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HISTÓRIA

 Portugal no primeiro pós-guerra


 As dificuldades económicas e a instabilidade política e social; a falência da 1ª
República:
A 1ª República portuguesa (1910-1926) esteve longe de proporcionar a acalmia de que o
país necessitava.
O parlamentarismo, derivado dos elevados poderes do Congresso da República sobre
governos e presidentes, contribui para uma crónica instabilidade governativa. (Em 16 anos
de regime, houve 7 eleições gerais para o Congresso, 8 para a Presidência e 45 governos.) O
Parlamento interferia em todos os aspetos da vida governativa, exigindo constantes
explicações aos membros do Governo e seguia, até, pela via dos ataques pessoais.
O laicismo da República, assente na separação da Igreja e do Estado, originou um violento
anticlericalismo. A proibição das congregações religiosas, as humilhações impostas a
sacerdotes e a excessiva regulamentação do culto granjearam à República a hostilidade da
Igreja e do país conservador e católico.
Neste quadro pouco favorável ao sucesso da República, a participação portuguesa na
Primeira Guerra Mundial revelou-se fatal.
 Dificuldades económicas e instabilidade social:
Em março de 1916, Portugal entrou na Guerra pois queria defender as colónias africanas e
tinham vontade política de participar ao lado dos aliados. A sua participação no conflito
mundial acentuou os desequilíbrios económicos e o descontentamento social.
A falta de bens de consumo, os racionamentos e a especulação desesperaram os
Portugueses, em especial os mais desfavorecidos. Com a produção industrial em queda, o
défice da balança comercial cresceu. A dívida pública, problema estrutural das nossas
finanças, disparou. A diminuição das receitas orçamentais e o aumento das despesas
conduziram os governos a multiplicarem a massa monetária em circulação que, por sua vez,
desvalorizou a moeda e originou uma inflação galopante.
O processo inflacionista permaneceu para além da guerra. Com isso houve um aumento do
custo de vida, afetando os que viviam de rendimentos fixos e poupanças, as classes médias,
em como os operários vítimas do desemprego.
Do ponto de vista económico, as classes médias sentiram-se traídas pela República.
O operariado também ficou descrente com a República. A agitação social adquiriu, em 1919-
1920, contornos violentos nas grandes cidades. As greves dinamizadas pelos
anarcossindicalistas, que recorriam a atentados bombistas, tornaram-se frequentes.
 O agravamento da instabilidade política:
A Guerra trouxe o agravamento da instabilidade política. Em 1915, o general Pimenta de
Castro dissolvia o Parlamento e instalava a ditadura militar.
Pela via da ditadura enveredou o major Sidónio Pais, em dezembro de 1917. Destitui o
Presidente da República, dissolveu o Congresso e fez-se eleger presidente por eleições
diretas, em abril de 1918. Sidónio, que reagia à demagogia dos políticos profissionais e em
particular à hegemonia do Partido Democrático na vida nacional, apoiou-se nas forças mais
conservadoras da sociedade portuguesa, principalmente nos monárquicos.
O fim do sidonismo mergulhou o país no caos. Em janeiro/fevereiro de 1919, houve guerra
civil em Lisboa e no Norte. Os monárquicos quiseram aproveitar-se da desagregação dos
partidos republicanos durante o consulado sidonista e ensaiaram uma efémera “Monarquia
do Norte”, proclamada no Porto.
O regresso ao funcionamento democrático das instituições fez-se em março de 1919. Mas a
“República Velha” não logrou a conciliação desejada. A divisão dos republicanos agravou-se
com o aparecimento de novos partidos políticos
Os antigos políticos retiraram-se da cena política. Aos novos líderes faltou capacidade e
carisma para imporem os seus projetos.
À instabilidade governativa, somavam-se os atos de violência despropositada que
manchavam o regime e nos envergonhavam além-fronteiras.
A "Noite Sangrenta” (19 de outubro de 1921) em que ocorreu o assassinato do chefe do
Governo que se demitira na véspera, António Granjo, e de heróis do 5 de outubro, como
Carlos da Maia e o almirante Machado dos Santos. Com eles morreu algo da ética
republicana.
 Portugal: O Estado Novo
 Da ditadura militar ao Estado Novo:
A 28 de maio de 1926, um golpe de Estado promovido pelos militares pôs fim à 1ª República
parlamentar portuguesa. A democracia só voltou a Portugal decorridos quase 50 anos.
