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Uma compilação de publicações
do Jornal da Cidade
Ficha Técnica
Edição: Cidadãos de Maputo

Fotografia: Yassmin Forte


Design e diagramação: Adelium Castelo
Revisão do Texto: Maria João Diniz

Colaboraram no Jornal da Cidade:


Almeida Sitói | Álvaro Carmo Vaz | António Prista
António Sopa | Carlos Serra | Eufrásio Bapi
José Maria Langa | Khufene Maulele
Leonel Matusse | Luis Lage | Margareth Holland
Perpétua Gonçalves | Regina Charumar | Ruben Morgado
Sá Nogueira Lisboa | Tomás Vieira Mário | Wendy Baule
e outros cidadãos que pediram anonimato

Para informações
Facebook: https://bit.ly/cidadaosdemaputo
Email: cidadaosdemaputo@gmail.com
Website: www.jdc.org.mz

2022

Apoio

Todos os textos incluídos neste livro


foram publicados no Jornal da Cidade,
que pode ser consultado na página:
www.jdc.org.mz
Indice
Prefácio .......................................................... 9 “PRÉDIO POTT: A DESTRUIÇÃO DO NOSSO Enquadramento Histórico .............. 80
PATRIMÓNIO” ......................................... 77
A cidade somos nós .............................. 9
Notas dos Editores ............................ 10 Por que razão o Prédio Pott é Direcção Nacional do Património
Breve História de Maputo ............... 12 Património Histórico? ............................ 79 Cultural esclarece os motivos da
Descrição Física .......................................... 79 autorização da demolição ............. 82
A MOBILIDADE ..................................................................................................... 17
TRANSPORTE PÚBLICO: UMA DOR DE Transporte público: o problema central AMBIENTE ............................................................................................................... 83
CABEÇA PARA OS MUNÍCIPES .............. 18 do estacionamento .......................... 34 PARQUES E ZONAS DE RECREAÇÃO SÃO As Barreiras ....................................................... 115
De acordo com o PCA da AMT: O Tema: Fácil é não estacionar em CADA VEZ MAIS ESCASSOS ............ 84
problema de transporte estará Maputo ..................................................... 34 Investigação científica tem revelado
resolvido até 2023 ........................................ 24 DESTRUIÇÃO DO MANGAL NA CIDADE DE
Cones na rua e estacionamento nos efeitos nefastos na saúde pública ..... 87 MAPUTO NÃO PÁRA, APESAR DOS VÁRIOS
passeios são ilegais .......................... 37 CMM busca melhorar espaços verdes ALERTAS ...................................................... 116
PASSEIOS E MOBILIDADE NA CIDADE DE TRÂNSITO E CIRCULAÇÃO RODOVIÁRIA na Cidade ...................................................... 89
MAPUTO: NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO NA CIDADE DE MAPUTO .......................... 39
URGENTE ..................................................... 25 LIXO NAS PRAIAS DA CIDADE DE MAPUTO
Uma Saudação à Polícia de Trânsito .47
POLUIÇÃO SONORA: UM PROBLEMA DE ATINGE ESTADOS ALARMANTES: UMA
Um estudo revelador .......................... 28 SAÚDE PÚBLICA E DE BEM-ESTAR ............ 93 INTERVENÇÃO URGENTE É NECESSÁRIA ......
As Cidades deveriam ser feitas para as A EXCLUSÃO DE PESSOAS COM .................................................................................. 123
pessoas, não para os carros. ............ 29 DEFICIÊNCIA E MOBILIDADE Educação cívica: um elemento chave
REFLEXÃO SOBRE O ESTADO DAS
CONDICIONADA É CADA VEZ MAIS
ÁRVORES DOS ARRUAMENTOS DA CIDADE no processo ....................................... 126
PREOCUPANTE ......................................... 49
É CADA VEZ MAIS DIFÍCIL ESTACIONAR NA DE MAPUTO ...................................................... 98
CIDADE DE MAPUTO ........................... 32 Decreto n.º 53/2008 ........................... 52
Quantificação dos benefícios HÁ FALTA DE SANITÁRIOS PÚBLICOS NA
ambientais das árvores: estudo de CIDADE DE MAPUTO ......................... 129
caso do campus da Universidade Ambientalistas dizem que a urina
EDIFÍCIOS .............................................................................................................. 53
Eduardo Mondlane ......................... 105 afecta a saúde pública .......................... 131
PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO E Moradores alertam o Município para
A poda de árvores adultas ........... 106
HISTÓRICO DA CIDADE .......................... 54 o excesso de construções em zona
saturada ...................................................... 67 Razões para se proceder à poda das RESÍDUOS SÓLIDOS: UM PROBLEMA
Acções legislativas e de procedimen-
árvores em ambientes urbanos ....... 106 MUITO SÉRIO ....................................... 134
tos na preservação do Património Urbanização na Cidade de Maputo . 68
Cultural Edificado na Cidade de Dores de crescimento urbano em
Maputo, até à data da Independência Moçambique! ........................................ 69 DRENAGEM PLUVIAL ......................... 109
Nacional ....................................................... 58 PAISAGEM LINGUÍSTICA DA CIDADE DE
Um pouco de história .......................... 114 MAPUTO ..................................................... 139
AUMENTA A CONCENTRAÇÃO DE
CONSTRUÇÕES NO CENTRO DA CIDADE DA HISTÓRIA RECENTE AO DILEMA DOS A Baixa ....................................................... 114
DE MAPUTO ..................................................... 63 PRÉDIOS VELHOS DE MAPUTO ............. 73

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MAPUTO E ARTE
1. POEMAS DE MAPUTO
................................................................................................... 143
......................... 144 CIDADE ...................................................... 146
Prefácio
MAPUTO CIDADE ........................................ 144 RONDA DE INFÂNCIA ........................... 147 Acidade somos nós
EM MAPUTO TEM ........................................ 145 MAPUTO 135 ANOS .......................... 150
É cultura, identidade, são as memórias, são alguns pedaços de nós. A cidade tem
BALADA TRISTE ........................................ 145 2. A ARTE NA RUA ........................................ 151 alma. Mais do que recursos urbanos, a cidade é um direito humano, embora muitas
vezes negligenciado, mas fundamental. Ao mudarmos a cidade, transformamo-
-nos a nós próprios; torna-se um necessário exercício de transformação colectiva.
PROGRAMA DOS CIDADÃOS DE MAPUTO .......................................................... 155
DESEJOS E ACÇÕES CONCRETAS QUE 4. Desejo IV: Preservação do património
SUSTENTAM AS MEDIDAS URGENTES .... 156 histórico, cultural e ecológico ............ 158 São os contactos, formais e informais, que nos permitem interagir uns com outros.
A cidade cresce, não pertencendo a ninguém, mas sendo de todos, de todas as
1. Desejo I: Construção planificada .. 156 5. Desejo V: Limitação de horários e
raças, de todas as classes sociais, de todos os géneros, de todas as pessoas.
2. Desejo II: Distribuição equitativa dias de construção .......................... 159
dos serviços públicos no território da 6. Desejo VI: Acessibilidade e
cidade ...................................................... 157 mobilidade urbana de veículos O Jornal da Cidade (JdC) é a voz deste Maputo, que se pretende um direito de todos,
e pedestres, em particular com uma iniciativa assente na inclusão, na reconstrução da nossa forma de olharmos
3. Desejo III: Criação e melhor
mobilidade condicionada ............ 160 a economia, o ambiente, a mobilidade, os espaços comuns. Neste espaço, o JdC
distribuição de novos espaços verdes
criou-se no debate de ideias, apontado para acções concretas, levantaram-se
................................................................................. 158
problemas, sem nunca os criar, sendo sempre parte de uma solução.

Uma outra cidade é possível... transformar a cidade é um passo fundamental para


transformar tudo o mais.

E desta contribuição fica o que de melhor se aprendeu: É MUITO MAIS O QUE NOS
UNE DO QUE AQUILO QUE NOS SEPARA!

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Notas dos Editores fins. Procura-se, assim, manter disponível, e de modo facilmente acessível, um
conjunto de informações, análises e propostas de soluções equacionadas nas
diferentes edições do JdC.
O intuito do JdC foi essencialmente construtivo. É nossa convicção que, mesmo
O Jornal da Cidade (JdC) surgiu na sequência de um movimento criado por um que o impacto até ao momento não tenha sido elevado, a publicação deste livro
grupo de cidadãos residentes na cidade de Maputo que, movidos pelo espírito contribuirá para que as nossas reflexões e propostas tenham utilidade ao longo
cívico, decidiram promover uma reflexão sobre a qualidade de vida da sua cidade. do tempo.
Desse movimento, resultou uma petição que incluía um conjunto de propostas de
possíveis soluções para os constrangimentos que se apresentavam à qualidade
de vida em Maputo.
O esforço do movimento, que se denominou de “Cidadãos de Maputo”, foi realizado
no sentido de construir pontes de colaboração com as autoridades do Conselho
Municipal de Maputo, visando a identificação de problemas e preocupações
comuns que afectam a qualidade de vida na cidade, bem como a troca de
sugestões sobre as possíveis soluções. Um primeiro resultado desta reflexão
viria a ser a elaboração de 37 propostas de acção, apresentadas às autoridades
municipais.
Na sua criação, foram definidos três grandes objectivos para o Jornal da Cidade,
nomeadamente: (1) promover reflexões em torno de assuntos-chave que digam
respeito à gestão municipal, propondo, ao mesmo tempo, possíveis soluções; (2)
criar um veículo de opinião, de expressão livre e responsável, quer por parte dos
munícipes, quer por parte das autoridades Municipais e (3) incentivar o munícipe
a participar activamente na vida da sua Cidade, através da expressão livre e
responsável de opinião.
Para cumprir estes objectivos, e durante aproximadamente dois anos, o JdC não
apenas publicou regularmente, não só matérias que considerou determinantes,
como manteve activo um Portal (www.jdc.org.mz ), no qual se procurou disseminar
as temáticas publicadas, bem como estabelecer uma porta de comunicação
pública. Simultaneamente, o JdC procurou manter um contacto construtivo com
as autoridades municipais.
Os assuntos do Jornal foram estritamente confinados a uma politica editorial
definida em seis pontos, entre os quais a restrição a assuntos da cidade, a proibição
de menção a pessoas e a obrigatoriedade de se apresentar possíveis soluções
para os problemas levantados. Se a avaliação dos objectivos não pode ainda ser
realizada, é com algum orgulho que constatamos que o JdC se manteve totalmente
fiel à sua política editorial.
Porque as reflexões e possíveis propostas de soluções não se podem esgotar num
espaço temporal curto, foi decidido compilar a informação que se considerou
mais relevante, publicada durante estes dois anos, de forma a deixar um
testemunho que possa ser permanentemente consultado para os mais diversos

10 11
Breve História de Maputo a que o governo português enviasse uma missão que procedeu à drenagem do
pântano, dando lugar à primeira expansão significativa da cidade. A vila vivia
muito do seu porto.
Um marco importante no desenvolvimento da cidade foi a chegada, a 7 de Março
Maputo é a capital e a maior cidade de Moçambique. Localiza-se na margem de 1877, de uma expedição, sob o comando do general Joaquim José Machado.
norte da baía de Maputo, no extremo sul do país, perto da fronteira com a África É esta missão que impulsiona o traçado e a construção da linha férrea, ligando
do Sul, a sul, e da fronteira com E-Swatini, a oeste. o porto ao Transvaal e, em dez anos, expande a cidade até às actuais Rua da
Antes de se chamar Maputo, a cidade chamava-se Lourenço Marques. Lourenço Mesquita, Av. 25 de Setembro e Rua da Imprensa. O número de edificações já
Marques era um navegador e explorador português que, com António Caldeira, foi atingia 250, com algumas casas isoladas na barreira da Maxaquene e na Ponta
enviado, em 1544, pelo governador de Moçambique, numa viagem de exploração, Vermelha.
a partir da Ilha de Moçambique. O crescimento da vila, com a secagem e aterro do pântano, e a importância do
Cerca de duzentos anos mais tarde, no último quartel do século XVIII, os portugueses porto e linha férrea, levou a que lhe fosse dado o foro de cidade, em 1887, por
estabeleceram uma feitoria neste local, bordejando a baía do Espírito Santo pelo decreto régio do rei D. Luís. Dez anos depois, a capital da colónia mudou da Ilha
lado norte, com o objectivo de comerciar com as populações locais, sobretudo de Moçambique para a cidade de Lourenço Marques. Em 1892, foi aprovado o
para a compra de marfim. A feitoria deu origem a uma fortificação em madeira, plano de expansão da cidade, ligando a sua parte baixa (a Baixa) à zona alta da
mas uma e outra foram múltiplas vezes atacadas e destruídas por tribos locais, ou Ponta Vermelha, até ao Alto-Maé. Sob inspiração do general Machado, o plano
por potências coloniais concorrentes (Holanda, Áustria, Inglaterra), sendo sempre foi preparado pelo major António José de Araújo. Ao mesmo tempo que a cidade
reconstruídas. Esta história prolongou-se durante mais cerca de cem anos. A cresce de forma estruturada (o que viria a ser a “cidade de cimento”), vai crescendo
principal disputa colonial era com os ingleses, que pretendiam ficar com as terras também uma ocupação de carácter efémero e não estruturado, na área exterior
a sul da baía e com as ilhas da Inhaca e dos Elefantes. Esta disputa apenas ficou aos limites do plano, onde se acomodava a população indígena empregada no
solucionada quando Portugal e a Inglaterra submeteram o assunto à arbitragem porto, nos Caminhos-de-Ferro, nas lojas de comércio e como serviçais domésticos.
do marechal Mac-Mahon, presidente da França, tendo este decidido a favor de A partir do início do século XX, a cidade já tem serviços regulares de abastecimento
Portugal, a 24 de Julho de 1875. de água e de electricidade, telefone e eléctricos. Surgem edifícios emblemáticos
como o Prédio Pott, aparece a livraria Minerva Central (1907), nasce a primeira sala
Mas não eram só os ingleses que criavam problemas aos portugueses na
de cinema, é criado o Jardim Municipal (actual Jardim Tunduru). O crescimento
região, eram também os povos locais e o poderoso império de Gaza, dos vátuas,
da cidade de cimento é imparável; nos anos quarenta, são edificados, na grande
primeiro com Muzila e, depois, com o seu filho Gungunhane, que, formalmente,
praça ao cimo da actual Av. Samora Machel, da Câmara Municipal e da Catedral,
se consideravam vassalos do rei de Portugal, mas negociavam igualmente com
fazendo companhia ao mais antigo Hotel Clube (actual Centro Cultural Franco-Mo-
os ingleses procurando, deste modo, garantir a sobrevivência e a independência
çambicano). O foral da cidade estabeleceu, como seu limite, uma estrada circular
do império. Com a Conferência de Berlim e a doutrina de “ocupação efectiva”, os
que iria do Alto-Maé à Ponta Vermelha e que, hoje, corresponde, aproximadamente,
portugueses decidiram avançar para a conquista e submissão efectiva do império
ao alinhamento que vai da Rua da Tanzania, passa pela Praça 21 de Outubro,
de Gaza, o que veio a acontecer com a campanha de Mouzinho Albuquerque, que
segue pela Av. Marien Ngouabi e termina na Av. Mao Tse Tung. A partir dos anos
derrotou e prendeu Gungunhane e alguns dos seus principais aliados, como os
cinquenta, a cidade de cimento expandiu-se para norte desta avenida e, para
chefes ronga Nwamatibyane (Zixaxa) e Amgundjuana (Moamba), em 1895.
leste, para o Alto-Maé.
Desde o início do século XIX, tinha começado a crescer um pequeno povoado,
Os subúrbios, de assentamentos informais, também cresceram bastante no
protegido pela fortaleza (já em alvenaria e dotada de canhões) e pelo pântano, que
tempo colonial, mas a falta de planos de urbanização dos bairros e, sobretudo,
funcionava como linha de defesa. No entanto, o povoado existente foi praticamente
a falta de infra-estruturas essenciais faziam um contraste brutal com a “cidade
destruído em 1850, num grande ataque das tribos à volta, e só lentamente foi
de cimento”, organizada, ajardinada, admirada pelos visitantes e por quem
crescendo outra vez. Cerca de vinte e cinco anos depois deste último ataque, já a
nela morava (no “cimento”), com grande actividade comercial, industrial e vida
povoação tinha uma dimensão em população e actividade, que justificou que a
cultural, com livrarias e cinemas em quantidade. Nunca uma vereação considerou
coroa portuguesa lhe desse o estatuto de vila, a Vila de Lourenço Marques (1876).
seriamente a estruturação dos bairros que iam crescendo, desde o Chamanculo
O crescimento do comércio com o Transvaal deu outra importância à vila, e levou

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ou o Xipamanine, ao Aeroporto ou Benfica. Apenas no final dos anos sessenta, Infelizmente, todo este esforço foi travado pela agressão externa, iniciada pelo
perante a pressão da luta de libertação nacional, o regime colonial sentiu que regime minoritário racista da Rodésia de Ian Smith e continuada pelo regime
precisava de melhorar a face da capital da colónia. É dessa altura a criação do do apartheid, naquilo que veio a ser a chamada “guerra dos dezasseis anos”.
GUHARLM – Gabinete de Urbanização e Habitação da Região de Lourenço Marques, Esta guerra teve diversas consequências, com grandes impactos negativos no
com uma grande equipa de arquitectos e planificadores urbanos. crescimento harmonioso da cidade de Maputo. Em primeiro lugar, todo o esforço
Mas era demasiado tarde para que os planos de melhoria dos subúrbios pudessem do governo virou-se para enfrentar a agressão, e a cidade viu-se sem meios para
ser materializados. Lourenço Marques chegou ao dia da Independência como fazer mais do que tentar manter minimamente o que já existia. Depois, os ataques
“duas cidades”, forma feliz como Luís Bernardo Honwana a caracterizou. contra as populações em aldeias e vilas em Gaza e Inhambane levaram a um
afluxo extraordinário de população para a cidade que, pelo menos, lhes oferecia
Com a independência de Moçambique, Lourenço Marques também mudou de segurança. Esta população fixou-se em todos os espaços livres que encontrou,
nome. A 3 de Fevereiro de 1976, num comício realizado no estádio da Machava, fossem ou não adequados para assentamentos urbanos (muitos não eram), com
o presidente Samora Machel anunciou o novo nome da cidade: Maputo. Com a o Conselho Municipal incapaz de controlar e orientar estes novos assentamentos
alteração do nome, vieram outras esperadas alterações: as estátuas dos heróis informais.
coloniais (Mouzinho de Albuquerque, António Enes, Salazar) foram retiradas e
colocadas na Fortaleza, actual Museu de História Militar, a quase totalidade das Quando a guerra terminou, em 1992, Moçambique era um país exangue e totalmente
avenidas e ruas, jardins e museus passaram a ter nomes homenageando heróis e dependente dos doadores. A orientação decidida pelo governo de seguir uma
locais da resistência ao colonialismo, heróis da luta de libertação e ainda nomes “economia de mercado” gerou um estilo de gestão municipal de “free for all”, com
de grandes vultos de países socialistas que tinham apoiado a luta de libertação. alguma corrupção à mistura. Apesar de a Lei de Terras estabelecer claramente
que a terra não se vende, os terrenos da cidade eram valiosos e passaram a ser
Uma mudança substancial iniciada na cidade foi a focagem nos subúrbios, transaccionados por baixo da mesa, sem que o Município disso tirasse qualquer
procurando dar-lhes a atenção e as infra-estruturas que lhes tinham sido negadas ganho. A situação nos bairros suburbanos tornou-se caótica, com uma tremenda
durante o longo período colonial. As redes de água e electridade avançaram para sobreocupação do solo, impermeabilizando-o, cortando linhas de água e fazendo
os bairros suburbanos, as carreiras dos transportes públicos também. O governo desaparecer as valas terciárias de drenagem pluvial, ressurgindo o problema das
popular investiu fortemente nas áreas de educação e saúde e, assim, cresceu o inundações urbanas que tinha sido muito mitigado.
número de escolas primárias e secundárias e o de postos de saúde nos bairros
suburbanos. O reordenamento urbano, porém, revelava-se extremamente difícil, Do lado da “cidade de cimento”, verificou-se alguma expansão para zonas novas,
sobretudo porque o governo não queria violentar as populações, retirando-as de particularmente ao longo da Marginal e na zona entre esta e a encosta, para norte,
certas áreas para que tal reordenamento fosse possível. ao longo da Av. Julius Nyerere, na direcção do aeroporto, ao longo da Av. Acordos
de Lusaka. Mas a grande concentração de edificação nova (cara, pois não há
Para além da extensão das redes de águas e electricidade, talvez as mais habitação social) foi na Baixa, onde toda a zona dos eucaliptos no sopé da barreira
importantes infra-estruturas criadas na cidade a seguir à Independência tenham da Maxaquene foi eliminada, para dar lugar a grandes prédios; foi, também, nas
sido as de saneamento básico, realizadas durante a década de 80. As inundações zonas mais “nobres” da cidade, particularmente na Polana, apesar de ser uma
desastrosas que ocorriam, regularmente, desde o tempo colonial, causavam zona já saturada. Nos subúrbios, há desenvolvimentos positivos em alguns bairros,
imenso sofrimento nas populações dos subúrbios e grandes prejuízos económicos seja por iniciativas organizadas dos seus moradores, de que a Mafalala é um bom
na cidade de cimento. Ainda no tempo colonial, tinham-se registado grandes exemplo, seja pelo apoio de ONGs, ou de projectos do próprio Município, com apoio
deslizamentos de terras das encostas, tanto na barreira da Maxaquene, como na de doadores, com a criação de infra-estruturas sociais (creches, escolas, parques
barreira da Malanga. A grande vala de drenagem pluvial que parte da Av. Heróis infantis), de comércio (mercado organizado, melhoramento de bancas de venda
de Marracuene e segue na direcção do Jardim Zoológico até descarregar no rio de produtos) e outras (abertura ou alargamento de ruas e estradas, pavimentação,
Infulene, com as suas valas secundárias e terciárias, praticamente eliminou as drenagem), como se tem verificado em diversos bairros (George Dimitrov, Polana
inundações numa série de bairros suburbanos, incluindo a conhecida “zona das Caniço, Chamanculo, por exemplo).
lagoas”. Também as águas residuais beneficiaram de um grande sistema de
colecta e tratamento na ETAR do Infulene, a primeira do país. Infelizmente, a cidade vai crescendo em construção, mas não em zonas verdes
que foram diminuindo, substancialmente, em benefício do edificado. Algumas
iniciativas de parceria entre o Município e o sector privado levaram à recuperação

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de alguns jardins, embora com sacrifício de uma importante parte da sua área
verde, para edifícios.
A pressão de crescimento da cidade é enorme, o Município tem uma tarefa
gigantesca para que tal crescimento seja harmonioso. O planeamento urbano e
a sua execução rigorosa, sem desvios, é essencial para promover tal crescimento
harmonioso e de integração dos actuais subúrbios para que, em definitivo, Maputo
deixe de ser as “duas cidades” de que falou Luís Bernardo Honwana, e toda ela
seja bela, limpa, segura e próspera.

Parte A
AMOBILIDADE

16 17
I. A invenção da roda foi um marco importante no desenvol-
Transportes Públicos vimento dos transportes, ajudou a tornar mais eficiente o
transporte por animais, através da introdução de veículos.
Com a invenção da máquina a vapor e, mais tarde, do motor
de combustão e do automóvel, na viragem do século XIX, o
transporte rodoviário tornou-se mais viável, o que permitiu
a introdução do transporte particular. O crescimento das
cidades propiciou o surgimento de novos bairros, afastados
do centro, que trouxeram os problemas de transporte dos
centros urbanos para as zonas periféricas e vice-versa.

Oque está a acontecer?


Prover meios de transporte condignos
para a população é um dos grandes
desafios, em vários países, princi-
palmente os africanos que estão em
vias de desenvolvimento. A falta ou o
deficiente sistema de transporte provoca

TRANSPORTE PÚBLICO:
problemas aos mais diversos níveis,
como na produtividade, nos atrasos
constantes nos postos de trabalho, no
UMADOR DE CABEÇA rendimento escolar, na dificuldade de os
estudantes chegarem a horas às aulas,
gastando elevadas somas de dinheiro
ao “apanhar” muitos “chapas 100”

PARAOS MUNÍCIPES e na saúde pública, pelas condições de


super-lotação e pela ansiedade que
(fazendo ligações), o que prejudica a
economia familiar.

O
cria. Não menos relevante é o desgaste De há algumas décadas para cá, a
transporte é o mecanismo que permite o movimento que tal provoca nas pessoas, com a cidade de Maputo registou um grande
de pessoas e mercadorias de um local para o redução do seu tempo de descanso, crescimento populacional, e surgiram
outro. O campo de transporte apresenta diversas de lazer e de convívio familiar. A crise novos bairros municipais. Nos anos
características a nível de infra-estrutura, veículos de transportes, em Maputo, começou a 90, surgiram os famosos “chapa 100”,
e operações comerciais. “dar os seus primeiros passos” logo após viaturas de carga de caixa aberta,
a independência, quando começaram que estavam cobertas de lonas, e
Desde o seu surgimento, os seres humanos precisaram de se a escassear os machimbombos; quem
locomover de um lugar para o outro, à procura de alimentos que faziam o transporte semicolec-
se “dava ao luxo” de perder o único que tivo de passageiros, “ajudando” os
para a sua sobrevivência, e o seu primeiro meio de locomoção existia para a sua rota arriscava-se a
foi a caminhada. machimbombos que já não davam
percorrer longas distâncias a pé, ou a conta da procura. Depois vieram
A domesticação dos animais introduziu uma nova forma de pernoitar na paragem. Os munícipes os “mini-buses” de 15 lugares, que
colocar o peso dos transportes sobre criaturas mais fortes, da cidade de Maputo enfrentam todos ganharam em popularidade relativa-
permitindo que cargas mais pesadas fossem transportadas, os dias dificuldades para chegarem mente às carrinhas de caixa aberta, até
com maior facilidade e menor duração das jornadas. aos seus postos de trabalho, e acabam por serem teoricamente mais seguros.

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Hoje, os munícipes da capital do país são assaltados na paragem e a caminho 8. O Município deve discutir com os Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM)
obrigados a madrugar e a ficar horas a de casa. formas de aumentar o transporte de pessoas com pequena bagagem, por via
fio na paragem à espera do transporte, Outros chegam a percorrer longas ferroviária, e sua articulação com o transporte rodoviário nos pontos de partida
para poderem chegar aos seus locais distâncias para apanhar o transporte e chegada.
de trabalho, escolas, hospitais, etc. O que, na maioria das vezes, é o famoso Para médio e longo prazo, há duas linhas de desenvolvimento estratégico a serem
mesmo exercício é feito no final da “my love”, carrinha de caixa aberta consideradas pelo Município, nomeadamente: (1) a criação de um sistema de
jornada laboral, em que chegam a em que os utentes se agarram uns transporte massivo e (2) o repensar a cidade e o seu desenvolvimento.
permanecer mais de duas horas no aos outros, viajando como se fossem
terminal do transporte. Alguns são Sobre a o primeiro aspecto, parece-nos evidente a necessidade de Maputo, uma
animais. área metropolitana inserida no Grande Maputo, ter um transporte de massas, que
permita que as pessoas se movimentem de forma segura e com rapidez, seja o
metro, sejam outras variantes.
Oque se pode fazer?
No que respeita ao segundo aspecto, e considerando que a solução do problema
A pandemia da covid-19 veio agravar a 3. Os infractores que deixam os carros dos transportes é difícil nesta altura, tornando-se insolúvel se persistir o actual
situação, já de si crítica, dos transportes em segunda fila, prejudicando a modelo, em que toda a actividade administrativa e económica se concentra na
públicos na cidade de Maputo. Não há fluidez do tráfego em horas de ponta, cidade de cimento, e os bairros da zona peri-urbana são dormitórios de trabalha-
soluções fáceis, nem imediatas, o próprio devem ser devidamente punidos; dores, é preciso descentralizar a cidade, tirando ministérios e instituições públicas
Município reconhece-o. Um grande do centro da urbe para novos polos urbanos, situados nos arredores, e obrigando
4. A capacidade de manutenção
esforço está a ser feito pela Autoridade as instituições privadas a fazerem o mesmo.
das viaturas deve ser reforçada,
Metropolitana de Transportes, que tem
removendo os obstáculos de que os
tido diversas iniciativas para aliviar a
difícil situação vivida pelos munícipes.
Estão, neste caso, por exemplo, a bilhética
operadores se queixam;

5. Embora compreendendo que não


Casos específicos
electrónica, a revisão dos corredores de é uma opção fácil, o Município e a Caso 1:
transporte para os machimbombos em Associação Moçambicana de Trans-
determinadas rotas, a perspectiva de portadores (AMT) devem discutir com Enormes filas continuam a existir nas
implementação do “Bus Rapid Transit” os operadores de machimbombos paragens dos transportes públicos. Os
(BRT), e de um grande reforço da frota e chapas sobre a tarifa que seria prejuízos são diversos.
ao longo dos próximos dois anos. aceitável, e devem obter (solicitar?)
apoio do Ministério de Economia e Caso 2:
Algumas sugestões para um prazo mais
imediato: Finanças para subsidiar o diferencial Apesar da pandemia, os trabalhadores
entre essa tarifa e a oficialmente não encontram outra solução senão
1. A criação de corredores para os aprovada; arriscarem a contaminação. De outra
transportes públicos (machimbombos
6. Assumindo a tomada da medida forma, não conseguem chegar aos seus
e chapas), durante as horas de ponta,
anterior, o encurtamento de rotas empregos.
é uma medida que terá um impacto
positivo imediato; deverá levar à cassação das licenças;
Caso 3:
2. Em complemento, é necessário 7. O Município deve estimular o
sistema do Metrobus na sua ligação O uso de máscaras é uma medida
que o Município, em ligação com o qua não substitui a necessidade de
Ministério das Obras Públicas, melhore entre o transporte ferroviário e o
rodoviário; distanciamento. Isso não é possível
o estado das vias por onde circulam nas condições actuais dos transportes
as viaturas de transporte público; públicos de Maputo.

