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Coordenação A Maldição da Expectativa

Diego Andrade Marcelo Almeida


© 2013 Ampelos Publicações

Revisão Primeira edição - 2006


Idiomas & Cia Segunda edição - 2008
Terceira edição - 2013
Capa
Rick Joilly
© 2000 Marcelo Almeida
Publicado com a devida
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP-Brasil)

Almeida, Marcelo
A Maldição da Expectativa / Marcelo Almeida
Belo Horizonte: Ampelos Publicações, 2013
ISBN: 978-1-939861-06-1
1. Vida Cristã. 2. Família. 3. Espiritualidade I. Título


SUMÁRIO

Introdução 7

Maldito o homem que confia no homem 14

Você como alvo das expectativas de outros 17

O ciclo maldito 22

Mas o que é maldição? 28

Maldito o homem que “confia” 33

O que esperar de outras pessoas? 38

A idealização dos outros 43

A maldição das expectativas no casamento 48

A maldição das expectativas na liderança 53

A maldição das expectativas prende você a alguém 56

Maldição, a doença dos loucos 58

A frustração da solidão 64

A maldição da dívida que nunca se paga 73


A maldição das expectativas e a formação de
Judas Iscariotes 78

Expectativas e incredulidade 91

Características de quem faz expectativas 94

Conclusão 101
INTRODUÇÃO

Para começarmos nossa conversa, deixe-me


fazer algumas perguntas.
Você coloca expectativas demais sobre o
comportamento das pessoas em relação a você?
Você faz muito por seus amigos e se entristece
ao notar que eles nunca fazem o mesmo? Ou
sobre o que elas deveriam fazer: dar, retribuir?
Ou ainda como elas deveriam compreendê-
lo? Você, então, se sente usado, desvalorizado
e mal retribuído pelo investimento que faz
aos outros? Você coloca expectativas altas
sobre coisas das quais não tem controle?
Espera muito de situações nas quais não é você
quem está organizando, ou tomando todas as
decisões?Você espera retribuição pelo o que
fez ou deu aos seus filhos, ao seu cônjuge, ou
aos seus liderados? Finalmente, você idealiza
as pessoas em relação à unção, maturidade e
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perfeição que elas deveriam ter e se frustra ao


descobrir que elas são meros mortais, cheias de
fraquezas e falhas?
É... Você deve sofrer muito, e desne­ces­saria­
mente. Você deve ser um desses — desculpe
o termo — “malditos” por iniciativa própria.
Mas fique frio. Seja bem-vindo ao clube! Você
não é o único, tampouco será o último. Essa
é a tendência natural de todo mundo. Todos
nós tendemos a colocar expectativas altas
em situações e em pessoas. Depois, sofremos
amargamente.
Quando “esperar demais” envolve apenas
uma viagem, as férias ou uma festa, a decepção
nos estraga o dia, no máximo alguns dias, mas
logo a frustração passa. O difícil mesmo ocorre
quando a frustração se dá no âmbito dos nossos
relacionamentos mais íntimos. Aí sofremos
amargamente! Corremos o risco de destruir,
um a um, cada vínculo precioso que temos com
as pessoas que nos são mais caras.
Sofremos por causa da imaturidade e por
viver pendurados no que esperamos dos outros.
Aí a “vaca vai pro brejo” mesmo. A vida se torna
muito ruim, passamos a julgar as pessoas com
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base no que elas não fizeram, disseram, deram,


corresponderam. Destruímos e julgamos
terrivelmente alguns dos relacionamentos mais
importantes e próximos a nós. Quando essa
atitude atinge um ponto crítico, as pessoas que
mais amamos respondem se afastando de nós,
afinal a dor é delas também e o mais fácil é deixar
essa “draga emocional” que nos tornamos e ir
viver sem esse “peso”.
Quem espera demais das outras
pessoas acaba se frustrando amargamente,
imerso em sofrimento. O resultado desse
comportamento, além de afetar diretamente
a sua qualidade de vida, será desolador e trará
consequências trágicas. As consequências desse
comportamento se multiplicarão e se alastrarão
à medida que a vida avançar.
Ao viver essa projeção de expectativas nos
outros, vive-se na própria pele a “maldição das
expectativas”, um tipo de maldição que tem a
ver com o modo como nos relacionamos com
os outros. Para muitos, cada relacionamento
será contaminado com essa “maldição” até que
não sobre ninguém. Solidão, frustração, mágoa
e fracasso são o que espera quem entra nesse
barco das expectativas. Você é um deles?
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Conhecer essa “maldição” e se livrar dela de


uma vez por todas fará algo por você: libertá-
lo da prisão a que está sujeito, libertá-lo da
maneira equivocada de se relacionar. Também
lhe dará uma vida livre e independente do
comportamento de outros, além de melhorar
muito a sua qualidade de vida e lhe devolver
a paz. Por fim, mudará a maneira como você
lida com as pessoas mais próximas, tornando o
relacionamento algo agradável, em vez de uma
obrigação, tornando você alguém livre, atraindo
outras pessoas à mesma liberdade de vida e de
paz que tomará conta de você!
Em nossas igrejas há muitas pessoas doentes,
amaldiçoadas. Pessoas que, apesar de salvas,
vivem uma vida infeliz, em um limbo de tristeza
e insatisfação permanentes. Do púlpito, pouco
se faz para livrar tais pessoas da sua maneira
doentia de viver e se relacionar. Essa não é uma
maldição resultante de pecados do passado e
muito menos de demônios, mas sim de colocar
expectativas altas demais nas pessoas.
Esperar algo de alguém é o estilo de vida
dessas pessoas. Apesar disso, elas não se dão
conta que estão vomitando na própria cama
e tornando desolador o próprio contexto
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de relacionamentos no qual estão inseridas.


Tornam-se pessoas miseravelmente acorrentadas
a outros.
Quem criou tais prisões? Elas mesmas. Estão
presas, bloqueadas de avançar em seu destino, sem
alegria e sem viver a vida para a qual nasceram. São
amaldiçoadas, não por Deus ou pelo diabo, mas
por si mesmas. Nunca estão satisfeitas, sempre
dependem do que outros vão fazer, falar, trazer,
decidir, dar, comprar, responder etc. Assim, elas
não vivem, vegetam; nunca geram nem criam,
apenas dependem, colocando seus destinos nas
mãos de outros, outros estes que nem sabem que
estão nessa posição tão delicada.
As pessoas debaixo dessa maldição perderam
o controle de suas próprias vidas por esperar
demais dos outros. Isso pode acontecer com você
e seu cônjuge, entre você e seus líderes, com você
e seus pais; entre você e seus filhos, seu chefe,
amigos, colegas, vizinhos, uma lista interminável.
A única saída é recanalizar as expectativas,
colocá-las em Deus e tão-somente nEle.
Expectativa posta em Deus é sinônimo de fé;
colocada no homem é maldição, sofrimento e
solidão. A chave é não ter expectativa alguma
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no homem. Não esperar nada, nada mesmo,


rigorosamente nada! Isso é um ato da sua
vontade, é uma escolha e uma decisão.
Se assim proceder, se não receber nada,
não se frustrará, pois não contava com a
expectativa mesmo. Se colher algo, retribuição,
reconhecimento, será uma grata surpresa. Todos
nós devemos ser livres das expectativas em
pessoas, seríamos mais felizes, livres, alegres e
nossos relacionamentos menos pesados e mais
saudáveis. Infelizmente não é o que acontece nas
igrejas, em nossas famílias e nas amizades que
construímos.
Aprendi, após muitas cicatrizes, a aceitar as
pessoas exatamente como elas são e também a
não esperar nada direcionado a mim, nenhuma
retribuição, nenhum agradecimento, nenhum
benefício. Sou absolutamente livre para servir e
investir. Ninguém me deve nada e eu nada devo
a ninguém! Sou livre e deixo livre quem anda
comigo. Meus amigos são livres para me amar à
sua maneira e não à minha, assim como filhos,
discípulos e cônjuge. Além do que naturalmente
é esperado nesses relacionamentos, como
respeito, honra, compromisso, nada mais espero
de ninguém.
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Depois de me frustrar demais, aprendi com


Deus a esperar pouco das promessas das pessoas e
a fazer isso em paz e alegria. Minhas expectativas
estão em Deus. Se acontecer de alguém me
prometer algo, fazendo enorme propaganda
do que “está a caminho”, eu espero sempre com
os pés no chão. O presente, o passeio, o hotel,
a viagem, a festa, o evento, etc., etc., etc. Já não
levo “tombo”, me frustrando com pessoas como
acontecia no meu passado. Sabe de uma coisa,
minha vida ficou mais simples, livre e feliz. Hoje
tenho mais paz e raramente me entristeço com
os outros. De vez em quando ainda tenho umas
recaídas quando o outro “pinta um quadro muito
colorido”. Mas acontece bem menos hoje.
Maldito o homem
que confia no homem

É sábio pegar carona no erro dos outros para não


viver as mesmas misérias as mesmas catástrofes
e o mesmo destino infeliz, além de evitar o
desperdiço de muitos anos de vida em situações
inúteis. O que eu vou compartilhar com você é
resultado de um ensino pessoal de Deus na minha
vida e do meu andar com Ele durante trinta anos,
é também resultado de erros que cometi e do que
aprendi com eles. Portanto, quero desafiá-lo a
aprender com os meus erros!
Quero lhe dar a chave que me libertou. Quero
ensiná-lo, através deste livro, a viver melhor,
mais livre, mais feliz e tornar-se um amigo, um
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companheiro um irmão, uma pessoa melhor.


Essa questão é tão crucial e tão importante
que determinará se seus relacionamentos serão
saudáveis, abençoadores, frutíferos ou se serão
catastróficos, destruidores e desagradáveis.
Há pessoas que não conseguem manter
nenhum relacionamento permanente; para
qualquer quadrante que olharem, só deixaram
porcaria, dor e destruição, um saldo de mágoas
e relacionamentos rompidos. São sempre —
essa é a regra, sempre — os outros que deixaram
de fazer alguma coisa fundamental para a sua
felicidade. São pessoas infelizes por conta de
outros, não conseguem ver a situação óbvia em
que se meteram: deram o controle de suas vidas
para terceiros! O pior, esses outros nem sabem
o que se espera deles. Tudo fica no âmbito
interior das cobranças e das expectativas que
nem são expressas em palavras. Esse turbilhão
insano acontece dentro dos pensamentos e da
imaginação. É um mundo de doidos!
Todavia, essa prisão acaba por determinar
o futuro que uma pessoa assim vá ter... ou que
nunca terá. Vai afetar o tipo de discipulado
que é estabelecido com seus discípulos. E o
fundamental: determina a sua qualidade de vida.
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Muita gente vive o inferno por construir todos


os seus relacionamentos interpes­soais nessa base
doente das expectativas.
Na vida, será necessário amadurecermos ao
ponto de entendermos que a razão da nossa vida
é investir em outros, isto é, gerar filhos e investir
em seu potencial. Jesus, em todo o tempo que
caminhou sobre a Terra, investiu indistintamente,
investiu em todos, na multidão, nos amigos, nos
discípulos. Fez isso simplesmente porque era
mesmo suposto que o fizesse. Isso é liberdade!
Liderar, dar propósito, inspirar, mobilizar e
conquistar seus alvos existenciais é o caminho
que todos temos que aprender a trilhar com
maturidade.
Entretanto, pessoas que edificam suas relações
com base na maldição das expectativas nunca
conseguem levar isso adiante. Nunca têm
equipe, colaboradores fiéis ou filhos espirituais.
Essa questão mexerá com a sua vida. Esse
aspecto que apresento aqui checará a saúde dos
relacionamentos que você tem vivido em todos
os níveis.
Você como alvo
das expectativas de outros

Vendo o problema por outro ângulo agora, em


muitas situações será você o alvo de pessoas que
cobram demais e esperam o que está além das reais
possibilidades, pessoas com muita dificuldade de
se relacionar e que adoecem qualquer relação.
Este é o momento de você estabelecer uma
conversa franca e colocar a “trouxa no chão”.
Será necessário dizer: “Ouça, fulano. Acho que
você está esperando coisas altas demais de mim.
Creio que suas expectativas são altíssimas e eu
não consigo — e nem quero — me encaixar
nelas. Deixe-me livre para ser o que eu sou e fazer
apenas o meu melhor”.
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Não se torne escravo da imagem irreal que


projetarem de você. Você precisa se conhecer e
saber até onde pode chegar e não pode cair na
cilada de tentar se encaixar na figura irreal que
projetam a seu respeito, aprendendo a reconhecer
projeções doentias que outros queiram colocar
sobre você.
Vivi muito de perto essa situação em São
Paulo, quando estávamos na televisão em cinco
horários diários. Tornei-me um rosto conhecido
e as pessoas começaram a inflacionar o “pastor
Marcelo”. Virei um ícone esquisito na cabeça
das pessoas, uma celebridade de casca que não
tinha substância. Recebia centenas de e-mails,
cartas, presentes, ofertas em dinheiro, doces,
bolos e chocolates. Uma senhora chegou a doar
um sítio porque estava apaixonada pelo “ídolo”.
Até o momento em que o “ídolo” chegou ao local
com a esposa a tiracolo. A mulher finalmente
enxergou que estava lidando com um sujeito
casado, que tinha endereço, propósitos próprios
e completamente diferentes do que ela mesma
tinha idealizado.
Foi engraçado ver as coisas mudarem à medida
que plantamos nossa igreja naquela cidade e
começamos a comer sal e rapadura no começo
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de uma obra difícil e emocionalmente esgotadora.


