Você está na página 1de 3
os MARIA BONOMI STRATEGIC INVESTMENT! ‘ enn cmaens | Carolina de Queiraz, da Graphs, « Minica, do Gabinee A GUERIRA DAS GRAVURAS Artistas e galerias assumiram posi¢des hostis, num debate em que os conceitos de Preco e veiculacao ndo encontram um © pottenico arsncio na revista fala em investinento estatésico @ denominador comum, rocura motivar empresas. Reportagem de ROSANE REGIS e THOMAS SCHMIDT. Fotos de LUIS CARLOS KFOURT Samed a asaran Senne nara LIQUIDACAO Beige deer ee ers FINAL DE GRAVURAS ‘Go, em Sao Paulo, Rio, Por- to Alegre, Nova York, Milgo artazes, nos lugares ladas de Sto Pat METAL, LITO, SERIGRAFIA eGenebra Jo, chamando para uma ex ‘A publicidade falava em osicdo de gravuras, a Paptis investimento estratégico, ren- & Cia., destinada a captar re- tabilidade de 150 por cento ‘cursos para uma cooperativa " 0 ano, liquides nos merca dos artistas plasticos dos nacional e internacional, (O cireuito, 18 apreensivo, 2 oo eo jornal da tarde ‘ASRapeie, Manca ue ysl rpc. prontmente Papdits ‘Carise“Arisias devia terum comportamento mals tea ficou nervoso com a oferta dos artistas: "Trabalhos ex ‘lusivos dos mais conhecidos artistas de $30 Paulo, reuni- dos cooperativamente nurs ‘empreendimento de autoses- tho, promovendo um grande ‘encontro com 0 pablico e ab- folutamente sem intermedis- Flos. Tamanho grande a 600 cruzeiros’. E seguiamse os rnomes ded artistas, Estava declarada a guerra das gravuras, e assim, no dia Ga. inauguracao da mostra promovida por Paptis é& Cia. tes galerias especializa- dias em gravuras — Gabinete de Artes Graficas, Bric A Brac @ Graphas — anunciaram, frum jornal, uma “liguidacso final de gravuras’, a 300 cru zeiros cada, de 17 artistas Entre eles, Aldemir Martins, Ely Bueno, Lothar Charoux e Ubirajara Ribeiro, que expu- nnham na Papéis & Cia. [Nao ficaram nisto as gale- ras. Prometeram, para 1979, promover apenas “os profs sionals que prestigiam ¢ res- peltam seus préprios traba- Thos" = ‘Quando tomamos co- nhecimento da Papéis & Cis — conta Raquel Babenco, do Gabinete — as tréspalerias se tuniram, porque todas tinham mito dinheiro investido em ratios artistas daquela expo- ico. Fizemos uma reunizo € decidimos pela. liquidacio. (Ora, todas 16s tinhamos gra ‘yuras estocadas, até encalha- das, pois nunca ousamos des- respeitar 0 preco de mercado dagueles artistas. Mas se eles proprios estavam baixando Méniea Figueiras de Ale meida, também do Gabinete, diz incisiva — A frase deles absolutamente sem intermediarios, era dirgida 2 rds, Eu tinha que enfiar a ca Fapuca, eraum atanve fon ‘As tres sécias da Bric i Brac — Liécla Schulze, Mari- lu Beer ¢ Clarisse Gueller —, também recriminam os artis. tae — A campanha deles, nic apenas no eartaz, mas nas de- Claracdes aos jornais, era fa- zer com que aparecéssemos como aproveltadores e para. sitas. Bonomi diz que uma gra- vara sua é vendida na Exqua- G30 Molduras Lida., de sua propriedade, por 600 cruzei- Fos, enquanto nas galerias a ‘mesma obra esta custando 2 smileruteiron. E arremata — Bu jd estava saturada da exploracio das galerias e in- termediarios, ganhando mais dde 200 por cento em cima das ‘Maria Lufsa Beer, da Gale- tia Bric a Brac, nfo concor da, decididamente “E uma grande tolice ata- car as galerias, porque a ‘maioria dos artistas nao tem