Para começar, instalou-se uma ditadura militar, que se manteve até 1933. Acontece que
esta fracassou nos seus propósitos de regenerar a pátria e de lhe devolver a estabilidade.
Desentendimentos entre os militares provocaram uma sucessiva mudança de chefes do
Executivo. A impreparação dos chefes da ditadura resultou no agravamento do défice
orçamental e a adesão entusiástica dos primeiros tempos esmoreceu.
Em 1928, a ditadura recebeu um novo alento com a entrada no Governo de um professor de
economia. Chamava-se António Salazar e sobraçou a pasta das Finanças, com a condição
por si expressa de superintender nas despesas de todos os ministérios.
Com Salazar nas Finanças o país apresentou saldo positivo no Orçamento. Este sucesso
financeiro, conferiu prestígio ao novo estadista e explica a sua nomeação para a chefia do
Governo.
Salazar tinha como propósito instaurar uma nova ordem política e, por isso, empenhou-se
em criar as necessárias estruturas institucionais. Ficou, então, consagrado um regime
político conhecido por Estado Novo, tutelado por Salazar, do qual sobressaíram o forte
autoritarismo do Estado e o condicionamento das liberdades individuais aos interesses da
Nação.
Salazar repudiou o liberalismo, a democracia e o parlamentarismo e proclamou o carácter
autoritário, corporativo, conservador e nacionalista do Estado Novo.
Desse modo, o ditador logrou convencer grande parte do país da justeza da sua política,
obtendo o apoio de quantos haviam hostilizado a 1ª República e desacreditado na sua ação:
a hierarquia religiosa e os devotos católicos; os grandes proprietários agrários e a alta
burguesia ligada ao comércio colonial e externo; a média e a pequena burguesia
pauperizadas; os monárquicos, os integralistas e os simpatizantes do ideário fascista; os
militares.
Embora Salazar condenasse o carácter violento e pagão dos totalitarismos fascistas italiano
e alemão, o Estado Novo não deixou de abraçar um projeto totalizante para a sociedade
portuguesa. A concretização do seu ideário socorreu-se de fórmulas e estruturas político-
institucionais decalcadas dos modelos fascistas, particularmente italiano.
 Conservadorismo e tradição:
Salazar foi uma personalidade extremamente conservadora. Foi um grande ativista,
enquanto estundante, repudiava os exageros republicanos, mantendo amigável convívio
com monárquicos e com adeptos do Integralismo Lusitano.
O Estado Novo distinguiu-se pelo seu carácter profundamente conservador e tradicionalista.
Repousou em valores e conceitos morais que jamais alguém deveria questionar: Deus, a
Pátria, a Família, a Autoridade, a Paz Social, a Hierarquia, a Moralidade, a Austeridade.
Respeitou as tradições nacionais e promoveu a defesa de tudo o que fosse genuinamente
português.
Há vários exemplos de que o Estado Novo pareceu voltar as costas à modernidade.
Criticou-se a sociedade urbana e industrial, fonte de todos os vícios, e enalteceu-se o mundo
rural, refúgio seguro da virtude e da moralidade.
Protegeu-se a religião católica, definida como religião da Nação portuguesa.
Reduziu-se a mulher a um papel passivo do ponto de vista económico, social, político e
cultural. A mulher-modelo foi definida como uma mulher de grande feminilidade, uma
esposa carinhosa e submissa, uma mãe sacrificada e virtuosa.
A “verdadeira família portuguesa” era a família católica de moralidade austera, que repelia
o vício e a desregração de costumes proporcionados pela liberalização da cidade moderna.
 Nacionalismo:
O Estado Novo perfilhou um nacionalismo exacerbado. Erigiu um desígnio supremo da sua
atuação o bem da Nação, expresso no slogan “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”. Fez
dos Portugueses um povo de heróis, dotado de qualidades civilizacionais.
Para o Estado Novo, Portugal e os Portugueses não primavam só pela superioridade do seu
passado histórico, mas pela diferença que imprimiam às suas instituições. Salazar gostava de
se desmarcar do cariz violento e agressivo das experinências totalitárias europeias.
Repugnava-lhe a sobrenceria sobre-humana que rodeava os seus chefes e as suas
manifestações de massas. Salazar via em tal demonstrações de paganismo, contrárias aos
princípios da moral cristã e às tradições nacionais que o Estado Novo defendia.