Quem ficou até hoje conhece um pouco mais de
perto a realidade. As pessoas parecem precisar
de um rei, um semideus, um “apóstolo que sopre
fogo”, um “patriarca que ande sobre as águas”.
Todavia, tenho os mesmos ossos frágeis e sujeitos
à dificuldades que todo mortal. A unção de
Deus sobre nós deve ser recebida sempre nessa
perspectiva. Em nós mesmos, não somos nada.
Em outra ocasião, uma senhora me reconheceu
em um shopping center de São Paulo. Após alguns
minutos de conversa, ela me disse: “Pastor Marcelo,
o pastor da minha igreja agora é um apóstolo.
E você? Ainda é somente um pastor?”. Se eu
entrasse nessa festa de confetes para corresponder
às imagens irreais que as pessoas criam, estaria
frito. É uma tentação. Já pensou? Virar apóstolo?
Pensando bem, isso já está comum demais! Se
dependesse só de mim e se meus companheiros
de ministério deixassem, eu seria o Papa ou o
Patriarca da Igreja Videira Ortodoxa Salve Salve
Retumbante. Já pensou que chique, que audiência
isso daria? Não me leve a sério nisso, por favor.
Ainda no início do ministério, investimos
muito em treinar líderes jovens. Todos éramos
ainda inexperientes ao fazer isso e não tínhamos
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muito referencial nessa questão, pois vínhamos de


uma igreja bastante tradicional e conservadora.
Apesar do grande carisma de nosso pastor, a
denominação como um todo praticava o que havia
de mais ultrapassado em matéria de formação de
pastores e líderes. No seminário, mantido por
eles, formavam-se homens para performances
no púlpito, mas sem liderança alguma. Ainda
pior, além de não se verem como líderes, ainda
negligenciavam seu papel de formadores e
despertadores de liderança. Uma igreja desse tipo
é um perigo para o potencial das pessoas que os
tem como pastores e líderes.
No seminário, para reproduzir a estrutura
denominacional das mais arcaicas, os pastores
recebiam treinamento para muitas coisas, menos
sobre como investir nos crentes para o desempenho
da obra do seu ministério. Pertencíamos a essa
denominação protestante histórica sem rumo, sem
futuro e sem os pés na realidade. O que estávamos
fazendo em nossa pequena igreja de periferia
era contrário ao curso da denominação, graças à
coragem e a atitude inovadora de nosso pastor.
Assim, mesmo antes de eu ser ordenado ao
ministério pastoral, fazíamos discipulado para
a formação de liderança com a aquiescência do
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pastor. Aos sábados, orávamos e jejuávamos juntos


e com muita frequência, usávamos também esse
tempo para ensinar, desafiar e inspirar aqueles
jovens. Tínhamos todos mais ou menos a mesma
idade e crescemos juntos. Tive o privilégio de
casar a maioria deles e também de pastoreá-los por
vários anos.
Hoje, já temos tempo suficiente para fazer um
balanço de tudo. Ao escrever este livreto, já são
passados quase vinte e cinco anos de ministério.
Vivemos juntos a maravilhosa experiência de
um genuíno mover de Deus. Queríamos ser
protagonistas de um avivamento e desejávamos
experimentar a manifestação da Glória de Deus.
O Reino de Deus avançou, muitas obras pioneiras
foram começadas, muitas igrejas estão crescendo
assustadoramente e tudo é muito promissor. Mas,
olhando para o incipiente começo de tudo, éramos
apenas um pequeno grupo de jovens despertados
por algo maior. Infelizmente, muita gente ficou
para trás. E muitos, além de terem “perdido o
trem”, acabaram perdendo completamente o foco
do divino propósito profético para suas vidas.
A origem de tanta desilusão e perda estava em
expectativas irreais colocadas no homem.
O ciclo maldito

Ao entrar por esse caminho de maldição, um


ciclo maldito é criado, o qual funciona mais ou
menos assim: primeiro, nos sentimos inspirados
acerca do futuro, acerca de nós mesmos e do
que nos espera. Criamos uma imagem do que
deve acontecer conosco e do que deve ser o
investimento das pessoas em nós. A seguir
lançamos sobre as costas dos outros o pesado
fardo de trazer à realidade aquele hipotético
futuro que enxergamos para nós mesmos.
Desejamos que os outros nos façam ser em vez
de nos ensinarem apenas a fazer. É diferente!
Todos que projetam essa maldita expectativa
nos outros se frustram terrivelmente.
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Isso aconteceu com vários daqueles jovens


que liderávamos. Alguns esperaram, em suas
fantasias, que, com uma varinha de condão, suas
questões internas fossem todas resolvidas, que
seu mau caráter fosse completamente mudado,
sua instabilidade emocional fosse simplesmente
removida como que por mágica. Alguns
fantasiaram que simplesmente por andar
conosco se tornariam como “Eliseus” espirituais
fazendo até machados flutuarem.
Certo irmão até hoje, até hoje!, vive uma
mágoa mal curada em relação a mim pelo fato
de eu não ter feito dele um grande pastor de
multidões como ele sonhara. Outro — que
decidiu seguir na vida profissional e não viver
no ministério — também rompeu conosco e
mudou de igreja; ele foi embora porque não
conseguimos manter a mesma proximidade dos
primeiros anos no novo contexto de milhares
de membros e dezenas de igrejas sob nossa
responsabilidade.
Outro casal escolheu o caminho da
mágoa, inveja e ressentimento por não
terem compartilhado da notoriedade, do
reconhecimento e da mesma prosperidade.
Ressentiram-se do nosso êxito e começaram
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a criticar o tempo todo, comparando, sempre


criando problemas, exigindo mais, insatisfeitos,
reivindicando. Pessoas assim, em vez de criarem
seu próprio espaço, exigem sempre que um
pouco do nosso prato passe para o deles. São um
tormento!
Nesse ciclo maldito, a parte final é a pior,
pois quem está debaixo dessa maldição se torna
magoado, emburrado, desconfiado de tudo e
se isola. Nesse processo terrível, o que deveria
produzir crescimento e amadurecimento
emocional gera gente oprimida, esquisita e
terrivelmente triste.
A maldição mata completamente sua vida
espiritual, sua esperança e o seu potencial,
tornando-se gente do fundo do poço, tendo
sempre nas mãos uma nota de cobrança contra
os outros. Sempre os outros: os outros que
falharam, os outros que não fizeram, os outros
que não deram, os outros que não reconheceram,
os outros que não foram, os outros que
não investiram. Gente tão terrivelmente
autocentrada que não consegue ver que todos
seguiram adiante, vivendo suas próprias vidas,
conquistando, avançando e prosperando; só
eles ficaram para trás.
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O final triste desse ciclo da maldição das


expectativas é que o mesmo veneno que os
intoxicou na caminhada — a projeção de
cobranças e expectativas sobre os outros —
finalmente se torna a lápide de suas sepulturas.
Todos continuam vivendo a vida e avançando;
eles, entretanto, estão no fundo do poço,
procurando culpados para minimizar seu
angustiante fracasso. Sentem-se injustiçados,
rejeitados, mal amados, incompreendidos,
traídos, desfavorecidos, preteridos. E essa
venenosa amargura ainda é projetada até o fim
no suposto culpado: o outro, o que não deu, o
que não fez, o que não foi, que não correspondeu,
que não cumpriu as promessas, que não pagou;
sempre o outro. Como consequência, depressão,
mau humor e melancolia.
Durante todos esses anos, vivi isso na própria
pele, estando dos dois lados. Como liderado, eu
criei enormes expectativas, tolas e exageradas,
projetadas sobre meu pastor, meus líderes, meus
amigos, minha esposa, meus pais e meus filhos.
Em cada uma eu me frustrei.
Eu cobrava de meu pastor uma liderança que
ele não tinha, uma vida de oração que ele não
vivia, um nível de revelação na Palavra de Deus
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que ele não possuía. Eu esperava que ele fosse um


apóstolo no sentido de liderança, clareza e foco,
enquanto ele estava feliz em ser apenas um pastor
local de êxito. Cobrava que ele conduzisse seus
pastores auxiliares, que nos desse direção, que
fosse nosso pai. Que nos reunisse para sonhar
juntos, investir em comunhão e proximidade.
Caí do cavalo, com gosto de desapontamento
na boca o tempo todo e trazia isso para o nosso
relacionamento. Eu estava insatisfeito o tempo
todo. A culpa era dele? De modo algum! Ele
me dava tudo o que tinha. A infantilidade,
imaturidade e inabilidade eram apenas minhas.
Se acontecesse comigo hoje de ter por perto
um pastor auxiliar com o tipo de atitude que eu
manifestava, logo logo o colocaria no seu lugar.
Vinte e poucos anos atrás não foi assim. Sofri e
fiz sofrer. Não me cobro muito hoje também,
pois naquela época ninguém mais maduro e com
clareza nessas questões veio me discipular. Tive
que “me fazer” sozinho, me virar, amadurecer na
marra.
Contudo, você não precisa cometer os mesmos
erros, meu querido irmão. Meus amigos também
penaram comigo por eu exigir tanto deles sem
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que eu mesmo investisse em manter e preservar


nossa comunhão. Infelizmente, naquele tempo,
pessoas lideradas por mim aprenderam comigo
esse comportamento maldito, elas esperavam
que eu fosse o “apóstolo Paulo II reencarnado”,
ou talvez a reedição de uma “Kathryn Kuhlman
de calças”. 1

1
Kathryn Joanna Kuhlman foi uma pregadora e evangelista norte-
americana, que acreditava em milagres e libertação através do
poder do Espírito Santo. Fonte: Wikipédia.
Mas o que é maldição?

