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Ano 02 || Edição 07 || Abril 2015

Verminoses em gatos

Dra. Heloisa Justen Moreira de Souza


CRMV-RJ 3.261
Médica Veterinária. Professora de Patologia e Clínica Cirúrgica da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro (UFRRJ). Responsável pelo Setor de Medicina Felina do Hospital Veterinário da UFRRJ.

Dra. Lara Patricia Santos Carrasco


CRMV-RJ 12.575
Médica Veterinária. Mestranda pelo Programa de Patologia Animal e
Ciências Clínicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Dr. Diefrey Ribeiro Campos


Médico Veterinário. Mestre em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Doutorando em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Laboratório de Quimioterapia Experimental em Parasitologia Veterinária.

O papel dos animais de companhia tem merecido destaque entre as famílias brasileiras. O estímulo afetivo e o
companheirismo são marcos constantes desse relacionamento cada vez mais próximo e benéfico ao desenvol-
vimento social e afetivo das pessoas.
No Brasil, apesar de a maioria da população ser composta por cães, a criação de gatos foi a que mais cresceu
nesses últimos anos. Há uma mudança social, com a expansão e o enriquecimento das cidades, que fez crescer o
número de felinos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet),
em 2022, haverá um gato para cada cachorro. Nesse cenário, é de grande importância a conscientização dos ve-
terinários para as necessidades e peculiaridades desses felinos.
Verminose é um termo popular designado às helmintoses. É a doença provocada por
parasitos específicos, denominados helmintos, que vivem no interior do hospedeiro. Os estu-
dos sobre parasitismo vêm despertando crescente interesse devido à relação de proximidade
entre o homem e os animais. Os helmintos podem causar morbidade e mortalidade significa-
tivas, bem como graves implicações na saúde pública, uma vez que algumas espécies possuem
potencial zoonótico.1
Os gatos domésticos são considerados importantes reservatórios de endoparasitos, os quais
acabam contaminando locais públicos, especialmente aqueles frequentados por crianças, expondo
outros animais domésticos e o homem a um maior risco de infecção.1
As verminoses mais comuns em gatos são causadas pelos parasitas Toxocara cati,
Toxascaris leonina, Ancylostoma tubaeforme, A. braziliense, Dipylidium caninum e
Aelurostrongylus abstrusus. Esses agentes apresentam ampla distribuição geográ-
fica e causam injúrias tanto para os animais quanto para o homem. A prevenção
dessas parasitoses é fundamental para evitar danos indesejáveis.
Arquivo pessoal dos autores
É fundamental que os clínicos este- L3 em latência
na musculatura
jam sensibilizados para a realização de
Eliminação dos ovos
um controle de endoparasitas dirigido nas fezes de gato
às necessidades particulares de cada
animal. Nesse contexto, o veterinário
deve levar em consideração a dificulda-
de na aceitação de medicamentos por Ingestão de hospedeiros
via oral para a espécie felina, buscando paratênicos: aves, Infecção dos filhotes
roedores e lacertídeos pela via transmamária
alternativas de administração de fárma-
cos, como a via tópica ou in loco, para
facilitar a adesão do proprietário à pre-
venção das verminoses.2 Desenvolvimento no
ambiente de L1 a L3 Infecção a partir da ingestão
dentro do ovo de alimentos e água
Toxocaríase contaminados ou pelo
processo de lambedura

