Você está na página 1de 7

Fls.

: 1

Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região

Recurso Ordinário - Rito Sumaríssimo


0000270-62.2021.5.23.0021
Relator: AGUIMAR MARTINS PEIXOTO

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 20/10/2021


Valor da causa: R$ 36.813,60

Partes:
RECORRENTE: LEIDIMAR APARECIDA LEITE
ADVOGADO: ELSON REZENDE DE OLIVEIRA
RECORRIDO: CONDOMINIO EDIFICIO DA VINCI

ADVOGADO: ALBERTO PERGO CHILANTE


PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO - PJE
2ª TURMA
Relator: AGUIMAR MARTINS PEIXOTO
RORSum 0000270-62.2021.5.23.0021
RECORRENTE: LEIDIMAR APARECIDA LEITE
RECORRIDO: CONDOMINIO EDIFICIO DA VINCI

PODER JUDICIÁRIO 
JUSTIÇA DO TRABALHO 
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO 
2ª Turma

PROCESSO N. 0000270-62.2021.5.23.0021 (RORSum)


 

RECORRENTE: LEIDIMAR APARECIDA LEITE

RECORRIDO: CONDOMÍNIO EDIFÍCIO DA VINCI

RELATOR: DESEMBARGADOR AGUIMAR PEIXOTO

Assinado eletronicamente por: WALDOMIRO WANDERLEY COELHO FILHO - Juntado em: 24/04/2023 10:41:38 - 74d246f
Fls.: 3

Certidão de Julgamento - Rito Sumaríssimo

CERTIDÃO DE JULGAMENTO - RITO SUMARÍSSIMO


 

CERTIFICO que, durante a 10ª Sessão Ordinária de Julgamento,


realizada de forma presencial e virtual, entre as 09h00 do dia 19/04/2023 e as 09h00 do
dia 20/04/2023, sob a presidência do Excelentíssimo Senhor Desembargador AGUIMAR
MARTINS PEIXOTO (RELATOR) , com a presença do Excelentíssimo Senhor
Desembargador JOÃO CARLOS RIBEIRO DE SOUZA, do Excelentíssimo Senhor Juiz
Convocado WILLIAM GUILHERME CORREIA RIBEIRO, bem como do Excelentíssimo
Senhor Procurador do Trabalho IROS REICHMANN LOSSO, DECIDIU, a Egrégia Segunda
Turma de Julgamento do Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região, por
unanimidade, conhecer do recurso ordinário interposto e, no mérito, dar-lhe
provimento parcial para condenar o reclamado ao pagamento dos salários, férias
acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS do período entre a cessação do benefício
previdenciário e o respectivo restabelecimento por força da decisão proferida no
processo n. 1016741-77.2021.8.11.0003, nos termos do voto do Desembargador
Relator, a seguir transcrito:

 "ADMISSIBILIDADE

Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,


conheço do recurso ordinário interposto.

MÉRITO

A autora se insurge contra a sentença que julgou improcedente


o pedido de que fosse o restabelecido do seu contrato com a ré, com o seu retorno em
função compatível com sua condição de saúde, se fosse o caso, bem como de
pagamento dos salários desde a cassação do benefício previdenciário, ao argumento
de que "... ao empregador não é dado negar salários e recusar o retorno do
trabalhador às suas atividades, após a alta médica do INSS, sob o fundamento de que o
médico o considerou inapto. Se não concordava com a alta médica previdenciária da
obreira, deveria ter auxiliado ela a recorrer imediatamente, e não ter ficado na
condição cômoda de atribuir à recorrente, a própria sorte, sem receber salário e
tampouco beneficio previdenciário".

Assinado eletronicamente por: WALDOMIRO WANDERLEY COELHO FILHO - Juntado em: 24/04/2023 10:41:38 - 74d246f
Fls.: 4

Pois bem.

Narram os autos que a autora recebeu o benefício


previdenciário auxílio-doença acidentário de 12/3/2016 a 21/8/2019 e foi submetido a
exame de retorno ao trabalho no dia 21/12/2020, através do qual foi constatada sua
inaptidão para o labor.

Consta, ainda, que na ação ajuizada em face do INSS, a qual


tramita na Justiça Estadual sob o n. 1016741-77.2021.8.11.0003, foi concedida tutela de
urgência (Id 88f2486), determinando o restabelecimento do benefício previdenciário,
com efeitos prospectivos.

