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Produção de Etanol a partir de

Milho, conceitos e operação


por  Bioquímica Brasil  |  jul 20, 2019
Oslei Aparecido dos Santos é químico industrial e atuou em cargos de supervisão e
coordenação de produção em usinas de etanol. Atualmente é consultor na área. Texto
originalmente publicado no Linkedin Pulse. Email de contato do Oslei para eventuais
consultorias: osleisantos@yahoo.com.br
Nota do BQIBR: texto modificado em 23/10/20, devido a quebras de imagens e
desaparecimento do texto original do Linkedin Pulse
A produção de etanol a partir do milho vem crescendo a cada ano, principalmente no
estado do Mato grosso, algumas usinas denominada flex, que podem moer milho e cana,
estão em alta, a produção de etanol do milho apresenta algumas vantagens em relação a
cana, por exemplo manter a moagem o ano todo, claro que com paradas programadas
para manutenção, combustível para a caldeira e um estoque de milho. O processamento
de milho é rentável visto que possui outros subprodutos da produção, o DDG, do inglês
Distillers Dried Grain, que significa grãos de destilaria secos, que é procurado por
criadores de gado, devido ser rico em proteínas e nutrientes, uma tonelada de milho pode
produzir 430 litros de etanol, 550 kg de DDG, e 15 litros de óleo. O processo de produção
em si é simples, porém requer muito cuidado, e acompanhamento nas operações
unitárias, a instrumentação também ajuda bastante, visto que quanto mais automático, terá
menos erro humano, menos mão de obra, ficando viável para a empresa.
ALFA AMILASE
A alfa amilase é uma enzima glicoproteica, sua função é de hidrolisar polissacarídeos,
mais precisamente as ligações glicosídicas alfa 1,4. O amido é um polímero cujos
monômeros são moléculas de glicose, e tem ligações glicosídicas alfa 1,4, e Alfa 1,6, e é
nas ligações alfa 1,4 que a amilase atua.
No processo de produção de etanol a partir do milho, a alfa amilase é dosada no
misturador, a temperatura do misturador deve estar entre 60° até 65°C, temperaturas
muito altas nessa etapa, pode ocorrer formação de pelotas, ocasionando perda de
rendimento.
Para facilitar o entendimento, imagine uma folha de papel sulfite A4, suponhamos que uma
tesoura especifica tenha o poder de cortar essa folha em somente quatro partes iguais, é
exatamente isso que a alfa amilase faz com o amido.
GLUCOAMILASE
A glucoamilase é utilizada na fermentação, é uma enzima que catalisa a quebra das
ligações glicosídicas α -1,4 do amido e oligossacarídeos correspondentes liberando β-D-
Glucose, também atua nas ligações α -1,6, deixando assim a glicose disponível no meio
como substrato para que ocorra a fermentação, pegando um gancho no exemplo que
mencionei da alfa-amilase, a glucoamilase pega o restante do papel sulfite e corta em
pedaços menores, esses pedaços menores são as glicoses, a

