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_ Mas passemos agora a mais uma caracteristica Bae na vida real: ela é sempre coptinua ¢ ininterruptork unca deixamos de agir, nem mesmo quando dormimos: os nossos sonhos talvez sejam a forma mais intensa de ag&o na nossa vida. E os bons cristéos dizem que nem a morte interrompe a acao. Cada momento de nossa agdo na vida real tem seu] passado e seu futuro. Quero dizer que cada momento pre- | sente tem suas origens no passado e sells Objetivos no fu- furo. A frase de Stanislavski; “O-nosso “hoje’-é apenas ©. resultado do movimento do nosso “ontem” em diregio / ao nosso “amanh&”, define a mec&nica da ago continua / tanto na vida real, ‘como em cena. “Os atéres deveriam preocupar-se muito menos com a \agdo do momento do que com a acao anterior e posterior, 34 Eugénio Kusnet Scanned with CamScanner porque g acdo do momento se realiza automaticamente se gator realmente exerce a agio continua. Vejamos um exemplo. Uma pessoa vai por uma rua escura e perigosa, levando consigo uma grande importan- cia em dinheiro para pagar o resgate de sua filha raptada. Essa cena foi feita, a titulo de demonstragao durante uma aula, por uma assistente minha, atriz Julia Gray. Na pri- meira tentativa chegamos a sentir nela a presenca de um médo real, mas a cena n&o nos pareceu completa, o perso- nagem nfo nos pareceu realmente agindo. Ela estava com muito médo, mas médo de qué? Julia Gray nos explicou que o médo era resultado da acéo de quem procura evitar © perigo da morte ao passar por aquela rua escura em que ~ela-sentiu a presenca dos assassinos. Ora, ela se preocupou em interpretar tnicamente a agio do momento, omitindo por completo os dados da acdo continua, até o passado e o futuro da aco, porque na nossa proposi¢aéo o problema do personagem nao era apenas fugir da morte, e sim fugir dos assassinos para conservar o dinheiro do resgate para salvar a vida de sua filha que foi raptada ontem e poderd ser morta amanhd. Foi por isso que 0 seu médo, embora real, nos pareceu gratuito. (Veja a fotografia N.° 1). Quando, depois de levar em consideragao as nossas observacées, Jiilia repetiu a cena, o resultado foi diame- tralmente oposto ao primeiro: notamos a presenga do ob- jetivo por nés indicado, isto é, conservar o dinheiro do resgate, mas 0 primeiro objetivo, o de salvar sua prépria vida, diminuiu consideravelmente e, em conseqiiéncia dis- so, diminuiu também o médo. O que nés vemos na foto- grafia N.° 2 é mais um receio do que um médo. S6 quando a atriz conseguiu reunir dentro da sua acao os dois obje- tivos é que o resultado nos pareceu quase perfeito. (Veja a fotografia N.° 3). fon m teatro a agao freqiientemente sofre interrupcées : ales entre os atos ou -quadros, saidas do ator de cena, andes pausas em que o ator fica aparentemente inativo. Que deve fazer o ator para eliminar 0 efeito nocivo dessas iterrupgées? Deve recorrer A acm i terior, | Infelizmente nem todos os atéres fazem isso. Sao ca- Iniciagdo a Arte Dramética 35 Scanned with CamScanner

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