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Alta Tensão

Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de


Computadores (MEEC / MIEEC)

Nuno Amaro
nuno.amaro@fct.unl.pt
Gab. 1.06 - UNINOVA
2. Campo elétrico e campo
magnético. Funções potencial

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.2


2.1 – Campo
elétrico e campo
magnético de
fontes filiformes.
Funções potencial.
(Revisão)

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.3


Campo elétrico e campo magnético
• O que é um “campo”?
• A palavra “campo” (field) é utilizada pela primeira vez, no contexto científico,
por Michael Faraday no seu livro “On new magnetic actions”

• Descrito como a região na vizinhança de um magneto afetado de alguma


forma por uma força de atração.

• Essencial para conseguirmos descrever as forças relacionadas com “ação à


distância” – atração/repulsão
• Campo magnético, elétrico, gravítico, térmico, etc

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.4


Campo elétrico e campo magnético
• Em sistemas elétricos de Alta Tensão, interessam particularmente
dois campos
• Campo elétrico – causado pela carga elétrica existente nos condutores
• Campo magnético – causados pelas correntes que fluem nos condutores

• Muitas vezes analisados ou referidos em conjunto como Campo


eletromagnético
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/
wiki/File:EM-Wave.gif

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.5


Campo elétrico e campo magnético
• Campo elétrico
• Afeta de forma adversa a capacidade de isolamento dos materiais (sólidos,
líquidos ou gasosos) – rigidez dielétrica
• Causa tensões induzidas em sistemas ou elementos colocados perto de
condutores energizados (Da mesma forma que criam condições para
descargas atmosféricas)
• Campo magnético
• Afetam o sistema de forma indireta
• Correntes AC geram campos magnéticos variantes no tempo, que por sua vez
induzem tensões - Lei da Indução

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.6


Campo elétrico uniforme
Considere-se a existência de duas placas
paralelas de dimensões infinitas, com
potenciais diferentes.
• O campo elétrico entre as placas é
uniforme e dado por
𝑉
𝐸=
𝑑
Sendo V a diferença de potencial entre as
placas e d a distância entre elas
100 𝑘𝑉
𝐸= = 10 𝑘𝑉/𝑐𝑚
10 𝑐𝑚
Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.7
Campo elétrico num condutor filiforme
Considere-se agora um fio retilíneo de carga, sem dimensões
transversais e infinitamente afastado de outros condutores, com
carga uniformemente distribuída em comprimento com
densidade linear 𝑞𝑙 [𝐶 Τ𝑚]
• O campo elétrico criado pela carga no espaço circundante é
• Radial
• Só depende da distância 𝑟 à carga
Se considerarmos uma superfície Gaussiana, constituída por um
cilindro de raio 𝑟 coaxial com o fio e de comprimento 𝑙, verifica-
se que a carga contida nesse volume é dada por
𝑄𝑉 = 𝑞𝑙 . 𝑙
Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.8
Campo elétrico num condutor filiforme
A relação entre a densidade de fluxo elétrico 𝐷 para fora de uma
superfície fechada S, e a carga 𝑄𝑉 contida no volume V limitado
por essa superfície fechada, é dada pelo teorema de Gauss

Tendo em conta que a distribuição do campo elétrico é radial (e


portanto normal à superfície) tem-se
𝑄𝑉 = ඵ 𝐷𝑑𝑆 = 𝐷. 𝐴sup 𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙

recordando que
𝐴sup 𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 = 2𝜋𝑟𝑙

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.9


Campo elétrico num condutor filiforme
Tem-se
𝑄𝑉 = 𝐷. 2𝜋𝑟𝑙
Das Leis da Maxwell, temos que
𝐷
𝐸=
𝜀
Temos finalmente o módulo do campo elétrico
𝑞𝑙 𝑙 𝑞𝑙 1 𝑉
𝐸= ֞𝐸 = . ( ൗ𝑚 𝑜𝑢 𝑁ൗ𝐶 )
2𝜋𝜀𝑟𝑙 2𝜋𝜀 𝑟

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.10


Permissividade (permittivity)
Permissividade elétrica - 𝜀 (𝐹Τ𝑚)
Recordar que
𝜀 = 𝜀0 𝜀𝑟
Com 𝜀0 (permissividade do vácuo)
𝜀0 ≈ 8,854 × 10−12 (𝐹ൗ𝑚)

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.11


Campo magnético
Uma corrente 𝑖 percorrendo um fio rectilíneo, sem dimensões
transversais, infinitamente afastado de outros condutores, cria à sua
volta um campo magnético 𝐻, que terá direcção azimutal, e
cujomódulo não dependerá da direcção mas apenas da distância 𝑟 ao
fio.

