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INTRODUCAO O cisto hidatico, estigio larval do género Echinococcus, agente da hidatidose cistica nos humanos, jé era conheci do na Antiguidade (a.C.) Porém, somente por volta de 1780, E que as “Vesiculas cheias de Agua” presentes em pacientes humanos e ovinos foram relacionadas com 0s pequenos pa- rasitos do intestino delgado de ces. Na América do Sul, os ‘rimeiros relatos de hidatidose datam de 1860 ¢ 1870, na Ar- sentina e dez anos apis, no Unuguai. No Brasil, os primeiros registros de hidatidose ocorreram no inicio do século XX. © género Echinococcus pertence ao filo Plathyhel ‘minthes, classe Cestoda, familia Taeniidae, sendo conheci das quairo espécies, cujo estagio larval pode parasitar hu- Echinococcus granulosus (Batsch, 1786): a forma larval, hidatide ou cisto hiditico apresenta-se com uma sb cavida- de, responsivel pela hidatidose cistica ou unilocular. Tem como hospedeiros definitivos ees domésticos ¢ canideos silvestres ¢ como hospedeiros intermediarios ovinos, bovi- nos, suinos, caprinos, bubalinos, cervideos, camelideos e, acidentalmente, 0 homem. Das quatro espécies que serio citadas, a de maior importincia é a E. granulosus, que sera apresentada posteriormente, de forma mais detalhada Echinococeus multilocularis (Leuckart, 1863): a forma larval, 0 cisto multivesicular, 6 responsivel pela hidatidose alveoiar, com cariter difuso, infiltrando-se pelos tecidos, semelhante a um tumor maligno. Tem como hospedeiro de- fintivo raposas e como hospedeiro intermediério pequenos, roedores. Esta parasitose em pacientes humanos & poten- ciakmente grave e geralmente fatal © sto primar de desen- volvimento da larva geralmente é o figado, podendo atingit outros Srgios adjacentes e mesmo distantes. Este cardter difuso dificulta muito a retirada cirirgica do cisto, uma das formas de tratamento desta doenga. Quanto a sua distribui- so geogrifica, esti presente na regidio Holodrtica, especial- ‘mente Canad, Alasca, Sibéria, norte da China, Alemanha, Suiga e Franga. Estudos epidemiolégicos conduzidos na China e Alasca indicaram 0 cdo doméstico como o principal reaponsivel pela infecgo humana. Ha evidencias di disper- sio desta parasitose na América do Norte e no Japio, de- Capito 26 Echinococcus granulosus Y — Hidatidose Maria Elisabeth Aires Beme Vido a0 aumento da populagdo de raposas e progressiva in- vaso destas nas cidades, com 0 estabelecimento do ciclo urbano, envolvendo edes domésticos como hospedeiros de- finitivos. Echinococcus vogeli (Rausch & Bernstein, 1972): a for- ma larval é responsivel pela hidatidose policistica, caracte- rizada por cistos miltiplos, que podem ating varios tecidos. Os hospedeiros definitivos sio camivoros silvestres e os hospedeiros intermediérios virias espécies de roedores sil- vestres, principalmente pacas. Os humanos adquirem esta parasitose acidentalmente, sendo a fonte de infecedo geral- mente cdes alimentados com visceras infectadas de roedo- res silvestres (pacas e cutias). A evolugdo da hidatidose policistica é de curso lento, assintomatico, sendo 0 6rgi0 mais afetado o figado, podendo também ser encontrado nos pulmdes e mesentério, Os registros da hidatidose polictstica restringem-se a varios paises da América do Sul e Central, com 89 casos descritos. No Brasil, até o ano de 2003, foram relatados 41 casos, sendo a maioria procedente de estados da Regio Amazénica, principalmente Acre e Para Echinococcus oligarthus (Diesing, 1863): também cau- sa hidatidose policistica, tendo como hospedeiros defini vos felideos silvestres € como hospedeiros intermediérios roedores silvestres (pacas ¢ cutias). Ocorre na América La- tina, com trés casos registrados em