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A filosofia da ciéncia em sua aplicagao a psicologia clinica! Sean Hughes, PhD Department of Experimental Clinical and Health Psychology, Ghent University INTRODUGAO Imagine que tés cientistas se aventuram para expandir os limites do conhecimento humano. O primeiro é um astronauta que se ocupa da andlise de amostras do solo na superficie fria e escura da Lua. O segundo ¢ um bidlogo marinho que tenta encontrar formas de tornar os pinguins mais, ativos e engajados em um grande aquério publico. O terceiro é um primatologista profundamente interessado no comportamento de corte dos gorilas de costas prateadas que est se embrenhando em uma floresta tropical na Africa Central. Embora todos os trés usem 0 método cientifico para entender um fenémeno especifico, eles abordam seus objetivos de formas muito diferentes. As perguntas fundamentais em que estio interessados (p. ex., do que € composto o solo lunar? Como o comportamento de pinguins em cativeiro pode ser mudado? Como os primatas se comportam socialmente no meio selvagem?) irdo guiar os procedimentos que eles usam, as teorias que eles geram, os tipos de dados que coletam e as respostas que, por fim, acham satisfat6rias. Em muitos aspectos, a ciéncia psicolégica clinica enfrenta uma situacao semelhante, Embora clinicos e pesquisadores estejam unidos por um objetivo compartilhado (entender como o sofrimento humano pode ser aliviado e o bem-estar promovido), frequentemente abordam esse objetivo de formas fundamentalmente diferentes. Alguns defendem que esse objetivo pode ser mais bem atingido por meio da detec¢ao e da corregio de crencas disfuncionais, esquemas cognitivos patolégicos ou estilos falhos de processamento da informacao subjacentes ao sofrimento psicoldgico (p. ex., Beck, 1992; Ellis & Dryden, 2007). Outros contrapéem que a melhor solugao requer que contatemos e alteremos as fungdes dos eventos internos em vez de sua forma ou frequéncia particular (p. ex., Hayes, Strosahl, & Wilson, 1999; Linehan, 1993; Segal, Williams, & Teasdale, 2001). Nessa rica e densa selva de pesquisa clinica e teorizagéo, diferentes tradigdes frequentemente se encontraram em feroz competicdo, com os proponentes de uma perspectiva defendendo a supremacia Iégica de seus préprios procedimentos, achados, teorias e terapias, enquanto outros respondem com convicgdes igualmente e fortemente sustentadas (ver Reyna, 1995). Em um ambiente como esse, vocé pode se perguntar: existe realmente uma “melhor” solugdo para o problema do sofrimento psicolégico? Como os clinicos € pesquisadores definem o que se qualifica como “melhor”, e essa é uma escolha subjetiva ou objetiva? Como eles realmente determinam se dado procedimento, achado, teoria ou terapia é satisfatdrio ou ainda melhor do que os outros? Mesmo que os pesquisadores em geral nio operem no frio vacuo do espago exterior, nos tanques de gua de um aquétio ou no interior imido de florestas tropicais, suas atividades sio realizadas dentro de um contexto maior, que guia seus valores e objetivos cientificos. Um dos aspectos mais importantes desse contexto € sua visio filoséfica de mundo. As vises de mundo especificam a natureza e o propésito da ciéncia, causalidade, dados e explicagao. Elas definem 0 que consideramos 0 tema do nosso campo, quais sero nossas unidades de andlise, os tipos de teorias e terapias que construimos e avaliamos, as metodologias que construimos e como os achados devem ser gerados e interpretados. Perguntas sobre ontologia, epistemologia e axiologia podem parecer altamente abstratas e muito afastadas dos ensaios e atribulagdes cotidianas que fazem parte da pesquisa clinica ¢ da pratica terapéutica. A seguir, irei demonstrar como os pressupostos filos6ficos sio semelhantes ao ar que respiramos: tipicamente invisiveis, essenciais para nosso funcionamento didrio e, no entanto, subestimados. Nao existe um espago privilegiado que permita que vocé evite essas questées: a sua visio do mundo silenciosamente molda como vocé age, influenciando as teorias, as terapias, as técnicas e os dados que vocé considera convincentes ou validos (p. ex., Babbage & Ronan, 2000; Forsyth, 2016). Ela rege parte de seu comportamento, momento a momento, quando vocé interage com um cliente, Ao articular e organizar apropriadamente esses pressupostos, vocé tem acesso a um poderoso método de determinagao da consisténcia interna de suas préprias visdes cientificas e assegura que seus esforgos no desenvolvimento do conhecimento so progressivos — quando medidos contra seus objetivos cientificos (clinicos). Os esforcos cientificos devem ter critérios para avaliar justificativas teéricas e metodolégicas concorrentes para que 0 progresso seja atingido. No entanto, os académicos se engajam em discussdes de um tipo diferente: debates que estio centrados na legitimidade, na primazia e no valor de uma tradigao intelectual em relagao um ao outro. Tais debates foram rotulados como “pseudoconflitos", uma vez que envolvem a aplicagio de pressupostos filoséficos (e, dessa forma, de objetivos e valores cientificos) da prépria abordagem dos pressupostos, objetivos e valores dos outros (Pepper, 1942; Hayes, Hayes, & Reese, 1988). Por exemplo, terapeutas orientados para 0 comportamento podem desprezar o valor das representagdes de mediagdo mental processos, tais como esquemas ou vieses cognitivos, considerando que tais construtos explanatérios so contrérios (ou mesmo irrelevantes) a0 seu préprio foco em variaveis manipulaveis e contextuais que podem facilitar a predicdo e a influéncia de eventos psicoldgicos. Igualmente, pesquisadores de orientacdo cognitiva podem encarar uma anélise que omite referéncias ao mecanismo mental da mente como meramente descritiva e ndo explanatéria. Como observa Dougher (1995), esses respectivos académicos podem se perguntar por que suas contrapartes “persistem em assumir essas posiges antiquadas ou erradas, por que eles insistem em deturpar a minha posigao e por que nio conseguem ver que tanto a légica quanto os dados tornam sua posigao claramente inferior” (p. 215). A falha em reconhecer as origens filoséficas dessas discussées frequentemente provoca “frustragio, sarcasmo e até mesmo ataques pessoais sobre a competéncia intelectual ou académica daqueles que sustentam posicées alternativas” (p. 215). Os cientistas psicolégicos que sio capazes de articular seus pressupostos filoséficos sio mais capazes de identificar conflitos genuinos e produtivos dentro das tradiges que fazem avancar a teoria e a pesquisa e podem evitar a perda de tempo em pseudoconflitos que tendem a ser