas vírgulas que fazemos uma história sem ponto final.
Literalmente exausta!
Faço para James um mingau reforçado e para mim um lanche. Dou banho
nele e o coloco para dormir no quarto de Marco. Faço uma barreira com
travesseiros para ele não cair e vou tomar banho.
Choro por Marco, por ver o quão perdido ele está dentro de si e por saber que
esse atentado de hoje não foi por acaso…
Encosto minha cabeça no azulejo do banheiro soluçando alto. Dói tanto por
motivos que desconheço.
Ajuda Marco a achar a luz, não deixe que ele faça qualquer loucura e
principalmente me ajude a ser mais forte.
Escorrego para o chão encolhida e a água quente cai nas minhas costas com
força. Estou tão cansada que poderia até dormir aqui, mas algo me lembra
que a cama de Marco é mais macia e quentinha.
— Bom dia, Mel — diz com seu tom de voz habitual que faz com que uma
corrente elétrica passe pelo meu corpo e chegue na minha boceta.
— Bom dia… Cadê James? — pergunto fingindo não ver seu ombro
engessado.
— Umas duas horas. Não quis lhe acordar, afinal você precisava descansar
um pouco.
Há olheiras enormes nos seus olhos como se ele não tivesse dormido nada na
noite anterior e estendo minha mão com cautela na direção do seu rosto.
Quando a palma da minha mão se choca contra sua pele quente sorrio e
acaricio sua barba que já está crescida. Levanto meu olhar e levo um susto ao
perceber a forma como ele me olha.
Seus olhos azuis expressam algo que seus lábios jamais dirão…
Marco fecha os olhos e deita a cabeça na palma da minha mão. Ele parece tão
carente e tão necessitado do meu afago.
— Você precisa descansar — falo fazendo com que ele abra os olhos. —
Deite-se um pouco, vou preparar o café da manhã.
Ele não fala nada, apenas sai andando como se fosse o dono do mundo.
Imbecil, convencido!
Eu sabia que essa escada iria me derrubar, só não imaginava que seria hoje.
Assassina do inferno!
— Ela não fez nada, você que é desastrada naturalmente — diz bem próximo
de mim.
Antes que eu pense seus lábios estão nos meus e sinto uma certa urgência
neles. Abro minha boca dando passagem para que sua língua invada minha
boca. Suas mãos na minha cintura me puxam para mais perto dele, fazendo
com que sinta sua protuberância crescer e em resposta puxo seu cabelo com
força fazendo com que nossos lábios fiquem ainda mais grudados.
Esfrego-me nele na cara dura, apalpo seu pau sem vergonha nenhuma. Ponho
minha mão dentro da sua calça e ele está sem cueca.
Safado!
Marco beija meu rosto, desce para meu pescoço, deixando pequenas
mordidas e parando quando alcança a alça da minha camisola preta. Ele
afasta a alça com a boca, tanto de um lado como do outro e me mexo um
pouco fazendo com que ela caia de vez no chão. Não estou usando sutiã o
que facilita muito o trabalho de Marco e ele cai de boca no meu mamilo
direito o chupando com força. Gemo ao sentir dois dos seus dedos me
invadindo sem aviso, mesmo usando somente a mão ele me destrói.
Com uma única mão ele desabotoa a calça fazendo com que ela caia no chão.
Ele a chuta para longe com certa urgência, fazendo com que eu solte uma
gargalhada nervosa ao ver seu pau duro e maravilhoso apontado para cima.
Dá até água na boca!
— Outra hora você mama nele Mel, agora deixe-me me enterrar em você —
diz com a voz rouca de tesão.
Ele caminha até mim, se posiciona entre minhas pernas e me invade de uma
só vez.
Marco fica parado, não se mexe apenas me olha de uma forma que me deixa
ainda mais necessitada. Puxo-o para um beijo e tenho quase certeza de que
machuquei seu ombro.
— Senhor Haylock entendo que são jovens e cheios de hormônios, mas peço
que não faça malabarismo com sua esposa — fala o médico sério ao ter que
refazer os pontos no ombro do Marco. — Creio que ficar uns dias de molho
não vá fazer seu pênis cair ou algo do tipo. Então, por favor, para não abrir
esses pontos novamente evitem fazer algo violento… Está dispensado.
Após me fazer gozar três vezes e ele gozar duas, Marco passou a sentir muita
dor no ombro e por insistência minha viemos ao médico. Adivinha só ele
estourou os pontos e posso até ter culpa, mas jamais admitirei que sou
culpada.
— Quer dizer, você meu bem… Eu posso, já que estou bem e a noite é só
uma criança — digo como se não fosse nada.
— Cuidado Melanie, tenho limites e não vá querer ultrapassá-los — diz bem
próximo a mim. — Deixe outro homem te tocar que mato o sujeito e te dou
uma boa surra.
Tenho apenas nove anos, maduro demais para minha idade, mas jovem
demais para ser adulto…
É complicado.
Finjo que não vejo o menino da minha idade usar drogas, muitos aqui usam,
mas eu não. Recuso-me a usar essas merdas. Aprendi algo nesses poucos
anos de vida e uma delas foi que não use nada que vá te prender. Não tenha
vícios, pois, você será dependente deles e não eles de você.
Faz dias que estou nesse navio, não sei quando irei ver a terra, mas não dava
mais para ficar onde estava. Mamãe disse que os EUA será um lugar melhor
e que lá irei encontrar uma casa, um lar, uma família. O que ela não sabe é
que não desejo ter uma família, quando se possui uma família há
preocupações além das suas próprias. Já tive uma e olha só os perdi de uma
única vez.
Suspiro frustrado por ter perdido mais uma noite de somo, mais uma entre
tantas outras. O quarto ainda está bem escuro e não faço ideia de que horas
são, mas deve ser de madrugada. Tento vira meu pescoço para ver as horas
no que relógio digital que há em cima do criado-mudo, mas não consigo há
algo que me impede ou melhor, uma mulher de um lado e uma criança do
outro, Melanie e J.R. estão grudados em mim. A doida da mulher não
compreende que não estou no meu melhor estado, ela não entende que não
gosto de dividir minha cama ainda mais com alguém que constantemente
gruda em mim.
Meu ombro ainda está ferrado, na verdade, ele está muito ferrado. Estou
proibido de quase tudo e principalmente do meu essencial SEXO. Estou sem
sexo, sem nenhum tipo de sexo, isso conta o oral. Fui proibido de praticar
sexo bruto, mas Melanie entendeu como greve.
Porra!
Ele tem que aprender a dormir na própria cama. Na verdade, não sei o que ele
e a louca da mãe fazem aqui na minha cama. Acreditem quando digo que não
faço à mínima ideia de quando fiz o convite da festa do pijama no quarto do
MARCO.
— Dá para você ficar quieto, quero dormir. Não sei se sabe, mas amanhã
trabalho cedo — resmunga Melanie com uma voz de sono que
inconscientemente me dá um tesão.
— Deixa de ser chato, Marco! Pelo amor de Deus, seu filho queria dormir
com você e eu vim junto para ter certeza absoluta de que ele dormiria bem —
fala agarrando meu pescoço.
Melanie está indo para empresa e eu não. Odeio ter que ficar em casa, mas
parece que ninguém entende isso. Estão me tratando como uma criança
birrenta.
Odeio birras!
— Papai “abou” “senho”, “quelo mais” — fala James com os olhos cheio de
lágrimas.
Primeiro erro do dia: Ter deixado J.R. assistir esse maldito desenho.
Segundo erro do dia: Não ter gravado a maldita programação.
James não está indo para a creche por escolha minha, depois do atentado
fiquei recluso e opressivo. Não sei o que pode acontecer com meu filho ou
com a louca da mãe dele. Já coloquei na cola da Mel vários seguranças da
minha inteira confiança e deixei um recado para cada um deles que se
ousarem olhar para ela de forma errada os castrarei. Bastou dizer isso para
eles não dirigir uma palavra sequer para ela fora do código de segurança.
Obviamente que ela chegou em casa gritando feito louca que eu era um
completo canalha e que se ela quisesse daria sim para meus seguranças.
Apenas me calei, na hora certa ela sentirá o peso de cada maldita palavra dita.
— “Nhanço” pai?
Não sei me adaptar a um parque com várias crianças, James corre para lá e
para cá com os amiguinhos dele. Amigos, os quais ele fez em menos de uma
hora. Literalmente ele tem o gênio da Melanie.
— Seu filho se parece muito com você — diz uma mulher loira com os olhos
verdes que aparenta estar grávida de alguns meses. — Oh, desculpe-me. Meu
nome é Irina Johnson, sou mãe daquele menino que está brincando com o seu
filho — diz sorrindo ao acariciar sua enorme barriga.
— Por favor, não precisa me assustar… Meu Deus, ele vai ficar tão feliz em
saber que te encontrei — fala mais para si própria. — Ele sempre tenta se
aproximar, mas nunca consegue… Ele até mesmo já foi em uma audiência,
mas ficou com vergonha de lhe chamar para conversar. Tem noção que desde
o momento em que pisamos em Boston ele fala de você — diz me olhando
com lágrimas nos olhos. — Até meu filho sabe de certa forma quem é você.
Quem é ele?
São ameaças?
— Por favor, me deixe ligar para ele para que possamos conversar, pode ser
aqui mesmo. — Aceno a cabeça em concordância.
Quando a mulher se levanta para fazer sua ligação faço um sinal para meus
seguranças ficarem ainda mais atentos, afinal não estamos em tempos de paz.
Passa-se um tempo, não muito para ser mais exato, até que ouço uma voz que
reconheceria em qualquer lugar do mundo. Confesso que uma parte de mim
ficou feliz, mas a outra nem tanto. Se ele está aqui não significa que meu
passado está batendo na porta. Na verdade, não está batendo, está entrando
como uma furação.
— Marco Haylock.
— Meu amigo, é tão bom lhe ver em vida — fala, me dando um abraço
apertado e retribuo sem querer. — Faz alguns meses que cheguei à cidade e
logo depois ouvi falar de você. Fui atrás de você em audiências, mas não
sabia como me aproximar ou como lhe abordar.
Compreendo perfeitamente o que ele quer dizer, mas ainda não o considero
um amigo próximo. São poucos os que considero próximos e pessoas ligadas
ao meu passado quase considero um inimigo.
— Não é tão simples, você sabe disso… Todos nós fomos separados uns dos
outros há tempos. Cada um seguiu seu próprio destino e você cresceu e se
tornou um homem exemplar.
Talvez se eu tivesse sido mais tranquilo e paciente não teria o que temer hoje.
Não teria que temer pelo meu filho, por minha “mulher” e por meus amigos
próximos. Hoje vejo que o ditado é mais do que real, “aqui se faz, aqui se
paga”.
— Oh, por favor, sabemos que de todos, apenas Tânia e você foram os únicos
a quebrarem a corrente do destino que nos foi implantado. Não me arrependo
dos caminhos que tomei e me orgulho do homem me que tornei todos os dias,
mas ainda há aquele medo de perder tudo, sabe? — Dá um sorriso triste. —
Perdi muitas coisas nesses anos, mas ganhei tanto. Tenho um filho e outro a
caminho… Não me orgulho de muitas coisas que fiz, mas me orgulho da
família que estou construindo… Olha só seu filho é sua cópia fiel. Um dia ele
terá tanto orgulho de você quanto eu tenho.
— Sim, recebi.
— Sabe que eles não vão parar até nos destruir, não sabe?
— Não. Eles não tocaram na minha família, pois os destruirei antes disso. —
Antes que ele possa falar algo meu telefone toca, olho o visor e vejo o nome.
— Sim.
— Então, estava lendo alguns papéis na sua sala, mas aí percebi que nunca
transei com você na sua mesa — fala me deixando confuso com o assunto. ꟷ
Acabou de se tornar meu fetiche… Quero transar com você nessa sala, em
cima dessa mesa de madeira grossa. Li tantos livros sobre CEOs, mas nunca
pensei que realizaria esse meu sonho literário.
— Melanie…
— Nada de Melanie, assim que seu braço melhorar iremos batizar essa sala
com o nosso gozo. Agora me deixa trabalhar e dê um beijo em James por
mim.
— Peço que também dê proteção para minha família, não tenho as mesmas
condições que você — pede com a voz apertada.
Olho para James que sorri para uma flor qualquer e tendo certeza de que farei
o impossível para que nada aconteça com ele.
Semanas depois
Comprei uma ilha há alguns anos no intuito de fugir do mundo às vezes e fiz
de lá uma fortaleza, onde só Dante e Pedro sabem como chegar. Lá pode ser
considerado um paraíso, já que é cercada pelo lindo Oceano Pacífico, sem
falar nas mais belas cachoeiras que há lá.
Paz?
Que ironia Haylock, acho que agora você vê que sempre desejou um
momento de paz. É hilário saber que indiretamente sempre fui meio que
obsessivo pela luz, talvez seja pelo simples fato de sempre ter vivido na
escuridão e nas sombras da noite, mas não compreendo o porquê de não
conseguir me adaptar a luz. Talvez tenha nascido para viver nas trevas.
Acho que nasci nas trevas e por isso me sinto incapaz de ver a luz, tenho
tendências a sempre evitar a luz que há ao meu redor, ou talvez apenas tema o
desconhecido.
Temer o desconhecido?
— Marco, Deus sabe que não tenho culpa de nada — fala Melanie fazendo
com que eu perca a linha de raciocínio que estava seguindo. — Você sabe
que seria incapaz de fazer algo assim, sou um amor de pessoa.
Pergunto-me o que ela é incapaz de fazer, às vezes acho que até o Capeta
perde para ela.
Melanie é terrível!
Acho que terrível e a palavra mais carinhosa para lhe descrever nesse
momento. Em um mundo onde unicórnios voam, certamente ela seria a peste
negra do lugar.
— Melanie, eu pedi e repeti várias vezes a mesma coisa — falo com uma
calma que até me surpreende. — Não lhe custava nada me dar ouvidos, aliás,
ainda arrastou o pobre segurança com você. Esqueceu das consequências para
ambos? — falo sério em um tom de voz baixo e calmo.
— Parou para pensar que talvez o segurança tenha me sequestrado? —
pergunta com uma tremenda cara de pau que nunca vi igual.
— Já parou para pensar que essa sua atitude infantil pode fazer um
trabalhador, pai de família perder seu emprego? — pergunto já sem calma.
Faço um sinal para o segurança sair, vou até a porta e passo a chave.
O que me deixou puto da vida foi o simples fato dela achar que eu não
perceberia de cara. Para me deixar mais furioso usou o pobre segurança para
tentar me fazer ciúme.
Se ela quer ser fodida contra a mesa da minha sala na empresa, era só me
chamar para acompanhá-la que eu não recusaria de forma alguma, aliás, viria
até correndo na sua direção.
Melanie teve a terrível ideia de vir para a empresa em pleno sábado e, bem,
aqui estamos nós…
Preparados para ter uma boa sessão de transa descabida?
Melanie, talvez ainda não tenha percebido, mas eu gosto de algo bem sujo e
sem controle algum. Eu gosto de brutalidade e adoro ouvir seus gritos de
prazer pedindo cada vez mais e mais.
Ando a passos largos até Melanie e puxo-a para mim beijando sua boquinha
que nunca para quieta. Seu gosto de cereja me enlouquece e o gemido que ela
solta quando chupo sua língua me deixa extasiado para lhe dar mais prazer.
Tiro seu vestido com brutalidade e ela quase rasga minha camisa em um ato
desesperado de tirá-la de mim. Beijo seu pescoço deixando pequenas
mordidas, por alguma razão tenho pressa de possuí-la de uma só vez.
Uma necessidade que nunca senti em toda minha vida, é como se o toque
dela me queimasse e me desse um grande alívio ao mesmo tempo. Nunca na
minha existência senti tanta ansiedade em ter uma mulher só para mim, mas
com ela me desarmo por um inteiro…
É um sentimento tão louco, tão intenso que até mesmo me perco dentro de
mim. Não há palavras que irá conseguir expressar o que sinto cada vez que
suas mãos macias passam por minha pele, pois não há sensação melhor do
que essa e talvez ter alguém ao meu lado seja bom.
Faço Melanie se curvar perante a grande mesa de madeira maciça, abro suas
pernas, dou um tapa na sua bunda arrancando um grito de surpresa e
massageio a área com cuidado.
Em alguns momentos sou bruto e em outros sou delicado. Hoje não consegui
ser sujo, pois uma gentileza devastadora surgiu dentro de mim. Eu quis ser o
que nunca fui com uma mulher…
— Lembre-se que tudo que faço é para o bem da nossa família — sussurro no
seu ouvido, enquanto ela goza pela terceira vez.
— Você destrói tudo que toca Marco! — fala entre lágrimas. — COMO
OUSA ESTRAGAR A SURPRESA QUE ESTAVA PREPARANDO, COM
ESSA NOTÍCIA? — grita jogando um vaso na minha direção.
Não tinha intenção de fazer isso, mas não tenho mais escolha…
Vejo Melanie desfalecer em meus braços, talvez quando ela acordar irá me
odiar ainda mais, mas tudo bem. Isso tudo é necessário para o bem deles.
Pedro chega dez minutos depois que liguei, ele me ajuda a levá-los até o
jatinho particular que já está à espera. Dante nos acompanha em um dos
carros que nos segue.
Meia horas depois fico vendo o jatinho desaparecer no ar. Por mais que me
doa deixá-los ir sem mim e que cada parte do meu ser grite para eles ficarem,
sinto que tenho que afastá-los de mim por um tempo.
Recuso-me a perdê-los.
Provavelmente Mel esteja certa, eu não sei amar, mas gostaria que ela
entendesse que tudo que estou fazendo é pela nossa família. Ouvir Mel falar
que me odeia me doeu tanto que por um instante meu coração falhou algumas
batidas.
Não era meu desejo que tudo isso acontecesse, mas o que poderia fazer?
James!
Meu menino é só um bebê esperto demais para sua pouca idade. Espero de
todo o meu coração que ele não me odeie.
Espero que eles entendam que tudo que faço é para mantê-los seguros.
— Sim, estarão.
Saio de perto dele indo até meu carro e dirijo rumo a única coisa que pode me
acalmar no momento, o Museu de Belas Artes de Boston.
Sorrio ao olhar para obra A Lagoa de lírios d'agua de Claude Monet. Não é
uma das suas melhores obras, mas me acalma olhar para essa pintura.
— Sabe Marco, eu melhor do que ninguém sei dos sacrifícios que fazemos
por quem amamos. Você sabe o quanto minha história de vida é ferrada…
Sabe o quanto aprendi com os meus erros, mas Marco não se culpe tanto.
Você está fazendo o que acha correto, não sei a profundidade desse
problema. Dante não me fala nada, apenas me disse que era um assunto que
só você poderia resolver, mas não acho que está preparado para me contar —
diz com a mesma doçura de sempre. ꟷ Há um tempo estive aqui em busca de
soluções, me lembro de cada palavra que me disse naquele dia. Elas foram
para o meu crescimento, mas hoje vim lhe dizer algo muito importante. —
Ela se vira para mim e completa. — Talvez você vá sentir uma culpa
devastadora que irá te ferir cada vez mais, ou ainda sinta medo a cada
instante. Talvez pareça que não vá passar, mas saiba que vai. Irá doer todos
os dias, acredite vai doer como um Inferno, mas cada vez que saudade apertar
lembre-se que tudo que está fazendo é pela sua mulher e filho. Hoje ela pode
te odiar, mas amanhã você poderá reconquistá-la. Apenas faça o necessário
para tê-los de volta. Ah, Marco a maré pode estar contra, mas saiba que uma
hora a tempestade irá se acalmar… Dê tempo ao tempo.
Não há nada que possa dizer nesse momento, apenas continuo observando a
imagem que serenamente me traz calma.
Suspiro cansado após dar mais um soco no saco de areia na minha frente,
estou esgotando meu físico para ver se ao menos consigo dormir um pouco.
Sinto-me cansado, mas simplesmente não consigo dormir.
Um soco…
Dois socos…
Três socos.
— Acho que já deu por hoje, não acha? — questiona Pedro surgindo das
profundezas do inferno. — Sabe, seria mais fácil se aceitasse ajuda — fala
em um tom calmo. — Você está ficando doente Marco… Você não vive, está
obcecado por algo que talvez nem exista de verdade. Sei que teme seu
passado, mas meu amigo, por favor, não se perca entre essas grandes ondas.
Você não está vivendo Marco, está apenas respirando.
Porra!
Agora entendo quando Dante diz que temos que viver o hoje como se fosse o
último dia e que não devemos deixar para depois o que se pode fazer hoje.
Eu nunca tive muito e nunca sonhei em ter mais do que o necessário para
viver. Nunca me vi com grandes carros e casas, assim como nunca me vi com
o status de milionário. Muito menos nunca pensei que um dia seria chamado
de pai.
Porém, afirmo com toda convicção que de todas as minhas conquistas ser pai
é a melhor delas.
Eu só queria sobreviver ao mundo obscuro e cruel que vivia e sair das grades
que me limitavam…
Eu só queria a liberdade!
Buscava não ter uma coleira presa no meu pescoço como se fosse um cão,
nasci em uma cela onde meu carcereiro era tão cruel quanto o Diabo. O
diretor do presidio não tinha alma e sentia apenas ódio. Cresci tendo que
correr para poder viver e não me foi permitido chorar ou sorrir. Quando
enfim consegui fugir, corri contra o vento mesmo que estivesse pisando em
águas escuras de esgoto. Lembro-me de sorrir pela primeira vez, enquanto
saltitava por sair das grades.
Uma mera criança que desde sempre foi tratado como adulto…
Eu nada sabia, mas já era sábio o suficiente para idade que tinha.
Naquela época, naquele lugar pessoas como “nós” eram tratados como bicho
ou até mesmo pior que um. Ela me levou para uma tenda, onde vivia com
mais três crianças como eu. Entre eles havia um adolescente que não parava
um instante de sorrir, o que chegava a ser irônico. Recordo-me de uma vez
ele dizer que sorria por estar vivo e ainda posso ouvir sua voz martelando na
minha cabeça…
“Sabe ruivinho, pode parecer que nada temos, mas somos sortudos por ter
uns aos outros. Somos uma família…
O infeliz cumpriu sua palavra, foi ele por nós, quer dizer, foi ele por mim…
Aquele dia foi a primeira vez que chorei por perder alguém…
Aquele dia pela primeira vez questionei o que queria para o futuro. Então por
ele, um amigo que se tornou mais que um irmão, resolvi lutar pela verdadeira
liberdade, mas fracassei na primeira tentativa e nas seguintes.
Sobrevivi a miséria e quando achei que teria uma vida melhor fui puxado
para a escuridão absoluta. Foram eles que me tornaram uma pessoa
monstruosa e me levaram para outro tipo de cela. Nessa minha prisão, os
gritos de horror não eram apenas o meu, mas sim o de outras pessoas. Tem
noites que fecho meus olhos e me vejo mais uma vez naquela maldita sala
preta vendo o sangue inocente ser derramado. Ainda vejo seus olhos me
pedindo ajuda e eu nada podia fazer. Na minha iniciação, o véu foi rompido e
um grito de medo o inocente deu. Um inocente foi para sempre manchado e
para todo sempre terei que conviver com o peso da minha escolha.
Sinto-me um Demônio…
Sinto-me culpado!
Tem dias que nem sei como conseguirei andar, já que em meus ombros há
um peso grande, mas não maior do que o da minha consciência e desse peso
não há fuga.
Porra!
Não sei como Melanie não percebeu o quanto a pele das costas é grossa, bem,
não só ela como outras partes. Ela só passa a mão em mim quando estamos
fodendo iguais dois loucos e é visível que minhas tatuagens são mais grossas
que o normal. O irônico é que ainda sinto cada uma delas e quando me olho
no espelho posso vê-las por mais que estejam cobertas por tintas e rabiscos
bem desenhados.
Odeio ter que me olhar no espelho…
Meus olhos transmitem o que quero que vejam e aprendi a dar sorrisos sem
ao menos sorrir com a vida, mas quando me encaro no espelho vejo tudo que
tento a todo instante esconder. Vejo tantas coisas, como as trevas que
habitam em mim, meus crimes, a dor que finjo nunca sentir, a pessoa cruel
que fui e o quanto sou quebrado.
Minha alma é tão escura quanto a água do esgoto, onde corria quando criança
e se Deus existe, me pergunto como Ele permitiu que uma criança sofresse
tudo que sofri, mesmo que saiba que há uma grande parcela de culpa sobre
mim, já que foi um caminho que escolhi percorrer. Eu já estava fodido e não
vi motivos para não me foder mais. O que não sabia naquela época é que eu
iria me cobrir com sangue inocente, mas como sabemos eu não posso e nem
podia voltar ao início.
Ah, me lembrei dessa maldita frase que martelou por anos na minha cabeça
durante a fase em que eu deveria ser apenas uma criança…
Acho que ser criança é o que James é hoje. Meu filho vai ter uma infância
normal, uma infância onde o amarei da melhor forma possível, mas primeiro
irei aprender a amar. Tenho muito que aprender ainda, mas dessa vez irei
aprender coisas boas.
Alemanha
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — pergunta Dante. — Sabe dos
riscos que vai correr e a chance de sair vivo é mínima. Você tem um filho e
uma esposa para cuidar. Sabe que podemos fazer isso de uma outra forma. Há
muito em jogo Marco, não é mais só sobre seu passado, agora também é
sobre seu presente e futuro. Há uma vida que depende da sua e
consequentemente outra. Você não é mais sozinho meu amigo, sei que me
considera um irmão, mas agora você tem o que mais desprezou na vida…
Você tem uma família e isso é mais do que tudo. Quero que saiba que te
apoiarei no que for preciso. Nossa equipe estará lá com Dominique e você.
Há também a força especial da CIA ao seu lado… Vamos agir conforme a lei.
Não há motivos para agirmos fora dela.
Porra!
Isso é fodido demais, porque sinto que não estarei com eles nos próximos
anos.
Sei que se eu sair vivo de lá será por pura misericórdia de Deus.
Porra!
Sinto falta de meter duro dentro dela e do que pensei que jamais sentiria.
— Acho que está na hora de ficarmos cara a cara com o passado — fala
Dominique antes de puxar a porta para entrar no nosso inferno particular.
— Estou todos os dias cara a cara com ele, hoje só irei ver rostos mais feios
do que o meu — falo calmamente. — Abre logo essa porra, antes que eles
abram por nós.
— Quanto tempo, irmão. Vejo que voltou para casa — diz Aiden.
— Vim apenas fazer uma breve visita. — Ele sorri, como se soubesse o
motivo de estar aqui.
Talvez só talvez ele saiba, mas não será tão burro a ponto de falar. Ele gosta
de viver nesse mundo implacavelmente sujo, mas eu sempre quis fugir.
Estava bem até eles surgirem das cinzas ameaçando todos que são
importantes para mim. Posso ser uma pessoa cruel, mas tenho afeto pelos
meus.
— É claro que só veio fazer uma visita, imaginei que tivesse vindo para ficar.
— Dá uma falsa gargalhada. — Sei que jamais largaria o castelo de areia que
construiu em Boston.
Castelo de areia?
Interessante…
Mal sabe que construí meu castelo em rochas firme e seguras, o que ele não
sabe é que jamais ousaria jogar para o alto algo que conquistei com tanta
dificuldade e não falo de dinheiro ou poder. Falo de uma pequena
estabilidade mental que construí com muito esforço e força de vontade.
Ele respira forte, nada diz e sai com o rabo entre as pernas.
Começo a seguir a estrada da perdição e todos abrem caminho para que eu
possa passar, eles me respeitam por saber quem sou e que sou capaz de matá-
los em um piscar de olhos.
Quando chego ao meu destino, penso em abrir a porta, mas ela se abre e lá
está a pessoa que mais odeio no mundo.
— E o filho pródigo volta a casa — fala com seu típico sorriso. — Seja bem-
vindo de volta filho!
Acho que a minha volta já era esperada pelo meu "pai", se é que ele é um
pai, pois está mais para um Demônio.
— Dominique, vejo que também veio — fala sorrindo. — É tão bom ver
meus filhos de volta… Só falta Tânia.
Ela até queria ter vindo, mas sua gravidez não permitiu, o que é até bom.
— Bem, ela não sabia que retornaríamos hoje. Vim conversar com o senhor
sobre as ameaças desnecessárias que venho recebendo, aliás, gostaria de dizer
que não precisa me dar um tiro em forma de convite para lhe fazer uma visita,
sei perfeitamente quando vou e quando volto — falo ironicamente, porque sei
que isso o deixa irritado.
— Acho que está perdendo o respeito, filho — fala com os dentes cerrados.
— Acho que esqueceu todos meus ensinamentos para me dar o respeito.
— Devo te dar uma surra para lhe lembrar ou te torturar até que não haja
mais sangue na sua cabeça. Moleque insolente! — braveja alto. — Esqueceu
quem sou? Posso ser seu pior pesadelo filho e da mesma maneira que já
matei os que vieram antes de você, posso te matar agora — diz de uma forma
assustadora, mas para mim são só palavras. — Posso até mesmo fazer você
morrer de overdose. — Ele sorri sabendo que esse é meu ponto fraco.
Sempre odiei qualquer tipo de droga, nunca quis usar e muito menos
experimentar. Por anos ele tentou me fazer usar, mas me recusei adquirir
qualquer vício. Sempre que recusava me batia, me torturava fisicamente e até
psicologicamente. Ele tentou me ferrar de todas as formas, bem ele
conseguiu, mas ainda estou são.
— Faça o que achar melhor, nunca me importei muito com viver e morrer,
sabemos que para mim sempre foi tanto faz, me mate papai se assim for seu
desejo. — Olhei em seus olhos negros e sorri.
— Por agora quero você vivo. Quero que transporte uma mercadoria para os
EUA.
— Viva ou morta?
— Viva.
Filho da puta!
Merda!
ꟷ O do Norte.
ꟷ As crianças estão saudáveis? Não queremos problemas com o comprador.
Estuprador do inferno!
Porra!
Já fiz muitas coisas na minha vida, mas nunca toquei em ninguém dessa
forma. Só de pensar que uma dessas crianças pode ser James, faz com que a
raiva cresça de uma forma descomunal dentro do meu peito. Aperto o botão
no meu bolso dando o sinal para entrarem, não dá mais para continuar essa
conversa.
— Melhor assim.
— Sabe filho, podemos levar nosso culto até Boston, você domina lá e eu
continuo aqui. Será ótimo, não acha?
— Um pai sempre sabe o que leva um filho a voltar para casa — diz baixo.
— Você se tornou o melhor, mas também se tornou o pior dos filhos. Nunca
seguiu obedientemente as regras impostas a você. Sempre questionou através
desses olhos azuis o porquê de fazer certas coisas. — Ele suspira me soltando
dos seus braços e automaticamente meu corpo entra em alerta. — Você nunca
confiou em ninguém a sua volta Marco, inclusive me pergunto se realmente
se chama Marco Haylock. Não há registros seus até os nove anos, o que é
bem estranho, mas bem, não sou um exemplo de cartórios. — Ele coloca a
mão no queixo pensativo.
Não há o que dizer, errado ele não está, mas também não está certo.
Como diz o todo poderoso Dante Boltoni, a vida é uma estrada de duas vias e
cabe a nós escolher qual caminho seguir. Por muito tempo peguei a estrada
errada e agora vejo o quão difícil é ter que voltar para o caminho certo. Tem
que voltar ao início para poder recomeçar, só que eu não sabia que seria tão
assustador.
Temo não conseguir ser o suficiente para meu filho e para Melanie…
Quando resolvi ir para uma universidade, pensei que seria uma forma de
redenção e por isso optei por Direito, de certa forma me redimi com as
pessoas, mas tudo tomou uma reviravolta quando vi que podia ir além…
Quando percebi que podia realmente salvar pessoas, cada pessoa que defendi,
ajudei e estendi a mão fez com que eu me sentisse mais humano. Dante e
Pedro sempre se mantiveram ao meu lado até mesmo quando contei toda
verdade a eles. Na época pensei que eles me enxergariam como um monstro,
mas foi o contrário, eles viram em mim humanidade. Recordo-me de ambos
me abraçarem forte e dizer que estariam comigo para o que der e vier. Até
hoje eles estão ao meu lado e eu ao deles.
Agora olhando para esse homem na minha frente vejo o quão errado ele está.
Isso daqui nunca foi uma família…
O que uma criança mais madura que muitos adultos não sabia, era que
sobreviver nem sempre é viver…
Por isso hoje vou acabar com esse maldito “Ciclo” do inferno. Não quero
mais que nenhuma criança dê o grito que dei, que ninguém um dia tenha que
carregar o fardo que carrego e que viva na escuridão em que passei a viver.
Uma escuridão que há em minha alma. Esse lado obscuro acaba trazendo
uma solidão que faz com que você perca a vontade de viver. É como a velha
rachadura que há na parede, não basta só jogar uma tinta por cima para
cobrir, pois ela ainda vai estar lá e consequentemente irá reaparecer.
— Claro que é — diz olhando nos meus olhos, o que é uma grande burrice já
que meus olhos transmitem o que quero.
— Bem, acho que não irá ficar muito tempo. — Assim que diz isso um
estrondo acontece lá fora.
Ótimo!
— MARCOOO.
É só mais um dia…
Mais um maldito dia em que eu corria para não chegar atrasada ao bar.
Mesmo sendo mais um dia típico de correria para chegar cedo ao bar, havia
acordado com a sensação de que algo diferente aconteceria. Meu coração
estava apertado, mas ao mesmo tempo eufórico.
Chego ao bar pontualmente, mas meus “bofes” quase saíram para fora de
tanto que corri. Transporte público é muitas vezes é uma merda, ainda mais
quando se mora na região pobre e perigosa da cidade.
Hoje pegarei dois turnos, preciso de dinheiro extra para tentar pagar o mais
rápido possível os “caras” com quem tive que fazer uma pequena dividida.
Eu precisava pagar minha cirurgia e não tinha dinheiro suficiente para isso,
então em vez de perder minha vida para uma doença optei por me endividar
com pessoas erradas. O que eu não pensei na hora, foi que também colocaria
minha vida em risco ao fazer tal acordo.
No meu bairro tem um senhor bem de idade que sempre trabalhou e juntou
suas economias, mas teve a infelicidade de ficar doente e perdeu todas elas
para se tratar e agora ele simplesmente vive nas ruas pedindo esmola.
Quando posso ajudo, mas tem dias que nem sei o que terei para comer.
Suspiro cansada após jogar mais um número de telefone fora. Há clientes tão
chatos e insistentes que só Deus para me ajudar.
Quando me viro para ir até a outra extensão do bar, ouço a porta abrir e um
vento forte vem até mim, me fazendo sentir um frio na barriga. Quando me
viro para atender o cliente quase infarto com sua beleza. Ele é ruivo, alto e
usa um conjunto de peças que provavelmente é mais caro que meus rins no
mercado negro. Ele não sorri para mim, não dá boa tarde e muito menos
demonstra ter um pouco de simpatia. Há um ar sombrio nele e seus olhos
azuis possuem um mistério que até me arrepia.
Ele não precisou dizer uma única palavra para que eu soubesse que ele era o
caçador e eu a presa. Eu sabia que não importava o horário que sairia do
trabalho, ele estaria a minha espera.
Bem, eu me enganei…
Não aguentei o tesão e inventei uma desculpa para ser fodida logo. Essa foi
a primeira vez que sai com um cliente, mas algo me dizia que seria a última.
“Tome.”
Maldita lembrança!
Maldito dia!
Estamos nessa linda ilha há mais de um mês e não recebi nenhuma notícia de
Marco.
O marido de Irina sempre manda uma carta para ela, mas o pai de James nem
sequer se lembra da nossa existência.
— Logo filho, papai está lutando contra o mal — falo mais uma vez para
deixar sua mente em paz.
Marco é o que sempre dizia ser, obscuro e não há sentimentos bons dentro
dele. Ele é egoísta, só pensa nele e todo sentimento bom que construí foi
jogado fora.
Aí que ódio!
Ódio!
Eu sei que talvez esteja fazendo birra por estar magoada ou talvez só esteja
morrendo de inveja de Irina por estar recebendo notícias e eu não. Odeio me
sentir assim…
Era ser forte ou ser forte, mas nessas últimas semanas que estou aqui isolada
do mundo, venho me sentindo frágil, medrosa, sufocada e apavorada. Estou
sentindo uma mistura de sentimentos involuntários que só pioram devido à
gravidez.
Que ironia!
Lágrimas escorrem dos meus olhos só de pensar em que tudo pode acabar
caso Marco não consiga resolver esse problema, ou se ele não sobreviver…
Aí meu Deus!
Não me vejo mais criando meus filhos sozinha, antes era somente James e eu,
mas agora há mais um ser de luz em nossas vidas.
Ele assim como eu, viu James como uma esperança e um ponto de luz no
meio de tanta escuridão. Apegamo-nos a essa luz, pois somos covardes
demais para tentar encontrá-la dentro de nós mesmo.
Acaricio minha barriga em busca de alívio, ela já está meia que grandinha e
pelas minhas contas já estou com quase três meses.
O bebê estava ali, não abortei James e olha que na minha primeira gestação
não havia o que comer muitas vezes. Eu tinha dívidas para pagar, além do
aluguel. Se comesse não pagaria o aluguel e se comprasse remédio, não
pagaria a quem devia. Olhando para trás nem sei como sobrevivi a tudo isso.
Sou grata a Deus por James ter nascido saudável e peço todos os dias para
que esse bebê que está por vir também nasça saudável.
Aí que merda!
Meus olhos não param de lacrimejar e esse meu coração realmente é
vagabundo, pois não para de doer por causa desse cretino de uma figa.
— Não “chola” mamãe, não “chola” “pa” não deixa o “imãozinho” “tiste” —
James fala me abraçando.
— Oh, meu bebê ruivo mais lindo… Desculpa mamãe por isso — falo entre
soluços, pois suas palavras me fizeram chorar ainda mais. — Vai pegar uma
flor para mamãe?
— Se pegar “foles” mamãe fica feliz? — Aceno com a cabeça e ele vai
correndo em busca das flores.
Sem força de vontade me levanto da cama e vou atrás dele. Seco meu rosto
molhado pelas cruéis lágrimas que não param de cair.
Bando de descontroladas!
Quando estou perto da porta que dá para sala que me levaria até o jardim que
há ali, levo um susto ao ouvir uma voz grossa e firme.
— Olá Melanie! — Dante Boltoni está sentado no sofá com toda sua beleza.
— Como está?
— Venha comigo, por favor, Irina irá cuidar de James para que possamos
conversar um pouco — fala isso, sai andando e o sigo a passos lentos.
Dante me leva até a praia, hoje o dia está nublado e a maré está alta e forte.
Vejo altas ondas se formando e o mar parece revoltado. Ele para de andar
alguns passos onde a onda se quebra.