20 21
COMENTÁRIOS DOMUNICÍPIO situação controlada. Alternativamente,
o Município tem estado a investir na
de embarque nas horas de ponta nos
terminais da Praça dos Trabalhado-
aquisição de viaturas mistas para o res, anexo da Albert Luthuli, Museu
Pergunta: O Município trabalha para minimizar os problemas
reforço do transporte nos bairros de e nas paragens do Entreposto e do
do transporte?
difícil acesso. Contudo, continuamos Fajardo. Acções de aprimoramento
Resposta: Para fazer face a este problema, o Município de atentos para que, caso ocorra a do embarque estão em curso com a
Maputo garante que tem estado a trabalhar no sentido de circulação na zona urbana, [o uso do instalação de guias de ordenamento de
identificar as rotas com défice de transporte e maior demanda “my love”] seja abortado. A utilização de filas nos terminais e nas paragens mais
de passageiros, com vista a minimizar a crise de transporte viaturas de caixa aberta para transporte solicitados.
na capital do país. E lamenta o facto de os munícipes não de pessoas é ilegal e, portanto, proibido. P.: Qual é o apelo que gostaria de deixar
estarem a ficar em casa neste período de pandemia. Todos os que forem apanhados serão para os transportadores e para os
P.: Têm-se verificado enchentes nas paragens, principalmente sancionados. passageiros?
nas horas de ponta, resultante da falta de transportes semi- P.: A covid-19 veio agravar a crise de R.: Gostaríamos de apelar aos operadores
colectivos de passageiros. O que está a ser feito a nível do transportes, e continuamos a verificar e aos passageiros por uma postura
Município para acabar ou minimizar este problema? enchentes nos autocarros. O que o urbanística e segura, com vista a evitar
R.: O Município, em coordenação com a EMTPM e a Agência Município está a fazer para reduzir essas a contaminação massiva da pandemia
Metropolitana, tem trabalhado no sentido de identificar enchentes, tendo em conta que a cidade da Covid19. Paralelamente, o Município
as rotas com défice de transporte e maior demanda de de Maputo, regista elevados índices de dará continuidade às suas acções de
passageiros, com vista a minimizar o assunto em alusão, contaminação? desinfecção dos veículos, rastreio dos
enquanto se aguarda pela alocação de mais meios para as R.: De modo a evitar enchentes nos passageiros no embarque, sensibilização
cooperativas que assistem as rotas mais solicitadas pelos autocarros e nas paragens, a VMTT, VPS, e consciencialização dos passageiros
passageiros. a Agência Metropolitana e operadores para o uso de máscaras, distribuição
As enchentes são inevitáveis dado que não se aumentou o têm trabalhado no sentido de evitar de máscaras e controlo de lotação dos
número de meios e reduziu-se a lotação. Lamentavelmente, que este fenómeno ocorra, realizando autocarros.
nota-se que os munícipes não estão a ficar em casa e o acções de sensibilização e controle
número de passageiros não reduziu com as restrições do

Caso exemplar
“estado de calamidade”.
P.: Para além da falta de transporte, verifica-se, também, o
encurtamento de rotas. Que acções concretas o Município
está a levar a cabo para acabar com este mal? Recentemente, surgiu, na capital
R.: O pelouro de Proteção e Segurança tem trabalhado na sen- do país, o serviço de Metrobus
sibilização e fiscalização dos operadores, com vista a evitar o (q u e e nvo l v e a u to m o to r a s e
desvio e encurtamento de rotas. De referir que este fenómeno machimbombo), que veio ajudar no
voltou a aparecer neste período, por conta da pandemia da transporte de passageiros, e algumas
Covid19, e os operadores cometem tais infracções alegando a empresas têm apostado neste serviço
crise e a redução de número de passageiros nos autocarros. para transportar os seus trabalha-
dores, contribuindo para que estes
P.: Quando é que as carrinhas de caixa aberta vulgo “my love”
possam viajar de forma condigna,
vão deixar de transportar pessoas? E como isto vai acontecer?
Extraído de entrevista e cheguem a tempo ao posto de
eletrónica com o R.: O Conselho Municipal de Maputo tem desenvolvido acções trabalho e às suas casas.
Vereador José Nicolás para o controle deste fenómeno. De momento, temos a

22 23
CAIXATÉCNICA II.

Passeios

De acordo com o PCAda AMT: O


problema de transporte estará
resolvido até 2023
Até 2023, o problema do transporte público estará resolvido, com a importação
de mais viaturas movidas a gás. A garantia foi dada pela Agência Metropolitana
de Transportes de Maputo. A instituição pública que tem como missão planear,
coordenar, fiscalizar e promover o sistema de transportes urbanos de passageiros
da Área Metropolitana de Maputo reconhece, porém, que dificuldades de transporte
persistem e o problema deve-se à falta de fundos para a aquisição de autocarros.
A falta de transporte na cidade e província de Maputo é um problema antigo.
António Matos, PCA da AMT, relaciona a falta de meios circulantes para a deslocação
dos citadinos com a dificuldade de fundos, mas garante que, até 2023, o problema
estará ultrapassado.
António Matos disse que Moçambique produz gás e, a partir dele, gera energia eléctrica.
PASSEIOS E MOBILIDADE
“Temos várias estações que podem encher o gás nas viaturas e a aquisição destas
é para melhorar o transporte e a oferta aos citadinos, bem como “reduzir os custos”
NACIDADE DE MAPUTO:
relacionados com o combustível.”
NECESSIDADE DE
INTERVENÇÃOURGENTE
“O litro equivalente do gás é cerca de 50 por cento inferior ao litro do diesel”,
disse o dirigente, acrescentando que “um dos produtos que torna a actividade

A
de transporte onerosa é o combustível. Os nossos operadores têm feito sacrifícios
enormes” para trabalhar com poucos passageiros (…).”
mobilidade constitui um dos elementos essenciais
Segundo António Matos, a instituição está a trabalhar com diversos parceiros da das características de uma cidade. É desejável
edilidade e sob supervisão do Governo, para tornar o projecto de alocação de haver um acesso facilitado aos diversos pontos
viaturas uma realidade. da Cidade, bem como mobilidade no seu interior,
“Estamos todos empenhados para que a aquisição de viaturas movidas a gás tanto para veículos como para pedestres, entre os quais
“aconteça” até 2023.” pessoas portadoras de necessidades especiais. Isso requer
um sistema de transportes públicos e vias de circulação, seja
Para que isso seja possível, não basta o que a Agência Metropolitana de Transporte
para veículos, seja para pedestres, funcionais, racionais e
de Maputo tem estado a fazer. “Precisamos também do apoio do passageiro.
harmonizados. No que respeita à mobilidade de pedestres,
Estamos, por exemplo, a implementar o bilhete eletrónico e temos já uma grande
as cidades são, normalmente, providas de passeios que se
adesão de passageiros, mas há ainda pessoas com atitudes anti-transporte
querem seguros e transitáveis.
público”, quando alegam que as acções em curso nesse sentido “não são
verdadeiras”. Em geral, as cidades organizadas dispõem de passeios que
garantem uma circulação segura e inclusiva, sem que haja
A Agência Metropolitana de Maputo, em 2019, geria 365 autocarros, numa área
riscos de atropelamentos. É exactamente na inclusão onde
de acção de 2,2 mil Km2, e transportava em média 230 mil passageiros por dia.

24 25
reside o grande desafio de buscar esforços para garantir que o acesso aos passeios pouco urbanos não têm sido tomados e sobre a colocação de infra-estruturas
seja extensivo a todas as pessoas de diferentes condições físicas, e permita uma em conta, de forma abrangente, pelas que se tornam obstáculos à circulação
circulação confortável. autoridades municipais, verificando-se dos peões. De facto, o estacionamento
a ausência de medidas que garantam o dos automóveis nos passeios tornou-se
Oque está a respeito pelo bem público e contribuam um hábito assumido por cidadãos,
acontecer?
Fruto do acentuado
aumento de
viaturas e do
crescimento do
comércio informal,
os passeios foram
sendo ocupados
e transformados
em locais de
estacionamento
e de vendas de
produtos, inviabili-
zando a circulação
dos peões. A para uma mudança de comportamento instituições e autoridades, fazendo
agravar esse dos cidadãos. com que um acto ilegal e lesivo seja
quadro, assiste-se
As recentes medidas adoptadas pelo considerado normal. Estacionar no
ainda à colocação
Conselho Municipal de Maputo relati- passeio, fechar cruzamentos, passar
d e i nfra -e stru -
vamente ao comércio informal, e que com sinal vermelho, não respeitar
turas urbanas
resultaram na libertação de algumas passadeiras e tantas outras são hoje
nos passeios, tais
áreas de circulação pedestre, não foram práticas de muitos cidadãos, sem que
como quiosques,
ainda acompanhadas de medidas haja, da parte das autoridades, uma
junto às paragens
sobre o parqueamento de automóveis atitude educativa e fiscalizadora.
de autocarros, sem
respeitar espaço
para a passagem Oque se pode fazer?
de peões. São
Dada a situação a que se chegou, a não se pode desvalorizar. Embora se
também muitos os casos de empresas edifícios e vias públicas (cf. Decreto n.º
solução do problema constitui uma reconheça a inevitabilidade do uso
que escavam os passeios, deixando 53/2008, de 30 de Dezembro). A aplicação
tarefa de elevada complexidade. O de medidas administrativas, parece
buracos expostos por demasiado tempo das regras aprovadas em diversos
Conselho Municipal de Maputo tem ser recomendável que a sua imple-
após a conclusão das obras. Por outro regulamentos torna-se difícil devido à
levado a cabo uma forte campanha mentação seja acompanhada por
lado, neste momento, a Cidade não forma desordenada como acontece o
de colocação dos vendedores nos um permanente diálogo e elevada
está preparada para aceitar pessoas crescimento da Cidade, e pelo compor-
mercados, retirando-os dos passeios. organização, de forma a garantir a
portadoras de necessidades especiais, tamento dos munícipes, que tendem a
Esta complexa tarefa, com fortes sobrevivência dos vendedores. Assim,
apesar de existir um decreto que fornece resolver as suas dificuldades de forma
implicações socio-políticas, tem um é preciso, por um lado, garantir que
directrizes claras sobre como adaptar imediatista. Esses comportamentos
impacto na vida dos vendedores que os vendedores sejam recolocados em

26 27
locais que sejam viáveis do ponto de • Estimular as instituições e munícipes do estudo tiveram de sair, em média, 54 vezes do passeio, e deslocar-se para
vista do seu negócio e, simultanea- a reabilitar os passeios; a estrada destinada a viaturas, colocando-se em perigo de atropelamento. Os
mente, que o processo seja transparente obstáculos no passeio variaram entre automóveis estacionados, infra-estruturas
• Melhorar substancialmente o
e abranja de forma similar todos os públicas (como paragens de transportes públicos), barracas de venda de comida
sistema de transportes públicos;
envolvidos. e bebida, taipais de obras, sem a devida e legal passagem de peões, entre outras.
É, contudo, determinante que seja • Aumentar as zonas de estaciona- Neste quadro, seria impossível qualquer deficiente cadeirante circular nos passeios.
dada a mesma importância e atenção mento aproveitando todos os terrenos Assim, a alternativa, para quem pode, é levar as crianças para a escola de carro.
à eliminação do estacionamento de baldios; Contudo, isso pode estar associado aos crescentes problemas de obesidade e
viaturas nos passeios, à remoção das fraca condição física já registados por investigações científicas na Cidade.
• Parar com a concentração de
infra-estruturas (algumas públicas) e construções no centro da Cidade,
ao arranjo dos passeios. Se é possível
OPINIÃODOPERITO
através de um planeamento urbano
resolver o problema dos vendedores adequado;
informais, cujas implicações são de
• Consolidar e manter a campanha
As Cidades deveriam ser feitas para as
elevado impacto social, não é aceitável
que não se resolva, igualmente, o de remoção dos vendedores dos
problema da ocupação dos passeios por passeios de forma intensiva e
estacionamento de automóveis ou por
infra-estruturas. Note-se que a tomada
persuasiva, de modo a consciencia-
lizar o vendedor informal e o público a
pessoas, não para os carros.
destas medidas terá muito menor utilizar as infra-estruturas apropriadas
O argumento de que não há lugar para estacionar na Cidade de Maputo constitui,
impacto negativo que as tomadas para para a actividade comercial;
provavelmente, a mais comum justificação dos automobilistas para explicar a
os vendedores. • Apetrechar os mercados de prática de estacionamento nos passeios. Se é verdade que existe uma elevada
Assim, sugerimos que, para a solução organização, infra-estruturas e dificuldade de estacionamento em Maputo, parece ser pouco sensato que, para
do problema da falta de transitabilidade medidas de higiene apropriadas; resolver um problema, se crie um outro ainda maior. Além de as diversas causas
nos passeios de Maputo, se tomem as do défice de estacionamento não estarem a ser resolvidas, a eliminação da
• Promover feiras ambulantes,
seguintes medidas: mobilidade pedestre pela ocupação dos passeios, por uma grande quantidade
devidamente organizadas, onde, de
de cidadãos e instituições, parece um contra-senso. Ao instituir esta prática,
• P r o i b i r, te r m i n a n te m e n te o forma rotativa, se possam promover as
criamos uma Cidade agressiva à locomoção que, sob o ponto de vista de saúde
parqueamento nos passeios; vendas por diferentes locais da Cidade.
e bem-estar, é de todo nefasta.
Por este mundo fora, conhecemos inúmeros exemplos de cidades que têm

CAIXATÉCNICA muito mais carros que a nossa e grandes dificuldades de estacionamento. No


entanto, é impensável a ocupação de qualquer passeio, por automóveis. Algumas

Um estudo revelador
dessas cidades têm milhões de habitantes, que podem circular livremente, e sem
perigo de esbarrar em obstáculos, ou mesmo de serem atropelados. O Conselho
Municipal de Maputo, recentemente, executou uma acção sobre o comércio
Um grupo de investigadores realizou, em Maputo, um estudo que pretendia informal nos passeios que a muitos parecia impensável. Não obstante muitos
comparar o dispêndio energético de crianças e jovens estudantes, quando se protestos, a edilidade foi firme e não recuou. Fica, no entanto, difícil entender que
deslocavam a pé ou de carro para a escola. Os dados foram publicados numa o mesmo não seja feito para as viaturas porque, afinal, o problema é similar, e o
revista científica nacional, em 2016. O estudo observou que a actividade de impacto é muito inferior já que no comercio informal se trata da sobrevivência de
caminhar de e para a escola resultava, em muitos casos, num dispêndio energético muitas pessoas, o que não é o caso das viaturas. Fica também difícil de aceitar
superior ao que é recomendado como mínimo necessário para se manter uma que as instituições promovam, sem receios, este tipo de prática que, além de
saúde cardiovascular estável. Numa distância de 2 quilómetros, os participantes ser lesiva, é ilegal.

28 29
Casos específicos
Caso 1: O presente documento pretende Pretende esta
sistematizar preocupações de e x p o s i ç ã o
Na Escola Internacional de Maputo,
cidadãos...” constituir mais um
um passeio foi convertido em parque
de estacionamento, obrigando os contributo para o
estudantes a transitarem para a rua difícil e complexo
quando entram e saem da escola. trabalho de gestão
municipal...”

A actual situação
de Maputo é a Promoveu uma carta dirigida
Caso 2:
de uma cidade às autoridades do município
A Universidade de São Tomás q u e e s tá , d e e do Governo...”
transformou o passeio em parque de forma evidente, Tra ta -s e de
estacionamento, impossibilitando que desprovida proporcionar
se transite pelo passeio. de um plano aos cidadãos os
harmonioso...” serviços básicos
de forma a que,
e m c a d a zo n a
o u b a i r ro , n ã o
Caso 3: seja necessário
p ercorrerem-se
Várias instituições do Estado usam
grandes distâncias
passeios para parquear as suas viaturas
para se aceder
dando um péssimo exemplo público.
a serviços como
Assinada por
os de farmácia,
9 812 (nove mil
supermercado,
O stress de uma cidade mal planeada oitocentos e
notário, jardim ,
é um dos grandes responsáveis doze) cidadãos,
parque infantil ,
pelas doenças cardiovasculares e a carta solicita a
recinto de prática
consequente morte por enfarte ou avc. atenção urgente
desportiva, café,
Por outro lado, a cidade vê elevar-se das autoridades
centro de saúde,
a taxa de recurso ao hospital por para os desacatos
esquadra da
doenças respiratórias, com particular urbanísticos que
polícia, entre
incidência nas crianças...” se acumulam
outros. ”
no dia-a-dia
em Maputo, que
os subscritores
consideram
comprometer o
presente e o futuro
da cidade.”

30 31
III. As causas
Estacionamento
Os problemas de estacionamento
estão associados a vários factores,
que provocam um grande desequilí-
brio entre a capacidade e a procura,
nomeadamente:

• A incapacidade de o sistema de
transporte público oferecer um serviço
digno, eficaz e seguro (o que nos
parece ser o factor mais importante);

• O aumento da capacidade de
aquisição de viaturas;

• A ausência de parques de estacio-


• A redução de espaços disponíveis
namento públicos;
p e l a p ri va tiza ç ã o d e l u g a re s
• A concentração, crescente e não destinados a estacionamento
planificada, de serviços nas zonas públicos.

É CADAVEZ MAIS DIFÍCIL centrais da cidade;

ESTACIONAR NACIDADE DE Oque se pode fazer?

MAPUTO
A resolução efectiva de qualquer 1. Eliminar a prática de comercia-
problema passa obrigatoriamente por lização de espaços que se tornam

Q
uma avaliação global das suas causas exclusivos, com excepções justificá-
uem tem de circular na cidade de Maputo de e interacções e pela planificação de veis mas, mesmo assim, em número
automóvel depara-se, entre outros problemas, com estratégias que, pela sua complexidade, razoável, como sejam hospitais,
a enorme dificuldade de estacionar. O aumento passam normalmente por medidas a farmácias, hotéis (para saída e
do número de viaturas circulantes em Maputo curto, médio e longo prazos. Assim, para entrada de hóspedes) e embaixadas.
além da identificação das causas, há Espaços dedicados a lojas, bancos,
ultrapassa, em grande medida, a capacidade de estaciona-
que ter em conta o contexto em que o residências, escritórios, entre outros,
mento disponibilizado. Em resposta, assiste-se a um estacio-
problema se insere. A solução efectiva não deverão ser comercializados;
namento desordenado, normalmente em cima dos passeios,
passa, necessariamente, pela melhoria
impossibilitando a circulação dos peões, em espinha, o que 2. Implementar um sistema de
efectiva e consistente do sistema de
ocupa uma parte da estrada, ou em segunda linha, o que estacionamento rotativo em todas
transporte público na cidade. Outras
condiciona o trânsito. Em resposta, e agravando o problema, as zonas de serviços já congestiona-
propostas poderão atenuar o problema,
um número crescente de espaços são comercializados pelo das, salvaguardando os moradores
entre as quais se adiantam algumas
Conselho Municipal fazendo com que os já escassos lugares e horários fora do expediente. Este
ideias que não podem ser aplicadas,
disponíveis fiquem ocupados por cones de reserva, mesmo sistema deveria ser manual para
estamos conscientes, de forma descon-
sem serem utilizados, reduzindo, ainda mais, a capacidade permitir a criação de emprego;
textualizada e sem um plano concertado
de estacionamento, na cidade, disponível para os munícipes.
e exequível.

32 33
3. To r n a r o b r i g a t ó r i o n o v a s 6. Transformar terrenos baldios da de normas de disciplina social. Outras os interesses ou actividades, desde
construções terem parques de cidade em parques de estaciona- vezes, no segundo aspecto, a palavra parque de estacionamento, espaços
estacionamento, com capacidade mento públicos. estacionamento expressa um sentido comerciais, passeio de uso exclusivo
suficiente para moradores, de ‘‘cidades inteligentes’’ – sinónimo de dos peões, pontos seguros para a
Dada a situação existente, estas medidas
funcionários e visitantes; eficiência da cidade. Assim, quando se paragem dos transportes, espaços
carecem de coragem e determinação
diz que uma cidade é inteligente significa de lazer jardins etc.;
4. Prever e deslocar, de imediato, por parte das autoridades. Uma boa
o mesmo que dizer que as regras
novas construções para áreas que campanha prévia seguida de medidas • Consciencialização da população
funcionam e as estruturas acompanham
não estejam já sobrelotadas; administrativas resultaria, julgamos, – em bom rigor, este é o factor mais
o ritmo do desenvolvimento.
numa melhoria da qualidade de vida da importante, visto que é a sociedade
5. Planificar zonas de escritórios fora O que é uma ‘‘cidade inteligente?‘‘
cidade, que os munícipes apreciariam. que se movimenta, que desorganiza,
das zonas centrais, para dispensar
Em duas palavras (até porque não é que organiza. Ora, a almejada
o trânsito;
escopo do presente trabalho) seria uma organização só será possível com a
cidade com transporte público para educação e sensibilização contínua

CAIXATÉCNICA todos, construções ordenadas, cons-


ciencialização da população em termos
da população para o bom uso e o
aproveitamento da cidade, sem criar

Transporte público: o problema central


de uso e consumo etc.; alcançados danos.
estes objectivos, teríamos os problemas Qual é a nossa realidade?

do estacionamento
do estacionamento resolvido. Vejamos
São dispensáveis os serviços de um
o seguinte:
curandeiro para mostrar que estamos
Embora várias medidas devam ser tomadas para minimizar o problema do esta- • Transporte público para todos – mergulhados, até aos dentes, numa
cionamento, a ausência de um sistema de transporte público harmonioso, seguro isto diminui a avalanche dos carros cidade desorientada, assistimos todos os
e eficaz, constitui, em nossa opinião, a causa principal do excesso de viaturas na cidade, porque não haveria dias ao aumento populacional incluído a
da cidade que dá origem não apenas ao problema de estacionamento, como grande necessidade de usar seus população de veículos automóveis, tudo
a de muitos outros, como seja a poluição, o custo económico de grandes filas carros particulares para deslocações isto sem o devido acompanhamento
de espera, para citar alguns exemplos. Uma futura edição do Jornal da Cidade diárias, se existe um bom sistema de das construções. Todos estes factores
dedicar-se-á especificamente a este tópico. Fica, contudo, o reparo de que um transporte, diversificado e cumpridor fragilizam muito os estacionamentos.
bom sistema de transporte público será o factor decisivo na solução do problema de horários; Assistimos ao condicionamento dos
de estacionamento.
• Construções ordenadas – implicam espaços, diminuindo a capacidade de
uma cidade capaz de acolher todos resposta à pressão exercida.

OPINIÃODOPERITO
Tema: Fácil é não estacionar em Maputo
Na verdade, assume, para os leigos como para os
circula de boca especialistas em tráfico urbano, um
em boca, como duplo sentido. Por vezes, assume o
moeda corrente, termo estacionamento um significado
a afirmação de de dor de cabeça – é sinónimo de falta
Vieira Mário q u e a p a l a v ra de conjunto e princípios regulamenta-
“Khufene Mauelele” estacionamento dores, de regras de estacionamento,

34 35
Casos específicos Caso 4:
Te r re n o s b a l d i o s p o d e r i a m s e r
transformados em parques de esta-
Caso 1:
cionamento, ao invés de estarem
Contámos, na Av. Julius Nyerere, desaproveitados ou de se destinarem
uma elevada quantidade de lugares a m a i s c o n s t r u ç õ e s e m zo n a s
reservada para estacionamento privado. superlotadas, agravando o problema.
Em consequência, os engarrafamentos
por estacionamento em segunda linha
são constantes. Mesmo para uma
simples paragem para entrada e saída
de passageiro, é preciso ficar na estrada.
Esta prática continua activa. Na foto, um
CAIXATÉCNICA
estacionamento colocado em Abril de
2020, quando tudo indicava que o CMCM Cones na rua e estacionamento nos
passeios são ilegais
iria parar com essa prática.

Caso 2:
No programa Linha Aberta do Canal STV Notícias, em conversa promovida por
Muitas residências são ladeadas por aquele canal com o Jornal da Cidade e o Município de Maputo, o PCA da Empresa
cones de proibição. Tudo serve para de Estacionamento de Maputo declarou que a colocação de cones nos estaciona-
assinalar a “propriedade privada”. mentos púbicos, que a empresa que dirige aluga, é ilegal, assim como o estacio-
Neste caso, são duas residências namento nos passeios, facto que os munícipes deviam denunciar. O representante
desabitadas há vários anos. Contactada do Jornal da Cidade questionou a necessidade de denúncia, pois a prática de
a instituição proprietária, disseram-nos colocar cones e de estacionar nos passeios está à vista de todos, pelo que, só não
que mantinham assim porque pagam se faz valer a lei porque não se quer. Um dos muitos exemplos são os cones em
a taxa para o efeito. frente a duas moradias pertencentes ao Banco de Moçambique, que bloqueiam
os lugares que praticamente ficam vazios o dia todo. Uma grande quantidade de
Caso 3: lugares na cidade, ficam reservados sem serem usados, enquanto muitos outros
estacionam no passeio. Só neste quarteirão, mais de metade dos lugares já estão
De acordo com a postura camarária, a
“alugados” pela Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento. Um grande
proibição de estacionar deve indicar o
paradoxo já que, ao invés de resolver o estacionamento, as medidas que se tomam
horário. Há uma grande inconsistência
provocam o contrário.
na indicação das placas, pois há as que
têm horário, as que não têm, mas os
cones ficam em todas as horas. Muitos
desses lugares são “alugados”, conforme
a conveniência dos “proprietários‘‘ e
“guardas”. Há mesmo quem pinte o
chão e decida arbitrariamente. Na foto,
cones colocados por um restaurante que
não tem qualquer placa. São 5 lugares
ocupados durante 24 horas.

36 37
IV.

Trânsito

TRÂNSITOE CIRCULAÇÃO
RODOVIÁRIANACIDADE
DE MAPUTO

S
egundo o manual do planeamento de acessibilidades
e transporte, na “sinalização rodoviária” na rodovia
interagem três elementos, nomeadamente o homem,
o veículo e a via pública. Sendo o crescimento de
veículos em circulação inevitável, o ordenamento destes três
elementos na promoção de uma cidade saudável e segura é
de vital importância. Como quase todas as cidades africanas,
o movimento de carros em Maputo tem crescido de forma
exponencial. De acordo com os dados do Instituto Nacional
de Estatística, em 2019, na Cidade circulavam cerca 56.394
veículos pesados (o correspondente a 36.7% do total de
veículos do país) e 260.779 veículos ligeiros (o correspondente
a 47% do total do país). De acordo com esta fonte, o número de
veículos quase duplicou de 2015 a 2020. Consta, igualmente,
que a Cidade de Maputo é a que regista maior número
de acidentes, tendo registado 302 acidentes em 2019, o

38 39
correspondente a 25% do total registado se, a partir da mesma, soubermos traçar artérias da cidade. De entre muitos, são permissiva e pouco centrada nos deter-
em Moçambique. Destes acidentes, 161 e executar medidas de correcção que exemplos: minantes reais dos acidentes. Em outras
foram atropelamentos, 59 foram colisões conduzam a uma melhor prestação de palavras, muitos condutores tendem a
• O desrespeito pelo sinal vermelho;
entre viaturas, e 45 foram devidos a todos. A corrupção ao nível da emissão violar sistematicamente as normas de
despistes ou capotamento. Só na cidade da carta de condução, que é conhecida • O desrespeito pela passadeira de segurança e civismo e muitos agentes
de Maputo, esses acidentes provocaram, como um serviço com elevado índice peões (quando as há); não actuam eficazmente, sendo muito
nesse ano, 366 mortes e centenas de de corrupção, o suborno de polícias de comuns práticas corruptas, a que
• O excesso de velocidade;
feridos graves e ligeiros. A regulação trânsito e a má gestão de estradas e vulgarmente se chama de “refresco”. O
do trânsito tem um papel fundamental sinalização associam- se a um compor- • As ultrapassagens pela esquerda, que o condutor e o agente que corrompe
na vida do cidadão, não apenas pela tamento desviante por parte de muitos muitas vezes feitas em bermas e é corrompido não sabem, ou fingem
segurança, mas também pela qualidade automobilistas que, ou por falta de concebidas para estacionamento; não saber, é que essa prática custa
de vida de uma cidade. A combinação instrução apropriada, ou por falta de res- muitas vidas e torna muitas pessoas
dos três elementos (homem, vias de ponsabilidade, insistem em atitudes que • A r e a l i za ç ã o d e m a n o b ra s inválidas para o resto da vida.
circulação e sinalização) é determinante, atentam à tranquilidade e segurança perigosas em via pública;
Um aspecto particular é o compor-
sendo, por isso, essencial a garantia de públicas. A avaliar pelas enormes filas • O estacionamento em áreas de tamento de autoridades no trânsito.
uma conduta apropriada do cidadão, que provocam elevado “stress” no nosso circulação; Determinando que as leis não se
uma boa prestação dos serviços de quotidiano e um dispêndio financeiro
construção e manutenção de estradas e elevado, pelo número de acidentes • A prática do uso do celular quando aplicam a si, polícias e escoltas
se conduz; violam sistematicamente as regras de
a correcta colocação e manutenção da que provocam óbitos e feridos, muitos trânsito, dando um péssimo exemplo e
sinalização. A educação dos cidadãos com gravidade, e pelo estado das • A condução em contra-mão; justificando, assim, esses comportamen-
e a acção das autoridades e da polícia estradas e da sinalização, algo parece tos por parte de outros cidadãos que
de trânsito têm um papel decisivo. A ter de ser repensado para reverter uma • A prática de condução sob efeito
acabam por os imitar. Aliado ao factor
avaliação da conduta destes interve- situação que, aos olhos de todos, se vai do álcool.
comportamental, o estado de muitas
nientes revela-se importante e decisiva deteriorando. Esses comportamentos são muitas vezes estradas e da sinalização convidam,
incentivados por vários factores como (1) ou obrigam mesmo, o condutor a não
a má sinalização, (2) o mau estado das respeitar regras. São buracos de que é
vias, (3) o encorajamento de violação por obrigatório desviar, sinais danificados ou
parte da polícia, cujo exemplo principal é mesmo desaparecidos e outras vezes
o de fazer passar com o sinal vermelho, incongruentes. O resultado final de todo
(4) o mau exemplo das autoridades este conjunto de factores é um trânsito
que, ao invés de darem exemplo, se “caótico”, stressante e perigoso. Circular
julgam isentas da obrigatoriedade de nas ruas de Maputo é uma aventura
cumprimento de lei. Os poucos estudos pouco recomendável para a saúde
existentes em países africanos mostram e de elevado dispêndio económico
uma situação muito similar e apontam pelo tempo que se demora a percorrer
as causas para o comportamento dos pequenas distâncias.
condutores aliadas a uma fiscalização
Oque está a acontecer?
A impressão que dá a qualquer de viaturas na cidade de Maputo. Oque se pode fazer?
condutor é o número de condutores Esses comportamentos podem ser
que não respeitam a sinalização, que observados diariamente e em várias Manter a ordem na estrada é uma que, em muitos casos, o esforço da
tem crescido em paralelo com o número tarefa muito difícil. Há que reconhecer polícia é contrariado pela ausência

40 41
de colaboração dos condutores, que Assim, como forma de contribuir para Caso 2: Nos Cruzamentos: “Primeiro a Chegar, Primeiro a Passar”
tendem a praticar actos ilegais e nada a sua Na vizinha África do Sul, a prioridade nos cruzamentos é feita pela ordem de chegada,
cívicos. A prática de condução defensiva solução, propõem-se as seguintes ou por rotação um a um. Uma grande maioria dos cruzamentos, se não quase todos,
e colaborativa parece ter sido abolida medidas: tem o sinal de STOP, o que cria ordem e alivia em grande medida o trânsito. Talvez
da cultura de muitos condutores a adopção desta regra ajudasse o fluxo do trânsito.
e o desrespeito pelo esforço das • Educação cívica permanente, com
autoridades é elevado. Mas, como em vista a uma condução defensiva e
cívica; Caso 3: Bloqueio dos Cruzamentos
qualquer actividade, é determinante o
diagnóstico, precedido de estratégia e Por falta de treino ou por falta de civismo, muitos condutores avançam nos
• Preparação adequada dos agentes
de um plano de medidas que estejam cruzamentos sem verificarem se têm espaço adiante para não ficarem bloqueados
de trânsito, incluindo regras de
adequadas ao diagnóstico feito. No no meio do cruzamento. Quando isto acontece, o trânsito fica bloqueado, por vezes
cortesia e boa educação;
caso do trânsito, as acções têm de sem solução. Sugere-se que as escolas de condução e a Polícia desenvolvam uma
ser direccionadas para as causas • Revisão da preparação dos actividade de educação persuasiva para criar este hábito saudável de condução.
dos problemas, nomeadamente a instrutores das escolas de condução;
educação pedagógica e adminis- Caso 4: A Saga do Celular
• Endurecimento da fiscalização do
trativa dos motoristas, o arranjo e a
trânsito, focada no que é fundamental Apesar de ser proibida, é generalizada a prática de falar ao
correcta sinalização das estradas. Nesse
para a segurança e condução cívica; celular e, pior ainda, consultar e emitir mensagens. Esta prática
sentido, é determinante a preparação
tem sido uma das causadoras de acidentes. Tem-se notado
das autoridades policiais para agirem • Imposição de cumprimento das
uma redução drástica de actuação punitiva da polícia, algo
adequadamente, com atitude educativa regras por todos os cidadãos, sem
que eleva o perigo nas estradas. Urge a tomada de medidas
mas firme, junto dos prevaricadores. excepção, eliminando a prática de
rigorosas sobre os condutores que o praticam.
Importa, contudo, referir que a ausência violações por parte das autoridades;
de um sistema de transportes adequado,
• Revisão e manutenção eficaz do
o aumento explosivo da densidade de Caso 5: Condução em Contramão
sistema de sinalização rodoviária;
construções e de serviços no centro O desrespeito de alguns condutores é visível diariamente na
da cidade, provocados pela falta de • Manutenção permanente das condução em contramão, em ruas em que é suposto haver
uma planificação urbana harmoniosa, estradas. apenas um sentido. Esta prática coloca em risco não apenas

Img: Facebook/Carlos-Serra
agravam substancialmente todos estes o fluxo de tráfego mas, sobretudo, a segurança de quem não
problemas. espera que uma viatura venha nesta direcção. Infelizmente,
esta prática é muito comum em carros de autoridades,
incluindo polícias.