 A recusa do liberalismo, da democracia e do parlamentarismo:
O Estado Novo afirmou-se antiliberal, antidemocrático e antiparlamentar. Recusou a
liberdade indivual e a soberania popular enquanto fundamentos da sua legitimidade.
Na ótica de Salazar, a Nação representava um todo orgânico e não um conjunto de
indíviduos isolados. Assim, resultaram duas consequências deste pressuposto. A primeira foi
que o interesse da Nação se sobrepunha aos direitos individuais. A segunda foi que os
partidos políticos, na medida em que representavam apenas as opiniões e os interesses
particulares de grupos de indíviduos, constituíam um elemento desagregador da unidade da
Nação e um fator de enfraquecimento do Estado. E, tendo presente a instabilidade política
da 1ª República, Salazar declarou-se um acérrimo opositor da democracia parlamentar.
Para Salazar, só a valorização do poder executivo era o garante de um Estado forte e
autoritário.
Subalternizado o poder legislativo, quem efetivamente sobressaía, no seio do Executivo, era
a figura do Presidente do Conselho. Salazar encarnou na perfeição a figura do chefe
providencial, intérprete supremo do interesse nacional.
A consolidação e o robustecimento do Estado Novo passaram pelo culto ao chefe, que fez
de Salazar o “salvador da Pátria”. Salazar mostrava-se às multidões e cultivava a discrição, a
austeridade e a moralidade.
 Corporativismo:
O Estado Novo mostrou-se empenhado na unidade da Nação e no fortalecimento do Estado.
Negou o divisionismo fomentado pela luta de classes marxista, propondo o corporativismo
como modelo da organização económica, social e política.
O corporativismo concebia a Nação representada pelas famílias e por organismos onde os
indíviduos se agrupavam pelas funções que desempenhavam e os seus interesses se
harmonizavam para a consecução do bem comum. Esses organimos, denominados
corporações, incluíam as instituições de assistência e caridade, as universidades e as
agremiações científicas, técnicas, literárias, artísticas e desportivas, as Casas do Povo, as
Casas dos Pescadores, os Grémios e os Sindicatos Nacionais.
Juntamente com as famílias, as corporações concorriam para a eleição dos municípios.
Corporações e municípios enviavam os seus delegados à Câmara Corporativa. Reunia no
Palácio de São Bento e competiam-lhe funções consultivas: dar parecer sobre propostas e
projetos de lei a submeter à Assembleia Nacional.
Apesar da Constituição de 1933 programar uma diversidade de corporações, na prática só
funcionaram as de natureza económica. Compreendiam a agricultura, a indústria, o
comércio, os transportes e o turismo, a banca e os seguros, a pesca e as conservas.
 O enquadramento das massas:
A longevidade do Estado Novo pode explicar-se pelo conjunto de instituições e processos
que conseguiram enquadrar as massas e obter a sua adesão ao projeto do regime.
Em primeiro lugar, o Secretariado da Propaganda Nacional, criado em 1933. Dirigido por
António Ferro, que desempenhou um papel ativo na divulgação do ideário do regime e na
padronização da cultura e das artes.
Em 1930, fundou-se a União Nacional para congregar “todos os portugueses de boa
vontade” e apoiar as atividades políticas do Governo.
A unanimidade pretendida em torno do Estado Novo só foi possível com a extinção dos
partidos políticos e a limitação severa da liberdade de expressão.
Em 1934, realizou-se as primeiras eleições legislativas e os deputados eleitos à Assembleia
Nacional pertenciam à União Nacional, transformada em partido único.
O dogmatismo e a intransigência do Estado Novo cresceram em 1936, com a vitória da
Frente Popular e a eclosão da Guerra Civil. Fez-se acreditar que a ameaça bolchevista
pairava sobre o país e apertou-se o controlo sobre a população.
Obrigou-se o funcionalismo público a fazer prova da sua fidelidade ao regime através de um
juramento.
Recorreu-se a organizações milicianas. A Legião Portuguesa destinava-se a defender “o
património espiritual da Nação”.
Quanto à Mocidade Portuguesa (inscrição obrigatória- 7 aos 14) destinava-se a ideologizar a
juventude, incutindo-lhe os valores nacionalistas e patrióticos do Estado Novo.
Controlou-se o ensino, ao nível do primário e do secundário. Expulsaram-se os professores
oposicionistas e adotaram-se “livros únicos” oficiais, que veiculavam os valores do Estado
Novo.
