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teoria politica
Ely da Silva Almeida1
ely_almeida2006@hotmail.com
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Mestranda do Programa de Pós-graduação stricto Sensu – MPPPP do Centro de Estudos Sociais
Aplicados – CESA da Universidade do Estado do Ceará – Turma 21 – Amapá.
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Maria Elísia responde: Exatamente! A política surge no entre-os- homens, no
intra-espaço e se estabelece como relação. A política trata da convivência
entre os homens. Os homens se organizam politicamente para certas coisas
em comum, essências num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das
diferenças.
Jessyca Pinheiro diz: Então, procede no pensamento de Arendt que o
homem, tal como a filosofia e a teologia o conhecem, existe - ou se, realiza –
na política apenas no tocante aos direitos iguais que os mais diferentes
garantem a si próprios?
Maria Elísia responde: Sim, a política no pensamento da Hannah é um
fenômeno social, econômico e cultural e devido seu desenvolvimento histórico,
é por isso que a chave da política está no nível de organização social, ela é
uma criação humana, uma ferramenta, um instrumento do homem que se
desenvolveu com o homem, pelo homem e entre os homens.
Jessyca Pinheiro diz: então quer dizer que a análise que Arendt faz sobre o
preconceito em relação a política tem fundamentos em fatos da realidade?
Maria Elísia você pode me explicar sobre essa questão?
Maria Elísia responde: Hannah diz que não se pode admitir que experiências
totalitárias como o nazismo, o stalinismo e a guerra com a bomba atômica, ou
sejam, ações de desumanização que causam mal irreparável na humanidade
sejam entendidos como política. Porém, as catástrofes do século XX, a
destruição da natureza e da humanidade e de toda a vida na terra é uma
realidade que prescinde de uma “decisão política”, mas na verdade, é a
dominação pelo poder, assim sendo tem construído no imaginário dos
indivíduos o preconceito, uma aversão pela política. Com isso surge o anseio
pela extinção da política, pois como pode a política levar os indivíduos a morte,
a destruição de toda a humanidade.
Jessyca Pinheiro diz: Então, agora estou entendo porque a política passa a
ser identificada como algo violento e tem recebido uma carga de preconceito,
tem a ver com domínio de uns sobre outros, por interesses mesquinhos
mostrando essa face que todo poder corrompe e que o poder absoluto
corrompe muito mais.
Maria Elisia responde: Sim, porque a política não é dominação e nem
submissão, Arendt afirma que com isso há um distanciamento, uma apatia e
passividade dos indivíduos e a renúncia ao exercício da cidadania, pois a
política não é domínio, na relação política não existe distinção entre
governantes e governados e nem é violência.
Jessyca Pinheiro diz: Então a política é ação em comum acordo, ação em
conjunto. E, que os juízes de valores em relação a política são falsos e
perigosos, dissemina o imobilíssimo, o sentimento de inutilidade de qualquer
ação política verdadeira, fazendo com que os homens não se reconheçam com
sujeitos históricos, como um ser capaz de interromper acontecimentos. Porque
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existe toda uma tradição construída sobre a identificação da política como
domínio e violência.
Maria Elísia responde: Essa compreensão tem haver de fato de não sermos
“políticos profissionais” por vermos a corrupção de nossos especialistas em
política, é que a maioria da população não vê sentido no voto ou na
participação política, considerando de o fenômeno político inútil,
acontecimentos que é fruto do preconceito. Pois o fato da maioria dos nossos
políticos profissionais serem maus profissionais não torna o fenômeno político
sem sentido ou inútil, pelo contrário deveria estimular os cidadãos a
escolherem melhor na hora de votar.
Jessyca Pinheiro diz: agora estou compreendendo a importância da política,
pois tem consigo um poder imenso e absoluto, pois está ligada diretamente no
povo, porém para se ter essa compreensão, de que a política é um fenômeno
muito amplo e que está nas mãos do povo e não nas mãos de seus
representantes, é preciso superar nossos preconceitos enquanto consciência
coletiva.
