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Manguezal Cama eee lynne Na csostterd Concepesoe Coordetags Colaboradores Revis30 Técnica Publicacio Projeto e producto Yara Schaeffer-Novelli Boker cAptt=M® / Departmen de Omega Seip / nett Ocenogsto USP ‘Ana Jilia Fernandes Bee-Graduanda / De ae Seo USP EecSinaade / Deparment de Ocmegra Riges / sts Ocranog Luis Claudio Silva Peria EEEEG plunt> / Departamento de Omens Sette / Isnt Oceaogritco USP Luiz Gonzaga da Silva Costa Scale de Cece Agra do Prk / Unenindedea d Pat Bonu ricb (CASES 2 ‘Marcus Palette ands, e de Cte Begs, i Sate (Sora Res Same Departement de Cais ilies / Hie cans eee Marie Sugiyama Kept de Bodin / Stet de Eta do Mele Ambient de Sto Paulo Nair Sumie Yo ‘etubaders Clete / nto deotnc/ Sacra de Edo do Meo Ambiente deo Fado Hence ote een Departamento de Flog Ge nda / ol decostemas rests agus, eto dea Instituto de Biociéncias = nee Bots Roberto Varjbedian am onnentthle oly de wontons mest cages / Departamento de Bao Test de coca a Sigrid Neumann Leto Departament de Oangraa /Unierdae Fade de Pernambuco Isabel das Anjos Louro Conerei sitragie Quen / Departamento de Oceanogr Bolg ImitatoOceanogfeo USP ‘Kuz Paulo Kawamura Furia Cr Ridden / ade Comune srt USP Professor Emérito Edmundo Ferraz Nonato Departamento de Oceanograta Bogen /Initato ceanoréico USP Caribbean Ecological Research Portfolio Comunicagzo e Informética ‘ropto gif, dlogrmagtovedibragto 7085 Yer SomanerNovell Cana Postel 6160 / CEP 086770 / She Pa SP Bast Sumédrio Introdugio Yar Schafer Nove Distribuigdo e origem [Nair Sone Yokaye Caracteristicas do ambiente ‘Ana ili Fernand | Lu Ca Sie Peri A flora do manguezal Mari Sugivea A fauna do manguezal Sigrid Neumann Let Métodos e técnicas de estudo Yara Scar Noval Adaptagées Luz Gonaga de Sie Casta Zonacio e as marés ‘Maio Luiz Gomes Sears Produtividade dos manguezais Gisela Vina Manes Valor ecolégico e sécio-econdmico Moni Css | Moses Maria Perea Torela Impactos sobre os manguezais Robert Vajaation Recuperagio de manguezais degradados Regina de Castro Vincent Legislagio Marcas Poete Bibliografia de referéncia B v 31 39 9 87 a E com pracr que apresontamas eta monogafia sabre oecossstema ‘manguezal, destinada aos membros da camurridade que sempre nos indagam de existéncia de um texto sobre o assunto, que descreva suas principas caracteristicas e importincia, emt linguagem simples e acesstvel Annecessidade de preencher a lacuna entre as “cartithas” por demas elementares & 0s “trabalhos cientficos”, bens como de estabelecer um canal de contuicagto eficiente entre bidlogos e profissionais de outras éreas, motioou-nes a produzir a presente contribuicao. Os temas abordados foram eletos por sua representatividade no que tange a uma visto geral do ecossistemae como o mesmo funciona. Detalhes mais espectficos foram deixados por conta das cbras listadas no final do lioro, disponfoeis ras bibliotecas das universidades. Fungges como as de protecao da linka de costa contra erasto, filtro bioldgico e bercirio de recursos pesqueiros, so alguns dos atributes dos manguezais, que dependem de medidas conscientes e preventioas, para garantir sua integridade ¢ {que justifcam a necessidade imperiosa de uma conscientizagao fundamentada em informagées corretas efacilmente acessfveis. Acresce que, como toda cobertura vegetal, as plantas de mangue s20 transformaderas de CO; em matéria orgénica; contribuindo para a reducto do iminente impacto do efeito estufa sobre a Terra. Esta contribuigito é relevante, ‘mesmo nas freas-limite de sua distribuicto austral que, no Brasil, se situam prdximo a Laguna, no Estado de Santa Catarina, Esta monografia inclui resultados de projetos de pesquisa, bem como de muita vivéncia em trabalhos de campo, associados a extenso levantamento ibliogrifico. Esperamos que as informacées contidas nesta obra sejam rites na tomada de decisées em relagto aos manguezais; umt dos ecossistemas mais negligenciades, em fungao do desconhecimento de sua real importance beneficios para o homer ‘Além do interesse dos administradores, esperamos contar também com o dos professores e estudantes, estimulandowos a se engajarem na tarefa de difundir a necessidade do estudo e conserongto de um patriminio tao valioso quanto insubstitutbel A orientagao técnica & da coordenadora; porém a elaboragio dos capitulos foi dirigida no sentido de fazer vale a forma de abordagem que resulta da experiéncia pessoal de cada um de seus autores. O objetivo foi dar um cunko atual e didatico ‘0 trabalho, Yara Schaeffer-Novelli Histérico Uma definicao para manguezal Introdugaéo Yara SCHAEFFER-NOVELLE Referéncias sobre plantas de mangue sao conhecidas desde o ano de 325. através do relatério do General Nearco, quando acompanhou ‘Alexandre Magno em suas campanhas do Delta do Indo ao Golfo Pérsico, onde registrou a ocorréncia de drvores de 14 metros de altura com flores brancas que cresciarn no mar e troncos suportados par raizes com aspecto de candelabro. Esse aspecto caracteristico das raizes do mangue vermelho eld, inclusive, vinculado a designagao de Kandelia para um dos grupos esses vegotais, cuja referéncia aparece no trabalho de Abou'l Abbas el Nabaty, um botinico mouro que em 1220 viajou pela Ardbia,Siriae Iraque, quando chamou essas plantas de kendela. Oviedo, em 1526, fez a primeira descrigdo dos manguezaisamericanos na cla inttulada Histria Geral e Natural da indias,enquantoatribui-se 20 historindor portugués Gabriel Soares de Souza em seu Trabalho Descrtivo do Brasil, impresso em 1587, uma das referéncas mais antgas sobre os mangueraisbraileios Ecossistema costeiro, de transigdo entre os ambientes terrestre e marino, * caracterstico de regides tropicaise subtropicais, sujeito ao regime das rmarés.E constituido de espécies vegetais lenhosas tipicas (angiospermas), além de micro e macroalgas (criptégamas), adaptadae a futuagso de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigenio (Ocorre em regides costeiras abrigadas e apresenta condigbes propicias para alimentacio, protegio e reprodusao de muitas espécies animais, sendo considerado importante transformador de nutrientes em matéria organica e gerador de bens e servigos. Distribuigéo e origem ‘Nai Sumit: YoKovA (© Brasil possut de 10.000 a 25.000 km? de manguezais, dependendo da fonte consulted, enquanto que rio mundo inteiro exdetem 162.000 km? esse ecossistema. (Os manguezais apresentam maior desenvolvimento na faixa entre 03, ‘suns! tr6picos de Cancer e de Capricérnio (23°27'N e 23°27'S). Ocasionalmente Osinhae sion se estenclem aig latitudes de aproximadamente 32°N ¢39°S, quando apresentam menor desenvolvimento devido aa clima mais rigoroso. (O desenvolvimento estrutural maximo dos manguezais tende a ocorrer préximo a Linha do Equador. Besregets, Na costa Pactfica do continente americano, 0 limite norte dos manguezais 283 inhas correspondea latitude 31°, proximo a Puerto Lobos, no litoral desértico do Estado de Sonora, no México, enquanto que o limite sul corresponde @ 5°30'S, na desembocadura do Rio Piura, no Peru. No Atlantico,o limite norte dos manguezais alcanga 32°, nas ilhas Bermudas. No Brasil, desde o Amapé os manguezais sio encontrados ao longo de praticamente todo litoral, margeando catuirios, lagunas eenseadas, até Laguna (28°30), em Santa Catarina limite austral desse ecossstema no Alantico Sul Ocidental Centro de Na figura anterior podemos observar que a regi8o Indo-Pacifica rica