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Sofrimento e trabalho na cidade

em marcha forçada
Suffering and working in the city
in forced march
Stela Cristina Godoi

Resumo Abstract
Para a história da cidade no século XX, os tra- For the history of the city in the 20th century,
balhadores metalúrgicos e os motoboys são metallurgic workers and motorcycle couriers (known
uma voz arquetípica que retrata a mentalidade as “motoboys” in Brazil) are somehow an archetypal
de uma época. A cidade vista sob a ótica desses voice that portrays the mentality of an entire era.
dois grupos profissionais revela a brutalidade do The city viewed in the perspective of these two
processo de aceleração do tempo social. Assim, social-professional groups reveals the brutality of
neste escrito, as memórias de metalúrgicos do the acceleration process of social time. Thus, in the
ABC paulista de meados do século XX e os re- lines below, the collective memoirs of metallurgic
latos orais de motoboys da Região Metropolita- workers of São Paulo’s ABCD industrial belt in the
na de Campinas, coletados em duas pesquisas mid-twentieth century and the oral autobiographical
distintas, enlaçam-se em um processo de “es- reports of “motoboys” in the Metropolitan Region
covação da história do sistema de circulação da of Campinas, collected in two separate surveys,
cidade a contrapelo”. intertwine in a process of brushing the history of the
Palavras-chave: cidade; trabalho; violência; au- city’s circulation system against the grain.
tomóveis; tempo. Keywords: city; labor; violence; cars; time.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 345-363, jul 2016
http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2016-3602
Stela Cristina Godoi

Introdução No século XIX, Paris era considerada


a capital da modernidade e, nessa condição,
A cidade é “como a lâmpada para a mariposa. exerceu grande influência sobre a configuração
Atrai e também mata”, assim afirmou o fina- da vida citadina na RMSP e na RMC. Em mea-
do Philadelpho Brás, metalúrgico, sindicalista dos do século XIX, com as reformas empreen-
e memorialista da classe operária paulista, em didas pelo prefeito do Departamento de Sena,
tom carregado de sabedoria anciã. Por meio George-Eugène, o Barão de Haussmann, a cida-
da licença poética concedida aos narradores, de de Paris materializou as aspirações iluminis-
Philadelpho­suscita uma reflexão sobre o ca- tas.1 Água, esgoto e gás encanados para evitar
ráter contraditório das relações sociais forma- epidemias que tinham vitimado centenas de
doras da cidade. À cidade associa-se a imagem pessoas na primeira metade do século. Incontá-
da iluminação, à ideia de iluminação, associa- veis desapropriações e demolições dos casarios
-se a de modernidade. As luzes da cidade como para dar lugar às ruas largas e bem calçadas,
fator de atração a revoadas de migrantes, de aos bulevares e dezenas de novas edificações
mariposas, entre a vida e a morte. Essas ma- padronizadas, para evitar motins e barricadas,
riposas são o Carlitos de Charles Chaplin. Esse que num passado recente haviam ocupado o
“herói solitário e triste” vagando pelo “deserto enredado das vielas e das ruas estreitas que
povoa­do pela multidão” em que se constitui caracterizavam a topografia do centro de Paris
a cidade (Ianni, 1989). São o homem da mul- (Benjamin, s/d).
tidão de Edgar Alan Poe, o flâneur de Charles Por sua vez, toda essa nova arquitetu-
Baudelaire­ou, ainda, o Mazzaropi, anti-herói ra parisiense havia sido inspirada no modelo
caipira da autêntica modernidade brasileira. londrino de urbanização, que estava à frente
Mas a cidade não é uma abstração e, de toda a Europa na modernização da cidade,
enquanto espaço de interação social, só ganha sobretudo pelo seu sistema de circulação ur-
concretude histórica se associada à categoria bano que, desde o século XVI, já chamava a
temporal e se concebida dentro de um sistema atenção pela rede de vias fluviais, ferroviárias
social de produção e reprodução da vida. Desse e rodoviárias que contribuíram para que Lon-
modo, este escrito buscará promover uma refle- dres se tornasse o centro do mercado mundial
xão sobre as mudanças na forma de ser-estar­ (Wood, 2000).2
da cidade no bojo do desenvolvimento da in- Entretanto, com as destruições promovi-
dústria automotiva no Brasil, tomando o caso das pelas duas guerras mundiais no território
da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) europeu e o fortalecimento político-econômico
e da Região Metropolitana de Campinas (RMC) e militar dos Estados Unidos da América, a
como base empírica dessa análise. Pretende-se, partir de meados do século XX, a própria ideia
ademais, pensar a cidade como espaço simbó- de modernidade se metamorfoseia em respos-
lico do mundo moderno, o que torna necessá- ta aos novos interesses de transnacionalização
rio levar em consideração as metamorfoses da da indústria capitalista taylorista-fordista. Por-
própria ideia de modernidade no interior da tanto, no contexto de hegemonia norte-ameri-
processualidade histórica do capitalismo. cana, as cidades, sobretudo aqueles matizadas

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pela dominação colonial, vivem uma nova on- todos os antigos bairros de Paris”, representa
da de modernização que repercutiu na maior um sentimento de que a cidade antiga “não
adequação de seus espaços de circulação para podia mais permanecer como era, mas a nova
a espetacularização do consumo de automó- parecia demasiado horrível, sem alma e vazia
veis. Ou seja, rodovias, grandes avenidas, mais para se contemplar” (ibid., p. 10).
estacionamentos públicos e privados, tudo Todavia, o processo de racionalização
para assegurar a livre circulação dessa mer- capitalista não poupou essa cidade industrial,
cadoria-símbolo da modernização capitalista ela também foi sendo transformada, ao final
no mundo subdesenvolvido. Assim, no Brasil, do século XX, na “cidade-mercadoria” marca-
em meados do século XX, os bondes e os trens da por uma segregação de classes ainda maior.
foram parando de prestar seu serviço no trans- Por trás dos muros dos condomínios fechados e
porte de pessoas e foram sendo substituídos das novas barricadas urbanas dos territórios do
pelos ônibus, caminhos, carros e, mais tarde, crime, a produção do espaço urbano, a partir
pelas motocicletas. da década de 1990, encarna a face bipolar do
Nesse sentido, para se compreender a ódio e da indiferença blasé ao outro (Caldeiras,
transformação pela qual passam as cidades 2000). Ademais, a reestruturação produtiva do
brasileiras e o modo de vida urbano no bojo capital promoveu uma mudança profunda no
do processo em que a indústria automotiva mundo do trabalho e nas referências que pau-
foi conquistando papel central no projeto de tavam e ritmavam a vida social. Amplia-se uma
desenvolvimento nacional, é preciso levar em desconexão entre trabalho e empresa, tempo
consideração a importância desses espaços de trabalho e tempo de não trabalho, formal e
de circulação para a economia capitalista. Na informal, emprego e moradia. Nesse sentido, a
medida em que a reprodução social desse sis- produção do espaço urbano é também a pro-
tema societal depende da realização da mais- dução de determinados percursos instáveis e
-valia através da distribuição, troca e consumo desiguais dos sujeitos pelo mundo do trabalho
de mercadorias, as cidades tornaram-se o ner- precário e global das prestadoras de serviço
vo essencial de uma economia cada vez mais terceirizadas, dos vendedores ambulantes, das
capitalista e monetarizada, justamente porque empresas globais num mercado de consumo
abrigaram as atividades ligadas à circulação de cada vez mais sedutor (Telles, 2006).
bens e, consequentemente, ligadas à circulação Assim, para pensarmos a violência im-
de excedente (Santos, 1979). plicada no processo de compressão do tempo-
A década de 1960 é marco temporal im- -espaço que define a produção do espaço urba-
portante também para as cidades europeias. no, buscamos compreender essa nova tessitura
Com Harvey (2014) podemos asseverar que um entre trabalho e cidade através do aporte de
novo cenário urbano reflete não só mudanças uma perspectiva epistemológica que historicize
geopolíticas na divisão internacional do traba- a cidade a partir da experiência e da memória
lho, como também micropolíticas. A imagem da “gente comum”,3 pois, quando pensamos a
estampada em cartaz na década de 1960, de transformação da cidade, não basta fazer uma
uma “retroescavadeira devorando vorazmente genealogia das ideias daqueles que, no mundo