É causada por nematoides das es-


Figura 1 - Ciclo de vida do Toxocara cati. Animais parasitados liberam ovos nas fezes.
pécies Toxocara cati e Toxascaris leoni-
No ambiente ocorre o desenvolvimento da larva de terceiro estágio dentro do ovo.
na. Raramente os gatos são parasitados O felino ingere os ovos no ato de se lamber ou a partir da ingestão de alimentos ou
pelo T. canis. São parasitos grandes que água contaminados. Também pode infectar-se a partir da ingestão de hospedeiros
medem de 4 a 18 cm de comprimento, paratênicos. Ocorre a transmissão vertical pela via transmamária
que vivem livres no intestino delgado dos
felinos. Esses vermes apresentam ampla até o fígado e, em seguida, para o co- musculatura tornam-se ativas e migram
distribuição em países de clima tropical, ração e os pulmões. No sistema respira- para a glândula mamária, infectando os
como o Brasil. tório, a larva migra até a glote, onde é filhotes pela via transmamária. As larvas
O ciclo biológico desses ascarídeos deglutida, e termina o seu desenvolvi- podem estar presentes no colostro e até
é bastante complexo, podendo existir 3 mento no interior do intestino delgado. 45 dias de lactação.3
diferentes formas de infecção para os Esse ciclo possui um período pré-paten- Outra via de infecção são os hospe-
felinos (Figura 1). A primeira forma é a te de sete a oito semanas. Em animais deiros paratênicos, como roedores, aves
ingestão do ovo embrionado, contendo adultos, algumas larvas são transpor- e lacertídeos. Nesta, não ocorre a migra-
a larva de terceiro estágio, juntamente tadas pela artéria aorta para diferentes ção parasitária, e o desenvolvimento dos
com água, alimentos ou lambeduras. A regiões do corpo, onde se encistam e parasitos adultos ocorre diretamente no
larva é liberada no intestino delgado e permanecem em latência.3 intestino delgado.3
penetra na mucosa alcançando a circu- A infecção transplacentária não ocor- Os felinos infectados podem apresen-
lação periférica, por onde inicia a sua re em gatos. Entretanto, no final da gesta- tar enterite catarral, hiporexia, anorexia,
migração pelo sistema porta-hepático ção, as larvas que estavam em latência na vômitos, diarreia alternada com constipa-
ção, distúrbios de crescimento, obstrução
intestinal, intussuscepção e anemia em
Foto gentilmente cedida pela Dra. Marúcia Cruz

casos de infecções graves.3


Nos gatos adultos, os sintomas cur-
sam com vômitos, aumento do abdome
e anorexia (Figura 2). Existem relatos de
perfuração gástrica, com parasitas adul-
tos na cavidade abdominal de gatos.3
As espécies de Toxocara spp. são
responsáveis por uma importante zoo-
nose denominada larva migrans visce-
ral. O homem infecta-se ao ingerir os
ovos desses ascarídeos presentes no
ambiente. A L3 não completa seu ciclo
biológico no homem e se aloja em dife-
rentes partes do corpo. Os sintomas po-
dem ser vários, como dores abdominais,
A B náuseas, vômitos, tosse, febre e estra-
Figura 2 - Gato portador de Toxocara cati. A: fezes apresentando a forma adulta do bismo, podendo ocorrer diminuição da
parasita do T. cati (seta vermelha); B: vômito apresentando a forma adulta do parasita visão e cegueira, em caso de alojamento
T. cati (seta azul) da larva em tecidos oculares.