— Sei que não está bem… Eu no seu lugar não estaria — fala alto. — Não
vim lhe pedir compreensão… Sei que tem motivos para sentir raiva, ódio,
além da dor do abandono. Acredite já passei por tudo isso em um contexto
diferente — diz olhando paras as ondas. — É sufocante esse sentimento de
impotência… É horrível se sentir sozinho, mas saiba que não está. Não posso
lhe contar muito, mas saiba que estamos todos com você e por vocês. Marco
não pode estar aqui, mas me pediu para lhe entregar essa carta. — Ele me
estende uma carta, mas não me entrega. — Melanie, observe essas ondas e
veja como o mar está agitado. Ele está revolto, mas se reparar o céu está
triste. O céu hoje representa o Marco e o mar representa o lado interior dele.
Ouso dizer que a vida foi mais do que cruel com ele, mas afirmo que Marco
foi mais cruel consigo mesmo. Ele não pede por abraços, porque não sabe
abraçar. Não pede carinho pelo simples fato de não saber receber e não
demonstra amar, porque nunca soube como é amar. Ele era uma casca oca,
sem vida ou sem razão para viver até você e James aparecerem na vida dele.
Peço apenas que seja um pouco mais compreensiva, ele ainda está na fase de
aprendizado. — Ele se vira para mim e sorri.
— Esperei anos para poder amar de verdade e você terá que esperar só mais
um pouco. Essa criança que espera será a razão para muitas coisas boas. Não
chore Melanie, a vida vai lhe sorrir com intensidade no tempo certo. Há dias
nublados, dias de chuva e dias de sol, cabe a nós saber viver um dia de cada
vez. Nos tempos nublados sinta a brisa fria, nos dias de chuva dance na chuva
e nos dias de sol sorria. Nada nessa vida é certo, quer dizer, a única certeza é
a morte, então cabe a nós viver sem medo do amanhã. Busque a paz em si
mesma Melanie e não se perca entre as correntezas. Não há ondas grandes o
suficiente para fazer com que você desista do que quer. Não pare de lutar,
mas saiba que está tudo bem se perder, basta se levantar e começar de novo.
A vida é um ciclo de erros e acertos, de cair e levantar, perder e ganhar…
Apenas viva. — Ele me abraça, me entrega a carta, dá um beijo na minha
testa e se vai.
Abro a carta com as mãos trêmulas, ele escreveu a punho e sua caligrafia até
que é bonita.
Merda, não acredito que estou elogiando esse ser!
Não sei quando Dante vai lhe entregar essa carta, mas saiba que vocês são a
luz da minha vida. Cometi muitos erros no decorrer da minha vida, mas
James e você são os meus maiores acertos.
Não sou um príncipe encantado, na verdade, estou mais para lobo mau…
Mel nunca pare de sorrir, lute sempre pelo que achar certo e não deixe a
escuridão tomar conta de você.
Vou encerrar essa carta por aqui, mas saiba que você é a luz.”
Quando vou ler mais uma vez, vejo que tem algo escrito em letras menores
na parte externa da carta.
Marco Haylock
Caio de joelhos na areia e grito entre soluços.
Não quero chorar mais, porém é difícil me manter firme ao vê-lo nesse
estado. Sempre gostei de manter pensamentos positivos, até mesmo quando
fiquei doente mantive fé de que tudo ficaria bem, mas dessa vez me sinto um
caco, é como se eu estivesse oca por dentro e um sentimento de medo me
assombra a todo instante. Dessa vez não estou conseguindo ser forte o
suficiente e a todo momento quero desmoronar. Todos estão me dando
suporte, mas dói demais ver quem se ama assim e eu nem queria o amar…
Com certeza ele me olharia mais vezes com aquele olhar obscuro que me
deixa excitada.
Real!
Eu vou matá-lo, pois isso não se faz com uma mulher grávida. E pior, há uma
pequena chance dele não sobreviver a próxima cirurgia.
Faz vinte dias que ele está no melhor hospital da Alemanha, tendo o melhor
atendimento, mas ele não reage e só piora com o tempo.
Esse idiota!
Ele deve achar que tenho resistência cardíaca, mas qualquer dia desses eu
juro que irei infartar.
James acha que estamos aqui a passeio, ele fica passeando para lá e para cá
com Valentina e seus filhos. Todos estão aqui Dante, Anny, Pedro, Carlos e a
Val. Os amigos deles mais próximos que irmãos estão aqui por ele e por
mim.
Eu tenho me mantido firme, por mim, por James e pelo pequeno bebê que
ainda nem nasceu. Estou me alimentando somente porque Dante me obriga e
por isso eu não o acho mais bonzinho.
Fecho meus olhos pedindo a Deus força e um milagre para Marco. Sei que
ele não é uma pessoa de fé, mas eu sou por nós dois. Tento conter as
lágrimas, mas é inevitável…
Elas rolam da mesma forma que os pingos de chuva caem do céu. Solto um
soluço já não conseguindo mais contê-lo, minhas mãos tremem e estou
sufocada pela dor.
Nem quando perdi minha mãe me senti assim, eu sabia que ela iria morrer.
Eu pude me despedir, agora Marco na última vez que nos vimos eu briguei,
gritei e falei palavras que machucaram a nós dois. Eu só queria poder voltar
no tempo e lhe abraçar mais uma vez.
Sinto minhas pernas falharem e quando vou cair alguém me segura. Abraço o
desconhecido com uma força assustadora.
— Está tudo bem, chore. — A voz doce de Dante ecoa nos meus ouvidos. —
Eu sei o quão doloroso é ver quem se ama nesse estado, mas saiba que esse
cara é mais forte do que pensamos. Ele vai sair dessa! Eu acredito e tenho fé
nisso. Vamos ter fé Melanie… As ondas podem parecer ser maiores que
você, mas você pode passar por ela de várias maneiras, não há nada nesse
mundo que possa nos impedir de acreditar.
— Acredite em si mesma, na sua força e tenha fé… Não há por que perdemos
a fé… São só dias ruins… É preciso a tempestade para que haja sol!
Abraço Dante sem dizer nada e apenas choro, enquanto ele me consola.
Esse homem diante de mim tem o dom de fazer nos fazer sentir melhor. Ouso
até dizer que ele ensaie por horas o que vai dizer, mas sei que ele possui essa
luz tão envolvente. Sempre que olho para ele vejo além da sua beleza
exuberante com um excesso de bondade contagiante. Já ouvi falar dos seus
grandes feitos, mas nunca parei realmente para analisar. Hoje em dia
convivendo com ele vejo que ele é tudo e muito mais do que dizem sobre ele.
— Você deveria ir para casa e ficar um pouco com James — fala ainda
abraçado a mim. — Melanie não há mais só James, há um bebê dentro do seu
vente que precisa da sua estabilidade tanto física quanto mental. Marquei para
você uma consulta de pré-natal para amanhã de manhã e por agora você irá
descansar o dia todo. Qualquer mudança no caso dele eu te ligo. E, por favor,
não discuta comigo, pois faço isso para o seu bem.
Sinto que ela está chorando comigo, pois lágrimas quentes molham meu
pescoço.
— Merda! Era para estar te consolando, mas eu não sou muito boa nisso.
Quem é bom nisso é o Dante. Desculpe-me… É que dói tanto… Marco é uma
pessoa muito importante para mim, o considero meu irmão, além de um
ótimo conselheiro — diz sorrindo entre lágrimas o que acaba tirando de mim
um riso frouxo. — Ele foi meu advogado de defesa.
Eu não suportaria passar por tudo isso, mal estou conseguindo passar por essa
tempestade, imagina passar por tudo o que ela viveu. É preciso ter muita
coragem para viver e nesse exato momento só tenho coragem para dormir ao
lado do meu pequeno.
— Não precisa me dizer nada, está tudo bem. Hoje estou mais do que
bem… Há dias ainda em que quero só me deitar e chorar, mas há dias que
nem
me lembro o que me aconteceu. — Ela fala sorrindo. — São dias de luta e
dias de
glória, Melanie. Não há dias sempre perfeitos, mas basta saber que dias
melhores virão.
Ela é tão evoluída que até me contagia, há tanta complacência[3] nela e no
Dante que até me faz ter mais esperança nas pessoas.
— Agora vou atrás dos meus filhotes, descanse. — Ela dá um beijo no meu
rosto, se vai e eu me arrasto até o banheiro para tomar um banho quente.
Vinte minutos depois estou vestida com uma cueca e um blusão preto do
Marco. Com uma toalha enrolada na cabeça me deito ao lado de James e o
puxo para mim o abraçando com força. Ele é tão parecido com o pai que até
me dá nos nervos, mas hoje me traz consolo essa semelhança. James é tão
pequeno, mas já é tão altruísta. Sinto as vezes que o mundo não será digno de
toda a sua bondade, mas ao mesmo tempo sinto que ele não se deixará abater
por nada. Ele é naturalmente teimoso como eu.
— Papai está em uma missão muito importante, mas logo estará aqui conosco
— falo forçando um sorriso.
— Papai é um herói — fala sorrindo.
Hoje é o primeiro dia que não chorei desde que cheguei na Alemanha. Se
chorar na frente do James, ele também irá chorar e não quero que meu filhe
chore, quero sempre que ele sorria. Ele não precisa saber que o pai está entre
a vida e a morte.
Quando ele for mais velho lhe contarei o que aconteceu nesses tempos
difíceis, mas por agora ele só precisar saber que o pai é um herói.
Sorrio para enfermeira que vem me chamar para a consulta, me levanto com
James e sinto um forte aperto em meu peito. Não acredito que mais uma vez
farei isso sozinha, chega a ser irônico.
Que porra!
Sinto algo vibrar na minha bolsa, a abro, pego meu celular e na tela brilha o
nome de Dante. Meu coração se acelera na mesma hora e surgem várias
teorias na minha cabeça sobre o que pode ser essa ligação. Pode tanto ser
uma boa notícia como uma má.
— Há uma ótima notícia Mel — diz me deixando mais aliviada. — Sabe que
ontem Marco passou por uma cirurgia para conter o sangramento interno em
sua região torácica, bem a cirurgia foi um sucesso. — Completa fazendo com
que eu quase solte um grito de felicidade. — De ontem para hoje o inchaço
na sua cabeça diminuiu bastante. Há mais chances dele acordar Mel.
Sorrio com a boa notícia e encerro a ligação já com uma decisão tomada.
Só irei ouvir o coração do bebê quando Marco acordar, o quero ao meu lado.
Três semanas depois
Estou usando uma roupa especial, máscara e sem falar nas luvas. Por mais
chato que seja usar tudo isso, vale a pena cada incomodo para poder estar
mais perto dele.
— Sério Marco… Eu quero te estrangular por me fazer passar por tudo isso.
Não sei se sabe, mas tenho apenas vinte e dois anos. Sou nova demais para
quase sofrer um ataque cárdico. É frustrante falar e você nem sequer me
responder — digo já ficando emburrada. — Hoje mais uma vez James
perguntou por você, meu coração dói cada vez que sou obrigada a ter que
mentir para ele, mas é por um bom motivo, né? Aí que raiva! Você não me
responde… Sinto falta de receber seu olhar de desaprovação por cada coisa
sem sentido que eu falar… Sinto falta de dormir colada a você e no meio da
madrugada ouvir suas reclamações… Sinto falta até do seu mal humor
matutino — digo já com lágrimas nos olhos.
Esse é o lado ruim de ficar grávida, seu emocional fica uma merda!
— Juro que até sinto falta das suas broncas pela minha bagunça.
Calma aí…
Ele falou?
Maldito!
— Não chore, por favor… Não chore, Melanie. — Ele me pede em um tom
de
voz baixa e rouco. — Você continua falante, hein?
Meu corpo paralisa e apenas fico olhando seu rosto cheio de sardas. Sua
barba está aparada e curta.
É ignóbil[4] isso.
Não quero me vitimizar nem nada, mas acho que merecia ter sido avisada
desde o primeiro momento em que ele abriu os olhos.
Posso não ser sua mulher, mas sou a mãe dos seus filhos.
Enquanto chorava, gritava e pedia a Deus por sua vida, ele estava aqui bem e
saudável.
Estou magoada!
— Para de criar várias teorias nessa sua cabecinha — diz fazendo com que eu
pule de susto. — Só os médicos sabem que acordei, pedi silêncio da parte
deles para uma melhor recuperação — diz se sentando na cama. — Acordei
há duas semanas, mas preferi deixar isso em segredo. Não gosto que me
vejam vulnerável — fala me olhando. — Você foi a primeira pessoa que quis
ver e James não pode entrar ainda, só quando eu for definitivamente para um
quarto. Não estou cem por cento bem, mas já devo estar bem o suficiente
para lhe dar uma boa surra. — A palavra surra sai em um tom mais rouco.
Porra!
— Assim que sair daqui iremos ter uma conversa muito séria.
— Melanie — diz meu nome devagar. — Tira essa maldita roupa, quero ver
seu rosto sem essa máscara.
Meu vestido longo marca bem minha barriga já saliente e assim que tiro a
roupa especial vejo seus olhos me observando.
Marco me encara e desce seu olhar para minha barriga. Fecha os olhos, os
abre de novo, leva as mãos no rosto e opto por não falar nada. Esse momento
é dele. Vou deixá-lo absorver a informação.
— No dia que te mandei para a ilha, você…? — pergunta ainda com as mãos
no rosto.
Sinto que ele trava uma guerra interna e vejo em seus olhos que há um
alvoroço dentro de si. Ele respira fundo algumas vezes antes de se virar para
mim com um olhar suplicante que faz com que cada parte do meu corpo entre
em tensão. Nunca vi esse olhar antes em seu rosto…
Suas palavras me doem tanto quanto a dor física que estou sentindo. Levei
dois tiros, um no peito e outro no estômago. Perdi bastante sangue, passei por
três cirurgias, sendo que uma delas foi na região craniana, com a queda
depois do tiro bati a cabeça muito forte, bem parece que a sorte não estava ao
meu lado.
Hoje se estou vivo após mais de um mês é porque há ótimos médicos nesse
hospital e também porque Dante me salvou ao ter atirado em Aiden. Fiquei
mais tempo desacordado do que imaginei, mas por alguma razão acordei após
um longo sonho infinito. Optei por não avisar ninguém, queria me recuperar
primeiro um pouco antes de olhar nos olhos de cada um que é importante
para mim. Melanie foi a primeira pessoa que quis ver. Eu realmente senti
falta da sua voz nesses dias que ficamos separados.
Confesso que ela quase me fez enfartar ao anunciar que está grávida mais
uma vez e dessa vez irei participar da sua gestação, coisa que não pude fazer
com James, mas foi por pura estupidez minha. Perdi algo importante por ser
orgulhoso demais…
Ainda sou, porém sei que tenho que ser uma pessoa melhor.
Segundo filho?
Sempre pensei que seria sozinho. Nunca pensei que teria pessoas tão
importantes ao meu lado, mas hoje vejo que realmente pensei tão pouco da
vida. Fiz pouco caso da pessoa em quem poderia me tornar. Acho que estou
superado minhas estimativas.
Porra!
Quero poder fazer carinho nessa barriga já saliente, mas estou com medo.
Assusta muito!
Minhas mãos coçam para poder ir até ela, mas meu sistema nervoso parece
ter travado.
— Ainda não fiz meu pré-natal — diz Melanie me tirando da guerra interna
que estou travando. — Quis aguardar você… Na gravidez de James fiz tudo
sozinha, mas nessa gravidez me recusei — fala já quase chorando.
Porra!
Não imaginei que iria lhe ferir tanto, eu não sabia que levaria dois tiros, quer
dizer, sabia que havia uma grande chance de não voltar vivo, mas por incrível
que pareça estou vivo e disposto a corrigir alguns erros.
Não sou um príncipe encantado nem nada, muito menos sou um bom garoto,
deixo Dante ser o bom menino.
Gosto de ser quem sou e de não agradar a todos…
Talvez ele esteja tão elevado pelo simples fato da morena ao meu lado estar
escancaradamente olhando para o meu pau. Ela me olha com desejo e
carinho, algo que é novo para mim.
Tudo novo.
— Melanie, por favor, não chore — peço e mais uma vez uso o “por favor”,
isso é algo que quase nunca uso, mas por ela venho usado mais de uma vez.
— Estou bem melhor, logo estaremos em casa e você poderá se sentar em
mim tão forte que nenhum guindaste poderá te tirar — falo deixando-a
espantada.
Ótimo!
Olho para ela, seus olhos estão estreitos e há um sorriso bem travesso em
seus lábios.
Melanie está uma mistura de safada com angelical, até mesmo parece essas
crianças que ganharão um presente surpresa e tentam adivinhar o que é.
— Ele já é delicioso sem nada em cima, basta sua boca com meu gosto
natural — falo sério. — Nada de calda quente no meu pau.
Por alguma razão seus olhos se enchem mais uma vez de lágrimas e eu não
sei o que fazer. Realmente não sei lidar com Melanie grávida, assim que
estiver melhor e sair desse hospital vou em busca de um manual de gravidez.
Na verdade, necessito de um para ontem.
— Melanie, por favor, entenda que não há por que colocar algo quente no
meu pau — falo deixando que ela me abrace. Dói um pouco seu abraço
apertado, mas ao mesmo tempo é reconfortante.
— Você é chato! Dormiu por um mês, acorda e ainda vem me dizendo que
não posso fazer o que quero… Você é tão injusto! — fala fazendo um bico
que juro que vou morder.
Irei-me autovalorizar…
Mereço o melhor e ele irá me oferecer isso por bem ou por mal.
Viva la vida!
Sinto-me muitas vezes uma estranha que ele deixa fazer uma visita cotidiana
na sua cama.
Sinto-me insignificante por querer algo que talvez nunca venha a ser
realmente meu.
Apenas um abraço.
Eu queria que esses braços fossem do Marco, eu queria isso, mas querer nem
sempre é poder e poder nem sempre é querer.
Tão cruel!
Quando era criança, em um dos dias que estávamos com fome, minha mãe
disse: "Melanie há pessoas com a mesa cheia, mas os corações vazios. Há
pessoas como nós com a mesa vazia, mas com o coração cheio de esperança.
Às vezes filha dividir suas guerras com alguém irá te fazer bem. Eu sou
egoísta demais por preferir manter vocês ao meu lado, quando não tenho nada
a oferecer além do meu amor." O que ela não sabia era que o pouco que ela
me dava já era o bastante. Marco tem que aprender que se no momento ele só
pode me oferecer cacos, eu pegarei esses cacos e os transformarei em um
lindo vaso. Ele deveria saber que é mais fácil quando falamos.
Odeio chorar!
— Estou respirando, não está vendo? Estou calma até demais — falo
apontando o dedo na sua cara enquanto fungo. — Ele ainda disse que vamos
ter que nos casar… Casar? Quem ele pensa que é para ficar em coma por um
tempo e do nada achar que serei sua Lady?
— O que está havendo aqui? — pergunta Dante que surgiu das cinzas. —
Você está bem, Melanie?
Que inferno!
— Eu quero chupar com calda quente de morango, mas ele não quer. Disse
nada de calda quente e ainda usou aquela voz rouca que tanto amo. Eu
deveria odiá-lo, mas não consigo… Só não consigo.
— Não sei informar, a gravidez dos trigêmeos foi bem calma — Dante fala
me observando. — Melanie, que tal tomarmos um chocolate quente com
biscoitos recheados? — pergunta fazendo com que meus olhos brilhem.
Comida!
Pedro me olha como se eu fosse louca, mas nem ligo. Enxugo minhas
lágrimas e pego a mão de Dante que me guia rumo ao paraíso chamado
biscoito recheado e chocolate quente. O pau de Marco com chocolate deve
ser bem gostoso…
Só penso em pecados…
Perdoe-me!
Amém!
Atravessamos a rua rumo aos biscoitos, Dante segura minha mão como se eu
fosse uma criancinha e nem ligo por ele estar a segurando. Sinto-me super
feliz por ter minha mão na sua, aliás, Anny é uma baita sortuda.
Ele é lindo de rosto e aparenta ter um corpo e tanto. Tem braços fortes, uma
perna bem torneada, sem falar nos lábios e principalmente há um volume e
tanto no meio das suas pernas. O cara tem um ótimo caráter, é uma pessoa
extremamente benevolente, sem falar que tem um sorriso e tanto…
Anny sortuda!
Mesmo Dante sendo tudo isso, eu ainda prefiro meu ruivo cheio de sardas
sexy.
A escuridão que há em Marco é uma das coisas que mais me atrai nele, na
verdade, essa foi a primeira coisa a me atrair nele. Claro que o cabelo ruivo
também me chamou bastante a atenção, assim como seus olhos azuis que
mesmo sendo claros parecem sempre transmitir o céu noturno sem estrelas.
— Melzinha, você está bem? — pergunta Pedro assim que nos sentamos nas
cadeiras almofadadas da lanchonete, que para mim mais parecia um
restaurante de tão chique que o troço é.
Pedro me olha como se eu fosse um ser de outro mundo, entendo que ele
esteja assustado com o meu surto, mas eu só estou chateada com tudo isso.
— Cabe a ele também entender que pode ir além — falo comendo meus
biscoitos.
— Acho que você não entendeu Melanie — Dante fala me olhando sério. —
A nossa mente é um labirinto que muitas vezes nos perdemos. No caso do
Marco ele se perdeu dentro de si há muito tempo e há mais nas entrelinhas do
que eu ou você possamos ver… É uma questão de empatia. A dor, o trauma e
o medo são os piores que tem. Marco foi diagnosticado com depressão, mas
nunca se tratou. Já tentei convencê-lo de todas as formas a ir a um psicólogo,
mas não é tão fácil quanto parece ser e não posso simplesmente o obrigar a ir.
Não estou aqui para lhe falar sobre tais coisas, não é um assunto meu e sim
de vocês.
Não digo nada, não sei o que dizer. Apenas estou tentando absorver tudo que
está acontecendo da melhor forma para que não venha prejudicar o bebê em
meu ventre.
Marco foi para o quarto ontem e hoje exigiu ver James e a mim, mas eu não
irei. James vai com Dante.
— Amor da vida todinha da mamãe, você vai com o tio Dante ver o papai.
Mamãe vai ficar aqui com neném descansando — falo beijando seu rosto.
Ouço batidas na porta e vou abrir, Dante e Pedro estão devidamente vestidos
e parados na minha frente.
— Viemos buscar o James, já que a senhorita não vai — diz Pedro sorrindo.
— Meu amigo até que merece esse castigo.
Minutos depois me vejo sozinha no quarto de hotel e sem nada para fazer
resolvo sair um pouco. Vi que tem há poucos minutos daqui um parque.
Desço de elevador tranquilamente, passo pela recepção e vou caminhando até
o parque. Chego lá e admiro o cenário lindo na minha frente.
Porra!
Sigo andando rumo ao lago lindo que tem aqui, mas escorrego na neve e
quando vou cair o desconhecido me segura. Parece até uma cena
cinematográfica produzida pela Disney, ele me segura, nossos olhos se
encontram e seus olhos são negros. Se ele me puxar mais um pouco nos
beijamos.
Essa voz…
Impossível!
— Marco, não é o que você está pensando — digo nervosa saindo dos braços
do desconhecido.
— Sei o que meus olhos veem — diz e em sua voz não há emoção. — James
está no carro te esperando — fala em um tom neutro.
— Estou onde deveria estar — diz me olhando nos meus olhos com
decepção, vira as costas e sai andando.
— Olha só acho bom você me soltar, se não vou lhe dar uma voadora — falo
já brava.
Vim para esse lugar lindo em busca de poder me distrair e pensar, jamais
imaginei que iria acontecer tudo isso…
— Okay, vá atrás dele — diz com um certo tom de raiva. — Só tome cuidado
para não ser destruída pela escuridão dele.
Livro-me da mão que me segura sem dar muita importância as suas palavras
e vou correndo atrás de Marco.
Homem tolo!
Saiu do hospital, veio atrás de mim nessa friagem e ainda trouxe meu filho
com ele. Assim que eu o alcançar irei matá-lo.
Vejo-o encostado debaixo de uma árvore me encarando, ele está com uma
cara de mau que Nossa Senhora!
Não…
Paro de correr porque me cansei, sou sedentária demais para ficar apostando
corrida.
Aproximo-me com medo da sua reação e talvez até mesmo da sua rejeição.
Seus olhos estão vazios e não há sequer um vestígio de emoção lá. Quando
estou bem perto paro.
— Não há por que ter medo de mim. Vim até aqui atrás de você já que não
foi até o hospital. Imaginei que estaria aqui então vim até você, só não
imaginava que lhe encontraria nos braços de outro homem.
— Pelo que sei tenho um acordo em que diz que posso transar com quem eu
quiser, lembra? — pergunto o desafiando.
— Você deveria saber que não sou um homem muito paciente e que muito
menos sou uma boa pessoa — diz cheirando meu pescoço. — Adoro seu
perfume, mas odeio alguém que não seja eu lhe tocando… Não gostei de ver
as mãos daquele homem em você… Paciência é um dom que eu não possuo
— diz mordicando a pontinha da minha orelha. — Eu poderia agora lhe foder
forte contra essa árvore — diz baixo.
Eu preciso disso!
— Seria uma cena e tanto para o seu amiguinho ali atrás que está nos
observando… Seria uma grande atração… Faríamos melhor do que esses
vídeos de sites pornográficos — diz apalpando minha bunda com uma mão e
com a outra aperta meu seio direito. — Você está excitada… Você me quer
agora dentro de você — diz apertando mais forte, me arrancando um gemido.
— Você me quer duro e forte… Você deseja que eu lhe coma rápido e sem
preliminares, não é? — pergunta beijando minha têmpora.
— Perdeu a voz Melzinha? Humm, vejo que perdeu — diz, parando sua
mágica.
Ultimamente venho reparando que tenho sentido uma grande carência, uma
carência que não senti na gravidez de James e sinceramente isso está me
assustando muito. Assusta-me saber que meu corpo, minha mente e meu
coração desejam alguém instável que a qualquer momento pode jogar tudo
que conquistamos para o alto. Eu deveria ser mais inteligente e por uma linha
que separa nossa vida maternal, da pessoal…
Deveríamos ser apenas pai e mãe, mas andamos inconscientemente para uma
relação amorosa.
É claro, que eu sabia que seria fraca o suficiente para conseguir conciliar as
duas coisas…
— Parei porque aqui não é lugar e nem hora para tais coisas… Há um homem
atrás de mim te comendo com os olhos e há nosso filho no carro a nossa
espera — fala se afastando mais uma vez de mim.
Ele é doido!
— Você deveria estar se recuperando e não zanzando por aí… Você tem dois
filhos para criar — exclamo brava.
— Já fiquei em estado pior do que esse, sem nenhum médico para me ajudar
— diz sombriamente causando uma sensação ruim em mim. — Vamos
Melanie, preciso descansar e você também… Amanhã mesmo voltaremos
para Boston. Não gosto dessa cidade.
Quando realmente olho para frente vejo que o desconhecido ainda está lá me
encarando ou melhor nos encarando. Marco segura minha mão e me puxa
para longe dos olhos do desconhecido.
Assim que passamos da entrada do Palácio, a qual achei que era um parque
vejo vários carros parados. Marco me arrasta até um que está com meio vidro
aberto e assim que ele abre a porta traseira ouço o grito de James.
— MAMÃE! — grita quase se jogando em mim, mas o cinto de segurança
que há na cadeirinha não permite.
— Sentiu tanta saudade que até estava nos braços de um outro homem.
— Papai casa? — pergunta meu bebê ao pai que se sentou do outro lado.
Olho para o rosto de Marco, enquanto ele olha sem piscar para o monitor a
nossa frente. Era para estarmos em um voo para Boston, mas após uma longa
conversa misteriosa com Dante, Marco disse que teríamos que ficar mais um
pouco. Pelo que entendi há coisas pendentes com o governo alemão, vou
confessar que fiquei curiosa, mas não perguntei. Se ele não quer falar não
serei eu a perguntar. Agora estou agindo assim, se me disser bem e se não
disser tanto faz. Não queria saber mesmo.
O olhar que ele me lançou ontem não sai da minha cabeça e só de lembrar me
assusta, mas hoje não há em seu rosto traços do homem de ontem. Há hoje
um pai que parece ser de primeira viagem.
Ele já fez várias perguntas a pobre doutora que responde tudo pacificamente e
o melhor não olhou para Marco igual uma cadela no cio. Ela está sendo bem
profissional.
Melhor doutora!
Já a adoro!
— Doutora, o bebê está bem? — pergunta Marco a médica pela terceira vez.
— Sim papai, o bebê está mais do que bem, seu coraçãozinho está batendo da
forma adequada, o peso da mamãe está normal e o feto está no tamanho certo
— fala calmamente a doutora que tem uma paciência de Jó. — Porém, como
bem sabemos toda gravidez requer alguns cuidados… Melanie não deve
passar por muito estresse.
Agora o ruivo sexy já sabe que não deve me fazer passar por muito
estresse…
Louca?
Respiro fundo para não perder a cabeça por causa desse ser ruivo gostoso que
está bem ao meu lado.
— É normal haver uma alteração hormonal durante a gestação, por isso você
papai tem que ser bem compreensivo — responde docemente a doutora.
— Obrigada doutora por esclarecer certas coisas, agora, por favor, diga a ele
que também tem que atender os desejos de grávida — falo docemente.
— Não é não.
— Por que ele não pode? — pergunta a doutora fazendo uma careta
engraçada.
— Ele não quer, porque diz que não devo colocar calda quente no seu pau
para poder chupar — falo na frente de Marco. — Nem vai queimar!
Saio do consultório médico com a Melanie soltando fogo pelo nariz. Nem
ousei dizer nada, já que a mulher é uma louca completa. Ela deixou a médica
toda sem graça com seus desejos estranhos.
Melanie anda na minha frente pelos corredores pisando forte como uma típica
criança birrenta. Vou atrás mais devagar, pois não há por que correr. Então
do nada alguém a segura puxando para um abraço…
Se não soquei o filha da puta antes, faço isso agora. Ando a passos rápidos
até o filha da puta, tiro Melanie dos seus braços e dou um soco na sua cara o
jogando no chão.
— Isso, seu filha de uma puta é para você aprender a ficar longe da mulher
dos outros.
Alguém me tira de cima dele com muito custo, me debato e quando olho para
minha mão vejo a quantidade de sangue que há nela.
— Deus não amor, Lúcifer… — digo antes de sair andando sem rumo.
— MARCO A MELANIE…
O que eu fiz?
Hoje cometi um grande erro, mais uma vez errei, mas quem sabe um dia eu
acerte.
Uma vez alguém me disse que é preciso errar para acertar, o que é a mais
pura verdade, mas nem sempre há acertos na segunda tentativa…
Beijo seus dedos com carinho, curvo minha cabeça na cama e fico nessa
posição parecendo frágil.
Nunca gostei de parecer fraco, mas hoje por ela e por nosso filho estou quase
chorando. Sinto-me em estado de choque e ainda vejo sangue nas minhas
mãos mesmo que eu já as tenha limpado.
Parece que não vai sair…
Foi esse sangue que fez com que Melanie também sangrasse. Por minha
causa ela se feriu…
É incontestável que tudo isso esteja acontecendo em tão pouco tempo, sinto
que estou no olho de um furacão e no momento não vejo saída. Sinto que
tudo a minha volta está sendo destruído e eu sou o tornado que tudo destrói.
Beijo pela última vez sua mão antes de me levantar, ela irá passar a noite aqui
em observação. Olho para o seu rosto sereno e calmo e sinto uma dor
sufocante no meu peito. As batalhas que havia na minha mente agora também
se encontram no meu peito. Não me feriu tanto levar dois tiros, mas me fere
de verdade vê-la ferida por minha causa.
Saio do quarto de cabeça baixa, não quero falar com ninguém, mas assim que
levanto minha cabeça vejo Dante parado bem na minha frente. Ele está
encostado na parede com os braços cruzados e parece nunca descansar. Seu
cabelo que sempre está bem alinhados, hoje está bagunçado. Ele me olha,
suspira e sai andando.
Sigo-o até o elevador, entro com ele, mas não presto atenção no que ele digita
no painel. O silêncio prevalece e gosto de admirar a escuridão da noite, assim
como o silêncio gritante da madrugada fria. Gosto de sentir o frio. Sou o
oposto da maioria das pessoas, mas nunca gostei de ser igual a todo mundo.
Aprendi a gostar de coisas que muitas pessoas não gostam e a valorizar o
silêncio mútuo, já passei muitas noites ouvindo gritos apavorantes que nem
sempre eram os meus, quer dizer, às vezes eram os meus e o de alguém que
estava bem diante de mim, mas com o tempo aprendi a não gritar e me
acostumar com a dor. Acho que até mesmo passei a achar que ela fazia parte
de mim. Às vezes quando fecho meus olhos ainda me vejo sendo um
moleque que achava que a vida não passava daquilo que estava diante dos
seus olhos. Demorei um tempo para ver que havia mais do que meus olhos
podiam enxergar. Nem sempre pode enxergar, as vezes é preciso entender o
que há nas entrelinhas e perder a visão para poder entender como é o mundo
no escuro.
O elevador para, Dante sai, sigo-o e reparo que estamos no terraço do prédio.
Aqui não tem nada, mas dá para ver a cidade e suas luzes brilhantes com a
neve caindo sobre elas. A única coisa ruim da neve é que ela é branca e
branco se mancha rápido demais.
— Bem — digo querendo ser convincente para poder sair desse assunto o
mais rápido possível.
— Não tente mentir para mim… Não hoje, por favor — fala me dando um
sorriso que não alcança os olhos. — Hoje foi um dia agitado, ouso dizer que
até normal para os dias que estamos vivendo. Gostaria de lhe dizer que está
tudo bem, mas não está. Você tem sangue quente quando se trata da Melanie,
isso é um sentimento que você ainda precisa entender, é algo novo para você
e isso lhe assusta… Não precisa negar, vejo isso em seus olhos — fala
calmamente. — Talvez eu teria a mesma atitude que você, sou possessivo
com Anny, sabe meu amigo, minha sorte é que minha mulher consegue ser
mais louca do que eu no termo possessivamente. Acredite, ainda não consigo
ir à praia sem que Anny surte e queira matar qualquer mulher a minha volta,
mas bem isso faz parte de estar em um relacionamento — fala quase me
fazendo rir.
Dante é um enigma para muitos, sua bondade é algo assustador até mesmo
para mim que estou com ele há muito tempo. Dante não mede esforços para
ajudar alguém, até hoje nunca o vi negar ajuda a um necessitado, ele é justo.
— Obrigado.
— Você meu amigo defendeu a causa mais importante da minha vida! — diz
com as mãos apoiada no meu ombro, me olhando nos olhos com intensidade.
— Você mostrou o quão bom é quando não julgou e nem condenou Anny,
você se mostrou ser uma pessoa benéfica quando entrou naquele tribunal, fez
o impossível e venceu a causa… Agora é a vez de defender sua própria causa
Marco, sempre há uma nova audiência, há habeas corpus, ainda não é o fim
— diz com lágrimas nos olhos.
Aquela audiência mudou a vida de muitas pessoas, Dante teve sua vida
transformada após audiência. Todos sentiram o peso do martelo do juiz, mas
mesmo diante de tanto sofrimento a justiça foi feita e as perdas só fizeram
com que tivéssemos certeza de que nada na vida nada é para sempre.
— Defenda sua causa meu amigo, se não defender eu farei isso com honra!
— Não sou advogado, mas também entro nessa. — Pedro diz parando ao meu
lado. — É inacreditável que vocês me excluam dessa conversa melosa, aliás,
também quero calda de morango só que não no seu pau…
— Puta que pariu! Ela falou isso para vocês? — pergunto já sabendo a
resposta.
— Ela não tem filtro e fala tudo que vem na cabeça, ainda mais quando está
com raiva. Ela ainda não falou o tamanho do seu pau — Pedro diz
gargalhando. — Porra meu amigo, você está ferrado com a Melzinha… A
mulher é pirada e disso não há dúvidas.
— Calminha amigo, sabe que para mim ela é uma irmã assim como Anny. —
Pedro fala ainda rindo, ele não para de rir por um instante. — Aliás, Anny já
fez com que o prédio todo da empresa soubesse o tamanho do pau do Dante,
agora a Alemanha toda sabe o desejo do Melzinha, bem ambos estão ferrados
e no dia em que essa mulherada toda se juntar vai todo mundo tomar nos seus
orifícios anais. Nesse momento agradeço por ser solteiro.
Dante fica pensativo assim como eu, já sabemos que estamos ferrados só não
gostamos de pensar muito nisso, ninguém me disse que ter uma mulher que
se recusa a casar com você seria tão cansativo e preocupante. Ainda mais
porque a minha é louca e não sabe o que fala…
— Eu disse que a vida de casado não era um mar de rosas, ainda mais porque
rosas possuem espinhos. — Carlos fala surgindo do nada, assim como Pedro.
— Nessa reunião no terraço de um hospital só falta Edward.
— Não sei se um dia aquele infeliz vai sair do Brasil, ele não admite, mas
está apaixonado pela Lucy. Porém não é assunto para agora, cada um de nós
possuímos um fantasma. Todos concordam silenciosamente, Edward é um
cara na dele, não acredita no amor. Na verdade, o cara convive tanto com a
criminalidade e com o psicológico das pessoas que é até compreensivo. O
fato dele ter certo receio, eu não posso dizer nada.
Olho para ele espantado, eu não havia pensado nisso, mas a médica disse que
há apenas um bebê na barriga da Melanie, se por acaso houver mais irei
surtar. Todos os exames mostram apenas um e um está de bom tamanho.
— Eu também achava que era um e olha só, vieram três! — Dante fala
sorrindo. — Tudo é possível, as primeiras ultrassons também mostraram
somente um e depois aumentou mais dois.
Puta merda!
Não posso ter uma filha, só posso ter meninos. Não saberei lidar com uma
menina….
Amém!
— Marco não surta. — Dante fala. — Só não surta, essa não é hora… Deixa
isso para o futuro… Confie em mim meu amigo, não vale a pena pensar
nessas coisas agora.
— Já estou indo.
Não sei por que, mas sinto medo do que está por vir…
Temo a possível rejeição da Melanie.
Olho para a porta azul clara ansiosa para poder vê-lo…
Quero saber como ele está, pois tenho medo dele não aguentar o pequeno
incidente que houve.
Meu bebê eu sei que está bem, aliás, o pequenino dentro de mim está ótimo
pelo que a médica me disse, então minha única preocupação tem nome, idade
avançada, que eu ainda não sei qual é, barba e cabelo ruivo. Isso sem falar no
tronco que tem entre as pernas.
Marco quase sempre passa as noites em claro, ele é alguém que precisa ser
cuidado, só não sabe deixar com que cuidem dele e eu quero cuidar dele
mesmo que isso seja doloroso para mim.
Amar o Marco dói muito e sei que vai doer ainda mais. Quanto mais
profundo o conheço, mais fundo irei me ferir com suas feridas, mas como
minha falecida mãe dizia: “Deus não nos dá fardos que não possamos
carregar”.
Eu posso suportar!
Só tenho que ter paciência e calma, apesar de que sei que não sou lá muito
paciente e nem muito calma, mas tentarei ser ao máximo.
Dante me disse lá na ilha que é preciso dançar na chuva, bem, eu irei sambar
na tempestade e depois irei agradecer o sol por ser tão lindo. Preciso criar um
respaldo dentro de mim mesma para que nos dias insuportáveis consiga
suportar a dor, a raiva e a mágoa. Preciso crescer mentalmente por mim
principalmente, mas também pelos meus filhos e pelo pai gostoso que eles
têm.
