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Capítulo

7
Infiltração e água no
solo

I
nfiltração é definida como a passagem da água através da superfície do solo,
passando pelos poros e atingindo o interior, ou perfil, do solo. A infiltração de
água no solo é importante para o crescimento da vegetação, para o
abastecimento dos aquíferos (reservatórios de água subterrânea), para
armazenar a água que mantém o fluxo nos rios durante as estiagens, para reduzir o
escoamento superficial, reduzir as cheias e diminuir a erosão.

Composição do solo
A água infiltrada no solo preenche os poros originalmente ocupados pelo ar.
Assim, o solo é uma mistura de
materiais sólidos, líquidos e gasosos.
Na mistura também encontram-se
muitos organismos vivos (bactérias,
fungos, raízes, insetos, vermes) e
matéria orgânica, especialmente nas
camadas superiores, mais próximas
da superfície. A Figura 7. 1
apresenta a proporção das partes
mineral, água, ar e matéria orgância
tipicamente encontradas na camada
superficial do solo (horizonte A).
Aproximadamente 50% do solo é
composto de material sólido,
enquanto o restante são poros que
podem ser ocupados por água ou
Figura 7. 1: Composição típica do solo (Lepsch, 2004). pelo ar. O conteúdo de ar e de água
é variável.
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A parte sólida mineral do solo normalmente é analisada do ponto de vista do


diâmetro das partículas. De acordo com o diâmetro as partículas são classificadas
como argila, silte, areia fina, areia grossa, e cascalhos ou seixos. A Tabela 7. 1
apresenta a classificação das partículas adotada pela Sociedade Internacional de
Ciência do Solo, de acordo com seu diâmetro.

Geralmente, os solos são formados por misturas de materiais das diferentes classes.
As características do solo e a forma com que a água se movimenta e é armazenada
no solo dependem do tipo de partículas encontradas na sua composição. Cinco
tipos de textura de solo são definidas com base na proporção de materiais de
diferentes diâmetros, conforme a Figura 7. 2.
Tabela 7. 1: Classificação das partículas que compõe o solo de acordo com o diâmetro.

diâmetro (mm) Classe


0,0002 a 0,002 Argila
0,002 a 0,02 Silte
0,02 a 0,2 Areia fina
0,2 a 2,0 Areia grossa

Figura 7. 2: Os cinco tipos de textura do solo, de acordo com a proporção de argila, areia e silte (Lepsch, 2004).

A porosidade do solo é definida como a fração volumétrica de vazios, ou seja, o


volume de vazios dividido pelo volume total do solo. A porosidade de solos
arenosos varia entre 37 a 50 %, enquanto a porosidade de solos argilosos varia
entre, aproximadamente, 43 a 52%. É claro que estes valores de porosidade podem
variar bastante, dependendo do tipo de vegetação, do grau de compactação, da

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estrutura do solo (resultante da combinação das partículas finas em agregados


maiores) e da quantidade de material orgânico e vivo.

Água no solo
Quando um solo tem seus poros completamente ocupados por água, diz se que
está saturado. Ao contrário, quando está completamente seco, seus poros estão
completamente ocupados por ar. É desta forma que normalmente é medido o
grau de umidade do solo. Uma amostra de solo é coletada e pesada na condição de
umidade encontrada no campo. A seguir
esta amostra é seca em um forno a 105
o
C por 24 horas para que toda a
umidade seja retirada e a amostra é
pesada novamente. A umidade do solo é
calculada a partir da diferença de peso
encontrada.

Além deste método, denominado


gravimétrico, existem outras formas de
medir a umidade do solo. Um método
bastante utilizado é o chamado TDR
(Time Domain Reflectometry). Este
método está baseado na relação entre a
Figura 7. 3: Curva de retenção de água no solo (Ward e Trimble, 2004)
umidade do solo e a sua constante
dielétrica. Duas placas metálicas são
inseridas no solo e é medido o tempo de transmissão de um pulso eletromagnético
através do solo, entre o par de placas. A vantagem deste método é que não é
necessário destruir a amostra de solo para medir a sua umidade, e o monitoramento
pode ser contínuo.

Uma importante forma de analisar o comportamento da água no solo é a curva de


retenção de umidade, ou curva de retenção de água no solo (Figura 7. 3). Esta
curva relaciona o conteúdo de umidade do solo e o esforço (em termos de pressão)
necessário para retirar a água do solo.
Saturação: condição em que todos os Como uma esponja mergulhada em um balde, o solo
poros estão ocupados por água que é completamente imerso em água fica
completamente saturado. Ao ser suspensa no ar, a
Capacidade de campo: Conteúdo de
esponja perde parte da água que escoa devido à força
umidade no solo sujeito à força da
da gravidade. Da mesma forma o solo tem parte da sua
gravidade
umidade retirada pela ação da gravidade, atingindo uma
Ponto de murcha permanente: umidade situação denominada capacidade de campo. A partir
do solo para a qual as plantas não daí, a retirada de água do solo é mais difícil e exige a
conseguem mais retirar água e morrem ação de uma pressão negativa (sucção). As plantas
conseguem retirar água do solo até um limite de
sucção, denominado ponto de murcha permanente, a partir do qual não se
recuperarão mais mesmo se regadas.

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A curva de retenção de água no solo é diferente para diferentes texturas de solo.


