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Paripiranga
2019
RICARDO JUNIO FEITOSA LIMA
disciplina do curso.
Paripiranga
2019
RICARDO JUNIO FEITOSA LIMA
BANCA EXAMINADORA
UniAGES
UniAGES
LIMA, Ricardo Junio Feitosa, 1993.
A SELEÇÃO NATURAL DOS ELEMENTOS QUÍMICOS: Estudo da
Seleção de Elementos Para Processos Vitais. Ricardo Junio Feitosa Lima –
Paripiranga, 2019.
80 f: il. Imagens
Dedico esta, bеm como todas minhas outras conquistas, аоs meus pais Ricardo Lima е
Alvaci Feitosa, que se dedicaram desde cedo a me servir das condições necessárias para minha
construção pessoal e intelectual; minha mãe teve um papel exclusivo por ter exigido sempre os
melhores resultados, e talvez sem tais cobranças nada disso estaria sendo possível; meu pai teve
um papel exclusivo na construção dos meus conhecimentos – ele me transmitiu grande parte de
seus saberes, os quais faço uso diariamente e que têm servido como um pilar para ancorar meus
Dedico ainda às minhas irmãs Alice Feitosa e Aline Feitosa, que constituem um pedaço
de mim; e para minha outra metade, minha outra versão certamente menos chata, Ricássio Lima
(in memoriam); dedico também para meus avós paternos sr. Liço e dona Maria (Elicio e Maria,
in memoriam), para meus avós maternos sr. Dionizo e dona Nice (Dionizio e Eunice) e para os
meus tios – em especial tia Pureza que sempre esteve presente nos momentos de minha vida.
Com muito orgulho, registro aqui uma homenagem às minhas duas fortalezas: a fazenda
Santa Maria – constituída de uma pequena casa de taipa como sede, onde passei parte de minha
infância; e o caminhão azul Mercedes-bens MB 1113, cuja placa fora HZH-8986 (SE-Aracaju).
Agradeço aos meus amigos e colegas que fazem parte da minha luta diária, e que, estão
sempre comigo preenchendo meu cotidiano com suas alegrias. Agradeço aos meus amigos em
especial Johnatan, Adenoaldo, Elan, David, Willas, Mateus, Thainá, Gileuza, Elaine, Ediane e
Agradeço aos meus diversos professores, que me auxiliaram ao longo da minha jornada,
acatando as minhas ideias e questionamentos, em especial, João Milton Jr., Samuel Mota, Gracy
Karla, Amanda e Tarcísio. Dedico esta conquista também aos meus alunos que compartilharam
de suas dúvidas, de seu cotidiano, de sua atenção e de seus conhecimentos prévios, promovendo
o enriquecimento dos meus conhecimentos ao longo dos anos que tenho lecionado.
Reconheço para todos os fins, a participação dos gigantes que tanto contribuíram para a
construção do conhecimento adequado quanto tem servido de alicerce para a atual humanidade,
em especial Charles R. Darwin, Marie Curie, Isaac Newton, Albert Einstein, Galileu Galilei e
Nicolas Tesla. Para estes cientistas, dou todos os créditos da construção do meu conhecimento
científico, são eles que dão respaldo à maioria das minhas produções e discursos acadêmicos.
Por fim, registro meus agradecimentos ao Centro Universitário Ages por esta conquista.
Com a minha mente vou à mil lugares, a imaginação
Dragon Ball Z
Resumo
realizarem as funções. Aqui se discute os princípios de seletividade pelos quais cada elemento
foi selecionado, considerando as abordagens mais modernas sobre a seleção natural e evolução
química como a abundância e o ajuste básico. À medida que as condições ambientais terrestres
têm se modificado, implicações dessas mudanças na composição bioquímica dos sistemas vivos
têm sido evidenciadas, estando os organismos não só adaptados, mas também de acordo com
comporem organismos vivos demostra seguir um padrão que é abordado aqui sob a perspectiva
de um gargalo ou um filtro seletivo onde três grupos de elementos com propriedades específicas
são excluídos automaticamente por não se adequarem às exigências dos sistemas replicantes no
planeta Terra. Os demais elementos que se ajustam à uma função biológica, concorrem entre si
como a eficiência. A seleção das espécies mais aptas se dá por replicação das biomoléculas que
a essencialidade e adaptação do sistema ao uso do mesmo, fenômeno que pode ser evidenciado
através da origem comum química e que causa um aumento na diversidade química e biológica.
In nature, approximately thirty chemical elements have been selected to compose biological
apparatus making them essential over other elements also able to perform the functions. Here
we discuss the principles of selectivity by which each element has been selected, considering
the most modern approaches to natural selection and chemical evolution as abundance and basic
changes in the biochemical composition of living systems have been evidenced, with organisms
not only adapting but also according to the chemical compositions of the planet's surface.
Natural selection for chemical elements to compose living organisms shows to follow a pattern
that is addressed here from the perspective of a bottleneck or a selective filter where three
groups of elements with specific properties are automatically excluded because they do not
meet the requirements of replicating systems on planet Earth. The other elements that adjust to
a biological function compete with each other and are selected based on the tiebreaker criteria,
abundance and bioavailability, as well as efficiency. The selection of the most suitable species
occurs by replicating the biomolecules that may undergo changes in their configurations when
capturing a new element, causing the essentiality and adaptation of the system to its use, a
phenomenon that can be evidenced by the common chemical origin and that cause an increase
vivos..........................................................................................................................................50
crescimento...............................................................................................................................54
F9 - Lago formado por metano líquido em Titã; Lago formado por água líquida na Terra.....57
F11 - Representação das enzimas fosfatase alcalina (zinco) e fosfatase alcalina de cobalto
(cobalto)....................................................................................................................................59
F12 - Representação das estruturas da hemoglobina (núcleo de Fe) e clorofila (centro de Mg).61
F14 - Representação das estruturas da selenocisteína (grupo selenol) e cisteína (grupo tiol).....63
LISTA DE SIGLAS
MMO.......................................................................................................Metano monooxigenase
ATP..........................................................................................................Trifosfato de adenosina
DNA....................................................................................................Ácido desoxirribonucleico
1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................................14
2 – DESENVOLVIMENTO....................................................................................................17
3 – METODOLOGIA..............................................................................................................44
3.1.1 Materiais..............................................................................................................47
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................................48
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................64
6 – REFERÊNCIAS................................................................................................................67
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1. Introdução
objetos celestes. Cento e dezoito elementos químicos diferentes foram identificados até o exato
momento, alguns deles ocorrendo naturalmente apenas na atmosfera quente dos corpos celestes
químicos espalhados ao longo da superfície terrestre e incluídos ainda nos gases da atmosfera,
onde representam uma fração da matéria existente no planeta, embora estejam no estado gasoso.
proporcionando diferentes propriedades físicas e químicas para os elementos que, são definidas
como as suas identidades e que são, respectivamente, as responsáveis pelas especificidades que
cada um apresenta na natureza (seja em forma de átomos ou isótopos). Quando são combinados,
essas diferentes espécies originam um enorme número de substâncias com propriedades físicas
e químicas também particulares, pois respeitam, na maioria das vezes, as características de seus
constituindo uma ampla variedade de substâncias das quais a biosfera é formada. Apesar disso,
em todos eles – sendo indispensáveis para a atividade adequada da maquinaria molecular. Esses
bioquímicos conhecidos – um fato que não faz sentido se não considerar a ocorrência da seleção
dispor de atributos físico-químicos que os tornem apropriados à efetivação das tarefas exigidas.
Nessa perspectiva, alguns compostos formados pelo cálcio são amplamente empregados
na construção de estruturas rígidas como ossos, dentes, conchas e ovos; por sua vez, as proteínas
que estão relacionadas com o transporte e o estoque de oxigênio nas células são frequentemente
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de carbono-carbono; uma parte de toda a população de enzimas catalizadoras possui zinco como
ao ferro em proteínas e enzimas de certos grupos de organismos aquáticos; e apesar dos ametais
adjacentes ao oxigênio na tabela periódica serem oxidantes, muitos seres requerem do oxigênio.
Visto que os elementos que integram uma mesma família da classificação periódica são
análogos quimicamente por possuírem uma configuração eletrônica bastante similar – dispondo
de uma mesma quantidade de elétrons na camada de valência – seria esperado que ocorresse
uma presença mais elevada de elementos químicos nos seres por possibilitar, hipoteticamente,
uma alternância. Contudo, a substituição de um certo elemento por outro componente análogo,
que integra um mesmo grupo periódico, na maioria das vezes faz é proporcionar insuficiências
funcionais nos sistemas vivos (por conta da ausência do elemento que foi substituído).
Frente à esta realidade, quais são as causas pelas quais alguns elementos químicos foram
individuais que ofertam explicações para a seleção de alguns elementos em particular. Partindo
desta indagação, o presente estudo tem por objetivo geral traçar, mediante um levantamento da
literatura, os princípios pelos quais um baixo número de elementos participa dos sistemas vivos,
Nessa perspectiva, as respostas aqui levantadas mediante uma compilação dos trabalhos
científicos mais recentes sobre o tema estudado, estão evidentemente destinadas ao aumento da
base de conhecimento científico, com foco na melhoria das teorias evolutivas atuais que buscam
explicar, mediante todo o conjunto de dados possíveis, a origem e mudança da matéria ao longo
dos anos. Contudo, considerando que a pesquisa básica está intimamente ligada à aplicada, tais
conhecimentos advindos desse trabalho, poderão ser aplicados com o avanço da bioinformática.
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elementos seja favorecida ou restringida por critérios seletivos, mediante as condições impostas
pelo ambiente do planeta Terra. Por exemplo, em um corpo celeste onde a água seja o solvente
químico para as reações de oxirredução, os reagentes não devem nem oxidar e nem reduzir as
moléculas de água na solução. Se a atmosfera for fortemente oxidativa, os sistemas vivos não
podem ser compostos de substâncias químicas que inflamem sob a presença do gás oxigênio ou
do flúor gasoso. Nessa lógica, o número de alternativas elementares vai diminuindo de maneira
de seleção dos elementos, não só permitirão entender sobre a evolução à nível da química, mas
poderão ser cruciais para entender como sistemas químicos autossustentáveis se originaram no
pelos naturalistas Charles Darwin e Alfred Wallace em 1858, onde o meio ambiente influencia
particularmente adequadas para uma circunstância ambiental, segundo Meyer e El-Hani (2005).
