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PORTUGUÊS P/ POLÍCIA FEDERAL - (TEORIA E QUESTÕES COMENTADAS)

PROFESSOR TERROR

Português p/ Polícia Federal


(teoria e questões comentadas)

Aula-extra 3

(Prova comentada)

Olá, pessoal!

Para finalizar o nosso curso, segue abaixo o comentário da prova de


Agente da Polícia Federal realizada neste ano de 2012.
Não inseri a prova de Papiloscopista, pois a que estamos comentando já
abrange todas as questões de Língua Portuguesa, tanto de um quanto de outro
cargo.

Agradeço muitíssimo por sua participação neste curso. Abraço!

Polícia Federal / 2012 / Agente


1 Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas antes de
Freud. Se a afirmação não é rigorosamente exata, não deixa de fazer
sentido, uma vez que Marx, em O Capital, no capítulo sobre o fetiche da
mercadoria, estabelece dois parâmetros conceituais imprescindíveis para
5 explicar a transformação que o capitalismo produziu na subjetividade. São
eles os conceitos de fetichismo e de alienação, ambos tributários da
descoberta da mais-valia — ou do inconsciente, como queiram.
A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas duas
palavras na psicanálise e no materialismo histórico. Em Freud, o fetiche
10 organiza a gestão perversa do desejo sexual e, de forma menos evidente,
de todo desejo humano; já a alienação não passa de efeito da divisão do
sujeito, ou seja, da existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da
mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel
decisivo na produção “inconsciente” da mais-valia. O sujeito das duas
15 teorias é um só: aquele que sofre e se indaga sobre a origem inconsciente
de seus sintomas é o mesmo que desconhece, por efeito dessa mesma
inconsciência, que o poder encantatório das mercadorias é condição não
de sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual. Se a sociedade
em que vivemos se diz “de mercado”, é porque a mercadoria é o grande
20 organizador do laço social.
Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas.
São Paulo: Boitempo, 2011, p. 142 (com adaptações)

Com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e a seus aspectos


gramaticais, julgue os itens subsequentes.
1. Com correção gramatical, o período “A rigor (...) histórico” (linhas 8 e 9)
poderia, sem se contrariar a ideia original do texto, ser assim reescrito:
Caso se proceda com rigor, a análise desses conceitos, verifica-se que não
existe diferenças entre eles.

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Comentário: A reescrita está truncada. Assim, não preserva a correção
gramatical. Note que não há verbo para a expressão “a análise desses
conceitos”.
Além disso, o verbo “existe” é intransitivo e o núcleo de seu sujeito é
“diferenças” força o verbo ao plural: existem.
Por isso, a oração está incoerente e gramaticalmente incorreta.
Gabarito: E

2. A informação que inicia o texto é suficiente para se inferir que Freud


conheceu a obra de Marx, mas o contrário não é verdadeiro, visto que
esses pensadores não foram contemporâneos.
Comentário: O texto não transmitiu informação a respeito de uma suposta
contemporaneidade entre Marx e Freud. Assim, a informação que inicia o
texto não é suficiente para se inferir que Freud conheceu a obra de Marx.
Gabarito: E

3. A expressão “dessas duas palavras” (linhas 8 e 9), como comprovam as


ideias desenvolvidas no parágrafo em que ela ocorre, remete não aos dois
vocábulos que imediatamente a precedem — “mais-valia” (linha 7) e
“inconsciente” (linha 7) —, mas, sim, a “fetichismo” (linha 6) e “alienação”
(linha 6).
Comentário: A expressão “dessas duas palavras” realmente remete a
“fetichismo” e “alienação”, e não às palavras imediatamente anterior. Isso é
confirmado no trecho:
“São eles os conceitos de fetichismo e de alienação”.
Gabarito: C

4. Depreende-se da argumentação apresentada que a autora do texto, ao


aproximar conceitos presentes nos estudos de Marx e de Freud, busca
demonstrar que, nas sociedades “de mercado”, a “divisão do sujeito”
(linhas 11 e 12) se processa de forma análoga na subjetividade dos
indivíduos e na relação de trabalho.
Comentário: Primeiramente, é importante observar que o texto faz uma
abordagem de aproximação dos conceitos presentes nos estudos de Marx e
Freud:
“A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas duas palavras na
psicanálise e no materialismo histórico.”
Seguindo-se os termos numerados e sublinhados, perceba que a divisão
do sujeito se processa de forma análoga¹ (equivalente) na subjetividade dos
indivíduos² e na relação de trabalho³. Isso é reforçado nas seguintes
passagens do texto:
“...Marx, em O Capital, no capítulo sobre o fetiche da mercadoria³, estabelece
dois parâmetros conceituais imprescindíveis para explicar a transformação que
o capitalismo³ produziu na subjetividade².”
”Em Freud, o fetiche organiza a gestão perversa do desejo sexual e, de forma

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menos evidente, de todo desejo humano¹; já a alienação não passa de efeito
da divisão do sujeito, ou seja, da existência do inconsciente. Em Marx, o
fetiche da mercadoria³, fruto da expropriação alienada do trabalho³, tem um
papel decisivo na produção “inconsciente” da mais-valia. O sujeito das duas
teorias é um só¹...”
Gabarito: C