Solos argilosos tendem a ter maior conteúdo de umidade na condição de saturação
e de capacidade de campo, o que é positivo para as plantas. Mas, da mesma forma,
apresentam maior umidade no ponto de murcha. Observa-se na curva relativa à
argila que a umidade do solo argiloso no ponto de murcha permanente é de quase
20%, o que significa que nesta condição ainda há muita água no solo, entretanto
esta água está tão fortemente ligada às partículas de argila que as plantas não
conseguem retirá-la do solo, e morrem.

Balanço de água no solo


Em condições naturais a umidade do solo varia ao longo do tempo, sob o efeito
das chuvas e das variações sazonais de temperatura, precipitação e
evapotranspiração. Uma equação de balanço hídrico de uma camada de solo pode
ser expressa pela equação

∆V = P − Q − G − ET

onde ∆V é a variação de volume de água armazenada no solo; P é a precipitação; Q


é o escoamento superficial; G é a percolação e ET é a evapotranspiração.

A percolação (G) é a passagem da água da camada superficial do solo para camadas


mais profundas. A evapotranspiração é a retirada de água por evaporação direta do
solo e por transpiração das plantas. A infiltração é a diferença entre a precipitação
(P) e o escoamento superficial (Q).

Movimento de água no solo e infiltração


O solo é um meio poroso, e o movimento da água em meio poroso é descrito pela
equação de Darcy. Em 1856, Henry Darcy desenvolveu esta relação básica
realizando experimentos com areia, concluindo que
o fluxo de água através de um meio poroso é
proporcional ao gradiente hidráulico.

∂h ∂h
q=K⋅ e Q = K ⋅ A⋅
∂x ∂x

onde Q é o fluxo de água (m3.s-1); A é a área (m2) q


é o fluxo de água por unidade de área (m.s-1); K é a
condutividade hidráulica (m.s-1); h é a carga
Figura 7. 4: Termos do balanço de água no solo. hidráulica e x a distância.

A condutividade hidráulica K é fortemente

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dependente do tipo de material poroso. Assim, o valor de K para solos arenosos é


próximo de 20 cm.hora-1. Para solos siltosos este valor cai para 1,3 cm.hora-1 e em
solos argilosos este valor cai ainda mais para 0,06 cm.hora-1. Portanto os solos
arenosos conduzem mais facilmente a água do que os solos argilosos, e a infiltração
e a percolação da água no solo são mais intensas e rápidas nos solos arenosos do
que nos solos argilosos.

Uma chuva que atinge um solo inicialmente seco será inicialmente absorvida quase
totalmente pelo solo, enquanto o solo apresenta muitos poros vazios (com ar). À
medida que os poros vão sendo preenchidos, a infiltração tende a diminuir, estando
limitada pela capacidade do solo de transferir a água para as camadas mais
profundas (percolação). Esta capacidade é dada pela condutividade hidráulica. A
partir deste limite, quando o solo está próximo da saturação, a capacidade de
infiltração permanece constante e aproximadamente igual à condutividade
hidráulica.

Uma equação empírica que descreve este comportamento é a equação de Horton,


dada abaixo:

f = fc + ( fo − fc ) ⋅ e − βt

onde f é a capacidade de infiltração num instante qualquer (mm.hora-1); fc é a


capacidade de infiltração em condição de saturação (mm.hora-1); fo é a capacidade
de infiltração quando o solo está seco (mm.hora-1); t é o tempo (horas); e β é um
parâmetro que deve ser determinado a partir de medições no campo (hora-1).

Esta equação é uma função exponencial assintótica ao valor fc, conforme


apresentado na Figura 7. 5.

Figura 7. 5: Curvas de infiltração de acordo com a equação de Horton, para solos argilosos e arenosos.

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Os parâmetros de uma equação de infiltração, como a de Horton, podem ser


estimados a partir de experimentos no campo, sendo o mais comum o de medição
de capacidade de infiltração com o método dos anéis concêntricos.

O infiltrômetro de anéis concêntricos é constituído de dois anéis concêntricos de


chapa metálica (Figura 7. 6), com diâmetros variando entre 16 e 40 cm, que são
cravados verticalmente no solo de modo a restar uma pequena altura livre sobre
este. Aplica-se água em ambos os cilindros, mantendo uma lâmina líquida de 1 a 5
cm, sendo que no cilindro interno mede-se o volume aplicado a intervalos fixos de
tempo bem como o nível da água ao longo do tempo. A finalidade do cilindro
externo é manter verticalmente o fluxo de água do cilindro interno, onde é feita a
medição da capacidade de campo.

Figura 7. 6: Medição de infiltração utilizando o infiltrômetro de anéis concêntricos, e esquema do fluxo de água no solo.

Exercícios
1) Qual é o efeito esperado do pisoteamento do solo pelo gado sobre a
capacidade de infiltração?

2) Considere uma camada de solo de 1 m de profundidade cujo conteúdo de


umidade é 35% na capacidade de campo e de 12% na condição de ponto
de murcha permanente. Quantos dias a umidade do solo poderia sustentar
a evapotranspiração constante de 7 mm por dia de uma determinada
cultura?

3) Uma camada de solo argiloso, cuja capacidade de infiltração na condição de


saturação é de 4 mm.hora-1 , está saturado e recebendo chuva com
intensidade de 27 mm.hora-1. Qual é o escoamento (litros por segundo) que
está sendo gerado em uma área de 10m2 deste solo?

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4) Uma medição de infiltração utilizando o método dos anéis concêntricos


apresentou o seguinte resultado. Utilize estes dados para estimar os
parâmetros fc, fo e β da equação de Horton.

Tempo (minutos Total infiltrado (mm)


0 0
1 30
2 40
3 45
4 49
5 51
6 52
7 54
8 56
9 57
10 59
15 63
20 66
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