Maldição, no sentido comum é aquela “zica” que


você pega e, de repente, nada mais dá certo na
sua vida, aquela coisa sobrenatural, mal explicada
e pouco compreendida que nos leva a viver em
estado de “uruca”, viramos “o azarado”. Então,
aquilo que você toca morre, murcha, quebra. Se
você chega, o tempo fecha. Se abrir a boca, os
pássaros voam, os cães uivam.
Mas, agora, falando sério, “maldição”
significa “infelicidade, dor, perda, prejuízo,
solidão, fracasso, miséria e um estado de prisão
do qual você não se livra”. Maldição tem a ver
com viver uma vida inteira com as coisas não
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indo bem, nunca dando certo: no casamento,


profissionalmente, nas finanças, espiritualmente,
no discipulado; nada dá certo, nada vai bem.
Parece até que algo colou na gente e que não
desgruda mais.
O entendimento que muita gente tem de
maldição é que se trata de algo que Deus trouxe por
conta dos nossos pecados ou que o diabo trouxe
por conta de alguma brecha dada. Acredito que
o pecado gera mesmo muitos tipos de maldição,
mas as Escrituras afirmam que toda a maldição
foi lançada em Jesus Cristo na Sua cruz, Ele se
tornou maldição em nosso lugar. Pessoalmente
também acredito que, se algo corre realmente
mal em sua vida e não há uma razão lógica,
isto é, uma causa clara, você deve orar e ir mais
fundo, buscando em Deus compreender a causa
daquela situação. Podemos reivindicar a quebra
dessa maldição já executada no Calvário. É uma
questão de apropriar-se do que já nos foi dado na
cruz, baseados no mesmo princípio que perdoa
nossos pecados e sara nossas enfermidades: a
cruz já concluiu isso por nós.
Por outro lado, a maldição das expectativas
é algo bem diferente. Há maldições na Bíblia
que tem a ver com atitudes erradas. O sujeito,
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por exemplo, ao meio-dia, fura o semáforo na


avenida e arrebenta o carro contra um ônibus
que vai passando. Foi Deus? Decididamente não
foi. Foi você, que tentando a Deus, saiu de sua
cobertura de proteção ao violar uma lei de trânsito
e uma lei da natureza, segundo a qual dois corpos
não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Para
isso que existem semáforos: em uma mesma rua
não cabem dois carros no mesmo lugar! Simples,
não? Não há anjo que proteja um sujeito desse. Os
anjos ficaram todos parados lá no sinal esperando
a lâmpada verde acender; quando chegaram, já
era tarde! Lá estava você todo arrebentado. Aí
você culpa Deus. Por favor, me poupe de tanta
tolice! Há coisas que colhemos por quebrarmos
princípios.
A maldição das expectativas caminha por aí.
Somos nós mesmos construindo relacionamentos
doentes, pesados, que acabarão mal. O rapaz
sabe o que está fazendo, ultrapassa os limites no
relacionamento com a moça, quebra princípios
de honra aos pais, de santidade, brinca com a
natureza e ela fica grávida. A culpa foi de Deus?
De quem é a responsabilidade disso? Você confia
demais na atitude atirada dos adolescentes que tem
em casa, presume que somente orar é suficiente e
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falha em monitorar e colocar regras claras acerca


de amizades e horários. Daí, a menina tem quinze
anos e ficou grávida. A culpa é de Deus? Não!
Decididamente, se isso acontece, fomos nós os
negligentes. A responsabilidade por aquilo não foi
de Deus. Fica até mais fácil processar a dor do que
entrar numa de querer perdoar a Deus.
A maldição das expectativas traz as mesmas
consequências daquelas originadas pelo
pecado: é terrível, destrutiva, arrebenta com
relacionamentos, amizades e família, é atroz em
nos fazer sofrer e perder o propósito de Deus.
Em outro aspecto é diferente porque é gerada e
mantida por um comportamento seu! Como a
atitude errada é sua, é você quem colhe o resultado
negativo daquilo que pratica. Enquanto mantiver
a atitude errada, você estará alimentando a cadeia
de destruição.
Não há garantia de que haverá retorno depois
que você envenenou aqueles que tinham o
potencial de serem os mais profundos, gratificantes
e íntimos relacionamentos dados por Deus a você.
Com a atitude pesada de projetar nos outros as
cobranças de comportamento, investimento,
resposta e atitude, você estará tornando penoso,
difícil, desagradável e muito caro o relacionamento
32 M A R C E LO A L M E I DA

com você e colherá as consequências dessa


maldição criada, nutrida e praticada. Você é o
único responsável por ela. Deus e o diabo estão
fora disso!
Maldito o homem
que “confia”

Veja este texto de Jeremias:

Assim diz o Senhor: maldito o homem que


confia no homem, faz da carne mortal o
seu braço e aparta o seu coração do Senhor!
Porque será como o arbusto solitário no
deserto e não verá quando vier o bem;
antes, morará nos lugares secos do deserto,
na terra salgada e inabitável. Bendito
o homem que confia no Senhor e cuja
esperança é o Senhor. (Jeremias 17:5-7)

Maldito o homem e a mulher que confiam


noutro homem, ou noutra mulher, ou no
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líder, ou no pai, ou no marido, ou na irmã,


ou na cunhada, ou nos filhos, ou na sogra, ou
no sogro, ou no chefe, ou no Presidente da
República, ou no deputado. A Bíblia é taxativa:
Maldito! Mas esse é maldito em qual sentido?
Nesse contexto, de Jeremias, a palavra “confia”
nos fala do homem que depende de outro
homem, que se estriba em outro homem, que
se refugia em outro homem, que fica à espera
de outro homem, que tem a sua segurança em
outro homem, que cria e projeta expectativas
em outro homem.
A Bíblia descreve as consequências dessa
expectativa posta em outro homem. Tal pessoa
colherá solidão, entrará num deserto sem que
ninguém a auxilie. Um deserto é lugar de falta
de suprimento, de frustração. Tal indivíduo
não verá quando vier o bem, quer dizer, não irá
adiante, antes morará nos lugares secos, viverá
uma vida de sequidão e ausência de graça.
Secos no deserto, na terra salgada, inabitável.
Nem que se coloque uma semente viva, ali
nada nascerá. Nem mesmo erva daninha nasce
no deserto. A Escritura, entretanto, diz, o
contrário de quem confia no Senhor:
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 35

Bendito o homem que confia no Senhor,


cuja esperança é o Senhor. Porque ele é
como árvore plantada junto a corrente de
águas que estende suas raízes para o ribeiro
e não receia quando vem o calor, mas a
sua folha fica verde e no ano de sequidão
não se perturba, nem deixa de dar fruto.
Enganoso é o coração mais do que todas as
coisas, desesperadamente corrupto. Quem
o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho
o coração, eu provo os pensamentos para
dar a cada um segundo o seu proceder,
segundo o fruto das suas ações. ( Jeremias
17:7-10)

A tendência da maior parte das pessoas


que lê esses versículos é achar que a Bíblia está
ensinando que não se deve confiar em ninguém,
que devemos ficar com “o pé atrás” em relação a
todo mundo: “É, tá vendo? Confiei na fulana e
veja aí no que deu... Também, a Bíblia diz mesmo:
‘Maldito o homem que confia no homem’. Isso
é para eu aprender a não confiar em ninguém!”.
Que tolice. Não é nada disso! Essa é uma maneira
totalmente equivocada de entender o que a
Palavra diz.
36 M A R C E LO A L M E I DA

Então quer dizer que você não pode confiar


em mais ninguém? Não, não é isso que a Bíblia
está dizendo. O sentido confiar aqui deriva
da palavra hebraica, buttak, que significa “se
estribar, depender de”. Se não podemos confiar
em ninguém, é impossível viver em companhia
de outras pessoas, pois o tempo todo temos
que “confiar” em alguém para alguma coisa.
Por exemplo, para eu caminhar junto com a
minha esposa e ela comigo, temos que construir
confiança um no outro. Eu tenho que confiar nela
e ela em mim. Isso é correto, esperado e saudável.
Isso não é mal, mas é um construir, resultado de
um investimento, resultado de anos.
Para eu andar junto com outros colegas e
companheiros de trabalho, preciso confiar neles.
Preciso acreditar em seu caráter, na aliança
deles comigo, no amor cristão que praticam, na
integridade deles, na sua idoneidade. Por isso
assinamos cheques ao portador e confiamos que
a pessoa será correta em depositar o valor na
conta certa. Quando deixamos nossos filhos na
escola, confiamos que a escola seja idônea para
cuidar deles naquele período, provendo educação
e segurança. Quando embarcamos num avião,
acreditamos que o piloto saiba manejar bem
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 37

todos os instrumentos e que vamos pousar com


segurança. A vida é assim.
Ao caminhar com o seu líder de célula, seu
discipulador, seu pastor, você precisa confiar
neles. É por isso que a Escritura estabelece uma
lista de critérios para o presbítero, para o bispo,
para o diácono: seja marido de uma só mulher,
não seja dado a muito vinho, seja uma pessoa
ponderada, seja uma pessoa cheia do Espírito
Santo etc. Há uma série de critérios. Por quê?
Porque é com base nesses critérios que você
decide confiar em alguém. Assim, a verdadeira
confiança tem a ver com andar junto e com algo
construído em um relacionamento. Não tem a
ver com estribar-se em outro homem, não tem a
ver com depender dele; não tem a ver com criar
pesadas expectativas e projetá-las sobre o outro.
O que esperar
de outras pessoas?

Podemos perguntar então: “O que concre-


tamente esperar de meus relacionamentos
familiares, na igreja e de trabalho?”. Há
relacionamentos que são construídos na base
de uma fidelidade mútua. Por exemplo: o
casamento. Posso e devo esperar fidelidade e
compromisso com o nosso projeto comum de
família. Se algo vai ao contrário disso, tenho
base   a aliança que fizemos no altar   para
conversar e dizer: “Olha aqui, meu amor, nós
dois nos comprometemos nisso e naquilo e não
é o que está acontecendo”. Temos uma base para
conversar.
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 39

Da mesma forma, em uma sociedade, as


coisas ficam claras no contrato que cada parte
assina. O investimento que se espera de cada
parte, as responsabilidades e tarefas de cada um e
o acerto de contas no qual o lucro de cada parte é
dividido. Está tudo lá, tudo bem claro. Podemos
esperar que essas coisas sejam cumpridas e temos
uma base clara para conversar se as coisas não
caminham de acordo.
Na igreja, quando se estabelece um vínculo
de discipulado e se começa um processo de
treinamento para o ministério, o mesmo
princípio se aplica. Eu espero que meu discípulo
responda ao investimento de tempo, ensino,
treinamento, trabalho e oração que estou
depositando em sua vida. Aguardar resultado
do investimento é legítimo. Está implícita aqui
a minha parte do investimento e a parte dele na
resposta esperada. Se isso não acontece, devemos
conversar a respeito e rever esse caminhar: está
valendo a pena ou estamos perdendo tempo?
Na maldição das expectativas as coisas não
são assim claras e saudáveis. São doentias e
destrutivas. É muito mais delicado lidar com isso,
pois saímos do âmbito do que está claro para algo
que é obscuro. Essa maldição específica tem a ver
40 M A R C E LO A L M E I DA

com o que esperamos para nós mesmos! Vamos


tratar melhor disso.
A palavra hebraica que mencionei, traduzida
como “confiar” é mais bem aplicada para
expectativas: maldito é você se, ao se relacionar
com alguém — seja amigo, mulher, parente,
pastor, líder, discipulador, sócio, cunhado,
sogra, pai, mãe, filho —, o fizer colocando
expectativas sobre tal pessoa em relação a você.
São expectativas do que ela deve fazer para você,
sem que isso esteja claro no relacionamento.
Expectativas do que ela deve dar a você, sem que
isso seja claramente conversado e a pessoa em
questão nem saiba claramente o que você espera,
muito menos que ela concorde. Expectativas
sobre o que ela vai ser para você, o que vai dizer
a você em troca de tudo o que você fez por ela;
como ela deve retribuir correspondendo à sua
dedicação, como vai lhe reconhecer.
Entramos aqui em um terreno pantanoso,
pois quem projeta expectativas no outro, na
verdade, está tentando manipular o outro sem
que este saiba. Está querendo arrancar na marra
coisas que só são dadas voluntariamente. Mas o
pior de tudo é que as pessoas não sabem o que
se espera delas. Ou talvez até saibam, mas não
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 41

concordam em pagar o preço alto que se quer


cobrar. Mas as pessoas não estão obrigadas a fazer
o que queremos.
Esse é um comportamento extremamente
infantil e doentio, para não dizer o pior: uma
coisa insana! Quem vai por esse caminho perderá
cada um de seus relacionamentos mais preciosos,
perderá amigos, afastará familiares e acabará
sozinho. Quem se relaciona com pessoas assim
sente que está em dívida o tempo todo, que está
em falta o tempo todo. É algo difícil de processar,
pois nunca sabemos exatamente onde falhamos
e, se acontece de descobrirmos a expectativa
em questão, nem sempre concordamos com
a legitimidade dela, ou não conseguimos
corresponder às cobranças impostas.
Então o “sanguessuga” fica lá amargurado
com aquela “cara de nota promissória”, olhando a
gente o tempo todo com cara de limão. Já viu isso
em algum lugar? Sempre há algo que você deveria
ter feito e não fez, deveria ter dito e não disse,
deveria ter dado e não deu, deveria ter estado e
não esteve. É um saco sem fundo. Algo terrível.
Essa é a pior forma de pesar relacionamentos,
chega a um ponto em que se torna definitivo e
42 M A R C E LO A L M E I DA

desistimos da pessoa em questão. Começamos a


evitá-la. Aí sim, agora ela terá todos os argumentos
a seu favor: “Está vendo? Eu não disse que vocês
me rejeitam e não me aceitam nunca? Que nada
do que eu faço é aceito? Que tudo o que eu espero
de vocês nunca acontece?”.
Alguém pode dizer que devemos tomar a cruz
e prosseguir. E está certo. Mas deve-se fazer isso
mantendo uma distância segura de tal insanidade.
Caso contrário, tudo o que fizer e tiver entrará
nesse turbilhão sem limites para o qual tais
pessoas vão arrastá-lo. Isso é especialmente difícil
quando quem tem esse tipo de comportamento
é seu pai ou mãe, irmão ou filho, sogro ou sogra.
Muito difícil manejar isso. É preciso graça extra!
A idealização dos outros

