Você está na página 1de 9
EUROPA, MODERNIDADE E EUROCENTRISMO. ENRIQUE DusseL* 1, DESLIZAMENTO SEMANTICO DO CONCEITO DE “EUROPA” Em primeiro I liso w Nar ea Ga a orm dese Honan singles umano. Com isso qué isle sae | eines) Foose) ‘Mund : isico Mondo arabe-magulmano (também judy) (esc 0séeu lhbates cee eRe vgar, a Buropa latina medieval também enfrenta 0 coos ene ei ea ‘mundo drabe-turco, Novamente Aristeles, por exemplo, & considera: ddo mais um fldsofo nas mos dos Arabes que dos cristios. Abelard, ‘Alberto Magno e Tomas de Aaui ‘adigao e arriscando-se AcoLoNIAL iD; /ADEDO SAE zadas representam a pri no Mediterraneo 0; ‘Ssqdsiem rpz01001ca oa Grecia EvkoM MODERNA PREtte rece anueonanae ‘ -Burigye Dosse Esovewa2 presenta uma novic! tune-se ao grego O: ido mundo muculmano, =H -0 + Romano: i yantismo®ale= fe Falsa equacao: sé assim a “ideologia’ er iplarnent das: 8 ‘ainda nao h4 uma hist6ria mundial (mas hist6rias justapostas ‘aromana, persa, dos reines hindus, de Sido, da China, do ‘mundo meso-americano ou inca na América, ete.). Em segundo lugar, porque o lugar geupolitico impede-o de er 0 “centro” (0 Mar Vermelho “Temos assim a Europa latina do século XV, ‘mugulmano, periférica e sécundiria no extremo oeidental do continen- ‘te euro-afro-asiatico. ‘ist Gria da Asia uma pré-istoia européia Mundo Grego ‘lund Romano pagio e eistio undo Orstao Medieval Mundo Europeu Woderno wnat, Ninguém pensa que se trata de uma srega como exelusivamen= 1 desde as épocas green ¢ prt srde término do comércio do Oriente, nla sio 0 “cen- AcOLGNIALIDADE po SaBER __-Bsovema3 (GRANDES CULTURAS B AREAS DE coNrATO eM F ( Greene (NAO HA EI Europa] _ Estes da Asa Cea fr one) rc ‘Asteca Cuitasdo tala MandoTureosmogurnano]—>—china Gummo, Ma inane : ercolamermmmret Geet IL. Dots concertos ve “MopERNipApE” ‘Neste ponto da descrigao entramos no ceme da discussao. nos a interpretacdo hezemOnica no que se refere Ainterpretacto, ipoderna ("Moderne © no ao. no-americana, mas sim, contra a mental na definigao da “Identidade! de Charles Taylor. Com efeito, ha © primeiro deles € euroc dernidade € uma emancipacao, ‘esforgo da razio como proceso de um novo desenvolvimento do ser ‘na Europa, essencialmente no século X comentados por Habermas 27) em sta conhecida obra sobre o tema -e sfo unaniimemente ac por toda a tradigao européia atv (0s acontecimentos histéricos essenciais para a implantagao do principio da subjetividade [moderna] sio a Reforma, a lustra- ‘co e a Revolugdo Francesa. ‘como se pode observar, segue-se uma sequéncia espacial-temporal: {quase sempre se aceita também o Renascimento Italiano, a Reforma & tempo e o espace deste 38 Banas lustragao alemas ea Re incesa. Num dldlogo com ), propes ‘géculo XV), Alerranha (séculos XVI-XVIL {Geculo XVI) e Franga (século XVIII), Chamamos ae sitica” porque indica como pontos de partida da “Modernidad fonomenos intra-europeuis, € seu desenvolvimento posterior neces taiearnente da Europa para explicar 0 processo. Esta ¢ aproximada ‘o provinciana e regional desde Max Weber ~com sua and mnalizagao" e 0 “desencantamento”~ até Habermas. ieu (condenado em 1616), Bacon (Novurt Orga (0 Discurso do Método, 1636) seriam os iniciadores do processo maderno no sécuilo XVI. Propomos uma segunda visio da “Modernidade’, num sentido fa em definir como determinacao fundamental fato de ser (seus Estados, exére ‘6ria Mundial. Ou seja, empiricamente 1492 (como data de infcio¥ da ope- descobrimento da América hispanica, todo o planeta se torna. ria Mundial (Magalhdes-Elcano realiza a circunave- gacao da Terra em 1521). ‘A Espanha, como primeira nagao “moderna” (com um Estado que wula, com a Inguisicao que cria de cima para baixo o consenso nacional, com um poder militar nacional a0 con- quistar Granada, com a edigaio da Gramdtica castelhana de Nebri- Ja em 1492, com a Igteja dominada pelo Estado gragas a0 Cardeal Cisneros, ete.) abre a primeira etapa “Moderna”: 0 mereantilismo fecas (descobertas em para vencer os turcos em Le descoberta (1571). 