Casos específicos Caso 6: Manobras Perigosas

Caso 1: Os Agentes de Trânsito e os Sinais Vermelhos Uma prática de manobras perigosas feitas por diverso tipo de veículos motorizados
ruidosos, é muito comum, sobretudo aos finais de semana. Muitas vezes, esses
Há anos atrás, quando um Agente se colocava num cruzamento veículos são conduzidos por jovens sem carta de condução . Estas práticas deveriam
com semáforo, para ordenar o trânsito, o sinal era desligado e ter tolerância zero.
ficava a piscar de forma intermitente. Não sabemos dizer por
que razões esta prática deixou de se fazer, mas o facto é que a
presença dos agentes em simultâneo com o semáforo ligado
tem criado grande confusão e, sobretudo, em muito contribui
para uma generalização de não se respeitar o sinal vermelho.

42 43
Caso 7: O Sinal de Emergência área metropolitana se resolve com os assim como para os peões, através
O sinal de emergência nas viaturas foi criado para se usar em momentos de transportes de massa. Mas como para dos técnicos municipais e da Escola
emergência, como uma avaria ou, no máximo, uma paragem rápida para entrada estas soluções são necessários investi- de Condução da EMTPM, estão a ser
ou saída dum passageiro. De há uns anos para cá, em Maputo, este sinal passou a mentos avultados, o Conselho Municipal reciclados os motoristas de transportes
ser usado para o estacionamento em qualquer lugar e por tempo indeterminado, de Maputo (CMM) está a buscar finan- públicos e reforçada a fiscalização da
o que constitui uma ilegalidade, dificultando o fluxo de tráfego. Esta situação tem ciamentos através do Banco Mundial circulação de camiões pesados e de
de ser revertida urgentemente. (WB-IDA) e da Empresa Municipal de oficinas. Para terminar, tendo em conta
Mobilidade e Estacionamento (EMME), a actual dinâmica nos vários meios
prevendo início da execução das de transporte, incluindo o crescimento
Caso 8: Passadeiras
obras para o 2.o semestre de 2022. exponencial do parque automóvel com
As passadeiras na Cidade de Maputo estão quase invisíveis. Também estão em curso projectos para mais de 50% das viaturas nacionais
Por outro lado, quase nenhum condutor respeita este sinal, pelo solucionar o estacionamento irregular localizadas no Grande Maputo, já foram
que os peões não se sentem seguros. O código de estrada dá e a escassez de espaços para o efeito, revistas 3 posturas municipais, estando
prioridade ao peão mas, na prática, isto nunca acontece. Um através da EMME com: implementação por rever outras 2, que incluem a Postura
trabalho de manutenção das passadeiras e de imposição da eficaz do sistema de estacionamento de Trânsito.
regra torna-se urgente. rotativo remunerado, passando por JdC: Entre outros aspectos, a indisciplina
demarcação dos espaços de estacio- dos condutores é um dos grandes
namento nas vias públicas e sistema problemas. Gostaríamos de saber que

CAIXATÉCNICA de pagamento electrónico; construção


de pelo menos 3 silos automóveis na
medidas o CMM está ou pensar tomar
para situações como:
zona do Aterro da Maxaquene e Parque
JdC: É consensual que o trânsito da Cidade de Maputo está • a prática de não se respeitar os
do Mercado Central. Conforme a
caótico. Qual é a avaliação que o Conselho Municipal faz da sinais de trânsito;
Empresa, espera-se iniciar as obras no
situação?
1.º semestre de 2022. Simultaneamente,
• a prática de circular em contramão;
Vereador: Não existe uma avaliação técnica que mede o estão em curso, desde 2019, a melhoria
trânsito no Município de Maputo para responder à questão. de sinalização rodoviária gráfica vertical • as paragens em segunda fila;
No entanto, como em várias metrópoles do mundo, incluindo e horizontal e luminosa (semáforos),
• a circulação de carros e motas com
as mais ricas, a hora de ponta é caracterizada por conges- para além da implementação de infra-
escape livre;
tionamentos nas principais vias de ligação entre as cidades -estruturas de segurança rodoviária e
satélites. O Município de Maputo recebe diariamente cerca sinalização de nomenclatura de vias • a s p r á t i c a s d e c o r r i d a s e
de 1 milhão de pessoas vindas de várias partes da área em todos os cruzamentos da cidade. demonstração de habilidades em
metropolitana e não só, para realizarem várias actividades Estão também em curso a melhoria de vias públicas.
O Vereador do e, no final do dia, as mesmas regressam à origem, trazendo, infra-estrutura viária com tapamento de
Conselho Municipal portanto, este trânsito aparentemente caótico.
Vereador: Sã o l eva d a s a c a b o
buracos em algumas vias prioritárias da actividades de educação cívica sobre
de Maputo que
responde pela área JdC: Em face dessa avaliação, que estratégia e plano tem o cidade, estando ainda a ser executadas o Código de Estrada tanto para os
do trânsito, Eng. José Município para solucionar a curto e médio prazo? obras de reabilitação e construção de condutores, assim como para os peões,
Nichols, acedeu estradas, recorrendo a fundos próprios
amavelmente a Vereador: Conforme previsto no Plano de Desenvolvimento através dos técnicos municipais e da
responder a questões do Município de Maputo. Referir também Escola de Condução da EMTPM. Foi
colocadas pelo Jornal
Municipal 2019- 2023, está previsto o “Programa Tsutsuma que, para a melhoria do comportamento
da Cidade, o que Maputo” que, dentre várias outras actividades nos seus reforçada a fiscalização por parte da
dos condutores nas estradas, para além Polícia Municipal, Polícia da República,
muito agradecemos objectivos estratégicos, prevê a introdução de BRT (Bus Rapid
e transcrevemos na da educação cívica sobre o Código INATRO e outras autoridades de estradas.
íntegra
Transit - Autocarro de Trânsito Rápido) e o LRT (Lite Rapid Transit de Estrada tanto para os condutores,
– Metro de Superfície), porque se percebe que a solução na

44 45
Contudo, a contribuição dos munícipes Vereador: Esta prática, é sim, ilegal e,
através de denúncias às autoridades, quando detectada, a EMME aplica multas
permite intervir de forma mais eficiente aos responsáveis. As denúncias sobre
e eficaz nas situações de irregularidades situações que se verifiquem ajudam a
e acidentes que resultam em danos no fiscalização municipal a intervir e corrigir.
mobiliário urbanos de sinalização de JdC: Os munícipes queixam-se que os
rodoviária. polícias estão a incentivar o desrespeito
JdC: A venda de espaços para estacio- pelos sinais vermelhos pois, quando
namento está a provocar a redução dos se posicionam, nos cruzamentos com
espaços disponíveis para estaciona- semáforos, não os desligam como era
mento, implicando segundas filas, que feito antigamente. Já alguma vez este
impedem a circulação. Como explica o assunto foi debatido na sua vereação?
CMM esta prática quando a mesma está Vereador: A presença da Polícia Municipal
a prejudicar a ordem pública? ou de Trânsito nos cruzamentos, princi-
Vereador: A gestão do estacionamento palmente nas horas de ponta, permite
é da responsabilidade da EMME; no regular melhor o trânsito. Os mesmos Uma Saudação à Polícia de Trânsito
entanto, a privatização de espaços de devem ser admitidos como prioritários,
estacionamento está prevista na postura substituindo os sinais luminosos, pois Diariamente, saem à rua numa missão complexa, difícil e, por vezes, ingrata.
e segue as necessidades das empresas, estes são “robots” e não têm em conta Proliferam na nossa cidade, procurando ajudar os condutores na circulação
permitindo a melhoria de ambiente de a priorização dos troços com maiores e constituindo uma imensurável ajuda à nossa segurança e ordem públicas.
Se é verdade que há queixas de alguns comportamentos, há que fazer
negócios das mesmas. Preços mais filas de congestionamento.
justiça a estes profissionais que trabalham diariamente para nos servir.
elevados desta prática limitam a sua Uma das soluções será a implementação
Assim, apresentamos uma saudação sincera aos polícias de trânsito.
procura. da sala de controlo de trânsito prevista
No entanto, ainda 90% dos espaços de no Projecto de Mobilidade Urbana, cujo
estacionamento se encontram livres e financiamento está em negociação com
estão a ser devidamente demarcados o Banco Mundial.
para que sejam usados pelos munícipes, JdC: O que acha do sistema sul
através do sistema de estacionamento africano que, nos cruzamentos, estipula
rotativo remunerado. rotatividade na prioridade de acordo
JdC: O director da Empresa de estacio- com a ordem de chegada? Este sistema
namento declarou que a colocação de parece resolver o problema de conges-
cones nos lugares reservados é ilegal. tionamento dos cruzamentos. Não seria
Contudo, essa prática generalizou-se possível adoptar isto na nossa cidade?
e é visível por toda a cidade. Poderá Vereador: É uma abordagem que está a
comentar a vossa posição sobre isto, já ser analisada pelo Município de Maputo
que tem um impacto considerável no em coordenação com a INATRO, no
trânsito da cidade? respeito pela legislação em vigor no
nosso País.

46 47
V.

Pessoas com
dificuldades
Especiais

AEXCLUSÃODE PESSOAS COM


DEFICIÊNCIAE MOBILIDADE
CONDICIONADAÉ CADAVEZ
MAIS PREOCUPANTE

A
gestão urbanística da cidade de Maputo, como de
qualquer outra cidade, é complexa. Um dos aspectos
que coloca mais dificuldades é a degradação
das infra-estruturas urbanas, que resulta de uma
combinação de crescimento demográfico, dificuldades
económicas e insuficiências de gestão. A este conjunto de
factores não estão alheios vastos episódios sócio-políticos,
incluindo uma guerra prolongada. De tudo isto, resulta uma
cidade pouco harmoniosa, que oferece baixa qualidade de
vida aos seus cidadãos, sobretudo os que têm deficiências
físicas e que, portanto, têm necessidades muito específicas.
Entre as condições específicas que as cidades modernas
procuram criar para os cidadãos com deficiência, e não só,
destaca-se a mobilidade. Na procura de lhes dar autonomia
e segurança, assiste-se, nas últimas décadas, a um processo
crescente de inclusão dos deficientes físicos nas preocupações

48 49
urbanísticas. Rampas nos passeios e edifícios de utilização unidades sanitárias de todo o tipo, esta- existam casos em que se observam
pública, sanitários adequados, sinais especiais auditivos nos belecimentos de ensino, restaurantes, cuidados com as medidas decretadas,
semáforos são, entre outras, medidas que têm vindo a ser aeroportos, paragens de transporte é generalizada a ausência de condições
tomadas no processo legislativo e na construção e adaptação colectivo, instalações desportivas, hotéis, para a mobilidade das pessoas com
das cidades à melhoria da qualidade de vida dos portadores centros comerciais, passeios, bancos e dificuldades especiais de locomoção.
de deficiência física. Moçambique tem dispositivos legais ATMs. No que concerne às obrigações, Poucos são os passeios com rampas
que regulam as condições de infraestruturas para o acesso o mesmo decreto determina as regras adequadas, é generalizada a ausência
de pessoas com deficiência e mobilidade condicionada. relativas a rampas de acesso, tipo de sanitários adaptados, os pisos
Está neste caso o Decreto que aprova o “Regulamento de de sanitários, medida dos balcões e dos passeios são irregulares, não se
construção e manutenção dos dispositivos técnicos de aces- placas de publicidade, entre outras, conhecem sinais sonoros nos semáforos
sibilidade, circulação e utilização dos sistemas dos serviços em geral similares às que se usam da cidade para citar apenas alguns
públicos à pessoa portadora de deficiência ou de mobilidade internacionalmente. A obrigatoriedade exemplos. A agravar a situação, os
condicionada” (Decreto n.º 53/2008 de 30 de Dezembro). de rampas nos passeios constitui um passeios estão ocupados com viaturas,
Este decreto estabelece um conjunto de medidas a seguir aspecto de particular atenção, dado o comércio e infraestruturas instaladas,
obrigatoriamente pelas instituições públicas e privadas, seu impacto na mobilidade deste grupo sem o cumprimento das regras, como
visa garantir a acessibilidade e mobilidade dos cidadãos populacional. Qualquer observação algumas bancas comerciais e abrigos
portadores de deficiência como, por exemplo, a obrigato- simples pode constatar o elevado grau de paragens de transporte colectivo.
riedade de rampas de acesso nos edifícios e a existência de de incumprimento da lei vigente. Embora
sanitários apropriados a este grupo de cidadãos. Passados
14 anos da aprovação deste Decreto, importa avaliar o seu Oque se pode fazer?
grau de cumprimento.
U m a c i d a d e i n c l u s i va te m e m realidade impõe, somos de propor
consideração os direitos do cidadão algumas medidas que nos parecem
Oque está a acontecer? portador de deficiência física. A Lei ser apenas condicionadas pela vontade
vigente garante esse direito, mas o política. Assim, sugere-se um programa
A mobilidade na cidade de Maputo edifícios e passeios para cadeirantes,
seu incumprimento acaba por tornar mínimo que inclua:
está comprometida para qualquer os semáforos com sinalização sonora,
a cidade hostil para este grupo de
cidadão comum. Passeios ocupados os pisos regulares, ou os sanitários 1. A revisão e posterior aplicação do
cidadãos. Há, de facto, uma distância
com viaturas e comércio informal, além a d e q u a d o s a o s ci d a d ã o s c o m Decreto Lei n.º 53/2008, atendendo ao
de elevada dimensão entre o articulado
de outros obstáculos, impossibilitam deficiência. contexto da Cidade e às possibilida-
legal e a realidade, sobre a qual urge
a locomoção confortável e segura, A legislação existente determina um des existentes a nível económico e de
reflectir. É também evidente que a Lei
obrigando os munícipes a caminharem conjunto de obrigatoriedades cuja gestão.
foi realizada de uma forma generalista,
nas ruas e avenidas destinadas à constatação do seu incumprimento e que a sua aplicação requer meios e 2. A obrigatoriedade de as novas
circulação automóvel. No caso das não carece de uma avaliação sistema- práticas de gestão que não são, em construções incluírem, no projecto,
pessoas portadoras de deficiência tizada. De uma forma geral, o decreto grande medida, exequíveis. Seria utópico medidas relacionadas com a
ou de mobilidade condicionada, com determina (1) o âmbito de aplicação pensar que tudo o que está articulado no mobilidade dos portadores de
dificuldades adicionais de deslocação, (onde se aplica) e (2) as infraestru- decreto possa ser aplicado. Esta prática deficiência, bem como de sanitários
a situação é ainda mais preocupante. turas obrigatórias. Quanto ao âmbito de elaborar leis que se sabe, à partida, adequados.
Além do estado adverso dos passeios, de aplicação, a lei é extensivamente não serem passíveis de aplicação tem
Maputo caracteriza-se pela ausência abrangente, incluindo os edifícios 3. A definição das condições mínimas
provocado descrédito das leis no seu
generalizada de condições que públicos ora existentes e os que estão e das regras básicas de acessi-
todo, o que não parece aconselhável.
caracterizam as cidades modernas. em construção, parques públicos, locais bilidade e sanitários, em todos os
Tendo em conta as limitações que a
São exemplos as rampas de acesso nos de estacionamento, centros de convívio,

50 51
edifícios e instalações de utilização largura, mas garantindo sempre a
pública (novos e velhos). medida mínima para a circulação
pedonal).
4. A uniformização do piso dos
passeios, obrigando a quem os Muitas outras medidas são desejáveis,
reabilita a seguir um modelo mas nem todas são passíveis de
padronizado. aplicação imediata. Assim, um programa
de recomendações não obrigatórias
5. A obrigatoriedade de os obstáculos poderá ser mais aconselhável que uma
construídos nos passeios seguirem as lei que não se cumpre porque não há
regras já definidas. condições para se cumprir. É que, quando
6. O fim da utilização dos passeios se estabelecem regras obrigatórias
para estacionamento (ao invés de que, à partida, sabemos não poderem
se usar os passeios para estacio- ser cumpridas, acaba-se por promover
namento, poderá reduzir-se a sua uma cultura de incumprimento.

DECRETON. 53/2008 Parte B


O Decreto n.º 53/2008 estabelece o Regulamento de
construção e manutenção dos dispositivos técnicos de
acessibilidade, circulação e utilização dos sistemas dos
EDIFÍCIOS
serviços públicos à pessoa portadora de deficiência ou
de mobilidade condicionada. A sua consulta pode ser
realizada através deste link:
https://gazettes.africa/archive/mz/2008/mz-gover-
nment-gazette-series-i-supplement-no-4-dated-
-2008-12-30-no-52.pdf

52 53
VI. A Lei de Protecção do Património Cultural Moçambicano, Lei
Património Histórico n.º 10/88, de 22 de Dezembro, referente à classificação dos
bens culturais imóveis, consagra alguns bens patrimoniais a
serem preservados:

• Edifícios de valor histórico que testemunham a


convivência, no nosso espaço territorial, de diferentes
culturas e civilizações, tais como as feitorias árabes, templos
hindus, mesquitas, igrejas e capelas, antigas fortalezas e
outras obras de defesa, edifícios públicos e residências, do
tempo de implantação colonial e da época dos prazeiros
ou das companhias majestáticas;

• Edifícios de particular interesse arquitectónico;

• As zonas antigas das principais cidades.


Nos termos da referida Lei, para além de o Estado impor a
sua preservação, existe a possibilidade de se conceder apoio
para conservação e restauro. Infelizmente, da lei à prática,
vai uma distância que demasiadas vezes não é transposta.

PATRIMÓNIOARQUITECTÓNICO Oque está a acontecer?


E HISTÓRICODACIDADE

A
Apesar de o nosso país possuir, como
vimos, legislação suficiente para
preservação do património arquitectónico é um
garantir a protecção do património
desafio que se coloca em quase todas as cidades do
histórico-cultural no domínio arquitec-
mundo, em que a constante vontade e necessidade
tónico, aquilo a que vamos assistindo é
de renovação e modernização pode entrar em
que, a par de bastantes bons exemplos
conflito com a manutenção do já construído, particularmente
de preservação e recuperação de
em cidades, ou em zonas urbanas onde é maior a pressão
património arquitectural, outros casos
para uma maior ocupação do solo urbano. Maputo não é
há em que construções de grande valor
excepção a esta regra e, por isso, a questão da preservação
cultural e histórico estão a degradar-se
do património arquitectónico é um problema candente, a
e a transformar-se em ruínas, enquanto
exigir uma estratégia a ser seguida por parte dos gestores
outras são pura e simplesmente
municipais.
demolidas para dar lugar a novas
Certas construções comportam um particular valor, seja pela construções. De entre os bons exemplos,
sua beleza formal, por quaisquer características inovadoras podemos citar alguns:
ou pela sua carga histórica, e tornam-se ex-libris da cidade,
sendo, como tal, bem preservadas. Outras há, no entanto, 1. A notável recuperação, levada
quer no domínio público, quer no privado, que não gozam a cabo pelos CFM, da magnífica
dessa preservação, por razões que iremos tentar discutir. estação ferroviária, na Baixa, res-
tituindo-a às suas cores originais
e acrescentando-lhe valor com o

54 55
Museu ali instalado, com a galeria de dando ao edifício um enorme peso décadas do século XX. Infelizmente, relação a obras deste famoso arquitecto
arte Kulungwana e com a realização histórico. Depois da Independência, o alguns edifícios foram ficando em e artista, que nos deixou um grande
periódica de eventos culturais; edifício já passou por vários organismos más condições e sendo abandonados, legado com as suas criações. Uma
oficiais e privados, já esteve ocupado por transformando-se em ruínas, de que é é a descaracterização causada por
2. O Centro Cultural Franco-Moçam-
refugiados e, mais tarde, por marginais, exemplo paradigmático o prédio “1914”, acrescentos, gradeamentos e outras
bicano, outra excelente recuperação
estando agora entregue ao Ministério na rua Consiglieri Pedroso. A pressão intervenções, como é o caso do prédio
de um imóvel construído em 1896
dos Antigos Combatentes, para ser para construção imobiliária, nesta zona “O Leão que Ri”, na esquina das avenidas
e inaugurado por Mouzinho de
transformado no Museu da Resistência altamente valiosa da cidade, coloca Salvador Allende e Kwame Nkrumah. A
Albuquerque, na altura Comissário
ao Colonialismo. Mas nada avança, esta parte histórica da cidade em outra é a demolição de moradias por
Régio. Depois de ter funcionado
alega-se falta de fundos e o edifício é grande risco. investidores imobiliários que as compram,
durante décadas como hotel, o Hotel
uma ruína que se aproxima do ponto de Outras situações existem, não quisemos não pelo seu valor estético, mas para as
Clube, o edifício estava fechado e a
se tornar irrecuperável. fazer uma lista exaustiva. Mas, e já substituírem por torres de dez ou vinte
cair em ruínas, quando foi recuperado,
andares – o que lhes interessa é o terreno
mantendo a traça original, com a Um outro exemplo negativo é o do que referimos Pancho Guedes, há
numa zona nobre da cidade.
ajuda da cooperação francesa, sendo Prédio Pott, situado na Baixa da cidade. preocupações de outra ordem em
inaugurado como CCFM em 1995, e O prédio, cujo nome original era Avenida
tornando-se um foco de actividades Buildings, foi construído em 1903, por Oque se pode fazer?
culturais diversificadas. Gerard Pott, um emigrante holandês
e pai de Karel Pott, um dos primeiros A questão da preservação do património histórica da Cidade, conforme o
3. O cine-teatro Scala, um dos jornalistas moçambicanos a contestar arquitectónico não é fácil de resolver. O Plano de Requalificação da Baixa, e o
exemplos de Art Deco da nossa a discriminação racial no início do Jornal da Cidade avança com algumas cancelamento imediato de quaisquer
cidade, que não só se mantém razoa- século XX. O prédio albergava lojas sugestões para o Município e para o autorizações que atentem contra
velmente conservado, como continua e habitações quando, na noite de 12 Governo: o Plano, ao mesmo tempo que o
a funcionar regularmente como sala de Dezembro de 1990, um incêndio o Município procura parcerias para o
de cinema e de espectáculos teatrais destruiu quase por completo. O prédio • Garantir, em primeiro lugar, que se
viabilizar.
e de música, o que é de elogiar continua em ruínas e serve de abrigo evite a continuação da degradação
ainda mais por estar a cargo de uma a marginais, embora algumas lojas se da Vila Algarve e, seguidamente, que • O Município deve encontrar, com
empresa privada, a Promarte. se avance com a sua reabilitação e os proprietários do Prédio Pott,
mantenham a funcionar no piso térreo.
instalação do Museu da Resistência alguma solução para o impasse que
Mas o grande motivo de preocupação Disputas entre proprietários parecem
à Ocupação Colonial, priorizando a actualmente se verifica, pondo fim a
é o que se passa no pólo oposto. O estar a travar um entendimento para
alocação dos fundos para o efeito. uma ruína que desfeia a Baixa e que
primeiro e talvez o mais chocante dos se encontrar uma solução, parecendo
se tornou um antro de marginais.
exemplos é o da Vila Algarve. Construída quase impossível recuperar o imóvel. • Promover o roteiro turístico e
no bairro da Polana, em meados dos A parte mais antiga da cidade é a zona cultural pelos edifícios considerados • Nos casos em que determinadas
anos trinta, do século passado, é uma da Baixa entre a Praça 25 de Junho e como património arquitectural da obras consideradas património
moradia notável pelos seus azulejos com a Praça dos Trabalhadores. Esta zona cidade, com apoio da Faculdade de arquitectónico sejam propriedade de
motivos naturalistas e outros ligados às é importante pelo conjunto dos seus Arquitectura da UEM e da Ordem dos privados, o Município deve consultá-los
navegações portuguesas nos séculos edifícios, entre os quais se encontram a Arquitectos. e dialogar com eles para garantir que
XV e XVI. Nos anos cinquenta, a PIDE, Casa Amarela (actual Museu da Moeda), essas obras se mantenham em boas
• Garantir o cumprimento das
polícia política do regime fascista de o Hotel Central, o Hotel Carlton e dois condições no futuro.
recomendações em relação à zona
Salazar, instalou-se em Moçambique, prédios da lavra de Pancho Guedes – o
e tomou o edifício como sede. Nesse Hotel Tamariz e o edifício Abreu, Santos e
edifício foram interrogados e torturados Rocha. É o conjunto que lhe dá o tom da
inúmeros nacionalistas moçambicanos, época, de fins do século XIX às primeiras

56 57
CAIXATÉCNICA (ii) a problemática da identidade e a apropriação cultural e (iii) as questões que
se colocam na gestão e preservação, do património cultural edificado. Como
resultado desta acção foi editado, em 2010, o “Inventário do Património Edificado
Acções legislativas e de procedimentos da Cidade de Maputo – Catálogo de Edifícios e Conjuntos Urbanos Propostos para
Classificação” e entregue ao Conselho Municipal de Maputo, para dar início às

na preservação do Património Cultural propostas de classificação dos primeiros 30 edifícios da cidade.