Compete, pois, sindicar sobre a responsabilidade patronal pelo


pagamento do salário e demais consectários do contrato de trabalho no interregno
entre a suspensão do benefício previdenciário e seu restabelecimento pela aludida
decisão judicial.

Sobreleve-se que a cessação do benefício previdenciário implica


no restabelecimento das obrigações recíprocas entre empregado e empregador, não
cabendo a este último unilateralmente obstar a retomada do pacto de emprego e a
percepção salarial, sendo irrelevante o fato de a moléstia da não possuir origem
ocupacional.

Com efeito, a trabalhadora não pode ser relegada ao chamado


limbo jurídico trabalhista-previdenciário, decorrente do conflito entre a alta
previdenciária e a negativa do empregador em aceitar seu retorno, ainda que sob o
manto da persistência de limitações que impedem a retomada das mesmas tarefas
anteriormente executadas, o que desafia sua alocação em posto de trabalho
minimamente compatível enquanto perdurarem tais limitações.

Ora, diante da cessação da inaptidão por parte do INSS, o réu


não poderia ter negado a reinserção da autora na atividade laborativa, cabendo-lhe
realizar as adaptações necessárias e condizentes com o quadro de saúde verificado,
ainda que se considere a inaptidão apontada pelo médico da empresa e a tentativa
frustrada de prorrogação do auxílio-doença, de modo que, ao assim agir, não podia
deixar de efetuar o regular do pagamento dos salários.

Cabe ressaltar que, consonante o art. 30, § 3º, I, alínea "a", da Lei
n. 11.907/2009, o atestado de incapacidade emitido pelo médico da empresa não
possui o condão de se sobrepor à decisão do INSS que a considerou apta ao trabalho,
não servindo para respaldar a conduta do empregador em impedir o retorno da
obreira às suas funções e não pagar salário.

Colho da jurisprudência do TST:

Assinado eletronicamente por: WALDOMIRO WANDERLEY COELHO FILHO - Juntado em: 24/04/2023 10:41:38 - 74d246f
Fls.: 5

AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA


VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. RETORNO AO TRABALHO APÓS ALTA
PREVIDENCIÁRIA. RECUSA DO EMPREGADOR. LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO.
TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. Esta Corte tem firme jurisprudência no
sentido de que nos casos do denominado "limbo jurídico previdenciário", em que o
órgão previdenciário concede alta médica ao trabalhador e o empregador, em
decorrência de avaliação médica dissonante, não permite o retorno do empregado ao
trabalho, a responsabilidade pelo pagamento dos salários é do empregador. Cumpre
enfatizar que, nos termos do art. 2º da Lei 10.876/04, o perito médico do INSS possui
competência exclusiva para emissão de parecer conclusivo sobre a capacidade de
retorno ao trabalho do empregado. Assim, pareceres/atestados médicos, ainda que
emitidos por profissionais particulares, não têm o condão de respaldar a recusa da
empresa em permitir o retorno do empregado ao seu posto de trabalho. Isso porque,
embora a empregadora tenha o dever de preservar a integridade física e a saúde do
trabalhador, não pode privá-lo de seu direito ao recebimento de salário. Ressalte-se,
ainda, que, segundo os termos do art. 476 da CLT, com o término do benefício
previdenciário, o contrato de trabalho volta a gerar todos os efeitos, permanecendo
com o empregado o dever de prestar serviços e, com o empregador, o de pagar
salários. Com efeito, na hipótese dos autos, é incontroverso que "o reclamante gozou
benefício previdenciário (B-31) até março de 2011; que o perito judicial confirmou a
ausência de relação entre o agravo à saúde do reclamante e o trabalho; que a
reclamada confirmou que o vínculo com o reclamante não foi extinto e que o obreiro
apresentou-se ao trabalho após a cessação do benefício previdenciário; que a médica
vinculada à reclamada considerou o reclamante inapto, recorreu da decisão da
autarquia previdenciária, mas não obteve sucesso; que o reclamante viveu limbo
previdenciário". Sendo assim, ao afirmar que "não há como reconhecer que o
encerramento do benefício implica imediato restabelecimento das condições
contratuais vigentes ao tempo do início do benefício previdenciário quando quadro de
saúde do trabalhador não correspondente àquele apurado pela autarquia
previdenciária ", o TRT, efetivamente, decidiu na contramão do art. 476 da CLT e da
jurisprudência desta Casa. No mais, destaque-se que a superveniente interdição do
reclamante por meio de decisão judicial, noticiada pela Corte local, não tem o condão
de afastar a ilicitude da conduta da reclamada em obstar o imediato retorno do
reclamante ao trabalho após a alta previdenciária, subsistindo o dever de lhe pagar os
salários correspondentes. Considerando a improcedência do recurso, aplica-se à parte
agravante a multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC . Agravo não provido, com
aplicação de multa. (TST - 5ª T. - Ag-RR-95-89.2013.5.06.0193 - Rel. Ministro Breno
Medeiros - DEJT 18/12/2020 - extraído do respectivo sítio eletrônico)

