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Estrutura, linguagem e estilo.

Classificação da composição poética:

Ode- Composição poética, dividida em estrofes simétricas, é uma composição poética para ser
cantada.

Classificação estrófica, métrica e rimática:

O poema Ode Triunfal tem 240 versos e divide-se em:

1ª parte: Os primeiros 4 versos – vontade de cantar, mas, confessadamente em situação de


não canto.

2ª parte: Do 5º ao 239º verso – Procura de identificação com tudo: máquinas, pessoas,


tempos, abertura para o exterior e anulação do eu pelo excesso de sensações, canto de todas
as atividades contemporâneas e o cosmopolitismo.

3ª parte: Último verso – espécie de fenda que representa uma confissão de fracasso e um
retorno ao ponto inicial, à febre.

Existe uma irregularidade estrófica;

Existe uma ausência de esquemas rimático e métrico (há versos que vão desde as cinco sílabas
métricas até às vinte e uma);

Diferentes registos de língua

Linguagem corrente- «(Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!)» (v. 26);
«(Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!)» (v. 58);

Linguagem Literária - «O burro anda à roda, anda à roda, /E o mistério do mundo é do


tamanho disto.» (vv. 50-51);

Linguagem marcada pelo excesso - «Poderão menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
/Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento/A todos os perfumes de óleos
e calores e carvões/Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!» .

Para resumir: Todos estes diferentes registos têm o intuito de aproximar linguisticamente a
poesia à realidade que exprime, bem como escandalizar, no caso da excessividade linguística.

Campos lexicais

Predominam os campos lexicais de «Indústria» / «Mecânica»:


«(Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferroondulado! / Ó cais, ó portos, ó comboios, óguind
astes, ó rebocadores!)».

Inovação poética
Rutura ao nível do conteúdo: o uso de palavras comuns ou vulgares;

O canto excessivo da civilização industrial - «a flora estupenda, negra,artificial e insaciável!» [v.


32]

A ousadia de abordar alguns aspetos negativos da sociedade - («Progressos dos armamentos


gloriosamente mortíferos!
/Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!» [vv. 39-40]).

Apresenta rutura ao nível da forma: irregularidade estrófica, métrica e rimática; o uso


excessivo da coordenação, ua
“cachoeira” de recursos expressivos (onomatopeias ousadas, apóstrofes eenumerações
exageradas);

Um discurso aparentemente caótico, a sugerir a exaltação descontrolada do “eu” lírico e a


ideologia de que uma nova realidade pede um novo tipo de poesia.

Estruturas rítmicas

Apesar do comprimento dos versos, predomina o ritmo rápido e frenético, sobretudo devido à


pontuação, às interjeições e às onomatopeias: «Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo,
ferreando,» (v. 24); «Ó fazendas nas montras! Ó manequins! ó últimos figurinos!» (v. 33); «Eh-
lá-hô» (v. 69); …  No entanto, há momentos em que verso longo confere um ritmo lento à
ode «Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, / E pedaços do Alexandre
Magno do século talvez cinquenta, / Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo
do século cem» (vv. 20-22);

Recursos expressivos/ linguísticos/ estilísticos

Interjeição: corroboram o louvor do sujeito poético à civilização mecânica e à sua contínua


agitação. As onomatopeias são uma tentativa do sujeito poético de imitar os sons das
máquinas, tentando exprimir a vida moderna: «(Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas! / Eh-lá-hô
elevadores dos grandes edifícios!”) »;

Apóstrofes: Tal como as exclamações, corroboram o estilo laudatório do poema e a exaltação


da indústria: «(Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! / Ó cais, ó portos, ó
comboios, ó guindastes, ó rebocadores…”)»;

Aliteração: «de ferro e fogo e força» (v. 16);

Anáfora: «Olá grandes armazéns com várias secções! / Olá, anúncios, elétricos que vêm e
estão e desaparecem! / Olá, tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de
ontem! (vv. 35-37)»;

Metáfora: «flora estupenda, negra, artificial e insaciável» (v. 32); «sou o calor mecânico e a
eletricidade!» (v. 100);

Enumeração: «Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! / Ó cais, ó portos, ó


comboios, ó guindastes, ó rebocadores!» (vv. 64-65);
Gradação: «Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento» (v. 30); «Ruído,
injustiças, violências, e talvez para breve o fim» (v. 71).

