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As interfaces entre a rede

de enfrentamento à violência
contra a mulher eaatuação
das escolas públicas

Sandra Santos de Araújo


Zuleide Paiva da Silva

INTRODUÇÃO
E salutar e urgente refletir sobre violéncia contra a mulher
a e o papel
da educação, especialmente em momentos em que o Brasil retrocede nos
direitos das mulheres. O cenário de violências sugere discussões, deba
tes e tenciona a ampliação da marcha de resistência, visando superar as

concepçoes eurocêntricas e patriarcais que deslegitimam a história das


mulheres, que são marcadas pela interseccionalidade de diferentes mar-
cadores sociais, vitimadas pelo simples fato de serem do gênero feminino.
Partindo dessa premissa, pensamos com Arroyo (2019, p. 59), que
retlete o racismo estrutural, tão incrustado nos padrões de poder, de
Classe, de gênero, de trabalho, e acrescenta radicalidades antiéticas aos
Processos sociais, políticos, econômicos, culturais e pedagógicos de se
ameaçarem vidas.

219
. . desde a colônia, no Império e na Republica o poder tem cor
tem cor, etnia
povos originários, raça negros
a -

escravizado. .. as mulhere
que levam seus filhos as escolas públicas que choram os filhosmåe
ou

vidas ameaçadas ou mortos tem cor . . São as Marias, Marias,. é .em


é a cor.
(ARROYO, 2019, p. 59)

Nesse sentido, diversas são as violèncias marcadas pela intersecciona.


lidade de gênero decorrente de cor, raça e classe. Os preconceitos
säo pta.
duzidos e reproduzidos tanto nas instituições de educação formal
quanto
nas de não formal. O conceito de interseccionalidade
apresentado nor
Crenshaw (2002, p. 117) relata especificamente da forma pela
qual o
racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discrimi.
natórios criam desigualdades básicas que estruturam as
posições relativas
de mulheres, grupos étnico-raciais, classes econômicas e outras". Partindo
desse entendimento, é elementar e necessário discutir gênero na rede de
enfrentamento à violência contra a mulher e o papel da
educação
no inte
rior do estado da Bahia. Somente assim os
gestores da rede e do cotidiano
escolar estarão preparados para intervir nas
realidades que intercruzam
seus alunos(as), bem como das
complexidades que permeiam e/ou atra
vessam esses espaços.

Dessa forma, este estudo trazreflexão sobre a temática com base


uma
em autores como Arroyo
(2019), Saffioti (1992), hooks (2017), Lugones
(2014), Quijano (2014), Walsh (2017), entre outros
que colaboram com a dis
cussão em pauta. O objetivo
édescrever a metodologia de uma
desenvolvida no âmbito de um Mestrado pesquisa
Profissional em Educação
e Diver
sidade, intitulada: As interfaces entre a rede de
a mulher e a enfrentamento à violëncia con
atuação das escolas públicas do municipio de
Destarte,
Biritinga, Bahia.
justificamos relevância deste estudo, sobretudo
a

periodo impactado pela covid-19 e durane


acelerou cabalmente o aumento
pelas lições da crise pandêmica, e

da violência contra as mulheres(SAN Os,


2020)- em particular nos
países com sistema de saúde e estado de reito
fragilizados, com taxas elevadas de auência
contra as
desigualdade de gênero e de vio
mulheres, como é o caso do Brasil.
Para Santos (2020), as
mulheres são as mais afetadas demia,

pois, por assumirem pela pa


um
duplo papel na sociedade, ando dentro
e
trabalhando
220 Sandra Santos de Arnúin o T
fora de casa, elas sao as "cuidadoras do mundo". Com a necessária qua-

rentena imposta pela pandemia da covid-19, o estresse para as mulheres


aumentou. Alem dos filhos e do marido em casa, recrudesceu os casos de
violência doméstica contra as mulheres brasileiras. Segundo relatório do
Banco Mundial (2020), o Brasil não é exceção, uma vez que, nos dois pri-
meiros meses das medidas de isolamento social (entre março e abril de
2020), comparado ao mesmo período de 2019, houve um aumento de 22%
nos casos de feminicídio, e de 27% nas denúncias recebidas pelo Ligue 180
- linha nacional de atendimento à violência contra a mulher.
Esperamos que as reflexões aqui engendradas possam servir à amplia-

ção do debate nas instituições formais e não formais de educação, a fim de


que a maior quantidade de gestores da rede e profissionais da educação
possam expandir as discussões acerca da violência de gênero, e, com isso,
tomar como campo a força, a resistência e a reflexão cotidianas em prol da

desnaturalização da violência e em favor da humanização das relações de


gênero na educação e nos espaços educativos.

REFLEXÃO INICIAL SOBRE O CONCEITO DE GÊNERO


Nesta seção, buscamos refletir sobre gênero com a intenção de ultrapas-
sarmos o que é evidenciado em um conceito apenas biológico. Logo, visa-
mos pensar sobre a possibilidade de fomentar a discussão dos conceitos
binários de sexo, de modo que seja imprescindível discutir sobre a diver-

sidade entre o feminino e o masculino.


