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POLITICA DE MEIO AMBIENTE NO BRASIL: A CONSTRUGAO DA CIDADANIA AMBIENTAL Solange 8, Silva-Sdnchez* Oye tes Uric Sobre Meio Ambiente ¢ Desenvalvimento- CNUMAD, realizadt no Rio de Janeiro, em 1992. Nesse processo 0 movt ‘como O debate ambiental no contexto global As perspectivas de abordagem do tema meio ambiente tém mudado muito ao longo dos iiltimos anos, desde « Conferén- cia de Estocolmo, em 1972, até a Conferéncia do Rio, em 1992. 0 trago mais surpreendente e inovador do debate é o reconhecimen- to do direito a um ambiente saudivel, ao lado da emergéncia de jeitos de direito: as geragdes futuras e « propria natureza A formulagao de um estatuto de direito referido a esses novos ARTIGO. ‘Sociologia pela FFLCH-USP 20 Plural; Sociologia, USP, S, Paulo, 6: 20-46, sem. 1999 Politicn de meio ambiente no Bras construgiio da cidadania ambiental Solange 8. Silva-Sénchez sujeitos representa um desafio para a sociedade contempordinea © poderd definir novas regras de reciprocidade e de responsabili- dade, construindo uma nova sociabilidade, mais responsdvel em relagio a sociedade-mundo. Trata-se de uma tarefa decisiva em nosso tempo, que esta a desafiar a imaginagao politica. ‘Tal processo implica a construgdo de uma cidadania de tipo novo, cujo contetido sera definido pela luta politica e prética concreta; uma disputa hist6rica, que pressupde a politizagio da relagiio sociedade-natureza (SANTOS, 1995). Neste sentido, 6 preciso rever 0 primitivo contrato social, que ignora e silencia sobre 0 mundo natural ¢ assinar um novo pacto, um contrato natu- ral (SERRES, 1991), que consideraria o ponto de vista do mundo em sua totalidade. 0 objetivo fundamental é a extensio do conceito de cida- dania para as futuras geragdes e para a natureza. Mas como € pos sivel atribuir direitos & natureza se dela nao exigimos deveres? Como atribuir direitos a sujeitos que ainda esto por vir, nao fa- zem parte, concretamente, do mundo em que vivemos? Esta no- gio de um novo estatuto de sujeito de direitos subverte a nogao tradicional de cidadania e os préprios fundamentos do Diteito. A nogio de direito esta intrinsecamente vinculada a idéi de um sujeito de direito, A declaragiio dos direitos do homem & do cidadio possibilitou a todo homem, em geral, ter acesso ao estatuto de sujeito de direito. A consciéncia dos direitos é, de fato, melhor partilhada pelo conjunto da sociedade quando estes direitos so declarados, garantidos e visiveis pelas leis, ainda que no reduzidos 4 objetivagao juridica (LEFORT, 1987). Em- bora a nogio de sujeito de direito venha sendo ampliada, 0s paradigmas hegeménicos ndo podem atribuir esse status seja & natureza seja as futuras geragdes. Como no caso dos chamados direitos humanos de terceira geragio — em que os titulares dos direitos so as coletividades: a nagao, 0 povo, os grupos étnicos ou regionais, em dltima instdncia, a prépria humanidade (LAFER, 1988) — o titular do direito ambiental ja nao é mais 0 individuo na sua singularidade; trata-se, portanto, de uma ci- Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6:20:46, I sei, 1999 2 dadania de cardter coletivo, que vai além das limitagoes da cidadania construida no marco liberal. Também a temporalidade desse direito € de um outro tipo, ou seja, 6 a perspectiva do fu- turo que conta. Assim, o interesse de uma declaragao de direitos ambientais, que inclua o direito das futuras geragdes e da na- tureza, situa-se no campo dos valores, de uma nova ética, mas principalmente no campo de uma sociedade radicalmente democritica. A passagem de uma titularidade individual para uma cole- tiva suscita alguns dilemas referidos ao relacionamento entre in viduo e coletividade, devido, por exemplo, & imprecisio do proprio conceito de coletividade, dada a grande multiplicidade de grupos ea possibilidade de uns se sobreporem a outros, e aos direitos e deveres do individuo em relagao & comunidade, jé que deve haver uma certa complementariedade na dialética individuo- coletividade, nem sempre facilmente equacionada (SANTOS, 1995). Ademais, os direitos coletivos ancoram os interesses difu- sos, que tém criado uma dificuldade e gerado uma certa crise do direito tradicional. Em outros termos, a racionalidade liberal-bur- guesa é restrita demais para os direitos coletivos © ampla demais para os direitos individuais. Os direitos ambientais, que t¢m ne~ cessariamente esse cardter coletivo e transcendem a singularidade do individuo, dizem respeito 4 nogio de res communes omnium, © por isso tém tragos fortemente democriticos. Sao os riscos e perigos do mundo moderno que fazem emergir a luta ambientalista e a reivindicagao de novos direitos. Assim, surge uma nova agenda social e politica, que pa ocupar um lugar central e privilegiado neste final de século. A problemdtica ambiental enunciou a emergéncia de novos sujeitos de direito, representando um alargamento do campo da cidadania. Essa cidadania de tipo novo requer uma nova propos- ta de sociabilidade, que transcende a relagao entre o Estado © 0 individuo, incluindo de modo privilegiado a propria sociedade civil, com a presenga de sujeitos sociais ativos, como 0 mo mento ambientalista. saa Politica de meio ambiente no Brasil: a ‘construgio da cidadania ambiental Solange S. Silva-Sanchez 2 Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, Lsem, 1999) Politica de melo ambiente no Br construgio da cldadania ambiental Solange $,Silva-Sénchez vas etapas da politica ambiental brasileira vém consolidando, ao menos formalmente, o direito a um meio ambiente saudavel e ecologicamente equilibrado. Ao se sucederem, contudo, essas elapas no se substituem umas as outras, mas se sobrepdem, originando uma teia de leis e instituigdes que muitas vezes se contra- dem e se contradizem. De qualquer modo, a ampliagiio dos direitos a.um meio ambiente sauddvel tem sido a caracteristica marcante dessa politica, Partindo de uma nogiio de meio ambiente essencial- ‘mente caracterizado como um provedor de recursos, chegou-se a um direito & qualidade do meio onde vivem nio s6 os brasileiros de hoje, mas como meio de vida e fonte de recursos das futuras geragdes. ‘A génese da politica ambiental brasileira, entendida como aquela preocupada, explicitamente com a protegio, conservacdo & uso dos recursos ambientais, localiza-se nos anos 30, quando, de fato, 0 Estado brasileiro assume um carter articulador e regu- lador, que garante a efetivagdo de politicas de corte nacional. nesse momento que se constrsi um arcabougo institucional basico do Estado, permitindo dar os primeiros passos na diregao de um projeto de industrializagao nacional, impulsionado sobretudo a partir dos anos 50. Baseado em um projeto desenvolvimentista, a estratégia de industrializagdo envolvia a presenga ativa do Estado como planejader, produtor de insumos e fornecedor de infra- estrutura basica, uma ago quase sempre marcada por caracterfs- ticas centralizadoras, conservadoras e autoritérias (FIORI, 1995). Neste sentido, 0 Estado “administrava” os recursos natu- rais (MONOSOWSKI, 1989), de modo a atender a indiistria nas- cente, tendo como preocupacdes basicas a regulamentagio da apropriagdo dos recursos naturais. A este momento corresponde a adogao, entre outras medidas, do Cédigo das Aguas, do Cédigo de Mineragiio ¢ do Cédigo Florestal, além da legistagao de pro- tegiio ao patriménio histdrico e artistico nacional e de novas insti- tuigdes para aplici-las. A sociedade civil estava ausente no pro- cesso de elaboragao dessas politicas. Plural Sociologia, USP, S. Pavlo, 6: 20-46, Lsem. 1999 2 Durante o regime autoritirio, implantado no Brasil com 0 golpe militar de 1964, a politica ambiental estava ainda vinculada as agdes de um Estado desenvolvimentista, que dava “boas vin- das” 4s indiistrias poluidoras como forma de atrair grandes inves- timentos do capital internacional. A busca de uma legitimidade do regime, deslocada do plano politico para o plano econémico, fez nascer uma politica baseada nos chamados “projetos-impacto”, apoiada em uma ideologia de Estado do “Brasil-poténcia” (CAR- DOSO, 1975). No plano econdmico essa ideologia tinha como pressuposto 0 desenvolvimento a qualquer custo, 0 que levou 0 governo federal a implantar grandes projetos de infra-estrutura, incentivar projetos agropecuarios e de exploragao de recursos minerais sem considerar os impactos ambientais deles decor- rentes. Ao mesmo tempo, havia uma negagao explicita do Estado enquanto lugar de representagio e presenga piiblica da sociedade civil, fazendo com os grandes projetos fossem formulados ¢ implementados como decisdes privativas de uma tecnocracia que comega a se fortalecer dentro da estrutura autoritiria do poder. A tese do crescimento a qualquer custo e de que a pro- tecdo do meio ambiente seria mais um obstéculo para os paises em desenvolvimento foi defendida pelo governo brasileiro na Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em 1972, em Estocolmo, Tal retérica foi duramente eriticada por alguns setores de oposigao ao regime autoritario, Por outro lado, a0 afirmar que o desenvolvimento ndo deveria ser sacrificado em nome de um “meio ambiente limpo” e defendendo posigdes con- troversas a respeito de questées relacionadas ao controle popula- cional, & exaustio dos recursos naturais € ao controle da poluigao © governo brasileiro acabou por assumir uma posigdo de lideranga em relagio aos pafses do Terceiro Mundo, embora a preconizada conexiio entre desenvolvimento e meio ambiente ndo se realizasse internamente no pais (GUIMARAES, 1991). A Conferéncia de Estocolmo deu maior visibilidade ao tema “meio ambiente” no contexto interno brasileiro, os meios de ‘comunicagao de massa passaram a dar mais importaneia ao assun- ambiente no Brasil: a construcio da cidadania ambiental Solange S. Silva-Sénchez 4 Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, | sem. 1999 Politica de meio ambiente no Bra construgio da cidadania ambiental Solange §,Silva-Sénchez to (ANTUNIASSI et al., 1989) e o ntimero de demincias de degra- dagao € destruigdo dos recursos naturais no pafs aumentou de modo significativo. Assim, os primeiros anos da década de 70 marcam 0 inicio do debate ambiental e sua insergio na arena politica; comegam a surgir alguns grupos e associagSes voltados & problematica ambiental, dando origem ao movimento ambienta- lista brasileiro (VIOLA, 1987). A partir de 1974, com o inicio do processo de abertura do regime autoritério, novos grupos surgi- ram no pais, desde aqueles voltados a luta contra a degradagao ambiental em sentido estrito até aqueles que defendiam uma mudanga nos valores culturais € nos comportamentos sociais. No ano seguinte 4 Conferéncia de Estocolmo, foi criada a ‘Secretaria Especial de Meio Ambiente-SEMA, marcando uma nova etapa da politica ambiental brasileira, mais voltada ao controle da poluigdo industrial (MONOSOWSKI, 1989). A criagao desse 6rgio: estava em sintonia com a estratégia autoritério-tecnocritica de mo- taco: a entio chamada “burocracia modernizante” (CARDOSO, 1979) passou a responder por um sistema brasileiro de planejamento, 0 que possibilitou a organizagao de uma estratura voltada, entre outras atividades, ao gerenciamento dos recursos na- turais, diferentemente das ages voltadas apenas para uma adminis- tragdo da exploragio desses recursos, como ocorria nos governos anteriores. Varias agéncias setoriais foram criadas, mesmo nos niveis estadual e municipal, possibilitando a emergéncia de um “ambientalismo de Estado”, fendmeno bastante significative no Brasil, caracterizado pela identificagdo de técnicos dessas agéncias com a questo ambiental (PADUA, 1991). Frente ao processo de urbanizagao intensiva © mento das regides metropolitanas, durante os anos 70, um novo Conjunto de instrumentos de protegdo ambiental comega a ser for- mulado, pela primeira vez. voltado ao planejamento territorial (por exemplo, leis metropolitanas de zoneamento industrial e de pro- tegdio de mananciais; planos de zoneamento de uso € ocupagio do solo e de bacias hidrograficas). Tais agdes sio dirigidas basica- apenas sao 10 cresci- mente ao setor privado; os projetos governamentais Phural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, 1 sem. 1999 2s objeto de controle no caso de pressdes externas exercidas por agéncias internacionais de financiamento. Esse € um momento de intensa atuagio do movimento ambientalista, que passa a participar, ainda que indiretamente, do proceso eleitoral, indicando e apoiando candidatos comprometi- dos com a causa ambiental (VIOLA, 1987). Os ambientalistas participam da campanha pelas “diretas-ja” e também passam a organizar encontros regionais, que constituem um espago de debates para a definigtio das prioridades de lutas, das formas de relacionamento com as agéncias estatais ¢ outros movimentos sociais e das formas de participagiio na elaboragao da nova Cons tituigdo brasileira. Em meio a este processo, é formulada a Politica Nacional de Meio Ambiente, que se propde realizar uma gestio integrada dos recursos naturais ¢ pode ser considerada um ponto paradig- matico na legislagao ambiental brasileira. A nova lei constitui uma primeira tentativa de sistematizagao da matéria ambiental no quadro juridico-institucional (MACHADO, 1991), também é a primeira a definir legalmente 0 conceito de meio ambiente, que passou a ser considerado um “patriménio ptiblico a ser necessaria- mente assegurado e protegido, tendo em vista 0 uso coletivo”. A lei contempla diversos instrumentos e estratégias para sua imple- mentagio, entre os quais 0 estabelecimento de padrdes de quali- dade ambiental ¢ a avaliagio de impactos ambientais, além de responsabilizar 0 Estado em relagdo as suas préprias agdes, ou seja, tanto as atividades privadas como as piblicas devem ser desenvolvidas em conformidade com a lei ambiental. Isto repre- sentou um avango importante em relagdo as politicas anteriores. Através dessa Lei, foram criados 0 