Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Docente em Formação e o Docente Formador
O Docente em Formação e o Docente Formador
MILL, Daniel
mill.ufscar@gmail.com
UFSCar - Universidade Federal de São Carlos
https://orcid.org/0000-0002-8336-3645
ABSTRATC Changes coming from the use of digital technologies have been widely
debated and with this speeches propagate that children dominate such devices more
effectively than teachers, so the teacher training is at a time critical. Were interviewed
2 coordinators and 75 students of the pedagogy course, aiming to identify their
knowledge about such technologies. In the end, the data show that students are
aware about the need to use digital technology in education, but are not being
prepared for it. We conclude that even though there are disciplines in the curriculum
of pedagogy courses, there seems to be a kind of inertia or ignorance of the real
need for the efficient use of digital technologies within the school stage.
KEYWORDS: Digital Technologies. Higher Education. Teacher Training.
sus conocimientos sobre tales tecnologías. Al final, los datos demuestran que los
alumnos están conscientes de la necesidad de utilizar la tecnología digitale en la
educación, pero no están siendo preparados para ello. Concluimos que aunque
existan disciplinas en la red curricular de los cursos de pedagogía, parece haber una
especie de inercia o desconocimiento sobre la real necesidad acerca del uso
eficiente de las tecnologías digitales dentro del escenario escolar.
PALABRAS-CLAVE: Educación universitaria. Formación docente. Tecnologías
Digitales.
1 INTRODUÇÃO
Isso se dá, quase sempre, pelo fato de que a área da Educação caminhe a
passos desproporcionais quando relacionada à evolução tecnológica e suas hastes
sedutoras. Sedutoras, porque os discursos muitas vezes nascem do interesse
comercial e industrial em expor seus dispositivos tecnológicos, associados a uma
aliança comercial de interesses mútuos ou através do forte apelo midiático.
Outra questão a ser suscitada é a aparente falta de uma taxonomia a ser
adotada pela área da Educação. A ausência de uma classificação sobre os recursos,
dispositivos e finalidades, resulta em desconhecimento. Enquanto crianças e jovens
se referem a terminologias da informática em um mundo paralelo à escola, quase
como um novo dialeto, a distância entre as possibilidades educativas e a utilização
por entretenimento são vertiginosamente crescentes.
Assim, a era da informação parece um tanto “desinformada” no que tange às
tecnologias emergentes, e o papel que devem desempenhar como um importante
marco como efetivo recurso para o aprendizado e seus conteúdos. Precisamos
pensar possibilidades para a formação docente com uma disciplina esclarecedora
sobre a História da Tecnologia na Educação, sua taxonomia e, acima de tudo, sua
aplicabilidade. Buscamos retratar um pequeno fragmento de tal realidade no
presente trabalho.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
que tudo pode ser quantificável, que é possível traduzir em números as opiniões e
as informações, para em seguida, poderem ser classificadas e analisadas”. O autor
também afirma que os estudos qualitativos consideram que há uma relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, “centrando-se no modo como os seres
humanos interpretam e atribuem sentido à sua realidade subjetiva” (VILELAS, 2009,
p. 106). Para Mazzotti e Gewandsznajder (2002):
1Platão acreditava que o melhor dos dirigentes seria o filósofo, a escola tinha o propósito claro de
formar, educando um novo tipo de cidadão. Nesse sentido, formar era buscar a verdadeira paideia,
isto é, uma nova cultura baseada na filosofia (BRAGA; GUERRA; REIS, 2011, p.17).
750
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354
Blumenau, v.14, n.2, supl.1, p.745-771, out./nov. 2019
DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2019v14n2s1p745-771
ainda, o conhecimento se torna obsoleto por razões muitas vezes mais políticas,
técnicas e comerciais do que educacionais.
Neste cenário educacional, destacamos de maneira breve os docentes em
formação, cujo foco está na palavra formação, ou seja, na preparação para se
tornarem efetivamente docentes quando saírem dos muros das universidades. Estes
ainda, muitas vezes, não possuem experiências profissionais, não acompanharam
as tentativas de mudanças ou os avanços na educação brasileira. Há uma vital
questão quando o assunto é esta formação do ser, pois, “precisamos questionar
atualmente, quem é o “novo” ser humano a ser formado?” (MILL, 2013, p. 12).
