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Artigo Nº A023715A023715

AVALIAÇÃO IN SITU DE FUNDAÇÕES DE PAVIMENTOS E DE


CAMADAS DE SOLO TRATADO COM CIMENTO RECORRENDO A
ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS
João Mendes1, Silvino Capitão2(*), Luís Picado-Santos3
1
Instituto Politécnico de Coimbra (IPC), Instituto Superior de Engª de Coimbra (ISEC) - Coimbra, Portugal
2
IPC, ISEC – Coimbra & CEris, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa - Lisboa, Portugal
3
DECivil, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa - Lisboa, Portugal
(*)
Email: capitao@isec.pt

RESUMO
Este artigo apresenta os estudos de avaliação da fundação e duma camada sobrejacente em
solo estabilizado com cimento, as quais integram um modelo físico dum pavimento. Este foi
construído com o objetivo de apreciar as capacidades e as limitações de diversos
equipamentos ligeiros para a avaliação in situ das propriedades dos materiais, durante e
após a construção das camadas. As metodologias utilizadas incluíram a realização de
ensaios não destrutivos, e a sua interpretação, de modo a avaliar características mecânicas
dos materiais ou relacionáveis com estas. Foram utilizados o DIL - Defletómetro de Impacto
Ligeiro, o GeoGauge, e o Densímetro Elétrico. Complementarmente, utilizaram-se o Cone de
Penetração Dinâmica, conhecido por DCP, e o nucleodensitómetro de superfície (conhecido
por gamadensímetro). Além de uma breve descrição dos princípios de funcionamento dos
diferentes equipamentos, discutem-se os diferentes tipos de parâmetros obtidos e a
adequação dos equipamentos para a avaliação in situ dos materiais estudados.
Palavras-chave: Compactação, cone de penetração dinâmica, CBR, defletómetro de impacto
ligeiro, módulo de deformabilidade.

1. INTRODUÇÃO
A construção de fundações de infraestruturas de transporte, quer rodoviárias, quer
ferroviárias, envolve a utilização de solos naturais ou estabilizados com cimento. Durante o
processo construtivo, ou imediatamente após a execução das camadas, é necessária uma
adequada avaliação das suas propriedades mecânicas. Para isso, é particularmente útil dispor
de meios de avaliação de fácil utilização, mesmo em situações de difícil acesso de
equipamentos pesados, e que permitam obter rapidamente resultados suficientemente seguros,
para que os subsequentes trabalhos possam avançar.
A avaliação dos materiais que constituem as camadas construídas com aqueles tipos de
equipamentos ligeiros e de custo relativamente baixo, pode ajudar na antevisão do
comportamento dos materiais quando em serviço. O interesse advém ainda do facto de se
tratar de ensaios não destrutivos, realizados in situ, os quais são efetuados para as condições
reais de colocação dos materiais em obra. O modo operatório envolvido nos ensaios permite
obter resultados quase de imediato, sem danificar a estrutura do pavimento rodoviário ou
ferroviário e com pequena interferência no tráfego quando a via já se encontra em serviço.
Além disso, é útil dispor de informação que relacione as propriedades que podem medir-se in
situ com os diferentes equipamentos com a que se obtém em laboratório, quando se
caracterizam os materiais através de metodologias de uso mais corrente.
Este artigo centra-se especificamente nos objetivos referidos acima, concretizando a avaliação
in situ de propriedades de materiais que constituem a fundação e uma camada sobrejacente do
mesmo solo estabilizado com cimento. O programa de ensaios foi realizado numa estrutura de
um modelo físico de um pavimento rodoviário durante a sua construção.

2. EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO IN SITU


2.1 Defletómetro de Impacto Ligeiro
O DIL − Defletómetro de Impacto Ligeiro é um equipamento que permite avaliar a
deformabilidade de camadas do pavimento. Na Figura 1 representa-se o modelo da Dynatest
utilizado no trabalho que se apresenta neste artigo.

1
1 1- massa móvel
2- célula de carga
3- placa de carga 5
5 4- viga de suporte de
2 geofones adicionais 2
5- amortecedores
6 6- unidade de transmissão 4
de dados 3
3

Figura 1. Defletómetro de impacto ligeiro: modelo Dynatest 3031 LWD.