humanos (Venezela, Suriname ¢ Brasil), mas pouco ¢ conhecido sobre a epide- rmiologia e as vias de transmissio. MORFOLOGIA. E, granulosus durante seu desenvolvimento apresenta- se em trés diferentes formas: parasito adulto, presente no intestino delgado de ces; ovas eliminados com as fezes, dos cies e a forma larval, conhecida como cisto hidético ou hidatide, presente nas visceras dos hospedeiros intermedia trios, principalmente ovinos e bovinos. Parastro ADULTO £ um cestodeo muito pequeno, medindo de 4 a 6mm de comprimento. O escélex é globoso ou piriforme, com quatro 239 ‘entosas © um rostro armado com 30 a 40 acileos ou gan- chos dispostos em dua fileras, O colo, regio de ereseimen- to do eestédeo, ¢ curto, seguindo-se pelo estrobilo consti- tuido por tés @ quatro proglotes, A primeira proglote € ima- tura, com érgios genitas ainda nao totalmente desenvolvi- dos. A segunda é madura, com érgios gonitais masculinor (0 a 50 massas testiculares, canais eferentes, canal deferen- te, pénis ou cirrus envolto pela bolsa do cirrus), érgios ge- nitais femininos (ovario, oviduto, odtipo, glandulas vitelogénicas, itero e vagina) e poro genital, iocalizado a margem da proglote, onde abre-se a vagina e a bolsa do cirrus, Na tereeira proglote, que corresponde a 1/3 ou meta- de do estrébilo, encontra-se 0 itero, oeupande todo 0 es ago da proglote, contendo no seu interior S00 a 800 ovos (Figs. 26.1 € 26.2). Ovos Os ovos, ligeiramente esféricos, medem 32m de dime- tro e sio constituidos por uma membrana externa, denomi- nada embridforo, contendo no seu interior a oncosfera ou embrido hexacanto, onde esto presentes seis ganchos ou Cisto Hipkrico, Apresenta-se de forma arredondada, com dimensies variadas, dependendo da idade do cisto e do tecido onde este esti localizado. Em infecgdes recentes mede cerca de Imam, porém, mescs depois, pode medir virios eentimetros ig. 263). O cisto hidatico é formado por trés membranas ¢ outras estruturs,iniciando-se pela parte extema: + membrana adventicia: geralmente € espessa, const- tuida por tecido fibroso, resultante de uma reago do hospedeiro a presenca da larvae seus metabslitos: + membrana anista ou hialina: formada pela membrana ‘germinativa, tem um aspectohialino e homogéneo(se- melhante a albumina de ovo eozido), constituida, prin- cipalmente, por proteinas e mucopolissacarideos. A Fig. 26.1 - Aduiflo de Echinococcus granulosus, mastrando escolex € prsltes mature, metre @ duas abides (a alma, repete de Ov, prom {a para desprender-se do paras), 240 Fig, 26.2 —Echinococeus granulosus — A) Vorme adulto: A — rsto ar mado; V — ventosa; P| — progiote jovem; Pm — progicte madura: Py — brogotegrivide; 8) Cisto hidden ou hidbtie (medlndo cera de Sem de ‘iamewe)spresentande: @ — memorana aaventca (arodvzca plo 020 arasado) b — memranaansta;¢— membrana progea: d — vesicua roigea; © — escélex (ou protoesctleces); ah — ae hdc espessura aumenta com a idade do cisto e geralmen- teatinge 0.9mm; ‘membrana germinativa ou proligera: & a membrana mais interna, mede aproximadamente Lum de espes- sura, com a tuperficie rugosa, onde io visualizadas iniimeras microvilosidades e vesiculas proligeras. E © elemento fundamental do cisto, pois a partir dela se- rao formados todos os demais componentes do cis- to (membrana anista, vesiculas proligeras e protoes- céleces); vesiculas proligeras: a partir da membrana proligera sto formadas internamente por brotamento (reprodu- 60 assexuada por poliembrionia) centenas de vesi- culas, que permanecem ligadas & membrana proligera por um pediinculo, Medem cerca de Imm de didme- tro € no seu interior sto formados de dois a 60 pro- toeseéleces; Capitulo 26 Fig. 26.3 — Cistohidtco iplantad no