0 Ai de" da Europa Li ante fundaniental da. Mo ACOLOMIAIDADE DO sApER contimiarao pelo caminho jé aberto, A segunda et por volta de 1870). Esouema4 meio de "Modernidade”: ae ee todernidade': sto efeto, eno ponto de parila. A Holan- "mancipa di Espanha em 1610), a Inglaterra e a Franca a Espanha como oes ropa Medema e da Hist6ria Mundial (em especial desde o surgimento do Imperialism, Mundo Africa ‘mugulmano _banto asia -ENatgue Dusset [Na interpretagao habitual da Modemidade, deixa-se de lado tanto Por- = tugal quanto a Espanha,e com isso 0 século XVI hispano-americano, “que na opinido untnime dos especialistas nada tem a = lernidade”-e sim, talez, como fim da Idade Média. Pi ‘ta dos que imaginam © opbem a cla como 0s “Po | [I]. RACIONALIDADE © IRRACIONALIDADE OU 0 MITO ‘ba MODERNIDADE, wle que a *Modernids pte pretender = entiBcar-se com a 0 ‘eurocentis: | tho" da Moderidade 6 exatamente a confusto ente a univeralidade tintrata com a mundialidade coneteta® hegemonizada pela Europa ome "cena" eho cogito moderne fo anteedido em mats de um século pelo go congite fen conauiso) paticn do hso-hispano que impbs sia ~ Contade (a primeira "Vontade-de-poder” moderna) sobre o fio ame- ricano. A conquista do México foi o primeiro ambito do ego lerno. "A Furopa (Espana) tha eedente superioridade sobre as cultura a- ci mi, nea, et" em expec ~ emtodohoriconte euro © sara conqusta da Am posterior no horizonte aberio por Pi na entra na Médernidade (mui a “outra face”, dominada, explorada, encoberta. Se a Modernidade tem um nicleo racional ad intra forte, como netaria, essa mesma Modernidade, por outro lado, al que se oculta a seus proprios .g80 moderna autodescreve-se como mais desenvolvi- ica sustentar inconscientement 2. A superioridade obriga a desenvolver os mais primitives, bar- baros, rudes, como exigéncia moral, .cesso educativo de dest é, de Fato, dor, a praxis mo- derna deve exercer em se necesséio for, para destruir os obstéculos dessa modemizaglo (a guerra jusia colonial). a eee gaan eno con oor neealoe = Perna e sem arahuma complemetaridn tae oon re Materane alan (Era fee sero moi ua continued) dat qu equate do decpsniincr represents ee feridade deena ser: Renaciment, Conquista da América Lain Reforma, Huminismo, etcetera, Ewnsgun ido quase-ritual de sacrificio; o herdi suas préprias vitimas da condigao de serem holocaustos de um. sacrificio salvador (o fndio colonizado, o escravo africano, a mu- Iher, a destruigao ecoldgica, etcetera). 6. Para o moderno, 0 barbaro tem uma “culpa” (pox opor-se a0 pprocesso civilizador permite A “Modernidade” apresentar- se nao apenas como inocente mas como “emancipadora” dessa “culpa” de suas propri retende a superacao da “Modernidade", ser lo mito da Modernidade. Para tanto, a "outra- do, o negro escravizado, a mulher oprimida, a crianga ea alienadas, ete. (as "Vitimas" da "Modemidacle") como vitimas de tum ato ir racional (Como ‘a da préxis sacrificial fora da Europa) €) ra como “razAo libertadora” quando se descobre 0 AcoLonianpape po savin Ewnrque Dusen nasce realmente em 1492: esta é nossa tese. Sua real superagito (come t 10 eee z subsuntion, endo mer m0 a nocentesvima.pela-ahrmaggo de ua : eee eral ec teed mya rope tase como pee lade na Exterioridade como eo a pessoas que forai penne a pela Modemidade. ee a razo moderna € transcendida dade” es eee a Eins e oe ee : ost sions ae ee ot Trata-se de uma anes 5 e : hia e eae 9s paradigmas contraditérios: o da mera "Mo- srnidade” curocéntrica, e 0 da Modemidade subsumida de um horizonte. ‘mundial, no