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78 Judicializagao da Vida na Contemporaneidade ‘Graduacio em Psicologia dda UER| realizado em 2012 79 pacoroie CIENCIA € PROFISHO, Camilla Felix Barbosa de Oliveira & Leila Maria Torraca de Brito 2013, 35 nm oxp, 7889 sou ra eo : — Resumo: Fste artigo visa a empreender um estudo sobre 0 fenémeno da judicializacio da vida na ccontemporaneidade. Porjudicialzacao, compreende-se 0 movimento de regulacio normativa e legal do vive, ddo qual ossujeitos se apropriam para aresolucio dos confltos, reproduzindo uns cam os outros o controle, 0 julgamento e a punicio das condutas. Nesse sentido, abjetiva-se analsar os efeitos dos discursose das paticas juridicas sobre as subjetividades, ou seja, sobre as formas de os sujeitas se relacionarem, experimentarem conceberem suas vidas. Para tanto, utlizar-se-d como disparadores les, polticas e agGes relacionadas alienagéo parental e ao bullying, evidenciando as lgicas patoldgicas e judicalizantes que as embasam © suas aproximagéies com 0 campo psi. Por fim, propde-se que a Psicologia esteja em permanente rellexio ‘&ico-politica, a fim de fomentar a construgio de praticas ps! inovadoras, que tompam os aprisionamentos produzidos pelo movimento de judiciaizacéo e que inaugurem desvios a servigo da valorizacio da vida Palavras-chave: Subjetividade. Bullying. Sindrome da alienacSo parental, Processos socials ‘Abstract: This article aims to study the phenomenon of contemporary judicilization of life. By judicialization| it can be understood the movement of legal and normative regulation of living, which is appropriated by the individuals for the resolution of conflicts, which reproduces to each other the control, judgment and punishment of conducts. In this sense, the objective of this wark isto analyze the effects of discourses and legal practices over subjectivites, ie, the way individuals relate experience and conceive theit lives. Thus, laws, policies and actions related to parental alienation and bullying will be used as trigger, highlighting the pathological and judicial logics that are their basis and haw close they are to psychology. Finally, iti proposed that psychology is in constant ethical-political reflection in order to foster the construction of innovative psi practices, which break the imprisonment produced by the movement of judicialization and ‘reate new paths for life improvement. Keywords: Subjectivity. Bullying. Parental alienation syndrome. Social processes. Resumen: Fste articulo tiene la intencién de emprender un estudio sobre el fenémeno de la judicializacion dea vida ena contemporaneidad. Por judicializacin, se comprende el mavimiento de regulacién normativa y legal de vivir, del cual los sujetos se apropian para laresolucién de los conflctos,reproduciendo unos con ‘otros el control, e juici y el castigo de las conductas. En ese sentido, se objetiva analizar los efectos de los discursos y de las practicas juridicas sobre las subjetividades, 0 sea, sobre las formas de cémo los sujetos se relacionan, experimentan y coneiben sus vides. Para eso, han de utilizarse como disparadores leyes, poliicas y acciones relacionadas a la allenacién parental y al bullying, evidenciando las légicas patolégicas Y judicializantes que las sustentan y sus aproximaciones con el campo psi. Por fin, se propane que la Psicologia esté en permanente reflexiin ético-poltica, con el fin de fomentar la construccién de précticas psi innovadoras, que rompan los aprisionamientos preducidos por el movimiento de judicalzacién y que inauguren desvios a servicio de la valorizacién de la vida. Palabras clave: Subjtividad. Bullying. Sindrome de la alienacién parental, Pracesos sociales, Em 2010, foi sancionada no Brasil a Lei federal n® 12.318/2010, que dispoe sobre a alienacao parental, considerada interferéncia na formagio psicolégica da crianga ou do adolescente, promovida por um dos pais ou pelos que a tenham sob sua autoridade ou guarda, Na lei, esses atos sio concebidos como abuso moral, pois feririam direitos fundamentais 8 convivéncia familiar saudével © prejudicariam a integridade psicolégica, Diagnosticada a alienagdo, a intervengéo judicial poderd ser desde uma adverténcia ao alienante até a suspensdo da sua autoridade Estados do Pais tem criado e aprovado legislagdes estaduais que se destinam a instituir politicas antibullying nas escolas, com programas de agao interdisciplinar © participaao de especialistas no tema, englobando ainda responsaveis, alunos professores nos métodos preventivos. Asdefinigies gas, em geral, oncebem o bling ‘como pratica de assédio moral com ocorréncia intencional e repetitiva de atos de violénciafikicae psicoligica, visando a intimidar agredt, humithar, parental Concomitantemente, assistimos, nos éltimos anos, a0 boom do fenémeno chamado bullying. Sem uma lei federal, diversos ‘ausar dor ¢ sofrimento & vitima, inclusive por _meio da exclusto social, em uma rlacao desigual cde