2
Arquivo pessoal dos autores

piratório, onde migram dos alvéolos até


Larvas em latência na musculatura
colonizam o intestino após vermifugação a glote e é deglutida, tornando-se verme
adulto no intestino delgado.3
Algumas dessas larvas são ejetadas
pelo coração para diversas partes do
corpo e se encistam permanecendo em
latência na musculatura do hospedeiro
definitivo. Elas são importantes quanto
ao aspecto epidemiológico, pois, toda
vez que a população de vermes adultos
no intestino é diminuída, como após a
Penetração na Ingestão da
L3 do ambiente
vermifugação, larvas tornam-se ativas,
pele íntegra
completam o ciclo e voltam a colonizar o
Ingestão de hospedeiros paratênicos: intestino delgado.3
aves, roedores e lacertídeos
A segunda forma de infecção é a par-
tir da ingestão da larva de terceiro estágio
(L3) juntamente com alimentos e água
contaminados. Nesta, parte dos parasi-
Eliminação dos ovos nas fezes e desenvolvimento tos penetra na mucosa oral íntegra e faz
no ambiente da larva infectante (L3)
a migração pelos sistemas circulatório e
digestório. A outra parte é deglutida e se
torna adulta no intestino delgado.3
Figura 3 - Ciclo de vida do Ancylostoma spp. Os ovos são liberados nas fezes e no
ambiente, e ocorre o desenvolvimento da larva de terceiro estágio. O felino pode A terceira forma de infecção envolve
infectar-se a partir da ingestão da larva em comida e água contaminadas, ingestão de a ingestão de hospedeiros paratênicos,
hospedeiros paratênicos e penetração das larvas ativamente na pele íntegra como roedores, aves e lacertídeos, que
possuem a L3 encistada em sua muscula-
O fármaco mais comumente utilizado O uso de emodepsida/praziquantel na for- tura e/ou vísceras.3
para o controle e a prevenção da toxo- mulação spot on em gatas gestantes cinco A idade é um fator crucial para a pa-
caríase é o pamoato de pirantel, por via dias antes do parto previne a transmissão togenicidade dos ancilostomatídeos. Os
oral, em dose única. Uma vez que esse transmamária de T. cati para os filhotes.4 gatos filhotes são mais suscetíveis à in-
anti-helmíntico não atua nas formas ima- fecção. À medida que o animal cresce,
turas do parasito, é importante repetir a Ancilostomíase aumenta a resistência do hospedeiro.
administração do fármaco 15 dias após o No entanto, fatores como má nutrição e
primeiro tratamento.4 Existem duas diferentes espécies de estresse podem agravar casos em que a
Em gatos, o emodepsida tem formu- ancilostomatídeos de importância veteri- doença era subclínica.
lação spot on, com eficácia comprovada nária para felinos no Brasil: Ancylostoma Animais que apresentam grande
para adultos e fases imaturas do T. cati. tubaeforme e A. braziliense. São parasitos carga parasitária desenvolvem quadros
cilíndricos pequenos que medem de 8 a de anemia por deficiência de ferro devi-
13 mm de comprimento e possuem hábi- do à perda de sangue, causando anemia
to hematófago, com a cápsula bucal com microcítica hipocrômica, melena, apatia,
dentes utilizados para a fixação do para- emaciação e, em casos graves, colapso
sito na mucosa intestinal. respiratório.
Os ancilostomatídeos têm três formas
de infecção (Figura 3). A primeira é a pe-
netração da larva infectante (L3) na pele
íntegra do hospedeiro definitivo, onde
ganha a circulação periférica e migra até
o coração e, em seguida, o sistema res-