Na perspectiva de Scott (1995), gênero é uma categoria histórica de
aná-
ise que trata das relações sociais entre homens e mulheres. Nesse sentido,
ela não diferencia o sexo, procurando compreender como se constituem, his-

TOricamente, os sujeitos sociais. Apesar de


ser o sexo que transforma os sujei
tOs em mulheres e homens, são as relações de gënero que os moldam a serem

nomens ou mulheres. Para a autora, o gênero se constrói por meio das rela-
oes sociais. Saffioti (1992, p. 189) corrobora essa tese asseverando que

maneira de existir do corpo corpo é um campo


eo
...] o gênero é uma
recebidas e reinterpretadas. O corpo de uma
de possibilidades culturais
definir sua situação no mundo. E através das
mulher é essencial para

À VIOLENCIA CONTRA A MULHER E A.. 221


ENFRENTAMENTO
AS
INTERFACES ENTRE A REDE DE
atividades da mulher na sociedade, do seu relacionar-se na sociedade
que vai definir o ser mulher.
Nessa perspectiva, gênero é um ato intencional produzido ao longo dos
anos, não devendo ser visto como um atributo fixo de uma pessoa, mas
como uma variável fluida e que apresenta diferenças. Assim, a escola, cons
tituida por diferentes culturas, tem papel primordial de formar cidadãos
criticose reflexivos. Para tanto, é necessário preconizar uma escola pública
aberta, plural, democrática, cuja função social cumpra a necessidade do
meio e desmistifique os modelos da cultura colonial heteronormativos.
Nesse diapasão, a mulher tem passado por um processo de construção
de sua identidade através das experiênciase vivências agregadas cotidia-
namente aos espaços de educação formal e no formal. As instituições
educacionais devem, primordialmente, formar cidadãos em sua integra-
lidade, além de contribuir ao desenvolvimento deles. Para tanto, a escola
tem um papel fundamental no processo de desnaturalização da violên-
cia contra as mulheres, sobretudo para as diversas identidades de gênero,
assim como nas representações e modos como os individuos constroem
histórica e socialmente as masculinidades e feminilidades.
Segundo
prevê Scott (1995, p. 86): "[...] gênero é um elemento constitutivo de rela-
ções sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é
uma forma primeira de significar as relaçôes de
poder.
Portanto, a violência contra mulher é
a um
problema estrutural que
ocorre cotidianamente, em diversas modalidades e em todos os espaços
sociais, seja de forma tênue, como também pejorativa, ou, ainda, alimen-
tada por práticas decorrentes do
colonialismo, patriarcalismo e capita
lismo. Ressaltamos o pensamento de
Quijano (2014) acerca do advento
do capitalismo, quando houve uma
sistemática divisäo de classe e de
balho: tra
aos
indígenas americanos e aos africanos negros, por exemplo, Se
reservavaotrabalho servil e escravo; aos europeus, o trabalho assalariado
ou, para as classes
dirigentes, a propriedade dos meios de produção. Na
rede de relações sociais e de
trabalho que se constituíram no Novo Conti-
nente, diversos foram, e ainda são, os fatores
que atravessaram a vida das
mulheres, desde o ambiente familiar ao de processo escolarização. Nesse
222 Sandra Santos de
Araújo e Zuleide Paiva da Silva
entido, a escola deve se posicionar com praticas pedagógicas articula-
das, de modo que se desnaturalize a viol ncia de gênero incrustada no
escolar e social.
ambiente
A temática de gêneroe educação, amparada no artigo 30 da Constitui
cão de 1988, prevê os objetivos fundamentais da República Federativa do
Rrasil, preleciona o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo,
cor ou qualquer forma de discriminação. No artigo 5, celeiro dos direitos
fundamentais do cidadão(), menciona que todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza. Por fim, pré-menciona a igualdade
a fim de que o projeto cons-
de gênero entre homens e mulheres. Portanto,
titucional se efetive, a escola deve romper com as práticas racistas, sexis-
tas,lesbofóbicas, antidemocráticas e de tantas outras modalidades.
Contudo, essas iniciativas constitucionais foram insuficientes para
reduzir os altos índices de agressão e violência contra a mulher. Em parte
a escola perpetua posturas e atitudes
porque, entre leis sem efetividade,
antidemocráticas. Nesse sentido, os enfrentamentos a esse tipo
de violên-
o atendimento
cia ocorrem de forma desarticulada, o que compromete
adequado às mulheres vítimas de agressões psicológicas
e fisicas. A legis-
atender à demanda da
lação ainda não logrou êxito com efetividade para
comunidade, sendo imprescindível recorrer à educação como possibili-
violência contra a mulher, em paralelo
dade que permita desmistificar a
Bahia.
com a educação no interior do estado da
A TRAJETÓRIA DA PESQUISA
estudoo
Nesta seção, descreveremos o percurso investigativo que
compõe o
através das quais com-
em pauta. Vislumbramos pistas metodológicasas
de enfrentamento da violència
preenderemos as interfaces entre a rede
Nesse ínterim, evidencia-
contra a mulher e o papel das escolas públicas.
e os desafios de se fazer pes
O S as
inquietações teóricas investigativas
quisa sem manuais metodológicos.
foco deste estudo sobre a violência
contra as mulheres segue por
interseccionalidade
decolonial, visto que há
uma
ao pensamento
com as violências
de raça, sexo e classe,
Lre essa violência de gênero
E A. 223
CONTRA A MULHER
T I T E f E A C E S
EITNE
A PEDE RE
FNFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA
por exemplo. Esse delineamento metodológico se baseia, outros
entre
nos estudos da filósofa Lugones (2007, p. 193), reflete sobre "[...] os
que
não-ditos da modernidade e colonialidade no tocante ao gênero"' Nesses
não-ditos, sobremaneira, o papel central que a escola ocupa nos
discursos
e "silêncios" há uma clara
intencionalidade de manutenção da colonia-
lidade que se deu nas Américas. Sobre
isso, a própria escola é enfática,
ao dizer que não há uma
consideração entre as diferenças do ser mulher,
como, por exemplo, as mulheres negras que são mais
propensas às vio-
lências e dominação colonial. foco dessa dominação ocorre
de várias
formas. Destacamos o aproveitamento abusivo dessas mulheres no
que
se refere ao sexo e ao trabalho.
Por isso, acreditamos que, no currículo das
escolas baianas, essas
abordagens deveriam "ser fielmente contextualiza-
das". (QUIJANO, 2005, p. 14) Essa
negação e negligência mostram que o
saber também é colonizado,
pois tal situação coloniza o ser mulher, tor-
nando-as invisíveis também de forma
epistêmica.
A defesa da vida humana e das
condições de vida se vão construindo
no novo sentido das lutas
de resistência de uma maioria da
popula-
ção mundial. ..] Esse novo horizonte de sentido histórico - a defesa de
condiçoes da própria vida e dos outros inspira as lutas e
práticas so
-