CÁLCULOS
1-   Quantidade de água.
Formula = ton/h x (100 - umidade do milho) ÷ sólidos desejados.10 x (100 – 13) ÷ 25= 34,8
ton/h, que é a vazão total (milho mais água) dai você subtrai a vazão de milho que no
nosso exemplo é 10, 34,8 – 10= 24,8 ton de água por hora, pode arredondar para 25
ton/h.
2-   Quantidade de enzima alfa amilase.
Dosagem recomendada é de 0,25kg/ton, como no nosso exemplo é 10 ton de milho, 10 x
0,25= 2,5kg. A densidade da alfa amilase é de 1,25Kg/l. D=m/v, substituindo e fazendo as
manipulações algébricas: V= 2,5/1,25= 2 litros por hora, mas para facilitar o controle da
dosagem da enzima, vamos converter por minuto, fazendo uma regra de três:
2l              60min
X               1min
Transformando para ml, 33,33ml/min, vamos arredondar para 34ml/min essa é a dosagem
para a moagem exemplo, algumas usinas faz essa dosagem com bombas de diafragma,
daí o operador de campo regula a dosagem com o auxílio de uma proveta de 50ml, e um
cronometro, e acompanha essa dosagem a cada 15 minutos ou meia hora, isso depende
da disponibilidade do operador, mais é de suma importância acompanhar essa dosagem,
pois caso a bombinha mande menos que o necessário, não ocorrera a conversão
desejada, e terá perda de rendimento na planta, caso esteja dosando enzima em excesso,
também é desnecessário, principalmente economicamente, sabendo que a enzima alfa
amilase é de preço elevado, deixando o preço de produção acima do necessário, por isso
a importância de sistemas automáticos e acompanhamento, pois nosso objetivo é produzir
com o menor custo possível.
COZIMENTO
Logo após o misturador, a mistura de farinha com água e enzima, vai para tanques de
cozimento e liquefação, nessa etapa o objetivo é dar o tempo para a ação da enzima no
amido, para isso deve-se manter os parâmetros ótimos para obter maior eficiência da ação
da enzima, ph entre 5 e 5.8, agitação constante, tempo de retenção de 1,5 horas até 3
horas, aqui também acompanha a taxa de conversão, que deve ser a mais alta possível,
mas segundo consultores, acima de 75% já é satisfatório, a conta é simples, o laboratório
faz analises periódicas de brix e sólidos do cozimento em andamento, a taxa de conversão
é brix/sólidos x 100, exemplo: brix 20, sólidos 25%, 20/25= 0,80 x 100 = 80%.
Manter a temperatura em torno de 82°C até 86°C, temperaturas abaixo de 82°C, ocorrerá
alto teor de amido residual, pois a ação da enzima fica mais lenta, temperaturas acima de
90°C desnatura a enzima (alfa-amilase), abaixo um gráfico sobre a temperatura ótima de
atuação da enzima.
PROPAGAÇÃO
Para dar sequência no processo, é necessário preparar o fermento para receber o mosto
de milho já cozido, o recomendado é propagar 10% do volume total, como base de cálculo
vou utilizar um volume de 500m3, a propagação do fermento deve ser feita em um tanque
ou cuba devidamente limpo, para evitar contaminação.
  Adicionar 15m3 de água tratada.
  Adicionar a levedura hidratada (20kg).
 Adicionar 750 ml de bactericida.
 Adicionar 10 m3 de mosto.
 Adicionar 25 kg de Ureia.
 Adicionar 2,1 litros da enzima glucoamilase
 Adicionar mais 25 m3 de mosto.
 Adicionar mais 25kg de ureia, 2,1litros da enzima glucoamilase, e 750ml de
bactericida.
 Manter a fermentação com agitação constante, aeração, temperatura entre 32 a
34°C, de 6 a 10 horas, até que o número de células/ml de fermento atingir 10^8 .
FERMENTAÇÃO
Logo após a propagação, o fermento é enviado para uma dorna, e mantido sob agitação
constante, daí começa a alimentar com o mosto de milho, até atingir o volume desejado,
que no nosso exemplo é 500 m3, durante a alimentação é acompanhado de hora em hora,
brix, sólidos, gl, acidez, analises microbiológicas, e temperatura, manter sempre entre 32 a
34°C. Durante a fermentação, também é adicionado insumos, vamos fazer os cálculos:
  Enzima glucoamilase: recomenda-se 0,4kg/ton, o volume de mosto é de 450m3, e
sólidos 25%, 450 x 0,25= 112,5 ton de milho. 112,5 x 0,4 = 45kg de enzima, a
densidade da enzima glucoamilase é 1,2kg/litro, D=m/V , substituindo e fazendo as
manipulações algébricas, V= 45/1,2 = 37,5 litros.
 Bactericida 10ppm em cima do volume total de 500m3, fazendo a conta
encontramos 5 litros.
  Ureia: 400ppm em cima do volume total, 500m3, fazendo a conta
encontramos 200Kg.
Quando inicia a alimentação, dosamos 12,5 litros de enzima glucoamilase, 2,5 litros de
bactericida, e 100kg de ureia, na metade da alimentação dosamos 12,5 litros da enzima
glucoamilase, no final da alimentação dosamos 12,5 litros da enzima glucoamilase, 2,5
litros de bactericida, e 100kg de ureia, perceba que a enzima nos dividimos a dosagem
total em três parte, pois assim observei uma melhor ação da enzima, há quem jogue o total
tudo no início, ou em duas dosagens, daí cada planta tem que fazer testes e chegar a
metodologia ideal, ureia e bactericida, dividimos em duas dosagens, inicio e fim de
alimentação, apos atingir o volume desejado, a dorna é mantida sob agitação constante, e
temperatura entre 32 a 34°C, o tempo é de 12 a 36 horas, o laboratório acompanha de
hora em hora brix, sólidos, gl, dentre outras analises, percebe-se nessa etapa o gl subindo,
brix e sólidos caindo, o fim da fermentação se dá quando o gl da dorna estabiliza, ou seja,
repete por três ou quatro vezes o mesmo valor, essa metodologia que mencionei acima eu
vivenciei em uma usina que produz etanol de milho, obtivemos 402 litros de etanol por
tonelada de milho, fazendo a lição de casa certinho pode-se atingir 380 até 420 litros de
etanol por tonelada de milho.
O objetivo desse artigo é propagar o conhecimento, essas dosagens e a forma que
mencionei, foi uma experiencia minha, as dosagens das enzimas podem ser otimizadas de
acordo com a tecnologia de cada planta, poucas usinas de etanol de milho por exemplo,
fazem a recuperação do óleo, isso já inclui outra tecnologia enzimática.

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