Parte II
Jessyca Pinheiro pergunta:
Maria Elísia como você explica a relação de democracia e classes
sociais?
Maria Elísia responde: A minha leitura da relação de democracia e classes
sociais é pautada no estudo de Luís Felipe Miguel, no texto Democracia e
classes sociais pautada no pensamento de Max Weber. O autor diz que as
sociedades ocidentais se estruturam na relação econômica capitalista e o
ordenamento democrático, e que para muitos otimistas essa combinação
capitalismo e democracia é uma organização social definitiva. Esse é um
pensamento dominante, um pensamento imposto pelo capitalismo ao
funcionamento dos regimes democráticos. Os democratas radicais até os
meados do século XX defendiam que o ideal democrático se ajustava mal a
uma sociedade de classes e que as desigualdades promovidas pelo
capitalismo geravam obstáculos à discriminação de praticas democráticas.
Jessyca Pinheiro diz: Os pensadores democratas defendiam que as
desigualdades sociais geradas pelo capitalismo poderiam ser superadas por
práticas democráticas?
Maria Elísia responde: Sim, os teóricos liberais reconheciam as assimetrias
de recursos materiais de influência e socialização entre patrão e empregados,
porém defendiam o aprofundamento de práticas democráticas para amenizar
as desigualdades do capitalismo e a desigualdade de classe. Luis Felipe faz
uma abordagem bastante pertinente sobre alguns fatos que contribuíram para
o refluxo sobre o conceito de classes no século XX.
Jessyca Pinheiro diz posso contribuir com a citação de três fatos?
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Maria Elísia diz: Pode citar
Jessyca Pinheiro responde: - a queda do muro de Berlim, esse fato foi
considerado a derrota histórica dos projetos emancipadores da classe operaria,
tanto para os comunistas quanto para a vertente social democrata. Afetou os
setores da esquerda que se opunha ao modelo stalinista, os partidos
comunistas se extinguiram, se transformaram em partidos burgueses, se
condenaram à irrelevância política.
Maria Elísia diz: sem ameaças, a posição liberal cresceu e os partidos social
democratas caminharam para a direita. A União Soviética representava
concretamente de que a ordem econômica capitalista não era a única possível.
Sem ela restou a dominação autoritária de um despotismo pessoal (Cuba,
Coreia do Norte) ou a dominação autoritária do partido comunista combinado a
uma economia cada vez mais ao modelo capitalista (China). Com isso ocorre
uma evasão nos projetos transformadores e ao enfrentamento da questão das
relações de produção. A proposta da esquerda passar privilegiar a busca do
aprimoramento do convívio político, rotulados - “multiculturalismo” ou
“democracia deliberativa”, sem o debate e propostas sobra a questão da
economia política.
Jessyca Pinheiro prossegue: - a crise do marxismo, é preciso pensar a
articulação do marxismo com o problema das classes sociais. Identificar as
especificidades das diferentes formas de opressão e dominação, de que a
nossa sociedade é simultaneamente capitalista e patriarcal. A formulação
simplista, tipo a exploração da mulher pelo homem em termos similares às do
trabalhador pelo patrão diz o teórico Hartosock (1998 [ 1983]), não se
sustentam você concorda sobre esse pensamento?
Maria Elísia responde: Sim, as relações de dominação e opressão se dá
numa base da sociedade capitalista. Ressalta-se que a análise e compreensão
de classe na contemporaneidade tem perdido espaço para outras “diferenças”.
A desigualdade de classe não é uma manifestação da diversidade. Se há
“diferentes” tipos de “diferenças”, com diz Fazer (1997), então a de classe está
no grupo das que deveriam ser abolidas numa sociedade justa, até porque a
diferença de classe pode funcionar como impedimento ou obstrução á
expressão de outras diferenças.