em origem espécies, enquanto que o Novo Mundo 6, relativamente, mais pobre. Baseado nesse fato, alguns pesquisadores tém sugerido que o centro de origem das plantas de mangue teria ocorrido naquela regio. Existe uma teoria que procura explicar a migracio das plantas do rmanguezal do seu centro de origem até o Nove Mundo, sendo 0 principal {ator responsével por esse proceso a deriva dos continentes, que vem ocorrendo desde milhoes de anos atrés. Para entendermos essa teoria precisamos voltar 200 milhdes de anos, pertodo quando existia na Terra ‘um tinico continente chamado Pangea. As angiospermas (vegetais superiores), ainda ndo existiam naquela 6poca. soaa gana rons oe eave Wea =m Orivcanae Sino a) pound cs | Etinenes tra! | seotgeceno 50 [miss de anos | Sasi Asseras | lcimaspoaies ts pera | Gimme. | Bein ens | Wiese e | praetor de | Soencsees aoe Srenn dorm) Distribuicao Distribuleao e origem Durante 0 perfodo Mesazsico (vide tabela anterior), esse continente sgigantesco comecou a se fragmentar ¢ suas partes migraram, dando ‘origem a configuragao atual dos continentes. No final do Cretéceo e inicio do Foveno (a cerca de 60 milhées de anos), a8 angiospermas estavam evoluindo alivamente e é possivel que tenham FeSQ, + FySO, sulfeto de ferro sulfatodeferro Acido sulfirico Fe,(SO);+6H,0 ———> 2Fe(OHy + 1)SQ, sulfato de ferro hidréxido de ferro. Acido sulfitrico 5 A flora do manguezal ‘Mate Sucrvaaa (© manguezal é composto por plantas lenhosas, comumente chamadas de amangue. Nesse ambiente existem também espécies herbéceas, eptitas, hhemiparasitas e aquaticas tipcas. A maioria das angiospermas consideradas como tipicas do manguezal, apresenta reproducéo por viviparidade. Esse processo permile que as sementes permanegam na drvore-mie até se transformarem em embriges. Essas estruturas, conhecidas pelo nome de propégulos, acumulam grande quantidade de reservas autitivas, permitindo sua sobrevivéncia enquanto flutuam por Tongos perfodos de tempo alé encontrarem ambiente adequado & sua fixagao. ‘Omangue vermelho ou mangue verdadeiro, género Rhizophora, é uma drvore de casca lisa e clara, que a0 ser raspada mostra cor vermelha. O sistema radicular do mangue vermelho é formado por rizéforos que partem do {ronco e dos ramos, formando arcos com aspecto muito caracteristicoe, 20 atingirem o solo ramificam-se profusamente permitindo melhor sustentagio da planta num sedimento pouco consolidado, As estruturas reprodutivas ao amadurecerem caem como lancas, apontadas para baixo, vindo a enterrar-se na lama por ocasiao da baixamas. A siziiba, género Avicennia, 6 uma 7 | Lente * ‘quando raspada mostra cor amarelada, A siriiba tem folhas esbranquigadas por baixo devido & presenga de ‘inisculas escamas. O sistema radicular dessa espécie € muito interessante, desenvolve-se horizontalmente, a poucos centimetros abaixo da superficie do sedimento. Dessas raizes axiais saem ramificagées que crescem eretas (geotropismo negativo), expondorse ao ar como auténticos paliteiros, sio os chamados pheumatéforos. Estes apresentam ‘consisténcia esponjosa, e tém fungo destacada no processo das trocas epresenapao ‘esquematoa doe ‘selomas ‘edeularee de veeons e Create ‘gasosas entre a planta e o meio. ‘© mangue branco, mangue manso ou tinteira, género Laguncularia, 6 comumente uma érvore pequena, cujas folhas tém peciolo vermelho com duas glandulas em sua parte superior, junto a lamina da folha. Possui sistema radicular semelhante ao da sirisba, porém menos desenvolvido, ‘tanto em ntimero quanto em altura dos pnetumat6foros. Produz grande quantidade de propagulos, formando verdadeiros cachos (récemos) que pendem das partes terminais dos galhos. (0 mangue botdo, género Conocarpus, & uma drvore cujas folhas apresentam peciolos ligeiramente alados, além das duas glandulas, semelhantes as da Laguncularia, A inflorescéncia (conjunto de flores), tém forma arredondada, originando uma infrutescéncia (muitos frutos juntos) “®@ a \ I. Delete Avicenna y Transigao A flora do manguezal ‘com aspecto de uma esfera cheia de escamas. Essa planta nao apresenta grande tolerdncia a salinidade tipica dos manguezais. [Nas faixas de transigao entre o manguezal ¢ os sistemas de terra firme, ou ‘em manguezais allerados, podem ocorrer outras espécies vegetais, tais ‘como 0 algodoeiro da praia ¢ a samambaia do mangue. ‘O algodoeiro da praia ou embira do mangue, género Hybiscus, 6 um arbusto ramificado, com folhas em forma de coragto, flores grandes e vistosas de cor amarelada. £ uma planta muito usada na arborizagao de ruas nas cidades litordneas. O algodoeiro da praia ocorre nos limites interiores do manguezal, em substrato mais firme e sob menor influéncia da égua do mar. ‘A samambaia do mangue ou avencdo, género Acrostichum, é uma erva terrestre cujas frondes (ou folhas) podem chegar a 2 metros de comprimento. ‘Quando a maxé est baixa pode-se ver o praturé, graminea do género Spartina, muito comum associada aos manguezais; assim como algumas Giperdceas (Scirpus, Eleocharis, Crenea). Crescendo sobre a vegelacio acima citada podemos encontrar diversas epifitas, erroneamente denominadas parasitas pela populagio. Sao as diferentes espécies de liquens, musgos, samambaias, gravatés, filodendros, orquideas e cactos, como também as algas que ocorrem na parte inferior dos troncos e nas raizes do mangue. Sobre troncos e ramos das arvores observa-se, com certa frequiéncia, uma semiparasita, a erva-de-passarinho, generos Struthanthus e Phoradendron, cujos fratos so muito apreciados pelos péssaros. | 9 Macroe microalgas Liquens Rhizophora mangle | ‘As algae que vivem no mangueal so resttasaum pequeno grupo que abrange epéces unicelularesemacrolgas As ditonceas, por exes, Sto alae microsdpica que di ao lodo una cor pardo-amarlad Servndo pare agltinar a superficie da lam 20 mesmo tempo que ontbuem fetivanient como snttzadores tle materia ogni, Dente fs chamadas alge ari algumas podem formar masses escaras no lode (gener Osetia), oxtras formam taf erlos excuse sobre o lod (Genero Scytonena, podendotanbem vives como epias sobre outs algae motes. Outes macrolgas que podernos observa ssoiadas 20 ‘anguezal toa Cauferp,lembrando paquenos cchos de va on flhes depalmeia a Eneromorpia frmando cabelas verdes sobre raze troncos anda, Cladophoropis, Catena Caloglss e Bostrachin. (Os liquens podem ser observados sobre troncos, ramos e ratzes nos manguezais. Exstem Iiquens que ficam completamente aderidos a0 substrato,sendo dificil desiaci-los, apresentam cor amarelo-vivo, cinza, branco rosado, sendo fregiientes sobre o mangue vermelho (Rhizophora) Podemos observarliquens folhosos, facilmente destacaveis da superficie ‘onde se encontram, apresentando coloragéo marzom cinza-chumbo ou preta, cservados principalmente sobre o mangue tintira (Laguncularia) (Os liquens frutcosos ou arbustivos formam estrstura bem desenvolvida, Epffitas Epifitas A tlora do manguezal ‘como na barba de velho (Usnea), que fica pendurada nos ramos formando, algumas vezes, verdadeiras cortinas cinza-esverdeadas. (Os gravatés ou bromélias, séo facilmente reconhecidos por apresentarem folhas reunidas em roselas, como se fosse um copo, onde se acumula égua das chavas. Apresentam colorido muito variado, podendo aparecer em grande quantidade sobre os ramos das érvores do mangue. A espécie TTillandsia usneoides, também conhecida como barba de velho, é mais delgada e alongada que as demais,ficando pendurada a partir dos galhos. 