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Essas notas estão baseadas no capítulo 5 e 6 do Salinas (ref. 1), capítulo 4 do Gould&Tobochnik
(ref. 2), capítulo 7 do Greiner (ref. 3) e no capítulo 6 do Reif (4). Ela utilizará também
material das refs. 5 e 6, além de outras que serão citadas ao longo das notas.
O ensemble microcanônio nos dá as bases para a descrição estatística dos sistemas macroscópi-
cos. Ele nos permite calcular as propriedades físicas de sistemas isolados, com variáveis
macroscópicas como E, V, N . Em princípio, qualquer sistema pode ser tratado pelo ensem-
ble microcanônico. Para isso, basta considerarmos o sistema físico amplo o suciente para
englobar toda e qualquer troca de energia (signicativa) que ocorre no sistema de interesse
de forma que possamos considerar o sistema considerado como estando isolado. No entanto,
a diculdade em calcular o número de microestados dos sistemas físicos torna sua aplicação
muitas vezes inviável ou, pelo menos, muito difícil. Além disso, um sistema isolado, na
prática, nem sempre é uma aproximação razoável. Talve mais importante ainda, em geral,
se uma parte do sistema é grande o suciente para ser considerada como um reservatório
estável, ou seja, com temperatura estável, não nos interessa considerar suas propriedades
e sim focalizarmos nossa atenção na parte do sistema de interesse. Por isso, é interessante
olharmos para descrições alternativas para os sistemas físicos sob o ponto de vista estatístico.
Vamos iniciar a discussão retomando uma simulação que zemos no capítulo 4 uti-
sistema isolado formado por dois subsistemas cada um com um número xo de partícu-
las mas podendo trocar energia. A gura 1 mostra a probabilidade PNA (EA ) de encon-
trarmos o subsistema A com uma certa energia para um número de partículas igual a
1
PNA (EA ) ∝ e−βEA (1)
como já haviamos discutido anteriormente (ver capítulo 4). Esse comportamento somente
o problema seria considerar o subsistema A como sendo o nosso sistema. Mas agora ele
não é mais um sistema isolado mas sim um sistema fechado, isto é, um sistema que permite
a troca de energia com o meio mas não permite a troca de matéria (partículas). Duas
diferenças aparecem de imediato: 1) o sistema não tem mais uma energia xa, mas sim uma
energia variável; 2) os microestados do sistema não têm mais a mesma probabilidade de serem
O resultado que obtivemos nos dá uma boa indicação do caminho a prosseguir. No que
se segue, devemos nos lembrar que para um sistema nito (isto é, com N nito), utuações
2
7.2 Ensemble canônico
é feita por uma parede rígida e impermeável (volume e número de partículas permanece
E = Es + ER (2)
sendo que
Es ER
= 1− 1 (3)
E E
A energia do sistema s, Es não é mais xa, podendo variar. Sua temperatura, no entanto,
uma vez os sistemas em equilíbrio, está xada, T. Portanto, as grandezas macroscópicas que
denem o sistema físico são T, V, N . O sistema s pode assumir todos os possíveis microes-
3
tados i com diferentes energias Ei , tendo uma certa distribuição de probabilidades (como
na nossa simulação). Os microestados com energia Ei grande, no entanto, serão mais raros.
prováveis:
1 × ΩR (ER ) ΩR (E − Ei )
pi = P =P ∝ ΩR (E − Ei ) (4)
R Ω(ER ) i ΩR (E − Ei )
for a energia Ei , menor será o número de microestados acessíveis para o reservatório. pi deve
ser uma função decrescente de Ei , uma vez que quanto maior for Ei menor será ER . Podemos
varia rapidamente com Ei (número muito grande de estados), vamos examinar o logarítmo
ln pi = ln C + ln ΩB (E − Ei ) (5)
onde a constante C está relacionada com o denominador, que não depende de Ei . Ex-
∂ 2 ln ΩB (ER )
∂ ln ΩB (ER ) 1
ln pi ≈ ln C + ln ΩB (E) + (−Ei ) + (−Ei )2 + ...
