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ABORDAGEM SISTEMICA “O amor preenche o que a ordem abarca. O amor é a 4gua, a ordem € 0 jaro. A ordem ajunta, o.amor flui. Ordem e Amor atuam juntos. (Bert Hellinger) De que sistema estamos falando? A palavra sistema vem do grego e significa um conjunto de elementos interdependentes, mas que, vistos juntos, formam um todo organizado. Podemos ainda dizer que sistema significa combinar, ajustar, formar um conjunto. Pode referir-se a pessoas, objetos e é utilizada em varias areas do conhecimento. Para melhor compreensio desta ideia, basta olhar a nossa volta, parao funcionamento de algumas realidades, a comecar pelo nosso préprio corpo. Cada érgio com sua fungio especifica e seu funcionamento proprio. Quando um destes 6rgios tem sua funcionalidade comprometida, todo o sistema ao qual faz parte sofre as consequéncias. Em nosso corpo percebemos varios sistemas: respiratorio, circulatério, reprodutor, linfatico... A nossa volta, nos deparamos com outros sistemas, em outras realidades: sistema solar, sistema juridico, sistema de ideias, etc. Para a compreensio dentro da abordagem sistémica e fenomenolégica segundo Bert Hellinger, podemos dizer que sistema é um grupo de pessoas ou fatos e eventos que permanecem unidos ou vinculados, em fungao de um interesse comum ou forgas que as permeiam. No contexto da educa¢o, vamos entender a Pedagogia Sistémica como uma pratica - postura - vinculada ao contexto educativo, na condi¢ao de campo de aprendizagem que amplia a visio do todo na relacao escola-familia, possibilitando a incluso de todos, de modo que todos possam assumir os seus devidos papéis. A Pedagogia Sistémica se caracteriza pelo seu firme propésito de inclusao; em sua abordagem levamos em consideracio a ideia de sistema vivo, que possui em seu movimento natural um grande fluxo de energia que sustenta seu desenvolvimento e crescimento. Sistema Familiar Todos nés nascemos dentro de um grupo, que aqui vamos chamar de sistema familiar. Ele € anterior a nés, veio muito antes. Basta ! imaginarmos nossa histéria: nossos pais, avds, bisavos... Quantas hist6rias, lutas, sonhos, dores e alegrias! Tudo isso faz parte deste nosso sistema familiar ao qual estamos profundamente conectados. | Nosso lugar no mundo ¢ na histéria encontra seus fundamentos em uma realidade concreta: nossa hist6ria familiar, marcada por * acontecimentos, culturas, crengas, etc. Em nosso DNA trazemos tudo 1 isso. As memérias transgeracionais, assim como as caracteristicas de gendtipo e fendtipo, estdo impressas em nés. . |Quem faz parte do nosso sistema? Em primeiro lugar ha que se definir dois tipos de sistema: o de origem € 0 atual. Por sistema de origem entendemos nossa familia de origem: nossos pais, irmaos, tios, avés, bisavés, etc.’ Pertencem todas as criangas abortadas ou que ja morreram. Alias, aqui nao diferenciamos vivos ou \ mortos. Todos s&o vistos igualmente pertencentes. As pessoas que nao , do consanguineas, mas que tiveram um papel importante, como uma baba que cuidou a vida toda dos filhos naquela familia, os parceiros anteriores dos pais, que cederam lugar a integrantes do atual sistema - ' estes também fazem parte. Por exemplo: uma parceira do pai que ) faleceu, um ex parceiro da mae, que cedeu lugar ao pai. Todos fazem parte. Por sistema atual entendemos a familia atual. Assim, se vocé ja € casado(a), a sua familia atual é seu(sua) companheiro(a) € os filhos a medida que eles chegam. ‘© método desenvolvido por Bert Hellinger € conhecido como | sistémico fenomenoldgico. Sistémico porque € verificado tendo por | base os sistemas onde estamos inseridos e fenomenoldgico por termos no fenémeno que se