Conselho Nacional de Meio Ambiente-CONAMA, 6rgdo integrado por representantes do go- verno e da sociedade civil ¢ o Sistema Nacional de Meio Ambi- ente-SISNAMA, visando a articulagao das agdes dos ratios ambi- entais nos niveis federal, estadual e municipal Outros dois importantes instrumentos legais foram cria- dos nesse periodo, Em 1985, foi promulgada uma lei que disci- 6 Plural; Sociologia, US Politica de meio ambiente no Brasil: « construsio da cidadania ambiental Solange S. Silva-Sénchez 8. Paulo, 6 20-46, Isem, 1999) Politica de melo ambiente no Brasi construgiio da cidadania ambiental Solange S.Silva-Sénchee plinou a ago civil pablica de responsabilidade por prejufzos cau- sados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artistico, estético, turistico e paisagistico, legitimando a propos do de agdes judiciais em defesa dos chamados interesses difusos. Uma importante inovagio foi a legitimagao das associagdes © or- ganizagdes nfo-governamentais, que tenham entre suas finali- dades a protecio ao meio ambiente, como autoras da agao civil; a lei ndo prevé custas, honorérios periciais ou quaisquer outras des- pesas, 0 que possibilita & associagdo prosseguir com a ago ainda que naio disponha de fundos para custed-la. Apesar dos problemas priticos envolvidos no uso desse instrumento legal (FERNAN- DES, 1994), & inegdvel que a ago civil publica acabou por valo- rizar a participagdo democratica na gestdo de problemas que po- deriam ser considerados apenas como competéncia do Estado, re~ forgando a nogio de res communes omnium dos bens ambientais, que prevalece, inclusive, sobre a sua conotagao de res publica Em 1986, foram estabelecidas as diretrizes basicas para a elaboragdo dos estudos de impacto ambiental, contemplando a realizagao de audiéncias pablicas para a discussdo de projetos com potencial de degradagio ambiental, garantindo, assim, 0 di- reito do cidadio de receber informagées acerca de projetos que possam comprometer a qualidade ambiental. Ademais, a elabo- ragiio desses estudos permite a constituigao de espagos de negoc' aco social no processo de tomada de decisao, possibilitando uma “gesto democratica do meio ambiente” (SANCHEZ, 1993) A consolidagiio dos avangos da politica ambiental ocorre com a promulgacao da Constituigio de 1988, que vai situar 0 direito a0 meio ambiente no mesmo nivel dos direitos e garantias funda mentais, ao estabelecer que “todos tém 0 direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Piblico e a coletivi- dade o dever de defendé-lo para as presentes e futuras geragées” No processo de discussao e elaboragiio da Constituigio, © movimento ambientalista teve uma atuagio efetiva, organizou varios encontros regionais ¢ nacionais ¢ elaborou “listas verdes” Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6 20-46, 1 sem. 1999 2 com indicagiio de candidatos de diversos partidos politicos para 0 Congresso Nacional. As propostas elaboradas pelo movimento durante o debate Constituinte foram bastante amplas, coincidindo, em viirios aspectos, com reivindicagées de outros segment ciais, como associagées de moradores, movimento dos sem-terra, dos atingidos por grandes barragens. 5 importante considerar que ‘a propria problemdtica s6cio-ambiental brasileira aproxima as pro- postas desses diferentes grupos sociais a tal ponto que nao & pos- sivel restringir a Tuta e as conquistas na éirea ambiental apenas a0 movimento ambientalista, A Constituicao brasileira atendeu varias reivindicagdes dos ambientalistas € consolidou os principios ja adotados pela Lei da Politica Nacional de Meio Ambiente. Entre outras questées, a nova Carta considerou © meio ambiente como “patriménio piiblico”, um bem que pertence a todos. Até entdo, os bens naturais eram considerados bens da Unio, o que niio garan- tia sua protegiio, pois ou acabavam sendo privatizados, ou trans- formados de modo inadequado pelo préprio Estado, Ainda em 1988, 0 governo federal criou 0 programa “Nossa Natureza’” com 0 objetivo de reformular a legislagao ambi- ental e apresentar uma série de diretrizes para a protegiio do meio ambiente, principalmente na regio amaznica, Entre as medidas anunciadas, as mais significativas foram a suspensio dos incen- tivos fiscais e créditos oficiais para projetos de desenvolvimento. Esse programa foi uma forma de dar uma resposta ripida as criti- cas que 0 governo vinha sofrendo da comunidade internacional, sobretudo em relagdio ao desmatamento na Amaz6nia, que chegou inclusive a comprometer a liberagio de empréstimos ao Brasil No ano seguinte, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambi: ente e dos Recursos Naturais Renovaveis-IBAMA, que fundiu em sua estrutura varias agéncias com atribuigdes, finalidades € cul- turas organizacionais diferentes. O objetivo do novo érgao era coordenar, em nivel federal, a politica nacional de meio ambiente, aplicar a legislagdo em vigor e atuar, em cardter supletivo, nos estados onde os 6rgaos ambientais nao estivessem cumprindo suas fungdes. Em 1990, 0 governo brasileiro assinou um acordo de 2 Plural; Sociologia, USP, Politica de meio ambiente no Brasil: a construsio da cidadania ambiental Solange S. Silva-Sinchez. Paulo, 6: 20-46, 1.sem. 1999 de meio ambiente no Bras construgiio da cidadania ambiental Solange S.Silva-Sdnchez empréstimo com 0 Banco Mundial para « implementagao do Pro- grama Nacional de Meio Ambiente-PNMA, que previa, entre ou- tras ages, o fortalecimento do IBAMA, a melhoria da gestéo das unidades de conservagio jé existentes, além da criagio de novas, € 0 gerenciamento ¢ fiscalizagdo de ecossistemas ameacados (WORLD BANK, 1990). No mesmo ano, foi eriado o Fundo Nacional do Meio Ambiente-FNMA, um dos componentes do programa “Nossa Natureza”, com 0 objetivo de apoiar projetos visando 0 uso sustentavel dos recursos naturais, ‘A década de 80 foi mareada por importantes conquistas no campo ambiental. Embora o processo de discussao ¢ imple- mentagao de uma politica ambiental tenha sido parte de uma estratégia burocritica de certos setores do governo, no sentido de sistematizar uma série de normas, estratégias © instrumentos relacionados & matéria ambiental e, ainda, dar uma resposta as agéncias de financiamento ¢ outros organismos internacionais (WANDESFORDE-SMITH e MOREIRA, 1985), nido podemos desconsiderar o importante papel desempenhado pelo movimento ambientalista ao longo de todo 0 processo. Suas demandas inseri- ram no debate politico a questo da participagaio democrética da 10 acerca da apropriagdo dos recur- sos naturais e da formulagio de politicas que garantam a quali- dade de vida, tendo sempre por referéncia a insergaio de novos direitos. A aproximagao da Conferéncia das Nagdes Unidas para Meio Ambiente ¢ Desenvolvimento-CNUMAD, que o Brasil viria sediar em 1992, estimulou ainda mais o debate ambiental, de modo que os primeiros anos da década de 90, periodo denomina- do “Brasil Novo”, so extremamente significativos e reveladores. sociedade no processo de decis As