'N&o podemos nos esquecer das bactérias e dos fungos como componentes importantes do manguezal, onde exercem destacado papel, atuando como agentes decompositores da matéria orgiinica produzida por todo esse conjunto de produtores primarios - 0s vegetais. a A fauna do manguezal ‘SiGRiD Neumann Lerrao (Omanguezal éhabitado em toda sua extensdo por diversos animais, desde formas microscépicas até grandes peixes, aves, répizis e mamiferos. Alguns deles, nem sempre exclusives dos manguezais, cupam 0 sedimento ova dgua, outros as rafzes eos tronces, chegando até copa das vores espaco bastante disputado, principalmente no periodo noturno. ‘Aus animal do {amano es, ‘seas 40s (© manguezal -Epses animais tm sua origem nos ambientes terrestre, marinho e de égua doce; permanecendo no manguezal toda sua vida como residentes ou ‘apenas parte dela, na condicdo de semi-residentes, visitantes regulares ow ‘oportunistas. Seja qual for a condigto, esses animais estdo sempre {ntimamente associados ao mangueza. ‘A maior parte da fauna do manguezal vern do ambiente marinho, sendo ‘encontratos, dentre outros, grande quantidade de moluscos (ostas, Sururus),crusidceos (carangueos,sris, camartes) e peixes. A dgua doce Contrib prineipalmente com crustéceos (como por exemplo o pitu) € peixes ‘Do ambiente terrestre provém as aves (gargas, mergulhoes,gaivotas), répieis (cégados,jacarés), anfbios (apo, ias rs), mamteros (anorcegos, macacos, guaxinins,capivaras) alguns insetos (mosquitos- pélvora, mutucas,abelhas) (Os animais encontrados nos manguezais podem ser agrupados em Fangio fe seu tamanho, como: de tamanlo reduzido ou de médio e grande porte. ‘Ou entdo, quanto a0 seu habito de vida, destacando os herbivoros que alimeniamrse exclusivamente de material de origem vegetal A fauna do manguezal A fauna de tamanho reduzido ~ Esses animais mintisculos, habitantes da ‘gua e do sedimento, servem de alimento para os animais maiores, contribuindo de maneira fundamental para a grande cadeia alimentar. Essa rica fauna € composta por microcrustéceos (copépodos, cladéceros), vvermes diversos (nematdides, oligoquetas, poliquelas, rotiferos), ‘moluscos, larvas de camarées, de caranguejos, de peixes, entre ima mirfade de outras formas. Fauna de grande porte — As dimensbes essa categoria de animais pode variar desde alguns poucos milimetros, até dezenas de centimetros. ‘Muitos moluscos vive enterrados na Jama (sururus, taicbas, unhas de velho ‘e mariscos em geral), ou se fixam as ralzes do mangue, como as ostras. Existem ainda os feredos (turus), conhecidos como perfuradores de ‘madeira, (Os herbivoros— Parte da matéria orginica sintetizada pelos vegetais pode ser aproveitada por organismos dos ambientes aéreo, terrestre e ‘aquatico, sendo esse processo conhecido como herbivoria, pastoreio ou pastejo. ‘As folhas da siriba (Avicennia) pparecem ser as mais vulnerdveis 20s Insetos, tanto a nivel de pastoreio, como servindo de substrato para suas posturas de ovos, eventualmente formando galhas. Entre 08 crustéceos, carangueos e siris so 0s mais caractersticos, sendo encontrados nos troncos das érvores, cavando galerias no sedimento, ou mesmo nadando, de acordo com o ‘movimento das marés. Os perfodos em que ocorrem em maior quantidade, sf0 conhecidos como andada ou carnaval, época do acasalamento, a Gk do vide de ‘amnarcos de agua ‘eco 0 de apue sagada, Fauna associada Os camarées tém um ciclo de vida interessante, onde a nova geragao, nascida dos adultos que vivem no mar aberto, migra para o manguezal ‘onde permanece durante a fase de crescimento, passando de larvas a jovens, quando iniciam sua viagem de volta ac oceano. Opitu brasileiro eo camardo gigante da Malésia, que vivem na dgua doce, vvém desovar no manguezal, onde os “filhotes” passam seus primeiros ‘estagios de vida, retornando depois para os rics. (Omanguezal, verdadeiro santtiério para as aves, 6 usado como local de | Teprodugio por muitas espécies que constroem seus ninhos nas copas das Azvores. Além disso, muitas outras vém se alimentar de peixes e | crustéceos, numa intima relagao com o ambiente. Os dejetos deixados ppelas aves no manguezal servem de adubo, tornando esse ambiente ainda Anfibios, xépteis e mamiferos usam o manguezal de diversas formas, seja como refiigio, fonte de alimento ou mesmo para o ritual reprodutivo, buscando condigoes de sobrevivéncia, dificilmente encontradas em outr reas. Quanto aos insetos, varios grupos encontram-se representados por espécies capazes de viver nesse tipo de ambiente. As larvas dos insetos geralmente ndo se desenvolvem em égua salgada, com excegio das de Ciclos de vida A fauna do manguezal alguns culic6ides (mosquitos-pélvora), comuns nas zonas entremarés de regiGes esluarinas. Entrelanto, devido a mé utilizacio do manguezal,, através do lancamento de lixo e dejetos, tém surgido alguns insetos nocivos, vetores de algumas doensas. Insetos como mariposas, borboletas, besouros, mutucas, moscas, mosquitos, paquinhas, entre outros, tém suas larvas fit6fagas alimentando-se dos tecidos das plantas de mangue. # interessante observar que o manguezal tem sido utilizado como érea para criagio de abelhas (apicultura), com excelentes resultados, principalmente quando predomina Avicenna. Os peixes podem passar toda sua vida no manguezal, apenas uma fase desta, ou ainda, fazer migragbes didrias de acordo com amaré ou ento, realizar migragbes mensais, semestrais e anuais para reprodugao, E interessante ressaltar que a maioria dos peixes de éreas costeiras explorados comercialmente (sardinhas, tainhas, curimas, carapebas, camorins ou robalos, anchovas, bagres, inguados e muitos outros), dependem de alguma forma do manguezal para sua sobrevivéncia. Por tudo que foi exposto, pode-se concluir que os manguezais esto entre 8 principais responsdveis pela manutengao de boa parte das atividades ppesqueiras das regices tropicais. Servem de reftigio natural para seproducao e desenvolvimento (bergério) assim como local para alimentagio e protegio para crustéceas, moluscos e peixes de valor comercial, Além dessas fang6es, os manguezais ainda contribuem para a sobrevivéncia de aves, répteis e mamiferos, muitos deles integrando as, listas de espécies ameacadas ou em risco de extingéo, Escolha da Grea Estrutura Métodos e técnicas de estudo YARA ScHAEFFER-NOVELUL Estudos de um ecossistema, como o manguezal, devem ser desenvolvides de forma interdisciplinar. Um sistema natural tao complexo deve ser caracterizado segundo enfoque holistico, procurando interpretar seu comportamento a nivel macroscépico. No manguezal podem ser distinguidos, sob um ponto de vista didatico, compartimentos referentes a cobertura vegetal, a fauna associada, ao sedimento e aquele referente aos, pprocessos hfdricos, inciuindo, marés, aporte da égua doce pelos rios e elas chuvas, evapotranspiragio, entre outros. (Oestudo de cada um desses compartimentos requer metodologia specifica, encontrada em manuais e guias, conhecidos dos téenicos dessas ‘reas. Etapa importante quando se visa 0 estudo de manguezais 6, em primeiro lugar, realizar reconhecimento preliminar quando serdo selecionadas as ‘reas para os trabalhos de campo. Esses trabalhos devem ser desenvolvidos em porcdes representativas do conjunto, isto é, do ‘ecossistema como um todo. E, para tal, devem ser considerados critérios como representatividade, prioridade e acessibilidade. ‘Uma vez escolhida a rea co manguezal a ser