degenerativos por natureza. Em outras palavras, avaliar as bases filos6ficas de seu trabalho também permite que vocd se comunique sem dogmatismo ou arrogancia com aqueles que tém pressupostos diferentes. Tal flexibilidade é central para o tema deste livro: ajudar as diferentes vertentes da terapia baseada em evidéncias a aprender a se comunicar entre as divisées filoséficas. Por essas e outras razées, um consércio de organizagdes cognitivas e comportamentais recentemente acrescentou treinamento em filosofia da ciéncia aos padrées de treinamento para clinicos empiricos (Klepac et al., 2012). Por fim, a literatura clinica abarca um niimero gigantesco de perspectivas que podem levar os alunos a adotar uma forma insipida de ecletismo, esperando que, ao se misturar todas as teorias e conceitos plausiveis, resultados terapéuticos ainda melhores sejam provavels. Combinagdes disciplinadas de abordagens so possiveis e eis, mas o resultado seré confusio se as teorias e as terapias forem misturadas de forma inconsistente (porque os pressupostos filoséficos subjacentes foram mal compreendidos ou ignorados). Este capitulo esta dividido em trés partes. A Parte 1 oferece uma breve introdugao aos t6picos centrais da filosofia da ciéncia enquanto se aplicam aqueles que esto passando por treinamento clinico (exemplos de tratamentos mais extensos sio Gawronski & Bodenhausen, 2015; Morris, 1988; Guba & Lincoln, 1994; entre muitos outros). Na Parte 2, abordo intimeras visdes de mundo que foram originalmente apresentadas por Stephen Pepper na década de 1940, com foco rno mecanismo e no contextualismo em particular. Irei demonstrar como estas tiltimas visdes de mundo provavelmente moldaram e continuam a impulsionar a psicologia clinica. Por fim, na Parte 3, considero os t6picos de selecao, avaliagao, comunicagio e colaboragao da visio de mundo. Se os leitores, entio, decidirem adotar uma perspectiva filoséfica particular, fardio isso com conhecimento das alternativas, de como essa decisio molda seu préprio pensamento e ages e como eles podem interagir com colegas que veem (ou constroem) o mundo de formas diferentes da sua. PARTE 1: UMA BREVE INTRODUGAO A FILOSOFIA DA CIENCIA A ciéncia se preocupa amplamente com o desenvolvimento de um corpo de conhecimento sistemiitico que esta associado a evidéncias empiricamente derivadas (p. ex., Lakatos, 1978; Laudan, 1978). Esse sistema de conhecimento é construido com a intengio de entender e influenciar “padrdes de relagdes entre fendmenos e processos do mundo experimentado” (Leer & Damon, p. 70). Filosofia da ciéncia se refere aos fundamentos conceituais sobre os quais esse corpo de conhecimento sistemético construido. Em vez. de focar nas teorias, nos métodos e nas observacdes particulares que definem um dominio cientifico, a filosofia da ciéncia se ocupa da propria empreitada cientifica, © objetivo é descobrir os pressupostos que esto frequentemente implicitos (ou subestimados) na pratica cientifica e que ditam seu curso (p. ex., como a ciéncia deve proceder, que métodos de investigacdo devem ser usados, 0 quanto de confianca deve ser colocada nos achados gerados e quais so os limites do conhecimento obtido). Dessa forma, a filosofia da ciéncia traz uma perspectiva a partir da qual examinar e potencialmente avaliar a cincia psicolégica clinica. Visdes de mundo filos6ficas Uma visdo de mundo filosofica pode ser definida como o conjunto coerente de pressupostos inter-telacionados que proporciona uma estrutura pré-analitica que abre caminho para a atividade cientifica ou terapéutica (ver Hayes et al., 1988; os termos intimamente relacionados sio “paradigma”, Kuhn, 1962; e “programa de pesquisa”, Lakatos, 1978). Nossa visio de mundo é um sistema de crengas que descreve e prescreve quais dados, ferramentas, teorias, terapias, participantes e achados sio aceitéveis ou inaceitiveis. As crengas bisicas que fazem parte de uma visio do mundo tipicamente giram em torno do seguinte conjunto de perguntas inter- relacionadas, com as respostas a uma pergunta restringindo as respostas as outras. A pergunta ontolégica. A ontologia esté amplamente relacionada com a natureza, a origem e a estrutura da realidade e do “ser”. Em outras palavras, o que significa dizer que alguma coisa é “real”, e & possivel estudar a realidade de maneira objetiva? Muitas posturas ontolégicas podem e devem ser assumidas. Para fins de ilustragio, discutirei brevemente positivismo, pés-positivismo construtivismo, dada sua proeminéncia na ciéncia psicolégica, embora sejam possiveis outras perspectivas além dessas. Positivismo & uma perspectiva reducionista ¢ determinista que frequentemente envolve uma crenga em “realismo ingénuo”, a ideia de que existe uma realidade detectavel que é governada por um sistema de leis e mecanismos naturais. Os modelos e teorias cientificos so considerados titeis ou vilidos na medida em que aumentam nossa capacidade de fazer afirmagées que se referem a entidades ou relagGes em uma realidade independente da mente (i.e., verdade como correspondéncia). Esse tipo de “conhecimento € convencionalmente resumido na forma de generalizagdes fora do tempo e do contexto, algumas das quais assumem a forma de leis de causa e efeito” (Guba & Lincoln, 1994, p. 109). © préprio progress cientifico envolve o desenvolvimento de teorias em que a natureza representacional gradualmente converge para uma ‘inica realidade. O pés-positivismo também assume que existe uma realidade independente da mente, mas isso 86 pode ser imperfeitamente e probabilisticamente compreendido pelos humanos devido as suas habilidades intelectuais enviesadas e & natureza fundamentalmente intratavel dos fendmenos. Os ps-positivistas acreditam que existe uma realidade independente da percepcao e teorias a respeito, mas também argumentam que os humanos no podem conhecer essa realidade com total certeza (p. ex., ver Lincoln, Lynham, & Guba, 2011). Assim, todas as afirmagdes cientificas sobre a realidade precisam ser submetidas a um exame minucioso para que seja possivel convergir para uma compreensio da realidade que seja aceitavel (embora nunca perfeita). O construtivismo, diferentemente do positivismo e do pés-positivismo, assume uma postura ontolégica relativista. Uma realidade independente da mente é substituida por uma construfda: a realidade nao existe independentemente de nossa percepgio ou de nossas teorias sobre ela, Em, vex. disso, a interpretamos e a construimos com base em nossas experiéncias e interagdes com os ambientes sociais, experienciais, histéricos e culturais nos quais estamos inseridos. As realidades construidas sio maleaveis, diferem em seu conteiido e sofisticagao e nao sdo “verdadeiras” no sentido absoluto da palavra, Embora os construtivistas tendam a reconhecer que os fendmenos existem, eles questionam até onde podemos conhecer racionalmente a realidade fora de nossas perspectivas (p. ex., ver Blaike, 2007; Lincoln et al., 2011; Von Glasersfeld, 2001). Em algumas formas dessa abordagem, os construtivistas simplesmente se recusam, por motivos pragmaticos, a ver as perguntas ontolégicas como passiveis de serem respondidas, iiteis ou necessarias (Hayes, 1997). A pergunta epistemolégica. A epistemologia, a teoria do conhecimento, se preocupa com a aquisigao e a justificagdo do conhecimento (i.e., se conhecemos ou podemos conhecer alguma coisa, assim como a validade desse conhecimento e como chegamos a té-lo). Isso envolve formular perguntas como: “Como podemos estar certos de que acumulamos conhecimento?” e “Como podemos distinguir esse conhecimento de uma crenga?”