contradigGes da politica ambiental do “Brasil Novo” A década de 90 anunciou-se como uma grande promessa de consolidagao democritica para o Brasil, Pela primeira vez depois de mais de duas décadas de governos autoritérios chegava Plural; Sociologia, USP, S, Paulo, 6: 20-46, I sem, 1999 2» ‘ao poder um presidente democraticamente eleito. Mais do que isto, chegava ao poder um presidente que declarava representar a propria modernidade, com a qual mudaria o perfil do pafs. No entanto, as ambigiiidades e contradigdes que caracterizaram 0 governo de Fernando Collor de Mello, tornaram este periodo bas- {ante particular na hist6ria recente do pais. Um politico com tragos marcadamente messidnicos, obstinado no ideal de governar sozi- nho, apostando na fragmentacao dos setores organizados da so- ciedade e mantendo-se marginal em relagdo a essas forgas € mes- mo ao sistema partidario. Apés pouco mais de dois anos da eleigdo, ¢ de um governo marcado pela corrupgio, 0 novo Presi- dente sofreu um processo de impeachment. Seu governo foi extremamente importante para o debate am- biental, menos pelas agdes implementadas do que pela possibilidade de explicitar na arena politica a complexidade do conflito social que permeia a problemitica ambiental. Ademais, a atuagio do Estado, como um dos agentes envolvidos nesse debate, revelou aspectos fundamentais do projeto politico que se pretendia para o pais. As vésperas da realizagio da Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD, ou Conferéncia do Rio, realizada em 1992, no Rio de Janeiro, Collor tratou de incor- porar a questo ambiental como um dos pontos centrais de seu go- vero, construindo um discurso marcadamente ambientalista, O novo governo foi instalado em um ano decisivo da pro- blematica ambiental no Brasil, em fungao do processo de prepara- gio da Conferéneia do Rio. A influéncia desse processo, cujo prin- cfpio fundamental foi a necessidade de pensar as relagdes entre desenvolvimento econémico e social e preservagiio do meio am! ente, foi marcante no discurso do Estado brasileiro. Além disso, Collor assumiu 0 governo num momento de crescimento de uma “segunda onda ambientalista” mundial. A primeira havia ocorrido no final dos anos 60 ¢ tivera um carater marcadamente instituinte, tendo levado a criagio de le como o National Environment Policy Act dos Estados Unidos (1969), instituigdes nacionais como a Environmental Protection Agency-EPA, nesse mesmo pats x0 Politica de meio ambiente no Brasil: « construsio da cidadania ambiental Solange 8. Silva-Sénchez ural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, | sem. 1999 Politica de meto ambiente no Brasil: a ‘construgo da cidadania ambiental Solange S. Silva-Sénchez (1970), e instituigoes internacionais como 0 Programa das Nagoes Unidas para o Meio Ambiente-PNUMA (1972), criado por oca- sitio da Conferéncia de Estocolmo. No final dos anos 80, apés um periodo de relativo refluxo, a maré ambientalista tomou a subir, agora em um mundo muito mais globalizado, com problemas t bém globais, como a destruigio da camada de oz6nio, as mudan- as climaticas e a perda da biodiversidade. A discussiio ambiental foi incorporada pelo novo governo apartir de uma perspectiva neoliberal e serviu como um dos pilares na construgio de um discurso com forte apelo a questo da moder- nidade, que Collor afirmava representar. Ademais, 0 tema meio ambiente serviu muito bem a estratégia de abertura econémica do pais ao mercado externo, tanto para a busca de novos investimen- tos privados quanto para a obtengdo de financiamentos ditos am- bientais. © governo procurou, em um primeiro momento, trangiii- lizar os paises da Europa e os Estados Unidos acerea dos proble~ s de degradacao ambiental no pafs, notadamente os desmata- mentos na Amaz6nia; nomeou um ambientalista reconhecido inter- nacionalmente para integrar a equipe de governo; agilizou a politi ca de demarcagao de terras indigenas e reforgou o poder de fiscali- zagao de 6rgios como o IBAMA. Apesar destas iniciativas, varias .s do governo na drea ambiental representaram um risco poten- ial de retrocesso em relagio aos direitos j4 garantidos. No entan- to, a comunidade ambientalista conseguiu garantir aquelas con- guistas e manter a participagdo em importantes espagos de decisao. Ainda durante o perfodo eleitoral, os ambientalistas envia- ram para todos os candidatos a Presidéncia da Reptiblica, um do- cumento conhecido como “Plataforma ambiental minima para os presidenciveis”. Tal documento foi resultado de um esforgo dos ambientalistas, no sentido de levantar questdes ligadas proble- matica ambiental, consideradas fundamentais, e reunir opinides, pareceres e propostas néo apenas das préprias entidades ambien- talistas, mas também de cientistas, especialistas e técnicos da drea ambiental, inclusive de agéncias governamentais, que poderiam, de alguma forma, contribuir para o debate. Ao final desse proces- Plural; Sociologia, USP, . Paulo, 6:20.46, I sem. 1999 u so de intensa discussao, definiu-se uma “plataforma mt Politica de mei construgio da cidadania ambiental entio encaminhada aos presidencidveis, que deveriam manifestar — Songe', Silve-Sncher sua concordancia ou nio acerca da implantagio das medidas ja nos primeiros dias de governo, Nem todos os candidatos respon- deram aos ambientalistas. Collor foi um dos que respondeu, quase sempre concordando com as propostas. Em carta encaminhada as entidades ambientalistas, chegou a dizer que pretendia ouvir a sociedade civil e prometeu “recollorir de verde 0 que foi feito cinza pelo capitalismo selvagem...”. Assim, os ambientalistas jit se apresentavam como interlocutores importantes antes mesmo que © proceso eleitoral estivesse terminado, dando provas de sua maturidade e capacidade de articulagao politica, caracterfstica {que seriam marcantes durante todo o perfodo que haveria de vi Um dos principais interlocutores do governo foi o Férum das Organizagdes Nao-Governamentais Brasileiras Preparatério para a Conferéncia da Sociedade Civil sobre Meio Ambiente e De- senvolvimento, criado em junho de 1990. Desde o inicio, o Forum manteve um caréter pluralista, congregando entidades de defesa dos direitos indigenas, grupos feministas, movimentos populares, entidades sindicais: “o Forum nao € exclusivamente ambientalista. Para a superagio dos problemas ambientais € necesséria a articu- lacdo de todos os setores que buscam os mesmos objetivos. Sendo assim, o Férum € aberto a participago de todas as ONG’s e enti dades da sociedade civil que tenham uma pritica voltada & recu- peragio, protecao ¢ methoria do meio ambiente ¢ da qualidade de vida e que sejam reconhecidamente independentes em relagiio ao modelo de desenvolvimento atual e sejam aprovadas pelo Forum”. Forum manteye-se para além da realizagao da Conferéneia do Rio, torando-se um novo sujeito politico coletive fundamental no processo de discussiio da politica ambiental brasileira. © encontro paralelo & conferéncia oficial — Conferéncia