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br | Jus Navigandi
INTRODUÇÃO
O autor recorda que após a grande depressão (final da década de 20), os conceitos,
as premissas, os axiomas, os postulados, as categorias, as hipóteses e os métodos
até ali dominantes, que vinham conferindo à economia o status de ciência, viram,
subitamente, esgotar grande parte de seu potencial analítico e exaurir sua
operacionalidade, perdendo em velocidade geométrica sua aceitação, e por
consequência, sua legitimidade.
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02/05/2023, 22:18 O direito na economia globalizada segundo José Eduardo Faria - Jus.com.br | Jus Navigandi
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Sobre a evolução do Estado, o autor inicia sua exposição ressaltando que Estado é
oriundo da palavra Stato, particípio do verbo stare, e designando “organização
estável”. O conceito de Estado indica e descreve um padrão específico de
ordenamento político que começou a adquirir corpo a partir do século XIII, com a
expansão urbana e comercial; desenvolveu-se com os conflitos entre Igreja,
baronato, suseranos feudais, monarcas e burguesia mercantil em torno da
unificação de estruturas de poder territorialmente fragmentadas e da aplicação de
regras de direito válidas para todos os habitantes. Vinculada à consolidação desses
Estados, a soberania, em seu significado moderno, diz respeito a um poder de
mando incontestável numa determinada sociedade política; a um poder
independente, supremo, inalienável e, acima de tudo, exclusivo.
Para o autor, essa elaboração teórica se desenvolve no começo do século XIX com
base na concepção de soberania como expressão do poder político
“incontrastável”; expande-se com o advento, décadas mais tarde, das doutrinas de
direito público alemão sobre a personalidade jurídica do Estado como “centro de
imputação de deveres e obrigações”; e vai resultar, a partir do século XX, entre
outras concepções, no normativismo kelseniano, que vê soberania como expressão
da unidade de uma ordem coativa; na visão política do ordenamento jurídico
baseada num decisionismo, como a de Carl Schmitt; nas abordagens culturalistas
que a definem como poder de organização jurídica tendo em vista a realização do
“bem comum” e a afirmação de suas decisões nos limites dos “fins éticos de
convivência”; e na distinção feita pela sociologia do direito à titularidade do poder
e a capacidade de seu exercício efetivo, mais precisamente, entre capacidade de
auto-organização e titularidade exclusiva do exercício do poder político na ordem
interna e capacidade de relacionamento externo de forma livre e não subordinada.
Neste sentido, o autor ensina que nos primórdios do Estado moderno o direito é
reduzido à lei imposta pelo soberano, sendo superior a todas as demais fontes de
normatividade. Em um segundo momento, com o advento das declarações e das
Constituições surgidas de três revoluções burguesas – a inglesa de 1688, a norte-
americana de 1776 e a francesa, de 1789 – deflagradas com o fim de impor um
freio ao governo absolutista, de racionalizar o poder monopolizado pelo Estado e
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Quando o Estado não consegue mais regular a fixação dos preços de produtos,
insumos e serviços, cujos mecanismos de operacionalização estão diretamente
relacionados com o mercado global, vê, gradativamente, sua soberania esvaindo-
se, mesmo que formalmente ela ainda exista. Neste sentido o autor explica: (...)
embora em termos formais os Estados continuem a exercer soberanamente sua
atividade nos limites de seu território, em termos substantivos, muito deles já não
mais conseguem estabelecer e realizar seus objetivos exclusivamente por si e para
si próprios. Em outras palavras, descobrem-se materialmente limitados em sua
autonomia decisória. Numa situação extrema, segundo o autor, os Estados
chegam ao ponto de não mais conseguirem estabelecer os tributos a serem
aplicados sobre a riqueza – esta é que, transnacionalizando-se, passa a escolher
onde pagá-los.
Para o autor, o grande desafio é dar conta dessa ruptura entre a soberania formal
do Estado e sua autonomia decisória substantiva, por um lado, e da subsequente
recomposição do sistema de poder provocada pelo fenômeno da globalização, por
outro.
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Como conseqüência, o autor diz que: “ (...) se representar significa uma relação
entre sujeitos, por meio de um diálogo e de um mandato, quanto mais intensa for
essa vinculação eletrônica e quanto maior o isolamento social, por ela produzido,
maior será a fragmentação das identidades coletivas e mais tenderá ser a
velocidade de empobrecimento dos mecanismos de participação e representação
políticos.
O autor explica ainda que o teor da comunicação global acaba também sendo
incompatível com o conjunto de valores de certos países, destruindo consensos,
rompendo alternativas políticas e provocando perda de referências básicas.
Procedimentos democráticos há tempos institucionalizados, podem, segundo o
autor, ser minados com a crescente independência das empresas, setores
econômicos e cadeias produtivas inteiras em relação aos recursos específicos de
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O autor frisa que esta nova ordem tende a transcender os limites e controles
impostos pelo Estado, a substituir a política pelo mercado como instância máxima
de regulação social, a adotar as regras flexíveis da lex mercatoria no lugar das
normas de direito positivo, a condicionar cada vez mais o princípio do pacta sunt
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O autor neste tópico ressalta que dada a impressionante rapidez com que muitos
dos conceitos e categorias fundamentais até agora prevalecentes na teoria jurídica
vão sendo esvaziados e problematizados pelo fenômeno da globalização, seus
códigos interpretativos, seus modelos analíticos e seus esquemas cognitivos
revelam-se cada vez mais carentes de operacionalidade e funcionalidade. E
questiona: de que modo conceitos e categorias construídos em torno do princípio
de soberania, como monismo jurídico, norma fundamental, poder constituinte
originário, hierarquia das leis, direito subjetivo e segurança do direito, podem
captar todo o dinamismo e interdependência presentes no funcionamento de uma
economia globalizada?