ciais alternativas por uma existência social


possível. (QUIJANO, 2014,
p.856)

Para nós, tratar essa questão no âmbito do Mestrado Profissional emn


Educaçãoe Diversidade, sob a importante e necessária
nista, significa fazer movimentos que nos são
perspectiva femi-
fundamentais, pois ajuda
a
pautar um olhar para
currículo que aborde questões além dos
um
muros da universidade.
Significa também provocar reflexões que corro-
borem para desfazer/enfrentar essa
realidade. Por isso, este estudo têm
uma
concepção política, um empenho para (re)existir, dado que ao ler-
mos, escrevermos,
pesquisarmos criarmos movimentos de extensão da
e

temática, estamos intervindo na realidade cotidiana dos


espaços educa-
cionais, empenhando uma marcha contrária aos
padrões impostos
sobre
o
corpo da mulher, pois, a realidade histórica constatada visibiliza as
desigualdades e violências que orbita na vida das mulheres,
mente negras. principal-
Reconhecer-se enquanto uma voz
um desafio, jå que a escrita que pode ser
escutada é também
éé
mento. A mulher esta
propensa
indubitavelmente, outro tipo de
enfrenta-
em virtude dessas
a
muitos adoecimentos apagamentos
revelações.
pre se faz presente em meio
Mas é por essa razão
e

às que mulher sem- a

dessa temática, ao adversidades, ao fazer


enxergar que pode unir outros coletivos
se a
aprofundamento
o
os
processos da colonialidade, o
näão
que sofrem
memória e, consequentemente, que justifica "[..] colonização da
a
das noções de si das
intersubjetiva, da sua relação com o mundo [..]
pessoas, da relação
sua
concepção de realidade [...". com
próprio tecido de
o

Nossa intenção, através (LUGONES, 2014, p. 938)


desta proposta
nir gestores da rede de metodológica, propõe reu-
enfrentamento à violência,
cação, mulheres, docentes, discentes
toda e
profissionais da edu-
sobre
a sociedade
para refletirem
o
corpo feminino diante da violência
e, de todas as formas,
que acomete diariamente,
o
sensibilizar sobre essas facetas das
de gênero
impostas pela colonialidade. Assim, associamosdesigualdades
de forma não
só metodológica, mas
profissional, politica e pessoal em devires. Nos lan-
çamos desafio, que é político e deve ser
nesse
mos a escola
pedagógico, pois entende
pública como formadora que contribui para a constituição
de sujeitos éticos,
capazes de reconhecerem e criticarem essas
dades que lhes são
desigual-
impostas. Por isso, a importância de uma educação
feminista que relacione o currículo com a análise das
condições de vida
das mulheres, os fatores emocionais, sociais,
econômicos, culturais, atra-
vés da criticidade das marcas
patriarcais, racistas, capitalistas, os aspectos
que nos engendram nas precárias condições de trabalho e da manutenção
de nossas vidas.
Partimos dessa compreensão da vida cotidiana para afirmarmos que
definições homem emulher são construídas, e estas expressam desigual-
dades que têm raízes na colonialidade. Por isso, a necessidade e urgência
e se descolonizar o pensamento, e nessa direção a escola deve atentar-se
para pensar "[..] a intersecção de gênero/classe/raça como construtos cen-

rais do sistema de poder capitalista mundial". (LUGONES, 2014, p. 939)


reorientar as suas práticas, e é por
icreditamos que a escola é capaz de
acreditarmos nisso que aqui estamos.
Ao considerarmos
gëner0, raça e Classe como
determinantes para se
abordarem elementos teórico-políticos, podemos entender que a colonia-
lidade sempre pretendeu manter as
expressões das desigualdades sociais,
que, não por acaso, acontecem com mulheres em situação de
pobreza, em
particular com mulheres negras. identificar os determinantes e as
causas,
além de enfatizar de forma reflexiva e interventiva essa
problemática, é
justamente o que pretendemos com este estudo. Nos vemos e nos senti-
mos impactadas com os recorrentes fatos em que mulheres estão imersas,
pois ainda lhes faltam assistência e apoio a contento.
Trazemos essa temática para
Mestrado Profissional em Educação e
o