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acadêmico, tentam compreender o processo. É contramão da marcha do progresso com uma


preciso levar em consideração o chave heurística fundamental que foi pensar
a atuação dos sujeitos no processo histórico.
[...] papel desempenhado pela sensibili-
Thompson (1981), criticando o estruturalismo
dade que surge das ruas que nos cercam,
pelos inevitáveis sentimentos de perda althusseriano, propôs a inclusão de um termo
provocados pelas demolições, [...], ou o ausente no sistema conceptual anterior: “a ex-
desespero que provém do sombrio deses- periência”. Naquele sistema, a determinação e
pero da marginalização e da juventude a autonomia aparecem como as duas pontas
ociosa perdida no puro tédio do aumento
de uma mesma cadeia; enquanto, para Marx,
do desemprego. (Harvey, 2014, p. 12)
segundo Thompson (ibid.), determinação e au-
Promovendo nexos entre o passado, o tonomia são as duas formas de dizer a mesma
presente e o futuro, Walter Benjamin apresenta coisa. Assim, através dessa outra concepção
uma perspectiva histórica dialética que permi- proposta por Thompson, não se compreende
te analisar essas metamorfoses da cidade ao a realidade histórico-social como um encadea-
longo do desenvolvimento capitalista, de mo- mento mecanicista, mas sim como um processo
do que a nostalgia do passado se constitua no histórico aberto.
método revolucionário de crítica do presente Desse modo, tomando de empréstimo
(Löwy, 2005). Dialogando com os historicistas, essas reflexões de Benjamin e Thompson, nes-
refletindo sob o contexto histórico do fascis- te escrito, propõe-se olhar a cidade, bem como
mo, Benjamin (1994) ensaia, nas teses “Sobre seus espaços de circulação e formas de sociabi-
o conceito de História”, outro conceito de his- lidade, partindo das memórias e das experiên-
tória, mediante o qual sejam desnudadas as cias do conjunto de entrevistados dos dois es-
ameaças – promovidas pelo contínuo processo tudos desenvolvidos pela pesquisadora, sobre
de modernização capitalista – que o progresso os metalúrgicos do ABC de meados do século
técnico e econômico faz pesar sobre a humani- XX4 e sobre os motofretistas que atuam hoje
dade: a transformação dos seres humanos em em Campinas,5 com vistas a realizar um proces-
máquinas de trabalho, a degradação do tra- so de reconstrução da história do desenvolvi-
balho a uma simples técnica, a submissão de- mento urbano paulista a contrapelo.
sesperadora das pessoas ao mecanismo social.
Nesse sentido, Benjamin (1994) alerta para a
necessidade de que a história seja vasculhada
A transformação
a contrapelo. Segundo esse autor, partindo do
princípio filosófico de que não há luta pelo futu-
do transporte urbano no bojo
ro sem memória do passado, “escovar a história do desenvolvimento capitalista
a contrapelo” significa a recusa em se juntar ao
cortejo triunfal dos vencedores e possibilita um No Brasil do final do século XIX e primei-
salto para fora da marcha do progresso. ra metade­do século XX, a ferrovia puxou a
Num sentido similar, Thompson contri- expansão­da cafeicultura. Na capital paulista,­
bui com esse esforço de análise histórica na via-se surgir a cada dia uma novidade diferente:­

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a eletricidade­substituía o lampião a gás, che- não era a melhor [...], aquilo foi a maior
gavam os primeiros carros, cresciam as linhas aventura de criança para mim [...]. (Phila-
delpho, metalúrgico, 2006)
de bondes elétricos e construíam-se grandes
obras urbanas. Segundo Martins (2004), essas
Assim, é interessante observar acerca das
passagens simbolizam transformações sociais
memórias narradas pelos metalúrgicos aposen-
importantes, já a sociabilidade produzida pelo
tados da RMSP que, ao mesmo tempo que, no
uso do bonde e do trem continha traços de uma
olhar do presente, o trem e o bonde fazem par-
sociedade tradicional em franca modernização:
te de uma sociedade tradicional que remete a
O bonde junta o que na sociedade tradi- um passado pré-moderno, eles compõem tam-
cional não se juntava: o homem e a mu- bém o quadro social da modernidade no Brasil.
lher desconhecidos, o padre e o protes-
O estudo de memória desenvolvido por Hadler
tante antagônicos. As pessoas se tocam,
se encostam, empurradas no movimento (2007) sobre a história dos bondes de Cam-
incontrolável da máquina, da coisa, que pinas também se depara com o mesmo para-
simboliza o que a Cidade é. Ela tem força doxo. A análise de dois momentos do discurso
própria, dita o lugar das pessoas, quebra ideológico da modernidade, no início e em
as regras, tumultua, confunde. (p. 203)
mea­dos do século XX, permite compreender
que se a substituição do bonde à tração ani-
A viagem de trem, tal como a de bonde,
mal pelo bonde elétrico foi vista, pela ideologia
aparece viva na memória da maior parte dos
liberal do período, como um avanço na cons-
trabalhadores que viveu em meados do século
trução de sua modernidade. Sob o contexto
XX. De acordo com Certeau (1994), a viagem
mundial de hegemonia norte-americana, esse
de trem expressava simbolicamente a experiên­
mesmo bonde elétrico que, há cerca de três dé-
cia da vida moderna. O trem corta o espaço; a
cadas, era idolatrado como símbolo de elegân-
vidraça permite ver e os trilhos atravessar. O
cia e modernidade pelas elites da cidade, passa
vagão alia o sonho à técnica e mergulha o via-
a simbolizar o seu atraso (ibid.).
jante na melancolia de ver aquilo de que está
Essa transição no sistema de transporte
separado (ibid.). Conforme mostra o relato de
brasileiro pode ser observada também ao se
Philadelpho, a máquina parada parece monu-
analisar a evolução das redes férreas e rodo-
mental, um ídolo mudo:
viárias ao longo do tempo. De modo geral, as
Passava um trem de manhã, outro trem estatísticas históricas do IBGE mostram que, a
de noite. De noite vinha para São Paulo.
partir da última década do século XIX e início
Então [...] para gente que estava com uns
treze anos [...], ver aquelas Marias-Fuma- do XX, a malha ferroviária brasileira deu o seu
ças cheias de metais brilhantes, aquele primeiro grande salto, crescendo em quilôme-
condutor, o chefe da máquina fardado tros continuamente até 1970, quando o País
que parecia um general, era um encanto veio a perder 16% da rede ferroviária que tinha
para alma da gente. Aquele vagão, restau-
uma década antes. Ao longo desse período, os
rante que só dava fazendeiro, gente rica.
Claro que a gente era pobre, estava lá na estados de Minas Gerais e São Paulo destaca-
gaiola. Viajar de trem, embora a Mogiana ram-se com as redes mais extensas de ferrovias