A relação entre o total de corrente 𝑖𝑆 que perfura uma


superfície 𝑆, e a circulação do campo magnético 𝐻 ao
longo da linha fechada 𝑙 que limita a superfície 𝑆 é dada
pela Lei de Ampère
ර 𝐻 . 𝑑𝑙 = 𝑖𝑆

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.12


Campo magnético
Considerando a linha 𝑙 como uma circunferência de raio 𝑟 centrada no fio, ter-se-á sempre
𝐻 ∥ 𝑙Ԧ
pelo que
ර 𝐻 . 𝑑𝑙 = ර 𝐻. 𝑑𝑙 = 𝐻 ර 𝑑𝑙 = 𝐻. 𝑙

Tendo em conta que 𝑙 é o perímetro da circunferência


𝑙 = 2𝜋𝑟
da lei de Ampère resulta
2𝜋𝑟. 𝐻 = 𝑖𝑠 = 𝑖
Tendo em conta que 𝐵 = 𝜇𝐻, tem-se então que a densidade de campo magnético (B) é
dada por
𝑖 1
𝐵 = 𝜇. . (𝑇)
2𝜋 𝑟

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.13


Permeabilidade (permeability)
Permeabilidade magnética -
𝜇 (𝐻Τ𝑚)
Recordar que
𝜇 = 𝜇0 . 𝜇 𝑟
Com 𝜇0 (permeabilidade do
vácuo)
𝜇0 = 4𝜋 × 10−7 (𝐻ൗ𝑚)

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.14


Permeabilidade (permeability)
𝜇 = 𝜇0 . 𝜇 𝑟
𝜇0 = 4𝜋 × 10−7 (𝐻ൗ𝑚)

Diamagnéticos - 𝜇𝑟 < 1

Paramagnéticos - 𝜇𝑟 ≈ 1

Ferromagnéticos - 𝜇𝑟 > 1

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.15


Campo elétrico e campo magnético
Note-se a semelhança entre os módulos do campo elétrico e de
densidade magnético, originados por um fio de carga retilíneo.

𝑞𝑙 1 𝑉 𝑖 1
𝐸= . ( ൗ𝑚) 𝐵 = 𝜇. . (𝑇)
2𝜋𝜀 𝑟 2𝜋 𝑟

As direções dos campos são as indicadas.

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.16


Funções Potencial
Quando existem diversas fontes, o campo total é a sobreposição dos
campos devido às diversas fontes.
O campo total é assim uma soma vectorial dos vários campos.
• De díficil resolução, dado não ser apenas a soma algébrica de escalares.

Usam-se entidades escalares relacionadas com os campos, permitindo


a sua mais fácil manipulação
• Potencial elétrico
• Fluxo de Indução magnética

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.17


Função Potencial Elétrico
Por definição, a tensão elétrica entre dois pontos P e Q é
a circulação do campo elétrico entre esses dois pontos

𝑄
𝑈𝑃𝑄 = න 𝐸. 𝑑𝑙
𝑃

Num caso geral, esta circulação depende do caminho


usado para unir os pontos P e Q

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.18


Função Potencial Elétrico
Considere-se então a linha 𝑙, fechada (fronteira de uma
superfície 𝑆𝑙 ).
A circulação de campo elétrico na linha fechada 𝑙 e o fluxo
de indução magnética 𝜓1 através da superfície 𝑆𝑙 estão
relacionados pela lei da indução de Faraday (equação
integral de Maxwell)

𝑑𝜓1
න𝐸. 𝑑𝑙 = −
𝑙 𝑑𝑡

Ou seja, havendo campos magnéticos variáveis no tempo, a


circulação do campo elétrico não é nula.