estudada, deve-se partir para a descrigdo da regio, procurando caracterizé-la quanto aos seguintes {atores: localizacio geogrifica, condigoes climéticas, geomorfologia, sedimentos, salinidade, marés e hidrografia. (© compartimento representado pela cobertura vegetal é sem diivida, 0 ‘mais conspfcuo do ecossistema manguezal. Suas propriedades estruturais eas caracteristicas funcionais podem ser descritas a partir de medidas do didmetro de cada drvore, do cflulo das respectivas dreas basais e da altura média do bosque, assim como determinacao da densidade e da diversidade em espécies encontradas por unidade de érea do terreno. Fungto © manguezal ‘Medidas do comprimento e da largura de folhas verdes, coletadas em galhos expostos ao sol, s4o boas indicadoras da qualidade do ambiente. Esse tipo de avaliacao é posstvel porque a relagio comprimento/largura ‘mantém constante para as folhas de cada uma das espécies de mangue, sendo porém mais evidente para o mangue vermelho (Rhizophora). De toda cobertura vegetal, sem chivida, a parte mais importante é 0 reconhecimento das plantas tipicas de mangue, uma vez que esas, send ‘cxclusivas do manguezal, caracterizam o ecossistema. Para esse tipo de identificagio nao hd necessidade de ser botAnico taxénomo, pois as caracteristicas macroscépicas de cada uma delas sao suficientes para ‘permitir reconhecer se uma determinada formacao vegetal pertence ou ‘do a um manguezal. Essa constatago pode ser feita a partir das descrigées apresentadas no capitulo 4 Ambiente Adaptacées Luiz. GONZAGA DA SILVA Costa “Adaptagio 6 0 processo final de ajustamento dos organismos ou jpoptlagbes as condigbes ambientais, de modo que possam sobreviver, Teproduzir-se e desenvolver-se. Assim, podemos dizer que a adaptagio € 0 ‘meio pelo qual os organismos respondem aos padrdes existentes no ambiente. Cada espécie tem adaptagdes que permitem um melhor desempenho em termos dos padrées de competicéo, com menor perda de energia e maior probabilidade de sucesso na sobrevivéncia. No entendimento da interago ambiente-organismo, devemos dividir 0 ambiente em fatores abi6ticos e biéticos. Os fatores abioticos so mamerosos e incluem temperatura, salinidade, gases, substfncias quimicas e luz. [Na categoria bi6tica alguns dos principais fatores sao as interages predador-presa, comensalismo e competigao. Os organismos, para vonviverem com esses fatores, apresentam modificagdes morfolégicas, fisiolégicas e bioquimicas. Por exemplo, baixas concentragbes de oxignio no ambiente, devido a uma perturbagao, pode afetar adversamente aeficéncia de uma espécie de /resa para escapar de seu predadar. Essa espécie, se nfo conseguir ‘Adaptar-se ao novo ambiente, tende a ser eliminada No ecossistema manguezal as espécies da flora e da fauna esto ceficientemente adaptadas as mudangas bruscas que ocorrem naturalmente ‘no ambiente. Uma das principais caracteristicas desses ambientes 6 a ‘Variagdo da salinidade que pode ser répiia (devida a fortes chuvas) ou Tenta (devida a periodos longos de estiagem). so zB ane Adaptacoes da flora Adaptacoes da fauna © manguezal Ocasionalmente utiliza-se uma classificagdo que chama de euhaléfilas as espécies que toleram salinidades extremas e de oligohaléfilas as que toleram apenas salinidades'moderadas. As espécies chamadas de hal6fobas néo crescem na presenca de concentragbes significativas de sais, ‘uma vez que suas células no possuem mecanismos capazes de prevenir a entrada desse elemento quando presente ao nivel do sistema radicular. ‘Mesmo as hal6fitas, capazes de lidar com a entrada de sal através das ‘membranas das raizes subterrdneas, necessitam eliminé-lo ao nivel das folhas, no permitindo que continue a circular no vegetal juntamente com a seiva elaborada. As plantas halofitas possuem mecanismos fsiol6gicos que permitem: 1) dilwigto de sais dentro da célula; 2) redugdo da concentragao de sais através de glindulas excretoras; 3) desenvolvimento de pequenas folhas, pelos armazenadores de gua; 4) manutengao da alta absorcio de 4gua e as concentragSes constantes de sais no interior da célula regulando o turgor; 5) sintese e accimulo de solutos orgénicos que ajudam a manter estavel a concentragao de sais dentro da célula; e, 6) minimizar a agao dos sais pela compartimentalizagao em vacticlos No ambiente freqiientemente inundado do entremarés, as plantas tipicas de mangue apresentam adaptagées nas raizes aéreas para as trocas ‘gasosas. Tanto nos riz6foros como nos pneumat6foros (raizes respiralériae, capitulo 4), existem estruturas caracteristicas chamadas de lenticelas, através das quais se processa o fluxo dos gases O; ¢ CO, entre a planta e o meio ambiente durante a flutuagio das marés. No ecossistema manguezal, algumas espécies vegetais apresentam estratégias adaptativas que garantem sua sobrevivéncia sob as condigoes peculiares do substrato, como a viviparidade. Esse é um fendmeno pelo qual o embrido se desenvolve enquanto preso a drvore-mie e durante 0 proceso de dispersio, quando néo se observa dorméncia nem germinagac ropriamente ditas. Nesses casos, 0 termo semente substituido por ropagulo. A viviparidade representa estratégia adaptativa para aumental a resisténcia das plantulas a salinidade e as marés, permitindo maior probabilidade de sobrevivéncia, quando se fixam no substrato dos manguezais. ‘A fauna dos manguezais apresenta uma variedade de estratégias adaptativas, dentre as quais, as de cunho fisiol6gico, que permitem a sobrevivéncia sob as condigdes que prevalecem no ecossistema, principalmente com relago a habilidade de resistir & dessecagdo e de ‘suportar inundacbes, austando-se as variagbes de salinidade. Adaptagoes As adaptagoes podem ser também de caréter estrutural, permitindo sobreviver sob condig6es rigorosas, exibindo comportamentos altamente claborados. Por exemplo, alguns animais permanecem inativos durante a ‘baixamar, envolvendo ritmos de comportamento relacionados as oscilago das marés. Um segundo exemplo seria 0 dos caranguejos, que podem escavar 0 sedimento e manter-se em galerias subterréneas timidas ou apresentar comporlamento migrat6rio, subindo nas érvores durante as preamares. ‘A fauna ea flora dos manguezais sdo altamente especializadas, sobrevivendo em equilibrio com o ambiente. Entretanto, distirbios induzidos, principalmente por agdes humanas, podem desequilibrar essas relagées levando & perda de populagbes inteiras de fauna e flora. Entremarés Zonacao Zonagao e as marés ‘MARio Lutz GOMES SOARES Aagao das marés varia ao longo das dreas de mangue, isto é, algumas ‘zonas sao inundadas diariamente enquanto outras serdo atingidas apenas algumas vezes, em determinadas épocas, pelas grandes preamares de sizigia. Isto se dd pelo fato do terreno possuir variagbes na sua topografia, propiciando assim a existncia de locais mais baixos (inundados mais ‘vezes pelas marés) e outros mais elevados (alagados com menor frequéncia). {A variagio na freqiéncia de inundagdo do manguezal pelas marés, pode acarretar diferengas nas concentragdes de sal no sedimento, tanto em relago a distancia do mar, como em relagdo a fonte de 4gua doce. De um ‘modo geral, as maiores salinidades sao encontradas nos manguezais proximos ao mar eas menores, nos bosques de mangue préximos as margens dos rios Noentanto, em alguns locais onde a maré chega poucas vezes ou onde hé menor influéncia da &gua doce (rios e/ou chuvas), as salinidades podem ser to elevadas que as plantas