Fecho meus olhos impaciente e mentalizo que serei paciente somente quando
ele passar pela porta azul, mas não tão azul quanto os seus olhos.
Ouço um barulho na porta, termino minha contagem até dez, abro meus olhos
e o vejo parado na porta olhando para mim. Sua testa está franzida, seus
olhos estão caídos e parece que há pelo menos mil pesos nas suas costas. Ele
não olha diretamente em meus olhos, mas procuro seu olhar e há algo que
nunca vi em seus olhos até hoje.
— Como você está? — pergunta ainda da porta, só que agora ela está
fechada.
— Você ficará aqui até amanhã de manhã. A médica quer saber se ficará
realmente bem para que possamos voltar para casa — explica
monotonamente. — É uma viagem longa e um pouco cansativa… Pode ser
estressante para você.
Ele me olha como se eu fosse louca, talvez eu seja, mas não gosto de receber
esse olhar. Sou apenas diferente das demais pessoas, pois sou única.
Amo ser única!
— Faremos o impossível para que ela seja bem tranquila e que você possa
descansar bastante — fala mais para si mesmo do que para mim.
Ele se aproxima a passos lentos e quando está bem perto da cama me jogo em
seus braços o abraçando com força. Adoro seu perfume que até hoje não sei a
marca.
— Melanie…
— Xiu! Deixa-me ficar assim, por favor, deixa só eu ficar onde me sinto mais
segura.
Não sei quando comecei a chorar, só me dou conta desse ato quando fungo,
ele rodeia seus braços em mim me trazendo mais segurança. Definitivamente
seu aperto forte me traz consolo.
Vejo que há mais a ser dito, porém as palavras parecem não querer sair. Acho
que até seria demais, pois ele é uma pessoa silenciosa até demais,
observadora e calma na maioria das vezes. Amar Marco muitas vezes é amar
um iceberg, mas tudo bem, se a mulher do Titanic sobreviveu, eu irei
sobreviver.
— Estou bem, até mais do que deveria — responde apertando minha cintura.
Nossos lábios se encontram de forma incerta, mas logo nos acertamos e abro
minha boca dando passagem para sua língua. O beijo começa lento, quase
doce, mas logo se torna necessitado e intenso. Puxo seu cabelo com força na
tentativa de ficarmos mais próximos. Sua boca tem um gosto tão familiar…
— Não Melanie, você precisa descansar — fala com sua voz rouca.
Odeio o Marco!
Odeio!
Amo jatinho…
Amo de coração!
Nunca havia andado de avião, mas agora vivo andando de jatinho. Não ser
namorada, noiva e muito menos esposa, mas ser mulher do ruivo gostoso me
faz ter benefícios.
Sou rica!
Juro que assim que pisar em Boston e hibernar por horas, irei sair e gastar o
máximo que puder.
Muito linda!
Irei comprar calcinhas sexy, roupa sexy, tudo sexy. Na verdade, vou ser a
“sexyologia” em pessoa, aliás, nem sei se essa palavra existe, mas quer saber
se não existia, passará a existir agora.
— Você é mão de vaca, isso sim — Marco enfim fala. Ele está sentado na
poltrona no outro lado do corredor, James está ao seu lado dormindo e Pedro
está a minha frente.
— As pessoas são cruéis, Melanie, então foque só nas coisas boas — Pedro
fala.
Sigo-o até que ele abre uma porta e entra em um quarto não muito grande,
mas bem confortável. Há uma cama de casal, uma cômoda e uma porta, que
acredito ser o banheiro.
Deito-me na cama ao lado de James e puxo meu filhote para perto de mim. É
muito bom dormir agarradinha com ele.
Acordo não sei quantas horas depois toda descabelada e ainda sonolenta vou
atrás de Marco. Quando vou sair do quarto ouço algo que gela todo o meu
corpo.
Marco é um assassino?
Meu corpo parece ter travado, não sou capaz de acreditar no que acabei
de ouvir…
É impossível acreditar!
Marco não pode ter matado aquele desconhecido por me tocar, ele não pode!
Mãe Santinha, ajuda seu não genro aqui, mas pai dos seus netos. Faça com
que seja só asneira que esteja saindo da sua boca ou só modo de falar.
Quando enfim consigo mover alguns músculos do meu corpo, corro de volta
para a cama. Em casa irei ter essa conversa com o senhor ruivo gostoso. Puxo
James para perto de mim e tento voltar a dormir, sem sucesso.
Tempos depois opto por me levantar para não acordar James e saio para o
corredor como se não tivesse ouvido nada minutos antes. Pedro ao me ver
abre seu típico sorriso que mostra seus dentes perfeitos.
Porém por mais lindo que ele seja, ainda prefiro meu ruivo que quase nunca
sorri e é carinhoso, mas em sua defesa é ótimo de cama e me faz gozar mais
de uma vez.
Foco Melanie!
Foco!
Se você não focar irá cair de cara no chão pagando o mico do dia.
— Porra… era só uma brincadeira — Pedro fala limpando a sangue que sai
da boca.
Tadinho!
— Você poderia te pegado mais leve com o Pedro — falo brincando com
seus dedos.
— Se você diz… — falo cortando o assunto, já que sei que não vai dar em
nada. — Marco qual de vocês é o mais rico?
— Dante.
— Não sei ao certo dizer. Carlos é médico e veio de uma família rica no
México, Pedro e eu viemos da pobreza e não comparamos conta bancária.
Ele não diz nada, mas sinto suas fortes mãos passearem por dentro da minha
blusa e acariciarem minha barriga já redondinha. Estou grávida de três meses
e há quase cinco meses Marco entrou de vez na minha vida. Sei que é pouco
tempo, mas são tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que as vezes
sinto uma vontade louca de parar e analisar tudo que está acontecendo a
minha volta. Sinto que estou perdida no meio desse tornado. Estou em
desvantagem, no escuro e ainda assim me mantenho aqui. Se fosse há um ano
apertaria o botão do dane-se para tudo e seguiria minha vida sem Marco, mas
a Melanie de hoje está mais madura e menos confiante de si mesma. Está
tudo bem, sei que estou crescendo e crescer significa cair e levantar e se me
perder uma hora irei me achar. Por enquanto me permito estar perdida.
— Tem certeza?
— Não, eu não tenho, mas sei que tudo entrará nos trilhos no seu devido
tempo — falo me virando para olhar em seus olhos azuis. — Eu tenho só
vinte e dois anos, daqui há alguns meses irei fazer vinte e três e já tenho dois
filhos praticamente, desde muito nova tive que crescer muito rápido — dou
um sorriso triste. — Quando minha mãe morreu de câncer, meus irmãos e eu
fomos separados e cada um foi para um canto. Eu me senti sozinha, mas não
podia fraquejar. Quando sai do orfanato tive que me virar e logo depois
descobri que estava doente, foi aí que chorei, mas lutei para sobreviver e até
mesmo me endividei — falo quase chorando. — Já comentei com você que
devo para agiotas?
— Eu não tive escolha, estava muito doente, não tinha um plano de saúde e
não queria morrer…
— Tudo bem não chore, assim que chegarmos a Boston irei pagar esses
caras. Você deveria ter me dito isso desde o começo, mas isso não vem mais
em questão — fala beijando minha testa.
— Você também irá fazer um exame completo. Quero saber como está sua
saúde.
— Não adiante fazer bico Melanie, não faça birra isso é coisa de criança.
— Sou tão criança que até mesmo sento e rebolo no seu pau — digo o
encarando.
Ele aproxima seu rosto do meu e fico ansiosa, quero muito que ele me beije
de verdade, pois sinto falta da sua pegada monstra. Ele desvia e sussurra no
meu ouvido bem baixinho. Sua voz rouca no pé do meu ouvido me deixa
excitada.
— Sim, você senta e rebola como a boa menina que é, ainda goza pedindo
mais e mais, mas agora, nesse momento você está sendo uma menina birrenta
e não uma puta na cama, aliás, seja puta apenas na cama — fala mordendo a
pontinha da minha orelha. — Ele se afasta, me dá um selinho rápido e
encosta sua cabeça na poltrona fechando os olhos.
Desgraçado!
Não há coisa melhor do que estar em casa, nunca pensei que sentiria tanta
falta desse apartamento preta e cinza, minhas plantas estão quase mortas, mas
nada que uma dose da água não resolva. Ando pela casa observando o
trabalho que terei em limpar tudo.
Santa Mãezinha!
Na casa só há pó para tirar, fora isso tudo está em seu devido lugar. Marco é
organizado até demais, o que é uma chatice do inferno.
Sou bagunceira!
Volto para sala e paro ao observar a cena mais linda desse mundo, Marco
rodando James no ar e sorrindo abertamente para ele. Ambos olham um para
o outro sorrindo e não há como não se emocionar.
Uma lágrima escorre dos meus olhos ao presenciar essa cena, uma
desvantagem de estar grávida é que por tudo choro, sou chorona por natureza
e grávida as coisas só pioram.
Uma vez quando menina sonhei em ter uma grande família, lembro de
imaginar viver em uma casa boa e que nos feriados iria reunir todos na sala
de jantar para comer, lembro até mesmo de sorrir com o pensamentos da
minha sogra e da minha mãe discutindo por causa da forma como se deve
preparar o frango, ou de como o molho deve ser feito. Lembro de consegui
imaginar minhas cunhadas em seus perfeitos vestidos rindo assim como eu da
discussão das duas. Juro que podia ouvir o riso das crianças correndo em
volta da mesa ou de um vaso de planta que sempre cai no chão como um
ritual.
Nada aconteceu como imaginei, mas o destino não está sendo tão cruel
quanto pensei que seria. Ele até está pegando leve comigo, me deu um filho
maravilhoso e outro que irá nascer logo e de quebra um pai gostoso. Marco o
que tem de gostoso, tem de mal-humorado e de chato, mas o desgraçado já
conquistou meu coração só não sabe disso ainda.
Enxugo minhas lágrimas e corro na direção deles para também poder brincar
um pouco, estamos tempo demais contendo os sorrisos.
— Eu tenho, mas está tudo bem… Vamos recomeçar, aqui em Boston venta
muito, mas eu gosto, faz com que meu cabelo dance no ar me dando a
sensação de que posso voar… — diz enxugando as lágrimas. — Não
podemos ir em um médico, mas, por favor, siga em frente. Não há câmeras
aqui, então jamais saberão quem você esteve aqui comigo. — fala segurando
minha mão. — Sei que não vou sobreviver, mas você vai ruivo… Você tem
que sobreviver. Há mais nesse mundo do que dor. Quando amanhecer não
estarei mais aqui, a vida foi um pouco cruel comigo, mas tudo bem. Na
verdade, ela foi uma vadia conosco, mas você tem a chance de deixar tudo
isso para trás. Você é uma pessoa que carrega fardos demais ruivo, só pare
de se culpar por tudo… Só pare. — Ela se levanta e caminha até a ponta.
Hoje será nossa última despedida, a ferida nas minhas costas ardem, mas já
suportei dor pior.
— July?
— Sim?
A minha liberdade!
Acordo assustado após mais uma lembrança que tento a todo custo esquecer.
Respiro fundo, mais uma madrugada que passarei acordado. Levanto-me da
cama com cuidado para não acordar Melanie e James que dormem colados
um no outro.
Frustrante!
Quando chego a cozinha, coloco-o no chão, pego sua tigela, coloco leite e o
desesperado bebe com gula. Pego um copo e bebo água.
Como Dante sempre diz, vamos respirar para não morrer sufocado.
Bebo dois copos de água e sigo até a pequena varanda que tem nos fundos
da cozinha. O inverno está dando ar da sua graça, mas logo irá acabar, já
que estamos no fim e no início da primavera.
— Já que você Toby, meu bebê está aqui e não está falando com nenhuma
vira-lata por aí, posso voltar ao meu sono da beleza — fala e sai correndo.
Doida!
Ela é doida!
Olho bem para o rapaz a minha frente, sinto que ele é inocente, mas nada
está a seu favor. Ser culpado por homicídio pela família da namorada não
ajuda muito, ele foi o último a vê-la em vida e para piorar a situação do
coitado foi ele que a encontrou morta ou melhor ele não conseguiu impedir a
morte dela. Tudo aponta que foi ele que empurrou a vítima…
Complicado.
— Diga-me por que devo acreditar que não foi você a matá-la? — pergunto
olhando em seus olhos.
— Você se sente culpado por tudo que aconteceu, só que a culpa não é sua.
Ela fez sua escolha e os pais dela tomaram conta da situação. Você acha que
não fez o suficiente, mas fez. Você foi forte, mas nem sempre aguentamos
tudo sozinho — falo olhando em seus olhos. — Não deixe que te culpem pelo
ocorrido, eles são os únicos culpados.
— Sim, eu entendo mais do que você possa entender. Você tem pesadelos
todas as noites, acorda assustado na maioria delas, muitas vezes não
consegue respirar e o chão parece que vai sumir. Você sente medo quase o
tempo todo, mas algo dentro de você está em paz consigo mesmo. Essa parte
é a que mais te assusta e está tudo bem… Você não é obrigado a estar bem o
tempo todo, ninguém é. Viva um dia de cada vez…
— Eu acredito, mas e você acredita na sua? — pergunto fazendo com que ele
arregale os olhos. Nunca pensei que na minha vida iria agir como Dante,
mas para tudo há uma primeira vez. — Eu sei que é inocente, mas preciso
que você também acredite. Irei defendê-lo, sua causa já é ganha.
Não entendo o motivo das pessoas me fazerem essa maldita pergunta, mas
até agora só respondi a duas pessoas essa pergunta, ele será a terceira.
Não espero sua resposta e saio da sala. Caminho até o elevador, preciso ir
falar com Dante, ele é um ótimo conselheiro. Antes que peça o elevador, meu
celular toca e o nome da Tânia aparece na tela.
— Tânia.
— Não muito.
— Dominique me disse que tudo ocorreu bem, mas sei que foi ferido. Só não
liguei antes pelo fato de não saber qual era o momento certo. Obrigada…
Muito obrigada, Marco você trouxe paz para nossa vida. Saber que aquele
homem está morto e que o “Ciclo” chegou ao fim faz com que eu tenha
menos medo.
— Estar grávida é uma merda! Sei eu jamais teria a coragem que você teve e
nem o Dom, ele só foi com você por falta de escolha… Você não foi até lá
por você, foi por aqueles que ama. Vejo que está se tornando tudo que disse
que jamais seria e isso é bom… Isso é ótimo, Marco.
A partir de agora iremos enfim poder seguir cada um seu caminho, sem
medo do passado sombrio. Suspiro pesado, estou cansado e não dormi bem,
sinto que a qualquer momento irei surtar.
Muito cansado…
Chego em casa, subo direto para o banheiro, tiro minha roupa com pressa,
estou me sentindo sufocado, assim que me vejo nu corro para debaixo
d’água. A água morna bate na minha pele fazendo com que eu me sinta
ainda mais sufocado. Coloco a mão no meu peito, sinto que vou enfartar,
pois meus batimentos cárdicos estão fora do normal.
Uma curta reprise passa pela minha cabeça e todas as cenas são de Melanie
chorando por minha causa. O sentimento de culpa está tomando meu
coração e o peso de tudo que ocorreu na Alemanha parece estar caindo
agora. Eu sabia que uma hora isso iria acontecer…
Apoio minha cabeça na parede fria, sinto que meu corpo está tremendo e me
permito a perder o controle. Sinto alguém me abraça por trás, seus braços
envoltos em mim faz com que eu me sinta ainda mais culpado.
— Melanie? — chamo fraco. Minha voz está falha e sinto que não
conseguirei falar mais nada.
Amém!
Entro na cozinha feito uma bala e não os vejo, antes que eu surte vejo um
papel pregado na geladeira.
Como hoje não irei trabalhar, vou fazer algo útil na minha vida como gastar o
dinheiro do Marco. Já que o inverno está chegando ao fim e realmente é o
fim, irei comprar roupas de verão.
Gente do céu!
Passo pelas portas automáticas me sentindo chique, meu Deus do céu, preciso
me acalmar senão vou achar que entrei aqui para roubar.
Ando pelo shopping em busca de algo que me agrada, mas nada me agrada.
Paro diante de uma loja de bebê, entro nela com urgência como se meus pés
tivessem vida própria, mas paro ao perceber que Marco nunca fez isso antes e
seria injusto comprar algo para o bebê pela primeira vez sem ele. Ainda não
sabemos o sexo, mas ainda assim ele deveria estar aqui e quer saber de uma
coisa ele vai estar.
Pego meu celular e disco seu número. No segundo toque ele atende.
— Não, não aconteceu nada — falo já saindo da loja. — Apenas preciso que
venha até onde estou.
Há uma fila um pouco grande, mas nem ligo acho que filas são normais.
Ainda não achei fila pior do que a da padaria pela manhã, essa é só por
misericórdia. Você está com fome, sono e ainda tem que enfrentar uma fila
chata com pessoas dizendo: “Quero assim”, “Seu padeiro, você assou o pão
demais”.
O bom é que sempre tinha alguém que também sofria com você.
— Uma hora dessas da manhã, ainda não tomou café e já está tomando
sorvete?
Meu sorvete quase caí no chão com o susto que levo ao ouvir a voz de
Marco.
— Pauzudo do céu, não faz uma coisa dessas comigo! Estou grávida de um
segundo filho seu — falo segurando firme meu sorvete.
— Melanie, nem são direito dez da manhã, você precisa se cuidar. Isso não é
saudável!
— Claro que é saudável, tem morango que é fruta no sorvete e caramelo que
um dia foi cana-de-açúcar! Quer algo mais saudável que isso?
Marco respira fundo antes de me responder, ele está irritado e sei que não é
exatamente comigo.
— O que houve para me chamar aqui? — Aponto o dedo para a loja de bebê
diante de nós.
— Você não pode comprar a primeira roupa comigo para James, mas para
esse bebê pretendo fazer tudo junto com você — digo levando uma colher
cheia de sorvete a boca e Marco fica parado olhando para a loja fofa.
Sinto que ele está se perdendo mais uma vez dentro de si.
— Vamos entrar, quero comprar logo! — digo empolgada pegando sua mão e
seguindo para a loja mais fofa da minha vida todinha e mais cara também!
Não sei se é pela figura ruiva linda e gostosa ao meu lado ou se é por sei lá o
que, só sei que chega a ser constrangedor.
Quase senti pena da pobre coitada, mas ela não parava de olhar para Marco
com cara de piranha.
Andamos pela loja em busca de algo perfeito, mas nem sempre encontramos
o que buscamos. Marco olhava tudo com o maior cuidado e até mesmo pegou
algumas coisas para James, já eu nem sei o que escolher. Até que vejo um
macaquinho branco com bordas douradas, uma coroa no meio e um capuz
pequenino.
Acaricio minha barriga e sorrio para a peça fofa e linda diante dos meus
olhos.
— Não sei se quero saber o sexo agora — falo encostando minha cabeça em
seu ombro.
— Podemos saber mais para frente, mas tenho certeza de que será mais um
menino — fala convicto.
— Pode também ser uma menina, amaria ter uma menina ruiva correndo pela
casa — falo já imaginando a cabeleira ruiva que terei que cuidar no futuro.
— Sem meninas Melanie, já estou pagando por todos os meus pecados com
você, não aguento sofrer por mais uma cópia sua.
— Sério isso? Ainda nem fiz nada demais! Pelo que sei sou solteira para
fazer o que eu quiser.
— Então, okay você é solteira. Vamos pegar a roupa do bebê. — Ele me solta
e vai pegar o macaquinho.
Tadinho!
Morro de rir com o coelho da Páscoa, gente que coelho mais doido é esse?
— Claro que não bebê, a tia lua sabe que você pertence a mamãe — digo
beijando sua cabeça.
— E o irmãozinho?
— Também não!
— Mas mamãe, nem sempre o que queremos é o que a lua quer — diz me
olhando.
— Na escola.
— Filhão, hoje papai não vai te pôr para dormir, mas a mamãe vai ficar com
você, tudo bem? — pergunta beijando James que sorri para ele fazendo que
sim com a cabeça. — E você pequenino se comporte, viu? — fala acariciando
minha barriga.
— Sair.
— Para algum lugar, Melanie. Não lhe devo satisfação sou solteiro! — diz e
sai me deixando parada feita uma estátua.
Quando consigo voltar ao normal, corro até o telefone, pego e disco para
Valentina.
— Oi Val, não está nada bem… Você por acaso sabe onde Marco costuma ir?
— Como assim?
— Val, você não está entendendo… Marco saiu vestido pronto para o crime e
ainda falou que ia curtir a noite solteiro.
— Calma, vou ligar para Anny para saber se Dante disse algo — diz
encerrando a ligação.
— Esses filhas da puta, que minha sogra me perdoe, estão em uma boate do
inferno. Se arruma aí que daqui a pouquinho uma babá de confiança chega aí.
Vamos ferrá-los nessa porra! — fala puta da vida.
Essa noite ele irá chorar de raiva ou não me chamo Melanie Lewis!
Estou arrumada devidamente para seduzir qualquer pessoa, hoje irei
fazer com que ele pague pelos seus pecados!
Estou pronta!
— Até parece que irei deixar Dante em um clube onde há várias piranhas
dançando seminuas, tentando seduzir aquele homem e seu pênis de 28
centímetros. — fala bufando. — Dante Boltoni irá sentir a quão raivosa eu
posso ser, ele ainda foi com aquela camisa que apertada que deixa visíveis
todos os seus músculos.
— Acredite Melzinha isso já deu uma discussão dos infernos, mas o homem
é pauzudo, fazer o que? Ela que aguente! Agora vamos à luta! — Valentina
diz.
Valentina toca o foda-se para quase tudo, ela não liga para o que pensam dela
e não se importa se vai quebrar as regras ou não.
— Valentina, tenho três filhos para cuidar, então, por favor, vá mais devagar!
— Anny diz.
— Relaxa que hoje eu não bato em nada, só na cara de pau do Carlos! — fala
buzinando para um carro prata sair da frente. — O único boteco que ele vai a
partir de hoje é aquele que tem lá em casa comigo vigiando.
Mãe Santinha que está no céu, estou indo atrás do meu homem que não é
namorado e nem noivo.
Nunca em minha vida pensei que teria amigas assim, mas olha eu aqui com
duas mulheres magníficas que estão dispostas junto comigo a resgatar os
maridos dela e o meu não mais marido da noitada de uma figa. Marco ainda
disse que é solteiro, vou mostrar para ele o que é ser solteiro. Solteiro vai ser
minha mão na cara dele.
Aí que ódio!
Olho para a janela e vejo o mundo passar bem rápido diante dos meus olhos,
talvez seja pelo simples fato da Valentina estar dirigindo feito doida. Meus
pensamentos estão longe, estou há meses com o Marco e não construímos
nada exatamente sólido. Transamos, temos um filho, outro está para nascer,
mas nunca fizemos nada juntos de verdade. O sexo é ótimo, mas pensando
bem agimos como casais sem sermos nada exatamente. Não andamos de
mãos dadas, não sorrimos um para o outro, não dançamos juntos nem nada…
Eu sei que para ele tudo isso é novo, mas para mim também é.
Estou assustada com tudo a nossa volta, mas sei que se falar tudo que sinto,
ele irá se afastar ainda mais de mim. Sinceramente tenho medo de não o
alcançar, sua crise de choro foi um sinal de que algo dentro dele está
mudando e essa mudança está sendo demais para ele. Tenho medo dele não
suportar tudo, mas temo tanto não aguentar.
Meu Deus!
Sinto todos os dias medo de que a escuridão o consuma de uma forma que o
perca para si mesmo.
— Oi?
— Não pense muito, não hoje! Curta sua raiva da mesma forma que estou
curtindo a minha. Agora somos um trio, nunca pensei que teria amigas assim
maravilhosas!
Meu Deus, estou até me sentindo no filme da Marvel, onde os heróis chegam
dizendo: “Corram bandidos, os mocinhos chegaram!”. Nossa Senhora, eu
quero ser Tony Stark se não for para ser ele, nem quero. A Valentina está
mais para a Viúva Negra e a Anny o Capitão América, somos o trio perfeito
para estraçalhar a cara dos nossos homens.
Já a odeio de coração!
— Seja discreta Anny. Na hora certa agiremos — Val diz bebendo sua
tequila. — Agora vamos beber, menos você Melanie… Beba água ou suco.
Do nada Pedro olha para cima e faz um aceno levantando o copo na nossa
direção. Sorrio, levanto o meu copo e as meninas fazem o mesmo.
— Estou apenas tentando curtir minha noite. Então calem a porra da boca e
bebam.
— Seja bem-vindo ao mundo dos pais! — fala Carlos dando tapinhas nas
minhas costas. — Vai ter dias em que você vai achar mais legal ficar horas
escolhendo roupinhas do que fazendo qualquer outra coisa por si mesmo.
— Há dias que não sei o que prefiro fazer, brincar com as crianças ou transar
com a Anny, mas no final as crianças sempre vencem. Amo isso! Foi à vida
que escolhi ter — Dante diz sorrindo.
Ele não quer falar e na hora certa irá nos contar certamente.
— Eu beijei um homem — Pedro diz do nada fazendo com que todos nós
pare o que estamos fazendo e olhamos para ele. — Não foi estranho, só
diferente.
Cada um fica na sua rindo das coisas estranhas que acontece nessa boate
estranha do inferno. Sei que se Melanie me ver aqui estarei ferrado, a mulher
é doida demais até para ela mesma.
Ficamos batendo papo até que sinto que o clima ficou estranho até demais.
Mantenho-me atento, esse friozinho na minha nuca não é um bom sinal.
Vejo Pedro levantar o copo para alguém e quando me viro um pouco para ver
quem é, eu quase infarto. Com o cabelo solto, usando um batom vinho
marcante, ela ainda sorri para mim. Levanta-se exibindo suas curvas
maravilhosas em um vestido justo até demais para o meu gosto e com um
pequeno decote na frente que deixa seus seios mais volumosos devido à
gravidez um pouco a mostra, porra, esses seios não deveriam estar expostos
assim para outros desejarem o que desejo.
— Marco, você está bem? Cara, você está expelindo uma áurea negra aqui,
calma Marco — Pedro diz.
Jogo meu cabelo para trás com delicadeza deixando claro para ele que minhas
costas estão nuas e sorrio docemente para o garçom que veio trazer outra
bebida para mim. Não posso beber nada alcoólico, mas não significa que não
posso me divertir um pouco. Estou grávida e não morta, aliás, me sinto bem
quente e sensual, coisa que raramente sinto por mim mesma.
Marco possui o dom de me deixar sempre sensual aos seus olhos e faz com
que na hora do sexo eu sinta uma paixão fora do normal. Quando ele está em
cima de mim metendo fundo e forte, me sinto a mais vadia das mulheres.
Suas mãos em meu corpo fazem com que eu me sinta querida, amada e
desejada. Ele faz tudo isso sem ao menos usar uma única palavra, pois suas
ações falam tudo.
Raiva desse homem, por me fazer passar por tudo isso em plena gravidez,
onde meus hormônios estão à flor da pele.
Deveria ser crime fazer isso comigo!
— Vamos dançar, faz um tempo que não danço entre amigas — Anny diz já
ficando em pé com sua tequila na mão. Ouso dizer que a junção de mulher e
tequila, coisa boa não sai.
Descemos a escada, prontas para destruir qualquer um. Anny vai até uma
janela mostra seu cartão e logo depois volta sorrindo travessa. Algo bom
disso não vai sair, sinto dizer que a tequila já está fazendo efeito. Pobre
Dante, vai perder a esposa para a doce tequila. Valentina bebe Martine, mas
com cuidado, algo me diz que ela quer ficar bem sóbria essa noite. Já eu não
tenho opção é sóbria ou sóbria. O negócio é não engravidar para poder encher
a cara sempre que der!
As meninas parecem estar mais acostumadas com isso do que eu, por isso me
concentro em seguir os movimentos delas até que a música para e uma batida
envolvente começa.
Não sei falar português muito bem, na verdade, falo quase nada, mas pela
cara das meninas elas amaram e começaram a rebolar até o chão. Val faz
questão de empinar sua bunda para o ar, Anny está mais contida e eu perdida.
Fecho meus olhos sentindo a batida me envolver, jogo meu cabelo para trás e
rebolo sensualmente até o chão.
Abro meus olhos e sorrio para as meninas quando percebo que estamos na
mesma sincronia. Volto a fechar meus olhos para sentir melhor a música até
que sinto uma mão na minha cintura, me puxando de um modo bruto e
grosso.
Marco!
— Não deveria estar dançando assim baby — diz beijando meu pescoço,
fazendo com que uma corrente elétrica passe pelo meu corpo.
— Disso eu sei, mas só até essa noite! — diz se mexendo no mesmo ritmo
que o meu.
Ele cola mais seu corpo ao meu fazendo com que eu sinta seu pau roçando
minha bunda.
— O que quer dizer com isso? — pergunto curiosa tentando virar minha
cabeça sem sucesso.
Eu não deveria gostar da sua frieza, mas quando ele está frio desse modo
sensual fico extremamente louca.
Marco guia meu corpo no ritmo da música que nesse momento parece ser
mais sensual com ele atrás de mim colando nossos corpos. Nunca pensei que
um dia Marco e eu ficaríamos assim coladinhos em uma boate, aliás, para
mim esse ser grosso e sexy nem sabia dançar.
— Havia muitos homens admirando você dançar e só não fiz algo porque
Dante e Pedro me seguraram — diz me virando para ele, olho em seus olhos
e eles possuem um brilho que não vejo um tempinho. — Não sou uma pessoa
boa, Melanie, mas hoje você quase fez com que eu me tornasse a pior pessoa.
— Não vejo a hora de chupar seu pau assim — fala voltando a fazer mágica
com a sua mão.
Hoje farei com que ela grite bastante e por isso não é uma boa ideia ir para
casa. Vejo o carro de Dante fazendo o mesmo percurso do meu e Carlos não
ficou para trás, só falta todos pedir a mesma suíte.
— Parece até uma suruba. Só que não divido o que é meu! — diz Melanie.
— Nem eu! — Anny diz grudando em Dante que sorri para esposa
docemente.
— Isso está estranho — falo puxando Melanie para mim. — Está na hora de
cada um caçar seu devido quarto para transar. Boa noite!
— Minha nossa, serei fodida nesse lugar incrível! — diz com as mãos na
boca. — Não sei nem por onde devemos começar!
Antes que ela diga mais alguma coisa, puxo-a para mim rápido e devoro sua
boca com a minha. Seus lábios macios parecem propícios para serem
mordidos, mas me contenho, pois prefiro chupar sua língua. Desço o zíper do
seu vestido com certa pressa e quando enfim consigo Melanie o chuta para
longe.
— Apenas estava deixando o caminho livre para você — diz indo se deitar na
cama. — Já amo essa cama.
Melanie se deita com as pernas abertas e a visão que tenho faz com que
minha boca salive de desejo. Sua boceta pequena e rosada está encharcada e
de onde estou consigo vislumbrar isso. Ando lentamente até ela me despindo
e quando estou só de cueca paro diante dela. Deito-me sobre ela apoiando
meu peso em meus braços, beijo seus lábios mais uma vez só que com mais
calma para que assim eu possa saborear melhor sua boca quente e doce.
Desço minhas mãos pela sua barriga até chegar na sua boceta encharcada,
onde introduzo um dedo fazendo com que um gemido em forma de suspiro
saia dos seus lábios. Faço um vai e vem devagar antes de introduzir o
segundo. Meu pau duro me lembra que é ele que deveria estar dentro dela,
mas hoje irei fazer as preliminares na minha mulher…
O corpo da Melanie aceita sempre bem os meus toques, o que faz com que eu
sinta cada vez mais prazer em lhe tocar. Há uma conexão sem igual em nós
dois, algo que nunca pensei em construir com alguém, mas essa doida diante
de mim faz com que eu queira estar dentro dela a todo instante.
Beijo seus lábios, depois vou beijando suas bochechas, seu pescoço, onde
deixo um chupão proposital, paro no seu seio esquerdo e o abocanho,
sugando com força. Em resposta Melanie se contorce debaixo de mim.
— Ah, Marco!
Havia me esquecido que seus seios estão mais sensíveis devido à gravidez.
— Não vejo a hora de sentir seu gosto na minha boca saindo diretamente da
fonte. — Minha voz rouca pela tensão sexual faz com que sua bocetinha se
contraia.
Adorável!
Chupo sua entrada com força, beijo, lambo, fazendo com que seus gemidos
fiquem ainda mais altos. Quando ela goza na minha boca sei que está na hora
de entra dentro dela.
Levanto-me, me encaixando no meio das suas pernas e conduzo meu pau até
o paraíso adocicado e quente como o inferno. Entro dentro dela em uma só
estocada, fazendo com que nós dois solte um gemido profundo. Ela me aperta
de todas as formas e sinto que estou sendo esmagado por suas paredes. Entro
e saio dela com rapidez, cada estocada é uma nova emoção que nasce em
mim. Sinto que hoje estamos criando um novo laço. Quando ela goza mais
uma vez nessa noite a viro fazendo com que ela fique de quatro, deixando sua
bunda gostosa exposta para mim. Dou um tapa forte só para ouvir seu grito
agudo.
Vou ainda mais forte e rápido e nossos corpos se chocam um contra o outro
de uma forma perfeita. Ela parece ser feita para mim. Puxo seu cabelo com
uma certa força fazendo com que suas costas grudem no meu peito. Nosso
suor faz com que nossas peles fiquem pegajosas. Beijo seu pescoço em busca
dos seus lábios, gozo dentro dela e continuo metendo só que mais devagar.
Há uma corrente elétrica passando pelo nosso corpo e não consigo sair de
dentro dela. Sinto que posso ficar aqui para sempre…
— Marco, por favor, me diga que amanhã você estará aqui comigo.
Estar no meio de casais com emoções à flor da pele não é uma boa ideia…
Na verdade, é uma boa ideia sim!
Optei por vir para a bote para ver se distraia minha mente um pouco, eu não
podia levá-los para o clube, seria um homem morto e disso tenho certeza.
Também estou evitando o clube por motivos não óbvios para mim. Eu não
deveria ter aceitado o beijo daquele cara, entretanto aconteceu e gostei. Era
para ter sido só mais uma noite, onde fodia uma garota por trás enquanto
outro cara a fodia pela frente, o típico sanduíche sexual, meti meu pau fundo
no cuzinho da mulher, a qual sequer perguntei o nome. Quer dizer ninguém
perguntou o nome de ninguém, pois quando entramos no clube perdemos
nossa identidade e rosto, a única coisa que importa lá é o prazer. Eu metia
forte dentro dela, não havia limites, já o cara a minha frente também parecia
não querer parar e moça pedia por mais. Quando gozei embriagado pelo
prazer não tive noção da boca do homem na minha. Foi um beijo luxuoso e
sinceramente gostei, mas não é algo que desejo repetir.
Sou curioso de nascença, minha madrinha dizia: “Não bastava ser preto e
pobre eu ainda era alguém que buscava só o que os brancos podiam ter”.
Guardei suas palavras no meu coração e fiz disso a motivação para mostrar
que poderia ir além do subúrbio e bem…
Fui.
Sorrio ao ver uma mulher ajustando seu decote que já era imenso, se ela
soubesse que não precisa disso tudo para seduzir um homem jamais estaria
tão preocupada em usar um vestido que deixa seus seios pulando para fora.
Não precisa ser vulgar para se ter um homem para si, mas não serei eu a dizer
isso para essa desconhecida.
Bebo mais uma amarga dose de whisky, não é minha bebida favorita, mas
hoje estou amargo. O garçom me olha com pena e sinceramente nem entendo
o motivo, mas fazer o que.
— Boa noite! — digo alto o suficiente para que ela me ouça. Ela levanta a
cabeça me olhando em choque.
Maldito instinto!
Quero me afundar até o talo em você boneca, mas não posso e nem devo. Há
uma inocência que emana dela e sinceramente não quero levar a menina para
o mau caminho.
— Que péssimos amigos temos — digo piscando para ela. — Eu vou indo,
tchau.
Oh boneca, você ainda não é uma mulher, mas se quiser te faço minha
mulher!
— Tudo bem jovem mulher. Deixa-me ir que a noite é longa e eu sou apenas
uma criança. — Deixo-a me olhando confusa e saio andando para longe.
Paro na saída para pagar minha conta da noite que no fim foi até divertida,
mas eu realmente esperava mais dos meus amigos. Quer dizer, esperava porra
nenhuma. Se eu tivesse uma esposa ou namorada e a visse dançando daquela
forma em uma boate cheia de homens doidos para foder eu também
enlouqueceria, mas como sou solteiro e desimpedido apenas dou gargalhada
da cara deles.
Ao chegar à calçada, espero o motorista trazer meu carro. Hoje não estou a
fim de dirigir. Assim que o Jaguar para diante de mim, abro a porta traseira e
entro. Coloco o cinto de segurança e o motorista dirige. Quando estou quase
em casa passo a mão no bolso em busca do meu telefone e merda percebo
que esqueci.
Ele faz o retorno com certa velocidade que se não tivesse de cinto certamente
voaria.
Entro na boate furando fila e assim que chego ao bar o barman levanta meu
celular e sorri para mim. Tiro umas notas do bolso e dou na sua mão, o cara
merece.
Quando chego à calçada fico parado olhando uma cena que não deveria me
enfurecer tanto. A menina inocente de olhos caramelos está chorando
enquanto um babaca grita com ela e há algumas meninas em volta deles que
riem da cara dela. Acho que achei os amigos dela e percebo que são grandes
merdas. Reparo que há uma desigualdade entre eles e a Jady. A roupa da
menina inocente não é apropriada para esse ambiente, não há uma roupa
certa, mas a dela está bem surrada e folgada em seu pequeno corpo mulato.
Oh, menina o que você está fazendo com essa gente?
Observo mais um pouco a discussão onde apenas o rapaz grita. Até que ele
lhe dá um empurrão e ela cai no chão.
— Seu filha da puta miserável, não foi educado a nunca bater em uma
mulher? — pergunto ao desgraçado que está com a mão no nariz
provavelmente quebrado.
— Você eu não faço ideia de quem seja, já eu sou Pedro Liard — digo
sorrindo debochado. — Pode me processar por agressão se quiser, mas irá
sentir o peso de um processo racista enfiado bem no seu cu. — Viro as costas
para ele estendendo a mão para a menina inocente que a pega, me abraçando
logo em seguida. — Vamos tirar você daqui.
— Vamos embora — digo levando-a até meu carro que já se encontrava com
a porta aberta para nós dois.
— Eu só não queria ser chamada de pateta mais uma vez — diz enxugando as
lágrimas.
— Pateta?
— Hoje minha mãe me obrigou a aceitar sair com o Loran, ele já havia dado
em cima de mim diversas vezes, mas sei que era só de zoeira. Sou preta e ele
branco. Jamais daríamos certo, mas bem, hoje saí e deu nisso… Eles bêbados
caçoando de mim mais uma vez.
— Deveria parar de ouvir sua mãe. A questão não é ser negra e sim não se
aceitar. Eles a desprezam por ser pobre e negra. Apenas levante a cabeça por
você e para você. Não permita que te diminuam. Nossa raça é linda, nossa cor
é perfeita! Amo ser chocolate original!
