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CULTURAS E RELIGIOES Deus criou 0 mar, nbs criamos os barcos; Ele criou os ventos, nds criamos as velas; Ele criou as calmarias, nés criamos 0s remos. (Provérbio swahil) Um dos trés reis magos "Todos os anos acompanhamos a reafirmacio dos simbolos cris- dos ritos ¢ festejos natalinos. A montagem do pres aos atr pio relembra a homenagem de eis ou sibios vindos de diferentes cantos do mundo para reconhecer © filho de Deus nascido em Belém, conforme anunciado numa antiga profecia, Os ués seis ofereceram como presentes ouro, incenso € mira, Séo persona gens criados pelo evangelista Mateus. Bram eles Melquior, que vinha da Pérsia; Gaspar, que vinha da Kuropa, ¢ Baltazar, que vi- nha da Africa. Baltazar era um sabio negro, segundo alguns rela- tos. A histéria da origem desses personagens varia nas diferentes verses acerca desse Natal primeiro. Mas, mesmo assim, a presen. cade um rei negro é quase sempre mencionada. A imagem, com 0 pa zi medieval e Baltazar passou a representar a realeza de uma Africa. . Jano século XV, 2 noticia de um domi nio fabuloso governado por um sabio mesclou-se as histérias so: dos tempos, foi acrescida de simbologias do imaginario Um teino aftieano cris bre 0 Preste Joo, pago que fora convertido ao cristianismo pe- los jesuftas, no contato com os navegantes portugueses. Os rela- tos sobre ele falam de palicios com paredes de ouro macigo, que iluminavam como 0 Sol, sendo de prata ¢ pedras preciosas os ornamentos das mobilias, Seu figurino era de um requinte inigualdvel. Para as rezas em louvor ao Cristo, havia construido tuma capela do mais puro cristal De ole na Calter 53 Geralmente podemos observar, por meio da representa- cio dos trés reis magos, a eqiiidade entre os continentes. Todos (os monarcas ou sébios apresentam equivaléncia nos trajes e sim- bolos de realeza. Baltazar € a presenca cristi entre a diversidade de religiosidades que existem na Africa A Rainha de Saba Junto aos simbolos cristaos também encontramos os simbolos da religiosidade judaica. Davi teinara quarenta anos em Istael, sete anos em Hebrom € trinta e trés em Jerusalém, Ana, segundo interpretacé que cir culam na literatura crist, ao morter, transmitiu © trono 20 filho Salomio, que promot do Libano (préximo & regio de onde, 480 anos antes, os israclitas haviam sido expulsos). -u a construgo de um palacio na Floresta A rainha de Sabé, ou Makeda para os etfopes, soube da fama que Salomio tinha aleancado, gragas ao nome do Senhor, foi a Jerusalém para colocé-lo & prova com perguntas dificeis. Con dou uma caravana com 797 camclos carregados de especiarias, pedeas preciosas e quilos de ouro e cedro. Salomao, que se apaixo- nou por sua beleza negra, disse: jostaria que da nossa unio viessem descendentes, E entio, & beira do Nilo, um dos quatro rios vindos do Para- {so terrestre, Sabé, a esposa de Salo: do Menelique. Foi ele que assegurouadinas a terra dos deuses e das arvores perfiamadas, de onde descendem os judeus negros que vive na regio atualmente chamada Exi6pia. 10, deu A luz um filho chama- saloménicade Aksum, Dicas culturais: Falashas: judeus que vivem na Exi6pia, Pela Biblia falasha, sexi- am descendentes do rei Salor dam um judafsmo muito antigo onde no existe a figura do rabino. Considerando a leitura dos textos: Entreviste um religioso da comunidade judaica: para isso, organize uma lista de perguntas s bre judaismo, judeus negros e sobre a rainha de Sabi. 54 De ebb na Cabra A Eti6pia e os rastas Foi na década de 1930 que surgiu na Jamaica o movimento rastafati em torno de uma previsio atribuida ao ativista jamaicano Marcus Garvey: “Olhe para a Africa — quando um rei negro for coroado, dia da em 1930, Ras Tafari foi coroado imperador ¢ assumiu o titulo de Hailé Sclassié I. Ivagio estar prdximo.” Na Etiépia Garvey foi um dos intelectuais que formalizaram a corren- te de pensamento conhecida