Portanto, a seleção natural de um espécime mais ajustado acontece por meio da supressão das
versões menos ajustadas, mecanismo que ocasiona uma verdadeira substituição dos indivíduos
ao longo dos anos pelos tipos mais especializados, os quais conseguem sobreviver e se replicar.
O termo ''seleção natural'' somente se popularizou na ciência que estuda a vida e os seres
vivos depois da publicação do livro On the Origin of Species escrito por Charles Darwin que,
além de comparar o mecanismo com a seleção artificial de indivíduos efetuada pelo homem na
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produção agropecuária – cultivando e replicando apenas aqueles seres que melhor atendem aos
seus objetivos, expandiu a seleção natural para todos os tipos de vida existentes no planeta Terra
justificando que os fatores ambientais são os responsáveis nesse processo seletivo, não havendo
intencionalidade na escolha das versões por parte da natureza, conforme aborda Ridley (2007).
Durante as últimas três décadas, a seleção natural tem sido estendida também para tratar
da denominada evolução química que compreende desde a química prebiótica até a modificação
dos sistemas químicos autossustentáveis – uma vez que agregando novos componentes ao seu
o inventário químico existente, com ajustes seletivos e criteriosos, e suprimindo aquelas versões
originando novidades até alcançarem os auto-reprodutores presentes na Terra que, embora mais
complexos, ainda persistem variando quimicamente conforme o ambiente muda (LYNN, 2012).
the Chemical Elements de Frausto Silva e William, que fundamenta várias pesquisas no campo
da bioquímica. Deste modo, a dinâmica evolutiva começou a ser abordada pelos pesquisadores
conjeturando um vínculo entre a evolução química e biológica que, embora em alguns aspectos
tenham conotações diferentes, ainda possuem como sua principal força motriz a seleção natural.
2. Desenvolvimento
A natureza então tem sido constituída por diferentes partes que agregadas formaram um
vivos, a título de exemplo, são constituídos por uma série de elementos químicos que viabilizam
todas as suas atividades vitais. Conforme Aragão et al. (2017), no corpo humano, vinte e seis
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são os elementos da tabela periódica envolvidos na sua composição e, destes, apenas quatro não
Embora não exista uma fórmula química designada para o corpo dos organismos vivos
quinze elementos ocorrem em todos seres vivos e dez em determinados organismos (Figura 01).
Figura 01: Os elementos em destaque são biologicamente importantes. Fonte: Adaptado de Koolman e Röhm
Zoroduu et al. (2019) ratificam a participação dos elementos que aparecem em destaque
na figura 01, como componentes químicos do corpo humano, exceto o metal lítio (Li) que não
foi indicado como integrante e o metal estanho (Sn) que aparece agora como um elemento traço
possivelmente relevante. Segundo os autores, dez metais da tabela periódica são indispensáveis
para o organismo, ainda que, cada metal necessário possua outro metal suplente para a função.
Davies (2008) acrescenta que, para as plantas, a verificação de elementos que as compõe
precisa ser minuciosa, pois a identificação de um determinado elemento não é evidência que o
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mesmo cumpra alguma função no organismo: uma vez que as raízes não dispõem da capacidade
de rejeitar por absoluto um elemento solúvel, um número alto de elementos da tabela periódica
intrusos podem ser encontrados nas plantas. O autor supracitado confirma então a participação
de vinte dos elementos da figura 01, necessários para as plantas completarem seu ciclo de vida:
Boro, cloro, cobalto, cobre, ferro, manganês, molibdênio, níquel, silício, sódio e zinco
Fränzle (2009) completa que, o compromisso bioquímico que plantas, fungos e bactérias
do solo possuem com alguns elementos não é o mesmo, certamente por causa das diferenças de
disponibilidade na terra: aqueles metais presentes nas camadas superficiais de solo, como cobre,
ferro e vanádio são mais acessíveis para os fungos do que para as plantas, podendo serem mais
bem explorados por esse grupo de seres vivos durante a construção de seus aparatos biológicos.
padrão químico terrestre envolve, conforme relata Rodrigues (2010), uma quiralidade diferente
as funções estruturais e metabólicas dos organismos vivos terrestres são inteiramente baseadas
na água (H2O) como solvente, seria necessário que um substituto para ela ocorresse. Conforme
Sagan (2002), essa alternativa seria a amônia (NH3), uma substância também polar e abundante
no universo e que pode, em corpos celestes com uma baixa temperatura, estar no estado líquido.
Em uma situação hipotética onde a amônia fosse o solvente, certamente tal composição
química variaria e a tabela de elementos biologicamente importantes (figura 01) incluiria outros
implicaria em sistemas vivos com uma bioquímica diferente, desafiando pensamentos formados
de que tal padrão químico dos seres terrestres necessite se repetir em organismos extraterrestres.
Levin et al. (2017), argumenta que é acreditado que a composição química dos sistemas
vivos que possam existir em alguns corpos celestes seja favorecida por condições similarmente
restritivas e, portanto, organismos alienígenas estarão sujeitos aos mesmos princípios de seleção
natural, como regra universal para a formação de seus aparatos. Nesse sentido, se as condições
dos princípios de seleção podem oferecer diversas respostas sobre as formas de vida conhecidas.
A participação dos elementos químicos da tabela periódica nos sistemas vivos terrestres
tem sido então ditada pelas condições ambientais deste planeta: as transformações na atmosfera,
dos elementos e na sua incorporação como componentes dos organismos (NUNES, 2016). Esse
mesmo autor levanta ainda um questionamento sobre quais princípios que conduzem a seleção:
[...] Surge então uma pergunta: Por que a natureza selecionou alguns elementos em
Silva (2006) sobre as razões pelas quais os organismos vivos elegeram alguns elementos
para comporem seus aparatos biológicos aponta que, no mínimo, dois são os princípios básicos
para seleção natural dos elementos químicos, outros princípios podem ainda existir no processo.
Demicheli e Maia (2009) citando Ochiai (1978) trazem que para entender a causa a qual
alguns elementos inorgânicos foram promovidos para exercer funções biológicas específicas e,
outros elementos igualmente adequados para as funções foram recusados, é necessário levar em
consideração alguns princípios básicos abordados pelo bioquímico Ei-Ichiro Ochiai que podem
ser teoricamente explorados para explicar como ocorreu a seleção natural de espécies químicas.
Ochiai (2012) confirma que delineou quatro princípios básicos em relação à seleção de
elementos que compõem os sistemas vivos e, que estes estão relacionados com as propriedades
físico-químicas de cada elemento e seus compostos formados. Segundo esse autor, os elementos
químicos são selecionados por ajuste básico, abundância, eficiência e adaptação dos organismos
aos elementos cuja essencialidade está estabelecida, o que ele denomina por pressão evolutiva.
Maret (2016) sobre a participação dos elementos em sistemas biológicos, argumenta que
ainda têm trazido outros insights sobre esses complexos mecanismos biológicos de regulação e
pertinentes aos princípios que regem a seleção natural dos elementos químicos. Portanto, outras
pesquisas futuras podem expandir ainda mais o assunto com novos modelos de seleção química.
O termo biodisponibilidade foi proposto pelos cientistas para estabelecer uma proporção
para a qual determinadas substâncias químicas eram absorvidas e se tornavam disponíveis para
serem empregues em seres vivos. Cozzolino e Michelazzo (2016) citando Bender (1989) trazem
que, no início, o entendimento para tal termo era de uma dada proporção de nutrientes que podia
ser guardada ou ficar livre para uso após ser digerida, absorvida e metabolizada pelo organismo.
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condiz com a medida do potencial que cada um que destes possui para ser absorvido pelos seres
vivos e, participar das atividades biológicas. Lima e Merçon (2011) complementam que a maior
ou menor absorção de um dado elemento pelos sistemas vivos, em função de sua forma química,
está presente, tem-se uma maior ou menor absorção por parte da biota (LIMA;
em função de sua assimilação e acumulação por seres vivos, mas também de sua concentração
nos materiais geológicos e das características de solubilidade dos minerais que os contém: pois
para alguns metais que dissolvidos em água podem ser melhor capturados (CORTECCI, 2010).
Souza et al. (2015) esclarece que as condições ambientais imperantes como as mudanças
ou disponíveis ao meio ambiente. Esse autor ainda aborda que, para os metais, tanto as reações
rápida introdução de metais pesados no meio ambiente, em concentrações no solo que persistem
por um longo tempo, sendo possível alterações nas suas formas químicas e biodisponibilidade,
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tornando alguns elementos metálicos agora bem mais disponíveis do que antes para integrarem
das versões futuras de organismos vivos que habitarem a Terra, por disporem de mais opções.
das propriedades químicas que cada elemento possui, bem como das habilidades diferentes dos
seus compostos formados (NUNES, 2016). Muitas vezes um elemento químico em específico
não desempenha uma determinada função necessária para a atividade da maquinaria molecular
de um organismo, mas a sua participação, na forma de íons unidos ao sítio de uma biomolécula
possibilita a formação de uma estrutura espacial apropriada, que lhe permite realizar a função.
Nesse sentido, alguns elementos químicos possuem uma aptidão potencial para exercer
funções biológicas e, portanto, pode existir mais de um elemento para cada cargo em particular.
Ochiai (2012) traz que, nesta condição, é selecionado aquele que melhor se ajusta à cada função
e qualquer elemento ao qual este seja o caso, torna-se indispensável para o funcionamento dos
organismos. Os componentes químicos que são indispensáveis para a atividade dos organismos
vivos são denominados bioelementos, que, por sua vez, quando se apresentam em quantidades
pequenas nos seres vivos, são designados como oligoelementos (CARVALHO et al., 2016).
Embora a maior parte dos elementos formem outras espécies químicas, se um elemento
possuir uma reatividade química extremamente baixa e consequentemente não conseguir fazer
ligações para participar da composição de outras substâncias, ele portanto não será selecionado
para desempenhar funções biológicas, como é o caso dos elementos do grupo dos gases nobres:
Burnard (2003) traz que eles demonstram pouca reatividade, são insuficientemente solúveis em
água e não aceitam elétrons na forma estável para formar íons, impedindo que haja ligações.
