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Por que existem Áreas Degradadas? Recup eração de Áreas Degradad as


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im p o rtan te lembrar qu e a recup eração d e áreas

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Mas, embora esses eventos naturais de degradação ocorram e
degradadas, como ciência e como necessidad e do ser outras espécies animais e até mesmo vegetais possam produzir áreas
humano, somente existe pelo fato de existirem atividades degra dadas, é inquestionável o papel principal do ser humano na
humanas que geram degradação amb iental. degradação ambiental.
É óbvio que a simples presença do hom em na nature za gera Atua lme nte, te m sid o d estac ad a a pa rti cip ação h um an a
alterações no meio ambiente, e isso não é exclusividade da nossa nas grandes alterações ambien tais, at ravés do efeito est ufa e do
espécie; todas as espé cies interagem com o meio físico e bió tico, aquecimento global. D essa forma, além das atividades direta mente
compond o, dessa forma, os diferentes ecossistemas. Contu do, algumas degradadoras, indiretamente também o ser humano está aumentando a
têm maior pod er de gerar impactos ambientais, como, por exemplo, sua participação na degradação ambiental, uma vez que tais fenôme nos
as manadas de elefantes africanos que, em poucos dias, são capazes naturais de degradação tornam-se cada vez mais frequentes e intensos,
de eliminar fl orestas inteiras de acácias, produzind o um cenário de devido às atividade antrópicas.
desmatam en to semelhante àqueles co mu mente produzidos pelo
Como visto no Capítu lo 2, um ecossistema torna-se degradado
homem.
quando perd e sua capacidade de recu peração natural após distúrbios,
Porém , esta é uma exceção que, no contexto das vastas paisagens ou seja, perd e sua resiliência.
africanas, caracteriza-se mais como um evento necessário para a
manutenção da dinâmica da vegetação local, alternando camp os de
gra míneas e florestas. E os próprios elefantes são respo nsáve is pela
dispersão das seme ntes de acácias, contribuindo para sua regeneração Dep end end o da intensid a de do distúrbio, fatores essenciais
em áreas de pasto e, port~nto, particip am não apenas da degradação para a manutenção da resiliência, como banco de plântulas
e d e seme ntes no solo, capacidade de rebrota das espécies,
das florestas mas tam bém da sua restauração.
chuva d e sementes, dentre outros, pod em ser perdidos,
dificultand o o pro c esso de regen eraç ã o natural,
ou tornand o-o extrema mente lento.
Cabe destacar, ainda, que degradações ambientais
ocorrem também sem a participação de seres vivos, como
aquelas produzidas por deslizamen tos de terra resultantes
de tempestades loc a liza d as, ou derramamento de lavas
Uma floresta está sujeita a distúrbios naturais como queda de
vulcânicas, passagens de furacões, deslocamento
árvo res, deslizamentos de terra , raios etc., que resultam em clareiras,
de dunas de areia , entre outras.
ou seja, aberturas no dossel, que são cicatrizadas através da colonização

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Por que existem Áreas Degradadas? ' Recup eração de Áreas Degradadas
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por espécies pioneiras seguidas de espécies secundárias. Portanto, esses culturas e, ou, pela prática da queima de restos vegetais e de pastagens, da
distúrbios naturais,normalmente,não chegam a degradar as florestas nativas. compactação e da erosão do solo pelo pisoteio do gado e pelo trânsito de
máquinas agrícolas. Nessas condições de intensa degradação, é necessáriaa
A Figura 3.1 mostra as principais causas de degradação das florestas
adoção de técnicas e de modelos de recuperação, visando restabelecer uma
nativas, que são o desmatamento para expansão da área cultivada nas
vegetação florestal que proteja o solo e o curso d'água.
propriedades rurais, para expansão de áreas urbanas e para obtenção
de madeira, os incêndios, a extração de areia nos rios, no caso de matas H istoricamente, o modelo de desenvolvimento que se implantou
ciliares, a mineração, os empreen dimentos turísticos mal plan ejados etc. na maioria das regiões brasileiras foi a substituição das florestas nativas
para o plantio de café e, ou, de pastagen s e de cana-de-açú car. Esse
processo resultou na fragmentação, primeiramente, da Mata Atlân tica
Fatores de Degradação e, posteriormente, de outros biomas como at ualme nte a Floresta
Amazônica. A expansão da fronteira agrícola foi e continua sendo um a
Expansão da Expansão da
, das principais causas de degradação das florestas, contudo, a maioria
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das áreas de baixa produtividade agropecuária, uma vez abandonada,
pode ter a sua co bertura florestal recuperada através da implantação
Ecoss istema de projetos de custos relativamente baixos. Por outro lado, atividades
Mineração florestal Barragens para