Este tipo de equipamentos é munido de uma massa com determinada magnitude (10, 15 ou 20
kg) que cai em queda livre durante o ensaio, ao longo de um varão de guiamento, sobre uma
placa circular de diâmetro conhecido, a qual está em contacto com a superfície das camadas a
ensaiar. A queda da massa sobre a placa faz-se de uma determinada altura fixa, produzindo
um impulso de carga, com duração da ordem de milissegundos, caracterizado por uma certa
magnitude que é medida por uma célula de carga. A aplicação da força no pavimento produz
neste uma deformação (deflexão) que pode ser medida através de um geofone, colocado no
ponto central da área carregada.
O objetivo é conseguir obter-se o módulo de deformabilidade equivalente da(s) camada(s)
ensaiada(s). A expressão (1) é a habitualmente usada para a determinação daquele módulo:

!. !!! ! .!.!
�!"# = (1)
!!

onde:
EDIL – módulo de deformabilidade equivalente (MPa); K – fator de rigidez da placa de carga
(K = π/2 – placa rígida; K = 2 – placa flexível; σ–pressão de contacto (MPa); R – raio da
placa de carga (m); �! – deflexão registada no geofone central (m).
No presente trabalho utilizou-se o valor de K referente à distribuição de tensões com base no
modelo de placa rígida, tal como preconizado por Mooney et al. (2009) para materiais
coesivos. Quando se usa a viga adicional, podem utilizar-se três geofones ao todo (um no

-2-
ponto central, um a 30 cm de distância e outro a 60 cm de distância). Neste caso, se a
deformabilidade das camadas subjacentes for suficientemente alta para que o acréscimo de
tensão resultante do pico de carga atinja uma profundidade suficiente, pode avaliar-se a
deformabilidade de camadas abaixo da superficial recorrendo a um processo de retroanálise.
Neste processo, efetua-se uma modelação numérica das camadas, atribuindo, de forma
iterativa, valores do módulo de deformabilidade aos materiais constituintes, até que a resposta
obtida analiticamente seja suficientemente ajustada às deflexões medidas com o equipamento.
O ensaio efetuado com este equipamento é rápido, demorando cerca de um ou dois minutos, e
o seu impulso tem uma duração variável, geralmente entre 15 a 40 ms (Neves et al, 2012). O
valor da força de impacto depende da massa que é utilizada e da altura de queda. No presente
trabalho efetuaram-se ensaios com as placas de carga de 150 e de 300 mm de diâmetro, tendo-
se utilizado as massas de 5, 10 e 20 kg, as quais permitiram aplicar forças de impacto
próximas de 5,5, 7,2 e 9,5 kN, respetivamente. Para cada uma das placas de carga utilizadas,
realizaram-se 3 impactos em cada ponto ensaiado, de modo a obter uma boa estabilidade dos
valores medidos, permitindo desprezar os valores relativos aos impactos iniciais quando os
mesmos apresentam variabilidade por corresponderem a condições de ajuste da placa de carga
à superfície do pavimento.
Para que seja possível obter melhores resultados, é necessário seguir algumas recomendações
para a realização dos ensaios. Pela sua importância, destaca-se a necessidade de garantir um
bom contacto da placa de carga e dos geofones com a superfície do material. Caso seja
necessário, dever-se-á criar-se uma almofada de areia de espessura muito delgada.
Recomendações mais detalhadas sobre o modo operatório podem ser consultadas, por
exemplo, na norma ASTM E 2835-11 (ASTM, 2011) e na CEN Workshop Agreement (CEN,
2008).

2.2 GeoGauge
O GG – GeoGauge (Figura 2) é um equipamento eletromecânico portátil, com capacidade
para medir alguns parâmetros de resistência dos materiais após a sua colocação. O
equipamento tem a forma de um cilindro, com uma altura de 280 mm, um diâmetro de 254
mm e um peso aproximado de 10 kg, sendo constituído pelos componentes indicados de
forma esquemática na Figura 2.

Figura 2. Aspeto do GeoGauge (modelo H-4140 da Humboldt), do anel de apoio e dos elementos que constituem
o equipamento.