Onomatopeia: «r-r-r-r-r-r-r eterno» (v. 5); «Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! / Hé-la! He-hô!H-
o-o-o-o! / Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!» (vv. 105-106)

Interjeição: «Ó» (v. 34); «ah» (v. 26); «Olá»; «Eh» (v. 38), «Eia» (v. 100),

Empréstimo: «beton» (v. 38); «rails» (v. 101);

Neologismo: «submarinos» (v. 40); «aeroplanos» (v. 40); «árvore-fábrica» (v. 93);

Pontuação: Exclamativas e interrogativas: «Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade» / Eia!


E os rails

 e as casas de máquinas e a Europa!» (vv. 100-101); «Ao ruído cruel e delicioso da civilização
de hoje?» (v.76);

Parênteses: «(e quem sabe o quê por dentro?)», v.; «(Na nora do quintal da minha casa /
Oburro anda à roda, anda à roda […] / E havemos todos de morrer)», vv. 40-57.

Os parênteses funcionam como apartes, desabafos ou expressam reflexões do eu lírico;

Tempos verbais

Predomínio do presente do indicativo (concatenação de todos os tempos) «Nem sei que existo
para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. / Engatam-me em todos os comboios. / Içam-me em
todos os cais. / Giro dentro das hélices de todos os navios.» (vv. 95-98);

Construções sintáticas

-Nominais: «Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos!» (v. 33); …

-Gerúndio: «Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando»? (v. 24);«enroscando» (v.
43);

-Infinitivas: «Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! / Ser completo como
uma máquina!» (vv. 26-27); «Galgar com tudo por cima de tudo!»(v. 103);

O arrebatamento do canto é conseguido através de: …

Temáticas que constituem a matéria épica (a exaltação e a celebração da


civilização Moderna; a universalidade dos antropónimos e topónimos; acompressão no
Momento presente de todos os tempos, a integração de todos os tipos sociais na arte poética),
o arrebatamento do canto é conseguido através de vários mecanismos linguísticos e
estilísticos, nomeadamente: poema longo
comversos livres e amplos; grandiloquência (visível nas frases exclamativas einterjeições);
ritmo esfuziante e torrencial; exaltação épica do mundo mecânico
ecosmopolita (visível nas apóstrofes e enumerações); abundância de recursosexpressivos;
euforia épica (visível, por exemplo, nas onomatopeias).
Traços disfóricos

momento de quebra disfórica no poema:


«(Na nora do quintal da minha casa / O burro anda à roda, anda à roda, / E o mistério do
mundo é do tamanho disto. / Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente. / A luz do
sol abafa o silêncio das esferas / E havemos todos de morrer, / Ó pinheirais sombrios ao
crepúsculo, / Pinheirais onde a minha infância era outra coisa / Do que eu sou hoje...)» (vv. 49-
57) ; «(Maravilhosa gente humana que vive como cães) »; «(Orçamentos falsificados) »

Abordam-se os seguintes temas: a rotina diária e a dimensão do mistério do mundo; o


descontentamento da classe trabalhadora; a inevitabilidade da morte; a nostalgia da infância;

Simbolismo associado a esses momentos Intercalados nos devaneios frenéticos da ode, estes
momentos disfóricos representam o retorno do eu lírico à dura realidade: a rotina inalterável e
monótona; a incapacidade de atingir a verdadeira dimensão do mistério do mundo; o reverso
da medalha do progresso industrial e as duras condições de vida dos trabalhadores; a evasão
para a infância irremediavelmente perdida. Num poema de apologia impetuosa da força e da
modernidade, estes momentos incluem reflexões pessoais que denunciam a incapacidade do
sujeito poético de se integrar plenamente no tempo que exalta, refugiando-se na memória do
passado e avançando com observações de tonalidade pessimista que antecipam a sua fase
mais intimista e abúlica.

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