∂ER ER =E 2 ∂ER2 ER =E
Ei
= ln C + ln ΩB (E) − (6)
kT
1 ∂ ln ΩB (ER )
β≡ = (7)
kT ∂ER N,V
4
constante, ou seja,
∂ 2 ln ΩB (ER )
1 ∂ 1
= →0 (8)
∂ER2 N,V k ∂ER T
Temos então,
ln pi ≈ ln C − βEi
e−βEi
⇒ pi = P −βEi
ie
−βEi
e
= (9)
Z
X
Z= e−βEi (10)
i
atura constante, podendo trocar energia com esse reservatório, é denido como um ensemble
canônico. Rigorosamente, por ensemble canônico queremos nos referir ao conjunto de esta-
dos possíveis que o sistema pode ser encontrado. Portanto, o ensemble canônico trata de
sistemas que são fechados, isto é, não trocam matéria (partículas) mas podem trocar en-
ergia com um reservatório. Podemos resumir o resultado obtido para o ensemble canônico
5
vatório, podendo trocar energia (mas não matéria) com um reservatório, e a temperatura
constante, após atingir o equilíbrio com o reservatório (lembre-se, vamos descrever a situação
cas do nosso sistema físico. Precisamos agora estabelecer a conexão com a termodinâmica.
ˆ
1 3N
S = h−k ln ρc i = 3N d q d3N pρc (qν , pν ) (−k ln ρc (qν , pν )) (11)
h
exp(−βH(qν , pν ))
pi → ρc (qν , pν ) = (12)
Z
onde,
ˆ
1 3N
Z = 3N d q d3N p exp {−βH(qν , pν )} (13)
h
ˆ
1 3N
S = 3N d q d3N pρc (qν , pν ) [kβH(qν , pν ) + k ln Z] (14)
h
O primeiro termo, a menos das constantes kβ , é a denição de < H > enquanto que
o segundo termo não depende do espaço de fase e a integral cancela-se com o termo de
normalização. Temos,
6
P
ipi Ei
E= →< H > (16)
Z
U
S = + k ln Z
T
⇒ U − T S = −kT ln Z (17)
F (T, V, N ) = U − T S (18)
e então,
Essa equação é fundamental na teoria do ensemble canônico. Ela dene, para o ensemble
uma superfície de energia para uma energia E do sistema (ou uma casca de volume de
espessura δE ) com todos os estados sendo igualmente prováveis. No cálculo de Z para uma
certa energia do sistema, novamente todos os estados acessíveis de uma superfície de energia
7
são igualmente prováveis. No entanto, consideramos as superfícies de energia para todas
Em princípio, temos agora todos os ingridientes que precisamos para investigar os sistemas
físicos sob a perspectiva do ensemble canônico. Podemos agora calcular as outras grandezas
∂F
S = −
∂T V,N
∂F
P = −
∂V T,N
∂F
µ = (20)
∂N T,V
as quais continuam válidas para a denição da energia livre dada pela equação 19. Isso
se mostrará correto com algumas aplicações que faremos. Antes, no entanto, é interessante
uma contagem de microestados que incluia todos os estados, inclusive estados equivalentes
8
ˆ
1 3N
Ωd (E, V, N ) = 3N d q d3N p
h
ˆ
E≤H≤E+δE
1 3N
Ωid (E, V, N ) = d q d3N p (21)
N !h3N E≤H≤E+δE
relação entre os dois tipos de situação vale para qualquer ensemble, inclusive em um volume
1 3N 3N
dΩd (E, V, N ) d= qd p
h3N
1 3N
dΩid (E, V, N ) =
3N
d q d3N p (22)
N !h
1
ρc (~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) = exp {−βH(~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N )} (23)
Z(T, V, N )
duas situações em função da indistinguibilidade (ou não) das partículas. Nesse caso, temos,
ˆ
1 3N
Zd (T, V, N ) = 3N d q d3N p exp(−βH)
h
ˆ
1 3N
Zid (T, V, N ) = 3N
d q d3N p exp(−βH) (24)
N !h
Vamos avançar um pouco nessa discussão e apresentarmos argumentos que nos permitam
signicado da densidade do espaço de fase. ρ(~r1 , ..., ~rN, p~1 , ..., p~N ) para partículas distinguíveis
representa a densidade de probabilidade para a partícula 1 encontrar-se em ~r1 com momento
9
p~1 , etc. A partir dela, podemos calcular a densidade de probabilidade para qualquer partícula
encontrar-se na posição ~r1 com momento p~1 , etc. Para isso, temos que somar sobre as
X
ρid (~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) = ρd (~rP 1 , ..., ~rP N , p~P 1 , ..., p~P N ) (25)
P
onde a soma estende-se sobre todas as permutações (P1 , ..., PN ) de (1, .., N ). Se as partícu-
las são indistinguíveis, a hamiltoniana não muda para uma permutação qualquer das partícu-
las, ou seja,
H(~rP 1 , ..., ~rP N , p~P 1 , ..., p~P N ) = H(~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) (26)
é válido para todas as permutações. Mas ρd depende de ~ri e p~i apenas por meio da
ρd (~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) = ρd (~rP 1 , ..., ~rP N , p~P 1 , ..., p~P N ) (27)
ρid (~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) = N !ρd (~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) (28)
do fator de correção de Gibbs para qualquer ensemble. Além disso, a equação 26 introduz um
critério para sabermos quais os sistemas físicos em que temos que utilizar o fator de correção
aqueles para o qual a hamiltoniana é invariante em relação a uma permutação (ou indiferente
10
N N
X p~2i X p~2P i
H= = (29)
i=1
2m i=1
2m
N N
X p~2i X 1
H= + mω 2 (~ri − ~bi )2 (30)
i=1
2m i=1
2
porque a posição ~bi que dene a origem do oscilador está associada a cada partícula e não
será renumerada. Logo, nesse caso, as partículas são distinguíveis. Esse potencial é uma
representação possível para os átomos em um sólido cristalino que podem oscilar em torno
3N
do espaço de fase d q d3N p é a mesma em ambos os casos:
3N
6N d q d3N p d
3N
q d3N p
d ω = ρd (~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) = ρid (~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) (31)
h3N N !h3N
Isso ocorre porque o fator N! da densidade do espaço de fase (eq. 28) cancela o fator N!