-3-
O equipamento gera vibrações com frequências entre 100 e 196 Hz (com intervalos de 4 Hz),
as quais originam forças (com cerca de 9 N) que são transmitidas à superfície do solo,
produzindo deflexões nessa superfície da ordem de 1,27×10−6 m. As forças (F, em N)
produzidas durante o ensaio, bem como as correspondentes deflexões (δ, em m) induzidas são
medidas. As expressões (2) a (4) permitem o cálculo da Força (F), da rigidez (K) e do módulo
de deformabilidade (E) do material, conhecendo o seu coeficiente de Poisson (υ), e o raio
exterior do anel (R) que constitui a base de apoio do equipamento. O GG mede diretamente os
valores, faz os cálculos necessários e apresenta os resultados no monitor existente na parte
superior (Humboldt, 2007; Alshibli et al., 2005).
!,!! ! !
�= � (2)
!!! !
!
�= (3)
!
!.(!!! ! )
�=
!,!!.!
(4)

A qualidade dos resultados depende de vários fatores. Um dos principais aspetos que induz
erros na avaliação relaciona-se com o mau contacto da base de apoio do GG com o meio a
ensaiar. Outro problema que pode influenciar os resultados relaciona-se com a existência de
vibrações externas ao equipamento que atinjam o local de ensaio, sendo conveniente eliminar
vibrações próximas da zona de ensaio, tais como as produzidas pelas máquinas de obra. Se
necessário, deve colocar-se uma camada de areia, com aproximadamente 1 centímetro de
espessura para garantir o contacto do equipamento com a superfície do material (Humboldt,
2007).

2.3 Densímetro Elétrico


O densímetro elétrico (DE) tem como objetivo medir a baridade do solo, o teor em água e a
compactação relativa em solos utilizados como material de construção de aterros, fundações e
camadas de pavimentos (Humboldt, 2008).
O DE é um equipamento não nuclear (Figura 3) que utiliza uma série de medições elétricas
em conjunto com modelos do solo, para inferir as propriedades deste. Para a construção de
modelos do solo (calibração), o manual do DE (Humboldt, 2008) propõe a utilização de
valores de baridade húmida, baridade seca e teor em água obtidos a partir de ensaios com a
garrafa de areia e, opcionalmente, a determinação da baridade seca máxima pelo ensaio de
Proctor.

Realização de um ensaio com DE Estacas cravadas no solo e ligadas ao


(Meehan et al., 2011) sensor de leitura (Mendes, 2013)

Figura 3. Aspetos da realização de um ensaio com densímetro elétrico numa camada de solo.

-4-
O DE tem uma fonte de rádio frequência de 3 MHz no interior do circuito de medição, a qual
é aplicada ao solo através de sondas metálicas cónicas (estacas) cravadas no material a ensaiar
e ligadas por cabos ao sensor de medição. As sondas são colocadas nas extremidades de dois
diâmetros perpendiculares de uma circunferência, materializados no terreno pelo posicionador
circular do equipamento (Figura 3).
Os parâmetros dielétricos do solo, capacitância, C (em F), impedância, Z (em Ω), e resistência
elétrica, R (em Ω), medidos diretamente pelo GG são os utilizados para determinar as
propriedades físicas do solo. O equipamento pode utilizar um algoritmo do fabricante para
corrigir os valores dos parâmetros dielétricos devido ao efeito da temperatura (Meehan et al.,
2011). As expressões (5) a (7) são utilizadas pelo DE para calcular as grandezas físicas do
solo, baseando-se nas correlações [expressões (8) e (9)] criadas durante a geração dos
modelos para um determinado local de ensaio e tipo de solo (Meehan et al., 2011):
�! = �! + �! (5)
!
�! =
!!!
(6)
!!!!"#$#%
�� = (7)
!!!!"#

�! = �! . � + �! (8)
!
�! = �! . + �! (9)
!

onde:
m1, m2, b1 e b2 – constantes das retas de calibração; �! – baridade húmida (kg/m3); �! –
baridade seca (kg/m3); �! – massa de água/volume de solo (kg/m3); w – teor em água do
solo; CR – compactação relativa, referida ao ensaio de Proctor realizado para calibração (%).
A qualidade dos resultados que é possível obter com o DE dependem muito da bondade dos
modelos que é possível gerar para o solo que se pretende controlar (Humboldt, 2008). Meehan
et al. (2011) referem dificuldades na geração dos modelos associadas à variabilidade do solo
num determinado projeto de construção, por um lado, e à existência de uma gama de teores
em água in situ relativamente estreita durante o processo construtivo de uma camada, por
outro. Além disso, o algoritmo de correção dos parâmetros dielétricos do solo relacionados
com a temperatura parece influenciar pouco a qualidade do ajuste das retas de calibração, não
melhorando os resultados.