3
As técnicas de flutuação simples ou 25 cm em gatos. Seu ciclo de vida possui,
centrifugoflutuação são as mais indica- como hospedeiros definitivos, cães e ga-
Nos felinos, a infecção é
das, para diagnosticar animais parasita- tos, e como hospedeiros intermediários,
geralmente assintomática.
dos por ancilostomatídeos e ascarídeos pulgas do gênero Ctenocephalides e pio- Um sinal clínico caracte-
por serem ovos leves. lhos do gênero Trichodectes. rístico dessa verminose é a
Resultados negativos em apenas um O ciclo inicia-se com a eliminação presença das proglotes do
exame não descartam a possibilidade de das proglotes grávidas nas fezes do fe- cestoide na zona perineal
dos animais, nas fezes ou em
o animal estar parasitado, visto que a li- lino infectado (Figura 4). Os ovos pre-
locais onde eles ficam.
beração de ovos nas fezes pode ocorrer sentes nas proglotes são ingeridos pe-
de forma intermitente. las formas larvares da pulga. O embrião
Faz-se necessária a solicitação do hexacanto penetra na cavidade corpórea
exame de fezes mesmo que o animal da larva da pulga e lá permanece du-
esteja aparentemente saudável. Entre- rante sua metamorfose. Após a pulga
tanto, animais adultos parasitados são adulta emergir do casulo, o hexacanto eles ficam. A maioria dos gatos apresen-
geralmente assintomáticos e continuam desenvolve-se até cisticercoide em dois ta prurido anal intenso que os obriga a
a contaminar o ambiente. Vale lembrar a três dias. O ciclo continua quando o friccionar o ânus contra o solo. Depen-
que A. braziliense, T. cati e D. caninum gato – que atua como hospedeiro defini- dendo do grau de infecção, o gato pode
têm potencial zoonótico e apresentam tivo – ingere cisticercoides presentes em apresentar dor abdominal, alteração no
risco para a saúde do proprietário. pulgas infectadas no ato de se lamber. apetite, emagrecimento, inflamação da
As técnicas moleculares e imunológi- No trato intestinal dos felinos, esses cis- mucosa intestinal e até obstrução.1
cas ainda não estão padronizadas para a ticercoides evoluem para a forma adulta Em seres humanos, a infecção ocorre
rotina clínica devido ao preço e à comple- do cestoide, e proglotes contendo mui- principalmente em crianças de um a cin-
xidade de execução. tos ovos em suas cápsulas são liberadas co anos, devido à ingestão acidental de
A. braziliense causa a larva migrans nas fezes, reiniciando o ciclo (Quadro 1).1 pulgas infectadas. Essa parasitose é geral-
cutânea, conhecida popularmente como Nos felinos, a infecção é geralmente mente assintomática, porém pode causar
“bicho-geográfico” nos humanos. Ocorre assintomática. Um sinal clínico caracte- mal-estar, perda de apetite, cólicas, diar-
a penetração ativa da L3 na pele íntegra, rístico dessa verminose é a presença das reia, prurido e insônia.1
que não consegue completar seu ciclo proglotes do cestoide na zona perineal Inúmeras apresentações comerciais
biológico e permanece migrando pela dos animais, nas fezes ou em locais onde estão disponíveis no mercado destinadas
epiderme, o que causa as lesões serpenti-
Arquivo pessoal dos autores

formes, que lembram um mapa, e de ca-


ráter pruriginoso.
Assim como na toxocaríase, o an-
ti-helmíntico mais comumente utilizado Adulto
é o pamoato de pirantel por via oral. En-
tretanto, este não age sobre as formas
imaturas dos ancilostomatídeos, sendo
Hospedeiro
necessário repetir a vermifugação 15 dias intermediário
Pupa
após o primeiro tratamento.
A emodepsida/praziquantel na for- Oncosfera Cisticercoide
mulação spot on apresenta excelente Hospedeiros definitivos

eficácia no controle de formas adultas e


Larva
imaturas de A. tubaeforme e A. braziliense
em felinos domésticos.5

Dipilidiose

Dipylidium caninum causa uma do-


Ovo Cápsula ovígera Proglote grávida
ença denominada dipilidiose, conside-
rada zoonose parasitária de distribuição
mundial para que se tem dado pouca Figura 4 - Ciclo de vida do Dipylidium caninum. O hospedeiro definitivo libera nas fezes
importância, apesar de sua alta frequên- proglotes grávidas que liberam suas cápsulas ovígeras enquanto se movem. Larvas de
cia em gatos.1 Ctenocephalides mastigam as cápsulas e ingerem as oncosferas do cestoide. A oncosfera
libera o embrião hexacanto, o qual se desenvolve até cisticercoide após a pulga atingir
Esses cestoides podem crescer até 40
a fase adulta. Se a pulga infectada for ingerida por um hospedeiro definitivo durante o
a 50 cm de comprimento, mas a maior ato de se lamber ou acidentalmente, o cisticercoide desenvolve-se até a forma adulta no
parte dos espécimes raramente excede intestino delgado, e novas proglotes grávidas são liberadas nas fezes

4
Quadro 1 - Imagens de parasitos gastrintestinais de gatos em diferentes estágios3,6

Os ovos de T. cati no exame coproparasitológico na técnica de centrifugoflutuação simples são


escuros, quase esféricos ou levemente arredondados, com casca espessa e rugosa, com conteúdo
granular de cor marrom a preto. Possuem tamanho entre 65 e 75 µm.