. Quando aplicado a ciéncia, “conhecimento” se refere a teorias, explicacdes e leis cientificas, e “epistemologia” envolve responder perguntas como: “De que forma as evidéncias apoiam uma teoria?” ou “O que significa dizer que uma teoria é verdadeira ou falsa?” ou “A revisao e mudanga da teoria é um processo racional ou irracional?”. Mais uma vez, diferentes posturas podem ser assumidas na busca do conhecimento cientifico. © positivismo adota uma posi¢o dualista e objetivista: contanto que tenha acesso as metodologias apropriadas, 0 conhecedor (o cientista) pode ver objetivamente ¢ registrar os eventos como eles “realmente sio” e como eles “realmente funcionam”. Esse proceso nio influencia o fenémeno de interesse, nem o fendmeno influencia o conhecedor. As situagdes em que 0 conhecedor influencia 0 conhecido (ou vice-versa) representam ameagas a validade, ¢ 0 conhecedor implementa estratégias para reduzir ou eliminar as fontes potenciais de contaminagéo. © pés-positivismo é qualificado como dualista/objetivista. Dada a forma imperfeita como 0 mundo € visto e registrado, 0 dualismo é desenfatizado: as observagies so aceitas como propensas ao erro e sempre estdo abertas a critica, A teoria é, em tiltima andlise, suscetivel de ser revisada e aberta a substituico por um conjunto diferente de categorias e relagdes. Contudo, 0 objetivismo ainda é o “ideal regulatério” ao qual o cientista aspira (Lincoln et al., 2011). As andlises cientificas sio consideradas “verdadeiras” ou “vélidas” na medida em que nos permitem, convergir para uma compreensio acurada (embora imperfeita) da realidade (ie., verdade & correspondéncia). Tais anélises estio baseadas na ideia de que (a) 0 conhecimento pode ser mais bem obtido por meio da identificagao de regularidades e relagdes causais entre os mecanismos componentes que constituem a realidade; (b) essas regularidades e relagdes serao mais faceis de identificar quando o cientista e 0 fenémeno nao contaminarem um ao outro; e (c) 0 método Cientifico é a melhor ferramenta que o cientista tem para minimizar essa contaminacao. Assim, 0 propésito dos modelos e teorias é oferecer explicacGes gerais que estéo organizadas logicamente € que tém ligagées claramente estabelecidas com 0 mundo observavel. Essas explicagdes se estendem além da observacao de eventos individuais e tém funcao heuristica e preditiva Por fim, o construtivismo ¢ transacional e subjetivo. Ele defende que os achados sio obtidos por meio da interago do conhecedor ¢ do conhecido e, como tal, eles sio literalmente criados enquanto o empreendimento cientifico se desenvolve. Nesse aspecto, o conhecimento é subjetivo na medida em que nao existe uma localizagao objetiva a partir da qual ver ou obter conhecimento (e mesmo que houvesse, nao temos forma de acessé-lo). Assim, 0 conhecedor é um participante ativo em vez de um observador passive na aquisigao de conhecimento e no processo de justificagao. A verdade nao é a correspondéncia com alguma realidade subjacente, mas 0 ponto até onde uma andlise particular ocasiona “trabalho bem-sucedido” ou € considerada vidvel Como postula Von Glaserfeld: “Para o construtivista, conceitos, modelos, teorias... sdo vidveis se provarem ser adequados nos contextos em que foram criados” (1995, p. 4). Segundo a perspectiva construtivista, a cigncia pode ser vista como “um corpo de regras para a ago efetiva, € existe um sentido especial em que poderia ser ‘verdadeira’ se produzir a aco mais efetiva possivel” (Skinner, 1974, p. 235; ver também Barnes-Holmes, 2000). A pergunta da axiologia. Axiologia se refere & relagio entre conhecimento e valores humanos. Quando aplicada & ciéncia, envolve perguntas como: “Como esses valores estio relacionados aos fatos (cientificos)?” e “Qual é o papel, se houver, que os valores do pesquisador desempenham no processo cientifico?”. De acordo com o positivismo, 0 cientista vé a realidade através de um espelho de uma face: objetivamente e imparcialmente, Valores e vieses néo tém lugar no proceso cientifico, e devemos evitar a todo custo que influenciem nossa atividade. A implementagao de metodologias apropriadas e controles conceituais assegura que os produtos cientificos sejam isentos de valor. O pés-positivismo assume uma postura similar se for qualificado: presume-se que todas as observagdes so carregadas de teoria. A busca pela verdade absoluta é abandonada, e 0 pesquisador aceita que as andlises so guiadas pelas expectativas culturais, sociais, histéricas e pessoais que ele traz para a empreitada (i.e., a ciéncia é carregada de valor). No entanto, 0 progresso é mais bem atingido se o cientista der o méximo de si para minimizar o impacto de tais fatores contaminantes sobre os argumentos tericos e os achados empiricos Por fim, o construtivismo é dialético: dada a natureza varidvel e pessoal do mundo construido, no ha uma localizagao objetiva a partir da qual a realidade possa set independentemente observada ou registrada. © cientista nao pode ser separado da disciplina, nem a teoria pode ser separada da pratica. Assim, os valores so considerados um elemento integrante das interagdes entre o cientista e 0 fendmeno a ser estudado, A pergunta da metodologia. Depois que o conhecedor (cientista) determinou 0 que pode ser conhecido, ele precisa identificar um conjunto de ferramentas que sejam apropriadas para gerar esse conhecimento, No & qualquer metodologia que seré suficiente. Para os positivistas, a metodologia deve ser experimental ¢ manipulativa. Uma realidade independente da mente que possa ser objetivamente conhecida requer metodologias que possam explorar essa realidade livre do controle de fatores que causam