poder. O caberbullying incuiia os mesmos atos praticados através da intemet ou de outro meio digital (Loin 14.651/2009, Lei n 6.084/2011), pacoroie CIENCIA € PROFSSO, 2013, 35 nm oxp, 7889 A partir dessa exposicéo, podemos supor ue tais fendmenos se entrecruzam em seus caminhos, indicando a forte tendéncia, que rnotamos na atualidade, de reduzir questies da esfera politico-social a concepcées individualizantes, enquadrando desvios tensdes no processo de judicializacao do Viver. Nessa légica, contflitos familiares, mudancas geradas pelo divércio eo modo de ( sujeitos elaborarem esses acontecimentos sao destitufdos de sua variabilidade e enquadrados na esfera da alienagao parental De modo semelhante, os mais diversos atos sao passiveis de serem descritos como bullying, sendo iminente o risco de os sujeitos, © sofrerem ou praticarem em suas relagdes cotidianas. Destarte, tendo como disparadores legisla- es, conceitos € politicas relacionados & alienacdo parental e ao bullying, o presente artigo visa a empreender uma andlise do fendimeno da judicializacao da vide na contemporaneidade, Compreendemos por judicializacao 0 movimento de regulacdo normativa ¢ legal do viver, do qual os sujeitos se apropriam para a resolucao dos conflitos cotidianos. Atravessados pelo Poder Judiciario, nao somente se recorre a ele como também se incorporam e se legitimam seus modos de operacdo, reproduzindo-se © controle, 0 julgamento e a punicao das condutas, em prol - assim justificado - da inviolabilidade dos direitos, do melhor interesse, da protegio e do bem-estar de algumas vidas. O caso bullying Sao Paulo, 2012. “Garoto que sofia bullying por causa da musica Florentina, do Tiiica, poderé mudar de nome": Insatiscito com as brincadeiras e chacotas dos colegas de escola, um garoto de 17 anos conseguiy na Justiga 0 direito de retirar a palara ‘Florentino’ de seu nome. © garoto sofia bullying porque os outros 80 alunos a associavam & musica Fiorentina, interpretada pelo humorista Tirtca... O bullying foi constatado pela psicéloga da escola em que o garota estuda....Em sua decisio, © desembargador Jogo Pazine Neto, do TISP (Tribunal de Justica de Sdo Paulo}, disse que “6 fato notério pblico que © nome ‘Florentino’ faz parte do repertério de uma mésica do hhumoristaTivica’, masica essa de cardter CBmico, destinada & zombaria e gracejo que em nada dignifica 0 sobrenome mencionade.”... Para 0 desembar 6 fato de o garoto estar na adolescéncia © em fase escolar agrava © quadro, pois “a rombaria pode causar graves danos sua personalidade, devendo, portanto, ser reprimido qualquer fato que possa ppotenciaizar a zombaria da escola a the ‘usar constrangimentos". (UOL Educagio, 2012, itlicos nossos) Insultos, comentat pejorativos, agressies, intimidacdo, exclusdo social: 6 cada vez mais abrangente o rol de préticas que se encaixam nna categoria bullying (Lei n® 14.651/2009, Lei n® 6,084/2011), Tendo como eixo central a questao da violéncia nas escolas, esse fendmeno tem sido intensamente difundido em um formato que 0 reveste de uma efetividade inegavel, airmando sua existéncia através de intimeros exemplos cotidianos que ilustram 0 que é 0 bullying € que servem de pardmetro para identificar casos semelhantes. Assim, tem-se favorecido a acritica ¢ expansiva apropriagao do conceito em nosso meio. Situagdes antes vividas como banais, corriqueiras, sdo, atualmente, interpretadas com base em outras significacées, como no exemplo supracitado. Ha alguns anos, apelidar © colega ou zoar seu nome era visto como brincadeira entre criancas eadolescentes, que, se por alguma especificidade necessitassem de uma atencao diferenciada, esta ndo ultrapassaria o espaco escolar. Hoje essas questoes sdo resolvidas na Justiga, pois nao se fala em brincadeiras, mas em violéncias que agridem e traumatizam, devendo assim pacoroie CIENCIA € PROFSSO, 2013, 35 nm oxp, 7889 Amée telatou sua indignago ce surpresa, ja ‘que. na época «da briga, que soube pate fiho, indo recebeu qualquer contato da escol e, assim, dou 0 ‘assunto por encerado, olé receber a intimagéo potcial moses depos (Andrade, 2011), ser combatidas, denunciadas e punidas. Einteressante notara énfase ao “desolamento causado por suas consequéncias © a inquestionavel necessidade de intervencio via imperativos morais” (Antunes & Zuin, 2008, .35), que acentua os danos psicolégicos softidos pela vitima e as lels de protecéo e combate a tal violencia, As ciéncias do Direito e da Psicologia sdo, assim, chamadas a falar, a intervir, a diagnosticar ¢ a prevenir esas questdes, No caso exemplificado, vimos que o bullying foi constatado pela psicéloga da escola ¢ que a decisio do Desembargador de autorizar a mudanga de sobrenome do adolescente teve como justificativa a importancia da eliminacdo de qualquer fator de constrangimento que pudesse desencadear algum dano a sua personalidade em desenvolvimento; dupla presenca da Psicologia: tanto no diagndstico da situagdo quanto na base da decisao para resolver o problema. No que tange ao bullying, as ciéncias endossam a ideia de que o ato pode nao deixar marcas fisicas e visiveis, mas acarretaria sérios efeitos psicolégicos para as vitimas. Uma hipdtese é a de que o agressor também j8 foi uma vitima de bullying e, por causa dos danos em sua personalidade, reproduz as agressdes. Diante de tantos traumas, culpas einterioridades, esté montado 0 cenério para a intervengao do psicélogo, Nesse sentido, a atengdo € centrada no individuo, produzindo sua vitimizacdo ef ou culpabilizacao, buscando justificativas em seu interior ignorando os processos socio-histéricos que engendram modos de ser na contemporaneidade. Para Antunes @ Zuin, essas normativas de concebermos e classificarmos fs fendmenos como bullying “denunciam, ainda que pelas lacunas, que tal conceito faz parte de uma ciéncia instrumentalizada ea servico da adaptacdo das pessoas para a mas individualizantes 81 _manuteng3o de uma ordem social desigual” (2008, p.35). No contexto escolar, 0 encaminhamento para tais conflitos tem sido menos a sala da diregio, da coordenacio, ¢ cada vez mais a delegacia. Ademais, no s6 a escola tem ido 8 policia como também esta tem adentrado pelo seu espaco, Exemplos cotidianos néo faltam: no Rio de Janeiro, policiais militares patrulham escolas da rede estadual, gracas um convénio firmado entre as Secretarias Estaduais de Educagao © Seguranga. 0 objetivo? Proteger professores ¢ alunos, impedir a venda e o consumo de drogas e, & claro, combater o bullying. Os beneticios? O governador do Estado responde: “A presenca do policial vai agregar valor & escola, pais € professores passardo a ter outro nivel de tranquilidade” (Quaino, 2012) Outro exemplo revelador dessa estreita parceria entre escola e policia, um caso levado a delegacia despertou estranhamento devido a sua condigio extrema: a intimacéo de um menino de cinco anos para depor, apés queixa da professora, por ele mordida quando apartava uma briga na classe. Ao ser veiculada, a noticia ja informava que o delegado que intimou a crianga admitiu o erro ¢ havia repassado 0 caso para 0 Conselho Tutelar. A mae relatou sua indignagao surpresa, jé que - na época da briga, que soube pelo filho - ndo recebeu qualquer contato da escola e, assim, deu 0 assunto por encerrado, até receber a intimagao policial ‘meses depois (Andrade, 2011) Nas situagées mencionadas, é sobressalente a auséncia de qualquer tentativa de diglogo entre familia e escola, recorrendo-se de imediato a intervencdo da ps outras instancias do Judiciério. A énfase pouco mudou: continua-se atentando para a indisciplina, a dificuldade, a indequacéo © para o que € visivelmente identiticado como desvio transgressdo ou doenca. Porém, ia e de 82 pacoroie CIENCIA € PROFISHO, Camilla Felix Barbosa de Oliveira & Leila Maria Torraca de Brito 2013, 35 nm oxp, 7889 sou ra eo : — ousras formas de lidar com ess quests que ou vja meu 0 ftho na cata dela esto se difundindo, principalmente as que for um period determina, Mevs pai difcutam uma analtica contextual, como sinh ems amb no conseuem as praticas de judicializagio dos conflitos fazendo tratamento psicol6gico para poder vivenciados. suportar’, desabafou. (Rodrigues 2012, ideo noon O caso SAP No caso em tela, observamos o predominio das légicas patolégica e judicializante na abordagem dos conflitos relacionais, concebendo-os em termos de distirbio a ser diagnosticado ¢ a infracdo a ser combatida. A situacao do rompimento conjugal, com as dificuldades que acarreta, em especial no que tange as decisées sobre guarda e cuidado dos filhos, tem gerado um elevado ntimero de questées parentais levadas a Justica, cada vez mais sob a alegacao de alienacio parental A expressio sindrome da alienacdo parental (SAP) foi cunhada na década de 80 pelo psiquiatra norte-americano Richard Gardner para referir-se ao proceso de lavagem cerebral ou treinamento realizado pelo genitor alicnante para difamar a imagem do outro responsivel, acometendo criangas © adolescentes cujos pais vivem em situacao de litigio (Sousa & Brito, 2011). Na visio do médico, essa seria, principalmente, uma postura vingativa e de ataque ao ex COnjuge, fruto de mé elaboragio do luto da separagao, em que o filho € usado como meio para agredir 0 ex-parceiro. No Brasil, temos em vigor a Lei federal n?12.318/2010, © designamos 0 dia 25 de abril como 0 De acordo com a lei, a alienacao ocorre quando o guardiao interfere negativamente nna formagio psicolégica da crianga ou do adolescente, promovendo um dos seguintes atos: Dia Internacional da Conscientizacao da Alienacao Parental. Falar mal do pai ou da mie para os filhos é um comportamento comum, principalmente depois da separacio. Usar a crianga para atingir a outra parte, ‘entretanto, pode provocar disturbios na vida de todas os envolvides. A ‘sindrome da alienagio parental’ & um assunto tio sétio. na mundo que ganhou até um dia especial de conscientizacio. Desde agosto de 2010, o Brasil conta com uma legislagio espectfica para combater ‘essa pritica nociva a formagao de criancas e adolescentes. De acordo com a lei, alienagao parental ocorre quando ha ‘interleréncia na formacio psicolégica promovida ow induzida por um dos zenitores ou pelos que tenham a erianga Sob sua autondade’. Paide um meninacle um anoenove meses, tum contador de 28 anos... afirma que a situagio se agravou quando a ex-mulher ddescobrio envolvimento dele com outra pessoa. ‘Desde dezembro, ela 6 permite | + realizar campanha de desqualificagio da conduta do genitor no exercicio da paternidade ou matemidade; Il difcukar 0 exercicio da autoridade parental; IIL dificultar contato de crianga ou adolescente com genitor; IV = dificultar 0 exercicio do direito regulamentade de convivéncia familiar "= omitir deliberadamente a genitor informagdes pessoais relevantes sobre a ‘rianga ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alteragses de enderego; VL-- apresentar falsa dendncia contra {genitor, contra familiares deste ou contra avés, para obstar ou dificultar a sua ‘convivéncia com a crianga ou adolescente; Vil-mudar o domiclio para local dstante, sem justificativa, visando a dificultar a convivéncia da crianga ou adolescente com 0 outro genitar, com familiares deste ou com avés. (Lei n® 12.318/2010) A partir da andlise de publicagoes e de artigos relacionados & SAP, Sousa (2009) constatou que os discursos reforgam uma Visdo individualista e punitiva da situacdo: 0 pacoroie CIENCIA € PROFSSO, 2013, 35 nm oxp, 7889 genitor alienador favoreceria a sindrome no {iho alienado e o prejudicaria. O alienador, portanto, seria identificado como causa do problema, devendo ser coibido em suas ages. Privilegiado esse enquadre, pouco se aborda os aspectos sociais, culturais € legaisligados & vivencia da separacio, como as relagoes de género, a divisio dos papéis parentais, 0 predominio da modalidade Unilateral de guarda, as mudangas nas familias © nos relacionamentos contemporaneos, dentre outros, ‘Sousa destaca a forma como o.conceito da SAP tem se disseminado, propagando-se a ideia de ser essa uma realidade inquestionavel Com tal difusio, que ressalta seu carter patolégico e prejudicial, passamos a atentar para seus indicios, compartilhando casos, destinando um dia de conscientizacao, identificando seus efeitos € recorrendo 20 aparelho juridico para a sua punigao. AA justificativa que permeia os discursos ressalta a necessidade de protecio daqueles que sofrem com o afastamento de um dos pais em virtude da manipulacao do outro. A ideia de que os danos seriam, sobretudo, psicolégicos demanda saber-fazer psi Para alguns, a alienacao parental deveria adquirir o status de crime (Paulino, 2012), sendo entao regulada por legislagoes € resolvida no Judiciério, sem se descartar a patticipagao da Psicologia. De acordo com a Lei n® 12.318/2010, compete ao psicdlogo perito identificar a alienagao, avaliar as personalidades das vtimas e culpados, além das perdas ¢ traumas dela decorrentes, fornecendo, através do laudo psicolégico, subsidios que legitimem e revistam de cientificidade as decisdes judicias. Dentre as medidas aplicéveis ao genitor alienante, a lei prevé desde adverténcias, multas e acompanhamento psicoligico até inversao da guarda e suspensio da autoridade parental, tendo como efeito 0 afastamento 83 entre a crianca e 0 alienador, Acerca disso, ressaltamos a seguinte problemética: Asta de medidas que podem ser adotadas parece sugerirque, agora, o Estado é quem ppossuio diteto de alienar um dos pais da Vida da crianga. Nesse sentido, questiona- sese tworiaspsicoldgicas dariam respaldo a lais medidas. Estar-se-ia desconsiderando 08 prejuizos emocionais causados & cianca, que bruscamente ser afastada do genitor com quem convive e com quem rmantém fortes ligaces? (Sousa & Br 2011, p.276) Continuaremos a olhar tails quest6es por meio dos vieses patolégicos e judiciais? Priorizaremos a identificagao do culpado, a fim de coibir seus atos e preservar suas vitimas? A lei da alienacao parental reforca a forma punitiva de se abordar 0s contlitos, apesar de trazer em seus discursos uma pretensa humanizagao da Justica, que, ao legislar sobre tais atos, estaria zelando pela integridade humana e pelos direitos subjetivos. Assim, a lei prevé a aplicacao da guarda compartilhada (prevista como sancao, vale ressaltar) para que o flho tenha garantida a convivéncia com ambos os pais @ em determinacao de acompanhamento psicolégico para o alienador, jé que este se encontra em um estado de crise fruto da ma claboragao das dificuldades conjugais. © que questionamos é se de fato a lei consegue despir-se da I6gica punitiva e patolégica que perpassa o conceito da SAP, Incluir, por exemplo, o tratamento psicolégico como uma medida humanizada nao faz com que ela perca sua condigéo de infragao, mas faz com que o acompanhamento psicolégico adquira o sentido de sancao, de sentenga judicial determinada, sem uma escolha efetiva do sujeito. Sob esse prisma judicializante, © psicblogo toma-se um profissional indispensdvel na Justiga, competindo a ele, sobretudo, analisar pacoroie CIENCIA € PROFSSO, 2013, 35 nm oxp, 7889 05 individuos de acordo com as leis que tratam de aspectos emocionais e subjetivos. Ademais, a ideia de que devemos estar vigilantes a qualquer indicio de SAP que coloque a crianga em risco, a fim de afasté- la, vai contra a perspectiva de valorizacao de ambos 0s pais no cuidado dos filhos presente na guarda compartilhada, tornando assim conflitantes as referidas leis, A guarda compartilhada requer que se deixe de lado a procura do genitor ue apresente melhores condighes para deter a guarda dos filhos para se pensar fem uma atuacio que auxilie 0s pais no compartilhamento da guarda de flhos comuns... Entretanto, no contexto nacional, o clamor por punico dos denominados genitores alienadores logo fez desvanecer essa expectativa quanto 2 atuagdo dos psicSlogos nos julzos de fami, realocando-se esses profssionais ro lugar daqueles que devem privlegiat a elaboracdo de avaliacées, visando, agora, 2 apuragao da exisléncia, ou nao, da alienacao parental. Assim, da énfase nna patticipagao de ambos os pais na teducagao dos flhos, independentemente de sua stuacio conjugal, fixam-se as lentes no suposto perigo que um dos pais pode representar para a crianca. (Sousa & Brito, 2011, p.279) Humanizacao da Justica ou judicializagao do humano? © que hé em comum entre os casos de SAP e bullying? Quais conceitos e verdades disseminam? Que efeitos produzem sobre as relagoes © modos de vida? Primeiramente, sio fendmenos recentes, com ampla repercussio midiatica, divulgados de modo a favorecer a apropriagio naturalizada e acritica, reforgando a base na ordem juridica e respaldo assegurado pelas leis. ‘Ambosteriam como foco questdes relacionais diffceis, que produzem sofrimento ou prejutzo, emergindo sob a forma de crime a ser combatido, Seus efeitos? Sérios danos ~ 84 ‘em especial psicol6gicos — para suas vitimas, Tratadas como violéncias contempladas por legislagdes espectticas, essas praticas quee se dao no cotidiano das relagées tém agora um destino certo: o sistema judiciério. So, por conseguinte, dois processos da atualidade que ilustram 0 fenémeno da judicializagdo da vida. Conforme sinalizamos, tais casos, analisados luz dos vieses jurfdico e psi, tem produzido a naturalizagdo de processos da existéncia reduzidos ao nivel individual do crime ¢ da culpa, sendo cada vez mais desfocado © horizonte socio-politico que os funda e legitima, Destarte, temas amplos e complexos, como violéncia, educacao, relacionamentos, familias ¢ parentalidade so abordados de modo fragmentado, desconsiderando-se toda a rede coletiva que os tecem, Reproduzido 0 imperative de que a felicidade é um direto individual ao alcance de todos, soiter torna-se absolutamente cevitével ¢ injusiicado, a nao ser que seu fator desencadeante independa do nosso Controle e previsvo, Fm tais casos, nao hi vida de que “alguém tem de ser culpado, ce deve haver um réu ligado & culpa. Todo caso de sofrimento € potencialmente, até que se prove 0 contririo, um caso de vitimizagio — e qualquer pessoa que sofra 6 {a0 menos potencialmente) uma vtima’. (Bauman, 2009, p. 66) Nesse sentido, se o litigio conjugal tem dificultado 0 exercicio do papel parental, automaticamente buscar-se-A identificar 0 genitor alienante, ou, caso um aluno vivencie problemas nas relacées escolares, o primeiro passo deve ser apontar 0 responsivel pelo bullying. Para Bauman, nessa cultura da vitimizacao, que complementamos como sendo também a cultura da judicializacao, qualquer tempo ‘uma pessoa, ou sueito de direito, pode set processada, e nao faltam especialistas juridicos avidos por assumir a causa do sofredor. Além dos beneficios materiais que os sofredores ¢ seus advogados pacoroie CIENCIA € PROFSSO, 2013, 35 nm oxp, 7889 podem obter a partir de um veredicto positivo de um tribunal, a suposta vitimizagao seré entao legitimamente cconfirmada. (2008, p. 66) Assim, demanda-se que a Justica legisle sobre todos os aspectos do viver. Sob a justificativa de humanizacao do sistema juridico, leis e processos passam a regular danos, afetos, interferéncias, humilhaces, Entretanto, temos percebido que essa humanizagao que pretende garantir o bem- estar e a protegio dos direitos individuais é a mesma que perpetua uma légica punitiva, enquadrando algumas vidas no banco dos réus. Contraditoriamente, em favor do ser humano e de seus direitos, clama-se por mais intervencbes juridicas, préticas de controle, encarceramento & punigéo, alimentando @ judicializagio de nossas vidas e “fazendo de cada um de nds que aceita essa condigio ora juiz, ora acusador, algoz e vitima” (Augusto, 2009, p.13) Com base em uma légica dicotémica que separa o bem do mal, o agressor da vitima, © cidadao do criminoso, o inocente do culpado, reforca-se a segregacdo social e a culpabilizacao do individuo, além de polticas penais epressivas, violentas e estigmatizantes. Tal gia, para Bicalho, Kastrup e Reishofier, faz parte de uma complexa rede de produgdo subjetiva que incorpora clementos autoriérios, clamanda por ppenas mais severas, pela reducio da maioridade penal, constréi novos padrées de segregacao urbana com ‘© aumento dos muros, instalacio de ccimeras e circuitos internos e até cercas elétricas.Esses novos padres subjetivos ‘permiti‘io a suspensio dos principios Aticos, dos direitos constitucionais & das garantias legais, comprometendo as bases democraticas das sociedades, cocidentais’. (2012, p. 61) Apesar de constitucionalmente vivermos em um Estado Democratico de Direito, fundamentado na inviolabilidade da dignidade 85 ‘edos direitos humanos, prevalece uma ordem social baseada no medo, que legitima a violagio dos direitos das classes perigosas. Equiparadas a monstros, reservamos-lhes 0 descaso, 0 controle e a criminalizagao de suas vidas. Vidas delinquentes, anormais © perigosas, tornadas indignas de sua humanidade e direitos fundamentais, vidas que, “em nome de outras vidas, podem e devem ser manipuladas, descartadas, monitoradas, encarceradas, exterminadas, podem ter seus direitos suspensos e, mesmo, celiminados” (Coimbra, 2009, p.84), (O outro serd sempre um risco em potencial do ‘qual 6 preciso se proteger. Assim, justficamos ‘ afastamento da mae alienante ou a entrada da policia nas escolas para controlar acdes violentas. Individualizada a questo, néo somente as intervengées recaem sobre 0 individuo como também, de acordo com Augusto, “o ato de julgar ganha relevancia como pratica da democracia particip ‘que introjeta a necessidade de puni algo indispensdvel a vida de todos, como ato necessério para o bem comum e para o bem de cada um, de cada cidadao de bem” (2009, p.19). Com esse olhar individualizante € punitivo, temos getido as vidas, incentivado a participacao dos cidadaos nos julgamentos, produzido leise demandado medidas tulelares que contemplem os mfnimos aspectos do viver. Nesse processo, compreendido como judicializacao, tudo deve ser controlado, recompensado ou punido, pasando pelo Judiciario e pelo rol de profissionais que ali estao, Elegemos mediadores e solucionadores para os conflitos, confiando na garantia dos saberes fornecidos pelos especialismos, Em suma, espera-se que a justica seja feita, que ela forneca uma solugio, uma sentenga, uma reparacio, uma vitima e um culpado. Acredita-se na sua imparcialidade pacoroie CIENCIA € PROFSSO, 2013, 35 nm oxp, 7889 Assim, a vido eciaita ern ‘um trounal, conde, na males parte das vezes, do so procua ‘conhece’ a storia de vida do sujeto" (Coneic & Nunes, 2011), © capacidade de identticar a verdade e de decidir com base nela, tendo em vista que “a decisio juridica € aquela que sabe qual das partes envolvidas no processo esté com a razao. Assim, a vida € decidida em um tribunal, onde, na maior parte das vezes, do se procura conhecer a histéria de vida do sujeito” (Correia & Nunes, 2011) ‘Vemos, portanto, que as praticas judiciérias continuam a defini tipos de subjetividades e a perpassar as formas de relagao entre homem € verdade nas sociedades contemporaneas. AAs normas, leis, riscos, previsbes e punicdes encontram-se enraizadas nos modos de vidas, em que cada um deve gerir sua existéncia impecavelmente e fiscalizar a geréncia do outro, para o caso de ela apresentar alguma falha ou problema que demande uma intervencao juridica, Nesse sentido, também compreendemos a judicializagao como a produgao de subjetividades aprisionadoras, moralizantes, que vigiam e julgam a si mesmas e as demais, fortalecendo as biopoliticas que homogeneizam © delimitam os modos existenciais. Com 0 “panoptismo em nés" (Coimbra, 2009), vivemos em um campo de concentracao a céu aberto, em que “uma tecnologia de controle opera no mais fem lugares de confinamento fechados ou apartados de um fora, nem mesmo por uma delimitacao territorial em relagdo ao centro, mas por uma administragdo do territ6rio por seus préprios habitantes” (Passeti como citado em Augusto, 2009, p.15) A fim de incitar outras reflexoes, explicitaremos a explicagao de uma ministra do Superior Tribunal de Justica (ST) sobre a sentenga que condenou um pai a indenizar a filha com duzentos mil reais por abandono afetivo, considerado como dano moral € com forte énfase aos prejuizos psicoligicos decorrentes de tal atitude, Segundo ela, na atualidade, cada vez mais a decisdo judicial 86 “analisa os sentimentos das pessoas, sé0 novos caminhos e novos tipos de direitos subjetivos que esto sendo cobrados. Todo esse contexto resume-se apenas em uma palavra: a humanizacao da Justica” (ustica condena pai por abandono afetivo, 2012), ou, diriamos sob outra perspectiva, a judicializacdo da Vida humana, Consideragées finais © psicélogo basearé seu trabalho no respeito e na promogie da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaracao Universal dos Direitos Humanos. CO psicélogo trabalharé visando a promover a sade e a qualidade de vida das pessoas fe das coletividades © contribuird para a eliminagao de quaisquer formas de negligéncia, discriminacao, exploragao, violencia, crueldade e opressao, (Consetho Federal de Psicologia, 2005, p. 7) Fsses sio dois dos preceitos fundamentais do Cédigo de Etica Profissional do Psicélogo. Primeiramente, importa destacar que sua construgao visou a contemplar a diversidade que configura 0 exercicio da profissao, pautando-se no princfpio de se constituir mais como um instrumento de reflexo do que como um conjunto de regras pré-detfinidas. incentivo & reflexao: acreditamos ser esse um fator crucial para a anélise critica de nossos posicionamentos e atuagées, considerando a Aiica, sobretudo, como o exercicio de relletir sobre os efeitos do nosso saber-fazer cotidiano, Nesse sentido, ela pode ser considerada uma andlise reflexiva do comportamento moral, sendo moral concebida como “um sistema de rnormas, principios e valores, segundo 0 qual sio regulamentadas as relacdes miituas entre os individuos ou entre estes ea comunidade” (Wazquez, 1999, p.84). Esse sistema deve ser situado histérica e socialmente, na medida em que atende as demandas de um pacoroie CIENCIA € PROFSSO, 2013, 35 nm oxp, 7889 dado contexto em que se dao as relagées humanas, constituindo-se como certo modo de regulagao das condutas e de manuten¢ao da ordem social ‘Ao longo do trabalho, objetivamos fomentar essa andlise reflexiva da judicializacao da vida, problematizando os discursos € as agdes que tém contribuido para a naturalizacao desse fendmeno, Os conceitos de bullying e de alienacao parental foram utilizados como dispositivos de andlise do nosso funcionamento social e juridico, tendo em vista que reverberam as légicas de individualizacao, de controle e de criminalizagao das condutas. Dessa maneira, bbuscamos deslocar 0 foco do individuo para as leis, instituiges e praticas sociais que perpetuam uma ordem estabelecida € que tentam mascarar suas tensdes e contradighes, ceximindo o fstado ea sociedade da implicagao perante questdes da esfera coletiva £ assim que procedemos quando nos concentramos em identificar, prevenir € combater o bullying, ainda que para isso seja necessdria a repressio policial, € obscurecemos “questées tais como processos de formacao, trabalho e satide dos educadores, financiamento da educagao e modos de gestio da escola, dentre outras” (Heckert & Rocha, 2011). Aplacamos os desvios e as tenses com a judicializacao do Viver, ressaltando as demandas de seguranca, combate a criminalidade, medidas de protecdo e garantia dos direitos de alguns Cidadios e vitimas. De modo semelhante, justificamos as politicas de controle e as legislagées que regulam as familias, responsabilizando unicamente os pais pela sate e pelo bem-estar de suas criangas e punindo-os por qualquer dano a clas causado, Engajacos na luta contra a SAP, ‘em seu duplo aspecto de infragao e patologia, deixamos de priorizar, por exemplo, a criagao de politcas piiblicas que garantam 0 acesso 87 8 satide, educacao ¢ lazer para as criancas € adolescentes ou a busca de parcerias & redes de servicos que apoiem as familias & incentivem a participacao dos pais no cuidado dos filhos, em especial nas situacoes de litigio conjugal ‘Ao considerarmos que um conflito ou um comportamento diferenciado do padrao pode vir a revelar algum dano/culpa, enquadrar-se em determinada lei, devendo ser julgado © punido/recompensado, dificultamos ao sujeito 0 exercicio critico, a implicagao, a reflexdo, 0 questionamento, a transformacio © 2 apropriagao de seus posicionamentos & atuagées no mundo, Paradoxalmente, nés 0 responsabilizamos por um crime ou doenga, ‘mas insistimos em negar-lhe a possibilidade de reconhecer que nao 6 um ser determinado ‘ou vitima das circunstancias, esim, um sujeito social, politico, ativo, criador e suscetivel as mudancas ¢ transformagées que ocorrer a todo o tempo, em diferentes contextos e com -miitiplas varidveis Atribuir imperativos morais, determinismos biolégicos ou quaisquer outros & existéncia humana é desconsiderar toda forma de liberdade e responsabilidade do sujeito perante a vida, Se seu modo de ser e de estar no mundo 6 pré-determinado por esséncias invariéveis ou tem origens que ele nao controla e desconhece, como requerer seu envolvimento na construcio do viver particular e comparilhado? Olhar 0 sujeito dessa forma é nao considers lo como ser social, variado, criativo: como tum ser de possibilidades. Desse modo, sera facil para o profissional psicdlogo responder as demandas de solugées répidas para as d Se a nossa perspectiva for limitante, nao considerando 0 contexto em que 0 sujeito se encontra @ as diversas relagBes que moldam sua existéncia, reproduziremos uma pritica classificatéria reducionista, que determina idades e 0s sofrimentos humanos. pacoroie CIENCIA € PROFSSO, 2013, 35 nm oxp, 7889 que a infragéo esté acima de qualquer outa questao pertinente a sua nareativa de vida Temos observado que, legitimado