como pan-afticanista, cujo argumento principal demandava a soberania negra na Diéspora africana. © pan-afticanismo organizou congressos, entidades ¢ cor- rentes politicas, A Etiépia também era uma referéncia por ter sido pouco atingida pelo trafico, além de ter uma hist6ria de resisténcia a0 colonialismo, Esses elementos contribufram para a conexio entre afticanos na Di apontava para um continent por um rei africano. spora e um ponto na Africa — cujo novo simbolo afticano e toda a Diéspora reunidos Ampliando o saber: Diaspora é um termo de origem grega que significa dispet- sfo, Seu uso esteve primeiramente relacionado 4 experiéncia dos judeus que, sem patria, se espalharam pelo mundo sem perder a identidade cultural. Depois se estendeu para 0 caso dos arménios € dos africanos. A Didspora africana ocasionada pelo trafico pode ser atualizada nas formas culturais transnaciona que geram sen. timentos de unidade por uma identidade em comum, O antigo Estado etiope crist@o caracterizou-se por uma re~ sisténcia secular ao Isli. Durante o reinado de Hailé Sel: ve 0 incentive ao uso do amarico, por exemplo, como lingua oft- cial imperial, 0 que fortaleceu a tradicional Igreja Ortodoxa, se- guidora de uma tradigo cristi de um ramo muito antigo. No en tanto, o movimento rastafari (nome em homenagem ao impera- dor etfope sié hou- ‘is ‘Tafari) formula um sistema floséfico e religioso proprio. Foram adotadas as cores da bandeira da Etiépia, verme- Iho, preto € verde, ¢, como marca principal do movimento, os De ole na Calter 55 alco Ata Akomabu,eriado em margo de 1984, ‘Akomabu, a lingua fontalada na Replica do Bein, sigaiica acuta do deve morer cabelos dreadlocks, em contraste & aparéncia ocidental. Garvey ins- tigava a derrota do sentimento de inferioridade, exercendo uma espécie de dominio mental por meio de priticas politicas permeadas por um imaginitio biblico. A Cannabis sativa, masijuana para os jamaicanos, foi integra- da com sentido religioso nos rituais de veneragio a Jah, uma for- ma de Jeovd encontrada em antigas versdes da Biblia. Em meados de 1970, o movimento ganhou popularidade com o reggae de Bob Marley (1945-1981), que retomava essa filosofia de vida. Annova fé também encontrou abrigo no Brasil, notadamente em Sio Luis do Maranhio, a partir dos anos de 1970. Dica cultural: Durante todo o més de janeiro de 2005, aconteceram as ce lebragées dos 60 anos de nascimento de Bob Marley. Uma intensa programagio ocorreu na Eti6pia, reunindo mais de 200 mil fis. O evento foi apoiado pelo governo e pela igreja etfope, Unicef Unio Africana Rita Marley, vitiva do cantor, pretende transladar os restos mortais do esposo para a cidade de Shashemene, onde varias cen. tenas de rastafaris vivem desde que ganharam as terras do iiltimo imperador etfope, Hailé Selassié. No argumento de Rita, a Etidpia € 0 local de descanso espi ritual de Bob. Considerando a leitura do text Retire elementos para interpretacao dos sentidos envolvi- dos nas duas cangGes a seguir: Brilho de Maréfrica Escrete (MA, posta e compositor) © reggae 6 um som jamatcano Balanga o Equador Latino-americano dimmy Cliff, Bob Marley Negritude encantou No som da Jamaica, Sao Luis gegé-nagé (...) 56 De ebb na Caters Rasta Voice Edson Catende Ele se elevou da fumaca de Suas narinas eo mundo criou (...) Pra ser rastafart Tem que ser muito legal Nao bastam cabelos berlotas ‘Tem que ser muito real Amar as pessoas como Jah amou Andar pelo mundo sem alimentar rancor (...) Rastafari é uma atitude, um jeito de amar a vida Black man, Jamaica eh, Rasta Voice, Liberdade eh Mouros negros ‘As relacdes sociais entre os mundos afficano e arabe so milenares. Sob 0 aspecto religioso, a expansi levando a palavra de Maomé, pretendeu atingir © mais extremo do Bilad-es-Sudan, o pais dos negros. As Jihads, guerras santas, conquistavam cidades ¢, ao longo do tempo, as crengas softiam > islimica iniciada pelo norte, adaptagdes afticanas, A conversio ao islamismo muitas vezes foi trocada por protecio. Dicas culturais: Mussa, realizava legendarias peregrinacdes a Meca propagando o poderio governante do império Mandinga, entre 1312.