de mangue néo conseguem crescer. sto ‘corre quando as marés, ao atingirem esses locais, levam gua e sal. Coma evaporagio, aumenta a concentracio de sais, agravada por um reduzido aporte de dgua doce. ‘As diferentes espécies vegetais de mangue esto distribuidas no ‘manguezal em zonas, em relagao a linha d'égua. Esse tipo de distribuicio € chamado de zonagio. Cabe lembrar aqui que, devido & diversidade dos ambientes de manguezal, este esquema de zonaco, apesar de bastante comum, no é obrigatoriamente encontrado em todos 03 manguezais. A distribuigao das espécies em um dado local, pode ser totalmente diferente daquela encontrada, para as mesmas espécies, em uma regido adjacente. Dessa Esquemase forma, a zonagio das espécies de mangue é varidvel de wm manguezal ‘eeneasce, para outs, devido as peculiaridades ambientais de cada local. bea eee ‘A zonagéo do manguezal depende da salinidade, das marés, do tipo de poste ces ‘substrato e do grau de energia do local, ou seja, Se 0 local é ou néo Glaete geome, protegido da agzo de ondas, marés€ri0s ove as marés essa forma temos, geralmente, o mangue vermelho (Rhizophora) ccupando os locais préximos ao mar, na margem de rios e locais lamosos, ‘pois seus rizéforos permitem que esse tipo de mangue resista mais que ct Outros a alta energia e ao sedimento lamoso, sem ser arrancado. Jos | ‘mangues tinteira (Legunculari) esiritba (Avicenna), ocxpam locais mut afastados dos rios e do mar, locais estes de topografia geralmente mais | levada, com sedimento mais seco e mais arenoso. Esses locais siio mais protegidos das ondas e da forga dos rios (menor energia). ‘Além de todos esses fatores, podemos citar ainda o tamanho @ 0 peso dat ‘ropagulos como importantes na zonagéo dos vegetais dentro do Inanguezal. Dessa forma, explica-se também a ocupacao das areas préximas do mar por Rkizephora, pelo fato desta planta possuir } ropagulos maiores e mais pesados (como foi visto no capitulo), que | alcangam o substrato mesmo com as marés cheias. | Jno caso de Avicennia e Laguncularia, pelo fato destas possuirem ‘propégulos pequenos ¢ leves, estes s6 conseguem se fixar e se desenvolrt Em loeais onde o substrato fique um periodo prolongado sem ser atingid Zonagéo e as marés pelas marés, pois caso contrério, estes propégulos, por possuirem uma alta futuabilidade, seriam arrancados e carregados. Essas condigbes so encontradas nos loeais mais afastados dos rios e do mar e mais elevados, justamente onde encontramos, na maioria das vezes, os bosques de Avicenna ¢ Laguncularia, O mangue de botio (Conocerpus) algumas vezes & considerado como cespécie verdadeira de mangue. Quando encontredo associado aos ‘manguezais, ocupa a zona posterior do mesmo, na transigio para terra firme, em substratos mais elevados e arenosos, com salinidaces baixas. 7 Serapitheira Cadeia alimentar Produtividade dos manguezais GISELA VIANNA MENEZES Diversos autores consideram os detritos originados das érvores de ‘mangue como a mais importante fonte de energia nas aguas costeiras. ‘A tabela da pagina seguinte compara as quantidades anuais de folhas, {rutos, lores e galhos, produzidos em diversos ecossistemas de zonas temperadas e tropicais, incluindo os manguezais. Esse material produzido pelos diferentes bosques & conhecido pelo nome de serapilheira Entre os diversos destinos da serapilheira produzida pelos manguezais, existem dois que merecem ser destacados: 1) ficar sobre 0 préprio piso do bosque, sendo consumida por detzitivores, ao mesmo tempo que vai se decompondo; 2) ser transportada pelas aguas que lavam os manguezais durante as preamares, sofrendo proceso de decomposigao nas Aguas costeiras adjacentes. Os processos de decomposiggo da serapilheira tornam a matéria organica procluzida nos manguezais disponivel aos organismos consumidores. Nos ‘manguezais e nas aguas costeiras vizinhas, a matéria organica originada dos detritos é muito importante para as cadeias alimentares, sendo que em algumas regides costeiras a producio das espécies de mangue possui significado muito maior que o das algas (fitoplancton e fitobentos). As cadeias alimentares comecam com os produtores primérios, sintetizondo matéria organica a partir da energia solar, Esse material é neceasério aos herbivoros que, por sua vez servem de alimento aos caznvoros dos virios niveis tréficos. Por ocasiio da decomposicio dos tecidos vegetais do mangue, tende a haver um enriquecimento em proteinas totais, enquanto a serapilheira ¢ transformada em detrito. Durante os diferentes processos que integram a chamada decomposicao, ‘corre decréscimo das proleinas vegelais e aumento daquelas de origem 29 Exportacao / 0 manguezal ‘Srapinaira (uha/sno) animal e bacteriana, com o aumento da superficie disponivel a colonizagao das particulas de origem vegetal. © material foliar proveniente de bosques de mangue dominadlos pela Siritiba (Avicenna), tende a se decompor mais rapidamente que aqueles gerados pelas folhas de Rhizophora (mais lento) ou pela Laguncularia, com taxa intermediria entre os dois géneros anteriores. Essas taxes so ‘também in‘luenciadas pelas freqiiéncias de inundacao determinantes, inclusive, das formas em que a matéria orgnica ¢ exportada. ‘As partes externas dos manguezais tendem a exportar material pparticulado, enquanto que mais para o interior dos bosques, onde a Eixculagdo é menos intensa, a serapilheira sai sob forma de particulas de detrito e como material dissolvido. ‘A matéria organica dissolvida pode ser utilizada diretamente, ou enti ‘apés ser transformada em agregaclos organicos devido a processes fisicos, tais como floculacao e coagulagao. O material loculado precipita, convertendo-se em importante fonte de alimento para peixes e camarées. De maneira geral, pode-se inferir que grande parte da produtividade dos manguezais se transforma em tecido de peixes e de outros organismos marinhos, capturados pelas frotas pesqueiras comercial e artesanal. ‘A pesca do camastio é uma das atividades econdmicas mais importantes no litoral brasileiro. Alguns pesquisadores encontraram cozrelacio significativa entre o rendimento comercial da pesca desse crusticeo, por hectare de manguezais e de bancos de gramineas marinhas, com a latitude. Producto Produtividade dos manguezale Em latitudes entre 0 e 25° (Norte e Sul), 0 rendimento varia de 10 a 200 kg/ha/ano, enquanto que em latitudes superiores a 35° no sio registrados estoques de camarao de valor comercial (Turner, 1977), Plantae de mangue + cog Recursos Subsisténcia Valor ecolégico e sécio-econémico MONICA GRASSO. ‘MONICA MARIA PEREIRA TOGNELLA (Quando entramos em contato com um ecossistema de manguezal, logo ‘nos deparamos com aquele ambiente tao peculiar, com aparéncia um tanto inéspita & vida. Realmente, essa pode ser uma sensagto comum, tanto as pessoas que néo vivem em regiGes proximas a manguezais quanto aquelas leigas no assunto. Porém, 0 conhecimento de ecossistema tdo especial ‘mostra que a realidade é bem diferente Nos capftulos 4 e 8, tratamos da cobertura vegetal como responsével pela sintese de matéria organica e sua funcdo na produtividade do ecossistema. (Os manguezais participam também de forma importante na vida de ‘muitos organismos, contribuindo para a cadeia alimentar das dguas costeizas, fal como foi descrito anteriormente no capitulo 5. Sob a forma de tabela, este capitulo apresenta lista dos muitos representantes da fauna e da flora associados aos manguezais, agrupados segundo o ndmero de espécies pertencentes aos reinos dos seres vivos: Procariontes, Protistas, Fungos, Liquens, Vegetais e Animais. Algumas comunidades ribeirinhas mantém relagao de grande dependéncia com os recursos oferecidos pelos manguezais. Existem povoados inteiros construfos somente com a madeira extraida desse ecossistema, que € utilizada para a construgao das casas e dos barcos e ainda serve como lenha, para cozinhar seus alimentos. Boa parte das proteinas da dicta alimentar dessas populagées provém dos ‘manguezais, Tudo de uma forma bem artesanal. As mulheres e as criangas saem durante a maré baixa & procura de mariscos, tanto daqueles que se enterram no lodo como das ostras, presas aos riz6foros das arvores do mangue vermelho. Enquanto isso, 0s homens pescam nas éguas, protegidas dos estudrios. Esses agrupamentos populacionais séo pobres e, de um modo geral, nao recebem apoio dos érgios governamentais. Ainda “a Uso sustentado Utilizagao econdmica © manguezal existem as curandeiras que, empregando diferentes produtos vegelais do mangue, fazem uso das propriedades bactericidas e adstringentes dos vegelais do mangue, na cura de vérias moléstias comuns a esse ambiente. ‘Otanino, obtido das cascas das arvores, serve para proteger as redes de pesca e as velas das embarcagées, cujas fibras naturais tornam-se mais resistentes aos microorganismos responsdveis pelo apodrecimento desses materiais. Entrelanto, para que 0s recursos dos manguezais sejam utilizados racionalmente, de forma sustentada, é preciso que o homem entenda melhor o funcionamento desse ambiente. Deve-se evilar fatos comuns hoje ‘em dia, como por exemplo, a captura de caranguejos durante sua época de reprodusdo, pois é justamente nessa fase que ficam mais expostos, tornando-se presa fécil. ‘Ainda falta muito para um conhecimento completo sobre o mimero total das espécies da fauna e da flora existentes nos manguezais, mas mesmo assim, com base em levantamentos bibliogréficos, é possivel quantificar os organismos a eles associados. Na tabela a seguir sio indicados os niimeros de espécies, por grupo taxonémico, paraa costa leste das Américas, segundo Saenger et alii (1983) ¢ para litoral centro-sul do Estado de Sio Paulo, de acordo com extenso levantamento bibliogréfico. A riqueza em diversidade biologica éflagrante 0 se analisar a segunda coluna. Em todo litoral brasileiro, a pesca do camardo é uma das importantes atividades econGmicas, tanto no campo da pesca artesanal como no da ‘comercial. Dentre as espécies de maior valor comercial, podemos citar: Penaeus subtilis (camardo-vermelho, do Maranh4o);, Penaeus paulensis (camaréo-r0sa); ‘Penaeus brasiliensis (camardo-rosa, do sul); Penaeus schmitti (camardo-branco); Penaeus notialis (camardo-rosa, do nordeste). ‘Além dos camarées, outros invertebrados 540 exploradas comercialmente: Iphigenia brasiliensis (tarioba) Lucina pectinata (lambreta, marisco) Anomalocardia brasiliana (berbigio, cernambi) ‘Mytella falcata (sururu) Crassostrea brasiliana (ostra-de-mangue) Tagelus plebeius (unha-de-velha) Ucides cordatus (caranguejo-ucé, caranguejo verdadeiro) 3) Cardisoma guanhumi (guaiasm: Callinectes bocourti (sii-vermelho) Callinectes danae (siti-azul) Valor ecolégico e sécio-economico Bense servigos Valoracao © manguezal ‘Mais de uma centena de produtos podem ser obtidos dos manguezais, como por exemplo: remédios, élcool, adogantes, 6leos e tanino. E hé outras indimeras utilizag6es de sua drea, soja para recreasto, turismo, educago ambiental, apicultura ou criagao de peixes e de outras espécies marinhas. No entanto, o importante ndo 6 somente conhecer 0 que os manguezais nos oferecem, mas sim entender que deles dependem milhares de vidas de animais aquéticos e terrestres. Com a supressio de grandes freas desse sistema, tais organismos sero irremediavelmente condenados a desaparecer. £ um caminho muitas vezes sem volta. “Através da geragao de bens e servigos, diretos e indiretos, os manguezais, ‘adquirem grande importancia para o homem. Quando o homem induz um. impacto de qualquer espécie,seja ele aterro, derramamento, desmatamento ou depésito de lixo, entre outros, o bosque de mangue deixa de contribuir com muitos de seus beneticios, prestados gratuitamente. Para compensar os impactos induzidos pelo homem, a sociedade acaba pagando, nfo s6 pelos bens que deixou de receber, como por aqueles servigos que é obrigada a substituir Em geral, os impactos slo conseqiiéncia de ages antr6picas com o intuito de uiilizar a regiao para outros fins que nZo os de sua vocaso natural Portanto, a0 projetar uma obra em qualquer ambiente natural deve sez verificado se os Iucros do empreendimento serdo maiores a curto, médio longo prazos, em relagao Aqueles representados pelos servigos prestados pelo ecossistema, antes da intervengio. Existem diversos métodos para quantificar 0 valor de um ecossistema, s6 que 0s resultados vio diferir de método para método. As metodologias so as mais diferentes possiveis, desde quantificagéo da energia circulante no sistema até a disposi¢ao da comunidade local em pagar para manter intacto determinado ambiente, Por exemplo, utilizando o método no qual dé-se um valor a vontade de pagar pela preservagao de um determinado bem ambiental, a quantia poderd ser bastante desproporcional, mesmo sendo utilizado um grupo cultural e sécio-economicamente homogéneo. Muitas vezes, o valor médio obtido acaba sendo inferior ao valor ecol6gico/econémico do ambiente. (Outro método a ser utilizado na valoragio de um ecossistema é aquele no ‘qual se avalia 0 custo da restauragao de éreas alteradas. Em regiées de ‘marismas impactadas nos Estados Unidos, onde esse método foi empregado, foram obtidos valores muito altos, préximos a USg3.000,00 por acre de drea impactada, Esse valor foi devido ao lento sucesso de restabelecimento da vegetagio e ao elevado custo da mio de obra necessdria & manutengio desse tipo de restauracio. Valor ecoldgico e sécio-econdmico Analisando esses fatos podemos constatar facilmente que impactos sobre ecossistemas naturais provocam prejuizos econémicos elevadios, direta e indiretamente, Esses gastos poderiam ser evitados se tomadas maiores precaugées contra danos ambientais ese respeitados os preceitos da legislacto. Impactos sobre os manguezais ‘ROBERTO VARJABEDIAN Nas dreas costeiras tropicais, observa-se a ocorréncia de intimeros , tanto naturais como decorrentes da atividade humana, infiuindo sobre a qualidade dos manguezais. ‘Alistagem abaixo é uma sintese dos fendmenos naturais e das atividades hhumanas mais freqdentes que afetam os manguezais, segundo Cintron & ‘Schaeffer-Novelli (1983) e Cetesb (1983). —_—_—_—— ee 1 Fendmencs naturals 0 Freie soso ‘a Forsctes verse onse a nuntagses a Fro das das (0 Ropresament as Sauss| 2 Epes wutnicas 3 Mars exter W Atividades bumanas a Exvavamo vega arenalDesmatint para retrace de madera, cola ets, copa pea fo peseutura ‘nusage,canaenee,bararenios de ua par i 0 pate, cares, cera greta pecui ‘Nenos movmentagse» sxosi;So do slo em Seas rbsimas do ‘rangue, oto oo oo, uso de ntons (hentia @ reer) a Pome Deemaiamerosstros para expan, lavagem eabastecinerto (s nv, armsaemaroaebanapen do carga tres. OE te satiate ae NAB ae eee oe ee “0 (© manguezal ce 2 vena Desratareiss e alores de expanse, rmszenamento proosreni, ranpore edecige de materia ice, tote Desmatamentoe para consgSes de cass de palaias sobre 0 Irarouee ros Ge panaie consuyesdoreséncie, bes ‘rage, po com couooroscapalabe, agape © aramaros cas dqu ns mayors «desenbocadixe cs os, ‘ezpajo co eons espe) ‘ mnerarso Deena, alors, ragagens,alrapies co eis € marge ose, Sener. 0 Una ene Deematameroe «sero wleeptndo omangueral erode ‘Gregor dtcas scons; mover poi co i om ftom pumas so mangers. 2 Oleadtosaeodstos Deemataneres¢ stro intcepago domangueza com fo de ‘veuariog moviraleo pasta 6 0 om areas prs so rmarguaral 1 Rodos» Fonovis Desmatanenice ro mang oom reas prima com monimertagao dees exposio do sl, teres com a ence satires Desmatamenos, eros pare expansio, acialo deo. 1 reas depen eemprtstina _Desmatanent movers do slo em teas pbs 20 ‘morgue aleros,barenenios eax g49.8. 2 Salinas Destatamano para pane 6 blengodoanhs,canaagsoe © arameros para crag Ge feervaos para ea © ‘evapora da A dome. a Baragem Para contol de erchrtes ¢ prostamenta Ndraioe: ‘ntetertnas na daca gral do caso equa o das eae ‘2decete, rages de ea, deamatamenos @rovmetse20 Setees. 0 uss aracas so cd parapets de eanet ede ees ‘aasotecscom asics. 0 Gera sod ica, ees, tein _— Orr Impactos _Eventos como fendmenos naturais atividades humanas, citados na tabela acima, podem resultar na ago de fatores ou forgas, causando alteragbes nas propriedades fisicas, quimicas e biolbgicas do meio ambiente, no qual também silo incluidas as relagies s6cio-econdmicas. Essas alterages ou efeitos ecolégicos sto chamados de impactos ambientais. A intensidade dos tensores e suas formas de agio dependem do tipo, da extensfio, da distribuigao no espaco, bem como de suas intensidade e duracio, determinando o grau de impacto sobre o ambiente. Além disso é preciso lembrar que cada tipo de manguezal reflete uma adaplacio diferente as condigdes ambientais que condicionam suas composigéo e Impactos sobre os manguezais aspecto, fazendo com que eles sejam mais ou menos sensiveis a tipos particulares de fatores causadores de impacto. No que se zefere a durarao, a atuagio de tensores sobre o meio ambiente pode ser chamada de aguda quando ocorre por um curt perfodo de tempo e crénica, quando ocorre por prazos de tempo mais longos. Da ‘mesma maneira podem existir impactos agudos e crénicos atuando simultaneamente. ‘A maioria dos fendmenos naturais, principalmente quando ocorrem em baixa ou média intensidade, atuam como tensores agudos afetando os manguezais temporariamente, tornando quase sempre possivel o restabelecimento da qualidade ambiental anterior. Por outro lado, alguns eventos induzidos pelo homem, como acidentes de contaminagao por vazamento de petréleo ou de outros produtos téxicos, atuam como tensores erdnicos perpetuando sua agdo e seus impactos a longo prazo, podendo inclusive provocar a morte do manguezal. Ainda no que diz respeito is atividades humanas, si muitos os casos em ‘que sa0 registrados fatores crdnicos, atingindo permanentemente o ‘manguezal, criando novas condigées ambientais, quase sempre impréprias a0 seu desenvolvimento. Isso pode ocorrer, por exemplo, através da poluigao de origem industrial, portudria, hospitalar ou doméstica. A retirada de uma fonte geradora de poluigao de um local nao implica ‘necessariamente na interrupcfo imediata de seus impactos. ‘Um determinado impacto que esteja afetando o manguezal pode desencadear o surgimento de outros, ao longo do tempo. O actimulo de substincias téxicas no ambiente pode ter seus efeitos multiplicados a longo prazo, atingindo inclusive a savide humana. cy — HH o manque Impactos ambientais registrados em areas de manguezal* Flores graders pects Mt reisiados sobre os manque Derramamento Ape orecchimento ds aslo, dos vonecs edo Sabrnono pol Go, Sooram alaragbee rao de leo ‘ooas gesosesqve podem causa asta @ um corsage desta As vores sobrowvenes _amanczem camo vigor redo ea longo prazo poem emi nove adores ue, multas veces, "mortem artes de roo subst, aporeniam feures ae catcas Gos Woncee mosoa0 to ‘amano ra spar des fee, includ pada da cobetura de esi fans entemares ds ‘aes, fauna que exbrovve 6 exremarente pended oditicagdes 0 resesamaro da gua da mad por bao eo pr dios podo causa morlidade mach da nos fuxos de _vegeiao,espacimort sas exintuas resptiiespormanece sibrarsas Ac Gamage ‘jou berm gases exces, core o sulle de herent, quo om grandes guanine casa © Fepestmeni, __#8otaento do engl o conseqnenterete a mote do anisms, Scone (blogic dove fuxo da dau pode tomar osademento mute Si, cuando o tno de gue caraizarees eee, mpedico a movinenisgdo de nutans e mara orca eas rocas de materi ent a Sauna seamerto ‘Aterros tis abvdades representa desig dicia ao manguezalcaueande mudangas reverivels 08 ‘sanitérios ‘iminapéo pemranenia dessas reas. Alem deo, imine euteincas cas paso se avafes © ‘eros, polurao anspor peas guns, especalmenta onde ato langads residues de ogem nace pore -Afresanes de no hosilr cave contain ox baer vite poke said hums nas reas adacenes, ‘Sedimentago _Avidades de mnarayaoresutan ca compile dvinio dos marouscas erquarto que ras kena ‘por minerag3o _sxjacete tanoém cassan vos sletordestuos, A Cepeapi exestvase marae \rancpoaos plas dguas pare o er da vegeta em sens pais nasroas de Agua, unis gases o sedirento do mangos, como também eae oeedinenioe @ qua, Ovando esa ‘toca ¢ltainentsloguesta more Gos manguez octe em un cro period {rungs aris resutan em obticus para corso da enena nevestria ao ncenamento do margie2a emando-o mais srsive. Poluigéo por Adscargade tunes saritiios das comnicaces leesbee anbacardee eznds ponies mn langamento de <2 provecaracontaminarse da gva por bai vive, ela or aumento do ceraimo So ‘weiss’ ‘vgn, corrbuindo com maior depoaio ce male, dando agama um ls snaerbico nse reales cosas enaspralas. Em consoqinela desas descages as eas alae passomna {efor rane exciages olor de cig isch, propecia dos pees ustsctos ‘bem como do ania teas so eubera. ‘Auséncia da A éecbujd ca das vores elm Ge provorara Nga cua mon da fauna assocada, causa uma vegetagso ‘reago am coxeia qu se nica com a manga das feanoe uimeas no secimenie do argu com Positive ranspere dee nutinse pals Sune, peseando au ersto tadaive, Poluigdo por Estes residue fazem com que cca no mar madioees nas reogSes quinicasebiogumioea residvos ‘rovcandoredugé do conteaio ce cxgtnio ra equ podendo anda ceuea ainoxiarao de Industria, ‘gerisos mass. Os rescues nda dom carter a mas veradassuetincias noevas 3 ‘Seoanen ca scutes © humana, is co, metas pesados e ours procto oncosfssteres Inorginicos _-_“*9!4ar tila. lemmas coe etre, snc ¢ merero poder sero penassemanto de rgariomos martos,ranfamando-s em composts aganits que una vz aesmisdes por es © ous seres vos comestves, sao acuralacte rs lect, ode asagem nves co ancien pengosos& sale humana, Poston, qurosene sits tab aearlam regan co valor comercial pols, mareon esiscos. eno era fnepa dos organisms canpononis doe margueeae aneajam sun exsténca ae operant negatvement nc anbione com oe ua ¢arguacal mann ogee UNESCO (1065 « Gon & zhao Navel (06) : oo Paes. Recomposicio s = f : Recuperacdo de manguezais degradados [REGINA DE CASTRO VINCENT ‘Ap6sa destruigo total ou parcial de qualquer ambiente, se a causa da ‘mesma for semovida, hé-uma tendéncia & volta da composite estrutura foriginais. Esse processo 6 conhecido como recomposigo natural e648 dduragdo e eficiéncia dependem, principalmente, da duracdo, da {ntensidade e extensto espacial dos fatores determinantes do impacto, como do préprio impacto. ‘A recomposigdo da