epiploon, onde pode-seobsorar imemtrana advenicia mals exteament), membrene enista © aderide 8 ‘ta mamtyan proigea, iui hii area hidatica foto gentimente Cd pelo Dr. Heitor Alberto Jannke, Dep, Ptolopia, UFP) + protoescélex ou escélex invaginado: apresenta for- mma ovdiele com quatro ventosas ¢ rastro armada com dluas fileiras de acileos, medindo cerca de 120m, + liquido hidético: o eisto hidatico esti cheio de um li- Quido cristalino, contendo em sua composigio muco- polissacarideos, colesterol, lcitinas e diversos amino fcidos, com grande capacidade anti + areia hidética: constituida por vesiculas prolig fragmentos de membrana proligera e protoescaleces due se soltam e ficam livres dentro do eisto. Em cistos, ferteis, lem’ dessa areia pode conter até 40.000 protorscéleces; + cistas hidaticos anomatos: 0 cisto hidatico, enquan- to mantiver sua integridade e vitalidade normais apre~ senta-se como descrito acima, Contudo, em situagdes adversas, como as causadas por traumatisme, enve~ Thecimento, perda de liquido por ruptura ou pungao, ‘ou ainda por alteragBes bioquimicas devido a penetra- ‘0 de bile ow urina, infecgdo bacteriana, podem de- sencadear um processo de formagdo de cisios hida- ticos filhos (secundirios) endégenos ou exdgenos. Os cistas endégenos fithos, que originalmente eram constituidos por uma iiniea ¢avidade (unitoculat), pas- ‘sam a apresentar diversas cavidades, sendo denomi- nado cisto multivesicular, produzindo suas préprias vesiculas proligeras protoescdleces, a semelhanga 4d cisto hidtico-mie (primario). Os estas hidticos fi thos exégenos podem ser localizados em varios tec os, principalmente em casos de ruptura de cistos pri- marios, condo comumente encontradoe nos o#kos. Nesta localizagi, os cistos nao apresentam membra- ‘na adventicia e, medida que erescem, avangam pelo tecido 6sseo, formando hémias com a exteriorizagao. ‘da membrana germinativa, a partir da qual serdo origi- nados cistos exégenos filhos, BIOLOGIA HaortaT © parasite adulto localiza-se junto & mucosa do in- testino delgado de cies, hospedeiros definitivos ¢ 0 cisto Capit 28 hiidatico & encontrado, principalmente, no figado e nos pul- des de ovinos, bovinos, suinos, eaprinos e cervideos, hos- pedeiros intermediarios, Em humanos, hospedeiro interme didrio acidental, as localizagdes preferenciais dos cistos sio figado, pulmdes, além de outros érgfios, como cérebro, os- 0s, bago, misculos,rins et Cicto BroLécico 0s ovos eliminados com as fezes dos cies, isoladamente ou dentro das proglotes grdvidas, chegam ao meio ambien- te, contaminando as pastagens peridomicilio e 0 domicili. Esses ovos, quando eliminados, jé sio infectantes, perma- necendo viaveis por varios meses em locais midos e som- brios, mas so rapidamente destruidos em locais sceos com grande incidéncia de luz solar. Os ovos so ingeridos junto a0 alimento e, no estdmago, o embridforo & semidigerido pela agio do suo gastrieo. No duodeno, em contato com a bile, liberam a oncosfera ou embrido hexacanto, que atra- vés de seus ganchos penetra na mucosa intestinal, alcan- sando a circulacdo sangiiinea venosa, chegando a0 figado © a0s pulmdes e, mais raramente, a outros orgios. Apds seis meses da ingestia da avn, 0 cista hiditieg estar madurn, permanevendo viivel por varios anos no hospedeiro it medisrio, Nos hospedeiros definitivos, a infeegdo ocorre através da ingestio de viseeras, principalmente de ovinos © bovinos com cisto hiditico fertil, ou seja, cistos conten- do protoeseéleces. Estes ao chegarem no intestino, sob ado principalmente da bile, evaginam e fixam-se & mucosa, Mingindo a maturidade em dois meses, quando proglotes rividas e ovos comegam a aparecer nas fezes, Os parasi- tos adultos vivem