da Sociedade Civil Global sobre Meio Ambiente ¢ Desenvolvimento ou Férum Global Rio’92 —, promovido por entidades das sociedades civil nacional ¢€ internacional, foi coordenado pelo Férum de ONG's Brasileiras ima”, e pelo International Facilitating Committee-IFC. 2 Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, 1 sem. 1999 Politica de meio ambiente no Brasil: a construgaio da cidadania ambiental Solange S. Silsa-Sénchez Ao as lacdio da estrutura institucional do governo, criando novos minis- térios e secretarias, entre as quais a Secretaria de Meio Ambiente da Presidéncia da Repiblica-Semam/PR, cujo titular seria José Lutzenberger. Se, por um lado, havia a disposicao de integrar & equipe de governo um ambientalista hist6rico, por outro, a estru- tura institucional foi montada de modo a concentrar na Secretaria de Assuntos Estratégicos-SAE e no Ministério de Relagdes Exte~ riores 0 verdadeiro poder de decisiio em termos de politica ambi ental, Foram estes organismos que representaram © pafs durante as reunides preparatorias da Conferéneia do Rio, muitas vezes defendendo posigdes abertamente contrérias aquelas defendidas pelo Secretdrio Nacional de Meio Ambiente. Foi necessério ape- nas um breve perfodo frente & Semam para que Lutzenberger ma- nifestasse as divergéncias e contradigdes em relagdio aos setores mais conservadores do governo. A prépria preparagao da partici pagio do Brasil na CNUMAD ficou a cargo de uma comissio pre- sidida pelo entdo Ministro das Relagdes Exteriores, cujas prine pais atribuigdes referiam-se a elaboragdo de um relatério que refletisse as experiéncias e perspectivas sobre meio ambiente e desenvolvimento no pats. O governo priorizava os temas ambientais segundo a atragio que poderiam exercer no contexto internacional. Assim, a preservagio da Amazénia e a politica indigenista foram pontos centrais da agenda ambiental de Color. Nessa perspectiva, 0 pro- jeto que talvez tenha consumido mais esforgos do governo foi o Plano para Preservagdo das Florestas Brasileiras, cuja proposta surgiu em um encontro do G-7, realizado em 1990, em Houston, nos Estados Unidos. Na verdade, os crescentes problemas rela- jonados com as mudangas climéticas e a valorizagio da biodi versidade colocaram as florestas brasileiras, particularmente a Floresta amazdniea, no centro das preocupagées internacionais, 0 que explica tal proposta. Mesmo sendo uma iniciativa do G-7, houve resisténcia de alguns pafses em conceder os recursos, pois viam com certa apreensiio a tarefa colocada ao Brasil de adminis- sumir a presidéncia, Collor realizou uma reformu- Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, I sem. 1999 B trar um projeto de grandes dimensdes; existia, ainda, a preocu- pagio com a burocracia brasileira e a falta de agilidade do gover- no. O programa foi considerado inovador, pois deveria incentivar a participagdo da sociedade, através das organizagdes nfio-gover- namentais (WORLD BANK, 1991). No entanto, 0 governo brasi- leiro praticamente excluin a participagdo do movimento ambien- talista do gerenciamento dos recursos, 0 que gerou criticas ¢ até a contestagao da legitimidade do Programa Piloto. Os setores ambi- centalistas manifestaram-se imediatamente, alegando que o plano fora concebido sem uma consulta a representantes da sociedade civil, e que as propostas nao garantiam a preservagao ambiental na regifio amazénica; as criticas referiam-se, ademais, & proviivel incapacidade operacional do 6rgao ambiental para gerenciar uma verba estimada em US$ 1,5 bilhdo. As ONG's internacionais ma- nifestaram apoio aos ambientalistas brasileiros © as negociagdes com o Banco Mundial chegaram a ser suspensas face as resistén- cias do governo brasileiro em aceitar a participagao das ONG’s. Uma primeira versio do Programa apresentada em Londres, em julho de 1991, foi recusada pelos organismos internacionais e, apenas cinco meses mais tarde, parte dos recursos previstos foi liberada, de modo a viabilizar uma fase preliminar do projeto. Oficialmente, 0 Programa Piloto foi criado por decreto presiden- cial, em junho de 1992, que também criou uma comisstio de coor- denagio do programa, formada por representantes do governo ¢ por duas entidades ndo-governamentais, além de representantes da sociedade civil, escolhidos pelas proprias entidades, com man- dato de trés anos. O movimento ambientalista sempre manifestou sua des- confianga em relagdo A gestio dos recursos financeiros internacio- nais pelo governo brasileiro. Diante do antincio de doagao de re- cursos por parte do governo alemao, a reagio dos ambientalistas foi imediata: entregaram uma carta, assinada por mais de trinta entidades, diretamente ao chanceler da Alemanha, Helmut Kohl, durante sua visita & Amaz6nia. Nesta carta, os ambientalistas afir- mavam que no havia qualquer processo formal de consulta as Politica de meio ambiente no Brasil: 2 ‘construgio da cidadania ambiental Solange S. Silva-Sinchez M Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, 1 sem, 1999 Politica de meto ambiente no Brasil: 2 construc da cidadania ambiental Solange 8, Silva-Séinchez ONG?’s brasileiras sobre o destino dos recursos, em suas palavras: “nada nos assegura que a Amaz6nia e a Mata Atlantica serao, efe- tivamente, beneficiadas com os recursos colocados a disposicao do governo brasileiro”, Os ambientalistas justificavam suas preo- cupagées alegando que o Fundo Nacional de Meio Ambiente tivera seus recursos reduzidos; que as unidades de conservagiio © jo recebiam apoio nem a devida regu- as reservas extrativistas larizagio fundiaria; que as comunidades indigenas viviam uma situagio critica, desassistidas pelo poder pablico; que havia cor- rupcdo e desvio de recursos puiblicos em todos os niveis do gover- no e, finalmente, que o Programa Nacional de Meio Ambiente, financiado pelo Banco Mundial, néo estava sendo bem gerencia- do, levando o pais a pagar juros sobre os recursos liberados e no utilizados. Diante de tais preocupagdes, de uma politica ambien- tal ngio democratica ¢ insatisfatoriamente administrada, os aml entalistas propunham, na carta, que 0 govern alemio repassasse diretamente as organizagdes ndo-governamentais os recursos des- tinados ao Brasil, através de um Fundo Social Verde, que seria entio criado e gerenciado pela sociedade civil. Quanto & politica indigenista, importa destacar a demar- cago do territério Yanomami, com mais de nove milhdes de hectares. Durante os primeiros meses de governo, essa questio praticamente polarizou o debate, tendo de um lado, os grupos © associagées brasileiras e internacionais de apoio aos indios, de outro, os militares, que viam na questao indigena um pretexto para que grupos com vineulos internacionais tivessem forga para impor a0 Estado brasileiro uma soberania restrita. Neste caso particular, Collor revogou um decreto assinado no governo anterior, que havia subdividido 0 territério Yanomami em dezenove Areas descon- tinuas, entrecortadas por “florestas nacionais”, uma