Diversidade por percebermos a invisibilidade dessa discussão no âmbitoo


das escolas públicas, além de dificuldades
que tem o currículo em lidar
com essa questão. Essa metodologia, por hora, apresenta-se a nós como
uma rota crítica, e essa também é nossa intenção. Produzimos essa escrita
nos associando pensamento de Lugones e Quijano por eles serem teó-
ao

ricos que trouxeram/trazem


oportunas contribuições sobre a questão
da colonialidade na produço das
violências, um desafio que é intersec-
cional. No entanto, destacamos que todas as mulheres veem suas vidas
impactadas com o problema das violências.
Primeiro expomos questão das violências como um problema histó-
a

rico, social, político, ou seja, de saúde pública e da educação. A escola exerce


papel fundamental na formação dos sujeitos. Portanto, reforçamos que esta
pesquisa se põe na condição de intervir ao identificar/compreender a rede
de enfrentamento à violência contra a mulher e o
papel da educação no
interior do estado da Bahia frente ao problema da violência. Como essas
instâncias tratam, trabalham ou silenciam essa
questão? Como se revelam
as interfaces entres essas
instituições de ensino formal e não formal, e como
essas violências são identificadas, como se
revelam? Em busca de respostas
para inquietações, estratégia metodológica tem por base a pesquisa
essas a

qualitativa. Tencionamos que a escola possa fazer parte da rede de enfren-


tamento, podendo chegar às escolas de forma
respeitosa e ética por saber e
considerar que a situação é grave e a incidência é
grande.
Partimos de um objeto que precisa de visibilidade. Como
diz Lugones
(2014, p. 239-240): "Estou interessada na
proliferação relacional

pe Sandra Santos de Araúio e Zuleide Daiue .


jetiva/intersubjetiva de libertação, tanto
opositiva". Nos filiamos a tantas outras e adaptativa
ndemos mulheres vitimas, criativamente
ente as dores como
nossas. Ainda não sofridas, e lhes
este estudo trarâ para os
sabemos as
objetivos por que visamos, respostas que
eerão proficuas ao entendermos a todavia, as análises
fragilidade escolas para
das
mas/tratarmos o debate sobre a presença da trazer
idas em corpos de mulher. Por colonialidade nas nossas
nos isso, centramos e nos atentamos
urgência em na
compreendermos determinantes que incidem nas violên-
cias, ebuscamos, pois, através do feminismo
decolonial,
históricas da opressão sofrida por tantas mulheres. pensar bases
as
Destacamos
prevalência dessas violências precisa ser analisada sobre os que
a

aspectos
..) de processos combinados de racialização, colonização, exploração
capitalista, e heterossexualismo". (LUGONES, 2014, p. 941) Dessa forma,
a escola precisa entender essas
relações que ocorrem de forma complexa
no cotidiano escolar. Essa escrita éresistência!
tanto do ponto
individual
quanto coletivo.
Inspirada nas correlações de ideias, nos mapeamentos de intenções,
de subjetividades e atitudes dos transformadores sociais, mapear a rede
e trazê-la à escola se modela em consonâncias de saberes que reverbe
ram enquadramentos de conhecimentos novos para uma escola intercul-
tural e decolonial de saberes outros, os quais respeitem sobremaneira a
diversidade. A interculturalidade se refere ao sentido relacional - o con

tato e intercâmbio entre culturas, com o reconhecimento da diversidade


e diferença cultural de modo a incluir todos na estrutura social, visando
Nesse processo,
reconstruir, enfim, condições de saber, de ser e de poder.
a interculturalidade é caracterizada como um diálogo de iguais, no qual
define a
auas culturas se relacionam e ultrapassam a justaposição que
multiculturalidade. (WALSH, 2012)

epistêmico de uma
Interculturalidade é um bom exemplo do potencial
trabalha no limite
Uma epistemologia que
epistemologia fronteiriça. colonialidades do poder,
indigena
subordinado pela
conhecimento ocidental
do conhecimento
colonial e pelo
marginalizado pela diferença do
conhecimentoe de sua
con-

transferido para a perspectiva indigena


2002a, p. 27-28)
ética. (WALSH,
cepção política e

MULHER E A... 227


CONTRA A
urnENTAMENTO vIOLÊNCIA
À
interculturalidade na qualidade de perspectiva outr-
tra,
Para tanto, a
nas
colonialidades do poder. Nesse ses
en-
encontra razão de existência
cultura do outro criam posturas sociaie
tido, o respeito e a valorização à
o percurso serå traçado a partir de uma
colaborativas. Nesse caminhar,
decolonial, método cartográfico, na
pesquisa-intervenção, de perspectiva
a rede de enfrentamento
à violència contra a mulher.
intenção de mapear
análise de conteúdo através do desen
qualitativa
numa abordagem de
volvimento de técnica de atelië de encontros, com gestores da rede
uma