Ovos de Ancylostoma spp. no exame coproparasitológico na técnica de centrifugoflutuação


simples. São claros, com casca fina e lisa em seu interior e apresentam mórula contendo de 4 a 8
blastômeros. Possuem tamanho de 56 a 75 µm de diâmetro e 34 a 45 µm de largura.

Cápsula ovígera de D. caninum observada no exame coproparasitológico de fezes pela técnica


de centrifugoflutuação. Possui coloração castanho-amarelada com tamanho entre 120 e 200 µm.
Em seu interior estão presentes de 10 a 30 ovos pequenos de tamanho entre 25 e 50 µm. Esta
estrutura parasitária é difícil de ser observada nos exames coproparasitológicos de rotina devido à
baixa sensibilidade das técnicas para sua detecção.

Proglotes de D. caninum nas fezes de gato (setas). São estruturas brancas que saem ativas
nas fezes, ou seja, se movimentam. A observação de proglotes nas fezes fecha o diagnóstico
para dipilidiose.

à prevenção de helmintoses em animais A ocorrência da infecção por A. deiros paratênicos que contêm as larvas
de companhia. Cada base tem um espec- abstrusus não apresenta sazonalidade. encistadas do parasita.
tro de ação distinto.6 Há relatos em diversos países do mun- Essa parasitose apresenta um pe-
Os anti-helmínticos niclosamida, pra- do, com diferentes condições climáti- ríodo pré-patente de seis semanas e
ziquantel e epsiprantel atuam nos princi- cas, assim como em alguns estados do um período patente de até dois anos.
pais cestoides. O praziquantel surgiu em Brasil. A prevalência dessa parasitose É frequente em gatos jovens, devido
1975 e foi o primeiro a ser empregado está provavelmente subestimada, uma às brincadeiras com presas, e em gatos
contra os cestoides, sendo seguro e eficaz. vez que o exame coproparasitológico, machos não domiciliados pelos hábitos
Pode ser administrado por via oral ou pa- utilizando a técnica de Baermann, é noturnos de caça.
renteral em gatos, com grande atividade pouco solicitado na rotina de atendi- Na maioria das vezes, a infecção por
contra todos os estádios de D. caninum.6 mento clínico dos gatos domésticos. A. abstrusus manifesta-se de forma subclí-
Atualmente está disponível uma nova O ciclo de vida do A. abstrusus é nica devido à evolução autolimitante da
formulação tópica com associação de complexo e envolve moluscos terrestres doença. Os sintomas são brandos e, usu-
emodepside e praziquantel, com eficácia e aquáticos, como hospedeiros interme- almente, do tipo respiratório. Nos animais
de 100% numa aplicação única para pre- diários, e répteis, anfíbios, aves e peque- jovens, debilitados ou imunocomprometi-
venção de D. caninum em gatos.6 nos mamíferos, como hospedeiros para- dos, observam-se sinais clínicos mais gra-
tênicos (Figura 5).7 A infecção em gatos é ves. Estes podem variar desde tosse seca
Aelurostrongilose resultante da ingestão de um desses hos- de baixa intensidade, causada por uma
pedeiros, e as L3 penetram na mucosa do traqueíte, até sibilos e crepitações pulmo-
A presença de vermes pulmonares sistema digestório do hospedeiro defini- nares graves devido à bronquite, mime-
em gatos tem despertado o interesse tivo e chegam aos pulmões pelo sistema tizando a asma felina. Em alguns animais
cada vez mais crescente pelos clínicos ve- linfático e pela corrente sanguínea, onde notam-se dispneia e angústia respiratória,
terinários. Isso se deve principalmente ao se desenvolvem até as formas adultas. sendo a tosse pouco comum ou ausente.
desafio quanto à realização de testes de A oviposição e o desenvolvimento das Os sintomas respiratórios se devem aos
diagnóstico, ao maior número de casos larvas de primeiro estádio ocorrem no
descritos e à representação de risco para parênquima pulmonar. Ovos e larvas são
a saúde dos felinos. posteriormente deglutidos e eliminados
Aelurostrongylus abstrusus, um me- juntamente com as fezes. No meio am-
tastrongilídeo, é o parasito pulmonar mais biente, as larvas livres (L1) sobrevivem
comum no gato. É um nematoide delga- por até duas semanas e,
do, com 5 a 10 mm de comprimento, ca- ao serem ingeridas ou
paz de provocar pneumonia verminótica penetrarem nos hos-
de gravidade variável. Vermes como esse, pedeiros intermediá-
quando adultos, habitam dutos alveo- rios, sofrem duas mu-
lares, bronquíolos terminais e pequenas das e se desenvolvem
ramificações das artérias pulmonares e, em L3. O gato infecta-
raramente, o ventrículo direito. se ao caçar os hospe-

