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Curso de Licenciatura em Química

RICARDO JUNIO FEITOSA LIMA

A SELEÇÃO NATURAL DOS ELEMENTOS QUÍMICOS:

Estudo da Seleção de Elementos Para os Processos Vitais

Paripiranga

2019
RICARDO JUNIO FEITOSA LIMA

A SELEÇÃO NATURAL DOS ELEMENTOS QUÍMICOS:

Estudo da Seleção de Elementos Para Processos Vitais

Monografia apresentada no Curso de Licenciatura em

Química como parte do requisito para conclusão da

disciplina do curso.

Orientador: Dr. Tarciso Éder Santana Santos.

Paripiranga

2019
RICARDO JUNIO FEITOSA LIMA

A SELEÇÃO NATURAL DOS ELEMENTOS QUÍMICOS:

Estudo da Seleção de Elementos Para Processos Vitais

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Tarciso Éder Santana Santos

UniAGES

Prof. Esp. Akassia Maria Rabelo Souza

UniAGES
LIMA, Ricardo Junio Feitosa, 1993.
A SELEÇÃO NATURAL DOS ELEMENTOS QUÍMICOS: Estudo da
Seleção de Elementos Para Processos Vitais. Ricardo Junio Feitosa Lima –
Paripiranga, 2019.
80 f: il. Imagens

Orientador (a): Dr. Tarciso Éder Santana Santos

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Química) – UniAGES,


Paripiranga, 2019.
1. Seleção natural 2. Evolução química. 3. Elementos químicos. I. Título.
II. UniAGES
Agradecimentos

Dedico esta, bеm como todas minhas outras conquistas, аоs meus pais Ricardo Lima е

Alvaci Feitosa, que se dedicaram desde cedo a me servir das condições necessárias para minha

construção pessoal e intelectual; minha mãe teve um papel exclusivo por ter exigido sempre os

melhores resultados, e talvez sem tais cobranças nada disso estaria sendo possível; meu pai teve

um papel exclusivo na construção dos meus conhecimentos – ele me transmitiu grande parte de

seus saberes, os quais faço uso diariamente e que têm servido como um pilar para ancorar meus

demais conhecimentos acadêmicos que tenho adquirido ao longo do curso de licenciatura.

Dedico ainda às minhas irmãs Alice Feitosa e Aline Feitosa, que constituem um pedaço

de mim; e para minha outra metade, minha outra versão certamente menos chata, Ricássio Lima

(in memoriam); dedico também para meus avós paternos sr. Liço e dona Maria (Elicio e Maria,

in memoriam), para meus avós maternos sr. Dionizo e dona Nice (Dionizio e Eunice) e para os

meus tios – em especial tia Pureza que sempre esteve presente nos momentos de minha vida.

Com muito orgulho, registro aqui uma homenagem às minhas duas fortalezas: a fazenda

Santa Maria – constituída de uma pequena casa de taipa como sede, onde passei parte de minha

infância; e o caminhão azul Mercedes-bens MB 1113, cuja placa fora HZH-8986 (SE-Aracaju).

Agradeço aos meus amigos e colegas que fazem parte da minha luta diária, e que, estão

sempre comigo preenchendo meu cotidiano com suas alegrias. Agradeço aos meus amigos em

especial Johnatan, Adenoaldo, Elan, David, Willas, Mateus, Thainá, Gileuza, Elaine, Ediane e

os demais que não mencionei, mas que possuo um enorme apreço.

Agradeço aos meus diversos professores, que me auxiliaram ao longo da minha jornada,

acatando as minhas ideias e questionamentos, em especial, João Milton Jr., Samuel Mota, Gracy

Karla, Amanda e Tarcísio. Dedico esta conquista também aos meus alunos que compartilharam

de suas dúvidas, de seu cotidiano, de sua atenção e de seus conhecimentos prévios, promovendo

o enriquecimento dos meus conhecimentos ao longo dos anos que tenho lecionado.
Reconheço para todos os fins, a participação dos gigantes que tanto contribuíram para a

construção do conhecimento adequado quanto tem servido de alicerce para a atual humanidade,

em especial Charles R. Darwin, Marie Curie, Isaac Newton, Albert Einstein, Galileu Galilei e

Nicolas Tesla. Para estes cientistas, dou todos os créditos da construção do meu conhecimento

científico, são eles que dão respaldo à maioria das minhas produções e discursos acadêmicos.

Por fim, registro meus agradecimentos ao Centro Universitário Ages por esta conquista.
Com a minha mente vou à mil lugares, a imaginação

me dá forças para voar, sonhos desejamos alcançar,

ser um alguém com um poder maior que você já tem.

Dragon Ball Z
Resumo

Na natureza, aproximadamente trinta elementos químicos foram selecionados para comporem

aparatos biológicos tornando-se essenciais em detrimento de outros elementos também aptos a

realizarem as funções. Aqui se discute os princípios de seletividade pelos quais cada elemento

foi selecionado, considerando as abordagens mais modernas sobre a seleção natural e evolução

química como a abundância e o ajuste básico. À medida que as condições ambientais terrestres

têm se modificado, implicações dessas mudanças na composição bioquímica dos sistemas vivos

têm sido evidenciadas, estando os organismos não só adaptados, mas também de acordo com

as composições químicas da superfície do planeta. A seleção natural para elementos químicos

comporem organismos vivos demostra seguir um padrão que é abordado aqui sob a perspectiva

de um gargalo ou um filtro seletivo onde três grupos de elementos com propriedades específicas

são excluídos automaticamente por não se adequarem às exigências dos sistemas replicantes no

planeta Terra. Os demais elementos que se ajustam à uma função biológica, concorrem entre si

e são selecionados tendo como critério de desempate a abundância e biodisponibilidade, assim

como a eficiência. A seleção das espécies mais aptas se dá por replicação das biomoléculas que

podem sofrer modificações em suas configurações ao capturar um novo elemento, ocasionando

a essencialidade e adaptação do sistema ao uso do mesmo, fenômeno que pode ser evidenciado

através da origem comum química e que causa um aumento na diversidade química e biológica.

Palavras-Chave: Seleção natural; Evolução química; Elementos químicos.


Abstract

In nature, approximately thirty chemical elements have been selected to compose biological

apparatus making them essential over other elements also able to perform the functions. Here

we discuss the principles of selectivity by which each element has been selected, considering

the most modern approaches to natural selection and chemical evolution as abundance and basic

adjustment. As terrestrial environmental conditions have changed, implications of these

changes in the biochemical composition of living systems have been evidenced, with organisms

not only adapting but also according to the chemical compositions of the planet's surface.

Natural selection for chemical elements to compose living organisms shows to follow a pattern

that is addressed here from the perspective of a bottleneck or a selective filter where three

groups of elements with specific properties are automatically excluded because they do not

meet the requirements of replicating systems on planet Earth. The other elements that adjust to

a biological function compete with each other and are selected based on the tiebreaker criteria,

abundance and bioavailability, as well as efficiency. The selection of the most suitable species

occurs by replicating the biomolecules that may undergo changes in their configurations when

capturing a new element, causing the essentiality and adaptation of the system to its use, a

phenomenon that can be evidenced by the common chemical origin and that cause an increase

in chemical and biological diversity.

Keywords: Natural Selection; Chemical evolution; Chemical elements.


Lista de Figuras

F1 - Os elementos em destaque são biologicamente importantes..............................................18

F2 - Representação da abundância dos halogênios flúor, bromo e cloro na água do mar...........29

F3 - Representação da fórmula molecular e estrutural da selenocisteína e da cisteína.............31

F4 - Representação da abundância de zinco, cobalto e manganês na crosta terrestre.................34

F5 - Fluxograma categorizando os tipos de pesquisa explorados no presente trabalho............45

F6 - Filtro seletivo onde 42 elementos destacados normalmente não participam de organismos

vivos..........................................................................................................................................50

F7 - Tetrafluoreto de xenônio e a representação de sua fórmula molecular e estrutural...........53

F8 - As espécies de Geobacter são capazes de oxidar urânio e utilizá-lo para o próprio

crescimento...............................................................................................................................54

F9 - Lago formado por metano líquido em Titã; Lago formado por água líquida na Terra.....57

F10 - Representação de como acontece a evolução química em relação à evolução biológica...58

F11 - Representação das enzimas fosfatase alcalina (zinco) e fosfatase alcalina de cobalto

(cobalto)....................................................................................................................................59

F12 - Representação das estruturas da hemoglobina (núcleo de Fe) e clorofila (centro de Mg).61

F13 - Equação da reação de fotossíntese e da respiração aeróbica.............................................62

F14 - Representação das estruturas da selenocisteína (grupo selenol) e cisteína (grupo tiol).....63
LISTA DE SIGLAS

ΔG..........................................................................................Variação da energia livre de Gibbs

ΔH...............................................................................................Variação de entalpia do sistema

pH...............................................................................Potencial hidrogeniônico (variação de H+)

(Z).............................................................................................Número atômico de um elemento

Pm.....................................................................................Picômetros (unidade de comprimento)

°C...................................................................................................Escala de temperatura Celsius

Co(III)/Co(II)................................................................................Íons cobalto (II) e cobalto (III)

Cr(III)/Cr(II)..................................................................................Íons cromio (II) e cromio (III)

Plantas C4....................................................Carboxilação envolvendo compostos de 4 carbonos

MMO.......................................................................................................Metano monooxigenase

sMMO .........................................................................................Metano monooxigenase solúvel

pMMO..................................................................................Metano monooxigenase particulada

ATP..........................................................................................................Trifosfato de adenosina

GFAJ-1...........................................................Nome de uma cepa de bactérias Halomonadaceae

DNA....................................................................................................Ácido desoxirribonucleico

kcal/mol......................................................................................................Quilocalorias por mol

NCBI..................................................................National Center for Biotechnology Information

SciELO.................................................................................Scientific Electronic Library Online

Nasa...................................................................National Aeronautics and Space Administration


Sumário

1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................................14

1.1 SELEÇÃO NATURAL DAS ESPÉCIES........................................................................16

1.1. 1 Seleção natural química.......................................................................................17

2 – DESENVOLVIMENTO....................................................................................................17

2.1. PRINCÍPIOS DE SELETIVIDADE DOS ELEMENTOS............................................20

2.1.1 Biodisponibilidade dos elementos químicos........................................................21

2.2. SELEÇÃO ATRAVÉS DO AJUSTE BÁSICO DOS ELEMENTOS...........................23

2.2.1 Seleção natural do carbono para estruturar moléculas bioquímicas......................24

2.2.2 Seleção natural do cloro na neutralização de íons de carga positiva......................25

2.2.3 Seleção natural do ferro para o processo de oxirredução no sangue......................27

2.3. SELEÇÃO ATRAVÉS DA ABUNDÂNCIA DOS ELEMENTOS...............................28

2.3.1 Seleção natural do cálcio para compor as estruturas ósseas rígidas.......................29

2.3.2 Seleção natural do enxofre para compor o aminoácido cisteína............................31

2.3.3 Seleção natural do zinco para compor a enzima fosfatase alcalina........................32

2.4. SELEÇÃO ATRAVÉS DA EFICIÊNCIA DOS ELEMENTOS..................................33

2.4.1 Seleção natural do potássio como macronutriente para as plantas.........................35

2.4.2 Seleção natural do níquel para compor a enzima uréase........................................36

2.4.3 Seleção natural do cobre para a enzima metano monooxigenase...........................37

2.5. SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO EVOLUTIVA DOS ORGANISMOS.............................39

2.5.1 Seleção e adaptação ao magnésio para a realização da fotossíntese.....................40


2.5.2 Seleção e adaptação ao oxigênio para a forma de respiração aeróbica...................42

2.5.3 Seleção e adaptação ao fósforo para o armazenamento de energia........................43

3 – METODOLOGIA..............................................................................................................44

3.1. TIPO DE PESQUISA.......................................................................................................45

3.1.1 Materiais..............................................................................................................47

4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................................48

4.1. GARGALO OU FILTRO SELETIVO...........................................................................50

4.1.1 Elementos artificiais e ajuste básico......................................................................50

4.1.2 Elementos gases nobres e ajuste básico................................................................51

4.1.3 Elementos radioativos e ajuste básico...................................................................52

4.1.4 A água como agente selecionador.........................................................................55

4.2. EVOLUÇÃO E ORIGEM COMUM..............................................................................58

4.2.1 Fosfatase alcalina forma uma variante de cobalto................................................59

4.2.2 Hemoglobina e clorofila são derivadas da porfirina..............................................60

4.2.3 Selenocistéina e cisteína são derivadas da serina..................................................63

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................64

6 – REFERÊNCIAS................................................................................................................67
14

1. Introdução

Os elementos químicos integram toda matéria de natureza bariônica através do universo

conhecido e detectável por meio de pesquisas sobre as propriedades e a composição química de

objetos celestes. Cento e dezoito elementos químicos diferentes foram identificados até o exato

momento, alguns deles ocorrendo naturalmente apenas na atmosfera quente dos corpos celestes

como as estrelas e outros confirmados existindo na forma nativa ou combinados em compostos

químicos espalhados ao longo da superfície terrestre e incluídos ainda nos gases da atmosfera,

onde representam uma fração da matéria existente no planeta, embora estejam no estado gasoso.

Em função do aumento na quantidade de prótons no núcleo, há uma variação nos átomos

proporcionando diferentes propriedades físicas e químicas para os elementos que, são definidas

como as suas identidades e que são, respectivamente, as responsáveis pelas especificidades que

cada um apresenta na natureza (seja em forma de átomos ou isótopos). Quando são combinados,

essas diferentes espécies originam um enorme número de substâncias com propriedades físicas

e químicas também particulares, pois respeitam, na maioria das vezes, as características de seus

elementos constituintes – variando um pouco por acomodar mais de um componente elementar.

Nesse sentido, os elementos químicos participam de toda a matéria existente no planeta,

constituindo uma ampla variedade de substâncias das quais a biosfera é formada. Apesar disso,

do número total de alternativas elementares, apenas 30 integram os sistemas vivos e 15 ocorrem

em todos eles – sendo indispensáveis para a atividade adequada da maquinaria molecular. Esses

valores equivalem à cerca de ¼ da classificação periódica utilizado na composição dos aparatos

bioquímicos conhecidos – um fato que não faz sentido se não considerar a ocorrência da seleção

natural, onde, para participarem da bioquímica de um dado organismo, os elementos necessitam

dispor de atributos físico-químicos que os tornem apropriados à efetivação das tarefas exigidas.