Arranco dela um sorriso o que é bom, mas estou com raiva e com vontade de
socar aquele moleque até ele cagar todas as suas merdas para fora.
Oh, porra!
Olho para minha esposa que está de joelhos na cama olhando para mim e
sorrindo. Não é um sorriso comum, na verdade, é um sorriso que ninguém
além de mim vê.
É um sorriso safado!
Anny está me chamando sem ao menos dizer uma palavra, apenas atentando,
mas por enquanto quero admirar sua beleza e por isso me sento na poltrona
que há em frente a cama. Anny e eu somos considerados o casal fofo do
grupo, porém não acho isso, apenas temos mais filtros perto dos outros. Sou
culto e a calma faz parte da minha natureza. Anny começa a tirar seu vestido
ainda de joelhos em cima da cama. Esse vestido está me deixando excitado
ao extremo e ela sabe que não irei me mover daqui tão cedo.
Ver o fio que ela usa de calcinha me faz rir, ela me olha com raiva e
automaticamente tapa seus seios que agora estão nus.
Juro que não estou rindo dela, estou rindo da situação em que nos
encontramos. Estamos em um hotel após sair de uma boate. Nunca pensei
que tiraria minha esposa da pista de dança como um gorila
Sou ciumento sim, mas não a esse ponto.
Acho que o casamento faz com que façamos coisas que desconhecemos em
nós mesmos. Descobrimo-nos mais quando somos testados, pois casamento é
uma prova de fogo e sinto que estou sendo queimado
— Não se cubra para mim — falo buscando seus olhos que agora estão
baixos. — Levante a cabeça. Não há por que ficar tímida. Apenas estou
sorrindo da situação em que nos encontramos.
Anny é tímida sem ser tímida, sei que é confuso, mas depois que ela gritou o
tamanho do meu pau para o mundo ouvir, percebi que ela quando quer é o
Diabo em forma de pessoa. Minha esposa é ciumenta ao extremo, acreditem
há dias em que me vejo sendo obrigado a quase usar uma burca para sair de
casa, mas isso não está em pauta agora.
— Diga-me doce esposa, você gostou de jogar essa sua bunda que me
pertence para outros homens verem? — pergunto sério.
— Você estava lá com seus amigos cercados de mulheres! Olha seus braços
de fora!
Complicado essa situação eu sei, mas o que posso dizer é que sou inocente
nesse jogo de azar que Pedro nos meteu por ter beijando um homem.
Ela olha para mim como se esperasse ir até ela, mas dessa vez não irei mover
um só músculo. Por alguma razão estou bem em só a observar assim.
Maquiada, com o cabelo solto e nua para mim, pois ela já tirou a maldita
calcinha fio dental.
Ela faz o que peço, se apoia nos joelhos abertos e coloca um dedo dentro da
sua abertura quente que tanto amo.
Consigo imaginar e se fechar meus olhos poderei até sentir seu calor no meu
pau, mas me mantenho a observando se dando prazer.
— Temos uma casa perfeita, um quarto com uma cama mil vezes melhor que
essa e ainda temos nossas paredes que possui isolamento acústico, mas em
vez de ir para casa quase disputamos uma suíte máster em um hotel com
nossos amigos. Tudo isso para que eu tenha o prazer de ver minha esposa
safada e doida para que eu entre no meio das pernas dela. Sabe Anny, eu não
me importo de passar horas dentro de você. Aí é minha moradia particular —
digo olhando bem sua entrada que está pingando. — Enfie mais dois dedos,
entre e saia devagar, não há por que ter pressa.
Ela enfia mais dois dedos, sai e entra da sua cavidade calorosa devagar.
Assim ela faz até que goza, ela me olha como se pedisse por algo que
provavelmente não darei. Fico em pé e tiro minhas roupas sendo observado
por ela. Quando abaixo minha cueca seus lábios se abrem.
Oh baby!
Ela se levanta e corre até mim ficando de joelhos. Antes que eu pudesse dizer
algo sua boca quente e suculenta chupa meu pau como se fosse um mero
picolé de uva. Jogo minha cabeça para trás embriagado pelo prazer que ela
me traz.
Quando estou preste a gozar, levanto sua cabeça e bato com as mãos nos
meus joelhos. Ela entende o sinal e se senta no meu pau. Quando sinto sua
quentura escorregadiça me aquecer, gemo alto de prazer. Seus gemidos são
mais altos e ela sobe e desce com pressa.
Não se case!
Deveria ter ouvido o conselho do meu irmão, mas sempre quis ter uma
família para chamar de minha. Quando estava quase desistindo do amor,
conheci a louca da Valentina na lanchonete em que ela trabalhava e ouso a
dizer que comi o pão que o Diabo amassou para conquistá-la. O pior foi
quando ela descobriu que eu era rico, “Já não bastava ser mexicano tinha que
ser rico também?”, essas foram as palavras que ela usou. No final, conquistei
a fera, mas não foi nada fácil convencê-la a se manter ao meu lado. Ela é
teimosa e durona e tenta a todo custo ser forte por si mesma. No início do
nosso namoro foi uma luta só para que eu pagasse qualquer coisa para ela,
mas hoje anos depois estamos bem.
Há dias que ela surta e quase me faz surtar junto, mas dou conta
perfeitamente do recado.
— Amei mais ainda a morena que rebolou até o chão — falo tirando o blazer.
— Carlos eu nunca senti ciúme antes, mas presta atenção no que vou dizer…
Nada de ir para boates sem mim, okay? Você é médico, mexicano e tem uma
barba bem radical. Sem falar nesse cabelo que Nossa Senhora. Eu amo puxá-
lo quando me chupa, mas nada de sair para certos lugares sem mim. Você
envelhece e fica ainda mais gostoso.
Caio na gargalhada.
Eu sou o tipo de cara que não liga para suas saídas com as garotas. Fico em
casa com os as crianças para ela sair de boa com as meninas, mas quando eu
saio ela liga a cada dez minutos sem falar do rastreador que colocou no meu
cordão que ela me deu de presente. Ela inclusive já ameaçou uma enfermeira
que trabalhava comigo, a pobre mulher era casada com uma ruiva cheia de
tatuagens e ela ainda diz que só hoje sentiu ciúme?
Ando até o bar que há ali e pego uma garrafinha de água para beber. Olho
para o lado e vejo o aparelho de som. Vou até ele e coloco uma música
sensual.
A cada rebolada é uma peça sua que vai embora, ela anda até o centro do
quarto e começa a mexer sua cintura de um jeito que me deixa louco de tesão.
Tiro minhas roupas de uma só vez e meu pau aponta duro para cima.
Necessito dela!
Quando vou na sua direção ela corre até o canto de uma parede, tolice, mas
sei o que ela quer e darei forte, rápido e bruto.
— Não precisa fingir uma fuga, Val — digo a segurando por trás.
Seguro sua cintura magra, com outra mão e acaricio seu clitóris.
Assim que ela termina de falar a empino para mim já entrando dentro dela
com força. Não gostamos de lenga-lenga, por isso vou o mais rápido que
posso. Suas mãos estendidas na parede em busca de apoio faz com que sinta
vontade de fazer com que ela nem sinta mais força para isso. Puxo seu cabelo
o prendendo em minha mão.
Melanie me solta, rola para o outro lado da cama e a sorte é que James não
dorme mais conosco na cama, aliás, o seu aniversário de dois anos é daqui a
poucos meses e as meninas estão ajudando Melanie a preparar as coisas para
a festa dele. Depois do dia na boate, que terminou com três casais transando
no mesmo hotel, elas ficaram ainda mais próximas e essa proximidade trouxe
um pouco de conforto ao meu coração. Melanie precisa de amigas, precisa de
laços femininos e Anny e Valentina são as pessoas perfeitas para isso.
Esse maldito urso panda que James não larga nem a pau!
Quando ele olha na minha direção me dá um sorriso e esse sorriso aquece
meu coração de uma forma inigualável. Às vezes sinto que serei incapaz de
respirar se algo acontecer com ele. James é a melhor coisa que já fiz nesse
mundo e só de pensar em perdê-lo sinto um medo tão pavoroso que quase faz
com que eu chore. Ninguém me avisou que ser pai é viver com medo do
futuro e o futuro nunca foi tão incerto quanto está sendo agora.
Caminho até James sorrindo de volta, meus mais sinceros sorrisos são para
ele e futuramente para o novo bebê que está vindo.
Ultimamente venho sido bombardeado por coisas boas e novas que jamais
saberei como agradecer.
— Papai? Caiu — fala apontando para o chão onde está seu urso panda.
Ele sorri segurando o urso com uma mão enquanto a outra está se apoiando
no meu ombro.
— Não tenho sono — responde soltando uma gargalhada que tanto adoro. —
Fome papai — diz olhando para a barriga que está coberta por um macacão
de dormir do Homem Aranha.
— Então vamos comer pequeno ruivo — digo me virando para sair em busca
de comida.
— Olha o avião… — digo para James que ri e abre a boca para receber o
mingau morno na sua boca.
Pego mais um pouco e dou para ele que come tudo. Acho que isso é sinal de
que ele é saudável.
Aperto Melanie em meus braços sentindo que algo ruim vai acontecer.
— Casa comigo? — peço beijando o topo da sua cabeça. — Não há por que
fugirmos disso — falo levantando sua cabeça para que me olhe. — Já
estamos até esperando nosso segundo filho!
— Não posso me casar com alguém que desconheço — fala dando um sorriso
triste. — Não tenha pressa para se abrir comigo, mas, por favor, não demore
tanto — pede voltando a me abraçar.
Aperto-a ainda com mais força em meus braços, ela teme ao desconhecido
que habita em mim. Essa fodida escuridão que há dentro de mim está sendo o
ponto crucial para tudo isso.
— Não consigo falar disso abertamente. — Confesso com a voz abafada pelo
seu cabelo.
Já tentei ir uma vez, mas não me senti à vontade e minha escuridão nunca foi
um grande problema até agora.
— Quem disse que deixarei você ficar por cima? — pergunto me sentando na
beirada da cama. — Talvez queira que a senhorita faça algo antes. — falo
rouco já apertando o volume no meio das minhas pernas.
— Posso fazer esse favorzinho para o senhor Haylock hoje — fala andando
na minha direção e se ajoelhando. Abaixa minha calça já puxando a cueca,
me deixando nu, já que estou sem camisa. — Olha ele está pronto para ser
chupado. — Ela mal terminou a frase e começa a chupar meu pau até as bolas
e um gemido rouco sai do fundo da minha garganta.
— Melanie — digo seu nome com a voz rouca pelo prazer que ela está me
proporcionando.
Ela levanta os olhos para me olhar antes de introduzir todo meu pau na sua
boca.
Porra!
A parte que não cabe mais na boca, ela masturba com precisão.
Ela se toca enquanto como sua boca, uma cena que me deixa ainda mais
excitado.
— Coloca mais dois dedos, sabemos que aguenta — digo diminuindo o ritmo
para não a machucar. — Vá mais rápido Melanie, imagine meu pau entrando
nessa boceta apertada. Sinta meu pau na sua boca… Goze Melanie.
Quando digo isso nós dois gozamos, a ajudo a ficar em pé e beijo sua boca
que contém meu gosto amargo.
Olho para o horizonte tentando entender o que está acontecendo comigo. Vir
até aqui traz recordações libertadoras, mas ao mesmo tempo dolorosas. July
se libertou quando se jogou e preciso me libertar para poder ser tudo que
minha família precisa. Eu poderia estar em qualquer lugar para pensar, mas
estou aqui. Boston se tornou meu lar, mas não sei se posso ser o lar que
Melanie tanto busca. Estou perdido e não há como negar.
Sinto alguém se aproximando e Anny surge ao meu lado. Não achei que ela
viria quando a chamei aqui, mas preciso da sua ajuda para algo importante.
— Nossa, aqui venta — diz abraçando seu corpo. — Fiquei surpresa com sua
ligação até mesmo pensei que nosso encontro seria no Museu de Artes. —
Ela sorri para mim antes de olhar para frente. — A vista aqui é ótima.
— Aqui foi o ponto inicial para recomeçar em Boston — falo olhando para
frente. Sinto seu olhar em meu rosto, mas não diz nada. — Marquei uma
consulta no psicólogo, a Melanie acha que preciso então eu vou.
— Você quer ir?
— Minha família precisa de mim bem — falo agora olhando para ela.
— Sim eles precisam, mas por experiência própria digo para não ir sem
querer lutar por você — fala séria. Seus olhos castanho-claros transmitem
mais do que ela deseja, ela ainda possui uma parte da escuridão que tanto a
atormenta. — Não é tão fácil quanto dizem que é. Dói falar sobre o que lhe
apavora, mas é libertador saber que não doerá mais da mesma proporção. É
um processo lento e demorado. Um psicólogo confunde sua cabeça, mas aos
poucos você vai se ajeitando. Não tenha medo — diz sorrindo docemente.
— Temo mais do que meu passado. Não sou bom em falar sobre mim
mesmo, mas farei o possível para me abrir — digo voltando a olhar para o
horizonte. — Já me encantei pela sua escuridão, Anny. Dante sabe, não foi
paixão. Foi apenas minha escuridão que se identificou com a sua e nada mais.
— Eu não sabia e nunca percebi, acho que temos muito coisas em comum. —
fala sorrindo.
— Eu perco todos os malditos dias, Anny, mas saberei lidar com isso.
— Marco, é normal ter medo do amor, mas só tome cuidado para não perder
tempo demais tentando entender como ele funciona. O tempo é curto quando
se trata do amor. — Ela fala sorrindo. — Digo por mim mesma, passei dez
anos presa sendo machucada, mas hoje estou aqui assim como você, não
conheço sua história toda, mas vejo em seus olhos o quanto ela é dolorosa.
Vencemos muitas coisas, Marco. Agora você tem que vencer o que há aqui
dentro. — Ela toca o meu peito e abraço Anny.
— Melanie não faz isso você está grávida — digo a segurando. — Você
precisa prestar mais atenção no que faz.
— Você não reclamou ontem quando estava montada em você — diz fazendo
seus típicos biquinhos. — Marco quero algo, você me dá?
— Desde que não seja calda de morango quente — falo beijando seu
pescoço.
Essa história não está bem formulada, Melanie curiosa é a pior coisa do
mundo e sinto que terei problemas com isso.
— Eu quero tentar algo novo no sexo — diz com uma cara que desconheço.
— O que?
Olho para ela espantado e coloco a mão no peito. Acalmo a minha respiração
e por fim falo.
— Então vá… Creio que há ótimos clubes para isso… Vá Melanie! — digo
sério apontando para a porta. — Mas se for esqueça do nosso relacionamento.
— Tem razão.
Não sei como chegamos a essa discussão, mas algo me diz que estamos
cansados.
— Eu sou e por isso falei da suruba, mas saiba que não sou monge — falando
isso ela sai.
Fecho meus olhos e meu coração dói como se houvesse levado uma facada.
Eu antes nem sabia que havia um coração e agora sinto que ele está
sangrando…
Fico olhando para a mensagem anônima no meu telefone.
Não ousei descobrir quem possivelmente pode ser, mas acabei acusando
Marco e impulsivamente acabei falando o que não deveria. Mal sabia o que
era suruba e acabei falando que queria fazer só para ver a cara de ciúme do
ruivo gostoso, mas acabou que vieram à tona outros fatores do nosso não
relacionamento.
Sinto que em vez de facilitar estou dificultando as coisas, tenho tanto medo
de tudo desmoronar que acabo criando barreiras em volta de mim mesma. Eu
o amo, mas temo o que ele é.
Sinto que não conheço Marco Haylock de verdade e para ser sincera temo
conhecer sua verdadeira face. Há uma escuridão gritante dentro dele e Marco
possui marcas que provavelmente jamais compreenderei. É sufocante estar no
escuro, por isso temo levar o que temos mais adiante. Sinto que a qualquer
momento irá desmoronar o chão entre nossos pés…
Sempre sou impulsiva quando se trata de nós dois, porém quando se trata
dele fico louca, algo dentro de mim desperta com raiva. Eu sou ciumenta e
sinceramente ele também é.
Nosso raciocínio vai por água abaixo quando alguém se aproxima, pois
somos intensos demais.
Fecho a porta do quarto do James assim que ele dorme agarrado ao seu urso
panda. As luzes do corredor acendem conforme ando e acho isso o máximo,
sinto que estou andando na passarela e que cada passo meu é uma luz que se
abre diante de mim. Já sonhei em ser modelo, mas nem sempre o que se
sonha se realiza e hoje estou feliz da forma que estou.
“Mãe Santinha, me proteja para que eu nunca tropece e caia grávida. Mamãe
proteja o seu neto ou neta que ainda habita em meu ventre.”
Não caí!
Amém!
Isso é ótimo!
Olho para o relógio frustrada por Marco ainda não ter chegado e nem ligado
para avisar sobre algo.
Algo me diz que nossa conversa de hoje mais cedo no seu escritório o
chateou bastante, vi em seus olhos um lampejo de algo profundo. Ele possui
o dom de mascarar suas emoções o que me chateia bastante. Marco não é
alguém fácil de ler ou de ajudar. Há uma camada sobre ele que funciona
como um escudo para que ninguém o conheça e sinceramente é isso que me
deixa apavorada. Suas barreiras são impenetráveis e às vezes sinto que não
aguentarei por muito tempo. Amar é algo difícil e não sabia que era uma luta
diária em que muitas vezes tenho certeza de que irei perder, mas sou teimosa
e me manterei até o final ou até onde suportar a destruição.
Tomando coragem pego o telefone, disco seu número e cai direto na maldita
caixa postal do inferno, tento mais três vezes e dá a mesma coisa.
Eu não suportaria vê-lo com mais alguns furos no seu corpo. Agora que ele
está se recuperando por completo de tudo.
Inferno!
Entre ligar para Dante ou Pedro opto por ligar para o ser sorridente e ele
atende no segundo toque com sua típica alegria contagiante.
— Melzinha que ama uma calda de morango, o que aconteceu para que eu
tenha a honra da sua ligação?
É incrível que mesmo que não o veja sei que está sorrindo.
— Marco sua mulher quer falar com você, que coisa feia deixar uma mulher
grávida em casa sozinha — diz rindo. — Vou passar o telefone para esse
ruivo feioso Melzinha.
Passa-se alguns segundos ou minutos até que ouço sua voz rouca e grave.
Não sei o que dizer, sua voz está fria demais o que significa que ele está bem
chateado. Engulo a seco antes de responder sua pergunta.
— Está tudo bem, apenas estranhei você ainda não ter chegado em casa,
James até mesmo já dormiu e você nem ao menos me avisou se chegaria cedo
ou tarde — falo com a voz sufocada, ouço seu suspiro e uma cadeira sendo
arrastada.
— Você queria que eu fizesse o que, Melanie? — pergunta, mas quando não
respondo continua. — Você veio hoje até mim me acusando, depois me
beijando e falando algo que me chateou. Eu não compartilho nada que é meu
Melanie e ao meu ver você é minha, mesmo que não nos titulamos com
algum nome especifico que essa maldita sociedade cria por status, sabemos
que pertencemos um ao outro, mas se você não enxerga assim não há muito
que eu possa fazer — diz calmamente fazendo com que meu coração erre
algumas batidas. — Essa não é uma conversa para se ter por telefone, meu
telefone descarregou e peço desculpas por não lhe avisar que chegaria tarde.
Não precisa me esperar acordada, provavelmente irei demorar mais um pouco
aqui na empresa. Uma das filiais teve problemas e algumas pessoas inocentes
foram prejudicadas. Dante, Pedro e eu não sairemos daqui até termos uma
solução que beneficiará a todos. Vá descansar!
Fico em silêncio pensando no que devo dizer, mas não encontro as palavras
certas.
— Só me ouça, por favor, assim poderei dormir melhor. Eu nunca faria uma
suruba com ou sem você. Era apenas para ser uma brincadeira que acabou
mal, mas eu nunca faria algo assim.
— Você tem a minha promessa — diz com sua voz séria e grave que tanto
amo. — Agora descanse. — Após dizer isso, encerra a ligação.
Fico mais um tempo sentada no sofá chorando como uma criancinha que
perdeu sua boneca favorita.
Subo para o nosso quarto lentamente, chamo de nosso, mas minhas coisas
ainda estão no quarto que ele me deu quando trouxe James e eu para cá. Eu
que invadi sua cama para que pudesse ficar colada com ele a noite.
Merda!
Paro na porta do quarto, onde deveria estar dormindo sem saber ao certo o
que fazer. Não sei se vou para o “nosso” quarto ou se fico aqui no que
deveria ser o meu, hoje pela primeira vez desde que passei a ocupar sua cama
como se fosse minha tenho essa maldita dúvida.
Por hábito e por necessidade acabo indo para o quarto onde me refugio em
seus braços todas as noites.
Deito-me sobre seus lençóis escuros abraçando seu travesseiro que ainda
possui seu maldito cheiro másculo e adormeço com medo do amanhã…
Chego em casa quase as três da manhã, meu corpo não está cansado e
muito menos minha mente, mas sinto necessidade de me deitar na minha
cama só para abraçar Melanie como prometi.
Subo a escada sem pressa e já no corredor ando até a porta do quarto de
James. Abro-a com cuidado para não fazer barulho, ele dorme tranquilamente
abraçado ao seu urso panda e saio com cuidado para não fazer barulho. Ando
até o banheiro social para tomar um banho, me dispo com calma, paro em
frente ao espelho e vejo as cicatrizes das últimas balas que tomei. Não sei
ainda o que irei tatuar nesses lugares, mas tenho que pensar em algo. Quando
entro debaixo da água morna suspiro, lavo meu cabelo e me ensaboo com
calma.
Minutos depois termino meu banho nada longo e me seco vestindo uma
cueca vermelha boxer que estava na gaveta do armário que há aqui no
banheiro, sempre deixo umas guardada para situações como essa.
Quero ver James brincando com seus irmãos e ouvir gritarias no carro ao
irem para a escola…
Hoje entendo o motivo de Dante lutar tanto pela família e para nos manter
por perto, nessa vida somos todos passageiros, mas as marcas que deixamos
para trás é o que faz com que sejamos eternos.
Quero deixar boas marcas para que possam ter boas lembranças de mim…
— Marco? — Melanie pergunta sonolenta.
— Você veio para casa — fala se virando e deitando a cabeça no meu peito.
— Você após o banho é muito cheiroso.
Não digo nada, apenas acaricio seu cabelo até sentir que ela pegou no sono.
Acabo me sentindo sonolento também e por fim adormeço…
Abro meus olhos dando de cara com a minha mini cópia sorrindo para mim e
seus dentinhos de leite branquinhos parecem perfeitos ao meu ponto de vista.
Ele parece ter mais sardas do que eu, entretanto não é como se eu pudesse
contar.
— Bom dia para você também campeão — digo sorrindo para ele. — Deixa
papai se levantar e fazer minha higiene matinal para que possamos iniciar o
dia — falo o tirando de cima de mim com cuidado, o deixando na cama já
sabendo que ele ficará ali até eu voltar.
Ele é obediente.
Panela: 01 X Melanie: 0.
Fico um tempo parado olhando-a vestida em uma camisola curta que marca
bem sua barriga já grandinha. Ela para e aponta a colher de pau para a pobre
panela que está na sua frente.
— Você que está matando o bacon dessa forma — digo fazendo com que ela
solte um grito fino, seguida por James e meus tímpanos doem.
Vou até ela, viro os bacons, em seguida quebro os ovos em outra frigideira e
os mexo do jeito que ela quer.
Dou mamão com aveia e vitamina de banana ao James enquanto tomo uma
xícara de café e como uma torrada. O silêncio só não é gritante por causa de
James que faz uns barulhos estranhos enquanto come.
— Tenho uma consulta hoje à tarde — fala olhando para tudo, menos para
mim.
— Eu sei e até mesmo avisei a Dante que hoje à tarde não estaria na empresa,
ele foi compreensivo. Sei que ele precisa de mim na empresa, mas nosso filho
ou filha são mais importantes — falo olhando para o seu rosto que parece
ficar mais alegre após minhas palavras.
— Irei ligar para Pedro para saber como andam as coisas, qualquer coisa vou
dar uma passada lá ou trabalharei daqui mesmo.
— Está bem — diz vindo tomar meu lugar ao lado de James que está
concentrado chupando um pedaço de mamão.
Pego minha xícara de café e caminho até o escritório que tenho em casa. Não
me importo em buscar meu celular, por isso ligo do telefone fixo do
escritório.
— Dante já resolveu tudo… Ele chegou às seis da manhã, sei disso porque
nem fui para casa, dormi por aqui mesmo. Como estava dizendo Dante
chegou igual um trator chamou a Val e a mandou junto com os engenheiros
acharem o erro na estrutura da filial para que possamos jogar a velha para
baixo e levantar uma nova. Pediu para que eu limpe o sistema de segurança e
coloque mais segurança ao redor de cada filial inclusive aqui da sede — diz
com voz cansada.
Olho mais alguns papéis antes de voltar para a cozinha para terminar o café
em família.
Passo a manhã inteira brincando com James, enquanto Melanie faz não sei o
que pela casa. Ficar com James traz paz ao meu coração.
— Tenho esperança que sim. Quero saber se precisarei andar armado ou não
— falo sério.
Minutos depois estou me sentido o centro das atenções, com James no colo e
Melanie ao meu lado, todas as mulheres estão olhando na minha direção
como se fosse um ser único, mesmo tendo poucos homens aqui. Agora
entendo o que Dante passou nas consultas de Anny.
Ela liga o aparelho, começa a passar pela barriga de Melanie e olho para a
tela apreensivo.
Medo!
Olho para o monitor e mais uma vez para médica que me olha com uma
cara espantada…
Sua expressão facial pode até mesmo estar mais tranquila do que a segundos
atrás, mas ainda vejo uma veia de preocupação em seu rosto. Ela olha para
Marco e mais uma vez para o monitor, passa o aparelho na minha barriga e
para, volta a passar e por fim tira em completo silêncio.
Sei que ela me pediu calma, mas como ter calma nessa hora?
Sinto que tem algo de errado com o meu bebê, lágrimas escorrem pelos meus
olhos e Mãe Santinha me ajuda, fiz tantos possíveis planos para meu bebê se
fosse menina, mas olhando agora para esse maldito monitor não sei de mais
nada.
Sinto as mãos de Marco no meu ombro e James graças a Deus está entretido
no tapete brincando, ainda bem que ele não está sentido o clima pesado. Colo
minhas mãos nas de Marco e ele entrelaça nossos dedos. Sinto-me mais
segura assim.
— Sim possuímos, mas o que isso tem a ver? — pergunto tentando controlar
a voz de choro.
— Bem há dois bebês! — fala fazendo com que eu sinta um alívio, mas ao
mesmo tempo desespero.
Dois bebês?
Dois?
Não saberei lidar com dois bebês, sem falar que o parto será ainda mais
doloroso.
— Não, eles não são gêmeos — a doutora diz séria fazendo com que eu nem
pisque. — A senhorita Melanie sofreu uma superfetação, algumas mulheres
mesmo depois da gravidez continuam ovulando, algumas acabam nem
engravidando novamente, mas no seu caso você ficou. Há dois sacos
gestacionais como podem ver aqui — fala apontando para o monitor,
enquanto passa o aparelho na minha barriga. Há uma diferença notória entre
eles, possivelmente mais de um mês de diferença o que não é exatamente
algo bom. Você possivelmente ovulou até o segundo mês da gestação e o
espermatozoide vencedor passou por todas as barreiras e fecundou, bem, isso
como disse é algo raro e será uma gravidez considerada de gêmeos, mas
teremos que fazer um parto prematuro para a segurança dos dois bebês.
Faremos um acompanhamento de duas em duas semanas. Há dois meses de
diferença entre um e outro algo preocupante, mas não há motivo para entrar
em desespero.
— Compreendo tudo que disse, mas quando ela completar noves meses
faremos um cesariana? — Marco pergunta enxugando minhas teimosas
lágrimas.
— Possivelmente antes dos nove. Não quero arriscar que a bolsa estoure e
que possivelmente isso leve os fetos há algum tipo de risco notório maior.
Querem ouvir os corações dos bebês?
Sorrio para meu pequeno filho já mais velho que me olha mostrando seus
dentinhos de leite branquinhos. Em breve ele irá completar dois aninhos e
logo terei mais dois bebês em meus braços.
Quando menos esperamos ouvimos o som que faz com que meus olhos se
encham ainda mais de lágrimas, olho para o monitor agora enxergando os
dois bebês um menor do que o outro.
— Olha só temos uma menininha aqui! — a doutora diz fazendo com que eu
solte uma gargalhada e olhe para Marco que tem em seu rosto uma expressão
que desconheço e seus olhos brilham olhando para a tela do monitor.
— Acho que irei com Dante procurar escolas para formação de freiras —
Marco fala e olho para ele de cara feia.
— Nossa filha vai dançar até o chão onde quiser! — falo olhando em seus
olhos.
— Melanie, modos!
— Sim você terá dois irmãozinhos para cuidar, mas uma é menina e nela
você terá que ter uma atenção dobrada! — reviro os olhos com essa conversa
desnecessária.
— Já disse que nossa filha será e fará o que ela quiser e você James não vai
impedir sua irmã — falo e ele olha para mim soltando uma gargalhada
gostosa.
Meu Deus do céu, esses dois não deixaram a minha pobre menina respirar!
Agora entendo perfeitamente tudo que Dante sentiu quando soube que
teria uma menina, já até mesmo consigo imaginar as armas que poderei usar
para proteger minha menina. Há inclusive diversas escolas católicas para
meninas, apenas menina. Vou ligar para Dante e Carlos para que assim
possamos conversar sobre essas prováveis escolas.
Respiro fundo olhando Melanie comprar tudo rosa, vermelho e lilás. Acho
que ela está esquecendo que são dois bebês. Ao menos terei mais um menino
para me ajudar a proteger minha menina.
Quando a médica disse que havia dois bebês imaginei gêmeos, mas jamais
pensei nessa probabilidade de superfetação. Nunca imaginei que algo assim
poderia acontecer, mas parando para pensar não me é estranho e pelas minhas
contas aconteceu durante o nosso sexo de comemoração depois que sai do
hospital.
Olho para James que está mordendo uns dos seus muitos brinquedos, esse
menino se faz de sonso na maioria das vezes, mas James sabe que algo
estranho está acontecendo e prefere ficar na sua o que não é algo ruim, sinto
que no futuro terei um bocado de trabalho com essa mini cópia minha.
Meu telefone não para de vibrar um só segundo e para piorar sinto que as
pobres vendedoras surtaram com Melanie que não para. Ela quer tudo mais
ou mesmo tempo não quer nada, ela já pegou várias peças e colocou de volta
no lugar. Cansado disso tudo caminho até algumas prateleiras e pego
conjuntos que acho bonitos e fofos. Coloco no carrinho e volto para pegar
James. Coloco-o sentado no carrinho e saio andando pelos corredores.
Uma hora depois pago tudo que escolhi para ambos os bebês e também o que
escolhi para James, apesar de saber que ele possui roupas e brinquedos em
excesso. Saio da loja a espera de Melanie que ainda está perdida lá dentro. Eu
até ficaria ao seu lado, mas a mulher simplesmente me expulsou do seu lado.
Não há muito que eu possa fazer a não ser esperar.
— Comprei tantas coisas cor-de-rosa que minha Santa Mãezinha que está no
céu, estou com uma fome do tamanho do mundo. Agora sei que como por
dois! — fala quase saltitando, me entrega as sacolas e pega James no colo. —
Meu ruivinho número um, você ganhará dois irmãozinhos de uma só vez, foi
premiado por ser o mais velho. — James olha para ela com uma carinha
engraçada, mas sorri para a mãe que sai andando com ele para algum lugar
que tenha comida. — Anda Marco estou com fome e você irá pagar por tudo!
Sorrio, pego as sacolas e vou atrás da louca que está aquecendo meu coração.
Nunca pensei que alguma mulher chegaria até a veia que faz com que meu
coração bata. Melanie está no meu sistema e não me vejo mais longe dela.
Sinto medo de perdê-la, mas algo me diz que se não tomar cuidado e resolver
as questões do meu passado mais rápido teremos sérios problemas no futuro.
Será a escuridão que tento a todo instante esquecer, mas ela habita em mim.
Não sei o que faço com Melanie, James e os pulguentos que bagunçam tudo.
Amanhã isso estará organizado e se não ficar, tudo bem. Posso conviver com
essa bagunça diária e a partir de agora só irá piorar com os bebês que virão.
Ser pai e possuir uma família é ser feliz até com as coisas intrigantes da vida.
Quando a casa está silenciosa e todos estão em suas devidas camas vou para
o quarto dormir. Antes vou ver se James está bem, daqui uns meses serão
mais dois para verificar e o sentimento de proteção cresce ainda mais dentro
de mim. Saio do seu quarto assim que vejo que está tudo bem com ele.
— Estou surpreso e feliz. É tudo muito novo para mim, então mais uma vez
lhe peço paciência. Sou novo nesse mundo, onde sou pai e chefe de família.
Apenas segure minha mão e não solte, por favor.
Ainda não consigo dizer tudo que penso ou quero, mas estou caminhando
para isso.
Amanhã tenho certeza de que serei zoado pelos caras até minha morte.
Estou fodido de todas as formas e pagarei por todo os meus pecados de uma
só vez!
— O que o fez vir até aqui senhor Haylock? — pergunta em um tom de voz
calma que não ajuda em nada.
— Para chegamos nessa parte, preciso te dizer o motivo pelo qual sou um
nômade estrangeiro.
— Tudo começou quando ainda era uma criança que possuía alguns vestígios
de fé…
Acho que está na hora de contar a história do menino que nunca pode
chorar…
— Não vou obrigar o senhor a ficar, mas se caso quiser volte antes, basta
ligar — fala docemente. — Podemos começar a trabalhar com base na sua
infância.
— Então meu amigo, vamos lhe dar duas opções. Primeira, você fala por bem
ou segunda você fala por mal, lembrando que em ambas as opções você vai
ter que falar — diz Carlos com um sorrisinho de lado.
Olho para meus amigos tentando não sorrir ou mostrar minha felicidade e
todos me olham espantados esperando que eu surte ou os mande para merda.
— Em minha defesa se por acaso você for bater em alguém lute com o Dante
ou com Pedro — fala Carlos recebendo um olhar de interrogação dos outros.
— Olhem para mim sou médico e de luta não entendo nada. Olha os
músculos do Dante, foquem nesses braços de lutador de MMA. Sou um
frango e olha o Pedro…
— Você é chefe de segurança geral, luta capoeira e boxer e ainda faz crossfit.
Você é negão meu amigo — fala criando sua defesa que está até boa para um
médico. — Eu só sei usar um bisturi — diz tirando totalmente o dele da reta.
— Ouso dizer e confirmo que o Dante sabe lutar bem mais que eu — Pedro
fala caminhando para longe dos dois. — Esse combate tem que ser de igual
para igual… Briga de gigante… Dante X Marco, a sofrência dos pais.
— Não aceitamos sua defesa Pedro, aliás, foi uma péssima defesa…
Esperava mais de você. — Dante olha para mim e me dá um sorriso como se
soubesse de tudo.
— Parabéns meu amigo! Ter uma filha é saber que pagará por todos os seus
pecados — diz calmamente. — Acredite quando digo que enquanto for
criança, você estará seguro dos lobos maus. Um dia você é lobo e no outro
sua filha é a presa. É a ordem natural da vida.
Quem diria que estaria prestes a discutir sobre criação e fraldas com eles.
Passo as mãos pelo cabelo tentando compreender melhor o que há a minha
volta e olho para eles que esperam uma reação minha.
— Vocês sabem que fui treinado para matar, sou um ótimo lutador e não
perco, meus reflexos são rápidos e sou perspicaz. Qualquer um que se
aproximar da minha menina terá seu corpo boiando no rio Charles.
— Uma menina e um menino, mas não são exatamente gêmeos. Foi uma
superfetação.
— Isso é raro! O segundo feto fecundado deve receber uma atenção maior e
com certeza será um cesariana — fala Carlos sério. — Parabéns meu
amigo… Filhos são as melhores partes de nós.
— Fui a psicóloga hoje — falo atraindo mais uma vez a atenção deles para
mim.
— Foi estranho, mas sei que é algo necessário para mim e para todos a minha
volta — falo calmamente.
— Compreendo… Faça o que for melhor para você. Pense primeiro em você
e se você não fizer por si próprio não poderá fazer por alguém. Eu posso te
estender a mão, mas a escolha é sua se vai pegá-la e se levantar. Posso te
mostrar o caminho, mas a escolha é sua se o segue ou não.
Dante tem o dom com as palavras, às vezes acho que será bem melhor
dialogar com ele do que com um psicólogo, mas me lembro que ele já possui
problemas demais para lidar com os meus.
— Eu sei. Estou dando um passo de cada vez… A jornada é longa, mas tenho
certeza de que ela valerá à pena
— Meu amigo, eu entendi até uma parte, o restante me perdi. Tem algo a nos
dizer? — Carlos pergunta olhando para ele que faz cara de paisagem.
— Não está acontecendo nada, só tem um consolo para ser enfiado no meu
cu, mas relaxem estou bem. Só preciso analisar o sistema e melhorar o que
está dando defeito — fala pensativo.
Desgraçado!
— Rosa… Ela está vendo tudo rosa e lilás. Ela vai ter o seu tão sonhado
mundo rosa.
Escolhi o do James, vou deixar que Marco escolha o nome da nossa menina e
eu cuido do menino.
Mãe Santinha do céu, até um tempo atrás era somete James e eu contra o
mundo e agora sinto que não estamos mais só. Marco é como um tsunami que
devastou tudo que construí, mas me deu algo que jamais pensei que teria um
dia. Deu-me algo que perdi há muito tempo…
Saio da penúltima loja saltitando pelo conjuntinho azul e rosa que comprei
para os baby’s. Devido a minha fome resolvo dar uma pausa nas compras e ir
atrás de comida.
Vou atrás de um hambúrguer artesanal já que amo mais que tudo. A carne é
suculenta e o hambúrguer é gigantesco. Acho uma lanchonete que vende e
entro correndo, jogo as sacolas em uma mesa desocupada e vou até o caixa
fazer meu pedido. Escolhi o maior da casa e pedi um suco de laranja natural
de acompanhamento para ser ao menos um pouco saudável.
Sento-me na mesa e mando uma mensagem para Marco sobre as coisas que
comprei e em resposta ele pede para que não compre nada muito rosa.
Quando tiro os olhos da tela do meu telefone levo um susto com quem vejo
diante de mim sorrindo.
É claro que estou pálida, ele vem da Alemanha, surge bem diante de mim e
ainda vem com esses sorrisinhos safados para o meu lado. Ele pode até ser
bonito, mas ainda prefiro mil vezes meu ruivo sexy com cara de mau. Só de
pensar na cara de mau dele fico até excitada.
— Que bom, vejo que o bebê ainda está dentro de você! — fala sorrindo, mas
um sorriso que não chega até os olhos.
— Sim, ele está bem guardado aqui dentro — falo acariciando minha barriga.