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em tráfego, diminuindo em extensão na mesma um projeto de desenvolvimento dependente


década em que há um declínio em todo o terri- que aqui se configurou.
tório nacional. Assim, em virtude do projeto de desen-
Considerando a evolução da extensão volvimento nacional-desenvolvimentista, de
da rede rodoviária ao longo do tempo, as esta- caráter dependente, definido a partir da déca-
tísticas históricas do IBGE mostram que houve da de 1950 no contexto de hegemonia norte-
um crescimento contínuo da rede rodoviária do -americana do pós-Segunda Guerra Mundial,
País desde 1954, quando contava com 302.147 as cidades brasileiras se transformaram em
km de extensão. Entretanto, foram nos anos de verdadeiras passarelas para o desfile dessa
1965 e 1967 que o salto foi maior, iniciando mercadoria-símbolo da modernização capitalis-
a década de 1970 com mais de um milhão de ta na periferia do sistema.
quilômetros de via de rodagem, uma extensão Portanto, embora desde o final da Pri-
quase quatro vezes maior do que a totalidade meira Guerra Mundial já viesse se dando a
da rede férrea naquele período. Essa mudança implantação dessa indústria, foi, a partir do
na estrutura do transporte no Brasil, em certa governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), que
medida, está relacionada com a própria carac- ela passou a ter um papel de grande destaque
terística do transporte ferroviário, o qual, de no desenvolvimento nacional. O automóvel
acordo com Kurz (1996), trazia, do ponto de entra na história do desenvolvimento urbano-
vista capitalista, uma imperfeição: -industrial brasileiro como o principal símbolo
da concepção de modernidade que prevalecia
Não no sentido tecnológico, mas, de em meados do século XX.
modo mais fundamental, no sentido
A vinda das montadoras de automóveis
econômico e, de certa maneira, até es-
piritual. [...] Enfim, a ferrovia, do ponto para o Brasil, organizadas dentro do padrão
de vista capitalista, possui uma mácula internacional de produção taylorista-fordista,
irrecuperável: a de ser necessariamente atendia aos interesses das próprias corpora-
[...] um“bem público”. [...] A ferrovia é, ções norte-americanas e europeias, em seus
a longo prazo, incompatível com o capi-
planos de transnacionalização no pós-1945.
talismo, tanto em seu aspecto espiritual-
Portanto, ao final do governo JK, já existiam
-intelectual, como no seu aspecto econô-
mico”. (Ibid., p. 3) instaladas no País cerca de nove montadoras:
Ford, General Motors, International Harvester,
Entretanto, não se trata apenas de ex- Mercedes-Benz, Scania-Vabis, Simca, Vemag,
plicar o favorecimento dado ao transporte Volkswagen, Willys-Overland, dentre outras.
rodoviário no desenvolvimento capitalista A respeito dessa enorme influência, eco-
no Brasil somente pelo caráter público das nômica e ideológica, exercida por essas monta-
ferrovias, uma vez que é sabido que países doras no desenvolvimento capitalista do século
europeus totalmente mergulhados nas de- XX no Brasil, vale a pena sublinhar que, a des-
terminações do capital continuam até hoje a peito de seu caráter hegemônico, o olhar de um
utilizar amplamente o sistema ferroviário de metalúrgico que viveu esse contexto histórico
transporte. Ou seja, tratou-se, sobretudo, de mostra as fissuras dessa ideologia:

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Acabaram com as nossas ferrovias para consumo,­já que o mercado de bens duráveis,
por um produto das multinacionais na es- como automóveis e eletrodomésticos, que sus-
trada [...] Eu acho que no futuro [...] have-
tentou a expansão econômica do capitalismo
rá um choque muito grande, viu! Primeiro
industrial até meados do século XX, havia se
eu falo, puxa, onde é que vamos por tanta
sucata?! Hoje você passa por aí, em qual- saturado nas décadas de 1960 e 1970.
quer lugar, nessas cidades grandes, o cara Nesse sentido, embora a década de
está derrubando uma casa antiga, para 1980 possa ser considerada um marco do re-
quê? Para fazer estacionamento. Você
lativo recrudescimento da trajetória franca-
sabe que o automóvel[...] é um ícone nos
mente expansiva da indústria automotiva no
países subdesenvolvidos. Então aqui, o
cara só não leva o automóvel para dormir Brasil, não se pode afirmar que tal frenagem
com ele, porque a mulher briga, né! [...] na produção e no escoamento interno da mer-
Então, automóveis todo mundo fabrica, cadoria-símbolo da modernidade capitalista
no mundo inteiro fabrica, eu quero ver o tenha levado a uma mudança mais significa-
que vai fazer, vai comer automóvel? Eu
tiva do enfoque do sistema de circulação bra-
falo: “se vai comer automóvel começa
pelo pneu e pelo estofamento que é mais sileiro, centrado no transporte rodoviário. Ao
mole!”. (Philadelpho, metalúrgico, 2006) contrário, a frota de veículos continuou cres-
cendo em todo o País.
Mas, a despeito desses discursos contra- O estado de São Paulo tem atualmente
-hegemônicos, a trajetória de crescimento da a maior concentração de automóveis, cami-
indústria automotiva no Brasil, definindo os ru- nhões, ônibus e motocicletas do País. Uma
mos do desenvolvimento econômico nacional, frota de veículos cerca de 10 vezes maior do
manteve-se firme até 1980, quando o quadro que a de estados grandes e populosos, como
econômico de estagflação (estagnação da pro- o Rio de Janeiro, conforme apontam os dados
dução com inflação) e endividamento externo, fornecidos pelo IBGE-estados referente a 2010.
agravado pelo cenário internacional de reces- Por sua vez, é ainda mais alarmante o poder
são econômica e social, colocou obstáculo a de mercado da indústria automotiva e de to-
essa tendência de expansão de vendas dessas do seu ideário individualizante, que predomina
corporações no mercado interno. Desse modo, nas grandes cidades paulistas: o fato de que a
os fabricantes de veículos e autopeças aqui cidade de São Paulo sozinha tem uma concen-
instalados buscaram intensificar a exportação, tração de automóveis maior do que o Estado
em um contexto mundial de transformações inteiro do Rio de Janeiro ou do Paraná.
produtivas, que impactaram em exigências Portanto, desdobramento do próprio
de preço, qualidade e entregas internacionais crescimento do transporte privado e individua­
(Pinto,­ 2006). lizado de automóveis são os congestionamen-
Tais transformações, por sua vez, consti- tos e o aumento da frota de motocicletas. No
tuíram-se na resposta do capital diante de sua estado de São Paulo a frota de motos é de
crise estrutural, instaurada a partir dos cho- 3.322.544 unidades. Destas, cerca de 20%
ques do petróleo de 1973 e 1979, e deviam- se concentram na capital e 3% em Campinas
-se, em partes, à saturação da norma social de (89.011unidades).