Jessyca Pinheiro continua: - a cooptação do proletariado: se o recuo das
classes tem a ver com a crítica ao modelo marxista de explicação, outra
mudança no panorama social do mundo capitalista e a “acomodação” da classe
operaria à ordem vigente. O filosofo francês André Gorz (1988) faz a seguinte
explicação, que os trabalhadores que formam o núcleo central da classe
operária, que são minorias da mão de obra nas economias, tem um padrão de
consumo relativamente elevado e usufruir dos serviços fornecidos por uma
massa de trabalhadores precários.
Maria Elisia completa: o proletariado perdeu seu caráter revolucionário e se
torna uma força social conservadora, em seu estudo Gorz (1988) mostra as
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transformações na estrutura de classe nos países capitalistas, ele não adere à
ideia de que as classes foram “superadas”. A questão da desigualdade de
classe enfatiza Luís Felipe é encontrada na estruturação das diferentes
sociedades históricas e que a forma especifica que essa desigualdade assume,
no atual estágio do capitalismo, é crucial para o entendimento do mundo
contemporâneo.
Maria Elísia continua: - a repulsa ao conflito, o reflexo do marxismo pela
crítica à insuficiência teórica, associou-se entre as correntes “criticas” de
pensamento de modelo idealista e com ojeriza ao conflito. Sendo que o mais
influente é a busca do consenso comunicativo racional, de inspiração
habermasiana sua obra privilegia a argumentação racional na esfera pública
para contribuir e promover o bem comum. Para essa teoria as bases de uma
sociedade bem ordenada não estariam sujeitas a divergências. Essas ideias
eliminam a política, substituindo-a pela “administração das coisas”.
Maria Elísia continua: - a participação local é outro fato, observa-se uma
espécie de euforia compensatória em torno de modelos localizados e limitados
de participação popular. O Brasil é um exemplo dessa euforia, após a
Constituição de 1988, tem vivido experimentação democráticas – orçamento
participativos, conselho gestores de políticas públicas, conferencias, etc....
Mesmo com experiências nessas novas arenas participativos, existe muitas
limitações para realizar a transformação social. Pois o projeto político tem foco
em questões especificas, o conflito existente é pelo controle dos recursos do
Estado, sem preocupação com as causas estruturais e com conflito entre o
capital e trabalho.
Jessyca Pinheiro diz: eu lembro da leitura que eu fiz do texto democracia com
liderança, em que o autor enfatiza a ausência das classes no pensamento
“critico” sobre a democracia, e que isso nos deixa, com uma base teórica que
projeta um “ céu político” decorando sua base material, conforme dizia Marx
(2010[ 1844]). Essa falta de vinculação entre o mundo material é a política
típica do pensamento liberal. A afirmação de igualdade de direitos entre os
indivíduos, é desvinculada das bases que possibilitam o usufruto de tais
direitos.
Maria Elísia diz: veja no pensamento de Locke, o contrato social visa garantir
os direitos naturais que estão ameaçados no estado de natureza, em particular
o direito de propriedade, o direito à vida e a integridade física. Porém observa-
se que trabalhadores e mulheres são afastadas da esfera pública por meio de
outros contratos que sacramentam relações de subordinações pessoal que
seriam incompatíveis com o exercício dos direitos políticos.
Jessyca Pinheiro diz: eu lembro dessa leitura que eu também fiz. Que no
pensamento de Locke esses novos contratos sinalizam a racionalidade inferior
tanto de mulheres quanto de trabalhadores, que precisam se colocar sob a
tutela de outros. Portanto, a exclusão é feita por meio de contratos livremente
firmados, pela consequência de uma incapacidade natural em que mulheres e
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trabalhadores devem se colocar voluntariamente na posição de submissão à
qual estão destinados por natureza.
Maria Elísia completa: No liberalismo de Locke a afirmação inicial de
universalidade de direitos é seguida pela explicação de que alguns não
poderão exerce-los. Essa referência teórica que permanece como base do
pensamento liberal. Temos outro teórico que faz um refinamento para explicar
essa liberdade Isaias Berlin (1969) faz a distinção do conceito de liberdade: -
Liberdade negativa, sendo a ausência de coerção é externa nas decisões da
própria vida e - Liberdade positiva que envolve a participação no autogoverno
coletivo. Isso significa que o autogoverno – na esfera da igualdade de direitos,
fica limitado pela intocabilidade da autonomia individual privado.
