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Capítulo IV

Carlos ia formar-se em Medicina, curso para o qual tinha descoberto a vocação, quando,
ainda criança, encontrou no sótão “um rolo manchado e antiquado de estampas
anatómicas”.
Carlos matriculou-se na Universidade de Coimbra, onde se interessou ainda mais por
anatomia e sempre que algum dos criados da quinta adoecia, ele consultava os livros e
tentava fazer diagnósticos, sendo já respeitado pelo médico da quinta.
Para se instalar em Coimbra,Carlos teve direito a verdadeiras honras de fidalgo, já que o avô
lhe preparou uma casa em Celas, que recebeu o nome de “Paço de Celas”, devido à raridade
dos seus luxos. Foi nesta casa que Carlos iniciou a sua vida boémia rodeado de amigos com
ideias filosóficas e liberais.
Os frequentadores dos “Paços de Celas” entregavam-se a ocupações tão diversas desde a
esgrima, o whist e o debate das novas ideias que alastraram na Europa. Toda essa agitação,
fez com que Carlos fosse abandonando os estudos e começasse a se ocupar mais com a Arte e
a Literatura, tendo publicado alguns sonetos.
Afonso visitava o seu neto em Coimbra e Carlos passava as suas férias em Lisboa, Paris ou
Londres, mas os Natais e Páscoas eram passados em Santa Olávia. As férias só eram
divertidas para Carlos quando tinha com ele o seu amigo João da Ega, que também merecia a
simpatia de Afonso.
Ega estudava Direito em Coimbra a sustento da mãe, sendo muito revolucionário(em
especial no que se refere à religião) mas sentimental. Ega era também sobrinho de André da
Ega, que era uma amigo de infância de Afonso.
Ega, cuja fama de fidalgo rico lhe dava o reconhecimento das famílias, vivia enredado em
amores por meninas de quinze anos, filhas de empregados, e o próprio Carlos, que
escarnecia destes amores, acabou por se envolver num amor adúltero com a mulher de um
empregado do Governo Civil.
A segunda aventura sentimental de Carlos em Coimbra foi quando instalou uma rapariga
espanhola, com aspecto de “ Dama das Camélias “, numa casa ao pé de Celas. Esta espanhola
começou a tornar-se insuportável aos amigos de Carlos, devido ao seu conservadorismo e
apreço pela monarquia.
No ato da formatura de Carlos, houve uma enorme festa em Celas, à qual acorreram todos os
amigos, tendo havido mesmo uma serenata.
Carlos partiu para uma viagem de um ano pela Europa e finalmente, no Outono de 1875, veio
instalar-se com o avô no Ramalhete (fim da grande analepse).
Carlos tencionava montar um consultório e um laboratório em Lisboa, vontades que
depressa satisfaz com a ajuda do avô: o laboratório foi montado num velho armazém, e o
consultório num primeiro andar em pleno Rossio. Por tradição, os ricos da sociedade não
trabalhavam, daí que Carlos não tivesse clientes no consultório, uma vez que ninguém
acreditava nas suas intenções de trabalhar. No Ramalhete, almoçava-se pontualmente ao
meio dia e no final do almoço, Carlos precipitava-se para o trabalho, mas nunca aparecia um
único doente e Carlos, juntamente com o criado, entregavam-se à ociosidade, fumando,
bocejando e lendo revistas. Por fim Carlos, cansado daquela dormência, abandonava o
consultório, dando por terminado mais um dia de trabalho perdido.
Uma manhã, Carlos recebe com alegria a visita do seu amigo Ega, que tencionava instalar-se
em Lisboa, porque em Celorico se tinha espalhado uma epidemia de anginas. Ega apreciava o
consultório, pasmado com os luxos e Carlos também apreciava Ega e elogiava a sua figura,
querendo saber sobre as suas aventuras amorosas.
Quando chegou às quatro horas, Ega teve que sair, mas à saída revelou a Carlos que iria
publicar o seu livro, aquele livro que lhe tinha falado durante dois anos, cujo título seria
“Memórias de Um Átomo” e cujo assunto seria a “História das grandes fases do Universo e
da Humanidade”.

Aspetos fundamentais
- Paços de Celas ( a estadia de Carlos em Coimbra);
- Apresentação de Ega;
- Amores de Carlos;
- Carlos forma-se em medicina;
- Fim da grande analepse;
- Outono de 1875;
- A instalação no Ramalhete;
- Os planos de trabalho de Carlos;
- A oposição entre o entusiástico desejo de ser útil e o carácter inconstante e diletante
de Carlos;
- A influência da ociosidade lisboeta;
- o reencontro com Ega: as aventuras amorosas, a sua excentricidade, os seus projetos-
“O livro do Ega”, o seu olhar crítico e impiedoso em relação a Portugal.

Personagem escolhida
João da Ega
- Caracterização física
Ega usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço esganiçado,
punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o autêntico retrato de Eça.

- Caracterização psicológica
João da Ega é a projeção literária de Eça de Queirós. É uma personagem
contraditória. Por um lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e crítico,
sarcástico do Portugal Constitucional. Era o Mefistófeles de Celorico. Amigo íntimo
de Carlos desde os tempos de Coimbra, onde se formara em Direito (muito
lentamente). A mãe era uma rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos,
com a filha. Boémio, excêntrico, exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem
moral. É leal com os amigos. Sofre também de diletantismo, concebe grandes
projetos literários que nunca chega a executar. Terminado o curso, vem viver para
Lisboa e torna-se amigo inseparável de Carlos. Como Carlos, também ele teve a sua
grande paixão - Raquel Cohen. Ega, um falhado, corrompido pela sociedade, encarna
a figura defensora dos valores da escola realista por oposição à romântica. Na prática,
revela-se eterno romântico. Nos últimos capítulos ocupa um papel de grande relevo
no desenrolar da intriga. É a ele que o Sr. Guimarães entrega o cofre. É juntamente
com ele, que Carlos revela a verdade a Afonso. É ele que diz a verdade a Maria
Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris definitivamente.

Palavra-chave deste capítulo


Diletantismo
- Carlos tem grandes projetos após o seu ano sabático: montar um laboratório e um
consultório.
Contudo, logo se desinteressa do laboratório e deixa-se envolver pelo tédio lisboeta,
tendo dificuldades em concretizar os seus projetos.
Começa muitos projetos e não acaba nenhum!

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