Nessa perspectiva, alguns compostos formados pelo cálcio são amplamente empregados

na construção de estruturas rígidas como ossos, dentes, conchas e ovos; por sua vez, as proteínas

que estão relacionadas com o transporte e o estoque de oxigênio nas células são frequentemente
15

constituídas pelo ferro; praticamente todas as biomoléculas existentes se baseiam em estruturas

de carbono-carbono; uma parte de toda a população de enzimas catalizadoras possui zinco como

um cofator; determinados compostos de cobre se apresentam como alternativas bastante viáveis

ao ferro em proteínas e enzimas de certos grupos de organismos aquáticos; e apesar dos ametais

adjacentes ao oxigênio na tabela periódica serem oxidantes, muitos seres requerem do oxigênio.

Visto que os elementos que integram uma mesma família da classificação periódica são

análogos quimicamente por possuírem uma configuração eletrônica bastante similar – dispondo

de uma mesma quantidade de elétrons na camada de valência – seria esperado que ocorresse

uma presença mais elevada de elementos químicos nos seres por possibilitar, hipoteticamente,

uma alternância. Contudo, a substituição de um certo elemento por outro componente análogo,

que integra um mesmo grupo periódico, na maioria das vezes faz é proporcionar insuficiências

funcionais nos sistemas vivos (por conta da ausência do elemento que foi substituído).

Frente à esta realidade, quais são as causas pelas quais alguns elementos químicos foram

selecionados de maneira a integrarem os artefatos biológicos, participando dos processos vitais,

em detrimento de elementos concorrentes com propriedades análogas que poderiam cumprir as

mesmas funções? Perguntas deste naipe impulsionaram pesquisadores à elaboração de estudos

individuais que ofertam explicações para a seleção de alguns elementos em particular. Partindo

desta indagação, o presente estudo tem por objetivo geral traçar, mediante um levantamento da

literatura, os princípios pelos quais um baixo número de elementos participa dos sistemas vivos,

podendo contribuir com o arcabouço de conhecimentos pertinentes à seleção natural e evolução.

Nessa perspectiva, as respostas aqui levantadas mediante uma compilação dos trabalhos

científicos mais recentes sobre o tema estudado, estão evidentemente destinadas ao aumento da

base de conhecimento científico, com foco na melhoria das teorias evolutivas atuais que buscam

explicar, mediante todo o conjunto de dados possíveis, a origem e mudança da matéria ao longo

dos anos. Contudo, considerando que a pesquisa básica está intimamente ligada à aplicada, tais

conhecimentos advindos desse trabalho, poderão ser aplicados com o avanço da bioinformática.
16

A explicação mais plausível para o fato questionado é a de que a participação de certos

elementos seja favorecida ou restringida por critérios seletivos, mediante as condições impostas

pelo ambiente do planeta Terra. Por exemplo, em um corpo celeste onde a água seja o solvente

químico para as reações de oxirredução, os reagentes não devem nem oxidar e nem reduzir as

moléculas de água na solução. Se a atmosfera for fortemente oxidativa, os sistemas vivos não

podem ser compostos de substâncias químicas que inflamem sob a presença do gás oxigênio ou

do flúor gasoso. Nessa lógica, o número de alternativas elementares vai diminuindo de maneira

inversamente proporcional ao aumento de exigências impostas pelas condições do ambiente.

Portanto, as pesquisas que possibilitarem compreender como funcionam estes princípios

de seleção dos elementos, não só permitirão entender sobre a evolução à nível da química, mas

poderão ser cruciais para entender como sistemas químicos autossustentáveis se originaram no

planeta Terra à bilhões de anos, e como poderão se desenvolver eventualmente em um ambiente

extraterrestre diferente – com base na matéria-prima disponível em sua superfície telúrica.

1.1 Seleção Natural das Espécies

Por definição, a seleção natural consiste de um mecanismo evolutivo proposto em conjunto

pelos naturalistas Charles Darwin e Alfred Wallace em 1858, onde o meio ambiente influencia

na sobrevivência, favorecendo as versões biológicas portadoras de características que as tornam

particularmente adequadas para uma circunstância ambiental, segundo Meyer e El-Hani (2005).

Portanto, a seleção natural de um espécime mais ajustado acontece por meio da supressão das

versões menos ajustadas, mecanismo que ocasiona uma verdadeira substituição dos indivíduos

ao longo dos anos pelos tipos mais especializados, os quais conseguem sobreviver e se replicar.

O termo ''seleção natural'' somente se popularizou na ciência que estuda a vida e os seres

vivos depois da publicação do livro On the Origin of Species escrito por Charles Darwin que,

além de comparar o mecanismo com a seleção artificial de indivíduos efetuada pelo homem na
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produção agropecuária – cultivando e replicando apenas aqueles seres que melhor atendem aos

seus objetivos, expandiu a seleção natural para todos os tipos de vida existentes no planeta Terra

justificando que os fatores ambientais são os responsáveis nesse processo seletivo, não havendo

intencionalidade na escolha das versões por parte da natureza, conforme aborda Ridley (2007).

1.1.1 Seleção Natural Química

Durante as últimas três décadas, a seleção natural tem sido estendida também para tratar

da denominada evolução química que compreende desde a química prebiótica até a modificação

dos sistemas químicos autossustentáveis – uma vez que agregando novos componentes ao seu

o inventário químico existente, com ajustes seletivos e criteriosos, e suprimindo aquelas versões

moleculares não úteis, os sistemas químicos se diversificaram durante as suas auto-montagens,

originando novidades até alcançarem os auto-reprodutores presentes na Terra que, embora mais

complexos, ainda persistem variando quimicamente conforme o ambiente muda (LYNN, 2012).

Frente à nova vertente, estudos da seleção química de elementos e derivados começaram

a aparecer na literatura, principalmente depois da publicação da obra The Natural Selection of

the Chemical Elements de Frausto Silva e William, que fundamenta várias pesquisas no campo

da bioquímica. Deste modo, a dinâmica evolutiva começou a ser abordada pelos pesquisadores

conjeturando um vínculo entre a evolução química e biológica que, embora em alguns aspectos

tenham conotações diferentes, ainda possuem como sua principal força motriz a seleção natural.

2. Desenvolvimento

A natureza então tem sido constituída por diferentes partes que agregadas formaram um

conjunto de coisas complexas, oferecendo-lhes a cada uma, configurações específicas. Sistemas

vivos, a título de exemplo, são constituídos por uma série de elementos químicos que viabilizam

todas as suas atividades vitais. Conforme Aragão et al. (2017), no corpo humano, vinte e seis
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são os elementos da tabela periódica envolvidos na sua composição e, destes, apenas quatro não

participam efetivamente de todas as reações químicas que acontecem internamente.

Embora não exista uma fórmula química designada para o corpo dos organismos vivos

do planeta Terra, cientistas conseguiram definir, através da compilação de diferentes pesquisas,

àqueles elementos químicos biologicamente importantes. Conforme Koolman e Röhm (2013),

quinze elementos ocorrem em todos seres vivos e dez em determinados organismos (Figura 01).

Figura 01: Os elementos em destaque são biologicamente importantes. Fonte: Adaptado de Koolman e Röhm

(2013, p.03); Tabela adaptada de Chang (2010, p.243).

Zoroduu et al. (2019) ratificam a participação dos elementos que aparecem em destaque

na figura 01, como componentes químicos do corpo humano, exceto o metal lítio (Li) que não

foi indicado como integrante e o metal estanho (Sn) que aparece agora como um elemento traço

possivelmente relevante. Segundo os autores, dez metais da tabela periódica são indispensáveis

para o organismo, ainda que, cada metal necessário possua outro metal suplente para a função.

Davies (2008) acrescenta que, para as plantas, a verificação de elementos que as compõe

precisa ser minuciosa, pois a identificação de um determinado elemento não é evidência que o
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mesmo cumpra alguma função no organismo: uma vez que as raízes não dispõem da capacidade

de rejeitar por absoluto um elemento solúvel, um número alto de elementos da tabela periódica

intrusos podem ser encontrados nas plantas. O autor supracitado confirma então a participação

de vinte dos elementos da figura 01, necessários para as plantas completarem seu ciclo de vida:

Os nutrientes essenciais das plantas: os macronutrientes estão divididos em elementos

estruturais principais e outros macronutrientes. Macronutrientes: carbono, hidrogênio,

oxigênio, nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, cálcio e magnésio. Micronutrientes:

Boro, cloro, cobalto, cobre, ferro, manganês, molibdênio, níquel, silício, sódio e zinco

(DAVIES, 2008, p.04).

Fränzle (2009) completa que, o compromisso bioquímico que plantas, fungos e bactérias

do solo possuem com alguns elementos não é o mesmo, certamente por causa das diferenças de

disponibilidade na terra: aqueles metais presentes nas camadas superficiais de solo, como cobre,

ferro e vanádio são mais acessíveis para os fungos do que para as plantas, podendo serem mais

bem explorados por esse grupo de seres vivos durante a construção de seus aparatos biológicos.

A possibilidade de os sistemas vivos desenvolverem uma bioquímica alternativa a esse

padrão químico terrestre envolve, conforme relata Rodrigues (2010), uma quiralidade diferente

de suas biomoléculas formadas ou estruturas baseadas em outros elementos. Considerando que

as funções estruturais e metabólicas dos organismos vivos terrestres são inteiramente baseadas

na água (H2O) como solvente, seria necessário que um substituto para ela ocorresse. Conforme

Sagan (2002), essa alternativa seria a amônia (NH3), uma substância também polar e abundante

no universo e que pode, em corpos celestes com uma baixa temperatura, estar no estado líquido.

Em uma situação hipotética onde a amônia fosse o solvente, certamente tal composição

química variaria e a tabela de elementos biologicamente importantes (figura 01) incluiria outros

participantes, pois segundo Rampelotto (2012), a agressividade da amônia como um nucleófilo


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implicaria em sistemas vivos com uma bioquímica diferente, desafiando pensamentos formados

de que tal padrão químico dos seres terrestres necessite se repetir em organismos extraterrestres.

Levin et al. (2017), argumenta que é acreditado que a composição química dos sistemas

vivos que possam existir em alguns corpos celestes seja favorecida por condições similarmente

restritivas e, portanto, organismos alienígenas estarão sujeitos aos mesmos princípios de seleção

natural, como regra universal para a formação de seus aparatos. Nesse sentido, se as condições

ambientais regulam a participação dos elementos químicos em estruturas biológicas, os estudos

dos princípios de seleção podem oferecer diversas respostas sobre as formas de vida conhecidas.

2.1 Princípios de Seletividade dos Elementos

A participação dos elementos químicos da tabela periódica nos sistemas vivos terrestres

tem sido então ditada pelas condições ambientais deste planeta: as transformações na atmosfera,

na superfície terrestre e no mar, ao longo dos anos, refletiram consideravelmente na distribuição

dos elementos e na sua incorporação como componentes dos organismos (NUNES, 2016). Esse

mesmo autor levanta ainda um questionamento sobre quais princípios que conduzem a seleção:

[...] Surge então uma pergunta: Por que a natureza selecionou alguns elementos em

detrimento de outros? Seleção natural. A utilização de elementos químicos por siste-

mas biológicos depende da abundância e da biodisponibilidade do elemento, na versa-

tilidade dos compostos formados, de suas propriedades químicas (especificidade) e do

desenvolvimento de vias de captura e transporte (NUNES, 2016, p.17).

Silva (2006) sobre as razões pelas quais os organismos vivos elegeram alguns elementos

para comporem seus aparatos biológicos aponta que, no mínimo, dois são os princípios básicos

que acabam determinando a incorporação de espécies químicas: a disponibilidade e abundância,


21

e a eficiência funcional. No entanto, embora esses sejam certamente os princípios proeminentes

para seleção natural dos elementos químicos, outros princípios podem ainda existir no processo.

Demicheli e Maia (2009) citando Ochiai (1978) trazem que para entender a causa a qual

alguns elementos inorgânicos foram promovidos para exercer funções biológicas específicas e,

outros elementos igualmente adequados para as funções foram recusados, é necessário levar em

consideração alguns princípios básicos abordados pelo bioquímico Ei-Ichiro Ochiai que podem

ser teoricamente explorados para explicar como ocorreu a seleção natural de espécies químicas.

Ochiai (2012) confirma que delineou quatro princípios básicos em relação à seleção de

elementos que compõem os sistemas vivos e, que estes estão relacionados com as propriedades

físico-químicas de cada elemento e seus compostos formados. Segundo esse autor, os elementos

químicos são selecionados por ajuste básico, abundância, eficiência e adaptação dos organismos

aos elementos cuja essencialidade está estabelecida, o que ele denomina por pressão evolutiva.

Maret (2016) sobre a participação dos elementos em sistemas biológicos, argumenta que

as descobertas sobre as funções específicas que os metais desempenham em sistemas biológicos

ainda têm trazido outros insights sobre esses complexos mecanismos biológicos de regulação e

de seletividade química, podendo contribuir um pouco mais com o arcabouço de conhecimentos

pertinentes aos princípios que regem a seleção natural dos elementos químicos. Portanto, outras

pesquisas futuras podem expandir ainda mais o assunto com novos modelos de seleção química.

2.1.1 Biodisponibilidade dos elementos químicos

O termo biodisponibilidade foi proposto pelos cientistas para estabelecer uma proporção

para a qual determinadas substâncias químicas eram absorvidas e se tornavam disponíveis para

serem empregues em seres vivos. Cozzolino e Michelazzo (2016) citando Bender (1989) trazem

que, no início, o entendimento para tal termo era de uma dada proporção de nutrientes que podia

ser guardada ou ficar livre para uso após ser digerida, absorvida e metabolizada pelo organismo.
22

Guimarães e Sígolo (2008) aborda que a biodisponibilidade para os elementos químicos

condiz com a medida do potencial que cada um que destes possui para ser absorvido pelos seres

vivos e, participar das atividades biológicas. Lima e Merçon (2011) complementam que a maior

ou menor absorção de um dado elemento pelos sistemas vivos, em função de sua forma química,

pode ser relacionada com a definição de biodisponibilidade:

[...] A biodisponibilidade é um parâmetro diretamente associado com a espécie do

elemento químico. A acumulação de metais nos organismos depende diretamente da

fração de metais biodisponíveis no meio. Pode-se encontrar um metal em diferentes

compartimentos de um ecossistema, mas em função da forma química como ele

está presente, tem-se uma maior ou menor absorção por parte da biota (LIMA;

MERÇON, 2011, p.200).