além dos coordenadores


de enfrentamento à violência contra a mulher,
pedagógicosdas escolas de Biritinga, Bahia.
públicas
Nessa perspectiva, enquanto cartógrafas iniciantes e aprendizes, pes
quisadoras engajadas e implicadas, nos deleitamos sem linhas, nem retas,
no objeto que será cartografado: as interfaces entre a rede de enfrenta-
mento à violência contra as mulheres e o papel da educação no interior
do estado da Bahia, especificamente no municipio de Biritinga, BA. Den-
tro desse modo, cartografar consiste no acompanhamento de processos
KASTRUP; BARROS, 2009) e não na representação de objetos, tendo
como objetivo desenhar a rede de forças na qual o objeto ou fenômeno em
questão se encontra conectado, dando conta de suas modulações em seu
movimento permanente. Nessa correlação de força, cartografar é habitar
território existencial. (ALVAREZ; PASSOS, 2009) Nessa
perspectiva, pre-
tendemos cartografar, traçar território
existencial, falar de modos de vida.
Não pretendemos a delimitação objetiva, mas pensar nas possibilidades
de produção e subjetividades
que possam vir do mapeamento das redes
de enfrentamento à violência contra a mulher.
Para tanto, a
cartografia contribuirá para o modo de se pensar a
quisa, o modo de se enfrentarem as pes
A
especialidades, as
subjetividades.
cartografia está a serviço de como se pensarem o
ças. O coletivo de forças
território e suas for-
surge como plano de existência
(ESCÓSSIA; TEDESC0, 2009) Por não existir um cartográica.
um
ponto de vista, bem como inventar sujeito centrado, é preciso
Nos estudos de Deleuze
modos de expressar esse territorio.
e
Guattari (1997) sobre a
gráfica, o território cria pesquisa carto
agenciamentos,
organismo, o meio e a relação entre excedendo, ao mesmo tempo,
ambos. É nesse ponto de vista que a
rtografia se põe
cartografia devires marcados por
como
ponto de vista através de
Careas gue correm por fora do senso
comum. Desta
o senso comum. Nesse
forma, importante é
evitar sentido, o devir nunca é a maioria homem
Lranco, hetero, cisgènero, norte-americano, europeu - mas a
minoria,
ac excluídos -

mulher negra, pessoas


LGBTIQI+, os povos do sul global.
o devir é o novo, é a voz do povo que ainda não foi ouvida, mas
que está
por vir. Encontrar o menor sempre vai compor um elemento que fuja do

aue já está dito, posto, apresentado. Para isso, como essa força
menor orga-
niza novas formas dos devires com vozes que ainda não foram escutadas e
palavras que ainda não foram ditas, é preciso colocar essa força menor er
heterogénese, pensar em composição, relações ainda não postas, novas

possibilidades de imanência e de vida.


Nesse percurso, essa cartografia serve para circunscrever, mas não
se limitar e se proteger no território das ideias dogmáticas do que está
dado, pronto, acabado. O território designa as relações e, assim, o cartó-
grafo habita o território, traça e percorre caminhos junto ao sujeito da pes
quisa. (ALVAREZ; PASsos, 2009) Nessas correlações, é importante que
se crie uma ponte de relaç o entre propriedades e elementos, sendo pre-
ciso agenciar, nesse território, arranjos novos, com os dados de pesquisa,
inventar e se proteger do caos. Criar o mapa do pensamento, traçar o plano

de consistência que se encontra no caminho, mapas existenciais para tra-


Dessa maneira, é necessário se opor
aos
pla
çarplanejamentose relações. distanciarmos
determinados, prontos. Nos
nos de organizações de dados,
novas relações.
das ideias prontas, o surgimento das
permitindo
relações, é solícito se proteger e
pen
Com este tracejar das novas
enfrentamentos, deixar
os
com novos
Sar fora do senso comum, pensar
uma invençåo. A car-
menores, e isso é sempre
devires fluírem, as forças exis-
inventa modos de vida, subjetividades,
grafia é uma ciência que Destarte, ao
ainda está na pungência.
Cla para dizer de u m objeto que o que não é
necessário subverter
u e n t r a r o territóriofragmentado, será se
centrado, em que ja
relações. Evitar
o sujeito
território fragmentado,
LO e encontrar novas
sentidos no
apresentar
ue
ele é. E preciso dado, e se criar, pois, O plano
subverter o que está
Constituído, para se características da pesquisa
das principais
anencia. Com efeito, uma
cartográfica é conduzir o pesquisador para um olhar teórico
profundo n em
relação ao objeto da pesquisa. Cartogratar como dissolução do
ponto de
vista do observador. (PASSOS; EIRADO, 2009)
Assim, o funcionamento
do trabalho cartográfico
exige atenção. (PASSOS; KASTRUP; EScósSIA
2009) E, para isso, na perspectiva de Passos e Barros
(2009), há a ideia de
que alteração metodológica proposta pela
a
cartografia exige mudanças
das práticas de narrar.
cartografia se reveste como método de uma
A

ção sem direção, sem retas, linhas e regras prontas


pesquisa-interven-
(PASSOS; KASTRUP
ESCÓSSIA, 2009). Todavia, tensionada por discussões
a violência de gênero contra as mulheres emergentes, como
e o
papel das escolas públicas,
entende-se que a escola é constituída
por sujeitos segregados por vivên-
cias e
experiências de vida marcadas pela interseccionalidade de
que afeta a sexualidade, a classe,
gênero,
a etnia earaça.
A cartografia da rede de
enfrentamento à violência contra a
mulher,
no sentido aqui mencionado, vai de encontro
ao racismo
radicalidades antiéticas que estrutural, às
persistem nos processos sociais, políticos,
econômicos, culturais e pedagógicos de
ameaçar vidas, tão incrustada nos
padroes de poder, de classe e de gênero. Nesse trilhar
tografar a rede de enfrentamento à violência contra a metodológico,
car-