1 Imagine que um poder absoluto ou um texto sagrado declarem que


quem roubar ou assaltar será enforcado (ou terá a mão cortada). Nesse
caso, puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria simples, pois
a responsabilidade moral do veredicto não estaria conosco. Nas
5 sociedades tradicionais, em que a punição é decidida por uma autoridade
superior a todos, as execuções podem ser públicas: a coletividade festeja
o soberano que se encarregou da justiça — que alívio!
A coisa é mais complicada na modernidade, em que os cidadãos
comuns (como você e eu) são a fonte de toda autoridade jurídica e moral.
10 Hoje, no mundo ocidental, se alguém é executado, o braço que mata é,
em última instância, o dos cidadãos — o nosso. Mesmo que o condenado
seja indiscutivelmente culpado, pairam mil dúvidas. Matar um condenado
à morte não é mais uma festa, pois é difícil celebrar o triunfo de uma
moral tecida de perplexidade. As execuções acontecem em lugares
15 fechados, diante de poucas testemunhas: há uma espécie de vergonha.
Essa discrição é apresentada como um progresso: os povos civilizados não
executam seus condenados nas praças. Mas o dito progresso é, de fato,
um corolário da incerteza ética de nossa cultura.
Reprimimos em nós desejos e fantasias que nos parecem ameaçar o
20 convívio social. Logo, frustrados, zelamos pela prisão daqueles que não se
impõem as mesmas renúncias. Mas a coisa muda quando a pena é radical,
pois há o risco de que a morte do culpado sirva para nos dar a ilusão de
liquidar, com ela, o que há de pior em nós. Nesse caso, a execução do
condenado é usada para limpar nossa alma. Em geral, a justiça sumária é
25 isto: uma pressa em suprimir desejos inconfessáveis de quem faz justiça.
Como psicanalista, apenas gostaria que a morte dos culpados não servisse
para exorcizar nossas piores fantasias — isso, sobretudo, porque o
exorcismo seria ilusório. Contudo é possível que haja crimes hediondos
nos quais não reconhecemos nada de nossos desejos reprimidos.
Contardo Calligaris. Terra de ninguém – 101 crônicas. São
Paulo: Publifolha, 2004, p. 94-6 (com adaptações).

Com referência às ideias e aos aspectos linguísticos do texto acima, julgue os


itens de 5 a 11.

5. Suprimindo-se o emprego de termos característicos da linguagem informal,


como o da palavra “coisa” (linha 8) e o do trecho “(como você e eu)” (linha
9), o primeiro período do segundo parágrafo poderia ser reescrito, com
correção gramatical, da seguinte forma: Essa prática social apresenta-se
mais complexa na modernidade, onde a autoridade jurídica e moral
submete-se à opinião pública.

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Comentário: Realmente a palavra “coisa”, pelo seu valor altamente
generalizado, é típica de linguagem informal. Essa informalidade também
pode ser entendida na expressão “como você e eu”.
A reescritura do trecho mantém, de certa forma, a ideia original; mas o
problema na questão é que o pronome relativo “onde” deve retomar
obrigatoriamente um lugar, mas a expressão “modernidade” transmite valor
de tempo. Assim, o pronome “onde” deve ser substituído por uma das
seguintes estruturas: “em que”, “na qual”, “quando”. Veja:
Essa prática social apresenta-se mais complexa na modernidade, em que a
autoridade jurídica e moral submete-se à opinião pública.
Essa prática social apresenta-se mais complexa na modernidade, na qual a
autoridade jurídica e moral submete-se à opinião pública.
Essa prática social apresenta-se mais complexa na modernidade, quando a
autoridade jurídica e moral submete-se à opinião pública.
Gabarito: E

6 No período “Nesse caso (...) estaria conosco” (linhas 2 a 4), como o


conector “ou” está empregado com sentido aditivo, e não, de exclusão, a
forma verbal do predicado “seria simples” poderia, conforme faculta a
prescrição gramatical, ter sido flexionada na terceira pessoa do plural:
seriam.
Comentário: Primeiro, devemos observar que a conjunção coordenativa “ou”
tem valor de inclusão, pois podemos entender que o fato de “assistir à
execução” não exclui o de “afiar a faca” ou o de “puxar a corda”.
Mas isso não interfere na concordância verbal, pois o verbo “seria” tem
como sujeito as orações subordinadas substantivas subjetivas reduzidas de
infinitivo “puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução”, as quais estão
coordenadas entre si.
Como sabemos que a oração subordinada substantiva pode ser
substituída pela palavra “ISSO”, para facilitar seu reconhecimento, basta
substituí-las por tal palavra: Isso seria simples.
Assim, reforçamos que o verbo que possui como sujeito uma oração,
deve se flexionar no singular.
Gabarito: E

7 De acordo com o texto, nas sociedades tradicionais, os cidadãos sentem-se


aliviados sempre que um soberano decide infligir a pena de morte a um
infrator porque se livram das ameaças de quem desrespeita a moral que
rege o convívio social, como evidencia o emprego da interjeição “que alívio!”
(linha 7).
Comentário: A resposta a esta questão se encontra no segundo período do
texto: “Nesse caso, puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria
simples, pois a responsabilidade moral do veredicto não estaria conosco.”
Veja que o motivo pelo qual os cidadãos das sociedades tradicionais se
sentem aliviados tem relação com a não implicação de sua responsabilidade
moral do veredicto.