Nesse sentido, a biodisponibilidade de dado elemento químico não é só exclusivamente

em função de sua assimilação e acumulação por seres vivos, mas também de sua concentração

nos materiais geológicos e das características de solubilidade dos minerais que os contém: pois

a formação de sais e sua solubilidade em água pode favorecer fortemente a biodisponibilidade

para alguns metais que dissolvidos em água podem ser melhor capturados (CORTECCI, 2010).

Souza et al. (2015) esclarece que as condições ambientais imperantes como as mudanças

de pH da água ou presença de matéria orgânica também podem tornar os elementos transitórios

ou disponíveis ao meio ambiente. Esse autor ainda aborda que, para os metais, tanto as reações

de oxirredução e diluição quanto equilíbrio precipitação/dissolução, são os principais processos

que influenciam na sua biodisponibilidade, restringindo a participação de um número admirável

de metais de transição, em forma de complexos, na maquinaria molecular dos organismos vivos.

Conforme Wuana e Okieimen (2011), atividades antropogênicas estão ocasionando uma

rápida introdução de metais pesados no meio ambiente, em concentrações no solo que persistem

por um longo tempo, sendo possível alterações nas suas formas químicas e biodisponibilidade,
23

tornando alguns elementos metálicos agora bem mais disponíveis do que antes para integrarem

os sistemas biológicos, acontecimento este que certamente influenciará na mudança bioquímica

das versões futuras de organismos vivos que habitarem a Terra, por disporem de mais opções.

2.2 A seleção através do ajuste básico dos elementos

A utilização de elementos químicos em sistemas biológicos depende da estabilidade e

das propriedades químicas que cada elemento possui, bem como das habilidades diferentes dos

seus compostos formados (NUNES, 2016). Muitas vezes um elemento químico em específico

não desempenha uma determinada função necessária para a atividade da maquinaria molecular

de um organismo, mas a sua participação, na forma de íons unidos ao sítio de uma biomolécula

possibilita a formação de uma estrutura espacial apropriada, que lhe permite realizar a função.

Nesse sentido, alguns elementos químicos possuem uma aptidão potencial para exercer

funções biológicas e, portanto, pode existir mais de um elemento para cada cargo em particular.

Ochiai (2012) traz que, nesta condição, é selecionado aquele que melhor se ajusta à cada função

e qualquer elemento ao qual este seja o caso, torna-se indispensável para o funcionamento dos

organismos. Os componentes químicos que são indispensáveis para a atividade dos organismos

vivos são denominados bioelementos, que, por sua vez, quando se apresentam em quantidades

pequenas nos seres vivos, são designados como oligoelementos (CARVALHO et al., 2016).

Embora a maior parte dos elementos formem outras espécies químicas, se um elemento

possuir uma reatividade química extremamente baixa e consequentemente não conseguir fazer

ligações para participar da composição de outras substâncias, ele portanto não será selecionado

para desempenhar funções biológicas, como é o caso dos elementos do grupo dos gases nobres:

Burnard (2003) traz que eles demonstram pouca reatividade, são insuficientemente solúveis em

água e não aceitam elétrons na forma estável para formar íons, impedindo que haja ligações.
24

Conforme Nunes (2016), o ajuste básico elucida a pequena participação do alumínio em

processos biológicos notáveis: pois apesar deste elemento ser o metal mais abundante da crosta

terrestre, encontra-se no solo em estados de oxidação altos, formando compostos como óxidos

e hidróxidos que são insolúveis em água. Como um dos atributos necessários para a participação

de um elemento químico nos processos biológicos é a sua solubilidade em água, o alumínio não

atende essa condição e, deste modo, os organismos não conseguem empregá-lo com facilidade.

Aureliano et al. (2012) denomina o ajuste básico como a especificidade de um elemento

para alguma aplicação e explana que elementos como o polônio e o astato não são apropriados

especificamente para processos metabólicos que acontecem nos sistemas biológicos por conta

de que todos os isótopos de ambos são radioativos e, em decorrência do decaimento radioativo,

originam reações que degradam as biomoléculas. Assim, todos os elementos de número atômico

superior ao polônio (Z > 84) que também são radioativos, não participam de funções biológicas.

2.2.1 Seleção natural do carbono para estruturar moléculas bioquímicas

As propriedades dos compostos do elemento carbono, o arranjam como a matéria-prima

fundamental para a formação da maquinaria molecular biológica, representando, por exemplo,

18% da composição do corpo da espécie humana (FORBES, 2012). Um elemento químico para

formar essas estruturas moleculares imprescindíveis para o ser vivo, precisa estar relativamente

disponível e ter propriedades semelhantes às do carbono. Nas condições ambientais terrestres,

os elementos silício e germânio seriam, de todos elementos químicos existentes, as opções mais

concebíveis para o carbono: eles são elementos do grupo do carbono e apresentam configuração

eletrônica bem similar, sendo o silício o substituto tetravalente mais apto à realizar as 4 ligações

químicas e formar estruturas complexas, atributos necessários para a vida (TYSON, 2015).

Nessa perspectiva, silício e carbono deveriam ser, aproximadamente, iguais na aptidão

para a formação da vida. Entretanto, de acordo com Marques (2016), os elétrons mais externos

do átomo de silício estão mais distantes do núcleo e o seu raio atômico é de 111 pm, enquanto
25

o carbono possui 70 pm de raio, diferença que dá ao silício ligações químicas significativamente

mais fracas em relação às feitas pelo carbono, fazendo com que estruturas longas formadas por

esse elemento sejam menos estáveis. Considerando as condições ambientais terrestres normais,

em que a vida depende da presença de uma ampla variedade de moléculas complexas, o carbono

se ajusta à função de compor o esqueleto principal das macromoléculas, o silício não.

Em 2016, cientistas conseguiram demonstrar que a natureza pode incorporar silício nos

blocos de construção da vida terrestre mesclando-o ao carbono: através de mutações induzidas,

proteínas do microrganismo Rhodothermus marinus foram capazes de formar ligações carbono-

silício, condição até então nunca observada em seres vivos (KAN et al., 2016). Nesse sentido,

ao combinar esses dois elementos químicos, o repertório de moléculas formadoras dos sistemas

vivos pode ser expandido, compondo versões diferentes e funcionais para maquinaria biológica,

mas que não substituem o carbono como o constituinte fundamental dos seres vivos terrestres.

Rampelotto (2012) citando Koda (1992) relata que existem vários compostos derivados

do silício que conseguem estabelecer moléculas relativamente grandes, a título de exemplo, os

silanos e siloxanos, mas que são inflamáveis à temperatura de 0 °C. Nessa perspectiva, o autor

ainda argumenta que o silício seria o candidato ideal para estruturar moléculas bioquímicas em

corpos celestes extremamente frios como o satélite natural Titã, onde esse elemento poderia se

apresentar vantajoso em relação ao carbono por conta da sua alta reatividade e, ser o precursor

da vida. Portanto, o ajuste de um elemento está relacionado às condições ambientais dos astros:

o silício seria o item selecionado em Titã, na Terra o carbono foi escolhido por ser apto à função.

2.2.2 Seleção natural do cloro na neutralização de íons de carga positiva

Para que possam ocorrer as reações químicas dentro de organismos vivos, os fluídos que

fazem parte da maquinaria biológica precisam ser consecutivamente neutros, não tendo carga

negativa ou positiva. McGuire e Beerman (2013) abordam que uma das tarefas que o elemento

cloro, presente na forma de íons cloretos, desempenha nos seres vivos é neutralizar as cargas
26

positivas dos fluídos, reestabelecendo o equilíbrio de forma que sempre possuam característica

neutra. Em razão disso, Koolman e Röhm (2013) trazem que os seres vivos necessitam dispor,

em seus aparatos biológicos, de uma quantidade razoável de cloro para um bom funcionamento:

um ser humano adulto, por exemplo, carece duma quantidade diária de até 5,1g desse elemento.

Um forte candidato para substituição do cloro para tal função seria algum outro ocupante

da série química dos halogênios: assim como o cloro, todos os outros elementos dessa coluna

apresentam 7 elétrons em seu último nível de energia e, precisam, portanto, receber um elétron

para ter a estabilidade química, transformando-se em íon mononegativo (ROZA, 2010). Porém,

as propriedades dos ocupantes desta família e de seus compostos mudam progressivamente de

acordo com o tamanho do raio atômico: a grande diferença ente os raios do flúor e cloro confere

a eles propriedades bem distintas, ocorrendo o mesmo com os demais halogênios (KIRK, 2012).

Em contraste com o cloro, o flúor é tão reativo que ataca a água fazendo ligação com o

hidrogênio e gerando oxigênio (na verdade, a reação entre o flúor e a água é tão complexa que

pode formar diversos outros produtos) o que impede que as reações químicas que envolvam

esse halogênio possam ser realizadas em solução aquosa (CHANG, 2010). Uma vez que a água

é o solvente pelo qual os organismos vivos efetuam suas reações químicas, essa particularidade

elimina o flúor como um elemento substituto para o cloro na função de neutralização de cargas.

O elemento, bromo por sua vez, tem energias de ligação mais baixas e é menos reativo

que o cloro. McFarland e Henry (2015) explicam que os íons brometo possuem um raio iônico

maior que os íons cloreto, os elétrons mais externos do brometo estão mais distantes do núcleo,

conferindo ligações químicas mais fracas. Entretanto, essas diferenças não impõem limites ao

bromo como uma alternativa química para o cloro: os íons brometo podem até substituir os íons

cloreto nos fluidos extracelulares, bem como competir com eles para o transporte dos íons nas

membranas celulares, resultando na hiperpolarização da membrana neuronal (GUPTA, 2018).

Porém, diferente do cloro, o bromo não possui muita afinidade com as soluções aquosas,

sendo mais solúvel em solventes não polares (orgânicos) e, quando em solução aquosa, o bromo
27

pode desproporcionar formando íons com diferentes estados de oxidação (+1, +3, +5 e até +6),

o que pode torna-lo desvantajoso para neutralização de cargas (OLIVEIRA; AFONSO, 2013).

2.2.3 Seleção natural do ferro para o processo de oxirredução no sangue

Transportar o oxigênio molecular nos organismos aeróbicos é um papel bem exclusivo

das metaloproteínas. Nos seres vivos vertebrados, essa função é realizada exclusivamente pela

hemoglobina, proteína cujo sítio de ligação do oxigênio contém o elemento ferro: acontece que,

nessa metaloproteína o átomo de ferro faz seis ligações coordenadas, quatro com a molécula de

porfirina formando um anel e duas ligações perpendiculares à este anel que, permitem a ligação

com átomos de O2 (NELSON; COX, 2014). Nos animais artrópodes, moluscos e crustáceos,

a hemocianina, metaloproteína que contém dois átomos de cobre, realiza essa função: os átomos

de cobre fazem ligações coordenadas, com a histidina e com o oxigênio (BANNISTER, 2012).

Para Rampelotto (2012), uma das restrições importantes pelas quais organismos vivos

selecionaram elementos químicos para efetuar as reações é a de que o solvente é a água. Assim,

para que determinado elemento químico possa desempenhar funções em meios biológicos, ele

deve se adequar à tal condição. Demicheli e Maia (2009) trazem que um dos atributos principais

para que uma espécie química possa realizar as reações de oxidorredução no meio aquoso é que

não deva oxidar ou reduzir a água durante tal processo. Considerando os potenciais de oxidação

e redução da água, metaloproteínas formadas por ferro, cobre e molibdênio foram selecionadas

para transportar oxigênio e excluídas classes baseadas nos pares Co(III)/Co(II) e Cr(III)/Cr(II).

Entre os metais aproximadamente iguais na aptidão de realizar reações de oxidorredução

que foram selecionados, o ferro obtém a maior vantagem. Yousem e Grossman (2011) apontam

que sua estrutura na hemoglobina possibilita que, quando o oxigênio se ligue à mesma, o átomo

de ferro se mova de volta para o centro do plano do anel de porfirina de modo que suas ligações

se tornem mais fáceis e que as moléculas de água fiquem distantes do mesmo, impossibilitando
28

que haja qualquer alteração química da água. Contudo, existe ainda uma versão de proteína com

um sítio ativo contendo dois átomos de ferro ligados, chamada hemeritrina, que realiza também

o transporte de oxigênio, em alguns filos de invertebrados inferiores (WELLER et al., 2017).

Conforme Strobel et al. (2012), embora as metaloproteínas constituídas pelos elementos

cobre e ferro desempenhem uma função bem semelhante em seres vivos aeróbicos, as espécies

químicas compostas por cobre possuem apenas 1/4 de eficiência no transporte de oxigênio, em

relação àquelas compostas pelo ferro. Contudo, esse quadro muda de acordo com as condições:

em ambientes frios e com baixa pressão de oxigênio, as hemocianinas apresentam-se bem mais

eficientes do que as hemoglobinas para o transporte de oxigênio. Acontece que, a diminuição

da temperatura aumenta a tendência de o oxigênio continuar ligado à estrutura da hemoglobina

e, por essa razão, reduzir a sua liberação por essa biomolécula (VANPUTTE et al., 2016).

2.3 A seleção através da abundância dos elementos

A utilização de elementos químicos pelos sistemas biológicos depende da abundância e

da biodisponibilidade que os mesmos possuem na natureza: a absorção de algum elemento pode

ser simplesmente determinada pela forma química em que o mesmo se apresenta em diferentes

divisões de um ecossistema, como supracitado. De tal modo, os elementos dissolvidos ou que

se encontrem em suspensão tornam-se mais fáceis de serem utilizados pelos organismos vivos.

Essa regra ajuda a compreender melhor por que o bromo não é um bom substituto para

o elemento cloro: a abundância dos cloretos na água do mar é relativamente alta e, considerando

que o mar foi o berço da origem da vida, o cloro esteve mais disponível do que qualquer outro

elemento do grupo dos halogênios. Por tanto, para a seleção natural do cloro como neutralizador

de íons de carga positiva, a abundância e biodisponibilidade deve ser considerada (Figura 02).
29

Abundância na Água do Mar %

CLORO

BROMO

FLÚOR

FLÚOR BROMO CLORO


Abundância na Água do Mar 0.00013 0.00673 1.94

Figura 02: Representação da abundância dos halogênios flúor, bromo e cloro na água do mar. Fonte: Adaptação

de Haynes (2011).