¢ 1337, © 0 sucesso comercial ¢ intelectual de seus dominios. Para o Brasil também vieram africanos islamizados. Os mais conheci dos sfo os que viveram escravizados na Bahia, os malés, que se insurgiram contra a escravizacio através de uma acio coot- denada no ano de 1835. marcados pelos preceitos do islamismo em Pernambuco, Alagoas € Rio de Janeiro. Letrados pela pritica de leitura do Alcorio, eles se distinguiam pela altivez e insubmissio, inclusive no aspecto re- ligioso. ‘xistem também registros de africanos O sistema econdmnico de escravizar gente fez surgit especi: alistas na compra e também na venda da vida humana transfor- De ole na Cate 57 mada em mercadorias. As expanses politicas por entre os terri- t6rios afticanos resultavam em aprisionamentos de guerra que desde 0 século XVI adquiriram novas dimensées sociais. As instabilidades causadas pelas guertas fomentatam a es- pecializacto do trifico, que se apoiou, muitas vezes, em ideiios de conquistas religiosas. Santos catdlicos negros Desde que os portugueses passaram a transitar pelas costa aftica na, a presenga de habitantes negros na sociedade portuguesa se tornou freqiiente. Em Lisboa, a primeira irmandade de africanos foi instalada no ano de 1460, no Mosteiro de Sao Domingos: a irmandade de Nossa Senhora do Rosétio, em cujo compromis- so se inspiraram as demais. Ali os africanos escravizados reccbi: am o batismo passavam a ser inscruidos no cristianismo. No Brasil o batismo também foi uma pritica das freguesi- as durante a colonizacio. Delas decorreram as inimeras “irman. dades dos pretos”, que adotavam santos como Santo Elesbio Santa Efigén ia, ditos origindrios do reino etiope, Sio Benedito, Santo Anténio, Sio Martinho, e outros. A estrutura dessas ir mandades incluia titulos de nobreza, eleicao de teis ¢ rainhas, cat- gos exccutivos ¢ agremiacdcs festivas chamadas reinados. Da sede dessas congregacdes saiam as Folias, que tomavam as ruas com 0 mesmo fervor devotado aos oragos das igrejas. Os Maracatus € as Congadas sio folguedos expressivos da identidade negra dessas confratias, respuardando um imaginitio sobre Africa que da miisica, da danga, etc. As irmandades de dos Remédios, de Nossa Senhora do Carmo, do Senhor Bom relacionado 4 realeza, cortejo, presenga da corte, »ssa Senhora Jesus, da Redencao dos Homens Pretos, da Boa Morte ¢ dos Mar- tirios reuniam africanos refazendo identidades. ‘A possibilidade de conquista da alforria parece ter sido, no entanto, um forte motivo para esse tipo de associagio entre os “pre tos”, uma esfera daquele cotidiano. Como confrarias estabelecidas, 58 De ebb na Caters cram capazes de oferecer alternativas para o escape legal dentro do sistema de escravidio. Formas de financiamento de alforrias possibilitavam a compra da liberdade aos filiados da congregacao. Sob esse ponto de vista, pode-se conhecer um aspecto da religiosidade catolica da populagio negra ainda escravizada e de seus descendentes no Brasil. As confrarias, aparentemente, seguem regras de hierarquia e distingio proprias do mundo eusopeu do Antigo Regime, mas, na verdade, recriam formas para expandir convivios sociais, seja pela pritica religiosa e festiva, seja pela administragio cconémica ¢ politica. Considerando a leitura do texto: A Irmandade de Nossa Senhora do Ros Pretos de Sao Paulo foi constituida em 2 de janeiro de 1711. Se rio dos Homens que existiu alguma igreja s6 para escravos em sua cidade? As irmandades do Rositio existem até hoje, espalhadas por todo o Brasil. Vale a pena conhecer a hist6ria de cada uma delas. O culto & Maria requer a recitacio do rositio como forma de me- ditagdo, mas as atividades extrapolaram os cultos religiosos. As