lugar para vender suas obras, como a Bonomi Marchande hi 12 anos, Ménica de Almeida nao acre dita em gravuras como inves- timento, 20 contrario do que dizo andneia de Bonomi = Nao aconselho arte co- mo investimento, a nio ser Gleos de pintores consagra- dos. As gravuras nao s30 130 fceis de se vender como as Ietras de cambio, terrenos e outros bens. PRAXE QUEBRADA Carolina de Queiror, da Graphus, vé um outro angulo da questio: —Nomeucaso tenho o que cobrar dos artistas. Afinal, durante o ano todo a gente os prestigia, desenvolve ativida- Ses sem fins lucratives, pa trocina exposicoes sem ne- ‘nhuma despesa para eles, en- fim, batalha Junto com eles E, de repente, os artistas, sem pagar impostos, com um tex- to desonesto, quebram uma praxe do mercado, ou seia, ‘do respeitam 0 preco estabe- lecido por eles mesmos! ‘Quanto a liguidacso, fot Adecidida de “cabeca fra” pelo Gabinete e pela Graphus, mas para a Bric 3 Brac a deci so foi emocional: "Aste, para a gente, no uma questio de moda, uma coisa para ser colocada em li- quidacso — diz Maria Luisa Beer. — Muitos dos artistas ‘envolvidos eram amisos pes- soais da gente, mas como tu do foi muito forte, a resposta, tinka de ser rapida. Por isso, 2 liguidacio, para nds, foi ‘mais emocional que racional: ‘nem pensamos. no dinheiro que {amos perder. principal- mente pelo fato de a agressio ter vindo de quem veio, ou seia, de artistas cujas obras foram sempre respeitadas aqui dentro, ‘No entanto, as galerias fa- zom questao de deixar claro fue no so contra 2 coope- rativa e acreditam que nada disso. teria _acontecido se 0 pessoal de Papés & Cla. tives- se procurado as galerias co- ‘mo amigas ecolaboradoras. Méniea de Almeida acen= — Teria sido bastante pro- fissional da parte deles se vvessem esclarecido com ante- cedéncia, ao pblico e as 2 lerias, as razbes de Papés & Gia, isso porque existe um preco de mercado © ou voce Justifiea por que o seu preco baixou ou isso significa que vvoet passou a ter aquele pre- Clarisse Gueller acha que “esse mal-entendido odioso poderia ter sido evitado se os Artistas tivessem um compor~ tamento mais ético para com quem promove e compra uae obras durante o ano to- do" — Eles deveriam ter ofere= ido as galerias parte dessas sravuras, para que pudésse- mos responder aos nossos clientes quando estes nos in- formassem que aquele mes- mo artista estava sendo ven- dido 600 e nao a 2 mil cru 2zeiros. Teria sido uma solic 40 pacifica AIDEIA ERA QUTRA — Papéis & Cia, nada tem a ver com o mercado de gra- vuras —"diz Ubirajara Ribel- 10, gravador e um dos orga hleadores da mostra, — A. Idéia era fazer uma exposicao de gravura e levantar fundos para uma cooperativa de ar- tistas plisticos, Cada partici ante entrow com uma obra exclusiva e uma taxa de 300 ccruzeiros para a compra de ‘hirajara: "inguin se preocupou com andes ercadologeas™ papel e impressdo das gravu- fas, O movimento no era tama provocaczo. ‘Marcelo Nitsche afirma que as salerias criaram gra fuitamente uma situacdo de- sagradavel. “'Elas puseram 0 carro a frente dos bois, vendo 08 ar tistas, através da cooperat va, intervindo diretamente rho’ mercado de arte. No en: tanto, 56 agora, com 0s 250, mil eruzeiros arrecadados, & que se cogita de uma sede ropria onde os artistas diss Cutirao seus objetivos. Para Aldemir Martins, a