Para o autor essa idéia de crise configura um conceito analítico que serve para
opor uma ordem ideal a uma desordem real, na qual a ordem jurídica é
contrariada por acontecimentos para os quais ela não consegue oferecer soluções
ou respostas técnica e funcionalmente eficazes.
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Desta forma, para o autor, a crise hoje vivida pelo direito positivo e pelo
pensamento jurídico, em face das transformações provocadas pelo fenômeno da
globalização econômica guarda alguma semelhança com este tipo de diagnóstico.
No entanto, ela o transcende em muito, a ponto de expressar o descrédito da
própria noção de fronteira do conhecimento. Durante muito tempo acreditou-se
que o estágio atual do pensamento jurídico tinha incorporado as formulações, os
conceitos e as categorias mais importantes aparecidas no passado. E embora se
soubesse que a história do pensamento jurídico é formada por controvérsias,
polêmicas e rupturas, aceitava-se que, de algum modo, as verdades surgidas no
passado estariam incluídas no presente.
O autor frisa ainda que sem a técnica da dogmática jurídica, sem a capacidade de
(a) converter leis e códigos em técnicas de controle social, fundada antes em
mecanismos formais do que na coação pessoal, (b) fazer das normas jurídicas
medidas universais de comportamento social não vinculadas a nenhum conteúdo
material; (c) sistematizar, de modo coerente, a legislação sob a forma de uma
hierarquia de normas superpostas, em cujo âmbito as inferiores se subordinam às
superiores num movimento linear e unidirecional e fundamentação e validez; (d)
forjar técnicas para a “inter-individualização” processual dos conflitos com a
finalidade de permitir seu “desarme”, sua “dispersão” e sua “biodegradação” pelas
instituições judiciais; (e) de se expressar pela linguagem objetiva, clara, unívoca e
precisa, viabilizadas pelo recurso a normas genéricas e impessoais
hierarquicamente dispostas sem ordenamentos completos, sem lacunas ou
antinomias, e por abstrações como a ideia de igualdade perante a lei “ou o
primado da autonomia da vontade”, o direito positivo dificilmente teria condições
operacionais de desempenhar seus papeis básicos de reduzir incertezas; de unir e,
ao mesmo tempo, separar; de viabilizar a divisão e a atomização de uma sociedade
concebida como um sistema de indivíduos independentes e de realizar sua
unificação; de asseverar a previsibilidade das expectativas, o cálculo econômico e a
certeza jurídica; de promover a garantia jurisdicional da constitucionalidade; de
assegurar o equilíbrio dos poderes etc.
Toda esta sofisticada técnica, acima esboçada, é que está sendo posta em questão
pelo complexo fenômeno da globalização econômica, envolvendo a um só tempo
uniformidade e diferenciação, integração e fragmentação, continuidade e ruptura,
codificação e deslegalização, controles diretos e controles indiretos, formalismo e
informalismo, disciplina e punição, acumulação de riquezas e regulação privada,
ordem jurídico-positiva estatal nacional e ordens normativas autônomas
infranacionais e supranacionais.
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Para desenvolver sua exposição o autor recorre aos ensinamentos de Kuhn, para
quem, uma disciplina somente se converte em ciência quando uma comunidade de
especialistas firma uma opinião comum quanto ao seu paradigma, isto é, ao
conjunto de problemas relevantes e de padrões estandardizados de abordagem.
Por fim, o autor conclui este ponto afirmando que há momentos em que os
paradigmas entram em crise, onde passam a viver um período de turbulência e de
anormalidade – na linguagem Kuhniana, atingindo o status de ciência
extraordinária.
O autor inicia este tópico, destacando que ao atingir o estágio de “ciência madura”,
na acepção dada por Kuhn a esse termo, a dogmática jurídica se destaca por seu
conhecido rigor analítico, por sua racionalidade basicamente formal, pela precisão
de sua linguagem e por seu “plurismo” metódico, encarando o poder inerente à
produção normativa como uma instância autônoma em relação à economia e à
política.
O autor explica que será visto nos próximos capítulos que a globalização
econômica é um fenômeno altamente seletivo, contraditório e paradoxal, jamais
podendo ser tomado como sinônimo de universalização no que se refere, por
exemplo, à partilha equitativa de seus resultados materiais e ao acesso de todos ao
que é comum. Portanto, por globalização se entende basicamente essa integração
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tratou-se, nas linhas acima, de se fazer uma abordagem crítica acerca do conteúdo
do livro 'O Direito na Economia Globalizada', de autoria de José Eduardo Faria.
Este livro, de uma atualidade impressionante, discorre sobre os impactos e os
reflexos que o fenômeno da globalização tem gerado na transformação do direito
brasileiro. A principal tônica, que dita os fatores políticos, sociais e econômicos é a
economia de mercado global, moldada pelas lógicas e pelos interesses do capital
transnacional, que procura espaços competitivos, do ponto de vista social e
principalmente econômico, para se reproduzir e se acumular.
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5. BIBLIOGRAFIA
NOTAS
Autor
Carlos Sérgio Gurgel da Silva
SILVA, Carlos Sérgio Gurgel da. O direito na economia globalizada: breve síntese
do pensamento de José Eduardo Faria. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-
4862, Teresina, ano 22, n. 5221, 17 out. 2017. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/59167. Acesso em: 2 maio 2023.
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