confusdo, Uma realidade independente da mente também requer que as “perguntas e/ou hipéteses sejam expressas de uma forma proposicional e sujeita a testes empiricos para verificé-las; as possiveis condicdes que podem causar confusdo precisam ser cuidadosamente controladas [manipuladas] para evitar que os resultados sejam influenciados indevidamente” (Guba & Lincoln, 1994, p. 110). Os pés-positivistas compartilham uma visio similar. No entanto, levando em conta que toda medida esta sujeita a erro, o pesquisador precisa se engajar em um processo de multiplismo critico, no qual faz muitas observagies e medidas (que esto sujeitas a diferentes tipos de erro), para identificar fontes potenciais de erro, e entéo cria um controle para elas, dessa forma melhor se aproximando da realidade. Por meio da replicagio independente, o cientista aprende mais sobre a validade ontoldgica de seu modelo. Isso, por sua vez, Ihe possibilita engajar-se na falsificagao (em vez de na verificagao) das hipdteses e teorias. construtivismo questiona a ideia de que o conhecimento existe independentemente no mundo e de que procedimentos de medida objetivos podem ser projetados para capturar esse mundo, Toda informacdo est sujeita & interpretacdo por parte do pesquisador, e, como tal, a relacdo entre 0 pesquisador e a disciplina é um foco central da metodologia. Pressupostos filoséficos so interativos. Observe que as perguntas sobre epistemologia, ontologia, axiologia e metodologia estdo profundamente conectadas umas com as outras. “Visdes da natureza do conhecimento interagem com visdes da natureza da realidade: o que existe afeta 0 que pode ser conhecido, ¢ 0 que achamos que pode ser conhecido frequentemente afeta o que achamos que existe” (Thagard, 2007, p. xi). Por exemplo, se aderimos crenga de que existe uma realidade independente do pesquisador, entéo a investigagio cientifica deve ser conduzida de uma forma que seja objetivamente separada. Isso possibilitaré que o pesquisador descubra “como as coisas realmente 40” e “como as coisas realmente funcionam”, Isso, por sua vez, requer que 0 pesquisador identifique um conjunto de metodologias que sejam capazes de refletir a realidade objetiva de uma maneira pura ou relativamente no contaminada, Segundo essa perspectiva, as perguntas referentes 8 axiologia (valores) esto fora do Ambito da investigacdo cientifica legitima. Conclusao. Quando articulamos nossos pressupostos filoséficos, estamos articulando o conjunto de decisées que tomamos antes de nos engajarmos na pratica cientifica ou terapéutica. Essas decisdes envolvem formular e responder perguntas que nao sdo empiricas, mas de natureza pr analitica (p. ex., que tipo de conhecimento queremos acumular e por qué? Como iremos organizar e construir esse sistema de conhecimento? O que se qualifica como “evidéncia real ou genuina” e como deve ser interpretada?). As respostas a essas perguntas formam a base sobre a qual o trabalho empirico é realizado. Assim como precisamos construir os alicerces antes que possamos construir uma casa estavel, também precisamos estabelecer nossos pressupostos teéricos antes que possamos nos engajar em uma atividade cientifica que seja consistente e coerente. PARTE 2: AS QUATRO VISOES DE MUNDO DE PEPPER E SUA RELAGAO COM A PSICOLOGIA CLINICA Embora as visdes de mundo possam e tenham que ser categorizadas de muitas formas diferentes, © esquema de classificagio de Pepper (1942) € itil para refletir sobre os componentes, os pressupostos e as preocupagées que impulsionam a teoria e a pesquisa em diferentes dreas da psicologia clinica e aplicada. A tese central de Pepper € a de que os humanos nao sio propensos a se engajar em pensamento abstrato complexo e tendem a se basear em direttizes do senso comum ou “metéforas bisicas” para sustentar suas posicdes filoséficas. Ele defende que as posigdes filoséficas principais e relativamente adequadas podem ser agrupadas em um dos quatro modelos centrais (“hipéteses sobre 0 mundo”): formismo, mecanicismo, organicismo e contextualismo, Cada um utiliza uma metéfora basica diferente como um tipo de guia em miniatura que sugere como o conhecimento deve ser justificado ou representado, como novos conhecimentos devem, ser obtidos e como a verdade pode ser avaliada (para mais, ver Berry, 1984; Hayes et al., 1998; Hayes, 1993). Essas visdes de mundo so auténomas (porque seus pressupostos bisicos sio incomensurdveis) e permitem que o contetido em diferentes dominios do conhecimento seja descrito com preciso (Le. aplicando um conjunto de principios restritos a eventos especificos) e escopo (i.e., anélises que explicam uma gama abrangente de eventos em uma variedade de situagées). Seus critérios de verdade fornecem uma forma de avaliar a validade das andlises ientificas que emergem de uma visio de mundo particular. Na seco a seguir, examino cada uma dessas visées do mundo e depois discuto como elas estabelecem as bases para ti particulares de pesquisa e pratica clinica. Formismo ‘A metdfora basica do formismo é a recorréncia de formas reconheciveis. Uma maneira facil de pensar no formismo é que ele é uma forma de filosofia baseada na acdo de nomear ~ ou seja, saber como caracterizar um evento particular. Por exemplo, os smartphones constituem uma classe ou categoria na qual se considera que “participam” muitas particularidades. A verdade ou validade de uma anélise est baseada na correspondéncia simples: um membro individual tem caracteristicas que correspondem as caracteristicas da classe. Um tijolo no é um smartphone porque ele nao é eletrénico, e vocé nio pode fazer chamadas telefénicas com ele; um computador de mesa é eletrdnico, e vocé pode fazer chamadas telefénicas com ele, mas ele nao é um smartphone, em parte, porque nao é portatil; e assim por diante. A tarefa dos cientistas é criar um conjunto abrangente de categorias ot nomes, e a verdade ou valor de suas ages podem ser determinados a partir da natureza exaustiva desse sistema categorico. “Se o sistema tem uma categoria para todos os tipos de coisas, e coisas para todas as categorias, entéo o sistema categérico é considerado correspondente a um mundo de coisas € eventos presumidos a priori” (Wilson, Whiteman, & Bordieri, 2013, p. 29). Quando aplicado & psicologia, o formismo sugere que os fenémenos podem ser entendidos atribuindo-se a eles classes ou tipos especificos, e por essa razdo algumas nosologias ou teorias da personalidade fornecem bons exemplos de formismo, Mecanicismo Mecanicismo é uma variante mais sofisticada de formismo e possivelmente a posigdo em que se assenta a maior parte do trabalho empirico na psicologia