— Fico feliz em saber disso morena, vejo o quanto ama esse bebê. Já sonhei
em ser pai, mas infelizmente o destino não foi muito bom comigo.
Vejo um lampejo de tristeza em seus olhos.
— Não tenho certeza disso, mas após ver alguém tão cruel e imbatível sendo
um pai carinhoso e amoroso estou revendo meus conceitos — fala pensativo.
— Às vezes até as maiores armas humanas são capazes de amar alguém, eu
pensei que jamais viveria para presenciar isso, mas vejo que estou enganado.
Até mesmo as coisas mais obscuras recebem uma pitada de luz capaz de
mudar toda a escuridão que há em si — fala olhando na minha direção. —
Talvez eu só precise tomar uma dosagem dessa luz tão radiante que fez com
que um homem mau se tornasse bom!
Algo que ele disse fez com que eu tivesse vontade de sair correndo para mais
longe possível, seu olhar me causou arrepios e não foi um arrepio bom.
— É claro que temos. Meu nome é Brendon Ross… Acho que não nos
apresentamos antes.
Tento a todo instante achar uma saída dessa situação desnecessária em que
estou, Brendon que agora descobri o nome, sentou-se na mesa onde estou e
ainda está sorrindo para mim de uma forma estranha. Algumas pessoas
deveriam saber se manterem longe ou saber dos limites, mas esse ser diante
de mim parece não saber de nada disso.
Mãe Santinha do céu, envie seus anjos para levar essa criatura para longe de
mim.
Quando meu lanche chega já havia até perdido fome, mas ao ver a delícia
diante de mim ela até voltou. Tento me concentrar no meu lanche e o
Brendon Ross pediu um parecido com o meu.
Quem passa por nós deve estar pensando que somos um casal, mas pelo amor
da minha Mãe Santinha não somos e ele não faz meu tipo.
Nada de plural, tem que ser no singular, pois você só gosta de um ruivo que
se chama Marco Haylock e cuja paciência vai para o espaço ao ver a cena em
que você se encontra.
— Seu marido te faz feliz? — pergunta Brendon fazendo com que eu quase
me engasgue com meu lanche.
Na verdade, nem sempre, há dias em que ele faz com que eu fique triste, mas
nos outros sinto que ele é tudo que preciso.
Ele me olha e sorri, mais uma vez um sorriso que não chega aos olhos. Um
sorriso frio e poderia até mesmo dizer que maldoso.
— Você ainda não me disse seu nome — fala tomando seu refrigerante.
— Melanie Haylock — falo firme, fazendo com que algo passe pelos seus
olhos.
"Só tome cuido para não ser destruída pela escuridão dele."
— Pode se dizer que sim… Eu o conheci em algum trem dessa vida, ambos
somos nômades de vagão em vagão e de trem em trem — fala me pegando de
surpresa. — Eu ainda continuo vagando, mas ele pelo que vejo não mais.
Pessoas do passado do Marco são pessoas pelo que entendi cruéis, tirando o
Dominique é claro que é bem gentil.
— Eu sou Brendon Ross e não quero lhe fazer mal, na verdade, nem ousaria é
um crime mais do que capital destruir um ser de luz como você — fala
calmamente. — E você…
— E ela é um ser de luz que é boa demais para você — fala olhando para
Marco que está com os braços cruzados olhando calmamente para Brendon.
— Eu sei que ela é mais do que eu mereço, mas ainda assim é a mim que ela
escolheu. Então peço que, por favor, me faça a gentileza de ficar longe da
minha esposa.
Vejo algo passar pelos olhos de Marco, mas logo depois vejo apenas o vazio
e o frio. Algo que me causa até medo. Não há raiva ou ódio, há apenas uma
frieza incomum para mim.
— Ίσως, αλλά είναι ένας κίνδυνος που πρέπει να αναλάβω [9]— Marco fala,
Brendon sorri e vai embora.
Sinto que preciso aprender a falar esses idiomas diferentes para entender o
que falaram.
Assim que Brendon sai, suspiro aliviada e olho para Marco que me olha
atentamente. Ele caminha lentamente até a mesa, pega as minhas compras e
joga algumas notas em cima da mesa.
Marco não precisa dizer nada, sei que devo segui-lo para casa. Ele digita algo
rápido no seu telefone, seus passos estão rápidos, mas dá para acompanhar.
Eu poderia ter pedido para Brendon sair ou até mesmo ter me levantando e
saído, mas agora é tarde demais para pensar nisso.
— Desculpa.
— São os seguranças. Normalmente não ando com eles, mas quando se trata
de vocês não quero arriscar absolutamente nada.
— Eles são treinados exatamente para isso, para que você não os perceba e
não se sinta incomodada — fala olhando atentamente para estrada.
O elevador nunca foi tão assustadoramente silencioso. Seus olhos não vieram
em nenhum momento de encontro aos meus no espelho. Ele parece estar tão
distante…
Ainda bem que James está na casa da Anny, ele está apaixonado pela Bruna,
mas a menina é cem por cento apaixonada pelo pai.
Quando entramos em casa, ele anda até o sofá e coloca as compras lá com
cuidado. Vai até o mini bar que há ali e pega algo para beber. Tudo isso em
silêncio. Ele normalmente não é falante, mas esse silêncio está agonizante.
O que eu fiz?
Não me dou muito tempo para raciocinar sobre o certo e o errado e corro
atrás dele, antes que ele abra a porta do seu escritório o abraço por trás
sentindo minha barriga entre nós, mas desejo que seja só ela e nada mais.
— Eu acredito Melanie, mas ainda assim estou chateado e com raiva. — fala
e sinto seu peito subindo e descendo. — Eu não gosto de ver outros homens
em volta de você e para ser sincero não sei lidar muito bem com isso, então
apenas me deixe sozinho.
— Não, eu não vou! — falo firme, descendo minha mão pelo seu peito em
direção aos países baixos. Chegando lá desabotoo sua calça para ter melhor
acesso ao seu pau.
— Melanie. — Seu tom é de aviso. — Não vamos por esse caminho, estou
com raiva.
Antes que eu possa ter alguma reação, ele se vira me encostando na parede
com uma brutalidade excitante, cheira meu pescoço dando pequenas
mordidas e suas mãos passeiam pelo meu corpo com calma.
— Eu vou ser duro, mas não serei rápido. Quero lhe mostrar a quão puta você
pode ser para mim — sussurra no meu ouvido, enquanto enfia dois dedos
dentro de mim. — Hoje lhe mostrarei meus desejos mais obscuros… Está
pronta para isso, Melanie?
Quero fazer com que ela saiba o quão sujo posso ser…
Farei com que ela me conheça de uma forma que até hoje não conheceu…
Melanie possui uma beleza maravilhosa, seu cabelo negro emoldurando sua
pele creme é uma combinação perfeita que muitas vezes me enlouquece não
só no sentindo sexual, mas também em outros que sinceramente ainda não sei
nomear. Assim como a forma como ela vai dizendo palavras sem ao menos
saber o sentido ou de qual forma chegará ao ouvinte.
Ah, essa boca carnuda que adoro beijar, morder e amo mais ainda quando
está em volta do meu pau!
Meu pau está completamente ereto para ela, ele só vem ficando assim para
essa louca que muitas vezes tem ideais malucas como colocar calda quente
em cima do pobre coitado, é até irônico que esteja pensando assim.
Quem diria que um dia estaria diante de alguém que está aos poucos
derrubando todas as paredes que construí em volta de mim. Ela está me
desarmando sem ao menos perceber, ela faz com que eu a deseje e ao mesmo
tempo a queira longe, mas é batalha perdida. O certo seria mantê-la longe de
mim, mas sou errado demais para tentar ao menos fazer algo certo como isso.
— Dispa-se — digo e na mesma hora com uma velocidade fora do normal ela
fica nua. Adoro seu corpo de uma forma que ela não é capaz de imaginar e se
fosse se exaltaria mais. — Muito bom… — digo engatinhando até a
cabeceira da cama. Ajeito-me na cama ereto e coloco minhas mãos para trás.
— Pegue as gravatas que estão na beira da cama, me prenda na cabeceira da
cama e vende meus olhos — digo calmamente. — Deixarei você fazer o que
quiser comigo, Melanie, mas nada de colocar algo quente no meu pau.
— O que quiser.
— Até te chicotear?
— O que quiser — repito.
— Achei que você iria me mostrar sua fantasia mais suja! — fala me
olhando.
— Você me quer no controle, entendo isso. Então Melanie, venha até aqui e
chupa meu pau.
Segundos depois senti seu hálito quente em cima do meu pau, ela lambe a
fenda antes de colocá-lo na boca aos poucos. Ela me olha nos olhos sem
nunca desviar, quanto mais ele vai entrando na sua boca mais excitado eu
fico, mas me mantenho parado. A parte que ela não consegue levar na boca,
massageia com as mãos. Quase fecho meus olhos com as maravilhas que ela
faz com essa boca gostosa demais.
— Mas eu quero cada gota — fala fazendo bico, enquanto segura meu pau.
— Sua boceta irá engolir cada gota. Monte em mim Mel, cavalgue no meu
pau…
Ela sobe em cima de mim e estende a palma da sua mão no meu peito,
enquanto com a outra segura meu pau para que ela possa se encaixar nela
com perfeição. Gememos juntos quando seu calor me aperta em cada maldito
e delicioso centímetro.
Oh, porra!
Mexo minha pelve para cima para lhe ajudar, não iria me mover, mas é
impossível ficar parado. Seguro seu quadril a ajudando a descer e subir mais
rápido.
— Aperte seus seios e massageie seus clitóris — falo segurado sua bunda.
Seus seios devido à gravidez estão maiores e mais sensível o que aumenta sua
sensibilidade. Quero que ela se descubra e sinta coisas novas. São poucas as
mulheres que se tocam durante o ato sexual, o que para mim é um
desperdício de prazer.
Melanie massageia seu botão com delicadeza, mas logo vai o apertando com
mais precisão. Seus gemidos vão ficando mais altos e suas paredes mais
escorregadias, ela está ficando cada vez mais excitada. Começo a investir
mais rápido e duro segurando firme seu quadril.
— Você gosta assim, né? Sei que adora me sentir dentro de você… Já se
tornou minha puta, Melanie?
Sua boca entreaberta, sua pele suada, seu cabelo bagunçado e seus seios
pulando conforme invisto contra ela…
É delicioso ver a forma como ela belisca o bico do seu seio em busca de mais
prazer.
Quando ela está preste a gozar, mudo nossas posições deixando-a de quatro
na cama.
— Marco…
Entro dentro dela de uma só vez, dou um tapa na sua bunda gotosa e começo
a meter fundo dentro dela. Pego seu cabelo macio fazendo um rabo de cabalo
com minhas mãos, puxando-o para trás para que ela se encoste no meu peito.
Com a minha mão livre massageio seu clitóris.
Minhas investidas ficam ainda mais rápidas e duras, nosso suor se mistura,
nossa pele pegajosa cola uma na outra e busco seus lábios os beijando com
precisão e força.
Quando ela goza, seu grito fino me deixa ainda mais excitado. Não demora
muito e me derramo por completo dentro dela, fazendo com que ela engula
cada maldita gota da minha porra.
Quando nos recuperamos, me deito ao lado dela só que dessa vez irei ser
mais lento e mais cuidadoso, a manterei em meus braços e olharei a todo
instante em seus olhos.
Faremos amor…
Ela ainda não sabe, mas se tornou meus desejos mais obscuros e sinto que
sou incapaz de feri-la.
Mãe Santinha do céu!
Eu mal havia tido um orgasmo e ele já veio me dando outro e mais outro…
A cama está toda molhada do meu “xixi”, quer dizer dos meus maravilhosos
orgasmos.
Levo um susto aos ver os malditos chupões no meu pescoço, na hora foi
maravilhoso, mas agora estão péssimos. Terei que usar muita base para
esconder isso.
No closet, pego algo leve para vestir e desço a escada com cuidado para não
cair.
Estou faminta!
O dia de hoje foi repleto de fortes emoções, ao mesmo tempo em que achei
que iria perder Marco, descobri que temos uma conexão mais forte do que eu
poderia sonhar. Eu o amo mais do que eu mesmo gostaria, mas sinto muitas
vezes que meu amor não é correspondido.
Ele é tão complicado, tão na sua que muitas vezes nem gritando serei capaz
de alcançar seus sentimentos. Sem falar que ainda não esqueci o que o
Brendon me disse na Alemanha sobre o Marco, ele parecia ser alguém que
conhece perfeitamente o passado que o ruivo tanto esconde de mim. Sei que
devo esperá-lo me contar, mas é frustrante não saber de absolutamente nada.
Estou no escuro mais do que nunca.
O interfone toca fazendo com que eu tome um susto e corro para atendê-lo.
— Sim?
O porteiro sorri para mim ao me entregar uma caixa bonita na cor vermelha
com um pequeno laço branco em cima. Volto para casa doida para abrir, mas
não é algo meu.
Um tempo depois Marco chega com um James super agitado que corre para
meus braços.
Ele ergue uma sobrancelha e caminha até a caixa a abrindo com cautela. Seus
olhos se arregalam por um instante antes de respirar fundo.
— Vamos fazer uma viagem — fala me estendendo o papel que havia dentro
da caixa.
Fodida estou!
Olho bem para o papel e depois olho para Marco.
Ruivo filha de uma péssima puta!
“Caro senhor Haylock, gostaria de mais uma vez vir lhe convidar para nossa
festa anual, o ser mais sexy que conheço já deve saber o endereço.
PS: estou com saudade de ser devorada por você e ansiosa pela sua foda
sensacional!
Beijos C. B.”
— De onde a conhece?
Dias depois
Que raiva!
Porra!
Ele não é nem casado, porque eu ainda não aceitei me casar com ele. Porém
temos algo sério um com outro e isso é que importa. Literalmente é isso que
importa, mas vejo que preciso de uma maldita aliança de ouro bem grossa
para essas galinhas sem galo pararem de dar em cima do meu ruivo gostoso
de olhos azuis celestiais.
Que merda!
Ele é lindo!
Agora voltando as galinhas no cio, quero matar cada uma que ousa dar
sorrisos sensuais para meu não marido AINDA.
Agora não sei se me caso antes ou depois dos bebês nascerem, estou em
dúvida…
Ainda tenho alguns meses pela frente e vejo que preciso do casamento para
ontem. Bem, Anny se casou grávida e pelo que vi foi um casamento
maravilhoso e ela estava linda. Quem sabe o vestido de princesa esconda um
pouco da minha barriguinha de grávida.
Vou informa Marco que quero me casar em algumas semanas, isso mesmo,
mas primeiro temos que sair desse inferno de mercado lotado de galinhas
putas.
Ando a passos rápidos até ele e James que está agarrando seu braço. Marco
me olha e não diz nada, continua pegando os alimentos calmamente, já James
me olha e sorri, mas logo volta sua atenção para o cacho de uvas verdes que
está na sua mão. Depois de longas prateleiras e de dois carrinhos cheios
voltamos para casa. Não ouso pegar uma sacola para pôr no carro, o homem
da casa é ele e ainda estou gravidíssima
Todos temos que lutar por algo e eu estou lutando por essa família imperfeita
que estou construindo, aliás, Marco e eu jamais seremos perfeitos e isso é o
que faz de nós humanos. Marco ainda não enxerga isso, mas sei que logo ele
irá enxergar as coisas de uma forma melhor.
Quando ele dá partida para sair do supermercado sorrio feliz da vida, ele me
olha, ergue uma sobrancelha ruiva perfeita e sorri balançando a cabeça. Ele
ainda não gosta de falar muito é algo dele ser mais na sua, já me habituei ao
seu silêncio e até mesmo o aprecio. Esse é um dos maiores charmes dele.
Marco não precisa falar muito para ser compreendido, mas há coisas que
gostaria que ele me contasse para que eu pudesse lhe ajudar. Como Dante
sempre diz, temos que ter calma e sinceramente não sou uma pessoa muito
calma, mas se quero o melhor para a construção da nossa família preciso ser
longânime[10].
— Quero falar com você sobre algo importante — falo quando ele faz uma
curva.
Sério, focado e minha nossa tão lindo com essa barba ruiva e esse cabelo
mais bem tratado do que o meu.
— Falarei em casa quando estivemos a sós.
Até hoje não sei quais são suas fantasias mais sujas, naquele dia ele só me
entregou o controle, no final acabou o pegando de volta e me dando
orgasmos múltiplos, os quais valeram super a pena. Até hoje não tocamos
mais no nome do Brendon, não é algo que eu ache que seja necessário, mas
esse homem me deixou curiosa para tentar desvendar quem é ele e o que ele
sabe sobre Marco. Sei que na hora certa Marco vai se sentar comigo e irá
conversar sobre tudo isso. Seria muita imprudência minha cobrá-lo agora, ele
está indo duas vezes na semana em uma psicóloga e aparentemente está
ocorrendo tudo bem. Quando fiquei doente passei por um no hospital e
sinceramente ele foi ótimo, estou até cogitando a ideia de também ir em um.
Vejo que tenho que lidar melhor com muitas coisas e sozinha tenho medo de
não conseguir, mas irei conversar antes com Marco e depois irei em busca de
um para mim.
— Agora estou ansiosa para comer — falo acariciando minha barriga já bem
grandinha.
Uma hora depois está tudo no seu devido lugar nos armários e James está
sentado no tapete cercado pelos pets assistindo Baby Looney Tunes, ele dá
cada gargalhada alta que faz com que meu coração se aqueça. É tão bom vê-
lo assim feliz da vida, James antes pisava torto e graças as botinhas que a
pediatra passou, ele melhorou quase cem por cento. Por recomendação dela,
ele ainda usa às vezes, mas não o tempo todo.
— Com tanto que a calda seja no sorvete e não no meu pau — fala me
fazendo rir. — Não vejo graça Melanie.
— Melanie, ouça bem o que irei te dizer — diz segurando meu rosto em suas
mãos, fazendo com que encare seus olhos. — Não sou um homem bom,
tenho mais escuridão do que você possa imaginar… Em minhas mãos há
sangue, nas minhas costas há marcas que provavelmente só de você pensar ou
imaginar não dormirá por noites.
Ele me corta.
— Assustar não, mas sim mostrar as opções que tem. Eu quero esse
casamento, mas Melanie você precisa saber quem sou de verdade.
— Estou com você… Não importa o que houve no seu passado, eu te amo.
— Você demonstra isso em cada loucura que faz, a cada instante do dia em
que fica ao meu lado ou quando me beija. Quando me toca você é uma das
maiores razões, mas sou tão fodido Melanie. Oh minha maluquinha, se você
soubesse o quanto sou quebrado você iria querer fugir de mim para o mais
longe possível, mas como um bom caçador eu lhe acharia até nas profundezas
do inferno — fala dando um sorriso triste. — Você é minha Melanie e o
casamento no civil e na igreja, ou onde você queira só será para afirmar o que
eu e você já sabemos.
— Seus olhos são tão azuis quanto o céu — digo tirando dele um sorriso e
uma negação logo em seguida.
A noite foi leve e recheada de pizza, tanto que comi até passar mal, eu
literalmente passei mal.
Que raiva!
— Eu não sei de onde você é, não sei ao menos o motivo pelo qual você
sempre tem pesadelos a noite — falo tentando alinhar meus pensamentos.
— Sou um estrangeiro aqui nessa Terra, assim como fui na Alemanha. Não
sou alemão como você costuma pensar. Pelo que em recordo nasci na
Inglaterra em uma cidade bem pequena e escondida e desde que me lembro
sempre tive que lutar para sobreviver — diz calmamente. — Meus pesadelos
são sempre sobre minha iniciação no “Ciclo”.
Porra!
— Você era tão novo… Como podem ter lhe obrigado a fazer isso com
alguém? — pergunta tentando evitar o soluço.
— OH, MEU DEUS… OH, MEU DEUS… MARCO VOCÊ… OH, MEU
DEUS! — grita entre lágrimas e soluços. — Você… Você… Meu Deus,
como a vida pode ser tão cruel?
Puxo-a para os meus braços, a apertando forte contra meu peito. Não sei o
que dizer para amenizar sua dor e seu choro faz com que sinta vontade de
chorar como nunca antes na minha vida senti. Seus soluços rasgam minha
alma e eu não sei o que fiz para merecer alguém que me ama tanto assim,
mas sinto que não sou digno. Ela se agarra a mim como se precisasse ter
certeza de que estou bem.
— Quando tinha cinco anos foi que entendi o que acontecia realmente…
— Como podem, como ousam ser tão cruéis? Você era apenas uma criança…
— fala passando as mãos no meu rosto. — Deus!
Apenas a puxo mais uma vez para meus braços tentando amparar sua dor que
ativa as que pensei nunca sentir antes. Sempre achei que elas doessem apenas
em mim, mas vejo hoje o quanto estava errado. A dor da Melanie é como um
punhal cravado em meu peito, e não sei mais o que fazer para diminuir a dor
que ela está sentindo. A dor dela desencadeia as minhas que estavam
escondidas bem lá no fundo, eu as escondi e as evitei, pois precisava
sobreviver. Eu tinha que sobreviver a tudo que passei e não poderia me dar ao
luxo de sentir e chorar. Eu nunca pude chorar, em Terra de lobos ou você se
torna um ou é devorado e eu me recusei a ser comido, então me tornei um
predador e predadores não podem ser fracos.
Eu lutei e lutei, mas minha maior luta sempre foi contra as minhas malditas
memórias. Cada vez que sangrei, que engoli todas as minhas merdas, que
senti inveja de alguém por ter algo que eu jamais poderia ter, que desejei a
morte por cada maldito segundo em que ignorei a escuridão que invadia
minha alma, cada maldito dia em que passei frio, cada maldito inverno que
sobrevivi só me mostrava que a morte não me queria. Tudo veio na cabeça
como um flash back de um filme amargamente ruim, então quando menos
percebo também estou chorando. Choro com ela em uma intensidade bem
menor, mas choro. Ela desencadeou cada maldita dor que guardei. Eu nunca
pensei que alguém choraria por mim…
Melanie é única!
Eu já matei, quase já fui morto diversas vezes, mas nenhuma dessas vezes me
doeram tanto quanto os soluços de Melanie.
Eu não deveria permitir que ela sentisse toda essa dor por mim!
Olho através das grandes janelas de vidro a paisagem lá fora, Boston é uma
linda cidade.
Quando digo que Dante Boltoni nasceu para ser psicólogo ninguém acredita.
— Eu não posso cair, Dante — falo bagunçando ainda mais meu cabelo. —
Se eu cair, com quase toda certeza não irei me levantar. Sei que o declínio
será demais para mim.
— Não tem como ter certeza, mas você consegue sobreviver em pedaços? —
pergunta ignorando o olhar mortal que lhe dou. — É preciso se quebrar para
se reconstruir, se permita realmente sentir. Desencadeie de vez esses malditos
sentimentos.
— Não posso — digo me escorando na minha mesa. Olho para ele e balanço
a cabeça. — Eu não consigo.
— Então não olhou direito — fala fazendo com que eu lhe dê um olhar
confuso. — Eu vejo cada maldita lágrima silenciosa que escorre do seu rosto,
eu vejo bondade em você, vejo carinho, vejo compaixão nos seus olhos
quando olha para alguém injustiçado e vejo sua alegria a cada vez que olha
para James e Melanie. Seus olhos transbordam amor sem ao menos perceber
isso. A forma como você defendeu Anny naquele tribunal foi causa ganha,
você diz que se formou em direito por que buscava rendição, mas não são os
tribunais ou a forma como defende um inocente que lhe dará a rendição que
tanto busca — fala chegando mais perto de mim. — Olhe para as pessoas a
sua volta Marco, olha para a família que estamos construindo. Porra, você
tocou piano no meu casamento! Meu amigo, você é como um irmão. Não me
olhe assim, tente se enxergar como eu lhe enxergo ou como cada pessoa que
você defendeu lhe vê. Todos cometemos erros, uns maiores e outros menores,
mas não vivemos se ficarmos mastigando o erro. É preciso engolir e esperar a
digestão. A vida é uma estrada de duas vias, cabe a nós escolher qual
caminho vamos seguir. Você já pegou o errado e agora está no certo, mas
Marco se permita ser o garotinho que ainda habita dentro de você. Esse
garotinho precisar sair para que você possa seguir em frente…
Meu Deus, quem diria que um dia estaria tão vulnerável assim!
Sinto como se houvesse vários cortes na minha pele, mas não há nada,
absolutamente nada e sinceramente seria menos doloroso do que a dor que
sinto nesse momento. O corte de uma katana[11] doeria menos do que a
realidade que habita em mim.
Quando cruzo a porta vejo a cena que aquece meu coração, Melanie está com
a barriga exposta, enquanto James faz carinho e dá altas gargalhadas. Os pets
que um dia irei me livrar estão sentados em volta dos dois, olhando a situação
e abanando o rabo para lá e para cá.
Porra!
Eu nunca na minha vida pensei que um chegaria em casa, não, antes deles
estarem na minha vida eu nunca sequer tive uma casa…
Olhando para James vejo o quanto ele se parece com esse garotinho, só que a
diferença é que meu filho James, jamais irá chorar de fome ou suplicar pela
morte, ele terá o melhor desse mundo e não porque sou rico, mas sim por que
ele terá todo o amor desse mundo.
Até eles.
Melanie me olha de forma estranha, ouso dizer que até estranha demais para
mim. É como se ela soubesse que há algo de errado comigo, mas duvido
muito que irá questionar isso agora.
— Não exatamente, eu gosto deles mexendo, assim tenho certeza de que eles
estão bem — fala colocando sua mão sobre a minha. — Mas uma hora irá
doer, eu sei que vai… James foi a prova viva disso.
— O que tem eu? — pergunta minha mini cópia.
— Você achava que a mamãe era uma bola de futebol e ficava chutando a
todo instante — fala apertando seu nariz cheio de sardas. — Você não parava
um segundo seu pequeno atacante.
Ele apenas riu e voltou sua atenção para o desenho animado que passava na
TV.
— Está tudo bem? — Melanie pergunta com cautela, eu poderia dizer que
está tudo péssimo, mas isso a faria chorar mais e me corta a alma vê-la
chorando por minha causa.
— Já viu que biquíni vai usar domingo? — pergunto acariciando sua barriga
e beijando seu pescoço.
Porra é melhor me controlar, meu filho com menos de dois anos está aqui!
— Sim, escolhi um hoje quando sai com James. Passei em uma lojinha e
comprei um biquíni básico — fala beijando minha boca.
— Eu sei, só queria mais uns beijos, nada de mais — fala aumentando ainda
mais o bico.
— Estou cansada e até mesmo já fiz uma torta de frango com arroz branco
para o jantar — fala passando a mão pelo meu peito. — Quero aproveitar
melhor a noite em casa se é que me entende — fala dando um sorriso
tentador.
Diante do espelho do banheiro encaro meu reflexo com precisão, é algo que
não venho fazendo há muito tempo. Não gosto do que enxergo com meus
próprios olhos, mas hoje mais de trinta anos depois consigo vê-lo. Consigo
enxergar o quão escuro estou e me sinto muito fodido por estar assim, mas
não é algo que eu possa realmente tirar de mim. Há certas coisas dentro de
nós que já faz parte da nossa essência.
Olhos azuis, cabelo ruivo e sardas, essa é minha aparência por fora. É isso
que veem cada vez que me olham, mas quando eu me vejo consigo enxergar
as feridas, os cortes e a máscara…
Oh, porra!
— Está nada bem, está tudo péssimo — fala entre soluços. — Eu achei que ia
ficar bom, segui ao pé da letra a receita, mas ficou ruim.
— Melanie olha para mim, por favor — peço tentando ser o mais calmo
possível. — Você precisa ficar calma por causa dos bebês.
— Apenas se mantenha calma, a torta está boa para mim e veja bem o James
comeu tudo e ainda repetiu — falo tentando não perder a cabeça com minha
ainda não esposa e nem noiva grávida.
— Se eu digo que está ruim é porque está, eu não gostei e pronto. Ficou
salgada e na próxima faço melhor, mas hoje saiu errado? — fala se virando
batendo o pé feito um mamute no chão. — E Marco, ainda não me esqueci da
porra daquele convite que recebeu.
— Se quiser voltar a participar pode ir, nem ligo mesmo — fala jogando o
cabelo para trás. — Agora se você sair pela porta da frente para ir vagabundar
eu saio também para ir embora, não sou obrigada a ficar com quem quer ter
uma vida de solteiro.
Ao chegar perto dele a viro para mim e com cuidado vou empurrando-a até a
parede e pressiono meu corpo contra o dela sentindo sua barriga me tocar.
Pego seu cabelo, embolo nas minhas mãos, puxo para trás dando um acesso
melhor a sua garganta e beijo com cuidado. Com minha outra mão levo por
debaixo do seu vestido, sentindo sua calcinha ficar úmida. Ela é sensível e
com a gravidez ficou mais ainda. Brinco com seus lábios e toco de leve sua
cavidade como se fosse introduzir um dedo. Sei que ela quer, mas agora não
terá.
— Marco…
Hoje ela terá a maldita calda de morango recheada com minha porra em sua
boca…
Não sei o que fazer, simplesmente não sei!
Giro igual barata tonta no nosso quarto sem saber ao certo se tiro a roupa, se
fico de joelhos no modo submissa ou se…
Eu quero tantas coisas ao mesmo tempo que nem ao menos sei o que fazer ou
desejar. Meu sexo grita por prazer, minha perseguida necessita de atenção e
eu preciso com uma urgência absurda do pau do Marco na minha boca…
Opto por ficar nua e com meu cabelo solto. Minha barriga está bem
grandinha e daqui a pouco só verei minha bichinha através do espelho.
Aí meu Deus, minha perseguidinha vai ficar parecendo um sapo inchado, mas
tudo bem é por um bom motivo e sei que bonita não vai estar.
— Será que Marco vai sentir tesão mesmo parecendo um sapo inchado?
— Tanto vou que até mesmo irei lamber, chupar, morder e meter bem
gostoso nela futura senhora Haylock.
Meu nome saiu de forma lenta em sua boca e posso até mesmo jurar que o vi
e lambendo os lábios ao pronunciar cada letra do meu nome. Ele é tão sexy,
tão gostoso e tão maravilhosamente meu.
Meu Deus, já até sinto o gosto da calda de morango misturado com seu gosto
natural e no final seu gozo como creme!
— Estou sim!
— Bom.
Marco anda até a cama, coloca a calda em cima dela e começa a se despir
devagar. Esse homem é meu pecado capital e me torno tão puta quando estou
com ele. Ele faz com que meu corpo arda de desejo. Adoro o fato dele
sempre me olhar nos olhos quando estamos no nosso momento íntimo, eu
sempre gozo primeiro, mas hoje…
— Você ama?
— Então está esperando o que para vir até ele? — pergunta massageando seu
pau.
Meus olhos seguem seus movimentos que vão para baixo e para cima.
Caminho rápido até ele e beijo sua boca rapidamente antes de cair de joelhos
diante dele. Minha boca necessita de ter seu pau…
— Chupa Mel…
Atendo seu pedido sem ao menos questionar sua vontade. Começo lambendo
a fenda e aos poucos vou aprofundando. Beijo sua cabeça suculenta e o tomo
todo para mim. Chupo com força como se dependesse disso. Paro e lambo
todo seu pau olhando para os seus olhos, que estão vidrados no meu. Sua
expressão de prazer faz com que minha vagina se contraia em busca de
atenção. Quando volto a colocar todo seu comprimento na boca, ele fecha e
abre os olhos rapidamente.
Eu não respondo, apenas continuo o meu trabalho, então do nada sinto algo
morno cair em meu rosto e logo em seguida o gosto do morango vem até
mim.
Minha nossa!
Ele joga uma boa quantidade no seu pau e eu vou chupando e chupando e seu
gemido rouco faz com que eu fique ainda mais úmida. Preciso do seu pau
dentro de mim, mas também preciso dele na minha boca com essa calda
deliciosa de morango.
— Só entrarei em você quando meu gozo estiver misturado com essa calda na
sua boca. Você vai engolir Melanie?
Marco em momento nenhum forçou seu pênis contra minha boca, ele me
deixou no controle. Deixou-me chupá-lo sem sua interferência.
Quando seus gemidos ficam mais alto sei que está perto de gozar e então
sinto o maravilhoso gosto agridoce de morango misturado ao seu gozo.
— Delicioso!
Ele aperta minha bunda com força e em um só instante estou com minhas
pernas em volta do seu quadril, meu peito nu contra o seu, puxando seu
cabelo enlouquecida.
Marco lambe e beija meus lábios, brinca com a língua em cima do meu
clitóris e introduz dois dedos dentro da minha vagina fazendo com que grite
de prazer. Sinto-me ficando ainda mais úmida e mais necessitada dele, então
gozo.
Cada estocada, cada vez que ele me beija, a forma como ele beija meu
pescoço, suas mãos passando pelo meu corpo, a forma como ele fala coisas
safadas no meu ouvido, só mostra que…
Não foi por causa de um pesadelo e sim por causa de uma mulher, a qual
ainda não possui meu sobrenome, mas já é minha.
Desço a escada sabendo que terei que preparar um café da manhã bem
saudável, Melanie está grávida de dois, mas não come devidamente coisas
saudáveis. Tenho que manter uma dieta balanceada para ela. O que é bem
difícil já que a mulher só quer comer doces, biscoitos, bolos e macarrão
instantâneo. Nada o que ela quer comer pode se considerar bom para sua
saúde, essa está sendo minha maior luta diária com ela.
Ouço James me chamando no alto da escada, ele não desce por causa do
cercado que fizemos, senão o menino já teria rolado a escada.
— Fome papai.
— Você é enorme!
Fico olhando meu pequeno comer e um alívio toma conta do meu coração.
Eu nessa idade era sozinho, solitário e não tinha absolutamente nada para
comer. Eu não era amado, mas graças a Deus James é!
Eu o amo tanto que se pudesse o protegeria do mundo, mas sei que não será
possível, ele terá que entrar nessa selva e lutar. Ajudárei-lo no que for
preciso, mas certas questões da vida serão apenas ele e ele e só caberá a mim
estar ao seu lado.
— Você vai ser um bom menino, né J.R? — pergunto e ele somente sorri.
Estou há uma hora tentando achar uma aliança decente para dar a Melanie,
mas a tarefa está se tornando impossível e apenas estou perdido. A joalheria
do shopping é bem grande e tem diversas alianças, mas nenhuma parece ser
boa o suficiente.
Para minha alegria não demonstrada, ele concordou em vir comigo escolher
as alianças. Ele por já ser casado e bem romântico é a pessoa ideal para isso
sem falar que é meu irmão mesmo não tendo meu sangue.
— Achei que seria fácil, mas nenhuma me agrada. Nem ao menos sei o que
fazer quando as comprar. A mulher simplesmente está decidindo tudo.
— Infeliz não, felizardo você quer dizer — diz saindo comigo da loja, mas
um tumulto chama nossa atenção.
— Policiais e pessoas curiosas, não é algo bom — Dante fala seguindo até o
centro de tudo. — Puta que pariu!
Não vamos deixar isso passar batido, Pedro não merece ser tratado assim,
ninguém merece[12].
Falar português é difícil demais!
Anny e Valentina estão me ensinando a falar português há um tempo, mas
agora que estou estudando a gramática me sinto analfabeta. A língua
brasileira é algo louco, confuso e extremante difícil. Você escreve de um jeito
e fala de outro, uma língua de louco, mas tão gostosa e tão linda.
Tão única!
Olho para Val e para Anny que estão dançando músicas brasileiras. Levanto-
me e vou dançar com elas. Ainda estou aprendendo e sei perfeitamente que
estou desconjuntada, mas nem ligo danço como louca.
— Pelo que Dante disse, está puto mais bem — fala Anny. — Os meninos
estão com ele essa manhã para conversar.
Até agora estou chocada com o que houve com o Pedro. Anny e Val também
estão, mas sabemos que não há muito que fazer, pois agora é com a lei.
— Vamos sair e curtir a noite longe dos rapazes, só nós meninas! — fala Val.
Algo inédito!
Mãe Santinha que está no céu, sua filha vai enlouquecer ou enlouquecer
Vegas.
Amém!
Olho para as meninas tentando compreender o que eu fiz para ser digna de
tudo isso, pois elas me tratam como irmã. Acho que agora sei como é ter
irmãs para discutir assuntos como casamento.
— Mel, qual é o seu sonho de casamento, por favor, nos conte até nos
mínimos detalhes — pede Anny.
— Claro! Amo essa cidade, Boston é minha casa. A igreja Trinity Church
Massachusetts é um sonho. Eu com toda certeza do mundo amaria me casar
lá.
— Então será essa, vou ver se consigo agendar um casamento para daqui três
semanas, Anny liga no buffet, ainda temos que achar alguém para fazer um
vestido de noiva em poucas semanas com ajustes para uma mulher grávida.
— Val fala rapidamente. — Precisamos de um padre ou sei lá o que para
fazer a cerimônia e um lugar aberto com campo para a festa.
— Acho que essa parte vai ser bem complicada Val. Não há sítios perto da
igreja, mas podemos fazer lá em casa. Há uma linda área verde na parte
detrás que podemos usar e fazer as decorações — fala Anny.
Mãe Santinha acho que realmente irei me casar com o homem que amo, com
o homem que diz não ter um coração, com o homem que vive nas trevas, mas
ao mesmo tempo habita na luz só que não percebeu isso ainda.
— Oi?
— Pode deixar de hoje não passa, ele saberá que terei seu sobrenome e que
jamais se livrará de mim.
— Acredite em mim quando digo que ele já sabe disso Melzinha — fala Val
e caímos na gargalhada.
Olho James dormindo em seu quarto e saio fechando a porta para não o
acordar. Marco me avisou que hoje chegará mais tarde e que não é para
esperá-lo acordada, mas desde o segundo em que ouvi sua voz senti que
havia algo de errado. Até mesmo cheguei a achar que era algo com o Pedro,
mas não era. Questiono-me sobre o que está acontecendo realmente com
Marco, depois das suas confissões sobre seu passado não tocamos mais no
assunto. Na verdade, eu não consigo mais tocar no assunto, pois é doloroso
demais.
Eu choro toda vez que esse assunto martela na minha cabeça, por isso sempre
expulso essas lembranças da nossa dolorosa conversa para longe, mas dias
como esse em que estou sozinha me pego lembrando e consequentemente
acabo chorando.
Às vezes questiono Deus sobre o motivo dele permitir que alguém passe por
tudo isso, mas então me lembro que não nos é dado um fardo que não
possamos suportar. Marco está suportando seus fardos de um modo que
talvez para todos seja errado, mas me pergunto qual é o jeito certo de seguir
algum caminho.
Sem saber com quem conversar sobre isso e já cansada de chorar ligo para
Dante.
Minutos depois vejo Dante Boltoni diante de mim com toda sua glória e
beleza, Mãe Santinha do céu, me perdoe, mas esse homem é um pecado de
tão lindo que é. Se eu não gostasse de um certo ruivo e se esse ser diante de
mim fosse solteiro eu me jogaria e sentaria bem gostoso nele, me perdoe Mãe
Santinha por ser tão impura assim.
Amém!
— Melanie?
— Oi Dante você veio — digo indo até ele o abraçando.