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Porém, a questão mudou esse referente. Usou como motivo livrar-se
das ameaças de quem desrespeita a moral no convívio social. Vemos isso no
fragmento da afirmativa: “porque se livram das ameaças de quem desrespeita
a moral que rege o convívio social”.
Assim, a afirmativa está errada.
Gabarito: E

8 Mantendo-se a correção gramatical e a coerência do texto, a oração “se


alguém é executado” (linha 10), que expressa uma hipótese, poderia ser
escrita como caso se execute alguém, mas não, como se caso alguém
se execute.
Comentário: A oração “se alguém é executado” realmente traduz valor
hipotético. A reescrita substituiu a conjunção condicional “se” (que neste caso
permite o uso do verbo no presente do indicativo “se alguém é executado” =
“se se executa alguém”) pela conjunção de igual valor “caso” (que exige verbo
no presente do subjuntivo “caso alguém seja executado” = “caso se execute
alguém”). Além disso, transformou a voz passiva analítica (“alguém é
executado”) pela sintética (“se execute alguém”). Compare:
Voz passiva analítica:
Se alguém é executado... (verbo no presente do indicativo)
Caso alguém seja executado... (verbo no presente do subjuntivo)
Voz passiva sintética:
Se se executa alguém... (verbo no presente do indicativo)
Caso se execute alguém... (verbo no presente do subjuntivo)
Note que o verbo “execute” é transitivo direto, o pronome “se” é
apassivador e o sujeito paciente é “alguém”.
A questão afirmou corretamente que a construção “se caso alguém se
execute” está errada, pois houve o acúmulo de conjunções condicionais “se” e
“caso”.
Assim, a afirmativa está correta.
Gabarito: C

9 O termo “Essa discrição” (linha 16) refere-se apenas ao que está expresso
na primeira oração do período que o antecede.
Comentário: Primeiro, vamos localizar os períodos:
“As execuções acontecem em lugares fechados, diante de poucas
testemunhas: há uma espécie de vergonha. Essa discrição é apresentada
como um progresso: os povos civilizados não executam seus condenados nas
praças.”
Note que “Essa discrição” realmente retoma a oração “As execuções
acontecem em lugares fechados, diante de poucas testemunhas”, tendo em
vista que as expressões “lugares fechados” e “poucas testemunhas” reforçam
a ideia de “discrição” (aquilo que é discreto).
Veja que a expressão “Essa discrição” não retoma nenhum outro trecho
do período. Por isso, está correto o tom categórico da palavra “apenas” na

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afirmação da questão: “...refere-se apenas ao que está expresso na primeira
oração do período que o antecede”.
Gabarito: C

10 Na condição de psicanalista, o autor do texto adverte que a punição de


infratores das leis é uma forma de os indivíduos expurgarem seus desejos
inconfessáveis, ressalvando, no entanto, que, quando se trata de crime
hediondo, tal não se aplica.
Comentário: Esta questão se baseia na última frase do texto: “Contudo é
possível que haja crimes hediondos nos quais não reconhecemos nada de
nossos desejos reprimidos.”
Veja que a frase apresenta a expressão de possibilidade “é possível
que”. Assim, há um aspecto de restrição. O exorcismo de nossas piores
fantasias pode ocorrer em alguns casos de crimes hediondos, e não em todos.
Já a questão afirma uma totalidade: “quando se trata de crime
hediondo, tal não se aplica”.
Assim, a questão está errada.
Gabarito: E

11 Nas linhas 20 e 21, considerando-se a dupla regência do verbo impor e a


presença do pronome “mesmas”, seria facultado o emprego do acento
indicativo de crase na palavra “as” da expressão “as mesmas renúncias”.
Comentário: O verbo “impor” é transitivo direto e indireto (impor alguma
coisa a alguém), mas também pode ser transitivo direto (impor alguma coisa)
ou transitivo indireto (impor de determinado talento: ele impõe de escritor).
No texto, o trecho “daqueles que não se impõem as mesmas renúncias”
possui o verbo transitivo direto e indireto “impõem”, cujo sujeito é o pronome
relativo “que”, o qual retoma “daqueles”; o termo não preposicionado “as
mesmas renúncias” é o objeto direto e “se” é um pronome reflexivo, na
função de objeto indireto. Assim, entendemos: aqueles não impõem as
mesmas renúncias a si.
A questão afirma que o verbo pode mudar a regência e transformar o
objeto direto em indireto, inserindo a crase. Veja como ficaria:
“daqueles que não se impõem às mesmas renúncias”
Isso está errado, pois não se impõe alguém a alguma coisa. O correto
é impor algo a alguém.
O que poderia ocorrer é a transformação do pronome reflexivo “se” em
apassivador. Com isso, o objeto direto “as mesmas renúncias” viraria sujeito
paciente e o pronome relativo “que” deveria receber a preposição “a”, pois
passaria a objeto indireto. Compare:
Trecho original:
“daqueles que não se impõem as mesmas renúncias”
Suj agente + Pron Reflex VTDI + objeto direto (paciente)
(OI)

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Reescrita:
“daqueles a que não se impõem as mesmas renúncias”
OI + Pron Ap VTDI + sujeito paciente

Assim, entendemos que as mesmas renúncias não são impostas


àqueles. Logicamente, o sentido original muda.
Resumindo: o que importa é observar que não cabe crase no termo “as
mesmas renúncias”.
Gabarito: E