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geração de energia
de mineração, apesar de sere m mais localizadas e ocuparem áreas
menos extensas, têm um potencial de degradação do solo maiore uma

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! ' C orte de
lenha e madeira
<. d~~~rtura ~tradas
recuperação mais difícil, demorad a e no rmalmente de mais alto custo,
porém não impossível como já dem on str ado em inúmero s proj etos
implantados em diferentes regiões do Brasil e em outros paises.

Figura 3.1. Fatores de degradação dos ecossistemas florestais.


Cabe destacar que empresas de mineração são as
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que mais investem em projetos de rec up eraç ão
Em muitasáreas,antes ocupadas por florestas, o processo de degradação de áreas deqrodcdos.
é antigo, tendo se iniciado com o desmatamento para transformação da
área em campo de cultivo ou em pastagem. Com o passar do temp o e,
dependendo da intensidade de uso, a degradação pode ser agravada através Assi m, boa part e dos avanços da pesquisa sobre esse tema resulta
da redução da fertilidade do solo peIa exportação de nutrientes pelas da parceria entre mineradoras e instituições de ensino e pesquisa.

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Avanços da Pesquisa em Recuperação de Áreas Degradadas Recuperação de Áreas Degradadas
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ma grande evolução nos pro jetos de recuperação de áreas A importância em se consid erar e avaliar o s di stúrbios na

U degradadas desenvolvidos no Brasilvem ocor rendo a partir


do finalda década de 1980, a qual foi fortemente influenciada
pela evolução da teoria sucessional e da próp ria ecologia florestal.
organização e sustentabilidade dos ecossistemas florestais ganhou
força a partir da mudança dos paradigm as da ecologia, em qu e os
ecossistemas pa ssaram a ser entendidos como sistemas abertos sujeito s
a variado s tipos de distúrbios e qu e a sucessão após tais distúrbios
D e acordo com Martins et al. (2007), as primeiras experiências de
é influenciada por uma série de fatores ambientais, históricos e
restauração florestal de áreas degradadas foram realizadas ainda de forma
antró pico s, pod endo seg uir variados caminhos, sen do, em muitas
mais ou menos em pírica, buscando-se reproduzir ecossistemas maduros
situa ções, um processo pouco previsível (rvIART INS et al., 2012).
de referência, através do plantio de m udas de espécies finais de sucessão
e aplicando-se basicamente técnicas agronô micas e silviculturais. A
contribuição da ecologia florestal aos projeto s elaborados nessa época
resumiu-se, principalm ente, aos levantamentos florístico-fitossociológicos Nesse contexto, a própria interpretação do termo restauração
de ecossistem as florestais bem pre servado s e em estádio sucessional te m deixado de ser estritamente o retorno de um ecossistema
avançado, que serviam de referencial para a definição das espéci es a degradado à condição original pré -distúrbio, para se tornar
serem plantadas nas áreas degradadas. Nessa ~bordagem, muitos projetos o resgate da integridade ecológica do ecossistema, sua
de recuperação não obtiveram sucesso, uma vez que as espécies finais biodiversidade e estabilidade no longo prazo .
de sucessão, plantadas em áreas abertas e degradadas, não conseguiam
sobreviver, e a área voltava a um estado de degradação igual ou semelhante
àquele anterior à implantação do projeto.
Percebe-se, nessa nova abordagem da restauração de ecossistemas
degradados, qu e aspectos ecológicos pouco valorizados na recuperação
tradicional de áreas degradada s tornam -se de extre ma impor tância,
uma vez qu e a preocupação é com a sustentabilidade e diversidade
Essa fase da recuperação ou da tentativa de recuperar
dos ecossiste mas restaurados.
florestas e outros ecossistemas foi fortemente influenciada
pelo paradigma clássico da ecol.oQla, em que ecossistemas Proj etos de recuperação de áreas degradadas baseados ape nas em
eram considerados sistemas fechados e pouco sujeitos a técnicas silviculturais e agro n ômicas, em inúmeros casos, mostraram-se
perturbações, e a suc essã o, vista como direcional e ineficientes para re sgatar a integridade dos ecossistemas e garantir sua
previsível. c ulminando num clímax único. sustentabilidade ao longo do tempo, e por isso tem sido su bstituídos
por proj etos mais complexo s, envolvendo mui tas possibilidades de
combinação de espécies e de diferentes formas de vida.