Por isso, é importante compreender a formação docente sob o aspecto da
utilização das tecnologias digitais, ou seja, determinado tipo de tecnologia sendo
introduzida na educação – oficialmente ou não - e novos perfis de aluno chegando
às universidades com novas práticas culturais, no que se refere à sociedade digital.
Mill (2013) debate uma importante reflexão a respeito da mudança cultural que
permeia nossas vidas e, por consequência, todos os envolvidos e responsáveis pelo
processo educativo, pois para o autor:
Ainda que esta afirmação tenha sido feita há trinta anos, continuamos com
escassez de pesquisas conclusivas, falta de estruturação da grade curricular,
ausência de projetos políticos pedagógicos visando as TDIC na Educação.
Pontuamos especialmente o âmbito da formação docente, no qual normalmente, as
disciplinas que abordam tais tecnologias ainda são escassas e, muitas vezes, não
permitem ao estudante - em sua maioria, com a mentalidade concebida para o
mundo digital – a aplicação acerca desses recursos.
2
As Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Pedagogia foram estabelecidas pelo
Conselho Nacional de Educação Conselho Pleno de Resolução Nº 2, de 1º de Julho de 2015, o qual
define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de
licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura), e
para a formação continuada. Fonte: http://portal.mec.gov.br, acessado em setembro de 2018.
757
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354
Blumenau, v.14, n.2, supl.1, p.745-771, out./nov. 2019
DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2019v14n2s1p745-771
Mill (2013) ressalta que um dos múltiplos fatores que podem corroborar para
este distanciamento é a não adequação das propostas curriculares das escolas ao
contexto sociotécnico atual, que limita as possibilidades de formação adequada ao
cidadão contemporâneo. Este, quem sabe, possa ser o cerne da questão do
desinteresse por parte dos alunos.
Mill e Jorge complementam a discussão sobre a importância de uma revisão
curricular e a inserção de disciplinas ligadas à utilização da TDIC, pois discorrem
que:
(continuação)
C. Você acredita que o estudante deste curso está sendo bem preparado para utilizar as
tecnologias digitais em sua vida profissional, principalmente se trabalhar no futuro com
crianças?
Coord. Eu não sei, acho que essa questão da preparação é bem relativa, eu tenho consciência
Gama de que aquilo que a gente tem podido fazer do ponto de vista de preparação para
utilização das tecnologias é uma iniciação, claro que ela tem que formar e dar condições
do aluno poder sair e exercer sua profissão, mas também não sei dizer que medida eles
percebem essa pertinência entre as tecnologias e a concepção de aprendizagem e
também de ensinar [sic].
D. Se comparamos o perfil dos estudantes universitários com o perfil das crianças,
relacionando ao uso e conhecimento das tecnologias digitais, qual a sua opinião?
Coord. Totalmente diferentes. Eu vejo que tem diferença do meu para o aluno da faculdade,
Delta tem diferença do meu perfil para o deles. Eles têm muito mais informação, não
conhecimento sobre os recursos. Agora sobre eles lá e as crianças que estão chegando
aqui totalmente diferentes, de que maneira, concentração, atenção, né, eles ficam muito
no computador mas isso mais do que interessa, acho que até é um desafio para o
professor que trabalha com os recursos tecnológicos, não sei se seria interesse mas
despertar para esse outro lado do papel [sic].
Coord. Eu não sei se tem muita diferença, eu acho que eles têm uma competência e diferentes
Gama habilidades para utilização das tecnologias, vindo de encontro às suas necessidades. Eu
não consigo ainda perceber em que medida eles percebem as possibilidades que as
tecnologias trazem para os processos de aprendizagem. Eles são bons para jogar, bom
para buscar informações diferentes na internet, mas quando chega na escola, essa
capacidade acho que não é todo mundo, eu não percebo isso com os alunos, eu dou
aula também na Psicologia, por exemplo, essa capacidade de aproveitar esses
recursos, essas habilidades de busca no contexto da área de conhecimento que está
estudando eles têm, mas não sei que medida isso repercute em estratégias de
aprendizagem e de aprofundamento [sic].
E. De acordo com sua experiência, qual o grau de importância dado pelos estudantes
universitários para as disciplinas com conteúdo de tecnologias digitais aplicadas à
Educação?
Coord. Eu ainda acho que tem uma valorização menor, eu ainda não vejo como o essencial.