do elemento de volume. Esse resultado era esperado, consequência da normalização
ˆ
6N
d ω =1 (32)
11
7.4 Aplicações
quânticos. Para os sistemas clássicos, aplicaremos a teoria que já foi desenvolvida, para o
espaço de fase contínuo. Já para os sistemas quânticos, precisamos adaptar a teoria, levando
em conta agora que os estados quânticos são discretos e numeráveis. Discutiremos esses casos
Antes, vamos analisar o que acontece para o caso simples do gás ideal de partículas.
3N
X p2ν
H(qν , pν ) = (33)
ν=1
2m
A função de partição é,
ˆ
1 3N
Z(T, V, N ) = d q d3N p exp {−βH(qν , pν )} (34)
N !h3N
fatorar a integral,
ˆ ∞
p2ν
1
Z(T, V, N ) = 3N
V N Π3N
ν=1 dpν exp −β (35)
N !h −∞ 2m
Fazendo a substituição,
p
x= β/2mpν (36)
12
todas as integrals cam na forma,
ˆ ∞
−x2
√
dxe = π (37)
−∞
e a função de partição é,
3N/2 3N/2
VN VN
2mπ 2πmkT
Z(T, V, N ) = = (38)
N !h3N β N! h2
parado com o ensemble microcanônico. Isso ocorre porque para sistema de partículas não-
interagentes a Hamiltoniana se escreve como uma soma de Hamiltonianas de uma partícula
e a exponencial fatoriza.
( 3/2 )!
V 2πmkT
F (T, V, N ) = −kT ln Z(T, V, N ) = −N kT 1 + ln (39)
N h2
∂F N kT
p=− = ⇒ pV = N kT (40)
∂V T,N V
" ( 3/2 )#
∂F 5 V 2πmkT
S=− = Nk + ln (41)
∂T V,N 2 N h2
∂F V 2πmkT
µ=− = −kT ln (42)
∂N T,V N h2
3
U = F + T S = N kT (43)
2
13
como era de se esperar.