2.4 Outros Equipamentos Utilizados


O DCP – Cone de Penetração Dinâmica é utilizado para avaliar, de forma contínua, a
resistência in situ de camadas de solo e/ou granulares de pavimentos (Alshibli et al., 2005).
Crava-se a ponteira cónica colocada na extremidade da vara de guiamento, recorrendo a
sucessivos impactos da massa de 8 kg do DCP. Avaliando a penetração conseguida em função
do número de pancadas (índice DCP, em mm/pancada), é possível o CBR in situ do material,
utilizando, por exemplo, a correlação proposta na norma ASTM D 6951 – 03 (ASTM, 2003).
O GD – Gamadensímetro é um aparelho nuclear de utilização corrente para o controlo de
compactação de solos, através da medição in situ do teor em água e da baridade dos solos. A
radiação gama é emitida por uma fonte, à superfície ou através de uma vareta cravada na
camada a controlar, sendo transmitida através do material até ao receptor do equipamento.

-5-
3. CONSTRUÇÃO DO MODELO FÍSICO E CARACTERIZAÇÃO LABORATORIAL
DOS MATERIAIS
3.1 Construção do Modelo Físico
A parcela do modelo físico a que se refere o presente artigo, incluiu a construção da fundação
e de uma camada sobrejacente, formada pelo mesmo solo estabilizado com 4% de cimento, do
tipo II 42,5 R. No caso da fundação, escarificou-se o solo natural até 20 cm de profundidade e
recompactou-se de seguida. Para a construção da camada de solo estabilizado procedeu-se ao
espalhamento do cimento na taxa necessária, à mistura manual com o solo existente e à
compactação (Figura 4). Esta foi realizada com a sucessiva passagem dum cilindro vibrador
de 2 rolos, com 350 kg de massa total. A compactação decorreu com 10 passagens do
cilindro, usando a sua máxima potência de vibração (frequência de 60 Hz e amplitude de 0,35
mm).

Compactação do solo
estabilizado com cimento

Figura 4. Construção do modelo físico do pavimento.

3.2 Caracterização Laboratorial dos Materiais


Para aferir a bondade das avaliações efetuadas através dos ensaios não destrutivos realizados
in situ, com os diferentes equipamentos, efetuaram-se ensaios de laboratório convencionais,
quer para o solo de fundação, quer para a camada de solo tratado com cimento sobrejacente.
Nas tabelas 1 e 2 resumem-se as características dos materiais obtidas em laboratório.

Tabela 1. Resumo das propriedades do solo natural utilizado na construção do modelo físico.
Propriedades Resultado
Dimensão das partículas Cascalho (%) 20
Areia (%) 51
Silte (%) 20
Argila (%) 9
Massa volúmica das partículas
γs (Mg/m3) 2,65
sólidas
Limites de Atterberg Pasticidade (%) NP
Liquidez (%) 17 (concha de Casagrande)
22 (método da BS 1377)
Proctor (compactação pesada) γd (Mg/m3) 1,63
wot (%) 7,7
CBR: valor médio % 32,9
Classificação Unificada SM
AASHTO A-2-4(0)

-6-
4. RESULTADOS DOS ENSAIOS IN SITU
4.1 Avaliação da Fundação
Inicialmente, utilizaram-se os métodos tradicionais da garrafa de areia e do speedy para
avaliar a baridade húmida (γh) e o teor em água (w), respetivamente, tendo-se calculado a
baridade seca (γd) em função daqueles parâmetros. Para a avaliação da qualidade da
compactação através de métodos não destrutivos realizaram-se ensaios com o GD e com o
DE. Resumem-se na Tabela 3 os resultados obtidos.

Tabela 2. Resumo das propriedades do solo estabilizado com cimento utilizado na construção do modelo físico.
Propriedades Resultado
Proctor (compactação pesada) γd (Mg/m3) 2,20
wot (%) 7,7
CBRimediato: valor médio (sem imersão) % 57
Resistência à compressão axial MPa
0 dias 0,8
7 dias 2,46
28 dias 5,38
Resistência à tração indireta por compressão diametral MPa
0 dias 0,07
7 dias 0,32
28 dias 0,38

Tabela 3. Valores médios das baridades e do teor em água do solo de fundação avaliados in situ.
Compactação relativa (%)
Teor em Baridade seca (referida ao Proctor)
Equipamento
água (%) (Mg/m3) Calculado pelo Calculado
equipamento manualmente
Speedy / Garrafa de areia 8,4 1,74 -- 107
Gamadensímetro (à superfície) 9,4 1,63 100 100
Gamadensímetro (profundidade 100 mm) 8,3 1,83 112 112
Densímetro elétrico 7,7 1,53 92,9 94