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.19


Função Potencial Elétrico
Isto significa que tensão elétrica medida pelos dois
caminhos possíveis entre P e Q (𝑙1 𝑒 𝑙2 ) não é igual
(existindo campos magnéticos variavéis no tempo)
• Facilmente demonstrável com dois voltimetros

𝑈𝑃𝑄1 ≠ 𝑈𝑃𝑄2

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.20


Função Potencial Elétrico
Na ausência de campos magnéticos variáveis no tempo
(em eletroestática) tem-se no entanto
𝑑𝜓1
න𝐸. 𝑑𝑙 = − =0
𝑙 𝑑𝑡
O que significa que
𝑈𝑃𝑄1 = 𝑈𝑃𝑄2
E portanto, neste caso, a tensão entre dois pontos só
depende desses pontos (e não do caminho usado para a
medir ou calcular).

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.21


Função Potencial Elétrico
Nesta situação pode então considerar-se que há uma função de ponto,
𝑉, que assume um determinado valor em cada ponto tal que a
diferença dos valores entre os dois pontos é igual à tensão elétrica
entre eles
𝑈𝑃𝑄1 = 𝑈𝑃𝑄2 = 𝑉 𝑃 − 𝑉 𝑄

A esta função (𝑉) chama-se potencial elétrico.


• Só se pode definir na ausência de campos magnéticos variáveis no tempo

A tensão é igual à diferença dos potenciais

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.22


Função Potencial Elétrico
Note-se que só se tem acesso às tensões, e não aos potenciais
• Situação analítica – conhece-se a função que dá o campo elétrico na região e
por integração calcula-se a sua circulação entre dois pontos
• Situação física – medição da tensão entre os dois pontos com o voltímetro
Só se conseguem medir tensões (e não potenciais absolutos).

Tente-se um exemplo simples, com 𝑈𝑃𝑄1 = 100 𝑉 e tente calcular-se


𝑉 𝑃 e 𝑉(𝑄)…

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.23


Função Potencial Elétrico
Considere-se a adição de uma constante 𝑉0 ao potencial, tendo-se
𝑉 ′ 𝑃 = 𝑉 𝑃 + 𝑉0
𝑉 ′ 𝑄 = 𝑉 𝑄 + 𝑉0
A tensão (diferença de potencial) será:
𝑈𝑃𝑄 = 𝑈𝑃′𝑄′ = 𝑉 𝑃 + 𝑉0 − 𝑉 𝑄 + 𝑉0 = 𝑉 𝑃 − 𝑉 𝑄

Isto obriga a que se arbitre, em cada caso, o potencial de um ponto de


referência, calculando-se a tensão entre qualquer outro ponto e esse
mesmo ponto de referência.
Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.24
Função Potencial Elétrico
Arbitrando um ponto O como referência, e assumindo

𝑉 𝑂 =0
O é definido como o ponto de origem dos potenciais

Tem-se então
𝑈𝑃𝑂 = 𝑉 𝑃 − 𝑉 𝑂 = 𝑉(𝑃)

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.25


Função Potencial Elétrico em torno de um
fio de carga
Arbitrando 𝑉 𝑂 = 0 num ponto qualquer O a uma distância
𝑟0 de um fio de carga, o potencial de um outro ponto P a uma
distância 𝑥 do fio é, por definição:
𝑂
𝑉 𝑃 = 𝑈𝑃𝑂 + 0 = න 𝐸. 𝑑𝑙
𝑃

Assumindo condições de eletroestática, vimos que o integral é


igual para qualquer linha que una os pontos O e P (não
depende do caminho).

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.26


Função Potencial Elétrico em torno de um
fio de carga
Então, considere-se por exemplo a linha que de P avança até
radialmente até ao ponto O’ , a distância 𝑟0 , e depois azimutalmente
até ao ponto O (fazendo um arco de circunferência centrada no fio)
Assim virá
𝑂 𝑂′ 𝑂
න 𝐸. 𝑑𝑙 = න 𝐸. 𝑑𝑙 + න 𝐸. 𝑑𝑙
𝑃 𝑃 𝑂′