figura juridica que permite a exploragdo dos recursos naturais, 0 que gerou protestos por parte de grupos brasileiros ¢ internacionais ligados & questo indigena, A fragmentaco dessa rea interessava sobretu- do aos militares, que viam 0 territério Yanomami como um enclave por demais perigoso em se tratando de uma érea de fronteira. USP, 8. Paulo, 6: 20-46, Isem. 1999 3s Segundo o ponto de vista militar, as ONG’s brasileiras e interna- cionais ligadas a questio indigena estariam trabalhando para a internacionalizagio da Amaz6nia, Por tudo isso, a decisiio de revogar o decreto que homologou as dezenove “ilhas” Yanomami causou furor entre os militares € uma surpresa agradavel entre os indigenistas. Transformada em grande evento, a demareagiio teve uma significativa repercussao internacional, atingindo os objetivos do governo e servindo muito bem ao discurso ambientalista sus- tentado por Collor durante a Conferéncia do Rio. méimero de dreas indigenas demarcadas foi bastante sig- nificativo em comparagao aos governos anteriores (cingiienta € duas dreas, enquanto que entre 1987 e 1990, foram apenas oito, localizadas fora da faixa de fronteira, sendo a maioria de pequena extensio territorial). Por outro lado, a politica de demarcagio de terras esteve praticamente desvinculada de uma politica indi- genista mais ampla ¢ consistente. Os grupos de apoio aos povos indigenas denunciavam, as vésperas da Conferéncia do Rio, a total paralisia do érgdo governamental responsavel pela questo indigena, Contraditoriamente & politica de demarcagées, 0 gover- no retomou as discussdes de um projeto polémico de prolonga- mento de uma rodovia na AmazOnia, que atravessaria o Peru, atingindo © oceano Pacifico (rodovia BR-364) © que poderia causar significativos impactos ambientais, Ainda no plano interno, © Governo Collor restabeleceu a politica de incentivos fiscais para a Amaz6nia — suspensos desde 1989, com o programa “Nossa Natureza” — assumindo uma posi- do abertamente contriria aquela defendida pelo movimento am- bientalista, Sabe-se que a politica de incentivos fiscais implemen- tada durante o regime militar foi responsavel, em grande parte, por sérios danos ao meio ambiente, pelo aumento dos conflitos fundidrios e por colocar em risco a sobrevivéncia de varios povos indigenas. Parte significativa dos projetos que receberam incen- tivos fiscais voltava-se A pecudria, que se tornou uma das princi- pais causas de desmatamento (MAHAR, 1989). Pressionado pelo movimento ambientalista, Collor assinou um decreto revendo a Potitica de meio ambiente no Brasil: ‘construgio da cidadania ambiental Solange S, Silva-Sdnchez % Plurat; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, sem. 1999 Politica de meio ambiente no Brasil: canstrucio da cidadania ambiental Solange 8, Silva-Séinchez 4 concessao de incentivos, que seriam vetados para aqueles empre- endimentos que envolyessem desmatamento de areas de floresta priméria e destruigdo de ecossistemas primérios; além disso, os empreendimentos ficaram sujeitos & suspenséo de seu funciona- mento e ao cancelamento dos recursos financeiros em casos de “comprovada transgressio da legislagao de protegio ambiental em vigor”. De um modo geral, a politica tragada para a Amazénia ‘gerou diversas polémicas e conflitos no interior do governo, envol- vendo o proprio Secretirio Nacional do Meio Ambiente, José Lutzenberger, que esteve praticamente isolado, nao obstante a pressfio pessoal que exerceu sobre Collor em relagio a varios as suntos polémicos, como no caso da demarcagao da area indfgena rios atritos com os setores militares, nperialismo, favordvel & Yanomami. Isto Ihe valeu s que o consideravam um representante do internacionalizagio da Amaz6nia. A ret6rica nacionalista ganhou forca entre os militares, alguns setores do empresariado ¢ fazen- deiros da regio, que afirmayam ter 0 meio ambiente se transfor- mado em uma “questio de seguranca nacional”, devendo a pro- tego ambiental “conciliar-se com as imposigdes da soberania nacional”. No entanto, a perspectiva da ampliar a participagio das Forgas Armadas na Amaz6nia, como forma de garantir a “segu- ranga nacional”, ndo encontrau eco suficiente junto a0 governo. As divergéncias entre o Secretirio de Meio Ambiente ¢ os setores mais conservadores do governo foram intensificadas medida que se aproximava a Conferéncia do Rio. Durante 0 encontro internacional da qnarta sessto do Comité Preparatério da Conferéneia do Rio (Prepcom), Lutzenberger fez demincias contra o 6rgiio ambiental federal, declarando temer que o dinheiro enviado ao Brasil para projetos de preservagao ambiental “acabasse nas mios da cormipgao”, o que acentuou ainda mais seu isolamento no governo, criando expectativas em torno da sua saida. A demissio partiu do préprio Presidente Collor, sob 0 argu- mento de que era necessério assegurar “um sé pensamento ¢ ago na Area da protecio ao ambiente” ural; Sociologia, USP, S, Paulo, 6: 20-46, I sein, 1999 7 E possivel afirmar que Lutzenberger tenha exercido mais 0 Constr dn cidadaia ambiental papel de embaixador da questio ambiental; o fato de ter alguma — Sormeuge ca gas ambiental dificuldade para articular apoio dentro do governo levou varios representantes do movimento ambientalista a considerar que se tratava da “pessoa certa no lugar errado”. A nomeagio de Lutzen- berger havia contado com 0 apoio dos ambientalistas; todavia, alguns setores do movimento entendiam que essa escolha tinha 0 claro objetivo de servir 4 construgdo de uma imagem satisfatéria do governo no cenério intemacional. Mas, para além da construgo dessa imagem, a nomeagio de José Lutzenberger significou um reconhecimento de fato do movimento ambientalista brasileiro, ainda que ele nfo tenha sido o interlocutor que 0 movimento espe- rava, Sua demissiio tomou explicita a real correlagio de forgas na frea ambiental do governo e o peso considerivel dado aos setores militares e & propria Secretaria de Assuntos Estratégicos-SAE. As vésperas da Conferéncia do Rio, Collor apresentou ao Congresso Nacional um anteprojeto de consolidagao das leis ambientais brasileiras que recebeu duras criticas da sociedade civil. Ainda que se tratasse de um projeto de consolidagio e, por- tanto, com fungdo apenas de reunir leis esparsas em um Gnico diploma legal, 0 texto proposto violava inimeros artigos da Cons- io Federal, centralizava poderes no ambito do governo fede- ral e implicava uma ampla revogagao da legislagao existente, ameagando varias conquistas e avangos na rea ambiental. Foi realizada uma audiéncia publica que resultou em uma mogao de repiidio ao anteprojeto, definindo-o como inaceitavel, ja 0 pais ficaria “inteiramente desamparado” com a revogagao dos int- meros decretos ¢ leis editados nas trés diltimas décadas. A mogao exigia que fossem incorporados & nova lei os principais avangos da Conferéncia do Rio e que fosse formada uma comissio nacional para reelaboragao do anteprojeto. Varios parlamentares e entidades ambientalistas