Idealizar é criar uma imagem mental falsa e


romântica acerca do que uma pessoa é, tem ou
faz. É a atitude infantil de atribuir a outros uma
aura irreal de perfeição, beleza e bom caráter
sem nem, ao menos, conhecermos a figura. Tem
a ver com a criação de “super-heróis” em nossa
imaginação tola. Tendemos à tal atitude o tempo
todo, com novos políticos, com figuras públicas
e mesmo na igreja. Alguns pastores cultivam essa
aura e, pela resposta do povo, alimentam ainda
mais a bolha de uma imagem irreal.
Mas, infelizmente, a área em que muita
gente mais sofre por dar asas à imaginação e à
44 M A R C E LO A L M E I DA

idealização é na busca por um relacionamento


afetivo. Principalmente as moças. Que tendência
horrível elas tem de abrir seus ingênuos corações
para o primeiro Zé Perequeté que aparece,
também com uma imagem falsa e distante da
realidade. Elas estão plantando sofrimento ao
abrir seus corações inadvertidamente e sem
lastro, sem a base de uma relação fundamentada
em uma comunicação legítima, em que parte a
parte se dão a conhecer de fato.
A tendência, infelizmente, é fantasiar um
futuro juntos, caminhando na praia de manhã
cedinho de mãos dadas ao raiar do sol dourado!
Ou tomando o café da manhã juntos ao som
de pássaros coloridos em redor. Como o amor
e a felicidade seriam arrebatadores! Mas... as
coisas são bem diferentes da realidade: o sujeito
é imaturo, nunca trabalhou a sério na vida,
depende da mãe até para pegar ônibus, é um
mau caráter instável e sem aliança com ninguém.
Mas a mocinha não quer ver o óbvio, não é?
Prefere idealizá-lo tocando violão, olhando nos
seus olhos, aqueles cabelos compridos: “Que a
realidade vá para o espaço. Estou apaixonada!”.
Pois bem, idealizou o noivo e, em sua cabeça,
ele era um príncipe encantado montando um
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 45

cavalo branco. Daí vai descobrir que se casou


com um menino inseguro, que não sabe dar
respostas à vida e que não vai sair lá fora para
pagar as contas e lhe dar a segurança que você
esperava. Depois de uma semana, a máscara da
idealização cai, mas já é tarde. Você está casada!
Casada com o príncipe que virou sapo. Mas era
sapo o tempo todo, só você não viu que estava
debaixo da maldição das expectativas.
A essa altura, ao olhar para o príncipe encantado,
você vai ver na verdade um bocó, um Zé
Perequeté-que-tira-bicho-do-pé-pra-comer-
com-café. Seu mundo desmorona, vai lá para
baixo. Aí vai chorar três dias e entrar em um
ciclo de depressão, desespera-se, pois agora já é
tarde demais para desmanchar a besteira que
fez: “E a minha família? O que vão pensar de
mim, meus amigos, e a Igreja? E todas aquelas
declarações que eu fiz da certeza que tinha para
este casamento?”. Tarde demais, pois tudo o que
construiu, você o fez baseado em expectativas e
não avaliando a realidade! Colheu maldição! Por
quê? Porque foi pôr expectativa no homem, em
gente cheia de falhas e não no seu Deus. Já vi esse
filme muitas e muitas vezes, pois os tais, depois,
se achegam a nós pastores para que tentemos
46 M A R C E LO A L M E I DA

remendar o que foi construído sem fundamentos


e sem princípios.
Alguns jovens não conseguem começar
um relacionamento sério que culminará em
um casamento por serem sufocadores em seus
relacionamentos. Eles colocam expectativas
demais e cobram demais da outra pessoa. Acham
que agora o outro lhes pertence. O seu tempo, a
sua vida, seus amigos, tudo sob controle: “Para
onde olhou, por que olhou? Não telefonou! Por
que não ligou? Não veio? Não falou nada? Onde
esteve? Com quem esteve? Por que esteve? Vai
ser sempre assim? Não está vendo que hoje é o
aniversário de nosso namoro?”
Isso não vai dar casamento nunca. Se der,
ambos serão extremamente infelizes, pois todo o
relacionamento foi construído sobre a maldição
das expectativas. Mas é maldito porque Deus está
amaldiçoando? Não! Mas porque é consequência
de criar expectativa para os outros entrarem nela,
para os outros vestirem a expectativa. Sabe por
que muitos casamentos acabam? Porque existe
muita expectativa de parte a parte. Ambos serão
terrivelmente infelizes. Livre-se, o quanto antes,
desse comportamento nefasto. Liberte os outros
que estão presos a você e seja você também
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 47

livre. A alegria, o suprimento, a saúde dos seus


relacionamentos dependem disso. Coloque as
suas expectativas em Deus e deixe as pessoas
livres de cobranças.
A maldição das expectativas
no casamento

A maldição tem a ver com você esperar coisas


que a outra pessoa deveria ser, mas que de fato
não é, nem sabe ser, nem sabe que se espera que
ela seja. Sua esposa perfeita, linda espiritual e
maravilhosa, seu marido ideal, caráter ideal, o
líder ideal, o pai ideal, o amigo ideal, mas “espera
lá”! A outra pessoa nem conhece “a roupa que
você está costurando” em seu imaginário infantil
para ela entrar dentro. Você está construindo uma
roupa apertada e nem a pessoa sabe. Há mulheres
que destroem seus casamentos por causa disso:
põem expectativa no que o marido deve ser, no
que o marido deve falar, fazer, no que o marido
tem que... tem que.... tem que... Elas tecem uma
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 49

roupa tão apertada, uma saia justa daquelas para


o marido entrar.
Entretanto, ele não vai entrar nessa. Vou lhe
dizer como seu marido funciona. Se ele sente que
está sendo construída uma gaiola para ele, para
sufocá-lo, ele foge! Mesmo que o casamento não
acabe, seu marido vai evitar muita proximidade,
vai evitar estar em casa mais tempo, vai evitar
você. Pois estar em casa significa ouvir um monte
de cobranças que ele não quer ouvir e não está
preparado para responder. Há um bom livro de
James Dobson que trata desse assunto. Sugiro
que qualquer mulher casada o leia, pois se trata
de um livro mais direcionado às mulheres: “O
amor tem que ser firme”.
Todavia, também há homens que são
insatisfeitos a vida inteira com suas esposas. A
mulher é preciosa, é bonita, é bondosa, é uma
mulher de Deus, ela corresponde às iniciativas
dele, mas não adianta. Ela está sempre presente,
mas ele projeta coisas irreais e mirabolantes para a
coitada da companheira. Algo irreal, inacessível,
algo não prático para ela ser e fazer.
Mas o mais terrível é quando um marido desses
teve uma “supermãe”, uma mãe maravilhosa,
50 M A R C E LO A L M E I DA

daquelas heroínas que nunca precisou de marido


nenhum para dar conta do recado. Se a mãe dele
foi a “mulher maravilha” e você se casou com o
filho dela, humm!, seu caso é mais grave! Ele vai
exigir que você seja a “Joana D´arc”, a “Bat Girl”
ou coisa parecida. Na insanidade das expectativas,
ele pode chegar ao cúmulo de costurar para você
vestir o traje de uma “Joana Girl Maravilha”.
Saia fora, se possível antes de se casar! Procure
alguém que queira conhecer quem você é e ame
quem você é com todo seu potencial e também
com todas as suas limitações. Pois o fim da Joana
D´arc foi uma fogueira, a Bat Girl se suicidou e
a Mulher Maravilha sobrou “pra titia”, voando
sozinha em seu avião invisível.
Um sujeito assim vai jogar na sua cara: “A
comida da minha mãe era assim e assim; minha
mãe cuidava da minha roupa dessa forma, assim e
assim; a minha mãe fazia as coisas assim e assim...”.
Cale a boca, indivíduo! Sobra uma pergunta a
ser feita: “Por que não se casou com a sua mãe
então?”. Em vez de você ser infeliz e transferir
infelicidade para todo mundo da sua família, seja
infeliz sozinho! Ou então se abra para quebrar
definitivamente essa “maldição” terrível em sua
vida, em nome de Jesus!
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 51

Minha esposa é maravilhosa, eu não preciso


cobrar nada dela. Raramente — depois de anos
nos ajustando — temos algum desacordo. Não
cobro nada, se ela prega botão, se não prega; se
cozinha, se não cozinha. De vez em quando ela
me leva cedinho um nescafé quentinho na cama.
Mas pergunte a ela o que acontece no dia que ela
não faz o nescafé quente de manhã e leva na cama.
Não acontece nada. Eu não cobro, e nem peço.
Não quero saber. Eu estou livre e ela também. Se
há algo em nosso relacionamento sobre o qual
precisamos conversar, vamos a isso!
Quando me casei, o fiz baseado em um
relacionamento em que afinidade e identificação
foram sendo construídos e checados. Amávamos-
nos profundamente e nos conhecíamos bem um
ao outro. Mesmo assim idealizei muita coisa da
qual me arrependo hoje. Minhas expectativas
tolas e infundadas só trouxeram cobranças e
tristeza para a minha jovem e inexperiente esposa.
Eu achava que, ao casarmos, seríamos o casal
do avivamento. Eu sopraria e o fogo cairia! Em
nossa casa, anjos e labaredas fosforescentes
desceriam! Até que vi na realidade uma moça
cheia de sonhos, cheia de esperanças e ideais
aguardando o marido que vivia nas nuvens.
52 M A R C E LO A L M E I DA

Descobri que minha jovem esposa precisava


de um marido, um companheiro, alguém com
quem conversar e orar e não de um “avivalista-
sonhador-maluco-desequilibrado-delirante”.
Levou tempo para colocar a minha maldição das
expectativas no lixo.
A maldição das expectativas na
liderança

Sabe por que algumas pessoas não conseguem


ser lideradas? Porque elas colocam expectativas
muito altas para seus líderes cumprirem. O líder
tem que ser alguém extremamente inteligente,
capaz, ungido, sábio, experiente para conquistar
o direito de liderá-las. Outros esperam dos líderes
uma mística de poder e unção que não existe. Nem
o Benny Hinn em toda a sua glória fica ligado na
unção vinte e quatro horas ao dia. Com certeza, ele
tem momentos em que é simplesmente... humano,
ri, chora, se irrita. Mas muita gente espera líderes
que vêm do mundo dos contos e das fábulas. Elas
substituem o Saci-pererê, ou a Fada Azul, pelo
pastor da varinha de condão! Tem que subir no
54 M A R C E LO A L M E I DA

púlpito cheio de si dizendo: “Estou tendo uma


visão... Espera aí um pouco... Estou vendo anjos
ao lado daquela senhora ali da segunda fileira!
Ahhhhh, o poder de Deus está aqui”. Espera lá, mas
não dorme nunca, fica ligadão assim o tempo todo?
A unção de Deus não funciona assim, meus
irmãos. Há líderes que pegam carona nessa
idealização popular e fazem o maior “show” no
palco, mas ninguém os conhece de verdade. É bom
perguntar e saber: onde está a família desse pastor?
Cadê a esposa dele? Onde eles vivem? Como
vivem? A quem ele presta contas e a qual autoridade
ele está submetido? Fora disso, você se abre para os
piores abacaxis e depois não reclame, porque você
navegou na “maionese das expectativas”. Vai se
frustrar muito quando descobrir o real caráter e o
real testemunho de quem idealizou tanto.
Olhe para os profetas na Bíblia, olhe para Davi.
A unção tem um propósito, ela se manifesta para
um propósito. Há pessoas que vêem a unção de
modo errado. Você pode andar no Espírito, ser
guiado e conduzido pelo Senhor, mas não fluirá nos
dons espirituais por vinte e quatro horas a cada dia.
Há gente que idealiza todo mundo e sobra até para
o líder de célula: “Ah, eu não vou naquela célula,
não. Não acontece nada lá!”. Coitado do seu líder!
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 55

Difícil liderar você, hein? Isso é uma “maldição”!