5
Arquivo pessoal dos autores

ted PCR” na detecção do parasita obtido


de zaragatoas faríngeas de gatos tem
demonstrado excelentes sensibilidade
e especificidade, mas nem sempre essa
ferramenta está disponível. Esses para-
sitas pulmonares são difíceis de colher
intactos, pois ficam incrustados nos teci-
dos pulmonares. O exame histopatológi-
co dos pulmões mostra focos de invasão
Ingestão de
dos alvéolos pulmonares por ovos e lar-
hospedeiros intermediários vas em diferentes fases de desenvolvi-
mento de A. abstrusus.
Ingestão de hospedeiros Eliminação de Diversas opções de tratamento são
paratênicos: aves, roedores L1 nas fezes conhecidas para a aelurostrongilose fe-
e lacertídeos
lina, tendo sido vários protocolos uti-
lizados e reportados como eficazes. O
tratamento recomendado é com o fem-
bendazol por 14 dias.
Hospedeiros intermediários: Mais recentemente, foram avaliadas a
moluscos terrestres e aquáticos eficácia e a segurança de dois antiparasitá-
rios, um contendo imidacloprida a 10% e
moxidectina a 1% e outro com emodepside
Figura 5 - Ciclo de vida do Aelurostrongylus abstrusus. O felino elimina a larva de
primeiro estágio nas fezes. A infecção ocorre a partir da ingestão de hospedeiros a 2,1% e praziquantel a 8,6%, em formula-
intermediários ou paratênicos ção spot on e administrados uma única vez,
os quais demonstraram ser seguros e efica-
ovos e às larvas localizados nos alvéolos zes no tratamento de gatos infectados na-
pulmonares e à irritação mecânica produ- turalmente por A. abstrusus.8,9 A resposta ao
zida por estas nos sistemas respiratório e tratamento é monitorada pela melhora dos
em um ambiente com a
digestório. Outros sintomas menos fre- presença de mais de um sinais clínicos e das imagens das radiogra-
quentes incluem prostração, inapetência e felino, todos devem ser fias torácicas, e pela realização do exame
emagrecimento. Uma eosinofilia acentua- vermifugados ao mesmo coproparasitológico pela técnica de Baer-
da pode persistir por 24 semanas. Os sinais tempo, não somente o mann, com amostras de fezes obtidas por
animal doente, pois o local
clínicos e lesões de aelurostrongilose de- três dias seguidos para garantir o término
torna-se contaminado e
pendem da carga parasitária e da resposta pode servir como fonte de da excreção larvar. O uso de glicocorticoides
imunológica dos felinos. As infecções gra- infecção para o gato sadio. e broncodilatadores auxilia na melhora do
ves comumente acarretam pneumonia, fe- processo inflamatório pulmonar.
bre (caso haja infecção bacteriana secun-
dária), efusão pleural, piotórax, anorexia, Considerações finais
diarreia e morte súbita, devido à postura
simultânea de grande número de ovos no Baermann. Múltiplas amostras fecais de- O estado de saúde do gato será de-
parênquima pulmonar. vem ser examinadas em casos suspeitos, terminante para o grau de severidade da
As radiografias torácicas podem ser preferencialmente, por três dias conse- atuação das verminoses em seu organismo,
úteis como meios complementares de cutivos, já que a larva nem sempre está sendo que alguns fatores como a idade, o
diagnóstico. Elas auxiliam a avaliação da presente. Uma característica que chama tipo de alimentação e outras doenças
gravidade da infecção parasitária. É ob- atenção nessas lar- preexistentes podem agravar o quadro.
servada a presença de densidades no- vas é a presença de A vermifugação do gato prote-
dulares pequenas e pouco definidas por um espinho subter- ge o animal e toda a família contra
todos os campos pulmonares, principal- minal na cauda em a ação dos parasitas. Esse ato deve
mente, nos lobos pulmonares caudais. forma de “S”. O exa- ser incorporado à rotina de cuida-
Contudo, é difícil a distinção entre aelu- me dos líquidos dos
rostrongilose e outros processos pulmo- lavados traqueais ou
nares inflamatórios ou infecciosos. broncoalveolar pode
O método mais confiável de diagnós- revelar larvas e infla-
tico da infestação é a demonstração de mação eosinofílica.
L1 nas fezes, mais facilmente isoladas de O desempenho
amostras frescas por meio da técnica de da técnica “nes-