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Ou seja, paradoxalmente à resposta dada desse período analisado representava 70% da


pelo empresariado diante da crise estrutural do frota total, passou a 58,8% em 2008, as mo-
capital – ao reestruturar o padrão de produção tos, que representavam 11,5%, subiu a 24,0%,
taylorista-fordista sob influência do ideário aumentando sua representação no conjunto de
toyotista, visando à uma aceleração do tempo veículos em circulação.
de giro do capital6 –, o consumo em massa de Alguns fatores interferiram para essa
veículos impôs limites à realização dessa ne- mudança de cenário do trânsito. Além do pro-
cessidade de maior velocidade-mobilidade, na cesso de “compressão tempo-espacial” que se
medida em que os frequentes engarrafamentos acirra na década de 1990, em resposta à crise
de veículos tornaram o “automóvel” um “auto- estrutural do capital, tornando as motocicletas
estático” (Kurz, 1996). uma opção de transporte mais interessante
Desse modo, essa dinâmica contraditó- pelo seu menor custo e maior agilidade, outro
ria do padrão produtivo que Kurz (ibid.) cha- fator de estímulo para a massificação de seu
mou de “capitalismo automobilístico” produ- uso, a partir dessa década, foi a instalação de
ziu não uma superação dessa norma social de indústrias de ciclomotores no País.
consumo de automóveis, mas sim uma nova Desse modo, no conjunto das grandes
demanda para o mercado de motocicletas, corporações que contribuíram para o dese-
instaurando uma vivência de mobilidade urba- nho da rede de transporte que se tem hoje no
na extremamente conflituosa, em que carros, Brasil, estruturando noções de organização
ônibus, caminhões, vans e motocicletas dispu- eficiente do espaço e aceleração do tempo, a
tam um espaço. Honda teve liderança desde sua instalação no
Embora, desde fins da década de 1960, já País, em 1971, apresentando hoje uma domi-
existissem alguns modelos de veículos de duas nância de cerca de 90% do mercado brasileiro.
rodas em circulação, tal como as lambretas, foi, A Honda soube explorar de modo exemplar,
a partir da década de 1980 e, sobretudo 1990, por meio do slogan “Asas da liberdade!”, o
que a frota de motocicletas cresceu acelerada- desejo frustrado de liberdade substantiva de
mente. De acordo com os dados do Mapa da que o indivíduo moderno padece, sobretudo no
Violência de 2011 sobre o crescimento da fro- contexto em que o seu direito liberal de ir e vir
ta de veículos na década 1998-2008, nesses é questionando pelo caos urbano gerado pelas
anos a frota total do País cresceu uma média operações logísticas just in time.
de 8,4% a.a., enquanto a frota de automóveis Desde o início da crise estrutural do ca-
cresceu em média 6,5% a.a. e a de motocicle- pital e da reestruturação produtiva, passou-se
tas, por sua vez, cresceu em média 17,2% a.a., a operar uma transformação qualitativa do
mais do que a média geral. complexo produção-circulação de mercadorias.
Ou seja, não só o trânsito se tornou mais As cidades, antes meros espaços de circulação
sobrecarregado por conta do maior número de apartados da produção direta de mais-valia,
veículos de todos os tipos que passou a circular, transformaram-se em extensões da indústria
como a tendência de distribuição da frota se in- taylorista-fordista toyotizada. A lógica do just
verteu. Enquanto os automóveis, que no início in time externalizou os estoques das “fábricas

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enxutas” para as ruas da “cidade fabricaliza- “outro”,­que não conseguem mais reconhecer.
da”, saturando a cidade de caminhões e mo- A “cidade-mercadoria” surge como crise.
tocicletas obstinados em assegurar o fluxo de Desse modo, conforme afirma Telles
mercadorias e informações, ao mesmo tempo (2006), na produção do espaço urbano da “ci-
que continuou a gerar incessantemente a ne- dade-mercadoria” que emerge com a globali-
cessidade do consumo de meios de transporte zação, o outro lado da “cidade de muros” não
individualizados, que permitissem a completa é a suposta (e falsa) democratização da “nova
sincronização de toda a população a esse tem- sociedade do consumo”. A questão é outra:
po certo (Ferrari, 2012).
[...] Pois nesses tempos de globalização,
Assim, levando em consideração essa
seguindo os movimentos acelerados de
complexificação da frota urbana de veículos, desterritorialização do capital, a riqueza
buscar-se-á desenvolver, a seguir, uma refle- social mobiliza os “artefatos urbanos”,
xão sobre as repercussões dessas transforma- [...] no mesmo passo em que se vai am-
ções na estrutura do transporte sobre a forma pliando a inadimplência generalizada.
Qualquer um que circule pelos bairros das
de sociabilidade nos espaços de circulação da
periferias mais pobres haverá de encon-
cidade, partindo da prerrogativa de que a ex- trar a parafernália do consumo moderno
periência dos motofretistas, categoria de tra- e pós-moderno, e haverá de encontrar o
balhadores caricatos do padrão just in time de morador pobre desses lugares mais-do-
produção, fornece pistas importantes sobre o que-pobres exibindo, junto com a fatura
de uma dívida sempre adiada, as versões
modo de ser da sociedade contemporânea.
populares (ou nem tanto) dos cartões de
crédito que também chegaram por lá: é a
financeirização do popular fiado. (Telles,
Violência no trânsito 2006, p. 6)