Sabe por quê? Porque toda expectativa e cobrança
que o outro tem que ser em relação a você, toda
cobrança do que ele tem que fazer, toda cobrança
do que ele tem que falar, do que ele tem que dar
para você, nasce no seu ego. Isso mesmo! Quem
projeta expectativas altas no outro é porque está no
centro querendo reger tudo o que o cerca a partir de
seu pequeno trono egoísta.
Há alguns que não movem uma palha sequer
e cobram avivamento na célula. Gente que nunca
jejua, nunca ora, nunca se envolve, nunca tem
compromisso, a não ser com suas cobranças
injustas. Vai acabar sozinho, é maldito! Por Deus?
Não! Pelas próprias expectativas! O avivamento
não é a realidade dele, mas ele se põe na posição de
cobrar aquele peso de mover de Deus numa célula.
“Nunca vi nenhum morto ressuscitando”, você diz.
Então, por que você não começa a sua própria célula
para fazer morto ressuscitar? Faça a sua célula para
morto ressuscitar, dente de ouro aparecer, escada no
céu para anjo subir e descer! Faça isso. Por que você
não faz? É tão fácil colocar uma expectativa pesada
sobre os ombros dos outros.
A maldição das expectativas
prende você a alguém

Presumir é pôr expectativas em alguém ou algo.


Seja seu cônjuge, amigo, pastor, parente ou líder, se
você projeta sobre essa pessoa as suas expectativas
de comportamento ou desempenho, você se
torna prisioneiro dessa pessoa. A tendência será
você tratá-la como se ela estivesse também presa
a você, como se lhe devesse algo.
Mesmo inconscientemente ou não, pessoas
presas a outras se relacionam na base de cobranças
e suposições, colocando expectativas a respeito
uma da outra. A consequência dessa presunção
será o erro, pois quem presume não tem garantia
alguma de que aquilo presumido se cumprirá e
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 57

acaba prendendo as pessoas pela expectativa e


pelas cobranças, vivendo em um terrível cativeiro.
Agora, veja bem, há uma maldição quando
se cria expectativas para alguém ser, fazer, falar
ou dar. Na verdade criam-se gaiolas, os grilhões
da prisão. Há gente doente que aceita entrar na
prisão da expectativa do outro e, assim, forma-
se uma simbiose: um precisa do outro nesse
relacionamento insano. “Eu entro na sua prisão se
você me alimentar e comprar tudo o que preciso
pra viver”. Há homens em gaiolas de mulheres
e há mulheres em gaiolas de certos homens. Há
líderes na gaiola de certas pessoas e há pessoas na
gaiola de certos líderes, porque se presumiu algo
a respeito deles.
Maldição, a doença
dos loucos

Conhece alguém que sempre mantém uma


expressão desagradável, que nunca muda, como
se nada o satisfizesse? Esse comportamento
aborrecedor, a “cara amarrada”, nos faz sentir
culpados por algo que nem ao menos sabemos
o que é. Já viu isso em algum lugar? Aqueles
que projetam culpa nas pessoas não as aceitam,
mesmo que essas se esforcem ao máximo para
agradá-las.
Alguns liderados simplesmente decidem se
opor a qualquer direção da liderança porque
projetaram a culpa nela. São como Che Guevara:
“Se há um governo, eu sou a oposição”! Uma
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 59

atitude insana! Opõe-se a tudo, sempre estão “no


contra”, querem marcar posição o tempo todo
e são um fator de desagregação da equipe. Esse
sujeito está doente. A doença dele é “a maldição
das expectativas”.
Conheço uma pessoa assim. É alguém super
dotado, inteligente, capaz, bom caráter, mas não
pode participar de equipe alguma. Ele tem que
tocar o próprio solo e fazer a orquestra parar. Não
consegue agregar, cooperar, servir. Se você deixar
essa pessoa fazer algo por você, estará em apuros:
ele vai lhe cobrar caríssimo o que fez e falar até o
dia do Juízo Final o quanto você é injusto.
Já vesti essa roupa no passado, tentando abrir
caminhos e arranjando empregos. Cuidar de
gente assim, não compensa. Eles nos drenam,
esgotam, saqueiam até o final. Invista em filhos e
filhas espirituais e saiba ter uma intuição apurada
para pessoas que vivem na base errada das
expectativas doentias. E caso falem mal de você,
o que é possível, e daí?
Há quem diga: “Eu estou com um discipu­
lador, mas não gosto dele”. Essas pessoas vão para a
reunião do discipulado com uma péssima atitude.
Chegam “com o bico comprido” e ficam lá com
60 M A R C E LO A L M E I DA

aquela cara de quem está onde não queria estar,


fazendo o que não queria fazer, conversando o
que não queria conversar. Gente assim destrói as
reuniões mais inspiradas e acabam com a unção
mais sublime.
Quem tem esse comportamento doentio,
não pode participar de equipe alguma! Alguém
assim pesará a reunião, trará incredulidade,
contaminará outras mentes fracas com a sua
péssima atitude. É fundamental que antes de
receber qualquer função, posição de autoridade
ou até a possibilidade de participar de uma
equipe, essa pessoa mude definitivamente
de atitude. É necessário testar se a mudança
aconteceu mesmo, para não contaminar toda a
obra que está edificando.
Por que essas atitudes são doentes? Porque
haverá comparações e cobranças que nunca serão
resolvidas. Jamais conseguiremos nos ajustar aos
altíssimos padrões exigidos. Jamais atingiremos
o nível elevado das cobranças. Na realidade, o
que somos de verdade, em carne e osso, nunca
será aceito por esse comportamento doentio. No
coração de quem cobra, deveríamos ser o que não
somos e jamais conseguiremos ser.
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 61

Apesar do discipulador dar o máximo de si,


orando e jejuando por ele, seu pensamento está
sempre em outro discipulador ou líder. “Eu estou
insatisfeito porque eu queria estar com o fulano
em vez desse sicrano sem unção e sem liderança”.
Seus comentários são sempre engrandecendo a
outra igreja, o outro pastor ou líder. Na verdade,
essa pessoa nunca se envolveu de fato, mas tem
a necessidade constante de injetar seu veneno de
cobranças!
É algo terrível um relacionamento com
alguém que faz expectativas e projeta ao outro
um tipo de personalidade que não é a dele. Há
quem projete um tipo de liderança, de unção,
de prática, de vida, de milagre, de coisa a dizer
e a fazer. Por mais que você tente, tente, tente e
tente, jamais conseguirá mudar a cara de “nota
promissória” que pessoas assim lhe fazem. Elas
talvez não se lembrem que quando estavam com
o outro líder, ele também não fazia o suficiente
para agradá-las.
Um relacionamento assim só pode ficar doente,
insano e pesado. Um com cara de cobrança, de
desacordo e censura e o outro com cara de alface,
sem saber o que fez de errado. Um resmungando
constantemente e o outro querendo agradar com
62 M A R C E LO A L M E I DA

a mesma intensidade que é rejeitado. Você traz


sorvete de morango, o outro resmunga. Traz
sorvete de jaca com coalhada, para ver se agrada, o
outro continua resmungando. Até que finalmente
você “chuta o pau da barraca” e manda o sujeito
“catar coquinho”, porque não há o que fazer.
Tudo está contaminado e doente. O
relacionamento está enfermo e as vias estão
entupidas de tanta prisão e maldição. A saída
possível é orar para que o Senhor, pelo Espírito
Santo, traga revelação a alguém assim. Não
adianta falar. Tal figura nunca fará a leitura que
você faz. Alguém assim não enxerga a realidade e
faz o papel de vítima do mundo. Somente Deus
pode fazer alguma coisa. Sem a revelação do
Senhor, se você tentar “fazer a pessoa enxergar”
a realidade, simplesmente se tornará sua inimiga,
ela se voltará contra você.
Segundo as Escrituras, alguém assim vai ficar
solitário, sozinho, cuidando dos passarinhos
e dando milho para o papagaio. “Ah, parente
morde a gente”, depois tais pessoas concluem. Mas
são incapazes de ver como seu comportamento
doente só exige, cobra, suga, retira, critica, trata
mal, e é sempre ingrato e desonroso. É natural
que todos se afastem. Não porque não o amem,
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 63

mas porque é mais seguro, sofre-se menos.


Tais pessoas doentias dizem: “O melhor
amigo do homem é o cão! Não dá para andar
com pessoas, por isso eu tenho nove cães”. É
típico. Estão lá os cães e ele. Por quê? Porque cães
não falam, não questionam, ficam lá só lambendo
seu pé. É mais conveniente ter sete gatos ou
quinze cães. Boa desculpa para a inabilidade de
se relacionar de fato. Pura fuga. Está maldito!
Não foi Deus quem o amaldiçoou, ele que não
aprendeu a liberar as pessoas. Não aprendeu a
desistir das expectativas postas no homem. Não
aprendeu a não se estribar, a não jogar o peso de
cobrança sobre a vida das pessoas.
Assim, a maldição das expectativas é uma
doença emocional. Alguém assim nunca relaxa.
Não conhece coisas gostosas como rir ao redor
da mesa no almoço em família, gargalhar na
praia, brincar, ser livre e espontâneo, aceitar as
aproximações e as abordagens dos outros sem
esperar nada. Não sabe o que é corresponder
às brincadeiras com pureza sem levantar
defesas. Sem ficar inseguro, com medo de ser
desrespeitado, rejeitado, pisado ou de perder
a posição. Não há nada que cura alguém assim
além do Senhor!
A frustração da solidão

Deserto e sequidão é a vida de pessoas adoecidas


pelas expectativas. A Bíblia diz:

Porque será como o arbusto solitário no


deserto e não verá quando vier o bem;
antes, morará nos lugares secos do deserto,
na terra salgada, inabitável. ( Jeremias
17:6)

Não há quem consiga estar com alguém


que só exige dos outros o tempo todo. É a
maldição da frustração e da solidão. Alguém
assim se frustrará por todas as igrejas por
onde passar, porque colocou expectativas em
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 65

homens. Por acreditar que aquele pastor famoso,


reconhecido, inteligente e bom pregador iria
resolver todos os seus problemas financeiros, de
seu casamento doentio e as questões emocionais
mais incrustadas em sua alma infeliz, e isso não
acontece, ele se frustra e procura outra igreja.
E continua criando expectativas, tornando-se
uma libélula, ou melhor, um crente libélula, que
não consegue ter aliança em lugar algum e com
ninguém. Alguém assim só colhe solidão.
O texto de Jeremias citado na página anterior
diz que lugar salgado e inabitável é o lugar onde
vivem aqueles que colocaram a expectativa
em homens. Porque eles se frustraram
sistematicamente vez após vez, até desistir e cair
no pior pântano de incredulidade, assim será o
lugar onde viverem. Isso afetará a vida conjugal
deles e, com o cônjuge, construirão a própria
dinâmica de uma família e um ambiente doentes.
Cada família tem a sua própria dinâmica e as suas
próprias doenças. Daí chega até os filhos.
Enquanto só existem criancinhas pequenas,
beijoqueiras e dependentes, está tudo muito
bem, lindo e maravilhoso; até vir a adolescência.
Aqui começam os problemas, porque o casal
gera expectativas também sobre os filhos. Tais
66 M A R C E LO A L M E I DA

expectativas, normalmente, estão relacionadas


com a carência e insegurança dos pais. A maior
parte é egoísta. Os filhos devem continuar ao
nosso redor, precisando de nós, nos beijando,
agradecendo e paparicando o tempo todo.
É terrível para os pais notar de modo maduro
e adulto que os filhos cresceram e não precisam
mais deles. Suas crianças amadureceram,
avançaram e agora estão em busca das próprias
experiências. É difícil se contentar com um amor
de filhos que se expressa somente por gratidão e
respeito. Cobramos e queremos mais. Muitos
relacionamentos entre pais e filhos acabam,
porque os pais querem receber mais do que seus
filhos estão dispostos a dar. Se eles são normais e
maduros, será normal saírem de casa um dia.
Contudo, não é fácil enfrentar isso com
maturidade. Como pais, queremos estar sempre
presentes, queremos ser “onipresentes”, estar em
todos os lugares com eles e saber de tudo deles: isso
é maldição das expectativas! Isso fará você esticar
a corda da tolerância de seus filhos até o limite e,
então, ela romperá. Eles se afastarão, passarão a lhe
evitar e, caso insista, eles poderão até lhe rejeitar.
Talvez você pense: “Quanta injustiça! Depois de
tudo o que eu fiz por eles”. Não importa a sua dor
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 67