a descolonizar as
mulher, de modo
atitudes eurocêntricas dos
gestores da rede de enfren
tamento à violência contra
mulher e o papel da escola
uma
provocação de novas reflexões e afasta as verdades pública, imprime
sais. absolutas, univer
Deparamos, pois, com um processo investigativo
cientifico, inédito. Nesse sentido, a inventivo, além de
cício sobre o mundo, é entendida cartografia, analisada como um exer
não apenas como meio de
de dados, mas interpretaçao
permeada de subjetividades, o que nos conduz ao ineal
tismo cientifico.
Nesse passo, se a
utopia nos faz caminhar, sentimos que a cartograna
é um labirinto a ser percorrido, um
mapa em aberto a
No entanto, tratar de corpos feridos e
ser
desvencilhau
minimamente se implicar e se ameaçados nesse corpo soclai
tadas, sofridas, cansadas,
engajar nas lutas de mulheres viole
são
calejadas e, sobretudo, marcadas pela opre
interseccional de gênero que necessita
de afeto, de escuta
sensive
arinhosa,
arinhosa, bbem como de
aerseguido que hssuram acolhimento.
perseguido
as tretas
Todavia, énesse horizonte a ser
cia Crontra mulher, violência
a fendas produzidas
e as

doméstica pela violên-


terfaces com a educação. E e
violência de gênero e suas
nessa tessitura da
de nós e de
percursos a serem trilhados, no trama, na imbricação
intento de se descortinarem
espaços e subjetividades que
tos eurocentrados.
apostamos no transgredir de ensinamen-
Por um viés de
educação libertadora que respeite o
vel trilhar a sexualidade e criar
óbices à violência
gênero, é possí-
contra a mulher, tão
opressorae estereotipada åmbito da sociedade,
no
que precisamos traba-
Ihar pela liberdade e cruzar fronteiras
para transgredirmos o ensinar eo
aprender. Como ressaltou hooks (2017, p. 273),
...] [a] academia não é o paraíso, mas o
o paraíso
aprendizado é um lugar onde
pode ser criado a sala de aula com todas as suas limitações
continua sendo ambiente de possibilidades. Nesse campo de
possibili-
dades, temos a oportunidade de trabalhar pela Liberdade, exigir de nós
e de nossos camaradas uma abertura da mente e do coração que nos
permite encarar a realidade ao mesmo tempo em que coletivamente
imaginemos esquemas para cruzar fronteiras para transgredir. Isso é a

educação como prática da liberdade.

Engajada e implicada com as práticas pedagógicas, hooks (2017) prevê


uma educação como prática de liberdade um jeito de ensinar que qual
feminista negra tece conhecimen-
quer um pode aprender. Dessa forma, a
anticolonial. Inspirada
tos de resistência e uma pedagogia profundamente
livre e crítica dos educandos,
em Paulo Freire no atributo à participação
da liber-
produziu a obra Ensinando a transgredir:a educação como prática
uma construção humanis-
enfim, ela acredita
em
dae. Nesa perspectiva,
anti-homofóbica, pluralista, transgressiva
dantirracista, antissexista, violência contra a
diversidade. Por fim, compreender a
de
respeito à nas relaçóes de
sociais hierarquizados
her como reflexo dos papéis
patriarcado, é defeso.
da cultura do da
POaer desiguais
e a superação
meios necessários para de
entende-se que os estabelecimento

nodo, o
mulher caminham para
de gênero c o n t r a a da igualdade de
a promovam
a cultura
concretas que
g l a s educativas

UGD F A 231
gênero e dos direitos humanos a partir da educação. Vivenciar essa situ
ação fere a dignidade humana em todos os tempos e lugares que perpas
sam as mulheres uma ocorrência que tem base na colonialidade. Essas
mulheres, indubitavelmente, encontram desafios que se somam à cor, à
classe e ao gênero.
Nesse cenário, sob a perspectiva de Medeiros e Silva (2017), apresenta-
mos nossa proposta para o dispositivo de pesquisa: o ateliè de encontro.
Para a produção das informações, realizaremos intervenção nas escolas
públicas da rede de Biritinga, Bahia, de forma virtual, na plataforma Micro-
soft Teams. Assim, vislumbraremos três ateliès virtuais. O plano de inter
venção que nos move tem como proposta uma ação de cunho interventivo
e formativo, que aspira por tratar de dois espaços públicos, o formal e o não
formal,e de diálogos que visam a criar relações muito mais aproximativas
a partir das inter-relações e intersubjetividades entre gestores da rede e da
escola. Através do ateliê de pesquisa tencionamos produzir informações
das interações entre a rede de enfrentamento à violência contra a mulher,
como também a ação da escola pública. A intenção é potencializar conhe-
cimentos na perspectiva de gêneroe intensificar relações dada a invisi-
bilidade das discussões sobre a igualdade de gêneros nesses espaços de
educação, assim como da Lei Maria da Penha (ne 11.340/2006) e a Lei do
Feminicidio (ne 13.104/2015), por exemplo.
Pretendemo0s, pois, causar uma reflexão-ação sobre o lugar de res
peito às mulheres vítimas de violências enquanto corpos ameaçados de
dores, especialmente por se tratar de parte dos corpos da rede e de corpos
das escolas, acerca das atitudes e medidas de acolhimento tanto na rede
quanto na escola.

