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NUTRIÇÃO CLINICA E ESPORTIVA

DIABETES, HIPERTENSÃO E DISLIPIDEMIA.

Maria Gerderlania de Holanda

O cuidado nutricional em diabetes mellitus (DM) é uma das partes mais desafiadoras do
tratamento e das estratégias de mudança do estilo de vida. A relevância da terapia nutricional no
tratamento do DM tem sido enfatizada desde a sua descoberta, bem como o seu papel desafiador
na prevenção, no gerenciamento da doença e na prevenção do desenvolvimento das
complicações decorrentes. O controle metabólico é apontado como a pedra angular do manejo
do diabetes, pois alcançar um bom controle reduz o risco de complicações microvasculares e
pode, também, minimizar as chances de doenças cardiovasculares. De modo semelhante,
melhorar os níveis pressóricos e de lipídios pode ser eficaz na redução de eventos
cardiovasculares. As escolhas alimentares promovem efeito direto sobre o equilíbrio energético
e, por conseguinte, sobre o peso corporal e os níveis pressóricos e de lipídios plasmáticos. Por
muito tempo, acreditou-se na prescrição alimentar restritiva e com exclusão total dos alimentos
com sacarose para o tratamento dietético do DM, mas, com o estudo Diabetes Control and
Complications Trial (DCCT, 1993), houve uma “reviravolta”, sobretudo para o DM1, que
passou a considerar a inclusão da sacarose no rol dos carboidratos do plano alimentar. Embora
se saiba que a ingestão de carboidrato influencia diretamente os níveis de glicose pós-prandial,
sendo ele o macronutriente de maior preocupação no manejo glicêmico, a terapia nutricional se
concentra no equilíbrio dos macronutrientes para a manutenção do bom controle metabólico.

Ao contrário do DM1, que não pode ser evitado, o DM2 pode ser retardado ou evitado por meio
de modificações do estilo de vida, que incluem alimentação saudável e atividade física. A dieta
mediterrânea é citada na literatura como referência de padrão saudável para a população
ocidental por promover a longevidade e ser capaz de reduzir 9% da mortalidade geral por
doenças cardiovasculares. No Brasil, o Guia Alimentar para a População Brasileira sugere a
mistura “Arroz com feijão” como a base da alimentação por apresentar excelente combinação
de aminoácidos, além do incentivo ao consumo de alimentos in natura ou minimamente
processados e preparações culinárias em vez de alimentos ultraprocessados, com vistas ao
consumo saudável e ao combate à obesidade.
A abordagem nutricional individualizada requer mudanças no estilo de vida e objetivos que
possam resultar em intervenções dietéticas complexas. Para essa individualização, é necessário
conhecer alguns aspectos relacionados ao contexto da produção e do consumo dos alimentos,
como cultura, regionalidade, composição de nutrientes e preparo de refeições. A orientação
nutricional tem como alicerce uma alimentação variada e equilibrada. Além disso, o foco é
atender às necessidades nutricionais em todas as fases da vida. Essa terapia tem como objetivos,
ainda, manutenção/obtenção de peso saudável, alcance das metas de controle da glicemia (tanto
em jejum como pré e pós-prandial) e adequação dos níveis pressóricos e dos níveis séricos de
lipídios, considerando-se o uso de fármacos para prevenir complicações de curtos e médios
prazos.
O ponto- chave da boa condução do diabetes é o envolvimento do paciente e dos familiares
como parte ativa de todo o processo, de modo a desenvolver o autoconhecimento e auxiliando
na tomada de decisão. A educação voltada para a autogestão do DM é o processo de facilitação
de conhecimentos, habilidades e capacidades necessárias ao autocuidado da doença. Os
objetivos globais da educação em DM, com relação ao indivíduo, são apoiar a tomada de
decisão, orientar o autogerenciamento e a resolução de problemas, bem como promover a
colaboração ativa entre paciente e equipe de saúde, a fim de melhorar os resultados clínicos, o
estado de saúde e a qualidade de vida de maneira eficaz em termos de custos.
Indivíduos com DM, tipos 1 e 2, e seus familiares devem ser inseridos em programas de
educação nutricional desde o diagnóstico, com abordagem sobre a importância do autocuidado e
da independência quanto a decisões e atitudes ligadas à alimentação e ao controle metabólico.
Por meio desse conhecimento, o indivíduo com DM poderá compreender a importância e a
influência dos alimentos na homeostase glicêmica, bem como estar ciente da prevenção de
complicações. Estratégias educacionais incluem atividades em grupos operativos, oficinas e
palestras. A alimentação está diretamente relacionada a questões psicossociais e culturais; é
necessário, portanto, inserir considerações pertinentes no processo educativo. As principais
características do processo de educação em diabetes são: Participação efetiva do paciente e
familiares no autogerenciamento contínuo da doença; Reavaliação em quatro momentos
críticos: diagnóstico, anualmente, no surgimento de complicações ou algum tipo de mudança no
tratamento;
O DM2 é uma das principais doenças crônicas que podem ser evitadas por meio de mudanças
no estilo de vida e intervenção não farmacológica. Estudos epidemiológicos e intervencionistas
sugerem que a perda de peso seja a principal forma de reduzir o risco de diabetes. O alerta
mundial para a prevenção do DM2 é reforçado, como mencionado, pelo substancial aumento da
sua prevalência nas últimas décadas.
Hipertensão arterial
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) ou pressão alta é uma condição clínica multifatorial
caracterizada por níveis elevados e sustentados da pressão arterial (PA). Considerando-se
valores de pressão arterial maiores ou iguais a 140 / 90mmHg. A hipertensão normalmente é
causada quando há uma resistência e endurecimento maior dos vasos sanguíneos para a
passagem do sangue, o que necessita uma força maior do coração para o bombeamento do
sangue.