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Avanços da Pesquisa em Recuperação de Áreas Degradadas : Recup eração de Áreas Degradadas
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per mite que a vegetação seja suprimida. A deposição da galhada numa


área degradada funcio na como fonte de nutrientes, matéria orgânica,
Entre os modelos e as técnicas de recuperação de áreas
propágulos, alimento e refúgio para a fauna, desencadeando processos
degradadas, baseados no paradigma contemporãneo da
ecológicos essenciais para a restauração como a ciclagem de nutrientes
sucessôo . podemos destacar a transposição da serapilheira,
e as cadeias alimentares.
a avaliação e transposição do banco de sementes do solo, o
uso da galhada oriunda de podas ou do corte de árvores, e o O bviamente que não se postul a o abando no da recup eração
resga te de plântulas em áreas a serem desmatadas. via plantio de mudas de "espécies arbóreas. E m muitas situações de
degradação essa po de ser a melhor alternativa .

O utra técnica bastante pro missora que vem sendo testa da pelo
LRF-UFV no Viveiro de Pesquisa do D epart amento de E ngenharia o importante é que esses plantios sejam feitos com elevada
Florestal da Universidade Federal de :Viçosa é o transplante de diversidade de espécies nativas da flore regio nal.
plântulas oriundas de ger minação do banco de sementes do solo.
Nessa técnica, o banco de sementes coletado até um a profundidade
de 5 cm do solo, em vez de ser transferido diretamente para uma
determi nada área degradada, é mantido em viveiro, sob irrigação Assim , combinando o plantio de mudas com as técnicas de
controlada e sombreamento de até 50%. Fornecendo condições ótimas restauração ecológica anteriormente citadas, obtêm-se pro jetos com
de luz e umidade, é possível obter grande quantid ade de plântulas, grande diversidade de espécies nativas e, portanto, com maiores chances
de várias espécies, transferi-las para recipientes (sacos plásticos ou de restauração das funções e da for ma dos ecossistemas degradados.
tubetes) e mantê-las no viveiro até atingirem tamanho ideal para plantio O amplo conjun to de técnicas de restauração e as diferentes
no camp o. D essa for ma, os resultados têm mostrado que um a elevada combinações utilizadas nos projetos recentes de recup eração têm-
sobrevivência de mudas po de ser obtida para muitas espécies. se apoiado nos conceitos e teorias da ecologia floresta l mo der na.
O objetivo dessas técnicas é o aproveitamento do potencial de Por exemplo, estudos de dinâmica de clareiras e de regimes de luz
resiliência (autorregeneração) das áreas a sere m recuperadas e da em florestas têm sido a base da organização das espécies arbustivo-
máxima quantidade e diversidade de material vegetal (propágulos e arbóreas em gr upos ou categorias sucessionais, com grande aplicação
restos vegetais) disponível em áreas cujo licenciamento ambiental nos modelos sucessionais de restaur ação e no enrique cimento de
para atividades de min eração, represamento de cursos d'água e outros, capoeiras e flor estas secundárias.