aproximadamente quatro meses e, por- tanto, se no houver reinfecgdo, 0 cio ficard curado desta parastose (Fig. 264) Transmissio Os ces adquirem a infeego (equinococose) ao serem alimentados com visceras dos hospedeiros intermediirios contendo cistos hidaticos férteis. J4 0s hospedeiros inter- ‘medirios, adquirem a infecgdo (hidatidose) ao ingerirem ‘vos eliminados no ambiente pelos cies parasitados. Nos hhumanos, a infecgdo muitas vezes ocorre na inflncia, devi- do ao contato mais proximo das eriangas com 09 ees, que quando infectados apresentam uma grande quantidade de ‘vos aderidos ao pélo, principalmente da regido perianal CCriangas, por terem pouco cuidado com a higiene, principal- mente sem o habito de lavar as maos antes de alimentar-se, ao brincarem com ees, podem ingerir diretamente estes ‘ovos ou juntamente com alimentos contaminades. PATOGENIA E SINTOMAS icin log estos & lena, a8 lecies 8 sine tomas desencadeados podem levar anos para serem perce- bidos, ocorrendo somente quando 0 cisto ja atinge grandes dimensdes. Cistos pequenos, bem encapsulados e calcifi- ‘eados, podem permanecer assintomaticos por anos ou toda Vida do hospedeiro. A patogenia da hidatidose humana dependerd dos 6r- _xfos atingisos, locas, tamanhos ¢ nimero de cistos. No ado e pulmdes, no caso de um tinico cisto, desde que no Como a at wo Fig. 264 — Ciclo do Echinococcus granulosus: f — cdo paresitado por vermes adultos; 2— ovos eliminads para 0 moo exter comtaminando pasos, ai nos ou mos do erlang; 3 — ovno (haspedto normal) ingrindo eves, 4 — desenvolvimento do csto dio nas viscras (gad pulmoes| co ‘vino, quo sero ingerdes por ces; 5 — cnanga (ospedoie cient) ingorndo ovos atinja grandes dimensdes e no ocorram rupturas, pode no apresentar sintomas. Entretanto, no cérebro, pode ser de cur- 50 grave, caso ndo seja diagnosticado e tratado rapidamente. Como jé mencionado, a hidatidose pode ocorrer em varios 6 ‘880s e tecidos, com patogenia e sintomas decorrentes das al- teragbes nas suas fungdes vitais, seja através de mecanismos imitativas, mecinicos e/ou alérgicos. Por isto, seri abordada a hidatidose nas localizages mais comuns e graves no homem. Hidatidose hepitiea: o figado geralmente & 0 ogo pri- rio da infecg3o. O embrio através da circulagdo atinge 0 figado, onde pode ficar retido nos capilares sinusais, cau- sando uma reagao inflamatbria com a presenca de infiltrado de cosin6filos e eélulas mononucleares. A localizagio pre- ferencial do cisto no figado & o lobo direito, podendo estar situado profundamente no parénquima ou superficialmente, logo abaixo da capsula hepatica. Quando a localizagao & ‘mais profunda, pode comprimir 0 parénquima, vasos ¢ vias biliares. Os sintomas sio distirbios géstricos, sensagao de plenitude pés-prandial e, em caso mais graves, pode ocor- rer congestio porta e estase biliar, com ictericia ascite Quando ha ruptura de cisto hepatico, existe grande possi- bilidade de formagao de cistos-filhos em varios érgios da cavidade abdominal e peritonial Hidatidose pulmonar: o pulmao ¢ 0 segundo érgio mais afetado pela hidatidose, © parénquima pulmonar oferece 242 pouca resistencia ao crescimento do cisto, que pode atingir grandes dimensdes, comprimindo brénquios e alvéolos. As ‘manifestagdes mais relatadas so cansago ao esforgo fsic, dispnéia e tosse com expectorapio. Rupturas de cists nes- te Orgdo sZo mais freqdentes, quando Se observa hidatido- ptise, com a presenga de protoescéleces e fragmentos de ‘membrana proligera no material de expectoragio. Hidatidose cerebral: esta localizago € rara.O tecidoce- rebral apresenta pouca resisténcia ¢ os cistos evoluem ri- pido, com sintomas neurolégicas de acordo com a localiza fo do cist. Hidatidose