apresenta 0 material para o trabalho a ser desenvolvido. E o fenémeno que apontaré para as solugdes. No problema ja esta a solugao. O fendmeno nos possibilita olhar para o ) todo, nao apenas para as partes, de forma fragmentada. i hy Marianne Franke nos diz que: \ ‘\ strabalhar sistémica ¢ fenomenologicamente significa prestar atengdo Niaos sentimentos expressados espontaneamente por parte dos | representantes assim como surgem © deixar as dinamicas se oe , 1 ina curosidade: voc sabia que, olharmos para nostosantepassads até a4 gerago, temos, naa mais nada menos Y que 2.198.922.592.256 pessoas? desenvolverem por si mesmas”?. Bases para o pensamento sistémico O pensamento sistémico nao tem sua origem com Bert Hellinger. Humberto Maturana € 0 precursor desta forma de pensar. Sua epistemologia foca o ser humano, explicando-o como um sistema auto- construtivo e que é permeado de emogGes. Francisco Varela vai falar dos sistemas vivos e sua ligagdo com a cognig¢ao, em contraposi¢ao ao pensamento reducionista-mecanicista, herdado dos filésofos da Revolug&o Cientifica do século XVII, tais como René Descartes, Francis Bacon e Isaac Newton. Rupert Sheldrake mais tarde traré suas contribuigdes acerca dos campos morfogenéticos’; a ciéncia vém para explicar um fendmeno ja visto nas constelagdes familiares e¢ na abordagem sistémica fenomenolégica de Bert Hellinger. Jacob Levy Moreno traz suas contribuigdes com a sociometria, o sociodrama e o psicodrama; a partir deste enfoque ele apresenta a possibilidade de se "construir um cendrio terapéutico que usa a vida como um modelo*",_ ~~ —— Virginia Satir falaré da reconstrugao familiar e escultura familiar. Desenvolve varias técnicas terapéuticas e tem seu trabalho direcionado para a comunicagio entre os membros da familia. Alguns principios sio importantes em seu trabalho, assim como a considerag&o de que a mudanga é sempre possivel, de que todos tém os recursos dos quais precisam para o crescimento e desenvolvimento pessoais, todos agem como podem, da melhor forma possivel naquele momento e podem dominar o presente 4 medida que concordam com o passado; afirma ainda que os seres humanos se unem a partir de suas semelhancas, mas crescem_a partir de suas diferengas; todos somos a manifestagio de uma mesma forga vital; ela considera também que os relacionamentos ee cere ee 2 FRANKE, Marianne. Vocé é um de nds. Patos de Minas: Atman, 2009, p. 29. 3 Sheldrake entende que as mentes de todos os individuos de uma espécie - ¢ aqui inclui a humana - esto conectadas, formando um mesmo campo mental planetério, Este campo afetaré as mentes dos individuos daquela espécie, da mesma forma que as mentes individuais também afetam este campo. Também podemos nos referir a este postulado como Ressonancia Mérfica, 4 FRANKE-BRYSON, Ursula. O rio nunca olha para tris: fundagdes histéricas e praticas das ConstelagSes Familiares segundo Bert Hellinger. Sao Paulo: Conex&o Sistémica, p. 85. tornam-se saudaveis quando sao baseados no equilibrio de valores. A transformaga vem da aceitagaio de como somos ¢ do outro com: Ivan Boszormenyi-Nagy traré suas contribuigdes sobre a terapia contextual, onde apresentard conceitos importantes € relevantes para 0 posterior desenvolvimento da abordagem sistémica fenomenoldgica de Bert Hellinger, tais como os conceitos de eu e tu, equilibrio entre dar \e receber, Iealdades invisiveis e memérias transgeracionais, Além de todas estas bases, a abordagem sistémica fenomenolégica fundamenta-se fortemente nos conceitos da fisica quantica. As contribuigdes que esta area do conhecimento traz acerca do pensamento, consciéncia, matéria e energia, nao localidade, conceitos de tempo e espago, neurénios