Tudo isso trata, sobretudo, da importância que cada instituição deve


na efetivação dos direitos à igualdade de
ter gênero. Inspirada nascorre
lações de ideias, nos mapeamentos de intenções, de subjetividades e ati-
tudes dos transformadores sociais, mapear a rede e trazê-la à escola se
modela em consonâncias de saberes que reverberam enquadramentos de
conhecimentos novos para uma escola intercultural e decolonial, de sabe
res outros, como bem prevë VWalsh (2017, 2019). E, por fim, com este obje-
tivo, visa-se que a diversidade seja respeitada.
Nesse paradigma, e
tendo
também transtormações em vista a conjuntura da covid-19, como
as

todes,' mormente pelas causadas e vivenciadas


por todos, todas e
tro de mulheres,
forma on-line. Por pretendemos realizar o ateliê de encon
conta desse novo
ciais são cenário, as
orquestradas on-line. A partir disso, atividades presen-
da arte contempornea
através do tecido do apostamos na aproximaçáão
trocas ateliê como instantes de e
experiëncias que possibilitem
e

sempre a se tomar como referência comunicação através de tecidos,


a

pectiva Kimsooja. linguagem artística visual sob pers


a
a
(RAPPOLT, 2020) Para tanto, toda
se embasa na escuta, registro e partilha de
instalação com tecido
voz e osdireitos das mulheres. Além cotidiano que respeita a um

disso, traz a beleza da individuali-


dade dos tecidos -cada família tem o seu
tecido, cada gestor, cada mulher
tem um tecidoinstalação no pátio, no jardim, no quintal. E tudo isto
com

é historicizar as relações sociais de


gênero. Assim, propomos como expe-
riência levantar os tecidos varal, filmar, fazer um compilado de fotos
em

e mostrar que é possível realizar uma instalação em que se saia do pla-


nejamento para a execução, bem como a desmistificação da violência de
genero a partir da comunicação com tecidos.
Imaginamos que esse circuito de vivências, espécie de formação em
rede, uma colaboração de conhecimento, circuito de aprendizes, possibi
litará momentos ímpares na prospecção de informações, como também
se reverberará em manifestações subjetivas mediadas por via digital e

demonstradas pela plataforma Microsoft Teams, que permeará, desse


da pesquisa-inter
modo, a atividade educacional. No desdobramento
nesse relacionamento vir-
arte contemporânea, como ponte
venção, a
com a comunidade, de modo que outras
tual, consubstanciará diálogo
gestores e os formadores, permi-
estabelecidas com os
pontes sejam das instituições,
escola, da comunidade,
tindo que se chegue ao chão da o ateliê de pes-
suma, essa ponte entre
famílias. Em
das crianças, das varal de tecido de forma
as instalações de
quisa e a arte contemporânea,

gramaticais que
de gêneros
neolinguagem
tentativa de uma
a s pessoas
T entre gêneros
todes, todxs, é
uma ndo-bindrlas,
Od@s, constitui em
pessoas neutros s e
mulheres, as adjetivos
as e
inclusiva para/com de pronomes
a ARARIPE,
2020) O
uso
ndo
transfóbica.

ROCHA: COELHO: machista,


não misógina,
não
nguagem
não sexista.