cooperativa. nao vai beneficid-lo em nada, mas se precisar dele, tera seu apoio. Sobre a atitude das galerias, colocando-o, juntamente ‘com outros, no index de pro- fissionals que “ndo respeitarn seu trabalho", ele afiema: —"O problema delas era cchamar a atencao. E conse- guiram, as custas dos nomes ‘de muitos artistas sérios. Mas ‘3 cooperativa esta aclma das trés galerias juntas. Agora ‘quero esclarecer uma coisa fhunca vendi diretamente pa- ra nenhuma dessas galerias € duvide que tivessem estoque de obras minhas. Ou com- praram de terceiros ou de la- Ardes, porque nao € possivel que tenham vendide gravu- ras minhas por 300 cruzeiros, quando geralmente gasto 600, eruzelros $6 para imprimi- las. Ely Bueno também ficou indignada: — Nao cheguel a ler o angncio difamat6rio, mas Senti como alguns artistas fi- taram chocados, Isso é com- Dreensivel,porque muitos de- pendem das galerias. Elas cot Siflcaram 0 artista, nao res. peitando sua pessoa. MUDANCA RADICAL Carolina de Queiroz, da Graphus, defende a valoriza- fo da gravura: — Toda essa briga no se reduz apenas a uma quest2o Financeira ou de mercado, Pessoalmente, batalhei pela wunigo das trés galerias por ‘que, depois daquilo que os artistas flzeram, esta fol a ‘nica maneira de valorizar a gravure (© artista Ivald Granato também esti preocupado Acooperativacomo Obietivo princiod com a valorizacio da gravu- za, apenas tem outro enor = Acredito que Papéis & Cia, além de ter conseguido levantar fundos para uma cooperativa que vai defender 0s interesses da classe dos ar- Ustas plisticos, modificou al- guma_coisa_no panorama Paulista cas artes, Teve uma Funcdo mercadolésica. Prin- cipalmente em Si0 Paulo, en- frentamos uma situacao onde igalerias e produtores (donos de grificas)estipularam quais ‘devemn ser os artistas mais ca- ros eos tipos de gravura mais vendaveis, Entio, © mercado ficou cheio de gravuras fé- ceis, sem preocupactes técni- 2s ou de pesquisa, Feitas pa- ra serem consumidas rapida mente. Uma vez que houve, vamor dizer, uma limpeza ‘has prateleiras dar galerias © Unit, espero que isso ajude numa mudanca radical do mercado. Vamos melhorar hhivele baixar o preco Em termos de preco, Monk ca de Almeida, do Gabinete, tentende que fei dado um pas- so adiante: Agente estava com um capital empregado num acer- Yo parade, Com a liguida- ‘80, acabamos com © nosso capital. Eo mais importante é ‘que descobrimos uma nova falxa do mercado em poten- Gal: © preco. baixo atraiu muita gente que nunca tinha fentrado antes numa galeria dearte Em meio a essa controvér- sia, 0 artista de vanguarda Tilio Plaza desabafa: = O sistema brasileiro de ane € pseudoprofissional em Suas relacSes e est doente © podre. A liquidacao das gra- ‘varas no é nada importante @ apenas uma peca da engre- ager. Agora, o artista tem O direito Haquido e certo de or- Banizar seu sistema de produ- Gao, Néo hé razdo para se por a isso, uma ver que as préprias galerias estio orga- nizadas. A experiencia de paises mais desenvolvidos mostra que uma cooperativa de artistas plastics nao entra fem chogue com outras for mas de producdo e veicula- co do sistema de arte. Oca- so dessas trés galeria € epis dico e acontecimentos episs- dices é 0 quendo faltam. “ly Bueno: ‘Nao Ire ananciodfamatoro, mas have choceda”™

Você também pode gostar