espelho, entre outras, estarfio presentes nesta proposta apresentada por Bert Hellinger. O pensamento sistémico nao nega a racionalidade cientifica. Acredita que, para o desenvolvimento humano acontecer em sua integralidade, ¢ importante se trabalhar em conjunto, considerando-se a subjetividade das diversas tradigdes e contextos e suas inter-relagdes. Ele pode ser visto como um componente do paradigma emergente tendo em sua area de pesquisa, pensadores, cientistas, pesquisadores e filésofos diversos. Nio se restringe a uma rea especifica do conhecimento, posto que, por definigdo, é interdisciplinar, como se apreende de sua prépria nomenclatura. Uma especificidade de Bert Hellinger é que, em sua concepgio e abordagem, qualquer espago pode se tornar um espago terapéutico. O importante € 0 tempo interno do cliente. O amor | Hellinger observou que © que move ¢ sustenta todos. os | relacionamentos ¢ 0 amor. Todas as situagdes, por mais paradoxal que | possa parecer, estio vinculadas a uma manifestagdo do amor. Ele apontara trés formas de amor: amor cego, adulto e do espirito. O amor cego - ou infantil - é aquele que pensa ser capaz de resolver | tudo, de curar a todos assumindo algo que nao €seu. Como uma crianga que vé a mie doente ¢ diz a ela “vou cuidar de vocé”. Inconscientemente assume o papel de mae da mae na va tentativa de curd-la. Desta forma deixa o seu papel de filha para assumir o papel da avo. O professor, no amor cego, é aquele que pensa poder resolver todos os problemas dos alunos porque sabe o que € melhor para cada um deles. As vezes recebe em sua sala de aula uma crianga cujos pais acabaram de se separar. O professor deseja, internamente, restabelecer a relacao dos pais porque isso é 0 melhor para a crianga - pensa ele. As vezes, inclusive, explicita isso aos pais da crianga, deixando claro que esta é a tnica solugao possivel para que aquele aluno fique bem, que os pais precisam pensar mais no filho. Assim, deixa completamente 0 seu lugar e papel de professor, interferindo em uma relago que nfo é sua. Quando, no amor cego, tenta fazer isso, adoece. | O amor adulto - ou amor que vé - é aquele que vé a situag&o e _ consegue diferenciar-se da mesma, assumindo s6 0 que é seu. E capaz _ d¢ respeitar 0 destino do outro, por mais pesado que lhe seja. No amor adulto o professor vé as situagdes dificeis que Ihe chegam na sala de aula, é capaz de identifica-las e permanecer no seu lugar de professor. E deste lugar que consegue dar o seu melhor. No mesmo caso anterior, o professor em seu amor adulto, recebe a crianga cujos pais se separaram, acolhendo-a do jeito que ela chega, respeitando a historia daquela familia, no interferindo ou desejando interferir na relagio dos pais. Ele sabe que é apenas o professor e permanece como tal. | © amor do espirito é aquele que acolhe a todos ¢ a tudo conforme é, sem julgamentos e condenagdes. Tudo tem um porqué para ser como €. Hellinger traz uma afirmagao emblematica cujo significado muitos demoram a compreender. Ele afirma que “tudo esta certo do jeito que esta”. No amor do espirito conseguimos abarcar 0 todo e vivenciar a plenitude das coisas como sao, Exatamente como sio. O professor consegue dar esse passo, indo em direg&io ao amor do espirito, quando sua pratica esté livre dos julgamentos: dos seus alunos, familias, colegas de trabalho. Ele simplesmente acolhe seus alunos como eles chegam e oferece a eles o necessério, Ao acolher os alunos, esta também acolhendo suas realidades e histérias como sto, sem desejar que sejam diferentes e sem classificé-las em boas ou mas, Consegue olhar além e perceber que existe uma historicidade que trouxe aquele aluno até ali. Da mesma forma, vé com outros