assinaram a mogio de repidio; foram apresentadas mais de mil emendas ao anteprojeto, envolvendo temas polémicos e exigindo a prorrogagao do prazo para a parti- cipagao da sociedade nas discussdes. Em abril de 1992, quase cn Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, | sem. 1999 Politica de meio amt construsio da cidadania ambiental Solange S. Silva-Sénchez dois meses depois da publicagdo em Diario Oficial, 0 governo desistiu de enviar o anteprojeto ao Congresso, sob 0 argumento de que ji nfio havia tempo suficiente para concluir os trabalhos. No lugar da nova lei, 0 governo resolveu publicar uma coletinea de toda a legislagao ambiental brasileira. © fato é que Collor incorporou a questo ambiental na estratégia politica global de seu governo, como uma das medidas projetadas para manter sua popularidade. A apropriagao do tema meio ambiente pelo discurso oficial e sua incorporagao na estraté- gia politica do presidente péde, em alguma medida, revelar aspee: tos de seu projeto politico e 0 apoio que necessitava para imple- menté-lo. A orientagilo explicita de sua politica externa era a de se identificar com os paises industrializados. Nao obstante os esfor- ¢08 do Governo Collor para usufruir da posigao de destaque que o pafs ocupava no cendrio internacional, em razio da riqueza de seus recursos naturais e da preocupagaio em preservd-los, notada- mente a Amazénia, os investimentos € financiamentos obtidos para implementacio de projetos ambientais nao lograram sucesso. A instabilidade institucional dos érgdos responsdveis pela formu- lagiio e implementagdo das politicas ambientais foi marcante durante o Governo Collor e prosseguiu apés sua saida: apenas no periodo de 1990/1994, 0 IBAMA passou por nada menos que nove presidentes (seis dos quais durante 0 Governo Collor); a estrutura da Secretaria de Meio Ambiente da Presidéncia da Republica foi extinta em outubro de 1992, dando lugar ao Minis tério do Meio Ambiente, que, por sua vez, foi substituido pelo Ministério do Meio Ambiente e da Amaz6nia Legal. Arcaismos ¢ crise do Estado brasileiro ‘As ages politicas na érea ambiental pretenderam, a maior parte do tempo, apenas gerar impactos. Ora, uma “politica de mpactos” tem fOlego curto e nao pode se converter em uma poli- tica de governo propriamente dita. Para tentar compreender o dis- Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, : 20-46, Lsem, 1999 ” curso ambientalista produzido por Collor ¢ a atuagdo de seu go- yerno em relagdo politica ambiental, é preciso recuperar 0 con- texto no qual se deu a sua chegada ao poder. A vit6ria de Collor nas eleigdes de 1989 foi resultado de um momento muito particu- lar do cenério polttico brasileiro. Os trés iltimos anos do governo militar ja anunciavam uma crise de credibilidade do Estado, das instituigées politicas e dos préprios politicos, além de uma grave crise de acumulagao e da capacidade do Estado proporcionar pre- sibilidade & economia, papel que sempre desempenhou. O dis- curso de Collor incidiu sobre os pontos centrais da crise brasileira. Ademais, Collor procurou afastar-se e distinguir-se dos politicos ¢ das proprias organizagdes empresariais; sua candidatura nao se sustentava sobre qualquer setor organizado ou especifico da sociedade, seu discurso era voltado para 0 “povo. O conjunto de forcas politicas que clegeu Fernando Collor de Mello era bastante diversificado: de um lado, as parcelas mais pobres da populagdio, que representaram o maior mimero de votos; de outro lado, algu- mas fragdes das classes médias, preocupadas com a possibilidade de sua proletarizago; complementou, ainda, 0 conjunto, o grande bloco formado pelas burguesias, que nao chegavam a constituir uma unidade e nem confiavam inteiramente em Collor, fa qualidade de messias. A falta de unidade dessas forgas politicas ¢, principalmente, a auséneia de uma base de sustentacdo dos setores organizados da sociedade, representavam um problema de gover- nabilidade para Collor, desde dificuldades para montar um plano de governo até para indicar ministros (OLIVEIRA, 1991). Institufdo novo governo, toda a orientagao pol marcadamente privatizante, no exato sentido de uma privatizagao do piiblico sem a correspondent publicizagio do privado, com a utilizagdo de recursos puiblicos para a constituigdo de um novo bloco de capitais privados. A orientagdo privatizante também se deu no sentido da indiferenciagao entre 0 piblico e o privado, o que significa a destruigao da esfera democratica dos sentidos dos direitos civis, sociais e politicos, das garantias da cidadania em face dos interesses presidenciais. © novo presidente tratava a sua, ica foi 0 Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, | sem, 1998 ‘construcio da cidadania ambiental Solange S. Silva-Sénchez Politica de meio ambiente no Bras construgio da cidadania ambiental Solange S. Silva-Séinchez politica como espeticulo, reduzindo os cidaciios a meros especta- dores, negando © compromisso com o bem comum, com a res pu- blica, ¢ substituindo 0 piblico pelo publicitério (RIBEIRO, 1994). Aestratégia de Collor visava acabar, ou no minimo enfra- quecer, as formas ¢ forgas sociais organizadas da sociedade e as arenas emergentes de negociagao. As tentativas nesse sentido foram mais notiveis em relagdo aos trabalhadores ¢ ao novo sindi- calismo brasileiro, No plano econmico, Collor tentou despoliti- zar suas agdes, centralizando as decisdes e legislando através de decretos, excluindo as possibilidades de negociagao, inclusive com 0 Congresso (SCHNEIDER, 1992). Ao lado do programa de privatizagdes das empresas estatais, buscou-se a total abertura a0 capital estrangeiro; 0 mereado foi priorizado como orientagao para uma integra¢do econdmica internacional. De qualquer forma, a politica econémica entio estabelecida fracassou e o pais enfren- tou a mais séria recesso econdmica desde os anos 30, com queda do PIB e das taxas de investimento, aumento da divida publica, perdas reais do saldrio, aumento da taxa de desemprego e da con- centragio de renda e deterioragiio das condigdes dos servigos piiblicos basicos. Essa instabilidade, associada & baixa capacidade dos 6rgdos ambientais na execucdo de projetos técnicos, tem compro metido enormemente a capacidade de implementagao dos finan- ciamentos e investimentos destinados a rea ambiental no Brasil (ROS FILHO, 1994). No plano interno os problemas com a apli- cago dos recursos foram notaveis, 0 governo nao gastou sequer 0 autorizado em Lei Orgamentéria. Em 1991, por exemplo, a rea- lizagio de despesas previstas para os programas de protegio & fauna ¢ flora e controle de poluigio ficaram em torno de 35% e 37% do previsto, respectivamente (JUNQUEIRA, 1995). Apesar de toda imagem e discurso ambientalistas con truidos as vésperas da Conferéncia do Rio, no houve durante 0 Governo Collor qualquer tentativa efetiva no sentido de enfrentar ou minimizar os problemas relacionados 4 implementagio da politica e dos programas ambientais brasileiros. Ao