surpresa uma vez que a energia livre no ensemble canônico e a entropia no ensemble micro-
canônico são potenciais termodinâmicos equivalentes que podem ser obtidos um do outro por
hamiltoniana é,
N 2
X pν 1 2 2
H(qν , pν ) = + mω qν (44)
ν=1
2m 2
ˆ
1 N N
Z(T, V, N ) = N d q d p exp {−βH(qν , pν )} (45)
h
Novamente, podemos fatorar as integrais uma vez que a hamiltoniana é uma soma de
N ˆ ∞ ˆ ∞
p2ν
1 Y 1 2 2
Z(T, V, N ) = N dqν exp −β mω qν × dpν exp −β (46)
h ν=1 −∞ 2 −∞ 2m
p p
Fazendo as substituições usuais, βmω 2 /2qν = x e β/2mpν , e realizando as integrais
gaussianas, temos,
14
Podemos agora calcular as grandezas termodinâmicas. A energia livre é,
kT
F (T, V, N ) = −kT ln Z(T, V, N ) = −N kT ln (48)
~ω
∂F
p=− =0 (49)
∂V T,N
∂F kT
S=− = N k 1 + ln (50)
∂T V,N ~ω
∂F kT
µ= = −kT ln (51)
∂N T,V ~ω
A energia interna é,
U = F + T S = N kT (52)
∂U
CV = = Nk (53)
∂T V,N
U
S(U, V, N ) = N k 1 + ln (54)
N ~ω
Em primeiro lugar, devemos enfatizar que a discussão dos sistemas quânticos requer uma
será tratada adequadamente posteriormente. Aqui, vamos analisar algumas situações que
15
são possíveis sem que precisemos entrar completamente nessa questão (e que permanecerão
válidas). Os sistemas que consideraremos são os mesmos que já vimos considerando. Para
discutir as diferenças entre o caso clássico e o caso quântico, vamos considerar o sistema com
N partículas quânticas com cada partícula podendo ter energias discretas determinadas por
n , n = 0, 1, 2, ... (55)
onde n é o número quântico que pode assumir qualquer dos valores 0, 1, 2, ..... A densidade
com,
ˆ ˆ
1
Z(T, V, 1) = dq dp exp {−βH(q, p)} (57)
h
Temos então,
exp(−βn )
ρn = (58)
Z(T, V, 1)
com
X
Z(T, V, 1) = exp{−βn } (59)
n
16
En1 ,n2 ,...,nN = n1 + n2 + ... + nN (60)
diante. Note que estamos ainda enumerando as partículas. Ou seja, como já armamos
de Einstein), temos,
( )
X X
Z(T, V, N ) = exp −β ni
n1 ,n2 ,...,nN i
X X
= exp {−βn1 } ... exp {−βnN }
n1 nN
N
= [Z(T, V, 1)] (61)
Para partículas indistinguíveis temos que acrescentar o fator de correção de Gibbs, 1/N !.
No entanto, trataremos dessa questão de forma adequada mais tarde.
Vamos aplicar esses resultados para sistemas quânticos com partículas distinguíveis.
a discussão que zemos acima. Lembremos a energia para um único oscilador harmônico
17
quântico:
~ω
n = + n~ω, n = 0, 1, 2, ... (63)
2
∞ ∞
X X 1
Z(T, V, 1) = exp {−βn } = exp −β~ω n +
n=0 n=0
2
∞
β~ω X
= exp − (exp {β~ω})n
2 n=0
β~ω
exp − 2
=
1 − exp {−β~ω}
1
=
exp 2 − exp − β~ω
β~ω
2
−1
β~ω
= 2 sinh (64)
2
−N
N β~ω
Z(T, V, N ) = [Z(T, V, 1)] = 2 sinh (65)
2
β~ω N
F (T, V, N ) = −kT ln Z(T, V, N ) = N kT ln 2 sinh = ~ω+N kT ln {1 − exp (−β~ω)}
2 2
(66)
18
∂F F
µ= = (67)
∂N T,V N
e,
∂F
p= − =0 (68)
∂V T,N
Esse resultado é esperado, uma vez que no nosso modelo os osciladores estão xos e não
exercem pressão.
∂F β~ω β~ω β~ω
S = − = Nk coth − ln 2 sinh
∂T V,N 2 2 2
β~ω
= Nk − ln {1 − exp {−β~ω}} (69)
exp {β~ω} − 1
e a energia interna é,
1 1
U = F + T S = N ~ω + (70)
2 exp (β~ω) − 1
onde,
1 1
< n >= ~ω + (72)
2 exp {β~ω} − 1
19
1
< n >= ~ω +<n> (73)
2
e,
1
< n >= (74)
exp {β~ω} − 1
onde <n> representa o número quântico médio, isto é, o nível médio de excitação do
oscilador na temperatura T.
Esse resultado é o mesmo que já tínhamos obtido com o ensemble microcanônico.
N
X N
X
H = −gµB ~ = −µB B
~s · B σj (75)
j=1 j=1
onde novamente consideramos apenas dois valores possíveis para o spin, s = ±1/2 e com
( N
)
X X X
Z(T, V, N ) = exp {−βH} = exp βµB B σj
{σj } σ1 ,...,σN j=1
" #N
X
= exp {βµB Bσ} = [2 cosh {βµB B}]N (76)
σ=±
µB B
F = −kT ln Z = −kT N ln 2 cosh (77)
kT
20
a energia livre por partícula, a qual refere-se a analogia com a função de Gibbs de um uido
puro:
F µB B
g(T, B) = limN →∞ = −kT ln 2 cosh (78)
N kT
A entropia é,
∂g µB B µB B µB B
s=− = k ln 2 cosh −k tanh (79)
∂T B kT kT kT
e a magnetização
∂g µB B
m=− = µB tanh (80)
∂B T kT
e a energia interna,
µB B
= g + T s = −µB B tanh (81)
kT
Os exemplos que discutimos até agora mostram que os resultados obtidos pelos dois en-
Obviamente, estamos considerando os mesmos sistemas físicos, apenas trabalhando com con-
aqui as razões pelas quais os ensembles são equivalentes. Por simplicidade, não incluiremos
o fator de Gibbs.