Edificado na Cidade de Maputo 2014


O Ministério da Cultura, em colaboração com o Conselho Municipal de Maputo,
tendo como instrumento o “Inventário do Património Edificado da Cidade de
Até à data da Independência Nacional Maputo – Catálogo de Edifícios e Conjuntos Urbanos Propostos para Classificação”,
de 2010, procedeu a uma operação de salvaguarda, na área da Baixa de Maputo,
Apenas alguns imóveis do património cultural e natural de Moçambique estavam com a colocação de placas, nos edifícios propostos para classificação.
declarados como Monumentos Históricos, Relíquias, Imóveis de interesse. Em 1988,
publicou-se a Lei de Protecção do Património Cultural. O Artigo 3, n.º 6, define que 2015
os bens Classificados gozam de uma protecção especial do Estado. O n.º 7, do
mesmo Artigo, indica que os bens em vias de classificação são aqueles propostos É aprovado, pelo Conselho Municipal de Maputo, o Plano Parcial de Urbanização da
por autoridades competentes e que o seu Tombo, segundo o n.º 8 do mesmo Artigo, Baixa de Maputo e seu respectivo Regulamento. Este Plano classificou 314 edifícios
é o seu registo de bem classificado como património cultural. No seu artigo 7, no na baixa da cidade de Maputo, distribuídos pelas Classes do património edificado e
n.º 2, a Lei declara como bens classificados ‘‘tombados‘‘ do património cultural pelos seus níveis de intervenção, estabelecidos pelo “Regulamento sobre a Gestão
de Moçambique: de Bens Culturais Imóveis”. Esta “classificação” devidamente aprovada institucio-
nalmente pelo Município, não teve a homologação do Conselho de Ministros.
• todos os Monumentos e elementos Arqueológicos;
• todos os prédios e edificações erguidas em data anterior ao ano de 1920; 2016
• as principais bases operacionais da Frente de Libertação de Moçambique. É aprovado pelo Conselho de Ministros e publicado o “Regulamento sobre a Gestão
de Bens Culturais Imóveis”, no Decreto 55/2016, que dá resposta aos procedimentos
O mesmo Artigo, no n.º 3, define que os bens em vias de classificação beneficiam
legais, para a classificação dos edifícios. O Artigo 12 do Regulamento estabelece
do regime de protecção reservado aos bens classificados do património cultural.
que, para a protecção adequada dos bens, estes serão estruturados de acordo
O Artigo 9 define que os bens classificados deverão ter registo no Tombo do
com o valor relativo em quatro classes, A, B, C e D, com a permissão dos níveis de
património cultural, após sua classificação de Acordo com o Artigo 7 n.º 1, pelo
intervenção em cada classe. O Regulamento preconiza também, no seu Artigo 15,
Conselho de Ministros, sob proposta do Ministério da Cultura e Turismo, sob consulta
n.º 5, que, no decurso de procedimentos para classificação, podem ser tomadas
ao Conselho Nacional do Património criado para o efeito.
medidas cautelares que garantam a manutenção do estado útil dos bens culturais
imóveis e reitera, no n.º 6 do mesmo artigo, que, após todos os procedimentos
1999 - 2010
feitos para a classificação, compete ao Conselho de Ministros, através de decreto,
Numa acção coordenada pelo Ministério da Cultura, em parceria com a Faculdade a sua classificação e/ou tombo como bem cultural imóvel.
de Arquitectura e Planeamento Físico da UEM, foi dado início ao processo de
inventariação de 200 edifícios na cidade de Maputo, com o objectivo de propor a
classificação e/ou “tombo” dos primeiros 30 edifícios da cidade. Esta actividade
foi realizada com a colaboração activa do Conselho Municipal de Maputo, dos
ministérios da Cultura, Turismo e Obras Públicas e de especialistas disciplinar-
mente ligados ao tema, tais como historiadores, arquitectos, antropólogos e de
outras personalidades públicas locais, que, através de encontros e seminários
de trabalho, se debruçaram sobre (i) os desafios legislativos e de procedimentos,

58 59
Casos específicos Casos exemplares
Caso 1:
Entre vários casos exemplares da cidade, encontramos a Galeria do Porto de
A Vila Algarve é um dos edifícios mais Maputo, a Estação Central dos Caminhos de Ferro e o Centro Cultural Franco
representativos da nossa história. Moçambicano, que foram modernizados, sem que perdessem a sua estética
Construída por volta de 1934, serviu de original, preservando, assim, o conteúdo histórico e a beleza que conferem à cidade.
edifico da PIDE e foi local de enormes
atrocidades nas suas caves, pois era um
dos locais de tortura aos presos políticos.
Este edifício permanece em elevado
estado de deterioração. Impõe-se, com
urgência, a sua reabilitação e, como
previsto, a sua transformação em Museu
da Resistência.

Caso 2:
A Casa Velha foi construída por volta
de 1910 como residência privada.
Encontra-se em fase avançada de
degradação, embora seja um patrimônio
protegido, nem todos os projetos de
reabilitação da cidade de Maputo
couberam ao resgate deste patrimônio
histórico, que contribuiu bastante para o
nascimento e consolidação de artistas
e da arte nacional.

Caso 3:
O Prédio de 1914, está localizado na Baixa
da cidade de Maputo, na rua Consiglieri
Pedroso. Segundo fontes consultadas,
este edifício, por volta dos anos 30, era
um centro comercial muito importante
e o mais representativo da época.
https://housesofmaputo.
blogspot .com/2015/04/
predio-de-1914-na-consi-
glieri-pedroso.html

60 61
VII.

Construções

AUMENTAACONCENTRAÇÃO
DE CONSTRUÇÕES NOCENTRO
DACIDADE DE MAPUTO

O
processo de urbanização no mundo é já muito
antigo, tendo-se acentuado com a revolução
industrial. Na Europa, em particular, a urbanização
provocou uma transformação social, marcada
pelas migrações do campo para as cidades. Numa fase
posterior, as migrações foram motivadas pelas oportunidades
que as zonas urbanas ofereciam como emprego, educação
e, acima de tudo, melhores condições de vida.
No decorrer do século XIX, apenas 3% da população mundial
era urbana, tendo aumentando gradualmente. Hoje, as
cidades tornaram-se num espaço de aglomeração de
pessoas onde habita mais de metade da população mundial.
Por exemplo, a percentagem da população urbana na Ásia
chega a 40%, na Europa a 72% e na América do Norte a 80%.
Nalguns países, como a Bélgica, por exemplo, as estatísticas
apontam que cerca de 97% das pessoas estejam a viver nas
cidades. Segundo o mapa da urbanização no mundo, citando
a Organização das Nações Unidas, entre 1950 e 2030, cerca
de 9% da população mundial viverá em megacidades, isto
é, áreas urbanas com 10 milhões de habitantes ou mais. Até

62 63
lá, estes 9% se concentrarão em 41 megacidades, das quais O primeiro plano de ordenamento urbano, elaborado pelo
29 estarão em solo asiático, seguido da América com 8%. Município no pós-Inde­p endência (2009), foi o Plano de
Enquanto isso, a África manterá o acelerado crescimento Estrutura Urbana do Município de Maputo (PEUMM), cujo
urbano dos últimos anos e também caminhará para a objectivo foi “arrumar a cidade para que a vida de todos os
instalação de “megacidades”. seus habitantes possa melhorar”. O Plano baseou-se no facto
No continente africano, a maior parte da população reside de a maioria das infra-estruturas da cidade serem herdadas
nas zonas rurais, sendo o último a entrar no processo de do tempo colonial, e construídas numa realidade contrastante
urbanização. No caso de Moçambique, a história da sua com a realidade presente. Assim, o Plano foi pensado para
urbanização manteve-se similar à de muitos países africanos, um número muito maior de habitantes, e considerando que
crescendo de forma exponencial nas últimas décadas. a cidade de Maputo tinha sido “assaltada” por construções
Estima-se que, em poucos anos, a população africana passe de edifícios na zona central, assim como em toda a cintura
dos actuais 33% para mais de metade a viver em ambientes suburbana, e arredores da periferia, num processo frenético
urbanos, caracterizados pelo florescimento de assentamentos atropelando todos os padrões de urbanização.
informais e pela prevalência da pobreza constante. O processo Na sua fundamentação, o PEUMM é orientado por uma
de urbanização em toda a África Subsaariana acontece de política de desenvolvimento urbano baseada nos direitos
forma espontânea e desordenada, desprovida de infra-estru- fundamentais dos cidadãos, nomeadamente o direito
turas urbanas, constituindo uma preocupação a vários níveis, à cidade, à terra urbanizada, à moradia condigna, ao
nomeadamente social, político, económico e de saúde pública. saneamento, ao trânsito seguro, à mobilidade urbana, à infra-
Em termos nacionais, a urbanização herdou vários problemas -estrutura, aos serviços e equipamentos urbanos, à educação,
do período colonial, na sua maioria estruturais. Com a reclas­ à saúde, à informação, à cultura, ao desporto, ao lazer, à
sificação urbana de 1986, através de um decreto presidencial, segurança pública e, finalmente, o direito à participação.
ampliou-se a divisão administrativa urbana do país. As reclas­ Assim sendo, o PEUMM constituiu-se como um instrumento
sificações que se seguiram não trouxeram grandes avanços que visava melhorar a cidade e os seus habitantes dentro
para o progresso dos espaços urbanos: houve uma expansão dum período de 10 anos, baseado nas seguintes prioridades:
periférica urbana desprovida de serviços e infra-es­truturas
• reordenar os bairros informais;
urbanas, e um elevado défice no ordenamento, planificação
e gestão urbana. Assiste-se assim, a uma grande disparidade • recuperar terreno para todas as actividades de
urbana, caracterizada pela falta de infra-estru­turas e de intercâmbio, serviços e equipamentos públicos;
serviços urbanos, amontoando-se gente em condições
• densificar a ocupação do tecido urbano para evitar a
desumanas e indigentes, revelando graves sequelas deixadas
continuação da ocupação desregrada do solo urbano;
pelo passado.
A ideia inicial do processo urbanização das cidades preservava • reservar áreas para repor o equilíbrio e assegurar a
a saúde, o verde e questões higiénicas, como aconteceu nos manutenção e o melhoramento da qualidade ambiental;
grandes centros europeus. Em alguns casos, as anteriores • estabelecer as condições necessárias à fluidez do
vilas tornaram-se, pelo menos no que toca à parte central das trânsito e à mobilidade;
mesmas, áreas de largas avenidas, abertas e ventiladas. Por
volta 1887, surge o primeiro plano de urbanização da cidade, • promover a construção da habitação social;
através da portaria nº 598 de 1 de Dezembro de 1888, cuja • promover e facilitar o desenvolvimento da actividade de
publicação foi feita em 1892 no Boletim Oficial n.º 49. Pode-se agricultura urbana;
considerar que o plano procurava acompanhar os processos
a decorrer em outros domínios.

64 65
• promover a diversificação das implementação das prioridades esta- Oque se pode fazer?
actividades e funções urbanas, belecidas no PEUMM, a população da A solução dos problemas é complexa,
evitando a suburbanização e a cidade de Maputo está constante- 3. t r a v a r d e f i n i t i v a m e n t e a s
mas passa, inevitavelmente, pela construções de novos prédios, em
segregação espacial e ambiental mente a clamar por uma intervenção. garantia do cumprimento da lei vigente,
das camadas sociais mais O plano, embora tenha sido elaborado zonas já pressionadas;
que estipula que todas as construções
desfavorecidas; e promovido pelas autoridades , têm de ser requeridas a um órgão 4. não permitir construções nos
nunca obteve uma aprovação final competente, devendo a autorização e terraços;
• reduzir as assimetrias sociais e os
oficial. Contudo, na existência de um fiscalização garantir o cumprimento das
privilégios na escolha de locais para a 5. cumprir e fazer cumprir o programa
outro, os seus princípios norteadores regras. Nesse sentido, algumas acções
distribuição das redes de infra-estru- de requalificação urbana;
constituem um guia fundamental na poderão contribuir para uma melhoria
turas de serviços e de equipamentos.
reflexão sobre a cidade. sensível no processo de urbanização, 6. expandir os serviços a todas as
Passados 12 anos, poucos resultados zonas da Cidade, nomeadamente
nomeadamente:
foram alcançados e, com uma fraca os serviços públicos básicos: saúde,
1. revisitar e aprovar um Plano de
escolas, espaços recreativos, postos
Oque está a acontecer? Estruturas para a Cidade;
de pagamento e de emissão de
2. garantir um desenvolvimento documentos.
Quarenta e seis anos (46) anos depois As construções no centro da cidade
equilibrado na expansão das Cidade;
da Independência Nacional, a questão de Maputo têm um impacto negativo
da habitação na cidade de Maputo na imagem urbana, aniquilam toda a
continua a ser um motivo de grande
preocupação. Apesar da clareza da lei
história que alguns edifícios carregam,
atentam à estética urbana e retiram
Moradores alertam o Município
que institui normas que potencialmente
garantiriam um crescimento ordenado,
identidade à cidade. A “pressão” dos
construtores e investidores em construir
para o excesso de construções em
é permanente a prática de construções
que não respeitam os princípios esta-
em zonas já muito densas, aliada à
falta de rigor e critério nas autorizações, zona saturada
belecidos no PEUMM, nem as posturas pondo de lado as definições do PEUMM, Desde o ano de 2012 que os moradores na região do restaurante Piriri. Alegam
legais. Os problemas são de vária tornou, ao longo dos anos, a Cidade de das proximidades do cruzamento os moradores, entre outras razões, que
ordem, e incluem desde construções Maputo um caos de construção, entre a entre a Avenida Julius Nyerere e a a região não está preparada com
desordenadas, a proliferação de clandestinidade e a falta de coerência Avenida 24 de Julho têm, repetida- infra-estruturas urbanas, como ruas
novas dependências nos terraços dos nas autorizações de construção. Nos mente, contactado, por via oral e e saneamento para receber prédios
prédios no centro da cidade de Maputo, últimos anos, assiste-se a tentativas escrita, as autoridades municipais, tão altos. Os moradores apontam,
extensões feitas em edifícios que se de conter estes desmandos, como foi alertando para os perigos do excesso também, problemas relacionados
encontram em estado de degradação, o caso do embargo de construções de construções que se observa com o tráfego, parqueamento de
destruição de casas seculares para em terraços, nos diferentes pontos na zona. Tanto quanto é do nosso viaturas, aumento da poluição sonora
colocação de grandes prédios, sem da Cidade de Maputo. Esta foi uma conhecimento, já foram endereçadas e ambiental, ventilação e solarização,
atender ao impacto na região em que acção de elogiar, mas que, contudo, várias petições que, infelizmente, não água e eletricidade. Os moradores
se implantam, entre outros. Mesmo não resolve o problema, enquanto não tiveram até agora resposta. alertam, ainda, para o perigo relativa-
com os robustos instrumentos legais nos pautarmos, definitivamente, por Nessas petições, os moradores foram mente à segurança pública, devido à
produzidos, não foi possível frear os uma conduta subordinada a um plano colocando em questão as construções ausência de manutenção dos prédios
problemas de construções da cidade estruturado e coerente, compatível com em altura de prédios como o Ministério antigos, existentes há mais de 50 anos,
de Maputo, que crescem desenfrea- os objectivos de uma cidade saudável. das Finanças, o antigo Galito, entre alguns dos quais já inclinados.
damente, e que atentam contra a Urge, e já vai tarde! outros que aumentam todos os anos
qualidade de vida na Cidade.

66 67
CAIXATÉCNICA01 de serviços, ou a falta de colaboração de muitos habitantes. A maioria são famílias
alargadas, onde os pais vivem com três ou mais filhos e onde, geralmente, vive

Urbanização na Cidade de Maputo


também o filho mais velho, casado e com filhos. Há que ter ainda em conta que,
muitas famílias são originárias de zonas onde a parte exterior da casa é muito
importante para o desenvol­vimento de actividades de sustento, como mini-hortas,
Wendy Irina M.V.MBaule lavagem e secagem de roupa, cozinha, lazer e até para uso de casas de banho de
Arquitecta e Urbanista serviço. Nos apartamentos, não há espaço para o desenvolvimento de todas essas
actividades. Questiona-se, assim, onde se poderão realizar todas estas actividades,
A urbanização é o processo de transformação de uma sociedade, região ou
onde irá toda a família acomodar-se com tão pouco espaço disponível. É assim
território, de rural para urbano. Assim visto, é um processo contínuo que se alcança
que nascem os “quartinhos do terraço” e os anexos do piso térreo, para actividades
com a contribuição de todos (cidadãos e Estado). Este processo não se limita à
de sobrevivência.
transformação física (infra-estru­turas, tipo de habitação, serviços, beleza, e outros),
mas também a uma transformação mental da sociedade. Em outras palavras, Há, pois, que repensar e readaptar a cidade à nossa cultura, à nossa vivência, e
a urbe não se desenvolve sem os seus habitantes desenvolverem e adquirirem vice-versa, de modo que a cidade possa ter o devido cuidado e beleza que todos
comportamentos que preservem a cidade. gostávamos que tivesse.
Na nossa cidade, tem acontecido uma superlotação de habitantes, por conta do
seu crescimento populacional e da concentração de serviços na grande área
central. As casas nos terraços (actualmente famosas) têm sido adaptadas desde
o início das ocupações dos edifícios, desde a época das nacionalizações.
CAIXATÉCNICA02
A nossa cidade foi projectada para albergar antigos cidadãos portugueses de
forma fixa, mas com padrões de família portugueses, onde cada família era, em
média, composta por 3 a 5 membros, tendo como principal actividade o comércio.
Dores de crescimento urbano em
Após as nacionalizações, os edifícios passaram a ser habitados e usados por
moçambicanos, numa composição familiar alargada, constituída por um
Moçambique!
número de pessoas que chegavam a 10 ou até mais. Por esse motivo, à medida Ruben Ferreira Morgado
que os agregados familiares iam crescendo, os apartamentos iam ficando mais Arquitecto e Planeador Físico
“pequenos”. Isto levou à ocupação de garagens e de pisos térreos. Nos prédios Os arquitectos e planeadores vivem de desafios. Estes variam entre os formais
mais pequenos, os apartamentos do último piso foram sendo transformados em (forma, volume, dimensão, proporção, outros) e os funcionais (uso, tipo, organização,
duplex. Foi dessa forma que a cidade se foi adaptando a uma outra realidade. Por outros) – e não acredito que colegas meus não confirmem que um edifício em altura
outro lado, uma significativa parte das pessoas passou a dedicar-se à prestação não seja um dos maiores desafios na nossa carreira. Pessoalmente já tive algumas
de serviços e ao comércio informal. Sendo a capital económica, política e comercial oportunidades de projectar um edifício em altura, mas recusei sempre – nunca fui
do país, a imigração por procura de melhores condições e a busca de serviços corajoso o suficiente, ou então, como alguém muito querido costumava dizer, tenho
passa a ser a principal causa de concentração populacional da capital. O comércio um “coeficiente de cagaço” muito alto para certas coisas. Para outras nem tanto,
transborda para os passeios, passando os vendedores de rua a ser uma carac- por exemplo, adoro mergulhar com tubarões.
terística visual notável na cidade. Projectar edifícios em altura requer tanta coragem como responsabilidade. Afinal
Esta situação conduziu à degradação da cidade, os edifícios vão perdendo a de contas, este tipo de edifícios, para o crescimento das cidades no mundo, e em
sua qualidade e segurança, bem como a sua estrutura e beleza. A cidade que se Moçambique, oferece a oportunidade de densificar, criar melhores condições de
construiu no tempo colonial não foi projectada a pensar nas condições actuais. ventilação e iluminação natural para um maior número de pessoas, e fica-se
Estima-se que cerca de 40% das famílias que vive em apartamentos não tem mais longe da poluição das ruas. Hong Kong e Nova Iorque são os expoentes
condições para suportar os custos de manutenção dos mesmos, e as restantes 60%, máximos de utilização de edifícios em altura para densificar o seu crescimento
embora o possam fazer, enfrentam dificuldades pelas insuficiências na prestação urbano – mas muitas vezes essa decisão de crescer em altura deve-se ao facto
de não haver muito espaço, ou área, para crescer. Felizmente, ou infelizmente, as

68 69
cidades moçambicanas não têm, para já, problemas de espaço – somos um país custo da obra, e muitas outras (pressões?) que acontecem no acto de projectar,
amplo com uma densidade mais baixa; por exemplo, a Cidade de Maputo tem podem colocar em causa o profissionalismo deles, mas, pelos poucos incidentes
uma densidade de 3,198 pessoas/km2, Hong Kong tem 6,690 pessoas/km2 e Nova que testemunhamos, fico satisfeito com o seu desempenho. Ou então eles têm
Iorque tem 11,313 pessoas/km2. um “coeficiente de cagaço” maior que o meu!
A solução inversa, da densificação usando edifícios em altura, é a expansão. Esta Em jeito de fecho, primeiro, gostaria de reforçar que a densidade é uma boa
solução não é a melhor por diversas razões – custo elevado da infraestrutura, solução, mas ela deve ser acompanhada por um reforço proporcional ao
ruptura das ligações sociocomunitárias e dependência do automóvel. impacto da capacidade do empreendimento – e esse investimento deve ser da
Resumindo, densidade é uma boa solução, expansão nem tanto – na minha responsabi­lidade do promotor do empreendimento e não da cidade! Segundo,
opinião! Mas o que é bom tem as suas limitações também. Um dos maiores os edifícios em altura, em termos tecnológicos, devem fazer muito mais, em
problemas da densificação das cidades é que, geralmente, essa densificação vez de simplesmente conectarem-se às redes existentes. Devem gerar energia,
não é estruturada, ou melhor, é resultado das exigências do mercado, e não está recuperar água da chuva, reciclar as diversas águas, separar resíduos, e muito
alinhada com nenhum plano urbano. Se analisarmos as cidades moçambicanas, mais. Terceiro, estes projectos devem ser desenvolvidos com moçambicanos nas
elas têm um pouco de tudo: uma área estruturada (o antigo centro!), uma área equipas. É muito importante mantermos o carácter da cidade intacto, e quem
densa e desordenada, e uma área de expansão. Está também provado que não conhece o contexto nunca deverá projectar dentro das nossas cidades. E,
cidades mais orgânicas têm bastante mais carácter que cidades planeadas de por último, estes empreendimentos devem estar alinhados com os planos da
raiz (aquelas que não possuem qualquer desvio ou contribuição do residente), mas cidade, respeitando vários aspectos, com ênfase na igualdade de oportunidades
é necessário estarmos constantemente a perguntar: “Que cidade queremos?” e sociais. Porque é que os moçambicanos com menos condições devem viver
analisar todas as decisões que tomamos, tanto na pintura de uma fachada, como mais longe das oportunidades socioeconómicas, ou melhor, viver mais longe
na transformação de uma moradia antiga num edifício em altura. do centro da cidade? Esta contínua segregação social irá descaracterizar ainda
mais as nossas cidades e criar pressões sociais sérias.
Eu, pessoalmente, sei o que quero da minha cidade – a Cidade de Maputo. Mas
posso não estar alinhado com os meus vizinhos. Por isso as cidades deviam possuir Uma nota final, porque não podia deixar de escrever sobre a Pastelaria Nautilus
uma comissão por bairro, multidis­ciplinar, independente da esfera política, que no coração do centro da Cidade de Maputo, no cruzamento das avenidas, Julius
constantemente “pensa” os bairros e recomenda soluções. E, já agora, enquanto Nyerere e 24 de Julho, no Bairro da Polana. Durante muitos anos foi o polo de
sonho acordado, que essas recomendações sejam seguidas! O primeiro ponto a atracção de muitos e encheu as casas de pão fresco todos os dias. Li há dias uma
ser discutido nesta comissão seriam os prédios em altura. A densificação é, como notícia que comunicava que iriam fechar portas e colocar no desemprego 80
falamos anteriormente, uma boa solução, mas ela deve vir ao mesmo tempo trabalhadores. Vivemos numa altura difícil em termos económicos, sem dúvida,
com a capacitação da infra-estrutura local. Não faz sentido demolirmos uma mas será que esta decisão não se alinha mais com outra situação? Será que
moradia com 4 sanitas para depois construirmos um edifício em altura com 40 vamos ser presenteados com mais um edifício em altura?
sanitas (10 vezes mais!) – sem actualizarmos e reforçarmos a infraestrutura pública.
Provavelmente, essa infraestrutura até poderá funcionar, a montante, mas depois
criará sérios problemas a jusante. A este pensamento, eu chamo de “síndrome do
autoclismo” – no momento em que puxamos, por magia, a nossa produção natural
e individual desaparece, e a partir desse momento já não é nosso problema!
Graficamente, o saneamento é o ideal para fazer as pessoas pensarem, pela sua
textura, cheiro e complexidade, mas o mesmo pode-se dizer dos sistemas eléctricos,
abastecimento de água, redes pluviais e estacionamento. Neste momento do texto,
gostaria de falar dos meus colegas, engenheiros estruturais – tenho muito respeito
por eles. Já falámos anteriormente das várias especialidades, mas os profissio-
nais com maior respon­sabilidade é quem projecta estruturas, quem mantém a
cidade em pé. Um erro de cálculo, que acontece constantemente, tem resultados
catastróficos. A pressão dos clientes, da necessidade de se projectar rápido, do

70 71
Casos específicos VIII.

Prédios Velhos

Caso 1:
Tem havido obras de construção no
centro da cidade que decorrem de
noite e muitas delas passam des-
percebidas aos órgãos responsáveis,
como, por exemplo, no bairro da Coop,
em que os moradores tiveram que
chamar a imprensa para denunciar as
construções nocturnas.

DAHISTÓRIARECENTE AO
Caso 2:
DILEMADOS PRÉDIOS VELHOS
Na zona de Malhangalene vários
edifícios foram levantados nos terraços.
DE MAPUTO
Não faltam exemplos. Há que procurar
soluções que a urgência já está atrasada.
Leonel Matusse

A
o largo de três eixos centrais da cidade de Maputo,
nas longas avenidas rectas na direcção aproximada
de noroeste-sudes­te, como a 25 de Setembro, a 24
de Julho ou a Eduardo Mondlane, a paisagem nos
revela prédios, alguns de expressões do modernismo no art
déco, pálidos, com fios de infiltração a fazerem desenhos nas
paredes externas. Olhando mais acima, há terraços tomados
por outras casas. No interior, problemas com a manutenção
dos elevadores e em espaços comuns do condomínio.
Com a conquista da Independência, em consequência
das nacionalizações, em 1976, a “cidade de cimento” ou

72 73
“Xilunguine”, outrora de circulação limitada para a população autárquico de Maputo, na reportagem ao O País, estarem
negra, foi ocupada por citadinos que, até essa altura, residiam a trabalhar na identificação e avaliação dos edifícios que
nos bairros periféricos, para lá da circunvalação. necessitam de intervenção urgente. O mesmo não deixou de
Tanto a zona urbana de avenidas amplas e ruas feitas de esclarecer que “a responsabili­dade de garantir o saneamento
acordo com padrões urbanísticos europeus, assim como a e durabilidade dos edifícios é dos proprietários”. Contudo,
“cidade do caniço” registaram uma explosão demográfica, ainda não existe uma postura municipal que sancione aos
que se agravou com a severidade da guerra de deses­ condóminos infractores.
tabilização (1977-1992), que devastava o País, empurrando Na ocasião, autoridades municipais manifestaram a sua
vários moçambicanos para as maiores urbes. preocupação com o facto de haver munícipes a ignorar o
Parte da população que se instalou nos prédios do centro perigo das construções de anexos nos terraços, obras que
da cidade teve a sua primeira experiência de habitação em têm sido executadas sem autorização.
casas de alvenaria e regulamentos de condomínio ao chegar São múltiplos os exemplos; O Alentejano, conjunto de três
aos apartamentos, agravado com a crise económica dos prédios, localizado na avenida Eduardo Mondlane, é um dos
primeiros anos de Independência que se caracterizou por exemplos da precariedade na cidade de Maputo. As fissuras
uma falta generalizada de produtos no mercado. e rachas nas paredes da infra-estrutura, causam impressão
Embora, ainda na efervescência da construção de um país pelo avançado estado de degradação associado à falta de
novo por baixo da umbrella da chamada Revolução Socialista, manutenção, a avaliar pela queda de algumas partes que
houvesse um sentido de comunidade, a situação de compunham o edifício. Na avenida Karl Marx, em frente às
precariedade priorizou outras questões que foram deixando bombas Total, onde funciona uma loja de uma das Telecom
de lado outras. que actua no país, há um prédio em que, devido ao facto de
a água não chegar a todos os pisos, a maioria dos moradores
Ao longo dos anos, a Administração do Parque Imobiliário do tem, no terraço, a única torneira.
Estado (APIE) foi vendendo os seus apartamentos, estando,
neste momento, a esmagadora maioria das casas sob Com a tendência, nos últimos 15/20 anos, de os proprietários
pertença e gestão de proprietários privados. se estarem a mudar para os bairros em expansão, alguns
chefes de condomínios têm dificuldades em gerir a situação,
Gradualmente, os edifícios foram ficando sem manutenção, pois os inquilinos não assumem as responsabilidades pelos
os elevadores pararam de funcionar, os espaços comuns problemas do prédio, limitando-se aos seus apartamentos.
foram-se tornando fonte de conflitos, a gestão e reparação da Por outro lado, a zona da Baixa da cidade, a parte mais antiga
canalização e sistemas eléctricos, em vários casos, passaram da urbe, está repleta de exemplos, tanto na avenida Karl
a ser feitos de forma individual. A falta de pintura na parte Marx, assim como a Filipe Samuel Magaia, em que prédios
externa dos prédios é o corolário desses desencontros. com mais de 12 andares, há vários anos que, não possuem
Parte dos prédios da cidade de Maputo foram construídos elevadores.
nos anos 50 e 60, do século passado, o que, conforme uma Na avenida Ho Chi Min e outras do centro, encontramos
matéria publicada pelo jornal O País na edição de 09 de situações em que a loja do rés-do-chão que poderia ajudar,
Junho de 2019, é razão para maiores receios, pois “um prédio com a sua renda, na manutenção do prédio, foi privatizada
tem em média 50 anos de vida, mas isto depende de como por um dos moradores que, regra geral, não estão dispostos
ele é feito, usado e mantido pelos moradores”. a devolver a chave e/ou a partilhar o que recebe com o
A referida matéria, apontava a superlotação como um dos condomínio.
principais factores de risco que, na cidade de Maputo, precipita Não faltam exemplos. Há que procurar soluções que a
a degradação de muitos prédios. Em coordenação com a urgência já está atrasada.
Ordem dos Engenheiros, disse um representante do conselho

74 75
Casos específicos IX.

Prédio Pott

Caso 1: Caso 2:
Residências da Várias obras na
baixa da Cidade cidade de Maputo
de Maputo decorrem para
encontram-se dar espaço a
num estágio de restaurantes e
degradação escritórios, em
com condições prédios já em
péssimas para se estado degradado.
viver. Por exemplo,
o esgoto da Av.
Josina Machel
está em constante
degradação.