olhos os colegas de trabalho. Neste contexto nos deparamos com um respeito por tudo e por todos, Todas as situagées est’o “certas”, afirma Hellinger. Mesmo as mais dificeis. Esto certas porque precisou ser daquele jeito. Foi daquele Jeito. E apenas daquela forma foi possivel naquele momento. O sim a realidade exatamente como é e como foi pode possibilitar um novo caminho a partir de ento, onde o diferente pode vir a ser, tendo por fundamento um profundo respeito pelo que passou. Integrando, nao excluindo. As Ordens do Amor Bert Hellinger observa que as relagdes humanas sio regidas por algumas ordens; constata que estas ordens, quando vistas, respeitadas ¢ integradas trazem a leveza e a fluidez; quando desobedecidas ocasionam aquilo que chamara de emaranhamentos. Como descobriu que é o amor a base de tudo, chamou a estas ordens de Ordens do Amor. Sio elas: pertencimento, hierarquia e equilibrio, O pettencimento diz respeito ao vinculo. Todos pertencem, todos fazem parte. Para que o sistema se encontre em equilibtio é necessitio que todos tenham este direito preservado, respeitado. Se olharmos para nosso sistema perceberemos facilmente que muitas vezes alguns membros sao excluidos, muitas vezes na va tentativa de evitar a dor. Quando acontece um aborto, seja cle provocado ou espontinco, é comum as familias nfo contarem aquele aborto como uma crianga que faca parte da familia. Nao falar sobre cle é a solugio para se evitar a dor. Isso acaba excluindo aquele membro da familia, colocando-o 4 parte, ocasionando desequilibrios. O sistema ira se auto-organizar, 4 sua maneira, buscando uma forma de compensacio. Mais tarde, um descendente futuro deste sistema se conectara 2o membro excluido, como se dissesse: “olhem para ele, ele também faz parte”. Esta conexao podera se manifestar através de um sintoma como uma dor, uma tristeza, uma doenga, uma angistia... Os filhos que vieram a falecer também precisam ser considerados. Também eles tém um lugar. “Ser considerado” aqui significa, antes de mais nada, dat a ele um lugar no coracio; depois'que damos um lugar no corago, o resto é apenas consequéncia. Imaginemos que o casal perdeu um filho ainda muito novinho, nos primeiros dias de vida. A dor da perda leva aquele casal a nao mencionar este. filho, como se assim a dor pudesse diminuir ou ir embora. Mais tarde vém os outros filhos ¢ aquele primeiro continua nfo sendo mencionado. Quando perguntam quantos filhos tém, entram na contagem apenas os que permanecem vivos e a exclusdo aquele primeiro se reforca mais uma vez. Os outros filhos, os que permanecem vivos, consequentemente, estario fora de lugar, uma vez que estiio ocupando um lugar que nao é o deles. Como Se 0 segundo ocupasse o lugar do primeiro e assim consecutivamente. Apenas quando aquele primeiro tiver seu lugar reconhecido este sistema se equilibrar e todos entio poderao ficar bem, porque agora todos pertencem. A hierarquia diz respeito 4 ordem de chegada no sistema. Quem veio antes e€ quem veio depois. Os pais vieram antes, os filhos depois. Portanto os pais sitio grandes, os filhos pequenos. Entre os filhos & necessario observar quem veio primeiro. O mais velho tem precedéncia. Quando um dos filhos nao ocupa o seu lugar, todos Os outros também ficam fora do seu lugar. Assim, como no exemplo anterior, se o primeiro filho de um casal é abortado e nao é computado, quando nascem os outros filhos, estes nao ficam bem, todos esto fora do lugar. Os sintomas apresentados podem ser os mais varidveis possiveis, como déficit de atengdo, hiperatividade, agressividade, nao conseguir se firmar em empregos ou relacionamentos, entre outros. A solug&o aparece quando o membro excluido é integrado e