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processos biológicos notáveis: pois apesar deste elemento ser o metal mais abundante da crosta
terrestre, encontra-se no solo em estados de oxidação altos, formando compostos como óxidos
e hidróxidos que são insolúveis em água. Como um dos atributos necessários para a participação
de um elemento químico nos processos biológicos é a sua solubilidade em água, o alumínio não
atende essa condição e, deste modo, os organismos não conseguem empregá-lo com facilidade.
para alguma aplicação e explana que elementos como o polônio e o astato não são apropriados
especificamente para processos metabólicos que acontecem nos sistemas biológicos por conta
originam reações que degradam as biomoléculas. Assim, todos os elementos de número atômico
superior ao polônio (Z > 84) que também são radioativos, não participam de funções biológicas.
18% da composição do corpo da espécie humana (FORBES, 2012). Um elemento químico para
formar essas estruturas moleculares imprescindíveis para o ser vivo, precisa estar relativamente
os elementos silício e germânio seriam, de todos elementos químicos existentes, as opções mais
concebíveis para o carbono: eles são elementos do grupo do carbono e apresentam configuração
eletrônica bem similar, sendo o silício o substituto tetravalente mais apto à realizar as 4 ligações
químicas e formar estruturas complexas, atributos necessários para a vida (TYSON, 2015).
para a formação da vida. Entretanto, de acordo com Marques (2016), os elétrons mais externos
do átomo de silício estão mais distantes do núcleo e o seu raio atômico é de 111 pm, enquanto
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mais fracas em relação às feitas pelo carbono, fazendo com que estruturas longas formadas por
esse elemento sejam menos estáveis. Considerando as condições ambientais terrestres normais,
em que a vida depende da presença de uma ampla variedade de moléculas complexas, o carbono
Em 2016, cientistas conseguiram demonstrar que a natureza pode incorporar silício nos
silício, condição até então nunca observada em seres vivos (KAN et al., 2016). Nesse sentido,
ao combinar esses dois elementos químicos, o repertório de moléculas formadoras dos sistemas
vivos pode ser expandido, compondo versões diferentes e funcionais para maquinaria biológica,
mas que não substituem o carbono como o constituinte fundamental dos seres vivos terrestres.
Rampelotto (2012) citando Koda (1992) relata que existem vários compostos derivados
silanos e siloxanos, mas que são inflamáveis à temperatura de 0 °C. Nessa perspectiva, o autor
ainda argumenta que o silício seria o candidato ideal para estruturar moléculas bioquímicas em
corpos celestes extremamente frios como o satélite natural Titã, onde esse elemento poderia se
apresentar vantajoso em relação ao carbono por conta da sua alta reatividade e, ser o precursor
da vida. Portanto, o ajuste de um elemento está relacionado às condições ambientais dos astros:
o silício seria o item selecionado em Titã, na Terra o carbono foi escolhido por ser apto à função.
Para que possam ocorrer as reações químicas dentro de organismos vivos, os fluídos que
fazem parte da maquinaria biológica precisam ser consecutivamente neutros, não tendo carga
negativa ou positiva. McGuire e Beerman (2013) abordam que uma das tarefas que o elemento
cloro, presente na forma de íons cloretos, desempenha nos seres vivos é neutralizar as cargas
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positivas dos fluídos, reestabelecendo o equilíbrio de forma que sempre possuam característica
neutra. Em razão disso, Koolman e Röhm (2013) trazem que os seres vivos necessitam dispor,
em seus aparatos biológicos, de uma quantidade razoável de cloro para um bom funcionamento:
um ser humano adulto, por exemplo, carece duma quantidade diária de até 5,1g desse elemento.
Um forte candidato para substituição do cloro para tal função seria algum outro ocupante
da série química dos halogênios: assim como o cloro, todos os outros elementos dessa coluna
apresentam 7 elétrons em seu último nível de energia e, precisam, portanto, receber um elétron
para ter a estabilidade química, transformando-se em íon mononegativo (ROZA, 2010). Porém,
acordo com o tamanho do raio atômico: a grande diferença ente os raios do flúor e cloro confere
a eles propriedades bem distintas, ocorrendo o mesmo com os demais halogênios (KIRK, 2012).
Em contraste com o cloro, o flúor é tão reativo que ataca a água fazendo ligação com o
hidrogênio e gerando oxigênio (na verdade, a reação entre o flúor e a água é tão complexa que
pode formar diversos outros produtos) o que impede que as reações químicas que envolvam
esse halogênio possam ser realizadas em solução aquosa (CHANG, 2010). Uma vez que a água
é o solvente pelo qual os organismos vivos efetuam suas reações químicas, essa particularidade
elimina o flúor como um elemento substituto para o cloro na função de neutralização de cargas.
O elemento, bromo por sua vez, tem energias de ligação mais baixas e é menos reativo
que o cloro. McFarland e Henry (2015) explicam que os íons brometo possuem um raio iônico
maior que os íons cloreto, os elétrons mais externos do brometo estão mais distantes do núcleo,
conferindo ligações químicas mais fracas. Entretanto, essas diferenças não impõem limites ao
bromo como uma alternativa química para o cloro: os íons brometo podem até substituir os íons
cloreto nos fluidos extracelulares, bem como competir com eles para o transporte dos íons nas
Porém, diferente do cloro, o bromo não possui muita afinidade com as soluções aquosas,
sendo mais solúvel em solventes não polares (orgânicos) e, quando em solução aquosa, o bromo
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pode desproporcionar formando íons com diferentes estados de oxidação (+1, +3, +5 e até +6),
o que pode torna-lo desvantajoso para neutralização de cargas (OLIVEIRA; AFONSO, 2013).
das metaloproteínas. Nos seres vivos vertebrados, essa função é realizada exclusivamente pela
hemoglobina, proteína cujo sítio de ligação do oxigênio contém o elemento ferro: acontece que,
nessa metaloproteína o átomo de ferro faz seis ligações coordenadas, quatro com a molécula de
porfirina formando um anel e duas ligações perpendiculares à este anel que, permitem a ligação
com átomos de O2 (NELSON; COX, 2014). Nos animais artrópodes, moluscos e crustáceos,
a hemocianina, metaloproteína que contém dois átomos de cobre, realiza essa função: os átomos
de cobre fazem ligações coordenadas, com a histidina e com o oxigênio (BANNISTER, 2012).
Para Rampelotto (2012), uma das restrições importantes pelas quais organismos vivos
selecionaram elementos químicos para efetuar as reações é a de que o solvente é a água. Assim,
para que determinado elemento químico possa desempenhar funções em meios biológicos, ele
deve se adequar à tal condição. Demicheli e Maia (2009) trazem que um dos atributos principais
para que uma espécie química possa realizar as reações de oxidorredução no meio aquoso é que
não deva oxidar ou reduzir a água durante tal processo. Considerando os potenciais de oxidação
e redução da água, metaloproteínas formadas por ferro, cobre e molibdênio foram selecionadas
para transportar oxigênio e excluídas classes baseadas nos pares Co(III)/Co(II) e Cr(III)/Cr(II).
que foram selecionados, o ferro obtém a maior vantagem. Yousem e Grossman (2011) apontam
que sua estrutura na hemoglobina possibilita que, quando o oxigênio se ligue à mesma, o átomo
de ferro se mova de volta para o centro do plano do anel de porfirina de modo que suas ligações
se tornem mais fáceis e que as moléculas de água fiquem distantes do mesmo, impossibilitando
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que haja qualquer alteração química da água. Contudo, existe ainda uma versão de proteína com
um sítio ativo contendo dois átomos de ferro ligados, chamada hemeritrina, que realiza também
cobre e ferro desempenhem uma função bem semelhante em seres vivos aeróbicos, as espécies
químicas compostas por cobre possuem apenas 1/4 de eficiência no transporte de oxigênio, em
relação àquelas compostas pelo ferro. Contudo, esse quadro muda de acordo com as condições:
em ambientes frios e com baixa pressão de oxigênio, as hemocianinas apresentam-se bem mais
e, por essa razão, reduzir a sua liberação por essa biomolécula (VANPUTTE et al., 2016).
ser simplesmente determinada pela forma química em que o mesmo se apresenta em diferentes
se encontrem em suspensão tornam-se mais fáceis de serem utilizados pelos organismos vivos.
Essa regra ajuda a compreender melhor por que o bromo não é um bom substituto para
o elemento cloro: a abundância dos cloretos na água do mar é relativamente alta e, considerando
que o mar foi o berço da origem da vida, o cloro esteve mais disponível do que qualquer outro
elemento do grupo dos halogênios. Por tanto, para a seleção natural do cloro como neutralizador
de íons de carga positiva, a abundância e biodisponibilidade deve ser considerada (Figura 02).
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CLORO
BROMO
FLÚOR
Figura 02: Representação da abundância dos halogênios flúor, bromo e cloro na água do mar. Fonte: Adaptação
de Haynes (2011).
deve ser selecionado. Se mais de um elemento químico puder desempenhar determinada função,
utilizado (OCHIAI, 2012). Seguindo essa regra, embora os elementos ferro e cobre possam ser
utilizados nas metaloproteínas por desempenharem uma função bem semelhante, o ferro é bem
mais abundante e encontra-se mais disponível que o cobre na crosta terrestre (SILVA, 2006).
Porém, se um elemento essencial não estiver efetivamente disponível e não existir outro
componente alternativo para a função, o organismo seria simplesmente incapaz de existir como
tal. Por exemplo, se o carbono não estivesse disponível no planeta Terra, organismos vivos cuja
formação se baseia em cadeias químicas longas, certamente nunca teriam existido, pois como
já foi dito, cadeias à base de silício são inviáveis para a vida nas condições ambientais terrestres.
biológicas rígidas. Os compostos inorgânicos de cálcio constituem em média 70% da parte não
celular dos ossos dos animais que, são formados principalmente a partir dos sais fosfatos e
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carbonatos desse elemento, sendo a hidroxiapatita (Ca10 (PO4)6 (OH)2) o principal sal presente
nas composições ósseas (HALL; GUYTON, 2011). De tal modo, o cálcio que é um constituinte
fundamental da estrutura esquelética dos seres vertebrados seria insubstituível para essa função.