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A Sucessão Ecológica e sua Importância Recup eração de Áreas Degradadas
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A
sucessão eco lógica ocorre natu ralm en te após um
d etermi n ad o ecossiste ma sofrer algu m n ível d e A suc essã o primária ocorre, por exemplo, em lava vulcânica
perturb ação, natural ou antrópica. Esse processo de recém-solidific ada, afloramentos rochosos e em lagos
recuperação da forma e fun ção consiste em alteraç ões gra duais, formados pela regressão d e geleiras.
ordenadas e progressivas no ecossis tema alterado, resultante da ação
contínua dos fatores ambientais sobre os organismos e da reação
desses últimos sobre o ambiente. No caso de sucessão em rochas, liquens, fungos, micro rganismos
Com o avanço da sucessão ecológica, na maioria do s casos, e vegetais de pequ eno porte (como algumas bromélias, orquídeas e
observa-se uma redução da variabilidade das con dições ambien~..??­ ervas) iniciam o processo ero dindo a rocha e formando uma tênue
tendendo a uma estabilização do meio físico e da comunidade, e a camada de solo, propiciando a coloni zação de ou tro s organismos (ex:
um aumento na complexidade estrutural e funcio nal do ecossistema, vegetação herbácea rasteira). Através da troca sucessiva de organismos,
culminando em uma situação definida com o clímax. Atualmente, o a sucessão avança para uma comunidade com maior biomassa e maior
ter mo climax tem sido substituído por ecoss istema maduro. diversidade.

Em muit as situações de fort e degradação ambienta l provocada


pelo homem, como a remoção das camadas de solo pela mineração
Dependendo da intensidade do distúrbio ou da degradação deixando apenas a rocha exposta, se nenhuma intervenção for feita, a
a que um ecossistema foi submetido, a sucessão pode ser tendência é de ocorr~r um processo extremamente lento de sucessão
classificada em primária ou sec undária. primária. Por isso, são adotadas técnicas de recuperação dessas áreas,
visando transformar um processo que naturalmen te seria de sucessão
prim~ria, pod endo levar cen tenas de anos, em sucessão secundária de
uma ou pou cas décad as.
5.1. SUCESSÃO PRIMÁRIA

A sucessão primári a é inici.ada por organi~mo s pion eiros em local


desabitado e sem a influência' de organismos que o tenham habitado 5.2. S UCESSÃO SE CUNDÁRIA
em época anterior, e envolve modificações sub stanciais do ambiente,
causadas direta ou indiretamen te pelos organismos pioneiros. Esse A suc essõ o ecológica inicia-se em área já habitada, após
proces so tende a ser muito lento, uma vez que plan tas e outros ocorrência de perturbação, e é influenciada pelo
organismos precisam for mar o solo, o que pod e levar dezenas ou tipo d e comunidade preexistent e.
cen tenas de anos.
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Uma característica da sucessão secundária é o fato de já existir um 5.3. F ATORES DE TERMI NANTES DA S UCESSÃO SECUNDÁRIA
solo formado, mas a capacidade de regen eração da vegetação dep ende
A sucessão secundária pode ser rápida ou lenta, sendo essa
do grau de perturbação ocorrido. velocidade influenciada por um conjunto de fatores, como:
A sucessão secundária ocorre após distúrbios naturais como
Tamanho da clareira-quanto maior a clareiraaberta numa floresta,
abertura de grandes clareira s no do ssel das florestas, devido a qu eda
mais lenta tende a ser a sucessão, pequenas clareirastendem a ser ocupadas
de uma ou mai s árvores, destruição da vege tação pela ocorrência de
pelas próprias espécies já presentes na área, antes da sua abertura.
inc êndios naturais, ou após distúrbios antrópicos como corte e, ou,
qu eim a de flores tas, abando no de campos agrícolas e pastagens em Composição floristica remanescente - a presença de banco
áreas antes cob er tas por flores tas, entre outros (Figura 5.1). de semen tes n o solo e ou de individua s rem an escentes ou com
capacidade de rebro ta auxilia muito a sucessão secundária. Quando
esses componentes são perdidos, por exemplo, em áreas subme tidas
a longo tempo de agricultura muito intensiva, a sucessã o passa a
depender qu ase qu e exclusivamente de propágulos (fr utos, sementes
e outros) vindos de áreas próximas.