21
tado (qν , pν ), dp:
1 1
dp = 3N
ρ(qν , pν )d3N q d3N p = 3N exp {−βH(qν , pν )} d3N q d3N p (82)
h h Z
sistema em algum microestado com energia entre E e E + dE . Para isso, basta integrarmos
ˆ
1 1 3N
dp(E) = exp(−βE) 3N d q d3N p (83)
Z h E≤H(qν ,pν )≤E+dE
A integral nada mais é que o número de estados existentes em uma camada de espessura
ˆ
1 3N
ω(E) = 3N d q d3N p (84)
h H(qν ,pν )≤E+dE
e,
ˆ
1 3N ∂ω(E)
d q d3N p = dE = g(E)dE (85)
h3N E≤H(qν ,pν )≤E+dE ∂E
1
dp(E) = p(E)dE = g(E) exp {−βE} dE (86)
Z
22
ˆ ˆ
1 3N
Z(T, V, N ) = 3N d q d3N p p exp {−βH(qν , pν )} = dEg(E) exp {−βE} (87)
h
Como ca no caso de estados discretos ou, mais especicamente, em sistemas quânticos?
Na verdade, a questão tem que ser separada em duas. Estados discretos, como o sistema
articial introduzido por Boltzmann, pode ser tratados simplesmente enumerando-os. Para
um tratamento quânticos, vamos postergar a análise para mais tarde, quando discutirmos a
forma
g(E)
p(E) = exp {−βE} (88)
Z
Esse resultado é válido para qualquer sistema com estados discretos. A correção quântica,
como dissemos, faremos mais tarde. Acrescentando o fator de Gibbs quando as partículas são
Até aqui obtivemos uma relação entre a densidade de estados g(E), que está relacionada
com o número de microestados a uma certa energia E , Ω(E) (ou ω(E), lembrando que a
diferença entre ambos está apenas na normalização pelo elemento do espaço de fase) e a
função de partição. Podemos agora obter uma relação inversa, isto é, conhecendo a função
23
ˆ ∞
−βE
Z(β) = dEg(e)e (89)
0
é uma função analítica de β com Rβ > 0 (onde por R simbolizamos a parte real de ).
A condição Rβ > 0 garante que a equação 89 é limitado para qualquer valor da energia e
que a integral existe. Essa equação nada mais é do que a transformada de Laplace de g(E).
Podemos agora encontrar a transformada reversa. Para isso, multiplicamos a equação 89 por
ˆ β 0 +i∞ ˆ β 0 +i∞ ˆ ∞
βE 0 β(E 0 −E)
dβZ(β)e = dβ dEe g(E) (90)
β 0 −i∞ β 0 −i∞ 0
ˆ β 0 +∞ ˆ ∞
β(E 0 −E) 00 (β 0 +iβ 00 )(E 0 −E) 0 0
dβe =i dβ e = eβ (E −E) 2πiδ(E 0 − E) (91)
β 0 −i∞ −∞
´∞ ikx
onde utilizamos dxe = 2πδ(k). Substituindo a equação 91 na equação 90, temos,
−∞
ˆ β 0 +i∞ ˆ
βE 0 β(E 0 −E)
dβZ(β)e = dEe g(E)2πiδ(E 0 − E) = 2πig(E 0 ) (92)
β 0 −i∞
24
de onde temos a transformada inversa de Laplace,
ˆ β 0 +i∞
1 βE 0
g(E) = dβZ(β)e (93)
2πi β 0 −i∞
A parte real, Rβ = β 0 é arbitrária mas deve respeitar a condição β ??0 > 0 para garantir
O resultado obtido, representado pelas equações 87 e 93, são fundamentais. Eles estab-
seja, ambos ensembles carregam a mesma informação sobre o sistema físico em estudo.
Exercício : Calcule a função de partição para o ensemble canônico do gás ideal a partir da
densidade de estados, g(E), desse sistema. Depois, de posse desse resultado, calcule a função
Vamos retomar a conexão com a termodinâmica. Essa discussão está baseada no artigo
R.K.P. Zia, E.F. Redish, S.R. McKay, Making sense of the Legendre transform, Am. J.
Phys. 77, 614 (2009), já utilizado por ocasião da discussão das transformadas de Legendre
na revisão da termodinâmica.