Delta Talvez eles vejam muito assim: “Como eu vou alfabetizar?”; “Como vou fazer com
geografia?”. Eles não conseguem enxergar que os recursos tecnológicos vão poder
contribuir e trabalhar com eles, eu ainda não vejo totalmente essa parceria, não é das
disciplinas mais valorizadas. Eu penso que os alunos de Pedagogia usam muito recurso,
mas não sabem usar. Eu vejo Facebook e qualquer resenha, qualquer coisa que você
passa é Ctrl C e Ctrl V, temos que ficar muito atentos, até mesmo com o plágio [sic].
Coord. Do ponto de vista da Pedagogia, eu acho que dão muito valor, essas disciplinas que
Gama tratam disso são bem valorizadas, eles percebem a pertinência, a importância de
conhecer as novas tecnologias, as possibilidades que elas abrem para a prática de
ensino, das possibilidades de gerar aprendizagem. Acho que há uma compreensão
disso [sic].
F. Você gostaria de abordar outro aspecto relacionado ao tema proposto nessa entrevista?
Coord. Eu vejo que o professor que trabalha com isso dentro da universidade tem uma visão
Delta mais técnica da Educação, falta a formação de professor para trabalhar com os recursos
tecnológicos. Qual a formação exigida para trabalhar com essa disciplina na faculdade?
Ou é Pedagogia ou tem o curso de Ciência da Computação. Quem vem com o curso de
Ciência da Computação não controla uma escola, sabe muito os recursos das
máquinas, mas não sabe como relacionar isso com a escola, isso consiste em uma
falha. Penso que teria que ter uma especialização, algum curso que fizesse essa ponte.
Eu acho que a faculdade te dá um impulso, só que, por exemplo, artes ou alfabetização
você corre atrás, agora com relação ao professor com recurso tecnológico você não tem
tanto o que correr atrás hoje [sic].
760
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354
Blumenau, v.14, n.2, supl.1, p.745-771, out./nov. 2019
DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2019v14n2s1p745-771
(conclusão)
Coord. Eu venho discutindo com o grupo para a gente tentar entender como é que as
Gama tecnologias podem dar um suporte ao ensino de forma tal que o professor viabilize um
processo de aprendizagem, no qual o aluno tome conta de sua aprendizagem, se
aproprie dela, de maneira que tenha uma autonomia cada vez mais centrifugada, ou
seja, as novas TIC criam possibilidades novas que a gente não tinha antes, também
pode abrir canais de comunicação com outros estudantes, seja as crianças de quarto e
quinto ano, mas seja também os estudantes de nível superior. Eu recebo e-mails de
leitores de textos meus, que eu escrevi, às vezes fazendo algum questionamento, são
coisas que antes a gente não tinha essa possibilidade. Eu acho que isso é até
subaproveitado e que é uma possibilidade [sic].
Fonte: Dados da pesquisa.
5 CONCLUSÃO
comunicar e, como isso, a motivação e até mesmo inspiração dos alunos poderá ser
despertada e trabalhada.
Sabemos que a temática é ampla e o presente trabalho apenas relata um
pequeno fragmento da realidade apresentada, longe de esgotar o assunto. Sendo
assim, sugerimos investigação e estudos que possibilitem maior aprofundamento
desde a temática Educação e Tecnologia e suas possibilidades.
DANIEL MILL
Professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde trabalha como
Docente e Gestor de Educação a Distância (EaD). Doutor em Educação pela UFMG,
com pós-doutorado pela Universidade Aberta de Portugual. É membro do Programa
de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Como pesquisador, tem
interesse particular pela interseção das temáticas: Trabalho Docente, Tecnologias,
Linguagens, Cognição e Educação a Distância.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, F. J. Educação e Informática: os computadores na escola. 2. ed. São
Paulo: Cortez, 1988.
BRAGA, M.; GUERRA, A.; REIS, J. C. Breve História da Ciência Moderna. 4 ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 2011, 101 p.
LIBÂNEO, J. C. Adeus Professor, Adeus Professora? 9 ed. São Paulo: Cortez, 2006,
103 p.
REGO, T. C. VYGOTSKY. 23. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2012, 139 p.
SANTAELLA, L. Cultura das Mídias. 1 ed. São Paulo: Experimento, 1996, 292 p.
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional