Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A NASA e A Inovação Aberta (Resumo PT-BR) .Cleaned PDF
A NASA e A Inovação Aberta (Resumo PT-BR) .Cleaned PDF
R E V : 1 2 D E N O V E M B RO DE 2 0 14
MICHAEL TUSHMAN
HILA LIFSHITZ-ASSAF
KERRY HERMAN
Era janeiro de 2011 e Jeff Davis, chefe da Diretoria de Ciências da Vida Espacial (SLSD,
Space Life Sciences Directorate) na NASA (National Aeronautics and Space Administration ou
Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica), e Elizabeth Richard, estrategista sênior
da empresa Wyle Integrated Science and Engineering Group, ficaram no fundo do auditório
assistindo ao workshop que eles passaram várias semanas preparando. Intitulado "Inovação
aberta: lições aprendidas e próximos passos", o workshop reuniu diversos professores muito
conhecidos por suas pesquisas em inovação aberta (ou, em inglês, open innovation).
Em vez disso, Davis e Richard ficaram atônitos no fundo da sala enquanto alguns
colegas rejeitavam de forma retumbante os resultados como se não tivessem relação com seus
trabalhos. Eles ficaram surpresos com a reação emocional aos projetos pilotos de inovação
aberta. Alguns estavam descrentes de que pessoas de fora, e não especialistas, poderiam
ajudar a resolver grandes problemas científicos; outros resistiam em integrar a inovação
aberta em seus laboratórios, chamando-a de inadequada para suas pesquisas especializadas.
Muitos expressaram relutância na incorporação dessa abordagem ao seu trabalho cotidiano.
De volta ao seu escritório, Davis observou: "Eu realmente não esperava essa resposta. Temos
fornecido informações sobre essa abordagem por dois anos. Foi como ver uma bola
murchando. É frustrante". Richard disse: "Não. Foi pior. Foi como uma bola de vidro se
espatifando".
A NASA e a SLSD
As ciências da vida sempre foram parte integrante do Johnson Space Center (JSC), o
coração das operações envolvendo naves espaciais tripuladas da NASA. Localizado em
Houston, Texas, o JSC operou pela primeira vez em 1963. O centro incluía laboratórios de
pesquisa, instalações de teste, um aeroporto capaz de operar em quaisquer condições
meteorológicas, instalações de lançamento e outras infraestruturas necessárias para
coordenar e monitorar todos os voos espaciais tripulados dos EUA, bem como fornecer
instalações de planejamento e treinamento para o corpo de astronautas. Os laboratórios de
pesquisa e desenvolvimento (P&D) da NASA tinham uma longa história de desenvolvimento
de produtos inovadores, incluindo espuma com memória de forma, lentes resistentes a riscos
e arranhões, detectores de fumaça ajustáveis, termômetros de ouvido e muitos outros. A
divisão que viria a ser a SLSD foi estabelecida em 1977.
A missão da SLSD era ser líder mundial na compreensão da fronteira espacial e das
oportunidades, capacidades e limitações dos seres humanos que vivem e trabalham nessa
fronteira. Os cientistas, pesquisadores e médicos da SLSD estudavam as melhores maneiras de
otimizar a saúde dos astronautas em todas as fases das viagens espaciais e assegurar que eles
permanecessem saudáveis durante uma missão. A diretoria gerenciou e implementou uma
ampla gama de pesquisas científicas e desenvolvimentos tecnológicos para cumprir essa
missão, concentrando-se na saúde humana e na produtividade no espaço antes, durante e
depois da experiência real de voo espacial, incluindo suporte para funções baseadas no solo. A
SLSD supervisionava diversas disciplinas e pesquisas implicadas na relação entre o homem e
os voos espaciais. Isso incluía operações e pesquisas biomédicas, com laboratórios dedicados
a perda óssea e muscular, imunologia, neurociência, bioquímica nutricional, simulação de voo
espacial e fisiologia do exercício. A diretoria também supervisionava programas e projetos de
apoio a pesquisas em tecnologia avançada de alimentos e integração de voos à ISS, bem como
serviços clínicos, incluindo medicina de voo, higiene industrial e medicina ocupacional. Em
2002, Davis foi nomeado diretor da SLSD; anteriormente ele havia atuado como cirurgião de
voo, chefe da clínica de medicina de voo e chefe da divisão de operações médicas.
Pesquisando na SLSD
1Nota do tradutor: Quando utilizada na negativa, a frase "it is not rocket science" ("isso não é ciência de foguetes",
em tradução livre) é uma expressão idiomática da língua inglesa que significa que algo não é tão difícil quanto
parece. Assim, as camisas e adesivos traziam a frase na afirmativa, fazendo um jogo de palavras que reforçava a
dificuldade e a importância do trabalho dos cientistas da NASA.
realizadas no JSC e em múltiplas instituições colaboradoras".
A SLSD sempre buscou os mais altos padrões de qualidade e segurança; como observou
um cientista, "se você comete um erro aqui, pessoas morrem". De fato, desde o início dos anos
90, a organização estava obcecada pela segurança, introduzindo um novo nível de aversão ao
risco, o que alguns temiam gerar um ambiente destrutivo para a inovação. Alguns se
preocupavam que a estrutura e os processos da SLSD estivessem tornando-se complexos
demais ao longo do tempo e outros reclamavam que esse conjunto era asfixiante para a
inovação. Um pesquisador disse: "Você quase odeia ter uma nova ideia por causa da
quantidade de pessoas que terá que consultar". Em relação à burocracia, outro observou:
"Eles não fazem pesquisa, eles apenas têm que preencher todos aqueles formulários".
Davis e Richard decidiram que não havia melhor maneira de aprender mais sobre
inovação aberta e avaliar sua adequação às necessidades da organização do que reunir
evidências. No verão de 2009, o professor Karim Lakhani, que havia realizado um seminário
sobre inovação para a SLSD no início de 2008, entrou em contato com Davis. A plataforma
Crowdsourcing TopCoder estava fazendo uma análise para entender a dinâmica da
participação de solucionadores e tinha pedido ajuda a Lakhani. O professor pensou que buscar
desafios mais interessante aumentaria a participação na TopCoder e procurou Davis para ver
se a SLSD teria desafios para a plataforma de crowdsourcing. Davis tinha conhecido Lakhani
durante seu curso de educação executiva e achou que a proposta valia a pena.
Davis e sua equipe decidiram que realizar vários desafios pilotos de inovação aberta
poderia ajudar a convencer os membros da organização. Por meio de uma concorrência
baseada na pesquisa de mercado anterior, a InnoCentive e yet2.com foram selecionadas como
plataformas de inovação aberta. A InnoCentive tinha uma rede de solucionadores formada por
cerca de 300 mil indivíduos espalhados pelo mundo; a yet2.com operava de forma
ligeiramente diferente, agindo como intermediadora entre organizações com desafios e
organizações com capacidade de resolver os problemas. A TopCoder se dedicava
especificamente a desafios de software e tinha cerca de 300 mil solucionadores de problemas,
desenvolvedores de software e artistas criativos registrados em todo o mundo. Cada
fornecedor realizou sessões de treinamento para a SLSD.
Davis, Richard e a equipe estavam preocupados que o moral da SLSD fosse atingido,
que os pesquisadores estivessem preocupados com a segurança de seus empregos e suas
pesquisas e que manter a inovação se tornasse ainda mais desafiador. Davis disse: "Eu sabia
que outras instituições haviam enfrentado esses desafios externalizando seus departamentos
de inovação. Mas minha intuição era manter as coisas integradas dentro da diretoria".
Por meio de uma concorrência, a SLSD também lançou um site interno de inovação
aberta, NASA@work, que coordenava os desafios da NASA em uma plataforma baseada na
InnoCentive, aberta apenas à comunidade da agência. A equipe trabalhou em 20 desafios, dois
para cada um dos 10 centros da NASA. Um cientista disse: "A NASA@work fez sentido para
mim. Seria embaraçoso descobrir que alguém está trabalhando exatamente naquilo que eu
estou fazendo, mas eu não sei. Precisamos ao menos saber o que está acontecendo dentro da
NASA". O projeto piloto NASA@work encampou desafios de junho a outubro de 2010.
O projeto piloto da yet2.com teve 5.621 acessos, ou interesses iniciais, e 234 respostas
totais. Ao final do desafio, a yet2.com tinha 30 propostas ativas para os seis desafios. Uma
delas identificou várias novas abordagens para a obtenção de imagens da estrutura óssea no
espaço e tinha potencial para resultar na formação de um consórcio de acadêmicos e atores da
indústria para desenvolver novas tecnologias.
Falha no lançamento
Em janeiro de 2011, Davis e Richard reuniram todos os dados sobre os desafios para
apresentar à SLSD. "Sabíamos que os resultados eram espetaculares", disse Davis. "Estávamos
muito entusiasmados com o quanto esses resultados eram convincentes sobre como a
inovação aberta poderia ser uma maneira importante de se trabalhar na SLSD".
Uma vez que os resultados do desafio foram apresentados no workshop, Davis passou a
discutir como executar os próximos passos: da experimentação à integração da inovação
aberta nos projetos e pesquisas do dia a dia dos membros. Isso provocou diversas reações.
Alguns estavam intrigados com a abordagem, observando-a como um ganho para todos ou
uma "ótima maneira de sair de nossa bolha", e outros a consideravam valiosa para algumas
situações e diziam que ela "acrescentava uma nova peça ao nosso kit de ferramentas". No
entanto, outros estavam altamente incrédulos. Um membro preocupado com a
confidencialidade das pesquisas da organização perguntou: "Não há um problema em usar
isso e nós sermos a NASA?”. Outro estava altamente descrente quanto à ideia de ter uma
discussão na internet sobre seu desafio. Vários advertiram que, como abordagem, a inovação
aberta poderia apresentar uma falsa confiança de que a plataforma proporcionava uma busca
abrangente de soluções relevantes fora dos limites de suas organizações. "Você coloca tudo
isso lá e depois não tem mais nada, e as pessoas vão dizer: 'fomos na InnoCentive e não
encontramos nada, então não está sendo feito'. A InnoCentive não é o mundo inteiro, a
yet2.com não é o mundo inteiro. As pessoas têm que perceber que elas não são soluções
milagrosas".
Davis e Richard voltaram devagar aos seus escritórios. A reação geral ao workshop
havia sido um grande e decepcionante "e daí?" entre o público. "Eu simplesmente não
conseguia entender por que todo mundo não estava tão entusiasmado quanto eu", disse Davis.
"Os resultados sugeriam que poderíamos fazer grandes desenvolvimentos por uma fração do
custo, e quem sabe quantas ideias novas e empolgantes poderiam surgir com desse tipo de
colaboração?". Em vez disso, exceto por algumas, as respostas haviam sido quase
uniformemente negativas. "A síndrome do 'não inventado aqui' era forte", disse Richard. Os
dois se sentaram calmamente com suas notas amarrotadas ao lado. "Como isso aconteceu?
Como as reações poderiam ser tão negativas? O que devemos fazer?", perguntou Davis.