Impregnou-se a vida familiar com os valores conservadores e nacionalistas do Estado Novo.
Em 1936, surgiu a Obra das Mães para a Educação Nacional, uma organização destinada à
formação de “futuras mulheres e mães”.
Em 1935, fundou-se a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, que tinha como
objetivo controlar os tempos livres dos trabalhadores, providenciando atividades recreativas
e “educativas” norteadas pela moral oficial.
 O aparelho repressivo do Estado:
A censura prévia à imprensa, ao teatro, ao cinema, à rádio e à televisão que abrangeu
assuntos políticos, militares, morais e religiosos, assumindo o carácter de uma ditadura
intelectual.
A polícia política (Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado) distinguiu-se por prender,
torturar e matar opositores ao regime.
 Uma economia submetida aos imperativos políticos:
O autoritarismo do Estado Novo e a conjuntura depressiva dos anos 30 convergiram no
abandono das políticas económicas liberais. O país enveredou por um modelo económico
fortemente intervencionista e autártico, desde o final do década 20 e até aos anos 40.
Para Salazar, o fomento económico devia ser orientado e dinamizado pelo Estado,
sujeitando-se todas as atividades aos interesses da Nação. Este dirigismo económico ficou
patente nas políticas financeira, agrícola, de obras públicas, industrial e colonial adotadas.
 A Grande Depressão e o seu impacto social
 A dimensão financeira, económica e social da crise:
Desde 21 de outubro que as ordens de venda das ações se acumulavam na Bolsa. Os
grandes acionistas estavam alarmados com a descida dos preços e dos lucros industriais que
se fazia sentir.
O pânico instalou-se em 24 de outubro, a “quinta-feira negra”, quando 13 milhões de títulos
foram postos no mercado a preços baixíssimos e não encontraram comprador. A 29 de
outubro, foi a vez de 16 milhões de ações conhecerem o mesmo destino. A catástrofe ficou
conhecida como o crash de Wall Street.
Uma vez que a maior parte dos títulos tinha sido adquirida a crédito, a ruína dos acionistas
significou a ruína dos bancos, que deixaram de ser reembolsados. Com as falências
bancárias, a economia paralisou, pois cessou a grande base da prosperidade americana- o
crédito.
As empresas faliram devido à retirada dos acionistas e pelas restrições do crédito. O
desemprego disparou para mais de 12 milhões de pessoas em 1933. A produção industrial
contraiu-se e os preços baixaram.
A diminuição do consumo e as dificuldades da indústria repercutiram-se nos campos. Os
preços dos géneros agrícolas afundaram-se. Hipotecavam-se quintas, abatia-se o gado e
destruíam-se produções.
A crise da agricultura forneceu uma visão confrangedora da América dos anos 30. Famílias
inteiras vegetavam na miséria. Outras aventuravam-se e iam até as cidades à procura de
emprego. Quando lá chegavam, deparavam-se com as fábricas fechadas ou mantendo
apenas os trabalhadores estritamente necessários.
Os salários sofreram cortes drásticos, entre operários e colarinhos brancos. Sem segurança
social, as pessoas formavam filas nas ruas às espera de refeições oferecidas pelas
instituições de caridade. Às portas das cidades cresciam os bairros de lata, pois não havia
dinheiro para custear rendas de casa. Assim, a delinquência, a corrupção e o “gangsterismo”
proliferavam.
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Crash bolsista- Termo empregue nas operações financeiras de bolsas de ações para
caracterizar a quebra dos valores dos pápeis e títulos postos à venda.
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 A mundialização da crise; a persistência da conjuntura deflacionista:
A Grande Depressão propagou-se às economias dependentes dos EUA: aos países
fornecedores de matérias-primas e a todos aqueles cuja reconstrução se baseava nos
créditos americanos.
No mundo capitalista liberal, os anos 30 foram tempos de profunda miséria e angústia. A
conjuntura deflacionista, caracterizada pela diminuição do investimento e da produção, pela
queda da procura e dos preços, parecia eternizar-se sem solução. A diminuição do consumo
acarretava a queda dos preços e da produção, as falências, o desemprego e a diminuição do
consumo.
As autoridades políticas não compreenderam a real dimensão da crise e acentuaram a
deflação com medidas desastrosas. Em 1930, os EUA aumentaram de 26% para 50% as taxas
sobre as importações. Criaram dificuldades acrescidas aos outros países que ficaram sem
condições para adquirir a produção americana. A este facto não foi alheio o declínio do
comércio mundial verificado.