ou amargura, o errado da cena é você! Perdemos


tudo aquilo que retemos, mas ganhamos tudo
aquilo que liberamos. A maldição das expectativas
é a porta para a solidão e para a frustração.
Quando eu era criança, em certa ocasião,
estudei muito para uma prova difícil que eu
deveria fazer. Como resultado, um teste que quase
toda a minha classe tirou notas baixas, eu tive uma
das melhores notas. Mas aquilo era um “oito”. Por
causa do significado para mim, fui mostrar ao meu
pai aquela beleza de nota que me custou tanto.
Ele olhou de lado e disse: “Por que não tirou um
dez”? Deu vontade de fazê-lo comer aquela prova.
Nunca mais em minha vida eu falei coisa alguma
da minha vida estudantil a ele.
Naquele dia meu pai me perdeu naquela área.
Sabe de uma coisa, todos nós temos a tendência
natural de nos proteger fugindo das expectativas
que os outros colocam sobre nós. Por quê? Porque
é terrível ser aceito, amado e aprovado com base
no desempenho que os outros traçaram para nós.
É terrível ser medido e valer aquilo que fazemos e
como nos comportamos.
Há cobranças sem propósito que só jogam os
filhos para baixo. O filho tem que ser o melhor
68 M A R C E LO A L M E I DA

da escola, passar no vestibular para Medicina da


universidade mais concorrida do país, ter seu
quarto sempre arrumadinho, andar sempre com
roupa passadinha, cumprir todos os horários,
nunca falar o que não deve, estar sempre entre
os melhores etc., etc., etc. Eu não quero estar por
perto quando esse seu filho chegar ao limite e
desistir de tudo, fazendo exatamente o contrário
do que seus pais designaram para ele viver, ser e
fazer. É comum filhos agredindo os pais só para
marcar posição contrária. Eu sei como tudo isso
começou: a maldição das expectativas!
Soube de uma situação difícil que certos
pastores, a quem respeito no mais alto grau,
passaram. Eles, em certa ocasião, ouviram do
filho: “Esse seu Deus é duro demais para mim;
essa sua religião é para gente perfeita. Deus que
me livre desse seu Deus perfeccionista. Eu não
posso espirrar porque é pecado; não posso rir do
jeito que me dá vontade porque é pecado, não
posso brincar, nunca posso ser o que eu sou!”.
Note bem, a frustração tem a ver com projetar
coisas que os outros são obrigados a fazer, o que
os outros devem ser e dizer.
A consequência dessa projeção é frustração e
solidão. O sujeito largou o primeiro casamento
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 69

e vem dizendo: “Ah, pastor, é porque não dava


certo”. A seguir, dois anos depois, casado com
a segunda mulher, o mesmo problema. O
problema não está nelas, no segundo, terceiro
ou quinto cônjuge, mas nele. Ninguém
consegue cumprir essas expectativas tão altas,
de espiritualidade, de cultura, de caráter, de
desempenho e de fazer as coisas da forma que
o outro quer. Não é o que as pessoas fazem que
esteja errado. Muitas vezes é apenas diferente
do que aquilo que é cobrado.
Nessa linha de atitudes doentias de
expectativas, se não marchar do jeito que toca a
sua música, ao seu gosto, não serve para ser seu
amigo. Pessoas assim acabam sozinhas! Pense
em todas as amizades descartadas por você,
pessoas que Deus pôs ao longo do seu caminho
para lhe abençoar. “Porque o fulano falava
errado, pastor”. Uai, mas e daí? É “craro” que fala
errado, qual o problema disso? “Ele era brega e
não tinha cultura, pastor. Ele colocava ‘frôr’ de
‘prástico’ com vaca de gesso em riba da geladeira
azul”. E daí se é brega? Qual que é o “pobrema”?
O que tem de gente cheia do Espírito Santo e
que gosta de “frôr” de “prástico”. Qual que é o
“pobrema”? Não tem problema.
70 M A R C E LO A L M E I DA

Talvez seu caso seja na via inversa. Você se julga


humilde e simples e rejeita pessoas sofisticadas e
elegantes. Qual o problema em ser “madame”
demais, é o jeito dela, e daí? Ela vem de um
contexto socioeconômico que não é o seu. “Pode?”.
Claro que pode! Qual é o problema? O inseguro
é você que não consegue lidar com pessoas que
têm mais dinheiro, que viajaram pelo mundo e
conheceram outras culturas, que falam outras
línguas, enquanto você mal domina o “brasileiro”.
Ou talvez, simplesmente por ter o dinheiro que
você nunca teve, uma insegurança lhe faz acreditar
que não seja possível um relacionamento saudável
entre vocês. Qual o problema de ter estudado não
sei onde? E daí? É uma pessoa como você e que
tem as mesmas necessidades básicas como as suas.
Pare de lançar expectativas e julgar as pessoas com
base nessas expectativas.
Se não cortar pela raiz esse comportamento
de expectativas projetadas nos outros, rejeitando
quem não se encaixa, acabará sozinho. Você se
frustrará com seu cônjuge, com o seu discipulador,
com o seu líder, seu pastor, comigo, com o seu
chefe e colegas. Essa é uma maldição que trará um
gosto amargo e cobrará muito caro de você no
futuro.
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 71

Eu já vi várias igrejas sangrarem perdendo


gente, até perder todos os líderes que tinham. Em
uma delas, as expectativas pesadas de desempenho
vinham do pastor sênior para os pastores
auxiliares, e vice-versa. Esse comportamento
generalizado ditava a atmosfera onde todos
cobravam de todos, eram insatisfeitos com todos
e viviam magoados com todos. Você pode matar
uma vaca querendo tirar vinte litros de leite dela,
ainda assim não conseguirá, se a capacidade da
pobrezinha for só dez litros.
Igrejas que mantém essa atmosfera nociva
e envenenada das expectativas se dividem.
Líderes que não cortam esse comportamento
doentio pela raiz acabam absolutamente
sozinhos, amargurados e frustrados. Conheço
casos em que, de tanto se frustrar, certo pastor
empossou o filho natural como seu sucessor na
igreja. Ele já tinha sido tão ferido por pessoas
que passaram por sua vida, que não desejava
correr mais riscos. Feriu-se porque jamais
identificou tal comportamento nocivo. Jamais
ensinou isso. Não moldou seus liderados para
um comportamento de liberdade e saúde.
Não ensinou e hoje está colhendo. Desconfia
de todos, só espera o mal de qualquer pessoa
72 M A R C E LO A L M E I DA

próxima e as muralhas emocionais são muito


altas ao redor dele. É triste porque não está
relacionado ao diabo, mas nossa ignorância
e dureza fizeram isso. O diabo só pega carona
para dançar, pintar e bordar nisso tudo.
A maldição da dívida
que nunca se paga

Outra consequência nefasta que a maldição das


expectativas traz é gerar no coração de quem
as cultiva um senso de dívida sobre as outras
pessoas. Como os outros não correspondem à sua
insanidade, tornam-se devedoras eternas. “Há
dois anos que eu não falo com tal pessoa”, alguns
dizem. Contudo, se perguntarmos o porquê,
certamente a resposta será porque ela não fez,
não deu, não falou, não foi, não correspondeu com
alguma coisa que você esperava muito. Como
se não houvesse uma dívida não paga por aqui.
Talvez, tal pessoa não entenda claramente que
lhe deve, mas em sua cabeça é outra coisa. As
Escrituras mostram que quem tem mais luz tem
74 M A R C E LO A L M E I DA

mais responsabilidade. Quem tem mais luz e


percepção sábia das circunstâncias é quem cede
primeiro.
Quando se chega nesse nível de cobranças e
mágoas, acabou tudo. Não há mais relacionamento,
diálogo ou comunhão. Ninguém conversa mais.
Experimentamos isso em casa quando o clima está
pesado, há uma dívida no ar e ninguém conversa
com ninguém. Os pais esperam uma gratidão e
uma atitude amorosa dos filhos, que por sua vez
não correspondem a isso. Os pais magoados, por
suas expectativas frustradas, se calam em relação
aos filhos. Os filhos, enxergando apenas as suas
próprias necessidades, esperando uma atitude de
apoio que não vem, se ressentem e rejeitam os
pais em seu coração.
O abismo se torna cada vez maior. O silêncio
é mortal, constrangedor e desagradável. Isso
forma um turbilhão destruidor que devasta o que
havia de mais belo, nobre e aconchegante. Não
há mais relacionamentos livres, vulneráveis e
afetuosos. Ninguém tem mais acesso ao coração
de ninguém.
Você já visitou uma casa assim? Onde todos
cobram de todos e estão ressentidos com todos?
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 75

Já olhou nos olhos de alguém que cobra de você


algo que não sabe o que deve? A comunhão
limpa, gostosa e fluente é perdida. Eu não tenho
mais acesso ao espírito da pessoa, a pessoa não
tem mais acesso ao meu espírito; não é aquela
amizade desarmada, gostosa e alegre, como
você tem com uma criança de cinco anos.
Aquele relacionamento desarmado, sem nada
preestabelecido ou predeterminado, devido às
cobranças preestabelecidas, foi perdido.
Relacionamentos intoxicados com
expectativas frustradas e cobranças de parte
a parte não fluem, pois assim que a dívida é
estabelecida, o relacionamento se quebra. Talvez
vocês nunca brigaram, nunca disseram coisas
ofensivas um ao outro. Mas o relacionamento
está quebrado por conta da dívida projetada. O
que o outro deveria fazer, dizer, dar e ser.
Sejamos sinceros: não cobre de alguém ser
uma coisa que ele não é! Não cobre que ele diga,
faça ou dê o que ele não sabe dizer, não tem como
fazer ou não concorde em dar. Além de não
conseguir corresponder a tudo aquilo que você
espera, a unção de Deus será impedida de fluir.
Pois, quando o coração se fecha, a unção acaba.
76 M A R C E LO A L M E I DA

Como isso é importante! Quando o coração


fecha, a unção se afasta, acaba. É por isso que,
antes dele se fechar em seus relacionamentos, que
eram de muita proximidade com aquela pessoa,
havia vida e graça de Deus presentes. Aquela
pessoa era usada por Deus em sua vida. Agora,
depois que você começou a conviver muito de
perto e passou a criar expectativas altas demais, a
projetar comportamentos e coisas muito altas, a
unção foi embora. Antes, a sua fé estava em Deus,
agora, você espera do homem.
Por que a unção não é mais percebida? Porque
seu coração fechou-se em função de frustrações,
decepções e cobranças. O coração se fechou, se
frustrou, então a dívida foi projetada. Você está
experimentando a maldição dos relacionamentos
quebrados.
As pessoas que convivem com você são livres?
“Ah pastor, e quando a expectativa é legítima,
quando Deus manda a gente ensinar e disciplinar
um líder, um filho, ou conversar claramente no
relacionamento conjugal?”, alguém pergunta.
Aí a questão não tem a ver com expectativa. É
preciso conversar sobre os papéis claramente
designados para cada parte.
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 77

Conversem, e se vocês perceberem expectativas


erradas frustrando ou contaminando a conversa,
esvaziem o saco e a seguir tratem objetivamente
de tudo. Entrem em um acordo claro, no qual
cada parte concorde e se sinta confortável. Ouça
o que o outro tem a dizer. Quando as expectativas
são expostas, quando conversamos e as coisas são
trazidas à luz, podemos avaliar o que é realista e
o que não é.
A maldição das expectativas e a
formação de Judas Iscariotes