irmandades assistiam os enfermos ¢ auxiliavam nos enterros, aju- davam os mais necessitados ¢ até os presos. Tecendo afro-religiosidades no Brasil Candomblé era o nome dado as manifestagdes dos cultos de ori- gem africana na Bahia, sobretudo, a partir do século XIX. As ceri- ménias de mestno géneto recebiam o nome de Xangé no Recife, macumba no Rio de Janciro, Tambor-de-mina, no Maranhio ¢ Batuque, em Porto Alegre. Mais especificamente, os tetreitos baianos desenvolviam 0 candomblé nagé-queto, de origem ioruba, Os titos jeje remetiam & cultura jon, vizinha da cultura ioruba. Mas havia também o tito angola, que apontava para uma origem bantu. Todas essas divisdes resultaram em um dinamismo préprio das religides afticanas re- De ole na Calter 59 (08 ors sto avndades do pantedo luda. Essa es ‘eur rligosa se organiza om tomo do ordulo 68 It sistoma de aivionag que contém 256 ods Con- tos mice rovladores dos sogredos que revilalzam orga da natura No pantsio Fon, grupo étrico da regido do Benn, as ‘ivindades so chamadas de voduns. Bantu um ormo curhade peo Ingists alms WH Blak, em 1875, para se 213 aaslingues aicanas do sul do continents Sto inimeras as ormas de relislosidade nessa grande fertensdc cultural. Porm, a cvingedas bantu mai co Iacidas no Bras soos nqucee. criadas no Brasil. Essas classificagdes, segundo os modelos dos ritos, nfio deixam de report: A idéia de nagdes africanas. Considerando a leitura do texto: Procure 0 CD do cantor ¢ compositor Caetano Veloso com a misica intitulada Milagres do Poe. Observe na construgio da letra © tema proposto, Examine as estrofes. Escolha trechos da letra € proponha uma interpretacio sobre religiosidade africana no Bra- sil A letra da canio Milagres do Povo fala que “Oju Obi ia li e via”, Oba na lingua ioruba quer dizer rei ¢ Ojy, olhos. O grupo étnico ioruba vive em uma parte da Nigéria, no Togo e no Benin. Isto porque a divisio politica resolvida por um tratado curopeu no corresponde & divisio cultural das etnias africanas. Entre os ioruba existem os sacerdotes de If, orixé que preside a adivi nhagio. Esse sacerdotes possuem © dom de ver 0 destino das pessoas 20 consultar 0 oriculo, 0 opelé de Ifa, um colar feito de carogos presos por uma corrente. Esse olhar ioruba pode revelar um complexo conjunto de mitos que narram episédios da vida dos orixas. Neles, esto a ori- gem, as caracterfsticas, as qualidades ¢ fraquezas das divindades. Essas narrativas foram passadas através das geragGes ¢ contém uma sabedoria singular na interpretacio da otigem dos tempos € da propria vida do consultante. Orixis sio forcas da natureza. E cada pessoa tem uma na- tureza dentro de si— a forca do otixé. Oxum é a divindade das Aguas doces, é menina quase sempre dengosa, dona da beleza e da fertilidade. J4 lemanjé € orixa dos reinos das aguas salgadas, & a dona do mar ¢ mie dos orixds, figura feminina madura, mac nutridora. Oia € 0 feminino guerreiro, dona dos ventos simboliza- da pelo raio ¢ pelas tempestades que transformam as situagées. Nani, orixd associado & lama de onde saimos e para onde todos iremos voltar, € o feminino representado pela senhora idosa. tantos os orixds quanto os elementos que energizam a natureza, Mas, no Brasil, por causa da escravizacao de povos africa- nos, 2 meméria foi selecionando os cultos prioritétios. Restaram apenas por volta de 15 orixés bem lembrados. Entre eles, Xango. (60 De eb na Cuba Xangé representa o poder do pantedo. Ele é rei (Obi), dono da justica. Por isso, ¢ associado ao trovio. O trovio € assustador quando mostra sua autoridade. ‘Todos o temem. Seu simbolo é 0 machado de duas pontas, que representa 0 equilibrio, Deis lados aludem 4 idéia de ponderacio para o julgamento. Quase sempre anda com os Ibeji, divindades poderosas, gémeas, que represen- tam a fartura, pois carregam © poder da multiplicacio. Para os orix: , se reza cantando, As dangas recontam mito: logias, as cores