Aumentaram-se os impostos, buscando receitas novas para o orçamento, e restringiu-se
ainda mais o crédito para que desaparecessem as empresas não rentáveis. Pretendia-se o
saneamento financeiro evitando despesas e aumentando as receitas, originando obstáculos
ao investimento e à elevação do poder de compra da população. Sem procura não havia
relançamento possível da economia.
Instalada a descrença no capitalismo liberal, restou aos estados em crise uma maior
intervenção na regulação das atividades económicas.
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Deflação- Situação económica caracterizada por uma diminuição dos preços, do
investimento e da procura, acompanhada de uma progressão do desemprego.
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 A resistência das democracias liberais
 O intervencionismo do Estado:
A depressão dos anos 30 revelou as fragilidades do capitalismo liberal. Até aí, acreditava-se
na livre iniciativa, na livre produção e na livre concorrência como capazes de
proporcionarem a riqueza social. Interpretavam-se as crises cíclicas como reajustamentos
naturais entre a oferta e a procura, tornando-se desnecessária a regulação das atividades
económicas por parte do Estado.
O economista britânico John Keynes duvidou da capacidade autorreguladora da economia
capitalista, chamando a atenção para a necessidade de um maior intervencionismo por
parte do Estado. Criticou as políticas deflacionistas que evitavam as despesas do Estado e
combatiam a massa monetária em circulação. Crendo nas desvantagens de uma inflação
controlada, Keynes defendia uma política estatal de investimento, de luta contra o
entesouramento e de ajuda às empresas.
Segundo o keynesianismo, deveria caber ao Estado um papel ativo de organizador da
economia e de regulador do mercado e jamais o de simples auxiliar dos homens de
negócios.
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Intervencionismo- Papel ativo desempenhado pelo Estado no conjunto das atividades
económicas a fim de corrigir os danos ou inconvenientes sociais derivados da aplicação
estrita do liberalismo económico. Concretizou-se no controlo dos preços, em leis sobre os
salários, na legislação do trabalho e de carácter social.
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 O New Deal:
Em 1932, os EUA elegeram um novo presidente, o democrata Franklin Roosevelt, que se
propôs tirar o país da crise. Roosevelt decidiu-se pela intervenção do Estado federal na
economia americana, pondo em prática um conjunto de medidas que ficaram conhecidas
como o New Deal.
Numa primeira fase (1933-1934), o New Deal estabeleceu como metas o relançamento da
economia e a luta contra o desemprego e a miséria. Tomaram-se medidas financeiras, como
o encerramento temporário de instituições bancárias, sujeitas a inspeções dos funcionários
federais. O dólar foi desvincualdo do padrão-ouro e sofreu uma desvalorização de 41%, o
que baixou as dívidas externas e fez subir os preços, mediante uma inflação controlada, que
aumentou os lucros das empresas.
Uma política de grandes trabalhos combateu o desemprego através da construção de
estradas, de vias-férreas, de aeroportos, de habitações e de escolas. O projeto mais
conseguido foi o do Tennessee Valley Authority, organismo público encarregue da
recuperação do estado de Tennessee através da criação de barragens hidroelétricas e
fábricas e da normalização da navegação dos seus rios. Para lutar contra a miséria e o
desemprego, distribuiu-se 500 milhões de dólares aos mais necessitados e criou campos de
trabalho para os desempregados mais jovens.
Uma lei denominada Agricultural Adjustment estabeleceu a proteção à agricultura, através
de empréstimos bonificados aos agricultores e de indemnizações que os compensassem
pela redução das áreas cultivadas.
O National Industrial Recovery Act teve como objetivo a proteção à indústria e ao trabalho
industrial. Foi efetuado através da fixação de preços mínimos e máximos de venda e de
quotas de produção, que evitassem a concorrência desleal, e da garantia aos trabalhadores
de um salário mínimo e da liberdade sindical.
Entre 1935 e 1938 decorreu a segunda fase do New Deal, de cunho vincadamente social. A
Lei Wagner reconheceu a liberdade sindical e o direito de greve. O Social Security
regularizou a reforma por velhice e invalidez, institui o fundo de desemprego e o auxílio aos
pobres. O Fair Labor Standard Act estabaleceu o salário mínimo e reduziu a 44 horas a
duração semanal do trabalho. Foi nesta fase que o Governo Federal assumiu na plenitude os
ideais do Estado-Providência.