Jessyca Pinheiro com relação a sua explicação vou fazer uma ilustração:
é uma ilustração bem atual sobre esse pensamento da liberdade, que ocorreu
numa campanha internacional com relação a violência contra a mulher “ Una-
se pelo fim da violência contra as mulheres”. Muitos casos de violência contra
mulher são ouvidos por vizinhos ou quem mais estiver por perto. No entanto, o
entendimento quase geral de que em briga de marido e mulher não se mete a
colher impede, com frequência, que crimes sejam barrados antes de fim ainda
mais trágico. Meter a colher nesse caso não é invadir a privacidade, é garantir
padrões morais, éticos e democráticos. E o Estado deve meter sim, a colher, a
sociedade deve sim meter a colher. O silencio diante da violência doméstica
está matando vidas das mulheres.
Maria Elisia diz: mas é preciso compreender a estruturação da sociedade
liberal democrática, o descompasso entre a fixação de direitos e a possibilidade
de exerce-los de forma efetiva não significa que a existência de direitos é
irrelevante. Os direitos formais delimitam um ideal socialmente aceito e
legitimam valores igualitários, e é possível exigir que a ordem social os realize
diz o teórico Mouffe (1992). Um outro teórico contratualista que fala sobre a
liberdade é Rousseau, para ele o problema a ser enfrentado pelo contrato
social é a geração de uma liberdade e uma igualdade convencionais que
replique a liberdade e igualdade naturais, perdidas ao se deixar o estado de
natureza. Porém, a fixação de convenções não esgota o problema, pois a
democracia depende de uma relativa igualdade de meios. Já a filosofa Hannah
Arendt faz sua observação partindo dos gregos, a igualdade era um atributo da
polis e não dos homens. Era uma virtude da condição de cidadão, que se
sobrepunha a uma natureza humana percebida como desigual (Arendt,
2011[1963]).
Jessyca Pinheiro diz: depois de todas essas considerações podemos dizer
que a compreensão tradicional da democracia vinculada a igualdade entre os
cidadãos tem permeado os debates contemporâneos. Essa vinculação entre
democracia e desigualdade, reduziu a democracia a um método de escolha
concorrencial dos governantes - e não mais a um “governo do povo”.
Governante que tem forte relação com mercado econômico. Para aqueles que
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se colocam com projeto de autonomia coletiva, encontram as severas
limitações que a ordem capitalista impõe para o seu florescimento.
Maria Elísia diz: isso mesmo, os limites para a democracia merecem reflexões
sobre a atual sociedade, tudo é realizado é para atender a ordem vigente em
favor de quem domina. Veja três elementos cruciais que mostram a fragilidade
da democracia na atualidade, - a dependência estrutural, o monopólio dos
proprietários privados sobre as decisões de investimento coloca o Estado na
dependência de suas decisões, pois o Estado sobrevive da arrecadação de
impostos, que reflete o nível de atividade econômica, que por sua vez, reflete o
nível de investimento. Seja em que governo for a estrutura econômica garante
que seus interesses receberão atenção privilegiada do poder de Estado em
relação a soberania popular; - a Influência “pervasiva” do poder econômico, as
desigualdades de riqueza, que faz parte da dinâmica capitalista e permeiam
tudo, infiltrando em todas as relações sociais. E o campo político é
particularmente vulnerável à influência do poder econômico, em tudo tem um
preço e um valor para pertencer a dominação na política e por último - a
socialização inadequada dos trabalhadores para ação política democrática, na
relação política de produção capitalista, os trabalhadores recebem um
treinamento, recebem um treinamento oposta `aquela para a prática da
democracia. O contrato de trabalho submente o assalariado a uma relação
vertical, em que seu papel é obedecer a ordens emanadas de seu empregador.