vegetagdo ocorre, geralmente, a partir de qualquer ‘strutura de propagaclo que permanesa no local afetado e/ou dos que Provém de dreas proximas, na das, Se a rea degradada € muito Extensa, torna-se mais dificil esse suprimento de propagulos ea secomposigdo natural pode ndo ocorrer, a menos que as pldntulas ‘reseates no substrato se mantenham viveis e em densidade suficiente Noentanto, muitas vezes pode-se encontrar grande disponibilidade de ‘ropigulos, mas a alteragdes no ambiente sto tamanhas que estes ndo se Resenvolvem ou, que os adultos ndo se eproduzem. CO empobrecimento da vegetaso ou seu desaparecimento representam o fim de diversos pontos de abrigo e de fonte de alimento para os animais que dela dependem. ‘A recomposigio natural de manguezais 6 favorecida pela circulagto e pela Ghegada de agua, tanto de ios como do mar, trazendo nutrientes, Dropigulos, larvas e outros elementos essenciais para a recuperagso de Tress perturbadias. Portanto,alteragbes na ciculagto da gua nos anguezais, devido A canalizag6es ou drenagens, podem impedi 2 Restauragiio chegada desses elementos. Outro obstculo no processo de recomposigao é ecorrente da exploragio de madeira, quando, apés 0 corte, sio deixados na parcela os restos ndo aproveitéveis dos troncos, galhos,riz6foros ¢ restos das folhas. Ese material pode ficar futuando na égua, prejudicando ‘as novas plantas originadas da germinacao dos propgulos ou, até mesmo impedindo a entrada destas na érea. [Esses exemplos mostram que nem sempre a recomposigao natural & suficienle para a restauragiio de manguezais degradados, Assim, em muitos casos, deve-se induzir a recomposigao, o que consiste no ‘Plantio das espécies dominantes. Esse plantio pode ser feito tanto atray Ge semeadura como por transplante de mudas na drea que se pretende restaurar. ‘Ao recompor artificialmente uma érea impactada, 6 necessério plantar, ‘muitas vezes manualmente, uma por uma. Dependendo das condig6es da rea, 0 sucesso dessa reconstituicko serd bastante pequeno ea longo prazo, co que encarece sobremaneira o projeto. ‘Durante todo periodo dedicado a restauragdo temos que levar também er considera¢lo, 0s gastos efetuados para substtuir os bens que deixaram de Ser gerados pelo sistema, Essesservigos vdo desde a contengao da linha de osta até a dragagem dos canais de navegacio e aimplementagio do tratamento dado aos efluentes liquidos langados no ambiente marinho- estuarino (© processo de restaurago induzida deve levar em conta alguns requisitos. Deve-se, primeiramente, ter certeza de que 0s fatores determinantes da degradagao nio estéo mais atuando sobre o meio. A sclegto das espécies a serem ulilizadas ¢feita a partir do estudo de dreas de manguezal adjacentes que apresentem caracteristicas ambientais ‘semelhantes, As espécies mais importantes, geralmenteas dominantes, $40 as mais indicadas. Dessas espécies, sao coletados propagulos que seréo, semeados diretamente ou em sementeires, nas quais se produzirao mudas ‘para os transplantes. Em geral, deve-se procurar repetir os processos da Fecomposigio natural para garantir o sucesso da restauraclo. 2 interessante que se faga um plantio nicial com espécies que xormalmente aparecem primeiro no processo de recomposigio natural ‘Como tempo, apés a implantagao do projeto de restaurago, espera-se que os animais e as outras plantas passem a fazer parte do manguezal recomposto, atingindo novamente 0 equilibrio anterior. ‘At6 agore, foram apresentados os meios pelos quais se pode recompor um ‘manguezal No entanto, os custos envolvidos em projetos dessa natureza Recuperagao de manguezais degradados ‘mereceram apenas breve referencia no capitulo 11. Os custos dependem do local a ser recuperado, no que diz respeito a extensdo, acesso e, principalmente, a existéncia ou ndo da proximidade de fontes de Propagulos. Quando o niimero de propégulos nao é suficiente em relagao a area a ser recuperada, fa2-se necessério, entdo, que se coletem os mesmos ‘em outras dreas de manguezal ou que se cultivem mudas para posterior transplante. Essas atividades (coleta, cultivo e transplante) dependem de gastos geralmente elevados e leva tempo, pois devem ser monitoradas por periodos relativamente longos, para garantir seu éxito, uma vez que Inuitos individuos morrerdo devido a ataques de animais, fungos, ou devido a quebra por detritos flatuantes. Os gastos com mio de obra no podem ser esquecids, uma vez que representam parcela significaliva. Especificamente quanto ao perfodo de monitoramento, deve ficar claro que o mesmo deve ser considerado até que as drvores atinjam 0 desenvolvimento desejado, levando &s vezes 30-40 anos. O proceso de restaurago representa compromiissos ¢ esforgos por muitos anos. preparo das dreas a serem restauradas deve ser cuidadoso, incluindo nivelamento do substrato em relagio as marés ¢ frequléncia de inundagao, considerados fatores crticos para 0 éxito ou fracasso do projeto. ‘Os plantios artificiais devem ser conduzidos de modo a se beneficiar de todos os subsicios naturais disponiveis na regiéo. processo de recomposicao natural mostra-se geralmente mais eficiente, sempre que danos causados nao sejam muito intensos, nem muito extensos. Isso se d porque a dispersdo natural dos propagulos é maior e ‘corre por um perfodo mais longo que aquele decorrente de plantios. Assim, hd uma maior porcentagem de sobrevivéncia quando da recomposigio natural. ‘No entanto, 0 que se observa mais comumente em manguezais 60 impactos decorrentes de atividades humanas que, geralmente, atingem reas bastante extensas, provocando profundas alteragSes ambiontais, dificultando o acesso e o estabelecimento de novas espécies animais e vegelais. Por isso, torna-se indispensdvel a execugio de projetos de recomposicio e/ou de restauragio criteriosos, com acompanhamento periddico durante sua implementacao. servacao 1972 Legislagéo ‘Mancus Poterre Este capitulo destaca a importancia da Legislagao como instrumento para gazantir a preservagao do ecossistema manguezal. Ao mesmo tempo, destaca a quantidade de diplomas legais que contemplam o manguezal, 0 que por si 86 comprova a importancia do ecossistema. E através das leis que podemos garantir direitos e deveres frente aos diversos problemas ambientais com eminente conflito de ‘utilizagao. Isto ocorre, em grande parte, devido a falta de esclarecimentos a respeito das leis que tutelam tais patriménios naturais, impondo, multas veres, 03 ‘mais diversos tipos de impacto a importantes ecossistemas. ‘Segundo documento da Comissio Mundial sobre Meio Ambiente ¢ Desenvolvimento, no capitulo que trata sobre Espécies e Ecossistemas, ‘muitos ecossistemas biologicamente ricos e promissores em beneficios materiais encontram-se seriamente ameacados. Inimeras variedades biol6gicas correm risco de desaparecer justamente quando a ciéncia comega a aprender a explorar a variabilidade genética, em fungio dos avangos da engenharia genética ‘Varios estudos documentam essa crise com exemplos tirados, entre eles, dos manguezais. Vérios so 0 exemplos que confirmam os manguezais, ‘como um dos mais importantes ecossistemas, reservatdrio de grande niimero de espécies que merecem ser protegidas e respeitadas como integrantes que so do patriménio da comunidade. ‘A conferéncia sobre o Ambiente Humano, realizada em junho de 1972, em Estocolmo, demonstrava amplo cardter universal no sentido de formular

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