“PRÉDIOPOTT:
ADESTRUIÇÃODONOSSO
PATRIMÓNIO”

A
preservação da história de uma cidade é indiscu-
tivelmente uma obrigação de todos os cidadãos e
suas autoridades. Afinal, as cidades são um Bilhete
de Identidade e elemento de cultura e educação.
Servem de cartaz e programa turístico mas, sobretudo, de
factor educativo dos cidadãos. Por isso, a identificação de
cada cidade se faz pelo seu panorama geofísico, pelas carac-
terísticas culturais de seus habitantes e pelos seus edifícios,
museus e monumentos. É assim em todos os países que se
prezam. Nem precisamos de sair do continente. Por exemplo,
a Ilha de Robben, um local hediondo da história do Apartheid,
é hoje, e por lei, um museu. Assim, as suas infraestruturas,
apesar de terem sido construídos com objectivos criminosos,
foram mantidas e preservadas até hoje. No Ruanda, outro
país africano, o genocídio que matou quase um milhão de
pessoas é lembrando em vários locais das suas cidades.

76 77
É nesta linha que se insere a actividade do “Conselho Nacional porque a fachada demolida, a da Av. Samora Machel, é a
do Património Cultural”, adstrito ao Ministério da Cultura e de maior relevo e de registo de uma arquitectura de Época,
Turismo, criado ao abrigo da Lei 10/99 do Património Cultural. mantendo-se os seus elementos simbólicos.
Este Conselho tem vindo a desenvolver um importante A destruição do Prédio Pott constitui uma machadada cruel
trabalho que visa a garantia da preservação de elementos e injustificável.
históricos do País, e procura harmonizar a modernização com
a salvaguarda do Património Histórico. Outros edifícios na cidade poderão ter a mesma sorte, se as
devidas salvaguardas e protecção não lhe forem atribuídas.
O Jornal da Cidade sabe que o Prédio Pott foi incluído na lista
de edifícios a preservar, primeiro pela Lei 10/88, porque ele Entre muitos outros, a Vila Algarve, que não é mais do que
está “classificado” pelo seu Artigo 7, ponto 2, alínea b), que a Ilha de Robben moçambicana, constitui outra grande
determina a conservação de “todos os prédios e edificações preocupação de todos nós, pois mantém-se a incógnita
erguidos em data anterior ao ano 1920, ano que marca o fim do que lhe irá acontecer, se continua o abandono e o seu
da 2.ª fase da resistência armada à ocupação colonial”. caminho à ruína, ou que tipo de intervenção poderá ocorrer
naquele edifício que, apesar de não estar Classificado, por Lei,
O Prédio Pott também está sob salvaguarda patrimonial como Património Cultural, permita preservá-lo, mantendo-o
desde 2015, quando foi aprovado, pelo Conselho Municipal de nas nossas memórias e pelo tempo, pelo seu imenso valor
Maputo, o Plano Parcial de Urbanização da Baixa de Maputo histórico, marcado pela repressão e tortura.
e seu respectivo Regulamento.
Este Plano incluiu o Prédio Pott, entre os 314 edifícios classi- Por que razão o Prédio Pott é Património Histórico?
ficados, tendo-lhe sido atribuída a classe A que, segundo o
Regulamento sobre a Gestão de Bens Culturais Imóveis, no Para um melhor entendimento da importância do Prédio
seu artigo 12, “classes do Património”, no ponto 2, o define Pott, transcrevemos, com a devida vénia, um extracto da
como “Bem cultural imóvel de valor elevado nacional” e, no dissertação de Licenciatura em Arqueologia e Gestão
seu artigo 13, referente aos “níveis de intervenção”, no seu do Património Cultural (UEM), da autoria de Maida Tete, “A
ponto 1, alínea a), que define que o “nível de intervenção seja Problemática da Gestão do Património Edificado em Ruínas
visado à reposição do seu estado original, mantendo o seu na Cidade de Maputo: o caso do Prédio Pott” (Maputo, 2016).
significado cultural”.
De acordo com informações obtidas pelo Jornal da Cidade, Descrição Física
o Conselho Nacional do Património Cultural (CNPC) aprovou
“O prédio Pott enquadra-se no estilo Later Vitoriano, o estilo de
a construção de um edifício moderno no local onde está o
construção que efervescia na altura da construção do edifício.
Prédio Pott, exigindo que, no projecto, se mantivessem as duas
Estilo Vitoriano é um movimento/estilo arquitectónico que
fachadas que não tinham ruído.”
dominou a Inglaterra no período do reinado da Rainha Vitória
Esta concessão prevaleceu sobre a ideia de uma reconsti- (Alexandrina Vitória) entre 1831 e 1901. As casas Vitorianas
tuição ou reposição do seu estado inicial, como preconiza dão a ilusão de serem mais altas do que largas, os frontões
o Regulamento sobre Gestão de Bens Imóveis, justificada triangulares e as chaminés quebram o skyline (a linha do
pelos elevados custos e falta de rentabilidade da opção mais horizonte) e, por vezes, são usados blocos coloridos, amarelos,
desejável. vermelhos e pretos. Os capitéis, colunas e ornamentos são
Foi, pois, com surpresa, que vimos o edifício ser demolido, sem pré-fabricados, telhados bastante inclinados (Menezes 1995:
que as fachadas fossem preservadas. Consideramos que, 5). O prédio Pott é constituído por dois grandes torreões e um
no projecto do novo edifício, dever-se-ia ter acautelado as terceiro mais pequeno, todos eles de reminiscência bizantina
propostas do CNPC, de integrar as duas fachadas, sobretudo que, na altura, quebravam a linha do horizonte da Baixa de

78 79
Maputo. Mais abaixo, os frontões triangulares e os telhados em 1894, no rés-do-chão. A alteração final foi feita em 1903.
inclinados realçam o visual Vitoriano do edifício. Os grandes Posteriormente, a fachada do rés-do-chão foi continuamente
vãos das varandas são suportados por grossas colunas, as alterada de acordo com os desígnios dos proprietários dos
balaustradas daquelas são rendilhadas em ferro forjado. escritórios e lojas, quer do lado da actual avenida 25 de
O rés-do-chão, a parte comercial do edifício, possui vãos Setembro (na altura designada avenida Dom Carlos), quer
amplos e envidraçados, intercalados por pilastras e no cimo do lado da avenida Samora Machel (na altura designada
destas escoras floreadas de ferro forjado. As portas originais avenida Aguiar). Em 11 de Dezembro de 1990, o prédio foi
eram de madeira e ainda se pode encontrar portas originais devastado por um incêndio que foi considerado, na altura,
nas entradas que dão acesso ao 1.° andar (Lage e Carrilho como o maior incêndio que a Baixa da cidade de Maputo
2010: 46). (Lage e Carrilho 2010:46).
O prédio Pott apresenta duas facetas mistas de conservação Segundo a edição do Jornal Notícias de 18 de Dezembro
resultante do incêndio que assolou o imóvel a 11 de Dezembro de 1990, sete dias após o incêndio do prédio Pott, alguns
de 1990. Na sua totalidade, o prédio Pott ocupa uma área proprietários de escritórios e casas afectados pelo incêndio
de 886m², onde a área danificada corresponde a 470m², e reuniram-se no cinema Scala com o objectivo de debater e
os restantes 416m² encontram-se em utilização. A parte que apresentar propostas para a recuperação do imóvel, junto
se encontra conservada é o resultado das intervenções de da Administração do Parque Imobiliário do Estado (APIE). O
manutenção que são efectuadas por conta dos próprios encontro aconteceu mas não foi possível apurar o seguimento
inquilinos. As partes que não beneficiaram de qualquer ou destino da petição então apresentada. No entanto, até
intervenção apresentam-se num avançado estado de aos dias que correm, o prédio Pott continua em avançado
degradação. estado de degradação que se vai acentuando a cada dia
que passa, com a excepção da parte que é detida pelos
Enquadramento Histórico proprietários das lojas. Com base em algumas informações
recolhidas junto da Direcção Nacional do Património Cultural
O prédio Pott também conhecido por “Avenida Buildings” (DNPC) e da Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico
foi construído num período de mudanças sociopolíticas e (FAPF), pode-se constatar que, ao longo dos anos, surgiram
económicas em Lourenço Marques, actual Maputo. Menezes inúmeras entidades interessadas e com propostas com vista
(1995:2) destaca alguns dos vários factores que contribuíram à recuperação, restauro e atribuição de um novo uso ao
para tais mudanças, nomeadamente: a expedição prédio Pott. Contudo, o edifício continua em ruínas e constitui
dos engenheiros em 1877, chefiados por Joaquim José um grande perigo para os peões que por ali passam, pois
Machado, que traziam consigo as maravilhas da revolução a parte do mesmo que se encontra em ruína tornou-se um
industrial e novas técnicas de construção civil; a elevação abrigo de grupos marginalizados. O assunto tem sido alvo
da Vila de Lourenço Marques à categoria de cidade em de interesse especial do Conselho Nacional do Património
1887; a repercussão do estilo arquitectónico Vitoriano nas Cultural. Qual é a razão principal?”
construções, e a introdução de novos materiais como o ferro
forjado e o cimento. Segundo a edição do Jornal Notícias de
12 de Dezembro de 1990, o empreiteiro da obra foi T. D. Turball, Nota:
tendo na altura as obras sido avaliadas em 21 mil libras. Por razões editoriais não são listadas as referências indicadas
O prédio Pott foi propriedade do luso-holandês Gerhard Pott, no texto que preservámos na íntegra.
último cônsul da República do Transval em Moçambique,
que recebeu a parcela de terreno a 30 de Julho de 1888.
Pott construiu a casa em diferentes fases. A primeira fase
em 1891, tendo-se seguido alterações na fachada do prédio

80 81
CAIXATÉCNICA
Direcção Nacional do Património
Cultural esclarece os motivos da
autorização da demolição
Nessa nota, de que o MCT que, em 2017, o Laboratório de
transcrevemos Engenharia de Moçambique (LEM)
extractos, aquele fez uma avalia­ç ão técnica, tendo
órgão reconhece constatado danos estruturais críticos,
“a necessidade recomendando a demolição total do
de protecção edifício. Por outro lado, o Conselho
e c o n­s e r va ç ã o Nacional do Património Cultural (CNPC),
deste património”, órgão intersectorial e multidisciplinar
s u b l i­n h a n d o de consulta, que aconselha o Ministro
não ser uma na tomada de decisões no domínio do
“tarefa fácil pois património cultural, reuniu-se em duas Parte C
AMBIENTE
há sempre esta sessões extraordinárias para apreciar o
tendência de processo do prédio Pott. Sobre o assunto,
modernização da o Ministério, na referida nota, dá os
cidade e nota-se seguintes esclarecimentos:
muita pressão “O CNPC foi favorável à demolição,
sobre os espaços tendo recomendado a manutenção
urbanos, principal- das fachadas no novo projecto,
mente na cidade nomeadamente, da 25 de Setembro
d e M a p u t o ”. A e Samora Machel. Sucede que as
N ota escl are ce fachadas estavam em estado crítico,
ainda que, nas o que tornava um exercício titânico
zonas e edifícios a sua manutenção, enquanto se
protegidos, o rea­lizam estudos geofísicos e inicia a
Ministério é ouvido implantação do novo projecto. O que vai
nas decisões sobre acontecer é a reconstrução da fachada.
demolições e O projecto deverá prever, ainda, um local
A Direccão Nacional
do Património restauro. de acesso público onde estará patente
Cultural, órgão do
Ministério da Cultura Com relação ao uma exposição permanente da história
e Turismo (MCT) prédio Pott e a do prédio Pott. Todo este processo está
enviou uma nota, to d o s e d i f í c i o s docu­mentado e tem acompanhamento
a pedido do Jornal
da Cidade, a qual com interesse da Procuradoria da Cidade de Maputo,
agradecemos. histó­rico, esclarece guardião da legalidade.”

82 83
X. permitem o desenvolvimento de actividade de carácter social
Parques e Jardins colectivo, e constituem, sem dúvida, um elemento activo na
composição da urbe e na caracterização da imagem da
cidade.
O Plano de Estrutura Urbana do Município de Maputo (PEUMM),
no artigo 13 e nos artigos 53 a 56, menciona os critérios e
regulamentos a serem adoptados no que se refere a
importân­cias e equipamentos sociais. Os artigos 77 e 78
abordam e caracterizam o tipo de espaços verdes, bem como
os usos preferenciais consoante as características das zonas.
Esses mesmos artigos referem o tipo de tratamento a ser
adoptado para espaços verdes, relatando a importância de
que estes se revestem no meio urbano.

PARQUES E ZONAS DE
RECREAÇÃOSÃOCADAVEZ
MAIS ESCASSOS

T
odas as cidades bem planeadas procuram apetre- Oque está a acontecer?
char-se de um adequado número de parques, zonas
recreativas e de equilíbrio ecológico, que permitam aos Em Maputo, ocupam-se cada vez mais Com base em estudos anedóticos, crê-se
cidadãos de todas as idades passearem, divertir-se, zonas verdes e recreativas com edifícios que a área recreativa por habitante
andar de bicicleta, descansar de forma recreativa e activa. (em muitos casos os lugares recreativos esteja a reduzir drasticamente. Num
As zonas verdes, as pistas para patinagem, skate e bicicleta, são repartidos para outros fins), desses estudos, foi estimado que a área
os parques infantis e campos desportivos constituem uma reduzindo a possibilidade de crianças recreativa por habitante da zona central de
prioridade de uma cidade virada para os cidadãos. e adultos, novos e idosos, se recrearem Maputo era de 0,22m2/hab, número vinte
de forma saudável. vezes inferior ao mínimo recomendável.
São inúmeros os benefícios de uma cidade que preserve O mais grave é que este número está
os parques e lugares recreativos públicos, principalmente Por outro lado, a cidade de Maputo
expande-se, fazendo surgir novas zonas a reduzir de forma exponencial, pois
numa era de muita correria e de recursos escassos, para tem sido reportado, nos últimos anos, o
pagar os espaços recreativos privados (como acontece em habitacionais que, na sua maioria, não
são acompanhadas com equipamentos desaparecimento de várias instalações
alguns casos), bem como numa sociedade com problemas recreativas, desportivas e de lazer, bem
recorrentes de saúde e da pressão do dia-a-dia. Os parques sociais, em que se incluem os parques
e zonas recreativas. como a ocupação de várias áreas verdes
proporcionam quebra de monotonia, valor estético, físico e da Cidade.
psicológico para a vida urbana dos seus habitantes. Eles

84 85
São exemplos as diversas construções
no Circuito Repinga, as intensas
urbanizadas estão muito pressionadas
com arranha-céus constituindo CAIXATÉCNICA
construções nas zonas ecologicamente verdadeiras “paredes” de grande
frágeis e de protecção ambiental,
como o aterro de Maxaquene, as
extensão, enquanto muitas áreas
suburbanas, neces­sitadas de requa-
Investigação científica tem revelado
barreiras íngremes, o mangal da Costa
do Sol, as construções no Parque dos
lificação, permanecem sem sofrer
melhorias. efeitos nefastos na saúde pública
Continuadores e no vulgo Jardim dos Estas preocupações vêm de há já anos.
Madjermanes, entre muitas outras. Em Estudos disponíveis relativos à Saúde Pública da Cidade de Maputo revelam dados
Por exemplo, em 2007, numa carta preocupantes. Ao longo dos anos diversas publicações científicas têm mostrando
vez de um equipamento de carácter dirigida aos Membros da Assembleia
social e de uso colectivo, diversos uma elevada deterioração dos indicadores de risco de doenças não transmissíveis
Municipal e assinada por dezenas como a diabetes, hipertensão e doenças cardíacas, tanto em adultos, como em
parques e bairros estão a ganhar algum de profission­ais de Educação Física
tipo de construção apenas de carácter crianças. Estes estudos sugerem que uma importante responsabilidade deste
e Desporto, era já manifestada a panorama está associada a alterações de estilo de vida provocados pela crescente
comercial. preocupação pela ocupação dos urbanização não planeada. Por exemplo, a percentagem de meninas em idade
Na nossa Cidade é hoje difícil caminhar, espaços recreativos e desportivos da escolar em Maputo com peso excessivo aumentou de 6.9%, em 1992, para 20.3%,
respirar ar puro e ver o mar. As nossas cidade. De então para cá, não apenas em 2012, e a taxa de tensão arterial elevada chegou a atingir, em alguns escalões/
crianças não têm onde brincar e não se criaram mais espaços, como os casos, os 66%. Por seu turno, na população adulta, de 2005 para 2015, o peso
crescer saudáveis. As zonas mais bem existentes continuam a reduzir. excessivo, em Moçambique, aumentou de 18.3% para 30.5% , sendo que em Maputo
mais de metade das mulheres já apresentam peso acima dos limites. Dados de
Oque se pode fazer? há cerca de 25 anos indicavam que nenhum destes problemas existia.

A solução passa, necessariamente, adequados e inclusivos a todos

Casos específicos
por uma planificação harmoniosa, que os cidadãos, interferindo o menos
preveja os espaços verdes e recreativos. possível na paisagem urbana;
Para isso é imperioso que:
• se pare imediatamente com a
Caso 1:
• a planificação urbana e sua ocupação de espaços verdes e
operaciona­lização adoptem critérios recintos desportivos, e se restituam O Jardim de Magoanine foi construído
urbanísti­cos que garantam o equilíbrio os que forem possíveis, ou se em apoio às vítimas das cheias de 2000.
entre a densidade populacional e encontrem espaços alternativos de Na altura, fez-se um campo de futebol,
a disponibil­idade de locais de lazer compensação; um parque infantil e plantaram-se mais
activo e zonas verdes, incluindo de uma centena de árvores. Hoje tudo
• todas estas medidas se apliquem
espaços de desporto, pistas para está deteriorado e todas as árvores
a todas a regiões da cidade, ou seja,
bicicletas e caminhadas, e jogos desapareceram.
que incluam, do mesmo modo, as
recreativos;
regiões urbanas e periurbanas.
• nos parques e jardins, os sistemas
construtivos adoptados sejam mais

86 87
Caso 2:
Muitos jardins da cidade de Maputo carecem de limpeza, ou
até mesmo fiscalização de como são utilizados, como é o
Caso exemplar
caso do Jardim 28 de Maio, mais conhecido por Jardim dos O “Parquinho da Sommershield”
Madjermanes que, além de se ter visto diminuído de grande mantém a maior parte da
parte, para obras de raiz com fins comerciais, ainda por cima área dedicada ao público, está
está com espaços não utilizados, já vedados, à espera de organizado com casas de banho
mais construções. A ocupação deu lugar a barracas que públicas limpas e gerido pelos
foram colocadas desordenadamente sem olhar para a moradores da zona, sem fins
estética do jardim. lucrativos. Sustentado por um
restaurante com área mínima,
Caso 3: que garante a manutenção do
jardim, e prova que se pode fazer
O Circuito Repinga perdeu mais de metade do seu tamanho para se construírem coisas públicas sustentáveis.
empreendimentos públicos e privados. Muito recentemente e mesmo depois de
muitos protestos, mais uma construção ocupou uma área considerável. Assim,
o Circuito, que constitua um serviço público de elevado valor e frequentado
por muitos cidadãos, tornou-se um espaço de cimento, para carros e com um
pequeno jardim. COMENTÁRIOS DOMUNICÍPIO
CMMbusca melhorar espaços verdes
na Cidade
O CMM está a envidar esforços no sentido de garantir o melhoramento dos espaços
verdes existentes e devolver aos munícipes espaços livres, recreativos e ambien-
talmente saudáveis.
Para tal, algumas acções estão já a ser levadas a cabo com vista à mobilização de
Caso 4: parceiros estratégicos para a realização do levantamento de todo o parque arbório
Para quem gostava de caminhar ou fazer exercícios, desenhar, conversar, no nos espaços públicos (parques, jardins, praças, vias e demais espaços), por forma
Miradouro a contemplar o mar, fica cada vez mais difícil de fazê-lo, hoje, com a criar uma base para a elaboração de um Plano Director de desenvolvimento de
todo o prazer, visto que aquele local está todo ele degradado, cheio de lixo, com os áreas verdes.
bancos todos estragados e muitos carros estacionados no passeio. Para piorar, o Este Instrumento Orientador é de extrema importância na implementação de
Jardim dos Namoradas, nessa zona da cidade, foi paulatinamente sendo ocupado melhores estratégias para a recuperação dos espaços verdes e para a definição
por edifícios comerciais que ocupam hoje mais de 80% da área inicial. de planos de expansão de áreas verdes nos bairros municipais.
A elaboração do Plano Director de Desen­volvimento das Áreas Verdes consta do
Plano de Desenvolvimento Municipal, dando, assim, primazia às acções relevantes,
à recuperação e reabilitação dos espaços verdes degradados e à criação de
novos espaços verdes, com enfoque para os bairros periféricos, onde se verifica
grande défice.

88 89
de conjugar esforços com o sector privado (entidades colectivas e singulares),
na modalidade de concessão, para a reabilitação e exploração dos jardins
degradados, com financiamento privado, por forma a tornar eficaz e sustentável
a gestão destes espaços, que são um estimável património municipal.
É nesse âmbito que, os espaços, como é o caso dos jardins dos Namorados,
Nangade, Professores, Cronistas, Berlengas, Liberdade, Tiago Muller, Julius Nyerere,
estão hoje reabilitados e com um ambiente aprazível, tendo-se devolvido a sua
vitalidade e a qualidade, com excepção do Jardim da Liberdade.
Algumas intervenções foram feitas com vista a travar a tendência de ocupação
destes espaços para a prática de actividades não adequadas, ou ainda a trans-
formação de espaços públicos livres em espaços construídos, tendo resultado
em bons exemplos, como é o caso da requalificação da Rotunda da Junta,
transformada em Praça Filipe Samuel Magaia, conhecida hoje como um dos locais
de destaque e referência na nossa bela Cidade das Acácias e Jacarandás.
Exemplos de boas parcerias não se esgotam no Jardim dos Cronistas; temos também
o das Berlengas, Professores, Nangade, Tiago Muller, Julius Nyerere, incluindo o próprio
Repinga.
Vista parcial da Praça 21 de Outubro no Bairro do Alto-Maé O Repinga estava a ser ocupado de forma desenfreada, sob risco de desaparecer.
Como forma de travar essa tendência, o Conselho Municipal firmou parceria
Aliás, após a Independência Nacional, os jardins foram mantidos vistosos até para a sua reabilitação e requalificação, mantendo-o como público, com novos
sensivelmente à década 80. Nos tempos subsequentes, foi notória uma gradual equipamentos de ginástica ao ar livre, estacionamento, garantia de segurança,
degradação destes espaços, aliados a algumas razões fundamentais, como, por iluminação, sanitários e balneários públicos, infra-estruturas que complementam
exemplo: as necessidades do próprio parque, com a preocupação fundamental de melhor
servir os munícipes da urbe.
1. Aumento demográfico, movido pelo êxodo rural, como consequência da
guerra, obrigando a algumas pessoas a fazerem esse movimento como O Jardim Tunduru foi, igualmente, requalificado com fundos próprios e a sua gestão
alternativa para a busca de melhores condições de vida; é feita pelo Conselho Municipal, à semelhança de todas as praças, este com a
par­ticularidade de ser um jardim Botânico, com uma diversidade inquestionável.
2. A crescente instalação do comércio informal que, nos últimos tempos, se
vem registando, incrementado e acentuado até ao presente momento. Estas Por outro lado, importa referir que algumas infra-estru­turas económicas foram
actividades são exercidas preferencialmente nos espaços públicos (jardins, construídas, a uma escala menor, como forma de gerar recursos para apoiar na
praças, largos e passeios); sua manutenção que já se revela muito onerosa.

3. Recursos escassos para a manutenção destes espaços e a proliferação


do comércio informal;

4. Crescente número de mendicidade, resultando em instalação de abrigos


nestes locais (parques, jardins e demais espaços públicos) e, consequentemente,
a vandalização destes espaços.
Como medidas para a reversão do elevado estado de degradação dos parques
e jardins municipais, tendo em conta alguns aspectos acima referidos, o CMM
introduziu, em 2002, as políticas de Parceria Público Privadas (PPP’s) com o objectivo

90 91
XI.

Poluição Sonora

POLUIÇÃOSONORA:
UMPROBLEMADE SAÚDE
PÚBLICAE DE BEM-ESTAR

H
á muito que as ciências da saúde identificaram
uma relação entre a poluição sonora e a saúde
pública. Existem consensos, na ciência, sobre o nível
de ruído (barulho) tolerado pelo ser humano, que
varia consoante os países e organizações. Normalmente, é
estabelecido que o ouvido humano suporta, sem prejuízo,
ruídos entre os 45 e os 65 decibéis, dependendo do tipo de
zona. Acima deste valor, o nível de ruído é já considerado um
atentado à saúde pública.
Baseada neste consenso, a regulamentação do ruído é hoje
uma prática consolidada em muitas cidades do mundo,
obrigando a indústria a procurar soluções de diminuição do
ruído de toda a maquinaria envolvida em equipamentos,
como sejam os dos transportes, da construção civil e da
indústria transformadora.

92 93
A agressão provocada pela poluição sonora tem diversas con- recentemente (não documentada) O recurso à Polícia Municipal, entidade
sequências nefastas. São exemplos: a perturbação do sono, mostrou que o ruído, em algumas ruas, encarregue de controlar a poluição
que pode impedir a concentração e promover um estado de oscilava entre os 72 e os 95 decibéis, de sonora, está disponível. Contudo, vezes
cansaço; o aumento de ansiedade ou do stress, afectando o forma prolongada, o que constitui um sem conta, a própria Polícia se declara
funcionamento harmonioso de diferentes sistemas fisiológicos nível muito acima do tolerável. No caso impossibilitada de agir, pelo facto de
e tendo repercussões crónicas de elevado impacto. de algumas obras em zonas residenciais, serem emitidas autorizações de tais
Em Moçambique, está em vigor um dispositivo legal que este nível de ruído mantém-se no eventos por entidades competentes,
estabelece restrições à poluição sonora, através de horários, período nocturno, incluindo por vezes infringindo a Lei. Aqui incluem-se, por
níveis sonoros, regras de conduta para veículos, obras e sábados, domingos e feriados. exemplo, autorizações para realização
actividades comerciais, estando previstas penalizações aos As fontes de ruído sonoro são, permanente de obras e espectáculos
infractores. Não obstante, a persistência de comportamentos essencialmente: fora de horas consideradas normais, bem
violadores deste regulamento parece indicar não só o seu como discotecas ao ar livre, em zonas
• barracas com música a volumes residenciais. Por outro lado, ultimamente
desconhecimento, pelo público, como também apatia ou
elevados; tem sido identificado um número
indiferença das autoridades municipais em garantir a sua
observância. crescente de igrejas, funcionando no
• discotecas e tendas de eventos em
meio de zonas residenciais, onde causam
É notória a existência de um número considerável de pessoas locais residenciais e sem isolamento
elevada poluição sonora, em particular
que não parece ter consciência dos danos e incómodos acústico;
nas denominadas noites de vigília. Até
que causam ao provocar poluição sonora, em particular no • veículos motorizados com níveis de mesmo nos dias correntes, em pleno
período nocturno. Parece-nos importante uma acção que ruído não permitidos; tempo das restrições legais devido à
combine simul­taneamente a divulgação dos malefícios à Pandemia da COVID-19, persistem casos
saúde que o barulho e som elevado provocam, com medidas • a p a re l h a g e n s m u s i c a i s e m
de aglomerações e de barracas que
repressivas que salvaguardem os direitos dos cidadãos. automóveis a níveis agressivos
funcionam de modo clandestino como
(incluindo carros escolares);
se de encontros familiares se tratasse. O
Oque está a • obras que utilizam aparelhos com problema da poluição sonora não pode
acontecer? elevados níveis de ruído, muitas vezes ser visto como um problema eminente-
fora das horas normais de trabalho. mente nocturno, ocorre em qualquer hora.
Nos últimos anos, a
Cidade de Maputo
viu crescer expo- Oque se pode fazer?
nencialmente os
Sabendo que a vida urbana, hoje, • a proibição da emissão de autorizações
níveis de poluição
fez emergir de modo considerável para trabalhos relacionados com
sonora. Se bem
o aumento do ruído, medidas que construção fora das horas normais de
que tal situação
minimizam esses cenários precisam ser trabalho de forma permanente;
seja, em par te,
tomadas, seguindo acções coordenadas • a fiscalização permanente do ruído
u m a i n ev i tá ve l
e constantes, se possível, usando todos provocado por veículos motorizados;
consequência
os veículos de comunicação, num
do crescimento • a proibição de discotecas e casas de
trabalho de educação cívica, envolvendo
urbano, existem medidas que, a serem Não se conhecem estudos sobre a eventos que não tenham isolamento
todos os que têm a possibilidade de
tomadas e a exemplo de outras cidades poluição sonora de Maputo, mas acústico;
influenciar a tomar parte desse grande
do mundo, poderão reduzir substancial- qualquer cidadão sente o impacto
caso social. Entre outras, sugerem-se • o estabelecimento de um horário
mente o problema. deste fenómeno e conhece as suas
algumas medidas: racional para autorização de obras e
fontes. Uma amostra ad hoc realizada

94 95
outras actividades que produzam ruído, em zonas residenciais (julga-se razoável
um horário das 7 às 18 horas, de segunda a sexta-feira);
• a aplicação da legislação existente que, no geral, se mostra bastante actual;
Caso exemplar
Durante algum tempo a Polícia Municipal realizou uma campanha com vista
• a criação, na cidade, de um local apropriado para grandes eventos, de preferência
à remoção do som amplificado das carrinhas escolares na cidade de Maputo.
num terreno cujo som, necessariamente elevado, não afecte bairros, residências,
e com infra-estrutura necessária (parqueamento, palcos, iluminação etc.);
• o desenvolvimento de campanhas de educação sobre os problemas provocados
pelo som muito alto.

Casos específicos
Caso 1:
Ve rd a d e i ra s c o m p e ti ç õ e s d e
“aparelhagem sonora mais potente”
decorrem em várias zonas da cidade,
normalmente no final do dia, e aos fins
de semana. CAIXATÉCNICA
Que mal faz a poluição?
Caso 2: A poluição sonora afecta, sobretudo, o sistema nervoso, criando problemas:
Bares e barracas com som elevado
• perturbação do sono;
até altas horas da noite, em zonas
residenciais impedindo um descanso • aumento do cansaço;
saudável.
• aumento da ansiedade (stress);

• desregulação de diversos sistemas fisiológicos.