contempordnea. Sua metéfora basica é “maquina” do senso comum. Essa abordagem “presume 0 status a priori das partes, mas vai adiante para construir modelos que envolvem partes, relagdes e forgas que animam tal sistema” (Wilson et al., 2013, p. 29). Quando aplicada a psicologia, o propésito da ciéncia é identificar as partes e suas relagdes (p. ex., construtos mentais, conexdes neurolégicas) que fazem a mediagdo, entre 0 aporte (ambiente) e a resposta (comportamento) e identificar as condigdes ou forcas operantes que sao necessérias e suficientes para que os mecanismos funcionem com sucesso (p. ex., atencdo, motivagio, capacidade cognitiva, informagio). (Observe que “mecanicismo” tem sido usado algumas vezes dentro da psicologia aplicada como um epiteto, significando “semelhante a um rob6” ou “insensivel”. Este nao é seu significado na filosofia da ciéncia, endo estou sugerindo qualquer conotagio negativa quando utilizo o termo.) Dentro de uma visio de mundo mecanicista, a causagio é contigua: “um passo no mecanismo (p. ex., um estado mental) coloca em movimento 0 passo seguinte (p. ex., outro estado mental)” (De Houwer, Barnes-Holmes, & Bames-Holmes, 2016; Cap. 7 deste livro). Formulado com maior preciso, o mecanicismo defende que os processos mentais operam segundo um conjunto restrito de condigées, e estas esto separadas do (mas covariam com 0) contexto ambiental no qual o comportamento é observado, Assim, a unidade de andlise para os mecanismos (mentais ou psicolégicos) é o elemento componente da maquina (p. ex., um proceso, entidade ou construto), Embora alguns desses elementos sejam diretamente observaveis em principio (p. ex., neurdnios), em psicologia eles frequentemente sao inferidos a partir de alteragdes no comportamento devido a interagdes do organismo com o ambiente (ver Bechtel, 2008) Note-se que a metafora central de uma maquina se aplica tanto ao conhecedor quanto ao que ¢ conhecido. “O conhecedor se relaciona com 0 mundo produzindo uma cépia interna deste por meio da transformagio mecinica. Essa posigio epistemolégica mantém tanto o conhecedor quanto o conhecido intactos e basicamente inalterados pela sua relagio” (Hayes et al., 1988, p. 99). As anélises sio consideradas “verdadeiras” ou “vilidas” quando a cépia interna da realidade (0 modelo hipotético ou teoria) mapeia o mundo como ele €. Essa é uma versio mais elaborada dos critérios para verdade baseados na correspondéncia do formismo. O quanto um sistema particular reflete a realidade é avaliado pela extenso em que outros conhecedores independentes a corroboram por meio de verificacao preditiva ou falsificacao. Como os mecanicistas veem a complexidade como construfda a partir das partes, eles tendem a ser reducionistas. O objetivo da ciéncia ¢ identificar as unidades mais basicas que preenchem as lacunas temporais entre um evento ¢ outro (p. ex., representagdes mentais, comportamentos passados, atividade neural, emogées). Isso é tipicamente obtido pela construgio de cépias da realidade (c6pias internas) em que a verdade ou validade ¢ determinada a partir de sua correspondéncia objetiva com essa realidade (p. ex., modelos mentais). Descrigao e predigio teérica constituem formas satisfatorias de explicagao cientifica, uma vez que permitem que avaliemos a correspondéncia entre a teoria ¢ a realidade. O resultado (ao menos em psicologia) & uma agenda de pesquisa em grande parte hipotético-dedutiva e guiada pela teoria, a qual minimiza os fatores distais (hist6rias de aprendizagem) e enfatiza 0 comportamento como 0 produto de agentes causais ou sistemas internos independentes. Implicagées clinicas. A extensdo mais comum do pensamento mecanicista em psicologia clinica € a formulagao de teorias e modelos que detalham os elementos componentes ¢ as condicdes operantes da méquina mental, que faz a mediaggo entre 0 ambiente e 0 comportamento disfuncional. Em cada um dos casos, a origem e a solucao para problemas clinicos podem ser encontradas nos elementos que compdem o sistema: por meio da adicao, revisao e eliminagao de mecanismos e/ou condigdes operantes, podemos impactar a probabilidade dos resultados clinicos. Levando em consideracdo um critério de verdade baseado na correspondéncia elaborada entre o sistema proposto ¢ a realidade, 0 mecanicista considera essencial a verificagio preditiva das teorias e terapias. Esses pressupostos filoséficos sio inerentes a muitas terapias cognitivas e comportamentais. Por exemplo, o impacto dos pareamentos do estimulo ou contingéncias operantes no inicio da terapia comportamental pode ser explicado pela formagao e revisio das associagoes estimulo- resposta ou estimulo-estimulo (p. ex., ver Foa, Steketee, & Rothbaum, 1989). Igualmente, 0 impacto da terapia cognitiva (Beck, 1993; Mahoney, 1974) pode ser explicado pelos esquemas cognitivos, estilos falhos de processamento da informaco, cognigées irracionais ou pensamentos autométicos que sdo considerados mediadores na relagdo entre o aporte ambiental e a resposta emocional. Em consequéncia dessas explicacdes, 0 alvo da intervencao seria uma alteracdo na ocorréncia desses eventos por meio da reestruturacdo, reavaliagdo, modificacdo de crengas nucleares, etc. (p. ex., Hofmann, 2011; ver os Caps. 21 e 22). Organicismo ‘A metéfora basica na esséncia do organicismo é a do organismo em crescimento. Os organicistas veem o desenvolvimento organico iniciando de uma forma, crescendo e fazendo transicio para um padrio esperado e, entio, por fim, culminando em outra forma que seja inerente ao que era anteriormente. Considere, por exemplo, 0 processo organico por meio do qual uma semente se transforma em uma drvore. Existem regras de transigao entre os estados ou fases, e estabilidade entre 0s periodos de mudanga, mas, depois que as regras sio identificadas e explicadas, os estados, as fases e a estabilidade sio vistos como parte de um tinico processo coerente. Para explicar 0 presente e prever o futuro, precisamos entender as regras basicas que governam o desenvolvimento © como essas regras operam ao longo do tempo e no contexto (Reese & Overton, 1970; Super & Harkness, 2003). O organicismo é teleolégico, Assim como a semente pode ser um “vir a ser” de uma drvore, 05 estgios do desenvolvimento s6 fazem sentido se conhecermos para onde eles estio se dirigindo. O critério de verdade do organicismo é a coeréncia. “Quando uma rede de fatos inter- relacionados converge para uma conclusio, a coeréncia dessa rede toma a conclusio ‘verdadeira’. Todas as contradicdes da compreensio se originam no conhecimento incompleto de todo o proceso organico. Quando o todo é