Por sua vez, os compostos químicos do elemento estrôncio, como fosfatos e carbonatos,
também são insolúveis e podem realizar essa função de maneira formidável: diferentemente do
cálcio, o estrôncio possui uma alta afinidade para o tecido ósseo e pode formar estruturas ainda
mais fortes. A presença de compostos de estrôncio nas estruturas ósseas faz o risco de fraturas
diminuir em aproximadamente 59% e a ligação que ele estabelece com as proteínas plasmáticas
é baixa. Por conta de tais atributos, o tratamento da osteoporose, condição em que a densidade
mineral óssea é diminuída, acarretando consequentemente a fragilização dos ossos, pode incluir
uso do ranelato de estrôncio (C12H6N2O8SSr2), substância que atua tanto diminuindo o risco das
ambos pertencem à família dos metais alcalino-terrosos, possuem o seu último nível de energia
átomo de estrôncio é quase do mesmo tamanho do núcleo do cálcio, o que permite ao corpo dos
suas vértebras no lugar do cálcio (HAMDY, 2009). Uma vez que, neste caso, a substituição de
um metal por outro não é um problema à saúde do organismo vivo, pode auxiliar no crescimento
Com essas propriedades, o elemento estrôncio seria certamente a melhor opção química
para a formação esquelética dos sistemas vivos. Para Demicheli e Maia (2009), o entendimento
dessa ocorrência requer levar em consideração que a seleção natural de elementos químicos que
constituem as estruturas esqueléticas dos seres vivos aconteceu pela abundância ou escassez no
solo. Uma vez que o cálcio seria o elemento mais abundante e disponível para a formação óssea
naquele devido momento, pois Haynes (2011) traz que a abundância do cálcio na crosta terrestre
31
é de 4,15% enquanto que a do estrôncio é de somente 0,037%, na falta de algo com as melhores
propriedades químicas disponível para essa função, os compostos de cálcio foram úteis.
podem ser diferentes. Conforme aborda Miller (2019), a cisteína é um exemplo de um composto
químico que possui esqueleto carbônico idêntico tanto ao da serina, quanto ao da selenocisteína
somente pelos diferentes elementos envolvidos em sua composição química (Figura 03).
Figura 03: Representação da fórmula molecular e estrutural da selenocisteína e da cisteína. Fonte: Adaptação de
Conforme trazem Koolman e Röhm (2013), apesar de serem constituídos por elementos
as mesmas funções. Segundo os autores, o elemento selênio pode substituir o enxofre, provendo
ainda de uma capacidade de reação maior que o mesmo. Certamente, a abundância do enxofre
na natureza, em relação ao selênio, faz com que o grupo tiol esteja mais prontamente disponível
para formar o aminoácido cisteína do que o selenol como a matéria-prima para a selenocisteína.
Uma vez que a abundância do selênio na crosta terrestre (0,00005%) seja demasiadamente
inferior à do enxofre (0,035%) conforme traz Alves (2008), espera-se que esse elemento possua
32
oxigênio que é 46,1% abundante na crosta, seria uma excelente alternativa química ao enxofre,
elevando a serina à condição de substituta da cisteína. Porém, segundo Berg, Tymoczko e Stryer
(2004), a sulfidrila (SH-), ou tiol, é bem mais reativa que a hidroxila (OH-) e pode formar pontes
selênio ser requerido na dieta dos organismos vivos e, tanto ela quanto a cisteína, são derivadas
da serina, que é uma molécula precursora na síntese dos aminoácidos. Ainda de acordo com os
autores, o composto de selênio possui propriedades químicas tão únicas, que a substituição pela
versão formada por enxofre pode ter efeitos inibitórios pronunciados na atividade enzimática.
A fosfatase alcalina é uma enzima que contém o elemento zinco, produzida por diversos
órgãos e tecidos, ela possui esse nome devido a sua atividade ótima ocorrer em pH próximo de
8,0 (alcalino). Demicheli e Maia (2009) trazem que, a enzima possui quatro íons Zn e dois íons
Mg formando duas subunidades: cada uma destas duas subunidades contém um centro dinuclear
formado pelo elemento zinco que é o sítio catalítico e pelo elemento magnésio que é certamente
estrutural. Assim, a fosfatase alcalina nativa totalmente ativa é referida como ( ZnA ZnB MgC)2.
geométrica dos íons de zinco nos sítios ativos: através de sua geometria de coordenação flexível
o zinco pode atuar acoplando a base ao nucleófilo, enquanto o magnésio, por sua vez, contribui
para formar o potencial eletrostático em torno do centro ativo desse complexo. Porém, segundo
Koutsioulis et al. (2010), a esfera de coordenação do terceiro sítio (preenchida pelo magnésio)
é a responsável por selecionar os metais para formar o ácido de Lewis deste complexo metálico.
Para substituir o zinco nos sítios ativos da fosfatase alcalina, os melhores candidatos são
certamente outros elementos de transição, uma vez que seus átomos (ou seus cátions formados)
33
possuem uma subcamada d parcialmente preenchida e disponível para poder acomodar elétrons
dos ligantes nos complexos. Nesse sentido, McComb et al. (2013) abordam que na fosfatase, o
zinco pode ser substituído in vitro pelos cátions de metais de transição como manganês, cádmio,
níquel, cobre e mercúrio. Contudo, nenhum desses elementos conservou a funcionalidade desta
enzima: uma vez substituindo o zinco, pouca ou nenhuma atividade enzimática foi recuperada.
Em meio aos quarenta elementos pertencentes ao bloco d da tabela, o cobalto surge como
um substituto viável e capaz de manter a atividade dessa enzima: os quatro sítios do complexo
podem acoplar o cobalto de forma equivalente ao zinco, existindo inclusive versões da fosfatase
que são formadas por esse metal de transição preenchendo os sítios A e B, que estão presentes
em algumas espécies de bactérias. Tian, Jia e Yu (2016) alegam que o ferro também é capaz de
participar da fosfatase alcalina, mesmo assim, ainda podendo ser entendido como contaminante.
Demicheli e Maia (2009) acrescentam que tais organismos certamente elegeram o zinco
para compor a enzima fosfatase por conta de estar mais abundante que o cobalto na hidrosfera
crosta do planeta Terra, enquanto o cobalto compõe cerca de 0,003% (HAYNES, 2011). Porém,
ainda que seja bioquimicamente raro, o cobalto posicionado no centro de um anel corrina forma
a cobalamina (vitamina B12) que está relacionada ao metabolismo de todas as células do corpo
humano e de muitos outros seres vivos, exceto os vegetais que não a possui (YAMADA, 2013).
função biológica e estão igualmente disponíveis para compor os sistemas biológicos, espera-se
que o elemento químico selecionado seja aquele capaz de executar as tarefas de modo eficaz e
Esse princípio ajuda compreender melhor por que o cobalto não foi o metal selecionado
para formar o ácido de Lewis do complexo da fosfatase alcalina: considerando que a disponibi-
34
lidade e abundância de ambos metais de transição seja relativamente próxima na crosta terrestre
(figura 04), a geometria de coordenação flexível do zinco, segundo Prasad (2013), garante uma
atividade enzimática mais eficiente. Portanto, ainda que essa diferença de abundância de ambos
elementos não seja relativamente grande, o elemento zinco proporciona os melhores resultados.
Figura 04: Representação da abundância de zinco, cobalto e manganês na crosta terrestre. Fonte: Adaptação de
Alves (2008).
Esse princípio também ajuda a compreender por que o ferro que é bem mais abundante
não substituiu o cobre nos organismos que habitam as grandes profundidades: em contraste com
temperaturas, o que viabiliza seu transporte até as células, proporcionando uma oxigenação bem
mais eficiente e impossibilitando anóxia por seu baixo fornecimento (VANPUTTE et al., 2016).
anos, sua disponibilidade pode sofrer variação à medida que mudanças nas condições terrestres
ocorram. Nesse sentido, Aureliano et al. (2012) relata que alguns elementos que se tornem mais
biodisponíveis, podem se tornar essenciais para os organismos vivos, por serem eficientes para
uma dada função e, qualquer um sistema vivo ao qual este seja o caso, sofrerá alterações na sua
composição química, o que pode provocar também mudanças em suas características corporais.
35
são organismos que necessitam de diversos minerais para sua nutrição. Sob condições naturais,
todos os macronutrientes requeridos são retirados do solo, sendo que um deles se trata do cátion
potássio (K+) que, na condição de nutriente mineral é extremamente importante para a formação
das plantas, podendo representar aproximadamente 10% do peso seco delas (MITRA, 2015).
pelo sódio (acontecimento bem descrito na literatura por implicar no aumento da produtividade
como resultado da alteração química em variadas plantas). Conforme alega Korndorfer (2006),
de forma parcial, o cátion sódio pode substituir o cátion potássio na ativação da enzima ATPase,
transporte do dióxido de carbono (CO2) para as células de plantas C4. Meurer (2006) acrescenta
que, ao substituir o cátion potássio, o cátion sódio atuaria no aumento da absorção de nutrientes
catiônicos como cálcio e magnésio, por não apresentar uma interação competitiva com ambos.
ambos pertencem à família dos metais alcalinos, apresentando um único elétron nos níveis mais
externos de energia e uma energia de ionização semelhante que facilita que haja a formação de
íons monopositivos (CHANG, 2010). Ambos elementos também possuem abundância próxima
na superfície terrestre: o metal sódio é o sexto elemento mais abundante com 2,36% e o potássio
é o oitavo, possuindo uma abundância aproximada de 2,09% na crosta terrestre (ALVES, 2008).
atributos os separam em macroelementos e elementos traço nas plantas. Schubert (2015) explica
que o potássio como um macronutriente desempenha três funções básicas nos vegetais: ativação
enzimática, equilíbrio de carga e funções osmóticas. Em contraste, Azambuja et al. (2014) traz
36
que o sódio não pode preencher por completo funções específicas do potássio, como a ativação
enzimática, devido aos seus íons hidratados (Na+) serem 1 ångström maiores que os do potássio
Conforme Wakeel et al. (2011), durante as últimas décadas, uma quantidade expressiva
de trabalhos científicos sobre a substituição do cátion potássio pelo cátion sódio na nutrição de
plantas foram feitas, e todas confirmaram que poucas funções do potássio podem ser alcançadas
por íons de outros elementos monopositivos. Ainda que o sódio funcione como um suplemento
para os vegetais na carência do potássio, não o substitui completamente. Portanto, devido à essa
capacidade inerente do potássio para executar diversas tarefas, outros elementos potencialmente
aptos a substitui-lo não são eficazes o suficiente e, não foram naturalmente selecionados.