e expropriação do tempo Assim, como nunca, na atual conjuntura


na “cidade fabricalizada” da organização socioeconômica capitalista, a
cidade caracteriza-se pela subordinação do es-
Demolições, alargamento das ruas, construção paço pelo tempo e pela reificação das relações
de shoppings e de estacionamentos fazem par- sociais que coisifica os homens e humaniza as
te da memória coletiva daqueles trabalhadores coisas (Ferrari, 2012).
da cidade industrial que assistiram à transfor- Tal conjuntura produz uma interação
mação da cidade como a sua própria ruína. profundamente hostil entre os condutores de
Seus relatos sobre a metamorfose da São Paulo veículos, pedestres e ciclistas que dividem
cortada pelas ferrovias à “capital do automó- o espaço das vias públicas, a qual repercute
vel” se estruturaram pela vivência do desem- diretamente sobre os motofretistas que tra-
prego de seus filhos e netos. Assim, a “cidade- balham nesse espaço antes improdutivo para
-mercadoria”, que emerge com a globaliza- o capital, os espaços de circulação da cidade,
ção, aparece, na memória dos trabalhadores para onde a produção capitalista se transbor-
industriais de meados do século XX, como um da na contemporaneidade.

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Assim, os inúmeros relatos coletados du- ele tem que fazer o serviço dentro do ho-
rante o trabalho de campo da pesquisa, narran- rário ou ele está fora. (Gilberto, motofre-
tista, 2010)
do episódios de desentendimento entre moto-
fretistas, caminhoneiros e motoristas de ônibus
O relato acima aponta, não só para o
e carros em Campinas, apontam para essas si-
espectro de hostilidade que ronda as relações
tuações de conflito no trânsito que fazem parte
sociais no trânsito das cidades, mas também
de uma condição de trabalho permanente na
para a subsunção desse espaço de circulação
vida desses trabalhadores. Sobre isso, Gilberto
do capital, em que se constitui a malha viária,
se recorda de um episódio de que foi vítima de
ao tempo e ritmo impostos pela acumulação
uma agressão verbal:
flexível, caracterizada pelo ideário da produção
[Um dia] uma senhora de Corolla veio e just in time. O depoimento mostra a subversão
bateu [em mim]. E eu [estava] parado. [...] total do controle do tempo a que os motofre-
Eu olhei para ela e falei: “Minha senho- tistas estão submetidos, “um tempo que não é
ra, a senhora não me viu aqui? A senhora
seu”, um ritmo que lhe é determinado seguir.
bateu na minha perna, podia ter aconteci-
Esse sentimento de um tempo irrefreá-
do uma coisa pior?”. Ela abaixou o vidro,
falando no celular e falou um monte de vel, de um ritmo que não se pode conter, que
palavrão. É inacreditável. [...] Eu fiquei de certo modo está presente na experiência
doido com ela. Eu falei: “Minha senhora, subjetiva de todos os seres humanos da con-
a senhora é doida?”. Aí, os motoqueiros
temporaneidade, traduz de modo preciso a
que estavam [perto de mim], [...] viram
vida objetiva desses trabalhadores sobre duas
aquilo e eles ficaram bravos. Eu não pre-
cisei tomar atitude nenhuma. [...] Cada rodas, mergulhados no processo contraditório
um que passava dava um chute. (Gilberto, de fabricalização das cidades. Esse processo de
motofretista, 2010) fabricalização se constitui, de acordo com Fer-
rari (2012), em um extravasamento do modo
O mesmo depoente dá um testemunho
de trabalho dos antigos lugares específicos de
sobre a inimizade que vem se naturalizando
produção com vistas a imprimir um ritmo ace-
entre caminhoneiros e motofretista, que forne-
lerado a todos os contextos sociais e territoriais
ce mais elementos para se analisar os reflexos
que compõem o espaço ampliado da produção
da reificação do ser social sobre as relações
just in time:
que se estabelecem no espaço urbano:
O timing necessário e específico ao capi-
Hoje eu trabalho com caminhão e ouço tal como relação social hegemônica não
muito os caminhoneiros [dizerem] [...]: é imposto apenas no chão de fábrica, ou
“Eu esqueci o meu gancho de pegar mo- na suposta loucura das bolsas de valores.
toqueiro lá em São Paulo”. Então assim, A circulação de coisas, pessoas e informa-
[os “motoboys”], eles são muitos, quem ções no cotidiano das grandes cidades im-
dirige em São Paulo vê como eles passam põe um ritmo intenso a todos, trabalhem
buzinando, desesperados para fazer um ou não no chão de fábrica, escritórios ou
trabalho que não é deles, para cumprir bolsas de valores. Os tempos exigidos pa-
uma ordem de estar ali, para cumprir um ra um motoboy entregar um documento,
horário, às vezes não é imprudência dele,­ para se desenvolver uma tese acadêmica

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Sofrimento e trabalho na cidade em marcha forçada

ou formar alunos no ensino fundamental, Desse modo, na medida em que a pro-


médio e universitário são continuamente dução e reprodução da vida material da so-
comprimidos. (Ferrari, 2012, p. 37)
ciedade não prescindem da sua materialidade
no espaço e no tempo, o conjunto de meios de
Esse extravasamento da produção just in
racionalização e sincronização de tempos de
time para toda a sociedade, que define o pro-
trabalho e fluxos de mercadorias, que se cons-
cesso de fabricalização das cidades, deve-se,
tituiu no componente técnico-organizacional
por sua vez, ao atendimento das necessidades
do ideário toyotista de uma produção sem es-
atuais da dinâmica do capital. Após a reestru-
toque e no tempo certo, implicou a transferên-
turação produtiva ter reformulado o processo
cia do ônus das operações logísticas para a so-
produtivo do lado de dentro dos muros da fá-
ciedade civil e seu poder local. Segundo Ferrari
brica, para sua plena execução fez-se necessá-
(ibid., pp. 42-43):
rio que outras instâncias se sincronizassem a
esse tempo tido como certo, como, por exem- Na era dourada do capital, as cidades
plo, os fornecedores terceirizados localizados sediavam fábricas consideradas lugares
fora das unidades fabris e toda a malha viária relativamente à parte; hoje, tornaram-
-se espaços de estoques das mercadorias
das cidades que se transformou em extensão
em trânsito, receptáculos de verdadeiras
da linha de montagem dessa fábrica suposta-
esteiras fordistas estendidas entre as
mente enxuta, limpa e silenciosa, idealizada fábricas. Ao contrário de serem sóbrias,
pelo toyotismo (ibid.). limpas ou de serviços, são cidades fa-
Ou seja, a despeito do discurso ideológi- bricalizadas, que acolhem atividades de
todo tipo como extensões urbanas da
co, que engraxa a engrenagem dessa produção
própria fábrica, acolhendo um imenso
“flexível”, sustentar-se na idealização de uma
proletariado urbano que cada vez mais se
produção essencialmente imaterial e em tempo multiplica e se fragmenta.
real, conforme afirmam os ideólogos de uma
concepção de sociedade da informação que Com o extravasamento da produção
prescinde do trabalho: para além dos muros das fábricas tratou-se,
portanto, de socializar os custos da gestão do
Sabemos que, pelo menos por enquanto,
caos dos tempos e dos espaços urbanos. Des-
pessoas, cachorros, automóveis e outros
se modo, a aparente desordem que domina o
valores de uso não trafegam por fibras
óticas. [...] Caminhões, automóveis e cenário urbano é a ordem do capital na con-
motos existem de modo presencial, não temporaneidade, é a ordem da cidade fabrica-
virtual, transitam em espaços físicos (não lizada (ibid., 2012).
em fibras óticas), percorrem vias em tem-
Nesse sentido, a hostilidade que permeia
po material não nulo, além de transpor-
a vida social nos espaços públicos da cidade e
tarem mercadorias que, para serem pro-
duzidas, ocuparam também tempos de que atinge tão diretamente os motofretistas,
produção e espaços concretos, materiais na forma de ameaça física e psíquica perma-
[...]. (Ibid., p. 48) nentemente enfrentada em seu processo de