Ihe é dado um bom lugar dentro do sistema (visto, respeitado, considerado, dado o lugar que é seu por direito). Entre o casal, a relago é de igualdade. Nao hé um maior e um menor, ambos sao iguais. Os parceiros anteriores precisam ser respeitados para que o relacionamento atual dé certo. Foram estes membros anteriores que cederam lugar para este novo relacionamento. Os filhos dos parceiros que vieram antes também devem ser vistos com respeito, em seus lugares. Assim ha equilibrio. E necessario falar sobre aquilo que se nega e dar-lhe seu lugar, acolher com o coragao. O equilibrio entre o tomar e o dar é a terceira ordem do amor. Comeca com a vida que recebemos de nossos pais. Eles nos deram o essencial. Quem consegue tomar os pais por completo é capaz de tomar 0 que a vida oferece, com gratidfo. Somente quem recebe a vida com gratidao € capaz de tomar o homem ou a mulher como esposo ou esposa e dar a vida a seus préprios filhos. Por vezes queremos mudar nossos pais, como se eles nao nos fossem suficientes. Neste desejo esta implicita a inversio de valores: quero dar a eles e, com isso, nao reconhego e n&o recebo o que eles me deram. A vida me é dada por eles, nfo o inverso. Nao ha nenhuma possibilidade de que eu dé a vida a eles. Isso se equilibra apenas quando eu passo essa vida adiante através dos filhos ou, na impossibilidade disso acontecer, quando promovo a vida por meio de outras formas, como da profissao. Tomar os pais torna-se uma tarefa para a vida toda. Eles sio grandes demais para que os tomemos de uma tinica vez. O que deles recebemos é grandioso. Trata-se da vida, que chega até nés através deles, mas que veio de muito, muito antes. E esta vida chega a cada um de nds através da nossa histéria, exatamente como foi. Hellinger afirma que todos os pais siio perfeitos na transmissao da vida. Ali deram 0 essencial. Assim deram seu sim a Vida. Tomar esta vida significa dizer sim aos pais ¢ a vida que nos deram. Apenas isso. Sem querer mudar nada. Eu ctianga x Eu adulto A crianga fica na reclamagao e na exigéncia. Esta crianga, por vezes, somos nds vida afora. Quem nao toma 0 pai e a m&e permanece no seu Eu crianga e comega ent&o a exigir dos outros 0 que nfo tomou suficientemente dos pais. Assim nascem as cobrangas excessivas, as criticas demasiadas, os julgamentos. Permanecemos em nosso Eu crianga que exige cada vez mais. Estar no Eu adulto é ter a capacidade de dizer sim a histéria do jeito que foi, reconhecendo que foi daquele jeito. Que os pais fizeram e deram o que puderam. Que a vida foi assim até o dia de hoje. Assentir a isso é ganhar forga. A crianga briga com a realidade e, por estar na briga, nao pode fazer nada para mudar. O adulto diz sim 4 realidade e, por concordar com ela, agora entdo pode dar passos no sentido de fazer diferente. S6 0 adulto pode crescer. $6 0 adulto consegue dar passos. S6 o adulto é capaz de olhar para sua dor e dizer: “j4 passou, foi ha muito tempo; agora eu sigo na vida”. O mais importante na vida adulta é a gratidao diante dos pais, pela vida. O filho que nao esta grato, ainda nao é adulto. Esta gratidio é direcionada ao essencial, n&o aos contextos sociais. Este é o primeiro passo. O segundo é a béngao que recebemos a partir desta gratidao. O terceiro é o direcionamento para -nossa propria ética - responsabilidades por nossas proprias agées e decisées. As consciéncias Hellinger distingue trés formas de consciéncia: a pessoal, a coletiva e a espiritual. : A consciéncia pessoal esta relacionada ao nosso desejo e necessidade de pertencimento. Todos precisamos pertencer a determinado grupo. Faremos de tudo para que isso acontega. Se necessdrio, inclusive optamos pela dor e sofrimento porque