A c onsta nte luta de agricultores contra a infestação de plantas


que consideram daninhas para suas pastagens ou culturas
. agrícolas, incluindo nesse grupo muitas espécies nativas
arbustivas e até arbóreas, nada mais é do que uma ten tativa
de frear o processo de sucessão secundária que naturalme nte
ocorreria nessas áreas , caso fossem abandonadas.

Proximidade a fontes de propágulos-quanro mais próximo


Figura 5.1. Inicio da sucessão secundária (regeneração arbustivo-arbórea) cm de fontes de propágulos estiver a área per turb ada, ma is rápido tende
pastagem abandonada. a ser o processo de sucessão. Por isso, atualme nte, já é consen so
entre pesqui sadores a necessidade de conservação de rema nes centes

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A Sucessão Ecológica e sua Importâ ncia Recuperação de Áreas Degradadas
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de vegetação nativa, seja como fragmentos florestais ou mesmo a paineira (Ceiba speciosa), os jequitibás (Cariniana spp.), a peroba-rosa
árvores isoladas, nas proximidades de áreas de mineração para facilitar (Aspidosperma pobneuron) e outras, são também anemocóricas.
as atividades de recuperação dessas áreas. Assim, o tipo de matriz Zoocoria - diversos tipos de animais exercem importante papel
vegetacional em que a área degradada está inserida influencia fortemente na dispersão de sementes para áreas degradadas. As plantas investem
na recuperação da sua cobertura vegetal (MARTINS et al., 2012). em recursos para atrair seus dispersores, como arilos, po lpa etc. e
assim conseguem espalhar suas sementes a grandes distâncias. Alguns
gr upos de animais se especializaram tanto na dispersão de sementes
que suas síndromes ganharam denominações p róprias, como é o caso
A rec upera ç ã o de uma área degradada inserida numa matriz
da dispersão por morcegos - quiropterocoria - e a dispersão por
de mo noc ultura agrícola altamente tecn ificada, p or exemplo,
de cana-de-açúcar, a lgodão, soja etc. ou em pastagens, pássaros - ornitocoria. Cabe desta car o papel de morcegos e pássaros
te nde a ser muito mais d ifícil do que a rec upera ç ão de uma no transporte de sementes para áreas abertas e degradadas, auxiliando
área inserida numa paisagem em q ue aind a restam a sucessão secundária nessas áreas.
frag mentos fiorestais em bom estado de conservação. Tipo e intensidade do distúrbio - o tipo e a intensidade do
distúrbio a que um ecossistema foi submetido influenciam diretamente
na sua recuperação, que pode ocorrer naturalmente, ou necessitar de
intervenção antrópica.
Mecanismos de dispersão de sementes- o tipo ou síndrome Para exemplificar, vejamos o caso da vegetação do Cerrado, que
de dispersão de uma espécie de ' plan ta é determinante da sua apresenta uma forte resiliência ao fogo, conseguindo rebrotar após a
capacidade de chegar até uma área aberta e iniciar sua colonização, queima de partes aéreas e mesmo sobreviver ao calor do fogo através
dese ncadeando a sucessão. de estr uturas como casca espessa, sistema radicular profundo etc.
Na rica flora dos países tropicais, existem inúmeras síndromes Mas essa mesma vegetaç ão, quando convertida em culturas agrícolas
de dispersão de sementes, dada a diversidade de plantas e animais. As por anos seguidos , eliminando-se as suas estruturas subterrâneas que
principais são: anemocoria - dispersão pelo vento, na qual as sementes' garantem a rebrota, torna-se de difícilrecuperação, dado o crescimen to
são leves, podendo ser muito pequenas ou dotadas de asas ou pl umas muito lento da maioria de suas espécies e a baixa fertilidade e acidez
que facilitam o carregamento pela ação do vento e de deslocamentos de elevada dos solos dos cerr ados.
ar. A anemocoria é bastante comum em plantas coloniza doras de áreas A maior dificuldade em recuperar áreas degradadas ocorre,
abertas, como várias ervas, arbustos e árvores da família Asteraceae. quando o solo foi degradado através da eliminação de suas camadas
Mas muitas árvores típicas de dossel florestal ou emergentes, como superficiais, compactação excessiva e erosão acentuada.
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Predação de sementes e plântulas- formigas e outros insetos, o banco de sementes do solo de espécies florestais foi eliminado. A
bem como pequenos roedores, podem comprometer o processo de sucessão nesse caso, deve passar pelos estágios de ervas, arbustos,
sucessão numa área em recuperação, através da predação de sementes espécies arbóreas pioneiras e finalmente espécies finais de sucessão.
e plântulas. Em algumas regiões da Amazônia, a predação tem sido Por outro lado, no modelo do potencial florístico inicial, as espécies
apontada como uma das principais barreiras a dificultar a sucessão que exercem dominância ao longo da sucessão já estavam presentes,
secundária em pastagens aban donadas. apresen tando crescimento len to, até que co ndições favoráveis se
estabeleçam . Em florestas atingidas pelo fogo ou rec ém-cortadas, o
Competição interespecífica-a competição entre determinadas
potencial fior ístico pode ser expresso pela rebrota de par tes vegetativas
espécies pode atrasar o processo de sucessão, como descrito a seguir,
como cepas e raízes.
em modelos sucessionais.