Jessyca Pinheiro diz: nas economias politicas contemporânea, o trabalhador
é produtor e consumidor, o consumo de massa movimenta a economia. O
discurso de valorização da esfera privada bloqueia os espaços de participação
efetiva na esfera política. Diante de todas essas informações dialogadas, Eu
Pergunto: será que haverá um ordenamento social que se apresente viável ao
capitalismo?
Maria Elísia diz: essa é uma pergunta bastante pertinente, vamos continuar
com o diálogo, pois é possível na próxima pergunta, essa inquietação sua
possa ser respondida.
Parte III
Jessyca Pinheiro pergunta
Como é possível a ascensão de líderes cesaristas em tempo de
democracia de massas?
Maria Elísia inicia sua fala dizendo: a pergunta passa pelo pensamento
político weberiano e sua sociologia de dominação, numa primeira versão no
ano de 1909 até 1914. Entre os anos de 1919 e 1920 Weber fez uma versão
reformulada de seu trabalho inicial, em especial aos três tipos de dominação
(dominação racional, tradicional e carismática). A diferença entre a primeira e a
segunda versão da sociologia de Weber, é que na primeira mais antiga as
formas de dominação eram estruturais, já na segunda à dominação vem
articulado com princípios de legitimação.
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Jessyca Pinheiro diz: Então a democracia plebiscitaria no pensamento de
Weber foi formulada por Weber como resposta a conjuntura na Alemanha?
Maria Elísia responde: sim, tinha muita influência da conjuntura histórica da
Alemanha. Weber iniciou seus escritos criticando o limitado regime de
monarquia semiparlamentar da Alemanha e seus apelos em favor da
democratização do sistema político e a supressão do arcaico sistema de
diferença do voto segundo estratos sociais. Porém com as insurreições
socialista, liderada pela ala esquerda do partido social democrata, a derrota da
Alemanha na guerra, a revolução de novembro, levaram a abdicação do
Monarca Guilherme II, esses acontecimentos levaram Weber a escrever sobre
“ A forma estatal da Alemanha futura” e pela primeira vez, considerou a
possibilidade de que o presidente da República Alemã fosse eleito diretamente
pelo povo. Esse é um marco na defesa política de um modelo plesbicitaria de
democracia.
Jessyca Pinheiro diz: agora é possível responder sobre a ascensão de líderes
cesaristas em tempo de democracia de massas?
Maria Elísia responde: sim, a ascensão de líderes cesaristas tem sua
formulação teórica no pensamento de Max Weber, ele trata em obras:
Parlamento e governo em uma Alemanha reordenada, Política como vocação e
o Presidente do Reich. Nesses textos o cesarismo (como modo de governo)
apontam mudança ao surgimento da democracia de massas estruturada em
torno de partidos. É em torno dessa realidade em processo de mudança que
Weber faz sua análise, focando o papel do parlamento. Esse novo parlamento
se torna o local de intensas disputas entre os partidos e já não conta mais com
que possuía quando era um local de notáveis. Outra questão analisada por
Weber é o surgimento das democracias de partidos de massas, diz que essa
conjunção dessas duas questões, ele vê a possibilidade de o presidente do
Reich ocupar um papel de destaque na estrutura das democracias de massas,
compostas por partidos em permanente conflitos. E é nessas reflexões que
surge a figura do cesarismo diante das novas configurações do parlamento e a
democracia.
Jessyca Pinheiro diz: que no texto Parlamento e governo em uma Alemanha
reordenada Weber reflete sobre a liderança em uma democracia de massas e
sua relação com o parlamento, também analisa a expansão do sufrágio para
quase toda a população e os efeitos desse fenômeno no funcionamento do
parlamento, ou seja, a passagem do parlamento dos notáveis para o
parlamento em democracia de massas.