Verifica-se que uma certa variação dos valores obtidos, havendo uma boa correspondência
entre os valores obtidos com o GD e os determinados por métodos tradicionais, considerados
fidedignos, embora mais demorados. Já no que se refere ao ensaio com DE, verifica-se que o
modelo de solo que foi possível gerar é relativamente fraco, porquanto a gama de valores de
w e γd disponíveis in situ para a calibração era muito estreita.
Para ser possível gerar de um “modelo de solo” mais ajustado para o DE seria necessária uma
calibração mais demorada, obtida para uma gama mais ampla de valores, tal como efetuado,
por exemplo, no trabalho realizado por Meehan et al. (2011). Contudo, por ser demorado e
trabalhoso, trata-se de um modo operatório pouco prático para efeitos de utilização corrente.
No que se refere à avaliação das propriedades mecânicas da fundação, realizaram-se ensaios
com DIL, GG e DCP. Os resultados dos dois primeiros equipamentos apresentam-se na
Figura 5, na qual se mostram os valores medidos para cada uma das 3 repetições do ensaio (1,
2 e 3) realizadas no mesmo ponto.
Os resultados do DIL referem-se à utilização de duas placas de carga, com 150 e 300 mm de
diâmetro, variando também, para cada ponto, o nível de carga aplicada em cada impacto (de
~5,5, ~7,2 e ~9,5 kN). Os módulos foram determinados com base na deflexão medida no
centro da área carregada.

-7-
A análise da Figura 5 permite verificar que os valores do módulo obtidos com a placa de
carga de 150 mm de diâmetro tendem a ser mais baixos que os obtidos com a placa de 300
mm, embora se verifiquem diferenças entre os dois locais, a e c, para os quais se apresentam
resultados. Em termos gerais, os ensaios efetuados com a placa de carga mais pequena, e
portanto com maiores níveis de tensão de contacto, resultaram em valores da ordem de 40 a
60 MPa. Para a placa maior, os níveis de tensão aplicada são bastante mais baixos, tendo-se
obtido valores de módulo entre 70 e 100 MPa. Tal como seria de esperar, os resultados
evidenciam um comportamento não linear do solo de fundação, apresentando módulos com
menores valores para níveis de carga mais elevados. Nalguns casos, verifica-se que o primeiro
impacto efetuado conduziu a valores do módulo relativamente diferentes dos obtidos nos
impactos 2 e 3 realizados no mesmo ponto, o que mostra a necessidade de efetuar vários
ensaios no mesmo local, de modo a obter um melhor ajuste da placa à superfície de ensaio.

DIL

Figura 5. Módulos de deformabilidade da fundação medidos com DIL e GG.

Num dos pontos ensaiados (ponto a), os valores do módulo de deformabilidade da fundação
obtidos com o GeoGauge são semelhantes aos obtidos com a placa mais pequena do DIL
(entre 40 e 60 MPa). No ponto b, os módulos determinados com o GG são inferiores, com
valores entre 20 e 40 MPa.
Os ensaios com o DCP efetuados na fundação, quase imediatamente após a compactação,
conduziram a valores de CBR da camada superficial compactada de 20,5, 32 e 30,6%,
respetivamente, para os pontos a, b e c. Estes valores mostram alguma variabilidade na
compactação conseguida na fundação, e corroboram, em termos gerais, a tendência de
variação dos módulos de deformabilidade obtidos nos mesmos pontos ensaiados com o DIL
(Figura 6), especialmente quando se utilizou a placa de carga de 150 mm de diâmetro (níveis
de carga de 20 e 15 kg). Os valores de CBR estimados com base no DCP são da ordem de
grandeza dos obtidos em laboratório (média 32,9%).

4.2 Avaliação da Camada de Solo Estabilizado com Cimento


Para a avaliação in situ de algumas propriedades físicas do solo estabilizado com cimento
utilizou-se apenas o GD, resumindo-se os resultados obtidos na Tabela 4. Por dificuldades de
cravação das estacas do DE, não se utilizou este equipamento naquela camada.

-8-
Figura 6. Módulos de deformabilidade da fundação medidos com o DIL e valores de CBR obtidos com o DCP.