Tendo em conta que o campo é radial, tem-se para a


componente azumital 𝑂
න 𝐸. 𝑑𝑙 = 0
𝑂′
Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.27
Função Potencial Elétrico em torno de um
fio de carga
Resta portanto a componente radial. Tendo em conta que o campo é
paralelo ao percurso e que o caminho é portanto igual ao elemento do
raio , tem-se
𝐸. 𝑑𝑙 = 𝐸. 𝑑𝑟
Assim, resulta que
𝑂′ 𝑟=𝑟0
𝑉 𝑃 = 𝑈𝑃𝑂 = න 𝐸. 𝑑𝑙 = න 𝐸(𝑟). 𝑑𝑟
𝑃 𝑟=𝑥

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.28


Função Potencial Elétrico em torno de um
fio de carga
𝑞𝑙 1
Como 𝐸(𝑟) = . , tem-se finalmente
2𝜋𝜀 𝑟
𝑞𝑙 𝑟=𝑟0 1
𝑉 𝑃 = න 𝑑𝑟
2𝜋𝜀 𝑟=𝑥 𝑟
A função potencial é portanto
𝑞𝑙 𝑟0
𝑉 𝑃 = . ln (𝑉)
2𝜋𝜀 𝑥
Em que 𝑥 é a distância do fio ao ponto P e 𝑟0 é a distância do fio à
origem dos potenciais.

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.29


Função Fluxo de Indução em torno de um
fio de carga
Considere-se um fio de carga sem dimensões
transversais, percorrido por uma corrente 𝑖.
Pode definir-se função de fluxo de indução 𝜓 por
unidade de comprimento, num ponto 𝑃, à
distância 𝑥 do fio, como a função que dá o fluxo de
indução magnética 𝜓, por unidade de
comprimento, através de uma superfície 𝑆, que se
estende desde esse ponto 𝑃 até outro ponto 𝑂 à
distância 𝑟0 , o qual se toma para origem dos
fluxos.

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.30


Função Fluxo de Indução em torno de um
fio de carga
Tendo em conta que, de acordo com as Leis de
Maxwell, 𝑑𝑖𝑣 𝑩 = 0, todas as superfícies com a
mesma linha limitrofe têm o mesmo fluxo de indução
magnética 𝜓.
Como o campo de indução criado pelo fio de corrente
tem direção azimutal, pode então considerar-se a
superfície equivalente composta por duas partes:
• Parte rectangular, radial com respeito ao fio, que se
estende desde o ponto 𝑃, à distância 𝑥, até ao ponto 𝑂′ , à
distância 𝑟0
• Parte cilindrica, coaxial com o fio, de raio constante 𝑟0 , que
une os dois pontos 𝑂′ e 𝑂.

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.31


Função Fluxo de Indução em torno de um
fio de carga
Tendo em a direção azimutal do campo 𝐵, este fica paralelo na parte
cilíndrica (e nos topos), pelo que para se encontrar o fluxo de indução que
passa pela superfície apenas se tem que considerar a parte radial.
As linhas de campo 𝑩 criado por 𝑖 são circunferências centradas no fio.
Assim
𝑑𝜓 = 𝐵. 𝑛ො 𝑑𝑆 = 𝐵. 𝑑𝑆
Tendo-se 𝑑𝑆 = 1. 𝑑𝑟 fica-se com
𝑟0
𝜓 = න 𝑑𝜓 = න 𝐵(𝑟). 𝑑𝑟
𝑟=𝑥

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.32


Função Fluxo de Indução em torno de um
fio de carga
Tendo em conta que
𝑖 1
𝐵 = 𝜇. .
2𝜋 𝑟
Tem-se finalmente que
𝑖 𝑟0
𝜓 = 𝜇. . ln (𝑊𝑏)
2𝜋 𝑥

Note-se ainda que:

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.33


Funções potencial elétrico e fluxo de
indução magnética
Note-se que o potencial num ponto à distância 𝑥 do fio de carga, com
respeito a uma origem dos potenciais à distância 𝑟0 , e o fluxo de
indução magnética por unidade de comprimento entre os mesmos
pontos apresentam também semelhanças na formulação matemática

𝑞𝑙 𝑟0 𝑖 𝑟0
𝑉 𝑃 = . ln 𝜓 = 𝜇. . ln
2𝜋𝜀 𝑥 2𝜋 𝑥

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.34

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