qual cumpriu uma fungo ambigua (de um lado como eman- ae oa como mitica cultura da violencia), A realizacéo do se- ‘a passagem transcendent paradigma eum, proceso de “Trans-Modernidade”. $é 0 s« lo = pene ser Fae lcnisr teastne 0 projeto transmoderno € uma c " Ces Ss en gt) es, arcs es eure, na seja, 6 co-realizacao de solidariedade, que chamamos de “ piste une lias A Modeled le: Centro/Periferia, Mulher/Homem, diversas raas, diver- cebeu seu caréter mitico-sacrificial com relagdo aos “outros . s ‘classes, Humanidade/Terra, Cultura Ocidental/Cul- (4967: 208) de algum modo pereebeu-o ee ped teet eee ad turas do mundo periférico ex-colonial, etc.; nao por pura negagao, mas * partindo da Alteridade”’. que nfo se trata de um projeto pré-moderno, como afirmagao folclérica do passado, nem um projeio antimodeme de gru- pos conservadores, de direita, de grupos nazistas ou fascistas ou po- pulistas, nem de um projeto pos-moderno como n ao da Mode! dade como critica de toda razio para cair num irracionalismo nii Deve ser um projeto “trans-moderno” (e seria entao uma “trans-Mo- dernidade”) por subsungdo real do cardter eman ipador racional da Modernidade e de sua Alteridade negada (“o Outro”) da Modernidade, por negacdo de seu ‘cardter mitico (que justifica ainocéncia da Moder Midade sobre suas vitimas e que por isso se torn ‘contraditoriamente in vty Em certas cidades da Europa Medieval, nas renascentisas ifracional), Em ¢ oe ‘Assim, podemos chamé-los barbaros com relagdo 8s nossas re- ‘gras da razo, mas nao com relagao ands mesmos, que 0s supe ramos em todo genero de barbarie. Esouraa 5; do Quatrocento, cresceu formalmente a cultura que proc miidade. Mas a Modernidade real condigoes hist6ricas de sua’ dializacao, a organi2agao ‘ACOLONIALIDADE DO sam Enmave Duss. ca do ‘Sistema-Mundial") consome 5,8% desses bens. Uma concen. tragdo jamais observada na historia da humanidade! Uma injustica estrutural nunca imaginada em escala mundial! E nao é ela fruto da Modemnidade ou do Sistema mundial que a Europa ocidental criou? T) DETERNINAGOES MAIS RELEVANTES A: Europa no momento do “descobrimento’ B: O presente europeui moderno ©: Projeto de “realiza¢ao" (habermasiana) da "Modernidade” D: A “invasio! tarde da Africa e da Asia) BIBLIOGRAFIA _ Amin, Samir 1989 Eurocentrism (Nova Torque: Monthly Review 1987 Black Athena. The Afroasiatic Roots of Classical tions (Nova Terseis Rutgers University Press) Tomo I Capone, L. (ed) 1992 Filosofia e Liberazione. La sfida del pensiero del Terzo Mondo (Lecce: Capone Edit Dussel, Enrique 1969 Et humanismo semi €: Praxis da-realizagao de C Dussel, Enrique 1977 Filosofia de ta liberaci ___ 4: Historias anteriores & conquista européia (América Latina, Bogoté, 1980; Querinians, Bre Africa e Asia) | Dussel, Enrique ¢: Historia colonial e dependente-mercantista : a: Histéria européia m b; Histéria “moderna”-curopéia (Buenos Aires: EUDEBA). (México: Edicol). [Usta, g: Praxis da realizacdo de F (éesenv ae hs Prado Mberagto ou dereaizaio de . Enrique 1995 The Invention of the Américas. Eclipse of “the Jc soli fe do Centro com a Periferia a he Mth que: Continim ‘pos histéricos de dominagao (de A —> D, etc.) Sh, of Modenticrs (Noval lord ¢ Ii) Os pots paRapicmas DE MopERNIDADE losophy of Liberation (Nova Torque: Humanities [J; Paradigma eurocéntrico de “Modernidade”: [R=K->B->C] (1: Paradigma mundial de “Modemidade/Alteridade” (em dire- ‘cdo a uma “Trans-Modernidade’): (A7D>BIE->G) e ‘Aos 500 anos do comego da Europa Moderna, lemos no Relatd- rio sobre o Desenvolvimento Humano 1992 (UNDP, }: 35)" das Na- ‘ges Unidas que os 20% mais ricos da Humanidade (principalmente a Europa Ocidental, os Estados Unidos e o Japao) conso bens da Terra, enquanto 0s sz abres (a se

Você também pode gostar