— Claro que vim — fala me apertando com delicadeza e esse ato faz com
que eu caia mais uma vez em lágrimas. — Chore o que precisar não tenho
pressa — diz com sua voz grave e rouca.
Sigo seu conselho e choro ainda mais, choro sem me controlar porque sinto
que preciso disso, preciso poder chorar sem pesar e sem medo. Chorei muito
na noite em que Marco me contou um pouco do seu passado que agora
assombra meus sonhos os transformando em pesadelo, mas tentei me
controlar quando senti suas lágrimas. Ele me consolava, mas era ele que eu
precisava de consolo. Esse simples ato dele colocar minha dor acima da sua,
só me mostrou o quanto ele, Marco Haylock, é gentil e apenas ele não
percebe sua gentileza.
— Acho que vou beber um copo d`água — falo com a voz embargada.
Ele me segue até a cozinha sem dizer nada. Bebo três copos d’água e me
sinto mais calma para poder falar alguma coisa.
— Sei.
— Sabe tudo?
— Sei mais do que possa imaginar, Melanie — fala com a voz calma. —
Pergunte-me o que quer saber e se eu puder lhe responderei.
— Você sabe que ele foi estuprado quando criança? — pergunto já quase
chorando de novo.
— Sim eu sei… E assim como você demorei um tempo para assimilar tudo
isso — diz olhando em meus olhos. — Há certas coisas que por mais que
queiramos entender, compreender ou até mesmo achar uma solução, não há
muito o que fazer sobre o ocorrido. O passado é um préstimo[14] e nos
ensina muitas coisas, mas também é como um peso nas nossas costas e cabe a
nós saber como usar isso a favor. A vida é recheada de fugazes momentos de
alegria e tristeza, às vezes um momento é pior que os outros e às vezes
queremos pegar a dor de quem amamos para nós, curar suas feridas e fazer
com que eles esqueçam tudo de ruim que viveram, mas nem sempre
podemos. O passado de Marco é algo doloroso para ele e para todos que o
amam, mas não há muito que possamos fazer sobre isso. Melanie, você quer
curar a dor de Marco, mas certas dores precisam ser sentidas e ele está
começando a senti-las agora, apenas seja forte por ele, não agora, mas no
momento certo você vai compreender o que digo. — Ele abre um breve
sorriso. — Não acho que tenha ajudado muito, não é?
— Deixou-me um pouco mais confusa, mas acho que essa é sua forma de
dizer que as coisas vão se ajeitar aos poucos, creio eu — falo sorrindo um
pouco. — Tenho medo de não suportar tudo isso Dante, sei que apenas
descobri um pouco do seu passado, mas esse pouco foi o suficiente para que
eu caísse de dor. Não sei se irei suportar saber mais sobre o seu passado.
Ninguém me disse que doeria tanto, mas dói tanto amá-lo.
— Desde quando o amor não dói? Sabe Melanie, Anny e eu nos conhecemos
desde criança e eu sempre fui apaixonado por ela. Desde criança eu queria
protegê-la do mundo, mas fui tolo demais e não percebi suas feridas. Eu a
amava e esse amor me cegou para certas questões, eu também era novo e
sabia pouco da vida. — Ele faz uma pausa. — Anny e eu ficamos dez anos
separados, não por escolha, mas sim devido a maldade do ser humano. Eu me
tornei um grande empresário nesses anos que ficamos longe, cresci,
amadureci, me tornei metade do homem que sou hoje, mas algo faltava na
minha vida. Constantemente era feliz, mas sempre faltava algo na minha vida
e por mais que eu soubesse o que era, estava ferido demais para pensar em
voltar com quem mais tinha me ferido. Então um dia ela me ligou pedindo
ajuda e eu voltei para ela — diz sorrindo. — Foi à melhor coisa que fiz então
me tornei esse homem que sou hoje.
— Você é uma das melhores pessoas que conheço Dante. Você é uma pessoa
com um coração enorme. Está sempre disposto a lutar por seus amigos e por
desconhecidos. Você é incrível!
— Eduardo é uma pessoa que foi brutalmente maltratado pela vida, ele
perdeu muita coisa e hoje tem medo de perder tudo de novo e por isso tende a
afastar quem o ama.
— Vocês duas possuem algo em comum, mas acho que sejam os namorados.
— Como assim?
— Ele está sentindo algumas coisas que ele só poderá descobrir as origens
sozinho.
— Família é para isso — diz e vai embora me deixando sozinha com meus
próprios pensamentos.
Meu coração está em um estado que acho que morrerei antes de completar
meus vinte e anos.
— Melanie?
Perfume feminino…
Roupa bagunçada…
Meu Deus!
— Melanie?
Ele me traiu!
Chegar em casa às duas da manhã após um dia corrido e difícil de
trabalho é algo extremamente prazeroso. Eu só queria chegar, ver meu filho e
depois de um banho me deitar ao lado da minha não esposa ainda e dormir
um pouco.
O dia foi complicado com muitos problemas para poucas soluções. Às vezes
sinto que não importa o quanto faça, nada vai ser bom o suficiente para
atender as pessoas que dependem de mim e do meu profissionalismo. Fiquei
duas horas em uma audiência em que juiz filho da puta deu a pena menor do
que o desgraçado que espancava a esposa merecia. Obviamente que irei
recorrer, mas o problema não é esse. Depois do veredicto a mulher
amedrontada acabou fugindo, o que fez com que a caçássemos por todo
lugar. No final, a encontrei tentando tirar a própria vida, foi uma luta e tanto
para tirá-la do beiral da cobertura do prédio. Ela lutou e por mais que eu
pudesse tê-la rendido rapidamente não o fiz com medo de machucar a
pequena mulher que já se encontrava bastante ferida. Bem, a levei para casa
onde enfrentei outra briga com ela que agora está em um hospital sendo
medicada e com um dos pulsos cortados. Nesse tempo meu celular
descarregou e eu me sobrecarreguei. Como havia dito, foi um dia bem
corrido e para piorar encontro Melanie me olhando com esse olhar acusador.
Ela me olha sem dizer nada e então se afasta de mim, indo até a cama e se
sentando na beirada. Seus olhos escuros me encaram com certo pesar, sinto
que ela está travando uma briga com si mesma. Sei que estou errado por não
ter entrando em contato antes, mas me pergunto como ela pode achar que eu
a trairia?
Não é como se eu demonstrasse todo o meu amor e carinho por ela. Eu não
vivo dizendo eu te amo com certa precisão, eu nem ao menos demonstro o
que sinto.
Merda de passado fodido, que só fode ainda mais nessa minha vida!
— Sim, ela está bem, mas ficará melhor depois de algumas consultas com
psicólogo. Ela era constantemente agredida pelo ex-marido que agora está
preso, inclusive ela até mesmo chegou a perder um filho durante uma das
sessões de espancamento, foi nesse momento que tomou coragem e pediu
ajuda.
— Algumas pessoas estão tão presas em algo que muitas vezes não consegue
se despedir daquilo que vive e não possui forças o suficiente para abandonar
aquilo que a faz mal. Ela vivia em um relacionamento abusivo, onde achava
certo o que ele fazia… Para ela tudo que acontecia era sua culpa.
Ela não diz mais nada sobre o assunto, apenas fica parada.
Quando sinto a água quente batendo na minha pele, solto um suspiro, meu
corpo está tenso e um banho de banheira com a hidromassagem cairia bem,
mas estou cansado e com pressa para dormir.
Quando saio do banheiro Melanie já está deitada embaixo das cobertas, não
digo nada apenas vou até o closet, pego uma cueca para vestir antes de apagar
as luzes e me juntar a ela. Puxo seu corpo para o meu dando alguns beijos no
seu pescoço. Se eu não tivesse tão cansado me atolaria nela do jeito que
estamos aqui, só levantaria suas penas, me encaixaria e meteria lentamente
apreciando sua boceta apertada e molhada exclusivamente minha, mas estou
cansado e Melanie já está dormindo.
Esse homem ainda não me disse seu nome, mas me prometeu água, comida e
uma vida melhor, é muito mais do que alguém me ofereceu até agora.
Não digo nada apenas o sigo para longe dali, longe de onde eu feri tantas
pessoas. Às vezes é preciso lutar para viver ou viver para lutar, ainda não sei
onde me encaixo…
Nas ruas as coisas estão ficando complicadas e eu perdi meu único amigo.
Ele morreu por mim, me dando sua carta de liberdade e sempre serei grato,
mas jamais me perdoarei pelo sacrifício que ele fez por mim.
Olho para o galpão e vejo várias pessoas da mesma faixa etária que eu, mas
não há nenhum ruivo o que é bem estranho. Pelo que entendi estou na
Alemanha e ficarei aqui por muito tempo. O clima aqui é frio eu me sinto
vivo no inverno e morto no verão. Talvez aqui eu seja o que sempre me
chamaram, talvez aqui eu seja um lixo como todos os outros.
Ou então morrer!
Eles falam alemão, o que para mim não é ruim já que aprendi a falar três
idiomas ainda quando pequeno para minha sobrevivência. Algumas pessoas
aprendem quando são crianças, mas eu, nunca fui uma criança.
Horas depois estou em uma jaula com várias pessoas me encarando. É um
vale-tudo, lutar até a morte.
Meu oponente tem o dobro do meu tamanho, mas já lutei com maiores.
Uma hora depois estou em pé e meu oponente no chão. Eu venci com duas
costelas quebradas, mas sobrevivi.
Durmo sozinho, nunca tive uma cama só minha ou colchão macio, mas
estranho tudo isso. Estou acostumado com o concreto e as noites frias, tudo
isso é muito, mas não sou tolo por não saber que isso custará caro.
Melanie?
— Marco?
Abro meus olhos dando de cara com uma Melanie com os olhos aflitos por
minha causa. Sento-me na cama passando as mãos pelo meu rosto, percebo
que chorei e meu corpo está suado.
— Estou bem — digo com a minha voz baixa e fraca. — Não chore — peço
puxando-a para meu peito nu, beijando sua testa.
— Você dizia que doía e não sabia o que fazer — fala chorando.
Eu poderia mentir para ela ou até mesmo dizer algo que vá acalmar seu
coração, mas sabe quando você está cansado de mentir para alguém ou até
mesmo para si mesmo?
Olho para o relógio e vejo que já são sete horas da manhã, dormi mais do que
imaginei. Não tenho o costume de acordar depois das seis da manhã, meu
máximo é seis e dois, nunca depois disso, mas aparentemente apaguei por
algumas horas. Essas lembranças distorcidas do meu passado estão me
assombrando de uma forma que sinceramente, estou perdendo a verdade que
habita dentro de mim, a verdade escondida por trás de toda essa camada de
escuridão. Talvez Dante esteja certo, canalizei dentro de mim toda essa dor e
a tranquei com vários cadeados, mas Melanie está sem perceber
desencadeando todos esses sentimentos que nunca pensei que possuísse.
Estou sendo atropelado por minhas próprias emoções e sentimento.
— Melanie, me perdoe por lhe fazer chorar… Por lhe ferir… Só me perdoe.
— Por favor, não me peça perdão se não sabe o que significa perdoar — fala
fazendo com que meu coração erre algumas batidas.
— Melanie?
O significado de perdoar?
Igreja?
— Meu vestido será de princesa e nossa festa será na casa de Anny e Dante,
no jardim deles — fala enquanto olha James brincar com os cachorros. —
Temos que achar um par para Pedro… Ver os doces, recheios de bolo… São
tantas coisas.
Um padre?
Desde de manhã, onde tivemos uma pequena conversa sobre perdão estamos
agindo como se nada estivesse acontecendo. Um pouco confuso para todos
nós, mas não sabemos exatamente o que dizer e eu particularmente não sei o
que dizer ou fazer.
— Sim, vou ver se agendo para amanhã. — Sua empolgação me deixa alegre.
— Tia Li?
— Oi meu filho, faz um tempo que não ouço sua voz — fala com sua voz
doce.
— Acho que não nos falamos com certa frequência — falo olhando para
Melanie que me olha com seus olhos arregalados.
Melanie arregala os olhos surpresa pela minha fala, mas ninguém está mais
surpresos do que eu.
Pergunto-me se estou preparado para olhar nos olhos da pessoa que mais feri.
Porra!
Eu tento a todo instante fingir que essas lembranças não existem, mas está
difícil me manter bem distante delas. A cada segundo elas estão mais visíveis
em minha fodida mente.
— Marco?
Ultimamente ela vem chamando meu nome com cautela e até mesmo com
medo. No fundo talvez eu até gostasse que ela sentisse medo de mim, mas
agora não. Agora quero que ela chame meu nome com carinho ou com
tesão…
— Tia Li foi o mais perto que tive de uma figura materna, seu filho me deu o
que tenho hoje… Não só no sentido material. Você irá entender melhor
quando lhe mostrar, mas para isso precisaremos fazer uma viagem para o
lugar onde nasci.
— Eu contratei alguém para encontrá-los para você. Eles são seus irmãos e
achei que poderia gostar deles na sua vida.
— Melanie, você sabia que o Josué poderia ter ficado com você e seu irmão
quando sua mãe veio a falecer?
Por alguma razão eu não sei como lhe dizer que seu irmão tinha sim, mas foi
covarde o suficiente para seguir com a própria vida e ligar um foda-se para
seus outros irmãos. Não cabe a mim contar isso para ela agora, é visível a
felicidade no seu rosto.
— Compreendo.
Uma opção que nunca foi cogitada, mas ela a enxergou no fim do túnel.
— Depois de encontrá-los, podemos ir até sua tia mãe e resolver seu passado.
— Sua voz emana uma alegria que corta meu coração.
O irmão da Melanie mais velho não é uma pessoa que eu vá gostar ou que eu
aprecie e seu outro irmão tomou caminhos difíceis na vida. Terei que se forte
por ela quando perceber que o que tanto fantasia sobre os seus irmãos não é
bem a realidade atual ou passada.
Toquei no assunto dos seus irmãos para tirar o foco de mim, mas acabei
dando um tiro no meu próprio pé. Esses irmãos dela farão com que ela sofra,
mas não quero criar várias teorias na minha cabeça sobre isso. Infelizmente
terei que pagar para ver, aliás, sinto que estou ficando louco igual à Melanie
que zarpa de um assunto para o outro em segundos.
A qualquer momento essa mulher vai me deixar louco e Deus me livre ficar
ainda mais louco do que estou.
— Você sabe que não sei nem ao menos o modelo da aliança e meus amigos
me casarei em poucas semanas.
— Compreendi tudo isso, mas o que não estou entendendo é o motivo de toda
essa conversa. Eu nunca me casei e muito menos entendo de aliança — fala
Pedro.
— Meu caro Pedro, esse assunto é de gente grande, então me faça o favor de
ficar quietinho aí — diz Carlos ganhando um soco no ombro. — Converse
com o joalheiro e com seu designer de joias e mande fazer a que achar
melhor.
— Eu já disse isso a ele, mas esses olhos azuis e cabelo ruivo não está
prestando atenção no que digo. — Continua Dante.
— Que orgulho, olha só Dante uma das crianças cresceram — fala Carlos
com a mão no peito. — Agora só resta um.
— Vocês me perguntam como é ser casado com três filhos eu lhes digo é
maravilhoso. Eu me vi assim… Eu sempre sonhei em ter tudo que tenho hoje,
foi fácil? Não, foi tão difícil que teve horas que pensei diversas vezes que não
iria aguentar ou suportar o peso da tribulação, mas acreditem quando se luta
por alguém você tira força de onde nem sequer imaginaria ter. Apenas vivam
cada dia como se fosse o último, mas antes recomendo que tenham calma e
vão dando uma passo de cada vez.
Respiro fundo entendendo perfeitamente o que ele quer dizer. Comecei dando
passos muito lento, mas agora está na hora de correr…
Eu preciso correr senão deixarei com que meu passado fodido destrua tudo
que construí com Melanie. Preciso desenterrar meu passado e fazer um
funeral de despedida para fazer com que ele se torne cinzas, nada além de
cinzas que poderei jogar no ar ou no mar.
Eu tenho que lutar para sobreviver por quem mais amo nessa minha vida
meus filhos e Melanie…
Meu Deus, estou tão chocada com isso e ao mesmo tempo tão feliz!
Está tendo tantas novidades na minha vida que estou até louca. Não acredito
até agora que Marco tem uma mãe ou quase uma…
Estou tão chocada e surpresa, que nem ao menos soube o que lhe dizer. Ouvi-
lo chamar alguém de mãe com tanta dificuldade só me fez pensar a quão
sortuda eu fui na vida. Eu não tive muito e perdi muita coisa, mas ao menos
eu não era sozinha. Eu tinha alguém…
Tinha minha mãe e meus irmãos por um tempo, é claro que depois fiquei
sozinha, mas tinha boas recordações para me fortalecer. Agora Marco, meu
Marco tinha e tem apenas dor para lembra do seu passado. Um passado que
nem ao menos conheço direito e o que sei que me dói profundamente na
alma.
Às vezes quando olho para James, imagino Marco na idade dele passando por
tudo isso de uma só vez. Por eles serem tão idênticos posso imaginar
perfeitamente Marco quando criança sofrendo.
Merda!
— Mamãe, James pode ser igual ao papai quando crescer? — pergunta James
me tirando dos meus pensamentos.
— Você pode ser o que quiser filho, contanto que seja uma pessoa boa —
falo sorrindo para ele.
— Você será!
Se Marco ao menos visse a forma como nós o enxergamos, não diria o que
diz de si mesmo a todo instante.
— Filho fica aqui que irei lá em cima e já volto. Só vou pegar aquele livro
para a gente ler — digo já subindo a escada.
Quando estou no terceiro degrau sinto uma forte dor no pé da barriga, paro e
dou um passo para trás, mas perco equilíbrio e caio.
— Mamãe?
Coloco minha cabeça para baixo e pela primeira vez questiono o fato de
nunca ter aprendido a fazer uma única prece a Deus. Não sou religioso e
muito menos sou uma pessoa que possui fé, mas agora acreditem estou tão
desesperado a ponto de rezar, orar e pedir a Deus que cuide da Melanie e dos
nossos filhos.
Mantenho meus olhos fechados, mas por alguma razão não consigo fazer
uma prece sequer e começo a rir de nervoso.
Sou tão fodido que nem ao menos sei pedir proteção a Deus pela minha
esposa e por meus filhos.
Por alguns instantes sinto que meus olhos se enchem d’água e abaixo ainda
mais minha cabeça.
— James está aqui papai, não chore, prometo que vou cuidar de você! — fala
de um jeito tão doce e inocente que por alguns segundos sinto que lágrimas
rolam pelo meu rosto. — James vai cuidar de todos! Sou forte papai!
— Papai, ora comigo pela mamãe e pelos meus irmãos — fala James fazendo
com que olhe para ele, enquanto seco minhas lágrimas
— Papai junta sua mão assim, fecha os olhos e eleve seus pensamentos a
Deus. Basta pedir com sinceridade e com seu coração entregue — diz
juntando as suas mãozinhas. — Fecha os olhos.
— Papai do céu, peço que cuide da mamãe e dos meus irmãozinhos. Não
deixe que nada aconteça com eles. Isso é tudo que te peço e agradeço.
Amém!
Quando ele finaliza sua prece me mantenho quieto sabendo que estamos
sendo observados e até mesmo já imagino por quem, mas ainda não me sinto
preparado para levantar minha cabeça e encará-los.
— Mamãe diz que não precisa falar muito, ela diz que Deus já conhece
nossos corações — fala James.
— Sim?
— Sou a doutora Smith, sou a obstetra que pegou o caso da sua esposa —
fala sorrindo.
— Estão ótimos! — fala sorrindo abertamente. — Sua esposa teve uma queda
de pressão o que é normal na gravidez. Sofreu uma queda, mas nada grave há
apenas um roxo na sua bunda. O que devemos nos preocupar é com o fato de
ser uma gravidez de superfetação. Os fetos possuem idades diferentes o que
significa formações diferentes. O menino ainda está bem menor do que a
menina. Seus batimentos cardíacos estão mais devagar que o normal, mas
fora isso estão bem. Manterei sua esposa aqui para monitoramento até
amanhã. Assim que ela for para o quarto uma enfermeira irá vir lhe buscar —
diz e vai embora da mesma forma que veio sem dar muitas explicações.
Sorrio para ele e me viro olhando para meus amigos que estão encostados na
parede.
— Isso já está virando uma reunião frequente. Sempre estamos nos reunindo
em hospitais… Até o cabeça de abóbora mirim está aqui. Dante, traz seus
machos e você Carlos traga os seus. Isso aqui está virando nosso ponto de
encontro fundamental — Pedro diz e recebe uma gargalhada do James.
— Meu cabelo não é de abóbora — fala meu filho rindo. — Sou ruivinho!
— Seu cabelo é de cor de abóbora sim e ainda tem esses olhos azuis. Sabia
que você é raro criança? — pergunta Pedro.
— Sim, pessoas com o cabelo ruivo natural não é algo muito comum no
mundo.
Olho para ele sem saber o que dizer. Eu nem ao menos sei de quem puxei
meu cabelo ruivo ou meus olhos azuis. Eu, na verdade, nada sei e também
não tenho curiosidade em saber. Não me importa saber de quem puxei meus
traços, o que me importa é que não me tornei como aqueles que me deram
esses traços. Não sou muito melhor, mas sou melhor do que eles.
— Seu pai e você são dessa linhagem única — fala Pedro na minha frente.
— É bem capaz que ele nasça ruivo, mas não é certo. Teremos que esperá-lo
nascer… E sua irmãzinha não quer que nasça ruiva?
— Papai só homens ruivos com olhos azuis… Menina não — responde com
um bico enorme.
— Papai, xixi.
— Vem com o tio Carlos J.R., bora para o banheiro. — Carlos vem até mim e
pega James que vai de boa vontade.
— Marcão, pode chorar. É sério meu amigo, não há problemas nas lágrimas.
Nem sempre é preciso que a aguinha salgada saia dos seus olhos. Às vezes
choramos pela alma — fala Pedro.
— Oh meu povo, eu não sou Dante não — diz fazendo uma expressão até
que engraçada.
— Nasça mais dez vezes que será eu — fala Dante. — Sei como é difícil ver
sua esposa e filhos assim, mas os bebês estão bem. Logo Melanie estará bem,
vamos ter fé.
Não sou um homem de fé, mas estou passando a ter um pouco mais de fé.
— Marco, quero chupar seu pau com sorvete de açaí em cima — fala
Melanie. — Sorvete de açaí não… Quero chantili e calda de milho. Mãe
Santinha do céu! Estou até com água na boca. Marco tira a roupa e vem aqui
para que eu possa chupar seu pau bem gostoso — fala frustrada. — Venha até
mim, pois não posso ir até você… Esses troços são um saco, não vejo o
motivo de terem que monitorar meus batimentos cardíacos.
Pensei que ela estaria amuada com o que aconteceu, mas essa mulher está
ativa e doida para me enlouquecer. Estou nesse exato momento com a porra
do meu pau duro feito rocha, doido para entrar na boceta apertada da Melanie
e ela estar falando sobre querer chupar meu pau não ajuda em nada.
— Não, você não fez, mas foi esse seu pênis gostoso que entrou dentro de
mim e fez esses bebês. E, aliás, ninguém mandou ter um pau tão gostoso.
— Marco meu querido, estou bem, plena e doida para trepar feito coelha no
cio. Eu preciso gozar e só você senhor Haylock pode fazer isso. Sejamos
compreensíveis… Preciso do seu PAU!
Puta merda!
Olho para a porta, caminho até a sua cama, paro na frente dela e seus olhos
brilham de excitação. Ela sabe que deixarei que ela chupe meu pau.
— Ele está com Carlos e a Val. Está em ótimas mãos — diz já com as mãos
sobre o botão da minha calça.
Na mesma hora ela pega o controle remoto da cama e a abaixa até que fique
reta como mandei. Olho para a porta, para o aparelho que monitora os
batimentos da Melanie, entre outras coisas.
— Presta atenção, seus batimentos não podem se alterar muito. Você terá que
se manter calma a tranquila. Fui claro senhorita Lewis? — pergunto passando
meu dedão pelo seu rosto até chegar aos seus lábios. — Já falei que amo essa
sua boquinha no meu pau? — pergunto e na mesma hora ela engole em seco.
— Adoro saber que seu corpo fica sensível com meu toque… Sei que sua
boceta está molhadinha para mim sem ao menos lhe tocar… Você é minha
ponte de luz… Odeio saber que outros homens já lhe tocaram — falo abrindo
sua boca. — Chupa meu dedo Melanie. — Na mesma hora ela faz como se
fosse a coisa mais deliciosa da sua vida. — Sabe como fiquei ao saber que
você e os bebês poderiam não estar bem? Sabia que quase enfartei por sua
causa? Você me pagará pelo susto de hoje Melanie, mas por agora pare de
chupar meu dedo para que comece a chupar meu pau.
Ela não diz nada, apenas fica com a boca aberta esperando meu pau.
Desço o zíper da minha calça e tiro meu pau duro igual pedra para fora. Olho
para Melanie e ela nem ao menos pisca, pois está concentrada no meu pênis.
Passo minha mão pelo meu comprimento e me masturbo sabendo que isso a
deixa ainda mais molhada para mim…
Inclino minha pelve para frente, fazendo com que meu pênis bata na sua cara,
com a minha mão o guio até sua boca suculenta e quando seu calor me recebe
gemo baixo de prazer.
Não me sentindo saciado começo a foder sua boca com leveza para não lhe
machucar e fecho meus olhos me permitindo sentir o prazer que é foder sua
boca.
Meu pau ainda está duro na boca da minha futura esposa que olha para a
enfermeira com a boca que imagino ser aberta. Do lado de fora ouço risos e
mais risos, além de uma voz masculina.
Com cuidado saio da boca da Melanie puto por não ter gozado e por ter que
passar por uma situação de puro constrangimento como essa.
Estou com raiva de mim mesmo por não ter pensado em trancar a porra da
porta.
Antes dela aparecer na minha vida havia caos, dor, tristeza e fúria, mas não
havia loucura. Eu não sei lidar com essa loucura e muito menos sei lidar com
essa minha nova fase, onde não me concentro no que estou fazendo e onde
estou. Eu nem ao menos percebi que alguém estava se aproximando, em
outros tempos nada disso teria acontecido, estaria completamente atento a
tudo que acontecia a minha volta, mas desde o dia em que ela chegou, melhor
dizendo desde o dia em que trouxe James e ela para minha vida só me perdi
do real e cai de cara no irreal. Confesso que estou perdido com todas essas
mudanças, mas afirmo que amo essa mudança em minha vida e olha que eu
amo muita pouca coisa.
Olho para Melanie que está me olhando e fazendo beicinho. Algo que para
mim é algo lindo. Na verdade, ela é linda e perfeitamente minha…
Somente minha!
— Não faça essa cara e muito menos me olhe assim, eu disse que aqui era um
hospital.
Inacreditável!
Isso com toda certeza do mundo é algo que eu nunca pensei que viveria em
toda a minha vida e bem aqui estou sentado de cabeça baixa ouvindo a
médica falar.
— Entendo que são casados e Melanie está com sua libido bem aguçada, mas
peço que entendam que ela precisa de descanso e que estamos em um
hospital. Senhor Haylock peço a compreensão do senhor. Aqui não é lugar de
pouca vergonha — fala olhando para mim.
— Doutora com licença — fala Melanie e já sei que vai sair merda da sua
boca. A doutora se vira para ela e ela completa. — Estou grávida e cheia de
desejos… A senhora já ficou grávida? — pergunta, mas nem ao menos deixa
a médica responder. — Estou grávida de uma superfetação e tudo culpa desse
ruivo gostoso. Pode não acreditar, mas acredite quando digo que se quero o
pau do meu marido eu terei e foda-se esse hospital. Estou de saco cheio
disso! Estou bem e louca para transar. Sexo é vida! Sexo é tudo! E eu amo
transar com aquele homem ruivo ali de olhos celestiais. A senhora que vai me
impedir? Porque se for irei me retirar daqui. Não preciso disso, não preciso
ficar aqui. Estou bem e meus filhos também. Agora me deixem em paz que
quero dormir… Essa sua cara de mulher mal comida está me dando nos
nervos — diz quase gritando com a médica que olha espantada.
— Peça desculpa a médica, ela apenas está fazendo o seu trabalho e você tem
que respeitar.
— Tenho que respeitar porra nenhuma! Aposto que vários enfermeiros ficam
dando rapidinhas por aí, assim como os médicos e eu não posso? — pergunta
com raiva.
— Melanie! — Aviso.
Fecho meus olhos compreendendo que ela está grávida e com os hormônios a
flor da pele.
— Não há o que dizer… Cada um entende o que bem quer e fala o que quer.
— Limito-me a dizer.
— Então é isso? Você diz nada sobre sua vida e o que me contou ainda me
faz chorar só de lembrar.
Eu não sei como e quando chegamos a esse assunto, mas sei que não é a hora
adequada para falar sobre ele. Ela quer conversar porque está com raiva e
acha que pode sair falando o que bem entende, só que não é bem assim.
— Acaba me ferindo por não contar, você nem ao menos me disse como se
sente por ter vivido tudo que viveu e ter passado tudo que passou — fala me
olhando. — Eu posso lhe ajudar.
— Eu não quero que se machuque com minhas feridas — digo inclinado meu
corpo, apoiando meus cotovelos nas minhas coxas, segurando minha cabeça
com minhas mãos. — Já basta que eu sangre.
A quantidade de vezes que ela diz, “eu te amo” faz com que eu me sinta a
pior pessoa do mundo. Eu mal consigo dizer essas palavras com frequência e
ela fala a cada instante, a cada hora a e cada minuto. Vejo que não são da
boca para fora e sim de coração.
— Vamos trabalhar nisso daqui para frente — falo com a voz baixa.
Louca!
Graças a Deus que sai do hospital e agora posso chupar o pau do meu
futuro marido em paz!
Médica chata!
Eu sei que ele é um ruivo maravilhoso e perfeito, com olhos azuis e sardas na
cara, mas ficar olhando para ele de cima a baixo, como se quisesse devorar
uma carne.
Para piorar por causa dela, Marco eu “brigamos”, quer dizer, não foi bem
uma briga, mas sim uma conversa que nunca tivemos e o que mais me
machucou foi o olhar triste e perdido que há agora nos seus olhos azuis
celestiais.
— Só para te lembrar, eles tem que nascer ruivos. O Pedrão aqui até profetiza
que eles irão nascer ruivos de olhos verdes… Azul demais dá muito trabalho
— fala e todos caem na gargalhada.
— Temos que conhecê-la — diz Val saltitando. — Mais uma para o clube de
Vegas!
— Deixa eu falar uma coisa Dona Valentina, deixa a Jadyzinha inocente, pelo
amor de Deus! A menina é da luz — diz Pedro exasperado e todos caímos na
gargalhada.
— Relaxa Pedrão com a gente é o mesmo de estar com anjos — fala Anny
sorrindo docemente.
— Eu? Em qual momento disse algo assim? Minha querida Valentina precisa
ir ao médico — fala Pedro tranquilamente e eles entram em uma discussão
que me mata de rir.
— Sim.
— Irei pegar um caminho mais longo. Quero que me chupe enquanto dirijo
— fala e na mesma hora sinto que estou começando a ficar úmida para ele.
— No porta-luvas há uma cobertura de limão — diz com certa sensualidade.
— Você irá chupar meu pau até eu gozar na sua boca Melanie e dessa vez
nem um tornado me impede de lhe comer no final — diz fazendo uma curva.
— Quero que sinta o gosto da minha porra, misturado com a maldita calda de
limão… Faça-me gozar meu amor — pede.
Olho para o seu volume mais do que visível e minha boca se enche de água.
Eu preciso sentir seu pau na minha boca.
— Desde ontem à noite — fala apertando sua ereção com certa força que me
deixa ainda mais molhada. — Depois que eu gozar nessa boquinha, irei parar
o carro e te devorar — diz com uma rouquidão na voz. — Agora comece!
— Afirmação. Desde que Melanie entrou na minha vida junto com nossos
filhos me sinto completo e realizado… Acho que realizado é a palavra certa
da história. Eu era uma cara na minha, não tinha tanto a perder e para ser
mais sincero não temia nada nem mesmo a morte — digo pensativo.
— Amigos não, eles são meus irmãos… São minha família — falo com
convicção.
— Se eles são tudo isso para você, nunca temeu perdê-los? — pergunta e
agora sim mato a charada.
O tempo todo ela estava no assunto e eu fiquei à deriva.
— Sim, desde o dia em que nos tornamos uma família sem perceber temo
perdê-los — confesso mais para mim do que para ela. — Eles se tornaram o
melhor de mim, mesmo sem perceber. Eu não tinha nada para dar a eles, mas
mesmo assim continuaram ao meu lado. Mesmo quando disse o que era e
tudo que passei e fiz, eles não me julgaram. Porra doutora, eles me abraçaram
e me ajudaram com cada ferida que havia. A senhora tem noção que eu não
tinha nada de valor, que não tinha valor nenhum, mas esses desgraçados
seguraram minha mão e me ajudaram a saber viver sem ter que só sobreviver.
Eu recebi tudo que eu mais odiava deles e até mesmo quando tentei jogá-los
para longe se mantiveram firmes ao meu lado. Todos os dias… Sabe até
mesmo já tive uma falsa ilusão de sentimentos com a esposa do Dante, mas
ao invés de me afastar ele me puxou para perto até que caí na real. O que
sentia era compaixão pela sua dor que era parecida com a minha — falo com
o peito apertado. Eu nunca compreendi esses sentimentos, mas agora os
entendo um pouco mais.
— O que você viu que tinha em comum com ela? — questiona a doutora me
olhando por cima dos seus óculos de grau pretos e quadrados.
— Sua escuridão, sua dor, seu passado fodido, as coisas que fizeram com
ela… Suas cicatrizes — falo baixo. — Ela me lembrou de mim mesmo, só
que ela estava frágil e destruída.
— Se caísse não me levantaria de novo. — Minha voz soa baixa, mas firme e
até mesmo sombria. — Doutora Jenny, de onde eu venho era viver ou morre.
Eu optei por sobreviver… Sobrevivia para lutar e de forma alguma me
permiti cair. Eu sabia o quão terrível era a queda.
— Não.
— Deixa eu lhe contar brevemente essa história — fala com sua voz suave.
— Os três imortais nasceram quase juntos, mas de mães diferentes. Cada um
cresceu com suas crenças e batalhas, mas após cada um assistir a morte lhes
abraçando perceberam que eram mais forte do que ela… Eles não morreram.
Um dia os três se alinharam um ao lado do outro e continuamente e por
séculos ficaram testando a morte, mas um dia, não um dia qualquer foi a
morte que os testou e disse, “Vocês estão vivos até agora, mas se enganam.
Todos tem sua hora, até mesmo vocês.”
— Eles foram morrendo aos poucos só que por dentro. Eles viram tudo e
todos que amavam morrer implorando a eles ajuda e querendo também a
eternidade. Todos têm sua hora e eles tiveram a deles, mas não quiseram.
Então a morte fez com ele eles sentissem cada dor e cada lágrima de quem
eles mais amavam. O que essa história reflete é que querendo ou não
sentimos sim cada dor. Apenas nos enganamos dizendo que não dói. Você
com toda certeza ou até mesmo não deve sentir algo dentro de você que ainda
o fere. Os três imortais só conseguiram a morte quando compreenderam que
também eram mortais. — Sua voz suave chegou até mim com um impacto e
tanto.
— Se eu me permiti sentir com toda certeza cairei de cara ao chão — falo
com a voz falha — Eu não posso cair doutora, eu só não posso.
Estou perdido!
Olho para o relógio mais uma vez antes de olhar para o menino diante de
mim que me encara tentando me assustar. Eu quero socar a cara de Dante por
me passar esse caso sabendo que odeio lidar com meninos rebeldes que
acham que estão sempre na razão. Samuel West, 18 anos já foi preso duas
vezes por pichar murros. Não usa droga, não fuma e nem bebe, apenas sai
desenhando nos murros alheios. O rapaz só gosta de desenhar, mas desenha
no lugar errado.
— Achei que você saberia como me ajudar — rebate. — Minha irmã diz que
vocês ajudam pessoas como nós.
— Pessoas como vocês?
— Minha coroa chora porque acha que estou perdido e estou aqui porque
prometi que seria um filho melhor. Eu trabalho, ou melhor, trabalhava em
uma loja de conveniência, mas aí os cana me prenderam por fazer minha arte
e tentar deixar meu bairro um lugar mais alegre e bonito para quem vive lá.
Ele não é uma pessoa ruim, apenas quer deixar o lugar onde vive melhor.
— Sim.
— Então vou construir no seu bairro uma oficina de arte e você será o
professor. Apenas para de pichar murros alheios sem autorização, okay?
— Não há de quê.
Quando ele vai embora me levanto para ir para casa, estou sem saco para
trabalhar hoje.
Melanie e eu atropelamos tudo e todos para ser mais exato. Não nos damos
títulos, mas já pertencemos um ao outro. Ela é possessiva e eu sou o extremo.
Eu nunca tive uma namorada e nem ao menos sei como se namora. Não me
recordo de alguma vez ter a levado ao cinema uma garota para dar alguns
amasso no escuro. Acho que precisamos de um momento assim entre nós
dois, Melanie merece ter um pouco de normalidade na sua vida. Acho que
hoje é o dia perfeito para ir ao cinema. É isso irei levá-la ao cinema.
Antes de chegar em casa ligo para a babá que ficou com James na última vez
que precisamos sair, aviso que talvez não voltemos hoje e que lhe pagarei o
triplo. A senhora aceitou na hora minha oferta um pouco generosa.
Assim que desço do carro ando apressado até o elevador discando no painel o
código da cobertura. Quando as portas metálicas se abrem ouço os gritos do
meu filho e da minha não esposa. A passos largos chego até a sala de estar
onde ambos estão dançando uma música infantil de algum desenho animado.
Uma cena que aquece meu coração com fervura. Ambos estão jogando os
braços para cima e mexendo o corpo conforme a música. Eles olham uns para
o outro e cantam juntos desafinadamente, mas ainda assim é uma das
melodias mais lindas que já ouvi. Meu filho pula feliz, vez ou outra passa sua
mãozinha na barriga da mãe que já está bem grandinha e me encosto na
parede para apreciar melhor o show do dia.
Eu nunca pensei que iria viver algo assim. Não gosto de barulho ou bagunça,
mas adoro o barulho e a bagunça desenfreada que eles fazem na minha vida.
Não me vejo mais um segundo sequer sem eles.
Eu os amo tanto, mais tanto que nem ao menos sei como pode caber tanto
amor em um só coração. Não sou de ficar falando o que sinto e muito menos
digo com frequência a frase “Eu te amo”, mas eu os amo mais do que tudo
nesse mundo. Hoje eu entendo o motivo pelo qual Dante nunca desiste. Ter
por quem lutar é motivo de sobrar para viver. Hoje eu vivo porque eles
existem em mim.
— Papai, vem dançar também — chama James fazendo sinal com a mão.
Nego com a cabeça e ele nem liga, continua sua dança doida com a mãe e sou
um mero telespectador que está adorando o show.