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Stela Cristina Godoi

trabalho, não pode ser explicada sem se levar como­um fator de doença física e psíquica, co-
em consideração essa determinação objetiva mo fator de sofrimento.
da atual forma de ser do modo de produção e Esse tipo de constrangimento com vistas
reprodução social do capital. a intensificar o trabalho não se constitui, toda-
Além desses testemunhos acima analisa- via, em uma particularidade vivenciada indivi-
dos em que os motofretistas figuraram como dualmente pelos trabalhadores entrevistados,
vítima de agressões de outros condutores de mas se trata de um aspecto geral da organiza-
veículos, muitas vezes a situação se inverte, e o ção do trabalho nos espaços de circulação da
motofretista aparece como o agressor, impulsio- cidade fabricalizada, conforme atenta Ferrari:
nado por essa sociabilidade urbana marcada pe-
Para realizarem as entregas no almejado
la hostilidade, conforme mostra o relato abaixo:
tempo certo e manterem a continuidade
do fluxo da produção, trabalhadores viá­
Esses tempos atrás eu fiquei com dó do
rio e rodoviário de carga, por exemplo,
cara, mas ao mesmo tempo eu fiquei com
enfrentam toda sorte de obstáculos. Além
raiva dele, eu quebrei o retrovisor dele,
de intensificação do trabalho pelo au-
ali na Bambini. Eu estava com pressa pa-
mento do número de viagens/dia, esses
ra fazer o serviço, isso já era quase seis
trabalhadores chegam a ser pessoalmente
horas da tarde. Eu precisava fazer, devol-
penalizados com multas por atrasos – ra-
ver ao Banco para sair e voltar para casa.
cionalidade interiorizada e justificada co-
Aí eu vi que ele me viu no retrovisor, [...]
mo garantia de eficácia do processo pro-
[mas] na hora que ele viu que eu ia encos-
dutivo. [...] A adoção atual do lema “tem-
tar, ele me fechou. Aí não teve jeito, pus
po é dinheiro” resulta na compressão do
os dois pés na frente e acelerei a moto.
espaço pelo tempo. (Ibid. p. 27)
Ao invés de eu parar a moto, eu acelerei.
O pior é que eu quebrei o retrovisor dele
e de um coitado que estava no lado que Esse cenário descrito acima por Ferrari
não tinha nada a ver, então me deu dó do aparece, por sua vez, exemplarmente retra-
rapaz que estava do lado. Na cabeça eu tado no relato de um entrevistado do estudo
fiquei pensando, porque ele fez isso? Pra que comenta sobre o desgaste que sente em
quê? Eu estou trabalhando! Não estou
sua profissão:
me divertindo, isso não é uma diversão.
Talvez o cara pensa que é diversão. É uma É estressante! E é complicado por causa
profissão igual a todas as outras. (José, disso, porque há cobrança. Porque hoje
motofretista, 2010) em dia, infelizmente, se [você] pega três
serviços para fazer e pergunta qual é mais
Assim, o sentimento de irritação e cansa- urgente. Vão te responder: “Todos, todos
ço que resulta da vivência desse ambiente de são urgentes!”. Todo mundo hoje tem
hostilidade e do frequente risco que os moto- pressa, porque o tempo, hoje em dia, na-
da mais é que dinheiro! (Paulo, motofre-
fretistas correm ao terem que disputar as ruas
tista, 2010)
da cidade com os carros, ônibus, peruas, cami-
nhões, em condições completamente desfavo- Esse relato deixa claro que, se o ritmo
ráveis ao respeito mútuo, apresentou-se como acelerado da atividade de motofrete é uma
um aspecto marcante da experiência deles,­ decorrência da própria dinâmica atual do

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Sofrimento e trabalho na cidade em marcha forçada

processo­de reprodução ampliada do capital, Como consequência dessa mudança es-


na conjuntura da subsunção do espaço am- trutural na experiência temporal, uma nova
pliado da produção ao ideário do just in time, subjetividade precisa ser moldada. O novo ti-
o risco de morte a que os motofretistas estão po de consentimento construído pelo toyotis-
submetidos é consequência direta da pressão mo pressupõe uma sociedade com indivíduos
exercida pela organização do trabalho para condicionados a permanecer em sincronia
a execução do trabalho numa cadência sin- constante com esses ritmos de trabalho (ibid.).
cronizada a um tempo definido como certo, a Conforma, portanto, um novo tipo de subjetivi-
cadência da realização da mais-valia dentro da dade moldada pela máxima: Right man in the
atual dinâmica da acumulação. rigth place, on the right time, a qual é carica-
Por fim, cabe chamar a atenção pa- turalmente representada nas exigências feitas
ra o fato de que, ainda que a morte não seja aos motofretistas na contemporaneidade.
um desfecho obrigatório dessas trajetórias de Para explicar essa dimensão da produ-
trabalho na cidade fabricalizada, diante des- ção just in time que se transborda para a vi-
sa conjuntura de pressão da organização do da interior do sujeito, Alves (2005) cunha um
trabalho, somada ao espectro de hostilidade conceito que contribui para o entendimento do
e violência que, de modo geral, permeia a so- desgaste psíquico que decorre das condições
ciabilidade urbana, o resultado não poderia ser de trabalho enfrentadas nas cidades fabrica-
outro para aqueles que passam aproximada- lizadas. Em uma reflexão sobre o impacto da
mente 15 horas de seu dia sobre uma motoci- compressão do tempo e do espaço na organi-
cleta: memórias de muitos acidentes, vividos ou zação do tráfego corpo-mente, o autor refere-
assistidos, corpos e mentes, marcada intensifi- -se a um processo de “compressão psicocorpo-
cação do trabalho. ral”, como uma forma de moldagem do corpo
Então, é nesse jogo arriscado de desa- rígido do taylorismo-fordismo, para a flexibili-
fiar o perigo, no limite entre a vida e a morte, dade do toyotismo, mantendo, ao mesmo tem-
que esses homens e mulheres vêm realizando po, esse corpo útil ao novo modo de produção
o seu trabalho, numa sincronização alienante e alargando o raio de ação do sofrimento do
ao tempo exigido pela produção just in time. trabalho por meio de seu deslocamento para
Desse modo, a cidade que “se assimila – e se a mente.
desenvolve, contraditoriamente, na medida de Assim, buscando aprofundar o enten-
um tempo real tornado expressão mítica das dimento desse mecanismo de “compressão
sociedades contemporâneas” (Ferrari, 2012, psico­corporal”, é importante chamar a atenção
p. 37), produz efeitos psíquicos devastadores, para os dois elementos ontológicos que com-
que podem ser sentidos, não só por essa cate- põem esse binômio sugerido no conceito, corpo
goria profissional, mas por tantas outras que e psique. O corpo, “elemento ineliminável do
estão submetidas ao mesmo processo de com- sujeito” (ibid.), pressupõe uma materialidade
pressão dos intervalos de tempo, tais como os que ocupa lugar no espaço. Por sua vez, o tem-
operadores de telemarketing,­os bancários, os po é a “a condição ontológica do psiquismo”
caminhoneiros, os corretores de bolsa, etc. (Kehl, 2009).