dssea: também rara, mas de longa durago. Os cistos, que sto desprovidos de’ membrana adventica, creseem adaptando-se ¢ invadindo os locais do tecido 6s- Seo, que apresentam menor resistencia. Nesta progressio, ‘ cisto softe estrangulamentos, que muilas vezes expdem a ‘membrana germinativa com a formagao de cistos filhos. Em- bora os cistos neste tecido fiquem ativos por Vérios anos {até 20 anos), 0 paciente conserva bom estado geral, sendo Imuitas vezes o diagnéstico realizado no momento de fratu- ras do 0ss0, que est fragilizado pela destruiglo do tecido. Independente da localizago do eisto podem ser obser- vadas reagdes alérgicas de maneira intermitente, devido a0 extravasamento de pequenas quantidades de liquido hiditico para os tecidos. No caso de ruptura do cisto, pos Capito 26 puncdo, cirurgia ou acidentes, o liquido hiditico (rico em proteinas ¢ altamente antigénico), ao cair na cavidade abdo- ‘minal e/ou peritonial, pode desencadear choque anafilatico, rmuitas vezes fatal IMUNOLOGIA Infecgdes experimentais conduzidas em animais mostram ‘que menos de 5% dos ovos ingeridos produzem cistos, com uma intensa resposta imune desencadeada em animais pre- ‘viamente infectados com oncosferas ou vacinados com an- tigenos de oncosferas. A resisténcia ao desafio também & evidente em populagées de ovinos nais quais a hidatidose € hiperendémica, Os mecanismos envolvidos na morte do parasito, por exposigdes sucessivas, provavelmente slo de- pendentes de anticorpos e mediados pelo complemento. Altos niveis de IgG sio observados a partir da 2 a 11" se- mana apés infecgdo. Infeegdes iniciais desencadeiam uma resposta inflamatoria significativa, com infiltrado de neutr6- filos ¢ macréfagos, trés a cinco dias pés-infecgdo e um au- ‘mento dos leucécitos séricos, principalmente eosin6filos, linfocitos © monécitos, 25-30 dias pos-infecgao, Em infecgdes humanas, os anticorpos séricos IgG, IgG4 ¢ IgE antiantigeno de liquido hidético, que é uma mistura complexa de proteinas, contendo vérios componentes anti- ‘énioos, séo capazes de estimular diferentes populagdes de células T, que iro reconhecer distintos epitopos deste pa- rasito, A clevada produgdo de ILA, ILS, IL6 e IL10 em pacien- tes com hidatidose indica a ativacéo das células Th2, mas também o IFN-y € produzido, sugerindo que a resposta immu ne a esse parasito € regulada também pelas células Tl. Vi rios estudos clinicos de hidatidose sugerem que ocorre uma variagdo na estimulagdo das populagdes de eétulas Th1/Th2 durante a infecglo, relacionada com a liberago de anti- ‘gens, estando a populagao de Th2 relacionada com a res- posta a suscetibilidade a doenga, enquanto as Thl es relacionadas com a imunidade protetora EPIDEMIOLOGIA A hidatidose € uma zoonose rural com ampla distribui- ‘cdo geogrifica, presente em todos os continentes, sendo mais freqiiente no sul e oeste dos Estados Unidos, Cana- da, Alasca, Europa, Asia, Austrdlia, Nova Zelindia e Amé- rica do Sul. As regides de maior prevaléncia tém tradigio de ovinos e no manejo destes animais utilizam Na América Latina, segundo estimativas, ha cerca de ‘meio mithdo de pessoas infectadas com cisto hidatico, com alta prevaléncia em dreas rurais do Chile, Argentina, Uru- ‘gual, Peru e Brasil, ‘rea endémica @ F222 sans fren sem enconvo da doonea ——- Fig. 265 — Dstbuigdo geogrfea de hidaidse no Basi font: SUCAM e pubcagdes diversas, 1987), Capitulo 26 243 No Brasil, quase todos os casos de hidatidose tém ori- ‘gem no Rio Grande do Sul (Fig. 26.5), onde esta doenga 6 co- hecida desde o inicio do sEculo XX. Um estudo retrospec- tivo ({ltimos 20 anos: 1981-2001) de casos clinico/ciirgicos, conduzido neste Estado, detectou 742 casos de hidatidose Fig, 26. 