5.4. MODELOS S UCE SSIONAI S Prova velme nte, os modelos sucessionais com maior aplicação
na recuperaçã o d e áreas d egradadas são o da facilitação
A ob servação de diferentes situaçõe s de suc ~ssão ecológica levou
e o da inibição propost os por Co nnell e Sla tyer (1977).
.
pesquisadores em ecologia vegetal a propor diversos modelos para
explicar o arranjo das espécies em grupos ecológicos e as diferentes
rotas de substituição de comunidades de plantas ao longo do tempo.
Entretanto, alguns modelos têm sido mais identificados na natureza N o modelo de facilit ação, esp écies pioneiras colonizam uma
e apresentam maior aplicação na recuperação de áreas degradadas. área recém-aberta e melhoram as condições ecológicas, facilitan do
a entrada de novas espécies mais exigen tes que irão substituí-las.
Ess a melhoria das condições ecológicas, realizada pelas pioneiras,
Já em 1954, Egler p ropôs dois modelos d e sucessão - po de ser em termos de recuperação da ciclagem de nutrietentes e da
substituiçã o florística e potenci a l florístic o inic ial. fertilidade em solos degradados, do fornecimento de sombra etc. Por
~ ... isso, a maioria dos projetos de recuperação de áreas degra dadas busca
estimular a sucessão via facilitação, por exemplo, através do plantio
de leguminosas fixadoras de nitrogênio.
A substituição florística ocorre em caso s de distúrbios mais
intensos que eliminam a vegetação dominante e o processo sucessional Ao contrário da facilitação, no modelo de inibição, as espécies
caracteriza-se pela gradual substituição de grupos de espécies ao pioneiras colonizam a área perturb ada e monopolizam os recursos,
longo do tempo, por exemplo, em área agrícola abandonada, na qual e a sub stituição de espécies ocorre apen as quando as populaçõ es

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dessas pioneiras entram em declínio por senes cência ou por novas


perturbações, o que pode levar décadas. A inibi ção normalmen te
é exercida através de barreira física à germinação de sementes e
crescimento de plântulas, alelopatia, competição por nutrien tes e
umidade etc.

Determinadas espécies muito agressivas, como as gramíneas


braquiária (Urochloa decumbens (Stapf) RoO. Webster) e capim-
gordura (Melinis minutinora P. Beauv.) são reconhecidamen te
inibidoras d a sucessã o secundária, imp edind o ou dificultando
a regenera ç ã o d e espéc ies ar bustivo-arbóreas.

\ I

Mas, algumas leguminosas arbóreas também podem ser fortes


inibidoras da sucessão, sendo este o.caso da leucena (Letlcaena letlcocephala
(Lam.) de Wit), amplamente usa?a em projetos de recuperação de áreas
degradadas por sua capacidade de crescer em solos pobres e degradados,
e melhorar sua fertilidade, mas que forma povoamentos puros, inibindo
a regeneração de espécies nativas (Figura 5.2).