Nessa perspectiva, a regra de abundância se aplicará e determinará qual dos elementos

deve ser selecionado. Se mais de um elemento químico puder desempenhar determinada função,

o elemento mais abundante no ecossistema ou mais prontamente disponível, será certamente o

utilizado (OCHIAI, 2012). Seguindo essa regra, embora os elementos ferro e cobre possam ser

utilizados nas metaloproteínas por desempenharem uma função bem semelhante, o ferro é bem

mais abundante e encontra-se mais disponível que o cobre na crosta terrestre (SILVA, 2006).

Porém, se um elemento essencial não estiver efetivamente disponível e não existir outro

componente alternativo para a função, o organismo seria simplesmente incapaz de existir como

tal. Por exemplo, se o carbono não estivesse disponível no planeta Terra, organismos vivos cuja

formação se baseia em cadeias químicas longas, certamente nunca teriam existido, pois como

já foi dito, cadeias à base de silício são inviáveis para a vida nas condições ambientais terrestres.

2.3.1 Seleção natural do cálcio para compor as estruturas ósseas rígidas

A insolubilidade, em especial de alguns dos vários compostos do elemento cálcio, leva

à existência de muitos compostos que servem de matéria-prima para a formação de estruturas

biológicas rígidas. Os compostos inorgânicos de cálcio constituem em média 70% da parte não

celular dos ossos dos animais que, são formados principalmente a partir dos sais fosfatos e
30

carbonatos desse elemento, sendo a hidroxiapatita (Ca10 (PO4)6 (OH)2) o principal sal presente

nas composições ósseas (HALL; GUYTON, 2011). De tal modo, o cálcio que é um constituinte

fundamental da estrutura esquelética dos seres vertebrados seria insubstituível para essa função.

Por sua vez, os compostos químicos do elemento estrôncio, como fosfatos e carbonatos,

também são insolúveis e podem realizar essa função de maneira formidável: diferentemente do

cálcio, o estrôncio possui uma alta afinidade para o tecido ósseo e pode formar estruturas ainda

mais fortes. A presença de compostos de estrôncio nas estruturas ósseas faz o risco de fraturas

diminuir em aproximadamente 59% e a ligação que ele estabelece com as proteínas plasmáticas

é baixa. Por conta de tais atributos, o tratamento da osteoporose, condição em que a densidade

mineral óssea é diminuída, acarretando consequentemente a fragilização dos ossos, pode incluir

uso do ranelato de estrôncio (C12H6N2O8SSr2), substância que atua tanto diminuindo o risco das

fraturas vertebrais quanto aumentando a formação de ossos (BARRETO, 2011).

O estrôncio é um elemento químico que compartilha muitas características com o cálcio,

ambos pertencem à família dos metais alcalino-terrosos, possuem o seu último nível de energia

(subnível s) preenchido e respectivamente o número de oxidação +2. Além disso, o núcleo do

átomo de estrôncio é quase do mesmo tamanho do núcleo do cálcio, o que permite ao corpo dos

vertebrados, através do mimetismo estrutural, absorver e incorporar facilmente o estrôncio em

suas vértebras no lugar do cálcio (HAMDY, 2009). Uma vez que, neste caso, a substituição de

um metal por outro não é um problema à saúde do organismo vivo, pode auxiliar no crescimento

aumentando a densidade e diminuir significativamente a quebra das estruturas ósseas.

Com essas propriedades, o elemento estrôncio seria certamente a melhor opção química

para a formação esquelética dos sistemas vivos. Para Demicheli e Maia (2009), o entendimento

dessa ocorrência requer levar em consideração que a seleção natural de elementos químicos que

constituem as estruturas esqueléticas dos seres vivos aconteceu pela abundância ou escassez no

solo. Uma vez que o cálcio seria o elemento mais abundante e disponível para a formação óssea

naquele devido momento, pois Haynes (2011) traz que a abundância do cálcio na crosta terrestre
31

é de 4,15% enquanto que a do estrôncio é de somente 0,037%, na falta de algo com as melhores

propriedades químicas disponível para essa função, os compostos de cálcio foram úteis.

2.3.2 Seleção natural do enxofre para compor o aminoácido cisteína

Na natureza, existem compostos semelhantes nos quais um ou mais átomos individuais

podem ser diferentes. Conforme aborda Miller (2019), a cisteína é um exemplo de um composto

químico que possui esqueleto carbônico idêntico tanto ao da serina, quanto ao da selenocisteína

(todos estes calcogenoaminoácidos com propriedades químicas semelhantes), distinguindo-se

somente pelos diferentes elementos envolvidos em sua composição química (Figura 03).

Figura 03: Representação da fórmula molecular e estrutural da selenocisteína e da cisteína. Fonte: Adaptação de

Wikimedia Commons (2015).

Conforme trazem Koolman e Röhm (2013), apesar de serem constituídos por elementos

químicos diferentes, aminoácidos análogos como cisteína e selenocisteína podem desempenhar

as mesmas funções. Segundo os autores, o elemento selênio pode substituir o enxofre, provendo

ainda de uma capacidade de reação maior que o mesmo. Certamente, a abundância do enxofre

na natureza, em relação ao selênio, faz com que o grupo tiol esteja mais prontamente disponível

para formar o aminoácido cisteína do que o selenol como a matéria-prima para a selenocisteína.

Uma vez que a abundância do selênio na crosta terrestre (0,00005%) seja demasiadamente

inferior à do enxofre (0,035%) conforme traz Alves (2008), espera-se que esse elemento possua
32

então, uma participação menor na constituição de calcogenoaminoácidos. Nessa perspectiva, o

oxigênio que é 46,1% abundante na crosta, seria uma excelente alternativa química ao enxofre,

elevando a serina à condição de substituta da cisteína. Porém, segundo Berg, Tymoczko e Stryer

(2004), a sulfidrila (SH-), ou tiol, é bem mais reativa que a hidroxila (OH-) e pode formar pontes

dissulfeto que são particularmente formidáveis para a estabilização de algumas proteínas.

Segundo Fujii (2010), o aminoácido selenocisteína é o principal motivo para o elemento

selênio ser requerido na dieta dos organismos vivos e, tanto ela quanto a cisteína, são derivadas

da serina, que é uma molécula precursora na síntese dos aminoácidos. Ainda de acordo com os

autores, o composto de selênio possui propriedades químicas tão únicas, que a substituição pela

versão formada por enxofre pode ter efeitos inibitórios pronunciados na atividade enzimática.

2.3.3 Seleção natural do zinco para compor a enzima fosfatase alcalina

A fosfatase alcalina é uma enzima que contém o elemento zinco, produzida por diversos

órgãos e tecidos, ela possui esse nome devido a sua atividade ótima ocorrer em pH próximo de

8,0 (alcalino). Demicheli e Maia (2009) trazem que, a enzima possui quatro íons Zn e dois íons

Mg formando duas subunidades: cada uma destas duas subunidades contém um centro dinuclear

formado pelo elemento zinco que é o sítio catalítico e pelo elemento magnésio que é certamente

estrutural. Assim, a fosfatase alcalina nativa totalmente ativa é referida como ( ZnA ZnB MgC)2.

Conforme Prasad (2013), os mecanismos de ação dessa enzima envolvem a coordenação

geométrica dos íons de zinco nos sítios ativos: através de sua geometria de coordenação flexível

o zinco pode atuar acoplando a base ao nucleófilo, enquanto o magnésio, por sua vez, contribui

para formar o potencial eletrostático em torno do centro ativo desse complexo. Porém, segundo

Koutsioulis et al. (2010), a esfera de coordenação do terceiro sítio (preenchida pelo magnésio)

é a responsável por selecionar os metais para formar o ácido de Lewis deste complexo metálico.

Para substituir o zinco nos sítios ativos da fosfatase alcalina, os melhores candidatos são

certamente outros elementos de transição, uma vez que seus átomos (ou seus cátions formados)
33

possuem uma subcamada d parcialmente preenchida e disponível para poder acomodar elétrons

dos ligantes nos complexos. Nesse sentido, McComb et al. (2013) abordam que na fosfatase, o

zinco pode ser substituído in vitro pelos cátions de metais de transição como manganês, cádmio,

níquel, cobre e mercúrio. Contudo, nenhum desses elementos conservou a funcionalidade desta

enzima: uma vez substituindo o zinco, pouca ou nenhuma atividade enzimática foi recuperada.

Em meio aos quarenta elementos pertencentes ao bloco d da tabela, o cobalto surge como

um substituto viável e capaz de manter a atividade dessa enzima: os quatro sítios do complexo

podem acoplar o cobalto de forma equivalente ao zinco, existindo inclusive versões da fosfatase

que são formadas por esse metal de transição preenchendo os sítios A e B, que estão presentes

em algumas espécies de bactérias. Tian, Jia e Yu (2016) alegam que o ferro também é capaz de

participar da fosfatase alcalina, mesmo assim, ainda podendo ser entendido como contaminante.

Demicheli e Maia (2009) acrescentam que tais organismos certamente elegeram o zinco

para compor a enzima fosfatase por conta de estar mais abundante que o cobalto na hidrosfera

e geosfera: o zinco é o 24º elemento mais abundante, compondo aproximadamente 0,007% da

crosta do planeta Terra, enquanto o cobalto compõe cerca de 0,003% (HAYNES, 2011). Porém,

ainda que seja bioquimicamente raro, o cobalto posicionado no centro de um anel corrina forma

a cobalamina (vitamina B12) que está relacionada ao metabolismo de todas as células do corpo

humano e de muitos outros seres vivos, exceto os vegetais que não a possui (YAMADA, 2013).

2.4 A seleção através da eficiência dos elementos

Na natureza, quando múltiplos elementos são adequados para desempenhar determinada

função biológica e estão igualmente disponíveis para compor os sistemas biológicos, espera-se

que o elemento químico selecionado seja aquele capaz de executar as tarefas de modo eficaz e

com o mínimo de desperdício de recursos ou de energia disponível no sistema (OCHIAI, 2012).

Esse princípio ajuda compreender melhor por que o cobalto não foi o metal selecionado

para formar o ácido de Lewis do complexo da fosfatase alcalina: considerando que a disponibi-
34

lidade e abundância de ambos metais de transição seja relativamente próxima na crosta terrestre

(figura 04), a geometria de coordenação flexível do zinco, segundo Prasad (2013), garante uma

atividade enzimática mais eficiente. Portanto, ainda que essa diferença de abundância de ambos

elementos não seja relativamente grande, o elemento zinco proporciona os melhores resultados.

Abundância na Crosta Terrestre %

ZINCO COBALTO MANGANÊS


Abundância na Crosta Terrestre 0.007 0.003 0.095

Figura 04: Representação da abundância de zinco, cobalto e manganês na crosta terrestre. Fonte: Adaptação de

Alves (2008).

Esse princípio também ajuda a compreender por que o ferro que é bem mais abundante

não substituiu o cobre nos organismos que habitam as grandes profundidades: em contraste com

a hemoglobina, o oxigênio não tende a manter-se ligado ao complexo da hemocianina em baixas

temperaturas, o que viabiliza seu transporte até as células, proporcionando uma oxigenação bem

mais eficiente e impossibilitando anóxia por seu baixo fornecimento (VANPUTTE et al., 2016).

Embora a abundância de um elemento químico mantenha-se permanente por inúmeros

anos, sua disponibilidade pode sofrer variação à medida que mudanças nas condições terrestres

ocorram. Nesse sentido, Aureliano et al. (2012) relata que alguns elementos que se tornem mais

biodisponíveis, podem se tornar essenciais para os organismos vivos, por serem eficientes para

uma dada função e, qualquer um sistema vivo ao qual este seja o caso, sofrerá alterações na sua

composição química, o que pode provocar também mudanças em suas características corporais.
35

2.4.1 Seleção natural do potássio como macronutriente para as plantas

As características químicas dos solos condicionam o desenvolvimento dos vegetais que,

são organismos que necessitam de diversos minerais para sua nutrição. Sob condições naturais,

todos os macronutrientes requeridos são retirados do solo, sendo que um deles se trata do cátion

potássio (K+) que, na condição de nutriente mineral é extremamente importante para a formação

das plantas, podendo representar aproximadamente 10% do peso seco delas (MITRA, 2015).

No entanto, em alguns grupos de vegetais, o potássio pode ser parcialmente substituído

pelo sódio (acontecimento bem descrito na literatura por implicar no aumento da produtividade

como resultado da alteração química em variadas plantas). Conforme alega Korndorfer (2006),

de forma parcial, o cátion sódio pode substituir o cátion potássio na ativação da enzima ATPase,

na osmorregulação, na síntese de carboidratos, na abertura e fechamento dos estômatos e até no

transporte do dióxido de carbono (CO2) para as células de plantas C4. Meurer (2006) acrescenta

que, ao substituir o cátion potássio, o cátion sódio atuaria no aumento da absorção de nutrientes

catiônicos como cálcio e magnésio, por não apresentar uma interação competitiva com ambos.

O sódio é um elemento químico que compartilha muitas características com o potássio:

ambos pertencem à família dos metais alcalinos, apresentando um único elétron nos níveis mais

externos de energia e uma energia de ionização semelhante que facilita que haja a formação de

íons monopositivos (CHANG, 2010). Ambos elementos também possuem abundância próxima

na superfície terrestre: o metal sódio é o sexto elemento mais abundante com 2,36% e o potássio

é o oitavo, possuindo uma abundância aproximada de 2,09% na crosta terrestre (ALVES, 2008).