6), € 61,10% destes ocorreram na Regio da Cam- panha, que faz fronteira com o Unuguai ¢ @ Argentina, onde 4 ovinocultura e bovinocultura so expressivas ¢ a utiliza ‘0 de cies no pastoreio dos animais é uma rotina. A maior porcentagem (73%) de casos de hidatidose ocorreu na fai- xa etiria de 16 a 60 anos, sendo 0 érgo mais acometido 0 figado (59,19%), seguido do pulmao (16,9276), com localiza- «es também no bago,rins, cétebro, masculos, coragao, ovi- rios, vesiculabiliar, peritnio, epipioon e intestin. © eestudo da hidatidose animal e da equinococose em ces, tem sido um indicador da situagao da hidatidose hu- ‘mana, principalmente em dreas endémicas. A prevaléncia da hidatidose em bovinos e ovinos € obtida através da inspegdo dos animais no momento do abate. No periodo de 1998 a 2001 na regio sul do Rio Grande do Sul, a inspegao estadual detectou cisto hidatico em 30% a 35% dos bovinos ¢ 41% dos ovinos. ‘Nesta mesma regio, a prevaléncia da equinococose ca- nina foi de 13% a 38%. Estes dados indicam que a hidatidose permanece endémica neste Estado, ¢ 0 habi- tante do meio rural esta continuamente exposto a esta parasitose Mesto sendo esta déenga conhecida no Rio Grande do Sul desde 0 inicio do século XX e apesar das inimeras cam- panhas de controle implantadas, a hidatidose continua sen do um grave problema de sate piiblca, visto 0s habitos do camponés de alimentar os cdes com visceras eruas, princi- palmente de ovinos abatidos nas propriedades rurais, © de manter um nimero grande de ces sem tratamento anti- helmintico. Casos isolados de hidatidose, causados por E. granu- losus, tém sido registrados em outros Estados, como: Sao Paulo, Mato Grosso, Goids, Minas Gerais, Bahia e Mara- thio. Isto € preacupante, visto a possibilidade de dissemi nnagdo da hidatidose, mediante a migrago de gaiichos, que levam junto seu cio, bem como a comercializagao de ovinos de Areas endémicas para regides livres desta doenga, Muitos fatores podem determinar a permanéncia, reinfeegio e dispersdo da hidatidose: + presenga de grande quantidade de cies nas proprie- dades rurais € estes parasitados por E. granulasus; + ficil acesso dos c&es a visceras cruas infectadas com cisto hidatico, principalmente de ovinos; + dbito dos camponeses de alimentar os ces com vis- ceras eruas dos animais abatidos na propriedade, vis- to ser uma forma econémica de alimentar estes ani + falta de tratamento anti-helmintico aos cies; + mimero insuficiente de abatedouros com inspecdo ve- terindria no meio rural; + precéria ou inadequada educagao sanitaria; + falta de cuidados sanitérios sobre a populagao de cies no meio rural; + falta de recursos financeiros e politicos para manter campanhas efetivas contra hidatidose; + falta de controle sanitério dos animais comercializados nos Estados. DIAGNOSTICO DIAGNOstIco DA Hipatipose HUMANA 0 quadro clinico de hidatidose nao é especifico, muitas vvezes assintomético. Portanto, para um diagnéstico mais preciso, devem ser consideradas informagies clinicas,labo- ratoriais € epidemioldgicas Clinico: as manifestagdes clinicas, quando presentes, so geralmente causadas pelo crescimento expressivo do cisto, que leva & compressao e aderéncia do érgio parai tado e das estruturas adjacentes. Nos exams fisicos, depen sdendo do tamanho ¢ da localizagio do cisto, podem ser de- tectadas massas palpdveis, semelhantes a tumores. Em &re- 60 50 ” Py 20 Fig. 268 1993 1 Casos crcacirgicos de nidstdose humana nos itimos 20 anos ia Ri Grande do Su, Brasil 24 Capito 26 as endémicas, estes achados associados a manifestagBes he- piticas ¢ pulmonares erdnicas sio sugestivos de hidatidose. Laboratorial: as avaliagdes laboratoriais slo utilizadas tanto n0 diagndstico