A urease é uma enzima que contém o elemento níquel, existente em bactérias, plantas,
algas e outros organismos vivos, principal responsável por catalisar a hidrólise da ureia em duas
outras substâncias: Benoit e Maier (2013) trazem que, essa enzima contém um sítio ativo com
um par de átomos de níquel ligados à uma lisina carboxilada e um grupo hidroxila que aceleram
Segundo Benini, Musiani e Ciurli (2013), a presença do níquel como cofator enzimático
surpreendeu os pesquisadores quando sua relevância para a atividade da urease foi descoberta:
pois o metal zinco é, na maioria das vezes, o componente selecionado pelos sistemas vivos para
participar das metaloenzimas devido à sua resistência para se submeter as mudanças de estado
redox deletério e por causa da sua grande densidade de carga positiva, atributos que lhe tornam
um ácido de Lewis formidável e lhe conferem uma alta participação nos complexos metálicos.
e físicas são similares às do zinco. Segundo Alves (2008), ambos metais se encontram no quarto
37
período da tabela periódica integrando os metais de transição, e possuem uma abundância muito
próxima na geosfera (o níquel compõe 0,0084% da crosta terrestre e o zinco compõe 0,0070%).
de enzimas relacionadas intimamente em função e estrutura (sendo que a segunda enzima utiliza
dois átomos zinco para fazer trabalhos catalíticos) e abordaram que o uso dos cátions zinco pela
β-lactamase natural não lhe proporciona a máxima eficiência possível, pois enquanto tal enzima
se mostra incapaz de hidrolisar a ureia, uma versão sua formada por níquel substituindo o zinco
catalisa o ataque ao anel β-lactâmico com uma eficiência superior. O autor ainda enfatiza que
o zinco leva a β-lactamase a um desempenho que é apenas regular para sua finalidade biológica,
entretanto, que pode ser melhorado evolutivamente através da sua substituição pelo níquel.
que o zinco para a enzima urease em função das diferentes geometrias apresentadas: geometrias
zinco os complexos tetracoordenados em locais catalíticos de enzimas são mais comuns. Ainda
segundo os autores, um cátion zinco no lugar do níquel (1) seria de quatro coordenadas e inábil
para se ligar a mais uma molécula de ureia, à medida que no lugar do níquel (2) um cátion zinco
devido a essas distinções do níquel, o zinco é ineficaz para substitui-lo e não foi selecionado.
indispensável para haver a assimilação de tais hidrocarbonetos em biomassa e energia por seres
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como bactérias metanotróficas que existem na interface de ambientes muitas vezes desprovidos
de oxigênio, vivendo unicamente deste artifício, conforme explicam Brandani e Santos (2016).
Conforme Ross e Rosenzweig (2017) elucidam, existem duas versões dessa enzima bem
descritas na literatura: a forma solúvel da metano monooxigenase (sMMO), que possui um sítio
ativo com um centro contendo dois átomos de ferro ligados a um átomo de oxigênio (Fe-O-Fe),
e a forma particulada da metano monooxigenase (pMMO) que, embora alguns cientistas tenham
proposto que também se utilize de ferro, apresenta seu sítio ativo formado por átomos de cobre,
metal que compartilha alguns atributos químicos e está no mesmo período na tabela periódica.
Por haver controvérsias sobre o conteúdo metálico da enzima, com diferentes sugestões
teóricas sobre sítios mono, di ou trinucleares de cobre, Cao et al. (2018) realizaram um estudo
recente usando refinamento mecânico quântico para determinar qual arranjo atômico se encaixa
melhor na estrutura da pMMO e o conjunto de dados cristalográficos que foram alcançados não
deram suporte para um local de cobre dinuclear, sugerindo que seja mais adequado que a enzima
Todavia, Waldron e Robinson (2009) acrescentam que ao longo dos anos, os organismos
ferro no seu sítio ativo – pela forma da enzima particulada que faz o uso de cobre, o que alternou
o metabolismo dos mesmos para trabalharem com esse elemento, uma vez que tenha se tornado
mais biodisponível para ser usado em mecanismos de oxirredução do que o ferro: devido a ação
oxidante da atual atmosfera, o ferro têm formado compostos pouco solúveis em água, reduzindo
sua acessibilidade, embora a abundância ainda seja bastante alta em relação aos demais metais.
Nesse sentido, Chen et al. (2014) esclarecem que, os parâmetros cinéticos e a frequência
de rotatividade indicam que a metano monooxigenase que utiliza cobre (pMMO) é uma enzima
de somente alguns alcanos. O autor ainda traz que, embora a versão formada pelo ferro (sMMO)
possa oxidar uma imensa quantidade de substâncias orgânicas, a forma particulada é o oxidante
39
de metano mais eficiente relatado na literatura. Assim, até que surjam outros tipos enzimáticos
que possam exibir resultados superiores, a pMMO é a enzima mais apropriada para essa tarefa.
A seleção natural acabou refinando os sistemas vivos, ao longo de bilhões de anos, para
tirarem o máximo das propriedades químicas e físicas das matérias-primas disponíveis na Terra,
presentes fundo do oceano, até mesmo dos gases que estavam presentes na atmosfera prebiótica,
o que possibilita esclarecer muitas de suas características bioquímicas (NELSON; COX, 2019).
se que o sistema se adapte de uma maneira bem específica às propriedades desse elemento em
particular, de forma que alguma alternativa química potencialmente apta a desenvolver mesma
tarefa acabe se tornando não mais um substituto efetivo para o produto final da evolução, o que
Ochiai (2010) denomina como princípio da adaptação evolutiva ou efeito da pressão evolutiva.
Nesse sentido, a escassez de um elemento eficaz para uma função biológica pode então
elementos na constituição dos organismos modernos, conforme aborda Mukherjee et al. (2018):
dições de nutrientes desfavoráveis e favoráveis pode ter sido imprescindível para gerar
ocorreram em um período em que haviam poucas opções elementares acessíveis para realizarem
tarefas, o que corrobora o princípio da pressão evolutiva, onde, para fazer o melhor uso possível
dos elementos disponíveis, os organismos desenvolveram sistemas adaptados ao uso destes que,
muitas alternativas químicas atualmente abundantes na crosta não são mais substitutas eficazes.
as propriedades de um dado elemento podem, de acordo com Galembeck e Costa (2016), passar
a predominar ou serem eliminados por deficiência de nutrientes, por não aderirem à substituição
um elemento químico, podem conferir aos seus portadores a maior capacidade de sobrevivência
que dispõem dessa novidade química (novo no sentido de algo que não se tinha anteriormente).
luz filtrada pela água, os seus descendentes terrestres adaptaram-se à luz filtrada pelos gases da
atmosfera por meio de um artefato adquirido ainda no meio aquático: o elemento magnésio que,
agregado ao anel porfirínico constitui a clorofila – uma substância fotorreceptora que possibilita
algas e plantas, absorvendo a luz solar em comprimentos de onda adequados para sustentar uma
autotrofia no metabolismo de todos os organismos vivos que a possuem (RAVEN et al., 2011).
Karp (2005) aborda que, a clorofila é uma porfirina cujo íon central é o metal magnésio,
do mesmo modo que a heme sanguínea é uma porfirina de ferro, sendo esta uma evidência forte
de que a armação do anel porfirínico – cuja a alternância de ligações simples e duplas desloca
os elétrons e acaba sendo responsável pela absorção de luz – já estava presente nos organismos
41
ascendentes das plantas e dos animais. Portanto, Galembeck e Costa (2016) complementam que
os microrganismos de fato já possuíam a porfirina, e que essa espécie química serviu como base
originou um derivado capaz de absorver a luz em comprimentos de onda ideais para organismos
que deem lugar ao Mg+2 na formação da clorofila, pois conforme Prestes (2009) citando Ahmed
et al. (2002), em um processo reverso (onde as moléculas de clorofila isomerizam e sofrem uma
variação, formando uma versão chamada feofitina), o magnésio é substituído pelos hidrogênios.
Está bem presente na literatura que a perda do magnésio do centro da estrutura química
da clorofila traz alterações no metabolismo dos organismos e Moreira et al. (2015) admite que
um aumento nos níveis de magnésio das plantas contribui na absorção mais eficiente da luz e
adaptados para absorverem a luz nos comprimentos de onda específicos ao uso desse elemento
em particular, sua substituição não é mais viável às plantas e traz efeitos negativos caso ocorra.
42
vivos fotossintetizantes há bilhões de anos atrás, os sistemas vivos aeróbicos obtiveram imensas
vantagens em relação às demais versões anaeróbicas: diferente do processo metabólico que não
com uso de oxigênio como aceptor final de elétrons, permite que a glicose produza 28 moléculas
de ATP, tornando mais vantajosa essa forma de obtenção de energia (MADIGAN et al., 2009).
Ainda que os microrganismos que utilizem a respiração anaeróbica como via metabólica
sejam rápidos na obtenção da energia necessária, esgotam mais rápido seus recursos, deixando
evidente que para organismos como os metazoários essa via seria desproporcional e ineficiente
na obtenção de energia para as atividades biológicas conforme Molenaar et al. (2009). Portanto,
a respiração aeróbica seria uma das poucas ou talvez a única via capaz de garantir a quantidade
de energia que os metazoários exigem, pois Sadava et al. (2009) trazem que essa via metabólica
permite transferir para as moléculas de ATP até cerca de 40% da energia armazenada na glicose.
Embora sejam conhecidas três espécies de metazoários (Loricifera) que vivem mediante
evidenciada somente em eucariotos unicelulares), a maioria dos sistemas vivos que representam
a fauna metazoária possuem uma respiração aeróbica e, ainda que sejam capazes de sobreviver
à falta de oxigênio por períodos limitados, não conseguem concluir seu ciclo de vida em habitats
Nesse sentido, Helmkamp (2010) complementa que, com a respiração aeróbica presente
demandou um conjunto de adaptações como, por exemplo, a produção de uma imensa variedade
43
de antioxidantes para minimizar os problemas relacionados aos radicais livres que resultam do
processo metabólico e que podem danificar praticamente todas as biomoléculas dos seres vivos.