Para isso, vamos considerar o número de microestados para um sistema clássico contínuo
mas com uma casca esférica de espessura unitária nas unidades de energia características do
temos
ˆ
−βE
Z(β) ≡ dEΩ(E)e (94)
25
A função de partição é a transformada de Laplace do número de microestados na energia
ˆ
βE
Ω(E) = dEZ(β)e (95)
C
F = βF (β)
S = S/kB (96)
Temos então,
F(β) = − ln Z(β)
e podemos escrever,
ˆ
S(E) −F (β)+βE
e = dβe (98)
C
com um integrando muito grande. Existe uma técnica para isso, conhecida por método
de sela ( saddle point method ou steepest descent ). Para uma discussão sobre o método
- parte do estudo de variáveis complexas - ver a seção 7.3 do livro G.B. Arfken e H.J.
Weber, Mathematical Methods for Physicists, 6a. ed., Elsevier-Academic Press, 2005). Nesse
26
de βE − F(β) a zero:
d[βE− F]
|β0 = 0 (99)
dβ
ou seja,
dF
|β0 = E (100)
dE
sela, ou seja,
ou,
onde β0 e E estão relacionadas pela equação 100. Não há nada de especial no índice de β
e a equação 102 nada mais é que a transformada de Legendre entre os dois sistemas. Ou seja,
7.7 Flutuações
Por ocasião do Teste-2 (versão 2010) (Exercício da lista em 2011) discutimos as utuações
em um sistema fechado composto por dois subsistemas que podiam trocar energia (mas
não partículas). Essa discussão pode ser encontrada na seção 3.3 da ref. 6. Vimos que a
27
√
uma gaussiana cuja utuação por partícula (σ/N ) variava com 1/ N . Continuando nossa
de encontrarmos o sistema físico no ensemble canônico com uma certa energia E. Para isso,
1
pc (E) = g(E) exp {−βE} (103)
Z
ela cresce com a energia E do sistema (pode-se dizer que g(E) ∝ E N para N → ∞). Em
a função pc (E) deve ter um máximo em algum valor da energia (ver gura 4). Esse máximo,
Ẽ , corresponde a energia mais provável. Para encontrar o máximo, temos que calcular,
∂pc (E) 1 ∂g
= − gβ e−βE = 0 (104)
∂E Z ∂E
ou seja,
1 ∂g 1
= (105)
g ∂E E=Ẽ kT
28
Figura 4: Probabilidade de encontra a partícula com energia E no ensemble canônico. (ex-
traído da ref. 3)
1 ∆E ∂g 1 ∂g∆E ∂ ln Ω 1
= = =
g ∆E ∂E E=Ẽ g∆E ∂E E=Ẽ ∂E E=Ẽ kT
∂S 1
⇒ = (106)
∂E E=Ẽ T
da energia E. Esse resultado tem grande importância: a energia mais provável no ensemble
ˆ
1 ∞
hEi = U = dEg(E)E exp {−βE}
Z 0
1 ∂ ∂
= − Z=− ln Z(β) (107)
Z ∂β ∂β
29
∂ F 2 ∂ F
hEi = U = + = −kT
∂β kT ∂T kT
∂F
= F −T (108)
∂T
mas,
∂F
= −S (109)
∂T V,N
e,
hEi = U = F + T S (110)
de onde temos que o valor médio hEi -e idêntico ao valor xo E0 do ensemble micro-
canônico. Para isso, observamos que a equação 110 é apenas a transformada reversa (de
essa energia diere do valor Ẽ = hEi = U = E0 . Vamos analisar esse resultado calculando o
σ 2 = E 2 − hEi2
(111)
30
ˆ ∞
∂U ∂ 1 −βE
= dEg(E)Ee
∂β ∂β Z 0
ˆ ∞ ˆ ∞
∂ 1 −βE 1 ∂ −βE
= dEgE(E)e + dEg(E)Ee
∂β Z Z ∂β
ˆ ∞ 0
ˆ ∞ 0
ˆ
1 ∞
1 −βE ∂ −βE 2−βE
= − 2 dEg(E)Ee dEg(E)e − dEg(E)Ee
Z 0 ∂β 0 Z 0
ˆ ∞ 2 ˆ ∞
1 −βE 1 2−βE
= 2
dEg(E)Ee − dEg(E)Ee
Z 0 Z 0
hEi − E = − E − hEi2
2
2
2
= (112)
e então,
2 ∂U ∂U
σ =− = kT 2 = kT 2 CV (113)
∂β ∂T V,N
√
σ σ2 1p 2 1
= = kT CV −→ √ (114)
N N N N
σ 1
→√ (115)
hEi N
ou seja, a utuação relativa da energia bem como a utuação da energia por partícula
√
tendem a zero com 1 N.