 Os governos de Frente Popular e a mobilização dos cidadãos:
O intervencionismo do Estado permitiu às democracias liberais resistirem à crise económica
e recuperarem a credibilidade política.
Na França, a conjuntura recessiva quase pôs em causa o regime parlamentar. Embora a
Grande Depressão aí não tivesse atingido a amplitude sofrida nos EUA ou na Alemanha, a
verdade é que a crise francesa se eternizava pela insistência dos governos em políticas
deflacionistas.
Os governos enfrentavam as críticas da esquerda, que pedia soluções inspiradas em Keynes
e no New Deal, e a contestação da direita. Ligas nacionalistas de pendor fascista acusavam
a tibieza dos governos democráticos, reclamando uma atuação autoritária. Uma
manifestação das ligas de Paris degenerou em motim e provocou a demissão do Governo
radical.
Devido à virulência progressiva das forças da extrema-direita, iniciou-se uma apreciável
mobilização dos cidadãos, que convergiu numa ampla coligação de esquerda denominada
Frente Popular. Integrou partidários comunistas, socialistas e radicais e, sob o lema “pelo
pão, pela paz e pela liberdade”, triunfou nas eleições de maio de 1936. Propôs-se então
deter o avanço do fascismo na França.
 As opções totalitárias:
O século XX despontou sob o signo do demoliberalismo. Direitos individuais, como a
liberdade e a igualdade, eram garantidos por um Estado que se pretendia neutro e
assentava na divisão dos poderes.
A própria vitória dos Aliados parecia inaugurar uma ordem internacional mais justa e mais
fraterna, porque baseada no triunfo das nacionalidades e nos progressos da democracia.
Com o passar dos anos 20, um novo sistema de exercício do poder confrontou o
demoliberalismo. Movimentos ideológicos e políticos subordinaram o indivíduo a um Estado
omnipotente, totalitário e esmagador.
Na Rússia Soviética, o totalitarismo adquiriu uma feição revolucionária, nasceu da aplicação
do marxismo-leninismo e culminou no estalinismo. Na Itália e na Alemanha, o Estado
totalitário foi produto do fascismo e do nazismo e revestiu um cariz mais conservador.
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Totalitarismo- Sistema político, no qual o poder se concentra numa só pessoa ou no partido
único, cabendo ao Estado o controlo da vida social e individual.
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 Os fascismos, teoria e práticas:
Nos anos 30, a depressão económica acentuou a crise da democracia liberal. Uma vaga
autoritária e ditatorial submergiu a Europa. Designam-se por fascistas as novas experiências
políticas que tiveram o fascismo italiano e no nazismo alemão os grandes paradigmas.
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Fascismo (regime totalitário de direita) - Sistema político instaurado por Mussolini na Itália,
a partir de 1922. Profundamente ditatorial, totalitário e repressivo, o fascismo suprimiu as
liberdades individuais e coletivas, defendeu a supremacia do Estado, o culto do chefe, o
nacionalismo, o corporativismo, o militarismo e o imperialismo.
Nazismo- Sistema político instaurado por Hitler na Alemanha a partir de 1933. Para além de
perfilhar os princípios ideológicos do fascismo, distinguiu-se pelo racismo violento,
fundamentando-o numa suposta superioridade biológica e espiritual do povo ariano, ao
qual pertenciam os alemães. Ao Estado nazi incumbiria não só a preservação da raça
superior, libertando-a do contacto com os elementos impuros, mas também a sua
expansão.
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 Uma nova ordem antiliberal e antissocialista, nacionalista e corporativista:
O Estado totalitário fascista define-se pela oposição firme ao liberalismo, à democracia
parlamentar e ao socialismo.
Enquanto o liberalismo e a democracia se afirmam defensores profundos dos direitos do
indivíduo, o fascismo entende que acima do indivíduo está o interesse da coletividade, a
grandeza da Nação e a supremacia do Estado. A apologia do primado do Estado sobre o
indivíduo leva o fascismo a desvalorizar a democracia partidária e o parlamentarismo. O
exercício do poder legislativo por assembleias é menosprezado pelo fascismo, que rejeita a
teoria liberal da divisão dos poderes e faz depender a força do Estado do reforço do poder
executivo.