Embora os elementos sódio e potássio apresentem muitas semelhanças químicas, certos

atributos os separam em macroelementos e elementos traço nas plantas. Schubert (2015) explica

que o potássio como um macronutriente desempenha três funções básicas nos vegetais: ativação

enzimática, equilíbrio de carga e funções osmóticas. Em contraste, Azambuja et al. (2014) traz
36

que o sódio não pode preencher por completo funções específicas do potássio, como a ativação

enzimática, devido aos seus íons hidratados (Na+) serem 1 ångström maiores que os do potássio

Conforme Wakeel et al. (2011), durante as últimas décadas, uma quantidade expressiva

de trabalhos científicos sobre a substituição do cátion potássio pelo cátion sódio na nutrição de

plantas foram feitas, e todas confirmaram que poucas funções do potássio podem ser alcançadas

por íons de outros elementos monopositivos. Ainda que o sódio funcione como um suplemento

para os vegetais na carência do potássio, não o substitui completamente. Portanto, devido à essa

capacidade inerente do potássio para executar diversas tarefas, outros elementos potencialmente

aptos a substitui-lo não são eficazes o suficiente e, não foram naturalmente selecionados.

2.4.2 Seleção natural do níquel para compor a enzima uréase

A urease é uma enzima que contém o elemento níquel, existente em bactérias, plantas,

algas e outros organismos vivos, principal responsável por catalisar a hidrólise da ureia em duas

outras substâncias: Benoit e Maier (2013) trazem que, essa enzima contém um sítio ativo com

um par de átomos de níquel ligados à uma lisina carboxilada e um grupo hidroxila que aceleram

a reação de hidrólise da ureia, resultando na formação de amônia e carbamato na primeira etapa

e posteriormente em amônia e carbonato (como produtos finais dessa reação química).

Segundo Benini, Musiani e Ciurli (2013), a presença do níquel como cofator enzimático

surpreendeu os pesquisadores quando sua relevância para a atividade da urease foi descoberta:

pois o metal zinco é, na maioria das vezes, o componente selecionado pelos sistemas vivos para

participar das metaloenzimas devido à sua resistência para se submeter as mudanças de estado

redox deletério e por causa da sua grande densidade de carga positiva, atributos que lhe tornam

um ácido de Lewis formidável e lhe conferem uma alta participação nos complexos metálicos.

Embora o níquel participe pouco da formação de enzimas, suas características químicas

e físicas são similares às do zinco. Segundo Alves (2008), ambos metais se encontram no quarto
37

período da tabela periódica integrando os metais de transição, e possuem uma abundância muito

próxima na geosfera (o níquel compõe 0,0084% da crosta terrestre e o zinco compõe 0,0070%).

Valdez e Alexandrova (2012) compararam as ureases com as β-lactamases que se tratam

de enzimas relacionadas intimamente em função e estrutura (sendo que a segunda enzima utiliza

dois átomos zinco para fazer trabalhos catalíticos) e abordaram que o uso dos cátions zinco pela

β-lactamase natural não lhe proporciona a máxima eficiência possível, pois enquanto tal enzima

se mostra incapaz de hidrolisar a ureia, uma versão sua formada por níquel substituindo o zinco

catalisa o ataque ao anel β-lactâmico com uma eficiência superior. O autor ainda enfatiza que

o zinco leva a β-lactamase a um desempenho que é apenas regular para sua finalidade biológica,

entretanto, que pode ser melhorado evolutivamente através da sua substituição pelo níquel.

Zambelli et al. (2011) complementam que o níquel proporciona resultados melhores do

que o zinco para a enzima urease em função das diferentes geometrias apresentadas: geometrias

pentacoordenadas ou hexacoordenadas são comumente verificadas para o níquel, enquanto para

zinco os complexos tetracoordenados em locais catalíticos de enzimas são mais comuns. Ainda

segundo os autores, um cátion zinco no lugar do níquel (1) seria de quatro coordenadas e inábil

para se ligar a mais uma molécula de ureia, à medida que no lugar do níquel (2) um cátion zinco

seria de cinco coordenadas e incapaz de se ligar adicionalmente ao grupo uréia-NH2. Portanto,

devido a essas distinções do níquel, o zinco é ineficaz para substitui-lo e não foi selecionado.

2.4.3 Seleção natural do cobre para a enzima metano monooxigenase

Na natureza, através da atividade de uma enzima capaz de catalisar reações químicas de

oxirredução denominada metano monooxigenase (MMO), organismos metanotróficos realizam

a transformação química do metano (CH4) em metanol (CH3OH). Essa estratégia metabólica é

indispensável para haver a assimilação de tais hidrocarbonetos em biomassa e energia por seres
38

como bactérias metanotróficas que existem na interface de ambientes muitas vezes desprovidos

de oxigênio, vivendo unicamente deste artifício, conforme explicam Brandani e Santos (2016).

Conforme Ross e Rosenzweig (2017) elucidam, existem duas versões dessa enzima bem

descritas na literatura: a forma solúvel da metano monooxigenase (sMMO), que possui um sítio

ativo com um centro contendo dois átomos de ferro ligados a um átomo de oxigênio (Fe-O-Fe),

e a forma particulada da metano monooxigenase (pMMO) que, embora alguns cientistas tenham

proposto que também se utilize de ferro, apresenta seu sítio ativo formado por átomos de cobre,

metal que compartilha alguns atributos químicos e está no mesmo período na tabela periódica.

Por haver controvérsias sobre o conteúdo metálico da enzima, com diferentes sugestões

teóricas sobre sítios mono, di ou trinucleares de cobre, Cao et al. (2018) realizaram um estudo

recente usando refinamento mecânico quântico para determinar qual arranjo atômico se encaixa

melhor na estrutura da pMMO e o conjunto de dados cristalográficos que foram alcançados não

deram suporte para um local de cobre dinuclear, sugerindo que seja mais adequado que a enzima

possua um centro de cobre mononuclear, e não dinuclear como se pensava anteriormente.

Todavia, Waldron e Robinson (2009) acrescentam que ao longo dos anos, os organismos

metanotróficos substituíram a forma solúvel da enzima metano monooxigenase – composta por

ferro no seu sítio ativo – pela forma da enzima particulada que faz o uso de cobre, o que alternou

o metabolismo dos mesmos para trabalharem com esse elemento, uma vez que tenha se tornado

mais biodisponível para ser usado em mecanismos de oxirredução do que o ferro: devido a ação

oxidante da atual atmosfera, o ferro têm formado compostos pouco solúveis em água, reduzindo

sua acessibilidade, embora a abundância ainda seja bastante alta em relação aos demais metais.

Nesse sentido, Chen et al. (2014) esclarecem que, os parâmetros cinéticos e a frequência

de rotatividade indicam que a metano monooxigenase que utiliza cobre (pMMO) é uma enzima

mais específica à tarefa de oxidação do metano, podendo catalisar a hidroxilação e a epoxidação

de somente alguns alcanos. O autor ainda traz que, embora a versão formada pelo ferro (sMMO)

possa oxidar uma imensa quantidade de substâncias orgânicas, a forma particulada é o oxidante
39

de metano mais eficiente relatado na literatura. Assim, até que surjam outros tipos enzimáticos

que possam exibir resultados superiores, a pMMO é a enzima mais apropriada para essa tarefa.

2.5 Seleções e adaptação evolutiva dos organismos

A seleção natural acabou refinando os sistemas vivos, ao longo de bilhões de anos, para

tirarem o máximo das propriedades químicas e físicas das matérias-primas disponíveis na Terra,

desde espécies químicas inorgânicas dissolvidas na água de fontes hidrotermais superaquecidas

presentes fundo do oceano, até mesmo dos gases que estavam presentes na atmosfera prebiótica,

o que possibilita esclarecer muitas de suas características bioquímicas (NELSON; COX, 2019).

Entretanto, ao tentar fazer uso otimizado de um determinado elemento químico, espera-

se que o sistema se adapte de uma maneira bem específica às propriedades desse elemento em

particular, de forma que alguma alternativa química potencialmente apta a desenvolver mesma

tarefa acabe se tornando não mais um substituto efetivo para o produto final da evolução, o que

Ochiai (2010) denomina como princípio da adaptação evolutiva ou efeito da pressão evolutiva.

Nesse sentido, a escassez de um elemento eficaz para uma função biológica pode então

pressionar os organismos vivos a se adaptarem a um elemento alternativo menos eficaz, porém,

que esteja biologicamente acessível, permitindo entender a causa da presença de determinados

elementos na constituição dos organismos modernos, conforme aborda Mukherjee et al. (2018):

Todavia, argumentamos que esses períodos de crise de elementos traços forçaram os

organismos a explorar suas opções para se adaptarem às condições estressantes

e promoveram mecanismos para enfrentar e evoluir [...] Assim, a necessidade de con-

dições de nutrientes desfavoráveis e favoráveis pode ter sido imprescindível para gerar

a pressão evolutiva necessária e diversificação, respectivamente, ao longo do tempo.

(MUKHERJEE et al., 2018, p.4432).


40

Estudos de Diekmann e Pereira-Leal (2013) ratificam que muitas inovações biológicas

ocorreram em um período em que haviam poucas opções elementares acessíveis para realizarem

tarefas, o que corrobora o princípio da pressão evolutiva, onde, para fazer o melhor uso possível

dos elementos disponíveis, os organismos desenvolveram sistemas adaptados ao uso destes que,

muitas alternativas químicas atualmente abundantes na crosta não são mais substitutas eficazes.

Diante disso, conforme a disponibilidade de substratos, os sistemas vivos adaptados para

as propriedades de um dado elemento podem, de acordo com Galembeck e Costa (2016), passar

a predominar ou serem eliminados por deficiência de nutrientes, por não aderirem à substituição

dos componentes. Assim, as mudanças ambientais além de contribuírem com a participação de

um elemento químico, podem conferir aos seus portadores a maior capacidade de sobrevivência

em relação às demais formas de vida, aumentando exponencialmente a população de indivíduos

que dispõem dessa novidade química (novo no sentido de algo que não se tinha anteriormente).

2.5.1 Seleção e adaptação ao magnésio para realização da fotossíntese

Do mesmo modo que organismos aquáticos primitivos se adaptaram para a absorção de

luz filtrada pela água, os seus descendentes terrestres adaptaram-se à luz filtrada pelos gases da

atmosfera por meio de um artefato adquirido ainda no meio aquático: o elemento magnésio que,

agregado ao anel porfirínico constitui a clorofila – uma substância fotorreceptora que possibilita

a realização da fotossíntese de maneira mais eficiente e otimizada em certos grupos de bactérias,

algas e plantas, absorvendo a luz solar em comprimentos de onda adequados para sustentar uma

autotrofia no metabolismo de todos os organismos vivos que a possuem (RAVEN et al., 2011).

Karp (2005) aborda que, a clorofila é uma porfirina cujo íon central é o metal magnésio,

do mesmo modo que a heme sanguínea é uma porfirina de ferro, sendo esta uma evidência forte

de que a armação do anel porfirínico – cuja a alternância de ligações simples e duplas desloca

os elétrons e acaba sendo responsável pela absorção de luz – já estava presente nos organismos
41

ascendentes das plantas e dos animais. Portanto, Galembeck e Costa (2016) complementam que

os microrganismos de fato já possuíam a porfirina, e que essa espécie química serviu como base

para formação de derivados fotorreceptores como, a título de exemplo, a molécula da clorofila:

[...] Ao longo do tempo, essas bactérias respiradoras de sulfato dominaram o novo

ambiente e foram pioneiras na síntese do anel porfirínico. Este composto, a porfirina,

participa de processos que envolvem transferência de elétrons, constituindo a base

estrutural para moléculas como as clorofilas e os citocromos. Assim, há milhões

de anos, as porfirinas e seus derivados têm papel fundamental na síntese de ATP em

plantas e animais, além de contribuir para o transporte de O2 em vertebrados (como

parte integrante da hemoglobina) (GALEMBECK; COSTA, 2016, p. 320).

Nessa perspectiva, a presença adicional de um íon de magnésio na estrutura da porfirina

originou um derivado capaz de absorver a luz em comprimentos de onda ideais para organismos

fotossintetizantes. A estrutura comum da porfirina apresenta dois hidrogênios, que é acreditado

que deem lugar ao Mg+2 na formação da clorofila, pois conforme Prestes (2009) citando Ahmed

et al. (2002), em um processo reverso (onde as moléculas de clorofila isomerizam e sofrem uma

variação, formando uma versão chamada feofitina), o magnésio é substituído pelos hidrogênios.

Está bem presente na literatura que a perda do magnésio do centro da estrutura química

da clorofila traz alterações no metabolismo dos organismos e Moreira et al. (2015) admite que

um aumento nos níveis de magnésio das plantas contribui na absorção mais eficiente da luz e

proporciona o melhor desempenho fotossintético, e certo que os sistemas vegetais se encontram

adaptados para absorverem a luz nos comprimentos de onda específicos ao uso desse elemento

em particular, sua substituição não é mais viável às plantas e traz efeitos negativos caso ocorra.
42

2.5.2 Seleção e adaptação ao oxigênio para a forma de respiração aeróbica

Com o acúmulo de oxigênio na atmosfera da Terra, oriundo da atividade dos organismos

vivos fotossintetizantes há bilhões de anos atrás, os sistemas vivos aeróbicos obtiveram imensas

vantagens em relação às demais versões anaeróbicas: diferente do processo metabólico que não

utiliza o oxigênio (anaeróbico) e produz somente 8 moléculas de ATP, o metabolismo aeróbico

com uso de oxigênio como aceptor final de elétrons, permite que a glicose produza 28 moléculas

de ATP, tornando mais vantajosa essa forma de obtenção de energia (MADIGAN et al., 2009).

Ainda que os microrganismos que utilizem a respiração anaeróbica como via metabólica

sejam rápidos na obtenção da energia necessária, esgotam mais rápido seus recursos, deixando

evidente que para organismos como os metazoários essa via seria desproporcional e ineficiente

na obtenção de energia para as atividades biológicas conforme Molenaar et al. (2009). Portanto,

a respiração aeróbica seria uma das poucas ou talvez a única via capaz de garantir a quantidade

de energia que os metazoários exigem, pois Sadava et al. (2009) trazem que essa via metabólica

permite transferir para as moléculas de ATP até cerca de 40% da energia armazenada na glicose.

Embora sejam conhecidas três espécies de metazoários (Loricifera) que vivem mediante

metabolismo anaeróbico obrigatório em condições permanentemente anóxicas (uma ocorrência

evidenciada somente em eucariotos unicelulares), a maioria dos sistemas vivos que representam

a fauna metazoária possuem uma respiração aeróbica e, ainda que sejam capazes de sobreviver

à falta de oxigênio por períodos limitados, não conseguem concluir seu ciclo de vida em habitats

que sejam permanentemente desprovidos de oxigênio molecular (DANOVARO et al., 2010).