Esse resultado é muito interessante. Ele estabelece uma relação entre uma susceptibilidade
macroscópica (no caso, CV , a variação de energia quando a temperatura muda) e as utuações
microscópicas (as utuações de energia no equilíbrio térmico). Podemos ainda escrever,
31
Nessa forma, podemos relacionar a utuação em energia ao produto de duas energias: o
segundo termo, CV T = N cV T , é a energia total que é necessária para levar o sistema do zero
absoluto à temperatura T, assumindo que o calor especíco por partícula, cV , não dependa
N. As utuações em energia escalam como uma média geométrica das duas, ou seja, escalam
√ √
com N. A utuação total de energia por partícula, σ/N , é aproximadamente 1/ N vezes
real, essas utuações tendem a ser muito pequenas. No entanto, elas podem ser signicativas
no caso de simulações, quando, por limites computacionais, não podemos utilizar um grande
número de partículas. Nese caso, para medir o calor especíco não há necessidade de realizar
A medida que N aumenta, nos sistemas reais, as utuações em relação a energia média
cam cada vez menos signicativas. No limite N → ∞, apenas uma energia ocorre no
da função-δ para N → ∞. Isso explica porque os resultados obtidos nos ensembles micro-
32
7.8 Observáveis como médias no ensemble
Já discutimos anteriormente que na teoria de ensembles todos os observáveis podem ser es-
critos como valores médios calculados sobre os ensembles em relação a uma função apropriada,
f (~qi , p~i ):
ˆ
1 3N
hf (~qi , p~i )i = 3N d q d3N pρ(~qi , p~i )f (~qi , p~i ) (118)
h
A função densidade do espaço de fase, f (~qi , p~i ) contém toda a informação sobre o sistema
que pode ser fornecida pela mecânica estatística. Até aqui, discutimos as funções f (~qi , p~i )
associadas com as grandezas termodinâmicas macroscópicas para obtermos informações sobre
o sistema. Os dois casos mais signicativos foram a entropia, para o ensemble microcanônico,
e a função livre de Helmholtz, para o ensemble canônico. No primeiro caso, por exemplo,
escrevemos,
e então,
S = h−k ln ρi (120)
Da mesma forma,
F = h−kT ln Zi (121)
ou F (T, V, N ) para o ensemble canônico. As equações 120 ou 121 já contém todas as pro-
priedades termodinâmicas do sistema. Essas propriedades podem então ser obtidas direta-
mente de S(E, V, N ) (ou F (T, V, N )) por meio das equações de estado e não precisam ser
33
A equação 118, no entanto, nos permite obter observáveis que não possuem correspondên-
cia com a termodinâmica mas podem ser muito úteis na caracterização do sistema. Por
* N
+
Y
ρ(~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) = h 3N
δ(~ri − ~ri0 )δ(~pi − p~0i ) (122)
i=1
o que pode ser facilmente vericado (as funções delta simplesmente cancelam as integrais
e calculam o integrando nos valors (~ri0 , p~0i ). A equação 122 representa um mapeamento geral
da densidade do espaço de fase nos números reais. Podemos encontrar, de forma análoga,
isso, calculamos,
única partícula, ρ(~r1 , p~1 ). Para sistemas interagentes, isso não é verdade uma vez que a
equação 123 deve conter informações sobre a ação das outras partículas na i-ésima partícula.
* N +
X
ρ(~r) = δ(~ri − ~r) (126)
i=1
34
e a distribuição total no espaço de momentos,
* N +
X
ρ(~p) = δ(~pi − p~) (127)
i=1
ˆ ˆ
d~
rρi (~r) = dp
~ρi (~p) =1 (128)
ˆ ˆ
d~
rρ(~r) = dp
~ρ(~p) =N (129)
Pode-se calcular várias grandezas similares. Por exemplo, a distância relativa entre duas
partículas (ou momento relativo),
ˆ ∞
hrik i = h|~ri − ~rk |i = rfik (r)dr (132)
0
ˆ ∞
hpik i = h|~pi − p~k |i = pfik (p)dp (133)
0
a probabilidade de encontrarmos várias partículas próximas uma das outras. Esses valores
35
médios nos permitem encontrarmos diversas ordens de organização da matéria (partículas),
etc...). O cálculo dessas funções de correlação de n-partículas (como são chamadas generica-
mente essas funções) pode ser complicado para o caso dos gases reais e necessita ser calculado
numericamente.