conhecido, as contradigdes sdo removidas, ¢ 0 ‘todo organico... é encontrado implicito nos fragmentos’.” (Hayes et al., 1988, p. 100). Os organicistas rejeitam a ideia de explicagdes de causa ¢ efeito simples e lineares, preferindo uma abordagem mais sintética (interacional). Eles defendem que um sistema nao pode ser entendido pela sua decomposigéo em seus elementos componentes. O todo nao é uma combinagio das partes individuais; em vez disso, 0 todo € basico, com as partes tendo significado apenas em relagio ao todo. A identificagio das partes ou estigios é, até certo ponto, uum exercicio arbitrério para 0 propésito da investigago, mas a ordem desses estagios, ndo. Por exemplo, “o ponto onde é tragada a linha que marca a diferenga entre um beb@ e uma crianga pequena pode ser arbitrdrio, mas o fato de a primeira infancia preceder a infancia é nao arbitrario, e presume-se que reflete a organizagao a priori do desenvolvimento” (Wilson et al., p. 30). Contextualismo A metéfora basica do contextualismo 6 o continuo “ato no contexto”, Os atos podem ser alguma coisa feita em e com um contexto atual e histérico e so definidos pelo seu propésito & significado. Os contextos podem “avancar para o exterior espacialmente para incluir todo 0 universo [...] [ou] recur no tempo infinitamente para incluir o mais remoto antecedente, ou avangar no tempo para incluir a consequéncia mais tardia” (Hayes & Brownstein, 1986, p. 178) ato no contexto nao é uma descrigio de algum evento estético que ocorreu no passado. Ao contrario, ele é uma atividade proposital que acontece aqui e agora dentro dos contextos fisico, social € temporal. Assim, no contextualismo (como no mecanicismo e no organicismo), as relacées e forgas podem ser descritas. No entanto, a organizacao descrita dessas forgas e relagdes no pressupde que reflita alguma organizagao a priori do mundo (como € o caso no formismo ou no mecanicismo) nem alguma progressio em diregéo a “forma ideal” (como é 0 caso no organicismo). Ao contrétio, falar das partes e relagdes é por si $6, a ago dos cientistas que operam em e com seus préprios contextos e para seus préprios propésitos (Hayes, 1993). Consequentemente, a atividade cientifica baseada no pensamento contextualistico (dentro da psicologia) nao esté relacionada as descrigdes do “mundo real”, mas as “andlises verbais que permitem que pesquisadores bésicos e aplicados e profissionais prevejam e influenciem o comportamento dos individuos e grupos” (De Houwer, Barnes-Holmes; Cap. 7 deste livro). Note-se que um ato no contexto pode variar desde a postura de comportamento mais proximal (p. ex., ansiedade social quando o individuo interage com colegas aqui e agora) até sequéncias comportamentais temporalmente distais ¢ remotas (p. ex., 0 impacto que uma experiéncia particular ocorrida ha dois anos tem na escolha de participar ou nao de uma reunido social daqui a alguns dias). O que traz ordem a essa gama de possibilidades ¢ 0 objetivo pragmético de um. analista (ver Bames-Holmes, 2000; Morris, 1988; Wilson et al., 2013). A métrica da verdade nio € correspondéncia nem coeréncia com uma realidade independente da mente, mas apenas algo que facilita trabalhar com sucesso (esse é 0 mesmo critério de verdade previamente mencionado na secdo sobre construtivismo, e, de fato, os construtivistas so com frequéncia contextualistas). Existem, no entanto, variedades de contextualismo cientifico. Para saber o que funciona com sucesso, devemos saber na direcdo do que estamos trabalhando: deve haver uma clara declaragio @ priori do objetivo ou intengao do cientista ou profissional (Hayes, 1993). Os contextualistas descritivos (dramaturgistas, psicdlogos narrativos, pés-modemistas, construcionistas sociais) esto focados em analises que os ajudem a apreciar a participacdo da historia e das circunstncias no todo; os contextualistas funcionais esto tentando predizer e influenciar 0 comportamento com precisio, abrangéncia e profundidade (Hayes, 1993). Por causa disso, 0 contextualismo & relativista — 0 que é considerado verdadeiro difere de um cientista para outro com base nos respectivos objetivos. Implicagées clinicas. © contextualismo foca 0 pesquisador clinico e 0 profissional no significado e propésito dos pensamentos, sentimentos e ages de uma pessoa em determinado contexto. A psicologia humanista tende a ter uma posigéo contextualista descritiva na qual os terapeutas procuram avaliar a integralidade de um evento psicolégico (Schneider, 2011). Muitas formas de métodos cognitivos e comportamentais modernos, como terapia de aceitacio e compromisso (ACT; Hayes et al., 1999), psicoterapia analitica funcional (Kanter, Tsai, & Kohlenberg, 2010), terapia comportamental integrativa de casal (Jacobson & Christensen, 1998) ativagao comportamental (Jacobson, Martell, & Dimidjian, 2001), adotam conscientemente a esséncia de uma posi¢ao funcional-contextual. Outras, como terapia comportamental dialética (Linehanm 1993; Lynch, Chapman, Rosenthal, Kuo, & Linehan, 2006), terapia cognitiva baseada em mindfulness (Segal et al., 2001) e terapia racional-emotiva comportamental (Ellis & Dryden, 007), misturam a perspectiva contextual com elementos do pensamento mecanicista. ‘A ACT pode ser usada como um breve exemplo para ajudar a mostrar como o pensamento contextualistico direciona o cientista ou profissional para um caminho diferente das perspectivas mecanicistas. De forma mais ampla, a ACT nao foca no contetido de um pensamento, nao tenta manipular sua forma ou frequéncia, nem se preocupa com até que ponto ele é “real”, Em vez. disso, ela presta muita atengio a fungdo que o pensamento, sentimento ou comportamento tem para o cliente em dado contexto. Considere o exemplo de um orador que se depara com o pensamento “Vou ter um ataque de panico” enquanto anda em direcao ao palco. Um terapeuta de ACT pode nao supor que esse pensamento seja necessariamente prejudicial ou precise ser erradicado ou revisado, Em vez. disso, ele pode perguntar: “Como vocé pode se relacionar com esse pensamento de uma maneira que estimule o que vocé deseja?”