Também o socialismo merece ao fascismo a total reprovação. Segundo este sistema, o
indivíduo é a expressão da classe social em que está inserido; com ela se identifica e por ela
luta. Acontece que para o fascismo, a luta de classes é algo abominável porque divide a
Nação e enfraquece o Estado. Por isso, o fascismo concebeu um modelo peculiar de
organização socioeconómica, o corporativismo, destinado a promover a colaboração entre
classes.
As corporações eram organismos profissionais que reuniam, por ramo de trabalho,
empregados e empregadores. Solucionaram entre si os problemas laborais, jamais
recorrendo a greves ou ao lock-out, que foram proibidos. Procurava-se eliminar as
paralisações de trabalho, que acarretavam prejuízos económicos.
Outro motivo da hostilidade fascista relativamente ao socialismo deriva de o seu
nacionalismo fervoroso, exaltador das glórias pátrias, ser absolutamente incompatível com
os apelos socialistas ao internacionalismo proletário.
O totalitarismo do Estado fascista exerceu-se em vários níveis: o político, económico, social
e cultural. A oposição política, considerada um entrave à boa governação, foi aniquilada. As
atividades económicas sofreram uma rigorosa regulamentação. A sociedade, galvanizada
pela propaganda, enquadrou-se em organizações afetas ao regime, que a controlaram. Até
a própria verdade foi monopolizada pelo Estado, que impedia a liberdade de pensamento e
expressão.
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Corporativismo- Forma de organização socioeconómica que defende a constituição de
corpos profissionais de trabalhadores, patrões e serviços, que conciliam os seus interesses
de modo a promoverem a ordem, a paz e a prosperidade.
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 Elites e enquadramento de massas:
Ao contrário do demoliberalismo, que acredita na igualdade entre os homens e defende o
respetivo acesso à governação, o fascismo parte do princípio de que os homens não são
iguais, a desigualdade é útil e fecunda e o governo só aos melhores, às elites, deve competir.
Espécie de super-homens, os chefes foram promovidos à categoria de heróis. Simbolizavam
o Estado totalitário, encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos. As elites não incluíam
apenas os chefes, delas faziam parte a raça dominante, os soldados e as forças militarizadas,
os filiados no partido, os homens de uma maneira geral. As mulheres nazis eram
consideradas cidadãs inferiores, sendo que os seus ideais se resumiam aos três K: crianças,
cozinha, igreja.
Numa sociedade profundamente hierarquizada e rígida, as elites mereciam o elevado
respeito das massas. A obediência cega das massas obcecou a prática fascista, avessa à
vontade individual e ao espírito crítico. Por isso, os ideais fascistas se inculcavam nos jovens,
uma vez que as crianças, mais do que as famílias, pertenciam ao Estado.
Na Itália, a partir dos 4 anos, as crianças ingressavam nos “Filhos da Loba” e usavam
uniforme; dos 8 aos 14 faziam parte dos “Balilas”, aos 14 eram vanguardistas e aos 18
entravam nas Juventudes Fascistas. Na Alemanha, os jovens eram fanatizados pelas
organizações de juventude a partir dos 10 anos.
A educação fascista completava-se na escola, através de professores profundamente
subservientes ao regime, ao qual prestavam juramento, e de manuais escolares
impregnados dos princípios.
A arregimentação de italianos e alemães prosseguia na idade adulta, deles se esperando a
total adesão e a identificação com o fascismo. Contava-se com diversas organizações de
enquadramento de massas: o Partido Único e as milícias, a Frente do Trabalho Nacional-
Socialista e as corporações italianas, a Dopolavoro na Itália e a Kraft durch Freude na
Alemanha.
No controlo das mentes e das vontades o Estado totalitário fascista investiu muito. Uma
gigantesca máquina de propaganda, apoiada nas então modernas técnicas audovisuais,
promoveu o culto do chefe, publicitou as realizações do regime e submeteu a cultura a
critérios nacionalistas e até racistas.
Grandiosas manifestações foram alvo de uma cuidada encenação teatral que entusiasmava
as multidões.
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Propaganda- Conjunto de meios destinados a influenciar a opinião pública.
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 O culto da força e da violência e a negação dos direitos humanos:
A repressão policial e a violência tornaram-se decisivas para garantir o controlo da
sociedade e a sobrevivência do totalitarismo.
Antipacifistas, ambas as ideologias defenderam o culto da força e a “natureza selvagem” do
Homem, afirmando que, só em contexto de guerra, a Humanidade se revela corajosa e
superior. Na Itália, Mussolini ainda não tinha conquistado o poder e já os esquadritas
semeavam o pânico com as suas “expedições punitivas”. Incendiavam e pilhavam os
sindicatos e as organizações políticas de esquerda. Em 1923, os esquadristas foram
reconhecidos como milícias armadas.