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Stela Cristina Godoi

Desse modo, o acirramento da compres- Diante da imersão de toda a sociedade


são do espaço pelo tempo não poderia deixar nessa relação brutal com o tempo, que pro-
de ter impactos acentuados sobre a vida psí- move um processo de banalização da morte
quica dos sujeitos, como mostram não só os no seu sentido mais abrangente, os motofre-
relatos dos trabalhadores entrevistados, como tistas buscam, na solidariedade entre seus
também a própria epidemia social de depres- iguais, um refúgio. Os inúmeros episódios de
são e outras formas de mal-estar emocional mútuo socorro em situações de acidentes ou
da civilização contemporânea. A organização conflitos no trânsito, que são tão característi-
toyotista da produção e da vida social amplia cos da experiência de classe dessa categoria,
o sofrimento para a mente, uma vez que abala constituem-se, portanto, numa resposta a esse
justamente a qualidade da experiência do tem- cenário de insegurança, solidão e sofrimento
po. De acordo com a análise de Kehl acerca da psíquico que aflige de modo muito intenso es-
depressão na contemporaneidade: ses trabalhadores.
Desse modo, a atitude corporativa, e por
[...] é razoável supor uma relação entre
vezes agressiva, dos motofretistas em seus
o aumento dos casos de depressão e a
urgência que a vida social imprime à ex- enfrentamentos nas trincheiras da cidade, que
periência subjetiva do tempo. A tempora- incomoda a sociedade e indigna a opinião pú-
lidade tecida de uma sequência de instan- blica, deve ser entendida como uma compensa-
tes que comandam sucessivos impulsos à ção psíquica necessária para suportar viver um
ação, não sustentados pelo saber que ad-
tempo que autodisciplina o corpo e o espírito
vém de uma prévia experiência de dura-
ção, é uma temporalidade vazia, na qual para o consentimento ao próprio sofrimento,
nada se cria e da qual não se conserva que fragmenta a luta política em busca de me-
nenhuma lembrança significativa capaz lhores condições de trabalho e que, sobretudo,
de conferir valor ao vivido. (2009, p. 116) corrói o tempo, o “tecido da vida”,7 do qual
depende a qualidade do tráfego corpo-mente.
Ou seja, na medida em que essa tem-
Assim, trata-se de compreender que essa
poralidade contemporânea, vivida como pura
experiência de aceleração do tempo, que in-
pressa, atropela a duração necessária para o
fluenciou o próprio desenvolvimento da ativi-
exercício do compreender, é possível se ter a
dade de motofrete, delimitou não apenas uma
dimensão do sofrimento que a exigência de
mudança técnica ou econômica na forma de
execução das tarefas no menor tempo causa
produção e circulação de mercadorias, mas im-
sobre os motofretistas, impulsionando-lhes pa-
plicou, sobretudo, uma nova tessitura da vida
ra a morte, do corpo e da mente. Segundo Kehl:
social e psíquica, que produziu desdobramen-
[...] mal nos damos conta dela, a banal tos profundos de ordem cultural.
velocidade da vida, até que algum mau A transformação do tempo em veloci-
encontro venha revelar a sua face mortí-
dade e do espaço em simples meio de circula-
fera. Mortífera não apenas contra a vida
do corpo, em casos extremos, mas tam- ção produziu uma experiência social marcada
bém contra a delicadeza inegociável da pelo “apagamento de milhares de percepções
vida psíquica. (Ibid., pp. 16-17) instantâneas às quais nos limitamos a reagir

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Sofrimento e trabalho na cidade em marcha forçada