Maria Elísia retoma sua fala dizendo: baseado no contexto da Alemanha
Weber faz uma definição de cesarismo ao se referir a Bismarck, Cesarismo é,
“a forma de governo do gênio”, uma figura carismática, excepcional e
extraordinário. Weber também analisa neste cenário a relação entre burocracia
e parlamento, o avanço desta burocratização na economia, da administração e
nos partidos. Porém centraliza seu foco na burocracia e nos partidos que
passam a depender diretamente da burocracia, com as tarefas exercidas por
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funcionários, especialistas, treinados e assalariados. A profissionalização
passa a ser necessária para as organizações.
Jessyca Pinheiro pergunta: como solucionar essa questão?
Maria Elísia responde: O teórico Max Weber questiona como controlar a
influência de tal burocracia e sobre as limitações constitutivas da burocracia.
Então aponta para a necessidade de separação entre a ação política e a ação
da burocracia. E que o parlamento tenha como função o controle da burocracia,
mesmo percebendo a mudança que o parlamento vinha passando, ainda tinha
um papel importante para impor um limite à burocracia, e é nesse espaço de
disputa que se formam líderes capazes de decisões políticas. Weber faz a
afirmação da importância do parlamento em suas funções, que tenha um papel
político independente e que sirva como instância de controle da burocracia e de
instância de decisão política.
Maria Elísia continua: Weber faz uma abordagem da relação entre
democracia e parlamento, e diz que esses fenômenos são distintos. Com a
entrada das massas no jogo eleitoral tem mudanças significativas na
organização partidária pela racionalização e pela burocracia, este passa atuar
como uma empresa com disciplina, fundo partidário, imprensa e publicidade, ou
uma profissionalização que afeta a vida política. Por isso Weber não tem uma
visão negativa da possibilidade de participação efetiva do povo na democracia
de partidos. Pois a participação popular se restringe somente a votação nos
períodos determinado, Weber chama de “ máquina do partido”. Os notáveis
perdem importância e o funcionário do partido surge, e ocupa cada vez um
papel central no jogo político, ou seja, os debates políticos de ideias não
ocorrem mais entre os notáveis, a disputa por votos das massas ocorre por
uma dinâmica completamente diversa ao processo eleitoral, é necessário se ter
e criar a “ máquina do partido”.
Jessyca Pinheiro diz é desse processo do surgimento de partido de
massa levado pela burocracia que surge um novo ator político?
Maria Elísia diz: sim, nesse processo dos partidos de massa, surge o político
profissional na atividade da política partidária como algo central em sua vida,
isso ocorre em consequência do processo de racionalização no partido pela
burocracia. E, é neste ponto com relação aos partidos de massas que Weber
analisa a questão da liderança política como efeito da democratização, dizendo
que democracia e demagogia são estreitamente ligadas, porque a
democratização tem a ver com a participação das massas no jogo político, pois
a opinião da massa é importante a ser levada em conta no jogo político,
portanto onde houver a participação das massas, o componente demagógico
aparecerá.
Jessyca Pinheiro completa dizendo: então para Weber a “democratização
ativa das massas”, vai promover um novo modelo de líder que se opõe à forma
antiga, a escolha dos notáveis. Agora a escolha passa a ser pela confiança das
massas, a escolha não tem mais como critério a habilidade reconhecida por um
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círculo de notáveis. Com a escolha do líder baseado no princípio da confiança
e da crença Weber chamam de cesarismo, isso significa que a “seleção do
líder” pelo processo de democratização da participação política das massas
levou ao a esse novo tipo de líder.
Maria Elísia diz: Weber enfatiza que o instrumento especifico de atuação do
cesarista é o plesbicito, pois não se trata apenas da “contagem de votos” ou
“eleição”, mas é uma confissão de fé. Sua preocupação perpassa também pela
possibilidade de destituição de um líder, diz que só um parlamento forte pode
fazer isso. E que as massas, não conseguem pensar a longo prazo, além de
serem susceptíveis a influencias momentâneas, emocionais e irracionais.
Acredita que partido fortes e a participação de líderes em tarefas parlamentares
sejam fundamentais porque garantem uma submissão dos “representantes
cesaristas das massas” às formas legais de funcionamento da política.
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