contrério, a Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, sem, 1999 41 orientagio ¢ estratégias politicas adotadas, quase sempre poten- cializaram esses problemas. Mas é preciso situar o fendmeno Collor na perspectiva da crise do Estado brasileiro e da faléncia do setor ptiblico, cujos sin- tomas jf se manifestavam na década de 70 c se agravaram nos anos 80. A profunda crise que atravessa 0 Estado brasileiro levou a uma desaceleracao do crescimento e a uma recessao sem prece- dentes, que acabou por comprometer a sustentagiio de politicas de longo prazo e por erodir a capacidade gestora do Estado. A origem dessa crise se inscreve no proprio esgotamento do modelo desen- volvimentista que o Estado brasileiro sustentou por mais de trés décadas, assentado sobre uma politica de intervencionismo econémico ¢ uma regulagao social baseada em uma gestiio cen- tralista e conservadora dos conflitos politicos. Fernando Collor de Mello era um representante legitimo desse Estado falido. A propria crise engendrou as condigdes sociais, politicas e econémi- cas necessérias para a chegada de Collor ao poder, ou por outra, 0 novo presidente, enquanto um “outsider” das aliangas politicas tradicionais ou ainda um “antiestablishment”, foi um importante indicativo do cardter da crise politica e econédmica do Estado, do esgotamento de um ciclo da hist6ria brasileira Conclusées O periodo mais agudo do colapso do modelo desenvolvi- ‘mentista brasileiro é também o momento mais intenso de demo- cratizagao do pais; € 0 momento de consolidagao de importantes conquistas no campo dos direitos sociais e também ambientais. durante a década de 80, que a politica de meio ambiente se con- solida, primeiro com a Lei da Politica Nacional de Meio Ambi- ente de 1981 e, depois, com a Constituigio de 1988. £ 0 momen- to, enfim, da conquista de uma “cidadania ambiental”. O que parece certo, todavia, € que essa legislagio é muito mais avanga- da do que a prépria capacidade do Estado para implementd-la. Se 2 Plural; Sociologia, US Politica de meio ambiente no Brasil: construgio da cidadania ambiental Solange S. Silva-Sinchez Paulo, 6: 20-46, 1.sem. 1999 Politica de melo ambiente no Brasil: construglo da cidadania ambiental Solange 8. SilvaSéinchez ha uma crise que torna o Estado impotente e incapaz de gerir politicas piblicas de longo prazo, isto ainda é mais dramatico quando se toma a questio ambiental em particular, que, por sua propria natureza, é necessariamente de longo prazo. Durante o inicio da década de 90, a politica ambiental brasileira foi marcada por ambigilidades e contradigées. A poltti- ca de impactos, que marcou as ages nessa area, revelou-se uma ndo-politica. A andlise desse perfodo e das iniciativas do governo em relagio & politica de meio ambiente revelou um risco potencial de retrocesso em relacdo aos direitos anteriormente conquistados. No entanto, os ambientalistas fizeram valer seus interesses ¢ reivindicagGes menos por uma abertura democratica ou, ainda, por uma democratizagio do didlogo, mas principalmente porque souberam ocupar o espago deixado vago pelo governo na drea da politica ambiental A nova sociabilidade construida ao longo das tiltimas décadas, a partir de novos sujeitos sociais — os novos movimen- tos sociais, 0 novo sindicalismo, a classe trabalhadora, a classe média — tornou mais complexa a relagio entre Estado sociedade, construiu uma esfera publica democratica e, sobretu- do, deu maior visibilidade entre as fronteiras da esfera privada ¢ da coisa piblica, além de uma nogao plural de bem piiblico. Donde o inevitdvel apelo a formas mais democréticas, respon- sdveis ¢ éticas de condugio da politica, 0 que no caso de Collor resultou no seu impeachment, uma importante transformagao no cenirio politico, sem precedentes na hist6ria politica do pats. De outra parte, os ambientalistas brasileiros passaram por um notdvel aprendizado social, quando da preparagio da Confe- réncia do Rio ¢ do Férum Global, aproximando-se de outros movimentos populares, incorporando, assim, a dimensdo social ‘em suas lutas e projetos. Esses sujeitos sociais demostraram ter capacidade e maturidade para permanecer no debate politico nacional e internacional, enfrentando probleméticas cada vez mais complexas. Constituiram-se em sujeitos sociais em condigdes de assumir um papel destacado nesse debate e também no processo Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6:20.46, | sem, 1999) a decisério, pois jd mostraram que nao sao atores apenas no plano do discurso, sendo também das priticas concretas de agao. Os ambientalistas estiveram presentes nos debates mais polémic souberam articular apoios de outros grupos da sociedade civil, conseguiram um espago significativo na midia nacional e mesmo internacional, Enfim, foram habeis para manter o tema meio ambiente em grande evidéncia na arena politica, preservando di- reitos e espacos de participagdo e decisio. As tiltimas décadas registraram mudanga sociedade brasileira. O processo de democratizagzio e 0 que vem sendo apontado como uma reconstrugio da sociedade civil fun- daram uma nova sociabilidade democritica e coletiva inédita na experiéneia hist6rica do pais. Os sujeitos sociais que ocuparam a cena politica nesse perfodo, notadamente os novos movimentos provocaram uma revitalizagdo da nogao de direitos ¢ cidadania, Esse processo de construgao demoeratica e da cidada- nia, da emergéncia de novos direitos, possibilitou a construgio do que chamamos de cidadania ambiental: uma cidadania referida a direitos coletivos, fundamentada em valores maximalistas e globa- lizantes, que traz, em diltima instancia, a virtualidade do novo. Ml significativas na SILVA-SANCHEZ, Solange S. Environmental policy in Brazil the emergence of fa genuine environmental citizenship, Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 6: 20-46, sem. 1999 Abstract, This paper discuss the evolving environmental policy in Brazil and the rerzence of @ genuine environmental citizenship. After briefly describing the historical evolution of such policies, the preparatory period to the United Nations Conference on Environment and Development — UNCED, held in Rio de Janeiro in 1992, is focused in some details. The role of the environmentalist movement is emphasized as a central social actor, whose mobilization guaranteed and consolidated the environmental rights granted by the 1988 Federal Constitution, Moreover, its action hindered a backward motion following a government proposal immediatly betore UNCED. Uniterms: environmental policy, environmentalist movement, environmental citizenship, environmental rights Politica de meio ambiente no Brasil: 3 ‘construgio da cidadania ambiental Solange 8. Silva-Sanchez 4 Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 20-46, sem, 1999 Politica de meio ambiente no Brasil: a construsio da cidadania ambiental Solange 8. Silva-Sanchez BiuiocRaria ANTUNIASSI, M. H.R. et al. 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