Romance LXXXI ou Dos Ilustres Assassinos

1 Ó grandes oportunistas, que profundas sepulturas


sobre o papel debruçados, nascidas de vossas penas,
que calculais mundo e vida de vossas assinaturas!
em contos, doblas, cruzados,
5 que traçais vastas rubricas 25 Considerai no mistério
e sinais entrelaçados, dos humanos desatinos,
com altas penas esguias e no polo sempre incerto
embebidas em pecados! dos homens e dos destinos!
Por sentenças, por decretos,
Ó personagens solenes 30 pareceríeis divinos:
10 que arrastais os apelidos e hoje sois, no tempo eterno,
como pavões auriverdes como ilustres assassinos.
seus rutilantes vestidos,
— todo esse poder que tendes Ó soberbos titulares,
confunde os vossos sentidos: tão desdenhosos e altivos!
15 a glória, que amais, é desses 35 Por fictícia autoridade,
que por vós são perseguidos. vãs razões, falsos motivos,
inutilmente matastes:
Levantai-vos dessas mesas, — vossos mortos são mais vivos;
saí de vossas molduras, e, sobre vós, de longe, abrem
vede que masmorras negras, 40 grandes olhos pensativos.
20 que fortalezas seguras, Cecília Meireles. Romanceiro da
que duro peso de algemas, Inconfidência. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p. 267-8.

Com base no poema acima, julgue os itens subsequentes.


12 Considerando-se as relações entre os termos da oração, verifica-se
ambiguidade no emprego do adjetivo “pensativos” (v. 40), visto que ele
pode referir-se tanto ao termo “vossos mortos” (v.38) quanto ao núcleo
nominal “olhos” (v.40).
Comentário: O interessante no poema é a abertura de possibilidades de
interpretação. Muitas vezes o poeta se vale desta amplidão de sentidos, para
provocar um mergulho no texto pelo leitor.
Observe o fragmento abaixo:
— vossos mortos são mais vivos;
e, sobre vós, de longe, abrem
grandes olhos pensativos.
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Nesta estrutura, observamos que se está dando a característica
antitética (oposta) de “mortos” como “vivos”, isto é, seres que na verdade
pensam e abrem os olhos. Assim, podemos inferir que o adjetivo “pensativos”
também pode remeter a “mortos”.
Mas o contexto não impede de entendermos também que o adjetivo
“pensativos” remeta conotativamente aos olhos daqueles que sofrem as ações
dos soberbos.
Por isso, a questão está correta.
Gabarito: C

13 No poema, que apresenta uma denúncia de atos de abuso de poder, foram


utilizados os seguintes recursos que permitem que a poeta se dirija
diretamente a um interlocutor: emprego de vocativo nos versos 1, 9 e 33 e
de verbos na segunda pessoa do plural, todos no imperativo afirmativo.
Comentário: As expressões “Ó grandes oportunistas”, “Ó personagens
solenes” e “Ó soberbos titulares” realmente são empregados como vocativos,
pois expressam o alerta a quem se dirige o texto, um chamamento.
Porém, está errado afirmar que, no texto, todos os verbos flexionados
na segunda pessoa do plural estão no imperativo afirmativo. Veja:
calculais (v 3): presente do indicativo;
traçais (v 5): presente do indicativo;
arrastais (v 10): presente do indicativo;
tendes (v 13): presente do indicativo;
amais (v 15): presente do indicativo;
sois (v 31): presente do indicativo;
Levantai (v 17): imperativo afirmativo;
saí (v 18): imperativo afirmativo;
vede (v 19): imperativo afirmativo;
Considerai (v 25): imperativo afirmativo;
pareceríeis (v 30): futuro do pretérito do indicativo;
matastes (v 37): pretérito perfeito do indicativo.
Gabarito: E

14 O emprego do pronome possessivo em “seus rutilantes vestidos” (v.12)


evidencia que essa expressão corresponde à vestimenta usada por
autoridades em eventos solenes.
Comentário: O pronome “seus” está em terceira pessoa e faz referência à
expressão “pavões auriverdes”, isto é, os rutilantes vestidos dos pavões
auriverdes.
Veja que os pavões auriverdes são exemplos do modo como se arrastam
os apelidos dos personagens solenes.
Se o pronome possessivo se dirigisse diretamente aos personagens
solenes, deveria ser empregado em segunda pessoa do plural: vossos.
Gabarito: E

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15 No verso 23, a forma verbal “nascidas”, apesar de referir-se a todas as
expressões nominais que a antecedem, concorda apenas com a mais
próxima, conforme faculta regra de concordância nominal.
Comentário: A questão menciona “nascidas” como forma verbal, por
entender que a oração “nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas” é
subordinada adjetiva restritiva reduzida de particípio. Para termos certeza
disso, poderíamos desenvolvê-la para:
“que são nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas”.
Veja que o contexto nos induz a entender que “masmorras negras”,
“fortalezas seguras”, “algemas (o peso delas)” e “profundas sepulturas”
nascem das penas, das assinaturas daqueles que têm poder. Assim, há erro
afirmar que foi feita referência a “todas” as expressões nominais que a
antecedem, pois as expressões “mesas” e “molduras” também são nominais,
mas não foram retomadas pelo particípio “nascidas”.
Como o particípio inicia uma oração adjetiva e os nomes mencionados
anteriormente são femininos e plurais, não se pode afirmar categoricamente
que a concordância ocorreu apenas com o último dos termos.
Você poderia argumentar que o substantivo “peso” é masculino e neste
caso a concordância forçosamente ocorreria com o último termo feminino e
plural; porém, devemos perceber que a oração adjetiva não retoma
obrigatoriamente o núcleo do termo. Veja isso com a oração reduzida e
desenvolvida, respectivamente:
“...vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de
algemas, que profundas sepulturas nascidas de vossas penas...”
“...vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de
algemas, que profundas sepulturas que são nascidas de vossas penas...”
Gabarito: E