Vamos exemplicar esses cálculos para o caso simples do gás ideal. Nesse caso, a densidade
no espaço de fase é,
N β 2 N
Y exp − 2m p~i Y
ρ(~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N ) = N ! = N! ρi (~ri , p~i ) (134)
i=1
Z(T, V, N ) i=1
onde,
ˆ 3/2
1 β 2 2πmkT
Z(T, V, 1) = 3 rdp~ exp −
d~ p~ =V (135)
h 2m h2
Temos então,
ˆ
1 N
ρi (~r) = d ~ri dN p~i ρ(~r1 , ..., ~rN , p~1 , ..., p~N )δ(~ri − ~r)
N !h3N
ˆ N
1 N
Y
= 3N d ~ri dN p~i ρk (~rk , p~k )δ(~ri − ~r) (136)
h k=1
ˆ 3/2
h2
1 1 β 2
ρi (~r) = 3 d~
ri dp~i exp − p~ δ(~ri − ~r)
h V 2πmkT 2m i
3/2 ˆ
h2
1 β 2
= ~i exp −
dp p~
V h3 2πmkT 2m i
1
= (137)
V
36
A probabilidade de encontrarmos a i-ésima partícula é constante no espaço de coor-
* N + N
X X N
ρ(~r) = δ(~ri − ~r) = ρi (~r) = (138)
i=1 i=1
V
Durante o curso, zemos uso de várias simulações, principalmente para introduzir os conceitos
importância na física estatística. Vamos discutir aqui brevemente algumas das ideias gerais
das simulações e como elas podem ser implementadas para os diferentes ensembles.
Método da Dinâmica Molecular. Esse método foi utilizado nos primeiros exemplos
mostrados de simulação (ver ref. 2). Basicamente, ele consiste na solução numérica das
equações de movimento de Newton. O método pode ser implementado por meio dos seguintes
passos:
o momento do centro de massa é xo.Isso porque muitas vezes o sistema pode car um
tempo muito
37
3. A média sobre o espaço de fase das trajetórias representa a média tempora.
Qua a principal diculdade? As soluções numéricas consomem muito tempo para um grande
número de partículas. Na prática, só podemos simular um tempo muito curto (da ordem
de 10−6 s). Como consequência, o sistema pode não atingir o equilíbrio. Para que isso seja
escolha adequada das condições iniciais. Se o sistema consegue atingir o equilíbrio, com uma
Método Monte Carlo. Como podemos fazer a simulação quando as equações de Newton
não são aplicáveis, como por exemplo, no sólido de Einstein ou no conjunto de magnetos?
Nesses casos, o Método de Monte Carlo é bem adequado. Consideremos o sólido de Einstein
(conjunto de osciladores com uma frequência ω e podendo ter diferentes quanta de energia
2. Gere um novo conjunto de números quânticos. Para isso, pode escolher dois osciladores
constante.
38
1. Gerar uma conguração inicial, sem restrição de energia total, para os N osciladores.
2. Calcular a energia total desse microestado, Es , e atribuir o peso e−βEs para esse mi-
croestado.
alterando sua energia por ±1. Calcular a nova energia e o novo peso.
PM
s=1 Es e−βEs
E(T ) = PM
(139)
s=1 e−βEs
grande número de microestados com alta energia, os quais têm pouca probabilidade de ocor-
rerem e serão pouco ecientes no cálculo da média. Para tornar o procedimento mais eciente,
pode-se gerar os microestados com probabilidades proporcionais aos seus pesos, isto é, pro-
porcional a e−βEs . O método mais simples para esse tipo de amostragem de congurações é o
algorítmo de Metrópolis. Esse algorítmo baseia-se no fato que a razo entre as probabilidades
1. Escolha um microestado inicial, escolhendo, por exemplo, as energias iniciais para cada
peratura T do sistema.
2. Faça uma mudança tentativa de microestado. Para isso, considerando o sólido de Ein-
39
stein, escolha um oscilador aleatoriamente e também aleatoriamente mude sua energia
por ±1 quantum (no caso do sistema de partículas, mude a posição de uma partícula
microestado anterior.
4. Calcule as médias das grandezas de interesse até que o sistema tenha atingido o equi-
líbrio.
stein.
40
Referências
[1] Sílvio R. A. Salinas, Introdução à Física Estatística, EdUSP, 1997.
[2] Harvey Gould e Jan Tobochnik, Statistical and Thermal Physics, Princeton Uni-
[3] Walter Greiner, Ludwig Neise e Horst Stöcker, Thermodynamics and Statistical
1965.
[6] James P. Sethna, Statistical Mechanics: Entropy, Order Parameters, and Com-
41