Tabela 4. Valores médios da baridade seca e do teor em água do solo estabilizado avaliados in situ.
Equipamento Teor em Baridade seca Compactação relativa (%)
água (%) (Mg/m3) (referido ao Proctor)
Gamadensímetro (à superfície) 6,2 1,74 79,0
Gamadensímetro (profundidade 10 cm) 9,5 1,82 82,3

Observa-se que as condições de compactação diferem bastante do que se conseguiu em


laboratório, o que se traduziu em teores em água baixos à superfície (provavelmente por ter
ocorrido evaporação de água durante o processo construtivo), e acima do ótimo no interior da
camada. Além disso, a baridade seca que foi possível atingir é relativamente baixa, o que
estará associado a dificuldades de compactação, relacionadas com a exiguidade do espaço de
manobra do cilindro e com a heterogeneidade do teor em água no material.
A avaliação das propriedades mecânicas da camada de solo estabilizado, foi feita com recurso
ao GG e ao DIL, utilizando um modo operatório semelhante ao descrito para a fundação.
Resumem-se na Figura 7 os valores obtidos para 1 dia de idade da camada de solo
estabilizado com cimento.

Figura 7. Módulos de deformabilidade da camada de solo estabilizado (1 dia de idade) medidos com DIL e GG.

Observa-se que os valores do módulo determinados com o GG são bastante inferiores aos
obtidos com recurso a ensaios de carga efetuados com DIL, para todos os níveis de tensão
testados. Para o primeiro equipamento os valores variam entre 250 e 300 MPa. No caso do
DIL (placa de 150 mm), verifica-se alguma variação dos valores para as repetições do ensaio
números 1 e 2 (excetuando o caso da massa de 20 kg). Após o ajuste da placa à superfície
(repetição de carga número 3) os valores do módulo são da ordem de 750 a 950 MPa, quer
quando se utilizou a placa com 150 mm, quer quando se optou pela placa com 300 mm de

-9-
diâmetro. No caso do solo estabilizado com cimento, e para os níveis de tensão aplicados no
material, não parece haver evidência de uma resposta não linear do material, porquanto os
valores do módulo tendem a ser da mesma ordem de grandeza quando os ensaios de carga
foram realizados com placas e cargas diferentes.
Como se mostrou na Tabela 2, a resistência do material determinada em condições de
laboratório aumentou apreciavelmente com a idade dos provetes. Assim, aos 7 dias de idade
repetiram-se os ensaios com o DIL sobre a camada de solo estabilizado com cimento, de
modo a verificar se seria possível observar o esperado aumento do módulo associado às
reações de hidratação do cimento. Os valores do módulo determinados com base nos ensaios
foram consistentemente mais baixos que os obtidos com DIL para 1 dia de idade, como se
mostra na Figura 8.

Figura 8. Módulos de deformabilidade da camada de solo estabilizado aos 7 dias de idade medidos com o DIL.

Uma explicação possível para a redução dos valores do módulo medidos comparativamente
aos obtidos para 1 dia de idade é a retração do solo estabilizado com cimento ocorrida durante
os 7 dias após a construção da camada. De facto, as reações de hidratação do cimento podem
produzir aquele efeito, o qual pode ser agravado por uma evaporação excessiva da água do
material por ação duma temperatura ambiente elevada. Uma vez que o movimento da camada
se encontra consideravelmente impedido, geram-se internamente tensões de tração no
material, as quais podem conduzir à ocorrência de microfendas no mesmo, reduzindo o
módulo (embora as fendas não fossem visíveis à vista desarmada).
Embora o modelo físico se tenha mantido protegido da ação direta do sol pela instalação de
uma cobertura amovível, isso não evitou que o material ficasse sujeito às elevadas
temperaturas que ocorreram logo após a construção. Note-se que a camada foi construída
durante o mês de julho, durante o qual as temperaturas do ar foram muito elevadas.

7. CONCLUSÕES
No presente estudo, pretendia-se verificar a utilidade da realização de ensaios in situ,
recorrendo a equipamentos ligeiros e de custo relativamente baixo, para avaliar as
propriedades de fundações de pavimentos rodoviários e de camadas de solo estabilizado com
cimento. Pretendia-se que a avaliação incluísse a determinação de propriedades mecânicas
dos materiais.