Nesse sentido, Helmkamp (2010) complementa que, com a respiração aeróbica presente

nos seres metazoários, as formas de vida procedentes se tornaram completamente dependentes

da obtenção de energia através de ligações químicas à base do oxigênio, o que respectivamente

demandou um conjunto de adaptações como, por exemplo, a produção de uma imensa variedade
43

de antioxidantes para minimizar os problemas relacionados aos radicais livres que resultam do

processo metabólico e que podem danificar praticamente todas as biomoléculas dos seres vivos.

Apesar dos organismos aeróbicos terem surgido de ancestrais que realizavam respiração

anaeróbica, Galembeck e Costa (2016) trazem que a existência de multicelulares depende única

e exclusivamente da presença de oxigênio, e que a sua oferta permaneça nos níveis da atmosfera

atual (21% da mesma), não sobrevivendo à valores menores que esse ou por meio da respiração

anaeróbica, e não admitindo outro elemento da tabela periódica como substituto. Assim, até que

essa taxa de oxigênio fosse atingida pela ação dos seres fotossintetizantes, os únicos organismos

capazes de sobreviver às concentrações mais baixas foram certamente bactérias microaerófilas.

2.5.3 Seleção e adaptação ao fósforo para o armazenamento de energia

A energia, necessária para conduzir muitos processos nos sistemas vivos, é armazenada

e ministrada pelo complexo químico orgânico trifosfato de adenosina (ATP), que é utilizado na

fotossíntese e no metabolismo aeróbico e anaeróbico, cuja armação possui o fósforo sob a forma

do íons fosfato (PO4)3 – uma espécie química que desenvolve diversos outros papéis nas células,

participando do arranjo estrutural do DNA e das membranas celulares (KATSNELSON, 2010).

Nesse sentido, uma quantidade significativa de investigações e estudos científicos sobre

a possibilidade de substituição do fósforo por outras espécies químicas, que permitissem formar

uma bioquímica alternativa independente deste elemento, foram feitas. Hunter (2012), realizou

inclusive um artigo de revisão sobre o assunto, onde levantou o seguinte questionamento:

Moléculas contendo fosfato são constituintes essenciais de todas as células vivas.

Quais são então as propriedades especiais do fosfato que levaram à sua seleção

como um componente fundamental durante a evolução das formas de vida auto-

replicantes? O fósforo é um elemento do grupo 15 e, portanto, possui cinco elétrons

em sua camada externa [...] (HUNTER, 2012, p. 2513).


44

Esse questionamento se dá por conta de o elemento arsênio ser um análogo químico do

fósforo, que está no mesmo grupo na tabela periódica (calcogênios), possuindo um raio atômico

e eletronegatividade bem semelhante, o que o tornaria um forte substituto (LIDE, 2010). Porém,

embora compartilhem diversas características químicas, nenhum organismo terrestre conhecido

conseguiu, até o momento, substituir sua base química de fósforo por espécies à base de arsênio.

Wolfe-Simon et al. (2011) proporam que o fósforo teria sido substituído pelo o arsênio

em um isolado denominado GFAJ-1 pertencente à família de proteobactérias Halomonadaceae,

onde os íons arsenatos estariam sustentando o seu crescimento. Entretanto, estudos posteriores

refutaram essa proposta de que o arsênio estaria substituindo o fósforo no DNA ou no complexo

de adenosina para armazenamento de energia no organismo GFAJ-1, complementando que essa

bactéria ainda é dependente dos fosfatos embora seja resistente aos arsenatos (ERB et al., 2012).

Silva e Leite (2017) citando Dixon (1997) abordam que, embora essa substituição possa

ocorrer entre as duas espécies químicas, uma vez executada ocasionaria diversos desequilíbrios

bioquímicos ao sistema: a substituição do trifosfato pelo triarsenato de adenosina, faz a energia

em kcal/mol procedente de sua reação com a água diminuir tanto de ΔG -11,44 para -9,7 quanto

de ΔH -11,52 para -8,14, refletindo em energias livres menores para as reações bioquímicas que

são necessárias. Nesse sentido, como os sistemas vivos já estão adaptados para trabalharem nos

níveis de energia advindos do ATP, essa versão arsênica não é mais viável (PARK et al., 2013).

3. Metodologia

Esta seção é onde serão delineadas as formas e caminhos pelos quais o estudo da seleção

de elementos químicos para os processos vitais foi conduzido, considerando todos fundamentos

ou pressupostos filosóficos que fundamentam esse trabalho em particular. A metodologia pode

ser dividida em partes menores designados métodos que, de acordo com Matias-Pereira (2010),

são exatamente os procedimentos e artifícios explorados até chegar a um determinado objetivo.


45

Nessa lógica, Ferrer (2016) complementa que dentro da seção de metodologia é descrita

a modalidade de pesquisa mais adequada para consecução do objetivo de um trabalho científico,

apontando os instrumentos a serem utilizados. Portanto, torna-se pertinente explanar as formas

pelas quais esse estudo foi conduzido, categorizando as modalidades pesquisas aqui exploradas

conforme seu tipo e os materiais utilizados para a elaboração do presente material científico.

3.1 Tipo de Pesquisa

Embora as pesquisas realizadas dentro dos âmbitos acadêmicos possam ser interpretadas

como de caráter científico, a adoção do método e tipo de pesquisa adequado pode fornecer uma

confiabilidade e veracidade muito maior, assegurando o prestígio do estudo. Nessa perspectiva,

Gil (2010) traz que as pesquisas podem ser classificadas conforme a sua finalidade, abordagem,

objetivos e procedimentos técnicos – em consonância com a estrutura que seguem (figura 05).

Figura 05: Fluxograma categorizando os tipos de pesquisa explorados no presente trabalho. Fonte: Arte do autor;

Informações de Gil (2010).

Nesse sentido, o presente estudo se configura como uma pesquisa básica, uma vez que

se atenta a aumentar o arcabouço de conhecimentos científicos pertinentes às formas de seleção

natural em busca de uma consequente melhoria nas teorias científicas e para a compreensão dos
46

fenômenos naturais relacionados à mudança de características químicas nos organismos vivos

ao longo de bilhões de anos. Frente à essa modalidade, as suas principais propriedades são gerar

conhecimentos básicos sobre a natureza e a compreensão de seus fenômenos (GARCES, 2010).

No que tange ao tipo de abordagem, foi explorado a modalidade de pesquisa qualitativa,

não se atentado a medir os eventos estudados, muito menos empregar instrumentos estatísticos

durante o procedimento de análise dos dados. Embora existam valores para a compreensão das

diferenças de abundância, incluindo até dois gráficos, prioriza-se o significado que a quantidade

maior ou menor de alguma substância no meio ambiente representa para a sua participação em

sistemas vivos. Nessa perspectiva, esse trabalho não se adequa ao tipo de pesquisa quantitativa:

Classicamente, a interpretação dos dados é entendida como um processo que sucede

à sua análise. Mas estes dois processos estão intimamente relacionados. Nas pesquisas

qualitativas, especialmente, não há como separar os dois processos. Por essa razão é

que muitos relatórios de pesquisa não contemplam seções separadas para tratar dos

dois processos (GIL, 2008, p. 177).

Quanto aos objetivos, a modalidade adotada foi a pesquisa explicativa que busca apenas

identificar os fatores que proporcionam ou colaboram com a ocorrência de fenômenos naturais,

ofertando explicações mediante o conjunto de todas as informações colhidas e tratadas sobre o

tema proposto (GIL, 2010). Neste sentido, a compilação de inúmeras obras confere satisfatórias

explicações para a participação ou exclusão de elementos com características que não agregam

vantagens para os sistemas vivos manterem-se ativos e aptos para a replicação.

Conforme os procedimentos aplicados para a coleta de informações, o tipo bibliográfico

de pesquisa caracteriza este estudo, considerando que um bom apanhado sobre os trabalhos que

existem na literatura, com dados recentes e relevantes relacionados ao tema, foi realizado. Nessa

lógica, Marconi e Lakatos (2013) complementam que esse estudo da literatura é pertinente para
47

uma planificação do trabalho e que as fontes de informações nessa modalidade podem ser livros

físicos ou digitais, periódicos, artigos científicos, jornais, boletins, revistas, monografias e teses.

Frente à essa abordagem, os dados levantados bibliograficamente têm como a população

todos elementos químicos da classificação periódica e os seus derivados existentes na natureza,

contudo, em razão deles representarem um grande número, a população foi reduzida para uma

pequena parte denominada amostra, que englobam exclusivamente os elementos que participam

do arranjo bioquímico dos organismos vivos terrestres e os seus potenciais substitutos à função.

3.1.1 Materiais

Em virtude de o presente estudo ser classificado como pesquisa de caráter bibliográfico,

na revisão de literatura foram analisadas 122 obras de cunho científico e acadêmico que, embora

sejam publicações bem distintas, suas informações são compatíveis e complementares de forma

que sustentam que os critérios de seleção natural são os mesmos para cada elemento selecionado

que participa da bioquímica dos organismos terrestres. Entre essas obras analisadas, 62 foram

os artigos levantados de revistas científicas ou periódicos online e 60 foram os livros com cunho

acadêmico e científico aqui utilizados ao longo da fundamentação teórica e discussão.

No que diz respeito aos artigos científicos, quase 2/3 deles possuem a certificação digital

com o padrão de códigos de identificação na web que aumentam a confiabilidade das produções

bibliográficas nas bibliotecas virtuais que os hospedam. Entre os artigos com acesso via internet

em revistas online, 06 foram publicados pelo Nature Publishing Group, 05 publicados por meio

da amplamente referida Science Magazine e 14 dos materiais são oriundos da editora de revistas

e livros acadêmicos Springer Publishing que possui relevância dentro do campo acadêmico.

As bibliotecas digitais visitadas durante o levantamento de dados foram o Google livros,

que têm armazenado em seu banco de dados digital um número expressivo de livros scaneados;

o Scielo e a Wiley Online Library que se tratam de bibliotecas online que hospedam inúmeros
48

artigos científicos; e uma secção do Centro Nacional de Informação Biotecnológica dos Estados

Unidos (NCBI) que oferta artigos com bastante relevância na área de biotecnologia e, portanto,

foi utilizada na busca de dados bibliográficos sobre bioquímica alternativa e seleção natural.

As obras básicas que dão apoio para este trabalho monográfico são os livros de Ei-Ichiro

Ochiai, aqui mencionados anteriormente, onde o autor introduz na literatura os quatro princípios

seletivos que conduzem a evolução química e que ainda se mostram compatíveis com os dados

revelados pelas pesquisas científicas atuais sobre a seleção de metais em sistemas vivos. Com

isso, ainda que outras fontes bibliográficas sejam mencionadas, esse estudo dá ênfase ao modelo

de seleção natural de elementos químicos – elaborado sobre a perspectiva deste bioquímico.

As imagens exibidas nas figuras são em sua maioria de domínio público e foram editadas

e redimensionadas através do Paint – software do Windows; os fluxogramas apresentados foram

elaborados por meio do programa PowerPoint com uso de informações advindas dos autores já

referidos, bem como os gráficos das figuras que foram construídos através do programa Excel

com interpretação dos dados levantados bibliograficamente sobre abundância na litosfera. Para

a formatação monográfica foram consultadas as normas do manual de monografia da graduação

e pós-graduação disponibilizado para o uso acadêmico pelo Centro Universitário Ages (2019).

4. Resultados e Discussão

Nas últimas décadas, uma expansão dos pensamentos darwinianos designada evolução

química vem sendo considerada para a melhor compreensão da origem da maquinaria molecular

dos seres vivos – em relação a esse ponto, alguns pesquisadores conjeturaram um vínculo entre

a evolução química e a biológica como duas partes de um mesmo processo natural que acarreta

na mudança da matéria ao longo do tempo, conforme abordam Pascal e Pross (2015). Portanto,

ainda que este trabalho discuta sobre as causas pelas quais alguns elementos químicos tornaram-

se essenciais para processos vitais, seus resultados estão intimamente ligados à teoria evolutiva.
49

As importantes contribuições ofertadas pelo estudo dos mecanismos naturais de seleção

da matéria mais adequada à uma condição ambiental – a seleção natural formulada por Darwin-

Wallace – podem dar pistas sobre a bioquímica dos organismos vivos. No entanto, a análise das

diferentes abordagens evolucionárias encontradas na literatura aqui feita, revela que os estudos

científicos acerca da seleção de elementos se centralizam nas espécies que participam do arranjo

bioquímico dos sistemas vivos e pouco discutem sobre os possíveis motivos pelos quais grupos

inteiros de elementos com propriedades semelhantes são exclusos da composição biológica.

Nesse sentido, considerando que muita informação pode ser extraída dos elementos que

não participam dos organismos terrestres, a discussão enfatizará sobre as espécies químicas que

são exclusas automaticamente durante o processo de seleção natural conforme as características

ambientais da Terra e outros corpos celestes. Porém, essa abordagem enfrenta alguns problemas

adicionais – a escassez de trabalhos científicos que sejam precisos sobre as causas da ausência

de 89 elementos, como exibido na figura 01, reflete na colheita de recortes de informações bem

restritas em obras distintas para formular uma explicação clara e convincente sobre os atributos

que desfavorecem a participação de alguns destes elementos em relação aos demais utilizados.

Tornou-se pertinente trazer também a abordagem darwiniana da origem comum na visão

da evolução química para a compreensão de que a formação de diversidade molecular parte das

modificações de moléculas já existentes pela incorporação de novos elementos, permitindo que

ocorra a seleção natural – os organismos vivos não escolhem possuir as substâncias que melhor

atendem aos seus objetivos, como trazem Levin et al. (2017), eles herdam de sistemas ancestrais

os arranjos químicos e, com a replicação dos seus modelos, acabam adquirindo as versões novas

que possuem alguma modificação espacial ou química por ganho ou perda de algum elemento,

garantindo seu sucesso ou fracasso à medida que as condições ambientais terrestres variam.
50

4.1 Gargalo ou filtro seletivo

O estudo dos mecanismos de seleção de elementos químicos para processos vitais revela

a ocorrência de um efeito similar a um gargalo evolutivo, mas será aqui discutido na perspectiva

de filtro seletivo elementar, considerando que todos elementos distribuídos na tabela periódica

encontram-se sujeitos à restrições que limitam ou até mesmo impedem que haja a participação

nos organismos vivos, o que reflete na diminuição gradual da quantidade de espécies químicas

que poderiam ser exploradas na formação da vida, dadas as condições ambientais de cada astro.