podem nos ligar ao nosso sistema. E 0 caso da mulher que foi abandonada pelo marido: quando ela vem para 0 atendimento terapéutico, de repente se da conta de que © mesmo aconteceu com sua mie, com sua avd... Todas foram abandonadas pelos maridos, todas precisaram seguir sozinhas na vida. Fazer diferente, para esta mulher, é ser desleal 4s que vieram antes. Sofrer 0 abandono é a forma de dizer: “eu também sou igual a vocés. Todas nés sofremos da mesma dor, a dor do abandono”. Aqui a dor vincula, 0 softimento a torna pertencente. Ela ainda estd no amor infantil, que vé naquele sofrimento e abandono uma forma de honrar as que vieram antes. Uma vez que ela vé a situagdio, pode olhar para todas com respeito € honrar a histéria de cada uma do jeito que foi. Deixando com elas o que é delas e ficando apenas com o que € seu, ela pode ter a bengao e a permissao das ancestrais para fazer diferente e ser feliz em seus relacionamentos. Pode honra-las de outras formas. Quando estamos em nossa consciéncia pessoal, que é estreita e limitada, ignoramos o que esté além do nosso grupo. Desta forma damos apenas a alguns o direito de pertencer, automaticamente excluindo outros. E a partir da consciéncia pessoal que experimentamos 0 que é bom ou mau. So conceitos que nascem a partir da nossa experiéncia pessoal. E bom tudo o que garante o meu pertencimento ao grupo. E mau o que dele me afasta ou ameaga. Experimentamos esta consciéncia pessoal como boa e ma consciéncia. Toda vez que experimentamos a boa consciéncia, estamos em sintonia com 0 grupo ao qual pertencemos. Isso faz com que nos sintamos bem, em paz conosco mesmos. Por outro lado, todas as vezes que pensamos, agimos ou desejamos algo que nio estd em sintonia com as pessoas ou grupo ao qual queremos pertencer, estamos usando a mé consciéncia, e isso nos deixa mal porque coloca em risco nosso pertencimento. Essa consciéncia pessoal - boa e ma - nos conecta, ent&o, as pessoas € grupos que so importantes 4 nossa vida, ao nosso bem estar. Através de uma boa intengio, servimos a esta boa consciéncia. Assim, se em determinada histéria familiar todos se casaram “de papel passado”, fazer diferente é ser excluido pelos demais, uma vez que nao se estd cumprindo aquilo que é proprio daquele sistema. Aquele que faz diferente é aqui olhado como menor, nao digno de pertencer. Aquele que age desta forma, diferente, sente-se culpado por assim o fazer pois nao esta em sintonia com o grupo. O crescimento, por mais estranho que possa soar, sé acontece a partir da ma consciéncia. Se em determinada familia todos os membros cursaram apenas 0 ensino fundamental ou no maximo o ensino médio, frequentar uma faculdade significa agir de forma “errada” diante de todos daquele sistema. A sensagiio que fica aquele que assim age éa de estar “fora”, de nao se enquadrar dentro dos padrées tao comuns a todos ali. A sensagio de pertencer menos. Ou de nfo pertencer. E 0 prego que se paga. E sé pagando este prego é possivel crescer. E muito provavel que apés esse primeiro membro concluir a faculdade, muitos outros o farfo, instalando assim um novo modelo naquela familia. Cabe ressaltar que a instalagio de um novo paradigma somente tera sucesso se 0 antigo for acolhido com respeito. As definigdes entre bom e mau nascem a partir da consciéncia pessoal, como ja afirmamos. O bom é sentido e acatado sem nenhuma reflexio maior, simplesmente porque assegura o pertencimento; da mesma forma, tuido 0 que coloca em risco este pertencimento, € visto € sentido como mau, sem criticidade. Nossa experiéncia com 0 que é mau é percebida como mais forte, uma vez que se relaciona com nosso medo de perder, de pertencer e igualmente, de viver. Uma