-10-
Para que seja possível obter conclusões mais completas sobre os aspetos avaliados neste
trabalho, é necessária a realização de estudos mais alargados, quer no que se refere aos tipos
de materiais estudados, quer no que diz respeito ao número de ensaios efetuados. Mesmo
assim, com o estudo realizado foi possível chegar a algumas conclusões que se apresentam
nos parágrafos seguintes.
Verificou-se que a qualidade dos valores da baridade seca do solo, do teor em água e da
compactação relativa determinados com o densímetro elétrico (DE) depende muito da
bondade das retas de calibração geradas pelo equipamento, o que pode tornar os resultados
pouco fidedignos. Os valores medidos com o DE não comprovaram os obtidos por métodos
tradicionais e com o gamadensímetro.
A avaliação do módulo de deformabilidade do solo de fundação com o defletómetro de
impacto ligeiro (DIL) mostrou ser uma metodologia adequada e útil, embora a qualidade dos
resultados dependa das condições de contacto entre a placa de carga e a superfície, devendo
ter-se especial atenção a este aspeto. A obtenção de uma boa repetibilidade dos valores da
deflexão, após vários impactos, pode ser um bom indicador do ajuste. Verificou-se que os
valores de módulo de deformabilidade da fundação, medidos in situ e para condições hídricas
semelhantes têm a mesma ordem de grandeza para algumas condições de ensaio quando
obtidos com o DIL e com o GeoGauge (GG).
O DIL conseguiu mostrar a resposta não linear do solo de fundação, conduzindo a valores de
módulo mais altos quando se utilizou uma placa de carga maior e, portanto, aplicando um
nível de tensão consideravelmente mais baixo.
O GG é fácil de utilizar e permite obter resultados com uma boa regularidade. Contudo, não
parece acompanhar a evolução dos módulos obtidos com o DIL em todas as situações
estudadas, especialmente no caso do solo estabilizado com cimento, para o qual os valores
obtidos com o GeoGauge foram bastante menores. Além disso, a aderência entre os resultados
obtidos com o GG e o DCP para a fundação não seguiram a mesma tendência, ao contrário do
que se observou, em parte, entre o DIL e o DCP. Os resultados obtidos com o DCP ajustam-se
razoavelmente aos dos ensaios de CBR do solo realizados em laboratório.
Não foi possível concluir de forma cabal sobre as razões que explicam a redução dos valores
do módulo de deformabilidade do solo estabilizado com cimento com base nos ensaios de
carga com DIL. Embora possa haver razões associadas ao desenvolvimento de
microfendilhamento na camada ao longo do período de cura, a evolução verificada para os
valores do módulo carece de estudos mais alargados para ser possível obter conclusões mais
completas.
Finalmente, pode afirmar-se que o estudo permite concluir que a utilização do DIL, do GG e
do DCP, complementarmente ao equipamento nuclear habitualmente empregado, podem dar
um contributo útil para a avaliação in situ de propriedades mecânicas de camadas de solos e
de solos estabilizados com cimento, no âmbito da construção de pavimentos de infraestruturas
de transporte. A utilização do GG no caso de solos estabilizados necessita de ser estudada
com maior detalhe.

REFERÊNCIAS
Alshibli, K., Abu-Farsakh, M., Seyman, E., Laboratory Evaluation of the Geogauge and Light
Falling Weight Deflectometer as Construction Control Tools. Journal of Materials in Civil
Engineering, Vol. 17, No. 5, October 1, 2005.

-11-
ASTM, ASTM E 2835-11, Standard test method for measuring deflections using a portable
impulse plate load test device. ASTM International. West Conshohcken, PA, USA, 2011.
ASTM. ASTM D 6951-03, Standard Test Method for Use of the Dynamic Cone Penetrometer
in Shallow Pavement Applications. ASTM International. West Conshohcken, PA, USA, 2003.
CEN, Measuring method for dynamic compactness & bearing capacity with SP-LFWD (small
plate – light falling weight deflectometer), CEN Workshop Agreement CWA 15846.
European Committee for Standardization. Brussels, 2008.
Humboldt, Electrical Density Gauge, Product Manual H-4114C. Schiller Park, Illinois, 2008.
Humboldt, Geogauge User Guide - model H-4140, Version 4.1. Norridge, Illinois, 2007.
Meehan, C., Hertz, J., Using Electrical Density Gauges for Field Compaction Control.
Department of Civil and Environment Engineering, Delaware Center for Transportation,
University of Delaware, Newark, Delaware, 2011.
Mendes, J., Utilização do defletómetro de impacto ligeiro, do geogauge e do densímetro
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