16 Os trechos “Por sentenças, por decretos” (v.29) e “Por fictícia autoridade,


vãs razões, falsos motivos” (v.35-36) exercem função adverbial nas
orações a que pertencem e ambos denotam o meio empregado na ação
representada pelo verbo a que se referem.
Comentário: Note que a locução adverbial “Por sentenças, por decretos” é o
meio utilizado para se parecer divino. Assim, há o adjunto adverbial de meio.
Já as locuções adverbiais “Por fictícia autoridade, vãs razões, falsos
motivos” transmitem as causas, os motivos de inutilmente alguém matar.
Assim, essas locuções adverbiais são adjuntos adverbiais de causa, e não de
meio.
Portanto, a afirmativa está errada.
Gabarito: E

Julgue os fragmentos contidos nos itens a seguir quanto à sua correção


gramatical e à sua adequação para compor um documento oficial, que, de
acordo com o Manual de Redação da Presidência da República, deve
caracterizar-se pela impessoalidade, pelo emprego do padrão culto de
linguagem, pela clareza, pela concisão, pela formalidade e pela uniformidade.

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17 Cumpre destacar a necessidade de aumento do contingente policial e que é
imperioso a ação desses indivíduos em âmbito nacional, pelo que a
realização de concurso público para provimento de vagas no Departamento
de Polícia Federal consiste em benefício a toda a sociedade.
Comentário: Primeiro, observe que o sujeito “a ação” possui o artigo
feminino “a”. Assim, o predicativo “imperioso” é forçado a se flexionar no
feminino: “...é imperiosa a ação...”
Agora, observe que não se preservou o paralelismo, pois o verbo
transitivo direto “destacar” exige o complemento verbal direto composto.
Dessa forma, ou os dois têm base substantiva, ou têm base oracional. Veja
uma sugestão com base oracional:
“Cumpre destacar que é necessário o aumento do contingente policial e que é
imperiosa a ação desses indivíduos em âmbito nacional...”
Ressalta-se que a expressão “pelo que” deve ser substituída pela
conjunção “pois”. Veja:
“Cumpre destacar que é necessário o aumento do contingente policial e que
é imperiosa a ação desses indivíduos em âmbito nacional, pois a realização
de concurso público para provimento de vagas no Departamento de Polícia
Federal consiste em benefício a toda a sociedade.”
Gabarito: E

18 Caro Senhor Perito Criminal,


Convidamos Vossa Senhoria a participar do evento “Destaques do ano”, em
que será homenageado pelo belo e admirável trabalho realizado na Polícia
Federal. Por gentileza, confirme sua presença a fim de que possamos
providenciar as honrarias de praxe.
Comentário: Os vocábulos “Caro”, “belo”, “admirável”, “por gentileza” e “de
praxe” transmitem aspectos subjetivos, informais e transgridem a
impessoalidade.
Gabarito: E
19 O departamento que planejará o treinamento de pessoal para a execução
de investigações e de operações policiais, sob cuja responsabilidade está
também a escolha do local do evento, não se manifestou até o momento.
Comentário: Note que o departamento está sendo caracterizado por duas
orações adjetivas. A primeira é restritiva (“que planejará o treinamento de
pessoal para a execução de investigações e de operações policiais”) e a
segunda é explicativa (“sob cuja responsabilidade está também a escolha do
local do evento”).
Note que a dupla vírgula ocorreu para marcar a natureza explicativa.
Veja também que as flexões verbais e nominais estão de acordo com a norma
culta.
Assim, este trecho preservou a uniformidade, a formalidade (mantém o
registro culto e formal), a concisão (evitou-se o acúmulo de informações
desnecessárias), a clareza (as ideias não estão perdidas no contexto), a
impessoalidade (o texto não transmitiu impressões pessoais).
Gabarito: C

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20 Senhor Delegado,
Segue para divulgação os relatórios das investigações realizadas no órgão,
a fim de fazer cumprir a lei vigente.
Comentário: O verbo “Segue” é intransitivo e o sujeito “os relatórios” obriga
a flexão verbal no plural: Seguem (...) os relatórios...
Assim, não se preservou a norma culta.
Gabarito: E

21 Solicito a Vossa Senhoria a indicação de cinco agentes de polícia aptos a


ministrar aulas de direção no curso de formação de agentes. O início do
curso, que será realizado na capital federal, está previsto para o segundo
semestre deste ano.
Comentário: A frase está de acordo com a linguagem da correspondência
oficial, pois o texto é claro, preserva a norma culta e não incorre em nenhum
desvio à formalidade de uma correspondência oficial.
Veja que o adjetivo “aptos” concorda com o substantivo “agentes”; a
oração “que será realizado na capital federal” é subordinada adjetiva
explicativa e por isso está separada por dupla vírgula.
Gabarito: C

Com relação ao formato e à linguagem das comunicações oficiais, julgue os


itens que se seguem com base no Manual de Redação da Presidência da
República.