Apesar dos organismos aeróbicos terem surgido de ancestrais que realizavam respiração
anaeróbica, Galembeck e Costa (2016) trazem que a existência de multicelulares depende única
e exclusivamente da presença de oxigênio, e que a sua oferta permaneça nos níveis da atmosfera
atual (21% da mesma), não sobrevivendo à valores menores que esse ou por meio da respiração
anaeróbica, e não admitindo outro elemento da tabela periódica como substituto. Assim, até que
essa taxa de oxigênio fosse atingida pela ação dos seres fotossintetizantes, os únicos organismos
A energia, necessária para conduzir muitos processos nos sistemas vivos, é armazenada
e ministrada pelo complexo químico orgânico trifosfato de adenosina (ATP), que é utilizado na
fotossíntese e no metabolismo aeróbico e anaeróbico, cuja armação possui o fósforo sob a forma
do íons fosfato (PO4)3 – uma espécie química que desenvolve diversos outros papéis nas células,
a possibilidade de substituição do fósforo por outras espécies químicas, que permitissem formar
uma bioquímica alternativa independente deste elemento, foram feitas. Hunter (2012), realizou
Quais são então as propriedades especiais do fosfato que levaram à sua seleção
fósforo, que está no mesmo grupo na tabela periódica (calcogênios), possuindo um raio atômico
e eletronegatividade bem semelhante, o que o tornaria um forte substituto (LIDE, 2010). Porém,
conseguiu, até o momento, substituir sua base química de fósforo por espécies à base de arsênio.
Wolfe-Simon et al. (2011) proporam que o fósforo teria sido substituído pelo o arsênio
onde os íons arsenatos estariam sustentando o seu crescimento. Entretanto, estudos posteriores
refutaram essa proposta de que o arsênio estaria substituindo o fósforo no DNA ou no complexo
bactéria ainda é dependente dos fosfatos embora seja resistente aos arsenatos (ERB et al., 2012).
Silva e Leite (2017) citando Dixon (1997) abordam que, embora essa substituição possa
ocorrer entre as duas espécies químicas, uma vez executada ocasionaria diversos desequilíbrios
em kcal/mol procedente de sua reação com a água diminuir tanto de ΔG -11,44 para -9,7 quanto
de ΔH -11,52 para -8,14, refletindo em energias livres menores para as reações bioquímicas que
são necessárias. Nesse sentido, como os sistemas vivos já estão adaptados para trabalharem nos
níveis de energia advindos do ATP, essa versão arsênica não é mais viável (PARK et al., 2013).
3. Metodologia
Esta seção é onde serão delineadas as formas e caminhos pelos quais o estudo da seleção
de elementos químicos para os processos vitais foi conduzido, considerando todos fundamentos
ser dividida em partes menores designados métodos que, de acordo com Matias-Pereira (2010),
Nessa lógica, Ferrer (2016) complementa que dentro da seção de metodologia é descrita
pelas quais esse estudo foi conduzido, categorizando as modalidades pesquisas aqui exploradas
conforme seu tipo e os materiais utilizados para a elaboração do presente material científico.
Embora as pesquisas realizadas dentro dos âmbitos acadêmicos possam ser interpretadas
como de caráter científico, a adoção do método e tipo de pesquisa adequado pode fornecer uma
Gil (2010) traz que as pesquisas podem ser classificadas conforme a sua finalidade, abordagem,
objetivos e procedimentos técnicos – em consonância com a estrutura que seguem (figura 05).
Figura 05: Fluxograma categorizando os tipos de pesquisa explorados no presente trabalho. Fonte: Arte do autor;
Nesse sentido, o presente estudo se configura como uma pesquisa básica, uma vez que
natural em busca de uma consequente melhoria nas teorias científicas e para a compreensão dos
46
ao longo de bilhões de anos. Frente à essa modalidade, as suas principais propriedades são gerar
não se atentado a medir os eventos estudados, muito menos empregar instrumentos estatísticos
durante o procedimento de análise dos dados. Embora existam valores para a compreensão das
diferenças de abundância, incluindo até dois gráficos, prioriza-se o significado que a quantidade
maior ou menor de alguma substância no meio ambiente representa para a sua participação em
sistemas vivos. Nessa perspectiva, esse trabalho não se adequa ao tipo de pesquisa quantitativa:
à sua análise. Mas estes dois processos estão intimamente relacionados. Nas pesquisas
qualitativas, especialmente, não há como separar os dois processos. Por essa razão é
que muitos relatórios de pesquisa não contemplam seções separadas para tratar dos
Quanto aos objetivos, a modalidade adotada foi a pesquisa explicativa que busca apenas
tema proposto (GIL, 2010). Neste sentido, a compilação de inúmeras obras confere satisfatórias
explicações para a participação ou exclusão de elementos com características que não agregam
de pesquisa caracteriza este estudo, considerando que um bom apanhado sobre os trabalhos que
existem na literatura, com dados recentes e relevantes relacionados ao tema, foi realizado. Nessa
lógica, Marconi e Lakatos (2013) complementam que esse estudo da literatura é pertinente para
47
uma planificação do trabalho e que as fontes de informações nessa modalidade podem ser livros
físicos ou digitais, periódicos, artigos científicos, jornais, boletins, revistas, monografias e teses.
contudo, em razão deles representarem um grande número, a população foi reduzida para uma
pequena parte denominada amostra, que englobam exclusivamente os elementos que participam
do arranjo bioquímico dos organismos vivos terrestres e os seus potenciais substitutos à função.
3.1.1 Materiais
na revisão de literatura foram analisadas 122 obras de cunho científico e acadêmico que, embora
sejam publicações bem distintas, suas informações são compatíveis e complementares de forma
que sustentam que os critérios de seleção natural são os mesmos para cada elemento selecionado
que participa da bioquímica dos organismos terrestres. Entre essas obras analisadas, 62 foram
os artigos levantados de revistas científicas ou periódicos online e 60 foram os livros com cunho
No que diz respeito aos artigos científicos, quase 2/3 deles possuem a certificação digital
com o padrão de códigos de identificação na web que aumentam a confiabilidade das produções
bibliográficas nas bibliotecas virtuais que os hospedam. Entre os artigos com acesso via internet
em revistas online, 06 foram publicados pelo Nature Publishing Group, 05 publicados por meio
da amplamente referida Science Magazine e 14 dos materiais são oriundos da editora de revistas
e livros acadêmicos Springer Publishing que possui relevância dentro do campo acadêmico.
que têm armazenado em seu banco de dados digital um número expressivo de livros scaneados;
o Scielo e a Wiley Online Library que se tratam de bibliotecas online que hospedam inúmeros
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artigos científicos; e uma secção do Centro Nacional de Informação Biotecnológica dos Estados
Unidos (NCBI) que oferta artigos com bastante relevância na área de biotecnologia e, portanto,
foi utilizada na busca de dados bibliográficos sobre bioquímica alternativa e seleção natural.
As obras básicas que dão apoio para este trabalho monográfico são os livros de Ei-Ichiro
Ochiai, aqui mencionados anteriormente, onde o autor introduz na literatura os quatro princípios
seletivos que conduzem a evolução química e que ainda se mostram compatíveis com os dados
revelados pelas pesquisas científicas atuais sobre a seleção de metais em sistemas vivos. Com
isso, ainda que outras fontes bibliográficas sejam mencionadas, esse estudo dá ênfase ao modelo
As imagens exibidas nas figuras são em sua maioria de domínio público e foram editadas
elaborados por meio do programa PowerPoint com uso de informações advindas dos autores já
referidos, bem como os gráficos das figuras que foram construídos através do programa Excel
com interpretação dos dados levantados bibliograficamente sobre abundância na litosfera. Para
e pós-graduação disponibilizado para o uso acadêmico pelo Centro Universitário Ages (2019).
4. Resultados e Discussão
Nas últimas décadas, uma expansão dos pensamentos darwinianos designada evolução
química vem sendo considerada para a melhor compreensão da origem da maquinaria molecular
dos seres vivos – em relação a esse ponto, alguns pesquisadores conjeturaram um vínculo entre
a evolução química e a biológica como duas partes de um mesmo processo natural que acarreta
na mudança da matéria ao longo do tempo, conforme abordam Pascal e Pross (2015). Portanto,
ainda que este trabalho discuta sobre as causas pelas quais alguns elementos químicos tornaram-
se essenciais para processos vitais, seus resultados estão intimamente ligados à teoria evolutiva.
49
da matéria mais adequada à uma condição ambiental – a seleção natural formulada por Darwin-
Wallace – podem dar pistas sobre a bioquímica dos organismos vivos. No entanto, a análise das
diferentes abordagens evolucionárias encontradas na literatura aqui feita, revela que os estudos
científicos acerca da seleção de elementos se centralizam nas espécies que participam do arranjo
bioquímico dos sistemas vivos e pouco discutem sobre os possíveis motivos pelos quais grupos
Nesse sentido, considerando que muita informação pode ser extraída dos elementos que
não participam dos organismos terrestres, a discussão enfatizará sobre as espécies químicas que
ambientais da Terra e outros corpos celestes. Porém, essa abordagem enfrenta alguns problemas
adicionais – a escassez de trabalhos científicos que sejam precisos sobre as causas da ausência
de 89 elementos, como exibido na figura 01, reflete na colheita de recortes de informações bem
restritas em obras distintas para formular uma explicação clara e convincente sobre os atributos
que desfavorecem a participação de alguns destes elementos em relação aos demais utilizados.
da evolução química para a compreensão de que a formação de diversidade molecular parte das
ocorra a seleção natural – os organismos vivos não escolhem possuir as substâncias que melhor
atendem aos seus objetivos, como trazem Levin et al. (2017), eles herdam de sistemas ancestrais
os arranjos químicos e, com a replicação dos seus modelos, acabam adquirindo as versões novas
que possuem alguma modificação espacial ou química por ganho ou perda de algum elemento,
garantindo seu sucesso ou fracasso à medida que as condições ambientais terrestres variam.
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O estudo dos mecanismos de seleção de elementos químicos para processos vitais revela
a ocorrência de um efeito similar a um gargalo evolutivo, mas será aqui discutido na perspectiva
de filtro seletivo elementar, considerando que todos elementos distribuídos na tabela periódica
encontram-se sujeitos à restrições que limitam ou até mesmo impedem que haja a participação
nos organismos vivos, o que reflete na diminuição gradual da quantidade de espécies químicas
que poderiam ser exploradas na formação da vida, dadas as condições ambientais de cada astro.