Caso 3:
Quais as fontes de poluição sonora mais comuns?
Um número elevado de igrejas com
aparelhagem, muitas vezes detentoras • Barracas com música a volumes elevados.
de uma aparelhagem sonora de alta
• Discotecas e tendas de eventos em locais residenciais e sem isolamento
potência, têm emergido esporadica-
acústico.
mente na cidade de Maputo, sendo que
realizam os cultos num som que chega • Veículos motorizados com níveis de ruído não permitidos.
a incomodar, em particular nos dias das
• Aparelhagens musicais em automóveis a níveis agressivos (incluindo carros
vigílias que normalmente acontecem
escolares).
durante a noite.
• Obras que utilizam aparelhos com elevados níveis de ruído, muitas vezes fora
das horas normais de trabalho.

96 97
XII. a mitigação dos impactos da actividade humana e para a
Árvores amenização dos efeitos das cheias e das secas.
Nos tempos actuais, a arborização urbana é essencial para o
planeamento urbano, em termos da manutenção do equilíbrio
ambiental e sustentabilidade das cidades. Com efeito, a
vegetação urbana tem funções extremamente importantes,
tais como: propiciar sombra, purificar o ar, contribuir para
o aumento da biodiversidade, diminuir a poluição sonora,
constituir factor estético e paisagístico, diminuir o impacto das
chuvas, contribuir para o balanço hídrico, entre outros (Faria,
1971; Santos, 2001; Júnior, 2017). Para além dessas funções rela-
tivamente bem conhecidas, a vegetação urbana representa
um elo de ligação entre o homem e a natureza (Pivetta e
Silva Filho, 2002). O contacto com os espaços arborizados
pode diminuir percursores psicológicos da violência, como

REFLEXÃOSOBREOESTADODAS
a irritabilidade, além de reduzir a ansiedade, permitir o
relaxamento e reduzir o stress, proporcionando benefícios à
qualidade de vida da população urbana (Tian et al., 2011). Em
ÁRVORESDOSARRUAMENTOS tempo de pandemia, o bem-estar humano (psicológico e
físico) passa necessariamente por restabelecer essa relação

DACIDADEDEMAPUTO com a natureza.

N
A arborização da cidade de Maputo, ex-Lourenço Marques,
os últimos anos, as actividades humanas têm teve início no século XIX, quando se efectuaram as primeiras
exercido um impacto significativo sobre o ambiente plantações de Eucalyptus sp. que visavam, fun­damentalmente,
rural e urbano. Parti­cularmente nas áreas urbanas, a drenagem dos pântanos da parte baixa da cidade. Contudo,
esse impacto torna-se mais acentuado dado o só a partir de 1926 se começou a efectuar uma arborização
facto de as pessoas estarem, geralmente, física e/ou psi­ orientada da cidade, ao longo dos passeios (na altura ainda
cologicamente desconectadas da natureza (Dwyer et al., de terra batida) largos, e que conferiu (e ainda confere)
2000). Este aspecto poderá agravar-se nos próximos 30 anos, conforto e beleza à cidade. De 1926 a 1928, foram introduzidas a
dado que se espera um crescimento de 30% da população figueira africana (Ficus spp.) e a mafurreira (Trichillia emetica).
urbana, sobretudo nos países em desenvolvimento (Cohen, A partir de 1928, Lourenço Marques começa a ganhar novas
2006). Este aumento pressupõe o aumento de infraestrutu- cores com a introdução da acácia vermelha (Delonix regia) e
ras que possam acomodar a população em crescimento do jacarandá (Jacaranda mimosifolia), espécies com grande
e, assim, os espaços verdes poderão ficar comprometidos, presença na cidade, e que contribuem fortemente para a sua
caso o planeamento do crescimento urbano não os tome estética (Faria, 1971; Pimentel, 2012). Para além destas espécies,
em consideração (Mazetto, 2000; Duarte et al., 2018). Por foram introduzidas, posteriormente, Grevillea robusta, Hibiscus
outro lado, o aumento da frequência de ocorrência de tiliaceus, Eucalyptus sp., Senna siamea (acácia amarela),
eventos extremos (secas e cheias), associados às mudanças Tabebuia pentaphylla, Spathodea campanulata, Brachychiton
climáticas, impõem desafios adicionais de gestão urbana. discolor, Casuarina equisetifolia e a nativa Afzelia quanzensis
Neste contexto, a arborização - acto de plantar árvores (chanfuta), (Faria, 1971). No seu estudo efectuado na altura,
(nativas ou exóticas) em ambientes urbanos (Duarte et al., Faria reporta que, destas espécies, a acácia vermelha era (e
2018) - é vista como uma das medidas mais eficientes para

98 99
continua a ser) a mais abundante na cidade, conferindo-lhe Breve comparação de conceitos. Sociedade & Na­tura, Uberlância, 12(24):21-31.
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arruamentos, a componente verde da cidade de Maputo
compreende os espaços privados (jardins e vedações),
jardins públicos, hortas urbanas e vegetação semi-natural
(Pimentel, 2012). Este artigo centra a sua análise nas árvores
dos arruamentos sem, contudo, menosprezar a importância
dos outros espaços verdes, que igualmente merecem a
devida atenção. Pretende-se estimular a reflexão sobre os
desafios a serem superados para a valorização das árvores
e dos serviços por elas prestados e, ainda, contribuir com
algumas soluções para a melhoria da componente verde,
melhorando desta feita, o equilíbrio ambiental e qualidade
de vida dos citadinos da bela Cidade das Acácias.

REFERÊNCIAS
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sistemática. Todavia, é preciso salientar
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Maputo.
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d e v i d a . D i s p o n í v e l a t r a v é s d o s i t e : h t t p s ://j u s . c o m . b r/a r t i g o s/576 8 0/ palmente, entre outros, com a deficiente
ao longo das ruas da cidade. Contudo,
arborizacao-urbana-e-a-sua-importancia-a-quali­dade-de-vida.
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MAZETTO, D.A.P. (2000). Qualidade de vida, qualidade ambiental e meio ambiente urbano:
plantada há mais de 90 anos, e nunca munícipes.

100 101
Outro problema evidente, um pouco por arborização. É comum ver-se em épocas outros químicos), a urina pode causar referido na introdução deste artigo. Este
toda a cidade, é o dano provocado, pelas do ano, principalmente no período seco, doenças ou efeitos tóxicos às plantas. facto é observado em vários pontos
raízes de árvores adultas, à cobertura mas mais recentemente também no De tal forma, que é normal ver, em da cidade. O exemplo mais dramático
de cimento dos passeios, principal- período chuvoso, o corte de todos os muitas ruas da cidade, que as árvores é o da marginal, uma zona de beleza
mente, pelo facto de algumas árvores ramos das árvores. Esta é, sem dúvida, são pouco vigorosas (tortas e com cénica única e que, por um lado, ao ter
possuírem raízes superficiais, como uma prática não recomendável por ramificação assimétrica). Como não se sido reabilitada, não se deu a devida
é o caso da própria acácia vermelha não observar os princípios técnicos, sabe, exactamente, se este problema atenção à importância da vegetação
(Faria, 1971). Um maneio destas raízes nem o propósito para o qual as podas do porte das árvores defeituosas resulta para a contenção do avanço das dunas
(poda radicular) seria a alternativa para são feitas (ver a Caixa Técnica 2 sobre das urinas, das podas ou de uma e à protecção contra os ventos costeiros.
conter este problema. Em outros casos, técnicas de poda em zonas urbanas). O combinação de vários factores, é difícil Por outro lado, a falta da componente
os ramos das árvores invadem espaços resultado imediato é o aspecto de copa discernir a causa exacta, mas um estudo verde reduz, notavelmente, a sua beleza
de habitação tais como janelas, muros e assimétrica e troncos tortuosos que mais aprofundado seria interessante e cénica.
jardins, podendo reduzir a luminosidade apresentam a maior parte das árvores recomendável. Outra dimensão do problema que vale
das casas, atrair insectos e répteis, na cidade de Maputo. A cidade de Maputo tem crescido, nos a pena captar é a deficiente imple-
entre outros. Ainda relacionado com a Num artigo publicado pelo Jornal da últimos anos, a um ritmo acelerado mentação de políticas de valorização
invasão dos espaços, verifica-se que, Cidade a 1 de Março de 2021, levantou-se sendo, actualmente, a cidade mais da arborização urbana na cidade de
em geral, as árvores estão posicionadas o problema da falta de sanitários públicos populosa do País. Obviamente que Maputo e a escassez de acções públicas
a uma distância suficiente (~5-8 m) na cidade. Neste artigo, aborda-se o crescimento significa o aumento de e privadas voltadas ao aumento da
dos edifícios, o que contribui para facto de as árvores (e outros espaços infra-estruturas como estradas e arborização urbana com o objectivo de
incrementar a sombra nos passeios e verdes) representarem autênticos urinóis edifícios. Por si só, este aspecto não seria melhorar a qualidade ambiental urbana.
providenciar um valor estético à cidade ou até sanitários públicos. Para além do um problema, se fosse feito no âmbito A escassez de estudos científicos e de
(Santos, 2001). Casos há (por exemplo, cheiro nauseabundo que esta prática de um planeamento urbano integrado um corpo técnico especializado para
na Av. Filipe Samuel Magaia, na zona traz, atrai insectos como moscas e que considera o valor da componente orientar a arborização urbana de acordo
baixa da cidade) em que as árvores se mosquitos, bem como ratos. Isto, por verde (Santos, 2001). O resultado é que com as necessidades e especificidades
encontram a menos de 5 m dos edifícios, si só, é um atentado à saúde pública. as árvores são sacrificadas, dando locais são alguns dos aspectos que
o que leva à invasão de varandas Embora a adição de urina (humana ou espaço a edifícios, estradas, etc., sem demonstram a necessidade emergente
e janelas, pelos ramos, causando o animal) por si só não seja um problema ter em consideração a importância das de avanços nesta área.
efeito de sombreamento, nem sempre e possa até ter um efeito adubador árvores em ambientes urbanos, como
necessário. Este aspecto remete-nos à positivo, ao adicionar principalmente
importância do planeamento urbano Nitrogénio (elemento essencial à
que considera a organização dos vários
Oque se pode fazer?
nutrição vegetal), a aplicação directa
espaços. e constante traz, sem dúvida, efeitos Os problemas que se verificam na no relacionamento do citadino com os
A poda das árvores é uma acção de nefastos às árvores. De facto, estudos manutenção e gestão das árvores da espaços verdes. Ou seja, apostar numa
maneio muito importante na arborização, efectuados em várias partes do mundo cidade de Maputo poderão levar a uma educação cívica, moral e ambiental,
dado que permite: (i) a conformação (Hobbie et al., 2017) indicam que o pH situação de desequilíbrio ambiental com enfoque na importância de “plantar
da copa para obter um valor estético, elevado da urina pode queimar as urbano, com consequências nefastas e manter as árvores”, bem como na
e (ii) o controle da invasão de espaços raízes das árvores, podendo causar a para o bem-estar do citadino. Para necessidade de não destruir as já
pelos ramos e raízes. Porém, a forma morte ou deformação das mesmas. evitar que isso aconteça, a adopção existentes. Neste âmbito, programas
como estas podas são realizadas na Para além disso, se acompanhada de uma postura amiga do ambiente de educação e sensibilização devem
cidade de Maputo, é um exemplo de de elementos químicos (derivados, por parte dos munícipes e seus continuar a ser desenhados pelo
como decisões técnicas impróprias por exemplo, do consumo, pelo ser gestores é de carácter urgente. Assim, Município e disseminados através das
podem comprometer os objectivos da humano, de medicamentos, drogas e é importante uma mudança radical redes de comunicação social, painéis

102 103
espalhados pela cidade, centros de electrónicos e outros, aos visitantes (e minuciosamente o Regulamento da Postura Municipal da Cidade de Maputo, de
ensinos (creches, escolas e univer- citadinos) da cidade. Setembro de 1998 (MICOA, 1998), e garantir os recursos (humanos, financeiros e
sidades). Os pais e encarregados O tratamento adequado das árvores materiais) para a implementação dos aspectos administra­tivos e técnicos previstos
de educação desempenham um da cidade é igualmente importante no documento. Muitas são as vezes que, em favor de uma infra-estrutura, as
papel preponderante na educação para que elas cresçam saudáveis árvores são abatidas, para dar espaço a um edifício, estrada ou outro. Em outros
da nova geração de munícipes com e respondam aos objectivos do seu casos, os passeios da cidade são convertidos em parques de estacionamento,
uma “consciência verde”. Iniciativas plantio, o de providenciar os mais reduzindo a possibilidade de manter e expandir as árvores. A solução para estes
adoptadas num passado recente “Um variados serviços, sem interferir com problemas é, sem dúvida, um planeamento urbano que considere a integração do
aluno, Uma Árvore”, são relevantes, a vida quotidiana do citadino (invasão de­senvolvimento de infra-estruturas, com a manutenção e reposição das árvores
mas não podem ser desenhadas com de espaços e atraccão de insectos e outras componentes verdes. Uma das soluções seria a das “ruas-parque”, tal
perspectivas de curto prazo, mas sim de e roedores). Neste âmbito, o controle como acontece na Av. Kenneth Kaunda e partes da Av. Julius Nyerere, em que a faixa
forma sustentável, e que façam parte de pragas e doenças e a aplicação central é completamente verde, numa mistura de relva e componente arbórea.
do modo de vida da população urbana. de técnicas de poda apropriadas Muitas outras avenidas poderiam seguir este conceito. Em caso de necessidade de
A reposição sistemática e contínua das são cruciais para que as árvores se abdicar da componente verde para construir infraestruturas, deve-se adoptar
árvores velhas e/ou ausentes (abatidas se desenvolvam na sua plenitude, mecanismos de compensação justos, optando pela técnica de transposição ou
ou mortas) e o aumento dos espaços saudáveis e vigorosas. Os aspectos replantio (e acompanhamento) em uma área mais próxima possível da área retirada.
verdes na cidade de Maputo torna-se técnicos descritos na Caixa 2 são Finalmente, a gestão do trabalho de (re)plantio e manutenção das árvores da
um aspecto de carácter urgente e, ao importantes para a realização de podas cidade deve ser feita em coordenação com instituições académicas (institutos,
mesmo tempo, um desafio numa cidade saudáveis e adequadas ao ambiente escolas superiores e universidades) por forma a desenvolver pesquisas tendentes
em constante crescimento. Assim, urbano. Ao apostar em tratamentos à solução dos problemas da arborização urbana. Para o efeito, é necessário criar
sugere-se a realização de um inventário adequados, garante-se que as árvores subvenções de financiamento de projectos de pesquisa aplicada. Um dos estudos
das árvores da cidade e a identificação sejam capazes de suportar intempéries prioritários neste momento seria o de levantamento arbóreo nos arruamentos da
das zonas onde o (re)plantio deve ser (e.g. ventos fortes) e, assim, garantam Cidade das Acácias, tal como referido anteriormente neste artigo.
priorizado. A identificação de árvores e os serviços ambientais propostos sem,
os protocolos técnicos para o (re) plantiono entanto, comprometer a integridade
devem ser feitos em coordenação
com especialistas em arquitectura
do espaço físico que ela ocupa. Neste
processo, é importante que, ao se CAIXATÉCNICA01
paisagística e engenharia florestal, introduzir novas espécies (se diferentes
para que se garanta a reposição
de árvores seguindo os parâmetros
das que já são usadas na cidade), não
sejam seleccionadas aquelas que, por
Quantificação dos benefícios ambientais
técnicos necessários e garantindo o
seu valor estético. O programa de (re)
natureza, tendem a ter as suas raízes
superficiais e crescendo lateralmente e
das árvores: estudo de caso do campus
plantio deve ser acompanhado de uma
catalogação e criação de uma base de
expostas à superfície. Para as espécies
com raízes superficiais e que crescem da Universidade Eduardo Mondlane
dados robusta, capaz de providenciar lateralmente, o ideal será plantar em
informação relevante para a gestão das espaços abertos e arenosos, parques,
Sá Nogueira Lisboa, Margaret B. Holland & Almeida Sitoe
árvores e espaços verdes. Este tipo de jardins, ou outros que não tenham O Campus principal da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), localizado na
informação poderá igualmente servir nenhuma infra-estrutura de betão (ou cidade de Maputo, capital de Moçambique, tem cobertura vegetal arbórea sig-
propósitos turísticos, principalmente planificada), ou ainda efectuar a sua nificativa, dominada por diversas espécies nativas, introduzidas com capacidade
se estes forem disseminados através poda radicular. de gerar benefícios ambientais para os seus utentes. As árvores encontram-se
de brochuras, mapas, aplicativos Outro ponto não menos importante distribuídas em tipos de uso de terra, nomeadamente: jardim botânico, áreas
agrícolas, arruamentos, campos de desportos, jardins ornamentais e parques de
é a necessidade de se observar

104 105
estacionamento. Este estudo, conduzido em 2019, quantificou o real contributo das Podas rotineiras de desbaste não melhoram necessariamente a saúde da árvore.
árvores na provisão de sombra, na redução da poluição do ar (captura de dióxido As árvores produzem uma densa copa de folhas, necessária para sintetizar matéria
de carbono) e na beleza paisagística (diversidade de espécies). Os resultados orgânica (e.g. proteínas, lípidos, hidratos de carbono), utilizada como energia para
indicam que o Campus da UEM possui uma riqueza de espécies considerável, seu crescimento e desenvolvimento. A remoção da folhagem, pela poda, pode
de 140 espécies, com destaque para a mafurreira (Trichilia emetica), a acácia reduzir o seu crescimento e as reservas de energia da planta. Podas de grande
amarela (Senna siamea), a acácia vermelha (Delonix regia), a chanfuta (Afzelia intensidade podem provocar um stress significativo para a saúde da árvore. Há
quanzensis), demonstrando o contributo do Campus na conservação da bio- muitas outras considerações externas à árvore que fazem com que seja necessária
diversidade arbórea fora do seu ambiente natural. O estudo reporta ainda que a realização de podas, nomeadamente: segurança, extensão de espaço e com-
as árvores do Campus têm um papel relevante na redução de gases de efeito patibilização com outros importantes componentes da paisagem.
estufa, ao sequestrarem uma quantidade substancial de Carbono (7300 ton de
CO2 equivalente). A componente arbórea do Campus cobre uma área de 13.4 Quando se deve podar?
ha, sugerindo sombra disponível, apesar de a mesma se concentrar mais no
jardim botânico. Vários utentes recorrem ao jardim botânico para estudar, relaxar Na sua maioria, as podas que removem ramos enfraquecidos, doentes ou mortos
e contemplar a vegetação frondosa e diversificada. As estradas (passeios) e os podem ser realizadas em qualquer época do ano, com impacto mínimo sobre
parques de estacionamento são os espaços com menos quantidade de árvores, a árvore. De uma maneira geral, o crescimento e cicatrização das lesões são
cerca de 196 e 293 árvores, respectivamente, mas são importantes, ao propor- maximizados quando a poda acontece antes do início do período de crescimento
cionarem sombra para as viaturas. Estes resultados demonstram a importância (imediatamente antes do período chuvoso, i.e. Setembro­-Outubro). Algumas
de estudos do género, para avaliar o papel da arborização urbana na mitigação árvores tendem a “sangrar” quando podadas no início do tempo seco. Apesar de
dos efeitos das mudanças climáticas e na conservação da diversidade arbórea. não ser estético, este sangramento não produz efeitos negativos sobre a árvore.
Algumas doenças podem espalhar-se quando os ferimentos da poda permitem

CAIXATÉCNICA02
acesso aos agentes causadores de doenças pelo que, deve ter-se o cuidado de
proteger as árvores de ataques imediatamente após a poda. Podas de grande
intensidade em tecidos vivos, logo após o período de crescimento (Maio-Junho),
Apoda de árvores adultas devem ser evitadas, especialmente em árvores enfraquecidas ou stressadas.
Naquele momento, as árvores acabaram de utilizar grandes quantidades de
A poda é o mais comum entre os procedimentos de manutenção de árvores. energia para produzir nova folhagem e para o desenvolvimento de novos ramos.
Embora árvores em florestas cresçam bem apenas com a poda da natureza, A remoção de uma grande parte da folhagem nesse momento pode causar stress
árvores em ambientes urbanos demandam um maior nível de cuidados para para a árvore.
que as suas integridades estruturais e estéticas sejam mantidas. A poda deve
ser realizada com conhecimento da biologia das árvores o que, a não acontecer, Cortes adequados de ramos
pode criar danos ou até mesmo reduzir o tempo de vida da árvore. Esta caixa
técnica apresenta alguns aspectos que devem ser considerados para conduzir Cortes de poda devem ser realizados junto ao ponto de inserção do ramo no tronco.
uma poda adequada no geral. A parte de inserção (colar) contém tecidos do tronco e não deve ser danificada ou
removida. Se a inserção estiver associada a um ramo morto que vai ser removido,
faça o corte um pouco além do ponto de inserção. Nunca se deve cortar o colar. Se
Razões para se proceder à poda das árvores em ambientes urbanos
for necessário remover um ramo de grandes dimensões, primeiramente deve-se
Devido ao facto de que cada corte de poda tem o potencial de alterar o padrão reduzir seu peso. Para isto, faz-se um corte na face inferior do ramo a uma distância
de crescimento de uma árvore, nenhum ramo deve ser removido sem uma razão de 30 a 40 centímetros do colar. Em seguida faz-se um segundo corte na face
específica. Razões mais comuns para a poda são a retirada de ramos mortos, superior, diretamente acima ou a alguns centímetros após o primeiro corte. Isto
a melhoria da forma da copa e a redução de riscos de invasão de espaços. As remove o ramo, deixando um toco de 30 a 40 centímetros. Remove-se o toco
árvores podem também ser podadas para aumentar a penetração da luz e ar no fazendo um corte próximo à inserção. Esta técnica, chamada de técnica dos três
interior da sua copa ou no ambiente por baixo dela. cortes, reduz a possibilidade de danificar a casca da árvore.

106 107
Técnicas de poda XIII.

Drenagem
Tipos específicos de poda podem ser necessários para manter uma árvore adulta
em condições saudáveis, seguras e atraentes. Os tipos mais comuns em áreas
urbanas são:
Limpeza - é a retirada, da copa da árvore, de ramos mortos ou em vias de morrer,
doentes ou pouco vigorosos, ou que tenham junções fracas;
Desbaste - é a retirada selectiva de galhos e ramos para melhorar a estrutura,
propiciando a penetração de luz e a circulação de ar na copa da árvore. Um
desbaste adequado abre a copa da árvore, reduz o peso dos galhos pesados e
ajuda a manter o formato natural da árvore;
Elevação - é a remoção de ramos mais baixos de uma árvore para prover espaço
para construções, veículos, pedestres e permitir desfrutar a paisagem;
Redução - visa reduzir o tamanho de uma árvore, frequentemente para evitar
conflitos com redes eléctricas ou outros serviços públicos. A redução da altura
de uma árvore ou do diâmetro de sua copa será melhor realizada se os ramos
principais forem cortados na altura dos ramos secundários que sejam suficiente-
mente grandes para assumir a dominância apical (ou que apresentem pelo menos
1/3 do diâmetro do ramo podado). Diferentemente de uma redução drástica da
DRENAGEMPLUVIAL

A
copa, a redução ajuda a manter o formato e a integridade estrutural da árvore.
cidade de Maputo pode ser vista, de forma pouco
Quanto dever ser podado? rigorosa, como um plateau estendendo-se para
Norte, a partir do alinhamento das avenidas
A quantidade de tecido vivo que deve ser removida depende do tamanho da Eduardo Mondlane e do Trabalho, limitado, a Este,
árvore, da espécie, idade, assim como dos objectivos da poda. Árvores jovens pelo alinhamento da avenida Julius Nyerere e, a Oeste,
toleram a remoção de um maior percentual de tecido vivo que árvores adultas. pelo da avenida de Moçambique. A partir desse plateau,
Em geral, não mais que 25% da copa deve ser removido de uma só vez, e ainda a cidade desce a Este para o mar, numa encosta relativa-
menos para árvores adultas. A remoção de até mesmo um único ramo de maior mente íngreme; a Oeste, para o rio Infulene, numa encosta
diâmetro pode causar perdas significativas de copa e pode gerar uma lesão que com declive relativamente suave; e, a Sul, para o estuário,
a árvore pode não ser capaz de fechar. Deve-se agir cuidadosamente para que os numa encosta com declive médio apenas entre as avenidas
objectivos da poda sejam alcançados e, ao mesmo tempo, as perdas de ramos Vladimir Lenine e Siad Barre, zona que fica ladeada pelas
vivos e o tamanho dos ferimentos sejam minimizados. chamadas “barreiras”, da Maxaquene, do lado Este, e da
Malanga, do lado Oeste.
Vendo a cidade deste modo, fica claro que os caudais
que resultam de chuvadas intensas na cidade têm de ser
drenados em três direcções principais: para o mar, para o
rio Infulene e para o estuário. As zonas urbanizadas que se
localizam entre os sopés das três encostas e os destinos finais
– mar, estuário, rio Infulene – são as mais afectadas pelas
inundações. Para além dessas, todas as áreas de depressão

108 109
na zona alta da cidade também são atreitas a inundação. avenida Joaquim Chissano, bordejando na encosta e a avenida foi cortada em
As encostas são ameaçadas pela erosão e pelo risco de a vala de drenagem, e prolongando a quatro pontos, com crateras com mais
deslizamento de terras. E há muitas zonas dos subúrbios onde avenida Kenneth Kaunda até ao Infulene de vinte metros de profundidade que,
já não são precisas chuvadas enormes para que a água entre e à ligação com a Machava. para além de cortarem a circulação a
pelas casas. Na década de 1990, o sistema de partir do Campo Universitário da UEM
drenagem recém-construído funcionou para Norte, constituíam uma grave
Oque está a acontecer? satisfatoriamen­te. Começaram, porém, ameaça à zona edificada do bairro
a notar-se problemas derivados (i) dos Polana-Caniço, na zona próxima da
Se nos rep or tarmos às últimas Praça dos Combatentes, situação que
duas décadas do colonialismo em assentamentos informais em zonas
declivosas e alagadiças, indicadas nos se remediou com uma intervenção de
Moçambique, quando a cidade cresceu emergência de grande dimensão. A
de forma explosiva, tanto na “cidade do planos de urbanização ou directores,
como resultado da fuga para a cidade, reabertura desta importante avenida
cimento” como na “cidade do caniço”, a levou dezasseis anos a ser concretizada!
situação da drenagem pluvial era muito devido à guerra, e (ii) da falta de
má, e registaram-se graves acidentes manutenção e de limpeza das valas. A Baixa, pelas suas características
nas encostas. As valas tornaram-se depósitos de lixo naturais, é e será sempre uma zona
e, em algumas zonas dos subúrbios, problemática para drenagem. Mas
As inundações na Baixa eram frequentes. começaram a ser erguidas palhotas e, a grande zona verde que lá existia, a
Mas as inundações na Baixa e em uma mais tarde, casas convencionais sobre área de eucaliptos, que facilitava a
ou outra avenida eram meros incon- valas secundárias, inu­tilizando-as. Asinfiltração e a evaporação da água,
venientes, ao fim de algumas horas tampas de muitas sarjetas partiam-se tem vindo a desaparecer e o solo
o problema desaparecia. Em alguns e as sarjetas enchiam-se de lixo, está a ser impermea­b ilizado com
bairros dos subúrbios, pelo contrário, bloqueando a entrada de água. mais construção de grandes prédios.
uma chuvada forte transforma­va-se
num drama. A situação pior era na vasta A zona habitacional começou a Podemos, então, esperar inundações
área que se designava como “zona das alastrar-se para a planície costeira, maiores e mais frequentes na Baixa.
lagoas”. O crescimento da população e desde o Parque de Campismo até à Como resultado do melhoramento de
a imigração do campo para a cidade Costa do Sol, entremeada pelo mangal certas ruas e avenidas e sistemas de
fez com que essa zona insalubre fosse da Costa do Sol, com um misto de drenagem associados sem um ponto
ocupada com habitações precárias. casas de pessoas de baixa renda, com de entrega seguro, criaram-se outros
Todos os anos se reportavam tragédias, casas de padrão alto, zona tornada problemas, como no bairro Luís Cabral,
desde crianças que se afogavam até apetecível pela proximidade do mar, que não tinha infra-es­truturas de
famílias que perdiam os seus parcos mas não dotada de infra-estruturas de drenagem, e muitas ruas ficaram pro-
bens e, por vezes, as próprias casas. Logo após a Independência, em Janeiro drenagem. Esta componente tem vindo fundamente erodidas, criando situações
e Fevereiro de 1976, grandes e sucessivas a agravar-se, com o aterro e ocupação muito complicadas para os moradores.
O sistema de drenagem pluvial existente chuvadas lançaram o caos na zona do mangal com construção de Continua a intensificar-se a construção
limitava-se praticamente à cidade de das lagoas. A Holanda respondeu de habitação cara, o mesmo acontecendo de casas/barracas em zonas baixas e
cimento e associadas a algumas infra- imediato ao pedido de assistência do em parte das encostas. Infelizmente, o outras que foram declaradas impróprias
-estruturas ferroviárias, aero-portuárias governo, e financiou a elaboração do sistema de drenagem não cresceu de para ocupação humana. As inundações
e, mesmo aí, era insuficiente. Nesta zona, Plano Director e as obras de construção, modo a acompanhar a intensificação agora repetem-se todos os anos e
as situações mais complicadas tinham entre 1982 e 1989, que resolveram, em da ocupação do solo urbano.
a ver com a instabilidade das encostas, grande medida, os problemas existentes. a água mantém as casas e a zona
quando sujeitas a chuvas intensas, Além disso, promoveram o desenvolvi- Na avenida Julius Nyerere, em Janeiro circundante inundadas durante dias e,
dando origem a graves desastres. de 2000, registaram-se grandes erosões por vezes, semanas a fio.
mento urbano, com a construção da