primério da hidatidose, como no acom- ppanhamento pds tratamento cirirgico e/ou medicamen- tos0. As técnicas de imunodiagnéstico de imunodifusio arco 5, hemaglutinagdo, imunofluorescéncia ¢ ELISA sio utiizadas na busca de anticorpos especificos a proteinas do liquido hidatico. Os antigenos 5 (arco 5) e o recombinante B (EB), obtidos do liquido hidético, so os mais utlizados. E indieado 0 uso de duas técnicas na confirmaedo do diagn6s- tico. Apesar das técnicas apresentarem uma boa sensibilida- de € especificidade, ainda tém-se problemas com as reagdes ‘ruzadas. Neste caso, a identificagio de epitopos especificos de antigenos recombinantes de E. granulosus, através do Immunoblottin, tem mostrado resultados promissore. 'No caso de suspeita de rompimento de cisto pulmonar, deve-se solicitar exame do material de expectoragio, para pesquisa de protoescéleces. ‘Métodos de Imagem: a radiografia foi, e continua sendo, amplamente utilizada como auxiliar no diagnéstico da hida- tidose. Atualmente, outras técnicas possibilitam a visualiza- so mais detalhada dos cistos, como: ecografia, ultra- sonografia, cintilografia, tomografia computadorizada e res- sondncia magnética. Embora todos esses métodos produ- zam imagens, muitos deles com riqueza de detalhes, nem sempre Sio conclusivos, pela semelhanga com outras pato- logias, como tumores. Laparoscopia: esta téenica cinirgica ¢ uilizada quando no se tem uma confirmacdo exata da abrangéncia © das condigdes em que se encontra 0 cisto hidatico. DiacNostico EM ANIMAIS: O diagnéstico da equinococose canina através do exa- ime de fezes no formece um resultado especifico, a que os cles podem estar parasitados por outras espécies de cesto- eos (Muticeps multiceps, Taenia hidatigera, T. taeniformis, T pisiformes e T. ovis), que apresentam a morfologia do ovo semelhante, Em estudos epidemiolOgicos, 0 diagnostico ¢ realizado através do exame morfol6gico do parasito adulto, obtido através da expulsdo do cestédeo integro, apés a ad: ministragdo de bramidrato de arecolina, ou por necropsia de cles e exame do raspado da mucosa intestinal. A técnica de ELISA de captura, para busca de antigenos nas fezes dos cles, tem sido utilizada com excelentes resultados em estu- dos da prevaléncia da equinococose. Esses coproantigenos slo detectados em suspensdes de fezes entre 10-20 dias apés infecgao e desaparecem trés a quatro dias apés a eli- minago do parasito. Nos hospedeiros intermediarios (bovinos, ovinos, sui ‘n03) 0 diagnéstico da hidatidose ¢ obtido pela presenga de cistos ao exame post-mortem, no momento do abate destes snimais. Estes dados, juntamente com os de equinococose canina, so utilizados em reas endémicas para acompanhar a situagdo de risco da populagdo humana a hidatidose. PROFILAXIA Ae ager proportar na profilaxia da hidatidore equinococose tém como objetivo romper a transmissio des- Capitulo 26 ta zoonose € prevenir a infeegdo humana. Isto pode ser con- seguido através de: + conscientizar a populagdo rural sobre esta parasitose, vias de transmissio ¢ as medidas de controle, salien- tando que esta orientagdo deve iniiar j& com as crian- ‘sem idade escolar; + no alimentar cies com visceras eruas de ovinos, bo- vinos e suinos (no easo de utilizé-las na alimentagdo dos cies, estas devem ser bem cozidas); + incinerar as viscera parasitadas dos animais abatido + tratar periodicamente, com anti-helminticos, todos os ‘ies da propriedade; + ter cuidados com higiene pessoal, lavando as mios antes de ingerir alimentos e depois de contato com + impedir 0 acesso de cies em horas reservatérios de gua; lavar frutas e verduras com agua corrente; evitar contato direto com cies nfo-tratados; realizar 0 controle de