. O terapeuta adota essa abordagem porque ele vé as cognicdes, emocdes, crencas e disposicdes como variveis dependentes (aces), e ndo como as causas contiguas (definitivas) de outras variveis dependentes, tais como o comportamento explicito. Para predizer ¢ influenciar a relacdo entre, digamos, pensamento ¢ comportamento explicito, o terapeuta precisa identificar as, variveis independentes que podem ser diretamente manipuladas para alterar essa relagdo, e — segundo a perspectiva do terapeuta — apenas variaveis contextuais esto abertas & manipulagio direta (Hayes & Brownsein, 1986). Os mecanismos mentais (p. ex., associagdes na meméria, esquemas, redes semanticas ou proposigdes) e as forgas hipotéticas que os unem sao (no minimo) variveis mais dependentes — elas nao sio causas funcionais. Esse mesmo critério de verdade (trabalho de sucesso) também se aplica a clientes que séo “encorajados a abandonar qualquer interesse na verdade literal de seus préprios pensamentos ou avaliagées [...] [e] em vez disso [...] sao encorajados a adotar um interesse apaixonado e continuo em como viver de acordo com seus valores” (Hayes, 2004, p. 647). PARTE 3: ESCOLHA, AVALIAGAO E COMUNICACAO ENTRE AS VISOES DE MUNDO Agora que ja discuti intimeras visdes de mundo e como elas informam o pensamento e a pritica clinica, vocé pode estar se fazendo um novo conjunto de perguntas sobre selegio, avaliagio e comunicagao. Por exemplo, exatamente como, quando e por que vocé decidiu aderir a uma visio de mundo particular, e seu sistema de crengas € melhor ou mais «itil do que o de seus pares? Dadas as suas diferencas fundamentais, os proponentes de uma visio de mundo podem se comunicar e interagir com aqueles que adotam outra perspectiva? E para essas perguntas que me volto agora. Escolha da viséo de mundo As pessoas podem acabar aderindo a uma visio de mundo particular por varias razdes. Primeira, sua orientagao filoséfica (e, portanto, suas predilegées tedricas) pode ser parcialmente determinada por diferengas individuais, como temperamento ¢ atributos de personalidade (p. ex., Babbage & Ronan, 2000; Jonson, Germer, Efran, & Overton, 1988). Segunda, as visbes de mundo podem nao ser conscientemente escolhidas, mas implicitamente submetidas a nés pelos contextos cientificos, culturais, histéricos e sociais prevalentes em que estamos inseridos. Em outras palavras, os cientistas podem assimilar ou herdar a estrutura filoséfica que embasa 0 espirito dominante de seu campo durante seu treinamento. Assim, a escolha da visio de mundo pode ser, até certo ponto, irracional (Pepper, 1942; Feyerabend, 2010; Kuhn, 1962; ver Lakatos, 1978, para argumentos centrados na selecdo racional da pesquisa-programa). Por exemplo, uma previsio é implicitamente adotada como uma finalidade cientifica, e entio as explicagées ‘mecanicistas (mentais) podem ser mais simples e “de senso comum”. Se seu objetivo é predizer e influenciar o comportamento, uma posigao contextual pode parecer mais valiosa. Terceita, as pessoas podem avaliar os diferentes tipos de resultados cientificos que sao produzidos quando diferentes visdes de mundo sio adotadas e efetivamente “fazer uma escolha pessoal” (Hayes, 1993, p. 18). A popularidade das visdes de mundo parece mudar com o tempo, tanto dentro quanto entre as comunidades cientificas (Kuhn, 1962). A ciéncia psicolégica nao é excegio, com uma variedade de paradigmas metateéricos, teorias e questées empiricas ganhando proeminéncia em um momento ou outro. Avaliagao da visio de mundo Embora as convengées populares, disposigdes da personalidade ou questées de gosto possam guiar a escolha de uma visio de mundo particular, os padrées de avaliagao aplicados a essa visio de mundo sao especificados. Quando avaliamos um produto da atividade cientifica particular (p. ex., um achado, teoria ou terapia) como boa ou satisfatoria, estamos basicamente perguntando se essa atividade € consistente ou coerente com as exigéncias internas de uma vis ‘com os consumidores do novo conhecimento. Avaliando a prépria visio de mundo. Uma razio para esclarecer seus préprios pressupostos filos6ficos é que isso permite que vocé avalie sua atividade cientifica. Por exemplo, se adotamos uma posigao positivista (realista), as teorias sao “espelhos” que variam na medida em que refletem 0 mundo “como ele realmente é". A avaliagao e o progresso, portanto, requerem que os padrdes sejam aplicados a investigagao cientifica que levou ao desenvolvimento de espelhos que melhor reflitam a realidade. Os pés-positivistas (realistas criticos) assumem uma posigo similar (Se qualificada), em que os pesquisadores desenvolvem teorias que sao semelhantes a espelhos sujos contaminados por erro e viés. Os padrdes de avaliagdo e progresso envolvem o polimento de espelhos tedricos de modo a remover a distorcdo para representar a realidade da maneira mais aproximada possivel. Um pesquisador pode melhor testar uma afirmagio de conhecimento desse tipo com um modelo hipotético-dedutivo de desenvolvimento da teoria, em que predigdes altamente precisas so ampliadas para dominios relativamente inexplorados (ver Bechtel, 200: Gawronski & Bodenhausen, 2015). © teste da teoria parece bem diferente se assumimos uma postura contextualista ou construtivista. Nessas visdes de mundo, as teorias sio meramente ferramentas com as quais atingimos algum fim. Considere como uma ferramenta de senso comum, digamos um martelo, pode ser avaliada: “Um martelo é um bom ‘martelo’ se permitir que 0 carpinteiro pregue um prego. Nao faria sentido dizer que o martelo faz isso porque ele se refere acuradamente ao prego ou reflete o prego” (Wilson et al., 2013, p. 30). Igualmente, uma teoria 6 considerada boa se permite que o cientista atinja algum resultado desejado. Nesse caso, a avaliacdo da teoria envolve a determinagdo da consisténcia com a qual os modelos ou teorias podem levar a intervengdes liteis entre uma gama de situacdes (p. ex., ver Hayes, Barnes-Holmes, & Wilson, 2012; Long, 2013). Avaliando a visio de mundo dos outros. Ao avaliar programas de pesquisa baseados em uma visio de mundo diferente da sua, é inerentemente dogmatico aplicar critérios que emergem da sua prépria visio de mundo, Uma grande quantidade de energia inétil e contraproducente foi gasta fazendo isso, tanto na ciéncia psicolégica bésica quanto na aplicada. Por exemplo, pesquisadores e terapeutas que aderem a uma perspectiva funcional-contextual podem questionar por que seus colegas so to preocupados com pecas do mecanismo mental e suas condigdes de operaco, quando, ao fazerem isso, podem depreciar o papel que as histérias de aprendizagem e as varidveis contextuais desempenham no modo como os pensamentos levam a outras agdes. Os mecanicistas podem rebater que os contextualistas ndo estdo interessados no conhecimento cientifico — eles sio meros “técnicos” ou “solucionadores de problemas” que manipulam o ambiente para produzir mudangas no comportamento sem qualquer apreciacao dos mecanismos mediadores dessas mudancas. ( que deve ficar claro, no entanto, é que essas discussées so pseudoconflitos — uma tentativa por parte dos proponentes de que uma visio de mundo estabelega