Em 1921 e 1923, o Partido Nacional-Socialista criou na Alemanha as Secções de Assalto e as
Secções de Segurança, milícias temidas pela brutalidade das suas ações, em que os
espancamentos e a tortura eram procedimento corrente.
Com a vitória do nazismo em 1933, o Estado policial atingiu o mais elevado rigor. As milícias
e a polícia política (Gestapo) exerceram um controlo apertado sobre a população e a opinião
pública.
A criação dos primeiros campos de concentração, em 1933, completou o dispositivo
repressivo do nazismo.
 A violência racista:
O desrespeito do nazismo pelos direitos humanos atingiu os cumes do horror com a
violência do seu racismo.
Hitler concebia a História como uma luta pela sobrevivência da cultura, uma luta de raças
entre os povos fundadores, transmissores e destruidores de cultura.
Obcecados com o apuramento físico e mental da raça ariana, os nazis promoveram o
eugenismo, aplicando as leis da genética na reprodução humana. Uma autêntica seleção de
alemães (altos e robustos, louros e de olhos azuis) se esperava de casamentos entre
membros das S.S e jovens e mulheres, todos eles portadores de superiores qualidades
raciais.
Também se procedia à eliminação dos alemães degenerados (deficientes mentais, doentes
incuráveis e velhos incapacitados), remetidos para câmaras de gás em centros de eutanásia.
Povo de heróis, de qualidades e de ideais sobre-humanos, aos Alemães competiria
fatalmente o domínio do Mundo, se necessário à custa da submissão e/ou eliminação dos
povos inferiores. Entre estes, situam-se os judeus e os ciganos, mas também os Eslavos.
Considerados por Hitler um povo “destruidor de cultura”, porque tal como um parasita
viviam no seio do povo alemão arruinando as suas virtudes rácicas e corrompendo-o,
considerados ainda culpados da derrota da Alemanha na 1ªGuerra Mundial e das crises
económicas que se lhe seguiram, os Judeus tornaram-se o alvo preferencial da barbárie
nazi.
Logo em 1933, começou a primeira vaga de perseguições antissemitas: boicotaram-se as
lojas dos judeus, interditou-se o funcionalismo público e as profissões liberais aos não
arianos, institui-se o “numerus clausus” nas universidades.
O segundo movimento antijudaico iniciou-se em 1935, com a adoção das Leis de
Nuremberga, para a “proteção do sangue e da honra alemães”: os alemães de origem
judaica foram privados da nacionalidade; o casamento e as relações sexuais entre arianos e
judeus foram proibidos, punindo-se com severidade os infratores.
Em 1938, realizou-se a liquidação das empresas judaicas e o confisco dos seus bens. Nesse
ano, ficou tristemente célebre o progom da “Noite de Cristal” (9-10 de novembro), em que
foram destruídas sinagogas e lojas dos judeus, tendo muitos deles perecido. O
segregacionismo foi levado a pontos extremos: os judeus deixaram de poder exercer
qualquer profissão e de frequentar lugares públicos, passando a ser identificados pelo uso
obrigatório da estrela amarela.
A fase mais cruel do antissemitismo chegou com a 2ª Guerra Mundial. Os nazis puseram em
prática um meticuloso plano de destruição do povo judaico, que se veio a saldar no
genocídio de quase 6 milhões de judeus. Em janeiro de 1942, essa destruição adquiriu a
dimensão de um extermínio, designado por “solução final do problema judaico”.
Perseguidos na rua, aprisionados nas suas casas e encurralados em guetos onde passaram
as maiores provações, os judeus acabaram deportados para campos de concentração.
Campos de trabalho foi a designação que a perversidade nazi lhes atribui. Campos de morte
foi no que se tornaram pelas carências alimentares e de higiene, pelas doenças, pela
brutalidade dos trabalhos forçados, pelas execuções sumárias, pelos massacres nas câmaras
de gás.
Nos campos de concentração terminaram os seus dias milhões de judeus, mas também
muitos ciganos e eslavos, cujo único crime foi o de não terem nascido arianos.
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Antissemitismo- O mesmo que hostilidade aos judeus.
Genocídio- Política praticada por um governo visando a eliminação em massa de grupos
étnicos, religiosos, económicos ou políticos.

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