insetos, principalmente moscas ¢ baratas, que podem carrear ovos; inspecionar os animais abatidos nos abatedouros; construir abatedouros domiciliares para ovinos e s nos, visto estes serem mais comumente abatidos nas propriedades rurais, impedindo o acesso dos cies 30 local de abate; + manter somente 0 nimero necessério de dades da propriedade Vacinas A profilaxia da hidatidose através de vacinas nos hos- pedeiros intermediarios tem mostrado resultados animado- res. Um estudo conduzido na Nova Zeldndia, Austrlia, Chi- na e Argentina, com ovinos vacinados com a proteina re- combinante EG95, mostrou protego de 95%, com imunida- de transferida aos cordeiros através do colostro das mies vacinadas. TRATAMENTO ‘TraTaMENTO DA Hipatiposr HUMANA © tratamento da hidatidose ¢ realizado através de medi- ‘camentos, cirungia © PAIR (Pungo, Aspiracdo, Injegdo ¢ Re- aspiragio do cisto). Até 0 inicio dos anos 80, a cirurgia era © tinico tratamento da hidatidose € muitos pacientes, prin- cipalmente com cistos miiltplos, localizagao dificil e/ou ci tos muito grandes, apresentavam complicagdes pais-cinirgi- cas e recorréncia de cistos, Somente com o desenvolvimen- to dos benzimidazdis, nos anos 70, & que o tratamento me- ddicamentoso tomou-se possivel. O primeiro firmaco utiliza- ddo no tratamento da hidatidose foi o mebendazol, que em: bora efetivo, tinha desvantagens pela necessidade de altas doses e tratamentos prolongados, devido & baixa absorgdo € aos metabélitos resultantes no apresentarem ago anti- helmintica, Posteriormente, iniciaram-se estudos com 0 albendazol, que mostrou-se mais eficiente ¢ seus metaboli- {os (sulfoxido de albendazol) mantinham a atividade anti- hhelmintca ‘Tratamento Me ‘macos ¢ utilizada como primeira conduta no tratamento icamentota: # adminietengiin de fre 245 da hidatidose e como auxiliar nos tratamentos cirirgicos e da PAIR. No tratamento da hidatidose o albendazol pode ser ad- ‘ministrado de forma continua (400mg em duas doses didrias durante trés a seis meses), ou intermitente (400mg em duas doses diérias, em trés a seis ciclos de 28 dias, com interva- los de 14 dias sem medicagao), Como auxiliar ns casos ci- rirgicos da PAIR é recomendado 400mg em duas doses didrias, iniciando quatro dias antes e durante um més apés estes procedimentos. tratamento da hidatidose utilizando a combinagio do praziquantel e albendazol tem mostrado bons resultados, ‘devido ao aumento da concentragio plasmatica ¢ maior tern- ‘po de agdo destes medicamentos sobre o parasito. ‘Tratamento pela PAIR: este tratamento consiste na pun- ‘0 do liquido hidético através de aspirago e inoculagao de ‘uma substancia protoescolicida (salina hitertOnica, etanol, citrinidina ou sulfoxido de albendazol) ¢ reaspiracao apés 10 minutos. Este tratamento € recomendado nos casos de 246 cistos simples e miltiplos com tamanho entre 5 a 15 cm de didmetro. A utilizagio da PAIR no tratamento da hidadidose requer maiores estudos, sendo contra indicada em cistos pulmonares e cerebrais, ‘Tratamento Cirdrgico: é método mais utilizados no tra- tamento da hidatidose no Brasil. F recomendado em casos de localizagies acessiveis ¢ cistos volumosos, sendo neces- sirio a dessensibilizagdo prévia do paciente para evitar pro- cessos alérgicos ou anafiliticos. ‘TRATAMENTO DA EQUINOCOCOSE praziquantel ¢ utilizado com bons resultados sobre a forma adulta de E. granulosus em cdes, tanto no tratamen- to como na profilaxia desta parasitose, Apos a administra- go do medicamento € recomendado prender os animais por 24 horas ¢ todas as fezes eliminadas devem ser incineradas, para evitar a contaminagio do ambiente com ovos deste pa- rasito. capitulo 26

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