Quando eles se cansam e se jogam no sofá sigo até eles beijando o rosto
suado do James e beijando de leve a boca da minha não esposa, enquanto
faço carícias na sua barriga e ficamos os três quietos por um tempo.
— Filho, papai e mamãe irão sair hoje à noite e você vai ficar com a babá,
está bem?
Subo para dar banho no James, enquanto Melanie vai tomar banho em
silêncio. O que é estranho.
Entro no meu quarto e coloco-o na cama para que possa adiantar meu banho
senão perco a sessão do filme. Melanie sai do closet já usando um vestido
rodado verde-claro com um decote que deixa a mostra seus seios volumosos.
Porra!
Que pena que não poderei matar o primeiro que olhar para ela e nem o
segundo…
— Posso saber para onde vai me levar? — pergunta Melanie, enquanto visto
uma camisa polo branca e uma jaqueta preta por cima. — Para que toda essa
produção? Quer se exibir para quem, hein senhor Haylock?
— Essa produção é para algo casual e é para você futura senhora Haylock
que estou me arrumando assim — digo enquanto penteio meu cabelo e ajeito
minha barba.
— Acho bom que seja para mim. Agora preciso usar salto?
Saímos quase atrasados por causa da minha futura esposa que trocou de
sapatos umas dez vezes. Ela escolheu um filme romântico sobre sei lá o que,
e já chorou logo na primeira cena do filme. Puxo-a para o meu colo e assim
ficamos. Mais para frente em certa parte do filme ela começa a se remexer
inquieta no meu colo.
— Quero que você enfie seu pau dentro de mim — fala quase gemendo.
— Ninguém vai ver… Tiro minha calcinha e você enfia seu pau em mim, sei
ficar quieta. Já estou no seu colo mesmo.
Sua ideia louca me deixou cheio de tesão e meu pau está duro como sempre
fica para ela.
Já vou para o inferno mesmo, então não custa nada embarcar nessa loucura.
Olho bem para a moça diante de mim que me olha com esperança de que
eu goste do vestido que ela está me mostrando, mas Mãe Santinha do céu,
essa mulher não entendeu quando digo que quero um vestido estilo princesa
da Disney e de preferência igual ao da Cinderela. Respiro fundo e tento
controlar minha ansiedade maldita.
Maldito seja Marco Haylock e seu pênis gostoso para caralho que fica
extremamente gostoso com caldas de diversos sabores por cima!
Meu sonho!
Eu preciso desse homem essa noite com uma calda de pêssego em cima do
seu maravilhoso pau. Estou até com água na boca, quero tanto mais tanto
chupar seu pau agora com uma deliciosa calda por cima.
Olho para ela, pisco umas duas vezes e balanço minha cabeça para voltar para
a realidade.
— Temos sim, mas é um pouco complicado falar com ela — diz sorrindo de
leve.
— Dinheiro é o que não me falta. Chame-a aqui agora, por favor — peço
sorrindo.
— Mel, você é má! — fala Valentina sentada em uma poltrona, lendo uma
revista de moda. — Porém isso aí garota, gasta o dinheiro do Marco — fala
piscando os olhos.
Anny apenas ri e volta a olhar para o seu celular, aposto que está falando com
o tesudo do Dante Boltoni, eu não nego de forma alguma que esse homem é
lindo. Eu amo o Marco e adoro meu não marido ainda, mas Dante é um ser
que duvido que há uma mulher não o ache lindo.
— Anny minha linda, para de trocar mensagens sensuais com o seu marido
dos sonhos — falo chamando sua atenção. — Cadê a novinha do Pedro? —
pergunto sentindo falta da Jady.
Eu conheci a Jady no dia do spa e amei passar o dia com ela. Menina fofa,
linda e maravilhosa sem contar que é muito simpática e educada, mas não
sabe se valorizar e acha que não é digna do Pedrão.
Menina burra!
Se fosse ela já teria subido em cima do Pedro e sentado bem gostoso, mas
não sou ela e estou muito feliz e realizada me sentando no meu ruivo gostoso.
— Está na faculdade. — responde Anny. — Ela tem prova, depois vai não sei
onde e infelizmente não poderá vir, mas disse que para a prova das madrinhas
ela virá. — fala Anny. — Eu disse para ela não se preocupar com o valor que
o Pedro falou que paga tudo para ela, mas senti que ela ficou sem graça.
— No fundo ele sabe, mas prefere negar assim como o Marco — responde
Valentina me olhando. — O único aqui que assumiu rápido foi o meu latino e
o Dante, mas ninguém supera até agora o Dante. Sortuda é a Anny! — fala
Val cutucando Anny que só sabe sorrir.
— Ele é tudo que você merece Anny — diz Val para ela. — Dante é tudo que
você merece é muito mais, então, por favor, pare de dizer isso porque se ele
ouvir você dizendo algo assim ficará triste.
— Somos sortuda por sermos amadas e ainda mais sortudas por amar — digo
sorrindo para elas. — Houve um tempo que achei que morreria sozinha,
quando tive câncer ainda nova eu achei que perderia tudo e que ficaria
sozinha, mas Deus teve misericórdia de mim. — falo quase chorando ao me
lembrar desses tempos difíceis. — Eu tive câncer no estômago, foi um
tratamento caro e difícil que fez com que eu fizesse dívida com agiotas para
conseguir pagar meu tratamento. Eu vi meu cabelo cair, vi minhas unhas
quebrarem por nada… Eu me vi sozinha sem nenhum familiar em um
hospital, mas não morri eu venci o câncer. Foi uma batalha difícil que por
muito tempo desejei morrer porque seria mais fácil, mas eu sei que Deus me
fez vencer tudo isso. Eu só vi o real sentido da vida quando senti James
mexer dentro de mim… Quando o segurei em meus braços, soube o
significado do amor…. Ali eu soube e entendi o que minha mãe me disse
uma vez antes de morrer pela mesma doença que tive. Ela dizia, “Melanie,
não há amor maior do que o de uma mãe. Eu morro por vocês, mas jamais
permitirei que morram por mim. Vocês são os pedacinhos desse mundo que
tanto amo. Você e seus irmãos são o meu motivo de viver.” Agora eu entendo
perfeitamente — falo fungando e elas me olham com compaixão nos olhos.
— Não foi fácil, passei cada perrengue com o James que misericórdia, mas
jamais pensei em me separar dele. Eu dormia com medo, pois onde morava,
acordava assustada com o que ouvia logo pela manhã na casa dos meus
vizinhos.
Por fim nos afastamos rindo uma da outra e enxugando as lágrimas. Olho
para elas e sorrio abertamente.
— Com toda certeza vocês são minhas irmãs. — Rimos e nos abraços mais
uma vez.
Eu a amo de uma forma que jamais pensei que amaria amigas um dia. Ao ser
puxada para o mundo do Marco pensei que ficaria sozinha, mas fui
surpreendida ao ganhar uma família tão incrível.
— Olá sou Rosalie, a estilista — fala uma mulher loira alta. — Como posso
ajudar a noiva da vez? — pergunta já me conquistando pelo seu penteado.
— Sou eu, consegue me fazer um vestido estilo Cinderela para daqui duas
semanas? — pergunto na lata para não perder muito tempo.
— Acho que consigo… Diga-me como deseja cada detalhe que te mostro o
que posso fazer — diz conquistando meu coração.
— Você pode antes preparar meu coração para falar uma coisa dessas? —
pergunto colocando a mão no peito.
Dois!
É loucura demais ter dois pequenos seres dentro de você. Tem horas que não
sei o que dizer. Eles são um casal e me pergunto a cada instante como
nascerão, se irão parecer comigo ou com o Marco, se terão sardas ou cabelos
ruivos, mas desejo tanto que um deles se pareça comigo ao menos…
Puta merda, sinto que isso será extremamente difícil. Os genes desse ruivo
gostoso é forte demais e o James ama ser ruivo e vive falando que o
irmãozinho tem que nascer ruivo também.
— Preciso ir semana que vem para Inglaterra ver a tia Li e gostaria que você
e James fossem comigo. Não posso mais adiar isso… — fala suspirando
pesadamente.
Eu sei que ele evita o máximo possível falar sobre isso e é bem visível que
não quer ir visitar essa tal tia, mas não é algo que ele possa fugir por muito
tempo. Vejo o quão doloroso é para ele, meu ruivo gostoso é um sobrevivente
e tanto. O simples fato dele estar aqui comigo e com James já é mais do que
uma grande conquista. Marco é uma pessoa que possui um mistério
envolvente e excitante. Ele não é perfeito, mas me pergunto quem é. Ele não
sabe demonstrar carinho na maioria das vezes, ele não fala manso e é
péssimo em demonstrar que ama, mas em cada mínimo detalhe que ele
mostra é como se fosse um oceano inteiro caindo sobre mim. Ele não é só
bom na cama, ele é bom em várias outras coisas. Ele se julga muito, se
condena muito, se culpa muito, se fere muito ao se torturar por um passado
que deveria ficar no passado. Ele deveria ser ver da forma como eu o vejo.
Ele é incrível!
— Irei com você com toda certeza — falo sorrindo para ele que me olha sério
como sempre. — Nunca fui à Inglaterra e fico feliz em saber que é um inglês
e não um alemão ou russo, mas confesso que jurava que você era russo. —
digo e vejo-o dar um breve sorriso de lado. — James e eu amaremos
conhecer essa sua tia.
— Ela irá ter amar. Como estão os pequenos? — pergunta acariciando minha
barriga.
— Você não gosta dos meus irmãos, né? — pergunto com medo da resposta.
— Não tenho nada contra eles, são seus irmãos. — fala cortando assunto.
— Então por qual motivo está tão sério ao falar deles? — questiono.
— Melanie, eu sou sério sobre quase tudo — diz calmo. — Há coisas sobre
eles que não gostei, mas quem sou eu para julgar alguém? — pergunta me
olhando nos olhos.
— Amor, eu só achei estranho a forma como fala deles. — falo beijando seus
lábios de leve.
— Melanie, um dos seus irmãos possui problemas com substâncias ilícitas —
fala me pegando de surpresa. — Apenas tome cuidado com isso, quando
estiverem aqui. Ofereça ajuda, mas não ofereça de forma alguma, dinheiro.
Se houver qualquer dívida eu pago, mas nada além disso.
— Bom — diz me puxando para si. — Como foi com as meninas hoje?
— Primeiramente, graças a Deus você é rico — falo e ouço sua risada curta.
— Tive que contratar uma estilista, mas você tem dinheiro para isso — digo e
ele beija meu pescoço, enquanto me encosto no seu peito. — Chorei com as
meninas ao falar sobre o câncer. Sei que estou bem, mas as vezes tenho medo
de ter mais uma vez essa maldita doença. — digo sentindo meu peito ficar
apertado.
— Sabemos que está tudo bem com você — fala me abraçando por trás. —
Estou aqui, Melanie.
Quero chorar ao ouvir sua voz rouca tão delicada no meu ouvido.
— Eu te amo — fala colocando minha mão sobre seu peito. — Ele sempre
bateu sem razão… Sem motivo… Sem sentido… Sem vida. Desde o dia em
que você e o James entraram na minha vida, ele encontrou um motivo para
bater. Ele bate por vocês… Vocês são o motivo pelo qual dou o melhor de
mim. Não sou perfeito, mas nunca se esqueça que mesmo com toda essa
minha imperfeição, com todo esse passado fodido eu te amo, eu amo vocês
mais do que tudo e todos. Você e nossos filhos são a luz da minha fodida
vida. Se um dia tudo ficar escuro e eu perder o controle, por favor, me lembre
o motivo pelo qual eu ainda vivo e se caso te ferir me perdoe… Apenas não
me deixe e fique ao meu lado. Se precisar fugir corra apenas para ter
proteção, mas quando eu for até você me aceite de volta. Prometa-me que não
vai me deixar? — pergunta com a voz sufocada. — Prometa-me que se por
acaso eu cair, você me ajudará a me levantar? — pergunta e sinto gotas
quentes em meu ombro.
Ele beija meu cabelo, não diz nada e muito menos eu. Marco enfim está se
permitindo sentir e isso é assustador para ele.
Ele diz que precisa tomar um banho e ao subir leva James que estava
dormindo no outro sofá. Ele sobe com o pequenino no colo e a forma como
ele olha para James é lindo de se ver. Ele precisa desse tempo sozinho, então
darei a ele esse pequeno tempo.
Pego meu telefone e ligo para Dante que atende no primeiro toque.
— Apenas segure a mão dele e o abrace. Não precisa dizer nada, apenas o
abrace mais do que o normal.
— Farei isso.
— Não!
— Marco, volta para o nosso quarto e deixa eu te abraçar a noite toda. — falo
pegando suas mãos. — Eu te amo na alegria, na tristeza, nos momentos de
loucura e a qualquer hora.
— Teimosa.
— Te amo. — Ele pega minha mão e me puxa para o nosso quarto fechando
a porta atrás de si. Se deita na cama e me abraça com força.
Marco precisa que eu cuide dele, mas tem medo de que suas feridas me
machuque. Eu o amo mais do que tudo.
Durante a noite ele começou a chorar e a pedir que parem. Esses sussurros
dolorosos despertaram em mim uma fúria que se eu pudesse acabaria com
cada um que o feriu e vê-lo ferido me fere.
Acabo sorrindo ao me lembrar que só hoje ele disse que me ama duas vezes.
É isso!
Aperto a mão do Marco fortemente, enquanto olho para o portão de
desembarque em busca de um dos meus irmãos. É hoje que os verei
novamente depois de tantos anos…
Quando mais novos, éramos bastante unidos e espero ansiosamente que ainda
sejamos.
Olho para o meu não ainda marido e sorrio triste ao perceber que ele está
mal-humorado e não sei se é por meus irmãos ou pela falta de sono. Ele não
está dormindo direito e nem é por causa do sexo em excesso. Acreditem, não
é por causa disso. Por mais que estejamos pior do que coelhos no cio,
transando por horas seguidas e tendo múltiplos orgasmos, o que não reclamo
e ainda peço por mais e mais. Ele não descansa, não dorme e muito mal está
comendo. Ele está em casa o que é bom, mas sinto que está se trancando
dentro de si. Nem o James está conseguindo arrancar dele uma gargalhada
sincera.
Para meu alívio, ele ontem foi ao psicólogo, mas fora isso ele está na dele e
não fala muito. Não sei ao certo o que fazer além de abraçá-lo apertadamente
e mantê-lo junto a mim.
Um lar!
— Eles estão vindo com um dos seguranças, então com toda certeza chegarão
até nós dois — fala me olhando.
— Não está fazendo isso para poder me trair, não né? — pergunto com uma
pulga atrás da orelha.
— Não preciso fazer vasectomia para te trair — fala e arregalo meus olhos
para ele. — Não me olhe assim, nunca te trai e nem penso. Se não confia em
mim temos um grande problema aqui, Melanie — diz suspirando. — Eu não
suporto traição e você para de pensar ou falar algo desse tipo sobre mim. —
Sua voz é séria e cortante, mas também percebo que há dor nela.
— Não brinque sobre isso Melanie, por favor, não gosto desse tipo de
brincadeira — diz me olhando nos olhos. — Não brinque sobre meus
sentimentos por você.
— Apenas não insinue que desconfia de mim. Não lhe dou motivos para isso.
— fala beijando minha testa. — Joshua chegou. — Avisa me soltando dos
seus braços.
Viro-me com calma, vejo meu irmão e me surpreendo com o que vejo.
Ele está muito bem vestido, não que isso seja um problema e ao seu lado está
uma mulher que com toda certeza desse mundo não é uma pessoa simples.
Ambos olham para o lado com certa arrogância, Marco aperta minha mão e
sorri para mim de leve.
Abro um sorriso contido para eles e aceno, mas meu irmão apenas abre um
mero sorriso torto.
Eu esperava abraços, beijos e lágrimas, mas não esperava por isso. Sua frieza
é notória, assim como o desinteresse e meu peito dói com isso.
— Faz alguns anos desde que nossa mãe morreu e fomos separados, mas não
acho que tenha se dado conta disso — digo sem pensar. — Minha nossa,
ainda bem que sobrevivemos e que mantivemos nossa promessa. Fico feliz
em lhe rever irmão — digo puta da vida e nem ligo para o que vão pensar.
— Não venha me pedir para ficar calma! — digo nervosa. — Ele não me vê
há anos e vem me dizendo isso… Como se eu fosse uma desconhecida. Ele é
um bastardo filho da puta arrogante de merda. — Esbravejo e aponto o dedo
para o meu irmão. — Você sabia que quase morri de câncer, a mesma doença
da mamãe, eu tinha dezoito anos, estava preste a completar dezenove — falo
e vejo sua testa ficar enrugada.
Que idiota!
Que miserável!
Que infeliz!
Aí que raiva!
— Eu sonhei por tanto mais por tanto tempo. Sonhei tanto com esse
momento, onde nós três poderíamos ficar juntos de novo, mas olha só basta
olhar para você para ver que se quisesse poderia ter vindo até mim, mas não
veio. Porque não quis e está tudo bem. Foda-se esse caralho de família —
digo jogando o dane-se para tudo. — Eu sobrevivi ao orfanato, à rua, ao
medo, à doença e tudo isso sozinha e com fé. Eu sou forte para caralho e
não… Eu não precisei de você. Não precisei de você irmão, você prometeu a
mamãe que me protegeria, mas olha só eu me cuidei sozinha e agora eu tenho
esse cara aqui para cuidar de mim — falo apontando para o Marco que está
calado observado tudo. — Eu tenho um filho e estou grávida de mais dois. O
pau dele faz essas coisas, sabe? É um pau bom para caramba melhor que
picolé de uva — falo e vejo os olhos da minha cunhada se arregalar.
— Puta que pariu, olá família! — fala Josué chegando perto de nós.
Todos o seguimos para fora do aeroporto, onde há dois carros nos esperando.
Um é para Marco e eu e outro para eles.
Não digo nada, apenas entro com a ajuda do Marco no banco traseiro e
aguardo-o se juntar a mim.
Para minha alegria e surpresa Marco nos levou para um hotel e não para
nossa casa. Fiquei mais aliviada e extremamente grata por ele ter se recusado
a trazer James junto. Meu filho não merece esses tios.
Graças a Deus Dante, Pedro e Carlos são ótimos tios e melhores não tem.
Minha cunhada, que não sei o nome, está sentada em um canto, enquanto
meus irmãos ficam encarando um ao outro e Marco está encostando em uma
parede olhando para cada um de nós. Pergunto-me quando ele deve dizer
algo, mas tenho quase certeza de que ele não vá dizer muita coisa.
— Ok — falo atraindo a atenção deles. — Olha só, é obvio que não estão
aqui por mim, mas tudo bem. Digam o que os trouxeram aqui e resolvemos
tudo — falo sendo sensata.
— Sua mãe deixou uma herança para vocês — fala Marco chamando minha
atenção para si. — Eles repartiram entre si e foram cada um para o seu lado.
Um investiu no estudo e se deu bem, podemos assim dizer, e o outro gastou
mais do que devia. Enfim eu os trouxe aqui na intenção de que eles
quisessem voltar a possuir um laço com você, mas vejo que não é algo
possível — fala Marco e suspira. — Agora a escolha é de vocês. Diante de
vocês está a irmã mais nova que vocês deveriam ter protegido… Vocês
possuem a chance de recomeçar agora com ela e antes de tudo aviso a vocês
que ela é louca de pedra, mas possui um dos maiores corações que conheci
em todo esse mundo. A escolha é de vocês se ficam ou se vão embora. Se
ficarem terão uma irmã incrível, agora se forem embora perderão uma irmã
incrível. Em ambas as decisões não terão nada a ver comigo — fala olhando
para eles.
— Não tenho motivos para ficar. Obrigado por pagar minhas dívidas e querer
me colocar em uma clínica de reabilitação, mas estou bem como estou — diz
Josué. — Melanie, fico feliz que está bem e feliz, mas estou bem sem vocês
na minha vida. — fala e engulo em seco.
Dói ouvir isso.
— Eu também não vou ficar. Acho que não tenho nada a fazer aqui. Desejo-
lhe toda a felicidade desse mundo… Na verdade, desejo a vocês dois — diz
Joshua.
Eu sabia que os irmãos dela não prestavam e que vieram até aqui atrás de
dinheiro ou de uma vida melhor, mas não facilitei e por isso eles foram
embora. Se fosse uma escolha minha eles jamais estariam aqui, mas por
Melanie os trouxe mesmo sabendo que eles poderiam feri-la. Foi uma decisão
difícil, mas precisa e por mais que eu esteja destruído por dentro, ainda sim
cuidarei dela.
Melanie queria rever os irmãos e lhe dei essa chance, eu sabia que eles não
iriam ficar, mas ainda assim deixei que eles se decidissem. Olho para a minha
garota que está parada olhando para a porta fechada e para minha surpresa ela
começa a rir do nada. Se eu não soubesse que ela é louca, estranharia essa sua
atitude.
— Adorei a ideia de ter uma casa estilo medieval. Será bem a sua cara e amo
piscina — diz sorrindo para mim.
James e Melanie adoraram a casa de dois andares. Ela amou saber que já há
uma piscina a sua espera. Fechei o contrato e coloquei a casa no nome dela.
Convocarei nossos engenheiros para vir aqui junto com a Valentina para
fazer as mudanças que Melanie quer. A única coisa que irei decorar será o
meu escritório. Isso eu com toda certeza não mudo, pois gosto de tons
escuros.
— Puta da vida com eles, mas estou bem — diz me abraçando. — Estou bem
de verdade, sabe? Eu tenho vocês e deles manterei uma lembrança amável da
minha infância.
Como um viciado em heroína minhas mãos tremem, meu corpo sua, minha
voz falha e minha garganta está seca.
Eu estou caindo…
Quando minha pelve se choca contra sua bunda durinha, sinto uma enorme
vontade de mordê-la e assim faço.
Ela está suada assim como eu e nossos corpos então na mesma sintonia que
tanto amo.
Sorrio de lado e faço o que a minha mulher mesmo não sendo casados ainda
manda.
— Você gosta, né? — pergunto puxando-a para que fique grudada a mim.
Estamos de joelhos na cama, enquanto meto forte dentro dela. — Você quer
que eu coma essa bocetinha apertada e a encha mais uma vez com a minha
porra? — Mordo a pontinha da sua orelha. — Você gosta de acordar de
madrugada para te comer, sua safada. — Toco seus clitóris aumentando o
ritmo das estocadas. — Minha safada… Minha mulher…. Só minha! Diga
que ama meu pau dentro dessa gulosa boceta. — Ordeno apertando meu
polegar em seu clitóris.
Subo minha outra mão e aperto o bico do seu peito colocando mais pressão,
enquanto diminuo o ritmo das estocadas.
— Marco! — Geme puxando meu cabelo. — Não para… Oh, meu Deus!
— Sim, eu amo ter seu pau grande dentro da minha boceta… Agora pelo
amor de Deus, me faça gozar.
Continuo entrando e saindo dela até que gozo beijando seu ombro. Respiro
fundo antes de puxar sua cabeça para trás para que eu possa beijar seus lábios
carnudos. O beijo que era para ser simples se torna algo a mais e devoro seus
lábios com uma necessidade esmagadora de ter mais dela. Chupo sua língua e
mordo seu lábio inferior. Ainda estou dentro dela e gosto de estar aqui. A
forma como ela me recebe e me aperta me mostra que ela é meu lar.
— Diz que no banho poderei chupar seu pau — pede enquanto mordo seu
queixo. — Marco, eu amo seu pau e adoro chupá-lo — diz o que já sei, mas
não dou resposta ao seu pedido.
— Marco?
Viro-a e a empurro para que ela se deite de costa na cama.
Beijo mais uma vez seus lábios e vou descendo o beijo para o seu peito, onde
caio de boca e sem pudor vou alternando entre um e outro. Melanie geme
meu nome com força e pressa. Era assim que eu a queria, apenas gemendo o
meu nome. Quando me canso dos seus seios, vou descendo o beijo pela sua
barriga grande e redonda com carinho. Paro onde vejo minha porra
escorrendo da sua pequena e rosada boceta.
Minha boceta!
Pego dois dedos e dou certa pressão no seu clitóris recebendo um gemido em
resposta. Repito o ato mais três vezes antes de começar a brincar com seus
lábios. Mordo de leve a banda direita antes de chupar a esquerda, enfio um
dedo dentro dela e depois mais um. Tiro e coloco, enquanto brinco em seu
clitóris com minha língua.
Cansado de brincar faço o que realmente vim fazer aqui embaixo. Abro a
boca e começo a chupar minha mulher. Ela se contorce na minha boca e
geme ainda mais meu nome fazendo com que meu pau fique ainda mais duro.
O gosto da Melanie misturando com minha porra é uma mistura gostosa que
estou adorando devorar, só paro quando ela goza na minha boca e sugo cada
gota que ela tem a me oferecer. Levanto-me lambendo os lábios tentando
aproveitar cada maldita gota que restou.
— Você me acordou querendo ser comida — falo para ela que está tentando
controlar sua respiração. — Eu te comi com vontade, te chupei com desejo,
mas agora irei te amar com paixão.
Ela só me olha quando entro mais uma vez dentro dela, dessa vez com calma
e leveza. Devido sua barriga não posso pôr muito meu peso sobre ela, mas
isso não me impede de beijar sua boca com carinho quando lentamente nos
amamos.
Ela e eu ultimamente temos usado o sexo como válvula de escape para o que
está ocorrendo em nossas vidas. Estou me vendo caindo aos poucos e ela está
perdida com isso…
Ela está com medo e não a julgo por isso, porque eu também estou, mas é
algo inevitável. A queda é necessária para haver um recomeço.
— Eu amo estar dentro de você — falo quando entro e saio dela devagar, sem
pressa. — Adoro ver seu rosto vermelho e sua respiração agitada e amo ainda
mais saber que sou eu que causo isso em você. — Passo a costa da minha
mão pela sua bochecha avermelhada. — Eu gosto de lhe causar prazer…
Aceito toda minha escuridão por te amar — falo e vejo lágrimas saindo dos
seus olhos.
Sempre que ela diz isso me sinto aquecido, assim como sempre que James
diz que sou seu herói me sinto agraciado.
— Sempre!
E além dele.
Quem diria que um dia estaria aqui de volta?
Quem diria que um dia eu, o menino pobre estaria aqui de volta?
Só quem diria?
— Oi?
— Não, vamos voltar para o carro para que possamos ir logo para casa da tia
Li — digo apertando James em meu colo que dorme tranquilamente.
Ela foi à única figura materna que tive e eu a destruí quando fiz com que seu
filho fosse morto por minha causa. Por mais que ela diga que a culpa não é
minha, sempre me sentirei culpado por fazer com que ele morresse em meu
lugar. Ele me tratou como um irmão, um amigo e até mesmo chegou a ser
meu pai, mas ainda assim morreu sorrindo em meus braços. Era para eu ter
sido atingido e não ele. Por mais que eu não me perdoe pela sua morte ao
mesmo tempo o agradeço porque se não fosse por ele eu não teria a família
que tenho hoje.
Eu sou sortudo para caralho por ter tudo que tenho hoje e não falo da porra da
riqueza, mas sim daqueles que estão ao meu lado. A vida foi cruel até certo
ponto, mas depois veio me recheando de benevolência. Eu não sou digno de
nada disso, mas ainda sim recebi. Como diz Dante Boltoni, só me resta
agradecer.
Eu sou grato…
— Ela vai te amar — digo apertando sua mão. — Ela irá adorar vocês.
— Acho que isso é bom e eu nem trouxe uma torta de maçã para ela — fala
me fazendo rir.
— Estamos no lugar, onde papai viveu anos atrás? — falo beijando seu
rostinho cheio de sardas.
— Não tanto assim, meu filho — digo passando a mão pela sua cabeleira
ruiva idêntica a minha. — Papai viveu aqui só por poucos anos.
Ele não diz nada, apenas fica brincando com seu bendito urso panda.
Foram poucos anos que definiram minha vida por muitos anos…
Foi aqui que eu nasci e foi aqui que me vi morrer pela primeira vez…
Essas ruas asfaltadas, esses rios limpos e essa população mais bem cuidada
não representam o que minha memória se recorda a cada maldito pesadelo.
Se eu fechar meus olhos, poderei facilmente me ver correndo descalço pela
rua cheia de lama e poças d’água causadas pela chuva ou pelo esgoto que não
tem para onde ir. Para muitos uma cena nojenta, mas na minha cabeça anos
atrás era o gosto da liberdade.
Eu havia conseguido fugir das grades e das correntes e estava feliz por poder
correr livremente. O que eu não sabia era que logo mais correria para outra
cela, só que ela seria na maioria do tempo concentrada dentro da minha
própria mente.
Quando o motorista para o carro diante de uma casa simples de dois andar da
tia Li, respiro fundo.
É agora ou nunca!
— Estou contigo — Melanie diz e aperta minha mão com certa força.
Saio do carro e seguro James com uma mão, para que a outra estenda a
Melanie.
O motorista pega nossas bagagens e nos segue pelo caminho do jardim que
leva até a porta. Eu tentei dar uma casa melhor e mais segura, mas a velha
teimosa não quis. Ela disse que essa cara era mais do que seu sonho e a tinta
azul escura nas paredes com contornos brancos, me diz que ela realmente
realizou seu sonho. Ela sempre dizia que um dia teria uma casa assim,
simples e aconchegante. Antes que eu possa bater na porta, ela é aberta e tia
Li surge com um vestido longo amarelo sorrindo. As rugas no seu rosto me
dizem o quanto o tempo passou e seu cabelo meio grisalho lhe dá algum
charme, mas o sorriso acolhedor e carinhoso ainda está ali, assim como seus
olhos que me transmitem carinho e amor dilaceram minha fodida alma.
— Meu filho!
Ela vem até mim e me abraça mesmo estando com James no colo.
Quando envolvo meu braço em sua cintura, me recordo que quando menino
fazia a mesma coisa, meu peito se aperta e sinto vontade de chorar.
— James quer respirar — meu garoto fala fazendo com que tia Li se afaste e
olhe para ele atentamente.
Seus olhos se enchem de lágrimas e ela passa as mãos trêmulas pelo seu
rosto.
Essas palavras apertam ainda mais meu peito. Algo dentro de mim está se
rompendo e não sei por quanto tempo irei aguentar.
— Esse é James, meu filho mais velho e essa é minha esposa, Melanie e esses
em sua barriga são nossos filhos mais novos — digo e recebo um olhar
recheado de amor. — James, Melanie essa é a mulher que me chama de filho
mesmo não sendo digno disso.
— O que é ser digno hoje em dia? — pergunta tia Li. — Você merece todo o
amor desse mundo, minha criança.
— Eu sempre digo isso, mas esse ruivo safado não ouve — Melanie fala e
logo tapa a boca com a mão.
Esse nome…
O meu nome.
— Então te chamarei de Mel. Pode colocar as malas no segundo andar, no
primeiro quarto à direita. — fala ao motorista que sobe a escada.
O tempo passa e tia Li interage com Melanie e James. Melanie fala sobre
nosso casamento e sobre nossa futura casa estilo medieval. Ouço-as
conversarem e raramente me coloco no assunto.
— Você ainda tem essa terrível mania de achar que não merece nada. Você é
tão tolo minha criança, inteligente para tantas coisas, mas tão burro para
outras — fala me pegando de surpresa. — Você não entende que é digno de
tudo que tem e merece?
— Ele morreu por minha causa, os dois na verdade — digo e então uma
lágrima escorre dos meus olhos. — Eu não merecia o que eles fizeram por
mim, eu não mereço nada disso… Eu não deveria nem estar vivo — falo
olhando para ela. — Eu vi todos eles morrerem por mim, um por um. Pessoas
que me protegeram até mesmo de mim mesmo. Eles não mereciam morrer e
ainda assim morreram por mim. — Ponho a mão no meu peito. — Eu estou
tão perdido… Tão sem chão que não sei onde pisar… Eles são tudo para
mim. A vida me deu uma luz e eu estou me agarrando a ela com tudo que
tenho, mas confesso para a senhora que está difícil não ser consumido pela
escuridão… Eu só não quero ferir mais ninguém.
— Então por que ainda se fere tanto, minha criança? — pergunta segurando
meu rosto com as duas mãos. — Você está se destruindo por qual motivo?
Diga-me por que se tortura tanto assim?
— July morreu, ela viu a morte como uma liberdade e seu filho morreu por
mim.
— Eu perdi dois filhos, mas ainda tenho você… Nunca mais se desmereça
meu menino. — Ela me abraça. — Você precisa se libertar.
Sempre dói…
Não consigo me acostumar com essa dor, mesmo que ela esteja na minha
vida há anos.
Como uma rachadura na parede, ela está ali há anos, mas você não se
importa porque se acostumou a tê-la ali. Sou como uma rachadura, não, sou
um verdadeiro caco.
Sou um caos!
Caio de joelhos diante dessa lembrança, coloco a mão no meu peito e deixo
vir tudo que deixei guardado dentro de mim.
Aqui é frio.
Não!
Sou um animal?
Por que eles têm uma mãe e uma cama macia e eu não?
Eu sinto o frio…
Estou livre!
— Sou Li — fala a moça me abraçando. — A partir de agora sou sua mãe —
fala me abraçando e me dando um beijo no rosto.
— Ei, ruivinho, eu sou seu irmão mais velho, prometo que te protegerei de
tudo e todos — fala bagunçando meu cabelo.
Eu não choro…
— Você merece mais, ruivo — fala July. — Você merece mais do que esse
mundo em que vivemos te oferece — fala antes de cuspir sangue. — Voe, voe
como uma águia no céu. Eu irei voar só que para longe desse insensato
mundo.
Meu Deus!
Aí, ele me machucaram tanto mais tanto que só por milagre divino ainda
estou em pé…
Com muito esforço, fico em pé e sigo até o caminho que há muito tempo
faço.
Queria poder mudar certas coisas, mas como não posso mudar aceitei viver
com as minhas escolhas.
Paro diante do meu maior arrependimento, do meu maior erro, mas diante da
minha mais pura e grata salvação.
— Eu não trouxe flores, na verdade eu odeio flores e você sabe muito bem
disso, elas murcham e perdem a cor, então não vejo graça em trazê-las aqui já
que logo perderão seu charme. Também não vim chorar o leite derramado,
porque, aliás, já chorei muito. Vim apenas ver como se encontra. Faz anos
que faço esse mesmo caminho, mas hoje será o último. — Suspiro buscando
forças para continuar. — Sabíamos que uma hora teríamos que dizer adeus e
hoje é o dia. Talvez eu não sobreviva ao amanhã, mas estou cansado de
mentir, de fingir e de ter que sorrir para todos. Cansei de me manter em pé
quando tudo que quero é cair em queda livre. A vida é um porre do inferno!
Talvez eu vá me sentar no colo do Capeta, mas para o bem ou para o mal, eu
desisto e confesso todos os meus pecados. Eu me cansei, me cansei de lutar
essa batalha infinita entre e verdade e a mentira. Cansei de tentar me
convencer o tempo todo de que estou falando a verdade… Apenas cansei. —
Ajoelho-me pegando um pouco de terra em minhas mãos, fico em pé e a jogo
no tumulo a minha frente.
As lembranças…
As malditas recordações são como brasa quente ferindo minha alma e mil
chicotadas doeriam menos.
Agora entendo e aceito que não tive culpa de nada, mas que porra, eu era só
uma criança, apenas um menino inocente se é que algum dia fui inocente
nessa vida. Eu não tive culpa de nada e isso é o que mais me fere…
Saber que fui dado para escuridão sem ao menos antes saber o que era ou o
que é a luz. Muitos possuem o direito de lutar contra luz ou contra as trevas,
mas eu simplesmente fui dado de mão beijado para o lado obscuro da vida.
Sinto minhas mãos tremerem, assim como minhas pernas. Eu não conseguirei
nesse momento voltar para Melanie e meus filhos. A gravidade me puxa e me
permito cair mais uma vez…
A queda é livre!
Olho a minha volta e percebo que estou em algum lugar bom, algum lugar
mágico. Percebo que há um lindo rio e árvores para todos os lados, as flores
são vivas que até mesmo me dá vontade de chorar a olhar para elas. O céu é
azul e o sol brilha com certa perfeição, parece até com o Paraíso, mas pessoas
como eu ruins jamais viriam para o Paraíso. Olho a minha volta e cada giro
que dou o lugar só se mostra mais perfeito ainda. É impossível que eu tenha
morrido e ter vindo para o céu…
Só é impossível!
Ando entre as árvores em busca de algo ou de alguém, até que ouço vozes
distantes. Corro até elas o mais rápido que posso, mas paro chocado com o
que vejo.
É inacreditável!
Isso só pode ser o céu, mas o que fiz para merecer estar aqui?
— Olha só quem enfim está aqui conosco — fala July sorrindo para mim. —
Já aprendeu a voar, ruivinho?
Levanto-me com dificuldades do chão e caminho até eles com certo pesar,
mas com alegria em saber que está tudo melhor do que ontem. Eu não sei que
lugar é esse, mas se for o Paraíso irei agradecer a quem for por me achar
digno dele, mas irei pedir para voltar ao inferno que é a terra por lá estar as
pessoas que amo.
— Aqui são os seus sonhos — fala July. — Esse lugar é o que chamamos de
ponto de partida, estamos a um passo do céu — explica. — Mas, ainda não é
sua hora. Você tem que voltar e ficar com os seus na Terra. A vida continua
para você, mas para nós dois aqui já acabou. Voe Marco Haylock, só voe…
Quando viro minha cabeça para o lado vejo Melanie me segurando com os
olhos cheios de lágrimas, ela está chorando por minha causa e isso é mais do
que óbvio.
Eu não mereço suas lágrimas…
— Você acordou meu amor — fala chorando e me abraça. — Estava tão, mas
tão preocupada.
Apenas a aperto forte, mantendo-a em meu peito e inspiro seu cheiro que
tanto amo. Olho em minha volta e percebo que estou em um hospital. Não sei
como vim parar aqui, mas posso dizer que não foi de uma forma gratificante
para minha futura esposa.
— Não sei se sabe, mas estou grávida de dois filhos seus e para piorar sua
situação tem mais um que já anda e fala e chamou o tempo todo pelo pai que
adormeceu devido ao estresse causado por uma grande carga de emoção.
Você saiu no meio da noite sem me dizer nada e quando acordei não sabia
onde estava. Sua tia Li tinha ideia, mas não era certeza. Você acredita que
passei horas e mais horas chorando por sua causa até receber uma ligação de
uma criança dizendo que havia te encontrado? Eu fiquei chocada e muito
feliz, o menino de rua está nesse exato momento fazendo exames, mas Marco
você está me ouvindo? — pergunta enfim fazendo uma pausa.
— Ele disse que te encontrou caído, viu seu telefone e apertou um número na
tela que deu direto para mim. Ele não fala muito, apenas aceitou comida e
com muito custo os exames médicos. A tia Li disse que vai cuidar dele.
— Ele nem disse ainda o seu nome. Ele é lindo! — Seus olhos brilham ao
falar da criança desconhecida. — Onde você foi?