O Senhor Jesus jejuou quarenta dias antes de


escolher os apóstolos, aqueles discípulos mais
íntimos que teriam o privilégio de passar por
um tratamento de imersão no discipulado com o
próprio Filho de Deus. Após aquele jejum super
intenso, Ele começa a chamar para mais perto
dezenas de discípulos. A seguir, em Lucas 5 e
6, Jesus dá um passo a mais. Tratava-se de uma
estirpe de gente fiel, comprometida, presente e
disposta a tudo.
Lá com eles estava Judas Iscariotes. Lá estavam
pessoas que pagavam um preço alto para seguir
a Jesus. Gente que não se importava em ser
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 79

perseguida, em ser rejeitada pelos fariseus, pelo


sistema do mundo. Judas Iscariotes estava no
meio desses, dessa primeira leva. Mais de uma
centena de discípulos.
Jesus então separa uma noite. Ele ora a noite
inteira. Daquele grande grupo de discípulos ele
escolhe doze dos melhores, que mais respondiam,
mais ensináveis, mais dispostos e fiéis. Ele
escolheu Judas Iscariotes. O rapaz passou por
um pente muito fino. O que desqualificou esse
discípulo afinal de contas? Certamente não foi
a falta de espiritualidade, pois ele a tinha. Se não
fora assim, Jesus não o chamaria.
Judas era trabalhador, dava duro e estava
em todas. Você não o vê escapando ou fugindo
do trabalho. Deduzimos que era uma pessoa
focada e disciplinada. Ele estava em todas as
viagens de Jesus. Ele obedecia a Jesus em tudo
o que era estabelecido. “Vamos para Belém,
vamos para a Galiléia”, lá estava o moço. Ele ia
junto de Jesus e participou de tudo, comeu da
mesma comida, viajou para os mesmos lugares
e suportou as mesmas pressões. Muitas vezes
ao relento, desconfortáveis, trabalho estafante
com multidões e nenhuma recompensa, a não
ser a proximidade com o Senhor. Ele pagou um
80 M A R C E LO A L M E I DA

preço alto, era liderável, respondia às iniciativas


de Jesus, estava tão presente como os demais
apóstolos.
Onde está o problema de Judas? De alguma
forma ele foi rejeitado por Jesus, preterido,
injustiçado? Não, nunca! Até o final Jesus o
recebe sem restrição alguma: “A que vieste,
amigo?”, assim o Senhor o recebe no momento
que é entregue com um beijo. A construção do
traidor teve início quando as expectativas de
Judas Iscariotes começaram a divergir de quem
Jesus realmente era. Quando ele idealizou o que
Jesus deveria fazer e como Ele deveria agir e foi
contrariado sistematicamente, começaram seus
problemas.
As expectativas destruíram Judas. Quando
ele passou a manipular seu líder em seu coração,
esperando que Ele aplicasse outros métodos
que não aqueles, ele perdeu Jesus. Quando se
frustrou generalizadamente com aquele Messias
“fraco”, que abdicava da força, quando a tradição
de Israel fora sempre de se sublevar contra os
inimigos, já não havia mais afinidade com o
Senhor. Agora, lá estava um homem manso,
doce e humilde demais para o gosto de Judas.
Ele concluiu acertadamente que não haveria
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 81

libertação nenhuma dos romanos. A revolução


de Jesus era outra. Diferente daquela que Judas
esperava e para a qual estava disposto a matar e a
morrer.
Estudiosos dizem que a palavra “Iscariotes”
vem do termo “Sicários”, que era um grupo
terrorista que pregava o levante contra a
dominação romana. Na expectativa de Judas, Jesus
deveria ser outra pessoa. Ele quis que o Senhor
fizesse tudo diferente, esperava uma pregação
diferente daquela de paz, amor, perdão e flores.
As expectativas destruíram Judas, encheram
seu coração de cobranças e críticas, levaram-
no a rejeitar Jesus em seu coração. Aquelas
expectativas conduziram Judas a um balanço dos
três anos com Jesus como um grande desperdício.
O homem se encheu de ressentimento, mágoa e
cobranças descabidas e dirigidas a Jesus. Para se
encaixar na insanidade de Judas, Jesus deveria
simplesmente ser outra pessoa, ter outros valores
e aplicar outros métodos.
Às vezes estamos rodeados de Judas e tentamos
fazer as pazes com eles. Tentamos agradar a todos
nos tornando verdadeiros camaleões espirituais.
É por isso que algumas denominações que
conheço estão mortas. O que se aplica ali é o
82 M A R C E LO A L M E I DA

mais sórdido comportamento político. Todos os


movimentos são calculados para não se perder
influência e poder. Cede-se aqui para ganhar-
se ali. Jesus nunca aceitou “vestir a roupa de
libertador” ao modelo que Judas costurou. Foi
preciso perder Judas. Mas nós, diferente de Jesus,
queremos estar bem com todo mundo e, ao final,
nossa equipe não é mais um time de homens
de Deus, tornou-se um covil de bestas feras a
devorarem-se umas às outras.
Judas se tornou um oprimido, um mudo
ressentido, que guardava seus descontentamentos
efervescentes só para si mesmo. Os “Judas” ao
redor de nós têm esse comportamento exato. Vão
adoecendo por dentro, e, como já desistiram de
nós, não têm mais ânimo de abrir suas questões a
fim de se curarem. Espere ser vendido bem barato
por gente assim.
O que Judas tinha eram apenas expectativas
nunca declaradas e expostas. Ele nunca vomitou
suas questões e conflitos a Jesus. Se ele o fizera, o
Senhor com certeza corrigiria essa compreensão
errada dele. Foi morrendo e matando Jesus por
dentro até ficar oprimido pelo diabo e ser capaz
de entregar o próprio Rabi, a quem servira antes
com tanta dedicação. Certamente Judas amou
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 83

muito a Jesus, mas em certo momento, o Senhor


já não era mais admirado, tornara-se descartável.
Ele poderia pensar: “O que estou fazendo da
minha vida? Estou andando com esse homem
e perdi três anos”. Jesus não era mais referencial
de nada e nem mesmo fonte de inspiração e
propósito. Imagino que dissesse para si mesmo:
“Esse negócio aqui é muito mole; eu quero ver é
sangue, eu quero ver uma revolução que resulte
numa transformação visível. Essa coisa toda de
muita espiritualidade não é para mim. Quero
ver um Messias tomando Jerusalém montado em
um cavalo branco e conduzindo um exército de
libertação pelas armas. Quero ver César comendo
quiabo de quatro!”.
Se não foram essas exatamente as expectativas
dele, não importa. Importa que realmente
Jesus não era mais quem ele esperava que fosse
e fizesse. Jesus não era mais o referencial. Por
quê? Expectativas! É assim ainda hoje. Você
deve aplicar desinfetante em suas relações. Eu
pergunto: Como é o seu relacionamento com
o seu líder? Em sua equipe, onde você é líder?
E na equipe onde você é o liderado? Como é a
saúde dos relacionamentos? É totalmente sua
a responsabilidade de permitir ou não que esse
84 M A R C E LO A L M E I DA

relacionamento ruim e insano permaneça. Há


até quem o cultive. É sua a responsabilidade se
permitir que quem caminha consigo se estribe e
dependa de você fazendo expectativas cada vez
maiores. Há até quem estimule isso. A queda será
desastrosa.
Jesus percebera o problema de Judas bem
antes da páscoa. Em uma cena comovente, a
Escritura comenta as atitudes finais de Judas, que
não foram percebidas nos primeiros três anos: o
comentário que ele faz ao ver o vaso de alabastro
derramado sobre Jesus. O Senhor disse: “Ela me
unge e prepara para a minha morte”. Mas Judas
comenta essa atitude: “Que desperdício! Devia-
se guardar o dinheiro para dar aos pobres”. Jesus
já não tinha mais o amor e a adoração de Judas.
O Senhor já era comparável e medido por valores
monetários.
É nossa também a responsabilidade por
permitir na equipe de discípulos quem não está
qualificado. Nunca podemos edificar uma equipe
que cresce em intimidade e proximidade se no
meio dela há alguém intoxicado com cobranças e
expectativas frustradas. É como água e óleo, não se
misturam. Mais que ser alguém responsável, para
caminhar nesse nível com você, é necessário que
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 85

seu discípulo lhe reconheça, esteja sedento por


receber de Deus através da sua vida e ministério.
É preciso desejar estar junto e querer ter em Deus
o que você tem, alcançar o que você alcançou.
Sem essa abertura para receber de você, a relação
será estritamente profissional e não há garantias
de que o comportamento responsável do início
do processo não se contamine com expectativas
que vão se agregando no processo.
Eu vou lhe ensinar como identificar um
líder divisivo e contaminado por expectativas
frustradas. Primeiro, ele trabalha para si
somente. O coração dele não está no projeto
da igreja ou do líder acima dele, mas no que
ele mesmo está edificando e fazendo para si
mesmo. Para isso ele está sempre motivado,
mas quando é algo da Igreja, de toda a equipe,
ele logo se mostra desmotivado. Essa pessoa
divisiva é mestre em criar obstáculos para tudo
o que é maior do que aquilo que ela mesma está
fazendo. Será incapaz de expressar por palavras
e por gestos espontâneos amor, admiração e
honra pelos líderes acima dele.
Ao falar em público, esse líder cita referências
direta ou indiretamente a si mesmo. Faz isso
sempre, os exemplos que cita, as experiências
86 M A R C E LO A L M E I DA

que menciona nunca de sua liderança, apenas


dele. É capaz de falar de outros líderes em outras
organizações, mas nunca os da equipe acima
dele. Não é capaz de levantar outros e de fazer
seus liderados amarem aqueles que o lideram.
Sente a necessidade de capturar o coração de
quem caminha com ele só para si mesmo. Ele
trabalha de perto com as pessoas sobre as quais é
responsável. Faz um bom trabalho ligando essas
pessoas a si mesmo, cuidando delas, dando-
lhes atenção pastoral, mas, em contraste, nunca
honra e reafirma o amor pelo seu líder.
Aos poucos, ele “rouba” o coração das pessoas.
Faz o que fez Absalão com os súditos de Davi,
que não eram recebidos pelo rei. Dependendo
da discrição e da posição que tal líder ocupa,
começa a ter liberdade em fazer comentários
negativos sobre o líder. Coloca-se na posição de
avaliar o líder e assim, se torna juiz sobre este.
Esse “Judas” avalia as decisões, o estilo, as
ênfases, o ensino e sua liderança. Será mordaz
e ferino ao identificar falhas e debilidades de
sua autoridade. Com crise ou sem ela, mais
cedo ou mais tarde tal pessoa romperá com sua
liderança e provocará uma ferida no Corpo da
Igreja. Mas os sinais de longe já eram emitidos e
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 87

ninguém notou. Um Judas cheio de expectativas


frustradas se formava debaixo de nosso bigode.
Não aceite ter por perto líderes que não
honrem e respeitem você, que não demonstrem
isso por reconhecimento e afetuosidade.
Não me refiro nem de longe àquele espírito
de bajulação. Esse é outro problema. Saiba
diferenciar um discípulo sincero de um
adulador. Caro discipulador, não aceite andar
com líder de célula que não te honre, que não o
respeite e reconheça devidamente.
Se for preciso, diga: “Olha querido, realmente
não dá para a gente caminhar junto. Como
discipulador, como líder de célula, você vai
caminhar com o ‘fulano’ ou com o ‘sicrano’, mas
não dá para caminhar comigo, porque você está
cobrando de mim coisas que eu não tenho para
lhe dar. Se você não me aceita do jeito que eu
sou não vai ter unção em nosso relacionamento.
Preciso ser franco: está pesado andar com
você. Eu sempre preciso ser o que não sou.
Você espera de mim ser melhor adorador que
o Marcos Witt e um líder melhor que o John
Maxwell. Tenho que ter sempre mais unção
que um Evan Roberts. Não dá! Eu sou só um
homem falho que precisa da Graça. Não sou o
88 M A R C E LO A L M E I DA

exímio ‘herói-valente-sempre-forte-poderoso-
seguro-apóstolo’ que você espera que eu seja!”.
As pessoas que caminham com você são
livres? Se nós queremos edificar uma obra
sólida, se você quer ter uma equipe sólida,
resolva isso, levante essas questões, aplique
isso. Se você está vivendo essa realidade com os
seus filhos, esvazie suas expectativas. Dentro da
liderança, no casamento, como são coisas muito
íntimas, isso deve ser totalmente exposto. Você
tem relacionamentos quebrados por conta
da maldição de expectativas no homem? Já se
frustrou e talvez já paralisou anos da caminhada
com desilusão, tristeza e desencorajamento?
Livre-se disso. Saia fora do caminho que moldou
a trajetória e o final infeliz de Judas Iscariotes.
Eu não agi corretamente no passado, pois
criei imensas expectativas para meus amigos,
pais e pastores se encaixarem nelas. De fato,
nunca fui ensinado a identificar isso e a praticar
algo diferente. Eu era implacável com as minhas
cobranças, mas o doente era eu.
Coitado do meu pai, pois projetava
sobre ele cobranças altíssimas e o rejeitava
sistematicamente em meu coração. Qualquer
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 89

coisa que ele fizesse não estava bom. Nenhuma


única iniciativa era aceita ou elogiada com
gratidão e amor. Eu era aquele adolescente
murmurador, com aquela cara amarrada de
cobrança e cheio de crítica.
Nada do que meu pai fizesse, nenhum
projeto, nenhum passeio, nenhuma brincadeira,
nenhuma viagem das férias, nenhuma
iniciativa, nada era aprovado. Era totalmente
refratário com o meu pai e com as defesas todas
levantadas. Como deve ter sido difícil ser pai
daquele adolescente amargurado com cara de
quem comeu e não gostou, aquela encrenca de
duas pernas que eu fui.
Demorou para eu perceber, que não
importando a falhas que meu pai tivera antes de
se converter a Cristo, eu precisava processar todas
aquelas cobranças. Muitas delas eram legítimas:
uma presença paterna que nunca existiu, um
referencial firme próximo, encorajamento e
proteção. Mas, por outro lado, as expectativas
frustradas me levaram a reagir rejeitando tudo o
que vinha dele. Isso matou nosso relacionamento
e destruiu qualquer clima aconchegante que
poderíamos ter tido em casa. Era ruim estar em
casa, era ruim tê-lo por perto. Meu lar morreu!
90 M A R C E LO A L M E I DA