Como Levin et al. (2017) argumentou, é pensado que todos princípios de seleção natural

sejam universais e que o processo seletivo seja induzido por condições ambientais similarmente

restritivas. Assim, o padrão seletivo exibido no filtro aqui proposto (Figura 06) poderá englobar

maioria dos astros conhecidos, embora tenha sido elaborado atendendo as condições terrestres

e em acordo com as informações reunidas sobre a composição dos seres vivos conhecidos.

Figura 06: Filtro seletivo onde 42 elementos destacados normalmente não participam de organismos vivos. Fonte:

Arte do autor; Tabela adaptada de Chang (2010, p.243).


51

Partindo da premissa de que as características dos corpos celestes regem a participação

das espécies químicas em organismos vivos, as espécies químicas radioativas, artificiais e gases

nobres são restritas pelo crivo do ajuste básico no planeta Terra (Figura 06) e um dos resultados

disto é a exclusão imediata de 42 elementos que não se ajustam à tarefa de compor biomoléculas

fazendo diminuir para 76 o número de opções elementares para a formação dos sistemas vivos.

4.1.1 Elementos Artificiais e o Ajuste Básico

Todos os elementos químicos presentes na classificação periódica existem no universo

conhecido. Contudo, ao contrário dos outros elementos que podem ser encontrados na crosta e

na atmosfera de planetas e luas, os elementos artificiais não ocorrem naturalmente na Terra sem

serem oriundos de fissão através da manipulação humana de partículas em algum reator nuclear

ou acelerador de partículas e, aqueles que poderiam estar presentes neste planeta durante a sua

formação, decaíram dando origem a outros elementos ao longo dos anos (EMSLEY, 2011).

Embora tabelas e manuais periódicos classifiquem os metais tecnécio e promécio como

sintéticos, sua presença na natureza já foi demonstrada com aproximadamente 18.000 toneladas

de tecnécio e 560 gramas de promécio ocorrendo naturalmente e a qualquer momento na crosta

terrestre (um caso que levantou discussões sobre as razões pelas quais tal classificação ainda é

perpetuada em materiais científicos), onde uma das explicações possíveis para isso se baseia no

fato de ambos terem sido sintetizados antes de serem descobertos na Terra (HUESO, 2017).

Scholes (2019) traz que foram detectados elementos como o amerício, cúrio, berquélio,

califórnio e einstêinio no espectro de uma estrela denominada Przybylski (estrela que expõe um

padrão considerado anômalo). Contudo, embora seja uma evidência convincente da existência

dos transurânicos em determinados corpos celestes, em astros com composição similar à Terra,

esses componentes não se ajustam à tarefa de integrarem biomoléculas (o que satisfatoriamente


52

explica sua ausência na fórmula química dos seres vivos terrestres, como exibido na Figura 01

e admitido pelas obras citadas que retratam a composição de criaturas de reinos diferentes).

Vale ressaltar que os elementos sintéticos são espécies químicas que conseguem ofertar

íons e formar compostos, como descrito em Alves (2008), o que coloca em discussão a premissa

de que elementos artificiais sejam incapazes de integrar os complexos organometálicos. Porém,

mesmo que a possibilidade de participação não fosse tão ínfima, como se tratam de compostos

resultantes de elementos que só têm existido na Terra quando sintetizados artificialmente pelos

aparelhos humanos, derivados de elementos sintéticos não estão igualmente aptos a competirem

com opções químicas que ocorrem naturalmente na superfície do planeta.

Lima e Merçon (2011) corroboram esta abordagem exibindo uma tabela onde elementos

transurânicos – que englobam também os sintéticos – são exclusos inclusive da associação com

contaminações e potencial toxicidade e ecotoxidade, por não existirem naturalmente. Portanto,

como resultado da primeira filtragem seletiva feita por ajuste básico, as espécies artificiais são

dispensadas, suportando a proposta de que tanto a estabilidade quanto as propriedades químicas

que cada elemento possui são fatores determinantes para sua participação em organismos vivos.

4.1.2 Gases Nobres e o Ajuste Básico

Em decorrência da baixa reatividade química dos elementos do grupo dos gases nobres,

um número baixo de compostos foi formado na natureza, o que restringe a sua participação em

sistemas vivos. Haner e Schrobilgen (2015) abordam que ainda que sejam referidos como gases

inertes, a identificação de aproximadamente quinhentos compostos de xenônio desde o primeiro

fluoreto de gás nobre sintetizado, denominado tetrafluoreto de xenônio (Figura 07), tornou tal

rótulo incoerente para fazer menção aos elementos que compõem essa família.
53

Figura 07: Tetrafluoreto de xenônio e a representação de sua fórmula molecular e estrutural. Fonte: Adaptação

de Imagem de Domínio Público (Argonne National Lab), publicada em Argonne Now (2012).

O tratamento do composto dito tetrafluoreto de xenônio com outros reagentes químicos

possibilitou o surgimento de um conjunto de substâncias orgânicas designadas como compostos

organoxenon, porém mais instáveis que os fluoretos de gás nobre (WELLER et al., 2017). Estes

resultados orgânicos indicam que, sobre condições especiais, os gases nobres poderiam integrar

biomoléculas capazes de assumir funções em organismos alienígenas nos corpos celestes onde

a existência de outros elementos fosse escassa, pois no que diz respeito às condições ambientais

terrestres, a sua instabilidade seria certamente um empecilho para uma bioquímica alternativa.

Embora a revisão de literatura recente feita por Winkler et al. (2016) tenha sugerido que

os elementos gases nobres podem oferecer propriedades anestésicas e analgésicas, melhoria de

dano isquêmico, e uma variedade de propriedades farmacocinéticas úteis, ainda não foi descrita

a participação direta em organismos. Certamente, a dificuldade que os sistemas vivos possuem

de captar e incorporar essas espécies inertes no organismo – seja por insuficiência de compostos

ocorrendo naturalmente ou devido à instabilidade daqueles que já existem – faz com que outros

componentes sejam selecionados para funções biológicas em detrimento desse grupo periódico.
54

4.1.3 Radioativos e o Ajuste Básico

A penúltima filtragem seletiva de grupos de elementos químicos através do ajuste básico

ocorre certamente em decorrência da emissão em potencial de radiação pelos elementos e pelos

seus isótopos em decaimento, pois os elétrons de baixa energia que são abundantemente gerados

pela radiação, ao interagirem com os componentes moleculares dos organismos vivos, podem

induzir a fragmentação das biomoléculas por processos dissociativos como excitação interna e

fixação de elétrons, conforme abordam Gómez-Tejedor e Fuss (2012).

Com essas propriedades, os elementos radioativos não são, certamente, a melhor opção

química para a formação molecular dos sistemas vivos, e não deveriam existir organismos vivos

que fizessem uso dos mesmos. Contudo, a seleção pelo ajuste básico – como descrita por Ochiai

(2012), não impede que haja a participação de alguma espécie radioativa, apenas sugere que na

presença de opções mais ajustadas para as funções biológicas, essa possibilidade química tenha

um menor peso. Isso esclarece a existência de microrganismos que são capazes de oxidar metais

radioativos e utilizá-los para seu próprio crescimento, como as bactérias Geobacter (Figura 08).

Figura 08: As espécies do gênero Geobacter são capazes de oxidar urânio e utilizá-lo para o próprio crescimento.

Fonte: Adaptação de Childers et al., (2002).


55

Nesse sentido, ao colocar em conta a pluralidade de radioisótopos que são provenientes

dos elementos químicos que não integram o grupo dos radioativos, tais como o potássio-40 que

ocorre naturalmente em bananas ou o carbono-14 presente nas demais plantas (ELLAM, 2016),

pode-se perceber que o critério para a seleção de uma espécie química radioativa se centraliza

na quantidade de radiação que a mesma emite: aqueles elementos que liberam doses de radiação

em níveis desprezíveis, não representam riscos aos sistemas vivos e compõem então um número

maior de estruturas biológicas, em detrimento daqueles potencialmente radioativos (Figura 01).

4.1.4 Solubilidade em água e o Ajuste Básico

Os elementos químicos restantes das três principais filtragens seletivas por ajuste básico

são submetidos a mais um pente-fino que é a solubilidade em água – mencionada algumas vezes

ao longo deste trabalho teórico sobre seleção natural. Considerando que a maioria das interações

químicas dos sistemas vivos ocorrem em meio líquido e a água têm se mostrado como um ótimo

solvente para atividades biomoleculares, torna-se compreensível a ausência de certos elementos

(ou seus derivados insolúveis) na composição dos seres vivos, como foi colocado na figura 01.

Entretanto, ainda que a água seja uma molécula encontrada em vários locais do universo,

para assumir a função de um solvente químico precisa ocorrer no estado líquido – situação que

possibilita constituir os eletrólitos corporais – mas sua existência nessa condição exige, segundo

Quillfeldt (2010), pressão atmosférica maior que 6 milibares e temperaturas que se mantenham

entre 0 e 100º C. Desta forma, até mesmo a utilização da água como solvente encontra-se sujeita

à restrições ambientais – seja pela distância e pelo tipo de estrela que os corpos celestes orbitam,

existe uma zona nos sistemas solares onde a água poderia ser encontrada líquida e apta à função.

A compilação dos trabalhos até aqui levantados, sobre a seleção dos elementos, revelou

que tais propriedades físicas e químicas da água influenciaram direta e indiretamente o processo

seletivo. Além de sua capacidade de dissolução de minerais, sua composição química contribuiu
56

até na seleção do carbono como o componente básico da armação das macromoléculas à medida

que é incompatível com o silício e derivados – pois a afinidade que o silício possui pelo oxigênio

é tão forte que, quando solubilizado, ele pode reagir quimicamente com o oxigênio da molécula

de água, formando dióxido de silício e hidrogênio como produtos finais (KOOI, 2013).

Nesta perspectiva, presume-se que a substituição da água por algum outro solvente polar

implicaria na modificação desse seleto representado na figura 01. Rampelotto (2010) completa

que qualquer sistema que se baseasse em amônia como seu solvente, excluiria automaticamente

a participação do elemento oxigênio em virtude de o mesmo reagir, oxidar e romper a molécula

de amônia. Certamente, sem o oxigênio também seria obrigatório um metabolismo anaeróbico,

o que causaria a seleção de diferentes elementos e, portanto, a variação do esquema bioquímico.

Todavia, a proposta do filtro seletivo também conduz à uma outra circunstância: mesmo

que um determinado planeta oferte água líquida e condições ambientais idênticas às terrestres,

é pensado que seu seleto químico também sofra divergência daquele apresentado na figura 01

caso haja diferença na abundância ou biodisponibilidade dos elementos em sua superfície. Isso

é respaldado pelos casos em que a diferença de disponibilidade de elementos em eras geológicas

diferentes – na própria Terra – propiciou a ascensão de novas versões (RAVEN et al., 2011).

No entanto, embora um grande número de publicações científicas foque nas substâncias

polares como solventes alternativos, é pertinente trazer também à discussão os hidrocarbonetos

não polares como o metano e etano – compostos cujas propriedades permitem a manutenção de

reações químicas complexas. McLendon et al. (2015) abordam que os cientistas ainda debatem

sobre a eficácia desses alcanos no papel de solvente para uma hipotética forma de vida e trazem

que um dos requisitos seria sua existência em fase líquida que é essencial para qualquer sistema

vivo – metano e etano nessa condição foram encontrados ocorrendo no satélite Titã (Figura 09).
57

Figura 09: Lago formado por metano líquido em Titã (esquerda); Lago formado por água líquida na Terra (direita).

Fonte: Adaptação de Imagem de Domínio Público, cortesia de Nasa (2013) e Nasa (2002).

Os estudos científicos sobre as especifidades do silício e a estabilidade de seus derivados

revelaram que, em corpos celestes com temperaturas extremamente baixas, desprovidos de água

e oxigênio, e com ocorrência de solventes mais compatíveis disponíveis (como metano líquido),

este elemento tetravalente seria o mais adequado para a função de estruturar as macromoléculas

constituintes dos possíveis organismos vivos, como traz Rampelotto (2012). Portanto, qualquer

sistema biológico no qual este fosse o caso, apresentaria os seus mecanismos de seleção química

delimitados pelas propriedades do silício-metano ao invés do modelo terrestre de carbono-água.

Neste sentido, os pesquisadores especularam que as plausíveis formas de vida titanenses

por motivos termodinâmicos poderiam desenvolver uma respiração baseada em hidrogênio que

reduziria etano e acetileno em metano para arranjar a energia necessária às suas atividades. Essa

hipótese de metabolismo anaeróbico usando hidrogênio tem sido fortemente corroborada pelos

resultados da sonda Huygens que demostram uma diminuição anômala de hidrogênio, acetileno

e etano na superfície da lua saturniana (CLARK et al., 2011). Todavia, mais investigações são

necessárias para esclarecer o fenômeno – embora os conhecimentos de seleção natural mostrem

a possibilidade de atividade biológica, processos geoquímicos não devem ser desconsiderados.


58

4.2 Evolução e origem comum

Através do universo, eventos naturais que acontecem em ciclos regulares impulsionam

os elementos químicos a se combinarem formando uma grande variedade de moléculas e formas

estruturais que são os ingredientes básicos de um conjunto de coisas abstrusas sintetizadas nos

corpos celestes, funcionando como um laboratório natural de química – uma análise do material

atmosférico do cometa Lovejoy em 2015 revelou a presença de numerosas moléculas orgânicas

(21 moléculas orgânicas diferentes) e uma quantidade de álcool etílico liberada repetitivamente

equivalente à cerca de quinhentas garrafas de vinho por segundo (BIVER et al., 2015).

Na evolução biológica, os diferentes fenótipos com novas características são produzidos

durante a reprodução dos organismos por meio de rearranjos gênicos ou mutações que alteram

a sequência dos nucleotídeos do material genético e as condições ambientais selecionam aquele

mutante mais apto eliminando os que possuem características menos favoráveis à sobrevivência

conforme Meyer e El-Hani (2005). No processo de evolução química acontece algo semelhante:

com a produção repetitiva de biomoléculas, formando populações químicas, pode haver a troca

de estruturas ou montagens diferentes devido à associação com os novos elementos, acarretando

à geração de moléculas com propriedades diferentes, nas quais a seleção pode atuar (figura 10).