pela diversidade de abordagens tedricas da profissdo, 0 psicélogo pode vir a atuar de maneiras variadas, construindo, dentro dos parémetros éticos, outros modos de intervencdo, Questionamos aqui, porém, se continuaremos a reproduzir préticas que reforcam a ideia de que 0 problema esté no sujeito em si, isolado, desconsiderando, as questbes politcas, sociais e culturais que permeiam sua vida, Ainda pautaremos nosso trabalho na dicotomia individuo/sociedade, tomando-os como polos opostos? Vale fisar o papel da Psicologia na constituicao das subjetividades contempordneas, uma vez que suas produgoes discursivas e préticas incidem sobre teméticas existenciais, com a legitimagao ¢ 0 peso do seu status de ciéncia especialista na matéria humana, Dessa forma, nao podemos dissociar 0 seu saber-fazer do caréter ético-politico, ético na medida fem que nao é neutra ¢ interfere nos modos como a vida se da e como as relagdes se estabelecem; politico, pois no pode deixar de assumir posicionamentos, 0 que a coloca sempre em uma “encruzilhada micropolitica fundamental”. Guattari e Rolnik explicam: (Ou (seus profisionas) vo fazer o jogo dessa reproducio de modelos que no nes peritern rar sidas paras processos de singularizacio, (04, 29 contri, vio estar trabalhando para 0 funcionamenty desses processos na medida de suas posibildaces © dos agenciamentos que consigam pér para funciona. iso quer dlzerqueniohs abjetvidade centfica alguma ‘esse campo, nem uma suposta neutalidade na relagio. (1936, p. 29) A Psicologia, portanto, precisa estar atenta as determinagées que impde, aos modelos que reproduz, aos processos que congela e as subjetividades que consolida ou exclui A depender da forma que considerar sua implicagao ético-politica com a sociedade, 88 © psicdlogo poder atuar no sentido de homogeneizar as existéncias, reforcando a apropriagao alienada e submissa das subjetividades que recebemos, ou buscar favorecer a relacao de expresso e criacao, “na qual 0 individuo se reapropria dos ‘componentes dasubjetividade, produzindo um processo que eu chamaria de singularizagao" (Guattari & Rolnik, 1996, p.33) Em consonancia com Verani (1994), nao podemos perder de vista 0s questionamentos ‘eas anslises sobre nossas praticase implicagies 1a (re}producao do poder punitivo ¢ das vidas destituidas de sua condigio humana para, a partir dai, tentarmos construir de fato 0 que nossa Consttuico Federal firma desde 1988: a existéncia do Estado Democritico de Direto, que tem como fundamento a dignidade humana e onde “todos séo iguais perante a lei, sem distingao de qualquer natureza, garantindo-se aos brasieiros e aos estrangeiros residentes no Pafs a inviolabilidade do direito a vida, 8 liberdade, & igualdade, & seguranga © 8 propriedade” (Constituigao da Republica Federativa do Brasil, 1988). Fazendo referéncia, mais uma vez, aos preceitos do nosso Cédigo de Etica Profissional, o psicélogo trabalhara para a promogao da satide e dos direitos dos sujeitos € das Coletividades, porém sem qualquer forma de violéncia, discriminacao, crueldade ‘ou opressao. Seja qual for a abordagem que adotar e 0 seu campo de intervencao, acteditamos que, com base na implicagao e 1a reflexao ético-politica de nossos discursos ‘eacbes, podemos crar coletivamente priticas psi inovadoras, que promovam desvios inaugurem rupturas, a servico da valorizacao da vida, e nao da violéncia relativa as sas diversidades e multiplicidades, aos seus modos de expressao. pacoroie CIENCIA € PROFSSO, 2013, 35 nm oxp, 7889 Referéncias ‘Camila Felix Barbosa de Olvera i Camilla Felix Barbosa de Oliveira & Leila Maria Torraca de Brito ‘Mestranda do Programa de Pas-Ctaduacio em Psicologia Soil da Universidade do Estado do Rio de Jancto, Rode neta — I~ Bra Email camil-eix@hatmailicom Leila Maria Torraca de! ito Doutora em Psicologa pela Ponticia Universidade Catiea do Rio de Janeito © Professora Aswciada da Universidade do ttado do Ro de Jane, Rio de janeiro R)~ Bras Ema lela tortaca brte@gmailcom, Enderego para envio de correspondéncia: Rus Sao Pnchca Xaver 328, Kanda sla 10,001, blaco 8, Maacan8, CLP: 20550.900, Ri de Jano, Rl ‘Aadade, C2011, ages). Cot de ico anos & iimado spss por more poker, Joma ne Reapers fm 08 marg, 2012, de hip) gobo.conornahojel Poi201 10prt-decineoanntmadapepaie pormonde peter en ‘Astunes, .,& Zu, A. 2008). De bulling ao preconeto: 15 esas da barbie a edcaco. Plog e Scedad, 2o(1), 33-41. dor tpfdedo.orgi10.1590/80102- Frandonscovinens Augusto, A. 2009) Juriicilizagto da vids ov sobrevidst Mewes, 5), 11-22 Sauran (200) vd lig Ris de eo: ge Zaha Bah, APG, Kasra, VY, A Reha |. 2012, Peso € segurancz pba invengio 2 outs miquras de aera Poialogiae Sociedade, 241), 5665. do: hiplibeda ongt0.190:5002-71822012000100007 ras Contino da Republica Foderava do ras. (988, utube) Recipado em 6 dejo, 2012, de pir Senado goubileglacaicons! Sas 2010 9° 12.318; de 26 de agosto de 2010 sobre ena parental. 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