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Alberto Caeiro

Síntese das características da sua poesia.

Apesar de Alberto Caeiro não ter tido formação académica, foi considerado o mestre não só por
Fernando Pessoa – “Aparecera em mim o meu mestre" -, mas também por Ricardo Reis e Álvaro de
Campos. O mestre surge, assim, como um homem de visão ingénua, instintiva, totalmente entregue à
infinita variedade de sensações; que acredita que o real é a própria exterioridade ao qual não deve
ser acrescentado qualquer impressão subjectiva: «Compreendi que as coisas são reais e todas
diferentes umas das outras; / Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento. / Compreender
isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.»
Caeiro rejeita, portanto, qualquer interpretação do real pela inteligência e, «Porque pensar é
não compreender ... », vive antes pelos sentidos - «Penso com os olhos e com os ouvidos / E com as
mãos e os pés / E com o nariz e a boca.» -, sobretudo, o olhar: «Creio no mundo como num
malmequer, / Porque o vejo. Mas não penso nele / Porque pensar é não compreender … / O mundo
não se fez para pensarmos nele / (Pensar é estar doente dos olhos).». Caeiro é o poeta do real
objectivo e do olhar, que acredita simplesmente no que os sentidos lhe proporcionam: «Não acredito
em Deus porque nunca o vi.»; é, portanto, manifestamente pagão.
O mestre recusa qualquer filosofia - «Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…» - ou
metafísica - «Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?» -, mantendo antes uma forte ligação
panteísta íntima e direta com a Natureza: «Mas se Deus é as árvores e as flores / E os montes e o
luar e o sol, / para que lhe chamo eu Deus?/ Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;».
Alberto Caeiro aceita o mundo tal como ele é, vivendo apenas a realidade presente, pelos
sentidos, de uma forma livre e despreocupada.
Uma vez que o poeta possui somente uma instrução básica rudimentar, não domina um estilo
muito culto. A sua linguagem é, por conseguinte, objectiva, familiar e aparentemente simples:
«Procuro encostar as palavras à ideia / E não precisar de um corredor / Do pensamento para as
palavras.». Ao longo dos seus poemas, predomina a coordenação e os recursos estilísticos mais
frequentes são o polissíndeto, o paralelismo, a comparação e a metáfora. Há irregularidade
estrófica na sua poesia, os versos não apresentam rima e são livres: «Não me importo com as
rimas».
Ressalve-se que, nesta aparente simplicidade temática e linguística do mestre, transparece a
formação de um homem culto que procura despir-se do que aprendeu e esquecer-se do que lhe
ensinaram até porque ser poeta não é sequer uma ambição sua, mas é antes uma maneira de estar
sozinho.
In, Amaro, Alice, Português 12º ano, o essencial, Edições Asa, pp. 106 e 107

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