— Cair… Eu fui cair e ainda estou lidando com a queda — falo e ela me
abraça mais uma vez. — Veio em minha memória diversas lembranças da
minha infância, adolescência… Lembranças que eu fingia que não existia,
momentos que fingi que não eram nada. Eu os liberei e como um garotinho
eu chorei e chorei. E, então, eu fui me despedir de um velho amigo que me
causava tantos pesadelos. Ao que parece ele e eu não temos o mesmo nome
— digo e ela me olha meia que confusa.
— Não, vocês nunca tiveram — tia Li fala entrando no quarto. — Eu te disse
algumas vezes que você não havia roubado o nome dele e mesmo que fosse
não seria um roubo já que ele te deu — diz se aproximando. — Seus nomes
são parecidos, mas não os mesmos. Você era um nômade, um estrangeiro que
não tinha nome e muito menos idade, então ele te deu um… Ele te deu o seu
nome, mas não pode te explicar a situação.
— Você sofreu muito meu filho e talvez ainda tenha que lidar com certas
coisas dentro de você, mas não tenha dúvidas de que te amo. Ele era meu
filho biológico, mas você mesmo não tendo meu sangue é meu e ninguém
pode dizer o contrário nem mesmo você, Marco.
Eu gostaria de poder fugir desse momento tão perturbador para mim, suas
palavras carinhosas ao mesmo tempo em que me trazem conforto causam
desconforto por não saber ao certo o que lhe dizer.
Tia Li foi embora uma hora depois levando James com ela a pedido meu, não
queria meu filho naquele ambiente hospitalar que tanto odeio. Eu já estava de
alta, mas o menino que me “resgatou” não, para ser bem sincero eu ainda
nem havia o visto, mas nutria uma curiosidade fora do comum por ele.
Melanie ao meu lado segurava firme minha mão com medo de que eu fosse
embora e a cada momento eu poderia lhe dizer que jamais sairei do seu lado,
mas ela irá jogar na minha cara o simples fato de que já a deixei uma vez. E,
por mais que não seja verdade, quer dizer, foi algo planejado para proteger
nosso filho e ela. Eu não tinha a intenção de deixá-la, mas naquela época foi
preciso e hoje de forma alguma faria tal coisa sem conversar com ela
primeira primeiro e dizer o que está de errado. Alguém me disse que um
relacionamento só existe se for a dois e essa pessoa está completamente certa.
Melanie para diante da porta, onde o menino está e me olha com expectativa.
— Por favor, seja simpático e não o assuste — pede com os olhos brilhando.
É sério!
— Pode deixar — falo e entro no quarto sem bater e para minha surpresa
Melanie fica, mas não questiono sua decisão.
Crianças são seres de luz, eu não fui uma, mas esse menino diante de mim é.
— Meu nome é Peter, senhor. Não tenho pai e nem mãe — fala ainda
sorrindo, mas desta vez com os olhos tristes.
— Não senhor, eu nunca fui, mas morro de vontade de ir… Nunca vi menino
de rua virar doutor — fala tristonho.
— Quem?
— Não, é uma cidade onde venta bastante e o clima é bem agradável — falo
e Melanie enfim entra no quarto.
— Dessa cidade nunca ouvi falar não, vocês são de lá? — pergunta olhando
para nós dois.
Olho para minha futura esposa que sorri abertamente para mim. Ela sabe o
que estou planejando, pela sua cara me dá total apoio e isso é tudo que
preciso.
Sabia que ao vir para Inglaterra viveria muitas coisas e teria que saber lidar
com outras. Eu imaginava que estar na minha Terra Natal despertaria o
menino enterrado dentro de mim e por mais que agora esteja aqui em pé
ainda me sinto no chão, mas por agora está tudo bem. Minha alma está ferida
e nenhuma ferida desse tamanho e proporção se fecha assim tão rápido. Estou
enterrando meu passado e dando um passo a caminho do meu pequeno céu
particular. Ainda não possuo asas para voar, mas por agora está tudo bem. Só
estou desencadeando o que trancafiei por muito tempo dentro de mim.
Ao que parece durante o tempo em que fiquei apagado, sonhei com algo e
não me lembro direito o que foi. Só sei que deixou uma sensação de paz
dentro de mim. Olho para esse menino diante de mim, compreendendo esses
novos sentimentos que ele desperta nesse meu ferido coração.
Ele fará parte da família.
Acho que tive um pequeno vislumbrar do céu e pelo que vi desejo um dia
habitar lá. Minha redenção começou quando Melanie e James entraram em
minha vida, mas agora vai muito além de uma mera redenção.
Essa é a verdade…
Só sei e entendo que Peter será nosso filho, mas que para isso ele precisa
resolver algumas burocracias, a quais, só sei assinar meu nome. Mais uma
vez sorrio ao ver a mini cópia Haylock brincar com Peter.
Marco não é um príncipe e muito menos um sapo. Ele não é uma pessoa
graciosa ou muito gentil, ele é curto e grosso. Por falar em grosso seu pau é o
meu sonho todinho de princesa puta safada. Só de pensar em seu bendito
monumento entre as pernas fico até molhada.
Voltando ao Marco não ser nada encantado, a não ser seu pau mágico que faz
mais feitiço do que a varinha mágica do Harry Potter. Nem mesmo Merlin
com toda sua glória e poder conseguiria fazer tanto estrago em mim como
esse homem ruivo, que tem olhos como o céu celestial, mas quando está com
tesão.
— Se você o morder como se fosse uma maçã, ficará um bom tempo sem
brincar com ele, senhora Haylock — fala me pagando de surpresa, mas não
pelo fato de ter falado que ficarei sem minha principal fonte de diversão, mas
pelo que me chamou.
— Não poderíamos adotar o Peter sem sermos casados, então nos casamos no
civil com duas testemunhas. Eu possuo dupla nacionalidade o que ajudou, e
claro, o dinheiro abriu grandes barreiras. Peter agora se chama: Peter Marco
Lewis Haylock, como você falou. Eu não vejo o porquê dele ter meu nome,
mas tudo bem.
— Amanhã ele vai embora conosco. Ele terá uma casa e três irmãos mais
novos. Estou fazendo uma loucura, mas essa é a mais bela e linda de todas. É
claro que me casar com você na igreja e sair desfilando pelas ruas históricas
de Boston em uma carruagem é sem sombra de dúvidas a maior de todas, mas
não me arrependerei nem por um segundo dessas terríveis loucuras — fala
enxugando minhas lágrimas.
Ele é lindo com essas sardas e essa barba ruiva que acho sexy para caralho.
Ele não é perfeito, mas é meu e eu o amo do jeitinho que é…
Imperfeito.
Abraço-o ainda mais apertado e em silêncio o agradeço por tudo. Ele não
sabe ou finge não saber, mas faz mais por mim do que eu mereça.
— Vamos! — respiro fundo e me viro para os dois pares de olhinhos que nos
olhavam atentamente.
Caminhamos até a beira da cama e deixo que Marco fale senão irei chorar o
tempo todo…
Já estou chorando…
Inferno!
— Eu gosto de ter uma família — responde meu mais novo filho. — Eles
parecem felizes. — Seus olhos brilham olhando para o circo que está diante
de nós.
Eu sorrio para eles, feliz pela recepção vergonhosa. Nas placas está escrito:
“Sejam bem-vindos de volta.” e “Peter seja mais do que bem-vindo.” entre
outras que realmente demonstram o quanto eles se importam com a gente. Eu
perdi meus irmãos de sangue, mas ganhei esses que nem ao menos sei como
descrever.
Valentina, Carlos e seus filhos estão vestidos de azul com a camisa escrita
“Peter te adoramos!”
Dante, Anny e os trigêmeos estão com uma camisa verde-clara que diz: “Seja
bem-vindo a família, Peter”
Pedro e Jady estão com uma camisa amarela que diz: “Somos loucos, mas te
amamos. Sejam bem-vindos.”
Eles estão chamando atenção, mas eu duvido muito que se importem com
isso.
Quando as crianças dão um passo para frente, Marco põem James no chão,
solta a mão do Peter e então a mágica acontece. Eles correm um até o outro
se abraçando. Peter sorri e se apresenta sorridente.
Fujonas do inferno!
— Humm, bom saber disso senhora Haylock — fala e beija meu pescoço.
— Dá para vocês pararem de putaria aqui, por favor, há crianças por perto —
diz Pedro mostrando sua gengiva.
— Aí Melzinha só você mesmo para pôr uma coleira no pescoço desse ruivo
raivoso — diz sorrindo e me abraça. — Eu te disse que ele era mais do que
revelava e que um dia você veria. — sussurra no meu ouvido e choro. —
Obrigado Melanie por nunca te desistido dele. Você lutou pelo nosso irmão,
tem minha eterna gratidão. — Ele se afasta, beija minha testa e me dá um
sorriso gentil e amplo. Um sorriso sincero.
Não sei o que dizer por isso me mantenho quieta até ver as meninas vindo até
mim com sorrisos bobos.
— Ele parece ser tão doce — diz Anny me abraçando com carinho. — Seja
bem-vinda de volta, ele é lindo! — Seu beijo suave no meu rosto me agrada.
— Olha só menina Jady, entre nós só há minha barriga de grávida, então, por
favor venha me dar um abraço gostoso — falo e ela anda até mim a passos
rápidos.
— Seja bem-vinda de volta, meus parabéns pelo casamento e pelo filho lindo.
— Ela beija meu rosto e timidamente acaricia minha barriga.
Peter não parava de falar da filha do Carlos, Danielle e Marco apenas ria,
aliás, são apenas crianças.
Chegamos todos ao mesmo tempo, mas no elevador não cabia todo mundo e
outro chororô surgiu.
— Ei, bebês, quando vocês chegarem nesse mundo terão uma família bem
louca, mas quase perfeita. Vocês serão amados, muito amados. Terão dois
irmãos mais velhos e um pai que saber atirar, então boa sorte para todos nós
— digo para eles e sinto um chute onde minha mão está. Eles estão aqui, bem
e vivos.
— O céu possui vários tons assim como o mar, pode ser coincidência ou não.
O céu é azul, mas tem horas que fica assim alaranjado. Horas azul-escuro e
horas um azul tão claro que dizemos lá no Rio de Janeiro, “O dia hoje está
bom para uma praia”. O oceano tem vários tons de azul o que o torna tão
magnífico e tão atraente aos olhos de quem o deseja. A vida possui esses
diversos tons. Uma hora mais claro e outra mais escura, mas ambas consigo
enxergar a beleza.
— Nem sempre compreendemos tudo, Melanie, mas nem tudo precisa ser
compreendido. Nem todo soldado que vai para guerra sabe ao certo o porquê,
mas mesmo assim vai lutar pelo que acredita ser certo. Porém como lutar por
algo sem saber?
— Por amor e por fé. Foi por essa razão que você venceu essa batalha que ao
menos sabia que era obrigado a enfrentar, Melanie. — Ele dá um beijo na
minha testa e volta para dentro.
Eles dizem que sou uma heroína, mas não sou nada disso.
Marco está se tornando o herói da própria história, só não sabe disso ainda…
— Isso aí, você tendo se casado ou não terá sua despedida de solteira estilo
garotas loucas em Vegas! — fala Anny animada. — É isso menina, esse é o
nosso mais novo segredo.
Olho para elas sorrindo diabolicamente, agora farei com que Marco Haylock
enlouqueça de vez.
Observo meus filhos rirem do desenho animado que passa na televisão,
não faço mínima ideia do que seja, mas sei que eles gostaram muito e que
estão aprendendo a cantar todas as músicas do desenho. Desenhos musicais
pelo que entendi são educacionais e dessa vez coloquei para gravar, até
mesmo já escolhi após duas horas de pesquisa outros dois desenhos, os quais,
já baixei episódios para eles verem.
Ninguém me disse que se casar seria tão trabalhoso. Sem contar que ainda
tem os gêmeos não gêmeos a caminho, mas dois quartos para preparar ou só
um por enquanto. Então é isso, eu tenho quatro filhos e tudo isso em menos
de dois anos, ou melhor, em menos de um ano e meio.
Melanie deve ter esquecido disso quando trouxe esses dois para cá.
Volto minha atenção para o meu notebook para poder adiantar o máximo de
trabalho possível para compensar o tempo em que ficarei fora, além do que já
estou ficando. Ultimamente venho me ausentando mais do que o normal da
corporação e dos meus deveres, sei que é por uma causa particular e até
mesmo importante, mas ainda assim sinto que estou deixando algo
incompleto. Eu preciso pensar em me adiantar e saber dividir melhor meu
tempo. Agora sou pai de família, tenho que organizar meu tempo e minhas
convicções melhor. Eu preciso fazer isso não só por mim, mas por todos.
Uma risada atrai minha atenção. Peter rindo, me deixa contente, eu sei o quão
ruim é morar na rua, ao menos sei que ele não passou por nenhum abuso
sexual e nem físico.
Olho meu relógio, Melanie saiu bem cedo com as meninas para resolver
alguns assuntos que faltava do nosso não esperado e sonhado casamento. Eu
vou me casar em uma igreja, eu, Marco Haylock, me casarei em uma igreja é
quase inacreditável. Eu nem ao menos gosto de igrejas, mas irei me casar em
uma e por incrível que pareça estou feliz mesmo estando puto da vida com
essa grande festa. O sonho dela se tornou meu sonho…
Tia Li disse que viria, assim como Tânia e Dominique, eles são pessoas do
meu passado que não quero manter afastados e sim próximos, são amigos. O
que tinha que enterrar, eu enterrei e o que deveria desenterrar eu fiz por mais
dolorosa que tenha sido, valeu a pena suportar a dor. O garotinho dentro de
mim merecia ser ao menos uma vez criança outra vez…
Eu nunca chamei ninguém de pai, mas eu amo ser chamado de pai. Sinto-me
orgulhoso de ser um.
Volto a olhar para os arquivos a minha frente, mas meu celular começa a
tocar e quando vejo o nome de Dante estranho.
— Dante.
— Marco, temos um problema muito sério. — Pelo seu tom de voz ele está
com raiva o que é raro.
Tento me manter o mais calmo possível, mas está foda demais. Vou matar a
Melanie…
— Vou chamar uma babá para ficar com as crianças e vou atrás da louca da
minha mulher. — Contenho minha voz. — Vegas, elas estão lá porque esse é
o sonho da minha esposa.
— Crianças, papai vai ter que ir atrás da mamãe, mas vai vir uma tia super
legal para cuidar de vocês — digo sorrindo e fazendo uma voz fofa.
— Você vai me deixar papai? — pergunta Peter já com lágrimas nos olhos.
Porra Melanie!
Vou te dar uma surra que não conseguirá andar sem me sentir dentro de você.
— Não Peter, papai jamais abandonaria você ou eu. Ele nos ama. — James
diz pegando a mão do irmão. — Não é papai?
— Exatamente, James. Peter, eu preciso ir até a mamãe, mas vou voltar para
você eu prometo que não vou te abandonar — digo me ajoelhando na frente
deles. — Eu amo vocês, mas que a mim mesmo. — Sorrio e ele faz o mesmo.
Por alguma razão o mais tranquilo nisso tudo é o Pedro quem nem ao menos
está fazendo drama. Carlos já tomou umas três doses de whisky e Dante está
de olhos fechados em sua poltrona. Eu estou bebendo água, tentando ser
calmo para não enlouquecer de vez.
Melanie está grávida, preciso me lembrar disso, mas ela se lembra disso?
— Dessa vez Valentina extrapolou todos os meus limites, Carlos fala puto da
vida. Ela ir para Vegas para um clube onde há homens dançando nu. Porra!
Basta me mandar dançar que danço até melhor do que esses desgraçados.
Descobrimos onde elas estão o que não nos deixou nada contente, mas Carlos
e Dante são os mais putos. Pedro e eu estamos tentando absorver a situação
de uma forma diferente e eu não sei dançar.
Dante abre os olhos e olha para o meu amigo sério. É hoje que Pedro morre e
nem ao mesmo sabe o porquê da morte.
Se eu fosse ele correria, mas como não sou e ele não tem para onde correr sua
única opção é ficar aqui.
— Sabe Pedro o que gosto de fazer quando estou de mal humor? — pergunta
Dante calmamente.
Não sei se ele sugeriu ou se perguntou, mas para ambas as questões ele está
ferrado.
É claro que todos nos calamos, no caso só o Pedro já que é o único que fala
igual uma matraca o tempo todo.
O tempo que pareceu estar disposto a judiar de todos nós, enfim se tornou
bom e legal e enfim chegamos. Desci a escada do jato por último e Dante foi
na frente já conversando com um dos seguranças que estava a nossa espera. É
claro que por mais puto que eu estivesse optei por me manter calmo e
tranquilo.
Entro no carro que na mesma hora sai disparado pelas ruas de Vegas.
— Vamos logo acabar com isso — Carlos fala tomando a frente de tudo.
Eu sabia que fugir dos seguranças e embarcar para Vegas daria uma baita de
uma dor de cabeça…
Vestimo-nos para arrasar, para detonar e para foder com a cabeça de qualquer
um que nos veja hoje.
Estou maravilhosa!
Anny está sorrindo feita louca após algumas doses de tequila, Jady sorri feito
boba e Val não para de gritar dizendo que esses homens são gostosos. Eu não
posso beber, então estou sóbria, mas já sou louca demais por natureza.
Observo o ringue onde homens gostosos fazem gestos que não sei se caio na
gargalhada ou se fico excitada, mas acabo rindo. Eles são lindos, mas ainda
prefiro o meu ruivo. O clima sexual no ar é visível, mas sinto que falta algo a
mais aqui. Tem homens fortes tatuados vestidos de gladiadores e de tudo o
que muitas mulheres sonham, mas o meu sonho sexy não está aqui…
— Meu Deus! Estou vendo o pênis daquele ali! — exclama Jady olhando
para um dos dançarinos que estava mexendo seu pinto para lá e para cá,
levando a mulherada à loucura.
— Isso aí, vai lá Melanie e mostra o que você é capaz de fazer, arrase! —
Apoia Jady bebendo uma bebida cor-de-rosa. — Acho que vou contigo!
Fodeu!
— Eles estão aqui! — Basta dizer isso, a adrenalina bate e saímos a passos
largos para a saída dos fundos.
Anny não larga o copo e não para de rir. Jady está com os olhos tão
arregalados que até estou com medo deles saírem para fora e Val está com
raiva.
Eu nem sei o que Marco vai fazer, só sei que precisamos sair daqui o mais
rápido possível.
Mãe Santinha do céu ajuda sua filha aqui, por favor, vai.
— Até quando você fala pau, você é fofa! Menina Jady, eu ainda te amo, mas
sobre os pênis que viu hoje conversaremos quando estiver sóbria — diz
pegando-a no colo e descendo a escada. — Meninas, boa sorte sou o único de
boa aqui.
— Só vou porque não quero dar chilique aqui na rua — fala jogando o cabelo
para trás.
— Dante, meu pauzudo, nenhum homem lá tinha um pau do tamanho do seu.
— Anny diz e começa a rir mais ainda.
— Chega por hoje Anny Bella — Dante diz e pega sua mulher.
Viro-me e os vejo indo embora, mas a pergunta que não quer calar é onde
está Marco Haylock?
Inferno!
— Sem mais Vegas. Hora de ir para casa, nos casaremos em três dias. Está
pronta para ser a senhora de branco? — pergunta colocando as mãos no
bolso, enquanto caminha até mim.
Ele sorri para mim e esse sorriso é tão sincero que aquece minha alma.
Eu fiz tudo que eu merecia fazer e meu atraso será porque simplesmente
escolhi fazer um desvio na estrada.
Eu precisava fazer algo que há muito tempo venho evitado, não por medo,
mas sim pelo fato de que não conseguiria dizer nada.
— Tudo não está saindo como sonhei. Na verdade, nada está saindo como eu
havia planejado entre meus cinco e sete anos. Sabe eu mudei muito daquele
tempo para cá. Aquela menininha assustada e corajosa ainda existe dentro de
mim, mas não é mais como antes. As coisas não são tão fáceis, mas não
significa que estejam sendo impossíveis. Meu Deus! Estou aqui em um
vestido estilo princesa conversando com a senhora depois de tanto tempo.
Vim lhe dizer que sinto todos os dias sua falta… Sabe mãe, quando você
partiu todo o meu mundo também foi destruído. Eu perdi tudo e demorei
tanto, mas tanto tempo para me reerguer. Eu tive câncer, dívidas com agiotas,
tive o James e agora tenho tudo que é muito mais do que sonhei em ter um
dia. Eu vim hoje aqui, no cemitério, dizer que a senhora tinha razão quando
me disse que nada é como imaginamos e que só precisamos acreditar e fazer
acontecer — digo para a rosa que ainda há ali. — Obrigada por tudo, mamãe.
Hoje eu vou me casar com um homem imperfeito, mas que amo muito.
Temos dois filhos e mais dois a caminho. Ele não é um príncipe encantado,
mas é o meu amor. — Sorrio olhando para o céu. — Eu a queria nesse exato
momento ao meu lado, mas sei que aí de cima estará me guindo até o altar.
Amo-te, mãe. — Sorrio, engulo minhas lágrimas e faço meu caminho de
volta para o carro.
Não quero me atrasar muito para o meu próprio casamento, vai que o Marco
foge da igreja.
Mas quando me viro para voltar para o carro vejo o tal do Brendon Ross
sentado em uma pedra bem vestido me olhando sorridente, o motorista nos
encara sério, mas não faz nada.
— Marco, viveu muitos anos na escuridão… Ele era o pior de todos nós…
Ele era invicto, mas tudo isso era por causa da sua raiva ou sei lá o que —
fala me olhando. — Ele era o preferido e foi o primeiro a demonstrar
interesse em algo além do que tínhamos… Foi o primeiro a criar asas, mas
nunca percebeu isso. Sabe, ele salvou muitos inocentes e sofreu por cada ato
de bondade que fez por alguém. Marco é a escuridão e nada vai mudar isso,
mas com você vejo um irmão do “Ciclo” habitar na luz. — Ele se põe em pé.
— Obrigado por fazer com que ele viva e não só respire. A July sempre
sonhou com isso, com que ele pudesse ser mais do que um pássaro preso em
uma gaiola. Você tem sorte em tê-lo para você e ele tem a graça de Deus por
tê-la em sua vida… Esse é o meu Adeus definitivo, Melanie — fala
caminhando para longe de mim. — Marco não sabe ainda mais foi ele que
salvou a minha vida… Foi ele que me salvou da iniciação… Ele terá minha
eterna gratidão… Ele um homem mau, mas possui uma bondade inigualável.
Observo ele partir, respiro fundo e caminho a passos largos até o carro.
Hoje descobri mais um motivo para amar meu ruivo sexy.
Quando vejo a igreja sorrio nervosa, agora está começando a parecer ainda
mais real o meu sonho de criança. Val, Jady e Anny estão me aguardando na
calçada e elas sorriem ao ver o carro se aproximando.
— Você está perfeita! — Ela sorri tão amplamente para mim. — Tivemos
uma péssima despedida de solteira em Vegas, mas seu casamento será
perfeito.
Sorrio grata para todas elas, não conseguirei falar nada nesse exato momento.
Os padrinhos entram e levo um susto ao perceber que Anny entra com Carlos
e Val.
Cadê o Dante?
— Segura no meu braço que te conduzirei até o altar — Dante diz ao meu
lado, ele está muito bem vestido e sorrindo. — Sorria para as câmeras,
caminhe devagar e tenha seu tempo… Estarei ao seu lado.
Ouço a música e as portas se abrem, dou dois passos para frente e o vejo lá
no final me esperado.
Eu já disse que não gosto de igrejas e nem de padres, mas aqui estou eu
vestido digno como um príncipe como Melanie diz em um altar com uma
igreja decorada em prata e azul.
Eu jamais pensei que um dia estaria aqui, mas tive muitos pensamentos
errados no decorrer da minha vida.
Estou nervoso…
Ansioso…
Com medo.
Irei lhe dar umas boas palmadas na bunda para aprender a me respeitar mais.
Essa mulher garota chegou na minha vida pior que um tornado, ela bagunçou
tudo ao mesmo tempo em que me reconstruía e fazia com que eu me tornasse
um homem melhor.
Era para ela ser só a mãe do meu filho, mas tudo foi além do que eu poderia
imaginar. Eu me perdi no meu próprio jogo e não me importo. Ao menos não
me importo mais…
Ela é a figura materna que entrou comigo na igreja e é a pessoa perfeita para
estar aqui ao meu lado segurando minha mão e me acalmando.
— Estou bem.
Aparentemente sou o único nervoso aqui, vai que ele desiste de se casar
comigo.
— Filho vai começar — diz tia Li.
Os trigêmeos vêm na frente, seguidos por Pedro e Jady e Carlos, Val e Anny.
Dante vai entrar com Melanie e esse seu gesto deixa meu coração mais
tranquilo. Pedro sorri feito um idiota para mim, mas nem ligo para suas
provocações.
Parece um anjo…
O meu anjo!
Não sou digno dela, mas agradeço a Deus por tê-la colocado em minha vida.
Seus passos lentos são como uma tortura para mim e ela sorri abertamente.
Nossos olhos estão conectados um no outro de uma forma maravilhosa e
perfeita. É como se só existisse nós dois no universo. Estendo minha mão
para ela quando se aproxima e a maciez da palma da sua mão na minha faz
com que meu corpo estremeça.
Esse momento é nosso!
— Vocês merecem tudo isso e muito mais — diz Dante antes de ir para o seu
lugar ao lado da Anny.
Gostaria de dizer a ele que não mereço nada disso, mas aceito de bom agrado.
O padre começa a falar, mas só consigo repetir o que ele diz. Estou perdido
olhando para a pessoa que mais amo na vida toda, minha mulher. Acordo
para a vida na hora do sim.
— Sim.
Trocamos as alianças, mas sabemos que nossa maior aliança é nosso amor e
filhos.
Agora falta as carruagens para que esse sonho dela seja completamente
perfeito.
Saímos sob uma grandiosa chuva de arroz, em um dos meus braços está
James, com a outra mão estou segurando a mão da Melanie e na outra mão
dela está Peter.
Melanie solta um grito fino ao ver a carruagem melhor do que as dos filmes
da Disney a sua espera, melhor dizendo a nossa espera. Ajudo-a a subir
enquanto ao mesmo tempo ela acena para as pessoas que gritam feito loucas.
Sua felicidade me deixa ainda mais feliz.
— Eu sabia que esses dois seriam um casal perfeito desde o momento em que
os vi junto — Pedro diz no microfone. — Eu me lembro de um ou dois dias
antes da Melanie aparecer, ouvir essa cara dizer que não queria se casar e
construir uma família. Dizia que não servia para isso, mas olha só, nada é
como imaginamos ou queremos. Eu sempre o disse que o amor chega quando
menos esperamos — fala e todos riem.
Melanie passa James para mim e caminha até onde está Pedro. Ela está
usando um vestido mais leve e seu cabelo já está solto.
Pedro está em cima de um pequeno palco com flores em volta que as meninas
criaram para caso houvesse apresentações ou algo do tipo. Melanie sobe os
degraus com ajuda do louco do Pedro que com toda certeza vai aprontar algo.
Só espero não ter que socar sua cara hoje.
Quica Melzinha.
— E, é isso meu povo — fala o safado abraçando a Melanie que ri para ele e
todos aplaudem esse desgraçado.
— Boa noite a todos. Não vou falar muito, só vim parabenizar os noivos. Eu
vi cada luta que eles enfrentaram juntos e estou mais do que feliz por saber
que venceram os maiores desafios das suas vidas. Agora só resta o dia a dia e
o futuro… A vida é incerta, mas sabemos que podemos com ela quando
estamos com quem amamos. Parabéns e felicidade aos dois!
— Não, foi tudo muito além! — diz me fazendo sorrir. — Amo esse seu
sorriso sincero.
— Eu amo você — digo beijando seus lábios. — Fique aqui, tenho algo para
lhe mostrar.
Afasta-me dela e caminho até o piano branco que pedi a Dante para que
colocasse ali. Eu não faço isso tem um tempo, mas treinei um pouco
enquanto escrevia a letra.
Huuuu, huuu
Fiquei confuso, fiquei com medo assustado, mas não parei de amar…
Eu não sou um homem de fé, mas por vocês pedi a Deus perdão por
todos os meus crimes e erros.
Nem todos os versos são sobre felicidade, mas o meu é sobre recomeço.
Toco a última nota, sentindo uma lágrima escorrer pelos meus olhos, respiro
fundo e volto a cantar a última nota mais uma vez…
Uma vez quando menino eu tomei coragem e corri para longe das grades que
me cercavam, mas o que não sabia era que aquela era só uma mera gaiola
fácil de quebrar.
Naquela época, eu não sabia voar e para ser sincero eu só queria correr livre
pelas ruas como sempre havia sonhado. Eu não me lembro direito, mas
gostava de me refugiar em meus sonhos. Recordo-me que neles eu não era
ferido, mas sim livre e feliz…
Eu nasci na escuridão, mas sou mais do que um mero ser das trevas.
Consigo olhar minha aparência e aceito cada cicatriz que há em meu corpo.
Eu me aceito, me perdoo e me defendo de mim mesmo.
Peter e James tiveram que ficar do lado de fora com o pessoal, com a nossa
família.
Melanie segura minha mão o tempo todo. Ela queria parto normal, mas não
podemos fazer por causa do Henry que foi fecundado depois. Não queremos
arriscar nada.
Não vi James nascer e nem Peter, mas verei esses dois nascerem e me sinto
realizado por isso.
— Já fiz a vasectomia — digo apertando sua mão. Não consigo ver o que eles
estão fazendo, mas sei que já estão a cortado. — Quatro é um número bom —
digo sorrindo.
— Estarei ao seu lado o tempo todo — digo segurando sua mão com mais
força.
Só falta ele.
Espero um pouco, então o segundo berro surge mais baixo que o primeiro,
mas ainda assim ele nasceu.
— O meninão, papais!
A enfermeira traz a menina para nós e sua cabeleira preta na mesma hora
atraí minha atenção.
Sorrio para minha esposa sabendo que agora seremos uma família ainda mais
completa.
James e Peter vão adorar ter dois irmãos mais novos. Eles terão o que eu
nunca tive, eles terão mais do que merecem. Eles serão bons irmãos pois
ensinarei isso a eles, assim como aprendi a ter irmão de outra linhagem de
DNA, eles entenderam que somos mais do que traços e genética, somos
amor, vida e paz. Quero que um dia eles saibam do meu passado e com os
meus erros acertem…
Desejo que meus filhos aprendam desde novos a usar suas asas.
Puta que me pariu, agora é oficial tenho quatro filhos, sou o fodido mais
sortudo desse mundo. Eu não os mereço, mas mesmo assim o Carinha lá de
cima teve compaixão por mim e me enviou eles como uma forma de
recomeço.
Demorei um tempo para entender o que significa ter asas e poder voar. Eu
achava que a morte era a verdadeira liberdade, mas percebi que estava
completamente enganado…
Quando me aceitei, me perdoei, me condenei e me defendi perante o meu
próprio tribunal compreendi o que era ter asas…
Eu posso voar!
Sete anos depois…
Não irei gritar, chamar e nem apressar essas duas mais uma vez.
Luiza e Melanie estão horas se arrumando para algo simples e pequeno, uma
mera apresentação na escola do James, a sorte delas é que a apresentação dele
é a última senão meu filho iria se apresentar sem a família presente.
Ao meu lado está Peter lendo um livro que pegou ontem na biblioteca da
escola, ele estava há dias dizendo que queria ler e por fim conseguiu pegá-lo
para ler. Na minha frente com uma cabeleira ruiva em tons mais escuros está
Henry brincando com um dos seus muitos bonecos de super-heróis, seu
favorito é o Homem de ferro. Eu passo horas brincando com ele, até mesmo
já sei o nome de todos os heróis da Marvel e DC, mas aí vem a guerra aqui
em casa.
— Espero que ainda hoje, filho — digo e recebo uma gargalhada do Henry.
— Papai se não sairmos hoje o J.R vai ficar triste. — Lembra meu caçula
ruivo. — É chato ter que esperar — resmunga.
Sou obrigado a concordar com ele e assim como eu, ele não possui o dom da
paciência.
Peter balança sua cabeleira escura para os lados em sinal de negação, ele está
entrando na adolescência o que é bem estranho para acompanhar. Minha
sorte é que ele é tranquilo e na dele ao contrário do James que tem a energia
da mãe, o que sempre faz com que se meta em pequenas confusões no dia a
dia, mas fora isso, James é minha verdadeira cópia fiel, inclusive uma
pequena parte da personalidade, o que meio me assusta um pouco.
Henry ainda é só uma criança sonhadora que toda hora muda de opinião,
Luiza, minha pequena Luz de cabelo preto e olhos azuis sempre alegra minha
vida com seu jeito doce e carinhoso de ser. Ela é uma princesa, gosta de rosa,
ama ballet, adora tocar piano, que mesmo ensino e gosta de cantar. Todos
eles são bons filhos e sou grato a Deus por conseguir criá-los tão bem ao lado
da Melanie.
Ambas estão usando vestidos iguais rosa bebê com a manga caída que vai até
acima do joelho com um laço nas costas.
Lindas!
— Amém! — diz Peter e Henry juntos ganhando uma carranca da mãe e irmã
e eu só sorrio.
— Vamos! — digo.
O auditório da escola estava lotado como imaginei, mas graças a Deus havia
lugares reservados para nós na segunda fileira. Dante também estava aqui, já
que os meninos estudam todos juntos. Val e Carlos também estão aqui,
mesmo os gêmeos sendo mais velhos. Cumprimento alguns conhecidos,
enquanto faço o caminho até nossos assentos. Melanie sorri para todos
abertamente como sempre e Peter está ao seu lado contido como sempre.
Henry está quase correndo feito louco e no meu colo Luiza se mexe inquieta,
mas não sou louco de soltar essas feras aqui e ficar horas correndo atrás
deles. Eu quero assistir toda apresentação do meu James.
— Olá a todos — diz James no microfone. — Quando fui chamado para fazer
esse pequeno discurso fiquei intrigado sobre o que escrever, na verdade, eu
não tinha nem sequer uma linha para escrever. — Ele sorri de lado antes de
continuar. — Então meu professor disse para escrever sobre algo que admiro
e amo, falou que eu podia falar até sobre a Saga Crepúsculo e olha que eu
amo essa saga de coração, meu irmão mais velho e eu passamos horas e dias
assistindo o filme de vampiros que brilham no sol. — Ele ri e todos os
acompanha. — Um dia lá em casa conversando com meu irmão Peter e
observando os caçulas brincarem com seus bonecos da Marvel percebi algo
muito importante e é por isso que para ler esse discurso gostaria de chamar o
Peter aqui em cima — diz com um sorriso travesso e o irmão se levanta
caminhando até ele. — Eu começo e ele termina porque somos uma
irmandade — fala passando os braços sobre o ombro do irmão que é um
pouco mais alto. Eles olham para mim e sorriem juntos. — Todos tem seus
heróis, alguns gostam do Superman, outros do Batman, outros do Flash e
alguns do Homem de Ferro, até mesmo do Capitão América, mas nenhum
deles realmente existem no dia a dia — fala James. — Quando somos mais
novos e sentimos medo do bicho-papão a noite corremos para o braço dos
nossos pais… Eu corria para o braço do meu pai, ele me pegava no coloco e
me levava para dormir com ele ou descia comigo a escada e contava sob a luz
das estrelas histórias bonitas. Eu me recordo de cada uma delas.
— Então meu herói é o meu pai… E daí se ele não é a prova de balas? Para
mim ele é o mais forte de todos e é o melhor. Orgulho-me de ser parecido
com ele e desejo ser um dia metade do grande homem que ele é. — Ele sorri,
enquanto eu estou quase chorando. — Ele diz não ser grande e não ser digno
de nada, mas pai você é o CARA. Meu mundo é mais azul, porque o senhor
existe nele.
Sorrio para meu filho perdido entre as emoções que transbordam de mim.
Peter pega o microfone com certa vergonha, mas ao olhar para mim sorri
abertamente.
— Eu sonhava todos os dias em ter uma família ou ter um pai, então em uma
noite vi todos os meus sonhos sendo realizado — fala com a voz baixa. —
Você me disse que não era a melhor pessoa, me disse que não era um super-
herói, mas que me amaria e me protegeria com sua vida. Acho que nunca
percebeu que são os verdadeiros heróis que fazem isso e você pai é um
herói… Meu herói… Nosso herói! Quando olho para o senhor vejo suas
sublimes asas de luz. Algumas asas são invisíveis aos olhos nus e é preciso
vê-las com a alma. Eu as vejo em você todos os dias, pai, há uma luz em você
que ninguém consegue apagar. Marco Haylock você é o maior herói de todos,
para mim e para nós… Sua família. Você é a melhor pessoa de todas, te
amamos! — diz olhando em meus olhos.
Uma lágrima escorre dos meus olhos. Melanie ao meu lado aperta minha mão
e os gêmeos me abraçam.
Demorou um pouco mais enfim entendi que eu sou mais do que escuridão, eu
também sou luz…
Antes de tudo quero agradecer a Deus por me dar esse dom, segundo
minha mãe que vem apoiando sempre as minhas loucuras e sonhos quase
impossíveis.
Minha eterna gratidão vai aos meus leitores que a cada comentário e cobrança
me deixam ainda mais feliz e realizada para continuar escrevendo.
Dante Boltoni é um homem muito bem resolvido com a vida, tem tudo que
deseja e almeja, quer dizer, quase tudo…
Um pedaço do seu coração foi arrancado do seu peito de uma forma brutal
por quem ele mais amou!
Uma única ligação traria à tona todo o sofrimento que ele sufocou dentro de
si.
A ferida que estava fechada, se abrirá mais uma vez e continuará sangrando.
Dante sabe que precisa voltar para salvá-la de tudo e de todos, incluindo ela
mesma.
Pedro não tinha ido naquele lugar buscar confusão ou dar uma de super-
herói…
Seus instintos o alertaram de que ela era extremamente inocente para alguém
como ele, mas havia um ímã que o atraía para ela.
Ele sabia que ela possuía uma inocência rara e que a corromperia, mas
mesmo assim ele a desejava…
A paixão pela escrita veio desde nova ainda quando cursava o fundamental,
escrevia poemas e histórias curtas que só ficava no papel. Sua inspiração veio
ainda quando nova quando lia vários livros de temas distintos.
Em 2018 começou a escrever fanfic, mas não satisfeita ousou arriscar seu
primeiro livro na wattpad, Dante Boltoni a qual se baseou nas dores mais
profundas e nas esperanças mais vividas para escrever.
Instagram: @Thamybastida
E-mail: autorathamybastida15@gmail.com
1. Que não causa dano material, físico, orgânico; que não é nocivo,
prejudicial. ↑
4. Que não é nobre, que inspira horror do ponto de vista moral, de caráter
vil, baixo. ↑
7. Não, seria uma perda de tempo. Se você sabe quem eu sou, deveria
saber que sou o pior de todos. É preciso muita coragem para me
encontrar cara a cara, três segundos para sair do meu caminho. Se você
tem algo a me dizer, diga para mim, acredito que é melhor termos uma
conversa ainda mais privada. ↑
GR BOOK COVERS
@grbookcovers
Table of Contents
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Epílogo
Agradecimentos
Outras obras da autora