110 111
Oque se pode fazer? associada ao imposto predial, como B – Medidas a médio e longo prazo
se faz em muitos países; (pressupondo que as medidas de curto
Temos de ter consciência de que não se electricidade à aprovação prévia do prazo continuam funcionais)
consegue recuperar num par de anos Município. d . impor, em todas as novas
aquilo que não se fez durante mais de construções, que seja obrigatório 9. a c t u a l i za r, p e r i o d i c a m e n te ,
3. Garantir e regular a limpeza das criar condições para a infiltração/ e implementar o recente Plano
vinte anos, mais ainda quando, tanto
valas de drenagem, e educar as reaproveitamento da água da chuva; Director de Drenagem e Saneamento
o Município, como o próprio Governo
pessoas para contribuírem para a (2016) para resolver, em definitivo,
enfrentam uma situação económica e
sua conservação. Se necessário, 7. nos bairros da periferia onde se
financeira difícil. As obras de drenagem o problema das inundações das
adoptar um sistema de multas e verifiquem situações mais graves e
que se revelam necessárias exigem zonas críticas como a Baixa, bairros
outros mecanismos dissuasores recorrentes de inundações, estudar
grandes investimentos e estes apenas Maxaquene, Aeroporto, Chamanculo,
para aqueles que usem as valas para como melhorar a situação com
surgem por via de doadores, como vai Costa do Sol, Luís Cabral e outros,
despejar lixo. pequenas obras de drenagem, tendo
acontecer agora com o Plano de Trans- com a criação de bacias de retenção,
sempre em atenção que a água
formação Urbana de Maputo, apoiado 4. Garantir o bom estado das sarjetas, valas, condutas, etc., mesmo que isso
drenada tem de ser encaminhada
pelo Banco Mundial, com um financia- reparando as que estão partidas e implique reassentar população;
de forma segura até ao seu destino
mento de cem milhões de dólares. verificando, antes, durante e depois final, não devendo a solução num 10. associar a construção de sistemas
Por isso, é preciso ver o que se torna das chuvadas, que elas não ficam local criar ou agravar o problema de drenagem pluvial à separação
possível fazer com recursos limitados, até com as entradas entupidas por num outro; das águas de esgoto, evitando a
que a situação económica e financeira resíduos sólidos, particularmente mistura das mesmas e a consequente
plásticos. 8. as encostas devem merecer uma
do país melhore subs­tancialmente. poluição, em especial nas novas zonas
atenção especial e monitorização
Para tal, sugerimos medidas de curto 5. I n s p e c c i o n a r, p e l o m e n o s a requalificar (bairros Chiango, Costa
constante por causa dos riscos de
prazo, exigindo relativamente pouco anualmente, o estado dos colectores do Sol, Polana Caniço A e B, e áreas de
erosão e de deslizamentos de terras,
investimento, considerando depois pluviais, garantindo a sua reparação, expansão, como Catembe;
que já aconteceram ao longo de
medidas mais ambiciosas para o médio quando necessário. décadas; deve-se garantir que o 11. ir avançando com o ordenamento
e o longo prazos.
6. Promover e legislar medidas que revestimento vegetal das encostas urbano nos bairros periféricos, com
A – Medidas a curto prazo não desapareça e sulcos e ravinas prédios de renda económica que
reduzam a impermeabilização dos
1. Não conceder DUATs e licenças solos, como sejam: que apareçam, devido à chuva, permitam densificar essas zonas
de construção em zonas impróprias, devem ser imediatamente tratados, com qualidade, ao mesmo tempo
a. cumprir a legislação de ocupação para evitar que cresçam e se tornem que se liberta espaço para zonas
sejam elas de mangal, zonas verdes,
dos planos de urbanização e da área problemas sérios. verdes e para in­fra-estruturas,
depressões de terreno, encostas,
a impermea­bilizar, impedir a redução incluindo as de drenagem.
zonas limítrofes de linhas de água ou
de jardins, parques e zonas verdes e
lagoas, e anular os concedidos nessas
garantir que não se fazem grandes
zonas se a construção não se tiver
obras impermeáveis no seu interior;
iniciado. Demarcar essas zonas com
árvores ou obstáculos e tabuletas, e b. descimentar passeios, introduzindo
instruir os 3 moradores à volta para relva ou, quando o estacionamento
respeitar, devendo as autoridades automóvel o exija, usar o sistema
municipais locais velar por isso. de grelha aberta, para facilitar a
infiltração da água;
2. Condicionar a expansão da
rede de abastecimento de água e c. incluir uma taxa proporcional à
área imper­meabilizada da parcela,

112 113
Um pouco de história As Barreiras
As encostas que fazem a transição Toda a encosta foi reconstruída, tendo-se
ABaixa da parte alta da cidade para a parte criado, nessa altura, a actual avenida
baixa (as “barreiras”), quer do lado da da ONU. Dois anos antes, também a
No primeiro Marginal, quer do lado da Baixa, devem encosta da Maxaquene estivera em risco
quartel do século ser olhadas e tratadas com cuidado; de deslizamento, devido à intensa chuva
XX, a urbanização já nos deram exemplos suficientes do ciclone Claude, motivando o arranjo
iniciou-se na parte do que pode acontecer quando se de toda a encosta e até uma redução
baixa da cidade e juntam grandes declives, desbaste da dimensão do parque Silva Pereira
foi progredindo do revestimento vegetal e solos cuja (actual Jardim dos Professores), para
p a r a a s zo n a s resistência enfraquece, quando muito diminuir o declive da encosta.
altas. A zona onde húmidos. Já depois da Independência, houve
passa a avenida
Em meados dos anos cinquenta do um deslizamento de terras que cobriu
25 de Setembro era
século passado, na encosta da marginal, parcialmente o campo de futebol do
um pântano.
abaixo da actual zona da Presidência Desportivo, mas a situação mais grave
Toda a zona da da República, a Câmara Municipal foi a que aconteceu com a avenida
Baixa que se tinha construído casas para alugar a Julius Nyerere, com as fortíssimas
estende para turistas e a seus funcionários. Num dia chuvadas em Janeiro de 2000. Os sulcos
Leste da avenida de chuvada forte, a encosta deslizou e ravinas abertas, sem vegetação e
Vladimir Lenine e soterrou parcialmente as casas; por não tratadas, tornaram-se caminhos
(e , n o s a n o s sorte, ninguém morreu. A encosta, como preferenciais da água, arrastaram solos,
sessenta, desde existe actualmente, é uma reconstrução até que a erosão regressiva atingiu a
o alinhamento com o declive suavizado. avenida Julius Nyerere, abrindo quatro
dos campos do enormes crateras de mais de 20 metros
Corria o ano de 1968, 11 de Fevereiro,
Desportivo), até de profundidade, e inutilizando o seu
quando nove horas de chuva
à praça Rober t uso entre o Campus da UEM e a Praça
intensa provocaram um gigantesco
Mugabe, era uma dos Combatentes, situação que só foi
deslizamento da barreira da Malanga, a
zona pantanosa reparada dezasseis anos depois.
partir da actual avenida Josina Machel.
que foi sendo
aterrada nas
primeiras décadas
do século XX, usando solos cortados da da cidade. Esta situação foi profun-
barreira da Maxaquene. Para manter a damente alterada nas duas décadas
zona seca, foram plantados eucaliptos deste século, com uma grande redução
em ambos os lados da avenida 25 de do eucaliptal e inúmeras construções
Setembro, para sugarem a água do solo em altura, impermeabilizando o solo,
e a evaporarem. Essa zona transformou- reduzindo muito a infiltração no solo
-se, durante mais de meio século, num e, sobretudo, a evaporação da água,
pulmão verde e numa zona de lazer exigindo, por isso, maior capacidade
de escoamento dos colectores.

114 115
XIV. contexto que, em 2017, durante a reunião da ONU, o governo
Mangal moçambicano se comprometeu a replantar 5 mil hectares
de mangal. Contudo, até 2020, somente foram restituídos 15
hectares.”
Para além do abate do mangal, já foram também emitidos
vários alertas sobre a contaminação fecal humana dos
mangais na cidade de Maputo, bem como o uso desses
locais para depósitos de resíduos sólidos. Esse é um cenário
recorrente em quase todo o país e noutras partes do mundo,
onde a consciência sobre a importância dos mangais ainda
é inexistente.

Oque está a
acontecer?
A protecção
e a reposição
do mangal na
Cidade de Maputo

DESTRUIÇÃODOMANGAL NA imp õ e grand es


desafios, em

CIDADEDEMAPUTONÃOPÁRA, particular numa


época em que há

APESARDOS VÁRIOS ALERTAS um crescimento


descontrolado da
ocupação de áreas
que deviam ser
Decréscimo da qualidade ambiental
protegidas, à luz de um desenvolvimento relatório do inventário florestal, essa área
reduz a qualidade de vida dos Munícipes
que não respeita o meio ambiente e a aumentou para 4550 Km².

S
qualidade de vida dos cidadãos. Apesar dos vários alertas, os números
ão vários os desacatos que afectam negativamente
Essa situação implicou a destruição de sobre do abate do mangal ao longo da
o meio ambiente, entre os quais se inclui o mangal,
mais da metade do mangal existente. Baía de Maputo, em concreto na zona
gerando preocupação em todo o mundo. No caso de
Moçambique, os avanços alcançados na preservação Na baía de Maputo, do mangal existente da Costa do Sol, têm vindo a crescer
do meio ambiente ainda nos impõem inúmeros desafios entre 1958 a 1991, constatou–se uma de forma rápida e descontrolada, sem
devido à tímida implementação das políticas ambientais que, redução de 8%, restando um equivalente que haja uma intervenção adequada e
a 9.776 hectares. objectiva até hoje.
em alguns casos, é feita com certa incoerência.
Um dos atentados contra o meio ambiente, para o qual se Segundo a União Internacional Para a Dos factores já identificados por detrás
tem alertado até hoje, é a destruição do mangal, que se Conservação da Natureza (IUCN), em do abate do mangal, nesta zona,
verifica em quase todo o país. Segundo dados da FAO, entre 2006, o mangal abatido ocupava 850 constam:
1997 a 2005, Moçambique perdeu cerca de 60.451 hectares de Km² e, três anos mais tarde, segundo o • construções desordenadas de
mangal, anualmente, o que corresponde a 18.2km². Foi neste diversos tipos, com diversos fins, como

116 117
condomínios, residências, estabeleci-
mentos comerciais que vão surgindo OPINIÕES DE PERITOS
a uma velocidade desenfreada;
Carlos Serra | Ambientalista
• uso do mangal para lenha; cmanuelserra@gmail.com
• depósito de resíduos sólidos;

• contaminação fecal humana; É importante referir que os mangais já constituem um


assunto da agenda política da nossa governação. Este ano
• depósito de restos de peixe. foi aprovado, pelo Conselho de Ministros, um documento
importantíssimo para a tutela dos mangais.
Oque se pode fazer? Um aspecto importante é que os mangais que nós temos,
Os mangais são de extrema relevância • deve-se parar com a venda ao longo da costa, além de serem o berço de biodiversi-
para a protecção; do meio ambiente, e ocupação de espaços para a dade e de estarem associados aos estoques pesqueiros e ao
dos recifes de coral, dos tapetes de ervas construção em zonas sensíveis, como sustento de muitas famílias costeiras, alimentam toda uma
marinhas e rotas de navegação, por é o caso da Costa do Sol; economia e são vitais naquilo que diz respeito à resiliência às
aprisionamento de sedimentos trans- mudanças climáticas; são também, uma formação defensiva
• é preciso manter intactas zonas muito importante para certos fenómenos climáticas, como
portados por erosão das terras altas;
onde o mangal foi abatido, a favor os terramotos, os ciclones, as inundações, que resultam da
são muito importantes na prevenção e
do Estado, para que se possa plantar; subida do nível do mar.
redução da erosão costeira, e fornecem
protecção contra os efeitos do vento; • a educação ambiental deve fazer Um outro aspecto muito importante que poderia dizer é que
auxiliam na conservação da diversidade parte do currículo nacional, através os mangais que estão localizados nas cidades, em territórios
biológica “fornecendo habitats, áreas de temas gerais; já existe um manual urbano ou periurbano, estão mais ameaçados que os
de desova, viveiros e nutrientes para do ambiente costeiro e marinho de demais mangais porque, além de estarem numa zona que
um número de espécies marinhas Moçambique, concebido para cons- é muito apetecida para efeitos de construção, são também
e espécies pelágicas, bem como, ciencializar os alunos das escolas o último reduto de população que não tem acesso à terra.
fornecem alimentos, medicamentos, primárias e secundárias; o manual Então, temos um duplo movimento feito, por um lado, por
combustível e materiais de construção. contém temas como: As dunas, Praias, quem pode e tem recursos e quer desfrutar de uma vista
Portanto: Mangais, Ervas marinhas, Corais, panorâmica, ou quer, de alguma maneira, fazer especulação
Tartarugas marinhas, Dugongos, imobiliária, construindo e vendendo casas; por outro lado,
• é preciso parar com o abate do
Golfinhos, Baleias; temos a população pobre que não encontra outra alternativa
mangal;
senão recorrer a áreas de mangal, para construir as suas
• reduzir as questões burocráticas no
habitações.
tratamento deste assunto urgente.
Isso é visível nas zonas do bairro Luís Cabral e, em relação
Em relacção aos ao primeiro exemplo, Costa do Sol e Chiango são exemplos
mangais, o país
mais do que suficientes para mostrar o que está a acontecer
tem uma costa
que tem formação com pessoas que têm recursos. Tudo isso está a acontecer
de mangais ainda à revelia do quadro legal, portanto a legislação é clara em
significativos, no
relação àquilo que pode ser feito na zona costeira, e há uma
entanto, sujeitos a
muitos desafios. proibição clara de construir sobre aquelas zonas sensíveis.

118 119
Regina Charumar | Ambientalista Caso 2:
rcharumar@gmail.com
Na zona da Costa de Sol e Chiango, estão
sendo construídos, em locais sensíveis,
O facto evidente é que vamos perdendo, diariamente, áreas
edifícios para diferentes fins que, na sua
imensas de mangais em todo o país, sem que haja acções
maioria, implicam o abate do mangal,
concretas de reposição dos mesmos.
dunas, entre outros recursos ambientais.
Algumas acções isoladas vão sendo realizadas por entidades
preocupadas com o meio ambiente e, infelizmente, o grosso
destas acções acontece uma e outra vez, sem nenhum
acompanhamento. Caso 3:
Há um compromisso assumido por nós diante de outros A contaminação fecal humana, bem
Os anos de trabalho países e da ONU, de que são necessários 5000 hectares de como restos de peixe em putrefacção
como ambientalista mangal e nada relevante neste sentido foi feito de então até constituem uma outra dor de cabeça na
fazem-me trazer ao presente. A maior dificuldade está também associada à
à superfície uma zona do mangal da Costa do Sol.
comparação do burocracia, desnecessária, das entidades responsáveis pela
antes e depois, de autorização das actividades de plantio e replantio de mangal.
vários locais onde
havia mangais pela É importante massificar a informação e educar o cidadão
cidade de Maputo, para que saiba e conheça a importância dos mangais, para
e esta comparação
pode ser feita por
evitar que mais mangais sejam deitados abaixo. Caso 4:
qualquer cidadão É possível desenvolver, construir e reconstruir, sem colocar em
para que perceba o
A construção de projectos de uma
ritmo da destruição risco os mangais, e é mais importante ainda preservar estes complexidade maior, como é a Casa
do mangal. ecossistemas tão importantes para a vida humana. Jovem, que foi feita em locais sensíveis,
teve um enorme impacto negativo
no Bairro dos Pescadores. Quando
chove, geram-se grandes inundações

Casos específicos a jusante, no interior do Bairro, criando


situações desagradáveis.

Caso 1:
No mangal da Praia dos Pescadores,
a devastação é visível, bem como a
poluição derivada do lixo. Redes de
pescas descartadas e lixo generalizado
vêm-se acumulando durante anos,
apesar dos esforços de voluntários,
como são exemplos de movimentos
como a Geração Consciente e a
Cooperativa Repensar.

120 121
XV.

Praias

LIXONAS PRAIAS DACIDADE


DEMAPUTOATINGEESTADOS
ALARMANTES
UMAINTERVENÇÃOURGENTEÉ
NECESSÁRIA

A
praia é um local de grande valor na vida das pessoas,
e propor­ciona grandes vanta­gens para a saúde, no
geral. Tem sido de grande relevância na recreação
das pessoas, sendo usada como espaço gratuito
de lazer, relaxamento e contemplação, bem como para a
prática de actividade física. Apesar disso, nem sempre a sua
utilização tem sido feita de forma racional e ponderada. A
partir dos anos 1970, cientistas de todo o mundo começaram
a alertar a sociedade e as auto­ridades para a crescente
acu­mulação de lixo marinho, com destaque para o plástico
em diversas praias, estuários, baías e águas oceânicas. Essa

122 123
acu­mulação deve-se, em grande parte, à deposição de decréscimo. Os resíduos sólidos deitados responsabilidade desta situação é dos
resí­duos domésticos e industriais, combustíveis derivados na praia não só impactam nas espécies próprios cidadãos, não se pode excluir
do petróleo e outras toxinas, com um impacto negativo de marinhas, mas também interferem o papel importante das empresas e
eleva­das proporções na qualidade do meio marinho e no negativamente nos banhistas, que das autoridades municipais, que têm
meio ambiente no geral. são obrigados a conviver com um patrocinado e organizado eventos na
Embora não haja ainda uma quantificação rigorosa do lixo ambiente nocivo ao seu bem estar e praia, muitas vezes sem os necessários
marinho, é consensual que ele traz prejuízos ambientais con­ higiene. Se é verdade que uma grande cuidados e obrigações ambientais.
sideráveis para a economia, a saúde pública e o bem estar
das pessoas. Acredita-se que cerca de 70% do lixo marinho OQue se Pode Fazer?
encontra-se no assoalho oceâ­nico, mais de 15% nas praias e
A limpeza das praias é um assunto permita a subsistên­cia de quem se
outros 15% flutuam na superfície. Isto traz prejuízos ambientais
com­p lexo, que só tem solução com dedica a esta actividade;
consideráveis para a econo­mia, o turismo, a saúde pública
uma visão integrada e estratégica • a fiscalização permanente e eficaz,
e o bem estar das pessoas. Assim, a gestão dos resíduos
que tenha em conta o contexto real. por pessoal preparado, de forma a
sólidos nas praias não é apenas de elevada relevância, como
Qualquer solução pontual e descon- que os utentes sintam os agentes
de grande urgência. como seus aliados, e não tenham
textualizada resultará necessariamente
medo deles;
OQue Está a Acontecer? em fracasso. Assim, e embora caiba
às autoridades municipais a liderança • a criação de locais vantajosos para
Estima-se que cerca de 12.5 milhões deste processo, todos os inter­venientes a venda de produtos alimentícios,
de toneladas de lixo plástico são têm de ser envolvidos e chama­dos à coloca­dos ao longo das praias;
deposita­das anualmente nas águas sua responsabilidade, incluindo o sector • um sistema de colecta de lixo, como
moçambicanas, o que se reflecte privado, comerciantes informais, forças a colocação de depósitos de lixo,
negativa e directamente nos recursos de segurança e os cidadãos em geral. eficiente e prático, que não elimine
a promoção do hábito de os utentes
marinhos e na quali­dade de vida das Cientes desta enorme complexidade, levarem consigo o lixo que produzem;
pessoas. atrevemo-nos a apresentar algumas
Tal como outras praias do país, as praias sugestões que têm como premissa • a auto-sustentabilidade das praias
da cidade de Maputo enfrentam sérios que a praia é um bem comum, e que através, por exemplo, da criação de
problemas de lixo. A areia está cheia de qual­quer plano só pode fazer sentido se negócios, cuja contrapartida, ao
gar­rafas de vidro e plástico, cacos de for realizado para que a praia seja usada, invés de cobrança monetária, seja a
vidro, plásticos e outros objectos não com tranquilidade e segurança, pelos responsabi­lização pela segurança,
perecíveis. Muitos utentes fazem-se obser vado nas diversas praias . munícipes. Neste sentido, sugere-se, ordem e limpeza nos sectores da
à praia com garrafas de bebidas, Repetidas vezes foram relatados casos em primeiro lugar, a implementação praia em que actuam.
artigos descartáveis, e deixam-nas de utentes que contraíram ferimentos de uma estratégia central, elaborada e São muitas as experiências de sucesso
no local, depois do consumo, ao que graves com objectos cortantes, na sua aplicada por todos os intervenientes, e deste tipo, pelo mundo fora. O contexto
se adicionam restos de comida. Uma maioria restos de garrafas deixadas na que inclua: específico de Maputo obriga a que os
elevada ausência de civismo por parte areia. Estes acon­tecimentos, atingem
particular gravidade nos momentos • uma acção eficaz e permanente de modelos adoptados noutros centros
dos cida­dãos, por um lado, e a ausência educação cívica, que inclua medidas urbanos não devam ser copiados sem
de estratégias de controlo e limpeza festi­vos, como a passagens do ano, pedagógicas acompanhadas de a necessária adaptação. A existência de
por parte das autori­dades, por outro, feriados e finais de semana. medidas coercivas; um forte comércio “informal” é um dos
contribuem simultaneamente para É assim que a qualidade das praias de • a organização do comércio aspectos do contexto muito importante
este estado de sujidade das praias. Maputo, do ponto de vista do utente, “informal” de forma realista, e que a ter em conta. Contudo, há muitos
Este fenómeno pode ser facil­m ente tem vindo a conhecer um acentuado países que conseguiram promover

124 125
uma boa convivência entre este tipo de em nosso entender, um perigo para que não são mais do que as atitudes que devemos ter para que o “outro” seja
actividade e a qualidade das praias. o nosso bem estar. A praia é um local res­peitado. Há o costume de se referenciar o conceito UBUNTU para este efeito,
Um Reparo Sobre Praia e Convivência privilegiado para “exercer” essa riqueza quando se refere ao continente Africano, algo que quer dizer que “eu sou por causa
cultural, sobretudo quando não se tem do outro”, ou “humanismo”.
Uma das grandes características da meios para outras actividades de lazer
população moçambicana é a sua que é o caso da maioria dos muní­cipes Ao contrário do que possa parecer, a eficácia de um programa de educação
alegria que, em muito, se deve aos de Maputo. Assim, um planeamento cívica depende do seu pragmatismo e, longe de preconceituados teóricos, deve
hábitos de convivência social carac- que pretenda conduzir a uma praia basear-se em conceitos práticos, ou seja, atitudes concretas como “não deitar
terizados pela con­versa, pela música limpa e saudável tem de, obrigatoria- lixo no chão”, “não provocar poluição sonora”, “cumprir as normas esta­belecidas”,
e pela dança, a que se associou a mente, ter em conta que não se pode para citar alguns exemplos.
prática desportiva. Embora se tenha circunscrever à adopção de medidas Um outro aspecto impor­tante é o da necessidade de essa educação ser realizada
de reconhecer que se assiste a uma repressivas. Parece possível estabelecer de forma abrangente, o que significa que não se pode circunscrever, por exemplo,
ausência de “civismo”, caracterizada um equilíbrio entre as necessidades às praias, deve ser incluída em programas de ensino e formação a todos os níveis,
por exageros e falta de respeito pelos lúdicas e o respeito pelos outros e pelo e ser também divulgada pelos órgãos de informação. Os professores, a polícia,
outros, pelo ambiente, frequentemente ambiente. Exige esforço, mas é possível e mesmo os governantes e, sobretudo, os encarregados de educação deverão
associa­dos a essa dinâmica cultural, e terá enormes vantagens, em todos os ser abrangidos por estes progra­mas. Em síntese, o que parece ter de ser feito é
a diaboliza­ção desta característica, aspectos da vida social e económica. (1) definir os comportamentos práticos, principais, que se pretendem estabelecer
essencialmente humana, constitui, e (2) estabelecer um programa generalizado que envolva, de forma con­sistente,
todos os sectores que mais impacto têm na forma­ção dos indivíduos, como sejam
os educadores, os jornalistas, os governantes, entre outros. A sempre necessá­ria

CAIXATÉCNICA01 “repressão” administrativa é importante. A verdade é que a atitude cívica só se


torna efectiva quando não a ter seja uma vergonha.

Educação cívica:
um elemento chave no processo Casos específicos
Muito se fala da Educa­ção Cívica, cuja definição depende de vários factores, entre Caso 1:
percepções e aspectos culturais. De forma geral, a Educação Cívica é um tipo de Há pescadores que, quando regressam da pesca, se desfazem dos restos de peixe
educação centrada no estudo e compreensão do que é con­siderado socialmente na praia, deixando o ambiente não confortável aos utentes.
aceite, baseando-se nos comporta­mentos que contribuem para a convivência
social, e que têm a ver com o respeito pelos diferentes direitos humanos, assim
como com o cumpri­mento das obrigações sociais.
Como qualquer elemento educativo, a Educação Cívica começa em casa, e
estende-se aos vários domí­nios sociais. Embora estes princípios gerais se apliquem
a qualquer sociedade, a per­cepção do que é uma atitude cívica varia substan-
cialmente de cultura em cultura. Assim, desenvolver uma prática de educação
cívica pressupõe estabelecer antecipadamente, os comportamentos social­mente
aceitáveis, e as atitu­des consideradas respeitadoras dos direitos dos cidadãos.
As campanhas de Educação Cívica que temos assistido parecem ser muito
pontuais, pouco claras e sem eficá­cia. O estabelecimento de um programa de
Educação Cívica carece de uma defini­ção clara e da selecção de con­teúdos

126 127
Caso 2: XVI.

Há muitos utentes que se fazem à praia com bebidas e comida, que deitam no Sanitários Públicos
chão. Assim, a praia fica repleta de garrafas e outros descartáveis não perecíveis,
colocando em risco os utentes.

Caso 3:
A pouca sinalização existente na praia parece ser pouco eficaz, e está colocada
em pontos não muito estratégicos.
HÁFALTADESANITÁRIOS
PÚBLICOS NACIDADEDE
MAPUTO

M
aputo, como todas as grandes cidades, carac-
teriza-se por um grande fluxo de pessoas em
movimento, que nela habitam, onde vão trabalhar,
ou vão tratar de assuntos correntes. Entre muitos
outros aspectos, pelo facto de milhares de pessoas se
movimentarem no espaço urbano, a existência de sanitários
é fundamental para a higiene pública. A inexistência de
sanitários obriga ao recurso a soluções que trazem, na maior
parte das vezes, problemas de saúde pública e atentados ao
pudor.
Para quem vive ou se desloca na e à cidade de Maputo, não
é necessária uma estatística específica para se constatar a
inexistência quase total de sanitários públicos. Um problema
que, sendo complexo, apresenta-se como necessitando de
urgente solução.

128 129
Oque está a acontecer?
Em consequência da quase inexistência
CAIXATÉCNICA
de sanitários públicos na cidade de
Maputo, as pessoas utilizam passeios, Ambientalistas dizem que a urina
muros e árvores, com todos os problemas
que isso causa, nomeadamente odores afecta a saúde pública
indesejáveis, prejuízos à saúde pública,
Entrevista com Educador Ambiental
danificação das árvores e atentados ao
pudor. Os educadores ambientais dizem que a urina afecta a saúde pública, trazendo
um mau cheiro para as vias públicas, contribuindo para o surgimento de várias
A qualidade do ar respirado pelos
doenças; defendem que a qualidade dos sanitários existentes influencia a sua
munícipes da cidade de Maputo
utilização por parte dos munícipes.
diminuiu bastante, devido à poluição
provocada pela urina e fezes espalhadas 1- Que impacto tem para o ambiente o facto de as pessoas urinarem nas árvores,
em muitas zonas da capital do país. Se o muros e contentores de lixo na cidade de Maputo?
centro da cidade tem poucas casas de R.: Estas acções geram impactos negativos para o meio ambiente, afectando o
banho públicas, nos bairros periféricos crescimento e desenvolvimento das árvores, contribuindo para factores como
nem sinal de algo parecido. Árvores e a erosão e perda de muitas árvores. A urina também afecta a saúde pública,
muros foram transformados em urinóis trazendo um mau cheiro para as vias públicas, contribuindo para o surgimento
e sanitas, pelos cidadãos. de várias doenças.
Em algumas avenidas, mais particu- 2- Como educadores ambientais, que acções vocês tem levado a cabo para
larmente na Guerra Popular, existem desencorajar esse tipo de atitudes?
sanitários públicos descartáveis, mas
R.: Como educadores ambientais, temos levado a cabo algumas acções tais como:
os cidadãos queixam-se de que a sua nauseabundo nos locais onde estão
sensibilização das pessoas sobre os impactos que a urina traz no meio ambiente;
limpeza deixa muito a desejar, facto instalados, e é possível ver urina a escorrer
educação dos munícipes sobre a importância que as árvores exercem no meio
que desencoraja o seu uso. Alguns no passeio.
ambiente, como seja o facto de as árvores ajudarem a reduzir a temperatura.
destes sanitários emitem um cheiro
3- Há poucos ou quase que não existem sanitários públicos na capital do país,
Oque se pode fazer? uma das desculpas usadas pelos munícipes para usarem as árvores como
mictórios. Como amigos do ambiente, já sensibilizaram o Município para olhar
Como todo o problema urbano, a dis- limpeza, aumentando o valor cobrado para este ponto? Como?
ponibilização de sanitários públicos pela sua utilização, (3) estabelecer R.: O Município está ciente dessa situação. A qualidade dos meios sanitários
não é de fácil solução. Contudo, ele é punições para os que prevaricarem influencia na utilização por parte dos munícipes, pois muitos sanitários apresentam
de extrema importância. As soluções e (4) passar os sanitários para gestão péssimas condições. Já se propôs a reconstrução de alguns sanitários em outros
exigem investimentos em dinheiro, privada. Embora a educação cívica locais da Cidade de Maputo e a sua devida manutenção.
equipamentos e capacidade de gestão, nos pareça fundamental, é importante
que nem sempre estão disponíveis. que a mesma seja acompanhada pela 4- Na sua opinião, como se pode combater este problema?
Algumas das propostas, não sem criação de condições objectivas, para R.: Este problema pode ser combatido através da construção de mais sanitários
controvérsias, são as seguintes: (1) que os comportamentos desejados públicos e da aplicação de multas para aqueles que são encontrados a urinar
aumentar o número de sanitários possam ser alcançados. na rua ou nas árvores. O Município deve fazer campanhas de sensibilização dos
descartáveis, (2) melhorar a sua munícipes, com o apoio dos educadores ambientais, para uma maior valorização
do meio ambiente e melhor qualidade ambiental nas vias públicas.