Figura 10: Representação de como acontece a evolução química em relação à evolução biológica. Fonte: Arte

própria; Informação adaptada de Perry et al. (2015) publicado em Stated Clearly.


59

Nesta perspectiva, tanto a evolução biológica quanto a evolução química não ocasionam

o aparecimento de nenhum artefato a partir do zero; todas substâncias novas foram construídas

através da modificação de moléculas, estruturas e sistemas já existentes, com a adição de alguns

componentes químicos que não se tinha antes (variação), resultando em uma grande diversidade

química com aptidão para realizar trabalhos, ainda que algumas carreguem atributos ancestrais.

4.2.1 Fosfatase alcalina forma uma variante de cobalto

A enzima fosfatase alcalina (AP) oferece uma boa oportunidade de verificar a ocorrência

da evolução química através da incorporação de íons de elementos distintos como componentes

adicionais para mostrarem uma atividade catalítica completa. Como mencionado anteriormente,

o cátion Co+2 pode participar como cofator enzimático substituindo o Zn+2 nos seus sítios ativos

formando, consequentemente, uma fosfatase mutante provida de novas e diferentes orientações

espaciais por ser constituída de cobalto (Figura 11), causando mudanças em suas propriedades.

Figura 11: Representação das enzimas fosfatase alcalina (zinco) e fosfatase alcalina de cobalto (cobalto). Fonte:

Adaptação de Wikimedia Commons (2008) e de Wang et al., (2015).

Ainda que o cobalto não se mostre um componente químico tão eficiente quanto o zinco

na formação a fosfatase alcalina da maioria dos sistemas vivos, as enzimas dos microrganismos
60

aquáticos e termófilos do tipo Thermotoga maritima e Bacillus subtilis demonstraram requerer

o cátion cobalto para sua atividade catalítica – a fosfatase alcalina de ambos exibe uma afinidade

aprimorada para os cátions Co+2 em relação aos Zn+2 e, quando sua especificidade é modificada

pela presença do cobalto, acaba aproximadamente oito vezes mais ativa que a versão selvagem

constituída por zinco nos sítios ativos, como é abordado em Kantrowitz (2011).

Certamente, a força da interação com o fosfato e as alterações na coordenação do cobalto

são os possíveis motivos para essa atividade mais alta na variante de cobalto em relação ao tipo

selvagem, assim como trazem também Helland, Larsen e Ásgeirsson (2009). Isto confirma que

durante sucessivas replicações, a seleção natural possui o potencial de produzir estruturas novas

e úteis para alguns seres vivos e que podem fazer a diferença conferindo a seus portadores maior

capacidade de sobrevivência, conforme as mudanças ambientais exercerem pressão seletiva.

4.2.2 Hemoglobina e Clorofila são derivadas da Porfirina

Nos organismos vivos, a maioria das moléculas que estão envolvidas com as cadeias de

transporte de elétrons apresentam uma grande similaridade, sejam elas as enzimas ou até mesmo

os próprios portadores de elétrons, como pode ser verificado na fórmula estrutural e composição

química da metaloproteína hemoglobina e na clorofila (Figura 12). Esse acontecimento se deve

ao fato de que, ao longo da história, compostos complexos derivaram de compostos precursores

bem mais simples – como visto anteriormente, essas substâncias possuem uma origem comum.
61

Figura 12: Representação das estruturas da hemoglobina (centro de ferro) e clorofila (centro de magnésio). Fonte:

Adaptação de Telgarsky (2013, p.246).

Sobre a hemoglobina, Traut (2008) complementa que feita a comparação das sequências

de aminoácidos das globinas, fica bastante claro que todas estas espécies de proteínas globulares

apropriadas de um grupo heme, descendem de um ancestral comum. Ao sofrerem modificações

diversas, essas proteínas certamente divergiram como aconteceu com a mioglobina que, embora

seja estruturalmente semelhante à hemoglobina, é muito menos eficaz no transporte de oxigênio

por não efetuar ligações cooperativas, como referido em trecho anterior sobre a seleção do ferro.

O surgimento das moléculas de hemoglobina e clorofila ocorreu somente após a síntese

de seu precursor chamado porfirina – que aparece na história biológica através da uroporfirina

nas bactérias respiradoras de sulfato. À medida esses microrganismos (como os desulfovibrios)

reduziam sulfato, sintetizavam os anéis de porfirina que passavam elétrons e geravam adenosina

trifosfato (ATP) durante esse percurso, como trazem Margulis e Sagan (2011). Portanto, quando

o centro do macrociclo porfirínico preencheu seu espaço acomodando íons de metais diferentes

como ferro, magnésio, níquel e cobalto, derivados com propriedades específicas foram obtidos.

Com a multiplicação dos sistemas vivos constituídos por um íon adicional de magnésio

na estrutura química da porfirina – os seres clorofilados, o aumento exponencial da comunidade

bacteriana com a capacidade bioquímica inovadora de aproveitar a água como fonte de elétrons
62

tornou-se inevitável, pois a água é um recurso abundante na superfície terrestre. Nesse sentido,

Lyons et al. (2014) esclarecem que à medida que esses organismos ancestrais das cianobactérias

realizavam fotossíntese com a água, eles forneciam oxigênio gasoso para a atmosfera como um

dos produtos de sua respiração (Figura 13), o que promoveu o grande evento de oxigenação e

trouxe consigo novidades ao repertório bioquímico de alguns de seus organismos descendentes.

Figura 13: Equação da reação de fotossíntese e da respiração aeróbica. Fonte: Arte do autor; Informação de

Takemura e Sawa (2012).

A ausência da respiração aeróbica nos organismos ancestrais das cianobactérias sugere

que a quantidade de oxigênio advinda de fontes abióticas deva ter sido insuficiente para permitir

que houvesse a seleção química deste elemento. Conforme trazem Soo et al. (2017), a obtenção

de complexos respiratórios baseados em oxigênio – de forma independente e em três classes de

bactérias – apoiam a hipótese de que essa via metabólica só obteve êxito por conta da abundante

quantidade de oxigênio adicionada à atmosfera terrestre através da fotossíntese oxigênica.

Caso esses estudos estejam corretos, esta atmosfera oxidante poderia assumir um espaço

também no filtro seletivo mencionado anteriormente, por restringir a participação de elementos

de transição que não fossem ferro e cobalto nas porfirinas condutoras de oxigênio. Assim, caso

tenham existido outros derivados, com diferentes metais e até ametais preenchendo o centro do
63

macrociclo porfirínico, esses espécimes foram exclusos por não conduzirem oxigênio de forma

suficientemente satisfatória para quebrar as moléculas de glicose na respiração, em um processo

inversamente proporcional ao realizado pelos clorofilados na fotossíntese (Figura 13).

4.2.3 Selenocistéina e Cisteína são derivadas da Serina

A notável similaridade bioquímica e estrutural dos aminoácidos cisteína e selenocisteína

pode ser discutida também sob a perspectiva da origem comum. Ambas as substâncias diferem

apenas na presença de um grupo tiol e um grupo selenol acoplados em seus esqueletos químicos

como exibido na figura 14. Portanto, uma análise superficial das suas representações estruturais

e composições químicas leva a sugerir que ambas substâncias tenham derivado de alguma outra

biomolécula mais simples como o aminoácido alanina, onde seria somente acrescentado selênio

ou enxofre formando as cadeias laterais específicas que constituem os calcogenoaminoácidos.

Figura 14: Representação das estruturas da selenocisteína (grupo selenol) e cisteína (grupo sulfidrila ou tiol).

Fonte: Adaptação de Costa et al. (2015).

Entretanto, está bem presente na literatura que a selenocisteína é na verdade derivada da

serina que possui um grupo funcional hidroxila, como referido anteriormente e corroborado por

trabalhos atualizados de Rawitch (2019). Nesse sentido, a origem das selenocisteínas contraria
64

então qualquer raciocínio indutivo que esteja baseado nesta observação de sua estrutura química

para explicar a sua ascendência. A substituição da hidroxila da sua ancestral serina pelo selenol

proporcionou à selenocisteína uma alta reatividade – alta o suficiente ao ponto de incidir danos

às células, o que certamente restringe sua participação nos sistemas vivos em relação à cisteína.

Nesta perspectiva, a participação da selenocisteína não é restringida somente pela maior

abundância do enxofre em relação ao selênio na crosta terrestre, pois a reatividade que o grupo

tiol proporciona ao aminoácido também se mostra mais adequada para as células. Ainda que da

armação de carbono da serina também derive a cisteína, no seu caso, o átomo de enxofre advém

da homocisteína que está presente no corpo segundo Ferrier (2019), então a acessibilidade para

constituir o grupo tiol e consequentemente a cisteína é muito maior do que a do seu concorrente.

5. Considerações finais

O conhecimento acerca dos motivos pelos quais diversos elementos da tabela periódica

participam ou não de funções biológicas ainda está por ser esclarecido e, embora existam muitos

trabalhos na literatura, é muito improvável que apenas um trabalho científico oferte explicações

para todas as participações dos elementos na formação de estruturas biológicas, implicando que

sejam necessárias mais investigações para a compreensão da natureza química dos organismos.

A revisão crítica prospectiva feita aqui reuniu informações relevantes sobre um conjunto

de elementos químicos que ocorrem nos sistemas vivos (Figura 01), e a análise de cerca de 122

obras de cunho científico revelou que a participação desses componentes químicos se baseia na

concorrência por conta das propriedades químicas semelhantes e na colaboração das condições

ambientais, em um processo natural de seleção, onde na falta de um elemento com propriedades

formidáveis para a função (escassez) acarreta na incorporação de opções químicas menos aptas.

Constata-se que conforme as condições ambientais terrestres têm mudado desde o início

da vida, organismos têm modificado sua bioquímica de maneira que acabam por estar adaptados

quimicamente às novas taxas de disponibilidade dos elementos, fato corroborado pelo aumento
65

rápido de oxigênio na atmosfera por fotossíntese aqui apresentado que conduziu à formação de

espécies químicas com diferentes solubilidades em água, tornando o cobre bem mais acessível

e o ferro menos acessível, o que influenciou na variação dos seletos. Isso permite predizer que

se os valores atuais de abundância de elementos na crosta terrestre mudarem, em um futuro não

tão distante os seres podem assumir novos arranjos bioquímicos – processo designado evolução.

Frente a esta realidade, sugere-se que apesar de existirem outros princípios seletivos que

moderam a participação de elementos químicos nos organismos, o ajuste básico e a abundância

e biodisponibilidade representam um fator crucial para a ocorrência da seleção natural – pois o

princípio da eficiência só se aplica se existir mais de um elemento disputando a mesma função

e igualmente abundante e biodisponível (como uma ferramenta de desempate); e o princípio da

seleção por pressão evolutiva melhor se aplica quando a sua essencialidade já está estabelecida.

Em consonância com variados os exemplos elencados na revisão teórica, foi percebido

a ocorrência de um gargalo seletivo hipotético que permite simular como ocorre toda a filtragem

dos elementos em cada princípio seletivo. Por meio deste, foi constatado que a seleção feita por

ajuste básico segue caminhos ordenados de inclusão e restrição dos elementos conforme as suas

propriedades periódicas, desfavorecendo o emprego de 42 elementos da classificação periódica.

Conclui-se então que, embora existam 118 elementos confirmados, a natureza dispõe de

um número menor de apenas 76 opções para construir a maquinaria molecular biológica – ainda

assim, unidas a espécies químicas diferentes formariam no mínimo 5.776 combinações à serem

exploradas por tentativa e erro, às quais a especificidade, a abundância e a eficiência favorecem

a participação de umas em detrimento das demais. Portanto, novas pesquisas podem destrinchar

ainda os princípios seletivos da abundância e eficiência em patamares ordenados, considerando

que nem todas as possibilidades foram amplamente analisadas e que este assunto está em aberto.

Essas conclusões conduzem para uma mudança de paradigma na compreensão de como

há a diversificação bioquímica, pois, inicia de uma perspectiva que considera as propriedades

físico-químicas de cada elemento e do seu comportamento quando em particular e/ou agregado


66

às biomoléculas desempenhando tarefas nos sistemas vivos, para depois introduzir quais seriam

os potenciais substitutos promovidos pelo processo seletivo – que na maioria das vezes ocupam

o mesmo grupo periódico; e por fim discorre sobre o surgimento dos novos aparatos através da

repetitiva produção de estruturas e incorporação elementos compatíveis e disponíveis no meio,

adquirindo novas configurações que podem promover vantagem ou desvantagem ao organismo.

Destarte, a compilação de múltiplos estudos aqui feita sobre substitutos potenciais para

dadas tarefas biológicas indica um padrão que é seguido na seleção natural – foi percebido que,

na maioria dos casos, além das espécies químicas concorrentes serem vizinhas no mesmo grupo,

elas estão localizadas abaixo ou na direção direita dos elementos na tabela periódica (com certas

exceções como o potássio x sódio). Portanto, caso este padrão ocorra universalmente na seleção

química, torna-se possível formular predições para os campos da astrobiologia e bioinformática

através de estudos de química alternativa e mimetismo químico por características semelhantes.

Frente a esta realidade, confere-se também a obrigação de reavaliação metodológica por

parte dos cientistas que estudam a formação e evolução da vida – embora tais informações não

sejam inéditas na literatura, ainda é evidenciado nas pesquisas de astrobiologia uma perspectiva

pretensiosamente "geocêntrica" na qual as discussões fundam-se no pensamento de que os seres

vivos precisam necessariamente ser baseados em carbono-água e outros componentes do seleto

químico terrestre. Portanto, as pesquisas futuras e os trabalhos de exploração espacial precisam

se atentar a traços de outros elementos e compostos que podem sustentar outras formas de vida.

Por fim, pode-se considerar os corpos celestes como diferentes laboratórios naturais de

química existentes no universo, ativos e produzindo inúmeras combinações com o rearranjo dos

componentes básicos da matéria ali disponíveis – os átomos dos elementos químicos, tornando

o que se conhece como vida apenas uma das variadas consequências das suas propriedades mais

fundamentais, podendo ser criada e reformulada com arranjos químicos jamais vistos antes.
67

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