6
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dos com o felino, pois mesmo os que vi-
vem confinados em casas e apartamentos
devem ser vermifugados com frequência.
Desta maneira, é de grande importância
um protocolo de prevenção de fácil ade-
são dos proprietários, driblando a dificul-
dade da administração oral de medica-
mentos para a espécie.
O vermífugo tópico da Saúde Animal
da Bayer HealthCare oferece praticidade
em sua aplicação, pois em um tratamen-
to único elimina os nematoides e ces-
toides nas formas adultas e larvais, não
sendo necessário repetir a dose após 15
ou 30 dias. Profender® spot on pode ser
utilizado por gatas prenhes, em lactação
e filhotes a partir de oito semanas de
idade, com peso acima de 0,5 kg, sendo
a sua aplicação realizada na região da
Figura 6 - Demonstração da praticidade na aplicação do Profender® spot on em um gato
nuca do felino, que pode receber a ver- filhote. Deve ser aplicado na região da nuca, logo após o banho e com os pelos secos
mifugação logo após o banho, com os
pelos secos (Figura 6).
Quadro 2 - Medidas para a prevenção de verminoses
É importante ressaltar que, em um
ambiente com a presença de mais de um
felino, todos devem ser vermifugados ao • Evite o contato do seu gato com hospedeiros paratênicos;
mesmo tempo, não somente o animal • Escove o seu gato sempre que necessário – a escovação pode auxiliar na
doente, pois o local torna-se contamina- remoção de ovos de parasitos presos no pelo do animal;
do e pode servir como fonte de infecção • Se possível, restrinja o acesso do seu gato à rua. Assim ele fica longe de áreas
para o gato sadio. contaminadas;
• Troque a areia da caixa sanitária diariamente, usando luvas, e periodicamente
Elimine as verminoses lave-a com água e sabão;
• Realize o controle de ectoparasitos, como piolhos e pulgas, pois estes são
Com alguns cuidados higiênicos, é hospedeiros intermediários de helmintos;
possível evitar as verminoses, apesar de • Realize exame de fezes com regularidade, pois este pode detectar precoce-
o controle efetivo ocorrer com a vermifu- mente a presença de parasitos.
gação preventiva. Confira algumas dicas
bem orientadas pelo médico veterinário
que podem auxiliar a manter os vermes “As opiniões aqui refletidas são de
responsabilidade dos autores e não refletem
longe de seus gatos (Quadro 2). necessariamente a opinião da Bayer.”

Referências:
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