Assinado eletronicamente por: WALDOMIRO WANDERLEY COELHO FILHO - Juntado em: 24/04/2023 10:41:38 - 74d246f
Fls.: 6

E deste Regional:

SALÁRIOS RELATIVOS AO PERÍODO APÓS A ALTA


PREVIDENCIÁRIA. AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO LABORAL. LIMBO PREVIDENCIÁRIO
TRABALHISTA. Sendo o autor considerado apto para o trabalho pelo INSS, cessou,
nesse momento, a suspensão do contrato de trabalho. Não havendo suspensão do
contrato, o autor tem direito a receber, nesse período, salários da empresa. Se o
empregador optou por não exigir trabalho, readaptando o obreiro, se fosse o caso, em
função compatível com a sua capacidade de trabalho, e, não conseguindo o autor
reverter a decisão do INSS, deve o empregador responder pelo pagamento da
remuneração devida entre o período que o reclamante, após a alta previdenciária,
ficou sem receber o benefício e os salários, tal como reconhecido na sentença. Recurso
ao qual se nega provimento. (1ª T. - RO 0000662-67.2018.5.23.0001 - Rel. PAULO
ROBERTO RAMOS BARRIONUEVO - DEJT 9/3/2020 - extraído do respectivo sítio
eletrônico)

Por todo o exposto, reformo a sentença para condenar o


reclamado ao pagamento dos salários, férias acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS do
período entre a cessação do benefício previdenciário e o respectivo restabelecimento
por força da decisão proferida no processo n. 1016741-77.2021.8.11.0003.

Ocioso mencionar que, com a reativação do benefício


previdenciário, o contrato de trabalho retornou ao estado de suspensão, não havendo
mais falar em limbo jurídico trabalhista-previdenciário e, com isso, em dever patronal
de cumprir as obrigações questionadas na presente ação.

Inverto o ônus de sucumbência, condenando o réu ao


pagamento de custas processuais, no importe de R$ 400,00 (quatrocentos reais),
calculadas à base de 2% sobre o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), provisoriamente
arbitrado à condenação, bem como ao pagamento de honorários sucumbenciais aos
advogados do autor no importe de 5% sobre o valor da condenação, considerando a
modesta complexidade da causa, seu processado sob o rito sumaríssimo e demais
parâmetros estabelecidos pelo art. 791-A, § 2º da CLT."

O Procurador do Trabalho manifestou-se pelo regular


prosseguimento do feito. 

Assinado eletronicamente por: WALDOMIRO WANDERLEY COELHO FILHO - Juntado em: 24/04/2023 10:41:38 - 74d246f
Fls.: 7

Acórdão em conformidade com o art. 895, § 1º, IV, da CLT.

Obs.: Ausente a Excelentíssima Senhora Desembargadora Maria


Beatriz Theodoro Gomes, em gozo de férias regulamentares.

Plenário virtual, quinta-feira, 20 de abril de 2023.

(Firmado por assinatura eletrônica, conforme Lei n. 11.419/2006)

AGUIMAR MARTINS PEIXOTO


 

Desembargador do Trabalho

Relator

CUIABA/MT, 24 de abril de 2023.

WALDOMIRO WANDERLEY COELHO FILHO


Diretor de Secretaria

Assinado eletronicamente por: WALDOMIRO WANDERLEY COELHO FILHO - Juntado em: 24/04/2023 10:41:38 - 74d246f
https://pje.trt23.jus.br/pjekz/validacao/23042410413708700000013214390?instancia=2
Número do processo: 0000270-62.2021.5.23.0021
Número do documento: 23042410413708700000013214390

Você também pode gostar