Como você é com seu pai, com sua mãe, seus


irmãos? Como trata seu pastor, seus líderes
próximos? Como trata sua sogra, sogro e
cunhados? O que esperava receber e nunca veio?
Processe isso. Não espere nada de ninguém. A
maioria das nossas cobranças é dirigida para
pessoas que simplesmente não têm luz, revelação
ou maturidade para dar o que esperamos. Sua
sogra, por exemplo, não vai ter a maturidade
que você quer que ela tenha. Seu cunhado,
que é enfermo emocionalmente, não vai ter a
maturidade que espera dele. É de você que uma
atitude boa e positiva deve proceder. É você
quem tem mais luz no Senhor, você deveria ser
mais amoroso, paciente e condescendente.
Expectativas e incredulidade

Alguém que entra por esse caminho da


maldição das expectativas na verdade decaiu da
graça de Deus tomando sobre si mesmo a tarefa
de se cuidar, tentando a todo custo descolar
alguma coisa aqui e outra acolá. A graça ficará
inoperante, pois a dependência não está mais
em Deus e sim, no homem. Os olhos e o coração
foram retirados do Senhor e colocados em
pessoas. Isso é gravíssimo, pois se desviou de
um caminhar espiritual, pela fé, para um andar
na carne e por vista. Simplesmente Deus fica
impedido de agir em favor de tais pessoas, pois
não há meio termo.
92 M A R C E LO A L M E I DA

Ou dependemos de Deus, ou dependemos


do homem. Ou Deus é a nossa fonte e força, ou
elas estão baseadas no suor e nos recursos que
encontramos nas mãos dos homens. Assim, não
haverá milagres, nem sobrenatural ou provisão
divina a caminho. Não experimentaremos o
poder ou a unção sublime do Senhor. Comeremos
apenas o que plantarmos e o que colhermos de
nosso penoso e duro trabalho.
Uma pessoa assim diz para Deus, não com
a boca, mas com as atitudes: “Como o Senhor
é incompetente para cuidar de mim, tomo eu
mesmo a iniciativa de fazê-lo, pois o Senhor não é
digno da minha confiança. Tu, Senhor, dizes que
és fiel, mas eu não creio assim. Por isso fico aqui,
colocando expectativas no homem e no que as
pessoas podem fazer por mim. Tu dizes que devo
entregar meu caminho a Ti, confiar em Ti e que
o mais farás ao meu favor. Não aceito nada disso
para mim. Assim, não entrego caminho algum
a Ti, não confio de modo algum em Ti e muito
menos espero que faças algo a meu favor. Por isso,
fico eu sempre por aqui tentando descolar uma
boquinha do homem e vivendo da mendicância
do que os outros a contragosto fazem por mim.
Peço, cobro, exijo e se não der certo, eu saqueio.
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Pois eu mesmo cuido de mim, não o Senhor”.


Isso lhe parece chocante, agressivo? Mas note
bem. Pelas ações de quem projeta expectativas
e idealizações no homem, é isso que praticam
mesmo sem dizer palavra!
Características de quem
faz expectativas

Alguém que anda preso nas expectativas tem


algumas características visíveis aos outros,
estampadas em seu comportamento do dia a dia
e nos seus relacionamentos. Alguém assim:

1. Contamina a família com a “conversa de


vítima”.
É sempre o mal amado, o mal compreendido
e o injustiçado da família. É um advogado de si
mesmo que não perde nunca a oportunidade de
desfiar a sua ladainha. Leva esse assunto a todo
mundo, mas especialmente àqueles parentes
mais próximos como filhos, cônjuge, cunhados e
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 95

sogros. Como essa parte da família não conhece


“toda a história”, é mais susceptível a “comprar”
os argumentos da “vítima-injustiçada-rejeitada”.
Esse tipo de conversa coloca parte da família a
favor e parte contra. É uma brecha para dividir e
afastar familiares.
Ao se comportar como a “vítima-rejeitada-
injustiçada”, a “mal compreendida” pessoa em
questão planta mais rejeição. Aquilo que era
somente uma impressão errada se torna realidade.
As pessoas passam a evitar quem assim vive.

2. Adora conversar para “desabafar” seu


abandono.
Sempre que tem alguém novo no pedaço
abrirá a boca para “se abrir”, “desabafar” algo.
Pois precisa muito de alguém para conversar.
O problema é que como isso é uma doença,
a pessoa em questão abre isso com pessoas
maduras, imaturas, com liderados, com novos
na fé, com dez, vinte, trinta pessoas e continua
se abrindo. Qualquer ouvido complacente serve
para compartilhar sua dor.
96 M A R C E LO A L M E I DA

3. Afasta-se das pessoas mais importantes


como punição por não corresponderem às suas
cobranças.
Alguém assim torna-se ressentido com aqueles
a quem atribui a culpa pela sua infelicidade e pela
falta de suporte e apoio. É incapaz de enxergar
o apoio e a oportunidade que sempre lhe foram
dados. Só valoriza o que, em sua opinião, é a
dívida que todos têm com ele ou ela. Em sua
cabeça esteve sempre trabalhando para os outros
e cobra caríssimo essa “prestação de serviços
subjetiva”. Em vez de fazer o que todos fazem,
isto é, trabalhar duro e crescer, não consegue fixar
raízes e permanecer em lugar algum. Não forma
a sua própria equipe e, muito menos, integra
equipe de alguém.

4. É melancólico e ressentido com todos.


Seu comportamento é sempre melancólico,
distante, triste e ressentido. O mundo está em
falta constante com ele. Ele acumula a todo
tempo mais gente injusta à sua lista de faltosos
e devedores. Os pais, o pastor que o batizou nas
águas, seu líder de jovens, seus irmãos, seus chefes
no trabalho, os amigos, que se esqueceram dele
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 97

e nunca mais se lembraram, todos lhe devem.


Gente que foi servida, ajudada e amada que
simplesmente lhe virou as costas, os filhos estão
em dívida, enfim, todos devem alguma coisa a
essa gigantesca draga emocional, é um autêntico
buraco negro de cobranças.

5. Ao ser questionado como está, desfia a


ladainha.
Trata-se de uma pessoa de um assunto só.
Ela não vive, mas orbita ao redor de um centro
único: as suas expectativas frustradas. Não vive,
não sonha, não prospera e nem avança. Somente
patina, anos e anos a fio e infelizmente não
há como ajudar. Só a revelação e a luz de Deus
para tirá-la desse centro gravitacional que é seu
próprio umbigo.

6. Só enxerga o próprio projeto e nunca a


equipe.
Alguém com essas características será incapaz
de se alinhar em uma equipe para um projeto
maior. Nunca agregará; ao contrário, será sempre
fator de desagregação. Assim, o que conta não é
98 M A R C E LO A L M E I DA

sua inteligência brilhante, experiência, formação


e outros muitos talentos. O que o desabona é a
história que carrega atrás de si de criticar seus
líderes, falar mal dos companheiros e chamar a
atenção a si mesmo o tempo todo. Em minha
equipe, eu não quero alguém assim. Prefiro gente
com menor potencial e mais fator de agregação.

7. Tem uma autoestima e uma autoimagem


muito pobres.
Ao fazer expectativas o tempo todo, na
verdade essa pessoa está colocando sua vida e
seu destino nas mãos de outros. Por isso tanta
cobrança. Para se sentir reforçado, amado e
seguro precisa de outros o tempo todo a seu
dispor. Não amadureceu completamente até
adquirir autonomia. A razão atrás de tudo isso
é uma baixíssima autoestima. Uma autoimagem
no chão.

8. É desleal e possui a sua própria agenda


oculta.
Alguém assim além de não conseguir trabalhar
em equipe e nem permanecer muito tempo em
A M A L D I Ç Ã O DA E X P E C TAT I VA 99

uma rota, não é leal a não ser a si mesmo. Como


está amargurado e cheio de cobranças contra
todos, também não confia em ninguém. Por
isso, necessita ter a sua própria agenda oculta.
Enquanto for conveniente vão caminhar junto,
até ter uma oportunidade melhor. Julgam-
se em pé de igualdade com seus líderes e
caminham juntos apenas por responsabilidade e
conveniência.
Na verdade, não reconhecem seus líderes e
nem sentem que tem algo a aprender com eles.
Por trás de toda aquela fachada, há corações
duros e presunçosos. Demonstram isso ao não
serem ensináveis e nem terem a atitude de honrar
seus líderes. Esse é um discurso que você nunca
ouvirá deles.

9. É mesquinho e muito egoísta.


Tal pessoa faz sempre conta de coisas passadas
que foram feitas e dadas que nunca lhes trouxe
retribuição. Sua conversa sempre é nessa base:
o que eu fiz o que eu dei; o que vocês nunca
reconheceram e nunca fizeram. No dia a dia
demonstram mesquinhez ao se aproximarem
apenas das pessoas que lhes trarão algum
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benefício. São incapazes de dar atenção, se


importarem com a necessidade dos outros, os
problema de seus líderes e a pressão sobre quem
está acima deles. Nunca são lenitivos, sempre
mais pressão. Perguntam-se sempre o que os
outros deveriam ter feito e nunca o que elas
mesmas deveriam fazer.

10. Responsabiliza os outros por sua vida.


Enquanto todos estão empenhados em investir,
formar líderes, lutar, conquistar, trabalhar duro,
tais indivíduos querem sempre dar uma mordida
no que é seu. Para eles é sua obrigação dar uma
mordidinha a eles. É obrigação! Se não deixa,
ficam ressentidos e vão deixar um rastro de
amargura sempre que mencionarem seu nome.
CONCLUSÃO

Meu querido irmão, que o Senhor dê a você


revelação e compreensão desse importante
princípio, não apenas, como falamos no início,
para livrar-se dessa “maldição”, como também para
ser instrumento de Deus. Ele lhe escolheu para
orar, instruir e formar líderes melhores. Muitos
perigos na edificação da obra do Senhor serão
evitados se aplicarmos o que compartilhamos
aqui. Muitas tristezas, divisões e prejuízos serão
evitados se colocarmos no Senhor, e nEle apenas,
todas as nossas expectativas.
Seja alguém que caminha em paz, liberdade
e alegria. Não vale a pena fazer diferente! Se
você tem essa tendência de criar expectativas
elevadas com relação às pessoas, leve o caso a
Jesus, e, aos pés dEle, decida esvaziar qualquer
cobrança, frustração e prisão que a “maldição
das expectativas” gerou em sua vida preciosa.
102 M A R C E LO A L M E I DA

Aquele que começou em você a boa obra a


levará a bom termo. Ele lhe conduzirá e lhe fará
enxergar aquilo que é importante. Ele ajudará
você a formar equipes coesas, unidas e que fluem
em harmonia na edificação do Corpo de Cristo,
a Igreja. Andemos adiante nesse nosso chamado
em comum.

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