22 A exposição de motivos de caráter meramente informativo deve apresentar,


na introdução, no desenvolvimento e na conclusão, a sugestão de adoção
de uma medida ou de edição de um ato normativo, além do problema
inicial que justifique a proposta indicada.
Comentário: Veja a incoerência na afirmação. Se um texto é meramente
informativo, ele apenas apresenta informação, não propõe nada, pois do
contrário, seria argumentativo.
Além disso, vimos na aula 7 que a exposição de motivos “apresenta
duas formas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter
exclusivamente informativo e outra para a que proponha alguma medida ou
submeta projeto de ato normativo.” (ou seja, caráter argumentativo).
Assim, a exposição de motivos pode ser um documento informativo ou
argumentativo. No primeiro caso, a exposição de motivos simplesmente leva
algum assunto ao conhecimento do Presidente da República. No segundo caso
propõe medida.
Gabarito: E

23 A estrutura do telegrama e da mensagem por correio eletrônico de caráter


oficial é flexível.
Comentário: Veja o que estudamos na aula 7 a respeito do correio
eletrônico:
“Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é sua flexibilidade.
Assim, não interessa definir forma rígida para sua estrutura. Entretanto, deve-

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se evitar o uso de linguagem incompatível com uma comunicação oficial.”
Veja, também, que o Manual de Redação da Presidência da República
afirma que o telegrama é uma forma de comunicação que deve pautar-se pela
concisão, a qual deve ter procedimentos burocráticos simplificados, isto é,
flexíveis.
Assim, a questão está correta.
Gabarito: C

24 As comunicações oficiais emitidas pelo presidente da República, por chefes


de poderes e por ministros de Estado devem apresentar ao final, além do
nome da pessoa que as expede, o cargo ocupado por ela.
Comentário: O Manual de Redação da Presidência da República destaca:
“Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da República, todas as
demais comunicações oficiais devem trazer o nome e o cargo da autoridade
que as expede, abaixo do local de sua assinatura.”
Assim, a afirmativa está errada.
Gabarito: E

25 O referido manual estabelece o emprego de dois fechos para comunicações


oficiais: Respeitosamente, para autoridades superiores; e
Atenciosamente, para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia
inferior. Tal regra, no entanto, não é aplicável a comunicações dirigidas a
autoridades estrangeiras.
Comentário: Veja o que estudamos na aula 7, conforme o Manual de
Redação da Presidência da República, no que diz respeito ao fecho na
comunicação oficial:
“...este Manual estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes
para todas as modalidades de comunicação oficial:
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da República:
Respeitosamente,
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior:
Atenciosamente,”

“Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a


autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios,
devidamente disciplinados no Manual de Redação do Ministério das Relações
Exteriores.”
Assim, a questão está correta.
Gabarito: C

26 A menos que o expediente seja de mero encaminhamento de documentos,


o texto de comunicações como aviso, ofício e memorando, que seguem o
padrão ofício, deve conter três partes: introdução, desenvolvimento e
conclusão.

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Comentário: Vimos na aula 7 que o tópico 3 do Manual de Redação da
Presidência da República afirma o seguinte:
“Texto: nos casos em que não for de mero encaminhamento de documentos,
o expediente deve conter a seguinte estrutura:
a) introdução:
(...)
b) Desenvolvimento:
(...)
c) conclusão:”
Assim, a afirmativa está correta.
Gabarito: C

Agora, somente a prova e o gabarito.

Polícia Federal / 2012 / Agente


1 Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas antes de
Freud. Se a afirmação não é rigorosamente exata, não deixa de fazer
sentido, uma vez que Marx, em O Capital, no capítulo sobre o fetiche da
mercadoria, estabelece dois parâmetros conceituais imprescindíveis para
5 explicar a transformação que o capitalismo produziu na subjetividade. São
eles os conceitos de fetichismo e de alienação, ambos tributários da
descoberta da mais-valia — ou do inconsciente, como queiram.
A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas duas
palavras na psicanálise e no materialismo histórico. Em Freud, o fetiche
10 organiza a gestão perversa do desejo sexual e, de forma menos evidente,
de todo desejo humano; já a alienação não passa de efeito da divisão do
sujeito, ou seja, da existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da
mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel
decisivo na produção “inconsciente” da mais-valia. O sujeito das duas
15 teorias é um só: aquele que sofre e se indaga sobre a origem inconsciente
de seus sintomas é o mesmo que desconhece, por efeito dessa mesma
inconsciência, que o poder encantatório das mercadorias é condição não
de sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual. Se a sociedade
em que vivemos se diz “de mercado”, é porque a mercadoria é o grande
20 organizador do laço social.
Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas.
São Paulo: Boitempo, 2011, p. 142 (com adaptações)

Com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e a seus aspectos


gramaticais, julgue os itens subsequentes.
1. Com correção gramatical, o período “A rigor (...) histórico” (linhas 8 e 9)
poderia, sem se contrariar a ideia original do texto, ser assim reescrito:
Caso se proceda com rigor, a análise desses conceitos, verifica-se que não
existe diferenças entre eles.