Isso pode ser um processo natural do corpo, mas é aumentado com alguns dos fatores de risco,
A hipertensão é herdada dos pais em 90% dos casos. Em uma minoria, a hipertensão pode ser
causada por uma doença relacionada, como distúrbios da tireoide ou em glândulas
endocrinológicas, como a suprarrenal. Entretanto, há vários outros fatores que influenciam os
níveis de pressão arterial, entre eles, Consomem de bebidas alcoólicas, Obesidade, Idade,
Consumo excessivo de sal, Gênero e etnia (maior em homens, e em indivíduos de cor não
branca), Idade, Sedentarismo.

O padrão alimentar considerado mais eficiente no controle da pressão arterial é conhecido


como dieta , que contempla a inclusão de alimentos ricos em potássio, redução de sódio e
controle na quantidade de lipídios. O estudo pioneiro testou três tipos de dietas em indivíduos
hipertensos formulada com 2.800 mg de sódio: controle, rica em frutas e hortaliças e dieta
combinada (rica em frutas e hortaliças e redução de gorduras saturadas) . A dieta combinada foi
a mais eficiente na redução tanto na pressão sistólica quanto diastólica em comparação ao
controle. A eficiência da dieta (elaborada com 2.400 mg de sódio) sobre a redução da pressão
arterial foi demonstrada em indivíduos com síndrome metabólica, que também se beneficiaram
com redução da glicemia de jejum e da concentração plasmática de triglicérides.

Dislipidemias:

O perfil lipídico de indivíduos com diabetes é caracterizado pela elevação da concentração


plasmática de triglicérides e redução do colesterol HDL. Quanto ao colesterol LDL, não se
observa elevação no plasma em comparação a indivíduos sem diabetes, porém, no diabetes,
formam-se partículas pequenas e densas, as quais são mais aterogênicas. As principais
estratégias para a redução da concentração plasmática de triglicérides são, respectivamente, o
ajuste do consumo calórico com a finalidade de manutenção de peso apropriado e adequação da
quantidade e qualidade de carboidratos e gorduras na dieta. O excesso do consumo de
carboidratos, especialmente açúcares de adição como sacarose e xarope de milho, implica
ativação das vias lipogênicas hepáticas, culminando em maior secreção de partículas de VLDL.
O Guia Alimentar recomenda que sucos de frutas concentrados, mesmo que não adoçados,
sejam incluídos dentro do limite de consumo de açúcar (< 10% do VCT) preconizado pela
OMS. A frutose presente nos açúcares induz a formação mais rápida de ácidos graxos em
relação à glicose, uma vez que não possui mecanismos hepáticos de feedback de regulação.
Além disso, a resistência à insulina em decorrência do excesso de carboidratos em indivíduos
com diabetes também ativa fatores de transcrição no fígado, culminando em maior síntese de
triglicérides. Estudo agudo mostrou que a frutose induziu maior lipemia pós-prandial e
formação de mais partículas de LDL pequenas e densas em comparação à glicose em indivíduos
normais e com excesso de peso. A quantidade e a qualidade de gorduras na dieta também
induzem alterações nos triglicérides plasmáticas. Ácidos graxos trans e saturados ativam todas
as vias de sinalização hepática lipogênica. Ácidos graxos saturados aumentaram a lipogênese de
novo e a resistência à insulina em comparação a insaturados, em indivíduos com sobrepeso. As
bebidas alcoólicas também ativam vias lipogênicas, razão pela qual o seu consumo deve ser
limitado a indivíduos com hipertrigliceridemia. Tanto para o tratamento da hipertrigliceridemia
quanto para o da hipercolesterolemia, recomenda-se o seguimento de padrões alimentares
saudáveis, como a dieta do Mediterrâneo . Além disso, o padrão mediterrâneo contribui com
menor aterogenicidade das partículas de LDL.

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