Como Levin et al. (2017) argumentou, é pensado que todos princípios de seleção natural
sejam universais e que o processo seletivo seja induzido por condições ambientais similarmente
restritivas. Assim, o padrão seletivo exibido no filtro aqui proposto (Figura 06) poderá englobar
maioria dos astros conhecidos, embora tenha sido elaborado atendendo as condições terrestres
e em acordo com as informações reunidas sobre a composição dos seres vivos conhecidos.
Figura 06: Filtro seletivo onde 42 elementos destacados normalmente não participam de organismos vivos. Fonte:
das espécies químicas em organismos vivos, as espécies químicas radioativas, artificiais e gases
nobres são restritas pelo crivo do ajuste básico no planeta Terra (Figura 06) e um dos resultados
disto é a exclusão imediata de 42 elementos que não se ajustam à tarefa de compor biomoléculas
fazendo diminuir para 76 o número de opções elementares para a formação dos sistemas vivos.
conhecido. Contudo, ao contrário dos outros elementos que podem ser encontrados na crosta e
na atmosfera de planetas e luas, os elementos artificiais não ocorrem naturalmente na Terra sem
serem oriundos de fissão através da manipulação humana de partículas em algum reator nuclear
ou acelerador de partículas e, aqueles que poderiam estar presentes neste planeta durante a sua
formação, decaíram dando origem a outros elementos ao longo dos anos (EMSLEY, 2011).
sintéticos, sua presença na natureza já foi demonstrada com aproximadamente 18.000 toneladas
terrestre (um caso que levantou discussões sobre as razões pelas quais tal classificação ainda é
perpetuada em materiais científicos), onde uma das explicações possíveis para isso se baseia no
fato de ambos terem sido sintetizados antes de serem descobertos na Terra (HUESO, 2017).
Scholes (2019) traz que foram detectados elementos como o amerício, cúrio, berquélio,
califórnio e einstêinio no espectro de uma estrela denominada Przybylski (estrela que expõe um
padrão considerado anômalo). Contudo, embora seja uma evidência convincente da existência
dos transurânicos em determinados corpos celestes, em astros com composição similar à Terra,
explica sua ausência na fórmula química dos seres vivos terrestres, como exibido na Figura 01
e admitido pelas obras citadas que retratam a composição de criaturas de reinos diferentes).
Vale ressaltar que os elementos sintéticos são espécies químicas que conseguem ofertar
íons e formar compostos, como descrito em Alves (2008), o que coloca em discussão a premissa
mesmo que a possibilidade de participação não fosse tão ínfima, como se tratam de compostos
resultantes de elementos que só têm existido na Terra quando sintetizados artificialmente pelos
aparelhos humanos, derivados de elementos sintéticos não estão igualmente aptos a competirem
Lima e Merçon (2011) corroboram esta abordagem exibindo uma tabela onde elementos
transurânicos – que englobam também os sintéticos – são exclusos inclusive da associação com
como resultado da primeira filtragem seletiva feita por ajuste básico, as espécies artificiais são
que cada elemento possui são fatores determinantes para sua participação em organismos vivos.
Em decorrência da baixa reatividade química dos elementos do grupo dos gases nobres,
um número baixo de compostos foi formado na natureza, o que restringe a sua participação em
sistemas vivos. Haner e Schrobilgen (2015) abordam que ainda que sejam referidos como gases
fluoreto de gás nobre sintetizado, denominado tetrafluoreto de xenônio (Figura 07), tornou tal
rótulo incoerente para fazer menção aos elementos que compõem essa família.
53
Figura 07: Tetrafluoreto de xenônio e a representação de sua fórmula molecular e estrutural. Fonte: Adaptação
de Imagem de Domínio Público (Argonne National Lab), publicada em Argonne Now (2012).
organoxenon, porém mais instáveis que os fluoretos de gás nobre (WELLER et al., 2017). Estes
resultados orgânicos indicam que, sobre condições especiais, os gases nobres poderiam integrar
biomoléculas capazes de assumir funções em organismos alienígenas nos corpos celestes onde
a existência de outros elementos fosse escassa, pois no que diz respeito às condições ambientais
terrestres, a sua instabilidade seria certamente um empecilho para uma bioquímica alternativa.
Embora a revisão de literatura recente feita por Winkler et al. (2016) tenha sugerido que
dano isquêmico, e uma variedade de propriedades farmacocinéticas úteis, ainda não foi descrita
de captar e incorporar essas espécies inertes no organismo – seja por insuficiência de compostos
ocorrendo naturalmente ou devido à instabilidade daqueles que já existem – faz com que outros
componentes sejam selecionados para funções biológicas em detrimento desse grupo periódico.
54
seus isótopos em decaimento, pois os elétrons de baixa energia que são abundantemente gerados
pela radiação, ao interagirem com os componentes moleculares dos organismos vivos, podem
induzir a fragmentação das biomoléculas por processos dissociativos como excitação interna e
Com essas propriedades, os elementos radioativos não são, certamente, a melhor opção
química para a formação molecular dos sistemas vivos, e não deveriam existir organismos vivos
que fizessem uso dos mesmos. Contudo, a seleção pelo ajuste básico – como descrita por Ochiai
(2012), não impede que haja a participação de alguma espécie radioativa, apenas sugere que na
presença de opções mais ajustadas para as funções biológicas, essa possibilidade química tenha
um menor peso. Isso esclarece a existência de microrganismos que são capazes de oxidar metais
radioativos e utilizá-los para seu próprio crescimento, como as bactérias Geobacter (Figura 08).
Figura 08: As espécies do gênero Geobacter são capazes de oxidar urânio e utilizá-lo para o próprio crescimento.
dos elementos químicos que não integram o grupo dos radioativos, tais como o potássio-40 que
ocorre naturalmente em bananas ou o carbono-14 presente nas demais plantas (ELLAM, 2016),
pode-se perceber que o critério para a seleção de uma espécie química radioativa se centraliza
na quantidade de radiação que a mesma emite: aqueles elementos que liberam doses de radiação
em níveis desprezíveis, não representam riscos aos sistemas vivos e compõem então um número
Os elementos químicos restantes das três principais filtragens seletivas por ajuste básico
são submetidos a mais um pente-fino que é a solubilidade em água – mencionada algumas vezes
ao longo deste trabalho teórico sobre seleção natural. Considerando que a maioria das interações
químicas dos sistemas vivos ocorrem em meio líquido e a água têm se mostrado como um ótimo
(ou seus derivados insolúveis) na composição dos seres vivos, como foi colocado na figura 01.
Entretanto, ainda que a água seja uma molécula encontrada em vários locais do universo,
para assumir a função de um solvente químico precisa ocorrer no estado líquido – situação que
possibilita constituir os eletrólitos corporais – mas sua existência nessa condição exige, segundo
Quillfeldt (2010), pressão atmosférica maior que 6 milibares e temperaturas que se mantenham
entre 0 e 100º C. Desta forma, até mesmo a utilização da água como solvente encontra-se sujeita
à restrições ambientais – seja pela distância e pelo tipo de estrela que os corpos celestes orbitam,
existe uma zona nos sistemas solares onde a água poderia ser encontrada líquida e apta à função.
A compilação dos trabalhos até aqui levantados, sobre a seleção dos elementos, revelou
que tais propriedades físicas e químicas da água influenciaram direta e indiretamente o processo
seletivo. Além de sua capacidade de dissolução de minerais, sua composição química contribuiu
56
até na seleção do carbono como o componente básico da armação das macromoléculas à medida
que é incompatível com o silício e derivados – pois a afinidade que o silício possui pelo oxigênio
é tão forte que, quando solubilizado, ele pode reagir quimicamente com o oxigênio da molécula
de água, formando dióxido de silício e hidrogênio como produtos finais (KOOI, 2013).
Nesta perspectiva, presume-se que a substituição da água por algum outro solvente polar
implicaria na modificação desse seleto representado na figura 01. Rampelotto (2010) completa
que qualquer sistema que se baseasse em amônia como seu solvente, excluiria automaticamente
Todavia, a proposta do filtro seletivo também conduz à uma outra circunstância: mesmo
que um determinado planeta oferte água líquida e condições ambientais idênticas às terrestres,
é pensado que seu seleto químico também sofra divergência daquele apresentado na figura 01
caso haja diferença na abundância ou biodisponibilidade dos elementos em sua superfície. Isso
diferentes – na própria Terra – propiciou a ascensão de novas versões (RAVEN et al., 2011).
não polares como o metano e etano – compostos cujas propriedades permitem a manutenção de
reações químicas complexas. McLendon et al. (2015) abordam que os cientistas ainda debatem
sobre a eficácia desses alcanos no papel de solvente para uma hipotética forma de vida e trazem
que um dos requisitos seria sua existência em fase líquida que é essencial para qualquer sistema
vivo – metano e etano nessa condição foram encontrados ocorrendo no satélite Titã (Figura 09).
57
Figura 09: Lago formado por metano líquido em Titã (esquerda); Lago formado por água líquida na Terra (direita).
Fonte: Adaptação de Imagem de Domínio Público, cortesia de Nasa (2013) e Nasa (2002).
revelaram que, em corpos celestes com temperaturas extremamente baixas, desprovidos de água
e oxigênio, e com ocorrência de solventes mais compatíveis disponíveis (como metano líquido),
este elemento tetravalente seria o mais adequado para a função de estruturar as macromoléculas
constituintes dos possíveis organismos vivos, como traz Rampelotto (2012). Portanto, qualquer
sistema biológico no qual este fosse o caso, apresentaria os seus mecanismos de seleção química
por motivos termodinâmicos poderiam desenvolver uma respiração baseada em hidrogênio que
reduziria etano e acetileno em metano para arranjar a energia necessária às suas atividades. Essa
hipótese de metabolismo anaeróbico usando hidrogênio tem sido fortemente corroborada pelos
resultados da sonda Huygens que demostram uma diminuição anômala de hidrogênio, acetileno
e etano na superfície da lua saturniana (CLARK et al., 2011). Todavia, mais investigações são
estruturais que são os ingredientes básicos de um conjunto de coisas abstrusas sintetizadas nos
corpos celestes, funcionando como um laboratório natural de química – uma análise do material
(21 moléculas orgânicas diferentes) e uma quantidade de álcool etílico liberada repetitivamente
equivalente à cerca de quinhentas garrafas de vinho por segundo (BIVER et al., 2015).
durante a reprodução dos organismos por meio de rearranjos gênicos ou mutações que alteram
mutante mais apto eliminando os que possuem características menos favoráveis à sobrevivência
conforme Meyer e El-Hani (2005). No processo de evolução química acontece algo semelhante:
com a produção repetitiva de biomoléculas, formando populações químicas, pode haver a troca
à geração de moléculas com propriedades diferentes, nas quais a seleção pode atuar (figura 10).
Figura 10: Representação de como acontece a evolução química em relação à evolução biológica. Fonte: Arte
Nesta perspectiva, tanto a evolução biológica quanto a evolução química não ocasionam
o aparecimento de nenhum artefato a partir do zero; todas substâncias novas foram construídas
componentes químicos que não se tinha antes (variação), resultando em uma grande diversidade
química com aptidão para realizar trabalhos, ainda que algumas carreguem atributos ancestrais.
A enzima fosfatase alcalina (AP) oferece uma boa oportunidade de verificar a ocorrência
adicionais para mostrarem uma atividade catalítica completa. Como mencionado anteriormente,
o cátion Co+2 pode participar como cofator enzimático substituindo o Zn+2 nos seus sítios ativos
espaciais por ser constituída de cobalto (Figura 11), causando mudanças em suas propriedades.
Figura 11: Representação das enzimas fosfatase alcalina (zinco) e fosfatase alcalina de cobalto (cobalto). Fonte:
Ainda que o cobalto não se mostre um componente químico tão eficiente quanto o zinco
na formação a fosfatase alcalina da maioria dos sistemas vivos, as enzimas dos microrganismos
60
o cátion cobalto para sua atividade catalítica – a fosfatase alcalina de ambos exibe uma afinidade
aprimorada para os cátions Co+2 em relação aos Zn+2 e, quando sua especificidade é modificada
pela presença do cobalto, acaba aproximadamente oito vezes mais ativa que a versão selvagem
constituída por zinco nos sítios ativos, como é abordado em Kantrowitz (2011).
são os possíveis motivos para essa atividade mais alta na variante de cobalto em relação ao tipo
selvagem, assim como trazem também Helland, Larsen e Ásgeirsson (2009). Isto confirma que
durante sucessivas replicações, a seleção natural possui o potencial de produzir estruturas novas
e úteis para alguns seres vivos e que podem fazer a diferença conferindo a seus portadores maior
Nos organismos vivos, a maioria das moléculas que estão envolvidas com as cadeias de
transporte de elétrons apresentam uma grande similaridade, sejam elas as enzimas ou até mesmo
os próprios portadores de elétrons, como pode ser verificado na fórmula estrutural e composição
bem mais simples – como visto anteriormente, essas substâncias possuem uma origem comum.
61
Figura 12: Representação das estruturas da hemoglobina (centro de ferro) e clorofila (centro de magnésio). Fonte:
Sobre a hemoglobina, Traut (2008) complementa que feita a comparação das sequências
de aminoácidos das globinas, fica bastante claro que todas estas espécies de proteínas globulares
diversas, essas proteínas certamente divergiram como aconteceu com a mioglobina que, embora
por não efetuar ligações cooperativas, como referido em trecho anterior sobre a seleção do ferro.
de seu precursor chamado porfirina – que aparece na história biológica através da uroporfirina
reduziam sulfato, sintetizavam os anéis de porfirina que passavam elétrons e geravam adenosina
trifosfato (ATP) durante esse percurso, como trazem Margulis e Sagan (2011). Portanto, quando
o centro do macrociclo porfirínico preencheu seu espaço acomodando íons de metais diferentes
como ferro, magnésio, níquel e cobalto, derivados com propriedades específicas foram obtidos.
Com a multiplicação dos sistemas vivos constituídos por um íon adicional de magnésio
bacteriana com a capacidade bioquímica inovadora de aproveitar a água como fonte de elétrons
62
tornou-se inevitável, pois a água é um recurso abundante na superfície terrestre. Nesse sentido,
Lyons et al. (2014) esclarecem que à medida que esses organismos ancestrais das cianobactérias
realizavam fotossíntese com a água, eles forneciam oxigênio gasoso para a atmosfera como um
dos produtos de sua respiração (Figura 13), o que promoveu o grande evento de oxigenação e
Figura 13: Equação da reação de fotossíntese e da respiração aeróbica. Fonte: Arte do autor; Informação de
que a quantidade de oxigênio advinda de fontes abióticas deva ter sido insuficiente para permitir
que houvesse a seleção química deste elemento. Conforme trazem Soo et al. (2017), a obtenção
bactérias – apoiam a hipótese de que essa via metabólica só obteve êxito por conta da abundante
Caso esses estudos estejam corretos, esta atmosfera oxidante poderia assumir um espaço
de transição que não fossem ferro e cobalto nas porfirinas condutoras de oxigênio. Assim, caso
tenham existido outros derivados, com diferentes metais e até ametais preenchendo o centro do
63
macrociclo porfirínico, esses espécimes foram exclusos por não conduzirem oxigênio de forma
pode ser discutida também sob a perspectiva da origem comum. Ambas as substâncias diferem
apenas na presença de um grupo tiol e um grupo selenol acoplados em seus esqueletos químicos
como exibido na figura 14. Portanto, uma análise superficial das suas representações estruturais
e composições químicas leva a sugerir que ambas substâncias tenham derivado de alguma outra
biomolécula mais simples como o aminoácido alanina, onde seria somente acrescentado selênio
Figura 14: Representação das estruturas da selenocisteína (grupo selenol) e cisteína (grupo sulfidrila ou tiol).
serina que possui um grupo funcional hidroxila, como referido anteriormente e corroborado por
trabalhos atualizados de Rawitch (2019). Nesse sentido, a origem das selenocisteínas contraria
64
então qualquer raciocínio indutivo que esteja baseado nesta observação de sua estrutura química
para explicar a sua ascendência. A substituição da hidroxila da sua ancestral serina pelo selenol
proporcionou à selenocisteína uma alta reatividade – alta o suficiente ao ponto de incidir danos
às células, o que certamente restringe sua participação nos sistemas vivos em relação à cisteína.
abundância do enxofre em relação ao selênio na crosta terrestre, pois a reatividade que o grupo
tiol proporciona ao aminoácido também se mostra mais adequada para as células. Ainda que da
armação de carbono da serina também derive a cisteína, no seu caso, o átomo de enxofre advém
da homocisteína que está presente no corpo segundo Ferrier (2019), então a acessibilidade para
constituir o grupo tiol e consequentemente a cisteína é muito maior do que a do seu concorrente.
5. Considerações finais
O conhecimento acerca dos motivos pelos quais diversos elementos da tabela periódica
participam ou não de funções biológicas ainda está por ser esclarecido e, embora existam muitos
trabalhos na literatura, é muito improvável que apenas um trabalho científico oferte explicações
para todas as participações dos elementos na formação de estruturas biológicas, implicando que
sejam necessárias mais investigações para a compreensão da natureza química dos organismos.
A revisão crítica prospectiva feita aqui reuniu informações relevantes sobre um conjunto
de elementos químicos que ocorrem nos sistemas vivos (Figura 01), e a análise de cerca de 122
obras de cunho científico revelou que a participação desses componentes químicos se baseia na
concorrência por conta das propriedades químicas semelhantes e na colaboração das condições
formidáveis para a função (escassez) acarreta na incorporação de opções químicas menos aptas.
Constata-se que conforme as condições ambientais terrestres têm mudado desde o início
da vida, organismos têm modificado sua bioquímica de maneira que acabam por estar adaptados
quimicamente às novas taxas de disponibilidade dos elementos, fato corroborado pelo aumento
65
rápido de oxigênio na atmosfera por fotossíntese aqui apresentado que conduziu à formação de
espécies químicas com diferentes solubilidades em água, tornando o cobre bem mais acessível
e o ferro menos acessível, o que influenciou na variação dos seletos. Isso permite predizer que
tão distante os seres podem assumir novos arranjos bioquímicos – processo designado evolução.
Frente a esta realidade, sugere-se que apesar de existirem outros princípios seletivos que
seleção por pressão evolutiva melhor se aplica quando a sua essencialidade já está estabelecida.
a ocorrência de um gargalo seletivo hipotético que permite simular como ocorre toda a filtragem
dos elementos em cada princípio seletivo. Por meio deste, foi constatado que a seleção feita por
ajuste básico segue caminhos ordenados de inclusão e restrição dos elementos conforme as suas
Conclui-se então que, embora existam 118 elementos confirmados, a natureza dispõe de
um número menor de apenas 76 opções para construir a maquinaria molecular biológica – ainda
assim, unidas a espécies químicas diferentes formariam no mínimo 5.776 combinações à serem
a participação de umas em detrimento das demais. Portanto, novas pesquisas podem destrinchar
que nem todas as possibilidades foram amplamente analisadas e que este assunto está em aberto.
às biomoléculas desempenhando tarefas nos sistemas vivos, para depois introduzir quais seriam
os potenciais substitutos promovidos pelo processo seletivo – que na maioria das vezes ocupam
o mesmo grupo periódico; e por fim discorre sobre o surgimento dos novos aparatos através da
Destarte, a compilação de múltiplos estudos aqui feita sobre substitutos potenciais para
dadas tarefas biológicas indica um padrão que é seguido na seleção natural – foi percebido que,
na maioria dos casos, além das espécies químicas concorrentes serem vizinhas no mesmo grupo,
elas estão localizadas abaixo ou na direção direita dos elementos na tabela periódica (com certas
exceções como o potássio x sódio). Portanto, caso este padrão ocorra universalmente na seleção
parte dos cientistas que estudam a formação e evolução da vida – embora tais informações não
sejam inéditas na literatura, ainda é evidenciado nas pesquisas de astrobiologia uma perspectiva
se atentar a traços de outros elementos e compostos que podem sustentar outras formas de vida.
Por fim, pode-se considerar os corpos celestes como diferentes laboratórios naturais de
química existentes no universo, ativos e produzindo inúmeras combinações com o rearranjo dos
componentes básicos da matéria ali disponíveis – os átomos dos elementos químicos, tornando
o que se conhece como vida apenas uma das variadas consequências das suas propriedades mais
fundamentais, podendo ser criada e reformulada com arranjos químicos jamais vistos antes.
67
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