utilizadas nos ritos reverenciam ao mesmo tempo em que integram as forcas dos orixis. Do mesmo modo, cada orixd tem uma comida que o representa. Diz-se que é sua preferi- da, por isso Ihe é oferecida cerimonialmente. © alimento contém, a natureza da divindade, assim como banho que rete o conhe- cimento das folhas. Os titos sio modos através dos quais se sati- Ga ¢ se recebe a forga do orixa. Considerando a leitura do texto: Organize uma pesquisa sobre 0 conhecimento das plantas, a estética, os significados contidos na culinétia, 0 acervo das can- tigas, 0 som dos tambores, a técnica das dancas, enfim, tudo o que Ihe for possivel conhecer sobre a liturgia do candomblé. Faz parte da cultura mara zes religiosas relacionadas & cultura fom afticana, cujas divindades slo chamadas de soduns, A tradigio matriarcal foi iniciada por Mie Andresa, que coordenou a Casa entre 1914 e 1954. Vizinha a esta, hi a Casa de Nag6, tendo como sacerdotisa dirigente Mie Dudu, que a coordenou entre 1967 € 1988. Dentre outros templos que pontuam uma importante meméria sobre a religiosidade afi sileira, esté a Casa de Fanti-achant, também no Maranhio, funda. da pelo sacerdote conhecido como Pai Euclides, em 1958. snse a Casa das Minas, de matri bra As rememoragdes em torno dessas religides necessitam ser ampliadas a partir das intimeras hist6rias regionais que possam sevelar uma personalidade, uma estratégia de sobrevivéncia da casa, uum sito peculiar, a forca de uma tradicio. E plo, poucas referéncias sobre os batuques do sul do Brasil. ‘Toda- \contramos, por exem via, existe uma meméria mais referida na cultura nacional a res- peito das oigens afticanas dos candomblés na Bahia De ole na Calter 61 Dicas culturais: A Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, foi funda- da por trés iorubanas, no inicio do século XIX, originarias da tegido de Keru que haviam sido escravizadas e trazidas ao Brasil. Seus nomes eram Iya Adeta, Iya Akalé ¢ Iya Nass6, auxiliadas por dois homens chamados Baba Assipa ¢ Bamboxé Obiticd. Afora o tiltimo, cujo nome de batismo é conhecido (Rodolfo Martins de Andrade) todos os demais sio conhecidos apenas pelos seus titulo. Iyé Nass6, segundo Vivaldo da Costa Lima, nio era. um nome préprio iorub4, mas um titulo altamente honorifico restrito & corte de Alafin Oyé, isto é, do rei de todos os iorubas, Este titulo estaria ligado a uma fungio religiosa espe cifica € de alto significado nessa cultura. Preservando o culto aos orixas, as cantigas, comidas, rezas e preceitos, as trés iorubanas asseguraram a continuidade desse conhecimento religioso. So: bre essa presenca feminina podemos dizer ainda que pertenciam A Irmandade de Bom Jesus dos Martirios da Igreja da Barroquinha, ‘no centto histérico de Salvador, nos fundos da qual a Casa Bran- ca foi fundada, Da do Gantois ¢ do Axé Opé Afonj, localizado em Sio Gongalo do Retiro, ‘a Branca safram os fundadores do terreiro A umbanda é uma das religides denominadas afto-brasilei- ras pertencentes 20 universo das religiosidades bantu, que sio imimeras e pouco conhecidas no Brasil. Como culto organizado, surgiu na década de 1920. Sua base doutrinaria emancipou-se de priticas influenciadas pela religiio espiei a de espftitos africanos desprezados no culto kardecista, parece ter provocado a deriva Babassué, Cabula, Pajelanca, Catimbs, outras denominagdes regionais de manifestacdes da religiosidade afto-brasileira, cada qual com caracteristicas pr6prias. kardecista. A presen: Um ponto de consideragio é a vitalidade dessas manifesta GGes de religiosidades para serem conhecidas. Outro, é a difusio dessas manifestacdes na sociedade, Em Ambito nacional, alguns dos micleos que propiciam a identidade de um grupo religioso (62. De lba na Cuba sio mais bem conhecidos do que outros. As expressdes regio- nais so infinitamente maiores do que a produgo de conheci: mento detectada pela pesquisa nas universidades, pelas