rapidamente­para em seguida, com igual ra- o estresse da vida urbana na “cidade fabricali-
pidez, esquecê-las” (Kehl, 2009, p.17). Assim, zada”, permite-se que uma determinada men-
imersos no torpor da vida cotidiana, ainda que talidade se perpetue. A concepção metódica,
o encontro com um acidente de trânsito envol- racional e disciplinada de vida que Max Weber
vendo um motoqueiro ou o reconhecimento do considerou a alavanca principal do capitalismo,
sofrimento emocional de um entregador que se metamorfoseou-se em uma forma de domina-
perdeu no transporte de sua mercadoria des- ção legitima sobre os corpos que disciplina, oti-
pertem, no exato momento, algum sentimento miza seus movimentos, reprime e viola direitos
de compaixão e identificação, no instante se- civis e humanos.
guinte será esquecido pela sequência irrefreá-
vel de intervalos de tempo vazio.
Os motofretistas interpelam, portanto, Considerações finais
sentimentos de inveja pela sua capacidade de
fluir pelo caos urbano como ninguém consegue Este escrito buscou reconstruir o longo perío­
e de indignação pela sua falta de compostura do histórico de constituição e crise da vida
social ao realizar o tempo definido como o cer- citadina, em duas importantes metrópoles do
to. Mas seu modo de ser e de agir provoca a so- sudeste brasileiro (RMSP, RMC), erguidas sobre
ciedade, sobretudo, porque a “loucura” de sua os interesses de mercado das corporações do
pressa aponta o dedo para a “loucura” que é automóvel, desde a sua implementação em ter-
de todos, ou seja, coloca todos os indivíduos na ritório nacional no contexto do padrão de pro-
posição incômoda de ter que se defrontar com dução taylorista-fordista até a sua adequação
a feiura e a brutalidade de sua relação com o ao ideário da produção just in time. Tratou-se,
tempo, com o espaço e com a vida social. desse modo, de uma análise da forma de ser-
Ademais, a experiência de violência nes- -estar dos espaços de circulação da cidade a
se contexto histórico em que se dá a formação partir da experiência de duas categorias de tra-
da categoria motoboy e que é partilhado por balhadores que foram capazes de representar
todos nós na experiência urbana, é uma expe- os elementos contraditórios da sociabilidade
riência de violação de direitos individuais ou ci- no Brasil que se pretendeu moderno: os meta-
vis de grande extensão. A violência urbana ana- lúrgicos e os motofretistas.
lisada por Caldeiras (2000), manifesta-se sobre Para além de uma história da cidade, os
os corpos de cada um (não só dos motoboys) e acontecimentos vivenciados e relembrados pe-
produz certo tipo de “corpo político”, o “corpo los sujeitos dessa história, apesar de dispersos
não circunscrito”. A nossa “democracia disjun- no tempo e no espaço, integraram-se, permitin-
tiva”, em que se expandem direitos políticos e do apreender o processo de formação da clas-
sociais enquanto se desrespeitam direitos civis se trabalhadora urbana brasileira, para o qual
e humanos, corpos simbólicos são eleitos como as migrações se constituíram em ingrediente
a essência do mal. Os motoboys, no cenário da demográfico e cultural fundamental. Por sua
“cidade fabricalizada”, vêm operando esse ti- vez, ao voltar-se para as experiências recen-
po de mecanismo simbólico. Ao simbolizar todo tes de trabalho dos motofretistas, observou-se

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Stela Cristina Godoi

também­que grande parte desses trabalhado- Nesse sentido, na condição de elos da


res sobre duas rodas tem um passado migra- produção capitalista cindida pela reestrutu-
tório, de tal forma que a noção de que o de- ração produtiva, que externalizou parte da
senvolvimento urbano-industrial não pode ser produção em nome de um ideário de fábrica
explicado sem considerar as migrações, defen- enxuta, limpa e silenciosa, esses trabalha-
didas por Hobsbawm (2000), foi reforçada. dores sobre duas rodas asseguram a atual
Debruçando-se sobre a experiência des- logística da acumulação, caracterizada pelo
ses que realizam o transporte de mercadorias e processo de compressão do espaço pelo tem-
documentos utilizando suas motocicletas, per- po. Seu papel social é, acima de tudo, viabi-
correndo os espaços de circulação das cidades lizar a aceleração do processo de produção-
em um contexto em que a mobilidade urbana -distribuição-troca-consumo. Assim, o que
é permanentemente ameaçada pelo inchaço se espera deles é velocidade e, por isso, eles
da frota de veículos, foi possível refletir sobre têm pressa. Portanto, seu modo de trabalho
as repercussões de longo prazo do processo de é a caricatura, frequentemente renegada pela
modernização capitalista dentro de uma eco- sociedade, de uma sociabilidade hostil e des-
nomia dependente, reverente aos interesses de gastante, fundada na sincronização alienante
mercado das grandes corporações, tais como a ao tempo, cada vez mais curto, da realização
indústria automotiva. da mais-valia.

Stela Cristina Godoi


Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Faculdade de Ciências Sociais. Campinas, SP/Brasil.
stela_godoi@yahoo.com.br

Notas
(1) “A ideia de sociologia é contemporânea da ideia de modernidade. Ambas nascem na cidade.
Formam-se principalmente em Paris, capital do século XIX, em meados daquele século. Aí se
decantavam as mais novas e típicas realizações materiais e espirituais da sociedade moderna.”
(Ianni, 1989, p. 7)

(2) “A centralização política do Estado inglês tinha fundamentos materiais e corolários. Primeiro, já
no século XVI, a Inglaterra possuía uma rede impressionante de estradas e de vias de transportes
fluviais e marítimas que unificavam a nação de modo bastante excepcional para o período.
Londres cresceu numa taxa muito acima das outras cidades inglesas e do crescimento total da
população (transformou-se na maior cidade da Europa) e tornou-se o centro de um mercado
nacional em desenvolvimento”. (Wood, 2000, p. 9)

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Sofrimento e trabalho na cidade em marcha forçada

(3) Thompson (2001) utiliza essa expressão no artigo “A história vista de baixo”, extraído de The
Times Literary Supplement, de 7 de abril de 1966, traduzido por Antonio Luigi Negro e reunido na
coletânea de textos de Thompson organizada por Antonio Luigi Negro e Sergio Silva, intitulada
As peculiaridades dos ingleses e outros artigos.

(4) Esse estudo, que resultou na dissertação de mestrado intitulada A roça e o aço: as experiências e as
resistências operárias no Brasil Moderno (1954-1964), foi desenvolvido a partir da metodologia
da história oral, por meio da qual foram coletadas memórias de homens que migraram das zonas
rurais do País para empregar-se nas indústrias da cadeia produtiva de automóveis na condição
de metalúrgicos. Desse modo, por meio desse processo mnemônico, tratou-se de analisar as
experiências desses trabalhadores e as formas de resistência cotidianas forjadas por eles no
amálgama cultural do mundo da roça do qual partiram e do mundo do aço no qual ingressaram,
colocando em relevo as contradições da cidade erguida sob o ideário da ordem, do progresso e
da soberania (Godoi, 2007).

(5) Esse estudo, que resultou na tese de doutorado No tempo certo, sobre duas rodas, um estudo
sobre a formação e a exploração dos(as) motofretistas de Campinas-SP, dedicou-se a analisar
o processo de trabalho desses trabalhadores que se constituem hoje numa engrenagem
fundamental da acumulação capitalista regida pelo ideário da produção just in time, sobretudo
considerando o contexto de crise de mobilidade urbana que resultou do consumo em massa
de automóveis produzida pela força de mercado assumida por essas corporações no Brasil.
Através da análise das experiências de alguns motofretistas e de uma única motofretista, foram
apreendidas algumas determinações do processo de formação dessa categoria profissional
em Campinas, bem como foram compreendidos os traços mais marcantes que caracterizam
a forma de ser da exploração dessa força de trabalho e de dominação desses trabalhadores
(Godoi, 2012).

(6) De acordo com Marx (1984), o tempo de produção associado ao tempo de circulação forma
o conceito de “tempo de giro do capital” que é de extrema importância para o processo de
acumulação.

(7) Essa expressão metafórica para o tempo foi retirada da análise de Kehl (2009), ao parafrasear
Antônio Candido, para quem o tempo é o “tecido da nossa vida” (p. 111).

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Texto recebido em 15/jan/2016


Texto aprovado em 29/fev/2016

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