MULHEREA.
233
VIOL NCIA CONTRA A
ENFRENTAMENTO A
R E D E

DE
virtual, como proposta para que eles - gestores da rede e formadores da
s a
escola sejam multiplicadorese vejam as oportunidades de novas
-
os
sibilidades de conhecimentose façam instalações em suas escolas. do
modo que envolvam as comunidades nessa articulação da doação, da
entrega, do tecido como potência e pertencimento pessoal como vinculn
de relacionamento.
Dado ao movimento coletivo aberto, o atelië de pesquisa (MEDEIROs:
SILVA, 2017) servirá como dispositivo inerente a essa formação. Essa con-
cepção de pesquisa surge da necessidade de pesquisas em educação. No
ateliê, o pesquisador segue o movimento do coletivo. Os
participantes
entrelaçam, tecem a trama juntos, visando que o tecido final demonstre os
diversos significados das tramas na vida. Assim, nos
diálogos colaborati-
vos, surgem reflexões, relatos de experiências
importantes para fomentar
as informações da
pesquisa. Desse modo, o ateli se alicerça na construção
de um formativo, tecido de forma coletiva. E um lugar produzido
espaço
por pessoas e profissionais com vontade de criar, e onde se
pode expe-
rimentar, manipular e produzir produtos resultantes da
pesquisa como
princípio educativo, cognitivo, formativo, colaborativo e de reflexões e
avaliações constantes sobre a prática pedagógica.
Mediante essa
proposta, o ateliê
se constituirá com
quatro gestores
da rede de enfrentamento à violência contra a mulher e
das escolas públicas de
quatro gestores
Biritinga. Dessa forma, através da problemática,
os saberes das memórias
serão visibilizados através da
tecidos na perspectiva de comunicação com
Kimsooja (RAPPOLT, 2020), valorizando sua tra-
jetória e reconstruindo sua identidade de modo que possam refletir,
peitar e ter empatia com cada res
participante. Os encontros acontecerão em
28, 29, e 30 de junho de 2021, de forma on-line, em que todos os participan
tes receberão o convite, com dia e horário
determinados para entrarem na
sala do ateliêede encontro. Todos deverão estar em
local acomodado pard
participar da proposta de
Microsoft Teams.
intervenção,
que será
executada na platatorm
O
primeiro ateliê orbita em torno da
denadores pedagógicos. aproximação dos gestores e or
Nesse momento inicial,
a
dinamica do ateliê conversaremos ore
consultando sobre a autorização para
os
gravaaão
e
flmagem dos
encontros. Na
mento Livre sequência, leremos o termo de
Esclarecido, a ser assinado Consenti
Em seguida, na sala pelo grupo.
virtual, faremos uma reflexão sobre a
"Ninguém é igual a ninguém" (2016), da Escola
música
através da
qual discutiremos a Stagium e Mellon Karam
cotidianidade da atuação na rede de
enfrentamento à violência contra a mulher e à docência, sobre
dade de gènero, tomando
como base o
a
desigual
seguinte questionamento: como a
rede de enfrentamento à violência contra as mulheres
pação dentro da escola? agencia sua partici
O segundo atelië se centra no entendimento de como a
perspectiva
de gênero atravessa as ações preventivas desenvolvidas pela rede de
enfrentamento à violência contra mulher. O primeiro movimento será a
instalação virtual Varal de tecido, inspirada nas produções de Kimsooja.
(RAPPOLT, 2020) Trata-se da apresentação de variados tecidos que deve
rão ser escolhidos pelos participantes do ateliê. Cada pessoa deverá sele
cionar uma peça e, a partir dela, narrar sua experiência com a temática em
pauta. Serão colocados no varal recortes de tecidos de diferentes
texturas
véu
e cores (vermelho, preto, estampado, quadrados, rústicos, duros, seda,
escolheram tal tecido, nar-
chita etc.). Os participantes explicarão por que
vida e o como o tecido se relaciona
rando suas memórias e experiências de
a potência dessa instalação
de tecidos
com a temática de gênero. Portanto,
coletiva dará
significâncias de maioria
Como recurso de acolher e agregar
atelie.
o resultado do
respostas significativas para documentário
convidado a assistir o
No terceiro ateli, o grupo será abertura
possibilidade de
(2017) enquanto
Cultine Doc Mulheres Negras permeia as açðes
da
interseccionalidade
sobre como a
para um diálogo mulheres. O ateliê será encer
contra as
violência
rede de enfrentamento à má" (2016).
Antes, porém,
louca ou
música "Triste,
d d o com a audição da
atelië.
realizaremos uma avaliação do
https//www.youtu
em
disponivel
ninguém,
"Ninguóm
é igual a
esentoção
da m ú s i c a
ttps://www.google.com/search?q=m%C3%BAsica+Preta%2C:Louca ouM%c3
be.com/watch?v=AbFVgby4wq4 69/5733i2212
)Gaqs=chrome.
M%C3%Al(.
3 isponivel em: http 3Asica+Preta%2C+Louca+ou
=m%C3%BAs
SI3O.1741joj7&sourceid=chrome&ie=UTF-8.
235
MULHER
E A...
CONTRA
A
V I o L Ê N C I A
ITO
Å
Dessa maneira, discutir a violência de gênero possibilita refletir as
tramas que orquestram as vozes e as gestões nos ambientes educativos.
rede de enfrentamento
aproximação mais estreita entre
a
Nesse sentido, a
ações das escolas públi-
à violência contra às mulheres, bem como as

devem ocorrer em ambos os espa-


cas, dadas as mudanças de atitudes,
da rede
ços formais não formais de educação na atuação dos gestores
-

e
de enfrentamento à violênciae na escola pública, que precisam de práti-
cas insurgentes (WALSH, 2017) e formas outras de se ensinar e aprender.

(HOOKS, 2017)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cenário de violências convida para debates a fim de se ampliar a marcha
para se superarem as concepções eurocêntricase patriarcais que deslegi
timam a história das mulheres, tão marcada pela interseccionalidade de
gênero, vitimadas por serem do gênero feminino. As nossas manifestações
quanto às perspectivas teórico-metodológicas se pautam em compreender
a violência contra a mulher a partir dos reflexos dos papéis sociais hierar
quizados, das relações de poder perpetradas pela cultura patriarcal euro-
cêntrica colonial. A rede de enfrentamento à violêência contra a mulher,
como também a função da escola pública enquanto espaços educativos
relacionais formados por diferentes gestores, modos de vida,
subjetivi
dades e ideias, podem criar outros modos de significar o olhar sobre a
mulher e os papéis de gênero na sociedade. Nesse sentido, propomos con-
frontar ideias e diálogos como forma tanto de se transmitir quanto de se
afirmar a igualdade de gênero entre homens e mulheres.
Nessa correlação, a
cartografia
surge na intenção de cartograta,
mapear, habitar um território existencial, falar de modos de vida, não
com a
pretensão de fazer a delimitação objetiva, preestabelecida, mas de
se pensar nas
possibilidades de produço e subjetividades que possam vir
do mapeamento das redes de
enfrentamento à violência contra a mulher,
tão imprescindível para o resultado
da pesquisa em pauta. Em suma, as
interfaces entre a rede de enfrentamento à
violência contra a mulher,
bem como o papel das escolas
públicas do município de Biritinga seguem
como um horizonte a ser
cÙes de ser, de saber e de desvencilhado da cultura
poder que legitimam e patriarcal, das rela
gênero. Que a redede perpetuam a violência de
proteção à mulher,
assim como as escolas
pOSsam ser estimuladas a públicas
reverem suas
iuntas, mudanças sociais necessárias.estratégias, passando promover,
as a

Esperamos, pois, que essa proposta


tirem acerca da violência
inspire todos, todxs, todes a refle-
contra
cação como
as
mulheres, e ainda o papel da edu-
passaporte para estimular a
sororidade, a diversidade e o senso de paz, àsigualdade de gênero, a
a

dades sociais. respeito diferenças e às identi-

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