seus préprios pressupostos filos6ficos (e, dessa forma, os objetivos e valores cientificos) como definitivamente certos ¢ a visio de mundo dos outros como errada. No entanto, pressupostos filoséficos nio podem ser comprovados como certos ou errados porque nao sio o resultado de evidéncias — eles definem o que deve ser considerado “evidéncia”. Os padrées desenvolvidos dentro de determinada visio de mundo podem ser aplicados apenas aos produtos que emergem dessa abordagem (quase da mesma forma como as regras que fazem sentido dentro de um esporte — futebol — nao podem ser uusadas para reger a atividade de outro — digamos, basquete). Além disso, nenhuma visio de mundo se fortalece mostrando as fraquezas das outras posigdes. Existem quatro formas legitimas de avaliagao. Uma delas é melhorar os seus priprios produtos cientificos quando comparados com os critérios apropriados a sua abordagem. Uma segunda forma é menos bvia, mas profissionalmente til e amistosa: entrar nos pressupostos dos colegas que diferem dos seus e entao ajudé-los a melhorar os produtos cientificos quando comparados com os critérios que so apropriados para esses pressupostos. Uma terceira forma é articular os pressupostos e propésitos que fundamentam sua atividade cientifica e (ndo avaliativamente) observar em que aspectos eles diferem dos outros. Por exemplo, vocé pode descrever a metéfora basica e 0 critério de verdade que adotou e como suas anilises sio realizadas a partir dessa perspectiva, sem insistir que outras com diferentes pressupostos fagam 0 mesmo, Uma quarta abordagem é observar os objetivos ¢ usos da ciéncia pelos seus consumidores (p. ex., financiadores governamentais, clientes) e avaliar objetivamente se os programas de pesquisa servem a esses fins. Comunicacao e colaboracao entre os proponentes de diferentes visées de mundo A luz do que foi dito anteriormente, voc® pode se perguntar se é possivel que aqueles que aderem a uma visio de mundo se comuniquem e colaborem com aqueles de outra visio de mundo sem sacrificio de seus respectivos objetivos e valores no processo. A sabedoria adquirida em psicologia é a de que a comunicagao entre as visies de mundo ndo é possivel. Um exemplo concreto é a forma como os pesquisadores usam as mesmas palavras para se referir a conceitos diferentes (p. ex., “cognigao” significa coisas muito diferentes para pesquisadores mentais mecanicistas ¢ funcionais contextuais; ver Cap. 7 deste livro) ou usam palavras diferentes para se referir a uma ideia semelhante (p. ex., “alocagio da atengao” ou “discriminacdo dos estimulos”). O resultado mais comum dessas dificuldades parece ser discutir a legitimidade cientifica percebida ou ignorar os frutos dos trabalhos dos colegas. No entanto, existe uma maneira radicalmente diferente dle pensar nessa situagio, e ela ajuda a explicar por que o (reinamento em filosofia da ciéncia é agora esperado dos profissionais. Se os objetivos cientificos de visées de mundo diferentes forem ortogonais, isso também significa que elas nao podem estar em conflito direto uma com a outra. Assim, nao ha motivo para que desenvolvimentos dentro de uma tradigdo ndo possam ser usados para aprofundar a agenda Cientifica da outra, Este livro esta organizado em tomo dessa ideia nuclear. A terapia baseada em processos pode estar ligada a evidéncias de diferentes tradigdes. Por meio da valorizagao das, diferencas legitimas, as diferentes vertentes ou ondas de terapia baseada em evidéncias podem se complementar. Uma forma como as tradigdes diferentes podem obter cooperacdo cientifica é por meio da adogio de uma perspectiva metatesrica conhecida como estrutura funcional-cognitiva (FC) (ver Cap. 7 para um tratamento detalhado). Segundo essa perspectiva, a ciéncia psicolégica pode ser conduzida em dois niveis de andlise diferentes, mas solidérios: um nivel funcional, que visa a explicar 0 comportamento em termos de elementos no ambiente, e um nivel cognitivo, que visa a entender 0s mecanismos mentais pelos quais os elementos no ambiente influenciam o comportamento. A estrutura FC nao interfere nos objetivos do pesquisador individual, nem julga esses objetivos ou as razdes por tris deles. Em vez disso, ela procura uma interagéo mutuamente solidéria. A pesquisa no nivel funcional (contextual), por exemplo, pode fornecer conhecimento sobre as determinantes ambientais do comportamento, 0 que também pode ser usado para impulsionar a pesquisa mental e/ou restringir a teorizagio metal. Desde que cada abordagem permanega comprometida com sua forma de explicagio, o conhecimento adquirido em um nivel, pode ser usado para fomentar progresso no outro (De Houwer, 2011). Essa estrutura metatedrica jd proporcionou beneficios em varias areas de pesquisa (para uma revisio recente, ver Hughes, De Houwer, & Perugini, 2016), e parece nao haver razao para nao a estender para a psicologia clinica e questées como as diferencas entre as vertentes da terapia comportamental e cognitiva (De Houwer, Barnes-Holmes, & Barnes-Holmes, 2016; ver também o Cap. 7). CONCLUSAO principal objetivo deste capitulo foi introduzir o tépico da filosofia da ciéncia em sua aplicagéo & psicologia clinica e aplicada. Os pressupostos filoséficos silenciosamente moldam e guiam nossa atividade cientifica e pratica terapéutica. “Pressupostos ou ‘visdes de mundo’ sao como 0 lugar onde nos posicionamos. O que vemos e fazemos é em grande parte determinado pelo lugar a partir do qual vemos as coisas. Nesse aspecto, os pressupostos nao so nem verdadeiros, nem falsos, mas, em ver disso, oferecem diferentes visdes de diferentes paisagens.” (Ciatrochi, Robb, & Godsell, 2005, p. 81). A valorizacao do papel dos pressupostos filoséficos modera e guia a interago amistosa no campo ¢ constitui um contexto importante para a avaliago, a comunicacao € a colaboragio em pesquisa. Os pressupostos filos6ficos fazem a diferenca, seja no laboratorio, seja no consultério de terapia, REFERENCIAS Babbage, D. R., & Ronan, K. R. (200), Philosophical worldview and personality factors in traditional and soctal scientists ‘Studying the world in our own image. Personality and Individual Differences, 26 (2), 405-20, ‘Barmes-Holmes,D. (2000), Behavioral pragmatism: No place for reality and truth, Behavior Analyst, 23 (2), 191-202, Bechtel, W. (2008). Mental mechanisms: Philosophical perspectives an cognitive neuroscience, New York: Routledge. Beck, A. T. (1993). Cognitive therapy: Past, present, and future, Journal of Consulting and Clinical Psychology, 61 (2), 194-198, Ben, F. M, (1984). An introduction to Stephen C. 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