. .:,;..;.

Figura 5.2. A) Povoamento puro de leucena (Letlcaena/etlcocepha/a) em APP - mata


ciliar. B) D etalhe de sua abundante regeneração.
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5.5. G RUPOS E COLÓGI COS OU C ATEGORI AS S UCESSIONAI S


Tabela 5.1. Caracte rísticas de espécies arbóreas n ativas do Brasil, que
compõem os diferentes grupos ecológicos
Ao longo da sucessão secundária, grupos de espécies adaptadas
GRUPO ECOLÓGICO
a co ndições de maior luminosidade coloni zam as áreas abertas, e Pioneir-as Sccundá rias iniciais Sec uud árias tardi as Cllrnax
Carac teríst icas
crescem rapidamente, fornecendo o sombreame nto necessário para Crescimento muito rápido rápido médio lento ou muito lento

o estabelecimento de espécies mais tardias na sucessão. Madeira muito leve Icve medianamente dura dura c pesada
densidade muito baixa densidade baixa densidade média a elevada densidade elevada
Tolerância ii muito intolerante intolerante tolerante no estágio juvenil tulerunte
sombra

Altura das 4 aIO cerca de 20 20 a 30 (alguns até 50) 30 a 45 (alguns até ( 0)


árvores (m)
Várias classificações das espécies em grupos ecológicos
Regeneração banco de sementes banco de pl ântulas banco de plântulas banco de plântulas
têm sido propostas na literatura especializada, sendo mais Dispersão de ampla (zoocoria: alta restrita (grav idade) : principalmente pelo vento ampla (zoocoria: grandes
empregada a classificação em quatro grupos distintos: sementes diversidade de ampla (zc ocoria: animais); restrita (gravidade)
animais);pelo vento, a poucas espécies de
pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e clímax.
grande distância animais); pelo vento, a
grande distância

Tamanho dos
-médio
-
pequeno pequeno a médio, mas grande e pesado
frulos! sementes sempreleve

Dorm ência das induzida (foto ou sem sem inata (imaturidade do


A to lerância das es pécies ao so mbreamento aumen ta das sementes tenno rregulada) embrião)

Idade da I' prematura (I a 5) intermediária (5 a lO) relativamente tardia (10 a 20) tardia (mais de 20)
pioneiras para as climax. Na Tabela 5.1, são apresentadas as princip ais reprodução
características do ciclo de vida das espécies arbóreas dos diferen tes (anos)

grupos eco lógicos, co m b ase n a literatura es pe cializa da e n as Tempo de vida muito c1Il10 (menosde curto (10 a 25) longo (25 a 100) muito longo (mais de 100)
(anos) 10)"
observações de campo sobre a sobrevivência e o crescimento das
Ocorrência capoeiros.bordas de capoeirõcs, florestas florestas secundárias c florestas secundárias em
espécies, nas diferen tes fases do mosaico sucessional das florestas matas. clareiras m édias secundárias,bordas de primárias, bordas de clareiras estágio avançado de
e grandes clareiras. clareiras c clareiras pequenas, dossel sucessão, florestas primárias.
tropicais, ou seja, a fase clareira, a fase de construção e a fase madura.
pequenas florestal e sub-bosque dosscl e sub-bosquc
...:;".
Exigência quanto pouco exigente a maioria é pouco ri maioria é exigente a maioria é exigente
á fertilidade do exigente
solo

Adaptado de Ferretti et aI. (1995) c Barbosa (2000). *D ependendo das


condi ções ecológicas locais, determinadas espécies podem apresentar
tempo de vida superior ao limite estimado para o grupo ecológico.

54 55
A Sucessão Ecológica e sua Importância
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Conhecer esses aspectos da sucessão ecológica, como os


modelos sucessionais e a autoecologia das espécies, é de extrema
importância para o pesquisador que deseja obter sucesso em projetos
de recuperação de áreas degradadas.

ETAPAS
. J-

,
E UM PROJETO
,
DE REC RAÇÃO DE AREAS
r' .,.
,.~

G:RADADAS
56

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