130 131
5- Acha que aqueles sanitários públicos móveis ao longo da Guerra Popular
deviam continuar?
R.: Olhando para a situação actual da Guerra Popular, aqueles sanitários
Caso exemplar
representam um atentado para a saúde pública, trazendo um odor muito forte Os sanitários públicos que se encontram na Praça dos Trabalhadores são
que a presença de contentores de lixo na região intensifica. Por essa razão, aqueles os únicos, de entre os que existem na cidade de Maputo, que estão sempre
sanitários deveriam ser reabilitados ou alocados em um outro lugar. limpos, e que os cidadãos usam com alguma tranquilidade.

Casos específicos
Caso 1:
Muros: é normal ver pessoas a urinarem
em muros de estabelecimentos de
ensino e não só, levando à queda ou
degradação destas vedações.

Caso 2:
Contentores: alguns contentores de lixo
na cidade de Maputo são usados como
urinóis, o que, misturado com o lixo,
potencializa o surgimento de doenças.

Caso 3:
Árvores: tem sido frequente as pessoas
recorrerem às árvores para urinar, o
que cria um mau cheiro e faz as raízes
apodrecerem.

132 133
XVII. problema de grande dimensão, medido pelos milhares de
Resíduos Sólidos toneladas produzidas diariamente nas grandes cidades.
Como colectar todos esses resíduos e o que fazer com eles
tornou-se um problema nada fácil de resolver.

RESÍDUOS SÓLIDOS:
UMPROBLEMAMUITOSÉRIO

N
o início dos tempos, os primeiros homens eram Oque está a acontecer?
nómadas. Moravam em cavernas, sobreviviam da
caça e da pesca, vestiam-se de peles e formavam A gestão adequada dos resíduos sólidos • cheiro nauseabundo nos locais em
uma população minúscula sobre o planeta. Quando urbanos (RSU) é um grande desafio que o lixo se acumula.
a comida começava a escassear, mudavam-se para para os países em desenvolvimento. Os municípios assumem a responsabili-
outra região e os seus “lixos”, deixados na natureza, eram Com o crescimento do espaço urbano dade da recolha e deposição do lixo em
decompostos pela acção do tempo. e a diversidade do lixo, o ambiente locais adequados, de modo a minimizar
nas cidades sofre alterações, dese- os impactos ambientais negativos. Esse
À medida que o homem se sedentarizou, começou a produzir
quilibrando o meio natural e criando é o caso da cidade de Maputo.
peças para promover o seu conforto e para tornar o seu
problemas ambientais, tais como:
trabalho mais produtivo. A descoberta do fogo e a invenção Quando a cidade começou a crescer
da roda foram marcos na evolução da humanidade a que • entupimentos dos sistemas de em ritmo rápido, após o fim da segunda
se seguiram progressos importantes na agricultura e na drenagem pluvial; guerra mundial, a Câmara Municipal de
domesticação de animais. O fenómeno da urbanização data
• atracção de vectores de doenças Lourenço Marques criou uma lixeira que
de milhares de anos antes da nossa era. se localizava aproximadamente entre a
incluindo ratos, mosquitos e outros;
Com o aparecimento da modernidade, do surgimento de avenida Acordos de Lusaka e a avenida
cidades com milhões de habitantes e com a emergente • infiltração de líquidos poluentes nos de Angola, não muito longe da actual
sociedade de consumo, o lixo, como antigamente se aquíferos; avenida Joaquim Chissano. Essa lixeira
designava, ou melhor, os resíduos sólidos tornaram-se um foi fechada e aterrada ainda no tempo

134 135
colonial, no início dos anos setenta, Há anos que o Município de Maputo • criação de incentivos a negócios Recentemente, o Ministério da Terra e
tendo sido construída uma estrada procura um local para substituir a complementares à cadeia de valor Ambiente reuniu com a sociedade civil,
asfaltada entre essas duas avenidas. lixeira por um aterro sanitário, tendo-se dos resíduos sólidos; académicos, sector privado e vários
Em sua substituição, foi criada, em realizado estudos para outros locais sectores do Estado, para partilhar o
• educação cívica;
1972, uma nova lixeira, numa zona até que finalmente se acordou, com conteúdo da proposta de regulamento
que era então despovoada, o Hulene, o Município da Matola, fazer, neste • proibição de queima de lixo nos que bane o uso do saco plástico, e que
adjacente ao aeroporto. O crescimento município um aterro sanitário para locais de deposição. se espera que venha a vigorar a partir
da população da cidade fez com que a servir as duas cidades. Infelizmente, de 2021.
zona se tornasse densamente povoada, esta decisão ainda não se concretizou,
vivendo actualmente cerca de cinquenta por falta de fundos para o aterro e para,

Casos específicos
mil pessoas no bairro do Hulene “B”. antes mesmo de iniciar a construção,
reassentar as dezenas de famílias que
A lixeira do Hulene cobre uma área de se estabeleceram no terreno.
aproximadamente 24 hectares. A altura Caso 1:
dos resíduos sólidos nela depositada O encerramento da lixeira do Hulene
varia entre os 6 e os 15 metros. Embora tornou-se ainda mais urgente depois Lixeira do Hulene: sendo o destino
haja muitas dificuldades em determinar do grave acidente ocorrido em 19 de da maior parte do lixo produzido na
a sua quantidade exacta, é estimado Fevereiro de 2018, quando houve um Cidade de Maputo, a lixeira a céu
que, em Maputo, sejam produzidas mil deslizamento de uma parte dos resíduos aberto do Hulene, com quase 50 anos
toneladas por dia de resíduos sólidos, dos sólidos acumulados, matando 17 pessoas de operação, teve o seu momento mais
quais apenas 60% são depositados na que viviam em casas na imediata negativo quando um desabamento
lixeira e sem qualquer tipo de tratamento. proximidade da lixeira. Apesar disso, o causou vítimas mortais, em Fevereiro
Os restantes 40% são depositados em aterro sanitário ainda não começou a de 2018.
lixeiras espontâneas, improvisadas em ser construído e, consequentemente, a
vários locais da cidade, e enterrados nos lixeira do Hulene continua operacional.
quintais dos subúrbios.

Oque se pode fazer? Caso 2:


Deposição de lixo: é normal ver
Torna-se necessário o desenvolvimento separação do lixo por categorias e
contentores de lixo a transbordar,
de uma estratégia integrada de gestão depósito em lugares apropriados
com os resíduos a serem queimados,
de resíduos sólidos, que envolva os para o seu tratamento e reciclagem;
ou constatar a não existência de
diferentes actores da sociedade, de
• descentralização da gestão dos contentores em algumas zonas da
modo a tornar o desen­v olvimento
resíduos sólidos para dentro das cidade, levando à criação de mini-lixei-
da cidade sustentável. Várias ideias
zonas onde eles são produzidos, os ras urbanas.
têm sido veiculadas para minimizar o
bairros;
problema, enquanto não se dispõe do
aterro sanitário como: • promoção do conceito de 3R, isto é,
Redução, Reutilização e Reciclagem,
• redução ou eliminação do uso de
acrescentando-se-lhe ainda um
sacos plásticos;
quarto R, a Recuperação;
• responsabilização dos serviços
públicos, empresas e famílias pela

136 137
Caso 3: XVIII.

E nt u p i m e nt o s d a s s a rj e t a s d e Paisagem Linguística
drenagem: m u i ta s s a r j e ta s d a
cidade encontram-se repletas de
lixo, contribuindo para agravar as
inundações, durante chuvadas fortes.

Casos exemplares
Homenagem aos trabalhadores que
recolhem o lixo: os trabalhadores
que recolhem o lixo, diariamente,
garantem, com o seu trabalho, a
higiene sanitária da nossa cidade.
A sua acção é determinante para
a Saúde Pública e nem sempre
PAISAGEMLINGUÍSTICADA
devidamente reconhecida pelos
cidadãos. Deixamos aqui a nossa CIDADE DE MAPUTO1
homenagem e agradecimento a

Q
Paisagem linguística urbana – o que é?
todos os trabalhadores deste sector.
uando falamos da “paisagem urbana” das cidades
Visíveis melhorias em algumas modernas, estamos, normalmente, a referir-nos aos
zonas: em várias zonas da cidade, é seus edifícios, ao traçado das ruas e avenidas, às
observável uma melhoria na recolha suas praças e jardins.
do lixo pela diminuição de contentores Na verdade, a “paisagem urbana” inclui uma outra dimensão
que transbordam. Um sinal do esforço que não costuma ser tomada em consideração, apesar de
que está a ser desenvolvido e que há fazer igualmente parte dela, e, sobretudo, apesar de estar
que felicitar. continuamente presente na vida dos cidadãos. Trata-se dos
diferentes tipos de textos que estão dispersos por todo o
Dia mundial da limpeza: em Maputo, espaço urbano, gravados nas placas das ruas, lojas e edifícios
como noutros pontos do País e do públicos, nos cartazes publicitários ou nas paredes das casas:
Mundo, decorreu uma campanha títulos das lojas, nomes das ruas, descrições de um produto
de limpeza, que mobilizou muitos ou de um serviço, etc. Esta escrita urbana constitui a chamada
voluntários, e serviu de sensibilização paisagem linguística dos habitantes das cidades que vivem
para os cuidados com o lixo. nas sociedades contemporâneas.
Através da paisagem linguística, mesmo que inconsciente-
mente, os cidadãos recebem informações sobre a história do

138 139
país e os seus heróis, sobre os produtos que podem adquirir, Português que designam um lugar, em que parece fundir-se
sobre os serviços que estão à sua disposição, e até sobre a a ortografia do Português com a das línguas bantu. (Foto 5)
possível política linguística em vigor e o valor que as pessoas Ainda a nível da linguagem, em textos escritos em Português,
atribuem às línguas. observam-se também alguns recursos estilísticos, que
A observação e estudo da paisagem linguística de uma parecem visar uma maior proximidade com os cidadãos,
cidade pode ajudar-nos a compreender melhor a sua sobretudo os mais jovens. Estão, neste caso, por exemplo,
dinâmica sociocultural, assim como os gostos e interesses o uso de expressões coloquiais, típicas do Português de
dos cidadãos, e até a sua diversidade linguística. Moçambique (“O que vais tachar hoje?”) (Foto 6) ou o
A paisagem linguística de Maputo é particularmente tratamento por “tu” dos potenciais compradores (“Tens 60
interessante por várias razões. Em primeiro lugar, porque, anos/ Terás o vigor…”). (Foto 7)
tal como muitas cidades africanas, trata-se de um centro Um outro aspecto interessante da paisagem linguística de
urbano implantado numa zona multilingue, onde converge Maputo reside no facto de nela se reflectir, de forma bastante
uma grande variedade de línguas: não só o Português e várias clara, o contraste entre a chamada “cidade de cimento”
línguas bantu – com maior destaque para o Changana e o e os bairros suburbanos. Este contraste manifesta-se, por
Ronga – mas também o Inglês devido ao facto de Maputo exemplo, na qualidade das placas e painéis usados para
estar numa zona de circulação de agentes económicos e de gravar os títulos das lojas, os anúncios sobre serviços, etc.
turistas dos países vizinhos. A este mosaico de línguas, veio Na cidade de cimento, além de as publicidades serem
ainda juntar-se, mais recentemente, a língua chinesa, fruto do devidamente autorizadas pelas autoridades competentes,
incremento das relações económicas de Moçambique com são usados materiais padronizados, que requerem um
a China. Todas estas línguas deixam marcas na paisagem investimento económico e até tecnológico considerável
linguística da cidade. Na verdade, até muito recentemente, as 1.
As fotos incluídas neste (Fotos 1a, 1b, 2, 5 e 6). À medida que se avança para a
artigo foram tiradas por
línguas bantu estavam praticamente ausentes da paisagem Manuel Guissemo, Filipe periferia, além de nem sempre terem a devida autorização,
Branquinho, Machado
linguística de Maputo, começando agora a ganhar, ainda que da Graça e @Ulica_bits. os títulos das lojas, os anúncios, etc. são frequentemente
Montagem de fotos de
timidamente, alguma visibilidade. Portanto, diferentemente do Maputo exibida na Exposição escritos nas próprias paredes (Foto 3) ou em materiais
que acontece em muitas cidades do mundo, em que é usada, “Português de Moçambique
no caleidoscópio” precários (Fotos 4, 7, 8 e 9), que requerem um investimento
em geral, uma única língua na escrita urbana, em Maputo, (2019-2020)
económico relativamente modesto.
para além dos textos escritos só em Português (Fotos 3, 5 e
7), há aqueles em que várias línguas se combinam, sendo
usados, normalmente, o Português e uma outra língua (Inglês,
Changana ou Ronga, Chinês). (Fotos 1a, 1b, 2, 4, 6, 8, 9)
Uma outra particularidade da paisagem linguística de Maputo
tem a ver com a ortografia da língua em que são escritos,
caracterizada por diferentes tipos de erros. Alguns destes
erros parecem ser devidos a falta de conhecimento, por parte
dos autores dos textos, das convenções ortográficas da(s)
língua(s) usada(s). (Fotos 3, 4, 9)
Há, contudo, casos em que se trata de “falsos” erros
ortográficos, isto é, em que as palavras não estão escritas
de acordo com as normas ortográficas, como um recurso
estilístico: veja-se, por exemplo, o uso do “K” em palavras do

140 141
142
Foto 4 Foto 3 Foto 2 Foto 2a Foto 1a

Foto 9 Foto 8 Foto 7 Foto 6 Foto 5


Parte D
MAPUTOE ARTE

143
1. POEMAS DE MAPUTO EMMAPUTOTEM
Sheila Jesuita
Em Maputo tem Em Maputo tem
saudade no rosto de quem parte aquela titia das Badjias
menina correndo no mercado com muitos fiosses na bacia
o rapaz dos ovos na paragem Maputo só sabe quem te vê

Em Maputo tem Ohooo Mamã faz matapa já cheguei


o Jardim Tunduro para fotos Ohooo Mamã faz Matapa já cheguei
Topita e Tatacho são amigos
meus camaradas meus queridos Em Maputo tem
chapa 100
MAPUTOCIDADE
Hortênsio Langa Em Maputo também tem Tia Zinha vem com tua magumba só
Xipamanine Chamanculo, de 100
Maputo Cidade Elixir do amor
Como tu não há Dá todo o calor a quem a ti chegou tem Maxaquene

Com toda a vaidade p’ra ficar tem a zona com a malta sentada lá Ohooo Mamã faz Matapa já cheguei
Teu beijo de flor no muro Ohooo Mamã faz Matapa já cheguei
Molhas os pés no mar
É doce de mel

Cidade surpresa Feitiço do amor


Dá todo o calor a quem a ti chegou
Quem não te quer cantar
p’ra ficar
BALADATRISTE
Se a tua beleza Carlos Maria
Tem tudo p’ra encantar As acácias floriam, Os lábios do negrinho sorriram
O índico é
e os machopes varriam a rua e perguntaram:
Uma janela aberta
Maputo As acácias tinham flores «Que mal fiz eu, menino?»
Aos olhos do mundo
U chonguile demais e os machopes a rua varriam «Que mal fiz eu?»
Há novas descobertas
Xilunguini e a carroça do monhé da fruta «Que mal fiz eu menino?»
Cidade surpresa
Quem te abraça não te larga mais passava lentamente O menino,
Quem não te quer cantar
Teu beijo de flor O negrinho sorriu nos grossos lábios. (O sol reluzia-lhe na face branca)
Se a tua beleza
É doce de mel O negrinho sorriu ergueu a mão.
Tem tudo p’ra encantar
e disse: «Que mal fiz eu, menino? O menino ergueu a mão

144 145
e o negrinho caiu. Veio a voz: que se preparam para cuspir na tua que este é ainda o eco estridente do
campa, ó Mataca, Chai
O negrinho caiu «Que mal fiz eu menino?»
as ordens de um Mouzinho boer até que Botha seja farmeiro e
e da areia ardente «Que mal fiz eu?»
De manhã quando me percorro Mandela Presidente.
na calma da manhã ensolarada «QUE MAL FIZ EU?»
em Maputo Então,
(era em Janeiro)
enfio ominosamente o cérebro numa com a raiva intacta resgatada à dor
competentissima paciência danço no coração um Xigubo
desembainho felinamente mais uma guerreiro
mentira diplomática e clandestinamente soletro a utopia
CIDADE
Carlos Cardoso e aguardo a lucidez companheira me invicta
leia
De manhã quando acordo a estomatologia não tem anestesia
nas acácias em sangue À noite quando me deito
em Maputo a chuva abriu dialecticamente mais
um buraco na estrada nos jacarandas estalando sob a sola em Maputo
o almoço é uma esperança. epidérmica do povo
e o Conselho Executivo continua não preciso de rezar.
Mãe tenho fome
desdentado de iniciativas. Já sou herói.
marido tenho bicha
e mil malárias me disputando a
vontade. De manhã quando acordo

De manhã quando acordo em Maputo


Porra para a vizinha que estoirou a
RONDADE INFÂNCIA
em Maputo Fernando Ganhão
torneira do rés-do-chão
o jantar é uma incerteza Da Malanga e os moleques às compras
Porra para o guarda que não ligou a
o serviço uma militancia política bomba quando veio a água até à longa estrada da Mafalala e os mufanas brincando com o lixo
do outro lado do sono incompleto
Porra para as cem gramas de carne que tem na direcção das Lagoas e o machope a varrer a estrada
e o chapa-cem um regulado apodrecidos a suavidade inclinada quanto custam? malimune?
impiedoso no silêncio desenergetico de daquele cajueiro morto Anda, dá a tua mão
no quatro b arra oitenta sem Komatipoort
as Mamanas nas palhotas fujamos no bairro onde tudo se
contra-argumento. mais as ó eme sed de efes
pilavam amendoim compra
e o soldado que ainda não ouviu dizer lembras-te da história do china
No bazar do Xipamanine
De manhã quando acordo que os passeios
onde dois punhados de camarões que tinha negros em salmoura?
em Maputo são lugares públicos
custavam um escudo
o vizinho já candongou o que me e os fulanizados exploradores de
e a cor dos olhos da vendedeira Passemos pelas Lagoas
roubou outrora

146 147
onde as mulheres negras se vendem quem a chamará? porque os meninos sujos da Malanga nós as ajudámos a encher com o
ao Bairro esforço
onde o contrapeso dos seios
os delinquentes precoces e ladrões o sangue a fome a tortura
é a carne de uma infância roubada Oh! aperta forte a minha mão
lá estão à nossa espera Assistimos ao espectáculo
e corramos pelos despejos do Forno fujamos daqui
os que partimos e em vez de pagarmos fomos pagos
procuremos de novo caixas de Havia caniços com buganvílias
Nada planeámos com a sua amizade!
fósforos estrangeiras e armadilhas de nembo!
coisas raras e sujas não houve promessas nem nos O espectáculo acabado
E a cabana da malta
deram a sua confiança teremos de sair
Raras?! na mafurreira do Pemba!
mas no íntimo talvez um ramo de flores
Lembras-te da nossa colecção E o ciclismo
esperavam um cartão
que jogávamos à parede? com a Flora a despir-se pra se deitar!
e nós desiludimos a esperança que «um que partiu saúda-os nesta hora»
Tudo era sujo Oh! mas fujamos lhes demos Mas tu
e estrangeiro! porque ali vem o cocuana nós esquecemos o dever imposto. aperta-me a mão!
Foi com o lixo dos outros e a negra macala com os seus sete Por isso fujamos Sob o nosso desespero
que brincámos. filhos
os que nos deixámos estar paira ainda o sol do nosso Bairro
e pode ser que se lembrem
apertemos as mãos até chorar Vamos sentar-nos na «esquina»
Vamos pôr-nos nus que lhes roubei mandioca
de vergonha em vergonha vamos combinar uma caçada com
e mergulhar na lama das Lagoas amendoins maçarocas
porque a vitória será deles nembo
e secar ao sol nos caniços verdes e talvez não gostem da minha
dos meninos sujos da Malanga ao um assalto aos Campos Vieira
Talvez trepar àquele coqueiro prenhe saudade Bairro uma ida ao futebol
de lenhos talvez tenham ódio
que morreram, sofreram ou simplesmente passear nas Lagoas
E os companheiros de ontem? raiva
durante centenas de anos Se eles nos sorrirem
O Libote à minha saudade
brincando com coisas sujas nós ao partir
talvez tenha perecido
raras estrangeiras diremos adeus com o coração morto
debaixo do machimbombo. Qual a razão
e as lágrimas que deixarmos
O Smith, o cabeça de ambulância por que deixei a alma porca
Nós fomos comparsas hão-de secar a cinza da nossa
há-de vir cabisbaixo da camionagem os dedos manchados de podridão?
as máscaras trágicas de vento memória.
carregado de óleo e amargura. Por que não fui eu livre e fiquei por lá?
E a Paulina Caminhei mares
a desfloradora da malta esqueci os meus camaradas de
à porta do compound ontem

148 149
MAPUTO135 ANOS 2. AARTE NARUA
Marcelo Mosse
No aniversário de Maputo, lembro-me da paisagem urbana que testemunhei
na minha infância de citadino maputense. Havia o Pigalle, o Txova Xita
Duma, onde se concentrava a nata amante música ao vivo, e jazz, as sex-
tas-feiras. A Casa Velha era um expoente de cultura e teatro. A galeria da
Associação Moçambicana de Fotografia acolhia vernissages das melhores
artes plásticas. O Berlengas eram um bar na Malanga, a Tendinha também.
O Carlos Cardoso andava a pé. Na Politécnica, em frente ao Self, jogava-se
futebol a valer. A Pastelaria Versalhes era icônica no Alto Mae. Ao lado do
Hotel Cardoso havia uma escadaria para a Baixa. O Caracol funcionava e
havia um Parque de Campismo. A cidade vibrava com seus bares. Muitos
não resistiam. O Tirol. A Flor das Avenidas. O tempo apagou me da memória
nomes doutros tantos. Ainda fui a tempo de ver algum cinema em sessão
de cineclube. O jornal Domingo era o tal, com a magnífica coluna Randzarte,
do Júlio Navarro. Mas a cidade! Mudou tanto. As referências de outrora estão
fugidias. A cidade cresceu. A requalificação da marginal foi genial mas a
Baixa continua desaproveitada. Maputo ainda não inventou uma rua sem
carros. A cidade continua gira, apesar do assassinato das acácias e da
privatização de passeios e outras coisas. Mas o pior da cidade mesmo é
a tamanha desproteção social e vergonha da polícia camarária na sua
constante empreitada de expropriação de meios de subsistência dos nossos
pobres urbanos de Maputo. A pobreza pinta a cidade de negro, apesar do
seu charme xilunguine.
MM cartamz.com

150 151
152 153
Parte E
PROGRAMADOS
CIDADÃOS DE MAPUTO

154 155
Estrutura Urbana do Município de
Maputo (PEUMM).

5) a conjugação e harmonização dos


planos de saneamento, água, elec-
tricidade, gás a cargo de entidades
fora da alçada do Município, de modo
a garantir que os serviços estejam
adequados ao crescimento que se
deseja;

6) a proibição de parqueamento nos


passeios.

2. Desejo II: Distribuição equitativa dos


serviços públicos no território da cidade

“POR UM CRESCIMENTO URBANO 2.1. Proposta de Acções Concretas


QUE GARANTA A QUALIDADE DE VIDA
DOS MUNÍCIPES DE MAPUTO”
7) que a requalificação do património
histórico-cultural não implique a

DESEJOS E ACÇÕES CONCRETAS QUE


entrega do mesmo a privados sem
que o interesse público seja garantido;

SUSTENTAMAS MEDIDAS URGENTES 8) que as instalações públicas que


já não são úteis, como quartéis e
Maputo, 19 de Agosto de 2015 outras que deixaram ou deixem de
funcionar, sejam reconvertidas em
instalações de utilidade pública
actualmente escassas, como escolas,
1. Desejo I: Construção planificada centros de saúde, arquivos de identi-
ficação, correios, postos de cobrança
1.1. Proposta de Acções Concretas de impostos, esquadras, parques,
museus, locais de desporto, centros
1) a desconcentração imediata da 4) a dotação das novas áreas de de cultura, etc;
construção; expansão da Cidade e, antes da
atribuição dos terrenos, de infra- 9) que a parceria público-privada
2) a proibição de novos edifícios em tenha como base o interesse público
-estruturas básicas tais como
zonas já com evidente sobrecarga; e que se pare de imediato com a
água canalizada, energia eléctrica,
3) o planeamento da expansão saneamento, vias de circulação e venda de património do Estado;
da Cidade de forma harmoniosa, espaços com os serviços públicos 10) que seja obrigatório incluir, nas
evitando densidades indesejáveis; diversos, previstos no Plano de novas construções, espaços de
utilidade pública;

156 157
11) que se incentive a construção em áreas desfavorecidas, contribuindo para 19) o cumprimento das recomen-
uma progressiva urbanização das zonas degradadas ou de elevada taxa de dações em relação à zona histórica
ocupação em construção horizontal, agravando, por exemplo, substancialmente da Cidade conforme o Plano de
as taxas de licença para novas construções em áreas já saturadas; Requalificação da Baixa, e a revisão
das recentes autorizações, com o
12) que se junte, ao valor da licença de construção, um imposto proporcional ao
cancelamento das que sejam um
valor do investimento, destinado a cobrir a ampliação de estradas, estaciona-
atentado ao mesmo;
mentos, redes de água e saneamento, rede eléctrica, etc., sendo mais elevado
nas regiões onde se pretende diminuir o índice de construção, e favorecendo 20) a criação de zonas de lazer junto
novas regiões da Cidade, para diminuir as assimetrias. do mar, devidamente regradas;

21) uma planificação urbana que leve


em conta o mar como riqueza estética
3. Desejo III: Criação e melhor distribuição de novos espaços verdes e cultural da Cidade.

2.1. Proposta de Acções Concretas


13) que a planificação urbana e sua operacionalização adoptem critérios 5. Desejo V: Limitação de horários e dias
urbanísticos que garantam o equilíbrio entre a densidade populacional e a de construção
disponibilidade de locais de lazer activo e zonas verdes, incluindo espaços de
desporto, pistas para bicicletas e caminhadas, e jogos recreativos; 2.1. Proposta de Acções Concretas
14) que, nas praças, parques e jardins, os sistemas construtivos adoptados sejam 22) a proibição da emissão de
mais adequados e interfiram o menos possível na paisagem urbana; a u t o r i za ç õ e s p a r a t r a b a l h o s
relacionados com construção fora
15) que se pare, imediatamente, com a ocupação de espaços verdes e recintos
das horas normais de trabalho de
desportivos, e se restituam os que forem possíveis, ou se encontrem espaços
forma permanente;
alternativos de compensação.
23) a fiscalização permanente do ruído
provocado por veículos motorizados;

4. Desejo IV: Preservação do património histórico, cultural e ecológico 24) a proibição de discotecas e
casas de eventos que não tenham
2.1. Proposta de Acções Concretas isolamento acústico;

16) a suspensão imediata da autorização de demolição de casas antigas de 25) o estabelecimento de um horário
arquitectura representativa duma certa época histórica, incluindo a demolição racional para autorização de obras
já autorizada; e outras actividades que produzam
ruído em zonas residenciais (julga-se
17) a suspensão imediata da autorização de ocupação da orla marítima com
razoável um horário das 8 às 18 horas,
edifícios sem que haja um plano de urbanização aprovado, que defina a
de segunda a sexta-feira);
finalidade do uso do espaço da marginal;
26) a aplicação da legislação
18) a suspensão imediata da autorização de construções que vedem a vista
existente que, no geral, se mostra
para o mar;
bastante actual.

158 159
6. Desejo VI: Acessibilidade e mobilidade urbana de veículos e pedestres, em 37) maior fiscalização das condições em que são deixadas as áreas públicas
particular com mobilidade condicionada depois de obras realizadas por empresas terceirizadas.

2.1. Proposta de Acções Concretas


27) a aplicação da lei e das posturas existentes, nas diversas áreas; O Grupo de Cidadãos Promotor da Petição manifesta a sua disposição para
colaborar, num espírito voluntário, para o melhoramento da situação actual,
28) o desenvolvimento de um programa efectivo de educação cívica que
que já se antevê perante o visível quadro das acções em curso no Município,
inclua acções pedagógicas e administrativas envolvendo a Policia Municipal,
não esquecendo que Maputo não pode ser vista como um caso isolado do País,
organizações da sociedade civil, escolas e universidades, que deverão ser
nem desarticulado das políticas de desenvolvimento dos diversos sectores
chamadas a educar e a dar o exemplo; estes programas não se devem resumir
representados a nível do Município e no País, em geral. Em última instância,
a campanhas, mas contemplar a inclusão de matérias no ensino normal a todos
esta intervenção pretende ser um contributo para uma Cidade Próspera, Bela,
os níveis, com maior incidência nos mais jovens;
Limpa, Segura e Solidária.
29) a exigência de padrão de qualidade nas obras realizadas em áreas de uso
público.

30) a criação de transportes públicos cómodos e em consonância com o nível


de vida dos munícipes;

31) a criação de espaços apropriados para o estacionamento de veículos em


locais de concentração de serviços, respeitando-se as normas de urbanização
na atribuição de terrenos para construção;

32) medidas de incentivo ao estabelecimento de escritórios, residências e


serviços públicos fora das zonas saturadas;

33) a desobstrução dos passeios destinados à circulação de pedestres (retirada,


para local apropriado, de veículos estacionados, vendedores de rua e infraes-
truturas construídas sobre os passeios);

34) incentivo à criação de zonas de comércio (meio-informal) nos bairros mais


afastados, de modo a desconcentrar o enorme número de vendedores que
afluem ao centro da Cidade, por exemplo usando taxas diferenciadas consoante
as zonas, e bem elevadas onde se pretende diminuir a sua presença;

35) criação de dias de mercado para produtos específicos em ruas que até
podem ser encerradas ao trânsito em dias marcados;

36) a exigência de uma largura mínima de 2,5 m para passeios pavimentados


em zonas urbanizadas, eventualmente sacrificando a dimensão dos talhões
atribuídos ou a serem atribuídos;

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