histérias nos filmes, na literatura, nas miisicas, pode acompanhar e difun- dir, As tentativas de estabelecer corre ondéncias entre origens de um panteio religioso existente no Brasil e em Africa também bastante complexo. Ha dinamismos, tanto 14 quanto aqui, pouco conhecidos. Mas, apesar dos infinitos arranjos tecidos na socieda- de brasileira, cles resguardam uma identidade africana. O quadro a seguir traz algumas das referéncias mais consolidadas nessa cor- respondéncia, Ele nio esgota, mas procura ajudar na localizacio inicial dessas tradigdes. © encontro entre 0 universo religioso cristo, as imimeras priticas religiosas s, a8 religiosidades origens formadoras de campos de religiosidade, apresenca nuances indiger afticanas e demais construidas 20 longo da hist6ria brasileira. Mais do que precisar correspondéncias, o importante é enfatizar que as crencas que circulam sobre essas manifestacdes devem estar diretamente rela- cionadas ao respeito da sociedade brasileira para com clas. A populagao afro-brasileira e suas religiosidades As pessoas negras podem ter as mais diversas religides. Podem che gar ao sacerdécio como ialorixas, babalads, babalorixas, humbonos, humbondos (denominacio jeje), mametos, tatetos, tatas (denomi nacio congo-angola), mas também padres, rabinos, pastores, mon- ges. Ou podem ter a identidade principal numa religiio e se interes- sar ou ter simpatia por preceitos de outra(s). No entanto, a religio~ sidade caracterizada como afto-brasileita é identificada imediata- mente, em nossa sociedade, com o candomblé ou com a umbanda, Vale tessaltar que, da mesma forma que o cotidiano da populacio negra foi atingido por uma série de sinais negativos, a vida religio: sa também foi alvo de muita condenagio e perseguicao. De ole na Calter 63 Uma das maiores dificuldades na sociedade brasileira é tra- tar do tema das religiées com todas as dimensdes que ele mere : a historica, a estética, a filos6fica dos preceitos, a terapéutica, a lingitistica, a ética. Isto se constitu uma das piores faces da in- tolerancia que é a perseguicio religiosa c A Constituigao garante a cada cidadao o direito de ter sua crenea, de praticd-la ou, até mesmo. o direito de no ter crenca. E, preciso lembrar que houve muita luta at tido, Todos ganham exercitando uma atitude de respeito as mani- festacdes de fé, pois entre elas ha um circuito cultural de afetividade, solidariedade e identidade. sse dircito estar garan Considerando a leitura do texto: Vocé é praticante de alguma religiio? Hoje em dia, vocé pode Os homens ¢ as mulheres que vieram escravizados para 0 Brasil trouxeram consigo suas religiosidades, mas, por geracdes seguidas, foram entrando em contato com a teligiosidade trazida da Europa, ¢ outras influéncias que, ja em Africa, aconteciam. Ocul ca dlico, por exemple, ofereceu repertério ao modo. de vida religioso afro-brasileiro, Lembremos que toda a tica e va riada ritualistica afticana passou por perseguigdes ¢ excomungacées. No caso do culo aos orixas, principalmente na Bahia, se conta que, numa sabia operacio, os santos do hagiolégico cristo entra- ram em ago, Santos ¢ orixés, unidos, abriram caminhos para per: manecer cultuados. Santa Barbara, na leitura afticana, foi reco- nhecida como Tans, os gémeos S. Cosme ¢ Damiio foram reco: nhecidos como os gémeos ioruba Tbeji, Nosso Senhor do Bonfim, como O; assim por diante. Com a segregacio, a separacio de igrejas para brancos e para negros, promovida pelo sistema escravagista, as itmandades cum- priram imimeras fungdes, dentre elas a de solidariedade entre os “malungos”, isto é, irmaos, Havia identidades compartilhadas, ape- sar das origens e das linguas diversas. Exa um espaco de solidarie- dade. Na devogio também se garantiu 0 culto aos mortos ¢ até mesmo a organizagio para o objetivo de alfortiar os escravizados (64 Delta na Cuba

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