vez visto de fora, a uma certa distancia, é possivel perceber que © que é mau para meu grupo nem sempre o € para o outro. O que esta em jogo em meu grupo nao esta no outro. O que é uma ameaga ao pertencimento no meu grupo pode ser o que une o outro grupo. A sala de aula é um ambiente riquissimo onde podemos perceber as varias consciéncias pessoais agindo. E, a compreensdo das mesmas nos possibilita novas formas de agir, evitando conflitos que poderiam ser recorrentes no dia a dia. A consciéncia coletiva é a consciéncia do grupo, atua por tras da consciéncia pessoal. E mais forte do que esta, mas permanece completamente inconsciente a nds, porque sentimos que a consciéncia pessoal precede a coletiva. Enquanto a consciéncia pessoal é sentida por cada um dos integrantes do grupo segundo sua necessidade de pertencimento, a consciéncia coletiva atua no nivel da familia toda ou do grupo como um todo. Coloca-se a servigo da sobrevivéncia do grupo inteiro, nao se importando se para isso alguém do grupo precise se sacrificar. Sua fungao é estar a servigo da completude do grupo ¢ de sua sobrevivéncia como um todo. Ha algumas dindmicas que agem a partir da consciéncia coletiva. A primeira ordem que aqui podemos ver é 0 pertencimento: todo membro de uma familia possui o mesmo direito de pertencer. Quando um dos membros da familia € excluido, mais tarde um outro membro desta familia ird representar este excluido. Por exemplo: ° pai de uma crianga é excluido e julgado por ser alcodlatra. E visto como fracassado e nfo digno pela familia - a exclusio. Mais tarde, um de seus filhos ou netos, através de alguma dindmica em sua vida pessoal ou profissional se tornard também um fracassado. E sua forma de dizer: “ele também faz parte, ele é um de nés; e, se nado pode pertencer, agora cu 0 mostro mais uma vez a todos”. Este membro familiar esté a servico deste antepassado que nao pode pertencer. Traz consigo sensagées, sentimentos, agdes semelhantes a daquela pessoa. Vive como ela, adoece como ela e, por vezes, morre como ela. O emaranhamento aqui quer apenas que seja restabelecida a totalidade do grupo, onde cada um tem o seu lugar. Quando toma-se consciéncia da dinamica e do emaranhamento e agora o lugar Aquele excluido pode ser dado, este membro atual pode seguir livre de toda carga que no é sua. Como no exemplo que apontamos, o filho agora pode deixar de ser um fracassado como disseram que o pai era, porque o pai foi visto e reintegrado em sua dignidade. A inclusao acontece a partir do olhar do filho, que dé um lugar ao pai em seu coragiio. E como o efeito da pedra no lago. O movimento alcanga a todos do sistema familiar - assim como o efeito da pedra na agua vai se expandindo em um circulo cada vez maior, visivel na superficie. O pertencimento ndo termina com a morte. A consciéncia coletiva vé a todos como iguais, inclusive os mortos. E comum percebermos situagdes em que um dos irmaos quer seguir, na morte, um irmio vitima de aborto ou que morreu prematuramente. E importante deixar claro que a consciéncia coletiva quer apenas uma coisa: restabelecer a totalidade; é cega a escolha dos meios, ela naio faz diferenciagao nenhuma na busca por este restabelecimento. Aqui, os fins justificam os meios. A consciéncia espiritual € muito mais ampla. Ela supera todas as limitagdes e consegue incluir a todos. Amplia a visdo e os horizontes, nos elevando para outro nivel. A partir dela nao ha julgamentos, apenas. i i des assentimento a tudo como é. Conseguimos olhar para as ae consideradas “erradas” ou para aquilo que ndo & eee ee compreender que, por tras hé uma grande lealdade e que o julg nao cabe a mim.

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