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2. A informação que inicia o texto é suficiente para se inferir que Freud
conheceu a obra de Marx, mas o contrário não é verdadeiro, visto que
esses pensadores não foram contemporâneos.

3. A expressão “dessas duas palavras” (linhas 8 e 9), como comprovam as


ideias desenvolvidas no parágrafo em que ela ocorre, remete não aos dois
vocábulos que imediatamente a precedem — “mais-valia” (linha 7) e
“inconsciente” (linha 7) —, mas, sim, a “fetichismo” (linha 6) e “alienação”
(linha 6).

4. Depreende-se da argumentação apresentada que a autora do texto, ao


aproximar conceitos presentes nos estudos de Marx e de Freud, busca
demonstrar que, nas sociedades “de mercado”, a “divisão do sujeito”
(linhas 11 e 12) se processa de forma análoga na subjetividade dos
indivíduos e na relação de trabalho.

1 Imagine que um poder absoluto ou um texto sagrado declarem que


quem roubar ou assaltar será enforcado (ou terá a mão cortada). Nesse
caso, puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria simples, pois
a responsabilidade moral do veredicto não estaria conosco. Nas
5 sociedades tradicionais, em que a punição é decidida por uma autoridade
superior a todos, as execuções podem ser públicas: a coletividade festeja
o soberano que se encarregou da justiça — que alívio!
A coisa é mais complicada na modernidade, em que os cidadãos
comuns (como você e eu) são a fonte de toda autoridade jurídica e moral.
10 Hoje, no mundo ocidental, se alguém é executado, o braço que mata é,
em última instância, o dos cidadãos — o nosso. Mesmo que o condenado
seja indiscutivelmente culpado, pairam mil dúvidas. Matar um condenado
à morte não é mais uma festa, pois é difícil celebrar o triunfo de uma
moral tecida de perplexidade. As execuções acontecem em lugares
15 fechados, diante de poucas testemunhas: há uma espécie de vergonha.
Essa discrição é apresentada como um progresso: os povos civilizados não
executam seus condenados nas praças. Mas o dito progresso é, de fato,
um corolário da incerteza ética de nossa cultura.
Reprimimos em nós desejos e fantasias que nos parecem ameaçar o
20 convívio social. Logo, frustrados, zelamos pela prisão daqueles que não se
impõem as mesmas renúncias. Mas a coisa muda quando a pena é radical,
pois há o risco de que a morte do culpado sirva para nos dar a ilusão de
liquidar, com ela, o que há de pior em nós. Nesse caso, a execução do
condenado é usada para limpar nossa alma. Em geral, a justiça sumária é
25 isto: uma pressa em suprimir desejos inconfessáveis de quem faz justiça.
Como psicanalista, apenas gostaria que a morte dos culpados não servisse
para exorcizar nossas piores fantasias — isso, sobretudo, porque o
exorcismo seria ilusório. Contudo é possível que haja crimes hediondos
nos quais não reconhecemos nada de nossos desejos reprimidos.
Contardo Calligaris. Terra de ninguém – 101 crônicas. São
Paulo: Publifolha, 2004, p. 94-6 (com adaptações).

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Com referência às ideias e aos aspectos linguísticos do texto acima, julgue os


itens de 5 a 11.

5. Suprimindo-se o emprego de termos característicos da linguagem informal,


como o da palavra “coisa” (linha 8) e o do trecho “(como você e eu)” (linha
9), o primeiro período do segundo parágrafo poderia ser reescrito, com
correção gramatical, da seguinte forma: Essa prática social apresenta-se
mais complexa na modernidade, onde a autoridade jurídica e moral
submete-se à opinião pública.

6 No período “Nesse caso (...) estaria conosco” (linhas 2 a 4), como o


conector “ou” está empregado com sentido aditivo, e não, de exclusão, a
forma verbal do predicado “seria simples” poderia, conforme faculta a
prescrição gramatical, ter sido flexionada na terceira pessoa do plural:
seriam.

7 De acordo com o texto, nas sociedades tradicionais, os cidadãos sentem-se


aliviados sempre que um soberano decide infligir a pena de morte a um
infrator porque se livram das ameaças de quem desrespeita a moral que
rege o convívio social, como evidencia o emprego da interjeição “que alívio!”
(linha 7).

8 Mantendo-se a correção gramatical e a coerência do texto, a oração “se


alguém é executado” (linha 10), que expressa uma hipótese, poderia ser
escrita como caso se execute alguém, mas não, como se caso alguém
se execute.

9 O termo “Essa discrição” (linha 16) refere-se apenas ao que está expresso
na primeira oração do período que o antecede.

10 Na condição de psicanalista, o autor do texto adverte que a punição de


infratores das leis é uma forma de os indivíduos expurgarem seus desejos
inconfessáveis, ressalvando, no entanto, que, quando se trata de crime
hediondo, tal não se aplica.

11 Nas linhas 20 e 21, considerando-se a dupla regência do verbo impor e a


presença do pronome “mesmas”, seria facultado o emprego do acento
indicativo de crase na palavra “as” da expressão “as mesmas renúncias”.

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Romance LXXXI ou Dos Ilustres Assassinos

1 Ó grandes oportunistas, que profundas sepulturas


sobre o papel debruçados, nascidas de vossas penas,
que calculais mundo e vida de vossas assinaturas!
em contos, doblas, cruzados,
5 que traçais vastas rubricas 25 Considerai no mistério
e sinais entrelaçados, dos humanos desatinos,
com altas penas esguias e no polo sempre incerto
embebidas em pecados! dos homens e dos destinos!
Por sentenças, por decretos,
Ó personagens solenes 30 pareceríeis divinos:
10 que arrastais os apelidos e hoje sois, no tempo eterno,
como pavões auriverdes como ilustres assassinos.
seus rutilantes vestidos,
— todo esse poder que tendes Ó soberbos titulares,
confunde os vossos sentidos: tão desdenhosos e altivos!
15 a glória, que amais, é desses 35 Por fictícia autoridade,
que por vós são perseguidos. vãs razões, falsos motivos,
inutilmente matastes:
Levantai-vos dessas mesas, — vossos mortos são mais vivos;
saí de vossas molduras, e, sobre vós, de longe, abrem
vede que masmorras negras, 40 grandes olhos pensativos.
20 que fortalezas seguras, Cecília Meireles. Romanceiro da
que duro peso de algemas, Inconfidência. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p. 267-8.

Com base no poema acima, julgue os itens subsequentes.


12 Considerando-se as relações entre os termos da oração, verifica-se
ambiguidade no emprego do adjetivo “pensativos” (v. 40), visto que ele
pode referir-se tanto ao termo “vossos mortos” (v.38) quanto ao núcleo
nominal “olhos” (v.40).

13 No poema, que apresenta uma denúncia de atos de abuso de poder, foram


utilizados os seguintes recursos que permitem que a poeta se dirija
diretamente a um interlocutor: emprego de vocativo nos versos 1, 9 e 33 e
de verbos na segunda pessoa do plural, todos no imperativo afirmativo.

14 O emprego do pronome possessivo em “seus rutilantes vestidos” (v.12)


evidencia que essa expressão corresponde à vestimenta usada por
autoridades em eventos solenes.

15 No verso 23, a forma verbal “nascidas”, apesar de referir-se a todas as


expressões nominais que a antecedem, concorda apenas com a mais
próxima, conforme faculta regra de concordância nominal.

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16 Os trechos “Por sentenças, por decretos” (v.29) e “Por fictícia autoridade,
vãs razões, falsos motivos” (v.35-36) exercem função adverbial nas
orações a que pertencem e ambos denotam o meio empregado na ação
representada pelo verbo a que se referem.

Julgue os fragmentos contidos nos itens a seguir quanto à sua correção


gramatical e à sua adequação para compor um documento oficial, que, de
acordo com o Manual de Redação da Presidência da República, deve
caracterizar-se pela impessoalidade, pelo emprego do padrão culto de
linguagem, pela clareza, pela concisão, pela formalidade e pela uniformidade.

17 Cumpre destacar a necessidade de aumento do contingente policial e que é


imperioso a ação desses indivíduos em âmbito nacional, pelo que a
realização de concurso público para provimento de vagas no Departamento
de Polícia Federal consiste em benefício a toda a sociedade.

18 Caro Senhor Perito Criminal,


Convidamos Vossa Senhoria a participar do evento “Destaques do ano”, em
que será homenageado pelo belo e admirável trabalho realizado na Polícia
Federal. Por gentileza, confirme sua presença a fim de que possamos
providenciar as honrarias de praxe.

19 O departamento que planejará o treinamento de pessoal para a execução


de investigações e de operações policiais, sob cuja responsabilidade está
também a escolha do local do evento, não se manifestou até o momento.

20 Senhor Delegado,
Segue para divulgação os relatórios das investigações realizadas no órgão,
a fim de fazer cumprir a lei vigente.

21 Solicito a Vossa Senhoria a indicação de cinco agentes de polícia aptos a


ministrar aulas de direção no curso de formação de agentes. O início do
curso, que será realizado na capital federal, está previsto para o segundo
semestre deste ano.

Com relação ao formato e à linguagem das comunicações oficiais, julgue os


itens que se seguem com base no Manual de Redação da Presidência da
República.

22 A exposição de motivos de caráter meramente informativo deve apresentar,


na introdução, no desenvolvimento e na conclusão, a sugestão de adoção
de uma medida ou de edição de um ato normativo, além do problema
inicial que justifique a proposta indicada.

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23 A estrutura do telegrama e da mensagem por correio eletrônico de caráter
oficial é flexível.

24 As comunicações oficiais emitidas pelo presidente da República, por chefes


de poderes e por ministros de Estado devem apresentar ao final, além do
nome da pessoa que as expede, o cargo ocupado por ela.

25 O referido manual estabelece o emprego de dois fechos para comunicações


oficiais: Respeitosamente, para autoridades superiores; e
Atenciosamente, para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia
inferior. Tal regra, no entanto, não é aplicável a comunicações dirigidas a
autoridades estrangeiras.

26 A menos que o expediente seja de mero encaminhamento de documentos,


o texto de comunicações como aviso, ofício e memorando, que seguem o
padrão ofício, deve conter três partes: introdução, desenvolvimento e
conclusão.

Gabarito

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
E E C C E E E C C E

11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
E C E E E E E E C E

21 22 23 24 25 26
C E C E C C

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